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mento humano. Ele nos capacita a entender o que aconteceu no passado em educao e a desenvolver os tipos de perspectivas e ferra-

mentas intelectuais que iro auxiliar-nos ao lidarmos com os problemas educacionais atuais e futuros.

LEITURAS SELECIONADASAronowitz, Stanley, & Giroux, Henry A. Postmodern Education: Poliiics, Culiure, and Socal Critidsm. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1991. Discusso geral de uma perspectiva psmoderna radical em educao. Fornece uma viso geral do enfoque nterdsclplnar para a educao preconizado por muitos tericos educacionais ps-modernos. Baynes, Kenneth, et al., eds. Afier Philosophy: End or Transformationi Cambridge, MA: MIT Presa, 1987. Uma coleo de leituras escolhidas dos trabalhos de importantes filsofos contemporneos. Fornece uma boa viso geral da efervescnca no discurso filosfico. Bellah, Robert N., et al, The Good SoCiety. Nova York: Knopf, 1991.Uma obra de influncia que clama pela. restaurao da comunidade e pela necessidade de uma filosofia pblica afinada com a dinmca da vida social. . Dewey, John. Democracy and Educa/on: An Introduction /0 lhe Pflilosophy of Education. Nova York: Macrnillan, 1961 (1916). Uma afirmao clssica do pragmatsmo em filosofia da educao. Este livro al?resenta um importante posicionamento de Dewey, o qual tem exercido grande influncia na filosofia da educao.i

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Ozmon, Howard A. Fundamentos filosficos da educao / Howard A. Ozmon e Samuel M. Craver. - 6.ed. - Porto Alegre: Artmed, 2004. I. Filosofia - Educao - Fundamentos. L Craver, Samuel M.

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n. Ttulo.CDU 17.01:37.01 Catalogao na publicao: Mnica Ballejo Canto ISBN 85-363-0216-X CRB 10/1023

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idealismo talvez seja a filosofia sistemtica mais antiga na cultura ocidental, datando, no mnimo, do tempo de Plato na Grda antiga .. claro que a filosofia e os filsofos existiam antes de Plato, porm ele desenvolveu uma das mais influentes filosofias que lidam com a educao. De um modo geral, os idealistas acredtam que as idias so a nica realidade verdadeira. No que todos os idealistas rejeitem a matria (o mundo material); ao contrrio, sustentam que o mundo material caracterizado pela mudana; pela instabilidade e pela incerteza, ao passo que as idias so resistentes e . duradouras. Ento, dia-ismo poderia ser um termo descritivo mais correto para essa filosofia. Todavia devemos nos proteger da smpl- . ficao exagerada e buscar um entendimento mais completo e abrangente dessa complexa filosofia. Para alcanar-se um entendimento adequado do idealismo, necessrio que se examinem os trabalhos selecionados de destacados filsofos, normalmente associados . tnl filosofia. Dois filsofos nunca concordnrn (,IYI

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todos os pontos; logo, para um entendimento apropriado do idealismo ou de qualquer ou' tra escola filosfica, seria sensato examino. rem-se.os vrios enfoques dos filsofos indviduais. Isso ser realizado por meio de umn explorao de trs reas: o idealismo platOn! co, o idealismo religioso e o idealismo moderno, juntamente com suas caracterstcas.partl culares.

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"i.Em A Repblica, PIa to escreveu 'a resde pergunta e resposta, PIa to escreveu-as e peito da separao entre o mundo das idias ilustrou o mtodo e o pensamento socrticos. e o mundo da matria. O mundo das idias Freqentemente, debate-se se Plato te(ou formas) tem o Bem como seu ponto mais ria adicionado algo a esses dilogos, pois eselevado - a fonte de todo conhecimento ver- ' creveu-os muitos anos aps terem ocorrido. A dadeiro. O mundo da matria, o mundo dos posio geral a de que PIa to adicionou, e dados sensoriais, que est sempre mudando, muito, e colocou os .dlogos em uma forma' literria de valor duradouro. Como as idias ' no deve ser objeto de sua crena. As pessoas, necessitam, tanto quanto possvel, libertar-se, de Scrates e Plato so, hoje em dia; consideda preocupao com a matria pam que posradas quase indstnguveis, os estudiosos sam avanar em direo ao Bem. Pode-se, normalmente se referem a esses escritos como realizar isso transcendendo a matria pelo filosofia platnica. uso da dialtica (ou discusso crtica), na qual se passa da mera opinio ao verdadeiro conhecimento. Idealismo Platnico Podemos descrever a dialtica .da seguinte maneira: todo pensamento comea com PIa to (427-347 a.C, ) uma tese ou um ponto de vista, como a O filsofo grego PIa to foi inicialmente um guerra m". Podemos defender essa viso, discpulo de Scrates e permaneceu um armostrando que a guerra causa mortes, destri dente admirador deste durante toda sua vida. famlias e cidades e tem efeitos morais adver amplamente conhecido por seus dilogos, sos. Enquanto encontrarmos apenas pessoas nos quais Scrates o protagonista em uma de viso similar, no ser provvel que mudesrie de conversaes que lidam com quase' mos nosso ponto de vista. Entretanto, quando todos os tpicos concebveis. Dois dos seus encontramos a anttese (ou ponto de vista trabalhos mais famosos so A Repblica e as oposto), dizendo que "a guerra boa", vemoLeis. Aps a morte de Scrates, Plato abriu nos forados a reexaminar e a defendernossa sua prpria escola, a Academia, onde alunos posio. Argumentos 'avanados para apoiar e professores engejavam-se em um enfoque a noo de que a guerra boa podem incluir a dialtico para os problemas. crena de que ela promove bravura, ajuda a Segundo Plato, as pessoas deveriam controlar populao e produz muitos benepreocupar-se principalmente com a busca da, fcios tcnicos para ns por meio da pesquisa ' verdade. Como a verdade perfeita e eterna, de ,guerra. Colocando de modo mais simples, ela no poderia ser achada, portanto, no muna dialtica olha os dois lados de uma questo. do da matria" o .qual imperfeito e est Se nossosantagonistas forem filsofos seriaconstantemente em mudana. Conceitos como' mente interessados em atingir a verdade do 2 + 2 = 4 ou todos ospontos de um crculo so problema de se a guerra boa ou m, 'ento , eqidistantes ao centro sempre foram verdaeles iro engajar-se em um dilogo no qual deiros (mesmo antes de as pessoas os terem podem,ocorrer o avano ou o reentrincheiradescoberto), so verdadeiros 'e sempre sero ' mento.' verdadeiros. A matemtica mostra ,que verPia to acreditava que, sendo dadoamdades universais com que todos podem conplo tempo para defenderem suas posies, os cordar podem ser encontradas, porm ela se dois dbatedores chegariam mais prximos' constitui .ern apenas um campo do conhecide um acordo -ou Urna sntese e, portanto, mento. PIa to acreditava que devemos buscar mais prximos da verdade (pode ser que a ' outras verdades universais em reas, como guerra tenha aspectos bons e maus). Esse tipo poltica, rel igio e educao; conseqentemende discusso dialtica no poderia ser realizate,a procura pela verdade absoluta deveria do por aqueles 'que simplesmente' discutem ser a busca do verdadeiro filsofo. por discutir ou que no sustentam uma pers1/

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pectva crtica. Por isso, para Plato, a preparao em dialtica deveria envolver um longo perodo de educao, comeando com o estudo da matemtica. Ele era particularmente crtico com-as pessoas inexperientes que usavam a dialtica e achava que as pessoas no estavam suficientemente maduras para o treinamento em dialtica at os 30 anos de idade. Plato via a dialtica como um veculo p.ara auxiliar as pessoas a mudarem de uma preocupao como mundo material para uma preooupao com o mundo das idias. Supostamente, a 'dialtica cruza a "linha divisria" entre a matria e a idia. O processo inicia no mundo da matria com o uso do crebro, da lngua, dos gestos, e da por diante, mas acaba no mundo das idias com a descoberta da verdade. Na Alegoria da Caverna, Pia to retratou prisioneiros acorrentados em um mundo de escurido, vendo apenas sombras distantes na parede de uma caverna que entendem como sendo a realidade. Imagine um desses prisioneiros libertado de suas correntes, caminhando por uma subida ngreme para aluz do sol e, ao final, sendo capaz de ver o sol, e entendendo que ele era a verdadeira fonte de calor e luz. Ele ficaria feliz com seu conhecimento verdadeiro e desejaria contempl-lo mais e mais. Ainda assim" quando se lembrasse de.seus amigos-na caverna e retornasse para falar-lhes sobre o mundo real l fora, eles no dariam ateno a esse ex-prsioneiro, que agora no pode mais discutit com eles nos termos de um conhecimento dastrevaso Seo afortunado insiste em libertar os prisioneiros-eles podem at mat-lo. Este o significado da alegoria: ns mesmos estamos vivendo em urna caverna de sombras e iluses; acorrentados por nossa, ignorncia e apatia. 'Quando COmeamos a libertar-nos de nossas correntes, comea nossa educao; a subida ngreme, representa a dialtca, que ir levar-nos do mundo da matria 'ao mundo das idias - e mesmo a con, templar o Bem representado pelo sol. Notemos a admoestao de PIa to de que o homem, agora o filsofo, que avanou ao reino do verdadeiro conhecimento deve retomar caverna para levar a luz aos outros. Isso de.monstra a sua forte crena de que filosofar

, no deve ser apenas um ato intelectual, mas que o filsofo tem obrigao de dividir seu aprendizado com os outros, mesmo diante de urna adversidade ou da morte. Plato no pensava que as pessoas criavam conhecimento, mas o descobriam. Em outro mito interessante, ele conjecturou que a alma humana possura conhecimento verdadero.cnas perdera-o ao ser colocada em um corpo material, que distorceu e corrompeu esse conhecimento. Sendo assim, as pessoas tm a rdua tarefa de tentar lembrar o que uma vez souberam. Essa "Doutrina da reminiscncia" ilustrada por Scrates, que falou de si prprio como um parteiro que havia encontrado pessoas grvidas de conhecimento, mas cujo conhecimento ainda no havia nascido ou sido entendido. Com suas discusses com as pessoas, Scrates buscou ajudIas a darem luz idias que em alguns casos elas nem sabiam que possuam. Em Mnon, Plato descreve o encontro de Scrates com um menino escravo; por meio de questionamentes habilidosos, Scrates mostra que o menino conhece o teorema de Pitgoras mesmo no sabendo que o conhece. Em A Repblica, Pia to props o tipo de educao que ajudaria a produzir um mundo no qual indivduos e sociedade estivessem-o mais prximo possveis do Bem. Ele entendeu completamente que a maioria das pessoas acredita na matria como urna realidade objetiva, que existem diferenas individuais e que a injustia e a desumanidade so modos de vida. Ele desejou criar um mundo no qual pessoas notveis, como Scrates, pudessem servir de modelo e fossem recompensadas, ao ' invs de punidas. PIa to sugeriu que o Estado deveria ter um 'papel ativo em questes ducacionais e ofereceu um currculo que afastasse os alunos brilhantes da preocupao com dados concretos em direo ao pensamento abstrato. interessante notar que Pia to pensav.a que meninos e meninas deveriam receber as mesmas oportunidades para desenvolver-se ao mximonaquele aspecto, mas aqueles que demostrassem pouca habilidade para abstraes deveriam buscar atividades que contribussem para a realidade prtica da adminisI

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trao da sociedade (como a indstria, os o que recebe, e reconhecemos a tremenda negcios e os assuntos militares). Aqueles que, influncia das classes sociais na educao, demonstrassem, proficincia dialtica conticomo na sociedade utpica de Plato, em que miariam seus estudos para tornarem-se filele separava as pessoas em trs classes: trabasofos, ocupando posies de poder para lidelha dores, militares e governantes. rar o Estado rumo ao bem mais elevado. Pla-' Tambm se acredita amplamente que o to acreditava que, enquanto os filsofos no filosofar sobre as artes no mundo, ocidental fossem os governantes, os Estadosnuncabusteve incio com Plato. Ele discutiupintura, cariam os ideais mais nobres da verdade e da escultura, arquitetura, poesia, dana e rnsijustia. ca. Embora visse a arte como uma imitao Sua idia era de que o filsofo-rei deve(ou mesmo uma imitao da 'imitao) e no ria ser no apenas um pensador, mas tambm como um conhecimento verdadeiro, por lidar um executor. Ele supervisionaria os assuntos primariamente com o mundo material.entendo Estado e, como o filsofo que saiu da' deu sua dimenso e seu poder. Plato acredicaverna e ainda assim retomou para ensinar ,tava seriamente que a arte precisava ser regueis outros, deveria ver que sua viso permeia lamentada: e at mesmo censurada pata que todos os aspectos da vida do Estado. desnemostrasse aspectos de um modo mais virtuocessrio apontar que tal governante no teria so. Dessa maneira, ento, a arte torna-se um interesse no materialismo ou mesmo em autocomponente til do processo educacional. promover-se, mas governaria com um grande' Plato influenciou quase todos os filsosenso de dever e obrigao, por ser o mais fos que o seguiram, apoiando ou rejeitando apto a governar. Tal governante poderia ser suas idias bsicas. Na verdade, existe muito um homem ou urna mulher, e Plato defenmrito na observao do filsofo Alfred Nordeu com seriedade a noo de que as mulheth Whitehead de que a filosofia moderna nada res deveriam ocupar posies iguais no Estamais , do que uma srie de notas de rodap do, incluindo todos -os nveis da vida militar. para Plato. o. filsofo-rei de Plato no seria apenas uma ' pessoa sbia, mas tambm uma pessoa boa, Idealismo Religioso pois o mal brota mais da ignorncia do que de qualquer outra coisa. o dalismoexerceu uma considervel influEmbora sua teorias a respeito da sociencia no cristianismo. O judasmo, um predade nunca tenham sido completamente imcursor do cristianismo, continha muitas crenplementadas, Plato tentou estabelecer uma sociedade sob a patronagem de Dionsio II de " as compatveis como idealismo. A idia de um deus como esprito puro e bem universal Siracusa, mas falhou quando o tirano entenpde serrapidamente reconhecida como sendeu o quePlato estava fazendo. O valor das do compatvel com o idealismo. A' cultura idias de Plato que elas estimularam grangrega havia sido espalhada pelo mundo mede parte do pensamento sobre o significado e o propsito da humanidade; da sociedade .e diterrneo por Alexandre, o ,Grande'. Onde houvesse uma 'influncia grega .slida, tamda educao, penetrando no pensamento e bmhaveria escolas gregas; conseqentemennas prticas modernas .de maneiras muito te; muitos escritores do Novo Testamento fosutis. Quem, por exemplo, no iria querer a ram no mnimo parcialmente' nfluenciados melhor pessoa para governar ou liderar o pela cultura e pela filosofia gregas. Paulo, que Estado, supondo-se que sabemos, o que "meescreveu uma ,parte considervel do Novo, lhor" realmente significa? Hoje em dia, proTestamento, nasceu Saulo de Tarso, e Tarso porciona-se umsistema educacional com granera uma cidade fortemente influenciada pela de envolvimentodo Estado, o qual participa cultura e pelo pensamento gregos (ou helensmuito da deciso sobre que ocupao uma tic:os),l'ode-se encontrar fortes traos de ide-pessoa ir buscar como resultado ,da educa-

alismo nos escritos de Paulo, os quais brotam de tradies judaicas e gregas.

Santo Agostinho (354-430 d.e.)\

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Os fundadores da Igreja Catlica Romana tambm foram vigorosamente influenciados pelo idealismo. Santo Agostinho nasceu e foi, criado sob a influncia da cultura helenstica. Em Confisses, descreve sua vida inicial, de paganismo e libertinagem, desde sua juventude at sua converso ao cristianismo em 386. Ele se tomou um padre em 391 e, em 395, foi apontado bispo de Hippo. Agostinho conectou a filosofia dos platonistas e neoplatonistas s crenas crists. Em A cidade de Deus, ele descreveu a cidade de Deus e a cidade dos homens como divises de universo, paralelamente ao esquema do Mundo das Idias e Mundo Material de PIa to. Como PIa to, Agostinho acreditava que os sentidos no' eram confiveis e que a crena em Deus reside definitivamente na f. "Devemos primeira-. mente crer", escreveu "para que saibamos". Na filosofia de Plato, a alma tem um conhecimento que obscurecido por estar apriso-: nada pelo corpo. Na interpretao de Agosti- ' MO, a alma foi obscurecida pela queda de ' Ado, resultando em dvida e incerteza para os humanos. Santo Agostinho preocupava-se muito com o conceito de mal e acreditava que, per haver herdado o pecado ortgnalde Ado, o homem estava continuamente engajadoem uma luta par retomar o tipo de pureza que" possua antes da queda. Essa idia similar ao mito da estrela de Plato: almas que 'viviam, prximas do Bem foram exiladas para o mundo material para sofrer dor e .morte e lutar para retomar existncia espiritual que elas um dia tiveram. ' Ele aceitou prontamente a noo plat- ' nica ,da "linha divisria" entre as idias e, a matria, mas referiu-se aos dois mundos como o mundo de Deus e o mundo dos homens. O mundo de Deus o mundo do Esprito e do Bem; o mundo dos homens o mundo material da escurido, do pecado, da ignorncia e do sofrimento. desnecessrio dizer que San- ' to Agostinho acreditava que se deveria, ,na

medida do possvel, libertar-se do Mundo dos Homens e entrar para o Mundo de Deus. Embora ningum consiga faz-lo de modo definitivo at aps a morte, uma pessoa poderia transcender este mundo, concentrando-se em Deus atravs da meditao e da f. Santo Agostinho, como Plato, acreditava que as pessoas no criavam conhecimento: Deus j o havia criado, mas as pessoas podem descobri-lo tentando encontrar a Deus. Como a alma a coisa mais prxima da divindade que as pessoas tm, Santo Agostinho acreditavaque devemos procurar dentro de nossas almas o verdadeiro conhecimento que l est. Assim, promoveu um enfoque intuitivo educao e concordou com Plato que a concentrao nos fenmenos fsicos pode afastar-nos do caminho do verdadeiro .conhecimento. Como Plato, Santo Agostinho era um grande defensor do mtodo dialtico de aprendizagem: alguns dilogos escritos entre ele e seu filho ilegtimo Adeodato usam a dialtica para facilitar a descoberta de idias verdadeiras sobre Deus e a humanidade. As idias de Santo Agostinho sobre a natureza do verdadeiro cristo encontraram mais aceitao entre aqueles inclinados a uma concepo monstica do cristianismo. Os ' monsticos acreditavam que o cristo deveria desligar-se das preocupaes mundanas e meditar. Santo Agostinho concordava com Plato em suas reservas quanto s artes. Ele pensava que um demasiado interesse pelas coisas terrenas poderia ameaar a alma e, inclusive, questionou o uso de msica na igreja, pois isso poderia desvirtuar a concentrao das pessoas do significado real da missa .. Santo Agostinho padronizou sua filosofia educacional pela tradio platnica. Ele' acreditava que o conhecimento do mundo adquirido atravs dos sentidos estaria cheio de erros, mas que a razo poderia levar ao entendimento, e sustentava que, em ltima anlise, seria necessrio transcender 'a razo pela f. Somente pela f, ou pela intuio, pode-se 'entrar no reino das idias verdadeiras. Santo Agostinho acreditava q1,1eo tipo de conhecimento a ser aceito pela f seria

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escolas foram doutrinadas de acordo com 'o determinado pela Igreja. A Igreja determinaria no apenas crenas inquestionveis (como ponto de vista idealista. A mutualidade entre o idealismo e a a idia da Trindade), mas tambm o tipo religio judaico-crist foi aproximada em uma adequado de educao. Ele no acreditava unio de culturas europias durante e aps a que o tipo correto de aprendizagem seria fcil. A criana, um rebento de Ado, est proIdade Mdia. Issopode ajudar a explicar vrias pensa ao pecado, e sua natureza m deve ser caractersticas do pensamento moderno. Para Plato, a realidade final uma idia e nossa mantida sob controle para desenvolver o bem que se encontra escondido l dentro. Os estuponte para ela a alma. Conectarern-se idia dos deveriam concentrar-se na aceitao das e Deus, por um lado, e mente e' alma.ipor verdades da Igreja. outro, seria um passo lgico. Ento, o contato da humanidade com a realidade final ocorre Uma questo que Santo Agostinho ponpor meio da mente e da alma (ou seus congderou em De magistro (Do mestre) foi: pode um neres: o eu, a conscincia e a subjetividade'). homem ensinar o outro? Ele acreditava que um no poderia ensinar o outro no sentido tradicional, mas poderia direcionar o aprendiz com palavras ou outros smbolos ou "siDESENVOLVIMENTO DO nais". A aprendizagem deve vir de dentro, e IDEALISMO MODERNO todo conhecimento verdadeiro vem de Deus. Santo Agostinho foi um dos maiores platonisNo incio do perodo moderno (arbitrariatas cristos, e sua insistncia no papel da mente considerado aqui como o aparecimen- ' inteligncia espontnea direcionada por Deus to da revoluo cientfica nos sculos XV e ao aprendiz teve grandes implicaes para a XVI), o idealismo foi identificado amplameneducao crist por muitos sculos. ' te com a sistematizao e o subjetivismo; essa No de surpreender que o idealismo e a identificao foi encorajada pelos escritos de religio tenham estado to entrelaados. O Ren Descartes, George Berkeley, Immanuel .oristianismo, em particular, promove a idia KiU1t,Georg W.F Begel e [osiah Royce: de Deus corno algo transcendente e esprito ou idia pura. Soma-se a isso o conceito cristo de Ren Descartes (1596-1650) que Deus criou o mundo a partir de si mesmo ou do esprito ou ,da idia.Tsso faz recordar o Nascido na pequena cidade de La Haze, na, conceito platnico de que a verdadeirarealdaFrana, Ren Descartes foi educado pelos jede, enfim, basicamente uma idia. sutas, a quem admirava-mas por quem de~, Tambm no de surpreender que o ' senvolveu insatisfao devido aos ensinamenidealismo religioso tenha exercido tremenda tos doutrinrios. Apesar de seu pensamento influncia na educao e nas escolas. Os prifilosfico ter desafiado a doutrina catlica em meiros cristos entenderam rapidamente que muitos 'pontos,' parece ter permanecido fiel seria melhor para o' cristianismo, que seus em seu catolicismo. membros recebessem algum tipo de ensino difcil e ilusrio classificar um pensasistemtico. Quando estabeleceram escolas, dor to original corno Descartes em uma esco, fizeram-no segundo padres com osquais la filosfica, Certamente, grande parte de sua estavam familiarizados. Dessa forma, muitas filosofia pode ser caracterizada como idealisidias judaicas e gregas a respeito da natureza mo, mas ele tambm contribuiu em muito da humanidade, da sociedade e de Deus pepara o realismo filosfico e outros sistemas de ' netraram nas escolas crists juntamente com pensamento. Para nossos propsitos atuais, as idias distintamente crists, Durante scuos trabalhos significativos de Descartes a selos, a igreja crist foi a criadora e a protetora rem considerados so seus celebrados Discurdas escolas, e as' geraes educadas nessas so do Mtodo e as Meditaes Metaf{sicas.

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Principalmente no Discurso, Descartes explorou sua "dvida metdica", por onde procurou duvidar de todas as coisas, incluindo sua prpria existncia. Ele buscava idias que fossem inquestionveis e pensava que, se pudesse descobrir idias"cla:ras e distintas", ento teria uma base slida sobre a qual construirnovas idias verdadeiras. Descobriu que podia duvidar de todas as coisas com exceo de uma - que ele prprio estava duvidando ou pensando. Embora pudesse duvidar de que 'estava duvidando, e embora esse fator fosse uma regresso infinita, Descartes ainda no poderia duvidar de que estivesse pensando. Desse modo, chegou ao famoso primeiro " princpio cartesiano: Cogito, ergo sum, "Penso, , logo existo". O cogito cartesiano tem estimulado mui-' to o pensamento filosfico desde a poca de Descartes. Seus traos podem ser encontrados em muitas filosofias modernas. O cogito, todavia, sustenta a tradio do idealismo, pois reafirma a centralidade da mente na relao do ser humano com o mundo. Descartes entendeu que, embora o cogito fosse inquestionvel, ele no poderia partir daquele estgio para outros inquesfionveis: Os objetos.externos ao cogito so entendidos pelos sentidos;e os sentidos so notoriamente sujeitos a .erro, Alm disso, qualquer idia ou pensamento particular depende de outras idias. No se pode pensar em um tringulo, digamos; sem considerarmos ngulos, graus, linhas e assim por diante. Desse modo, Descartes encontrou a necessidade de,uma idia referir-se outra. Ele queria chegar idia na qual "referncias adicionais ,parassem e achou m. possvel chegar a qualquer idia - mesmo o inquestionvel cogito - que no se referisse a nada alm de si prpria, exceto a idia do ser perfeito. Descartes pensou que tinha chegado ao ser perfeito, encontrado Deus, o infinito e intemporal criador, a fonte de todas as coisas. Assim, Descartes chegou aos dois princpios nos quais baseou seu sistema: o cogito e a divindade. Ele tinha a indubitabilidade do pensamento humano no cogito e a base de todos os objetos.do pensamento na divindade. A partir desses princpios, ele construiu

uma filosofia que, de um modo ou de outro, tem influenciado praticamente toda a filosofia desde ento. Pode-se ver facilmente que alguns desses princpios esto no mbito da tradio do idealismo: a mente finita contempla objetos 'do pensamento encontrados em Deus (em termos platnicos, a mente humana contempla a definitiva realidade das idias). Para Descartes, o modo como ele chegou a seus princpios, o mtodo de sua anlise, trouxe vida nova filosofia. O mtodo cartesiano estendeu-se a numerosos campos de investigao, incluindo as cincias naturais. George Berkeley (1685-1753)

George Berkeiey nasceu e foi educado na Irlanda e, passou a maior parte de sua vida profissional como ministro da igreja episcopal naquele pas. Ainda jovem, desenvolveu a maioria de suas inovadoras idias, escrevendo vrios tratados de filosofia, incluindo Princfpios do Conhecimento Humano. Berkeleyafirmou que toda a existncia depende de luna mente para sab-Ia; se no houvesse mente, ento, para todos os efeitos e propostos.nada existiria, a menos que percebido pela mente de Deus. Berkeley estava atacando o realismo filosfico - segundo o qual um mundo material existiria independentemente da mente. De, acordo com Isaac Newton, o universo 'composto por' corpos materiais que, se movem no ,espao e so controlados -por leis 'matexnticas, tais como a lei da gravidade. Berkeley,sustentava que ningum tinha experimentado essa matria em primeira mo e que, ademais, tal teoria sem dvida uma , concepo da mente. Ele pensava que as pessoas cometem um erro comum ao suporem que .objetos como rvores, casas e cachorros existem onde noh mente para perceb-los, Ao contrrio, dizer que uma coisa existe significa que ela percebida por uma mente>- esse est percipi (ser ser percebido). Paraa clssica questo "uma rvore caindo no meio da floresta faz som, se ali no h 'ningum para ouvi-Ia?", Berkeley responderia que no, exceo de que ,ele pode ser percebido por Deus. No h existncia sem percepo, mas

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