professora prazeres, dia 2 de maio de 2011 entrevista ... · eles é que tratam de mim.”...

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1 Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista Professora A Entrevistadora – Em relação a este tema EscolaFamília, o que diria a um jovem professor acerca da utilidade e importância acerca da relação escolafamília? Entrevistada A – Fundamental. E – Em que aspectos é que acha fundamental? A – Havendo uma boa relação escolafamília é meio caminho andado para a aprendizagem. E – Portanto, aqui no ponto de vista dos alunos. Então, e para os professores, vê alguma importância, alguns ganho? A – Mais segurança, ganhamos à vontade até para que possamos trabalhar com determinada criança. Mãe ausente, nós nunca chegamos a conhecer a parte de lá, certo…. Eu acho que é importante conhecer um bocadinho da história do lado de lá, a história, portanto digamos, da família, para depois também conseguirmos tratar melhor, ou lidar melhor com as situações. Porque muitas vezes podem nos ocultar determinadas situações: ou divórcios, de… que estão a interferir nas aprendizagens, e que nós até nem sabemos que há ali qualquer coisa que não está bem, que não conseguimos descortinar. Eu, por acaso, este ano tive uma experiência bastante interessante de uma senhora, que no início do ano, logo na primeira reunião, chegou ao pé de mim e disseme: “Eu gostava de lhe dar uma palavrinha no final”. E a senhora disseme: “É para lhe dizer que o meu neto me foi entregue, está entregue aos avós portanto, vive comigo e com o avô, pelo tribunal. Foi fundamental, era uma informação que eu não tinha, que a senhora por acaso teve o arrojo, que nem toda a gente tem de me dizer, e eu acho que é fundamental. Porque eu, a partir daí, portanto, eu pedia insistir com a mãe… e só o estava a fazer sofrer, e com o pai. Quando afinal ele tem um pai que não sabe quem é, tem uma mãe que sabe quem é mas que vive com não sei quem e não sei quem e assim eu, ainda agora no dia da mãe, eu disse: “A quem é que vais a prendinha?” “À avó! Dou sempre à avó e ao avô! Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que é óptimo. Que é a maneira, às vezes, de nós entrarmos… quem me dera a mim, com dois ou três alunos que tenho aí, que soubesse o que é que está por trás, se calhar eu dava melhor a volta para entrar no mundo deles, que eu ainda não sei qual é o mundo deles. E – E, no caso dos pais? Como é que vê que esta relação vá ajudar os pais? A – (…) E – Como disse, os alunos ganham com isso, aprendem melhor, ou aprendem mais… mas como é que os pais podem ganhar com a relação?

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Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 

 

Entrevista Professora A 

 

Entrevistadora  –  Em  relação  a  este  tema  Escola‐Família,  o  que  diria  a  um  jovem  professor 

acerca da utilidade e importância acerca da relação escola‐família? 

Entrevistada A – Fundamental. 

E – Em que aspectos é que acha fundamental? 

A – Havendo uma boa relação escola‐família é meio caminho andado para a aprendizagem. 

E  –  Portanto,  aqui  no  ponto  de  vista  dos  alunos.  Então,  e  para  os  professores,  vê  alguma 

importância, alguns ganho? 

A – Mais segurança, ganhamos à vontade até para que possamos trabalhar com determinada 

criança. Mãe ausente, nós nunca chegamos a conhecer a parte de  lá, certo…. Eu acho que é 

importante conhecer um bocadinho da história do lado de lá, a história, portanto digamos, da 

família, para depois  também conseguirmos  tratar melhor, ou  lidar melhor com as situações. 

Porque muitas vezes podem nos ocultar determinadas situações: ou divórcios, de… que estão 

a interferir nas aprendizagens, e que nós até nem sabemos que há ali qualquer coisa que não 

está  bem,  que  não  conseguimos  descortinar.  Eu,  por  acaso,  este  ano  tive  uma  experiência 

bastante interessante de uma senhora, que no início do ano, logo na primeira reunião, chegou 

ao pé de mim e disse‐me: “Eu gostava de lhe dar uma palavrinha no final”. E a senhora disse‐

me: “É para lhe dizer que o meu neto me foi entregue, está entregue aos avós portanto, vive 

comigo e com o avô, pelo  tribunal. Foi  fundamental, era uma  informação que eu não  tinha, 

que a senhora por acaso teve o arrojo, que nem toda a gente tem de me dizer, e eu acho que é 

fundamental. Porque eu, a partir daí, portanto, eu pedia  insistir com a mãe… e só o estava a 

fazer sofrer, e com o pai. Quando afinal ele tem um pai que não sabe quem é, tem uma mãe 

que sabe quem é mas que vive com não sei quem e não sei quem e assim eu, ainda agora no 

dia da mãe, eu disse: “A quem é que vais a prendinha?” “À avó! Dou sempre à avó e ao avô! 

Eles  é  que  tratam  de  mim.”  Portanto…  muitas  vezes,  conhecendo  o  lado  de  lá  portanto 

havendo uma relação… que é óptimo. Que é a maneira, às vezes, de nós entrarmos… quem me 

dera a mim, com dois ou três alunos que tenho aí, que soubesse o que é que está por trás, se 

calhar  eu dava melhor  a  volta para  entrar no mundo deles, que  eu  ainda não  sei qual  é o 

mundo deles. 

E – E, no caso dos pais? Como é que vê que esta relação vá ajudar os pais? 

A – (…) 

E – Como disse, os alunos ganham com isso, aprendem melhor, ou aprendem mais… mas como 

é que os pais podem ganhar com a relação? 

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A – Também ganham. Eu digo‐lhe, eu, principalmente no primeiro ano,  faço questão, e digo 

logo  isso no  início do ano, aos meus encarregados de educação, é que, à medida que estes 

encontros que  temos, mensais, que não são praticamente nada, mas que são muito… quem 

vier,  sabe  mais  ou  menos,  acompanha  as  matérias,  as  temáticas,  as  coisas  como  são 

abordadas. Se houver dúvidas, mesmo em questões de … toda a gente aprender um p e um a, 

pa  e  um  t  e  um  a,  ta…  agora  já  não  há  p  e  um  a  pa  é  o  pa.  Na  medida  em  que  nós 

transmitirmos isto, ganhamos. Ganhamos porquê? Estamos a ganhar porque eles não vão mais 

em  casa  continuar. Aliás eu  fiz um exercício no quadro, enquanto estamos ali… o  raciocínio 

lógico de uma criança ao fazer um p e um a, um , dois, para chegar ao pa já fez o terceiro, mais 

o t, quarto mais o o, cinco, o to, seis… mais, para chegar à palavra, fez oito ou nove raciocínios, 

enquanto que  se  for  silábico… dois  raciocínios e  chegam  lá. Na medida em que os pais, os 

encarregados  de  educação,  estiverem  informados  destas  temáticas,  destas…  no  fundo, 

destas…. 

E ‐ … actualizações 

A ‐ … exactamente, destas actualizações que foram feitas, ao nível da Matemática… e não sei o 

quê. Mas,  que  eles  podem  acompanhar melhor,  sem  grande  receios.  Sem  terem  receio  de 

estarem a errar, e não  sei o quê… “Oh professora, eu  faço assim”  já disse à professora “Eu 

agora já estou a fazer ditadinhos por sílabas”… “É isso que deve fazer”. Portanto, eu acho que 

há sempre a ganhar. Também, às vezes também é importante nós olharmo‐nos nos olhos uns 

dos outros… até para termos confiança nas pessoas. Porque isso de não nos sabermos olhar de 

frente, de olharmos nos olhos, bem uns nos outros, traz outras coisas… parece que andamos 

sempre na desconfiança. Na medida em que, quando estamos aqui  juntos,  seja pouco,  seja 

muito,  se  transmitirmos  confiança,  se  transmitirmos  segurança  no  trabalho,  nós,  como 

profissionais, transmitirmos segurança, transparência e lhe pusermos os dossiers à disposição, 

sem medos, sem receios… eles também pensam duas vezes. “A professora está em clique” “A 

professora sabe o que está a fazer”. Não sei se me estou a fazer entender? 

E – Sim, sim… completamente. Falou à pouco que, mensalmente reúne com os pais… 

A – Sim, sim… está calendarizado. 

E – Foi combinado com eles logo no início do ano? Como é que combinaram isso? 

A – É calendarizado logo no início do ano, a nível de agrupamento. A nível de ano.  

E – Sim, sim… 

A  ‐  E  cada  pessoa…  a  nível  de  ano,  escolhemos  um  dia.  E  depois,  cada  um  adapta  ao  seu 

horário como quiser. 

E – Normalmente todos os pais aderem a este tipo de reuniões? 

A – eu, tenho quase sempre… na sala, portanto, mais de cinquenta por cento. E esta reunião 

não tem carácter obrigatório. 

E – Exacto. 

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A – Tá a ver… 

E – Hum, hum… E aqui aproveita pra fazer… 

A – Aqui aproveito para fazer… 

E – Como estava a dizer, explicar o modo como trabalha com os alunos… 

E – Aproveito pra  fazer uma análise dos conhecimentos que estamos a  fazer, dos conteúdos 

que estão a trabalhar, dos comportamentos, atitudes… que muitas vezes. E portanto, vêem as 

“fichinhas” mensais que se fazem, portanto que todos os meses fazem, assinam‐nas. Estas por 

acaso  são  trimestrais,  mas  é  uma  ficha  do  género.  Esta  é  trimestral…  esta  é  uma  ficha 

sumativa. As outras  são  formativas,  é uma  ficha do  género desta…  vêem‐nas,  assinam‐nas. 

Vêem  os  dossiers,  vêem  os  livros,  vêem  o  que  querem,  fazem  as  perguntas.  Tanto  quanto 

possível tento responder, é evidente, é o meu… 

E – Mas, vê vantagem nestas reuniões mensalmente? Sempre fez assim? 

A – (abana a cabeça, negativamente) 

E – Não. É uma prática nova? 

A – Não foi sempre assim. 

E – Mas vê vantagem em relação ao que era feito? 

A – Vejo, vejo… vejo vantagens. Por um  lado… é assim,  também à uns anos a esta parte as 

pessoas  também  tinham mais  disponibilidade  e,  cada  vez mais  portanto,  sei  lá,  eu  estou  a 

pensar…  aqui  há  dez  anos  as mães, muitas  não  trabalhavam  e  vinham  à  escola  de  vez  em 

quando (…) hoje, com a vida que se tem, se não for assim, ninguém vem à escola. Então fecha‐

se,  isto  aqui  assim  torna‐se  numa  “coisinha”  fechada.  Eu  acho  que  nós  não  nos  podemos 

fechar. A escola tem de estar aberta. 

E – Estes contactos que  faz, que são prática comum do Agrupamento, ajudam a que os pais 

sintam maior aproximação da escola e como diz, sintam a escola mais disponível, mais aberta e 

portanto,  também participam mais. Os pais  geralmente participam  em  actividades que não 

sejam só as reuniões formais, outro tipo de actividades? 

A – Outro  tipo de actividades não  temos,  sinceramente, não  temos  feito. Porquê? Porque a 

escola também não tem condições. Repare, nós para fazer uma festa de Natal, onde é que a 

vamos fazer? Conhece a escola? 

E – Sim. 

A – Onde é que vamos fazer uma festa de Natal? Com plano A ou plano B? Na sala? Nós por 

exemplo, aqui nos pavilhões, eu  já estou… este ano é o quinto ano aqui… portanto  já estive 

aqui quatro anos seguidos com alunos que  já foram este ano para o segundo Ciclo. Aqui tem 

sido  prática,  chove,  não  chove….  Vamos  todos  para  aqui  fazemos  aqui  um  “bocadinho” 

comum. Agora, nesse aspecto, não. Está a ver as actas, quase  todos aparecem e depois eles 

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ainda fazem este registo, das vezes que aparecem e não aparecem. É um registo dos assuntos 

que são tratados, que é um por aluno. Isto não é obrigatório. É trabalho…  

E – Mas, eu julgo, nesta situação de reunião, se não é um a situação formal, não é... se não é 

obrigatório  para  os  pais  virem,  se  eles  vêm  …  pode‐se  considerar  que  se  trata  de  uma 

actividade promovida pela escola… 

A – Não é de carácter obrigatório, é facultativo. Mas, como lhe disse, são calendarizadas logo 

no início do ano. Eles são informados logo no princípio do ano. 

E – Não tem outras actividades? Mesmo sendo actividade de sala? 

A – Actividade de sala já tive e tive experiências positivas. Por acaso foi pouco tempo… as duas 

actividades que  já  tive na sala de aula…  foram por pouco  tempo,  infelizmente, para mim ou 

felizmente, não sei…. Mas, foi quando apareceu a história dos Magalhães, houve um pai… eu 

manifestei‐me  que  gostava  que,  se  alguém  se  voluntariasse,  que  alguém  viesse  dar  umas 

luzes… e houve um pai que,  sim  senhora, disse que vinha às  sextas‐feiras e não  sei o quê… 

depois informei‐me junto do Agrupamento, a ver se podia. O Agrupamento disse que sim, sim 

senhora podia. O senhor, o encarregado de educação veio aí, depois por motivos de trabalho, 

dele  só  veio, penso eu,  aí umas quatro  semanas. Mas, por  acaso estava  a  resultar. Para os 

miúdos, para mim, pessoalmente e, esse encarregado de educação também se apercebeu das 

dificuldades do que era trabalhar com vinte e três crianças. 

Outra  também  foi na área da expressão plástica, uma mãe se voluntariou para vir dar umas 

“aulinhas”. Foi interessante mas, também foi pouco tempo… começou assim no final. 

Agora, é o que eu digo, eu acho que devia haver mais mas… com carácter… não é  ir à escola 

por  ir,  com  um  carácter  de  responsabilidade.  Porque  se  não  for  com  carácter  de 

responsabilidade de responsabilidade, não vale a pena. 

 

E – Nesse sentido de depois não terem tempo? 

 

A – Exactamente. Ou virem quando apetece. Devia ser com um carácter, como nós definimos 

no  início do ano estes encontros, no  fundo as reuniões mensais, eu acho que também devia 

estar programado. A gente adere a  tantos projectos no  início do ano, que muitas vezes, na 

prática, não são realizados… porque não também fazer estes encontros, essa interacção com a 

comunidade. E não há, realmente não há. Mas é pena. Mas, também talvez pela sociedade em 

que vivemos… repare que ninguém tem tempo para…   A escola está quase a funcionar como 

um  despejo.  Como  viu,  á  pouco,  a  dificuldade  que  há,  em  agora,  em  dois  dias,  alterar  um 

horário.. tá a ver? Apercebeu‐se? 

 

A – Hum, hum… 

 

E –  Isto é das provas de aferição… Alteram‐se os horários, os meninos só vêm de tarde,  já é 

uma problemática! Portanto,  a  sociedade, os pais, não  têm  vida para,  se  calhar, estar mais 

tempo  na  escola.  E  nós  notamos  isto,  há  colegas  que  fazem  este  atendimento  à  hora  de 

almoço e, não vem ninguém. Ou,  se o  fazem  logo às quatro horas,  também quase ninguém 

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vem. Aqui, a esta hora (17h 30m) sou só eu mais duas ou três, que estamos a fazer a essa hora, 

e  apanha‐se  mais  gente.  A  gente  já  tem  por  experiência  que,  a  partir  dessa  hora  ainda 

apanhamos…  sujeitamo‐nos  é  a  sair  daqui  às  oito  horas  da  noite.  Porque  há muitos  que 

chegam aqui às  seis, que é quando a acabam o  trabalho deles… e nós, ainda  cá estamos e 

temos de os receber. Temos de os receber mas, é claro, também é do nosso interesse. 

 

E – porque é que acha que, agora se fala tanto nesta questão da relação escola‐família? 

 

A ‐ … Eu acho que esta questão… porque que se fala?... Porque é que se fala nisto? 

É por  isso mesmo, é porque, porque… se não houver esta  relação  tudo  falha. E, até aqui,  já 

digo  até  à  uns  anos  atrás,  havia  sempre  o  acompanhamento  dos  pais.  Eu  lembro‐me,  eu 

andava na escola e, quando eu não fazia as coisas, o meu pai obrigava‐me a fazer. E, se me ia 

para queixar ao meu pai, que eu tinha dito isto e aquilo… ainda levava uma chapada. E agora 

acontece a situação contrária. Portanto, eu acho que é  importante para cativar os pais, para 

cativarmos os filhos. Porque caso contrário, isto é apenas um despejo, não importa… acho que 

já não  importa  se a criança está a  fazer aprendizagens, ou não está a  fazer aprendizagens… 

importa é se a criança anda bem disposta ou maldisposta…  e não pode ser assim. A escola não 

pode ser vista como  isso, na minha perspectiva enquanto profissional, eu não me demito da 

ambição que tenho, que é: ser professora, ensiná‐los e educá‐los. Se alguma coisa não têm.. . 

já a doutor Inês Sim Sim, disse publicamente que se chegarem à faculdade e não souberem o 

que é um adjectivo que ainda estão muto a tempo de aprender. Já lhe ouvi muitas vezes isso.. 

e é a Dr.ª Inês Sim Sim. E, para nós chegarmos aí, mais vale a gente se  ir encontrando, e  isso 

era fundamental, de vez em quando, porque assim, até os pais sabem o que é um adjectivo. 

 

E – Então, para si, o que é a essência, fundamental e que devia ser a relação, ser uma relação 

ideal seria os pais participarem cada vez mais na escola e, sobretudo, como dizia, perceberem 

que a função da escola não passa só por tomar conta dos filhos? A função passa pela vinda dos 

pais mas numa vinda com sentido, com… 

 

 A ‐ … de formarmos os filhos. Em conjunto, formarmos em plenitude, uma criança. Ajudá‐la a 

crescer na plenitude, não deve ser só em aprendizagens… é crescer na plenitude, é prepará‐la 

para  a  sociedade.  No  sentido  de,  em  conjunto,  prepararmos  uma  criança  para  a  vida  da 

sociedade. 

 

E – Acha que os seus colegas, os que com quem  tem mais  relação, sejam aqui da escola ou 

não, mas os colegas em geral, pensam da mesma forma? 

 

A – Hum… Há alguns que não pensam, há outros que pensam. Eu respeito quem não pensa, 

mas eu penso… 

 

E – Mas acha que pensam de outra forma porque valorizam outras coisas? Ou não valorizam a 

relação com os pais? 

 

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A – Porque acham… Talvez seja por isso. Eu, mesmo que estejam cá vinte e três, se vinte não 

ouvirem, mas  três  ouçam…  eu  já  acho  bom.  Pode  ser  que  estes  três  sejam  aqueles  que 

precisam de ouvir. A gente nunca sabe. 

E – Exacto. 

 

A – As  colegas dizem: eu  falo,  falo,  falo e  chego  à  conclusão que ninguém me ouve.  Eu  se 

calhar, às vezes, também chego a essa conclusão… eu também  já expliquei na outra reunião 

que  as provas de aferição era não sei o quê… e agora, ainda me vêm perguntar, mas porquê… 

Mas pronto, se não ouviram três.. . Olha, hoje ouviram três, noutro encontro ouvem quatro, já 

são sete, noutro ouvem sete, já são catorze… à medida que nos formos encontrando, alguma 

coisa  lá  fica  e,  pelo menos  conhecem  a  professora…  vão  conhecendo  a  professora.  Talvez, 

conhecendo‐nos também um bocadinho a nós, talvez também façam depois, em casa… passar 

essa  mensagem  aos  filhos.  “A  professora  é  vossa  amiga”  se  calhar  até  “quer  que  vocês 

aprendam”… e não  sei o quê. Uma  coisa que eu digo aos pais é, em  relação aos  filhos: “se 

quiserem dizer alguma coisa em menosprezo da professora, que o podem fazer, nunca o façam 

ao pé dos vossos filhos. Façam com o marido, façam com o companheiro, façam‐no com uma 

vizinha,  façam‐no  com  quem  quiserem.  Nunca  perto  dos  vossos  filhos,  porque  perdem  os 

vossos  filhos”. “Perdem as aprendizagens e eles não  têm mais confiança no profissional que 

têm  à  vossa  frente”.  Porque  estas  coisas  têm  de  ser  ditas,  se  não  forem  hoje  têm  de  ser 

amanhã. Porque no  fundo,  com estas  reuniões, quase que arranjamos um bocadinho, um a 

“escapadelazinha” para ir bater no mesmo. 

 

A – E como é que, normalmente, os pais reagem a essa situação de…   quando  lhes pede que 

sejam  frontais,  como  dizia,  que  peçam…  nesse  caso,  lhes  pede  ajuda  para  evitar  certas 

situações, mesmo com os alunos. Tem alguma reacção de imediato dos pais ou, normalmente, 

não se manifestam? 

 

A – Não, há alguns que não  se manifestam mas, nem para o positivo nem para o negativo. 

Portanto, não se manifestam. Mas, há quem se manifesta… há quem se manifeste. Portanto, já 

este ano, com o primeiro ano, tenho aí pessoas a manifestarem‐se, muito bem, sim senhora…  

Em relação aos quatro anos que deixei, eram pais muito participativos agora estes… lá está, é 

preciso  nós  nos  darmos  a  conhecer…  à  medida  que  os  conquistamos,  à  medida  que 

conquistamos os pais,  conquistamos cada vez melhor os filhos. 

 

E – Sente que com os outros pais já tinha uma relação muito próxima e que agora, ainda está a 

construir a relação com estes pais? 

 

A – Ah, sim… é isso, a relação constrói‐se, não tenha dúvida. 

 

E – Possivelmente, no próximo ano, poderá pensar nos  tais projectos, ou não é assim uma 

coisa que a preocupe? 

 

A – É assim, eu, os projectos, estou envolvida num, já há … desde que estou aqui nesta escola, 

há seis anos, tenho estado sempre no projecto do Clube da Floresta (…). A única actividade em 

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que nós envolvemos a comunidade escolar abrangente, aos encarregados de educação, é um 

passeio  pedestre  que  fazemos  no  final  do  ano.  E  as  pessoas  têm  aderido,  quer  dizer,  não 

aderem a cem por cento mas, aderem, vão vindo, vamos conquistando. De resto, eu acho que, 

o  espaço  em  si  limita‐nos,  nós  queremos  fazer…  ainda  no  ano  passado,  queríamos  fazer  a 

entrega  dos  diplomas…  por  exemplo,  eu  acho  que  era  uma  coisa  interessante,  fazer‐se  os 

outros, estes pequeninos verem mas não é possível, nós não temos espaço que nos permita 

isso. Para já não temos um palco em que os outros possam ver, não é… e não vendo, dispersa‐

se tudo. A gente vê pelas pequenas festas que fazemos aí, o Magusto… portanto… 

 

E ‐ .. o espaço em si condiciona, e depois é também a questão do tempo dos pais perdido… 

 

A – Sim,  também o  tempo. A nossa  sociedade, a nossa vida.. a vida  social, profissional não 

permite esta aproximação… eu acho. 

 

E – Onde… se eu  lhe perguntar onde é que aprendeu a  lidar assim com os pais, onde é que 

aprendeu essa forma de aproximação aos pais, do que acha que é a relação ideal com eles? 

 

A – É assim, já dizia Sebastião da Gama, só se aprende com quem se ama e, na medida em que 

eu conquistar a criança, há dificuldades, mas se eu conquistar a criança mais facilmente… se eu 

conquistar a criança aprendem mais e depois, por acréscimo, os pais. 

 

E – Mas aprendeu essa forma de agir, por experiência… 

 

A – Também. 

 

E ‐ … por outras colegas… 

 

A – Também. A experiência… os melhores ensinamentos são as experiências, sem dúvida. Nós 

podemos trazer muitos ensinamentos, mas depois a prática, no dia‐a‐dia, de constatarmos as 

realidades tão diferentes, nós…. Esta turma, é tão diferente da outra realidade/turma que tive, 

tão  diferente…  a  outra  era  uma  turma  homogénea  em  termos  familiares,  de  estrutura 

familiar… era muito homogénea. Esta turma, por exemplo, em termos familiares é uma turma 

completamente  desestruturada,  completamente  desestruturada.  Ora,  se  nós  não 

conquistamos então muito menos. 

 

E – Pegando nas suas palavras, acha mais difícil a relação (quer dizer,  já passou), achou mais 

simples, mais fácil a relação com os outros pais, por serem de famílias mais estruturadas, acha 

que isso condiciona de alguma maneira, ou sente só que precisa de aproximá‐los de qualquer 

das maneiras? 

 

A  –  Isto  tem  a  sua  influência,  a  estruturação  familiar  tem  a  sua  influência. Mas  eu,  neste 

momento, não  lhe sei dizer… Sei‐lhe dizer que  isso é  importante e outra coisa que  lhe posso 

dizer é que em vinte e seis anos de trabalho nunca tive o que me fizeram o ano passado… que, 

sem eu saber onde é que eu ia, marcaram‐me um jantar onde estavam os vinte e três alunos, 

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onde estavam as vinte e três famílias, estruturadas e desestruturadas, mas estavam lá todas…. 

Desde bebés, a velhotes… estava tudo.  

 

E – Foi uma despedida? 

 

A – Foi. Que eu, nem pouco mais ou menos sonhava… eu  ia  jantar com o meu marido e um 

amigo do meu marido. Portanto, acho que vale a pena investir… e, eu acho que muitas vezes, 

não é preciso envolver, envolvê‐los… vamos  lá… há outra  coisa em que os envolvemos, por 

exemplo, nas tasquinhas… 

 

E – Sim, sim. 

 

A  –  A minha  turma,  do  ano  anterior,  foi muito  participativa,  foi muito  activa  sempre,  nas 

tasquinhas. Aliás nos quatro anos, fui quase sempre empurrada, aqui por… havia aqui duas ou 

três  mães…  uma  delas  também  é  nossa  colega.  Talvez  também  por  isso  empurrasse  um 

bocadinho  mais,  sabia  o  que  isto  custava,  estava  assim  de  que  lado  e  dava  um 

empurrãozinho…  mas,  eu  acho  que  era  importante  aproximá‐los  mais.  Mas  quando  os 

aproximar saber como os aproximar… e  isso aí também não  lhe sei dizer muito, o que  lhe sei 

dizer  é  que  é muito  importante,  diria  fundamental  uma  boa  relação  com  a  comunidade, 

comunidade familiar, da turma. 

 

E  –  Sente  que  é  importante  essa  aproximação.  Vê  onde  é  que  fica  a  fronteira  entre  os 

assuntos, ou os temas que podem ser …  ou entre a função do professor e depois a função dos 

pais? 

 

A – Tento fazer... Tento criar essa linha. 

 

E – Mas onde é que ela fica, em termos práticos, como é que conseguimos vê‐la? 

 

A – Ahhhh…    também não  a  sei  ver muito bem.   Mas, digo‐lhe uma  coisa, portanto,  agora 

tenho aí uns pais mais novos que eu, não é. Quando eu digo, “Dona Margarida! Dona Elsa!”, 

respondem “ Ai, não me faça ainda mais velha.” Desculpe, mas é a minha maneira de ser… não 

sei o quê, não sei que mais…” “Não entendam isto como um distanciamento mas fui educada 

assim  e  sempre  serei  assim,  já  não  é  agora,  com  esta  idade  que  eu  também  vou mudar. 

Também  tenho  os meus  direitos.  Portanto,  tento  rematar  porque,  como  se  costuma  dizer, 

quando a gente dá a mão, muitas vezes nos  tomam o pé,  tomam a outra mão, e às  tantas 

estamos todas: é tu cá, tu lá… E aí não. Não, não como distanciamento mas mantendo sempre 

uma distância. Não é distanciar os pais, atenção! Os pais sempre próximos, mas criar ali… Eu 

sou na  turma, eu  sou  responsável pela  turma, portanto aqui, quem manda  sou eu. Tenho a 

minha planificação , as minha coisas… como pais têm outras funções. No ano passado, no ano 

passado não, há dois ou três: “o meu pai também manda aqui, trabalha na Câmara”. “Ah?! O 

teu pai?!”, “É engenheiro na Câmara!” . Eu farta de saber. “O tu pai é como eu, se eu quiser  ir 

ao  gabinete  do  teu  pai  tenho  de  bater  à  porta,  e  o  teu  pai,  se  quiser  entrar  aqui  na  sala 

também tem de bater à porta. Mas quem é que te disse  isso?” “O meu pai disse‐me!” “Mas 

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onde está o teu pai?” “O meu pai foi‐se agora embora”. “Então vai  lá chamá‐lo!” E o senhor 

estava  ali  à  porta.  E  veio,  e  eu  disse:  “Olha,  agora  diz  lá  ao  teu  pai  o  que  disseste  à 

professora?” É importante às vezes confrontá‐los com esta realidade. 

Olhe, em relação às asneiras…  um miúdo aqui… ah! Era “alhos” e “bogalhos”por todo o lado… 

e não sei quê…. Quer dizer… E um dia disse‐lhe. “Ah, mas o meu pai também diz, porque é que 

eu não posso dizer!?”  “Vais escrever, não  sei quantas  vezes, que não  se dizem  asneiras na 

escola.” “Mas eu digo ao meu pai, e não sei quê…” “Então diz ao teu pai que escreva o dobro 

das vezes, é maior.” Nesse dia o miúdo caiu, o senhor veio aí, veio… “Mas olhe lá, o que é que 

o  senhor quer do  seu  filho? Não quer que ele  leve que escreva asneiras mas ele diz que o 

senhor as diz ao telemóvel.” “Ah, o cabrão! É professora é verdade, e não sei quê…  a gente vai 

ao telemóvel e tal, até se esquece, até se esquece… e às tantas isto, às tantas aquilo…” “Pois é, 

pois é… e depois, não quer  as diga?!” Às  vezes é preciso haver este  confronto mesmo… e, 

facilmente se apanha. 

 

E – O que é que achava, dada a sua experiência, na sua opinião, o que é que achava que seria 

importante  ensinar,  em  relação  a  este  assunto,  relação  escola‐família,  a  um  professor  que 

esteja a  tirar a  licenciatura? O que é que achava  importante abordar,  sobre o  tema escola‐

família? 

 

A – A… portanto… a uma pessoa que estivesse a tirar o curso? 

 

E – Sim, o curso de professor. O que acha que seria importante dizer‐lhe sobre este assunto, a 

relação escola‐família? O que é que ele devia aprender antes de vir para uma escola, para uma 

sala de aula, lidar com…? 

 

A – Saber ser e saber estar. Saber ser profissional e o saber estar, como profissional. Acho que 

era  fundamental. E, muitas vezes nós não sabemos estar, nem sabemos ser. Semeamos mal 

depois colhemos mal. Porque eu acho que, às vezes, também temos que nós… saber  fazer a 

sementeira, para depois podermos colher bons frutos. E acho, que nesse aspecto, tal como…  

Eu agora não estou muito a par dos currículos, conteúdos e objectivos da (formação)… 

  

E – Independentemente disso… 

 

A  –  Tal  como  aqui  à  alguns  anos, há bastantes  anos,  vinte  cinco  anos, havia uma parte da 

legislação que nos ensina a  legislação, na altura aplicável …. E como se  fazia  isto, e como se 

fazia aquilo. Mas acho que na parte da família também havia de haver um trabalho a fazer, da 

família. Mas, não  sei até que ponto, a escola,  sozinha, pode  fazer  isso. Porque  isto é muito 

envolvente, eu acho que a parte  social, a  sociedade, em  si,  também não permite. A vida, a 

nossa  vida …  como  é  que  eu  hei‐de  dizer…  as  vidas  profissionais.  Hoje,  toda  a  gente  vive 

ocupada, acho que não temos tempo para nada… passamos o tempo a correr. 

 

E – Sente bastante isso com os pais? 

 

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A – É notório, bastante notório. Cada vez mais os pais têm menos tempo para os filhos. Outros, 

também dizem que não têm tempo, que não têm tempo para os filhos, mas depois também 

têm tempo para outras coisas. São opções. 

 

E – Acha que será a forma como a sociedade, agora se organiza, não é?! 

 

A – Exactamente. Porque hoje a sociedade pensa que é bom andar em tudo. É bom andar no 

karaté,  é  bom  andar  no  ginásio,  é  bom  andar  na  dança,  é  bom  andar  nisto,  é  bom  andar 

naquilo… depois vieram as actividades de enriquecimento curricular… é bom estar na escola 

até às cinco e meia e depois até ainda há o CAF. E isso deixa‐me disponibilidade para eu ir ao 

ginásio, para deu poder ir à praia sem o filho atrás. Portanto eu acho que aí, a escola não sei de 

que modo poderia intervir. Devia intervir. Mas a outros níveis… haver uma escola paralela para 

pais. Como agora está muito na moda, estas conversas com pais. Porque não conversas com os 

professores. 

 

E – A forma como está a falar, nunca tinha pensado nisso, não dessa forma, mas leva a pensar 

que os professores é que não se actualizaram juntamente com a sociedade toda… ou que nós 

como professores é que nos  temos de  ir adaptando ao que os pais nos  trazem, aos que os 

pais… 

 

A – Mas isso já nós fazemos. Repare, que nesse aspecto, nós já fazemos. Eu, por exemplo, há 

colegas  que  dizem:  “Eu,  dar  o  meu  contacto  pessoal?  Não.”  Os  meus  encarregados  de 

educação têm o meu contacto pessoal, têm os meus contactos pessoais, fixo, rede móvel. Sim, 

senhora,  há  qualquer  problema,  eu  sou  responsável.  Não  tenho  problemas,  os  meus 

encarregados de educação, todos têm o contacto, o meu contacto. E acho isso fundamental. 

Enquanto  que  há  pessoas  que  dizem,  há  pessoas  que,  determinantemente,  não  dão  os 

contactos. Estão no seu direito.  

 

E – Mas  sente que, uma vez que abre as portas e que partilhe  com eles o que os meninos 

fazem na sala e o modo como os ensina,  também sente, de alguma  forma deve abrir, neste 

caso,  facultar  os  contactos  para  qualquer  coisa  que  seja  importante. Ou  seja,  não  abrir  as 

portas e depois voltar a fechar, no sentido de não lhes facultar isso? 

 

A – Não, não. E aliás, eu digo sempre: “Senão puderem vir nestes dias, dão um  toquezinho, 

que eu tenho muito gosto em atender noutro dia.” Nunca fecho as portas aos pais. Pode não 

ser por muito tempo, uma conversa muito alongada. Mas acho que é importante, até porque 

os miúdos, e se calhar agora vou‐me repetir, os miúdos sentem isso: “A minha mãe nunca vem 

à escola”; “A minha mãe nunca tem tempo para vir à escola”. Portanto, e choram. Mesmo para 

os miúdos, é  importante que, de vez em quando, sintam que a mãe vem à escola. Se os pais 

soubessem a importância que os filhos manifestam, para nós, o quanto é importante para eles, 

a vinda deles (pais) à escola, eu tenho a certeza que, se calhar, vinham mais vezes. A não ser 

que não sejam mães ou que não sejam pais. 

 

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11 

 

E – Neste caso estava a falar no plano afectivo, aqui da questão da relação, não é?! No caso 

dos alunos perceberem quando os pais participam, ou que vêm das coisas deles e que sentem 

essa ligação também com a professora. Porque os meninos têm essa ligação, e sempre vão ter, 

essa ligação especial com a professora. E isso torna os pais também próximos da professora e 

também facilita a relação deles com a escola e com a professora e, mais a mais, tratando‐se de 

meninos de primeiro ano e que vêm à escola, pela primeira vez neste modo mais formal, não 

se  sentem  tão  sozinhos, não  é?! Ainda  há  uma  relação  bastante  próxima  com  os  pais mas 

criam  uma  ligação maior  com  a  professora.  Em  termos  educativos,  como  falava  à  pouco, 

mesmo com a questão das asneiras, com o menino que dizia asneiras, sente que os pais  lhe 

dão esse, não diria poder, mas essa aproximação. Não só curriculares, como também a nível de 

situações de recreio... como é que os pais falam consigo sobre? 

 

A – Falam, falam… para  já há um mapa de comportamentos. Quando chegam aqui, porque o 

encontro  é  sempre na última quarta‐feira do mês. Chegam  ali, olham para o mapa,  vêm o 

panorama… e perguntam: “E porquê!?” “É por isto, por aquilo…” E depois a gente diz o que é 

que se está a passar. Tenho aqui um miúdo que tem um péssimo comportamento, mas é um 

óptimo  aluno.  É  penalizado  depois  na  avaliação  final  do  período,  porque  na  parte  do 

comportamento ele tem zero ou tem um por cento, é penalizado. Tenho de penalizar. 

 

E – Os pais pedem a sua colaboração, nessas situações? 

 

A – Pedem, pedem. E o mau comportamento, vamos  lá ver, eu não estou aqui a dizer mau 

comportamento no sentido de … este miúdo é muito irrequieto, perto da hiperactividade, tem 

de  ser  controlado.  E  como  é  que  é  controlado?  Olhe,  é  por  sinais  vermelhos  que  são 

controlados.  Portanto,  e  nesse  aspecto,  portanto  os  pais  reagem  bem.  Não  tenho,  por 

enquanto não tenho, de todo, razão de queixa. 

 

E – estava a recordar‐me da situação anterior, em que a mãe dizia que não sabia o que é que 

havia de fazer. Em relação a esses meninos que têm comportamentos mais agitados, acontece‐

lhe haver algum… 

 

A – Eu costumo dizer: “Se a senhora não sabe gerir essa situação”… “Ai professora, eu já não 

sei que volta é que lhe hei‐de dar?”… “Então se a senhora, como mãe…” mas eu digo isto assim 

muito calmo, muito  tranquila, e depois com o ar de graça… “ É engraçado, Oh Dona não sei 

quantos, então se a senhora não consegue dar a volta a um, como é que eu consigo dar a volta 

a vinte e três?! É uma chatice!”… “Ai veja se faz alguma coisa dele, que eu não faço nada dele”. 

“Olhe que é uma chatice, já pensou!? Veja lá!?”   

 

E – E isso acontece com mais frequência, de alguns anos para cá ou não nota isso? 

 

A – Ah.. há alguns para cá, quer dizer, porque também não se levantavam tantas questões. Os 

miúdos  eram mais  dóceis, mais  obedientes.  Também  não  havia  aquela  história  de,  hoje  se 

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“encosta”   mais  a uma  criança e,  vai  logo para o Agrupamento e…  as  inspecções e não  sei 

quê… tá a ver?! E depois criou‐se essa linha directa para a inspecção, essa … sinceramente, eu 

acho que de  vez  em quando, não  sou  apologista…  eu  acho que o nosso país  é um país de 

extremos, ou oito ou oitenta… passámos do oito para o oitenta, em que nada era permitido e 

agora  tudo  é  permitido.  E  não  é  assim,  não  devia  ser  assim.  E  depois  as  coisas  tornam‐se 

banais. E depois, temos o país que temos e a educação que temos. Porque, e a colega é muito 

mais nova do que eu e, com certeza, ainda teve algumas regras. Então  imagine as minhas. E 

agora  veja  as que,  as dos  alunos que  recebe.  Eu  costumo dizer:  cada  fornada  é pior que  a 

outra, cada fornada que entra é pior que a outra. 

E – E dessa maneira sente que aproximar dos pais, pode de alguma forma, a superar isso. 

 

A – Disso, disso, eu não tenho dúvida. Tem de haver uma conquista. Mas acho que  isso, em 

tudo na vida. Acho que em tudo na vida. 

 

E  – Mas  acha que dificulta…  eu queria que  agora, de uma maneira  geral,  identificarmos  as 

dificuldades que foi dizendo ao longo desta nossa conversa… as dificuldades que foram sendo 

ditas  sobre  esta  relação.  Uma  delas  será  a  disponibilidade  dos  pais,  o  tempo, mas  agora 

falávamos da questão da ligação, da abertura aos pais da… que haja essa ligação dos pais, essa 

disponibilidade não só física mas também de atitude para com a escola… ou sente que parte só 

dos professores? 

A – A escola está mal vista pela sociedade em geral e, a partir daí está tudo dito, acho eu. O 

que é que a colega sente? Não acha que a escola estão, de uma maneira geral, mal vistas? O 

ensino está descredibilizado. 

E – Mas assim, dessa  forma, a atitude do professor pode ajudar a mudar a  forma como  isso 

acontece. 

A  –  Nós  tentamos…  e  eu  quero,  com  os  meus  encarregados  de  educação,  dar  mais 

credibilidade, aproximá‐los o mais possível mas, no geral, no geral, no geral, a gente sente que 

a escola cada vez ter menos… mais, está a ser mais…. Portanto desacreditada. 

E – Mas tendo noção dessa dificuldade… age dessa forma para evitar… 

A  –  Acho,  acho,  acho…  uma  aproximação  com  toda  a  comunidade  educativa:  pais, 

encarregados de educação… acho  importante esta  relação, essa proximidade. Acho que sim. 

Com essa proximidade podemos mudar muita coisa. Na medida em que nós nos conhecermos, 

de parte a parte, melhor podemos lidar com as situações. 

E  –  Então,  para  finalizar,  acha  que  há,  pensou  em mais  alguma  coisa,  que  acha  que  pode 

melhorar essa relação? Ao  longo desta nossa conversa falámos muitos assuntos, sobre coisas 

que  faz e que  sabe que desse modo aproxima os pais e que cria uma boa  relação com eles 

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mas, há mais alguma  coisa que gostava de  fazer ou que pensa que poderá ajudar mas que 

ainda não … 

A – Eu acho que havia muita coisa para fazer… 

E – Assim, em termos práticos, o que é que acha que devia? 

A – Sei lá… de vez em quando vir uma avó contar uma história, achava giro. O problema é que 

muitas vezes (se esta coisa aqui não estivesse) … 

E – Mas pode falar à vontade… 

A – É que muitas vezes, as pessoas não vêm aqui com o espírito de dizer assim: “venho … vou‐

me  dar,  vou‐me  e  entregar! Vou  contar  uma  história  para  os meus  netos!”  Como  eu  digo, 

vocês  são  os meus  filhos  aqui,  e  constituímos  uma  família.  Pronto,  eu  com  eles,  aqui  faço 

questão…. Nós somos a família, aqui eu sou a pessoa mais velha. Se a pessoa que venha para 

aqui,  vier  com esse espírito,  tudo bem. Agora,  se  vem  com o  espírito de  ver  tudo…  e mais 

alguma coisa, menos com o espírito interiorizado… lá está, daquilo que quer transmitir, depois 

não consegue transmitir… não sei se me fiz entender. 

A – Sim,  sim. Mas  imaginando…  com estes encarregados de educação  consegue, de alguma 

forma, que eles vão entendendo que  tenha essa postura e, uma vez que  têm  facilidade em 

recorrer a si, verificar todos os trabalhos que estão a ser feitos. Acha que pode chegar a uma 

altura em que eles podem vir, realmente, com essa postura? Ou sente que eles vêm sempre 

para poder controlar? 

A – Não, eu não tenho medo do controlar. Atenção, atenção, eu quando digo no sentido de ver 

outras coisas, não é no sentido controlar. Porque eu não me importo de ser controlada. 

E – Mas eu não falo de controlar a professora, falo de controlar no geral. 

A – Sim. Porque aquela miúda é mais certa… aquela não sei que mais… a mim podem controlar 

à vontade. 

E – A postura de abrir a sala, por si só, mostra que não há essa questão do controlo. O controlo 

no sentido de vir ver como é que as coisas acontecem. 

A – Abrir a sala, não há problema nenhum, com quem quer que seja. Não tenho problemas de 

abrir a sala a ninguém. E digo‐lhe mais uma coisa colega, não sei se a colega tem muito tempo 

de serviço, se não? 

E – Alguns, alguns… perto de dez. 

A – Eu acho que… já teve alguma inspecção na sala? 

E – Já. 

A – E qual foi a impressão?  

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E  – As  pessoas  que  vieram,  não  vieram  com  ar  de  inspecção,  como  nós  achamos,  não  é?! 

Vieram com uma postura de ver o que é que está a ser feito. 

A – E portanto, com que ideia é que ficou? 

E – Na altura não… 

A – Faz‐lhe impressão vir a inspecção? 

E – Não, de maneira nenhuma. 

A – Então está como eu. Eu já tive três, já fui inspeccionada três vezes. 

E – Eu acho que, quando as pessoas sabem o que estão a fazer… 

A – E sabe o que é que, uma vez, me disse um inspector: “Para ver o que se vai na sala basta 

entrar e sair”. Portanto, não tenho medo de abrir a sala a ninguém. Tudo o que aqui está… 

E – A minha questão é mais no  sentido …  se acha que quando os pais perceberem melhor 

aquilo que a professora pretende, se mais facilmente eles virão com o objectivo de dar alguma 

coisa aos seus alunos… no sentido de contribuir para uma aprendizagem? 

A – Eu penso que os pais também estão, como é que eu hei‐de dizer… os pais têm medo, acho 

que têm algum receio. Criaram, acho que tal como nós para com a inspecção, criámos receios, 

não é?! Criámos receios.. que para mim não são receios nenhuns, eu não os tenho… Ai e não 

sei o quê… aulas assistidas. Eu  já não preciso de aulas assistidas, mas pronto. Mas as aulas 

assistidas, eu acho que se as pessoas  trabalharem naturalmente não  têm problemas. Agora, 

em relação aos pais, também acho que têm esses receios. “Porque eu vou… e se falho?” Acho 

que em relação aos pais também há essa postura. 

E – Nunca tinha pensado nessa possibilidade. 

A – Porque a gente pergunta, por exemplo, no ano passado tinha ali três abóboras… É pá, eu 

queria  fazer disto um presépio. Alguém aí  tem  jeito para a costura para  fazermos daqui um 

presépio? Ninguém se ofereceu. “Não me digam, que diante de vinte e um, ou vinte e dois pais 

que  tenho aqui,  tenho de ser eu, que não  tenho  jeito nenhum para a costura, a  fazer umas 

vestes para o S.  José e para a Nossa Senhora? As abóboras  trouxe‐as,  foi um desafio numa 

reunião… “Não me digam que eu, que não tenho jeito nenhum para a costura, aqui com vinte 

e  três…  e  aqui  com  pessoas  que  eu  tenho  a  certeza  que  até  trabalham  nesta  parte  da 

decoração… e tenho que eu ir fazer isto?” “Ah professora! A professora já sabe tão bem dar a 

volta… deixe cá ver, eu  levo o S.  José.” Eu acho que às vezes é preciso  isto… porque os pais 

também têm receios, também têm receios. Acho que havia de… não sei… não sei o que é que 

devia ser feito para que os pais tivessem mais confiança na escola. Eram dois pilares, eu acho 

eu, muito  importantes. Eram os pais terem mais confiança na escola e,  interessarem‐se mais 

pelas…  intervir mais  na  parte  da  escola. Mesmo  nas  Associações  de  pais  a  gente  vê  com 

dificuldade. Aida agora se fizeram uma recolha de  inquéritos para a associação de pais e, em 

vinte e três alunos, têm três, eu recebi três papéis assinados. Há receios! Mas para quê, para 

quê?!  Isto era  importante. Eu desafiei‐os aqui:  “vocês  têm  tudo na mão, vocês os pais  têm 

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tudo na mão. Na medida em que vocês (oh pá… essa coisa) … na medida em que vocês… hoje 

nós, com os pais podíamos fazer muita coisa, sem eles… não fazemos nada. Mas eram os pais 

todos, não pais de uma turma. Eu falo por esta escola, esta escola, se fossem com outros pais, 

se calhar  já tínhamos um palco. Porque não se admite  (“gravador”) … não se admite, não se 

percebe, não se percebe… Faz‐me uma confusão cá na minha cabeça. Uma escola de cidade, 

paredes meias com a Câmara Municipal, com quem eu não  tenho nenhuma antipatia… nem 

simpatia,  nem  antipatia…  paredes  meias,  no  meio  da  cidade?!  Quando  são  feitos 

investimentos aí em escolas que vão  fechar?! E  temos esta a cair aos bocados?! As casa de 

banho  que  nem  uma  criança  que  parte  uma  perna…  tive  aí  uma  criança  com  uma  perna 

partida, durante um ano, andei eu a despejar o chichi na garrafa… o miúdo estava a crescer, 

nem rampas havia, nem nada… o miúdo fazia chichi para uma garrafa. Virava‐o ao contrário, 

porque nem eu tinha braços, para o levar. Fazia chichi para a garrafa, virava‐o ao contrário… e 

lá ia eu deitar ou então mandava outra criança… porque nem uma empregada aqui temos. As 

condições de  trabalho que nós  temos! Olhe, eu costumo dizer assim: Para as condições que 

temos, muito bem trabalhamos nós. E, para os pais que temos… muito boas são as crianças! 

 

 

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Professora Marta, dia 3 de Maio de 2011 

 

Entrevista Professora B – 3º ano 

Entrevistada B – (…) em casa (…) Porque depois também é giro… Não tem piada nenhuma. Mas 

depois é assim,  também não ajudam, mas  também não há aquela  relação “família”. Porque 

também não querem, porque também estão cansados, estão fartos e não sei o quê…. 

Entrevistadora – Por isso é que a professora dizia: Já que não fazem o trabalho (de casa)… ao 

menos estejam em família. 

B – Que convivam, olha, que convivam todos… Mas não?! Faz‐me  isto uma confusão porque 

eles estão a perder valores, a  todos os níveis, porque mesmo a educação, a postura,  tudo… 

que se, não for a família inicialmente, aqui (na escola) já é um bocadinho complicado. Eu tenho 

pessoas, que mesmo  tendo  esses  valores  e havendo  essas  regras  e  sendo persistentes  já  é 

difícil, às vezes, com certas idades… estes são assim e estão a fugir, parece que estão a fugir… 

até  já tenho mães que me dizem: “Eu já não consigo fazer nada dele” (…) Olhe, este grande, “ 

já não sei o que  fazer dele, em casa  já me chama nomes”. “Uma palmada!” “Ai não posso!” 

Porque é separada. “Depois o meu marido vira‐me a história” Olhe se calhar isso era bom para 

si e era bom para ele, para aprender.” Porque uma coisa é ir ao pai ao fim de semana, e outra 

coisa é viver com o pai. Porque depois o pai percebia que  também  tinha que  impor  regras. 

Porque  isto  de  ser  pai  ao  fim  de  semana,  é  excelente,  não  é?! Vai‐se  ao Mac Donalds,  ao 

cinema mais um filmezito e uma passeata e tá feito o fim‐de‐semana. 

E – Mas nota esse problema mais nestes miúdos que tem essa família desajustada ou … 

B – Ah, é. Depois em  famílias  juntas é o  “não há  tempo, não há  tempo”. Agora  também  já 

começo “ Não me venham com essa do não há  tempo, porque  também  tenho dois  filhos e 

tenho de me virar, ou levanto‐me mais cedo ou deito‐me mais tarde, porque depois já sei que 

vai ser um dia de cão, porque estamos cansados, e depois, as coisas não aparecem feitas. É pá, 

temos de nos organizar. Depois é assim, o que vejo é que as pessoas querem ganhar muito 

dinheiro para poder ter tudo e, não prescindem. Uma vez até disse a um pai: “Mas porque é 

que a mãe não vem trabalhar para mais perto?” “Ah, mas é que aquela aqui mais perto não 

ganha o que ganha  lá. Portanto, o  trabalho, a carreira,  tá  sempre em  função… de  tudo, é o 

principal. Por isso é que eu digo “É pá, não tenham filhos. Não têm tempo, não têm paciência, 

não tenham filhos.” 

E  –  E  nessas  reuniões  que  faz,  faz mensalmente,  não  é?  Pelo  que  eu  percebi,  a  nível  de 

agrupamento, ficou combinado? 

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B – É, é uma hora, das seis às sete. Mas é assim, sempre que querem. Só que entretanto, como 

vieram só oito, e andavam:  “Oh professora quando é que eu posso?” e eram uma data deles, 

e eu não posso estar aí todos os dias, durante meio hora ou um quarto de hora. Então pronto, 

o melhor é marcar já uma outra reunião e assim vai indo. Mas já estou a ver que… 

E – Nessas mensais, que não são propriamente de avaliação, os pais comparecem? 

B – Ah, nunca vêm  todos. Nem sempre. Bem, quer dizer, no ano passado vinham mais, este 

ano vêm menos. 

E – Mas menos de metade, ou metade? 

B – É mais ou menos ela por ela, metade. Nove, dez…  treze, no máximo. 

E – E tem alguma explicação para eles não terem vindo a essa tal reunião de avaliação? 

B – Eles também não vão às mochilas ver nada, então um pai dizia‐me: “Eu não sabia!” “Olhe, 

desculpe,  eu até colei com fita cola, já não fosse o papelinho não cair… tá colado com fita cola. 

E – Quando é que fez, foi no início do período ou no final (do segundo período)? 

B – Foi no final (do segundo período), no dia, parece‐me, 13 de Abril. Por causa destas provas 

de aferição, tinha de ser antes. E os pais sabem que há sempre. 

E – Queria voltar a questão mais para a descrição desta  relação que existe  com os pais, no 

sentido  de…  o  que  é  que  diria  a  um  jovem  professor  sobre  a utilidade  e  a  importância  da 

relação escola‐família, para os alunos? 

B  –  É  que  os  miúdos,  o  facto  de  os  pais  virem,  e  mostrarem‐se  interessados…  isso  é 

fundamental.  Porque  os  miúdos,  quando  sentem  que  os  pais  estão  presentes,  que 

acompanham,  e  que  se  ele  não  fizer  o  pai  dá  logo  por  ela…    e  pode,  não  é  bem  uma 

repreensão, mas uma chamadinha de atenção. O pai está por cima do acontecimento, os filhos 

sentem e podem pensar: “ tenho mesmo de fazer senão, tenho mesmo de fazer porque  isto 

afinal é importante. Mas não, a maioria, se for preciso, o que eu noto, é que os pais… a escola 

agora já não é também a prioridade e, portanto, se eles não vierem cá, há alguns não faz mal … 

e os meninos não têm agora a escola como uma coisa importante. Por isso é que, por um lado, 

os que  têm  uns pais,  com  essa  relação  ainda nota que os miúdos  são mais  empenhados  e 

gostam até de mostrar ao pai, aos pais, que tiveram boas notas. Os outros não, os outros… os 

pais também não ligam, tanto faz. 

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E – E como professora, nota que se os pais, nesse caso, têm mais proximidade consigo, e se 

têm uma relação mais aberta, nota algumas vantagens, para si? 

B – Só que os pais, mesmo que eles saibam que nós, se bem que os pais, já não foi nesta, foi na 

outra, Março, talvez… eles nem sabiam o que é que os filhos estavam a dar. Portanto, até me 

estava a dar pena, meu deus, como é que eles não sabem, não é preciso ir ao pormenor mas, 

mais ou menos… “olha o miúdo tá a  fazer  isto”. Tanto que havia um pai, que até dizia, quer 

dizer, o miúdo já está na escola, no terceiro ano, e o pai, só agora se apercebeu que as fichas 

mensais eram no final do mês ou no princípio do outro. “Ah, eu agora já sei! Ele não me volta a 

enganar, eu agora já sei que tenho de estudar com ele!” Sempre foi assim. “Eu não me tinha 

apercebido. Pronto, claro que o miúdo enganava o pai, dizia: “Ainda não é agora, ainda não é 

agora.” Porque depois os pais confiam muito nos filhos, pronto, não é, não é… 

E  – Mas,  independentemente  dessas  questões,  ou  desses  pais  estaremos, mais  afastados, 

porque noutras experiências anteriores podem ter acontecido de outra forma… onde é que vê 

a importância dessa relação, dos pais estarem próximos da escola, do trabalho dos alunos, do 

trabalho da professora… que vantagens é que vê? 

B – Ao nível da progressão do aluno. quer dizer, isto é tudo um bolo, não é?! Estamos todos a 

trabalhar para o mesmo e, mesmo em relação a situações que se passem em casa, se houver 

um, pronto… sei lá, se souber que aconteceu aquilo, ou outra coisa, eu aqui também, se calhar 

sei  lidar melhor, não é?! Porque este menino, por exemplo, ele ontem, ele não estava bem, 

porque mal se dizia qualquer coisa, chorava  logo. Ele nem é de chorar, é mais de bater e de 

espernear e gritar e não si quê… portanto, eu até lhe disse: “Tu hoje não andas muito bem, tas 

como o tempo!”. Portanto, ou passou‐se alguma coisa… e depois é assim, na sala nunca gosto 

muito de falar sobre… porque depois eles contam coisas que não (…) 

E  –  Sente  que  se  tivesse  havido  uma  palavra  por  parte  do  encarregado  de  educação,  já 

conseguiria… 

B – Pois, porque depois caminhamos todos para o mesmo, não é?! De o ajudar. Os pais estão 

separados,  mas  este  miúdo  depois  é…  a  forma  de  ele  chamar  a  atenção  é  na  base  da 

agressividade. Mas,  quer  dizer,  ontem  estava  a  chorar,  não  estava  a  ser  agressivo,  já  não 

estava a ser normal. 

E – Porque é que acha que se fala tanto, agora, sobre esta relação escola‐família, hoje em dia? 

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B – Ah, eu acho que sempre se falou. É assim, os meus pais, eram pais, sempre foram pais de 

vir às  reuniões e de estarem  interessados… eu acho é que sempre se  falou e sempre houve 

pais  interessados.  Mas  agora,  cada  vez  há  mais  pais  desinteressados  porque,  eu  não  sei 

porquê, acho que é esta sociedade, não é?! 

E – É essa questão da falta de tempo? 

B – Eu acho que as pessoas também não se esforçam muito, não sei. Eu acho que isto já é uma 

coisa… e depois acomodam‐se… não sei?! 

E – Isto é o que existe mas, na sua opinião qual seria o ideal de relação? 

B – O  ideal? Eu acho que… porque é assim, nem era preciso, realmente, se eles cumprissem 

um bocadinho o seu papel, não era preciso fazer nada de extraordinário. Porque a minha mãe, 

portanto, ela  ia às reuniões, e a nós, aos filhos que ela teve, ela só dizia. “ Têm que fazer os 

trabalhos”. Eu nunca tive a minha mãe sentada, como às vezes estou com os meus filhos: “Vá 

tens de  fazer. Vá, muito bem!  Sim,  senhora!”“Porque  têm de  ser motivados, porque  senão 

ficam  recalcados!”  (ironia) Eu não estou  recalcada! Eu se não  fizesse  levava e não  ia brincar 

para  o  quintal,  quer  dizer.  Não  havia  hipótese,  se  u  queria  ir  brincar,  tinha  que  fazer  os 

trabalhos,  e  era  assim.  Agora  não,  se  não  tivermos  sentados,  ficam  stressados,  ficam 

recalcados,  choram muito.  Até  lhes  digo:  “Olha,  chora  à  vontade,  às  vezes  até  faz  bem.” 

Porque, quer dizer, estes recalcamentos vêm de onde? É agora de repente? Porque eu acho 

que  a  psicologia  também  mudou  um  bocado…  e  não  se  pode  ralhar  porque  ficam 

traumatizados, não se pode dar uma palmada porque  ficam  traumatizados. Porque acaso os 

meus pais nem  eram muito de bater, mas quando  foi preciso… mas havia  aquele  respeito. 

Bastava ela dizer “Não sais daí enquanto não fizeres” E pronto, eu já sabia que tinha de fazer. 

Nem  havia  “Então  fazes  só  um  bocadinho”.  Porque  agora,  se  houver muito  “Pronto,  não 

precisas de fazer tudo, fazes só um bocadinho”. Mas não, no nosso tempo “Tens de fazer” e 

nós sabíamos que tínhamos de fazer. Agora não. É assim um bocadinho às pinguinhas. Toma 

lá, eu dou‐te um bocadinho e tu fazes um bocadinho.  

E – Acha que o ideal da relação seria os pais assumirem o papel deles, enquanto pais… 

B – E depois, não me venham com a história “Ah, eu sou assim porque sou um pai muito amigo 

dos meus filhos”; “Eu sou um pai muito amigo, que gosto…” Porque eu acho que os pais não 

perceberam que pais há só um, e amigos,  isso eles têm muitos, e vão e vêem. Os pais é que 

são aqueles. Portanto nós não podemos ser é … são os pais, claro. E temos de nos dar bem, e 

ser amigos. Mas eu não posso  ter uma relação com o meu  filho como se  tivesse  treze anos. 

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Porque há coisas que nós  já sabemos que eles não podem  fazer, não é?! Eu acho que agora 

quebra‐se um bocadinho essa história do “pai é pai”, é pai mesmo. Não implica não ser amigo, 

que acho que é muito bom, sermos amigos e darmo‐nos bem mas, tem de haver aquela noção 

de que, quando o pai fala, e há coisas que é não, é não. Não há volta, “o pai disse que não mas 

até pode.” 

E – Sente que os seus colegas também pensam da mesma maneira, os colegas em geral? 

B – Ah,  isto é um bocado global. Há aí casos… muito complicados. E eu… os meus alunos são 

assim um bocado ma comportados e barulhentos, e isso é mais ao nível de regras, porque eles 

não interiorizam. Já no ano passado não interiorizaram, este ano não consigo. Ou então tenho 

de andar aqui num regime militar. O que para mim também é um desgaste… chego ao fim do 

dia parece que nem consigo ouvir ninguém. Tenho que andar aqui “Calado!” , “Trabalha!”. Se 

eu me riu, pronto já estou desgraçada. Isto não é normal! É o que eu digo, isto não é normal. 

Que isto devia ser um espaço para eles estarem contentes. 

E – Mas sente essa mudança, dos alunos que teve há uns anos atrás para agora? 

B – Cada vez mais, eu acho que eles assim, mais indisciplinados. E não se pode, eu pelo menos 

com os alunos que tenho tido… eu também tenho tido sempre turma um bocado beras, sério. 

Tinha alunos que me ameaçaram de morte e  tudo. Claro que  são  crianças, mas o objectivo 

deles era matarem‐me. E tinha um que me atirou uma vez com um saco com areia. “És mesmo 

parvinho  então,  agora  fiquei  com  as  pernas  cheias  de  areia?!”  “Eu  queria  te matar.”  Estes 

miúdos, alguns, são muito agressivos. E depois é assim, não há psicólogos, os meios cada vez 

são menos, e nós às vezes até estamos assim, com muita pedagogia, muito… mas há dias, que 

é assim, o cansaço é tão grande, que eles realmente são tão complicadinhos… que há dias que 

nós não conseguimos seguir… já estou como o outro, o livro, não é!? (em tom de brincadeira). 

É mesmo complicado! 

E –  Já  falámos  sobre as  comunicações,  sobre a  forma  como  comunica  com os pais. Os pais 

facilmente a procuram para outras questões, ou esperam para aquele dia em que sabem que 

têm a reunião, uma vez que é mensal? 

B – É assim, há pais que não gostam de partilhar no grupo. Eu já expliquei que é bom estar no 

grupo. Mas há pais que  têm  vergonha, achas que  se disserem determinadas  coisas,  fiquem 

inferiorizados ou … eu tento dizer que não é ficar superior ou inferior, nós aprendemos muito 

com as experiências das outras pessoas e, se partilharmos… eu acho que é mais importante. E, 

já houve uma mãe que quis falar comigo em particular… e até foi por uma parvoíce, não tinha 

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nada a ver com a escola. Mas de resto, falam todos assim… há ali um menino que tem, que em 

principio vai pró ensino especial mas esses pais também não gostam de falar, porque também 

não aceitam. É um menino que está ao nível de um primeiro ano mas que estão  sempre a 

insistir “Quando é que ele vai acompanhar o grupo?”. Dá‐me vontade de dizer: “Não vê que 

ele não vai acompanhar o grupo.” Porque, por mais que a pessoa  faça, por mais estratégias 

que  faça, eu sei  lá,  foram mil e quinhentas  já… é com os materiais… é com  tudo. Depois ele 

desmotiva‐se. Agora  já está naquela  fase que  já  sabe que não está a  fazer o que os outros 

estão a fazer, não quer fazer. E a mãe  insiste em pô‐lo numa explicadora. Eu acho que é pior 

porque o miúdo… a capacidade de concentração do miúdo é muito reduzida. Por isso é que eu 

digo, que há pais que…. 

E – Há pouco falou sobre os psicólogos, de um grupo mais técnico, neste caso, em que falava, 

sente  que  talvez  os  pais  precisassem  de  uma  ajuda  maior,  que  não  fosse  só  do  próprio 

professor? 

B – Ah sim. Nós tínhamos uma psicóloga educacional, era do SPO. Mas nós agora já não temos 

SPO  aqui,  era  um  Serviço  de  Psicologia  e  Orientação.  Ela,  os  outros  também  serão,  com 

certeza, mas ela era muito boa, mesmo… nesse ano também tive uma turma péssima, horrível. 

Ela ajudou‐me muito. Mesmo em estratégias e… pronto, com aqueles miúdos mais ou menos 

específicos.  E  eu  senti  que  se  não  fosse  ela  eu  não  sei  se  aguentava  três  anos  uma  turma 

complicada. E se não tivéssemos, eu pelo menos recorria muito a ela… portanto, eu acho que é 

bom para os pais e às vezes é mesmo bom para os professores. Porque nós precisamos de 

ajuda, eu falo por mim, porque há miúdos que são muito complicados e que nós às vezes… é 

assim, é a tal coisa, eu num dia, uma semana até estou capaz de estar muito bem e lido porque 

me estou a esforçar… mas às vezes a pessoa está tão esgotada, tão cansada… e depois não é 

só aquele aluno, são os outros todos. Se não tiver realmente alguém que nos oriente às vezes 

um bocadinho, isto torna‐se mesmo complicado. 

E – Os pais, estes ou os que teve anteriormente, participam em outras actividades que solicita? 

B – Isto aqui também não há muitas actividades. 

E – E trabalhos que peça para fazer em casa? 

B – Ah isso eles (até fazem)… mas esta turma não é assim muito participativa. 

E – Não? 

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B – Não. São vinte… sei lá. Há assim, pequenos trabalhos, que nunca são obrigações, não posso 

obrigar. Mas digo‐lhes “quem quiser pode fazer”. São o quê… quatro, cinco que fazem, numa 

cartolina. 

E – E não fazem uma festa conjunta? 

B – não, porque eu acho que nós… isto não tem espaço. E então acaba por ser um bocadinho 

triste porque há uma  festa, que é sempre uma  festinha muito simples, depois há um  lanche 

partilhado mas  os  pais  também  não  podem  vir,  porque  não  há  espaço. Ou  tinha  que  ser, 

portanto, sei lá… nem sei onde?! Noutro sítio qualquer. O Barro, conhece a escola do Barro? 

E – Não. 

B – Eles fizeram a festa de fim do segundo período, parece‐me que foi à tarde ou num fim do 

dia. Mas aqui não há uma sala… para já são muitos alunos, que engloba os deste edifício e os 

de lá de baixo. E depois, não há um recinto. Eles também não cabem todos no Teatro Cine, por 

exemplo. 

E – Mas sente que talvez este tipo de actividades ajudasse a aproximar os pais? 

B – Claro. Fizemos uma vez, eu parece‐me que foi a festa de Natal, lá em baixo no pavilhão da 

S. Gonçalo  (escola  sede de Agrupamento), por acaso  foi  (positivo)… mas nem  sei  se os pais 

puderam  ir? Alguns apareceram. Mas mesmo para os miúdos, é diferente, porque ensaiaram 

qualquer coisa, subiram ao palco, há outra dinâmica, eles empenham‐se porque sabem que é 

para a Escola (Comunidade Escolar) ver. 

E  – Ontem  soube,  que  no  final  do  ano  costumam  fazer  uma  festa  conjunta  com  todas  as 

escolas do agrupamento? 

B ‐ … 

E – Não? Percebi mal? Uma feira? 

B – Ah, é o Oeste Infantil. 

E – Um arraial? 

B – Ah,  isso?! Ah,  lá em baixo na escola sede mas  isso, quer dizer… por acaso esta escola até 

nem participa muito, não. Porque às vezes  convidam algumas escolas a participar. Aquilo é 

para…   dá‐me a sensação para os (alunos) mais velhos até. As miúdas dançam, as do 4º ano. 

Mas depois, é assim, às vezes queremos também alguma relação com os outros professores, 

para  pedir  ajuda,  mas  eles  também  não  muito  de  participar,  os  professores  das  extra 

curriculares. Há um ou outro, que é mais… também tem a ver com a maneira de ser. Mas não 

são assim muito… a professora de Música gosta, fazer canção e… a de Ciência Divertida, já não 

dá,  mas  também  é  uma  pessoa  muito  acessível.  Depois,  a  de  Inglês,  sempre  tem  uma 

musiquinha ou assim, para eles cantarem. Mas mesmo que fosse para ensaiar uma dança, ou 

assim, não são assim muito… não quer dizer que não o fizessem. Mas às vezes parece que não 

são assim muito receptivos. 

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E – Que diferenças é que consegue lembrar‐se do início da sua carreira, desta relação com os 

pais? 

B – Ah, é assim, eu sempre me dei bem com os pais, acho eu. E depois é assim, no início estava 

numa  aldeia,  que  era  diferente.  Era  diferente,  era  um  bocado…  eu  sei  lá…  era  um  bocado 

primitivo. Porque eu tive sempre miúdos muito complicados, eu cheguei a ter miúdos que me 

batiam. Portanto isto é assim, é muito complicado. Agora eles portam‐se mal, mas pelo menos 

não  levo eu. Porque eu tive miúdos muito complicados, em terrinhas, que eu achava que até 

nem  estavam  assim,  no  fim  do mundo.  Estive  na  Enxara  do  Bispo,  tive  um menino…  esse 

miúdo era uma coisa pavorosa… nem sei o que é que o miúdo tinha. Na altura também não 

havia  estes  apoios  da  psicóloga,  veio  depois.  Sei  que  o miúdo  depois  foi  para  a Malveira, 

porque  lá havia mais apoio. Mas sempre me relacionei bem com os pais, desse não… os pais 

nunca apareceram, claro. 

E – Nesse caso, nessas escolas da aldeia, sentia que os pais estavam mais próximos? 

B – Eu acho que é igual, já! Porque depois é assim, também tem de trabalhar muito, também 

tem de ir para o campo, quase que já não há aquela diferença entre os meninos da cidade e os 

do campo e, entre os pais também não. Dantes, talvez os (pais) do campo estivessem por casa 

mas agora também já trabalham. Mesmo os pais que não trabalham, sei lá, que trabalham só 

no  campo,  também  têm  o  trabalho  deles.  E  pronto,  estou  a  lembrar‐me  que  estive  na 

Freixofeira, à dois, três anos… e se calhar também não iam os pais todos e eram poucos, devia 

ter, sei lá… catorze alunos. E também nunca iam todos (os pais). 

E – Não sente grande mudança? Mesmo desde o início da carreira? 

B  –  Não,  nunca  iam  todos  (às  reuniões/escola).  Eu  uma  vez,  na  Enxara…  outra…  “uma 

bebedeira”, não é?! Fiz uma reunião às oito horas da noite. Pensei, pronto não vou…  vou fazer 

à noite vêm todos. (risos) Não vieram nada. É assim, se é à tarde é porque estão a trabalhar, se 

é à noite é porque é o  jantar… pronto há sempre uma  justificação. Quem quer  ir vai sempre, 

quem não quer, não vai. Porque eles não estão para aí virados. Porque uma vez por mês, por 

uma vez… 

E – Tem alguma explicação, na sua cabeça para o afastamento dos pais? 

B – Dos pais não participarem? 

E – Sim, dos pais não aparecerem, não participarem? 

B –  Isso  temos de  ir um bocadinho atrás,  talvez a outra geração,  tenha  sido uma geração… 

porque  isto é cíclico, não é?! Porque a outra geração, era uma geração, portanto os nossos 

pais,  talvez, mais  cuidadosos, mais extremosos,  talvez. E eles  (os pais)  agora,  talvez, por  se 

terem sentido mais limitados e agora, querem dar mais espaço, não sei… dar mais espaço aos 

filhos. Mesmo  eles  dizem  “ai,  que  horror!  Não  quero  ser  como  a minha  mãe,  sempre  a 

perguntar onde é que eu estava, sempre…” Mas eu não, eu quero saber onde andam os meus 

filhos. Mas há pessoas  que eu sinto  isso, não são todas. Mas eu às vezes penso, eu também 

não sei, não sei qual é a razão… será porque eles eram mais aperreados. Os meus pais nunca 

foram  assim,  portanto  eu  nunca me  senti  oprimida.  Eu  acho  que  eram  pessoas  normais. 

Page 24: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

Portanto, haviam  regras. Mas eu  si que há pais que eram muito… portanto, as  filhas nunca 

podiam sair, aquilo ainda batiam com cinto e  tudo, aquilo era assim uma coisa… do arco da 

velha, não é?! 

E – Que serão os pais de agora, é isso? 

B – Agora esses filhos não querem fazer isso aos seus filhos… si lá eu. Eu… era tão raro os meus 

pais baterem‐me, eu não percebo. Tem a ver porque os outros pais  já  tiveram pais assim, e 

agora eles não querem.  

E – Na sua formação inicial lembra‐se de abordar este assunto, da relação escola‐família? 

B – Falávamos, nós até tivemos que ler um livro do… daquele psicólogo, Sampaio… 

E – Sim, Daniel Sampaio. 

B  – Que  era  “Inventem‐se  novos  pais”.  Eu  por  acaso  até  gostei muito  desse  livro,  porque 

realmente, ele aí já falava um bocado disto. Portanto isto já vem, já vem de algum tempo. Não 

sei se é do Pós  25 de Abril… que os pais ficaram assim meio… não sei. Os pais descartam‐se, a 

verdade é esta, descartam‐se das responsabilidades. 

E – Quando  saiu da  formação e entrou no mundo do  trabalho, na escola,  sentiu que o que 

tinha aprendido, na altura sobre a relação, de alguma forma a ajudou ou procurou ajuda com 

outros colegas? Sentiu que aos poucos a experiência podia ajudá‐la? 

B – É um bocadinho de tudo, não é. Eu acho que, pronto, realmente o que nós aprendemos (na 

formação) nos ajuda, mas também se vai conversando muito com os colegas. Porque isto, nós 

às  vezes pensamos,  se  calhar  sou  eu que não  consigo  ir  ao  encontro dos pais ou nãos  sei, 

qualquer coisa… mas se nós vamos falando com os colegas e vemos que afinal, não somos nós, 

são eles (os pais). E, às vezes, eu até digo coisas na reunião (com os pais) que não devo dizer, 

mas eu acho que eles (os pais) têm de ser abanados. 

E – Coisas relacionados com os filhos? 

B – Com os miúdos, com a relação deles. Porque eu  tenho uma mãe que acha que o  filho é 

assim uma coisinha muito pura e singela… e digo‐lhe “Olhe, não se esqueça que ele depois vai 

para  o  5  º  ano  e  ele  depois  faz‐lhe  um  ninho  atrás  da  orelha”.  Porque  ele  engana‐a, 

descaradamente,  e  ela  acha  que  não.  Ela  achava…  portanto  o miúdo  não  fez  os  trabalhos, 

umas coisinhas que eu mandei, dois ou três exercícios. E não fez uma vez, não fez outra, estava 

sempre  a  esquecer‐se…  tu  não  podes.  “Olha,  dá  cá  a  tua  caderneta  que  é  para  a  tua mãe 

perceber que …” É daquelas mães que gostam de falar dos outros, mas o filho dela  .. é uma 

coisinha. “Agora também  levas na caderneta, eu faço aos outros, e tu não és, nem mais nem 

menos.” E a mãe chamou o miúdo… eu até lhe disse “Olhe, eu não gosto de confrontar assim, 

eu estou  a  falar  consigo,  isto é um bocado…”  (mãe)  “Olha, ó Pedro, esqueceste‐te, não  foi 

filho?”  “Olhe mas  ele  esqueceu‐se  ontem,  e  antes  de  ontem…”  “Ah,  então mas,  foi  sem 

querer.” A desculpá‐lo, a desculpá‐lo… “Tu não sabias, não era?!” (aluno) “Ah, eu sabia, mas eu 

é que não quis fazer.” A confrontar ali o miúdo… e depois também é mesmo totozinha, quer 

dizer,  ela  não  acreditou  em mim,  ela  achava  que  eu  ia  escrever  um  recado  só  porque me 

Page 25: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

apetecia?! É mesmo  totó! E a confrontar ali o miúdo, comigo e com ela. Depois o miúdo  lá 

disse “não, eu é que não quis  fazer”. Ela “Ah, pois.” É o que eu digo, estes pais… em vez de 

dizer “Então não fizeste agora ficas de castigo, pronto!” Não. 

E – Eu ia‐lhe perguntar onde é se percebia a fronteira entre o que papel dos pais e o seu… 

B – Mas já não há. Já não há. Eu já sou mãe dos pais deles. Eu às vezes digo‐lhes: “Olha, podes 

dizer à tua mãe que se ela vier cá eu também ralho com ela.” Mas  isto é normal, eu estar a 

dizer ao miúdo que vou ralhar com a mãe?! 

E – Então é a favor da formação para os pais. 

B – Ah, eu acho que eles precisam muito. Porque eu  também  tenho colegas  (que são mães) 

minhas, que eu acho que também fazem coisas de errado. Mas eu também não lhe vou dizer, 

quer dizer,  têm quase a minha  idade, então não sabem que é errado porem os bebés a ver 

televisão. “Ah, esteve toda a tarde a ver televisão, adorou!” (risos) Um bebé de cinco meses 

adorou estar a ver, o quê? Flashes para a cabeça da criança. Mas não sabe que a criança não 

pode estar em frente da televisão… pessoas formadas. Por isso é que eu digo, isto está tudo de 

pernas para o ar. Não sei, não percebo. E se calhar, há mães que não têm formação nenhuma 

e que sabem, desde sempre que a  televisão  transmite  radiações e portanto, não convém os 

bebés estarem a ver televisão, quer dizer… por isso é que eu digo, eu não percebo estes pais. 

Em  de  fazerem  outras  actividades,  que  dantes  nem  havia,  nós  inventávamos  com  aquelas 

peças todas e não sei quê. Por isso é que eu digo, eu não percebo. E um bebé de cinco meses 

não dá trabalho, quer dizer. Se ela acha que dá trabalho, então imagine com dois ou três que 

não param, não é?! Por exemplo, esta mãe (apontando para a carteira onde se senta um dos 

alunos) e, não sei o que é que se passou, que ela tinha dito que o miúdo ia à natação. “Ah, é 

muito bom! Ele não foi durante o inverno porque estava muito frio.” Isso também é verdade. 

Agora já escreveu um recado a dizer que não vai mais. “Mas ó Pedro, porque é que não queres 

ir à natação?” “Ah, porque não, porque não.” Aquilo passou‐se alguma coisa, eu acho que ele 

percebeu que não sabe nadar. E então, lá está ela, com medo que o menino se sinta inferior … 

em vez de o ajudar a ultrapassar, porque ele vai ter, pela vida fora, frustrações … quer dizer, 

montes delas, né?! Então ela, de o ajudar…  “não senhora, fazes como sabes, agora não sabes 

mas vais… e numa semana ou duas, já sabes.” Não, não sabes, então não vai, agora os meninos 

vão  gozar  com  ele  e  ele  e  sente‐se  inferior. O  rapaz  depois,  quando  for  grande,  tem  uma 

frustração qualquer, desiste. Vai ser daqueles que toda a vida vai dizer “Não, não faço porque 

não sou capaz!” Em vez de dizer “Olha não, vamos tentar, depois logo se vê!” E depois vê‐se os 

jovens  frustrados,  deprimidos  e  angustiados  porque  causa  disto.  Por  isso  é  que  com  estes 

miúdos, eu  tento, com eles sei  lá, coisas que eu… explico ao contrário. E digo, olha é assim, 

agora vocês vão‐me explicar é porque é que é assim. Vou vos dar pistas. “Ah, não sei…” “Não 

me  venham  cá  com  a  cantiga  do  não  sei  que  isso  até  já  dá  nervos”  Porque  eles  estão 

habituados  é  assim,  assim,  assim...  faz.  Assim,  assim,  assim…  faz. Mas  pensar,  não.  Nem 

conseguem… ver a estrutura da coisa. “Isto é como se fosse um puzzle, vocês agora montam as 

peças”. Acha  que  eles  fizeram  puzzles  quando  eram  bebés  e  pequenitos?! Não,  não  fazem 

nada. 

E – Então,  sente que aqui, a escola está a desenvolver, não só as competências curriculares 

mas também a parte afectiva? 

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B – Eu faço isso. Porque senão, já viu que crianças eles se vão tornar?! 

E – Porque conhece os pais?! 

B – Porque a pouco e pouco vou vendo que  isto  realmente, em casa… porque  isto depois é 

assim, os pais descartam‐se sempre… vão para a creche, o trabalho dos tais puzzles e dos jogos 

já está feito. Portanto, em casa, é mesmo o baninho, a comida e a cama, pronto. 

E – … as histórias? Sente que eles não têm essa aproximação? 

B  –  Alguns,  alguns  (…)  Eu  por  acaso  até  já  devia  ter  começado  a  ler  a  história.  Todos  os 

períodos lemos um livro de Sofia de Mello Breyner e agora este, no último período, é para ler  

A Menina e o Mar… e o que eu achava, que eles iam achar uma seca portanto, que era eu ler e 

depois  rodando, portanto quer  tivesse  livro  ler  também… eles adoram! Eu até disse ao meu 

marido “Eu que pensei, eles até vão adormecer!” Eu às vezes até estou cansada e digo “Vá 

agora lê tu um bocadinho!” Eles gostam! Pronto, que eu fiquei parva. Olha os miúdos gostam, 

portanto, têm necessidade de criar, imaginar tantas histórias. 

E – Quando planeia as suas aulas já tenta pensar no…. Claro que fazemos sempre isso, pensar 

no todo… mas, pensa mais nos pontos que vê mais fracos… como nas leituras? 

B – É, nas  leituras. Quando há textos assim mais descritivos, porque eu gosto… alguns textos 

não dão para fazer isso, mas outros dão… Que eu digo sempre “Olhem, comecem a imaginar a 

história. Era uma vez… estão a  imaginar?! Era uma vez… Estão a  imaginar… a gente não sabe 

não sei o quê.” Depois vão pintando. “É como se fosse … como se estivesses a pintar, na vossa 

imaginação”. Nós ainda não acabámos A Floresta, o livro A Floresta. A Floresta dá muito… para 

Porque depois era a casa, uma casa muito grande, muito grande… depois é um quarto muito 

grande, a sala… ia acrescentando. “É uma casa enorme, só os ricos é que têm assim uma casa!” 

– dizia um. “Não, olha há pessoas que têm assim casas e nem por isso são ricas” “As casas são 

mesmo muito grandes, depois um jardim…” Portanto, eu fui fazendo, conforme ia lendo… eles 

ficaram encantados porque… pronto, estavam a imaginar. Eles gostam, eu acho que com esta 

leitura  assim, mais descritiva,  conseguem  ir  imaginando.  Porque  se  calhar,  alguns  sim, mas 

muitos… e tenho aqui um menino aqui à frente… que ele adora, adora mesmo, ouvir ler e ler! 

Portanto, não sei se ele não estava habituado, mas é uma coisa…  que nós estamos mesmo a 

acabar o outro livro. E ele dizia “mas ó professora quando é que vamos ler?” Eles pedem para 

ler…  se não gostassem nem…  “Ó professora quando é que vamos  ler, quando é que vamos 

ler?” “Calma, calma” Porque  temos de acabar alguns conteúdos… mas vejo que é uma coisa 

que… E eu  sei, que  se  for uma  coisa,  também  trabalhada… e nota‐se ali num miúdo que  lê 

bastante, mesmo na escrita… quer dizer, não tem nada a ver. A escrita… não devia ler ou não 

lhe  deviam  ler  porque,  portanto  ele  escreve  ainda,  muito  mal.  Depois  dois  ou  três,  que 

escrevem  já muito bem, o  texto está muito bem organizado. Se houver diálogo  já escrevem 

muito bem. 

E  – Quando  tem  cá  os  pais,  nessas  reuniões mensais,  aborda  essa  questão  da  leitura,  dos 

jogos? 

 

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B – Eu até… havia um programa, eu não sei qual é agora… como é que aquilo se chama. Eu 

até… foi, parece que tinha a ver com a biblioteca. Foi distribuído, os pais tinham uma folha, e 

portanto,  tinham de  ler o  livro e dizia…  aquilo dizia mais ou menos  assim  “Quando  li,  com 

quem li e o que gostei mais”. Já nem sei, era um projecto qualquer. Eles tinham de anotar… já 

não tenho ali nenhum. E, houve uma mãe, agora há pouco tempo “Ah, já nem sei onde é que 

tenho essa folha!” Mas podia anotar numa folha qualquer. Eu pensei cá para mim “Deves  ler 

muito, deves”. Não  lêem nada. Mas eu  acho piada, porque os meus  filhos  são miúdos que 

ainda gostam que eu lhes leia. Eu, por acaso, no outro dia, fiz ao contrário, o meu filho é que 

leu para mim. Porque,  se não  formos nós a mostrar que gostamos de  ler e a  ler, para eles 

perceberem. Eles não sabem que é bom, não sei, também não conhecem. 

E – Mas assim, quando nota essa falta em casa tenta colmatar aqui na sala de aula? Como foi a 

questão da leitura, Como a questão da indisciplina e do conversar com eles? 

B – sim, também converso muito com eles aqui. Eu às vezes também tenho de pensar assim 

“Eu não sou mãe deles. Eu não sou mãe deles, eu sou professora.” Digo para mim mesma. Mas 

eu, às vezes, quando penso “Caramba, tenho tantos filhos e eles não entendem?!” porque isto 

depois… são miúdos. Que se eu for a pensar, penso assim “os meus filhos, são mesmo meus 

filhos mas estes quantos, que estão aqui, eu não os trato pior como se não  fossem os meus 

filhos. Ralho, como  ralharia e, castigo… quer dizer “Não vais ao  intervalo, pronto”, “Olha, se 

fosses meu  filho ainda  levavas era uma palmada no  rabo. Assim como não és, não  levas. Se 

fosses meu  filho  levavas.” Estes pais…  “mas  se eu  fizer  isso, depois ele não gosta de mim”, 

“Não gosta de si?!” Com medo de… não sei?! Mas, o que é giro é que, este matulão, ele gosta 

de  fazer  frente… que ele é quase do meu  tamanho! Eu  já  lhe disse “Olha…” Que ele  faz‐me 

assim, põe o  sobrolho para  cima…  “Olha, deixa estar,  se eu me  levantou ainda  te dou dois 

estalos, passa‐te  logo a mania das grandezas! Não  fica nada chateado, porque depois é uma 

melga… porque depois está sempre de volta de mim. “Ai, oh professora tenho uns ténis!” “Ó 

pá,  cala‐te! Quero  lá  saber dos  ténis!” porque  se eu  for ainda mais atenciosa, ou não  sei o 

quê… é pior ainda. É mesmo como se fosse um “cola”, não se “vira”… ele quer é atenção. Mas 

parece que “Quanto mais lhe bato, mais ele gosta de mim!” Porque também noto que eles não 

têm regras e, eu acho que já li isso em algum sítio, eles têm de saber que as regras têm de ser 

cumpridas.  Eles  precisam  de  alguém  que  se  preocupa  com  isso.  Pronto…  eu  também  não 

quero ser nenhuma super modelo de professora, nem de coisa nenhuma mas, eu quero dizer… 

isto é o mínimo, é o básico. 

E – Fala no básico, para o profissional?! 

B – Pois, qualquer pessoa  sabe que os miúdos  têm que  ter  regras, quer dizer…  têm de  ser 

educados, temos de chamar a atenção. Mas é o dia‐a‐dia, eu não sei… 

E – Hoje em dia, já faz parte da instituição, não é?! A questão das regras. Se lhe pedisse para 

projectar   um plano do que seria  importante para um professor que esteja agora no final do 

curso, aprender sobre esta relação… questões chave, o que é que lhe diria? 

B – Em relação aos alunos ou aos pais? 

E – Em relação aos professores. 

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E – Os professores estão a terminar o curso, acerca da relação dos professores com os pais. 

B – Eu acho que é assim, nós não podemos ter medo dos pais e temos de tratar os pais… há 

colegas minhas que  “Ah,  tu  vais  fazer  isso? Vê  lá…”  “Desculpa  lá,  eles  são os  filhos deles”. 

Portanto, eles  têm de saber e nós,  temos de  falar com eles no sentido de explicar o que se 

passa aqui mas também, para eles nos falarem de coisas que aconteçam do outro  lado, para 

funcionarmos todos. Porque nós somos um grupo. Nós temos de funcionar todos em conjunto. 

Eles, do  lado deles, e nós. Portanto, eu não posso dizer  “Não, não, aquele pai manda  lá na 

casinha dele e eu mando aqui. Não, não é assim, quer queiramos, quer não,  isto está  tudo 

interligado. E eu acho que, se houver uma boa relação, a coisa funciona melhor, mesmo com 

os miúdos. Porque estes, às vezes, não contam coisas e eu digo “Olha, é assim, tu podes não 

contar mas  eu,  quando  vir  a  tua mãe,  podes  ter  a  certeza  que  eu  conto‐lhe.”  Porque  eles 

acham que eu não  conto porque eu posso  ter medo… do que eles vão pensar. É assim,  ter 

medo do quê?! Eu não ando aqui a bater em ninguém, não é?! Temos de contar para os pais 

perceberem o que é que se passa aqui. Porque há pais  que também não percebem, uma coisa 

é terem o filho sozinho em casa e, outra coisa, é ter num grupo. Tenho filho, eu sei como é que 

é. E olhe, os meus acabam por ser prejudicados por  isso, porque eu sou daquelas mães que 

não os desculpo. Eu às vezes digo “Eu sabia perfeitamente que  ias fazer  isso, estava na cara. 

Não havia hipótese.” Eu nisso, os meus  coitados, acabam por não  terem muita margem de 

manobra.  E  eu  aqui  tento,  realmente…  e  acho  que  em  relação  a  esses  professores,  é  isso, 

manter uma boa  relação mas  também não é deixar‐se  rebaixar, porque há professores que 

parece que… eu já tive pais com um nível social assim, mais elevado, mas eu não tenho de ser 

nem superior, nem  inferior, na sala, são “os pais”. Portanto, a profissão não  tem nada a ver 

com … nada, são pais. Eu digo sempre “Os meus alunos…” e até agora tenho tido sorte nisso 

“tratar  todos de  igual.” Pronto, às  vezes há uma empatia, alguém  com quem  simpatizamos 

mais. Porque nós sabemos, as pessoas são diferentes e, pode haver uma empatia, ou mais ou 

menos,  com  um,  ou  outro.  Mas  pronto,  tento  sempre  contrariar  que  eu  não  quero  cá 

confusões… porque eles, coitadinhos, não têm culpa. Mas é assim, são todos miúdos e, os pais, 

são todos pais. Portanto, o facto de ser o homem do  lixo, ou ser, não sei quem… e, graças a 

deus, esses pais também nunca… acho que souberam sempre, somos pais, somos pais. Nunca 

tive assim confusão nenhuma. 

E – Assim, em linhas gerais e, porque já estamos quase a terminar, como é que identifica uma 

boa  relação  entre  os  pais  e  os  professores,  ou  entre  professores  e  os  encarregados  de 

educação? 

B – Nós não podemos ser muito amigos dos pais (risos). Por isso é que eu digo, eu já tive até 

uma colega minha que era encarregada de educação mas é assim, há pais que depois acham 

que, porque nós os conhecemos que “Ah, isto vai ser canha, não é?!” Eu não gosto… eu separo 

logo. Porque é assim, professor … “na sala eu sou professor e tu és encarregada de educação lá 

fora,  podemos  ser  amigas”, mas  é  assim,  quer  se  queira,  quer  não  tem  de  haver  alguma 

distância porque… Eu tinha aqui uma mãe, quer dizer, conheci‐a, não éramos amigas, ela até 

tem um diminutivo que eu agora nem me lembro do nome. E, ela queria que eu a tratasse pelo 

diminutivo… mas  quer  dizer,  por  amor  de  deus,  eu  nem  na  rua  a  trato  assim  porque  nem 

tenho uma relação tão  íntima que me permita  isso, quanto mais na sala, não é?! É sempre a 

dona qualquer coisa… há aqueles pais que percebem, aqueles que não percebem a gente tem 

Page 29: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

de insistir um bocadinho, para eles perceberem que tem de haver… porque senão há pais, que 

são como as crianças, a gente dá a mão e eles apanham o braço. E tem de haver… porque nós 

depois temos de ter a frieza de dizer certas coisas e, se houver aquela grande amizade é uma 

chatice.  Porque  depois  chateiam‐se  as  pessoas  todas.  E  portanto,  tanto  que  eu  tinha  uma 

colega minha, que o filho vem para cá, e eu disse‐lhe: “Graças a deus não vou ser professora 

do teu filho, senão a gente chateava‐se logo. Tu és toda complicadinha!” porque, há mães que 

também  são muito  complicadas,  encarregados  de  educação.  Porque  depois  é  a  tal  coisa,  a 

culpa nunca é dos filhos. É sempre do professor.  

E –  Falámos de algumas questões que podiam dificultar, e esta  será a última questão, esta 

relação. Assim, mais resumidamente, quais são as razões que aponta? Falámos do tempo dos 

pais? 

B – Sei lá, outros factores… eu depois tenho outras experiências, que não foram comigo, mas 

que eu conheço… que é, os pais não aceitarem as  limitações dos  filhos e descartarem‐se do 

seu papel, e depois o filho não consegue… “A culpa é da professora que não explica bem!” Eu 

acho que essas, para mim, de exemplos que eu tenho… são o fundamental. Porque nunca era a 

culpa do miúdo. Depois, o mais giro, os miúdos até  sabem que a  culpa é deles mas… Não, 

não…  fazem  aquele  choradinho  com  as mães,  não percebo,  e  os  pais  aceitam,  sim  senhor. 

“Coitadinho! Daqui a nada já está traumatizado, e tudo!” A culpa é sempre da professora. Eu 

acho que é isso, é os pais não perceberem que os miúdos são pequeninos… têm que confiar, às  

vezes, nos professores. 

E – Sente que há falta de confiança, assim, no geral? 

B – No geral, não sei. Numa situação que me estou a lembrar, eu penso que é um bocadinho 

falta de confiança. Porque depois é assim, há colegas que eu conheço como colegas, não sei 

como é que eles são na vida privada. E há outras, que até conheço mais… eu conheço‐a porque 

é minha colega, bebemos café, ou não sei o quê… mas nem sei como é que é o trabalho dela 

na sala  . mas acho que essa colega até era, por aquilo que eu ouvi falar, e era uma colega  já 

antiga portanto, as colegas antigas… 

E – Protegem‐se mais… 

B – Não, mas essa mãe achava que essa colega portanto, não dava conta do recado, que o filho 

era posto de parte… e eu acho que isso é, comentava com essa mãe “Se calhar é porque ele…” 

Como professora eu também posso ver mais ou menos o que é que se podia estar a passar na 

sala… Mas, não estava a ver essa  colega a  fazer o que a mãe dizia que ela  fazia. Porque, é 

daquelas colegas que são boazinhas demais. Protegem muito os seus alunos, estão sempre… 

sei lá, gostam de os apaparicar. Sei que essa mãe não teve uma boa relação com a colega e até 

tirou o menino da escola e tudo.  

E – Mas acha que havia aí alguma coisa que a colega podia ter feito e não fez’ 

B – Não, porque depois é assim, isto era complicado… porque eram pais que não cumpriam as 

regras. E então, para se afirmarem, por exemplo, nós entramos às oito e meia “Oito e meia é 

muito cedo, onde é que já se viu uma criança entrar às oito e meia?!” e eu dizia‐lhe “Mas olha, 

tens o miúdo na escola, tens de o meter”, “Quem manda no meu filho sou eu, e portanto, ele 

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passa a entrar a um quarto para as nove, nove horas!” Isto é verídico, isto acontecia. Então o 

que é que a colega à vezes dizia: “Ele chega sempre atrasado. Quando ele entra já a gente está 

a dar a matéria, qualquer coisa, uma actividade”. Quem é que ficou prejudicado? Foi o miúdo. 

Mas  estes  pais  (risos)  eu  pergunto:  “Que  pais  são  assim!?” Não  sei?! O  que  é  que  os  pais 

ganharam em se afirmarem “Não, não, eu acho que ele  tem de entrar a um quarto para as 

nove, portanto…” Há pais assim, ainda. 

E – Acha que eles se esqueceram de pensar no aluno, no filho? 

B – Eu nem consigo perceber muito bem. 

E  –  Acha  que  os  professores  pensam mais  nos  alunos  enquanto  pessoas,  do  que  os  pais 

enquanto  filhos?  “O meu  filho precisa de entrar a esta hora, eu vou  fazer o esforço para o 

levar.” 

B – Pois, porque aquilo ali era… um bocado “finca pé”… mas para quê? Não percebo. Até me 

faz  confusão pensar nisso. Como é que um adulto… um adulto que, à partida…  “há adultos 

com  trinta  e quarenta  anos que parecem uns bebés. Vocês  são  crianças mas  já podem  ser 

responsáveis, já podem ter obrigações… e têm obrigações que já… “ Há adultos que nunca são 

adultos, quer dizer, com uns pais assim… Por isso é que eu digo, eu não sei… nem sei que diga. 

O meu marido também professor, ele às vezes conta coisas… eu não entendo estes pais.  

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Professora Cristina, dia 4 de Maio de 2011 

 

Entrevista Professora C –  

Entrevistadora – Para começar, gostava a saber a sua opinião em relação ao que é que diria a 

um  jovem professor  acerca da utilidade  e da  importância da  relação  escola‐família para os 

alunos?  

Entrevistada  C  –  Eu  acho  que  quanto  mais…  isto  basicamente  por  aquilo  que  vejo  da 

importância destas duas entidades, vamos  lá, é que… como é que  lhe hei‐de de explicar… a 

partir do momento em que haja uma  ligação entre professor e  família, a  criança acaba por 

sempre beneficiar. Há um maior  apoio, os pais  estão mais  conscientes do que  se passa na 

escola, participam mais, interessam‐se mais e, logo à partida são benéficos às crianças. 

E – Fala isso em relação ao sucesso escolar…? 

C – Basicamente a nível do sucesso escolar. Porque hoje, eu considero eu a escola… nós não 

podemos deixar de pensar que a escola está cá para  isso. E temos, cada vez mais de pensar, 

que as crianças passam pela escola para adquirirem conhecimentos, melhorarem, crescerem, 

todos esses aspectos relacionados com as aprendizagens, mais basicamente isso. 

E – E em relação aos professores, que vantagens é que vê que os professores possam ter com 

essa relação? 

C – Um maior conhecimento das crianças, dos comportamentos em casa. Pode beneficiar‐nos. 

Se nós conhecermos as crianças mais facilmente as podemos ajudar, mais facilmente podemos 

direccionar o nosso modo de ensinar. 

E – E para os pais? 

C – Para os pais  também,  também  tem vantagens…. Bem, para os pais  interessados, depois 

depende do grau de  interesse dos pais, não é?! Mas os pais que vêm à escola também estão 

interessados em ajudar na construção dos novos seres que ali estão em aprendizagem e das 

personalidades que se estão a formar, também os ajuda. Também a compreender o que é que 

fazem na escola. Que etapas é que estão a desenvolver para os poder ajudar em casa. 

E – Nessa óptica, qual seria a relação ideal, a manter entre os professores e os pais? 

C – (risos) Não lhe sei dizer. Ideal? Mas de que forma? 

E – Sim, a  sua opinião. Nesse  sentido, de ajudar os alunos a desenvolverem‐se, qual  seria a 

relação ideal? 

C  –  Não…  acho  que  actualmente,  com  os  nossos  encontros  mensais,  embora  que…  os 

professores do 1º ciclo, quando saem ali do portão, é muito comum conversarmos, vamos um 

bocadinho a pé e vamos conversando pelo caminho. Mas eu acho que os encontros que nós 

temos… 

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E  –  Mas  acha  importante  essas  duas  situações,  conversar  um  bocadinho  se  os  pais  a 

abordarem e …? 

C – Eu acho  importante em nos encontramos uma vez por mês, falamos e vamos falando do 

que é que se passa, de como é que a turma, em geral, vai agindo. 

E – Tem boa aceitação por parte dos pais nessas reuniões? 

C – Sim, porque a maioria vem, e conversamos. Eles, para além de saberem dos filhos, sabem 

também da turma em geral, sabem das outras crianças. Porque ao fim ao cabo nós estamos, 

noutros graus de ensino isso às vezes não acontece, mas aqui eles sabem que durante quatro 

anos estão comigo, estarão  todos  juntos. Acabamos por  ser assim, quase que uma  segunda 

família.  Eles  interessam‐se  e  vêm.  Embora,  os mais  problemáticos,  umas  vezes  vêm  outras 

vezes não. Mas, a maioria vem. 

E – Porque é que acha que se fala tanto da relação escola‐família, hoje? 

C – Eu, pelo minha experiência, se calhar porque os pais estão mais afastados da escola. Eu 

não sinto isso, não tenho sentido isso nas turmas que tenho tido. Geralmente, consigo reunir 

um grande número de pais e fazer coisas em conjunto, mesmo extra escola, quando há assim, 

visitas mais… alguns até se oferecem para ir. Por isso, embora se fale, eu acho que no primeiro 

ciclo ainda permanece sempre mantido (a colaboração)...  

E  –  Eu  perguntava  isto m  relação  aos meios  de  comunicação  tornou‐se  um  assunto mais 

abordado… 

C – Sim, eu acabo por …  isto é uma pescadinha de rabo na boca, quer dizer que, se fala nos 

meios de comunicação, os pais acabam por  falar mas, geralmente, é pelo aspecto negativo, 

não muito pelo aspecto positivo. Porque eu não me lembro de ter visto nenhuma notícia, nos 

meios de  comunicação, que  valorizasse o  aspecto positivo. É  sempre quando há problemas 

com os professores, quando há queixas, quando algum professor puxa uma orelha… é sempre 

pelo aspecto negativo. 

E – Na sua opinião como é que acha que devia ser – à pouco perguntei em termos de ideal – 

como é que acha que devia  ser essa  relação? Repare, eu não conheço a vossa  realidade de 

escola, as reuniões mensais parecem ser uma mais valia para a relação… 

C – Por exemplo, para além das reuniões mensais, quando é por exemplo, temos a semana da 

leitura, vem sempre uma mãe. É muito fácil arranjar alguém que se disponibilize. Lembro‐me, 

por exemplo, no dia do pai, também arranjámos um pai para vir à escola. No dia da mãe não 

dá porque é ao fim de semana. Mas há sempre, se eu, numa reunião peço alguma colaboração 

da parte deles, eles estão sempre prontos. Não é só nas reuniões, pronto. Nós temos coisas, os 

pais acabam por vir à escola. Eu aproveito sempre um que toque um instrumento, ou quando 

é preciso alguém para  contar uma história, ou quando  se  fala das profissões,  se há alguma 

profissão que eles gostassem de saber mais, então convidamos. E pronto… 

E – Para si acha que o ideal será esta colaboração mais estreita? 

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C – Sim, sim. Até porque para eles, que ficam muito contentes dos pais virem à escola e terem 

tempo para virem. Eles próprios oferecem os pais, quando eu digo que é preciso pensar em 

qualquer  coisa, depois  eles próprios dizem:  “A minha mãe ou o meu pai pode  vir.” Muitas 

vezes são eles próprios que levam o recado para casa e os pais colaboram nesse sentido. 

E – Há outras iniciativas a nível de escola, em que os pais participem? 

C – Há as caminhadas do Clube da Floresta, deixe‐me cá ver… eu acho que foi, inicialmente tive 

essa colaboração dos pais foi nessa. Há alguns, há também… estou cá, este é o segundo ano, 

tenho de estar a pensar bem o que é que há  cá  (agrupamento). Há  também as  tasquinhas, 

porque é na altura do S. Pedro ou S. João, são as tasquinhas do Agrupamento, sei que é uma 

das alturas em que os pais também colaboram. Embora eles, tirando… fora da turma e com a 

professora, nem todos participam. Há alguns que participam, mas são muito poucos. Quando é 

na  turma,  isso  sim,  eles  participam mais  e  são mais  activos.  Fora,  seja  uma  actividade  de 

agrupamento  ou  mesmo  uma  actividade  do  Clube  da  Floresta,  nem  tanto,  não  são 

cooperativos. 

E – Que tipo de assuntos é que os pais procuram abordar nessas reuniões mensais? 

C – Eu começo a reunião por de, pronto… deixe‐me cá ver… de algumas informações. É assim, 

temos um momento em que eu dou as  informações,  falo sobre a  turma. E depois, há outra 

parte em que os pais… acabamos por estarmos meia hora a conversar sobre qualquer coisa 

que  tenha acontecido ou… ou  sobre alguma  criança, ou  sobre… mas é assim uma  conversa 

mais informal. Falamos um pouco de tudo. 

E – Mas os pais têm assim, alguma preocupação em especial? 

C – Não, depende muito de como tem andado o seu filho durante esse tempo. 

E – Mais o filho? 

C – Lembro‐me por exemplo, na última reunião acabámos por falar um pouco de como eles já 

estão crescidos. Começámos a associar a chegada da Primavera com os namorados. Os rapazes 

a quererem apalpar as  raparigas. Vamos  falando  sobre  comportamentos. Ou qualquer  coisa 

que  eles  tenham  visto,  ou  uma  visita  onde  tenham  ido  e  que  tenham  referido  em  casa.  E 

falamos… e acabamos por falar de outras coisas… numa conversa mais  informal. Geralmente 

há sempre quem fique, depois já não ficam todos, não é. Mas há sempre uns pais que ficam e 

que gostam de estar a conversar. 

E – Em  relação a esta proximidade, a este “o que devia ser a  relação”, sente que, em geral, 

todos os colegas pensam da mesma forma ou têm opiniões diferentes? 

C – Não sei, (risos) sinceramente, não temos falado assim muito sobre isso. Há quem… depois 

isto depende  também, de escola para escola. Há dois anos atrás, não  tinha estes encontros 

mensais, porque até os pais achavam que não… eu estava a dar aulas em Lisboa, não tinham 

tanta disponibilidade para  ir à escola. Estavam mais preocupados em  ir buscá‐los e  levá‐los 

para casa, não tínhamos estes encontros. Mas eram pessoas que, por exemplo, telefonavam e 

se tivessem alguma dúvida mas, também estavam lá sempre, se fosse preciso alguma coisa. Ou 

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manavam bilhetes, com alguma coisa que se passasse. E, geralmente telefonavam. E não quer 

dizer que não houvesse… não  iam  tanto à escola. Acho que depois depende muito, não de 

colega para colega mas, sim da escola onde se está. 

E  – Nessas  escolas,  com  realidade diferente, quando  a questionava  acerca dos  colegas não 

queria dizer que fosse desta escola.  

C – Ah. 

E – Falava no geral, com as outras vivências que já teve. 

C – Há colegas que não gostam muito de ter de receber pais dos miúdos. Acham que, portanto,  

têm de se justificar, às vezes têm dificuldade em arranjar assunto para falar com os pais… sei 

lá… depois depende muito de colega para colega e da forma de estar. Mas não, quer dizer, não 

há assim nenhum caso mais drástico. 

E – Quando há esses colegas que têm mais dificuldade nessa relação, acha que se deve a não 

valorizar… ? 

C  –  Insegurança,  talvez.  Geralmente  são  professores mais  novos,  talvez…  e  acho  que  tem 

muito a  ver  com  insegurança e do estar exposto  aos pais. É uma  situação de defesa, é um 

pouco isso. Estão pouco à vontade, sei lá. 

E – E, nesse  caso, e pegando nas  suas palavras, quando  falou dos  colegas mais novos, que 

conselhos é que acha que podia dar‐lhes para eles ganharem maior à vontade? 

C – Eu acho que depende das pessoas. Uma pessoa que tenha, mesmo sejam os mais novos, 

desde que tenham à vontade e que … porque isto passa um pouco pela maneira de ser. E, em 

relação às reuniões com os pais, a única coisa que eu acho é que, os professores não devem 

considerar os pais como um bicho papão que está ali, que vai ali para lhe pedir justificação. É 

para estar à vontade e falar de… desde falar do que faz, o que fez e do que irá fazer, e tentar 

aproximar os pais, essencialmente tentar aproximar os pais à escola. 

E – Acha que passa só pela questão do feitio, da personalidade do professor ou pode ser uma 

coisa que pode ser trabalhada, em formação, por exemplo? Seja na formação  inicial, quando 

está em início a tirar a licenciatura… 

C – Claro que sim. Uma pessoa quando está a tirar um curso… uma reunião com os pais é uma 

realidade por vezes estranha, não é?! Eu acho que sim, que deve ser trabalhada… porque há 

uma  série  de  coisas  que  devem  ser…  não  é  o  treino…  vamos  lá,  algum  conhecimento  de 

diversas realidades para se poder saber como é que deve agir… 

E – Algum conhecimento para a aproximação dos pais, ou como melhorar essa relação? 

C – Desde melhorar a  relação,  fazer com que os pais  se aproximem, até mesmo como  lidar 

com eles e como é que… da melhor forma, sei lá… porque não há receitas… Mas há situações 

que acontecem e, como é que poderá sair delas de uma forma (ligeira)…  

E – Lembra‐se, na sua formação inicial, se teve alguma disciplina relacionada com este tema? 

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C  –  Eu  acho  que...  quando  saí  da minha  formação  tive  a  sensação  de  que  estive  ali  como 

estivesse no ensino secundário, a aprender matérias… 

E – Lembra‐se como é que aprendeu? 

C – Experiência, praticamente pela experiência. 

E – Houve alguns colegas que a ajudaram? Foi olhando para os outros colegas? 

C  – Quando  comecei,  fui  para  um  colégio  trabalhar  e,  parecendo  que  não,  somos muito… 

pronto, há aquele cuidado de nos darem dicas, é um colégio particular, não é?! E eu acho, que 

nesse aspecto, e por ser a instituição que era que… mas nunca me deram, vamos lá… deram‐

me conselhos. Foi pela experiência. 

E – Que diferenças é que consegue ver dessa altura em que começou a trabalhar, do início da 

carreira e agora? 

C – Há uma maior abertura e, não  ter aquele  receio: “Hoje é dia de  receber pais”. Não. Faz 

parte. Faz parte, assim como venho dar aulas, sei que nesse dia, recebo os pais. 

E – Com o tempo foi ganhando maior segurança… 

C – Sim, mesmo a nível profissional, em relação às crianças. 

E  –  Em  relação  a  este  tema,  sente  que  poderia mudar  alguma  coisa  para  fazer  uma maior 

aproximação ou acha que já faz bem este papel? 

C – Ah, eu sinceramente, acho que sim, que se deveria  fazer mais, que… Eu acho, para  ficar 

correctamente, eu acho que sim, deveria ter feito mais. Mas, sinceramente, em relação… 

E – Eu pergunto se haveria alguma coisa que pudesse, ainda fazer, melhorar para haver uma 

melhor relação. Mas, se nota que já há… 

C – Eu acho que a que temos chega. Porque depois há… o que eu às vezes sinto é que depois, 

quando há demais, depois é um bocadinho… depois  temos, como é que eu  lhe hei‐de dizer 

isto… não é termos os pais o tempo todo na escola, porque não temos, depois não há limites. 

Não quer dizer que seja necessário haver limites mas, para certas pessoas é necessário mesmo 

haver  limites. Nós temos esta relação de escola, escola e professora com a família e alunos… 

para mim a que está, está óptima. Se tenho alguma coisa a dizer, alguma coisa a pedir, alguma 

coisa a fazer, sei que consigo fazer. 

E – Onde é que sente essa fronteira entre? 

C – Eu não sei, sinceramente. Depois, depende das pessoas.  

E – A nível de tratamento, a forma como fala com os pais, tenta criar alguma fronteira, alguma 

barreira? 

C – Não, não. Eu costumo dizer, eu aqui dentro, para eles eu sou professora, para eles também 

sou uma pessoa que também tem filhos e que também está preocupada com a educação dos 

filhos e que pronto, estou com os filhos deles durante o dia todo. Mas depois, não há barreiras 

Page 36: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

nesse aspecto. O que me preocupa às vezes é a invasão depois, do espaço que é nosso, que é 

meu e dos alunos, não é?! Que os pais podem realmente participar, podem fazer, podem fazer 

parte mas que, depois chega ali a uma altura em que… “pronto, agora tudo bem mas, agora os 

pais estão em casa, porque as crianças estão na escola e é aqui que eles passam a maior parte 

do tempo. Eu, por exemplo, só um exemplo pequeno, para ver se me consegue compreender 

melhor,  houve  um  aluno  que  andou  aí  à  tareia  com  outro,  e  ele  é  problemático, 

constantemente tem estes comportamentos. De tal maneira que  lhe disse “esta semana não 

tens, até ao fim do mês – faltava uma semana para o fim do mês – “não vais ao recreio porque 

vamos ver se te acalmas. Tens um livro para ler, vais lendo um bocadinho todos os dias. Assim, 

pelo menos sabes que o recreio  tem outras actividades que não sejam bater.” Então, a mãe 

achou muito mal o castigo e disse‐lhe a ele que a partir desse dia ia ao recreio. Foi o que tentei 

explicar numa reunião, as regras… nós não temos nem pai, nem mãe, nem o tio, nem a avó… 

mas temos de conviver desde as oito e meio às cinco e meia da tarde, temos de conviver com 

regras. É nesse aspecto, depois há pais que acham que as regras de sala não são bem assim, e 

o filho dele não participa nelas embora cá esteja. 

E – E nesse caso os pais não falaram consigo antes de falar com o aluno? 

C – Não, não. Porque como vinham à reunião, deram a ordem, de manhã, à criança, como à 

tarde vinham à reunião e, como nós… tudo o que se passa na escola, seja particular ou seja em 

conjunto  falamos  todos. Mas  a  regra  foi…  “Não, essa  regra não é para  cumprir”. E é nesse 

aspecto que às vezes… há a  invasão dos pais, tal como acham que, hoje em dia a escola… há 

esta  –  que  eu  acho  que  bem,  que  eles  podem  participar  na  vida  escolar  –  mas  depois 

intrometem‐se (…) às vezes é preciso pôr‐se um travãozinho. 

E – Há as regras da  instituição, da própria sala de aula. Essa questão dos pais quererem…  já 

percebi que sente essa invasão… mas a sua… 

C – Não é essa invasão.. 

E – É na questão do aluno, não é?! O aluno tinha aquela regra, que é para todos  igual, e que 

ele devia  cumprir mas depois  sentiu que os pais não  valorizaram  isso. Como  é que  ficou o 

aluno? 

C – Não é, não valorizaram. Não, porque eles ficam muito – porque o problema é esse – eles 

ficam muito aflitos. Ele realmente foi para o recreio mas, assim que o mandei chamar veio logo 

e disse “Eu sei que não devia  ter saído”. Porque eles depois, coitados, estão ali num dilema 

que  não  sabem  como  fazer. Ou  respeitam  a  professora  que  está  na  sala,  se  respeitam  as 

ordens do pai, ou neste caso da mãe, que ficou em casa. Porque depois eles, coitados, andam 

ali  um  bocadinho… mas  isso  tem  a  ver  também  com  os  pais. Há  uns  que  realmente  não… 

podem não concordar com qualquer coisa que seja  feito mas, eles próprios dizem “Olhe, eu 

não concordo, por  isto assim, assim… mas vinha  falar consigo para ver se pudemos arranjar 

aqui  um meio  termo”.  Porque  também  passa  um  pouco  por  isso,  os  pais  participarem  na 

escola, estarem na escola, mas também, aprenderem a estar na escola. 

E – Sente que, se o bem comum for para os alunos, que os pais conseguem perceber melhor 

essa questão de escola é escola e casa é casa? 

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C  –  Sim,  a maioria  dos  pais  tem  essa  noção,  a maioria  dos  pais  consegue  fazer  uma  boa 

convivência. Depois há,  como em  tudo,  como há bons e maus professores, há pais que  são 

mais… participam melhor que outros, que interagem melhor. 

E – Nós já falámos em diversos aspectos desta relação mas, por exemplo, no plano afectivo dos 

alunos,  até  que  ponto  é  que  os  pais  e  os  professores  conversam  sobre  este  aspecto?  Por 

exemplo, quando há uma  situação em que o aluno não está bem em casa, como é passada 

essa informação para a escola? 

C  –  Sim,  há  alguns  pais  que  se  preocupam  em  dizer,  então  nesta  (…),  há muito  o  caso  de 

divórcio  dos  pais,  em  que  eles  avisam  se  há  alguma  coisa  mais  importante,  que  tenha 

acontecido na família, eles avisam. Geralmente começam por perguntar se tem andado bem, 

se notou alguma coisa. Se nós notamos também, eu pelo menos, e as minhas colegas também 

temos esse cuidado, de informar, se alguma coisa se está a passar, porque o aluno apresenta 

este ou aquele comportamento. Por  isso, eu acho que sim. Porque eles, nestas  idades, ainda 

são tratados, e continuam a ser tratados como os bebezinhos lá de casa. É um pouco isso, no 

primeiro ciclo. 

E – Que idade têm eles? 

C – Tem sete, oito. Pois estão no segundo ano. 

E – e em termos curriculares, os pais quando têm dúvidas sobre algum assunto ou na forma de 

como trabalhar com os filhos 

C – Sim, por exemplo, eu geralmente nas reuniões mensais digo, neste momento estamos a 

aprender isto, digo‐lhes quais são os progressos que estamos a fazer, quais os que iremos fazer 

no mês seguinte e eles, por acaso, perguntam como é que eu ensino determinada coisa. Até 

porque alguns… depois eles [os alunos] chegam a casa têm dúvidas e eles [pais] não sabem qual 

é  a melhor… porque  eu  tenho  esse  cuidado de dar‐lhes… por  exemplo no primeiro  ano  eu 

comecei  com  o método  diferente  do  que  eles  [pais]…  do  que  era  habitual  nas  restantes 

turmas. E expliquei‐lhes, eles aderiram, correu muito bem, participam e acompanham. Agora 

com  as  operações  das  subtracções  por  empréstimo,  tiveram  o  cuidado  de  perguntar  “Oh 

professora, explique‐os lá como é que faz para nós sabermos”. Pronto, são pais interessados. 

E – O que é que dificulta esta  relação? Quando há algum problema na  relação com os pais, 

parece não  ser o  seu  caso  com  estes pais, mas  em  experiências  anteriores, ou  com outros 

colegas, o que é que acha que dificulta a relação? 

C  –  Eu  estive  a  dar  aulas  dois  anos, na Musgueira,  foi  horrível. Apesar  de  eu  ter  uma  boa 

relação com alguns pais, aparecia sempre alguém, que parecia estar de mal com a vida então a 

escola era o  local… e a professora era para descarregar. Foi assim o  sítio onde eu me  senti 

assim, mais…. Onde era mais difícil lidar com os pais. Eu acho que tem muito a ver com o meio, 

com  as…  sei  lá,  com  a  vontade  das  pessoas.  Porque  depois  tem  a  ver  com  o  meio  e  a 

Musgueira é um sítio assim, muito peculiar. 

E – E qual a imagem que os pais tinham da escola? 

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C  – A  escola,  eu  costumo  dizer,  há  poucas  escolas  que  têm  as  infra‐estruturas  que  aquela 

escola  tem  como  edifício. Mas,  para  além  disso,  eles,  apesar  de  acharem  que  a  escola  era 

deles, e  têm  toda a  razão que é deles. A escola estava  lá  simplesmente para os  servir, não 

interessa… como é que lhe hei‐de dizer… 

E – Os deveres para com… ?! 

C – Os deveres, nem os cuidados a ter para a conservar. Está lá para servir as crianças. Mas é 

como  lhe disse, é um meio muito específico, com muitos problemas a nível social. Mas  tem 

umas  óptimas  instalações…  era  uma  escola  que  tinha  tudo mas,  depois  não  há  aquela…  o 

cuidado. 

E – E aqui, no meio de cidade, quais acha que  são as dificuldades para  se manter uma boa 

relação? 

C ‐ … 

E – Há pouco falou de alguns pais não participarem tanto por questões de… 

C  –  Também  tem  a  ver,  um  bocadinho  mais  com…  não  tem  tanto  a  ver  com  o  meio 

socioeconómico. Mas tem, sei lá, com disponibilidade, com a ocupação dos pais. Porque nem 

tem a ver com os estudos que possam  ter… eu estou a  tentar visualizar os casos extremos, 

porque aqui não, aqui não vêm mesmo porque, não vêm. E eu até,  tenho uma aluna que a 

irmã anda na turma da minha filha e eu pensei “Bem, deixa‐me ver, como não vão è reunião, 

se vêm à reunião da outra filha?” Mas não, também não vão. 

E – Mas não sabe explicar porquê? 

C – É  falta de disponibilidade, é o que os pais dizem. Têm o cuidado de, de vez em quando, 

mandarem um email a dizer “Não posso estar, sei que a  reunião é algures por estes dias”… 

porque depois não sabem muito bem ou porque a miúda diz em casa “Oh mãe, tens reunião”. 

Porque eu digo a eles “Olhem,  lembrem os vosso pais que amanhã há  reunião”. E eles  têm 

esse cuidado de enviar. Depois há alguns que mandam um email a dizer que, realmente não 

podem  estar  e,  esses  pais,  em  particular,  porque  até  têm  cursos  superiores,  mas  estão 

mesmo… não têm disponibilidade. 

E – Mas procuram‐na noutro dia, outra hora? 

C – Quando eu, de vez em quando, mando um email a dizer que tem uma série de coisas para 

assinar, lá vêm. E depois estão mais outros seis meses em aparecer. 

E – Como é que os alunos desses pais lidam com essa situação? 

C – Eu acho que eles já estão muito habituados. Esse é o caso mais… porque depois os miúdos 

acabam por ganhar aqui uma camuflagem, protegem‐se muito bem… desse aspecto. Tirando 

esse  caso…  não  tenho  assim  casos  extremos,  não  vêm,  porque  não  vêm.  Só  vêm  quando 

apetece, pergunta como está e não sei o quê… não há assim, uma razão, para explicar “Olhe, 

aqui não aparecem por isto, ou têm alguma dificuldade…” 

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E – E consegue notar alguma diferença a nível das aprendizagens no global, entre aqueles pais 

que estão mais próximos e os outros? 

C – Não. O que se nota é quando não são apoiados em casa. Aí noto, agora que venham às 

reuniões ou não. 

E – Sente assim, esse apoio da maioria dos pais? 

C – sim. 

E – Na realização dos trabalhos de casa… 

C – Eles esforçam‐se. Podem não se forçar assim por muito tempo. Porque depois são pais… 

alguns  deles  são  pais  que  têm  uma  vida  complicada  e  que  a  nível  de  trabalho,  ou  não 

trabalham aqui… e têm alguma dificuldade. E também muitos pais separados, em que eles só 

estão com as mães… mas que vão apoiando, não aí nota‐se sim, aqueles que apoiam mais e 

aqueles que apoiam menos. Agora, em relação a virem ou não mas,  isso também, ao  fim ao 

cabo,  a  comunidade  escolar…  uma  das  coisas,  um  dever,  é  depois  também  acompanhar  o 

aluno mesmo nas aprendizagens. 

E – Consigo perceber que essas  reuniões podem  fazer  com que, agora  consiga estar a  falar 

dessas  várias  situações, ou  seja,  consegue  reconhecer ou  conhecer bem os alunos que  tem 

dentro da sala porque os pais partilham algumas informações… 

C – Sim, sim. Eles vêm… pronto e quando estamos na sala e quando falamos, eles acabam por 

colaborar  e  vão  contando  “Olhe  com  o meu  [filho]  aconteceu  isto  ou  não  sei  o  quê”.  E  se 

algum pai diz: “Ai o meu anda…” – agora na altura de Março “Não que vir para a escola e não 

sei quê” e outro diz ”Ah, o meu também não”. Acabam por partilhar um bocadinho o que se 

passa, como eles estão cansados, porque este período também foi muito longo. E, eles acabam 

por, mesmo  entre  eles…  E,  acho  engraçado  quando  algum  diz  “Ah,  o meu  agora  tem  esta 

dificuldade”; “Olhe, com a minha [filha] resultou assim…” 

E – Isso também aproxima os pais uns dos outros. 

C – E acho que também tem a ver com a forma como se conduz a reunião. Porque as reuniões 

seriam  para  ter  atendimento  individualizado  aos  pais.  Eu  não  sou muito  de  acordo  porque 

acho  que  a  turma  se  gere  por  si,  como  um  conjunto,  ao  fim  ao  cabo  não  estamos  ali 

individualmente  e  eles  também  não  são  individualmente,  embora  cada  um  tenha  as  suas 

características próprias. Mas é um…. Para eles se conhecerem como turma é muito mais fácil, 

no terceiro e quarto ano, em que às vezes é possível fazer outro tipo de actividades, em que os 

pais  possam  participar  também  mais  vezes.  É  mais  fácil,  eles  se  conhecerem  e  as  coisas 

acabam por resultar muito bem. 

E – Utiliza essas  informações, essas dificuldades, essas questões que os pais vão colocando, 

utiliza‐as no seu dia a dia com os alunos. Sente isso? Não tenho assim mais nenhuma questão, 

porque depois acabámos por focar todos os temas. Fomos falando sobre os vários. Em relação 

às  actividades nomeou  algumas de  escola  e  algumas da própria  turma.  E  era  a questão da 

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iniciativa, uma vez que tem essas reuniões marcadas, os pais vêem e não há tanta necessidade 

de um pedido especial para uma reunião. Se bem, que os vai encontrando à porta. 

C – E, de vez em quando, [os pais] também telefonam, porque andam preocupados com isto, 

ou com aquilo. Depois vêem e eu fico um bocadinho mais, combinamos um diazinho que nos 

convém aos dois. Tirando isso, geralmente vêem nas reuniões [mensais]. Eles são vinte, estão 

sempre dezasseis, dezassete… quando não vem o pai e a mãe, às vezes vêem os dois. (risos) 

E – Para finalizar, ainda voltando ao tema da formação, que tem a ver com este trabalho de 

investigação, acha que  seria  importante haver, na  formação  contínua, alguma abordagem a 

este tema? 

C  –  Se  quer..  sinceramente,  se  calhar  é  capaz  de  haver  quem  esteja  interessado.  Eu, 

sinceramente, não. Porque eu acho que há coisas a nível prático que é muito mais proveitoso 

para  nós,  na  sala  de  aula.  Porque  depois  há  mais  tendência  para  cair  na  rotina  e,  com 

formações mais  específicas, mais  centradas  para  a  nossa  prática,  acho  que  é muito mais 

[produtivo]. Eu, dificilmente aceitaria, me inscreveria numa formação que tivesse a ver com a 

relação família‐escola. Mas acho que sim, que deve haver porque haverá pessoas que tenham 

essa dificuldade e que gostassem de aprender mais. Eu, para mim, não. Mas, como tenho uma 

boa relação com eles, bem ou mal, vamos conseguindo dar a volta… 

E – Mas, como  também  falou que, na sua opinião,  [esta questão]  também passa muito pela 

experiência, que não seria a saída. 

C – Como já lá vão vinte e poucos anos, vinte e quatro anos. 

 

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Professora Rita, dia  de Maio de 2011 

 

Entrevista Professora D –  

O  gravador  ficou  cheio…  na  altura  não  consegui  precisar, mas  julgo  que  perdi  cerca  de  15 

minutos de entrevista. 

Entrevistadora – Então, recapitulando, em relação à sua opinião de como devia ser a relação 

dos professores com os encarregados de educação. Falava na proximidade, das reuniões e das 

actividades  que  os  pais  possam  desenvolver  na  escola  ou  em  casa  com  os  filhos.  Nessas 

reuniões, estava a explicar como é que aconteciam, os pais, como disse, participam bastante. 

De que assunto é que costumam, os pais, por  iniciativa deles, que assuntos é que costumam 

abordar? 

D – Estava a dizer que atendia, portanto, em simultâneo [nas reuniões mensais, marcadas com 

os pais no início do ano lectivo]. Faço um balanço da turma, em termos de comportamento e 

em  termos  de  aproveitamento,  os  dois  pontos,  assim  fundamentais.  [Os  pais  fazem  a] 

observação de  trabalhos e de  fichas de avaliação, quando é caso e, muitas vezes,  temos de 

abordar  assuntos  relacionados  com  o  plano  anual  de  actividades;  os  pontos  são  estes 

normalmente.  Informo  também  que  actividades  vamos  ter  do  PAA  [nesse mês],  as  saídas 

mensais  e…  os  conteúdos  programáticos  que  eu  vou  abordar  naquele mês...  no  seguinte, 

porque é sempre no fim do mês [a reunião]; os conteúdos programáticos que vou abordar no 

mês seguinte. Normalmente são estes pontos [da reunião], se for reunião de avaliação, como é 

óbvio,  já  é  um  pouco  diferente, mas mensalmente  são  estes  os  que  nós  tratamos. Depois, 

surgem dúvidas, por vezes dos pais, relativamente a algum tipo de exercício, que eu explico no 

quadro. Às vezes brincamos porque parece que estão nas aulas outra vez  (risos). Que eles 

adoram! “Ah, ainda bem professora!” Eles adoram isso! Porque eu percebo que os pais 

gostam muito de saber a estratégia que eu utilizo para abordar determinado assunto, 

porque alguns  já não se recordam e gostam de saber por que caminho é que eu vou 

para em casa eles reforçarem por aí também. Para não explicarem de modo diferente. 

Pronto, lá está, são pais muito interessados, muito preocupados em saber. 

E – E, dessa forma, acha que existe um entendimento… 

D – Existe  [um entendimento]. E depois, nas reuniões, mostro‐me sempre disponível 

para,  se houver  alguma dúvida, ou  relacionado  com o  seu  educando, que  eu possa 

esclarecer. 

E – Quais são as preocupações dos pais, para além dessa questão dos conteúdos e de 

como é que podem ajudar os filhos? 

D  –  Esta  turma  não  tem  registos  de  mau  comportamento,  são  meninos  bem 

comportados, conversadores sim, têm muitas experiências e gostam muito de partilhá‐

las, acabam por se tornar conversadores. Mas, não tem… não há mau comportamento 

em  nenhum  aluno  aqui.  Portanto,  a  questão  do  comportamento,  eles  [os  pais] 

Page 42: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

preocupam‐se imenso de ver o cartaz das bolinhas, qual é a bolinha atribuída, não é?! 

Gostam  de  saber.  Mas,  como  sabem  que  não  há,  por  norma,  esse  tipo  de 

incumprimento de regras é um assunto que não [surge] … ah, também abordo muito a 

questão  das  Actividades  de  Enriquecimento  Curricular.  Apelo  para  a  pontualidade, 

assiduidade – também não há registo – mas a pontualidade, como é a primeira hora da 

manhã  acabam por, nem  sempre,  cumprirem  e  comportamento. Não digo que  seja 

mau, mas especialmente na [actividade] física, a professora diz que para “arrancar” a 

aula, iniciar a aula demora o seu tempo, par os manter calmos depois, a partir daí tudo 

bem mas, no  início… e, portanto, vou mantendo os pais ao corrente… do  intervalo, a 

mesma  coisa,  portanto,  há  um  grande  “feedback”  entre  nós,  que  eu  acho  que  é 

fundamental. Lá está, para os alunos perceberem também, e não só, com a monitora 

também... eles sabem perfeitamente que aquilo que se passa no intervalo, a monitora 

vêm‐me  dizer,  as  professoras  das  AEC’s  vêm‐me  dizer.  Nas  reuniões mensais,  nós 

fazemos  também  os  conselhos  de  anos  e,  sempre  que  possível,  as  professoras  das 

AEC’s estão presentes, nem sempre mas… portanto, há sempre um diálogo. E eu faço 

questão  que  eles  [os  alunos]  saibam  que  existe  este  diálogo  para  perceberem  que 

estamos todos juntos, apelando a um bom comportamento. 

E – Em relação a essa sua opinião do que é que deveria ser a relação ideal com os pais. 

Tem noção se os colegas, em geral, pensam da mesma forma? 

D – Quer dizer, eu acho que sim. Não digo… bem, pormenores, nós acabamos por não 

saber, não é?! Mas eu acho que, hoje em dia, toda a gente… quer dizer, há colegas que 

não… por exemplo, se há uma festa de aniversário na sala de aula, eu acho muito bem 

que os pais venham à sala de aula, acho muito bem. Há colegas que não acham. Eu 

compreendo, eu compreendo atenção, nem estou a dizer que estou certa ou que elas 

é que estão certas, são maneiras de pensar. Eu prefiro perder uma meia hora de aula 

e, naquele dia, porque a criança faz anos, e o dia é um dia  importante para ela. E,  lá 

está,  uma  vez mais  perceber  que  a  professora  e  a mãe  comunicam  e  a mãe  está 

presente, para  também conhecer os colegas dos seus  filhos. Eu acho que  também é 

bom para os pais saberem onde é que os filhos estão diariamente, com quem estão, 

em que ambiente estão, não é?! Eu acho que é importante e, portanto, eu gosto que 

os pais venham à sala de aula no dia do seu aniversário. 

E – Vêm os pais dos meninos que fazem anos, é isso? 

D – Sim, sim. Normalmente vêm,  trazem o bolo e eu gosto que eles entrem na sala, 

pronto.  Chegou  a  haver  uma  polémica  cá  na  escola:  podiam  entrar,  não  podiam 

entrar… vão destabilizar, a aula é  interrompida… nós sabemos que sim, mas eu acho 

que é uma  interrupção válida.  (risos) Não é?! Não sei?! Eu  também, gosto muito de 

dialogar com os meus alunos, lá está, os pais têm essa função, de explicar uma série de 

coisas aos filhos, dúvidas que lhes surgem mas, as crianças também gostam de saber a 

nossa  opinião,  muitas  das  vezes  [da  professora].  E,  quando  surge  uma  dúvida 

Page 43: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

qualquer,  de  algum  aluno  eu  gosto,  que  em  grande  grupo,  aja  um  diálogo  e  que 

partilhemos opiniões e por vezes, esclarecer dúvidas. Depende muito dos temas, para 

poderá até haver receio de abordar os pais sobre esse assunto e eu, aqui, depende do 

assunto, não é?! Mas se eu puder ajudar, eu gosto de ajudar… e, às vezes perdemos 

um bocadinho [da aula] mas esses bocadinhos perdidos são ganhos no final. 

E – Já falámos de como é que acontecem essas comunicações e, uma vez que há essa 

abertura das reuniões mensais significa que não haverá tanto a  iniciativa dos pais de, 

outro dia qualquer, a procurar? 

D – É  raro. Pode acontecer,  já aconteceu mas para  tratar de um assunto específico. 

Agora, em termos de questões relacionadas com comportamento ou aproveitamento 

é muito raro abordarem‐me além dos atendimentos mensais. 

E – Para além dessas actividades em que os alunos  fazem pesquisa em casa com os 

pais, que outras actividades, sejam a nível de escola, de agrupamento, de sala em que 

os pais participem? 

D – Participar… olhe, este ano participaram… eu andei numa  formação de educação 

sexual  e  portanto,  implementámos  um  projecto,  eu  e  umas  outras  colegas  aqui  da 

escola  e  os  pais  participaram.  Por  exemplo,  na  confecção  do  boneco,  uma  das 

actividades era confeccionar um boneco de pano. Os pais participaram. Na reunião, lá 

está, divulguei o projecto, no que é que consistia, quais eram as actividades que eu 

pretendia  desenvolver  e  apelei  à  colaboração  deles.  No  Carnaval,  por  exemplo, 

também  apelámos  à  participação  os  pais,  em  actividades  de  pesquisa,  como  já  lhe 

disse. Há ali  [trabalhos sobre] das  famílias, dos animais – eles pesquisaram cada um, 

um  animal.  Também  houve  um,  um  trabalho  que  fizeram  sobre  o  centro  histórico, 

foram a uma visita de estudo, e depois fizeram uma pesquisa de monumentos. Lá está, 

pesquisas, quando há aniversários os pais deslocam‐se à escola, nos atendimentos. 

E – A nível de escola? 

D – A nível de escola… a nossa escola, fisicamente, não tem condições para ter muita 

gente aqui, infelizmente, não é!? 

  Portanto, estamos um pouco limitadas relativamente às festas. Há actividades do PAA 

em que os pais são convidados, no final do ano lectivo, são as tasquinhas na S. Gonçalo 

[escola  sede de agrupamento] a actividade é a nível de agrupamento. Por exemplo, 

agora para a semana, quinta‐feira, temos um torneio de futebol que os pais podem ir 

assistir. 

E – Também lá em baixo [escola sede]? 

D – No parque Verde da Várzea. Portanto… agora assim, ao longo do ano… 

Page 44: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

E – São assim, só actividades mais pontuais. 

D – Sim. 

E  –  E, na  escola, no  final do período,  o que  é que  costumam  fazer?  Fazem  alguma 

actividade conjunta? 

D – Depende. Tentamos fazer a nível de escola mas depois temos um grave problema, 

a  nossa  escola  é  dividida  entre  dois  edifícios,  são  trezentos  e  tal  alunos,  os  dois 

edifícios.  Se  está  a  chover,  nós  não  temos  qualquer  hipótese.  Temos  as  arcadas 

cobertas [da escola] única e exclusivamente. Organizamos, quando não está a chover, 

organizamos espaços  lá fora com  jogos tradicionais ou música, dividimos mesmo, por 

alguns temas, no recinto exterior e acabamos por fazer algumas actividades na sala de 

aula e depois expomos  lá  fora,  todos, um  trabalho colectivo, por exemplo. E, depois 

então, seguimos para um lanche colectivo, isso também fazemos com frequência. Para 

o lanche colectivo juntamos duas salas. E, infelizmente, nesta escola, não dá para fazer 

muito  mais,  fisicamente  é  complicado.  Porque  não  temos  aqui  nenhum  espaço 

associado. Nas aldeias é mais fácil porque há sempre o clube, ou uma associação que 

tem palco e que dá para fazer algum tipo de festa. Cá não dá. Nós não temos qualquer 

hipótese. 

E – Que diferenças é que nota, desde o início da sua carreira, para agora, ao nível das 

formas  de  agir  perante  os  pais? Na  sua  prestação,  o  que  é  que  acha  que mudou? 

Aquilo que fazia antes? 

D – Ah, mudou. Eu antes não  fazia nada disto.  (risos) Não  fazia, não envolvia os pais 

com  tanta  frequência. Mas  não  porque  não  era  habitual.  Lá  está,  a  sociedade,  às 

tantas, evoluiu e, sem tomar consciência, talvez pela experiência comecei a perceber 

que de facto era importante que  isto acontecesse. Porque no  início, de facto, não… o 

envolvimento dos pais era menor. E posso dizer, neste ano, concretamente, noto que 

os pais envolvem‐se na vida escolar dos filhos mais, muito mais.  

E – Dadas as condições que foram sugeridas, como as reuniões mensais… 

D  –  Eu  acho  que  também  parte  um  bocadinho  de  nós  apelarmos  para.  Começa  logo  pela 

divulgação das  reuniões mensais. Eu  faço questão de entregar um desdobrável e é uma das 

informações que consta neste desdobrável; data de início e de termo do ano lectivo, esse tipo 

de coisas…. Pronto, eu  faço questão que os dias de atendimento venham nesse desdobrável 

para que os pais tenham sempre um registo, porque uns escrevem, os outros não, e assim é 

entregue aqui o registo. E apelo, na primeira reunião  logo, para a presença deles. Porque,  lá 

está, pelos motivos que já disse. Apelo para que eles venham. 

E – Sente que se eles vêem à primeira se acabam por envolver e alguma actividade, começam 

a ficar mais entusiasmados? 

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D – Também  (…) eu acho que  isso  também  tem  influência. Eles virem e verem que só vêem 

dois ou três, às tantas acabam por praticamente não virem. Eu sei porque há situações dessas 

aqui na escola, há salas em que vêem só três ou quatro mensalmente. E há turmas que vêem 

quase [todos]. 

E – Qual é a explicação para isso? 

D – Eu acho que  tem um bocado a ver com  isso, precisamente. Se vêem que costumam vir 

então, eles aparecem “Não me posso esquecer, a reunião do meu filho, a sala costuma estar 

cheia”.  E,  portanto,  eles  sentem  mais  essa  obrigação.  O  horário  também  é  um  factor 

fundamental, o horário dos atendimentos. 

E – A que horas é que costuma fazer as reuniões? 

D – Portanto, eu fazia às 16 horas. Sabe, nós não temos a chave da escola, nem dos portões, 

nem do código do alarme, nem nada. Portanto, estamos condicionadas à auxiliar. E a auxiliar 

queixava‐se que às vezes perdia o autocarro e era muito aborrecido. No ano passado houve 

esse problema. Que era às  seis, no ano passado e, entretanto,  saiamos daqui oito e  tal, às 

vezes,  pronto.  E  então,  este  ano,  propus  na  reunião  [na  primeira]  ser  às  16h  15m. Quinze 

minutos após saírem os alunos e expliquei porquê. Os pais não se opuseram mas “Professora, 

vamos  ver…  complica”.  Eles  sabem  que  têm  direito  a  faltar  para  estarem  presentes  e 

acompanhar a vida escolar dos filhos. Mas chegou a meio do ano e pediram‐me para alterar o 

horário, porque lhes dificultava a vida e assim passou para as 17h 30m. Portanto, nas últimas 

terças‐feiras do mês. O que eu notava  também é que  fazendo às dezasseis saía de cá muito 

mais tarde, não era sair mais tarde, era a reunião demorar muito mais tempo. Porque, como já 

tinham tirado a tarde, a reunião prolongava‐se, prolongava‐se porque eles ficam a questionar‐

me sobre alguns assuntos… depois aproximava‐se a hora do jantar e tinham de sair mesmo. 

E – Mas, realmente, sente que o grupo de pais sugerir que houvesse essa mudança de horário 

é porque realmente se sentem envolvidos? 

D – Sim,  sim  [os pais  sentem‐se envolvidos e por  isso  sugeriram a mudança de horário]. Eu 

gosto…  eles mesmo  vêem  com  imensa  vontade,  porque  são muito  interessados  e  querem 

saber  como  é que  está…  saber  as notas,  as percentagens…  adoram  saber  as percentagens. 

Uma vez mostrei, por acaso, já nem me  lembro porquê… Quando elas perceberam que havia 

percentagens “Deixe‐me ver, deixe‐me ver…”  ; “Não vou passar a  folha porque é aborrecido 

verem as notas, podem haver pais que não querem que saibam dos filhos deles.” Começaram 

“Ai, professora, por amor de deus! Nós não nos  importamos nada, diga  lá quanto é que é”. 

Depois,  a  partir  daí  começaram  a  ver…  são  pais,  lá  está,  como  é  que  eu  posso  dizer, 

interessados, não põem problemas nenhuns, antes pelo contrário, tentam ao máximo ajudar. 

Se eu proponho actividades não se opõem a nada, nada. Gostam de participar, claro que não 

podemos  é  abusar,  como  é  óbvio. Não  posso  estar  a mandar  pesquisas  todas  as  semanas, 

senão às tantas não ganham para… e também facilito. Do género, se há uma criança que não 

tem tinteiro, ou impressora “Oh professora!” e digo‐lhe: “Vais ali à biblioteca num instante ou 

então fazes um desenho, em vez de  imprimir.” Também não exijo que todos tragam, como é 

óbvio, cada um tem as suas possibilidades, as oportunidades que têm e, portanto, não vou ser 

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rígida a ponto de… acho que temos de saber ponderar, não é?! Saber equilibrar dentro desta 

realidade. 

E – Já que os pais não colocam grandes problemas, julga que esse facto tem a ver com a sua 

postura nestas  reuniões… a que  se deve? Sente que  se deve a este diálogo  intenso entre a 

professora e os pais? 

D – Eu acho que sim, acho que sim [que se deve ao diálogo entre a professora e os pais]. 

E – Portanto, é tudo mais desmistificado? 

D – É, talvez, sim [é tudo mais desmistificado]. Eu tenho, não sei se é defeito (risos)… eu  ligo 

muito aos pormenores e portanto, explico‐lhes tudo. O porquê… se houver dúvidas aqui e ali, 

eu explico porquê e como é que podemos, então, tentar melhorar. Há um grande diálogo e os 

pais percebem isso e vêem porque gostam de estar a par, às tantas se eu fosse muito vaga nas 

reuniões, os pais… porque, cada um tem a sua realidade, se não tem experiência  (eu peguei 

nesta turma no segundo ano) acabam por não ter termo de comparação. “Ah é normal, se a 

professora só diz  isto é porque é só  isto que tem para dizer.” Enquanto que, se perceberem 

que vamos ao fundo da questão e são abordados todos os assuntos, desde as AEC’s, à sala de 

aula,  às  monitoras,  ao  recreio,  tudo...  não  é!?  Às  tantas  também  começam  a  ficar  mais 

despertos para todas a realidades e querer saber, ao certo, todas as questões que envolvem os 

filhos, para estarem ao corrente delas. 

E – No meio dessas estratégias que utiliza e das coisas que  faz para  ter uma melhor relação 

com os pais, há alguma coisa que ainda acha que não faz mas que gostaria de fazer? 

D – Assim, assim, de caras… em relação aos pais? 

E – Sim. 

D – Eu  tenho pena de esta escola não  ter,  lá está, algum espaço  físico para podermos  fazer 

festas  e  envolver  os  pais  nas  festas,  por  exemplo.  Acho  que  é  assim,  a  grande  falha  aqui. 

Porque de  resto,  lá  está, não podemos  exagerar nos  trabalhos.  Envolver os pais, mantê‐los 

aqui mais presentes… as festas são a falha aqui na escola. 

E – Onde é que aprendeu a fazer, recorda‐se onde é que aprendeu a fazer, a ter esta relação 

com  os  pais,  a  mantê‐los  mais  próximos,  os  assuntos  que  há‐de  abordar…  onde  é  que 

aprendeu? 

D  ‐Isto é a minha opinião, eu acho que tem muito a ver com o feitio das pessoas, eu atribuo 

um bocado à maneira de ser. E, eu acho, que estou a desenvolver um trabalho com crianças, 

essas  crianças  são  filhas  de  pais  e  portanto,  eu  acho  que  é  importante  eles  estarem  ao 

corrente daquilo que  se passa na  sala de aula. Não  só na maneira… na primeira  reunião eu 

gosto de explicar aos pais a dinâmica de sala porque eu acho que é  importante eles saberem 

que  os  seus  filhos  têm  tarefas  portanto,  eles  têm  de  se  aperceber  do  dia‐a‐dia. Não  é  só 

aprender  “A  professora  está  ali  para  transmitir  conhecimentos  e  eles  têm  de  estudar  para 

aprender  e  fazer no  final”. Não, nós  fazemos muito mais  coisas, não  colocando de parte  a 

transmissão do  conhecimento mas  tudo o  resto:  respeitar  regras na  sala de aula, as  tarefas 

Page 47: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

semanais, sei  lá… tanta coisa, que não consigo agora dizer tudo. Lá está, por  isso é que cada 

pessoa  tem a sua maneira de  trabalhar. Se um miúdo  for  transferido nota‐se uma diferença 

grande, porque cada uma  tem a sua maneira de  trabalhar, a sua dinâmica. Por  isso eu acho 

que  os  pais  devem  sempre  estar  ao  corrente  daquilo  que  é  feito,  da  dinâmica  de  sala. Os 

meninos não estão aqui só para fazer os exercícios que a professora propõe, se estão certos ou 

se estão errados… de que formas é que nós… a forma de correcção, por exemplo, porque há 

pais que dizem  “Ah,  a professora não  corrigiu”.  Temos de  explicar  como  é  que  corrigimos, 

como é que fazemos… não sei, eu acho que  isso é  importante. E explicar as vantagens, agora 

lembrei‐me da correcção. Eu corrijo os trabalhos dos meus alunos com caneta, está certo ou 

está errado, alguns  faço desse modo; e eu,  também  falei  com os pais  sobre  isso, e não  só. 

Correcção oral e correcção no quadro. Porque eles estão no primeiro ciclo e há muito o certo e 

o errado e, por vezes pomos um errado e aquilo é arrumado e aquele errado não serviu para 

nada. A  ideia  é,  se  errou,  vamos melhorar.  E,  então,  eu  considero  que  a  correcção  oral,  e 

especialmente  no  quadro  é muito  importante.  Porque  eles  vão  para  o  segundo  ciclo  e,  no 

segundo ciclo fazem correcção e eles têm de aprender a corrigir em grande grupo e, eu acho 

que  eles  aprendem  muito  ao  corrigir  no  quadro  e  oralmente.  Agora,  temos  é  que  ter  a 

vigilância e apercebermo‐nos se essa correcção é feita devidamente. Mando‐os assinalar que 

corrigiram no quadro, porque por vezes a criança corrigiu mal… pode acontecer. Mas aí o erro 

é dela, é mais uma coisa a avaliar, o facto de ter corrigido mal. Na primeira reunião eu explico 

todos estes parâmetros aos pais. 

E – Nesta questão, onde aprendeu, lembra‐se de alguma cadeira, alguma disciplina que tenha 

tido sobre [relação escola‐família]? 

D – Aliás, no meu curso, o meu curso é matemática e ciências do segundo ciclo mas, eu sempre 

quis o primeiro ciclo e eu até acho que foi na altura… portanto, eu acabei em noventa e sete e 

foi na altura que surgiram as variantes. Estava no primeiro ano e o curso era só bacharelato e 

dava para o primeiro ciclo, que era o que eu queria. Entretanto, estando no primeiro ano, acho 

que  já estava no segundo ano, percebi que podia fazer mais um ano, ficava com variante em 

mais uma área e podia  leccionar ao primeiro e ao  segundo. Eu  sempre quis o primeiro mas 

pus‐me a pensar:  “Vamos  supor que não arranjo emprego no primeiro,  sempre  tenho mais 

uma hipótese” e,  foi por  isso, que eu  fui para Matemática e Ciências. Mas portanto,  só  tive 

estágio no  segundo  ciclo no quarto ano, de  facto acho que a minha  formação, apesar de o 

curso ser do segundo ciclo, acho que está mais direccionada para o primeiro ciclo. E era o que 

eu queria, portanto, tudo bem. Mas eu acho que  isto [a relação com os pais] parte muito de 

nós  e da nossa  experiência. No meu  curso…  eu digo  isto  vivamente… ninguém me  ensinou 

como é que eu punha os meninos a  ler  (risos) … não sei, falam muito que no Magistério, na 

ESE, explicavam … no meu curso eu acho que… aprendi começando a trabalhar. 

E – Falava da personalidade mas, esta relação da escola‐família, não passará por uma questão 

de profissionalidade? De postura profissional? 

D – Sim, talvez. Posso ter falado nisso, em alguma cadeira (risos) mas eu acho que  isso parte 

muito de nós, da nossa forma de estar e do modo profissional de agir, também. 

E – Vê alguma fronteira entre o que é o lado dos pais e o lado dos professores? 

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D – Às vezes sim. Às vezes vemos ali um entrave. Por vezes os pais não compreendem, os pais 

dizem que  somos nós  e nós dizemos que  são os pais  (risos)  a  empurrar para  cada um dos 

lados. Mas, como digo, eu não tenho essa realidade, este ano. E, posso dizer que ao longo da 

na minha vida profissional não tenho tido assim problemas, mas existem e eu, ouço muito os 

colegas, sei que sim. Por vezes os pais não questionam   se ouvem dizer ou se o filho chega a 

casa e conta qualquer coisa, antes de abordar a professora ou a auxiliar, quem quer que seja 

que envolve a escola, antes de abordar já vêm, como se diz, com sete pedras na mão e temos 

que aprofundar, temos que saber concretamente o que é que aconteceu. E, é por  isso que é 

importante o diálogo entre todos. 

E – Faz questão, nessas conversas, de manter algum limite? Há algum assunto em que os pais, 

algum assunto que não aborde directamente com os pais? O que eu queria tentar perceber é 

se vê, no seu modo de trabalhar, alguma fronteira entre as questões que são do professor e as 

questões que são dos pais? 

D – Eu  tento ao máximo que os pais percebam… eu não sou mãe deles, como é óbvio, mas 

todos os assuntos que por  vezes,  como eu  já disse, não  têm nada a  ver  com os  conteúdos 

programáticos, são abordados na sala de aula porque surgem, partindo dos alunos, não estou 

a dizer de mim, partindo dos alunos. E portanto, eu acho que os pais  têm de saber, eu  falo 

disso das reuniões “Olhe surgiu qualquer coisa, falámos disto porque…” Nós temos de explicar, 

não é… eu acho que é impensável uma criança ter uma dúvida e abordar‐nos e nós contornar‐

nos e  fugir à questão, não é?! E eu acho que os pais  têm de estar ao  corrente que podem 

surgir  determinados  assuntos  na  sala  de  aula,  com  temas  que  não  são  concretamente 

relacionados com o programa… 

E – Neste caso, falava em relação ao programa, é o terreno dos professores, faz essa distinção? 

D – Eu acho que os pais vão se apercebendo, a pouco e pouco. Eu considero que os pais já me 

conhecem  um  pouco,  dois  anos,  este  é  o  segundo  ano  que  estou  com  eles,  os  pais  já me 

conhecem minimamente para saberem que eu dou resposta a uma série de preocupações que 

não passam apenas pela minha função de transmitir conhecimentos. E eu acho que os pais se 

sentem confortáveis com isso. 

E – O que é que ensinaria a um professor recém formado que chegasse à escola, em relação a 

este assunto, relação escola‐família? 

D  –  Bem,  eu  acho  que,  nós  temos  de  ter,  acima  de  tudo,  alguma  ponderação  com  os 

encarregados de  educação: da  forma  como  falamos,  como  é  eu hei‐de  explicar,  temos que 

mostrar qual é o nosso papel – lá está, não é “eu faço isto e tu fazes aquilo”, não é nada disso 

– o nosso modo de trabalhar, explicar‐lhes para eles compreenderem. Como ponto de partida 

é muito importante que eles tenham a consciência e depois, também saber aquilo que se diz e, 

quando estamos na sala de aula, acho que é muito importante sermos correctas a falar com os 

alunos porque os alunos dizem – não digo todos, há meninos que se calhar nem divulgam nada 

do que se passa na sala de aula, alguns pais são os próprios a dizer, mas outros dizem tudo e 

mais alguma coisa – e portanto, nós temos que ser o mais correctas possível a abordar, a falar, 

a manter um diálogo com os nossos alunos. Eu acho que isso também, no início… outra coisa é 

– como é que eu hei‐de explicar – lá está, saber que a criança pode ir transmitir tudo isto para 

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casa, portanto a partir daí “isto que eu estou a dizer pode ser dito e só posso dizer aquilo que 

devo dizer, ponto final.” (risos) Tento ao máximo ter cuidado naquilo que digo, quer dizer, não 

vou ali dizer nenhum disparate, mas se surgir uma palavra, depende muito do contexto, e de 

como é que dizemos, mas esse contexto em casa, não é transmitido. Mais vale então ponderar 

e ver o que é que estamos a dizer porque pode ser dito dentro de outro contexto, é isso que 

eu quero dizer. 

E – O que é que, em termos gerais, acha que dificulta a relação escola‐família? 

D – Olhe, por exemplo, o espaço  físico  aqui, eu  acho que dificulta. Eu não  gosto de  ver os 

encarregados  de  educação  ali  atrás  do  portão,  com  as  grades.  Não  gosto  de  ver.  Mas 

compreendo que é uma escola grande e tem de ter essa medida. Eu compreendo. Acho que os 

pais deviam ser recebidos dentro da escola. Lá está, não fazemos milagres e o espaço físico é 

este e há‐de ser por muitos anos e como ele está, é impossível, é inviável fazer. Mas eu acho 

que  as escolas  todas deviam uma entrada, em que os pais entrassem e depois,  a partir de 

determinado sítio não. A partir dali é trabalho, são as salas de aula, não vamos perturbar, não 

é?! Porque eu acho que tem de ser respeitado [o espaço]. Agora, o facto de largarem a criança 

aqui e não poderem entrar, eu… incomoda‐me, incomoda‐me, não gosto de ver. Na escola do 

meu filho mais velho não tenho essa realidade, eu entro e gosto de entrar. Porque gosto de ter 

contacto  com  aquilo  que  ele  tem  diariamente.  Porque  parece  que  é  um  bocado  tabu… 

porquê?  Conhecer  as  pessoas  com  quem  o  filho  está  durante  o  dia.  Eu  acho  que  é 

importantíssimo. Funcionárias da escola, conhece‐se a monitora que está  relacionada com a 

turma mas, não é só... no almoço pode estar com outra e pode pedir um recado a outra. Há 

diálogo entre todos. Eu não acho confortável um pai ouvir “A não sei quantas disse‐me isto” e 

o pai  “Mas quem é a não  sei quantas?”,  “O meu  filho esteve a  falar  com quem, quem é?” 

“Quem é que disse  isso?”  “Foi uma  senhora  lá da escola”  “Mas quem é essa  senhora?”. Eu 

acho que os pais devem conhecer todos os funcionários da escola, eu acho que o facto de não 

entrarem na escola impossibilita um pouco isso. Eu acho que, um dos entraves é esse. 

E – Há pouco também falava do tempo… o horário pode ser um entrave? 

D – Também, também. Porque, no meu caso não, mas tenho o exemplo de uma turma daqui 

que  os  pais  quando  mudaram  o  horário  para  as  18  horas,  começaram  a  vir  com  maior 

frequência aos atendimentos. Portanto o horário pode ser um entrave. 

E – E a questão do espaço, para não estar a repetir, mas o facto de não conseguir fazer uma 

festa, uma actividade global também pode ser um entrave? 

D  –  Sim,  sim  [o  espaço  físico  condiciona  algumas  actividades  que  permitiram  uma maior 

relação entre a escola e a família]. E a forma como nós os recebemos. 

E – Pode ser um entrave? 

D – Eu acho que sim. Se eu vou à sala do meu filho e vejo a professora que pouco tem para 

dizer,  ter de  ser eu a  fazer perguntas, questionar para  ter um  feedback, a pessoa às  tantas 

desmotiva‐se um pouco, não é?! Eu também – não estou a valorizar o meu trabalho, por amor 

de deus – mas o facto de eu falar dos mais diversos assuntos é um dos motivos que os faz ter 

dúvidas e que desperta curiosidade e quererem saber mais e mais sobre [os filhos]. 

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E – Sente que se der mais eles também podem… [dar mais]? 

D – Exactamente, sim. 

E – Falava à pouco da questão curricular, do que é que torna a relação mais próxima. A nível 

educativo,  quando  falava  das  AEC’s,  de  todo  o  envolvimento,  de  todas  as  pessoas  que 

trabalham na escola com os alunos. A nível afectivo, a nível deste plano, como é que identifica 

uma boa relação dos pais com os professores? 

D – A nível afectivo, como? 

E  –  Os  assuntos  que  estejam  mais  voltados  para  o  plano  afectivo,  relacionados  com  o 

crescimento ou com a postura da criança na sala de aula, ou com algum problema que seja 

familiar, por exemplo. O que é que faz que nesse plano haja uma boa relação? 

D – A boa relação… eu acho que se nós, na sala de aula nos apercebermos que algo não se está 

a passar correctamente – quer dizer, depende muito da natureza da situação – devemos ficar 

logo despertos e dar conhecimento aos encarregados de educação, eu acho que é importante. 

E – Mas acha que, também da mesma forma, do lado de lá deve funcionar de igual modo? 

D – Sim, sem dúvida, de ambas as partes. Porque nós estamos aqui muito tempo com eles e 

conhecemos muito bem os nossos alunos, muito bem. E portanto, nós conseguimos ter essa 

percepção. Eu  sou abordada  frequentemente:  “Oh professora, acha que … está  tudo bem… 

não  notou  qualquer  coisa?”.  E  portanto,  eu  depois  dou  o meu  parecer  e  a mãe,  ou  o  pai, 

explica‐me o porquê dessa pergunta. Eu acho que é extremamente importante, sem dúvida. 

E – Nota que eles contam consigo para… 

D – Sim, sim, sem dúvida. Às vezes até  pode trazer problemas, este ano, tenho um a situação… 

uma mãe  foi viver para Moçambique.. é complicado,  levou uma  filha e deixou cá o  filho. Ela 

quer‐se manter  encarregada  de  educação  e  ficou  com  o meu  email  para  eu  lhe  divulgar 

quando houver alguma  coisa, uma  reunião extraordinário,  fosse o que  fosse. E portanto, às 

tantas, tem surgido algumas questões por email. E eu penso assim “Será que é minha função 

responder  a  estas  questões?”  .  Complicado,  quando  há  divórcio,  não  é?!  É  um  bocadinho 

complicado, por vezes, porque se ausentou, isto é um exemplo. Não foi má vontade, isto aqui 

já foi a parte emocional a mexer comigo. Pus‐me no lugar, imaginei‐me ir embora e deixar os 

meus  filhos e pensei  “Coitada desta mãe, não é?!”. Por vezes  termos de  ser  flexíveis e não 

pensar “Não está no meu horário e por  isso não vou fazer, ponto final!”, este é outro factor. 

Porque, esta mãe, por exemplo, não estava cá no dia do atendimento e eu, por email, escrevi‐

lhe, marcámos um dia e uma hora e eu vim cá, na semana da  interrupção vim cá à escola e 

atendia‐a e portanto, eu acho que é  importante. Se eu não me mostrasse disponível, a mãe 

não vinha e depois ia novamente embora. Não sei se faço bem, se faço mal (risos). Quando as 

colegas dizem: “Mas não tens de o fazer. Não veio naquele dia, aquela hora”. Mas eu não sou 

capaz, não sou capaz porque sinto que ficou tudo a perder por ter essa postura… perdia uma 

reunião com a encarregada de educação, perdia um diálogo sobre um aluno, que é meu, que é 

filho, que devemos favorece‐lo e não o faço. 

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E  –  Normalmente,  nestas  questões  pensa mais  em  quem:  nos  pais,  no  professor  ou  nos 

alunos? 

D – Eu penso… em todos. Penso em todos porque gosto de ter … não quero ter um registo de 

avaliação por assinar, porque acho que profissionalmente não está correcto. Porque a mãe, 

que é a encarregada de educação tem de estar ao corrente da vida escolar do filho e porque, 

se calhar até baixou o rendimento escolar, e a mãe tem de estar ao corrente para que, lá está, 

num trabalho de equipa casa/escola haver um reforço dos dois  lados para a criança perceber 

que não é só dali, nem dali, mas dos dois  lados e que assim vai conseguir recuperar. O aluno 

vai tirar vantagens, se assim for. 

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Professora Matilde, dia  de Maio de 2011 

 

Entrevista Professora F –  

Entrevistadora – (…) O que é que diria a um jovem professor que se iniciasse agora no ensino, 

acerca da utilidade e da importância da relação escola‐família para os alunos? 

F  –  Da  relação  escola‐família  para  os  alunos…  eu  acho  que  é  importante,  dado  um  bom 

desenvolvimento global do aluno está integrado num relacionamento entre escola‐família. Eu 

acho que actualmente é muito complicado. Aliás, é complicadíssimo porque, não só há muitas 

famílias  monoparentais…  é  muito  difícil  haver  contactos…  é  muito  difícil  os  meninos… 

actualmente as famílias estão desagregadas, que nota‐se perfeitamente isso na nossa relação 

com  o  aluno,  no  dia‐a‐dia.  Por  exemplo,  os  pais  contactam muito  pouco  connosco  porque 

também não têm tempo. Os meninos não são acompanhados porque os pais também não têm 

tempo. O que eu acho é que há uma grande desresponsabilização das famílias, actualmente, 

perante os alunos. A escola actualmente é onde metem os meninos…   actualmente, então, 

óptima porque  ainda  tem CAF e  ainda  tem  as AEC’s, é óptimo, óptimo. Não  têm  a mínima 

noção se as crianças têm ou não têm dificuldades, não têm a mínima noção se tiram  tempo 

para os seus filhos, se o tempo é de qualidade, não. Também têm uma vida muito agitada, eu 

percebo isso. Mas, não têm essa noção. Actualmente, eu acho que as famílias, principalmente 

as famílias só constituídas por um só elemento, constituídas pela mãe praticamente, não têm 

essa noção. Eu vejo isso na minha turma, por exemplo. 

F – Como é que se lembra do antes? Como era o antes? 

E – Eu dou aulas há pouco tempo no primeiro ciclo. Eu sou professora de segundo e terceiro 

ciclo. Aliás eu tive três filhos, e a minha formação vem do curso de medicina que estava a tirar, 

depois  fiquei em casa. Tive  três  filhos. Depois eles eram pequeninos eu  fiquei em casa. Não 

havia… não tinha o estágio (…) Até que depois, a mais nova tinha cinco ou seis anos, e decidi ir 

trabalhar  e  fui  dar  aulas  no  terceiro  ciclo.  Terceiro,  no  décimo  e  décimo  primeiro,  a  dar 

socorrismo, noções básicas de saúde e energia e pronto, fiquei a dar aulas aí. No primeiro ciclo 

estou  há muito  pouco  tempo. Depois,  tirei  outro  curso,  o  tal  curso  de  formação  inicial  de 

professores em Matemática e Ciências da Natureza, do 2º Ciclo,  sou professora do 2º Ciclo. 

depois  tirei mais umas disciplinas que me davam acesso ao primeiro ciclo e então,  tirei esse 

curso à noite e pronto, fui dando explicações, continuei com os meus filhos. E depois, comecei 

a trabalhar, sempre no primeiro ciclo. Porque entretanto, eu não morava aqui, não sou de cá, 

sou de Sintra e, abriu uma escola em frente à minha casa e como os miúdos eram pequenitos 

eu  então  concorri  aquela  escola.  Concorri  aquela  escola  e  fiquei  no  primeiro  ciclo.  Ainda 

concorri ao segundo ciclo, porque eu gosto do segundo e do terceiro ciclo, porque eu acho que 

é muito mais complicado, sou muito avessa ao primeiro ciclo. Mas, como era mais complicado 

[o concurso]… e depois, eu dei aulas ao terceiro ciclo e ao décimo ano só que é sempre assim, 

acabava por apanhar sempre horário incompleto, que era aquilo que eu tinha, dei aulas cinco 

anos e no fim ficou reduzido a um ano e tal, dois anos, porque depois aquilo desconta e não 

sei o quê. E eu então, no primeiro  ciclo  tinha  sempre horário  completo. Então eu optei, no 

primeiro ciclo, porque tinha horário completo, apesar de não ser… pessoalmente… se pudesse 

Page 53: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

escolher… exactamente porquê? Porque eu não gosto de … para mim, entre família e alunos e 

família  e  professores  há  sempre  um  risco  que  eu  não  gosto  nunca  de  atravessar.  Dentro 

daquele risco eu não atravesso para  lá nem admito que atravessem para cá. Porque eu acho 

que  há  situações  que  eu  própria  posso  ter  conhecimento,  que  os miúdos  dizem‐me  tudo, 

porque eles não  têm atenção em casa e começam “Oh professora….” Então, eu às vezes sei 

muitas coisas, mas eu não gosto… nem sou daquelas professoras que convidam os pais, são 

muito amigos… não.  Sou amiga dos pais, nunca tive problemas mas, eu cá e os pais lá. 

E – Em que assuntos é que não gosta que os pais… 

F – Por exemplo, os pais comigo podem falar de tudo, só que… por exemplo… há assuntos, por 

exemplo, o comer dos meninos. Nós vimos que o lanche dos meninos não é o mais adequado. 

Posso  avisar numa  reunião, no  geral, mas nunca digo  a uma mãe:  “Olhe,  você manda  este 

lanche?” Não digo. Posso avisar no geral. E posso dizer ao menino, dar uma aula …  “Opá… 

Trazes muitos bolicaos, tens de dizer à mamã para não trazeres tantos bolicaos, faz‐te mal!” 

Mas, nunca entro naquele domínio dos pais. Eu acho que não tenho, quer dizer, eu acho que 

não é da minha  competência,  apesar de eu  ver, posso avisar, ensinar, posso numa  reunião 

dizer  “Cuidado,  eu  noto  que  os  meninos  trazem  muitos  bolicaos”.  Mas  não  entro  num 

confronto nunca digo… eu sei que há meninos que não jantam, na minha turma… só jantam se 

há restos de jantar do dia anterior. Eu não vou, nunca dizer aos pais “Olhe o menino não janta, 

tem de ter cuidado com a alimentação do menino.” Nunca entro nesse campo. E há coisas que 

eu não gosto de saber. Porque eu acho que depois nós entramos numa relação muito grande, 

é mau para nós, porque uma pessoa depois fica um bocado aborrecida, é mau para nós, e eu 

acho que não nos  leva a  lado nenhum. Eu  trabalho, sou paga para ensinar e educar. Porque 

eles estão na  formação de personalidade, portanto, eu sou paga para ensinar e para educar 

também. Mas o que eu acho é que os meninos só começam a ser educados quando entram 

para a escola e eu costumo dizer: “E os outros seis anos?!”… isso eu digo aos pais. Eu também 

digo assim algumas coisas aos pais mas no geral “Ah professora… ele entrou na escola…” e eu 

digo: “E educação?! Ele quando entro para a escola tinha seis anos. Tiveram seis anos e eu não 

vejo  regras  nenhumas” Digo muito  no  geral,  portanto. Durante  os  seis  anos  as  regras  não 

existem. Na escola eles estão cinco horas, o dia  te vinte e quatro. Portanto, o  resto do dia, 

quem lhes dá educação?! Porque os pais actualmente desresponsabilizam‐se tremendamente 

da educação dos filhos, das regras dos filhos... porquê? Porque não têm tempo. 

E – Acha que o tempo é o único factor que dificulta este acompanhamento dos pais? 

F  –  É.  Portanto,  as mães  não  têm  tempo  porque  trabalham  o  dia  todo,  porque  quando  é 

famílias monoparentais, é  só  a mãe, portanto, não  tem  tempo para os  vir buscar, não  tem 

tempo  para  os  vir  pôr,  de manhã  vem  deixá‐los  às  sete  e meia  porque  vão  trabalhar  para 

Lisboa.  Porque  não  tem  tempo.  Não  acompanha  o  menino  porque  chega  cansada,  e  eu 

compreendo,  porque  tem  de  fazer  as  lides  de  casa:  “Oh  professora  eu  não  tenho  mais 

ninguém,  os meus  pais moram  longe,  sou  sozinha.  Depois,  às  vezes,  ao  domingo  querem 

descansar, vão pôr os meninos aos avós. Muitos vão pô‐los aos avós porque também, também 

têm de descansar, têm de ter um tempinho para elas. Não são todas, mas a grande parte. E 

depois, quando uma mãe me disse a  semana passada: “Oh professora eu dou o máximo de 

mim!”. Aí eu sou um pouco rígida, disse: “Eu compreendo que tenha dado o máximo de si mas 

Page 54: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

não  foi no acompanhamento do  seu  filho. Deu o máximo de  si porque  trabalha em  Lisboa, 

porque não tem ninguém, porque se desdobra em duas, eu compreendo. Mas agora pergunto, 

acompanhou o  seu  filho de uma  forma  sistemática?  ”,  “Oh professora…”  “Eu  só quero que 

tenha  consciência que não o acompanhou. Ao  sábado e ao domingo, está  com o menino?” 

“Vou pô‐los aos avós e depois vou buscá‐lo”. Passa um pouco por falta de responsabilidade… 

Porque eu tenho três filhos e ainda hoje, quando têm testes, eu não saio. E são crescidos,  já 

andam os três na universidade, e depois é assim…  e tenho dois a tirar o mestrado. Portanto, é 

assim, ainda hoje, eu não saio, porque eles têm teste. Eu podia sair com o meu marido mas, 

eles estão ali  [por casa]. Eu vou às compras, venho… cada um está no seu computador, vou 

andando… depois é o jantar, depois é o almoço. 

E – Sente que  isto foi acontecendo pelas mudanças favorecido pelas mudanças sucessivas da 

sociedade? 

F – Sim, sim. Com as mudanças sucessivas na sociedade, actualmente para os pais, a escola é 

um depósito. E  ficam muito alarmados quando alguém diz que as AEC’s vão acabar. Quando 

eles, quando estas crianças só vêm às AEC’s da parte da tarde, porque a minha turma começa 

as AEC’s às oito e meia e, às oito e meia ninguém vem, porque é muito cedo. Vêm na parte da 

tarde. 

E  –  E  para  os  professores,  se  houver  uma  relação  próxima  com  os  pais,  o  que  é  que  os 

professores ganham com isso? 

F – É assim, eu  tenho pais que eu vejo que acompanham muito os  filhos. Mas outros, quer 

dizer, a  relação que eu  tenho boa… eu  tenho  relação boa com  todos os pais. Portanto, esta 

mãe, que  lhe estou a contar  isto, chamei‐a eu porque o menino tem muitas dificuldades e a 

senhora  disse‐me  isto.  Eu  disse‐lhe:  “Eu  compreendo  a  senhora,  eu  acho  que  a  senhora… 

pronto eu compreendo‐a”. agora, o que nós ganhamos é haver uma maior… uma inter‐relação 

no processo ensino‐aprendizagem dos filhos. Por exemplo, u mando trabalhos de casa, mando 

poucos,  porque  é  assim,  não  vale  a  pena mandar muitos  porque  eu  como  costumo  ver  os 

trabalhos, não vou mandar muitos e eu não corrijo na aula, raramente corrijo, levo para casa, 

corrijo e dou o feedback. Às vezes corrijo na aula. Há pais, na reunião, que me disseram: “ Ah 

professora,  a  professora marca muitos  trabalhos.”  E  outros  pais  dizem:  “Oh  professora,  a 

professora marca poucos trabalhos.” Eu disse: “Vamos  lá chegar a um acordo! Marco muitos 

ou marco  poucos?  É  que  se  quiserem  que  não marque,  eu  não marco  nenhuns.  É  que  foi 

mesmo  assim,  eu  costumo  vê‐los  à  noite,  quando  estou  a  ver  televisão.  Portanto,  se  não 

quiserem que eu os passe eu não passo.” Mas depois há os pais que dizem  logo  “Mas nós 

queremos que passe.” “Então, é assim, faz quem quer!” E, na minha turma, é mesmo assim, 

faz quem quer. Na minha sala a conversa é outra, na minha sala de aula eu, é assim: “Ah eu 

não  fiz os  trabalhos.”  “Então porquê?”  “Ah, pois é …. Então  também não podes brincar no 

intervalo.”  Isto  no  primeiro  ano,  fui  habituando‐os.  Agora,  no  segundo,  já  ninguém  diz  se 

marco muitos ou poucos trabalhos. E comecei então, para ganhar pé: “Não há  intervalo para 

quem não  fizer, quem não  faz não  tem  intervalo.”  (…) É a  responsabilidade. Actualmente, a 

minha turma  faz os trabalhos todos. E é um assunto que, eu marco aquilo que quero. Ainda 

ontem, por causa das provas de aferição, anteontem disse: “Vocês vão levar Matemática, três 

folhas.” Mas expliquei‐lhes porquê  “Temos de estudar antes do  teste, não é depois. Depois 

Page 55: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

não  interessa estudar. Temos é de estudar antes. Como nós temos de estudar antes, a gente 

vai  fazer  três  folhas depois, no  resto da  semana  já não  fazem.”  “Ah professora  tudo bem.” 

Claro… e eles  fizeram. Agora, há pais complicados, porque  também há uma grande  falta de 

valores. O ensino não é importante, a educação não é importante. É uma área que está muito, 

não está com prioridade actualmente na nossa sociedade. O discurso é: “Oh professora passe 

o meu filho que eu para o ano vou mudar a minha vida.” “Já me disse isso há três anos antes!” 

E – (risos) Está com estes alunos há quatro anos? 

F – Há três. 

E – Porque que é que acha que hoje em dia se fala tanto desta relação escola‐família? Falou‐

me que nota essas alterações… 

F – É porque  talvez… é  toda uma evolução do conceito de educação. Antigamente era  só o 

aluno, a professora e a família estava muito afastada. Actualmente, o que é que acontece dá‐

se muita  importância à  família, eu acho bem, desde que a  família dê  importância ao que se 

passa  na  sala  de  aula.  “Diz  à  professora  que  não  fizeste  porque  fomos  passear, mas  se  a 

professora, dizer isso… (eu nunca bati num aluno, não sou a favor, eu apanhava, mas não sou a 

favor)… eu às vezes conto‐lhes, e um perguntou: “E o pai da professora não foi fazer queixa?” 

(risos)  “Não, olha querido  sabes o que me aconteceu? Eu  cheguei a  casa e  levei a dobrar.” 

Verdade,  o meu  pai  perguntou‐me:  “Levaste  porquê?”.  “Sabes,  em minha  casa,  levava  da 

professora e  levava do meu pai, a dobrar.” “Pois… e vê  lá se a professora não está aqui sã e 

escorreita?!”  Porque  há  crianças  agora  que  já  crescem  naquilo,  se  fizer  alguma  coisa…  “A 

professora não manada, e eu é que sei e eu é que mando…” e depois o que é que nós vimos? 

Vimos,  um  decréscimo  de  valores,  e  para  mim,  o  que  eu  acho  mais,  é  uma  falta  de 

responsabilidade. É a desresponsabilização da família, de algumas famílias, em relação ao seu 

educando face à escola. 

E – Na sua opinião, como é que acha que devia ser essa relação? Há pouco falou‐me de uma 

fronteira… 

F ‐ Mas isso sou eu… há colegas minhas que não. Elas até me dizem “Ah, vê‐se logo que não és 

professora do primeiro ciclo!” Por exemplo, os alunos a mim não me tratam por tu. Dizem‐me 

logo que eles vêm habituados do infantário. Mas eu digo, “tu não, professora”. Depois alguns 

enganam‐se, não é, tratam por mãe, avó. Mas por tu, não. Não é uma questão de… acho que 

tem de haver uma certa fronteira. E eu costumo dizer, “Ah, professora porquê?”, “Pst, quem 

manda aqui sou eu! E eu é que mando aqui e tu fazes aquilo que eu quero!” a minha turma, a 

minha turma era muito complicada, era e é. Mas eu digo: “Calou!” e eles calam‐se. Tem de ser 

assim, tipo, um bocado…. “É assim, é assim, e pronto.” Essa fronteira… o que é que você me 

perguntou? 

E – Perguntei, qual seria o ideal da relação. 

F – O  ideal da relação, os pais respeitarem o  trabalho dos professores e os professores… no 

fundo acho que o recíproco… mas eu nunca ouvi… eu acho que os professores respeitam os 

pais. 

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E – O que estava a dizer, o ideal também seria haver essa vinda. 

F – Sim. Eu tenho pais que dizem, nós notamos qualquer coisa no menino e pergunto “Olhe o 

que é que se passa?” Pronto, e às vezes eu chamo os pais. Por exemplo, tenho uma menina 

que teve um problema familiar, começou a gaguejar, anda no psicólogo… há uma  interacção. 

Eu  sei  que  ela  às  sextas‐feiras  não  vem,  vai  ao  psicólogo,  interage‐se.  Tem  de  haver  uma 

interacção, uma inter‐relação, pronto. E acho que é benéfico. Agora, não é benéfico quando os 

pais começam a ser…  também é assim, não gosto que  falem à porta da escola. Dirijam‐se a 

mim, peçam‐me, pronto… conversem. Tem de haver esse tipo de relação. Agora, no meu caso, 

existe sempre uma fronteira que eu nunca ultrapasso. 

E – Quando diz que as colegas, reparam “Ah, vê‐se logo que não és do 1º Ciclo”. 

F – Por exemplo, há colegas minhas que é “beijinhos”… estão no primeiro ano. Eu não gosto do 

primeiro ano, aliás. “Ah, beijinhos?!”. Por exemplo, “Ah, coitadinhos não têm tempo…”, “Não 

têm de ter tempo, eles estão aqui para fazer no tempo devido”. E marco sempre tempos, eu 

sou amiga deles. Eu costumo dizer “Eu sou vossa amiga, mas primeiro sou professora e depois 

sou amiga. Sou amiga e professora.” Mas quando é para ralhar,  tem de se ralhar. Quando é 

para dizer as coisas, sou muito bruta às vezes a dizer as coisas. Tenho alunas minhas, que às 

vezes  tenho mesmo de  ser. Com os pais às  vezes  também  sou um pouco bruta, porque há 

coisas que eu  tenho mesmo de dizer. Porque eu  costumo dizer que é  tal e qual  como uma 

mãe, a mãe é mãe e amiga, mas primeiro é mãe e depois é amiga, porque a mãe não pode ser 

amiga a cem por cento. É como um professor, eu sou professora sou amiga deles, sou muito 

amiga deles e preocupo‐me muito… com os testes de aferição e ia para casa, corrigia, para dar 

o feedback enfim, gosto muito deles. Mas, quando é para portar bem e para trabalhar, eles já 

sabem... é para trabalhar “bico calado, não quero ouvir nada”. Quando é para brincar, vamos 

brincar. 

E – Acha que se infantiliza demasiado essa... no primeiro ano… 

F – Sim, o primeiro ano festa muito infantilizado ainda. 

E – Mas, quer dizer, não é nada que se traga da formação inicial. 

F – Você, com certeza que já contactou com professores do primeiro ciclo e com do segundo e 

terceiro. Não nota uma diferença. 

E – Sim. Mas estava a tentar, nunca tinha pensado nesta questão, dos beijinhos e… onde é que 

se aprende isso? 

F – Porque as professoras do primeiro ciclo são mais,  têm muito o aspecto de, eu acho que 

preenchem uma lacuna maternal. Porque, portanto, eu tenho meninos que falam mais comigo 

do  que  com  a mãe,  de  certeza  absoluta.  Às  vezes  digo  assim…  eu  tenho  uma  aluna  “Oh, 

professora…” Eu digo assim, “Isso não se diz a ninguém. Tens de ter atenção. Dizes‐me a mim, 

pronto acabou. Mas não contes isso às pessoas.” Porque eles contam o que se passa com eles. 

Porquê? Ninguém os ouve. Eu às  vezes digo‐lhe:  “Isso é  chato, é aborrecido. Porque é que 

alguém  tem  de  saber  da  vida  do  teu  pai  e  da  tua  mãe?  Isso  não  se  conta.”  Mas  há  a 

necessidade de falar. E depois, há uma certa… eu acho que há, as professoras têm aquele lado 

Page 57: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

mais maternal que passam… “Coitadinhos dos meninos!” Por  isso eu não gosto do primeiro 

nem do segundo ano. Gosto mais do terceiro e quarto anos, porque  já são mais... têm outra 

autonomia. E acho que os professores não devem ser permissivos e facilitadores, e é o que se 

está a passar. Claro que a culpa não é dos professores, muitas das vezes, a culpa é de todo o 

sistema. 

E – O que é que acha que, em geral, não sou a sua opinião, mas o que sente dos outros, o que 

é que os professores valorizam mais nesta relação escola‐família? 

F – Os meus colegas… talvez o empenho dos pais em acompanharem os filhos, que é também 

o que eu mais valorizo. Porque para mim isso é o mais importante, isso é eu saber que os pais 

acompanham os  filhos, pronto… que eu mando  fazer os trabalhos e eles ajudam‐nos. Agora, 

virem  trabalhos  todos  errados.  Às  vezes  dá  vontade  de  dizer:  “Então  não  vale  a  pena 

marcar.””A mamã ajudou?”, “Não!”, “Porquê?”, “Não teve tempo”.  

E – Muitas vezes manda esses trabalhos mais para sentir que os pais sabem o que eles estão a 

fazer ou no sentido de eles treinarem? 

F – Não, eu nunca penso nos pais. É no sentido de eles [os alunos] ganharem responsabilidade 

e no sentido de eles treinarem. E também, se eles sentirem dificuldade pedem aos pais. Eu às 

vezes pergunto “Então o pai ajudou‐te, a mãe ajudou‐te?”, “Ah, não tiveram tempo.” Mas há 

uns que ajudam. Portanto, eu conheço bem, na minha turma, eu sei os pais que acompanham 

os meninos, os pais que não acompanham, eu sei. 

E – Mas nota diferença no sucesso deles na sala de aula? 

F – Claro, claro, é óbvio. Costuma‐se dizer, excepto alguns casos, o reflexo dos alunos no fundo 

são o  reflexo de uma  família e do  interesse da  família, e da  importância que dão  à escola. 

Porque  há muitas  famílias  que  não  dão  importância  e  respondem‐me  “Oh,  professora,  eu 

também já era má a Matemática”, “Eu também era assim, eu também não fiz  isto.” Portanto 

eles acham que é normal fazerem [os alunos] aquilo que eles fizeram. Portanto, eu acho que 

há muitos  pais  que,  já  a  eles  não  foram  transmitidos  esses  valores.  Portanto  eles  estão  a 

transmitir aos filhos os valores que  lhes foram transmitidos… “Que tanto faz”,   “Eu não pude 

estudar no  fim de  semana porque não pude, porque  tive de  sair.” Depois, a partir daí, eles 

estão aqui, nós  temos de  fazer  tudo. Eles ainda não perceberam que  temos vinte meninos. 

Ora, é o que eu costumo dizer “se vocês, com os vossos filhos (como tenho uma mãe que me 

diz que não  faz nada da  filha,  isto disse‐me ela quando a  filha  tinha sete anos)…” Eu  fico a 

pensar…  é  estranho!  Quando  ela  comigo  porta‐se  esplendidamente  bem.  Porta‐se 

optimamente.  “Oh  professora,  se  eu  não  ouvisse  não  acreditava”.  Nunca  tive 

problemas com aquela criança. A mãe manda‐lhe fazer o trabalho… e não faz mesmo, 

e vira‐se à mãe. Comigo… se calhar tentou uma vez… nem me  lembro. “Mas estamos 

aonde?  Pensas  que  eu  sou  quem?  Comigo  aqui  obedeces‐me,  porque  eu mando!” 

Quer dizer, eu nem me  lembro de  ter dito  isto, mas devo  ter dito no princípio. Mas 

quando  a  senhora  me  veio  dizer,  porque  os  trabalhos  não  vinham  feitos.  “Oh 

professora, eu não sou capaz de sentar a menina a fazer nada, não tenho mão nela.” 

Eu até  fixo assim… pasma. Agora,  também…  se vêem os pais a  fazer cada coisa… às 

Page 58: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

vezes  trabalho  muito  bem  com  os  filhos  e  às  vezes  tenho  uma  certa  dificuldade 

também  [de  trabalhar  com os pais]… por exemplo, numa  reunião, entram os  filhos, 

entram os pais… eu  começo  a olhar… depois  falam, depois os  filhos  gritam. Há uns 

anos eu  tive de dizer aos pais, e os  filhos ao pé dos pais… nessa altura eu acho que 

tenho de me remeter ao papel de professora e disse‐lhe: “Olha, vê  lá se tas quieta!” 

Que os filhos pareciam sei  lá o quê… “Oh meninos então, o que é  isso?! Então vocês 

comigo não se portam assim na aula… acabou.” E depois também tive vontade de dizer 

assim aos pais: “E também acabou, que eu quero começar a reunião!” (risos). Pronto, 

claro que não  são  todos mas, que  se  reflecte… que  toda uma  família  se  reflecte na 

educação e na valorização que dão à educação, na responsabilidade dos meninos, eu 

acho que sim. 

E – Como e quando é que contacta com os pais? 

F – Nas reuniões mensais, nunca vêem. Só vêem os dos bons alunos. A minha turma tem um 

pequeno defeito, nas reuniões de avaliação também vêem quase todos, mas não vêem muitos. 

E eu contacto, às vezes, como na reunião mensal é à hora do almoço e muitos não podem vir 

geralmente,  eu digo que,  se mandarem um  recado na  caderneta  eu  recebo‐os,  à hora que 

combinar. Às  vezes  eu  combino  e  eles  esquecem‐se.  É  uma  coisa  que  eu  deixei  de  fazer  a 

algumas pessoas porque combinei várias vezes… “Olhe desculpe  lá,  já combinei várias vezes 

consigo, não apareceu. Agora, vem à reunião…” 

E – Mas sente que é passada aí uma questão… 

F  –  Eu  estava  à  espera  e  ela  não  aparecia.  “Ah  professora  aconteceu…”,  “Ok,  teve  um 

problema, tudo bem…” Mas eu dou essa chance, se as pessoas não puderem, vêm e marcam 

uma hora comigo. 

E – Normalmente eles têm essa iniciativa, se precisarem de alguma coisa procuram‐na? 

F – Às vezes, sim. Geralmente eu convoco, é mais é o contrário. 

E – E nessas reuniões mensais, habitualmente, falam sobre o quê? 

F – Aprendizagem e comportamento dos alunos. 

E – No geral? 

F  – No  geral,  falo  sempre  no  geral.  Se  depois,  tiver  algum  caso  particular,  geralmente,  eu 

convoco os pais. Nunca falo de um aluno em particular numa reunião. Falo se for um assunto 

trivial agora, se há algum problema mais grave, mais pessoal, eu depois chamo os pais. Chamo 

a mãe, ou o pai, e pergunto a que horas o encarregado de educação pode vir falar comigo, à 

escola, depois do horário lectivo. Quando é um assunto que requer uma certa privacidade. 

E  –  Em  relação  às  aprendizagens,  os  pais  fazem  algumas  questões?  Como  é  que  trabalha 

determinado  conteúdo?  Ou  aparecem  na  reunião  só  porque  está marcada  e  não  querem 

faltar? 

Page 59: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

F  – Ah,  aparecem na  reunião porque  está marcada. Há  alguns pais que  vêem os  testes…  é 

assim,  os  miúdos  também  dizem.  Nós  pensamos  que  os  pais  não  reparam,  mas  os  pais 

reparam.  Eu  às  vezes  faço  coisa  na  aula,  sei  lá…  actividades…  e  depois  os  pais:  “Ah,  eles 

gostaram tanto da actividade… ah, ele está tão entusiasmado. A professora fez…” Geralmente 

eu  tenho  este  feedback  que  eles  gostaram.  Porque  depois  os  meninos  contam.  Há  esse 

intercâmbio de informação nas reuniões. Esse intercâmbio há. 

E – Olhando para a sua prática considera que faz o que é possível, que o faz bem para que haja 

essa boa relação. Onde é que aprendeu a fazer? 

F – Senso comum. Eu vou muito pelo senso comum. Não aprendi a fazer nada e há até colegas 

minhas que  fazem de outra maneira. Eu… pronto, é o  senso  comum. Há  coisas que eu não 

digo, há coisas que eu digo de uma maneira diferente, tento não… eu costumo dizer, tento me 

pôr no lugar dos pais dos meus alunos. E então, há coisas que eu acho que também não têm a 

nada  a  ver.  Eu  acho  que  há  uma  certa  privacidade…  que  eu  posso  dizer  de  uma maneira 

diferente, porque há perspectivas diferentes de ver as coisas. Portanto, também as temos de 

respeitar, não é?! E então, eu vou muito pelo senso comum. Como chamar [aos alunos] “Tu és 

assim”  Eu  nunca  digo  não  disso  “Tu  és  distraído, mas  vais  conseguir”  Tenho meninos  com 

muitas dificuldades de aprendizagem. Mas digo sempre “Tu vais conseguir, vais conseguir” e 

aos pais também digo. Por  isso eu noto que os pais não trabalham com os filhos. Porque um 

pai, ou uma mãe, que trabalhe com o filho, não me vai dizer que o menino faz tudo. Que eu 

digo  “Oh  pai,  não  trabalha  com  o  seu  filho,  com  certeza.  Ele  tem  tanta  dificuldade  a 

Matemática, dá tantos erros.” “Ah pois professora, eu realmente não tenho muito tempo.” Eu 

às vezes noto, quero dizer, não acompanha o menino. O menino  faz os  trabalhos no ATL e 

depois, pronto… porque não têm a noção, às vezes, do que é que eles sabem, do que é que 

eles são capazes. Mas há pais que não, há pais que é o contrário. 

E – Há bocadinho falava sobre a fronteira. Falou sobre alguns assuntos que… 

F – Mas, repare isso é pessoal, é uma opinião pessoal.  

E – Sim, sim, mas é isso pretendemos, o que cada um de vós considera essa tal fronteira. Falou 

na fronteira que ao agir com os pais faz questão de manter e que eles mantenham. Em termos 

da sua prática, ao nível pedagógico, alguma vez sentiu essa intromissão dos pais? 

F  –  Não,  porque  isso  aí  não  me  incomoda.  Eles  podem  dizer,  a  nível  pedagógico  “Oh 

professora…” pronto… 

E – Mas como é que faz? 

F – Eu dou as minhas aulas. Se eles perguntarem como é que eu faço, eu digo como é que faço. 

Se ninguém me perguntar como é que faço [não digo]. [Explico] “Faço desta forma, por isto… “ 

Porque na sala nós nunca trabalhamos da mesma maneira com todos, não é. E digo: “Fiz isto e 

isto  com  estes.”  “Olhe  ele  é  assim.”,  “Ele  tem  de  estar  sempre  ocupado.”  Agora,  nesse 

aspecto, a nível pedagógico, a nível do meu  trabalho, os pais podem‐me questionar que eu 

justifico. Não  nunca  senti  isso  [a  intromissão  por  parte  dos  pais],  nem  “Ah  os  pais  fizeram 

queixa de uma professora”. Também não. Acho que, quer os pais, quer os professores de dar, 

de  ter a  sua opinião. Eu  já  tive, por exemplo um pai que eu  chumbei o menino e o pai  fez 

Page 60: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

queixa  minha…  e  pensei    “Mais  problemas”,  mas  chumbei‐o,  está  chumbado,  chumbei‐o 

mesmo. Mas achei que o pai tinha esse direito. Depois foi para a DREL… Mas achei que o pai 

tinha esse direito. Depois, até achei estranho, estava tudo super justificado, com os planos de 

recuperação e tudo. Depois o pai, no ano seguinte veio falar comigo e veio‐me dizer, até me 

veio pedir desculpa e porquê? Tinha sido apanhada num processo de divórcio litigioso. E quem 

apanhou por tabela foi o menino. E então, acho que  já estavam num processo de divórcio, a 

mãe nunca vinha às  reuniões, eu  tinha vários  recados na caderneta, o pai não  falava com a 

mãe e conclusão, quando eu disse “O menino vai ficar retido.” Aquela gente acordou… então 

depois acharam que quem  tinha de pagar era eu. Enganaram‐se porque eu  tinha  tudo bem 

feito. Mas por exemplo, está a ver, depois essa criança foi apanhada no meio de um processo e 

eu  também.  Já está a ver… às vezes é muito complicado  isto, não é. Pronto, e depois o pai 

disse: “Oh professora desculpe realmente…” Depois ele explicou‐me o porquê. Eu disse: “Pois, 

porque  ninguém  veio  às  reuniões,  fartei‐me  de  os  chamar…  e  isso  tudo”.  O miúdo muito 

malcriado, mas coitado, lá está… Foi tudo um conjunto de situações que conduziram a…  Mas 

os  pais  fizeram  queixa  de mim  à  DREL,  conduziram‐me  um  processo. Mas  pronto,  depois 

estava  tudo  direitinho,  os  planos,  as  actas  e  tudo… Mas  quer  dizer,  os  pais  também  não 

pensaram… Eu tive duas reacções que foi: se eu tiver feito alguma coisa mal vou aprender, e o 

menino passe ou não passe o problema não é meu, ele não é meu filho; se for para ficar e eu 

fiz tudo bem, se me dão razão, pois o menino fica que é o que eu acho que deve ser a situação. 

Foi o quê? Os pais levaram um ano a discutir um com o outro, depois chegaram ao fim e ainda 

houve  esse  problema.  Às  vezes  os  pais misturam  tudo. Na minha  opinião  pessoal,  tem  de 

haver sempre uma fronteira. Por exemplo, eu nunca digo a um menino que cheira mal, eu sou 

incapaz de fazer isso.  

E  ‐ O que é que acha que  seria  importante ensinar, hoje em dia a um  recém  formado, em 

relação a este tema? 

F  –  Eu  acho  que  sim  [que  este  tema  deve  ser  falado].  Há  uma  grande  necessidade  das 

pessoas… primeiro acho que se deve fomentar este tipo de intercâmbio, entre família e escola, 

acho que se deve fomentar sempre. Daí é que o sucesso do aluno não é só… não depende só 

da escola. Também vai depender muito do acompanhamento em casa. Porque na escola eu 

estou  com  os  alunos  cinco  horas,  são  vinte  alunos.  E,  em  casa,  tem  de  haver  um 

acompanhamento.  Ora  se  nós  fomentarmos  a  noção,  nos  pais,  que  tem  de  haver 

acompanhamento, que nós não conseguimos tudo, que eles têm de acompanhar a criança, e 

se  isso  se  vai  conseguindo,  é  bom,  para  o  professor  e,  para  o  sucesso  dos  alunos  e  da 

professora. Porque uma turma é o reflexo da professora e, a professora reflecte‐se na turma. É 

verdade, eu acho que deve ser. Agora, é uma relação difícil. Eu acho que é muito difícil porque 

sou um profissional, estou a exercer a minha função e depois vamos falar com encarregados 

de  educação  e  é  como  eu  a  ralhar  com  os meninos.  Chegam  atrasados…  ralho,  ralho mas, 

termino a dizer “Eu sei que não tens culpa, tens é de ajudar a mãe a  levantar‐se mais cedo. 

Porque  a  criança não  tem  culpa. A minha  turma nunca  vinha  ao  apoio  ao  estudo, desde o 

primeiro ano que dou o apoio ao estudo às oito e meia da manhã. Eu chegava aqui, para mim 

até era óptimo,  tinha quatro meninos. Mas é assim,  se  começo  com os meninos,  levo  logo 

todos todo o dia, não é. Os pais diziam: “Oh professora mas é muito cedo.” Os miúdos diziam: 

“A minha mãe  é que não  acorda.”  “Olha  tens de  ajudar  a mãe  a  acordar mais  cedo”.  E  ra 

mesmo verdade, depois chegavam cá e diziam: “Oh professora, eu hoje acordei a minha mãe e 

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obriguei a minha mãe a vir pôr‐me no apoio ao estudo.” E depois a mãe dizia que ela é que não 

se queria  levantar. E sabem em quem eu acredito? Na criança. Porque às vezes também não 

me apetece levantar. Só que a miúda já sabia que eu queria dar coisas importantes e eram as 

contas de dividir. 

E – Os pais da turma costumam participar em algumas actividades dentro da sala de aula? Em 

actividades de Agrupamento? 

F – Ahhh… poucas. Por exemplo nos anos, alguns vêm com os filhos. Nas festas é difícil, porque 

tem de haver um sítio... é difícil. Mas sempre que há oportunidade eles gostam de participar. 

 

A professora Matilde tinha reunião de docentes e foi‐se embora nesta fase da entrevista. 

 

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Professora Isabel, dia  16 de Junho de 2011 

 

Entrevista Professora G – Isabel Fiúza 

Entrevistadora –  iria começar por  lhe pedir a opinião sobre a utilidade e  importância que vê 

nesta relação entre a escola e a família. 

G – É sempre um benefício, não é. Os miúdos vêm à escola, nós debitamos de formas variadas, 

mas matéria,  do  primeiro  ciclo,  conteúdos  básicos.  E  o  tempo  em  que  o  fazemos  é muito 

escasso  para  depois  colhermos  o  bom  aproveitamento.  Se  houver  um  empenho  e  uma 

motivação da parte de casa, às vezes tão simples como “Deixa‐me ver o teu caderno, ver os 

teus  trabalhos  de  casa.  Fizeste  bem?  Não  fizeste?  Olha,  erraste  aqui.”  Eles  sentem‐se 

apoiados, e esse apoio é quase como vinte por cento de lucro na aprendizagem deles. Quando 

eles  vêm que o  aprender,  aquilo que  eles  conseguiram  ganhar,  as poucas  conquistas, boas 

conquistas ou muitas conquistas, em alguns casos, que vão fazendo, não são reconhecidas  lá 

em casa, deixam de ter, para eles, tanto mérito. Eu penso que é importante é eles sentirem‐se, 

sentem‐se mais motivados se tiverem um parceiro familiar que os apoie, que os motive, e de 

alguma forma os corrija, quando é para corrigir. 

E – E para os professores, vê alguns benefícios nessa relação? 

G – Também, porque  se eles beneficiam  com  isso em  termos de aprendizagem,  ficam mais 

motivados, portanto… são meninos que gostam de agradar em casa e, agradam em dois lados, 

não é. E nota‐se que tentam melhorar. São melhores alunos quando têm algum apoio. E muito 

apoio não  significa muitas horas, basta um estímulo positivo em  casa, em dez minutos, um 

trabalho  de  casa,  ou  uma  pesquisa  que  foram  fazer  em  conjunto.  Que  até  em  termos 

emocionais  e  familiares  eu  acho que  é… um bom  empenho  solidifica  as  relações  familiares 

entre  pais  e  alunos.  Depois  nós  beneficiamos  com  isso,  porque  são  meninos  com  uma 

estrutura familiar sólida, em termos afectivos, emocionais e cognitivos. 

E  –  E  nessa  óptica,  qual  é  a  importância  da  relação  directa  entre  os  professores  e  os 

encarregados de educação? 

G – Quando as coisas correm a cem por cento essa relação é sempre de carácter prioritário, 

quando  as  coisas  correm  cem  por  cento  para  os  dois  lados,  [os  alunos]  têm  facilidade  em 

aprender e têm bons resultados, é bom, mesmo assim é bom que o pai ou a mãe tenham um 

intercâmbio  com a escola. Que a escola não  seja  só a professora, mas vejam que o que eu 

explico aqui é válido  lá em casa, ou como é que eu explico, ou como eu posso ajudar. Pode 

sempre ajudar a ser sempre melhor. Portanto, é importante virem à reunião, participarem em 

pesquisas, nos  trabalhos de  casa, é benéfico. Quando as  coisas  correm muito bem nós não 

sentimos tanta a falta dos pais permanentemente na escola mas, quando existem problemas 

cognitivos, ou problemas que às vezes se prendem com problemas emocionais, para nós, era 

uma mais  valia  se  os  pais  nos  viessem  contar  (…)  portanto,  todos  os  problemas  familiares 

recaem  depois  nas  aprendizagens  deles,  eles  são  radares  apanham  as  coisas  todas.  E  esse 

intercâmbio é muito bom para às vezes sabermos que…   em vinte e cinco, temos de dar um 

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estímulo maior  [aquele menino]  naquela  altura  porque  está  a  ser  difícil  lá  em  casa.  Este 

intercâmbio é necessário. 

E – Porque que é que acha que se fala tanto na relação escola‐família, hoje em dia? 

G – Porque não existe. Porque as pessoas não valorizam e porque a escola, cada vez mais é o 

depósito do menino. Portanto ele está num sítio onde alguém trata dele, onde se aleijar há um 

seguro, onde  lhe dão de comer, atenção e até vai aprendendo umas coisas. Chegam a casa…  

muitas  vezes  entram  aqui  às  sete  e meia da manhã,  saem  às  sete  e meia da noite,  com  a 

história do CAF e das actividades extra curriculares – das quais eu tenho uma opinião particular 

– e portanto,  isto acabou por ser um depósito. Em que as aprendizagens não são valorizadas 

porque não há tempo lá em casa para perguntar “Então, como é que foi o teu dia?” Em que se 

cometem erros atrozes, como por exemplo, alimentares – para que é que eu vou estar aqui a 

discutir se quer sopa ou não quer, dou‐lhe já um hambúrguer da MacDonals que é mais rápido 

– em que às  vezes  vem ou não a  chuveirada no  final do dia, porque amanhã  tenho de me 

despachar para às sete e meia estar na escola. E os pais cada vez vão tendo menos tempo para 

os filhos e, a escola começou a ver que não há pais presentes  lá em casa e nós, então temos 

que estimular os pais para saberem ser pais para aqueles filhos. Não só em termos cognitivos 

[a  falta que se nota do  lado dos pais] em termos  familiares também. Muitas vezes, e muitas 

vezes  mesmo,  naquelas  reuniões  de  atendimento  com  os  encarregados  de  educação  eu 

solicito a presença daquele encarregado, por achar que aquele miúdo está mais hiperactivo, 

ou  mais  desinteressado  ou  constantemente  chega  atrasado,  eu  gosto  de  saber  o  motivo 

daquele distúrbio no meu processo de ensino aprendizagem pode ser ou não factor lá de casa, 

e às vezes é, tem sido. E então, quando dou por mim, já estou a falar do divórcio que não está 

a correr da melhor maneira porque a criancinha já está a ser alvo desta situação, e não deve, 

não  é.  E  de  uma  forma,  aí  já  passo  de  professora,  a  padre  ou  daqueles  conselheiros 

matrimoniais e digo: “Mas não pode ser, vocês têm de fazer as coisas mais suave, para ver se a 

criança. (…) outra situação a criança ficava sozinha, a mãe trabalhava à noite. (…) Isto são todas 

situações pontuais, sociais, que nós às vezes, sem querer, temos também de dar uma achega a 

esse  lado  para  que  depois  possamos  ter  uma  criança  com  uma  estrutura mais  ou menos 

familiar equilibrada e depois, aí, vem a aprendizagem. Porque isto depois é uma pirâmide, sem 

a base sólida não se consegue construir. 

E  –  Como  é  que  acha  que  seria  a  relação  ideal  entre  os  professores  e  os  encarregados  de 

educação? 

G – O  ideal era que, pelo menos naquelas  reuniões de entrega dos  registos de avaliação, os 

pais  estivessem  presentes  e  que  a  criança  soubesse  que,  a  prestação  que  teve  ao  longo 

daqueles meses  que  chegou  a  altura  de  a  partilhar  e  que  viessem  a  alguns  atendimentos 

sempre que houvessem situações que suscitassem essa necessidade, não é. Ou, por exemplo, 

fizessem  tão  simples  quanto  isso,  eu  cedo  o meu  telemóvel  pessoal  para  aqueles  que  as 

pessoas  que  não  têm  tempo  possam  ter  uma  conversa  comigo  sobre  algum  aspectos  que 

queiram,  ou  que  telefonassem  quando  a  criança  está  a  fazer  uma  medicação,  ou  tão 

simplesmente  avisassem  que  estão  a  faltar  porque  estão  doentes.  Porque  nós,  enquanto 

gostamos, gostamos, e não percebemos porque é que a aquela criança está a  faltar naquele 

dia. Isto era o mínimo dos mínimos. O ideal seria que estes mínimos existissem e que houvesse 

Page 64: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

uma  continuidade  e  o  tal  estímulo  e  a  tal motivação  em  casa.  “Então  diz  lá  o  que  é  que 

aprendeste hoje, o que é que fizeste?” Às vezes nem é preciso ir ver o caderno em casa, passa‐

se que se mandarmos algum trabalho que eles têm alguma autonomia para o fazer [sozinhos], 

porque temos de pensar nos que têm apoio e nos que não têm apoio. Mas, o interesse, não é… 

o interesse, o tempo útil com aquela criança, a relação, exacto. 

E – Acha que os colegas, no geral, pensam da mesma forma, que o ideal da relação seria esse 

modelo? 

G – Ora bem, na hora do  intervalo ou nos conselhos de docentes, nós vamo‐nos debatendo 

que este sistema de actividades extra curriculares, em vez de contribuírem de forma positiva 

para o ensino  aprendizagem,  vieram‐nos  complicar um bocadinho  a  vida. As mais horas de 

permanência na escola, não revertem a favor da criança. É o tal depósito que eu chamo. Nem 

sempre  o  que  é  praticado  tem muita  qualidade.  É  assim  que  eu  vejo  as  coisas.  Esta  troca 

constante  entre  nós  [professores],  monitoras…  são  muitas  as  empregadas  da  cantina,  as 

auxiliares, são muitas horas, sempre de regras incutidas. (…) são muitas horas. Eu percebo que 

os pais estejam a  trabalhar mas nós vemos a  relação pai, mãe, às vezes um avô, uma avó… 

eram umas  figuras de uma mais  valia muito  grande,  e há  ali um  conjunto de  testemunhos 

muito grande, não é, e até em termos de laços afectivos e até dos avós se conhecem melhor os 

pais, essas relações perderam‐se. Os avós, agora nesta altura, na sociedade, são avós activos 

que  trabalham, que estão ainda a trabalhar e estarão. E estas crianças estão, portanto, num 

sistema educativo e naquilo que pode ser oferecido, nas suas limitações – uma delas espaço – 

acho que é muita permanência no mesmo espaço muitas horas e deixou de haver essas mais 

valias  que  não  se  aprendem  nos  livros.  E  que,  às  vezes,  eu  como mãe  ainda  posso  ir  um 

bocadinho para  lá do  livro e explicar uma  coisa ou outra, porque  acho que eles estão aqui 

muito  tempo. Mas,  como  por  exemplo,  desde  as  regras  básicas  sociais,  “Olhe,  não  tira  os 

sapatos no meio da aula, quando espirra diz…, quando arrota… diz com licença, se faz favor.” 

Qualquer coisa deste género  já ultrapassa… porque as pessoas não  têm  tempo para explicar 

aos meninos, os afectos. É uma  sociedade que as pessoas  continuam a  ter  cada vez menos 

filhos, talvez por causa disso, não há tempo para dedicar, não há tempo para ler uma história à 

noite ou pouco. Porque depois da criança adormecer a gente  já  sabe que  tem de  ir  fazer o 

trabalho  que  não  fez  até  aquela  hora.  Porque  no  outro  dia  exigem‐nos,  é  uma  sociedade 

exigente em  termos de  trabalho.  (…) Há muitas pessoas que eu acredito que não  façam  isso 

[ler  o  livro  ao  deitar]  e  que  retira  qualidade  ao  crescimento  daquela  criança.  E  é  isso  que 

basicamente  nós  sentimos  no  café,  são muitas  horas  de  permanência  e  os miúdos  não… 

sentimos que eles estão desestruturados dessa parte afectiva. E somos nós que às vezes ainda 

temos de lá chegar de alguma maneira. 

E – O que é que os colegas valorizam mais nesta relação? 

G – Muito, muito [valorizado a vinda dos pais à escola]. Eu peço sempre aos pais que venham á 

escola. Quando trabalhei com as profissões solicitei várias vezes para que cada um viesse falar 

da sua, para eles sentirem que é um ganha pão e que é o motivo para que os pais estejam 

muitas  vezes  ausentes. Quando  abordei o que  é um  livro, ou  li histórias pela primeira  vez, 

eram eles pequeninos, pedi que viesse uma avó contar a história ou uma mãe mas, também 

não  tive  grandes  contributos  porque…  os  tais  limites  dos  empregos,  impostos.  Neste 

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momento, estas prestações, esta relação [são factores que contribuem para a valorização da 

relação]. De eles [alunos] perceberem que os pais já foram como eles que, quando nascem não 

trazem um  livro de  instruções e que são uma caixinha  fechada e que ser pai  também não é 

fácil. Mas que os pais saibam que este espaço existe e gostam de ajudar e que acham que é 

importante ele estar na escola e que, o vir para a escola é importante. É importante ele saber 

que está aqui e que participou com ele numa actividade. Eu acho que passa muito pelo  lado 

afectivo. Quando se consegue conquistar esse lado afectivo, o outro [aluno] parece uma seta. 

Porque há toda uma predisposição para isso… para a aprendizagem. 

E  –  Como  é  que  acontecem  as  comunicações  entre  a  professora  e  os  encarregados  de 

educação? 

G  –  Esta  turma  é  uma  turma  que,  desde  o  início  do  ano,  as  cinco  pessoas  que  vêm  ao 

atendimento, mensal… são sempre as mesmas cinco. Tenho vinte alunos. Depois, nas entregas 

dos registos, são três reuniões por ano, vêm em massa. Mas ainda há três pais que eu vi no 

primeiro  dia  de  aula  e  não  vi  nunca mais.  Eu  contacto  telefonicamente  “Olhe,  não  sei  se 

esqueceu, eu estou disponível noutra hora, veja lá”, “Mas é que eu estou a trabalhar, pode ir o 

meu marido”  (…) “Então eu, para vocês  terem uma noção, vou mandar uma  fotocópia para 

casa, vai na caderneta dele, perceba que não posso mandar o original porque tem de deixar 

uma rubrica. Mas portanto, não há aqui um espaço para … 

E – Entende que seja apenas a falta de tempo ou… 

G – Entendo que seja a falta de tempo. São pessoas que trabalham, às vezes, muito longe, em 

Lisboa, com horários  incompatíveis com esta situação  toda  [escola]. Às vezes  temos aqueles 

encontros casuais, tipo numa loja ou no talho, em que eu, como sinto que aquela pessoa tem 

necessidade de saber daquele  filho, então eu presto o máximo de  informações que consigo, 

naquela  altura.  Eu  não  sei  se  faço  bem,  se  faço mal.  De  facto  não  comparecem  nem me 

procuram  noutra  altura…  mas  depois  [aproveito]  e  naquele  dia  “Olhe  ele  está  bem  mas 

precisava de uma  ajuda  na matemática”. Veja  lá  quando puder  liga. Às  vezes  sinto  eu  que 

tenho mais necessidade de passar aquela  informação do que aquela pessoa tem necessidade 

de me ouvir. Mas eu faz‐me imensa impressão. E este é o terceiro ano, e tem sido assim desde 

o  primeiro  ano.  E  agora,  em  Junho,  vou  marcar  reunião  para  Junho  e  vou  andar  atrás, 

incansavelmente destas três pessoas, duas talvez, a outra é capaz de vir(…) Veja lá se aparece, 

eu gostava de chegar ao final do ano com as coisas todas arquivadas. 

E – Nas reuniões mensais, que faz, que tipo de assuntos é que aborda com os encarregados de 

educação? 

G – Tudo o que possa estar relacionado com os alunos. Começo com os pontos previstos para 

a reunião mas depois vamos ao “Por favor tragam o chapéu porque está muito sol; para poder 

dar o antibiótico não se esqueçam de enviar as horas e a prescrição médica”, aproveitamento 

e  comportamento. Falo muito dos projectos, às vezes nem está na  listagem mas mostro os 

trabalhos que  fizemos  [apontando para o placard]. Porque às vezes noto que eles entram e 

sentam‐se e não olham. Têm aí o dossier e o caderno para ver, muitas vezes tenho de ser eu a 

chamar  a  atenção  a pequenos  factos que  lhes passa  ao  lado.  E  coisas mais pequenininhas, 

minhas… eu passo muitas horas com eles, “Olhe ele tem a franja enorme, tem de lhe cortar a 

franja (…)” Falo de tudo, eu aproveito e falo de tudo. 

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E – fala também das dificuldades que os meninos possam ter? 

G – Falo sim,  isso é o prioritário. Quando  tenho mesmo de  falar com  [os pais] por causa de 

dificuldades  eu  marco  mesmo  uma  hora  para  eles.  É  um  grupinho  que  em  termos  de 

aprendizagem  não  tem  grandes  dificuldades…  e  se  aquela  pessoa  eu  sei  que  só  aparece 

naquela  reunião. Então eu digo  “Olhe  tem  cinco minutinhos para mim?” E então  faço, mas 

individualmente. No caso de uma NEE (…) e explicar, bem explicado às pessoas porque que é 

que  nós  temos  de  tomar  aquela medida  e  o  porquê  de  assinar  aquele  papel.  As  pessoas 

entendem e percebem que não é uma imposição simplesmente para rotular uma criança mas 

é uma necessidade nossa para termos mais umas horas de apoio, para conseguirmos levar um 

barco a bom porto. E muitas vezes eu digo assim, “São meus alunos, mas são vossos filhos”, 

“Eu  passo muitas  horas  com  eles,  gosto muito  deles, mas  são meus  alunos  e  são  vossos 

filhos!”.  Eu  estou no mesmo barco  e portanto,  vamos  fazer  isto  a dois.  Eu neste momento 

tenho duas crianças que não sei se vou reter, se vou passar e  já combinei com as mães, que 

ainda não me deram resposta, para virem … (…) se vou passar ou não vou passar, mas tenho 

de pôr  as  cartas na mesa,  vamos  analisar  as duas porque  isto  é um processo  a dois.  Eu  já 

trabalho à vinte e três anos e faço sempre assim. Nunca chumbei ninguém que o pai e a mãe 

percebessem porque é que ia ser assim a situação. Porque, quando não percebem, para além 

das medidas que possam tomar [reclamação de notas], se um pai não percebe porque que é 

que o filho reprova que condições terá para fazer ultrapassar ao filho porque é que vai ter de 

repetir aquele assunto, não é. E se, eu não tiver o pai do mesmo lado do meu, e eu com ele, e 

nós  os  dois  a  puxar  das  coisas,  com  naturalidade,  é  um  acto  natural,  pensado  pelos  dois, 

aquela criança pode sofrer com o processo. E eu não sei o que é que é mais benéfico nestas 

situações  e  tudo mais,  não  é?!  [os  pais  às  vezes  culpam  os miúdos  e  chamam‐lhes  nomes 

pejorativos por este ter dificuldade e reprovar o ano]. E portanto, não é o reprovar, é preciso 

crescer,  é  preciso  deixar  passar  uns  tempos  sobre  a  matéria.  Ou  por  exemplo,  não  tem 

capacidade  para  aguentar  um  horário  daqueles,  apanhar  um  autocarro  e  ainda  estudar 

aquelas matérias todas [transição para o quinto ano] sobretudo quando não tem muito apoio 

ou  já tem dificuldades. Portanto  isto tem de ser muito bem pensado. Eu penso que a dois o 

processo faz‐se muito melhor. Se eles aceitarem e se lhes for explicada a situação… neste caso, 

por exemplo, eu  tenho dúvidas. Eu vou precisar que eles me expliquem e que me ajudem a 

perceber o que é que  será melhor para aquela  criança. Às vezes não me explicam nada, às 

vezes ainda saio mais confundida da reunião mas pronto, acho que devo fazer isso. 

E – Mas acha que isso também os responsabiliza enquanto parceiros? 

G – Claro, claro [também os responsabiliza enquanto parceiros]. 

E – Há iniciativa dos pais de a procurarem quando têm problemas? 

G  –  Eles  telefonam‐me,  telefonam‐me,  os  outros  todos  que  não  vêm  porque  não  podem, 

telefonam‐me muito. Com questões de saúde, com questões de aprendizagem. Com questões 

tão simples como “Oh professora mande‐me, por email, três ou quatro fichas (…) porque ele 

deixou os trabalhos na escola [nas férias].  

E – também tenho os emails e troca emails com os pais? 

Page 67: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

G – Sim, às vezes. Às vezes não é  sobre a escola  já, mas  isso…  (risos) mas quando é para a 

escola  também. Porque a maior parte das  fichas deles eu  tenho em suporte  informático e é 

muito fácil fazer isto. Acaba por ser outro modo de comunicação “Olhe, ele não percebe nada 

disto,  mande‐me  outra  ficha”,  estes  [pais]  que  dominam.  Outras  não,  continua  a  ser  o 

recadinho na caderneta, muito limitados, com falta de tempo. 

E  –  E  em  outras  actividades  que  solicita,  de  que  modo  os  encarregados  de  educação 

participam? 

G  –  Uma  vez  veio  uma  avó  ler  um  livro.  Por  acaso  ela  é  educadora  e  fez  uma  prestação 

espectacular. Explicou‐lhes desde o que era uma lombada, autor, uma pessoa que ilustra… um 

espectáculo. E na altura em que  tive mais pais  foi na  semana das profissões, pedi‐lhes que 

dentro deste horário que podiam vir. Já solicitei, uma vez lembrei‐me de no Natal, em vez de 

serem os meninos a  fazer qualquer coisa para os pais,  serem os pais… mas não  tive grande 

saída.  Depois  houve  uma  altura  em  que  inventei  que  havia  o  dia  dos  avós,  a  pensar  que 

vinham  os  avós  à  escola… mas  não  vieram.  Só  depois  das  cinco  e  tal… Mas  nós  saímos  às 

quatro. 

E – E actividade com os outros meninos da escola? 

G – Trabalhamos em par e em equipas, muito, ao longo do ano. 

E –  Com  a vinda dos pais? 

G – É assim, nós não temos um espaço físico que consigo comportar um espectáculo de Natal, 

como eu vi sempre nas escolas das minhas filhas. Gosto muito (…) isso tem um valor enorme, 

para  os  dois  lados,  para  os meninos  e  para  os  pais.  Nós  não  temos  esse  espaço  físico.  E 

também, na boa da verdade, isso era ultrapassável, porque eu já tenho muitos anos de serviço 

e já se fizeram aqui marchas populares, já se assaram aqui bifanas nesta escola, já se fizeram… 

arredavam‐se mesas e faziam‐se cada turma fazia uma mini festa. Não é um hábito comum da 

escola.  Eu  sou  muito  “festivaleira”,  muito  de  teatros  e  nessas  coisas  não  tenho  grande 

resposta, a nível da  totalidade. E essa história de não querermos  todos  fazer  isso,  inibe um 

bocado quem quer. Sinto‐me um bocado às vezes…   (…) Pais e alunos não cabem [no espaço 

físico da escola]. Esta escola tem muito pouco espaço físico… são quatrocentos alunos que é o 

que  nós  temos,  se  juntarmos  os  lá  de  baixo  com  os  de  cá  de  cima,  este  recreio  fica 

completamente  cheio.  (…)  É  insustentável.  Tanto  que  as  reuniões  que  fazemos  com 

encarregados  de  educação  são  desfasadas  porque  não  há  hall,  nem  espaços  comuns  que 

comportem… o dia de recepção ao primeiro ano é um dia isolado, não dá para receber todos. 

Em  termos de espaço  físico é  incomportável. Nada que não  se  resolvesse com uma  ida  lá a 

baixo  ao  agrupamento,  como  eu  já  fiz  uma  vez,  no  quarto  ano  (…)  falei  com  as  colegas  e 

fizemos um espectáculo de entrega de diplomas de frequência, em que pedimos a colaboração 

das  AEC’s,  de  Inglês...  fizemos  um  teatro…  tudo  é  possível.  Com  os  cabides  fizemos  os 

cenários… deu  trabalho, deu…  fui para  lá um sábado atar mesas para  fazer um estrado para 

fazer de conta que era um palco. Mas foi muito, muito bom. Tenciono, para o ano, quarto ano, 

ver  se  consigo motivar  um  bocadinho mais  os  pares,  não  é.  Porque  sozinha  com  tantos  é 

impensável,  não  é.  Fazer  só  uma  turma  é…  os  outros  [alunos]  todos  que  não  participam 

sentem   “Porque é que não participaram. Não é?!”  (…) se  tiver que  fazer sozinha paciência, 

Page 68: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

mas  essa  vou  fazer.  Bolas,  temos  equipa  para  isso. Mas  o  agrupamento  também  promove 

muitas  situações destas por exemplo eles  têm as  corridas de velocidades, em que o espaço 

alberga, de facto, as escolas do agrupamento de primeiro ciclo e da s. Gonçalo, lá de baixo. È 

uma altura em que estamos todos juntos, vai ser agora, na quarta‐feira, que é o último dia de 

aulas, umas tasquinhas, promovidas por nós e pela associação de pais… eu penso que é o dia 

de mais  intercâmbio  escolar que  temos  e que não  acabe  tão depressa.  E  cada  grupo,  cada 

turma, tem um stand com comidas variadíssimas, há espectáculos e há muitos pais a ajudar e a 

ajudar também monetariamente o agrupamento… também é preciso. Mas aquele espaço é um 

espaço  em  que  o  professor  se  senta  ao  lado  da mãe,  da  avó,  de  tio,  primo  e  os miúdos 

circulam,  todos  juntos. É um dia… pelo menos um por ano. Por exemplo no Natal acho que 

havia de haver. Não temos festa de Natal. Mas já se fez, já se fez nesta escola. 

E  –  que  diferenças  é  que  consegue  encontrar,  no  âmbito  desta  relação,  com  os  pais, 

encarregados de educação, o que fazia no início da sua carreira e o que faz agora. O que é que 

mudou? 

G – O meu apelo. Eu penso que há  vinte e  três anos, quando  comecei, atrás os pais  iam à 

escola, ou a avó  ia  levar e  ia buscar, portanto não havia ATL, não havia nada. E aquela troca 

diária fazia‐se. “Olhe atenção, ele caiu leva o joelho magoado”, “Olhe ele hoje deu mais erros 

no ditado, está um bocadinho triste, mas não tem importância nenhuma, isso resolve‐se.” (…) 

Fazia esta troca do dia‐a‐dia, era bom, era muito bom. E eles [os miúdos] sentiam que – eles 

são muito pegados a nós e mimados às vezes – e às vezes é uma entrega, saem das minhas 

mãos  e  entregava  a  outra  pessoa.  Às  vezes  sinto  que  nestas  entrelinhas,  eles  acabam  por 

arranjar estratégias e brincam  todos,  são muito  solidários  aqui na  turma, mas eu  acho que 

ficam um bocadinho desprotegidos, não é, e deixou de haver o tal intercâmbio. (…) Opto muito 

por  telefonar à hora do  jantar que é quando eu  sei que eles ou estão em  casa, ou estão a 

chegar. Ligo mesmo “Ele hoje (…)”. É a passagem do testemunho. Eu recebo‐o de manhã mas 

já não vi a mãe e recebo um recado. Depois entrego o recado à monitora que o vai entregar à 

mãe. (…)  

E – O que tinha mudado? Teve de apelar mais aos pais. No  inicio era natural mas esse apelo 

mudou, teve de o fazer porque sentiu que já não havia esse contacto com os pais, é isso? 

G – É, é.  

E – O que é que acha que faz bem, que contribui para esta relação, em termos práticos? 

G  –  Sermos  muito  tolerantes.  É  preciso  muita  tolerância  e  termos  a  capacidade  de  nos 

colocarmos no papel da outra pessoa. Porque às vezes quando um pai vem (…)  

E – Que coisas práticas, acha que faz bem, que contribua para chamar os pais à escola? 

G  ‐ As  festas, às vezes com uma prestação mais  lúdica, mas  também os conhecimentos que 

têm na área do Inglês, dizer uma poesia, fazerem uma peça de teatro que eles até construíram 

em  Língua Portuguesa,  fazer uma exposição de expressão plástica dos  trabalhos que  forma 

feitos ao longo do ano. Mostrarem um vídeo de uma visita de estudo que fizeram e maquetas, 

e faze‐los vir à escola ver essas coisas todas. Há muitas maneiras de os chamar cá. Se eu já fiz 

Page 69: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

isso algumas vezes? Já, já fiz isso. Eu tenho esta turma há três anos e já tentei fazer a festa do 

Natal, a festa disto e daquilo, por exemplo, um dia ir fazer um piquenique ali à Várzea com os 

pais, avós… mas a receptividade é muito pouca. Dentro do horário que a gente tem a resposta 

não é [positiva] e nem sábados, nem domingos… fizemos aí um apelo a um passeio pedestre 

no âmbito de um projecto que  temos do Clube da Floresta, e não veio quase ninguém. Não 

vão. 

E – Mas porquê? 

G – Ou não se  interessam, ou pode até ser uma falha nossa, não é… de não os conseguirmos 

estimular a que participem  também nas actividades dos  filhos. Era  importante que os  filhos 

vissem… “Ok, eu sei que é sábado e que é suposto fazermos compras, mas se calhar era giro 

irmos  lá. Portanto, pode ser falha nossa… em não  insistirmos mais. Agora, o que eu noto em 

relação  aos  colegas  é,  como  eu  disse,  eu  tenho  tido  sorte  e  nunca  tive  assim  nenhuma 

contenda com os pais dos alunos. Mas muitas vezes, o que eu oiço às vezes, é que os pais, as 

poucas vezes que vêem, ainda é para alvitrar qualquer coisa que não está correcto… e vêm de 

questionar. Às vezes saem daqui com o rabo entre as pernas porque de facto as coisas não são 

assim e, nós aproveitamos para dizer  também o que pensamos e eles às vezes não gostam, 

não é. Muitas vezes as colegas dizem que “Olha, vê lá tu que rectifiquei que o miúdo não podia 

comer chocolate todos os dias, está obeso, e a resposta que veio por escrito foi: “Quem manda 

na  alimentação do meu  filho  sou  eu.”  Portanto  é  errada,  ainda  tem o  aval do menino…  as 

poucas vezes que vêm, vêm defender a cria, com uma força, como se nós estivéssemos aqui 

para  fazer mal a terceiros, não é. No primeiro ano tive uma situação dessas, em que a mãe, 

sem me  conhecer  de  lado  nenhum,  insurgiu  contra mim  na  reunião,  e  depois  com  calma 

[expliquei]:  “Olhe, não  foi  assim, não  foi nada disso que  aconteceu”. Às  vezes  também nos 

custa a nós depois a  ver essa pessoa  com outros olhos, naquele  contexto  foi desagradável. 

Como  tendo miúdos a meio, é bom que  isso passe depressa, ultrapassar  isso,  temos de  ser 

adultos, engolir… ultrapassar essa contenda e portanto, não passamos a amizade,  talvez  tão 

próxima (…) como outros, tem de ser algo verdadeiro. Muitas vezes, tirando o espaço físico e 

tirando n reuniões e papeladas que surgiram ao longo destes anos – também nos deixam falta 

de tempo para preparar [as festas]. Para se preparar qualquer coisa também é preciso haver 

tempo,  para  além  da motivação,  as  coisas  não  nascem  do  nada,  não  é…  e  estamos muito 

sobrecarregadas com papéis, fazemos muitos papéis que se vão meter num dossier. E pronto, 

já tenho feito algumas coisas… mas a resposta é muito fraca. Dentro do nosso horário lectivo, 

é muito fraca.  Já tivemos situações ao sábado e ao domingo, as pessoas continuam a não ir. 

E  – Onde  é  que  aprendeu  a  fazer,  a  lidar  assim  com  os  pais?  Lembra‐se  se  houve  alguma 

disciplina específica na formação inicial, já teve formação sobre o assunto? 

G  ‐ Dei,  lembro‐me de  ter uma cadeira de antropologia, pronto…  fala de espécies e de… na 

altura era Magistério Primário e não tinha formação nesse nível e portanto, é no campo, é no 

campo que se aprende. É no dia‐a‐dia. É na maneira, às vezes, de expormos as nossas ideias … 

e depois vemos que daquela maneira não vai lá e tem de ser outra. E, o ser mãe também me 

ajudou, ir às reuniões da minha filha e ver que havia o outro lado, e às vezes aprendia com as 

professoras  da  minha  filha.  Olha,  a  postura  é  a  correcta…  portanto,  vendo,  fazendo, 

experimentando, porque não houve cadeira nenhuma que desse  e, penso que não deve haver 

Page 70: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

cadeira nenhuma que fale do facto, de que é lidar com os encarregados de educação. Há muita 

coisa no meio: pais, avós… 

E – O que acha que era importante os jovens professores saberem sobre [os encarregados de 

educação]? 

G – Ah, por exemplo, uma  ideia, poderem assistir, por exemplo, a uma  reunião de pais, ver 

como são os pais e o que é que eles dizem. Fazerem este tipo de entrevistas a quem já  lidou 

com muitos pais. Nem sempre é fácil. Muitas vezes até se pegam uns com os outros, a pessoa 

tem de pôr água na fervura. Porque “aquele bate no meu e o meu não bate”. Eu penso que, o 

campo, fazer reuniões… porque depois… e sem grandes … só estarem lá pacatamente, como se 

tratassem  de  um  encarregado  de  educação,  sem  grandes…  “Olhe  eu  estou  aqui  para  ver”, 

porque aí as pessoas alteram  logo a postura toda. Mas ver, como as pessoas são capazes, às 

vezes, de dizerem e de dominarem determinadas  situações vindas do nada. Como é que  se 

consegue dar a volta ao  texto,  “aquele quer assinar os papéis  todos e nem os  leu”,  “Tenho 

coisas para dizer aquele pai, ver se ele não se vai embora”, “o outro, eu preciso de falar com 

ele mas ele não vem”, a maneira como as pessoas encaram o ensino dos  filhos… que é uma 

coisa espectacular  (ironia)… há uns que:  “Pronto, pronto,  [já  chega]… não  tenho de  assinar 

nada?! Vou‐me embora. Outros… depois há o posto, aqueles andam à procura da vírgula… é 

no  campo.  É  ir  à  escola  e  ver.  Ver  uma  festa,  ver  uma  actividade  em  que  estejam  pais  e 

crianças envolvidas, e perguntar o que é que a gente, ao fim destes anos todos, que andamos 

aqui, pensamos destas situações. 

E  –  Onde  é  que  percebe  a  fronteira  entre  o  papel  dos  pais,  a  intervenção  dos  pais  e  a 

intervenção do professor? 

G – Passa muito pelo respeito mútuo. Quando há uma falta de respeito, é uma barreira que foi 

incondicionalmente  transposta,  quer  de  um  lado,  quer  do  outro.  e  quando,  estamos  a 

trabalhar em campos opostos. Eu penso que, estar um barco a  remar para um  lado e outro 

para o outro lado, e o desgraçado do aluno está ali no meio. Não vamos longe. Aí há uma falta 

de  responsabilidade por parte dos pares, não é. Se no meu  caso,  se achar que estou a agir 

condignamente  e  que  aquela  pessoa  está  a  trabalhar  em  campos  opostos,  e  que  está  a 

desautorizar,  dada  aquela  situação,  então  aí  eu  acho  que  a  barreira  está  a  ser  passada.  E 

portanto, tenho que, sem ser à frente dos pais, nem de ninguém dizer “Há um limite. Eu passo 

o tempo a dizer‐lhe para não fazer isso e você continua a dizer para fazer”. Daquela porta para 

dentro… há uma coisa que eu sei, que sempre soube durante estes vinte e  três anos, é que 

daquela porta para dentro, mando eu. Os pais mandam daquela porta para  fora, eu mando 

para dentro. 

E – Já alguma vez teve de dizer isso aos pais? 

G – Disse, disse. Digo muitas vezes na reunião. Na reunião de primeiro ano digo: “Olha vocês 

agora  vocês  vão‐me emprestar por umas horas os  vossos  filhos. Há  alturas em que eu  vou 

sentir que mos deram, mesmo, porque estou muitas horas com eles. Nós para convivermos... 

uma coisa é ter um lá em casa, ele bate uma, duas e três vezes e vocês não dizem nada. Outra 

coisa é ter vinte e três a fazer a mesma coisa. Vai haver regras, regras que eles às vezes não 

Page 71: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

querem  cumprir  porque  não  estão  habituados  a  cumpri‐las  em  casa.  Eu  espero  que  vocês 

tenham feito os trabalhinhos de casa, bem feitinhos, e que eles venham a aprender a cumprir 

a regra mas se não o  fizerem, eu vou  trabalhar para  isso. Eu vou‐vos chamar muitas vezes à 

atenção para que vocês me ajudem a fazê‐lo. Realmente vocês têm n situações em que podem 

fazer queixa de mim, podem falar comigo, para eu rectificar que não sou perfeita.. já o fizeram 

“Oh professora não marque trabalhos no dia da natação que eles vêm de rastos” Óptimo, não 

marquei.  Foi  uma  sugestão,  e  eu  aceitei  “Olhe,  boa  ideia,  não  tinha  pensado  nisso,  peço 

desculpa, e peço‐lhes muitas vezes. A melhor maneira das coisas correrem bem é exactamente 

havendo essa parceria mas, há ali um  limitezinho… quando eu acho que  já estou, que  já me 

estão a ultrapassar a minha  responsabilidade e autoridade dentro da  sala de aula então ali, 

com uma maneira  “soft”  tenho de dizer  “Olhe não pode  ser assim, eu  sei que ele gosta de 

comer gomas, mas aqui dentro não pode. Senão podíamos todos. Mas, como não podemos, o 

seu  filho  também  não  pode.”  E  nunca  tive  assim  uma  situação  que  não  percebessem,  ou 

questionassem. Faço um reparo… há muitos anos já… aprendi “Eles são meus alunos mas são 

vossos  filhos! Também  sou mãe,  sei que não é  fácil. E há aqui uma coisa que vocês  tem de 

perceber… cada um tens as suas regras, um vai para a cama às nove e meia, outro (…) Quando 

eu disser, sentaste‐te. Portanto, daquela porta para dentro quem manda sou eu! E o que eu 

pretendo com  isto, pretendo que se em alguma situação os corrigi que por  favor  lá em casa 

não me desautorizem também. E isso é já da porta para fora, lá em casa. “Mas a mãe disse que 

eu podia!”,  “Ma eu disse‐te que não podias  riscar no  caderno!” Portanto aquilo  (…)  Já  têm 

vindo ter comigo e então eu digo: “Olhe, não deve…!” Nunca me aconteceu (…) Eu tenho essa 

coisa, da porta para dentro mando eu.  “Se quiseres  chegar aos vossos  filhos, da porta para 

dentro, primeiro falam comigo.” A maneira como eu disse isto não foi ostensiva e, portanto, as 

pessoas  têm me  ajudado muito.  Aquilo  que  eu  penso  que  temos  de  procurar  nos  pais,  é 

mesmo ajuda.  Isto não está fácil, eles estão muito mimados, estão muito abandonados, com 

os MP3… muita  net,  poucos  livros.  Eu  sou muito  apologista  que  um  livro  é  um  amigo,  um 

objecto palpável é diferente e depois puxa muito pelo imaginário, e isso também tem de ser. 

Ou que nos leiam, que também é muito bom. 

E – Os pais pedem a sua colaboração? 

G – Pedem. Às vezes até em coisas lá de casa, em que eu não tenho nada a ver. Por exemplo, 

tenho aí um miúdo que era sempre o bobo da corte e houve alturas em que eu disse na sala – 

eu falo com os meus alunos não é nham, nham, nham… eu falo, eles percebem – e disse: Olha, 

é assim, se os teus colegas não percebem que não podem bater em ti (…) é pá, vais passar a 

fazer “olho por olho, dente por dente”, quer dizer se eles não percebem que é bom, então vais 

passar a pagar na mesma moeda para ver se eles gostam. (…) Nesse caso, a mãe perguntou‐me 

o que é que eu achava, se podia  fazer … e estivemos as duas a ver e disse‐lhe: “Ponha‐o no 

judo!” Ele tem de fazer uma actividade, tem de estar ocupado,  já  lhe falou no Judo. Eu acho 

que é boa ideia. E foi. (…) Portanto a mãe ajudou‐me e eu ajudei‐a nesse aspecto. (…)  

E  –  Nós  falámos  da  questão  da  boa  relação  entre  os  professores  e  os  encarregados  de 

educação,  também a nível do plano afectivo, educativo  (Nas questões da alimentação) … na 

parte curricular, os pais pedem ajuda para algumas situações? Nas tais reuniões, perguntam‐

lhe como se faz determinado exercício? 

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G – Em todas [as reuniões os pais pedem para explicar como se faz determinada coisa, acerca 

dos  conteúdos].  Eles  aprenderam  com  metodologias  diferentes,  e  os  novos  programas 

apontam  para  outras metodologias.  A  última  que  expliquei  no  quadro,  para  toda  a  gente, 

foram as contas de dividir por subtracções sucessivas. (…) Se tiverem dúvidas, não expliquem, 

deixem para mim, para o outro dia de manhã, não há problema nenhum.  (…) Explico muitas 

vezes, alguns é falta de cultura, muitas vezes… mas não se inibem de perguntar, é bom! (…) E 

gostam, depois estão ali montes de  tempo a ver  como  se  faz. Perguntam. Perguntaram‐me 

isso, perguntaram das fracções que também não percebiam (…)  

E – Agora só uma última questão, ao  longo da nossa conversa  foram surgindo alguns destes 

entraves, mas resumindo, o que é que dificulta esta relação? 

G – Eu acho que é a necessidade que as pessoas têm de, às vezes não têm só um emprego, 

têm vários, estamos numa sociedade consumista. Estamos numa sociedade em que, graças a 

deus a mulher começou a trabalhar. Já não há avós em casa. A situação dos pais quando não 

está um sozinho – muitos divórcios, não sei quê… ‐ as situações familiares estão complicadas. 

A necessidade de consumo aumentou, e a necessidade de produzir aumentou  também. E o 

facto de terem de trabalhar mais horas, às vezes para comprar um ipod ou um Mp3, pagam de 

outra maneira. O que é que surgem? Surgem duas ou três escassas horas, num dia para passar 

a mão no pêlo, ao filho, não é… e é isso, um excesso de tempo fora de casa, de contacto com a 

criança  impossibilita a relação de pais. E, às vezes, ainda se agrava mais, porque ao sábado e 

ao domingo, ou estão a trabalhar ou se têm necessidade, porque têm uma vida de cão, de  ir 

dar umas voltinhas e então, aí, entregam os a alguém, a uma amiga, a uma avó. E portanto, a 

relação  mãe,  pai  e  filho,  está  a  perder‐se.  E  há  coisas,  que  por  mais  que  se  leia…  [são 

consequência disso, a relação com] a escola. Não há tempo. Essa é a primeira. Depois, (…) O 

tempo  é  o  que  a  gente  fizer  dele,  podiam  ler  um  livro  dez  minutos,  por  vezes  não  há 

predisposição,  agora  aqui  é  que  se  coloca  uma  questão:  somos  nós  [professores]  que  não 

sabemos sensibilizar os pais para virem à escola, em quantidade que queríamos, ou são eles, 

que  de  facto,  que  acham  que  aqueles  dez minutos  são  bem  aproveitados  noutra  área.  Eu 

própria não lhe sei muito bem responder a esta questão. Há aqui uma incógnita muito grande. 

A gente manda a convocatória, são criadas as condições, mudamos a hora da reunião, dou o 

meu telemóvel, marco para outro dia, as pessoas sabem que eu disposta a  isso… porque  isso 

facilita‐nos … por exemplo, eu ando à procura de saber, junto destas mães, o que é que eu hei‐

de (sobre a retenção) escrever naqueles dois registos. Que eu tenho de fazer aquele trabalho e 

eu própria não sei. (…) É a falta de tempo…. Mas eu tenho telemóvel… espaço físico não tenho 

porque a escola  fecha às sete e meia.  (…) Muitas vezes sou eu, que no talho, quando vejo a 

mãe, “Olhe, não s e importa…”. Ou o facilitismo com que, por exemplo, eles passam de ano, eu 

acho que a exigência curricular não é nada que não  se  faça e o estigma criado do processo 

escolar é quase como uma garantia para os pais, de que é automática, não é… Que, mal será 

que ele não passe. (…) e também a desautorização que nos fizeram da parte do Ministério da 

Educação, basta u processo que  a DREL  cobre‐os de  razão. Tudo  isto  faz  com que  isto  seja 

garantido.  É  claro  que  depois,  paga  caro.  Em  termos  afectivos  e  em  termos  da  construção 

daquela pessoa, um dia pagam caro. 

 

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Professora Isabel, dia 17 de Junho de 2011 

 

Entrevista Professora H – Clarisse Verino 

Entrevistadora – Começava por pedir a sua opinião acerca da pertinência que há na  relação 

escola‐família. 

H – Para mim faz todo o sentido. Porque escola e família (…) não podem sentido caminhar em 

sentidos opostos, tem de haver uma grande proximidade entre a escola e a família. Coisa que, 

infelizmente,  cada  vez  há menos,  os  pais  vêem muito  a  escola,  neste momento,  como  um 

armazém. Põem‐nos de manhã, com a história de  fazer o escape, com as AEC’s e não  sei o 

quê… põem as crianças de manhã e vêm buscá‐las à tarde. Eu tenho alunos, que normalmente 

os pais moram cá, vão almoçar a casa, mas os alunos almoçam na cantina. Portanto, não será 

esta a relação ideal entre da escola e da família. Depositam‐nos, é o termo na escola (…) somos 

os  guardadores  de meninos  praticamente,  e  isso  depois  vai  ter  repercussões.  Eu  na minha 

turma, não é uma turma especial mas eu tento envolver os pais assim o mais possível. Mesmo 

assim, noto, que com o passar dos anos, que cada vez é mais difícil que as pessoas cada vez 

mais,  se demitem da parte de  ser pais. Tento  trinta e  três  anos de  serviço, era meio  rural, 

outeiro  da  Cabeça,  aí  também  não  havia  grande  proximidade  escola  e  família  porque  as 

pessoas  todas  trabalhavam,  estavam  nas  cerâmicas, havia  essa necessidade, mãe, pai,  e os 

miúdos começavam a trabalhar muito cedo. Era o chamado tipo preparatória na altura mas era 

telescola.  (…)  Fui  depois para Ribeira  de Matacães  e  aí,  talvez  se  dá  alguma  ligação  com  a 

família  porque  as  pessoas…  eu  era…  era  o  padre  e  a  professora,  porque  era  uma  aldeia 

extremamente  pequena,  lá  perdida.  (…)  Eu  comecei  a  almoçar  na  escola  porque  não  tinha 

funcionária (…) e não era digno, os meninos [que vinham de aldeias próximas] almoçarem ali 

no alpendre. Portanto,  aí as coisas funcionaram de outra maneira porque realmente criou‐se 

uma  boa  relação,  porque  eu  ficava  lá  por  causa  dos miúdos,  dava‐lhes  comida,  aos mais 

pequeninos  (…) Depois daí,  fui para o  Sarge, outra  realidade,  completamente diferente, em 

que , eu na minha sala – não era muito política da escola mas talvez eu já viesse moldada de 

outra maneira – eu tive muito boa relação com a maioria dos pais. Estive  lá três anos, desde 

servir de padre ou de psicóloga, ou não  sei o quê… quando havia divórcios… portanto num 

regime  já normal (…) mas pronto, sempre tive boa relação com os pais e tento envolve‐los o 

mais  possível  nas  aprendizagens  e  na  vida  dos  filhos  enquanto  escola.  Depois  tive  uma 

experiência  muito  má,  numa  terra  aqui  muito  próxima,  porquê?  Porque  as  mães  não 

trabalhavam,  então  a  funcionária  de  lá  era  da  terra…  tudo  se  sabia  e  portanto,  foram mal 

dizer… estive  lá  seis meses e  foi muito  complicado. Depois  fui  convidada para elencar uma 

outra situação, eu estive na CAE do Oeste, como  inspector técnico‐pedagógico e aí percebi o 

outro  lado.  Percebi  realmente…  recebi  formação,  dei  formação,  estive  do  outro  lado  da 

barricada. Se me perguntarem se esse outro lado da barricada é mais bonito ou melhor, não é. 

Tanto que, quando  eu  achei …  eu hoje penso que deveria  ter  saído muito mais  cedo. Que 

deveria ter vindo para a escola muito mais cedo. Estive fora muitos anos, a fazer outras coisas 

mas deixe‐me lá estar muitos anos. Depois quando vim para a escola vinha com muito medo, 

porque passados doze anos, foi o tempo que eu lá estive, era uma realidade que me assustava 

e  vim  para  a  escola,  eu  já  era  titular  desta  escola,  já  estava  aqui  assim,  efectivei‐me  com 

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dezanove  anos  de  carreira,  esta  foi  a  segunda  escola  que  [escolhi],  eu  gosto  de  escolas 

problemáticas.  (…)  como  alguém mais  classificado que eu  saiu, eu  acabei por  ficar  aqui em 

Torres. E portanto, eu  já estava aqui no quadro à cerca de dois anos (…) e foi a altura de vir 

experimentar  depois  de  estar  do  outro  lado  da  barricada.  E,  fui muito mal  recebida  pelas 

colegas, eram pessoas que tinham na altura a idade que tenho hoje. Mas, o facto de ter estado 

no ministério da educação, nos serviços, no ministério da educação – somos todos – mas foi 

um   estigma, trataram‐me abaixo de cão, foi mesmo… foi muito complicado. Mas depois tive 

uma compensação óptima que foi, comecei com um projecto – na altura ainda não havia nada 

a nível de legislação nem nada do género que desse apoio a crianças que a língua materna não 

era o Português – que agora tanto se fala. E, entretanto, eu implementei um projecto desses, 

com a ajuda de uma colega da Escola Henriques Nogueira, em que tentei delinear, em traços 

muito largos, aquilo que se pretendia, o que é que me pediam. Porque a ideia principal desse 

conselho de docentes era pegar nas crianças e pô‐las ao molho e fé em deus, num pavilhão, 

independentemente  da  personalidade,  do  escalão  etário,  de  falavam  ou  não  falavam, 

percebiam  ou  não  percebiam…  e  foi  um  desafio muito  grande.  E  comecei  a  fazer  o  apoio 

dentro da  sala de  aula  e  a  ter uma  relação muito  estreita  com  a  família. Porque,  antes de 

começar o projecto,  fiz uma entrevista com todas as pessoas  (…) com pai e mãe  (…) saber o 

contexto onde vinham e como é que tinham vindo aqui parar. Aí, foi talvez, onde estive mais 

próxima  (…) eu era professora de apoio  (..)  foi um projecto muito engraçado, que eu agora 

penso, que na altura já nós tínhamos ideias assim. (…) Aí, tentei gerir algumas situações, a nível 

familiar  (…) Pronto, estes pais  são muito diferentes, estou com um  segundo ano. Tive outra 

turma antes desta que  realmente, os pais além de serem pais eram pais mas  também eram 

cúmplices,  muitas  vezes,  havia  uma  cumplicidade  muito  grande  entre  eles  e  entre  mim. 

Portanto,  conseguimos  fazer  coisas muito  gratificantes  e  sempre  em  favor  dos  alunos,  dos 

filhos deles. Porque realmente, se havia algum sarilho, alguma coisa menos… eu relatava‐lhes 

e tomávamos uma decisão conjunta. E, realmente, isto funcionava lindamente. Eu lembro‐me 

de  uma  situação menos  agradável,  que  foi  em  Educação  Física,  em  que  eles  fizeram  uma 

declaração em que, enquanto  isso não estivesse  solucionado que os  filhos não  iam à Física. 

Também  lhes relatava, pedia muito a ajuda deles. Estes [actuais] são uns pais um bocadinho 

diferentes… mas  cá  está,  tinham  pais,  a  quem  eu  chamo  já  pais  velhos,  quase  do mesmo 

escalão etário que eu. Só com um único filho e não sei o quê… mas pais muito cuidadosos, não 

os mimavam, protegiam‐nos mas sem mimo. Agora com este novo grupo que recebi noto, que 

no espaço de quatro anos eles vêem cada vez mais imaturos. E os pais então, são filhos únicos, 

não têm mão neles. E é preciso nós conversarmos muito com os pais. É uma coisa em que eu 

insisto muito mas  às  vezes  não  é  bem  recebida  pelo  resto  da  comunidade  educativa,  pela 

comunidade escolar… este meio mais próximo, nem até pelas chefias, o facto de falar muito 

informalmente com os pais, sem ser nas  reuniões. Procurar  fazer‐lhes ver que as coisas não 

são sempre assim… e tenho conseguido mudar alguns comportamentos. Agora, que é sempre 

um pau de dois bicos porque não podemos agradar a gregos e a troianos. Somos mais rudes 

com alguns para se dizer as coisas… eu tenho aí uma questão, por exemplo, que só consegui 

que este ano, a mãe  viesse à escola quando a ameacei  com a CPCJ. Porque  realmente  isto 

pareça o armazém daquela criança. Uma criança cheia de problemas e tentar encaminhá‐la… 

lógico que não fiz a queixa. Mas pronto só funciona assim. Outros, é ao contrário, “ah, mas o 

meu  filho  é  um  anjo!”  Eu  digo:  “São  todos  iguais  e  juntos  funcionam  todos  da  mesma 

maneira.” E portanto,  a  turma, os pais…   e estes não  consegui  criar  a  cumplicidade que os 

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outros  tinham. Cá está, de grupo para grupo mudam as crianças, mudam os pais, mas acho 

que é essencial o contacto com os pais, continuo a achar que é essencial. Não  sei  se  foi de 

trabalhar em meio rural, nós paramos, falamos no meio da rua… se realmente foram muitos 

anos no meio rural. Eu acho que é essencial, não pode acontecer nunca esta história dos pais 

ficarem  ao portão. Eu  sei que é uma questão de  segurança mas, e os pais não  serem bem 

vistos  virem  à  escola  e  terem de pedir  autorização,  entrarem dentro da  sala.  E  também  se 

criam  legislações  e  normas  legais  que  travam  a  relação  entre  os  pais  e  professor.  Há 

professores que não querem e não gostam que [os pais entrem na sua sala], é o mundo deles, 

são as coisas deles. E se as crianças passam tanto, ou mais tempo, comigo do que com os pais 

portanto, eu moldo‐os muito à minha maneira mas tento ter a ajuda dos pais e vice‐versa. E ao 

longo deste segundo ano tem havido filhos de pais a mudarem completamente de opinião em 

relação aos filhos e a pedirem já para os endireitarem porque em casa já fazem tanto disparate 

(…) peço que em casa lhes cortem também certas coisas quando eles não se portam tão bem 

porque, realmente nós estamos a prepará‐los para uma sociedade que cada vez vai ser mais 

madrasta e  se eles  tiverem muito maus hábitos eles não  vão de  forma nenhuma  conseguir 

produzir algo de bom. Eu trabalho muito com os sentimentos e portanto é tudo muito a nível 

afectivo… eu não  tenho por hábito gritar, eles sabem… eu  trabalho muito com olhares. E os 

próprios pais ficam admirados, muitas vezes, quando eu falto, por algum motivo, de eles não 

quererem  vir,  porque  notam  a  diferença  e  a  realidade  é  outra.  (…)  noto‐os  cada  vez mais 

imaturos mas porque os pais fazem deles uns bebés.  

E – E que ganhos, vê mais para os alunos, nesta relação com da escola com os pais? 

H –  (…) No aproveitamento escolar e no desenvolvimento  social. O  tempo em que a escola 

era… o papel da escola era ensinar a ler a escrever e a contar já era. Muitas vezes eu digo‐lhes 

isso, eles são muito pequeninos mas eu digo‐lhes  isso, a escola tem de ensinar a pensar. E  já 

hoje tenho, numas fichas de estudo do meio e há meninos que já colocam na função da escola: 

aprender a  ler, escrever, a contar e a pensar. Pôr a funcionar mais qualquer coisa. Às vezes é 

mais difícil convencer os pais que eu tenho de tomar determinadas atitudes porque, enquanto 

cidadãos eles têm de ser sensibilizados e criados com uma sensibilidade muito grande (…) que 

temos  de  ser  solidários,  que  temos  de  estar  atentos  a  determinadas  situações,  que  não 

podemos fazer determinado tipo de palermices, porque também não gostamos que nos façam 

a nós… eu trabalho muito nesse sentido, e os pais às vezes não percebem. Ainda tenho pais 

que não percebem, pensam sempre… e então depois são filhos únicos, é muito difícil. Eu sou 

filha  única  (…) mas  pensam  sempre  que  têm  um  anjo  em  casa  (…)  Aqui  eu  tento,  o mais 

possível, tratá‐los da mesma forma, que eles sintam que são… e eu tenho desde… tenho aqui 

uma  sala  especial  muito  variada,  os  próprios  pais  que  têm  um  nível  social  mais  elevado 

pensam que eu vou criar diferenças e eu faço questão em que eles vejam que não. 

E – Porque que é que acha que se fala tanto, hoje em dia, da relação escola‐família? 

H – Porque acho, cada vez mais, que os pais se demitem desse papel que têm. Eu acho que as 

coisa  também  foram  apresentadas  aos  pais  de  tal  forma…  se me  perguntassem:  “Eu  sou  a 

favor das AEC’s?” Não sou, não sou. Não tenho nada... mas funcionava tudo melhor. “se sou a 

favor  do  horário  normal?”  Não  sou. Não  é  por mim,  é  por  eles.  Eu  já  funcionei  das  duas 

maneiras, e sei como é que é. Eu preferia … fazer a actividade expressiva à física, ia eu e uma 

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funcionária, eles faziam‐na na mesma. Porque as outras coisas nem sequer desapareceram do 

nosso currículo também. Acaba por ser complicado uma duplicação de papéis, há uma série de 

coisas e que os pais acham que desde que haja CAF e haja  [AEC’S] eles estão  todo o dia na 

escola… eu vejo, eu tenho aí crianças, não são todas, em vinte e quatro alunos tenho aí uns 

cinco  que,  os  pais  andam…  estão  desempregados,  podiam  dar muito mais  atenção  aquela 

criança e que, não dão porque é muito mais  fácil mete‐los aqui, almoçarem aqui e estarem 

aqui. Nem é por questões económicas, não tem a ver com o almoço gratuito, nada disso. Tem 

a ver sim, com a organização deles que é… acaba por ser assim desorganizada. Quanto a mim, 

que também sou mãe e sei como é que criei os meus. 

E – Na sua opinião qual seria a relação ideal? 

H  –  Uma  escola muito mais…  em  que  os  pais  participassem mais  ou  fossem  chamados  a 

participar duma forma mais aberta e também educá‐los um bocadinho nesse aspecto. Tentar 

educar os pais… aqui há uns anos havia aquela história da escola de pais, depois caiu… (risos) 

porque realmente se calhar não os conseguíamos educar, nem um bocadinho… havia aquela 

filosofia de escola de pais… mas realmente, eu acho que, eles, os pais têm de ter noção que 

nós  dentro  da  escola  somos  os  professores mas  que  eles,  enquanto  pais,  eles  têm  de  ser 

nossos parceiros, tem de haver uma parceria muito, muito [estreita]… 

E – Isso a nível de actividades, de desenvolvimento com… 

H  –  Sim,  por  exemplo,  sim  até mesmo  o  facto  de  eles  virem  quando  têm  hipótese  de  vir 

contarem  uma  história,  falar  sobre  um  assunto  qualquer  específico  ou  não  sei  quê…  por 

exemplo, hoje, a nível de legislação eu tenho de pedir licença para, não é… para entrar alguém 

estranho  ao  serviço…  e  é  um  pai.  Pronto,  não  faz  sentido,  quando  nós  queremos  que  eles 

participem também fechamos os portões e dizemos: “Agora também não podem entrar, não 

é?!” Há assim, uma certa incoerência entre aquilo que [é pretendido e o que está legislado]… 

eu faço parte do conselho geral e vejo (…)  

 

Houve mudança de sala… os alunos saíram da sala e nós deixamos o corredor e fomos para a 

sala de aula. 

E – Estávamos a  falar… eu pedi‐lhe para me dizer qual o  ideal da  relação entre a escola e a 

família? 

H – Eu acho que  ideais não há, nem há  receitas mágicas, nem poções mágicas. Acho que o 

ideal é  tentarmos, nós professores,  fazer com que os pais compreendam que  realmente são 

nossos parceiros e que não estamos uns de um  lado e outros de outro. Embora os muros da 

escola assim o delimitem, mas que não é por aí o caminho, tem de haver muita cumplicidade, 

e  como  já  lhe  tinha  dito,  pronto…  tenho  aqui  pais  de  crianças  com  comportamentos mais 

desajustados  e  que  tem  de  haver  grandes  conversas  e  que  surja  entre  nós  grande 

cumplicidade mesmo… por exemplo, eu não espero pelas aquelas  reuniões de atendimento. 

Eu  se  tenho  qualquer  coisa,  telefono, marco  com  a  pessoa  e  a  pessoa  vem  falar  comigo, 

independentemente  da  reunião  de  atendimento.  Tanto  que,  nas  reuniões  de  atendimento, 

quem  quer  falar  em  privado,  ou  eu  quero  falar  em  privado,  é  sempre  o  último  ponto  da 

Page 77: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

reunião. Porque tento generalizada, até por vezes… se eles sentem que os miúdos fazem parte 

de uma turma, de um grupo, e que todos eles contribuem para o bom ou para o mau. Para o 

mau  funcionamento  dentro  da  sala,  comportamento  e  inerentemente  aproveitamento. 

Portanto, eu acho que tem muito a ver com a nossa postura enquanto professores. Acho que 

não há  receitas, não há panaceias universais porque obrigá‐los  também não…  Estávamos  a 

falar com conselho geral e, por exemplo, eu vejo que nem as pessoas da associação de pais 

que tomam o compromisso, e quando se é voluntário, têm mais obrigação ainda (…) eu vejo, 

que por exemplo, que até os próprios elementos dos pais têm vindo, neste processo em que 

foram  integrados,  têm vindo a diminuir de número de  reunião para  reunião,  são  sempre os 

mesmos e mesmo assim, com a alteração que houve, até mesmo a associação de pais,  já foi 

mais colaborante e participativa. Nós aqui quase que não damos pela associação de pais, não 

damos por  isso. Pedem‐nos agora ajuda para distribuir umas coisas para as tasquinhas e não 

sei o quê e  frito e cozido mas  realmente, haver um contacto, até mesmo da parte dos pais 

virem à escola, ver o que é que é preciso… a outra associação de pais fazia  isto, às vezes até 

resolvia situações de carácter económico (…) porque nós não temos dinheiro, dependemos das 

autarquias,  não  é.  E  portanto,  resolviam‐nos  situações materiais  [entre  outros]  aliás,  se  a 

escola pintada está foi porque foi a associação de pais, a este edifício de baixo, que ofereceu a 

tinta.  A  escola  está  assim  [interior  pintado]  porque  foram  os  pais  que  arranjaram  a  tinta, 

depois  a  Câmara  deu  a  mão‐de‐obra.  (…)  Portanto,  eu  acho  que  tudo  o  que  se  faz 

voluntariamente  (…)  porque  depois  há  pessoas  que  acham  muito  engraçado  ir  para  a 

associação de pais mas depois chegam lá e vêem que aquilo dá um bocadinho de trabalho. Eu 

própria  já fiz parte de uma associação de pais e realmente é trabalhoso, ou nós trabalhamos 

ou não trabalhamos … as pessoas pensam que é só dizer que “eu sou da associação de pais e 

quero”... Porque eu acho que há muita gente, neste momento ainda convencida, que vão para 

a  associação  de  pais  para  defender  os  direitos  do  seu  filho,  ou  da  sua  filho,  ou  do  seu 

educando…  no  individual,  não  pensam muito  no  geral. Não  têm  grande  conhecimento  das 

coisas  pronto….  Realmente,  se  calhar  a  outra  associação  habituou‐nos  a  nós,  professores, 

muito mal. Eu digo  isto estando na cidade mas, se for perguntar a uma colega que esteja na 

aldeia, ela dir‐lhe‐á o mesmo. Diz‐lhe o mesmo… se bem que se notava uma presença muito 

constante das pessoas. Agora, é a  tal coisa, obrigados não vêem. Eu  tenho um sistema, que 

este  ano deixei de  implementar por, não  foi…  e  acho que  se notava muito bem, que  era… 

embora seja dada, no início do ano lectivo, aos pais, um calendário com as datas das reuniões 

de  atendimento,  eu  fazia,  há muitos  anos  já,  naquele  fim  de  semana…  no  fim‐de‐semana 

entregava um convite a lembrar que no dia x havia reunião de pais, dava a ordem de trabalhos 

e pedia para estarem presentes e, tinha um destacável em que eu tinha a certeza se os miúdos 

tinham,  ou  não,  entregue.  Porque  as  pessoas  às  vezes  esquecem‐se,  não  é.  E  funcionava. 

Funcionava  lindamente. Este ano as directrizes  foram que não haviam papéis para ninguém, 

portanto o único papel que  iria ser  feito e  impresso,  iria ser  feito para estabelecer contacto 

com  os  pais  e  encarregados  de  educação,  seria  uniformizado …  ainda  estou  à  espera  dele. 

Logicamente que não me proíbe de, por exemplo, vamos agora ter uma visita de estudo, de 

fazer um papel às quatro  turmas, a explicar a hora da  chegada, a autorização, até por uma 

questão  de  segurança  e  por  estar  legislado  que  nós  precisamos  de  ter  a  autorização,  por 

escrito dos pais. (…) Mas penso que, realmente o que está disposto, não é [de alguma maneira 

foge ao que é  suposto]… o  registo de participação que é entregue em  todas as  reuniões de 

atendimento,  o  registo  de  avaliação  participada  dos  pais  e  que  realmente,  aí  vê‐se  os  que 

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vêem e os que não vêem. Eles põem a ordem de trabalhos e… agora, eu pergunto‐me “é só 

naquela altura? E depois o resto do mês? Quando há que falar?” Ou nós dispomos do nosso 

tempo para falar com os pais ou, para trazermos um pai para dentro da sala... já a coisa não é 

muito bem aceite [pela legislação, superiores]. 

E – Acha portanto que estas reuniões mensais acabam por ser muito limitativas? 

H – São, são. E as pessoas sabem que vêem… comigo sabem sempre, aliás, as reuniões mensais 

são de uma hora, não é, eu nunca as faço numa hora. Não sou melhor ou pior mas eu gosto de 

falar e gosto de, de… eu não crio barreiras com os pais. Há pessoas que criam barreiras, sei 

pôr‐me  no meu  lugar  quando  é  necessário  e  quando  os  pais  precisam  de  ser  chamados  à 

atenção… de resto, é a tal história, eu gosto muito de ter a família enquanto parceira. Estamos 

todos a  trabalhar no mesmo sentido, que é realmente a construção de cidadãos melhores e 

que,  realmente,  futuramente  a  sociedade…  possa  ser  –  eu  e  as  minhas  filosofias  –  um 

bocadinho melhor  do  que  é  agora. No  entanto,  uma  coisa  que,  por  exemplo,  aposto  é  na 

cumplicidade. Embora, sei que cada um deles tem (…) mas acho que pode fazer melhor. Uma 

frase que aqui, e espero que os pais já saibam, que aqui não é permitida dizer e em casa era 

bom que não fosse também é: “Eu não consigo!”. Essa frase, portanto, eu vou tentar… quando 

eles próprios começam: “Eu...”, “O quê…. Ah, hum… ai, uma palavra proibida… Pensa lá como 

é que me vais  tornar a dizer  isto.” E os pais,  isso,  reconhecem,  tanto que há a  tentativa de 

contornar  a  situação,  das  apreciações  que  são  feitas,  eu  tento  não  as  fazer  pela  negativa. 

Portanto, os registos de avaliação demoram‐me algum tempo a  fazer porque tento construir 

aquilo de outra maneira para não dizer “não consegue”, “não, não…” O não. Agora, realmente 

envolvê‐los mais, também acho que era benéfico mas, é a tal coisa, se os pais não querem vir à 

escola nós não os podemos obrigar a vir, só mesmo ameaçados. Àqueles que querem vir acho 

que a escola devia abrir mais as portas a esses pais. A tal fórmula? Não lhe sei dizer. E, aquilo 

que é verdade para mim, ali para a minha colega do  lado não é, temos tipo de trabalho e de 

personalidades completamente diferentes. 

E  –  Acha  que  as  suas  colegas  valorizam  outras  coisas  na  relação  que  não  seja  essa 

aproximação? 

H – Não, eu estou a dar o exemplo. 

E – Mas em geral, o que é que sente? 

H – Eu acho que ainda está enraizada que quem manda dentro da sala de aula é o professor e 

o professor fica dentro da sala portanto, aqui ainda não se mudaram muito as mentalidades. 

Não  se mudaram mentalidades,  não …  os  pais  virem  à  escola  e  serem  tidos  quase  como… 

quase  como  não,  serem  tidos  como  parceiros, muitas  vezes,  até  superiormente mal  visto. 

Portanto, ainda é essa mudança de mentalidades… ainda não foi. Enquanto… nós não… é a tal 

história, se eles forem envolvidos neste processo, se eles se sentirem envolvidos, eles acabam 

por  ajudar.  Agora  se  não  há  envolvência,  é  como  em  tudo,  como  acontece  connosco… 

impõem‐nos  as  regras  e  nós  acabamos  por  fazer  porque  somos  obrigados.  Mas  se  nos 

perguntassem,  se nos pedissem a opinião para um determinado número de coisas, a escola 

funcionaria de outra maneira. Porque nós não nos sentimos envolvidos, porque nós… não nos 

foi  perguntado  o  que  é  que  nós  pretendíamos.  E  aqui,  eu  acho  que  com  os  pais  é  um 

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bocadinho isto. Se os tentarmos envolver, em determinado tipo de situações e faze‐los sentir 

que  também  são  um  grupo  e  que  também  têm  força  eles,  pronto,  sentirão  isto  de  outra 

maneira. 

E – Nas reuniões mensais tem o total dos pais? 

H – Tenho, eu uma adesão muito… acima dos cinquenta por cento. Na generalidade vêem e, 

quando não vêem têm o cuidado de avisarem, mesmo não indo agora o papel para casa, têm o 

cuidado  de  avisar  que  não  vêem  ou,  telefonam  a  avisar  que  não  vêem.  Na  generalidade, 

depois faltam dois ou três, que são sempre os mesmos, que são aqueles que mais deveriam vir 

à escola e que não vêem. Mas consigo ter assim, uma casinha cheia, como costumo dizer. 

E – Que tipo de assuntos é que coloca à disposição dos pais? 

H – Nós temos uma ordem de trabalhos, os pontos são limitados também. Existe uma ordem 

de trabalhos que parte da coordenação de ano. Cada uma de nós depois trabalha… não é uma 

ordem de trabalhos fixa, vamos  lá… vamos conversando umas, dentro do mesmo ano… há as 

mais variadas  coisas, há  sempre a parte das  informações, que  são  sempre  informações que 

chegam pontualmente e que às vezes convém que eles saibam, sejam elas o carácter, para o 

bem ou para o mal. Depois há sempre o aproveitamento e o comportamento. Eu, em todas as 

reuniões,  como  trabalho  com dossier e  folhas, dou‐lhes o dossier para eles  [os pais]  verem 

trabalho a trabalho, que é feito diariamente, que é esse que valorizo. Pode eventualmente ser 

uma altura para eles assinarem alguma  ficha  formativa ou sumativa, aí  recaímos mais sobre 

esse tipo de aprendizagens. Fazemos a análise, se desceram, se subiram, isto na generalidade, 

a análise do aproveitamento. Porquê? Porque à umas semanas foram a baixo a matemática, e 

eu  aí,  admiti  aos  pais  que  a  ficha  estava  longa,  nós  quisemos  tirar  uma  página. Mas,  ao 

tirarmos uma página a cotação ficou pesada. E por ficar pesada, eles acabaram por baixar [as 

notas]. (…)  Isso depois é conversado, “Mas ele sabe fazer, ou ainda não sabe fazer?!” Já eles 

próprios  perguntam muitas  vezes  à  frente,  até  dos  outros.  Isto  não  era  viável  pensar  no 

princípio. Nas reuniões eu pergunto, por exemplo, este final de período, quando se entregam 

os  registos  de  avaliação,  eu  pergunto  sempre  se  querem  que  faça  [atendimento] 

individualizado e eles geralmente não querem. Eu faria um de cada vez, estaríamos aqui não 

sei quantas horas mas eu faria. Mas este ano já estão mais abertos para que haja uma partilha, 

tendo  o  cuidado  para  não  nomear  crianças.  Se  tem  algum  problema  pede  para  ficar  e  o 

problema é tratado em privado. Agora, eles já sentem que podem partilhar os problemas dos 

seus filhos com os outros (…) Isto já é partilhado com eles, têm vindo a trabalhar… mas é difícil 

às vezes, trabalhar este tipo de mentalidades ainda, porque realmente eles também se sentem 

à parte. É uma vez por mês, eles sabem… estão muito à vontade, desde o início, porque eu dou 

o número de telefone (…) assim como eu, se tiver uma situação, também já lhes liguei à noite 

para casa  (…) “Olhe passa  isto, assim e assim, e o melhor é  ir ter comigo à escola.” Às vezes 

falamos só ao  telefone mas, se  for assim, alguma coisa… não há nada como  falarmos olhos, 

nos olhos e em sítio próprio, que é aqui dentro da sala. E arranjo um bocadinho e no pavilhão 

ou  aqui  [sala de  aula] para  conversar  com esse encarregado de educação e  resolvermos as 

coisas. Uma  coisa que  lhes digo  sempre é, a primeira pessoa que devem procurar é a mim, 

para não haver males entendidos. Agora,  realmente, que há pessoas que  tentam passar por 

cima dos professores, pensando que ir ao órgão de gestão, tentam resolver as coisas de outra 

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maneira  e  invertem  as  situações  e  também  nos  criam  situações  complicadas,  isso  é  uma 

maneira  também  de  eles  conseguirem  perceber  e  se  for  preciso  puxo  pelos  galões  e  digo: 

“Não, eu aqui sou a professora, sou eu que estabeleço as regras dentro da sala. Portanto, eu 

quero que  seja assim e, é assim.  (…) que  têm de  trabalhar para  ter  resultados, que aqui há 

regras… realmente esta  turma, graças a deus é uma  turma que  tem regras, mas  isso  implica 

muito trabalho da minha parte. E fazer passar que essas regras têm de ser também cumpridas 

em casa, pelos pais, é um bocado… às vezes pensam que eu sou demasiado… castradora. Mas 

não (…)  a relação que eles têm comigo, eles sabem muito bem quando é que estou a brincar… 

que há  tempo para brincar, que há  tempo para  trabalhar… e  são extremamente afectivos e 

afectuosos. (…) 

E – À pouco falamos acerca de algumas medidas legislativas que supostamente eram mediadas 

para aproximar os pais da escola… 

H – Mas depois, também se criaram outras que surtiram o efeito contrário. Porque quando se 

diz que os pais têm um papel importante (…) quando foi da avaliação dos professores, em que 

os pais nos iriam avaliar… foi muito contestada essa situação, como se aquilo tivesse qualquer 

peso. Eu dizia sempre: “Eu não tenho problema algum em ser avaliada por um pai”. Embora 

não  acho  correcto,  porque  não  é  técnico,  eu  também  não  concordo  com  a  avaliação  de 

professores por par, pelos nossos pares, portanto. (…) E, de repente passam a faltar 17 anos 

para me reformar [com 65 anos] e, os próprios pais e miúdos não gostam de pessoas de idade. 

É muito mais atractivo para uma criança ter um professor mais jovem do que ter um velho ou 

uma velha. (…)  já digo aos pais, que  já não sou aquilo que era. Eu própria  já faço um esforço 

acrescido  para  fazer  algumas  coisas  que  fazia  com  uma  perninha  às  costas.  Cada  vez  nos 

pedem mais,  a nível  administrativo,  e  eu passo  isso muitas  vezes  aos pais, que nos pedem 

muito  a  nível  administrativo,  e  a  nível  pedagógico,  às  vezes  esquecem‐se  que  nós  somos 

professores. E, cada vez mais, e esta mensagem passo‐as muitas vezes, e com muito rigor aos 

pais, querem que nós sejamos funcionários públicos, o que lhe pode acontecer a eles [pais] é 

que,  se  nós  professores,  interiorizarmos,  integrarmos  seriamente  que  somos  funcionários 

públicos  faremos como qualquer  funcionário público e aqui é que a diferença se  faz… quem 

trabalha  nas  finanças,  quem  ….  Fecha  a  porta  e  acabou.  E,  um  dia  qualquer,  que  eu me 

compenetre que sou funcionária pública e vem um pai e pergunta‐me: “E não corrigiu?!” “Não, 

não, não tive tempo durante o horário de expediente.” Mas eu digo isto aos meus pais na boa, 

para eles perceberem que realmente há muito trabalho também, da minha parte, em casa. Daí 

eu também pedir que haja trabalho da parte deles. Por exemplo, é muito raro passar trabalhos 

para  casa. Ao  fim  de  semana  passo  assim  uma  coisinha  que  é  simbólico,  porque  acho  que 

depois se  tenho aqui gente que consegue  trabalhar com os  filhos,  tenho gente que  trabalha 

até muito tarde. (…) Estou, neste momento, a tenra capacitar os pais, de que é preferível eles 

lerem, escreverem, estudarem  (…) que o  terceiro ano  já  tem conteúdos programáticos mais 

complicados e aí eles vão ter de aprender a estudar e os pais devem estar com eles para os 

ajudar a estudar… não é a estudar por eles (…) portanto até nisso os pais têm de ser alertados 

[choque da transição do 2º para o 3º ano]. Tenho aqui muita gente em que são os filhos mais 

velhos, ou seja ainda não houve ninguém que passasse por esta situação. Tenho outros, tenho 

duas crianças (…) uma delas é o terceiro membro da família que tenho, já sabem como é que 

eu  funciono.  E  noutro,  é  o  segundo  membro,  daquela  família  que  eu  tenho.  Sabem 

perfeitamente como é que eu  funciono e como é que eu sou.  (…) não sou chapa cinco para 

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tudo, não… não alinho em grandes… eu já só faço aquilo que gosto e aquilo que me apetece. Já 

não entro em projectos, só por dizer que entrei. E faço para os pais perceberem que não é por 

eles  [os  alunos]  estarem  neste  clube  ou  naquele  que  eles  sabem  menos.  Que  os  vou 

sobrecarregar na hora de  almoço  e que, não  é  justo  também… pronto.  Estas  coisas  é  tudo 

muito giro mas depois também, funciona é nos intervalinhos. Mas dentro da sala tento sempre 

dar o meu melhor e que eles também desempenham um bom trabalho e que os pais tenham 

noção disso. 

E – O que é que ensinaria a um professor recém formado, o que é que lhe diria para que esta 

relação escola‐família funcionasse melhor? 

H – Como eu  lhe disse não há  receitas e não há panaceias mas para ser extremamente… se 

calhar  diria  para  terem muita  atenção,  para  já  cada  um  deles,  cada  criança  é  diferente  da 

outra,  logicamente os pais também. O tipo de relação que pode estabelecer com um pai não 

poderá,  de  forma  alguma  estabelecer  com  o  outro.  Isto  não  pode  ser…  não  há matrizes, 

porque as próprias pessoa também… para já nós somos constantemente avaliados pelos pais e 

portanto  tem de haver alguma disponibilidades, eles perceberem que há disponibilidade da 

nossa parte, não só para as colegas mas para estar com eles, para depois conseguirmos ter o 

feed back em contrário. Portanto, eles perceberem que se há reunião é porque é  importante 

vir, e isso é muito trabalhado no primeiro ano. Nós só podemos colher aquilo que semeamos 

e, se não o fizermos, não… é em tudo, assim na vida. Tentar cativar os pais e criar laços, como 

no principezinho. Mas muito, na base da nossa relação com a criança. Para eles perceberem 

que nós somos mais um elemento que entra no percurso da criança e que não estamos lá para 

complicar, antes pelo contrário, precisamos de ajuda, e precisamos que nos expliquem como é 

que é, para que, se houver algum problema nós sabermos como é que devemos agir, como um 

parceiro, essencialmente como uma parceria. 

E – Como é que sente que aprendeu a melhorar esta relação? 

H – É complicado, acho que aprendi muito, engraçadamente, porque passei pelos meios rurais. 

Tem a ver com a experiência de vida que a pessoa vai tendo. Tem a ver também, com o feitio 

da  pessoa.  É  mais  lógico,  eu  já  passei  por  escolas  de  aldeia,  em  que  as  minhas  colegas 

entravam e saiam da escola e nem falavam com ninguém... da comunidade, não é. 

E – Mas isto não devia ser uma questão profissional? 

H – Eu acho que as pessoas, é a  tal história, essas pessoas, de certeza absoluta, não  tinham 

aquilo que eu tinha depois dos pais da minha turma. Daí eu dizer que não me encaixo muito 

dentro daquele parâmetro professor, professor. Graças a deus  já há muita gente como eu e, 

nesta escola já há gente assim. Mas, aquele… na aldeia, por exemplo, o professor chega no seu 

carro, entra na escola, dá as aulas e sai e, pronto parou por aí. E eu não pronto,  tentava, e 

porque queria… e não era directora de escola, era titular de turma só… se queria alguma coisa 

em troca, envolver os pais, também tinha de dar. E, portanto... é complicado, não se aprende 

nos  livros. Só se aprende,  levando algumas cabeçadas,  levando alguns pontapés no  traseiro, 

reaprendendo, ajustando o nosso  comportamento  também… nunca agradando a gregos e a 

troianos.  Eu  não  posso  dizer  que  todos  os  pais me  amem.  Se  calhar  também  não  tenho  a 

mesma  afinidade  com  todos,  nem  sinto  o mesmo  carinho  ou  a mesma  cumplicidade  com 

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todos.    Pronto,  isto  é  a mesma  coisa  com  os  alunos. Quando  tento  realmente  que  eles  se 

unam, que pensem que todos  juntos conseguimos  levar o barco avante. Mas realmente, não 

há… eu acho que tem muito a ver com o ser, a maneira de ser, a maneira de estar da pessoa, o 

grau  de  envolvimento  da  pessoa…  nós  agora…  vamos  aprendendo,  eu  agora  já  sou mais 

velhota, vou aprendendo. Há coisas em que eu  investia e,  já não  invisto,  invisto noutras. Há 

coisas  em  que  me  faço  de  parva,  porque  é  preferível,  do  que  estar  a  mexer  em  águas 

passadas… e portanto, não vale a pena, há coisa que é preciso… pronto, é o aprender. Eu acho 

que aprendo todos os dias, levo bofetadas todos os dias, mas aprendo. 

E – Já falámos de algumas dificuldades que entravam esta relação, podia nomear algumas das 

que sente aqui na escola, ou que sente da parte de lá, dos pais, em relação à escola? 

H – Eu acho que se a legislação permitisse que os pais viessem à escola quando lhes apetece… 

porque é muito engraçado ouvir‐se dizer assim – num programa de  televisão, no outro dia, 

ouvia dizer em  relação às amas  se deveria  ir em diferentes alturas do dia – eu acho que à 

escola,  é  precisamente  a  mesma  coisa.  Porque  realmente,  se  querem  criar  afinidades  e 

realmente saber como funciona, apareçam aqui de repente. E o facto de aparecem de repente, 

por exemplo, vêm interromper a aula, mas eu acho que um professor que saiba dar a volta à 

questão… se aparece uma mãe a vir buscar a criança, geralmente fica ao portão, porque não 

vir  aqui  à  porta  e  dizer:  “Olá,  então,  estão  bons?!”  Realmente,  no  outro  grupo  era muito 

diferente, eles agora aqui já começam também a perceber. Porque como é que eles tratam os 

pais das outras? Pelo nome, mas pelo nome não tem de ser porque não são todos colegas, não 

é?! Depois para  ser o  sr. Não  sei quê… não é… assim, achámos a  relação do  tio. Porque  se 

estamos assim em grupo… e estes  já estão a começar a chamar  tios.  (…) Não é snobismo, é 

porque realmente eles têm de criar… têm de chamar os pais dos amiguinhos… (…) A questão 

da  segurança,  tanto  se  interrogou  a  questão  da  segurança  que  parte  da  participação mais 

activa  – porque  há pessoas  [professores] que  ainda querem, há outras  que não querem,  e 

fazem disto um armazém. Mas há, ainda pessoas que querem mas, que se sentem  limitadas, 

exactamente porque temos de pedir autorização, temos que fazer um determinado número de 

requisitos legais para ter um pai dentro de uma sala a contar uma história, por exemplo. Acho 

que, o que se ganhou em segurança, perdeu‐se em participação, em convívio. Realmente, na 

aldeia,  é  tudo  um  bocadinho  para…  é  diferente.  Aqui  a  escola  é  muito  grande  também. 

Também não  seria  lógico, os pais  entrarem  todos e  isto  é uma  coisa que  é defendida, não 

podem … por exemplo, as festas de anos, criaram‐nos alguns embaraços, há colegas que não 

se importam, outros não querem… depende de nós. E as pessoas têm de se assumir e também 

não se assumem muitas vezes. Porque é mais  fácil dizer: “Não porque os pais...  isto não é o 

sempre em festa… mas na verdade, não é  isso, é uma chatice. Ter uma festa de anos é uma 

chatice, dá‐nos mais trabalho a nós… mas eu acho que se o pai e a mãe tiverem presentes é 

mais agradável para a criança, porque se calhar aquela criança que traz o bolo feito em casa 

(…) se calhar aquela criança não vai ter outra festa de anos (…) há situações em que, se não for 

assim, não há outra  situação  com os  coleguinhas e amigos a  cantarem‐lhe os parabéns. No 

entanto foi uma das situações em que este ano nos deparámos. (…) Há pessoas [professores] 

que acham que é uma chatice. 

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E – Essa questão, da festa ou da vinda de um pai, mesmo que seja vir buscar o menino à sala, 

acabam  por  dar  oportunidade  a  outros  temas  de  conversa  entre  os  alunos,  outras 

aprendizagens que, hoje em dia, já não fazem lá fora. Seja o cumprimentar do adulto (…) 

H – (…) Eu partilho muitas coisas minhas com eles [os alunos] (…) Eu nunca falo com os pais do 

lado  de  lá  a  secretária.  Eu  falo  com  os  pais  sem  fronteiras…  sem  estabelecer  limites,  [sem 

nenhum  obstáculo].  Portanto,  quando  falo  com  algum  pai,  geralmente,  faço‐o  nestas 

condições,  como  eu  estou  a  falar  consigo.  Portanto,  sem  que  haja  nada  no meio,  em  que 

percebam que não há nada a interferir. Mas isto, também se vai aprendendo, vai‐se estudando 

e  vai‐se…  porque  é  muito  aprendendo.  Acho  que  tem  muito  a  ver  com  o  nosso 

amadurecimento  também,  enquanto  pessoas.  Lógico  que  eu  comecei  a  trabalhar  aos  vinte 

anos e não tinha esta postura, tinha uma postura mais destravada. (…) faz‐se caminhando. 

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Professora Teresa, dia 20 de Junho de 2011 

 

Entrevista Professora I – Teresa Teodoro  

Entrevistadora – Eu ia começar por lhe pedir a sua opinião em relação à pertinência da relação 

escola‐família para o aluno? 

I – Eu acho que é extremamente pertinente. Uma boa relação escola‐família é meio caminho 

andado para o sucesso, claro, do aluno. Quer queiramos, quer não, portanto, se o aluno sentir 

que a escola e a família andam de mãos dadas, eu acho que o resultado é outro. 

E – E para os professores? 

I – É assim, pertinente para os professores também acho que sim. Pode ser uma mais‐valia ter 

o encarregado de educação, a família, serve de apoio. Penso que sim, é uma ajudinha. Às vezes 

mais ao nível dos comportamentos mas, em termos de aprendizagem acho que também pode 

ser.  Sem  dúvida,  acho  que  tem  de  haver  esse  laço  em  todos  os  sentidos  escola,  família. 

Estando cada vez mais próximas e, ao longo da minha carreira, quase com vinte e seis anos de 

serviço, claro que essa aproximação cada vez é maior. Quando iniciei, a família quase não ia à 

escola. Também comecei em aldeia, às vezes é diferente, as pessoas têm outros horários. Mas 

quando comecei a família quase não colaborava. 

E – Mas sente que são os professores que aproximam mais a família?  

I – Sim, eu acho que é o professor que tenta agarrar, que os tenta motivar mais, pronto. De 

qualquer maneira, as famílias mais  jovens, acho que  já estão despertas para vir à escola e há 

uma  continuidade  de  Jardim  [de  Infância].  Nota‐se  que  há  uma  diferença  grande. 

Pessoalmente,  eu  tive  uma  turma  quatro  anos  e  quase  que  formávamos  uma  família. 

Acabámos os quatro anos e ainda hoje nos encontramos, esta é agora, primeiro ano, ainda 

está a começar, ainda não há aquela proximidade tão grande. Mas eu também senti o mesmo 

com a outra [no início]. Aquele primeiro ano foi para a gente se conhecer e com a continuação 

acabámos quase como uma família. 

E – E a importância que pode ter essa relação para os pais? O que é que os pais podem ganhar 

com isto? 

I – Eles aí podem (…) deviam ser eles a dar essa opinião. Mas eu aí acho que o pai, por um lado 

sente  que  o  professor  está  próximo,  não  é.  (…)  Estes  pais  agora…  também  já  não  há…  é 

diferente,  temos  de  recuar  no  tempo. Os  pais  já  não  sentem  tanto  este  afastamento  [dos 

professores]. Mas, eu acho, que para os pais também pode ser bom. Até porque os meninos 

têm  comportamentos  na  escola  que  não  têm  em  casa,  e  vice‐versa.  Em  termos  de 

aprendizagem, acho que os pais chegam mais facilmente até eles se sentirem à vontade para 

perceber o que  fez, não  fez… eu acho que no  fundo  temos  todos a ganhar, os  três: alunos, 

professores e pais. Penso que seria o ideal. 

E – Porque é que acha que hoje em dia se fala tanto nesta relação escola‐família? 

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I – Faz parte da evolução dos tempos… talvez, não sei. Porque, se calhar, começou‐se a dar a 

volta  num  sentido  diferente. Deixe‐me  lembrar,  quando  era  aluna  não  tinha  nada  a  ver,  a 

minha mãe ia à escola uma vez por ano, ou no início ou no final do ano lectivo. Não havia essa 

proximidade,  se  calhar,  a  própria  escola  caminhou  nesse  sentido  de  se  abrir  mais  à 

comunidade, em geral. 

E – Como é que acha que devia ser essa relação, em termos práticos, entre o professor e os 

encarregados de educação? 

I – É assim, eu penso que também não podemos cair muito no exagero [a solicitar]. Senão o 

que era bom passa a ser muito mau. Eu, por enquanto, sinto que as reuniões, os encontros são 

suficientes. Até porque, se há qualquer coisa, basta telefonar. Não há assim grandes… há uma 

ou duas  situações pontuais em que as pessoas não  se aproximam  tanto da escola. Portanto 

pais com horários complicados, com turnos. De resto, temos uma vez por [mês], eu penso que 

é  suficiente  uma  vez  por mês,  essa  proximidade. Depois  há  trimestralmente  a  entrega  das 

avaliações, há a situação em que nós estamos com todos mas depois podemos ficar só com as 

situações  mais  pontuais.  Não  há  propriamente  ali  um  cumprir  de  horários,  porque  nós 

chegamos aqui às cinco e meia e às vezes é até às oito, não há um  limite. Acho que também 

não podemos cair no exagero de estar constantemente a solicitar, a querer a presença dos pais 

na escola. Não sei se depois será uma mais‐valia. 

E – Acha que os outros colegas pensam da mesma maneira? 

I – Nós, em reunião de ano, estamos mais próximas, mais ou menos achamos que sim. Eu… há 

aqui uma certa preocupação em escolher, por exemplo, horários de atendimentos… fazemos 

com  que  sejam  mais  ou  menos  compatíveis  com  os  dos  pais.  Agora  vamos  entregar  as 

avaliações,  entregamos  num período  de manha, mas  também  entregamos num período  ao 

final do dia. Há essa flexibilidade. 

E – Falou‐me que fazem as reuniões mensais? 

I – Sim, sim, chamado atendimento, que nunca é atendimento, acaba sempre por cair numa 

reunião. Só haverá atendimento no final, quando há situações mais complexas, aí não vamos 

falar de A, B ou C na frente de… falamos de tudo o que é geral, e depois acabamos por ficar 

[com os outros]. 

E – Tem muitos pais a vir à reunião? 

I – Na outra tinha [turma que deixou no ano anterior], nesta tenho um bocadinho menos. Mas 

também, começou assim no primeiro ano. Eu nesta tenho para aí… setenta por cento, talvez. 

Na  outra,  havia  reuniões,  de  quase  cem  por  cento.  Era  uma  turma  realmente  muito 

preocupada. Agora, também tenho encarregados de educação, com horários de trabalho muto 

diferentes. 

E –E acha que influencia? 

I – Eu acho que sim [que os horários de trabalho influenciam]. Até porque, muitos dos que não  

vêem telefonam depois, há sempre a preocupação. E depois combino com eles, vêem à hora 

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do almoço, vêem ao  intervalo. Estes que não vêem às  reuniões. Há  lá dois ou  três que não 

vêem,  só  vêem mesmo  à  trimestral…    têm  problemas  e  não  vêm  sempre.  Trabalham  em 

Lisboa. Mas  à  trimestral  vêem  sempre.  Há mensal,  os  que  não  vêm,  a maior  parte  vêm, 

marcamos. Vêm aqui às oito, às quatro, depois marcamos, é um bocadinho. Às vezes digo, não 

há necessidade, fica para o próximo. 

E – De que assuntos é que costumam falar? 

I  –  Normalmente  é  o  aproveitamento  e  o  comportamento.  Às  vezes  preocupa‐me mais  o 

comportamento  que  o  aproveitamento.  Há  uns  mais  “reguilotas”  e  é  mais  por  aí.  Se  há 

acontecimentos  na  escola,  como  as  tasquinhas,  aí  aproveita‐se  e  tem mesmo  de  se  dar  as 

orientações.  Caso  contrário,  é  realmente  o  comportamento  e  o  aproveitamento.  Vêem  os 

trabalhinhos deles, o dossier… ficam mais ou menos a par, não é. 

E – Eles normalmente trazem questões? 

I  – Nem  todos. Nem  todos. Às  vezes  é mais  aqueles  que  têm  filhotes  que  sabem  que  são 

reguilas, não é… “Professora como é que ele se está a portar?” e, outras vezes, é em questões 

relacionadas com os trabalhos de casa. Como é que corre, se conseguiu ou não conseguiu. É 

assim acabo por estar a dar um bocadinho de aula para eles. “Ó professora explique lá como é 

que (…) um bocadinho…” Pedem a minha ajuda. Não são todos mas, tenho ali um grupinho… 

que controlam. Tem de ser, tem de haver algum controlo, senão… Porque eu tenho ali alguns 

miúdos  que,  se  as mães  ou  os  pais,  nem  sempre  vêm  os  dois,  a maior  parte  só  vêm  o 

encarregado de educação. Mas alguns casos, eles  [os miúdos] cobram, se entretanto os pais 

faltarem. Depois tenho de lhes dizer: “A mãe não veio mas telefonou…” Os alunos sentem‐se 

(…) e depois quando começo a falar “depois a professora fala na reunião, depois a professora 

dá o recado” e há a reunião e, eles próprios, acabam por lembrar a mãe. 

E – Os pais costumam participar em algumas actividades, dentro da sala de aula? 

I – Este ano ainda não. No ano passado  tive alguns que vieram até aqui à biblioteca, contar 

histórias. Este ano  lectivo, ainda não  tive ninguém  [a participar] mas, pronto… é o  segundo 

ano. 

E – Mas que tipo de actividades? 

I – Foi só contar histórias, aqui não tivemos… 

E – Mas ocorre‐lhe mais algumas, que tipo de actividades é que pretende? 

I – Não, tive a ideia de pedir ajuda por causa da informática, do Magalhães, mas depois não se 

proporcionou porque a pessoa em questão deixou de ter tempo livre. Eu na aldeia tinha muito 

isso,  porque  era  uma  escolinha  pequenina,  com  poucos  alunos,  aqui  é  um  bocadinho 

diferente, é um mundo… 

E – Que actividades é que fazia, era só ao nível da leitura? 

I – Era, era em termos de leitura. Fizemos também [actividades] de culinária. Fizemos, com as 

avós também, houve um ano que fizemos chazinho mas porque era aldeia, aqui  já não é tão 

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fácil… aqui  ficou‐se  só pelo  ler e  contar histórias. Tínhamos  combinado  com a mãe de uma 

menina vir contar uma história [mas teve vergonha] e acabou por não vir. Assim acabámos por 

não fazer, indirectamente não… agora, indirectamente, eles acabam por participar, quando há 

festa. 

E – E pede aos pais para colaborar em alguns trabalhos que pede aos meninos para fazer em 

casa? 

I – Sim, sim, mais em termos de trabalhos de casa. 

E – Mesmo com a outra turma, anterior, como eram mais velhos? 

I – Na outra turma sim, tivemos trabalhos de modelagem. Tinha um pai que era professor de 

Educação Visual… trabalhámos a mina do mar e eles fizeram (…) houve essa colaboração. Em 

termos de profissões,  temos  a mãe de um menino  que  trabalha  ali na Henriques Nogueira 

[escola  secundário]  que  já  nos  disse  que  qualquer  dia  nos  leva  ao  laboratório  aberto.  Em 

termos de vir à escola,  fazer na escola, ainda não. Mas não  tenho problemas e gosto, é de 

certeza uma mais valia, se dúvida. E os miúdos gostam muito de ver os pais na escola, sentem 

[orgulhosos]… 

E – Em relação a actividades do agrupamento? 

 I – Com os pais são mais as tasquinhas, agora no final do ano [lectivo]. 

E – E a nível de escola, que  são  vocês e o edifício de baixo não  têm por hábito  convidar o 

encarregado de educação a participar? 

I – eu não. Mas há aqui algumas turmas que têm, acho que sim. Até têm um projecto virado 

para a terceira idade também. Há aqui um grupo que faz e, então (…) e pode vir a acontecer, 

porque não?! Depois também depende dos projectos… 

E – E da abertura dos pais, não?! 

I  –  (…)  setenta  por  cento  dos  pais  dos meus  alunos  viriam,  sem  grandes  problemas,  pela 

frequência  com  que  vêem  às  reuniões,  eu  penso  que  sim.  E  sei  que,  se  for  preciso…  por 

exemplo  para  as  reuniões  das  tasquinhas  eu  sei  que  foram  alguns  e  nós  não  estamos  ali 

directamente ligados, porque é mais com a associação de pais. Nós também tentamos que isso 

aconteça (…) e em termos de associação, eu acho que se deviam envolver todas as mães. Mas 

eu entendo que as pessoas têm um horário (…) portanto, não é fácil. 

E – Há pouco falava sobre a relação com os pais, à uns anos atrás, quando começou a carreira 

e agora? Em termos práticos onde é que vê essas diferenças? 

I – Eu acho que eles não vinham tanto à escola, os meninos …. Eu também falo porque estive 

em aldeia, os meninos vinham para a escola sozinhos, não era como aqui que vêem sempre 

acompanhados. Os pais  raramente… aqui não, se  for preciso à entrada nós estamos ali com 

eles... há uma  ligação, uma proximidade muito maior. Nós acabamos por, vê‐los quase todos 

os dias, na aldeia não, era diferente. Eles  iam às reuniões, muito bem, acabava muitas vezes, 

por fazer reuniões ao sábado, porque era a maneira de os ter…. eu também principiante, não 

Page 88: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

é… o  trabalho deles… era a maneira de os  ter  [na escola]. Era  [importante] porque, se  fosse 

durante  a  semana  era  complicado.  Depois  a  aldeia  tem muito  o  trabalho  no  campo,  são 

horários assim também complexos, enquanto houver  luz… mais por aí. Mas não noto grande 

diferença…  talvez por aí, a escola não estava  tão aberta, não os puxava  tanto. Damos mais, 

andamos  todos numa de escola‐família e  família‐escola ainda bem que é mas, mesmo assim 

como é primeiro ano não tenho muito por onde me queixar, justamente mas, mesmo assim é 

mesmo necessário para controlar os comportamentos, que por vezes nem é suficiente. 

E – Esses comportamentos que vê como não dependendo só da escola? 

I – Não, não [não dependem só da escola] pelo contrário, eu acho que a maior parte deles vêm 

de  trás.  Eles,  quando  chegam  aqui,  já  têm  seis  anos  portanto,  não  nos  podemos  esquecer 

disso. As regras, às vezes, ficam lá muito escondidinhas. 

E – Quando fala com os pais sobre o assunto fala mais no geral? 

I – Sim, sim. E, se tiver situações, não tenho situações de comportamento, primeiro ano, não 

é…  mas se tivesse não [iria falar em frente a todos] mas, no geral digo aos pais que são uma 

turma faladora, irrequieta, das AEC’s… isso é geral porque é a turma, não é A, nem B, nem C, 

da turma. Sim, sim  [alerto os pais para esses comportamentos]. Eles, pelo menos dizem que 

sim, que  em  casa  vão  insistindo  com  eles. Às  vezes digo‐lhes:  “Quando  acontece na minha 

presença, sou em quem os castigo,  isso aí é ponto assente. Com vocês [pais] também mas às 

vezes não é suficiente, temos de nos juntar, temos de ralhar quando é necessário. Porque eles, 

por exemplo, nas AEC’s, eles extravasam completamente. Porquê? Porque não encaram como 

uma disciplina, acham que é brincar e pronto. Não pode ser só a professora, os pais em casa 

têm de os avisar. Têm de ouvir, se não ouvirem não conseguem depois cumprir, não é. E, o 

saber ouvir está a ser cada vez mais difícil, é o que eu noto nos novos meninos, é o saber ouvir. 

E – Olhando para a sua prática  fale‐me das coisas que acha que  faz bem para que haja esta 

vinda dos pais. 

I – Não sei se faço bem, é assim, tem resultado, em vinte e seis anos de trabalho e nunca tive 

complicações,  por  isso  não  devo  fazer  assim  tão  mal.  Mas,  se  calhar  faço  muitas  vezes 

determinadas  coisas quase  instintivamente. Normalmente,  sou uma pessoa que gosta de  se 

relacionar bem com toda a gente, goste que impere o bom senso, para as coisas resultares. E 

realmente,  defendo  que  havendo  um  bom  relacionamento  entre  a  escola  e  a  família,  os 

alunos,  o  resto,  de  certeza  vai melhorar.  Com  conflitos  também  não  conseguia  viver.  (…) 

Normalmente  tento  ser  simpática  pronto,  convido‐os  para  vir  à  escola.  Acho  que  também 

passa muito  por,  quando  falo  com  eles,  começar  por  dizer  as  coisas  boas  dos  alunos,  só 

depois…  porque  logo  aí  começamos  por  afastá‐los  da  escola,  não  é…  passa  muito  pelos 

reforços positivos que dou  aos  alunos… porque  se  começamos  logo numa de dizer mal,  só 

dizer coisas negativas, se calhar, da próxima vez só temos metade e depois muito menos, não 

é… mas de resto não faço assim nada de especial para que eles venham à escola. 

E – Mas sente que há alguma coisa em que pode melhorar ainda? 

I – sim, sim, isso de certeza, em quê? Isso melhorar podemos sempre, de certeza. Se calhar, no 

próximo ano  tentar aproximá‐los mais um bocadinho da  sala de aula mesmo, de eles virem 

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mais à sala. Porque este ano, sinceramente, não o fiz, não se proporcionou e depois, parece 

que isto corre… tentar, se calhar, mais da sala em si, do espaço. Eu acho que há ali dois ou três 

que eu acho que é importante que eles [os alunos] sintam a presença dos pais na sala, talvez. 

(…) 

E – Estas coisas que fala, de actividades práticas para aproximar os pais à escola, onde é que 

aprendeu a fazer? 

I – Não foi propriamente um aprender mas, com o passar dos anos a pessoa vai ouvindo, não 

é. A pessoa vai‐se informando e vai ouvindo, junto dos colegas e em reuniões e em colóquios. 

Sem dúvida que o relacionamento com os encarregados de educação é (…) por acaso, isso do 

começar  por  salientar  os  pontos  positivos  do  aluno,  isso  é  uma  questão  prática,  porque 

também sou mãe e sei que sabe bem, como encarregada de educação, ouvir as coisas boas. E, 

também senti, muitas vezes como encarregada de educação, um ambiente às vezes assim – eu 

jamais faria aquilo – pronto, porque depois, quando estamos no outro lado, temos de nos pôr 

um bocadinho no papel do encarregado de educação. (…) Mesmo com os colegas, aprende‐se 

muito, principalmente com os mais  jovens,  já vêem com outras  ideias, e nós que  já estamos 

um bocadinho cotas… (risos) 

E – Onde é que percebe a fronteira entre o papel dos pais ou, o limite, se há um limite, onde é 

que ele está? 

I – Sabe, eu às vezes não percebo e, às vezes peco por  isso… às vezes penso: “Não devia ter 

dado tanta confiança”, porque sou um bocadinho ingénua, nesse aspecto, porque na tentativa 

de que tudo corra bem (…) Também, por vezes, quando vejo que não resultou, aí depois tento 

não fazer o mesmo erro. Porque às vezes, se calhar, abro demais, por exemplo, eu dou o meu 

telemóvel, na primeira  reunião costumo dar. Porque, se houver alguma coisa quero que me 

telefonem e avisem. Eu gosto de saber, se o aluno falta, liguem‐me primeiro. (…) Eu sei que é 

pessoal mas há contactos que eu queria que fossem directamente comigo. Eu preciso de saber 

logo, porque até chegar a informação… mas também depois, quando eu sinto que… no tempo 

lectivo não… mas, nem sempre é fácil, se fomos  longe, às vezes só com a prática, falhando é 

que aprendo. (…) Eu até hoje, felizmente, não tive complicações. Sempre senti da parte deles, 

pronto, sempre me senti bem. Mas agora, também a velhice é um posto e acaba por… também 

há erros que também já não vai cometer. 

E – Acha que leva assim a relação mais de ânimo leve? Não vê tanta tensão nessa relação? 

I – Não, eu acho que até... penso, por aquilo que me apercebo que até consigo pô‐los também 

um bocadinho à vontade, no sentido de, quando quiserem, quando precisarem… para virem 

eles, para tomarem a iniciativa de… porque eu digo muitas vezes, há situações que o professor 

só  se  apercebe  se  os  pais  disseram…  ligam,  venham  à  escola  e  combinamos…  realmente  é 

aquela hora e meia que nunca é muito… mas não tem de ser. Porque há assuntos importantes, 

têm  sentido  serem  discutidos  na  altura,  depois  de  passar  não  é…  passou,  já  está  fora  do 

contexto, já não tem… e, se for logo, evita‐se complicações. Até mesmo entre os miúdos “Ah, o 

não sei quantos” “Fale, diga…” porque é preciso ver porque é que aconteceu. Porque é que o 

colega  brigou,  porque  por  vezes  a  história  não  é  bem  aquela,  é  outra.  Mas,  se  nós 

conseguirmos acalmar, antes de o encarregado de educação começar a pôr [problemas] e aí é 

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que  começam  as  complicações  (…)  não  se  pode  começar  logo  na  defesa,  tem  de  se  gerir 

situação. Mais ou menos tenho conseguido. (risos) 

E – Que  conselhos é que daria, ou o que acharia  importante ensinar a um professor  recém 

licenciado sobre o assunto? 

I  –  Eu  penso  que  deve  ponderar  sempre  o  bom  senso  (…)  e  é  como  digo,  se  falares  com 

educando, falar sempre tendo em conta que o encarregado de educação, se calhar, também… 

não ir numa de afastamento. O primeiro passo é aproximá‐los de nós… é como com os alunos, 

assim  que  os  sentimos  deste  lado,  já  podemos  ralhar  com  eles…  e  eles  entendem,  os 

encarregados de educação. Têm de sentir que o professor é professor, é amigo, está ali para 

ensinar,  para  educar  e  também  para  castigar,  quando  é  necessário… mas  é  preciso  que  o 

encarregado de educação entenda e não pense,  “Ah, este professor está a embirrar  com o 

meu filho!”. Agora, um colega, quando vem de novo tem de passar por conhece‐los, conhecer 

os  encarregados  de  educação  dos  alunos,  com  calma.  Simpatia,  também  acho  que  deve 

ponderar. O que é que eu posso dizer mais… 

E – Nós falamos aqui deste lado afectivo, dos pais poderem transmitir, ou nós aos pais, sobre 

os  alunos  e  que  acabem  por  serem  bons  para  o  funcionamento  da  relação,  em  termos 

curriculares, como é que acha que será esse ideal de boa relação? Dos pais acompanharem os 

trabalhos dos meninos… 

I  –  Não,  não,  isso  é  indispensável.  Eu  também  acho  que  sim,  que  é  importante  o 

acompanhamento.  Agora,  também  penso,  que  há  uma  primeira  fase  que  tem  de  ser  o 

professor, o resto é um complemento. Parte realmente do professor, até porque é o professor 

(…)  se  vir  que  a  família  precisa  de  uma  pequenina  explicação,  porque  há  alguns  que  não 

precisam  nada.  “Ah,  professora  como  é  que  ensina  isto?”  os  pais  podem  contribuir  para  o 

currículo mas têm de estar dentro da mesma  linha, para não se confundir aquelas cabecitas. 

Mas penso que o papel deles, sem dúvida… até porque cada vez mais, através dos manuais, 

eles  têm  acesso  ao  que  eles  dão  e  à  planificação,  e  portanto,  eles  têm  instrumentos  de 

trabalho para poder complementar. 

E – O que é que acha, em termos gerais, que dificulta esta relação? 

I – Se houver um distanciamento entre a escola e a  família, se sentirmos de parte a parte… 

muitas vezes é a família que se fecha… eu acho que se houver um certo distanciamento, aí se 

calhar… agora, se a  família sentir que há compreensão na escola,  (…) consegue  trabalhar no 

mesmo sentido. Fecharmos a porta da escola, “Agora não posso!”, é preciso um certo cuidado 

“Olhe, agora não posso porque…” (…) Temos de ser um bocadinho flexíveis. 

E – À pouco  falava sobre a questão do tempo, dos pais não terem tempo ou disponibilidade 

para estarem. 

I – Também é um factor que pode condicionar muito. Porque os horários são… esta turma, eu 

vejo outra grande diferença em termos de… tenho mães a trabalhar por turnos, muitas… o que 

é complicado. Mas pronto, não é por  isso que deixam de vir…  temos de combinar, às vezes 

vêm quinze dias depois, que é quando o turno vai rodando., vêem, ou telefonam. Aí eu acho 

que as coisas… a escola não pode fechar, tem de abrir… o professor tem de ser flexível nesse 

Page 91: Professora Prazeres, dia 2 de Maio de 2011 Entrevista ... · Eles é que tratam de mim.” Portanto… muitas vezes, conhecendo o lado de lá portanto havendo uma relação… que

[campo]. Se o que o que pretende é o bem dos alunos, o sucesso, também tem de ser um bom 

professor. Por exemplo, este ano, o nosso atendimento é às cinco e meia, e há dois anos era 

das seis e meia, e era o melhor horário. Era o horário em que vinha toda a gente [por causa 

dos funcionários]. (…) Há hora de almoço eu estou, ao intervalo também tiro um bocadinho, se 

for necessário. Mas, o horário melhor era depois das oito e aí,  toda a gente, quase… quase, 

porque  há  sempre  uns… mas  quase  todos  vêem.  Este  ano,  por  causa  dos  funcionários,  do 

horário dos funcionários, é outro factor.