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Produtos sustentáveis da Biodiversidade brasileira: Gestão, mercados e Políticas públicas Donald Sawyer (Org.) Divani Ferreira de Souza Luis Carrazza Heliane Carvalho TEXTOS ECOSSOCIAIS 13-02 Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN SCLN 202, Bloco B, Salas 101-104 70832-525 Brasília – DF, Brasil Telefone/fax 61-3327-8085 [email protected] www.ispn.org.br

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Produtos sustentáveis daBiodiversidade brasileira:

Gestão, mercados ePolíticas públicas

Donald Sawyer (Org.)Divani Ferreira de Souza

Luis CarrazzaHeliane Carvalho

TEXTOS ECOSSOCIAIS 13-02

Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPNSCLN 202, Bloco B, Salas 101-104

70832-525 Brasília – DF, BrasilTelefone/fax 61-3327-8085

[email protected]

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SUMÁRIO

1. Apresentação

2. Abertura

3. Painel: Gestão, Mercados e Políticas Públicas

4. Comercialização de Produtos Agroextrativistas

5. Plano de Ação do Agroextrativismo - PLANEX

6. Principais desafios e estratégias para sua superação

7. Compra institucional de produtos regionais: o caso da CONAB

8. Interação entre comunidades e empresas: o caso da Natura

9. Plenária final e encaminhamentos

Bibliografia

TES 13-02 Produtos sustentáveis

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1 APRESENTAÇÃO

Este documento resgata a memória do Seminário "Gestão, Mercado e PolíticasPúblicas para Produtos Sustentáveis da Biodiversidade Brasileira", realizado em 8 e 9de novembro de 2005 nos auditórios da Oca e do Museu de Arte Moderna no Parque doIbirapuera em São Paulo, por ocasião da feira "Mercado Floresta", organizada pelaONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, com o apoio do Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a colaboração do Instituto do Homem eMeio Ambiente da Amazônia (IMAZON), do Instituto de Manejo e CertificaçãoFlorestal e Agrícola (IMAFLORA) e da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica(RBMA).

O seminário foi promovido pelo Centro de Gestão da Informação e doConhecimento para um Futuro Sustentável (A Casa Verde) em parceria com o InstitutoSociedade, População e Natureza (ISPN) e Amigos da Terra - Amazônia Brasileira.Teve apoio do Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-ECOS), do PNUD e daSecretaria da Agricultura Familiar (SAF) do Ministério do Desenvolvimento Agrário(MDA). O PPP-ECOS recebe apoio do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF),por meio do PNUD, e da Comissão Européia. Uma vez que a gravação do seminário foiroubada da empresa responsável, este documento foi elaborado a partir das anotações deDivani Ferreira de Souza, com revisão de Luis Carrazza e Heliane Carvalho. Os pontosde vista aqui registrados não representam necessariamente aqueles das fontes de apoiofinanceiro ou institucional.

Previamente à realização do seminário, foi elaborado um documento paradiscussão, denominado Plano de Ação do Extrativismo (PLANEX). Seguindo o formatoda Agenda 21, o plano divide-se em base de ação, objetivos e ações. Espera-se que aproposta que consta do capítulo 5 deste relatório seja oportunamente reformuladalevando em conta discussões em eventos e contribuições pontuais, individuais e/oucoletivas, apresentadas ao ISPN, responsável pelas atualizações do documento. Nota-seque a proposta restringe-se à produção agroextrativista familiar ou comunitária empequena escala.

Participaram do evento cerca de 60 pessoas, entre membros de comunidades,produtores, técnicos, governos e demais organizações que trabalham com produtossustentáveis da biodiversidade brasileira em diversos estados do Brasil, principalmenterepresentantes de entidades dos biomas Cerrado e Caatinga, que recebem apoio do GEFpor intermédio do PNUD. A geração de conhecimento por meio de prática comcomunidades rurais e de processos participativos, que é possibilitada pelo crescimento eamadurecimento de organizações não governamentais e de base comunitária, constituiou contribui para novas metodologias de pesquisa dentro e fora da academia.

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2 ABERTURA

Donald Sawyer, Presidente do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) eCoordenador Nacional do Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-ECOS),deu as boas vindas a todas e todos e apresentou a programação e os objetivos do evento.Convidou para compor a mesa Roberto Smeraldi (ONG Amigos da Terra), JoaquimBelo (Presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros), Jorg Zimmerman (Ministériodo Meio Ambiente) e Valter Bianchini (Secretário da Agricultura Familiar),representando o Ministro Miguel Rosseto, do Ministério do Desenvolvimento Agrário(MDA).

Roberto Smeraldi, Presidente da ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, emnome das entidades que organizam o Mercado Floresta, colocou algumas questões quemerecem ser aprofundadas neste seminário a partir das peculiaridades do casobrasileiro:

a) Políticas públicas é um dos temas chave que fazem parte do documento"Comercialização de Produtos Extrativistas" que Donald Sawyer elaborou, umtexto muito oportuno e sintético para subsidiar esta questão. Em relação àspolíticas publicas,estou perplexo e sugiro que o seminário avance nesta questãopara entender qual é a conjuntura que estamos passando. Por exemplo, comoandam as Reservas Extrativistas e as outras experiências inovadoras quenasceram no bojo desse conceito maior? Esta é uma pauta mais ligada àAmazônia, mas o Cerrado, embora com características diferentes, tem váriassemelhanças. No momento atual não avançamos sequer na estruturação dospilotos existentes. Eu vejo uma situação institucionalmente difícil deinterlocução das comunidades com governo, inclusive o IBAMA (InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). É fantásticocontarmos com a presença de Valter Bianchini, Secretário da AgriculturaFamiliar do MDA, pois avançar com esta pauta no MDA talvez seja a formamais adequada para sair dos pilotos no meio ambiental para o meio produtivo.Os problemas que serão tratados aqui, em 90% dos casos, extrapolam adimensão ambiental e portanto têm muito a ver com o MDA.

b) A qualidade de gestão, com excesso de amadorismo, deve-se em parte àparalisação do extensionismo rural neste pais e vai além do agroextrativismo.Como podemos pensar em viver sem um sistema estruturado e difuso deextensão rural? Fica difícil avançar se não enfrentarmos esta questão.

c) O mercado está nos confirmando algo que já tínhamos aprendidoempiricamente. Validamos na prática que é muito difícil lidar com este públicoem termos de produto. Olhar para o sistema de produção é uma alternativa aolhar para o produto. A sociedade contemporânea está nos confirmando estavisão. Até mesmo os setores rurais de agricultura que estão mais estruturados e

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consolidados, nem com os enormes subsídios e enormes créditos e perdões dedividas, conseguem hoje garantir segurança por meio de uma abordagem porproduto. Esta é uma resposta que a commoditização da agricultura nos traz. Háque se trabalhar com um portfólio e não com um fundo. Quando a agriculturavirou bolsa, não se conseguiu trabalhar com um fundo. Imagine isto para opequeno. Temos que saber mudar. A abordagem por produto é mais fácil para osdoadores e para os bancos, que trabalham com taxas de retorno específicas. Porexemplo, os gerentes do Banco da Amazônia (BASA) normalmente sabem lidarsomente com índices de taxa de retorno para castanha ou para pecuária. Oproblema é saber analisar um sistema de produção. Para estas questões, temosque dar uma resposta.

Donald Sawyer: Agradeço os comentários sobre os desafios concretos que enfrentamosna comercialização dos nossos produtos. Gostaria de frisar que o seminário não tratasomente de problemas ambientais. Enfatizo que desejamos muito trazer os produtorespara esta discussão. Esperamos que as organizações não só participem, como tambémliderem esta discussão. Temos que confrontar com a realidade que os produtoresenfrentam com suas famílias lá nas suas propriedades. Foram os seringueiros quecomeçaram esta história de extrativismo, que agora é algo que estamos tentandotrabalhar em muitas regiões do Brasil. O que é diferente no extrativismo é que se tratade uma dádiva da natureza. Temos que combinar este extrativismo com a realidadeagrícola dos produtores familiares. Vamos ouvir as contribuições dos extrativistas,seringueiros e outros.

Joaquim Belo, Presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS): Soupresidente de uma instituição que nasceu há 15 anos para defender esta parcelaespecífica da população. Nosso grande líder foi o Chico Mendes. Os Sindicatos deTrabalhadores Rurais (STRs) da Amazônia nasceram a partir da experiência dossindicatos do Sul. A floresta passava frágil na visão desta lógica sindicalista. Foiignorado que existiam diversos tipos de produtor familiar rural na Amazônia. Osempates são uma realidade vitoriosa para a criação dos Assentamentos Extrativistas noInstituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), o que levou à morte damissionária Dorothy Stang. A luta deste movimento abrange os nove estados daAmazônia. Avançamos bastante na luta do ponto de vista político, mas continua sendomuito difícil enxergar, no Estado, esta estratégia ao mesmo tempo política, econômica eambiental.

Roberto Smeraldi coloca algo importante que nos preocupa muito. Das experiências quevieram do governo, pouca coisa aconteceu na prática. Muitas políticas públicas pararamno tempo. Nossa sorte é que o governo passado unificou a política da reforma agráriapara extrativismo de forma articulada entre o MMA e o MDA. No entanto, poucaspolíticas resultaram desta unificação. Até o próprio crédito, que nasceu com muitadificuldade, não incorpora uma preocupação com a dimensão ambiental em si.Brigamos porque o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

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(PRONAF) era muito mais negócio que o próprio Programa de Apoio aoDesenvolvimento do Extrativismo (PRODEX). No conjunto da política da Amazônia, asdificuldades são grandes. Primeiro, no campo da gestão, tanto por parte do Estado,como de nossa parte, a grande dificuldade é que o nosso povo não sabe escrever.Imagine um povo "analfabeto" dar conta de fazer gestão de um empreendimentoeconômico na lógica do mercado! É muito difícil. Adquirimos experiência em váriosoutros campos, mas no campo da gestão estamos com muitas limitações. O próprioEstado tem uma grande limitação por não ter conhecimento adequado para lidar comesta nossa economia. Estamos no mesmo barco, tanto o Estado, quanto os trabalhadores.

A conservação da Amazônia passa pelo fortalecimento da economia do extrativismo.Não podemos concordar que o preço da borracha da Amazônia esteja vinculado aodólar. Seria preciso construir políticas públicas para tratar o assunto de formadiferenciada. Várias empresas estão ocupando a Amazônia para explorar o açaí. Nossacompanheirada vai se desfazendo de suas terras para estas empresas.

Viajei para Europa com o ministro Miguel Rosseto, do MDA, e combinamos de criaruma estrutura para definir uma agenda para dar um passo na lógica do desenvolvimentocom os princípios que temos na Amazônia, como o uso coletivo das terras por meio dasReservas Extrativistas.

Em Belém estavam fazendo arranjo para que uma parte das terras de uma reservaficasse de fora para beneficiar um chinês que explora açaí. Isto acontece muito,principalmente no Marajó, onde se concentra a produção do açaí. Quem vai ficar comeste filé do qual as empresas querem tomar conta?

Precisamos avançar no MDA e no INCRA com a criação de Reservas Extrativistas. Estaquestão nossa dentro da Amazônia precisa ser tratada dentro de uma política mais ampla,pois dentro desta agenda do meio ambiente a situação não vai mudar. A força contráriadentro do governo é muito grande e o meio ambiente não é visto como prioridade. Ojogo de força é muito desigual e o MMA não tem força para enfrentar os outrosministérios, como Minas e Energia, Integração e Agricultura.

Em nossa próxima assembléia no final de dezembro, estaremos discutindo estesentraves de regularização fundiária. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação(SNUC) está inserido neste processo. Vamos convidar todos os parceiros para tirarlinhas de ação para os próximos anos vendo onde devemos centrar forças.

Donald Sawyer: Sou de um tempo em que reforma agrária e meio ambiente não sebicavam. Os agricultores familiares e os defensores da reforma agrária não queriamsaber deste luxo ou imposição ambientalista vindo de fora. Depois houve enormeprogresso neste sentido de convergência. Às vezes o agricultor familiar precisa de apoiopara recuperar uma terra degradada que recebeu. O mercado precisa de produtos maisoriginais e específicos que a agricultura familiar pode oferecer. Surgiu uma novasíntese.

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Gostaria de explicar também um pouco sobre o ISPN, PPP-ECOS, GEF e PNUD. OFundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF) trabalha com a transferência de recursospara os países em desenvolvimento para buscar soluções para problemas ambientaisglobais, temas amplos. O Small Grants Programme (SGP) apoia comunidades locais.

No Brasil, o SGP é administrado pelo PNUD. A coordenação técnico-adminstrativa ficaa cargo do ISPN, uma ONG localizada em Brasília que trabalha na interface das áreasambiental e social. O Programa de Pequenos Ecossociais (PPP-ECOS) trabalha comeditais anuais, de forma competitiva. O apoio máximo para pequenos projetos é de 25mil dólares. Fazemos transferências para organizações sem fins lucrativos quetrabalham com recursos naturais e desenvolvimento sustentável. Procuramos oferecerresultados concretos. Os investimentos direcionados fazem diferença.

Até hoje o PPP-ECOS apoiou cerca de 190 projetos em 12 estados. O foco geográfico éo Cerrado porque é extremamente rico e vital em termos de recursos hídricos. Grandeparte dos rios brasileiros nascem no Cerrado. A maioria dos municípios brasileirosdepende de energia hidrelétrica gerada pela água desses rios.

O Cerrado também estoca uma quantidade fenomenal de carbono que, se liberado,contribui para o efeito estufa. O bioma está ameaçado pelo desmatamento num ritmoalucinante, porém pouco conhecido. Estima-se que 1,5% do Cerrado é desmatado a cadaano, ou seja, 30m km2 quadrados, e ninguém sabe ou se importa. A ameaça é fortíssima,mas o bioma é praticamente esquecido. O Cerrado é lembrado como o celeiro do mundopara o agronegócio, sobretudo a soja. Não pretendemos acabar com o agronegócio, mashá muito espaço dentro do Cerrado que pode ser usado pelas comunidades em paisagensprodutivas sustentáveis. As áreas protegidas são importantes, mas apenas um pequenopercentual da área do Cerrado está em unidades de conservação. O que estamosprocurando é conter o agronegócio e manter o Cerrado em pé com a presença humana.

Costumamos falar em ABC -- água, biodiversidade e clima -- para promover odesenvolvimento sustentável. Como uma pequena amostra das possibilidades, oPPP-ECOS apoiou um projeto para compilar informações de organizações que temprodutos com qualidade no catálogo "Cerrado que te quero vivo: produtos e meios devida sustentáveis apoiados pelo PPP-ECOS".

Outro projeto especial do PPP-ECOS foi para esta participação do Mercado Floresta e arealização deste seminário. O projeto está sendo executado pela ONG A Casa Verde,coordenado por Luis Carrazza com o apoio da Heliane Carvalho.

Agora vamos ouvir como o Secretário Valter Bianchini vê as possibilidades de interaçãoentre o mercado e a conservação ambiental. O MDA e o MMA têm trabalhado juntosneste governo e não é por acaso que estão aqui. Temos visto a transversalidade efetivaneste governo. O meio ambiente e a produtividade são fundamentais. As maiores

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facilidades são para o agronegócio em grande escala. Quando o pequeno começa acolocar seu produto no mercado, esbarra nas fiscalizações, no próprio IBAMA, nafiscalização tributária, nos registros e nas responsabilidades técnicas e profissionais.Persiste dificuldade de acesso ao crédito, pois o sistema foi montado para a agriculturaconvencional e o pequeno agroextrativista fica prejudicado.

Foi assinado um termo de cooperação entre o MDA e ISPN para o Cerrado. O MDAtem feito um esforço para aumentar sua presença nas regiões Norte e Nordeste.Agradecemos a presença do Valter Bianchini.

Valter Bianchini, Secretário de Agricultura Familiar do Ministério de DesenvolvimentoAgrário: Agradeço a oportunidade de estar aqui e aos colegas do MDA. Vamos falarsobre como o governo Lula tem trabalhado nas políticas públicas e sobre as dificuldadesque enfrentamos.

Foi em 2002, ainda durante a campanha do presidente Lula, que uma equipe elaborouum documento chamado "Vida digna no campo". A idéia era apresentar os problemas doagro brasileiro e como poderíamos enfrentar estas questões. Não pensávamos quedaríamos conta de responder a estas questões a partir de um único ministério.

Este programa de governo teria que contemplar as múltiplas agriculturas. O PresidenteLula sempre tem falado da necessidade de pensarmos as diferentes interfaces daagricultura. Considerando a diversidade deste país, perguntamos como poderíamostrabalhar as questões do abastecimento interno, do balanço energético, enfim de todas asdiferentes interfaces da agricultura com o desenvolvimento econômico.

Como poderíamos trabalhar com esta pauta de conservar a biodiversidade com aagricultura dando conta de todos os biomas? Pensando o Brasil rural e das grandescidades? Como pensar este modelo de agricultura com equidade e inclusão social?Como podemos aprender a conviver com as experiências da agrofloresta e daagricultura que pudesse dar conta do abastecimento? Desde o começo, o presidente Lulatem dado ao nosso ministério uma prioridade importante para pensar amultifuncionalidade da agricultura.

O INCRA está responsável pela política da reforma agrária. Como reconhecer a posseda terra por um conjunto de famílias sem terra? Como poderíamos levar em conta umapolítica de reforma menos preocupada com os números e mais preocupada com osaspectos qualitativos? Como poderíamos pensar na Secretaria de DesenvolvimentoTerritorial (SDT) em fazer nos territórios uma integração das diferenças territoriaispensando nas multi-funções da agricultura familiar de acordo com esta delimitaçãoterritorial?

O primeiro bloco foi o do seguro da produção. Nós temos um compromisso de fazercom que os bancos priorizem o atendimento de crédito rural para um conjunto muitogrande da agricultura familiar. Sabíamos que isto seria muito difícil. No governo

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anterior fazíamos contratos. Trabalhamos com os bancos com prioridade para asimplificação do processo.

O agricultor ia no banco, pegava o extrato e planejava um volume de recursos que elenecessitava. Levamos a simplificação do crédito para que pudéssemos abranger umcrédito maior. Saltamos de 1.600 mil famílias e vamos chegar a muito mais. Crescemosno crédito. Neste ano passamos de dois para quatro milhões. Vamos chegar a novemilhões no terceiro ano. Retiramos a obrigatoriedade das notas do crédito. O agricultorpoderia guardar as notas em casa para depois renovar o contrato. Pagamos um preço poristo, uma vez que os computadores tinham que seguir uma determinada planilha padrãopara que o contrato pudesse ser assinado. O processo de simplificação passou a ser umimpedimento para trabalhar esta diversidade.

Em segundo lugar, implantamos o seguro da produção da agricultura familiar, paraamparar a produção caso viesse alguma intempérie. Novamente o instrumento de seguroexige que se assegure algo concreto. Ou seja, era necessário adotar um determinadoprocedimento com um componente tecnológico. A pergunta era como adequar o créditoe seguro a nossa política. Embora os bancos estejam sensíveis, temos linhas para aagroecologia, sistemas agroflorestais, etc., mas tenho que ser sincero que há umadificuldade para colocarmos estas linhas a serviço de uma agricultura maisdiversificada.

Uma das vantagens da agricultura familiar é que ela combina gestão e produção. Esta éuma das grandes vantagens da agricultura familiar sobre a patronal. Nos sistemasagroflorestais, é imprescindível o enfoque da família. A presença da agricultura familiaré mais vantajosa. A combinação gestão, trabalho e família é estratégica. Temostrabalhado sistemas que possam contemplar esta diversidade. Nos últimos anos temospensado como trabalhar o crédito dentro destas características.

O problema da assistência técnica é urgente mesmo. Discutimos com os bancos comoos técnicos podem ser treinados para compreender esta visão sistêmica da produção.Como se pode adequar a divisão de lotes? Os projetos sempre tem a visão empresarial.Como trabalhar a visão do agroextrativismo? Como levar em conta a diversidaderegional? Como trabalhar com o PRONAF investimento, reconhecendo as ReservasExtrativistas, além de todas as necessidades que um assentamento normal tem?

Somente esta visão consegue combinar a viabilidade econômica com a conservaçãoambiental. Desde o inicio do governo, compreendemos a necessidade de trabalhar trêstemas distintos. Como poderíamos restituir a parcela que cabe ao governo federal aosistema de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER)?

Dialogamos com o Ministério de Educação para ter parceria com os sistemas formais deeducação. Temos parceria com mais de 200 escolas de alternância para valorizar ojovem agricultor. Estamos com 5 mil reais para cada Casa Família Rural e vamos para10 mil. Criamos o PRONAF Jovem. Temos parcerias com escolas agrotécnicas com

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regime de bolsas. Trabalhamos com o CNPq neste mesmo padrão. Quanto à pesquisa,no ano passado foram mais de 100 projetos de extensão universitária.

Estamos trabalhando cursos de especialização em desenvolvimento sustentável. Temosdiálogo com a formação profissional e um numero grande de editais e convênios paracapacitação, seja na agroecologia, programas de capacitação com ONGs, técnicos eSENAR, ou seja, uma diversidade de formação profissional.

Buscamos parcerias com as EMATERs para resgatar o papel da ATER oficial pública.Tivemos diversos concursos nos estados do Pará, Acre, Pernambuco, Ceará, Rio Grandedo Norte, Goiás e Tocantins. Sensibilizamos os governos estaduais para fazer orenascimento da ATER pública oficial. Estamos em parceria com as ONGs que atuamno campo para fortalecer a ATER. Ou seja, o nosso desafio com o extensionismo é fazernos territórios redes de ATERs regionais trabalhar a abrangência da universalização doconhecimento no campo. Temos trabalhado com a EMBRAPA para saber como fazeresta articulação entre o conhecimento no campo e o saber cientifico. Há muito quefazer, mas avançamos.

O terceiro pilar é de apoio a programas de agregação de valor e renda. Tivemos umafeira com mais de 500 empreendedores. Os 27 estados presentes foram incentivados atrabalhar as agroindústrias e os pequenos projetos de agregação de renda.

O presidente Lula criou uma comissão interministerial para reconhecer o sistema deinspeção para que tenhamos a livre circulação dos produtos amparadas por umalegislação que permita, com qualidade e segurança, mas de forma desburocratrizada, aagregação de valor e renda.

Estamos trabalhando os programas de compra da agricultura familiar. Temos uma leique nos permita sair dos processos licitatórios para compra direta para a merendaescolar e cesta básica de forma mais rápida. Estamos discutindo a diversificação damatriz energética desde o dendê, a palma e outras culturas, com programas como obiodiesel, que vai dar subsidio para compras de produtos da agricultura familiar comamparo do PRONAF. Este programa vai diversificar as opções para a crise energética evalorizar as pequenas iniciativas.

Temos o programa do turismo rural para valorizar o turismo. Criamos uma rede deapoiadores em todo o Brasil para viabilizar a agricultura familiar, promover arevalorização do rural, valorizar os produtos, a cultura do território. A parceria comSlow Food promove a valorização do produto ambiental e social. Temos uma áreaespecífica na agregação de renda para trabalhar esta questão. Para isto, contamos comparcerias com governos e movimentos sociais de pequenos produtores, ou seja, umainterface grande dos programas de governo com parcerias diversas.

Temos muito a fazer. Tivemos derrotas como o transgênicos, que ainda não vencemos,mas também conseguimos muitas coisas positivas nesta caminhada. O ano que vem é

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decisivo e temos portas abertas para assumir o compromisso com este apoio. Nesteprograma de pequenos projetos reúne as funções econômicas com a conservação dabiodiversidade e do meio ambiente.

Comentários da plenária:

Luiz Fernando Laranja da Fonseca (Mato Grosso): Uma questão que temos querefletir é porque que as grandes decisões, planos e projetos, como planos de governo,têm uma dificuldade tremenda de chegar na ponta, no cidadão. Fui professor daUniversidade de São Paulo (USP) e agora estou na floresta desenvolvendo programasem parceria do governo, ou seja, sou usuário dos serviços. Temos o desafio detransformar os planos de governo em planos de Estado. Daqui a seis meses, com otérmino do governo Lula, como ficarão os planos que o Secretário Bianchini apresentouaqui? A cada governo leva-se tempo para formular planos e não se chega ao fim. Ascoisas estão acontecendo de forma muito rápida na Amazônia. O processo dedesmatamento é muito rápido. Se não tiver política de governo que chegue na ponta,não faz sentido, como no caso do crédito. O cidadão tenta solicitar o crédito e éhumilhado pelo banco, como eu fui humilhado pelo Banco do Brasil. Se fala de subsídiotributário e ele não existe!

Tem algo errado porque os serviços do governo não chegam onde têm que chegar. Aprodução de leite aumenta de forma significativa no Acre, Rondônia e Mato Grosso.Isto não é estranho? Estamos transferindo produtores de leite para a Amazônia. E é oEstado quem está fomentado este tipo de transferência na Amazônia. Estou orientandouma tese de doutorado da USP em Alta Floresta e os indicadores de saúde dos índiossão semelhantes aos dos moradores da África subsaariana. Estão morrendo detuberculose. Este é o grande dilema. Hoje, infelizmente, sou um descrente.

Valter Bianchini: Cabem algumas considerações. A primeira diz respeito a políticaspúblicas e arranjos institucionais. As políticas públicas se qualificam mais se tivermosas instituições sociais funcionando. Nós temos regiões em que estes arranjos conduzemo crédito de forma mais eficiente e mais qualitativa. Cito o exemplo de Xapuri, no Acre,onde está havendo uma discussão de como fazer pasto sem queimar. Pastos não secomparam com sistemas florestais. Estamos discutindo também os sistemas deprodução para responder por um equilíbrio mais sustentável. O leite é mais produtivo?Não o leite com os pastos extensivos, queima etc. A gente tem que buscar combinar naagricultura familiar as questões das reservas, dos sistemas agroflorestais e do meioambiente.

No Estado do Pará, tínhamos uma indústria falida de sucos, a AMAFRUTAS. Mudamosa lei do PRONAF para financiar a transformação desta empresa falida em umacooperativa dos funcionários. Vamos aportar 13 milhões de reais para restabelecer estaprodução naquela região. Agora a Natura está presente para trabalhar com eles paratransformar o resíduo da fábrica em óleo. Para pasto temos muitas informações de

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pesquisas, porém faltam informações para a agricultura familiar. O que temos sãoinformações dispersas.

O crédito da agricultura familiar para a agroindústria está presente nos bancos. Sehouver problemas, vamos saber onde estão, para irmos vencendo isto. Estamosvencendo. Mas há uma determinação forte do governo sobre os bancos. Não temosresposta sobre problemas dos bancos, quanto a redução de pessoal ou de crescimento dainformatização, mas temos procurado solucionar estes problemas, sim!

Mário Menezes: Aqui no Mercado Floresta o foco tem sido realmente escala. OuvimosIgnacy Sachs falar sobre escala, escala, escala! Não conseguimos valorizar a floresta eagora temos dois desafios concomitantes: valorizar e dar escala. Vivemos hoje umasituação complexa. Donald trouxe dados de 11 anos do PPP-ECOS e ao mesmo tempocitou dados alarmantes sobre o Cerrado. Pergunto o que conseguimos fazer demudança? No caso da escala, não temos tecnologia para produtos florestais. A gentetem que ser muito ousado, pensando numa "Empresa Brasileira de Pesquisas para oExtrativismo" (EMBRAPEX) no âmbito da estrutura governamental para resolver oproblema da falta de tecnologia. Temos que incitar o poder público federal para ganharescala para nossos produtos. Tanto do ponto de vista tecnológico, quanto do ponto devista da escala, temos que desenvolver uma estratégia para resolver este problema.

Donald Sawyer: Avaliamos os resultados do PPP-ECOS e os impactos finais e temosótimos números. O fato é que estamos mantendo o Cerrado em pé, embora tenhamosvárias situações em que comunidades tradicionais são incentivadas a vender suas terrase ir embora. A área que estimamos como Cerrado mantido em pé é de 3%. É pouco,porém vimos que mesmo com investimento baixo dá para manter as famílias na terra.Em relação à renda bruta, temos resultados que consideramos significativos, indo alémdo piloto, embora haja grande variação entre os projetos. O que gostaríamos de frisar éque necessitamos das políticas publicas na ponta. Quando fui convidado a participar daelaboração de um plano de desenvolvimento regional, me recusei porque gostaria que ogoverno implementasse pelo menos um dos vários planos que ajudei a elaborar. Sóteremos avanços se tivermos uma base social efetiva, uma massa crítica. Temoselaborado lindos documentos, mas sem ver concretamente a implementação das ações.Para ter efetividade na ponta, não basta o governo, as ONGs, os técnicos. Para termosresultados reais, precisamos de participação ativa da população na base social.

Antônio Machado (EMBRAPA Paraná): A correlação de forças voltadas para ogrande negócio é grande. A EMBRAPA vem passando por um processo de respostas ademandas dos movimentos sociais. Quando olho esta questão da escala, penso naexperiência que vi na Amazônia. Participei dos núcleos de análise da EMBRAPA naAmazônia. É visível o crescimento de pesquisa e tecnologia na área de agriculturafamiliar e pequenos negócios. Será que a EMBRAPA é a solução? Várias organizaçõesque têm se articulado com as ONGs já têm uma massa de conhecimento sobre isto. Omaior gargalo é este conhecimento chegar na ponta, o que depende da forma em que

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estas questões são colocadas para o Estado. A tendência é que estes aparelhos dêemrespostas para as demandas que são colocadas. Nem sempre a pressão existe. Noseditais para pesquisa se vê pouca demanda socioambiental. Esta demanda precisa estarpresente nos aparelhos de Estado para que a definição de políticas publicas venha nestecaminho.

Donald Sawyer: Trabalhei durante alguns anos no Ministério da Ciência e Tecnologia,quando estávamos tentando direcionar as pesquisas científicas e tecnológicas paranecessidades regionais e locais relevantes. Gostaria de reforçar a importância de fazerchegar as demandas nas instituições que existem, nas universidades e nos centros depesquisa. Temos que tornar a pesquisa tecnológica mais útil para o desenvolvimento dasociedade. E fácil definir os aspectos de mérito, mas não temos demandassistematizadas para apresentar às instituições de pesquisa que distribuem dinheiro parapesquisa, mas direcionam os recursos para outras demandas menos relevantes. Umsegundo ponto é que precisamos rever, com o aprendizado da prática, os critériosinadequados para itens financiáveis e qualificação dos pesquisadores.

Valda Aroucha (ONG AGENDHA Paulo Afonso, Bahia): Gostaria de saber sobre oPRONAF-Jovem. As escolas técnicas e as escolas agrícolas no Nordeste têm poucoapoio. Para acessar o crédito, o jovem deve estar no último ano da escola agrícola, ter de16 a 20 anos e se o pai dele dever, ele não pode entrar. Nas nossas escolas, somente umjovem teve acesso. O que fazer para que o jovem tenha direito a obter recursos para suaautonomia? O Nordeste tem a maior população jovem do Brasil. O mesmo acontececom o PRONAF Mulher. Se o marido dever, a mulher não tem acesso. Nósecofeministas somos contra este critério que tira a independência desta mulher para sergestora da unidade familiar e ter seu próprio negocio. Gostaria de dizer que fui umacrente neste projeto de governo. Eu queria perguntar como é que vai ter uma vida dignano campo com transgênicos, biodiesel de mamona e burocratização, sem considerarpolíticas publicas para as mulheres, sem assistência técnica e também com atransposição do rio São Francisco?

Valter Bianchini: Hoje nós temos avanços, sim, nas políticas para mulher! As mulherespodem acessar PRONAF. As mulheres mais pobres podem acionar o crédito. Estamosnos mobilizando para desburocratizar o acesso ao credito, porém o enfoque é a família.Goiás é o estado que mais aplica o PRONAF para agricultoras, depois do Rio Grandedo Sul. O PRONAF Mulher é uma realidade e está regulamentado. Onde temos maioresníveis de organização, podemos avançar mais. Concordo que nas áreas de pobreza ruralconseguir o crédito pela segunda vez é mais difícil. Precisa ter um bom projeto.

Da parte da assistência técnica, você mesma citou um exemplo que é o PRONAFCapacitação, que tem atendido a população. Conseguimos ampliar o número deprofissionais para prestar assistência técnica, com contratação de técnicos no regimeparcial. As estatísticas mostram grande crescimento de recursos. O Banco do Nordesteaplicava 300 milhões de reais e hoje aplica 1 bilhão para assistência técnica. Ou seja,

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temos avanços, sim!

O Conviver é um projeto importante para promover a convivência com o Semiárido,com algodão, fruticultura do caju, apicultura etc. Oferece uma série de alternativas parabuscar a convivência sustentável com o Semiárido. O problema do leite hoje é quemilhares de famílias estão tendo apoio. O caso da APAEB na Bahia (Associação deDesenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira) é digno de ser citado, ouCaras do Sertão das mulheres de Salinas em parceira com Valente na Bahia. É precisoter organização social. Não dá para negar os avanços significativos. Um banco como oBanco do Nordeste é uma das prioridades e nós triplicamos o investimento.

O PRONAF Jovem de fato é muito jovem ainda, em fase inicial. Se forem bons projetosque mostrem capacidade, eu me comprometo a ir lá junto para mostrar o potencial nasua implementação, mas os projetos têm que ser bons. Muitos projetos de EscolaFamília Agrícola são mal feitos. Numa região como a tua, a gente pode avançar noPRONAF Jovem.

Concordo com você quanto às escolas agrícolas. Os professores são uns abnegados.Estamos lutando para apoiar estas iniciativas. Está saindo uma política pelo Ministérioda Educação (MEC) para apoiar as escolas agrícolas e eu acho que avançamos nestesquatro anos, embora a gente reconheça que os professores estão levando adiante umapolítica com pouco apoio. Mas a gente faz a nossa parte e vocês têm que fazer a devocês. O PRONAF Jovem de fato tem que fazer ajustes e com o PRONAF Mulher nãoconcordo com teu pessimismo. A prioridade é reconhecer a família e as políticas degênero.

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3 PAINEL: GESTÃO, MERCADOS E POLÍTICAS PÚBLICAS

3.1 Visão da Sociedade Civil

Luiz Villares, Gerente do Balcão de Negócios, Amigos da Terra: Tentarei selecionarexperiências relevantes com peculiaridades próprias e apontar as principais dificuldadesenfrentadas:

1. Me chama muita atenção a gestão dos empreendimentos, mesmo os que atuamcom grande escala. Temos muitos problemas de escala e governança doempreendimento. Nos empreendimentos que vêm dos movimentos sociais, aspessoas responsáveis geralmente têm muito mais capacidade de serem líderescomunitários do que gerentes efetivos dos empreendimentos. Os problemas demá administração geram problemas muito sérios nos empreendimentos.

2. Na gestão da comercialização, encontramos diversos problemas jurídicos efinanceiros: documentação, pendências financeiras, dívidas não pagas,inadimplência, falta de prestação de contas dos projetos e para a comunidade,enfim, uma bola de neve de problemas para se resolver.

3. Outro problema é referente ao transporte, sobretudo para populaçõesribeirinhas que precisam contar com atravessadores para comercializar seusprodutos. Temos feito esforços razoáveis para superar estas barreiras com ointermediário, mas é difícil, pois invariavelmente a empresa grande que vaicomprar os produtos quer escala.

4. A nossa preocupação com a biodiversidade é recente. Temos que atender asexigências da Convenção da Diversidade Biológica para trabalhar com oacesso a recursos genéticos a repartição de benefícios.

5. A gente começa a falar em escala, mas a escala também implica entravescomo a gestão do empreendimento maior e a troca de diretorias e de gruposno poder nas associações. Os consultores vão a campo prestar assessoria, masdepois de um mês troca-se a diretoria e começa tudo de novo. A questão daescala está impactada pela questão da gestão. Na parte da comercialização,para eliminar o intermediário, negocia-se diretamente com a empresa, massurge a questão de repartição de benefícios, que é um grande gargalo.

6. Outra dificuldade diz respeito a capacitando. Existem muitas frentes decapacitação e muitas vezes estas iniciativas estão desconectadas. O professorIgnacy Sachs aponta a ineficiência na soma das partes que é muito complexanos projetos pilotos. Começamos a observar um ceticismo sobre a capacidadedestes empreendimentos se qualificarem.

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Fernando Allegretti, Consultor do Balcão de Negócios - Amigos da Terra: Gostaria deresgatar o que está colocado no Plano de Ação do Agroextrativismo (PLANEX) elembrar que cada setor tem que assumir a sua má gestão. Gostaria de levantar asseguintes questões:

Temos 140 empreendimentos representados no Mercado Floresta que estão precisandode uma série de apoios e serviços para viabilizar sua comercialização. Por exemplo, opalmito é comercializado no Amapá sem agregação de valor. Isto não é erro só dogoverno e sim do conjunto todo. Desenvolveram um produto e não foi feita pesquisa demercado e não se agregou valor ao produto. Acontece muita picaretagem, porém o maiscomum é a má gestão. O que gostaria de mostrar é um pequeno cenário que o PLANEXpretende melhorar. Nossa idéia é que haja condições de levantar questões para qualificara discussão do PLANEX.

Na compra de produtos, acontecem muita picaretagem, calote e outras atrocidades.Seria o caso de montar um cadastro de picaretas que fecham negocio e não pagamdepois que recebem o produto.

Há mercados signficativos para produtos extrativistas ou ecologicamente corretos.Várias pessoas comentaram aqui na feira, dizendo "Puxa, eu quero comprar produtossustentáveis", mas quando vem um pedido de 40 mil itens, por exemplo, a comunidadenão está preparada e não tem condições de atender ou de criar capital de giro positivopara investir no ano seguinte.

As associações deveriam ter nome próprio, mas seria importante estar atento à lógica demercado e refletir sobre os nomes de fantasia. Usamos muitas siglas que não significamnada para o consumidor, não sendo apelativas para estimular a venda.

3.2 Visão Governamental

Jorg Zimmermann, Diretor de Agroextrativismo da Secretaria de Políticas para oDesenvolvimento Sustentável (SDS) do MMA. Inicio minha fala com uma perguntainsistente: "Como resolver estes problemas apresentados?" O conhecimento que existesobre o funcionamento dos mercados é insuficiente. O processo é de longo prazo. Aomeu ver, nada se resolve em menos de 10 anos. O produtor usa o recurso que recebepara se firmar como sujeito político. Não pode dar certo uma cooperativa que temobjetivo político. O problema da base social é de identidade e de afirmação. Sequisermos manter a floresta em pé, temos que pensar como vamos trabalhar com estaspessoas, enfrentando o mercado. O mais importante é que temos que entender a lógicadas pessoas para fazer este trabalho. Nem sempre a lógica dos produtores é a mesma dosassessores.

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Trabalhar com meio ambiente é complicado. A questão de escala significa avançar noprocesso de desenvolvimento das pessoas. Este é um processo que temos que aprender,com humildade. O problema é querer que as organizações desenvolvam um projetopolítico, social e econômico. O desafio é de identidade e de auto-afirmação. Não sepode querer que as mudanças ocorram em um, dois ou três anos. Mudanças ocorrem nomínimo com 10 anos. Quem recebe dinheiro vai resolver os problemas mais pontuais. Aquestão do conflito político e econômico é grande. A situação do manuseio do dinheiroé complexa.

Em segundo lugar, temos que entender que os produtos são lindos, porém supérfluos. Oque a floresta tem que não é supérfluo são os serviços ambientais. A sociedade brasileiradeve ter claro que ela tem que pagar para manter a floresta em pé. Falta política públicapara isto. Quem possui conhecimento sobre o manejo da copaíba? Precisamos dehumildade para entender que não sabemos o suficiente. Temos experiência com ProjetosDemonstrativos, mas falta um grande esforço para sistematizar o conhecimento, tantoda organização, quanto da produção. Temos que trabalhar e acreditar que isto é possível.Eu trabalho com Agricultura Familiar e já estou ficando quase desanimado, mas nãopodemos desanimar.

O MMA trabalha com o Proambiente. São mais ou menos 6 mil produtores trabalhandoum plano de uso. Estamos tentando entender a lógica do produtor familiar, mas ele, oprodutor, não trabalha com um produto, mas um conjunto de produtos. Para viabilizar aprodução familiar, temos que pagar um custo. O produtor tem o tempo dele, de algunsanos. É possível mudar, mas para políticas públicas é necessária a presença do Estado.

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4 COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS AGROEXTRATIVISTAS

Donald Sawyer: Temos um desafio grande e importante para o dia de hoje neste espaçoem que todos os que estão com a mão na massa irão dar sua opinião, fazendo umaanálise das principais dificuldades enfrentadas por quem está na base. Os problemas esoluções identificados na experiência do PPP-ECOS podem ser úteis.

O documento "Comercialização de Produtos Extrativistas: Entradas e Saídas" estábaseada na experiência do PPP-ECOS ao longo de seus 11 anos de existência, porémreflete de maneira geral os principais problemas encontrados pelos empreendimentoscomunitários que visam o uso sustentável da biodiversidade. Apresenta também, deforma sucinta e objetiva, algumas soluções práticas que poderiam ser adotadas para osproblemas listados.

4.1 Introdução

Esta apresentação, resumida em pontos, está baseada principalmente naexperiência do PPP-ECOS desde 1994 com projetos de uso sustentável dabiodiversidade no Cerrado. Identifica os principais problemas encontrados e propõesoluções práticas, tendo em vista a possibilidade de desenhar novas iniciativas parapromover a comercialização de produtos agroextrativistas com o apoio do PNUD e doMMA. Para os presentes fins, não são consideradas as experiências de agroecologia ouagricultura orgânica, embora haja muitos paralelos.

No âmbito do PPP-ECOS, as experiências mais adiantadas com produtosagroextrativistas dizem respeito a frutas nativas, flores secas, babaçu, baru, plantasmedicinais, chás, condimentos, mel de abelhas nativas e exóticas, piscicultura, criaçãode animais silvestres e artesanato. Os produtores são agricultores, assentados,quilombolas e indígenas. No futuro, esperam-se resultados com pesca, plantasornamentais e pequenos objetos de madeira, entre outros.

Na abordagem de meios de vida sustentáveis, busca-se a qualidade de vidamediante o aproveitamento do meio ambiente para a inclusão social. Ao mesmo tempo,buscam-se alternativas à destruição causada por desmatamento, monoculturas, erosão epoluição. Estes objetivos sociais e ambientais implicam alcançar escala ampla, além dasfamílias e comunidades beneficiadas, embora elas sejam o objetivo imediato.

Todos os tipos de experiência iniciados continuam gerando resultados positivos.Nenhuma alternativa foi descartada. Por outro lado, nenhuma experiência ganhou escalasuficiente para gerar impactos positivos amplos. Uma possível exceção seria a produçãopolpa de frutas, embora as fábricas existentes ainda dependam de subsídios que nãoseriam replicáveis em escala maior.

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4.2 Problemas Encontrados

Os principais problemas identificados na experiência concreta até o momentoreferem-se a:

1. Falta de escala, qualidade e regularidade. Existem mercados, mas faltamprodutos. Enquanto os compradores querem contêineres mensais, oscamponeses dificilmente conseguem produzir o suficiente para ossupermercados locais.

2. Pontualidade do impacto social ou ambiental. A produção doméstica paraauto-consumo ou consumo na comunidade contribui para sua própriasegurança alimentar e nutricional, mas os impactos são muito localizados.

3. Amadorismo na produção e comercialização. O beneficiamento dosprodutos e a interação com o mercado extra-local exigem profissionalização,não bastando a liderança social.

4. Falta de capacidade empresarial. Os pequenos produtores e suas liderançasnão costumam contar com tino comercial. Ao mesmo tempo, os movimentossociais caracterizam-se por objetivos e procedimentos pouco compatíveiscom as negociações ágeis exigidas pelo mercado.

5. Exigências de investimento. A formalização da produção e comercializaçãosegundo as normas vigentes exige investimentos em equipamentos e pessoalqualificado, o que também eleva os custos de produção.

6. Marco regulatório enviesado. As normas sanitárias, ambientais, tributáriase de categorias profissionais favorecem a produção agropecuária e industrialconvencional e sua comercialização, enquanto dificultam a produçãofamiliar.

Observa-se que, apesar das boas intenções, os projetos de cooperaçãointernacional, os consultores com compromissos sociais e ambientais, os bancos dedados montados e os planos de negócios formulados ainda não resolveram essesproblemas.

4.3 Soluções Possíveis

Com base na experiência concreta do PPP-ECOS, sugere-se que os problemasacima identificados poderiam ser superados por meio da adoção das seguintesabordagens:

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1. Sustentação mediante venda de produtos e serviços. A escassez crescentede recursos de doação, "a fundo perdido", significa que as organizaçõescomunitárias terão que se sustentar, ao menos parcialmente, por meio davenda de produtos e serviços, participando do mercado, mesmo que seja semfins lucrativos.

2. Necessidade de subsídios e incentivos. Alguns subsídios e incentivos,diretos ou indiretos, explícitos ou não, são necessários, especialmente na fasede investimento, tendo em vista a multifuncionalidade socioambiental.Podem ser governamentais ou de doação.

3. Priorização de mercados mais próximos. Deve-se buscar os mercadoslocais, regionais, nacionais e internacionais, nesta ordem. A inserção emmercados mais distantes serve para ganhar qualidade e visibilidade.

4. Busca de brechas no comércio normal. Além do comércio justo ousolidário, que pode ocupar determinados nichos significativos para ospequenos produtores, deve-se buscar a inserção no comércio convencional,em brechas maiores, para obter escala suficiente.

5. Capacitação e orientação. Os compradores devem estabelecer meios deretroalimentar os produtores com informações sobre seus procedimentos, aspercepções dos consumidores e as exigências dos reguladores.

6. Diversificação e especialização. Cada comunidade deve buscar formar umacesta de produtos, sem dispersar excessivamente, mas também sem apostardemais em um ou dois produtos.

7. Organização de produtores. A organização social dos produtores éessencial para maior poder de barganha na negociação com compradores epara o controle social.

8. Negociação coletiva com apoio externo. As organizações sociais locaisdevem buscar apoio externo de organizações que tenham maior poder debarganha com os compradores.

9. Reconhecimento de vantagens mútuas. Os compradores devem reconheceras vantagens competitivas de oferecer produtos agroextrativistas aosconsumidores, sem dar a entender que estão fazendo filantropia.

10. Organização de compradores. A organização dos compradores, aderindo aprincípios éticos e de sustentabilidade, seria importante para garantir ocontrole social empresarial.

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11. Isenções para produtos artesanais. Os produtos familiares em pequenaescala, com originalidade, devem ser isentos de regulamentos aplicáveis paraa produção e comercialização em grande escala.

4.4 Conclusões

Uma nova iniciativa de promover a comercialização de produtos florestais nãomadeireiros ou agroextrativistas deve estar mais voltada para a realidade doscamponeses que a renda dos consultores. Deve ser menos voluntarista e mais baseadano funcionamento do mercado, sem abrir mão dos objetivos socioambientais.Percebe-se que nenhuma das partes envolvidas é capaz de resolver o problemaisoladamente. Além da intersetorialidade, a transversalidade dentro de cada setor éfundamental.

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5 PLANO DE AÇÃO DO AGROEXTRATIVISMO - PLANEX

Donald Sawyer: O PLANEX é uma minuta, um esqueleto, para termos algo positivopara discutir. Nos grupos de trabalho, todos terão oportunidade de se manifestar. Osgrupos terão um relator e um moderador para sistematizar as principais idéias do grupo.Nossa idéia é saber o que está acontecendo lá na base, nas diversas regiões do Brasil,para termos uma proposta mais completa.

Esperamos que o PLANEX possa ser um proposta do Brasil para outros países emdesenvolvimento. Queremos frisar a questão do uso sustentável dentro da estratégia deconservação da biodiversidade, indo além das unidades de conservação, que são peçasimprescindíveis, porém não suficientes para manter as funções ecossistêmicas de água,biodiversidade e clima com escala. Podem contribuir para a distribuição espacial dabiodiversidade, os ciclos hídrológicos interrregionais e internacionais e a estocagem decarbono, em vez de emitir gases de efeito estufa. Para viabilizar isto, existempossibilidades interessantes, mas também diversas barreiras para identificar e superar.

5.1 Introdução

Este documento oferece um esboço de uma proposta brasileira para um Plano deAção do Extrativismo. Espera-se que sucessivas versões possam ser discutidas erevisadas em diversas instâncias nacionais e internacionais. Uma versão futura do planopoderia ser adotada globalmente como Wild Collection Action Plan (WCAP), ainda quenão tenha aprovação formal por instâncias inter-governamentais.

O escopo do plano abrange o uso dos recursos naturais vivos por comunidadeslocais. Restringe-se à produção familiar ou comunitária, incluindo populaçõestradicionais e indígenas e agricultores familiares dentro ou fora de assentamentos dareforma agrária e unidades de conservação de uso sustentável. Seguindo o formato daAgenda 21 e outros planos de ação das Nações Unidas, o documento está dividido empartes referentes a bases para ação, objetivos e ações.

5.2 Bases para Ação

5.2.1 Extrativismo no Passado, Presente e Futuro

5.2.1.1 As atividades tradicionais possuem longa história, desde a pré-história atémomentos de grande importância econômica nacional e mundial, como nos casos daborracha, da castanha e do mate.

5.2.1.2 As atividades extrativistas continuam importantes em algumas regiões e,sobretudo, entre comunidades locais em áreas rurais, ainda que de forma complementaràs atividades agrícolas.

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5.2.1.3 No mundo contemporâneo, o extrativismo costuma estar combinado comagricultura e outras atividades, tanto que muitas vezes se denomina “agroextrativismo”.

5.2.1.4 As transformações econômicas na agricultura, indústria e serviços substituemparcialmente o extrativismo, mas não o eliminam. Mesmo em países industrializados, oextrativismo e o uso de recursos naturais vivos têm importância econômica.

5.2.1.5 Quando não pressionados, os grupos indígenas praticam o uso sustentável dosrecursos naturais vivos em grandes extensões.

5.2.1.6 As atividades extrativistas contribuem para a segurança alimentar e nutricionalde comunidades locais.

5.2.1.7 As principais atividades extrativistas que combinam uso sustentável com ageração de renda monetária e não monetária incluem frutos nativos, plantas medicinais,artesanato, caça e pesca.

5.2.1.8 Atividades como a produção de mel, mesmo com espécies de abelha exóticas,envolvem o uso sustentável da biodiversidade, enquadrando-se como extrativismoindireto.

5.2.2 Gestão

5.2.2.1 Há uma fragilidade administrativo-financeira na maioria dos empreendimentoscomunitários, em parte decorrente da pouca experiência dos seus dirigentes. Porconseqüência, nem sempre o sucesso do empreendimento comunitário significa melhorana qualidade de vida da comunidade local.

5.2.2.2 Empreendimentos comunitários apresentam grandes dificuldades internas norelacionamento com o mundo empresarial e enfrentam também muitos preconceitos porparte de terceiros.

5.2.2.3 As deficiências dos empreendimentos comunitários precisam ser urgentementerevistas pelos dirigentes, organizações de apoio e órgãos governamentais.

5.2.2.4 A industrialização de produtos extrativistas no local de extração ou em vilaspróximas agrega valor ao produto e melhora a renda de todos envolvidos no processo.

5.2.2.5 Em determinadas situações, empresas pagam valores muito acima do mercadopara determinados produtos extrativistas, prática não sustentável e pouco recomendável.

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5.2.3 Mercados

5.2.3.1 No mundo contemporâneo, existem espaços em que o extrativismo apresentavantagens, bem como nichos significativos nos mercados consumidores.

5.2.3.2 Para a maioria dos produtos extrativistas, há mais pontos de estrangulamentona oferta organizada dos produtos extrativistas do que na demanda.

5.2.3.3 Há um desconhecimento muito grande por parte do mercado sobre o que sãoprodutos extrativistas e sobre a diversidade de sua oferta real e potencial.

5.2.3.4 Para atingir mercados mais amplos, a grande maioria dos produtos extrativistasnecessita (e merece pela sua qualidade) ser mais bem embalada e processada.

5.2.3.5 De maneira crescente, empresas nacionais e estrangeiras vêm comprando ativosextrativistas para serem usados em produtos industriais de alto valor agregado. Muitasdessas empresas optam pela criação de um fundo proveniente de um percentual dasvendas do produto final.

5.2.3.6 O acesso ao mercado de determinado produto extrativista pode por um ladocausar desequilíbrio ecológico, mas por outro pode melhorar a renda do produtor econstituir alternativa ao desmatamento.

5.2.3.7 Há uma crescente “oportunismo ecológico” no mercado praticada por empresas,indivíduos ou instituições que dizem comercializar produtos ecologicamente corretos esocialmente justos.

5.2.4 Políticas Públicas

5.2.4.1 A Convenção de Diversidade Biológica (CDB) possui como um de seus trêspilares a utilização sustentável da biodiversidade, mas esta abordagem tem sido relegadaa um segundo plano.

5.2.4.2 A Declaração de Amman constitui uma referência global.

5.2.4.3 As Reservas Extrativistas e as Reservas de Desenvolvimento Sustentávelprevistas na legislação brasileira são áreas protegidas que combinam o extrativismo coma conservação.

5.2.4.4 No Brasil, programas que promovem o extrativismo sustentável incluem osProjetos Demonstrativos (PDA) do Programa Piloto para Proteção das FlorestasTropicais do Brasil, o Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-ECOS) e aCoordenadoria de Agroextrativismo do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

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5.2.4.5 O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) promove o extrativismosustentável no contexto da agricultura familiar.

5.3 Objetivos

5.3.1 O objetivo geral é viabilizar e consolidar uma forma de desenvolvimentosustentável de baixo custo com benefícios sociais e ambientais amplos.

5.3.2 Os objetivos específicos são:

a) Segurança alimentar e nutricional e meios de vida sustentáveis paracomunidades locais;

b) Permanência no campo e nos pequenos núcleos urbanos de famílias, idosos ejovens, de forma digna;

c) Acesso aberto a mercados, sem exclusão;

d) Redução de importações e estímulo às exportações;

e) Conservação de paisagens e ecossistemas fora de unidades de conservação,com convivência harmônica entre comunidades e natureza;

f) Melhoria da gestão dos empreendimentos comunitários;

g) Melhoria do acesso ao mercado dos produtos sustentáveis.

5.4 Ações

5.4.1 Análise abrangente de custos e benefícios ambientais, econômicos e sociais doextrativismo, especialmente em países e regiões menos desenvolvidos.

5.4.2 Revisão do marco regulatório sanitário para que sejam atingidos os objetivos desteplano.

5.4.3 Revisão do marco regulatório ambiental para que sejam atingidos os objetivosdeste plano.

5.4.4 Revisão do marco regulatório fiscal para que sejam atingidos os objetivos desteplano.

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5.4.5 Certificação apropriada, com modelos diferenciados, desde equivalência compadrões internacionais, até a certificação participativa local.

5.4.6 Desenvolvimento tecnológico apropriado.

5.4.7 Assistência técnica adequada.

5.4.8 Conscientização sobre as diversas funções do extrativismo.

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6 PRINCIPAIS DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA SUA SUPERAÇÃO

Os participantes foram divididos entre quatro grupos de trabalho temáticos coordenadospor entidades do Cerrado e da Caatinga para discutir a experiência concreta de cadaentidade presente em relação aos seguintes temas: 1) Marketing (Cooperativa GrandeSertão, Minas Gerais), 2) Escala (ASSEMA, Maranhão), 3) Relação com Mercados(Fruta Sã, Maranhão), 4) Relação Assessoria-Comunidade (APA-TO, Tocantins).

Cada participante escolheu o grupo em que queria participar. A sugestão era de quemembros da mesma entidade ficassem em grupos separados. Cada grupo ouviu aapresentação de uma experiência e depois a discussão foi aberta. O grupo deverialevantar os gargalos principais, como estão sendo superados e quais as alternativas esoluções, para apresentação e discussão em plenária.

6.1 Resultados do GT sobre Marketing

A Cooperativa Grande Sertão, de Montes Claros, Minas Gerais, ficou como referênciano grupo, que viu várias experiências e grandes dificuldades. Não há nenhumaexperiência que possa ser referencia para todos e as dificuldades de um não são detodos. Cada entidade tem um processo de aprendizado diferente para superar assoluções.

Para começar, a inquietação norteadora foi: Como tornar visível que estes produtos daagricultura ecológica sejam percebidos pelas outras pessoas da localidade e de outrasregiões como diferente? Como dar visibilidade aos processos que sejam de ordemnatural pela coleta e pela produção agroecológica? Como dar visibilidade aos processosespecíficos de produzir e comercializar? Como promover o trabalho das mulheres,valorizar o trabalho dos jovens, não explorar os idosos e aproveitar seu conhecimento?Tudo isto é muito importante e não temos muitas soluções prontas.

Podemos citar o exemplo de Conceição das Crioulas. O pessoal da comunidade, além defazer bonequinhas, decidiu fazer uma pequena cartilha que conta a história de dezpersonalidades da comunidade para acompanhar os produtos. Assim, as pessoas passama conhecer a historia daquela comunidade.

A questão de comunicação deve estar sempre vinculada às tradiçõeslocais. Precisamos encontrar outra forma de comunicação além da comunicação demassa. O material impresso, as oficinas e as palestras devem estar sempre vinculadas àstradições locais, dando visibilidade a estes processos a partir de todos os meios decomunicação que chegam nos locais.

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Compromisso com o consumidor no campo da ética. Temos experiência de umaorganização no Semiárido que ia à cidade e levava as pessoas da cidade para passar umdia na roça e conhecer a rotina e ver o processo de produção, beneficiamento eintegração da comunidade. Estas pessoas se tornaram clientes fiéis. Também tinham umpontinho na cidade e criou-se um conjunto de cooperação e cumplicidade em torno dosprodutos madeireiros e não madeireiros.

Dar mais visibilidade aos biomas Caatinga e Cerrado. No Mercado Floresta opúblico nem sempre percebia se aquele companheiro ou companheira eram de umbioma e de outro. Terminava passando como mais uma pessoa, mais uma experiência,não havia um folder destacando as diferenças. Estes biomas são tidos como os maispobres, os primos pobres. Quem é do Cerrado é "cerradeiro" e quem é da Caatinga é"catingueiro". Precisamos nós mesmos reafirmar nossa identidade cultural e cidadã.

Atrair profissionais da comunicação e marketing. As organizações têm dificuldadesde contratar estes tipos de profissionais. Vivemos no improviso e vamos quebrando ogalho. Por que a gente não provoca as escolas de marketing para criar prêmios emobilizar as competências para produzir materiais que dialogam com a comunidade? Irlá para a floresta para ver tudo o que está relacionado com este produto. Se vou produzirmaterial para o pequi, tenho que ir lá pra ver todo o processo. Poder-se-ia produzir umaespécie de campanha para incentivar que os profissionais se aproximem da nossarealidade, dando prêmios. Temos experiências bastante interessantes. O material deConceição das Crioulas contou com parceria do pessoal da Universidade Federal dePernambuco (UFPe).

Pesquisa de mercado permanente. A pesquisa de mercado deve ser articulada olhandoos mercados locais e globais, mas com muita atenção a mercados prioritários eestratégicos.

Definir claramente quais mercados são prioritários e estratégicos. Os mercadosmais pertinentes podem ser a merenda escolar, feiras livres, exposições, feiras regionaise até romarias.

Promover intercâmbios de experiências. Não se deve perder a dimensão do insucesso,lembrando que empreendimentos desenvolvem-se seguindo estágios.

Obter recursos. Recursos são necessários para a materialização e sua mobilizaçãoexige a execução de uma estratégia de comunicação.

Uso de rádios comunitárias. Deve-se negociar espaços nestes importantes veículospara divulgar os produtos e os serviços das comunidades.

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6.2 Resultados do GT sobre Escala

Problemas:

Babaçu: acesso ao recurso; Crescimento da escala x capacidade de produção; Organização social/gestão da produção;

Produtos pouco conhecidos;

Custos logísticos e a conservação ambiental; Proteção intelectual da produção, evitando a sobreposição de processos

produtivos conflitantes. Soluções:

Planejar a produção;

Pagamentos dos serviços ambientais prestados;

Garantir o suporte do ecossistema (sustentabilidade);

Escala suficiente para viabilizar o empreendimento;

Setorização da industrialização;

Lei do Babaçu Livre;

Buscar inserção nos diferentes mercados;

Arranjos produtivos: diversificação da produção;

Padrão de qualidade e constância na produção;

Aproveitamento das estruturas comunitárias ociosas;

PAA/CONAB: compras institucionais;

Geração de tecnologias;

Desenvolvimento e divulgação de produtos.

6.3 Resultados do GT sobre Relação com Mercados

Problemas:

Problema de rotatividade dos responsáveis pela gestão;

Controle de custos;

Certificação orgânica não agrega tanto valor quanto se espera;

Ética no preço final (justiça/repartição).

Soluções:

Políticas públicas para o agroextrativismo;

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Divulgação de experiências e produtos;

Tributação diferenciada;

Estimular o envolvimento de jovens na gestão;

Alcançar mercados diferenciados;

Articular e pensar critérios para Comércio Justo;

Diversificação da produção;

Fortalecer redes de comercialização;

Alcançar mercados diferenciados (mercado justo).

6.4 Resultados do GT sobre Relação Assessoria-Comunidade

Problemas:

Garantir continuidade das assessorias.

Soluções:

Assegurar uma lógica de assessoramento que permita um processo de extensão

para utilização sustentável da biodiversidade;

Investimento em capacitação e formação para gestão;

Abrir as entidades para as famílias;

Desenvolver metodologia interativa e facilitadora de gestão e administração

para famílias agricultoras e associações;

Formar lideranças por meio de metodologias interativas e facilitadoras;

Repartição de responsabilidades: co-gestão entre técnicos e comunidade;

Investimento em assessoria;

Os editais governamentais devem se apropriar às realidades de elaboração e

execução dos proponentes;

Conhecer e participar da discussão da União Nacional das Cooperativas de

Agricultura Familiar e Economia Solidária (UNICAFES) sobre ATER;

Educação agroecológica e contextualizada: formal e não-formal, porém

integrada.

Intensificar e ampliar o debate sobre concepção e atuação da ATER entre

governo federal e organizações da sociedade civil;

Os editais considerar e potencializar as iniciativas locais já existentes;

Intervir e participar da formulação dos editais do Fundo Nacional do Meio

Ambiente (FNMA) e da demanda espontânea;

Ajuste no processo de repasse de recursos do governo a ONGs.

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7 COMPRA INSTITUCIONAL DE PRODUTOS REGIONAIS: O CASO DA CONAB

Donald Sawyer: A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) do Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) oferece uma alternativaimportante para a comercialização dos produtos da agricultura familiar,principalmente a compra institucional para a merenda escolar. Constitui umaoportunidade muito importante.

Silvio Porto, CONAB: Gostaria de iniciar dizendo que o papel dos movimentossociais é crucial para a formatação e manutenção ou não de uma política pública.Este tem sido o maior dilema para tentar colocar esta problematização no centro daspreocupações. O tema da comercialização sempre aparece, mas nunca comocentralidade. Sempre aparecem o crédito, o seguro agrícola e a assistência técnica.Somente este ano conseguimos colocar com mais firmeza o tema dacomercialização.

Conseguimos um grande avanço neste tema com o Programa de Aquisição deAlimentos da Agricultura Familiar (PAA). O PRONAF conseguiu se arraigar e éimportante destacar que o PAA ainda é um programa e não uma política de governo.Ele pode passar a ser uma política de acordo com o tamanho da dimensão que eletiver para a sociedade. Isto depende de mobilização e de organização dosagricultores.

A lógica do PAA foi fruto de uma discussão que começamos em 2003 dentro doConselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) emarticulação com os movimentos sociais. Foi proposta uma articulação dentro doPlano Safra que, além de discutir as regras, também discutiria a estratégia do PAA.

Os produtos regionais têm uma presença muito pequena, mas temos grandes esignificativas inovações. Quebramos o paradigma da compra por licitação epodemos ajustar o preço às diferentes realidades regionais (estado ou regiãoadministrativa). Isto permitiu que criássemos diferentes instrumentos. A lógica é oenfoque da soberania alimentar.

Foi solicitado ao Sílvio que explicasse o passo a passo do PAA. O que é necessárioentendermos: 1) ser produto alimentício; 2) estar restrita à agricultura familiar, i.e.PRONAF; 3) limitado a uma proposta de ate R$ 2.500 reais ao ano/agricultor; 4) tero respaldo de algum conselho municipal para dar o aval. No manual de operação,que pode ser consultado no site www.conab.gov.br, os títulos 27 a 31 esclarecemtudo sobre agricultura familiar. A discussão do preço é onde geralmente a questãopega.

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Um participante disse que tem várias dificuldades com o formulário. Sistematizeestas dificuldades que vocês encontraram com o formulário e enviem para o MDApara ajudá-los a ir melhorando o formulário. Sobre as Declarações de Aptidão doPRONAF (DAPs), quem define quem pode dar estas declarações é a SAF. Se háquestionamentos, o ideal é discutir com a SAF. Quanto à realização de oficinas ecapacitação para elaborar as propostas, temos feito oficinas de capacitação paraelaboração de projetos e podemos capacitar quanto ao passo a passo. Isto éfundamental. Temos sete linhas de capacitação.

Foi perguntado se a CONAB está interagindo com outros ministérios, por exemploo Ministério da Saúde, para comprar insumos para fitoterápicos, saúde, etc.Interagimos com o Ministério da Fazenda, MDA, MAPA, Ministério doPlanejamento e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),que coordena o programa. O programa é de aquisição de alimentos. Nem osfitoterápicos, nem o artesanato se enquadram. Seria necessária uma pauta políticapara mudar a legislação e permitir a ampliação do programa.

Como se faz compra sem licitação? A compra se dá em nível local. Temos que saberquem são os agricultores, o que produzem, o preço, etc. Na outra ponta, precisamossaber quais são as entidades que vão receber, o que vão receber e quais asquantidades.

Sobre a possibilidade de ser associação ou cooperativa como proponente, o maisimportante é que a organização esteja minimamente regularizada, com acontabilidade em dia e a gestão bem feita. Isto é o mínimo para indicar a capacidadede gestão de recursos públicos. A organização deve representar o conjunto daagricultura familiar. O homem ou mulher deve ter a declaração de que está apto aacessar o recurso do PRONAF A ou B. Apoiamos a compra de até 2.500 reais porfamília por ano. Pode parecer pouco, mas significa grandes avanços.

Queremos dialogar com outro programa do governo federal, o programa daalimentação escolar que está consolidado. Estamos começando processos naParaíba, Rio Grande do Sul e Minas Gerais e queremos avançar bastante no ano quevem junto com os movimentos sociais e o programa Fome Zero. Para o ano quevem, o MDA terá mais um aporte de recursos para este programa.

Do ano passado pra cá, houve uma recomposição de valores para o fortalecimentoda agricultura familiar. O PAA é um instrumento de apoio às iniciativascomunitárias. Ele foi pensado para o contexto nacional e seus instrumentospermitem que seja implementado nos diversos contextos nacionais e regionais.Assim, a gente vai puxando outros atores que no passado até atrapalhavam oprocesso. A Cooperativa Grande Sertão de Montes Claros dizia que tinha a maiordificuldade para fazer interlocução com a prefeitura, pois eram vistos comooposição. Hoje, pelo fato de estarmos colocando nossos produtos nas escolas,

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somos procurados pelo prefeito dizendo que quer dialogar conosco naimplementação do programa. As relações políticas começam a se dar de formadiferenciada. Um total de 1 bilhão e 800 reais é o que é repassado para as escolas.

Quando se fala em gestão, quero enfatizar também a gestão democrática, não só agestão burocrática. O processo concentrado nas mãos de um grupo pequeno depessoas tem mostrado que contribui para o processo de apropriação inadequada dorecurso. É fundamental entender a lógica distinta do empreendimento socialcomparado com uma empresa. As lógicas são outras. Nisto se inclui a questão darepartição de benefícios. Fiquem atentos quanto a isto. Discutir biodiversidade dizrespeito a uma questão política ideológica.

Quanto aos impostos, o mais pesado e o mais estratégico é o Imposto sobreCirculação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A questão de escala é processual.Tem que se atentar primeiro para a lógica local. É muito bom quando começa comuma feira e depois vai crescendo gradualmente. Sou muito crítico quanto a estaquestão do "mercado justo". Temos que democratizar o acesso ao mercado, que nãoé apenas um nicho.

Para finalizar, temos um instrumento que chamamos de Compra Antecipada dosProdutos da Agricultura Familiar. Depositamos o recurso antecipadamente aoagricultor e o recurso vai sendo movimentado/liberado na medida em que osprodutos são entregues. Isto é para dar segurança ao agricultor. Temos também umacompra antecipada para a formação de estoque.

As associações podem ser proponentes ao PAA? No Tocantins temos muitadificuldade quanto a isto no que se refere ao mel. Podem, sim! Isto é um problemaque temos que enfrentar, mas as associações têm que estar regularizadas, em dia noSistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores (SICAF), com todas ascertidões negativas, e tem que estar certificadas. No momento de comprovar avenda, vai ser emitida a nota individual de cada agricultor. Pode ser nota fiscalavulsa ou de bloco até chegar ao valor total do conjunto da proposta apresentadapela associação.

Na próxima semana estarei em uma reunião com o Superintendente da CONAB doTocantins e vou solicitar para que ele fique atento a esta questão. O fato é que aorganização social deve estar devidamente regularizada. Temos evitado ao máximoa invenção de associações só para acessarem o programa. Nós exigimos que sejapessoa jurídica. Obviamente, uma associação precisa cumprir obrigações tais comodeclaração de imposto de renda, como qualquer organização jurídica. Para operarcom recurso público, precisa ter a documentação que demonstre maturidadeorganizativa.

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Dizer se é associativismo ou cooperativismo é uma discussão ideológica. Qualquerorganização social precisa ter o mínimo de cuidado de manter sua contabilidade emdia. Gerir recursos públicos é muito sério. Temos projetos que variam de 10 mil amais de um milhão de reais. Já operamos cerca de 280 milhões de reais em menosde dois anos e meio. Destes 300 milhões de reais, temos somente umainadimplência. Não temos nenhum caso de desvio de recursos públicos. Osproblemas são de compra em forma de custeio. Há todo um processo de controlesocial, de empoderamento e de cuidado, que é fundamental para a boa aplicação dorecurso público.

O pessoal quer vender para a CONAB ao preço que vende na feira. Aqui a lógica éoutra e a negociação tem que ser diferente. Uma coisa é vender um litro de pequi nafeira a R$ 16,00 e outra coisa é vender 4.000 litros. Se nós não comprarmos, nãotem mercado. Obviamente a escala da feira é diferente da escala de atacado. Esta é amaior dificuldade que temos.

Ser ecológico é bonito dizer, mas temos que saber como ele foi produzido, comquais relações sociais. Discutimos isto no momento da negociação. A nossa lógica écertificação participativa. Nossos programas têm certificação formal, mas aceitamosa certificação participativa. Quanto ao mel ecológico, o difícil é a rastreabilidadedesta abelha. Obrigado a todos e parabéns pela iniciativa.

Valda Aroucha: Queria ilustrar um pouco a definição do que é produto orgânico ouagroecológico: Em Petrolina tem uma uva que é chamada uva orgânica, entretantoexploram a mulher, que passa mais de oito horas colhendo uva, tendo que comer empé.

Aparecida: Já estamos no final da conferência e estou muito animada depois deouvir esta parte da CONAB, mas me veio uma preocupação. Ouvi uma pessoacolocando um problema inerente às organizações de base. As associações têmproblemas com declaração de imposto de renda, com certidão negativa. Estáencerrando seminário e não estou percebendo que saiu algum encaminhamentosobre esta situação. Conheço algumas associações que têm muitos problemas nestaárea. É preciso se fazer alguma coisa. A comunidade onde moro tem 10 associaçõesde trabalhadores rurais. Este problema é nacional. Existem nas associações de basegrandes problemas com registros que precisam ser resolvidos para que acomunidade possa pleitear recursos. Em algumas reuniões nós já conversamos parabuscar parcerias com o governo federal para resolver isto. Não sei se seria perdão dadívida, mas temos que pensar como solucionar isto. A associação sozinha que vivede pequenas contribuições não tem condições de resolver tudo sozinha. Temos quedialogar com a Receita Federal, governo e não sei mais quem. Pensamos emdialogar com algum advogado para resolver isto.

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8 INTERAÇÃO ENTRE COMUNIDADES E EMPRESAS: O CASO DA NATURA

Donald Sawyer: A empresa Natura destaca-se pelo trabalho social e ambiental noquadro de uma empresa que abriu seu capital no ano passado e agora teminvestidores. É uma empresa que está dando certo em termos comerciais e que fazquestão de trabalhar com comunidades e meio ambiente dentro da legalidade.

Nelmara Armex, Natura: O enfoque do trabalho na Natura, especialmente junto àscomunidades, é sustentado em três pilares: a) a questão do trabalho infantil; b) aquestão do trabalho da mulher; c) a questão ética entre a Natura e a organização noprocesso de produção e negociação.

A questão do trabalho infantil é muito séria. A Natura observa atentamente comvisitas periódicas como as comunidades encaram e conduzem esta questão. Norelacionamento da Natura com a comunidade, todos os acordos devem serregistrados. Para a Natura é muito importante, também, que a organização tenha omáximo de transparência na gestão do empreendimento. Uma relação de parceriaprecisa de clareza e transparência entre ambas as partes.

Quanto à valorização e visualização do trabalho desenvolvido pela mulher, gostariade lembrar de um episódio que ocorreu com as mulheres indígenas do Mato Grosso,onde a diretoria se reuniu no local para decidir se fariam parceria no inicio da linhaEkos. O diretor da Natura estava em uma reunião em Mato Grosso com os indígenase o Instituto Socioambiental (ISA). Estavam todos aprendendo juntos sobre comoseria o processo de parceria. De repente, as mulheres chegaram bravas eperguntaram porque eles estavam negociando com os homens se eram as mulheresque estavam no processo produtivo. Houve um bate boca e uma das mulheres deuuma flechada que quase acertou o diretor da Natura, Guilherme Leal. Esta situação,que parece hilária, engraçada, deu o pontapé para que a Natura ficasse atenta àsrelações de gênero e, sobretudo, da participação da mulher nas decisões. A situaçãoda mulher na negociação e na chefia do processo produtivo é muito mal tratada.Geralmente recebemos os homens para a reunião e não percebemos que as mulheresnão estão participando, o que é estranho. As mulheres participam das principaisfases da cadeia produtiva, mas no entanto quem tem o poder da negociação é o chefemesmo.

Temos um problema sério de gênero quando os homens estão com o poder dedecisão e negociação. Quando incentivamos a participação das mulheres nasreuniões, elas aparecem. Por outro lado, tem comunidades em que só as mulheresparticipam. Você só fala com mulher. Esta questão da escala tem que ser pensadacom carinho. Ela tem que se dar de forma gradual, de acordo com a capacidade dogrupo de ir aprendendo, inclusive a gerir o empreendimento.

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9 PLENÁRIA FINAL E ENCAMINHAMENTOS

Donald Sawyer: Gostaria de parabenizar a todos pelo "pique" de estarem atentos eparticipando ativamente depois de um longo dia de trabalho. Faço algumasconsiderações para finalizar nosso seminário.

Não estamos encerrando para sempre esta discussão. Com certeza iremos continuar.O que percebi de grande novidade, com relação a outras discussões anteriores, é queforam colocadas questões de nível global que dizem respeito à repartição debenefícios e a serviços ambientais.

Gostaria de comentar que tem um certo risco de cobrar por serviços ambientais pelaagricultura familiar porque, objetivamente, para colocar de forma provocativa,ninguém presta mais serviços ambientais do que o latifúndio improdutivo.Preferimos portanto dizer serviços "socioambientais", para que tenha estaqualificação social, e vá além de biodiversidade, carbono e água. Desta forma, olatifúndio improdutivo não poderia reivindicar este pagamento. Mesmo para aagricultura familiar, temos que ver quem vai pagar a conta, que é grande se não forapenas para alguns poucos projetos.

Queria observar que tem algumas correlações interessantes entre serviço ambiental erepartição de benefícios. Os dois exigem escala e precisamos ver a relação custo-benefício. Se alguém vai pagar esta conta, deve analisar quanto custa e qual obeneficio que vai gerar.

Na minha opinião, não vão pagar muito dinheiro para organizações que gerambenefícios pontuais para apenas 10 famílias ou 10 hectares. Vão querer impactossociais e ambientais amplos. Querem saber qual o benefício social, quantas famíliasestão sendo beneficiadas, qual a renda gerada. Estamos trabalhando cada vez maiscom indicadores de impacto de forma mais ampla.

Cabe mais uma observação com relação a serviços ambientais ou socioambientais.Em um evento no Acre, foi dito que "O produtor quer produzir. Não quer receberpara ficar deitado na rede." Não estamos dizendo que os produtores não devem sercompensados de alguma foram por serviços que estão prestando, mas temos que noslembrar de sua auto-estima.

Parece que identificamos muitos problemas e algumas possibilidades. Pediria queolhássemos com cuidado quais são os riscos envolvidos para evitar cair emarmadilhas. Ontem e hoje conseguimos mostrar o lado não madeireiro do MercadoFloresta neste seminário. Estamos trabalhando com produtos não madeireiros eserviços da floresta e de outras paisagens não florestais. Talvez seja inédita apresença do Cerrado e da Caatinga, "os primos pobres", que tem floresta, mas nãosão exatamente florestas como a Amazônia e a Mata Atlântica.

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Eu gostaria de agradecer aos parceiros da ONG Amigos da Terra que nos propiciou aoportunidade de estarmos no centro econômico do país chamando a atenção paraestes problemas. Gostaria de agradecer a ONG A Casa Verde, que está executandoeste projeto do PPP-ECOS para viabilizar o seminário. Agradecemos o MDA, quetambém apoiou o deslocamento de alguns participantes, e o empenho pessoal deDivani Souza, que está relatando o evento. Agradecemos especialmente o pessoaldas comunidades e das organizações. Espero que tenham fechado negócios.

Queremos publicar estes resultados. Estamos gravando para ter tudo registrado.Acho inclusive que vale a pena publicar em inglês para fazer uma divulgação maisampla. Reforço que gostaríamos de receber contribuições ao evento. Não somosuma instância política, mas podemos ajudar a implementar alguma proposta. Onosso PLANEX será uma contribuição brasileira significativa à discussão global eirá gerar algo positivo para outros países, pelo menos os países em desenvolvimentocomo o Brasil.

Fiquei muito impressionado com a química desta interação entre os biomas e entreos grupos e a assessoria. Tudo foi muito positivo e gratificante. Obrigado a todos evamos manter contato.

Valda Aroucha: Estou feliz pelo destaque dado à Caatinga, que tem uma floresta demuitas riquezas endêmicas. Temos que reconhecer e disseminar cada vez mais estarealidade. Nossas florestas são belas, com suas próprias características, tanto quantono Cerrado.

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BIBLIOGRAFIA

A bibliografia listada a seguir inclui referências a produção anterior e posterior àrealização do evento Mercado Floresta em 2005, mas dizem respeito a gestão, mercadose políticas públicas para produtos sustentáveis da biodiversidade brasileira.

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