producao_de_cultura_no_brasil.pdf

Upload: joao-ferreira-junior

Post on 04-Jun-2018

236 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    1/152

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    2/152

    Produo de cultura no Brasil:da Tropiclia aos Pontos de Cultura

    2 edio

    Aline Carvalho

    Rio de Janeiro, 2009

    luminriaacademia

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    3/152

    Editora MultifocoSimmer & Amorim Edio e Comunicao Ltda.

    Av. Mem de S, 126 LapaRio de Janeiro RJCEP 22.230-152

    RKemla Baptista

    CLuiza Romar

    ComposioRenato Tomaz

    Produo de cultura no Brasil: da Tropiclia aos Pontos de Cultura 2 Edio Junho de 2009CARVALHO, AlineISBN: 978-85-60620-61-6

    Esta obra est sob a Licena Creative Commons Atribuio-Uso no comercial 3.0Brasil. Voc pode copiar, distribuir, retransmitir e criar obras derivadas, creditandoa obra original ao autor e no podendo us-la para ns comerciais. Para qualquerreutilizao ou distribuio, voc deve deixar claro a terceiros os termos da licena aque se encontra submetida esta obra. Mais informaes sobre esta licena pode serencontrada em http://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/br/.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    4/152

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    5/152

    Sem tenses, livre e com sabedoria, comando a sementei

    de minha realizao 18 de dezembro de 2008

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    6/152

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    7/152

    7

    SEJA MA GINAL, SEJA MIDITICO

    Es a pgina de agradecimen os provavelmen e sair maiordo que deveria e, ao mesmo empo, menor do que merecia. Mui-

    as pessoas deixaram um pouquinho de si impresso nes e rabalho, embora alvez nem aam idia.

    Em primeiro lugar no posso deixar de agradecer a oda a

    minha amlia, que, se h qua ro anos a rs orceram o nariz (que Es udos de Mdia?), hoje, ainda que no enham a resposa, cer amen e es o mui o orgulhosos. Principalmen e a min

    me Sheyla e minha irm Daniele, pela pacincia inni a. Agradeo ambm a Marildo Jos Nercolini que alm de

    um excelen e orien ador oi amigo e grande incen ivador das mnhas idias desvendando ps e cabeas quando elas mui as ve-

    zes no inham. A Miguel Freire, grande cinemanovis a que ivo prazer de er como pro essor, amigo e orien ador para vidaagradeo pelos sbios conselhos, caronas e lanches vege arianos A Ana Enne, sobre quem poderia escrever uma monograa in-

    eira, apenas o maior e mais sinceromuito obrigada por tudo (sporque enho por ela um apreo imenso). Alm disso, agradeoa A onso de Albuquerque e o dia em que eve a brilhan e idia dcriar es e curso, e odos os pro essores e pro essoras que comprram a idia com an o carinho e disposio. Parabns ambm

    urma de Comunicao Ins i ucional, que realizou a orma umais midi ica que o IACS poderia er; e, claro, aos inesquecveis companheiros da primeira turma de Estudos de Mdia da Amrica Latina.

    Deixo aqui ambm uma enorme lembrana de agradeci-men o para Bianca ihan, pela bela suges o de mandar o expara a Mul i oco; Clarissa Nanchery e Gabi aposo, prova maiorde que as raudes uncionam; Carol Spork, Daiane amos, ena

    eder e iago ubini pela assessoria; Jolio Ba is a, grande o

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    8/152

    8

    gra o; Luiza omar pelo carinho e pela bela capa; Nicolas odri-gues, por ermos jun os descober o a paixo pela ropiclia; LiaBahia, pelas por as aber as e o sorriso de olhos echados; a aelSoriano e os dias de sol e produo; Fellipe ed e as conversassobre o movimen o es udan il, cul ura e CPC; Chico Sarubi por

    oda a conana deposi ada e oda a amlia mui o doida quemora no meu corao; para a equipe da Coordenao de Diversi-dade Cul ural da SEC por azerem os dias no servio pblico vale-rem a pena; para as pessoas envolvidas na cons ruo do Enecom

    io, que oi de erminan e para os rumos do ano de 2008 e des erabalho; Nara Gil pela ora; Kemla Bap is a, revisora, produ-ora e amiga graas a seu olhar de virginiana; ose, com quem os

    papos renderam grandes ru os; e para odas as pessoas incrveisque passaram pela minha vida ao longo des es anos, cujos nomesno preciso nem ci ar pois sabem que azem hoje par e de mim.

    Alm disso no posso deixar de agradecer ao Google, essa

    incrvel nova ecnologia da comunicao sem o qual es e raba-lho e, na verdade, odo o percurso acadmico no eriam sidoos mesmos.

    Obrigada, Deus por er chegado a aqui e ver que aindaem mui o mais pela ren e.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    9/152

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    10/152

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    11/152

    11

    SUM IO

    No a da au ora 13Pre cio 17In roduo 23Cap ulo 1 O mundo na dcada de 60. 29

    1.1 O con ex o mundial. 291.1.1 O maio de 68 rancs. 31

    1.1.2 Os EUA e a Guerra do Vie n. 331.1.3 A New Lef inglesa. 351.1.4 A con racul ura 361.1.5 A mulher na sociedade. 401.1.6 A con es ao e a ar e. 401.2 Brasil. 411.2.1 A esperana da revoluo cul ural brasileira. 411.2.2 Cul ura no Brasil ps 64. 45

    Cap ulo 2 O CPC e a ropiclia. 572.1 O Cen ro Popular de cul ura da UNE. 572.2 ropiclia bananas ao ven o. 652.2.1 Nas ar es pls icas. 712.2.2 Na msica 762.2.3 Es icas convergen es 84

    Cap ulo 3 Cul ura hoje 893.1 A cul ura ex raviada em suas denies 893.2 A cen ralidade da cul ura 913.3 Ar e pra qu? 943.4 Comparando os momen os: a cul ura on em e hoje 102

    Cap ulo 4 Pol icas cul urais em novos con ex os 1154.1 A cul ura como arena e a comunicao como erramen a 1154.2 O Programa Cul ura Viva e os Pon os de Cul ura 119

    4.3 Uma ges o ropicalis a 134Concluso 143e erncias Bibliogrcas 147

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    12/152

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    13/152

    13

    NOTA DA AUTOR

    A primeira vez que ive con a o com a ropiclia oquando dancei Alegria, alegria na escola. Alguns anos depois, j na aculdade, em uma ma ria chamada Msica PopularBrasileira minis rada pelo mesmo pro essor que veio a sermeu orien ador na monograa onde es udamos a raje rida MPB, do samba-cano msica con empornea. Es econ a o acadmico e, por sua vez, anal ico, me proporcionouuma grande iden icao com aquela msica carregada de umalosoa con es a ria e de alguma orma eu sabia que um mundde possibilidades comeava a surgir minha ren e.

    Em 2007 o Museu de Ar e Moderna do J realizavauma mos ra sobre a ropiclia comemorando os 40 anos daexposio Nova Obje ividade Brasileira, realizada pelo ar ispls ico Hlio Oi icica no mesmo MAM em 1967. Na mos rapude er acesso pela primeira vez s obras do prprio Oi icicaLygia Clark, Lygia Pape, Lina BoB ardi, ogrio Duar e, almde o os, udios e vdeos das apresen aes de Gil, Cae ano, Ge cia nos es ivais e ambm car azes de lmes emblem icdo perodo o que me deixou com a cer eza de que aqueleuniverso merecia um es udo mais apro undado da minha par e

    Quando, em 2008, eu ive que escolher o que abordar em meurabalho de concluso de curso, comemoravam-se os 40 anos doemblem ico ano de 68. O ema, que j era de meu in eresse

    oi escolhido como obje o de pesquisa e, em algumas semanasme vi submersa em livros, ma rias, pales ras e lmes sobre ano que no erminou. En re an o mui o me incomodava abordagem ei a na maioria das re erncias quele ano, de orm

    a reverenciar ou repudiar aqueles acon ecimen os, isolando-osde seus con ex os mais gerais em ermos de empo e espa Assim, en endendo os acon ecimen os de 68 como o es opim

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    14/152

    14

    de uma srie de ques ionamen os que vinham desde a dcadaan erior, queria buscar ambm na realidade a ual mo ivaesrevolucionrias - ou ao menos a razo para a sua inexis ncia,como parecem azer ques o de armar. Es a convico de queseria possvel realizar ei os ropicalis as ainda hoje se conrmoucom a realizao do Encon ro Nacional de Es udan es deComunicao, cuja organizao se ornou um proje o oimpor an e quan o a pesquisa e complemen ar a ela naquelemomen o. Com a propos a de unir pol ica e cul ura, o even olevou como sub ulo duas impor an es re erncias: De quelado voc samba? (de Chico Science, onde ques ionvamoso posicionamen o do es udan e ren e a mdia comercial emonopolizada ou a mdia al erna iva e comuni ria) e Euorganizo o movimento, eu oriento o carnaval (de Cae ano Veloso, ese a pergun a an erior ransmi e a idia de um cer o maniquesmo,aqui arma-se que azemos pol ica e ambm cul ura, pois em

    nossa concepo uma es aria dire amen e ligada ou ra), o quesin e izava para mim a mo ivao de odo aquele rabalho. Almdisso, ra ando-se de um encon ro com es udan es de odo o pasrealizado no io de Janeiro, o imaginrio a respei o do samba edo Carnaval encon ravam aqui uma relao losca com apropos a do even o.

    Assim, o que comeou como um rabalho de monograa

    acabou se ornando um proje o de vida, impulsionado com aen rada para a Secre aria de Cul ura e o con a o dire o com aao dos Pon os de Cul ura culmina agora na grande realizaoque a publicao des e livro.

    Aprovei o en o es a segunda edio para rever e a ualizaralguns pon os no ex o que poca no seriam possveis: aci ao, por exemplo, dos novos Pon os de Cul ura do Es ado

    do io cujo edi al no perodo da primeira edio ainda es avaem processo de seleo. Alm disso, no posso deixar de azerre erncia ao alecimen o do ea rlogo Augus o Boal, cuja

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    15/152

    15

    obra inuenciou enormemen e a cul ura brasileira e, mods ia par e, o meu olhar sobre ela. En re an o, lembremos que es

    rabalho ru o de uma pesquisa acadmica da ada e, por ancujas in ormaes es o sujei as a al eraes ao longo do em

    Concluo assim es a e apa com a sa is ao de ver di undium rabalho ei o com mui o carinho e a cer eza que a cul brasileira con inua sendo erreno r il para as mais diversmani es aes cria ivas.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    16/152

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    17/152

    17

    P EFCIO

    Marildo Jos Nercolini.

    Pensar a cul ura pensar em um campo de lu a, social ehis rico, em que sen idos e signicados, ambm sociais e hisricos, so dispu ados. Cul ura uma arena onde sujei os e grupoen ram em dispu a, negociam, in erpelam-se, con ron am-se processo de cons ruo dos sen idos de agir e de es ar no mundo. Sempre bom lembrar as reexes razidas por aymond Williams e pelos Es udos Cul urais que apon am para o pape

    undamen al da cul ura na cons ruo social da realidade, ncomo simples reexo das relaes econmicas, mas sim comoelemen o undamen al, ar iculado com a economia e a pol ic

    endo, por an o, papel a ivo, no simplesmen e reproduzind

    mas produzindo a sociedade em que vivemos.Inicio com essa reexo porque o ex o ei o por Aline Ca valho se insere den ro desses parme ros e busca, no decorrer deseus argumen os, en a izar esse papel impor an e que a culadquire no con ex o con emporneo, armando, como o az Sar Hall, a cen ralidade da cul ura. Claro que no podemos caino ex remismo de pensar que udo seja cul ura, mas sim que, s

    a cul ura o espao de a ribuio e cons ruo de sen ido e valas demais ins ncias (econmica e pol ica) es o com ela diremen e in erconec adas, no mais em uma relao hierarquizanmas de complemen aridade, negociao e emba es cons an es.

    A propos a do livro, nas palavras da prpria au ora, azeuma anlise compara iva en re a e ervescncia ar s ica no Br em ermos de pol icas e mo ivaes ree idas na produ

    cul ural na dcada de 60 e hoje em dia, em novos con ex osObje ivo ins igan e e complexo, que a au ora d con a e mu bem, a meu ver.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    18/152

    18

    Dizer que os anos 60 no acabaram, con inuam vivos eodas as armaes que seguem essa linha, no so verdades em

    si, mas nem ampouco simplesmen e so cons rues re ricas,des i udas de sen ido. Mui as anlise oram e con inuam sendo

    ei as sobre esse perodo. Algumas delas bas an e per inen es,ou ras nem an o, ora por endeusarem ora por demonizarem emexcesso cer os ei os ou pessoas, sem perceber que en re o pre oe o branco h uma in erminvel possibilidade de ou ros ma izes,como en a apon ar Aline, no decorrer de seu livro.

    Cabe ainda des acar que os anos 60 e, sobre udo, o j m i-co 68, assim como qualquer ou ro perodo ou a o que ssemoses udar, no acon ece de orma isolada, como se milagrosamen-

    e os deuses odos ivessem conspirado a avor e as pessoas derepen e ivessem se ornado pro undamen e in eligen es, cria ivae con es adoras. O que quero dizer com isso que nada acon ecede repen e. No podemos esquecer odo o processo his rico an-

    erior, os mui os coni os, dilogos, negociaes, emba es acon e-cidos e que possibili aram que nos anos 60 mui as experincias es- icas cria ivas e inovadoras omassem orma, ou melhor, ossem

    possveis e ivessem a ora que iveram.Um a or social adquire orma e vai ser undamen al quan-

    do se ala na dcada de 60 como um odo: a juven ude. Ela pas-sou a exigir e lu ar por um espao na sociedade, que a en o lhe

    ora negado ou res ringido. Para essa juven ude/60, a con es a-o oi a pedra de oque; os jovens buscavam criar seus prpriosespaos de criao e mani es ao, con rapondo-se aos padressociais vigen es. Havia uma conuncia das vrias ar es e seuscriadores e uma busca dos jovens por in er erir nos rumos dassociedades onde viviam e criavam. Ar e, cul ura e pol ica ar icu-lados em busca da revoluo, a palavra que deu o om dos anos

    60. omada em di eren es acepes de acordo com a endnciapol ica a que o ar is a es ava ligado, a revoluo deu a linha paraa criao de mui os e impor an es ar is as pls icos, can ores

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    19/152

    19

    composi ores, poe as, escri ores ou cineas as, quan o de dramurgos, a ores e in elec uais acadmicos. Esses criadores acredavam ser uma vanguarda revolucionria e buscavam agir comoal. Imbudos da misso de cons ruir o novo, a nova sociedade

    a ar e, a msica, o ea ro, o cinema novo, renegavam ostatus quo es abelecido e sen iam-se capazes de omen ar rans ormamacrossociais e di ar rumos considerados mais jus os para as sociedades onde viviam. Acredi ava-se na eccia pol ica da arrevolucionria.

    Enm, a criao ar s ico-cul ural do perodo em ques es ava or emen e marcada pela experimen ao, pela con eo dos valores es abelecidos, pela busca de novas linguagens enovas ormas de mani es ao, seja nas ar es pls icas, li eracinema, ea ro, seja na msica. O que impor a salien ar, por mque cer amen e mui os caminhos es icos hoje j sedimen ad

    iveram seus primeiros passos dados, e a duras penas, na dcada

    de 60, endo em 68 seu momen o se no o mais r il, pelo mnos o mais es ejado. Essa ar iculao ar s ico-cul ural buscrans ormar a sociedade em que es ava inserida, buscando rom

    per com as amarras exis en es, usando as armas, as es ra gpossveis naquele momen o his rico, anal a cul ura, a ar e ssociais, ru os e sujei os de um con ex o e que se rans ormcons an emen e. Mui os de seus raos permanecem ainda ho

    como on es com as quais se podem dialogar, em um processono de cpia, mas de resseman izao, reciclagem e raduocul ural, anal os empos so ou ros.

    Hoje, vivemos em ou ro con ex o. A realidade se ransormou, os desaos e as necessidades so ou ros e, por an o,

    possveis respos as a serem cons rudas ambm precisam seou ras. No posso cobrar do passado aes e idias que somen-

    e seriam possveis hoje, e assim desmerecer e crucicar o quese ez ou se deixou de azer; mas ambm no posso cobrar dmomen o presen e um ipo de a i ude e pensamen o prpri

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    20/152

    20

    de um empo passado, e assim julgar o hoje somen e com os ins-rumen os de avaliao do on em e cair no erro grosseiro de ver

    no momen o con emporneo simplesmen e o mais do mesmo,o re rocesso pol ico, a alienao e o comodismo.

    Comparar empo e con ex os dis in os possvel? Sim, possvel e, mais que isso, necessrio. Permi e-nos deixar maisclaro a noo de processo; permi e-nos perceber a his ria, acul ura como processos inin errup os e em cons an e mudana. Ao se comparar no se v somen e as semelhanas, mas ambmas di erenas. E so es as que, normalmen e, permi em-nos iradian e. no con ron o, j dizia o velho Marx, que a his ria secons ri e pode ser rans ormada. Ao comparar dis in os proces-sos his ricos undamen al nunca perder de vis a as di eren-as con ex uais de cada um desses momen os. A an ropologianos ensinou a rela ivizar os processos, as crenas, as aes. Esseaprendizado precisa ser cons an emen e recordado e acionado,

    anal no somos os donos da verdade, a porque A verdadeno exis e.O livro, que ora apresen o, ru o de um es oro acadmi-

    co e, sobre udo, de uma von ade geracional de sua au ora de en-ender um passado mui as vezes mi icado e que deixou marcas

    pro undas (como diria Williams, elemen os cul urais como re-siduais a ivos, ainda or emen e presen es); e, mais do que isso,

    buscar en ender o momen o presen e, are a nada cil endo em vis a que a au ora ru o e ao mesmo empo sujei o do con exque analisa.

    Pela escri a mesmo aquela acadmica que se quer maisobje iva ao alarmos do ou ro e do mundo que nos cerca, nos

    alamos, alamos de ns, de nossas angs ias, de nossos desejose aspiraes. A au ora deixa isso mui o claro em seu ex o; e o

    az de maneira envolven e, par icipan e, mas sem perder de vis ao rigor do pensamen o acadmico, caminho no qual es dan-do os passos iniciais e de orma des emida, resga ando aes e

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    21/152

    21

    reexes ei as por ou ros, ar iculando-as en re si e, alm disar iculando-as com suas prprias aes e reexes.

    Se a cons ruo do conhecimen o no nal do milniopassado, con orme nos lembra Helosa Buarque, seria ei o pre

    erencialmen e a ravs da compe ncia e da cria ividade naar-ticulao das in ormaes disponveis e no mais na descober aou mesmo na in erpre ao de in ormaes e evidncias empricas, hoje, quando as redes in ormacionais se po encializam, issse orna ainda mais eviden e. Parece-me, porm, que permanecenecessria a in erpre ao das in ormaes e no somen e a suar iculao. Creio que o in elec ual-pesquisador precisa assumios riscos de uma lei ura pessoal e omar posio dian e dos aes udados. Se a ele no cabe mais o papel de pro e a, aqueque de m o saber e as respos as, a voz o alizan e, ampoucsucien e rans ormar-se em car eiro, aquele que escu a a m

    iplicidade de vozes da sociedade e procura in erconec ar esse

    discursos. O pesquisador-in elec ual hoje supe essa escu a dmul iplicidade e essa in erconexo, mas precisa ir alm, assumiriscos e omar posio a par ir de seu conhecimen o e de seusaber acumulado. Cabe-lhe pensar a realidade, um pensamen ocon ex ualizado; problema izando, mais do que apon ando respos as pron as; azendo pergun as, colocando em xeque as pr

    ensas verdades es abelecidas, cons ruindo conhecimen o na

    ssuras, nas dobras. O ex o que segue, creio eu, um es oro dcolocar isso em pr ica. Boa lei ura.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    22/152

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    23/152

    23

    INT ODUO

    O obje ivo des e rabalho azer uma anlise compara iven re a e ervescncia ar s ica no Brasil em ermos de pol imo ivaes ree idas na produo cul ural na dcada de 60 e hoem dia, em novos con ex os. A propos a observar como os movmen os ar s icos daquela poca, em especial a ropiclia, inuenciaram o azer cul ural no pas e encon ram reexos 40 anos depoEn re an o, buscarei ugir de uma simples perspec iva comparareverenciando o passado de orma isolada de seu con ex o espacia

    emporal. Nes e sen ido, analisarei as mo ivaes para realizaouma cul ura par icipa iva e popular, e observando aonde podemoencon rar carac ers icas semelhan es em experincias cul urhoje em dia. Assim, mui as das mo ivaes daquela poca especialmen e a democra izao da comunicao e da cul ura ainda e

    o presen es hoje em dia, em proje os como os Pon os de Cul udevidamen e adap adas ao novo con ex o que ora vivemos.Meu in eresse pelo assun o se d bas an e em uno d

    minha ormao no curso Es udos de Mdia, na UniversidadeFedereal Fluminense e ambm ao proje o de iniciao cien c Das Casas de Cultura s ONGs na Baixada Fluminense: reexesobre mdia, cultura, poltica, prticas de comunicao e juventud

    no qual ui bolsis a pela FAPE J, sob a orien ao da Pro . Dr Ana Enne. A par ir da perspec iva dos es udos cul urais, qumui o me in eressaram no percurso acadmico, analisei di eren

    es ormas de mdia como a propos a do curso -, iden icado-me com uma mais especicamen e: a audiovisual.1 En re an-1 Dos meios de comunicao, considero a expresso audiovisual a mais complexa nosen ido de sua produo, uma vez que demanda: equipamen os (cmera, iluminao,

    cap ao de som), recursos (rolos de ilme de pelcula ou i as de cap ao digi al, ede som e imagem), conhecimen o cnico (operao de cmera, o ogra ia, mon age supor es de exibio espec icos. Es es elemen os em conjun o, ao meu ver, azemmunicao audiovisual menos acessvel no sen ido da produo - do que ou ras mdias

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    24/152

    24

    o, minha anlise nes e rabalho ir en ocar ml iplas expressesar s icas no sen ido da democra izao cul ural.

    ambm devo meu acmulo sobre o ema minha a u-ao na Execu iva Nacional dos Es udan es de Comunicao ENECOS2 e, mais especicamen e, no Grupo de Es udo e

    rabalho de Comunicao e Cul ura Popular3. Nes e espao, buscamos discu ir as denies de cul ura e popular, reven-do cer os sensos comuns a respei o e ormulando pol icas dea uao do movimen o es udan il nes a rea.

    Nes e sen ido, a principal mo ivao para a escolha des-e ema a necessidade de viabilizao de, no apenas oacesso

    cul ura e s in ormaes, mas ambm produo de cul ura,mensagens e, conseqen emen e, iden idades. Especialmen ehoje, com as novas ecnologias de in ormao e comunicao, de ex rema impor ncia que os es udiosos e prossionais da rea

    enham es a preocupao, ou ao menos iden iquem es e para-

    digma. En re an o, a preocupao com o mercado e a compe i-o por ser um vencedor nos parme ros da sociedade capi a-lis a a ual que, vale lembrar, uma cons ruo cul ural -, mui-

    as vezes az com que es udan es simpa izan es da idia acabemse vol ando para a perspec iva mercadolgica de cons ruo doconhecimen o. O argumen o geralmen e a sobrevivncia nomundo capi alis a do qual, ao menos em ermos es ru urais, no

    podemos ugir. En re an o, em um mundo com cada vez maispossibilidades de escolhas de modos de vida como o prpriomercado parece indicar -, cabe ao sujei o denir seus parme rosde qualidade e saber que as escolhas que azemos diariamen e

    m conseqncias no s para a nossa vida, mas para a socie-dade como um odo. Es a discusso sobre sociedade, consumoe compor amen o ser re omada ao lembrarmos a dcada de

    60 e oda a a mos era da con racul ura con es adora de valores2 www.enecos.org.br3 www.cul uranaroda.ning.com

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    25/152

    25

    quando oi his oricamen e eviden e o car er cons i u ivorelaes sociais e do concei o de ar e, mais especicamen e.

    Em primeiro lugar, irei mapear o con ex o pol ico e socia no Brasil e no mundo - que impulsionou ais experincias eque culminaram nos acon ecimen os do ano de 1968. No pri-meiro cap ulo, arei um panorama em nvel mundial, si uandoden ro do con ex o da Guerra Fria, os ques ionamen os daque juven ude, a relao com a classe rabalhadora, a Guerra do Vie

    n e sua repercusso nos EUA e no mundo, o movimen o negroe eminis a, o rocknroll que abalou aquela gerao, o movi-men o hippie e a con racul ura. No Brasil, no podemos deixade alar da omada do poder pelos mili ares, da par icipao dmovimen o es udan il na pol ica e na cul ura, a consolidaouma inds ria cul ural e de meios de comunicao de massa nopas e como ais a ores inuenciaram a produo cul ural dquela poca.

    Fei a es a localizao con ex ual, en ramos no segundcap ulo analisando dois obje os cen rais des e es udo, os Ceros Populares de Cul ura da UNE e a ropiclia. Farei en o um

    mapeamen o de sua a uao, si uando-os em seu con ex o hisrico e explici ando suas expresses nas ar es pls icas, na msicna li era ura, no ea ro e no cinema.

    Aps iden icar as mo ivaes e ques ionamen os ar s

    cos de ais experincias, o cap ulo rs rar uma reexo mapro undada sobre a cul ura em si - suas denies, sua cen raldade na pol ica e na sociedade e seus novos usos na era global.Sempre a par ir de uma perspec iva his rica e processual, escap ulo buscar problema izar o obje o geral des e rabalho, q a cul ura, para re omar a discusso sobre sua produo hoje nocap ulo seguin e.

    Para nalizar, o quar o cap ulo inicia com algumas ree- xes sobre a consolidao da sociedade civil enquan o agen eprodu or de cul ura principalmen e a ravs das ONGs que su

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    26/152

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    27/152

    27

    de ci ar o blog4 criado duran e a elaborao da monograa, um CC in era ivo, onde pos ei rechos dos cap ulos, algumas exes, links e a bibliograa u ilizada, a m de compar ilhar produo de conhecimen o na qual an o es ive imersa nesl imos meses. Aprovei o aqui para agradecer en o aos comen

    rios e suges es que oram, na verdade, mais presenciais dque no blog exa amen e que me mo ivaram a con inuar e cocluir es e rabalho a o o esperado dia 18 de dezembro5.

    4 h p://www. ropicaline.wordpress.com5 poca da reviso do ex o publicao des e livro, em julho de 2009, ram inseridas observaes e dados novos para o conjun o das reexes.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    28/152

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    29/152

    29

    CAPTULO 1 O mundo na dcada de 60.

    proibido proibir Inscries nos muros de Paris em maio de 1968

    Es e cap ulo buscar azer um panorama da conjun urascio-pol ico-cul ural dos anos 60 no Brasil e no mundo, visando esclarecer algumas das razes que levaram aos acon ecimen-

    os do emblem ico ano de 68. En ende-se assim, que es e ano ru o de ques ionamen os e experimen aes que vinham des

    o incio da dcada e que acabaram por convergir nas diversasmani es aes daquele ano. Dessa orma, no podemos desloclo de seu con ex o, nem ampouco simplesmen e reverenci-lou cri ic-lo dcada aps dcada, 40 anos depois. Por isso, es e

    rabalho como um odo visa azer uma anlise compara iva ere as mo ivaes e proje os daquela gerao e a de hoje em um

    recor e especco: a cul ura. Alm disso, a anlise ei a des erodo servir para con ex ualizar a propos a pol ica e es icchamada ropiclia, que ir inuenciar, segundo es e es udo, aproduo cul ural no pas a os dias de hoje.

    1.1 - O contexto mundial.

    Com o im da 2 Guerra Mundial em 1945, oi ins au-rado no plano mundial um momen o de enso en re os doismaiores blocos pol icos daquela poca, a Unio Sovi ica(U SS) e os Es ados Unidos, que haviam unido oras paraderro ar a Alemanha nazis a. Se no les e europeu ornava-scada vez mais or e a propos a socialis a da U SS, sob o rgime o ali rio de Joseph S alin, do lado ociden al os EU

    viviam um momen o de grande crescimen o econmico, e ocapi alismo se consolidava como ordem social, econmica epol ica para os pases a ele aliados. Es e momen o icou c

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    30/152

    30

    nhecido como Guerra Fria pois a enorme enso s no eramaior do que o medo mundial de uma nova guerra que, comos avanos ecnolgicos da inds ria blica dos l imos anos,

    erminaria em uma ca s ro e nuclear. Assim, o con li o icouduran e mui o empo no plano ideolgico, o que se por umlado acirrava a dispu a pela hegemonia pol ica a nvel global,por ou ro acabou levando a in ensos emba es e re ormula-es a nvel local, den ro da dinmica dos prprios pases. Assim, EUA e U SS iam conquis ando aliados na cons ruode uma nova ordem mundial.

    A grande quan idade de pases sob di aduras a par ir dadcada de 60 se nos repor armos, por exemplo, a AmricaLa ina, ree ia na populao um sen imen o de con es aodaquela ordem, e mesmo nos pases onde o regime no era di-

    a orial, a a mos era repressiva parecia inquie ar a populao- principalmen e jovens universi rios, que viriam a ser os prin-

    cipais a ores das rans ormaes que es avam por vir. E, embo-ra houvesse divergncias a respei o do modelo pol ico ideale como es e seria implemen ado, de um modo geral aquelemomen o demandava das pessoas uma omada de posiciona-men o, que acabava por se inl rar em diversas es eras da vida:do rabalho ao sexo, udo era pol ico. O jornalis a Alpio Frei-re arma que havia uma ditadura que, da mesma orma como

    perseguia o cabeludo, perseguia a moa liberada sexualmente e omilitante de esquerda. Foi ela que politizou todo o movimento ecolocou todos juntos nas passeatas pela democracia6.

    Com a radiodi uso pela eleviso, que se consolidavanaquela poca, a Guerra do Vie n causou comoo mundiala par ir do e ei o midi ico provocado pela veiculao dasimagens do con ron o, azendo com que a opinio pblica

    nor e-americana re irasse seu apoio ao armada. Em di- versos pases, as mani es aes con ra al in erveno provo-

    6 In: Caderno MAIS!, Folha de So Paulo, 04 de maio de 2008.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    31/152

    31

    cavam choques en re a polcia e a populao em sua maio-ria jovens universi rios que ambm pro es ava con ra regimes o ali rios em seus pases. Alguns acon ecimencomo a evoluo Cubana ornaram-se re erncias comunsna poca e geraram em parcelas de jovens de diversos pases- especialmen e nos pases da Amrica La ina - um mesmosen imen o a necessidade darevoluo osse ela pol ica,social, cul ural, es ica. Nas mais diversas bandeiras a mo

    ivao era a crena orgnica no poder de rans ormao, aim de revolucionar os modos de viver e pensar da socieda-

    de. En re an o, as signi ica ivas di erenas na realidade soceconmica e pol ica dos pases ez com que aquela a mos eem comum ivesse apropriaes e desdobramen os bem di e-ren es em odo o mundo.

    1.1.1 - O maio de 68 rancs.

    A Frana, por exemplo, vivia um momen o de con nuaexpanso econmica, raduzida no aumen o cons an e do poder de compra e do consumo exacerbado, impulsionado pelordio e pela eleviso. Pa rick o man, cineas a e his oriadarma que:

    (...) a renovao geracional e a modernizao eco-nmica, porm, iriam se chocar com uma sociedadeainda dominada pelos valores tradicionais e por umargida moral. Esse verdadeiro abismo entre o velho e onovo iria desembocar uma exploso repentina, quandomilhes de estudantes e trabalhadores paralisaram aFrana em maio de 19687 .

    7 In: 68 O ano zero de uma nova era. evis a His ria Viva, n.. 54. So Paulo: Dueto Edi orial, 2008, p. 35.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    32/152

    32

    Es as mani es aes par iam de um grupo social au -nomo: jovens es udan es que rabalhavam e, por isso, inhamacesso ao consumo, ainda que de orma cr ica. Suas grandes bandeiras naquele momen o eram a liberalizao dos cos umese re ormas no modelo universi rio. Era um momen o de ques-

    ionamen o, sobre udo exis encial no qual Sar re e Beauvoiroram impor an es re erncias ericas -, e a reivindicao por

    mais liberdade, emancipao e au onomia eram a pau a do dia.Em uma perspec iva cul ural, a causa rabalhis a ambm oi umgrande oco da a eno dos es udan es naquele momen o, queacredi avam que no se deveria viver para rabalhar, mas raba-lhar para viver, e a aliana es udan il com o operariado se mos-

    rou undamen al para as mani es aes daquele perodo. LemascomoTrabalhadores do mundo, divirtam-se eO patro precisade voc, voc no precisa dele , vis o nas ruas de Paris daquele ano,ree iam o clima de con es ao da ordem burguesa de rabalho

    e do acmulo de capi al.Dada a si uao pol ica na Frana que, di eren emen e deou ros pases, no vivia um regime o ali rio, apoiavam-se emcausas ex ernas para ree ir sobre as con radies do prpriopas, as quais iriam ques ionar nas mani es aes. Es as rans-

    ormaes cul urais na Frana de 68 podem ser buscadas, porexemplo, no movimen o surrealis a de 36, onde se ques ionava

    a concepo nica de ar e - se naquele momen o buscava-sede-mocratizar o acesso cul ura, o obje ivo agora eratrans ormar acul ura. Alm disso, a evoluo Cul ural chinesa e o lder Mao-

    se- ung inuenciavam milhares de jovens ranceses com o Li- vro Vermelho.

    Alm da ques o compor amen al, a grande reivindi-cao da juven ude rancesa era por um novo modelo educa-

    cional, de au onomia universi ria e de reviso da pedagogiaul rapassada que no mais se adap ava realidade daquela ju- ven ude. Denunciavam-se as relaes de poder, ques ionava-se

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    33/152

    33

    a uno social do conhecimen o (que, ao que udo indicavaes ava em uno do capi al) e reivindicava-se uma au onompedaggica mul idisciplinar, que permi isse a par icipao does udan es na cons ruo do conhecimen o. No Brasil, a lupela re orma universi ria ambm eve presen e nas man

    es aes, mas acabou cando em segundo plano em unode uma lu a maior: con ra a di adura mili ar, como veremoadian e. Alm disso, es e coni o de geraes den ro da un versidade ambm gerou a con es ao do au ori arismo conservadorismo que separava homens e mulheres den ro doscampi. Assim, a universidade seria palco das mani es aes dosimblico ms de maio de 68, quando, liderados pelo alemoDaniel Cohn-Bendi , es udan es ocuparam a renomada Sor- bonne, aps a universidade de Nan erre, no subrbio de Paris,

    ambm j er sido ocupada.8O maio de 68 na Frana em pres gio e ornou-se emble-

    m ico para aquela poca, alvez mui o em uno da radio volucionria de Paris. En re an o, a lu a pela re orma universie pela revoluo cul ural de 68 no devem ser pensadas de ormaisolada no empo e no espao: iveram desdobramen os in ernacionais recriados em novos con ex os, a os dias de hoje.

    1.1.2 - Os EUA e a Guerra do Vietn.

    No cen ro dos pro es os, es ava um Es ados Unidos replo de con radies. Apesar do ver iginoso crescimen o econ

    mico, a parania an icomunis a da Guerra Fria, as desigualdadessociais e o moralismo nor e-americano dividiam a populao. Assim como em ou ros lugares do mundo guardadas as devi-8 En re as reivindicaes pro es avam con ra a guerra do Vie n, onde a b

    alidade da in erveno servia de jus ica iva para o uso da violncia nos ade oposio guerra. As barricadas ornam-se en o smbolo da resis ncies udan il, evidenciando em lemas como barricadas echam ruas mas abremcaminhos o car er rans ormador que aquele movimen o buscava er.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    34/152

    34

    das propores surgiam movimen os civis de cr icas s idiaseli is as, hipocrisia e alienao da sociedade nor e-americana,reivindicando maior liberdade na vida co idiana, alm de azeroposio, claro, Guerra do Vie n.

    Alm das mani es aes con ra sua pol ica mili-ar ex erna, uma parcela signi ica iva da sociedade nor e-

    americana comea a con es ar nessa dcada seus prprios valores e preconcei os. Valendo-se da imagem democr icaque o pas buscava proje ar por causa da Guerra Fria, o mo- vimen o negro ganhava ora denunciando a con radi riarealidade das relaes raciais, a pobreza e a discriminaoaos quais eram subme idos os negros dos EUA. iveram as-sim um impor an e papel na expanso do Es ado do BemEs ar Social no pas por ou ro lado, uma das principais

    erramen as do American Way o Li e que se en ava im-primir no mundo capi alis a. Em busca de reconhecimen-

    o e igualdade de direi os e opor unidades, buscaram al e-rar as relaes pol icas, raciais e sociais no pas. O uso decanes e comcios aproximou brancos da lu a dos negros,mui o em par e devido ao carism ico lder Mar in Lu herKing, pas or da Georgia que propunha a lu a por direi os ci- vis de orma no-violen a ambm em respos a oposi iva Guerra do Vie n. Os Pan eras Negras, com par icipao

    impor an e na lu a mili an e con ra o racismo, buscavam ga-ran ir servios sociais para a comunidade negra a par ir deum nacionalismo cul ural. E a ivis as e mili an es, comoo lder mulumano Malcom X, proporcionaram visibilida-de ao black Power, valorizando radies a ro-americanase dando apoio a movimen os revolucionrios no erceiroMundo. As es ra gias, ideais e coragem do movimen o ne-

    gro americano inspiraram sindicalis as, eminis as, lsbicase gays, povos indgenas e imigran es no s nos Es adosUnidos mas ambm no mundo.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    35/152

    35

    1.1.3 A New Lef inglesa.

    A chamada New Lef oi um movimen o de in elec uais que cons i uiu a base scio-his rica dos Es udos Cul ursurgidos na Ingla erra en re o nal da dcada de 50 e a dcadade 60. A par ir de uma viso scio-his rica, buscavam revisar apr icas e a pol ica marxis a, pensando as ques es econmice es ru urais de cada sociedade a par ir de sua insero em seucon ex os his ricos e cul urais especcos.

    O movimen o comeou com os Le Books , grupos de dis-cusso de esquerda que combinavam a ividades cul urais com oses udos pol icos. Era um movimen o que propunha um marxismo cul ural, enxergando na educao a lu a pelo acesso da class

    rabalhadora aos ins rumen os que levariam mudana socia(como veremos adian e, os ques ionamen os levan ados pelNew Lef iveram expresso na movimen ao pol ica-social n

    Brasil pr 64, como no caso do CPC). Sua propos a era en enderas es ru uras sociais marginais no sen ido do que deixadde lado pela classe dominan e, o popular, no caso brasileiro para en o exercer uma mudana e e iva na sociedade.

    O nal da dcada de 50 marcado por uma rela iva des-crena, por par e de diversos movimen os pol icos no mundonos moldes de ao pol ica propos os an o pela U SS, quan

    pelos Es ados Unidos, exigindo uma reviso dos processos po-l icos. Era um momen o onde a cul ura passava a ocupar lugacen ral nas discusses sociais e era preciso repensar o marxismoe sua eoria o alizan e da organizao social em ermos do nomomen o his rico9.

    Em vis as de uma pol ica cul ural radicalmen e an i-dicional, o movimen o propunha romper com a viso de que o

    cul ural e a vida amiliar so apenas assun os sem impor ncuma expresso meramen e secundria da cria ividade e das rea-

    9 Cevasco, 2003, p. 80.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    36/152

    36

    lizaes humanas10 , o que lembra bas an e a relao ropicalis acom a pol ica e o co idiano.

    A New Lef oi uma corren e de pensamen o no homo-gnea que abrigou di eren es geraes, aler ando para a cul uracomo uma arena de dispu a pol ica como ser melhor discu i-do no cap ulo rs. Es a perspec iva cul uralis a se consolida e a hoje encon rada na academia, na mdia, nas ar es dram icase na con racul ura me ropoli ana.

    1.1.4. A contracultura

    A con racul ura se cons roe como resis ncia aos modelosimpos os pelo capi alismo embora ambm no zesse a de e-sa do modelo socialis a e, variando en re o desbunde e ormasmais especicamen e poli izadas, cri icavam de uma maneira ge-ral o au ori arismo e os valores burgueses. En re di aduras mili-

    ares, o crescimen o da sociedade ma erialis a e consumis a e oengajamen o pol ico com a classe operria, jovens embarcavamem di eren es graus de psicodelia acredi ando que era possvelmudar o mundo e con es ar a ordem moral e social a en o vigen e na sociedade ociden al.

    Para os especialis as, a obra inaugural da con racul ura o poema Uivo de Alain Ginsberg11 , publicado em 56, um lon-

    go poema descrevendo a alncia moral dos EUA e o racasso desua gerao em realizar rans ormaes em suas prprias vidas. Acriao do ermo, en re an o, a ribuda ao pro essor americanoTeodore oszac, au or em 1969 do livro O azer de uma con ra-cul ura eexes em uma sociedade ecnocra a e a jovem oposi-10 Edi orial da Universi y and Lef eview, n.4, publicao lanada por jo- vens es udan es de Ox ord .

    11 Ginsberg azia par e da chamada Bea genera ion, um grupo de jovensin elec uais (chamados de beatniks) que con es avam o consumismo e oo imismo do ps-guerra americano, o an iconsumismo generalizado e a al ade pensamen o cr ico.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    37/152

    37

    o, que buscava azer um elo en re os pro es os es udan is, o vimen o hippie e a recusa sociedade indus rial. No Brasil - muiem uno da censura impos a pela di adura mili ar - a produe o circui o cul ural se viam res ri os a uma cer a marginalidadnomes como orqua o Ne o, Waly Salomo, Luiz Carlos Maciel

    ogrio Sganzerla, alm dos ar is as ropicalis as, oram nomimpor an es para a con racul ura brasileira.

    O ermo con racul ura se re ere an o ao conjun o de m vimen os de rebelio da juven ude que marcaram os anos 60 -como o movimen ohippie , a msica rock, a movimen ao nasuniversidades, as viagens de mochila e o uso deliberado de dro-gas - como ambm a um cer o espri o de con es ao e en r

    amen o da ordem vigen e, de car er pro undamen e radicadivergen e s oras mais radicionais de oposio a es a mesmordem dominan e. Para Carlos Alber o Messeder Pereira, ra ase de um ipo de cr ica anrquica que, de cer a maneira, romp

    com as regras do jogo em ermos de modo de se azer oposioa uma de erminada si uao, endo assim um papel or emenrevigorador na cr ica social. Para o cr ico li errio Carlos Neson Cou inho12 , a con racul ura no Brasil se congurava maiscomo um movimen o ex racul ural, se colocando mais comuma crise do que uma en a iva de resolv-la - por no solucionar cer os impasses da produo cul ural em si. En re an o, e

    um momen o onde as concepes es ru urais dos problemas pol icos limi avam de cer a orma seu con edo, o abs racionises ru ural da con racul ura evidenciou algumas con radies

    rouxe para o plano co idiano o deba e pol ico.Em respos a violen a in erveno nor e-americana no

    Vie n, mui os pre eriram reagir de orma pacis a, cri icaau oridades e os valores da classe mdia ado ando es ilos al e

    na ivos de vida. Surgia naquela poca o movimen o hippie comsuas diversas comunidades al erna ivas em sua maioria longe

    12 ApudHollanda e Pereira, 1980.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    38/152

    38

    dos cen ros urbanos -, onde buscava-se uma vida mais simplese livre, e onde os ins in os no ossem reprimidos pela moral epelo padro de vida ociden al consumis a. O movimen ohippie propunha novas pos uras e pr icas sociais: os cabelos cresce-ram, de endia-se o uso de drogas principalmen e a maconhae o LSD para a al erao do es ado de conscincia e o amorlivre era bandeira da experimen ao con ra a represso moral.O lema aa amor, no aa a guerra revelava o espri o liber -rio dos movimen os pacis as daquela gerao, que crescia em

    odo o mundo. Sua maior mani es ao oi o es ival Woods ockem ou ubro de 1969, em uma azenda em Nova Iorque, onde seapresen aram diversos ar is as que de alguma orma se relacio-navam com as propos as do movimen o hippie: o olk, com seupacismo e sua con unden e cr ica social; o rock, com sua con-

    es ao ao conservadorismo dos valores radicionais; o blues,com sua melancolia que h dcadas j mos rava as con radies

    da sociedade nor e-americana; e a c ara de avi Shankar, re-presen ando a presena marcan e da inuncia orien al na con-racul ura, en re ou ros. En re drogas lisrgicas, amplicadores

    e mui a lama, 400 mil pessoas reivindicavam ou ro modelo desociedade, pra icavam o amor livre e se opunham pacicamen e Guerra do Vie n.

    Alm disso, a dispu a ideolgica da Guerra Fria buscava ig-

    norar a diversidade cul ural vinda do ou ro lado do plane a. Assim,a crescen e oposio ao American Way o Li e, combinada com odesenvolvimen o ecnolgico que permi ia o maior con a o comou ras realidades, ez com que mui os jovens se aproximassem dacul ura orien al na busca por novos es ilos de vida.

    ambm dessa poca o incio de es udos sobre a ecolo-gia, que, para alm da preocupao ambien al, busca o equilbrio

    dos sis emas princpios es es que oram aplicados inclusive nasociologia -, dando incio aos primeiros movimen os ambien a-lis as que ganharam ora na dcada seguin e.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    39/152

    39

    Para o brasilianis a Chris opher Dunn, esse legado dacon racul ura ez com que se abrisse mais a noo do que era campo da pol ica, a en o res ri o aos par idos13.

    impor an e assinalar o papel dos meios de comunicaode massa para a congurao da con racul ura da dcada de 60quando a a mos era de con es ao e busca comeam a encon rressonncia nos meios de comunicao que se consolidavam.

    Aquela gerao comeava en o a desenvolver uma cul u-ra prpria na msica, na moda, na linguagem e os avanos ec-nolgicos da poca os conec avam com a juven ude do res o dmundo a par ir de uma linguagem universal: o rock. A msica oo principal canal de expresso daqueles ideais, e ar is as como Jimi Hendrix, Te Doors, Bob Dylan, Janis Joplin, Led Zepelin,Te Bea les, Mick Jagger e a ropiclia no caso brasileiro - a-ziam a rilha sonora de uma gerao que buscava novas maneirasde viver e amar. O rocknroll uso explosiva do blues, jazz,

    olk e coun ry deixa de ser apenas um subprodu o da inds rcul ural que se consolidava naquela dcada e cons rua um dis-curso cr ico social e compor amen al na mdia, incorporandoprincipalmen e elemen os da cul ura negra que ganhava ornos EUA. A experimen ao e a quebra do padro em relaoaos orma os da msica indus rial vigen e eram ree idos som dos bri nicos Te Bea les, em seu emblem ico lbum

    Sargen Peppers Lonely Hear s Club Band, que, por sua vezinuenciaram diversos movimen os musicais no mundo comoa prpria ropiclia, como veremos adian e. Alm disso, con es

    avam o papel do msico na sociedade de consumo a ravs de inervenes ar s icas poli izadas como a apaixonada e violen

    verso do hino nacional execu ada por Jimi Hendrix no es ivde Woods ock, dando expresso revol a e con uso que ma

    cavam a vida dos jovens da poca.13 In:68 O ano da revoluo pela ar e, Segundo Caderno,O Globo , 18de maio de 2008.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    40/152

    40

    1.1.5 A mulher na sociedade.

    Na onda de movimen os con es a rios daquela dcada,se or icava o movimen o eminis a que, a par ir de um conjun

    o de idias pol icas, loscas e sociais, procurava promover osdirei os e in eresses das mulheres na sociedade civil, em buscada igualdade en re os sexos. A principal re erncia do exis en-cialismo, ese segundo a qual cada pessoa responsvel por siprpria, era o casal Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sar re, queman inham um relacionamen o aber o a verso poli izada doamor livre, por assim dizer. Em 1949, Simone escreve o livro OSegundo Sexo, de endendo que a hierarquia en re os sexos no uma a alidade biolgica e sim uma cons ruo social, e queserviu de embasamen o erico e pol ico para as reivindicaes

    eminis as daquela dcada. No Brasil, Nara Leo, Elis egina,Gal Cos a, i a Lee, Lygia Clark, en re ou ras, ocuparam na d-

    cada de 60 impor an es e di eren es papis na insero da mu-lher nos deba es da sociedade a ravs das ar es, sem esquecer deou ras impor an es eminis as brasileiras como a escri ora oseMarie Muraro e a a riz Leila Diniz14.

    1.1.6. A contestao e a arte.

    Nas ar es ambm era possvel observar a re ormulao de valores e, principalmen e do concei o de ar e. A pop ar nor e-americana inuenciada pelas obras de Marcel Duchamp nosanos 30 e simbolizada principalmen e nas obras do ar is a Andy Wahrol sobre udo na dcada de 50 se apropriava de em icasdo co idiano para cri icar o American Way o Li e. A simbolo-gia de produ os do mercado publici rio americano era u ilizada

    como ema da obra, rearmando que a ar e deixava de lado a abs-rao para assumir um car er mais gura ivo, a m de provocar

    14 Sobre eminismo, ver Alves Moreira e Pi anguy, 1991e Jardim Pin o, 2003.e Pi anguy, 1991e Jardim Pin o, 2003. Jardim Pin o, 2003. Jardim Pin o, 2003.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    41/152

    41

    uma sociedade cada vez mais guiada pelos padres de consumocapi alis as. Embora no se carac erizasse como um movimencon racul ural, a pop ar rouxe ques ionamen os e experim

    aes es icas absorvidas, por exemplo, pelo movimen o NoObje ividade Brasileira, que eve em Hlio Oi icica um de seuprecursores, con ribuindo para a vanguarda das ar es pls icas da con racul ura brasileira na poca.

    No Brasil, o ea ro ambm assumiu um impor an e papna mani es ao ar s ica con racul ural que se man eve conedo s endncias in ernacionais. O experimen alismo do LivinTea re e o ea ro anrquico e pol ico do Grupo Ocina de JosCelso Mar inez Correa que man inham permane e in ercmbi- oram revolucionrios no sen ido de al erar a relao en re o pco e a pla ia, en re os ex os e os a ores e a direo do espe

    A msica e o cinema ambm iveram impor an e par icipo no pro es o e experimen alismo da dcada no Brasil, como v

    remos adian e. Separados por signica ivas di erenas no con expol ico e cul ural dos dois pases, es es movimen os iveram paundamen al no ques ionamen o do es a u o de ar e, do pape

    ar is a e da relao en re a obra e o pblico. A ar e e a cul ura sno Brasil um dos pricipais canais de discusso e ar iculao - pol ica daquela poca, como veremos a seguir.

    1.2 Brasil.

    1.2.1 - A esperana da revoluo cultural brasileira.

    Depois de uma ase de grande desenvolvimen o com o gover-no de Juscelino Kubi schek nos anos 50, o pas parecia caminhar rumoa uma nova sociedade, uma nova pol ica, uma nova cul ura, onde

    modernidade e a modernizao se ins alavam com ora. Acredi avse que nunca se havia produzido an o no pas, em ermos indus riaeconmicos e cul urais que o que nos in eressa aqui.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    42/152

    42

    Em Pernambuco, por exemplo, o governo de esquerda deMiguel Arraes que apoiava a criao de sindica os, associaescomuni rias e a liga camponesa, cria o Movimen o de Cul uraPopular em 1960, que eve como obje ivo bsico di undir as ma-ni es aes da ar e popular regional e desenvolver um rabalho deal abe izao de crianas e adul os. Com apoios como o da UnioNacional dos Es udan es e o Par ido Comunis a, o MCP ganhoudimenso nacional e serviu de modelo para movimen os seme-lhan es criados em ou ros Es ados brasileiros. Dado o seu car eresquerdis a e liber ador, embasado no pensamen o nacional-po-pular, hegemnico no pensamen o da esquerda brasileira naquelemomen o, oras de direi a en aram su ocar o movimen o e hou ve uma mobilizao nacional em sua de esa, evidenciando o or esen imen o nacionalis a e populis a da esquerda na poca.

    Ainda em erras pernambucanas, Paulo Freire e sua peda-gogia do oprimido propunha a quebra de paradigmas a ravs de

    uma educao popular que eve pos eriormen e grande visibili-dade in ernacional com o chamado M odo Paulo Freire deal abe izao de adul os.

    Em So Paulo o ea ro de Arena revelava, em nomes como Augus o Boal, Oduvaldo Vianna Filho e Gian rancesco Guarnie-ri, a preocupao de expandir a ar e ea ral para as ruas, ugindodo sis ema burgus de espe culos echados. No io de Janeiro, a

    movimen ao em orno da MPB e da Bossa Nova e experimen-aes cinema ogrcas de jovens universi rios indicavam novoscaminhos de uma ar e preocupada com a ques o do povo. Nes-se con ex o, e claramen e inuenciado pelo MCP, criado no iode Janeiro o Cen ro Popular de Cul ura da UNE em 1961, como obje ivo de cons ruo de umacul ura nacional, popular e de-mocr ica. Por meio da conscien izao das classes populares a

    par ir de inseres cul urais na avela, no campo e na classe ope-rria, a ar e engajada realizada pelo CPC buscava levar o dilogopol ico para o povo, a par ir de uma concepo da cul ura como

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    43/152

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    44/152

    44

    sileira no apenas crescesse ver iginosamen e no perodo masapro undasse suas ques es es icas e uncionais.

    As aes do governo e das organizaes pol icas popula-res passam a orien ar-se cada vez mais pela crena em um Es adosuperior e soberano, e pelo lugar cen ral ocupado pelas massasem ermos de base de ar iculao e apoio. Se is o signica quepossuem en o algum nvel de par icipao e poder de barganhacom o Es ado, coloca, por ou ro lado, empecilhos para o desen- volvimen o de uma ao pol ica au noma, desempenhandoassim um papel de massa de manobra. O Par ido Comunis a,por sua vez, a uava na aliana com a burguesia nacional e na con-ciliao de classes, acilmen e combinvel com o populismo na-cionalis a en o dominan e.

    A in ensicao do processo de indus rializao comea ase azer a ravs da crescen e pene rao em nossa economia decapi ais ex ernos pela via da associao com empresas nacionais.

    Dessa orma, o pas, es ru urado em uma economia agrrio-ex-por adora, so ria as presses de uma nova modernidade impos-a pelo capi alismo monopolis a in ernacional, enquan o o deba e

    pol ico nacional via nascer um novo abu: a e orma Agrria.Embora ivesse aproximao com a base popular a ravs

    de re ormas sociais, o governo de Joo Goular encon rava resis-ncia den ro do Congresso, simbolizando para as classes mais

    conservadoras um perigo comunis a no pas, e, emendo a lu ade classes, recuou dian e de uma possvel guerra civil. Assim,nanciado pelo governo capi alis a nor e-americano, apoiadopela direi a e por se ores da Igreja Ca lica e da classe mdia,mili ares omam o poder, no dia 31 de maro de 1964. Ins ala-se en o ocialmen e uma moral conservadora sus en ada pelozelo cvico-religioso, a vigilncia moral e o u anismo pa ri ico,

    que, a ravs da censura declaradamen e exercida pelo regimemili ar sobre a produo cul ural nacional, iro es abelecer no- vos paradigmas para a criao ar s ica no pas. O chamado golpe

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    45/152

    45

    mili ar oi en o um verdadeiro balde de gua ria para ar isin elec uais, mili an es, es udan es e, de uma orma geral, a esquerda, que acredi ava na possibilidade de criao de umanao socialis a de base popular:

    O golpe de 64 traz consigo a reordenao e o estrei-tamento dos laos de dependncia, a intensicao do processo de modernizao, a racionalizao institucio-nal e a regulao autoritria das relaes entre as clas-ses e os grupos, colocando em vantagem os setores assciados ao capital monopolista ou a eles vinculados.18

    No dia 1 de maro, a sede da UNE invadida, incendia-da e a en idade pos a na ilegalidade acabando assim como oCPCs espalhados pelo pas; Miguel Arraes depos o em Pernam- buco, acabando com as inicia ivas do MCP; o Par ido Comunis-

    a Brasileiro orna-se ilegal desencadeando odo um processo drup uras e dissidncias no campo das esquerdas - que se divideen re a crena na revoluo por via da conscien izao pol ica d base popular e na guerrilha armada conec ada com as endnciasla ino-americanas ou no simples desbunde como resis ncia aoprocesso pol ico. Deses ru urados com a surpresa do golpe e

    racasso da revoluo socialis a, an igos mili an es do espao p

    os novos em sua maioria es udan es que iro ocar a cena pol ica de resis ncia. Inicia-se um novo momen o para o Brasil eermos pol icos, sociais e cul urais, que levaro o pas ao perod

    que oi, provavelmen e, um dos mais urbulen os de sua his ri

    1.2.2 Cultura no Brasil ps 64.

    No s no Brasil, mas no mundo in eiro, repensa-se vriosproblemas do nosso empo, buscando superar cer as ca egoria

    18 Idem, p. 20.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    46/152

    46

    e cer as maneiras de abordagem que prevaleceram em perodosan eriores. Apon ando para uma crise da esquerda e do marxis-mo enquan o m odo de inves igao social, h uma en a ivade repensar as ques es de uma maneira nova, e ambm derepensar cer a concepo da pol ica no Brasil...de como azerpol ica.19 Nes e sen ido, no plano da cul ura ambm se obser- vava uma cer a cr ica ao au ori arismo e a idia de que poucaspessoas iluminadas eram capazes de resolver as ques es dopovo brasileiro como se a esquerda osse a de en ora do mono-plio da verdade, observando a necessidade de uma cul ura maispluralis a que desse con a das con radies de uma sociedade brasileira diversa e he erognea.

    O principal e ei o do golpe mili ar sobre o processo cul u-ral no oi, a princpio, no impedimen o da circulao das pro-dues ericas e cul urais de esquerda, mas no bloqueio des aproduo em seu acesso s classes populares, cor ando assim

    as pon es en re o movimen o cul ural e as massas. Mesmo comres ries, o iderio das mani es aes cul urais da esquerda sedesenvolve ver iginosamen e en re um pblico que iria assumir,en o, a ren e das movimen aes: os es udan es, organizadosem semiclandes inidade:

    Fracassada em suas pretenses revolucionrias e im-

    pedidas de chegar s classes populares, a produocultural engajada passa a realizar-se num circuito ni-tidamente integrado ao sistema teatro, cinema, disco- e a ser consumida por um pblico j convertido deintelectuais e estudantes da classe mdia20.

    Nes e sen ido, o experimen alismo ormal das vanguardas

    e as propos as de ar e popular revolucionria (que remon am ao19 Hollanda e Pereira, 1980, p. 4520 Hollanda, 1980, p. 30.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    47/152

    47

    engajamen o cepecis a) criam uma or e enso que alimenpercorre a produo cul ural do perodo.

    A perda de con a o com o povo e a necessidade de impe-dir a desagregao canalizaram a ao cul ural da esquerda paraum circui o de espe culo. Firmava-se en o a convico de qu vivo e po ico era o comba e ao capi al e ao imperialismo e daimpor ncia dos gneros pblicos como ea ro, msica populae cinema enquan o a li era ura saa do primeiro plano para seus ar is as incorporado a es as ou ras ar es.

    Para o engajamen o ar s ico cepecis a (pr-golpe), paracap ar a sin axe das massas necessrio azer uso de seu insmen o de rabalho a palavra po ica em avor de um dilogpol ico mais imedia o. O resul ado dessa submisso da ormao con edo era uma poesia me a oricamen e pobre, codicada e esquem ica. Helosa Buarque21 recorre a Wal er Benjamin,para demons rar que ciso en re o engajamen o e a qualidade

    li erria no d con a das in erconexes exis en es en re os dplos, se ra ando de uma percepo an idial ica do problempois exa amen e a opo li erria explci a ou implici amecon ida na opo pol ica que cons i ui a qualidade da obra. Oseja: em que medida ela es reabas ecendo o aparelho produ i vo do sis ema ou a uando para modic-lo. Essa cr ica prduo li erria pode ser deslocada para ou ras ormas de cria

    ar s icas do perodo, que ambm possuam di eren es graus engajamen o e preocupao es ica:

    A uno poltica da obra sua eccia revolucionria no deve, ento, ser procurada nas imprecaues quedirige ao sistema ou em sua autoproclamao como obrade trans ormao social, mas, antes, na tcnica que a pro

    duz na con ormao ou no dessa tcnica s relaes d produo estabelecidas. neste sentido, ento que a art

    21 Idem, p.31.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    48/152

    48

    populista no desempenhava, apesar de seu propsito ex- plicitamente engajado, uno revolucionria.22

    Nes e sen ido, o movimen o do Cinema Novo, que vi-nha desde o incio da dcada, parecia propor um duplo enga- jamen o, buscando a revoluo da ar e com con edo pol ico

    ambm pela re ormulao es ica. Para eles, os dois problemasse colocam jun os, um decorrendo do ou ro: por um lado a pre-ocupao com uma ar e que rans orme, e por ou ro a garan iade liberdade en re as al erna ivas que es a ar e possa er comoexpresso e comunicao.

    En re an o, eram cri icados pelas alas mais rgidas doCPC, que viam no cinema de au or a possibilidade de um im-pedimen o comunicao com o povo, que no acompanha-ria a linguagem de vanguarda. Em respos a, Glauber ocha, umdos mais impor an es cineas as da his ria do cinema nacional

    e precursor do Cinema Novo, diz: es amos preocupados emrans ormar conscincias, no lev-las a uma orma de en orpe-cimen o; lev-las a novas ormas de raciocnio condizen es comsua si uao de classe novas.

    No Cinema Novo, em con raposio a um cinema nacio-nal nos moldes da inds ria cinema ogrca nor e-americanae europia buscava-se a realizao de lmes descolonizados,

    expressando cri icamen e a em ica do subdesenvolvimen o,raduzindo a vivncia his rica de um pas do erceiro Mundo.Na busca por uma iden idade nacional, queriam azer lmes an-

    iindus riais, de au or, lmes de comba e na hora do comba e elmes para cons ruir no Brasil um pa rimnio cul ural23. Acre-di avam que a revoluo no cinema deveria dar-se ambm noplano es ico, em uma en a iva de romper com a lgica de pro-

    duo do cinema imperialis a nor e-americano e seu esquema22 Idem.23 Idem

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    49/152

    49

    clssico-narra ivo. A linguagem era vis a como lugar de exerccio do poder: a superao da alienao e da dependncia haveriade passar pela descons ruo das ormas cul urais dominan ee do raciocnio ideolgico por elas propos o. Alm de es icaa inveno e a experimen ao no campo da linguagem cine-ma ogrca eram uma problem ica econmica e pol ica poiresul ava da opo de uma produo no indus rial, pela desmis

    icao da imagem dominan e da sociedade brasileira e, principalmen e, pela desmon agem dos padres es icos-ideolgicodo lme es rangeiro.

    O engajamen o do in elec ual no era apenas a mo ivaideolgica do Cinema Novo, como ambm, mui as vezes, o seuargumen o. Em 66, Paulo Csar Saraceni lmaO Desao , um l-me sobre os impasses que rondavam a esquerda depois de 64que se raduz em uma en a iva de agrar um momen o da concincia do in elec ual, demarcando as con radies e os limi

    de sua origem de classe e de seu universo ico e pol ico. Em 6 lanadoTerra em ranse, de Glauber ocha, o mais emblem i-co lme do perodo, que mo ivou vanguardas experimen alis a como a msica ropicalis a de Cae ano Veloso ao ques ionas con radies daintelligentzia brasileira.

    No campo do ea ro, com o echamen o do CPC, seusmembros iveram que se vol ar para o ea ro comercial para d

    con inuidade sua experincia, e como no poderiam empla-car com um novo espe culo o nome de seus an igos dire oresar icularam-se ao ea ro de Arena, do qual pegaram o nomeempres ado24. Em dezembro es ria en o o musicalOpinio ,dando incio bem sucedida emporada que ornou-se um mar-co para a cul ura ps-64. No palco, o composi or rural Joo do

    24 Segundo Ferreira Gullar em en revis a Helosa B. de Hollanda no livroPa rulhas Ideolgicas o show Opinio oi lanado como produo do Teatrode Arena, mas no era do Teatro de Arena; e ns pagamos ao[Augus o] Boal para azer isso e ainda pagamos ao Teatro de Arena para nos emprestar o nom

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    50/152

    50

    Vale, o msico da peri eria urbana carioca Z Keti e a lha daclasse mdia de Copacabana Nara Leo represen avam as con-

    radies de uma populao que acredi ava que preciso cantar / Mais do que nunca, preciso cantar / preciso cantar e alegrara cidade / A tristeza que a gente tem qualquer dia vai se acabar 25.Em uma aluso esperana e resis ncia, o musical marcou oincio de uma endncia ou melhor, necessidade de se pas-sar a mensagem pol ica a ravs de parbolas, driblando a cen-sura. Para es e grupo que acredi ava dar uma respos a ao golpe,a ar e an o mais expressiva quan o mais enha uma opinio, apar ir da denncia a ravs de con edos pol icos, evidencian-do um nacionalismo explci o e a con inuidade da idealizaoda aliana ar is a-povo em uma cul ura de pro es o26. En re-

    an o, ao invs de operrios e camponeses, o pblico do espe -culo, apresen ado em uma avenida a beira-mar de Copacabana,eram es udan es e in elec uais da classe mdia de esquerda, que

    compar ilhavam do mesmo sen imen o de esperana. O dilogopblico-pla ia se ornava mais horizon al no sen ido de que nolugar da pro undidade de belos ex os, eram apresen ados argu-men os e compor amen os dire amen e relacionados com suasrealidades, para imi ao, cr ica ou rejeio. Nes a cumplicida-de, o showOpinio produzira a unanimidade da pla ia a ravsda aliana simblica represen ada en re msica e as massas po-

    pulares con ra o regime. Ainda no plano ea ral, Jos Celso Mar inez Corra dirigiao ea ro Ocina no plo experimen alis a da criao ar s ica dapoca, opondo-se es ica e, principalmen e, mo ivao doea ro de Arena. Se o Arena herdara da ase Goular o impulsoormal, o in eresse pela lu a de classes, pela revoluo, e uma cer-

    25 recho da Marcha da Quar a- eira de Cinzas can ada por Nara Leo no es-pe culo, inves indo na cano o sen ido pol ico de se expressar con ra o au o-ri arismo que subia ao poder e a de erminao denncia e ao en ren amen o.26 Hollanda, 1982, p. 23.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    51/152

    51

    a limi ao populis a, OOcina ergueu-se a par ir da experinciain erior da desagregao burguesa em 6427. Na relao palco-p- blico observava-se uma cumplicidade di eren e, no mais ligadopelasimpatiae didatismo , como no Arena, mas pelabrutalizaoechoque. Era uma respos a mais radical derro a de 64, e seu pbli-co era aquele a quem o resduo populis a do Arena incomodava.Para eles ar is as e pblico doOcina -depois da aliana da bur-guesia com o imperalismo que resul ou na di adura mili ar, odconsen imen o en re palco e pla ia um erro ideolgico e es

    ico, e a cumplicidade esperanosa da classe mdia es udan il nOpinio se congurava como alienao e con ormismo.28

    No campo da cano, a inuncia das idias de esquerdanos meios ar s icos levar a uma verdadeira revoluo es ina msica popular. Alienao e engajamen o na cul ura es udan

    il sero nes e momen o a principal discusso, e es a ornamais eviden e no cenrio musical, cuja produo cresce ver igi

    nosamen e nes e perodo. Para Francisco exeira da Silva:

    As canes possuem um poder especial, um certo encantamento prprio, compondo parte undamentalda memria dos indivduos. As canes eram, naquelemomento, ouvidas e aprendidas, para serem repetidasna mesa do bar, nos corredores das escolas e universi

    dades, em pequenas reunies. Eram tempos em que acano tambm era uma arma, re orando a solidarie-dade mtua e a identidade coletiva29.

    Nessa perspec iva, a MPB se des aca no s como o cen rode um amplo deba e es ico-ideolgico ocorrido nos anos 60mas, acima de udo, como uma ins i uio sociocul ural orjad

    27 Schwarz, 1978, p. 44.28 Veremos mais sobre o ea ro Ocina no cap ulo 2.29 eixeira da Silva,apud Cambraia Naves & Duar e, 2003, p.140.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    52/152

    52

    par ir des e deba e. Se no incio da dcada a produo es ava vol-ada, por um lado para as conquis as musicais da Bossa Nova,

    e, por ou ro, pela disseminao de uma mensagem socialmen eengajada e nacionalis a, a par ir de 64 a uno social da msica rediscu ida, acompanhada da discusso mais especca em or-no do posicionamen o con ra o regime mili ar. Nas canes u -picas de re orma social des e perodo no h, de uma maneirageral, uma orma nica de organizao pol ica e social, di eren edas experincias do realismo socialis a pr-golpe e suas cer ezaspol icas. Apesar do racasso das esquerdas em 64, permaneceuma cer a - ao mesmo empo ingnua e segura - na capacidadedo povo em cons ruir ormas mais iguali rias, pluralis as e jus-

    as de convivncia social, remanescendo assim o ar is a-povocomo alegoria de vanguarda.

    Alm disso, a consolidao de uma inds ria cul ural razampliao do pblico consumidor e, com isso, novos espaos no

    cenrio musical. De acordo com Nercolini (2005), nes e sen ido,a Era dos Fes ivais promovida pelas incipien es redes de V napoca (a exemplo da Excelsior, da ecord e da upi, e, mais arde,da Globo) exerceram um impor an e papel na divulgao do ra- balho de novos ar is as, que encon ravam nes e cenrio um dilo-go com seu pblico, em sua maioria uma classe mdia que por ve-zes no era a ingida pelos ou ros circui os cul urais. ais es ivai

    revelaram ou consolidaram - impor an es ar is as como ChicoBuarque, Mil on Nacimen o, Geraldo Vandr, Paulinho da Viola,Edu Lobo,Gilber o Gil, Cae ano Veloso, Elis egina, Nara Leo,en re mui os ou ros. Se por um lado os meios de comunicao demassa avoreciam o dilogo dos msicos engajados com a classemdia es udan il seu principal pblico -, por ou ro permi iamo aparecimen o de novos ar is as produ os da inds ria cul ural.

    Com con edo considerado alienado, ar is as como ober o eErasmo Carlos represen avam a Jovem Guarda, que, mui o bemacessorados pelas suas gravadoras e pelos meios de comunica-

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    53/152

    53

    o de massa, aziam uma msica mais comercial, baseada norocknroll que se consolidava in ernacionalmen e. No Brasil, a verso i i i alcanava sucesso de vendas e conquis ava grandpar e do pblico de classe mdia, gerando uma verdadeira cisoen re os en o chamados de engajados e alienados.

    A relao com a inds ria cul ural e o crescen e mercado por ela proporcionado dividiu mui os ar is as e gerou umasrie de deba es sobre os rumos da produo cul ural brasileiraPara ober o Schwarz:

    Os intelectuais so de esquerda, e as matrias que pre- param, de um lado para as comisses do governo oudo grande capital, e do outro para as rdios, televisese os jornais do pas no so. de esquerda somente amatria que o grupo numeroso a ponto de ormar umbom mercado produz para consumo prprio.30

    Em sn ese, se os anos 40 e 50 podem ser consideradoscomo momen os de incipincia de uma sociedade de consumo, asdcadas de 60 e 70 se denem pela consolidao de um mercadode bens cul urais, associado s rans ormaes es ru urais pequais passa a sociedade. A reorganizao ardia da economia bra-sileira no processo de in ernacionalizao do capi al az com qu

    o Es ado au ori rio or alecesse o parque indus rial, inclusiveproduo de cul ura e do mercado de bens cul urais31.econhece-se en o o poder que pode er a cul ura, e a im-

    por ncia da a uao do regime jun o s es eras cul urais. Se um lado denida uma represso ideolgica e pol ica, por ou ro

    30 Schwarz, 1978, p. 8.

    31 Di eren emen e de bens ma eriais, en ende-se por bens cul uraisdimenso simblica que apon a para problemas ideolgicos, que expressamelemen os pol icos embu idos embora nem sempre eviden es no prpriprodu o veiculado.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    54/152

    54

    um momen o de grande produo e di uso de bens cul urais,mui o em uno do papel de produ or e incen ivador da cul uraassumido pelo prprio Es ado, que sen ia a necessidade de ra arde orma di erenciada es a rea, onde seus produ os poderiamexpressar valores e disposies con rrias von ade pol ica dosque es o no poder. Por isso, a censura no se dene pelo ve o aqualquer produ o cul ural, mas sim por es abelecer uma repres-so sele iva que separava o ma erial considerado subversivo da-quele que serviria aos in eresses u anis as do regime mili ar. Ouseja, uma viso au ori ria que se desdobra no plano da cul urapela censura e pelo incen ivo de de erminadas aes cul urais.

    dessa poca a criao de en idades como o ConselhoFederal de Cul ura, o Ins i u o Nacional do Cinema, a Embra-lme, a Funar e, en re ou ros32 , evidenciando a preocupao doregime em pol icas pblicas nes a rea. Com isso, a produocinema ogrca conhece, sem dvida, um momen o de expan-

    so, com pol icas do Es ado vol adas para medidas de pro eode mercado - ren e inds ria hollywoodiana - e de incen ivo qualidade de produo.

    Como assinala Or iz:

    O que caracteriza a situao cultural nos anos 60 e 70 o volume e a dimenso do mercado de bens culturais.

    Se at a dcada de 50 as produes eram restritas, eatingiam um nmero reduzido de pessoas, em 60 elastendem a ser cada vez mais di erenciadas e cobremuma massa consumidora de produtos produzidos espe-cialmente para elas33.

    32 Es a inicia iva remon a a uao pol ica na es era da cul ura no perodo

    da di adura Varguis a, onde oram criadas diversas ins i uies na es era cul-ural e educacional como o Ins i u o Nacional do Livro, o Ins i u o Nacionaldo Cinema Educa ivo, alm de museus, e biblio ecas pblicas.33 Or iz, 2001, p.121.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    55/152

    55

    O crescimen o desse pblico consumidor de cul ura se dambm em uno das inmeras acilidades que o comrcio pas

    sou a apresen ar. Assim, ocorre uma expanso em nvel de produ-o, dis ribuio e consumo de cul ura an o das empresas alidas ao regime que produzem mais para suprir a al a (econmica)dos que oram censurados, quan o da con racul ura, que en a d

    ribuir sua produo no limi e de sua propos a subversiva. A implan ao de uma inds ria cul ural modica o pa-

    dro de relacionamen o com a cul ura, uma vez que deni ivamen e ela passa a ser concebida como um inves imen o comercial, o que no se ra a apenas de uma mani es ao do regimmili ar, mas a expresso do desenvolvimen o capi alis a no paa ravs de uma via au ori ria. Assim, pode-se en ender a gamde in eresses comuns no proje o de in egrao nacional en re Es ado au ori rio que buscava a ampliao da base de apoiao regime - e o se or empresarial da inds ria cul ural que s

    consolidava no pas sublinhando a in egrao com o mercado.Nes e sen ido, a despoli izao do con edo por par e da indria cul ural e dos meios de comunicao massivos servia per eamen e para ambas as pre enses. O que se via era uma pol i

    de po e circo. A ravs do aparen e desenvolvimen o econmicconec ado com o capi alismo in ernacional e da proli erao d bens cul urais pas eurizados, iludia-se a populao para desvia

    a a eno dos reais problemas sociais como a represso e a desi-gualdade social. Des a orma, o pac o di adura - meios de comnicao represen ava um duplo obs culo para os movimen ocon racul urais de resis ncia ao regime e alienao, que agose viam ren e a dois inimigos: a censura pol ica do con ee a imposio econmica da inds ria cul ural.

    Nes e cenrio, os meios de comunicao de massa comea-

    vam a se consolidar no pas, sendo reconhecida a sua capacidadede di undir idias, de se comunicar dire amen e com as massas sobre udo, a possibilidade que m em criar es ados emocionai

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    56/152

    56

    cole ivos. endo o nacionalismo como sua principal bandeira, a busca por uma iden idade nacional ser a grande mo ivao para

    al papel es a al de in egrar, a par ir de um cen ro, a diversidadesocial. A idia da in egrao nacional cen ral para a realizaodes a ideologia, que impulsiona os mili ares a promover oda uma

    rans ormao na es era da cul ura inves indo pesadamen e emsupor es ecnolgicos para as elecomunicaes.

    Assim, o que melhor carac eriza o adven o e a consolidaoda inds ria cul ural no Brasil o desenvolvimen o da elevisocomo meio de massa, e, para isso, o Es ado inves iu no incremen oda produo de aparelhos, na sua dis ribuio, e na melhoria dascondies cnicas, azendo com que o hbi o de assis ir elevi-so se consolidasse deni ivamen e e se disseminasse por odasas classes sociais. Com a crescen e prossionalizao da produocul ural, in ensica-se o processo de diviso de are as e surgemou so consolidadas prosses especializadas undamen ais para

    o uncionamen o des a inds ria, como o gra os, cengra os, rda ores, pesquisadores, ro eiris as, e c. nessa poca que surgemos grandes conglomerados que passariam a con rolar cada vezmais os meios de comunicao e a cul ura de massa, represen an-do a ora econmica e pol ica aliadas.

    A dcada de 60, com a reviso pol ica e o ques ionamen-o compor amen al, as experimen aes es icas e u opias re

    volucionrias, ao lado do crescimen o de uma inds ria cul urale da consolidao do capi alismo como ordem hegemnica, oium perodo de grandes rans ormaes sociais, pol icas e, so- bre udo, cul urais, cujos desdobramen os ainda podem ser sen-

    idos na produo cul ural dos dias de hoje, como veremos nosprximos cap ulos.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    57/152

    57

    CAPTULO 2 O CPC E A T OPICLIA.

    Se a gente no se prope a mudar o mundo, como viso, noadianta nada. Hoje em dia eu acho que qualquer coisa que se aa deve estar to ligada a um ato poltico que no deve havemais di erena entre a poltica em si e a arte de outro lado... um gesto, uma ala, uma atitude, devem ser coisas politizadas.

    Lygia Clark

    2.1 O Centro Popular de cultura da UNE.

    Como vimos no cap ulo an erior, a dcada de 60 oi mar-cada no Brasil por um or e sen imen o nacionalis a e desenv vimen is a. A in ensa produo cul ural no pas ree ia es amos era, aglu inando ar is as e in elec uais em ques ioname

    em orno do popular, em ermos de conscien izao e par icpao das massas no processo social e pol ico do pas. A arqui-e ura de Oscar Niemeyer ez de Braslia o cen ro das apos as ermos de desenvolvimen o nacional, e a Fundao Cul ural d

    Braslia, dirigida por Ferreira Gullar, ampliou os horizon es dopoe a para es as ques es:

    (...) a entrei numa nova dimenso da realidade. A ten-tei azer arte popular e arte de vanguarda, porque acre-ditava que Braslia era a sntese desses dois plos da vidcultural brasileira. (...) O artesanato arcaico nordestinocom a imaginao do urbanismo e a arquitetura auda-ciosa, o Brasil mais moderno e o mais antigo juntos.34

    Gullar, maranhense que vinha das experincias neocon-cre as no io de Janeiro, pre endia criar um Museu de Ar e Po

    34 In: Amaral, 2003, p. 315.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    58/152

    58

    pular, com a elis cole ivos para os rabalhadores nordes inosresiden es no Dis ri o Federal erem um espao de lazer e cul u-ra, desenvolvendo sua radio ar esanal a par ir de um mercadode ar e popular para uris as, gerando assim ambm uma movi-men ao econmica impor an e para o circui o. Mas o proje ono oi adian e, e Gullar percebeu que os prprios rabalhadores,que por con a de suas ocupaes no se dedicavam produoar esanal radicional, ambm no se mos ravam mui o in eres-sados ou engajados na discusso sobre cul ura popular.

    No mesmo perodo, em So Paulo, o ea ro Brasileiro deComdia ( BC) passava por um perodo de rees ru urao e al-guns de seus ar is as buscavam expandir suas a uaes para almdo ea ro convencional. Era criado en o o ea ro de Arena, que,liderado por Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha, e Gian ran-cesco Guarnieri (que vinham do ea ro Paulis a dos Es udan-

    es), azia apresen aes com recursos mnimos, onde as unes

    eram cole ivas, e com uma em ica brasileira co idiana, ligada vida de odo dia35. Apesar do es oro, ainda eram um ea ro deminoria e perceberam que con inuavam com o mesmo pblico burgus do BC:

    O Arena era porta-voz das massas populares em um te-atro de 150 lugares. No atingia o pblico popular, e, o

    que talvez mais importante, no podia mobilizar um grande nmero de ativistas para o seu trabalho. A urgn-cia de conscientizao, a possibilidade de arregimenta-o da intelectualidade, dos estudantes, do prprio povo,a quantidade de pblico existente estavam em orte des-compasso com o Arena enquanto empresa36.

    35 O Arena revolucionou a tradicional diviso de trabalho do teatro convencio-nal. Ali todos aziam tudo: escreviam, representavam, dirigiam e aziam o traba-lho logstico. O Arena era, de ato, uma equipe. In:Buonicori, 2005, p.10036 Apud Buonicori, 2005, p. 100.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    59/152

    59

    Como con a Gullar:

    Surgiram aqueles que achavam que era necessrio le-var a experincia alm daqueles limites que no eramsimplesmente culturais, estticos, eram de outra natu-reza: diziam respeito prpria insero do teatro nasociedade brasileira do teatro como uma orma de produo comercial. 37

    Desejando compreender melhor os mecanismos de explora-o do rabalho sob o capi alismo, Vianinha e Chico de Assis escre vem em 1960 a pea A mais valia vai acabar, Seu Edgard, com a ajudado jovem socilogo do ISEB Carlos Es evam Mar ins, sucesso dpblico duran e os 8 meses em que cou em car az na Faculdade d Arqui e ura da UF J. Visando a con inuidade do rabalho, realizana sede da UNE um curso sobre His ria da Filosoa, que con ou

    com a presena do educador Paulo Freire, rela ando as experinciasdo Movimen o de Cul ura Popular (MCP) em Pernambuco. Nomesmo ano havia sido realizado um Congresso da UNE, em eci e,onde o prprio MCP preparou uma exposio sobre suas a ividades,sugerindo aos es udan es presen es a criao de inicia ivas anlogSurge en o a idia do Cen ro Popular de Cul ura em parceria coma UNE que, embora idealizado a par ir das a ividades universi ri

    com o ea ro, englobava ambm ou ros campos da produo cuural: Vianninha seria o responsvel pelas a ividades ea rais, LeHirzman pelo cinema, Carlos Lira pela msica e Ferreira Gullar pelali era ura, e endo como presiden e Carlos Es evam Mar ins, amau or do An eproje o do Mani es o do CPC emblem ico sobre a propos a do proje o que se iniciava. Em 8 de maro de 1962ocializado o CPC da UNE, que embora ocupasse uma pequena sala

    na sede da en idade, no recebia nenhuma orma de nanciamenxo, nem da UNE nem do governo Joo Goular , recebendo verbas

    37 Apud Hollanda, 1988, p. 63.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    60/152

    60

    pblicas apenas para alguns proje os especcos. A opo pela recusado nanciamen o pblico era jus amen e man er a au onomia de suasaes peran e o governo populis a de Goular , se assumindo como umrgo da sociedade civil, criado e sus en ado por ela o empo odo.Segundo Mar ins, o nosso pblico, que iria usu ruir de nossa criaocul ural, que deveria pagar por ela, pois s assim iraramos, como de

    a o iramos, o Es ado da jogada e no caramos, como os sindica osa relados ao Es ado pelo umbigo da dependncia econmica38.

    Com a en idade es udan il o CPC realizou o proje oUNEVolante , uma caravana cul ural i ineran e que levava as produescepecis as a diversos pon os do pas, promovendo as discusses eincen ivando a criao de ou ros Cen ros Populares de Cul ura. Asapresen aes nas por as das bricas, sindica os, em avelas e comunidades rurais realizadas pelos universi rios raziam em icas pr-prias de cada con ex o, incen ivando o deba e cr ico da realidadesocial brasileira. Algumas das realizaes marcan es do CPC em sua

    cur ssima durao de dois anos oram: as peas ea rais A mais va-lia vai acabar, Seu Edgard, Brasil Verso brasileira, Eles no usamblack-tie,e peas de agi ao comoo Auto dos cassetetes; o Autodos 99% , en re ou ros; a produo do lme Cinco Vezes Favela 39 eCabra marcado para morrer 40; shows musicais com ar is as popu-lares, o disco O povo canta e o espe culo, A noite da Msica Po- pular Brasileira, no ea ro Municipal; a publicao dos Cadernos

    do Povo Brasileiro e a mon agem de uma dis ribuidora de livros ediscos do CPC. Segundo ober o Schwarz:38 Apud Buonicori, 2005, p.108.39 Uma produo cole iva que reunia cinco cur as com a viso do povo da

    avela pelos olhos dos jovens cineas as do CPC. Par iciparam do proje o Mi-guel Borges (Z da Cachorra), Cac Diegues (Escola de Samba Alegria de Viver), Marcos Farias (Um Favelado), Leon Hirszman (Pedreira de So

    Diego) e Joaquim Pedro de Andrade (Couro de Ga o).40 O lme dirigido por Eduardo Cou inho eve de ser in errompido nosmeio das lmagens em 64 no in erior pernambucano por con a do golpe mi-li ar, sendo concludo apenas nos anos 80.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    61/152

    61

    No Rio de Janeiro os CPC improvisavam teatro polti-co em portas de brica, sindicatos, grmios estudantie na avela, comeavam a azer cinema e lanar discos. O vento pr-revolucionrio descompartimentavaa conscincia nacional e enchia os jornais de re ormagrria, agitao camponesa, movimento operrio, na-cionalizao de empresas americanas, etc41.

    Como se pode observar, a em ica povo era a principallinha de a uao do cole ivo que, baseado em uma ideologia donacional popular, en ava desvendar o Brasil sob a perspec iva dlu a de classes e, assim, incen ivar a par icipao dessa populana cons ruo do Brasil que se desenvolvia. Para eles, a par icipado in elec ual e do ar is a na problem ica social de seu empouma necessidade impre ervel. Carlos Es evam Mar ins, no anproje o do Mani es o do CPC, si ua os ar is as em rs al ern

    em relao lu a do povo: o con ormismo (o ar is a perdido eseu ransviamen o ideolgico no enxerga a ar e como um doelemen os cons i u ivos da superes ru ura social), o incon ormo (in elec uais movidos por um vago sen imen o de repulsa plos padres dominan es, que, no en an o, no compreendem queno bas a ado ar a a i ude simplesmen e nega iva de no adesoo revolucionrio-conseqen e (opo por ser povo, por ser par e

    in egran e do povo), como se julgavam os cepecis as. Mar ins ada classica os rs ipos de ar e di as popular. A ar e do povoria ru o sobre udo do meio rural, na qual o ar is a no se dis inda classe consumidora, e por isso considerada primaris a no nveda elaborao ar s ica; j a ar e popular es aria assinalada pela viso do rabalho na produo ar s ica sem ainda a ingir o nveldignidade ar s ica leg ima. Para ele, es es dois ipos de ar e

    pressam o povo apenas em suas mani es aes enomnicas e co xis em com uma ar e dos senhores que nega es e circui o popu

    41 Schwarz, 1978, p. 20.

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    62/152

    62

    dividindo par e da sociedade e con ribuindo para o con ormismosocial. Assim, o ar is a do CPC se prope a uma ar e popular revo-lucionria, que visa dar cumprimen o ao proje o da exis ncia dopovo al como ele se apresen a na sociedade de classes, e onde opovo nega sua negao, rejei ando o roman ismo populis a sobre acul ura popular, o que levaria ao con ormismo. Dessa orma, o CPC,a ravs do mani es o escri o por Mar ins, arma que em nosso pase nossa poca, ora da ar e pol ica no h ar e popular42.

    Es a era, en re an o, a principal cr ica ei a ao CPC, peloa o des a represen ao do povo brasileiro ser ei a pelos olhos

    de uma classe de erminada: a juven ude universi ria de esquer-da43. A busca pela conscien izao das massas e sua conseqen epar icipao pol ica era ei a de orma con radi oriamen e hierrquica, uma vez que se levava o conhecimen o adquirido pelain elec ualidade para as classes populares. A grande cr ica aoCPC dizia respei o sua a uao como se es e povo osse uma

    massa alienada que precisasse de uma vanguarda para orien -loe conduzi-lo revoluo. A en a iva de se carac erizar o que se-ria es a cul ura popular no poderia ser sempre el realidade,uma vez que is o era ei o por pessoas originariamen e alheiasqueles con ex os44. A viso roman izada do bom povo, do ra- balhador, do homem do campo e da avela, acabava por ignoraras di erenas e con radies de oda uma classe.

    42 An eproje o do Mani es o do Cen ro Popular de Cul ura, redigido emmaro de 1962, por Carlos Es evam Mar ins, en o presiden e do CPC. Ver

    ex o comple o em Hollanda, 1980, p. 135-168.43 Nenhum operrio oi consultado/ no h nenhum operrio no palco/ talveznem mesmo na platia/ mas Tom Z sabe o que bom para os operrios le rada msica Classe Operria, de om Z44 Is o era reconhecido por Mar ins, no mani es o: por sua origem social

    como elemento pequeno-burgus, o artista est permanentemente exposto pres-so dos condicionamentos materiais de hbitos arraigados, de concepes e sen-timentos que o incompatibilizariam com as necessidades da classe que decidiurepresentar .

  • 8/14/2019 producao_de_cultura_no_brasil.pdf

    63/152

    63

    Como rela a Ferreira Gullar, a en a iva de con a o da clse mdia com a cul ura popular que se buscava realizar no CPCno era necessariamen e correspondida pelas classes populares:

    Levavam-se sede da UNE grupos olclricos, cantores populares e gente das escolas de samba; criou-se ummovimento muito amplo e muito importante, mas aresposta procedia basicamente do setor universitrio.Quando comeamos a ampliar o movimento em di-reo aos sindicatos, s avelas e tal, a coisa comeoa complicar. Os operrios no tinham experincia deteatro e, quando amos aos sindicatos, em geral no ha-via operrios para ver as peas.45

    O con edo excessivamen e pol ico das mensagens se so brepunha elaborao es ica da obra, em busca de uma comu

    nicao mais imedia a com seu pblico46 , o que se congurou emuma das maiores cr icas ei as pos eriormen e ao CPC, inclu ve pela ropiclia, como veremos adian e. ra ava-se claramende uma concepo da cul ura como ins rumen o de omada