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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS (P 2 CEM) CAMILA HIGINA SANTOS LIMA PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE BATIO 3 ATRAVÉS DA ROTA SOL-GEL UTILIZANDO SUBSTÂNCIAS HÚMICAS PROVENIENTES DA ÁGUA DE RIO Orientadora: Profa. Dra. Zélia Soares Macedo SÃO CRISTÓVÃO, SE-BRASIL. FEVEREIRO DE 2017

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Page 1: PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE BATIO ...€¦ · ii Produção e caracterização de nanopartículas de BaTiO 3 através da rota sol-gel utilizando substâncias

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS (P2CEM)

CAMILA HIGINA SANTOS LIMA

PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE

NANOPARTÍCULAS DE BATIO3 ATRAVÉS DA ROTA

SOL-GEL UTILIZANDO SUBSTÂNCIAS HÚMICAS

PROVENIENTES DA ÁGUA DE RIO

Orientadora: Profa. Dra. Zélia Soares Macedo

SÃO CRISTÓVÃO, SE-BRASIL.

FEVEREIRO DE 2017

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Produção e caracterização de nanopartículas de BaTiO3 através da rota sol-gel

utilizando substâncias húmicas provenientes da água de rio

Camila Higina Santos Lima

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA

DE MATERIAIS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE COMO

PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO

GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS.

Orientadora: Profa. Dra. Zélia Soares Macedo

SÃO CRISTÓVÃO, SE-BRASIL.

FEVEREIRO DE 2017

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

L732p

Lima, Camila Higina Santos Produção e caracterização de nanopartículas de BaTiO3

através da rota sol-gel utilizando substâncias húmicas provenientes da água de rio / Camila Higina Santos Lima; orientador Zélia Soares Macedo. – São Cristóvão, 2017.

64 f. ; il. Dissertação (mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais)

– Universidade Federal de Sergipe, 2017.

1. Engenharia de materiais. 2. Substâncias húmicas. 3. Bário. I. Macedo, Zélia Soares, orient. II. Título.

CDU: 620

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A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.

“Albert Einstein”

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Dedico esse trabalho a minha família, obrigada por todo apoio, compreensão e

carinho.

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vi

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me dar forças para chegar até aqui

e não me deixar fraquejar. À minha família que tanto amo, meus pais, Juciene

e Elenaldo, aos meus irmãos Karina e Francisco que sempre torceram por

mim, em especial a minha mãe que sempre me incentivou, obrigada por

acreditar em mim!

Agradeço a minha orientadora Profa. Dra. Zélia Soares Macedo pela

oportunidade de realizar este trabalho, pela orientação sempre competente e

pelo apoio nos momentos difíceis.

À minha coorientadora Dra. Maria A. Gomes pela paciência e ajuda

fundamental na execução desse trabalho, sem você não teria conseguido.

Muito Obrigada!

Agradeço a Emerson pela paciência, carinho, proteção e apoio

incondicionais. Com você ficou mais fácil enfrentar os obstáculos. Te amo!

À Universidade Federal de Sergipe, ao CMNANO-UFS, ao departamento

de Ciências e Engenharia de Materiais e à CAPES pelo apoio financeiro.

Agradeço aos amigos que o mestrado me presenteou: Damon, Iure,

Erisfagna, Alberto Jr, Givanilson, Felipe, João Domingos, Diego Adalberto,

Delvane, Bertilla, Cochiran e Herbet pelo companheirismo em todos os

momentos.

Aos amigos de longa data: Edna, Tâmara, Wanderson, Denise, Mara,

Erilaine, Renato, Antônio (Titico), Dani, Érika, Nataly e Jadiane pelo apoio de

sempre. Vocês são únicos. Um agradecimento especial ao meu amigo Marcos

pela parceria e ajuda na coleta de água de rio e às longas risadas que me

proporcionou.

A todos os que fazem o LPCM-NUPEG, vocês foram muito importantes

nesse período, especialmente Claudinha Vieira, sempre pronta pra ajudar.

A todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para que

este trabalho fosse concretizado.

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Resumo da dissertação apresentada ao P²CEM/UFS como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciência e Engenharia de

Materiais (M.Sc.)

Produção e caracterização de nanopartículas de BaTiO3 através da rota sol-gel

utilizando substâncias húmicas provenientes da água de rio.

Camila Higina Santos Lima

Orientador: Zélia Soares Macedo

Programa de pós-graduação em ciência e engenharia de materiais.

Os objetivos deste trabalho consistiram na produção de nanopartículas

de titanato de bário (BaTiO3) puros e dopados com Nd3+ por meio de uma rota

inédita que utiliza as substâncias húmicas como agente complexador dos íons

metálicos e na investigação da influência dos parâmetros de síntese sobre as

propriedades estruturais, na cristalização do material e nas propriedades

luminescentes das amostras dopadas. O titanato de bário (BaTiO3) apresenta

potencial para aplicação em dispositivos eletro-ópticos, sonares, sensores de

infravermelho e capacitores multicamadas. Parâmetros como pH e temperatura

de calcinação foram investigados durante a produção, com o propósito de

desenvolver um procedimento simples, eficiente e de baixo custo para a

produção do titanato de bário. A rota de síntese proposta neste trabalho

mostrou-se bastante promissora na produção do BaTiO3. As amostras obtidas

com concentração de 0,5 g/ml apresentaram fase única tetragonal após

calcinação a 1200 ºC/5h. O tamanho de cristalito foi estimado através da

equação de Scherrer em torno de 28 nm e as partículas apresentaram formato

esférico, de bastonetes e de agulhas. Já as amostras de pH 7 e 10

apresentaram fase única a 1100 ºC/5h e as amostras dopadas com Neodímio

apresentaram fase única em 1200 ºC/5h e tamanho de cristalito estimado em

22 nm. Além disso, foi estudada a propriedade luminescente das amostras

dopadas, que se apresentaram em conformidade com as bandas de emissão

do neodímio na matriz do BaTiO3 relatadas na literatura.

Palavras-Chave: Substâncias húmicas, nanopartículas, BaTiO3.

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Abstract

Abstract of dissertation presented to P²CEM/UFS as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master in Materials Science and Engineering

(D.Sc.)

Synthesis and characterization of nanoparticles of BaTiO3 by sol-gel route using

humic substances from river water.

Camila Higina Santos Lima

Advisor: Zélia Soares Macedo

Post-graduate program in Material Science & Engineering

The goals of the present work consisted in the production of

nanoparticles of pure barium titanate and doped with Nd, by means of an

unpublished route that uses humic substances as complexing agent of the

metalic ions and in the investigation of the influence of the synthesis parameters

on the structural properties, on the crystalization of the material and on the

luminescent properties of doped samples. Barium titanate (BaTiO3) has

potential for application in electro-optical devices, sonars, infrared sensors and

multilayer capacitors. Parameters such as concentration, pH and calcination

temperature were investigated during production, with the purpose of

developing a simple, efficient and low energy cost procedure. The synthesis

route proposed in this work was very promising in the production of BaTiO3. The

samples produced with concentration of 0.5 g/ml presented a single tetragonal

phase after calcination at 1200 ºC/5h. The crystallite size was estimated by

Scherrer equation at around 28 nm and the particles were spherical, rod and

needle shaped. The samples of pH 7 and 10 presented a single phase at 1100

ºC/5h and the samples doped with Neodymium presented a single phase at

1200 ºC/5h and a crystallite size estimated at 22 nm. In addition, the

luminescent properties of the doped samples were studied, which were

presented in accordance with the neodymium emission bands in the BaTiO3

matrix.

Key words: Humic substances, nanoparticles, BaTiO3.

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Lista de figuras

Figura 2.1: Representação do diagrama de coordenadas configuracionais,

mostrando as curvas de energia dos estados fundamental e excitado da

molécula em função da distância q (ANGULLO-LOPEZ et al., 1988)..............22

Figura 2.2: (a) Estrutura cristalina do tipo perovskita (materiais com fórmula

ABO3). (b) Estrutura cristalina do Titanato de Bário (BaTiO3)...........................24

Figura 3.1: Trecho do rio Vaza-Barris localizado na Serra da Miaba...............27

Figura 3.2: Fluxograma do processo de síntese do material puro....................29

Figura 3.3: Fluxograma do processo de síntese do material dopado com

diferentes concentrações de Nd3+.....................................................................30

Figura 3.4: Trecho da Cachoeira da Serra de Itabaiana...................................31

Figura 3.5: Difração de raios X por planos cristalinos......................................33

Figura 4.1: Curvas de análise térmica (DTA/TG) do xerogel preparado com

concentração de 0,5 g/ml e tempo de agitação de 30 min (VB)........................40

Figura 4.2: Curvas de análise térmica (DTA/TG) do xerogel preparado com

concentração de 0,5 g/ml (SITA).......................................................................40

Figura 4.3: Padrões de DRX de amostras produzidas com concentração de 0,5

g/ml e calcinadas a diferentes temperaturas.....................................................42

Figura 4.4: Padrões de DRX de amostras produzidas com concentração de 0,5

g/ml com Água do manancial do parque Nacional da Serra de Itabaiana

(SITA).................................................................................................................42

Figura 4.5: (A), (B), (C) e (D) Micrografias obtidas por MEV-FEG dos pós de

BaTiO3 produzidos em concentração de 0,5 g/ml e calcinados a 1200 º C, por

5h......................................................................................................................44

Figura 4.6: Micrografias obtidas por TEM da amostra produzida com

concentração 0,5g/ml calcinada a 1200ºC/5h...................................................45

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Figura 4.7: Curvas de análise térmica (DTA/TG) do xerogel preparado com pH

ajustado para 7..................................................................................................46

Figura 4.8: Padrões de DRX de amostras produzidas com pH 7,0 e calcinadas

a diferentes temperaturas..................................................................................47

Figura 4.9: Curvas de análise térmica (DTA/TG) do xerogel preparado com pH

inicial igual a 10,0..............................................................................................48

Figura 4.10: Padrões de DRX de amostras produzidas com pH 10,0 e

calcinadas a diferentes temperaturas................................................................49

Figura 4.11: Espectro FTIR do pó de BaTiO3 tratado termicamente a 1200º

C/5h...................................................................................................................50

Figura 4.12: Padrões de DRX de amostras produzidas com diferentes

concentrações de Nd3+ e calcinadas a 1200 ºC/5h...........................................51

Figura 4.13: Espectros de emissão do BaTiO3:Nd3+ em diferentes

concentrações....................................................................................................54

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

SHA Substâncias Húmicas Aquáticas

PL Fotoluminescência

VB Amostra de água coletada do rio Vaza-Barris

SITA Amostra de água coletada da Cachoeira da Serra de Itabaiana

TOC Carbono Orgânico Total

BT Titanato de bário (BaTiO3)

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ......................................................................................... vi

Resumo ............................................................................................................. vii

Abstract ............................................................................................................ viii

Lista de figuras ................................................................................................... ix

Lista de abreviações .......................................................................................... xi

Capítulo 1: Introdução e objetivos .................................................................... 14

1.1 Introdução ............................................................................................... 14

1.2 Objetivo Geral ......................................................................................... 15

1.3 Objetivos Específicos .............................................................................. 16

1.4 Organização da dissertação ................................................................... 16

Capítulo 2: Revisão da literatura ...................................................................... 17

2.1 Nanomateriais e Nanotecnologia ............................................................ 17

2.2 Síntese de nanomateriais ....................................................................... 18

2.2.1 Método sol-gel .................................................................................. 19

2.2.2 As substâncias húmicas na síntese de nanomateriais ...................... 20

2.3 Materiais Luminescentes e Fotoluminescência (PL) ............................... 21

2.4 O Titanato de bário (BaTiO3) ................................................................... 23

Capítulo 3: Materiais e métodos ....................................................................... 27

3.1 Síntese das amostras ............................................................................. 27

3.2 Caracterizações ...................................................................................... 31

3.2.1 Espectrometria de Emissão Atômica por Plasma Indutivamente

Acoplado .................................................................................................... 31

3.2.2 Termogravimetria e Análise térmica diferencial ................................ 32

3.2.3 Difratometria de raios X .................................................................... 32

3.2.4 Microscopias Eletrônica de Varredura (MEV-FEG) e Transmissão

(TEM) ......................................................................................................... 34

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3.2.5 Espectroscopia de Absorção no Infravermelho com Transformada de

Fourier (FTIR) ............................................................................................ 35

3.2.6 Caracterização óptica ....................................................................... 35

Capítulo 4: Resultados e Discussões ............................................................... 37

4.1 Caracterização química da água de rio ................................................... 37

4.2 Caracterização das amostras.................................................................. 39

4.2.1 Caracterização do BaTiO3 produzido sem ajuste do pH inicial ......... 39

4.2.2 Caracterização do BaTiO3 produzido com ajuste do pH inicial ......... 45

4.2.3 Medidas de FTIR .............................................................................. 49

4.2.4 Caracterização do BaTiO3 dopado com Nd3+ ................................... 50

4.3 Caracterização óptica ............................................................................. 52

4.3.1 Fotoluminescência ............................................................................ 52

Capítulo 5: Conclusões .................................................................................... 54

Capítulo 6: Referências Bibliográficas .............................................................. 56

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Capítulo 1: Introdução e objetivos

1.1 Introdução

A síntese e o desenvolvimento de novos materiais cerâmicos ou o

aperfeiçoamento dos já existentes é motivada pela busca de melhores ou

novas propriedades. Nesse aspecto, é notável a procura pelo desenvolvimento

de técnicas que tornem possível manipular materiais em escala nanométrica e,

a partir daí, promover um avanço no âmbito das aplicações destes materiais

em diferentes ramos da ciência e da tecnologia (RAMSDEN, 2011).

De maneira particular, um dos interesses em se produzir nanomateriais com

propriedades luminescentes está no fato de que estes tem potencial para

substituir os monocristais utilizados em dispositivos ópticos, como detectores

de radiação, lasers, cintiladores de equipamentos médicos, como tomógrafos,

entre outros. Nanomateriais luminescentes ainda vêm se destacando em

aplicações potenciais como sondas para bioimageamento e sensores térmicos

(MACIEL et al., 2010; LIU et al., 2016).

Materiais com estrutura do tipo ABO3, conhecida como perovskita, possuem

propriedades estruturais, ópticas e elétricas controladas pela substituição dos

íons A e B por diferentes cátions. Vários trabalhos são relatados na literatura

de compostos da família ABO3, formada principalmente por titanatos como:

BaTiO3, PbTiO3, SrTiO3 (KWAK et al., 2016; GAO et al., 2017; MALDONADO et

al., 2017).

Dentre estes, o titanato de bário (BaTiO3) foi o primeiro a ser descoberto, em

1940 e, desde então, tem sido bastante estudado por apresentar uma gama de

diferentes propriedades como ferroeletricidade, piezoeletricidade e

piroeletricidade sendo, por isso, largamente utilizado na indústria de eletrônicos

na manufatura de diversos dispositivos eletro-ópticos, sonares, sensores de

infravermelho etc (GONG et al., 2014; KURNIAWAN et al., 2015; CHEN et al.,

2016).

A estrutura perovskita do BaTiO3 possui ainda a capacidade de hospedar

íons dopantes de diferentes tamanhos, o que é extremamente vantajoso

quando se procura manipular ou obter novas propriedades. Em particular, a

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dopagem com íons terras-raras, além de modificar parâmetros estruturais e

propriedades dielétricas do titanato de bário, podem também lhe conferir

propriedades luminescentes. Zhang et al. (2013), por exemplo, observaram

uma drástica redução no fator de perdas em pós de BaTiO3 dopado com Nd3+

em comparação com amostras puras. Já CERNEA et al. (2016) obtiveram

amostras de BaTiO3 codopadas com Ga3+ e Nd3+ em diferentes concentrações

com bandas de emissão em torno de 800 nm.

Diversas metodologias têm sido utilizadas para a obtenção de óxidos com

estrutura do tipo perovskita, tendo em vista a influência direta que a

metodologia de produção e os parâmetros de síntese exercem sobre as

propriedades do material final. Dentre as rotas, destacam-se: síntese de estado

sólido, precursores poliméricos, sol-gel, hidrotermal, síntese por combustão e

coprecipitação (HASHISHINI et al., 2011; WEBLER et al. 2014; BOURGUIBA et

al., 2016).

Nos últimos anos, no entanto, muitos grupos de pesquisa têm se dedicado

à busca de rotas de produção mais rápidas, que utilizem precursores de baixo

custo e que sejam bio-sustentáveis. Neste contexto, nosso grupo de pesquisa

desenvolveu e vem explorando uma nova rota de síntese, baseada na rota sol-

gel, que utiliza sais metálicos dissolvidos em água de rio (CUNHA et al., 2014).

As substâncias húmicas aquáticas (SHA), presentes na água de rio, atuam

como agente complexador dos íons precursores no processo de síntese.

Como resultado, é possível sintetizar nanomateriais de alto valor agregado,

como o titanato de bário, com um fino controle de propriedades, através de

uma metodologia inédita de baixo custo e baixo impacto ambiental.

1.2 Objetivo Geral

Este trabalho tem como objetivo principal a síntese de nanopartículas de

titanato de bário (BaTiO3) puros e dopados com Nd3+, por meio de uma rota

inédita que utiliza as substâncias húmicas provenientes da água de rio como

agente complexador dos íons metálicos.

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O estudo da influência dos parâmetros de síntese na cristalização do

material, bem como a caracterização das propriedades luminescentes de

amostras dopadas também fizeram parte dos objetivos do trabalho.

1.3 Objetivos Específicos

Caracterizar quimicamente a água de rio que serviu de base para a

rota de síntese proposta.

Sintetizar via sol-gel modificada com SHA os pós cerâmicos de

BaTiO3 puros e dopados com Nd.

Caracterizar os pós de BaTiO3 quanto a sua microestrutura e

propriedades.

Realizar a caracterização óptica do material através de medidas de

fotoluminescência.

1.4 Organização da dissertação

A dissertação está organizada em 6 capítulos.

O capítulo 2 apresenta a revisão bibliográfica do trabalho, no qual se

discute tópicos essenciais para o entendimento dos resultados.

No capítulo 3 é descrita a metodologia de produção e as técnicas

utilizadas para caracterização das amostras obtidas.

No capítulo 4 são apresentados os resultados e discussões obtidos no

trabalho.

No capítulo 5 são apresentadas as conclusões sobre o trabalho e

algumas propostas para trabalhos futuros.

No capítulo 6 encontram-se as referências bibliográficas utilizadas.

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17

Capítulo 2: Revisão da literatura

2.1 Nanomateriais e Nanotecnologia

Nanomateriais têm despertado grande interesse de pesquisadores no

mundo inteiro por apresentarem propriedades físicas e químicas incomuns,

ausentes para o mesmo material quando em tamanho macroscópico. Os

termos nanomateriais e nanotecnologia estão associados, respectivamente, a

estruturas com pelo menos uma de suas dimensões com tamanho nanométrico

(<100 nm) e às aplicações tecnológicas desses materiais nas mais diversas

áreas, como comunicação, saúde e produção de bens (CAO, 2011; SHI et al.,

2015; TIAN et al., 2016).

Quando falamos no prefixo nano (do grego “anão”) usado no âmbito da

ciência e engenharia de materiais, temos o objetivo de analisar o material em

sua menor escala, a mais elementar, ou seja, em parâmetros atômicos de

tamanho. Portanto, é sempre um grande desafio estudar os nanomateriais

(CHRISTIAN et al., 2008).

O interesse em se produzir estruturas com dimensões nanométricas é

devido, principalmente, às notáveis propriedades eletro-ópticas que o

confinamento quântico impõe nesses materiais, como o aumento do seu “gap”

de energia. A redução no tamanho das partículas causa, ainda, o aumento da

área superficial do material. Com isso, um maior número de átomos

desordenados se encontrará na superfície, o que leva ao aumento do número

de defeitos na estrutura dos nanomateriais, acarretando em variações em seus

espectros luminescentes.

Materiais óxidos ternários de estrutura ABO3 são bastante estudados

devido a sua capacidade de hospedar uma grande variedade de íons dopantes

em sua matriz e por apresentar propriedades elétricas e ópticas para as mais

diversas aplicações, como por exemplo, em sensores de temperatura,

capacitores, entre outros (ZHAN et al., 2016). Tais propriedades são fortemente

influenciadas pelo método de síntese empregado para obter os nanomateriais.

A depender da rota escolhida, é possível produzir nanocompostos cristalinos

com tamanhos de cristalito variados, com baixo grau de impurezas, baixo grau

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de aglomeração, e grande potencial para aplicações tecnológicas (GOMES et

al., 2016).

O processo de produção de nanopartículas através de rotas úmidas se

dá, em geral, pela nucleação homogênea, ou seja, uma solução supersaturada

de um ou mais elementos químicos que, como rege a termodinâmica, tende a

se estabilizar ao alcançar o seu estado de menor energia livre de Gibbs. Para

tanto, há uma forte tendência à segregação de uma nova fase. Essa nova fase

pode ser obtida em três etapas: formação dos precursores, nucleação e

crescimento dos cristais (CHEN et al., 2017).

No cenário da nanotecnologia, a motivação para o desenvolvimento de

objetos com escala nanométrica está associada à possibilidade de reunir vários

deles em um único dispositivo de tamanho reduzido, aumentando assim a

capacidade de processamento de informações, que no mundo globalizado são

de extrema importância. Além de empregar na produção desses materiais

sínteses eco-amigáveis que reduzem o impacto ambiental causado pelas

indústrias de modo geral.

2.2 Síntese de nanomateriais

Existem muitas metodologias para sintetizar materiais nanoestruturados,

seja por via úmida ou por via seca. Podemos citar alguns exemplos como

síntese de estado-sólido, hidrotermal, síntese por combustão e sol-gel. Nestas

rotas, diferentes parâmetros podem ser controlados, como por exemplo, pH da

solução e temperatura de tratamento térmico, a depender das propriedades

que se deseja controlar ou obter. Dentre as mais utilizadas sínteses por via

úmida está a rota sol-gel e as suas variações, como, por exemplo, a rota sol-

gel proteico, pois garantem um controle no tamanho e morfologia das

partículas, além de uma boa homogeneidade em nível atômico e baixo risco de

contaminação (GOMES et al., 2016).

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19

2.2.1 Método sol-gel

O sol-gel trata-se de um método bastante utilizado na síntese dos mais

diversos materiais óxidos inorgânicos que se baseia na hidrólise e

condensação de precursores alcóxidos (BRINKER & SCHERER, 1990). Na

fase inicial do processo obtém-se o sol formado por partículas coloidais em um

líquido. Posteriormente, o sol sofre um processo de hidrólise na qual ocorre a

imobilização da fase líquida nos interstícios do gel, o que resulta no aumento

da viscosidade da solução e, por fim, o gel obtido no processo é seco para

remoção do solvente adicionado, resultando na contração da rede gelificada,

normalmente denominado de xerogel.

De um modo geral o processo de síntese por sol-gel ocorre em 4 etapas,

são elas:

1. Obtenção do sol a partir de precursores (suspensão coloidal com

partículas de tamanhos entre 1 a 100 nm);

2. Gelificação do sol. Nessa etapa, ocorrem as ligações químicas entre as

espécies envolvidas;

3. Secagem: nessa etapa, ocorre a remoção do solvente. A depender das

condições envolvidas no processo pode-se obter o aerogel ou o xerogel;

4. Aquecimento do xerogel para eliminação completa das espécies

orgânicas envolvidas no processo e cristalização do material (BRINKER

et al., 1992).

Normalmente, a síntese via sol-gel é obtida através do uso de precursores

alcóxidos metálicos, porém, tem sido relatado na literatura a sua substituição

por sais orgânicos ou inorgânicos, já que os alcóxidos apresentam algumas

desvantagens tais como: alta toxicidade, altos custos dos reagentes, longos

tempos de síntese e solubilidade limitada dos álcoois. Tais limitações

restringem a aplicação do método sol-gel em grande escala (SEGAL, 1998).

Nesse contexto, surge a necessidade de buscar novas metodologias para

sintetizar nanomateriais a partir da bastante estudada rota sol-gel.

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20

2.2.2 As substâncias húmicas na síntese de nanomateriais

Dentre as rotas de síntese que utilizam solventes naturais na produção

de materiais, destacam-se: a sol-gel proteico, que faz uso da água de coco

como agente complexador dos íons metálicos (PRADES et al., 2012), bem

como a sol-gel com substâncias húmicas (RODRIGUEZ et al., 2014), por

apresentarem vantagens em relação custo-benefício, baixo grau de impurezas

no material, controle de processamento se comparadas à síntese convencional.

São relatados na literatura vários estudos com o uso de substâncias

polimerizantes como a água de coco utilizada por SILVA et al. (2015) na

produção de nanopartículas de SrFe12O19, da aloe-vera por LAOKUL et al.

(2012) na síntese de CuFe2O4, do chá preto por BEGUMA et al. (2009) para

obter nanopartículas de ouro e prata. Isso mostra uma forte tendência da

aplicação de substâncias naturais na síntese dos mais diversos tipos de

materiais.

De acordo com SAMAT & NOR (2013) e CUNHA et al. (2014), as etapas

que envolvem o processamento de materiais através das rotas que empregam

matéria orgânica natural são provavelmente as mesmas da rota sol-gel

convencional e os grupos funcionais presentes nestas estruturas são os

responsáveis pela complexação e estabilização dos íons metálicos presentes

na reação. A matéria orgânica natural (MON) pode ser definida como toda

matéria originada em ecossistemas naturais e que consiste em uma mistura de

diversos compostos. Cerca de 20% de sua composição é constituída de

aminoácidos, carboidratos e hidrocarbonetos, o restante equivale a massas de

matéria orgânica detrítica, com tempo de residência mais longo no ambiente e

relativamente resistente à degradação, denominadas de Substâncias Húmicas

(SH) (RODRÍGUEZ et al., 2014; RAGUPATHI et al., 2014).

Quando presentes na água, as SH são denominadas de Substâncias

Húmicas Aquáticas (SHA) e são transportadas para o ambiente aquático por

processos de erosão fluvial. As SHA resultam da decomposição do material

orgânico, como folhas, animais em decomposição e restos de diferentes tipos

de matéria orgânica (ALMEIDA et al., 2003). Tais substâncias estão presentes

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21

em rios, fontes e cachoeiras onde se encontra Mata Atlântica preservada, local

do objeto de estudo do presente trabalho. De acordo com Cunha et al. (2014),

a rota sol-gel modificada com substâncias húmicas mostra-se bastante

eficiente na produção de nanopartículas de alfa-alumina puras e dopadas com

cromo, fato este que reforça a ideia de que outros tipos de materiais podem ser

sintetizados por esse método. É importante ressaltar que a produção do

BaTiO3 utilizando substâncias húmicas aquáticas (água de rio) é inédita na

literatura.

2.3 Materiais Luminescentes e Fotoluminescência (PL)

Materiais luminescentes são aqueles que possuem a capacidade de

emitir luz ao serem estimulados por uma fonte de excitação. Quando tal fonte

deriva-se de luz na região do infravermelho, visível ou ultravioleta, a reposta

desses materiais é chamada de fotoluminescência. Nos sólidos cristalinos em

geral, o processo de luminescência ocorre nos chamados centros

luminescentes, que podem ser impurezas ou íons dopantes. Estes centros

inserem níveis eletrônicos na banda proibida da matriz, dando origem a

absorções ou emissões do material no qual estão inseridos.

Os mecanismos de luminescência desses centros emissores podem ser

entendidos utilizando o modelo de coordenadas configuracionais, no qual o

centro luminescente é visto como uma molécula isolada formada pelo íon

emissor e seus primeiros vizinhos. Ele permite que a energia total da molécula

nos estados fundamental e excitado seja descrita em função das distâncias

entre o íon luminescente e seus primeiros vizinhos. Na Figura 2.1 é mostrada

uma representação dos níveis vibracionais dos estados (linhas verticais) e a

energia total da molécula (parábolas) e como ocorre o processo de transição

entre os estados fundamental e excitado do material.

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22

Figura 2.1: Representação do diagrama de coordenadas configuracionais, mostrando

as curvas de energia dos estados fundamental e excitado da molécula em função da

distância q (ANGULLO-LOPEZ et al., 1988).

A fotoluminescência é uma técnica espectroscópica bastante utilizada

para a caracterização de um dado sistema, baseada nos espectros de emissão

ou excitação característicos de um dado material. As medidas de PL são

realizadas utilizando radiação compreendida entre a faixa do espectro

eletromagnético do ultravioleta até o infravermelho (LAKOWICS, 2002).

A fim de se obter o espectro de emissão de um dado material,

geralmente este é excitado num valor de comprimento de onda igual ao que se

observa a maior absorção, o qual pode ser obtido através do espectro de

absorção da amostra estudada. Tais resultados são denominados de espectros

de emissão. Além deste, pode-se também obter os valores das emissões que

ocorrem em um comprimento de onda onde se observa a maior intensidade

das emissões enquanto é variado o comprimento de onda de excitação, obtém-

se então o espectro de excitação do material (GRIBKOVSKII, 1998).

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23

2.4 O Titanato de bário (BaTiO3)

Os materiais óxidos com estrutura do tipo perovskita são bastante

explorados para aplicações em dispositivos eletrônicos, pelo fato de possuírem

altos valores de constante dielétrica (MACEDO, 2003). O titanato de bário

(BaTiO3) está entre os mais utilizados, por apresentar características propícias

para a produção de dispositivos eletro-ópticos. Esse material possui

ferroeletricidade, piezoeletricidade e piroeletricidade adequadas para uso em

capacitores cerâmicos multicamadas (MLCCs), sonares e detectores de

infravermelho, entre outros (SILVA, 2006; ERTUG, 2013). O BaTiO3 apresenta

altos valores de transmitância na região do visível em comprimentos de onda

que vão de 380 a 760 nm tornando-se um candidato bastante viável em

aplicações como espelhos dielétricos no campo eletro-óptico (MAO et al.,

2010).

A maioria dos compostos com fórmula ABO3 tem estrutura do tipo

perovskita. Essa estrutura, representada na (Figura 2.2a), é formada por um

cátion maior nos cantos do cubo, um cátion menor no centro, em geral um

trivalente ou tetravalente, e o oxigênio nas faces do cubo. A maior parte das

cerâmicas utilizadas em capacitores é de materiais baseados no titanato de

bário (BaTiO3), que é ferroelétrico e tem estrutura do tipo perovskita. Sua

elevada permissividade dielétrica é atribuída ao deslocamento dos íons Ti4+

dentro de seus octaedros TiO6 (Figura 2.2b). A distância Ti-O no CaTiO3 e no

SrTiO3 (ambos isoestruturais ao BaTiO3) é 1,95 Å. Os cátions Ba2+, sendo

maiores, expandem a estrutura, resultando em uma distância Ti-O de 2 Å.

Desta forma o octaedro TiO6 é considerado grande demais para o Ti, que é

deslocado do centro fazendo com que o BaTiO3 se torne ferroelétrico (CAO,

2011; VIJATOVIC et al., 2008).

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24

(a) (b)

Figura 2.2: (a) Estrutura cristalina do tipo perovskita (materiais com fórmula

ABO3). As esferas azuis, a cinza e as vermelhas representam os íons A, B e O,

respectivamente. (b) Estrutura cristalina do Titanato de Bário (BaTiO3). As esferas

azuis representam os átomos de bário (Ba) e as vermelhas os de oxigênio (O), que

ocupam os vértices dos octaedros (em cinza) em cujo centro estão os átomos de

titânio (Ti). (imagens geradas com o aplicativo Atoms a partir dos dados

cristalográficos do JCPDS #0741960).

Devido à capacidade de hospedar íons de diferentes tamanhos, a

estrutura do titanato de bário permite que uma grande variedade de dopantes

seja acomodada em sua rede. A dopagem do BaTiO3 é de grande importância

para obter as características necessárias para diferentes aplicações. Vários

trabalhos são relatados na literatura de dopagens aplicadas com o intuito de

melhorar as propriedades elétricas e ópticas desse material. XIN et al. (2013)

doparam os pós cerâmicos de BaTiO3 com escândio (Sc3+) e obtiveram uma

redução da temperatura de Curie (TC), bem como se observou um

comportamento de semicondutor à temperatura ambiente, melhorando as

propriedades condutoras das cerâmicas . Já DARWISH et al. (2010) estudou a

influência do aumento da concentração do íon dopante (Nd3+) nas propriedades

luminescentes do titanato de bário e ALENCAR et al. (2004) obtiveram

nanopartículas fluorescentes de BaTiO3:Er3+ de diferentes tamanhos com

intensidade de fluorescência sensível à temperatura do meio.

Amplos estudos têm sido conduzidos sobre a síntese de BaTiO3 com

diferentes morfologias, como nanoesferas, nanotubos, filmes finos, nanofios e

partículas nanoporosas. Tais pesquisas demonstram a influência da morfologia

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25

nas diversas propriedades do material. (LIN et al., 2011; DENG et al., 2010;

SILVA et al. 2016). Outros pesquisadores estudaram a influência de íons

terras-raras na estrutura e propriedades elétricas do titanato de bário, por

exemplo: La3+, Sm3+ e Dy3+ por PAUNOVIC et al. (2010), do La3+ e Mn3+ por

VIJATOVIC et al. (2013), do Er3+ e Yb3+ por GARRIDO-HERNANDEZ et al.

(2014), todos eles escolhidos por apresentar pequenos raios atômicos e suas

camadas 4f parcialmente preenchidas.

Porém, há poucos trabalhos que explorem as propriedades ópticas do

BT dopado com Neodímio (Nd3+), como por exemplo, o de PAZIK et al. (2004)

que obtiveram nanopartículas de BaTiO3 dopadas com Nd3+ (0,5-2,0 mol%) e

investigaram a dependência desse intervalo de concentração com o tamanho

de grão e com a luminescência do material, ou o de CERNEA et al. (2016) que

sintetizaram BaTiO3 codopados com Neodímio e Gadolíneo e observaram que

a intensidade de emissão diminui juntamente com a diminuição do tempo de

decaimento e o aumento da concentração de Nd3+ na amostra e o de ZHANG

et al. (2013) que investigaram o efeito da adição de Neodímio em cerâmicas de

BT e observaram deslocamento das bordas de absorção na região do

vermelho, típicas do dopante inserido na matriz, daí a motivação do presente

trabalho na escolha do terra-rara com o objetivo de contribuir com algumas

disscussões nesse ponto.

2.5 O Neodímio (Nd3+)

O íon Nd3+, com configuração eletronica 4f 3 é conhecido e bastante

estudado por ser um dos mais eficientes centros luminescentes dentre os

terras-raras, além do fato da maior parte de suas transições encontrar-se na

região do infravermelho, proporcionando assim a possibilidade de ser excitado

em comprimentos de onda da ordem de 800 mn, fator importante em

aplicações desse elemento em equipamentos médicos.

Suas transições são sensíveis a pequenas mudanças na estrutura

cristalina no qual está inserido como a 4I9/2 → 4H9/2,

4F5/2 e 4I9/2 → 4G5/2, 4G7/2 e

são permitidas pelas regras de seleção. Seus níveis estão dispostos de modo

que permitem a geração dos chamados lasers de quatro níveis, sendo o mais

conhecido o laser de Nd:YAG (ARANGO-DUQUE et al., 2017).

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26

O íon Nd3+ tem ganhado destaque em diversos estudos na literatura e

sua incorporação em vários tipos de materiais, trabalhos como o de YAO et al.

(2008) que estudaram a influência do Nd3+ nas propriedades elétricas da matriz

de BaTiO3, MARIKANI et al. (2016) que investigaram a capacidade de

optimização das propriedades eletro-ópticas na matriz do titanto de bismuto

(Bi4Ti3O12) e SUKUL et al. (2017) que incorporaram Nd3+ a matriz de cerâmicas

de óxido de ítrio e obtiveram emissões na região do verde e do vermelho com

excitação da amostra em apenas 808 nm mostram a ampla gama de possíveis

aplicações tecnológicas de materiais dopados com Nd3+.

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27

Capítulo 3: Materiais e métodos

3.1 Síntese das amostras

Os pós produzidos no presente trabalho foram obtidos através da rota

sol-gel modificada utilizando substâncias húmicas contidas na água de rio

como agente complexador. A água utilizada foi coletada do rio Vaza-Barris,

localizado na serra da Miaba, no município de São Domingos-SE (Figura 3.1),

que foi filtrada com uso de filtro de papel comum e armazenada sob

refrigeração para uso posterior.

Figura 3.1: Trecho do rio Vaza-Barris localizado na Serra da Miaba. Créditos: Marcos

Santiago

Foram utilizados como precursores o acetato de bário (BaC4H6O4) e o

tricloreto de titânio (TiCl3). Na Tabela 3.1 são mostradas as especificações de

cada reagente. As massas foram pesadas em uma balança analítica (Marte

AY220) de acordo com suas razões estequiométricas para a obtenção do

BaTiO3, representadas na equação (1):

BaC4H6O4 + TiCl3 + 4O2 ↔ BaTiO3 + 4CO2 + H2O + 3HCl +1/2H2 (1)

Foi realizada uma gravimetria com o tricloreto de titânio (TiCl3) a fim de

determinar a relação com a quantidade de TiO2 necessário na produção do

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BaTiO3, pois o óxido de titânio (TiO2) não é solúvel em água e portanto não

pode ser utilizado para produzir o material, além disso o TiCl3 encontrava-se

diluído em solução de HCl. Obtendo essa informação iniciou-se o processo de

síntese.

Tabela 3.1: Reagentes utilizados na produção dos pós.

Reagente Fórmula

Química

Fabricante Pureza (%)

Acetato de bário BaC4H6O4 Synth 99,0

Tricloreto de titânio TiCl3 Neon 99,0

Nitrato de Neodímio

hexahidratado

Nd(NO3)3

6H2O

Aldrich 99,0

Primeiramente dissolveu-se o BaC4H6O4 na água de rio na concentração

de 0,5 g/ml em um béquer, mantendo a mistura sob agitação magnética, e aos

poucos foi acrescentado o tricloreto de titânio à suspensão . O sol era mantido

em agitação por 30 minutos para formação do gel e após esse tempo, a

temperatura da chapa aquecedora era aumentada para aproximadamente 150

ºC e o gel era seco sob agitação por 24 h. Após a secagem obtinha-se o

xerogel, que era homogeneizado em almofariz de ágata e reservado. Com

parte do xerogel foram realizadas medidas de análise térmica diferencial e

termogravimetria para determinar a temperatura de completa eliminação de

compostos orgânicos e formação da fase cristalina. Com base nesses

resultados, o xerogel era então colocado em navícula de alumina e tratado

termicamente em forno tipo mufla a uma taxa de aquecimento de 10 ºC/min e o

tempo de patamar de 5 h em todos os testes.

O processo de síntese do material puro está esquematicamente

representado no fluxograma da Figura 3.2.

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29

Figura 3.2: Fluxograma do processo de síntese do material puro.

Posteriormente, a fim de obter amostras com controle do pH inicial,

foram seguidas as mesmas etapas descritas na Figura 3.2 e adicionou-se

hidróxido de amônia para elevar o pH de 1,2 e obter amostras com pH = 7,0 e

10,0. As medidas de pH foram realizadas com pH-metro modelo Ion Phb 500

com eletrodo em epóxi modelo P10 .

Para a obtenção das amostras dopadas com Nd3+, seguiu-se o mesmo

procedimento de síntese, sendo que a concentração do íon dopante foi variada

em 0,5; 1,0 e 2,0 mol% (Figura 3.3).Todas as amostras dopadas foram tratadas

termicamente a 1200 ºC/5h.

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Figura 3.3: Fluxograma do processo de síntese do material dopado com

diferentes concentrações de Nd3+.

Posteriormente, a amostra produzida sob as melhores condições

levando-se em consideração a cristalinidade e pureza foi reproduzida utilizando

água retirada do Manancial do Parque Nacional da Serra de Itabaiana (Figura

3.4) a fim de se verificar a reprodutibilidade da rota utilizando água de

diferentes fontes naturais.

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31

Figura 3.4: Trecho da Cachoeira da Serra de Itabaiana. Créditos: Marcos

Santiago.

3.2 Caracterizações

3.2.1 Espectrometria de Emissão Atômica por Plasma Indutivamente

Acoplado

A técnica de Espectrometria de Emissão Atômica por Plasma

Indutivamente Acoplado (ICP OES – Inductively Coupled Plasma Optical

Emission Spectroscopy) foi utilizada para quantificar a concentração de metais

presentes nas amostras de água coletadas do rio Vaza-Barris e da Cachoeira

da Serra de Itabaiana. Para as medidas, as amostras in natura foram filtradas a

vácuo com filtro de 0,45 µm e acidificadas com solução de ácido clorídrico de

concentração 1 mol L-1. Foram determinadas as concentrações de 24

elementos (Ag, B, Co, Cd, Hg, K, Li, Na, Al, Ba, Pb, Cr, Cu, Sb, Se, Si, Ti, V,

Ca, Mg, Fe, Mn, Ni, Sr ) e selecionadas as linhas de absorção mais sensíveis

de cada um dos elementos presentes na amosta.

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32

3.2.2 Termogravimetria e Análise térmica diferencial

A técnica de termogravimetria (TG) foi utilizada neste trabalho para

acompanhar os eventos de decomposição térmica com perda de massa,

sofridos pela amostra durante a calcinação.

Em um ensaio de TG, a massa da amostra é monitorada continuamente

em função do aumento linear da temperatura. Uma curva de massa ou

porcentagem em massa em função da temperatura é chamada de Curva de

decomposição térmica.

Os dados foram obtidos por meio de medidas simultâneas de DTA/TG

(NETZSCH STA 449 F1 Jupiter) no intervalo de temperatura de 25 °C a

1200 °C, com taxa de aquecimento de 5 °C/min, em atmosfera de ar sintético

(O2/N2 – 1/4), e utilizando um cadinho vazio de alumina como material de

referência para comparar com a amostra de aproximadamente 30 mg de

xerogel.

Quando um material é submetido a uma reação físico-química durante

um processo térmico, ele libera ou absorve calor, o que leva a variações de

temperatura da amostra. Durante a análise térmica diferencial (DTA), as

temperaturas da amostra e de uma referência inerte são comparadas enquanto

são submetidos a um programa de variação de temperatura a uma taxa

constante de aquecimento, sob fluxo de gás controlado. As medidas foram

realizadas simultaneamente às medidas de TG, nas condições já descritas

acima.

3.2.3 Difratometria de raios X

Medidas de difração de raios X (DRX) pelo método de pó foram

realizadas para monitorar as fases cristalinas presentes nos materiais

calcinados.

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33

Esta técnica baseia-se no fato de que o comprimento de onda dos raios

X é da mesma ordem de grandeza que o espaçamento periódico entre os

planos cristalinos que constituem o material. Como mostra a Figura 3.5, a

difração consiste na incidência de um feixe de raios X sobre a amostra,

segundo um ângulo , sendo que os feixes difratados pelos átomos da

estrutura cristalina localizados nos planos cristalográficos (hkl) devem

satisfazer à lei de Bragg, dada pela equação (2), para que a interferência entre

os raios refletidos seja construtiva e dê origem aos padrões de difração do

elemento analisado, os quais são únicos para cada material.

n = 2dhklsen (2)

Na eq. (2), é o comprimento de onda da radiação incidente, dhkl é a

distância interplanar e o ângulo de incidência do feixe.

Figura 3.5: Difração de raios X por planos cristalinos. (PERSHARSKY, 2009)

As medidas foram realizadas em um difratômetro de raios X modelo

RIGAKU RINT 2000P/C com radiação K do Co. As amostras eram peneiradas

sobre uma lâmina de vidro e posicionadas em um porta-amostras rotatório. O

intervalo angular utilizado foi de 20º a 80º. As medidas foram realizadas em

modo de varredura contínua com velocidade de 1 º/min.

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34

O tamanho de cristalito das amostras tratadas termicamente foi estimado

através da largura à meia altura dos picos de difração utilizando a equação de

Scherrer, dada por:

𝐷 =𝐾.𝜆

𝐵.cos 𝜃𝐵, (3)

na qual K (= 0,89) é uma constante de forma, λ é o comprimento de onda dos

raios X (1,788 Å para a radiação Kα do Co), θB é a posição do pico e B é a

largura à meia altura do pico de difração referente ao plano [110], escolhido por

se tratar de um pico isolado no difratograma.

3.2.4 Microscopias Eletrônica de Varredura (MEV-FEG) e Transmissão

(TEM)

A microscopia eletrônica é uma técnica bastante usada para estimar

tamanho, forma e grau de aglomeração de partículas de um dado material. Na

microscopia eletrônica de varredura (MEV), os elétrons são gerados num

canhão de elétrons, sob vácuo, a pressões inferiores a 10-4 mbar. A interação

do feixe de elétrons com o elemento químico da amostra resulta em elétrons

(secundários ou retroespalhados) ou fótons (raios X característicos) que serão

coletados pelo detector (DEDAVID et al., 2007). Nesse trabalho, foi utilizado o

detector de elétrons secundários para verificar tamanho de partículas. Um

equipamento do tipo MEV-FEG da marca JEOL e modelo JSM-7500F foi

utilizado, o qual difere do MEV comum por possuir na extremidade do seu

canhão uma ponta extremamente fina de tungstênio, que ao ser mantida sob

uma polarização gera um campo elétrico que interage com superfície da

amostra e possibilita obter melhores imagens em elevadas magnificações.

A preparação da amostra para análise no MEV-FEG foi realizada pela

dispersão do pó sob ultrassom de ponteira em álcool isopropílico e posterior

gotejamento no porta-amostras.

Na microscopia eletrônica de transmissão (TEM), o feixe de elétrons é

criado da mesma forma já descrita no item anterior, porém o interesse está em

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35

capturar os elétrons que atravessam a amostra quase sem se desviar da

direção do feixe incidente. Estes elétrons são provenientes especialmente de

espalhamentos elásticos, isto é, sem perda de energia, com os centros

espalhadores. Portanto, se após a amostra iluminada houver um anteparo no

qual seja projetado o feixe que a atravessa, a imagem formada será um

“contraste” de regiões claras e escuras, onde a parte escura corresponde ao

centro espalhador.

A preparação da amostra analisada no TEM foi feita por dispersão em

água destilada e gotejamento em tela recoberta com carbono. As medidas

foram realizadas no equipamento da marca JEM-1400 plus do CMNano-UFS.

3.2.5 Espectroscopia de Absorção no Infravermelho com Transformada de

Fourier (FTIR)

Trata-se de uma técnica que utiliza faixas de emissão do espectro de

infravermelho irradiando na amostra e medindo sua absorbância. Para que

ocorra a absorção é necessário que as moléculas constituintes do material

apresentem momento de dipolo elétrico, pois as distâncias entre os átomos

sendo distintas há mudanças na frequência de vibrações e consequentemente

na absorção (ABDEL et al., 2014).

As medidas de FTIR foram realizadas no equipamento de marca Shimadzu

modelo IRPrestige-21, em modo de transmissão no intervalo de 400-4000 cm-1,

com passo de 1 cm-1. A preparação das amostras foi feita usando um

pastilhador manual para prensar as pastilhas de KBr para dispersar a amostra.

3.2.6 Caracterização óptica

Na etapa de caracterização óptica, foram realizadas medidas de

fotoluminescência das amostras de BaTiO3: Nd3+. Nesse trabalho analisou-se o

efeito da concentração do íon dopante na fluorescência do material.

A fluorescência de um material se manifesta quando os centros

luminescentes são excitados e ocorre no sistema a conversão da radiação

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absorvida em energia reemitida, essa emissão cessa imediatamente após a

retirada da fonte de excitação.

Para a aquisição dos espectros de emissão, foi utilizado como fonte de

excitação um laser (Opotek Vibrant 355-II) operando em 850 nm e com

potência de 10,0 mW. O pó era depositado num porta-amostras de alumínio

com um furo central, o qual permitia a deposição uniforme da amostra para

irradiação. Os sinais de PL eram coletados usando uma fibra óptica acoplada a

um espectrofotômetro modelo Maya 2000pro da Ocean Optics, conectado via

USB a um computador.

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37

Capítulo 4: Resultados e Discussões

4.1 Caracterização química da água de rio

Foram realizadas análises de amostras de água coletada do rio Vaza-

Barris e da Cachoeira da Serra de Itabaiana, que chamaremos de VB e SITA,

respectivamente.

Os valores de pH e o Carbono Orgânico Total (TOC) determinados

foram pH = 5,08 e TOC = 5,90 mg/L para a amostra VB e pH = 5,09 e TOC =

11,76 mg/L para a amostra SITA. Esses valores demonstram um caráter

levemente ácido das águas coletadas, com o mesmo pH para as duas

amostras. Por outro lado, o valor do TOC foi significativamente maior na

amostra SITA, o que serve de indicativo de que a matéria orgânica natural que

a compõe é formada de macromoléculas de elevadas massas molares. Estes

resultados estão em boa concordância com as análises anteriores dessas

mesmas fontes, realizadas por CUNHA et al. (2014).

A Tabela 4.1 apresenta a relação das concentrações de 19 elementos

químicos determinados na amostra VB usando a técnica de espectrometria de

emissão atômica por plasma indutivamente acoplado. Pode-se observar que há

baixa concentração de metais tóxicos como o cádmio e chumbo, o que reforça

a ideia de baixa degradação ambiental sofrida pela região onde foi coletada a

amostra. A mesma análise, realizada para amostras de SITA, é apresentada na

Tabela 4.2. Também nesse caso, observaram-se baixas concentrações de

metais pesados, podendo-se concluir que as amostras de BaTiO3 produzidas

utilizando-se água dessas fontes apresentará baixas densidades de impurezas

relacionadas a esses elementos.

Ambas as amostras de água apresentaram baixas concentrações de

bário, fator importante para o seu uso na síntese do BaTiO3, pois esse material

é bastante sensível à estequiometria e qualquer variação poderia ocasionar o

surgimento de fases indesejáveis ao fim do processo.

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38

Tabela 4.1: Concentração de elementos na amostra de água do rio Vaza-Barris

(VB), determinados por absorção atômica.

Elementos Concentração Elementos Concentração

Prata total (Ag) <0,0072 mg/L Cobre (Cu) <0,023 mg/L

Cobalto total (Co) <0,0018 mg/L Antimônio (Sb) <0,005 mg/L

Cádmio total (Cd) <0,003 mg/L Selênio total (Se) 0,02 mg/L

Mercúrio (Hg) <0,001 mg/L Silício (Si) 6,58 mg/L

Potássio (K) 1,26 mg/L Cálcio (Ca) 2,04 mg/L

Sódio (Na) 7,63 mg/L Magnésio (Mg) 0,97 mg/L

Alumínio (Al) <0,0057 mg/L Ferro total (Fe) 0,05 mg/L

Bário total (Ba) <0,01 mg/L Manganês (Mn) <0,0045 mg/L

Chumbo total(Pb) <0,0072 mg/L Níquel (Ni) <0,0017 mg/L

Cromo total (Cr) <0,018 mg/L

Tabela 4.2: Concentração de elementos na amostra de água da Cachoeira da

Serra de Itabaiana (SITA), determinados por absorção atômica.

Elementos Concentração Elementos Concentração

Prata total (Ag) <0,0072 mg/L Cobre (Cu) <0,0023 mg/L

Cobalto total (Co) <0,018 mg/L Antimônio (Sb) 0,030 mg/L

Cádmio total (Cd) <0,003 mg/L Selênio total (Se) <0,01 mg/L

Mercúrio (Hg) 0,002 mg/L Silício (Si) 4,53 mg/L

Potássio (K) 1,99 mg/L Cálcio (Ca) 4,36 mg/L

Sódio (Na) 6,82 mg/L Magnésio (Mg) 1,10 mg/L

Alumínio (Al) 0,160 mg/L Ferro total (Fe) 0,10 mg/L

Bário total (Ba) <0,01 mg/L Manganês (Mn) <0,045 mg/L

Chumbo total(Pb) <0,0072 mg/L Níquel (Ni) <0,017 mg/L

Cromo total (Cr) <0,0018 mg/L

Page 39: PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE BATIO ...€¦ · ii Produção e caracterização de nanopartículas de BaTiO 3 através da rota sol-gel utilizando substâncias

39

4.2 Caracterização das amostras

4.2.1 Caracterização do BaTiO3 produzido sem ajuste do pH inicial

A Figura 4.1 apresenta as curvas de DTA/TG do xerogel preparado

sem controle de pH, com concentração de 0,5 g/ml e tempo de agitação de 30

min. Observam-se vários processos de decomposição, os quais são

basicamente atribuídos à desidratação do material, decomposição da matéria

orgânica natural e cristalização. Entre 25 a 180º C, a curva TG apresenta uma

perda de 10% de massa. Na mesma faixa de temperaturas, são observados

dois picos endotérmicos na curva de DTA, os quais podem ser atribuídos à

dessorção de moléculas de água adsorvidas e evaporação de água estrutural.

Observa-se ainda um pico exotérmico com onset próximo de 200ºC e offset em

torno de 600º C. Nesta faixa de temperatura, ocorrem tipicamente a combustão

de grupos orgânicos presentes no xerogel e a formação de fases intermediárias

como o BaCl2 e complexos contendo titânio (KAVIAN et al., 2009;

IANCULESCU et al., 2015). Na mesma faixa de temperaturas, o material sofre

uma perda de massa em torno de 2 %. Essa perda é bastante baixa, indicando

que há pouca matéria orgânica na amostra. Em processo sol-gel convencional

para produção do BaTiO3, foi registrada uma perda de massa em torno de 20%

nessa mesma faixa de temperaturas (KAVIAN et al., 2009). Acima de 800 ºC,

as perdas de massa tornam-se mais acentuadas, possivelmente relacionadas à

descarbonatação com liberação de CO2 e reação entre os precursores para

formar a fase BaTiO3. Nesta faixa de temperaturas, é observado um largo perfil

exotérmico em torno de 800 ºC, seguido de dois picos endotérmicos com

máximo em 925 e 970 ºC, referente às temperaturas de cristalização do

BaTiO3.

A análise térmica da amostra SITA, mostrada na Figura 4.2,

apresenta perfil semelhante à da amostra VB. A única diferença apreciável é a

maior intensidade dos picos exotérmicos acima de 200 ºC observada para a

amostra SITA. Este resultado está possivelmente associado ao maior teor de

carbono (TOC) nessa amostra, como discutido na seção anterior.

Page 40: PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE BATIO ...€¦ · ii Produção e caracterização de nanopartículas de BaTiO 3 através da rota sol-gel utilizando substâncias

40

0 200 400 600 800 1000 1200

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Temperatura (C)

En

do

D

TAE

xo

% P

erd

a d

e m

as

sa

DTA- BaTiO3- VB

TG- BaTiO3- VB

80

85

90

95

100

Figura 4.1: Curvas de análise térmica (DTA/TG) do xerogel preparado com

concentração de 0,5 g/ml com água proveniente do (VB) e tempo de agitação de 30

min.

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200

-0,005

0,000

0,005

0,010

0,015

0,020

0,025

0,030

0,035

En

do D

TAE

xo

Temperatura(°C)

DTA-BT-SITA

99,2

99,4

99,6

99,8

100,0

P

erd

a d

e m

as

sa

Figura 4.2: Curvas de análise térmica (DTA/TG) do xerogel preparado com

concentração de 0,5 g/ml com água proveniente do (SITA) e tempo de agitação de 30

min.

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41

Para um melhor entendimento das múltiplas reações que ocorrem acima

de 900 ºC, as amostras foram calcinadas a 1000 ºC, 1100 ºC e 1200 ºC, com

patamar de 5 h. Os pós obtidos foram analisados através de medidas de DRX,

que são apresentadas na Figura 4.3. Observa-se que a amostra calcinada a

1000 ºC apresenta as fases intermediárias BaCl2 e possivelmente TiO2. No

padrão de difração da amostra calcinada a 1100 °C é possível observar os

picos de difração referentes à estrutura cristalina do BaTiO3 de maneira

majoritária. No entanto, observa-se também nessa amostra a presença de

picos atribuídos à fase ortorrômbica de titanato de bário na estequiometria

Ba4Ti13O30 (JCPDS No. 84-2213), bem como alguns picos não identificados. No

difratograma da amostra tratada a 1200 °C, a fase cristalina única do titanato

de bário pode ser observada, com todos os picos de difração indexados à

estrutura tetragonal do BaTiO3 de acordo com a ficha cristalográfica PDF No.

75-1606. A presença da fase tetragonal é evidenciada pela duplicação dos

picos em torno de 52 ° referente aos planos cristalinos (200) / (002).

Comportamento similar foi observado no difratograma da amostra SITA,

calcinada a 1200 ºC por 5h, apresentada na Figura 4.4. Esses resultados

evidenciam a reprodutibilidade da metodologia proposta, utilizando-se

diferentes fontes de substâncias húmicas. Em trabalhos anteriores, CUNHA et

al., (2014) demonstraram a reprodutibilidade desta técnica na produção de

Al2O3 utilizando-se substâncias húmicas da Serra de Itabaiana e também do rio

Poxim. Como um resultado geral, é possível concluir que o método de sol-gel

utilizando água de rio é reprodutível, independente da fonte de substâncias

húmicas utilizadas.

Nas etapas seguintes do trabalho, apenas as amostras VB foram

analisadas.

Page 42: PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE BATIO ...€¦ · ii Produção e caracterização de nanopartículas de BaTiO 3 através da rota sol-gel utilizando substâncias

42

20 30 40 50 60 70 80

Inte

nsid

ades (

u.

a.)

2

BT-1000C

BT-1100C

BT-1200C

BaTiO3-JCPDS #075-1606

BaCl2-JCPDS #072-1388

TiO2-JCPDS #099-100-4702

Ba4Ti13O30-JCPDS #084-2213

Figura 4.3: Padrões de DRX de amostras produzidas com concentração de 0,5 g/ml e

calcinadas a diferentes temperaturas.

20 30 40 50 60 70 80

Inte

nsid

ades (

u.

a.)

2 ()

BaTiO3- Agua-Serra-Ita

BaTiO3- JCPDS #075-1606

Figura 4.4: Padrões de DRX de amostras produzidas com concentração de 0,5 g/ml

com Água do manancial do parque Nacional da Serra de Itabaiana (SITA).

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43

O tamanho de cristalito da amostra VB tratada a 1200 °C foi estimado

através da equação de Scherrer, o valor obtido foi da ordem de 28 nm.

Uma análise por microscopia eletrônica de varredura foi realizada nas

amostras VB calcinadas a 1200 ºC/5h. As imagens obtidas são apresentadas

na Figura 4.5. Na micrografia mostrada na Figura 4.5(A), observa-se que a

amostra de BaTiO3 apresentou morfologia bastante heterogênea e com

partículas desaglomeradas. Observam-se partículas de formato esférico e

também partículas em formas de agulhas. As estruturas maiores, com cerca de

1 µm de comprimento, são formadas por aglomerados de partículas menores,

como é possível perceber pela superfície rugosa desses aglomerados. Na

Figura 4.5(B), é possível observar partículas esferoidais pouco aglomeradas,

com tamanhos variando entre 80 e 150 nm. Este resultado indica que cada

partícula contém vários cristalitos, uma vez que a Equação de Scherrer

resultou em tamanhos em torno de 28 nm. Nas Figuras 4.5(C) e (D), percebe-

se claramente dois tipos de morfologia das partículas, com formatos esféricos e

como agulhas. As estruturas com formato de agulhas, com comprimentos

variando entre 0,25 a 0,4 μm (Fig. 4.5C) e 0,56 a 0,73 μm (Fig. 4.5D), se

organizam em estruturas maiores com formatos semelhantes a estrelas.

(A) (B)

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44

(C) (D)

Figura 4.5: (A), (B), (C) e (D) Micrografias obtidas por MEV-FEG dos pós de BaTiO3

produzidos em concentração de 0,5 g/ml e calcinados a 1200 º C, por 5h.

As amostras foram também analisadas por TEM e as imagens obtidas

são apresentadas na Figura 4.6. De um modo geral, foram detectados duas

diferentes morfologias, sendo uma deles de partículas com tamanho em torno

de 200 nm e formato cúbico. O outro tipo, arredondado com diâmetro em torno

de 500 nm, parece ser formado por estruturas ainda menores, que não

puderam ser claramente identificadas devido a limitações instrumentais.

Page 45: PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE BATIO ...€¦ · ii Produção e caracterização de nanopartículas de BaTiO 3 através da rota sol-gel utilizando substâncias

45

(a) (b)

Figura 4.6: Micrografias obtidas por TEM da amostra produzida com concentração

0,5g/ml calcinada a 1200ºC/5h.

4.2.2 Caracterização do BaTiO3 produzido com ajuste do pH inicial

Amostras de BaTiO3 em pó foram produzidas variando o pH da solução

inicial para 7,0, a fim de analisar as mudanças na formação das fases do

material, visto que o pH da amostra sem controle de pH era de 1,2. Para tanto

foram adicionadas pequenas quantidades de hidróxido de amônia (NH4OH) na

suspensão de partida

Na Figura 4.7 estão representadas as curvas de análises térmicas (TG-

DTA) da amostra preparada com pH da inicial igual a 7. Na região 1, na curva

de DTA (em azul), que vai de 25 ºC a 250 ºC, notam-se 3 picos endotérmicos,

seguidos de uma ligeira perda de massa mostrada na curva de TG ( em preto),

os quais podem ser atribuídos a perdas de água adsorvidas pelo material. Na

temperatura de aproximadamente em 344 ºC ocorre um pico endotérmico na

curva de DTA, seguido de uma perda abrupta de massa mostrada na curva de

TG que pode ser atribuída a liberação de matéria orgânica do material. Em

temperaturas acima de 900 ºC ocorre a formação de fases intermediárias do

BaTiO3, fato esse confirmado pela análise de DRX mostrada na Figura 4.8.

Page 46: PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE BATIO ...€¦ · ii Produção e caracterização de nanopartículas de BaTiO 3 através da rota sol-gel utilizando substâncias

46

0 200 400 600 800 1000 1200

-2,0

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

Endo

DT

AE

xo

Temperatura (C)

DTA-BaTiO3-pH7

P

erd

a d

e m

assa

97

98

99

100

Figura 4.7: Curvas de análise térmica (DTA/TG) do xerogel preparado com pH

ajustado para 7.

Na Figura 4.8 são apresentados os difratogramas das amostras com pH

7 e calcinadas a 900, 1000, 1100 e 1200 °C por 5 h. No padrão de difração da

amostra calcinada a 900 °C é possível observar os picos de difração referentes

à uma mistura de fases intermediárias formadas durante a síntese do material.

Já no padrão da amostra a 1000ºC percebem-se indícios da formação do

BaTiO3.. Em temperaturas mais altas como em 1100ºC e 1200ºC nota-se a

formação da fase cristalina única do titanato de bário, onde todos os picos de

difração puderam ser indexados à estrutura tetragonal do BaTiO3 de acordo

com a ficha cristalográfica JCPDS No. 75-1606.

Page 47: PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE BATIO ...€¦ · ii Produção e caracterização de nanopartículas de BaTiO 3 através da rota sol-gel utilizando substâncias

47

20 30 40 50 60 70 80

Inte

nsid

ades (

u.

a.)

2 ()

pH7-900C

pH7-1000C

pH7-1100C

pH7-1200C

BaTiO3- JCPDS #075-1606

BaCO3-JCPDS #037-0755

Figura 4.8: Padrões de DRX de amostras produzidas com pH 7,0 e calcinadas a

diferentes temperaturas.

Amostras de BaTiO3 em pó foram produzidas variando o pH da solução

inicial para 10,0, a fim de analisar as mudanças na formação das fases do

material. Para tanto foram adicionadas pequenas quantidades de hidróxido de

amônia (NH4OH) durante a síntese e repetido o mesmo procedimento das

amostras já apresentadas. As curvas de análises térmicas são mostradas na

figura 4.9. Na primeira região são observados dois picos endotérmicos na curva

de DTA, correspondentes à desorção de moléculas de água adsorvidas e

evaporação de água estrutural não eliminada no processo de secagem. Esse

evento é simultâneo à perda de massa observada na curva de TG (em preto),

em torno de 3%. Na região 2, não há perdas de massa significativa mostrada

na curva de TG, o que dá indícios de transformações de fase ocorrendo no

material. E por último, na terceira região tem-se picos relativos a cristalização

final do BATiO3.

Page 48: PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE BATIO ...€¦ · ii Produção e caracterização de nanopartículas de BaTiO 3 através da rota sol-gel utilizando substâncias

48

0 200 400 600 800 1000 1200

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0 DTA-BaTiO3-pH10

Endo

DT

A

EX

o

Temperatura (C)

Pe

rda d

e m

as

sa

98,0

98,5

99,0

99,5

100,0

Figura 4.9: Curvas de análise térmica (DTA/TG) do xerogel preparado com pH inicial

igual a 10,0.

Na figura 4.10 observa-se os padrões de difração das amostras

sintetizadas com pH da solução de partida ajustado para 10 e tratados

termicamente a diferentes temperaturas. Nas temperaturas de 900 e 1000 ºC

pode-se observar a presença de fases espúrias no material, que podem ser

atribuídas à presença do carbonato de bário (BaCO3) presente na amostra.

Porém a 1100 ºC, já nota-se a presença de picos característicos da fase

tetragonal do BaTiO3, evidenciada pela divisão do pico de posição 2θ = 53,8º

nas reflexões (200) e (002). Mas somente a 1200 ºC temos a formação

completa da fase indexada pela ficha Nº 075-1606.

De um modo geral, nota-se que a mudança de pH na suspensão inicial

influenciou o processo de cristalização, sendo que amostras produzidas em pH

7,0 e 10,0 atingem a completa cristalização da fase tetragonal do BaTiO3 em

temperaturas de 1100 ºC, enquanto a amostra produzida em ambiente

inicialmente ácido precisou ser calcinada a 1200 ºC para atingir a fase única.

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49

20 30 40 50 60 70 80

Inte

nsid

ades (

u.

a.)

pH10-900C

pH10-1000C

pH10-1100C

pH10-1200C

BaTiO3-JCPDS #075-1606

2

Figura 4.10: Padrões de DRX de amostras produzidas com pH 10,0 e calcinadas a

diferentes temperaturas.

4.2.3 Medidas de FTIR

Medidas de FTIR foram realizadas do pó de BaTiO3 produzidos com

concentração de 0,5 g/ml e calcinados no forno com 1200 ºC/5h. Os modos

vibracionais comumente encontrados para amostras de BaTiO3 são referentes

as ligações de CO3,Ti-O,O-H e CO2, os quais estão de acordo com o espectro

mostrado na Figura 4.11 (ZHANG et al., 2013). Na amostra estudada foram

observados os modos vibracionais em torno de 510 cm-1, referentes às

ligações Ti-O presentes na estrutura (ABDEL et al., 2014). A faixa em torno de

3500 cm-1 foi atribuída aos modos de estiramento dos grupos OH- relativa à

umidade adsorvida na superfície e um pico em torno de 2350 cm-1 devido ao

CO2 contido no ambiente. Os picos em torno de 1650 cm-1 são atribuídos às

vibrações das moléculas de H2O e um pico característico em 1440 cm-1

referente às vibrações dos grupos CO3 presentes em pequenas fases espúrias

como o BaCO3 não detectadas na análise de DRX.

Page 50: PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE BATIO ...€¦ · ii Produção e caracterização de nanopartículas de BaTiO 3 através da rota sol-gel utilizando substâncias

50

4000 3600 3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 400

Tra

nsm

itância

(

)

Comprimento de Onda (cm-1)

BaTiO3-1200C

Ti-O

CO2

O-H

H2O

CO3

Figura 4.11: Espectro FTIR do pó de BaTiO3 tratado termicamente a 1200º C/5h.

4.2.4 Caracterização do BaTiO3 dopado com Nd3+

Amostras de pós de titanato de bário (BaTiO3) foram produzidas

variando a concentração do dopante Nd3+ em sua estequiometria, a fim de

fazer um estudo comparativo de suas propriedades ópticas. A fase tetragonal

do titanato de bário, sem fases secundárias, pode ser observada nas amostras

com as três concentrações estudadas, como mostrado na Figura 4.12.

Observa-se nessa figura que todos os picos de difração puderam ser

indexados de acordo com a ficha cristalográfica JCPDS No. 75-1606. Os

tamanhos de cristalito foram obtidos a partir da Eq. (3) aplicada aos 3 picos

isolados mais intensos. O valor médio determinado foi de 22 nm para as

amostras dopadas nas três concentrações produzidas. Este valor está bem

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51

próximo do valor 28 nm determinado para amostras puras, indicando que o

dopante não influenciou o tamanho de cristalito.

A ausência de picos espúrios, como o de Nd2O3, indica que os íons

dopantes foram incorporados com sucesso à matriz cristalina, não formando

clusters ou fases secundárias.

20 30 40 50 60 70 80

Inte

nsid

ades (

u.

a.)

2

BT-Nd-0,5

BT-Nd-1,0

BT-Nd-2,0

BaTiO3- JCPDS#075-1606

Figura 4.12: Padrões de DRX de amostras produzidas com diferentes

concentrações de Nd3+ e calcinadas a 1200 ºC/5h.

A Tabela 4.2 mostra a relação entre o tamanho de cristalito das

amostras produzidas no presente trabalho, a temperatura de calcinação a qual

as amostras foram submetidas e seus valores de pH. Pode-se notar que as

amostras puras e sem ajuste do pH inicial de BaTiO3 apresentaram valores de

tamanho de cristalito bem próximos aos das amostras dopadas com Neodímio

em todas as concentrações estudadas, isso é um indício da ausência de fases

espúrias no material. Nas amostras com controle do pH inicial, os valores do

tamanho de cristalito na amostra de pH 7 bem como na de pH 10 calcinadas a

temperatura de 1200 ºC foram de 27,5 e 25,9 nm respectivamente, tais valores

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52

estão em concordância com as amostras produzidas sem controle de pH,

indicando que o pH não influenciou no tamanho de cristalito.

Tabela 4.2: Amostras de BaTiO3 obtidas e seus respectivos tamanhos de

cristalito.

Amostra Temperatura de

calcinação

pH inicial Tamanho de cristalito

BaTiO3 Pura (VB) 1200 ºC/5h Sem controle 28 nm

BaTiO3 Pura (SITA) 1200 ºC/5h Sem controle 23 nm

BaTiO3 (VB) 900 ºC/5h 07 11,14 nm

BaTiO3 (VB) 1000 ºC/5h 07 17,2 nm

BaTiO3 (VB) 1100 ºC/5h 07 22,4 nm

BaTiO3 (VB) 1200 ºC/5h 07 27,5 nm

BaTiO3 (VB) 900 ºC/5h 10 18,34 nm

BaTiO3 (VB) 1000 ºC/5h 10 16,08 nm

BaTiO3 (VB) 1100 ºC/5h 10 24,37 nm

BaTiO3 (VB) 1200 ºC/5h 10 25,19 nm

BaNdTiO3 (0,5%Mol) 1200 ºC/5h Sem controle 22 nm

BaNdTiO3 (1,0%Mol) 1200 ºC/5h Sem controle 22 nm

BaNdTiO3 (2,0%Mol) 1200 ºC/5h Sem controle 22 nm

4.3 Caracterização óptica

4.3.1 Fotoluminescência

Medidas de fotoluminescência foram realizadas das amostras de BaTiO3

dopadas com Neodímio (Nd3+), com o objetivo de comparar a emissão da

amostra pura com as dopadas e o efeito da concentração do dopante sobre a

emissão do material. Foram medidas amostras com concentrações distintas,

Page 53: PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE BATIO ...€¦ · ii Produção e caracterização de nanopartículas de BaTiO 3 através da rota sol-gel utilizando substâncias

53

iguais a 0,5%; 1,0% e 2,0% de Nd3+. Os resultados são apresentados na Figura

4.13. Pode-se observar que a amostra pura não apresentou luminescência,

enquanto as amostras dopadas apresentaram bandas de emissão em 876, 906

e 1056 nm correspondendo às transições, 4F3/2 → 4I9/2 e 4F3/2 → 4I11/2,

características do Nd3+.

As amostras dopadas com 0,5 e 2,0 % apresentaram a mesma

intensidade de emissão, enquanto a amostra dopada com 1,0 % apresentou

luminescência reduzida. O resultado apresenta uma aparente incoerência, pois

comparando a amostra dopada com 0,5 % e 1,0 % observamos uma redução

na intensidade da luminescência. A supressão da fluorescência em amostras

dopadas com Nd3+ pode ocorrer devido a efeitos de relaxação cruzada, em que

parte da energia de excitação situada inicialmente em um íon é transferida para

outro íon vizinho, levando ambos a um nível intermediário, decaindo não

radiativamente para o estado fundamental. Por outro lado, comparando as

amostras dopadas com 1% e 2% observa-se um aumento na intensidade de

luminescência, o que poderia ser atribuído a um efeito direto da concentração,

na qual mais íons produzem maior intensidade de emissão. Finalmente,

comparando-se as amostras dopadas com 0,5 % e 2,0 %, observa-se que a

intensidade se mantém constante, e esse resultado poderia ser um indicativo

de que a luminescência do material independe da concentração do dopante, no

intervalo de concentrações testado no presente trabalho. De acordo com

PAZIK et al. (2004) a influência dopagem do BaTiO3 com Nd3+ nas mesmas

concentrações aqui propostas, não foram tão significativas no que diz respeito

à variação de intensidade das bandas de emissão. Os resultados do presente

trabalho indicam que um intervalo maior de concentrações precisa ser testado,

e que os experimentos precisam ser repetidos, todos em triplicata, o que não

foi realizado nesta etapa do trabalho, devido a limitações experimentais.

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54

850 900 950 1000 1050 1100 1150

(nm)

BT-puro

BT-Nd-0,5%

BT-Nd-1,0%

BT-Nd-2,0%

Inte

nsid

ad

e d

e f

luo

rescê

ncia

(u

.a)

Potência: 10mW

Filtro: 70

Figura 4.13: Espectros de emissão do BaTiO3: Nd3+ em diferentes concentrações.

Capítulo 5: Conclusões

A rota de síntese proposta no presente trabalho se mostrou bastante

eficiente na obtenção dos pós cerâmicos de BaTiO3 puros e dopados com

Nd3+. As amostras puras foram reproduzidas com o uso da água de duas

fontes distintas, demonstrando assim, o potencial de reprodução desta síntese.

A perda de massa das amostras registradas em medidas de TG é baixa

se comparada a valores relatados para a rota sol-gel convencional. Esse

resultado sugere que uma pequena quantidade de Substâncias Húmicas

Aquáticas (SHA) é suficiente na produção do material, indicando grande

capacidade de complexação dessas macromoléculas.

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55

Pela investigação dos parâmetros testados, o pH foi o que influenciou

significativamente na obtenção dos pós, auxiliando na complexação e formação

da fase única do BaTiO3 na temperatura de 1100 ºC/5h das amostras

sintetizadas com pH inicial de 7 e 10. Foram obtidos resultados satisfatórios

com a dopagem do material nas concentrações propostas. Além do estudo da

luminescência ocasionado pelo íon dopante (Nd3+) ainda pouco explorado na

literatura.

Como sugestão para trabalhos futuros podemos propor um estudo da

luminescência do pós de BaTiO3:Nd3+ através de medidas de excitação por

aquecimento da amostra, a dopagem com maiores concentrações de Nd3+. A

sinterização das amostras e medidas de espectroscopia de impedância.

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Capítulo 6: Referências Bibliográficas

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