processos decisórios nos pequenos municípios

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  • 8/14/2019 Processos decisrios nos pequenos municpios

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    PROCESSOS DECISRIOS NOS PEQUENOS MUNICPIOS

    Marcelo Antnio Maia de SiqueiraEngenheiro Arquiteto

    Mestre em Urbanismo

    1. INTRODUO

    Em outro artigo(1), procuramos apresentar de forma geral a tipicidade dos

    municpios de pequeno porte no Brasil.

    Ali comentamos que os municpios de pequeno porte se encontram num

    grande desafio, diante do grande movimento de descentralizao mundial e

    particularmente nacional que os vem empurrando para o enfrentamento de suas

    prprias questes.

    Destacamos que isto ocorre revelia da capacidade destes municpios no

    campo financeiro-tributrio, no campo institucional-administrativo e no campo scio-

    poltico.

    Este artigo procura abordar especificamente esta ltima questo, a nosso

    ver, central para o efetivo desenvolvimento destas localidades.

    Discutimos inicialmente questes relativas s relaes do Estado com a

    sociedade, tema bsico para compreenso contempornea de dinmicas decisrias.Em seguida detalhamos alguns pontos desta dinmica que desde alguns anos esto

    no centro do debate: novos atores sociais e novas estratgias de gesto local,

    fenmenos recentes que vem reconfigurando o cenrio poltico-decisrio. Por fim

    tecemos consideraes em torno da questo da prtica democrtica e os rumos

    desta prtica em direo ao seu aprofundamento ou aperfeioamento. Sempre

    partindo de um cenrio maior e das afirmativas vigentes para relativizar para o

    universo dos pequenos municpios.

    2. RELAES ESTADO E SOCIEDADE

    1 A Realidade dos Pequenos Municpios no Brasil

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    Estado e sociedade no so entidades ou campos estanques ou isolados,

    sendo muitas vezes difcil delimitar seus contornos precisos. O Estado est ligado de

    inmeras formas a grupos de interesse da sociedade. O insulamento de suas

    estruturas burocrticas varia no tempo de rgo para rgo. Porm, apesar de

    interpenetradas, so esferas distintas (MARQUES, 2000).Vrias linhas de estudo tem se desenvolvido para entender estas relaes.

    A primeira delas aquela da tradio pluralista norte-americana, tambm

    chamada de viso clssica. Para esta escola a agregao de interesses aconteceria

    nos partidos polticos ou ento na forma de lobbies e grupos de presso sobre o

    congresso e/ou sobre agncias governamentais. Por trs destas aes estaria

    principalmente o poder econmico, dos diferentes setores do capitalismo produtivo ou

    especulativo, mas tambm o poder poltico de certos grupos importantes, como

    certos sindicatos (MARQUES, 2000).

    Uma segunda anlise fruto de uma reviso das teorias clssicas. De

    acordo com ela, os grupos de interesse agem de forma menos atomizada e atuariam

    atravs de redes complexas de ligaes entre instituies e indivduos, explorando os

    pontos convergentes. As fronteiras entre os grupos e empresas e entre pblico e

    privado no seriam to delimitadas como acredita a viso pluralista (MARQUES,

    2000).

    A terceira linha aquela da tradio marxista. Coerente com sua rgidaviso da sociedade de classes, no percebe claramente a questo da permeabilidade

    do Estado atravs das redes de ligaes pessoais, e entende que a influncia das

    empresas sobre o Estado considerada como garantida pela estrutura da sociedade

    e da economia capitalista, sendo o Estado constitudo per si voltado para estes

    interesses. Mesmo quando avanam para dentro de um debate sobre autonomia

    relativa do Estado, em que este teria um carter de classe indireto, via mediao,

    entendem que se mudam os mecanismos de conformao no mudaram os

    resultados finais. Explicam a influncia do privado no estatal atravs de mecanismos

    estruturais: o maior poder do capital devido proximidade existente entre elites

    estatais e capitalistas; a ao coletiva e as muitas estratgias de busca da

    hegemonia; a dependncia estrutural do Estado ao capital; e os processos de

    seletividade estrutural das polticas para benefcio dos setores influentes. Os

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    aspectos mais importantes desta anlise estariam no destaque para os capitais como

    atores fundamentais e aos interesses como motivaes imprescindveis para a

    compreenso das polticas do Estado (MARQUES, 2000).

    A quarta vertente a dos Neoinstitucionalistas. Esta escola preserva a viso

    da importncia e insulamento das instituies estatais, mesmo em uma sociedadecapitalista, mas trazem a tona outros atores, as estratgias dos agentes e as

    articulaes entre instituies. Para estes, a efetividade das aes do Estado

    depende de seus laos com a sociedade. Entendem que para compreender

    detalhadamente o insulamento, a autonomia e a permeabilidade seria necessrio

    desagregar o estado e analisar os inmeros atores nas mltiplas arenas da

    sociedade. Podemos dizer que ao contrrio da viso clssica e da sua reviso, que

    idealizam muito o Estado e enxergam apenas um vetor de interesses a partir dos

    grupos privados e direcionado para o Estado, esta outra viso percebe outro vetor em

    sentido contrrio, buscando cooptar o setor privado para os interesses polticos, num

    complexo jogo de trocas (MARQUES, 2000).

    Outra contribuio para este estudo seria a literatura corporativista,

    baseada na experincia europia dos grandes acordos, com a formao de pactos

    tripartite entre Estado, capitais privados e trabalhadores, em nvel nacional, servindo

    de sustentao poltica dos Estados de Bem Estar na Europa. Posteriormente, outros

    estudos analisaram acordos do gnero de natureza sub-nacional ou setorial,chamado de meso-corporativismo. Este debate exerceu forte influncia sobre a

    literatura brasileira. As propostas de pacto social estavam na ordem do dia na dcada

    de 1980, havendo inclusive a instalao das cmaras setoriais, e parecem querer

    ressuscitar na atualidade atravs das intenes do governo de Luiz Incio Lula da

    Silva (MARQUES, 2000).

    No Brasil, alguns autores tm contribudo para uma melhor compreenso

    dos aspectos particulares da nossa sociedade. Fernando Henrique Cardoso revelou

    os anis burocrticos, tendo sido esta a mais importante contribuio nacional ao

    tema. Percebeu que o planejamento ou inrcia estatal do perodo populista no Brasil

    (1945-1964) eram mecanismos polticos para suplementao dos interesses privados

    e que estes interesses fluam atravs de teias de cumplicidade pessoais, sendo

    estas teias diferentes de lobbies, pois so mais difusas e mais orientadas por

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    relaes de lealdades pessoais. Os anis burocrticos seriam ento mltiplos crculos

    baseados em relaes pessoais que ligariam de forma perpendicular inmeros

    interesses em subsistemas englobando partes do governo, burocracia, empresas

    privadas, sindicatos, etc. Com o golpe de 1964 teria havido incio da quebra deste

    sistema de anis do populismo e a instalao de outros. Observou ainda que ocorporativismo no seria adequado para a leitura da dinmica brasileira, pois supe

    alto nvel de organizao e representao das classes e no Brasil h mais a presena

    de interesses polticos e econmicos individualizados (MARQUES, 2000).

    A partir destes pontos, vrias pesquisas exploraram a questo das redes de

    relaes pessoais envolvendo o mundo poltico e o Estado. Numa linha mais

    sociolgica e antropolgica, estudos vm mostrando como em nossa cultura

    princpios de lealdade familiar e de amizade so extremamente fortes a ponto de

    serem moralmente superiores aos compromissos da esfera pblica, tornando

    complexo o julgamento de aspectos como corrupo e clientelismo (KUSCHNIR,

    2000; MARQUES, 2000; BEZERRA, 1995).

    Marcos Bezerra comenta que a existncia de princpios e obrigaes sociais

    que caracterizam as relaes pessoais e como isto se faz presente dentro do setor

    pblico tem sido interpretado, sobretudo pelos autores que discutem a questo da

    modernizao nos pases em desenvolvimento, como um resqucio de relaes de

    carter tradicional. Desta perspectiva, elas (as relaes pessoais) so concebidasgeralmente como um obstculo modernizao das sociedades. A idia de que

    sero automaticamente superadas ou substitudas por novos padres de relaes de

    tipo racional e impessoal (..) tambm objeto de um certo consenso e desejo.

    Pressupostos como estes tem impedido de se pensar nestas relaes no somente

    como coisas do passado, mas como constitutivas das sociedades contemporneas.

    Isto , como responsvel pela conduta das pessoas e pelo funcionamento da

    instituies, inclusive oficiais (BEZERRA, 1995), ou seja, alerta-nos que um estudo

    que procure entender o processo de formulao de um poltica pblica e de sua

    execuo precisa considerar a existncia deste fenmeno e pesquisar como estas

    relaes afetam o caso estudado.

    O autor cita trabalhos mais antigos, como Oliveira Viana, que afirmou que a

    sntese de nossa psicologia poltica a incapacidade moral de cada um de ns para

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    resistir s sugestes da amizade e da gratido, para sobrepor s contingncias do

    personalismo os grandes interesses sociais. E ainda que O tratamento de uma

    pessoa de modo pessoal implica relacionar-se no em termos de papeis sociais

    especficos (cliente, cidado, empregado, funcionrio, etc.) aos quais esto

    vinculados direitos e obrigaes prprios mas identificando-se como algum queacumula outros papeis (...). Neste sentido (...) no se estabelecem fronteiras entre os

    diferentes papeis que so desempenhados pela pessoa.

    Assim, do ponto de vista das relaes pessoais, trata-se de um ato

    socialmente admissvel tanto o fato de se fazer pedidos a estas pessoas quanto o de

    que os pedidos seja atendidos. Isto concebvel uma vez que o exerccio de uma

    funo pautada por padres impessoais, como as funes pblicas, no retira a

    pessoa do seio das relaes pessoais no qual se encontra imersa. (...) Para o

    funcionrio, a ruptura com os valores e as relaes que fazem parte de sua

    existncia diria para que prevalea a razo organizacional est longe de ser um

    ato tranqilo e natural, ao contrrio, esta uma operao difcil e conflituosa. Implica

    por exemplo ser indiferente com os amigos, parentes, aliados, conhecidos

    Identificando estas caractersticas como importante aspecto constitutivo de

    nossa cultura e de nossa sociedade, conclui que recorrer aos padres de

    relacionamento tem constitudo, na sociedade brasileira, uma estratgia socialmente

    aceitae que por se viver como que imerso neste modo de agir, concebe-se comoalgo natural e legtimo acionar as relaes pessoais. Portanto constata que as

    relaes de uma pessoa, e daquelas com as quais ela mantm um lao, apresentam-

    se como uma modalidade de capital social ao qual se pode recorrer em certas

    circunstncias(BEZERRA, 1995).

    Sobre estas constataes, Eduardo Marques (MARQUES, 2000) prope o

    conceito de permeabilidade do Estado. Como no Brasil os vnculos estabelecidos

    fora das relaes institucionais assumem uma importncia que no encontra paralelo

    no exterior, amigos, colegas de escola, parentes, podem ganhar canal privilegiado

    dentro das instituies, o que faz com que os rgos pblicos sejam cimentados por

    padres sempre cambiantes de relaes pessoais e o Estado adquira uma

    permeabilidade maior e mais disseminada, ficando a fronteiras entre pblico e

    privado menos definidas. A Intermediao de interesses fica disseminada por

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    inmeros e dispersos contatos pessoais, enquanto nos Estados Unidos vigora o

    padro dos lobbies e na Europa o padro do corporativismo, ambos mais claramente

    identificveis e institucionalizados. Dessa forma, sendo esta permeabilidade

    acentuada em nossa sociedade, passa a ser um aspecto constituinte de nosso

    Estado, firmado sobre fortes caractersticas sociais fundamentais de nossa cultura.

    Trazendo estas idias para o universo que pesquisamos (os pequenos

    municpios), observamos que todas precisam ser relativizadas. Naturalmente vamos

    nos ater aos conceitos que se aplicam mais diretamente ao caso brasileiro.

    Mesmo sem ter analisado profundamente a extenso das redes sociais

    locais, j que no era este nosso foco central, observamos que estas redes so muito

    mais simples, compatvel mesmo com o tamanho destas sociedades. Mesmo indo

    alm do mbito local, e estendendo-se por diversas cidades, acompanhando

    principalmente o trajeto daqueles que emigram, no so to extensas e complexas.

    Para o caso que estudamos (2), centrado na rede formada em torno de uma

    determinada poltica pblica, constatamos que a teia de conexes era ainda mais

    enxuta.

    Alm do tamanho, destacou-se um aspecto qualitativo: a identificao de

    que nestas redes os atores e os vnculos institucionais so muito importantes, mais

    importantes do que vem sendo observado na literatura para as polticas e aespblicas encetadas noutras escalas.

    Generalizando esta questo, notamos na realidade, a coexistncia de dois

    planos distintos.

    No quotidiano, as prefeituras, ou seja, o poder pblico local, bastante

    afetado pelos interesses privados, mas o conceito de permeabilidade no pode ser

    propriamente aplicado ao caso. que, ao contrrio do que ocorre numa situao de

    permeabilidade estatal, a ao, ou melhor, a interao dos interesses privados e

    pblicos no difusa como se tem notado em escalas maiores. Ela centrada na

    figura do prefeito e no grupo de pessoas ligadas ao prefeito. H um controle quase

    absoluto da mquina pblica, que pequena, no que diz respeito ao atendimento de

    demandas e no direcionamento das polticas para o municpio.

    2 Estudamos a poltica de resduos slidos nos pequenos municpios.

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    Coexistente a esta realidade, quando o municpio obrigado a relacionar-se

    com instituies estaduais e federais, prevalecem os vnculos e as aes de carter

    formal, enquadradas na racionalidade impessoal. Acontece que a implementao de

    polticas de investimento pblico nos pequenos municpios depende quase

    completamente de recursos obtidos nas outras esferas de governo. Portanto estaoutra dimenso onde os vnculos formais so mais relevantes est muito presente e

    presente nas questes de maior destaque na municipalidade. Isto ocorre

    principalmente nos municpios de populao at 30.000 hab., mas tambm em

    grande medida nos de populao entre 30 e 50 mil.

    verdade que para obteno destes recursos, utilizam-se contatos de

    carter pessoal, que so basicamente contatos polticos, num sistema clientelista e

    no contatos advindos de parentesco, amizade, coleguismo, etc. a tpica relao de

    intermediao em que o poltico detm os acessos, assume uma obrigao de

    atender, que acaba por confirmar e sustentar sua posio de status social

    diferenciado, e, dentro da lgica da ddiva, a comunidade, tem a obrigao de

    retribuir com seus votos. (KUSHNIR, 2000).

    Na relao clientelista, essencial o papel do poltico enquanto mediador

    entre as demandas e as decises capazes de atende-las. Os mecanismos

    impessoais e universalistas de canalizao e processamento de demandas cedem

    lugar a vnculos de cunho pessoal entre lderes e sua rede de indivduos ou grupossubordinados. (...) Essa mediao como que privatiza a obteno de um bem pblico,

    na medida em que o patrocnio de um poltico influente aparece como requisito

    necessrio para o acesso a servios pblicos fornecidos pelo Estado ou para a

    soluo de questes especficas(DINIZ, 2000)

    Mas obtidos os recursos, sua aplicao passa a ter fiscalizao de rgos

    onde prevalecem os aspectos tcnicos e impessoais. Na poltica estudada, apesar de

    suspeitas levantadas em algumas cidades, no observamos qualquer influncia de

    presses internas nestes rgos, advindas de escales superiores, de polticos, etc.

    que provocassem uma atuao diferenciada.

    Mas no s rgos fiscalizadores tem tido um papel importante. Outras

    instituies se fazem presentes.

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    Da mesma forma que recursos financeiros foram necessrios, recursos

    tcnicos precisaram ser trazidos para concretizao da poltica (no caso estudado, de

    gesto do lixo) e neste caso a relao formal, institucional, via contrato, foi a

    estabelecida e diante da situao de absoluto domnio do conhecimento do tema por

    apenas uma das partes, imperaram as idias dos contratados sem qualquerinterferncia.

    Outro ator institucional muito importante revelado em nossa pesquisa foi o

    Ministrio Pblico. Sua atuao em certos casos foi decisiva e permitiu reverter os

    rumos da poltica para resduos slidos. Este fato permite revelar claramente que o

    poder local limitado pela atuao de certas instituies. Atuando como

    fiscalizadores, rgo Ambiental, Caixa, Ministrio Pblico, com maior ou menor

    poder, acabam por forar prefeitos negociao ou simples implementao de

    outras diretrizes.

    Nos voltando agora para os vnculos de carter informal e os atores

    pessoais que se fizeram presentes nas histrias, verificamos ainda aqui diferena em

    relao literatura que estudou outras escalas. No observamos a presena de

    interesses privados utilizando teias de cumplicidades pessoais para afetar a poltica.

    Onde estas teias parecem ter atuado, no o fizeram claramente como instrumentos

    de canalizao de interesses privados. Em alguns locais nitidamente estavam a

    servio das foras de oposio e no o contrrio. Noutros, apesar da existncia deproprietrios insatisfeitos, no foram os seus interesses que nortearam os

    posicionamentos do novo prefeito, podendo ter apenas reforado suas disposies.

    Em todos os casos, as relaes de carter puramente poltico, sejam de aliados ou

    de inimigos, seja numa relao clientelista ou paritria, para viabilizao do

    empreendimento ou para impedi-lo, so mais centrais que outras formas de

    cumplicidade pessoal, tecidas em torno de parentesco, amizade, coleguismo, ou

    mesmo interesses econmicos.

    Sobre as anlises marxistas, no observamos generalizadamente na regio

    estudada (3), ao contrrio do que indica a bibliografia para outras regies brasileiras, a

    prevalncia do capital ou um domnio de elites agrrias, que no entanto em um caso

    ou outro podem vir a estar envolvidas indiretamente, dentro do contexto poltico local.

    3 Sul de Minas Gerais

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    Numa das cidades, ao contrrio, os trabalhadores rurais dominavam a poltica local.

    Apenas em uma delas parece ter havido algum fator econmico secundrio

    envolvido, mas no comprovado, que mesmo assim no foi central para a poltica

    pblica ter sido definida e implementada. Prevaleceram outras motivaes. Mas no

    ausente o fator interesse como mvel das aes do Estado nestas localidades,destacando-se os interesses poltico-eleitorais, que convivem ao lado de motivaes

    puramente tcnicas ou estratgicas. Esta ordem de interesses, podemos afirmar,

    fundamental para a deciso de implementar a soluo, apesar de que em geral

    acabaram se transformando em tiros que saram pela culatra ou em algo incuo

    para estas intenes. Noutras palavras, em nenhum caso, os polticos locais

    conseguiram capitalizar eleitoralmente a implementao desta soluo.

    3. NOVOS ATORES

    Num processo de evoluo recente, as sociedades contemporneas

    passaram a contar com a atuao de novos atores no vinculados a interesses

    econmicos e no vinculados ao Estado. So agentes que tem assumido cada vez

    mais importncia no cenrio das polticas pblicas.

    So organizaes da sociedade civil voltadas para diversos interesses.

    No campo poltico, vimos no Brasil movimentos como os clubes de mes daperiferia sul de So Paulo e as comisses de sade da zona leste desta mesma

    cidade se estruturando num hiato deixado pela ditadura e que assumiram desde cedo

    um discurso de autonomia, ou seja, de capacidade de elaborao da prpria

    identidade e de projetos coletivos a partir das prprias experincias (CARDOSO,

    1995; JACOBI, 1989). Assim desvinculados de partidos ou de sindicatos, acabam se

    tornando uma experincia inovadora de atuao no cenrio poltico, por serem

    efetivamente organizaes da sociedade propriamente civil.

    Ao contrrio de outras organizaes importantes, como as CEBs, que

    vinculadas igreja e com estreitas ligaes partidrias, adotam uma nova

    configurao classista: tem profunda desconfiana de toda institucionalizao que

    escape ao controle direto das pessoas implicadas; alargam a noo de poltica,

    politizando as mltiplas esferas do cotidiano, mas; focadas para interesses

    116 - 116 -

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    especficos, para um local especfico ou segmento especfico; procuram atuar de

    forma objetiva e pragmtica para atingir estes interesses.

    Acabaram por colocar os partidos na condio de incapazes de cobrir

    sozinhos todo o espao da poltica, tirando-lhes parte da substncia, na medida em

    que no do conta dessa realidade. (CARDOSO, 1995)Boaventura de Souza Santos e Leonardo Avritzer demonstram que a grande

    participao dos movimentos sociais nos processos de redemocratizao no Brasil e

    noutras experincias democrticas recentes dos pases do sul vem apresentar um

    panorama de mudana das relaes estado-sociedade. Mais acentuadamente que

    nos pases centrais, que efetivamente tem uma forte organizao da sociedade civil,

    estas organizaes no Brasil, mesmo sendo menos numerosas, tem assumido papel

    mais destacado no campo poltico em geral (SANTOS & AVRITZER, 2002), e vem

    dando novas dimenses nesta relao do estado com a sociedade, tornando-a ainda

    mais rica e complexa.

    Este grande avano na formao e estruturao do terceiro setor est

    certamente constituindo uma nova esfera pblica no-estatal que talvez esteja

    reconfigurando as relaes de fora e diminuindo a centralidade que o Estado em

    nosso pas ainda tem (MARQUES, 2000). Em estudos de casos, como o da pesquisa

    sobre a experincia de Valente-BA (NASCIMENTO, 2000) nota-se que o Estado teve

    papel absolutamente perifrico.Porm, parece no ser esta a realidade para a grande maioria dos

    pequenos municpios. Em nossa pesquisa, flagrante a ausncia de atores novos, de

    organizaes civis. Absoluta ainda a centralidade do Estado, e mais

    especificamente a centralidade das prefeituras nos processos. Esto fortemente

    presentes tambm as outras esferas de governos, estadual e federal, e todas as

    etapas da poltica estudada ocorrem dentro do mbito estatal.

    Na cidade de Ilicnea foi de grande importncia o sindicato de trabalhadores

    rurais e o Partido dos Trabalhadores. No entanto no so atores novos, sob o ponto

    de vista das cincias sociais e polticas. Mas de fato so atores incomuns para

    municpios como estes, o que bastante relevante. Inclusive a Usina de Lixo (4) desta

    cidade que apresenta melhores resultados e teve menos custo de implantao.

    4 Estudamos vrios casos de implantao de Usinas de Lixos no Sul Minas Gerais.

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    Nos demais, a sociedade civil se estrutura apenas em suas expresses

    tradicionais, como famlia e Igreja, sendo que mesmo em Ilicnea, tanto sindicato,

    quanto partido poltico se organizaram a partir da ao da Igreja, atravs dos crculos

    bblicos. Neste caso, estava presente um proco militante da Teologia da Libertao.

    Porm nestes municpios o mais comum a presena de procos tambmtradicionais.

    Encontramos tambm em Paraguau uma experincia autnoma que passa

    por uma consolidao da condio de parceira do poder pblico. Mas trata-se da

    iniciativa de uma nica pessoa e suas motivaes iniciais esto ligadas ao

    assistencial da Igreja.

    Em Brumadinho percebemos que h efetivamente uma organizao da

    sociedade civil que de fato o cerne do trabalho e seu sustentculo: o Frum

    Municipal Lixo e Cidadania. Mas trata-se de municpio da regio metropolitana de

    Belo Horizonte e a constituio do trabalho e do frum se deu em funo da ao

    direta de agentes externos. Mas este fato para ns importante e queremos voltar a

    ele mais adiante.

    4. NOVAS ESTRATGIAS NA GESTO LOCAL

    Idias recentes a respeito do desenvolvimento, no apenas do setor pblico,mas das sociedades em geral, vem consolidando a necessidade de se promove-lo a

    partir do mbito local e de forma integrada e sustentvel. Elas apontam para novas

    estratgias de gesto local, no apenas do setor pblico, mas das sociedades locais

    como um todo.

    Idias de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentado (ou simplesmente

    DLIS), esto presentes nas premissas da Agenda 21 e da Agenda Habitat, e so

    uma espcie de paradigma da atualidade, em plena fase inicial (ONU, 1995).

    Em 1998, aps a 8 Rodada de Interlocuo Poltica do Conselho da

    Comunidade Solidria, concluses importantes a este respeito foram elaboradas e o

    conceito de DLIS foi exposto da seguinte maneira:

    118 - 118 -

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    um novo modo de promover o desenvolvimento que possibilita o

    surgimento de comunidades mais sustentveis, capazes de: suprir suas

    necessidades imediatas, descobrir ou despertar suas vocaes locais e desenvolver

    suas potencialidades especficas e fomentar o intercmbio externo aproveitando-se

    de suas vantagens locais. (FRANCO, 1999)

    Os argumentos para que se volte esfera local e que seja ali o lcus

    principal do desenvolvimento so que na esfera local os problemas so mais bem

    identificados e seria mais fcil encontrar solues; que da proximidade das

    comunidades ao seu meio pode-se melhor aproveitar as habilidades e

    potencialidades; que se garantiria de melhor forma a continuidade das aes pela

    existncia de maior controle social.

    Mas para tal, afirmam, as regies e localidades devem desenvolver uma

    capacidade endgena de exercer sua interdependncia (FRANCO, 1999).

    Sobre as polticas pblicas, afirma:

    O Desenvolvimento Local Integrado e Sustentado exige um novo sistema

    de gesto de polticas pblicas que exercite o novo paradigma da relao entre

    estado e sociedade (articulao, descentralizao, parceria, transparncia, controle

    social, participao) e a integrao das polticas pblicas, entre elas a polticamacroeconmica, polticas setoriais e polticas sociais, incluindo a articulao entre

    as diversas instncias dos governos federal, estadual e municipal. Isso quer dizer que

    as polticas pblicas devem ser concebidas e implementadas de baixo para cima,

    orientadas pelos grandes objetivos e estratgias nacionais e que estejam a servio

    do desenvolvimento local (FRANCO, 1999)

    Mais especificamente sobre a participao do poder local:

    No se advoga que o Estado, na sua manifestao local, seja o nico

    provedor e empreendedor. Contudo, a ele cabe o papel estratgico e insubstituvel de

    apoiar, promover e regular os processos de proviso de bens e servios bsicos e de

    promover o desenvolvimento mas embora caiba aos prefeitos, no quadro

    119 - 119 -

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    13/26

    institucional atual, o papel de gestores das polticas desenvolvidas em seus

    municpios, o DLIS aponta para novas formas, mais compartilhadas com a sociedade,

    de conduo de processos pblicos que contribuem para o desenvolvimento.

    (FRANCO, 1999).

    Assim, afirmam que o DLIS requer para sua viabilizao, a parceria entre

    Estado, mercado e sociedade civil. Seria preciso obter uma sinergia entre a atuao

    destas trs esferas. As parcerias tenderiam a criar crculos virtuosos, ou seja, laos

    de realimentao positiva.

    Identificam tambm a necessidade de encarar a questo do local no

    exatamente coincidente com a diviso poltico-territorial existente em nosso pas,

    reconhecendo que esta diviso absolutamente arbitrria sob a tica do

    desenvolvimento:

    O DLIS exige, e exigir cada vez mais, uma nova distribuio espacial do

    desenvolvimento, questionando a atual diviso territorial poltico-administrativa do

    pas. Que deixa de captar e dinamizar vocaes e dificulta a integrao regional. As

    exigncias da sustentabilidade colocam a necessidade de pensar e praticar o

    desenvolvimento em microrregies ecossociais mais homogneas, definidas a partir

    da combinao de critrios humano-sociais com critrios ambientais. (...) Nascondies atuais possvel e desejvel trabalhar com consrcios intermunicipais (...)

    e nesses consrcios, mais uma vez, destaca-se o papel dos prefeitos como

    protagonistas de todo o processo. (FRANCO, 1999)

    Quanto ao financiamento, defendem que o DLIS exige a transferncia de

    recursos exgenos e a mobilizao de recursos endgenos, tanto pblico quanto

    privados:

    Os recursos de que dispe uma localidade em geral no so aproveitados

    como insumos ao desenvolvimento. Esses recursos (...) no podem, nem deve, ser

    compulsoriamente arrecadados como impostos, mas podem e devem ser mobilizados

    e canalizados por meio de processos participativos. (...) O segredo aqui est em

    120 - 120 -

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    adotar um novo modelo de gesto participativa e um novo processo poltico local de

    governana mais compartilhada. (FRANCO, 1999)

    Agora sob a questo do conhecimento, das habilidades tcnicas,

    reconhecem a dificuldade de se encontrar expertise em mbito local, principalmentenas prefeituras, e a necessidade da presena de agentes exgenos para

    desencadear processos. Mas estes no teriam sucesso sem a participao em

    nmero muito maior de agentes internos. Assim, faz-se necessrio a capacitao dos

    agentes locais, governamentais ou no, sendo que esta capacitao no seria

    apenas treinamento para reproduo de habilidades, mas tambm um processo

    dialgico, criativo, participativo, crtico, holstico e formativo, servindo ainda como elo

    entre o local e o global. (FRANCO, 1999)

    Devido absoluta necessidade de uma efetiva participao da sociedade

    neste processo, afirmam, por fim, a necessidade de despertar a populao,

    utilizando-se estratgias de marketing e comunicao social, procurando alm de

    uma conscientizao de fundo da populao em geral, criar cmplices.

    Augusto de Franco (FRANCO, 1999), admite que existe uma

    fundamentao terica razoavelmente consistente, uma filosofia do DLIS, porm as

    experincias conhecidas de implantao desses novos modelos ainda so isoladas.

    Nossa pesquisa de campo vem confirmar esta realidade, ou seja, o quo distanteainda esto estas idias da realidade dos pequenos municpios. Porm tambm

    revela o quo necessrio so estas idias para que as polticas pblicas sejam mais

    efetivas nestas localidades.

    Outros autores, no entanto, tem demonstrado que a gesto pblica, e mais

    especificamente a gesto local, vem gradualmente tomando rumos novos, em que

    efetivamente novos atores tem entrado em cena atravs de parcerias com o poder

    pblico para produo de polticas, que a populao j vem sendo chamada para

    participao direta em questes como o oramento, e que as prefeituras comeam a

    se unir em associaes e consrcios.

    Peter Spink (SPINK, 2002), por exemplo, debruando-se sobre o programa

    da FGV e Fundao Ford, que desde 1996 visa identificar e disseminar iniciativas

    inovadoras de governo subnacionais que impliquem em melhoria dos servios

    121 - 121 -

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    pblicos e impacto positivo na construo da cidadania, constatou uma srie de

    mudanas relevantes.

    No tocante forma de organizao, ou seja, de elaborao, implantao

    operacionalizao as novidades so: a preocupao com a transparncia e/ou

    participao, atravs de quiosques eletrnicos, reunies, oramento participativo;maior foco em aes setoriais e no em grandes aes integradas; a formao de

    consrcios municipais e presena de organizaes de diferentes esferas de governo

    e da sociedade civil na elaborao e execuo das aes; tentativas locais de criar

    fruns voluntrios para mobilizao de recursos e preocupaes, em substituio aos

    modelos de cima para baixo; e nova arquitetura social baseada em arranjos

    mltiplos entre organizaes quebrando por vez o centralismo, constituindo-se

    alianas entre organizaes:

    Sobre este ltimo aspecto, verificou que so muitos os tipos de

    organizaes envolvidas e no somente o que se tem chamado de ONGs. Esto

    presentes igrejas, associaes, cooperativas, comrcio, clubes, sindicatos, etc.

    Tambm so quase absolutas as alianas com outras agncias de governo.

    Em nossos casos, apesar da prtica geral ainda distante de todo este

    iderio, tambm observamos a presena de alguns aspectos apontados na literatura.

    Se no se fizeram presentes aspectos como parcerias com a sociedade civil

    local, participao popular, transparncia, controle social, consrcios, esto presenteselementos como parceria com outras esferas de governo e ao de elementos

    exgenos que induzem processos no municpio (no caso a definio pela soluo

    Usina de Lixo) e capacitam tecnicamente elementos locais.

    Porm estes dois fatos ao contrrio de indicarem que se iniciou um

    processo de mudana da prtica poltica, na verdade se fazem presentes pela

    reproduo de aspectos ainda perversos da dinmica local e da relao entre os

    entes federativos.

    As parcerias com outras esferas de governo se deram em condies nada

    paritrias. No caso em que se fez presente a esfera federal, isto se deu por

    motivao de emendas parlamentares que ao garantirem recursos alocados na

    SEDU (Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Presidncia da Repblica)

    automaticamente levaram ao o setor de desenvolvimento urbano da Caixa

    122 - 122 -

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    Econmica Federal, por fora do convnio deste rgo com a SEDU. Esta maneira

    de envolvimento da instncia federal se deu, portanto, via mediao ao estilo

    clientelista, em que o deputado detm os acessos no mbito federal e com isto

    assegura sua posio de intermediador necessrio, induzindo o poder local a retribui-

    lo com apoio que se materializa em votos oriundos do municpio. No caso da esferaestadual, isto tambm ocorreu, mas tambm vimos, no caso de Divisa Nova, este

    ente agir em absoluta discordncia com os princpios do DLIS e das novas

    estratgias de gesto pblica, induzindo de forma nada democrtica, nada paritria, a

    adoo da soluo Usina. Deu-se a implantao da poltica de resduos slidos de

    cima para baixo e no de baixo para cima, como prevem as novas abordagens.

    Outra presena estadual em todos os casos estudados foi a do rgo ambiental, que

    teve atuao apenas como fiscalizador impessoal, portanto numa relao no-

    paritria.

    Quanto atuao de elemento exgeno, a Universidade Federal de Viosa,

    se deu tambm de forma no paritria. Apesar de formalmente tratar-se de uma

    consultoria e, portanto, de uma relao formal horizontal, a maneira como esta

    instituio atuou nos vrios processos foi de simplesmente carrear as suas idias pr-

    concebidas, adaptando-as minimamente conforme condies puramente tcnicas de

    terreno, volume e caracterstica do lixo, por exemplo. Assim, por fora das limitaes

    da viso da comunidade sanitarista, da qual faz parte o LESA-UFV, compostabasicamente de engenheiros que por formao no compreendem o mundo poltico e

    tendem a simplificar as questes reduzindo-as a aspectos tcnicos considerados

    neutros e universais, oportunidades de uma construo social slida da poltica foram

    perdidas, na verdade sequer imaginadas, por no fazerem parte do mundo desta

    comunidade.

    Estivessem presentes na construo desta poltica, elementos da

    comunidade social e da comunidade ambientalista, ligada questo dos Resduos

    Slidos, e formando uma equipe multidisciplinar, as solues poderiam ter sido

    outras, ou se implantada a soluo Usina, teria ocorrido um processo mais

    abrangente sob o ponto de vista social e poltico co possibilidade de sucesso e

    desempenho maiores.

    123 - 123 -

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    Os dois aspectos presentes nos casos estudados, aparentemente afinados

    com as novas propostas de gesto pblica local, so na verdade retratos da

    dependncia dos pequenos municpios em relao aos recursos externos, sejam

    financeiros, sejam tcnicos e desnudam como as esferas estaduais e federal se

    encontram ainda despreparadas, desintonizadas com o papel que deveriamdesempenhar num contexto de DLIS.

    A este respeito, a propsito, a citada 8 reunio do Comunidade Solidria

    em 1998 (FRANCO, 1999), concluiu que esfera federal caberiam aes como a

    definio de diretrizes nacionais; de mtodos, procedimentos e instrumentos

    genricos; das formas de financiamento atravs de programas, contrapartidas, fontes

    alternativas; de alternativas de capacitao dos agentes; dos mecanismos de

    sustentabilidade a serem procurados e; das formas de monitoramento e avaliao.

    Ou seja, constituindo algo como termos de referncia, mas deixando s esferas

    locais apresentao das propostas que contariam com o apoio do Governo Federal.

    Tambm caberia a esta instncia definir reas prioritrias para as primeiras

    experincias-piloto; selecionar projetos; acompanhar e avaliar tais experincias; rever

    as diretrizes nacionais; aperfeioar os procedimentos; direcionar e flexibilizar os

    procedimentos burocrticos; divulgar resultados e; contribuir para a disseminao de

    processos.

    As Usinas que contaram com verbas da SEDU teoricamente participaram deprograma genrico, o PASS, em que composies de contrapartida esto definidas,

    normas gerais esto estabelecidas, etc. conforme prope o Conselho do Comunidade

    Solidria H um avano, j que no saem da Secretaria de Desenvolvimento Urbano

    da Presidncia da Repblica projetos acabados que deveriam ser implementados, ou

    seja, dando espao para a descentralizao. Tambm a utilizao da Caixa como

    instrumento de acompanhamento e fiscalizao da implantao, tanto no aspecto de

    engenharia, como no aspecto social (uma vez que as Representaes de

    Desenvolvimento Urbano desta empresa possuem tcnicos nestas reas) um

    grande passo. Mas as diretrizes dos programas deveriam adentrar-se mais na

    questo da construo social das polticas, os contratos de repasse deveriam permitir

    o tempo necessrio para isto e os tcnicos da Caixa deveriam receber treinamento

    para auxiliarem neste processo de forma paritria e democrtica, prestando

    124 - 124 -

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    assessoria e no apenas assumirem postura de fiscais, j que a fiscalizao pura,

    nos moldes estabelecidos para o controle do Estado so feitos por auditores. Atravs

    da Caixa, aproveitando sua capilaridade, poderiam ser dados tambm treinamentos

    para tcnicos municipais.

    5. APROFUNDAMENTO DA DEMOCRACIA (5)

    Na atualidade, a democracia aparentemente tornou-se um axioma no que

    diz respeito forma de governar.

    No entanto, o prprio conceito de democracia no unnime, e se hoje, ao

    nos referirmos ao termo, nos vem de imediato mente uma idia que parece ser a

    nica possvel, isto se deve vitria de uma concepo que vem sendo chamada de

    modelo hegemnico de democracia.

    Na realidade, ocorreu, e ainda ocorre, um debate e mesmo uma disputa em

    torno da questo democrtica. Este debate se deu basicamente em torno de dois

    eixos: a desejabilidade da democracia e quais seriam suas condies estruturais.

    Quanto ao primeiro ponto, o debate parece efetivamente ter sido resolvido a

    favor da desejabilidade, ou seja, a deciso de que a democracia era o modo de

    governo mais apropriado.

    Porm, quanto ao segundo eixo, o debate sempre foi muito grande e a idiade democracia encontrou mais de uma resposta, tais como a democracia liberal

    (esta, a hegemnica), a democracia popular do leste europeu, a democracia

    desenvolvimentista dos pases recm emancipados e a democracia participativa.

    No perodo da guerra fria esta disputa polarizou-se muito em torno da

    questo do sistema econmico, com as posies antagnicas entre leste e oeste bem

    demarcadas. Enquanto os pases capitalistas s viam democracia na liberdade de

    expresso, no pluripartidarismo e na representao, os socialistas focavam mais a

    estrutura produtiva e somente consideravam que democracia efetiva acontecia

    quando a relao capital/trabalho fosse democratizada, ou seja, quando o sistema de

    produo, e conseqentemente de poder real, estivesse nas mos do povo. Assim, a

    concepo marxista de democracia caracterizava-se por uma forte soberania popular

    5 Esta seo foi elaborada fundamentalmente com base em SANTOS &AVRITZER (2002)

    125 - 125 -

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    associada a um contedo de sociedade, enquanto a concepo liberal via a

    democracia apenas como um mtodo poltico.

    Mas tambm no ocidente, no caso a Europa, percebia-se a existncia de

    uma tenso entre democracia e capitalismo, tendo, por exemplo, A. Przeworski (6)

    mostrado as virtualidades distributivas da democracia e a tendncia dos pasesdemocrticos caminharem para a social-democracia, com limites propriedade e

    distribuio de renda. A soluo encontrada para controlar esta tenso, uma vez que

    o capitalismo no seria questionado, foi a priorizao da acumulao de capital em

    relao distribuio e a limitao da participao cidad para no sobrecarregar o

    regime com demandas sociais que ameaassem a acumulao. Interessante notar

    que estas idias esto em consonncia com o paradigma ocidental de crescimento

    econmico infinito, que hoje est sendo colocado em cheque, em funo da questo

    ambiental.

    Dessa forma chegou-se ao modelo que se tornou hegemnico e que se

    caracteriza pelos seguintes aspectos: contradio entre mobilizao e

    institucionalizao; valorizao positiva da apatia poltica (o cidado comum no tem

    capacidade ou interesse de ir alm da escolha de lderes); debate focado nos

    desenhos eleitorais; pluralismo apenas via partidos polticos e disputa entre elites;

    soluo minimalista para a participao (discusso das escalas e complexidade).

    Desde Max Weber, chegando a Bobbio (7

    ), conclui-se que a complexidadesocial contempornea exigia que as questes pblicas fossem tratadas por

    especialista (tecnocratas) e tornava a participao dos indivduos na poltica

    indesejvel. Haveria ento a inevitabilidade da perda de controle sobre o processo de

    deciso poltica e econmica pelos cidados e seu controle crescente pela

    burocracia. O cidado ao fazer opo pela sociedade de consumo de massa e pelo

    estado de bem-estar social saberia que estaria abrindo mo do controle sobre as

    atividades polticas e econmicas em favor da burocracia.

    Sobre a maneira de exercer a democracia na grande escala, concluiu-se

    que o caminho nico era a da representao. Robert Dahl (8) cunhou uma quase-

    equao ao afirmar que quanto menor a unidade democrtica menos necessidade de

    6 Citado em SANTOS & AVRITZER (2002)7 Idem8 Idem

    126 - 126 -

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    delegar, quanto maior a unidade, maior ser a capacidade de lidar com problemas

    relevantes e maior a necessidade de delegar. Dentro desta linha de pensamento,

    surge o conceito de autorizao , como fundamento para a representao,

    argumentando-se em primeiro lugar, que haveria o consenso dos representantes em

    torno desta forma de constituio de governos, em substituio aos sistemas derodzio e sorteio, e em segundo lugar, que as formas de representao teriam a

    capacidade de expressarem as diferentes opinies da sociedade, tendo Stuart Mill (9)

    expressado a idia de que a assemblia seria uma miniatura do eleitorado. Com

    estas duas justificativas, julgava-se que os governos constitudos pelo sistema

    eleitoral isonmico eram absolutamente respaldados.

    Porm estas respostas nunca deixaram de ser questionadas. No h como

    firmar que as eleies so suficientes como autorizao por parte dos cidados,

    tampouco que os procedimentos de representao esgotam a questo da

    representao da diferena, ou seja, de mltiplas agendas e identidades. Isto se

    coloca de modo mais agudo em pases com maior diversidade tnica, naqueles que a

    diversidade de interesses se choca como particularismo das elites e entre grupos que

    tem maior dificuldade de ter seus direitos reconhecidos. Estas, em conjunto com a

    questo da prestao de contas, so as dimenses que ficam mal resolvidas, quando

    se associa a representao apenas a uma questo de escala.

    Alm disso, no tocante burocracia, nota-se que os problemasadministrativos exigem cada vez mais solues plurais com coordenao de grupos

    distintos. Por isso, o conhecimento detido pelos atores sociais passa a ser

    fundamental e as burocracias centralizadas no conseguem lidar com tanta

    complexidade, o que vem proporcionando o surgimento de tentativas de re-insero

    de arranjos participativos para proporcionar a transferncia de contedos e

    experincias da sociedade para a administrao pblica.

    Tambm h a mudana de panorama para o exerccio da democracia, que

    vem pondo em cheque o modelo hegemnico: a degradao das prticas

    democrticas e a patologia da participao observada no grande absentesmo nas

    eleies; a patologia da representao, com os cidados sentindo-se mal

    representados; o fim da guerra fria que rompe a polarizao entre democracia

    9 Idem

    127 - 127 -

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    popular e liberal; e a globalizao, que paradoxalmente vem estimulando o poder

    local e a recuperao de tradies participativas mais antigas.

    Por outro lado, proposies contra-hegemnicas, contemporneas

    hegemnica, e que tambm se ligam ao procedimentalismo kelsiano, mas evoluindopara outras concluses, no deixaram de ser colocadas na segunda metade do

    sculo XX. So idias encontradas em Lefort, Castoriadis, Habermas, Lechner, Nun e

    Bron, por exemplo (10). A democracia vista como uma gramtica histrica, de

    organizao da sociedade e da relao entre o Estado e a sociedade (e no apenas

    uma engenharia institucional e nem fruto de algum tipo de lei natural). Negam as

    formas homogeneizadoras e reconhecem a pluralidade humana, procurando, no dizer

    de Silvio Caccia Bava (BAVA, 2002), recuperar a noo de processo histrico e o

    reconhecimento que o fundamental no desenho das sociedades a ao coletiva dos

    seus cidados.

    Para alm do mbito terico, nesta ltima dcada do sculo, alguns pases

    do sul experimentaram ou continuam experimentando modelos alternativos que vo

    alm do modelo hegemnico e resgatam a idia da democracia participativa. So

    pases como Portugal, Brasil, Moambique, ndia, frica do Sul e Colmbia. De todos,

    destacam-se as experincias do Brasil e da ndia.

    No Brasil, muitas formas de participao direta tm sido experimentadas,como por exemplo, o Bolsa-escola do Distrito Federal (em que os pais participavam

    do processo democrtico das escolas); as creches comunitrias de Porto Alegre (em

    que os pais participam da deliberao interna das creches); os fruns de finanas e

    tributos de Vitria da conquista/BA (atravs dos quais conseguiu-se o aumento de

    arrecadao e o aumento de confiana da populao); as associaes de usurios do

    transporte coletivo de Santo Andr/SP (que participaram da regulao do sistema de

    transporte e da insero da prefeitura no servio), etc, etc. No entanto a experincia

    mais profunda, abrangente e difundida a do Oramento Participativo, presente hoje

    em cerca de 140 municpios.

    Surgida da vontade poltica de um partido no poder (PT), inicialmente em

    Porto Alegre, tem como principais caractersticas: 1) a participao aberta a todo

    10 Citado em SANTOS & AVRITZER (2002)

    128 - 128 -

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    cidado sem qualquer status especial, atravs de assemblias regionais nas quais a

    participao individual; 2) a combinao entre democracia representativa e

    participativa. (Com os prprios participantes definindo as regras); e 3) a alocao de

    recursos para investimentos com base em critrios gerais e tcnicos, gerando

    princpios distributivos para reverso de desigualdades.Estas novas experincias democrticas trouxeram tona novamente as

    questes envolvidas no debate estruturalista da democracia. Percebem-se as

    possibilidades de mudana das relaes estado-sociedade; a capacidade dos atores

    sociais e sua contribuio com prticas e informaes para a administrao

    (burocracia); e ainda como efetivamente os grupos mais vulnerveis socialmente no

    conseguem que seus interesses sejam representados com a mesma facilidade dos

    setores majoritrios, da o necessrio engajamento destes grupos via instncias

    participativas.

    Se houve perda daquilo que Boaventura de Souza Santos chamou de

    demodiversidade (SANTOS & AVRITZER, 2002), ao final do breve sculo XX

    (HOBSBAWM, 1995), esta, que seria a coexistncia de vrias formas democrticas,

    parece ressurgir com as novas experincias. No se pode negar que a democracia

    tem efetivamente um valor intrnseco, estando inserido numa matriz cultural, que a

    modernidade ocidental. Mas pode e deve dialogar com outras culturas, o que

    proporciona, como no caso da ndia, novas formas de exerccio democrtico. Se istoprevalecer, a riqueza da prtica democrtica poder crescer rapidamente. E no pode

    ser de outra maneira, pois a vontade de impor o modelo hegemnico, como vem

    acontecendo com os Estados Unidos e com agncia de fomento internacional,

    representa uma absoluta incoerncia com o prprio ideal democrtico e se torna sua

    anttese: imperialismo.

    A globalizao no modelo neoliberal, assim como a democracia

    hegemnica, so hostis participao e quando aceita, o apenas em nvel local.

    A novas experincias vem mostrando a possibilidade de outro tipo de combinao

    entre democracia representativa e participativa, que no seja apenas a coexistncia

    da participativa em nvel local com a representativa em nvel nacional. Mostram uma

    articulao mais profunda: o reconhecimento pelo governo de que o

    procedimentalismo participativo pode substituir parte do processo de representao e

    129 - 129 -

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    deliberao. Se quisermos uma globalizao contra-hegemnica, esta deve passar

    pela articulao transnacional entre diferentes experincias de democracia

    participativa, o que traz a possibilidade de aprendizagem recproca e contnua,

    requisito essencial para o xito das prticas democrticas de alta intensidade.

    Para Silvio Caccia Bava (BAVA, 2002), muitas questes ainda permanecemsem resposta ou necessitando de maior aprofundamento dentro do universo da

    participao, como por exemplo, como medir os resultados e quais resultados medir

    para identificar as iniciativas que so, de fato, contribuies importantes para o

    desenvolvimento humano sustentvel, indo alm da retrica de seus promotores?.

    Mas preciso experimentar. Tentar novas formas e aprender com a

    experincia. Foi assim que os exemplos bem sucedidos puderam surgir. Mas

    preciso estar atento para que no ocorram nem cooptao, nem perverso no

    processo, situaes piores que a hostilidade direta. A cooptao j vem ocorrendo no

    Brasil, com setores das elites utilizando bandeiras participativas como marketing

    poltico para no fundo manter tudo como est. A perverso tambm perigo

    constante. Ela ocorre quando se burocratiza a participao, quando se reintroduz o

    clientelismo dentro da dinmica, quando h a instrumentalizao partidria e quando

    h a excluso sutil de interesses, via manipulao das instituies participativas ou

    pelo simples silenciamento.

    Trata-se de um processo de ruptura e, conforme nos aponta Bava (BAVA,2002), uma ruptura que aponta para um cenrio em que, havendo maior controle da

    sociedade civil sobre governos, haver o fim do uso privado dos recursos pblicos,

    bem como a configurao de novos espaos pblicos de negociao e uma forte

    descentralizao de poder. Na verdade uma profunda redefinio dos valores

    governo-sociedade. Trata-se de um aprofundamento ou uma radicalizao da

    democracia, ou no dizer de Santos, de democratizar a democracia.

    uma possibilidade de resgate de ideais libertrios que estavam sendo

    colocados como enterrados no contexto de uma aparente unanimidade e uma

    suposta fatalidade neoliberal. Por esse motivo, segundo nos mostra tanto Bava

    (BAVA, 2002) quanto tarso Genro (GENRO, S/D), os governos liderados pelos

    partidos afinados com estes ideais devem observar que sua principal prioridade tem

    que ser o fortalecimento da capacidade dos cidados de autogovernar-se. No

    130 - 130 -

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    podero ser polticas de atendimento s necessidades materiais dos cidados, por

    mais importantes, urgentes e necessrias sejam elas. No que no devam ser feitas,

    mas no devem ser o cerne do pensamento poltico. Por esta tnica que

    poderemos reconhecer o bom governo. Agindo de outra forma, como se

    julgssemos naturais a pobreza e a desigualdade, a separao entre poltica esociedade e entre a lgica de mercado e as lgicas humana e cidad, pois no

    estaramos promovendo mudanas estruturais, culturais e societais, e sim, mantendo

    o status quo.

    Infelizmente as prticas polticas vigentes hoje nos pequenos municpios, ao

    menos na regio estudada, so antagnicas a estas novas concepes. E

    percebemos como estas novas prticas poderiam ser extremamente positivas para

    estas localidades.

    Por se tratarem de comunidades pequenas, temos a tendncia a acreditar

    que a vivncia comunitria, a participao, a construo coletiva seriam muito mais

    fceis de ocorrer e muito mais simples de acontecer. Porm impera um estado de

    apatia participacional e uma enorme centralidade do Estado, na figura das

    prefeituras, por mais sejam elas incapazes de sozinhas atenderem s suas prprias

    demandas, precisando recorrer a outras esferas de governo.

    Porm, em concordncia com os postulados do DLIS, notamos ser

    absolutamente necessrio que comece uma transformao das prticas polticasnestas localidades, caso se queira de fato leva-las a um desenvolvimento

    sustentvel, o que inclui as polticas pblicas.

    Mas devido enorme inrcia cultural a ser vencida, acreditamos, como

    Augusto de Franco e como j constatava Pedro Jacobi (FRANCO, 1999, S/D e

    JACOBI, 1989), na necessidade de agentes externos catalisando potencialidades e

    estimulando transformaes.

    Em nossos casos, vimos isto acontecer em Ilicnea, com a ao da Igreja

    atravs dos Crculos Bblicos e em Brumadinho, com a ao da UNICEF atravs da

    SEMAD, com participao da ASMARE.

    Um Governo Federal afinado com os princpios aqui colocados, ciente das

    responsabilidades de realizar um bom governo, conforme definiu Tarso Genro,

    precisar criar instncias e mecanismos para fomentar estas prticas por toda parte e

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    saber aproveitar suas instituies j existentes e de alta capilaridade, como o caso

    da Caixa Econmica Federal, para iniciar um grande processo de mudana neste

    pas, a partir das pequenas localidades, potencialmente ricas em coletividade, de

    forma respeitosa, democrtica, mas resoluta.

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