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PROCESSO N.º 021/96 DELIBERAÇÃO N.º 002/96 APROVADA EM 12/04/96 CÂMARA DE LEGISLAÇÃO E NORMAS INTERESSADO: CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE MUNICÍPIO: CURITIBA ASSUNTO: Revisão dos Regimentos Escolares. RELATOR: TEOFILO BACHA FILHO O CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO do Estado do Paraná, no uso atribuições que lhe são conferidas por Lei, e tendo em vista o Parecer n.º 001/96 da Câmara de Legislação e Normas e seu anexo, que a esta se incorpora, DELIBERA: Art. 1º – o artigo 15 da Deliberação n.º 020/91, deste Conselho, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 15 – As normas disciplinares deverão constar do Regimento Escolar, explicitando claramente as infrações, as sanções com sua graduação e as instâncias de recurso que assegurem pleno direito de defesa do aluno. Parágrafo Único – Fica vedada a exclusão ou a transferência compulsória da escola como sanção aplicável ao aluno.” Art. 2º – A presente Deliberação entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Sala Pe. José de Anchieta em, 12 de abril de 1996. 1

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PROCESSO N.º 021/96

DELIBERAÇÃO N.º 002/96 APROVADA EM 12/04/96

CÂMARA DE LEGISLAÇÃO E NORMAS

INTERESSADO: CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

MUNICÍPIO: CURITIBA

ASSUNTO: Revisão dos Regimentos Escolares.

RELATOR: TEOFILO BACHA FILHO

O CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO do Estado do Paraná, no uso atribuições que lhe são conferidas por Lei, e tendo em vista o Parecer n.º 001/96 da Câmara de Legislação e Normas e seu anexo, que a esta se incorpora,

DELIBERA:

Art. 1º – o artigo 15 da Deliberação n.º 020/91, deste Conselho, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 15 – As normas disciplinares deverão constar do Regimento Escolar, explicitando claramente as infrações, as sanções com sua graduação e as instâncias de recurso que assegurem pleno direito de defesa do aluno.

Parágrafo Único – Fica vedada a exclusão ou a transferência compulsória da escola como sanção aplicável ao aluno.”

Art. 2º – A presente Deliberação entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Sala Pe. José de Anchieta em, 12 de abril de 1996.

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PROCESSO N.º 021/96 PROTOCOLO Nº

Parecer n.º 001/96 APROVADO EM 12/04/96

CÂMARA DE LEGISLAÇÃO E NORMAS

INTERESSADO: CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

MUNICÍPIO: CURITIBA

ASSUNTO: Revisão dos Regimentos Escolares.

RELATOR: TEOFILO BACHA FILHO

I – Relatório

Pelo Ofício n.º 182/96, de 31 de janeiro, o Secretário de Estado da Educação encaminha solicitação do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente do Ministério Público do Paraná.

O encaminhamento do Centro de Apoio afirma que o Ministério Público constatou que “apresar da proibição legal, diversos estabelecimentos de ensino do Estado do Paraná indicam, em seus regimentos escolares, a penalidade disciplinar de expulsão ou de transferência compulsória de educandos.” Em vista disto, solicita que “sejam tomadas providências no sentido de serem revistos os regimentos escolares que contenham a sobredita afronta ao ordenamento jurídico, bem como seja o assunto submetido à apreciação do Egrégio Conselho Estadual de Educação, com a finalidade da matéria ser normatizada por este colendo órgão, na esteira, aliás, do que o mesmo já decidiu no âmbito da Deliberação n.º 20/91” (cf. fls. 02 do Processo). Acompanha a solicitação o estudo jurídico-doutrinário, intitulado “O Direito de Permanência da Escola”, de lavra de Valéria Teixeira de Meiroz Grilo e Sylvio Roberto Degasperi Kuhlmann, Promotores de Justiça do Centro de Apoio.

II – NO MÉRITO

Inicialmente é preciso sublinhar que a preocupação manifestada pelos Doutos Representantes do Ministério Público do Paraná é inteiramente procedente, demonstrando que, ao lado do trato jurídico das questões envolvendo a criança e o adolescente, situam a dimensão pedagógico-educativa.

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PROCESSO N.º 021/96

É preciso, igualmente, assinalar que o estudo supra-mencionado constitui peça de fundamental importância para os educadores, já que, partindo da Carta Magna e do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.º 8.069/90), coloca o direito à educação como um dos requisitos básicos para a construção da sociabilidade e da cidadania. Desta ótica, a garantia de acesso e permanência na escola são encarados como direitos a serem tutelados pelo Estatuto. Assim, com base ainda na Deliberação n.º 20/91-CEE, demonstra que, por imposição legal, não podem os estabelecimentos de ensino inserir a exclusão da escola como uma das penalidades a serem impostas aos alunos. Por sua densidade e oportunidade, reproduzimos esse estudo como Anexo I, acolhendo-o como parte integrante deste Parecer.

A Deliberação n.º 20/91, objeto de tanta tensão em passado recente, ao estabelecer as normas para elaboração dos Regimentos Escolares no âmbito do Sistema de Ensino do Paraná, partiu expressamente de uma “concepção democrática da ação educativa”, cujo conceito-chave é o da “responsabilidade compartilhada” (cf. Indicação n.º 001/91). Em seu artigo 11, afirma:

“O Regimento Escolar disporá sobre os direitos e deveres dos protagonistas da comunidade escolar, em consonância com os princípios constitucionais, em especial o contido no artigo 206 da Constituição da República Federativa do Brasil, no art. 178 da Constituição do Estado do Paraná, no artigo 3º desta Deliberação, bem como com a legislação pertinente.”

Mais adiante, no artigo 13, dispõe:

“Aos estudantes será assegurado o princípio constituicional para o acesso e a permanência na escola.”

Apesar do que dispõe a legislação, forçoso é reconhecer que muitas escolas, prolongando uma cultura nutrida pelo autoritarismo de épocas passadas, continuam a encarar como “direito natural” a exclusão do aluno considerado inconveniente. Na maioria das vezes, a exclusão é disfarçada como “convite a retirar-se” ou “transferência compulsória”. O princípio pseudo-pedagógico a fundamentar a exclusão é a conhecida fábula da maçã podre no cesto das maçãs boas: basta uma única para estragar tudo! E não se trata aqui apenas de escolas privadas, nas quais tal situação não é incomum, mas também de escolas públicas. Nestas, a situação atinge as raias do absurdo, já que, no seio de uma mesma rede pública (estadual ou municipal), o convite a transferir-se de uma escola para outra deixa perfeitamente claro que, longe de ser medida de caráter pedagógico, constitui-se num gesto banal de passar a “batata quente” para o vizinho.

Na realidade, ao expulsar o aluno a escola declara, da forma mais enfática, sua própria imcompetência. Certamente, a disciplina constitui um desafio para os educadores, sendo um valor necessário tanto nas relações sociais como nas relações políticas. Mas, no âmbito educativo, a disciplina não se confunde com um conjunto de normas a serem obedecidas; é, antes, a convergência de uma ação corresponsável que só pode ser analisada e compreendida à luz do contexto educacional como um todo. É a escola, enquanto campo de ação educativa, que educa; portanto, a disciplina promana do projeto educativo da escola como um todo, e não de uma série de “pode-não pode, deve-não deve.”

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PROCESSO N.º 021/96

Partindo dessa perspectiva, o aluno rotulado de “indisciplinado”, ou seja, que não obedece as normas, não é simplesmente um “problema”, mas um real desafio à capacidade educativo-pedagógica do corpo docente e da comunidade escolar como um todo. Antes de mais nada, desafio a que se represente, criticamente, o sentido de antítese do tipo “ajustamento X desajustamento”, “docilidade X rebeldia”, “bom comportamento X mau comportamento”. Em seguida, desafio a que, como Educadores, alarguemos nossa capacidade de atuar paciente, persistente e lucidamente no sentido de transformar a consciência dos nossos alunos e de ajudá-los a apreender o mundo em que vivem e a comprometer-se.

Expulsar o aluno da escola é, pura e simplesmente, demissão de responsabilidade: da escola, enquanto espaço educativo; do professor, enquanto agente corresponsável do processo educativo. A expulsão não esconde seu significado de supressão simbólica do indivíduo que é motivo de incômodo e se constitui em permanente desafio à nossa competência/autoridade. Ela é, psicologicamente, equivalente à pena de morte no âmbito do Estado: para não termos de lidar com um problema para o qual não encontramos solução, apagamo-lo do universo de nossa consciência, eliminando-o para sempre... (nem que isto signifique enviá-lo para a escola do quarteirão vizinho!).

Não encontra justificativa, pois, nem no plano pedagógico, nem no jurídico, a prática ostensiva ou velada, explícita ou disfarçada por apelidos, da exclusão do aluno da escola, seja esta privada ou pública. Não bastasse a exclusão dos pobres e marginalizados, produzida pelas políticas institucionais, pratica-se a exclusão seletiva que, sem dúvida, ao atingir os “alunos-problema”, não deixa de demonstrar, aqui também, sua opção preferencial pelos pobres. R.W.Connel afirma que “os meninos que brigam na escola e são jogados na rua estão encontrando mais do que a raiva de certos professores e diretores. Estão enfrentando a lógica de uma instituição que representa o poder do estado e a autoridade cultural da classe dominante”; e, logo adiante: “Em uma escola sob pressão e sem nenhuma perspectiva de obtenção dos recursos de que necessita ou de uma mudança em seus métodos de trabalho, 'livra-se' de um aluno transforma-se em solução rotineira para uma ampla gama de problemas.” (Pobreza e Educação, in: Gentili,P., Pedagogia da Exclusão, Petrópolis: Vozes, 1995, p. 25).

III - VOTO DO RELATORO

Pelo que precede, opina este Relator pelo acolhimento à solicitação do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente do Ministério Público do Paraná, firmando-se a compreensão de que a penalidade disciplinar de expulsão ou transferência compulsória de educandos, sob a forma explícita ou implícita, não pode ser consignada nos Regimentos Escolares dos estabelecimentos de ensino integrantes do Sistema Estadual do Paraná, por se constituir em flagrante desrespeito à legislação vigente. A fim de assumir esta compreensão em sua dimensão concreta, propomos a alteração do artigo 15 da Deliberação n.º 20/91 deste Conselho, na forma de Deliberação que a este se apensa.

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PROCESSO N.º 021/96

Solicita-se que a Secretaria de Estado da Educação, através de seus órgãos descentralizados, encaminhe a todos os estabelecimentos de ensino o Estado cópia deste Parecer, seu Anexo e da Deliberação que o acompanha.

É o Parecer.

CONCLUSÃO DA CÂMARAA Câmara acompanha, por unanimidade, o Voto do Relator. Curitiba, 12 de abril de 1996.

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