processo de insolvência e ações conexas (2014)

737
E-BOOK DEZEMBRO 2014 PROCESSO DE INSOLVÊNCIA E AÇÕES CONEXAS Coleção de Formação Contínua PLANOS DE FORMAÇÃO CONTÍNUA 2012-2013 / 2013-2014

Upload: hathuan

Post on 07-Jan-2017

221 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

  • E-BOOK DEZEMBRO 2014

    PROCESSO DE INSOLVNCIA E AESCONEXAS

    Coleo de Formao Contnua

    PLANOS DE FORMAO CONTNUA 2012-2013 / 2013-2014

  • O presente e-book visa reunir num nico documento as

    intervenes levadas a cabo nas duas aes de formao

    contnua organizadas pelo Centro de Estudos Judicirios sobre a

    matria da Insolvncia, no Plano de Formao 2012-2013 (13 e

    20 de novembro de 2012) e no Plano de Formao 2013-2014

    (16 e 17 de janeiro de 2014).

    Tratando-se de uma das temticas jurdica e socialmente mais

    relevantes o seu tratamento foi feito de forma pluridisciplinar e

    abrangente.

    Os textos e vdeos recolhidos e agora apresentados neste

    formato abordam a tramitao dos processos de insolvncia de

    empresas e de pessoas singulares, o processo de revitalizao e a

    sua conjugao com o processo de insolvncia, o incidente de

    qualificao de insolvncia e o crime de insolvncia dolosa

    (enquadrados no regime dos deveres dos administradores).

    Considerando a atualidade da matria nas vrias jurisdies,

    feita a anlise das consequncias da declarao de insolvncia,

    quer nas relaes laborais, quer nos crimes de insolvncia e

    crimes societrios, bem como as especificidades da sua

    investigao criminal.

    Particular enfoque ainda dado ao papel do Ministrio Pblico

    no mbito do processo de insolvncia: entidades que representa;

    a questo particular dos trabalhadores e a articulao com as

    aes do foro laboral.

    O e-book completa-se com uma atualizada e imprescindvel

    recolha jurisprudencial de decises do Tribunal Constitucional e

    do Supremo Tribunal de Justia sobre esta temtica.

    Os Tribunais portugueses esto repletos de processos em que

    estas matrias so objeto de litgio. Com esta publicao, o

    Centro de Estudos Judicirios procura alargar o mbito dos

    destinatrios das aes de formao em causa, disponibilizando

    a toda a comunidade jurdica mais este instrumento de trabalho

    que para todos se tem como til.

  • Ficha Tcnica

    Conceo e organizao:

    Jurisdio Cvel

    Gabriela Rodrigues

    Laurinda Gemas

    Margarida Paz

    Jurisdio Penal

    Ana Catarina Fernandes

    Srgio Pena

    Jurisdio do Trabalho

    Diogo Ravara

    Viriato Reis

    Nome:

    PROCESSO DE INSOLVNCIA E AES CONEXAS

    Categoria:

    Formao Contnua

    Colaborao:

    Ncleo de Apoio Documental e Informao Jurdica do Tribunal Constitucional

    Gabinete dos Juzes Assessores do Supremo Tribunal de Justia

    Intervenientes:

    Catarina Frade (Professora da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra)

    Joo Aveiro Pereira (Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas)

    Ftima Reis Silva (Juza de Direito)

    Teresa Garcia (Juza de Direito)

    Maria do Rosrio Epifnio (Assistente da Faculdade de Direito da Universidade Catlica)

    Jlio Vieira Gomes (Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justia e Professor da

    Escola de Direito da Universidade Catlica do Porto)

    Jos Joo Abrantes (Professor da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa)

    Artur Dionsio Oliveira (Juiz de Direito)

  • Maria Adelaide Domingos (Juza Desembargadora)

    Maria Jos Costeira (Juza de Direito)

    Lus Lameiras (Juiz Desembargador)

    Jos Manuel Branco (Procurador da Repblica)

    Rute Sabino (Juza de Direito)

    Margarida Rocha (Juza de Direito)

    Cludia Loureiro (Juza de Direito)

    Jaime Olivena (Procurador da Repblica)

    Jos Ribeiro Gonalves (Economista, Presidente da Associao Portuguesa de

    Administradores Judiciais)

    Maria Joo Duarte (Procuradora-Adjunta)

    Susana Aires de Sousa (Professora da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra)

    Ana Paula Boularot (Juza Conselheira do Supremo Tribunal de Justia)

    Reviso final:

    Edgar Taborda Lopes (Coordenador do Departamento da Formao do CEJ, Juiz de

    Direito)

    Joana Caldeira (Tcnica Superior do Departamento da Formao do CEJ)

  • NDICE

    PARTE I O PROCESSO DE INSOLVNCIA NO ATUAL CONTEXTO DE CRISE.............................. 11

    O processo de insolvncia no atual contexto de crise Catarina Frade .................................... 13

    Sumrio .................................................................................................................................. 15

    Bibliografia ............................................................................................................................. 16

    Videogravao da comunicao ............................................................................................ 17

    PARTE II O PROCESSO ESPECIAL DE REVITALIZAO ............................................................. 19

    A revitalizao econmica dos devedores Joo Aveiro Pereira ............................................... 21

    Sumrio .................................................................................................................................. 23

    Bibliografia ............................................................................................................................. 24

    Texto da interveno ............................................................................................................. 25

    Videogravao da comunicao ............................................................................................ 64

    Questes processuais relativas ao processo especial de revitalizao (arts. 17-A a 17-I do

    Cdigo da Insolvncia e da Recuperao de Empresas) Ftima Reis Silva ............................. 65

    Sumrio .................................................................................................................................. 67

    Bibliografia ............................................................................................................................. 67

    Texto da interveno ............................................................................................................. 68

    Videogravao da comunicao ............................................................................................ 90

    PARTE III PRESSUPOSTOS DA DECLARAO DE INSOLVNCIA .............................................. 91

    Pressupostos da declarao de insolvncia Teresa Garcia ...................................................... 93

    Bibliografia ............................................................................................................................. 95

    Apresentao em powerpoint ................................................................................................ 97

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 147

    PARTE IV EFEITOS DA DECLARAO DE INSOLVNCIA......................................................... 149

    Efeitos da declarao de insolvncia sobre os negcios em curso Maria do Rosrio

    Epifnio...................................................................................................................................... 151

    Sumrio ................................................................................................................................ 153

    Bibliografia ........................................................................................................................... 153

    Texto da interveno ........................................................................................................... 154

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 161

    Efeitos da declarao de insolvncia sobre os processos pendentes Artur Dionsio

    Oliveira ..................................................................................................................................... .163

    Sumrio ................................................................................................................................ 165

  • Bibliografia ........................................................................................................................... 165

    Texto da interveno ........................................................................................................... 167

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 187

    PARTE V INSOLVNCIA E RELAES LABORAIS .................................................................... 189

    Insolvncia de sociedades e contratos de trabalho Jlio Vieira Gomes. ................................ 191

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 191

    Ntula sobre os efeitos da insolvncia do empregador nas relaes de trabalho Jlio Vieira

    Gomes........................................................................................................................................ 193

    Texto da interveno ........................................................................................................... 195

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 210

    Efeitos da insolvncia do empregador no contrato de trabalho Jos Joo Abrantes ............ 211

    Bibliografia ........................................................................................................................... 213

    Texto da interveno ........................................................................................................... 214

    Efeitos processuais na declarao de insolvncia sobre as aes laborais pendentes Maria

    Adelaide Domingos ................................................................................................................... 221

    Sumrio ................................................................................................................................ 223

    Texto da interveno ........................................................................................................... 223

    PARTE VI ASSEMBLEIA DE CREDORES: QUESTES PRTICAS .............................................. 249

    Assembleia de credores: questes prticas Maria Jos Costeira. ......................................... 251

    Texto da interveno ........................................................................................................... 253

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 271

    PARTE VII VERIFICAO E GRADUAO DE CRDITOS .................................................... 273

    Verificao e graduao de crditos Lus Lameiras ............................................................... 275

    Bibliografia ........................................................................................................................... 277

    Texto da interveno ........................................................................................................... 278

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 294

    PARTE VIII QUALIFICAO DA INSOLVNCIA ....................................................................... 295

    Novas questes na qualificao da insolvncia Jos Manuel Branco. ................................... 297

    Sumrio ................................................................................................................................ 299

    Bibliografia ........................................................................................................................... 299

    Texto da interveno ........................................................................................................... 302

    Jurisprudncia no mbito da qualificao da insolvncia (janeiro a outubro de 2012)

    Tribunais de Relao ................................................................................................................ 331

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 343

  • A qualificao da insolvncia (anlise do instituto em paralelo com outros de tutela de

    credores e enquadramento no regime dos deveres dos administradores) Jos Manuel

    Branco. ...................................................................................................................................... 345

    Sumrio ................................................................................................................................ 347

    Bibliografia ........................................................................................................................... 347

    Texto da interveno ........................................................................................................... 349

    Apresentao em powerpoint .............................................................................................. 367

    Jurisprudncia sumariada do Supremo Tribunal de Justia e dos Tribunais de Relao no

    mbito da qualificao da insolvncia (anos 2012/2013) ........................................................ 377

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 399

    PARTE IX INSOLVNCIA DE PESSOAS SINGULARES ............................................................... 401

    Especificidades da insolvncia de pessoas singulares - aspetos prticos Rute Sabino. ......... 403

    Apresentao em powerpoint .............................................................................................. 405

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 435

    Reflexes sobre questes prticas que vo surgindo nos processos de insolvncia de pessoas

    singulares Margarida Rocha .................................................................................................. 437

    Sumrio ................................................................................................................................ 439

    Texto da interveno ........................................................................................................... 440

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 450

    A exonerao do passivo restante Cludia Loureiro .............................................................. 451

    Sumrio ................................................................................................................................ 453

    Bibliografia ........................................................................................................................... 453

    Jurisprudncia ...................................................................................................................... 454

    Texto da interveno ........................................................................................................... 455

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 487

    O plano de pagamentos Rute Sabino ..................................................................................... 489

    Sumrio ................................................................................................................................ 493

    Bibliografia ........................................................................................................................... 493

    Jurisprudncia ...................................................................................................................... 493

    Texto da interveno ........................................................................................................... 494

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 500

    PARTE X A INTERVENO DO MINISTRIO PBLICO NO PROCESSO DE INSOLVNCIA:

    INSTAURAO DA AO E RECLAMAO DE CRDITOS .................................................... 501

    A interveno do Ministrio Pblico no processo de insolvncia: instaurao da ao e

    reclamao de crditos Jaime Olivena. ................................................................................ 503

  • Sumrio ................................................................................................................................ 505

    Texto da interveno ........................................................................................................... 505

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 557

    PARTE XI O PAPEL DO ADMINISTRADOR JUDICIAL ......................................................... 559

    O papel do administrador judicial Jos Ribeiro Gonalves ..................................................... 561

    Apresentao em powerpoint .............................................................................................. 563

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 587

    PARTE XII A VERTENTE PENAL DA INSOLVNCIA ............................................................. 589

    Bibliografia ................................................................................................................................ 591

    A investigao dos crimes de insolvncia Maria Joo Duarte ............................................... 593

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 593

    Crimes de insolvncia e crimes societrios Susana Aires de Sousa ....................................... 595

    Sumrio ................................................................................................................................ 597

    Bibliografia ........................................................................................................................... 597

    Videogravao da comunicao .......................................................................................... 599

    PARTE XIII JURISPRUDNCIA SELECIONADA ................................................................... 601

    Jurisprudncia do Tribunal Constitucional ........................................................................... 603

    Jurisprudncia do Supremo Tribunal de Justia .................................................................. 609

    NOTA:

    Pode clicar nos itens do ndice de modo a ser redirecionado automaticamente para o tema em

    questo.

    Clicando no smbolo existente no final de cada pgina, ser redirecionado para o ndice.

    2012 - 2014.................................................................................................................... 609

    2005 - 2012.................................................................................................................... 665

    Ac. STJ 8/05/2013 (uniformizao de jurisprudncia do plenrio das seces cvel e soci- al)................................................................................................................................... 714

  • Registo das revises efetuadas ao e-book

    Identificao da verso Data de atualizao

    Verso inicial 18/12/2014

    Nota:

    Foi respeitada a opo dos autores na utilizao ou no do novo Acordo Ortogrfico.

    ATENO:

    Para a visualizao correta dos e-books recomenda-se a utilizao do programa Adobe Acrobat Reader.

    Para visionar a videogravao de comunicaes deve possuir os seguintes requisitos de software: Internet Explorer 9 ou posterior; Chrome; Firefox ou Safari e o Flash Media Player nas verses mais recentes.

    No caso de no conseguir aceder videogravao das comunicaes, deve efetuar o login no site da Justia TV (http://www.justicatv.com/), com os dados constantes no separador ARQUIVO GRATUITO.

  • Parte I O processo de insolvncia no atual contexto de crise

  • O processo de insolvncia no atual contexto de crise

    [Catarina Frade]

    Comunicao apresentada na ao de formao Processo de insolvncia e aes conexas vertentes Cvel,

    Penal, Trabalho e Empresa, realizada pelo CEJ no dia 16 de janeiro de 2014, em Lisboa.

  • 15

    O processo de insolvncia no atual contexto de crise

    Sumrio:

    Com o acesso ao crdito a partir de meados da dcada de 90, do sc. XX, as famlias

    portuguesas puderam antecipar rendimento que lhes permitiu adquirir habitao prpria e

    mltiplos bens de consumo que melhoraram o seu conforto e as aproximaram um pouco mais

    dos padres de vida do centro da Europa.

    A convergncia de condies financeiras (aumento da concorrncia bancria, fim da

    poltica de limites de crdito, diminuio das taxas de juro) e econmicas (diminuio do

    desemprego, aumento das remuneraes e expanso da oferta comercial) positivas levaram

    muitas famlias a arriscar e a contrair crditos, iniciando uma interao profunda com o

    mercado financeiro como nunca se vira antes (aquilo que alguns autores apelidam de

    financeirizao).

    Desta entrada em fora das famlias no mercado de crdito beneficiaram elas prprias,

    as instituies bancrias, o Estado e a sociedade em geral.

    Contudo, ao mesmo tempo, potenciaram-se os riscos de incumprimento e de insolvncia

    que sempre acompanham a disseminao do crdito. Riscos esses que aumentaram

    exponencialmente quando, em 2008, a crise financeira se instalou nas economias ocidentais,

    precisamente aquelas onde o crdito s famlias mais se expandira.

    Se antes de 2008 se defendeu e se agiu no sentido de dotar as ordens jurdicas de

    solues capazes de resolver o endividamento excessivo de diversos agregados familiares, de

    ento para c a sua necessidade, os seus limites e os seus objectivos foram ainda mais

    problematizados e reavaliados.

    , pois, luz deste contexto que se procurar analisar e discutir as medidas que tm sido

    preconizadas na ordem jurdica interna, mormente no domnio falimentar, para obviar ao

    agravamento visvel das condies financeiras das famlias portuguesas.

  • 16

    O processo de insolvncia no atual contexto de crise

    Bibliografia:

    Frade, C. (2013), Sobreendividamento e solues extrajudiciais: a mediao de dvidas,

    Serra, Catarina (org.) Direito da Insolvncia. Coimbra: Almedina

    Lopes, C, Frade, C. e Jesus, F. (2013), The Ultimate Victims of the Economic Crisis: a Portrait

    of Portuguese Overburden Families, Niemi, Johanna, Block-Lieb, Susan e Bakert, Wolfram

    (org.) Contemporary Issues in Consumer Insolvency. Bona: Peter Lang Publishing

    Niemi-Kiesilinen, J. e Henrikson, A.-S. (2005), Legal Solutions to Debt Problems in Credit

    Societies A Report to the Council of Europe. URL:

    http://www.coe.int/t/e/legal_affairs/legal_co-

    operation/steering_committees/cdcj/cj_s_debt/CDCJ-BU_2005_11e%20rev.pdf.

    Ramsay, I. (2007), Comparative Consumer Bankruptcy, University of Illinois Law Review, 1.

    URL: http://ssrn.com/abstract=958190.

    http://www.coe.int/t/e/legal_affairs/legal_co-operation/steering_committees/cdcj/cj_s_debt/CDCJ-BU_2005_11e%20rev.pdfhttp://www.coe.int/t/e/legal_affairs/legal_co-operation/steering_committees/cdcj/cj_s_debt/CDCJ-BU_2005_11e%20rev.pdf

  • 17

    Videogravao da comunicao

    Problemas de visualizao

    http://www.justicatv.com/index.php?p=4074

  • Parte II O processo especial de revitalizao

  • A revitalizao econmica dos devedores

    [Joo Aveiro Pereira]

    Comunicao apresentada na ao de formao Insolvncia, realizada pelo CEJ no dia 23 de novembro de

    2012, em Lisboa.

  • 23

    A revitalizao econmica dos devedores

    Sumrio:

    REVITALIZAO

    Introduo

    I

    O PROGRAMA REVITALIZAR

    1. Objectivos prioritrios

    2. Os instrumentos processuais

    II

    O SISTEMA DE RECUPERAO DE EMPRESAS POR VIA EXTRAJUDICIAL

    1. Condies de acesso

    1.1. Formais

    1.2. Circunstanciais

    1.3. Econmicos

    a) Situao econmica difcil ou de insolvncia iminente ou actual.

    b) Que a empresa no seja economicamente invivel

    2. Deciso do IAPMEI

    3. Negociaes

    4. Acordo

    5. Efeitos do SIREVE

    5.1. Efeitos da apresentao do requerimento

    5.2. Efeitos da aceitao do requerimento

    5.3. Efeitos do acordo

    6. Extino do acordo

    7. Extino do procedimento

    8. Concluso

    III

    O PROCESSO ESPECIAL DE REVITALIZAO

    1.Os objectivos

    1.1.Permitir ao devedor estabelecer negociaes com os respectivos credores

    1.2.Concluir um acordo conducente revitalizao

    2.Condies de acesso

    2.1.Condies formais

    2.2.Condies econmicas

    2.2.1.Situao econmica difcil ou em situao de insolvncia meramente iminente

    2.2.2.Susceptibilidade de recuperao

    3.Efeitos da nomeao de administrador judicial provisrio

    3.1.Imunidade processual

    3.1.1.Aces para cobrana de dvidas

    3.1.2. Anteriores processos de insolvncia

    3.2.Inibio relativa do devedor (17.-E e 161.)

    3.3.Garantias

    4. Negociaes

  • 24

    A revitalizao econmica dos devedores

    4.1.Aprovao de um plano de revitalizao

    4.1.1. Por unanimidade (art. 17.-F, n. 1)

    4.1.2. Por maioria (art. 17.-F, n. 2)

    4.2. No aprovao de um plano de revitalizao

    5. Concluso

    Bibliografia:

    EPIFNIO, Maria do Rosrio, Manual de Direito da Insolvncia, 4. ed., Almedina, Coimbra,

    2012, pp. 261-270.

    FERREIRA, Manuel Requicha, Estado de Insolvncia, in Direito da Insolvncia, Estudos, 1.

    ed., coord. Rui Pinto, Coimbra Editora, Coimbra, 2011, pp. 131-386.

    LEITO, Lus Manuel Teles de Menezes, Direito da Insolvncia, 4. ed., Almedina, Coimbra,

    2012, pp. 309-314.

    MARTINS, Lus M., Recuperao de Pessoas Singulares, Comentrio ao Processo Especial de

    Revitalizao, Exonerao do Passivo Restante e Plano de Pagamentos aos Credores, 2. ed.,

    Almedina, Coimbra, 2012, pp. 13-76.

    OLIVEIRA, Joana Albuquerque, Curso de Processo de Insolvncia e de Recuperao de

    Empresas, 2. ed., Almedina, Coimbra, 2012, pp. 23-26.

    SERRA, Catarina, O Regime Portugus da Insolvncia, 5. ed., Almedina, Coimbra, 2012, pp.

    27-31 e 175-191.

  • 25

    A revitalizao econmica dos devedores

    A falncia ocorre mais frequentemente por falta de energia que por falta de capital

    Daniel Webster, 1782-1852, Senador do Massachusetts

    Introduo

    O memorando de entendimento sobre as condies de poltica econmica que, para

    receber auxlio financeiro, Portugal teve de celebrar com o Banco Central Europeu, a Comisso

    Europeia e Fundo Monetrio Internacional, prev a implementao de mecanismos legais de

    reestruturao voluntria extrajudicial de empresas e particulares, em conformidade com as

    boas prticas internacionais. O objectivo fundamental conseguir que, mediante negociaes

    entre o devedor e os seus credores, se obtenha um acordo que permita empresa ou ao

    particular manter a actividade econmica, ir recuperando a sua sade financeira, pagando aos

    credores e, assim, evitar cair num processo judicial de insolvncia (2.17 e 2.18).

    O Estado portugus comprometeu-se tambm a alterar os procedimentos de insolvncia

    de pessoas singulares para melhor apoiar a reabilitao dessas pessoas financeiramente

    responsveis, com o equilbrio dos interesses de credores e devedores (2.20).

    O referido memorando prev ainda que a administrao fiscal e a segurana social sejam

    autorizadas a utilizar uma maior variedade de instrumentos de reestruturao baseados em

    critrios claramente definidos, nos casos em que outros credores aceitem reestruturar os seus

    crditos1. Alm disso, uma reviso da lei tributria deve remover os impedimentos

    reestruturao voluntria de dvidas (2.19).

    E para potenciar o xito destas medidas, as autoridades devero lanar uma campanha

    de sensibilizao da opinio pblica e das partes interessadas sobre os instrumentos

    disponveis para o resgate precoce de empresas viveis atravs de, por exemplo, formao e

    novos meios de informao (2.21.).

    I. O PROGRAMA REVITALIZAR

    Em cumprimento das imposies do memorando, de modo a fomentar o recurso ao

    procedimento extrajudicial de recuperao de empresas e contribuir para o aumento do

    nmero de negociaes concludas com sucesso, o Governo portugus comeou por aprovar

    1 O art. 191. do Cdigo dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurana Social estabelece

    o princpio de que: [A]s condies de regularizao da dvida segurana social no podem ser menos

    favorveis do que o acordado para os restantes credores.

  • 26

    A revitalizao econmica dos devedores

    um conjunto de princpios orientadores da recuperao de devedores, considerado um

    instrumento til para promover a eficcia dos procedimentos extrajudiciais de recuperao.

    Em Fevereiro de 2012, na tentativa de dar uma resposta estratgica global necessidade

    de preservar o tecido empresarial portugus, foi lanado o Programa Revitalizar2. Esta iniciativa

    teve o propsito de optimizar o enquadramento legal, tributrio e financeiro em que o tecido

    empresarial desenvolve a sua actividade, de modo a encorajar projectos empresariais

    operacionalmente viveis, mas em que a componente financeira se encontra desajustada ao

    modelo de negcio e ao actual condicionalismo econmico-financeiro geral.

    A fim de atingir os seus objectivos (1), e para alm dos referidos princpios orientadores

    (2), o Programa Revitalizar assenta em trs pilares, um financeiro e dois de natureza

    processual.

    A propsito do primeiro destes pilares, que no entra no objecto deste estudo, convm

    dizer apenas que a reanimao da economia portuguesa depende, em primeira linha, das

    empresas. So estas que produzem bens e prestam servios, proporcionando emprego e

    rendimento, consumo e receitas tributrias para o Estado cumprir as suas funes,

    nomeadamente as de ndole social ou assistencial. Por isso, urge apoiar as empresas,

    sobretudo as pequenas e mdias, com liquidez ou crdito, a juro comportvel. Da que se

    revista de suma importncia a criao de fundos de revitalizao de base regional a que as

    empresas se podem candidatar. Esses financiamentos devem ser estveis, permitindo s

    empresas ganhar escala, e devem ser concedidos com base em projectos consistentes,

    produtivos e viveis, distribudos de forma equitativa, sustentvel e competentemente

    controlada3. Mas necessrio tambm criar oportunidades de investimento, abrir mercados no

    pas ou no estrangeiro, pois se no houver onde investir e transaccionar produtos ou prestar

    servios, o financiamento s por si no resolve.

    No domnio processual, foram institudos dois instrumentos de adeso voluntria,

    promotores da negociao empenhada em alcanar acordos de revitalizao. Um destes

    instrumentos funciona em ambiente totalmente extrajudicial e o outro dispe de um

    2 Resoluo do Conselho de Ministros n. 11/2012, de 3 de Fevereiro. A implementao deste programa faz-

    se atravs da Comisso de Dinamizao e Acompanhamento Interministerial, coordenada pelo Ministrio da

    Economia e do Emprego, que integra representantes dos Ministrios das Finanas, da Justia e da

    Solidariedade e da Segurana Social, e atravs de uma Comisso Tcnica Interministerial, com

    representantes dos Ministrios da Economia e do Emprego, das Finanas e da Solidariedade e da Segurana

    Social.

    3 Deve haver o cuidado de no malbaratar o crdito em empresas ou projectos de investimento que,

    partida, garantam muito pouco ou nenhum retorno, como certos projectos de prestgio, que normalmente

    constituem grandes sorvedouros de recursos pblicos.

  • 27

    A revitalizao econmica dos devedores

    enquadramento judicial limitado aos aspectos organizativos e legais, sem interferncias nas

    negociaes entre as partes (3).

    1. Objectivos prioritrios

    A consecuo da finalidade maior da revitalizao, que atalhar degradao do tecido

    empresarial e poupar o devedor, a economia e a sociedade aos inconvenientes da insolvncia,

    passa pela concretizao precpua dos seguintes objectivos estratgicos: 1) Estabelecer um

    quadro legal propcio revitalizao de empresas viveis, nos domnios da insolvncia e da

    recuperao; 2) Desenvolver mecanismos cleres e eficazes na articulao das empresas com o

    Estado, em particular com a Segurana Social e a Administrao Tributria, tendo em vista

    encontrar solues que promovam a viabilizao daquelas empresas; 3) Reforar os

    instrumentos financeiros disponveis para a capitalizao e reestruturao financeira das

    empresas, com particular enfoque no capital de risco4 e em fundos de revitalizao de base

    regional; 4) Facilitar processos de transaco de empresas ou de activos empresariais tangveis

    ou intangveis5; 5) Tornar mais gil a articulao entre as empresas e os instrumentos

    financeiros do Estado e do sistema financeiro em geral, para acelerar os processos decisrios e

    assegurar o xito das operaes de revitalizao;

    Pretende-se, assim, criar uma dinmica institucional e econmica que se afirme como

    alternativa segura ao processo de insolvncia, atravs de consenso entre a empresa ou

    devedor em dificuldades financeiras e os seus credores. sobre estes que recai o nus de, em

    funo da situao do devedor e dos interesses de cada um, decidirem se vale a pena ajud-lo

    e tentarem minimizar as perdas dos seus crditos ou deix-lo cair na insolvncia, sujeitando-se

    a perder ainda mais ou tudo.

    O legislador parece muito confiante em que, na posio de credores, os agentes

    econmicos decidiro racionalmente e com preocupaes polticas macroeconmicas de

    4 Instrumento financeiro de participao temporria e minoritria no capital social de uma sociedade,

    atravs da aquisio de aces, quotas, obrigaes convertveis em aces, efectivao de prestaes

    suplementares de capital ou com recurso a um fundo de capital de risco. O capital de risco , ao fim e ao

    cabo, uma forma de financiamento mediante a qual uma entidade financiadora sociedade ou fundo de

    capital de risco entra no capital da empresa.

    5 Um activo intangvel um activo no monetrio identificvel, sem substncia fsica. Mas separvel (isto ,

    pode ser destacado da empresa e alienado) e resulta de direitos contratuais ou legais. Alguns exemplos de

    activos intangveis: software informtico, invenes patenteadas, direitos de autor, licenas de pesca, quotas

    de importao, quota de mercado, franchises, relacionamentos com clientes e fornecedores e direitos de

    comercializao - Comisso de Normalizao Contabilstica, Norma contabilstica e de relato financeiro 6

    activos intangveis - http://www.cnc.min-financas.pt/SNC_projecto/NCRF_06_activos_intangiveis.pdf, pp. 5-

    6.

    http://www.cnc.min-financas.pt/SNC_projecto/NCRF_06_activos_intangiveis.pdf

  • 28

    A revitalizao econmica dos devedores

    preservao do tecido empresarial. No entanto, importa considerar que a grande maioria das

    empresas, em Portugal, de pequenssima, pequena ou mdia dimenso, muitas de estrutura

    familiar e gesto no profissional, com fraco ndice de capitais prprios6 e fortemente

    dependentes da alavancagem bancria. Por isso, urge moderar o optimismo e no perder de

    vista que, em ambiente conjuntural de crise generalizada, muitos credores privados tambm se

    encontram em srias dificuldades financeiras, necessitando de receber rapidamente os seus

    crditos para evitarem a revitalizao ou mesmo a insolvncia.

    2. Os princpios orientadores comuns

    Nas negociaes desenvolvidas no quadro de cada um destes dois instrumentos

    processuais de recuperao, os intervenientes devem observar os referidos princpios,

    aprovados pela Resoluo do Conselho de Ministros n. 43/20117. Esses onze princpios ou

    recomendaes so os seguintes:

    1. O procedimento extrajudicial de recuperao consiste em negociaes entre o

    devedor e os credores envolvidos, visando obter um acordo que permita a efectiva

    recuperao do primeiro; um compromisso assumido entre as duas partes, e no um direito,

    apenas devendo ser iniciado quando os problemas financeiros do devedor sejam ultrapassveis

    e exista forte probabilidade de ele se manter em actividade aps a concluso do acordo.

    2. Durante todo o procedimento, as partes devem actuar de boa f8, na busca de uma

    soluo construtiva que satisfaa todos os envolvidos. Est de boa f quem, nas negociaes,

    age com diligncia, lealdade, zelo e respeito pelos interesses da contraparte, criando um clima

    de confiana necessrio justa harmonizao dos interesses em confronto.

    3. De modo a garantir uma abordagem unificada por parte dos credores, que melhor

    sirva os interesses de todas as partes, os credores envolvidos podem criar comisses e ou

    designar um ou mais representantes para negociar com o devedor. As partes podem, ainda,

    designar consultores que as aconselhem e auxiliem nas negociaes, em especial nos casos de

    maior complexidade.

    4. Os credores envolvidos devem cooperar entre si e com o devedor, concedendo a este

    um perodo de tempo suficiente (mas limitado) para obter e partilhar toda a informao

    6 O capital prprio o valor encontrado pela soma do capital, das aces prprias, das prestaes

    suplementares, prestaes acessrias, prmios de emisso de aces ou de quotas, dos ajustamentos de

    partes de capital, das reservas dos resultados transitados e do resultado lquido do exerccio.

    7 Publicada no Dirio da Repblica, 2. srie, n. 205, de 25 de Outubro de 2011.

    8 Quem negoceia com outrem para a concluso de um contracto deve, tanto nos preliminares como na

    formao dele, proceder segundo as regras da boa f, sob pena de responder pelos danos que culposamente

    causar outra parte art. 227., n. 1, do Cdigo Civil.

  • 29

    A revitalizao econmica dos devedores

    relevante e elaborar e apresentar propostas de resoluo dos seus problemas financeiros. Este

    perodo, designado por perodo de suspenso, uma concesso dos credores, e no um direito

    do devedor.

    5. Durante o perodo de suspenso, os credores envolvidos no devem agir

    judicialmente contra o devedor, comprometendo-se a no intentar novas aces e a suspender

    as que se encontrem pendentes.

    6. Durante o perodo de suspenso, o devedor compromete-se a no praticar qualquer

    acto que prejudique os direitos e as garantias dos credores (conjuntamente ou a ttulo

    individual), ou que, de algum modo, afecte negativamente as perspectivas dos credores de

    verem pagos os seus crditos, em comparao com a sua situao no incio do perodo de

    suspenso.

    7. O devedor deve adoptar uma postura de absoluta transparncia durante o perodo

    de suspenso, partilhando toda a informao relevante sobre a sua situao, nomeadamente a

    respeitante aos seus activos, passivos, transaces comerciais e previses da evoluo do

    negcio.

    8. Toda a informao partilhada pelo devedor, incluindo as propostas que efectue, deve

    ser transmitida a todos os credores envolvidos e reconhecida por estes como confidencial, no

    podendo ser usada para outros fins, excepto se estiver publicamente disponvel.

    9. As propostas apresentadas e os acordos realizados durante o procedimento,

    incluindo aqueles que apenas envolvam os credores, devem reflectir a lei vigente e a posio

    relativa de cada credor.

    10. As propostas de recuperao do devedor devem basear-se num plano de negcios

    vivel e credvel, que evidencie a capacidade do devedor de gerar fluxos de caixa necessrios

    ao plano de reestruturao, e que demonstre no ser este apenas um expediente para atrasar

    o processo judicial de insolvncia. O plano de negcios dever conter tambm informao

    respeitante aos passos a dar pelo devedor de modo a ultrapassar os seus problemas

    financeiros.

    11. Se durante o perodo de suspenso ou no mbito da reestruturao da dvida for

    concedido financiamento adicional ao devedor, o crdito resultante deve ser considerado pelas

    partes como garantido9.

    9 As partes devem considerar esse crdito garantido, cabendo-lhes estipular que tipo de garantia ser

    adoptado. Importa, no entanto, que estes financiamentos suplementares, embora concedidos para manter a

    empresa ou o devedor em actividade, no venham a funcionar, a final, como instrumento de converso de

    dvidas das empresas aos bancos em capital social.

  • 30

    A revitalizao econmica dos devedores

    Estes princpios surgem assim como uma espcie de cdigo tico, que tanto o devedor

    como os credores so convidados a respeitar, tendo em vista a consecuo do grande objectivo

    que a celebrao de um acordo economicamente revitalizador.

    3. Os instrumentos processuais

    A obteno de acordos equilibrados entre os credores e o devedor, para reabilitao

    deste, pode ser conseguida atravs do Sistema de Recuperao de Empresas por via

    Extrajudicial (SIREVE), criado pelo Decreto-Lei n. 178/2012, de 3 de Agosto10, que revogou e

    substituiu o anterior Procedimento Extrajudicial de Conciliao11, concebido para promover a

    recuperao de empresas. Este novo procedimento aceite, tramitado, acompanhado e

    coordenado por uma entidade administrativa, o Instituto de Apoio s Pequenas e Mdias

    Empresas e Inovao, I.P. (IAPMEI, I.P.)12 (II)

    O segundo instrumento o Processo Especial de Revitalizao (PER), uma inovao

    nascida da reviso do Cdigo da Insolvncia e de Recuperao de Empresas, operada pela Lei

    n. 16/2012, de 20 de Abril. A finalidade deste processo especialssimo permitir ao devedor,

    em determinadas condies, entabular negociaes com os seus credores de modo a concluir

    com eles um acordo conducente sua revitalizao. Embora a filosofia do programa revitalizar

    seja a mnima judicializao possvel dos procedimentos, este no dispensa a interveno do

    juiz, se bem que muito mais reduzida do que a do IAPMEI. (III)

    II. O SISTEMA DE RECUPERAO DE EMPRESAS POR VIA EXTRAJUDICIAL (SIREVE)

    Este mecanismo legal apresenta-se como um processo de revitalizao subtrado tutela

    dos tribunais, por se entender que esta opo s traz vantagens aos interessados em termos de

    celeridade, simplificao, informalidade, maior controlo das partes sobre o processo, melhor

    assistncia e aconselhamento tcnicos sob a coordenao proactiva do IAPMEI. Esta

    autoridade administrativa, por natureza, h muito dedicada ao apoio s pequenas e mdias

    empresas, encontra-se especialmente vocacionada para promover a recuperao financeira de

    empresas, atravs de negociao e acordo com os credores (art. 3.).

    10

    Doravante, e no mbito do SIREVE, pertencem a este Decreto-Lei todos os artigos citados sem indicao

    do respectivo diploma legal.

    11 Institudo pelo Decreto-Lei n. 316/98, de 20 de Outubro, e alterado pelo Decreto-Lei n. 201/2004, de 18

    de Agosto.

    12 O IAPMEI tem por misso promover a inovao e executar polticas de estmulo ao desenvolvimento

    empresarial, visando o reforo da competitividade e da produtividade das empresas, em especial das de

    pequena e mdia dimenso, que exeram a sua actividade nas reas sob tutela do Ministrio da Economia,

    com excepo do sector do turismo, nos termos do art. 3. do Decreto-Lei n 140/2007 de 27 de Abril.

  • 31

    A revitalizao econmica dos devedores

    O SIREVE vigora desde 1 de Setembro de 2012 e destina-se a qualquer empresa que se

    encontre em situao econmica difcil ou estado de insolvncia iminente ou actual, segundo

    as definies estabelecidas nos art.s 3. e 17.-B do Cdigo de Insolvncia e de Recuperao

    de Empresas (CIRE). S a empresa, entendida como organizao de capital e trabalho destinada

    ao exerccio de qualquer actividade econmica13, pode requerer a sua recuperao atravs do

    SIREVE (art. 2.). No entanto, necessrio que essa empresa satisfaa determinadas

    condies de acesso.

    1. Condies de acesso

    A este procedimento de recuperao s podem candidatar-se empresas, no os

    devedores pessoas singulares. Alm desta restrio, existem outras condies de natureza

    formal, circunstancial e econmica. As primeiras, destinadas a controlar os pressupostos da

    abertura do procedimento cumprem-se com a entrega da documentao pertinente (1.1.). As

    segundas tm a ver com a circunstncia de j terem sido ou no requeridos outros

    procedimentos que possam prejudicar o SIREVE (1.2.). As condies econmicas em que a

    empresa candidata se encontra so fundamentais para avaliar a sua necessidade de

    revitalizao e a sua viabilidade (1.3.).

    1.1 Condies formais

    A empresa interessada deve apresentar, por via electrnica, um requerimento dirigido

    ao IAPMEI, obedecendo a um modelo formulrio disponibilizado no stio desta entidade, em

    que, alm de identificar as partes a intervir no SIREVE e expor os fundamentos que a levam a

    recorrer a este procedimento, fornecer ainda os seguintes elementos:

    a) A identificao do credor ou dos credores que representem, pelo menos, 50% das

    dvidas da empresa constantes do balancete analtico, no devendo a situao

    patrimonial reflectida neste balancete ter mais de trs meses data da apresentao

    do requerimento [art. 3., n. 2, al. c)].

    b) O contedo do acordo que pretende obter nas negociaes com os credores,

    incluindo proposta de acordo de recuperao.

    c) O plano de negcios, identificando: 1) as medidas e os meios necessrios reposio

    das condies de sustentabilidade econmica da actividade da empresa; 2) a

    capacidade desta de assegurar o cumprimento do plano de reestruturao e o

    pagamento das dvidas aos credores, evidenciada atravs de documentos

    contabilsticos previsionais, nomeadamente o balano, a demonstrao de resultados

    e o mapa de fluxos de caixa relativos a um perodo mnimo de cinco anos; 3) a

    13

    Nos termos do art. 5. do mesmo CIRE.

  • 32

    A revitalizao econmica dos devedores

    evidncia de que, com esse plano, consegue equilibrar a sua situao econmica e

    financeira, alcanando um rcio de autonomia financeira superior a 15% ou 20%,

    consoante se trate de pequena ou mdia empresa ou grande empresa, e um rcio de

    liquidez superior a 1,05 (art. 3., n.s 4 e 5)14.

    d) A empresa dever juntar tambm cpia digital de todos os elementos que devem

    instruir o requerimento inicial (art. 3., n. 3).

    Alm apresentar destes elementos documentais, antes da apresentao do

    requerimento de utilizao do SIREVE, a empresa candidata ter de pagar ao IAPMEI uma taxa,

    no reembolsvel, cujo valor pode ser de 260, 500 ou 1.500 euros, conforme se trate de uma

    micro, pequena e mdia empresa e grande empresa15. Para este efeito, considera-se

    microempresa a empresa que emprega menos de 10 pessoas e cujo volume de negcios anual

    ou balano total anual no excede 2 milhes de euros; pequena empresa a que emprega

    menos de 50 pessoas e o respectivo volume de negcios anual ou balano total anual no

    superior a 10 milhes de euros; mdia empresa, a que emprega menos de 250 pessoas e tem

    um volume de negcios no superior 50 milhes de euros ou cujo balano total anual no vai

    alm do de 43 milhes de euros; grande empresa aquela que no cabe em nenhuma das

    categorias anteriores16.

    1.2 Condies circunstanciais

    Para requerer, com xito, a abertura do SIREVE, a empresa no pode ter-se apresentado

    insolvncia, nem ter sido declarada insolvente. Porm, se o processo de insolvncia estiver

    pendente, ainda sem sentena, pode requerer a utilizao do SIREVE (art. 18., n. 2). E, sendo

    este autorizado, pode a empresa apresentar o respectivo despacho no processo de insolvncia,

    requerendo a a suspenso da instncia.

    Se recorreu a um processo especial de revitalizao, no o pode ter concludo, sem

    aprovao do plano de recuperao, nos dois anos anteriores apresentao do requerimento

    de candidatura ao SIREVE (art. 18., n. 1, al. d).

    Tambm no pode ter ainda pendente um processo especial de revitalizao. A

    utilizao do SIREVE no impede a empresa de requerer a abertura do processo especial de

    14

    A relao entre o activo e o passivo circulantes a liquidez geral. O rcio de liquidez informa sobre a

    capacidade da empresa para satisfazer os seus compromissos de curto prazo. Para haver equilbrio

    financeiro, este indicador deve ser igual a 1.

    15 Art. 4., n. 2, do Decreto-Lei n. 178/2012, de 3 de Agosto, e do art.s 3. e 4. da Portaria n. 12/2013,

    de 11 de Janeiro, entrada em vigor no seguinte ao da sua publicao, mas com produo de efeitos desde 1

    de Setembro de 2012, data em que o SIREVE comeou a vigorar.

    16 Art. 2. da Portaria n. 12/2013, de 11 de Janeiro.

  • 33

    A revitalizao econmica dos devedores

    revitalizao (art. 18., n. 6), mas o recurso a este processo durante a pendncia do SIREVE

    extingue este ltimo (art. 18., n. 7).

    1.3 Condies econmicas

    A empresa pretendente revitalizao deve encontrar-se em estado crtico, do ponto de

    vista financeiro, ou at mesmo j em situao de insolvncia, mas, apesar de tudo, deve

    possuir indicadores contabilsticos e econmicos que lhe permitam uma fundada esperana na

    recuperao. Antes de se candidatar ao SIREVE, a empresa deve avaliar bem a sua situao,

    socorrendo-se de especialistas das reas econmica, financeira e de benchmarking17, cujos

    estudos ou pareceres tcnicos a habilitaro a encontrar as melhores prticas para uma nova

    vida. Estes elementos sero importantes, no s para densificar os requisitos de acesso a este

    procedimento situao econmica difcil ou de insolvncia [a)] e viabilidade [b)] -, mas

    tambm para fundamentar a proposta de acordo de revitalizao e convencer da sua

    recuperabilidade.

    a) Situao econmica difcil ou de insolvncia iminente ou actual.

    De harmonia com a noo legal, encontra-se em situao econmica difcil o devedor,

    pessoa singular ou empresa, que enfrentar dificuldade sria para cumprir pontualmente as

    suas obrigaes, designadamente por falta de liquidez ou por no conseguir obter crdito

    art. 17.-B do CIRE.

    A lei no apresenta nenhuma definio para a insolvncia iminente, mas deve entender-

    se como tal aquela situao em que, pela informao global de que dispem, nomeadamente,

    contabilstica, financeira e de capacidade de produo, os administradores da empresa j

    conseguem prever que, a manter-se a debilidade econmica, dentro de pouco tempo a

    empresa ver-se- impossibilitada de cumprir as suas obrigaes vencidas, em geral. E nessa

    altura, ficar merc de um requerimento de insolvncia apresentado por qualquer credor,

    nos termos do art. 20., n. 1, al. g), por no existir pessoa singular que ilimitadamente

    responda pelas suas dvidas e por o seu passivo sobrelevar manifestamente o seu activo,

    avaliados estes segundo as normas contabilsticas aplicveis (art. 3., n.s 1 e 2, do CIRE). A

    situao de insolvncia actual ocorre, portanto, quando estas ltimas condies j se verificam

    todas ao mesmo tempo. Ainda assim a empresa pode ser admitida no SIREVE.

    b) Viabilidade econmica

    17 Processo de identificao das melhores prticas de negcios, produo, concepo de novos produtos e

    sua distribuio, tanto no mbito de uma empresa, como num determinado segmento de mercado, numa

    regio ou num pas, com vista a aumentar a eficincia e a competitividade.

  • 34

    A revitalizao econmica dos devedores

    O princpio geral que subjaz a toda a revitalizao o de que a empresa tem de ser

    vivel, pois s assim ter sentido nela investir tempo, dinheiro e outros recursos. Se a empresa

    no tem capacidade para se reerguer no seu negcio ou noutro, de forma sustentvel, ento

    melhor liquid-la, a bem do saneamento da economia.

    A viabilidade de uma empresa afere-se com base na informao contabilstica, mas

    tambm em funo da sua capacidade produtiva e de escoamento dos seus produtos ou

    servios no mercado. Desde logo, pontua o nvel de capital prprio de que a empresa ainda

    pode dispor para se financiar. Importante igualmente, para este efeito, verificar se a empresa

    poder candidatar-se a certos financiamentos nacionais ou comunitrios, que lhe possam dar o

    tonificante de que precisa para recobrar toda a sua capacidade de gerar receitas, equilibrar a

    sua tesouraria e recuperar a credibilidade na praa.

    2. A deciso de aceitao ou recusa

    Apresentado o requerimento a solicitar a abertura do SIREVE, a entidade administrativa

    competente, o IAPMEI, procede sua apreciao, em 15 dias, e decide sobre a pretenso da

    requerente (art. 6., n. 1).

    Se o requerimento inicial estiver irremediavelmente mal instrudo recusado, de

    imediato. Do mesmo modo, recusado o requerimento quando a empresa se tiver

    apresentado insolvncia, tiver sido declarada insolvente, tiver pendente um processo de

    revitalizao, ou seja, sempre que preencha as referidas condies circunstanciais negativas.

    Mas se o requerimento deficiente ou incompleto admitir aperfeioamento, isto , se

    faltar algum dos elementos que o devem acompanhar ou a respectiva cpia digital, o IAPMEI

    convida a requerente a suprir essas faltas e s se a empresa no as regularizar que se sujeita

    recusa, por deciso fundamentada.

    Se pela exposio contida no requerimento e respectivos documentos anexos, a situao

    da empresa no se revelar economicamente difcil, nem de insolvncia eminente ou actual, o

    requerimento indeferido, tal como no caso de o SIREVE no se mostrar adequado e eficaz ou,

    ainda, se no for possvel obter um acordo com credores que representem pelo menos 50%

    das dvidas.

    Porm, desde que no surja nenhum destes impedimentos, a utilizao deste

    procedimento deferida.

    Da em diante, o IAPMEI assume neste processo um papel de mediador e dinamizador

    das negociaes, podendo solicitar esclarecimentos aos participantes, sugerir modificaes

    proposta de acordo ou promover a participao no SIREVE de outras entidades, alm das

    indicadas pela empresa, designadamente os credores que contra ela tenham proposto aces

  • 35

    A revitalizao econmica dos devedores

    declarativas ou executivas para cumprimento, respectivamente, de obrigaes pecunirias ou

    pagamento de quantia certa (art. 8.).

    O IAPMEI procede tambm anlise da viabilidade da empresa e da adequao do

    acordo pretendido sua revitalizao, emitindo parecer tcnico no prazo de trinta dias (art.

    7.). Nesta anlise, que pode ser efectuada por peritos externos, deve ser tida em conta, entre

    outros factores, a possibilidade de a empresa beneficiar de incentivos financeiros, fiscais ou

    comunitrios. Perante o resultado da anlise, e no exerccio da sua funo de intermediao, o

    IAPMEI pode at sugerir um acordo diferente do proposto pela requerente, mais ajustado s

    suas circunstncias.

    Alm disso, O IAPMEI promove as diligncias e os contactos necessrios entre a empresa

    e os credores por ela identificados no requerimento, remetendo-lhes a proposta de acordo e o

    plano de negcios (art. 6., n.s 5 e 6).

    3. As negociaes

    Este procedimento de natureza extrajudicial, estando desprovido de qualquer

    obrigatoriedade ou coercividade para negociar, dependendo primeiro da candidatura da

    empresa necessitada de ajuda e depois da adeso voluntria dos credores. No existe um

    direito ou poder de exigir negociaes aos credores. O legislador apela sobretudo boa

    vontade e compreenso destes para que adiram ao procedimento e colaborem na

    recuperao do devedor, ao mesmo tempo que podero, assim, aumentar as possibilidades de

    cobrarem os seus crditos ou, pelo menos, evitarem perdas maiores com a insolvncia.

    3.1 O processo negocial

    O estabelecimento de negociaes entre as partes o primeiro objectivo do SIREVE, pois

    sem negociao no possvel aspirar sequer a alcanar o principal desiderato, que a

    concluso de um acordo entre o devedor e os credores. A participao no SIREVE da Fazenda

    Pblica e da Segurana Social obrigatria, desde que relacionadas no requerimento inicial,

    sem prejuzo de estas entidades poderem, fundamentadamente, manifestar-se indisponveis

    para a celebrao do acordo. O que no deixa de ser uma m notcia para as perspectivas de se

    alcanar um acordo de recuperao. Mas se decidirem participar, cada um destes credores

    apresentar, individualmente, as condies de regularizao dos seus crditos.

    Qualquer outro credor, que no tenha sido chamado, pode requerer a sua participao

    nos 60 dias aps a notificao do despacho de aceitao do requerimento de utilizao do

    SIREVE (art.s 10. e 11., n. 8).

    Ora numa situao destas, em que impera a autonomia da vontade, mais concretamente

    a liberdade contratual dos credores e do devedor, nada se far sem o seu empenhamento e a

  • 36

    A revitalizao econmica dos devedores

    sua concordncia. Assim sendo, para assegurar a eficcia das negociaes, o legislador

    pretende que os negociadores actuem de harmonia com os princpios orientadores da

    recuperao extrajudicial de devedores (art. 11., n. 1).

    Com efeito, assume especial acuidade a ideia de que este procedimento consiste em

    negociaes de boa f entre o devedor e os credores envolvidos, um compromisso assumido

    entre as duas partes, e no um direito. Por outro lado, o processo negocial apenas deve ser

    iniciado quando os problemas financeiros da entidade devedora se revelem ultrapassveis e

    seja forte a probabilidade de ele se manter em actividade aps a concluso do acordo.

    fundamental que os credores envolvidos cooperem entre si e com o devedor e

    concedam a este tempo suficiente, se bem que limitado, para obter e partilhar toda a

    informao relevante, elaborar e apresentar propostas de resoluo dos seus problemas

    financeiros.

    Por uma questo de lealdade negocial, durante o perodo de suspenso, o devedor no

    deve praticar qualquer acto nocivo aos direitos e s garantias dos credores ou que afecte

    negativamente as perspectivas dos credores de verem pagos os seus crditos. Por sua vez, os

    credores em negociao no devem instaurar aces judiciais contra o devedor e devem

    comprometer-se a suspender as que se encontrem pendentes.

    Do devedor espera-se uma postura de absoluta transparncia, durante o perodo de

    suspenso, nomeadamente quanto aos seus activos, passivos, transaces comerciais e

    previses da evoluo do negcio. Por outro lado, as propostas apresentadas e os acordos

    realizados, alm de terem de ser legais e de reflectir a posio relativa de cada credor, devem

    basear-se num plano de negcios credvel e vivel, que demonstre no ser o procedimento

    apenas um expediente para atrasar o processo judicial de insolvncia.

    Estas regras mnimas de conduta so indispensveis criao de um clima de confiana

    nas negociaes, catalisador do empenhamento sincero de todos os intervenientes em

    encontrarem uma soluo concertada para os problemas financeiros e econmicos do

    devedor.

    3.2 O acordo

    Se no for prematuramente declarado extinto, e as vontades e os interesses negociais

    convergirem suficientemente, o procedimento poder atingir o seu objectivo ltimo, que a

    concluso de um acordo de recuperao. Este acordo final ser obrigatoriamente reduzido a

    escrito, assinado pela empresa, pelo IAPMEI, que tambm o pode redigir, e pelos credores que

    o queiram subscrever, os quais no podem representar menos de 50% das dvidas da empresa

    apuradas (art. 12., n. 1). Assim se procura imprimir fora vinculativa formal tambm aos

  • 37

    A revitalizao econmica dos devedores

    eventuais acordos parcelares, nsitos no acordo global, como o reconhecimento da dvida pelo

    devedor, a concesso de perodo de carncia, o prazo de reembolso, os juros estipulados e as

    garantias prestadas. Quando for necessrio, para conferir eficcia a quaisquer actos ou

    negcios jurdicos contemplados no acordo, este deve obedecer forma legalmente requerida

    para tais actos ou negcios jurdicos (art. 12., n. 2).

    A requerente pode incluir nessa proposta de acordo: moratrias, perdes de dvida,

    constituio de garantias reais ou privilgios creditrios existentes18, um programa

    calendarizado de pagamentos ou o pagamento numa s prestao e a adopo pela devedora

    de medidas concretas, de qualquer natureza, susceptveis de melhorar a sua situao

    patrimonial, semelhana de um plano de pagamentos aos credores, em sede de insolvncia

    de pessoas singulares.

    A proposta apresentada pela empresa pode, efectivamente, corresponder ao plano de

    pagamentos previsto no n. 2 do art. 252. do Cdigo de Insolvncia e Recuperao de

    Empresas. Neste caso, se merecer a aprovao escrita de credores representativos de mais de

    dois teros do valor total dos crditos relacionados pela empresa, pode esta submeter tal

    proposta ao juiz do tribunal competente para o processo de insolvncia, para suprimento da

    aprovao dos restantes credores relacionados e consequente homologao. Como

    decorrncia desta interveno judicial, produzir-se-o os mesmos efeitos que o CIRE prev para

    o plano de pagamentos (art. 19., n. 2), inclusive a vinculao ao acordo de todos os credores

    indicados pela empresa, mesmo que se tenham oposto. Por esta via, a lei estende o regime do

    plano de pagamentos a empresas, apesar de o mesmo se encontrar, como se viu,

    especialmente previsto e regulado apenas para as pessoas singulares.

    4. Efeitos do SIREVE

    Os efeitos deste sistema de recuperao de empresas produzem-se em trs fases: a

    primeira inicia-se a seguir apresentao do requerimento inicial, a segunda comea com o

    despacho de aceitao do mesmo requerimento e, a ltima, com a celebrao do acordo de

    recuperao.

    4.1 Efeitos da apresentao do requerimento

    18

    Privilgio creditrio a faculdade que a lei, em ateno causa do crdito, concede a certos credores,

    independentemente do registo, de serem pagos com preferncia a outros art. 733. do Cdigo Civil. So

    de duas espcies os privilgios creditrios: mobilirios e imobilirios. Os mobilirios so gerais, se abrangem

    o valor de todos os bens mveis existentes no patrimnio do devedor data da penhora ou de acto

    equivalente; so especiais, quando compreendem s o valor de determinados bens mveis.

    Os privilgios imobilirios so sempre especiais art. 735 do Cdigo Civil.

  • 38

    A revitalizao econmica dos devedores

    O principal efeito da apresentao pela empresa da sua candidatura ao SIREVE a

    suspenso do prazo fixado no n. 1 do art. 18. do CIRE para se apresentar insolvncia. Em

    rigor a suspenso s ocorre se a candidata j estiver em estado de insolvncia actual (art. 18.,

    n. 3, do CIRE), pois s neste caso que o prazo pode correr, no se a sua situao for

    economicamente difcil ou de insolvncia meramente iminente. Esta suspenso tem

    importncia, nomeadamente, em termos de uma futura qualificao de insolvncia, pois o

    incumprimento do dever de requerer a prpria insolvncia faz presumir a culpa grave na queda

    da empresa em tal situao, nos teremos do art. 186., n. 3, al. a).

    Por outro lado, se o prazo para apresentao insolvncia j decorreu, quando a

    empresa apresenta o requerimento, ou quando este apreciado pelo IAPMEI, ento esta

    entidade dever recusar o pedido de acesso ao SIREVE por desadequao deste. Em todo o

    caso, para evitar o uso abusivo deste instrumento processual de revitalizao, a suspenso do

    prazo de apresentao insolvncia cessa cinco dias depois da prolao do despacho de recusa

    ou, sendo o procedimento aceite, do despacho que o extinguir (art. 5.).

    4.2 Efeitos da aceitao do requerimento

    Os efeitos da aceitao da pretenso da requerente ao SIREVE projectam-se sobre os

    processos judiciais, estabelecendo uma espcie de cessar-fogo nas hostilidades forenses, e

    impedem a pessoa jurdica da empresa de praticar certos actos de disposio ou onerao do

    seu patrimnio. Por fim, a aceitao influi na actividade do prprio IAPMEI.

    4.2.1 Trgua processual

    O despacho administrativo de aceitao da candidatura ao SIREVE impede a instaurao

    contra a empresa de quaisquer aces executivas para pagamento de quantia certa ou outras

    aces destinadas a exigir o cumprimento de obrigaes pecunirias, enquanto o

    procedimento no for extinto. Por efeito do mesmo despacho, ficam automaticamente

    suspensas, e por igual perodo, as aces declarativas ou executivas pendentes contra a

    empresa data do despacho de aceitao (art. 11., n. 2).

    Estas restries impostas aos credores cessam relativamente a aces instauradas ou a

    instaurar contra a empresa pela Fazenda Pblica ou pela Segurana Social, a partir do

    momento em que cada uma destas entidades manifestar, justificadamente, a sua

    indisponibilidade para celebrar o acordo com a empresa (art.s 11., n. 3, e 9., n. 1). O

    mesmo acontecer com as aces judiciais de outros credores, a partir da data em que

    comuniquem ao IAPMEI que no pretendem participar no SIREVE.

  • 39

    A revitalizao econmica dos devedores

    A fim de que estes efeitos impeditivos e suspensivos possam ser efectivados, o IAPMEI

    deve comunicar ao tribunal competente, de preferncia por meios electrnicos, o teor do

    despacho de aceitao do requerimento, bem como, se for caso disso, a extino do

    procedimento, a indisponibilidade da Fazenda Pblica e da Segurana Social para celebrarem

    acordo com a empresa e, ainda, os credores que no pretendem participar no SIREVE (art.

    11., n. 4).

    4.2.2 Inibio negocial da empresa

    A no ser que se trate de actividade constante do seu objecto, at extino do

    procedimento, a empresa fica impedida, de ceder, locar, alienar ou por qualquer modo onerar,

    no todo ou em parte, os bens que integram o seu patrimnio, sob pena de impugnao e

    invalidade, por parte dos credores prejudicados, dos actos que diminuam, frustrem, dificultem,

    ponham em perigo ou retardem a satisfao dos seus direitos (art. 11., n. 5).

    Sem prejuzo destas limitaes, a empresa poder prestar garantias a financiamentos

    que lhe forem concedidos pelos credores durante as negociaes, contanto que esse novo

    endividamento19 contribua efectivamente para a sua recuperao (art. 11., n. 6). Sem

    prejuzo das mesmas limitaes, os negcios jurdicos celebrados no mbito do SIREVE, cuja

    finalidade seja dotar a empresa de meios financeiros suficientes para tornar possvel a sua

    recuperao, no podem ser resolvidos por aplicao dos princpios gerais sobre resoluo em

    benefcio da massa insolvente, previstos no n. 6 do art. 120. do CIRE.

    4.2.3 Mediao e assistncia tcnica

    Proferido o despacho de aceitao da candidatura, o IAPMEI desencadeia de imediato as

    suas diligncias, promovendo contactos entre a empresa e os credores por ela identificados no

    requerimento, a quem remete a proposta de acordo e o plano de negcios, com vista ao incio

    das negociaes, podendo inclusive esta entidade coordenadora convocar reunies que depois

    dever orientar (art. 6., n. 5).

    O IAPMEI procede tambm, nesta altura, a uma anlise mais aprofundada da viabilidade

    da empresa e da adequao do acordo pretendido para sua revitalizao, emitindo o

    respectivo parecer no prazo de 30 dias (art. 7.). Alis, esta autoridade administrativa deve ter

    sempre presente que o procedimento SIREVE ter de estar concludo em no mais de trs

    meses, depois da aceitao do requerimento de candidatura da empresa, embora possa haver

    19

    O endividamento afere-se por uma relao entre o activo e o passivo lquidos. Este indicador percentual

    espelha o nvel de capitais alheios que entram no financiamento e, se for superior a 100, significa que o

    devedor est e insolvncia tcnica. A apreciao do ndice de endividamento deve ser sempre

    complementada com o rcio de autonomia financeira do devedor, e vice-versa.

  • 40

    A revitalizao econmica dos devedores

    uma prorrogao de um s ms, a requerimento devidamente fundamentado da empresa ou

    de qualquer credor participante (art. 15.).

    4.3 Efeitos do acordo

    A celebrao do acordo de recuperao da requerente da utilizao do SIREVE faz

    extinguir, automaticamente, as aces executivas para pagamento de quantia certa

    instauradas contra a empresa. Uma tal extino s no ocorrer se o acordo previr a

    manuteno da sua suspenso. Por outro lado, aps o acordo mantm-se suspensas, por

    prejudicialidade, as aces instauradas contra a empresa destinadas a exigir o cumprimento de

    obrigaes pecunirias (art. 13., n. 1).

    Mas esta extino e esta suspenso no se aplicam a aces e execues instauradas por

    credores que no hajam subscrito o acordo. To-pouco se extinguem aquelas aces que

    tenham sido introduzidas em juzo por credores em relao aos quais o acordo produza efeitos

    por via da aplicao do disposto no n. 2 do art. 19., ou seja, por fora do suprimento da sua

    aprovao imposto pela aplicao das regras prprias do plano de pagamentos aos credores

    (art.s 252., e seguintes, do CIRE).

    Para que tais efeitos sobre as aces judiciais se produzam, o IAPMEI comunica ao

    tribunal competente, de preferncia por via electrnica, a existncia do acordo e o que nele se

    estipulou relativamente s referidas aces e execues instauradas contra a empresa (art.

    13., n. 3).

    5. Extino do acordo

    Se a empresa no honrar definitivamente as obrigaes assumidas no acordo ou se, no

    prazo de trinta dias, a contar da data da notificao para o efeito, no cumprir nos termos

    acordados, os credores subscritores podem, individualmente, resolver o acordo (art. 14., n.

    1).

    Por outro lado, se surgirem novas dvidas Fazenda Pblica ou Segurana Social, o

    acordo cessa em relao a estas entidades caso a regularizao desses dbitos no ocorra no

    prazo de noventa dias, a contar da respectiva data de vencimento (art. 14., n. 2).

    No caso de se concretizar a resoluo ou a cessao do acordo, o IAPMEI comunica de

    imediato, e por escrito, essa tomada de deciso pelos credores, dando conhecimento tambm

    aos demais subscritores. Do mesmo modo, e de preferncia por meios electrnicos, o IAPMEI

    comunica essa circunstncia tambm ao tribunal onde se encontrem pendentes as aces

    executivas ou declarativas de cobrana de dvidas, intentadas contra a empresa, a fim de que

    nesses processos fique documentada a extino das razes que justificavam a respectiva

    suspenso (art. 14., n. 3).

  • 41

    A revitalizao econmica dos devedores

    6. Extino do procedimento

    O SIREVE pode extinguir-se pelo decurso do prazo mximo legal de trs meses, ou aps a

    prorrogao de um ms, sem que tenha sido alcanado um acordo (art.s 15. e 16., n. 1).

    O IAPMEI faz extinguir o procedimento quando, por despacho fundamentado, concluir,

    designadamente, que a empresa no se encontra em situao econmica difcil nem em

    situao de insolvncia iminente ou actual, ou que economicamente invivel, ou seja,

    quando, em qualquer altura, se detecte alguma das situaes de recusa do requerimento inicial

    previstas no art. 6., n. 1, al. a).

    O SIREVE tambm finda pelo decurso do prazo concedido em despacho de

    aperfeioamento, sem que o devedor junte os elementos que o IAPMEI lhe solicitou para uma

    mais correcta avaliao da sua situao.

    Alm disso, a mesma autoridade administrativa pe termo ao procedimento, expondo os

    fundamentos, sempre que os termos do acordo proposto s forem aceites por credores

    representantes de menos de 50% das dvidas apuradas da empresa [art. 16., n. 2, al. b)].

    Em qualquer destes casos, o IAPMEI comunica ao tribunal competente, de preferncia

    por via electrnica, a extino do procedimento, tendo em conta as aces que a se

    encontrarem suspensas.

    As empresas que no obtenham acordo no mbito do SIREVE, ou no cumpram as

    obrigaes decorrentes de acordo celebrado, ficam impedidas, durante um ano, a contar da

    data de resoluo do acordo ou de extino do procedimento, de apresentar novo

    requerimento para utilizao desta mesma via extrajudicial de revitalizao (art. 17.).

    7. Concluso

    Este sistema ocupa-se da recuperao de empresas viveis, ainda que em situao de

    insolvncia, e procurem reequilibrar a tesouraria, resolver a sua situao perante os credores

    em geral, que representem, pelo menos, mais de 50% dos crditos, e especialmente perante a

    Administrao Tributria e a Segurana Social.

    O SIREVE no passa pelo Tribunal, uma autoridade administrativa que recebe, por via

    desmaterializada, aprecia e aceita o pedido e, a seguir, dinamiza e coordena as negociaes.

    Apenas so comunicados ao tribunal competente os impedimentos instaurao de aces

    novas e ao prosseguimento das pendentes, por fora deste procedimento, com a nica

    finalidade de o tribunal poder assegurar a produo de tais efeitos. Nesta relao com os

    tribunais patente a preocupao do legislador em que sejam utilizadas as novas tecnologias

    da informao e da comunicao, com ganhos de rapidez e simplicidade.

  • 42

    A revitalizao econmica dos devedores

    A aprovao da proposta de recuperao baseia-se no consentimento individual de cada

    credor, mas se o contedo dessa proposta for o dum plano de pagamentos (art. 252.) e os

    credores concordantes representarem mais de dois teros do total dos crditos relacionados,

    ento, por via da homologao pode ser imposta a vontade colectiva, a da maioria, aos

    credores que no aprovaram. E, assim, um procedimento que se pretende totalmente

    extrajudicial, voluntrio e negocial, acaba com a imposio judicial de um acordo a uma parte

    dos credores, independentemente da vontade destes.

    O SIREVE no impe um administrador judicial, nem a alterao da composio da

    gerncia, mas no dispensa a intermediao e a coordenao de uma entidade pblica

    administrativa.

    III. O PROCESSO ESPECIAL DE REVITALIZAO

    O Governo apresentou este processo de revitalizao como uma alternativa

    insolvncia, uma via verde para salvar empresas viveis, confiando absolutamente na sua

    agilidade e na sua eficcia, bem como na sua capacidade de proteger e recuperar os

    devedores20. Trata-se de um processo hbrido, judicial e no judicial, declaradamente inspirado

    no captulo 11 do United States Bankruptcy Code21. Este mecanismo visa disponibilizar uma

    soluo de reestruturao de empresas, defendendo os seus activos e a lei do mercado,

    mediante a aprovao e a superviso dos credores, ao mesmo tempo que reduz a interveno

    dos tribunais e o tempo de deciso.

    1. Os objectivos

    Sempre com a preocupao de facilitar a recuperao, simplificando e acelerando os

    procedimentos de revitalizao dos devedores, este processo especialssimo inserido no

    processo especial de insolvncia e recuperao de empresas e de outros devedores persegue

    dois objectivos imediatos: permitir a negociao (1.1.) para concluso de um acordo

    revitalizador (1.2.).

    20

    Governo de Portugal, Ministrio da Economia e do Emprego, Programa Revitalizar, Apresentao, 8 de

    Fevereiro de 2012, p. 2., onde tambm se informa que [P]ara alm dos EUA, tambm o Reino Unido, a

    Espanha e a Frana, s para exemplificar, dispem de legislao com mecanismos / processos similares, no

    quadro da Lei de Insolvncia, p. 4,

    http://www.dre-algarve.min-economia.pt/pdf/20120208_revitalizar.pdf.

    21 Mas tambm na Gr-Bretanha existe algo parecido, nos schemes of arrangements regulados na Part 26,

    sections 895-901 do Companies Act 2006.

    http://www.dre-algarve.min-economia.pt/pdf/20120208_revitalizar.pdf

  • 43

    A revitalizao econmica dos devedores

    1.1 Permitir ao devedor estabelecer negociaes com os credores

    No respeito pela autonomia privada, na sua vertente de liberdade contratual, este

    processo facilita ao devedor o estabelecimento e a continuao de negociaes com os seus

    credores no intuito de obter deles um acordo que torne possvel a sua recuperao.

    No entanto, o caminho no est livre de algumas resistncias, pois, s vezes a

    progressiva degradao da situao econmica e financeira do devedor, e o seu consequente

    incumprimento, tende a deteriorar a relao deste com os seus credores, uma vez que a mora,

    ainda que vena juros, no deixa de ser j um financiamento involuntrio dos credores ao

    devedor. Em todo o caso, a manifestao por este da vontade de negociar, atravs do tribunal,

    com o apoio de um ou mais credores, oferece mais garantias de seriedade e de segurana, o

    que susceptvel de facilitar a aproximao das partes para negociarem livremente numa

    alternativa insolvncia.

    1.2 Concluir um acordo conducente revitalizao

    O contedo deste entendimento no difere muito de um comum acordo de

    reestruturao de dvida, compreendendo nomeadamente: concesso de mais prazo para

    pagamento dos dbitos; reduo ou perdo de juros, ou mesmo de capital; e, por vezes, um

    financiamento adicional, com ou sem perodo de carncia, tudo em funo de um plano de

    negcios consistente. Mas o acordo revitalizador pode no se ficar s pela reestruturao da

    dvida, deve ir mais alm, quando for necessrio, e prever, especialmente, a formao e a

    flexibilizao dos recursos humanos, a reformulao de preos, melhoria dos processos de

    produo e comercializao dos produtos ou servios em termos mais competitivos.

    A probabilidade de nas negociaes se conseguir um acordo revitalizador depende muito

    dos interesses heterogneos dos titulares dos crditos. So estes que tm o poder de decidir,

    ou no, pela recuperao do devedor com um acordo. A posio dos credores depender, em

    suma, do que cada um tiver por mais vantajoso para os seus interesses econmicos, antes de

    qualquer esprito solidrio, filantrpico ou humanitrio.

    H credores fortes e pouco flexveis, cuja posio determinante para a obteno de um

    acordo de revitalizao, e h credores mais modestos normalmente mais predispostos a

    negociar. Na primeira categoria costumam estar os credores estatais como a Fazenda Pblica e

    a Segurana Social que, por norma, tm dificuldade ou -lhes impossvel suavizar mais as

    condies de pagamento dos seus crditos, de modo a facilitarem ao devedor a aprovao

  • 44

    A revitalizao econmica dos devedores

    dum plano de revitalizao22. Da a imposio, no aludido memorando de entendimento, de o

    Estado autorizar estas entidades a diversificarem os instrumentos de reestruturao de dvidas,

    o que no se compadece apenas com um aumento do prazo de pagamento a prestaes de

    120 para 150 mensalidades, para quem tem planos de recuperao econmica23. Isto porque

    se, por exemplo, para autorizar s empresas devedoras o pagamento a prestaes, o fisco no

    abdicar de garantias bancrias, ento a revitalizao fica altamente comprometida, impondo-

    se como inevitvel a insolvncia24. que, numa conjuntura de crise econmica recessiva, os

    22

    Contudo, embora haja quem considere a flexibilizao das condies de reestruturao das dvidas fiscais

    e de segurana social o quarto pilar da revitalizao, no se pode esperar muito destas entidades pblicas.

    Com efeito, trata-se do dinheiro dos contribuintes em geral, sendo certo que o peclio dos que descontam

    uma parte do seu vencimento para a segurana social no deve servir para financiar empresas, pois essa

    poupana destina-se a prestaes sociais dos trabalhadores, por doena ou desemprego, e a penses de

    reforma. Numa economia debilitada por demasiados anos de polticas econmicas e financeiras pouco

    racionais cede-se facilmente tentao, cegamente, confiscar dinheiro onde ele existe, sem curar de saber

    se justa ou injusta essa apropriao para outros fins. Mas este vcio inquo tem de ser combatido. O

    dinheiro da segurana social foi descontado pelos e para os contribuintes, para mais tarde, quando

    necessrio, lhes assegurar a sade e a subsistncia, pelo que o seu desvio para outras aplicaes ilcito.

    23 Na verdade, esta facilidade nem sequer para todos os devedores em dificuldades, pois o art. 196., n.s

    5, 6 e 8, do Cdigo de Procedimento e Processo Tributrio, com as alteraes introduzidas pela Lei n. 64-

    B/2011, de 30 de Dezembro (OE 2012) estabelece condies apertadas de acesso ao prazo mximo de

    pagamento a prestaes:

    5 - Nos casos em que se demonstre notria dificuldade financeira e previsveis consequncias econmicas

    para os devedores, poder ser alargado o nmero de prestaes mensais at 5 anos, se a dvida exequenda

    exceder 500 unidades de conta no momento da autorizao, no podendo ento nenhuma delas ser inferior

    a 10 unidades da conta.

    6 - Quando, no mbito de plano de recuperao econmica legalmente previsto, se demonstre a

    indispensabilidade da medida e, ainda, quando os riscos inerentes recuperao dos crditos o tornem

    recomendvel, a administrao tributria pode estabelecer que o regime prestacional seja alargado at ao

    limite mximo de 150 prestaes, com a observncia das condies previstas na parte final do nmero

    anterior.

    8 - Podem beneficiar do regime previsto neste artigo os terceiros que assumam a dvida, ainda que o seu

    pagamento em prestaes se encontre autorizado, desde que obtenham autorizao do devedor ou provem

    interesse legtimo e prestem, em qualquer circunstncia, garantias atravs dos meios previstos no n. 1 do

    artigo 199.. Este ltimo preceito dispe que: [C]aso no se encontre j constituda garantia, com o pedido

    dever o executado oferecer garantia idnea, a qual consistir em garantia bancria, cauo, seguro-cauo

    ou qualquer meio susceptvel de assegurar os crditos do exequente.

    24 Este cenrio piora ainda mais quando para a empresa continuar a trabalhar, por exemplo, na construo

    civil, precisa de obter uma declarao de que no deve Segurana Social e s Finanas. Mas como estas

    entidades no passam tal declarao, porque a empresa efectivamente lhes deve, esta no consegue obter o

    alvar junto da entidade reguladora (INCI, I.P.) para continuar a desenvolver a sua actividade econmica.

  • 45

    A revitalizao econmica dos devedores

    bancos, em desalavancagem25 compulsria, evitam ao mximo conceder garantias, ainda mais

    a pequenas, mdias ou micro empresas em dificuldades, sem patrimnio nem credibilidade

    juntos dos bancos26. Acresce que se o devedor no conseguir prestar as garantias aos credores

    Fazenda Nacional ou Segurana Social27, o mais provvel ver logo penhoradas as suas contas

    bancrias, mesmo que, entretanto, cumpra escrupulosamente o acordo de pagamento que

    25

    A desalavancagem (reduo da concesso de crdito; desendividamento) do sector bancrio um dos

    compromissos assumidos pelo Estado portugus perante o Banco Central Europeu (BCE), a Comisso

    Europeia (CE) e o Fundo Monetrio Internacional (FMI), obrigando-se o Estado a solicitar aos bancos a

    apresentao de planos de financiamento a mdio prazo especficos para cada instituio alcanar uma

    posio de financiamento estvel com base no mercado (ponto 2.2.).

    26 Se a posio do credor Estado no for alterada num sentido um pouco mais amigvel da revitalizao, esta

    corre o risco de se saldar por um rotundo fracasso, com custos elevados para os credores, para o prprio

    Estado e para os revitalizandos. Todavia, nos termos do n. 2 do art. 30. da Lei Geral Tributria, aprovada

    pelo Decreto-Lei n. 398/98, de 17-12-98, alterada pela Lei n. 55-A/2012, de 29/10, O crdito tributrio

    indisponvel, s podendo fixar-se condies para a sua reduo ou extino com respeito pelo princpio da

    igualdade e da legalidade tributria. Portanto, so indisponveis e assim devem os crditos do Estado

    continuar, pois trata-se de defender interesses da colectividade dos cidados contribuintes. A Fazenda

    Nacional e a Segurana Social podero conceder facilidades de pagamentos, com suspenso do prazo de

    prescrio, mas no devero poder perdoar dvidas, pois isso seria anti-pedaggico, ineficaz e um prmio aos

    incumpridores, alm de pr em causa a sustentabilidade financeira do Estado-Colectividade dos

    Contribuintes e da Segurana Social.

    27 Em situaes excepcionais, para regularizao de dvidas, pode ser autorizado o pagamento da dvida

    segurana social a prestaes, nos termos previstos no art. 190. do Cdigo dos Regimes Contributivos do

    Sistema Previdencial de Segurana Social, aprovado pela Lei n. 110/2009, de 16 de Setembro, com a

    redaco introduzida pela Lei n. 20/2012, de 14 de Maio: 1 - A autorizao do pagamento prestacional de

    dvida segurana social, a iseno ou reduo dos respectivos juros vencidos e vincendos, s permitida

    nos termos do presente artigo, sem prejuzo das regras aplicveis ao processo de execuo fiscal.

    2 - As condies excepcionais previstas no nmero anterior s podem ser autorizadas quando,

    cumulativamente, sejam requeridas pelo contribuinte, sejam indispensveis para a viabilidade econmica

    deste e desde que o contribuinte se encontre numa das seguintes situaes:

    a) Processo de insolvncia ou de recuperao;

    b) Procedimento extrajudicial de conciliao;

    c) Contratos de consolidao financeira e ou de reestruturao empresarial, conforme se encontram

    de