processo civil - 1º bim

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EXECUÇÃO CAPÍTULO I - Teoria Geral da Execução Tendo finalidades imediatas distintas, a cognição e a execução se caracterizam por atividades predominantes bastante distintas. Enquanto no módulo processual de conhecimento a atividade precípua era a cognição, consiste numa técnica de análise de alegações e provas, como fim de permitir um acertamento da existência ou inexistência do direito, na execução forçada, cuja finalidade é a de satisfação forçada de um direito de crédito, a atividade predominante é a executiva. 1. Conceito Conjunto de atos estatais através de que, com ou sem o concurso da vontade do devedor (e até com ela), invade-se seu patrimônio para, à custa dele, realizar o resultado prático desejado concretamente pelo direito objetivo material. Tem por fim permitir a realização prática do comando concreto derivado do direito objetivo. A execução forçada, tipicamente jurisdicional, é formada principalmente (mas não só) por atos executivos, sendo destinada à satisfação concreta do direito do demandante, existente segundo os termos do direito substancial. Na execução forçada só se alcança o fim normal do processo quando o resultado final é favorável ao demandante. Trata-se do módulo processual de desfecho único. A existência da ação de execução independe do direito material afirmado pelo demandante. 2. Classificação da tutela jurisdicional executiva 2.1. Quanto à origem do título executivo Podem ser classificadas em execuções que se baseiam em títulos extrajudiciais. A dicotomia hoje existente reside não só na resistência do executado à execução, formal e substancialmente considerada, mas também nos próprios atos executivos que serão praticados a partir dos títulos judiciais ou dos títulos extrajudiciais. 1

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1º bimestre de aula da materia PROCESSO CIVIL - EXECUÇÕES

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EXECUOCAPTULO I - Teoria Geral da ExecuoTendo finalidades imediatas distintas, a cognio e a execuo se caracterizam por atividades predominantes bastante distintas. Enquanto no mdulo processual de conhecimento a atividade precpua era a cognio, consiste numa tcnica de anlise de alegaes e provas, como fim de permitir um acertamento da existncia ou inexistncia do direito, na execuo forada, cuja finalidade a de satisfao forada de um direito de crdito, a atividade predominante a executiva.

1. ConceitoConjunto de atos estatais atravs de que, com ou sem o concurso da vontade do devedor (e at com ela), invade-se seu patrimnio para, custa dele, realizar o resultado prtico desejado concretamente pelo direito objetivo material.Tem por fim permitir a realizao prtica do comando concreto derivado do direito objetivo. A execuo forada, tipicamente jurisdicional, formada principalmente (mas no s) por atos executivos, sendo destinada satisfao concreta do direito do demandante, existente segundo os termos do direito substancial.Na execuo forada s se alcana o fim normal do processo quando o resultado final favorvel ao demandante. Trata-se do mdulo processual de desfecho nico.A existncia da ao de execuo independe do direito material afirmado pelo demandante.

2. Classificao da tutela jurisdicional executiva

2.1. Quanto origem do ttulo executivoPodem ser classificadas em execues que se baseiam em ttulos extrajudiciais.A dicotomia hoje existente reside no s na resistncia do executado execuo, formal e substancialmente considerada, mas tambm nos prprios atos executivos que sero praticados a partir dos ttulos judiciais ou dos ttulos extrajudiciais.No sistema atual do CPC faz diferena, desde a forma de provocao inicial da jurisdio, apresenta-se ao Estado-juiz munido de ttulo executivo judicial, cuja referncia o artigo 475-N, ou munido de ttulo executivo extrajudicial, que encontra no artigo 585 seu rol bsico.

2.2. Quanto estabilidade do ttulo executivoQuanto estabilidade do ttulo executivo, a execuo pode ser classificada em definitiva e em provisria.Execuo definitiva aquela que se fundamenta em ttulo executivo que no aceita mais qualquer alterao, que pressupe, destarte, a estabilidade do prprio ttulo. Consequncia de uma execuo definitiva que inexiste, na lei, qualquer restrio aos atos que sero praticados em prol da satisfao do exequente, isto , a efetiva prestao da tutela jurisdicional executiva. A chamada execuo provisria, diferentemente, aquela que se baseia em ttulo executivo em que, direta ou indiretamente, aceita ulterior alterao ou confirmao pelo Estado-juiz e que, consequentemente, impe ao exequente, em regra, alguma limitao aos atos de satisfao de seu direito. Artigo 475-O.

2.3. Quanto modalidade da obrigaoSe tratando de obrigaes de fazer e no fazer, a sua execuo dar-se- de acordo com os artigos 461 e 632 a 645, consoante sejam elas retratadas por ttulos executivos judiciais ou extrajudiciais, respectivamente.Em se tratando de obrigaes de dar coisa que no seja dinheiro, a sua exceo dar-se- de acordo com os artigos 461-A e 621 a 631, consoante elas sejam retratadas por ttulos executivos judiciais ou extrajudiciais, respectivamente.Sendo obrigaes de dar dinheiro obrigaes de pagar , a sua execuo dar-se- de acordo com os artigos 475-J e 646 a 724, consoante elas sejam retratadas por ttulos executivos judiciais ou extrajudiciais, respectivamente. So casos geralmente nominados de execuo por quantia certa contra devedor solvente.

2.3.1. Quanto origem da dvidaA execuo das obrigaes de pagar comporta duas subclassificaes. A primeira delas leva em considerao a origem da dvida. Em ambos os casos, o CPC cria diferentes regras.

3. Princpios da tutela jurisdicional executiva3.1. Princpio da autonomia ao princpio do sincretismoPara que o princpio da autonomia seja concretizado necessrio a realizao de um processo prprio, chamado de processo de execuo.O Sincretismo no sentido de que um mesmo processo admite que atividades jurisdicionais cognitivas e executivas realizem-se sem soluo de continuidade, soluo que, de resto, afina-se ao modelo constitucional do direito civil.

3.2. Princpio do ttulo executivoA tutela jurisdicional executiva depende sempre de sua prvia definio em um ttulo executivo, tenha ele origem judicial (art. 475-N) ou extrajudicial (art. 585).Sem ttulo executivo, no h execuo: nulla executio sine titulo.A funo do ttulo executivo de definir a certeza, a exigibilidade e a liquidez de um direito e autoriza, consequentemente, luz desta mesma definio, a prtica de atos jurisdicionais executivos, isto , atos voltados satisfao daquele que indicado no ttulo como credor da obrigao.

3.3. Princpio da patrimonialidadeTambm chamado de princpio da realidade. Patrimonialidade no sentido de que, no direito processual civil da atualidade, a execuo recai sobre o patrimnio do executado e no a sua pessoa.

Art. 646. A execuo por quantia certa tem por objeto expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor (art. 591).O artigo 591 dispe que todos os bens do devedor, a no ser os excepcionados pela lei, respondem pelo cumprimento das obrigaes por ele assumidas.3.4. Princpio da disponibilidadeAo impor ao credor o nus pelo incio da atividade jurisdicional executiva destinada a satisfazer o direito, tal que reconhecido no ttulo executivo judicial constitudo em seu favor. A consequncia reservada pelo 5 do dispositivo omisso do credor a remessa dos autos ao arquivo.

3.5. Princpio da adequaoDiversas modalidades obrigacionais, isto , s obrigaes de fazer, no fazer, dar coisa e pagar e seus respectivos regimes processuais civis.

3.6. Princpio da tipicidade dos atos executivosO princpio da tipicidade dos atos executivos significa que os atos executivos a seres praticados pelo Estado-juiz so tpicos no sentido de que eles so prvia e exaustivamente previstos pelo legislador. O juiz do caso concreto no tem, nesta perspectiva de anlise do princpio, nenhuma liberdade para alterar o padro de atos processuais.A disciplina relativa s execues das obrigaes de entrega de coisa (arts. 621 a 631), de fazer e no fazer (arts. 632 a 645, excludos os arts. 639 a 641, revogados pela Lei n. 11.232/2005) e para pagamento de quantia certa contra devedor solvente (arts. 646 a 735) extremamente detalhista, procedimentalizada ao extremo. So, neste contexto, meios executivos tpicos.

3.7. Princpios do resultado e da menor gravosidade ao executado: a execuo equilibradaArt. 612. O dispositivo expresso no sentido de que realiza-se a execuo no interesse do credor, que adquire, pela penhora, o direito de preferncia sobre os bens penhorados. Princpio da mxima utilidade da execuo.O chamado princpio da menor gravosidade ao executado, por sua vez, expresso no art. 620: havendo alternativas prestao da tutela jurisdicional executiva, a compreendidas as atividades que a veiculam, o modo menos gravoso, isto , menos oneroso, ao executado, aquela que sofre a tutela executiva, deve ser eleito.

3.8. Princpio da lealdade: os atos atentatrios dignidade da justiaArt. 599. O juiz pode, em qualquer momento do processo: I - ordenar o comparecimento das partes; II - advertir ao devedor que o seu procedimento constitui ato atentatrio dignidade da justia. Art. 600. Considera-se atentatrio dignidade da Justia o ato do executado que:I - frauda a execuo; II - se ope maliciosamente execuo, empregando ardis e meios artificiosos; III - resiste injustificadamente s ordens judiciais; IV - intimado, no indica ao juiz, em 5 (cinco) dias, quais so e onde se encontram os bens sujeitos penhora e seus respectivos valores. Art. 601. Nos casos previstos no artigo anterior, o devedor incidir em multa fixada pelo juiz, em montante no superior a 20% (vinte por cento) do valor atualizado do dbito em execuo, sem prejuzo de outras sanes de natureza processual ou material, multa essa que reverter em proveito do credor, exigvel na prpria execuo. Pargrafo nico. O juiz relevar a pena, se o devedor se comprometer a no mais praticar qualquer dos atos definidos no artigo antecedente e der fiador idneo, que responda ao credor pela dvida principal, juros, despesas e honorrios advocatcios.

O descumprimento dos deveres dos incisos do art. 600 deve levar o juiz a impor ao executado as sanes constantes do art. 601.A concluso exposta acima tanto mais correta quando se verifica, no pargrafo nico do art. 601, que o juiz relevar a pena, isto , deixar de aplic-la, se o devedor se comprometer a no praticar quaisquer dos atos repudiados pelo art. 600 e desde que apresente fiador idneo, que se responsabilize pelo pagamento da dvida total do exequente, assim entendido tambm o principal devidamente atualizado monetariamente, acrescido de juros, custas processuais e honorrios de advogado.

3.8.1. A cobrana das multas ou indenizaes pela litigncia de m-fArt. 739-B. A cobrana de multa ou de indenizaes decorrentes de litigncia de m-f (arts. 17 e 18) ser promovida no prprio processo de execuo, em autos apensos, operando-se por compensao ou por execuo.3.9. Princpio da responsabilidadeArt. 475-O. A execuo provisria da sentena far-se-, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas:I corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentena for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; II fica sem efeito, sobrevindo acrdo que modifique ou anule a sentena objeto da execuo, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidados eventuais prejuzos nos mesmos autos, por arbitramento; III o levantamento de depsito em dinheiro e a prtica de atos que importem alienao de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado dependem de cauo suficiente e idnea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos prprios autos. 1oNo caso do inciso II do caput deste artigo, se a sentena provisria for modificada ou anulada apenas em parte, somente nesta ficar sem efeito a execuo. 2oA cauo a que se refere o inciso III do caput deste artigo poder ser dispensada: I quando, nos casos de crdito de natureza alimentar ou decorrente de ato ilcito, at o limite de sessenta vezes o valor do salrio-mnimo, o exequente demonstrar situao de necessidade; II - nos casos de execuo provisria em que penda agravo perante o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justia (art. 544), salvo quando da dispensa possa manifestamente resultar risco de grave dano, de difcil ou incerta reparao. 3oAo requerer a execuo provisria, o exequente instruir a petio com cpias autenticadas das seguintes peas do processo, podendo o advogado declarar a autenticidade, sob sua responsabilidade pessoal: I sentena ou acrdo exequendo; II certido de interposio do recurso no dotado de efeito suspensivo; III procuraes outorgadas pelas partes; IV deciso de habilitao, se for o caso; V facultativamente, outras peas processuais que o exequente considere necessrias.

CAPTULO II - O chamado processo de execuo1. Consideraes iniciaisA doutrina tradicional sempre se referiu a um processo de execuo com o objetivo de identificar, dentre os processos concebveis, um em que se pede ao Estado-juiz a prestao da tutela jurisdicional executiva ou, na linguagem mais tradicional, em que se exerce uma ao de execuo.Execuo, por sua vez, descreve a atividade jurisdicional voltada satisfao do direito tal qual reconhecido, a prestao concreta da tutela jurisdicional executiva.Nos casos de ttulos executivos judiciais, isto , aqueles em que o reconhecimento do direito aplicvel espcie depende da prvia atuao do Estado-juiz (atividade cognitiva), o prprio Cdigo de Processo Civil acabou por recusar a aplicao daquela nomenclatura, colocando as atividades jurisdicionais que sero praticadas para a realizao do direito tal qual reconhecido no ttulo no seu Livro I, dedicado ao processo de conhecimento.

2. CompetnciaO inciso I do art. 475-P prev a competncia dos tribunais, nas causas de sua competncia originria. possvel ao exequente optar entre promover a execuo perante o juzo que proferiu a sentena (o ttulo executivo nos termos do inciso I do art. 475-N) que o que dispe o inciso II do art. 475-P ou, eis as novidades, o juzo do local onde se encontram bens sujeitos penhora (a lei fala em expropriao, finalidade ltima da penhora) ou, ainda, o juzo do atual domiclio do executado. Rompeu-se, assim, com a tradio do nosso direito de reconhecer ao juzo que proferiu a sentena exequenda competncia funcional para a prtica dos atos executivos.Em todos os casos referidos pelo dispositivo, a remessa dos autos do processo em que proferida a sentena exequenda dever ser requerida ao juzo de origem, isto , ao juzo perante o qual processou-se a causa no primeiro grau de jurisdio, para fazer uso do texto do inciso II do dispositivo.A regra, ao estabelecer a concorrncia eletiva de foros para o cumprimento da sentena, altamente salutar porque, ao autorizar o exequente a promover a execuo em foro diverso do de origem, tem condies de coloc-lo mais perto do prprio executado ou, o que mais importante, dado o princpio da patrimonialidade da execuo, dos bens que respondero pela dvida. possvel cogitar-se da aplicao do pargrafo nico do art. 475-P quando frustrada a localizao de bens na comarca (ou seo judiciria) em que teve incio a execuo? A resposta positiva, no obstante a salutar regra do art. 659, 5, que autoriza a realizao da penhora (de imvel) independentemente de carta precatria quando o exequente apresentar certido atualizada de imvel ao juzo da execuo. Neste sentido, o envio dos autos ao juzo em que se localizam os bens a serem penhorados dispensa a expedio de ulterior carta precatria para avaliao e alienao por hasta pblica. O envio, todavia, depende de prvio requerimento do exequente.Nestas condies, o requerimento de envio dos autos para outro foro tem lugar desde que possam ter incio os atos executivos com a penhora dos bens do executado.Por fim, tendo em conta a grandeza da regra, no h como recusar sua aplicao tambm s execues fundadas em ttulos extrajudiciais, o que se justifica at mesmo em funo do art. 598. Nestes casos, pode, desde logo, o exequente demandar o executado no no foro do seu domiclio, regra genrica que deriva do art. 576, mas demand-lo no local onde se encontram seus bens. A regra, assim entendida, ter grande aplicabilidade naqueles casos em que, durante a realizao dos atos executivos, verificar-se a existncia de patrimnio do executado em outro foro que no aquele em que teve incio o processo, inclusive quando se tratar, da mesma forma anunciada pelo pargrafo anterior, de converso da execuo de fazer, no fazer ou entregar coisa, em execuo de pagar quantia.

3. Petio inicialA prtica dos atos jurisdicionais executivos depende de pedido do exequente. A petio inicial da execuo deve ser entendida como o pedido que o exequente faz ao Estado-juiz para que lhe preste concretamente a tutela jurisdicional executiva. Trata-se de pedido para a realizao concreta de um direito j suficientemente reconhecido no ttulo executivo, judicial ou extrajudicial; de pedido de prtica de atos jurisdicionais executivos que se voltam satisfao do direito e no ao seu mero reconhecimento.Ademais, a petio inicial da execuo deve ser instruda com o demonstrativo do dbito atualizado at a data da propositura da ao, quando se tratar de execuo por quantia certa (art. 614, II) e com a prova de que se verificou a condio, ou ocorreu o termo, com expressa remisso ao art. 572 (art. 614, III).Alm disto, prossegue o art. 615, cabe ao exequente, na inicial, indicar a espcie de execuo que prefere, quando por mais de um modo pode ser efetuada (inciso I); requerer a intimao do credor pignoratcio, hipotecrio, ou anticrtico, ou usufruturio, quando a penhora recair sobre bens gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou usufruto (inciso II) e, se for o caso, pleitear medidas acautelatrias urgentes (inciso III). Tambm cabe a ele provar que adimpliu a contraprestao, que lhe corresponde, ou que lhe assegura o cumprimento, se o executado no for obrigado a satisfazer a sua prestao seno mediante a contraprestao do credor (inciso IV).

4. Certido comprobatria do ajuizamento da execuoEsta certido indicar as partes e valor da causa, e a sua finalidade a de averbao no registro de imveis, registro de veculos ou registro de outros bens sujeitos penhora ou arresto, assim, por exemplo, a averbao da execuo perante Juntas Comerciais, Bolsa de Valores e nas prprias sociedades comerciais em que a providncia seja possvel.A finalidade da regra permitir que terceiros tenham cincia da execuo providncia suficientemente garantida pela averbao e, com isto, sejam reduzidos casos de fraude execuo que envolvam terceiros de boa-f que, por qualquer razo, poderiam mostrar-se interessados na aquisio do patrimnio do executado.A providncia, posto ser habitualssima, tende a ser incua muitas vezes. Basta imaginar a situao da negociao dar-se em foro diverso do que tem trmite a execuo. neste sentido que o art. 685-A ganha interesse. Como ele permite a averbao da execuo no registro do prprio bem, a partir do exame do seu especfico registro que o adquirente, o terceiro de boa-f, ter condies de verificar o risco do negcio e a possvel insolvncia do alienante (devedor, executado).

4.1 Averbao e no registroDe acordo com o 1 do dispositivo, o exequente ter o prazo de dez dias da concretizao da averbao para comunic-la ao juzo para o qual foi distribuda a execuo. Desde logo, pe-se a questo quanto a saber o que ocorre se a averbao for feita e o prazo legal para a comunicao ao juzo no for observado.A questo, contudo, parece impor soluo um pouco mais sofisticada para assegurar a finalidade da regra do caput do art. 685-A, que a de proteger o exequente de eventuais fraudes que venham a ser praticadas pelo executado, mais ainda quando tais atos possam envolver terceiros de boa-f que, pela falta de qualquer informao no registro do bem adquirido, tendem a ter maior dificuldade, se no impossibilidade, de saber da execuo ou, de forma mais ampla, das consequncias do comprometimento do patrimnio do executado ao negcio que pretendem realizar. imaginar a situao em que a alienao dos bens sujeitos penhora d-se em foro diverso daquele em que tem trmite a execuo. , enquanto no existir uma extensiva e generosa troca de informaes entre as milhares de comarcas e sees judicirias espalhadas por todo o Brasil, o que acontece diuturnamente.Outro argumento a ser exposto para sustentar a concluso do pargrafo anterior que a averbao regulada pelo dispositivo aqui examinado providncia que gera seus efeitos fora do processo.A regra aqui examinada, em ltima anlise, visa criao de condies seguras e expeditas de comunicao entre os diversos rgos de registro de bens e o Judicirio. dever do exequente fazer a comunicao no prazo de dez dias para viabilizar o estabelecimento desta ligao. E ela importante, at para fins de cancelamento das averbaes que se mostrem, oportunamente, desnecessrias nos termos do 2 do dispositivo (v. nmero seguinte). Do descumprimento deste dever do exequente, contudo, no decorre a ineficcia do ato de averbao. A execuo no ato privado, de interesse s do exequente. A aquisio de um bem sujeito execuo ato que agride a instituio judiciria, que compromete a segurana jurdica por colocar em risco terceiros de boa-f, e isto deve ser levado em conta pelo intrprete e pelo aplicador do direito processual civil.

4.2 Cancelamento das averbaesNo h como deixar de supor, contudo, que o exequente faa averbaes sem que as comunique, como deve, ao juzo (n. 4.5, supra). Sem que o juzo tenha cincia de tais atos (que ocorrem, vale frisar, fora do processo, no plano material), no h condies mnimas de aplicao da regra do 2. Em hipteses como estas, o que a nova lei reserva para o exequente sua responsabilizao pelos danos que o executado venha a sofrer, nos termos do que expressamente admite o 4 do art. 615-A, sem prejuzo de ser considerado como litigante de m-f nos termos do inciso V do art. 17 (v. n. 4.8, infra). A no comunicao, no entanto, no torna ineficaz a averbao anteriormente feita dada a finalidade da regra. Os danos porventura experimentados pelo executado que devero ser suportados pelo exequente

4.3 Fraude execuoDe acordo com o 3 do art. 615-A, presume-se em fraude execuo a alienao ou onerao de bens efetuada aps a averbao (art. 593).Assim, passa a ser mais um caso de fraude execuo a alienao dos bens que tenham em seus registros respectivos a averbao que autorizada pelo caput do art. 615-A.

Art. 593. Considera-se em fraude de execuo a alienao ou onerao de bens:I - quando sobre eles pender ao fundada em direito real;II - quando, ao tempo da alienao ou onerao, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo insolvncia;III - nos demais casos expressos em lei.A incidncia do art. 593 e das hipteses l reguladas permanece inclume. A fraude execuo nunca dependeu e continua a no depender da averbao facultada pelo caput do art. 615-A. O que o dispositivo cria, bem diferentemente, que naqueles casos em que se realize, nos registros competentes, a averbao do ajuizamento da execuo, h um novo e distinto caso de fraude execuo. Presume-se fraudulenta a alienao to s porque a execuo foi ajuizada e averbada.A presuno referida no pargrafo anterior s pode ser relativa, isto , presuno que aceita prova em contrrio.

5. RecursosArt. 520. A apelao ser recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Ser, no entanto, recebida s no efeito devolutivo, quando interposta de sentena que: I - homologar a diviso ou a demarcao; II - condenar prestao de alimentos; IV - decidir o processo cautelar;V - rejeitar liminarmente embargos execuo ou julg-los improcedentes;VI - julgar procedente o pedido de instituio de arbitragem. VII - confirmar a antecipao dos efeitos da tutela;Da sentena que extingue o processo inclusive pelo acolhimento da impugnao ou dos embargos execuo, cabe apelao. falta de qualquer disposio em sentido contrrio, aplica-se a ela a regra do caput do art. 520, isto , a apelao tem efeito devolutivo e efeito suspensivo.At o seu proferimento, so normalmente proferidas diversas decises interlocutrias que desafiam o recurso de agravo. Aqui reside a nica nota digna de destaque. Estes recursos de agravo devem ser interpostos sempre na modalidade de instrumento porque incua a sua interposio na forma retida.O agravo retido, de acordo com o art. 523, caput, s julgado por ocasio da apelao, o que, em termos de execuo, tardio e incapaz, por isto mesmo, de trazer alguma utilidade para o recorrente.

CAPTULO III - A chamada ao de execuo1. Legitimidade das partesA legitimidade ordinria representa a coincidncia entre aquele que afirma um direito ou em face de quem ele afirmado no plano do processo e sua titularidade no plano material. A legitimidade extraordinria, por sua vez, representa a hiptese oposta, de descoincidncia entre a afirmao que se faz no plano processual e a titularidade, ainda que meramente afirmada, no plano material. A distino entre a parte processual e a parte material, destarte, a pedra de toque deste tema tambm no mbito da execuo.O exequente quem, afirmando-se credor, pede para si a tutela jurisdicional executiva. O executado aquele em face de quem se pretende a prtica dos atos tendentes prestao da tutela jurisdicional executiva porque o exequente afirma-o devedor.Casos de legitimao ativa, ordinria e primria so os constantes dos incisos I (o credor a quem a lei confere ttulo executivo) e II do art. 566 (o Ministrio Pblico, nos casos prescritos em lei).A legitimidade reconhecida pelo Ministrio Pblico para a execuo, derivao do art. 81, ganha enorme interesse no ambiente do direito processual coletivo porque naquele mbito que sua legitimidade para agir largamente aceita pelo sistema processual civil, vedada que a sua atuao em prol de interesses individuais e disponveis.

Art. 567. Podem tambm promover a execuo, ou nela prosseguir:I - o esplio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte deste, Ihes for transmitido o direito resultante do ttulo executivo;II - o cessionrio, quando o direito resultante do ttulo executivo Ihe foi transferido por ato entre vivos;III - o sub-rogado, nos casos de sub-rogao legal ou convencional.Caso de legitimao ativa, ordinria e superveniente o do inciso I do art. 567 (o esplio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte deste, lhes for transmitido o direito resultante do ttulo executivo). Por se tratar de legitimidade superveniente, pe-se a necessidade de os novos credores comprovarem suficientemente a situao legitimante, isto , a razo pela qual o crdito documentado no ttulo executivo passou a lhes pertencer pelo evento morte. Embora silente a lei processual civil, o dispositivo tambm deve ser aplicado aos casos de dissoluo e liquidao das pessoas jurdicas, passando a exequentes os sucessores, assim identificados de acordo com as leis materiais.Os incisos II (o cessionrio, quando o direito resultante do ttulo executivo lhe foi transferido por ato entre vivos) e III (o sub-rogado, nos casos de sub-rogao legal ou convencional) do art. 567 so usualmente identificados como hipteses de legitimao ativa, extraordinria e superveniente.A legitimidade extraordinria diz respeito a quem atua no plano do processo e no interfere em nada no que ocorre no plano material, onde se d a cesso de crdito.A sub-rogao convencional a que se refere o inciso III do art. 567 deve ser entendida como o adimplemento, por terceiro, da dvida retratada no ttulo executivo. Em tais casos, por fora do art. 349 do Cdigo Civil, ficam transferidos para o sub-rogado todos os direitos em relao dvida paga em face do devedor e de eventuais codevedores. O art. 673 prev hiptese de sub-rogao legal quando o exequente penhora crdito do executado. O art. 568 ocupa-se dos casos de legitimao passiva para a execuo.

Art. 568. So sujeitos passivos na execuo: I - o devedor, reconhecido como tal no ttulo executivo; II - o esplio, os herdeiros ou os sucessores do devedor; III - o novo devedor, que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigao resultante do ttulo executivo; IV - o fiador judicial; V - o responsvel tributrio, assim definido na legislao prpria. o tpico caso de legitimidade passiva, ordinria e primria em que o executado aquele que se afirma, a partir do ttulo executivo e desde a sua constituio, devedor no plano material.O inciso II do art. 568 identifica como executados o esplio, os herdeiros ou os sucessores do devedor. hiptese simtrica do inciso I do art. 567. A regra complementada pelo art. 597, segundo o qual: o esplio responde pelas dvidas do falecido; mas, feita a partilha, cada herdeiro responde por elas na proporo da parte que na herana lhe coube.De acordo com o art. 568, III, legitimado passivo para a execuo o novo devedor, que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigao resultante do ttulo executivo.

1.1. Pluralidade de partes e interveno de terceiros na execuoLitisconsrcio facultativo porque cada um dos exequentes e cada um dos executados tem legitimidade isoladamente para requerer ou para sofrer os atos executivos na exata proporo de seu crdito ou dbito. Nos casos em que h solidariedade, devidamente reconhecida no ttulo executivo, a situao fica ainda mais evidente. Litisconsrcio simples porque pelas mais variadas razes de direito material e de direito processual a execuo pode ser bem ou malsucedida em relao a cada um dos diversos exequentes e executados. supor o acolhimento de uma defesa pessoal nos embargos apresentados por um dos executados em face de um dos exequentes; a inexistncia de bens penhorveis de um dos executados; a renncia ao crdito por um dos exequentes e assim por diante.O que ocorre em se tratando de execuo que o sistema processual civil prev diferentes modalidades de interveno de terceiros, que se justificam pela peculiaridade do desempenho das atividades executivas que, em ltima anlise, buscam principalmente concretizar a tutela jurisdicional executiva com a satisfao do exequente.Os embargos de terceiro, disciplinados pelos arts. 1.046 a 1.054 como procedimento especial de jurisdio contenciosa, revelam uma modalidade de interveno de terceiros que tem ampla aplicao, embora no exclusiva, em se tratando de execuo.

2. Interesse de agirO interesse de agir para a prtica dos atos jurisdicionais executivos, destarte, a traduo processual suficiente de que a obrigao retratada no ttulo executivo exigvel a partir do inadimplemento daquela mesma obrigao.

3. Possibilidade jurdica do pedidoOs meios executivos a serem empregados no dependem, em nenhum caso, da mera vontade do exequente o que rigorosamente o oposto que decorre do princpio da disponibilidade, esta condio da ao tem reduzida aplicabilidade prtica no que diz respeito realizao concreta da tutela jurisdicional executiva.

CAPTULO IV - Ttulo executivoToda execuo pressupe ttulo executivo. Ele , de acordo com doutrina amplamente vencedora, pressuposto necessrio e suficiente para autorizar a prtica de atos executivos. Necessrio porque, sem ttulo executivo, no h execuo, aplicao do princpio da nulla executio sine titulo.1. Obrigao certa, exigvel e lquidaO ttulo executivo judicial ou extrajudicial deve referir-se a obrigao com determinados atributos. A obrigao nele retratada deve ser certa, exigvel e lquida.Art. 586. A execuo para cobrana de crdito fundar-se- sempre em ttulo de obrigao certa, lquida e exigvel.Obrigao certa aquela definida, aquela que existe suficientemente para fins da execuo, aquela que define, suficientemente, os elementos subjetivos e objetivos da obrigao, isto , quem o credor, quem o devedor (certeza subjetiva), o que se deve, quanto se deve e quando se deve (certeza objetiva).Obrigao exigvel aquela que passvel de cumprimento porque no sujeita a nenhuma condio ou termo.Obrigao lquida aquela quantificada ou, quando menos, quantificvel. Trata-se da possibilidade de verificao do valor da obrigao, de sua expresso monetria.

2. Eficcia abstrata do ttulo executivoCarter autnomo do direito de ao em relao ao direito material. Para pedir tutela jurisdicional ao Estado-juiz no h necessidade de aquele que formula o pedido ser efetivamente credor, que ele tenha efetivamente um direito seu lesionado ou ameaado por algum. suficiente que a leso ou a ameaa a algum direito seja convincentemente afirmada perante o Estado-juiz.O ttulo executivo, judicial ou extrajudicial, desempenha esta mesma funo. No se trata de atuao jurisdicional em prol do reconhecimento de um direito para, ento, tutel-lo (proteg-lo) mas, bem diferentemente, para tutel-lo (proteg-lo) desde logo.O papel desempenhado pelo ttulo no plano do processo o de provar suficientemente ao Estado- juiz quem tem direito a ser tutelado e desencadear a prtica de atos jurisdicionais voltados especificamente para aquela finalidade, atividade esta que, de alguma forma, atuar no plano material.

3. Ttulos executivos extrajudiciaisArt. 475-N. So ttulos executivos judiciais: I a sentena proferida no processo civil que reconhea a existncia de obrigao de fazer, no fazer, entregar coisa ou pagar quantia; II a sentena penal condenatria transitada em julgado; III a sentena homologatria de conciliao ou de transao, ainda que inclua matria no posta em juzo;IV a sentena arbitral; V o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente; VI a sentena estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justia;VII o formal e a certido de partilha, exclusivamente em relao ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a ttulo singular ou universal. Pargrafo nico. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 475-J) incluir a ordem de citao do devedor, no juzo cvel, para liquidao ou execuo, conforme o caso.

O reconhecimento da existncia de obrigao, qualquer que seja o seu contedo (fazer, no fazer, entregar coisa ou pagar quantia, para fazer uso, aqui, dos referenciais utilizados pelo legislador), significar que, diante do no cumprimento voluntrio da obrigao, devidamente declarada (reconhecida) pela sentena, poder ter incio a prtica de atos executivos requeridos pelo credor que tero como finalidade precpua realizar concretamente o direito tal qual reconhecido.A sentena que reconhece a existncia de uma obrigao deve ser entendida como a sentena que declara a existncia de uma obrigao que no foi cumprida, como deveria, no plano do direito material e que, por isto mesmo, impe seu cumprimento pela atividade jurisdicional, substitutiva da vontade das partes.Uma sentena declaratria, que se caracteriza por se limitar a declarar a existncia ou a inexistncia de uma relao jurdica ou a falsidade de um documento, no comporta execuo, porque seus efeitos principais, por definio, correspondem tutela jurisdicional pretendida independentemente da prtica de outros atos materiais de realizao concreta daquele mesmo direito.

3.1. Sentena penalDe acordo com o inciso II do art. 475-N, ttulo executivo judicial a sentena penal condenatria transitada em julgado.A lei processual civil, no particular, traz, para o Cdigo de Processo Civil, o efeito civil da sentena penal condenatria, que, de acordo com o art. 91, I, do Cdigo Penal, o de tornar certa a obrigao de indenizar o dano causado pelo crime.O que acontecer muito provavelmente em casos como estes que o valor do dano precisar ser previamente identificado a execuo pressupe a liquidez da obrigao (v. n. 2, supra) e, consequentemente, a atividade jurisdicional no ter incio com atos propriamente executivos, mas, bem diferentemente, ainda cognitivos.A sentena penal condenatria s ttulo executivo judicial e, consequentemente, s pode desempenhar a sua plena funo processual em detrimento daquele que ela, ttulo executivo que , reconhece como causador do dano; nunca em relao a outras pessoas. Para quaisquer outras pessoas, faz-se necessrio previamente criar um novo ttulo executivo, que reconhea a sua responsabilidade no mbito civil pelo crime, e legitimar, consequentemente, a atuao jurisdicional executiva com vistas satisfao do exequente.

3.2. Sentena arbitralTrata-se, neste sentido, de uma exceo, a sentena arbitral ttulo executivo judicial, embora no tenha origem judicial, isto , em processo jurisdicional.A equiparao feita pela Lei da Arbitragem justifica-se pelos propsitos daquele diploma legislativo de evitar, a no ser em hipteses exaustivamente previstas pelo seu art. 32, a reviso judicial do quanto decidido naquela sede. Sendo, para todos os fins, um ttulo executivo judicial, a matria da impugnao a ser apresentada pelo executado mais restrita do que se a espcie fosse de ttulo extrajudicial e pressupe, para a normalidade dos casos, a correo dos atos relativos constituio do ttulo executivo, a sentena arbitral.

3.3. Acordos extrajudiciais homologados judicialmenteDe acordo com o n. V do art. 475-N, ttulo executivo judicial o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente.O acordo extrajudicial, de qualquer natureza ou valor, poder ser homologado, no juzo competente, independentemente de termo, valendo a sentena como ttulo executivo judicial.O Juizado Especial s tem competncia para homologao dos acordos que observem rigorosamente os dispositivos legais que regem a sua atividade. Os demais, por excluso, devero ser homologados pelo juzo comum. Em um e em outro caso, de qualquer sorte, d-se ensejo formao de ttulos judiciais, cuja execuo, caso necessria, observar as regras pertinentes a um e a outro sistema, inclusive no que diz respeito fixao de sua competncia.O pargrafo nico do art. 475-N no prev a necessidade de citao do devedor na hiptese de se fazer necessria a atuao jurisdicional executiva quando no houver cumprimento espontneo da obrigao assumida

3.4. A citao para a execuoDe acordo com o pargrafo nico do art. 475-N, nos casos em que o ttulo executivo judicial consistir em sentena penal condenatria, sentena arbitral ou sentena estrangeira, o mandado inicial a que faz meno o art. 475-J incluir a ordem de citao do devedor, no juzo cvel, para liquidao ou execuo, conforme o caso.A consequente e necessria citao do ru para integr-lo no caso dos ttulos executivos judiciais.Assim, mister, que a jurisdio civil seja provocada pelo interessado (o credor) pela apresentao de uma petio inicial perante o juzo competente, que, por imposio do princpio constitucional do contraditrio, ter de requerer a citao do devedor para, a partir daquele instante, passar a fazer parte do processo, integrando-o para todos os fins. E por processo deve ser entendido exatamente aquilo que prope este Curso: o mtodo de manifestao do Estado. O Estado-juiz atuar mediante processo para a realizao concreta do direito reconhecido nos ttulos apontados nos incisos II, IV e VI do art. 475-N.A citao, em quaisquer dos casos previstos no pargrafo nico do art. 475-N, ser feita pelo oficial de justia, vedada a sua realizao pelo correio, diante da regra proibitiva do art. 222, letra d. No sendo localizado o executado, tem aplicao o disposto nos arts. 227 e 231, com relao s chamadas citao por hora certa e citao por edital.

4. Ttulos executivos extrajudiciaisArt. 585. So ttulos executivos extrajudiciais:I - a letra de cmbio, a nota promissria, a duplicata, a debnture e o cheque; II - a escritura pblica ou outro documento pblico assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transao referendado pelo Ministrio Pblico, pela Defensoria Pblica ou pelos advogados dos transatores; III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e cauo, bem como os de seguro de vida; IV - o crdito decorrente de foro e laudmio; V - o crdito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imvel, bem como de encargos acessrios, tais como taxas e despesas de condomnio;VI - o crdito de serventurio de justia, de perito, de intrprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorrios forem aprovados por deciso judicial; VII - a certido de dvida ativa da Fazenda Pblica da Unio, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territrios e dos Municpios, correspondente aos crditos inscritos na forma da lei;VIII - todos os demais ttulos a que, por disposio expressa, a lei atribuir fora executiva. 1oA propositura de qualquer ao relativa ao dbito constante do ttulo executivo no inibe o credor de promover-lhe a execuo. 2oNo dependem de homologao pelo Supremo Tribunal Federal, para serem executados, os ttulos executivos extrajudiciais, oriundos de pas estrangeiro. O ttulo, para ter eficcia executiva, h de satisfazer aos requisitos de formao exigidos pela lei do lugar de sua celebrao e indicar o Brasil como o lugar de cumprimento da obrigao.

CAPTULO V Liquidao

1. Consideraes iniciaisIntercalando as atividades jurisdicionais destinadas ao reconhecimento do direito e as atividades jurisdicionais voltadas realizao concreta deste mesmo direito, os arts. 475-A a 475-H ocupam-se de disciplinar a atividade jurisdicional voltada quantificao do direito, tal qual reconhecido na sentena (art. 475-A, caput). para esta finalidade que se ocupa esta fase do processo, a de liquidao.1.1. Ainda a liquidao como fase do processoA liquidao no mais se trata de um processo incidental mas de mera fase ou etapa do processo jurisdicional, considerado como um todo, sendo dispensada, por isto mesmo, uma nova citao do devedor (executado) para o cumprimento do julgado.Liquidada a sentena, passa-se fase seguinte, que se volta, precipuamente, prtica de atos materiais de realizao concreta do direito tal qual reconhecido no ttulo executivo. No h mais necessidade de citar o devedor; suficiente que ele seja intimado por seu advogado para o incio de mais uma fase do processo, esta voltada especificamente a transformar em realidade concreta o direito declarado existente em prol do credor, isto , sua satisfao.O que se d, destarte, que, assim que o devedor for regularmente intimado da deciso a que se refere o art. 475-H, ele ter o prazo de quinze dias para cumprir o julgado (art. 475-J, caput). Se no o fizer, ter incio a fase de cumprimento da sentena, somando-se, ao total da condenao, os 10% referidos naquele dispositivo.

1.2. A intimao para a liquidaoA liquidao mera fase do processo, em que a ateno do juiz e das partes volta-se fundamentalmente a encontrar, em amplo contraditrio, o valor da obrigao por cumprir, viabilizando, com isto, seu cumprimento (voluntrio ou forado, pouco importa).Nos casos em que a determinao do valor da condenao depender apenas de clculo aritmtico (art. 475-B), a memria de clculo parte integrante da petio (mero requerimento e no, formalmente, uma petio inicial) com a qual o credor (exequente) pleiteia ao juzo o incio das atividades executivas propriamente ditas, isto , substitutivas da vontade do devedor, considerando o transcurso in albis do prazo a que se refere o caput do art. 475-J.

2. FinalidadeA liquidao tem como finalidade a descoberta do valor da obrigao a ser adimplida pelo devedor, tal qual constante em ttulo executivo judicial (art. 475-N) ou extrajudicial (art. 585).Reconhecer que uma prestao devida, contudo, nada diz, necessariamente, sobre o seu valor e, por isto, para os fins de descoberta do valor daquilo que devido que se justifica a liquidao. Da, em contraposio ao an debeatur, falar-se que a liquidao se volta pesquisa do quantum debeatur, isto , do quanto devido.Embora o art. 475-A, caput, refira-se, apenas e to somente, a sentena, importante ter presente o entendimento de que no s a sentena que reconhece direitos, isto , que autoriza a prestao da tutela jurisdicional. Assim, no s sentenas (art. 162, 1) mas tambm decises interlocutrias (art. 162, 2) e, bem assim, acrdos (art. 163), que reconheam direitos mas que no revelem a sua quantificao imediata, so carentes de liquidao para os fins aqui discutidos.A Lei n. 11.719/2008, ao dar nova redao ao pargrafo nico do art. 63 e ao inciso IV do art. 387 do Cdigo de Processo Penal, impe que o magistrado, ao proferir a sentena, fixe, desde logo, um valor mnimo para reparao dos danos causados pela infrao, considerando os prejuzos sofridos pelo ofendido. A liquidao a ser feita no mbito do processo civil, com observncia da disciplina aqui examinada, ter como finalidade a apurao do dano efetivamente sofrido.A melhor interpretao para as novas regras a de admitir a prtica concomitante da atividade executiva voltada a satisfazer o valor fixado no mbito do processo penal e da atividade cognitiva destinada identificao da real extenso do dano, nos termos do que autoriza o art. 475-I, 2. Os novos dispositivos legais, destarte, pretendem impor maior celeridade na reparao do dano, verdadeiro efeito anexo da sentena penal condenatria sem, contudo, negar o direito do ofendido de identificar, o real quantum debeatur, sempre com observncia das garantias constitucionais, sob pena de cerceamento de defesa.

3. Liquidao provisriaArt. 475-A. Quando a sentena no determinar o valor devido, procede-se sua liquidao. 2oA liquidao poder ser requerida na pendncia de recurso, processando-se em autos apartados, no juzo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cpias das peas processuais pertinentes.Por liquidao provisria deve ser entendida a possibilidade de o interessado dar incio fase de liquidao mesmo quando a deciso liquidanda, isto , a deciso que reconhece o direito aplicvel espcie mas no o quantifica, pender de julgamento de recurso dela interposto. Esta expresso deve ser entendida como a cpia de todas as peas que se mostram relevantes para que a fase de liquidao tenha condies de ser desenvolvida, com a documentao suficiente do que necessrio para que haja um regular contraditrio entre as partes e o juiz, isto , tudo aquilo que se discutiu na fase de conhecimento (peties de ambas as partes, provas produzidas e a deciso que reconhece o direito) e que diz respeito pesquisa em torno do valor da obrigao dever instruir este pedido.Art. 475-O. A execuo provisria da sentena far-se-, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: 3o Ao requerer a execuo provisria, o exequente instruir a petio com cpias autenticadas das seguintes peas do processo, podendo o advogado declarar a autenticidade, sob sua responsabilidade pessoal: I sentena ou acrdo exequendo; II certido de interposio do recurso no dotado de efeito suspensivo; III procuraes outorgadas pelas partes;IV deciso de habilitao, se for o caso; V facultativamente, outras peas processuais que o exequente considere necessrias

A autenticao de cpias que forma a carta de liquidao, de resto, pode ser declarada pelo advogado, por fora do que autoriza o inciso IV do art. 365, regra genrica perfeitamente aplicvel espcie.No h nenhum vcio ou nulidade processual na hiptese de faltar alguma pea, mesmo que importante e indispensvel para a liquidao. A ausncia pode e deve ser suprida.Mesmo naqueles casos em que a apelao tiver sido recebida com efeito suspensivo, e isto vale tambm para outros recursos que, desprovidos de efeito suspensivo, venham, oportunamente, a receb-lo, desejvel autorizar que o credor da obrigao (aquele em prol de quem o direito foi reconhecido pela deciso liquidanda) possa, desde logo, liquid-la independentemente de poder, ou no, dar incio fase de cumprimento de sentena. Quantificao do valor da deciso jurisdicional e os efeitos concretos, prticos, desta mesma deciso so coisas diversas.Se, por qualquer motivo, for dado provimento ao recurso por ele interposto, cabe ao liquidante pagar os custos relativos quela fase do processo.

Art. 475-I. O cumprimento da sentena far-se- conforme os arts. 461 e 461-A desta Lei ou, tratando-se de obrigao por quantia certa, por execuo, nos termos dos demais artigos deste Captulo. 2oQuando na sentena houver uma parte lquida e outra ilquida, ao credor lcito promover simultaneamente a execuo daquela e, em autos apartados, a liquidao desta.

O 2 do art. 475-I, a este propsito, autoriza que a execuo provisria do que j est liquidado ou que a dispensa e a liquidao do que precisa ser quantificado processem-se em autos apartados.

4. Vedao da sentena ilquida em procedimento sumrioDiz a lei, o juzo dever, necessariamente, proferir sentena lquida, isto , reconhecer o direito e atribuir o seu respectivo valor desde logo, vedada sua liquidao a posteriori.A vedao imposta pelo dispositivo diz respeito aos casos de liquidao por artigos e por arbitramento e, mesmo, por clculos. Para atingir a patente finalidade de criar, nos casos que disciplina, uma maior eficincia na prestao jurisdicional, a regra tem de receber esta interpretao mais ampla. Independentemente da forma pela qual o valor seria encontrado (meros clculos, prova de fatos novos ou arbitramento por um perito judicial), est vedada a sentena ilquida nas aes a que fazem meno as alneas D e E do inciso II do art. 275.O clculo do valor do principal seja deixado para uma fase posterior do processo (a de liquidao). A sentena ter de condenar ao pagamento de uma certa quantia de dinheiro e no a um valor a ser apurado a posteriori mesmo que, oportunamente, faa-se necessrio atualizar monetariamente e consolidar aquele quantum que, vale a nfase, certo e atende, suficientemente, a nova regra.Quando o autor tiver formulado pedido certo, vedado ao juiz proferir sentena ilquida. Formulado o pedido certo e determinado, somente o autor tem interesse recursal em arguir o vcio da sentena.O autor deve formular pedido certo no que diz respeito sua pretenso indenizatria. Formulado pedido certo, o seu no acolhimento objetivamente constatvel e, por isto mesmo, inegvel o seu interesse em recorrer da deciso para as instncias superiores.Uma soluo para que a fixao do quantum debeatur no seja postergada para uma posterior fase de liquidao o entendimento de que o juiz, quando no tiver condies de facilmente verificar o valor dos danos, pode (a bem da verdade, deve) converter o procedimento sumrio em ordinrio, valendo-se do disposto no art. 277, 4, determinando que, desde logo, as partes forneam todos os elementos indispensveis para a descoberta do valor dos danos. A converso tanto mais pertinente porque indiscutvel que a demonstrao de que os danos tm um valor objetivamente contestvel atesta ou confirma a sua prpria existncia.Evidentemente que, na exata medida em que o Tribunal, por qualquer razo, no tenha condies para, desde logo, fixar o valor da indenizao, no existe outra soluo que no a de determinar que o juzo de primeira instncia o arbitre. O que parece mais adequado, de qualquer sorte, que o Tribunal, desde logo, quantifique o valor mesmo nestes casos, porque justamente em tais situaes que a expresso prudente critrio, prevista na lei, tem todo o espao que necessita para desempenhar adequadamente seu papel.

5. Limites da liquidao De acordo com o art. 475-G, defeso, isto , vedado que, na liquidao, seja novamente discutida a lide ou que seja modificada a sentena que a julgou.Independentemente da natureza jurdica da liquidao se processo, se ao, se lide, se procedimento, se incidente, ou, mera fase , vedado ao juiz redecidir o que j foi decidido. Neste sentido, a regra que hoje ocupa o art. 475-G inequvoca. O juiz no pode, a ttulo nenhum, rejulgar o que foi decidido, infirmando o reconhecimento do direito tal qual estabelecido no ttulo executivo ou indo alm do que estabelecido pela deciso liquidanda.Smula 344 do STJ: A liquidao por forma diversa da estabelecida na sentena no ofende a coisa julgada.Smula 453 STJ: Os honorrios sucumbenciais, quando omitidos em deciso transitada em julgado, no podem ser cobrados em execuo ou em ao prpria.

6. A deciso que encerra a liquidaoA liquidao s pode ser compreendida como uma fase de um mesmo processo, inegvel entender que a deciso que a encerra, isto , que declara qual o quantum debeatur, s pode ser uma deciso interlocutria nos precisos termos do art. 162, 2.Importa tambm a sua funo processual, que, no caso, inegavelmente a de encerramento de mais uma fase ao longo do (mesmo) processo.

6.1. Recurso cabvelEla no desempenha mais funo de sentena e, portanto, observando-se, ainda, o pouco que sobrou de sistema do Cdigo de Processo Civil desde sua formulao em 1973, dela no caber apelao o fato de esta apelao ter, ou no, efeito suspensivo no a caracteriza como tal mas sim agravo de instrumento.

Art. 475-H. Da deciso de liquidao caber agravo de instrumento.

Trata-se de deciso interlocutria no porque o art. 475-H prescreva o cabimento do agravo de instrumento para a hiptese (que consequncia), repita-se, mas porque sua funo processual, a despeito de seu possvel contedo, o de encerrar uma fase do processo (que a causa).

6.2. Quando a hiptese for de clculos aritmticosQuando a hiptese for a do art. 475-B, isto , naqueles casos em que a quantificao da obrigao depender unicamente de clculos aritmticos, no h espao para o proferimento da deciso a que se refere este dispositivo. No h, nestes casos, embora de liquidao se trate, uma fase de liquidao, mas, apenas e to somente, um ato de liquidao, que declara, para todos os fins, o quantum da obrigao devida.O que pode haver, nestes casos, que sejam proferidas decises interlocutrias, todas elas recorrveis, mas que no se confundem com aquela prevista no art. 475-H.Smula118STJ- O agravo de instrumento o recurso cabvel da deciso que homologa a atualizao do clculo da liquidao.O devedor deve questionar a exatido dos clculos apresentados pelo credor em sua impugnao (art. 475-L, V, e 2) ou nos embargos (arts. 745, III, e 739-A, 5). Em tais casos, no h atividades liquidatrias antes do incio da prtica dos atos propriamente executivos, e, por isto, no h razo para o proferimento de uma deciso como aquela referida pelo dispositivo em exame.

6.3. Despesas processuais e honorrios advocatciosArt. 19. Salvo as disposies concernentes justia gratuita, cabe s partes prover as despesas dos atos que realizam ou requerem no processo, antecipando-lhes o pagamento desde o incio at sentena final; e bem ainda, na execuo, at a plena satisfao do direito declarado pela sentena. 1 O pagamento de que trata este artigo ser feito por ocasio de cada ato processual. 2 Compete ao autor adiantar as despesas relativas a atos, cuja realizao o juiz determinar de ofcio ou a requerimento do Ministrio Pblico.

O cabimento dos honorrios advocatcios, por sua vez, questo controvertida. O STJ entende pertinente a verba nos casos de liquidao por artigos.

7. Identificao do valor por memria de clculoArt. 475-B. Quando a determinao do valor da condenao depender apenas de clculo aritmtico, o credor requerer o cumprimento da sentena, na forma do art. 475-J desta Lei, instruindo o pedido com a memria discriminada e atualizada do clculo. 1oQuando a elaborao da memria do clculo depender de dados existentes em poder do devedor ou de terceiro, o juiz, a requerimento do credor, poder requisit-los, fixando prazo de at trinta dias para o cumprimento da diligncia. 2oSe os dados no forem, injustificadamente, apresentados pelo devedor, reputar-se-o corretos os clculos apresentados pelo credor, e, se no o forem pelo terceiro, configurar-se- a situao prevista no art. 362. 3oPoder o juiz valer-se do contador do juzo, quando a memria apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da deciso exeqenda e, ainda, nos casos de assistncia judiciria. 4oSe o credor no concordar com os clculos feitos nos termos do 3odeste artigo, far-se- a execuo pelo valor originariamente pretendido, mas a penhora ter por base o valor encontrado pelo contador.

O que diferente nos casos regulados pelo art. 475-B a forma como a pesquisa em torno do quantum debeatur se d. Em regra, para tal finalidade, prescindvel a realizao de qualquer atividade jurisdicional prvia quantificao do valor e, mesmo quando aquela atividade autorizada, como se d nas hipteses dos 1 a 4 do art. 475-B, a sua prtica no se justifica para o estabelecimento de um contraditrio prvio quanto quela finalidade mas, diferentemente, para criar condies concretas de realizao dos clculos.Nos casos em que a pesquisa em torno do quantum debeatur impuser a realizao de prova pericial (liquidao por arbitramento) ou quando a hiptese exigir a prova de fato novo (liquidao por artigos) h, inegavelmente, uma fase do processo voltada prtica de atos jurisdicionais cuja finalidade a identificao do quantum debeatur. E como fase do processo, a sua realizao deve-se dar em amplo e prvio contraditrio. Nos casos em que esta pesquisa limitar-se realizao de simples clculos aritmticos, no h uma fase mas, to somente, um ato do processo, qual seja, a apresentao, por quem requer o incio da atividade executiva, da memria de clculo a que faz referncia o caput do art. 475-B. E, mesmo nestes casos, vale frisar, desde que ocorrente uma das hipteses dos 1 a 4 do art. 475-B, a prtica daquele ato reclamar a instaurao de um prvio incidente, embora no se volte ele, diferentemente do que se d com as demais modalidades de liquidao, para a quantificao do valor devido, isto , para a prtica de atividade cognitiva.Destarte, toda a vez que o exequente tiver os elementos suficientes para elaborao do clculo no h fase de liquidao, bastando que ele requeira ao Estado-juiz o incio dos atos executivos (penhora e avaliao dos bens do executado), apresentando, desde logo, a memria de clculo. Se ele no dispuser destes elementos, impe-se, de acordo com os 1 a 2 do art. 475-B, a realizao de um incidente prvio prtica de atos executivos, o mesmo ocorrendo nos casos de assistncia judiciria (art. 475-B, 3). Se o juiz, analisando a memria de clculo apresentada pelo credor, verificar algum descompasso com o ttulo executivo liquidando, a oitiva do contador que, de acordo com os 3 e 4 do art. 475-B, antecedem o incio da prtica dos atos executivos, tambm enseja a instaurao de um incidente que, pelo sistema processual civil vigente, s pode ser entendido como uma fase de liquidao.Estes incidentes no buscam propriamente a descoberta do valor da obrigao e, por isto, no podem ser entendidos, propriamente, como uma fase de liquidao. Neles, o que ocorre a criao de condies de identificao do valor devido para haver uma baliza, a mais correta possvel, para a prtica dos atos executivos que pressupem a liquidez do ttulo e no a descoberta, em contraditrio, desta mesma liquidez.O contraditrio ser estabelecido, na normalidade dos casos, j com o incio efetivo dos atos executivos, mediante a apresentao, pelo executado, da impugnao ou dos embargos execuo.

7.1. Clculo aritmticoO clculo aritmtico a que se refere o caput do art. 475-B deve ser entendido como aquele que pode ser realizado independentemente de qualquer conhecimento tcnico ou especializado. So clculos, por assim dizer, cuja elaborao de domnio comum e geral.Diferentemente do que ocorre nos casos em que a liquidao deve dar-se por arbitramento ou por artigos, para os fins do art. 475-B, a quantificao da obrigao deve ser extrada do prprio ttulo ou dos demais documentos que o componham. No se trata, aqui, de buscar novos elementos, exteriores ao ttulo, sem o que no h suficiente liquidez e que justificam, por isto mesmo, o prvio contraditrio naquelas modalidades.

7.2. Momento da apresentaoO art. 475-B faz expressa remisso ao art. 475-J. A redao do dispositivo tem despertado alguma dvida no plano da doutrina quanto a saber qual o primeiro ato a ser praticado na fase de cumprimento de sentena, naqueles casos em que a quantificao do valor depender, apenas e to somente, de clculos aritmticos.Qual o instante para apresentar a memria de clculo?, a resposta s pode ser: ele, credor, na hiptese de no cumprimento voluntrio do devedor, requerer o incio dos atos executivos, instruindo seu requerimento com a memria de clculo a que se refere o art. 475-B aplicvel, espcie, em funo do que dispe o caput do art. 475-J, a regra do art. 614, II, entendendo-se a expresso dbito atualizado at a data da propositura da ao, l constante, como at a data da apresentao do requerimento de execuo , quando dever ser levada em conta a diretriz do art. 475-J, isto , a multa de 10% sobre o valor total da condenao, objeto dos clculos que se acabou de elaborar.Entender que a fluncia do prazo para pagamento a que se refere o art. 475-J, caput, depende de prvia apresentao da memria de clculo pelo exequente , com o respeito devido queles que assim entendem, regressar no tempo e voltar a admitir, contra a lei, a criao de uma fase de liquidao onde no h mais.

7.3. Dados em posse do executado ou do terceiroDe acordo com o 1 do art. 475-B, quando a elaborao da memria de clculo depender de dados que estiverem em poder do executado ou de terceiro, o magistrado poder requisit-los, em ateno a pedido do exequente, concedendo prazo de at trinta dias para cumprimento da determinao.O 2 do dispositivo, complementando a regra, reserva solues distintas para o executado e para o terceiro. Na hiptese de os dados necessrios para a elaborao de clculo no serem apresentados por terceiro, tem aplicao o art. 362, que disciplina o pedido de exibio de documento ou coisa.

7.4. O contador do juzoO 3 do art. 475-B autoriza que o juiz, ao analisar a memria de clculo apresentada pelo exequente, determine a sua conferncia pelo contador do juzo, um dos auxiliares do juzo.Complementando a regra, o 4 do mesmo dispositivo dispe que, se houver discordncia com os clculos apresentados por aquele auxiliar do juzo, far-se- a execuo pelo valor originariamente pretendido, mas a penhora ter por base o valor encontrado pelo contador, isto , os atos executivos tero, desde logo, incio, levando-se em conta, para fins de penhora, o valor encontrado pelo contador.O 3 do art. 475-B tambm permite que o contador do juzo seja ouvido nos casos de assistncia judiciria.

7.5. A memria de clculo e a execuo fundada em ttulo extrajudicialA aplicao do art. 475-B e de seus pargrafos irrecusvel mesmo nos casos em que a execuo se baseie em ttulo executivo extrajudicial, por fora do que dispe o art. 598. No mais, de observar o procedimento dos arts. 652 e seguintes, isto , o exequente dever anexar sua petio inicial a memria de clculo discriminada (art. 614, II) e promover a citao do executado para que ele pague em trs dias o que devido, sob pena de lhe serem penhorados bens suficientes para cobrir o dbito devidamente corrigido pela correo monetria, acrescido de juros, custas processuais e honorrios de advogado (art. 659, caput).Ademais, ao longo da execuo fundada em ttulo extrajudicial, pode-se fazer necessria a elaborao de clculos de mera atualizao monetria, quando dever ser observado, como referencial, o disposto no art. 475-B e em seus pargrafos.

7.6. A apresentao de memria de clculo pelo executado cumprimento voluntrio da obrigao mesmo quando ela j estiver reconhecida em ttulo judicial ou extrajudicial. importante ter bem clara esta distino: cumprimento de sentena e execuo so ideias antitticas, antagnicas, opostas, contrrias, a cumprimento espontneo da obrigao, mesmo quando j reconhecida ou traduzida em ttulo executivo exigvel.Nos casos em que o pagamento pressupe a quantificao do valor a ser pago, no h como recusar que o executado apresente os clculos na forma disciplinada pelo art. 475-B. Far isto at como forma de demonstrar, justificar ou comprovar que o valor que entende devido ao credor corresponde ao total devido, nica forma de ele, executado, isentar-se da incidncia da multa do caput do art. 475-J, na medida em que o valor pago encontre concordncia do exequente, at porque, convm destacar, a multa pode incidir parcialmente na forma expressamente admitida pelo 4 daquele mesmo dispositivo.

7.7. Atualizao monetriaPelas mais variadas razes pode ser necessrio fazer clculos de atualizao da dvida, inclusive para verificar a suficincia de algum pagamento feito pelo executado, para somar as custas do processo aos honorrios de advogado e assim sucessivamente. A tarefa pode ser desempenhada por alguma das partes, sobre a qual ser necessariamente ouvida a outra, ou pelo contador do juzo, por determinao deste. A deciso a ser proferida interlocutria e, como tal, contrastvel pelo recurso de agravo de instrumento, diretriz que, no obstante as profundas modificaes experimentadas pelo Cdigo de Processo Civil no que tange ao tema, bem equacionada pela Smula 118 do STJ: O agravo de instrumento o recurso cabvel da deciso que homologa a atualizao do clculo da liquidao.

8. Liquidao por arbitramentoArt. 475-C. Far-se- a liquidao por arbitramento quando: I determinado pela sentena ou convencionado pelas partes;II o exigir a natureza do objeto da liquidao.

A liquidao por arbitramento deve ser entendida como aquela em que a pesquisa relativa identificao do quantum debeatur pressupe conhecimentos tcnicos. Tal modalidade liquidatria nada mais do que a realizao de uma percia especificamente voltada para aquela finalidade, verdadeiramente postergada no processo, uma vez fixada suficientemente a existncia do direito, isto , o an debeatur.

8.1. ProcedimentoTodas as exigncias dos arts. 420 a 439 devem ser observadas, a comear pela indicao, no requerimento respectivo, do objeto a ser periciado, na indicao de assistente tcnico e na formulao de quesitos.De acordo com o art. 475-D, o juiz nomear o perito, fixando prazo para entrega do laudo. A parte contrria dever ter cincia desta deciso (art. 475-A, 1), sendo-lhe franqueada a oportunidade de apresentar assistente tcnico e formular quesitos. O questionamento quanto imparcialidade do perito indicado, outrossim, no pode ser descartado.As partes devem ter cincia da apresentao do laudo (art. 433, pargrafo nico) para se manifestar sobre ele, em consonncia com o pargrafo nico do art. 475-D. Com ou sem esta manifestao o magistrado, alternativamente, designar data para realizao de audincia.A deciso interlocutria e, como tal, contrastvel pelo recurso de agravo de instrumento.

9. Liquidao por artigosDe acordo com o art. 475-E, far-se- a liquidao por artigos, quando, para determinar o valor da condenao, houver necessidade de alegar e provar fato novo.Fato novo deve ser entendido como todo aquele que, por qualquer razo, no foi levado em conta na deciso que se pretende liquidar, isto , cujo valor correspondente se pretende obter perante o Estado-juiz.So fatos novos porque se relacionam com a pesquisa relativa identificao do valor devido e que ainda no foram considerados. So novos em relao ao processo, portanto; no em relao sua prpria existncia.9.1. ProcedimentoO art. 475-F impe liquidao por artigos que o seu desenvolvimento observe, no que couber o procedimento comum, fazendo expressa remisso ao art. 272.A fase de liquidao, quando se der por artigos, observar o procedimento ordinrio ou o sumrio, consoante o caso, assegurando-se, com isto, o amplo contraditrio e a ampla defesa para ambas as partes que buscam a identificao do fato novo, que justifica a ocorrncia desta fase logicamente anterior quela destinada prtica dos atos jurisdicionais com vistas satisfao do exequente.Como o proferimento de sentena resolutria de mrito (para empregar a nomenclatura dada pelo caput do art. 269 espcie) no extingue o processo porque ainda h atividade jurisdicional a ser desempenhada pelo juiz , a especfica forma que estas atividades seguiro no pode ser levada em considerao para ensejar propriamente a formao de um novo processo, uma nova (e indita) provocao jurisdicional. Mais ainda, vale o destaque, quando a fase de liquidao prescinde de citao para seu incio, suficiente a mera intimao das partes nela envolvidas.Em ateno ao disposto no 475-F, o requerimento da liquidao por artigos deve expor com suficiente clareza qual o fato novo a ser provado, com observncia, no que couber, do disposto no art. 282. A palavra artigos que d nome a esta modalidade liquidatria, vale o destaque, relaciona-se, historicamente, com esta circunstncia: os fatos novos devem ser articulados, isto , expostos um a um para viabilizar uma melhor apreciao acerca de sua existncia e prova correlata.Recebendo o requerimento ou determinando a sua emenda (art. 284) , o magistrado intimar a parte contrria (art. 475-A, 1) para apresentar a sua defesa, em audincia ou fora dela, consoante o procedimento a ser adotado, aps o que sero praticados os atos destinados ao saneamento das atividades praticadas, produo das provas que se fizerem necessrias e deciso (interlocutria) que fixar o quantum debeatur.

CAPTULO 6 - Execuo provisria1. Consideraes iniciaisTrata-se da autorizao para que um ttulo executivo surta efeitos concretos mesmo enquanto existem recursos pendentes de exame perante as instncias superiores. A ela se referem expressamente, neste sentido, os arts. 475-I, 1, 521 e 587.Trata-se, a bem da verdade, de uma execuo antecipada no tempo por fora de expressas disposies de lei (execuo imediata ope legis) ou por fora de especfica autorizao concedida pelo juiz levando as peculiaridades de cada caso concreto (execuo imediata ope judicis): a execuo assim obtida uma tcnica de antecipao de atos jurisdicionais executivos com vistas realizao concreta da tutela jurisdicional executiva.Na definitiva, no h nenhuma restrio na prtica de atos executivos tendentes satisfao do exequente. Diferentemente, na execuo provisria, podem haver restries ou limitaes na prtica de atos executivos voltados mesma finalidade. Embora tais restries e limitaes venham, desde a Lei n. 10.444/2002, sendo abrandadas, elas ainda existem, como se verifica da letra do 1 do art. 475-O. neste ponto, vale enfatizar, que reside a distino entre a chamada execuo definitiva e a execuo provisria.

1.1. Execuo provisria de ttulos executivos judiciais e de ttulos executivos extrajudiciais bastante comum o entendimento de que a execuo provisria se relaciona exclusivamente aos casos de ttulo executivo judicial. S eles, este o entendimento corrente, aceitariam a provisoriedade do ttulo, merc do segmento recursal.O art. 587, com efeito, autoriza, clara e inequivocamente, que tambm execues fundadas em ttulo executivo extrajudicial sejam provisrias desde que os embargos execuo sejam recebidos com efeito suspensivo e que o executado recorra da deciso que os rejeitar. Quis a lei, nestes casos, impor execuo que se retomar o seu curso durante o segmento recursal o mesmo regime jurdico do art. 475-O.

Art. 475-O. A execuo provisria da sentena far-se-, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: I corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentena for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; II fica sem efeito, sobrevindo acrdo que modifique ou anule a sentena objeto da execuo, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidados eventuais prejuzos nos mesmos autos, por arbitramento; III o levantamento de depsito em dinheiro e a prtica de atos que importem alienao de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado dependem de cauo suficiente e idnea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos prprios autos. 1oNo caso do inciso II do caput deste artigo, se a sentena provisria for modificada ou anulada apenas em parte, somente nesta ficar sem efeito a execuo. 2oA cauo a que se refere o inciso III do caput deste artigo poder ser dispensada: I quando, nos casos de crdito de natureza alimentar ou decorrente de ato ilcito, at o limite de sessenta vezes o valor do salrio-mnimo, o exequente demonstrar situao de necessidade; II - nos casos de execuo provisria em que penda agravo perante o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justia (art. 544), salvo quando da dispensa possa manifestamente resultar risco de grave dano, de difcil ou incerta reparao. 3oAo requerer a execuo provisria, o exequente instruir a petio com cpias autenticadas das seguintes peas do processo, podendo o advogado declarar a autenticidade, sob sua responsabilidade pessoal: I sentena ou acrdo exequendo; II certido de interposio do recurso no dotado de efeito suspensivo; III procuraes outorgadas pelas partes; IV deciso de habilitao, se for o caso; V facultativamente, outras peas processuais que o exequente considere necessrias

PARTE II EXECUO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTECAPTULO I -Execuo com base em ttulo judicial1. Consideraes iniciaisArt. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou j fixada em liquidao, no o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenao ser acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se- mandado de penhora e avaliao. 1oDo auto de penhora e de avaliao ser de imediato intimado o executado, na pessoa de seu advogado (arts. 236 e 237), ou, na falta deste, o seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio, podendo oferecer impugnao, querendo, no prazo de quinze dias. 2oCaso o oficial de justia no possa proceder avaliao, por depender de conhecimentos especializados, o juiz, de imediato, nomear avaliador, assinando-lhe breve prazo para a entrega do laudo. 3oO exequente poder, em seu requerimento, indicar desde logo os bens a serem penhorados. 4oEfetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput deste artigo, a multa de dez por cento incidir sobre o restante. 5oNo sendo requerida a execuo no prazo de seis meses, o juiz mandar arquivar os autos, sem prejuzo de seu desarquivamento a pedido da parte.

O art. 475-J no diz respeito, ao contrrio do que uma primeira leitura poderia sugerir, ao cumprimento de qualquer sentena. Ele tem aplicao bem mais restrita. Ele se volta, basicamente, ao cumprimento de uma especfica classe de sentena, aquela que determina o pagamento em dinheiro.Se se tratar de uma sentena que determine o cumprimento de uma obrigao de fazer ou de no fazer, as regras relativas ao seu cumprimento pela provocao do Estado-juiz so aquelas constantes do art. 461.

2. Cumprimento de sentena e execuoAs providncias que ocupam o art. 475-J dizem respeito hiptese de algum ter de pagar alguma quantia de dinheiro para outrem, assim reconhecido (declarado) por um ttulo judicial, e no o fizer.

3. O prazo de 15 dias para pagamentoDe acordo com o caput do art. 475-J, o devedor (aquele que reconhecido [declarado] como tal no ttulo executivo) tem de pagar a quantia devida ao credor em quinze dias, prazo que dever ser contado a partir da leitura da citao pelo oficial de justia ao executado.Portanto, o devedor tem de pagar a quantia identificada no ttulo executivo judicial, assim que ele estiver liquidado e no contiver nenhuma condio suspensiva, isto , assim que ele tiver aptido de produzir seus regulares efeitos. E tem quinze dias para faz-lo, sob pena de terem incio as providncias descritas nos pargrafos do art. 475-J, atividades executivas propriamente ditas.O que subjaz ao caput do art. 475-J que o devedor, ciente de que se no pagar o valor da condenao nos quinze dias a que se refere o dispositivo, ter de pag-lo acrescido de 10%, a ttulo de multa. Este acrscimo monetrio no valor da dvida, aposta o legislador, tem o condo de incentivar o devedor a pagar de uma vez, acatando a ordem judicial.

3.1. A incidncia de multaNa hiptese de a ordem ser atendida em parte, a incidncia da multa d-se na parte no observada. a clara diretriz do 4 do art. 475-J: havendo pagamento parcial, a multa incidir sobre o restante.

3.2. A fluncia do prazo de 15 diasNecessidade de a fluncia do prazo de quinze dias para pagamento depender de intimao do advogado do devedor. (Uma corrente)O prazo de quinze dias tende a fluir desde o instante em que a deciso jurisdicional a ser cumprida rena eficcia suficiente, mesmo que de forma parcial. (Outra corrente).O prazo correr, destarte, da intimao judicial que comunique que o julgado rene suficientemente condies de eficcia plena, qualquer que seja a forma adotada por esta intimao. como se entendesse que, atrs daquela intimao, h uma verdadeira ordem de cumprimento, que reconhece, para todos os fins, a executividade nsita e plena da deciso a ser cumprida, isto , a ser observada, a ser acatada pelo devedor.A intimao deve ser feita ao advogado do devedor.

3.3. Execuo provisria e a multa do art. 475-J.Como a execuo provisria depende de provocao especfica do credor na sua promoo ela corre por iniciativa, conta e responsabilidade do credor, diz o inciso I do art. 475-O , nada mais coerente que entender ser a partir da cincia do devedor (por intermdio do procurador constitudo nos autos) de que o credor pretende execut-lo provisoriamente que tem incio o prazo de quinze dias para ele pagar o valor devido.No se trata de contar o prazo da formao da carta de sentena nos casos em que ela se faz necessria ou da sua apresentao perante o juzo competente para o incio dos atos executivos. Trata-se do instante em que, requerida a execuo provisria, o devedor tiver conhecimento inequvoco da vontade do credor, que passa a assumir os riscos inerentes sua iniciativa (art. 475-O, I). Por essa razo irrecusvel, tambm para os casos de execuo provisria, que o magistrado determine a intimao do devedor para pagamento sob pena de incidncia da multa a que se refere o caput do art. 475-J. Aqui, tambm, a intimao se perfaz na pessoa do advogado constitudo nos autos. A intimao pessoal s deve ser admitida se, por qualquer razo, o devedor no tiver advogado que o represente nos autos.

3.4. A contagem do prazo para pagamentoO prazo de quinze dias deve ser contado na forma estabelecida pelo prprio Cdigo de Processo Civil, isto , observando-se o que dispe o art. 184, caput: exclui-se o dia do incio e inclui-se o dia do vencimento.No dcimo sexto dia que se seguir quela intimao a incidncia da multa irremedivel e independe de qualquer outra nova deciso jurisdicional ou de qualquer manifestao do juzo ou das partes (credor ou devedor). Ela, a multa, incide, automaticamente, com o s passar integral do prazo dado pela lei.

3.5. O valor da condenaoDe acordo com a primeira parte do caput do art. 475-J, a multa de 10% incide sobre o montante da condenao. entender como montante da condenao tudo aquilo que deve ser pago pelo devedor, tal qual retratado no ttulo executivo judicial.

3.6. Honorrios de advogadoDesde que se faa necessria a prtica de atividades jurisdicionais voltadas satisfao forada do crdito do credor, irrecusvel que seu advogado dever ser remunerado por este trabalho, independentemente dos honorrios eventualmente arbitrados de incio e que dizem respeito ao trabalho anteriormente desenvolvido, relativo etapa de conhecimento, inclusive a fase recursal.No cumprido o julgado tal qual constante do ttulo executivo judicial no prazo de quinze dias, o devedor, j executado, torna-se responsvel pelo pagamento do total daquele valor acrescido da multa de 10% e honorrios de advogado que sero devidos, sem prejuzo de outros, j arbitrados pelo trabalho desempenhado pelo profissional na etapa de conhecimento, pelas atividades que sero, a partir daquele instante, necessrias ao cumprimento forado ou, simplesmente, execuo, do julgado. Se, caso contrrio, o devedor cumprir o julgado no prazo que a lei lhe reconhece, no h lugar para o cabimento de novos honorrios de advogado.

3.7. Custas processuaisNaqueles casos em que as taxas judicirias incidem pela prtica de atos voltados satisfao do credor e no, propriamente, pela necessidade de um novo processo ou de uma nova ao que, para os ttulos judiciais no so mais concebveis, no h qualquer alterao.

4. O requerimento do exequente De acordo com a segunda parte do caput do art. 475-J, o incio das atividades voltadas satisfao do exequente independe de uma nova citao do devedor.Desde que no seja efetuado o pagamento da condenao, a incidncia da multa de 10% automtica e a execuo propriamente dita inicia-se no mais com a citao do executado para pagar (art. 652) mas, bem diferentemente, com uma petio do credor requerendo a penhora de bens suficientes do devedor e sua pronta avaliao (art. 475-J, caput).A circunstncia de a lei exigir que o credor requeira o incio dos atos executivos no significa que, com o pedido, tem incio um novo processo, um processo de execuo. Tampouco que, por causa disto, haja uma nova e diversa ao, uma ao de execuo. O dispositivo legal deve ser entendido, apenas, como forma de acentuar que a atuao oficiosa nos casos regidos pelo dispositivo em exame vedada e que, por isto, depende da provocao do interessado, o credor tal qual reconhecido no ttulo, que, no plano do processo, passa a ser exequente. Tanto assim que, no requerido o incio da prtica dos atos executivos propriamente ditos, os autos iro ao arquivo, como determina o 5 do art. 475-J.No h mais espao para uma nova citao, suficiente a intimao do devedor (na pessoa de seu advogado devidamente constitudo) sua cincia formal dos prximos atos processuais a serem praticados, comeando pelo incio do prazo para pagamento voluntrio e, quando realizada, da penhora.

Responsabilidade patrimonialPor fora do princpio da patrimonialidade sobre o patrimnio do executado que so praticados os atos executivos. Em casos como nos de execuo por quantia certa, a satisfao do exequente d-se com a expropriao do patrimnio do executado. o seu patrimnio, presente e futuro, que garante o pagamento de todas as suas dvidas, excetuados, apenas, os casos previstos em lei.O art. 591, no particular, bastante claro ao dispor que o executado responde, para o cumprimento de suas obrigaes, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restries estabelecidas em lei. diretriz que vem estabelecida tambm no art. 391 do Cdigo Civil que, no obstante ser regra posterior e no fazer a ressalva da lei processual civil, no altera quaisquer das restries estabelecidas em lei, por ser regra geral.As restries estabelecidas em lei so, dentre outras, as que constam dos arts. 648 a 650.Ser devedor de uma obrigao no significa necessariamente, em todo e qualquer caso, que tambm se responsvel pelo seu adimplemento. para certas situaes que o art. 595 garante o chamado benefcio da ordem, isto , a possibilidade de o responsvel pela obrigao indicar penhora e, consequentemente, execuo bens do devedor para que, s ento, caso o patrimnio do devedor no seja suficiente para a satisfao do credor, os atos executivos recaiam sobre o seu prprio patrimnio. Ademais, de acordo com o pargrafo nico do art. 595, se o fiador pagar a dvida, pode ele executar o afianado nos autos do mesmo processo, dizer, formular pedido de tutela jurisdicional no mesmo processo em que se deu a excusso de seu prprio patrimnio. o direito material, neste sentido, que se ocupa de regular em que condies pode haver a distino entre o dbito e a responsabilidade, e, na medida em que esta dicotomia for transportada para o plano processual, a tutela jurisdicional executiva ser requerida e, deste ponto de vista, prestada em face de um ou de ambos, consoante haja, ou no, pedido especificamente formulado para tanto.O art. 592 ocupa-se de diversas hipteses em que os bens dos responsveis ficam sujeitos execuo. Os nmeros seguintes analisam, uma a uma, essas situaes

Art. 592. Ficam sujeitos execuo os bens:I - do sucessor a ttulo singular, tratando-se de execuo fundada em direito real ou obrigao reipersecutria;No que diz respeito ao primeiro ponto, significativo que o legislador mais recente no tenha feito uso da palavra sentena, valendo-se, nica e exclusivamente, de execuo. o que basta para sustentar que o dispositivo tem aplicao para os casos de execuo fundada em ttulo judicial e em ttulo extrajudicial (v., em especial, o inciso III do art. 592).Com relao ao segundo ponto, o uso concomitante das expresses direito real e obrigao reipersecutria deve ser entendido com vistas a assegurar que em todos aqueles casos em que um determinado bem garantia da execuo, haja, ou no, direito real na espcie (que so apenas aqueles indicados como tais no art. 1.225 do Cdigo Civil), assegurado que a responsabilidade secundria disciplinada pelo dispositivo recaia sobre ele, independentemente do ttulo pelo qual se deu a sucesso na sua titularidade, isto , se a alienao se deu por ato inter vivos e, para estes casos, o disposto no art. 42 tem incidncia ou causa mortis.O dispositivo se limite aos casos de execuo fundada em ttulo judicial e a execues para entrega de coisa. Em quaisquer casos, em que o bem do sucessor deve responder pela dvida ( o que ocorre inclusive nos casos de fraude execuo do art. 593 e da renovada hiptese do art. 615-A,), sobre ele podero recair os atos executivos, inclusive os relativos penhora para fins de expropriao. Trata-se, em ltima anlise, de uma consequncia inafastvel do direito de sequela, tenha, ou no, origem em direito real.

II - do scio, nos termos da lei;Nestes casos, a responsabilidade dos bens do scio nos termos da lei pode depender do escorreito redirecionamento da execuo, isto , de incluso do scio no polo passivo da execuo, mediante incidente cognitivo a ser desenvolvido no mesmo processo sem soluo de continuidade. Pe-se, para tanto, a necessidade de prvia citao do scio em nome prprio (e no como representante da sociedade) para responder aos fatos que, trazidos para o processo, imputam a ele a responsabilidade pelo pagamento, forte nas situaes de direito material colocadas em evidncia, a ttulo ilustrativo, pelos pargrafos anteriores.A posio sustentada por este Curso a da viabilidade do redirecionamento da execuo aos scios desde que eles sejam citados em nome prprio para se defender da alegao de que o caso comporta a desconsiderao da personalidade jurdica e que, por isto, seus bens pessoais devero ficar sujeitos execuo.A soluo aqui propugnada vai ao encontro do modelo constitucional do direito processual civil: ela viabiliza, a um s tempo, a realizao concreta de todos os valores constitucionais que, no caso, mostram-se em conflito, os direitos do executado, dos terceiros, e a necessidade de se ter um processo clere, racional e apto a produzir efeitos concretos.Nos casos em que a apurao da responsabilidade do scio deu-se anteriormente ao incio da prtica dos atos executivos e que ele, em nome prprio, constar do ttulo executivo (judicial ou extrajudicial), no h espao para os questionamentos anteriores.Ademais, importa distinguir a razo por que o patrimnio pessoal do scio deve responder pela dvida da sociedade. Nos casos em que houver alguma fraude ou abuso de direito seu, assim, por exemplo, nos casos de aplicao da desconsiderao da personalidade jurdica nos termos do art. 50 do Cdigo Civil, deve ser negada aplicao ao disposto no art. 596 porque no h, em tais casos, qualquer subsidiariedade ou benefcio de ordem a ser levantado pelo scio em detrimento da sociedade. De acordo com o referido dispositivo, que tem aplicao para os casos em que o scio responde pela dvida da sociedade, isto , em que ela, a sociedade, a devedora e o scio ou passa a ser responsvel por fora das regras de direito material, pode ele, semelhantemente ao que disciplina o art. 595, requerer que os atos executivos recaiam primeiramente sobre os bens da sociedade, nomeando, para tanto, bens titularizados pela sociedade passveis de penhora e que sejam localizados na mesma comarca (ou seo judiciria, em se tratando de justia federal) em que tem trmite o processo ( 1 do art. 596). O 2 do art. 596, de sua vez, permite ao scio que veja seu patrimnio excutido na insuficincia do patrimnio da sociedade cobrar dela valendo-se dos mesmos autos do processo.A respeito do art. 592, II, bastante frequente a lembrana de que a legitimao extraordinria se justifica porque a ausncia de coincidncia entre os planos material e processual d-se pela distino, amplamente aceita pela doutrina do direito civil e do direito processual civil, entre o devedor e o responsvel. Quando se admite que ficam sujeitos execuo os bens do scio, nos termos da lei, visvel a distino, feita pela prpria lei processual civil, entre aqueles planos.A previso legislativa, contudo, no autoriza que a identificao do responsvel para fins de aplicao do art. 592, II, d-se independentemente de sua prvia cincia e defesa na execuo, que ela seja fixada unilateralmente em desrespeito ao modelo constitucional do processo civil.Embora o dispositivo de lei admita, para a execuo, um caso de legitimao extraordinria, a circunstncia de ela se verificar supervenientemente, isto , aps a formao do ttulo executivo e, mais do que isto, j iniciada a execuo em face de quem havia sido indicado como devedor no ttulo executivo, impe a prvia citao dos demais responsveis para que, em consonncia com o modelo constitucional do processo civil, a ampliao subjetiva do ttulo executivo os novos contornos da certeza da obrigao nele retratada seja legitimamente realizada. importante frisar a concluso: a circunstncia de a lei admitir que, ao longo da execuo, algum diferente do que consta do ttulo executivo venha a ser convocado para responder pela dvida contrada por outrem (e j suficientemente reconhecido como devedor no ttulo executivo) no pode significar que o redirecionamento da execuo possa dar-se sem observncia das mnimas garantias, impostas desde a Constituio Federal, para a atuao do Estado-juiz. inconcebvel, em um Estado Democrtico e de Direito, que algum seja privado de seus bens sem o devido processo legal (art. 5, LIV, da Constituio Federal), que a algum que se imputa o pagamento de uma dvida, um litigante, portanto, no seja concedido o direito ao amplo contraditrio e ampla defesa (art. 5, LV, da Constituio Federal).A no se pensar que seja possvel o exerccio desta cognio e, para tanto, suficiente que, no mesmo processo, na mesma ao, no mesmo procedimento e nos mesmos autos, observe-se o modelo constitucional do processo civil e que, consequentemente, a situao de legitimao extraordinria quereria significar, no mbito da execuo, mera descoincidncia entre quem consta do ttulo executivo e aquele sobre o qual se pretende praticar atos executivos, seria correto o entendimento de que qualquer um que no conste do ttulo seria legitimado extraordinrio para a execuo, o que no pode ser admitido. Deve haver, sempre, contemporaneamente constituio do ttulo ou supervenientemente a ela, uma justificativa plausvel para a prtica dos atos executivos. Justificativa esta, vale insistir, que decorre do prprio ttulo executivo e/ou de seus complementos.Para alm desta justificativa plausvel, o problema j no de mera legitimidade, de mrito, pertence, portanto, no mais ao plano processual mas, nesta perspectiva de anlise, ao plano material. Com um mnimo de razo plausvel e colhida com ateno ao modelo constitucional do processo civil, h, para os fins do direito processual civil, legitimidade passiva, sendo legtima a liberao consequente da prtica de atos executivos. esta a funo desempenhada pelas condies da ao inclusive no mbito da execuo, forte no papel desempenhado pelo ttulo executivo. Saber se efetivamente o direito material permite a execuo, dizer, se h mesmo dvida e/ou responsabilidade, questo atinente ao mrito. O juiz precisa, desde que devidamente provocado para tanto, apreciar especificamente esta questo e atest-la existente (validando os atos executivos) ou inexistente (no autorizando mais a prtica dos atos executivos).Mesmo para aqueles que no concordem com as afirmaes do pargrafo anterior, o que constante e o que varia em uma e em outra corrente de pensamento, vale a nfase, a forma da desconsiderao da personalidade jurdica nos processos j em curso a necessidade da observncia do modelo constitucional do processo civil a ponto, at mesmo, de dispensar o prvio contraditrio e a prvia ampla defesa nos casos em que houver, justificadamente, urgncia na prtica dos ato