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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Comunicação O DISCURSO DA MÍDIA SOBRE A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO (TdL): O ESTUDO DE CASO DA REVISTA VEJA E DOS JORNAIS O GLOBO E FOLHA DE S. PAULO Autora: Núbia Maria da Silva Orientadora: Profª. Dra. Cosette Espíndola de Castro Brasília - DF 2014

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Comunicação

O DISCURSO DA MÍDIA SOBRE A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO (TdL): O ESTUDO DE CASO DA

REVISTA VEJA E DOS JORNAIS O GLOBO E FOLHA DE S. PAULO

Autora: Núbia Maria da Silva Orientadora: Profª. Dra. Cosette Espíndola de Castro

Brasília - DF 2014

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NÚBIA MARIA DA SILVA

O DISCURSO DA MÍDIA SOBRE A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO (TdL): O ESTUDO DE CASO DA REVISTA VEJA E DOS JORNAIS O GLOBO E FOLHA DE S. PAULO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Comunicação da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Comunicação. Orientadora: Profa. Dra. Cosette Espíndola de Castro

Brasília 2014

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5cm

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

S586d Silva, Núbia Maria da.

O discurso da mídia sobre a Teologia da Libertação (TdL): o estudo de caso da revista Veja e dos jornais O Globo e Folha de São Paulo. / Núbia Maria da Silva – 2014.

233 f.; il.: 30 cm Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2014. Orientação: Profa. Dra. Cosette Espíndola de Castro 1. Comunicação. 2. Mídia impressa. 3. Pensamento religioso. 4. Teologia

da libertação. 5. América Latina. I. Castro, Cosette Espíndola de, orient. II. Título.

CDU 316.77

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Dedico este trabalho a minha família, especialmente aos meus irmãos: Marcus Venícius, Paulo Sérgio, Carlos Baldoino, Izaura Maria, João Quirino, Amaury Júnior e Lucienne Silva e à amiga Maria da Conceição Viana de Almeida, figuras expressivas no discurso libertador junto às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), além de grandes aniamadores para continuação da pesquisa.

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AGRADECIMENTOS

À professora doutora Cosette Castro que, de forma profissional, competente, criativa,

dinâmica e acolhedora orientou este estudo como luz a clarear cada passo dele e como peça

fundamental, fornecendo dados e referências para fechar a edição da pesquisa: O Discurso da

Mídia sobre a Teologia da Libertação: o estudo de caso da Revista Veja e dos Jornais O Globo e

Folha de S. Paulo.

Aos professores doutores Roberval José Marinho e João José Curvello pela competência

profissional e importantes observações na banca de qualificação.

Aos professores do Mestrado em Comunicação da Universidade Católica de Brasília,

como agradecimento pelas discussões, pelos debates e seminários em sala de aula que

contribuíram, sobremaneira, para dar corpo à pesquisa.

Ao professor Alexandre Keilling um agradecimento especial pela importante contribuição

nos estudos em sala de aula, norteando o referencial teórico para a revisão de conceitos:

Comunicação, Mídia e Poder.

Aos teólogos da Teologia da Libertação e, de modo especial, ao teólogo professor doutor

convidado que se disponibilizou em fazer parte da banca de defesa desta dissertação Benedito

Ferraro.

Aos biblistas, missionários e teólogos da espiritualidade libertadora Pe. Fausto Beretta,

Pe. Pirmin Spieger, Frei Dionísio Ricieri, Frei Vitório Mazzuco, Frei Jaime Bezus e Pe. Antônio

Dal Masso que indicaram referências bibliográficas e incentivaram para a realização da pesquisa.

Ao padre Vitor Manuel Beco Anciães, por ter dado apoio técnico ao trabalho e força para

continuar nos momentos de desânimo nocivo à continuação dos estudos.

Ao Centro de Documentação e Informação (CDI) da Conferência Nacional dos Bispos do

Brasil (CNBB) que disponibilizou o acervo documental durante meses de pesquisa sobre o tema.

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Ao bispo Dom Luís D´Andrea (in memória) pelo incentivo à pesquisa e pela crença na

validade do tema para a atualidade, financiando os estudos, até fazer sua páscoa definitiva em 8

de setembro de 2012.

Ao teólogo precursor da Teologia da Libertação no Brasil e na América Latina José

Comblin (in memória), que sugeriu e incentivou a realização deste trabalho, oferecendo

documentos valiosos, entrevistas, registros em longos discursos com a autora da pesquisa,

resultando importantes referências para fundamentação teórica no intuito de incentivar novas

gerações a conhecerem e estudarem o discurso da Teologia da Libertação.

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"Os pobres são a verdadeira Igreja, o verdadeiro povo de Deus ainda que a sua presença no sistema religioso possa ser muito fraca”. Mas Jesus sabe reconhecê-los e os integra no seu corpo como o verdadeiro povo de Deus. Jesus luta pela sua libertação no meio deles" (José Comblin).

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RESUMO

SILVA, Núbia Maria. O DISCURSO DA MÍDIA SOBRE A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO (TdL): O ESTUDO DE CASO DA REVISTA VEJA E DOS JORNAIS O GLOBO E FOLHA DE S. PAULO. 2014. 233f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2014.

Esta dissertação resulta do estudo do discurso da mídia sobre a Teologia da Libertação nos anos 1980. Contém análise de títulos/chamadas/leads das notícias, reportagens, entrevistas etc. produzidos pela revista Veja na década inteira e pelos jornais O Globo e Folha de S. Paulo nos meses de setembro e outubro de 1984, períodos de tensão entre as alas progressista e conservadora da Igreja Católica, que divergiam acerca dos fatos relacionados ao processo instalado, desde 1982, contra o frei Leonardo Boff. Após a publicação de seu livro Igreja: Carisma e Poder, o teólogo foi levado a julgamento na Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, culminando com sua condenação (“silêncio obsequioso”). O método utilizado é Análise do Discurso, de corrente francesa, com contribuição do método Histórico. A metodologia colabora para articular o campo religioso (Igreja Católica/Teologia da Libertação), o contexto politico e social da época e o discurso da mídia impressa selecionada. Essa articulação em três níveis mostra a posição dos três meios de comunicação e identifica quem fala e quem deve silenciar no contexto histórico-político em que as análises se cruzam. Palavras-chave: Comunicação. Mídia. Discurso religioso. Teologia da Libertação. América Latina.

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ABSTRACT

This dissertation follows the study of media discourse about liberation theology in the 1980s. Contains analysis of titles / calls / leads of news, reports , interviews etc. . produced by “Veja” magazine in the entire decade and the newspapers “O Globo” and “Folha de S. Paulo” in September and October 1984 , periods of tension between the progressive and conservative sectors of the Catholic Church, which diverged about the facts related to the installed process, since 1982, against the priest Leonardo Boff . After the publication of his book “Church: Charism and Power”, the theologian was brought to trial in the Sacred Congregation for the Doctrine of the Faith, that condemned him ("obsequious silence ") . The method used is this dissertation is the Discourse Analysis, inspired to the French school, with contributions from the Historical Method . The methodology contributes to articulate the religious field (Catholic Church / Theology of Liberation) , the social and political context of that period and the discourse of the press media selected . This articulation on three levels shows the position of the three media and identifies who speaks and who should silence in the historical - political context in which the analyzes are applied.

Keywords : Communication. Media. Religious discourse. Liberation Theology. Latin America.

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 – Jornal Aconteceu, nº 475, p.15, out. 1985.................................................................24

Imagem 2–Jornal Aconteceu, nº 475, p.16 , out. 1985..................................................................24

Imagem 3 – Jornal Folha de S. Paulo. Caderno Exclusivo, p.13, 31 ago. 1984............................56

Imagem 4 – Título//Chamada – Reportagem da Revista Veja publicada em 5/9/1984. ...............81

Imagem 5 – Título/Chamada/Lead – Notícia publicada no Jornal O Globo em 16/9/1984..........82

Imagem 6 – Título/Lead – Reportagem publicada no Jornal Folha de S. Paulo em 23/9/1984....82

Imagem 7 – Título – Notícia publicada no Jornal O Globo em 2/10/1984...................................84

Imagem 8 – Título/Chamada - Reportagem publicada na Revista Veja em 26/10/1998..............86

Imagem 9 – Título/Chamada - Reportagem publicada na Revista Veja em 2/1/1980................100

Imagem 10 – Título/Chamada/Lead – Reportagem publicada na Revista Veja em 13/9/1989...103

Imagem 11 – BOX da reportagem “Vocações Extintas no Recife”, publicada na Revista Veja em 13/9/1989. ................................................................................................................................... 106

Imagem 12 – Título – Reportagem publicada no Jornal O Globo em 28/9/1984........................107

Imagem 13 – Título – Reportagem publicada no Jornal Folha de S. Paulo em 30/9/1984.........108

Imagem 14 – Título – Reportagem publicada na Revista Veja em 28/9/1988............................111

Imagem 15 – Título/Chamada – Reportagem publicada na Revista Veja em 22/8/1984............117

Imagem 16 – Título/Chamada/Lead – Entrevista publicada na Revista Veja em 9/1/1985........134

Imagem 17 – Editorial Cartas - Carta da leitora Ivone Vieira (São Paulo), publicada na Revista Veja em 23/11/1985......................................................................................................................137

Imagem 18 – Título – Reportagem publicada no Jornal Folha de S. Paulo em 25/9/1984.........140

Imagem 19 – Publicação no Jornal O Globo do Documento: “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação” em 30/8/1984 .......................................................................................162

Imagem 20 - Título/Chamada/Lead da Entrevista com o cardeal Agnelo Tossi publicada na Revista Veja, páginas amarelas, em 27/5/1981............................................................................177

Imagem 21 – Lead – Notícia publicada no Jornal O Globo em 28/9/1984.................................179

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Imagem 22 – Cartas dos Leitores - publicada no Jornal O Globo em 12/9/1984, assinada por Sílvio Elias, Rio. ..........................................................................................................................180

Imagem 23 – Lead - Notícia publicada no Jornal Folha de S. Paulo em 4/10/1984..................183

Imagem 24 – Título – Reportagem publicada no Jornal O Globo (chamada de capa) em 2/10/1984......................................................................................................................................187

Imagem 25 – Título – Notícia publicada no Jornal Folha de S. Paulo em 25/10/1984...............194

Imagem 26 – Título/Lead – Reportagem publicada no Jornal Folha de S. Paulo em 22/10/1984....................................................................................................................................202

Imagem 27 – Título/Chamada – Reportagem publicada na Revista Veja em 21/3/1984. ..........203

Imagem 28 – Título – Reportagem publicada na Revista Veja em 27/3/1985. .........................205

Imagem 29 – Título – Reportagem publicada na Revista Veja em 15/5/2013. ..........................206

Imagem 30 – Trecho da reportagem publicada na Revista Veja em 15/3/2013..........................207

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Fragmentos da defesa dos teólogos publicada no Jornal Folha de S. Paulo. Caderno Exclusivo, 31/8/1984......................................................................................................................59 Quadro 2 – Título..........................................................................................................................85

Quadro 3 – Passos da Análise.......................................................................................................88

Quadro 4 – Título/Chamada/Lead...............................................................................................101

Quadro 5 - Título/Chamada/Lead...............................................................................................104

Quadro 6 - Título/Lead................................................................................................................109

Quadro 7 – Revista Veja – Ano de 1980. ...................................................................................114

Quadro 8 – Revista veja – Ano de 1981. ....................................................................................114

Quadro 9 – Revista Veja – Ano de 1982. ...................................................................................114

Quando 10 - Revista Veja – Ano de 1983. .................................................................................115

Quadro 11 - Revista Veja – Ano de 1984. .................................................................................115

Quadro 12 - Revista Veja – Ano de 1985. .................................................................................115

Quadro 13 - Revista Veja – Ano de 1986. .................................................................................115

Quadro 14 - Revista Veja – Ano de 1987...................................................................................116

Quadro 15 - Revista Veja – Ano de 1988...................................................................................116

Quadro 16 - Revista Veja – Ano de 1989. .................................................................................116

Quadro 17 – Publicação Revista Veja. ......................................................................................118

Quadro 18 - Publicação Revista Veja. .......................................................................................119

Quadro 19 - Publicação Revista Veja. .......................................................................................119

Quadro 20 - Publicação Revista Veja.........................................................................................120

Quadro 21 - Publicação Revista Veja. .......................................................................................120

Quadro 22 - Publicação Revista Veja. .......................................................................................121

Quadro 23 - Publicação Revista Veja. .......................................................................................121

Quadro 24 - Publicação Revista Veja.........................................................................................122

Quadro 25 - Publicação Revista Veja.........................................................................................122

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Quadro 26 - Publicação Revista Veja.........................................................................................123

Quadro 27 - Publicação Revista Veja.........................................................................................123

Quadro 28 - Publicação Revista Veja.........................................................................................124

Quadro 29 - Publicação Revista Veja.........................................................................................124

Quadro 30 - Publicação Revista Veja.........................................................................................125

Quadro 31 - Publicação Revista Veja.........................................................................................125

Quadro 32 - Publicação Revista Veja.........................................................................................126

Quadro 33 - Publicação Revista Veja.........................................................................................126

Quadro 34 - Publicação Revista Veja.........................................................................................127

Quadro 35 - Publicação Revista Veja.........................................................................................127

Quadro 36 - Publicação Revista Veja.........................................................................................128

Quadro 37 - Publicação Revista Veja.........................................................................................128

Quadro 38 - Publicação Revista Veja.........................................................................................129

Quadro 39 - Publicação Revista Veja.........................................................................................130

Quadro 40 - Publicação Revista Veja.........................................................................................130

Quadro 41 - Publicação Revista Veja.........................................................................................131

Quadro 42 - Publicação Revista Veja.........................................................................................131

Quadro 43 - Publicação Revista Veja.........................................................................................132

Quadro 44 - Título/Chamada/Lead. ...........................................................................................134

Quadro 45 – Palavras: Igreja/Teologia da Libertação/Marxismo. .............................................136

Quadro 46 – Folha de S. Paulo – Setembro de 1984..................................................................141

Quadro 47 – Folha de S. Paulo – Outubro de 1984....................................................................141

Quadro 48 – Publicação - Folha de S. Paulo - Setembro de 1984..............................................142

Quadro 49 – Publicação - Folha de S. Paulo - Setembro 1984...................................................143

Quadro 50 – Publicação - Folha de S. Paulo - Setembro de 1984..............................................143

Quadro 51 - Publicação - Folha de S. Paulo - Setembro de 1984...............................................144

Quadro 52 - Publicação - Folha de S. Paulo - Setembro de 1984...............................................144

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Quadro 53 - Publicação - Folha de S. Paulo - Setembro de 1984...............................................145

Quadro 54 - Publicação - Folha de S. Paulo - Setembro de 1984...............................................145

Quadro 55 - Publicação - Folha de S. Paulo - Setembro de 1984...............................................146

Quadro 56 - Publicação - Folha de S. Paulo - Setembro de 1984...............................................146

Quadro 57 - Publicação - Folha de S. Paulo - Setembro de 1984...............................................147

Quadro 58 - Publicação - Folha de S. Paulo - Setembro de 1984...............................................147

Quadro 59 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984................................................148

Quadro 60 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................148

Quadro 61 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................148

Quadro 62 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................149

Quadro 63 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................149

Quadro 64 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................150

Quadro 65 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................150

Quadro 66 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................151

Quadro 67 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................151

Quadro 68 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................152

Quadro 69 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................152

Quadro 70 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................152

Quadro 71 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................152

Quadro 72 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................153

Quadro 73 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................153

Quadro 74 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................153

Quadro 75 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................154

Quadro 76 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................154

Quadro 77 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................155

Quadro 78 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................155

Quadro 79 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................156

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Quadro 80 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................156

Quadro 81 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................157

Quadro 82 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................157

Quadro 83 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................157

Quadro 84 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................158

Quadro 85 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................158

Quadro 86 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................159

Quadro 87 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................159

Quadro 88 - Publicação - Folha de S. Paulo - Outubro de 1984.................................................159

Quadro 89 – O Globo - Setembro de 1984..................................................................................164

Quadro 90 - O Globo - Outubro de 1984...................................................................................164

Quadro 91 – O Globo - Total Geral das Publicações Setembro/Outubro de 1984....................164

Quadro 92 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984.............................................................165

Quadro 93 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984.............................................................166

Quadro 94 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984.............................................................166

Quadro 95 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984.............................................................166

Quadro 96 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984.............................................................167

Quadro 97 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984.............................................................167

Quadro 98 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984.............................................................167

Quadro 99 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984.............................................................168

Quadro 100 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984...........................................................168

Quadro 101 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984...........................................................169

Quadro 102 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984...........................................................169

Quadro 103 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984...........................................................169

Quadro 104 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984...........................................................170

Quadro 105 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984...........................................................170

Quadro 106 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984...........................................................171

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Quadro 107 - Publicação - O Globo - Setembro de 1984...........................................................171

Quadro 108 - Publicação - O Globo - Outubro de 1984.............................................................172

Quadro 109 - Publicação - O Globo - Outubro de 1984.............................................................172

Quadro 110 - Publicação - O Globo - Outubro de 1984.............................................................172

Quadro 111 - Publicação - O Globo - Outubro de 1984.............................................................173

Quadro 112 - Publicação - O Globo - Outubro de 1984.............................................................173

Quadro 113 - Publicação - O Globo - Outubro de 1984.............................................................173

Quadro 114 - Publicação - O Globo - Outubro de 1984.............................................................174

Quadro 115 - Publicação - O Globo - Outubro de 1984.............................................................174

Quadro 116 - Geral das Palavras-Chave (Veja/Folha de S. Paulo/O Globo)..............................176

Quadro 117 - Exemplo 1 (Título/Chamada/Lead)......................................................................176

Quadro 118 - Exemplo 2 (Lead).................................................................................................179

Quadro 119 - Exemplo 3 (Título/Lead)......................................................................................182

Quadro 120 - (Título)..................................................................................................................190

Quadro 121 - (Título/Lead).........................................................................................................194

Quadro 122 - (Título/Chamada)..................................................................................................203

Quadro 123 – Trecho da Reportagem da Revista Veja (15/3/2013)...........................................208

Quadro 124 – Publicações Folha de S. Paulo (Meses: março a julho de 2013) - Teologia da Libertação.....................................................................................................................................209

Quadro 125 - Publicações O Globo (Meses: março a julho de 2013) - Teologia da Libertação.....................................................................................................................................211

Quadro 126 - Publicações Veja (Meses: março a julho de 2013) - Teologia da Libertação.....................................................................................................................................212

Quadro 127 - Trabalho: “A Juventude da Teologia da Libertação” (Título/Autor/Periódico/Instituição/País/Resumo/Palavras-Chave).............................................213

Quadro 128 - Trabalho: “Diferentes olhares, diferentes pertenças: Teologia da Libertação e MRCC” (Título/Autor/Periódico/Instituição/País/Resumo/Palavras-Chave)..............................213

Quadro 129 - Trabalho: “Atualidade da Teologia da Libertação” (Título/Autor/Periódico/Instituição/País/Resumo/Palavras-Chave).............................................214

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Teologia da Libertação como plataforma para surgimento de vários movimentos....................................................................................................................................64

Gráfico 2 – Panorama dos fatos e acontecimentos marcantes: Mídia/Comunicação/Igreja/Política/Sociedade – Década de 80, do Século XX............................70

Gráfico 3 – Contexto Histórico Geral – Teologia da Libertação (Meses: setembro e outubro/1984).................................................................................................................................97

Gráfico 4 – Processo aplicado ao Discurso Informativo.............................................................101

Gráfico 5 – Revista Veja (Década 80).........................................................................................134

Gráfico 6 – Palavras-Chave no Jornal Folha de S. Paulo nos meses: setembro e outubro de 1984..............................................................................................................................................160

Gráfico 7 – Palavras-Chave no Jornal O Globo (Meses: setembro e outubro de 1984) ......................................................................................................................................................176

Gráfico 8 – Utilização das Figuras de Linguagem: Quiasmo/Merismo no título/Lead do Quadro 121................................................................................................................................................195

Gráfico 9 – Alvo das Mídias: Veja/Folha de S. Paulo/O Globo..................................................217

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LISTA DE SIGLAS

ALN – Ação Libertadora Nacional.

AI-5 – Ato Institucional Nº 5.

APNs – Agentes de Pastoral Negros

CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

CF – Campanha da Fraternidade.

CIMI – Conselho Indigenista Missionário.

CEBI – Centro de Estudo Bíblico.

CELAM – Conferência Episcopal Latino-Amaricana.

CEBs – Comunidades Eclesiais de Base.

CPT – Comissão Pastoral da Terra.

CRB – Conferência dos Religiosos do Brasil.

FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

FSM – Fórum Social Mundial.

GTs – Grupo de Trabalhos.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

ILET – Instituto Latino-Amaricano de Estudos Transnacionais.

MRCC – Movimento de Renovação Carismática Católica.

MEB – Movimento de Educação de Base.

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

NOMIC – Nova Ordem Mundial de Informação e Comunicação.

Mopp/Brasil – Missão Operária São Paulo e São Pedro no Brasil.

OFM – Ordem dos Frades Menores.

PASCOM – Pastoral da Comunicação.

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PDS – Partido Democrático Social.

PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro.

PT – Partidos dos Trabalhadores.

PNCs – Políticas Nacionais de Comunicação.

TICs – Tecnologias da Informação e de Comunicação.

TdL – Teologia da Libertação.

UCA – Universidade Centro Americana.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 22

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................................. 33

CAPÍTULO 1 - TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO (TdL) ...................................................... 43

1.1 NASCIMENTO ................................................................................................................... 43

1.1.1 Situação Social no Brasil e na América Latina ......................................................... 43

1.1.2 A procura de uma resposta cristã à desigualdade .................................................... 46

1.1.3 Primeiros passos .......................................................................................................... 47

2.2 IDADE ADULTA DA TdL ................................................................................................. 49

2.2.1 Principais figuras......................................................................................................... 49

2.2.2 As CEBs ........................................................................................................................ 50

2.2.3 Plataforma de manifestações e conquistas sociais .................................................... 51

3.3 DECLÍNIO DA TdL ............................................................................................................ 53

3.3.1 Reação das autoridades eclesiásticas ......................................................................... 53

3.3.2 Juízo Crítico sobre a TdL ........................................................................................... 54

3.3.3 A TdL na mídia .......................................................................................................... 55

3.3.4 Teologia da Libertação hoje - primeiras percepções ............................................... 60

CAPÍTULO 2 - COMUNICAÇÃO E TEOLOGIA ................................................................ 63

2.1 A COMUNICAÇÃO NA AMÉRICA LATINA ................................................................. 63

2.2 RELAÇÃO ENTRE COMUNICAÇÃO E TEOLOGIA ..................................................... 69

CAPITULO 3 - A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO A PARTIR DA ÓTICA DA ANÁLISE DO DISCURSO ......................................................................................................... 76

3.1 ANÁLISE DO DISCURSO ................................................................................................. 78

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3.2 MÉTODO HISTÓRICO-GRAMATICAL: UMA CONTRIBUIÇÃO................................ 87

3.3 DISCURSO DA MÍDIA: PRODUÇÃO DO SENTIDO ..................................................... 96

3.4 PRODUTO: CONDIÇÃO DE PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO ............................... 110

3.5 REVISTA VEJA ................................................................................................................ 113

3.6 FOLHA DE S. PAULO ..................................................................................................... 137

3.7 O GLOBO .......................................................................................................................... 161

CAPITULO 4 - DISCURSO, PODER E RELIGIÃO ........................................................... 185

4.1 SOBRE O DISCURSO ...................................................................................................... 185

4.2 CONCEITO DE PODER PARA FOUCAULT ................................................................. 191

4.3 RELIGIÃO CATÓLICA / IGREJA CATÓLICA ............................................................. 197

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 215

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 222

ANEXOS DIGITALIZADOS ................................................................................................... 229

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22

INTRODUÇÃO

No ano de 1975, a Igreja do Brasil iniciou uma reflexão sobre a Teologia da Libertação

(TdL), resultado da publicação do livro “Teologia da Libertação: Perspectivas”, do teólogo

peruano Gustavo Gutiérrez. Essa opção pelos pobres está diretamente relacionada à minha

escolha por pesquisar a Teologia da Libertação no Mestrado em Comunicação na Universidade

Católica de Brasília.

Em 1980, esta pesquisadora atuava no movimento da Igreja Católica: Juventude

Franciscana (JUFRA) em Teresina-PI, sensível às questões do “pobre” e às “causas” geradoras

de pobreza. Muitas das informações que chegavam até lá eram “clandestinas”, único jeito de

trabalhar num regime de repressão militar. Em 80 também foi publicado o Documento de

Puebla1: um “discurso sistemático e metódico sobre a compreensão da fé” (PUEBLA,

Introdução 1, p.55, 1979). Ao estudar esse texto em que há uma clara “opção preferencial pelos

pobres”, estava presente, como pano de fundo, a vida de São Francisco de Assis2.

Em 1982, eleita para coordenar o Departamento de Comunicação e Relações Públicas da

Juventude Franciscana (JUFRA/TE), intensifiquei a leitura de jornais permitidos e

“clandestinos”. Deles se recortaram as passagens (políticas, sociais e religiosas) mais

importantes que interessavam a este trabalho. As notícias sobre a ditadura de Pinochet no Chile e

a Teologia da Libertação eram as que mais movimentavam os jovens. O jornal “Aconteceu”,

(Cfr. Imagens 1 e 2), feito de recortes, era a voz do bispo da Teologia da Libertação (TdL),

Pedro Casaldáliga, da Prelazia de São Félix do Araguaia-MT.

1 Documento de Puebla: Documento fruto da III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, inaugurada pelo Papa João Paulo II e realizada no Seminário Palafoxiano da cidade mexicana de Puebla de los Angeles, entre os dias 27 de janeiro e 13 de fevereiro de 1979. Disponível: http://pt.wikipedia.org/wiki/Terceira_Confer%C3%AAncia_Geral_do_Episcopado_Latino-Americano. Acesso em: 18 out. 2012. 2 São Francisco de Assis – “Nasceu em Assis (Itália), no ano de 1182. Depois de uma juventude leviana converteu-se a Cristo,

renunciou a todos os bens paternos e entregou-se inteiramente a Deus. Abraçou a pobreza para seguir mais perfeitamente o exemplo de Cristo e pregava a todos o amor de Deus. Formou os seus companheiros com normas excelentes, inspiradas no Evangelho, que foram aprovadas pela Sé Apostólica. Fundou também uma ordem de religiosas (Clarissas) e uma ordem de Penitentes Seculares; e promoveu a pregação da fé entre os infiéis. Morreu em 1226”. Liturgia das Horas: Dia de São Francisco.

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Imagem 1 - Jornal Aconteceu Imagem 2 – Jornal Aconteceu

Fonte: Jornal Aconteceu, nº 475, out.1988, p. 15-16

Aquele tempo de engajamento com os movimentos populares, comprometidos com a

causa social e a “opção pelos pobres”, assumida – em parte – pela Igreja Católica favorecia, em

pequenas comunidades, o aparecimento de vocações para a vida religiosa consagrada3.

No ano de 1984, com o começo da abertura política, era comum encontrar nos jornais

matérias sobre os “teólogos da libertação”. O Vaticano, preocupado, advertia os teólogos acerca

da tentação pela visão marxista. Um encarte na Folha de S. Paulo intitulado: “Teólogos da

Libertação dão resposta ao Vaticano, em SP”, do dia 31 de agosto de 1984, depois reproduzido

pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), alargou a discussão, ampliando a necessidade de

conhecer melhor a Teologia da Libertação.

Em 1986, como religiosa missionária capuchinha4, participei das “Semanas Teológicas”

no Estado do Maranhão. A reflexão sobre a TdL estava presente e motivada pelos documentos

do Concílio do Vaticano II, Medellín e Puebla. Quase 10 anos depois, em 1995, coordenando 52

comunidades Eclesiais de Base (CEBs) na região da Cidade Operária, em São Luís (MA), senti o

profundo desejo de estudar Comunicação Social/Jornalismo no anseio de “ser uma voz dos sem

3 Vida Religiosa Consagrada - Com a expressão Vida Religiosa Consagrada nos referimos a certos cristãos – homens e mulheres – que vivem uma forma especial de seguimento a Jesus Cristo. Vivem em comunidade, cultivam a oração, meditam a Palavra de Deus. (...) Vida Consagrada é, pois, vida no seguimento de Cristo, que implica partilha de sua vida, seus riscos e esperanças, suas preocupações, seu projeto existencial, suas atitudes vitais e totais, entre elas, a da castidade, pobreza e obediência. Disponível em http://www.procasp.org.br/subsidios-vocacionais/curso-vocacional/14-animacao-vocacional/subsidios-vocacionais/curso-vocacional/18-7-a-vida-religiosa-consagrada Acesso em: 5 out. 2013. 4 Irmãs Missionárias Capuchinhas – Congregação religiosa fundada em 18 de dezembro de 1904 em Belém do Pará por Frei

João Pedro de Sexto São João, frade italiano da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (ofmCAP) e por cinco jovens brasileiras cofundadoras da Ordem Terceira Secular (OFS) para missão com a educação para crianças indígenas e filhos de migrantes nordestinos. Carisma: encarnar o franciscanismo no discipulado de Jesus Cristo e seu projeto missionário, servindo preferencialmente os mais pobres, com coragem, alegria e misericórdia. Disponível: http://www.irmasmissionariascapuchinhas.org/site/index.php/fundador/ Acesso em: 18 fev. 2014.

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vozes” e aproveitar o potencial da mídia contra as injustiças de que ainda são vítimas tantos

brasileiros.

Em 2000, tornei-me Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo,

na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Ao trabalhar em empresas de comunicação e

seguindo a política editorial, percebi, na prática, como funcionam os padrões da produção

cotidiana da imprensa empresarial. Depois, como jornalista autônoma, freelance, passei a

escrever para a “Revista Imprensa”, para jornais das “Pastorais Sociais” e para revistas

missionárias brasileiras e italianas.

Em conversa com o teólogo da libertação e escritor José Comblin, em 2008, contei sobre

o desejo de dar continuidade aos estudos e fazer o Mestrado. Desde aquela época queria

entender como o discurso da mídia havia tratado (construído e desconstruído) a Teologia da

Libertação nos anos 80. O teólogo Comblin sugeriu que a melhor forma seria que eu estudasse e

conhecesse profundamente a temática. Passei a fazer entrevistas com ele que, gentilmente, cedeu

cópias de documentos em que o conteúdo original não condizia com o da realidade. A ele devo o

estímulo e a ajuda com documentos para realizar este estudo.

A religião faz parte da sociedade, mas a mídia, segundo a literatura obtida, pauta sobre a

temática quando há visitas ao país de autoridades religiosas e ocorrem escândalos ou temas

ideológicos. Falar de teologia na mídia não é considerado tema de primeira linha, porém, tanto

no final da década de 70 como no início e durante toda a década de 80 do século XX, a mídia

brasileira começou a se interessar por uma teologia especial, a Teologia da Libertação, que se

mostrava diferente das demais. Começou a falar e a publicar artigos (coisa raríssima até então)

sobre teologia. Os teológos, normalmente esquecidos, começaram a ser capa de revistas e pauta

das grandes reportagens. Bispos e arcebispos da ala conservadora da Igreja Católica tornaram-se

personagens de entrevistas em primeira página das revistas de maior veiculação no país.

A pergunta inicial era: como os meios de comunicação podem discursar com tanta

autoridade sobre a Teologia da Libertação, se não a conhecem?

Essa questão, que precisava ser comprovada (o não conhecimento da mídia), foi um dos

fatores determinantes na escolha do recorte da pesquisa. Em primeiro lugar, a discussão que se

fazia dentro da Igreja sobre o tema, divulgado diariamente na imprensa nacional. Era novidade

ver estampados, nas primeiras páginas dos jornais do Brasil, não só os padres e bispos que

animavam as comunidades como também os jovens serem acusados de marxistas. O tema gerava

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questionamentos e aprofundamento sobre a Teologia da Libertação. Ao longo da década, fui

acumulando recortes de jornais com tal tema, além de outros temas afins (acervo pessoal). A

pergunta pertinente inquietava: Qual o discurso da mídia sobre a Teologia da Libertação?

Inúmeras reportagens abordavam o tema. A revista Veja deu cobertura à visita do Papa ao

Brasil em julho de 1980. Em uma das reportagens, do dia 2 de julho de 1980, a mídia discursara

com o título “A paz vaticana” e com a chamada: “Do bispo Sardinha ao cardeal Arns, não tem

sido no Vaticano que se resolvem as crises entre Igreja e Estado no Brasil”. Recorda-se aqui que,

nesse momento, governava o país o general Emilio Médici. A repressão policial às atividades

políticas geraram tensão para a ala progressista da Igreja Católica com o regime militar. A citada

reportagem elencava exemplos de tensões entre Igreja e Estado. Citava Dom Helder Câmara em

animosidade com o governo militar que envolveu a expulsão do teólogo da libertação José

Comblin, a partir da aplicação do método “Teologia da Enxada”5 no seminário de Pernambuco.

Tal conflito foi reportado pela Veja no início da década de 1980.

No final da década, no dia 13 de setembro de 1989, houve outra publicação na mesma

revista com o título: “vocações extintas no Recife” e com a chamada: “A Santa Sé fecha dois

seminários progressistas no Nordeste e desarticula o trabalho de dom Helder na região”. O texto

da reportagem está sendo analisado neste trabalho. Antes, gerou um artigo desta pesquisadora

que foi apresentado no INTERCOM em 2013 e publicado no livro “Comunicação, Mídias e

Liberdade de Expressão”, organizado pela professora Maria Cristina Castilho Costa6, da USP.

Ler tais reportagens provocava questionamentos, por isso, a escolha da revista Veja que, por ser

uma revista semanal, foi estudada durante toda a década de 1980.

A escolha dos jornais Folha de S. Paulo e O Globo, os dois maiores diários do país, foi

concentrada nos meses de setembro e outubro de 1984, meses em que se respirava o mesmo

clima de tensão dentro da Igreja Católica em meio às alas progressista e conservadora.

Reproduziam-se tais tensões nas comunidades de base em que havia o recorte temporal. Eram

frequentes as advertências e as tensões entre padres, bispos, religiosos/as e lideranças das 5 Teologia da Enxada - É um método pedagógico que excede as experiências dos seminários. É um método similar ao do Paulo

Freire. Aplicado à situação concreta da formação sacerdotal, para além da religião ou da fé cristã. Assume um caráter universal. Uma pedagogia que nasce na América Latina na década de 1960. É inaugurado por José Comblin (sacerdote belga fundador da Juventude Operária Católica (JOC) nos anos 1940). Considerada uma chave de leitura para compreender-se a necessidade de se reinventarem as pastorais sociais a partir do método “ver”, “julgar”, “agir’. Constitui a nova estratégia da teologia da libertação. A Editora Vozes publicou em 1978 o livro Teologia da Enxada, que apresenta os documentos originais da experiência na formação presbiteral. Disponível em: http://eduardohoornaert.blogspot.com.br/2012/12/a-teologia-da-enxada-quarenta-anos.html Acesso em: 1 de abr. de 2014. 6 Doutora da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP).

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Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), conhecidas como “Igreja dos Pobres”, publicadas em

jornais diários que condenavam o novo jeito de ser da Igreja nos meios populares.

As tensões na Igreja Católica eram divulgadas diariamente. Os textos eram recortados e

comentados nos encontros dos jovens, nas pastorais, nas reuniões em comunidade, nos círculos

bíblicos e nas semanas teológicas. O material da Folha de S. Paulo gerava a discussão. A

Comissão Pastoral da Terra (CPT) reproduziu a publicação do dia 31/8/84 para discussão interna.

Os teólogos refletiam sobre o documento do Vaticano: instruções sobre alguns aspectos da

Teologia da Libertação. Falava-se do mergulho na intensa miséria do país e do Continente latino-

americano.

Naquela época, os jovens do Movimento Franciscano (JUFRA) e as comunidades queriam

se informar sobre o porquê de o franciscano Leonardo Boff estar sendo julgado e acusado de

marxista e do porquê de a Teologia da Libertação estar condenada pelo Papa, como informava

diariamente a mídia. Gerou-se, portanto, um acirrado debate entre os jovens e as comunidades

leigas e religiosos/as com o questionamento: quem está falando a verdade? Para compreender

aquele momento, foi necessário desenvolver nesta pesquisa uma linha do tempo relacionando

mídia, política e igreja. Todas essas questões reforçaram a necessidade de estudar os discursos

das mídias.

Esta dissertação analisa os títulos/chamadas/leads dos artigos, notícias e reportagens

publicadas nos jornais O Globo, Folha de S. Paulo entre os meses de setembro e outubro de

1984, período específico da publicação do documento do Vaticano: “Instruções Sobre Alguns

Aspectos da Teologia da Libertação”. Também analisa as revistas Veja publicadas na década de

80. Trata-se do período em que ocorreram os acontecimentos de tensão entre as alas progressista

e conservadora da Igreja Católica.

Desde 1982, corria o processo contra o teólogo Leonardo Boff, com a publicação de seu

livro “Igreja: Carisma e Poder”. A Comissão Arquidiocesana para a Doutrina da Fé do Rio de

Janeiro criticara o livro no Boletim da Revista do Clero, em abril de 1982. Boff rebateu,

afirmando que a crítica continha graves erros de leitura e de interpretação. O fato foi levado a

julgamento na Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, e a obra foi notificada no dia 11 de

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março de 1985. O segundo acontecimento foi a divulgação do documento do Vaticano

“Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação” 7.

Ao definir que partes de cada mídia seriam objetos de estudo nos dois jornais e na revista

semanal, escolhi os títulos, as chamadas e os leads de artigos, notícias e reportagens publicados

na revista Veja, durante a década de 80, como também os títulos, as chamadas e os leads

publicados entre os meses de setembro e outubro de 1984 nos jornais O Globo e Folha de S.

Paulo.

Para ter-se uma ideia desse fenômeno, o tema Teologia da Libertação, só na revista Veja

na década de 80 apareceu em 35 reportagens especiais que ocuparam as primeiras páginas das

editorias de Religião, Igreja, Brasil, História e Educação. Entre as matérias/notícias, 11 eram

publicações e outras 11, Cartas ao Leitor. As primeiras páginas (amarelas) foram ocupadas com

nove entrevistas. A Editoria de Livros teve lançamento de obra com enfoque no tema; houve três

notas na Coluna Radar e reservou-se uma publicação em cada um dos espaços “Ponto de Vista”;

“Data” e “Cinema”, contabilizando um total de 76 publicações. Isso sem mencionar a estatística

de publicações nos outros veículos de grande circulação no Brasil, na mesma época, que

divulgaram o fenômeno religioso/social, fato que analiso no último capítulo da dissertação.

O objetivo que se pretende alcançar com a esta dissertação é conhecer o discurso

midiático construído sobre tal teologia. Busca-se avaliar se a Teologia da Libertação, tal como

formulada pelos seus teólogos fundadores, teve ou não um discurso distorcido pelos diferentes

meios. Vale ressaltar que a dissertação não é sobre Teologia (falar-se-á dela de forma transversal,

para esclarecer conceitos), mas sim sobre a comunicação e os estudos sobre mídia.

Neste empreendimento, pesquisei fontes bibliográficas sobre a Teologia da Libertação e

analisei os conteúdos dos jornais e das revistas, de forma quantitativa e qualitativa. A parte

quantitativa aparece nos dados – como os que aparecem acima – e nos quadros com os números

de matérias produzidas pelas mídias selecionadas ao longo do tempo. A qualitativa se revela nos

métodos Histórico e da Análise de Discurso francesa. A complexidade do projeto exigiu o

diálogo entre metodologias e a construção do texto que mostrasse a correlação entre o contexto

7 Instruções Sobre Alguns Aspectos da “Teologia da Libertação” – Documento do Vaticano da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19840806_theology-liberation_po.html. Acesso em: 1 nov. 2013. Publicado, também, na íntegra, na Folha de S. Paulo, 31 de agosto de 1984. Encarte “Exclusivo”. Páginas 14 e 15.

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social/político em que aparece a Teologia da Libertação na América Latina e no Brasil e o papel

da mídia naquele momento.

A pesquisa foi dividida em quatro capítulos. O primeiro trata da Teologia da Libertação

(TdL), desde o nascimento (contextos histórico/social/político/religioso) à procura de uma

resposta cristã à desigualdade. Ela tornou-se plataforma de manifestações e conquistas sociais

que alicerçaram as experiências das Comunidades Eclesiais de Base. O “declínio” foi sentido a

partir das reações das autoridades da ala conservadora da Igreja Católica sobre a visão crítica da

Teologia da Libertação aos sistemas de opressão social/político/religioso, instruindo-a aos riscos

e às formas de inserir tal teologia no pensamento marxista que poderia colocar em perigo a vida

cristã.

O segundo capítulo aborda a relação “Comunicação e Teologia”. Começa com o contexto

histórico da comunicação na América Latina. Recorda o desejo de se comunicar do ser humano,

desde os primórdios até a chegada da era digital. Os fios da história são tecidos no Panorama da

Comunicação/Mídia/Igreja/Política/Sociedade como uma teia que interliga seus fios. Conduzem a

história relatando a importância e os surgimentos de centros de estudos superiores em

comunicação e a contribuição do Instituto Latino Americano de Estudos Transnacionales (ILET)

com o objetivo de difundir a informação e democratizar a comunicação na Região. Coroou a

década de 80 o projeto, coordenado pela Unesco, de uma Nova Ordem Mundial da Informação e

Comunicação (NOMIC) que propunha a democratização da comunicação pela reorganização dos

fluxos globais de informação por meio de diversas ações de governo e do terceiro setor.

O capítulo trata também da relação entre comunicação e teologia. Aborda-se um estudo

sobre dois modos de conhecer Deus: um que excede a capacidade da razão (exemplo: Deus

Trino), outro que a própria razão pode provar (exemplo: existência de Deus). Dessas duas ordens

de verdades procedem, por sua vez, duas teologias. A essas duas formas de se conhecer Deus

correspondem também duas formas de comunicação. Recorda-se a “teologia narrativa”, utilizada

em certas regiões da América Latina e da África como o modelo que melhor se adapta à cultura

contemporânea, porque está centrada e orientada para a experiência humana da comunicação.

O terceiro capítulo, “Teologia da Libertação desenvolve-se pela ótica da Análise do

Discurso”, dedica-se à Análise do Discurso de corrente francesa aplicada nos textos

demonstrados e inseridos no corpo da dissertação e na linha do tempo (década de 80). O processo

do estudo, pela complexidade do tema, durou dois anos. Os recortes, na primeira fase, passaram

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pela Análise de Conteúdo (AC). O capítulo explica as etapas da análise com a contribuição do

método Histórico-Gramatical que ajuda a compreender o que o texto diz e quer dizer, sendo fiel a

ele. Há um quadro demonstrativo dos passos com uma das análises, afirmando para quem a mídia

fala e como fala da Teologia da Libertação. A produção de sentido é percebida no processo

aplicado ao discurso informativo, que, por sua vez, demonstram a linha editorial da revista Veja e

dos jornais Folha de S. Paulo e O Globo, com amostras das análises.

O quarto capítulo é a continuação do processo desse estudo, porém houve retomada dos

conceitos de discurso, poder, além de uma tentativa de conceito sobre religião, posição e

organização da Igreja Católica.

Nos dois últimos capítulos, encontram-se demonstrações das análises dos títulos,

chamadas e leads encontrados entre as três mídias estudadas (Veja/O Globo/Folha de S. Paulo).

Também aparecem exemplos (não analisados) de recortes, citados como ilustração das

explicações conceituais da pesquisa. São dois capítulos extensos devido ao rigor da própria

análise e à inserção dos dados na história e nos conceitos estudados dentro da década de 80,

quando as mídias abriram muito espaço à Teologia da Libertação. O produto informativo foi a

peça atrativa a representar: “Por que informar? Quem informa? Quais são as provas na ordem da

produção jornalística?” No decorrer do estudo encontram-se dados quantitativos (com gráficos,

quadros e esquemas ) que dialogam com a pesquisa qualitativa através dos recortes tecidos no

corpo dos capítulos.

Para construir a referência teórica dos capítulos mencionados, utilizei autores como

Libanio (2007), Gutièrrez (1975), Galilea (1979), Boff (1984/ 1985 /1996), Mesters (1990),

Comblin ((2008), além do apoio em Cabral (2011) e Richard (1984) para construir a trajetória

histórica da Teologia da Libertação. A TdL se inseriu na fase do pensamento ocidental como uma

teologia propriamente cristã plantada nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que utilizam a

Bíblia como pressuposto necessário de seus discursos no contexto da América Latina.

Sobressaíram os autores Castro (2005) e Barbero (2009), quando refletiram as

problemáticas das políticas públicas de comunicação na América Latina, onde se destacou a

grande contribuição do projeto da Nova Ordem Mundial de Comunicação (NOMIC) para a

democratização da informação. Berger (2012), Trigueiro (2011) e Hohlfeldt (2012) contribuíram

no caminho histórico da comunicação.

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Na relação comunicação e teologia, procurei destacar a pesquisa de Campos (2013) com

seus estudos sobre a “Suma Teológica”8, formas de conhecer Deus como uma forma de

comunicação. Díez (1997) contribuiu com o conceito “teologia narrativa”, utilizada em certas

regiões da América Latina e da África, modelo que melhor se adaptou à cultura contemporânea,

porque orientada para a experiência humana da comunicação.

Para a Análise do Discurso e a produção de sentido destacaram-se Orlandi (2010);

Verón (1984) apud CASTRO (2003). Charaudeau (2006), sustentando o processo do discurso

Informativo, deu uma grande contribuição com seus estudos “Discurso das Mídias”. Na condição

de produção e interpretação do discurso, novamente Charaudeau (2004), acompanhado de

Maingueneau (2004), contribuíram com o histórico do método da análise do discurso. Usa-se,

ainda, o apoio de outros pesquisadores nas reflexões, nas análises com dados e referências na

história.

A contribuição do método Histórico-Gramatical reservou-se a Kunz (2008) com a

classificação dos passos de análise: texto; contexto; tradução; análises, fato que ajudou a

discernir o que é e o que não é importante no texto em estudo, perguntando-se quais são as

pessoas, as ideias envolvidas e a localização do fato e qual o fundo histórico: descobrindo

palavras-chave no texto.

Quanto ao conceito de discurso, procurei estabelecer um diálogo entre os autores Foucault

(2009), Raunu (2008) e Comblin (1986). Para Foucault (2009), o conceito de discurso está

relacionado às interdições que o atingem e revelam sua ligação com o desejo e com o poder. O

discurso não é simplesmente aquilo que manifesta ou oculta o desejo, mas aquilo que traduz as

lutas ou os sistemas de dominação, o poder do qual se quer apoderar-se. O pesquisador finlandês

Raunu (2008), mediante as ideias do teólogo João Batista Libanio9, expôs pontos essenciais no

conceito de discurso a partir da Teologia da Libertação: qualidade teológica de um discurso;

8 Suma Teológica – É a obra de São Tomás de Aquino, teólogo dominicano e santo da Igreja Católica. A obra é um corpo de doutrina que se constitui numa das bases da dogmática (dogma) e considerada uma das principais obras filosóficas da escolástica. Foi escrita entre os anos de 1265 e 1273. Nessa obra, Aquino trata da natureza de Deus, das questões morais e da natureza de Jesus. Encontra-se dividida em três partes, com 512 questões. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Suma_Teol%C3%B3gica. Acesso em: 13 ago. 2013. 9 João Batista Libanio - Padre jesuíta, escritor e teólogo brasileiro. Seus estudos de Teologia Sistemática foram efetuados na Hochschule Sankt Georgen, em Frankfurt, Alemanha, onde estudou com os maiores nomes da teologia europeia. Possui mestrado e doutorado em teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG) de Roma. Foi Diretor de Estudos do Pontifício Colégio Pio Brasileiro em Roma, durante os anos do Concílio Vaticano II. Dedica-se ao magistério e à pesquisa teológica na linha da Teologia da Libertação. Autor de 125 livros, alguns editados em outras línguas. Foi assessor dos encontros das CEBs. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Batista_Libanio. Acesso em: 16 ago. 2013:

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relações hermenêuticas10 teológicas que o definem; realidade que é interpretada. Resultado: o

discurso teológico da práxis libertadora resgata e reforça o teológico já presente em todo o

processo de libertação.

Segundo Comblin (1986), o discurso evangelizador muda o ambiente, suscita forças

desconhecidas, levando pessoas a descobrirem que têm capacidades que nunca tinham

imaginado. É uma palavra (discurso) que abre horizontes à comunidade, cria comunicação e faz

com que as pessoas se tornem sensíveis ao povo de que fazem parte. Suscita projetos e cria nas

pessoas dedicação e sacrifício a uma causa superior. Usa a autoridade de Deus para pedir, com

insistência, uma vida de responsabilidade. Foi com a dinâmica nesse diálogo entre autores do

discurso com que se trabalhou tal conceito para auxiliar as análises, além do conceito da inserção

do conceito de poder para Foucault (1999) que possibilitou auxiliar na análise de um texto sobre

a forma de poder das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

A pesquisa oferece, também, em textos anexos, uma riqueza de informações que poderão

interessar tanto ao leitor leigo como aos estudiosos do tema e ainda ao mundo religioso. Entre os

anexos aparecem:

- Conceitos e Teorias estudaos; as páginas incriminadas do livro “Igreja: Carisma e Poder” do

teólogo Leonardo Boff;

- o documento do Vaticano: “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação”;

- a carta do cardeal Joseph Ratzinger da Congregação para a Doutrina da Fé do dia 11 de março

de 1985 com a notificação sobre o livro “Igreja: Carisma e Poder”;

- a cópia da publicação no jornal O Globo (30/8/84) do documento “Instruções sobre alguns

aspectos da Teologia da Libertação”;

- a carta do Núncio Apostólico no Brasil, Dom Carlo Furno, a Frei Leonardo Boff (30/8/1984);

- Texto original sobre a realidade continental da América Latina, enviado aos bispos reunidos em

Medellìn (Colômbia), em 1968, que se tornou o Documento Base de Medellìn (Notas sobre o

Documento Básico, do teólogo José Comblin);

- Jornal Diário de Pernambuco do dia 12 de junho de 1968. Caderno II, p. 6-7, com vistas a

comparar o discurso de tal mídia com o documento original enviado a Medellìn;

- Síntese da Linha do Tempo do processo histórico da Teologia da Libertação (décadas de 60 ao

Novo Milênio) – Vozes que falam e vozes que silenciam;

10 LIBANIO, João Batista. Teologia da Libertação. São Paulo: Loyola. 1987, p. 217.

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- Documento publicado na Revista Tempo e Presença e republicado no Jornal Aconteceu com

assinatura de diversas entidades e instituições ecumênicas sobre “Um processo de ataques contra

a Igreja que nasce do povo”;

- Recortes das notícias e das reportagens completas das mídias catalogadas e estudadas: Revista

Veja (década de 80) e Jornais O Globo e Folha de S.Paulo (meses setembro e outubro de 1984) e

do ano de 2013;

- Questões para reflexão teológica em preparação ao Fórum Mundial de Teologia e Libertação

em Túnis.

Nas Considerações Finais são apontadas, no itinerário percorrido, quatro paradas de

aprofundamento no estudo denominadas:

1) Parada das Palavras, que é a chave de leitura da pesquisa;

2) Parada da Teia, que mostra como são tecidas as articulações

Comunicação/Igreja/Político-Social;

3) Parada dos Alvos, onde aparece a categorização das palavras/alvos das mídias;

4) Parada das Vozes, que identifica quem fala e quem silencia naquele panorama histórico.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Reconhece-se nesta pesquisa uma visão transmetodológica11, ou seja, o estudo perpassa

áreas dos saberes sociológicos, linguísticos, filosóficos, antropológicos, psicológicos,

econômicos, políticos, históricos e comunicacionais, que ajudam a fundamentar o campo da

comunicação. A coleta de dados ocorre através da Análise do Discurso, de origem francesa, em

diálogo com o Método Histórico-Gramatical12, com o método da exegese13 e com a interpretação

dos textos da bíblia. O objetivo é encontrar o significado dos textos estudados sobre a base que

suas palavras expressam. Consideram-se as condições históricas (referindo-se ao contexto em que

os textos foram escritos) e a gramática (referindo-se à apuração do sentido dos textos mediante

estudo das palavras) em cinco passos: texto; contexto; tradução; análise e síntese à luz do

contexto histórico em que foram escritas.

A pesquisa procura identificar, por meio das palavras registradas no texto, a intenção do

autor ou do editorial/jornal. O método Histórico-Gramatical é realizado em três etapas e analisa,

segundo o contexto histórico: o que o texto diz, o que quer dizer, e o que quer dizer para o hoje.

De acordo com Kunz (2008), historicamente, em diversos momentos, o método teve seus

representantes, não só e especialmente na Reforma Protestante, como também atualmente.

A pesquisa é feita por referências bibliográficas e de sites, nos arquivos midiáticos, no

acervo pessoal da autora e na Biblioteca/Centro de Documentação e Informação da Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB (Brasília). Usa-se como técnica de análise a Análise do

Discurso. Nos anos 1970 (na França), conforme Charaudeau e Maingueneau (2004), a análise do

discurso era concebida como uma extensão da linguística. Articulando várias teorias (da língua,

do discurso, do inconsciente, das ideologias), ela foi frequentemente crítica em relação à “análise

de conteúdo” 14. Esse tipo de análise (de conteúdo) negligenciava o discurso como tal, como se as

11

TORRE , Alberto Efendy Maldonado Gómez de La. Produtos Midiáticos, Estratégias, Recepção. A Perspectiva transmetodológica. Unisinos. Disponível em: https://www.google.com.br/?gws_rd=cr&ei=3cChUrX5F9bJsQTuv4GgBw#q=transmetodologia . Acesso em: 5 dez. 2013. 12

KUNZ, Claiton André. Método Histórico-Gramatical: um estudo descritivo. Disponível em: http://portalfbp.weebly.com/uploads/6/5/7/9/6579080/metodo_historico-gramatical.pdf. Acesso em: 15 fev.2014. 13 Exegese – Interpretação crítica de um texto completo ou de parte das Escrituras Sagradas. É um exame detalhado do texto bíblico. É a busca da aplicação dos princípios da hermenêutica para chegar-se a uma definição correta do texto. Disponível em: http://exegeserbiblica.webnode.com.br/news/metodologia-historico-gramatical/. Acesso em: 15 fev. 2014. 14 Análise de Conteúdo – A análise de conteúdo constitui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. Essa análise, conduzindo a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura comum. Essa metodologia de pesquisa faz parte de uma busca teórica e prática, com um significado especial no campo das investigações sociais. Constitui-se em bem mais do que uma simples técnica de análise de dados, representando uma abordagem

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ideologias não se concretizassem também como sistemas de representações nos discursos e como

se a ordem do discurso e sua estrutura não comportassem implicação ideológica. A pesquisa

trabalha a análise dos discursos configurados nos textos estudados em jornais e revistas utilizando

o método da Análise do Discurso francesa.

Em termos metodológicos, é estudada a forma como alguns dos mais importantes veículos

de comunicação do país, Folha de S. Paulo, O Globo (no período de setembro a outubro de 1984)

e a revista Veja (na década de 1980), construíram o discurso sobre a Teologia da Libertação.

Para isso, conta-se com apoio de Orlandi (1999), Verón (1984) e Charaudeau (2006).

Através de Orlandi buscar-se-á compreender como os sentidos, os sujeitos e os

interlocutores nela se constituem. E com apoio de Verón (1984 apud CASTRO, 2003, p. 80)

sobre a produção de sentido em que os textos não se referem somente à escrita, e sim a tudo que

compõem de materiais significantes, como a escrita-imagem-sentido. Os textos não são guardiães

do próprio sentido, mas consequências do próprio confronto do sentido a partir da articulação de

matérias significantes. Castro (2003, p. 81) reforça o que afirma Verón (1984): não se analisa um

único texto. Analisam-se pelo menos dois, o próprio texto e outro escolhido para comparação; um

texto implícito, virtual, introduzido pelo analista sem que ele o saiba. A ideologia aparecerá como

um sistema de relações entre o texto e outro escolhido, porque o que constitui um texto são suas

diferenças com relação a outros textos. Já Charaudeau (2006) colabora com a pesquisa a partir do

conceito “efeito de verdade”, para perceber o que significa nas mídias.

O discurso citado é sempre enquadrado pelo discurso que o cita na materialidade

linguística. É sempre provocado de intenções. Para Charaudeau (2006), a teoria da análise do

discurso possibilita identificar os objetos de pesquisa que são analisados pela mídia para saber se

ela contempla ou negligencia determinadas fontes e o modo como isso é feito. Pela análise de

matérias, verifica-se se os discursos constituem elementos que denotam as circunstâncias em que

os fatos são contextualizados.

A análise crítica do discurso parte do estudo de transmissão e na legitimação de ideologias que colaboram para a neutralização de discursos, a respeito daquilo que é “normal” ou “essencial” no momento de definir um grupo social (CHARAUDEAU, 2006, p.29).

metodológica com características e possibilidades próprias. MORAIS, Roque. Análise de Conteúdo. Revista Educação. Vol. 22, nº 37. 1999, p. 7-32. Disponível em: http://cliente.argo.com.br/~mgos/analise_de_conteudo_moraes.html. Acesso em: 20 ago. 2013.

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Nesta dissertação são analisados os títulos/chamadas/leads dos artigos, notícias e

reportagens (publicadas nos jornais O Globo, Folha de S. Paulo entre os meses de setembro e

outubro de 1984 e na revista Veja, também publicadas na década de 80). Esse período se situa

antes e durante dois acontecimentos de tensão entre as alas progressista e conservadora da Igreja

Católica. O primeiro, o processo que corria desde 1982 contra o teólogo Leonardo Boff, com a

publicação de seu livro Igreja Carisma e Poder. A Comissão Arquidiocesana para a Doutrina da

Fé do Rio de Janeiro criticara o livro no Boletim da Revista do Clero, em abril de 1982. Boff

rebateu afirmando que a crítica continha graves erros de leitura e de interpretação. O fato foi

levado a julgamento na Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, sendo a obra notificada no

dia 11 de março de 1985. As páginas incriminadas aparecem no Anexo B e culminaram na

condenação (“silêncio obsequioso”) 15 do teólogo. O segundo acontecimento foi a divulgação do

documento do Vaticano as “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação” (Anexo

C). Tais conflitos caíram na mídia, ampliando a necessidade de conhecer melhor a Teologia da

Libertação.

Para compreender como foram entendidos pela mídia tais acontecimentos, realizou-se um

levantamento da quantidade de publicações veiculadas na década de 80 para as análises dos

títulos/chamadas/leads divididos nas seguintes categorias de matérias:

1) artigos;

2) notícias;

3) reportagens;

4) entrevistas.

Para ter-se uma ideia do fenômeno, com o tema Teologia da Libertação nas mídias, a revista

Veja veiculou 35 reportagens especiais que ocuparam as primeiras páginas das editorias:

Religião, Igreja, Brasil, História e Educação na década de 80. Entre as matérias/notícias, 11 eram

publicações, e outras 11, Cartas ao Leitor. As primeiras páginas (amarelas) cederam espaço para

nove entrevistas sobre a TdL. A Editoria de Livros teve lançamentos de obras com enfoque no

tema; houve três notas na Coluna Radar. Reservou-se uma publicação em cada um dos espaços

“Ponto de Vista”; “Data” e “Cinema”, contabilizando 76 publicações (Cfr. Quadros 7 a 16 do

Capítulo 5).

15 “silêncio obsequioso”: silêncio que se oferece, que se concede a alguém procurando ser benevolente com a pessoa a quem isso é pedido. Neste caso concreto, silêncio concedido pelo Vaticano ao teólogo Leonardo Boff no ano de 1984, solicitando-lhe um afastamento da pregação e da publicação de textos por um período de tempo determinado.

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Faz parte da análise a estatística de publicações de outros veículos de grande circulação,

como os jornais Folha de S. Paulo e O Globo. Este último divulgou, em 30 de agosto de 1984, o

vazamento do documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé sobre a Teologia da

Libertação: “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação”, que aparecem no

Anexo E. Entrou para o domínio público antes da publicação oficial pelo Vaticano no dia 3 de

setembro de 1984. Tal documento advertia os teólogos da tentação pela visão marxista. O fato

alargou a discussão entre as alas conservadora e progressista da Igreja Católica, um debate que

dividiu os católicos ainda em 1982.

A seleção dos meses de setembro e outubro de 1984 dos jornais O Globo e Folha estão

relacionados a esse período de disputa entre o pensamento progressista e a ala conservadora da

Igreja Católica e sua divulgação nos meios de comunicação. Para tanto, foram selecionadas 49

páginas de O Globo (setembro e outubro de 1984), com um a três recortes em cada página. Foram

publicadas 30 matérias e notícias na Editoria O País; 11 reportagens na Editoria Mundo; três

matérias/artigo assinados por bispos da ala conservadora da Ireja Católica; duas chamadas na

Capa; seis Box sobre o tema Teologia da Libertação, na Editoria País; três cartas dos leitores;

uma notícia na Editoria Grande Rio; duas notas e uma chamada no “Hoje na TV”. Ao todo foram

contabilizadas 59 publicações (Cfr. Quadros 89 a 91 do Capíulo 5), referindo-se ao tema

Teologia da Libertação.

Já na Folha de S. Paulo foram selecionados 56 recortes, publicados entre os dias 23 de

setembro a 31 de outubro de 1984. Entre eles, 29 matérias/reportagens na Editoria de Política; 13

notícias na Editoria Exterior; três artigos assinados (Alfredo Basi, Helio Pelegrino e Cândido

Mendes); dois Editoria Opinião/Carta dos Leitores; quatro matérias/Geral na Editoria Educação;

duas chamadas de capa; duas notas editoria Exterior/Geral e um editoral reportando o tema. (Cfr.

Quadros 46 e 47), referindo-se ao processo que levou ao encontro do teólogo Leonardo Boff, no

dia 8 de setembro de 1984, com a Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano (Anexo F) da

Carta do Núncio Apóstólico no Brasil Dom Carlo Furno a Leonardo Boff com a polêmica

apontada no livro “Igreja: Carisma e Poder”. Entrou para julgamento o Capítulo V do livro citado

sobre “a questão da violação dos direitos humanos dentro da Igreja” (BOFF, 1981, p. 58 e 71),

que afirmava ser a atual estrutura de poder na Igreja devedora de representações de poder que

possuem séculos de existência e que nela convergiram, especialmente a experiência com o poder

romano e com a estrutura feudal.

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No levantamento do estado da arte, foram pesquisados periódicos publicados no Brasil e

no mundo, assim como artigos de dissertações de mestrado e teses de doutorado relativas ao

período 2001/2012. Foram encontradas oito publicações que se aproximavam, por ordem de

relevância, do tema desta pesquisa. Destas, apenas três colaboraram para a compreensão histórica

e da complexidade do tema, ajudando a entender o contexto da época e a delinear a linha do

tempo dos capítulos que se seguem. O fichamento dos três trabalhos aparece abaixo (Cfr.

Quadros 127, 128 e 129), com nome do autor, espaço de publicação (instituição), um pequeno

resumo da obra e suas palavras-chave. Para facilitar a compreensão da pesquisa, a análise dos

dados dos jornais e da revista é incluída no corpo dos capítulos, porque é importante situar-se em

relação à história, perpassando o contexto da década de 80, do século XX, para melhor

compreender as construções discursivas e o sentido produzido com referência à Teologia da

Libertação pelos meios de comunicação, com as inquietações que se formaram em torno do tema.

Com isso, a Linha do Tempo - Processo histórico da Teologia da Libertação (década de

60 ao Novo Milênio/Marcos da História) servirá de fio condutor dos registros de

contextualização da Teologia da Libertação neste estudo. Registra o contexto histórico de tal

teologia na Igreja Católica na América Latina, no Brasil e no mundo. Traçada com uma linha

horizontal por década, a parte superior situa marcos na Igreja Católica, indicando o processo

histórico que a levou a ser pautada nas mídias, tornando-se tema de domínio público. A parte

abaixo, marcos na história no país, na mídia e no mundo, contribui na compreensão das análises

que se seguirão.

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Fonte :Linha do Tempo Elaborada pela Autora da pesquisa

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CAPITULO 1 - TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO (TdL)

1.1 NASCIMENTO

1.1.1 Situação Social no Brasil e na América Latina

A história da formação da Teologia da Libertação (TdL) não pode ser entendida sem que

se faça referência ao contexto social no Brasil e na América Latina e ao que foi feito, desde o

início da década de 60, para a elaboração de uma teologia própria do continente latino-americano.

O ano de 1964 é significativo: o Brasil vivia um golpe militar, a América Latina estava

imersa na efervescência dos regimes ditatoriais e Cuba havia iniciado um regime comunista. Em

meio a esse clima, nasceu o processo de renovação da Igreja Católica, pautado pelas linhas

básicas que Pinheiro (2012) conceituou como “renovação litúrgica”, “nova consciência social” e

“planejamento pastoral”. Surgiu, ao mesmo tempo e oficialmente, a primeira Campanha da

Fraternidade, com o tema: “A Igreja em Renovação”. Lema: “Liberte-se, você também é Igreja”,

pensado desde uma perspectiva libertadora.

Para Libanio (2007), o contexto social da América Latina caracterizava-se, no momento

do surgimento da TdL, pela opressão e pelo domínio de um capitalismo selvagem, tardio,

periférico e dependente. Em contraposição, nas décadas de 60 e 70, inspirados por Cuba,

cresceram movimentos revolucionários na cidade e no campo. Havia vanguardas treinadas com

táticas de guerrilha, inspiradas na ideologia marxista e orientadas para o socialismo. No Brasil,

sindicatos urbanos e rurais se nutriam de ideologias críticas ao sistema capitalista. Em 1969, para

combater os movimentos de esquerda, o governo federal criou o Destacamento de Operações e

Informações do Centro de Operação de Defesa Interna (DOI-CODI) 16.

No campo pedagógico (década de 60), o educador Paulo Freire desenvolveu um método

popular de alfabetização de adultos, proporcionando, simultaneamente, a conscientização

política. Nesse contexto, Libanio (2007) diz que se agitava o “clima libertário” nos campos

político e cultural, “ao lado da reação violenta da burguesia com golpes atrás de golpes” na

América Latina. Exemplos disso são a Argentina, o Brasil, o Uruguai e o Chile.

16 ACIOLI, Socorro. Frei Tito. Coleção Terra Bárbara. Fortaleza:Demócrito Rocha 2001, p. 38-40.

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A Igreja Católica inseria-se nesse contexto com a abertura ao plano social incentivada

pelo Papa João XXIII com a publicação de duas encíclicas: Mater et Magistra (1961) 17 e Pacem

in terris (1963) 18. O próprio Papa falava da “Igreja dos pobres”, expressão reafirmada no

Concílio do Vaticano II19. Foi uma conjuntura fértil para a teologia crítica e libertadora. No

Brasil, existia um grupo de bispos socialmente pró-ativos que Libanio (2007) chamou

“progressistas”. Dom Helder era o líder maior. Teólogos assessores da Ação Católica, o

Movimento de Educação de Base (MEB), o Movimento de Natal, o início das comunidades

eclesiais de base, a difusão dos círculos bíblicos populares permitiram que três ingredientes se

entrelaçassem e gestassem teologia colada a essa realidade: “contato com a situação real de

opressão e de movimento de libertação, presença crítica e aberta da Igreja em ampla escala e um

grupo de pensadores que trabalhavam esse encontro. Contemplando o quadro social, a

Conferência dos bispos em Medellìn selou tal nascimento” (LIBANIO, 2007, p. 37-38).

A dimensão política começou a aparecer de maneira explícita nos meios sociais. Surgiu

um clima de renovação eclesial que reforçou as tensões entre os modelos conservador e

progressista da Igreja Católica. Segundo Pinheiro (2012), era uma nova consciência social que

penetrava no cerne da Igreja Católica e uma nova metodologia de trabalho que integrava os

recintos dos cristãos. Era a grande novidade. “Os cristãos leigos, sobretudo os que se engajavam

na realidade desafiante do nosso país, redescobriam a categoria pobres, em moldes novos, como a

descoberta da dimensão política da pastoral” (PINHEIRO, 2012, p.17).

Em meio à ditadura militar, um grupo de bispos e religiosos do Nordeste brasileiro,

liderados por Dom Helder Câmara, lançou, em 6 de maio de 1973, o documento: “Eu Ouvi os

Clamores do Meu Povo”; os bispos do Centro-Oeste do país publicaram um manifesto

“Marginalização de um Povo: grito das Igrejas”, com método e linguagem popular. Pouco se

conhecia das lutas e da pastoral popular. Segundo publicação na Revista Vida Pastoral20, o

documento foi fruto da tentativa de apoio e solidariedade às vítimas da repressão: índios,

17 Mater et Magistra (1961) – Carta Encíclica do Papa João XXIII sobre a evolução da questão social à luz da doutrina cristã. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_15051961_mater_po.html . Acesso em: 24 jul. 2013. 18 Pacem in terris (1963) – Carta Encíclica do Papa João XXIII sobre a paz de todos os povos na base da verdade, justiça, caridade e liberdade. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_11041963_pacem_po.html . Acesso em: 24 jul. 2013. 19 Concílio Vaticano II – (1962-1965) – Reunião de todos os bispos para decidirem os rumos da Igreja Católica no mundo moderno. (Revista Vida Pastoral, set/out. 1996, p. 29). 20 BERNARDO, Ferraro. O Grito dos Povos Indígenas pela terra e pela vida Y-juca-pirama.O Índio: aquele que deve morrer. In: Revista Vida Pastoral. março/abril.1986, p. 7-12. Disponível em: http://vidapastoral.com.br/o-grito-dos-povos-indigenas-pela-terra-e-pela-vida-y-juca-pirama-o-indio-aquele-que-deve-morrer.html. Acesso em: 25 nov. 2013.

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camponeses, operários e estudantes. O texto foi recusado por várias editoras católicas e impresso

por uma gráfica de Goiânia-GO, cujo proprietário pagou com sua prisão pela decisão assumida.

Antes disso, em 1976, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou

“Comunicação Pastoral ao Povo de Deus”, documento oficial da Igreja Católica ligada à

libertação dos pobres.

Nesse cenário brotou a emergente hermenêutica (reinterpretação dos documentos

formulados pela Igreja) de uma nova consciência histórica em que a “libertação dos pobres” se

tornou significativa para a reflexão teológica a partir do conceito “libertação”, numa elaboração

socioanalítica e crítica sobre a práxis histórica em confronto com a fé entendida como práxis.

As tensões geradas foram estudadas por Libânio (2012), em três momentos de “conflitos

hermenêuticos” 21:

1. dos padres conciliares (antes do Concílio) - com as incursões da nova teologia

francesa com a experiência dos padres operários;

2. na produção dos textos (na gestação /produção dos textos) - que gerou conflito

entre dogmatistas e hermeneutas da interpretação atualizada da tradição eclesial;

3. da leitura dos documentos (na recepção) - para encontrar a chave de

interpretação, sobretudo para três documentos: Dei Verbum22, Lumen Gentium23

e Gaudium Et Spes24.

21 “Conflito hermenêutico” - o conflito diante do conjunto dos textos do Concílio do Vaticano II para serem reinterpretados. A primeira tarefa de leitura implicou encontrar a chave de interpretação nos estudos de três destes documentos do Vaticano II: Constituição Dogmática Dei Verbum (A Revelação Divina), Constituição Dogmática Lumen Gentium (A Igreja) e a Constituição Pastoral Gaudium et Spes (A Igreja no Mundo de Hoje). Encontrou-se, em cada um deles, um conflito interpretativo. LIBANIO, J.B. A Igreja a 50 anos do Concílio Vaticano II. In: Encontros Teológicos. Vaticano II 50 Anos. Revista da Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC) e Instituto Teológico de Santa Catarina (ITESC). N. 62, Florianópolis-SC. p. 30-50. 2012. 22 Dei Verbum - Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina. Disponível em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html. Acesso em: 9 Set. 2013. 23 A Lumen Gentium - (Luz dos Povos) é um dos mais importantes textos do Concílio Vaticano II. O texto desta Constituição dogmática foi demoradamente discutido durante a segunda sessão do Concílio. O seu tema é a natureza e a constituição da Igreja não só como instituição, mas também como Corpo místico de Cristo. Foi objeto de muitas modificações e emendas, como, aliás, todos os documentos aprovados. Disponível em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html ou http://pt.wikipedia.org/wiki/Lumen_Gentium Acesso em: 9 ago. 2013. 24 Gaudium Et Spes – Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo atual. Disponível em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html Acesso em: 9 set. 2013.

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1.1.2 A procura de uma resposta cristã à desigualdade

A cristologia25 latino-americana buscou compreender a inserção de Jesus de Nazaré na

Palestina do século I. A reconstrução da imagem de Jesus na América Latina, protagonizada

pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) 26, ajudou a se forjar um novo modo de fazer

teologia. O processo foi explicado por Gutiérrez27 (1981):

A inserção nas lutas populares pela libertação tem sido – e é – o início de um novo modo de viver, transmitir e celebrar a fé para muitos cristãos da América Latina. Provenham eles das próprias camadas populares ou de outros setores sociais, em ambos os casos observa-se - embora com rupturas e por caminhos diferentes - uma consciente e clara identificação com os interesses e combates dos oprimidos do continente. (GUTIÉRREZ, 1981, p. 245).

Esse foi o fato maior da comunidade cristã da América Latina, matriz do esforço de

esclarecimento teológico que levou à Teologia da Libertação, e a Gutiérrez cabe o mérito de ter

apresentado a primeira proposta orgânica de uma Teologia da Libertação. Transformou o

conceito de Libertação em conceito fundante de um sistema teológico e fez a mediação teórica

usada para a interpretação da realidade social. Segundo Gutièrrez (1975), a teologia, como

reflexão crítica sobre a práxis, levou à percepção de que a vida cristã centra-se no compromisso

de serviço aos outros: os teólogos redescobriram a função da teologia como reflexão crítica.

25 Cristologia – é o estudo sobre Cristo. É uma parte da teologia cristã que estuda e define a natureza de Jesus, a doutrina da pessoa e da obra de Jesus Cristo, com uma particular atenção à relação com Deus, às origens, ao modo de vida de Jesus de Nazaré, visto que tais origens e o papel dentro da doutrina de salvação têm sido objeto de estudo e discussão desde os primórdios do Cristianismo. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cristologia. Acesso em: 14 ago. 2013. 26 As Comunidades Eclesiais de Base - CEBs - são um novo modo de ser Igreja que surge pela força e graça do Espírito. É a própria Igreja manifestando sua expressão mais humilde, mais simples e com muito mais vida. Essa vida das CEBs torna-se real à medida que é COMUNIDADE: comunhão de muitas comunidades. Quanto mais comunidades existem, maior é a força que tem; ECLESIAL: quanto mais forte e nítida é a identidade eclesial da CEB, maior é seu dinamismo; DE BASE: refere-se à base humana, social, étnica, política e religiosa. É o povo crente e humilde que se organiza a partir da fé. As CEBs são a Igreja que nasce da fé dos pobres. Nas CEBs se dá o mínimo de estrutura com o máximo de inter-relação pessoal; o mínimo de verticalidade e de direção com o máximo de participação igualitária. IRIARTE, Gregório. CEB, um modo novo de ser Igreja: roteiro prático para animadores. São Paulo: Paulinas. 1992. 27 Gustavo Gutiérrez Merino – Teólogo peruano e sacerdote dominicano considerado, por muitos, fundador da Teologia da Libertação (TdL). Sofreu de osteomielite na infância. Estudou medicina e letras na Universidade Nacional Mayor de San Marcos. Foi militante da Ação Católica, o que o motivou a aprofundar os estudos teológicos. Entrou para o seminário em Santiago do Chile. Estudou Filosofia e Psicologia na Universidade Católica de Louvain, Bélgica. Seus estudos de Teologia foram efetuados na Universidade Católica de Lyon, França, na Universidade Gregoriana de Roma e no Instituto Católico de Paris, chegando ao grau de doutor. Pioneiro na sistematização da Teologia da Libertação na década de 70, quando lançou o livro Teologia da Libertação. Nos anos 1980, sofreu processo da Cúria Romana, que acusava sua obra de reduzir a fé à política. Ganhou o Prêmio Príncipe das Astúrias em 2003 na Categoria Comunicação e Humanidades. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gustavo_Guti%C3%A9rrez_Merino. Acesso em 1 jun. 2013.

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A teologia deve ser um pensamento crítico de si mesmo, de seus próprios fundamentos. Só esse pode fazer dela um discurso não ingênuo, consciente de si, em plena posse de seus instrumentos conceituais. Mas não a este aspecto, de caráter epistemológico, fazemos alusão ao falar da teologia como reflexão crítica. Referimo-nos a uma atitude lúcida e crítica com relação aos condicionamentos econômicos e socioculturais da vida e reflexão da comunidade cristã: não tomá-los em consideração é enganar-se e enganar os outros. Além disso, e sobretudo, tomamos essa expressão como a teoria de determinada prática. (GUTIÉRREZ, 1975, p. 23).

O novo tema para a reflexão crítica da práxis histórica era uma teologia libertadora e

lançava as bases de um novo método teológico no qual o ponto de partida era a realidade social

que se apresentava à fé com suas interrogações. Para a eficácia do processo, a fé devia lançar mão

na sua relação com o social de uma “ciência da história”, identificada com a ciência de origem

marxista, entendida na perspectiva econômica. Quando a Teologia da Libertação explodiu na

América Latina, inúmeros artigos foram publicados nas revistas de teologia e da pastoral latino-

americanas, pois a proposta cativou seguidores por toda a Região. Mas nos anos seguintes, os

teólogos da libertação foram acusados de marxistas e perseguidos pela própria Igreja por causa da

teologia dogmática28 ou teologia sistemática, que é a explanação de um credo e análise de uma

declaração de fé. Afirma Andrade (1998) que o dogmatismo é a posição clara, autoritativa e

inquestionável dos princípios e convicções esposados pela Igreja cristã. Mostra o dogmatismo

que o cristianismo não é religião de hipóteses. É religião da fé.

1.1.3 Primeiros passos

A Teologia da Libertação começou a ser pensada no dia 16 de novembro de 1965, num

pacto feito, nas Catacumbas de Santa Domitila, entre quarenta bispos do mundo inteiro,

inspirados pela ideia da “Igreja dos pobres” do papa João XXIII, liderados por um bispo do

Brasil, Dom Helder Câmara. Segundo Boff (1996), o pacto foi feito no local onde viveram as

comunidades nos primórdios do cristianismo. Firmaram um pacto da Igreja servidora e pobre que se expressou por uma clara opção pelos pobres. Proclamaram a Igreja dos pobres e com os pobres. Formularam um voto: ao retornarem às suas pátrias, iriam se despojar dos símbolos do poder sagrado, deixar palácios episcopais e viver pobremente (...). Local: Catacumbas de Santa Domitila, fora de Roma (BOFF, 1996, p. 29).

28 Teologia Dogmática – (Do grego: dogma e decreto decisão) – Estudo ordenado e sistemático das doutrinas que se encontram nas várias sessões das sagradas escrituras. Representa, via de regra, o posicionamento de uma Igreja, ou denominação, acerca dos princípios bíblicos. Por conseguinte, não pode sobrepor-se jamais à Palavra de Deus. ANDRADE, Claudionor de. Dicionário Teológico. Rio de Janeiro: Casa Publicadora da Assembleia de Deus. 1998.

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O nascimento e os primeiros passos da Teologia da Libertação se deram no contexto

histórico, social, econômico e político da América Latina, apresentado no final dos anos 60 e

início dos anos 70. Nasceu com esse nome em 1971, com o livro programático “Teologia da

Libertação”, do teólogo peruano Gustavo Gutièrrez Merino, com publicação em português em

1975, que defendia um engajamento das igrejas cristãs na sociedade e contra as desigualdades

sociais.

Elaborada num contexto cristão de miséria, a TdL parte da realidade do pobre, como diz o

Documento de Puebla29, como o mais devastador e humilhante flagelo que é a situação de

desumana pobreza em que vivem milhões de latino-americanos, vítimas de salários de fome, de

desemprego e subemprego, de desnutrição, de mortalidade infantil, de falta de moradia adequada,

de problemas de saúde e de instabilidade no trabalho. De acordo com BOFF (1985, p.13), “Quem

não se apercebe desta realidade escandalosa não pode entender o discurso da teologia da

libertação”.

No Brasil, a Teologia da Libertação teve espaço de comunicação e reflexão crítica

libertadora no encontro de Petrópolis-RJ30, em 1975, com estudiosos e exegetas31 bíblicos. A

partir da TdL, a Bíblia era o instrumento de crítica da realidade e de crescimento das

Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). A metáfora que melhor apresentava essa ferramenta era

apresentada por Mesters (1990):

A história do uso da Bíblia nas comunidades é um pouco como a história do motor dentro do carro. Antigamente, nos primeiros carros, o motor era grande, era visível e fazia muito barulho, gastava muita gasolina e deixava pouco espaço para os ocupantes. Hoje em dia os motores, que são cada vez menores, mais escondidos, não aparecem, são mais potentes, mais silenciosos e deixam mais espaço para a bagagem. Esta é um pouco a história da função da Bíblia na vida das comunidades. A Bíblia é para empurrar e não é volante. Deve se pedir dela só aquilo que ela pode dar. (MESTERS, 1980, p. 298).

29 De 27 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979, em Puebla, cidade do México, celebrou-se a II Conferência dos Bispos Católicos Latino-Americanos, para uma avaliação da caminhada pós-conciliar das comunidades e para um maior aprofundamento da inculturação do Evangelho na América Latina. “Esta situação de extrema pobreza generalizada adquire, na vida real, rostos muito concretos, nos quais deveríamos reconhecer os traços do Cristo Sofredor que nos questiona e interpela nos rostos de: indígenas, camponeses, operários, marginalizados e aglomerados urbanos, subempregados e desempregados, jovens, crianças, anciãos”. Doc. Pb. nº 20. 30 “Encontros de Petrópolis” - Surgiu em 1975, por iniciativa dos Dominicanos que cumpriram pena nos cárceres da ditadura militar e que se encontraram com alguns amigos em Petrópolis-RJ, para trocar ideias e refletir sobre a conjuntura política e eclesial. Foi neste Grupo que aflorou a ideia de fundar o Centro de Estudos Bíblicos (CEBI). 31 Exegetas - A tarefa dos exegetas católicos comporta vários aspectos. É uma tarefa de Igreja, pois ela consiste em estudar e explicar a Sagrada Escritura, de maneira a colocar todas as riquezas à disposição dos pastores e dos fiéis. Mas é ao mesmo tempo uma tarefa científica que coloca o exegeta católico em relação com os não católicos e com vários setores da pesquisa científica. De outro lado, esta tarefa compreende ao mesmo tempo o trabalho de pesquisa e o de ensino. Tanto um como o outro concluem-se normalmente em publicações. Disponível em: http://www.bibliacatolica.com.br/conhecendo-a-biblia-sagrada/62/#.UpTlyNJDulk Acesso em: 25 nov. 2013.

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Nas décadas de 60 a 80 do século XX, multiplicaram-se as CEBs em todo o Brasil e

na América Latina com o fortalecimento dos estudos do texto da Bíblia nos “Círculos Bíblicos”.

Eles eram realizados de casa em casa com uma temática da realidade do momento com a

dimensão orante: “Leitura Orante da Bíblia”, ler, refletir, interpretar, meditar e agir na realidade

local sob a força impulsionadora de cada texto à luz da fé.

2.2 IDADE ADULTA DA TdL 2.2.1 Principais figuras

Quando a TdL completou 25 anos de história, em 1996, ao promover o balanço e as

perspectivas, Boff (1996) assegurou que, já em 1979, em Puebla, quando ocorreu a III

Conferência Episcopal Latino-americana, a TdL estava adulta e podia seguir seu caminho,

tornando-se uma teologia universal.

Ela penetrou no mundo dos pobres, juntou-se aos indígenas, aos negros, às mulheres, às minorias discriminadas, ganhou uma feição própria da África, ou na Ásia, e mesmo se instalou no coração dos centros metropolitanos de reflexão na Europa e nos Estados Unidos. A TdL se transformou nesses 25 anos numa teologia, de fato, universal (BOFF, 1996, p. 11).

Na Teologia da Libertação, alguns nomes sobressaíram como porta- estandartes da

história da “libertação dos pobres”. No martírio32: dom Oscar Romero (El Salvador)i. Na

Profecia33: dom Helder Câmara34 e Pedro Casaldáliga (Brasil)35.

Na prática, na teoria e no método: Gustavo Gutérrez (Peru), Juan Luis Segundo (Uruguai),

Clodovis e Leonardo Boff, José Comblin (Brasil) 36. No campo de estudo exegético bíblico,

Carlos Mesters (Brasil), Jon Sobrino (El Salvador), entre outros, pesquisaram e teorizaram sobre

os espaços de libertação no continente latino-americano. Na atualidade, século XXI, o teólogo

João Batista Libânio sobressai nos estudos da Teologia da Libertação.

32 O que significa o Martírio na História da Igreja. Disponível em: http://oficinadevalores.blogspot.com.br/2012/04/o-que-significa-o-martirio-na-historia.html. Acesso em: 26 mar. 2014. 33 Dom Oscar Romero (El Salvador) – SOBRINO, J.; MARTÍN-BARÓ, I; CARDENAL, R. Voz dos Sem Voz. A palavra profética de D. Oscar Romero. Coleção Tempo de Libertação. São Paulo: Paulinas.1980. 33 Profetas e profecias. Disponível em: http://www.jacuipenoticias.com/religiao/setembro/profeta.htm. Acesso em: 26 mar. 2014. 34 Dom Helder Câmara – CÂMARA, Dom Helder. Revolução Dentro da Paz. Rio de Janeiro: Sabiá.1968. 35 Pedro Casaldáliga (Brasil) – CASALDÁLIGA, Pedro. Uma Igreja da Amazônia em Conflito com o Latifúndio e a Marginalização Social. Carta Pastoral. São Félix do Araguaia. 1971. Disponível a Carta Pastoral de 1971: http://www.prelaziasaofelixdoaraguaia.org.br/uma-igreja-na-amazonia/umaigreja.htm. Acesso em: 9 set. 2013. 36 Na prática, na teoria e no método – GUTIERREZ, Gustavo. Teologia da Libertação. Petrópolis: Vozes. 1975; BOFF, Clodovis. Teologia e Prática: Teologia do Político e suas Mediações. Petrópolis-RJ: Vozes. 1993; BOFF. Leonardo. Teologia do Cativeiro e da Libertação. Petrópolis: Vozes. 1985; COMBLIN, José. Teologia da Enxada. Petrópolis: Vozes. 1978.

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Nos anos 90, advento do Novo Milênio, o cenário mundial mudou. Houve um novo

paradigma civilizacional emergente: a “consciência planetária”. Segundo Boff (1996), o Planeta

Terra não aguentava a “dilapidação sistemática dos seus recursos. Não só os pobres e os

oprimidos gritam. Também a terra grita” (BOFF, 1996, p. 13). Com isso, se amplia a dimensão

da Teologia da Libertação.

2.2.2 As CEBs

O desenvolvimento da Teologia da Libertação se tornou possível nas Comunidades

Eclesiais de Base. Para Teixeira (1999), a experiência das CEBs tem-se constituído numa original

contribuição da Igreja latino-americana para a Igreja no mundo. Na década de 70, a Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) reconhece o surgimento dos “Encontros Intereclesiais de

CEBS” com o objetivo de articular as comunidades de base no Brasil. O primeiro encontro

aconteceu em 1975, em Vitória-ES, com o tema: “Uma Igreja que Nasce do Povo pelo Espírito

de Deus”, fase de efervescência das CEBs, com a articulação dialética entre fé e vida.

No período mais difícil da repressão política, o episcopado brasileiro assumiu em grande parte a caminhada das CEBs, compartilhando semelhante preocupação temática (...). Nos tempos sombrios do fechamento político, as CEBs foram o maior ponto de apoio dos pronunciamentos da hierarquia. E por ocasião do começo da abertura política, foram as CEBs as grandes explicitadoras dos documentos da hierarquia, quando esta assume um posicionamento mais firme frente aos problemas globais do país (TEIXEIRA, 1999. p. 47-48).

Em 1984, o cenário mudou no “VII Encontro Intereclesial de CEBs”, realizado em Duque

de Caxias-RJ, com a temática “Povo de Deus na América Latina a Caminho da Libertação”. Para

Teixeira (1999), setores particulares do Vaticano começaram a questionar incisivamente a

Teologia da Libertação e as experiências eclesiais a ela associadas, sobretudo as CEBs.

A dinâmica de “restauração” em curso atinge teólogos brasileiros, que acompanhavam as comunidades de base, como assessores. Num Encontro Intereclesial de tal amplitude esta problemática acabava necessariamente ecoando na dinâmica interna do evento, gerando em alguns casos perplexidade e desorientação. Em memorável colocação sobre a eclesialidade das CEBs durante o evento, Leonardo Boff mencionou o clima de “inverno” que desceu sobre setores da Igreja, causando sofrimento a tantos cristãos (TEIXEIRA, 1999, p. 60).

As CEBs estavam frente aos desafios do mundo contemporâneo. A temática do Encontro

discutia três questões específicas: “situação da América Latina”, “reflexão entre fé e libertação”

(manifestações de fé na luta pela transformação da sociedade) e “eclesialidade das CEBs”. Os

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Encontros Intereclesiais37 revelavam para os participantes as informações e as notícias sobre “fé e

libertação”. Era a “rede de CEBs” que já existia mesmo em tempos analógicos, pré-internet.

3.2.3 Plataforma de manifestações e conquistas sociais

As manifestações sociais foram reprimidas com o golpe militar. A Teologia da Libertação se

tornou plataforma de conquistas igualitárias por meio das CEBs. Em entrevista realizada em

2008, Comblin afirma que “as comunidades eram o único espaço político livre e muita gente

interessada na oposição política entrou nas CEBs”.

Nas décadas de 50 e 60, surgiu a Ação Católica38, com características de “ser líder, ser

católico, sentir os problemas do povo e se angustiar para a solução”. Afloraram, nessa conjuntura,

a Juventude Universitária Católica (JUC), a Juventude Estudantil Católica (JEC) e a Juventude

Operária Católica (JOC).

As conquistas sociais vieram das necessidades das comunidades de base colocadas em

prática em forma de manifestação social. Em 1961, nasceu o Movimento de Educação de Base

(MEB), criado e desenvolvido pelo pensador e educador católico Paulo Freire. O objetivo era

desenvolver um programa de educação de base por meio de escolas radiofônicas nas regiões

Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. Conforme a pesquisa de Kolling39, a novidade dessa

experiência foi a de alfabetizar 300 homens em 45 dias, fato que impressionou profundamente a

opinião pública. Com a opção de aplicar tal metodologia em nível nacional, em meados de 1963

37 Os Intereclesiais de CEBs – Encontro das CEBs do Brasil. Nasceu da ideia de realizar um encontro envolvendo os bispos que partilhavam da mesma caminhada popular de Igreja para conversar sobre as experiências em curso. Não se tratava de um “encontro nacional”, mas de um bate-papo entre amigos e irmãos, entre igrejas que partilhavam de uma mesma caminhada parecida. O primeiro Encontro Intereclesial de CEBs aconteceu em janeiro de 1975 em Vitória-ES, com o tema: “uma Igreja que nasce do povo pelo Espírito de Deus”. (...). A temática eclesiológica predominou nesse intereclesial. Buscava-se delinear o perfil e as características desse novo jeito de ser Igreja: uma “Igreja Nova”, participativa, criativa, toda ministerial e comprometida com a dimensão política da fé. (Cfr. CEBs, 10º Encontro Intereclesial das. CEBs Povo de Deus: 2000 anos de Caminhada, Ilhéus/BA 11 a 15 de julho de 2000. Texto Base. Ilhéus-BA. Paulo Afonso-BA: Ed. Fonte Viva.1999, p. 48-49). O “XIII Intereclesial de CEBs” acontecerá nos dias 07 a 11 de janeiro de 2014, em Juazeiro do Norte-CE, com o tema: “Justiça e Profecia a Serviço da Vida”. 38 Ação Católica - Surgiu na esteira do Sindicalismo Católico e da Democracia Cristã que, por sua vez, remontam à segunda fase do Catolicismo Social, inaugurada pela Encíclica Rerum Novarum, promulgada pelo Papa Leão XIII, em 1891. A Ação Católica Especializada, nos moldes da Juventude Operária Católica, fundada por J. Cardjin na Bélgica, em 1922 e, oficializada, em 1925, contribuiu para a superação da mentalidade de cristandade e o novo lugar da Igreja na sociedade moderna. Diferentemente da Ação Católica Geral, atrelada ao projeto de neocristandade, a Ação Católica Especializada ajudou a Igreja a fazer a passagem para a modernidade, a situar-se no novo contexto da autonomia da razão frente à fé, do temporal frente ao sagrado, do Estado em relação à Igreja, bem como do exercício do poder nos parâmetros da democracia representativa, pelos partidos políticos no seio da sociedade civil. (Cfr. BRIGHENTI, Agenor. A Ação Católica e o Novo Lugar da Igreja na Sociedade. p. 01. Disponível: http://ordosocialis.de/pdf/Brighenti/A%20Acao%20Catolica%20e%20Sociedade.pdf. Acesso em: 01 jun. 2013. 39 Op. Cit. KOLLING. João Inácio. O Movimento de Educação de Base: uma religação ao compromisso político-social. Universidade de Santiago de Compostela/Espanha. 2000. Disponível: http://www.unilasalle.edu.br/lucas/assets/upload/MEB.pdf Acesso em: 26 nov. 2013.

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o MEB projetava para o ano de 1964 a instalação de 200.000 círculos de cultura para alfabetizar

pelo menos 2.000.000 de alunos.

Entre as décadas de 70 e 80, a “teologia que parte da práxis” colaborou para o surgimento do

Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 1972, cujo objetivo era lutar pelo direito à

diversidade cultural dos povos indígenas. Também foram criados a Comissão Pastoral da Terra

(CPT), em 1975, como resposta à grave situação dos trabalhadores rurais, posseiros e peões,

instalados na região amazônica; o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em

1980, no Rio Grande do Sul, para que os trabalhadores rurais enfrentassem a grave crise agrária

que historicamente se estabelecera no Brasil e a Profecia na Igreja (vozes proféticas) com o

exemplo clássico de Dom Helder Pessoa Câmara em 1970, em Paris. Dom Helder havia se

recusado a assinar uma declaração de apoio ao movimento dos militares. O conflito atingiu o

auge no famoso discurso da Mutualité40 em Paris, no dia 26 de maio de 1970.

Com a redemocratização do país, sedimentou-se o Partido dos Trabalhadores (PT), em 1980,

partido de esquerda criado pelo movimento sindical urbano e rural com participação de lideranças

ligadas às CEBs. Em artigo publicado no dia 14 de junho de 2011, na Gazeta de Alagoas on-line

intitulada “40 Anos da Teologia da Libertação” o ex-presidente Lula, metalúrgico, afirmou: “o

PT foi criado, principalmente, com a força das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), pastorais

sociais e movimentos populares”.

Na década de 90 e com a virada do Novo Milênio, aconteceram eventos decisivos no

cenário mundial. Houve a queda do muro de Berlim, a implosão do império soviético, a

hegemonização dos mercados nacionais dentro de um único mercado mundial e a generalização

do neoliberalismo como o último estágio da organização econômica, de acordo com Boff (1996).

À época, eclodiu o discurso ecológico, por Leonardo Boff, numa perspectiva

globalizadora na “emergência da era ecológica”. Com essa reflexão, em janeiro de 2001, em 41 Mutualité – é um centro de eventos composto de uma sala polivalente de 1.732 lugares, dum salão com 800 m² e ainda de nove salas de 35 a 130 m². Fica situado em Paris na rua SaintVictor, número 24. Tradução : Vitor Manuel Beco Anciaes (31/07/2013) Disponível: http://fr.wikipedia.org/wiki/Maison_de_la_mutualit%C3%A9#Historique (Acesso em: 31/07/2013 ). Foi num desses espaços que Dom Helder tinha preparado seu discurso (discurso da Mutualité) para uma conferência sobre “a responsabilidade da França em face da revolução” em que trataria de liberdade, igualdade, fraternidade. Ao entrar no palácio dos Esportes em que devia tomar a palavra, foi chamado a um canto por um grupo de amigos franceses que lhe disseram: “Você tem tido toda liberdade de falar sobre problemas que pareceriam internos da França. Mas, se hoje à noite você não tiver a coragem de dizer que há torturas no Brasil, você perde a força moral de denunciar os nossos erros”. Dom Helder, então, pensou um pouco e acabou decidindo: deixou de lado o texto que trazia e, por mais de uma hora, fez um relato oral sobre as torturas praticadas pelo governo brasileiro aos seus presos políticos. Dom Helder contou casos presenciados por ele mesmo. O discurso foi o início de uma longa perseguição. Imediatamente veio a proibição de dar entrevistas a jornalistas no Brasil. O governo fez uma campanha para impedir que dom Helder recebesse o prêmio Nobel. Começou a grande campanha de calúnias e insultos em todos os jornais do Brasil, com o fim de convencer a opinião pública que dom Helder era realmente um agente de Moscou infiltrado no episcopado do Brasil Entrevista do Pe. José Comblin no Jornal o POVO. Fortaleza, jan. 1999.

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Porto Alegre-RS (Brasil), ocorreu o “I Fórum Social Mundial”, considerado uma conquista social

que reuniu milhares de ativistas do Brasil e da América Latina. Utilizou-se a temática: “Crise

capitalista, justiça social e ambiental”.

Segundo Comblin (2008)41, os teólogos da libertação não têm e nunca tiveram alguma

articulação oficial com os movimentos. Criou-se a “Associação dos Teólogos do Terceiro

Mundo” com a participação dos asiáticos, africanos e latino-americanos e dessa associação

nasceram os Fóruns Sociais Mundiais, que seguem sendo realizados no mundo. O último

aconteceu nos dias 26 a 30 de janeiro de 2013 em Tunes, na Tunísia.

3.3 DECLÍNIO DA TdL 3.3.1 Reação das autoridades eclesiásticas

O peso (e o êxito) da Teologia da Libertação se fez sentir no Vaticano. As instâncias

doutrinárias reagiram em 1984 e em 1986. Na Igreja Católica, dois grupos se manifestaram.

Críticos independentes fizeram ponderações pontuais à TdL sobre o método e o conceito de

práxis. Conforme Libanio (2007), o risco era de subordinar a palavra de Deus a uma instância da

prática, usar ingenuamente o marxismo e acentuar as transformações sociopolíticas em

detrimento da “absoluta transcendência da revelação”. Outros queriam destruí-la “movendo céus

e terra nas diversas instâncias da Igreja”, a fim de condenar o conjunto teológico e seus principais

expoentes.

Vários processos foram movidos contra teólogos da Teologia da Libertação com notificações

da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, localizada em Roma: Leonardo Boff (Brasil),

Gustavo Gutiérrez (Peru), Carlos Mesters (Holanda/Brasil), Ivone Gebara (Brasil) e Jon Sobrino

(Espanha/Nicaragua).

A primeira reação oficial eclesiástica veio do “aparelho central da Igreja Católica”. O

documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé do dia 06 de agosto de 1984, chamado

“Instrução sobre Alguns Aspectos da Teologia da Libertação”, que chegou à imprensa brasileira

antes de sua publicação oficial, afirmava que a “Teologia da Libertação seria condenada”. As

41 COMBLIN; José. Testemunho de vida na história da Teologia da Libertação. Entrevista realizada em 28 jul. 2008. Disponível em: http://wwww.nubiasilva.com.br/ Acesso em: jun. 2012.

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“instruções” 42 foram objeto de encontros, estudos, reflexões e comentários entre os teólogos e

entre as comunidades de base da América Latina, nos anos de 1984/85, período da divulgação do

documento e da condenação do Leonardo Boff ao “Silêncio Obsequioso” 43 (1985).

Mediante esse documento, na década de 90 e na virada do século, em vários países da

América Latina, em alguns setores da Igreja Católica, como paróquias conservadoras, houve

nomeações de novos bispos conservadores e a expansão do Movimento da Renovação Católica

Carismática (MRCC). Começou-se a olhar com algum receio para a experiência das CEBs nas

pastorais sociais e na vida consagrada inserida em meios populares, ou seja, na missão dos padres

religiosos e das freiras no meio do povo.

3.3.2. Juízo Crítico sobre a TdL

A principal crítica da ala conservadora à Teologia da Libertação fundamenta-se em ela ter

usado um instrumental sociológico de origem marxista para analisar a sociedade. O pesquisador

Paulo Andrade (1991), entrando nesse debate, afirma que o conceito de marxismo da maior parte

dos críticos da TdL é de que ele seja um bloco unitário no qual não se podem distinguir diferentes

correntes ou interpretações, sendo incompatível com o cristianismo.

Os setores eclesiais que têm se manifestado contra as formas concretas da TdL possuem

uma visão comum do marxismo que parte da ideia de que seu núcleo fundamental é a “luta de

classes”. As quatro grandes objeções feitas ao uso do marxismo são: aniquilamento da liberdade

humana; supressão da ética; historização do horizonte escatológico e presença no marxismo do

“paradigma do progresso”. Para Andrade (1991), “qualquer uso do marxismo na teologia levaria

a um desvio inevitável que põe em risco a vida cristã em sua totalidade” (ANDRADE, 1991,

p.178).

O teólogo chileno Pablo Richard (1984), num artigo publicado na Revista Eclesiástica

Brasileira (REB), volume nº 44 de dezembro de 1984, diz que “rejeitamos assim um marxismo

ideológico que reduz o conhecimento científico, a consciência, a verdade e a ética, à lógica

42 “Instruções” – Documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé - sobre a Teologia da Libertação. Publicado, na íntegra no Jornal Folha de S. Paulo. Encarte Exclusivo: 31 ago.1984, p 14-15. 43 “silêncio obsequioso” - silêncio que se oferece e se concede a alguém, procurando ser benevolente com a pessoa a quem isso é pedido. Neste caso concreto, sanção (silenciamento), aplicada pela Santa Sé (Vaticano) ao teólogo Leonardo Boff por “pregar e divulgar princípios que estão em conflito com a doutrina da Igreja Católica pela publicação de escritos” nomeadamente com a publicação do livro “Igreja Carisma e Poder”, Disponível, sobre a pena: http://pt.wikipedia.org/wiki/Penas_eclesi%C3%A1sticas e entrevista sobre o processo de punição a Leonardo Boff: http://www.leonardoboff.com/site/vista/outros05/abr21-losangelestimes.htm. Acesso em: 2 nov. 2013.

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necessária e absoluta de classe” (RICHARD, 1984, p. 752). Trata-se de um discurso construído

em torno da denúncia e da condenação da ação marxista na Igreja que causou grande repercussão

na imprensa.

3.3.3 A TdL na mídia

O documento “Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação”, publicado nos

jornais do Brasil cinco dias antes do lançamento em Roma (3 de setembro de 1984), apanhou de

surpresa o meio eclesiástico internacional, que reagiu, sobretudo, ao vazamento da informação.

Para Isnard (1985), os documentos da Santa Sé são cuidadosamente preparados, impressos

na “Tipografia Vaticana”, enviados aos bispos em data marcada que deve ser simultânea em todo

o mundo.

Em lugar de receber esta palavra através do organismo competente da Igreja, foi a imprensa brasileira que o divulgou pelo mundo. (...) Anunciaram a condenação da Teologia da Libertação, porque lhe interessa a manutenção do sistema capitalista (...). Certamente o documento reprova desvios de algumas “teologias” (no plural) da libertação, e, especialmente o uso que alguns teólogos fizeram da análise marxista do critério da luta de classes. Mas, os aspectos positivos da Teologia da Libertação são, indubitavelmente, aprovados.

Não só os avanços e os recuos, apresentados no Documento sobre a TdL, como também o

debate que se desencadeou na mídia, criaram no público brasileiro um clima de expectativa sobre

os rumos da nova teologia.

Imagem 3 - Refere-se ao Jornal Folha de S. Paulo de 31 de agosto de 1984, p. 13, com a

publicação do texto de defesa dos teólogos da libertação ao documento do Vaticano (publicado

na íntegra, no mesmo exemplar). Em seguida (Quadro 1) fragmentos da defesa dos teólogos na

mesma publicação.

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Imagem 3

Fonte: Acervo Pessoal

O Quadro 1 refere-se à posição da Igreja Católica, em fragmentos, do documento do

Vaticano: “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação” e a posição dos teólogos

da libertação, divulgada no Caderno Especial do jornal citado (Imagem 3), as sete defesas

(respostas) ao documento do Vaticano que, segundo Boff (1984), ao ler o documento diz não

afetar os mais de 100 teólogos da libertação na América Latina. “O grande medo que a Teologia

da Libertação provoca, como se pode notar pelo documento, não é o de recorrer a análise

marxista. Mas é por exigir que a Igreja rompa seus vínculos com os opressores” (BOFF, 1984, p.

13).

Com isso, a posição da Teologia da Libertação sobre o documento foi defendida por sete

teólogos: Leonardo Boff, Júlio de Santa Ana, Otto Maduro, José Oscar Beozzo, Frei Betto e

Benedito Ferraro (Sete Defesas – publicadas no jornal Imagem 3), doutores em Ciências da

Religião, professores de Teologia; presidente e diretor da Comissão de Estudos de História da

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Igreja na América Latina e do Centro Ecumênico de Serviços a Evangelização e Educação

Popular (CESEP).

Quadro 1 – Fragmentos da defesa dos teólogos publicada no Jornal Folha de S. Paulo. Caderno Exclusivo, em 31/8/1984

Posição da Igreja “Instruções” 44

Posição da Teologia da Libertação “Defesa” 45

1. “A libertação é antes de tudo e principalmente libertação da escravidão radical do pecado (...). Discernir com clareza o que é fundamental e o que faz parte das consequências é condição indispensável para uma reflexão teológica sobre a libertação” (Int. p.1).

2. “A presente Instrução tem uma finalidade mais precisa e mais limitada: quer chamar a atenção dos Pastores, dos teólogos e de todos os fiéis para os desvios e perigos de desvios, prejudiciais à fé e à vida cristã, inerentes a certas formas da teologia da libertação que usam , de maneira insuficientemente crítica, conceitos assumidos de diversas correntes do pensamento marxista” (Int.p.1).

3. “Esta advertência não deve, de modo

algum, ser interpretada como uma desaprovação de todos aqueles que querem responder generosamente e com autêntico espírito evangélico à"opção preferencial pelos pobres". (Int.p.1). (...) A expressão

1. Leonardo Boff46 – Conforme o sentido que se der à libertação, seja como tema, seja como ação que libertação à liberdade cativa (“libert-ação”), muda profundamente a compreensão da Instrução romana (...). Elaborar uma teologia da libertação a partir da prática de libertação pressupõe uma inserção orgânica num movimento concreto, numa comunidade de base, num centro de defesa dos direitos humanos, num sindicato (...). (Def. 1, p.13).

2. Leonardo Boff – “A crítica que se refere ao marxismo. Não se trata de uma reflexão acadêmica e sistemática sobre o marxismo em confronto com o cristianismo. Não há um interesse por Marx, por ele mesmo. Marx et consortes interessam na medida em que ajudam a compreender melhor a realidade da exploração e apontam para possíveis superações do sistema antipopular e excludente que é o capitalismo” (p.13).

3. José Oscar Beozzo47 – “O documento

reconhece que a libertação é uma verdade essencial e que se tornou nos últimos anos objeto de atenção dos teólogos, e que em si mesma é rica de promessas. O documento não fala, em nenhum momento, do chão

44 “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação” – Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19840806_theology-liberation_po.html Acesso em: 26 nov. 2013. Anexo C, neste trabalho. 45 Defesa – A defesa da Teologia da Libertação foi feita por sete teólogos da libertação: publicação completa no Caderno Especial do Jornal a Folha de S. Paulo, sexta-feira, no dia 31 de agosto de 1984, reproduzido pela Comissão Pastoral da Terra para discussão interna. 46 Leonardo Boff - Teólogo brasileiro, escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação no Brasil. Foi membro da Ordem dos Frades Menores. 47 José Oscar Beozzo – Padre, teólogo e historiador. Foi presidente da Comissão de Estudos da História da Igreja na América Latina (Cehila-Brasil).

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"teologia da libertação" designa primeiramente uma preocupação privilegiada, geradora de compromisso pela justiça, voltada para os pobres e para as vítimas da opressão. A partir desta abordagem, podem-se distinguir diversas maneiras, frequentemente inconciliáveis, de conceber a significação cristã da pobreza e o tipo de compromisso pela justiça que ela exige. Como todo movimento de ideias, as "teologias da libertação" englobam posições teológicas diversificadas; suas fronteiras doutrinais são mal definidas” (III,3).

4. CAPÍTULO X: “Uma nova

Hermenêutica” (...) - A nova interpretação atinge, assim, todo o conjunto do mistério cristão (X,13).

fecundo de onde vem brotando a experiência da libertação e sua reflexão eclesial: as comunidades eclesiais de base, com suas lutas, seus sofrimentos e perseguições por causa da justiça, seus mártires e sua profunda espiritualidade, bebida na Palavra de Deus e na Celebração da Eucaristia”. (Def. 4, p.16).

4. Benedito Ferraro48 – Jesus foi vítima das classes dominantes. Fato histórico aceito por todos os crentes é a morte de Jesus na cruz, como relata o Novo Testamento. (...) É à medida que Jesus experiencia a vida dos pobres do seu tempo (Mt. 9,35-36) que ele denuncia os detentores do poder da época: “ai de vós, ricos” (Lc. 6, 24), “ai de vós, fariseus” (LC. 11, 42-44). “Ai de vós, Escribas e legistas” (Mt. 23, 13-32). Sua crítica desmascara os sacerdotes e revela a utilização do Templo para explorar o povo simples (Mc. 11, 15-19; Mt. 21, 12-17; Lc. 19,45-49) e denuncia os que usam o poder para oprimir (cf. MC.10,42-45; Lc. 13, 31-32). Essa sua prática o leva à morte, decretada pelo conselho (Sinédrio) dos representantes da elite dominante (Cf. Jo. 45-53) e como coligação dos grandes (At. 4,27), que procurava eliminar aquele a quem as massas buscavam (Mc. 14,1-2). Este é o contexto histórico da fé das comunidades primitivas. (...) Este sinal de contradição encontra-se presente na América Latina na pessoa do pobre. De fato, os pobres estão fazendo o caminho de Jesus. É aqui que se encontra o ponto discordante do documento no Cap. X,13. (Def. 7, p.16).

Fonte: Autora da pesquisa

48 Benedito Ferraro – Padre e professor de Teologia na PUC/Campinas e na Faculdade de Teologia Nossa Sra. Assunção (SP). Assessor da Comissão de Pastoral Operária.

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O teólogo costarriquenho Pablo Richard (1984), numa declaração, poucos dias após a

apresentação oficial do documento, disse que não se tratou de uma condenação, mas sim um

“discernimento positivo” entre as diversas correntes do movimento teológico.

Para o teólogo brasileiro Boff (1996), em contradição com a versão dominante nos meios de

comunicação, a TdL foi fundamentalmente aprovada pela Igreja.

Ela chamou, sim, a atenção a dois perigos que sempre acossam esse tipo de teologia: redução da fé à política e o uso não crítico do marxismo. Evitando esse perigo, pois perigo nunca invalida a coragem do pensamento, a teologia da libertação é útil e necessária na presente conjuntura de flagelo planetário dos pobres (BOFF, 1996, p.30).

Nos anos 80, a TdL entrou em foco e nos anos 90 perdeu visibilidade na grande mídia. O

declínio acentuou-se quando partidos socialistas simpatizantes à Teologia da Libertação

ocuparam o poder e passaram a ter práticas diferentes das propostas nos documentos de origem.

No Brasil da virada do século, outros movimentos com autonomia ocuparam o cenário, como o

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Via Campesina49 etc. Surgiram novas

teologias: negra50, índia51, feminista52 e ecológica 53

49 Via Campesina - é uma organização internacional, autônoma e pluralista, de camponeses, composta por movimentos sociais e organizações de todo o mundo. Originou-se em abril de 1992, na Nicarágua, no contexto do Congresso da União Nacional de Agricultores e Pecuaristas. Em maio de 1993, durante a I Conferência da Via Campesina, na Bélgica, foi constituída como organização mundial. No Brasil, a Via Campesina se estabeleceu durante a II Conferência do movimento que aconteceu um dia após o conflito que ficou conhecido como o “Massacre de Eldorado dos Carajás”, onde 19 trabalhadores rurais sem terra foram assassinados pela Polícia Militar do Estado do Pará. A Via Campesina defende que a terra seja utilizada para a produção de alimentos saudáveis visando à soberania alimentar e do uso dos recursos naturais. É composta pelos seguintes movimentos: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA); Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB); Movimento de Mulheres Camponesas (MMC); Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB); Comissão Pastoral da Terra (CPT); Pastoral da Juventude Rural (PJR); Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF); Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Pescadores (as) Artesanais. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Via_Campesina. Acesso em: 26 nov. 2013. 50 Teologia Negra – Encontra na Bíblia uma base para o sentido político da libertação, isto é, o êxodo do Egito. Encontra na experiência religiosa dos escravos negros, manifestada nos seus cânticos, sermões e orações que destacam a ressurreição Jesus. A teologia negra pode ser classificada como um tipo de teologia de libertação, pois ela se preocupa basicamente com a libertação de um grupo de oprimidos. Disponível em: http://www.teologiaocidental.com/teologica/a-teologia-negra.pdf. Acesso em: 4 mar. 2014. 51 Teologia Índia - expressa o encontro com o divino na vida dos índios, sua cultura, mitos e ritos. O desafio é mostrar que, com a nova evangelização, é possível superar a intolerância da primeira evangelização, aquela da colonização que predominou contra as culturas religiosas indígenas. Não querer condicionar a manifestação de Deus a uma cultura - a ocidental - ou limitar a ela a porta de acesso a Deus, mas aceitar que cada povo possa comungar e relacionar-se com Ele na sua própria maneira. Disponível em: http://www.pime.org.br/mundoemissao/teologiaindia2.htm. Acesso em: 4 mar. 2014. 52 Teologia Feminista – A teologia Feminista nasce no ambiente da Teologia da Libertação. Critica o passado e o presente da Igreja patriarcal. Cria possibilidades de um diálogo ecumênico e colabora para recuperar a participação feminina na construção de uma teologia de libertação para todos. Disponível em: http://itaporanga.net/genero/gt4/3.pdf Acesso em Acesso em: 4 mar. 2014. 53 Teologia Ecológica ou Teologia da Criação - Defendida pelo teólogo Leonardo Boff: “Deus está continuamente criando, sempre presente em sua criação. Deus está em tudo e tudo está em Deus”. É a teologia que repensa a criação como algo dinâmico. O Cristo cósmico está presente em todas as realidades. E o Espírito Santo, por meio de sua ação missionária no mundo, também está dentro da criação. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/514443-teologia-da-libertacao-e-a-preocupacao-ecologica-leonardo-boff-e-o-chamado-a-mae-terra. Acesso em Acesso em: 4 mar. 2014.

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3.3.4 Teologia da Libertação hoje - primeiras percepções

Depois de mais de uma década do declínio, a TdL reapareceu com novo rosto e roupagens

diferentes depois da primeira década do século XXI. Exemplo disso é a Fundación Ameríndia54,

atualizando a herança das Conferências de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo

(1992), do Sínodo da América (1997) e a Conferência de Aparecida.

Em 2012, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) sediou o Congresso

Internacional para celebrar os 50 anos do Concílio Vaticano II e os 40 anos da publicação do livro

“Teologia da Libertação: Perspectivas”, do teólogo Gustavo Gutiérrez.

Com a eleição do Papa Francisco, em 2013, a TdL volta a ser pautada na mídia brasileira.

O Jornal do Brasil, de 20 de maio de 2013, publicou um artigo de Leonardo Boff intitulado “Papa

Francisco e a Teologia da Libertação”, em que o autor procura responder à pergunta: “será o Papa

latino-americano adepto da Teologia da Libertação?”. O próprio autor responde: “Esta questão

é irrelevante. O importante não é ser da teologia da libertação, mas da libertação dos oprimidos,

dos pobres e injustiçados. E isso ele o é, com indubitável claridade” (BOFF, 2013, p. 01).

No dia 21 de março de 2013, em Roma, o arquiteto argentino, ativista de direitos humanos

e Prêmio Nobel da Paz (1980), Adolfo Pérez Esquivel, manifestando-se sobre a posição do Papa

durante a ditadura argentina, afirmou que ele se preocupou com "desaparecidos, pobres e com a

situação dos direitos humanos, embora os militares tivessem suas próprias políticas". Entre os

"profetas" do nosso tempo, o Papa citou os teólogos da libertação Pedro Casaldáliga, poeta

estabelecido no Brasil; o bispo do Equador, Leônidas Proaño, o bispo brasileiro Dom Helder

Câmara e o salvadorenho Oscar Romero.

A Igreja Católica, em 2007, assumiu a Campanha da Fraternidade sobre a Amazônia com

o tema: “Amazônia e Fraternidade” e o lema: “Vida e Missão Neste Chão”. O objetivo era refletir

sobre as questões ambientais e sociais que ameaçam o mundo. Em 2011, retomou a mesma

temática: “Fraternidade e a vida no Planeta” com o lema: “A Criação Geme em Dores de Parto”, 54 Fundación Ameríndia - define-se como uma rede de católicos de espírito ecumênico e abertos ao diálogo e à cooperação inter-religiosa com outras instituições. A prioridade é reafirmar a opção preferencial pelos pobres e excluídos, inspirada no Evangelho, atualizando a herança das Conferências de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e do Sínodo da América (1997) e a Conferência de Aparecida (2007), para responder aos novos desafios ante a globalização neoliberal. Implica reafirmar a opção por novos modelos de Igreja comunitária e participativa e pela Teologia da Libertação (TdL) como um aporte à Igreja Universal e promover o Congresso Internacional para celebrar os 50 anos de convocação do Concílio Vaticano II e os 40 anos da publicação do livro “Teologia da Libertação: Perspectivas”, de Gustavo Gutiérrez, que aconteceu no Brasil nos dias 08 a 11 de outubro de 2012, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) no Sul do Brasil, abordando a Teologia da Libertação hoje e retomando as reflexões do Vaticano II. Disponível em:.www.amerindiaenlared.org e http://www.unisinos.br/eventos/congresso-de-teologia/. Acesso 10 mai. 2013.

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tema que será retomado nos próximos capítulos. Isso mostra que a Teologia da Libertação

continua enraizada nos pobres e no engajamento social, vinculada não só sob o aspecto de

sobrevivência física, mas no da ética na relevância da problemática ecológica.

A Teologia da Libertação pode ser compreendida no Processo Histórico entre as décadas

de 60 e o Novo Milênio, traçada na Linha do Tempo (Cfr. Linha Tempo em Procedimentos

Metodológicos), por uma reta. Parte superior, marcos na Igreja Católica. Na inferior,

acontecimentos no Brasil, na América Latina e no mundo. A trajetória configura uma nova

mentalidade.

Segundo Libanio (1987), a Teologia da Libertação nasceu no interior da emergência de

uma consciência libertadora ampla. O conhecimento do contexto histórico ajuda a explicar o

universo que perpassa tal teologia, situada no panorama histórico descrito no Anexo J. Torna-se

plataforma para surgimento de articulações, ações e movimentos sociais (Cfr. Gráfico 1). Deixa-

se explicar ser assim estruturada por realidades que a envolvem na sociedade.

Gráfico 1

Fonte: Elaboração Autora da pesquisa

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A Teologia da Libertação existe para o mundo sociopolítico. É fato eclesial. Desperta a

consciência da Igreja universal, latino-americana e do Brasil. Em análise de Libanio (1987) sobre

o significado da Teologia da Libertação, foram elencados os meios de comunicação social como

um dos atores sociais que desempenha função de gerar o país simbolicamente através das mídias.

O simbólico que se cria à força de imagens/textos veiculados em notícias, propagandas. Por isso,

adentra-se no contexto histórico para compreender os conceitos de comunicação e teologia na

relação que se estabelece entre eles.

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CAPITULO 2 - COMUNICAÇÃO E TEOLOGIA

2.1 A COMUNICAÇÃO NA AMÉRICA LATINA

A busca do ser humano por meios e mecanismos de comunicação vem de muito longe.

Segundo Lima (2012), o desejo e a vontade de se comunicar com os membros da comunidade

ocorre desde os primórdios e, ao longo da história, ela se tem reinventado e melhorado. Os

métodos arcaicos (fumaça, tambores, pombos-correios) foram cedendo lugar a outros mais

sofisticados até chegar-se à comunicação por cabo e por ondas. No começo do século XXI,

ainda se está convivendo com a era analógica, mas, também ela está desaparecendo, para dar

lugar à era digital. Segundo Castro (2010), as pessoas vivem o “estágio da ponte”, ou seja, no

meio do caminho entre o mundo analógico e o digital.

Na América Latina, um longo caminho foi percorrido até chegar-se ao mundo digital. Antes

da chegada dos europeus, as civilizações Astecas, Incas e Maias55 consolidaram-se como

impérios. Mas foram os Incas (Equador/Chile) e os Maias (México/Guatemala) que mais

contribuíram para o desenvolvimento da comunicação e da escrita. Segundo Balbino (2013), os

Incas desenvolveram um eficiente sistema de comunicação entre as várias partes do Império:

construção de uma rede de estradas e manutenção de postos de informações percorridos por

mensageiros, que iam passando as notícias de um a outro posto. Os Maias usaram a escrita

hieroglífica cujos sinais pictográficos e símbolos representavam sílabas: foi o início da palavra

escrita no continente americano. Mas foi somente por volta da década de 30, do século XIX, que

começaram os primeiros estudos sistemáticos de comunicação na América Latina (Argentina e

Brasil).

Pesquisas de Trigueiro (2011) revelam a nítida influência da indústria cultural nos EUA e

na Europa nos anos 50 (séc. XX). Para isso, contribuíram os estudos funcionalistas e

frankfurtianos como também as polêmicas entre “apocalípticos e integrados”, cujos conceitos

foram elaborados pelo semioticista italiano Umberto Eco. Nos anos 50, já havia escolas de

comunicação em vários países da América latina (Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, México,

Peru e Venezuela), e na década de 60, o número de escolas e centros de pesquisa triplicou.

55 Astecas, Incas e Mais - Foram povos que dominaram boa parte das Américas antes da chegada dos europeus ao continente, no século XVI. Disponível em:: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quem-foram-os-incas-os-maias-e-os-astecas. Acesso em 13 ago. 2013.

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Antes de falar da comunicação na década de 80, é importante ressaltar a importância dos

centros de estudos, das publicações e dos autores que fundaram e deram rumo ao estudo da

comunicação. Exemplo disso é o Centro Internacional de Estudos Superiores de Periodismo

para a América Latina (CIESPAL), criado em 1959 no Equador com o apoio da Organização

das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) 56.

Diversas pesquisas e conquistas foram realizadas pelo CIESPAL: desenvolveu o

modelo difusionista, adotado na comunicação rural; formou um centro de documentação

especializado; apoiou o Centro de Estudos da Realidade Nacional (CEREN), vinculado à

Universidade Católica do Chile; favoreceu, no Brasil, a criação das rádios rurais, com grande

repercussão nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

No início da década de 80, após as ditaduras militares (Chile, Brasil, Argentina etc.),

um grupo de pesquisadores do CEREN fundou no México o Instituto Latino Americano de

Estudos Transnacionales (ILET). Com estrutura transnacional, o ILET tinha como objetivo

difundir a informação e democratizar a comunicação.

Para Somavía (1980), o ILET desenvolveu reflexão e estudos em torno de um tema que

se apresentava como sendo de crescente importância para a comunidade internacional,

especialmente para o Terceiro Mundo: os sistemas de comunicação que se encontravam

concentrados nas mãos dos países desenvolvidos. Seus pesquisadores compreenderam a

necessidade de modificar a ordem informativa internacional. Politicamente, o Terceiro Mundo

empreendeu a batalha por sua libertação da estrutura dominante em matéria de informação

internacional participando ativamente do projeto por uma Nova Ordem Mundial da

Informação e Comunicação (NOMIC).

Conforme o autor, no início da década de 80 se forjava a consciência de que não é

possível aceitar somente quatro agências transnacionais de notícias controlando

majoritariamente o fluxo informativo, a partir de/e em direção aos países do Terceiro Mundo.

Não era possível “continuar aceitando uma situação jurídica, nas quais as agências de notícias

não eram, legal nem socialmente, responsáveis pelos erros e distorções que podem cometer na

seleção, elaboração, transmissão e apresentação das notícias” (SOMAVÍA, 1980, p. 9).

56 UNESCO - embora não conte mais com o apoio da Unesco, a Ciespal segue em atuação como referência nos estudos e pesquisas em comunicação na América Latina.

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Em 1980, nasce um projeto internacional de reorganização dos fluxos globais de

informação por meio de diversas ações de governo e do Terceiro Setor: a Nova Ordem

Mundial da Informação e Comunicação (NOMIC), fruto do relatório Mac Bride, documento

da Organização das Nações Unidas para Educação e Cultura (UNESCO), conhecido através

do livro: “Um Mundo e Muitas Vozes”, redigido por uma comissão presidida pelo irlandês

Seán Mac Bride (vencedor do Prêmio Nobel da Paz). Da comissão participaram vários

representantes da América Latina, entre os quais o escritor Gabriel García Marques.

Segundo CASTRO (2005), a NOMIC, entre seus objetivos, propunha a democratização

da comunicação e da informação; a redução dos desequilíbrios nas trocas nacionais e

internacionais de informação e a formulação das chamadas Políticas Nacionais de

Comunicação (PNCs) 57 voltadas para o interesse da maior parte da população.

Recorda-se que no Brasil, em meio a uma ansiedade pela volta da democracia e a uma

vida digna para todos, a dimensão “libertadora” tomou conta do continente latino-americano,

abrangendo a cultura, a educação, a religião e a vida política. Segundo Berger (2012), as

concepções de mundo eram duplas, opostas ou polarizadas:

Frente ao exército oficial se propunham milícias populares; frente à Igreja oficial, a Teologia da Libertação; frente aos sindicatos pelegos, organizações de base; frente aos meios de comunicação e a cultura transnacional, a denúncia e, ao mesmo tempo, a criação de formas alternativas na comunicação popular (ENTEL, 1995 in: BERGER, 2012, p. 278).

É nesse contexto que a comunicação de massa, com investimento econômico e objetivo

de dominação, cria raízes e se desenvolve. As “revistas acadêmicas” eram eficazes para a

divulgação de pesquisas, novos conceitos, juízos de valor e críticas. Nos meios acadêmicos e

centros de pesquisa, era notória a insatisfação em relação aos modelos de comunicação na

América Latina.

Era necessário, segundo Trigueiro (2011), mudar o enfoque dos estudos, relacioná-los

com as novas matrizes culturais e configurá-los com as identidades locais e globais. Nos

primeiros anos da década de 80, os estudos estavam direcionados para a pesquisa sobre

produção e circulação da comunicação. Pedia-se que, no contexto latino-americano, a

comunicação e a informação ajudassem a estabelecer relações sociais comprometidas com a

57 Políticas Nacionais de Comunicação (PNCs) - Conjunto de princípios e normas que orientam o sistema comunicacional de um país. O termo não se refere apenas às ações dos governos neste campo, mas também ao conjunto de práticas que constituem o sistema de comunicação vigente em cada país. CASTRO, Cosette. A Convergência Digital e os Atores Sociais: um panorama das iniciativas brasileiras. V ELEPICC. 2005, p.3.

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realidade dos países em desenvolvimento e a reduzir a dependência econômica e cultural em

relação aos países desenvolvidos.

Os pesquisadores latino-americanos, segundo Berger (2012), preocupavam-se com a

estrutura e a função mercantil dos meios: estrutura de poder dos meios de comunicação

(transnacional e nacional) e estudo sobre as formações discursivas e as mensagens de massa.

A facilidade da comunicação e a larga difusão de informações suscitaram uma nova

questão que, mais tarde ou mais cedo, teria que se colocar: “Será que o receptor está

recebendo a mensagem que o emissor quer ou tem a intenção de enviar?” Ao final dos anos

70, início dos anos 80, essa questão tornou-se objeto de estudo.

As lutas populares estavam sendo redimensionadas pelos grupos políticos e a atividade do receptor revista pelos estudiosos da comunicação. O receptor deixava de ser identificado com a massa amorfa e uniforme, passiva e manipulável, passando a ocupar o lugar do dominado – o trabalhador organizado, a feminista, o militante – cujas apropriações expressavam um receptor crítico (BERGER, 2012, p. 264).

Para estudar a comunicação popular, foi necessário ir aonde tinha suas raízes e vida: o

meio do povo. A pesquisa não se fazia mais apenas no espaço universitário, mas também nas

ruas e nos bairros populares. A incorporação do popular propiciou rever a noção de

comunicação de massa. Os estudiosos reconheceram, então, a comunicação popular e

alternativa como um “dado” e paradigma comunicacional da América Latina.

O debate político tornou-se mais frequente no meio universitário e nos movimentos

populares. Um dos fatores que mais contribuiu para a mudança de rumo nos estudos de

comunicação na América Latina foi, segundo Trigueiro (2011), o “segmento progressista da

Igreja Católica com a Teologia da Libertação”.

Foi com a Teologia da Libertação (concebida como libertação de toda a escravidão

querida, desejada e sustentada por Deus) que se organizaram campanhas populares contra o

analfabetismo, a miséria e a dependência do capital imperialista. Nos debates populares que

eram promovidos, os meios de comunicação de massa e a indústria cultural eram objeto de

análise, juízo e, muitas vezes, crítica, porque eram demasiado submissos ao poder instituído,

faltando a eles o apelo à libertação do jugo que oprimia o povo, deixando de ser “voz

profética”58.

58 Voz Profética – Conceito informado no capítulo anterior. Outras fontes: Voz dos profetas - pessoas que expressam a exigência de justiça de Deus. As promessas são para os que praticam a justiça, e os castigos para os que praticam a injustiça. O profeta é escolhido e enviado por Deus. Não recebe nem mandato, nem autoridade de nenhum poder humano – nem dos reis, nem dos sacerdotes, nem dos doutores. Não é profeta por herança ou por ser membro de uma casta. Cada profeta é escolhido

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Segundo Berger (2012), a década de 80 coabitou com duas linhas de pesquisa: uma

onde existia intervenção em todos os níveis do poder público (financeiro, político,

propagandístico); outra de âmbito popular que funcionava como alternativa à “oficial”

(indústria cultural) e tinha como objetivo a informação, a formação cultural e a

conscientização da comunidade.

Até os anos 80, os contornos que demarcavam os vários campos da comunicação eram

bastante nítidos. Era possível identificar com precisão os estudos sobre a estrutura

transnacional da comunicação, a comunicação participativa/popular e a problemática das

políticas públicas de comunicação. A partir do início dos anos 90, as fronteiras começaram a

se diluir e com elas apareceram novos estudos sobre comunicação. Para Barbero (2009), a

ruptura da barreira que as fronteiras nacionais ofereciam à concentração capitalista (anos 80)

alterou radicalmente a natureza e as funções dos Estados, diminuindo consideravelmente a

capacidade que tinham de intervir na economia e no desenvolvimento histórico.

Até os anos 80, na América Latina havia duas correntes de pensamento: a teoria crítica

(Anexo A – Teorias Estudadas), ligada à economia política da comunicação, e a teoria da

dependência cultural, mais ligada ao campo da cultura. A fisionomia da comunicação na

América Latina foi profundamente alterada com a chegada das “novas tecnologias”. Elas

representaram uma nova etapa num “processo contínuo de aceleração da modernidade”, dando

um salto qualitativo ao qual nenhum país pode estar ausente sob pena de “morte econômica e

cultural”.

Ao analisar esse momento histórico, Barbero (2009) afirma que a globalização da

comunicação e o acesso à internet possibilitaram – como nunca dantes facilitado – novas

ideias, culturas, religiões e modelos de vida. Isso obrigou: a uma tomada de consciência dos

valores; a uma identificação cultural nunca tanto questionada; a preservar a própria cultura

como elemento da própria identidade e a tomar o original importado como energia potencial a

ser desenvolvida a partir dos requisitos da própria cultura.

Os fios da história são tecidos no Panorama da Comunicação/Mídia/Igreja/

Política/Sociedade como uma teia. Interligam-se na década de 80. (Cfr. Gráfico 2).

individualmente e não pode transmitir sua função aos seus descendentes (...). Os livros da Bíblia: Isaías, Jeremias e Ezequiel descrevem narrações da vocação profética. COMBLIN; José. A profecia na Igreja. São Paulo: Paulus. 2008, p. 33-34

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Gráfico 2

Siglas: CF – Campanha da Fraternidade. MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

NOMIC – Nova Ordem Mundial de Informação e Comunicação. PNCs – Política Nacional de Comunicação TdL – Teologia da Libertação

Fonte: Elaboração Autora da pesquisa

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2.2 RELAÇÃO ENTRE COMUNICAÇÃO E TEOLOGIA

No mundo contemporâneo, a teologia tem seu lugar na "ciência da comunicação". A

teologia é uma disciplina. O termo foi criado pelos antigos filósofos gregos para designar aquela

disciplina que busca o “fundamento último das coisas”. Usa metáforas para, por meio da

linguagem sensível, indicar o invisível.

“Teos + logos” 59 significa “estudo de Deus”. Deus é efetivamente o objeto essencial e

último da teologia. O homem só tem acesso ao conhecimento de Deus se for mediado pelas

realidades temporais e usando sua razão.

A teologia, contudo, baseia-se na plausibilidade racional da fé, pois não deixamos de ser racionais quando amamos, quando nos comunicamos, nem quando cremos. A racionalidade humana não se reduz à racionalidade científica ou instrumental, mas também inclui a comunicativa. (ZILLES, 2010, p. 265).

Para Hohlfeldt (2012), foram os gregos (no século V a.C.) e os romanos (séc. I a.C. – séc.

I d.C.) que mais contribuíram na relação entre comunicação e teologia. Os filósofos gregos foram

os primeiros no Ocidente a refletir sobre a comunicação humana. No mito da Caverna (Livro VII

de “a República”) Platão falava “da passagem da luz às trevas e das trevas à luz”. Algo idêntico

aconteceria com a alma, passando através dos diferentes graus de conhecimento: o “mundo

sensível” (graus do ser e do conhecimento: razão discursiva e razão intuitiva e ciência).

Platão é o primeiro grande pensador a refletir, com maior profundidade, sobre o processo

comunicacional, como também a usar pela primeira vez o termo “teologia” no diálogo A

República para referir-se à compreensão da natureza divina de forma racional e, na teologia, o

cristianismo concebe-se a si próprio como uma religião de comunicação: um Deus que se

comunica com os homens por meio do logos (palavra, verbo). Jesus Cristo seria o “logos”

encarnado (Cfr. Jo. 1,1,ss). O conhecimento teológico (a teologia) parte de uma relação dialógica.

No estudo da relação comunicação e teologia, é preciso fazer referência a uma das

obras mais importantes em Teologia que marcou toda a Idade Média e ainda hoje continua

59 “Teos + logos” – . São palavras gregas que tomaram outro significado na teologia cristã. A incorporação do termo "teologia" pelo cristianismo teve lugar na Idade Média com o significado de conhecimento e saber cristão acerca de Deus. De acordo com a definição hegeliana, a teologia é o estudo das manifestações sociais de grupos em relação às divindades. Como toda área do conhecimento, possui então objetos de estudo definidos. Como não é possível estudar Deus diretamente, pois somente se pode estudar aquilo que se pode observar e se torna atual. O objeto da teologia seriam as representações sociais do divino nas diferentes culturas. A teologia pode referir-se a várias religiões. Existem, portanto, a teologia hindu, a teologia judaica, a teologia budista, a teologia islâmica, a teologia cristã (incluindo a teologia católica-romana, a teologia protestante, a teologia mórmon e outras), a teologia umbandista e outras. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia. Acesso em: 2 mar. 2014.

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com sua atualidade. Trata-se da “Suma Teológica”60, de São Tomás de Aquino, utilizada nas

universidades medievais europeias (Escolástica) entre os séculos XI a XV. Nela, Tomás de

Aquino procura conciliar a fé cristã com um sistema de pensamento racional, especialmente o

da filosofia grega. A Escolástica colocava uma forte ênfase na “dialética”61 para ampliar o

conhecimento por inferência e resolver contradições.

A “Suma Teológica” é vista pelos filósofos como exemplo maior da escolástica para

responder a questões da relação dialógica entre o homem e Deus, partindo da revelação de

Deus ao homem. Para Barros (2013), no artigo sétimo da primeira questão da Suma Teológica,

São Tomás de Aquino coloca Deus como sujeito da teologia. Ao perguntar se Deus é o sujeito

da Teologia, a resposta é sim. A teologia, conforme indica a própria etimologia da palavra,

pretende ser “um discurso sobre Deus”, e o sujeito dessa ciência é o próprio Deus.

Nos seus estudos sobre a Suma Teológica, Campos (2013) afirma Deus como sujeito

da teologia, estruturada em duas “teologias”: a natural (elaborada pela razão); e a revelada

(advinda do dogma). Na “natural” é a razão, partindo de suas próprias faculdades, que se eleva

a Deus por meio das coisas criadas. Na “revelada”, é Deus mesmo que revela ao gênero

humano certas verdades da “sua vida íntima” que excedem a razão natural e são, por isso

mesmo, criadas e não demonstradas. “Tomás queria saber quem era Deus e queria comunicá-

lo aos outros”.

Quanto ao objeto material, esses dois modos de conhecimento dizem respeito às

coisas divinas, mas no objeto formal, existe uma diferença notável entre as duas ordens: no

conhecimento natural sobre Deus, é o homem, por meio unicamente de suas faculdades

naturais, quem chega a conhecer certas verdades acerca de Deus, e isso pode ser demonstrado;

no conhecimento pela fé, é Deus quem propõe ao homem verdades que podem não ser

passíveis de demonstração e, por isso, são cridas.

De acordo com Campos (2013), a esses dois modos de conhecer Deus correspondem

duas ordens de verdades: uma que excede a capacidade da razão (exemplo: Deus Trino); outra

60 Suma Teológica – É a obra de São Tomás de Aquino, teólogo dominicano e santo da Igreja Católica. A obra é um corpo de doutrina que se constitui numa das bases da dogmática (dogma) e considerada uma das principais obras filosóficas da escolástica. Foi escrita entre os anos de 1265 e 1273. Nessa obra, Aquino trata da natureza de Deus, das questões morais e da natureza de Jesus. Encontra-se dividida em três partes, com 512 questões. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Suma_Teol%C3%B3gica. Acesso em: 13 Ago. 2013 61 Dialética - é um método de diálogo cujo foco é a contraposição e a contradição de ideias que levam a outras ideias e que tem sido um tema central nas filosofias ocidental e oriental desde os tempos antigos. A tradução literal de dialética significa "caminho entre as ideias”. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dial%C3%A9tica. Acesso em: 26 Nov. 2013.

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que a própria razão pode provar (exemplo: existência de Deus). Dessas duas ordens de

verdades procedem, por sua vez, duas teologias.

A essas duas formas de se conhecer Deus correspondem também duas formas de

comunicação, duas formas de entrar em relação com Deus, mas é, sobretudo, a “revelação”

que interessa de forma especial à teologia da comunicação. Segundo Díez (1997), a “revelação

judaico-cristã”62 (manifestação de Deus a seu povo e comunicação de Deus com seu povo)

refere-se não somente aos conteúdos revelados, mas também ao próprio fato e ato da

revelação. Por isso, pode-se afirmar que a “revelação cristã” apresenta um “autêntico modelo

de comunicação”. A revelação oferece uma “verdadeira pedagogia divina” (DV. Nº5).

A “teologia narrativa”, utilizada em certas regiões da América Latina e da África é o

modelo que melhor se adapta à cultura contemporânea, porque centrada e orientada para a

experiência humana da comunicação. É uma relação de acontecimentos e experiências históricas

de salvação, compartilhadas na comunidade.

A teologia narrativa utiliza um modelo de comunicação mais de acordo com a cultura contemporânea. Ela é uma teologia com maior capacidade comunicativa. Como já demonstraram a Teologia da Libertação na América Latina, a teologia contextual na África (...) é uma teologia menos elitista e mais próxima à história ou às histórias do povo. (DÍEZ, 1997. p. 61).

A teologia narrativa passa pela análise e pela reflexão da experiência humana quando

interpretada à luz da revelação. A teologia, para Campos (2013), é um discurso que perpassa a

comunicação na perspectiva da fé e da revelação. Partindo de Deus, do sobrenatural, obedece

melhor à ordem real: parte do que é anterior (Deus, “princípio e fim de todas as coisas”) para o

que é posterior (as criaturas: seus efeitos). Se a filosofia se submetesse à teologia, estaria

seguindo a ordem natural, mesmo não abdicando da sua lógica e seus próprios métodos. Em

outras palavras, embora distintas, a teologia natural e a teologia revelada não entram em

desacordo; elas se comunicam. Há uma comunicação dialógica. “A ciência do aluno preexiste na

62 A revelação judaico-cristã - A revelação no conteúdo da religião judaico-cristã não é um acontecimento, um livro ou um texto isolados, mas toda a trama histórica que os envolve, dando-lhes significado. Trata-se de uma "categoria", de um "processo", e não de um "conceito", pois a revelação judaico-cristã compreende uma série de elementos diversos, mas estreitamente ligados por um desígnio divino, que se vai revelando por etapas, acompanhando a evolução cultural da humanidade, desde os primórdios da Criação, passando pela história de Israel, alcançando a sua plenitude na Encarnação do Verbo, mas prosseguindo em sua explicitação pela Igreja, rumo à Escatologia, elementos esses que só são percebidos como "reveladores" mediante uma reflexão de tipo sapiencial sobre os acontecimentos humanos confrontados com uma Palavra de Deus. PIAZZA, Valdomiro O. A Revelação Cristã na Fenomenologia Religiosa. Revista Perspectiva Teológica. Vol. 11, nº 23. 1979. Acesso em: http://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/perspectiva/article/viewArticle/2141 Acesso em 13 ago. 2013.

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ciência do mestre que o ensina”63. “Os princípios naturalmente evidentes foram infundidos no

homem por Deus, porque Deus é o criador da natureza”.64

A Constituição Dei Verbum65, do Concílio Vaticano II, insiste no caráter pessoal da

revelação. “Através da revelação divina, Deus quis manifestar-se a si mesmo e aos eternos

decretos da sua vontade a respeito da salvação dos homens, para comunicar-lhes os bens divinos

que superam totalmente a compreensão da inteligência humana” (DV. nº6). Por isso, a história da

revelação pode ser definida como a história de um encontro e um diálogo progressivos entre Deus

e o homem. A Bíblia demonstra um momento fundador de toda comunicação, que é a revelação

do nome. Deus revelou seu nome a Moisés: “Javé” (=aquele que é) (Ex. 3, 14). “Esse é meu

nome para sempre, e assim eu serei lembrado de geração em geração” (Ex, 3, 15). Não é

revelação definitiva de Deus. É um nome que destaca a transcendência divina, mas que não faz

de Deus um ser disponível ao homem. É um nome que permite a comunicação pessoal, dirigir-se

a Deus pessoalmente, nomeá-lo de “geração em geração”. Entre Deus e o povo de Israel,

estabeleceu-se uma relação de comunicação, de proteção e de propriedade.

O cristianismo concebe-se a si próprio como uma religião de comunicação: um Deus que

se comunica com os homens, mas também um anúncio, uma “boa notícia” (Evangelho) que deve

ser difundida, proclamada a toda a humanidade. O anúncio do nascimento do menino Jesus aos

pastores começou com essa palavra: “Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova, que será

alegria para todo o povo” (Lc 2,10). Ao terminar sua presença entre os homens, Jesus enviou os

seus discípulos: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura.” (Mc 16,15).

A mensagem, a “boa notícia” (Evangelho) e a comunicação fazem parte da essência do

cristianismo. São Paulo (Paulo de Tarso)66 resume essa necessidade intrínseca na expressão “Ai

de mim, se eu não anunciar o Evangelho!” (I Cor. 9,16b). Nesse anúncio da boa nova 63 “Além disso, na ciência do mestre está contido o que ele infunde na alma do discípulo (...)”.AQUINO, Tomás de. Suma Contra os Gentios. Suma Teológica. I, VII, 3 (44). São Paulo: Loyola. 2001. 64 “Ora, o conhecimento dos princípios naturalmente evidentes é infundido em nós por Deus, pois Deus é o autor da natureza.” AQUINO, Tomás de. Suma Contra os Gentios. I, VII, 3 (44). São Paulo: Loyola. 2001. 65 Dei Verbum – Constituição Dogmática sobre a revelação divina. Documento completo disponível: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html. Acesso em 14 set. 2013. 66 Paulo de Tarso – Filho de família nobre que vivia na Ásia menor. Formou-se nas Faculdades Hebraicas. Viveu num contexto cultural helênico (Escola de Gamaliel e Alexandria). Depois de uma experiência mística, converteu-se ao “movimento Jesus de Nazaré”. Sua missão de anunciador do Evangelho se concretizou no mundo helênico e romano. Por isso, teve que traduzir seu anúncio evangélico em termos de símbolos e de mitos das “novas culturas” (pagãos). Por isso se diz que Paulo conseguiu articular uma nova teologia evangélica a partir dessas culturas. (Cfr. Fl. 3, 1-18). Também chamado de Apóstolo Paulo, Saulo de Tarso e São Paulo, foi um dos mais influentes escritores do cristianismo primitivo, cujas obras compõem parte significativa do Novo Testamento. A influência que exerceu no pensamento cristão, chamada de “paulinismo”, foi fundamental por causa do seu papel como proeminente apóstolo do Cristianismo durante a propagação inicial do Evangelho pelo Império Romano. Acesso disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_de_Tarso Acesso em 17 ago. 2013.

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(evangelização) têm sido, ao longo da história, utilizados todos os meios, estruturas, estratégias,

plataformas de comunicação: desde as “reuniões secretas das catacumbas” até aos púlpitos das

catedrais; desde a linguagem mais popular (os evangelhos foram escritos num grego popular

designado como koiné67 até à linguagem mais culta e erudita das universidades. O cristianismo

fez tudo, utilizou todos os meios para que a mensagem fosse conhecida. São Paulo resume isso na

citação da Bíblia que pode ser lida a seguir:

Embora livre de sujeição de qualquer pessoa, eu me fiz servo de todos para ganhar o maior número possível. Para os judeus fiz-me judeu, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da lei, fiz-me como se eu estivesse debaixo da lei, embora o não esteja, a fim de ganhar aqueles que estão debaixo da lei. Para os que não têm lei, fiz-me como se eu não tivesse lei, ainda que eu não esteja isento da lei de Deus - porquanto estou sob a lei de Cristo -, a fim de ganhar os que não têm lei. Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de salvar a todos. (I Cor 9, 19 - 22).

O cristianismo não se limitou apenas a falar “todas as línguas” ou a usar todas as

plataformas para a transmissão da mensagem, mas também se foi adaptando à linguagem e à

cultura dos povos que recebiam a “boa nova”. Essa reflexão está embasada no documento

Evangelii Nuntiandi (EN)68 nos Números: 29 a 31 no item III que trata do “Conteúdo da

Evangelização”, insistindo na perspectiva de uma libertação integral, palavra já presente em

Medellín (1968), em que se relatam a evangelização e a promoção humana – desenvolvimento,

libertação – existem de fato laços profundos: laços de ordem antropológica, dado que a pessoa

humana que há de ser evangelizada não é um ser abstrato, mas sim um ser condicionado pelo

conjunto dos problemas sociais e econômicos; laços de ordem teológica, porque nunca se pode

dissociar o plano da Criação do plano da Redenção já que um e outro abrangem as situações bem

concretas da injustiça que há de ser combatida e da justiça a ser restaurada; laços daquela ordem

eminentemente evangélica, ou seja, a ordem da caridade: como se poderia, realmente, proclamar o

mandamento novo sem promover na justiça e na paz o verdadeiro e autêntico progresso humano? É

impossível aceitar que a obra da evangelização possa ou deva negligenciar os problemas

extremamente graves, agitados sobremaneira hoje em dia, pelo que se refere à justiça, à

67 Koiné - "koiné helenístico" ou "koiné grego", também conhecido como "o dialeto comum". É a forma popular do grego que emergiu na pós-antiguidade clássica (300 a.C.– 300 d.C.). O koiné foi o primeiro dialeto comum suprarregional na Grécia e chegou a servir como uma língua francesa no Mediterrâneo e no antigo. Foi também a língua original do Novo Testamento da Bíblia e da Septuaginta (tradução grega das escrituras judaicas). O koiné é o principal ancestral do grego moderno. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Koin%C3%A9 Acesso em: 18 ago. 2013. 68 Evangelii Nuntiandi (EN) – Documento de Exortação Apóstólica do Papa Paulo VI sobre a evangelização no mundo contemporâneo. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/apost_exhortations/documents/hf_p-vi_exh_19751208_evangelii-nuntiandi_po.html Acesso em: 30 abr. 2014.

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libertação, ao desenvolvimento e à paz no mundo. Se isso porventura ocorresse, seria ignorar a

doutrina do Evangelho sobre o amor para com o próximo que sofre ou se encontra em

necessidade69.

Centenas de exemplos (com referências na Bíblia), de ontem e de hoje, podiam ser

relatados, mas isso não é o objetivo desta dissertação. Não se pode, no entanto, esquecer o

prólogo do Evangelho de São João, o mais conhecido e paradigmático: “No princípio era o

Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de

Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.” (Jo 1, 1-3). Segundo “Notas da Bíblia”

(2001), a palavra “Verbo” traduz aqui a palavra grega “logos” 70. São João está falando não para

os judeus que não compreendem tal linguagem, mas para os pagãos ou cristãos oriundos do

paganismo, majoritariamente de cultura helênica dominante durante vários séculos no mundo

ocidental.

“Logos” era um conceito filosófico muito presente no tempo em que João escreveu. Um dos

mais conhecidos representantes dessa corrente filosófica é Heráclito (535 a.C.), que considerava

o logos como a razão dominadora do universo, tornando possível a ordem e a regularidade dos

acontecimentos. Os estoicos, (301 a.C.), posteriores a Heráclito, afirmaram “que todo o universo

é corpóreo e governado por um logos divino (noção que os estoicos tomam de Heráclito e

desenvolvem). A alma está identificada com esse princípio divino, como parte de um todo ao

qual pertence. O “logos” (ou razão universal) ordena todas as coisas: tudo surge a partir dele e de

acordo com ele; graças a ele o mundo é um kosmos (termo que em grego significa "harmonia")

visto que o homem buscava intensamente a harmonia e a tranquilidade de vida.

Centenas de exemplos (com referências na Bíblia), de ontem e de hoje, podiam ser

relatados, mas isso não é o objetivo desta dissertação. Não se pode, no entanto, esquecer o

prólogo do Evangelho de São João, o mais conhecido e paradigmático: “No princípio era o

Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de

Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.” (Jo 1, 1-3). Segundo “Notas da Bíblia”

(2001), a palavra “Verbo” traduz aqui a palavra grega “logos”. São João está falando não para os

judeus que não compreendem tal linguagem, mas para os pagãos ou cristãos oriundos do 69 PAULO VI, Evangelii Nuntiandi, Nº 31. Esta mesma intuição já estava presente em Medellín: “Assim como Israel, o antigo Povo, sentia a presença salvífica de Deus, quando da libertação do Egito, da passagem pelo Mar Vermelho e conquista da Terra Prometida, assim também nós, o Novo Povo de Deus, não podemos deixar de sentir seu passo que salva quando se dá o verdadeiro desenvolvimento, que é, para todos e cada um, a passagem de condições menos humanas a condições mais humanas’”. CELAM, Medellín, Introdução, no. 6. 70 “logos”. Disponível: http://pt.wikipedia.org/wiki/Logos . Acesso em: 16 set. 2013.

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paganismo, majoritariamente de cultura helênica dominante durante vários séculos no mundo

ocidental.

“Logos” era um conceito filosófico muito presente no tempo em que João escreveu. Um dos

mais conhecidos representantes dessa corrente filosófica é Heráclito (535 a.C.), que considerava

o logos como a razão dominadora do universo, tornando possível a ordem e a regularidade dos

acontecimentos. Os estoicos, (301 a.C.), posteriores a Heráclito, afirmaram “que todo o universo

é corpóreo e governado por um logos divino (noção que os estoicos tomam de Heráclito e

desenvolvem). A alma está identificada com esse princípio divino, como parte de um todo ao

qual pertence. O “logos” (ou razão universal) ordena todas as coisas: tudo surge a partir dele e de

acordo com ele; graças a ele o mundo é um kosmos (termo que em grego significa "harmonia")

visto que o homem buscava intensamente a harmonia e a tranquilidade de vida.

São João (evangelista) 71 vai “batizar” esse conceito e dizer que o “logos” é Jesus Cristo. É

ele o princípio e a origem de tudo, mas pode-se afirmar que ele também é a palavra, a

comunicação, a mídia de Deus com os homens. Separar ou retirar comunicação da teologia cristã

é esvaziá-la de seu conteúdo e fonte. Para o cristianismo, a comunicação por excelência é aquela

que Deus estabelece como homem por meio de Jesus Cristo, sendo ele o mediador por

excelência. “Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas.

Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as

coisas” (Heb. 1,1-2).

Nesse sentido, a Teologia da Libertação é a versão atualizada daquela que foi a prática da

Igreja nos seus primórdios. “É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou. Ficai,

portanto, firmes, e não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão.” (Gl. 5, 1) disse São Paulo

aos Gálatas. Livres da escravidão, do analfabetismo e do jugo do poder político, dirá a Teologia

da Libertação em 1980.

71 São João – Autor do “Evangelho de São João” e do livro “Apocalipse”. Tradicionalmente é identificado São João Evangelista. Disponível:http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Jo%C3%A3o_Evangelista Acesso em: 16 set 2013.

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76

CAPITULO 3 - A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO A PARTIR DA ÓTICA DA ANÁLISE DO DISCURSO

O motivo da escolha da Análise do Discurso neste estudo foi trabalhar com a linguagem

além do texto, porque se questiona o sentido, apreendendo a marca linguística e relacionando

com o contexto histórico. Faz parte das condições da produção representada no corpus da análise

com a proposta de interrogar os sentidos apresentados nas formas de produção. A linguagem não

é um meio neutro de refletir e descrever o mundo, como lembra Mickail Backthin (1993). Ao

trabalhar-se a Análise do Discurso com o tema desta dissertação, ressalta-se a reserva em tratar

da “Teologia da Libertação” (TdL), porque se questiona o sentido que pode tomar o termo no

contexto latino-americano em que foi divulgado.

Como a TdL, com sua história e sujeito, tornou-se conhecida no mundo com sua própria

língua, cultura e história, seria mais condizente falar-se em “Teologia Latino-Americana”, como

afirmou a teóloga Vilma Moreira no artigo72 intitulado “A contribuição da Teologia Latino-

Americana para a elaboração de um novo paradigma da vida consagrada”. Refere-se, nos cinco

primeiros parágrafos, “a modo de introdução”, por duas vezes, ao termo “Teologia da

Libertação”, reportando o sentido dado no contexto em que nasceu “às vezes se escutava, dentro

da mesma vida religiosa, críticas sobre a falta de uma “espiritualidade” e de uma teologia da vida

religiosa dentro da Teologia da Libertação” (MOREIRA, 2013, p.337).

Pensando como o termo foi propagado nas diferentes regiões do mundo, reforça-se a ideia

de que o sentido que a Teologia da Libertação tomou no Brasil e na América Latina diz respeito a

uma relação de força e poder. Por isso, ao dizer “Teologia da Libertação” está se atribuindo uma

correlação de força e poder que tal teologia teve para elaborar “novo paradigma da vida religiosa:

estava abrindo a mente e o coração para algo mais profundo, que alimentava a espiritualidade da

vida consagrada, a partir do encontro com o Deus dos pobres, com o Jesus pobre e humilde do

Evangelho e a opção pelos pobres” (MOREIRA, 2013,p.337).

O exemplo do texto ajuda a lembrar que o discurso da mídia sobre a Teologia da

Libertação produz sentido com a força da especificidade da sua história. Portanto, o processo de

análise discursiva pretende integrar os sentidos estabelecidos em condições de produção na

materialidade do texto jornalístico, produzindo sentido para interpretação, intercruzando assim

72 MOREIRA, Vilma. A contribuição da Teologia Latino-Amaricana para a elaboração de um novo paradigma da vida consagrada. In: Revista Convergência: Conferência dos religiosos do Brasil (CRB), Brasília, nº 462, p. 336-337, jun. 2013.

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com o método Histórico-Gramatical. No diálogo com tal método, constitui-se a materialidade do

discurso no processo das análises dos textos que perpassam a dissertação. Isso significa dizer,

segundo Castro (2003), que a Análise do Discurso é o nome dado a vários estudos sobre o

processo de significação, de produção de sentido em diferentes investigações sobre a

enunciação73.

A Análise do Discurso considera a questão da linguagem e tenta conceituar e apontar

técnicas de análise mais adequadas para interpretar o objeto desejado. É uma prática analítica de

textos. Trabalha com o sentido produzido. Conforme Caregnato e Mutti (2006), pode-se dizer que

o corpus da Análise do Discurso é constituído da seguinte formulação: ideologia + história +

linguagem, assim compreendida:

- A ideologia é entendida como o posicionamento do sujeito quando se filia a um discurso, sendo

o processo de constituição do imaginário que está no inconsciente (sistema de ideias que constitui

a representação);

- A história representa o contexto sócio-histórico;

- A linguagem é a materialidade do texto ao gerar pistas do sentido que o sujeito pretende dar.

O processo deste estudo foi intenso e extenso (dois anos) pela complexidade do tema e

pela escolha dos recortes que demandou, em primeira fase, a análise de conteúdo. Foi tarefa não

fácil para a elaboração de questões que exigiram revisão de literatura e produção de trabalhos

acadêmicos na construção do objeto estudado. Uma dinâmica envolveu a contribuição dos

estudos, com discussões em sala de aula e experiências que foram direcionando ao referencial

teórico (Conf. Anexo A: Teorias Estudadas). Houve sustentação na orientação da Análise do

Discurso, colocada em diálogo com o método Histórico-Gramatical, seguindo passos como

suporte para encontrar o significado de cada texto sobre a base de suas palavras ao expressarem

sentido dentro do contexto histórico em que foram escritas.

73 Enunciação – Corresponde ao momento de atualização da língua numa situação de discurso, dependente da atividade conjunta do locutor e do interlocutor (ou ouvinte). Evento histórico correspondente à atividade conjunta de ativação discursiva levada a cabo por aquele que fala, no momento em que fala, e por aquele que ouve. A ela preside um conjunto de fatores e atos que provocam a produção de um enunciado. É constitutivo do sentido do enunciado o fato de ele ter sido, num momento preciso, objeto de enunciação. Disponível em: http://www.esa.esaportugues.com/programa/Lingua/enuncia.htm .Acesso em: 19 mar 2014.

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3.1 ANÁLISE DO DISCURSO

Análise do Discurso é o “estudo do discurso” como objeto. Resulta da convergência de

correntes recentes e da renovação da prática de estudos antigos de textos retóricos, filosóficos e

hermenêuticos. Pela análise pode-se constatar que o sentido dum texto depende do discurso e do

contexto onde ele está inserido.

Há um tipo de análise, surgida nos anos 60 e própria do modelo “Análise do Discurso

Doutrinário”, que parte do corpus (conjunto de textos passível de comparação, de confronto e

análise das correspondências ou divergências). Segundo Charaudeau e Maingueneau (2004), esse

modelo é, sobretudo, utilizado nos discursos doutrinários, como o próprio nome indica. Nos anos

70, a análise do discurso (na França) era concebida como uma extensão da linguística.

Articulando várias teorias (da língua, do discurso, do inconsciente, das ideologias), ela foi

frequentemente crítica em relação à “análise de conteúdo (AC)” 74. As críticas eram

fundamentalmente duas: que a AC não levava em conta as diferenças entre significantes75 e não

dar o devido apreço à estruturação dos textos. Pode-se acrescentar a isso, diz Castro (2003), a

falta de atenção ao contexto em que um discurso é pronunciado. Este tipo de análise

negligenciava o discurso como tal, como se as ideologias não se concretizassem também como

sistemas de representações nos discursos e como se a ordem do discurso e sua estrutura não

comportassem implicação ideológica.

Os anos 80 e 90 foram de aprofundamento e de evolução na Análise do Discurso.

Diversificação de abordagens linguísticas, interesse por corpora midiáticos, pesquisa de opinião,

estudos sob encomenda, tudo isso contribuiu para aumentar o interesse e o aprofundamento da

“análise do discurso”, mas a “análise de conteúdo” também progrediu, abrindo-se a outras

técnicas além da análise categorial, algumas delas de inspiração linguística. A Análise do

Discurso, segundo Eiterer (2008), preocupa-se não apenas com o conteúdo, mas também com o

74 Análise de Conteúdo – A análise de conteúdo constitui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. Essa análise, conduzindo a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura comum. Essa metodologia de pesquisa faz parte de uma busca teórica e prática, com um significado especial no campo das investigações sociais. Constitui-se em bem mais do que uma simples técnica de análise de dados, representando uma abordagem metodológica com características e possibilidades próprias. MORAIS, Roque. Análise de Conteúdo. Revista Educação. Vol. 22, nº 37, p. 7-32. 1999. Disponível em: http://cliente.argo.com.br/~mgos/analise_de_conteudo_moraes.html. Acesso em: 20 ago. 2013. 75 Significante – é o elemento perceptível do signo e que constitui, de certo modo, uma “imagem acústica” (Perspectiva Pierce: seria o objeto (geral) e/ou o representante (específico). Situa no plano da forma/continente (parte material da linguagem). Disponível em: http://semiotica-unicv.blogspot.com.br/2010/05/signo-significante-significacao.html Acesso em: 20 mar. 2014.

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uso que é feito dele e com as consequências que daí advêm. A análise do discurso é o método

recomendado não para analisar o “como” (se diz alguma coisa); mas para analisar “o que” (se

diz). A Análise do Discurso, além de procurar saber “o que fala”, quer saber “quem fala”, “para

quem fala”, “como falam” e “para que falam”.

A análise do discurso é um método cujo objetivo é não somente compreender uma mensagem, mas reconhecer qual é o seu sentido, ou seja, o seu valor e sua dependência com um determinado contexto. (EITERER, 2008, p.1).

Na “Análise do Discurso” não pode haver quietude, porque como Orlandi (2010) explica,

“a palavra discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de percurso, decorrer por, de

movimento” (ORLANDI, 2010, p.15). O discurso movimenta-se para encontrar outro discurso

dentro de um determinado contexto. Nunca está só, sempre em constante batalha, ora

legitimando, ora confrontando, em constante diálogo com o/s texto/s. Para Orlandi (2010), a

linguagem não é transparente. Ela não procura atravessar ou penetrar o texto para encontrar um

sentido ou outro. Num texto, a linguagem não se preocupa com “o que” (esse texto significa),

mas sim com o “como” (esse texto significa). A linguagem produz um conhecimento a partir do

próprio texto, porque o vê como tendo uma materialidade simbólica própria e significativa.

A Análise de Discurso concebe a linguagem como mediação entre o homem e a realidade

natural e social. É essa mediação que torna possível a permanência, a continuidade, o

deslocamento e a transformação do homem e da mulher e da realidade em que ele ou ela vive. É

nesta perspectiva que a metodologia de análise das matérias em estudo nesse trabalho toma seu

percurso com a noção de construção, enfatizando que as pessoas lidam com o mundo em termos

de construções. Diferentes tipos de textos constroem o mundo, e a noção de construção marca

uma ruptura com os modelos de linguagem tradicionais.

Segundo Galilea (1978), a TdL não surgiu no panorama latino-americano como um fato

isolado; pertence a uma das formas mais tradicionais de fazer teologia na Igreja católica. Ao

longo da história, a Igreja foi construindo o seu “discurso”, teologizando a mensagem da fé.

Numa análise aprofundada, podemos encontrar três tipos de discurso, que correspondem a três

maneiras de fazer teologia:

1) “a teologia como sabedoria”, muito antiga, que aparece no Novo Testamento nos primeiros

escritos cristãos e, ao longo da história, na literatura de santos. Tal teologia é própria do gênero

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homilético76, da reflexão espiritual e procura fazer da “Palavra de Deus” alimento real para a

vida. Não tem pretensão sistemática e nem diretamente científica;

2) a “teologia sistemática (científica) ou ainda dogmática, que foi adquirindo importância

crescente na vida da Igreja até se tornar, nos últimos quatro séculos, o “coração” da teologia e

ponto de encontro entre a fé e a razão humana no estudo da “Revelação Divina”. Ela está

sistematizada em corpos doutrinais77, precisando os alicerces da Bíblia e do magistério etc.;

3) a “teologia pastoral”, que é parte da vida da Igreja, da ação pastoral, do compromisso dos

cristãos e da realidade humana na qual a Igreja exerce sua missão. Para ela, vida e práxis da

Igreja são um “lugar teológico”, onde se elabora e se reflete a “mensagem” de Jesus de Nazaré - o

Cristo. Na teologia pastoral, a ação e a práxis cristãs são o “ato primeiro”, enquanto a reflexão

teológica é o “ato segundo”, que ilumina e reorienta a ação.

Nesse sentido, pode-se dizer que a TdL é fundamentalemente uma teologia pastoral

elaborada a partir das bases, (Comunidades Eclesiais de Base - CEBs), a partir da vida real do

povo que vivia e ainda vive num continente marcado pela opressão e onde a pobreza e a miséria

fazem parte significativa da população78. Esse modo de fazer Teologia, procedendo da vivência

real do povo, despertou curiosidade e interesse de teológos “terceiro-mundistas” da África e da

Ásia, onde as realidades de “opressão” eram semelhantes. O significado, importância e influência

da Teologia da Libertação foram, segundo Galilea (1978), captados pela cúpula do magistério.

O papa Paulo VI a levou em consideração num dos capítulos centrais da Evangelii

Nuntiandi (nº29-39), escrevendo que a evangelização deve incluir “uma mensagem

particularmente vigorosa nos dias atuais sobre a libertação” (EN, nº 29). Num discurso em Roma,

no dia 21 de fevereiro de 1979, após uma viagem à América Latina, o papa João Paulo II disse:

a função da teologia é achar o verdadeiro significado da libertação nos diferentes e concretos contextos históricos contemporâneos. É parte do âmbito da verdade chamar pelos nomes a injustiça e a exploração do homem pelo homem e pelo Estado, dos mecanismos e sistemas econômicos.

76 Gênero Homilético – (Sermão/Pregação) – Questão do Gênero Literário em Agostinho, especialmente do Gênero Homilético. Disponível em: file:///C:/Users/Padre/Downloads/15618-38040-1-SM.pdf. Acesso em 20 mar. 2014. 77 Corpo doutrinal (= corpo de doutrina) - conjunto de princípios religiosos ou filosóficos. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=corpo. ou o que é doutrina: Disponível: http://www.ibetel.com.br/home/?page_id=81 Acesso em: 26 mar. 2014. 78 Em pleno Brasil do século XXI existem 14 milhões de analfabetos, cerca de 15 milhões de famílias participam do programa Bolsa Família, o que representa uma média de 60 milhões de brasileiros e outros 47% da população não tem acesso a internet, como é o caso dos alunos da Escola Família Agrícola Nossa Sra. do Rosário, localizada na MA-402 – Km 8 – Povoado Cajueiro (onde pobreza e miséria são presentes) há 8 Km do município Morros/MA (90 Km da capital maranhense).

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Essa mensagem, enviada pelo Pontífice, repercutiu em toda a Igreja e teve como reação

imediata um maior compromisso dos cristãos na defesa da justiça, da dignidade humana e na

“libertação dos oprimidos”. Pode-se afirmar, com as devidas reservas, que o conceito de

evangelização se alargou: não era mais apenas um anúncio da “boa nova” (da mensagem), mas

sim um compromisso pela libertação integral (de toda a opressão) do homem e da mulher. Tal

reação, com todos os méritos que obteve, provocou, como demonstra Galilea (1978), uma enorme

confusão nas “teologias”, e foi necessário buscar a especificidade da TdL, diferenciando-a de

formas de reflexão não teológicas sobre a “libertação”.

Existe a teologia da libertação propriamente dita, que se inscreve numa preocupação de fé e evangelização, como toda teologia católica. E existe a reflexão de cristãos sobre a libertação, num nível mais ideológico, sociopolítico, pedagógico ou estratégico... Ambos os níveis de reflexão são necessários para os cristãos que vivem na cidade temporal, mas o segundo não é propriamente teológico, não se constrói em nome da fé e do Evangelho. A confusão está em que, para muitos, toda reflexão sobre a libertação – teológica ou não – já é “teologia da libertação”. (GALILEA, 1978, p. 15).

Tanta “confusão” produziu frutos amargos na TdL. Em vários setores eclesiais da

América Latina, ela passou a ser “suspeita” e, quando não rejeitada, “tolerada”. Os centros de

poder político e econômico se aproveitaram, segundo Galilea (1978), dessa posição “oficial” da

Igreja para organizar uma pressão sistemática nos meios de comunicação (Cfr. Imagens 4, 5, e 6

– Títulos/Chamadas/Leads das notícias e reportagens publicadas no mês de setembro de 1984)

contra a Teologia da Libertação.

Imagem 4 – Título/chamada - Reportagem da Revista Veja publicada em 5/9/1984. Editoria: Religião, p.92.

Fonte: Acervo Digital da Revista Veja

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Parecia não interessar ao sistema estabelecido uma teologia da libertação geradora dum

catolicismo engajado e libertador.

Imagem 5 – Título//chamada/Lead - Notícia publicada no Jornal O Globo em 16/9/1984. Editoria: País, p.11.

Fonte: Acervo Digital Jornal O Globo

Imagem 6 – Título/Lead - Reportagem publicada no Jornal Folha de S. Paulo em 23/9/1984. Editoria: Política, p.12.

Fonte: Centro de Documentação e Informação da CNBB

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A Análise do Discurso é a relação entre texto e contexto. Muitos dos textos sobre a TdL,

publicados na década de 80 e aqui analisados, desestruturam os textos e, ao serem analisados,

atingem, alteram e adulteram o “sentido” deles mesmos79. Para compreender a produção do

texto e sua destinação social o teólogo e sociólogo Maduro (1981), afirma que o contexto eclesial

e o contexto macro-social da América Latina são realidades caracterizadas pela dominação,

dependência e pelo conflito de interesses opostos.

A produção teológica se realiza no meio de uma situação de dominação e conflito que atinge direta e/ou indiretamente a elaboração, a difusão, a interpretação e as funções sociais da teologia. Atinge, pois, a forma e o conteúdo, a gênese e o destino de toda produção teológica. Não podemos esquecer que em uma sociedade de classes, em uma sociedade dominada e dependente como a latino-americana, a dominação não atinge somente a vida material das pessoas. Não. Também os esquemas de interpretação da realidade (e, por isso mesmo, os esquemas de interpretação do dado revelado) estão submetidos aos valores, às ideias, aos interesses e às atitudes dos grupos poderosos”. (MADURO, 1981, p.16)

O autor afirma que se devem conhecer as relações de dominação e de conflito de interesses

dentro e fora da Igreja, para se poder compreender a produção dos textos. A partir dessa afirmação, o

autor mostra a tríplice relação texto/contexto:

1) determinação estrutural do texto pelo contexto;

2) autonomia relativa da produção do texto com relação ao contexto;

3) eficácia específica do texto sobre o contexto;

Essas três relações são estritamente interdependentes e historicamente se influenciam umas

às outras”80, pois muitos dos textos analisados manipulam seu sentido de acordo com a ideologia

dos grupos dominantes, neste caso, quer no interior da Igreja, quer no interior da sociedade. Deste

modo, compreende-se a análise dos “títulos” das matérias publicadas nos jornais do Brasil com o

tema “Teologia da Libertação”. Procurou-se conhecer o conteúdo do texto, além de se analisar a

tentativa de “efeito de sentido” do discurso. Por exemplo, o título da Imagem 6: “Teologia da

Libertação, uma grande polêmica que desperta os católicos” - aborda a polêmica levantada sobre a

TdL, com a ida do teólogo Leonardo Boff ao Vaticano para explicar seus escritos. O objetivo era

saber o “quem fala”, “para quem fala” e “como fala” da Teologia da Libertação. 79 De acordo com a Carta Capital, Ano XX, nº. 794, de 09 de abril de 2014, no artigo de Maurício Dias: 1964: golpe contra a maioria, a mídia também mentiu ao esconder que 81% dos brasileiros queriam que João Goulart tomasse posse e 61% da população eram favoráveis à Reforma Agrária. No entanto, como diz o articulista, a minoria de 9% contra a posse, venceu a maioria de 81% a favor da posse sem qualquer concessão... Os números mostram um apoio da maioria à reforma agrária, mas aponta um número expressivo de entrevistados indecisos: 29% não souberam responder. Novamente, a maioria de 61% foi derrotada pela minoria de 11% dos que estavam contra. Os projetos políticos e sociais de Jango não iam além do objetivo de minimizar as distorções sociais no Brasil. Isso explica o golpe. O resto é mentira (p. 16). 80 MADURO, O., Op. Cit., p 17.

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Na análise que se seguirá traçam-se as etapas estudadas por Orlandi (2010) no título da

notícia publicada no jornal O Globo em 2/10/1984. Editoria: O Mundo, p. 14: “Papa divulgará

relatório contra Teologia da Libertação” (Cfr. imagem 7)

Imagem 7 – Título – Notícia publicada no Jornal O Globo em 2/10/1984. Editoria: Mundo, p. 14

Fonte: Acervo do Centro de Documentação e Informação da CNBB

Feita a seleção do título (1ª etapa): “Papa divulgará o relatório contra a Teologia da

Libertação” que compõe o corpus de análise, examinam-se as condições de produção, de

interpretação da informação e como o discurso se textualiza seguindo as Bases da Análise

definidas por Orlandi (2010): a delimitação do corpus (decidir sobre as propriedades discursivas

para que obedeçam aos critérios dos princípios teóricos da análise de discurso e permitam chegar

à sua compreensão). Uma questão de método (o material de linguagem bruto coletado, tal como

existe é o objeto discursivo). Este já recebeu um primeiro tratamento de análise superficial (de-

superficializado). Em sua sintaxe e enquanto processo de enunciação (em que o sujeito se marca

no que diz), vai fornecendo pistas para compreender o modo como o discurso pesquisado se

textualiza (2ª Etapa). Começa-se a observar o modo de construção, a estruturação, o modo de

circulação e os diferentes gestos de leitura que constituem os sentidos do texto submetido à

análise. Textualidade e discursividade - o texto, referindo-se à discursividade, é o vestígio mais

importante da materialidade e funciona como unidade de análise que se estabelece pela

historicidade. O texto é unidade de análise, porque representa uma contrapartida à unidade

teórica, o discurso, definido como efeito de sentidos entre locutores (3ª Etapa). O texto é texto

pelo que significa. Autor e sujeito (o imaginário e o real); o sujeito está para o discurso assim

como o autor está para o texto.

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Depois dessas considerações, de modo mais claro, indicar-se-á a síntese da análise:

“Dispositivos e Procedimentos” (ORLANDI 2010, p. 77) em três etapas. Estrutura que permite

entender como, de etapa em etapa, se chega ao estudado no título:

Quadro 2 - Título

TÍTULO

“Papa divulgará relatório contra Teologia da Libertação”

1ª Etapa (texto): “Papa divulgará relatório contra Teologia da Libertação” (1º lance da

análise), constrói-se um objeto discursivo.

2ª Etapa (Instância de Enunciação): O jornal afirma que o Papa é “contra” a Teologia da

Libertação. Com essa afirmação, o jornal fere os princípios da sua própria organização81:

“apartidários” publicando sob a convicção de que a “reportagem é legítima”. No título, o jornal

lança o alicerce do “relatório”, dizendo para os leitores que o “Papa” é “contra” a “Teologia da

Libertação”. É um argumento retórico comum para levar os cristãos católicos a se posicionarem

contra a TdL e objetiva gerar expectativas sobre o “relatório” oficial, limitando-se a indicar a

maneira como o argumento deve ser interpretado. Nessa asserção está implícita a ideia de que o

Papa é “contra” a TdL. Quando foi conhecido o “relatório” “Instruções Sobre Alguns Aspectos

da Teologia da Libertação”, da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em nenhum

momento se afirma que o Papa é contra a Teologia da Libertação. Ou seja, há uma manipulação

do discurso jornalístico levando em consideração que a maior parte dos leitores – a não ser os

especialistas no tema – leriam o discurso papal.

Ao buscar o texto do Papa, observa-se que existe uma advertência para os perigos e os

desvios prejudiciais à fé cristã, quando se assumem conceitos do pensamento marxista:

A Congregação para a Doutrina da Fé não pretende tratar aqui o vasto tema da liberdade cristã e da libertação em si mesmo. Propõe-se a fazê-lo num documento posterior, no qual porá em evidência, de maneira positiva, toda a sua riqueza, tanto para a doutrina como para a prática. A presente Instrução tem uma finalidade mais precisa e mais limitada: quer chamar a atenção dos Pastores, dos teólogos e de todos os fiéis para os desvios e perigos de desvios, prejudiciais à fé e à vida cristã, inerentes a certas formas da teologia da libertação que usam, de maneira insuficientemente crítica, conceitos assumidos de diversas correntes do pensamento marxista (Cf. LN. Introd. “Orientações”, p. 1)

81 PRINCÍPIOS Editoriais das Organizações Globo. Disponível em: http://g1.globo.com/principios-editoriais-das-organizacoes-globo.html Acesso em: 9 ago. 2013.

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De acordo com Orlandi (2010), posto o dito, ele traz consigo necessariamente o

pressuposto não dito, mas presente. A afirmação fica como subentendida dependendo do

contexto. O que interessa ao analista são as propriedades internas ao processo discursivo:

condições, remissão a formações discursivas e modo de funcionamento: a necessidade de

reconhecer (em sua materialidade discursiva) os indícios (vestígios, pistas) dos processos de

significação aí inscritos. O que lhe interessa é o modo como elas estão no texto e como elas se

“encarnam no discurso” (ORLANDI, 2010, p.90) - (2º lance da análise).

3ª Etapa – (Formação da Família Parafrástica: Efeito Metafórico) que o Papa é “contra” a

“Teologia da Libertação” e o “relatório” que “será divulgado” confirmará a premissa do título da

notícia.

Nessa etapa, efeito metafórico é lugar da interpretação, da ideologia e da historicidade.

Conforme Orlandi (2010), essa é a relação entre a língua e o discurso: a língua é pensada como

sistema sintático intrinsecamente possível. O dito e não dito (faz-nos entender como o dizer tem

relação com o não dizer), e como ele é tratado metodologicamente na análise. O pressuposto e o

subentendido (o não dizer implícito) separará o que deriva propriamente da instância da

linguagem daquilo que se dá em contexto, conforme o exemplo da imagem 8:

Imagem 8 – Título/Chamada da reportagem publicada na Revista Veja em 26/10/1988. Editoria: Religião, p.108.

Fonte: Acervo Digital da Veja

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3.2 MÉTODO HISTÓRICO-GRAMATICAL: UMA CONTRIBUIÇÃO

A contribuição para uma interpretação, historicamente falando, está associada ao método

gramático-histórico defendido pelos reformadores (Martinho Lutero, Philip Melanchton, João

Calvino, Urich Zuínglio como exemplos), que acentuaram a necessidade da interpretação

histórica, gramatical, referindo-se ao contexto em que os livros da Bíblia foram escritos. Procura

estar sensível aos estudos modernos que podem trazer auxílio à interpretação do texto bíblico. É

uma chave de leitura para apuração do sentido (ou dos vários sentidos) do texto dentro de um

contexto histórico.

Kunz (2008) classifica esse método em cinco passos: texto; contexto; tradução, análises e

síntese.

- Primeiro passo - é o conhecimento do texto com a visão geral. Situar-se no conteúdo.

Familiarizar-se com o texto. Aprender a discernir o que é e o que não é importante no texto

em estudo. Perguntar-se: quais são as pessoas envolvidas (quem?), que ideias estão

envolvidas (o quê?). Qual a localização do fato (onde?), quando isso aconteceu, qual o

fundo histórico (quando?). Qual o propósito disto (por quê?). Com que eficiência e rapidez

isso aconteceu, como foi realizado (como?). Também descobrir as palavras-chave do texto.

Delimitar a extensão da passagem. Crítica textual (em textos bíblicos - é necessária, no

texto original, a utilização de algum manual de auxílio para identificação do aparato de

avaliação).

- Segundo passo - Contexto. É um estudo que se faz do contexto: histórico (observar as

circunstâncias do momento e situação histórica que originou o texto escrito), literário

(verificar por que o autor inseriu determinado argumento exatamente em determinado

ponto do seu escrito) e cultural (esvaziar a mente de todas as ideias e métodos modernos e

transportar-se para a época em que os textos foram escritos: cultura, política, religião,

economia, geografia, organização militar, estrutura social etc).

- Terceiro passo - é a Tradução, que consiste na transposição de uma composição literária

de uma língua para outra, observando-se aspectos de exatidão, adaptação, naturalidade e

forma. Muito utilizado na tradução do grego e do hebraico;

- Quarto passo metodológico são as Análises: léxicas (definir os termos e conceitos

principais dentro do texto em questão), morfológica (a maneira como as palavras são

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formadas refletem seu significado), estilística (a maneira pela qual o autor procurou dar

maior expressividade ao seu texto – estuda as figuras de linguagem) etc;

- Quinto passo é a Síntese, ou seja, o resumo de tudo que foi verificado nos passos. Consta

de três aspectos que precisam ser levados em conta a respeito do texto: correlação (usando

referências cruzadas – palavra-chave no texto, esboços – gráficos etc), atualização (sentido

do texto – “deixar o texto falar” – traduzindo o significado do texto e seus princípios para

os dias atuais) e aplicação (verificar como as verdades do texto podem ser colocadas em

prática na vida do intérprete e dos seus leitores).

Procurou-se, durante a análise dos dados, o diálogo com o método histórico-gramatical

para identificar palavras registradas nos textos da mídia: a intenção do autor/editorial na

construção do discurso da informação. (Cfr. Quadro 3: Passos da Análise): análise do título de

uma notícia publicada no jornal Folha de S. Paulo no dia 23 de setembro de 1984 (Cfr. Imagem

6), assinada pelo jornalista Antenor Braido.

Quadro 3: Passos da Análise

1º Passo: TEXTO

Título: “Teologia da Libertação, uma grande polêmica que desperta os católicos”. (Folha S. Paulo, 23/09/1984, p.12)

2º Passo: CONTEXTO

Igreja Católica: O clima tenso que se vivia na Igreja entre os meses de setembro e outubro de 1994 no campo da eclesiologia tornava os problemas com a TdL mais agudos. O teólogo Leonardo Boff havia sido convocado pela Sagrada Congregação da Doutrina da Fé, em Roma, para um diálogo de esclarecimento sobre alguns pontos do seu livro “Igreja: Carisma e Poder”, no dia 7 de setembro de 1984. Data da divulgação oficial do documento da mesma Congregação: “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação” (Cfr. Anexo C), mas já era tema do domínio público. O jornal O Globo publicou tal documento em 30/8/84, gerando discussão na esfera pública. No dia seguinte, 31/8/84, a Folha de São Paulo veicula o mesmo documento, ampliando com a divulgação das falas dos teólogos da libertação que

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as denominou: “defesas dos teólogos”. Mídia: A imprensa estava focada no processo de tensão entre o teólogo Boff (desde 1982) e a Comissão Arquidiocesana para a Doutrina da Fé do Rio de Janeiro que havia julgado seu livro, como também no conflito entre as alas conservadora e progressista da Igreja Católica, consequência do evento histórico Concílio Vaticano II, fazendo com que houvesse um enorme volume de informações sobre tal tensão, gerando debates sobre o tema Teologia da Libertação. Político-social: O país atravessa a fase de transição de desagragação do regime ditatorial (Mov. “Diretas Já”). Após derrota das eleições diretas havia uma campanha acirrada entre os canditados Paulo Maluff e Tancredo Neves à presidência da República. Neves contava com o apoio da população. Maluf era considerado antipopular. A concentração da renda e da riqueza no país e a corrupção (INPS) repercutiam na área social: desemprego, fome, miséria, suicídios e assassinatos de trabalhadores, sobretudo no nordeste. A Igreja Católica na “opção preferencial pelos pobres” se engajara na luta social. Lançada a Campanha da Fraternidade: “Fraternidade e Vida”. As Cebs (fortalecidas na Teologia da Libertação) se articulavam nas lutas sociais pela vida digna no campo e na cidade. Surge a formação de grupos sociais. Agravam-se os conflitos e os assassinatos na luta pela redemocratização da terra. A conjuntura no mundo, naqueles dois meses, não era diferente. No Chile, perdurava a ditadura, e na África (Etiópia) um milhão de pessoas haviam morrido de fome. Este era o contexto de dependência e do processo da afirmação da prática pastoral libertadora e de uma Teologia da Libertação e, como afirma Libanio (1987, p.61) “da resignação, da cruz, do martírio, do sofrimento”. (Cfr. Resumo desta conjuntura no Grafico 3: Contexto – História Geral – Teologia da

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Libertação – Meses: setembro e outubro/1994).

3º Passo:

TRADUÇÃO

Não existe um texto original comparativo, neste caso, com o título em análise, mas existe o conteúdo original gerador da “polêmica”: a própria essência da Teologia da Libertação, já abordada em capítulos anteriores. E, para exatidão de tal essência adaptada ao termo: “desperta”, retomando a história humana, conheceram-se momentos de dominação e libertação, como afirma Libanio (1987): “a história humana conheceu momentos de opressão e surtos revolucionários; nem por isso seguiu alguma prática pastoral libertadora, a ponto de permitir o surgimento de uma Teologia da Libertação. Faltava no seio de tais movimentos a presença de pessoas que se pusessem a favor da problemática da fé. E isso aconteceu na América Latina, no Brasil, onde a Igreja se fez presente a tais movimentos de libertação, criando com eles fios de contato. De dentro deles nascem as perguntas básicas a que a TdL quer responder” (LIBANIO, 1987, p.65).

4º Passo: ANÁLISES

(léxica, morfológica, estilística)

As palavras “polêmica”, “desperta” e “católicos”, utilizadas no título, têm um significado, um conceito:

“polêmica” – Adj. Significa discussão (que gosta de discutir), controvérsia sobre questões políticas, literárias, científicas etc (Cfr. Dicionário Aurélio On-Line).

“desperta” – Verbo - (que despertou). Está acordado. Conforme dicionário Aurélio on-line, o significado de tal palavra na Bíblia: “Amados, já é esta a segunda carta que vos escrevo; em ambas as quais desperto em admoestações o vosso ânimo sincero” (II Pd. 3,1).

“Católicos” – segundo o Dicionário Teológico (1998), do termo grego: katholicós (=universal/Geral). Começou a aparecer no vocabulário cristão a partir de 450. No que tange às epístolas católicas receberam elas esta designação de Orígenes,

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significando terem sido escritas a todas as Igrejas (ANDRADE,1998,p.79). No Dicionário On-line Aurélio: “católico” (adj. Universal) que pertence à religião de Roma que professa o catolicismo.

O adjetivo “grande” tem dimensões consideráveis: amplo, extenso, vasto, profundo; um grande acontecimento que sobressai pela posição social, pela influência. Ex: “uma grande polêmica” (refere-se ao aspecto moral). O verbo de ação “despertar” tem seu significado de: acordar, tirar do sono, provocar, excitar. Fazer sair do estado de inércia. Ação de se manifestar: despertar da inteligência. Utilizando a análise estilística, neste caso: o quiasmo (organização do texto em dois períodos consecutivos de modo que, no segundo período, reapareçam os mesmos elementos do primeiro, mas em ordem inversa). Neste título: “Teologia da Libertação, uma grande polêmica que desperta os católicos” pode-se ver a seguinte estrutura: A – Teologia da Libertação – é grande B – Católicos – (subentende-se: “não dito”, mas dito “grande” = universal) C – Teologia da Libertação – Desperta católicos B´ - Católicos – “desperta” – (a inteligência/tira da inércia, do sono) A´ - Teologia da Libertação – é polêmica

“Quem fala?”

O Editorial/O jornalista Antenor Braido

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5ºPasso:

SÍNTESE

Diálogo: Análise do Discurso em Orlandi (2010).

“Para quem fala?”

A política econômica da ditadura militar levou o país a uma etapa monopolista, promovendo a classe média alta (leitores em potencial da Folha) em detrimento dos setores urbano e rural popular.

“Como fala”

da TdL?

A Teologia da Libertação dirigia o olhar para a situação econômica, percebeu como ela se mascara com a linguagem religiosa: necessitava ser decodificada e criticada. Movia-se na esfera da esperança do futuro possível. Afirma Rubio (1977) que romper com modelos passados e buscar outros mais adequados, em que a pessoa se sentisse liberta e fizesse sua história, partindo da práxis e não de enunciados. No processo ruptura/busca, surgiram os pontos de contato e divergentes: dimensão política da fé. A TdL procurava descobrir a raiz da dominação. Entrava em confronto com a teologia que tinha sido usada a serviço da dominação. Era obstáculo para a libertação do povo latino-americano. O discurso da Folha de S. Paulo sobre a TdL é que é “polêmica” e “desperta os católicos” (os movimentos sociais, as CEBs, o povo em geral). É preciso silenciar (foco da mídia: processo do julgamento do teólogo L. Boff que resultou no silêncio obsequioso em 1985). A Folha de S. Paulo reforçou o foco na publicação do documento: “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação”, conjugado ao processo de julgamento do

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teólogo Boff ligado à Teologia da Libertação. Como afirma Libanio (2007), a TdL desmarcara a perversão teológica do capitalismo (em 1980); depois, ao criticar e denunciar a globalização econômica neoliberal (em 1990) que produz aumento da pobreza, do desemprego, massivas migrações interna e externa de populações. Anuncia o Deus dos pobres, estimulando a globalização da solidariedade, fundada na consciência (“desperta”) planetária libertadora a partir dos países e camadas pobres. Aponta para a experiência do Forum Social Mundial, iniciado em Porto Alegre, em 2001. Atualizando o tema TdL, a mídia (Jornal O Globo) discursa no editorial “Especial”, página 7, no dia 28 de julho de 2013 da visita do Papa Francisco ao Brasil, na ocasião da Jornada Mundial da Juventude com o título: “O ressurgimento da Igreja política, com a chamada: “Opção de Francisco pelos pobres anima Teologia da Libertação a retomar ativismo social” (Cfr. Recorte), por Chico Otavio, jornalista investigativo, repórter do caderno O País, de O Globo. Recorte – Título/chamada publicado no jornal O Globo em 28/7/2013, Editoria Caderno Especial, p. 7.

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Fonte: Acervo Digital do Jornal O Globo

Resumindo (síntese): A Teologia da Libertação é vinculada estreitamente aos pobres, ao “Deus dos pobres” e não precisa de mais defesa, conforme afirma Libanio (2007) nas palavras do bispo Pedro Casaldáliga: “a Teologia da Libertação não precisa de defesa porque se defende por si mesma enquanto haja Deus dos pobres e Evangelho de Jesus e Igreja samaritana” (LIBANIO; 2007, p.51).

Fonte:Autora da pesquisa

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Gráfico3

Fonte: Autora da pesquisa

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Partindo de tal termo metodológico estudado e esquematizado, adentra-se na análise da

(tentativa)82 de produção de sentido com o apoio de Orlandi (1999), Verón (1984) e Charaudeau

(2006), que contribuem para a análise dos dados das mídias consideradas mais importantes do

Brasil , percebendo a construção do discurso de tais mídias sobre a Teologia da Libertação. A

ideologia aparecerá como um sistema de relações entre um texto e outro; e compreende-se como

o processo aplicado ao discurso informativo: o “mundo a significar” pode ser considerado um

“mundo a descrever e a comentar”, e o “mundo significado”, “um mundo descrito e comentado”

(CHARAUDEAU,2006, p.42).

3.3 DISCURSO DA MÍDIA: PRODUÇÃO DO SENTIDO

No discurso das mídias na construção da informação, o informador (campo da produção

do discurso) apresenta-se como a instituição especializada a apresentar as informações e

“teoricamente” responder à demanda social. Torna público aquilo que seria ignorado e que o

veículo de informação considera importante divulgar e enunciar aos leitores. É uma função de

serviço em benefício da cidadania dentro de uma lógica comercial, já que se trata de jornais e

revistas privados. O produto vale como um suporte de relações dentro do sistema. O discurso

veiculado em forma de matéria jornalística é carregado de ideologia e pontos de vista sobre o

mundo, e seu objetivo é (tentar) produzir sentido. “Os textos não se referem somente à escrita e

sim a tudo que compõe de materiais significantes83, como a escrita-imagem-sentido”, diz Verón

(1984 apud CASTRO, 2003, p. 80).

Afirma Charaudeau (2006) que esses informadores procuram prender uma grande parte do

público que os obriga a recorrer à sedução, o que nem sempre atende à exigência de credibilidade

que lhe cabe na função de serviço ao cidadão, que nem sempre estará isenta de posições

ideológicas.

82 Todo discurso é uma tentativa de convencer o outro; no caso deste estudo da mídia convencer seus leitores. Mas só uma análise do público, de recepção permitiria saber se eles foram convencidos ou não. 83 Significante - é o veículo que contém a mensagem, ou seja, o gesto, palavra ou som que usamos para transmiti-la. Cfr. Teorias da Comunicação. Disponível em: http://www.univ-ab.pt/~bidarra/hyperscapes/video-grafias-6.htm. Acesso em: 20 mar. 2014.

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A informação midiática fica prejudicada porque os efeitos visados, correspondentes às intenções da fonte da informação, não coincidem necessariamente com os efeitos produzidos no alvo, pois este reconstrói implícitos a partir de sua própria experiência social, de seus conhecimentos e crenças. Segundo o contexto no qual aparece, uma informação pode produzir um efeito de banalização, de saturação, de amálgama ou, ao contrário, de dramatização. Se as manchetes dos jornais são diferentes, é porque para se diferenciar do concorrente, cada jornal deve produzir efeitos diferentes. (CHARAUDEAU, 2006, p.59).

Os acontecimentos que surgem no espaço público não podem ser reportados de maneira

exclusivamente factual. A informação é colocada em cena de maneira a interessar ao maior

número de pessoas, o que não garante que se possam controlar seus efeitos. Assim, as mídias

recorrem a vários tipos de discursos.

Para isso, Charaudeau (2006) compara o discurso informativo com outros que lhe são

próximos e com os quais é confundido: os discursos propagandistas (o status da verdade é a

ordem do que há de ser, da promessa: um dom mágico é oferecido, cuja realização benéfica para

o alvo só se concretizará se este se apropriar do dom. O modelo posto é o do desejo); o discurso

informativo (se atém essencialmente a uma prova pela designação e pela figuração – a ordem da

construção, do testemunho, do relato de reconstituição dos fatos) e o discurso científico que tem,

em comum, a problemática da prova demonstrativa – inscreve a prova num programa de

demonstração racional. O interesse reside na força argumentativa de seu conteúdo, como se o

destinatário fosse secundário.

O discurso informativo deve ser organizado, tendo sempre em conta a distância, a diferença

ou a desproporção existente entre o informador (detentor do saber) e o informado (supostamente

em estado de ignorância). Na maioria das vezes, o informador ignora o saber do destinatário, o

que o toca emocionalmente ou, ainda, os motivos e os interesses que o animam.

Nesse sentido, continua afirmando Charaudeau (2006), o discurso informativo e o discurso

didático aproximam-se um do outro ainda que com algumas diferenças: no primeiro, a atividade

da explicação não é demonstrativa, (como numa obra científica), mas sim “explicação

explicitante”. Esses dois tipos de discursos têm alvos bastante amplos, não especializados, não

precisam revelar uma verdade, mas somente colocá-la em evidência num quadro de

intelegibilidade acessível a um grande número de indivíduos. É a atividade da “vulgarização” do

saber, do conhecimento, da informação. (CHARAUDEAU, 2006, p. 62). É deformante e depende

do alvo construído pelo sujeito que conta ou explica: quanto mais amplo for o alvo, tanto no

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plano sociológico quanto no intelectual e cultural, maior a necessidade de que o originário da

informação seja transformado, ou mesmo deformado, para parecer acessível ao alvo.

Quanto mais uma explicação for precisa e detalhada, inscrita numa reflexão sistêmica por

um especialista, menos ela será comunicável e explorável fora do campo de inteligibilidade que a

produziu. Forçar uma explicação ou querer explicar, conforme Charaudeau (2006), a quem não

está capacitado (fora do campo de inteligibilidade) é correr o risco de cair na “vulgarização

midiática” (CHARAUDEAU, 2006, p. 62) em que a explicação “dramatizada” e nada científica

é, infelizmente, muito comum. Normalmente, quando a mídia tenta explicar, decodificando como

que por magia as verdades ocultas, ela tropeça e diz o que não deve. O discurso informativo,

afirma Charaudeau, (2006), dentre os discursos apresentados, tem uma posição central. Ele não

tem uma relação estreita somente com o imaginário do saber, mas igualmente com o imaginário

do poder. Informar é possuir um saber que o outro ignora (saber), ter aptidão que permite

transmitir a esse outro (poder dizer), ser legitimado nessa atividade de transmissão (poder dizer).

Com isso, toda instância de informação exerce um poder de fato sobre o outro. As mídias

constituem uma instância que detém uma parte do poder social. A verdade não está no discurso,

mas no efeito que (tenta) produzir. O discurso da informação joga com essa influência.

A mecânica de construção do sentido é um duplo processo. O sentido nunca é dado

antecipadamente. Ele é construído pela ação do homem (através da linguagem) em situação de

troca social. O sentido é perceptível por meio das formas numa relação de solidariedade

recíproca.

O processo de transformação consiste em transformar o “mundo a significar” em “mundo significado”, estruturando-o segundo certo número de categorias que são, elas próprias, expressas por formas. Abrange categorias que identificam os seres do mundo nomeando-os, que aplicam a esses seres propriedades qualificando-os, que descrevem as ações nas quais esses seres estão engajados, narrando, que fornecem os motivos dessas ações argumentando, que avaliam esses seres, essas propriedade, essas ações e esses motivos modalizando. O ato de informar inscreve-se nesse processo porque deve descrever (identificar-qualificar fatos), contar (reportar acontecimentos), explicar (fornecer as causas desses fatos e acontecimentos) (CHARAUDEAU, 2006, p.41).

Com isso, todo discurso, antes de representar o mundo, representa uma relação. O sujeito

informador, capturado nas malhas do “processo de transação”, só pode construir sua informação

em função dos dados específicos da situação de troca. Toda informação depende do tratamento

que lhe é imposto nessa “transação”. (Conf. Gráfico 4): Processo Aplicado ao Discurso

Informativo - Neste discurso, o “mundo a significar” pode ser considerado um “mundo a

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descrever e a comentar”, e o “mundo significado”, “um mundo descrito e comentado”

(CHARAUDEAU, 2006, p.42).

Gráfico 4

PROCESSO APLICADO AO DISCURSO NFORMATIVO

Fonte: Esquema: Patrik Charaudeau - Discurso das Mídias (2006). Design Gráfico: Autora da pesquisa

É por isso que Charaudeau (2006) assegura ser inútil colocar o tema da informação em

termos de fidelidade aos fatos ou a uma fonte de informação. Nenhuma informação pode

pretender, por definição, à transparência, à neutralidade. Sendo um ato de “transação” (conforme

ilustra o gráfico acima), depende do tipo de alvo que o informador ou o produtor do discurso é

neutro, embora possa tentar ser imparcial.

Ele/a constrói o discurso informativo, por exemplo, desde vários lugares no mundo: ser homem ou

mulher, branco ou negro, jovem ou velho, cristão ou não, com posição progressista ou conservadora, etc.,

escolhe e conclui da coincidência ou não deste com o tipo de receptor que interpretará a informação dada.

O discurso da Teologia da Libertação retira sua legitimidade e apoio do magistério da

Igreja Tradicional da América Latina. Medellín e Puebla podem ser considerados os documentos

fundantes da Teologia da Libertação. Embora o tema da libertação cristã já estivesse presente na

reflexão e no compromisso das comunidades e dos movimentos apostólicos, a Conferência de

Medellín é, segundo Galilea (1978), o grande ponto de partida da TdL.

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Alguns dos temas, desenvolvidos ao longo daquela conferência, explicam a razão da

opinião de Galilea (1978): “Deus nas libertações históricas” (Cfr. Introdução/conclusão nº 6),

“Desenvolvimento e libertação humana como antecipação do Reino” (Justiça nº 5), “Opção da

Igreja pelos pobres e pela pobreza” (Pobreza, nº 5ss), (id.7); “Primado da evangelização dos

pobres, unida à sua libertação” (inúmeras passagens, principalmente “pobreza” nº 9 ss; “justiça”

nº 3-5); “Relação fé-justiça” (“justiça” nº 3-5; Cristo libertador (idem, 4) etc. A conferência de

Puebla recolheu os frutos da sementeira feita em Medellín e oficializou a Teologia da Libertação.

Conforme Galilea (1979), as grandes opções pastorais de Puebla (opção preferencial pelos

pobres justificada bíblica e pastoralmente, afirmação da dimensão libertadora e política da fé) não

são inteligíveis sem a Teologia da Libertação. Nos exemplos que se seguem, procura-se

evidenciar como ocorrem os efeitos de sentido. Trata-se dum discurso da Igreja Católica,

referente à Teologia da Libertação, e como é interpretado e disponibilizado ao público pela

revista Veja, (Cfr. Imagem 9, 10 e 11) e pelos jornais O Globo e Folha de S. Paulo (Cfr. Imagens:

12 e 13):

Imagem 9 – Título/Chamada - Reportagem publicada na RevistaVeja em 2/1/1980, Editoria Religião, p. 44-47.

Fonte: Acervo Digital da revista Veja

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A fim de demonstrar a produção de sentido no discurso da mídia sobre a Teologia da

Libertação, apresenta-se a análise dos: “título”, “chamada” e “Lead” da reportagem extraída da

Revista Veja (Cfr. Imagem 9).

Quadro 4 – Título/Chamada/Lead

TITULO “Réus no Santo Ofício” CHAMADA

“No Vaticano, começa uma clara ofensiva contra os teólogos “progressistas”; um já foi punido e o próximo poderá ser o brasileiro Boff”.

LEAD

“As fogueiras da Santa Inquisição estão apagadas há séculos, mas nem por isso a Igreja do Papa João Paulo II se mostra disposta a aceitar indisciplinas e desvios dos princípios fundamnetais da fé católica. Uma semana antes do Natal, o célebre teólogo suíço Hans Kung, uma espécie de papa do “revisionismo teológico", foi destituído do título de professor de Teologia Dogmática da Universidade de Tubingen, na Alemanha - por “abandono da fé católoca” (...) e entre seus réus está o teólogo brasileiro Leonardo Boff, apóstolo da controvertida Teologia da Libertação”.

(VEJA, 1980, 2 jan. p. 44)

O contexto em que se insere o texto (início da década de 80) se dá no momento em que a

Igreja Católica (ala progressista) está imersa na preocupação com a realidade social do povo.

Conflitos no campo se agravavam na luta pela terra. Lideranças das CEBs (sindicalistas) são

assassinadas. (Cfr. Linha Tempo – Contexto (TdL) e Marcos Históricos – década 80).

Intensificavam-se pesquisas (após abertura do Concílio Vaticano II) no campo da teologia. É

nesse período que se compreende a linguagem de tal escrito como linha discursiva de autoridade

dessa mídia na utilização da figura de linguagem ironia/eufemismo na produção do sentido.

As expressões: “Santo Ofício” (no título) e “fogueiras da Santa Inquisição” (na primiera

frase do lead), indicam “culpa” dos seguidores da Teologia da Libertação, previamente

condenados pela revista, pois a palavra “Santo Ofício”, que aparece duas vezes (no título e no

final do lead) refere-se à instituição eclesiástica de caráter judicial, conhecido como Inquisição84

84 Inquisição - Tornou-se um organismo com muitos poderes, que abrangia todos os setores da sociedade, laicos ou religiosos. O seu poder era tanto que a Inquisição, embora instituída como um instrumento do poder régio podia discutir com o rei e com o próprio Papa. O fim da Inquisição chegaria em 1821, quando o Tribunal do Santo Ofício foi abolido. INFOPÉDIA: Enciclopédia e Dicionários Porto Editora: Tribunal do Santo Ofício. Disponível em: http://www.infopedia.pt/$tribunal-do-santo-oficio;jsessionid=hE16Z6U38VaLRHbw8j14-g__ Acesso em: 15 fev. 2014.

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na Idade Média. Segundo o site Enciclopédia e Dicionários Porto Editora85, o “Tribunal do Santo

Ofício” era entregue à autoridade das suas responsabilidades para com o acusado, que era

entregue à autoridade secular, o que significava que ele poderia ser condenado à morte sem haver

qualquer desrespeito ao direito canônico.

Tais expressões são utilizadas no contexto político e social da ditadura militar, no início

dos anos 80, quando ocorriam no Brasil torturas, assassinatos de quem se opunha ao governo e

havia forte censura aos meios de comunicação. O adjetivo “progressista” (que aparece duas

vezes, uma na chamada e outra no lead da reportagem) trata da pessoa que tem ideias políticas e

sociais avançadas; tal termo é aplicado aos teólogos que fazem uma reflexão crítica sobre a

experiência cristã de Deus, do homem e do mundo. Eles precisam ser “punidos” (cito na

chamada) e reforça o discurso no lead mencionando os nomes dos “réus no Santo Ofício”: Hans

Küng86, Edward Schillebeeckx87 e Leonardo Boff, “acusados de heresias”; sobre este último, a

ênfase: “apóstolo da controvertida Teologia da Libertação” (última frase do lead). Tais teólogos,

segundo termo da palavra utilizada pela mídia “no Vaticano, começa uma clara ofensiva”

(iniciativa no ataque), concepção ideia de guerra (matar o inimigo). O texto induz ao leitor que os

“teólogos progressistas” são “heréticos”, cometem “desvios”, precisam ser “punidos” e

“queimados” na “fogueira da Santa Inquisição, mesmo que elas estejam apagadas há séculos”.

Com o recurso jornalístico utilizado há, segundo Benetti (2007), uma espécie de acordo

entre quem fala e quem lê ou um contrato de leitura, como afirma Verón (1999) de acordo com

Benetti (2007). É um contrato de leitura que reforça o discurso conservador do Vaticano e por

consequência do regime militar vigente. 85 INFOPÉDIA: Enciclopédia e Dicionários Porto Editora: Tribunal do Santo Ofício. Disponível em: http://www.infopedia.pt/$tribunal-do-santo-oficio;jsessionid=hE16Z6U38VaLRHbw8j14-g__Acesso em: 15 fev. 2014. 86 Hans Küng – Teólogo e sacerdote católico. Perito apontado pelo papa João XXIII como consultor teológico para o Concílio Vaticano II. No final da década de 60, iniciou uma reflexão rejeitando o dogma da infalibilidade Papal. Em 18 de dezembro de 1979, foi revogada sua licença pela Igreja Católica de oficialmente ensinar teologia em nome dela, mas permaneceu como sacerdote e professor até sua aposentadoria em 1996. Küng defende o fim da obrigatoriedade do celibato clerical, maior participação laica e feminina na Igreja Católica. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hans_K%C3%BCng. Acesso em 27 fev. 2014. Küng, vive completamente retirado da vida pública desde que completou os 85 anos, no começo de 2013. Em 1980 começou a escrever suas memórias. Sofre de Parkinson em estado avançado. Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=Hans+kung&oq=Hans+kung&aqs=chrome..69i57j0l5.6319j0j8&sourceid=chrome&espv=210&es_sm=93&ie=UTF-8. Acesso em: 27 fev. 2014. 87 Edward Schillebeeckx - Teólogo católico (dominicano) do século XX. Pioneiro na busca de um novo paradigma em teologia, adequado ao estilo de modernidade e pós-modernidade. Especialista fluente do Vaticano II. Representante de uma teologia da salvação em ruptura com o catolicismo intransigente que dominou o pensamento teológico até às vésperas do último Concílio. Teve que responder às perguntas da Congregação para a Doutrina da Fé em 1968, em 1973 e em 1984. Foi a propósito dos seus trabalhos sobre a lei do celibato eclesiástico e, de modo mais grave, no tempo do seu posicionamento sobre o ministério ordenado e a presidência da eucaristia nas assembleias sem padre. A sua cristologia suscitou inúmeras interrogações, mas nunca foi condenado pela Congregação para a Doutrina da Fé, apesar das dificuldades e das suspeitas. Deu prova de serenidade e confiança indestrutível na sua missão de teólogo a serviço da Igreja. Morreu no dia 23 de dezembro de 2009, aos 95 anos. Acesso em: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/32395-edward-schillebeeckx-um-teologo-para-hoje. Disponível em: 27 fev. 2014.

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Ele define um gênero discursivo: o discurso jornalístico. É o não dito no texto, essencial

na análise no campo da linguagem. Em termos discursivos, existem três sujeitos envolvidos:

1) o autor (mídia/jornalista);

2) o leitor imaginário - é o sujeito para quem o autor anuncia; o sujeito que ele imagina para seu

discurso. É com este leitor que a mídia/jornalista imagina interagir ao pensar a pauta, buscar a

fonte e produzir o texto;

3) o leitor real – que entra em cena em vários momentos: quando lê o texto, quando comenta com

outras pessoas e quando se manifesta à redação por e-mail, carta, telefone ou pessoalmente.

Conforme Benetti (2007), a formação do sentido depende, portanto, do que constitui esses

sujeitos em termos de imaginário, ideologia, posicionamento, inscrição histórica, cultural e

social. No exemplo citado, o sentido das expressões utilizadas no texto foi conquistando um lugar

hegemônico, apagando outros sentidos possíveis, passando o discurso a ser um jogo de imagens

que possibilita equívocos e mal- entendidos, já que o texto se posiciona politicamente e tenta

induzir o leitor a seguir os mesmos passos.

O mesmo caso ocorre com outro texto da revista Veja (Cfr. Imagem 10).

Imagem 10 – Título/chamada/Lead - Reportagem publicada na Revista Veja em 13/9/1989. Editoria. Religião, p.95.

Fonte: Acervo pessoal

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Quadro 5 – Título/chamada/Lead

TÍTULO “Título: “Vocações extintas no Recife”.

CHAMADA

“Santa Sé fecha dois seminários progressistas no Nordeste e desarticula o trabalho de dom Helder na região”

LEAD

“Foi mais um sinal de desagrado do Vaticano com o clero esquerdista brasileiro. Numa carta lacônica, endereçada ao arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, a Congregação para Educação Católica da Santa Sé decretou o fechamento de dois seminários que formavam padres segundo os ensinamentos da Teologia da Libertação. Esses seminários - O Instituto Teológico do Recife (INTER), e o Seminário Regional Nordeste II – criados pelo arcebispo, hoje resignatário da região, dom Helder Câmara, resistiam à orientação conservadora de dom Cardoso Sobrinho, que substitui dom Helder desde 1985”.

Destinada ao público de classes média e alta e de empresários da sociedade brasileira, a

Veja, nas primeiras linhas do trecho, coloca a sua interpretação do fato em questão, a partir do

subtítulo: “A Santa Sé fecha dois Seminários progressistas no Nordeste e desarticula o trabalho

de dom Helder na região”, o enunciado relata um fato ocorrido no final dos anos 80,

consequência das ações e dos conflitos entre dom Helder Câmara e o sistema repressivo no Brasil

durante a Ditadura Militar, fatos que fizeram a história do país, pois no dia 11 de abril de 1964,

dom Helder havia se recusado a assinar uma declaração de apoio ao movimento dos militares.

O argumento expresso nos verbos “fechar” e “desarticular” sugere que o discurso da TdL

se concretiza nos ensinamentos dos seminários. A noção de “fechamento” desempenha uma

posição retórica, colocando no centro de uma organização discursiva de sentidos negativos as

representações difundidas na imprensa para impelir os leitores de se posicionarem em um dos

lados da compreensão dos fatores que moviam as iniciativas em todo o país.

É alvo a ser atingido na expressão da chamada da reportagem: “desarticula o trabalho de

dom Helder na região”. A revista é capciosa ao construir seu argumento quando elabora o alvo da

sua crítica sobre as ações da TdL, apenas menciona uma vez: “que formavam padres segundo os

ensinamentos da Teologia da Libertação”. Convém, neste momento, recordar Charaudeau (2006)

quando diz que todo discurso depende, para adquirir interesse social, das condições e das

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situações específicas de troca nas quais ele surge. A situação e a condição da comunicação serão

o quadro de referência ao qual se reportam os indivíduos de uma comunidade social.

A partir de tal reflexão, como construir um sentido sem referenciar o lugar das falas? Os

autores do texto não tiveram em conta o “palco” no qual tudo acontecia e produziram afirmações

ricas em avaliações pessoais e baseados em suas visões de mundo. Um exemplo disso está

expresso no lead: “era o regime aberto em que viviam os futuros sacerdotes. Em vez de

estudarem teologia e filosofia no claustro, como é norma da Igreja, os seminaristas do Recife

ficavam liberados para pregar na periferia da cidade”. Como se isso fosse um crime, e a prática

não estivesse vinculada à teoria ensinada no Seminário.

A análise de discurso visa à compreensão de como um objeto simbólico produz sentidos,

como ele está invertido de significância para e por sujeitos. Isso implica “como o texto organiza

os gestos de interpretação que relacionam sujeito e sentido. Produzem-se assim novas práticas de

leitura” (Orlandi, 2010, p. 26-27). A revista Veja, nesse exemplo, trabalha com ortodoxia88,

práxis89 e poder de Estados90. Uma prática comum de atacar as ideias de opositores é chamá-las

de dogmas e ideologias. Há que se reconhecer a força midiática apontada no final do lead, na

declaração da fonte: “As instituições não ofereciam condições mínimas para formação

sacerdotal”, diz a carta assinada por dom José Saraiva Martins91, secretário-geral da Congregação

para Educação Católica. Aponta-se a produção do sentido no discurso controlada, selecionada,

organizada e redistribuída por procedimentos que visam a determinar aquilo que pretende ser dito

em certo momento histórico.

A matéria é acrescida por um “Box” (Cfr. Imagem 11), síntese do discurso da reportagem

que reforça o discurso jornalístico que propõe o declínio da Teologia da Libertação. O texto é o

que segue no quadro em cor azul:

88 Ortodoxia - Que está conforme uma doutrina definida. Que é rígido em suas convicções. Igreja ortodoxa, igreja cristã oriental, que se separou de Roma em 1054. Aquele que assume uma posição ortodoxa em qualquer domínio. Disponível: http://www.dicionariodoaurelio.com/Ortodoxo.html. Acesso em 26 mar. 2014. 89 Práxis – Tem como guia da ação a teoria. Concepção de Práxis em Marx. In: SANCHEZ VÁSQUEZ, Adolfo. Filosofia da Práxis. 2º ed. Rio de janeiro: Paz e Terra. 1977. 90 Poder de Estado - Para Dalmo de Abreu Dallari, existem duas classificações do Poder do Estado: a) Poder do Estado como poder político, incondicionado e preocupado em assegurar sua eficácia e sem qualquer limitação; b) Poder do Estado como poder jurídico, nascido do direito e exercido exclusivamente para a consecução de fins jurídicos. Disponível em: <http://www.facha.edu.br/biblioteca/dmdocuments/MG_Poder_Estado.pdf Acesso em 26 mar. 2014. 91 Cardeal D. José Saraiva Martins – (português) - Foi prefeito da Congregação da Educação Católica e da Causa dos Santos. É membro da Comissão para o Governo do Estado do Vaticano. Disponível em: http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=29&did=45564 ou http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/portugal/d-saraiva-martins-confirma-corrupcao-no-vaticano. Acesso em 27 mar. 2014.

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Imagem 11: BOX da reportagem “Vocações Extintas no Recife” publicado na Revista Veja em 13/9/1989, p.95.

Fonte: Acervo pessoal

Sustentando o que Orlandi (2010) afirma sobre as formulações e representações

discursivas às formações ideológicas

Desse modo, os sentidos sempre são determinados ideologicamente. Não há sentido que não o seja. Tudo que dissemos tem, pois, um traço ideológico em relação a outros traços ideológicos. E isto não está na essência das palavras, mas na discursividade, isto é, na maneira como, no discurso, a ideologia produz seus efeitos, materializando-se nele. (ORLANDI, 2010, p. 43).

Conforme a análise pretendida no exemplo dessa reportagem, a produção do discurso é

ditada e controlada pela mídia, evidenciando sua inserção na rede de discursos e sintetizada no

BOX92 acima, sobretudo no item terceiro: “a poderosa Arquidiocese de São Paulo foi pulverizada

em cinco, em março deste ano, limitando a ação progressista do cardeal Evaristo Arns à porção

mais rica da cidade”.

A revista sublinha um aspecto que se manifesta na teoria da ideologia e do discurso, como

determinação histórica dos processos de significação. Consequentemente, conforme anota

Orlandi (2010), o sentido não existe em si, mas é determinado pelas posições ideológicas

colocadas em jogo no processo sócio-histórico em que as palavras são produzidas. Os exemplos

92 BOX – Material adicional usado em uma matéria. Serve para destacar uma parte do tema ou para dar explicações adicionais ao leitor. Dicionário de Jornalismo. Disponível em: http://dicionariodejornalismo.blogspot.com.br/2010/08/box-1.html. Acesso em: Acesso em: 27 fev. 2014.

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não param por aqui, as análises se fazem, também, aos títulos dos jornais O Globo e Folha de S.

Paulo (Cfr. Imagens: 12 e 13):

Imagem 12 – Título – Reportagem publicada no Jornal O Globo em 28/9/1984. Editoria: Mundo, p. 9.

Fonte: Centro de Documentação e Informação da CNBB

O contexto em que se insere o título “Teologia da Libertação, mais rumores de divisão”

advém de declarações de autoridades da Igreja Católica, em Roma, em torno do tema TdL por

ocasião dos pronunciamentos do Secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Agostino Casaroli93,

ao se reportar a Ostipolitik94 do Papa Paulo VI, durante a inauguração de um monumento, em

Brescia (Italia) em homenagem ao pontífice (que havia iniciado os contatos com o mundo do

socialismo real). Na época, o jornal do Partido Comunista Italiano (PCI) publicou em manchete

de primeira página: “Ostipolitik de Paulo VI: Defesa do diálogo, polêmica com a corrente do

Vaticano que tenta envenenar as relações com o Leste”.

A discussão sobre o documento “Instruções (...) TdL”, até então, não havia sido

publicada, mas segundo O Globo (1984,p.9), circulavam na imprensa europeia as “divergências

93 Agostino Casaroli - Secretário de Estado do Vaticano. Morreu em 1998. Disponível: http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1707640&seccao=Europa. Acesso em: 2 mar. 2014. No pós-guerra recebeu a missão de acompanhar de perto a obra da Igreja na América Latina. Rio de Janeiro/Brasil (1955), para participar na Primeira Conferência dos Episcopados Latino-Americanos para a criação do (Conselho Episcopal Latino-Americano - CELAM). Em 24 1961, Papa João XXIII o nomeou Subsecretário da Congregação para os Assuntos Extraordinários (relações diplomáticas). Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/secretariat_state/2003/documents/rc_seg-st_20030626_sodano-casaroli_po.html . Acesso em: 27 fev. 2014. Antes de morrer, aos 83 anos, Casaroli deixou um manuscrito no qual relata sua experiência diplomática. Dele se originou Il Martirio della Pazienza – La Santa Sede e i Paesi Comunisti (O Martírio da Paciência – A Santa Sé e os Países Comunistas). Disponível em: http://veja.abril.com.br/190700/p_102.html. Acesso em: 2 mar. 2014. 94 Ostpolitik do Vaticano - Costuma-se falar Ostpolitik da Santa Sé. Desenvolvida durante os pontificados de João XXIII e Paulo VI, impulsionada pelo cardeal Agostino Casaroli. Esta política diplomática (a ostpolitik) foi continuada pelo papa Paulo VI, apesar de a Igreja ainda continuar a condenar o comunismo como uma ideologia errada e maléfica. Devido a esta política de aproximação, a vida dos católicos na Polônia, na Hungria e na Romênia (que eram, na altura, países-satélite da União Soviética) melhorou. Disponível: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ostpolitik Acesso em: 27 fev. 2014.

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na chefia da Igreja quanto à “taxativa condenação do marxismo contida no recente documento

contra a Teologia da Libertação”. O Globo lançara o fundamento no substantivo: “rumores” (o

boato, a discórdia e a dissensão) e em “divisão” (ação de dividir). A “Teologia da Libertação”

divide a Igreja Católica. Com isso o jornal afirma na declaração de um professor da Faculdade de

Filosofia da Universidade Pontífica Urbaniana, Battista Mondin (estudioso da ortodoxia), “que só

as correntes extremistas da Teologia da Libertação merecem ser condenadas”. Já o título da

reportagem da Folha de S. Paulo: “O prof. Boff ensina a “mecânica” da fé” (Cfr. Imagem 13)

Imagem 13 – Título – Reportagem publicada no Jornal Folha de S. Paulo em 30/9/1984. Editoria: Política,

p. 9.

Fonte: Centro de Documentação e Informação da CNBB

A construção discursiva argumenta e reforça, na utilização do substantivo “mecânica”, o

significado da palavra cujo objeto é o estudo das forças ou da sua ação, da sua construção e do

seu funcionamento. Por sua vez, o “prof. Boff” é o teólogo em julgamento pelos seus escritos

expostos no livro “Igreja, Carisma e Poder”. Analisam-se: o verbo “ensinar” (= transmitir

conhecimentos, instruir; educar; doutrinar; = indicar, mostrar o caminho; na conjugação indireta,

pregar) a “mecânica” (= ciência que estuda as leis que governam os movimentos). Isso tudo

relacionado ao substantivo “fé” tem a força capaz de produzir interferência, associando às

Instruções do Vaticano “sobre alguns aspectos da TdL” com relação ao marxismo que, segundo

Vilar (1985) apud Barbosa (2002) entre 1847 e 1867, Marx e Engels propõem uma teoria geral

das sociedades em transformação, unificando, por meio da observação e do raciocínio, não só

análise econômica, como também, análise sociológica das formas jurídicas, políticas, religiosas,

artísticas etc., por meio das quais os homens tomam consciência de seus conflitos.

Com tal afirmativa, continua Barbosa (2002), assegura-se que a concepção fundamental

do marxismo de que o objetivo da obra teórica não é interpretar o mundo, mas modificá-lo, ou

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seja, utilizar as análises para compreender profundamente o fato social e influir sobre suas

transformações.

Em tal contexto o “prof. Boff”, o “professor” (que professa em público a verdade de uma

religião), “ensina a mecânica da fé”, como afirma o jornal, no lead da reportagem. Utiliza-se da

metáfora/ironia:

Quadro 6 - Título/Lead

TÍTULO “ O prof. Boff ensina a “mecânica” da fé” LEAD

“O padre (ou qualquer outro representante da Igreja) sobe a favela, topa com crianças famintas, homens mal vestidos, mulheres prostituídas, lixo sujeira, prosmiscuidade e miséria. E aproveita o cenário para pregar a palavra de Deus através do Evangelho: olhai os lírios do campo... Está começando uma aula de Teologia Sistemática no Instituto Teólogico Franciscano de Petrópolis, RJ, uma das principais escolas de Teologia da América Latina. O professor da matéria é o frei Leonardo Boff (...) e ex-aluno do instituto, que entre seus ex-professores mais conhecidos já teve o cardeal Paulo Evaristo Arns (...) e Boaventura Kloobenburg, bispo auxiliar de Salvador, um dos principais combatentes da Teologia mais praticada hoje na América Latina e na África, a da Libertação.” (Folha de S. Paulo. 1984, p. 9).

A mesma figura de linguagem em que um termo substitui a relação de semelhança entre a

descrição no lead e os elementos que estão por trás da expressão “teologia da libertação”,

segundo Júnior (2012) apud Libanio (1996), está um movimento teológico-pastoral plural e

complexo, cujas fronteiras são difíceis de ser demarcadas. Não se deveria falar em TdL no

singular, pois existem muitas teologias da libertação. A pluralidade e a complexidade que

caracterizam tal teologia estão construídas por uma diversidade geográfica (América Latina,

África, Ásia, EUA, Europa), por uma diversidade de enfoques ou perspectivas (pobreza, gênero,

etnia, cultura, ecologia, pluralismo religioso), por uma diversidade de acentos nas mediações

práticas (CEBs, pastoral social, movimento social, partido etc.) e teóricas (ciências sociais,

antropologia, filosofia etc.) e por diversidade de problemas/temas enfrentados e formulados

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(cristologia, trindade, eclesiologia, sociedade, economia, gênero, cultura etc.). Dependendo do

problema, do lugar geográfico, da perspectiva e da mediação prático-teórica priorizada, a

Teologia da Libertação terá uma configuração ou outra. Esse enfoque está sendo levado adiante

pelo Fórum Mundial de Teologia e Libertação (FMTL) – (Cfr. Anexo T).

A insistência na análise relacionada a um dado percurso histórico da TdL na época de

ditadura militar, vem ajudando a perceber e delinear as estratégias de comunicação, em diferentes

enfoques de estudo dos textos que ajudam para realçar o fato inegável que a linguagem é

construída e construtiva de sentido.

3.4 PRODUTO: CONDIÇÃO DE PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

A noção da Escola Francesa, para Charaudeau e Maingueneau (2004), encontra seu

fundamento na noção marxista de condições econômicas de produção determinadas pelo Estado.

Há uma modificação no esquema da comunicação entre destinador e destinatário. As relações

não dependem de comportamentos individuais, mas das estruturas formativas e das relações de

classe, como descritas no materialismo histórico.

Já a noção da teoria da comunicação: condições de produção e situação de comunicação,

assemelha-se muitas vezes ao contexto95. Nesse conjunto, há dados que provêm da situação de

comunicação, e outros de um saber pré-construído que circula no interdiscurso e sobredetermina

o sujeito falante. Algumas condições são de ordem situacional, outras de conteúdo discursivo. O

sujeito falante é sempre, de alguma forma e grau, sobredeterminado pelos saberes, crenças e

valores que circulam no grupo social ao qual pertence ou ao qual ele se refere, mas também é

sobredeterminado pelos dispositivos de comunicação em que se insere para falar e que lhe

impõem lugares, papéis e comportamentos, conforme exemplo da Imagem 14:

95 Entendido como o conjunto dos dados não linguísticos que organizam o ato de enunciação.

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Imagem 14 – Título da reportagem publicada na Revista Veja em 28/9/1988. Editoria: Igreja, p. 60-62.

Fonte: Acervo Digital da Veja

Tendo em conta todos os condicionamentos ad intra e ad extra é oportuno entender o

conceito de efeito de verdade que, de acordo com Charaudeau (2006), não deve ser confundido

com o valor de verdade, embora, nos dois casos, trate-se de um julgamento epistêmico, dado que

o homem tem necessidade de basear sua relação num crer ser verdade. Verdade e crença estão

intrinsecamente ligadas no imaginário do grupo social. Sua descoberta implica uma pesquisa na

qual o homem é o agente (movido pelo desejo de saber) e o beneficiário (ele descobre a resposta

à pergunta “quem sou eu?”). Essa questão da verdade está marcada pela contradição: a verdade é

exterior ao homem, mas só pode ser atingida (construída) pelo sistema de crenças interior ao

homem. Daqui decorre uma tensão permanente entre a verdade e a crença. O homem sempre

procurou fundar um sistema de valores de verdade, mas ele tem que se conformar com os seus

efeitos.

O valor de verdade, conforme Charaudeau (2006), é demonstrável (baseia-se na

evidência) e realiza-se por uma construção explicativa elaborada com instrumentação científica.

Define-se como um conjunto de técnicas que permitem construir um ser verdadeiro. Essas

técnicas podem ser aprendidas e fazem parte do saber, ao contrário do efeito de verdade, que se

baseia na convicção e se prende a um saber de opiniões e tem que se acreditar ser verdadeiro. O

efeito de verdade surge da subjetividade do sujeito em sua relação com o mundo, criando uma

adesão ao que ele julga ser verdadeiro porque compartilhado com outras pessoas. A credibilidade

é o fator determinante para o direito à palavra e para a validade da palavra emitida.

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Cada tipo de discurso tem seus efeitos de verdade. O discurso do produto informativo

constrói-se de acordo com as supostas razões pelas quais é emitida a informação: por que

informar? Quem informa? Quais são as provas? Na ordem da produção jornalística, há mais

complexidade que linearidade. Refere-se mais ao mundo e ao tempo sociológico que ao mundo e

ao tempo real. Conforme Pedroso (2005), a ordem da produção jornalística está plena de

equívocos, tensões, pontos de fuga, regulagens etc. É um território de tensão permanente entre

previsibilidade e imprevisibilidade. É uma amálgama de análises discursivas e comunicacionais

(as cartografias) que vão realizar estudos sobre o imaginário, o sujeito, o pré-construído, o

inconsciente e a ideologia presentes nos seus produtos e resultados.

Um exemplo, já demonstrado aqui, é o da matéria da Veja: “Vocações Extintas no Recife”

(13/09/1989. Cfr. Imagem X). Conforme a análise, a produção do discurso foi controlada pela

mídia. A produção do discurso é realizada pela mídia através de um jornalista que interpreta um

fato de acordo com o seu ponto de vista sobre o mundo, em conjunto com o ponto de vista do

jornal/revista sobre esse fato.

O lugar da interpretação do produto – no caso, o discurso jornalístico – segundo Orlandi

(2010), procura o real sentido, em sua materialidade linguística e histórica, a existência de uma

relação vai abrindo possibilidade de interpretar. Primeiro é preciso considerar que a interpretação

faz parte do objeto de análise; segundo, é preciso compreender que não há descrição sem

interpretação. O próprio analista está envolvido na interpretação. Para isso, é necessário

introduzir-se um dispositivo teórico que possa intervir na relação do analista com os objetos

simbólicos que analisa, produzindo um deslocamento em sua relação de sujeito com a

interpretação.

A construção desse dispositivo resulta na alteração da posição do leitor, que passa a

ocupar o lugar construído pelo analista. Desse lugar nota-se a alteridade do cientista e se enxerga

outra leitura que pode ser produzida. Não reflete, mas situa e compreende o movimento da

interpretação inscrito no objetivo simbólico. Ele pode contemplar (teorizar) e expor (descrever)

os efeitos da interpretação. O analista de discurso trabalha os limites da interpretação, sem se

colocar para fora da história, do simbólico ou da ideologia. Da posição deslocada ou destacada

em que se colocou, ele pode contemplar o processo de produção de sentidos e as condições em

que ela foi sendo feita, como se vai analisar nas próximas publicações da Revista Veja/Folha de

S. Paulo/O Globo.

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3.5 REVISTA VEJA Produzida pela Editora Abril, a revista semanal VEJA tem a maior tiragem no Brasil.

Existe desde 1968, tendo passado por diferentes fases jornalísticas, algumas mais progressistas

(ano de 1984), com apoio: “Diretas Já!”. Segundo Sandri (2012), “uma democracia de fachada”

(SANDRI, 2012, p.1). – ou mais conservadoras, como época do regime militar e atualmente.

Segundo o Instituto Verificadores de Circulação (IVC) e a tabela de circulação geral de abril de

201296, a Editora imprimiu: 1.161.63 exemplares que tiveram: 1.027.191 circulação líquida,

913.153 tiragens para assinantes, 114.038 avulsas. A revista se posiciona muitas vezes alinhada

com alguns setores conservadores da direita política brasileira, o que a faz alvo de críticas.97

Considerada a principal revista de informação do país, tem merecido atenção de pesquisadores

intrigados com sua capacidade de produção. Para Benetti (2007), a revista não se enquadra nos

gêneros tradicionais de texto jornalístico, notadamente na distinção entre jornalismo informativo

e opinativo. Embora carregado de informação, seu texto é fortemente permeado pela opinião,

construída principalmente por meio de adjetivos, advérbios e figuras de linguagem.

Veja constituiu, de si mesma, uma forte imagem de legitimidade para proferir saber – frente a um suposto não saber dos leitores, da população em geral e, em certos momentos, das próprias fontes (BENETTI, 2007, p.42).

Foi realizado um levantamento da quantidade de publicações veiculadas na década de 80

para as análises dos títulos/chamadas/leads divididos nas seguintes categorias de matérias:

a) artigos;

b) notícias;

c) reportagens;

d) entrevistas.

Ao mesclar dados quantitativos aos qualitativos mostrados anteriormente, é possível

observar que o tema Teologia da Libertação aparece na Veja, na década de 80, em 76

publicações, sendo:

a) 35 reportagens especiais que ocuparam as primeiras páginas das editorias: Religião,

Igreja, Brasil, História e Educação.

b) 11 matérias/notícias,

96 Disponível em: http://publicidade.abril.com.br/tabelas-gerais/revistas/circulacao-geral/imprimir. Acesso em: 9 ago. 2013. 97 Críticas e Controvérsias da Revista Veja. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%ADticas_e_controv%C3%A9rsias_da_revista_Veja. Acesso em: 9 ago. 2013.

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114

c) 11 Cartas ao Leitor.

d) 9 primeiras páginas (amarelas) com entrevistas sobre a TdL.

e) a Editoria de Livros teve lançamento da obra com enfoque no tema (Igreja: Carisma e

Poder, de Leonardo Boff);

f) três notas na Coluna Radar.

g) Reservou-se uma publicação em cada um dos espaços “Ponto de Vista”; “Data” e

“Cinema”. (Cfr. Quadros 7 a 16):

Quadro 7 – Revista Veja – Ano de 1980 Matérias gerais 4 Matérias na Editoria de Religião 2 Entrevistas com bispos da ala conservadora da Igreja Católica (páginas amarelas)

2

Reportagem Especial (Visita Papa João Paulo II ao Brasil – Reportando o tema)

1

Coluna Radar 1 Total de Publicações 10

Quadro 8 – Revista Veja – Ano de 1981 Matérias gerais 1 Matérias Editoria de Religião 1 Entrevista (páginas amarelas) com o Cardeal Agnelo Rossi 98 1 Matéria/Notícia 1 Editoria de Livros (IGREJA: CARISMA E PODER, de Leonardo Boff) 1

Coluna Radar 1 Total de Publicações 6

Quadro 9 – Revista Veja – Ano de 1982 Editoria de Religião 2 Cartas ao Leitor 1 Entrevistas (páginas amarelas) 1

Total de Publicações/1982 4 98 Cardeal Agnelo Rossi – Na época da entrevista era prefeito da Sagrada Congregação para a Evangelização dos Povos e ex-Arcebispo de São Paulo. Faleceu em maio de 1995, aos 82 anos.

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Quadro 10 – Revista Veja – Ano de 1983 Editoria de Religião 1 Reportagem (de capa – visita do Papa) 1

Total de Publicações/1983 2 Quadro 11 – Revista Veja – Ano de 1984 Matérias 1 Editoria de Religião 4 Cartas ao Leitor 1 Entrevistas (páginas amarelas) 1 Reportagens (1 é publicação do Doc. Instruções) – 2 Editoria de Livros 3

Editoria Brasil (Reportagem) 1 Total de Publicações/1984 13

Quadro 12 – Revista Veja – Ano de 1985 Matérias 1 Editoria de Religião 3 Cartas ao Leitor 4 Entrevistas (páginas amarelas) 2 Notícias 1 Editoria Brasil (Reportagem) 1 Ponto de Vista 1

Total de Publicações/1985 13 Quadro 13 – Revista Veja – Ano de 1986 Matérias 2 Editoria de Religião 5 Cartas ao Leitor 1 Entrevistas (páginas amarelas) 1 Coluna Radar 1 Editoria Brasil (longa reportagem) 1 Editoria História (matéria) 1 Editoria Educação (reportagem) 1

Total de Publicações/1986 12

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116

Quadro 14 – Revista Veja – Ano de 1987 Editoria de Religião 2 Editoria Cinema (Filme Missão) – o texto reporta o tema 1

Total de Publicações/1987 3 Quadro 15 – Revista Veja – Ano de 1988 Editoria de Religião 1 Cartas ao Leitor 4 Entrevistas (páginas amarelas) 1 Reportagens 1 Editoria Igreja (reportagem) 1

Total de Publicações/1988 9 Quadro 16 – Revista Veja – Ano de 1989 Matérias gerais 1 Editoria de Religião 2 Editoria Igreja (Reportagem) 1

Total de Publicações/1989 4 Total geral: matérias publicadas na VEJA, na década de 80, do século XX 76

Fonte: Acervo Digital da Revista Veja e Acervo Pessoal Quadro: Autora da Pesquisa

No editorial, utiliza a “cenografia constituída pela colagem e caráter de síntese

histórico”99 ao criar a expectativa de resgate dos acontecimentos noticiados. Sua vocação

reveladora, renovadora e fiscalizadora, segundo Benites (2013), justifica o título imperativo

VEJA.

99 BENITES, Sônia Aparecida Lopes. “A Face do Brasil Mostrada nas Citações da Revista Veja”. Junho/2009. Disponível em: cpd1.ufmt.br/meel/arquivos/artigos/333.pdf. Acesso em: 9 ago. 2013.

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Imagem 15 – Título/Chamada da Reportagem publicada na Revista Veja em 22/08/1984. Editoria: Religião.

Fonte: Acervo Digital da Revista Veja

Após o levantamento de 76 publicações, conforme demonstrado nos quadros (de 7 a 16),

fez-se a seleção de 25 publicações com o registro textual, constando: título/Chamada/Lead, autor,

gênero jornalístico, editoria, dia, mês, ano e página. Entre essas, por sua vez, foram selecionados

29 textos entre categorias: Títulos (em cor amarelo), Chamadas (em cor lilás) e Lead (em cor

azul), analisados e exemplicados de acordo com o conteúdo que se insere ao contexto em estudo.

Os textos analisados, em cores diversas para cada categoria, perpassam os capítulos da

dissertação, seguindo o tempo histórico, permitindo demonstrar o sentido no discurso de tal mídia

sobre a Teologia da Libertação. (Cfr. Quadros Publicações: 17 a 43).

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Quadro 17 Publicação – Revista Veja (Década de 80) TÍTULO “Réus no Santo Ofício” CHAMADA

“No Vaticano, começa uma clara ofensiva contra os teólogos “progressistas”; um já foi punido e o próximo poderá ser o brasileiro Boff”.

LEAD

“As fogueiras da Santa Inquisição estão apagadas há séculos, mas nem por isso a Igreja do Papa João Paulo II se mostra disposta a aceitar indisciplinas e desvios dos princípios fundamentais da fé católica. Uma semana antes do Natal, o célebre teólogo suíço Hans Küng, uma espécie de papa do “revisionismo teológico", foi destituído do título de professor de Teologia Dogmática da Universidade de Tubingen, na Alemanha - por “abandono da fé católica”. Três dias antes, outro conhecido teólogo, o belga Edward Schillebeeckx, assessor doutrinário do episcopado da Holanda, comparecia a Roma para depor num processo no qual é acusado de heresia. Outros doze processos contra teólogos “progressistas” correm no mesmo organismo da Cúria Romana que cuidou dos casos de Küng e Schillebeeckx. A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, sucessora do inquisitorial Santo Ofício - tem entre seus réus o teólogo brasileiro Leonardo Boff, apóstolo da controvertida Teologia da Libertação”

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Religião DIA 2 MÊS Janeiro ANO 1980 PÁGINA 44 – 47

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Quadro 18 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Crise com a teologia paulista” LEAD

“Dom Paulo Evaristo Arns está diante de um delicado problema estudantil. Os alunos da Faculdade N. S. De Assunção, em São Paulo, pretendem mudar o currículo e, segundo um prelado, querem se concentrar na Teologia da Libertação e no estudo da Bíblia segundo o marxismo”.

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia EDITORIA Coluna Radar DIA 30 MÊS Janeiro ANO 1980 PÁGINA 23 Quadro 19 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Curto Circuito” CHAMADA “Roma “estranha” reunião de teólogos em São Paulo” LEAD

“Os desentendimentos que vêm pontilhando as relações entre a Santa Sé e a cúpula “progressista” da Igreja Católica no Brasil, desde a posse do Papa João Paulo II, acabam de culminar em nova escaramuça. Em carta pessoal, o prefeito da Sagrada Congregação para os Bispos, cardeal Sebastiano Baggio, comunicou ao cardeal de São Paulo, Evaristo Arns, que “estranha” seu parocínio ao IIV Congresso Internacional Ecumênico de Teologia, encerrado na semana passada no município paulista de Tabuão da Serra”.

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Matéria EDITORIA Religião DIA 30 MÊS Janeiro ANO 1980 PÁGINA 23

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Quadro 20 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “A Política destrói a Igreja” CHAMADA

“O influente prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos denuncia a esquerda e sua infiltração nas comunidades de base”

LEAD

“À exceção de teimosos escudeiros do capitalismo transnacional – como dom Eugênio Sales, Arcebispo do Rio de Janeiro, ou dom Vicente Scherer, arcebispo de Porto Alegre – raros cardeais da Igreja ousam entrar na linha de tiro da esquerda clerical e suas patrulhas avançadas, que conduzem o estandarte da Teologia da Libertação”.

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Matéria EDITORIA Entrevista DIA 27 MÊS Maio ANO 1981 PÁGINA 5 Quadro 21 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Santo Ofício quer cansar teólogos” LEAD

“Em silêncio e com profundo rigor, a Sagrada Congregação para a Doutrina e Fé do Vaticano intensificou nos últimos meses suas pressões sobre o teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos expoentes teóricos da cahamada Teologia da Libertação”.

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia EDITORIA Radar DIA 9 MÊS Dezembro ANO 1981 PÁGINA 34

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121

Quadro 22 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “ Fogo Cerrado” CHAMADA “A Teologia da Libertação é duramente condenada” LEAD

“Vergastada com regularidade por setores conservadores da Igreja Católica, a chamada Teologia da Libertação, professada na América Latina e no Terceiro Mundo, foi atingida na semana passada por uma das mais poderosas vozes da Santa Sé”

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Religião DIA 21 MÊS Março ANO 1984 PÁGINA 88 Quadro 23 Publicação – Revista Veja: TÍITULO “Sinais de Roma” CHAMADA

“A Cúria cerca a Teologia da Libertação”

LEAD

“Em mensagem publicada semana passada pelo jornal L´Osservatore Romano, órgão oficial do Vaticano, o Papa João Paulo II condenou mais uma vez a Teologia da Libertação, um tema que tem incomodado praticamente o pontífice nos últimos tempos”

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Religião DIA 29 MÊS Agosto ANO 1984 PÁGINA 91

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Quadro 24 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Um Aviso de Roma” CHAMADA

“Num documento oficial, o Vaticano critica a Teologia da Libertação e condena a conjugação do Evangelho com a doutrina marxista”

LEAD

“Roma Locuta, uma causa finita, reza um provérbio latino, usado para encerrar uma discussão. Na semana passada, Roma falou pela primeira vez num documento oficial e alertado sobre a Teolgia da Libertação, para criticá-la, mas a discussão não está terminada. Ao contrário, o documento, intitulado “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação”, que vem somar-se a vários pronunciamentos isolados da cúpula vaticana sobre o mesmo tema, esquenta espetacularmente um debate que tende a ampliar-se”.

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Religião DIA 5 MÊS Setembro ANO 1984 PÁGINA 92- 95 Quadro 25 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Boa acolhida em Roma” CHAMADA

“Com padrinhos importantes a apoiá-lo, frei Leonardo Boff vai explicar-se ao Santo Ofício e sai confiante da reunião com Ratzing”

LEAD

“Ao entrar no edificio da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, ao lado da praça de São Pedro, em Roma, às 10 horas da manhã da última sexta-feira, o teólogo brasileiro Leonardo Boff estava pálido e parecia perturbado”.

AUTOR Alessandro Porro, de Roma GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Religião DIA 12 MÊS Setembro ANO 1984 PÁGINA 96-98 Publicação Boxes com destaque dos principais trechos do documento da defesa: Boff /Ratzing

BOX 1 – Diz Leonardo Boff: “A Igreja precisa mostrar coragem e criatividade; caso contrário deixará, nos próximos cinquenta anos, de ser a religião prevalente da alma brasileira” BOX2 – Diz Ratzing: “o (seu) tom é polêmico, difamatório, até mesmo panfletário, absolutamente impróprio para um teólogo. Falta às vezes a devida serenidade e moderação”

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Quadro 26 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “O marxismo na Igreja” CHAMADA

“O bispo que mais tem atacado a Teologia da Libertação no país critica os métodos de seus teóricos e diz que muitos deles já não são cristãos”.

LEAD

“Há dois anos, quando dom Boaventura Kloppenburg foi nomeado bispo auxiliar de Salvador, círculos católicos interpretaram a sua designação como uma tentativa da Igreja Católica de minar o mais importante reduto do candomblé no país. Kloppenburg, um franciscano de 64 anos, publicava uma dezena de livros contra o espiritismo e os cultos afro-brasileiros – e a teoria na Bahia foi um bom lugar para exercitar suas teorias”

AUTOR Veja GÊNERO JORNALÍSTICO Entrevista EDITORIA Páginas Amarelas DIA 9 MÊS Janeiro ANO 1985 PÁGINA 3-6 Quadro 27 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Entrevista” CHAMADA

“Parabéns pela entrevista com dom Boaventura Kloppenburg sobre a malfadada Teologia da Libertação (VEJA nº 853). Quando houver maior igualdade entre os homens, a quem se dirigirão os teólogos da libertação? Com quem contarão para espalhar suas ideias subversivas?”.

LEAD - AUTOR Ivone Vieira (São Paulo) GÊNERO JORNALÍSTICO Carta EDITORIA Cartas DIA 23 MÊS Janeiro ANO 1985 PÁGINA 8

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Quadro 28 Publicação – Revista Veja: TITULO “O Duro Recado” CHAMADA “Na América latina, o papa reafirma sua autoridade”. LEAD

“Ao se inclinar, no sábado, dia 26 passado, para o habitual beijo no solo, em Caracas, a capital da Venezuela, o Papa João Paulo II já dera o tom desta sua sexta viagem à América Latina. Ainda dentro do avião, brindara os jornalistas de sua comitiva com um claro e contundente ataque à Teologia da Libertação, a controvertida linha de pensamento pregada por parte do clero católico latino-americano, que atrela o progresso espiritual às mudanças sociais.”

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista Veja GÊNERO JORNALÍSTICO Entrevista EDITORIA Religião DIA 9 MÊS Fevereiro ANO 1985 PÁGINA 77 Quadro 29 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Veredito Final” CHAMADA “O ex-Santo Ofício condena o livro de Frei Boff”. LEAD

“com dois padrinhos a tiracolo – os cardeais Paulo Evaristo Arns, de São Paulo, e Aloísio Lorscheider, de Fortaleza -, o teólogo brasileiro Leonardo Boff esteve em Roma em setembro para defender-se das acusações sobre erros teológicos......”

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Religião DIA 27 MÊS Março ANO 1985 PÁGINA 69

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Quadro 30 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Acerto em Roma” CHAMADA “Papa procura alinhar os bispos brasileiros”. LEAD AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia EDITORIA Religião DIA 19 MÊS Março ANO 1986 PÁGINA 100 Quadro 31 Publicação – Revista Veja TITULO “Uma Rodada Política” CHAMADA “A Constituinte, a Reforma Agrária e a Teologia da

Libertação dividem os bispos em Itaici”. LEAD

“Recolhida à vila de Kostka, um antigo mosteiro jesuíta encravado nas montanhas de Itaici, a 130 quilômetros de São Paulo, 263 bispos do país se debruçaram na semana passada sobre a extensa pauta da 24ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, recheada com 21 temas diferentes. Seria uma reunião quase de rotina, semelhante às que a cúpula da Igreja Católica no país promove anualmente, não fossem duas questões polarizadoras: trata-se de um dos mais políticos encontros da CNBB e sua realização coincide com a divulgação, no último dia 5, de um novo documento da Santa Sé sobre a Teologia da Libertação”.

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Religião DIA 16 MÊS Abril ANO 1986 PÁGINA 97-98

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Quadro 32 Publicação – Revista Veja: TITULO “O Cerco da Igreja” CHAMADA

“Incomodado com a crescente ingerência da cúpula dos bispos brasileiros nos assuntos de seu governo, Sarney vai queixar-se ao papa”.

LEAD AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Brasil DIA 9 MÊS Julho ANO 1986 PÁGINA 20-27 Quadro 33 Publicação – Revista Veja: TITULO “O inimigo de Fidel” CHAMADA

“O autor de Contra Toda a Esperança lembra seus 22 anos de prisão, critica a Teologia da Libertação e ataca o embaixador de Cuba no Brasil”.

TRECHO DA ENTREVISTA:

“VEJA – Como católico, para quem a religião deu forças para suportar 22 anos de prisão, o que acha da Teologia da Libertação, que é apreciada até por Fidel Castro? VALLADARES – Castro é um dos grandes promotores da Teologia da Libertação, que contradiz inteiramente os princípios da Igreja Católica. Os sacerdotes que são a favor dela deixam de representar a Igreja Católica e não merecem respeito ou consideração”

AUTOR Flávia Sekles GÊNERO JORNALÍSTICO Entrevista EDITORIA Páginas Amarelas DIA 20 MÊS Agosto ANO 1986 PÁGINA 5-8

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Quadro 34 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Política nas lições” CHAMADA

“A Teologia da Libertação chega às escolas católicas e cria conflitos entre professores, alunos e pais”.

LEAD AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Educação DIA 1 MÊS Outubro ANO 1986 PÁGINA 80-82 Quadro 35 Publicação – Revista Veja: TITULO “Sangue jovem no rebanho da UDR” CHAMADA - LEAD

“A União Democrática Ruralista já deu cria. Acaba de ser fundada em Belém do Pará a facção jovem da UDR, integrada por filhos de pecuaristas sócios da entidade. O campo de atuação da UDR já está demarcado: os colégios religiosos onde os professores de Religião adeptos da Teologia da Libertação pregam a reforma agrária e o fim da propriedade privada. A juventude ruralista, um contingente de cinquenta rapazes, promete deter o avanço nas salas de aula das ideias progressistas da Igreja”

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia EDITORIA Radar DIA 15 MÊS Outubro ANO 1986 PÁGINA 51

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Quadro 36 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Em voz alta” CHAMADA “Bispo divulga condenação a novo livro de Boff”. LEAD

“Desde agosto do ano passado estão em movimento as mesmas engrenagens que em 1985 levaram o Vaticano a punir o frade franciscano Leonardo Boff, de 48 anos, com dez meses de “silêncio obsequioso” - medida que o impediu de publicar livros, artigos e fazer conferências. O bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, dom Karl Rommer, um suíço de fala alemã, de 54 anos, revelou que o principal formulador da Teologia da Libertação, menos de um ano após a suspensão do castigo que lhe fora imposto, está de novo na mira das autoridades eclesiásticas”.

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia EDITORIA Religião DIA 25 MÊS Fevereiro ANO 1987 PÁGINA 59 Quadro 37 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Outra vez na mira” CHAMADA

“Roma proíbe de lançar livro na Itália, e a Congregação da Fé prepara nova punição ao teólogo”.

LEAD

“Desde que desembarcou na Europa, no dia 27 de maio, para um périplo intelectual de quarenta dias, o teólogo brasileiro frei Leonardo Boff, 48 anos, tem magnetizado em torno de si as atenções do mundo católico. Afinal, ele é hoje não apenas o principal formulador da Teologia da Libertação, mas também autor de livros de maior repercussão sobre assuntos divinos. No caso de Boff, contudo, quando quem o ouve e lê é a Santa Sé ”.

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Religião DIA 17 MÊS Junho ANO 1987

PÁGINA 60-64

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Quadro 38 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “À distância da política” CHAMADA

“O primeiro cardeal de Brasília critica a Teologia da Libertação e diz que ricos e pobres pecam e a função da Igreja é salvar a todos”

INTRODUÇÃO DA ENTREVISTA TRECHO DA ENTREVISTA

“ Papa João Paulo II reparou na semana passada uma situação incômoda para seu pontificado. (...). Coube a um bispo cearense, de hábitos severos, dom José Freire Falcão, de 62 anos (...). Conservador, dono de uma bagagem intelectual respeitável, dom Falcão tem sido um crítico articulado da Teologia da Libertação, o arsenal teórico de inspiração marxista em torno do qual se une a cúpula da Igreja brasileira representada pela CNBB. A nomeação de dom Falcão e a já esperada elevação do arcebispo de Salvador, dom Lucas Moreira Neves, ao cardinalato, marcam a posição da Santa Sé de bloquear politicamente o avanço da esquerda entre os bispos brasileiros”. (p.5). “VEJA – Há dois anos, Dom Pedro Casaldáliga recusou-se a fazer a chamada visita ad limina apostolorum, que todo bispo deve fazer ao papa a cada cinco anos, para ir à Nicarágua. Isso é quebra de disciplina? DOM FALCÂO – Essa questão só deve ser julgada pela Santa Sé. Sou a pessoa menos indicada para julgar dom Pedro Casaldáliga. Anos atrás, fiz uma visita à prelazia de São Félix do Araguaia e fui bem recebido por ele de forma carinhosa e fraternal. Não devo retribuir com um gesto de indelicadeza”. (p.5).

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Educação DIA 1 MÊS Junho ANO 1988 PÁGINA 5-8

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Quadro 39 Publicação – Revista Veja: TÍTULO CHAMADA “Dom Falcão”. LEAD

“Esta entrevista com o cardeal dom José Freire Falcão (8 de junho), além de oportuna e esclarecedora, serve de aviso a muitos progressitas que estão mais interessados em ser notícia, infiltrando-se em temas polêmicos sempre para favorecer determinadas categorias políticas, deixando de lado a verdadeira função da Igreja, que é a evangelização dos povos”

AUTOR Dimas Gardim Rubert (Fortaleza dos Valos-RS) GÊNERO JORNALÍSTICO Carta EDITORIA Cartas DIA 29 MÊS Junho ANO 1986 PÁGINA 17 Quadro 40 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Censura por Carta” CHAMADA

“Ao exigir o silêncio de Casaldáliga, Roma dá mais forças aos conservadores da Igreja”

LEAD

Há dez dias, pousou sobre a mesa de dom Pedro Casaldáliga, bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, Mato Grosso, uma carta remetida pelo Vaticano com uma mensagem desagradável para o destinatário e muito significativa para entender o xadrez político que se joga com a Igreja Católica brasileira. (...). A partir de agora, conforme o documento, ele não deverá pronunciar-se mais a respeito de temas que tem abordado com paixão ou com frequência, como a Teologia da Libertação, assunto que desagrada ao Vaticano, e as referências críticas a algumas regras de cortes adotadas na Santa Sé” (p.60)

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Igreja DIA 28 MÊS Setembro ANO 1988 PÁGINA 60-62

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Quadro 41 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Outro pito de Roma” CHAMADA

“O Vaticano condena a atuação do cardeal Lorscheider e de outros quatro bispos progressistas”.

LEAD AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Religião DIA 26 MÊS Outubro ANO 1988 PÁGINA 108-109 Quadro 42 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “A Tréplica de Roma” CHAMADA

“Depois do silêncio obsequioso, o Vaticano se arma para cassar o título de teólogo católico de Leonardo Boff”.

LEAD

“O Santo Ofício de Roma, que promoveu a Inquisição e em 1965 passou a chamar-se Congregação para a Doutrina da Fé, voltou a colocar o frei Leonardo Boff, o mais respeitado teólogo brasileiro e um dos formuladores da Teologia da Libertação, na mira de suas punições. Boff está sendo novamente processado pelo Vaticano por “erros teológicos” cometidos em dois livros recentes: A Trindade e a Sociedade e E a Igreja se Fez Povo, que tiveram a primeira edição publicada em 1986, no Brasil, pela Editora Vozes”

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem EDITORIA Religião DIA 5 MÊS Julho ANO 1989 PÁGINA 114-116

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Quadro 43 Publicação – Revista Veja: TÍTULO “Título: “Vocações extintas no Recife”

CHAMADA

“Santa Sé fecha dois seminários progressistas no Nordeste e desarticula o trabalho de dom Helder na região”

LEAD

“Foi mais um sinal de desagrado do Vaticano com o clero esquerdista brasileiro. Numa carta lacônica, endereçada ao arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, a Congregação para Educação Católica da Santa Sé decretou o fechamento de dois seminários que formavam padres segundo os ensinamentos da Teologia da Libertação. Esses seminários - O Instituto Teológico do Recife (INTER), e o Seminário Regional Nordeste II – criados pelo arcebispo, hoje resignatário da região, dom Helder Câmara, resistiam à orientação conservadora de dom Cardoso Sobrinho, que substitui dom Helder desde 1985”.

AUTOR Sem assinatura / Segue linha editorial da revista GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia EDITORIA Religião DIA 13 MÊS Setembro ANO 1989 PÁGINA 95

Procedeu-se também à pesquisa de palavras e expressões-chave mais frequentes nas

mídias estudadas. No caso da Veja (década de 80), nas 76 publicações levantadas, encontrou-se

357 vezes a expressão “Igreja Católica”; 150 vezes a palavra “marxismo”; 121 vezes o

sobrenome do teólogo Leonardo “Boff”; 120 vezes o nome Frei Betto; 72 vezes a expressão

“Teologia da Libertação”; 49 vezes o nome do bispo “Helder Câmara” e nenhuma vez “condena

Teologia da Libertação” e “condena marxismo”. (Cfr. Gráfico 5).

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Gráfico 5 – Revista Veja (Década 80)

Fonte: Autora da pesquisa

A finalidade do gráfico com tais palavras/frases é definir os termos dentro dos textos,

como refletem seu significado tal como quando a revista Veja procurou dar sentido na

expressividade de cada uma delas na relação entre texto e contexto.

Tomando como exemplo o título, a chamada e o lead da entrevista (páginas amarelas) da

Veja com o bispo Boaventura Kloppenburg100, publicada no dia 9 de janeiro de 1985 (Cfr.

Imagem 16), as palavras-chave “Igreja Católica” aparecem três vezes, suprimindo o termo, duas

vezes por “Igreja”. “Teologia da Libertação” aparece duas vezes e a palavra “marxismo” uma

vez.

100 Boaventura Kloppenburg – Foi bispo auxiliar de Salvador-BA. Entre os anos de 1982 e 1986. Consultor de várias Congregações da Cúria Romana. Bispo Emérito de Novo Hamburgo (RS). Morreu aos 89 anos no dia 8 de maio de 2009. Disponível em: http://www.cnbb.org.br/imprensa/alteracao-no-episcopado/1781-morre-dom-boaventura-kloppenburg-bispo-emerito-de-novo-hamburgo. Acesso em: 15 jan. 2014. Foi conhecido pelas posições conservadoras e pelo repúdio ao marxismo. Crítico à Teologia da Libertação. Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/noticia/2009/05/morre-aos-89-anos-dom-boaventura-kloppenburg-2503381.html. Acesso em 15 jan. 2014.

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Imagem 16 – Título/Chamada/Lead da Entrevista publicada na revista Veja em 9/1/1985. Páginas Amarelas

Fonte: Acervo Digital da Revista Veja Quadro 44 – Título/Chamada/Lead TÍTULO

“O marxismo na Igreja”

CHAMADA

“O bispo que mais tem atacado a Teologia da Libertação no país critica os métodos de seus teóricos e diz que muitos deles já não são cristãos”.

LEAD

“Há dois anos, quando dom Boaventura Kloppenburg foi nomeado bispo auxiliar de Salvador, círculos católicos interpretaram a sua designação como uma tentativa da Igreja Católica de minar o mais importante reduto do candomblé no país, Kloppenburg, um franciscano de 64 anos, publicava uma dezena de livros contra o espiritismo e os cultos afro-brasileiros – e a teoria na Bahia foi um bom lugar para exercitar suas teorias”

O contexto em que as palavras estão dispostas marca o início dos anos 80, segundo Linha

do Tempo (Cfr. Capítulo 1: Teologia da Libertação). A “Igreja Católica” respira o ambiente do

processo que levou à notificação do livro do teólogo Leonardo Boff “Igreja: Carisma e Poder”,

que aponta um novo modelo de Igreja: a Igreja nova, aquela que “nasce da velha” (BOFF, 1981,

p.106). Isso significa que, no contexto: a “Igreja”, a porção da Igreja-instituição, a partir de uma

leitura teológica, meditação do Evangelho e dos sinais dos tempos, compreendeu os desafios que

são lançados à fé cristã e se arrisca a respondê-los.

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Assiste-se, pouco a pouco, por toda a parte, ao surgimento de uma Igreja nova, gestada no coração da velha; comunidades de base, nas periferias das cidades, Igreja dos pobres, feita de pobres, inserimento de bispos, padres e religiosos no meio dos marginalizados, centros de evangelização, levada a efeito por leigos etc. É uma Igreja que renunciou definitivamente ao poder; o eixo centralizador reside na ideia de Igreja-Povo-de-Deus, peregrino, aberto à aventura histórica dos homens, participando de todos os riscos. (BOFF; 1981,p.106).

Assinala o autor que a Igreja nova, com todos os movimentos de renovação, emerge na

periferia e nos rincões do campo. Essa nova Igreja entra em conflito com a Igreja velha. A Igreja

nova não entra no esquema de condenações e suspeitas. É partindo desse conceito de Igreja que

se gera o conflito entre as alas progressista e conservadora da Igreja Católica, como acontece no

caso da entrevista em páginas amarelas, em 9/1/1985, com o bispo “Boaventura Kloppenburg”

(conservador) em relação a duas palavras ou expressões contidas no texto: “marxismo” e

“Teologia da Libertação”. A primeira, comprendida, segundo Barbosa (2002) – sendo o

capitalismo (modo de produção) um sistema complexo de natureza técnica, econômica, política e

ideológica – corresponde a uma estrutura social determinada e elabora-se a partir do momento em

que a luta de classes assume sua responsabilidade e direção (essência da teoria de Marx). É nesse

processo que a classe trabalhadora adquire a consciência de classe (como relação/formação social

e cultural), surgindo de um processo que só pode ser estudado em um período histórico

específico.

As críticas ao emprego da análise marxista, segundo Libanio (1987), seja este o campo

mais combatido da “Teologia da Libertação” (segunda expressão), foram o tema central da

Instrução da Congregação para a Doutrina da Fé sobre os aspectos negativos da TdL e os males

que dela advêm por ter entrado em contato com o marxismo. Algumas críticas centraram-se na

questão do projeto histórico revolucionário socialista.

Para Libanio (1987), a oposição vem não da hierarquia como tal, mas de determinados

bispos. E as razões de tal oposição são estudadas ideológica e teologicamente, para dar-lhe o

verdadeiro sentido e alcance. Partindo dos conceitos e do contexto em que se inserem as palavras:

postos no título/Chamada/Lead da entrevista:

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Quadro 45 – Palavras: Igreja/Teologia da Libertação/Marxismo

“Igreja”

“Teologia da Libertação”

“marxismo”

O discurso da revista Veja reforça sua autoridade na fonte oficial (declarações de um

bispo – conservador- para “minar” (como reforça o lead da entrevista) “o mais importante reduto

do candomblé no país” (rompendo o diálogo inter-religioso mencionado pelos bispos latino-

americanos, em Puebla, no Capítulo IV do documento que afirma: “o diálogo para a comunhão e

participação. Incrementar o diálogo ecumênico entre as religiões e com os não crentes, com vistas

à comunhão” (Pb. Nº 1096, p. 344). O diálogo inter-religioso começa a fazer sentido. Adiante

(final do lead o “bispo troca de alvo” e “começa sua investida contra a Teologia da Libertação”

(“escrever”, “proferir conferências”) no “Brasil e em outros países” sobre a “corrente doutrinária”

(marxismo) que “acusa de desvios incompatíveis com a fé católica”.

A linha editorial da revista nesse título, “o marxismo na Igreja”, remete ao que Benetti

(2007) chamou a base de contrato da leitura entre Editorial/Jornalista/Mídia e leitor. Parte-se da

noção de que a mídia é um discurso comprometido com a verdade. E, segundo a autora, o

discurso jornalístico ampara-se em algumas ilusões: retrata a realidade como ela é; tudo o que é

de interesse público é tratado pela imprensa ou pelo jornalista; o compromisso da verdade não se

subordina a nenhum outro interesse; ouve as melhores fontes, e por serem fontes oficiais

costumam ser as mais confiáveis; os melhores especialistas são aqueles que falam na mídia,

mesmo que o leitor com maior formação filosófica esteja preparado para compreender o texto. A

objetividade é apenas o guia que norteia a ética profissional. O leitor está inserido em um

contrato implícito com o editorial que se diz objetivo e neutro e posiciona-se como instituição

autorizada para relatar a realidade, uma autorização dada pelos leitores ao comprarem o jornal na

banca ou via assinatura.

A carta publicada na mesma revista, uma semana depois da entrevista (Cfr. Imagem 16):

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Imagem 17– Editorial Cartas – carta da leitora Ivone Vieira (São Paulo), publicada na Revista Veja em 23/1/1985, p.8

Fonte: Acervo Digital da revista Veja

“Parabéns pela entrevista com dom Boaventura Kloppenburg sobre a malfadada Teologia da

Libertação (VEJA nº 853). Quando houver maior igualdade entre os homens, a quem se dirigirão

os teólogos da libertação? Com quem contarão para espalhar suas ideias subversivas?”. Essa

opinião demonstra que há um eixo de legitimação da autoridade. Conforme Benetti (2007), se o

jornalismo (no caso, o da Veja) compreende a si mesmo como uma voz capacitada para narrar o

cotidiano e inscreve essa autoridade no contrato que assina com o leitor, tem-se um campo fértil à

usurpação de poder. A relação eu/tu é relação para existência do discurso, sendo que as palavras-

chave resumem os temas principais de um texto: “marxismo”, “igreja” e “Teologia da

Libertação” e estão entre as principais palavras-chave, conforme resumem o título, a chamada e o

lead da entrevista da Veja com o bispo Boaventura Kloppenburg.

3.6 FOLHA DE S. PAULO

A data de 13 de agosto de 1962 é importante na “Folha de S. Paulo”. Foi nesse dia que

dois empresários, Otávio Frias de Oliveira (já filiado à Folha desde 1948 e chefe da Divisão

Comercial) e Carlos Caldeira Filho (estrangeiro da construção civil), adquiriram a empresa.

Segundo Muniz (1999), estava numa situação financeira catastrófica agravada pela greve do ano

anterior e pela falta de vendas.

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Os novos proprietários transformaram-na num grande complexo empresarial de indústria

cultural. A estrutura e a lógica empresarial já existiam, mas graças à disponibilidade de recursos

essa transformação foi possível.

De acordo com Muniz (1999), a Folha apoiou o Golpe de 64 e cedeu seus carros para a

operação bandeirantes (Grupo paramilitar, financiado por empresários, para combater os grupos

de esquerda que realizavam ações armadas, atuando do período de 1968-1973). Esse atrelamento,

segundo ele, proporcionou o crescimento da Folha e da indústria cultural do país. A política

econômica da ditadura levou o país a uma etapa monopolista, com grande inversão de capitais

estatais na indústria de base, promovendo a ascensão da classe média (leitores em potencial) em

detrimento do setor operário.

Esta fase monopolista abiu espaços para o desenvolvimento do mercado publicitário, tanto por servir como elemento agilizador do processo de acumulação e rotação do capital, como por ser técnica privilegiada de competições entre grandes empresas. No período de 1962-1983, a participação dos jornais na distribuição dos investimentos publicitários pulou de 18% para 30% respectivamente, ficando apenas atrás da televisão (...). O grande anunciador nesse período é o Estado. Fazendo propaganda institucional ou de serviços de suas estatais, de campanhas como: “Brasil: ame-o, ou deixe-o, Ninguém Segura este País”. (...). Além disso, o governo desenvolveu o parque gráfico e editorial brasileiro com a constituição do Grupo Executivo da Indústria de Papel e Artes Gráficas (GEIPAG), que aprovava a importação e equipamentos para aprimorar a qualidade técnica do setor. A ação deste órgão recuperou um atraso de meio século da imprensa brasileira, dobrou a capacidade instalada dessa indústria e promoveu um processo (MUNIZ, 1999, p. 37-38).

Até a década de 1980, o jornal ficou atrelado ao governo militar fundamentalmente por

razões econômicas. Com a recessão de 80, desenvolveu e cuidou do marketing e da publicidade.

Com a criação da “Agência Folha” centralizando a produção de notícias, o jornal, observa Muniz

(1999), criou também forma de controle e avaliação do desempenho de cada jornalista ao

acompanhar o fluxo de cada matéria e edição, para detectar erros e fiscalizar o número de fotos,

mapas gráficos, texto-legenda etc., reduzindo-se assim os gastos com pessoal, instalações etc.

Para Sandri (2012), nessa década a Folha apareceu aos olhos do povo como porta-voz da

democracia e obteve a confiança da massa. “Pelo menos das portas da redação para fora, pois

internamente continuava com seu regime autoritário. Para a Folha, a luta pela democracia era

apenas uma espécie de fachada para ganhar o povo brasileiro” (SANDRI, 2012, p.1). Essa

“fachada” aumentou com o apoio dado à campanha "Diretas Já". A partir de 1984, retransmitia

para o povo notícias sobre os comícios e as manifestações que ocorriam nos bastidores da

campanha.

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No mesmo período, entre os meses de setembro e outubro de 1984, a Folha publicava

diariamente notas, notícias e reportagens sobre a Teologia da Libertação. Era o período das

advertências de Roma aos teólogos latino-americanos e das “instruções” da Sagrada Congregação

para a Doutrina da Fé sobre o uso de instrumental de ideologia marxista. O caso com maior

repercussão foi o processo ao teólogo brasileiro Leonardo Boff pelos seus escritos, sobretudo

“Igreja, Carisma e Poder”.

Lendo o processo no seu contexto, Rubio (1977) afirma que, nos anos 1960 a 1975, eram

comuns as críticas à Igreja Oficial pela sua solidariedade e pelo apoio ao poder (econômico e

social) estabelecido. Com as encíclicas sociais e o Concílio Vaticano II, a Igreja na América

Latina despertou para uma nova teologia. Apesar de não muito aceita (pelo seu passado), parte da

Igreja fez uma releitura da história e também sua contrição. A linguagem dependência-libertação

não nasceu na Igreja e também não era nova (já era usada por grupos cristãos antes de 1960), mas

espalhou-se rapidamente, como oposição à sociologia funcionalista dos Estados Unidos e ao

marxismo dogmático. Modernização não significa desenvolvimento. Para isso ele tem que ser

humanizante, de caráter antropológico e não unicamente econômico ou técnico.

Caso se queira traçar a linha do tempo apresentada na criação da TdL, é preciso remontar

ao Papa João XXIII, que a 12 de setembro de 1962, um mês antes de abrir o Concílio do Vaticano

II, afirmou: “Diante dos países subdesenvolvidos, a Igreja se apresenta como é e como quer ser: a

Igreja de todos e, especialmente, a Igreja dos pobres”. Essas palavras tiveram ampla repercussão

e desencadearam uma série de estudos sobre a pobreza no mundo e o desafio que ela apresentava

à humanidade e ao cristianismo.

A palavra libertação, utilizada pela resistência francesa na sua oposição aos ocupantes

durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), entrou no vocabulário oficial da Igreja em

fevereiro de 1967 com o Documento de Buga (Colômbia), relativo às Universidades Católicas e

publicado pelo Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM). De Buga passou para os

Documentos de Medellin (1968) e, em novembro de 1969, o teólogo peruano Gustavo Gutiérrez

deu uma conferência sobre o tema “Notas para uma Teologia da Libertação”. Nascia assim a

expressão Teologia da Libertação. O termo “libertação” vingou, segundo Libanio (1987), porque

o Brasil vivia uma onda de libertação.

A Teologia da Libertação pode ter ficado adormecida, mas não esquecida. No dia 26 de

setembro de 1984, a Folha publicou uma matéria com o título: “o Papa quer conhecer mais a

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libertação” (Cfr. Imagem 18), em que falava da TdL e da convocação do teólogo brasileiro

Leonardo Boff para um encontro com o Papa em Roma. Na abordagem que Ferré (1984) faz do

artigo, diz que a TdL se baseia em dois conceitos-chave: “pobres” e “libertação”. A expressão

“Teologia da Libertação” foi recobrindo um leque de posições afins entre si, mas não idênticas,

como insinua o título da matéria da Folha, e leva o leitor incauto a pensar que o papa não

conhecia a expressão.

Imagem 18 – Título - Reportagem publicada no Jornal Folha de S. Paulo em 25/9/1984, p. 1 (Chamada de

capa) e 6 (reportagem).

Fonte: Centro de Documentação e Informação da CNBB

Essencialmente por essas razões, a Folha de S. Paulo tornou-se, em 1984, o mais

importante veículo de comunicação do país. Os efeitos visuais na apresentação do jornal foram

influenciados por sua linha ideológica. Entre 1985 e 1986101, a tiragem média cresceu 75%. A

notícia era mercadoria geradora de lucros. A influência da Folha de São Paulo na recente história

do Brasil é inegável porque facilmente perceptível. Perante os fatos publicados, ela toma posição

a favor ou contra. Notícias e negócios andam de mãos dadas no processo da comunicação, ainda

que no projeto editorial a Folha continue afirmando que “orienta sua conduta por um projeto

editorial que vem se desenvolvendo desde os meados da década de 70, com o objetivo de

produzir um jornalismo crítico, moderno pluralista e apartidário” (MANUAL da Redação, 2001,

p.10).

101 Cfr. MUNIZ, Altemar da Costa. “As mudanças de Linha Editorial na Folha de S. Paulo (1979-1989)” – Dissertação de Mestrado da Universidade Federal do Ceará. 1999. Disponível em: www.repositorio.ufc.br:8080/ri/bitstream/.../1/Art_1999_AdaC.Muniz.pdf. Acesso em: 23 nov. 2013.

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Para Novelli (2002), no décimo ano de sua implantação, o Projeto Editorial da Folha de S.

Paulo (“Projeto Folha”) incorporou novos elementos à atividade jornalística praticada pela Folha,

derrubando mitos bastante arraigados na imprensa nacional e inserindo definitivamente o

jornalismo brasileiro na lógica de mercado.

Partindo desse contexto foram selecionados 56 recortes (setembro e outubro de 1984)

publicados. Entre eles, 29 matérias/reportagens na Editoria de Política; 13 notícias na Editoria

Exterior; três artigos assinados (Alfredo Basi, Helio Pelegrino e Cândido Mendes); dois da

Editoria Opinião/Carta dos Leitores; quatro matérias/Geral na Editoria Educação; duas chamadas

de capa; duas notas editoria Exterior/Geral e um editoral reportando o tema. (Cfr. Quadros 46 e

47), referindo-se ao processo que levou ao encontro do teólogo Leonardo Boff, no dia 8 de

setembro de 1984, com a Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano, para esclarecimentos

sobre o livro “Igreja: Carisma e Poder”.

Quadro 46 – Folha de S. Paulo – setembro de 1984 Nº Pub.

Matéria/Reportagem - Editoria Política 10 Notícia / Editoria Exterior 5 Editorial 1 Matérias/Geral/Educação 3 Artigos Assinados - Box/Destaque - Palavra do Leitor / Editoria Opinião 2 Chamada de Capa - Nota/Exterior/Geral -

Total de Publicações 21 Quado 47 – Folha de S. Paulo – outubro de 1984

Nº Pub. Matéria/Reportagem – Editoria Política 19 Notícia / Editoria Exterior 8 Editorial - Matérias/Geral/Educação 1 Artigos Assinados – Tendências/Debates: Alfredo Bosi (1) (1) Helio Peregrino / Cândido Mendes (1)

3

Box/Destaque - Palavra do Leitor / Editoria de Opinião - Chamada de Capa 2 Nota/Exterior (1)/Geral (1) 2

Total de Publicações 35 TOTAL GERAL DAS PUBLICAÇÕES 56

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Procedeu-se, também, à seleção de 11 publicações (mês setembro/1984) e 30 publicações

(mês outubro/1984), pois esse é o período que se situa antes e durante dois acontecimentos de

tensão entre as alas progressista e conservadora da Igreja Católica. O primeiro, o processo que

corria desde 1982 contra o teólogo Leonardo Boff, com a publicação de seu livro Igreja Carisma

e Poder. A Comissão Arquidiocesana para a Doutrina da Fé do Rio de Janeiro criticara o livro no

Boletim da Revista do Clero, em abril de 1982. Boff rebateu afirmando que a crítica continha

graves erros de leitura e de interpretação. O fato foi levado a julgamento na Sagrada Congregação

para a Doutrina da Fé, sendo a obra notificada no dia 11 de março de 1985. As páginas

incriminadas aparecem no Anexo B e culminaram na condenação (“silêncio obsequioso”) 102 do

teólogo. O segundo acontecimento foi a divulgação do documento do Vaticano as “Instruções

sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação”. Tais conflitos veiculados na mídia brasileira

estamparam as páginas do jornal Folha de S. Paulo, contendo os textos: título/Chamada/Lead,

autor, gênero jornalístico, editoria, dia, mês, ano e página . Entre eles, foram selecionados 13

textos entre categorias: Títulos (em cor amarelo), Chamadas (em cor lilás) e Lead (em cor azul),

analisados de acordo com o conteúdo que se insere ao contexto em estudo (no corpo da

dissertação), permitindo demonstrar o sentido no discurso do jornal Folha de S. Paulo sobre a

Teologia da Libertação. (Cfr. Quadros - 48 a 88 - Publicações Folha de S. Paulo: setembro e

outubro de 1984).

Publicações – FOLHA DE S. PAULO (setembro de 1984)

Quadro 48 Publicação - Folha de S. Paulo – setembro de 1984 TÍTULO

“Teologia da Libertação, uma grande polêmica que desperta os católicos”

LEAD

“A polêmica travada sobre a Teologia da Libertação, com a ida do teólogo frei Leonardo Boff ao Vaticano para explicar seus escritos, despertou entre católicos paulistas grande interesse pelo assunto .”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR Antenor Braido EDITORIA Política DIA 23 PÁGINA 12 102 “silêncio obsequioso”: silêncio que se oferece, que se concede a alguém procurando ser benevolente com a pessoa a quem isso é pedido. Neste caso concreto, silêncio concedido pelo Vaticano ao teólogo Leonardo Boff no ano de 1984, solicitando-lhe um afastamento da pregação e da publicação de textos por um período de tempo determinado.

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Quadro 49 Publicação - Folha de S. Paulo – setembro de 1984 TÍTULO

“Antes de julgar, o Papa deverá falar pessoalmente com frei Boff”

LEAD

“O papa João Paulo 2º está interessado em falar pessoalmente com o teólogo Leonardo Boff, antes de tomar uma decisão final sobre o relatório que os cardeais da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé estão preparando em torno do recente colóquio de Boff com o cardeal Ratzinger, prefeito da Congregação”.

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR Dermi Azevedo EDITORIA Política DIA 25 PÁGINA 6 Quadro 50 Publicação – Folha de S. Paulo – setembro de 1984 TÍTULO “Boff” LEAD

“Em Roma, o frei Leonardo Boff, um dos principais defensores da Teologia da Libertação, disse que o problema desta doutrina não pode ser reolvido “com uma intervenção da autoridade, sem que se caia no autoritarismo teórico.Quando isso acontece, afirmou Boff, num artigo publicado ontem pelo jornal Paese Sera, decide-se por decreto o que é e o que não é científico”

GÊNERO JORNALÍSTICO Nota AUTOR EDITORIA Exterior /Geral DIA 25 PÁGINA 3

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Quadro 51 Publicação – Folha de S. Paulo – setembro de 1984 TÍTULO Chamada /Capa “O Papa quer conhecer mais a Libertação” LEAD

“A recente convocação do teólogo brasileiro Leonardo Boff, a interpretação do teólogo salvadorenho Jon Sobrino, a realização em Roma de um sínodo dos bispos peruanos e o futuro encontro de Boff com João Paulo 2º (divulgado ontem, com exclusividade pela Folha) parecem indicar um grande interesse do Papa em conhecer mais profundamnete a Teologia da Libertação.”

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR EDITORIA Política DIA 26 PÁGINA 1 (Chamada/capa) e 6 Quadro 52 Publicação – Jornal Folha de S. Paulo – setembro de 1984 TÍTULO “Dom Paulo confirma que papa terá encontro com

Boff” LEAD

“O cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, confirmou ontem a informação desta Folha de que o papa João Pualo 2º pretende encontrar-se pessoalmente com o teólogo Leonardo Boff para dialogar sobre seus escritos na área da Teologia da Libertação”.

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR Dermi Azevedo (da equipe de reportagem) EDITORIA Política DIA 26 (a) PÁGINA 6

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Quadro 53 Publicação - Folha de S. Paulo – setembro de 1984 TÍTULO

“Situação da América Latina angustia o Papa, afirma bispo”

LEAD

“Um bispo do Vaticano confidenciou a um religioso brasileiro (presente em Roma, este mês, durante a convocação do frei Leonardo Boff) que o papa João Paulo 2º manifesta, com frequência, uma angústia específica em relação à América Latina: Sua Santidade não consegue compreender como, num continente dirigido essencialmente por governos católicos, os pobres continuam cada vez mais oprimidos. E é muito provável que esta angústia esteja levando o papa ao desejo de conhecer mais a fundo a Igreja do Terceiro Mundo e a Teologia da Libertação. ”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR Orivaldo Perin (Repórter da Sucursal do Rio) EDITORIA Política DIA 26 (b) PÁGINA 6 Quadro 54 Publicação – Folha de S. Paulo – setembro de 1984 TÍTULO “Imprensa Européia dá destaque a teólogo” LEAD - GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR De Roma, James Anhanguera (especial para a

Folha) EDITORIA DIA 26 (c) PÁGINA 6

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Quadro 55 Publicação - Folha de S. Paulo – setembro de 1984 TÍTULO

“Vaticano vai aprofundar questão da libertação, afirma d. Ivo”

LEAD

“O próximo documento do Vaticano sobre a Teologia da Libertação vai aprofundar alguns pontos doutrinários e colocará em evidência a questão de liberdade e libertação, quem é Jesus Cristo e o que representa”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR Sucursal de Brasília EDITORIA Política DIA 28 PÁGINA 6 Quadro 56 Publicação – Folha de S. Paulo – setembro de 1984 TÍTULO (subtítulo)

“D. Ivo vê recrudescimento do conservadorismo no país” - “Teologia da Libertação”

LEAD

“Comentando os benefícos trazidos para o cristianismo pela polêmica em torno da Teologia da Libertação, já que nunca houve tanto interesse pelos temas teológicos como agora, dom Ivo contou que o papa rejeitou o primeiro texto das “instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação”, divulgada recentemente pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. “Isto não pode ser publicado porque só enfatiza os aspectos negativos da Teologia da Libertação e poderá desalentar uma Igreja que luta pela justiça social e favorece regimes que oprimem o povo”, argumentou João Paulo 2º, segundo dom Ivo. ”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA Política DIA 29 PÁGINA 6

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Quadro 57 Publicação – Folha de S. Paulo – setembro de 1984 TÍTULO “Não posso silenciar” LEAD

“Crítica à Teologia da Libertação é livre. Eu mesma tenho vários pontos de discordãncia com ela. Mas a pessoa de frei Leonardo Boff não deve ser comprometida pela cerimônia dos críticos como Geraldo Mello Mourão. Sou amigo de ambos (...).

GÊNERO JORNALÍSTICO Carta AUTOR Sr. Gilberto de Mello Kujawski (Capital,SP) EDITORIA Palavra do Leitor/Opinião DIA 3 PÁGINA 30 Quadro 58 Publicação - Folha de S. Paulo – setembro de 1984 TÍTULO “ O prof. Boff ensina a “mecânica” da fé” LEAD

“O padre (ou qualquer outro representante da Igreja) sobe a favela, topa com crianças famintas, homens mal vestidos, mulheres prostituídas, lixo, sujeira (...) e aproveita o cenário para pregar a palavra de Deus através do Evangelho: olhai os lírios do campo... Está começando uma aula de Teologia Sistemática no Instituto Teólogico Franciscano de Petrópolis, RJ, uma das principais escolas de Teologia da América Latina. O professor da matéria é o frei Leonardo Boff (...) e ex-aluno do instituto, que entre seus ex-professores mais conhecidos já teve o cardeal Paulo Evaristo Arns (...) e Boaventura Kloobenburg, bispo auxiliar de Salvador, um dos principais combates da Teologia mais praticada hoje na América Latina e África, a da Libertação.”

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR Orivaldo Perin, repórter da Sucursal do Rio EDITORIA Política DIA 30 PÁGINA 9

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Publicações – FOLHA DE S. PAULO (outubro de 1984)

Quadro 59 Publicação - Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Gutièrrez chega, mas nega-se a falar” LEAD - GÊNERO JORNALÍSTICO Nota AUTOR EDITORIA Exterior DIA 1 PÁGINA 8 Quadro 60 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO

“Bispos peruanos elaboram documento sobre Libertação”

LEAD

“Os 43 bispos peruanos que estão em Roma cumprindo uma visita ad limina ao Papa escolheram uma comissão de oito representantes que se reuniram ontem, para discutir e elaborar um documento sobre as teorias do teólogo compatriota Gustavo Gutièrrez, considerado o “pai” da Teologia da Libertação ”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR James Ananguera, especial para a “Folha” EDITORIA Política DIA 2 PÁGINA 6 Quadro 61 Publicação - Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Episcopado peruano fala com Ratzinger” LEAD

“A Conferência Episcopal do Peru, reunida no Vaticano desde a semana passada, não tinha tomado, até ontem, qualquer posição a respeito das ideias do padre peruano Gustavo Gutièrrez, considerado o “pai” da Teologia da Libertação e contestado pela Santa Sé. Ontem cedo, os bispos reuniram-se com o cardeal Joseph Ratzing prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, que recentemente ouviu o depoimento do teólogo brasileiro Leonardo Boff ”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA Exterior DIA 3 PÁGINA 6

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Quadro 62 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Boff reúne-se sexta, em São Paulo, com

Gutièrrez” LEAD

“Leonardo Boff e Gutièrrez, os dois mais conhecidos representantes da Teologia da Libertação, encontram-se na próxima sexta-feira, em São Paulo. Gutierrez – considerado o principal formulador dessa corrente teológica – estará voltando do Vaticano para Lima, onde vive, e Boff estará retornando de Itaici, depois de um encontro de dois dias com os bispos da Conferência Episcopal de Pastoral da CNBB ”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA Política DIA 3 PÁGINA 6 Quadro 63 Publicação - Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO

“Frei Boff considera a Teologia da Libertação uma prática irreversível”

LEAD

“A caminahda da Teologia da Libertação é irreversível, porque é um processo histórico, real e concreto, disse ontem o teólogo Leonardo Boff, que está em São Paulo esperando seu colega peruano Gustavo Gutièrrez, para um balanço, sexta-feira, na polêmica em torno das ideias pregadas pelos dois e contestadas pelo Vaticano.”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA Política DIA 4 PÁGINA 7

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Quadro 64 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO

“Papa adverte bispos peruanos e reafirma documento de Ratzing”

LEAD

“O papa João Paulo 2º reafirmou ontem ao episcopado peruano as diretrizes da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé contidas no documento, divulgado há um mês, em que o cardeal Ratzing condena a Teologia da Libertação ”

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR EDITORIA Política DIA 5 PÁGINA 6 Quadro 65 Publicação 7 – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Bispos querem ser ouvidos pelo Vaticano” LEAD

“O bispo do Goiás Velho (GO), dom Tomás Baldoino, criticou, ontem em São Paulo, o Vaticano, por não ter considerado os episcopados de todos os países, particularmente os da América Latina, antes de publicar “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação, contestando a proposta teológica defendida pelo frei brasileiro Leonrado Boff e o padre peruano Gustavo Gutièrrez ”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA Política DIA 6 PÁGINA 8

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Quadro 66 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Gutièrrez chega e avista-se com Boff” LEAD

“O teólogo peruano Gustavo Gutièrrez, considerado principal formulador da Teologia da Libertação, está desde hoje em São Paulo para encontrar-se com o teólogo franciscano Leonardo Boff. Gutièrrez fará, na quarta-feira, palaestra na capital e na Unicamp e também deverá debater, com setores da Igreja que apoiam seu trabalho, o documento de crítica à Teologia da Libertação (...) ”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA Política DIA 8 PÁGINA 4 Quadro 67 Publicação - Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TITULO “Bispos peruanos fazem acordo” LEAD

“Ao final de inumeras reuniões, os bispos peruanos que se encontraram no Vaticano para a visita quinquenal “ad Limina apostolorum” chegaram finalmente a um acordo sobre a Teologia da Libertação, revelou a agência “Efe”. O documento final, que não condena a TL mas questiona o emprego da análise marxista para a interpretação do Evangelho, deverá ser apresentado hoje ao papa João Paulo 2º e divulgado amanhã em Ima”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA Política DIA 9 PÁGINA 6

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Quadro 68 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Vaticano, dois pesos e duas medidas” LEAD

“O Papa volta à América Latina com diretrizes do Vaticano já suficientemnete impartidas. Nada de misturar política com religião ou de tentativas de embutir marxismo no cristianismo...... ”

GÊNERO JORNALÍSTICO Artigo AUTOR Nilton Carlos, da equipe de analistas do Folha EDITORIA Exterior DIA 10 PÁGINA 17 Quadro 69 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Teologia, Sinais dos tempos” LEAD - GÊNERO JORNALÍSTICO Artigo AUTOR Alfredo Bosi, professor da USP e autor do

“História Concisa da Literatura Brasileira” e “O Ser e o Tempo da Poesia”

EDITORIA Tendências e Debates DIA 10 PÁGINA 3 Quadro 70 Publicação - Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TITULO

“Caso Gutièrrez, uma vitória para a Igreja da América Latina”

LEAD - GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA Política DIA 11 PÁGINA 7 Quadro 71 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Teologia da Libertação ou desalienação?” LEAD GÊNERO JORNALÍSTICO Carta AUTOR EDITORIA Opinião/ A Palavra do Leitor DIA 12 PÁGINA 2

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Quadro 72 Publicação - Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO Capa: (chamada para Editoria Exterior)

“Papa apoia contadora”

LEAD

“O papa João Paulo 2º prometeu ontem (...) fez um apelo à Igreja do Continente em favor de uma “nova evangelização na América latina”, e voltou a criticar a Teologia da Libertação ”

GÊNERO JORNALISTICO Nota (chamada para Reportagem p. 12) AUTOR EDITORIA Capa DIA 13 PÁGINA 1 Quadro 73 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO Subtítulo (chamada dentro da reportagem)

“As CEbs”

LEAD - GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR Clóvis Rossi (da equipe de reportagem) EDITORIA Política DIA 14 PÁGINA 4 Quadro 74 Publicação - Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Glemp faz crítica à Teologia da Libertação” LEAD - GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA Exterior DIA 15 PÁGINA 8

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Quadro 75 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Divulgado o texto do teólogo que foi punido” LEAD

“A Revista Eclesiástica Brasileira, em sua última edição de estudo, “como se faz Teologia Moral no Brasil hoje, provocou em março deste ano o afstamento do seu autor, o teólogo franciscano Antônio Moser, da cátedra de Teologia Moral da PUC do Rio, por iniciativa do cardeal Eugênio Salles. Moser foi afastado pelo seu trabalho na Teologia da Libertação (...) ”

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR EDITORIA Política DIA 16 PÁGINA 6 Quadro 76 Publicação - Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO

“Teologia da Libertação também divide as igrejas protestantes”

LEAD

“Como acontece na Igreja Católica, a Teologia da Libertação também está dividindo as opiniões entre progressistas e conservadores nas Igrejas protestantes. Enquanto alguns teólogos evangélicos elogiam os trabalhos de Leonardo Boff e Gustavo Gutièrrez, diante dos problemas sociopolíticos da América Latina, outros classificam esta teologia de “reducionista” e de se limitar aos aspectos materiais da vida humana.”

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR Dermi Azevedo, da equipe de reportagem EDITORIA Política DIA 18 PÁGINA 6

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Quadro 77 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO - LEAD

“Sem a presença de representantes da Teologia da Libertação, começa no Rio o Congresso Internacional de Antropologia e Práxis, que analisará, nos próximos quatro dias, o pensamento e a prática pastoral do filósofo e teólogo Karol Wojtila, o papa João Paulo 2º”

GÊNERO JORNALÍSTICO Nota AUTOR EDITORIA Política / Dropes DIA 19 PÁGINA 6 Quadro 78 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO - Chamada LEAD

“A presteza da Igreja brasileira em responder as críticas do Vaticano à Teologia da Libertação preocupa Roma muto mais que a própria teologia. As comunidades eclesiais de base brasileiras – calculadas em 60 mil, com dez milhôes de membros – são qualificadas como talvez a força mais importante para a realização de mudanças sociais no Brasil (“Newsweek”)

GÊNERO JORNALÍSTICO Nota AUTOR EDITORIA Exterior / Coluna: Imprensa Mundo DIA 20 PÁGINA 15

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Quadro 79 Publicação - Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Teólogos e pais de santo vão debater cultura

negra na Bahia” LEAD

“Teologia e Cultura Negra será o tema do encontro que a Associação Ecumência de Téólogos do Terceiro Mundo realizará em julho do próximo ano, em Salvador, com a participação de especialistas da Ásia, África e América Latina, entre os quais os principais nomes da Teologia da Libertação. Pela primeira vez na história da associação, pais de santo e representantes do candomblé e demais cultos afro-brasileiros serão convidados para um encontro com teólogos católicos e evangélicos”

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR Reportagem local EDITORIA Política DIA 22 PÁGINA 4 Quadro 80 Publicação - Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Dom Eugênio afasta mais um teólogo” LEAD

“O Boletim da Revista do Clero”, da arquidiocese do Rio de Janeiro, distribuído esta semana para todas as paróquias da cidade, publica o decreto, assinado pelo cardeal dom Eugênio Sales, de remoção de mais um padre identificado com o trabalho pastoral inspirado na Teologia da Libertação.

GÊNERO JORNALISTICO Reportagem AUTOR Sucursal do Rio EDITORIA Política DIA 24 PÁGINA 7

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Quadro 81 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “No Rio, as CEBs criam um movimento” LEAD

“As Comunidades Eclesiais de Base de várias paróquias dos subúrbios e das favelas do Rio, insatisfeitas com as orientações do cardeal-arcebispo d. Eugênio Sales e as punições aplicadas ao longo deste ano contra padres e teólogos identificados com a Teologia da Libertação, fundaram esta semana um movimento ligado à chamada “Igreja dos Pobres” e batizados com o nome de “Cristãos da Catacumba de São Sebastião do Rio de Janeiro” (...)”.

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR Sucursal do Rio EDITORIA Política DIA 25 PÁGINA 7 Quadro 82 Publicação - Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Libertação, Igreja e História” LEAD

“Amplitude assumida pela polêmica Teologia da Libertação e a importância que esta ganhou para além do laço confessional, atesta a vitalidade da Igreja na dimensão prospectiva do nosso tempo”.

GÊNERO JORNALÍSTICO Artigo AUTOR Cãndido Mendes EDITORIA Opinião / Tendências /Debates DIA 26 PÁGINA 3 Quadro 83 Publicação - Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Retomada a polêmica da Libertação” LEAD - GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia /Chamada de capa AUTOR EDITORIA Capa DIA 28 (a) PÁGINA 1

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Quadro 84 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO “Ratzinger e Gutièrrez debatem a “Libertação” LEAD

“A interpelação feita pelo cardeal Joseph Hatzing, prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé e a réplica do padre Gustavo Gutièrrez são os dois documentos básicos no caso deste teólogo peruano, considerado “pai” da Teologia da Libertação e que divulgamos aqui com exclusividade. Os dois textos deixam evidente a diferença de posições na Igreja em torno das questões sociais, políticas e contemporãneas, principalmente na América Latina (...)”

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR Dermi Azevedo, da equipe de reportagem EDITORIA Política DIA 28 (b) PÁGINA 8 Quadro 85 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO Subtítulo

“Libertação integral”

LEAD - GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR Dermi Azevedo, da equipe de reportagem EDITORIA Política DIA 28 (c) PÁGINA 9

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Quadro 86 Publicação - Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO Subtítulo

“Dalmo Dallari avalia polêmica sobre TL”

LEAD

“A polêmica entre o Vaticano e os defensores da Teologia da Libertação, envolvendo agora o teólogo peruano Gustavo Gutièrrez, “é muito mais uma questão de prática do que de doutrina”, na opinião do ex-presidente da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, jurista Dalmo de Abreu Dallari, pois em seu entender não existe uma dúvida teólogica com relação à Igreja de Deus, à Igreja de Cristo, à questão da vida eterna. O que se discute é qual o sentido de se fazer a promoção da pessoa humana (...)”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA Política DIA 29 PÁGINA 4 Quadro 87 Publicação – Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO Subtítulo

“Uma defesa da libertação”

LEAD - GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR Sucursal de Porto Alegre EDITORIA Política DIA 30 PÁGINA 6 Quadro 88 Publicação – Jornal Folha de S. Paulo – outubro de 1984 TÍTULO Subtítulo

“Bispo de Petrópolis condena “libertação”

LEAD - GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR Reportagem Local EDITORIA Politica DIA 31 PÁGINA 4

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As palavras e expressões-chave mais frequentes nas 56 publicações levantadas da Folha

de S. Paulo (entre setembro e outubro/1984) são:

- a expressão “Teologia da Libertação”, 37 vezes em set/1984 e 38 vezes em out/1984;

- o termo “Igreja Católica”, com 50 vezes em set/84 e 50 vezes em out/84;

- o sobrenome do teólogo Leonardo “Boff” aparece 30 vezes em set/84 e 21 vezes em out/84;

- o nome Frei Betto aparece quatro vezes em set/84 e nenhuma vez em out/84;

- o nome Gustavo Gutièrrez aparece sete vezes em set/84 e 14 vezes em out/84;

- o nome Helder Câmara aparece seis vezes em set/84 e duas vezes em out/84;

- a expressão “condena marxismo” aparece oito vezes em set/84 e três vezes em out/84;

- a expressão “condena Teologia da Libertação” aparece 11 vezes em set/84 e 10 vezes em

ou/84;

- a expressão “marxismo” nenhuma vez aparece nos textos. (Cfr. Gráfico 6).

Gráfico 6 – Palavras-chave no Jornal Folha de S. Paulo (Meses: setembro e outubro de 1984)

Fonte: Elaborado pela Autora da pesquisa

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O gráfico feito em palavras-chave aponta a maneira pela qual as expressões Igreja

Católica/Teologia da Libertação/Boff, contidas nos títulos, chamadas e leads circulam no

processo de produção do discurso desenvolvido nas formas textuais. A mesma estrutura segue

para o jornal O Globo.

Em O Globo se seguirá a mesma lógica (introdução sobre o jornal, quadros de publicação,

gráficos e um comparativo das palavras-chave entre as três publicações).

3.7 O GLOBO

O jornal O Globo integra as Organizações Globo, de propriedade da família Marinho.

Fundado em 29 de julho de 1925, manteve-se com orientação política conservadora para o

público de classe média alta da região metropolitana do Rio de Janeiro. Em 2009 havia

interrompido um período de três anos de ascensão nas vendas. De acordo com dados do Instituto

Verificador de Circulação (IVC), em 2010 foram vendidos no país 4.314.425 exemplares por

dia103.

O Globo apoiou o golpe militar de 1964, mantendo estreitos laços com os governos

militares que se seguiram. Segundo o site História e Controvérsias 104, Roberto Marinho

(proprietário do jornal) publicou em 1984 um artigo no jornal declarando apoio ao regime militar

desde o seu início até o processo de abertura política:

participamos da Revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais e preservações das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada” (O Globo, 7/10/1984, p. 1)

Roberto Marinho 105 se posicionou contra a Teologia da Libertação, o que lhe rendeu intensos

debates com dom Helder Câmara. Recentemente, em agosto de 2013, pela segunda vez as

Organizações Globo reconheceram o apoio ao golpe militar e publicaram a matéria (on-line)

intitulada: “Apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro”106. Todos os veículos das Organizações

103 Disponível em: http://oglobo.globo.com/economia/circulacao-de-jornais-aumentou-2-no-pais-em-2010-2830633#ixzz2xyRwn99J Acesso em: 1 mar. 2014. 104 O Globo. In: História e Controvérsias. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Globo Acesso em: 1 mar. 2014. 105 Disponível em: 1/3/2014.http://pt.wikipedia.org/wiki/Roberto_Marinho. Acesso em: 1 mar. 2014. 106 Apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro. Disponível em: http://oglobo.globo.com/pais/apoio-editorial-ao-golpe-de-64-foi-um-erro-9771604. Acesso 1 mar. 2014.

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Globo (jornal, TV Globo e Rádio Globo) foram duramente criticados por diversos setores da

sociedade civil. O site informa também que a cobertura das manifestações populares, como por

exemplo a de 13 de junho de 2013, que levou milhões de pessoas às ruas do Brasil foi distorcida,

com enorme destaque às eventuais depredações e sem discussão do processo político e das causas

das manifestações.

Com isso, houve protestos contra as Organizações Globo, como a convocação do Coletivo

Brasil de Comunicação Social (Intervozes)107, que articulou cerca de mil manifestantes para um

protesto crítico ao monopólio da mídia.

“Apartidário” e “independente de grupos econômicos” nos princípios da política editorial do

jornal108 contradiz-se, na publicação de 30 de agosto de 1984, com o vazamento do documento da

Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé sobre a Teologia da Libertação “Instruções sobre

alguns aspectos da Teologia da Libertação”, intitulado: “Vaticano condena desvios da Teologia

da Libertação”. Chamada: “Documento adverte: uso do marxismo é negação prática da fé”. (conf.

Imagem 19). O teor documental entrou para o domínio público antes da publicação oficial pelo

Vaticano no dia 3 de setembro de 1984.

Imagem 19 – Publicação no jornal O Globo do Documento: “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação” em 30/8/1984, p. 6-7.

Fonte: Acervo Digital do Jornal O Globo

107 Intervozes. Coletivo Brasil de Comunicação Social. Disponível em: http://intervozes.org.br./Acesso em: Acesso em: 1/3/2014. 108 G1: O Portal de Notícias da Globo: Princípios Editoriais das Organizações Globo. Disponível em: http://g1.globo.com/principios-editoriais-das-organizacoes-globo.html. Acesso em: Acesso em: 26 nov. 2013.

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O fato alargou a discussão entre as alas conservadora e progressista da Igreja Católica,

em debate que dividiu os católicos ainda em 1982. Dezenove anos depois da publicação do

documento do Vaticano, na diferença de um dia (31 de agosto de 2013) o mesmo editorial

publica: “Apoio editorial ao Golpe de 64 foi um erro”. Segundo Emir Sader109, o jornal

participou do bloco que criou clima favorável ao golpe, promoveu as “Marchas da Família

com Deus, pela Liberdade”, que funcionaram para tentar passar a ideia de que a população

pedia um golpe militar. Apoiou-o, buscou sua legitimidade e permaneceu pactuando com a

ditadura militar ao longo de sua trajetória. Projetou-se como a porta-voz oficial da ditadura.

Contudo, a seleção do material produzido nos meses de setembro e outubro de 1984,

também do jornal O Globo, está relacionada a esse período de disputa entre o pensamento

progressista e a ala conservadora da Igreja Católica, como de sua divulgação nos meios de

comunicação. Foram selecionadas 49 páginas de O Globo (setembro e outubro de 1984).

Foram publicadas:

- 30 matérias e notícias na Editoria O País;

- 11 reportagens na Editoria Mundo;

- três matérias/artigos assinados por bispos da ala conservadora da Igreja Católica;

- duas chamadas na Capa;

- seis Boxes sobre o tema Teologia da Libertação, na Editoria País;

- três Cartas dos Leitores;

- uma notícia na Editoria Grande Rio;

- duas notas;

- uma chamada no “Hoje na TV”.

Ao todo foram contabilizadas 59 publicações, dez publicações a mais do número de

páginas (Cfr. Quadros 89, 90 e 91), referindo-se ao tema Teologia da Libertação, como pode ser

observado no quadro abaixo.

109 Conf. Blog do José Prata: Globo, depois de 50 anos, diz que o “apoio editorial ao golpe militar de 1964 foi um erro”. Dá para acreditar nisso? Disponível em: http://www.blogdojoseprata.com.br/detalhe-noticia/globo-depois-de-50-anos-diz-que-o-ldquoapoio-editorial-ao-golpe-militar-de-1964-foi-um-errordquo--da-para-acreditar-nisso-. Acesso em 15 fev. 2014.

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Quadro 89 – O Globo – setembro de 1984

Quadro 90 – O Globo – outubro de 1984

Nº Pub. Editoria O País - Matérias / Notícias 6 Editoria O Mundo - Matérias / Reportagens 2 Matérias assinadas por bispos - Matérias assinadas por teólogos - Chamada de Capa 1 Box/Destaque Editoria O País 1 Cartas dos Leitores - Editoria Grande Rio / Notícia - Nota 1 Hoje na TV 1

Total de Publicações 12

Quadro 91 – O Globo - Total Geral das Publicações - setembro/outubro de 1984 Matérias e notícias na Editoria O País 30

Reportagens na Editoria Mundo 11

Matérias/artigos assinados por bispos da ala conservadora da Igreja Católica 3

Chamadas na Capa 2

Box sobre o tema Teologia da Libertação, na Editoria País 6

Cartas dos Leitores 3

Notícia na Editoria Grande Rio 1

Notas 2

Chamada no “Hoje na TV”. 1

TOTAL GERAL DAS PUBLICAÇÕES 59

Nº Pub. Editoria O País - Matérias / Notícias 24 Editoria O Mundo – Matérias / Reportagens 9 Matérias assinadas por bispos (Dom Eugênio Sales) 3 Matérias assinadas por teólogos - Chamada de Capa 1 Box/Destaque Editoria O País 5 Cartas dos Leitores 3 Editoria Grande Rio / Notícia 1 Nota 1 Hoje na TV -

Total de Publicações 47

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Fez-se também a seleção geral de 16 publicações (setembro de 1984) e oito publicações

(outubro de 1984). A escolha se deu porque cada uma dessas publicações contém diretamente o

termo “Teologia da Libertação” expresso nos textos: título/Chamada/Lead, autor, gênero

jornalístico, editoria, dia, mês, ano e página. Entre eles foram selecionados 4 textos entre

categorias: Títulos (em cor amarelo), Chamadas (em cor lilás) e Leads (em cor azul), analisados

de acordo com o conteúdo que se insere ao contexto em estudo, permitindo demonstrar o sentido

no discurso de O Globo sobre a Teologia da Libertação. (Cfr. Quadros - 92 a 115 - Publicações O

Globo – setembro e outubro de 1984). Aparecem, também, mais duas análise no corpo da

dissertação com dois retcortes do arquivo da CNBB intitulados: “Vaticano condena desvios da

Teologia da Libertação” e “Papa contra marxismo na América Latina”, contabilizando seis

análises dos recorte do O Globo.

Publicações O GLOBO – setembro de 1984

Quadro 92 Publicação – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO Subtítulo

VATICANO CONFIRMA AUTENTICIDADE “Dom Falcão aplaude documento e diz que não atinge CNBB ”

LEAD

“O arcebispo de Brasilia dom José Freire Falcão classificou ontem de “benefco e oportuno” o documento elaborado pela sagrada Congregação para a Doutrina da Fé sobre a Teologia da Libertação, pois muitos dos seus seguidores, “a pretexto pela opção pelos pobres, que é legítima e evangélica, se refere a um grande número de práticas pastorais que colocam em risco a fé cristã”. Ele acha, contudo que o texto não atinge a CNBB, porque a entidade adota uma “posição libertadora”, mas não a linha marxista” (...)

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR De Brasília EDITORIA O País DIA 1 PÁGINA 6

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Quadro 93 Publicação – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO Chamada na Capa

“Boff acha que será punido pelo Vaticano”

LEAD

“O teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos principais ideólogos da Teologia da Libertação, e que no próximo dia 7 irá depor no Vaticano, disse que está aberto a críticas e preparado para ser punido com a não reedição do seu livro Igreja, Carisma e Poder (...)”.

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem (chamada na capa) AUTOR EDITORIA Capa DIA 2 PÁGINA 1 Quadro 94 Publicação – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO “D. Luciano: Não há destinatário” LEAD

“Não há destinatário com nome determinado. As análises e interpretações têm que ser respeitadas”, disse ontem o Secretário-Geral da CNBB, Dom Luciano Mendes de Almeida, ao ser indagado se o documento do Vaticano “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação estaria relacionado às posições teológicas defendidas por Frei Leonardo Boff”.

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR EDITORIA O País DIA 3 PÁGINA 5 Quadro 95 Publicação – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO

“Ratzinger: Vaticano apóia luta pela promoção humana”

LEAD Chamada

“Ao divulgar ontem oficialmente o documento “Algumas Instruções sobre a Teologia da Libertação”, o prefeito para a Sagrada Doutrina da Fé, cardeal Joseph Ratzinger, afirmou que o texto apóia todas as forças da Igreja da América Latina que lutam pela promoção do homem”.

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR Enviado de Roma EDITORIA O País DIA 4 PÁGINA 8

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Quadro Publicação 96 – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO “João Paulo II reafirmará posição” LEAD

“o papa João Paulo II reafirmará sua posição contrária à Teologia da Libertação na reunião que terá com os bispos da Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM), no próximo dia 12, em Santo Domingo”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA O País DIA 7 PÁGINA 5 Quadro Publicação 97 – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO “A Instrução sobre a Teologia da Libertação” LEAD

“A importância para o Brasil da Instrução sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação” é oferecida por dois fatos: a intensa repercussão da opinião pública, dentro e fora da Igreja, e o surgimento de interpretações a um texto claro e iluminador. Ninguém se sente atingido ou, mais honestamente, convenhamos, tenta-se minar a solidez de uma irresponsável argumentação e atenuar a importância de uma ensinamneto da Santa Sé”.

GÊNERO JORNALÍSTICO Artigo AUTOR Dom Eugênio Sales EDITORIA O País DIA 8 PÁGINA 5 Quadro Publicação 98 – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO “Teologia da Libertação” LEAD

“Quero, inicialmente, dar os parabéns a O GLOBO pelo verdadeiro furo de reportagem que foi a publicação, em primeira mão, do documento em que a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé analisa as bases teológicas da chamada Teologia da Libertação”.

GÊNERO JORNALÍSTICO Carta AUTOR Silvio Elia, Rio EDITORIA Cartas dos Leitores DIA 12 PÁGINA 4

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168

Quadro Publicação 99 – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO

“Teologia da Libertação” Arquidiocese distribui resumo do texto do Vaticano

LEAD

“A arquidiocese do Rio de Janeioro está distribuindo o resumo das “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação”, enviado pela Santa Sé, juntamente com o documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em seis itens; o resumo (abaixo) condensa os principais pontos do documento”.

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR EDITORIA O País DIA 12 PÁGINA 5 Quadro Publicação 100 – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO “Teologia da Libertação” LEAD

“Escreveu dom Cloppemburg, em seu livro “Igreja Popular” (que o cardeal Arns quis impedir em São Paulo), que os seguidores da Teologia da Libertação são “certamente favorecidos pela atual conjuntura pluralista”. Querem aproveitar-se do contexto liberal existente na Igreja para ficar dentro das estruturas visiveis da Igreja, pervertê-la por dentro, em sua fé (...)”.

GÊNERO JORNALÍSTICO Carta AUTOR Lúcio Goulard, Rio EDITORIA O País / Cartas dos Leitores DIA 15 PÁGINA 4

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169

Quadro Publicação 101 – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO “Bispo conclama fiéis a fazer protesto público” LEAD

“Bispo auxiliar de Salvador, dom Boaventura Kloppenburg, conclamou todos os fiéis que não concordam com a Teologia da Libertação a manifestarem publicamente seu protesto, lembrando que eles têm como respaldo não só o documento “Algumas instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação”, elaborado pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, como também o documento de Puebla

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR De Recife EDITORIA O País DIA 16 PÁGINA 11 Quadro Publicação 102 – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO “Teologia da Libertação, mais rumores de divisão” LEAD - GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR De Roma EDITORIA Mundo DIA 28 PÁGINA 16 Quadro Publicação 103 – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO “Teologia da Libertação” LEAD

“Não vejo razão para a celeuma levantada em torno de um fato trivial, qual seja o ambiente cordial que cercou a passagem do teólogo herege pelo Vaticano. Ou será que alguém pensou que o cardeal Ratzinger iria receber Leonardo Boff a pontapé?”

GÊNERO JORNALÍSTICO Carta AUTOR Miguel Francisco da Cruz Carqueija, Rio EDITORIA Carta dos Leitores DIA 24 PÁGINA 4

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Quadro Publicação 104 – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO Chamada

Teologia da Libertação “D. Paulo: Novo documento sairá após debates”

LEAD

“O segundo documento sobre a Teologia da Libertação, que o Vaticano deverá elaborar como complementação ao texto “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação” será precedido de debates e consultas a representantes da Igreja na América Latina, África e Ásia, segundo informou o cardeal arcebispo de São Paulo, Evaristo Arns (...)”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA O País DIA 26 PÁGINA 5 Quadro Publicação 105 – O Globo – setembro de 1984 TÍTULO “Bispos peruanos em Roma” LEAD

“Existem muitos pontos positivos na Teologia da Libertação que devem ser defendidos e assumidos pela Igreja da América Latina, desde que esclarecidos alguns aspectos e eliminados certos pontos de referência marxistas”, disse ontem em Roma o bispo de Chuquimbambilla, no Peru, dom Miccheli Fillippetti”

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR Monica Falcone, correspondente EDITORIA O Mundo DIA 27 PÁGINA 17

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Quadro Publicação 106– O Globo – setembro de 1984 TÍTULO “ Celam conclui estudo sobre Igreja Popular” LEAD

“Um “estudo sobre a Igreja Popular” foi concluído ontem pela equipe de reflexão do Conselho Episcopal Latino-Americano. O Secretário-Geral do Celam, dom Dário Castrillòn Hoys, anunciou sua condenação a vários aspectos da Teologia da Libertação, entre os quais a utilização da análise marxista. O documento resultante do encontro, realizado no Centro de Estudos do Sumaré, será enviado a todos os bispos – mais de 800 – da América Latina”.

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA O País DIA 28 PÁGINA 6 Quadro Publicação 107– O Globo – setembro de 1984 TÍTULO “Teólogo: Vaticano deve apontar nomes” LEAD

“ O teólogo da libertação Ronaldo Munoz, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica do Chile, enviou carta ao Superior Geral de sua congregação (dos Sagrados Corações), Patríce Bradley, defendendo a tese de que o Vaticano deveria identificar os teólogos que apresentam as interpretações “redutoras” da fé, denunciadas no documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé – “Instruções Sobre Alguns Aspectos da Teologia da Libertação” - divulgado no mês passado”

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR EDITORIA País DIA 29 PÁGINA 6

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Publicações do jornal O GLOBO – outubro de 1984 Quadro Publicação 108 – O Globo – outubro de 1984 TÍTULO

“ No “Canal Livre” , o Frei Leonardo Boff discute a Teologia da Libertação, às 23h30m”

LEAD - GÊNERO JORNALÍSTICO Entrevista (Bandeirantes – Canal 7) AUTOR Bellsa Ribeiro entrevista Leonardo Boff EDITORIA Hoje na TV DIA 1 PÁGINA 8 Quadro Publicação 109 – O Globo – outubro de 1984 TÍTULO BOX destaque Chamada da Capa para a p. 18

“Papa contra marxismo na Teologia da Libertação”

LEAD - GÊNERO JORNALÍSTICO Nota - BOX, Chamada da capa AUTOR EDITORIA Capa DIA 2 PÁGINA 1 Quadro Publicação 110 – O Globo – outubro de 1984 TÍTULO

“Papa divulgará relatório contra Teologia da Libertação”

LEAD

“Em mensagem aos bispos do Peru, a ser divulgada quinta-feira, o papa João Paulo II definirá a posição da Santa Sé a respeito da Teologia da Libertação. Segundo fontes do Vaticano, é certo que o Pontífice reafirmará sua veemente posição a traços marxistas nela contidos”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA O Mundo DIA 2 PÁGINA 14

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Quadro Publicação 111 – O Globo – outubro de 1984 TÍTULO “Pensamento do Papa será tema de Congresso” LEAD

“O cardeal dom Eugênio Sales anunciou ontem a realização, a partir do próximo dia 18, do Congresso Internacional de Antropologia e Práxis – Pensamento de João Paulo II, que reunirá, durante cinco dias, intelectuais e teólogos de vários Estados e de outros países. Dom Eugênio negou que o Congresso, cujo tema principal será o pensamento filosófico do Papa, tenha sido com o propósito de dar uma resposta à Teologia da Libertação”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA Grande Rio DIA 4 PÁGINA 11 Quadro Publicação 112 – O Globo – outubro de 1984 TÍTULO

“Papa a bispos: “Trabalhem pelos pobres sem utilizar ideologias””

LEAD

“Com um discurso muito claro e firme, de oito páginas, o Papa João Paulo II conclamou os bispos peruanos, convocados a Roma para discutir a Teologia da Libertação, a trabalharem seriamente pela causa da justiça na defesa dos pobres, mas sem recorrer a ideologias estranhas à fé”

GÊNERO JORNALÍSTICO Reportagem AUTOR Monica Falcone, correspondente EDITORIA O Mundo DIA 5 PÁGINA 16 Quadro Publicação 113 – O Globo – outubro de 1984 TÍTULO “Gutièrrez chega e se encontrará com Boff” LEAD

“O teólogo peruano Gustavo Gutèrrez, considerado o “pai” da Teologia da Libertação, chegará hoje ao Brasil, vindo de Roma, onde acompanhou a reunião do episcopado peruano e autoridades do Vaticano, para analisar sua obra e a corrente teológica que defende (...)”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA O País DIA 9 PÁGINA 8

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Quadro Publicação 114– O Globo – outubro de 1984 TÍTULO “Papa viaja a Porto Rico pelo caminho de Colombo” LEAD

“O Papa João Paulo II iniciará amanhã uma nova viagem ao exterior, que o levará primeiro à Espanha e em seguida à República Dominicana e a Porto Rico, repetindo, assim, o trajeto, que há 500 anos, conduziu Cristóvão Colombo às Antilhas. A questão da Teologia da Libertação será, de acordo com os observadores, um dos principais temas tratados pelo Papa durante essa viagem, a 24ª que João Pualo II faz em seis anos de pontificado.”

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA O Mundo DIA 9 PÁGINA 16 Quadro Publicação 115 – O Globo – outubro de 1984 TÍTULO “Clero na América Latina” LEAD

“A Igreja Latino-Americana não condena a Teologia da Libertação, nem a chamada “Igreja Popular”, mas sim adverte contra o perigo de surgimento de uma Igreja Paralela, baseada em desvios ideológicos de conceitos defendidos por esses movimentos, assinalou ontem a autoridade máxima do clero latino-americano, Monsenhor Antônio Quarracico”.

GÊNERO JORNALÍSTICO Notícia AUTOR EDITORIA O País DIA 11 PÁGINA 15

Nas 59 publicações levantadas em O Globo em setembro e outubro/1984 encontrou-se:

- 33 vezes a expressão “Teologia da Libertação em set/1984 e 18 vezes em out/1984”;

- 47 vezes o termo “Igreja Católica” em set/84 e 48 vezes em out/84;

- 28 vezes o sobrenome do teólogo Leonardo “Boff” em set/84 e 19 vezes em out/84;

- uma vez o nome Frei Betto em set/84 e nenhuma vez em out/84;

- três vezes o nome Gustavo Gutièrrez em set/84 e seis vezes em set/84;

- o nome Helder Câmara não aparece nenhuma vez nos dois meses pesquisados (set/out/84);

- três vezes a expressão “condena marxismo” em set/84 e nenhuma vez em out/84;

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- oito vezes a expressão “condena Teologia da Libertação” em set/84 e três vezes em ou/84;

- 11 vezes a expressão “marxismo” em set/84 e nove vezes em out/84 (Cfr. Gráfico 7).

Gráfico 7 – Palavras-chave em O Globo nos meses de setembro e outubro de 1984

Fonte: Elaborado Autora da pesquisa

Ainda nesta pesquisa se fez o comparativo das palavras-chave, repetidas nos textos, entre

as três mídias estudadas. Destacaram-se: “Igreja Católica”; Teologia da Libertação”; “Boff” e

“marxismo”, sendo esta última mais explorada pela revista Veja e pelo jornal O Globo. Na Folha

de S. Paulo, entre os meses de setembro e outubro de 1984, não apareceu nenhuma vez a palavra

“marxismo” em suas publicações. A quantidade de vezes repetidas por mídia pode ser

demonstrada (Cfr. Quadro 116 Geral das Palavras-Chave):

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Quadro 116 - QUADRO GERAL DAS PALAVRAS-CHAVE

(Veja / Folha de S. Paulo / O Globo)

PALAVRAS-CHAVE MAIS RELEVANTES NO LEVANTAMENTO

GERAL DOS TEXTOS MÍDIAS Igreja Católica Teologia da

Libertação Boff Marxismo

Veja

(Década 80)

357

72

121

150

Folha de S. Paulo

(set/out/84)

100

75

51

-

O Globo (set/out/84)

98

51

47

21

Partindo do levantamento geral das palavras-chave no tratamento discursivo,

desenvolvido nas formas textuais dos títulos, das chamadas e dos leads das notícias, reportagens,

entrevistas, etc., observam-se as expressões relevantes destacadas nas mídias estudadas: “Igreja

Católica”, “Teologia da Libertação”, “Boff” e “marxismo” que têm funções de efeito nos

discursos relatados, pois tratam negativamente a Teologia da Libertação. (Cfr. exemplos dos

quadros 117, 118 e 119, em Imagens 20 a 22):

Quadro 117 - Exemplo 1 (Título/Chamada/Lead)

TÍTULO:

“A Política destrói a Igreja”.

(27/5/81, p. 5) CHAMADA

“O influente prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos denuncia a esquerda e sua infiltração nas comunidades de base”

LEAD

“À exceção de teimosos escudeiros do capitalismo transnacional – como dom Eugênio Sales, Arcebispo do Rio de Janeiro, ou dom Vicente Scherer, arcebispo de Porto Alegre – raros cardeais da Igreja ousam entrar na linha de tiro da esquerda clerical e suas patrulhas avançadas, que conduzem o estandarte da Teologia da Libertação”

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Imagem 20 – Título/Chamada/Lead - Entrevista com o cardeal Agnelo Rossi publicada na Revista Veja, páginas

amarelas) em 27/5/81, p. 5-8.

A entrevista se insere no contexto do mesmo ano (1981) da publicação do livro “Igreja:

Carisma e Poder”, de Leonardo Boff. Os escritos repercutiam, sobretudo no item em que o autor

chamava a atenção para “as práticas de Igreja em atrito com sua proclamação dos direitos

humanos” (BOFF, 1981, p.60). Conforme o próprio autor, tratava-se de levantar não somente as

injustiças no mundo, mas também dentro da própria Igreja, no caso a Católica. O problema que o

escritor levantava era se a estrutura da Igreja (Papa-bispo-presbítero-leigo) procedia no

inserimento histórico da Igreja e da autoridade divina (descrita no Antigo Testamento da Bíblia).

Este foi um dos capítulos julgados, em 1982, pela Comissão Arquidiocesana para a

Doutrina da Fé, depois notificado pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Nesse

mesmo periodo, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), segundo a Revista Mundo e

Missão110, vivia o protagonismo da Igreja que “nasce do chão” (da base).

As CEBs suscitavam entusiasmos e esperanças, assim como perplexidades e interrogações

nos anos da ditadura militar no Brasil. Pequenas comunidades ligadas principalmente à Igreja

Católica contribuíram de diferentes maneiras para o processo de redemocratização do país. Eram

grupos de pessoas, morando no mesmo bairro ou nos mesmos povoados, que se encontravam

para refletir e transformar a realidade à luz da Palavra de Deus e das motivações religiosas.

Começavam a reivindicar pequenas melhorias nos bairros e a luta no campo para posse da terra.

110 Igreja. Revista Mundo e Missão. Disponível em: http://www.pime.org.br/mundoemissao/igrejacebs.htm. Acesso em: 15 jan. 2014

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Seis meses antes da entrevista, em 4 de novembro de 1980, um grupo de sem-terra ocupa o centro

de Porto Alegre-RS reivindicando assentamentos de famílias remanescentes (e contavam com

algumas Comunidades Eclesiais de Base envolvidas na ação). Nas comunidades de base prolifera

a comunicação comunitária111 (sistemas de alto-falantes, pequenos informativos, etc., relatando

os problemas do bairro). As comunidades iniciavam uma caminhada para tomar consciência da

situação social e política.

Como sugere o título da entrevista (“A política destrói a Igreja”), trata-se de um

movimento retórico para criticar “a esquerda e sua infiltração nas comunidades de base” A

esquerda clerical “precisava ser denunciada”. O verbo denunciar tem o significado de apontar

alguém como autor de crime. A categoria discursiva evoca a imagem da autoridade influente e

competente para denunciar a esquerda e “sua infiltração nas comunidades de base”. A fala

autorizada para falar em nome da igreja tradicional é o “prefeito da Congregação para a

Evangelização dos Povos” (cfr. a chamada), Cardeal Agnelo Rossi, conhecido bispo da ala

conservadora da Igreja Católica).

A paráfrase112 é a figura de linguagem que clarifica o texto no lead com a expressão

“raros cardeais da Igreja ousam entrar na linha de tiro da esquerda clerical em suas patrulhas

avançadas que conduzem o estandarte da Teologia da Libertação”. A evocação contém um

sentido de ameaça, pois o substantivo “patrulha” significa missão de ronda e também de patrulha

ideológica. Significa o grupo de pressão com o estandarte da “Teologia da Libertação”. A

metáfora utilizada com o substantivo “estandarte” remete à bandeira de regimentos militares ou

comunidades religiosas (com a imagem de Cristo, da Virgem, ou de algum santo). Contém um

sentido de ameaça e “sua infiltração nas comunidades de base” constrói-se com figuras de

linguagem assim como o projeto político das ações social e política das CEBs, mostrando que

“destrói a Igreja” com o “estandarte da Teologia da Libertação”. O texto tenta apresentar o

discurso conservador como a ala dominante na Igreja Católica, que tem escudeiros do catolicismo

tradicional” como “dom Eugênio Sales e dom Vicente Sherrer”. 111 Comunicação Comunitária – incorpora conceitos e reproduz práticas tipicamente da comunicação popular em sua fase original e, portanto, confunde-se com ela (...). Historicamente o adjetivo popular denotou tratar-se de “comunicação do povo”, feita por ele e para ele, por isso de suas organizações e movimentos emancipatórios à transformação das estruturas opressivas e condições desumanas de sobrevivência. Revistando os conceitos os de Comunicação Popular, Alternativa e Comunitária. Disponível em: http://www.unifra.br/professores/rosana/Cicilia%2BPeruzzo%2B.pdfhttp://www.unifra.br/professores/rosana/Cicilia%2BPeruzzo%2B.pdf. Acesso em 3 mar. 2014. 112 Paráfrase - é um texto que procura tornar mais claro e objetivo aquilo que se disse em outro texto. Portanto, é sempre a reescritura de um texto já existente, uma espécie de ‘tradução’ dentro da própria língua. Disponível em: http://www.colegiodante.com.br/escola/webquest/e_medio/mackenzie/parafrase.htm Acesso em 3 mar. 2014.

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A construção do discurso entre a mídia e os leitores pretende mostrar a igreja progressista

como culpada de algo, como é possível observar a seguir:

- Quem é o autor do crime? “a esquerda”;

- Quem é a “esquerda” na Igreja Católica?

- Dentro do contexto histórico, quem são os “raros cardeais da Igreja que ousam entrar na linha

de tiro da esquerda clerical?” (relação do dito e do não dito no discurso jornalístico).

As palavras-chave relevantes no texto: “Igreja Católica” (com a supressão do termo

“Igreja”) e “Teologia da Libertação”.

Quadro 118 - Exemplo 2 (Lead)

LEAD

“Um “estudo sobre a Igreja Popular” foi concluído ontem pela equipe de reflexão do Conselho Episcopal Latino-Americano. O Secretário-Geral do Celam, dom Dário Castrillòn Hoys, anunciou sua condenação a vários aspectos da Teologia da Libertação, entre os quais a utilização da análise marxista. O documento resultante do encontro, realizado no Centro de Estudos do Sumaré, será enviado a todos os bispos – mais de 800 – da América Latina”

Imagem 21– Lead - Notícia publicada no Jornal O Globo em 28/9/1984, p.9.

Fonte: Acervo Digital do Jornal O Globo

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Imagem 22 Cartas dos Leitores – Publicada no Jornal O Globo em 12/9/1984, p.4, assinada por Silvio Elias, Rio.

Editoria: País

Fonte: Acervo Digital do Jornal O Globo

O lead dessa notícia reportada por O Globo é veiculado vinte e oito dias depois da

publicação (no mesmo jornal) do documento do Vaticano “Instruções sobre alguns aspectos da

Teologia da Libertação”, intitulado “Vaticano condena desvios da Teologia da Libertação”, em

30 de agosto de 1984. Ficou conhecido como “furo de reportagem” (Cfr. Imagem 22 – Cartas dos

Leitores) do jornal, pois o documento chegou à redação antes da publicação ofical pelo Vaticano.

Essa data marca na história da mídia o dia em que o termo “Teologia da Libertação” entrou para

domínio público.

A TdL é pauta diariamente (durante – setembro/outubro de 1984, depois espaçadamente

em toda a década), nos jornais do país e do mundo em manchetes, notícias e reportagens,

remetendo e explorando a temática e conjugando, coincidentemente, com o processo da

notificação do teólogo Leonardo Boff sobre o livro Igreja: Carisma e Poder, um dos expoentes da

mesma teologia, com data marcada (8/7/84) para o encontro com o representantante da Sagrada

Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Joseph Hatzinger113 para dar explicações sobre seus

escritos.

Na mesma época (como relatado no contexto do Quadro 117 - Exemplo 1), as

Comunidades Eclesiais de Base iniciavam uma caminhada de tomada de consciência da situação

113 Joseph Hatzinger – Foi cardeal superior da Congregação para a Doutrina da Fé. Tornou-se Papa (Bento XVI) em 19 de abril de 2005 e renunciou o pontificado em 23 de março de 2013, tornando-se Papa Emérito. De acordo com especialistas, sua gestão frente à Igreja Católica é considerada uma das mais conservadoras. Hatzinger pertenceu à juventude hitlerista na Alemanha nazista.

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social e política em que viviam nos bairros periféricos das grandes e pequenas capitais do país.

No campo começam as organizações rurais culminando numa série de conflitos agrários com

assassinatos de lideranças das comunidades de base.

No contexto do ano de 1984, precedida da conjuntura histórica da década de 70, conta o

teólogo e jornalista Frei Betto114, a Igreja Católica no Brasil se diferenciava de outras Igrejas do

Continente desde os anos 70. Ao contrário da Argentina, do Chile, da Colômbia e de outros

países, no Brasil não houve ruptura entre bispos e sacerdotes “para o socialismo”. No país, a

contradição não se deu na horizontal — hierarquia acima, padres progressistas abaixo —, mas na

vertical: bispos e cardeais tensionados entre o conservadorismo e o progressismo. Nem ocorreram

casos de clérigos empunhando armas. Era a expressão da nova teologia sendo gestada à expansão

das CEBs. Tornava-se claro que era o período de dar corpo ao grupo de intelectuais da fé que

assessorava as Comunidades Eclesiais de Base.

O teólogo afirma que, assim como São Tomás de Aquino erigiu a sua catedral teológica

sobre os pilares do pensamento aristotélico, parecia que Marx era a base sobre a qual a nova

teologia latino-americana deveria buscar suas mediações racionais. Isso ocorria tanto para a

correta “análise da realidade”, quanto para romper a epistemologia115 analítica e abraçar a

dialética 116, dando o salto para “deseuropeizar” a teologia, recriando as categorias e redefinindo

os seus conceitos a partir dos mundos indígena e negro, das mulheres e dos excluídos.

O texto do lead em análise realça o uso de formatos retórica/realidade sobre “um estudo”

da “Igreja Popular” “concluído pela equipe de reflexão do Conselho Episcopal Latino-

Americano”. A ação é comparada com os substantivos “anúncio” e “condenação”. Segundo o

dicionário Aurélio, o primeiro é um ato de anunciar, de levar ao conhecimento do público um

fato que “será enviado a todos os bispos – mais de 800 – da América Latina”. O segundo

substantivo (“condenação”) é a ação, a sentença de condenar “vários aspectos da Teologia da

Libertação, entre os quais a utilização da análise marxista”. Quem anuncia a “condenação” (no

114 Frei Betto - Disponível em: http://www2.uol.com.br/debate/1211/colunas/colunas03.htm. Acesso em 2 fev. 2014. 115 Epistemologia – é o ramo da filosofia interessado na investigação da natureza, fontes e validade do conhecimento (chamada Teoria do Conhecimento). Disponível em: http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/grayling.htm Acesso em 3 mar. 2014. 116 Dialética é uma palavra com origem no termo em grego dialektiké e significa a arte do diálogo, a arte de debater, de persuadir ou raciocinar. É um debate onde há ideias diferentes, onde um posicionamento é defendido e contradito logo depois. Para os gregos, dialética era separar fatos, dividir as ideias para poder debatê-las com mais clareza. Disponível em: http://www.significados.com.br/dialetica/Acesso em 3 mar. 2014.

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sentido de sentença) é “O Secretário-Geral do Celam, dom Dário Castrillòn Hoys” 117. O

“resultado do estudo sobre a Igreja Popular” é “concluído”. Produz-se o sentido metafórico,

referindo-se às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) sobre o extrato “Igreja Popular”, sobre a

ação das CEBs (o não dito no texto jornalístico), sobre os “vários aspectos da Teologia da

Libertação e a utilização da análise marxista”.

A argumentação retórica utilizada no discurso informativo confirma com o que diz Castro

(2003, p.81): não existe um único discurso na sociedade, senão uma trama deles, reconhecendo

que as palavras são sempre palavras dos outros (interdiscurso), como um jogo de distintas vozes

cruzadas, complementares e contraditórias.

As palavras-chave relevantes presentes no texto: “Igreja Católica” (entendida como CEBs

– o novo jeito de ser nas bases – contida em outros trechos no corpo da notícia, Cfr. Sublinhado

na Imagem 23), “Teologia da Libertação” e “marxismo”.

Quadro 119 - Exemplo 3 (Título/Lead)

TÍTULO “Frei Boff considera a Teologia da Libertação uma prática irreversível”

LEAD

“Em Roma, o frei Leonardo Boff, um dos principais defensores da Teologia da Libertação disse que o problema desta doutrina não pode ser reolvido “com uma intervenção da autoridade, sem que se caia no autoritarismo teórico. Quando isso acontece, afirmou Boff, num artigo publicado ontem pelo jornal Paese Sera, decide-se por decreto o é e o que não é científico”.

117 Cardeal Darío Castrillón Hoyos – (colombiano) - Prefeito Emérito da Congregação para o Clero. Participou do conclave que elegeu o Papa Bento XVI. Perdeu o direito de eleger o Pontífice Romano, quando completou 80 anos de idade. Disponível em: http://collegiumcardinalium.blogspot.com.br/2013/02/dario-castrillon-hoyos.html. Acesso em 15 fev. 2014.

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183

Imagem 23 – Lead - Notícia publicada no Jornal Folha de S.Paulo em 4/10/1984, p.7. Editoria: Política/Economia.

Fonte: Acervo Digital do jornal Folha de S. Paulo

Passado um mês da publicação do documento do Vaticano as “Instruções (...)” no jornal

O Globo, a Folha de S. Paulo veiculava diariamente (Cfr. Quadros 109 a 115 das Publicações –

outubro/84) sobre o tema, focando os dois teólogos expoentes da TdL: Leonardo Boff e Gustavo

Gutièrrez. Nesse período, as publicações da Folha com o nome “Gustavo Gutièrrez” aumentaram

no registro dos textos do mês de setembro para o mês de outubro. Dobrou a repetição do nome

nas páginas do jornal de 7 para 14 vezes (Cfr. Gráfico 6 - Palavras-Chave Folha S. Paulo

(set/out/1984). O jornal deu cobertura diária à chegada do teólogo peruano Gustavo Gutièrrez ao

Brasil. O clima que se respirava no país, especificamente em São Paulo, era de expectativa,

naqueles dias, com a chegada de Roma do teólogo Gutièrrez e de Leonardo Boff de Itaici (SP)

do encontro com os bispos do Brasil.

No contexto político e social, os movimentos sindicais reorganizavam-se em todo o país.

Lideranças das CEBs engajavam-se no movimento dialético (força do capitalismo x força do

trabalho). Era um cenário no qual se multiplicavam estudos sobre movimentos sociais que

dialogavam com a produção intelectual sobre o modo de tratar as novas questões em foco:

investigações sobre os movimentos sociais na América Latina geravam avanço quanto ao

conhecimento da realidade. Conforme Gutièrrez (1972), a Igreja começou a assumir posição

diferente em face da situação de espoliação, opressão e alienação vivida na América Latina. Esse

fato provocou a inquietude dos defensores da sociedade capitalista. “Certos setores da Igreja

começam a ser considerados subversivos e a sofrer dura repressão, criando para a Igreja latino-

americana uma situação inédita” (GUTIÈRREZ, 1972, p. 113-114).

Nesse cenário, especificamente no mês de outubro, o nome do “Frei Leonardo Boff”

representava um significado mundial para o universo católico ao reportar a notícia referindo-se a

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um “artigo publicado no jornal italiano Paese Sera118, utilizando a linguagem que denotava no

enunciado, com múltiplas possibilidades de interpretação: utiliza o substantivo “doutrinação”

(como sinônimo de catequese) para referir-se à “teologia da libertação”, “não pode ser resolvido”

(antes da declaração do autor): “com uma intervenção da autoridade, sem que se caia no

autoritarismo teórico”. Quando isso acontece decide-se (A Igreja) por decreto o que é e o que não

é científico”, “afirmou Boff”. O jogo de linguagem usa a paráfrase ao relatar o acontecimento.

Conforme Charaudeau (2006), o acontecimento relatado compreende fatos (tem relação

com o comportamneto dos indivíduos e com as ações que esses empreendem) e ditos (tem relação

com pronunciamentos diversos), no dito do enunciado do lead, aparece a declaração. A mídia

utiliza declaração do “frei Leonardo Boff, para elaborar o título da notícia com a retórica eficaz -

“Frei Boff considera a Teologia da Libertação uma prática irreversível”- utilizada com o verbo

“praticar” de que as regras teóricas da “teologia da libertação” são “irreversíveis”, que sua

história não é limitada. Uma clara demonstração de como o dito se constrói e produz sentido.

Partindo-se não só dos três exemplos analisados, mas dos anteriormente demonstrados e

os que se seguem, na última parte deste trabalho envolvendo os conceitos de discurso, poder e

religião.

118 Jornal criado por iniciativa do Partido Comunista da Itália.Disponível em: http://it.wikipedia.org/wiki/Paese_Sera. Acesso em 2 de fev. 2014.

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CAPITULO 4 - DISCURSO, PODER E RELIGIÃO

4.1 SOBRE O DISCURSO

Toma-se como referência, em primeiro lugar, o Dicionário de Análise do Discurso (2004),

que apresenta a noção de discurso utilizada na filosofia clássica. Ao conhecimento discursivo,

por encadeamento de razões, opunha-se o conhecimento intuitivo. Seu valor era bastante próximo

ao do logos grego. Em linguística, essa noção conheceu um impulso fulgurante com o declínio do

estruturalismo119 e o crescimento das correntes pragmáticas120. O discurso entra como uma série

de oposições clássicas: discurso versus frase; discurso versus língua e discurso versus texto.

Para os pesquisadores franceses Charaudeau e Maingueneau (2004), desde 1980 vê-se

proliferar o termo “discurso” nas ciências da linguagem, tanto no singular como no plural,

segundo a referência seja à atividade verbal em geral ou a cada evento de fala.

A proliferação desse termo é o sintoma de uma modificação no modo de conceber a linguagem. Falando de “discurso”, torna-se implicitamente posição contra uma certa concepção da linguagem e da semântica. Em boa medida essa modificação resulta da influência de diversas correntes pragmáticas, que sublinharam um certo número de ideias-força (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2004, p. 169-170).

Quando o termo se propaga resulta no discurso, que supõe uma organização transfrástica.

Segundo os autores, mobiliza estruturas de uma outra ordem, diferentes da frase. É orientado (se

desenvolve no tempo e se constrói, com efeito, em função de um fim). É uma forma de ação (toda

enunciação constitui um ato visando a modificar uma situação). É interativo (conversação). É

contextualizado (não se pode atribuir um sentido a um enunciado fora de contexto). É assumido

(pode modular o grau de adesão); é regido por normas (é submetido a normas sociais) e, por fim,

é assumido em um interdiscurso (o discurso não adquire sentido a não ser no interior de um

universo de outros).

Para Foucault (2009), o conceito de discurso está relacionado às interdições que o atingem

e revelam sua ligação com o desejo e com o poder. O discurso não é simplesmente aquilo que

119 Estruturalismo - é uma corrente de pensamento das ciências humanas que se inspirou no modelo da linguística e que apreende a realidade social como um conjunto formal de relações. É uma abordagem que veio a se tornar um dos métodos mais extensamente utilizados para analisar a língua, a cultura, a filosofia da matemática e a sociedade na segunda metade do século XX. Disponível: http://pt.wikipedia.org/wiki/Estruturalismo (Acesso em 28/11/2013). 120 A pragmática é um campo de estudo da linguagem, e o pragmatismo é uma corrente filosófica. Uma filosofia da linguagem na linha da pragmática, o pragmatismo se aproxima de muitos aspectos sem, contudo, se confundirem. MARCONDES, Danilo. Desfazendo Mitos sobre a Pragmática. ALCEU. V. 1. Nº1. 2000, p. 38-46. Disponível: http://www.ifcs.ufrj.br/~cehc/Artigos/danilo%20marcondes/pragmatica.pdf Acesso em: 28 nov. 2013.

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manifesta ou oculta o desejo, mas aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, o

poder do qual quer apoderar-se. Existem procedimentos e princípios para submeter o discurso: de

classificação; de ordenação; de distribuição; do acontecimento e do acaso. Contudo, se não

satisfizer certas exigências e princípios não se permite acesso na ordem do discurso, se não for

qualificado para fazê-lo.

No seu discurso, a TdL pretende ser uma reflexão crítica da práxis da fé cristã numa

realidade conflitiva e conflituosa, apontando pistas de ação transformadora pelo engajamento

pela justiça e pela superação de situações marginalizantes e opressoras. Segundo Comblin (1986),

a palavra (discurso) de Deus recuperou um significado a partir da voz dos pobres. Foi então que a

Igreja latino-americana assumiu o discurso da causa dos pobres e releu a Bíblia como livro do

discurso dos pobres. A TdL na América Latina nunca quis ser uma teologia de compartimentos.

Segundo Boff (1985), ela se apresenta como uma maneira global de articular praxisticamente a

Igreja e combater o cativeiro no qual o povo estava mergulhado.

O pesquisador finlandês Raunu (2008), partindo das ideias do teólogo João Batista

Libanio121, expôs pontos essenciais no discurso da Teologia da Libertação: qualidade teológica de

um discurso; relações hermenêuticas122 teológicas que o definem; realidade que é interpretada.

Tal realidade pode ser já teológica ou não. A qualidade teológica de um discurso deve ser medida

não pelo que se fala ou se reflete, mas à luz do que se reflete e se fala.

Na qualidade teológica do discurso, conforme Raunu (2008), há duas raízes: uma formal

(o objeto) e outra material (aspecto, dimensão, faceta, razão específica). A ênfase foi colocada na

raiz material como ponto de partida da teologia, mas não se deve esquecer que de identidades

materiais não se conclui necessariamente a identidade formal: os discursos formulados da TdL e

do marxismo são profundamente diferentes e, em pontos básicos, radicalmente contraditórios.

As coincidências materiais e ocasionais não bastam para acabar com essa incompatibilidade do cristianismo e do marxismo como os teólogos da libertação muitas vezes pretendiam (RAUNU, 2008, p. 2006).

O discurso teológico da práxis libertadora resgata e reforça o teológico já presente em

todo o processo de libertação. Boff (1985) afirma que o teológico da ação não depende da

121 João Batista Libanio - É padre jesuíta, escritor e teólogo brasileiro. Seus estudos de Teologia Sistemática foram efetuados na Hochschule Sankt Georgen, em Frankfurt, Alemanha, onde estudou com os maiores nomes da teologia europeia. Possui mestrado e doutorado em teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG) de Roma. Foi Diretor de Estudos do Pontifício Colégio Pio Brasileiro em Roma, durante os anos do Concílio Vaticano II. Dedica-se ao magistério e à pesquisa teológica na linha da Teologia da Libertação. É autor de cerca de 125 livros, alguns editados em outras línguas. Foi assessor dos encontros das CEBs. Acesso em:: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Batista_Libanio. Disponível em:16 ago. 2013 122 LIBANIO, João Batista. Teologia da Libertação: roteiro didático para um estudo. Loyola. São Paulo. 1987, p. 217.

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interpretação ideológica, mas da dimensão objetiva de libertação e da criação de maior espaço

para a liberdade. Afirma o autor: a práxis libertadora traz uma densidade cristã salvífica. A

salvação é um conceito englobante e, por isso, não se restringe às libertações socioeconômicas e

políticas. A salvação definitiva e escatológica123 se mediatiza em libertações parciais intra-

históricas e em todos os níveis da realidade humana.

Para Raunu (2008), todo discurso utiliza uma linguagem que, segundo a filosofia da

linguagem, tem diversas expressões. Há um discurso declarativo (próprio das ciências) e um

discurso performativo (mais comum da vida diária). Nesse discurso estão incluídos o discurso

jornalístico e o religioso. No discurso declarativo, o cristão dirá: “Deus existe”. É apenas uma

afirmação, declaração daquilo que existe, mas, dessa mesma frase, o cristão pode também fazer

um ato de afirmação ou de fé.

Toma-se como exemplo o título da chamada de reportagem de capa do Jornal O Globo no

dia 2 de outubro de 1984: “Papa contra marxismo na Teologia da Libertação” Cfr. Imagem 24).

Imagem 24– Título - Reportagem publicada no Jornal O Globo (Chamada de Capa) em 2/10/1984, p. 1.

Fonte: Acervo Digital do Jornal O Globo

Havia um mês fora publicado, no mesmo jornal, o documento “Instruções sobre alguns

aspectos da Teologia da Libertação”. O documento (Anexo C), contrário ao que afirma o título do

texto informativo, chamava a atenção, pois na Introdução diz que tal documento tem a finalidade

de enfatizar certas formas da teologia da libertação que usam conceitos assumidos de diversas

correntes do pensamento marxista, de maneira insuficientemente crítica. A advertência não deve

ser interpretada como uma desaprovação de todos aqueles, com espírito evangélico, da opção

preferencial pelos pobres, nem de refúgio e de indiferença diante dos trágicos e urgentes 123 Escatologia – é uma parte da teologia e filosofia que trata dos últimos eventos na história do mundo ou destino final do gênero humano, comumente denominado como fim do mundo. Em muitas religiões, o fim do mundo é um evento futuro profetizado no texto sagrado ou no folclore. De forma ampla, escatologia costuma relacionar-se com conceitos como Messias ou Era Messiânica, a pós-vida e a alma. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escatologia. Acesso em 28 nov. 2013.

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problemas da miséria. Conforme o item III - Libertação, tema cristão, nº 3 do documento ao

afirmar que a expressão “teologia da libertação” designa uma preocupação privilegiada, geradora

de compromisso pela justiça, voltada para os pobres e para as vítimas de opressão. E o nº 4 cita

que o próprio termo refere-se a um tema fundamental do Antigo Testamento (Bíblia), por isso,

uma expressão perfeitamente válida.

O marxismo, de acordo Comblin (1986), é um sistema fundado por Marx, num

conhecimento profundo da economia. O pensador deu-lhe um fundamento científico. Mas ele

viveu numa época em que os espíritos mais avançados começavam a esperar da economia o

segredo da história da humanidade. Deu-lhe crédito entre as mentes modernas. Entendia as

ciências como o conhecimento das necessidades. Envolveu a sua ciência “economia” no

conhecimento do passado, do presente e também do futuro, mas nesse último extrapolou, fato

perigoso em matéria de ciência.

Para Marx , no futuro aconteceria uma coisa bem diferente daquilo que todos os

pretendidos cientistas anunciavam. É nesse contexto introdutório que o autor chama a atenção

para as vantagens e as desvantagens do marxismo, entre elas a vantagem de mover e invalidar

todas as objeções dos adversários, oferecendo uma teoria crítica que lhe permite interpretar e

anular as ideias dos seus contendores. Mas a teoria não funcionou como Marx queria. Lenin fez

do marxismo a ideologia (dos profissionais) e Stalin a ortodoxia (critério de pertença ao partido e

na influência que ele podia exercer). Fizeram do partido um aparelho de revolucionários

profissionais. O êxito do marxismo veio da sua heterogeneidade. “É possível aceitar uma parte

sem o todo. O que permite grande expansão” (COMBLIN, 1986, p. 280).

O autor afirma que muitos aderem ao marxismo porque o tomam como um método de

análise social ou histórica. Outros, porque é instrumento de crítica das ideologias (Escola de

Frankfurt). Outros, por uma ideologia que contradiz radicalmente o sistema capitalista etc.

Comblin (1986) assegura que o marxismo não é um sistema lógico implacável. Poucos são os

marxistas que conhecem as obras de Marx.

A lógica implacável do marxismo somente existe na mente de alguns teólogos e membros da hierarquia que nunca levaram a sério o fenômeno marxista no mundo contemporâneo. O que faz a força do marxismo é que não é preciso conhecer o sistema para aderir: somente podem ter êxito ideologias que não precisam ser conhecidas. O marxismo tem a fama de ser uma lógica implacável, e basta. O que vale é a fama e não o fato (COMBLIN, 1986, p. 281).

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O que faz a força do discurso marxista é também a sua fraqueza, continua o estudioso do

tema. O marxismo foi doutrina oficial do Estado Soviético (ortodoxia). Não conseguiu ser a voz

da classe operária. Sofreu da sua parcialidade. Como falhas na doutrina afirma-se que subestimou

os fatores culturais; o problema nacional (há uma nação/uma solidariedade); o problema político

(o valor dado pela classe operária à democracia). São essas as fraquezas encontradas dentro da

ortodoxia.

Partindo-se da síntese do discurso do conteúdo original do documento “Instruções” sobre

alguns aspectos da Teologia da Libertação e do estudo do quadro complexo do marxismo,

levantado por Comblin (1986), encontram-se os dois discursos afirmados por Raunu (2008): o

performativo (o do documento e do título do jornal (do título: “Papa contra marxismo na teologia

da libertação”), e o declarativo, apontado na sua obra “A Força da Palavra” (2008), estudo

histórico sobre o discurso revolucionário numa abordagem ao discurso marxista até se chegar ao

discurso da evangelização.

Nessa mesma linha de reflexão, Comblin (1986) analisou o discurso da evangelização em

duas coordenadas principais. Na primeira, o discurso da evangelização é uma palavra que deve

infundir, dar e criar vida. Onde há desânimo, indiferença, descrença, inércia, ela infunde

confiança em si mesmo e no futuro, dá vontade de viver e ânimo para lutar. É um discurso que

desperta e faz viver. O discurso evangelizador muda o ambiente. Suscita forças desconhecidas.

Pessoas descobrem que têm capacidades que nunca tinham imaginado.

A segunda linha de reflexão é uma palavra (discurso) que desperta vocações, abre

horizontes à comunidade, cria comunicação e faz com que as pessoas se tornem sensíveis ao

povo do qual fazem parte; suscita projetos e cria nas pessoas dedicação e sacrifício a uma causa

superior. De acordo com o autor, o discurso da evangelização exorta em nome de Deus. Usa a

autoridade de Deus para pedir, com insistência, uma vida de responsabilidade.

No discurso da evangelização confirma-se o que Foucault (2009) chamou de troca e

comunicação, figuras positivas atuantes no interior dum sistema complexo de restrição: o ritual

que define a qualificação que devem possuir os indivíduos que falam, a posição que devem

ocupar, os gestos que devem ser feitos, os comportamentos a serem adotados e as palavras a

serem ditas. É nesse contexto teórico que se analisa o título da Imagem 24:

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Quadro 120 – (Título)

TÍTULO (Destaque Chamada de Capa/Reportagem p. 14)

“Papa contra marxismo na Teologia da Libertação”

p.14

O material básico dessa análise é a palavra. A linguagem construída no enunciado para

construir o significado “marxismo” está dentro do contexto dos conceitos apontados:

discurso/marxismo. “Papa” (do grego = pai), segundo o site “Catolicismo Romano” 124, é

autoridade suprema. Auxilia na propagação do cristianismo. Auxilia a resolver diversas disputas

doutrinárias. O Papa recebe alguns títulos tais como, Bispo de Roma, Vigário de Cristo, Sucessor

do Príncipe dos Apóstolos, Supremo Pontífice, Primaz de Itália. É também chefe de Estado da

cidade do Vaticano. Ele é, nesse sentido, o representante supremo do discurso religioso da Igreja

Católica.

A proposição “contra”, além de estabelecer a relação entre os dois termos “Papa” e

“marxismo”, expressa, segundo o dicionário Aurélio, oposição, pensar contrariamente e se opor

habitualmente a tudo. É possível ir-se mais adiante na análise repleta de ressonância no que se

refere ao termo “marxismo”. Na análise estilística, utilizando-se o estilo do quiasmo125, pode-se

organizar o texto em dois períodos (em ordem inversa) na seguinte estrutura:

A – Marxismo – (p. 16) (jogo do não dito + o dito)

B – Papa – contra o marxismo

A´ - Marxismo – na Teologia da Libertação

A linguagem faz o trabalho linguístico crítico, tem uma preocupação explícita com a

relação entre linguagem e política. As narrativas produzem efeitos sobre a maneira como um

acontecimento é compreendido. A frase do título sugere a ressonância do discurso, conforme

Raunu (2008), Comblin (1986) e apoio de Foucault (2009) sobre o discurso abordado no contexto

conceitual do texto.

Por sua vez, o termo “teologia da libertação”, dentro do surgimento da história de tal

teologia, se insere no conceito discurso da evangelização (insere-se no conteúdo das

124 PAPA. Disponível em: http://www.catolicismoromano.com.br/content/view/128/40/ ou disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Papa Acesso em 15 jan. 2013. 125 Quiasmo – Consiste em organizar o texto em dois períodos consecutivos, de modo que no segundo período reapareçam os mesmos elementos do primeiro, mas em ordem inversa.

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Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) / Teologia da Libertação. É um discurso que desperta e

faz viver/muda o ambiente/suscita forças desconhecidas/pessoas descobrem que têm capacidades

inimagináveis, conforme argumento conceitual do discurso apontado acima.

Quem fala? O editorial discursa com autoridade, declarando que o chefe do Estado do

Vaticano/ Príncipe dos Apóstolos (Papa) é “contra” o “marxismo”. Como fala sobre a Teologia

da Libertação? É “marxista”. O “Papa” é “contra” o “marxismo na tal teologia. Segundo os

princípios jornalísticos (Manual) das Organizações Globo, publica-se apenas sob a convicção

formada de que a “reportagem é legítima” (Seção III - on-line) 126.

Familiarizados com o conceito de discurso apresentado, segue-se para uma compreensão

do conceito de poder na concepção de Foucault (2009) para uma nova economia das relações de

poder sem um objeto preexistente (um soberano que o usa para dominar seus súditos).

4.2 CONCEITO DE PODER PARA FOUCAULT

Na sua análise sobre o conceito de poder, Foucault (2009) parte do princípio de que uma

sociedade sem relações de poder não existe, é pura abstração, Na estrutura social, para o autor, há

múltiplas relações de poder, não apenas em áreas ou locais específicos, (exemplo: aparelho de

Estado), mas também o próprio corpo social possui relações de poder que lhe são próprias. Para o

analista francês, a tradicional concepção das lutas de classes entre direita e esquerda é incapaz de

explicar as relações de poder que existem na sociedade. É necessária uma nova economia das

relações de poder.

Ao utilizar a “abordagem genealógica”127, Foucault (1979) queria chegar a uma análise da

constituição do sujeito na trama histórica. Uma forma de história que sustentasse a constituição

dos saberes, dos discursos, dos domínios de objeto, sem ter que se referir a um sujeito, mas ver

historicamente como se produzem efeitos de verdade no interior de discursos que não são nem

verdadeiros nem falsos.

126 Disponível em: http://g1.globo.com/principios-editoriais-das-organizacoes-globo.html Acesso em 5 mar. 2014. 127 Abordagem genealógica - busca a origem dos saberes, ou seja, da configuração de suas positividades, a partir das condições de possibilidades externas aos próprios saberes; ou melhor, considera-os como elementos de um dispositivo de natureza essencialmente estratégica. Procura-se a explicação dos fatores que interferem na sua emergência, permanência e adequação ao campo discursivo, defendendo sua existência como elementos incluídos em um dispositivo político (Cfr. FAÉ, Rogério. A Genealogia em Foucault. Psicologia em Estudo. v. 9, n 3, set/dez. 2004. p. 412-413). Disponível on-line: http://www.scielo.br/pdf/pe/v9n3/v9n3a08. Acesso em: 19 ago. 2013.

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Segundo Foucault (1979), o poder pela direita era concebido em termos jurídicos

(constituição, soberania) enquanto no marxismo, a noção de poder pela esquerda, concebia-o em

termos de Estado. Não se preocupa com a forma como ele se exercita concretamente, com suas

capacidades e suas táticas. Conforme o autor, a direita rotulava o poder no socialismo soviético

de totalitarismo, enquanto os marxistas consideravam o capitalismo ocidental uma dominação de

classe, mas a mecânica do poder nunca era analisada.

Para Foucault (1979), poder não é somente a força da proibição (uma instância negativa),

mas permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber e produz discurso. É uma rede

produtiva que atravessa todo corpo social.

Dominar, dirigir, governar, grupo no poder, aparelho de Estado etc. é todo um conjunto de noções que exige análise. Além disso, seria necessário saber até onde se exerce o poder, através de que revezamentos e até que instâncias, frequentemente ínfimas, de controle, de vigilância, de proibições, de coerções. Onde há poder, ele se exerce. (FOUCAULT, 1979, p. 75-76).

O autor francês afirma que a “fenomenologia marxista”128 (FOUCAULT, 1979, p. 8) é

de difícil pesquisa, sobretudo pela utilização de dois conceitos: ideologia e repressão. O primeiro

(ideologia), dificilmente utilizável, está sempre em oposição virtual a alguma coisa que seria a

verdade.

O problema não é de se fazer a partilha entre o que um discurso revela da cientificidade e da verdade e o que revelaria de outra coisa, mas de ver historicamente como se produzem efeitos de verdade no interior de discursos que não são em si nem verdadeiros e nem falsos; o inconveniente como sujeito e ideologia está em posição secundária com relação a alguma coisa que deve funcionar para ela como infraestrutura ou determinação econômica, material etc. (FOUCAULT, 1979, p. 7).

Foucault (1979) percebeu que a ideologia é uma noção que deve ser utilizada com

precaução. O segundo - repressão - parece adaptar-se bem a uma série de fenômenos que são

efeitos do poder repressivo (concepção jurídica do poder; identifica o poder à proibição). É uma

noção negativa, estreita e esquelética, mas que todo mundo aceitava. Na sua análise, o

pesquisador começou a delinear uma nova forma de pensar o poder. Ele não é adquirido por

apropriação, mas graças a certas disposições, fruto de uma multiplicidade de engrenagens e de

focos situados em vários níveis, de complexa percepção, que formam como que uma microfísica

do poder. Ele estuda o poder não como uma dominação global e centralizada que se vai

128 FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal.1979.

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193

pluralizando, difundindo ou repercutindo em outros setores da vida social de modo homogêneo,

mas como tendo existência própria e formas específicas mesmo no nível mais elementar.

O interessante da análise de Foucault (1979) é que o poder não está localizado em

nenhum ponto específico da estrutura social. É intrínseco ao ser humano. As relações de poder

não se encontram em posição de exterioridade relativamente a outros tipos de relações, tampouco

é de superestrutura. É com essa compreensão que se introduz o exemplo de tal poder aplicável à

eclesiologia129 subjacente às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), instrumento de libertação,

local onde nasceu a Teologia da Libertação, pois, segundo Boff (1981), as CEBs não são nem

podem ser guetos ou seitas. São comunidades abertas ao mundo e à sociedade.

A leitura e a partilha do Evangelho que se praticam dentro delas levam-nas a se orientar à

atuação social. Traz-se para dentro da CEBs toda a problemática que o povo sofre: desemprego,

baixos salários, péssimas condições de trabalho, falta de condições e outros serviços básicos.

Questionam causas e consequências da problemática social. Aí exploração ganha seu nome real,

sem outros contornos: é exploração. O mesmo ocorre com a palavra ditadura: é ditadura. As

CEBs ensaiam um novo tipo de sociedade pela participação direta de todos os membros, pela

partilha das responsabilidades, pela direção e pelas decisões, por meio do exercício do poder

como serviço. São comunidades atuantes socialmente. Em certos lugares são o único canal de

expressão e mobilização social (organizam abaixo-assinados/roças comunitárias/caixas

comunitárias/iniciativas de resistência à expulsão das terras/ frentes populares partidárias etc.).

Para tomar um exemplo do exercício de poder para tais comunidades, pesquisou-se nas

três mídias estudadas: revista Veja (Década 80) e os jornais O Globo e Folha de S. Paulo (meses

setembro e outubro de 1984), uma amostra (Título) com o tema “CEBs” relacionado à Teologia

da Libertação. Entre as publicações nas três mídias, encontrou-se apenas um único recorte com

título/lead, publicado no jornal Folha de S. Paulo. Desse único recorte destaca-se a notícia sobre

as CEBs intitulada: “No Rio, as CEBS criam um movimento” (Cfr. Imagem 25):

129 Eclesiologia - tudo o que se refere à Ecclésia = Igreja de Jesus Cristo. Dela “trata”: estudos, reflexões, tratados teológicos; assim como às diferentes formas de ser, viver e se organizar como Igreja, através da história. Disponível em: http://www.saomiguelsd.com/doc/formacao/introducao_a_eclesiologia.pdf Acesso em 5 mar. 2014.

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Imagem 25 – Título - Notícia publicada no Jornal Folha de S. Paulo em 25/10/1984, p. 7. Editoria de

Política

Fonte: Acervo Digital do Jornal Folha de S. Paulo

Aplicada (essa amostra), a nova forma de pensar o conceito de poder que, para Foucault

(1979), apresenta múltiplos desdobramentos, é perceptível nas CEBs. A nova concepção do

pesquisador pode ser compreendida de forma clara nas relações de poder entre as próprias CEBs

e nas relações de poder (autoridades) das CEBs (Igreja dos Pobres) com autoridade eclesiástica

(Igreja Hierárquica Conservadora). Também pode ser observada no discurso da mídia (o não dito

+ dito) no texto (na articulação das falas, ações e movimentos das personagens etc.) sobre a TdL,

tomando-se um dos recursos das análises do método Histórico-Gramatical: a estilística,

esquematizada nos títulos e no lead da notícia:

Quadro 121 - (Título/Lead)

TÍTULO “No Rio, as CEBs criam um movimento” LEAD

“As Comunidades Eclesiais de Base de várias paróquias dos subúrbios e das favelas do Rio, insatisfeitas com as orientações do cardeal-arcebispo d. Eugênio Sales e as punições aplicadas ao longo deste ano contra padres e teólogos identificados com a Teologia da Libertação, fundaram esta semana um movimento ligado à chamada “Igreja dos Pobres” e batizados com o nome de “Cristãos da Catacumba de São Sebastião do Rio de Janeiro”. A primeira iniciativa da nova organização foi a distribuição para todos os padres do Rio de um artigo do padre jesuíta Alejandro Gonzalèz sobre como deveria ser o trabalho dos bispos e criticando o autoritarismo da ala conservadora da Igreja”.

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Trabalha-se em tal enunciado com a linguagem do texto no contexto histórico: ano de

1984, especificamente dia 25 de outubro de 1984, data que marca os vinte e cinco dias da

publicação (no mesmo jornal) do documento “Instruções” sobre alguns aspectos da Teologia da

Libertação. No documento, aparece a posição dos teólogos expoentes e estudiosos da Teologia da

Libertação. A mídia declarou: “7 Defesas”, (Cfr. publicação no dia 31/8/1984 – Imagem 3 e

Quadro 1 das Defesas dos Teólogos – no Capítulo 1, com a pretensão de interrogar os sentidos.

Ressalta-se o poder das CEBs como metáfora para expressar o poder (não dito, da

“Teologia da Libertação”, que precisa de “punições aplicadas ao longo deste ano contra padres e

teólogos identificados com a Teologia da Libertação”, como sugere o lead da notícia,

demonstrando com as expressões contidas no enunciado como, por exemplo: “CEBs”,

“insatisfeitas”, “identificadas”, “teologia da libertação”, “critica autoritarismo da ala

conservadora” etc. Tentava-se encontrar a chave de leitura da apuração do sentido (sendo fiel ao

texto: Título/Chamada) dentro do contexto histórico.

Para isso, esquematizou-se a compreensão do novo conceito de poder por Foucault (1979), no exemplo

abaixo, com a ajuda das figuras de linguagem: quiasmo (organiza o textos em dois períodos consecutivos) e

merismo (figura que exprime a totalidade, mencionando as partes, geralmente os extremos):

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Gráfico 8 – Utilização Figura de Linguagem: Quiasmo/Merismo no Título//Lead do Quadro 121

Fonte: Elaborado pela autora da pesquisa

A nova estrutura de poder é estabelecida no esquema acima: as “CEBs” e o “cardeal-

arcebispo Eugênio Sales” são dois nomes do poder eclesiástico (autoridade). As CEBs não

apenas ficaram insatisfeitas com as “punições do cardeal-arcebispo dom Eugênio Sales ao longo

do ano de 1984” e “fundaram um movimento” (a ele deu um nome significativo produzindo

sentido: “Catacumbas de São Sebastião do Rio”, mas mostraram seu poder (“Igreja dos Pobres”

em relação à autoridade eclesiástica, que por sua vez tem um nome: “cardeal-arcebispo dom

Eugênio Sales”, ou como, com “um artigo” que tem assinatura de outra autoridade, “padre jesuíta

Alejandro Gonzaléz” (teólogo) “identificado com a Teologia da Libertação”. Ele também

apresenta um discurso de autoridade, representando o poder das CEBs, a “Igreja dos Pobres”, por

meio de um documento “publicado” (“artigo”) de como “deveria ser o trabalho dos bispos”.

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Segundo Boff (1981), por isso as CEBs são comunidades às vezes reprimidas e

perseguidas. No final, as conclusões dão mostra da “consciência e da importância espiritual e

teológica” (BOFF, 1981,p.204) das CEBs, articuladas nos Encontros Interclesiais130 (o 13º

Encontro Intereclesial de CEBs aconteceu nos dias 7 a 11 de janeiro de 2014, em Juazeiro do

Norte-CE, com o tema: “Justiça e Profecia a Serviço da Vida”). As conclusões contribuem para o

que esquematizou Boff (1981) sobre a sistematização teórica (realidade-reflexo), chamada

realidade-fonte, que é a experiência refletida na comunidade e que apresenta algumas pistas de

reflexão sobre as eclesiologias subjacentes às CEBs para iluminar o caminho da nova igreja

nascida da velha. (Cfr. Anexo L – Esquema comparativo das Experiências da Igreja Povo e da

Igreja Clerical (dos Padres) a partir das reflexões de Puebla e Medellìn).

Com tal análise, confirma-se que o “discurso” (forma de poder) estudado por Foucault

(1979) mobiliza estruturas que mudam e extrapolam a frase diferentes da frase. Constitui um ato

que aponta para modificar uma realidade ou situação. É contextualizado/interativo/submetido a

normas sociais. É assumido em um interdiscurso.

Com tal discurso, as comunidades de base são o lugar da criatividade. Segundo Boff

(1981), foi mediante rezas aos santos e aos vários mistérios de Jesus de Nazaré que o povo pôde

resistir a séculos de opressão político-econômica e de marginalização social e eclesial. Foi no

interior de sua religiosidade que ele pôde refazer o sentido da vida. Manter viva a fé. Alimentar a

confiança numa sociedade que lhe negava o direito, a dignidade e a participação. Para o autor,

isso foi levando a Igreja a reinventar sua tradicional prática pastoral às manifestações religiosas

do povo.

4.3 RELIGIÃO CATÓLICA / IGREJA CATÓLICA

O poder divino é sustentado desde sua origem no discurso religioso. Esse discurso é

estruturado entre a interação de Deus e seu representante na Terra, autorizado para exercer o seu

papel. A religião é uma fé a tudo que é considerado sagrado. Segundo o site “Significado de

Religião”131, a “Religião” é um conjunto de princípios, crenças e práticas de doutrinas religiosas

que unem seus seguidores numa mesma comunidade moral chamada Igreja. Todas as religiões

130 INTERECLESIAL - CEBs. Disponível: http://www.intereclesialcebs.org/. Acesso em 2 mar. 2014. 131 Disponível em: http://www.significados.com.br/religiao/. Acesso em: 28 fev. 2014.

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têm seus fundamentos. O Cristianismo (desdobramento do Judaísmo) considera Jesus como o

Cristo, Filho de Deus e Salvador da humanidade.

Entre as principais religiões, existe o Cristianismo em que se encontram várias

denominações de Igrejas Cristãs: a Ortodoxa (ramo da Igreja Católica, com pequenas diferenças

em seus dogmas); o Protestantismo (um dos ramos do Cristianismo que surgiu do movimento

que rejeitou a autoridade romana e estabeleceu reformas nacionais em vários países do norte da

Europa, como o Luteranismo na Suécia e em parte da Alemanha, o Calvinismo na Escócia e em

Genebra e o Anglicanismo na Inglaterra. São igrejas oriundas da Reforma. Obedecem aos

princípios gerais do movimento reformista132. Há ainda o Judaísmo, a mais antiga das religiões

monoteístas do mundo. Compreende-se que o Judaísmo teria aceitado Jesus como Messias de

Israel. O Torá ou Pentateuco é considerado o livro sagrado133. O Islamismo134 que tem no Islã

(palavra árabe que significa submissão) a obediência a Alá, foi fundado pelo profeta Maomé e

seu livro sagrado é o Corão.

A religião Católica, por sua vez, como uma vertente do Cristianismo, é formada pela

Igreja Católica Apostólica Romana, cujo centro é no Vaticano e reconhece a autoridade suprema

do Papa. É uma doutrina que, além do culto a Jesus, enfatiza a veneração à Virgem Maria e a

diversos santos, tomando a Bíblia como seu Livro Sagrado. O tema dessas religiões no mundo,

na esfera humana, nunca desapareceu nos debates públicos e científicos. Para o investigador

português Dix (2007), nas observações de especialistas em temas religiosos, surge, muitas vezes,

uma dificuldade semântica de saber determinar a perspectiva da pessoa que fala sobre um

assunto religioso ou sobre uma religião.

Muitas vezes estamos confrontados com a convicção a partir da qual uma religião apenas pode ser entendida corretamente pelos crentes da mesma, ou seja, encarada de uma perspectiva interior. Esta posição pode ser legítima como concepção teológica ou perspectiva confessional (DIX, 2007, p.4),

132 Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão iniciado no século XVI por Martinho Lutero, quando através da publicação de suas 95 teses, em 31 de outubro de 1517 [1] [2] na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano. Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, e estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra-Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento. O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o Protestantismo. Disponível em: http://www.iecb.com.br/estudo-biblico/reforma-protestante.html Acesso em: 20 mar 2014. 133 Os cultos judaicos são realizados nas sinagogas, comandados por um rabino. O símbolo sagrado é o Menorá, um candelabro com sete braços que representa Cristo. 134 Aquele que aceita a fé do islamismo é chamado de muçulmano.

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Dix (2007) afirma que há uma potência virtual de impedir ou atrapalhar, numa sociedade

plural, a discussão pública sobre assuntos religiosos. Enquanto não existe definição do termo

“religião”, conforme apontam os resultados da sua verificação e de estudos, sublinha que a

palavra “religião” continua a ser um conceito indispensável para um estudo sensato dos

fenômenos religiosos. Cada religião é um produto histórico e cultural (ou uma construção

social). Conforme Maduro (1980), nenhuma religião opera no vácuo. Toda religião, qualquer

religião, o que quer que se entenda por “religião” é uma realidade situada num contexto humano

específico: um espaço geográfico, um momento histórico e um meio-ambiente social, todos

concretos e determinados. Será sempre, em cada caso concreto, a religião que atende a

determinados seres humanos”135.

A Igreja Católica Apostólica Romana, com dois milênios de história, segundo o autor

Dix (2007), é uma das instituições mais antigas do mundo. Historicamente foi alvo de críticas

com consequências (contestações morais e teológicas), como as de Martinho Lutero (Século

XVI), que levaram ao surgimento do Protestantismo. Segundo o site “Religião Católica”136, a

Igreja se organiza em dioceses (área geográfica definida), chefiadas por um bispo. A Igreja

central recebe o nome de catedral (da cátedra/cadeira do bispo). O bispo exerce poder ordinário

(autoridade própria). Algumas dioceses centradas nas grandes metrópoles são chamadas

arquidioceses e são chefiadas por um arcebispo metropolitano. As dioceses são divididas em

distritos locais chamados paróquias.

No mundo contemporâneo, a Igreja Católica, como outras instituições cristãs, assistiu a

um rápido declínio na sua influência global no fim do século XX. Crenças doutrinárias rígidas

em matérias relacionadas com a sexualidade humana são pouco atraentes no mundo. A Trindade

é a doutrina acolhida pela maioria das igrejas cristãs. Acredita-se no único Deus subsistente em

três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Esse é um dos dogmas centrais da fé

cristã. E sendo a Religião Católica/Igreja Católica vinculadas ao Cristianismo, vale ressaltar a

contribuição dos estudos do teólogo Benedito Ferraro137 sobre o tema: “Os desafios para o

Cristianismo no século XXI”, apresentado no Seminário Latino-Americano de Teologia, que

135 MADURO,Otto. Religião e Luta de Classes. 4ª ed. Petrópolis: Vozes. 1980, p. 73-74. 136 Religião Católica. Disponível em: http://religiao-catolica.blogspot.com.br/. Acesso em: 2 mar 2014. 137 Benedito Ferraro – Teólogo da libertação, pesquisador, professor doutor da Faculdade de Teologia da PUC-Campinas/SP. Assessor da Pastoral Operária (PO) no Brasil. Foi o autor da defesa 7:“Jesus foi vítima das classes dominantes”, publicado no jornal Folha de S. Paulo no dia 31/8/1984, ante a publicação do documento do Vaticano “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação”.

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aconteceu em 2007, em São Paulo. O autor traça a ação de Jesus de Nazaré na história da

humanidade para se compreender o Cristianismo dentro de uma comunidade: “com o agir, dão a

contribuição cristã ao processo de libertação na América Latina e Caribe”138. Um novo modo de

fazer teologia e interpretar a Bíblia no processo de comunicação cristã que reforça a inserção do

assunto nas análises do texto dentro do contexto em que se formaliza a Teologia da Libertação.

Na década de 60, a realização do Concílio Vaticano II (1962-1965) provocara uma

mudança na Igreja Católica. Segundo Teixeira (2013), dava-se o primeiro passo de abertura ao

mundo moderno, de acolhida e de diálogo com as diversas tradições religiosas. Na década de 80,

um marco histórico do diálogo-inter-religioso aconteceu no dia 27 de outubro de 1986.

Representantes das tradições religiosas do mundo reuniram-se em Assis, na Itália (lugar

simbólico) na jornada Mundial de Oração pela Paz, no contexto de 1986 como o Ano

Internacional da Paz pelas Nações Unidas. O diálogo inter-religioso entra para a agenda da

Igreja.

Em um artigo publicado sobre o diálogo-inter-religioso a partir dos pobres139, o estudioso

Francisco de Aquino Junior140 destaca que era preciso abrir o diálogo inter-religioso nas

comunidades de populações pobres. Aponta uma discussão a partir da população excluída.

Considera que deva ser honesto, respeitoso e verdadeiro com a realidade para se efetivar à

margem do drama/trama a que o tema remete. Acredita o estudioso ser a contribuição que a

Teologia da Libertação podia oferecer a tal discussão para que o diálogo fosse feito a partir e em

função dos excluídos.

Seis meses depois do acontecimento de Assis (Jornada Mundial de Oração pela Paz), o

passo para o diálogo ecumênico/inter-religioso com populações excluídas dá-se no VIII

Encontro Intereclesial de CEBs, em setembro de 1992, em Santa Maria-RS, com o tema: “Povo

de Deus renascendo das culturas oprimidas”. Conforme o Texto Base das CEBs (1999), a

emergência da temática inculturação nas CEBs produziu desconforto na relação das CEBs com a

Igreja maior (ala conservadora). Os participantes do Intereclesial foram distribuídos em cinco 138 FERRARO, Benedito. Os Desafios para o Cristianismo no Século XXI. In: Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara. Disponível em: http://www.cefep.org.br/documentos/textoseartigos/politicaevangelhodsi/osdesafiosparaocristianismoferraro.doc/view. Acesso em: 3 mar. 2014. 139 Disponível em: http://www.servicioskoinonia.org/relat/311.htm. Acesso em 6 fev. 2014. 140 Francisco de Aquino Junior - Licenciado em Filosofia. É mestre em Teologia, pelo Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus - FAJE, em Belo Horizonte. Doutor em Teologia, pela Westfälischen Wilhelms-Universität de Münster, Alemanha. Atualmente, é docente de Teologia na Faculdade Católica de Fortaleza e presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte - CE. Disponível em: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2951&secao=315 . Acesso em 25 mar. 2014.

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plenários. Cada plenário (bloco) tratou de uma temática específica, em torno do tema geral:

“Culturas oprimidas e a evangelização na América Latina” (Blocos: índios, negros, migrantes,

trabalhadores e mulheres). Os afrodescendentes reivindicavam seu lugar específico na afirmação

de “um rosto novo de Igreja, que implica respeito pelas diferenças culturais e espaço de

legitimidade para uma maneira própria de expressão de Fé” (TB, 1999, p.65). Indicaram a

necessidade da ampliação do discurso ecumênico nas CEBs e abertura para a questão

macroecumêmica141. Conforme o Texto Base das CEBs (1999), as comunidades revelaram que

não se pode tratar de ecumenismo na pastoral popular sem fazer referência às religiões Afro-

brasileiras.

Tratando-se da cultura religiosa, se na década de 70 e no início de 80, a temática fé e

política já havia causado tensão entre as alas progressista e conservadora da Igreja Católica, a

temática cultura religiosa nas CEBs causou repercussão maior com o episódio ocorrido no VIII

Encontro Intereclesial de CEBs no momento da apresentação dos blocos no grande público dos

bispos, pastores/as presentes no Encontro. Bispos católicos (conservadores) julgaram

improcedente convidar o pajé e os babalorixás presentes para subirem ao palco como “pastores”

de suas religiões. Tal decisão foi motivada pelo fato de se tratar de um Encontro Católico, ainda

que aberto à prática ecumênica142. A contribuição das CEBs, segundo Ferraro (2007), com a

inserção dos cristãos/ãs na luta de libertação dos pobres e excluídos, iniciou uma nova

experiência eclesial, proporcionando um novo modo de viver a fé (nova prática da fé), um novo

modo de interpretar a fé (novo modo de interpretar a Bíblia e de fazer teologia) e um novo modo

de celebrar a fé (inculturação da liturgia). A partir da experiência dos afrodescendentes, a

dimensão ecumênica esteve presente nas CEBs, mas em relação às religiões Afro-brasileiras e ao

ecumenismo. Deixou de ser uma proposta de líderes religiosos e se tornou um jeito de ser e fazer

comunidade.

Para recordar, ao retornar na linha da história, o despertar da causa negra na Igreja

Católica deu-se no final da década de 70. A Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), em

preparação para a Conferência de Puebla, convocou um grupo de negros/as para refletirem sobre

a situação do povo negro na Igreja e na sociedade. Surgiu o Grupo União e Consciência Negra

141 O VIII Intereclesial antecipava a questão do macroecumenismo que surgiria como traço importante da comunidade latino-americana na Assembleia do Povo de Deus, realizada no mesmo ano (1992) em Quito, no Equador. .TB X Intereclesial de CEBs, 1999. p. 65. 142 ADRIANCE, Madeleine Cousineau. Terra Prometida: as comunidades eclesiais de base e os conflitos rurais. São Paulo: Paulinas, p. 215-236. 1996.

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(GRUCOM). As primeiras reflexões ocuparam-se da relação entre catolicismo e religião Afro-

brasileira, da realidade do negro na Igreja.

A década de 80, que viu o despertar da “negritude”, considera o Texto Base X

Intereclesial CEBs (INTERECLESIAL, 1999, p. 215) na sociedade e na Igreja, o povo procurou

diferentes formas de resistir e se organizar frente à realidade da discriminação e do racismo.

Dentro do episcopado-eclesial foi organizado, em 1983, o Grupo de Agentes de Pastoral

Negra (APNs), cuja proposta discursiva era descobrir uma forma de viver a fé cristã a partir da

identidade e valores negros. Seguia o Texto Base do X Encontro Intereclesial de CEBs e o

ecumenismo proposto pelos APNs, o que possibilitou e desafiou a relação entre as diferentes

denominações cristãs e as religiões Afro-brasileiras, forjando crescimento e aprendizado. Em

1988, a Igreja do Brasil lança a Campanha da Fraternidade com o tema: “O Negro e a

Fraternidade”. Lema: “Ouvi o clamor desse povo”.

Dentro desse contexto histórico, a mídia estava focada na Teologia da Libertação. O

discurso sobre o diálogo inter-religioso perpassava o compromisso dos negros/as e das

comunidades na busca da superação do racismo que se confrontava com a dura realidade do

crescimento da pobreza e a radicalização da exclusão. Esse fato levou à necessidade de

desenvolver, criar e propor um discurso das relações raciais e à urgência de reflexão e de

compromisso com a causa negra. Com tal discussão, a Folha de S. Paulo publicou em 22 de

outubro de 1984 uma notícia sobre o encontro da Associação Ecumênica dos Teólogos do

Terceiro Mundo, um ano antes da sua realização (1985), informando que “os principais nomes

da Teologia da Libertação estariam presentes” com seus teólogos expoentes para discussão e

diálogo com representantes do candomblé e demais cultos Afro-brasileiros e Evangélicos (conf.

Imagem 26).

Imagem 26 – Título e lead - Reportagem publicada no Jornal Folha de S. Paulo em 22/10/1984, p. 4.

Fonte: Acervo Digital do Jornal Folha de S. Paulo

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É nessa conjuntura complexa e histórica da religião afrodescendente e da Igreja Católica

que foi provocada uma tensão com mudança à abertura ao mundo moderno/diálogo com as

diversas tradições religiosas e os questionamentos levantados pelo teólogo Leonardo Boff em

seus escritos. Um deles, observado no julgamento do documento Igreja: Carisma e Poder na

abordagem estrutural da Igreja diz que “na Igreja, os membros que detêm os meios de produção

religiosa, que é simbólica, detêm, também o poder e criam e controlam o discurso oficial”

(BOFF, 1981, p.45). Isso gera discussão pública nas mídias brasileira e internacional, onde se

insere mais uma análise. (cfr. Imagem 27)

Imagem 27 – Título/Chamada - Reportagem publicada na Revista Veja em 21/3/1984.

Fonte: Acervo Digital da Revista Veja

Quadro 122 – (Título/Chamada)

TÍTULO “Fogo Cerrado”

CHAMADA “A Teologia da Libertação é duramente condenada”

A data da publicação da reportagem é datada de cinco meses antes da publicação do

documento “Instruções”, mas desde 1982 o processo do teólogo Leonardo Boff sobre seus

escritos com a temática Igreja e Poder já estava ocorrendo na Sagrada Congregação para a

Doutrina da Fé. Tempos de tensão com o mundo no pontificado de João Paulo II. Segundo

Teixeira (2013), vários teólogos foram enquadrados em nome de um projeto restaurador. Foram

incisivas as ações da Congregação para a Doutrina da Fé no confronto de doutrinas teológicas,

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consideradas mais sensíveis (a teologia moral, a teologia da libertação ou a teologia das

religiões). Os impactos foram mais vivos, na década de 80, com notificações contra teólogos que

atuavam nessas áreas, entre eles Leonardo Boff (1985), Charles Curran (1986)143, Edward

Schillebeeckx (1986)144 e Matthew Fox (1988)145. A Igreja Católica começava a viver um novo

tempo, caracterizado pela consciência de sua universalidade. Verificavam-se tensões entre

concepções eclesiológicas146 diversas e resistências precisas contra perspectivas que

significassem o reconhecimento da liberdade religiosa e a abertura às outras religiões gerando o

conflito de interpretações.

Na instância de enunciação, a revista afirma no título que “Fogo cerrado”, com efeito

metafórico com o substantivo “fogo” (= incendiar /queima/fogueira) relacionado à Inquisição

(caça as bruxas/hereges) e o adjetivo “cerrado”, segundo dicionário Aurélio

(=encerrado/vedado/fechado), estabelecia uma relação com a chamada da reportagem: “Teologia

da Libertação é duramente condenada”. As formações discursivas tornavam visível o fato. A

mídia trabalhou com paráfrase, em “Fogo cerrado”, ao comentar a chamada para o leitor

interessado no tema Teologia da Libertação. A utilização do advérbio “duramente” (= firme. Que

se opõe/resistência/rigoroso/severo/implacável/áspero) e “condenada” (segundo dicionário

Aurélio = sentenciado/criminoso/que está no inferno), fazem no enunciado as palavras

significarem.

- Quem fala? A mídia que apoiou a ditadura militar.

- Para quem fala? Seus leitores: empresários, classe média alta e militares.

- Como fala da TdL? Que a “Teologia da Libertação é “condenada” (=criminosa). O “fogo” (= a

fogueira queima). Tal teologia é simbolicamente “condenada” ao “fogo” (=para

criminosos/hereges). E, ela mesma, a Revista Veja, um ano depois, publica o “veredito final”,

título da reportagem: 143 Artigo de Charles Curan. Condenação de teólogos e teólogas: nenhuma surpresa nestes tempos. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/510231-condenacao-de-teologos-e-teologas-nenhuma-surpresa-nestes-tempos-artigo-de-charles-curran. Acesso em: 18 jan. 2014. 144 Edward Schillebeeckx, um teólogo para hoje. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/32395-edward-schillebeeckx-um-teologo-para-hoje. Acesso em: 18 jan. 2014. 145 A Igreja em cisma? Entrevista com Matthew Fox. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506646-a-igreja-em-cisma-entrevista-com-matthew-fox. Acesso em: 2 fev. 2014. 146 Disponível em: file:///C:/Nubia/Doc%20Nubia/MESTRADO/Orienta%C3%A7ao%20Pesquisa/Cap_Finais01/Livros_Artigos_Pesquisa/Religiao_Ig_Catolica/EClesiologia%20de%20Baixo.htm Acesso em 3 mar. 2014.

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Imagem 28 – Título – Reportagem publicada na Revista Veja em 27/3/2013. (Material já analisado).

Aqui se compreende o movimento da interpretação inscrito no objetivo simbólico dentro

do contexto histórico. Tais acontecimentos tinham ocorrido e percebe-se, então, que a religião

católica (Igreja Católica) na década de 80 (Séc. XX) esteve na esfera pública com o tema teologia

da libertação com o “veredito final” da mídia em 1985.

Não é objetivo desta pesquisa analisar o discurso das mídias contemporaneamente, mas,

para se ter um comparativo com o já estudado no ano de 1984 (jornais O Globo e Folha de S.

Paulo) e na década de 80 (revista Veja), fez-se também um (breve) levantamento de publicações

durante o ano de 2013, com o tema “Teologia da Libertação”, para observar a mudança

discursiva no século XXI . O ponto de partida é o marco histórico da renúncia do papa Bento

XVI (28/2/2013) e chega até a eleição do novo pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana:

Papa Francisco.

No ano 2013, no período correspondido entre os meses de fevereiro e julho, foi levantado

um total de 76 publicações com o tema Teologia da Libertação, nas três mídias estudadas (Cfr.

Anexos P, Q e R). O jornal O Globo saiu na frente com 45 publicações. Em segundo lugar, a

Folha de S. Paulo com 30 publicações e a revista Veja apenas com uma única publicação. O título

da reportagem da “Veja”: “Antes de Francisco”, datada em 15 de maio de 2013. A reportagem,

publicada na editoria de Religião foi assinada pela jornalista Adriana Dias Lopes, apresenta o

pontífice a partir de “biografia recém- lançada no Brasil, revela as origens do estilo pastoral do

papa e as peculiaridades raramente associadas a um pontífice, como o gosto pela culinária” (Cfr.

Imagem 29). No corpo da reportagem há um trecho (Cfr. imagem 30) que sugere análise de como

o discurso de tal mídia sobre a Teologia da Libertação é construído e qual sentido é produzido.

Isso, duas décadas depois do “veredito final” (1985).

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Imagem 29 – Título da reportagem publicada na Revista Veja em 15/5/2013. Editoria Religião.

Fonte: Acervo Digital da Veja

Para mostrar a volta do tema Teologia da Libertação às mídias estudadas, traça-se um

panorama da conjuntura do Novo Mílênio, juntamente com o quadro dos títulos/chamadas/leads

contendo exemplos do discurso das mesmas mídias no século XXI.

Contexto/conjuntura no Novo Milênio (Século XXI): Conforme o Gráfico: Linha do

Tempo (p.31), a conjuntura no novo milênio (século XXI) inicia-se com o Plebiscito Popular: 10

milhões pessoas votaram contra a Campanha contra a Área de Livre Comércio das Américas

(ALCA). Em 2001, o governo brasileiro estabeleceu processo de negociação para a entrega da

ALCA e a entrega da base espacial de Alcântara-MA para o Exército dos EUA. As CEBs

pariciparam ativamente de tais campanhas. Em 2003, foi eleito o 1º Presidente da República

operário/sindicalista Luís Inácio Lula da Silva (Lula), que cumpriu dois mandatos. Em plena crise

economica mundial, o Brasil mantém a estabilidade econômica e é um dos poucos países que

segue em crescimento.

Em 2009, surgiu a Auditoria Cidadã da Dívida com a conjuntura mundial (crise Global)

no setor financeiro, que foi transformada em crise da dívida. Desvios de recursos e a crise

econômica fazem iniciarem-se as reações populares globais: na Grécia, Irlanda, Islândia, Portugal

e França. Surgem temas como Risco para Fundo do Pré-Sal, Fundo de Pensão e Fundo Soberano,

questões investigadas pela Auditoria da Dívida, que fez campanhas e produziu material

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formativo/educativo/informativo para a sociedade civil e mobilizou setores para campanhas de

fiscalização. Em 2010, pela primeira vez na história do país, uma mulher é eleita presidente da

República. Na América Latina, além de Dilma Housseff, Argentina e Chile também elegem

mulheres para o governo federal.

Em março de 2007, o tema Teologia da Libertação retornou à mídia com a publicação de

uma reportagem na Uol-On-line, Editorial Internacional, em 14 de março de 2007, intitulada:

“Vaticano condena a obra de Jon Sobrino, importante teólogo da libertação. Outro marco

histórico na Igreja Católica no Novo Milênio é a renúncia do papa Bento XVI (28 de fevereiro de

2013). Segundo Passos (2013), antes de qualquer discurso, a renúncia foi, por si mesma, delatora

da necessidade de reforma na Igreja (necessidades de mudanças urgentes na Igreja). A surpresa

foi anunciada no dia 13 de março de 2013 com a eleição do 1º Papa latino-americano (Jorge

Mario Bergoglio), que escolheu o nome de Francisco (Papa Francisco).

Diante de tal panorama conjuntural/contexto, do inicio do milênio (século XXI) até o ano

de 2013, com a eleição do novo papa da Igreja Católica Apostólica Romana, a Teologia da

Libertação entra para a agenda das mesmas mídias estudadas na década de 80. Como

demonstração insere-se uma análise do trecho da reportagem da revista Veja, publicada em

15/5/2014.

Imagem 30 – Trecho da reportagem publicada na revista Veja em 15/3/2013. Editoria: Religião.

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Quadro 123 - Trecho da reportagem da Revista Veja (15/3/2013)

TRECHO DA REPORTAGEM

(final do segundo parágrafo)

“Francisco é abertamente contra a Teologia da Libertação, movimento religioso que tentou adotar o marxismo em ensinamentos cristãos sobre o argumento da opção preferencial pelos menos favorecidos”

Segundo Passos (2013), o nome do papa, “Francisco”, significa a programática

reformadora147 do “carisma de Francisco” (= vida do santo católico: São Francisco), ou seja,

sugere-se o nome da “Igreja dos Pobres”. É a primeira vez que a Igreja Católica concede esse

nome a um papa.

O texto utiliza-se de um advérbio “abertamente”, segundo dicionário Aurélio (= sem

disfarce) e segue com a preposição “contra” (=oposição/contrário), além da expressão “Teologia

da Libertação”. Conforme Junior (2012), indica-se um movimento eclesial mais ou menos

reflexo, isto é, um jeito de ser Igreja, de viver e celebrar a fé, uma práxis pastoral, em seu

momento mais explícito e estritamente reflexivo, ou seja, sua elaboração e formulação é teórico-

conceitual. Designa-se tanto uma práxis-teologal quanto uma teoria-teológica em uma unidade

estrutural (teoria-práxis). O editorial (por Adriana Dias Lopes) é claro e objetivo em relação à

exposição do termo: “Teologia da Libertação”. Foi “um movimento religioso que tentou adotar o

marxismo em ensinamentos cristãos sob o argumento da opção preferencial pelos menos

favorecidos”.

Contrariamente ao que afirma Passos (2013), “há rupturas estéticas introduzidas pelo

novo papa “Francisco”, com o ideal da “Igreja dos Pobres” que, segundo acreditava a ala

conservadora, era algo que havia desaparecido após censuras à Teologia da Libertação”.

(PASSOS, 2013, p.24) continua, exemplificando a declaração do próprio Papa Francisco: “Ah,

como eu queria uma Igreja pobre e para os pobres!” (PASSOS, 2013, p.25):

- Quem discursa? (quem fala?): “Adriana Dias Lopes” (Editora de Saúde da Revista Veja).

- Para quem fala? Público (classe média alta/de direita). 147 A progmática reformadora do papa Francisco: gestos e atos do pontífice renascem a esperança que é possível um novo curso na história da Igreja e na história da Teologia da Libertação. As ações e a simplicidade do papa Francisco se chocarão com a complexidade da estrutura eclesial. Reaparecem após as censuras à Teologia da Libertação.

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- Como fala sobre a TdL? Como “movimento” que “tentou” “adotar” o “marxismo” (“sob

argumento dos menos favorecidos”), para “ensinamentos cristãos”.

- Palavras-chave: “Teologia da Libertação” e “marxismo”.

Síntese: Para Benetti (2007), a revista não se enquadra nos gêneros tradicionais jornalísticos.

Ainda que carregado de informação, o texto é permeado pela opinião.

Quadro124 - Publicações Folha de S. Paulo (Meses: fevereiro a julho de 2013) - Teologia da Libertação

Editoria/Gênero/Autor Título/chamada Mundo/Reportagem

Título: “Bento 16 perde o dom que o tornava infalível”. Chamada: “Com a renúncia, agora o papa emérito não poderá mais proclamar doutrinas incontestáveis sobre a fé e a moral” (2/3/2012).

Artigo (Katia Abreu) Título: “Causa incansável” (7/7/2013). Poder/Reportagem Título: “Igreja inicia processo de beatificação de

“Odetinha”. Chamada: “Proposta reflete aclamação de católicos e desejo da arquidiocese de evitar polêmica” (10/1/2013).

Entrevista/ Entrevista Título: “Essência da Teologia da Libertação foi defendida pelo Papa” Chamada: “Irmão de Leonardo Boff elogia Bento 16 e critica movimento que ajudou a fundar; para ele, teologia degenerou em ideologia” (11/3/2013).

Especial/Reportagem Título: “Após hiato de 35 anos, italianos querem recuperar o pontificado”. Chamada: “Maioria na administração do Vaticano, cardeais do país europeu têm poder para influenciar a sucessão”(12/3/2013).

Painel do Leitor (carta – Gilberto de Melo Kujawski – São Paulo-SP)

Lead: “A entrevista com Frei Clodovis Boff tem valor hitórico, passou a limpo a Teologia da Libertação, corrigindo seus desvios e simploriedade e preservando o que ela tem de melhor (...)” (12/3/2013).

Título: “Cardeais se sentirão pressionados a não contrariar Bento 16 durante o conclave” (16/3/2013)

Tendências/Debates / Reportagem por Rodrigo Coppe Caldeira (colaboração para Folha)

Título: “O insondavel caminho de Francisco” (14/3/2013).

Título: “Argentino pode ser considerado moderado” Chamada: “Novo papa mantém relação ambígua com a Teologia da Libertação e tem contato com a comunidade judaíca” (14/13/2013).

Análise/Luiz Felipe Pondé Título: “Segue a recusa à contaminação marxista e à

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(Colunista da Folha) secularização” (14/3/2013). Mundo/reportagem Título: “Papa pede “verdadeira renovação” na Igreja”

Chamada: “Em discurso de improviso Bento 16 cita Galileu e exalta Concílio Vaticano 2º que mudou a instituição nos anos 60” (15/2/2013)

Folha 10/Notícia Título: “Bento 16, o breve” (16/2/2013) Mundo /Reportagem / Bernardo Mello Franco (enviado especial a Roma)

Título: “Papa é alvo da campanha caluniosa, diz Igreja” Chamada: “Vaticano nega apoio de Francisco a ditadura militar argentina e disse que nunca houve acusação concreta conta ele” (16/3/2013)

Mundo/Reportagem/ Fabiano Maionnave (enviado especial a Roma)

Título: “O novo Papa” Chamada: “Apontado como o cardeal brasieliro mais próximo do novo papa, dom Claudio Hummes, 78, diz que a Igreja “não fucina” do jeito que está e pede mudança em toda sua estrutura” (16/3/2013)

Quiz/ Quiz: “A que ordem religiosa pertence o novo Papa Francisco?”

a) A companhia de Jesus b) Opus Dei c) Mormuns d) Teologia da Libertação”

(16/2/2013) Título: “Barsil tem “défit” de mais de 20 mil padres”

(17/3/2013) Igreja/AtArtigo (Kenneth P. Serbn. Tradução: Rodrigo Leite)

Box: Historiador sintetiza os principais significados da eleição do novo papa e especula sobre as feições que o catolicismo deverá assumir. Francisco simboliza a conquista do poder religioso pelo continente, e abertura da Igreja à questão ambiental e a adesão princípios da Teologia da Libertação, como o combate à pobreza” (17/3/2013)

Opinião/editoriais Título: “Filhos de Francisco” (21/7/2013) Poder/Reportagem Título: “Ênfase na pobreza reanima ala progressista dos

católicos” (21/7/2013) Poder/ Ombdsman Título: “Evangelho dos Excluídos” (21/7/2013) Poder/Reportagem/Fabiano Maisonnave (enviado especial a Aparecida –SP)

Título: “CNBB quer recuperar as comunidades eclesiais de base” Chamada: “Ligados a movimnetos sociais e à Teologia da Libertação, grupos enfrentaram oposição de João Paulo 2º e Bento 16” (22/4/2013)

Opinião/Editoriais Título: “A doutrina de Francisco” (23/7/2013) Poder/ BOX: “Francisco condena ídolos, como o dinheiro que se

põe no lugar de Deus; há ecos da Teologia da Libertação no trecho” (23/7/2013)

Poder/Entrevista (Boaventura de Sousa Santos)

Chamada: “Referência internacioal da esquerda, sociólogo vê retrocesso em setores dos direitos humanos no Brasil”

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(26/10/2013) Mundo/Reportagem Título: “Religiosos brasileiros fazem crítica ao papa”

(referindo-se a despedida do papa Bento 16) Trecho: “O papa tem sido muito duro com o Brasil, silenciou muitos teólogos brasileiros da Teologia da Libertação (28/2/2013)

Poder/Análise/Reinaldo José Lopres (colaboração para a Folha)

Título: “Doutrina de Francisco enfatiza a identificação de Cristo com os pobres”. Chamada: “Ao chamar atenção para os marginalizados, papa retoma Teologia da Libertação, mas sem propor reforma estrutural” (28/7/2013)

Reportagem de Capa Título: “Francisco critica liberais e conservadores da Igreja” (29/7/2013)

Título: “Papa quer uma Igreja mais próxima do povo” Chamada: “Padre que defende a Teologia da Libertação, vê incentivo em Francisco” (29/7//2013)

Quadro125 - Publicações O Globo (Meses: março a julho de 2013) - Teologia da Libertação

Mundo/Artigo (Frei Betto) Título: “os nomes dos Papas” (13/3/2013) Mundo/Especial Título: “movimentos eclesiásticos têm força determinante”

Chamada: “De conservadores a progressistas, grupos tentam influenciar” (18/3/2013)

Título: “O príncipe pobre no luxo Vaticano” (14/3/2013) Mundo /reportagem Título: “O papa é argentino” (15/3/2013) Mundo/reportagem (Adriana Mendes)

Título: “Dom Pedro Casaldáliga diz que a escolha foi “respiro” para a Igreja” Chamada: “Bispo emérito de São Félix do Araguaia elogia a simplicidade e o espírirto evangelizador do argentino” (15/3/2013)

Especial/Artigo /Frei Betto Título: “onde estará o papa?” (23/7/2014) País / Artigo (Minerval Pereira)

Título: “proselitismo religioso” Lead: “Pelo menos no primeiro pronunciamneto em solo brasiliero, o papa não deu margem a politização de sua mensagem como esperava o governo brasileiro e os católicos ligados à Teologia da Libertação (...)”

Especial/Entrevista (Leonardo Boff)

Título: “Francisco reforma a figura do Papa” Chamada: “Expoente da Teologia da Libertação envia seu livro ao santo padre e tem à frente uma possível reconciliação” (23/7/2013)

Especial/Reportagem Chamada: “Acerbispo de São Paulo é visto como conservador, mas sabe usar as ferramentas modernas de comunicação” (13/3/2013)

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Especial/Reportagem Títulos: “Ligações com o regime militar e silêncio sobre os crimes da ditadura” (14/3/2013)

Artigo/Frei Betto Título: Opção pelos pobre e volta ao latim” (25/7/2013) Segundo Caderrno/ Arnaldo Jabor

Título: “Teologia da libertação sexual” (23/3/2013)

Artigo / Cândido Mendes Título: “Além da retórica da pobreza” (26/7/2014) Especial/Reportagem Título: “pregação por nova Igreja”

Chamada: “Papa Francisco defende proximidade com fiés e condena o “funcionalismo paralizante” (29/7/2013)

Mundo/Reportagem Título: “Histórico da Igreja de resistências a mudnças se arasta or 1.600 anos” (3/3/2013)

Mundo/Notícia Título: “Papa se aproxima da Teologia da Libertação” Chamada: “Francisco reza miissa com fundador da corrente católica criticada pelo vaticano nos anos 80” (16/7/2013)

Mundo Entrevista/ Hans Kung Título: “A Igreja está doente porque vive no Século XXI” (17/2/2013)

Especial/Reportagem /Chico Otavio

Título: “Resurgimento da Igreja Política” Chamada: “Opção de Francisco pelos pobres anima a Teologia da Libertação a retornar ativismo social” (28/7/2013)

Quadro 126 – Publicações Veja (Meses: março a julho de 2013) - Teologia da Libertação

Editoria/Gênero Título/chamada Religião/Reportagem por Adriana Dias Lopes

Título: Antes de Francisco Chamada: Biografia recém-lançada no Brasil revela as origens do estilo pastoral do papa e peculiariadades raramente associadas a um pontífice, como o gosto pela culinária. (15/5/2013)

Há que se destacar que no levantamento do estado da arte foram pesquisados, também,

periódicos publicados no Brasil e no mundo, assim como artigos de dissertações de mestrado e

teses de doutorado relativas ao período 2001/2012. Foram encontradas oito publicações que se

aproximavam, por ordem de relevância, do tema Teologia da Libertação. Destas, apenas três

colaboraram para a compreensão histórica e da complexidade do tema, ajudando a entender o

contexto da época, a delinear a linha do tempo e apoiar-se nas análises. O fichamento dos três

trabalhos aparece abaixo (Cfr. Quadros 127, 128 e 129), com nome do autor, espaço de

publicação (instituição), um pequeno resumo da obra e suas palavras-chave.

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Quadro 127 - Trabalho: “A Juventude da Teologia da Libertação” (Título/Autor/Periódico//Instituição/País/Resumo/Palavras-Chave).

Título A Juventude da Teologia da Libertação Autor Flávio Munhoz Sofiati Periódico Horizonte: Revista de Estudos de Teologia e Ciência da Religião/2012.

Vol. 10 (26), p. 333 Instituição Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) País Belo Horizonte / Brasil Resumo O objeto de análise do artigo é o processo de formação da Pastoral da

Juventude do Brasil (PJB), isto é, seu método pedagógico e suas opções políticas. A análise se desenvolve a partir de uma contextualização histórica que busca identificar as mudanças ocorridas no método da PJB nas décadas de 1980 e 1990. Conclui-se que, durante os anos 1980, a PJB enfatizava a dimensão política em suas atividades de formação e participava dos diversos movimentos sociais que se organizavam em torno da proposta de redemocratização do Brasil. No entanto, nos anos 1990 ocorre uma reformulação do método, que passa a direcionar a formação para as dimensões pessoal e teológica, com uma prática voltada para o interior da Igreja Católica. Contribuíram com essas mudanças tanto fatores internos como o retorno do movimento pentecostal no cenário religioso católico, que dificultou a articulação da PJB com os grupos de jovens paroquiais, como fatores externos, como o advento da cultura pós-moderna na sociedade brasileira, que trouxe consigo o predomínio de práticas individualistas, isto é, destituídas de base coletiva/comunitária.

Palavras-chave Religião. Juventude. Catolicismo. Teologia da Libertação. Pastorais da Juventude.

Quadro 128 – Trabalho: “Diferentes olhares, diferentes pertenças: Teologia da Libertação e MRCC” (Título/Autor/Periódico//Instituição/País/Resumo/Palavras-Chave).

Título Diferentes olhares, diferentes pertenças: Teologia da Libertação e MRCC Autor Sílvia Regina Alves Fernandes Periódico REVER: Revista de Estudos da Religião, 2001 (3), p.76 Instituição UCSP País São Paulo / Brasil Resumo O texto analisa como a questão da “diferença” tem sido percebida e

trabalhada por expoentes da Igreja Católica. Duas interpretações são feitas pelos autores: a primeira procura conciliar Teologia da Libertação e Movimento Carismático, e a segunda afirma a diferença, demarcando posição menos conciliadora. Ainda que exista uma tentativa de tolerância mútua, a ambiguidade do discurso de intelectuais orgânicos e agentes eclesiais revela a exigência de cuidado no uso dos termos “diversidade e diferença”. E mais, indica a necessidade de análises que contribuam para a compreensão das estratégias adotadas por ambas as tendências.

Palavras-chave MRCC; Teologia da Libertação

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Quadro 129 – Trabalho: “Atualidade da Teologia da Libertação” (Título/Autor/Periódico//Instituição/País/Resumo/Palavras-Chave)

Título Atualidade da Teologia da Libertação Autor Francisco de Aquino Júnior Periódico Teológica Xaveriana, 2011, Vol. 61 (172), p. 397 (periódico revisado por

pares) Instituição Faculdad de Teología de la Pontificia Universidade Javeriana País Bogotá / Colômbia Resumo O artigo trata da atualidade da teologia da libertação. Começa

explicitando o duplo sentido da expressão teologia da libertação (práxis teologal x teoria teológica) e as "intuições centrais" que a caracterizam e a estruturam internamente (primado da práxis e perspectiva do pobre/oprimido). Em seguida se confronta com a problemática da atualidade dessa teologia (presença, visibilidade, relevância, pertinência). Por fim, aborda o que se consideram seus desafios mais importantes e mais fundamentais: parcialidade de Deus pelos pobres, fé como realização da vontade de Deus, problemática das mediações, caráter teologal-profético das lutas populares e relação teoria-práxis.

Palavras-chave Teologia da Libertação; relação teoria-práxis; Desafios.

Fonte: Portal CAPES Quadros: Autora da pesquisa

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta dissertação se propôs encontrar o significado dos textos estudados sobre a base que

suas palavras expressam para pretender alcançar e conhecer o discurso midiático construído sobre

a Teologia da Libertação e ser comprovado o porquê de os meios de comunicação discursarem

com tanta autoridade sobre tal teologia.

Na escolha do Corpus da pesquisa com a discussão que se fazia dentro da Igreja sobre o

tema divulgado diariamente na imprensa nacional com personagens de padres e bispos

estampados nas primeiras páginas dos jornais do Brasil, acusados de marxistas, analisaram-se os

títulos/chamadas/leads dos artigos, notícias e reportagens publicadas nos jornais O Globo, Folha

de S. Paulo entre os meses de setembro e outubro de 1984, período específico da publicação do

documento do Vaticano “Instruções Sobre Alguns Aspectos da Teologia da Libertação”.

Também se analisou as revistas Veja publicadas na década de 80, período em que ocorreram os

acontecimentos de tensão entre as alas progressista e conservadora da Igreja Católica com o

processo que corria, desde 1982, contra o teólogo Leonardo Boff, com a publicação de seu livro

“Igreja: Carisma e Poder”, fato levado a julgamento na Sagrada Congregação para a Doutrina da

Fé.

O estudo desenvolveu-se pela ótica da Análise do Discurso (francesa), articulada com o

método Histórico. A complexidade do projeto exigiu o diálogo entre metodologias e a construção

do texto que mostrasse a correlação entre o contexto social/político em que aparece a Teologia da

Libertação na América Latina e no Brasil e o papel da mídia naquele momento. Os fios da

história foram se tecendo no panorama da Comunicação/Mídia/Igreja/Política/Sociedade que

interligaram os conceitos: comunicação, informação, discurso, mídia, poder e religião, envolvidos

nos diferentes tipos de análises, reconhecendo-se uma visão transmetodológica148, ou seja, o

estudo perpassaou áreas dos saberes sociológicos, linguísticos, filosóficos, antropológicos,

psicológicos, econômicos, políticos, religiosos, históricos e comunicacionais, intercruzando-se

para ajudar a fundamentar o campo da comunicação.

148 TORRE , Alberto Efendy Maldonado Gómez de La. Produtos Midiáticos, Estratégias, Recepção. A Perspectiva transmetodológica. Unisinos. Disponível em: https://www.google.com.br/?gws_rd=cr&ei=3cChUrX5F9bJsQTuv4GgBw#q=transmetodologia . Acesso em: 5 dez. 2013.

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A produção de sentido foi percebida no processo aplicado ao discurso informativo nas

amostras das análises demonstradas dos títulos, chamadas e leads encontrados entre as três

mídias estudadas (Veja/O Globo/Folha de S. Paulo). Também aparecem exemplos (não

analisados) de recortes, citados como ilustração das explicações conceituais da pesquisa. A peça

atrativa foi o produto informativo a representar: “Por que informar? Quem informa? Quais são as

provas na ordem da produção jornalística?”

O Gráfico, a seguir representado, remete a ideia do jogo de arco e flecha que faz parte dos

resultados do estudo sobre o alvo das três mídias estudadas, recorrendo a diversos meios

linguísticos que pretendem explicar um fato com a ajuda do recurso das palavras-chave

encontradas: “igreja católica, “teologia da libertação” “marxismo e “Boff” no jogo de expressões

e nomes, ao praticar a pontaria na utilização da retórica (flecha) para acertar (discurso

informativo) o objetivo (alvo) dos editoriais dentro dos processos de “transformação” e

“transação”, apontados por Charaudeau (2006, p. 42), como se demonstrou no gráfico do

Discurso Informativo na fase inicial deste trabalho, no Capítulo 2.

Gráfico 9 – Alvo das Mídias: Veja/Folha de S. Paulo/O Globo

Fonte: Elaboração Autora da pesquisa

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A finalidade do Gráfico foi demonstrar os alvos das mídias no jogo das palavras-chave e

da retórica utilizados nos textos analisados, fundamentados nos conceitos (comunicação,

discurso, mídia, poder e religião) estudados.

O itinerário percorrido foi desenvolvido a partir de quatro paradas de aprofundamento no

estudo, denominadas: Parada das Palavras, que é a chave de leitura da pesquisa; Parada da

Teia, que mostra como são tecidas as articulações Mídia-Comunicação/Igreja/Político-Social;

Parada dos Alvos, onde aparece a categorização das palavras alvos das mídias e Parada das

Vozes, que identifica quem fala e quem silencia naquele panorama histórico.

1) Na Parada das Palavras, as palavras-chave: Igreja Católica, Teologia da Libertação, Boff e

Marxismo apontaram para a porta de entrada do discurso construído pelas mídias. São os

sentidos construídos na matéria que transparecem a ideologia dos editoriais (conf. Gráficos)

demonstrados em toda a pesquisa. Mediante o tratamento do discurso expresso nas formas

textuais dos títulos, das chamadas e dos leads das notícias, das reportagens e das entrevistas,

compreende-se como os discursos são construídos e qual sua função de efeito na compreensão

dos relatos. As mídias discursaram sobre a Teologia da Libertação com poder e autoridade,

reproduzindo o discurso das fontes religiosas da ala conservadora da Igreja Católica,

reforçando ortodoxia, dogmas e sua ideologia. Foi prática comum atacar as ideias dos críticos

e opositores – os representantes da Teologia da Libertação. Observam-se, no discurso religioso

mostrado pela mídia, os temores à disseminação do marxismo dentro da “Igreja Católica”

acerca da “Teologia da Libertação”, que emergia da reflexão a partir das CEBs (=“Igreja dos

Pobres”), amparada nas reflexões e estudos teológicos já publicados. Reflete também o temor

aos teólogos que elaboraram a práxis-teologal (um jeito de viver e celebrar a fé, um jeito de

atuar e intervir na sociedade, de configurar a vida individual e coletiva, eclesial, Igreja, social.

A ala hegemônica da Igreja Católica mostrou em seu discurso que temia a configuração de

novas formas de poder (a partir do Evangelho) no contexto de miséria e de opressão em que

vivia a América Latina.

Uma nova hermenêutica teológica estava sendo disseminada em escritos (Gustavo

Gutièrrez, Leonardo Boff, Carlos Mesters, Frei Betto, dom Helder Câmara e tantos outros que

afirmavam (e ainda afirmam) que a Igreja das bases quer ser uma Igreja que rompe a aliança com

o poder dominante. Havia temor aos escritos críticos que questionavam a perseguição, por parte

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de alguns bispos da Igreja Hierárquica e da mídia tradicional ligada ao regime militar e à classe

alta (leitores em potencial da Veja, O Globo e Folha de S. Paulo), ao teólogo Boff, como bem

demonstrou Charaudeau (2006) nos estudos sobre os discursos da mídia. Exemplo disso aparece

no título da revista Veja publicado em 27/5/81: “A Política destrói a Igreja” e nas demais análises

que aparecem no corpo da dissertação. Com isso, confirma-se que os discursos informativos

apresentados pelas mídias dependem do tratamento imposto a elas no processo de transação (Cfr.

Gráfico Charaudeau – Capítulo III ).

2) Parada da Teia – É interessante observar como os fios foram tecidos no percurso da história

da comunicação na América Latina, entremeando os estudos das teorias e o cenário onde

aconteceram os fatos. Ocorreu a percepção do contexto em que a Teologia da Libertação foi

pautada na mídia com tal nome (com o documento “Instruções” – “furo de reportagem”). A

influência da Nova Ordem Mundial de Informação e Comunicação (NOMIC) colaborou para o

Setor de Comunicação da CNBB ser analisado pelos especialistas do campo da comunicação

ligados à Igreja Católica (fazer um estudo crítico). Como consequência foi lançada em 1989 a

Campanha da Fraternidade e Comunicação, questionando para a “Verdade (da informação) e

Paz” (no clima de ditaduras/repressão/guerra fria). As mídias discursaram contra a Teologia da

Libertação por ela contradizer e denunciar as formas de poder e o sistema capitalista, que

oprimia as camadas sociais mais pobres. Foi a partir da plataforma da TdL, com o surgimento

de movimentos e organizações populares e sociais (MST, CPT, Partidos Políticos etc.), que se

teve a compreensão, nas teorias estudadas, que se procedeu ao percurso da análise do discurso

das mídias sobre a Teologia da Libertação, identificando como se constrói sentido (pela

linguagem) no significado dado a cada significante.

3) Parada dos Alvos – Programada para análises dos textos levantados e selecionados. Com a

categorização das palavras-chave relevantes dos textos informativos, percebeu-se o discurso

editorial das mídias e qual o alvo que cada uma delas atingiu. A síntese do discurso da mídia

aparece no gráfico “Alvo das Mídias” (Cfr. Gráfico acima: Alvos das Mídias). A revista Veja

apontou na “Igreja Católica” (357 vezes a expressão aparece em seus discursos), atingiu

“marxismo” e “Teologia da Libertação” (atacando a influência das duas correntes), além do

alvo certo na voz que gritava “Boff”, ao denunciar em escritos que repercutiam na sociedade e

na Igreja. Boff (1981) chamava a atenção para as práticas da Igreja que entravam em atrito

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com sua proclamação dos direitos humanos. Tratava de levantar não somente as injustiças no

mundo, mas também dentro da própria Igreja Católica. Esse foi o alvo que a revista Veja e a

Folha de S. Paulo atingiram, na época, com o poder do discurso tradicional e ortodoxo. Como

afirma Foucault (1979), o poder da força da proibição, contrário ao poder circularidade e

serviço, está embutido e demonstrado na experiência das Comunidades Eclesiais de Base

(CEBs).

4) Parada das Vozes – trata-se de identificar quem fala e quem silencia e de quem se fala dentro

do processo conjuntural e histórico em que nasceu, cresceu, desenvolveu e amadureceu a

Teologia da Libertação. Quais foram as vozes (os discursos) que falaram (pronunciaram)?

Quais foram as vozes (os discursos) que falaram (enunciados em configurações textuais)?

Quais foram os discursos articulados das mídias sobre a Teologia da Libertação?

A pesquisa atingiu seu objetivo de identificar nos discursos das mídias o sentido

construído sobre a Teologia da Libertação dentro do período de tempo selecionado. Os

significados das palavras-chave, inseridos no contexto histórico para apreciação do sentido,

ajudaram a elucidar o alvo de cada mídia conforme interesse de cada editorial aqui demonstrado

(Cfr. Gráfico 9). Articulando as teorias, percebem-se os sistemas de representações nos discursos.

Ao articular os passos do método da Análise do Discurso (francesa) com os passos do método

Histórico-Gramatical foi possível observar como os discursos das mídias foram articulados para

se autoautorizarem discursar sobre a Teologia da Libertação. Eles recorreram a entrevistas,

declarações e fontes oficiais da ala conservadora da Igreja Católica noticiadas nos títulos, nas

chamadas, nos leads das reportagens e nas entrevistas da Revista Veja e dos jornais Folha de S.

Paulo e O Globo.

Enfatizou-se o diálogo com os autores Orlandi (1999), Verón (1984) e Charaudeau

(2006), além de outros pesquisadores e estudiosos do assunto, para se compreender como os

sentidos/sujeitos se constituíram no discurso de cada mídia. Os textos publicados pelos veículos

deixaram clara a existência de ideologias de direita. Ao cruzar os conceitos de comunicação,

mídia, efeito de verdade, discurso (em Foucault), poder e religião com as matérias selecionadas,

observa-se como se estabelece a relação de poder entre as Comunidades Eclesiais de Base

(CEBs) e como a mídia a reportou (uma única vez, título) para atingir o alvo dos expoentes da

Teologia da Libertação por meio da Igreja dos Pobres.

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Com a chave de análise das palavras e dos sentidos nelas contidos, as mídias construíram

seus discursos (produção de sentido) sobre a Teologia da Libertação com o objetivo de dar voz à

ala conservadora da Igreja Católica (cobertura completa do processo de julgamento do teólogo

Leonardo Boff sobre seus escritos no livro Igreja: Carisma e Poder). Atingindo a Teologia da

Libertação, na tentativa de eliminar o discurso que eles denominaram marxista, o jornal O Globo

declarou seu alvo para a condenação do marxismo.

As mídias mostraram seus interesses, ao atingir a Teologia da Libertação e o teólogo Boff

, pois os atingindo, silenciando o “movimento” consequentemente “condenam” o “marxismo”. O

discurso das mídias sobre a Teologia da Libertação foi enquadrado na materialidade linguística

da intencionalidade. Foi possível identificar os objetos de pesquisa com a análise do

discurso/estudo no processo de transmissão.

Quanto às mídias selecionadas nas “Cartas dos Leitores”, efetuou-se uma única análise de

carta de leitor sobre o tema estudo que chama a TdL de “subversiva”. O discurso é enquadrado

em tons de ironia, fazendo valer o poder/autoridade das mídias que discursaram sobre a Teologia

da Libertação, direcionando e procurando formar opinião dos seus públicos leitores. Uma das

mídias recebe um nome imperativo: VEJA e tenta, como os jornais, influenciar os leitores

marginalizando a Teologia da Libertação e seu principal líder, Leonardo Boff.

A troca de saberes entre os recursos dos métodos ajudou a apontar, entrando na linha da

história, quais as vozes (discursos) que falam e detectar quais discursos (vozes) devem ser

silenciados, punidos e torturados e até mostrar a TdL e quais as consequências desastrosas para

os pobres no Continente Latino-Americano que relacionam o drama nas suas vidas cotidianas nas

Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) com os conflitos básicos da sociedade: opressão e

libertação, construídos em uma determinada época. Eram os pobres e os religiosos que

acreditavam que a esperança vive na mensagem do Evangelho. Estes são resultados que apontam

sugestões de pesquisas futuras.

Ao concluir a dissertação, vale registrar que no início do ano de 2014, a mídia nacional

não cobriu o acontecimento do XIII Intereclesial de Cebs, que aconteceu de 7 a 11 de janeiro de

2014, em Juazeiro do Norte–CE, reunindo mais de cinco mil pessoas com o Tema: “Justiça e

Profecia a Serviço da Vida”. Por outro lado, o jornal canadense The Gazette divulgou em

25/1/14: “Teologia da Libertação é saudada no Vaticano e seu Fundador recebe boas-vindas”.

Gustavo Gutièrrez (Peru) foi palestrante durante o lançamento de um livro endereçado ao

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presidente do escritório ortodoxia do Vaticano, o Cardeal Gerhard L. Muller. Sobre tal

acontecimento, o próprio teólogo Leonardo Boff (alvo das três mídias estudadas) publicou em

seu site149 um depoimento histórico. Nele desqualifica todo e qualquer princípio ético das mídias

informativas e de comunicação e registra a síntese desta pesquisa:

O que escreverei aqui não tem nenhum sentimento de revanche. Repito o que disse ao então Card. Joseph Ratzinger, depois Papa Bento XVI, no final do julgamento a que fui submetido no edifício da ex-Inquisição, à direita de quem vem da Via della Concilizione no dia 7 de setembro de 1984: a última palavra sobre o significado da Teologia da Libertação não a tem o Sr. Cardeal, nem eu, mas Deus e a verdade da história que, no seu tempo, virá à luz. E parece que está vindo a lume agora, quando o atual Presidente da Congregação da Doutrina da Fé, o arcebispo (não é ainda Cardeal) Gerhard Ludwig Müller, que escreveu um livro conjuntamente com um dos fundadores da Teologia da Libertação, o peruano Gustavo Gutièrrez com o significativo título “Da parte dos pobres: Teologia da Libertação, Teologia da Igreja”, Pádua, 2013. Aí se confessa claramente que o combate contra a TdL estava ligado a interesses ideológicos, próximos do capitalismo e do status quo imperante na América. Curiosamente, o combate contra a TdL se fundava na acusação, revelada como falsa, de que se inspirava no marxismo e representava o cavalo de Tróia pelo qual entraria o marxismo na América Latina. O corifeu desta falsificação foi o Cardeal Alfonso Lopez Trujillo, de Medellin, hoje falecido, e em sua medida também o Cardeal Eugênio Salles, do Rio de Janeiro, também falecido. “Publico este texto especialmente para leitura daqueles que neste blog insistem em acusar a TdL e a mim pessoalmente de marxistas, comunistas e outras desqualificações. A luz tem mais direito que as trevas. Aquilo que foi verdade naqueles dias turbulentos em que éramos perseguidos pelos Órgãos de Segurança dos Militares e publicamente difamados por nossos próprios irmãos de fé, continua verdade hoje e oxalá sempre: os pobres gritam por serem oprimidos; pertence à missão da fé cristã ouvir este grito e fazer o que puder para que eles, conscientizados e organizados, possam sair daquela infame situação que não agrada a ninguém, nem a Deus” ( BOFF, 2013).

Os estudos realizados apontam para um olhar negativo da mídia sobre a Teologia da

Libertação que ajudou a fragilizar sua linha fundamental de vinculação com a práxis e a análise

da realidade latino-americana pela ótica da opressão e dependência.

149 Disponível em: http://leonardoboff.wordpress.com/2013/07/04/roma-e-a-teologia-da-libertacao-fim-da-guerra/Acesso Acesso em: 10 abr. 2014.

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ANEXOS DIGITALIZADOS (Ver DVD em Contra-Capa)

Anexo A – Conceitos e Teorias Estudadas.

Anexo B – Páginas Incriminadas do Livro Igreja: Carisma e Poder (Leonardo Boff).

Anexo C - Documento do Vaticano: “Instruções sobre alguns aspectos da Teologia da

Libertação”.

Anexo D – Congregação para a Doutina da Fé – Notificação sobre o Livro Igreja: Carisma e

Poder - Cardeal Joseph Ratzinger (11/3/1985).

Anexo E – Publicação no jornal O Globo do Documento do Vaticano com o título: “Vaticano

condena desvios da Teologia da Libertação” (30/8/1984).

Anexo F – Carta do Núncio Apostólico Dom Carlo Furno a Frei Leonardo Boff (30/8/1984).

Anexo G – Documento original (Notas) do Texto Base sobre a realidade Continental (América

Latina) escrito por José Comblin. Enviada aos bispos reunidos na II Conferência Geral do

Episcopado Latino Americano (CELAM) em Medellín, na Colômbia (24/8/ a 6/9/1968).

Anexo H – Diário de Pernambuco. Publicação do Documento Texto-Base sobre a realidade da

América Latina com título: “Teólogo prega reformas e diz que a Igreja é colonialista e

subdesenvolvida”. Caderno II, 2 jun. 1968 (comparar com o Documento original do Anexo G).

Anexo I – Carta Pastoral do bispo Pedro Casaldáliga da Prelazia de São Félix do Araguaia-MT:

“Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social” (21/11/1971).

Anexo J – Síntese da Linha do Tempo – Vozes que falam e vozes que silenciam.

Anexo L – Esquema comparativo das Experiências Igreja Povo (das CEBs) e da Igreja Clerical

(dos padres) para compreender o concito de “Poder” em Foucault.

Anexo M – Materiais Levantados da Revista Veja (Década de 80).

Anexo N – Materiais Levantados da Folha de S. Paulo (setembro/outubro de 1984).

Anexo O – Materiais Levantados do O Globo (setembro/outubro de 1984).

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Anexo P – Materiais Levantados da Revista Veja (fevereiro a julho de 2013).

Anexo Q – Materiais Levantados da Folha de S. Paulo (fevereiro a julho de 2013).

Anexo R – Materiais Levantados do O Globo (fevereiro a julho de 2013).

Anexo S – Documento: “Um processo de ataques contra a Igreja que nasce do povo assinado por várias instituições católicas e não católicas”. Publicação da Revista Tempo e Presença e republicado pelo Jornal Aconteceu, em 1986. Anexo T – Forúm Mundial de Teologia e Libertação (FMTL): Rumo a Túnis.