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Revista Latino-Americana de História Vol. 3, nº. 10 Agosto de 2014 © by PPGH-UNISINOS Página68 Justiça e Identidade no Brasil Escravocrata: ambiguidades das leis no século XIX Alysson Luiz Freitas Regina Célia Lima Caleiro Resumo: O presente artigo analisa a atuação da justiça no século XIX tomando como pano de fundo a ordem escravocrata e as aspirações modernizantes do estado Imperial. Utiliza especialmente como fontes processos-crime de duas localidades distintas: a cidade de Montes Claros, sede da Comarca da região norte de Minas Gerais e a cidade de Franca, sede da Comarca de parte da região sudeste do estado de São Paulo. Palavras-chave: Justiça. Escravos. Mulheres. Abstract: This article analyzes the role of justice in the xix century taking as background the order of slavery and modernizing aspirations of the Imperial state. Uses especially as sources criminal cases of two different locations: the city of Montes Claros, headquarters of the Judicial District of northern Minas Gerais and the city of Franca, the headquarters of the Judicial District of part of southeast region of the state of São Paulo. Keywords: Justice. Slaves. Women. Justiça e poder no Brasil Colonial Analisar a atuação do judiciário e dos homens envolvidos com a justiça no Brasil foi objetivo de muitos historiadores, juristas e cientistas sociais, acompanhados geralmente de impressões que se tornaram clássicas sobre os elementos que impediam o avanço da justiça e do poder público. A frase do frei Vicente do Salvador, do início do século XVII, se tornou um clássico sobre o tema, e merece espaço. O mesmo, em sua impressão sobre alguns dos principais problemas que se passavam na colônia, avaliava que no Br asil “nem um homem (....) é republico, nem zela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular (...) Doutor em História pela USP. Professor naUNIMONTES. Doutora em Histótia pela UFMG. Professora da UNIMONTES.

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Vol. 3, nº. 10 – Agosto de 2014

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Justiça e Identidade no Brasil Escravocrata: ambiguidades das leis no século XIX

Alysson Luiz Freitas

Regina Célia Lima Caleiro

Resumo: O presente artigo analisa a atuação da justiça no século XIX tomando como pano de

fundo a ordem escravocrata e as aspirações modernizantes do estado Imperial. Utiliza

especialmente como fontes processos-crime de duas localidades distintas: a cidade de Montes

Claros, sede da Comarca da região norte de Minas Gerais e a cidade de Franca, sede da

Comarca de parte da região sudeste do estado de São Paulo.

Palavras-chave: Justiça. Escravos. Mulheres.

Abstract: This article analyzes the role of justice in the xix century taking as background the

order of slavery and modernizing aspirations of the Imperial state. Uses especially as sources

criminal cases of two different locations: the city of Montes Claros, headquarters of the

Judicial District of northern Minas Gerais and the city of Franca, the headquarters of the

Judicial District of part of southeast region of the state of São Paulo.

Keywords: Justice. Slaves. Women.

Justiça e poder no Brasil Colonial

Analisar a atuação do judiciário e dos homens envolvidos com a justiça no Brasil foi

objetivo de muitos historiadores, juristas e cientistas sociais, acompanhados geralmente de

impressões que se tornaram clássicas sobre os elementos que impediam o avanço da justiça e

do poder público. A frase do frei Vicente do Salvador, do início do século XVII, se tornou um

clássico sobre o tema, e merece espaço. O mesmo, em sua impressão sobre alguns dos

principais problemas que se passavam na colônia, avaliava que no Brasil “nem um homem

(....) é republico, nem zela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular (...)

Doutor em História pela USP. Professor naUNIMONTES. Doutora em Histótia pela UFMG. Professora da UNIMONTES.

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(pois) nesta terra andam as coisas trocadas, porque toda ela não é república, sendo-o cada

casa”. (SALVADOR, 1627. In: 1965, p. 59)

Silvia Hunold Lara, em texto sobre a temática, procura aprofundar a análise de alguns

dos temas mais recorrentes sobre a justiça e o poder público no Brasil, isto é, a relação entre

poder privado e poder público. Em estudo sobre a região da vila de São Salvador do Campo

dos Goitocazes, na segunda metade do século XVIII, Lara demonstra alguns dos “diferentes

usos” que a justiça, “exercida em nome do rei”, podia ganhar em terras coloniais. (LARA,

2006, p. 63)

No que se refere ao período colonial, a autora demonstra que:

As análises sobre a justiça colonial têm enfatizado que os tribunais serviam

menos para controlar ou coibir infrações às normas do que mediar fricções entre grupos de mesmo status social. O recurso aos tribunais seria, assim, o

último passo numa longa série de conflitos, um recurso mediador quando

outras possibilidades se mostravam ineficientes. Por outro lado, é comum a afirmação de que os magistrados agiam muitas vezes por constrangimento

dos potentados locais, ou por interesses pessoais (embora sempre houvesse a

necessidade de aparecerem como protetores dos interesses reais). Unidos às elites locais de diversos modos, aceitavam subornos para decidir certas

causas, ou utilizavam sua jurisdição e seus cargos para obter vantagens

econômicas (LARA, 2006, p. 84-85).

A autora, entretanto, propõe ir além dessas impressões coloniais, demonstrando também

que em muitos casos “a justiça nada decidia – ou tomava decisões ambíguas e polivalentes”, e

mesmo assim continuava “sendo acionada por várias partes, que a ela recorriam, sempre

reiterando a necessidade de uma pronta intervenção para sanar o abuso ou dar exemplo aos

demais” (LARA, 2006, p. 85).

Ao mesmo tempo, como parte de uma sociedade que era efetivamente desigual, baseada

em grandes diferenças sociais e econômicas, a justiça também se apresentava como desigual,

tratando de modo diverso pessoas que eram consideradas desiguais. Para Lara, os privilégios

atribuídos a cada condição social ou a determinados cargos ou posições, estipulavam também

tratamentos especiais. Assim, o exercício do poder judiciário implicava algo mais importante

do que estabelecer ou fixar a verdade dos casos: “significava reafirmar e reforçar a rede

hierárquica que ligava todos os súditos ao rei e o lugar de cada um nesse emaranhado de

poderes, alçadas e jurisdições”. (LARA, 2006, p. 86)

Esses pressupostos nos permitem discutir um elemento central para a nossa proposta:

compreender as relações entre público e privado no âmbito judiciário, bem como as

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ambiguidades e parcialidade da justiça nos casos envolvendo escravos, livres e mulheres em

duas regiões do Brasil ao longo do século XIX.

A justiça no Oitocentos

As análises da historiadora Silvia Lara nos permitem avaliar pelo menos dois aspectos

fundamentais para a avaliação da justiça norte-mineira no século XIX. Em primeiro lugar,

mesmo diante dos inúmeros problemas que envolviam o sistema judiciário no Brasil, desde a

época colonial, o recurso à justiça era comum e legítimo, pois as pendengas encontravam

muitas vezes na justiça o lócus para a solução de querelas importantes do cotidiano.

Ao longo do século XIX, no norte das Minas Gerais, veremos que a recorrência à justiça

também era comum, demonstrando uma aproximação cada vez maior do poder público e da

justiça frente ao cotidiano da população, mesmo que muitas vezes reforçada por relações

desiguais que marcavam o sistema escravista.

Em segundo lugar, o exemplo da região de Campo dos Goitacazes, nos coloca em frente

ao tratamento diferenciado que a justiça oferecia aos desiguais, e que, em última instância,

reforçava e reafirmava redes de poder que se estabeleciam. Redes hierárquicas que tornavam

evidentes a desigualdade, a submissão e a dominação, elementos próprios do regime

escravista brasileiro. Essa avaliação se faz imprescindível para a nossa proposta que visa

demonstrar a condição escrava em detrimento de determinados privilégios dos homens livres,

muitas vezes comprometidos e imersos nas relações clientelares que se estabeleciam. Além

disso, a relação da justiça com a violência das mulheres também apresenta contornos bem

peculiares.

Não obstante, no processo de estruturação do regime imperial, novos elementos foram

somados ao universo do judiciário. A justiça, à medida que avançava o século XIX, era

reformulada, a partir de novos mecanismos e uma nova estrutura de poder, condizente com as

mudanças políticas que o regime propunha.

Segundo Keila Grinberg, a reforma da justiça e do sistema judiciário no Brasil foi um

dos temas mais recorrentes no debate político do Império.

Tida como um dos resquícios do período colonial, sobretudo pelo papel central que cabia ao imperador no exercício cotidiano, a Justiça foi objeto de

discussão entre os liberais brasileiros desde o início da década de 1820,

quando muitos consideravam sua modernização elemento essencial para a

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própria constituição do Estado independente (GRINBERG, In: VAINFAS,

2002, p.451).

A Constituição de 1824, nesse caminho, teria dado um importante passo na organização

da justiça brasileira, junto a outros elementos criados no mesmo período.

Em 1827, segundo aponta Thomas Flory, temos a criação da figura do juiz de paz, um

magistrado sem formação específica, eleito pela população para exercer nas paróquias a

função de juiz, especialmente em casos menores onde se poderia buscar elementos de

conciliação das partes. Segundo o autor, a polêmica da criação dos juízes de paz residia no

fato de ser a sua criação um dos símbolos do próprio liberalismo brasileiro da época do

Primeiro Reinado, cioso do fortalecimento do poder local e da maior autonomia de distritos e

províncias, sendo por isso combatido pelos políticos conservadores do regime monárquico.

(FLORY, 1986)

Em tese de doutorado sobre a região do médio sertão do São Francisco, Dimas José

Batista demonstra também que as mudanças no sistema judiciário vão se dar somente na

segunda metade do século XIX, em meio a reformas e transformações importantes do sistema.

Mesmo assim, o autor também avalia alguns dos elementos de poder e do cotidiano que se

misturavam nas decisões do judiciário, impondo ao mesmo um funcionamento ambíguo e

contraditório.

Os embaraços, ambigüidades e contradições somente seriam resolvidos na

segunda metade do século XIX. O Estado brasileiro legislou a respeito de

todas as matérias e assuntos fossem eles econômicos, políticos, educacionais, culturais, religiosos e judiciários. Os embaraços eram frutos

diretos da indistinção, da superposição e dos tênues limites e fronteiras entre

as competências dos agentes da administração civil e militar. (...) As normas e leis possuíam também esse caráter difuso graças às relações sociais

dominantes na sociedade brasileira que, como vimos, era em si mesma densa

e difusa, ou melhor, recorria a meios extralegais para pensar a justiça e o

Estado. As leis e as normas eram princípios vinculatórios que expressavam as ambigüidades e contradições da própria sociedade brasileira e mineira da

época (BATISTA, 2006, p. 57).

Um último aspecto no que diz respeito a uma das características mais marcantes do

Código Criminal do Império deve ser avaliado. Segundo Grinberg, mesmo com toda a

importância do código e das questões levantadas, eram os escravos os que mais sofriam com

as penas instituídas. Dessa forma, muitos juristas e políticos do Império argumentavam que o

“nível cultural” e a “evolução social” do país eram incompatíveis “com os princípios clássicos

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da igualdade entre seres humanos”, justificando assim os direitos dos senhores em castigarem

seus cativos. Além disso, o Código Criminal consolidaria, também, punições exclusivas para

escravos, como “açoites e ferros, além das penas de galés e de morte”. (GRINBERG, In:

VAINFAS, 2002, p. 146)

Veremos, não apenas para o exemplo da região norte-mineira, como para outra região, o

sudeste do estado de São Paulo, que realmente os escravos “sofriam” mais com os

mecanismos de poder estabelecidos, gerando assim uma distinção clara na condição cativa em

relação ao universo dos livres.

Esses elementos nos levam, naturalmente, a imaginar a presença de um sistema

judiciário que se encontrava em processo de reestruturação. Tal processo condicionava a

justiça à reformas, no intuito de influenciar diretamente na organização do Estado,

adequando-se aos preceitos liberais que se manifestavam em revoluções e movimentos sociais

que vinham da Europa. Todavia, no cotidiano das relações sociais, sobretudo no papel

exercido pela justiça diante dos desiguais – pobres e ricos, negros e brancos, escravos e

senhores, mulheres e homens – as diferenças se faziam sentir mais claramente, refletindo em

uma justiça parcial e hierarquizada pelos interesses de alguns, em detrimento de outros tantos,

sobretudo os cativos. As sentenças de alguns processos criminais avaliados são exemplos que

ilustram essa afirmação.

Homens livres e escravos: a justiça parcial no sertão das Minas

Ao nos debruçarmos sobre os dados referentes às sentenças aplicadas aos homens livres

enquanto réus dos processos referentes ao período de 1850 a 18881 constatamos que dos 430

processos selecionados para a análise percebemos um número bem maior de processos que

não determinaram penas aos réus livres. Em quase metade da documentação (48,4%) os réus

livres foram absolvidos dos crimes praticados, somado ainda a um grande número de

1 A pesquisa em questão foi sobre a região norte de Minas Gerais, com ênfase para a cidade de Montes Claros.

Para tal ver: JESUS, Alysson Luiz Freitas de. Cotidiano e poder nas relações sociais escravistas e pós-

escravidão: o sertão das Minas entre 1850 e 1915. Tese de Doutorado em História Social, São Paulo, FFLCH,

USP, 2011. Para alguns autores que estudaram a região norte-mineira, a cidade de Montes Claros era a única “da

região Norte de Minas que poderia merecer, ainda que com certas restrições, o nome e os direitos de cidade.”

(BRITO, 2006, p. 69) Em 13 de outubro de 1831, o Arraial de Formigas é transformado em vila. Já na década de

50 é elevada à categoria de cidade, com o nome atual de Montes Claros. O estabelecimento de um poder público

mais efetivo contribui para a ascensão da cidade e da região ao longo do século XIX. Como salientou Tarcísio

Botelho, é importante destacar ainda que este processo de ascensão de Montes Claros, na verdade, se deu através

de transformações lentas e graduais, contando com uma povoação limitada e pouco dinâmica. (BOTELHO,

1994).

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processos que ficaram apenas na pronúncia ou mesmo não constando sentenças (36,3%). As

prisões de homens livres pela prática, em sua maioria, de homicídios e lesões corporais,

representam pouco mais de 15% de todos os processos analisados, o que claramente nos

coloca diante de uma justiça com características que devem ser questionadas. Alguns

exemplos devem ser explorados para que possamos estabelecer um diálogo com essa justiça

oitocentista.

Três homens, o forro Lino em conluio com João Teixeira de Souza Júnior e Justino José

dos Santos foram indiciados como responsáveis pela morte de Roberto Xavier do Rego. A

queixa foi feita pela mulher da vítima, que informou que seu marido tinha sido assassinado

quando voltava de uma viagem, em tocaia armada pelos réus. O motivo do crime teria sido

um anterior desentendimento entre os mesmos, ocasião em que o senhor Roberto, devido a

uma briga por terras mal demarcadas, entrara com um processo contra João Teixeira e Justino,

pois estes haviam espancado um compadre de Roberto. Entretanto, esse processo tinha sido

anulado por falta de provas contundentes que levassem João Teixeira e Justino a júri. Assim,

os novos autos que corriam indicavam João Teixeira e Justino como mandantes do crime

executado pelo forro Lino. De acordo com as testemunhas a rixa entre as partes seria pública e

notória, assim como o espancamento que teria levado ao processo anterior anulado pela

justiça. Entretanto, apesar de todas as questões levantadas contra João Teixeira e Justino,

apenas Lino foi pronunciado. Ainda assim, o processo encontra-se incompleto, isto é,

encerrando-se com a pronúncia do forro e a liberação dos prováveis mandantes do crime.2

Em processo do ano de 1862, a livre Ana Luisa teria sido responsável pela morte de três

pessoas e pelos ferimentos em outras quatro vítimas. A autora do crime fora à casa do senhor

Manoel de Sousa na tentativa de vingar-se do seu desafeto, o senhor Joaquim Cardoso de

Moura. Chegando lá, atirou em todos os que estavam reunidos, não conseguindo,

ironicamente, atingir o seu inimigo. Ana Luisa foi indiciada como responsável pela chacina,

mas o processo não foi além da pronúncia da ré 3.

No ano de 1875 a ré Angélica, conhecida como “Brava”, e seu enteado de nome José,

foram indiciados como responsáveis pelo assassinato de Antonio, marido da vítima. Segundo

as testemunhas, Angélica “Brava” teria mandado José executar a vítima. No entanto, nenhuma

testemunha apontou possíveis motivações para o ato. Antonio fora executado com várias

2 DPDOR/AFGC, Processo Criminal nº 000.080. 3 DPDOR/AFGC, Processo Criminal nº 000.044.

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facadas na virilha. A viúva, entretanto, afirmou que o marido teria morrido devido a um

acidente, quando trabalhava na roça. O processo simplesmente é interrompido em meio aos

depoimentos das testemunhas e, ao que tudo indica, não foi mais retomado, conforme

demonstram as inúmeras folhas em branco da documentação 4.

Autores que estudaram o período demonstram que o aparato judiciário era muitas vezes

utilizado para resolver questões particulares, ignorando-se denúncias ou anulando-se

processos “com base na lei”. Isnara Pereira Ivo reafirma a parcialidade no julgamento dos

crimes locais – a região da Imperial Vila da Vitória –, demonstrando a “falta de precisão dos

juízes de direito à frente da comarca (...) seja no julgamento e punição dos homens comuns,

seja nos inquéritos envolvendo homens públicos. Por qualquer motivo a queixa crime podia

ser considerada improcedente.” (IVO, 1998, p. 90)

Não foi muito diferente, acreditamos, o que acontecia com o aparato judiciário em

outras regiões rurais do Brasil. Os casos expostos acima envolvendo os nossos atores sociais

são esclarecedores nesse sentido. A avaliação dessas sentenças nos apresenta indícios de uma

justiça que, ao que tudo indica, misturava constantemente questões privadas com as funções

públicas.

Muitos dos réus sertanejos como João Teixeira e Justino José, ou como as livres Ana

Luisa e Angélica acabavam impunes. A justiça, por meio dos homens da lei da região, não se

mostrava capaz de colocar os réus diante do Estado e fazê-los cumprir as penas

correspondentes aos crimes praticados, o que, como vimos pelos dados apresentados,

aconteceu em praticamente 85% dos casos. Dos 430 processos em que os homens livres

figuram como réus, em 364 ocorreram absolvições, somente pronúncia ou não consta

sentença por motivos variados, como prescrição, finalizações dos processos ou pela própria

fuga dos réus, muitas vezes motivados pela incapacidade do sistema judiciário em fazer valer

cumprir o seu papel de agentes da justiça.

Quando avaliamos as penas aplicadas aos réus escravos na região norte-mineira, as

diferenças ficam ainda mais explícitas, nos permitindo adentrar ainda mais o universo do

poder e da justiça.

4 DPDOR/AFGC, Processo Criminal nº 000.204.

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Dos 68 processos analisados para a apreciação da violência escrava na região5

percebemos um percentual de aproximadamente 55% dos processos com algum tipo de pena

aos cativos, como prisões, castigos, reescravização ou mesmo a pena de morte natural.

Nesse sentido, mesmo que estejamos diante de uma justiça ainda na sua “infância”, ao

que tudo indica, com relação aos cativos, ela se fazia mais presente e eficaz. estal situação fica

ainda mais evidente quando propomos uma comparação entre a violência praticada por esses

escravos junto ao universo violento dos homens livres. Notamos a existência de poucas

diferenças no que se refere à violência praticada por esses agentes, independentemente das

suas condições jurídicas. Assim, a proximidade e a simplicidade da vida permitiram um

contato intenso e dinâmico entre os atores que compunham o universo cultural norte-mineiro,

fazendo da violência um componente de aproximação dos “mundos” da escravidão. Para Ivan

Vellasco:

A forte hierarquização da vida social, que possibilitava a quase todos, algum

nível de distinção em relação aos socialmente inferiores, não impedia de todo as identificações horizontais entre pobres livres, forros e escravos, os

quais, aliás, compartilhavam os mesmos espaços urbanos e o mesmo mundo

de cultura, cujas veias corriam pelas tabernas, vendas, sambas e entrudos,

nas ruas escuras e empoeiradas das vilas (VELLASCO, 2004, p. 197).

Entretanto, se o cotidiano permitia uma “feição desorganizada” na pretensa ordem

escravista, a justiça parecia ainda se utilizar de mecanismos que reafirmavam as diferenças

entre cativos e livres. Essas questões novamente nos colocam diante de uma justiça presente

mas, em vários sentidos, personalista, imprecisa e parcial.

Joaquim Nagô, mais um entre milhares e milhares de escravos espalhados pelo Brasil,

sentiu na pele a condição da escravidão, reafirmada pelo papel exercido pela justiça ao longo

do século XIX.

Em processo do ano de 1835, o escravo Joaquim Nagô, solteiro, com idade próxima dos

20 anos, foi acusado de assassinar o senhor Joaquim Antunes de Oliveira. Segundo a viúva,

senhora Anna Francisca, o crime teria ocorrido em abril do mesmo ano, e teria sido praticado

pelo referido escravo, propriedade do senhor Manoel Lopes de Oliveira. As testemunhas

arroladas no processo foram concordes ao apontar o africano como o executor do crime,

5 É importante salientar que a criminalidade escrava era menor que a criminalidade praticada por livres no sertão,

como de resto para inúmeras regiões do Brasil onde a população escrava era minoria ao longo do século XIX.

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declarando que o mesmo teria assassinado seu opositor a facadas, tendo como motivo o fato

do cativo estar agredindo uma escrava, parceira do mesmo.

Por meio do Libelo Crime Acusatório a acusação propõe-se a convencer o júri da falta

grave cometida pelo cativo, apelando para questões como o “valor da vida” para o ser humano

e a necessidade de “punições exemplares” na região:

P. que sendo a vida do homem o bem mais apreciável, pois que nelle se

reúnem todos quantos se pode possuir, sendo a perda da mesma o maior mal que se pode imaginar (...). P. que o Reo deve ser punido com a penna (...) no

gráo Maximo, para exemplo dos outros, pois que de outra forma não pode

haver segurança para os Pais de famílias, e principalmente neste Centro aonde ainda se não tem feito exemplo algum.

6

Joaquim Nagô não escapa da fatídica sentença, e em setembro de 1835 é condenado a

sofrer a pena de morte natural. Nove meses depois, em 30 de maio de 1836, o cativo é

executado, cumprindo-se a tarefa do mesmo servir “para exemplo dos outros”.

Os processos analisados nos possibilitaram uma comparação entre a violência de

escravos e livres no Brasil, por meio da atuação de uma justiça que se apresentava com

posturas distintas diante das condições jurídicas dos réus. Dessa forma, um importante

questionamento nos permite adentrar ainda mais o cotidiano jurídico do Brasil, isto é, os casos

que envolviam as mulheres, apontando algumas das características da parcialidade na

aplicação da justiça no século XIX.

Mulheres e justiça na ordem escravocrata do século XIX: o exemplo de Franca/SP

O Império brasileiro sobreviveu em um cenário de tensões entre a ânsia pela

“civilização” da elite culta e os ranços da ordem escravocrata, entre a burocracia

administrativa cuja formação intelectual se dera na Europa e a realidade do poder local

exercido pela aristocracia escravocrata. Discrepância também evidente entre a situação

confortável da elite seduzida pelas novidades do refinamento urbano e a precariedade da

existência dos cativos, dos libertos e livres pobres.

6 DPDOR/AFGC, Processo Criminal nº 000.046, fls. 18-19v.

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Em 1856, a antiga Vila do Imperador recebia o título de cidade de Franca. Circundando

a Igreja e a Câmara construíram-se casas cobertas de telha e paredes de adobe e estrutura de

madeira de lei. Eram casas altas e arejadas com muitas janelas e grandes portas. As refeições

compunham-se de milho e seus derivados. Do fubá faziam-se as broas e angu, que era

comido acompanhado de feijão e da carne de porco. Da mandioca fazia-se polvilho e do

polvilho os saborosos biscoitos. Entretanto, os “arranjos refinados” das casas mais abastadas

não escondiam as bases em que estavam assentadas as relações sociais. As algemas,

gargalheiras e palmatórias, expostos no Museu Histórico Municipal de Franca e os inúmeros

inventários atestam que:

(...) palmatórias, troncos e grilhões, os instrumentos de castigo cotidiano dos

escravos estavam arrolados juntamente com outros instrumentos de trabalho,

guardados na cozinha e na casa do engenho. O chicote senhorial, entretanto, ornado de prata, assim como sua bengala e esporas, era ostentado no espaço

senhorial da casa-grande; símbolo de um poder cuja força se fazia sentir, no

eito e na cozinha, em golpes vibrados por palmatórias de latão e chicotes de

madeira e couro torcido. Eis aí uma territorialização das instâncias de poder que, na sua prática cotidiana, permitia ao senhor unir e equilibrar opostos,

escondendo, sob o ornamento de prata a marca de sangue do chicote feitoral

( LARA,1988, p.168).

Nesse cenário, investigamos como a justiça institucionalizada7, na região de Franca,

tratou as mulheres no século XIX. Mulheres que, em diferentes contextos, tiveram sua cor,

condição social e jurídica, como fatores de diferenciação no modo como foram julgadas.

Mulheres acusadas de crimes variados foram utilizadas como evidência empírica da

participação feminina no universo da criminalidade. O primeiro passo do percurso dessa

investigação foi coligir seus nomes nos processos-crime e percebemos que, além dos nomes

próprios, muitas mulheres foram identificadas também por seus apelidos, com os quais,

evidentemente eram mais conhecidas.

Portanto, não é de se estranhar que os escrivães, antecedendo os interrogatórios que

devassavam o cotidiano e a intimidade das indiciadas registrassem também as alcunhas pelas

7 A pesquisa em questão teve como principal região de análise a cidade de Franca/SP, e teve como principal

objetivo analisar as relações de violência que envolviam as mulheres na ordem escravocrata, especialmente no

que tange à prática da violência feminina na condição de rés. Para tal ver: CALEIRO, Regina Célia Lima.

Mulheres e cotidiano na ordem escravocrata – A violência que se adivinha. Tese de Doutorado em História,

Belo Horizonte, UFMG, 2004.

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quais eram pejorativamente tratadas: Estrela, Maria Fumaça, Eva Crioula, Francisca

Tamanca, Rita Forra, Maria Canoa (CALEIRO, 2004).

Em nossa prática cotidiana, percebemos que para as mulheres “de família” os apelidos

são diminutivos carinhosos que pressupõem a intimidade doméstica. As alcunhas resultam de

características particulares, individuais, às vezes até íntimas de seus portadores. Mas, na

medida em que são forjadas, e utilizadas socialmente, expressam de modo bastante claro

como se dá a articulação entre a identidade privada e a identidade pública.

Outra questão a se considerar são as punições aplicadas às mulheres de acordo com os

valores inerentes ao sistema escravocrata e os tributos, inerentes à relação proprietários-

escravos.

Nada mais exemplar nesse sentido que a expedição de um bando, em 1810, pelo

governador da Capitania de São Paulo, Antônio José da Franca e Horta proibindo

terminantemente as mulheres de andarem com as cabeças cobertas e determinando as penas

aplicadas.

Portanto, pondo em seu inteiro vigor a lei que prohibe às mulheres

semelhantes rebuços novamente ordeno que toda a mulher que for achada rebuçada por qualquer maneira inteiramente descoberta (pois a devem fazer

inteiramente descoberta) sendo nobre das quaes não espero a contravenção

das raes ordens, seja recolhida por qualquer official militar, ou de justiça a

cada decente, e se mandará immediatamente parte para mandar a sua casa com decencia devida à sua qualidade e pagará vinte mil réis para o Hospital

dos Lázaros desta cidade se fôr mulher ordinária, e mulata ou preta forra

pagará oito mil réis da cadeia aplicados na mesma forma com oito dias de prisão. As escravas porém não poderão trazer baeta pela cabeça, e as que

assim forem achadas serão castigadas corporalmente na cadeia a meu

arbítrio.8 (grifos nossos)

As penalidades fixadas nos casos de infração expõem claramente a forma

discriminatória de lidar com o crime e a punição segundo a qualidade do seu autor. No caso

da proibição do uso das baetas pelas mulheres, a condição social das transgressoras definia

tanto as penalidades quanto as absolvições .

Da mesma forma, o drama vivido pela escrava conhecida por Maria Franqueira, ilustra

bem nossa afirmação, sobre a compreensão histórica das absolvições e condenações das

mulheres. Wanderley dos Santos cita um outro autor que, baseado na imprensa paulistana,

registrou a triste história dessa escrava (SANTOS, 1995).

8 DAESP, 1810: 305: 6.

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Diz Santos que de acordo com o professor Guido Fonseca, Maria Franqueira era uma

negra retinta, baixa, franzina, com os cabelos totalmente brancos, velha, de idade ignorada.

Estava ela a 16 de novembro de 1886, em sua cela na Penitenciária do Estado, quando

recebeu a ilustre visita do Imperador Dom Pedro II. Como já fizera com os outros presos,

procurou o Imperador saber pormenores de sua vida e dos motivos de sua prisão. Espantado,

tomou conhecimento que se encontrava presa há mais de meio século, ou exatamente 52 anos

e alguns meses, e aparentemente, ninguém sabia explicar porque Maria Franqueira estava lá

há tanto tempo na prisão. Dom Pedro II deve ter mostrado seu desagrado, uma vez que nos

dias seguintes o Dr. Clementino de Souza e Castro, juiz das execuções criminais, comparecia

ao presídio para inteirar-se do que estava acontecendo com ela. Apurou, então, o magistrado

que o nome da sentenciada era Maria Madalena e por ser proveniente de Franca, passou a ser

conhecida como Maria Franqueira. Fora escrava de Antonio Moreira Lima, residente naquela

localidade e lá tinha sido acusada de assassinar uma jovem, indo a júri a 11 de fevereiro de

1834. Por essa época, não compreendia a língua portuguesa, mas lembrava-se de seu

julgamento. Segundo Maria Franqueira, havia na sala de audiência muitos homens e ela

permaneceu sentada num banquinho o dia todo, até ser recolhida à cadeia. Fora condenada à

prisão perpétua. Durante um ano ficou presa em Franca, sendo depois removida para São

Paulo. Da capital foi trabalhar na fortaleza de Santos, voltando logo mais para a penitenciária.

Por várias vezes pedira perdão e três meses antes da visita do Imperador, novamente o fizera.

Por não ter instruído seu pedido com cópia do processo – extraviado na cidade de Franca – foi

ele negado. Após a vinda de Dom Pedro II, como não podia deixar de acontecer, a burocracia

judiciária foi agilizada e o decreto perdoando Maria Franqueira chegou, permitindo que ela

fosse finalmente libertada.

Nos trabalhos sobre criminalidade feminina no século XIX, verifica-se que escravas e

ex-escravas participavam muito pouco do universo da criminalidade na qualidade de

ofensoras. Deve-se considerar que, provavelmente inúmeros casos de violência praticados

pelas cativas, foram punidos no ambiente doméstico. As libertas, talvez pelo trauma inerente

aos seres humanos que vivenciaram a experiência da escravidão, evitavam situações que

pudessem colocá-las à mercê da justiça dos brancos. Portanto, a condição jurídica criava

condições para que estas mulheres se coadunassem mais ao papel de vítimas do que ao de

criminosas. Embora esta afirmação possa ser usada genericamente, devido à própria estrutura

em que se assentou a escravidão no Brasil, veremos que o cativeiro não restringia totalmente a

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violência feminina e que as exceções aconteceram e se constituíram como fator relevante nas

condenações.

O repertório punitivo do Código Criminal do Império apresentava distinções na

aplicação das penas dirigidas a homens e mulheres. O Artigo 43, referente à pena de morte

considerava que: “na mulher prenhe não se executará a pena de morte nem mesmo ela será

julgada no caso de o merecer senão quarenta dias depois do parto”. O estudo da legislação

demonstra que as mulheres recebiam considerações atenuantes justificadas pela sua

inferioridade em relação ao homem.

O Artigo 45 do mesmo Código Criminal considerava que: “as mulheres as quais,

quando tivessem cometidos crimes para que esteja estabelecida esta pena, serão condenadas

pelo mesmo tempo à prisão em lugar e com serviço análogo ao seu sexo”.

As diferenças entre a punição sofrida pelos acusados em função do sexo demonstram

que os fatores atenuantes são justificados pela condição feminina comum a todas as mulheres.

Em primeiro lugar a maternidade e em segundo o tipo de trabalho adequado ao seu sexo.

Percebe-se que seus legisladores também se apropriaram das representações femininas

incorporando-as aos fatores atenuantes. É sabido que as cativas realizavam todos os tipos de

trabalho, mas, em tese, cabia às mulheres o trabalho doméstico. Do mesmo modo a gravidez

redimia as mulheres dos seus pecados e, particularmente na ordem escravocrata, a imagem

maternal das negras significava também a decantada abnegação da “mãe preta”. Essas

ressalvas do Código Penal expõem a complexidade do Império. Nessa sociedade permeada de

contradições, havia que se atenuar a ação das escravas como agentes ativos da criminalidade

quando estivessem atreladas aos padrões relacionados aos lugares sociais ocupados

naturalmente pelas boas mulheres.

As penas aplicadas às rés, fontes desta pesquisa, demonstram que o grau de impunidade

das mulheres era elevado. Dentre os 73 processos pesquisados envolvendo 82 mulheres, 11

foram encerrados com a condenação. Mas, se observadas com o rigor necessário, podemos

constatar que apenas duas mulheres foram punidas com penas severas; uma com a prisão

perpétua e outra além de prisão perpétua e com trabalho análogo ao sexo. As demais, 9, não

ultrapassaram a prisão por seis meses com multa correspondente.

Estas condenações devem ser complementadas com uma análise mais acurada tanto em

relação à severidade das penas quanto à condição social das duas únicas condenadas com a

prisão perpétua: ambas eram escravas. A peculiaridade destas condenações é uma

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demonstração clara de que a intervenção da justiça, como um dos dispositivos de um conjunto

amplo de controle social, espelha a ordem vigente e as expectativas sociais acerca do

comportamento feminino no século XIX.

A condenação das escravas no interior paulista

As duas escravas condenadas cometeram homicídio contra a esposa e o filho de seus

senhores, crime percebido tanto pelos proprietários quanto pelo aparelho judiciário como

crimes limite, uma vez que atentavam frontalmente contra os princípios da sociedade

escravista. De acordo com Maria Helena Machado “o temor aos escravos permeou a

instituição escravista e encontrou, na Justiça, especial ressonância com a repressão exemplar

dos crimes contra a autoridade senhorial” (MACHADO, 1987). É o caso da Lei de 1835 que

considerava os cativos sujeitos de delitos, tanto quanto os homens livres e libertos, mas

distintos quanto às penas aplicadas. O texto da lei tinha como objetivo coibir e castigar

exemplarmente através da pena de morte os cativos que ousassem infringir o estatuto básico

da sociedade escravista. Em seu artigo 1º, a lei punia com pena máxima os escravos que “...

matarem por qualquer maneira que seja, propinarem veneno, ferirem gravemente ou fizerem

outra qualquer ofensa física a seu senhor, sua mulher, a descendentes ou ascendentes que em

sua companhia morarem, o administrador, feitor e à suas mulheres, que com eles viverem”

(MACHADO, 1987, p. 35).

Ainda de acordo com Machado, os locais privilegiados para a ocorrência dos crimes de

homicídios contra senhores e feitores era as grandes e a médias unidades agrícolas. Sob o

olhar vigilante do feitor, buscava-se obter uma alta produtividade escrava adequada aos

diferentes ciclos sazonais e às urgências da produção. No eito, uma disciplina cruel era

imposta pelo feitor munido de relho ou bacalhau. Para impor um ritmo menos intenso à rotina

árdua e sufocante do eito, os escravos criavam diversas artimanhas, como o jongo, entoado

em cadência monótona que impunha um ritmo comum ao trabalho das enxadas empunhadas

tanto pelos mais jovens quanto pelos mais idosos. Na época de pico de trabalho, os senhores

se faziam presentes nos eitos “tentando incutir nos escravos maior respeito às regras

disciplinares que redundariam numa aceleração do trabalho”( p. 93). Disciplina e vigilância

extremas resultaram na eclosão de homicídios perpetrados contra senhores e feitores,

estabelecendo limites às exigências pressentidas como injustas e irregulares “as quais urgia

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refrear, sob pena de tornar usual o ritmo excepcional de trabalho, legitimando uma disciplina

impiedosa” (MACHADO, 1987, p. 85).

Para Maria Sylvia de Carvalho Franco, a estrutura material das grandes propriedades

rurais condicionou uma complexa síntese de benignidade e extrema violência. Enquanto

núcleo doméstico, colocou os cativos em relação contínua e estreita com os membros da

família dominante onde o tratamento condescendente dispensado à ama de leite, à mucama,

ao companheiro de diversões infantis representam aspectos amenos da relação senhor -

escravo. No extremo oposto situava-se o cativo torturado para que a disciplina e a

continuidade do trabalho de sol a sol não fosse quebrada. Essa diversificação é decorrente das

situações particulares em que transcorriam contatos, isto é, o lar ou o eito. Mas, alerta a

autora, não se pode perder de vista que estas duas situações se constituíam numa unidade

econômica, a fazenda. Inseridas nessa formação social “as relações entre senhores e escravos

permanecem essencialmente as mesmas em qualquer das posições diferenciadas que estes

últimos possam ocupar em sua estrutura interna” (FRANCO, 1997, p. 212). Isto significa que

a mucama estava tão sujeita ao suplício legitimado por seu caráter de coisa, quanto o último

dos trabalhadores do eito.

Embora Machado e Franco não tenham feito referência à violência praticada pelas

escravas, contra seus senhores, ela é perfeitamente compreensível dado o caráter violento

desta relação de proximidade. Longe dos cafezais, lavando, cozinhando, amamentando,

recolhendo frutas e verduras nos quintais, as escravas também reagiram violentamente aos

conflitos que a proximidade doméstica acarretava.

No início do mês de junho de 1866 na Fazenda do Boi-Morto, a escrava Maria Antonia,

solteira, 24 anos, que se ocupava “de todos os serviços da casa de seus senhores” deu a luz

um bebê de cor parda. Dona Maria Theresa, senhora de Maria Antonia, exigia saber quem era

o pai da criança, e mais precisamente se era seu marido, prometendo castigá-la caso não

dissesse. Porém, a cativa negava-se a dizer quem era o pai de sua filha. Entre ameaças e

negativas transcorreu um mês até que um incêndio tomou conta da casa de Dona Maria

Theresa que teria morrido vitimada pela ação das chamas. A certeza quanto à causa da morte

foi suficiente para a não realização do auto do corpo de delito regulamentar e o corpo foi

sepultado. Entretanto, motivado pela “voz pública” (termo recorrentemente utilizado nos

autos) o Juiz de Direito determinou a exumação do cadáver e a apuração dos fatos. Constatou-

se que a vítima recebera uma forte pancada na cabeça, motivando sua morte e não o incêndio

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como anteriormente se constatara. Foi aberto o processo e Maria Antonia confessou que na

noite do crime havia esperado Dona Maria Theresa dormir em companhia de seus dois filhos

menores, dirigiu-se ao quarto, pegou a tranca da porta e com ela atingiu a cabeça da vítima

que imediatamente morreu. Em seguida tomou de uma candeia que estava no quarto, colocou

fogo na cama de sua senhora e gritou por socorro tão logo as chamas atingiram o leito.

Ouvindo os gritos, o irmão da vítima que dormia no cômodo ao lado ajudou a escrava a retirar

as duas crianças que também dormiam no quarto.

Esta versão dos fatos confessada pela ré foi endossada por outras testemunhas que

atestaram a antiga inimizade existente entre senhora e escrava. Mas quase no final do

processo, uma declaração da cativa Maria Antonia mudava a lógica dos fatos até então

apurados:

Perguntada se tem algum motivo particular a que atribua a acusação?

Respondeu que seu senhor José Messias levou-a para a horta onde amarrou-a e começou a castiga-la para ela respondente dizer que foi a autora da morte

e que se assim dissesse ele havia de forra-la ou levar para a casa de seu

senhor velho ou ainda para o sertão e que então ela disse que foi ela a autora do crime por causa de sua filha (...). Perguntada se tem fatos a alegar ou

prova que justifiquem ou prove sua inocência? Respondeu que nada fez, que

é inocente e jurou por jurar 9.

Embora muito recorrente, não é possível determinar se os réus mudavam seus

depoimentos em virtude de torturas a eles impostas para que confessassem o crime ou se

tratava de uma estratégia dos defensores que instruíam os réus para que simplesmente

mentissem. Importa lembrar que escravos não podiam ser testemunhas juradas nos processos-

crime, apenas informantes. Portanto, a validade ou não de seus depoimentos ficava a cargo da

apreciação do juiz. A fala do cativo (legalmente por meio de um curador) em confronto com

provas materiais ou relatos de testemunhas juradas fazia com que, na maioria das vezes, fosse

ineficaz. Por outro lado, “quando tratou-se de confissões feitas em juízo pelos cativos

acusados, a fala dos escravos apresentou grande validade.” (FERREIRA, 2003, p. 52).

A mudança na confissão de Maria Antonia não convenceu os jurados e ela foi

condenada pelo Juiz de Direito, de acordo com a lei de 10 de junho de 1835, à morte.

Posteriormente, pela “Graça do Poder Moderador” a pena foi comutada em prisão perpétua.

Por mais que a convivência diária estreitasse laços de afeto entre senhores e escravos, a

vida dos cativos estava submetida à vontade de seus senhores que dispunham da prerrogativa

9 AHMF, 1866. Caixa 24, códice 659.

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dos castigos, amparados que estavam pela lei e pelos costumes. O que podemos auferir é que

o crime praticado por Maria Antonia fora tramado anteriormente e foi possível ocultá-lo por

algum tempo, a ponto de ser necessária a exumação do cadáver. Este fato demonstra um

comportamento bastante calculado, apontando semelhanças com o crime perpetrado pela

outra escrava condenada à prisão perpétua.

No início da década de 1880 , o Major Claudiano Ferreira Martins era o detentor da

maior posse de escravos, 40 (quarenta), na localidade de Franca. Além da extensa escravaria,

o major possuía mais de uma fazenda, entre as quais os cativos eram distribuídos de acordo

com as necessidades do trabalho.10

Em novembro de 1885 na Fazenda Vangloria, João Garcia

Ferreira Martins, 25 anos, feitorizava o trabalho dos cativos de seu pai na casa que abrigava a

máquina de beneficiar café. João Garcia estava costurando uma correia sobre a roda da

máquina, quando se desequilibrou e caiu no “caixão de separar café”. Simultaneamente, em

cima do rapaz caiu uma pesada viga de madeira que se desprendera da “beneficiadora”

atingindo-o mortalmente na cabeça. As escravas que trabalhavam no local correram para

avisar o senhor que, no entanto, não teve coragem de ver o filho morto. No dia seguinte, o

rapaz foi sepultado no Cemitério Religioso da Fazenda Jaborandy. Um mês mais tarde, em

virtude de um desentendimento entre duas escravas da fazenda, Firmina e Ricarda, a segunda

cativa relatou os fatos referentes à morte do senhor moço incriminando Firmina como

assassina. Exumado o cadáver constatou-se que a vítima havia falecido em razão de pancadas

desferidas em sua cabeça.

Interrogada, a escrava Firmina confessou com detalhes o crime:

Perguntada se conheceu um filho de seu senhor de nome João? Respondeu que conhecia e que já morreu. Perguntada do que morreu esse seu senhor

moço respondeu que ela respondente o assassinara, dando-lhe com uma mão

de pilão uma pancada sobre os ouvidos, com a qual caíra o mesmo ofendido e que ela respondente depois desta pancada estando o mesmo atirado ao

chão já nas agonias da morte, ela respondente acompanhou sua companheira

Ricarda para precipita-lo no caixão do separador da máquina 11

.

Em seguida obrigou duas escravas menores, Graciana e Roza, a colocarem o corpo no

caixão separador de café. Aterrorizadas por terem presenciado o crime, as escravas

cumpriram as ordens de Firmina que instruiu a todos para que o crime parecesse um acidente,

obtendo sucesso até que Ricarda a denunciasse. Todas as testemunhas ouvidas disseram que o

10 MHMF. Edital da Coletoria Provincial por ocasião do lançamento da cobrança de tributos sobre cativos.

Publicado no jornal O Nono Distrito, 15 e 20 de dezembro de 1884. 11 AHMF, 1885. Caixa 4, códice 1160.

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Major Claudiano era bom senhor por não deixar faltar comida nem vestuário aos escravos,

castigando-os quando estes não trabalhavam bem.

Contrariando essas afirmações, em seu depoimento Firmina disse que seu senhor era

bom, porém em uma ocasião por ela não ter revelado um furto praticado por suas

companheiras teria sido castigado com severidade. Ouvida como testemunha, Genoveva

Cypriana acrescentou que “... não havia inimizade da vítima com Firmina, sendo certo porém,

que em um dia que ela não se recorda, João Garcia chegando a porta da cozinha e dizendo à

Firmina: „vamos para a roça, você está muito mangona‟. Firmina respondeu „vai diabo, um

dia nós havemos de acabar na porta do inferno‟”.

As conclusões do delegado de polícia, logo após Firmina ter confessado em juízo a

autoria do assassinato, recomendavam que após “confissão tão espontânea, que revela ou

muita perversidade ou sofrimento nas faculdades mentais, proceda-se exame na mesma,

verificando se sofre ou não de desarranjo mental.” O exame físico foi realizado e detectado

sua total consciência, mas não se descobriu o motivo pelo qual ela cometera o crime. No final

de seu depoimento, Firmina dizia que “no dia que não reza, o tinhoso atenta a ela...”.

Sendo crime público, a denúncia foi dada pelo promotor público, mas ainda assim em

09 de fevereiro de 1886, o Major Claudiano Ferreira Martins direcionou uma queixa relativa

ao homicídio praticado por Firmina, solicitando que a mesma fosse condenada “com todo

rigor” do artigo 1º da lei excepcional de 10 de junho de 1835.

Por unanimidade de votos, a escrava foi condenada à pena de prisão perpétua com

trabalho análogo ao seu sexo.

Considerações finais

As pesquisas demonstraram que as condenações dos escravos são extremamente

coerentes com as expectativas de ordem e convívio social propostas pela elite, tanto no

interior paulista quanto no interior mineiro, regiões qualificadas como “sertões” pelos

viajantes do século XIX. Ainda que a convivência diária estreitasse laços de afeto entre

senhores e escravos, a vida dos cativos estava submetida à vontade de seus senhores que

dispunham da prerrogativa dos castigos, amparados que estavam pela lei e pelos costumes.

Por mais que interroguemos as fontes jamais saberemos realmente do medo que os escravos

sentiam perante a possibilidade de serem vítimas da violência senhorial, ou qual o limite

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suportável da condição servil que desencadeava os atentados violentos, ou seja, nos casos

aqui apresentados, a criminalidade escrava. O crime é uma construção cultural, definido pela

lei em decorrência do que a sociedade concebe como ameaçador e como tal deve ser

reprimido ou punido. Como afirma Michelle Perrot:

Não existem fatos criminais em si mesmos, mas um julgamento criminal que

os funda, designando ao mesmo tempo seus objetos e seus atores, num

discurso criminal que traduz as obsessões de uma sociedade. Toda a questão é saber como ele funciona e muda e em que medida exprime o real, como aí

se operam as diversas mediações (PERROT, 1988, p.244).

Nesse sentido, investigar as discussões acerca das normas jurídicas nos permite

compreender o modelo de sociedade da qual ela é fruto, o que se considera como socialmente

positivo, aceitável ou passível de punição. Conforme demonstramos anteriormente, um

extenso aparato jurídico de repressão contra os escravos foi elaborado no Império. Além do

Código Criminal, à medida que o Estado reforçava sua presença na sociedade local, as

Câmaras elaboravam as Posturas Municipais com vistas à manutenção da ordem e da

segurança no interior das províncias. A legislação, de modo geral, objetivava intimidar os que

atentavam contra a manutenção do status quo concebendo penas gradativas de acordo com a

gravidade representada pela infração e pela condição social do infrator. Portanto, com a

punição, a sociedade efetuava sua conservação e ao mesmo tempo tentava se precaver de um

perigo futuro.

Porém, não devemos considerar essas condenações exclusivamente como o

mascaramento ideológico das intenções das classes dominantes. Como alerta Edward P.

Thompson:

Se a lei é manifestamente parcial e injusta, não vai mascarar nada, legitimar nada, contribuir em nada para a hegemonia de classe alguma. A condição

prévia essencial para a eficácia da lei, em sua função ideológica, é a de que

mostre uma independência frente a manipulações flagrantes e pareça ser

justa (THOMPSON, 1987, p.354).

O autor enfatiza a idéia do Direito como um espaço de constantes embates, cuja

manifestação na sociedade visa apresentá-lo de forma potencialmente autônoma e a mudança

nas suas regras faz parte do desenvolvimento das correlações de força de uma sociedade.

O autor não nega a assertiva mais geral de que o Direito exerce funções classistas, mas

rejeita as teses que se iniciam com este pressuposto pois, como instrumento de mediação entre

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as classes, pode ter resultados imprevistos desde que os “dominados” tenham condição de

recorrer ao aparato jurídico. Thompson demonstrou que ao lado do seu caráter opressivo há

nas leis uma restrição ao poder desenfreado da classe dominante, reconhecendo a autonomia

adquirida pela legislação a partir do momento de sua elaboração. Este ponto de vista embasou

e contribuiu para a análise do embates travados entre senhores e escravos em regiões distintas,

tal como o trabalho aqui apresentado.

Fontes

- DPDOR/AFGC. Divisão de Pesquisa e Documentação Regional da Unimontes/Arquivo do

Fórum Gonçalves Chaves. Processos criminais.

- AHMF. Arquivo Histórico Municipal de Franca. Processos criminais.

- DAESP. Departamento de Arquivo do Estado de São Paulo.

- MHMF. Museu Histórico Municipal de Franca.

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