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1 Pró-Reitoria de Graduação Curso de Enfermagem Trabalho de Conclusão de Curso SÍNDROME DE STEVENS-JOHNSON E NECRÓLISE EPIDÉRMICA TÓXICA EM UM HOSPITAL PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL Autoras: Mariane F. B. Emerick Mayra M. T. Rodrigues Orientadora: Prof. Drª. Leila B. D. Göttems Brasília - DF 2012

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Pró-Reitoria de Graduação Curso de Enfermagem

Trabalho de Conclusão de Curso

Pró-Reitoria de Graduação

Curso de Enfermagem

Trabalho de Conclusão de Curso

Pró-Reitoria de Graduação

Curso de Enfermagem

Trabalho de Conclusão de Curso

Pró-Reitoria de Graduação

Curso de Enfermagem

Trabalho de Conclusão de Curso

SÍNDROME DE STEVENS-JOHNSON E NECRÓLISE

EPIDÉRMICA TÓXICA EM UM HOSPITAL PÚBLICO DO

DISTRITO FEDERAL

Autoras: Mariane F. B. Emerick Mayra M. T. Rodrigues

Orientadora: Prof. Drª. Leila B. D. Göttems ms

dfjf

Autoras: Mariane F. B. Emerick

Mayra M. T. Rodrigues

Orientadora: Dr. Leila B, D, Gottems

Brasília - DF 2012

2

MARIANE FERREIRA BARBOSA EMERICK

MAYRA MARTINS TOLEDO RODRIGUES

SÍNDROME DE STEVENS-JOHNSON E NECRÓLISE EPIDÉRMICA TÓXICA EM

UM HOSPITAL PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL

Artigo apresentado ao curso de graduação em

Enfermagem da Universidade Católica de

Brasília, como requisito parcial para obtenção

do Título de Bacharel em Enfermagem.

Orientador: Prof. Dr. Leila Bernardo Donato

Göttems

Co-orientadora: Prof. Esp. Daniella Melo

Arnaud Sampaio Pedrosa

Brasília

2012

3

Dedicamos este trabalho primeiramente a

Deus por ter nos dado o dom da vida e a

salvação, somente pelo seu amor e graça. Aos

nossos amados maridos, que sempre estiveram

e estão ao nosso lado, nos incentivando,

cuidando, amando e patrocinando.

Agradecemos ainda às nossas famílias que

proporcionaram a realização desse sonho. E

por fim, porém não menos importante, aos

nossos amados amigos pela força e carinho.

“Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez

digo: alegrai-vos”. Fp. 4.4

4

Agradecemos às professoras Leila Göttems e

Daniella Mello pela paciência ao nos orientar.

A todos os professores que nos acompanharam

ao longo da graduação e nos prepararam para

essa nova jornada de nossas vidas. E também

aos enfermeiros Denildo F. Menezes e Ana

Clara Salles, da Unidade de Tratamento de

Queimados, do Hospital Regional da Asa

Norte pela colaboração no acesso aos dados.

5

“A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la

como arte, requer uma devoção tão exclusiva,

um preparo tão rigoroso, quanto à obra de

qualquer pintor ou escultor; pois o que é tratar

da tela morta ou do frio mármore comparado

ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de

Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a

mais bela das artes!”

Florence Nightingale

6

SÍNDROME DE STEVENS-JOHNSON E NECRÓLISE EPIDÉRMICA TÓXICA EM

UM HOSPITAL PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL

MARIANE FERREIRA BARBOSA EMERICK

MAYRA MARTINS TOLEDO RODRIGUES RESUMO:

Objetivo: Analisar as características dos casos clínicos de pacientes acometidos por Síndrome

de Stevens-Johnson e a Necrólise Epidérmica Tóxica, seguindo variáveis que permitam

delinear um perfil epidemiológico relacionado a essas afecções.

Métodos: Estudo descritivo retrospectivo com abordagem quantitativa. Coletou-se dados por

meio de análise documental de 22 prontuários de pacientes tratados no Hospital Regional da

Asa Norte (HRAN), Distrito Federal, no período de janeiro de 2002 a setembro de 2012, na

Unidade de Terapia Intensiva e Unidade de Tratamento de Queimados.

Resultados: 68% dos pacientes foram diagnosticados com NET, 45% das reações foram

causadas por antiepilépticos, 73% dos fármacos foram prescritos, 59% dos pacientes eram do

sexo feminino e a faixa etária mais acometida foi dos 21 aos 40 anos. O setor que mais

admitiu pacientes foi a Unidade de Tratamento de Queimados, com 59% dos casos. A média

de tempo de internação de 14,55 dias, 95% dos pacientes obtiveram cura, dos prontuários que

continham a informação 43% sofreram queimaduras de 2° grau e, o ano que apresentou o

maior número de casos foi 2012.

Conclusão: As principais características dos casos estudados foram a predominância da NET,

o acometimento na idade adulta, no sexo feminino, e a queimadura de segundo grau. As

medicações indutoras foram prescritas, sendo os antiepilépticos, os mais frequentes.

Recomenda-se maior rigor na farmacovigilância, nos registros clínicos nos prontuários, bem

como no acompanhamento posterior a internação.

Palavras-chaves: Unidade de Tratamento de Queimados; Síndrome de Stevens-Johnson;

Necrólise Epidérmica Tóxica.

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como objetivo analisar as características dos casos clínicos de

pacientes acometidos por Síndrome de Stevens-Johnson (SSJ) e a Necrólise Epidérmica

Tóxica (NET), tratados em um hospital público, referência em tratamento de queimados, no

Distrito Federal. Os dados analisados foram a idade, sexo, fármacos que mais desencadeiam

essas reações, se prescritos ou consumidos por automedicação, o número de dias da

administração do fármaco até o surgimento dos sintomas, a área total da superfície corporal

atingida, o tempo e setor de internação, os desfechos (óbito ou cura) e número de casos por

ano. Busca-se delinear um perfil epidemiológico relacionado a essas afecções, auxiliando na

divulgação e conhecimento das mesmas e também da farmacovigilância.

Farmacovigilância é a ciência relativa à detecção, avaliação, compreensão e prevenção

dos efeitos adversos ou quaisquer problemas relacionados a medicamentos. No ano de 2002,

ampliou-se a definição, contemplando quaisquer problemas relacionados a medicamentos,

como queixas técnicas, erros de medicação e interações medicamentosas1. Essa detecção se

realiza por meio das Notificações de Reações Adversas a Medicamentos, que são respostas a

um fármaco prejudicial, não intencional, e que ocorra nas doses normalmente utilizadas em

7

seres humanos para profilaxia, diagnóstico e tratamento de doenças, ou para a modificação de

uma função fisiológica2.

A SSJ e a NET são desencadeadas por reações graves de hipersensibilidade após o uso

de determinadas drogas ou contato com microorganismos. A SSJ é uma afecção inflamatória

aguda, febril e autolimitada, com duração aproximada de duas a quatro semanas, que afeta a

pele e a membrana mucosa3. Foi relatada em 1922, quando Stevens e Johnson descreveram

dois pacientes com erupções cutâneas generalizadas, febre contínua, mucosa oral inflamada e

conjuntivite purulenta grave4. A doença tem início súbito, com febre de 39-40 ° C, dor, mal-

estar, cefaléia e dor de garganta e na boca. Logo os sintomas evoluem com agravamento, com

pulso fraco e rápido, respiração rápida, prostração e dores articulares5. Estomatite é um

sintoma precoce, bolhas nos lábios, língua e mucosa oral, é agravada pela pseudomembrana,

perda de sangue, salivação e feridas que dificultam a alimentação e ingestão de bebidas5. O

rosto, mãos e pés são invadidos por uma erupção hemorrágica, vesícula, bolha ou petéquias,

com inflamação de alguns ou de todos os orifícios, boca, nariz, conjuntiva, uretra, vagina e

ânus. Essas lesões mostram-se espalhadas por todo o corpo. A vaginite pode ser erosiva

grave. Não é incomum desenvolver uma pneumonia5. As bolhas geralmente não determinam

descolamento epidérmico maior do que 10% da superfície corpórea6,7

.

O termo "Necrólise Epidérmica Tóxica (NET)" foi introduzido por Lyell em 19566.

Necrólise é o termo proposto para descrever a necrose isolada da camada epidérmica pelo

destacamento da epiderme, onde praticamente não se vislumbram as alterações de caráter

inflamatório, habitualmente presentes em situações de eritema tóxico6,8

.

A NET tem como características iniciais sintomas inespecíficos, influenza-símile, tais

como febre, dor de garganta, tosse e queimação ocular, considerados manifestações

prodrômicas que precedem em um a três dias o acometimento cutâneo-mucoso. Erupção

eritematosa surge simetricamente na face e na parte superior do tronco, com extensão

craniocaudal, provocando sintomas de queimação ou dor da pele. Em cerca de dois a cinco

dias ou, por vezes, em questão de horas, ou, mais raramente, em cerca de uma semana, ocorre

o estabelecimento completo da extensão do quadro cutâneo6. O ápice do processo é

constituído pela característica desnudação da epiderme necrótica, a qual é destacada em

verdadeiras lamelas ou retalhos, dentro das áreas acometidas pelo eritema de base6, e a área

total de superfície corporal queimada é > 30%7,9

. O sinal de Nikolsky torna-se positivo sobre

grandes áreas da pele. Muitos órgãos internos são acometidos pelo mesmo processo

patológico que envolve a pele, determinando um espectro de manifestações sistêmicas6.

Quando há o acometimento de 10-30% do tegumento cutâneo estamos perante uma

sobreposição das duas situações7,10

.

As drogas que mais desencadeiam a reação, segundo a literatura, são as sulfonamidas,

antiinflamatórios, penicilina, barbitúricos, alopurinol, antiepilépticos e vacinas; entre os

micro-organismos mais citados na literatura está o Mycoplasma pneumoniae, vírus como

Herpes simplex, entre outros8,11

.

O mecanismo exato de desenvolvimento da SSJ e da NET ainda não se encontra bem

definido. Sabe-se que são distúrbios mediados pelas células T citotóxicas. Alguns autores

sugerem a participação de metabolismo alterado das drogas, com a predominância de um

genótipo de acetiladores lentos entre os pacientes com SSJ e NET, e deficiência nos

mecanismos envolvidos na detoxificação de metabólitos intermediários reativos6.

As complicações mais frequentes da SSJ e da NET são sepse não reconhecida e não

tratada, havendo possibilidade de morte. A ceratoconjuntivite pode prejudicar a visão e

resultar em retração conjuntival, cicatrização e lesão da córnea12

.

A SSJ e NET ocorrem em aproximadamente duas a três pessoas por milhão/ano na

Europa e EUA. Acometem pacientes de todas as idades, raças e sexo4, sendo 20% crianças e

adolescentes13

. O pico de incidência, porém, está na segunda década de vida14

.

8

Dados brasileiros são escassos em relação à sua prevalência; a SSJ varia de 1.2 a 6 por

milhões/ano e a NET, a 0.4 a 1.2 por milhões por ano. Esta síndrome é fatal em 5% dos casos

e a NET em 30%4,7

. Alguns fatores podem ser predisponentes, como comorbidades múltiplas

e o uso de medicamentos para tratá-las, idade avançada, susceptibilidade genética e doenças

com ativação imune4.

Sequelas são mais comuns na fase tardia da NET. Os mais encontrados são: hiper ou

hipopigmentação da pele (62,5%), distrofias das unhas (37,5%) e complicações oculares.

50% dos pacientes desenvolvem mais tarde esses problemas, incluindo, olhos secos (46%),

triquíase (16%), simbléfaro (14%), distiquíase (14%), perda da visão (5%), entrópio (5%),

ancilobléfaro (2%), lagophthalmos (2%) e ulceração da córnea (2%). Cicatrizes hipertróficas

só são vistas em poucos pacientes. Complicações a longo termo envolvendo as mucosas

ocorrem em 73% dos pacientes que apresentam envolvimento da mucosa na fase aguda da

doença, e essas sequelas envolvem, principalmente, a mucosa oral e esofagiana e se estendem

menos para a mucosa pulmonar e genital10

.

Quando se aborda um paciente com SSJ ou NET é necessário determinar a Área Total

de Superfície Corporal Queimada (ATSQ). Essa avaliação é realizada de duas formas: a

Regra dos Nove de Wallace, a soma aritmética das áreas queimadas. Esta regra emprega valor

igual a nove ou múltiplo de nove às partes atingidas do corpo do adulto, nove para cada

membro superior, 9% para cabeça, 18% para cada membro inferior, 18% para cada face do

tronco e um para genitália. Porém, em crianças algumas partes tem valores diferentes. Em

crianças de até 1 ano cabeça e pescoço são 19% e cada membro inferior 13%. Em crianças de

1-10 anos cabeça e pescoço são 19% menos a idade e, cada membro inferior 19% mais (idade

dividido por 2). Esse é o método com mais aceitação e mais empregado. Outra forma

utilizada é o Esquema de Lund-Browder, que leva em consideração as proporções do corpo de

acordo com a idade15

, que se diferencia do anterior por alterar os valores da ATSQ, sendo

considerado mais preciso.

Outro ponto a ser analisado é o Grau de Queimadura, ou seja, a profundidade do

trauma na pele, sendo elas: Lesão de 1º Grau: atinge a camada mais externa da pele, a

epiderme. Clinicamente a lesão é hiperemiada, úmida, doloroso; Lesão de 2º Grau: Pode ser

diferenciada em superficial e profunda. Sendo que na superficial há o acometimento de toda

epiderme e parte da derme, conservando razoável quantidade de folículos pilosos e glândulas

sudoríparas. Clinicamente, caracteriza-se pela presença de bolhas, eritema, exsudação e dor

intensa. Quando se rompem as bolhas, deixam à mostra uma superfície rósea e úmida de

erosão ou ulceração. Na queimadura profunda há destruição de quase toda a derme e tem

comportamento mais próximo da queimadura de 3° grau. Tem coloração mais pálida, é menos

dolorosa e acarreta maior repercussão sistêmica. Lesão de 3º Grau: Acomete a totalidade das

camadas da pele (epiderme e derme) e, em muitos casos, outros tecidos, tais como tecido

celular subcutâneo, músculo e tecido ósseo. Clinicamente apresenta um aspecto

esbranquiçado ou marmóreo; há redução da elasticidade tecidual, tornando-se rígido15

.

TRATAMENTO

O tratamento e o prognóstico da SSJ e da NET serão abordados conjuntamente6. As

metas do tratamento incluem o controle do equilíbrio hidroeletrolítico, prevenção da sepse e

prevenção das complicações oftalmológicas12

. Todos os medicamentos não-essenciais são

interrompidos imediatamente7,12

.

Os líquidos intravenosos são prescritos para manter o equilíbrio hidroeletrolítico7,12

,

principalmente no paciente que apresenta envolvimento de mucosa grave e que não consegue

realizar a nutrição por via oral com facilidade. Como um cateter intravenoso de demora pode

9

ser um sítio de infecção, a reposição hídrica é efetuada por sonda nasogástrica e, em seguida,

por via oral, logo que possível12

.

O doente com SSJ ou NET deve ser manipulado em ambiente aquecido (entre 30-32°

C), condições estéreis e evitar um trauma cutâneo 16

. A limpeza regular da ferida é essencial

para a boa evolução do paciente queimado. Diante desse fato utiliza-se a balneoterapia, com a

participação do anestesista, que possibilita a manipulação do paciente sem a preocupação com

os estímulos dolorosos. O banho e a limpeza das feridas são realizados pela enfermagem, sob

supervisão da equipe médica. Antes do início da administração de drogas, muitas vezes até a

higiene bucal é realizada na mesa de banhos 17

.

O tratamento tópico mais utilizado é a Sulfadiazina de prata a 1%15

, indicada para

prevenção e tratamento de feridas com grande potencial de sepse (queimaduras, úlceras

varicosas, úlceras por pressão e feridas cirúrgicas infectadas)18

.

METODOLOGIA

Realizou-se pesquisa descritiva que têm como objetivo primordial a descrição das

características de determinada população ou fenômeno19

. O estudo foi retrospectivo, uma vez

que se coletaram dados dos casos de NET e SSJ que ocorreram no passado, no período de

2002 a 2012, porém somente a partir de 2005 foram encontrados casos registrados. Foi

desenvolvido no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), público, inaugurado em 1984,

referência no tratamento de sequelas de queimaduras no DF, na Unidade de Terapia Intensiva

(UTI) e Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ).

A coleta de dados realizou-se no período de 09 de agosto a 10 de setembro de 2012,

por meio da análise documental de 22 prontuários, físicos e eletrônicos, de pacientes que

tiveram o diagnóstico confirmado de SSJ ou NET entre os anos de 2005 e 2012. As variáveis

do trabalho foram número de casos por ano, idade, sexo, fármaco, se esse foi prescrito ou

automedicação, tempo de internação, setor de internação, se o paciente evoluiu a óbito ou se

obteve cura, área total da superfície corporal queimada, grau de queimadura e diagnóstico

(SSJ, SSJ-NET ou NET). Os dados foram tabulados no Excel versão do Office 2007.

Projeto aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da SES-DF, conforme parecer

número 164/2012.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados serão apresentados divididos em três categorias: distribuição do número de

casos por ano, caracterização por diagnóstico, faixa etária, área total de superfície corporal

queimada. E por fármaco desencadeador, setor de internação e profundidade da queimadura.

Foram levantados 22 casos entre os anos de 2005 a 2012, conforme Tabela 1. No ano de 2005

a unidade de queimados do HRAN recebeu o primeiro paciente com essa afecção. E em 2012

houve o maior número de diagnósticos confirmados, 7 pacientes.

10

Tabela 1- Distribuição de casos por ano, no período de 2005 a 2012. Brasília-DF, 2012.

Ano Número de casos

2005 1

2006 2

2007 5

2008 1

2009 2

2010 3

2011 1

2012 7

Tabela 2- Caracterização dos casos de SSJ e NET, por diagnóstico, faixa etária, área total de

superfície corporal queimada, do período de 2005 a 2012. Brasília-DF, 2012.

Quantidade %

DIAGNÓSTICO (n22)

SSJ 7 32

NET 9 41

Sem diferenciação 6 27

FAIXA ETÁRIA (n22)

11 a 20 4 18

21 a 30 5 23

31 a 40 5 23

41 a 50 1 4

51 a 60 4 18

Acima de 60 3 14

MEDIA IDADE 38,5

ÁREA TOTAL DE SUPERFÍCIE CORPORAL

QUEIMADA (ATSQ) (n20)

0 a 10% 1 5

11 a 30% 4 18

Acima de 31% 15 68

Dos 22 prontuários analisados (eletrônicos e físicos), de pacientes com diagnóstico

confirmado de SSJ e NET, que foram internados na Unidade de Tratamento de Queimados

(UTQ) e Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do HRAN, 7 casos foram diagnosticados como

SSJ, 9 como NET e em 6 casos não houve diferenciação entre SSJ ou NET (Tabela 2).

Em relação à definição do diagnóstico encontrado nos prontuários observou-se que 9

pacientes foram diagnosticados com NET, porém, os critérios usados para o diagnóstico

médico são: a SSJ acomete <10% da superfície corporal, SSJ-NET, simultaneamente, 10-30%

e a NET>30%10

. Neste sentido, analisou-se 20 pacientes que possuíam a informação da área

total da superfície corporal queimada (ATSQ). Somente 1 paciente teve menos de 10% da

superfície corporal atingida, que seria o único com diagnóstico exclusivo de SSJ. Os demais,

4 pacientes deveriam ter sido diagnosticados com SSJ-NET simultaneamente, porém nenhum

foi diagnosticado dessa forma e, 15 deveriam ter sido diagnosticados com NET.

No HRAN o método usado para determinação da ATSQ é a Regra dos Nove de

Wallace, método que permite avaliar a porcentagem de forma rápida15

. Entre os 22 pacientes

11

avaliou-se o grau de queimadura, porém somente 16 prontuários continham essa informação,

sendo que 43% dos casos eram lesões de 2º grau.

Em relação à faixa etária dos pacientes, de acordo com a análise de prontuário,

percebeu-se que houve o maior acometimento entre 21 a 40 anos (10 pacientes). Sendo a

média de idade de 37,6 anos. Os dados encontrados contrapõem-se à literatura, que afirma que

o pico de incidência está na segunda década de vida14

. Em relação ao gênero, predominou o

sexo feminino, com 62% dos casos, estando em concordância com a literatura que diz que de

modo geral há uma nítida predominância entre as mulheres6. Entre os pacientes estudados

57% permaneceram internados somente na UTQ, com média de tempo de internação de 14,55

dias. Sabe-se que todo paciente com SSJ ou NET devem ser encaminhados para a UTQ ou

para a UTI16

.

Tabela 3- Caracterização dos casos de SSJ e NET, por fármaco desencadeador, setor de

internação, profundidade da queimadura, no período de 2005 a 2012. Brasília-DF, 2012.

Quantidade %

FÁRMACOS (n21)

Antiepilépticos 10 45

Antibióticos 4 18

Analgésicos/Antitérmicos 2 9

Antigotoso 1 4

Corticosteróides/Antibióticos 1 4

Corticosteróides/Antiepilépticos 1 5

Antihipertensivo/Antiepilépticos 1 5

Antihipertensivo/Analgésico 1 5

SETOR DE INTERNAÇÃO (n22)

UTQ 13 59

UTQ/UTI 4 18

UTQ/Dermatologia 1 4

UTQ/Plástica 1 5

UTQ/Pediatria 1 5

UTI 2 9

PROFUNDIDADE DA QUEIMADURA (n16)

2º Grau 9 41

Superficial 6 27

Parcial Profunda 1 5

As drogas que mais desencadearam a reação, entre os casos estudados, foram os

antiepilépticos tendo o percentual de 47% dos casos e, os antibióticos foram responsáveis pelo

acometimento de 14% dos casos. Estudos realizados em São Paulo no ano 2006 encontraram

as sulfonamidas e penicilinas4, como drogas que mais desencadeiam estas reações.

Devido à cultura da população brasileira de se automedicar, levantou-se o

questionamento se esse hábito seria responsável pelos casos. Dos 22 casos, apenas 18

continham essa informação. Desses somente 2 usaram medicamentos sem prescrição médica.

A automedicação é um procedimento caracterizado fundamentalmente pela iniciativa de um

doente, ou de seu responsável, em obter ou produzir e utilizar um produto que acredita lhe

trará benefícios no tratamento de doenças ou alívio de sintomas20

.

12

Outro aspecto avaliado foram desfechos dos casos de SSJ e NET que passaram pela

internação no HRAN. A taxa de mortalidade da SSJ é de 1-5% e da NET 25-35%9. Observou-

se que 5% (1 paciente) dos casos analisados evoluíram para óbito. A paciente que evoluiu

para óbito tinha 90% da área total de superfície corporal queimada, coerente com o

diagnóstico de NET, confirmando os achados literários quanto à maior probabilidade de

mortalidade. Outro fator a ser avaliado é a idade avançada, comorbidades múltiplas e uso de

medicamentos para tratá-las sendo predisponentes para surgimento da patologia4. Nesse caso,

a paciente era hipertensa, fazia uso de medicação e tinha 70 anos de idade.

Inicialmente existia outra variável, que seriam as sequelas (tanto físicas quanto

psicológicas), porém não foi possível avaliá-las devido a falta de informação nos prontuários

dos pacientes.

O tratamento tópico mais utilizado na UTQ são os Ácidos Graxos Essenciais (AGE),

utilizado para prevenção de úlceras por pressão, prevenção e tratamento de feridas abertas.

Apesar de não apresentar como contraindicação seu uso em queimaduras, não possui uma

base científica que justifique sua utilização em pacientes queimados, porém a justificativa

dada pelo setor é a de que a Sulfadiazina de prata, que tem como indicação queimaduras,

possui uma ação bactericida e esses costumam ser responsáveis pela SSJ e pela NET.

Em relação às notificações das reações adversas a medicamentos houve uma

divergência em relação à existência da farmacovigilância no HRAN. Os profissionais de

saúde demonstraram desconhecimento em relação a este procedimento e divergências de

papeis entre farmacêuticos e os demais profissionais e entre os diferentes setores do hospital.

Não foi possível verificar se a notificação das reações adversas é realizada, uma vez que o

setor responsável não confirmou a realização das mesmas, trazendo um prejuízo de

informação.

CONCLUSÃO

Nesse estudo foram encontradas limitações nos registros dos prontuários físico e

eletrônico dos pacientes, principalmente relacionadas às sequelas e ao acompanhamento

ambulatorial posterior à internação. Essas informações são importantes, dada às

características desses agravos, que apesar de rara, gera um forte impacto econômico e social,

pois se trata de uma entidade crônica com capacidade de causar cegueira, modificações na

pele, e ainda uma sobrecarga psicológica, em pacientes numa faixa etária geralmente

produtiva.

Os resultados obtidos mostraram que 68% dos pacientes obtiveram o diagnóstico de

NET, a maioria dos fármacos foram prescritos, sendo os antiepilépticos a principal classe

desencadeadora, predominou o sexo feminino e a faixa etária de 21 aos 40 anos. O setor que

mais admitiu pacientes foi a Unidade de Tratamento de Queimados, a média de tempo de

internação foi de 14,55 dias, 95% dos pacientes obtiveram cura, dos prontuários que

continham a informação, 43% sofreram queimaduras de 2° grau e, o ano com maior número

de casos foi 2012, com registro de 7 pacientes até o mês de setembro.

Observou-se também divergência nos diagnósticos se considerarmos a literatura.

Apesar de não trazer prejuízo no tratamento, houve um equívoco quanto ao diagnóstico em

grande parte dos pacientes, pois não levaram em consideração a porcentagem da ATSQ que é

um parâmetro de diferenciação entre SSJ e NET.

Diante dos dados analisados, recomenda-se maior rigor na farmacovigilância, nos

registros clínicos nos prontuários, bem como no acompanhamento posterior a internação. E

também a educação permanente dos funcionários da unidade, visando o melhor atendimento

dos pacientes acometidos pela SSJ e pela NET.

13

Stevens–Johnson Syndrome and Toxic Epidermal Necrolysis in a public hospital of

Distrito Federal, Brazil.

ABSTRACT Objective: Analyze the characteristics of clinical cases of patients suffering from Stevens-Johnson

Syndrome and Toxic Epidermal Necrolysis following variables that allow tracing an epidemiologic

profile related to these disorders.

Methods: A retrospective descriptive study of quantitative approach. Data was gathered through

documentary analysis of 22 medical records of patients treated in the Hospital Regional da Asa Norte

(HRAN), Distrito Federal, between January 2002 and September 2012, in the Intensive Care Unit and

Burn Unit.

Results: 68% of the patients were diagnosed with NET, 45% of the reactions were caused by

antiepileptic drugs, 73% of drugs were prescribed, 59% of patients were female and the most affected

age group was from 21 to 40 years. The sector that more admitted patients was the Burn Unit, with

59% of cases, the average hospitalization time was of 14.55 days, 95% of patients achieved healing, of

the medical charts that contained the information 43% suffered burns of 2 ° degree and, the year that

had the highest number of cases was 2012.

Conclusions: The main characteristics of the cases studied were the predominance of NET, affecting

mainly in adulthood and females, and the second-degree burn. The medications that induced it were

prescribed being antiepileptics the most frequent. It is recommended tightening in pharmacovigilance,

clinical records in the charts, as well as aftercare hospitalization.

Key-words: Burn Unit; Stevens-Johnson Syndrome, Toxic Epidermal Necrolysis.

REFERÊNCIAS

1-Capucho HC. Farmacovigilância hospitalar: processos investigativos em farmacovigilância.

Pharmacia Brasileira. 2008 Setembro/Outubro: 1-12.

2- Edwards IR, Biriell, C. Harmonisation in pharmacovigilance. Drug Saf. 1994, Feb;

10(2):93-102.

3- Franca MD, Lima JPG, Freitas D, Cunha M, Gomes JAP. Estudo dos achados oculares na

Síndrome de Stevens-Johnson em pacientes de centro de referência de atendimento terciário.

Arq Bras Oftalmol. 2009; 72(3):370-374.

4- Bulisani ACP, Sanches GD, Guimarães HP, Lopes RD, Vendrame LS, Lopes AC.

Síndrome de Stevens-Johnson e Necrólise Epidérmica Tóxica em Medicina Intensiva. Revista

Brasileira de Terapia Intensiva. São Paulo. 2006 Julho-Setembro. 18(3):292-297.

5- Álvarez LMP, Salcedo MAS, Pacheco DLS. Síndrome de Stevens-Johnson. Presentación

de 1 caso. Revista Cubana Pediatrica. Cuba. 2001;73(4):240-244.

6-Criado PR, Criado RFJ, Vasconcellos C, Ramos RO, Gonçalves AC. cutâneas graves

adversas a drogas - aspectos relevantes ao diagnóstico e ao tratamento - Parte I - anafilaxia e

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