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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA •Nº 471 •ANO XLII FEVEREIRO 2013 • MENSAL • 1,50 PRÉMIO DEFESA NACIONAL E AMBIENTE ATRIBUÍDO AO AQUÁRIO VASCO DA GAMA

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Page 1: PRÉMIO DEFESA NACIONAL E AMBIENTE ATRIBUÍDO ......Administração, Redação e Publicidade Revista da Armada Edifício das Instalações Centrais da Marinha Rua do Arsenal 1149-001

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA •Nº 471 •ANO XLII FEVEREIRO 2013 • MENSAL • € 1,50

PRÉMIO DEFESA NACIONAL E AMBIENTEATRIBUÍDO AO

AQUÁRIO VASCO DA GAMA

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O CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA ARMADA RECEBE MEDALHA DE HONRA AO MÉRITO DESPORTIVO

O CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA ARMADA RECEBE MEDALHA DE HONRA AO MÉRITO DESPORTIVO

No ano em que o Centro de Educação Física da Armada (CEFA) comemora o seu quinquagésimo aniversário, decidiu o Secre-tário de Estado do Desporto e Juventude (SEDJ) conceder-lhe

a Medalha de Honra ao Mérito Desportivo, considerando que os ser-viços prestados ao longo dos anos merecem ser objeto de um justo reconhecimento público. Conforme decorre do Despacho de Con-cessão, foi enaltecido o brilhante percurso dos seus 50 anos (o CEFA foi criado em 5 de abril de 1962) ao serviço da Marinha e do País. Re-ferindo a intervenção deste Centro nas três principais vertentes da sua ação - a formação, o desporto/atividade física e a medicina desportiva/reabilitação - foi relevada a capacidade que o CEFA sempre mostrou possuir para interagir e cooperar com a sociedade civil, destacando--se o apoio em sede do desporto escolar e do movimento associativo desportivo ao nível federado.

A cerimónia teve lugar no CEFA no passado dia 5 de dezembro de 2012, estando presentes o Secretário de Estado do Desporto e Juventu-de, Dr. Alexandre Miguel Mestre, o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e diversas individualidades militares e civis que se asso-ciaram ao evento, conferindo-lhe a solenidade e elevação próprias dos atos de grande significado e simbolismo que marcam a vida das instituições.

Após a entrega da condecoração, usou da palavra o Diretor do CEFA que referiu ser uma grande honra ter recebido tão importante insígnia em nome das sucessivas guarnições desta unidade e de ilustres figuras que, na Marinha, em prol da Educação Física e do Desporto, tão dignamente souberam servir o País.

Seguiu-se uma breve visita às instalações, na qual foi possível mos-trar ao SEDJ o que hoje constitui o parque desportivo deste organismo da Marinha (tipologia e diversidade), seguindo-se, após uma breve visualização fotográfica das atividades desenvolvidas, a assinatura do Livro de Honra e posterior oferta do brasão de armas com a sua divisa: In Corpore Sano.

Colaboração da DIREÇÃO DO CEFA

DESPACHO Nº 15954/SEDJ/2012

Considerando o brilhante percurso de 50 anos vividos pelo Centro de Educação Física da Armada (CEFA), criado em 5 de abril de 1962, na formação do pessoal técnico de educação física, na formação na área do salvamento humano no meio aquático, no apoio ao treino físico de todo o pessoal da Marinha, na organização de provas des-portivas e no desenvolvimento de atividades no domínio da medi-cina desportiva;

Considerando que, ao longo destes 50 anos, para além da resposta que soube dar às necessidades da Marinha, o CEFA revelou sem-pre uma grande capacidade de interagir com a sociedade civil no âmbito da atividade física e desporto, sendo que dos cerca de mil alunos formados em educação física, muitos orientaram as suas vi-das profissionais para modalidades federadas, tais como árbitros ou treinadores;

Considerando que muitos dos alunos do CEFA, após a especiali-zação em monitor de educação física, se licenciaram em educação física, sendo de realçar o elevado número de técnicos que ministram natação em piscinas municipais por todo o país;

Atendendo a que o CEFA apoia e apoiou sempre o movimento as-sociativo desportivo, designadamente federações que solicitam a sua colaboração, como por exemplo a seleção nacional de futebol na preparação para o Campeonato Europeu de 84 e para o Mundial de 86; a seleção de andebol; e mais recentemente, as seleções de râguebi, e, bem assim, clubes que solicitam apoio na utilização das infraestruturas do CEFA;

Considerando que, no âmbito escolar, o CEFA apoia o desporto escolar, sendo de destacar a organização de provas de atletismo e de orientação envolvendo um elevado número de Escolas do ensino básico e preparatório;

Considerando o apoio que o CEFA dá à investigação universitária, através da disponibilização de dados para realização de mestrados e doutoramentos;

Atendendo a que, ao longo da sua história, o CEFA esteve federado em diversas modalidades desportivas, tais como o atletismo; o tiro; o judo; o triatlo; o duatlo; o badminton; o futebol de salão; o volei-bol; e o polo aquático, nas quais se destacaram nomes ilustres do desporto nacional, seja praticantes desportivos, seja técnicos espe-cializados, muitos deles dando importantes contributos ao desporto, tais como o Comandante Camilo Mendonça, que deu os primeiros passos para a implantação modalidade desportiva de orientação no meio civil; o Comandante San Payo de Araújo, referência incontor-nável nas primeiras etapas da formação do universo do basquetebol; o Comandante Glória Patrício, um dos elementos preponderantes na fase inicial de implementação do triatlo no país; e o Cabo Valverde, guia de atletas medalhados nos jogos paralímpicos.

Considerando o papel desenvolvido no âmbito da medicina des-portiva, particularmente por via da ação dos médicos-navais Maldo-nado Cortes Simões e Teles Martins pioneiros da reabilitação;

Considerando que o prestígio alcançado pelo CEFA pelos destaca-dos serviços prestados e pela sua continuidade ao serviço do País ao longo dos últimos 50 anos é merecedor de tributo e de justo reco-nhecimento público pela ação desenvolvida em prol do desporto;

Determina-se:É concedida ao Centro de Educação Física da Armada (CEFA) a

Medalha de Honra ao Mérito Desportivo, nos termos dos artigos 4.° e 6.° do Decreto-Lei n”. 55/86, de 15 de Março.

Lisboa, 15 de maio de 2012.

O SECRETÁRIO DE ESTADO DO DESPORTO E JUVENTUDE,Alexandre Miguel Mestre

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REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 3

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O CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA ARMADA RECEBE MEDALHA DE HONRA AO MÉRITO DESPORTIVOPONTO AO MEIO DIA

A LISBON NATO MARITIME INFORMATION SERVICES CONFERENCE REFLEXÃO ESTRATÉGICA 7

ESCOLA NAVAL

ENTREGA DE COMANDO / TOMADA DE POSSE

ESCOLA NAVALDIREÇÃO DE APOIO SOCIALA HISTÓRIA REAL DUM ASTROLÁBIO FALSOVIGIA DA HISTÓRIA 51 / NOTÍCIASNOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (20) QUARTO DE FOLGA / AGENDA CULTURALNOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOSNAVIOS HIDROGRÁFICOS

A MARINHA NO FINAL DA DINASTIA DE AVIS (1)

SUA ALTEZA IMPERIAL PRINCESA TAKAMADO, DO JAPÃO, ELOGIA O NRP SAGRES E A MARINHA

O CENTRO DE INVESTIGAÇÃO NAVAL E O PATRIMÓNIO CULTURAL MARÍTIMO

RESTAURO DA PINTURA DO RETÁBULO DO ALTAR-MOR DA CAPELA DE SÃO ROQUE LANÇAMENTO DO LIVRO “DAS NAUS À VELA ÀS CORVETAS DE FERRO”APRESENTAÇÃO DO LIVRO “O BOTÃO DE ÂNCORA DA MARINHA PORTUGUESA”

GRUPO ESTRATÉGICO PARA A PROTEÇÃO PORTUÁRIA PRIMEIRA REUNIÃO INTERNACIONAL

O Aquário Vasco da Gama vence o Prémio Defesa Nacional e Ambiente – 2011

A Sala do Risco do Arsenal da Marinha

Museu de Marinha 150 anos de história

In Memoriam Nuno Valdez dos Santos

Publicação Oficial da MarinhaPeriodicidade mensal

Nº 471 • Ano XLIIFevereiro 2013

DiretorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de Redação CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redação1TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de RedaçãoSAJ L Mário Jorge Almeida de Carvalho

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício Gorjão

CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa

1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redação e PublicidadeRevista da Armada

Edifício das InstalaçõesCentrais da Marinha

Rua do Arsenal1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 21 321 76 50Fax: 21 347 36 24

Endereço da Marinha na Internethttp://www.marinha.pt

e-mail da Revista da [email protected]

Paginação eletrónica e produçãoSmash Creative

Tiragem média mensal:4500 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Revista anotada na ERC

Depósito Legal nº 55737/92ISSN 0870-9343

ANUNCIANTES:LISSA - AGÊNCIA DE DESPACHOS E TRÂNSITOS, Lda; ROHDE & SCHWARZ, Lda.

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SUMÁRIO

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FEVEREIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA4

O ENSINO E A FORMAÇÃO AJUSTAR À EVOLUÇÃO EXTERNA MANTENDO A QUALIDADE DO SISTEMA

Há seis anos atrás, neste mesmo espa-ço da Revista, e a propósito do tema em epígrafe, dizia-se que a acredita-

ção1 do Sistema de Formação Profissional da Marinha (SFPM), conseguida em 2006, tinha sido o corolário de um percurso iniciado em 2004, do qual se relevavam a criação do Ob-servatório da Qualidade da Formação (OQF) da Direcção do Serviço de Formação (DSF) e a promulgação do Manual da Qualidade da For-mação, peças indispensáveis à reorganização e à nova forma de funcionamento das Escolas e Centros de Formação (ECF) da Marinha que se pretendia implementar, através da execução de um plano com vista ao cumprimento integral do respectivo referencial. Todo o desiderato decorrente deste processo de mudança está descrito nesse “Ponto ao Meio Dia” de Janeiro de 2007 (RA404), podendo-se dizer ter sido en-tretanto atingido um nível quase pleno de cum-primento desse referencial, fruto de uma acção concertada de todas as partes envolvidas, sob o olhar vigilante dos responsáveis pela monitori-zação e pela avaliação do SFPM e com o apoio institucional da estrutura superior da Marinha.

O Sistema está consolidado, a acreditação da Marinha como entidade formadora, através da DSF e das ECF, mantém-se em vigor ao abrigo de nova legislação, depois de revalidada em 2009, os instrumentos internos que o supor-tam foram sendo ajustados e aperfeiçoados e os resultados estão à vista, materializados num vasto acervo de competências que têm vindo a ser conferidas aos nossos sargentos e praças e, em certa medida aos oficiais, e que se revelam na qualidade militar, naval e técnica do servi-ço prestado a bordo das unidades navais e em terra. O SFPM é parte integrante do Sistema de Gestão de Recursos Humanos da Marinha (SGRHM), dando um contributo relevante para a certificação2 deste último segundo a norma NP4427:2004, no âmbito do qual também é regularmente auditado para efeitos de renova-ção do correspondente certificado.

Feita esta pequena incursão ao passado e identificados os traços evolutivos que condu-ziram ao presente, importa, ainda antes de apresentar uma visão e um par de objectivos estratégicos, fazer uma primeira leitura dos factos e dos factores que podem condicionar o ambiente, a organização e o funcionamento do ensino e formação na Marinha nos próxi-mos anos. Em primeiro lugar os factos:

► o referencial do Sistema Nacional de Qua-lificações (SNQ) entrou em processo de refor-

ma a partir de 2008 e em 2009 a escolaridade obrigatória foi estendida para o 12º ano (ensino secundário) e os 18 anos de idade;

► o Centro Naval de Ensino a Distância (CNED) cessou as suas actividades em Julho do ano passado, tendo os seus recursos materiais sido distribuídos ou afectados a outras unidades orgânicas e os recursos humanos e informacio-nais, nos quais residem os activos intangíveis, sido definitivamente dissipados, com perda to-tal da capacidade então existente de educação e formação de adultos, tanto ao nível do ensino recorrente básico e secundário, como ao nível do Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC)3;

► o ensino e a formação nas Forças Arma-das inserem-se num dos sectores sobre o qual estão focadas intenções reformistas, externas, de contornos alegadamente racionalizadores, com expressão conhecida ao nível do ensino secundário e esperada ao nível do ensino su-perior, que vão afectar carreiras e os existentes equilíbrios estatutários;

► os recursos humanos e financeiros colo-cados à disposição da Marinha seguem, em termos reais, uma lógica de contracção, cuja tendência depende em grande medida dos re-sultados do programa de assistência financeira a que o Portugal está presentemente sujeito.

Em segundo lugar, alguns factores: ► o discernimento para reconhecer a impor-

tância do ensino e formação4 no desempenho futuro da Marinha;

► a lucidez para identificar e apostar nas espe-cificidades militares marítimas e navais ao nível do ensino e formação;

► a experiência e a sensatez para resistir à tentação de, em ambiente de grande incerteza, promover a desregulação do SFPM e outras mudanças abruptas no ensino e formação.

Se quanto aos factos, por natureza indesmen-tíveis, pouco haverá a dizer, a não ser constatar ou antever as suas consequências, quanto aos factores existe a possibilidade de os influenciar, preferentemente através da razão, tendo em vista alcançar um estado futuro de nível supe-rior ao actual. É nesta medida que interessa ter uma visão do que se pretende que o ensino e a formação na Marinha venham a ser no médio e longo prazo. Para tal não poderá perder-se de vista o sentido, nem das duas últimas Directivas de Política Naval (DPN), nem das Directivas Sec-toriais de Recursos Humanos (DSRH) que delas emanaram. Assim, a valorização permanente dos recursos humanos tem vindo a ser identifica-

da como linha de acção estratégica para edificar uma Marinha equilibrada, em especial ao nível da liderança, da formação académica dos qua-dros superiores e da qualificação e certificação técnico-profissional, promovendo um ensino de qualidade e reforçando a individualidade dos órgãos de base com essa missão, para dispor de quadros mais bem preparados, elevar os níveis de motivação e influenciar positivamente o re-crutamento e a retenção.

A visão para o ensino e formação que resul-ta deste desiderato é a de que o Sistema de Formação da Marinha se constitua como elemento determinante e indispensável para desenvolver continuamente militares e marinheiros mais aptos e competentes. Ao nível do SFPM, tal visão tem tradução na capacidade deste sistema para, no âmbito das especificidades militares marítimas e navais, formar e qualificar, com maior qualidade e de forma mais eficiente, os recursos humanos que contribuem directamente para a essência da missão da Marinha.

Os objectivos estratégicos que decorrem des-ta visão podem ser sintetizados em três asser-ções, envolvendo os paradigmas operacional, estrutural e genético da acção da Marinha:

► concentrar a actividade de ensino e for-mação nas áreas do conhecimento científico e tecnológico de pendor marítimo e naval que suportam a acção militar e não militar da Marinha;

► desenvolver metodologias de ensino e formação a distância de base tecnológica, in-formacional e comunicacional, que permitam fomentar a aprendizagem por iniciativa pró-pria e criar mecanismos de gestão de recursos humanos que incentivem tal atitude; e ajustar o nível de integração das Escolas e Centros de Formação (ECF) da Marinha, tornando mais alargado e abrangente o apoio técnico educa-tivo e eliminando excessos de natureza buro-crática associados ao sistema;

► garantir a qualificação técnica e certificação dos formadores e os recursos materiais (réplicas e simuladores) que minimizem as necessidades de formação em contexto de trabalho.

Concluída esta parte mais formal, balizada pelo enquadramento doutrinal e pelas orienta-ções em vigor, importa descodificar um pouco esta prédica para que não soe a pura retórica, identificando as problemáticas reais, os cons-trangimentos internos e externos e as possíveis oportunidades em tempo e ambiente de gran-de incerteza.

PONTO AO MEIO DIA

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REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 5

No plano da missão da Marinha, importa di-reccionar o ensino e a formação para as áreas do conhecimento que, sem esquecer especifi-cidades militares, suportam decisivamente as especificidades marítimas e navais. As áreas da oceanologia e da hidrografia, da navega-ção e das engenharias e tecnologias navais, são das mais relevantes a ter em conta, pois constituem a base que sustenta o desígnio da Marinha de “contribuir para o uso do mar”. A par destas áreas, perfilam-se outras de idêntica importância, de cariz combatente, ligadas ao armamento, aos sensores, às informações e às operações de pendor naval. Esta realidade tem expressão na Marinha através da identificação das Áreas de Formação Estratégicas (AFE), constantes nalguns normativos internos, cuja definição parece requerer revisão à luz dos factos que enformam o ambiente externo e dos factores que o podem condicionar.

No plano estrutural há vantagem em lembrar, antes de mais, que o Sistema de Formação da Marinha, que engloba naturalmente vários ní-veis e várias naturezas de ensino e formação5, apenas encontra esteio de acção coordena-dora competente ao nível do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), em cuja dependência se encontram a Escola Naval (EN) e a Superintendência dos Serviços do Pessoal (SSP). Embora o Almirante CEMA disponha de um órgão de conselho, designado por Conselho Coordenador do Ensino e da Formação (CCEF) da Marinha, presidido pelo Vice-almirante SSP, e no qual têm assento os directores da Marinha ligados ao ensino e formação, bem como o co-mandante da EN, o tempo tem mostrado quão difícil se torna harmonizar e coordenar iniciati-vas de âmbito transversal que interessam tanto no plano do ensino superior como no plano da formação profissional dos militares da Marinha. Articular, neste âmbito, a actividade do Centro de Investigação Naval (CINAV)6, a acção for-mativa do Instituto Hidrográfico (IH) e o planea-mento das acções de formação fora da Marinha em território nacional ou no estrangeiro, é um desígnio que exige célere determinação.

No plano operacional do ensino e da forma-ção, há que analisar com atenção as implica-ções resultantes do aumento da escolaridade mínima para o 12º ano, realidade aplicável já em 2014. Por outro lado, importa sublinhar que a reforma do Sistema Nacional de Qualifica-ções7, iniciada em 2008, veio retirar valor for-mal à quase totalidade dos cursos de formação inicial de sargentos e praças, revogando o nível de qualificação profissional que anteriormente conferiam. Neste contexto, e sem perder de vis-ta todas as vantagens decorrentes da Marinha continuar a ter um conjunto de ECF8 acredita-das e um SFPM certificado a nível nacional9, urge adaptar a formação inicial de sargentos e de praças a estas novas realidades, estipulando condições de acesso e níveis de qualificação a conferir, conjugando a adesão progressiva ao Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ) com a concentração no desenvolvimento de

percursos formativos10 e de competências pro-fissionais que suportem, em primeiro lugar, as especificidades marítimas e navais da Marinha. Esta matéria requer naturalmente uma articula-ção muito estreita com a orientação de carreiras e com as políticas de ingresso, seja no regime de contrato, seja para quadros permanentes.

Interessa também assinalar que a garantia da qualidade inerente a sistemas certificados, como é o caso do SFPM, se faz através de dispositivos informacionalmente densos e muito consumi-dores de recursos humanos especializados. As apreciações algo frequentes de que o sistema é “pesado” têm os seus fundamentos e são legíti-mas, provindo normalmente daqueles que têm funções de execução da formação propriamen-te dita. Contudo, a base informacional do siste-ma e o exercício da função controlo (avaliação e realimentação) são elementos insubstituíveis do processo de garantia da qualidade de siste-mas que funcionam num ambiente de grande mobilidade dos recursos humanos, como é o caso. Mas há muitos aspectos do sistema que podem ser aperfeiçoados, seja através da infor-matização de processos repetitivos de recolha e tratamento de dados, seja através da afectação de especialistas11 às equipas de avaliação exter-na e de inspecção, para citar apenas dois deles. Haverá que ter sempre presente que a certifi-cação e a inerente qualidade do SFPM não garantem, por si só, a qualidade da formação prestada. O que a qualidade do sistema asse-gura é que a informação que lhe é introduzida chega aos formandos sem perda de qualidade e que se transforma em conhecimento adquirido por estes. O que interessa igualmente assegurar é que o objecto da formação tem utilidade e desenvolve as competências visadas.

Por fim, é no plano genético que se focaliza aquela que, por muitos, é considerada a me-lhor aposta a fazer em períodos de grande in-certeza – flexibilizar o ensino e a formação no espaço e no tempo, permitindo que os forman-dos possam fazer a sua aprendizagem mais de acordo com as suas conveniências, usando parte do seu tempo de lazer e longe do am-biente do serviço. As modalidades de ensino a distância12 de base electrónica (e-learning, b-learning e m-learning), devidamente adap-tadas às realidades da Marinha13, requerem, nesta medida, redobrada atenção, tendo em vista criar nas ECF as competências para gerar e ministrar e-conteúdos, bem como os meios materiais que permitam suportar de forma sus-tentada, eficaz e eficiente esse tipo de ensino. Para além dos ganhos de eficiência ao nível da formação dita institucional14, a edificação desta capacidade terá de ser acompanhada de mudanças no modo como a Marinha gere, em termos de carreiras e de colocação, os recur-sos humanos que, por iniciativa própria e sem prejuízo para o serviço, se valorizem através deste tipo de formação e qualificação.

Em resumo, a Marinha está acreditada na área do ensino e formação e usufrui hoje de um siste-ma de formação profissional certificado, criado

e aperfeiçoado ao longo da última década, que contribuiu decisivamente para gerar quadros mais bem preparados, para elevar os níveis de motivação e para influenciar positivamente o recrutamento e a retenção, e que deve ser pre-servado em toda a sua extensão. Tal constatação não impede a percepção de que a evolução do ambiente, sobretudo externo, que tem vindo a ocorrer nos últimos três anos, exige ajustamentos ao nível das modalidades de ensino, da formu-lação dos cursos de formação inicial e da ava-liação da qualidade da formação, que tornem o sistema mais robusto, eficiente e eficaz.

R. Rapaz LériasCMG ECN

Notas1Reconhecimento formal por um Organismo de

Acreditação da competência técnica de um agente ou organização para exercer uma determinada actividade.

2Reconhecimento formal por um Organismo de Certifi-cação de que uma organização dispõe de um sistema de gestão implementado que cumpre as normas aplicáveis.

3Processo mais conhecido pela modalidade das “No-vas Oportunidades”.

4Ensino e formação, entendido como um conjunto de actividades que se destinam a conferir saberes, indepen-dentemente da natureza, competências e técnicas e a modelar comportamentos e atitudes.

5Níveis secundário e superior e naturezas científica e técnica.

6Está na dependência do comandante da EN.7A reforma eliminou o nível 3 de qualificação e

passou a concentrar no Catálogo Nacional de Quali-ficações (CNQ) todos os cursos conducentes ao nível 2 (associado ao 3º ciclo do ensino básico), ao nível 4 (associado ao ensino secundário) e ao nível 5 de qua-lificação (Cursos de Especialização Tecnológica [CET] – ensino pós-secundário).

8Das escolas e centros de formação da Marinha, ape-nas a Escola da Autoridade Marítima se mantém fora do Sistema, não se lhe aplicando nem o normativo nem os procedimentos de garantia da qualidade inerentes à certificação do ensino e da formação.

9A Marinha obteve recentemente a confirmação da autorização de funcionamento na ETNA do Curso de Formação Pedagógica Inicial de Formadores por parte do Instituto do Emprego e Formação Profissional (antigo curso de formação de formadores), o que lhe permite conferir, autonomamente, os Certificados de Competên-cia Pedagógica (CCP) que vieram substituir os anteriores Certificados de Aptidão Pedagógica (CAP).

10Os percursos formativos do CNQ assentam em Uni-dades de Formação de Curta Duração (UFCD) de 25 ou de 50 horas, existindo um número significativo de UFCD, chamadas de base ou transversais, comuns a vá-rios percursos formativos, sendo, por isso, capitalizáveis.

11Entenda-se especialista no domínio do objecto da formação e não no domínio das tecnologias de educa-ção, que já são uma constante nessas equipas.

12O manual de qualidade do SFPM (MESUP 1(A)), re-centemente alterado, já contempla esta modalidade no âmbito da abordagem sistémica da formação.

13A Marinha, através da ETNA e, anteriormente, do CNED, desenvolve algumas iniciativas piloto nesta mo-dalidade do ensino-aprendizagem, ao nível das acções de formação de muito curta duração, sobretudo na área das TIC.

14Aquela para que os formandos são nomeados por imperativo da organização.

N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.

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FEVEREIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA6

O AQUÁRIO VASCO DA GAMA VENCE PRÉMIO

DEFESA NACIONAL E AMBIENTE - 2011

O AQUÁRIO VASCO DA GAMA VENCE PRÉMIO

DEFESA NACIONAL E AMBIENTE - 2011

O Aquário Vasco da Gama foi o vencedor do Prémio Defesa Na-cional e Ambiente 2011 com o

projeto designado por «Conservação ex-si-tu de organismos fluviais — reprodução em cativeiro e reintrodução do ruivaco-do-oeste», conseguindo reintroduzir no habitat natural 400 exemplares desta espécie, um pei-xe de água doce que só existe em Portugal e se encontra ameaçado de extinção.

A reprodução em cativeiro do ruivaco-do-oeste foi realizada pela primeira vez no Aquário Vasco da Gama, em tanques no exterior onde se simularam as condições naturais de ambien-te e alimentação, e foi descrita num artigo publicado em 2010 no nº 41 da revista “Journal of the World Aquaculture Society”.

Os peixes foram libertados em abril de 2011 no rio Alcabrichel, no troço entre as localidades de Ramalhal e Abrunheira, perto do local onde tinham sido capturados os seus progenitores.

O Prémio Defesa Nacional e Ambiente destina-se a galardoar a unidade, estabelecimento ou órgão das Forças Armadas que, de acordo com os princípios da Defesa Nacional, melhor con-tributo preste, em Portugal, para a qualidade do ambiente, numa perspetiva de desenvolvimento sustentável, através da utilização eficiente dos recursos naturais, da promoção de boas práticas de gestão de ordenamento do territó-rio e da proteção e valorização do património natural e paisagístico e da biodiversidade.

A atribuição do Prémio ao pro-jeto apresentado pelo Aquário Vasco da Gama foi uma decisão unânime do júri do concurso que, reconhecendo a sua qualidade, o considerou como um contributo exemplar para a preservação da biodiversidade e integração das preocupações ambientais na ativi-dade militar.

Para o Diretor do Aquário Vasco da Gama, Capitão-de-mar-e-guerra José Jaime Gonçalves Ribeiro, a “atribuição do prémio Defesa Nacional e Ambiente 2011 reveste-se de especial importância para todos os que servem no Aquário Vasco da Gama, pelo reconhecimento de um traba-

lho que requer rigor, conhecimento e dedi-cação, constituindo-se como um estímulo para um cada vez maior contributo em prol da conservação da biodiversidade do patri-mónio natural português.”

Ciente da importância deste galardão, o Ministro da Defesa Nacional, Dr. José Pedro Aguiar-Branco, quis homenagear o Aquário Vasco da Gama, visitando esta instituição centenária no passado dia 11 de dezembro de 2012.

Na presença do Almirante CEMA e de outras individualidades, o MDN foi con-duzido pelo Diretor do Aquário Vasco da Gama numa visita à exposição do Museu e Aquário e a algumas das áreas técnicas

dos chamados “bastidores”, to-mando conhecimento de todo o intenso e especializado tra-balho necessário à manutenção das espécies vivas e da ativida-de desenvolvida no âmbito da educação ambiental e apoio à investigação científica.

É precisamente neste âmbito que se enquadra o projeto ven-cedor do Prémio Defesa Nacio-nal e Ambiente 2011, que vem desta forma reconhecer e valo-rizar esta importante missão de apoio à comunidade científica que se dedica à investigação da fauna aquática, contribuin-do assim para o conhecimento público dos resultados dessa investigação. Nos últimos anos o Aquário Vasco da Gama tem colaborado em projetos de in-vestigação desenvolvidos pelas seguintes instituições:

∙ Cooperativa Egas Moniz;∙ Instituto Superior de Psicolo-

gia Aplicada (ISPA) - Unidade de Eco-etologia;

∙ Instituto Tecnológico de Quí-mica e Biologia (ITQB);

∙ Laboratório Marítimo da Guia;∙ Instituto Superior Técnico.O Prémio Defesa Nacional e

Ambiente 2011 foi entregue pelo Ministro da Defesa Nacional no dia 12 de dezembro de 2012, no Forte de São Julião da Barra, em Oeiras, numa cerimónia em que estiveram presentes o Secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional, o Secretário de Estado do Ambiente e Ordenamento do Território e as mais altas chefias militares.

O Prémio, criado em 1993, por despacho conjunto dos Mi-nistros da Defesa Nacional e do Ambiente e Recursos Naturais, inclui um diploma de louvor público e um apoio financeiro

destinado ao desenvolvimento do projeto premiado ou para novos investimentos no âmbito do ambiente.

Colaboração do AQUÁRIO VASCO DA GAMA

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REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 7

O Aquário Vasco da Gama (AVG) liber-tou, no dia 14 de abril de 2011, 400

exemplares de ruivaco-do-oeste (Achondros-toma occidentale), uma espécie de peixe de água doce endémica de Portugal cuja área de distribuição se limita aos rios da região Oeste, Sizandro, Alcabrichel e Safarujo. Estes exemplares foram reproduzidos em cativeiro no AVG, no âmbito de um projeto de conser-vação de espécies e plantas criticamente em risco, aprovado pelo Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, que junta atra-vés de colaboração celebrada em protocolo assinado em 15 de julho de 2008, a Quercus, a Unidade de Investigação em Eco-Etologia do Instituto de Psicologia Aplicada, a Faculda-de de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa e a Marinha Portuguesa. Numa pri-meira fase o projeto visava apenas garantir a manutenção em cativeiro de um repositório genético de um conjunto de espécies fluviais, entre as quais o ruivaco-do-oeste. O grupo ori-ginal de exemplares desta espécie foi utilizado nos ensaios preliminares realizados no AVG que permitiram estabelecer as condições de

manutenção e reprodução posteriormente aplicadas nas restantes espécies de peixes abrangidas pelo projeto e transferidas para a estação de aquacultura da Quercus para reprodução em maior escala. A reprodução em cativeiro do ruivaco-do-oeste foi realiza-da pela primeira vez no AVG e foi descrita num artigo publicado em 2010 no nº 41 da revista Journal of the World Aquaculture Society. Na segunda fase do projeto previa--se a utilização das populações criadas em cativeiro em ações de repovoamento dos rios, associadas a projetos de recuperação de linhas de água. Após a intervenção dos par-ceiros ISPA e Quercus junto das autoridades

locais e no campo, a recuperação da vegeta-ção de um troço do rio e a criação de ressaltos para arejamento da água, e com a autorização da Autoridade Florestal Nacional, estavam criadas as condições para a libertação dos primeiros grupos de peixes. Os peixes foram libertados no rio Alcabrichel, entre as localida-des de Ramalhal e Abrunheira (coordenadas: 39°8’10.19”N - 9°12’55.36”W), perto do local onde foram capturados os seus progenitores.

CONSERVAÇÃO EX-SITU DE ORGANISMOS FLUVIAISREPRODUÇÃO EM CATIVEIRO E REINTRODUÇÃO DO RUIVACO-DO-OESTE

Larva recém-nascida de ruivaco-do-oeste 6,2 mm.

Ruivacos-do-oeste adultos nascidos no AVG.

Foto

s AVG

Sua Alteza Imperial Princesa Takamado, do Japão, elogia o NRP Sagres e a Marinha

No penúltimo encontro anual da International Sea Cadets Asso-ciation (ISCA), realizado em

Nagóia, Japão, tive a honra e felicida-de de representar o Corpo de Cadetes do Mar Portugal (CCM-PT). Este evento contou, para a recepção oficial e jantar, com a distinta presença de Sua Alteza Imperial Princesa Takamado, do trono do Crisântemo.

Naquele importante evento a delega-ção Portuguesa ao encontro anual da ISCA, que promove o ensino e contacto da comunidade estudantil aos assuntos do mar, procurava o reconhecimen-to oficial, enquanto membro de pleno direito. A candidatura nacional visava proporcionar ao CCM-PT a partilha de ideias e informação, mas também dos intercâmbios de jovens cadetes e dos benefícios de associações pares espa-lhadas pelo mundo e filiadas na ISCA.

Tendo sido aceite a candidatura do CCM-PT a membro de pleno direito da ISCA, e finda a ordem de trabalhos, participámos, com dezenas de outros delegados, numa recepção, onde pu-demos privar com representantes polí-ticos, empresariais, intelectuais e dos media Japoneses. Nessa ocasião, e em

cerimónia de gala no Museu Tokugawa--en, S.A.I. Princesa Takamado recebeu várias mensagens de gratidão, pelas suas relevantes contribuições para a promoção de uma maior consciência marítima das novas gerações, e pelo seu continuado apoio institucional e pessoal ao movimento internacional de Cadetes do Mar.

Nesse evento, S.A.I. Princesa Taka-mado referiu-me ter visitado, por duas vezes, o NRP Sagres. Afirmou-me que, por seu real agrado com as impecáveis condições do navio, e pelo enterneci-mento com que fora recebida pela sua guarnição, decidira prolongar a visita, para desfrutar de um maior contacto com os representantes daquele que fora o primeiro povo ocidental a visitar o Japão, assim quebrando o estrito proto-colo imperial de cerimónias. Pediu-me Sua Majestade Imperial que transmitis-se uma mensagem de respeito e amiza-de para com a nossa Sagres e a nossa Briosa.

Tiago Alexandre Fernandes MauricioInvestigador na Universidade de Quioto

Fellow no Pacific Forum, CSISAnalista na Wikistrat

S. A. I. Princesa Takamado a bordo do NRP Sagres em 2010.

S. A. I. Princesa Takamado com o Dr. Tiago Maurício e acompanhante.

S. A. I. Princesa Takamado a bordo do NRP Sagres em 1993

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FEVEREIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA8

A INFLUÊNCIA DE MAHAN EM PORTUGALA INFLUÊNCIA DE MAHAN EM PORTUGAL

N o início do século XX Por-tugal vivia um período de acentuada decadência im-

perial no Oriente e estava confron-tado com a desagregação do poder naval, decorrente da falta de meios para garantir uma presença capaz de assegurar a defesa dos seus inte-resses, em caso de ameaça militar.

Foi nesta conjuntura que uma pro-posta, apresentada no Parlamento para reduzir os efectivos da Armada, alarmou alguns sócios do Clube Mi-litar Naval. Seguindo o exemplo de Inglaterra, onde em 1894 fora cons-tituída a Navy League, a mais antiga das Ligas Navais estabelecidas em diversos países, com a finalidade de fomentar o interesse pelos assuntos marítimos, aqueles sócios criaram a Liga Naval Portuguesa, com o pro-pósito de: estudar os problemas que se colocavam ao ressurgimento marítimo nacional; animar e proteger a iniciativa particular para a ex-pansão da economia marítima nacional; e velar pelo futuro da Marinha de Guerra, como salva-guarda dos interesses marítimos de Portugal.

A assembleia geral constitutiva da Liga Naval Portuguesa ocor-reu a 2 de Março de 1901, como corolário do intenso período de trabalho desencadeado a 27 de Abril de 1900 pelo Segundo--tenente António Alves Pereira de Matos, a que se juntaram per-sonalidades militares e civis do maior relevo, como Gago Cou-tinho, Pereira da Silva, Ernesto de Vasconcelos, Isaías Newton, Maga-lhães Ramalho, Morais e Sousa e Hen-rique Bensaúde, todos eles apoiantes do fortalecimento marítimo de Portugal.

Em 15 de Outubro de 1902 foram aprovados novos estatu-tos relacionados com as mari-nhas de comércio, pesca, re-creio e guerra, cujo objectivo era conferir maior campo de acção à Liga Naval Portugue-sa, para que esta pudesse cum-prir os desígnios que levaram à sua fundação. Fruto de uma activa campanha de propagan-da marítima que se estendeu a todo o país, materializada através de palestras, confe-rências, publicações de livros,

mapas, quadros e gravuras, a Liga Na-val Portuguesa tornou-se no principal instrumento de divulgação das obras

escritas por vários oficiais que perfi-lhavam o pensamento estratégico de Mahan, contribuindo, de forma deci-

siva, para o ressurgimento do poder marítimo nacional.

Os obreiros mais notáveis desta causa foram Pereira da Silva, Ma-galhães Corrêa e Botelho de Sousa que, por força das suas intensas vi-vências marinheiras, cedo se aper-ceberam da necessidade de o país adoptar uma estratégia naval para defesa dos seus interesses. Em vir-tude dos estudos e trabalhos destes oficiais se basearem na doutrina de Mahan, contribuíram para fomentar o ressurgimento naval português, ao mesmo tempo que puseram em evi-dência a utilidade e indispensabili-dade da Marinha, como instrumento para alcançar os desígnios políticos nacionais.

O Contra-almirante Pereira da Sil-va foi, certamente, o maior plane-

ador estratégico naval português do século XX. Em 1909, ainda primeiro-

-tenente, viu a Liga Naval Portu-guesa publicar o seu livro intitu-lado O Nosso Plano Naval, onde fazia a apologia da doutrina de Mahan, sobretudo nos capítulos que dedicou ao domínio do mar e ao valor da ofensiva na guerra naval, designadamente, aos ti-pos de navios que convinham à nossa Marinha, à contribuição dos diversos agrupamentos para as marinhas de guerra, à dis-tribuição estratégica das nossas forças navais por bases de ope-rações e pontos de apoio, além da preparação militar das for-ças navais para a guerra. Esta obra teve enorme relevância no

demonstrar da desadequação do pen-samento estratégico português, que ainda se encontrava sob influência

dos factos relativos às inva-sões francesas e das ideias de Sebastião Telles, cuja primei-ra prioridade era a defesa do Tejo, como se, no século XX, bastasse defender Lisboa para ter seguro todo o país! Como então referiu Pereira da Silva, as colónias e os arquipélagos, as aspirações e o carácter do povo, bem como as tradições de Portugal, exigiam uma ma-rinha com valor militar apre-ciável e capaz de exercer a soberania nacional. Para isso, e apesar do país se encontrar numa situação financeira deli-

REFLEXÃO ESTRATÉGICA 7

Contra-almirante Pereira da Silva.

Cartaz da Liga Naval - 1912.

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cada, Pereira da Silva considerava es-sencial estudar o problema da defesa naval e elaborar «planos navais bem concebidos e orientados, de forma a que a nação compreenda nitidamen-te as vantagens que de tais sacrifícios podem advir para o engrandecimento da nossa situação política internacio-nal».

Entre muitos outros assuntos, Pe-reira da Silva esteve particularmente envolvido em comissões que visa-vam a reestruturação da Marinha, tais como construir um novo Arsenal na outra margem, introduzir a rádio nas comunicações navais, adquirir novos navios e reorganizar o ensino dos ofi-ciais na Escola Naval e no Curso Na-val de Guerra. Desempenhou as fun-ções de Ministro da Marinha durante três anos (1923-1926), período du-rante o qual, apesar da instabilidade política e social que país atravessava, concebeu e lançou as bases doutriná-rias de um importantíssimo processo de transformação genética, estrutural e operacional para toda a Marinha, tanto na metrópole como nas coló-nias, cujas medidas tiveram continui-dade, mesmo depois da sua saída do Governo, tal era a qualidade do tra-balho desenvolvido e o prestígio do seu autor. No desempenho daquele alto cargo político, as suas principais realizações foram a reorganização dos serviços do Ministério da Marinha, a definição dos fundamentos do Estatuto dos Oficiais da Arma-da, a reorganização do Estado Maior Naval, a criação das Es-colas de Mecânicos e Alunos Marinheiros, além da incor-poração na Marinha da antiga Sagres como navio-escola.

Preocupado que estava com as dificuldades que atingiam a Marinha e a incompreen-são política para as resolver, afirmou publicamente que se atingira o «Zero Naval», isto é, na linha do pensamento de Mahan sobre as marinhas como instrumento político: «uma situação inferior à que nos convém na política inter-nacional». Por isso, foi exo-nerado. A sua obra científica é mais intensa e relevante na parte final da carreira e, depois de 1933, quando passou à situação de reserva. No ano seguinte publicou o livro Política In-ternacional e Política Naval, trabalho de referência do pensamento estra-tégico português no século XX, de-senvolvido com o firme propósito de estabelecer a doutrina portuguesa do poder marítimo.

Embora sem obra de relevo publi-cada, o Vice-almirante Magalhães

Corrêa foi, igualmente, uma figura incontornável no quadro da análise da influência do pensamento estraté-gico de Mahan em Portugal. Assumiu

a pasta da Marinha em 1928, numa altura em que esta permanecia num profundo estado de depauperamento, que se traduzia na incapacidade dos navios realizarem as missões reque-ridas pelos interesses e determinadas

pela política nacional em mares e ter-ritórios afastados de muitos milhares de milhas entre si. Logo no início do seu mandato lançou um programa de propaganda naval, confiando a sua direcção a Pereira da Silva, secunda-do por oficiais e civis entusiastas da causa da Marinha. Em simultâneo, en-carregou o Estado Maior Naval, onde Pereira da Silva era Subchefe, de redi-gir o programa de reequipamento na-val que foi tornado público em 1931 e ficou conhecido pela designação de

«Programa Magalhães Corrêa».Aproveitando a estabilidade gover-

nativa, a recuperação financeira e o equilíbrio orçamental que o país en-tretanto alcançou, a par dos aconte-cimentos políticos que ocorreram em Angola, na Madeira, nos Açores e na Guiné, o programa foi apresentado e aprovado pelo Governo, que o divi-diu em duas fases.

Muito embora a obra de Magalhães Corrêa tenha sido eminentemente política, era, ainda assim, profunda-mente influenciada pelo pensamento de Mahan, que constituía a referência doutrinária de Pereira da Silva, o es-trategista a quem coube desenvolver e operacionalizar o programa que re-cebeu o nome do ministro.

O Vice-almirante Botelho de Sousa cedo enveredou pelos estudos da geo-política, da história e da estratégia, tendo produzido um vasto acervo li-terário em tais matérias, onde se re-velou um notável cientista político e social. No entanto, foi como estrate-gista do poder marítimo que desem-penhou um papel determinante na definição da estratégia naval portu-guesa durante a sua longa carreira de 47 anos, concluída no desempenho das altas funções de MajorGeneral da Armada. Enquanto deputado à Assem-bleia Constituinte de 1911, escreveu a sua principal obra estratégica, in-titulada Marinha e Defesa Nacional,

onde lançou as bases doutri-nárias do pensamento estra-tégico naval português que prevaleceram até ao início dos conflitos ultramarinos, na década de 60 do século pas-sado. Nesta obra, é evidente a influência de Mahan na apo-logia que faz ao conceito de domínio do mar, fundamental para a preservação do impé-rio português. O seu conteú-do desenvolve-se em 14 capí-tulos, onde aborda os temas mais prementes relacionados com a defesa nacional e com a Marinha.

Nestas circunstâncias, pode afirmar-se que o pensamento estratégico de Mahan serviu

para lançar as bases da estratégia na-val portuguesa do século XX, influen-ciando o pensamento e a acção dos nossos principais estrategistas, bem como as decisões políticas relaciona-das com a preparação e o emprego da Marinha, como instrumento político para a afirmação da soberania nacional.

António Silva RibeiroCALM

Vice-almirante Magalhães Corrêa.

Vice-almirante Botelho de Sousa.

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A LISBON NATO MARITIME INFORMATION SERVICES CONFERENCE PERSPETIVAS DE EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

EM AMBIENTE MARÍTIMO

Lisboa acolheu a Maritime Information Services Conference (MISC) entre os dias 1 e 4 de maio. A MISC pretendeu

atingir dois objetivos principais:1. Rever os requisitos operacionais do futu-

ro sistema de comando e controlo marítimos da NATO, o TRITON;

2. Aprovar uma proposta do NATO Allied Command Transformation (ACT) para o futu-ro da MISC, do Future Maritime Information Services (FMIS) e do programa Multinational Maritime Information Services (MNMIS).

Se por um lado o primeiro objetivo foi atingi-do e da MISC resultou uma proposta de revisão dos requisitos operacionais para o TRITON, já o segundo objetivo não foi atingido, tendo as Nações rejeitado as propostas do ACT. De facto, da MISC resultaram propostas para o futuro da MISC, FMIS e MNMIS, mas com ideias diferentes do ACT.

Vamos por partes. Comecemos por apre-sentar o histórico de todo o processo nas diferentes vertentes.

CAPABILITY PACKAGEEm janeiro de 2008 o Comité Militar da

NATO aprovou a criação de um conceito NATO para a Maritime Situational Awa-reness (MSA Concept). Neste âmbito, em 16 de dezembro de 2011, o North Atlan-tic Council (NAC) aprovou o instrumento financeiro (Capability Package 9C0107 - CP107) que irá permitir o desenvolvi-mento dos programas que irão providen-ciar informação operacional nas diferentes áreas funcionais para os comandos NATO exercerem o seu comando e controlo e exe-cutarem a sua missão. Assim, a NATO pas-sou a dispor de 125 milhões de euros dos quais 13 milhões serão para investimento na componente marítima.

TRITON E OS SEUS REQUISITOS OPERACIONAIS

O maior projeto na componente marítima da CP107 é o desenvolvimento e implementação do sistema TRITON, que visa substituir o popu-lar sistema Maritime Command and Control In-formation System (MCCIS) em uso na NATO e pelos aliados, adicionando ainda funcionalida-des ao protótipo MSA (MSA Prototype), desen-volvido pelo ACT entre 2008 e 2010, em uso nos Comandos Marítimos NATO em Naples e Northwood.

O ACT dentro das suas funções e responsa-bilidades, desenvolveu os requisitos operacio-nais para o sistema TRITON, num documento designado Project Mandate, e que serão agora trabalhados pelo organismo NATO que irá ter a

responsabilidade de desenvolver e implementar o sistema TRITON, a recém-criada NATO Com-munication and Information Agency (NCIA).

FUTURE MARITIME INFORMATION SERVICES

Ao longo do desenvolvimento deste processo, o ACT foi divulgando as suas iniciativas em di-versos fora internacionais de que são exemplo as duas MISC anteriores, em Halifax (maio de 2011) e Berlim (novembro de 2011), e diversos outros eventos NATO tais como TIDESPRINT, WEBEX e MC3CaT. Em todos estes eventos foi percetível o seguinte:

1. As Nações NATO não estiveram envolvidas de forma ativa no processo de desenvolvimento dos requisitos operacionais do TRITON, e não se vislumbrava o seu envolvimento futuro;

2. As Nações NATO tinham um conheci-mento muito reduzido do sistema TRITON e levantaram uma série de questões relacionadas com o seu desenvolvimento e implementação, designadamente:

a. Os requisitos operacionais do TRITON se-rão pelo menos os mesmos que existem actual-mente no sistema MCCIS e no MSA Prototype?

b. Será o TRITON suficientemente interoperá-vel com outros sistemas existentes?

c. As Nações vão ter que pagar mais pelo TRI-TON? O que está planeado relativamente às licenças para o TRITON?

d. Irá a NATO propor acordos legais para uma efetiva troca de informação marítima entre as Nações NATO?

e. Se o TRITON é para ser usado pela NATO e pelas Nações NATO, por que motivo as Nações não estão no processo?

O ACT, ciente não só da falta de envolvimen-to das Nações, bem como da pertinência das questões, avançou com uma nova proposta, o Future Maritime Information Services. O FMIS tem como principal projeto o desenvolvimen-to e implementação do sistema TRITON numa perspetiva DOTMLPFI (acrónimo NATO que significa Doctrine, Organization, Training, Material, Leadership, Personnel, Facilities and

Interoperability). A melhor forma que en-controu para envolver as Nações, foi atra-vés do programa MNMIS, que em seguida se explica.

De registar que o Secretário-Geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, remeteu ao NAC uma proposta para aprovação do FMIS1, a qual foi aprovada no passado dia 29 de março. Assim FMIS é hoje ‘Lei’ no seio da NATO.

MULTINATIONAL MARITIME INFORMATION SERVICES

O Conceito Estratégico da NATO, apro-vado na Cimeira de Lisboa em 2010, es-tabelecia que “We will … develop and operate capabilities jointly, for reasons of cost-effectiveness …”2. Nesse sentido, a NATO desenvolveu o conceito Smart De-fence, cujo objetivo é o de obter uma me-lhor eficiência no investimento em defesa e segurança. Para a sua concretização, os Ministros da Defesa aprovaram o estabele-cimento de uma Task Force para a edifica-ção de capacidades através de abordagens multinacionais e inovadoras. Foi assim es-tabelecida a designada Multinational and Innovative Approaches Task Force (MNA

TF) sob a liderança do ACT.Neste âmbito, o ACT recomendou o pro-

grama MNMIS com o objetivo de estabelecer um forum para facilitar a cooperação entre a NATO e as Nações NATO para o desenvolvi-mento e implementação FMIS.

A MARITIME INFORMATION SERVICES CONFERENCE EM LISBOA (MAIO DE 2012)

Feita a abordagem histórica de todo o pro-cesso nas diferentes vertentes, passemos pois à MISC de Lisboa.

Esta Conferência surge numa altura em que estão a decorrer grandes desenvolvimentos na atividade marítima da NATO. Com efeito,

O conceito do FMIS

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REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 11

GRUPO ESTRATÉGICO PARA A PROTEÇÃO PORTUÁRIAPRIMEIRA REUNIÃO INTERNACIONAL

e como o signatário teve a oportunidade de referir numa apresentação durante o MAR-COMET 2012 (encontro anual dos Coman-dantes Navais) em Roma, em abril passado, a MISC em Lisboa seria fundamental para o desenvolvimento do FMIS, devendo daí, sair propostas concretas para o programa MN-MIS. Além disso, e como estabelecido pelo ACT, seriam ainda revistos os requisitos ope-racionais do sistema TRITON, permitindo às Nações NATO apresentar as suas propostas, ficando assim dentro do processo de desen-volvimento deste sistema. No final da Confe-rência, seria submetido à NCIA um relatório com as propostas emanadas pelas Nações.

O primeiro objetivo, revisão dos requisitos operacionais do TRITON, foi atingido na plenitude; Itália, que coordenou estes tra-balhos, elaborou o respetivo Relatório Final. Antes da Conferência, poucas foram as Na-ções NATO que contribuíram com propos-tas. Portugal, através do EMGFA e da Mari-nha, foi dos poucos países a fazer o trabalho de casa e a apresentar propostas concretas. No entanto, durante a Conferência houve uma maior participação das Nações e hoje o ACT pode dizer com toda a autoridade que a NATO e as Nações NATO estiveram envol-vidas no processo de desenvolvimento dos requisitos operacionais do TRITON.

O segundo objetivo, proposta para o futuro da MISC, do FMIS e do programa MNMIS, não foi atingido de acordo com os deside-ratos do ACT. Este comando estratégico re-

Realizou-se no passado dia 24 de outu-bro de 2012, em Lisboa, a primeira reu-nião internacional do Grupo Estratégico

para a Proteção Portuária, no âmbito da lideran-ça de Portugal do projeto “Harbour Protection” da iniciativa “Smart Defence” da NATO.

A iniciativa “Smart Defence” decorre do atual quadro económico e financeiro inter-nacional e tem como objetivo auxiliar os países aliados a reduzir os investimentos na área da defesa através do desenvolvimento de projetos de cooperação multinacional para colmatar as atuais lacunas de capaci-dades. O projeto “Harbour Protection” visa edificar uma nova capacidade militar para os países da NATO, através do desenvolvi-mento de um sistema modular para prote-ção de portos, composto por sistemas de comando e controlo, equipas de vigilância, sensores e armas, pronto para ser empregue em qualquer parte do mundo.

Portugal, através da Marinha, assumiu a lide-rança desde projeto e organizou a primeira reu-nião internacional do Grupo Estratégico para a Proteção Portuária (GEPP) que conta com repre-sentantes do Estado-maior da Armada, do Co-mando Naval, da Direção-Geral de Autoridade Marítima e da Superintendência dos Serviços

forçou a necessidade do programa MNMIS para a futura utilização do TRITON pelas Nações, salientando a necessidade de haver uma Nação que se oferecesse para liderar este programa multinacional. Esta proposta não foi aceite pelos mais de 100 participan-tes na Conferência. Muitos deles defenderam que a MISC, tal como funciona agora, é o forum apropriado para desenvolver o FMIS. Nas conclusões da Conferência é explícita a vontade de a MISC ser o forum que coorde-na o desenvolvimento do sistema TRITON com as Nações NATO. Dir-se-ia que aqui o conceito de Smart Defence não vingou.

Face a este acordo generalizado dos parti-cipantes na MISC, o signatário propôs que se estabelecessem Termos de Referência para o funcionamento da MISC por forma a acolher o MNMIS nos moldes aprovados no plená-rio, proposta que foi aceite. Esta será uma ta-refa a desenvolver para a próxima MISC Fall 2012 a realizar na Alemanha.

Em jeito de conclusão, dir-se-ia que o se-gundo objetivo foi atingido de acordo com a vontade das Nações (ou pelo menos dos representantes das Nações). É assim o fun-cionamento normal da NATO – a NATO de-senvolve aquilo que as suas Nações querem.

Há no entanto um ponto importante que todos aqueles que lidam com as ativida-des operacionais marítimas concordam: o MCCIS é uma ferramenta operacional com mais de 20 anos, que está a ser utilizada no máximo da sua capacidade e que está ob-

do Material, entre outros. Para além dos dele-gados nacionais e da NATO, a reunião contou com a presença de representantes de nove pa-íses aliados, de um centro de investigação e de um centro de excelência NATO, que em muito contribuiram para o sucesso da mesma.

Na reunião foi analisada a perspetiva nacional para a edificação desta capacidade, incluindo a sua definição conceptual, os elementos base e os seus requisitos operacionais. Os participan-tes na reunião tiveram também a oportunidade de conhecer diversos sistemas internacionais já existentes no âmbito da proteção portuária, de modo a aproveitar as sinergias já existentes e enformá-las por uma política de exploração

soleta, dizendo os mais otimistas que depois de 2018 não haverá mais MCCIS e este será substituído pelo TRITON. Algumas das Na-ções NATO, entre elas Portugal através da Marinha, usam o MCCIS como a principal ferramenta operacional de Comando e Con-trolo marítimos.

Face a esta realidade, Portugal e a Marinha têm que estar atentas face à sua dependência do MCCIS. Para já não há a vontade de de-senvolver o programa MNMIS. Mas o FMIS tem que avançar seja qual for a forma para o fazer. As questões levantadas pelas Nações e expostas anteriormente continuam sem respostas.

Concluindo, a MISC continuará a ter um papel de relevância para facilitar a cola-boração de todos os agentes NATO (ACT, ACO, NCIA, futuro Comando Marítimo da NATO (MARCOM) em Northwood e Na-ções NATO) no desenvolvimento do FMIS e concomitantemente do sistema TRITON.

Paulo Sousa CostaCMG

Chairman da MISC

Notas1NATO Secretary-General Document PO(2012)0101, de 19 de março de 2012.2“Strategic Concept For the Defence and Security of The Members of the North Atlantic Treaty Organisation” adota-do pelos Chefes de Estado e de Governo em Lisboa 2010.

comum de modo a criar um “sistema dos siste-mas”. No final deste encontro foram aprovadas as linhas gerais orientadoras do planeamento das atividades com outros países e com os dife-rentes organismos da NATO envolvidos no de-senvolvimento deste programa multinacional.

A liderança nacional no desenvolvi-mento deste projeto confere à Marinha, através do GEPP, uma responsabilidade acrescida na aplicação neste programa do seu modelo e das suas ferramentas de planeamento estratégico, e a Portu-gal uma enorme visibilidade internacio-nal, pela importância operacional que a NATO passou a atribuir à defesa portuá-ria expedicionária.

A Marinha, como habitualmente, as-sumirá a liderança deste projeto com firmeza e rigor institucional, encontran-

do, dentro de um quadro de racionalização e optimização dos recursos existentes, as linhas de ação necessárias à edificação desta capa-cidade, atuando fundamentalmente como um dinamizador, facilitador de esforços e orienta-dor de políticas.

L. Carmo Falcato CTEN

Foto

Júlio

Tito

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FEVEREIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA12

ESCOLA NAVAL

PRÉMIOS CHALLENGERANO DESPORTIVO 2011/2012 NA ESCOLA NAVAL

A actividade física e desportiva é uma componente essencial para a promoção da saúde e bem-estar fisiológico e psico-

lógico. Nessa ótica, são promovidos junto dos alunos e da guarnição da Escola Naval diversos eventos de natureza lúdico-competitiva e de manutenção.

A Escola Naval teve no ano desportivo de 2011-2012 treze secções ativas, e participou em diversas atividades desportivas competi-tivas, individuais e coletivas, de âmbito civil, universitário, Inter Estabelecimentos Milita-res do Ensino Superior (Inter-EMES), e nos campeonatos da Marinha, do Comando do Corpo de Fuzileiros e internos à Escola Naval (Intercursos).

Em maior número e com um empenho mais intensivo, as equipas constituídas pelos cadetes são as que merecem maior destaque, e o seu desempenho desportivo foi assinalá-vel. Os treinadores e os atletas das diversas secções desportivas treinam três vezes por semana, em horário pós-laboral, e com este compromisso e dedicação têm-se obtido bons resultados desportivos.

Este foi também um ano desportivo marca-do pela realização na Base Naval de Lisboa da 4ª Jornada do Inter-EMES, com uma prova de caráter outdoor – Challenger, organizada pela Escola Naval, que merece especial des-taque neste artigo.

O Inter-EMES consiste no intercâmbio des-portivo entre alunos da Escola Naval (EN), Academia Militar (AM), Academia da Força Aérea (AFA) e do Instituto Superior de Ciên-cias Policiais e Segurança Interna (ISCPSI). Este desafio tem como objetivo estreitar os laços de amizade e camaradagem entre os futuros oficiais dos três ramos das Forças Ar-madas, da Guarda Nacional Republicana e da Polícia de Segurança Pública.

Mais do que um intercâmbio desportivo, o Challenger é uma competição onde alu-nos do mesmo ano, mas de diferentes aca-demias, se juntam em equipas e competem entre si. Esta competição compreende um desafio à capacidade de atuação de equipas operacionalmente heterogéneas e por isso, ricas em conhecimento.

O Challenger foi constituído por três eta-pas com base na vertente física, aliando as dimensões motora e cognitiva, associadas à fadiga e a um estado de stress constantes. Esta prova foi construída e idealizada tendo por base a vertente náutica demonstrativa da realidade da Marinha, distinguindo também os valores inerentes à vida militar, tais como a dis-ciplina, o rigor, a capacidade de comunicação e liderança, as capacidades volitivas, como o es-pírito de sacrifício e a capacidade de superação.

As provas tiveram início às 23 horas do dia 20 de abril e foram realizadas continuamente até às 15 horas 30 minutos do dia seguinte.

A primeira etapa da prova teve como objeti-vo o “Aprontamento para a Missão” face a um

cenário de catástrofe, nomeadamente um sismo de magnitude 6.0 na escala de Richter sentido na Base Naval de Lisboa. Para o devido apron-tamento, os cadetes frequentaram formações específicas nas áreas da Marinharia, Busca e

Salvamento Urbano, Navegação, Armamen-to e Tiro, Mergulho, Suporte Básico de Vida e Trauma e Manobras de Cordas. Para tal, a orga-nização contou com a colaboração de forma-dores da Escola Naval e de outras Unidades da

Marinha.Após formação específica de atuação nesta

vertente, foi elaborado o plano de ação, no qual se destacou a destreza, o esforço físico e mental das equipas. O plano de ação com-preendeu fatores inerentes à colaboração em funções de proteção civil, ações de preven-ção e auxílio, ações de busca e salvamento, entre outros.

Posto isto, a segunda etapa da “Assistên-cia Humanitária” compreendeu a opera-cionalização do plano de ação definido por cada ano.

A terceira e última etapa compreendeu três sub-etapas:

A “Ronda ao Navio”, que constou de uma estafeta de orientação no NRP D. Francisco de Almeida;

A “Faina Geral”, que decorreu nos NRP D. Carlos I e Sagres e no Centro de Educa-ção Física da Armada, com a realização de percursos de orientação e transposição de obstáculos;

A “Busca e Salvamento”, que compreen-deu uma estafeta de orientação aquática em canoagem.

Cada EMES inscreveu dezasseis cadetes, quatro por ano, sendo um do género femini-no. Os cadetes inscritos foram divididos por dezasseis equipas, quatro por ano e com um elemento de cada EMES, sendo um do géne-ro feminino. No total das atividades estiveram presentes sessenta e quatro cadetes e dois As-pirantes Franceses convidados pela AFA.

No final da prova os cadetes preencheram um questionário de satisfação adaptado a cada etapa, com resultados bastante positi-vos, como se pode verificar no gráfico com a avaliação da prova pelas diversas academias.

Esta foi uma prova de elevada exigência re-fletida na avaliação feita pelos participantes. A componente conflito/stress é a que regista os valores mais baixos pois a complexidade da prova e o ambiente diferente daquele a que as academias, exceto a Escola Naval, estão habituados, trouxe novos e complexos desafios.

Os valores da apreciação global, por seu lado, refletem a importância que foi con-ferida pela EN a esta prova e transmitem a

satisfação sentida, que se deveu ao espírito de camaradagem que acompanhou todo o evento e que criou laços de amizade duradouros.

Colaboração da ESCOLA NAVAL

Andebol

Basquetebol

Futebol 7

Futsal

Futsal feminino

Voleibol

Voleibol feminino

Atletismo

Judo

Natação

Orientação/ Ecoaventura

Tiro

Vela/Remo

14

17

15

19

14

19

14

16

16

19

11

6

11

Campeonato regional Universitário, Campeonato Inter-EMES, Competições da Marinha e Torneio Inter-cursos

Campeonato regional Universitário, Campeonato Inter-EMES, Competições da Marinha e Torneio Inter-cursos

Competições da Marinha

Campeonato regional Universitário, Campeonato Inter-EMES, Competições da Marinha e Torneio Inter-cursos

Campeonato Inter-EMES, Competições da Marinha

Campeonato regional Universitário, Campeonato Inter-EMES, Competições da Marinha e Torneio Inter-cursos

Campeonato regional Universitário, Campeonato Inter-EMES, Competições da Marinha

Competições da Marinha e Torneio Inter-cursos

Campeonato nacional Universitário, Campeo-nato Inter-EMES, Competições da Marinha/CCF

Competições de âmbito civil, Campeonato Inter-EMES, Competições da Marinha/CCF e Torneio Inter-cursos

Competições de âmbito civil, Competições da Marinha/CCF e Torneio Inter-cursos

Campeonato Inter-EMES, Competições da Mari-nha/CCF e Torneio Inter-cursos

Competições de âmbito civil

MODALIDADE N.º DE ATLETAS COMPETIÇÕES 2011/12

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REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 13

A MARINHA NO FINAL DA DINASTIA DE AVIS

Foi com grandes hesitações que retomei a publicação destes pequenos episódios da Marinha Portuguesa, numa fase em

que a mesma iria cair sob a tutela de Filipe II de Espanha. Imaginei que voltaria com um ci-clo sobre a marinha filipina, enquadrando os quase sessenta anos da monarquia dual, com muitos episódios que envolveram navios por-tugueses, agora num contexto alargado dos deveres inerentes à vassalagem a um soberano que era pouco menos que senhor do mundo inteiro. Mas, em boa verdade, a dinas-tia de Avis não terminou com a morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir, seguindo-se-lhe o reinado do cardeal rei D. Henrique, que durou até 31 de Janeiro de 1580. Para além disso, como é que deveriam ser enquadrados os movimentos navais que envolveram as reacções contra o domínio do rei caste-lhano, nomeadamente as que tiveram D. António Prior do Crato como prin-cipal protagonista?... É verdade que po-diam resumir-se num ou dois episódios relevantes e nada mais haveria para fa-lar. Podiam englobar um capítulo geral do domínio filipino, tanto mais que não foram além de uma contestação a esse mesmo domínio. A minha opção foi, contudo, diferente.

D. Henrique governou durante um ano e meio e, digamos, a tomada de posse de Filipe II só teve lugar nas cortes de Tomar, em 1581. Para além disso, estes três anos foram vividos com uma intensidade política que era pouco conhecida das gentes portuguesas, com uma enorme vertigem diplomática, re-lacionada com o processo de sucessão de um rei envelhecido e sem filhos. Por tudo isso, me pareceu importante identificar esta época num capítulo específico, escolhen-do criar um ciclo próprio designado por “A Marinha no final da dinastia de Avis”. Ela co-meçará agora mesmo, no rescaldo de Alcácer Quibir e no dealbar de múltiplos fenómenos que assolaram a sociedade portuguesa na se-quência da fatídica batalha, prolongando-se até às vésperas das cortes de Tomar, quando Filipe II foi aclamado e jurado como rei de Portugal.

Mas falemos então desse momento terrível que se segue à tragédia, na fase em que as pessoas ainda não tomaram verdadeira cons-ciência do que lhes aconteceu, e adormecem num estado global de apatia de que não que-rem emergir. A batalha teve lugar a 4 de Agos-to – como é sabido – e as notícias da derrota chegam a Lisboa no dia 11, embora sem os detalhes suficientes sobre o que sucedera a D. Sebastião. D. Henrique estava em Alcobaça, vi-

vendo o recolhimento a que se obrigara desde a partida do exército para África. Desolado e impotente perante os factos, refugiou-se no je-jum e na oração, desejando que as suas preces fossem ouvidas pelo Criador, compensando a surdez que o sobrinho tivera para com os seus argumentos. Soube da derrota a 13 de Agosto e regressou imediatamente a Lisboa, onde che-gou a 16. Ainda com notícias incertas sobre o destino do rei, a 22 foi proclamado governador e sucessor do reino, mas a 24 chegou a infor-

mação concreta e terrível de que D. Sebastião estava morto. Mandava-o dizer Belchior do Amaral, que sepultara o seu corpo na casa do alcaide mouro de Alcácer Quibir. Durante os dias 25 e 26, os sinos dobraram ininterrupta-mente a finados por todo o reino, e a 27 foram quebrados os escudos, num gesto de pública aceitação e reconhecimento da morte do sobe-rano. D. Henrique foi aclamado rei de Portugal em 28 de Agosto de 1578, na igreja do Hospital de Todos os Santos, em Lisboa.

Na sua acção governativa, sobressai de ime-diato a preocupação com os cativos e com o seu resgate. Ficaram nos campos de Alcácer milhares de portugueses, fidalgos e populares, agora perdidos pelas masmorras em suplícios que urgia abreviar. Foram disso encarregues os frades da Ordem da Santíssima Trindade para a redenção dos cativos (trinitários), disponibili-zando-se as verbas possíveis de uma fazenda

arruinada com os custos da própria expedição e com obras defensivas em Ceuta e Tânger que ficavam fragilizadas na nova conjuntura. Alguns sobreviventes lograram alcançar Arzila, que se mantinha portuguesa, e daí passaram aos portos nacionais – foi por eles que se foram sabendo os horrores da matança –, mas a maio-ria ficou presa em Marrocos, entregue à sua sor-te. A pouco e pouco, alguns foram resgatados.

Houve porém outras medidas tomadas pelo novo soberano, que me parecem importantes

de salientar. A primeira foi a de afastar e castigar

todos aqueles que, de forma ostensi-va, tinham apoiado a iniciativa régia da expedição africana. O caso mais conhecido de todos, e aquele que granjeava o maior ódio popular, foi o do secretário Pêro de Alcáçova Car-neiro, que, com grande diligência, se encarregara dos aspectos financeiros da guerra. Foi julgado e condenado ao desterro para fora de Lisboa.

Todavia, as maiores energias políticas do rei seriam despendidas na busca de uma solução para a sucessão do trono de Portugal. O cardeal tinha 66 anos de idade e uma saúde precária. Para além disso, a condição de pre-lado obrigara-o a voto de celibato e castidade, pelo que não tinha filhos. De forma que o futuro do país – que se presumia ser muito próximo – era particularmente incerto. Toda a linha sucessória de D. João III desaparecera com D. Sebastião, recorrendo-se aos descendentes de D. Manuel, de quem D. Henrique era o último filho. E era nos netos do Venturoso que deveria ser encontrado outro sucessor. Poderia ser

Dª Catarina, casada com o duque de Bragan-ça e filha do infante D. Duarte; ou Filipe II de Espanha, filho de Isabel de Portugal. A maioria das restantes hipóteses era muito mais frágil. Exceptuava-se D. António Prior do Crato, que era filho do infante D. Luís. Mas marcado pelo estigma da bastardia que o arredava das pre-tensões mais óbvias ao trono. D. Henrique, porém, não arredou de todo a possibilidade de ter herdeiros e essa foi a sua primeira prio-ridade. Precisava apenas de obter a dispensa papal para poder casar e ter filhos. Mas, como veremos, essa seria uma das suas derrotas di-plomáticas.

J. Semedo de MatosCFR FZ

N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.

(1)

OS ECOS DE ALCÁCER QUIBIROS ECOS DE ALCÁCER QUIBIR

Cardeal Rei D. Henrique.

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FEVEREIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA14

Sala do Risco - Anexo do Museu da Marinha.

D. Luís.

MUSEU DE MARINHA150 ANOS DE HISTÓRIA

COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA

Em julho de 1862, nasceu o Museu de Marinha1. Foi seu «pai» o rei D. Luís. Um olhar breve sobre a vida deste monarca

permite-nos explicar a criação deste museu durante o seu reinado. Em primeiro lugar, a in-fluência paterna. Seu pai, Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, mais conhecido como D. Fernando II, foi rei-consorte, pelo casamento com a rainha D. Maria II. Sendo a política dirigida pela rainha, D. Fernando dedicou-se essencialmen-te às artes e à cultura. E tentou incutir esse gosto nos seus filhos, procurando que tivessem uma educação esmerada e proporcionando-lhes viagens por di-versos países da Europa. Por outro lado, tendo D. Luís um irmão mais velho, D. Pedro, seria este que deveria reinar. Por essa razão, D. Luís foi destinado a uma carreira de oficial de Marinha. Ingressou na Escola Naval com oito anos de ida-de, em 1846. Vale a pena recordar que esta escola fora fundada por sua mãe no ano anterior ao da sua admissão.

A morte prematura do irmão, em 1861, sem deixar descendência, impli-cou a coroação de D. Luís. Com um in-teresse particular pelos assuntos do mar, não admira que tenha decretado a cria-ção de um Museu de Marinha, funcio-nando junto da Escola Naval, que ele próprio tinha frequentado. Note-se que este interesse pelos assuntos ligados ao mar não era exclusivo de D. Luís. Curiosamente, no mesmo ano em que ele fundou este museu, nasceu o seu filho primogénito, o futuro rei D. Carlos. Também ele se dedicou intensamente a atividades marítimas, sendo considerado o fundador da oceanografia em Portugal, tendo levado a cabo diversas campa-nhas ao largo da costa portuguesa. A rainha D. Amélia, mulher de D. Car-los, também era uma aficionada pelas atividades náuticas possuindo diversas embarcações que ela própria mano-brava. O Museu de Marinha possui modelos de várias dessas embarcações. Possui, igualmente, modelos de outras embarcações que foram propriedade de D. Maria Pia, casada com D. Luís. O fascínio pelo mar e por tudo o que a ele dizia respeito foi uma caraterística dos membros da família real ao longo de gerações. Recordemos que o espólio inicial do Museu de Marinha contem-plava diversos modelos que estiveram no Palácio da Ajuda e que D. Maria II decidira doar à Academia de Guardas-marinhas.

Expostos alguns dos aspetos do contexto

em que surge o Museu de Marinha, vamos apresentar seguidamente um breve historial do mesmo. Será mesmo breve, uma vez que a história do Museu de Marinha já foi por diversas vezes «contada» nas páginas desta

revista, assim como noutras publicações mais ou menos acessíveis aos leitores da Revista da Armada. Para aqueles que desejem apro-fundar o estudo sobre a história do Museu de Marinha, deixamos algumas referências, sem que a lista que se segue seja exaustiva.

Se procurarmos nos primeiros anos da Re-vista da Armada, encontramos um texto redi-gido por um oficial da Reserva Naval, o Sub-

tenente Manuel Maia. Publicado no nº 25, de outubro de 1973, o artigo, que tem por título Museu de Marinha, conta a história da insti-tuição, realçando a importância da Coleção Seixas. No número de março de 2004, sur-

ge o artigo Museu de Marinha – 140 anos, da responsabilidade da direção do museu. Recorde-se que o Museu de Marinha completara os 140 anos no ano anterior, sendo nesse contex-to que surge este artigo. Ao longo de cinco páginas, ricamente ilustradas, é apresentada a evolução histórica do Museu de Marinha, seguindo-se a descrição do modo como o mesmo estava organizado à data da redação do texto, dedicando alguns pará-grafos à coleção Seixas. Dedicado a este importante espólio do Museu de Marinha existe um artigo na revista de dezembro de 2004, A colecção Seixas, da autoria do Comandante Seixas Serra.

Fora das páginas da Revista da Arma-da, vale a pena mencionar o artigo in-serido no número dos Anais do Clube Militar Naval, de outubro-dezembro de 2003, dedicado à Cultura na Ma-rinha. Assinado por cinco autores, to-dos eles prestando serviço no Museu de Marinha à data da redação, este texto descreve a história do organis-

mo, a situação do mesmo, no ano em que o texto foi escrito, e as perspetivas para o futuro próximo. Este mesmo artigo foi posteriormen-te incluído, em 2006, numa obra publicada pela Academia de Marinha, com o título A Cultura na Marinha. Para a coleção Seixas,

vale a pena consultar o texto de Luís António Marques História da Colec-ção Seixas, inicialmente publicado nos Anais do Clube Militar Naval, em 1970, e republicado pelo Museu de Marinha, na série Monografias, numa versão revista e significativamente au-mentada. Bastante útil para perceber a dimensão deste espólio, doado por Henrique Maufroy de Seixas, é o catá-logo da exposição realizada em 1988, por ocasião dos 40 anos do seu faleci-mento. Finalmente, para ler uma breve história do Museu de Marinha e acima de tudo para ter uma noção do espólio rico e diversificado que o mesmo pos-sui, importa consultar a obra Tesouros do Museu de Marinha, publicado em

2012, pela Comissão Cultural da Marinha, no âmbito da comemoração dos cinquenta anos da presença do museu em Belém.

MUSEU DE MARINHA

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REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 15

Inauguração do Museu de Marinha em Belém - 1962

Henrique Maufroy de Seixas.

Apresentado o «estado da arte», segue-se o breve resumo histórico da instituição. O mu-seu que D. Luís criou era destinado essencial-mente a fins didáticos. Por essa razão, fazia todo o sentido que o mesmo funcionasse jun-to à Escola Naval. Esta estava instalada no Ar-senal da Marinha, na Sala do Risco. Foi nesta sala que o Museu de Marinha começou por estar instalado, e ali permaneceu até 1949. Além dos modelos já mencionados, oriundos do Palácio da Ajuda, integravam ainda o es-pólio original diversos objetos e instrumentos pertencentes à Escola Naval, que já não eram utilizados.

Em 1916 ocorreu um grande in-cêndio nas instalações do Arsenal da Marinha, tendo sido bastante afetada a Escola Naval e também o Museu de Marinha. Perderam-se muitos dos mo-delos acima referidos, assim como ou-tros objetos. O espaço foi reconstruído e tanto o museu como a Escola Naval continuaram a funcionar no Arsenal da Marinha. Contudo, estava em marcha um processo de mudança de diversas unidades de Marinha para o Alfeite, na Outra Banda. Entre estas contava-se o Arsenal da Marinha e a Escola Naval. A transferência desta última ocorreu em 1936. O Museu de Marinha pas-sou a ter existência autónoma, deixando de estar integrado naquela escola. Foi seu primei-ro diretor o Capitão-de-mar-e-guerra Henrique Quirino da Fonseca. Este oficial desempenha-va igualmente as funções de diretor da Biblio-teca de Marinha, que tal como o museu tinha funcionado até então junto da Escola Naval.

Em 1949 o Museu de Marinha foi transferido para o Palácio dos Condes de Farrobo, nas La-ranjeiras. Tal aconteceu porque o espaço que o mesmo ocupava no antigo Arsenal da Marinha não era suficiente para abarcar o espólio que entretanto foi re-cebido. Estamos a falar da Coleção Sei-xas. Henrique Maufroy de Seixas de-dicou praticamente toda a sua vida, e uma parte substancial da sua fortuna, à criação, em sua casa, de um verdadei-ro museu dedicado ao mar e às ativi-dades a ele ligadas. Constituído essen-cialmente por dezenas de milhares de fotografias, centenas de modelos e de-zenas de obras de arte, além de outros objetos de tipologia diversa, o espólio deste museu foi deixado por Seixas ao Museu de Marinha. No seu testamento deixou bem claro que a doação impli-cava que a sua coleção fosse exibida num local com dimensão e dignidade para a receber. A solução, provisória, encontrada foi deslocar o Museu de Marinha para o mencio-nado palácio, sito nas Laranjeiras.

Desde a década de trinta que se colocava a hipótese de deslocar o Museu de Marinha para a zona de Belém. Ao longo dos anos cinquenta foram desenvolvidas diversas diligências nesse sentido sendo de assinalar a ação do Almirante Américo Tomaz, então Ministro da Marinha, e em 15 de agosto de 1962 concretiza-se a

instalação do Museu de Marinha no Mosteiro dos Jerónimos. Expoente máximo do Manueli-no, este monumento tem uma ligação íntima com a epopeia dos Descobrimentos. Por esse motivo, faz todo o sentido instalar aqui o Mu-seu de Marinha. O museu ocupa as alas Po-ente e Norte do chamado anexo ao Mosteiro. A sua instalação neste local implicou ainda a construção de outros edifícios para exposição e apoio às atividades do museu. O projeto arqui-tetónico foi realizado por Frederico Henrique George, tendo Gonçalo Ribeiro Telles como

arquiteto paisagista. Este projeto contempla-va o Pavilhão das Galeotas, para exibição de embarcações com dimensões consideráveis, o edifício administrativo e as oficinas e outros edifícios de apoio, assim como o espaço ajar-dinado, fronteiro ao edifício administrativo. Da autoria do mesmo arquiteto é o Planetário Calouste Gulbenkian, construído na mesma década de sessenta, contíguo ao edifício ad-ministrativo do Museu de Marinha.

Para assinalar o sesquicentenário do Museu de Marinha estão previstas diversas iniciati-vas: atividades do âmbito do Serviço Educa-tivo, com realização de trabalhos escolares, por parte dos alunos que visitam o museu e exibição desses trabalhos; realização de um concurso de fotografia e exposição de fotogra-fias obtidas nesse concurso e a organização de uma feira do livro com obras de temática marítima. Deverá ocorrer durante este ano de 2013 o lançamento da edição em língua in-

glesa da obra Tesouros do Museu de Marinha. Ainda no âmbito das comemorações dos 150 anos do Museu de Marinha, prevê-se que seja inaugurado em Cacilhas um novo polo naval, com a colocação do submarino Barracuda em doca seca, junto à fragata D. Fernando II e Glória. A inauguração deste novo espaço será também associada às comemorações dos Cem Anos dos Submarinos em Portugal, efe-méride que se assinala também em 2013.

Outros momentos altos da evocação deste aniversário especial do Museu de Marinha

serão: a realização de uma sessão solene, a ocorrer no museu; uma ex-posição dedicada à história do museu e a participação do mesmo na orga-nização de um grande congresso in-ternacional. Estamos a referir-nos ao International Congress of Maritime Museums, que se realiza todos os dois anos. No anterior, realizado nos Estados Unidos, Portugal apresentou uma candidatura para organizar o de 2013, tendo sido bem sucedido. A or-ganização deste congresso, a ocorrer em setembro, está atribuída a diversas entidades, entre as quais se encontra o Museu de Marinha.

Foi ainda decidido levar a cabo a publicação de diversos artigos nesta

Revista da Armada. Serão textos da autoria de investigadores, das áreas da história, da arqui-vística e da museologia, que prestam serviço na área cultural. Pretende-se com estes artigos dar a conhecer diversos aspetos relativos à his-tória do museu, ao seu funcionamento e a al-gumas das suas coleções. Vale a pena realçar o facto de esta abordagem não ser exaustiva. Os temas a abordar em cada um dos artigos foram propostos pelos respetivos autores, em

função da sua vocação para analisar um determinado assunto. Assim, estão previstos textos sobre a vida e obra do fundador do Museu de Marinha e so-bre os edifícios construídos na década de sessenta do século passado para fins museológicos. No que diz respeito aos espólios, serão analisados os seguintes: fotográfico, cartográfico, das reservas, dos reservados da biblioteca, ou ain-da o da aviação naval. Um dos artigos será dedicado à documentação refe-rente ao Museu de Marinha, existente no Arquivo Histórico de Marinha. A questão das acessibilidades também não foi esquecida, sendo-lhe dedicado um dos textos, enquanto que um ou-tro se debruçará sobre o emprego das

novas tecnologias como ferramenta para um novo tipo de discurso museológico.

Colaboração da COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA

Notas1O Museu conheceu diversas designações ao longo da sua existência. No entanto, existiu sempre uma continui-dade de funcionamento do mesmo, independentemente do nome pelo qual foi conhecido num determinado mo-mento. Neste texto, usaremos sempre a designação de Museu de Marinha.

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FEVEREIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA16

O CENTRO DE INVESTIGAÇÃO NAVAL E O PATRIMÓNIO CULTURAL MARÍTIMO

Antes de estabelecer a relação entre os dois tópicos a que se refere este artigo, torna-se necessário especificar cada

um deles, pois o primeiro é infelizmente pou-co conhecido e o segundo tem sido definido de diversas formas.

Começando com o segundo, conforme já foi referido, a expressão Património Cultural Ma-rítimo, no amplo universo cultural do mundo que nos rodeia, não acolhe uniformidade de conceitos, embora ninguém tenha dúvida de que está relacionado com o meio aquático.

Contudo, e seguindo um paralelismo com o que ocorre com a definição de História Marí-tima, que estuda todas as atividades humanas no meio aquático, o Património Cultu-ral Marítimo deve ser encarado o con-junto de todos os restantes “patrimónios” ligados a esse meio – Património Suba-quático (naufrágios, vestígios e artefactos arqueológicos submersos), Naval (tipolo-gias de navios/embarcações e técnicas de construção naval), Náutico (instrumen-tos e técnicas de navegação, cartografia náutica, rotas e roteiros), Arquitectónico Costeiro e/ou Ribeirinho (faróis, portos, fortificações costeiras, moinhos de maré, etc...) – no seu sentido mais amplo, em termos de suporte físico ou mesmo não físico (tradição oral, por exemplo) e não como mais um desses “patrimónios”.

No mundo anglo-saxónico esta abran-gência tem paralelo com o que é defi-nido para o “Maritime Heritage”, cuja definição de acordo com a National Oceanic and Atmospheric Administra-tion (NOAA), é: “O património Marítimo inclui não apenas os bens materiais como naufrágios históricos e os sítios arqueoló-gicos pré-históricos, mas também a docu-mentação em arquivo e a tradição”.

E é só com esta definição que pode-mos compreender a total amplitude do conteúdo constante na brochura editada pela UNESCO sobre a Convenção da UNESCO para a Proteção do Patri-mónio Cultural Subaquático (Paris 2001), no que se refere ao património cultural: “O património cultural é um teste-munho inestimável da cultura das civiliza-ções passadas e da história da humanidade. O património subaquático, em especial, nos informa sobre modos de vida no mar, de tra-balho, rotas comerciais e guerras.”

Pois é esse património cultural subaquáti-co que vem de imediato à mente de todos nós quando falamos de património no meio aquático, pois a mesma brochura aponta para que “Nos últimos anos, o património cultural subaquático tem atraído atenção crescente da comunidade científica e do público em geral. Para cientistas, esse património representa uma valiosa fonte de informações sobre as civiliza-

ções antigas e acontecimentos marítimos his-tóricos. Para o público em geral, ele oferece a oportunidade de reforçar e desenvolver o mer-gulho de lazer e o turismo.”

Contudo, e conforme refere o arqueólogo Paulo Monteiro (2010), “apesar da sua rari-dade e do valor arqueológico que intrinseca-mente possuem, muitos destes vestígios estão ameaçados na sua coerência e integridade. Entre as maiores ameaças que enfrentam con-ta-se a pilhagem ocasional de sítios arqueoló-gicos submersos por parte de mergulhadores amadores, a acção deliberada de empresas de caça ao tesouro, o desenvolvimento de obras novas em frente marítima, a realização de

dragagens para desassoreamento de portos ou carregamento de praias e a pesca de arrasto.”

Infelizmente, o vasto património cultural marítimo português, em particular o suba-quático, tem sido alvo de inúmeras agressões, quer em águas de jurisdição portuguesas, como foi o caso do navio holandês Sloot ter Hooge (Porto Santo – 1974), como em águas internacionais como foi o caso dos inúmeros navios saqueados em águas de Moçambique por firmas de caça ao tesouro.

Atualmente, estima-se que Portugal tenha re-gistados na sua Carta Arqueológica Subaquática cerca de 7500 vestígios de natureza arqueoló-gica, na sua esmagadora maioria de natureza

náutica, confirmados ou potenciais, numa am-pla cronologia. Esses vestígios que um dia se perderam por acaso, acidente ou ato de guerra são testemunhos tangíveis das viagens portu-guesas espalhadas ao longo das rotas nacionais, de Lisboa ao Brasil, a África e ao Oriente, e são um instrumento precioso para o estudo e com-preensão dessas mesmas viagens, nos seus mais diversos aspetos técnicos (construção naval, náutica, organização, manobra, combate), so-ciais (vida a bordo), económicos e outros.

E, a esse número, todos os dias podiam ser incorporados mais registos, conforme mostram os dados do então Centro Nacio-nal de Arqueologia Náutica e Subaquática

(CNANS), fruto principalmente de acha-dos fortuitos efetuados por mergulhado-res amadores e não só.

Mas, irá levantar-se em breve a ques-tão em como vamos gerir e salvaguardar o nosso Património Cultural Marítimo a partir do momento em que o espaço sob jurisdição portuguesa passar para 18,7 vezes o atual território nacional com a inclusão da plataforma continental.

Em termos do quadro legal vigente so-bre este património cultural subaquáti-co e reconhecendo essa especificidade singular, por ser aquele que se encontra mais ameaçado, pois ao contrário do que se encontra à superfície, este permanece escondido da vista de todos, Portugal não só contemplou na sua Estratégia Nacional para o Mar a promoção “da preservação e valorização do patrimó-nio cultural subaquático, arqueológico e histórico bem como do estudo e da salvaguarda dos testemunhos arqueo-lógicos subaquáticos, protegendo-os da delapidação e degradação e apoiando a sua investigação” (D.R. nº. 237, Série I de 2006/12/12), como foi também um dos primeiros Estados a ratificar a Convenção da UNESCO sobre a Protecção do Patri-mónio Cultural Subaquático (ratificação publicada por Decreto do Presidente da República nº 65/2006, a 18 de julho, com base na Resolução da Assembleia

da República nº 51/2006, de 20 de abril).Assim, e pelo menos no plano das intenções,

foi delineada uma política aparentemente coe-rente de salvaguarda, estudo e valorização do património arqueológico subaquático, assumin-do o nosso país constituir esse conjunto de sítios submersos um recurso cultural estratégico não renovável da maior importância. Contudo, na recente Lei-Orgânica da Direcção-Geral do Pa-trimónio Cultural, entidade com responsabilida-des acrescidas nesta área (D.L. nº. 115/2012 de 25 de maio), não aparece qualquer referência ao Património Cultural Subaquático, nem Marítimo.

Paralelamente, mas noutra vertente e com res-ponsabilidades bastante diferentes, a Marinha

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REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 17

prossegue, no âmbito da sua Missão, Funções e Tarefas superiormente delineadas pelo Chefe de Estado-Maior da Armada através da Diretiva de Política Naval de 2011, a sua já longa ligação com o Património Cultural Marítimo nas seguin-tes vertentes: Fiscalização, preservação da He-rança Cultural e Investigação Científica.

Destas três faces, todas importantes, vou apenas abordar aquela à qual o Centro de Investigação Naval (CINAV) está diretamente ligado – a da investigação científica.

Este centro, formalmente criado pelo Despa-cho do CEMA nº4/2010 de 2 de fevereiro, mas cujas raízes são bastante anteriores, é uma unidade orgânica de investigação científica, desenvolvimento tecnológico e inovação, de índole multidisciplinar, integrado na Escola Naval e que atual-mente tem as seguintes Linhas de Inves-tigação, conduzidas pelos membros do CINAV: Estratégia Marítima, Saúde Na-val, Gestão da Manutenção, Robótica Móvel, Processamento de Sinal, Sistemas de Apoio à Decisão e História Marítima.

Nesta última linha de investigação, o expoente máximo tem sido o Mestrado em História Marítima (que se prevê bre-vemente passar a Doutoramento) e que é ministrado em associação com a Facul-dade de Letras da Universidade de Lisboa. E, mais recentemente, está previsto dar-se início ao Mestrado em História Militar (ministrado em parceria com cerca de 9 instituições universitárias civis e militares).

Mas, querendo a Linha de investigação em História Marítima expandir a sua atua-ção, preferencialmente com outras linhas e com outros centros de investigação, o CINAV deu início ou passou a integrar projetos relacionados com o Património Cultural Marítimo, nomeadamente:

Projeto ARCHINAVES – base de dados (português/inglês) dos navios portugueses de 1497 a 1808 (nesta primeira fase). O objetivo deste projeto é permitir uma consulta direta e automática das relações entre as centenas de navios portugueses que andaram no mar durante os séculos XV a XVIII, relacionando-os com as cen-tenas de milhares de pessoas que neles navegaram, permitindo conhecer de imediato todas as ocorrências em que estiveram implicados.

Projeto ARCHIMARIA – Considerando que a melhor forma de salvaguardar o Património Cultural Marítimo, em particular o Subaquático, e impedir que seja destruído ou pilhado é estudá-lo e divulgá-lo, está a ser ela-borado um Sistema de Informação Geográfica (SIG) com duas vertentes: uma como ferramen-ta de trabalho para os arqueólogos e outra para divulgação ao público em geral, possivelmen-te através de sistemas disponíveis na internet, como por exemplo o Google Ocean.

Estes projetos, ligados às teses de Mestrado Integrado dos cursos da Escola Naval, vão no sentido de garantir que o valioso património cultural marítimo e em particular o subaquático do mar português seja devidamente salvaguar-

dado e protegido, não só por via das atividades tradicionais da Armada, mas também através das vertentes de estimular o envolvimento e a participação dos cidadãos na sua salvaguarda.

Vertente essa que tem a vantagem de não estar limitada ao espaço sob jurisdição na-cional, em consonância com as intenções do Estado português, conforme está estabe-lecido no regime de proteção e valorização do património cultural português (Lei nº 107/2001, de 8 de setembro) que no seu nº 2 do Artigo 5º (Identidades Culturais) estabele-

ce que “o Estado Português contribui, ainda, para a preservação e salvaguarda do patrimó-nio cultural sito fora do espaço lusófono que constitua testemunho de especial importância de civilização e de cultura portuguesas”.

Paralelamente a estes projetos, o CINAV pode servir, para além de parceiro habilitado, de elo de ligação entre a restante estrutura da Marinha e as entidades externas, nesta área, nomeadamente através de:

a) Difundir, partilhar e coordenar a utiliza-ção dos meios da Marinha e objetivos ligados ao Património Cultural Marítimo identifica-dos por aqueles que conduzem projetos nesta

área. Exemplo disso será o de atribuir objeti-vos de identificação concretos aos meios da Armada em missão, em particular no treino de unidades de mergulhadores ou dos meios;

b) Apoiar, com meios humanos e materiais, projetos desta área;

c) Sensibilizar os meios humanos que fis-calizam as águas de jurisdição nacionais so-bre esta problemática, nomeadamente sobre as ameaças que este património incorre por parte dos designados caçadores de tesouros, através de palestras e exposições;

d) Sensibilizar os futuros oficiais das Marinhas amigas, cujos cadetes são formados na Escola Naval portuguesa e cujo património já foi ou é ainda hoje pilhado, também sobre este assunto;

e) Promover a ligação e o diálogo entre aqueles que realizam a investigação cien-tífica desse património e os que têm dia-riamente a responsabilidade de fiscalizar e velar pela integridade do mesmo no ter-reno, de modo a maximizar as sinergias daí resultantes, nomeadamente através da realização de ações conjuntas.

Assim, e tendo em consideração que já passaram quase quatro anos após a entrada em vigor da Convenção da UNESCO para a Proteção do Património Cultural Subaquático, ainda há muito por fazer. A Marinha, através dos seus di-versos órgãos, pode e deve ter um papel muito importante na sua preservação, e a Escola Naval, através do CINAV, con-sidera que pode contribuir para a con-textualização científica do património cultural subaquático, deixando estes de ser considerados como meros salvados de mar.

Tudo isto porque apesar de todas as leis e convenções existentes para pro-teger este património, o facto de “haver tesouros na costa” suscitará a cobiça e obrigará a medidas de segurança para evitar a pilhagem. E só há pilhagem do património quando há pouco conheci-mento sobre a sua importância.

A. Alves SalgadoCMG

Legendas das figuras:1 - O casco de um navio naufragado do tempo das Descobertas, pela sua raridade, permite tentar com-

preender essa máquina complexa, que era o navio.

2 - Um naufrágio é uma verdadeira cápsula do tempo, que ao contrário do que ocorre à superfície, permite ao arqueó-logo “recuar” no tempo com poucas interferências. O estu-do da carga, neste caso um dos diversos almofarizes encon-trados, permite compreender e comprovar, por exemplo, as rotas comerciais da época.

3 - Para além das “riquezas” em termos de conhecimento, nos naufrágios a prata e o ouro por vezes também estão presentes, acabando por atrair interesses “alheios” ao Pa-trimónio Cultural Marítimo. Uma moeda “real de 8” após cerca de 500 anos no mar.

4 - A divulgação e a criação de espaços visitáveis, é uma das formas mais importantes de preservar o Património Cultural Marítimo, como acontece no Algarve, nos destroços do na-vios francês L’Ocean.

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FEVEREIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA18

A SALA DO RISCODO ARSENAL DA MARINHA

ESPAÇO POLIVALENTE DA MARINHANO FINAL DO SEC. XIX E PRINCÍPIO DO SEC. XX

Planta da Escola Naval e Sala de Risco.

Cerimónia oficial que assinaloua entrada do Príncipe D. Manuel na Escola Naval.

Cerimónia de abertura do Ano Escolar na Escola Naval. Aula de Educação Física.

Vista do Arsenal da Marinha em 1932, estando em evidência a Sala do Risco. (foto Horácio Novais)

Condecoração do estandarte da Escola Naval pelo Presidente Carmona. Instrução de Infantaria.

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REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 19

A SALA DO RISCODO ARSENAL DA MARINHA

ESPAÇO POLIVALENTE DA MARINHANO FINAL DO SEC. XIX E PRINCÍPIO DO SEC. XX

O Dr. Afonso Costa, Ministro da Justiça, no gabinete do Coman-dante da Escola Naval, indagando uma das 300 freiras que esti-veram detidas na Sala do Risco, de 5 a 11 de outubro de 1910.

Vista do interior da Sala do Risco do lado sul vendo-se ao fundo a Corveta Paciência e lateralmen-te as vitrinas com os modelos dos navios antigos pertencentes ao Museu de Marinha.

Corveta Paciência onde os aspirantes da Escola Naval aprendiam Marinharia e faziam exercícios de destreza.

Vista do Arsenal da Marinha em 1932, estando em evidência a Sala do Risco. (foto Horácio Novais) Anexo do Museu da Marinha.

Chá dançante dos aspirantes da Escola Naval.

Sala engalanada para o banquete em honra do Presidente eleito da República do Brasil e da guarnição do Couraçado S. Paulo a 2 de outubro de 1910.

Sessão do Tribunal Militar em 1925, presidida pelo General Carmona.

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FEVEREIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA20

DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA ARMADA

COMANDANTE DA ZONA MARÍTIMA DOS AÇORES/CHEFE DO DEPARTAMENTO MARÍTIMO/ /COMANDANTE REGIONAL DA POLÍCIA MARÍTIMA

● Em 22 de novembro tomou posse como Diretor do Centro de Educação Física da Armada (CEFA), o CFR SEG Nanques de Matos. A cerimónia decorreu no Pavilhão Desportivo deste organismo e foi presidi-da pelo Director do Serviço de Formação, CMG ECN Rapaz Lérias, tendo assistido SEXA Reverendíssima D. Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança, diversos almirantes, antigos diretores e professores civis, e muitos outros oficiais, sar-gentos, praças e civis que se associaram ao evento. Iniciou-se com a condecoração do Diretor cessante e após a leitura da Ordem usou da palavra o novo Diretor, destacando que o CEFA tem sa-bido corresponder às expetativas do seu projeto, o que tem vindo a ser ilustrado nas comemorações, em curso, dos seus 50 anos de existência. Salientou que a prática da atividade física e desportiva constitui uma dupla responsabilidade para cada um de nós, pelo facto de sermos cidadãos e militares.

De seguida, usou da palavra o Diretor, que referiu ser consabido que a prática desportiva é uma via privilegiada para a criação de hábitos salutares que se traduzem não só nas atividades dos cursos, mas também nas atividades físicas de manutenção e de aperfeiçoamento. Referiu ainda que importa realçar a importân-

● No dia 10 de janeiro, tomou posse o Coman-dante da Zona Marítima dos Açores/Chefe do Departamento Marítimo dos Açores/Co-mandante Regional da Polícia Marítima dos Açores, CALM Pires da Cunha, em cerimónia que decorreu nas instalações do Depósito da POLNATO em Ponta Delgada, presidida pelo Comandante Naval VALM Monteiro Monte-negro e com a presença do Director-Geral da Autoridade Marítima e Comandante Geral da Polícia Marítima VALM Cunha Lopes. Assistiram à cerimónia di-versas entidades militares, políticas e civis da região, destacando-se a presença do Dr. Ricardo Cabral (Vice-Presidente da Assembleia Le-gislativa Regional dos Açores em representação da Presidente), Eng.º L.N. Neto de Viveiros (Secretário Regional dos Recursos Naturais em representação do Presidente do Governo Regional), Dr. Juiz Conselhei-ro N.P. Lobo Ferreira (Presidente da Secção Regional do Tribunal de Contas), Dr. J.M. Bolieiro (Presidente da Câmara de Ponta Delgada), VALM Augusto Mourão Ezequiel (COA), MGEN José Manuel Cardo-so Lourenço (CZMA), MGEN Pilav. L.A. Flor Ruivo (CZAA).

Após a leitura da Ordem, onde foi lido o louvor que lhe foi atribu-ído, usou da palavra o CALM Mendes Calado, que no seu discurso salientou que nestes 34 meses de comando, foi um período bastante rico em termos profissionais pela diversidade da missão, pelo vasto espaço marítimo, pelo contacto com as diferentes entidades públicas e privadas.

Das palavras proferidas pelo novo Comandante sublinha-se a ênfase colocada na continuação do desenvolvimento e concretização dos vá-rios projectos já em curso, dar início a outros que venham a ser consi-derados necessários à modernização das capacidades da Marinha nos Açores e na prossecução de uma melhoria das condições de trabalho e de habitabilidade dos profissionais da Marinha.

cia do envolvimento do CEFA com as es-colas do ensino básico e preparatório que visitam as instalações, às quais, se deverá continuar a proporcionar atividades físi-cas diversificadas, bem como o apoio ao desporto escolar, nomeadamente na orga-nização de diversas provas de atletismo e de orientação, a par do apoio a federações, clubes desportivos, grupos de escuteiros e atletas individuais.

Por fim usou da palavra o Comandante Naval de que se salienta os elogios feitos ao CALM Mendes Calado bem expresso no lou-vor que lhe atribuiu. Referiu-se seguidamen-te ao empossado salientando as suas sólidas qualidades pessoais e profissionais, e manifes-tou em seu nome e do Director Geral da Au-toridade Marítima, a total confiança e completo apoio, convicto de que saberá encontrar o rumo certo para cumprir com as suas responsabilidades.

ENTREGA DE COMANDO

TOMADA DE POSSE

Foto

Júlio

Tito

Foto

Júlio

Tito

O CFR José Nanques de Matos é natural de Ponte de Sôr. Foi incorporado na Marinha, tendo frequentado o CFORN, ramo de FZ, na EF.

Enquanto oficial FZ RN exerceu diversas funções no BF2. Em 1983/84 obteve a especialização em Educação Física no extinto Instituto

Superior de Educação Física de Lisboa. Ingressou no Quadro SE, ramo de Edu-cação Física, em 1984. Exerceu o cargo de Chefe do Serviço de Educação Física na EF, de 1984 a 1987; na Força de Fuzileiros do Continente de 1987 a 1992; no G1EA, de 1992 a 1994. De 1994 a 2000 foi professor de Educação Física na EN e de 2000 a 2007 exerceu, no CEFA, os cargos de Chefe do Gabinete de Atividades Físicas e de Subdiretor. De 2007 a 2010 exerceu funções no EMA e de 2010 a 2012 exerceu, no IESM, os cargos de Chefe do Gabinete de Planeamento e Programação e de Chefe do Gabinete do Diretor.

É habilitado com o CCNG e licenciado em Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa.

Da sua folha de serviço constam diversos louvores e condecorações.

O CALM Fernando Manuel de Macedo Pires da Cunha nasceu em Lisboa e frequentou o curso de Marinha da EN. Esteve embarcado nos NRP´s Cmdt Roberto Ivens e Gen. Pereira D’Eça. Após a sua especialização em A/S, desempenhou as funções de Oficial A/S no NRP Alm Magalhães Corrêa.

Teve o seu primeiro comando no mar, no NRP Zaire, atribuído à fiscalização da pesca e a missões SAR e participou em vários exercícios nacionais e NATO. Foi Imediato do NRP Jacinto Cândido e Comandante do NRP Cmdt Hermenegildo Capelo, tendo desem-penhado várias missões e participado em exercícios nacionais, NATO e multinacionais, integrando a força da EUROMARFOR. Participou, na missão de apoio à paz em Timor--Leste entre Janeiro e Julho de 2000.

Foi CEM do Grupo-tarefa nacional (POTG), desempenhou as funções de CEM (CSO) da STANAVFORLANT, durante o periodo em que a SNFL esteve empenhada na Opera-ção Active Endeavour, de apoio ao combate do terrorismo internacional e à proliferação das armas de destruição massivas.

Foi instrutor de navegação e comandante de companhia na EN, e no CN desempe-nhou as funções de Oficial responsável pelas Operações de Superficie e Anfíbias. Esteve colocado no CINCIBERLANT (actual JFC LISBON), responsável pelas áreas A/S e GE e Adjunto do Oficial responsável pelo planeamento dos exercícios na área do IBERLANT (IBERLANT AOR), tendo estado na génese do desenvolvimento do conceito dos exercí-cios da série LINKED SEAS. Foi capitão dos portos de Vila Real de Santo António e de Tavira. Desempenhou funções no EMA, como Adjunto do Chefe da DIVOPS para o Treino e Exercícios, e mais tarde como Chefe da Divisão. Foi 2o Comandante da Flotilha.

Exerceu o Comando da Flotilha, foi 2º Comandante Naval (2008-09). Em dezembro de 2009 foi o CEM do Joint Force Command Lisbon em Oeiras.

Frequentou vários cursos e aperfeiçoamentos nomeadamente no estrangeiro.Foi galardoado com vários louvores condecorações.

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REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 21

RESTAURO DA PINTURA DO RETÁBULODO ALTAR-MOR DA CAPELA DE SÃO ROQUE

Tipologia: Pintura de cavaleteTema: Alegoria a São RoqueAutoria/atribuição: José da Costa NegreirosÉpoca: Séc. XVIIIDimensões: 230 cm x 360 cm (Larg. x Alt.)

A capela de São Roque está integrada no edifí-cio do antigo Arsenal da Marinha, tem aces-so pelo pátio interior, e situa-se junto à entra-

da virada para a praça do Município. Esta segue a tipologia pombalina do edifício, distinguindo-se ex-teriormente apenas por uma singela cruz, pela sine-ta sobre a porta e a utilização de vidros de catedral.

Interiormente tem um pé direito triplo que, enal-tecido pela decoração profusa e de qualidade re-conhecida, designadamente pela sua pintura mu-ral, marmoreados, estuques, azulejaria e talha, lhe confere, conforme informação da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais datada de abril de 2000, um lugar absolutamente singular na arquitetura religiosa da época.

Esta capela, de indiscutível valor histórico pa-trimonial e indissociável do culto prestado pelos Carpinteiros de Machado, por vicissitudes várias, tem sofrido uma significativa degradação com consequências visíveis em toda a decoração exis-tente tornando urgente providenciar a conserva-ção e o restauro do seu interior.

Atento o exposto, e após aprovação da Direção Geral do Património Cultural em dezembro de 2012, iniciou-se a ação de conservação deste es-paço de culto pela pintura inserida no retábulo em talha dourada e policromada do altar-mor, conjun-to escultórico atribuído a Machado de Castro.

A pintura atribuída a José da Costa Negreiros (Guimarães, 2006, p 92) representa um episódio alegórico da vida de S. Roque, padroeiro e prote-tor dos Carpinteiros de Machado, dos inválidos e cirurgiões, no qual o santo após ter curado várias vítimas da peste e daí ter contraído a doença, ter--se-á isolado numa floresta para não contaminar ninguém. Teria aí morrido de fome se não fosse um bom cão que vinha cada manhã trazer-lhe um pão roubado da mesa do seu dono. Este intrigado com o animal que roubava com tanta regularidade seguiu-o pela floresta. Encontrou o doente, travou amizade com ele e fez o possível para lhe melhorar a sorte (Santos de Cada Dia p. 548 vol. II)

Nesta obra o pintor remete em primeiro plano para três figuras – o santo, o anjo, e o cão – num arranjo triangular onde o santo surge sentado do lado esquerdo, com a cabeça apoiada sobre a mão esquerda em sinal de enfermidade. A mão direita segura um bastão, cuja diagonal introduz dinamismo à composição. No vértice do triângulo surge a figura alada do anjo, com a mão direita apoiada nas costas do santo em sinal de reconfor-to, e a mão esquerda, apontando para uma figura em segundo plano, montando um cavalo, que re-presenta o dono do cão.

A leitura das cores e dos motivos desta pintura é perturbada pelo escurecimento geral causado pela sujidade depositada e pelo verniz alterado. Con-tudo é do ponto de vista da conservação que se prescreve um cuidado de maior urgência, uma vez

que em vários locais a tinta se encontra em risco de se destacar, e perder irremediavelmente, e em outros o suporte de tela apresenta rasgos e defor-mações. Tendo presente o sentido de responsabili-zação, a Marinha tomando a iniciativa de estancar a degradação desta obra ao seu cuidado pretende contribuir para a conservação do património co-mum, que constitui as nossas referências históricas, em suma, a identidade e a memória de um país.

Em dezembro do ano findo teve início a cam-panha de conservação e de restauro, com a des-montagem e apeamento da pintura do respetivo retábulo (Fig. 1). Os trabalhos são conduzidos pelo Dr. José Mendes e Dr.ª Dina Reis, prevendo-se a sua conclusão no primeiro trimestre de 2013.

O apeamento deixou a descoberto um nicho em arco de volta inteira contendo elementos poli-cromados e de talha dourada de grande interesse, sugerindo um plano iconográfico diferente do que atualmente existe com a pintura sobre tela (Fig. 2). Este espaço é momentaneamente visitável, sendo uma oportunidade única de observar ao vivo esta parte do retábulo, que após o tratamento da pintu-ra ficará novamente oculto.

A pintura será intervencionada no espaço contí-guo à capela, que poderá ser visitado em horários específicos, permitindo aos interessados a inte-ração com os técnicos, testemunhando assim a evolução dos trabalhos de valorização desta obra.

De acordo com os procedimentos deontológi-cos de uma intervenção desta natureza o trata-mento de conservação surge em primeiro lugar, procedendo-se à estabilização física do suporte e da camada pictórica. Após este tratamento será devolvida à obra a sua leitura original. Para isso a pintura será limpa, o verniz alterado será subs-tituído e as áreas cromáticas que já se perderam serão reintegradas.

O momento da intervenção de conservação e de restauro é também o mais adequado para a recolha de micro-amostras de tinta e de tela, que serão analisadas em laboratório, permitindo através destas perceber como o pintor realizou a pintura, ou seja, os estratos de tinta que com-põem cada cor e os pigmentos e aglutinantes que foram usados. Não sendo conhecidos estu-

dos deste tipo sobre a pintura de José da Costa Negreiros torna-se importante a sua realização, constituindo assim um primeiro passo para o conhecimento da técnica deste pintor, à seme-lhança do que se tem realizado em outras obras do património português. Esta tendência é atual e crescente constituindo um elemento de estudo essencial à historiografia das obras de arte.

Existindo o interesse institucional de recuperar na totalidade a Capela de S. Roque, o projeto deverá ter em conta o trabalho de levantamento efetuado anteriormente pelo IPPAR e, dentro do viável, considerar na maior extensão possível a obtenção de mecenatos para a sua concretização.

RESTAURO DA PINTURA DO RETÁBULODO ALTAR-MOR DA CAPELA DE SÃO ROQUE

Fig.2Fig.1

José da Costa Negreiros nasceu em 1714 e faleceu em 1759. Era filho de Manuel da Costa Negreiros e irmão da mulher de Eugé-nio dos Santos Carvalho, afilhada do Marquês de Pombal. Foi discípulo de André Gonçal-ves, era muito hábil e muito apreciado e se-guiu o estilo do mestre. Pintou inúmeras obras de carater religioso, executou painéis para o Erário Régio, para o Senado da Câmara, para os Armazens da Fundição, para os conventos do Menino-Deus e das Carmelitas, para a Sé, para a Ermida do resgate e o S. Roque para a capela da Ribeira das Naus. Fez alguns tetos, na Quinta do Correio-mor, na Casa do Capítu-lo do Convento de S. Domingos de Benfica e decorações nos painéis dos coches de D. João V e dos Meninos de Palhavã. Ingressou na Ir-mandade de S. Lucas em 1745 (Guimarães, 2006, p 238).

Colaboração da UAICM e Dr. José Mendes

Referências bibliográficas:LEITE, José S. J. (1994) - Santos de cada dia. 3ª ed. Braga:

Editorial A. O., 1994. Vol. 2. ISBN 972-39-0183-8.GUIMARÃES, Maria L. O. (2006) - A Capela de S. Roque

Real Arsenal da Ribeira das Naus. Edições Culturais da Marinha, 2006. ISBN 972-8004-87-7.

Fontes das Figuras:Fig.1 - Autoria: Dina Reis, 2012.Fig.2 - Autoria: José Mendes, 2012.

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FEVEREIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA22

IN MEMORIAM NUNO VALDEZ DOS SANTOS

ACADEMIA DE MARINHA

IN MEMORIAM NUNO VALDEZ DOS SANTOS

Em 27 de Novembro de 2012, decorreu na Academia de Marinha uma Sessão de homenagem In Memoriam Nuno Valdez

dos Santos, por ocasião do primeiro aniversá-rio do falecimento do académico Emérito da Classe de História Marítima.

Nas palavras de abertura, que intitulou “Gratidão, Orgulho e Saudade”, o Presi-dente Vieira Matias enalteceu as qualida-des pessoais e militares do Coronel Val-dez dos Santos, salientando a sua vasta produção académica, “como o demons-tram as 19 comunicações que aqui apre-sentou, entre 21 de Fevereiro de 1982 e 14 de Outubro de 2008, as 7 interven-ções que fez noutros tantos simpósios de História Marítima e os 3 livros que deu a publicar à nossa Academia”. Mais à frente disse ter sido “ um labor muito profícuo pelo qual será sempre insuficiente toda a gratidão que consigamos demonstrar. Só que, a intensidade deste sentimento tem ainda de ser aumentada, e por dois mo-tivos. Porque ficámos a dever ao nosso Académico Emérito o orgulho que sem-pre sentimos pelo prestígio que carreou para a Academia e também porque a generosidade que teve em vida, com as dádivas de saber que nos fez, se prolonga, agora e pelos tempos fora, com o legado que deixou à Academia de trabalhos e de livros que, orgulhosamente, iremos preservar e estudar”, referindo-se ao espólio oferecido pela Família, em cumprimento da vontade do académico, e que veio enriquecer, com cerca de dois mil volumes, o acervo bibliográfico e documental da Biblioteca Teixeira da Mota.

A terminar, o Almirante Viei-ra Matias disse que “A gra-tidão que sentimos será tão longa quanto a capacidade da memória de cada um de nós. Contudo, agora e aqui que procuramos homenagear o ilustre académico que foi Valdez dos Santos, devemos, embora de forma singela, mas muito sentida, enviar-lhe para o Alto o nosso agradecimento: Muito obrigado Senhor Coro-nel Valdez dos Santos. Temos muitas saudades suas”.

A sessão prosseguiu com uma intervenção do General Alexandre de Sousa Pinto, Presidente da Comissão Portu-guesa de História Militar, de que o homena-geado era membro, na qual traçou uma breve biografia da sua carreira militar.

“Tendo sido durante seis anos director da Biblioteca do Exército, o Director do Servi-ço Histórico Militar e o Sub-Chefe do Estado

desenvolvido ao longo dos seus treze anos de vida pelo General Themudo Barata e os seus colaboradores produziram efeitos benéficos para a História Militar de Portugal que tão per-dida andava. Ao suceder ao General Themu-

do Barata vim encontrar o trabalho mais difícil já feito e, portanto, os caminhos aplanados tornando-se necessário apenas não os deixar deteriorar e, por outro lado, encontrar formas de dinamizar as activi-dades, diversificando-as. É o que temos vindo a procurar fazer nos já perto de quatro anos em que presido à Comissão. Uma das actividades em que nos temos empenhado é, exactamente, na criação de uma biblioteca que nos apoie e apoie todos os que nos procuram para investi-gar e estudar aspectos concretos da His-tória Militar”.

Na segunda intervenção, a cargo do académico José António Rodrigues Perei-ra, foi focada a colaboração do homena-geado, enquanto membro da Comissão Técnica Consultiva do Museu de Mari-nha, iniciada em 1976 e mantida ao lon-go de 34 anos.

O Comandante Rodrigues Pereira refe-riu que teve o “privilégio de acompanhar a acção do Coronel Valdez dos Santos desde 1985 […] até final de 2005 como membro daquela Comissão e depois,

de 2006 a 2010 como director do Museu Marinha”. Recordou o apoio que lhe presta-ra, quando director da Biblioteca do Estado--Maior do Exército, nas investigações enquan-to professor da Escola Naval; e ainda que “os conselhos foram de extraordinário valor” na

preparação das suas “primei-ras conferências no Instituto Superior Naval de Guerra que, anos mais tarde, se trans-formariam nos livros Campa-nhas Navais e Batalha Naval do Cabo de São Vicente”.

Na parte final da sua comu-nicação salientou que a “dis-ponibilidade do Coronel Val-dez dos Santos para colaborar com o Museu de Marinha foi permanente, mesmo quando a saúde já não lhe permitia manter a sua actividade no elevado nível a que nos habi-

tuou”, e que contou ainda “com a sua precio-sa ajuda” quando preparava o livro Marinha Portuguesa – Nove Séculos de História.

Na terceira intervenção, a cargo do acadé-mico José Manuel Malhão Pereira, foi abor-dada a importância e qualidade da colabo-ração do homenageado com a Academia de Marinha, iniciada ainda antes de ser eleito

Maior do Exército louvam-no pela extraor-dinária dedicação, eficiência, empenho e competência com que exerceu essas funções, considerando-o o primeiro «muito trabalha-dor, culto e devotado ao estudo dos assuntos

relacionados com a história militar, mercê da sua infatigável actividade alcançou um justo prestígio como investigador e especialista nes-te ramo, particularmente no que concerne ao armamento, sendo já numerosos os trabalhos publicados bem como as conferências e ou-

tras intervenções para que é solicitado com frequência» e o segundo considera-o «dotado de uma sólida cultura, estudioso e investiga-dor incansável dos assuntos de história mi-litar»», disse o orador, que salientou ainda – referindo-se a uma carta que lhe havia dirigido – que «Como ilustre e dedicado colaborador desta Comissão, sabe bem como o trabalho

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REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 23

LANÇAMENTO DO LIVRO “DAS NAUS À VELA ÀS CORVETAS DE FERRO”A MARINHA DE GUERRA E A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE PORTUGUESA - 1807 A 1857

Comunicações nas sessões culturais da Academia de MarinhaSetecentos anos de Estudos Navais em Portugal21 de Fevereiro de 1982A Hierarquia Naval20 de Junho de 1984A Artilharia Naval e os canhões do galeão Santiago18 de Dezembro de 1985Pedras que falam do Mar10 de Dezembro de 1986A Marinha na época da Restauração24 de Fevereiro de 1988Um desconhecido Tratado de Marinharia do séc.XVIII25 de Janeiro de 1989A representação das Armas nacionais nas peças de artilharia11 de Julho de 1990Os «Regimentos navais» do Marquês de Pombal24 de Junho de 1992As Bibliotecas Militares e o núcleo de temática marítima da Biblioteca do Exército11 de Abril de 1995O Padre António Vieira e o Mar11 de Dezembro de 1997Os primeiros e os últimos navios a carvão da Marinha de Guerra Portuguesa2 de Junho de 1998

Achegas para a História das Bandeiras Navais23 de Março de 1999A Artilharia Neurobalística e os navios dos Cruzados na Conquista de Lisboa20 de Junho de 2000Dom Sebastião e o Mar22 de Janeiro de 2002Lançamento do livro - Apontamentos para a História da Marinha Portuguesa Vol. II27 de Janeiro de 2004O Professor Charles Boxer. Recordando um Mestre e um Amigo9 de Novembro de 2004Os magníficos canhões da Ilha de Malta13 de Dezembro de 2005Iconografia Naval Portuguesa. Apontamentos para o seu estudo7 de Março de 2006Dois canhões portugueses com inscrições orientais14 de Outubro de 2008

Comunicações nos Simpósios de História Marítimada Academia de MarinhaOs Regimentos de viagem das frotas do BrasilI Simpósio de História Marítima, 10 de Dezembro de 1992D. João II e a defesa marítima de PortugalIII Simpósio de História Marítima, 12 de Outubro de 1995D. João II e o Oceano Índico. Algumas dúvidas e

controvérsias sobre a Viagem de Vasco da GamaIV Simpósio de História Marítima, 21 de Novembro de 1996Os Naufrágios da Carreira da Índia V Simpósio de História Marítima, 21 de Outubro de 1998Os Navios da Armada de Álvares Cabral – dúvidas e controvérsiasVI Simpósio de História Marítima, 26 de Outubro de 2000Fernão de Magalhães – algumas facetas da sua vidaVII Simpósio de História Marítima, 24 de Outubro 2001A Gloriosa Batalha e a Inglória RefregaIX Simpósio de História Marítima, 26 de Outubro de 2005

Comunicações em representação da Academia de MarinhaO Tejo e o Terramoto de 1755Academia das Ciências de Lisboa, 26 de Fevereiro de 2007Navios dos Cruzados na Tomada de LisboaSociedade de Geografia de Lisboa, 26 de Outubro de 2007

Livros publicados pela Academia de MarinhaApontamentos para a História da Marinha Portugue-sa, Vol I - 1991Apontamentos para a História da Marinha Portuguesa, Vol II - 2003Dieta Náutica e Militar (em colaboração)Notas Introdutórias – “Através do Autor da Dieta Náutica”- 2004

seu membro em 1984. “A ação de Valdez dos Santos na Academia de Marinha desde a sua admissão é das mais notáveis.”, disse o ora-dor, que prosseguiu salientando que “esteve praticamente presente em todos os Simpósios, colaborou em inúmeros trabalhos colectivos, proferiu inúmeras conferências, representou frequentemente a Aca-demia no âmbito da colaboração com outras instituições” e “traba-lhou intensivamente na elaboração dos seus queridos Apontamentos para a História da Marinha”. “As 19 comu-nicações que proferiu, não o foram só em quantidade, mas também em qualidade. Os temas, sempre relacionados com a Armada, abarcam a artilharia naval, o ensino náutico, os regulamentos e leis da Armada,

No passado dia 18 de de-zembro, decorreu, nas instalações da Livraria

“Ferin”, em Lisboa, a apresenta-ção do livro Das Naus à Vela às Corvetas de Ferro - A Marinha de Guerra e a Evolução da Socieda-de Portuguesa de 1807 a 1857, da autoria do CFR Jorge Moreira Silva e editado pela Tribuna da História.

Este trabalho, baseado na tese de mestrado em História Marítima do autor, analisa a evolução da Marinha

a iconografia, os sinais, entre outros”, acrescentou o Comandante Malhão Pereira na fase final da sua comunicação.

Por fim usou da palavra a filha primogé-nita do Coronel Nuno Valdez dos Santos, Dra. Maria da Graça, que agradeceu, em

de Guerra Portuguesa entre os anos de 1807, que marca a partida da Corte para o Brasil aquando da primeira Invasão

seu nome e da Família, a home-nagem que a Academia quis fazer a seu Pai, cuja memória e faceta humana traçou em breves aponta-mentos, plenos de afecto e emo-ção, a que a assistência corres-pondeu com uma forte e sentida ovação.

A sessão de homenagem termi-nou com a inauguração da sala onde ficou instalado o «Legado do Coronel Nuno Valdez dos Santos», e uma pequena mostra da produ-ção bibliográfica do ilustre Acadé-

mico, sendo ainda oferecida aos presentes a Separata com as intervenções proferidas. Na ocasião foram, simbolicamente, carim-bados os primeiros quatro livros do acervo – pela Viúva, pelas Filhas e por um Neto do Coronel Nuno Valdez dos Santos.

Francesa, e 1857, início do ree-quipamento naval e entrada ao serviço da propulsão a vapor e da construção em ferro, olhando a Instituição não só como espelho, mas também como agente ativo na transformação da realidade portuguesa naquele período.

A apresentação da obra ficou a cargo do VALM Alexandre Sil-va da Fonseca, tendo-se seguido uma sessão de autógrafos e um

“Setúbal de honra” a encerrar o evento.

Académico Emérito Coronel Nuno Valdez dos Santos

Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA

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O Botão de Âncorada Marinha PortuguesaO Botão de Âncorada Marinha Portuguesa

No dia 12 de Dezembro de 2012, no Pavilhão das Galeotas do Museu de Marinha, foi apresentado ao público o

livro “O Botão de Âncora da Marinha Portu-guesa“, da autoria do Dr. Paulo Santos.

Após uma pequena alocução do Director do Museu de Marinha, CALM Bossa Dionísio, a apresentação do livro coube ao CALM Roque Martins, Diretor da Revista da Armada, que afirmou:

A Revista da Armada nos números de No-vembro e Dezembro de 2011 continha um artigo em duas partes intitulado “O Famoso Botão de Âncora da Marinha Portuguesa” ela-borado pelo Dr. Paulo Santos. Este artigo foi muito bem aceite pela Comunidade Naval e suas extensões, não só pelo assunto em si, mas por ser praticamente inédito, tratando-se assim de uma primeira pesquisa nesta área.

O autor não era praticamente desconhecido para os nossos leitores, pois nesse mesmo ano de 2011 já tinha apresentado na nossa Revista, em Maio, um outro artigo intitulado “O Força-mento do Tejo em 1831 na iconografia marítima francesa”.

Se bem que a acção da esquadra francesa fosse tema conhecido, a sua representação pic-tórica, nomeadamente em França, escapava ao conhecimento generalizado. Assim a acção do Almirante Roussin acaba por nos ser apresenta-da em pinturas e gravuras bastante elucidativas que se encontram actualmente no Museu do Palácio de Versalhes e no Museu de Beaux Arts de Dijon. Neste artigo da Revista da Armada o Dr. Paulo Santos acaba por descrever porme-norizadamente as causas que levaram ao Força-mento do Tejo e as personagens envolvidas de ambas as partes. O artigo é deveras interessante.

Estes dois trabalhos valeram ao Dr. Paulo Santos o prémio “Almirante Pereira Crespo”, pois foram considerados, em 2011, a melhor colaboração da Revista da Armada.

Contudo, já em 2008, o Dr. Paulo Santos tinha publicado na Revista da Armada dois artigos, um em Novembro com o título “Uma obra portuguesa de Claude Joseph Vernet – As referências marítimas do quadro do Marquês de Pombal”, onde depois de referenciar os au-tores Louis Michel Van Loo e Claude Joseph Vernet e de os localizar no quadro da pintura francesa da época, o Dr. Paulo Santos, descre-ve este quadro excepcional, inteiramente dedi-cado à glória do Marquês, que se encontra no Palácio Pombal em Oeiras, hoje Câmara Mu-nicipal, destacando as referências marítimas e portuárias e permitindo-nos ver assim aquela monumental obra com outros olhos.

E, em Janeiro de 2008, a Revista da Armada apresentava um outro seu artigo com que se estreou na Revista, com o título “ Os primór-dios da navegação de recreio no Tejo e na sua Barra numa obra praticamente inédita de João Pedroso”, executada por volta de 1860 e exis-tente numa colecção particular.

Aqui o autor do artigo aborda, simultanea-mente, os primeiros passos da navegação de recreio no Tejo, onde a partir da sua leitura e de muita investigação, acaba por avançar com a ideia de Lisboa ter sido dos lugares onde foi introduzido o “Iating” na Europa, recordando ainda a fundação da Real Associação Naval, em 1856, tornando-se assim, o mais antigo clu-be náutico da Península Ibérica, com estatutos aprovados pelo rei D. Pedro V.

Ainda sobre o caíque de regatas “Pet”, na obra em questão, vai ao pormenor de indicar a sua construção nos Estaleiros da “Parry & Son”, em Cacilhas, e do nome dos proprie-tários, para além dos organizadores e partici-pantes na regata.

No entanto, o nome de Paulo Santos já era do nosso conhecimento desde que saiu à es-tampa o seu magnífico livro, editado pela Ina-pa, com o título “A Marinha, Lisboa e o Tejo, na obra de João Pedroso”, que ostenta na

capa o quadro de uma fragata do Tejo, quadro este que se encontra no gabinete do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, e a que a Revista da Armada fez referência num magnífi-co artigo da pena do Comandante Estácio dos Reis, saído na edição de Fevereiro de 2005.

O livro em si, publica e descreve a obra co-nhecida do grande pintor que foi João Pedroso Gomes da Silva que, conjuntamente com Lui-gi Tomasini e o Rei D. Carlos, constituíram os grandes retratistas de navios da segunda me-tade do século XIX e mais particularmente do seu último quartel.

Para além da colaboração prestada à Revista da Armada, o Dr. Paulo Santos tem artigos seus inse-ridos na revista francesa “Chasse Marée”, que se edita em França, mais propriamente na Bretanha.

Por tudo o que acabei de afirmar constata-se que o Dr. Paulo Santos é um grande entusiasta da problemática marítima no seu relacionamen-to com a arte, entrando em áreas pouco desbra-

APRESENTAÇÃO DO LIVRO

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vadas até agora, e que constitui uma mais-valia assinalável para a Revista da Armada.

Como curiosidade, convém salientar que a área profissional do Dr. Paulo Santos não é, ou não tem sido, a arte, pois ele é licenciado em Ci-ências Políticas pela Universidade de Genebra, possui um Mestrado em Sociologia pela Escola de Arquitectura da Universidade de Genebra, e outro em Estudos Europeus pelo Instituto de Estu-dos Europeus da mesma universidade.

Exerceu funções de consultor internacional na área de política regional de 1991 a 1996 em Bruxelas e, posteriormente, ocupou até 2002, em Portugal, o cargo de assessor no Ministério do Planeamento. Desde essa data é consultor independente, na área da política regional, no espaço europeu.

A sua tendência para os estudos em arte, à volta do mar, deve-se essencialmente à acção de um seu tio, Carlos Santos, homem ligado à cultura e a estudos humanistas.

Depois de termos abordado o autor vamo--nos debruçar agora sobre a obra.

O livro “O Botão de Âncora da Marinha Portuguesa” vem na sequência do artigo sa-ído na Revista da Armada, a que já fizemos referência. Efectivamente, o botão de âncora no uniforme da Marinha tem um valor simbó-lico que ultrapassa em muito o seu significado como simples objecto.

O Comandante Humberto Leitão no seu “Di-cionário da Linguagem de Marinha Antiga e Ac-tual” refere-se ao Botão de Âncora significando, na gíria de oficiais, como a Corporação da Ar-mada e o Comandante António Marques Espar-teiro dá o título de “Famoso Botão de Âncora” a um livro sobre a valentia e o estoicismo dos marinheiros portugueses em combates navais nos séculos XVII, XVIII e XIX.

O Botão de Âncora, apesar do simbolismo que se lhe reconhece, não tem sido historiado suficientemente e tudo o que se conhece até agora são pequenas referências, normalmen-te pouco consistentes.

Assim, o autor ao encarar a história do Botão de Âncora na Marinha Portuguesa, teve de desenvolver uma investigação de raiz a partir dos primeiros indícios do botão nos uniformes da Marinha, ou seja, do sécu-lo XVIII, a partir do qual começa a aparecer informação sobre uniformes na Marinha. O trabalho vai cobrir assim o período dos sécu-los XVIII, XIX e XX, mais concretamente após 1750, considerando ainda que no século XX a partir de 1911, do regulamento que saiu após

a implantação da República, as alterações te-nham sido quase irrelevantes. O livro incide assim num período de cerca de 160 anos.

Para a investigação que desenvolveu foi muito importante para o autor o conhecimen-to dos planos de uniformes, dos regulamentos e regimentos que entretanto foram saindo e que no período mencionado atingem o nú-mero de cerca de quarenta.

Estes regimentos existentes em Bibliotecas e Arquivos não são fáceis de descobrir e muitas vezes encontram-se truncados, pois apresen-tam falta das folhas que constituíam os anexos, normalmente, de maior dimensão, onde apa-reciam desenhados os botões com informa-ções consideradas importantes.

Destes regulamentos o autor dá uma explica-ção mais detalhada daqueles que considerou mais inovadores, entre os quais, o de 1761, onde aparece pela primeira vez o botão de ân-cora, e depois o de 1807, sendo Secretário de Estado da Marinha e Províncias Ultramarinas o Visconde de Anadia, João Rodrigues de Sá e Melo, e onde aparecem botões com uma con-figuração diferente como é o caso dos botões

dos Médicos ou Cirurgiões da Armada Real, um botão curioso com uma âncora invertida, uma cobra e uma palma, ou o dos oficiais de Pena e Fazenda das Embarcações Reais onde apare-cem 2 penas cruzadas, isto muito tempo antes de ser criada a classe de Administração Naval, em 1887.

Neste período que decorre por todo o século XIX a influência inglesa nos uniformes da Mari-

nha Portuguesa é enorme, não só no desenho do fardamento, nos bonés, nas espadas, mas também, logicamente, nos botões.

É claro que nos botões, e só para falarmos nos oficiais, torna-se necessário para cada tipo de uniforme ter em atenção o posto, de-signadamente os almirantes, os capitães-de--mar-e-guerra e outros oficiais, e também as classes, para além da classe de marinha, que começam a aparecer na segunda metade do século XIX.

Para certificação daquilo que os regimen-tos informam, o autor socorreu-se de outras fontes como as pinturas, nomeadamente as do Museu de Marinha, que infelizmente são poucas, resumindo-se aos quadros dos Esquíveis, Sartórios e Visconde de Soares Franco e poucos mais.

Curioso o estudo da magnífica escultura neoclássica do Príncipe Regente, em gran-

de uniforme, que se encontra no Hospital da Marinha desde 1814, da autoria de João José de Aguiar, escultor oficial, que entretanto ti-nha substituído Machado de Castro, onde se pode observar o botão de Almirante General da Armada com uma espada ou um sabre de marinha cruzando um óculo e sobreposto a

uma âncora, pormenor que o escultor não deixou de fixar.

Período particularmente difícil de estudar é o correspondente às Guerras Liberais, dada a influência estrangeira sobre os uni-formes e onde sobressaem os regulamentos de 1823, 1835 e 1856.

Para o estudo concorreram também com-plementarmente, as observações das gra-vuras, simples ou em jornais e revistas, e a partir de 1870, as fotografias.

Particularmente interessante é também o estudo efectuado sobre os fabricantes dos botões. Primeiro aparecem as casas inglesas e a partir de 1835 concorrem também as ca-sas francesas, depois das relações políticas e comerciais estabilizadas, aparecendo ainda firmas alemãs e portuguesas. Em todos estes casos, o autor, para além de descrever o dese-

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nho dos botões e a sua dimensão, debruça-se também sobre a técnica de fabrico. A título de exemplo houve uma casa francesa – a casa Trelon Weldon & Wieli, de Paris – que ofere-cia aos seus clientes botões com os seguintes acabamentos: “Doré Mat”, “Doré Mat Bruni”, “Dorure vive” e “Doré Mat Superieur”.

Ainda mais um apontamento para dizer que os botões ganharam a Coroa Real, para além da Âncora, a partir da década de 1830.

No reinado de D. Luís aparecem novos botões, com diversas variantes, que para além dos oficiais da classe de marinha con-templam também oficiais de Saúde (com âncora invertida, a cobra e a palma), os Oficiais da Fazenda (com as penas cruzadas sobre a âncora), Engenheiros Construtores Navais (âncora sobre um triangulo isósceles) Engenheiros Maquinistas Navais (âncora so-breposta a um pêndulo cónico que de facto representa um regulador de Watt), etc.

Com a chegada da República o Ministério da Marinha e das Colónias promulga a seguin-te ordem: “Em todos os artigos de uniformes não serão usadas coroas, devendo os botões que com elas forem enfeitados ser substituí-dos por botões lisos”, a que há a acrescentar uma simplificação generalizada dos botões pois passou a haver botões iguais para todos os oficiais, independentemente dos postos para além dos botões dos sargentos.

Ao longo de mais de 230 anos de existência, a Escola Naval tem vindo a destacar-se pelo exemplar ensino ministrado, assim como

pelo grande investimento na vertente académica, resultante de diversas parcerias e convénios com instituições de ensino superior.Com os cursos de Mestrado Integrado já consolida-dos, chegou agora o momento de abrir as portas da Escola Naval, e proporcionar a militares e civis com formação superior novas oportunidades de forma-ção, que se destacam pela excelência no ensino.Na sequência do protocolo assinado entre a Mari-nha e a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), e com a colaboração da Saúde Na-val, nomeadamente através do Centro de Medicina Subaquática e Hiperbárica, teve início no dia 22 de novembro de 2012 a Pós-graduação em Medicina Hiperbárica e Subaquática. A criação desta Pós-graduação surge da necessida-de de investir em áreas do conhecimento científico que se encontram em fase de franca expansão e evolução, e que têm contribuído de forma signifi-cativa para a criação e aperfeiçoamento de novas terapias, como é o caso da Oxigenoterapia Hiperbá-rica, e para a criação de equipamentos inovadores.Para que os alunos tenham contacto com diversas realidades e conhecimentos, as aulas decorrem na FMUL (Hospital de Santa Maria), Escola Naval, Es-quadrilha de Submarinos e nas instalações do Cen-tro de Medicina Subaquática e Hiperbárica, sendo o

O botão dos oficiais apresenta um silvado constituído por louro (do lado direito) e carvalho (do lado esquerdo) que rodeiam a âncora. Estes silvados já vinham do tempo da monarquia es-tando reservados a oficiais generais.

Assim, pelo Regulamento de 1911 foram adoptados os novos botões que praticamente não sofreram modificações até hoje. Eu por mim garanto que uso os mesmos botões, com muito orgulho, há 54 anos….!

Deve-se aqui afirmar que o autor do livro teve a ajuda preciosa do Sr. José Manuel Trindade, entendido na matéria e possuidor da maior co-lecção de botões existentes em Portugal, assim como do Sr. Godinho Miranda.

Também a colecção de botões do Museu de Marinha foi útil para o estudo.

O livro “O Botão de Âncora da Marinha Portuguesa”, que hoje vos é apresentado com uma introdução do Almirante Vieira Matias,

corpo docente composto por diversos especialistas militares e civis.Os candidatos são titulares do grau de licenciatura nas áreas de conhecimento de Medicina, Medicina Veterinária, Ciências Farmacêuticas e Enfermagem, e neste primeiro curso foram abertas 15 vagas.O objetivo é iniciar diferentes gerações de pro-fissionais de saúde interessados no estudo e na investigação dos aspetos técnicos, clínicos e científicos relacionados com a Medicina Suba-quática e Hiperbárica. No caso dos médicos, em particular, esta for-mação proporcionará habilitação, do ponto de vista clínico, para:– Realizar avaliações do grau de aptidão dos candi-datos ao mergulho e ao exercício de atividades la-borais em ambiente hiperbárico, em atmosfera seca;– Realizar avaliações periódicas sobre o grau de ap-tidão dos praticantes de imersões e dos trabalhado-res de ar comprimido;

é uma peça de design agradável e apelativa e passa a constituir uma referência obrigató-ria para todos aqueles que mostrem interesse nos uniformes militares, nomeadamente de Marinha.

Deixava agora aqui uma sugestão – o Mu-seu de Marinha devia possuir, no espaço dedicado aos uniformes, um mostruário clas-sificado com todos os botões da Marinha Por-tuguesa conhecidos.

Por fim, uma palavra de felicitações ao Dr. Paulo Santos pelo trabalho executado e de incentivo para outros trabalhos que en-volvam arte e o mar, espaço que criou na Revista da Armada e que os nossos leitores já não dispensam.

Usaram da palavra ainda o autor da obra, Dr. Paulo Santos, e o coleccionador José Manuel Trindade, que teceram algumas informações complementares sobre a obra.

Em exposição encontravam-se algumas peças da colecção de José Manuel Trindade, designadamente botões e Regulamentos de Uniformes e ainda uma reprodução do botão de Almirante General do Uniforme do Prínci-pe Regente conforme a escultura existente no Hospital da Marinha.

No final, o autor do livro autografou os exem-plares que lhe foram apresentados.

– Prescrever e coordenar os tratamentos dos aciden-tes de mergulho e proceder ao aconselhamento das empresas de mergulho e de outros organismos, indi-viduais e coletivos, relativamente a questões ineren-tes à medicina e fisiologia do mergulho;– Avaliar a pertinência de um tratamento com oxigénio hiperbárico e proceder à sua prescrição e coordenação;– Aconselhar outras especialidades médico--cirúrgicas e outros organismos, individuais e coletivos, sobre questões relacionadas com a medicina hiperbárica.

Colaboração da ESCOLA NAVAL

ESCOLA NAVAL

PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA HIPERBÁRICA E SUBAQUÁTICA

OceanografiaBioquímicaFisiologia GeralFisiologia do ExercícioFisiologia AmbientalFisiologia Cardio-VascularMedicina Subaquática 1Medicina Subaquática 22º SemestreAparelhos e Sistemas de MergulhoTecnologia HiperbáricaMedicina Hiperbárica 1Medicina Hiperbárica 2Prática de Medicina SubaquáticaPrática de Medicina Hiperbárica

92322264ECTS5356,56,54

PLANO DE ESTUDOS1º SEMESTRE ECTS

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O Instituto de Acção Social das Forças Armadas, I.P. (IASFA), entidade gestora

da Assistência na Doença aos Mi-litares das Forças Armadas (ADM), divulgou recentemente, junto de todos os beneficiários ADM, uma informação nos seguintes termos:

“( ) a partir de 1 de Janeiro de 2013, os encargos do sistema de assistência na doença referentes à comparticipação medicamentosa passam a ser da responsabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), não implicando qualquer alteração nas comparticipações para os bene-ficiários, que se mantêm na totali-dade.

Deste modo e como apenas é al-terada a entidade responsável pela comparticipação dos medicamen-tos, na consulta e no momento do

preenchimento da prescrição (re-ceita) dos medicamentos, o médico assistente deve passar a colocar o número de utente do SNS em alter-nativa ao número de beneficiário da ADM.

Face ao exposto, informamos que todos os Beneficiários da ADM que ainda não sejam detentores de n.º de Utente do SNS, que já consta tam-bém no Cartão de Cidadão, deverão

junto do Centro de Saúde do SNS da sua área de residência solicitar que o mesmo lhe seja emitido.”

Relativamente à legislação que regula a Assistência na Doença aos Militares (Decreto-Lei n.º 167/2005 de 23 de Setembro) não foi regista-da qualquer alteração.

O imperativo legal constante no Orçamento do Estado para 2013, a que a carta faz referência, apenas se refere à entidade responsável

pela comparticipação às farmácias.Deste modo, quem não tenha ain-

da o seu número de utente do SNS, deverá dirigir-se ao Centro de Saúde da sua área de residência e solicitá--lo junto dos serviços administra-tivos, a fim de assim regular a sua situação.

Colaboração da DAS

DIREÇÃO DE APOIO SOCIAL

INFORMAÇÃO

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A História Real dum Astrolábio FalsoA História Real dum Astrolábio Falso

No dia 31 de Dezembro de 1998, eram 11 horas da manhã, recebi um agradável telefonema. Um

jovem simpático, de nome António Edu-ardo, informava-me de que tinha sido achado um astrolábio náutico na Quinta das Acácias, pertencente à família, havia longos anos, e situada a cerca de 10 km de Beja. E mais, que identificara o astro-lábio por comparação com exemplares reproduzidos no meu livro Medir Estrelas.

O facto deu-me grande satisfação, não só por se tratar de mais um astrolábio náutico – um instrumento que os Por-tugueses não souberam guardar, apesar de terem usado um número incalculável de exemplares durante o período dos Descobrimentos – mas, também, pela circunstância dum livro meu ter sido de alguma utilidade.

Mas a notícia acarretava uma grande novidade: o astrolábio estava enterrado numa quinta, quando o grande fornece-dor destes instrumentos tem sido, sem qualquer dúvida, o mar. Efectivamente, nos últimos trinta anos, desse depósito imenso, inesgotável, imprevisível, ha-viam sido resgatados dezenas de astro-lábios náuticos. Ainda perguntei ao An-tónio Eduardo se a descoberta não teria sido feita num velho baú encafuado em sótão poeirento. Respondeu-nos que não. O astrolábio estava mesmo debaixo da terra. Tinham dado com ele quando preparavam o chão de cimento duma casota para arrumação de apetrechos de lavoura. Ainda viemos a saber que o feliz achador fora o caseiro, a quem ele, Antó-nio Eduardo, gratificara com 3.500$00 (o que agora correspondente a 17,50 euros.)

Procurei saber ainda se na Quinta das Acácias teriam sido encontrados outros objectos. De facto, alguns anos atrás, ha-viam sido achadas algumas moedas. Bom sinal. Sempre muito amável, o António Eduardo ficou de me enviar uma lista das moedas, cujas datas poderiam ajudar a descobrir a do achado.

No que dizia respeito ao astrolábio, e enquanto eu não o pudesse ver, pedi ao António Eduardo que me enviasse fotografias com boa definição, para as examinar. O passo seguinte seria levar o astrolábio ao laboratório do Museu de Conímbriga, sem dúvida a maior autori-dade em bronzes antigos do nosso país, para se atestar, na medida do possível, a sua autenticidade e ajudar a determinar a idade do astrolábio. Isto, porque, como se sabe, os metais não podem ser datados pelo carbono 14.

As semanas foram passando e, apesar de várias insistências – as conversas fo-

ram sempre pelo telefone –, a verdade é que nada recebi da Quinta das Acácias. Admiti que tal situação resultasse do fac-to do António Eduardo andar preocupado com problemas escolares. E, consideran-do a gentileza de me ter sido dada a notícia do achado, julguei que a melhor solução seria ir ao local para tentar acelerar o processo de identificação do astrolábio.

Combinei, então, um encontro com o António Eduardo para 28 de Março de 1999. Saí de Lisboa dois dias antes, aproveitando para visitar um amigo que vivia nas proximidades e, na tarde do dia acordado, descobri, com alguma dificuldade e muita ansiedade, a Quinta das Acácias.

Curiosamente, vim a saber, pelas conversas que fui tendo com as pessoas a quem pedi informações sobre o itinerário, que a proprie-dade que procurava se achava muito próxima duma herdade no Redondo, há mais de quatro sécu-los na posse da família dum afa-mado almirante que também fora figura grada na nossa Índia. “Será que pode haver alguma ligação entre este célebre herói das Índias e o astrolábio agora encontrado?”, pensei.

Ao chegar à Quinta das Acácias, fui recebido pelo caseiro que me entregou uma carta do António Eduardo dizendo “que tentara comunicar comigo por todos os meios, mas em vão”. E continua-va: “Sucede que, logo após a nos-sa conversa telefónica recebemos um telefonema de Viseu, e, devido à gravidade do assunto em ques-tão, não tivemos outra alternativa senão deslocarmo-nos esta ma-drugada àquela cidade, onde pas-saremos a Páscoa”.

Apesar de acreditar que a des-culpa era sincera, fiquei magoado por a carta me ter sido entregue pelo caseiro, o feliz achador, a quem poderia ter sido confiado o astrolábio para eu o examinar.

Depois deste desagradável epi-sódio, e com bastante pena, re-solvi desligar-me completamente do assunto, ficando sem resposta a várias dúvidas, como por exemplo: o astrolá-bio teria sido deitado fora como se fosse uma inutilidade? Pouco provável. Ou escondido como se se tratasse duma va-liosa peça de baixela de prata? Não fazia sentido.

Só que, passados alguns meses, tive de ir a Beja. E não resisti. Decidi fazer uma últi-ma tentativa. O entusiasmo pela identifica-ção dum novo astrolábio em Portugal era superior às minhas forças. Telefonei para a

Quinta das Acácias. Eram 10 da manhã. O António Eduardo não estava. Respondeu--me o pai, o Engenheiro Manuel Ribeiro. Disse-me que ia sair e que deixava o re-cado ao filho. Dei-lhe o nome do hotel e o número do quarto. “Que descansasse, que o filho me telefonaria quando che-gasse”. Assim aconteceu. Confirmámos o

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encontro. Todas as cautelas eram poucas. O António Eduardo garantiu-me que não faltava. De facto, às 11 horas e 30 minutos do dia 12 de Outubro, lá estava ele, mui-to amavelmente, à minha espera. “Afinal, o desencontro, na minha visita anterior, fora mesmo devido a uma causa de força maior”, pensei.

Entrei num belo solar, passei duas salas e cheguei a uma ampla casa de jantar. Sentei-me defronte duma enorme lareira.

Puxei dos óculos para poder apreciar o al-mejado astrolábio. Todavia...

....todavia, em vez do astrolábio, são-me mostradas fotografias coloridas do astrolá-bio. E o astrolábio?!....

“Não o temos aqui em casa por questões de segurança”, foi a resposta pronta do António Eduardo.

Foi um balde de água fria, tanto mais que, como o leitor irá ver, a situação se vai complicar desagradavelmente. Na verdade, as fotografias representavam nem mais nem menos do que uma réplica do Madre de Deus.

Este astrolábio, pertencia à nau portu-guesa do mesmo nome, que foi afundada em 1610, na Baía de Nagasáqui, por ex-plosão do paiol de munições, provocada pelo próprio comandante, quando este se

apercebeu que não tinha capaci-dade de resistir às forças inimigas. Aquele exemplar, encontra-se ac-tualmente num museu do Japão. Foi retirado do fundo do mar, em 1928, como viriam a ser tantos ou-tros que, ultimamente, a tentação e o lucro atinentes à pesquisa sub-marina têm trazido à luz do dia.

O astrolábio em causa, pela pri-meira vez referido no nosso país por Fontoura da Costa na sua magnífica obra A Marinharia dos Descobrimentos, tem sido mui-to copiado, por estar desgastado devido ao fogo a que foi sujeito, depois da explosão atrás referida e, portanto, a sua reprodução não exigir grande perícia. Além disso, foi nele que se inspirou o artista que concebeu o logótipo da XVII Exposição Europeia de Arte, Ciên-cia e Cultura, realizada em Lisboa de Maio a Outubro de 1983. As cópias que por aí se vendem são feitas em latão ou acrílico. No en-tanto, no caso presente, o astrolá-bio em causa deixava de ser uma cópia para ser um falso.

Com a valorização deste tipo de instrumentos, acontece que, nos últimos anos, tem havido várias tentativas de burlar os museus, museus esses que são os principais destinatários das obras científicas do passado.

Para avaliar até que ponto ia a imaginação e o descaramento do António Eduardo, não me dei por achado e pedi-lhe para me mos-trar o local em que tinha sido en-contrada aquela jóia e, para meu espanto, fui levado até uma pe-quena casa para guardar material de lavoura. Entrámos e o António Eduardo chamou-me a atenção para o chão de cimento, afirman-do-me que tinha sido, exactamen-te, na sua preparação, que o as-trolábio tinha aparecido. Perfeito!

Na impossibilidade de ver o “original”, mostrei interesse em ter reproduções das fotografias e o António Eduardo, sempre muito solícito, levou-me a Beja, onde nos fizeram boas cópias a cores.

Saí da Quinta das Acácias profunda-mente frustrado. Porém, em face do ex-posto, considerei que o assunto teria de

ser forçosamente esclarecido, tanto mais que a fantasiosa história me obrigara a despesas, apesar de insignificantes se comparadas com os danos morais e a expectativa mantida ao longo de alguns meses. Para cúmulo, ao longo daquele infeliz processo, não conseguira perce-ber se a fraude tinha sido praticada pelo caseiro que “achara” a antiguidade para receber uma gratificação, aliás ridícula, e se o António Eduardo não teria sido, como eu, apenas uma vítima.

Decidi, então, escrever uma longa carta ao Engenheiro Manuel Ribeiro contando--lhe o que se tinha passado entre mim e o filho. Nela referi o Madre de Deus, a praga dos astrolábios falsos que, de quan-do em vez, vão aparecendo para enganar os incautos e pedi-lhe que investigasse o assunto e, fundamentalmente, procurasse saber quem teria sido o autor da fraude e quais os dividendos que pretendia tirar. Disse ainda que, por duas vezes, fora à Quinta das Acácias para ver um objecto histórico e apenas me tinha sido impingi-da a fotografia duma cópia dum astrolá-bio bem conhecido.

Terminei assim a carta: “Eu sei que V. Exa. não tem culpa do que se passou. Por isso, agradeço que investigue este caso e me apresente uma explicação. Isto, por-que eu tenho de divulgar o assunto para acautelar alguns ingénuos e procurar evi-tar a repetição doutras tentativas deste género, apesar de, no caso presente, a fraude não ter sido consumada. Não foi consumada, mas fez pelo menos uma ví-tima e essa vítima, lamentavelmente, fui eu.

Todavia, peço que aceite, para a sua resposta, as seguintes condições: ‘se a explicação de V. Exa. for plausível, se, de facto, me convencer, o que decerto acontecerá, e se eu a receber dentro do prazo de 15 dias, guardarei rigorosamen-te o anonimato dos locais e das pessoas intervenientes”.

Passados que foram apenas três dias, recebi um telefonema do Engenheiro Manuel Ribeiro. Um telefonema em que destaco esta inesquecível frase: “Faço questão em ir a Lisboa, acompanhado pela minha mulher e pelo meu filho, para lhe pedir desculpas do sucedido. Diga--me apenas em que local e o dia e a hora que lhe convêm”.

Há muitos anos que eu não sabia o que era uma lágrima.

Depois desta dolorosa confissão, dei o caso por encerrado. E pensei: “Afinal, a Honra não é apenas uma simples e vã pa-lavra no dicionário.

António Estácio dos ReisCMG

[email protected]. O autor não adota o novo acordo ortográfico.

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FEVEREIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA30

MARINHEIROSMARINHEIROS

ESPÍRITO SOLIDÁRIO NA ESCOLA NAVAL

ESTAFETA DE NATAL DO CORPO DE FUZILEIROS

mareantes são estados sempre entre os principais e eles são os que são mais necessários e isto não vos há-de escrever nenhum fidalgo”.

Pela mesma altura, eventualmente na se-quência de uma viagem para a Índia, Sil-vestre Corço escrevia que os marinheiros que iam nas naus nunca teriam visto o mar anteriormente e que, quase certamente, te-riam comprado os lugares.

Com. E. Gomes

Fonte: Gavetas da Torre do Tombo XV-16-37

mais as inscrições do que aquelas para as quais havia capacidade para dar resposta.

Estas ações representam muito mais do que apenas solidariedade. O grande número de voluntários faz transparecer o sentido de res-ponsabilidade social, assim como o sentido hu-mano dos militares e dos futuros oficiais. Pensar no próximo e não apenas naqueles que fazem parte das nossas vidas é dar um passo em frente no combate à crise social e contribuir para uma comunidade mais coesa.

A Escola Naval espera assim servir de exemplo, especialmente àqueles que ainda não dedicaram um pouco do seu tempo às causas sociais.

Para os Cadetes, estas ações são ensinamen-tos, e o objectivo é que as mesmas se transfor-mem em hábitos, e que o voluntariado se cons-titua como parte integrante da sua vida. Neste momento as oportunidades de voluntariado chegam através da Escola Naval, mas mais tar-de partirá, certamente, de uma vontade própria espontânea.

Colaboração da ESCOLA NAVAL

pelos diferentes percursos e quando tudo se encontrava já operacional a partida da prova foi dada, às 7h 30m, junto ao edifício do Co-mando da Base de Fuzileiros.

O desempenho excedeu as melhores expe-tativas, tendo a equipa vencedora concluído a prova no tempo de 1H 07m 09s, cumprin-do um percurso que totaliza 14.440 metros (12.780 metros de corrida, 390 metros de natação e 1.270 metros de remo em botes). A Escola de Fuzileiros logrou ficar dententora de um troféu que simboliza esta ligação das duas grandes unidades e que na próxima edi-ção todos quererão conquistar.

Quem lê os relatos das diversas ac-ções militares dos portugueses, no Oriente, por via de regra só vê refe-

renciados e realçados os actos dos “filhos de algo” e demais gente de importância.

É exactamente por isso que a opinião de Silvestre Bachão assume especial interesse.

Silvestre Bachão, era natural da Córsega e foi para a Índia como construtor de ga-lés, ali foi, por diversas vezes, capitão de galés em várias acções levadas a cabo sob ordens de Afonso de Albuquerque e entre

No mês de dezembro o espírito solidário invade a Escola Naval. A guarnição e os cadetes mobilizam-se em elevado

número para participar nas diversas atividades de solidariedade desenvolvidas, e contribuem de diversas formas para melhores condições de vida para os que mais precisam.

Em 2012, à semelhança do ano anterior, um grupo de cadetes participou na campanha de recolha de alimentos do Banco Alimentar Con-tra a Fome, nas instalações de Alcântara, tendo prestado apoio no transporte, na pesagem e na separação dos alimentos, que posteriormente foram distribuídos por diversas instituições de solidariedade social.

No mesmo âmbito, a Escola Naval realizou também uma ampla divulgação da recolha de alimentos efetuada pela Direção de Apoio Social, tendo sido colocados pontos de reco-lha nos diversos edifícios. As doações foram efetuadas pelos cadetes e pelos elementos da guarnição, contribuindo de forma significativa para esta campanha.

Em simultâneo, decorreu também uma reco-

No passado dia 18 de dezembro, reali-zou-se a Estafeta de Natal do Corpo de Fuzileiros, que ligou a Base de Fuzilei-

ros à Escola de Fuzileiros.Após um interregno de 15 anos, esta prova é

reeditada, ainda que em moldes bem diferentes. Entre corrida, natação e remo em botes (modali-dades sempre presentes no treino dos fuzileiros), o destino final foi atingido por todas as 12 equi-pas representativas das diferentes unidades.

Tudo começou ainda de noite, com o início da movimentação das equipas marcada para as 6 horas da manhã, onde era bem patente a elevada motivação reinante. Os dez elemen-tos das diversas equipas foram distribuídos

nós surge referido como Silvestre Corço.Numa carta, sem data, escrita na Índia es-

tou em crer que por volta de 1520, dirigida ao Rei, referia ele o seguinte:

“e vós sem marinheiros não podeis manter a Índia ainda que tivésseis todos os fidalgos que há em França e Alta Alemanha. Marinheiros são os que nos aparelham as armadas e que nos trazem as naus de cá para lá. Eles são os desorelhados, os açoutados, os degradados, os espancados e a cadeia para eles é feita. Senhor sabereis por certo que em o mar e na terra em quantas pelejas são feitas os

lha de sangue, por parte do Instituto Português do Sangue (IPS), tendo este instalado macas e equipamentos na Escola Naval, para que diver-sos voluntários pudessem efetuar a sua doação. Os cadetes e elementos da guarnição não hesi-taram e, à semelhança de 2011, foram muitas

VIGIA DA HISTÓRIA

NOTÍCIAS

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REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 31

Quanto mais, é demais...

NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (20)

Encontrei este papel na minha cai-xa de correio. Durante alguns dias a pungência da mensagem viveu

comigo, naquele lugar mal resolvido e imperfeito em que não pareço encontrar solução para a perplexidade da vida…Lembrei-me, naqueles dias, que também eu nasci pobre. Lembrei-me também da combinação secreta que tenho com o si-lêncio dos que sofrem: um compromisso com quem não tem voz…

Imaginemos então que a história desta mulher – visto que só uma mulher seria capaz de cozinhar, fazer limpezas e to-das as duras tarefas para as quais dois euros seriam suficientes – se conta nes-tas palavras. Tem cerca de 65 anos, nas-ceu na província, num tempo em que a educação era reservada apenas a alguns. Eram oito os seus irmãos, que se perde-ram na vida uns para a França, um outro, o mais velho, perdeu a vida na Guerra de África, lá na escuridão da Guiné Dis-tante. Assim que lhe foi possível “emi-grou” ela própria para a Lisboa distante. Conhecia alguém que lhe arranjou um emprego na casa de uma senhora, como criada de servir…

Os anos passaram até que conheceu o João. Depois do Serviço Militar o João arranjou um bom emprego, como me-cânico numa multinacional automóvel. Os dois juntaram as magras economias e deram um sinal para o apartamento do J. Pimenta, que viriam a ocupar na míti-ca Reboleira, onde a nossa amiga ainda vive. Tiveram quatro filhos, que foram crescendo em relativa paz e conforto nos anos 80 e 90. Entretanto, em 2001, o João teve um acidente em Serviço e teve

que se reformar precocemente. A nossa heroína equilibrava o orçamento com as mesmas tarefas domésticas que vendia à hora… ainda tinham esperança…

Há cerca de dois anos, quando esta crise se instalou, as ofertas de trabalho no ramo em que esta senhora ganhava a vida diminuíram cada vez mais. Mas me-nos mal, tinham a pensão do João e para os dois chegava (…já que o apartamento da Reboleira estava pago). Contudo, as coisas passaram de mal a pior, quando uma das filhas perdeu o emprego. Esta fi-lha é mãe solteira. As netas desta senhora – duas meninas lindas – eram fruto de um casamento que se perdeu nos meandros dos subúrbios e da droga do companhei-ro, que não se orientou (como acontece com muitos outros) na selva de cimento, cheia de promessas luminosas, de deuses enganadores, terrenos, que nunca cum-prem o que prometem…

Seria para manter as netas, que a nossa mulher escreveu a missiva que tanto me impressionou??

Não sei! Toda esta história, como com-preenderá o leitor, é completamente inverosímil e absolutamente rara. Fruto da minha mente inquieta e de uma ima-ginação doida e muito politicamente incorreta. Na verdade, como se repeti-rá no Parlamento Europeu e nas muitas instâncias internacionais a que Portugal pertence, toda a gente sabe que num país Europeu, que se diz desenvolvido e mo-derno, estas histórias só podem ser fruto de delírio tresloucado… Contudo, ai de mim, conheço nos meandros da vida e da profissão tantas, tantas assim… algu-mas até piores…

Se eu fosse estrangeiro e conhecesse histórias destas, ficaria, talvez, impres-sionado. Diria então que não faz senti-do num país com mais carros de luxo a circular do que nos países da Europa do Norte, que factos destes possam ser ver-dade. Perguntar-me-ia quanto mais esta gente pode suportar. Quanto, quanto mais será demais?

Parecer-me-ia que a intensidade emo-cional daquelas palavras (acessíveis até ao mais empedernido de entre nós) respondem, de forma clara, ao quanto mais é tolerável para aquela maioria si-lenciosa, que preenche estas ilhas soli-tárias que são os subúrbios das grandes cidades. Distantes, cada vez mais distan-tes da metrópole anunciada pelo 25 de Abril e outras revoluções, de dentro e de fora, que nunca lhes mudaram o destino: nasceram para sofrer…Espero que esta senhora tenha encon-

trado, por dois euros à hora, o caminho para criar as suas netas. A dignidade que revelou dar-lhe-á sempre crédito, nesta e noutras vidas (porque só quem tem mui-tas vidas para gastar, suporta tamanhos sofrimentos). Resta-nos D. Sebastião. Um rei que, tomo-o como absolutamente certo nesta noite, erguer-se-á da bruma, vezes e vezes sem conta, dando forma à esperança de um povo rijo, que tolerou ao longo dos séculos, a fome, a solidão e o medo…

A esta altura alguém vai dizer: o Doc ensandeceu! Esta história não tem nada a ver com a Marinha… A verdade é que os marinheiros também são pessoas atentas e preocupadas (…acredito intimamente que esta sensibilidade explica alguma da tolerância revelada para com os meus escritos ao longo dos anos). Na tem-pestade a que esta história se refere, os marinheiros não estão em terra. Ao con-trário, navegam por entre as sucessivas ondas (de entre as quais as mudanças na Saúde Militar), procurando porto seguro à mercê de um balanço proa-popa, que parece não ter fim. Dito de outra forma, poderia-se-ia, do mesmo modo, contar muitos outros episódios de índole social, que afligem os nossos, particularmente aqueles que já estão reformados…

Acredito, finalmente, que a grande maioria dos meus resignados leitores tem amor pelo seu país e vontade, genuína, de ajudar. Serão esses que melhor com-preenderão este desusado escrito.

Doc

Quanto mais, é demais...

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FEVEREIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA32

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REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 33

JOGUEMOS O BRIDGE PALAVRAS CRUZADAS

QUARTO DE FOLGAJOGUEMOS O BRIDGE

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 159

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 441

Problema Nº159TAPE OS JOGOS DE E-W PARA TENTAR RESOLVER A 2 MÃOS

PALAVRAS CRUZADASProblema Nº441

Todos vuln. S joga 4 ♥ e recebe a saída ♠ A seguido de R e outra que corta. Colocando-se no lugar do carteador, como continuava para cumprir este contrato com segurança caso os trunfos estejam 3-0? Solução neste número

Analisando as 2 mãos verificamos que o perigo reside na hipótese de E ter os 3 trunfos que faltam, começando o destrunfo com o A de S, pois se tal acontecer não teremos maneira de evitar em dar também ♦ D que está fora da passagem. Para precaver essa distribuição, a linha de jogo tecnica-mente correta a seguir será jogar um trunfo para o R de N, e se W não assistir fazer a passagem à D. Não é este o caso, pois os 3 trunfos estão em W, mas esta situação nunca representará qualquer problema, conforme vamos ver. Outro trunfo para o A, ♣ AR e corte do V para eliminar o naipe, colocando a mão em W com a D de trunfo e obrigando este a jogar ♠ para corte e balda da perdente a ♦, ou faz o V se W tentar o ataque nesse naipe como única hipótese de derrotar o contrato.

Nunes MarquesCALM AN

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Horizontais: 1–Cidade e município do estado de Minas Gerais (Brasil). 2-Esmeralda prismática do Brasil. 3-Partícula que no dialecto provençal significa sim; impia; dois romanos. 4-Carro de duas rodas ou quatro, de origem inglesa, que o cocheiro guia da parte de trás; membro guarnecido de penas, que serve às aves para voarem; heroína francesa. 5-Gorduroso; cidade e município do estado de S. Paulo, Brasil. 6-Unidade de medi-da agrária; naquele lugar. 7-Bafio; aquilo que serve para pôr à prova as qualidades, os sentimentos de alguém (fig). 8-Artigo indefinido femini-no; nome de uma embarcação mercante de grande lote; insignificância. 9-Nota musical; letra na confusão; aspecto. 10-Arma curva, usada no Malabar (pl). 11-Cidade e município do estado de S. Paulo (Brasil).

Verticais: 1-Província romana da África, desde 133 a. C. . 2-Óxido de cálcio; ministro da religião maometana. 3-Nota musical; mulher que fin-ge devoção; símb. que da prata. 4-Rio de Espanha e Portugal, nasce na Galiza e desagua no Douro; rezo; operei. 5-Diástole; elemento gasoso. 6-Incólume; sossegado. 7-Fronteira; tabaco (Bras. e inv). 8-No princípio de Isabel; paxá de Janina, que se apoderou da Albânia, onde praticou as maiores crueldades; ora na confusão. 9-Símb. quím. do neon; notícia; no meio de Oslo. 10-Raiva; ovário dos peixes. 11-Que tem flores terminais.

Horizontais: 1-porteirinha. 2-euclase. 3-oc; ateia; ii. 4-cab; asa; aec. 5-oleoso avai. 6-are;ali. 7-sito; crisol. 8-uma; nau; avo. 9-la; aeltr; ar. 10-agonias; 11-reginopolis.Verticais:1-proconsular. 2-cal; ima. 3-re; beata; ag. 4-tua; oro; agi. 5-ectase; neon. 6-ileso; calmo. 7-raia; arutip. 8-isa; ali; rao. 9-ne; avisa; sl. 10-ira; ova. 11-apicifloros.

Carmo Pinto1TEN REF

Norte (N)

Sul (S)

Oeste (W) Este (E)

765

DV

AR109

8432

123456789

1011

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

RV83

A109642

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-

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ARV

D63

10985

ARV

74

1052

D9863

CONSULTE A ...

http://ccultural.marinha.pt - http://www.marinha.pt

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FEVEREIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA34

NOTÍCIAS PESSOAIS

CONVÍVIOS

COMANDOS E CARGOS

RESERVA

REFORMA

FALECIDOS

NOMEAÇÕES

● CALM José Carlos Palma Mendonça nomeado para a Comissão de Acompanhamento do Fundo de Pensões dos Militares das Forças Armadas ● CMG António Manuel Gonçalves Alexandre nomeado Comandante da Esquadri-lha de Escoltas Oceânicos ● CMG Fernando Manuel Félix Marques nomeado Comandante da Zona Marítima da Ma-deira, em acumulação Chefe do Departamento Marítimo da Madeira, Capitão do Porto do Funchal e Capitão do Porto do Porto Santo ● CFR José Manuel Guerreiro nomeado Dire-tor Técnico do projeto nº. 4 da Guarda Costeira de Cabo-Verde ● CFR Eduardo Jorge Malaquias Domingues nomeado Co-mandante da Zona Marítima do Sul e Capitão do Porto de Faro ● 1TEN Rui Filipe da Silva Pereira da Terra nomeado Comandante do NRP Zaire, em acumulação Comandante do NRP Quanza.

● CMG Nuno Miguel Dinis Mónica de Oliveira ● CFR Jorge Manuel Martins da Cruz ● CFR SEM Rogério Paulo Mendes Marques ● CTEN SFE Adelino João.

● CFR SEF José Manuel Viegas Nunes ● 1TEN STH Adolfo Renato Alves Martins Lobo ● SMOR FZ João Carlos Brito Nunes ● SMOR TEA Manuel António Nunes de Viveiros ● SMOR MQ João Correia Antunes ● SCH MQ Fernando Ferreira ● SCH M Carlos Alberto de Brito Lopes ● SCH M Henrique de Jesus Monteiro ● 1SAR C Victor Manuel Martins Fernandes ● 1SAR US Sérgio Filipe Peixoto Vinhas ● 1SAR R Manuel José Carrilho Mestre ● CAB E Daniel dos Santos Ricardo ● CAB M José Maria Pires Carrilho ● CAB A Carlos André da Conceição Marques ● CAB V José Pedro Paiva Coelho.

● CALM REF Álvaro Taveira Toste da Silva Cardoso ● CMG SEE REF António Joaquim de Sousa ● 1TEN OTT REF Carlos Alberto Ferreira ● SMOR MQ REF Luís Pereira Dias ● SCH ETS REF Joaquim Dias Pereira de Sousa ● SCH A REF Manuel Augusto Pascoal ● SAJ CE REF José Augusto Correia Fé ● SAJ CE REF José Silvestre Calado ● 1SAR V REF João Sobral Leitão ● 2SAR M REF Aires Joaquim Gon-çalves ● 2SAR M Carlos Alberto Cardoso Luís ● CAB FZ REF Raúl Francisco da Silva Valente ● CAB TFH REF António do Nascimento ● CAB M REF António Salvador Vieira ● CAB SE REF Mário Ferrei-ra da Silva ● 1MAR FZ DFA Mário da Silva ● Patrão Costa QPMM APOS João Carlos Furtado ● AG 1CL-PM APOS João Lopes Martins.

JANTAR DE NATAL DOS PILÕES NAVAIS

“FILHOS DA ESCOLA“ DE JANEIRO DE 1973

ALMOÇO DE NATAL DA REVISTA DA ARMADA

● No passado dia 13 de dezembro, os “Pilões Navais” reuniram-se no Clube Militar Naval para o seu tradicional jantar de Natal.

O evento contou com a presença do Presidente da Direção da APE - Associação dos Pupilos do Exército -, Dr. Américo Ferreira.

Após uma sessão de agradável convívio, o Presidente do Núcleo, CMG Valentim Rodrigues, dirigiu algumas palavras aos convivas, desejando-lhes Boas Festas no seio das famílias, não deixando, no en-tanto, de fazer menção às preocupantes notícias que pesam sobre o in-certo futuro dos Pupilos, como escola de educação de referência, e que tendem a colocar em causa uma centenária instituição que tem dado ao País valorosos homens e mulheres, briosos militares e relevantes quadros profissionais.

● No passado dia 12 de janeiro, os “Filhos da Escola” de janeiro de 1973 levaram a efeito o seu 40º aniversário, na Quinta da Vitória, Sobreda, reunindo cerca de 200 mancebos com suas famílias .

Foi efetuada uma visita à BNL, aos navios D. Francisco d’Almeida e Álvares Cabral. Seguiu-se uma missa na capela da BNL em memória dos “Filhos da Es-cola” já falecidos .

Como já é habitual, foi lida a ordem OP2/21/30JAN73/G, seguindo-se a leitura da mensagem do Almirante CEMA, que por motivos profissionais não pode comparecer no even-to, ficando todos agradecidos pelas suas sentidas palavras e espírito de camaradagem.

O almoço decorreu numa enorme e sólida camaradagem recordando todos os bons momentos passados na saudosa Marinha.

No final ficou a promessa de que, para o ano, novo evento seja organizado, na zona Norte (arredores do Porto).

A comissão organizadora agradece mais uma vez à Marinha o seu empenho em proporcionar um dia inesquecível na área naval do Alfeite, que a todos fez

recordar o grande espírito de amizade e de saudade.

O evento teve o patrocínio da companhia de seguros “Liberty”, que se fez representar por um elemento.

●No dia 12 de Dezembro, a REVISTA DA ARMADA, cumprindo uma tradição de 15 anos, realizou mais um Almoço de Natal.

O evento teve lugar na sede do IASFA, reunindo a guarnição e anti-gos e actuais colaboradores numa confraternização em que, mais uma vez, foi enaltecido o ESPÍRITO DE CORPO que une todos aqueles que têm passado pela nossa Revista.

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Navios HidrográficosNavios Hidrográficos

25. O NAVIO HIDROGRÁFICO ALMEIDA CARVALHOO navio Almeida Carvalho começou a ser construído nos

estaleiros californianos de Marietta Shipbuilding Co. Em 1965, quando se encontrava ainda em fase de construção, ocorreu a passagem do tufão Betsy que o afundou, tendo por esse motivo só entrado em janeiro de 1969 ao serviço da US Navy com o nome de Kellar.

Em 21 de janeiro de 1972, foi transferido para Portugal ao abrigo do acordo referente às condições de utilização da Base Aérea das Lajes e na mesma data aumentado ao Efetivo dos Navios da Armada, tendo entrado na barra do Tejo em 12 de março.

A denominação Almei-da Carvalho evoca o Ca-pitão-de-fragata Ernesto Tavares de Almeida Car-valho a quem se deve, entre outros trabalhos, o levantamento hidrográ-fico do litoral de Sines e a publicação de diversos estudos sobre a densida-de da água do mar e pro-fundidade dos oceanos.

O navio ostentava na amurada a inscrição A 527 e tinha as seguintes características:

Deslocamento máximo. . . . . . . . . . . . . . . . 1.327 toneladasComprimento (fora a fora) . . . . . . . . . . . . . 63,5 metrosBoca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11,8 “Calado máximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4,56 “Velocidade máxima . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 nósDotado de uma instalação propulsora Diesel elétrica de

1.200 cavalos, tinha uma guarnição de 36 homens (5 oficiais, 7 sargentos e 24 praças), podendo ainda alojar uma equipa técnica de 10 elementos.

Para o desempenho de trabalhos hidrográficos e oceano-gráficos, foi equipado com quatro sondas Raytheon 723, dois PRF 193, um Atlas Deso 10, um Raydist DSR, dois batitermógrafos, um lançador de XBT, uma batisonda, um termógrafo, um sondador Atlas Fishfinder.

Passou então a estar ao serviço do Instituto Hidrográfico tendo a sua primeira missão consistido na continuação dos cruzeiros MALAC para apoiar cientificamente as ativida-des piscatórias da captura do atum no Algarve, os quais haviam sido iniciados em 1971, a bordo da lancha hidro-gráfica Cruzeiro do Sul e que vieram a concluir-se em 1973.

Em 1976, a pedido da SHELL, realizou um cruzeiro ocea-nográfico com o objetivo de completar o estudo geológico da Plataforma Continental nas zonas de concessão atribuí-das àquela empresa, tendo sido utilizado o sistema de ra-diolocalização Shoran e colhidas amostras de fundo com amostradores Cnexoville.

Nos anos seguintes, para a Secretaria de Estado das Pescas, efetuou dois cruzeiros hidrográficos no Banco Gorringe. Para a Direcção-Geral de Fomento Mineiro, um cruzeiro a fim de obter elementos sobre a cobertura de sedimentos móveis da plataforma e vertente conti-nental superior a sul de Lisboa e no Algarve e, outros dois cruzeiros, estes com vista à definição de perfis de reflexão sísmica.

Em 1979, foi-lhe instalado um sistema de hidrografia auto-matizada, o HIDRAUT, o qual funcionava em complemen-to com o SATADH (Sistema de Aquisição e Tratamento Automático de Dados Hidrográficos) entretanto instalado no Instituto Hidrográfico, o que veio revolucionar a meto-dologia no processamento dos dados hidrográficos.

No âmbito da cooperação com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa realizou, em 1981, diversos le-vantamentos hidrográficos em Cabo Verde. A propósito desta missão, o Presidente da República de Cabo Verde, Dr. Aristides Pereira, endereçou ao Presidente da Repú-

blica Portuguesa, Ge-neral Ramalho Eanes, a seguinte mensagem:

É-me muito grato trans-mitir V. Exª muito apreço parte Governo cabo-ver-diano forma diligente e particularmente esforçada como decorreu missão na-vio-hidrográfico português “Almeida Carvalho” sob comando capitão-fragata

Carlos Fernando Souto terminada 29 Julho último. Esse com-portamento altura tradições seculares gloriosa Marinha por-tuguesa é nossa convicção que mais uma importante pedra foi posta no grande edifício da profícua cooperação em curso entre os nossos dois países de acordo com os múltiplos laços que unem nossos dois povos. Muito agradecia se fizesse conhecer sr. chefe do Estado-Maior da Armada portuguesa esta nossa nota de mui-to apreço relativo missão cumprida briosamente Armada portu-guesa. Queira aceitar sr. Presidente e caro amigo a expressão minha estima pessoal e mais elevada consideração.

Em 1984, prestou apoio à realização de estudos na barra do rio Cacheu, na Guiné-Bissau.

Em 1994, para a Divisão de Oceanografia Física realizou dois cruzeiros oceanográficos SEFOS, para a Divisão de Geologia Marinha dois cruzeiros SEPLAT e dois cruzeiros OMEX I, no âmbito do qual foram publicados diversos ar-tigos científicos e feitas apresentações em conferências so-bre plumas túrbidas dos rios Tejo e Sado e os sedimentos com elas relacionadas. A pedido da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, efetuou submersões com o ROV na área do Banco Gorringe para a inspeção do fundo do mar, com vista à determinação de uma zona para o fun-deadouro de uma boia sismógrafo.

A 4 de dezembro de 2002 passou ao estado de desarma-mento para posterior abate ao Efetivo dos Navios da Ar-mada o N.H. Almeida Carvalho, que durante três décadas esteve ao serviço do Instituto Hidrográfico e é o detentor, até ao presente, do maior número de cruzeiros científicos, no âmbito da Marinha de Guerra Portuguesa.

Para além das memórias conservadas por diversas ge-rações de hidrógrafos, restam deste navio algumas peças que formam atualmente um dos núcleos museológicos do Instituto Hidrográfico.

Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO

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Navios HidrográficosNavios Hidrográficos

25. O NAVIO HIDROGRÁFICO ALMEIDA CARVALHO