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Privação Emocional e Delinquência Agressividade e violência Texto: Alvino Augusto de Sá. Profª Rosalice Lopes 2012.2 03/07/22

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Page 1: Privação Emocional e Delinquência Agressividade e violência Texto: Alvino Augusto de Sá. Profª Rosalice Lopes 2012.2 6/4/2015

Privação Emocional e DelinquênciaAgressividade e violência

Texto: Alvino Augusto de Sá.Profª Rosalice Lopes

2012.211/04/23

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Privação emocional

• A abordagem do fenômeno da delinquência não exclui a consideração das privações econômicas e da exclusão social a que muitos que adotam condutas desviantes foram submetidos;

• Neste módulo estaremos tratando exclusivamente da privação emocional que ocorre nos primeiros anos de vida e que pode, tanto no jovem quanto no adulto vir a produzir o comportamento antissocial.

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Privação Emocional• É a que se refere aos primeiros anos de vida;• Sua intensidade, maior ou menor, moldará as reações da

pessoa não só diante de outras privações como das privações futuras;

• A privação emocional deixa marcas mais ou menos profundas e podemos compreendê-las como “feridas” permanentemente abertas;

• A saúde mental da pessoa, sua adaptação social, sua capacidade de seguir valores e normas da sociedade e ainda sua capacidade de sintonizar seus desejos com os dos outros são diretamente dependentes da presença, ou não de privações emocionais e de sua intensidade.

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Como podemos entender genericamente a delinquência?

• Delinquência não é sinônimo de crime, mas sim um fenômeno abrangente;

• Delinquência supõe uma relação, uma atitude de confronto e oposição perante a sociedade, suas normas e costumes, atitude essa que pode ter suas formas embrionárias de manifestação já nos primeiros anos de vida da criança;

• Nos jovens adultos e nos adultos, importa saber se a conduta criminosa é resultado preponderante de condições ambientais e/ou um padrão de conduta adquirido e desenvolvido a partir de experiências relativamente recentes ou ainda de experiências que podemos admitir como enraizadas e assentadas em uma base historicamente delinquente.

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Aspectos da mente infantil• Amor (instinto de vida/preservação) e ódio (instinto de

morte/transformação/destruição – sentimentos fundamentais, primários: reprimidos ou explícitos, amadurecidos ou primitivos, diferenciados ou fundidos, sempre estão presentes no psiquismo das pessoas;

• Eles estão presentes tanto nas crianças quanto nos adultos. Nas crianças, estão fundidos e indiferenciados. Eles são vividos e experimentados inicialmente com a mãe, mais especificamente com o seio da mãe;

• O ódio, manifesta-se pelas mordidas, movimentos bruscos e também pelas birras e acessos de raiva que vão surgindo pouco a pouco;

• O objetivo do bebê não é agredir a mãe, mas dar vazão às suas energias instintuais, satisfazer sua “voracidade” e conquistar um sentimento de bem estar. Winnicott salienta que a criança morde quando está excitada e não quando está frustrada;

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Aspectos da mente infantil

• A indiferenciação típica dos primeiros momentos de vida faz com que a criança faz com que – a partir de nossa interpretação – ela perceba o ambiente e, é claro a mãe como extensão de si mesma, a mãe é parte dela.

• Este sentimento foi denominado por Freud de sentimento oceânico em O mal estar na civilização.

• O desenvolvimento vai supor então a possibilidade de da criança de se diferenciar dos objetos e diferenciar e conhecer seus próprios impulsos. Ela deverá desenvolver um quadro de referência d si mesma.

• A figura mais importante nesse processo de diferenciação da criança é a mãe. É na relação emocional profunda e satisfatória entre a criança e a mãe – ou substituta que se encontram as raízes de sua maturação

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Aspectos da mente infantil

• Agressividade não é um sentimento fácil de se compreender na mente infantil;

• A agressividade é uma reação à frustração, é uma fonte de energia motora que se manifesta em seus movimentos bruscos, não tem o objetivo básico de ferir, mas de explorar o ambiente, ligando-se portanto à motilidade;

• Dessa forma a agressividade está sempre ligada ao estabelecimento de uma distinção entre o que é e o que não é eu

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Aspectos da mente infantil• Com o tempo a agressividade se volta para o mundo e emergem os

impulsos destrutivos contra o ambiente e contra o objeto(mãe);• Essa agressão para Winnicott refere-se a um “pensamento mágico” da

criança que surgiria no momento em que ela - criança - se percebe como separada da mãe;

• Freud aborda essa questão no texto Luto e melancolia . Na melancolia a pessoa dirige para si mesma impulsos destrutivos que inconscientemente estariam destinados ao objeto amado e perdido. Como não “pode” agredir a mãe “agride” a si mesmo – depressão, culpa;

• Se a mãe não está presente neste momento de forma consistente, as mudanças se tornam bruscas e imprevisíveis para a criança;

• Se a mãe participa de forma eficiente – com sua presença, continência e holding, a criança se tornará capaz de lidar concretamente com sua destrutividade e com seu ódio de forma civilizada no lugar de aniquilar magicamente o mundo.

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Aspectos da mente infantil• A forma como a mãe e o ambiente acolhem a agressividade da criança, faz

toda a diferença para ela, pois dessa capacidade da mãe de decodificar seus sentimentos hostis, vai influenciar a forma da criança interpretá-la e administrá-la;

• Ao usar espontaneamente sua hostilidade ela poderá descobrir seus limites, sua verdadeira dimensão e possibilitando estabelecer gradualmente seu autocontrole e respeito pelos outros ainda que viva explosões de raiva e reações perversas esporádicas;

• Um ambiente menos acolhedor torna a criança mais tímida. Ela passa a temer sua própria agressividade e teme portanto ter que enfrentar a agressividade das demais pessoas. Sua postura passa a ser de expectativa no aguardo de dificuldades que possam promover reações agressivas dentro de um padrão de conduta autodefensiva;

• Como dizia Winnicott a agressão pode ser um sintoma de medo e caso reprimida pode tornar-se um perigo em potencial, decorrendo daí os delineamentos de uma conduta antissocial e delinquente.

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A confiabilidade do lar

• O termo confiabilidade foi usado por Winnicott para designar o ambiente acolhedor propiciado pela mãe, pela família e pelo lar;

• A criança tem necessidade de se reassegurar quanto à estabilidade e confiabilidade de seu lar, pois só assim ela poderá se reassegurar quanto aos seus impulsos agressivos e destrutivos e assim poder sentir-se livre para as suas próprias coisas e seu brincar;

• Manifestar suas tendências destrutivas assim como as amorosas é a única via que permite à criança dimensioná-las e descobrir os limites que lhe são impostos;

• Ao manifestar sua agressividade no ambiente a criança está buscando nele um controle para a mesma, uma autoridade benigna confiável, confiante e legítima. Uma autoridade legítima é aquela que cujo exercício consiste em proporcionar oportunidade de crescimento aos que a ela se reportam.

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A confiabilidade do lar• Primeiramente a criança busca um controle externo a fim de nele

encontrar quadros de referência para, aos poucos desenvolver um controle interno que não a paralise nem empobreça sua vida psíquica;

• O desenvolvimento da criança e do adolescente vai se caracterizar por uma crescente ampliação dessa capacidade de se autodeterminar e prescindir da autoridade e controle externos;

• Dessa forma sérias privações de confiabilidade da mãe e do lar constituem-se em riscos para a criança e sérios prejuízos em sua capacidade de administrar os próprios impulsos destrutivos. Disso podem resultar duas situações:

1. os impulsos destrutivos passarão a atuar livremente, para o desespero, das pessoas que veem seus interesses e direitos violados;

2. Os impulsos ficarão represados sob o poder opressor de um terrível superego. Porém um superego severo, ao invés de inibir, pode ao lado de uma forte ansiedade, alimentar o desenvolvimento de uma conduta antissocial como afirmava M. Klein.

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Sentimento de culpa e capacidade de envolvimento

• Para Winnicott a culpa é indispensável ao desenvolvimento do autocontrole e a maturidade psíquica.

• Quando se intensifica o sentimento de culpa pode se tornar implacável e envolve angústia e ambivalência uma vez que implica a representação de um objeto bom para o qual se direciona, concomitantemente impulsos destrutivos;

• Se o sentimento de culpa provem de um superego severo, faz-se acompanhar de forte ansiedade, acarreta à vida interior da pessoa ataques insuportáveis à sua conduta que podem se dirigir contra ela mesma ou contra o ambiente. Este sentimento inviabiliza a reparação.

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Sentimento de culpa e capacidade de envolvimento

• A capacidade de envolvimento, para Winnicott, seria uma espécie de versão positiva do sentimento de culpa;

• Poderia ser entendida como a capacidade da pessoa se responsabilizar pessoalmente pela destrutividade que existe dentro dele;

• Se o sentimento de culpa provem de um superego flexível é suportável e conduz à reparação;

• Requer uma maior integração dos aspectos contraditórios, maior desenvolvimento do senso de responsabilidade. Dessa forma não há ansiedade nem angústia;

• O sentimento de envolvimento permite que eu me sinta “responsável por” ao invés de “culpado por”;

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Sentimento de culpa e capacidade de envolvimento

• “Sentir-se responsável por” sugere a capacidade de se envolver e de se colocar no comando dos próprios atos;

• O envolvimento tem sempre uma conotação positiva;• A intensificação deste sentimento não realimenta

impulsos autodestrutivos ou heteroagressivos;• Relaciona-se à uma revisão do padrão de conduta

orientada ao senso ético;• No entanto, a capacidade de envolvimento e o senso

ético desenvolve-se a partir do sentimento de culpa.

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Origem da capacidade de envolvimento

• Surge no começo do desenvolvimento emocional no contexto das relações mãe-bebê, as quais já são percebidas pelo bebê como unidades distintas e continua a se desenvolver até a vida adulta;

• A partir dos 06 meses até por volta dos 02/03 anos a criança desenvolve, gradualmente, a percepção e o reconhecimento da mãe como pessoa distinta dela. Passa a se relacionar como ela como ela é e também com os objetos que a rodeiam;

• A partir do final deste período ela conquista o seu “eu” e o percebe como distinto da “mãe”, ela descobre seu “eu interno”;

• A percepção de si mesmo como um ser distinto e independente é a base para a origem de desenvolvimento da capacidade de envolvimento.

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Origem da capacidade de envolvimento

• A criança ao longo do tempo continua mantendo seu desejo de aproximação, apego e construção e necessita de uma mãe capaz de estar plenamente disponível e acessível, além de ser plenamente confiável;

• A criança precisa, para além de sua destrutividade, continuar a construir e contribuir, pois assim se sentirá mais segura perante a mãe, não temerá ser rejeitada em virtude de seu comportamento agressivo e se permitirá desenvolver um sentimento de culpa tolerável;

• Se pode expressar todo seu ser – impulsos amorosos e agressivos- de modo mais autoconfiante e audaciosa se tornará mais confiante e corajosa na vivência de suas pulsões agressivas e ao conhecê-las melhor poderá dimensioná-las;

• Quanto mais conhece de si, mais se aceita, mais se responsabiliza e mais aprimora sua capacidade de envolvimento

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O que podemos entender afinal como ser responsável por seus atos?

• Envolvimento não é simplesmente capacidade de se responsabilizar pelos atos praticados, no sentido de assumir autoria dos mesmos;

• Envolvimento é a capacidade de assumir responsabilidade pelas pulsões que os motivaram;

• Não se trata apenas de assumir o ataque ao outro, mas de assumir a responsabilidade pelo ódio que subjaz ao ataque.

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Capacidade Construtiva• O bebê, a criança e o adulto trazem dentro de si a

agressividade da qual emerge a destrutividade;• No entanto, ao lado dela, associada ao instinto

libidinal, emerge a capacidade construtiva, o desejo de contribuir;

• Segundo Winnicott, a criança teria mais necessidade de dar do que receber e que tanto o adulto como o adolescente também teriam a capacidade de construir e contribuir;

• Por que o delinquente não teria?

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Em que condições emerge a capacidade construtiva?

• Para que uma criança se desenvolva ela precisa de confiabilidade da mãe, do lar, de tolerância e compreensão para com seus impulsos destrutivos presentes, concomitantemente, em seu amor primitivo;

• Se ela se sente aceita pela mãe, a partir dessa confiabilidade se permitirá aceitar o que nela existe de destrutividade e desenvolver um sentimento de culpa plenamente tolerável em relação a eles o qual converterá em reparação;

• Sentindo-se aceita e reconfortada e autoconfiante a criança terá condições e capacidade de desfrutar de todo seu manancial de ideias, fantasias e desejos, ainda que contenham em algum nível a sua própria destrutividade.

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Em que condições emerge a capacidade construtiva?

• Se a criança consegue aceitar e lidar com seus próprios aspectos destrutivos está livre para agir de modo construtivo;

• Quanto mais ela percebe que sua capacidade de construtiva se assenta sobre uma base de tolerância da destrutividade e de reparação, mais ela contribuirá em múltiplos sentidos com a mãe e com a vida no lar;

• Integrar e harmonizar destrutividade e construtividade é fundamental para o equilíbrio e a saúde mental da criança.

• Prejuízos causados à capacidade da criança de perceber-se como alguém capaz de construir e contribuir poderão trazer consequências danosas ao seu desenvolvimento e adaptação social

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Privação e sua natureza• Para Bowlby é essencial à saúde mental da criança que ela tenha

uma relação amorosa, íntima e contínua com sua mãe ou sua substituta e que nesta relação exista satisfação e prazer mútuos os quais são enriquecidos pela relação com o pai e outras pessoas da família;

• Privação da mãe Ou da substituta é a ausência deste tipo de relação, quer seja pela ausência física seja pela incapacidade ou omissão da mãe em proporcioná-la à criança;

• Esta situação pode variar de um grau leve a um grau severo, de uma privação parcial a uma privação total;

• A privação pode ainda variar em função da idade e das experiências relacionais positivas que a criança teve anteriormente à privação além do grau que a criança suporta a ausência da mãe.

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Efeitos da Privação• Angústia;• Forte necessidade de amor;• Fortes sentimentos de vingança e

consequentemente culpa e depressão;• Mutilação da capacidade de estabelecer contato com

outras pessoas;• Segundo pesquisa realizada por Bowlby com

infratores reincidentes, a angústia decorrente de relações primitivas insatisfatórias predispõe a criança a reagir de forma antissocial

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Privação segundo Ainsworth• Classifica a privação dos cuidados maternos em três grupos:1. Por relações insuficientes: a criança recebe cuidados insuficientes e

insatisfatórios, seja vivendo com sua mãe ou substituta ou em uma instituição;

2. Por relações descontínuas: ocorre uma separação da criança de sua mãe, por períodos menores ou maiores ou mesmo definitivo – mãe internada em hospitais, em instituições, morte da mãe ou trocas de lar ou mesmo de mãe;

3. Por relações distorcidas: elas são imbuídas, comparativamente mais em relação aos outros tipos, de violência. Este é o mais grave tipo e se relaciona aos caso em que as mães tem, em termos manifestos, um comportamento que “parece” ajustado e com uma intenção educativa, no entanto, inconscientemente, é movida por uma motivação hostil, destrutiva ou de rejeição . A criança capta a intenção inconsciente da mãe.

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Consequências da Privação• Quando a pessoa tem um desenvolvimento saudável, espera-se que ela

seja capaz de escolher, planejar e criar em seu ambiente;• Todas essas ações são conquistadas com a capacidade de abstrair, pensar

e imaginar se desprendendo dos e instintos e necessidade de prazer imediato;

• Quando podemos organizar e harmonizar nossos desejos com a realidade e com as outras pessoas lançamos as bases para a socialização, a qual desempenha papel fundamental na prevenção da delinquência;

• No início da vida, conforme Winnicott, a mãe é o “organizador psíquico” da criança;

• Perturbações dessas relações irão afetar a criança e os danos causados estarão associados à fase em que se deram;

• Para Bowlby existiriam três fases:

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Consequências da Privação

• Três fases de Bowlby:

1. De cinco ou seis meses: a criança está a caminho de estabelecer relação com uma pessoa que ela é capaz de identificar claramente – a mãe;

2. Até os três anos: a criança necessita da presença constante da mãe;

3. Acima dos três anos: a criança começa a ser capaz de manter relação com a mãe, mesmo quando ela está ausente; aos quatro-cinco anos por poucos dias ou semanas; após sete-oito anos por um ano ou mais, embora não sem tensões.

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Consequências da Privação – 1ª fase – dos 5 aos 6 meses

• A privação da mãe vai consistir primeiramente na privação de um paradigma de administração dos desejos e planejamento do futuro, especialmente na primeira fase com prejuízos dos seguintes tipos:

1. Dificuldades de abstrair (desenvolvimento do senso moral)2. Dificuldades em se abstrair do presente, do imediato e pensar

no futuro, 3. Imediatismo,4. Instabilidade

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Delinquência

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Consequências da Privação – 2ª fase dos 6 meses aos 3 anos

• Se ficou com a mãe uns dois anos e depois sofre privação:1. Perda das capacidades adquiridas;2. Regressão;3. Atitude de hostilidade (birras e violências). A hostilidade gera

conflitos , angústia, depressão e obstáculos à aprendizagem futura podendo fazer surgir condutas delinquentes , o suicídio e em alguns casos até mesmo o assassinato dos pais;

• Pessoas com este tipo de privação relutam a se entregar a novas relações de amor, reprimem o amor entregam-se a relações sexuais promíscuas a furtos, desenvolvem sentimento de vingança os quais levam a outros atos antissociais.

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Consequências da Privação – 3ª fase acima dos 3 anos

• Não tem os mesmos efeitos destrutivos sobre a capacidade de raciocínio abstrato e o desenvolvimento da personalidade. Pode ocorrer:

1.Intensa necessidade de afeto;2.Exagerados impulsos de vingança que provoca

agudo conflito interno e atitudes sociais muito negativas

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Outros fatores agravantes• Crianças na segunda fase e ainda na terceira ainda não tem uma

boa noção de tempo e assim suas dificuldades se complicam. O que para um adulto pode ser pouco tempo, para a criança pode ser muito;

• Ter tido ou não relações gratificantes e amorosas quando da ocorrência da privação. Para crianças que viveram uma boa relação até os seis ou nove meses com sua mãe e depois sofreram privação as consequências são muito danosas se não tiverem o apoio de uma mãe substituta e amorosa;

• Para Winnicott em crianças que sofreram privação materna precoce “É provável que seus roubos fossem uma tentativa de garantir amor e gratificação, restabelecendo assim a relação amorosa que haviam perdido”

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Conclusões• Quanto mais completa a privação nos primeiro anos,

mais indiferente à sociedade e isolada uma criança se torna;

• Quanto mais sua privação for intercalada por momentos de relações amorosas, mas ela se volta contra a sociedade e padece de sentimentos conflitantes de “amor e ódio” pelas mesmas pessoas;

• Em crianças com mais idade, acima de sete-oito anos, os danos psíquicos de separação da mãe serão menores quando a relação com a mãe foi satisfatória;

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Conclusões• A perda da mãe e da confiabilidade, seguida de consequências mais

grave ou menos graves produz na criança:1. Um sentimento de vazio interior da ausência do objeto;2. Ansiedade e medo já que agora “é ela própria” que terá de conter seus

impulsos destrutivos e não dispões mais de um continente para eles;3. Ela deverá esconder sua destrutividade uma vez que não mais encontra

segurança no ambiente para manifestá-la nem caminhos para expandir sua capacidade construtiva.

• A privação emocional surge da privação primordial da mãe na vida da criança na qual ela perde a posse de seu objeto de amor perdendo com isso um quadro de referência e de continência para administração e controle dos próprios impulsos.

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Conclusões• No início a criança pode demonstrar uma certa neutralidade que

para os adultos pode parecer normal e sem riscos, porem a neutralidade é aparente. Ela é tão somente uma atitude transitória de exploração e expectativa diante da nova realidade;

• A criança vai tentar reconquistar o objeto e a confiabilidade vai buscar a segurança, a continência e os limites para a sua destrutividade, a não ser que opte pelo caminho do luto ou da melancolia;

• Dependendo de sua história, da gravidade da privação e dos suprimentos ambientais que encontrar ela adotará soluções que a levem à maturidade, graus menores de ajustamento ou ainda ao agravamento da situação com a desadaptação social como alternativa.

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Alternativas de solução?• Freud no texto Lições Introdutórias à Psicanálise faz uma análise do

interjogo entre privações passadas e as frustrações presentes:1. Para fixações (conflitos não resolvidos e privações) passadas muito

intensas, bastarão frustrações atuais pouco intensas para que o resultado seja a regressão;

2. Para fixações passadas pouco intensas, serão necessárias frustrações atuais muitos intensas para que o resultado seja a regressão;

• Simon realça a importância das experiências positivas que permitem cicatrizar a ferida psíquica quando a criança encontra equilíbrio na posse de outros objetos saudáveis, no entanto dependendo de algumas experiências suas feridas poderão reabrir;

• Uma terceira via é a busca de objetos substitutos – uma busca incansável ainda que de forma socializada – tais como dinheiro, bens materiais, poder, prestígio, atividades intelectuais. O que caracteriza o problema é a obsessão com que isso é feito, ou seja nunca se sente feliz com o que já tem.

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Alternativas de solução inviáveis?• Luto: a vida perde seu colorido, o indivíduo tem dificuldades em investir

afeto em pessoas , em projeto, resiste a estabelecer novos relacionamentos amorosos, porém ainda é melhor que a melancolia;

• Na melancolia o próprio caminhar na vida perde o sentido, desenvolvendo no indivíduo a autodestrutividade, a qual, inconscientemente representa uma busca de destruição do objeto amado e perdido;

• O caminho das drogas é uma outra alternativa inviável, com elas o jovem busca conquistar

1. a paz, a tranquilidade, a extinção do medo e da ansiedade (psicolépticas: soníferos e tranquilizantes);

2. o estímulo, a excitação, a vida, a coragem e a expansividade dos impulsos (psicoanalépticas: estimulantes – cocaína, crack, cafeína, teobromina, ecstasy, anfetaminas )

3. a fuga da realidade, das ilusões perdidas ou a busca de outras formas de ser “antes da privação” (psicodislépticas: despersonalizantes - maconha, LSD 25, heroína, haxixe, )

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A delinquência como via de solução para a privação emocional

• É uma tentativa de retorno à época em que as coisas corriam bem, para voltar a usufruir da posse do objeto primordial, de sua confiabilidade e reconquistar a segurança e autoconfiança, graças às quais a criança pode manifestar sua destrutividade;

• Por meio da conduta delinquente é como se acriança e o adolescente estivesse compelindo a sociedade a retroceder com ela à época primordial e a testemunhar e reconhecer suas grandes perdas,

• A criança preocupa-se em não trair seu próprio eu – esta é sua moralidade precoce. E o seu eu inclui seus impulsos primitivos construtivos e destrutivos;

• No furto o que temos é a busca obsessiva de “algo” de “forma insaciável”, este algo nunca encontrado que é exatamente o objeto primordial perdido. O furto expressa a privação do objeto.

• Nos crimes contra a vida ou contra a integridade física e moral, a destrutividade o que está que ela não sabe fazer isso sozinha. É a busca de um ambienta estável e indestrutível que ela perdeu um dia.