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AFRICANIDADES EM QUESTÃO: O DESENVOLVIMENTO DOS ESTUDOS AFRICANOS E ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A ASCENSÃO DA RAINHA NZINGA MBANDI AO PODER NO NDONGO E MATAMBA Priscila Maria Weber 1 Resumo O presente artigo propõe algumas sucintas considerações a respeito do desenvolvimento dos estudos sobre história da África em esfera internacional e nacional, trazendo seus principais expoentes, análises e obras. Acreditamos que essa discussão é fundamental para que sejam possíveis as primeiras averiguações em relação aos estudos sobre África independente da temática que se for analisar. Como possibilidade de trabalho em africanidades, a discussão em torno de uma personagem africana do século XVII, que ainda sobrevive em diferentes culturas, Nzinga Mbandi, rainha dos reinos de Ndongo e Matamba será fomentada, bem como sua ascensão ao poder. Para tanto, consideraremos obras de escritores diletantes e acadêmicos, bem como fontes primárias oriundas de 1 Graduada em História pela Universidade de Santa Cruz do Sul- RS (UNISC- 2009/1). Atuou como professora na rede pública de ensino no município de Vale Verde-RS e na rede privada, no município de Venâncio Aires e Arroio do Meio-RS. Tem experiência em pesquisa com ênfase nos estudos sobre História da África Central Litorânea do século XVII e afro-descendentes no Brasil. Durante a graduação possuiu bolsas de iniciação científica de diversos órgãos de fomento como PUIC (Programa UNISC de Iniciação Científica), FAPERGS (Fundação de Amparo à pesquisa do Rio Grande do Sul), PROBEX – UNISC (Programa de Bolsas de Extensão), PIBIC-CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Atualmente cursa Mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica do RS (conceito CAPES 6) com bolsa financiada pela CAPES. E-mail: [email protected] www.revistacontemporaneos.com.br 1

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AFRICANIDADES EM QUESTÃO: O DESENVOLVIMENTO DOS

ESTUDOS AFRICANOS E ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A ASCENSÃO

DA RAINHA NZINGA MBANDI AO PODER NO NDONGO E MATAMBA

Priscila Maria Weber1

Resumo O presente artigo propõe algumas sucintas considerações a respeito do desenvolvimento dos estudos sobre história da África em esfera internacional e nacional, trazendo seus principais expoentes, análises e obras. Acreditamos que essa discussão é fundamental para que sejam possíveis as primeiras averiguações em relação aos estudos sobre África independente da temática que se for analisar. Como possibilidade de trabalho em africanidades, a discussão em torno de uma personagem africana do século XVII, que ainda sobrevive em diferentes culturas, Nzinga Mbandi, rainha dos reinos de Ndongo e Matamba será fomentada, bem como sua ascensão ao poder. Para tanto, consideraremos obras de escritores diletantes e acadêmicos, bem como fontes primárias oriundas de

1 Graduada em História pela Universidade de Santa Cruz do Sul-RS (UNISC- 2009/1). Atuou como professora na rede pública de ensino no município de Vale Verde-RS e na rede privada, no município de Venâncio Aires e Arroio do Meio-RS. Tem experiência em pesquisa com ênfase nos estudos sobre História da África Central Litorânea do século XVII e afro-descendentes no Brasil. Durante a graduação possuiu bolsas de iniciação científica de diversos órgãos de fomento como PUIC (Programa UNISC de Iniciação Científica), FAPERGS (Fundação de Amparo à pesquisa do Rio Grande do Sul), PROBEX – UNISC (Programa de Bolsas de Extensão), PIBIC-CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Atualmente cursa Mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica do RS (conceito CAPES 6) com bolsa financiada pela CAPES.E-mail: [email protected]

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documentos produzidos por expedições portuguesas na África.Palavras chave: Estudos africanos, Nzinga Mbandi, Poder, Matamba.

African union in point: the development of African studies and some notes on the accession of Queen Nzinga Mabandi to Power in Ndongo and

Matamba

AbstractThis paper presents some brief considerations regarding the development of African studies in the international and national levels, bringing its leadding exponents, analysis and works. We believe that this discussion crucial to be possible the first inquiries in relation to studies on the that theme independent Africa if you look. The possobility of working in Africa, the discussion aroud na African character of the seventeenth century, which still survives in different cultures, Mbandi Nzinga, queem of the kingdoms of Ndongo and Matamba Will be promoted, as well as his rise to power. To this end, consider the works of writers amateurs and cademics, as well as primary sources derived from documents produced by portuguese expeditions in Africa.Keywords: African studies, Nzinga Mbandi, Power, Matamba.

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Para alguns estudiosos e historiadores, no Brasil, “África deveria ser sinônimo de mãe-pátria”, conforme sugere Alberto da Costa e Silva, em prefácio do livro de autoria de Selma Pantoja, “Nzinga Mbandi: mulher, guerra e escravidão” (2000, p.13), originário de sua dissertação de mestrado, concluída no ano de 1987. Partindo dessa premissa, consideramos de fundamental importância para o universo do historiador, independente das suas concepções teóricas, a admissão de que ao descerem dos navios nas praias brasileiras, os cativos não desceram sem memória. Eles trouxeram consigo um passado que continua nosso ou, como diria Roger Bastide (1974: 26), os “navios negreiros transportavam a bordo não somente homens, mulheres e crianças, mas ainda seus deuses, suas crenças e seu folclore”. O negro não se reinventa no Brasil, ao contrário, ele introduz em sua cultura elementos que aqui vão ser significados, hibridizados. Também não reproduz no Brasil tudo que deixa na suas terras de origem, tampouco os portugueses fazem isso, mesmo estando na condição de senhores. Cerimônias, costumes e comportamentos foram modificados, re-significados, incorporando elementos dos portugueses e dos africanos que aqui já estavam. Assim, é de suma importância entender como ocorreu o desenvolvimento dos estudos africanos em esfera internacional e nacional. Deter-nos-emos, a sucintas considerações que contribuem para traçar um primeiro panorama em relação a esses estudos.

Os estudos em história da África se desenvolvem em níveis acadêmicos no princípio do século XX, se solidificando em meados dos anos de 1960. Esse movimento pode ser observado em virtude da formação dos Estados africanos contemporâneos e da necessidade das jovens nações pós-coloniais, mesmo enfrentando diversas limitações, em construir os campos de conhecimento científico (MACEDO, 2008, p. 13). É bem verdade que anteriormente muitos trabalhos enfocavam objetos relacionados à história da África, inclusive escritos de estrangeiros. Entretanto, os estudos africanos em moldes contemporâneos com forte movimentação no próprio continente dataram posteriormente a descolonização. Com o aparecimento de um respeitado periódico científico, o “Journal of African History”, e o apoio de instituições governamentais, os estudos africanos começaram a desenvolver seus suportes de análises e, em 1972 Joseph Ki-zerbo escreve “Histoire de l’Afrique Noire”, traduzida para diversas línguas, tornando-se um clássico da historiografia africana. Na década de 1970/1980, contando com o patrocínio da UNESCO é escrita a coleção francesa, “Histoire Generale de l’Afrique”, com oito

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tomos, elaborada por diversos colaboradores providos de um comitê de investigações africanas. Outra coleção importante, dessa vez inglesa, dirigida por Roland Oliver e John Fage, contendo também oito tomos é intitulada “The Cambridgue History of Africa” (MACEDO, 2008, p. 13).

Durante os anos de 1980/1990, uma corrente de estudiosos formados no continente africano pretende superar o “eurocentrismo” e o “afrocentrismo” nos estudos relacionados à África. Esses intelectuais consideram o pluralismo, as especificidades e diversidades do continente, permitem analisar o sujeito africano como subjetivo e protagonista da sua própria história, que vai além dos contatos com os europeus. Desenvolvendo e aprimorando diferentes métodos e técnicas de pesquisa. Um expoente dessa corrente é Elikia M’Bokolo, do Centro de Estudos Africanos da École des Hautes Études en Sciences Sociales. M’Bokolo escreve “Afrique Noire: Histoire et civilisations”, que prima pelo estudo de uma história africana sem rótulos, despida do olhar colonizador.

Na mesma linha, Joseph Miller2 e John Thornton3, rompem com os estudos referentes a uma África que evidencia apenas a destruição das sociedades pelos europeus em virtude do tráfico negreiro, sem subjetivar os resultados dessas práticas. Miller e Thornton expõem que os africanos pensam sobre suas vidas, sendo capazes de transformar e influenciar suas sociedades. Em “O Atlântico escravista: açúcar, escravos e engenhos” (1997), Miller utiliza da diáspora para explicar a pluralidade das culturas de tradição

2 MILLER, Joseph. Poder político e parentesco. Os antigos estados Mbundu em Angola. Luanda: Arquivo Histórico Nacional, 1995; The significance of drought, disease and famine in the agricultural marginal zones of West-Central Africa. Journal of African History, 23, 1982, p. 17-61; Requiem for the “Jaga” In: Cahiers d’études africaines. Vol. 13 N°49. p. 121-149; Thanatopsis. Cahiers d’études africaines, Année 1978, v. 18, n. 69 ; O Atlântico escravista. Açúcar, escravos e engenhos. Afro-Ásia. Vol. 19, 1997, p. 9-36; Nzinga of Matamba in a new perspective. Journal of Afrincan History, 16, n 2, 1975, p. 202.3 THORTON, John. A áfrica e os africanos na formação do mundo atlântico: 1400 – 1800. Rio de Janeiro, Elsevier: 2004; The Kingdom of Kongo. Civil wae and transition – 1641-1718. Maidson: University of Wisconsin Press, 1983; Elite women in the kingdom of kongo: historical perspectives on women’s political power. Journal of African History, 47 (2006), p. 437–60; Cannibals, Witches, and Slave Traders in the Atlantic World .The William and Mary Quarterly, Third Series, Vol. 60, No. 2 (Apr., 2003), p. 273-294; A Resurrection for the Jaga. In: Cahiers d’études africaines. Vol. 18 N°69-70. p. 223-227.

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africana, que segundo o autor, são um processo contínuo, e não uma estrutura rígida. Em “Elite women in the kingdom of kongo: historical perspectives on women’s political power” (2006), Thornton, argumenta sobre o sistema político centralizado, as posições de poder e autoridade, considerando diversos aspectos, como a hereditariedade, peça importante na averiguação das complicadas linhas sucessórias de poder.

Atualmente, no cenário nacional destacams, entre outros excelentes trabalhos, as obras do diplomata Alberto da Costa e Silva4 e da professora Marina de Mello e Souza5. O primeiro autor contribui com intenso confronto de fontes para a composição de seus argumentos, chegando a obras de fôlego e trabalhando com as mais diversas regiões africanas, não esquecendo os detalhes, que vão desde a cor de uma conta utilizada como moeda, até questões ritualísticas dos reinos que se propunha analisar. Marina de Mello e Souza enfatiza nas suas obras, as diásporas presentes nas culturas africanas, mais especificamente na região Central Ocidental (Congo e Angola) e o estabelecimento dessas culturas no outro lado do Atlântico, no caso, o Brasil, com destaque para as religiosidades e os ritos afro-brasileiros.

Em recente publicação, Linda Heywood6 traz textos de diversos autores, como Joseph Miller e John Thornton. Com a leitura de “Diáspora Negra no Brasil” (2008) é plausível a problematização da diáspora africana e o inicio dos estudos que a fomentam,

4 SILVA, Alberto da Costa e. A manilha e o Libambo: a áfrica e a escravidão, de 1500 a 1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002; A enxada e a lança: a África antes dos portugueses.Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.5 SOUZA, Marina de Mello. Reis negros no Brasil escravista – História da Festa de Coroação de rei Congo. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2002; A Rainha Jinga – África Central, século XVII. Disponível em: http://www.casadasafricas.org.br/ Acesso em: 17 mai. 2010; Catolicismo negro no Brasil: santos e minkisi, uma reflexão sobre miscigenação cultural. Afro-Ásia, n. 28, 2002; Religiões tradicionais e catequese na África central, século XVII. Phronésis (Campinas), vol. 8 n. 1, 2006, pp. 121-138; SOUZA, Marina de Mello; VAINFAS, Ronaldo. Catolização e poder no tempo do tráfico: o reino do Congo da conversão coroada ao movimento antoniano, séculos XV-XVIII. Tempo. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, Sette Letras, v.3, n.6, dez/1998, p. 95/118.6 Para maior detalhamento do conceito de crioulização sugerimos: HEYWOOD, Linda M. (org). Diáspora negra no Brasil. São Paulo: Ed. Contexto, 2008 e BAKER, Philip; BRUYN, Adrienne, St. Kitts and the Atlantic Creoles (Westminster: University of Westminster Press), 1998.

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tanto no exterior, quanto no Brasil. O capítulo reservado a Linda Heywood enfoca a crioulização na África Central. A autora analisa a crioulização como uma manifestação de adaptação e síntese cultural que não é específica do continente Americano. Para Heywood os escravizados estavam expostos a cultura crioula antes de partirem para sociedades agrícolas na América, possibilitando, desta forma, problematizar os estudos que condizem com as origens africanas e os diversos conceitos e formas de reprodução das condições de escravidão.

Escrever sobre história da África requer um primoroso cuidado com as fontes. Sem promover o abandono de um referencial e rigor teórico e metodológico que embasam a interpretação e a escrita da história, precisamos “despir os documentos das suas roupagens lusocêntricas e preconceituosas, resultantes de leituras marcadas pelas ideologias e pelos sistemas culturais portugueses e, de por em evidência as presenças criativas e dinâmicas” (HENRIQUES, 2008, p. 100). Os documentos literários produzidos por padres, por soldados e, uma série de dados produzidos pelas atividades portuguesas na África, como bulas papais, cartas, tratados, registros notariais e boletins, são capazes de auxiliarem na conexão de interesses e motivações que cercam determinado elemento a ser observado e interpretado. Na atualidade, com o advento de mídias apropriadas para digitalização e, para o pesquisador impossibilitado de realizar uma viagem para coleta de materiais, há uma série de arquivos que estão a disposição dos pesquisadores através de sites especializados. Existem portais renomados capazes de suprir a necessidade de respaldo documental referentes a muitos objetos7.

7 Citamos alguns importantes portais e seus respectivos links: Bibliothèque Nationale de France: http://gallica.bnf.fr/ Biblioteca Foral de Bizkaia: http://www.bizkaia.net/kultura/foru_liburutegia/moduluak/portada.asp?Tem_Codigo=4611Memória de África: http://memoria-africa.ua.pt/introduction/tabid/83/language/pt-PT/Default.aspxPersée : Portail de revues scientifiques en sciences humaines:http://www.persee.fr/web/guest/homeArlindo Correa: http://www.arlindo-correia.com/041008.htmlCasa das Áfricas: http://www.casadasafricas.org.br/index.php

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A escrita da história africana reflete uma necessidade dos historiadores em abrir seus campos de saberes e pretende contribuir para a construção do conhecimento relacionado a um dos maiores problemas da historiografia brasileira, ou seja, precisamos considerar o relativo desconhecimento da história e cultura africana. Esse desconhecimento injustificável aflige não apenas a historiografia acerca da escravidão, mas como um todo, inclusive a história cultural, campo muito frequentado pela pesquisa historiográfica no Brasil, que infelizmente invisibiliza os estudos sobre África, considerando o africano apenas em função da escravidão. É verdade que nos últimos vinte anos esse quadro lacunoso tem dado sinais de mudança, bastando citar, os trabalhos realizados em universidades dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais. Porém, há muito por fazer nessa área de estudos nas demais regiões brasileiras. Assim, estudar a história africana que influencia diretamente na construção da formação cultural brasileira é uma necessidade dos historiadores que anseiam por desvendá-la.

Um objeto de estudo instigante: a rainha Nzinga Mbandi e sua ascensão ao poder

“A Rainha Nzinga Dona Anna de Souza mais acesa que nunca em nosso ódio, assim por antiguidade como agora próximo (CADORNEGA, 1940, p. 521).”

Estudar Nzinga Mbandi é apenas um exemplo de como os infindáveis e ainda pouco explorados objetos de estudos relacionados à África podem ser instigantes. A neutralidade na história é fator que inexiste e, os pesquisadores sempre colocam um pouco das suas experiências e subjetividades nas suas escritas, escolhas de objetos e conceitos metodológicos, primando sempre pela objetividade, sem subsumir as subjetividades, presentes nos comportamentos humanos. Muitas vezes, nem o próprio pesquisador é capaz de precisar com exatidão o porquê da sua escolha em analisar determinado objeto e período. Interessamo-nos por entender como uma personalidade da África Central, ascende ao poder em um contexto tão pouco propício para esse fato. Quando começamos a realização das primeiras leituras, cada obra lida era um mundo novo construído aos nossos olhos, cada fonte revelava outra sociedade, muito diferente de todos os modelos ocidentais, e com uma peculiaridade essencial de destaque: uma mulher forte e astuta

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como líder principal de um reino. Talvez seja esse, o principal motivo que nos leva a analisar Nzinga Mbandi e sua ascensão ao poder. Por ora, cabe informar um pouco sobre esse objeto, elucidando uma possibilidade de estudo no campo história da África.

Nzinga Mbandi é referida pela historiografia africana, segundo (SOUZA, 2008, s/p.), como a primeira angolana que resisti à dominação portuguesa. Nzinga nasceu por volta de 1582 no Ndongo Oriental em um contexto de superação da crise ocorrida pela invasão dos portugueses em Angola (PANTOJA, 2000, p. 78; LOPEZ e PIGAFETTA, 1949, p.37; CAVAZZI, 1965, p. 21)8. Filha de Jinga Mbandi Ngola Kiluanji, rei do Ndongo e de uma escrava Imbundo, Guenguela Cacombe, Nzinga foi preparada para liderar por seu pai, recebendo os princípios de uma educação religiosa e práticas que diziam respeito aos Jagas e aos Imbundos, sendo que a parte Imbundo de sua progênie advinha de sua mãe por herança seu tataravô9.

O antropólogo francês Claude Meillassoux, na obra “Mulheres, celeiros e capitais” (1976, p. 48), argumenta que a rainha Nzinga precisava de uma instrução que compreendesse a heterogeneidade dos povos que iria governar e a descendência mista seria a forma ideal de manter concilio entre os laços maternos e paternos, logo, entre os reinos. Entretanto, o poder não foi imediatamente para as mãos de Nzinga, sendo travada uma disputa pelo reino, entre ela e seu irmão, após a morte do pai de ambos que perduraria por seis anos (GLASGOW, 1982, p. 35-43; CAVAZZI, 1965, v. II, p.71; CADORNEGA, 1940, p. 91). Essa disputa, provavelmente ocorreu em função do poder nas mãos de uma mulher ser algo peculiar na África dos seiscentos, como ressalta Roy Glasgow (1982, p. 35-43), em estudo específico sobre a resistência de Nzinga às investidas portuguesas.

8 Durante os séculos XV, XVI e XVII, as alternâncias correspondentes ao estabelecimento e rompimento de alianças entre os líderes africanos e os portugueses eram constantes. Os portugueses, convencidos da existência de minas de ouro e prata em território Congolês tentavam adentrar o continente africano. Outro produto tentador eram os escravos, que faziam com que os portugueses primassem pela manutenção de alianças com os reinos africanos litorâneos, principalmente os ibéricos, abrem vias de trocas diretas com a África Atlântica privilegiando o comércio de escravos que “conheceria amplitude sem precedentes.” Para maiores informações sugerimos: M’BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Salvador: EDUFBA; São Paulo: Casa das Áfricas, 2009, p. 252.9 Segundo Birmingham, é por volta do século XVI que parecem ter surgido as formas de parentesco Ngola. Sugerimos ver: BIRMINGHAM, David. Central Africa from Cameroun to the Zambezy, In. The Cambridgue History of Africa. Cambridgue University Press, 1977, v. III, p. 538.

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Figura 01: Retrato de Nzinga Mbandi em um pergaminho conservado no mosteiro de

Coimbra, ilustração presente na obra: BRÁSIO, Antônio. Monumenta Missionária Africana. Lisboa: A.G.U. 1952, 11vol.

Os intelectuais que analisam o poder procedente das realezas africanas no século XVII, não possuem um consenso relacionado ao modo como Nzinga Mbandi ascendeu ao poder. Todavia, concordam que Nzinga Mbandi era uma líder notável, tanto pelo tempo que permaneceu no poder, quanto por sua personalidade forte. O renomado africanista John Thornton (2006, p. 437–60) argumenta que na região do Congo o poder em mãos femininas era inadmissível, e nas regiões periféricas, nunca uma mulher tinha obtido o controle formal de um reino, transmitindo que Nzinga opera de forma muito peculiar.

A chave para o deslinde dessa interrogação, segundo Thornton, está na observação das relações complexas de parentescos. John Thornton (1991, p. 25-40) afirma que talvez as regras de sucessão não fossem tão claras entre os andongos. Nzinga chegaria ao poder através de um conflito maior, onde cada grupo usava as tradições como fundamentação para o que acreditavam que lhes era de direito. É provável, segundo Thornton, que no período concomitante a Angola Mbandi o princípio de hereditariedade nas sucessões

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já tivesse se consagrado e que a família real se constituísse pela linha patrilinear, em contrariedade com a regra que conduzia o restante da sociedade. Outra possibilidade é que os escravos reais tivessem adquirido noções de poder, passando a ter voz na escolha do soberano, no caso, escolhendo Nzinga como representante (THORNTON, 2004, p. 201-216).

Figura 02: A rainha Nzinga Mbandi e seu séquito. In: CAVAZZI, João Giovanni Antônio. Descrição Histórica dos três reinos do Congo, Matamba e Angola. Lisboa:

Junta de Investigação do Ultramar, 1965.

Joseph Miller (1975, p. 202-206) em “Nzinga of Matamba in a new perspective” considera que a rainha comandou um golpe de estado. Essa hipótese é elaborada em virtude de Nzinga não ser sucessora natural do rei falecido10, não só porque era mulher, mas também devido o título de Ngola estar aberto para competitividade das linhagens. Na escolha do sucessor, o favoritismo não estaria com Nzinga e, o principal argumento que ampara a tese do autor deriva da rainha africana ser filha de uma escrava e não

10 Alguns dizem que o irmão de Nzinga se suicidou, outros que ele foi envenenado por Nzinga que também teria tirado do seu caminho seu sobrinho o afogando no rio Cuanza. Pode-se perceber a matança dos pretendentes que se opunham ao angola (rei) em MILLER, Joseph. Nzinga of Matamba in a new perspective. Journal of Afrincan History, 16, n 2, 1975, p. 208.

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possuir matrilinhagem11. Por outro ângulo, Adriano Parreira (1990, p. 178-183) contesta a ilegitimidade de Nzinga duvidando que haja impedimento para uma mulher ascender ao trono naquela época. Para Parreira, Nzinga detinha uma posição social que permitiria o posto de soberana, sendo acolhida pela maior parte dos andongos. Considerada como sagrada era tida como intocável e, até mesmo seu principal rival, o angola a Ari, que com ela guerreou a vida toda, se considerava súdito da rainha.

Nas observações de Betrix Heintze (1985, p. 38-39) ser filha de escrava não a incapacitaria ao poder, pois todos os reis eram filhos de escravos entre os Congos. Além disso, evidencia que nada comprova que Nzinga era filha carnal do mesmo pai de Angola Mbandi, pois a irmandade entre eles poderia ser de títulos, sendo cabeças de linhagens com igualdade na disputa pelo poder. Para Heintze, um soberano ao assumir o poder deveria desfazer-se ritualmente de suas linhagens na tentativa de organizar uma estrutura própria de poder, aglomerando quantos apoiadores pudesse: estrangeiros, escravos, pessoas sem vínculos familiares, todos eram bem vindos para engrossar a representação daquele reino. Heintze (1985, p. 210) ainda constata que pairava um sentimento anti-português na região disseminado pela Nzinga Mbandi, fazendo com que os grupos mistos de imbundos e jagas resistissem à penetração dos portugueses, fato que auxiliou Nzinga no sucesso das articulações para corroborar seu poder.

A união de observações pode ajudar a esclarecer como Nzinga chega ao poder. É plausível que uma mulher no poder seja algo peculiar e que Nzinga não possuísse matrilinhagem. Assim, Nzinga torna-se uma imbangala (jaga) para obter apoio deste povo guerreiro. Isso era necessário, pois frequentes batalhas entre portugueses, habitantes do Ndongo, Matamba e adjacências eram travadas. A sua dupla identidade étnica, jaga e imbundo, foram demasiadamente úteis para sustentar posições volúveis, sendo eleita ao modo jaga, com votos de escravos e também da forma imbundo, pela consanguinidade, a fim de manter as tradições de ambos e favorecer sua liderança.

11 Alguns reinos africanos utilizavam para sucessão do trono quem estivesse apto por descendência, ou seja, por linhagens com uma particularidade, a linha de filiação deveria considerar a descendência pelas mulheres como ancestral comum ou matrilinhagem. Para informações mais completas sugerimos: THORNTON, John. Elite women in the kingdom of kongo: historical perspectives on women’s political power. Journal of African History, 47 (2006), p. 437–60.

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Escritores como Selma Pantoja (2000, p. 102), Roy Glasgow (1982, p. 84) e Ralph Delgado (1948, p. 81) trazem em algumas de suas obras referências de uma curiosa cena onde a rainha é recebida em Luanda pelo governador. Na cena descrita, Nzinga constata apenas uma almofada para sentar, sentindo-se em situação de rebaixamento, pois o trono estava com o governador de Luanda. Rapidamente, a rainha dribla essa situação em que é colocada, ordenando que uma escrava fique em posição que lembra uma cadeira, com joelhos e mãos no chão. Nzinga senta-se e calmamente conduz as negociações. Essa cena traduz, dentre outras informações, a destreza diplomática que a rainha possuía e, como a ostentação, que também é um meio de legitimar o poder, era importante para aquela líder, que não suportava manter-se rebaixada.

Figura 03: Nzinga negociando acordo: In: CAVAZZI, João Giovanni Antônio. Descrição Histórica dos três reinos do Congo, Matamba e Angola. Lisboa: Junta de Investigação

do Ultramar, 1965.

Beatrix Heintze (1984, p. 1-60) com “Angola nas garras do tráfico de escravos: as guerras do Ndongo (1611-1630)” ressalta uma Nzinga resistente a conversão católica,

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marca principal das investidas portuguesas, mesmo quando seu reino estava fragilizado. Após permanecer um tempo em Luanda, quando da metade para o final de seu governo, Nzinga cede a fé cristã como forma de obter maior poderio bélico e comercial. Contudo, as práticas ritualísticas de seus reinos permaneciam as mesmas, Nzinga Mbandi provavelmente sabia da importância das manutenções culturais entre seu exército, pois constrói um governo alicerçado na heterogeneidade dos povos regionais.

Figura 04: Nzinga fumando tabaco: In: CAVAZZI, João Giovanni Antônio. Descrição Histórica dos três reinos do Congo, Matamba e Angola. Lisboa: Junta de Investigação

do Ultramar, 1965.

Como boa articuladora, conseguiu mantê-los unidos para defesa de seus interesses e, a introdução da fé crista em Matamba foi mais um desafio que a soberana precisou enfrentar para permanecer no poder. Com a decadência de seu reino, tanto na parte

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bélica, com perdas de batalhas significativas, quanto na parte administrativa, pois Nzinga precisava de alianças fortes para comerciar e manter a economia, a conversão foi vista como um meio que poderia ajudar a contornar essa situação. Jan Vancina (1966, p.143-144) e W. G. L. Randles (1969, p. 295-296) argumentam que durante o período que os holandeses ocupam Luanda, de 1641 a 1648, Nzinga permanece em Angola e se aproxima dos missionários italianos “capuchinhos”12, que a convencem quanto ao exercício da fé cristã e a convivência pacifica com os portugueses, fato que perdura até sua morte em 1663.

Alberto da Costa e Silva (2002, p. 439) em “A manilha e o Libambo: a áfrica e a escravidão, de 1500 a 1700” relata que ao aproximar-se dos portugueses, quando já estava perto de falecer, Nzinga possuía um projeto político visando o término das guerras de disputas pelo Ndongo, o reconhecimento diplomático por parte dos portugueses, o acesso a tecnologia bélica de Portugal e a limitação do tráfico de escravos no perímetro correspondente à parte periférica de seu reino. Talvez Nzinga imaginasse que o batismo traria vantagens. Contudo, o fato se resume a uma estagnação, pois os portugueses continuaram a debilitá-la e as armas de fogo não vieram.

Os acordos tratados em Luanda não foram cumpridos por nenhuma das partes que visionavam as realizações de ambições ligadas ao aumento de poder na região do adversário. São inevitáveis as ofensivas, constituindo mais de quinze anos de hostilidades no Ndongo. Nzinga, representante do poder em Matamba, um reino forte e agressivo militarmente, continuou para muitos a verdadeira rainha do Ndongo, sempre retornando com suas tropas por considerar o Ndongo como sua capital simbólica, onde todos os reis estavam enterrados. Nzinga criava sua tradição e afamava sua personalidade, legitimando-a de tal forma que garantiu os precedentes para as suas descendentes ascenderem ao poder sem contestações relativas ao sexo, para sua fama atravessar os oceanos e os séculos.

12 Designação dada à ordem de missionários católicos italianos em virtude da capa que vestiam portar um capuz pontiagudo. Para informações mais precisas sugerimos: GONÇALVES, Rosana Andréa. África Indômita. Missionários capuchinhos no reino do Congo (século XVII). São Paulo, 2008. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História Social, São Paulo, 2008, p. 57.

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Figura 03: Nzinga negociando acordo: In: CAVAZZI, João Giovanni Antônio. Descrição Histórica dos três reinos do Congo, Matamba e Angola. Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar, 1965.

Figura 04: Nzinga fumando tabaco: In: CAVAZZI, João Giovanni Antônio. Descrição Histórica dos três reinos do Congo, Matamba e Angola. Lisboa: Junta de Investigação do Ultramar, 1965.

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Recebido em agosto de 2011.Aprovado em novembro de 2011

Arte: Diego Meneses

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