princÍpio da fraternidade como desonerador do estado e … · que vem do lema da revolução...

15
PRINCÍPIO DA FRATERNIDADE COMO DESONERADOR DO ESTADO E ELO PARA DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS E DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL SILVA,Theodoro Huber 1 RESUMO: O presente artigo tem como um dos princípios norteadores os direitos e garantias fundamentais que estão na Constituição Federal e que foram criados com o intuito de garantir os direitos dos cidadãos, tendo como função assegurar o princípio da dignidade da pessoa humana, sendo assim, são estipuladas Políticas Públicas para garantir os direitos dos cidadãos, quando os mesmos não estão ao alcance destes de forma direta. Destaca-se que o Estado tem um custo elevado para a implementação das políticas públicas, sendo que algumas vezes não consegue garantir em sua plenitude os direitos e garantias fundamentais da população. Ressalta-se também que boa parte dessas violações aos direitos humanos são realizadas pelo próprio ser humano, seja por um prática do sistema capitalista ou até mesmo pelo próprio lado sombrio do ser humano. Neste aspectos foram analisados programas e projetos realizados pelo Estado a fim de diminuir a desigualdade social, e de preservar e garantir os direitos e garantias fundamentais da sociedade, como: "programa de combate ao trabalho escravo, programa de erradicação do trabalho infantil - PETI, e as próprias instâncias do Ministério do Trabalho nos municípios e da Justiça do Trabalho".Considerando estes programas visam coibir situações geradas pela sociedade que atentam contra a dignidade da pessoa humana e que por conta dessas atitudes o Estado tem que incluir no orçamento despesas com políticas públicas a fim de coibir essas situações é que se propõe uma análise do Princípio da Fraternidade e a sua inclusão na Constituição Federal e efetivação, pois trás para a sociedade, que a mesma é uma das responsáveis pelo desenvolvimento do seu país, mas que este desenvolvimento deve ser fraterno, respeitando os direitos e garantias fundamentais de toda a população. 1. Introdução As Políticas Públicas estão presentes na Constituição Federal da República Federativa do Brasil, especificamente no Título II Dos Direitos e das Garantias Fundamentais, haja vista que nossa constituição tem uma grande visão social. Estas Políticas Públicas são fundamentadas no Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, que trás aos cidadãos direitos e garantias para uma vida digna. A nossa Constituição Federal é muito ampla até por ter sido feita após o regime da Ditadura Militar (1964-1985), desta forma, se quis garantir no texto constitucional todos os direitos, haja vista que qualquer 1 Possui graduação em Direito pela Universidade Federal da Grande Dourados (2007), especializado no curso de Políticas Sociais com enfâse no território e na família, pela Universidade Católica Dom Bosco-UCDB (2009), mestrando em Fronteiras e Direitos Humanos, pela Universidade Federal da Grande Dourados (2017-2018). Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

Upload: lexuyen

Post on 07-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

PRINCÍPIO DA FRATERNIDADE COMO DESONERADOR

DO ESTADO E ELO PARA DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS E DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL

SILVA,Theodoro Huber 1 RESUMO: O presente artigo tem como um dos princípios norteadores os direitos e garantias fundamentais que estão na Constituição Federal e que foram criados com o intuito de garantir os direitos dos cidadãos, tendo como função assegurar o princípio da dignidade da pessoa humana, sendo assim, são estipuladas Políticas Públicas para garantir os direitos dos cidadãos, quando os mesmos não estão ao alcance destes de forma direta. Destaca-se que o Estado tem um custo elevado para a implementação das políticas públicas, sendo que algumas vezes não consegue garantir em sua plenitude os direitos e garantias fundamentais da população. Ressalta-se também que boa parte dessas violações aos direitos humanos são realizadas pelo próprio ser humano, seja por um prática do sistema capitalista ou até mesmo pelo próprio lado sombrio do ser humano. Neste aspectos foram analisados programas e projetos realizados pelo Estado a fim de diminuir a desigualdade social, e de preservar e garantir os direitos e garantias fundamentais da sociedade, como: "programa de combate ao trabalho escravo, programa de erradicação do trabalho infantil - PETI, e as próprias instâncias do Ministério do Trabalho nos municípios e da Justiça do Trabalho".Considerando estes programas visam coibir situações geradas pela sociedade que atentam contra a dignidade da pessoa humana e que por conta dessas atitudes o Estado tem que incluir no orçamento despesas com políticas públicas a fim de coibir essas situações é que se propõe uma análise do Princípio da Fraternidade e a sua inclusão na Constituição Federal e efetivação, pois trás para a sociedade, que a mesma é uma das responsáveis pelo desenvolvimento do seu país, mas que este desenvolvimento deve ser fraterno, respeitando os direitos e garantias fundamentais de toda a população. 1. Introdução

As Políticas Públicas estão presentes na Constituição Federal da República Federativa

do Brasil, especificamente no Título II Dos Direitos e das Garantias Fundamentais, haja vista

que nossa constituição tem uma grande visão social.

Estas Políticas Públicas são fundamentadas no Princípio da Dignidade da Pessoa

Humana, que trás aos cidadãos direitos e garantias para uma vida digna. A nossa Constituição

Federal é muito ampla até por ter sido feita após o regime da Ditadura Militar (1964-1985),

desta forma, se quis garantir no texto constitucional todos os direitos, haja vista que qualquer

1 Possui graduação em Direito pela Universidade Federal da Grande Dourados (2007), especializado no curso de

Políticas Sociais com enfâse no território e na família, pela Universidade Católica Dom Bosco-UCDB (2009), mestrando em Fronteiras e Direitos Humanos, pela Universidade Federal da Grande Dourados (2017-2018).

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

2

mudança na constituição depende de votação qualificada, pois neste caso terá que ser feita

uma emenda a Constituição, o que da uma maior segurança jurídica aos direitos sociais.

As Políticas Públicas são garantias a população de uma vida digna e humana e é

responsabilidade do Estado. Ocorre que não é desta forma que acontece, pois várias pessoas,

todos os dias, são privadas de seus direitos, sem que ao menos tenham conhecimento destes.

Contudo, não cabe apenas responsabilizar o Estado por falha nas políticas públicas ou até

mesmo por falta delas, pela violação dos direitos humanos, quando boa parte dessas violações

são realizadas por nós.

Nossa Constituição Federal não contemplou o Princípio da Fraternidade, que vem do

que vem do lema da Revolução Francesa "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", sendo os

dois primeiros contemplados e o último, a Fraternidade não.

Assim, o gasto do Estado para implementação de políticas públicas para é muito alto,

fazendo com que o Estado gaste dinheiro para coibir condutas que poderiam ser realizados

por todos nós cidadãos, com fundamento no Princípio da Fraternidade, ou seja, boa parte das

violações dos direitos humanos são realizadas por nós, assim cabe também à sociedade tentar

coibir essas violações.

O presente artigo, trás a discussão a necessidade de inclusão do Princípio da

Fraternidade à Constituição Federal, não com a intenção de que este sozinho irá resolver a

todas as violações aos direitos e garantias fundamentais, mas poderia fazer com que boa parte

da população realizasse atitudes a fim de coibir as violações de direitos humanos,

desonerando em parte o Estado fazendo com o mesmo possa, com essa economia investir em

outros setores que estão descobertos.

2. Direitos, garantias fundamentais e princípio da dignidade da pessoa humana

Já no primeiro Título da Constituição Federal temos uma ideia de que os constituintes

colocaram em primeiro lugar a garantia dos direitos dos cidadãos do Estado Democrático de

Direito, por exemplo, a afirmação de que todos são iguais perante a lei, destrói todos os

estigmas de regimes autoritários, que vivia o nosso país no curso da sua história, voltando

para igualdade que é garantida pelo Estado.

Estão entre os fundamentos da República Federativa do Brasil a cidadania e a

dignidade da pessoa humana. O artigo 3º da Constituição Federal traz os objetivos

fundamentais do Estado brasileiro que são: construir uma sociedade livre, justa e solidária;

garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

3

desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,

raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Esses objetivos demonstram o Estado do Bem Estar Social, ou seja, o Brasil adota o

regime econômico capitalista, mas se preocupa com a igualdade entre os brasileiros. Nesse

sentido:

Constata-se que esses objetivos têm em comum assegurar a igualdade material entre os brasileiros, possibilitando a todos iguais oportunidades para alcançar o pleno desenvolvimento de sua personalidade, bem como para auto-determinar e lograr atingir suas aspirações materiais e espirituais, condizentes com a dignidade inerente a sua condição humana. [...] (PAULO; ALEXANDRINO, 2008,p. 86).

E no Título II, em cinco artigos, o constituinte deixou claro os direitos e garantias

fundamentais do Cidadão do Estado Democrático de Direito, sendo os mais importantes para

nossa análise o Capítulo I que trata dos direitos individuais e coletivos e o Capítulo II que

trata dos direitos sociais. Mas, primeiramente explanaremos sobre a origem dos Direitos e

Garantias Fundamentais no ordenamento jurídico dos Estados.

Quanto à origem dos direitos e garantias fundamentais há alguma divergência entre os

autores, alguns apontam a Magna Carta inglesa de 1.215, mais conhecida como a Constituição

de João Sem Terra. Essa foi criada para limitar os direitos do então rei da Inglaterra e segundo

Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino, para garantir os direitos dos barões, não para garantir a

liberdades dos indivíduos em geral.

Já Canotilho (apud PAULO;ALEXANDRINO, 2008, p.90) afirma que os direitos e

garantias fundamentais tem sua origem com a Revolução Francesa, mais precisamente com a

Declaração dos Direitos do Homem de 1.789 e pelas declarações de direitos formuladas pelos

Estados Unidos em sua independência da Inglaterra em 1.776, surgindo a partir destes marcos

históricos as constituições liberais.

Em suma os direitos e garantias fundamentais surgiram para impor limites ao Estado,

ou seja, nasceu uma obrigação de não fazer do Estado, sendo esses direitos denominados de

direitos negativos. Neste aspecto temos a seguinte definição do motivo para o surgimento dos

direitos e garantias fundamentais:

Em suma, os direitos fundamentais surgiram como normas que visavam a restringir a atuação do Estado, exigindo desse um comportamento omissivo (abstenção) em favor da liberdade do indivíduo, ampliando o domínio da autonomia individual frente a ação estatal. (PAULO; ALEXANDRINO, 2008, p. 90).

Os direitos e garantias fundamentais não são especificamente a mesma coisa, haja

vista que o constituinte não colocaria no Título II da Constituição uma redundância. Os

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

4

direitos fundamentais são os benéficos e obrigações presentes no corpo da Carta Magna. Já as

garantias fundamentais são os instrumentos de proteção dos direitos fundamentais.

As características dos direitos e garantias fundamentais são classificados com

propriedade por Moraes (2003), que sintetiza como principais características: a

imprescritibilidade, inalienabilidade, irrenunciabilidade, inviolabilidade, universalidade,

efetividade, interdependência e complementaridade.

Esse rol acima citado não é taxativo, pois como ensina Canotilho (apud

PAULO;ALEXANDRINO, 2008) os direitos e garantias fundamentais constituem normas

abertas, haja vista que permitem a inserção de novos direitos não previstos na Constituição

Federal brasileira. Confirmando tal afirmação temos o parágrafo 2º do artigo 5º da

Constituição que reza “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem

outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais

em que a República Federativa do Brasil seja parte”.

A classificação dos direitos e garantias fundamentais estão divididos em gerações, a

primeira geração são os direitos negativos, já debatidos acima, sendo os mais importantes para

o nosso trabalho os de segunda e terceira geração.

Os direitos de segunda geração são os direitos positivos, que segundo Paulo e

Alexandrino “acentuam o princípio da igualdade entre os homens” (2008, p.93). Esse direito

fundamental de segunda geração tem seu surgimento com os movimentos sociais do século

XIX, e foi essencial para a transição do Estado Liberal para o Estado Social, que através de

políticas públicas protege os hipossuficientes na busca da igualdade entre os homens.

Os direitos de terceira geração consagram os princípios da solidariedade e

fraternidade, na busca de garantir os direitos difusos e coletivos. Esse direito tenta garantir os

interesses da coletividade, nesse sentido colocamos a preservação ao meio ambiente e a

sustentabilidade, pois se preocupam com as gerações presentes e futuras. Segundo Paulo e

Alexandrino (2008), essas três gerações de direitos e garantias fundamentais correspondem ao

lema da Revolução Francesa, ou seja, liberdade, igualdade e fraternidade.

Como já dito, os direitos e garantias fundamentais estão no Título II da Constituição

Federal, do artigo 5º ao 17º, e estão divididos em direitos individuais e coletivos, direitos

sociais, direitos de nacionalidade, direitos políticos e direito de participação em partidos

políticos. Para o nosso trabalho é de suma importância conceituar os direitos individuais e

coletivos e os direitos sociais.

Os direitos individuais e coletivos estão ligados a pessoa humana e de sua própria

personalidade é um exemplo o direito a vida e a dignidade, esses direitos estão previstos no

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

5

rol de incisos do artigo 5º da Carta Magna. Já os direitos sociais tem como objetivo a

melhoria de vida dos hipossuficientes, visando a igualdade material e substancial, estando

esses direitos previstos no artigo 6º da Constituição.

Por fim, o parágrafo terceiro do artigo 5º, prevê que os tratados internacionais desde

que tratem sobre direitos humanos, poderão ser equiparados a emendas constitucionais, se

aprovados por três quintos dos membros das casas do Congresso Nacional em dois turnos de

votação. Ou seja, sendo aprovado qualquer tratado pelos requisitos do parágrafo terceiro do

artigo 5º esse será equiparado a direito e garantia fundamental.

Segundo Bulos (2008, p. 393) a constitucionalização do princípio da dignidade da

pessoa humana “vem plasmada em diversos ordenamentos jurídicos mundiais, o que

comprova que o homem é o centro, fundamento das sociedades modernas”. O autor cita para

tanto a Lei Fundamental de Bonn de 1949 que influenciou a Constituição espanhola e a

portuguesa no ano de 1978.

O princípio da dignidade da pessoa humana tem seu fundamento única e

exclusivamente no ser humano, não tendo outro referencial a não ser este, sendo valores que

decorrem dessa ideia o direito a vida, à intimidade, à honra e a imagem, segundo Paulo e

Alexandrino (2008, p.86):

A dignidade da pessoa humana assenta-se no reconhecimento de duas posições jurídicas ao indivíduo. De um lado, apresenta-se como um direito de proteção individual, não só em relação ao Estado, mas, também, frente ao demais indivíduos. De outro, constitui dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes.

Mas o princípio da dignidade da pessoa humana também deve ser pensado como forte

fundamento para o Estado Democrático de Direito, no entendimento de Moraes (2003, p.391).

O princípio da dignidade da pessoa humana é de fundamental importância para o

desenvolvimento social da sociedade e como um garantidor dos direitos humanos, para assim

garantir os direitos e garantias fundamentais de cada cidadão, garantido o Estado Democrático

de Direito.

3 Políticas públicas

As políticas públicas são os mecanismos pelo qual o Estado tenta a diminuição das

desigualdades sociais. Segundo Höfling (2001), as políticas públicas tem suas raízes nos

movimentos populares do século XIX, dados aos conflitos dos burgueses e o proletário com o

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

6

surgimento das primeiras revoluções industriais. Esta cita que as obras que iniciaram tais

políticas, foram A riqueza das Nações: investigação sobre a sua natureza e suas causas de

Adam Smith e O Caminho de Friedrich Hayek, o primeiro publicado em 1776 e o segundo em

1944.

Já Rizotti (2001), afirma que o período de maior intensidade das políticas públicas foi

ao final da Segunda Guerra Mundial, haja vista que a Europa estava destruída, havendo a

necessidade de uma reconstrução econômica, que teve como base social dos partidos de

ideologia socialista.

Segundo Rizotti (2001), no Brasil, as políticas públicas tiveram o seu crescimento

dada a mobilização de vários movimentos sociais no decorrer dos anos, o que foi crucial para

o fortalecimentos e estruturação das políticas sociais no país. Esta autora aponta que:

Os movimentos sociais que emergiram no contexto brasileiro do século XIX caracterizaram-se, essencialmente, pela inexistência de algum projeto político e social que lhes dotasse de unidade histórica quanto às estratégias de intervenção e à base social na qual se apoiavam (RIZOTTI, 200,1 p.40-41).

Anteriormente o período republicano o Brasil enfrentou quarenta e duas lutas sociais,

as mais importantes para mudanças nas políticas sociais foram: o movimento da Cabanagem

entre os anos de 1835 e 1836, no Pará; a Revolução Farroupilha entre os anos de 1835 a 1845,

no Rio Grande do Sul e a Praieira entre os anos de 1847 a 1849, em Pernambuco. A partir

disto foram ouvidas as reivindicações populares e inserindo na política do país o tema da

desigualdade social (RIZOTTI,2001).

Já na República Velha até o Estado Novo, começou a queda do poder dos oligarcas

mantenedores de escravos, sendo esses substituídos pelos senhores que cultivavam café e os

criadores de gado leiteiro, surgindo assim a política do café-com-leite. Esta mudança também

influenciou diretamente os movimentos sociais que surgiam, pois “[...]caracterizavam -se por

reunir, sob uma única bandeira, a reivindicação de ampliação dos direitos de cidadania no país

e o objetivo de conquistar do poder político no aparelho de Estado” (RIZOTTI, 2001, p.42).

Segundo Rizotti (2001) destacam-se no Brasil, durante o século XX, os seguintes

movimentos sociais: Movimento Contra a Carestia de Vida, em 1914 no Rio de Janeiro;

Movimento de Trabalhadores Organizados, em 1917 em São Paulo e a Coluna Prestes que

eclodiu em 1925 no Rio Grande do Sul.

Em 1930 o enfrentamento social havia virado uma bandeira e uma necessidade do

regime pós-revolucionário. Desta forma, em 1934 foi editada a Primeira Constituição do país

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

7

com um capítulo referente a ordem econômica e social, tudo isso dado as mudanças da

relações econômicas relacionadas ao recente desenvolvimento industrial.

Todo este avanço na Constituição Federal de 1934 foi perdido dada a Constituição

Federal de 1937, sendo esta a referência da Ditadura Varguista. Esse período ficou marcado

por novos programas que segundo a autora “[...]apresentavam-se fortemente condicionados

por uma concepção assistencialista[...]” (RIZOTTI, 2001, p.45).

O período compreendido pelos anos de 1945 a 1964 tratou as políticas públicas de

forma populista. Rizotti (2001, p. 45) coloca que “os novos direitos sociais prescritos na

Constituição de 1946 teriam de ser implementados no contexto da política populista, e esta

peculiaridade parece ter estabelecido o limite possível de sua efetivação [..]”

Neste período Rizotti (2001) enumera dois grandes movimentos de organização

política, sendo estes: Juventude Universitária Católica e a Ação Popular, e com menor

destaque, mas de grande importância estavam o Movimento Estudantil, Movimento

Camponeses e Movimentos Operários. Esses movimentos foram os responsáveis pela pressão

ao Estado, através de greves, passeatas, lutando pela melhoria nas condições de vida da

população e pela reforma agrária.

Com essas pressões surgiu uma nova legislação que tinha como desafio a luta política

das classes subalternas, mas por conta da burocracia estatal o sistema de políticas sociais era

ineficaz. Ocorre que mesmo com essa ineficácia os direitos sociais ganharam maior

importância, neste sentido foi durante o período populista que:

[...] finalmente, a extensão de direitos sociais no país encontrou-se definitivamente selada pela marca corporativa, em virtude de sua associação às modificações na legislação trabalhista vigente, quase sempre impulsionadas pela pressão política daquelas camadas e categorias mais bem organizadas e plenamente integradas à ordem social competitiva (RIZOTTI, 2001, p.47).

Em 1960 setores conservadores expressaram sua insatisfação com os movimentos

populares, foi o caso da Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade, que foi um embate

com os movimentos sociais da época. Tais mudanças influenciaram a organização política,

haja vista que em 1964 houve o Golpe Civil Militar, sendo retirado do poder os governantes

constitucionalmente eleitos e em seu lugar foram colocados militares. Iniciando neste

momento a Ditadura Militar que iria até a década de 80, época marcada pelo confronto entre

os movimentos sociais e Governo Militar.

Segundo Rizotti (2001, p. 50) “[...]o novo padrão de políticas sociais do país

reproduziria muito do que havia de pior nos modelos que o antecederam, sobretudo a

seguridade social seria organizada com forte caráter assistencialista[...]”. E com o fim do

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

8

crescimento econômico entre os anos de 1977 e 1982, os movimentos sociais ganharam nova

força, voltando a influenciar na implantação das políticas públicas do país, destacam-se: O

Movimento das Favelas em São Paulo e Belo Horizonte no ano de 1979; O Movimento

Contra a Carestia, em todo território nacional, no ano de 1982. A década de 80 foi

considerada a década perdida, voltando a tremular a bandeira política da democracia como a

única forma de alcançar condições dignas de vida da população.

Com o fim da Ditadura Militar os movimentos sociais foram de suma importância para

a democratização da Nova República. Destacam-se como movimentos sociais deste período o

Movimento Sindical, Movimento dos Sem-Terra e os chamados movimentos das minorias

que tem como debate questões étnicas, sexo, associação de bairros, ecológico entre outras

(RIZOTTI,2001).

No que se refere ao conceito de políticas públicas recorremos a Höfling (2001,p. 02),

que conceitua:

[...] ações que determinam o padrão de proteção implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando a diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico. [...].

Cristovám (2005, p.07) define que as políticas públicas:

[...] podem ser entendidas como o conjunto de planos e programas de ação governamental voltados à intervenção no domínio social, por meio dos quais são traçadas as diretrizes e metas a serem fomentadas pelo Estado, sobretudo na implementação dos objetivos e direitos fundamentais dispostos na Constituição.

Já Silva (1997, p.03) entende que Políticas Públicas constituem não apenas em um

plano simbólico, como pretendem certos segmentos da classe social dominante a

possibilidade de conquista de direitos sociais: acesso a bens, recursos e serviços, transferência

de renda para os mais pobres, satisfação de necessidades humanas básicas e vitais, melhoria

da qualidade de vida e participação na gestão democrática de serviços sociais públicos.

Entendemos que Políticas Públicas são direitos dos cidadãos que precisam ser

garantidos e quando os mesmos não estão ao alcance dos cidadãos de forma direta são

colocados em prática pelo Estado, na forma de planos ou programas, no intuito de garantir a

dignidade desses e do crescimento e estabilidade do regime democrático de direito.

4 O Princípio da Fraternidade e o Poder Público

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

9

O Princípio da Fraternidade surgiu durante a Revolução Francesa, mas foi introduzido

oficialmente na República Revolucionária da França de 1848, mas com o passar da história

foi deixado de lado, sendo novamente lembrado na vitória dos republicanos em 1879, sendo

novamente esquecido para em 1946, retornar de forma definitiva no artigo segundo da

Constituição Francesa (BAGGIO, 2008, p. 7)

O nascimento do Princípio da Fraternidade trouxe uma nova perspectiva para o

desenvolvimento da política e do direito:

[...] O fato é que a Revolução de 1789 constitui um ponto de referência histórico de grande relevância, porque, durante o seu andamento, pela primeira vez na Idade Moderna a ideia de fraternidade foi interpretada e praticada politicamente. (BAGGIO, 2008, p.7).

Para Baggio (2008, p. 22) O Princípio da Fraternidade pressupõe a divisão dos bens e

dos poderes, tanto que cada vez mais se está elaborando uma ajuda recíproca entre sujeitos

diferentes, seja pertencente ao âmbito social, seja do mesmo nível institucional.

Assim, podemos considerar o Princípio da Fraternidade como o fiel da balança para a

efetivação dos outros dois princípios originários da Revolução Francesa, Princípio da

Igualdade e da Liberdade, recepcionados internacionalmente, inclusive no Brasil, mas não

efetivados em sua plenitude.

O Princípio da Fraternidade foi contemplado pela Declaração Universal dos Direitos

Humanos, logo em seu artigo primeiro apresenta que “Todos os seres humanos nascem livres

e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para

com os outros em espírito de fraternidade”.

Para Aquini (2008, p. 133) o Princípio da Fraternidade não se apresenta apenas como

um conceito, mas sim de forma ativa como um motor do comportamento da ação dos homens

com uma conotação socialmente moral.

Nesse sentido, o Princípio da Fraternidade também, transfere a responsabilidade do

indivíduo em efetivar os direitos humanos, como bem esclarece

A fraternidade, por sua vez, "responsabiliza" cada indivíduo pelo outro e, consequentemente, pelo bem da comunidade, e promove a busca de soluções para a aplicação dos direitos humanos que não passam necessariamente, todas, pela autoridade pública, seja ela local, nacional ou internacional. (AQUINI, 2008, p. 133).

Nesta mesma linha de raciocínio trazida por Aquini, está o artigo 29 da Declaração

Universal dos Direitos Humanos, que também transfere ao indivíduo a responsabilidade para

o desenvolvimento social.

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

10

Artigo 29° 1.O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2.No exercício deste direito e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática. 3.Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente e aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Contudo, a Constituição Federal do Brasil, não contemplou o Princípio da

Fraternidade como princípio constitucional, assim como fez com o Princípio da Liberdade e

da Igualdade, tendo a única menção quando no preâmbulo fala de "sociedade fraterna".

Assim o Princípio da Fraternidade trás uma nova concepção para efetivação do

desenvolvimento social, pois retira apenas do Estado a responsabilização para a efetivação de

políticas públicas, quando institui também aos indivíduos que ajam de forma a respeitar os

direitos humanos e nestes termos ajudarem a efetivar as políticas públicas, pois agindo de

forma fraterna a pessoa percebe que também tem responsabilidade para com a sociedade,

tendo em vista que um país com desenvolvimento social é bom para todas as partes.

O Estado para colocar em prática qualquer medida afim de garantir o desenvolvimento

social, direitos e garantias fundamentais, com o intuito de garantir a dignidade da pessoa

humana fará isso por intermédio das políticas públicas, por meio de programas e projetos, que

são realizados tanto pelo governo Federal, Estadual e Municipal.

A nossa Constituição Federal já garante como dever do Estado a segurança pública,

saúde, educação e desporto, contudo, de forma implícita atribuímos como dever do Estado

garantir todos os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos brasileiros.

Segundo Aquini (2008,p. 138) tanto na visão liberal como a socialista recai

principalmente sobre o Estado a responsabilidade de pôr em prática os direitos humanos.

Ocorre que atribuir toda a responsabilidade como garantidor dos direitos e garantias

fundamentais ao Estado, traz um grande gasto para o mesmo, tendo em vista que para

implementação de qualquer política pública de direitos humanos há um grande gasto por parte

dos cofres públicos.

Durantes anos e talvez séculos há uma grande discussão sobre orçamento público e

sua aplicação. Assim, o Estado tem que aplicar o seu orçamento de forma a atender todas as

necessidades básicas como saúde, educação e assistência social, e redirecionar o restante de

forma a conseguir garantir e implementar todos os programas e projetos e prol de garantir e

preservar os direitos humanos da população.

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

11

Contudo, não é dever só do Estado a implementação e garantia dos direitos humanos

no Brasil, mas sim de toda sociedade, conforme o Princípio da Fraternidade, nesse sentido

Aquini(2008, p. 139):

Sobre essa questão, deve-se observar que a fraternidade tende a ampliar o número de sujeitos "responsáveis", e por isso estimula que deveres e compromissos sejam assumidos além do que é prescrito, em nível nacional e internacional, pela autoridades públicas. Mas isso não elimina ou diminui a responsabilidade dessas autoridades, que poderá ser substancialmente a de interferir de modo direto para que se aplique o direito, ou predispor um quadro legislativo que promova a ação de outros sujeitos não-políticos, preservando o objetivo fundamental, que é justamente a aplicação do direito. A fraternidade não é relegada a mera dimensão voluntarista, mas é também constitutiva dos poderes públicos. Ela não deixa portanto de definir os sujeitos que são chamados a aplicar e defender os direitos humanos, mas de certa forma, evita que essa definição leva a diminuição do sentimento de responsabilidade naqueles que são capazes de dar uma contribuição importante para a aplicação desses direitos.

Segundo Habermas (1997, p. 120) "esses direitos fundamentais devem continuar

garantindo "a auto-afirmação e a responsabilidade própria da pessoa na sociedade". Assim,

sobre o pressuposto do Princípio da Fraternidade, somos todos responsáveis na garantia dos

direitos e garantias fundamentais, contudo, temos pelo menos dois grandes desafios,

considerando que somos um país continental, o sistema capitalista e o segundo o próprio ser

humano.

Segundo Bauman (2007, p. 60) o sistema capitalista produz o "lixo humano", que são

pessoas que são excluídas por causa do sistema capitalista, pessoas que são desnecessárias,

pois não detêm condições financeiras de consumir e assim por este motivo perdem a sua

condição humana, contudo, ficam circulando pelas cidades, "pois faltam os depósitos

"naturais" adequados para sua armazenagem e potencial reciclagem".

Mas conforme Young (2002, p. 40), é formado um "cordão sanitário", para isolamento

destas pessoas, ou seja, não um depósito para essas pessoas, mas a sociedade lhe exclui em

grandes cordões sanitários, para que as mesmas continuem excluídas da vida digna em

sociedade.

É primordial para a implementação do Princípio da Fraternidade é a participação de

todos, ou seja, do próprio ser humano. Contudo, a maior esperança é também aquele

responsável por boa parte da exclusão social, pois conforme Young (2002, p. 172), o ser

humano tem um lado escuro e monstruoso.

Assim, para a implantação da Fraternidade no ordenamento Constitucional brasileiro,

há necessidade de uma grande discussão progressista, no sentido de amenizar os efeitos

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

12

excludentes do sistema capitalista, e a sociedade tem que ter ciência que são suas atitudes que

excluem boa parte da população ferindo o princípio da dignidade da pessoa humana.

Os empresários e toda sociedade economicamente ativa, não podem pensar em auferir

sempre mais lucro se o mesmo é resultante da exploração da dignidade do trabalhador, como

também, pensar só com a máxima do capitalismo de sempre auferir mais lucro com o fim de

adquirir cada vez mais bens e produtos, muitas vezes desnecessários.

Assim o Princípio da Fraternidade, traz uma nova visão para a sociedade, uma visão

de que não é só o Estado o responsável para garantir o direitos e garantias fundamentais para

os cidadãos, mas que isso, assim como previsto na Declaração Universal dos Direitos

Humanos, é um dever de toda a sociedade.

Podemos citar alguns exemplos de programas e projetos realizados pelo Estado a fim

de diminuir a desigualdade social, e de preservar e garantir os direitos e garantias

fundamentais da sociedade.

É possível enumerar alguns dos programas desempenhados pelo Governo Federal em

parceria com os Estados e Municípios, apenas na ceara das relações de trabalho, como:

"programa de combate ao trabalho escravo, programa de erradicação do trabalho infantil -

PETI, e as próprias instâncias do Ministério do Trabalho nos municípios e da Justiça do

Trabalho"

E por conta dessas atitudes o Estado tem que incluir no orçamento despesas com

políticas públicas a fim de coibir essas situações, fazendo fiscalizações, políticas educativas,

entre outras atividades que lhe oneram, gasto esse que poderia ser aplicado em outra política

pública, como de saúde, educação ou assistência social.

Desta forma, o Princípio da Fraternidade trás para a sociedade, que a mesma é uma

das responsáveis pelo desenvolvimento do seu país, mas que este desenvolvimento deve ser

fraterno, respeitando os direitos e garantias fundamentais de toda a população. Mas segundo

SEN (2000, p. 109), esse desenvolvimento deve ser social e não apenas econômico,

resguardando o direitos de toda a sociedade, para que esses tenham uma participação efetiva

na redistribuição da renda, pois “uma renda inadequada é, com efeito, uma forte condição

predisponente de uma vida pobre”.

Nestes termos a inclusão do Princípio da Fraternidade na Constituição Federal e o

trabalho para com toda a sociedade de que é dever desta também respeitar a dignidade da

pessoa humana, pois com essa atitude o Estado poderá aplicar os recursos públicos em outras

políticas públicas setoriais e até mesmo quem sabe em um futuro, desonerar a carga tributária

do país.

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

13

5.CONCLUSÕES

No presente artigo, apresentamos que os direitos e garantias fundamentais estão

presentes no Constituição Federal e que foram criados com o intuito de garantir os direitos do

cidadão, tendo como função garantir o princípio da dignidade da pessoa humana.

Sendo assim são estipuladas Políticas Públicas para garantir os direitos dos cidadãos,

quando os mesmos não estão ao alcance destes de forma direta, sendo que assim são

colocados em prática pelo Estado.

Contudo, é alto o valor gasto pelo Estado par a implementação das políticas públicas,

sendo que algumas vezes não consegue garantir em sua plenitude os direitos e garantias

fundamentais da população. Ressalta-se também que boa parte dessas violações aos direitos

humanos são realizadas pelo próprio ser humano, seja por um prática do sistema capitalista ou

até mesmo pelo próprio lado sombrio do ser humano.

Podemos citar alguns exemplos de programas e projetos realizados pelo Estado a fim

de diminuir a desigualdade social, e de preservar e garantir os direitos e garantias

fundamentais da sociedade. Apenas na ceara das relações de trabalho, como: "programa de

combate ao trabalho escravo, programa de erradicação do trabalho infantil - PETI, e as

próprias instâncias do Ministério do Trabalho nos municípios e da Justiça do Trabalho"

Os poucos exemplos citados acima, já são responsáveis por uma boa parte de gasto

pelo Estado, para coibir situações que são geradas por nós, pois o trabalho escravo, o trabalho

infantil e as violações dos direitos trabalhistas, atentam contra a dignidade da pessoa humana,

onde o responsável, não enxerga a outra pessoa, como um ser humano detentor de direitos, lhe

enxergando apenas como mais uma ferramenta do trabalho, o animal laborans na definição de

(ARENT, p. 168).

E por conta dessas atitudes o Estado tem que incluir no orçamento despesas com

políticas públicas a fim de coibir essas situações, fazendo fiscalizações, políticas educativas,

entre outras atividades que lhe oneram, gasto esse que poderia ser aplicado em outra política

pública, como de saúde, educação ou assistência social.

Ocorre que se apenas o Estado continuar custeando políticas públicas a fim de coibir a

violação de direitos humanos e amparar aqueles que tiveram os seus direitos violados,

continuará a ter um déficit em suas contas públicas, e até mesmo ser necessário a implantação

de novos impostos a fim de custear esses gastos.

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

14

Considera-se assim que o Princípio da Fraternidade trás para a sociedade, que a

mesma é uma das responsáveis pelo desenvolvimento do seu país, mas que este

desenvolvimento deve ser fraterno, respeitando os direitos e garantias fundamentais de toda a

população. Mas segundo Sen (2000, p. 109), esse desenvolvimento deve ser social e não

apenas econômico, resguardando o direitos de toda a sociedade, para que esses tenham uma

participação efetiva na redistribuição da renda, pois “uma renda inadequada é, com efeito,

uma forte condição predisponente de uma vida pobre”.

Assim, a efetivação do Princípio da Fraternidade ganha uma grande importância, pois

se boa parte da população em atenção deste princípio não violar os direitos humanos e coibir

essa violação, fará com que o Estado tenha uma grande economia, fazendo com que possa

direcionar parte desse recurso para outra política pública, ou até mesmo futuramente, uma

desoneração tributária.

Desta forma, é um ponto muito importante a inclusão do Princípio da Fraternidade na

Constituição Federal para fomentar de forma mais ampla a responsabilidade da sociedade à

coibir a violação dos direitos humanos, para que assim haja uma maior economia do Estado

na implantação e implementação das políticas públicas voltadas para esse fim.

5. Referências

BRASIL. Constituição. Brasília: Senado Federal,1988. AQUINI, Marco, Fraternidade e direitos humanos, In O Princípio Esquecido/1: A fraternidade na reflexão atual das ciências políticas, BAGGIO, Antonio Maria (organização). Tradução Durval Cordas, Iolanda Gaspar, José Maria de Almeida. - Vargem Grande Paulista - SP: Editora Cidade Nova, 2008. ARENDT, Hannah 1906-1975, A condição humana, tradução de Roberto Raposo, posfácio de Celso Lafer - 10 ed. - Rio de Janeiro. Forense Universitária, 2007. BAGGIO, Antonio Maria, A redescoberta da fraternidade na época do "terceiro 1789", In O Princípio Esquecido/1: A fraternidade na reflexão atual das ciências políticas, BAGGIO, Antonio Maria (organização). Tradução Durval Cordas, Iolanda Gaspar, José Maria de Almeida. - Vargem Grande Paulista - SP: Editora Cidade Nova, 2008. BAUMAN, Zygmunt. Tempos Líquidos. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2007 BULOS,Uadi Lammêgo.Curso de direito Constitucional.2 ed.São Paulo: Saraiva,2008.

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/

15

Cristóvam, José Sérgio da Silva. Breves considerações sobre o conceito de políticas públicas e seu controle jurisdicional. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7254 >. Acesso em 12 ago. 2009. DAL BOSCO, Maria Goretti. Democracia, Direitos Humanos e Mínimo Ético na América Latina. Novos Estudos Jurídicos. Vol. 8, nº 2, p.429-458, maio/ago. 2003. Disponível em: <http://siaiweb06.univali.br/seer/index.php/nej/article/viewFile/343/287>. Acesso em 15 ago. 2009. HABERMAS, Jürger. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Tradução Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1997. HÖFLING,Eloisa de Mattos.Estado e políticas (públicas) sociais. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v21n55/5539.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2009. MORAES,Alexandre de. Direito Constitucional.13 ed. São Paulo: Atlas, 2003. PAULO,Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional descomplicado.3 ed. Rio de Janeiro: Forense,2008. RIZOTTI, Luiza Amaral. Estado e Sociedade Civil na História das Políticas Sociais Brasileiras. IN: Semina: Ci. Soc. Hum., Londrina, v. 22, p. 39-56, set. 2001. Disponível em http://www.uel.br/proppg/portal/pages/arquivos/pesquisa/semina/pdf/semina_22_1_21_29.pdf Acesso em: 30 ago. 2009. SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. SILVA,Ademir Alves da.Política Social e política econômica. Serviço Social & Sociedade,São Paulo, n.55, p.189-191, nov. 1997. SOUZA et al. O programa de transferência de renda “AGENTE JOVEM” EM CASCAVEL. IN: 2° SEMINÁRIO NACIONAL ESTADO E POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL, 2005, Cascavel-PR.Anais. Cascavel,PR: EDUNIOESTE, 2005. Disponível em: <http://cac-php.unioeste.br/projetos/gpps/midia/seminario2/poster/servico_social/pss29.pdf. Acesso em: 26 ago. 2009. YOUNG, Jock. A sociedade excludente: exclusão social, criminalidade e diferença na modernidade recente. Tradução Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2002. (Pensamento criminológico; 7) 3ª reimpressão, 2015. UNESCO. Declaração Universal dos Direitos Humanos: adotada e proclamada pela resolução 217 a (iii) da Assembleia geral das nações unidas em 10 de dezembro de 1948. 1998. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf. Acesso em: 6 de nov. de 2016.

Anais do X

IV C

ongresso Internacional de Direitos H

umanos.

Disponível em

http://cidh.sites.ufms.br/m

ais-sobre-nos/anais/