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Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo Programa de Estudos Ps-Graduados em Gerontologia
Rachel Alessandra de Oliveira Coutinho Renck
Mdia e Medicina Esttica: reflexes sobre o corpo que envelhece
MESTRADO EM GERONTOLOGIA
SO PAULO JANEIRO/2016
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Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo Programa de Estudos Ps-Graduados em Gerontologia
Mdia e Medicina Esttica: reflexes sobre o corpo que envelhece
Dissertao apresentada Banca Examinadora da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, como exigncia parcial para obteno do ttulo de MESTRE em Gerontologia, na rea da Gerontologia Social, sob a orientao da Prof. Dr. Vera Lcia Valsecchi de Almeida.
Rachel Alessandra de Oliveira Coutinho Renck SO PAULO
JANEIRO/2016
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BANCA EXAMINADORA ___________________________________ ___________________________________ ___________________________________
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AGRADECIMENTOS Agradeo a Deus pela vida e por me dar nimo nos momentos de fraqueza. Agradeo Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo pela oportunidade de agregar aprendizados em minha vida. Agradeo CAPES pelo beneficio recebido atravs da Bolsa; foi ela que permitiu que alcanasse os objetivos acadmicos pr-estabelecidos.
Agradeo minha famlia pela compreenso, carinho, apoio e, principalmente, por acreditar junto comigo que seria possvel chegar at aqui.
Agradeo aos professores pelas inesquecveis aulas e pacincia em compartilharem seus saberes. Agradeo ao Rafael Quini Arbeche por toda pacincia, dedicao, apoio e profissionalismo. Agradeo aos colegas do Mestrado; sem a contribuio deles nada seria possvel.
Agradeo minha querida orientadora, professora Vera, pois tudo isso aqui apresentado comeou por ela; alm de ser dona de um conhecimento magnfico, consegue compartilh-lo de maneira extremamente cuidadosa e carinhosa.Tudo foi concebido e concludo com sua ajuda.
Agradeo a minha amiga Fabiula Moysspois nossa jornada pela aprendizagem foi lado a lado, os dias bons e os ruins tambm. Obrigada AMIGA!
Agradeo a voc, leitor, por estar buscando em sua pesquisa minha referncia.
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minha famlia,
Lara, Everton,Geni e Jos (in memoriam).
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poca triste a nossa em que mais difcil
quebrar um preconceito do que um tomo. Albert Einstein
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RESUMO INTRODUO:O bombardeio que a mdia prope sobre esttica corporal e formas de se vestir, entre outras, acabam impondo padres que constituem, na verdade, a negao do envelhecimento e da velhice. Que ideal de corpo proposto pela Mdia particularmente pela Medicina Esttica para o Envelhecimento e a Velhice no mbito da Sociedade Brasileira Atual? OBJETIVO: Diante do atual culto aos corpos jovens e sarados e da negao dos sinais exteriores da idade investigar, em ambiente virtual, a relao entre Corpo, Envelhecimento e Velhice. METODOLOGIA:Considerando que o lcus da investigao foi a mdia virtual a abordagem metodolgica proposta recaiu sobre procedimentos qualitativos e, mais precisamente, sobre a Anlise de Contedo (AC). Para o levantamento foram utilizados os seguintes buscadores: Corpo, Envelhecimento, Velhice e Medicina Esttica. Com estas orientaes no horizonte os dados foram coletados atravs levantamentos na Web (Internet) do que est sendo veiculado sobre o tema. As matrias foram coletadas nos meses de Outubro e Novembro de 2015 cobrindo, portanto, um perodo de sessenta dias. Por sua ampla utilizao e pelos recursos de que dispe na investigao foi utilizada a ferramenta Google. Nela foram selecionadas, para cada um dos buscadores, todas as matrias das cinco primeiras pginas. Ao registro de cada ttulo seguiu-se uma primeira anlise dos contedos veiculados nos sites.Para a Anlise de Contedo foram selecionadas as palavras e expresses mais recorrentes que, presentes nos discursos sobre os buscadores, revelam os significados associados ao tema. RESULTADOS OBTIDOS: Para o buscador corpo, foram levantados 53 (cinquenta e trs). Para o buscador envelhecimento, resultaram em 75 (setenta e cinco) sites. J o buscador velhice resultou em 70 (setenta) sites.Para o buscador medicina esttica foram 76 (setenta e seis) sites. Todos os sites foram submetidos aos critrios de incluso e excluso do estudo. PALAVRAS CHAVE:Corpo, Envelhecimento, Velhice e Medicina Esttica.
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ABSTRACT INTRODUCTION: O bombing that the media offers about body esthetics e ways of dressing, among others, laying patterns that are end. In fact, the denial of aging and old age. That body ideal is proposed by the media particularly for the Aesthetic Medicine for Aging and Old Age within the framework of the Brazilian Society current? GOAL: Against the current cult of young bodies and healed and denial of outword signal of aging, investigate, in a virtual environment, the relationship between body, aging and old age. METHODOLOGY: Considering that scope of investigation was the virtual media the methodological approach fell on qualitative procedures and, more precisely, on Content Analysis (CA). For this survey the following search engines were used: Body, Aging, Old age e Aesthetic Medicine. With these guidelines in the horizon data were collected through surveys on the Web (Internet) of what is being informed about of theme. The materials were collected in the months of October and November 2015 covering, therefore, a period of sixty days. Due to its wide use and the resources available to the research tool was used Google. It was selected, for each of the searches, all the materials of the first five pages. The registration of each title was followed by a first analysis of broadcast content on the websites. For the content analysis the words were selected and the most frequent expressions, present in discourses on search engines, reveal the meanings associated with the topic. RESULTS: For the search body, they were identified 53 (fifty three). For the search aging, they were identified 75 (seventy five) sites. J o buscador Old Age it resulted 70 (seventy) sites. For the search Aesthetic Medicine were identified 76 (seventy six) sites. All sites were submitted to the inclusion and exclusion criteria of the study. KEYWORDS: Body, Aging, Old age e Aesthetic Medicine.
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SUMRIO
PALAVRAS INICIAIS 02
CAPTULO I: REVISO DA LITERATURA 09
CAPTULO II: CORPO E SOCIEDADE: REFLEXES 13
1. 1. O corpo e a Sociedade: incurses histricas 15
2. 2. O corpo e a Sociedade do Espetculo 20
CAPTULO III: MDIA E IMAGEM - A BUSCA DO EU 26
1. 1. A mdia na busca da imagem ideal 29
2. 2. A Velhice e o eu diante do espelho: imagens distorcidas 36
CAPTULO IV OBJETIVOS 44
1. 1. Objetivo geral 44
2. 2. Objetivos Especficos 44
CAPTULO V: ABORDAGEM METODOLGICA,
PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS, ANLISE INICIAL E
CATEGORIAS
45
1. 1. Da Pesquisa 45
2. 2. Categorias Construdas 48
CAPTULO VI: ANLISE DOS DADOS 49
CAPTULO VII: CORPOS QUE ENVELHECEM E MEDICINA
ESTTICA
62
CONSIDERAES FINAIS 70
BIBLIOGRAFIA 72
SITES UTILIZADOS 75
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PALAVRAS INICIAIS
Com a idade, uma outra beleza pode fazer brilhar um rosto, uma beleza modelada de dentro.
Oliver Clment
A observao assistemtica de pessoas em processo de
envelhecimento ao meu redor levou-me a certas inquietaes sobre essa
fase da vida.
Lembro-me que sempre observava as pessoas mais velhas, com os
cabelos brancos; sempre as respeitei muito e gostava de ficar prximo,
como se estivesse cuidando. Uma vez, no dia das eleies, pedi para meu
tio Marcos votar em um candidato pois ele era velhinho e eu achava que
ele merecia ganhar as eleies.
A ateno sobre o cuidado, o cuidar e cuidar-se nos remete aos
primrdios da humanidade; se no houvesse tais preocupaes a
humanidade estaria extinta.
A enfermagem tem no cuidado o maior pilar da profisso;
principalmente o zelar pelo prximo. Nela desconhecemos origem social,
raa/cor, orientao religiosa, sexo, idade etc. No entanto, minhas
preocupaes sempre foram grandes quando o prximo envolve o
envelhecimento e as pessoas idosas. Foi ento que passei a refletir sobre as
influncias do meio no processo de cuidar e, principalmente, sobre o cuidar
de si.
Dentre as vrias atividades que desenvolvo, minha participao em
um grupo religioso levou solicitao para que eu assumisse a direo de
um grupo da terceira idade. Pensei no ser capaz, mas em conjunto com
outras colaboradoras fomos em frente. Neste perodo desenvolvemos muitas
atividades envolvendo a cultura, lazer e sociabilidade dessas pessoas.
Todos participam de algum grupo social ou at mesmo de vrios; as
informaes nos circundam, as tendncias, nos seus variados sentidos, nos
cercam. Inconsciente ou conscientemente vivemos nas malhas da rede e,
atravs dela, diariamente absorvemos muitas informaes.
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O bombardeio que a mdia prope sobre esttica corporal e formas
de se vestir, entre outras, acabam impondo padres que constituem, na
verdade, a negao do envelhecimento e da velhice: ai daquele que no
anula os efeitos do tempo sobre os corpos, que despreza dietas e que ignora
os apelos da indstria da moda!
A mdia (em seus vrios veculos) tem um papel significativo na
opinio pblica e na formao de imagens negativas ou positivas sobre
algum assunto, tema ou mbito da existncia, sendo que prope, no
poucas vezes, informaes que degradam o envelhecer ou o ser velho.
So apelos que revelam sob formas renovadas outra negao da
velhice; que testemunham a manuteno de esteretipos que, de h muito
estabelecidos, repem um iderio no qual a velhice encontra-se afastada de
princpios relacionados beleza, produtividade, sexualidade,
capacidade de estabelecer relaes satisfatrias de trocas sociais e afetivas.
Apelos que demonstram a manuteno do perverso e pouco confortvel
lugar do envelhecimento e da velhice na Sociedade Atual.
KELLNER discute como os estudos culturais deveriam dar mais
importncia para mdia,
Por isso, hoje em dia os estudos culturais deveriam discutir como a mdia e a cultura podem ser transformadas em instrumentos de mudana social. [...] preciso dar mais ateno mdia alternativa do que se fez at agora, refletindo-se mais no modo como a tecnologia da mdia pode ser reconfigurada e usada em favor das pessoas. (2001 p. 426)
Avanando sobre o tema observamos uma supervalorizao do corpo
jovem, sendo esta uma das caractersticas da Sociedade Moderna.
Quando falamos de influncias que nos atingem diariamente e por
vrios veculos quero dizer que a prpria sociedade impe que a vida diria
parte de um espetculo; quem solicita, redefine e cobra novas informaes
somos ns mesmos. Assim sendo, fazemos parte de uma sociedade
pautada na espetacularizao 1.
1 Definida frente na pgina seguinte (pg.05 e 06).
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necessrio que a preocupao com o envelhecimento seja ampla,
pois as demandas nele presentes so vrias, envolvendo diferentes reas.
A histria retrata que o olhar sobre o corpo, sobre o que "belo", foi
sendo modificada, mas o que relevante que sempre houve uma
preocupao com as mudanas que acompanham o corpo que envelhece.
Qualquer novo olhar sobre o assunto torna-o mais relevante e
permeado de tendncias. A importncia dada ao significado do corpo e da
beleza mostra uma linha crescente e, com isto, o contraponto : o
envelhecer agrega ao seu significado um grande sentimento de pesar.
Cabe, portanto, indagar que razes levam s representaes to
negativas do envelhecimento e da velhice?.
Em algumas situaes podemos perceber o quanto a velhice tem se
tornado um problema na vida cotidiana, principalmente quando falamos da
velhice do eu e no da do outro.
MESSY assim se refere fala sobre a forma que se v a velhice:
A imagem da velhice parece uma imagem "fora", no espelho, imagem que nos apanha quando antecipada e produz uma impresso de inquietante estranheza [...], esta inquietao se enche de temor se nossa imagem no espelho no adere mais imagem da memria, mas antecipa uma imagem vindoura, marcada pela velhice [...]. (1999, p. 14 e 15)
Focalizar o envelhecimento, percebendo as mudanas na vida do
outro parece mais fcil, pois quando se fala do envelhecimento do prprio eu
a negao e o medo aparecem de forma marcante. Como afirma MUCIDA
como no envelhecemos de uma s vez, ainda bem, percebemos o
envelhecimento muito mais claramente nos outros do que em ns mesmos
(2009, p. 23).
Afirmar a espetacularizao da sociedade significa dizer que toda a
vaidade que circunda o ciclo da vida acaba por nos influenciar e nos afogar
nos discursos do "tem que ser" e do "tem que ter". Assim, "tenho que ser
magra, manequim 38 no mximo"; ou ento "se eu no comprar hoje a nova
bolsa do Louis Vuitton [...]".
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dessa forma que acontece com nossa vida, mas nem sempre
percebemos as mudanas e cobranas que nos so impostas.
Outra questo compreender o contexto em que estamos inseridos,
pois a mulher brasileira, a ttulo de ilustrao, tem muito mais quadril do que
as norte-americanas; dessa forma nem sempre as tendncias apresentadas
para moda vo ser as mais ideais para ns.
Outro fator extremamente importante pensarmos no modelo de
desenvolvimento econmico vigente no Brasil nas ltimas dcadas; modelo
que favorece uma minoria em detrimento da maioria da populao. Poucos
so os que se apropriam da maior parte da riqueza produzida; muitos so os
que vivem a mngua, que lutam cotidianamente para garantir at mesmo o
alimento do dia a dia.
Aps todas as influncias geradas pela sociedade que nos cerca,
uma das reas que cresceu muito, ganhando dimenses antes impensadas,
foi o da medicina plstica; ela tem desenvolvido incontveis modos de
interveno sobre as marcas corporais da idade.
Os paradigmas que cercam as pessoas idosas ficam evidentes nas
campanhas publicitrias veiculadas pelos meios de comunicao. Nelas o
que vemos so, via de regra, idosas que no aparentam a idade que tem
pois usam tal ou qual produto; so homens e mulheres que, apesar da
idade, mantm um esprito jovem; pessoas ativas e abertas aos novos
tempos, que envelhecem longe de camisolas e pijamas; que frequentam
academias e participam ativamente do mercado de consumo (no mais
apenas de remdios); enfim, mulheres e homens que marcam presena em
consultrios e clnicas de cirurgies plsticos no para procedimentos
corretivos ou reparadores relacionados sade, mas para afastar as marcas
do tempo em seus corpos.
Longe de negar os benefcios desses procedimentos, no sobre
eles que recaem nossas preocupaes centrais; o que interessa o
desenvolvimento da medicina puramente esttica realizada, hoje em dia, de
forma indiscriminada e considerando apenas a vontade de uma segunda
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pele, afastada da que identifica o envelhecimento e a velhice (pelo menos
na superfcie dos corpos).
Essa busca incessante pelo o ideal de beleza no algo novo; as
discusses revelam que essa preocupao secular. Em cada poca,
algum pensador, filsofo ou pintor influenciou no que era belo naquele
momento.
No Brasil, as ltimas dcadas do sculo XX mostraram um aumento
expressivo das preocupaes com corpo. Inicialmente estas se
concentravam nos trajes e na maquiagem, mas em meados deste sculo
(mais especificamente aps os anos 1950) presenciamos uma exploso de
prticas e procedimentos relacionados aparncia.
O processo de globalizao, iniciado muito antes nos pases
desenvolvidos, repercutiu em meados do sculo XX nos pases em
desenvolvimento, a exemplo do Brasil. Com ela inaugurou-se uma nova
viso de mundo; viso certamente influenciada pelas mdias (em todas as
suas formas) que conectam e fazem circular informaes de forma cada vez
mais veloz.
Nota-se novamente como a sociedade impe mudanas nos modos
de viver.
Ao lado dos benefcios da nova viso de mundo, verifica-se que a
globalizao significou, infelizmente, que a informao veiculada pela mdia
abriga certa manipulao. Conforme SANTOS (2000, p. 41) a informao
sobre o que acontece no vem da interao entre as pessoas, mas do que
veiculado pela mdia, uma interpretao interessada, seno interesseira, dos
fatos.
MORRIN (2011) discute o pensamento complexo que, de forma
bastante, sinttica funciona da seguinte maneira: O todo est na parte e a
parte est no todo, um influenciando o outro.
Com isso fica mais fcil relacionar nosso tema com a sociedade do
espetculo que venho discorrendo.
Depois de algumas reflexes consigo externar o que me levou a
escrever uma dissertao com esse tema (CUIDAR): a preocupao de
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manter meu prximo bem, talvez at a anulao CUIDAR de SI, para
transferir o CUIDADO ao outro.
Lendo e relendo a histria traada por minhas escolhas chego sempre
presena desse CUIDADO que me ronda. Sinto que daqui para frente vou
estar do outro lado, ensinando o meu semelhante a importncia da
EMPATIA e do CUIDAR; educando-o para traar sua histria de vida.
Utilizo-me do pensamento complexo na verdade somos frutos dele
para, por meio desse estudo poder compartilhar tanto as minhas reflexes
como as de minha orientadora, deixando no respostas, mas novas
perspectivas e indagaes sobre o envelhecimento do corpo.
Que ideal de corpo proposto pela Mdia particularmente pela
Medicina Esttica para o Envelhecimento e a Velhice no mbito da
Sociedade Brasileira Atual?
Responder a esta indagao constituiu o motivo central que levou
investigao aqui apresentada.
Para chegar resposta questo formulada essa dissertao foi
estruturada nos seguintes captulos:
Palavras Iniciais: nesta parte descrevo alguns dos motivos que
me levaram ao envelhecimento e velhice transformando-os em
tema de investigao. Apresento tambm como este tema se
insere em foi minha trajetria de vida.
Captulo I. Reviso Terica: como tema afastado de minha
formao profissional a reviso terica significou percorrer um
amplo e rico caminho de descoberta de fontes que antes
ignoradas, abriram novas possibilidades acadmicas e pessoais.
Captulo II. Corpo e Sociedade: este captulo mostrou-se
particularmente necessrio na medida em que contribuiu para
mapear a partir de reflexes prprias e extradas das fontes
consultadas, o contexto mais geral no qual se insere tanto o tema
como os objetivos da investigao. Fao uma rpida incurso
histrica do processo que levou supervalorizao do corpo e da
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beleza; enfim, que transformou o corpo em objeto de consumo e
investimento.
Captulo III. Mdia e Imagem: este captulo foi elaborado de modo
a estabelecer um paralelo entre a busca do eu como imagem
ideal e as influncias da mdia virtual nesta busca. Enfim, um
confronto muitas vezes cruel entre a imagem refletida no
espelho e os ditames que regem a beleza, mesmo entre pessoas
idosas.
Captulo IV. Objetivos: nesta parte so apresentados o objetivo
geral e os objetivos especficos sem os quais nenhuma
investigao pode ser desenvolvida.
Captulo V. Metodologia: a expresso metodologia foi
substituda por abordagem metodolgica e procedimento de
coleta de dados. Isto porque entendemos que metodologia
significa estudo do mtodo o que seria pretensioso alm de no
corresponder ao que foi realizado. Assim, o que apresentado
corresponde opo pela abordagem metodolgica (qualitativa) e
ao procedimento de coleta de dados.
Captulo VI. Anlise de Dados: Aqui apresentada a anlise
feita partir dos resultados da pesquisa, inclusive, dando
exemplos da web, para que a anlise seja confrontada diretamente
com os autores que sustentam a pesquisa.
Captulo VII. Corpos que Envelhecem e Medicina Esttica:
Ainda fazendo um gancho com os captulos anteriores, neste de
forma reflexiva, trao caminhos entre a negao da velhice e as
correes estticas, entre o que belo e o envelhecimento.
Captulo VII. Consideraes Finais: Aps toda pesquisa, chego
a algumas concluses, no que eu tenha a verdade plena, mas
posso deixar algumas contribuies sobre o tema estudado.
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CAPTULO I
REVISO DA LITERATURA
O futuro preparado com muita
antecedncia.
Carl Jung
Segundo GRIFFA (2008), desde a antiguidade alguns pensadores
refletiam sobre o envelhecimento, sobre como prolongar a vida e encontrar
modos e formas de rejuvenescer; paralelamente, muitos autores
consideravam a velhice como uma enfermidade crnica comum a todos os
humanos.
Percebemos ento que a preocupao com a fase da vida em a
aparncia no juvenil e a pele no lisa abrigam inmeras inquietaes.
Para Aristteles, a velhice era vista como doena natural; para SNECA,
uma doena incurvel (GRIFFA, 2008).
Diante de tanta negao da velhice e de como ela vista e falada
IACUB (apud, BORDURDELAIS, p. 72) desenvolveu seguinte definio de
velho: [...] o corpo ancio apareceu como uma curiosidade prxima ao
monstruoso.
Entre os sculos XVIII e XIX, com o positivismo, o humano comeou
ser olhado de forma diferente; retirou-se a essncia, a subjetividade, e deu-
se espao para a objetividade.
Tal fato acabou tornando o humano apenas um corpo mudo ou sem
voz; ao invs de ouvir a fala do doente, olhava-se para os sinais e sintomas
da doena. O positivismo redefiniu, em muitas reas, a forma de tratar as
pessoas. Acabou por desumanizar o humano.
Na triangulao entre o positivismo, a histria e o envelhecimento,
temos que, j no sculo XX, os especialistas em medicina trataram a
questo do envelhecimento a partir de um novo conceito: "a velhice como
doena em si mesma" (IACUB, p. 71). Ou seja, ser velho era ser decrpito!
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O positivismo e o discurso mdico regem, at hoje, os achados, as
informaes e as anlises, sobre a vida e o corpo, dentre todos os outros
discursos que permeiam o dia a dia de cada pessoa.
Ser que o processo de envelhecimento e as mudanas que ele
ocasiona na vida pessoal e na sociedade sempre andam juntos com o olhar
negativo e pejorativo de pessoas que ainda no chegaram nesta fase
(velhice) e buscam "tentar escapar" do ciclo natural, inventando e estudando
mudanas que enlevariam ou deixariam mascaradas as marcas do tempo?
NERI (2007, p. 33/34) relata que a medicina empenha-se,
milenarmente, no enfrentamento da nossa intrnseca vulnerabilidade. No
comeo do sculo XX, a prpria fundao da gerontologia2 foi marcada pela
divulgao da descoberta de um tratamento que garantiria o retardamento
da velhice. Uma grande dicotomia passou a ser vivida neste sculo: a
velhice como finitude X a medicina antienvelhecimento. Na atualidade,
essa rea fonte de inmeras iluses (e de polpudos lucros).
Tornamo-nos diferentes medida que recebemos novas informaes;
a vida regida por inmeros discursos, sejam eles religiosos, de moda,
mdico, de produtos, de viagens, inclusive as crianas so bombardeadas
pela mdia na demonstrao de um brinquedo novo, assim a cada dia todas
essas informaes so infundidas em cada ser e elas aparecem nas atitudes
vindouras. Cada um se agarra ao discurso que mais lhe agrada e, por vezes,
torna-o a verdade a seguir naquele momento refletindo, dessa forma e
incondicionalmente, as palavras que regem a vida quando se fala de
envelhecimento o medo e a negao aparecem.
Os discursos mdico e miditico traam um padro para o ser velho,
pois a velhice tida como doena e morte; na contramo temos a mdia
veiculando campanhas sobre o corpo jovem a todo custo. MUCIDA comenta
sobre o tema:
Vivemos sob a crena do poder da Cincia, dos objetos e das novas tecnologias para tratar todas as adversidades e o
2Gerontologia, termo usado pela primeira vez por METCHNICOFF em 1903, do grego gero=
envelhecimento e logia = estudo, a cincia que se dedica a estudar o processo de envelhecimento
nas suas dimenses gentico-biolgicos, psicolgica e socioculturais (NERI, 2008).
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desamparo da vida. Como super-homens e supermulheres somo convocados a sustentar um mundo sem falhas, e isso recai diretamente sobre a cobrana de permanncia de uma velhice sem marcas. (2009, p. 67)
A importncia que dada e a preocupao demonstrada pela
sociedade por ansiar uma resoluo para o envelhecimento notvel;
muitos investimentos so realizados, inclusive na veiculao de
propagandas e outros recursos da mdia visual para que a sociedade
mantenha essa aguada busca.
De acordo com FERNANDES (in ADAMI et. al.; 2003; p. 236),
devemos reconhecer, a princpio, que a grande mdia disponibiliza dados e
imagens que podem estreitar vnculos com a sociedade, a poltica e a
cultura.
Esses vnculos so modificados a cada dia, a cada nova propaganda,
a cada novo produto esttico que surge, a cada novo outdoor que
colocado. Nisto reside minha inquietao: somos o que vemos, ouvimos e
sentimos; nosso ser social catequizado diariamente sobre as questes que
envolvem o envelhecimento e aqui que vejo a importncia da investigao
proposta.
O que alinhava o trip (envelhecimento, mdia e medicina plstica),
que sem um o outro no se completa, pois, se no forem veiculadas na
mdia escrita, televisiva, visual e virtual propagandas que ditam moda,
beleza e o que voc precisa ter e/ou ser, os consultrios de medicina
esttica/plstica perderiam seus clientes.
Entender o processo do envelhecimento e saber realmente o que
cada pessoa , ou seja, ter uma atitude mais saudvel, realista e positiva se
mostra fundamental para a aceitao do ser velho.
Falar sobre envelhecimento envolve falar sobre as mudanas que
ocorrem na aparncia, no rosto, nas mos, na pele. Principalmente na
mudana que o espelho mostra sem disfarces.
A este ttulo, o poema Retrato, de Ceclia Meireles, exemplar:
Retrato
Eu no tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
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Nem estes olhos to vazios,
Nem o lbio amargo.
Eu no tinha estas mos sem fora,
To paradas e frias e mortas;
Eu no tinha este corao
Que nem se mostra.
Eu no dei por esta mudana,
To simples, to certa, to fcil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
(1958, p. 10)
Esse cuidado demonstrado pelos seres humanos de zelar por si foi
sendo apresentado de formas diferentes, segundo o contexto e o perodo
histrico.
O corpo comeou a ganhar importncia quando a medicina comeou
a estud-lo. Conta a histria que no sculo XVIII j faziam autpsias, mas
por barreiras religiosas e morais, no podiam ser relatados. FOUCAULT
relata: "[...] a medicina s podia ter acesso ao que fundava cientificamente
contornando, com lentido e prudncia [...] a religio, a moral e obtusos
preconceitos opunham abertura de cadveres" (1994; p. 141).
Assim comeou a desmistificao do corpo; de incio, para entender
seu funcionamento, uma leitura positivista; depois, com o corpo
transformado em objeto de desejo, pois no se pode negar a sensualidade
que o permeia, uma leitura subjetiva.
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CAPTULO II
CORPO E SOCIEDADE: REFLEXES
O que significa seu corpo? Voc o valoriza ou apenas o utiliza como
objeto de conquistas? Perguntas fceis, mas que nos colocam a refletir.
Desde que nascemos temos um corpo fsico e dentro dele existe
nossa subjetividade, pensamentos, sentimentos. Aprendemos a utiliz-lo,
tanto fsica como psiquicamente, quando bebs, se estamos com fome, s
chorar e fazer caretas que ganhamos comida.
Crescemos e a cada dia vamos descobrindo as potencialidades de
nossa mquina; vem o equilbrio, a fora, controle de esfncteres, alm da
descoberta da cognio.
Junto com tudo isso se soma a descoberta das regras, crenas e da
cultura. Cada um vai receber ensinamentos distintos; algumas regras sero
iguais, outras no. Despertamos para o viver em sociedade.
Desse momento em diante cada ser define como e por onde vai
caminhar, quais decises vai tomar, o que vai seguir.
O viver em sociedade traz muitos benefcios e tambm malefcios,
mas como cada ser individual e tem o livre arbtrio, ele dono de si
mesmo.
O indivduo, considerando-se dono de si regido por padres
estabelecidos socioculturalmente e legalmente institudos; trata seu corpo da
forma como bem quer, sem pensar ou pensando demais, pois existem os
dois extremos.
Todos os dias somos expostos a incontveis influncias; algumas
passam despercebidas, apesar de deixarem marcas. Toda e qualquer
deciso tomada hoje nos influenciar em algum outro momento vivido.
Fica um pouco complicado falar sobre sociedade, cultura e corpo, pois
na era da internet quase invivel recorrer ao passado para tentar
desvendar os modismos modernos e ps-modernos. Talvez resida nisto
nossa deciso de tratar desta articulao.
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Alm de fsico e psquico nosso corpo tambm social; desde Ado e
Eva somos influenciados pela sociedade.
Muito interessante pensar nisso, pois hoje se busca a longevidade
desde que ela venha coberta de juventude. Nos tempos mais remotos,
bblicos, quantos no viveram duzentos anos ou mais? O corpo era mais
forte? As marcas da idade no existiam? Sei que existem perguntas que no
vou responder, mas tenho a impresso de muita coisa ter mudado.
Nosso corpo tem sim uma validade; depende de ns mesmos
escolhermos onde ele pode chegar e de qual forma, a longevidade sim
possvel, e ela pode ser muito agradvel.
Tabus sobre o corpo ainda so grandes, principalmente porque ele
por vezes como corpo ertico e sensual. Apesar de vivermos em uma
sociedade bem liberal ainda existem paradigmas sociais.
Muitos dogmas culturais j foram deixados de lado, o que tem
influncias sobre nosso modo de vida; cada um tem sua responsabilidade
consigo mesmo e com o prximo. O que anseio para meu futuro decidido
hoje!
Vamos percorrer um pouco a histria do corpo e suas influncias
modernas; vamos, tambm, perpassar o viver em sociedade e tudo que gira
ao redor disso. No pretendo de forma alguma, esgotar o assunto, mas
deixo algumas reflexes que tambm me rodeiam.
A busca no deveria ser por um ideal, mas pelo equilbrio.
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1. O CORPO E A SOCIEDADE: Incurses histricas
"No existe nada que faa mais velha uma mulher, do que procurar desesperadamente
parecer mais jovem." Coco Chanel.
Descrever como a valorizao do corpo vista e incessantemente
discutida falar de uma sociedade que demonstra grande aptido para
avaliar o que se v e no exatamente o que existe como essncia em cada
um. FREUD escreveu que,
impossvel escapar impresso de que os seres humanos geralmente empregam critrios equivocados, de que ambicionam poder, sucesso e riqueza para si mesmos e os que admiram nos outros enquanto menosprezam os verdadeiros valores da vida. (2014, p. 41).
Partindo do pressuposto que vivemos cercados de CONSTANTES
interferncias. Desde que nascemos os valores sociais nos so ensinados;
porm, ao longo da jornada de nossa vida, alguns se perdem, outros se
transformam e poucos permanecem intactos.
Transportando tais reflexes para o foco das mudanas que ocorrem
no corpo, desde que o homem e a mulher foram concebidos no mundo,
existem muitos mitos que permeiam tal tema.
Por muitos sculos o corpo foi visto apenas como material de estudo;
assim foi como a viso positivista o revelou, mas com o passar dos anos,
novos conceitos e paradigmas foram sendo mostrados.
Em Corpos de Passagem SANTANNA trabalha com a valorizao do
corpo. Uma das passagens da obra bastante sugestiva no que tange
medicina esttica:
A medicina tem sua contribuio neste caso: os genes so considerados pacotes de informaes, muitos exames mdicos contam com aparelhos capazes de ler o corpo e de traduzir o seu interior em texto e imagem, que pedem interpretaes especializadas. (2001, p. 67)
Podemos observar que houve oscilaes na importncia dada ao
corpo, hoje podemos dizer que existe uma liberdade esperada e pouco a
pouco concedida ao que diz respeito sobre ele.
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16
Nas observaes de MARQUETTI vemos que, ao longo de muitas
reflexes e discusses sobre o corpo, cada civilizao trouxe suas
contribuies. Para os gregos no era s carne (sarx), havia tambm alma
(psyk), respirao ou esprito (pneuma) e mente (nous). Outros povos
tambm tinham as suas teorias sobre o corpo e a sua identificao. O que
podemos afirmar que existe o corpo fsico no qual habita um corpo
subjetivo.
Recorrendo histria, mas j com novo olhar sobre o corpo, temos
que as sociedades antigas j demonstravam preocupaes em relao
beleza do corpo. MARQUETTI descreve o seguinte,
Um corpo belo, forte, forjado na luta e nos exerccios caracterizava o heri, o comandante, o rei, em suma, o poder. Pensar as relaes do corpo com a sociedade antiga repensar a sociedade hoje. (2014, p. 20, 21)
Aqui percebemos que existe uma linha bem tnue entre o belo e o
bom. No contexto geral, o que se diz por bom algo ou aquilo que quero ter;
um bem que estimula nosso desejo. A diferena fica ntida quando falamos
sobre o que belo, pois aqui que se ressalta tal dessemelhana: o belo
no objeto e desejo, mas pode sim ser admirado. ECO escreve o seguinte:
"Essas formas de paixo, cime, desejo de possuir, inveja ou avidez, nada
tm a ver com o sentimento do Belo." (2014, p. 10)
A cada poca e/ou sculo foi socialmente definido o que se entendia
por belo. Assim, o que poderia ser belo perante o olha do pintor, nem
sempre o era para o poeta ou escritor. Cada um apresentava sua
representao da beleza. ECO afirma:
Sobre essas bases podemos falar de uma primeira compreenso da Beleza que ligada, entretanto, s diversas artes que a exprimem e no tm um estatuto unitrio: nos hinos, a Beleza se exprime na harmonia do cosmo; na poesia, no encanto que faz os homens se deliciarem; na escultura, na apropriada medida e simetria das partes; na retrica, no ritmo justo. (2014, p. 41)
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Dialogando com o autor podemos perceber que falar sobre o corpo
no uma linha reta; que cada lugar, cada civilizao e cada poca tem
suas consideraes e relevncias ao assunto.
O corpo sofre muitas interferncias internas e externas; as diversas
culturas se apropriam do que tem ao seu redor e do que vivenciam para
valorizar ou no o corpo fsico.
Sabe-se que o corpo do homem sempre foi um smbolo de virilidade e
fora; paralelamente, o corpo da mulher normalmente sinnimo de
sexualidade e erotismo.
realmente uma tarefa difcil conversar sobre o corpo dentro da
sociedade, pois cada uma tem sua singularidade e influncias.
Discutimos a seguir um pouco sobre a sociedade histrica do Brasil e
sua posio sobre o corpo e a beleza.
Em 1500, ano da descoberta do Brasil, nossa terra era povoada por
diversos grupos indgenas que, cada um a seu modo, embelezava e cuidava
de seus corpos. As pinturas corporais dessas sociedades so repletas de
ritos e simbologias at hoje estudados.
Voltando ao ano da descoberta o que mais surpreendia um indgena
do que se olhar no espelho? Ver sua imagem refletida, o deslumbre de
poder observar o eu em um novo formato. Essa experincia era to boa que
os colonizadores conseguiram tudo o que precisavam em troca de tal
deslumbre.
Aqui j podemos perceber que desde o incio da colonizao a
imagem refletida no espelho correspondia forma como culturalmente
viviam; dizia muitas coisas e coisas importantes para sua poca.
Dirigindo nosso olhar para os colonizadores, com normas e hbitos
culturais muito diferentes, temos que eles se depararam com pessoas que
mostravam seus corpos nus, pintados e enfeitados com penas coloridas. Na
carta que Pero Vaz de Caminha escreveu sobre as descobertas ele cita
como eram as pessoas.
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. [...] a feio deles serem pardos, maneira de
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avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso tem tanta inocncia como em mostrar o rosto.
3
Conhecemos bem a histria da colonizao no Brasil e no vamos
nos fixar nela. Porm, nas palavras de Pero Vaz de Caminha chama ateno
para a descrio to detalhada da feio dos ndios, da formosura dos
corpos e o sobre o nariz bem feito. Mostra-nos, portanto, todas as influncias
europias que estavam por vir, claro que em todos os sentidos, mas aqui
vamos focar na beleza e na importncia dos corpos.
Durante muitos anos foi difcil adornar-se no Brasil; os modismos
europeus no se encaixavam com o clima tropical. SANTANNA relata que
O vero de 1908 representou um problema para as senhoras ciosas de
seus penteados complicados e vestidos de tecidos grossos (2014, p. 20).
Fica evidente que h muito j existiam tais preocupaes com o corpo
e com as variadas formas de beleza. No s as mulheres deviam estar
dentro dos padres estabelecidos; os homens se preocupavam em mostrar
seu refinamento tambm. SANTANNA continua:
Para os homens, os chapus e as gravatas inglesas, os monculos e os perfumes franceses, os lenos portugueses, os sapatos italianos e os charutos cubanos foram alguns produtos constituintes da aliana entre refinamento e modernidade. (2014, p. 21).
interessante verificar como as culturas e os conformismos se
mostravam na trajetria da beleza; sabemos que as pessoas que no
estavam dentro de certos padres de vestimentas acabavam por situar-se
fora de qualquer classificao social.
De acordo com SANTANNA, A deselegncia poderia trazer
sofrimentos atrozes, mesmo quando a sua definio permanecia vaga ou
unicamente concentrada nas vestimentas e no porte fsico (2014, p. 30).
Em cada categoria social existiam marcas especficas sobre prticas e
costumes. A prostituta poderia se tatuar e utilizar bastante maquiagem j
3 In: www.biblio.com.br Acesso em 15/12/2015
http://www.biblio.com.br/ -
19
existente no sculo XIX - mas muitas mulheres de famlias nobres no se
davam a tal luxo, pois era demasiadamente permissivo.
Todas as influncias vindas eram recebidas diferentemente em cada
cidade, a exemplo do Rio de Janeiro, de So Paulo, de Curitiba e de
Salvador. Cidades que no concebiam da mesma forma o p de arroz; em
algumas delas at criticavam seu uso, inclusive do carmim que coloria os
lbios. At hoje cada local tem seus odismos e suas influncias regionais.
COUTO e GOELLNER relatam que:
O corpo uma proposio a reaver para sustentar uma identidade remanejvel, revogvel, que o indivduo define e redefine segundo sua prpria vontade. Ele se torna descartvel como tantos outros produtos. (2012, p. 23)
Nem sempre vemos ou queremos ver tal situao, somos frutos do
meio em que vivemos muitas coisas j se tornam normal e se eu no fizer
estou fora do nicho social.
Frente ao exposto cabe indagar de onde surgiram tais modismos e
preocupaes com a beleza e com os corpos? Quem ou quando fomos
obrigados a se submeter a determinados padres estticos? Estas questes
sero abordadas no prximo captulo.
Entendo que tudo o que ocorreu desde o descobrimento do pas nos
influenciam at hoje; ainda somos julgados pelo que vestimos, comemos e
bebemos. Pode-se reafirmar que vivemos dentro de uma sociedade do
espetculo.
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2. O Corpo e a Sociedade do Espetculo
Como se percebe, o que estabelece a finalidade da vida simplesmente o programa do princpio do prazer. Sigmund Freud
Na discusso sobre o belo SOUZA identifica trs aspectos para a
avaliao da beleza: como ns nos vemos; como as outras pessoas nos
veem; como somos de fato. (2010)
So questes muito importantes, pois explicita nossa condio de
atores da sociedade, com papis a serem descobertos a cada novo dia.
difcil descrever como vamos estar ao despertar, como estar nosso
subjetivo ao olharmos no espelho, ainda mais com todo bombardear de
informaes atuais.
COUTO e GOELLNER relatam:
Obviamente, toda inteno de si mensurada socialmente pelas proposies oferecidas no mercado da cosmtica em geral, e por presses sociais, e pela maneira com a qual o ator busca livrar-se de apuros [...]. (2012, p. 22)
Indireta ou diretamente somos fruto do meio em que vivemos;
atualmente, com toda a globalizao e o imediatismo, temos todas as
informaes que julgamos necessrias de forma rpida e clara.
Voltando a MORIN e ao pensamento complexo, cada um de ns
influencia o meio e este, de algum modo, tambm nos influencia. Com isto,
somos autores e atores do espetculo em que vivemos.
Ao longo da investigao realizada para este trabalho o que
acabamos de afirmar fica muito claro. Quando inserimos a palavra CORPO
no buscador a maioria de sites relacionados do dicas de embelezamento,
sade/bem-estar e tonificao muscular.
Dos cinquenta e trs sites estudados apenas trs de um total de
duzentos milhes de sites encontrados contemplavam os critrios de
incluso e assim participaram do estudo.
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O eu aparece quase sempre como autor e protagonista; muitas
vezes somos coadjuvantes, da nossa prpria histria.
O sujeito ps-moderno e fragmentrio, aprisionado ao fluxo do consumo e aos sinais que ele deixa perceber de si, externamente, carece de interioridade. [..] O corpo se transforma em narrativa pessoal e em programa ajustado, matria prima a retrabalhar ou a conservar para bem corresponder aos episdios das personagens rebaixadas pelo indivduo. (COUTO e GOELLNER, 2012, p. 23)
Correlacionando as palavras dos autores acabamos por chegar a
algumas respostas s perguntas mencionadas no captulo anterior: desde
que sociedades humanas foram formadas cada uma traa, ao longo do
tempo, seus ideais de convivncia e suas regras.
Assim tambm ocorreu com os modismos de beleza e com o corpo.
Houve quem considerasse muito interessante e belo o corpo malhado dos
homens; houve tambm quem afirmasse que as mulheres deveriam se
cobrir, pois assim era o costume.
Por isso somos atores no espetculo da sociedade. O mais
intrigante que ns mesmos cobramos, de uma forma ou de outra, mais e
mais inovaes a cada dia.
Retomando novamente as influncias do sculo XIX SANTANNA
traa o que rondava os cabelos femininos,
Desde o sculo XIX. Os penteados femininos foram pouco a pouco se impondo no meio urbano, [...]. Na dcada de 1920, na cidade paulista de Rio Preto, havia o famoso Instituto de Belleza Marcel. Nos saraus do sculo XIX e nos centros urbanos em desenvolvimento no comeo da Repblica, dizer que algum era elegante figurava um elogio importantssimo. (2014, p. 29,30)
possvel perceber as influncias da realeza nessa poca; tudo era
simplesmente pautado nas mulheres europeias. Tudo que vinha de fora do
pas era esplendoroso e necessrio.
Novamente vemos o pensamento complexo presente; trazendo para
os tempos atuais, a internet e a globalizao fizeram as viagens de navio de
dias virarem apenas um segundo.
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22
Antigamente como hoje tambm existiam as pessoas ditas feias,
pois, por algum motivo, determinou-se social e culturalmente o que seria a
feiura. Para SANTANNA, escrevia-se sobre os semblantes medonhos.
Corpos horrveis, mirrados, raquticos, famlicos ou ento balofos e
excessivamente panudos (2014, p. 31)
Padres so impostos desde sempre, regras de vida, condutas, o que
feio ou bonito; mas na realidade o que precisamos levar em conta de que
forma gostaramos de viver.
Perceber tais mudanas de pensamento e aceitar o que acontece no
mundo no uma tarefa muito fcil, especialmente diante de sociedades
extremamente machistas e permeadas por paradigmas negativos.
SANTANNA relata que:
[...] a partir da dcada de 1960, [...] ocupar-se com a beleza fsica j no mais, via de regra, um tabu, o uso de cosmticos no indica necessariamente um carter duvidoso, a cirurgia plstica livrou-se da ameaa de ser considerada um pecado ou um desrespeito obra divina. (2001, p. 68)
Claro que existem leis que nos regem e que precisamos respeitar,
inclusive para que possamos estar livres para decidir qual caminho andar.
Outro ponto importante que todas as nossas decises atuais
influenciam o que vamos viver no amanh. Dessa forma fica claro que
existem certos cuidados a tomar quando decidimos compartilhar algum
modismo ou realizar algum procedimento esttico.
So muitos os rtulos socialmente colocados nas pessoas; rtulos
que impulsionam toda uma indstria seja ela da moda, da beleza do
envelhecimento ou do corpo.
Fica muito fcil jogar toda a culpa na medicina antiaging ou no culto
ao corpo jovem; as modelos que vestem nmero 36 so um desastre!!! Mas
quem cobra toda essa revoluo acaba por ser a mesma sociedade que a
critica.
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Infeliz ou felizmente, nosso modo de vida gira totalmente ao redor de
um sistema regido pelo dinheiro; nele o consumo padroniza e molda as
relaes sociais.
Influncias, principalmente da mdia, apenas reforam esse
consumismo exagerado, tornando-o cada dia mais recorrente e normal.
No captulo que se segue apresento outros detalhes sobre o assunto;
enfatizamos que a mdia e a esttica se aproveitam, por vezes, da queixa
da sociedade e veicula novas tcnicas e propagandas bonitas para que a
Sociedade do Consumo ou do Espetculo continuem seu ciclo de eterna
novidade.
Nossa inteno no questionar tais meios; , outrossim,
desmistificar alguns mitos e tabus que giram em torno da beleza e do corpo
jovem.
GUILIANO traz a seguinte questo:
[...] Sempre me motivou a ideia de pensar no que posso fazer hoje para me preparar melhor para desfrutar das prximas fases. [...] No entanto, sempre fiz questo de manter um estilo de vida saudvel. (2014, p. 10)
Chamo ateno para o fato de vivermos rodeados de informaes e
nem sempre estarmos atentos com o nosso prprio eu.
A discusso que COUTURIER traz exatamente essa. Como
esteticista em Paris lembra que muitas vezes as pessoas que ela cuida
esto doentes de informao, pois so tantas que nem sempre fica fcil
corresponder ao ponto que a sociedade est preconizando naquele
momento.
Somos todos seres frgeis procurando melhorar. Os traos de um rosto no so importantes, mas sim sua beleza interior. Beleza que continuar a existir sob o olhar dos outros. (COUTURIER, 2004, p. 16)
Claro que falar sobre o que feio ou bonito extremamente
complicado. As normas e padres so impostos pela sociedade e pensar
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nisso leva-me teoricamente para outro lugar: Constituio Brasileira. Ela
reza que perante a lei somos todos iguais.
Fica muito evidente que os padres normativos de beleza e de moda
se modificam incessantemente ao passar do tempo, NUNES descreve o
seguinte:
Nada mais desagradvel para o indivduo do que ficar Fora de Moda, pois tal fato o exclui, de certa forma o exclui, de certa maneira, do crculo do sucesso e tambm, da aceitao social. (2014, p. 49)
Continuando discutindo o pensamento de NUNES, a palavra moda
de origem latina e significa modus, e significa modo, maneira, dessa
forma, fica tambm bem prxima das palavras moral e costume, assim, a
moda pode ser considerada uma espcie de moral secular, pois exige
adequao os sujeitos aos seus ditames estticos, excluindo aqueles que
no conseguem se submeter ao seu crivo normativo.
Voltamos novamente sociedade do espetculo, pois acabamos por
viver dentro de padres e normas que incluem ou excluem os indivduos.
Quando nos arrumamos para sair, ou mesmo para ir at a academia,
ou buscar nossos filhos na escola, at mesmo para colocar o lixo na rua,
vem aquele pensamento, Ser que estou bem vestida (o)? Afirmo que todos
ns j passamos por isso, pois a preocupao com o que os outros vo
pensar imensa.
De acordo com NUNES, o que vestimos uma espcie de
apresentao pessoal perante nossos interlocutores mais prximos e
perante a coletividade social com a qual convivemos. (2014 p. 50)
Na era da informao, do imediatismo e da internet todos esses
padres so rapidamente internalizados pelos indivduos; cada um, em sua
particularidade, segue a tendncia que mais lhe agrada. Mas raramente
encontramos indivduos que se abstm da tal dita moda.
Na era da hipermodernidade - termo utilizado para identificar o
tringulo mercado-indivduo-tecnologia - o que leva a informao adiante,
alm da mdia o consumo. A sociedade de consumo gira ao redor da
vontade cada vez maior de consumir mais.
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Para GUARISO o consumo, ao mesmo tempo em que ajuda a afastar
o desencanto dirio com os problemas, se transforma num motivo de
ansiedade por conta do excesso de oferta de novidades. (2014, p. 43)
Aqui percebemos nitidamente que nem sempre os modismos e as
tendncias nos colocam de frente com a vitrine; h algo muito mais
subjetivo, mais ntimo, coisas do ego, ou seja, corremos para tratar doenas
e machucados da alma pelo consumo.
Surge ento um ciclo que se torna vicioso; tenho informao, preciso
comprar e logo aquilo j se tornou ultrapassado e preciso do outro.
Quando imprensa, em suas diversas modalidades ou veculos,
passou pela censura muitas coisas deixaram de ser publicadas, faladas e
mostradas, isso com certeza foi muito difcil e ruim para quem se envolvia
neste tipo de trabalho. Mas o que dizer da imprensa de hoje, livre ou ser
que existem manipulaes do que pode ou no?
A realidade que existem tcnicas que estimulam o leitor, comprador
ou o ouvinte a parar o que est fazendo e voltar sua ateno para a notcia.
KELLNER relata que:
Tais imagens simblicas na propaganda tentam criar uma associao entre os produtos oferecidos e certas caractersticas socialmente desejveis e significativas, a fim de produzir a impresso de que possvel vir a ser certo tipo de pessoa. (2001, p. 319)
A velocidade das informaes e do que tendncia muito rpida;
na atualidade a internet, como veculo de comunicao muito utilizado,
torna-se necessria; quem no tem acesso ou no sabe utilizar fica um
pouco a margem da sociedade.
Isso sempre ocorreu nas sociedades e culturas. Quem no se lembra
da poca dos senhores feudais, ou da poca dos penteados volumosos,
aquele que no se enquadrava ficava simplesmente excludo.
No captulo seguinte sero aprofundadas as reflexes sobre a mdia e
suas influncias.
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CAPTULO III
MDIA E IMAGEM
Face ao futuro que nos espera, nenhuma referncia, nenhuma autoridade, nenhum dogma e nenhuma certeza se mantm. Descobrimos que a realidade uma criao compartilhada. Estamos todos pensando na mesma rede.
Pierre Lvy
Gostaria de iniciar essa seo com um poema que faz um link
com a seo anterior, como tambm introduz o assunto a seguir, do
professor Z Maria Eldorado dos Carajs:
Compra-se Compra-se seres humanos
Calados, domesticados Que no pensem, nem opinem
Ao serem questionados. Que no vejam, nem escutem Nem sintam-se incomodados.
Compra-se seres humanos
Que sejam modernizados Que andem sempre na moda
Felizes, etiquetados Que propaguem e que convenam
At os conscientizados.
Compra-se seres humanos Totalmente desligados
Que no gostem de poltica E estejam sempre ocupados Que no sejam de esquerda
E nem sindicalizados.
Compra-se seres humanos Famintos, desempregados,
Indecisos, inseguros, Descalos, descamisados,
Menores, analfabetos, E at informatizados.
Compra-se seres humanos
Idosos, aposentados, Jovens e adolescentes
De preferncia, os drogados Que sumam-se, consumindo,
Em tempos globalizados!4
4 In: www.aminimapalavrablogspot.com.br Acesso em 10/01/2016
http://www.aminimapalavrablogspot.com.br/ -
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O professor Z Maria, teve uma sensibilidade enorme ao escrever tais
palavras, falando de consumo, globalizao e de educao.
Podemos refletir de vrias formas ao ler cada verso, inclusive decidir
qual desses humanos o eu vai aparentar, e por fim descobrir se vamos
deixar o consumo na globalizao nos comprar.
No mundo dos livros que estudei, a autora SANTANNA, profunda
estudiosa na rea da beleza e do corpo, assim foi uma das autoras mais
utilizadas na pesquisa, ela conta que antes dos anos 50 a publicidade no
hesitava em descrever detalhadamente os sofrimentos da falta de beleza,
pois assim a publicidade atrelava feiura a imagem dos produtos
anunciados, pois esse pretendiam resolver tal problema. (2005, p. 128/129)
Passado para os anos 60, toda a imagem da mdia foi modificada, e
agora as imagens e propagandas receberam um olhar diferenciado. A
imprensa brasileira foi fortemente pautada sob influncias francesas e norte-
americanas, onde nas revistas as fotos coloridas com chamativos para
frmulas de beleza era o que a sociedade feminina queria. SANTANNA
relata que:
Nas revistas femininas, as artistas de Hollywood fornecem centenas de receitas para beleza confirmando o crescimento da influncia norte-americana na cultura brasileira. [...] os conselhos de beleza adquirem um tom cosmopolita e informal. Paris no mais o nico ou o principal modelo a seguir. (2005, p. 129)
Logo surgiu uma exploso de novas tcnicas de marketing na
colorao de imagens e falar do belo e da beleza agora vencia pudores do
ano anterior.
A feira e a beleza recebem novas conotaes, a feiura est presente
naqueles que querem ser feios, e quem recusa o embelezamento denota
uma negligncia feminina que deve ser combatida.
Novamente a espetacularizao da sociedade, em momentos somos
autores da vida e em outros atores sociais.
As influncias vo e vem, como se fossem ondas, e j estamos
acostumados com isso. Quando falamos desse vai e vem, podemos usar
como exemplo os concursos de beleza, inclusive o Miss Brasil. QUEIROZ
descreve essa situao:
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[...] Alm do que, para ter qualquer margem de sucesso no confronto com as demais concorrentes, a representante brasileira, como se sabe, deve atender aos cnones que os organizadores do certame impem s moas que procedem dos mais diferentes pases como candidatas ao ttulo de Miss Universo [...]. (2000, p. 135)
Ou seja, a busca pela imagem ideal nunca vai ser cessada, pois
somos todos diferentes, com caractersticas fsicas diversificadas, e ainda
contamos com a miscigenao das raas, ser mesmo que tem como definir
o padro do belo?
QUEIROZ (2000), ainda nos conta sobre uma pesquisa realizada nos
Estados Unidos, perguntaram populao o que seria uma norte-
americana bela, muitos fizeram suas ponderaes, um artista foi incumbido
de desenhar um rosto baseado nos resultados da pesquisa, sabe qual foi a
imagem ideal? Totalmente desproporcional, disforme. (p. 135/136)
Esse resultado nos coloca a pensar, provavelmente a beleza est
presente na feiura e a feiura na beleza.
Cada um tem seu olhar, tem sua forma de olhar e de compreender o
que est vendo. O que a imagem ideal para uns, no para outros.
Talvez a busca incansvel da beleza se acabaria se vssemos em ns
mesmos o que temos de belo, nossa prpria imagem refletida no
biopsicossocial.
Aps essa bela leitura do poema e das palavras introdutrias, vamos
conversar um pouco sobre a mdia e suas influncias.
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1. A Mdia na Busca da Imagem Ideal.
A graa seria se esquecer, mas a graa das graas seria amar a si mesmo como
aos outros. Bernanos
Retornamos alguns sculos e chegamos ao sculo XVII. LIMA nos
fala do historiador ingls Robert Southey que nunca esteve no Brasil, mas
que, utilizando documentos guardados por seu tio, pastor anglicano que
morou em Lisboa, escreveu a primeira histria do nosso pas, que envolvia
desde o perodo colonial (descobrimento) at a transferncia da famlia real
portuguesa em 1808.
A Histria do Brasil foi publicada em trs volumes no ingls, (1810,
1817 e 1819); em portugus foi publicado em 1862. Trata-se de um
importante relato at hoje muito til sobre a histria. Em 2010 saiu uma nova
edio da obra.
Com esse relato reafirmamos que a comunicao escrita percorreu
um grande espao de tempo at ser aceita e utilizada para contar histria.
Antes existiam os mensageiros entre os povos; pessoas (mensageiros) que
iam correndo de um lado para o outro levando cartas e documentos.
Pessoas que, caso a notcia no fosse boa, perdiam suas vidas.
Durante anos a comunicao entre o povo e seus governantes foi
precria; sempre houve represso da expressividade popular.
O dono da terra era o comandante da opinio pblica. Infelizmente,
trata-se de uma situao ainda muito presente.
Na histria da comunicao e da mdia do Brasil percebemos toda
essa influncia; principalmente no que dizia respeito aos governos. Qualquer
notcia precisava estar de acordo com normas pr-estabelecidas.
O que dizer dos exlios e do regime militar? Os meios de comunicao
(que hoje tem sido alterado para mdias) sempre ditaram e impulsionaram a
opinio pblica e a formao de novas tendncias. LIMA relata que:
A comunicao midiatizada aquela que constitui o espao onde se forma a opinio pblica no escapa hoje da intermediao
-
30
tecnolgica. Estudar a mdia, para alm de suas caractersticas de tecnologia, significa, portanto, estudar as condies de construo da comunicao pblica e de formao da opinio pblica.
5
Percebemos, portanto, toda influncia que a mdia tem sobre as
pessoas; as instituies de ensino tambm j trabalham novas disciplinas
para que seus alunos consigam entender e aprender a forma de incutir
novas experincias em seu pblico alvo.
Essa influncia miditica tambm mostra sua influncia quando nos
referimos aos pases, um de primeiro mundo, outro terceiro, e questes
diplomticas tambm ficam ao bel prazer de quem tem mais poder.
Continuando nas reflexes do autor, LIMA apud FREIRE diz:
O conceito de Terceiro Mundo ideolgico e poltico, no geogrfico. O chamado Primeiro Mundo possui dentro de si e contra si o seu prprio Terceiro Mundo. E o Terceiro Mundo tem o seu Primeiro Mundo, representado pela ideologia dominante e o poder das classes dirigentes.
6
Pensando dessa forma, a imagem cultural do Brasil quanto as mdias
e a potencialidade de voz no so as que mais chamam ateno, porm
todas essas influncias coloniais vagarosamente esto sendo modificadas, a
grande amostra disso a globalizao e a abolio de algumas regras que
permeavam as comunicaes.
A importncia do trabalho da mdia inegvel; mas percebe-se que
ela contribui para traar novos rumos para a sociedade.
Voltamos um pouco poca em que eram utilizadas tintas e penas
para a escrita, para entendermos melhor a origem da comunicao escrita.
MIRANDA escreve:
A linguagem uma habilidade humana tanto quanto a comunicao em sociedade, porm somente com a passagem da linguagem oral para escrita que se tornou possvel comunicao vencer o tempo e o espao. (2007, p. 11)
5 In: www.cartamaior.com.br/colunistas/180 Acesso: 14/01/2016
6 In: www.cartamaior.com.br/colunistas/180 Acesso: 14/01/2016
http://www.cartamaior.com.br/colunistas/180http://www.cartamaior.com.br/colunistas/180 -
31
A comunicao oral sempre foi alvo de problemas, pois um fala o
outro escuta e pode ou no responder, ou responde atravs de gestos ou
outro movimento, a partir do momento que evoluiu-se para a comunicao
escrita, as coisas ficaram um pouco mais fceis de serem compreendidas.
Continuando na discusso de MIRANDA, desde os tempos pr-
histricos, a prpria natureza ofereceu ao homem possibilidades e materiais
em abundncia para fazer seus registros, como pedra, areia, barro, madeira,
casca e folha de rvore, mas de fato a escrita, que foi inventada pelos
sumrios, em aproximadamente 3.500 a.C. possibilitou ao homem transmitir
de forma segura e sem alteraes de contedo, o que geralmente
aconteciam na transmisso oral.
Percorremos muitos anos evoluindo tais mtodos de comunicao, e
chegamos na era da globalizao, tecnologia de ponta e internet. SANTOS
afirma que:
No se pode dizer que a globalizao seja semelhante s ondas anteriores, nem mesmo uma continuao do que havia antes, exatamente porque as condies de sua realizao mudaram radicalmente. (2000, p. 141)
Mudanas nem sempre so aceitas e bem vindas, muitas pessoas
tem receio do novo, quando a era globalizao comeou ganhar fora posso
imaginar o que aconteceu entre os pases, quero dizer, o susto que muitos
levaram. Medo do desconhecido.
Infelizmente para muitas naes essa reforma que a globalizao
trouxe, ainda no acessvel.
Toda essa mudana trouxe enormes benefcios; descobertas so
apresentadas ao mundo dia aps dia. Podemos conversar com as pessoas a
quilmetros de distncia; em um minuto coloca-se na internet fotos e vdeos,
publicamos livremente tudo o que quisermos, pesquisamos e nos divertimos
no ambiente virtual.
Tudo isso muito bom. Uma sociedade que nunca seria imaginada
por Pero Vaz Caminha; em sua carta ao rei que, demorou dias navegando
para que ele pudesse l-la, intrigante pensarmos nisso. Da mesma forma
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32
que veiculam mensagens boas, temos mensagens ruins, e depende de ns
mesmos o que vamos deixar passar perante nossos olhos.
A velocidade das informaes e o imediatismo que a sociedade impe
parecem caminhar de mos dadas.
A partir de 1930 os anncios brasileiros ganharam outro olhar, mais
positivo, a direo do olhar do leitor saiu do passado e virou-se
definitivamente para o futuro. (SANTANNA, 2014, p. 82)
Como j comentei, as mudanas foram ocorrendo de forma sutil,
porm rpida em nosso pas, a sociedade foi se moldando e remoldando
conforme as tendncias externas.
Muitos assuntos tidos como tabus at ento, comearam a serem
resolvidos e falados, como o caso da menstruao e doenas do aparelho
genital feminino, isso vinculados insero da mulher no ambiente de
trabalho.
Novamente SANTANNA relata:
Os conselhos de beleza e a propaganda daqueles anos, ao divulgarem o valor da satisfao de viver, criavam uma aura de felicidade em torno do consumo bem maior do que no passado. (2014, p. 87)
Ano de muitas mudanas, 1930 foi marcado pela insero da mulher
no mercado de trabalho e a mdia mostrava isso, de forma positiva. Agora
podia mostrar a mulher como consumidora, em 1940 os anunciantes
focaram suas propagandas na indstria da beleza, trabalhando assim os
desejos humanos e a psicologia do consumidor.
Para chamar a ateno do consumidor, a publicidade forma sistemas
textuais com componentes bsicos inter-relacionados de tal maneira que
apresentem o produto sob luzes positivas. (KELLNER, 2001, p. 318)
Perceber o que de fato bom fica ao critrio do ouvinte, telespectador
ou internauta, o papel da veiculao de informaes de mostrar sempre o
lado positivo da imagem/produto.
Nesta mesma discusso, COUTO e GOELLNER relatam o seguinte:
As tecnologias da informao e da comunicao se misturam ao corpo, redefinem finalmente uma condio humana tornada
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caduca, que deve doravante telecarregar sua ltima verso para poder continuar sua jornada. Elas alimentam a liquefao do indivduo ps-moderno. (2012, p. 27)
Para o marketing quanto mais pessoas alcanadas pela propaganda
televisiva ou outdoors um trabalho que foi bem realizado, uma idia
magnfica, e para os consumidores de planto uma oportunidade de obter
certo produto.
Com a questo da imagem isso fica bem claro, so sempre
apresentadas pessoas jovens, elegantes, maquiadas, com uma beleza
exuberante, sem dizer a questo do peso, sempre so as mais magras.
Sendo assim, incutidas essas imagens em ns, desde crianas, crescemos
ento percebendo e repudiando quem ou o que no est de acordo.
Agora percebam que, vou chegar num dos pontos cruciais da
pesquisa, se somos catequizados durante anos sobre tais assuntos e
imagens, o que vamos pensar sobre a velhice e todas as mudanas que o
passar dos anos nos traz?
Buscamos ver o queremos ser, e se aprendemos que o
envelhecimento nos revela algo ruim, vamos sempre buscar o mito do corpo
jovem.
Durante minha pesquisa, realizada em ambiente virtual, pude
perceber o quanto de informaes a rede disponibiliza, tudo que o ser
humano busca est l. Infelizmente, quando tratamos do assunto deste
trabalho nos deparamos com uma realidade triste, pois apenas reafirmam a
negao ao envelhecimento e a velhice.
Ainda que cheguem a falar bem sobre do envelhecer e da velhice, dos
cento e quarenta e cinco sites que pesquisei, apenas dezesseis deles
remetem a algo positivo sobre essa fase da vida, o que no deixa de ser
interessante, pois ns mesmos, atores de nossa vida, construmos a
comunicao e veiculamos exatamente o queremos ver e ouvir.
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34
7
Essa imagem pode nos dizer muito, pois cada um enxerga a mesma
imagem por diversos ngulos, e todos eles esto certos.
Assim funciona tambm com imagens de pessoas, animais, e outros
objetos de consumo.
Entendo que a busca pelo eu, precisa acontecer primeiro dentro de
ns mesmos, assim vamos conseguir decidir a qual dos discursos que
rondam diariamente vamos seguir.
Se espelhar no outro no ruim, mas tentar de alguma forma se
encontrar no que o outro ou aparenta ser no deve ser o foco.
O imediatismo social e as informaes praticamente em nossas mos
principalmente pela internet acabam por nos confundir, exercem cobranas,
nos fazem pensar que precisamos ser como os outros so. Se estivermos
bem e vivendo o nosso eu, conseguiremos filtrar tais coisas e nos agarrar
ao que nos faz bem.
Lembrando que a trade do consumo mercado-indivduo-tecnologia,
faz parte de ns, e ns que a criamos, mas no precisamos nos escravizar
nela.
Como alvo de consumismo, agora em muitas reas, o envelhecimento
tido como uma questo de lucro, o turismo com seus pacotes
7 In: www.diariodaautoestima.com Acesso 11/01/2016
http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwicjN3utKLKAhWDIJAKHZBcCwoQjRwIBw&url=http://diariodaautoestima.com/home/cada-um-tem-seu-ponto-de-vista-respeite/&bvm=bv.111396085,d.Y2I&psig=AFQjCNH_1K6v6zSPvFR8EtILPQzndKLH6g&ust=1452624138492162 -
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especializados, os inmeros financiamentos e emprstimos consignados, e
talvez a maior rea da medicina esttica. A dita antiaging.
A medicina antienvelhecimento cresce cada dia mais. ALMEIDA
lembra que anteposto ao envelhecimento, o prefixo anti sinaliza polticas
de identidade que estabelecem padres e fornecem lies de como ser
velho sem o ser de fato. (2014; indito, s/p.)
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2. A Velhice e o Eu diante do Espelho: imagens
distorcidas.
Digo o que vejo
Diderot
Ao longo do Mestrado em Gerontologia sempre discutamos que em
muitas culturas e civilizaes a velhice era vista com respeito e venerao;
tida como sinnimo de experincia, o saber acumulado ao longo dos anos,
a prudncia e a reflexo eram valorizados.
Refletindo sobre as duas temporalidades - Cronos e Kairs - sabe-
se que o primeiro est relacionado com o tempo do relgio, com a
cronologia, sendo medido por horas, dias, meses e anos ou pelas estaes
do ano. J o segundo foge de qualquer cronologia; refere-se s experincias
vividas e socialmente compartilhadas, qualidade destas. A sociedade
urbana moderna vive, infelizmente, sob a ditadura do relgio; abandonou a
experincia e introduziu um ritmo acelerado da vida. Os que no o
acompanham ficam margem.
Ter uma vida longa desejo de muitos. No entanto e paradoxalmente
poucos querem ficar velhos. A explicao desta negao fcil: entre ns
envelhecer significa estar prximo da morte (fsica, social ou simblica).
Outros apenas lidam com a cronologia, deixando para trs as experincias,
MUCIDA, escreve:
[...] vivncias atuais podem despertar com vigor passagens da vida aparentemente apagadas que surgem como se tivessem ocorrido no dia anterior ou fora do tempo. Esses traos que no se apagam do a sensao de que, afinal, o tempo no passou. (2009, p. 15)
O envelhecimento nem sempre sinnimo de declnio. A idade,
certamente, se faz acompanhar por mudanas biolgicas e morfolgicas,
como quando se deixa de ser um beb para tornar-se uma criana e depois
um jovem, logo um adulto e assim por diante. Envelhecer, no entanto, no
significa adoecer.
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A pele vai perder a elasticidade? Vai, sim. As rugas chegaro e o
corpo tende a precisar de mais hidratao. Mas o passar dos anos no
significa que o corao e o crebro, por exemplo, esto prximos do limite
final.
Mudanas ocorrem com tudo e com todos; importa saber quais delas
aceitar ou negar.
Sobre isso existem inmeras imagens que retratam os ideais esttico-
corporais em pocas e culturas distintas.
Na iconografia, as representaes de Vnus nua se alteram com o
passar dos anos e tempos.
XXX MILNIO A. C./ Vnus de Willendorf
8
8 In: www.infoescola.com Acesso 18/12/2015
http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjz9_rC1b_JAhXJW5AKHYwKCdEQjRwIBw&url=http://www.infoescola.com/arqueologia/venus-de-willendorf/&psig=AFQjCNFY85Wh6XXDxtBtsWwDjk_BRc5anA&ust=1449231310573014 -
38
SCULO IV A. C./ Vnus de Cnido
9
Essas duas representaes imagticas permitem perceber diferentes
concepes do corpo feminino ao longo do tempo.
1482. Nascimento da deusa de Vnus, Sandro Botticelli
10
9 In: pt.wikipedia.org Acesso 18/12/2015
10 In: www.mundodafilosofia.com.br Acesso 18/12/2015
http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiC-5PW2b_JAhXCi5AKHWN5CO4QjRwIBw&url=http://cantinhodosdeuses.blogspot.com/2011/03/deusa-afrodite.html&psig=AFQjCNHvEOwnsg3okW9o7TF_jpHQQPONEQ&ust=1449232409947133http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwihquLG27_JAhXFgZAKHUzWAPYQjRwIBw&url=http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Afrodite&psig=AFQjCNHvEOwnsg3okW9o7TF_jpHQQPONEQ&ust=1449232409947133 -
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Nota-se que com o passar doa anos, os artistas foram mudando as
formas de traduzir o belo, os traos e a colorao da tela, nos chamam
ateno hoje, imagina o impacto que tinham na poca.
1538. Vnus de Urbino. Ticiano Vercellio
11
1650. Vnus no espelho. Diego Vlazquez
12
11
In: www.renascimentotarauaca.com.br Acesso 18/12/2015 12
In: www.virusdaarte.net Acesso 18/12/2015
http://www.virusdaarte.net/http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwis5MXv37_JAhXFEJAKHVd_D8gQjRwIBw&url=http://www.gettyimages.pt/detail/ilustra%C3%A7%C3%A3o/sleeping-venus-or-venus-of-dresden-by-giorgione-gr%C3%A1fico-stock/153338922&psig=AFQjCNHTEPH1eokVmmBW2zUeDT1kS9fPnA&ust=1449234075490656http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwj0xLb64L_JAhVEG5AKHRyBAscQjRwIBw&url=http://virusdaarte.net/velazquez-venus-do-espelho/&psig=AFQjCNF9Y4E-gdZQN1Za2pw8TEnPltKNPw&ust=1449234385463840 -
40
Todas as imagens dizem a respeito a deusa de Vnus, cada uma
delas pintada/esculpida por um artista em uma certa poca, vemos a
evoluo das formas, das cores e dos traos, mas uma coisa nos chama
ateno, em todas elas o nu sempre estava presente.
Tambm podemos ponderar que em nenhum dos seu formatos a
imagem estava incorreta ou errada, pois era assim que cada artista a
imaginava/sentia.
Com essa demonstrao de imagens, gostaria de deixar claro que
cada um tem o seu ponto de vista em relao a algo, quanto ao
envelhecimento, cada pessoa enxerga como quer, depende de quais
influncias ela teve.
Nas prximas imagens, vou tentar mostrar melhor isso, deixando claro
que no estou dizendo que uma ou outra est correta, e sim o quanto cada
uma influencia o modo percebemos a velhice.
13
13
In: www.psivelhiceefamilia.wordpress.com Acesso 12/01/2016
https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjQmZLny6TKAhUJvZAKHXrADWQQjRwIBw&url=https://psivelhiceefamilia.wordpress.com/&psig=AFQjCNHk-IPm29ocK2FtqhrU_LDBCLx4QA&ust=1452698968138899 -
41
14
Cada imagem fala por si s, aqui coloquei os extremos, a primeira de
duas pessoas velhas brincado, se divertindo, sorridentes, felizes. J na
segunda, so duas pessoas velhas tambm, mas agora esto tristes,
dependentes de cadeiras de rodas, com semblante fechado.
Duas imagens e impactos visuais totalmente opostos, uma (primeira)
nos deixa alegres e capaz de at nos tirar um sorriso, a outra, nos remete
realidade e a solido, uma imagem pesada e pode at fazer nossos olhos
lacrimejarem.
As duas imagens so realidade no nosso mundo globalizado, onde a
mdia enleva nossos sonhos e imaginao, agora podemos seguir dois
caminhos, o de total negao da velhice e assim ter repdio esta fase, ou
podemos entender que a vida um ciclo, provavelmente vamos passar por
ele at seu trmino; Quem no passar por todas as fases da vida, significa
que o trmino chegou muito cedo.
14 In: www.webmisericordia.wordpress.com Acesso em 12/01/2016
http://www.webmisericordia.wordpress.com/https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiJgO_qzKTKAhVKgZAKHch3DrgQjRwIBw&url=https://webmisericordia.wordpress.com/2010/11/page/4/&psig=AFQjCNFDtSdtrGHPJgUq_ywAgDa6fAsyvw&ust=1452699293433296 -
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Albert Camus consegue descrever no poema a seguir o que acontece
em nossa sociedade, a viso negativa que recai sobre a velhice, mas que de
uma forma ou de outra, todos pensam ser o mais longevo possvel, essa
dicotomia convive e por vezes passa despercebida no imediatismo vivido
hoje.
Envelhecer
(Albert Camus)
"Envelhecer o nico meio de viver muito tempo.
A idade madura aquela na qual ainda se jovem, porm com muito mais esforo.
O que mais me atormenta em relao s tolices de minha juventude, no hav-las
cometido... sim no poder voltar a comet-las.
Envelhecer passar da paixo para a compaixo.
Muitas pessoas no chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos
quarenta.
Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razo, aos quarenta o juzo.
O que no belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sbio aos cinquenta,
nunca ser nem belo, nem forte, nem rico, nem sbio...
Quando se passa dos sessenta, so poucas as coisas que nos parecem absurdas.
Os jovens pensam que os velhos so bobos; os velhos sabem que os jovens o so.
A maturidade do homem voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufrua
quando se era menino.
Nada passa mais depressa que os anos.
Quando era jovem dizia:
vers quando tiver cinquenta anos.
Tenho cinquenta anos e no estou vendo nada.
Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz.
A iniciativa da juventude vale tanto a experincia dos velhos.
Sempre h um menino em todos os homens.
A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente.
Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam ss.
Feliz quem foi jovem em sua juventude e feliz quem foi sbio em sua velhice.
Todos desejamos chegar velhice e todos negamos que tenhamos chegado.
No entendo isso dos anos: que, todavia, bom viv-los, mas no t-los."15
O processo de envelhecimento caminha conosco todos os dias de
nossa vida, para que uma clula se renove, outra precisou morrer. A pele
trocada permanentemente, os cabelos nascem sem o nosso controle, as
unhas crescem, dentre outros fatos que ocorrem internamente em nosso
corpo que no vemos. Para que a vida ocorra, a morte trabalha e assim ao
contrrio.
15 In: www.pensador.uol.com.br Acesso em 11/01/16
http://www.pensador.uol.com.br/ -
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Cada nova imagem e cada procura no que o outro , ou no que ele
faz, trazem um grande sentimento de vazio, faz com que o eu se perca
mais.
Dentre todas as imagens que nos rondam existe uma que pode
causar o maior impacto, a nossa refletida no espelho. MUCIDA trabalha esse
tema e descreve assim:
De repente, em um dia qualquer, numa espcie de sobressalto, de um olhar desavisado, encontra-se no espelho (que no implica necessariamente o espelho real, pode ser atravs do outro, uma foto, um olhar) uma imagem que escapa e na qual o sujeito no se reconhece. (2009, p. 43)
Esse no reconhecimento de si mesmo causa dor, traz mal-estar,
sentimo-nos fora de sintonia com o EU e o mundo, por isso para muitos o
nico caminho a seguir a operao de defeitos.
Tenho plena certeza que podemos nos inspirar no meu prximo, mais
no podemos perder o foco que cada ser um ser individual munido de suas
caractersticas e formas.
Muito da no aceitao vem do no encontro com o EU mesmo.
No prximo captulo, falo sobre a revoluo da medicina esttica e
suas influncias no mundo ps-moderno. Inclusive na cura do
envelhecimento.
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CAPTULO IV
OBJETIVOS
1.1. OBJETIVO GERAL:
Diante do atual culto aos corpos jovens e sarados e da
negao dos sinais exteriores da idade, investigar, em
ambiente virtual, a relao entre Corpo, Envelhecimento e
Velhice.
1.2. OBJETIVOS ESPECFICOS:
Levantar na Internet matrias de divulgao relacionadas aos
buscadores Corpo, Envelhecimento, Velhice e Medicina
Esttica;
Identificar como so trabalhadas, no ambiente virtual, as
mudanas corporais relacionadas ao processo do
envelhecimento e velhice;
Levantar informaes relacionadas s diversas prticas de
medicina esttica e ao lugar ocupado pelas correes
cirrgicas;
Estabelecer relaes entre os contedos/percepes
levantados e identificados e o modelo de sociedade em que
vivemos (Sociedade Moderna/Sociedade
Contempornea/Modernidade/Ps-Modernidade).
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CAPTULO V
ABORDAGEM METODOLGICA E
PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
1. A Pesquisa
Considerando que o lcus da investigao foi a mdia virtual a
abordagem metodolgica proposta recaiu sobre procedimentos qualitativos
e, mais precisamente, sobre a Anlise de Contedo (AC).
Segundo MINAYO e GOMES (2012, p. 21), a pesquisa qualitativa
responde a questes muito particulares [...], trabalha com o universo dos
significados, dos motivos, das aspiraes, das crenas, dos valores e das
atitudes.
BAUER (apud DURANT, 2014, p. 195) explica que:
Anlise de Contedo assume, por vezes, um carter longitudinal sendo realizada durante um determinado perodo de tempo. Via de regra um tempo maior que um ms. [...] permitindo detectar flutuaes, regulares e irregulares, no contedo, e interferir mudanas concomitantes no contexto.
Com estas orientaes no horizonte os dados foram coletados atravs
levantamentos na Web16 (Internet) sobre o que est sendo veiculado sobre o
tema sugerido. As matrias foram coletadas, para anlise posterior, nos
meses de Outubro e Novembro de 2015 cobrindo, portanto, um perodo de
sessenta dias.
BAUER ainda relata que os materiais clssicos da AC so textos
escritos que j foram usados para algum outro propsito [...] mas que
podem, contudo, ser manipulados para fornecer novas respostas ao
pesquisador. (2014, p. 195)
Para o levantamento foram utilizados os seguintes buscadores
(separados): Corpo, Envelhecimento, Velhice e Medicina Esttica.
16
Significa teia, rede. In: www.significados.com.br Acesso em: 14/01/2016.
http://www.significados.com.br/ -
46
Para a Anlise de Contedo foram selecionadas as palavras e
expresses mais recorrentes que, presentes nos discursos sobre os
buscadores, revelam os significados associados ao tema.
Por sua ampla utilizao e pelos recursos de que dispe na
investigao foi utilizada a ferramenta Google. Nela foram selecionadas,
para cada uma das palavras selecionadas, todas as matrias das cinco
primeiras pginas. Ao registro de cada ttulo seguiu-se uma primeira
anlise dos contedos veiculados nos sites.
A partir dos contedos relacionados aos buscadores veiculados pelos
emissores das mensagens foram definidos os critrios de excluso. Assim
sendo, foram excludos sites de artigos acadmicos, seminrios, congressos
e encontros cientficos, ncleos de pesquisa e vdeos, assim como matrias
sobre envelhecimento no relacionado a seres humanos, bem como
publicidade de produtos e servios que iniciam e terminam cada uma das
pginas.
Para BARDIN (2009) a anlise de contedo de mensagens tem duas
funes:
1. Uma funo heurstica:
A anlise de contedo enriquece a tentativa exploratria, aumenta
a propenso descoberta; a anlise de contedo para ver o
que d;
2. Uma funo de administrao da prova:
Hipteses sob a forma de questes ou de afirmaes provisrias
servindo de diretrizes apelaro para o mtodo de anlise
sistemtica para serem verificadas no sentido de uma confirmao
ou de uma informao; a anlise de contedo para servir de
prova.
-
47
Na prtica essas duas funes se complementam. BARDIN afirma
que:
A anlise de contedo (seria melhor falar de anlises de contedo) um mtodo muito emprico, dependente do tipo de fala a que se dedica e do tipo de interpretao que se pretende como objetivo. No existe o pronto-a-vestir em anlise de contedo, mas somente algumas regras de base, por vezes, dificilmente transponveis. A tcnica de anlise de contedo adequada ao domnio e ao objetivo pretendidos, tem que ser reinventada a cada momento, exceto para usos simples e generalizados, como o caso do escrutnio prximo da decodificao e de respostas a perguntas abertas de questionrios cujo contedo avaliado rapidamente por temas. (2009, p. 75)
O registro das primeiras cinco pginas do Google resultou em cinquenta
e trs sites para o buscador corpo, sessenta e cinco sites para
envelhecimento, setenta sites para velhice e setenta e seis sites para
medicina esttica.
Os resultados coletados na primeira busca por cada expresso
previamente selecionada foram objetos de uma primeira leitura para
incluir/excluir. Os sites includos foram analisados com o auxlio das fontes
terico-analticas disponveis; esta tarefa contribuiu para a construo e
definio das categorias para anlise de contedo..
A internet foi escolhida como o veculo de pesquisa por constituir-se na
ferramenta mais utilizada atualmente; nela circulam de forma instantnea
toda informao disponvel no momento da busca.
Segundo BAUER,
[...] Os mtodos de pesquisa passam por ciclos de moda e de esquecimento, mas a Word Wide Web
17 (www) e os arquivos on-
line, [...] criaram uma grande oportunidade para os dados em forma de texto. medida que o esforo de coletar informaes est tendendo zero, estamos assistindo um renovado interesse na anlise de contedo (AC) e em suas tcnicas, em particular em tcnicas com auxlio de computador. (2014, p. 189/190)
17