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Revista Laboratório do Curso de Comunicação Social da Ufes Pág.4 Feminismo em Feminismo em Primeira Mão Revista Laboratório do Curso de Comunicação Social da Ufes Página 12 Feminismo em pauta •18 A fala dos games 29 Cores da Ufes • 22 Jornalismo e PP de volta • 32 Primeira Mão Edição 138 . dezembro 2014 O Brasil que virá

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Revista Laboratório produzida pelos alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Espírito Santo www.facebook.com/primeiramao

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Revista Laboratório do Curso de Comunicação Social da Ufes

Pág.4

Feminismo em pauta - 18

Feminismo em pauta - 18

Feminismo em pauta - 18

Primeira MãoEd

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Revista Laboratório do Curso de Comunicação Social da Ufes

Página 12

Feminismo em pauta •18

A fala dos games •29

Cores da Ufes • 22

Jornalismo e PP de volta • 32

Primeira MãoEd

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O Brasil que virá

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Primeira Mão é uma revista laboratório, produzida pelos alunos do 6º período do cur-so de Comunicação Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo. Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória - ES CEP 29075-910 [email protected]. Ano XXV, número 137. Semestre 2014/2

Reportagem e Edição:Adalberto CordeiroAna CarolinaElice SenaGustavo FerreiraHyasmin NascimentoJade CamposJéfica Teixeira

Johanna HonoratoJúlia BaroneJuliana MartinsLinneker AlmeidaLuísa CostaLuiza MayraMallena PezzinMaryangela Souza

Pâmela VieiraPedro MaltaPatrícia FernandesRhaissa AfonsoRodrigo ScherederThiago SobrinhoTasso GaspariniVeronica Haacke

Vil Rangel

Professora Orienta-dora: Ruth Reis

Diagramação: Elice SenaGustavo Ferreira

Juliana MartinsTasso GaspariniVil Rangel

Impressão: Gráfica da Ufes

expediente

É com grande prazer e satisfação que apresentamos a você, caro leitor, a 138ª edição do Primeira Mão, e última sob os nossos cuidados. Em princípio, parece que foi um processo simples: começar o semestre, fazer duas revistas e publicá--las. Mas para nós, foi uma jornada: da responsabilidade de ser a “turma que faz a Primeira Mão”, à procura incessante por pautas e fontes para chegar ao processo de publicação e divulgação, passando pela correria da diagramação, revisões incansáveis, recadinhos no Facebook e a busca por trazer o que há de melhor para o público universitário. O objetivo foi garantir que traríamos uma revista com a melhor qualidade possível para você, nosso leitor.

“Foi bonito, foi. Foi intenso, foi”

4 - Pocou6 - Ocupações urbanas10 - Beleza negra13 - O Brasil dos próximos 4 anos18 - Versões contraditórias19 - Exposição Corpora22 - Ufes em vários tons24 - República e decoração26 - Fim dos grandes eventos29 - A narrativa dos games32 - Jornalismo e PP voltam35 - Férias38 - Bikeboys no ES

Assim, entregamos esta edição, um ciclo que se fecha para a nossa turma, mas se abrirá novamente para outra no próximo semestre. Fica o aprendizados e a gratidão a todos que esti-veram conosco neste período, daqueles que ajudaram com conselhos sobre texto e diagramação, até a nossa editora--chefe e orientadora, Ruth Reis. Com essa edição, fechamos o semestre, e embarcamos nas merecidas férias, após um se-mestre que foi puxado. Mas foi bonito, foi. E foi intenso, foi.Esperamos que goste.

Boa leitura, bom descanso e até a próxima edição!

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Ele é um artista completo: carismático na medida certa, rosto inconfundível e sonoridade sem igual. É di-fícil encontrar alguém que já tenha ido ao show do ído-lo Paul McCartney e não tenha se encantado. O artista, com 50 anos de carreira, cresceu e envelheceu diante do público e agora chega ao Espírito Santo para reali-zar o show da turnê “Out There”, a última anunciada pelo cantor.

Pocou!

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Carla Caliman

Luísa Costa e Juliana Martins

O estádio Kleber Andrade, em Cariacica, foi o local escolhido para receber Paul McCatney. Um palco de 70m² com telões e efeitos pirotécnicos foi montado. A prefeitura do município decretou ponto facultativo e foram criadas zonas de serviços em torno do estádio com atendimento médico, restaurantes, transporte e segurança. Com capacidade para 38 mil pessoas, o está-

dio foi equi-pado de forma antes nunca vista. I n a c r e d i t á -

vel? Sim!. E para expli-

car, vale lembrar como tudo aconteceu

de forma rápida e intensa, tanto para os fãs e admirado-

res, quanto para a produção. O público capixaba não podia imagi-

nar e depois de toda a negociação, não demorou muito para que se espa-

lhassem burburinhos por toda a cidade. Afinal de contas, poderia ser verdade que um artista do porte de Paul McCartney pi-saria em solo capixaba? Sim, poderia e esta era a grande verdade.

A notícia ganhou as redes sociais e em meio a todos os comentários e compartilha-

mentos, uma Fan Page do Facebook se destacou. A página “Paul McCartney capixaba” alcançou duas

mil e quatrocentas curtidas em menos de dois meses, com postagens engraçadas e criativas que relaciona-vam o ex-beatle com situações tipicamente capixabas. Na página, montagens como as de Paul fazendo uma panela de barro para a moqueca capixaba, pegando o transcol 507 e nadando em um alagamento provocado pelas fortes chuvas, foram motivos de muitas risadas. A ideia veio de dois amigos, que preferiram manter o anonimato. Eles, assim como muitos, não acreditaram nos boatos iniciais e resolveram criar a página com a finalidade de brincar com a possibilidade de um dos

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maiores nomes do rock vir ao estado. O sucesso era iminente: “nós já esperávamos que muitas pessoas cur-tissem a ideia, porque era algo inusitado inserir o Paul McCartney no cenário capixaba. As pessoas nos ajuda-vam, mandavam mensagens com sugestões novas, lu-gares que seriam legais para colocar o Paul”, lembra um dos criadores.

Do mesmo jeito que a notícia virou assunto princi-pal na internet, fãs, como Giulia Guimarães, de 14 anos, também se viram entusiasmados. Ela, que gosta do can-tor desde os 11 anos de idade, nunca imaginou que pode-ria assistir a um show do ídolo tão perto de casa. “Minhas amigas me ligaram quando saiu a notícia. Sempre quis ver um show dos Beatles, mas como não existe uma máquina do tempo fica impossível. Por isso, o show do Paul é uma oportunidade única para mim”, disse.

A estudante de Medicina, Camila Vescovi tem uma verdadeira coleção de coisas do artista. Ela que tem todos os cds, dvds, além de posters e camisetas do cantor, pas-sou a confeccionar canecas, camisas e cases para vender especialmente pro show. Ao contrário da maioria dos ca-pixabas, Camila diz que acreditou no show logo de cara: “é histórico, nunca passou pela minha cabeça que um dia pudesse acontecer, mas ainda temos muito a melhorar para que esse tipo de show se torne frequente”.

Já Camila Schuwartz diz que foi apresentada ao ex--Beatle na infância: “nas rodas dos primos eram sem-pre as músicas que tocávamos e cantávamos. Até ban-da cover já montamos”. Ela ainda lembra que no show de McCartney que aconteceu em São Paulo em 2010, estava grávida de oito meses, então não pôde ir. Realizou o sonho de vê-lo pela primeira vez em 2011, com o filho recém-nascido. O inglês tem mesmo essa capacidade de se reinventar e reunir gerações: “ele acompanhou parte da minha história. Estou achando o máximo poder ir vê-lo e saber que ele sabe que o Espírito Santo existe”.

Este é exatamente o objetivo do produtor Flávio Salles, um dos organizadores da turnê Out There. Para ele: “não faltam contatos para novos shows internacio-nais. Gostaria de trazer show de pessoas que estão pró-ximas de terminar a carreira e o do Paul McCartney é só o começo”. Por isso, seja bem-vindo Sir Paul!

A página Paul McCartney Capixa-

ba fez sucesso no Facebook, mas seus autores preferem o

anonimato.

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Ana De Angeli

“Invasões de terra”, “Políti-cas habitacionais”, “A luta pela casa própria” e o “Desfavelamento” fo-ram manchetes que ilustraram a pri-meira edição do jornal Posição, que circulou no Espírito Santo, de 1976 à 1979. A edição aborda, entre outras coisas, ocupações de terra na região metropolitana, em março de 1976, nos bairros Concheiras e Sossego, atual Grande Carapina, no municí-pio da Serra. A reportagem sobre o tema traz fotos e depoimentos que colocam em evidência a coerção e a violência policial.

Recentemente, as “inva-sões” voltaram a ser assunto – não com tanto destaque – nos jornais capixabas. Em fevereiro, um terreno abandonado, no bairro Novo Hori-zonte, na Serra, foi ocupado por cer-ca de 60 famílias. “Não havia nada, além de mato, no local”, afirmou

Carlos Anastásio, de 23 anos, que es-teve na ocupação. Anastásio contou que a “invasão” foi idealizada por um grupo de pessoas que morava nas proximidades do local: “Havia anos que o terreno estava abando-nado. Foi uma tentativa de sair do aluguel”.

A reintegração de posse, que aconteceu em 31 de julho, foi realizada pelo Batalhão de Missões Especiais da Polícia Militar (BME) e chamou a atenção do noticiário: ruas foram fechadas, utilizadas via-turas, cavalos e até um helicóptero.

Em setembro foi a vez de Jardim Carapina, também na Serra. A ocupação do terreno foi realiza-da por cerca de 300 famílias, que permaneceram no local por 15 dias. Novamente, a desocupação do local foi marcada por forte aparato e co-erção policial. Não a toa, faz lembrar a reportagem do jornal Posição, lá em 1976. Dessa vez, a reintegração

Ocupações urbanas voltam à pauta

de posse terminou com 11 pessoas detidas.

Um grupo de estudos, coor-denado pelo professor do Departa-mento de Geografia da Ufes, Cláudio Zanotelli, realizou um levantamento apontando que a região metropoli-tana da Grande Vitória tem 86% de seu território composto por pro-priedades rurais, “vazios urbanos” e áreas naturais protegidas.

As propriedades rurais cor-respondem a 63% do território me-tropolitano capixaba. No entanto, a atividade agropastoril é escassa e a área é pouco habitada. Os “vazios urbanos”, que, como o nome já in-dica, são espaços inocupados e sem função definida, representam 18% de toda área. Já os perímetros na-turais protegidos totalizam 9,4% do território.

Em contrapartida, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, de

Levantamento mostra que 86% do território metropolitano capixaba é composto por propriedades rurais, “vazios urbanos” e áreas verdes protegidas. Chama a atenção, também, a quantidade de domicílios vazios. De acordo com o estudo, apenas 8% desses domicílios seriam suficientes para atender a demanda por moradia. Em meio a este cenário, o que de dizer sobre as “invasões” de propriedades privadas?

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1980 para cá, a população da Grande Vitória saltou de 744.744 mil habi-tantes para 1.687.704. Ou seja, teve um crescimento de 127%. “O alto crescimento populacional, somado à enorme quantidade de territórios desocupados e praticamente sem nenhuma função social, influenciam diretamente nas demandas por mo-radia, que culminam nas invasões de propriedades privadas”, salientou Zanotelli.

O levantamento mostrou, ainda, que existem 66.306 domicí-lios vazios na Grande Vitória, dado que chama a atenção, pois o déficit habitacional é 5.236 unidades. De acordo com o estudo, apenas 8% desses domicílios seriam suficientes para atender a demanda por mora-dia.

O jurista Jorge Luiz Maior, em um artigo publicado no site Con-sultor Jurídico – Conjur – ressaltou

que o direito à propriedade, como previsto constitucionalmente, deve atender a alguma função social. O que significa exercer alguma utilida-de, nem que seja para fins de lazer.

A Constituição de 1988 ga-rante, também, a todos os cidadãos, como preceito fundamental, o direi-

to à moradia, o que quer dizer que não é mera “invasão” a ocupação de uma terra improdutiva, abando-nada e sobre a qual o proprietário não exerce direito de posse, e que por sua localidade e tamanho não desenvolva nenhuma função so-cial.

Após a reintegração do posse do terreno, em Novo Horizonte, as pessoas foram encaminhadas para a Associação de Moradores do bair-ro. No entanto, não houve nenhum acordo sobre a permanência delas no local. Segundo o presidente da Associação de Moradores, Sebas-tião Pinheiro, “a Prefeitura Munici-pal da Serra não se mobilizou para remanejar os ocupantes para outro local”.

Alessandro de Souza, 31 anos, que atualmente está desem-pregado, contou que veio de Minas Gerais, para trabalhar por tempora-da em uma empreiteira, e que com-prou um pedaço do terreno, para viver com sua família: “As primei-ras pessoas que invadiram, pega-ram alguns pedaços para vender. Comprei por R$ 2 mil e agora estou tentando arrumar um emprego para conseguir pagar um aluguel”. Alessandro e sua família, de oito pessoas, foram os últimos a deso-cupar a Associação de Moradores. Segundo ele, a maioria das pessoas que estavam na ocupação do terre-no foram para casa de parentes, e que outras, se juntaram para con-

seguir pagar o aluguel. Alessandro também destacou a falta de mobili-zação da prefeitura da Serra: “A pre-feitura não prestou nenhum tipo de assistência às famílias desabrigadas. Estamos a própria sorte”.

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Foi antes mesmo das oito da manhã que o Vista do Mestre Álvaro chegou ao fim. Logo nas primeiras horas do dia 16 de setembro, poli-ciais militares e oficiais de Justiça cumpriram a ordem de desocupa-ção de um terreno às margens da Rodovia do Contorno, em Jardim Carapina, no município da Serra.

Próximo a um condomínio de luxo e ao lado do Pavilhão de Cara-pina, a área com quatro mil metros de extensão estava desocupada há mais de 20 anos. O terreno pertence a cinco proprietários e, até a manhã daquela terça-feira, seria o futuro lar de cerca de 300 famílias.

Abrigados em casas improvisa-das, a maioria dos que ocupavam o terreno vinham de Jardim Carapina, bairro limítrofe à área invadida. Sem água ou até mesmo luz, o espaço para as moradias era delimitado pe-las próprias famílias. Havia também espaços reservados para a constru-ção de ruas, creches e praças do bairro que levariam o nome de Vista do Mestre Álvaro.

Numa tarde de sexta-feira, dias antes da reintegração de pos-se, Thiago Barbosa empurrava um carrinho de mão enferrujado pelas ruas de terra batida. Dentro dele, um garoto estrábico espumava de raiva. “Eles não vão tirar nóis daqui

não, tio. Aparece durante o final de semana pra você ver. É tanta gente que isso aqui parece até um formi-gueiro”, disse ele, do alto dos seus 11 anos, sobre uma possível ação ju-dicial.

São mais ou menos quatro da tarde e o sol começa a se esconder atrás do monte que dá nome ao lo-cal invadido. Naquele dia, Thiago não compareceu ao emprego de ze-lador que exerce num condomínio localizado em Jardim Limoeiro, tam-bém na Serra.

“Faltei serviço hoje porque dis-seram que a polícia chegaria pra nos tirar daqui”, disse, enquanto chega-va com o carrinho na porta do seu barraco. “Ganho um salário mínimo e não tenho condições de pagar o aluguel de R$ 400 que o pessoal tá pedindo. Vim pra cá pra construir minha própria casa”, explica o rapaz de 24 anos, que usa um boné com o código 4:20.

Outra das 300 famílias é a de Luiz Carlos do Nascimento. Ele pon-dera abandonar seu barraco caso seja a vontade da lei. “Essa área está desocupada há mais de 20 anos. Se o dono vier aqui com a decisão da Justiça dizendo que a gente tem de sair, nós saímos sem problemas”, garantiu.

Quatro dias depois, a ordem

para desocupação do terreno foi cumprida. Em meio à confusão e o barulho de tratores derrubando as frágeis casas, algumas dezenas de pessoas se dividiam entre observar o que acontecia e hostilizar os poli-ciais. Procurada pela reportagem, a Prefeitura do município preferiu não se pronunciar sobre o assunto.

UMA ESPERANÇA

Em seis anos de existência, o Minha Casa, Minha Vida (MCMV) é o maior programa habitacional do Brasil. Desde a sua criação, em 2009, a iniciativa do governo federal já entregou 1,8 milhões de moradias - garantindo a casa própria para 7,3 milhões de brasileiros.

Na Serra, o primeiro empreen-dimento de unidades habitacionais por meio do MCMV está em constru-ção. Trata-se do Ourimar, localizado próximo ao bairro Vila Nova de Co-lares. Serão entregues 608 residên-cias.

Em Balneário de Carapebus, outro conjunto residencial já foi aprovado e depende apenas da con-tratação da construtora que será responsável por tocar as obras. Esse empreendimento terá mais de 700 unidades habitacionais.

Thiago Sobrinho

Foto: Thiago Sobrinho

Ao norte de lugar algumUma área desocupada há mais de 20 anos e o sonho (interrompido) de 300 famílias

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TrezeEntrei no ônibus, que ainda estava bem va-

zio. Procurei minha poltrona: número 12, corre-dor. Achei. Ainda não tinha ninguém na poltro-na 13. Enquanto o motorista seguia por alguns poucos quilômetros até a próxima parada, fi-cava me perguntando quem sentaria ao meu lado, se alguém sentaria. Qualquer um pode sentar ao seu lado e parte da experiência da viagem pode ser determinada pela companhia dessa pessoa. Desta vez foi uma senhora: dona Celenira. Descobri seu nome no meio de nossa conversa, quando ela já dividia, não só comigo, mas também com outros, uma parte de sua vida. Ensinar e aprender faz parte da vida dela. Ela lembra de alunos a vizinhos que precisaram de algum remédio alternativo ou algum conselho.

O cuidado com o jardim, que contem suas ervas e suas flores, a rotina do regar, aparar, distribuir mudas para uma vizinha e, depois de todo o empenho, receber elogios por seu tra-balho. Tudo isso trouxe a lembrança da minha avó, uma proximidade muito forte com a se-nhora que tinha acabado de conhecer. Me en-sinou a fazer o chá de “boldão” que ajuda na

digestão, falou do requeijão e do toddy que ela faz em casa: “fica melhor do que o comprado”. Dividia parte de sua vida comigo e ficava feliz com isso.

Era final de tarde, o azul do céu estava sendo tomado pelo rosado do entardecer. Comentei que adorava olhar pela janela quando viajava e ela concordou comigo. Em silêncio, admiramos a mudança das cores, do rosa ao alaranjado, em meio aos passageiros que ligavam para al-guém da família avisando que já estavam próxi-mas do seu destino e crianças perguntando se ainda faltava muito pra chegar.

Em seus 73 anos, ela morou em quatro cida-des, criou seus filhos, os viu crescer e partir. As-sim como há esse ciclo, a viagem também tem o seu. E eu estava quase em casa.

O ônibus parou na rodoviária da minha ci-dade. Antes que eu me levantasse, ela falou “Adorei ter te conhecido” e me abraçou. A sinceridade dela me tocou. “Eu também”, res-pondi. Agradeci pela conversa, me despedi e peguei minha mochila. Saí daquele ônibus com mais bagagem do que quando entrei.

Júlia Barone

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beleza negraNA REDE

za negra nunca ter sido o grande destaque no Brasil, já há algum tempo um grupo de blogueiras tem exercido um verdadeiro ati-vismo em favor dessa beleza, por meio de textos, fotos e vídeos. Elas falam de bele-za, cuidados com cabelos, comportamento e, é claro, acabam debatendo temas como racismo, preconceito e auto aceitação.

Muitas dessas blogueiras iniciaram o tra-balho na internet principalmente por não encontrarem na rede informação adequada às suas necessidades, e hoje são referência para milhares de garotas que reclamavam, a falta desse tipo de informação. A youtuber Rayza Nicácio é uma das blogueiras negras

A beleza negra, pele morena e cabelos crespos ou cacheados, apesar de muito exal-tada como a “beleza brasileira”, na realida-de, nunca esteve associada ao padrão de be-leza amplamente aceito. Não se pode dizer, é claro, que a beleza afro está totalmente excluída da mídia e da internet, mas nesses casos ainda impera o modelo de negra ide-al: alta, magra, com traços finos e delicados.

Em contrapartida, o discurso da aceita-ção é cada vez mais reproduzido. Nunca se falou tanto em amar a si mesmo, em acei-tar diferentes tipos físicos e que não existe um padrão de beleza. Apesar de tanto na mídia de massa quanto na internet a bele-

Blogueiras negras são um número cada vez mais expressivo na internet. Tratando de assuntos como moda e beleza voltados para adolescentes e jovens negras, elas colecionam seguidoras e as inspiram para que sejam a favor da aceitação da beleza natural

Maryange la Souza

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com mais seguidores na internet (seu canal no Youtube tem mais de 12 milhões de vizua-lizações e quase 200 mil inscritos). Como ela mesma conta em seus vídeos, Rayza é uma defensora da beleza natural. Seus vídeos possuem forte discurso em favor da autoes-tima e da aceitação. Em suas postagens ela ensina outras meninas a recuperarem seus cachos e as incentiva a entender como belo o seu tipo físico, independente de qual seja.

Outra blogueira de destaque na defesa da beleza negra é Maraisa Fidelis, do blog Beleza Interior. Apesar de procurar evitar temas polêmicos em sua página, seu traba-lho como blogueira é uma arma poderosa no fortalecimento da autoestima de garotas negras. Seu blog não é direcionado apenas às meninas de cabelo cacheado e crespo, mas suas dicas de maquiagem, transição capilar, moda e estilo são uma refêrencia para as milhares de seguidoras que aces-sam suas páginas e seu perfil diariamente.

Acompanhando esses dois exemplos, existem dezenas de outras meninas mos-trando-se na internet e incentivando a acei-tação da beleza negra. A boa notícia, é que a

audiência dessas meninas é cada dia maior. Além dessas “gurus”, que acumulam segui-dores, é cada vez mais comum o surgimen-to de comunidades e grupos no Facebook e outras redes sociais voltados exclusivamen-te para meninas (e meninos) que desejam compartilhar dicas de cuidados específicos para a pele e cabelos afro. É também um es-paço de toca de experiências e desabafos e de discussão de quaisquer outras questões que julguem pertinentes para aumentar a autoestima e disseminar a autoaceitação.

Ainda que várias dessas blogueiras não sejam ativamente engajadas com políticas de combate ao racismo e ao preconceito, e que nem seja esse o objetivo principal de muitos dos grupos formados nas redes sociais, isso não quer dizer que eles sejam avessos às questões político-sociais que afligem a popu-lação negra. Para essas blogueiras e grupos, falar do cuidado de si não é, obrigatoriamen-te, falar de coisas fúteis. Para quem defen-de exaltação da beleza afro, falar sobre o assunto é, antes de tudo, chamar a atenção para o ativismo social e embasar o deba-te sobre a posição da mulher negra na mí-dia e na internet.

Para conhecer: Blogueiras, páginas, canais no youtube e grupos no Facebook:

* Blog Jeitinho Próprio, por Beatriz Andrade - jeitinhoproprio.com.br* Blog Cantinho da Nanda, por Fernanda Chavez - blogcantinhodananda.blogspot.com.br* Blog Criloura, por Fernnandah Oliveira -criloura.com* Blog Beleza Interior, por Maraisa Fidelis - blzinterior.com.br* Blog da Preta - blogdapreta.com.br/* Canal Rayza Nicácio no Youtube - youtube.com/user/rayzabatista* Canal Gill Vianna no Youtube - youtube.com/user/GillVianna* Canal Dani Azevedo no Youtube - youtube.com/user/maniasdemulher* Canal Beleza de Preta, por Fabiana Lima - youtube.com/user/belezadepretta* Grupo “Cacheadas em Transição” no Facebook* Grupo “Cachos Perfeitos” no Facebook* Página “Negras e Crespas” no Facebook* Página “Loucas por Cachos” no Facebook

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Os três pontos percentuais de vantagem que reelegeram a presi-dente Dilma Rousseff (PT) e deram sua vitória sobre o oponente Aécio Neves (PSDB) - a petista obteve 51,64% dos votos válidos e o tucano 48,36% - são a menor diferença entre os candidatos mais votados em uma eleição presidencial no país desde o fim da ditadura em 1985. Mas já a partir do próximo governo, Dilma encontrará uma série de desafios a serem enfrentados. Sobre os desa-fios, especialistas ouvidos pela Pri-meira Mão indicam, sobretudo, os da área política e econômica. No ce-nário político, a presidente terá que traçar estratégias (dentre elas a do diálogo, conforme já destacado em seus primeiros discursos após a vi-tória) a fim de manter uma amistosa governabilidade em Brasília. O cres-cimento da oposição no Congresso Nacional e o escândalo da Petrobrás prometem tirar o sono da presiden-te já no início do novo mandato.

Segundo especialistas, na área econômica o governo deverá conti-nuar tendo como metas o controle rígido da inflação e a proposta de retomada do crescimento do país.

Dilma inclusive já tinha indicado an-tes mesmo da vitória nas urnas que mudaria a equipe econômica do go-verno, inclusive a da chefia do Minis-tério da Fazenda, após a reeleição. Já no campo das promessas eleito-rais em si, a presidente terá como missão, por exemplo, apresentar as bases da reforma política, o cumpri-mento de propostas como a criação

do programa “Mais Especialidades” na área da saúde e o compromisso em ratificar as medidas do Plano Na-cional de Educação (PNE).

O avanço da economia e a consolidação dos avanços sociais e eliminação da miséria são pautas recorrentes entre os desafios que aguardam Dilma Rousseff nos pró-ximos quatro anos. Exemplo disso

No que diz respeito à habilidade de articulação política do novo governo, o mestre em Ciência Política Mauro Petersem Domingues destaca que anteriorm ente a esse cenário já existiam complicadores que se deflagraram dentro do próprio processo eleitoral: “O modo como as eleições são financiadas no país é um elo forte na perpetuação desses vínculos entre Estado e grupos de inte-resses, empresariais entre outros, mas há outros que ligam esses interesses diretamente à burocracia pública e de empresas estatais”, destaca Domingues.

O cenário político para 2015 aponta para uma base política pulverizada, fortalecimento da oposição – com a presença de figuras políticas em Brasília, como Aécio Neves e os também senadores Aloysio Nunes (PSDB-SP), José Serra (PSDB-SP) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) –, além da necessidade de construir um diálogo mais consensual dentro do PMDB. O partido faz parte da base governista, mas tem em seus quadros lideranças dissidentes. Estas participaram, inclusive, de campanha pró- Aécio, a exemplo do senador ca-pixaba Ricardo Ferraço.

Po l í t i c a :

Adalberto Cordeiro, Pâmela Vieira

Pedro MaltaPassada a eleição presidencial mais

turbulenta e disputada da história recente do Brasil, agora os novos (e velhos) desafios do país retornam à pauta do governo Dilma.

Tendo como base o cenário socioeconômico do país, a equipe de reportagem da Primeira Mão ouviu lideranças políticas locais, especialistas

em áreas temáticas e um cientista social que recuperam os principais fatos ocorridos

durante os meses de campanha eleitoral. Além disso, apontam os principais desafios para o

novo mandato da presidente reeleita.

No horizonte, os próximos quatro anos

jogo de interesses e complexas relações

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é o Bolsa Família. O programa carro chefe do governo petista é frequen-temente atacado pela oposição e também por grande parcela da so-ciedade, principalmente no rebuli-ço político das redes sociais. Não são raras as acusações preconcei-tuosas de quem associa pobreza com ignorância e venda de votos.

Para o mestre em Ciência Po-

lítica Mauro Petersem Domingues, é natural que programas como o Bolsa Família atraiam tantos eleito-res. “Isso é uma prova de que esses programas atendem a necessidades reais de uma parcela significativa da população brasileira”, declarou.

Quanto à expressiva vitória de Dilma Rousseff na região Nordeste, Domingues apontou explicações

que vão além dos programas de trans-ferência de renda. De acordo com ele, dois pontos fundamentais para o desenvolvimento da região foram o incentivo à agricultura familiar e o enfrentamento à seca, com a cons-trução de poços e cisternas. “Isso dá melhores condições não só para a agricultura, mas para a vida em ge-ral”, completou.

Edu ca ç ã o : mais investimentos

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Impossível falar desse tema sem citar os programas que se tornaram famosos ao longo do governo Dilma, como o Prouni, o Fies e o Ciência sem Fronteiras (CsF), que abriram mais possibilidades para o ensino superior, e o Pronatec, com ensino técnico voltado para a formação de mão de obra. Esses programas devem ser mantidos e, além disso, consta na pauta petista o au-mento de 100 mil bolsas para o CsF. O governo terá de ratificar o compromis-so com o Plano Nacional de Educação (PNE), que destina 10% do PIB (Produto Interno Bruto) para a educação, além de 75% dos recursos provenientes dos royalties de petróleo e 50% dos excedentes da produção de óleo do pré-sal.

O PNE determina que tanto o governo federal como os 27 governos re-gionais e todas as administrações municipais devem elevar gradualmente o investimento em educação até que elas cheguem a 10% do PIB no 10º ano em vigor. Atualmente, o investimento público na educação representa 6,1% do PIB, conforme informações do MEC (Ministério da Educação) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).

No horizonte, os próximos quatro anos

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Sobre os assuntos econômicos, o professor do Departamento de Economia Paulo Nakatani destaca que um dos grandes desafios será lidar com a gigantesca parcela de créditos subsidiados pelo Tesouro Nacional. “Somente o BNDES tinha um estoque de R$ 528 bilhões em empréstimos para o financiamento de investi-mentos em setembro de 2014, de um total de R$ 2,9 trilhões de créditos bancários. Os créditos subsidiados chegaram a R$ 1,4 trilhão. Quanto mais a taxa de juros cresce, mais aumentam as despesas com juros da dívida pública e mais aumenta o desejo dos bancos privados de ocuparem essa parcela do mercado, com redução da participação dos bancos públicos”.

Diante desse cenário a indagação é: quem será o principal formulador da políti-ca econômica do governo, suas relações com os grandes bancos e como o governo fará economias para transferir riqueza para grupos de interesse? “Um dos pontos de economia, já avançados pelo próprio Mantega [Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda] é a redução dos benefícios aos trabalhadores, como seguro desemprego e abono salarial, que é feito com recursos dos próprios trabalhadores, o Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT”, pontua.

“Divergência” parece ter sido o termo central da última campa-nha presidencial. No Espírito Santo, o candidato Aécio Neves levou a maioria dos votos do segundo turno (53,85%) contra os 46,15% de Dilma.

O deputado estadual e candi-dato a governador, Roberto Carlos (PT-ES) destacou o grande palan-que capixaba contrário à reeleição da presidente Dilma no estado. Por isso, considera a campanha vitorio-sa, apesar do resultado final. “As principais lideranças políticas capi-xabas estavam ao lado de Aécio Ne-ves e mesmo assim quase metade votou na Dilma”, declarou. De lado contrário, aparece o senador e co-ordenador da campanha de Aécio Neves no Espírito Santo, Ricardo Ferraço (PMDB-ES). Ao analisar o resultado das eleições por aqui Fer-raço destacou, por exemplo, que o cenário da derrota local de Dilma se deve ao sentimento de “insatisfa-ção” dos capixabas com relação ao governo federal.

É certo que o Espírito Santo pre-cisa de mais atenção por parte do Governo. Prova disso é o aeroporto de Vitória: frequentemente aponta-do pelos capixabas como uma “ver-gonha nacional”, as obras estão paradas há sete anos, sob suspeita de superfaturamento. A presidente reeleita promete que essas obras serão retomadas em 2015, com con-clusão prevista para 2018. Quando questionado sobre isso, o deputa-

Roberto, pró, Ferraço, contra: d ivergências sobre o governo Di lma

do Roberto Carlos posicionou-se de maneira otimista: “acredito que a presidenta dará continuidade às obras do aeroporto e vai contemplar também outras obras importantes, como construção de ferrovias e me-lhorias rodoviárias. A presidenta é republicana e vai relacionar-se com todos os estados, independente de palanque eleitoral”, afirmou.

Quanto às pautas polêmicas e progressistas que agitaram as elei-ções (aborto, legalização da maco-

nha, reforma política e criminali-zação da homofobia), o deputado petista lembrou o grande apoio dos movimentos sociais organiza-dos à candidatura da presidente Dilma. “Foi fundamental a presen-ça dos movimentos sociais para reverter o quadro que era muito delicado aqui no estado”, analisou Roberto Carlos. “Ganhou a nossa pauta: de redução das desigualda-des, de reafirmação dos direitos das minorias.” No entanto, isso

Econom i a : dívida e papel dos bancos públicos

Foto: Tonico/ Ales

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Os interesses da juventude estão intrinsecamente ligados ao cenário socio-econômico, principalmente em duas áreas: educação e emprego. Os jovens mos-tram-se preocupados com a perda da ascensão social conquistada nos últimos anos, ao mesmo tempo em que dividem as opiniões sobre o futuro econômico do Brasil. Muitos estão temerosos a respeito da inflação, enquanto outros afirmam otimismo, visto que o Brasil tem oferecido qualificação e oportunidades aos jo-vens.

A articulação em movimentos sociais e coletivos e o fenômeno de enxamea-mento impulsionado pelas redes sociais garantem à juventude um papel central na mobilização política brasileira. A estudante de Medicina e militante do movi-mento Juventude Petista, Jéssica Jhin, mostrou estar engajada nas causas sociais e afirma sentir-se representada pelo PT. Mas nem por isso a cobrança ao governo será menor. Pelo contrário. Para o segundo mandato da presidente, Jéssica disse que espera “uma fase de mais investimentos e aprofundamento na qualidade do ensino. E há ainda o compromisso de melhorias para o Ensino Médio”, destacou.

J uventude : educação e emprego

Roberto, pró, Ferraço, contra: d ivergências sobre o governo Di lma

não garante tudo, afinal, é impossí-vel governar sozinho no Brasil.

“Apesar de uma presidenta pro-gressista, nosso Congresso é o mais conservador dos últimos tempos”, afirmou o deputado, ao lembrar a reeleição expressiva de Jair Bolso-naro (PP-RJ) e a redução do número de deputados petistas. Mesmo com esse quadro, Roberto Carlos se de-clara otimista em relação aos próxi-mos quatro anos e defende a ideia de que os movimentos sociais vão

seguir articulados mesmo depois da campanha eleitoral, o que tornará inevitáveis os avanços em torno de questões polêmicas.

A oposição já não parece tão otimista. O senador Ricardo Ferraço foi coordenador da campanha tuca-na no Espírito Santo. Ferraço alegou que seu apoio ao então candidato Aécio Neves foi “uma questão de identidade política”. Os dois já ha-viam trabalhado juntos nos cargos de senador e deputado federal. Ao

longo da campanha, Ferraço enfati-zou que diverge do Governo Federal e é contra a manutenção de aliança entre PMDB e PT em âmbito nacio-nal. O senador peemedebista consi-dera coerente a vitória de Aécio no estado e afirma que o resultado do segundo turno é “reflexo do desca-so com que os capixabas têm sido tratados pelo Governo Federal".

Ele mostrou, ainda, insatisfação com a atenção dada aos capixabas: "nosso estado tem ficado pratica-mente à margem dos investimentos federais", declarou. Essa margina-lização recai, novamente, sobre as questões de infraestrutura: “é pre-ciso desatar o nó da infraestrutura, um dos maiores gargalos da nossa economia, além de promover uma maior dinamização do nosso comér-cio externo e nossas relações inter-nacionais, comprometidas por inte-resses ideológicos”. As expectativas de Ferraço para o segundo mandato de Dilma Rousseff estão centradas em fiscalizar todas as ações do go-verno, "de forma a garantir que o Brasil retome o rumo do desenvol-vimento e da justiça social", enfati-zou. Ferraço destacou as preocupa-ções com o ajuste fiscal e equilíbrio das contas públicas que, segundo ele, estão ligados aos "graves pro-blemas econômicos que vivemos hoje, como o avanço da inflação e a estagnação da indústria”.

Foto: Pedro França / Agência Brasil

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Incertezas e reviravoltas nas eleições de 2014Tinha tudo para ser uma típica noite de

domingo: sem muitas novidades e a expectativa já pelo início de mais uma semana. Mas, naquele dia 27 de outubro a atenção da maior parte dos brasileiros estava voltada quase que única e exclu-sivamente para a apuração dos votos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Afinal, aquele domingo já não tinha sido um domingo qualquer — foi o domingo de ir às urnas escolher o novo presidente do país, e para eleitores de 13 estados (e mais o Distrito Federal) escolher também seu governa-dor.

Às 17h, a votação das eleições de 2014 já tinha sido encerrada na maioria dos estados, contudo o resultado da disputa presidencial só pôde ser di-vulgado a partir das 20h. Com a diferença de fuso horário entre Brasília e o estado do Acre, além da implantação do horário de verão, o resultado final só poderia ser liberado justamente com o fim da votação no território acreano. Com uma disputa polarizada, militantes e simpatizantes de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) tomaram conta das redes sociais e aguardavam o resultado com profunda apreensão. Clima de final de copa do mundo!

Após um dia turbulento e três meses de cam-panha eleitoral agressiva, desgastante e de forte reverberação na Internet — positiva ou negativa-mente, o ambiente criado pelas redes sociais teve grande protagonismo na difusão de informações sobre as candidaturas — a candidata à reeleição Dilma Rousseff recebeu a maior parte dos votos dos brasileiros e foi escolhida para continuar à frente do Palácio do Planalto por mais quatro anos. Impulsionada por uma votação expressiva nas regiões Norte, Nordeste e parte do Sudeste — vencendo nos grandes colégios eleitorais de Minas Gerais, berço político de Aécio, e Rio de Janeiro — Dilma conseguiu superar o adversário tucano e a partir de janeiro de 2015 se verá diante do desafio de novamente governar um país de uma complexa realidade.

Os debates acalorados foram, certamente, a marca dessa eleição. O clima nas redes sociais era de rivalidade, principalmente após a trágica morte do candidato Eduardo Campos (PSB). O fato de-sencadeou mudanças no cenário eleitoral, fazendo emergir um nome, até então, adormecido: Mari-na Silva. Relembre os principais fatos ocorridos nas eleições – e cujas consequências deverão influenciar na condução do novo governo. Dessa maneira, a reportagem da Primeira Mão recupera agora 5 fatos que marcaram também o pré, e pós, processo eleitoral deste ano.

Fotos: Divulgação

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A trajetória de Marina Silva na campanha eleitoral assumiu traços de uma montanha russa – subindo e des-cendo bruscamente. Marina passou, então, de vice a cabeça de chapa do PSB e logo tomou o segundo lugar do tucano na preferência dos eleitores. De 21% das intenções de voto logo nos dias seguintes à morte do então companheiro de chapa, Marina pulou para 34% das intenções no primeiro turno durante a última semana de agosto, segundo pesquisas realizadas pelo Datafolha. A ex-ministra do Meio Ambiente chegou a ficar tecnicamen-te empatada com Dilma em primeiro

No Espírito Santo, os candidatos-Renato Casagrande (PSB), Roberto Carlos (PT) e Paulo Hartung (PMDB) representavam os principais can-didatos à presidência da República Marina Silva, Dilma Rousseff e Aécio Neves, respectivamente, com palan-ques estaduais. Às vésperas do prazo final para a formalização de alianças, o PMDB do Espírito Santo decidiu se aliar ao PSDB e garantir um palanque exclusivo para o então candidato à presidência, Aécio Neves.

Casagrande garantiu apoio a Ma-rina Silva e tida como uma ameaça para a candidata Dilma Rousseff ainda no primeiro momento das eleições, a ex-senadora chegou a vir à capital capixaba selar apoio à campanha do candidato do PSB. Não obstante sua derrota e a de Marina logo no primei-ro turno, Casagrande, no segundo turno decidiu por apoiar Aécio Neves. Assim, sofreu uma terceira derrota se-guida no processo eleitoral.

Isolado politicamente, o PT teve que apostar em uma candidatura pró-pria e coube ao deputado estadual Roberto Carlos (que seria candidato natural à reeleição) cumprir com o objetivo de garantir palanque a Dilma. Espremido em meio a duas campa-nhas eleitorais de alta patente e sem apoios partidários (o PDT apesar de coligado com PT, apenas tinha como candidato majoritário João Coser ao senado), o petista ainda obteve 6%

Incertezas e reviravoltas nas eleições de 2014lugar no começo de setembro.

Acuada com a ameaça do “efeito Marina”, a candidata à reeleição Dilma Rousseff começou a revidar com uma série de ataques contra a ex-senadora. Como resultado, a candidata ao Planal-to pelo PSB só viu seu desempenho su-cumbir nas pesquisas. Alvo de ataques da petista e do tucano, Marina perdeu terreno e acabou superada por Aécio. Com a virada na reta final, o senador mineiro evitou um fiasco histórico para o PSDB. Fundado em 1988, o partido só saiu derrotado da disputa presidencial no primeiro turno em 1989 – na ocasião, o candidato tucano era Mário Covas.

Uma tragédia não anunciada pe-gou a todos de surpresa. No dia 13 de agosto de 2014, o candidato à presi-dência da república pelo PSB, Eduardo Campos, morreu aos 49 anos, quando a aeronave em que viajava caiu na ci-dade de Santos, litoral de São Paulo. A tragédia gerou uma série de incertezas na corrida eleitoral – até então em um cenário estável com Dilma na liderança, Aécio na segunda colocação e Eduardo buscando atingir os dois dígitos nas pesquisas eleitorais. Lideranças políti-cas começaram a analisar as mudanças que a tragédia provocaria no cenário político e o nome da então candidata a vice-presidente de Eduardo, Marina Sil-va, ganhou cada vez mais forma, mes-mo que não por unanimidade.

1Morte de Eduardo Campos

2Oscilações nas preferências entre os principais candidatos

3Arrumações no tabuleiro político capixaba

dos votos. Paulo Hartung foi eleito já em primeiro turno com 53,44% dos vo-tos, contra de 39,34% de Casagrande.

Candidatos a governador, Cami-la Valadão (PSOL) e Mauro Ribeiro (PCB), mesmo sem grande infraes-trutura financeira, foram os respon-sáveis por apresentar e defender os projetos políticos mais à esquerda de seus partidos.

4Da direita radical à esquerda tradicional

As eleições de 2014 com certeza foram das mais polêmicas da história. Nada menos que 11 candidatos dispu-taram a presidência da República. Da direita mais conservadora e radical à esquerda mais tradicional, os candi-datos pareciam representar os mais diversos tipos da sociedade brasilei-ra. Dos presidenciáveis coadjuvantes, Eduardo Jorge (PV), Luciana Genro (PSOL) e Levy Fidelix (PRTB) rouba-ram a cena, seja com Eduardo defen-dendo pautas mais polêmicas (como a legalização da maconha), Luciana se colocando como candidata defensora dos direitos das “minorias” ou Levy com seu discurso homofóbico.

5Clima de terceiro turno

Bastou o resultado da eleição presidencial para contrários ao atual governo irem às ruas de cidades bra-sileiras pedir o impeachment da presi-dente reeleita, Dilma Rousseff. Alguns grupos mais radicais até fizerem o pedido de intervenção militar. Os âni-mos estiveram aflorados ao longo dos meses de campanha e a eleição mais disputada dos últimos tempos pare-ceu não terminar com a apuração dos votos e a oficialização do vencedor.

Em São Paulo, o movimento le-vou às ruas não mais de 2,5 mil pes-soas, segundo a Polícia Militar. Já em Vitória, com faixas, cartazes e adesivos, cerca de 50 pessoas foram à Avenida Fernando Ferrari no dia 1º de novembro participar do movi-mento – que era nacional.

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Há mais de 50 anos, as mulheres vêm conquistando diversos direitos. A famosa “queima dos sutiãs” do movi-mento feminista da década de 60, que buscava a liberação das mulheres de uma estrutura de poder sexista, ain-da se manifesta de diversas maneiras nos dias atuais. Ao longo desses anos, a luta pelos direitos das mulheres ga-nhou vários contornos. As mulheres passaram a votar, ingressaram no mercado de trabalho, a pílula anticon-ceptional trouxe uma maior liberdade sexual, entre outras conquistas. Mas ainda hoje as mulheres sofrem opres-são cotidianamente e muitas buscam uma igualdade maior nas relações so-ciais, no respeito ao corpo, no salário ou na forma como suas atitudes são jul-gadas certas ou erradas. O movimen-to feminista hoje possui diversas ver-tentes, mas que convergem na busca pelos direitos igualitários da mulher.

Para entender como essa onda adentra os espaços da Universidade Federal do Espírito Santo, a revista Primeira Mão realizou uma pesquisa quantitativa com o objetivo de identi-ficar como as mulheres e os homens se comportam diante de situações corri-queiras do dia-a-dia, mas que podem dizer muito sobre o que realmente consideram feminismo ou machismo.

O universo pesquisado foram os estudantes do Centro de Artes. A es-colha se deu pelo interesse em saber como pensam os alunos que o senso comum aponta como o grupo mais liberal da Universidade. Outro moti-vo foram os recentes casos de ma-chismo envolvendo estudantes do Centro: degradação da imagem de uma aluna por não se enquadrar nos padrões de beleza, vazamento de um

vídeo de sexo e relato de estupro.

Entre os dias 14 e 19 de novem-bro, foram entrevistados 99 estu-dantes dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Audiovisual, Artes Vi-suais, Artes Plásticas, Desenho In-dustrial, Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Música, totalizando 5% dos universitários do Centro de Artes. A pesquisa entrevistou uma quantidade de homens e mulheres proporcional ao universo do Centro. Eles responderam a um questionário com 15 perguntas relacionadas ao fe-minismo e às funções e direitos dos gêneros em situações do cotidiano.

Algumas perguntas apresenta-ram resultados expressivos. Quando perguntados se acham que a Ufes é um ambiente machista, 23% das mu-lheres responderam que sim, 50% responderam “um pouco” e 27% dis-seram que não. No caso dos homens, o resultado foi um pouco diferente. Mais homens acreditam que a Ufes é um ambiente machista; 31% responde-ram que sim, 46% responderam “um pouco” e somente 20% disseram que não. Ao todo, conclui-se que 75% dos estudantes do Centro consideram a Ufes machista ou um pouco machista.

Já quando questionados se os ho-mens se consideram machistas e se as mulheres se consideram feministas, temos os seguintes resultados: 59% dos homens não se consideram ma-chistas, 41% se consideram um pouco, e nenhum deles se considera totalmen-te machista. No caso das mulheres, somente 13% se consideram totalmen-te feministas, 45% delas, um pouco, e 42% não se consideram feministas.

Foi colocado em pauta também a importância do movimento femi-

Visões contraditóriasPesquisa realizada com os alunos do Centro de Artes mostrou opiniões contraditórias sobre o feminismo e as funções e direitos dos gêneros

Jade Drummond, Mallena Arpini e Rodrigo Schereder

nista. Dentre os entrevistados que consideram o movimento importan-te, os homens foram maioria: 64% contra 52% das mulheres. As outras respostas indicaram que 38% das mu-lheres e 28% dos homens consideram o feminismo um pouco importante, e 10% das mulheres e 8% dos homens não veem importância no movimento.

Questões como “Quem deve pagar a conta do restaurante no pri-meiro encontro?” e “Quem deve pa-gar a conta do motel?” mostraram resultados parecidos. As respostas se dividiram entre “homens” e “am-bos”, com diferença de no máximo 6%. Nas perguntas: “Quem deve pe-dir o parceiro(a) em namoro / casa-mento?” e “Na hora de ficar, quem deve tomar a iniciativa?”, a diferen-ça entre as respostas “homens” e “ambos” foi um pouco maior, che-gando a 16%. Em nenhuma das qua-tro perguntas a mulher foi cogitada para assumir essas funções sozinha.

Ao serem questionados sobre sexo casual, os homens foram muito mais a favor do que as mulheres, que em sua maioria consideram “aceitá-vel”. Além dessa diferenciação entre as respostas dos homens e das mu-lheres, é possível observar que todos são mais a favor de homens terem relações sexuais sem compromisso do que mulheres. No total, 44% dos estudantes são a favor de mulheres fazerem sexo casual e 48% são a fa-vor de homens fazerem sexo casual.

A única questão que teve uma resposta unânime, tanto para ho-mens quanto para mulheres, foi: “Em caso de estupro, você acha que a mulher tem alguma parcela de cul-pa?”. Todos responderam que não.

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Para a professora de Comu-nicação Social e coordenadora do grupo Biscates (projeto de exten-são que discute a violência contra a mulher e produz material audio-visual), Gabriela Alves, a pesquisa mostrou um resultado contradi-tório. “Se você olha as respostas como um todo, acha o resultado equilibrado. Mas se parar para ana-lisar, vê muita coisa contraditória”, constata. Muitas mulheres aceitam o sexo casual, mas não aceitam pa-gar a conta do motel. “Por quê? A mulher não tem prazer também na relação sexual? Não existe proble-ma algum na mulher arcar com os gastos do casal. Por que tem que ser o homem? Por que ninguém co-gita que a mulh er pague sozinha?”.

Para Gabriela, o resultado geral mostrou que não existe um enten-dimento claro do que é o feminis-mo, mesmo que muitos acreditem que o movimento é importante e se identifiquem com alguns valores que ele prega. “Muitos imaginam que o feminismo é o oposto do machismo, e por essa lógica aca-bam interpretando-o como uma opressão também, o que não é. É justamente um questionamento a uma opressão. O feminismo prega que as relações de gêneros sejam mais igualitárias, do ponto de vista social, financeiro, etc. A proposta é questionar, refletir e reelaborar as práticas machistas”, explica.

A professora entende que o machismo do cotidiano muitas ve-zes não é percebido. “As práticas machistas estão enraizadas cultural-mente e são consideradas válidas. As pessoas questionam pouco es-sas normas de comportamento que estão instituídas socialmente e não compreendem o machismo como uma prática opressora. E, ainda, não percebem o feminismo como uma maneira de a gente repensar e criticar

essas posturas”, constata Gabriela.É esse não-entendimento, na

opinião da docente, que gerou um número pequeno de mulhe-res que se consideram totalmen-te feministas. Para ela, muitas acham que a feminista não pode se depilar ou se arrumar, porém não entendem que o feminismo não é uma estética, mas sim um questionamento das relações so-ciais. “Tem gente que compara o feminismo, que é uma luta impor-tante para repensar as relações de gênero, com o nazismo. Não existe, absolutamente, nenhum ponto em comum para que seja feita essa associação ou para que seja criado o apelido ‘feminazi’”.

Na opinião de Gabriela, a per-gunta que mais mostrou o conser-vadorismo dos estudantes, princi-palmente das mulheres, foi sobre

Um olhar crítico sobre a pesquisa

“Muitos imaginam que o feminismo

é o oposto do machismo, e por

essa lógica acabam interpretando-o

como uma opressão também,

o que não é. (...) A proposta é

questionar, refletir e reelaborar as práticas

machistas.” Gabriela Alves

o sexo casual. A maioria dos ho-mens é a favor e a maioria das mu-lheres acha aceitável, ou seja, elas condenam essa atitude de alguma forma. “A maneira como essas mu-lheres se veem é conservadora, de não vivenciar a sua sexualida-de e a sua autonomia sexual”, diz.

Sobre a unanimidade na res-posta de que a mulher não tem nenhuma parcela de culpa em caso do estupro, Gabriela diz que gostaria que as pessoas re-almente pensassem assim, mas na prática essa história de não culpar a vítima é diferente. “O recente relato de estupro en-volvendo estudantes do Centro de Artes, no qual vários defen-deram o homem agressor, mos-tra claramente que quando isso acontece na prática a posição das pessoas é outra”, conclui.

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CORPORAUma experiência entre a arte e ciência

Abordar a ciência e a arte, juntas, nas mesmas obras, compostas por xilogravu-ras de um fóssil imaginário. Essa é a pro-posta da artista plástica Mariana Reis na exposição Corpora, que em 14 de outubro, foi aberta na Galeria Homero Massena. Mariana começou a pensar na questão bio-lógica quando ainda estava cursando Artes Visuais e começou a ter interesse na forma e estética anatômica.

As xilogravuras (técnica de entalhar uma gravura em madeira, a transforman-do em uma espécie de carimbo) são resul-tados de dois desejos da artista: unir suas duas áreas de atuação, medicina veteriná-ria e artes plásticas, e fazer um trabalho que ocupasse a cidade. Antes mesmo de sua obra chegar à galeria, ela ganhou as ruas do centro de Vitória.

A intervenção realizada consistia em espalhar as imagens impressas dos animais imaginários que teriam vivido em Vitória,

dando novos significados para lugares abandonados. Tanto para essa intervenção quanto para a criação do fóssil que está na galeria, foi realizado um estudo sobre a fauna da região de Vitória.

Na exposição Corpora, a artista aborda apenas um animal. Uma criação realizada através da junção de outros animais. Vários corpos de animais dão origem a um único fóssil.

Porém, essa recombinação não é reali-zada de maneira aleatória. Antes de produ-zir as obras, ela realizou intensa pesquisa com o auxílio de profissionais como a bió-loga Lorena Tereza e o médico veterinário João Luiz Rosi, em um trabalho colabora-tivo.

A exposição, que permaneceu na gale-ria até o dia 13 de dezembro, contou com oito xilogravuras, duas esculturas e um ví-deo que mostra a criatura imaginada por Mariana.

Veronica Haacke

Foto: Veronica Haacke

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“Se fosse escolher entre um médico branco ou negro, com o mesmo currículo, a mesma forma-ção, escolheria o branco”. A afirma-ção do professor do Departamento de Economia da Ufes, Manuel Luis Malaguti, remete ao tempo em que as instituições de ensino superior do Brasil eram monocromáticas: a cor branca era a predominante entre os universitários e os tons pretos sumiam – quase num degradê – na pirâmide da invisibilidade social.

As colocações do professor chamaram a atenção de muita gen-te, quando no dia 3 de novembro, sustentou que a formação cultural de quem tem a pele negra é inferior à de um branco. O episodio aconte-ceu em uma aula para a turma do se-gundo período de Ciências Sociais, na disciplina de Introdução à Econo-mia Política, na Ufes.

“É uma dificuldade muito gran-de para você se livrar de conceitos e preconceitos que uma família desprivilegiada, sem acesso à cul-tura, sem acesso à literatura, sem acesso a outros idiomas e a meios de comunicação mais sofisticados. Obviamente essas famílias terão

mais dificuldades para enfrentar um curso universitário naquilo que ele se propõe”, afrimou o profesor em vídeo gravado pela GVT disponível no portal Gazeta Online.

O “caso Malaguti”, como ficou conhecido, abriu parêntese para uma série de questionamentos, en-tre os quais o papel da universidade na desconstrução do racismo. Para o estudante de Ciências Sociais, Lino Paixão, “a universidade é um espa-ço de encontro, onde os estudantes têm a oportunidade de construir, desconstruir e reformular pensa-mentos. E a mentalidade muda por conta dessa variedade de ideias que circulam. Além disso, proporciona o encontro com o engajamento sobre políticas raciais, com as questões do negro, com a brasilidade”.

O estudante de Cinema e Áudio Visual, Ronan Freitas, argumenta que o contato com o ambiente uni-versitário foi importante para o seu reconhecimento como negro: “A universidade é um espaço de cons-cientização, mas ao mesmo tempo, é um ambiente muito branco, eli-tizado. Este contato, muitas vezes conflituoso, foi essencial para minha

identificação com a negritude. A uni-versidade contribui, mas não como instituição, mas como local onde ocorrem as vivências e os confron-tos”.

Além disso, o episódio co-locou em evidência o que tem sido denominado de racismo institu-cional, cuja principal característica é manter ocultos os atos de pre-conceito racial numa instituição. Segundo um artigo publicado pelo Instituto da Mulher Negra, esta forma de racismo se manifesta por meio de normas, práticas e compor-tamentos discriminatórios adotados no cotidiano do trabalho. O concei-to foi definido pelos ativistas do gru-po Panteras Negras, em 1967, para especificar como se manifesta o ra-cismo nas estruturas de organização da sociedade e nas instituições.

Um relatório produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU), e publicado em 4 setembro deste ano, concluiu que o Brasil não pode ser chamado de democracia racial, por ser caracterizado por um “racismo institucional, em que hierarquias raciais são culturalmen-te aceitas”. O documento aponta

Mesmo com vários tons de pele circulando na Universidade, a discriminação racial ainda é muito frequente dentro da Ufes.

Por Ana De Angeli, Jéfica Teixeira e Patrícia Fernandes

universidade

em vários TonsA

Dayana Souza

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que a participação dos afrodescen-dentes na economia nacional é de apenas 20% do PIB, apesar de repre-sentarem mais da metade da popu-lação do Brasil. O desemprego é 50% maior entre os “afro-brasileiros” do que entre os descendentes de eu-ropeus, enquanto a média salarial entre os afrodescendentes é de US$ 466, quase metade dos US$ 860 dos descendentes de europeus.

As políticas de reserva de vagas nas universidades foram essenciais para colorir a cultura monocromá-tica da universidade. Além disso, se configurou como um importante elemento para mudar o cenário do racismo institucionalizado.

Em 1997, apenas 2,2% de pardos e 1,8% de negros, entre 18 e 24 anos, cursavam ou tinham concluído um curso de graduação no Brasil. Após algumas instituições de ensino supe-rior aderirem a sistemas de cotas, os números começaram a apresentar melhoras. Subiu para 11% a porcenta-gem de pardos que cursam ou con-cluíram um curso superior no Brasil; e para 8,8% de negros. Os números são do Ministério da Educação (MEC), em levantamento de 2013.

Contudo, ainda é evidente a de-sigualdade racial dentro das universi-dades. Segundo análise do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) feita com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) em 2012, enquanto 66,6% do total de estudantes brancos de 18 a 24 anos frequentavam o ensino su-perior, 37,4% dos estudantes pretos ou pardos estavam no mesmo nível.

A Ufes, por seu vez, adotou o sistema de cotas sociais em 2007. Por meio da medida, 40% das va-gas eram reservados para alunos de escolas públicas com renda até sete salários mínimos. Em 2011 foi implementado o sistema que cotas raciais, que destina 50% das vagas para negros, pardos e índios.

A professora de Antropologia do Departamento de Ciências So-ciais, Andrea Bayerl Mongim, conta o que mudou pra ela com a entrada de alunos cotistas: “para uma aula de Antropologia é ótimo, a discus-são fica mais rica. Antes, a gente fa-lava de favela para alunos que nunca estiveram lá e agora que temos alunos dessas regiões a discussão fica muito mais rica, saímos do imaginário.”

É inegável que o aumento do número de negros e pardos na Uni-versidade induziu transformações de ordem cultural, pedagógica e psicológica, contribuindo para des-construir no imaginário coletivo a ideia de supremacia racial branca versus subordinação. Entretanto,

para vários movimentos, é necessá-ria a implementação de outras polí-ticas, além das cotas, para que essa mudança se consolide.

As leis 10.639/03 e 11.645/10 pre-tendem regulamentar o ensino da História e da Cultura Afro-brasilei-ra, Africana e Indígena no sistema educacional Brasileiro. E foi com esse objetivo que surgiu, em 2012, o Coletivo Negrada, que é forma-do por estudantes, professores e ex-estudantes da Ufes. O Coletivo luta pela implementação das Leis na formação superior e quer também aumentar o debate sobre o racismo na Universidade. No início do ano de 2013, o grupo organizou o primeiro seminário de combate ao racismo, tendo tema “Por uma Universidade antirracista”.

Mirt’s Sants, aluna do curso de Letras e membro-fundadora do Co-letivo Negrada, disse que o tema incomodou alguns professores e servidores da Ufes. “Muitos acredi-tavam que aqui dentro não existia racismo e agora tem o caso do Ma-lagutti. Nós, negros, sabemos que existe racismo 24h por dia e todos os dias dentro dessa Universidade, mas o caso serviu para alertar e sen-sibilizar as pessoas que afirmam não existir o racismo dentro da UFES”, afirma.

Manifestação contra o racismo, realizada por estudantes da Ufes em novembro

Jéfica Teixeira

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Divulgação

Minha República, Minha Vida

Com muitos jovens saindo de casa para estudar e começar uma vida longe dos pais, vem a responsabilidade de morar sozinho, ou melhor, acompanhado. As repúblicas, que foram notabilizadas

pela bagunça, agora dão exemplo de que podem ser organizadas, funcionais e até bonitas.

Dividir um espaço com uma pessoa diferen-te de você pode trazer alguns probleminhas na hora da decoração, além de ficar mais difícil organizar as coisas de um jeito que não fique apertado ou bagunçado. Mas saiba que dá para adequar o estilo de todo mundo no cantinho temporário.

A aluna do curso de Música, Rayanne Carra-ra, conta que divide o apê com mais duas me-ninas com estilos completamente diferentes. “Nós nos damos superbem, mas às vezes é di-fícil adequar o gosto de todo mundo na casa”, confessou. O apê da Ray tem dois quartos mui-to pequenos. Ela divide um deles com a Carol,

aluna do Curso de Nutrição. “A nossa casa, na verdade, nem tem decoração. Não temos tem-po e muito menos dinheiro; sabe como é vida de estudante, né?”, lamenta.

Não é porque uma casa é pequena que não se pode decorá-la com um jeito moderno, leve e bonito. Em ambientes assim, é possível investir em alguns recursos que dão a sensação de amplitude e também optar por um mobiliário compacto, pre-servando sempre a boa circulação entre as peças.

Em consultas a blogs de design de interio-res é possível achar muitas dicas. Separamos algumas para você que quer gastar pouco na hora de decorar.

ELICE SENA

Use a criatividade! Para quem tem pouco espaço, qualquer cantinho tem valor. O que faz a diferença nessa hora é a criatividade e a capacidade de improvisar

Prateleira e organizadores: são o jeito mais fácil de multiplicar sua área disponível. Servem para guardar suas

coisas e colocar um objeto especial em evidência

Organize-se! Já percebeu como cabem muito mais objetos em uma estante quando tudo está em ordem? Perdendo um pouco de tempo com organização, você ganha em espaço extra

Espelho, espelho meu... O espelho é um artigo curinga na decoração. Para ampliar a percepção da largura do local, fixe grandes espelhos na parede, na horizontal

Pintando... A regra é: quanto mais claros os tons usados, maior é a sensação de amplitude. Também vale escolher cores mais frias

Imagens: Pinterest

Brun

a Vi

eira

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Divulgação

A busca pelo corpo perfeito virou uma ob-sessão. A mídia, e a própria sociedade, nos impõe padrões de beleza o tempo inteiro. No entanto, os padrões de beleza são mutáveis, é só dar uma olhada no passado. O que era belo em outras épocas não se considera belo nos dias de hoje e o belo de hoje também não será o belo de amanhã. Por isso, a prática de exercícios deve estar em primeiro lugar ligada à questão principal: a nossa saúde.

A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) oferece serviço de academia em horários variados. O Núcleo de Pesquisa e Extensão em Ciências do Movimento Corporal (Nupem) atual-mente possui programa de extensão registrado na PROEX/UFES que oferece serviços de avalia-ção cardiológica e aptidão física, bem como prá-ticas corporais de condicionamento aeróbico e muscular.

Segundo o coordenador do Nupem, André Leopoldo a academia oferece duas modalidades: a ginástica e a musculação. Na musculação são oferecidos quatro tipos de treinos que são pres-critos aos alunos da academia: adaptação, hiper-trofia, força e resistência muscular.

Com capacidade para 200 frequentadores, a academia atende aos servidores, alunos e comu-nidade, porém a maioria dos matriculados são alunos da universidade. Além de oferecer mui-tas vantagens à mensalidade é barata, no valor de R$: 30,00 mensais. A matrícula é obrigatoria-mente realizada na secretaria do Nupem, de for-ma presencial, para saber quando as vagas estão abertas, fique atendo aos cartazes que são afixa-dos nos Centros da UFES, além da divulgação por meio de redes sociais do Centro de Educação Físi-ca e Desportos (CEFD) e Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Cidadania (Proaeci).

Anualmente, a Nupem disponibiliza va-gas gratuitas que são distribuídas através de sorteios, para alunos da Educação Física, para estudantes cadastrados na Proaeci e mantém, também, uma lista de espera.

Antes do início dos exercícios, o aluno passa por uma avaliação física e médica e durante a prática de exercícios tem acom-panhamento de um profissional da Educa-ção Física para auxílio nos exercícios.

“Os principais benefícios da prática de atividade física estão relacionados com a saúde, tais como: melhora do perfil lipídico e glicêmico, bem como elevação do condi-cionamento cardiorrespiratório. A prática de atividade física também proporciona alguns benefícios auxiliares, entre eles: melhora do estado psicológico associado às sensações de bem-estar, redução da an-siedade e depressão. Além disso, auxilia no combate a diversas morbidades: obesida-de, hipertensão, diabetes e dislipidemias”, pontuou o coordenador André Leopoldo. Fique sempre atento com a saúde. Saúde não é ausência de doença é bem estar físi-co, psíquico e social. Fu

ja d

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Hyasmin Nascimento

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Os micareteiros de plantão terão de viajar para a Bahia no próximo ano, caso queiram curtir o maior evento de música: o Planeta Guarapa, antes realizado no Espirito Santo

O Planeta Guarapa, antes sediado na cidade de Guarapari, terá sua edição de 2015 realizada em Porto Seguro, cidade famosa por suas praias e atrações durante o verão. Fundado em 2010, o evento surgiu durante o Congresso Nacional dos Estudantes de Comunicação, Ciências Contábeis, Administração, Direito e Economia (Conecades), que reúne milhares de jovens de todo o Brasil para três dias de palestras, eventos e muita festa. De acordo com o idealizador do evento, Victor Baião, a iniciativa de mudar o local do evento se deu devido à proporção que o festival ganhou. “O Planeta já tem 12 anos de história e a cidade

de Porto Seguro tem uma infraestrutura melhor e um complexo hoteleiro maior para acolher os nossos clientes”, afirmou Baião.

O evento, que agora passa a se chamar Planeta Porto, muda de lugar, mas não de qualidade. De acordo com a organização, o festivalcontará com a “Vila Vem”, complexo hoteleiro formado por 10 vilas, que terá uma capacidade de hospedagem para 3.500 pessoas. As vilas serão compostas por pequenos flats, equipados com cozinhas, salas e suítes completas.

Quanto à fidelidade do

Grandes eventos do ES vão ficar só na saudade

Luíza Mayra e Rhaissa Afonso

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público, Victor acredita que haverá uma renovação natural por se tratar de um outro local. “O público fiel continua sendo os universitários, mas acreditamos que haverá uma alteração normal, dentro do esperado, pois em Guarapari tínhamos a força da Grande Vitória, que, por ser bem próxima da cidade, facilitava a ida ao evento.Com a alteração temos o objetivo de crescer ainda mais a ideia de viagem para o festival, e com isso,torná-lode nível nacional”, declarou.

“A mudança foi ótima. Como já fui a Porto Seguro, sei o que a cidade pode oferecer a um evento como este, de universitários. Eu espero que não mude muita coisa do que já vem sendo feito, muitas festas. Acho que o evento vai aumentar de tamanho, ou seja, mais congressistas vão no ano que vem. Porto Seguro é uma cidade que tem muito mais a proporcionar do que Guarapari, principalmente no quesito de hotéis e pousadas, e issoacrescenta muito”, disse o estudante de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Hafelli Rezende, frequentador do evento há 3três anos. O novo Planeta Porto será entre os dias 18 e 20 de abril de 2015. Dentre as atrações já confirmadas, está a banda O Rappa.

Este não é o único evento a deixar o Estado. Grandes produções como o Espírito Elétrico, Vitória Folia e o extinto Vital são exemplos de festivais que fizeram sucesso, e atraíram um grande público, mas que hoje são apenas lembranças. Uma explicação para isso, segundo o produtor de eventos, Cícero Ribeiro, responsável por trazer para o Estado grandes nomes como Ivete Sangaloe o cantor Thiaguinho, seria uma renovação natural. “Os famosos eventos estão sendo substituídos por outros novos, isso é normal. No show bussines, assim como em qualquer outro setor, a renovação é importante. Mesmo que sejam os mesmos artistas é importante que mude os formatos de suas festas e apresentações”.

E o Estado vem inovando. Um exemplo disso foi o inesperado show do ex Beattle Paul Mccartney, na cidade de Cariacica, no último dia 10 de novembro (Confira mais informações sobre este assunto nas páginas 4 e 5) E a programação de eventos internacionais não pretende parar por ai. Com o sucesso advindo

do show do Paul McCartney, outros nomes importantes da música internacional já estão sendo cogitados para agitar o Espírito Santo no ano de 2015, dentre eles está a banda de rock inglesa, Rolling Stones.

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A construção de narrativas é parte funda-mental na transmissão de uma ideia ou pensa-mento para seu público-alvo. Obras que fazem parte de grandes áreas de estudo da cultura, como o cinema, música e literatura se estrutu-ram em torno de uma base narrativa idealiza-da por seus autores e podem ser exploradas e analisadas conforme o desencadeamento da história que apresentam. Entretanto, restrin-gir os estudos a esses campos mais tradicio-nais pode deixar de fora potenciais objetos de pesquisa que, na atualidade, já atingem boa parte da população mundial: é o caso do ga-mes digitais.

Numa primeira impressão, o game studies (ludologia, no português) pode não parecer apropriado ao desenvolvimento de teorias: geralmente, os jogos digitais estão associados a momentos de descontração, quando você se desliga do mundo real para se perder na fanta-sia de um produto construído apenas para o lazer. Porém, o que muitos não veem é a carga de conteúdo e significado que até mesmo os jogos mais simples graficamente podem pro-porcionar ao jogador.

P R E S S S T A R TApesar de parecer uma área nova e pouco explorada, o estudo do jogo (não necessa-riamente videogames) é desenvolvido desde a década de 1930. No livro Homo Ludens, do holandês Johan Huizinga, definia a atividade lúdica como uma prática humana básica que ajuda a definir a sua cultura. Brincadeiras e jo-gos surgem sempre adaptados ao tempo e à sociedade, como os famosos jogos de tabulei-ro Monopoly e Scrabble.

Em 1970, começaram a surgir os primei-ros consoles de videogame e respectivos jo-gos bem básicos, como o aparelho Magnavox Odyssey e seus jogos de ping-pong, tênis de mesa e outros esportes. É na década de 1980 que a criação da narrativa dos jogos começa a se desenvolver, ainda que de forma a acom-panhar a tecnologia da época, com a inserção de elementos artísticos como músicas, cutsce-nes e uma história mais complexa, na qual o personagem passa a ter objetivos e motivação para realizar as ações. O jogo “Donkey Kong” (1981) desenvolvido pela Nintendo é o primei-ro a apresentar uma proposta narrativa: o go-rila rapta uma princesa e o personagem princi-pal precisa salvá-la enquanto desvia dos barris que são jogados contra ele.

Apesar de parecer simples, a ideia da es-truturação de uma narrativa em jogos é uma verdadeira batalha entre duas correntes: os narrativistas e os ludologistas. Os primeiros defendem que os estudos de games devem tomar como base a narrativa que o jogo traz, enquanto que para os ludologistas a análise colocaria a narrativa em segundo plano e elen-caria como mais importantes as característi-cas dos games: plataforma utilizada, interação com o jogador, entre outras.

A narrativa dos gamesOs jogos também contam estórias e despertam o interesse dos pesquisadores

Johanna Honorato

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C H O O S E Y O U R S T O R YÉ inegável que os games incorporaram, e ain-da incorporam, aspectos da pintura, literatu-ra, música, cinema e da arte em geral, enquan-to utilizam tecnologias disponíveis para atingir seus propósitos. O visual, enredo, trilha sonora e jogabilidade buscam cada vez mais imitar a realidade, como no caso do “Assassin’s Creed Unity”, no qual os desenvolvedores recriaram a cidade de Paris de forma inteiramente digi-tal, permitindo que o jogador explore e entre em cada prédio.

A ideia de narrativa também não fica fora disso e os jogos estruturaram histórias com passagens de tempos, cutscenes, imersão do

jogador e a trama em si. A diferença entre eles e os outros produtos midiáticos, como filmes e livros, seria a maior participação do jogador no game, que depende dessa relação para que o desenrolar da história possa ser possível.

Dentro do universo de games, a narrativa pode tomar dois caminhos principais: o Jogo Narrativo, no qual os elementos narrativos são subordinados às ações do jogador, com regras claras de vitória e derrota (ex: GTA, Saints Row e Infamous); e a História Jogável, na qual as interações com o mundo do jogo são definidas pelas escolhas do jogador durante o gameplay (ex: The Walking Dead Game, Stanley Parable e o clássico Façade). Esses conceitos foram criados pela estudiosa Marie-Laure Ryan e são os primeiros passos para uma compreensão sobre como criar uma narrativa dentro de um objeto tão complexo.

“Donkey Kong (1981), por Nintendo

Paris no jogo “Assassin’s Creed Unity”, por Ubisoft Montreal

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P L A Y E R SAcadêmicos e pesquisadores de várias partes do mundo se voltaram para essa área e um acervo de publicações vem sendo construído. O site gamestudies.org é um periódico digital internacional de games para computador que publica em suas edições artigos científicos e é referência na comunidade acadêmica. No Ca-nadá, o Núcleo de Pesquisa GRAND (Graphics, Animation and New Media) tem como uma de suas linhas de pesquisa o GamSim - Games and Interactive Simulations - que busca com-preender os games pelo desenvolvimento tec-nológico, educação e aplicações.

A brasileira Sâmia Pedraça, mestranda em Humanidades Digitais pela Universidade de Al-berta, no Canadá, iniciou seu projeto de mes-trado em 2013 e tomou como objeto de pes-quisa a trilogia Mass Effect. Desenvolvido pela BioWare, o jogo é um RPG eletrônico no qual o jogador assume o controle de um coman-dante espacial chamado Shepard, que realiza missões de exploração na galáxia.

A tese de Sâmia busca analisar como o jogo estrutura sua narrativa com o desenrolar da história, e qual a relação que o jogador tem ao participar disso; busca entender quais os

ideais que o jogo transmite e como isso per-passa a linha narrativa desenhada por seus de-senvolvedores. Para isso, ela analisa as Quests de Lealdade - missões nas quais você pode ou não ganhar a confiança de outros persona-gens, que, futuramente, poderão ser úteis em sua jornada. Temas como política, ética e re-lacionamento social são abordados em forma de diálogos, que têm influência na trama e no próprio jogador.

Entretanto, a possibilidade de análise não se restringe ao âmbito da linguagem e da nar-rativa. Tomando o Mass Effect como um tipo de “simulação social”, Sâmia coloca outras questões, que não fazem parte da sua pesqui-sa atual, mas que podem dar luz a outros estu-dos, como a influência da narrativa na vida real dos jogadores. Como o jogador se posiciona diante de certas situações na “vida virtual” e suas diferenças ou semelhanças “com a vida real”? O que ele sente ao estar diante do que é proposto ali? A imersão leva em conta toda a carga cultural do indivíduo?, indaga.

Comandante Shepard (Mass Effect 3), por BioWare

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Never Alone (Kisima Ingitchuna)Este game conta a história de Nuna, uma pequena me-nina Iñupiat, e sua raposa do Ártico Fox, que saem em busca da origem de uma terrível tempestade de neve que ameça sua aldeia. Primeiro game desenvolvido com colaboração do povo Iñupiat, nativo do Alasca. No estilo puzzle-plataforma, você se aventura pelos am-bientes enquanto tudo é narrado por um mestre conta-dor de histórias, na linguagem nativa Iñupiat.

Child of LightNo ano de 1895, a jovem princesa Aurora da Áustria acorda no mundo mágico e fantástico de Lemuria, no qual tem que lutar com monstros e interagir com ou-tros personagens na tentativa de recuperar o sol, a lua e as estrelas. Em um clássico RPG em turnos, Aurora ganha compa-nheiros que a ajudam em suas batalhas, além da pre-sença de seu melhor amigo Igniculus. Todas as falas e narrativas são escritas em forma de poesia e o traço dos cenários e personagens é ponto forte.

Brothers: A Tale of Two Sons

Dois irmãos saem em busca de uma cura para seu pai e superam juntos uma série de obstáculos em seus cami-nhos em direção à Árvore da Vida. Com um belo visual e uma história nada infantil, o jogo é marcado pelo fato de os dois personagens serem controlados simultaneamente pelo jogador: um co-op “sozinho”. A progressão do jogo é linear e a história, infelizmente, possui um único final. :(

Neverending NightmaresEste jogo de horror com traço a mão coloca o jogador na posição de um personagem que acorda eternamente dentro de pesadelos, sendo inspirado no transtorno obssessivo-compulsivo e na depressão que o criador sen-tia na época.Em setembro de 2013, uma campanha do Kickstarter conseguiu angariar fundos para o desenvolvimento do jogo.

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Aprovados pela comissão do Inep/MEC, os cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda da Ufes poderão voltar em breve a rea-lizar vestibular. Após visitas de ava-liação in loco realizadas nos cursos de jornalismo - 26 a 29 de novem-bro-, e no de Publicidade - 11 a 13 de dezembro-, os cursos obtiveram nota 4 - “muito bom” - numa escala que vai até 5.

Agora, a Ufes aguardada a pu-blicação de portaria ministro da Educação reabrindo as vagas para seleção e ingresso de novos alunos. Ainda não há data prevista para pu-blicação da autorização. Técnicos da Ufes estimam que pode demorara até três meses. A Ufes estuda a pos-sibilidade de abrir uma seleção espe-cial no meio do ano de 2015.

Em dezembro de 2013, a Ufes teve que fechar as vagas dos dois cursos, o de jornalismo com 38 anos de existência e o de Publicidade com 35. O fechamento aconteceu após a divulgação do Conceito Preliminar de Cursos (CPC) de 2012, estabeleci-do por meio de avaliação realizada pelo Ministério da Educação. O CPC é um indicador prévio da situação

dos cursos de graduação no país. A avaliação leva em conta o desempe-nho de estudantes no Exame Nacio-nal de Desempenho dos Estudantes (ENADE), com peso de 70%, além de infraestrutura e instalações, recur-sos didático-pedagógicos e corpo docente dos cursos das universida-des e faculdades.

O vestibular para as duas habili-tações foi suspenso porque além de terem ficado no patamar insatisfa-tório, ainda apresentaram conceitos em declínio em duas avaliação segui-das. O CPC de Jornalismo em 2009 foi 1,498, caindo para 1,460 em 2012 (conceito 2); e o de Publicidade foi de 1,636, caindo para 1,371 (concei-to 2). A escala varia de 1 a 5, e para o MEC é insatisfatório o curso com conceito abaixo de 3.

Há um ano, o cancelamento do vestibular mudou completamente as expectativas dos estudantes. De-pois do fechamento das vagas, os alunos que optaram por Jornalismo ou Publicidade tiveram que escolher outro curso no processo seletivo para ingresso em 2014. Caso não op-tassem por isso, poderiam solicitar a devolução da taxa de inscrição no

valor de R$ 60,00. Letícia Miranda, 19, está no

primeiro período de Cinema e Au-diovisual da Ufes, mas se preparou durante todo o ano de 2013 para cursar Jornalismo. “Estudei bastan-te, participei de aulas extras e segui planos de estudos. Escolhi o curso no segundo ano, pesquisando sobre o que me interessava, e Jornalismo me chamou mais atenção na época, pela afinidade com histórias e pesso-as”, disse. Ela soube através de um amigo que também prestaria vesti-bular para Jornalismo que a habilita-ção tinha sido cancelada e que eles poderiam optar por outro curso.

Além de estudar Cinema e Au-diovisual, Letícia está no segundo período de Jornalismo em uma fa-culdade particular, mas não des-carta a vontade de se formar neste curso na Ufes, e ainda aguarda a rea-bertura das vagas.

Já Isabella Bellumat, 19, havia decidido fazer Jornalismo desde o primeiro ano do ensino médio. Ela se preparou por três anos para a prova e ficou chocada ao saber do cance-lamento. “Nunca quis fazer a gradu-ação numa instituição privada. Eu já

Gustavo FerreiraRodrigo Schereder

VAGAS DEVOLVIDAS

Comissão do MEC aprova cursos de Jornalismo e Publicidade da Ufes. Vestibular pode ser autorizado a qualquer momento

Foto: Gustavo Ferreira

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estudava naquela época em escola particular e não queria gerar mais gastos aos meus pais, além de ser meu sonho passar na Ufes”. Acon-selhada pela tia, optou por prestar vestibular para outro curso, pois po-deria, depois de passar, fazer reop-ção para outra graduação. Isabela escolheu Ciências Sociais por achar mais próximo ideologicamente. Sa-bendo da possibilidade de abertura de escopo no curso de Comunica-ção, faz três matérias de Jornalis-mo e outras cinco em CSO. Mesmo gostando do curso em que está, ela sonha em trabalhar numa redação jornalística, e vai continuar fazendo as matérias do curso.

O professor e coordenador Co-legiado do Curso de Comunicação Social, Rafael Paes, diz que a expec-tativa é de que imediatamente após as visitas de avaliação in loco dos cursos, a autorização para a realiza-ção do vestibular seja liberada.

Durante as visitas de avaliação, dois professores especialistas na área de Jornalismo e dois professo-res da área de Publicidade e Propa-ganda, enviados pelo Ministério da Educação conferiram as instalações da Universidade, analisaram aspec-tos pedagógicos da graduação, veri-ficaram a qualidade do corpo docen-te, além de terem se reunido com os dirigentes da Ufes, com a coordena-ção do curso, com os professores, e de terem ouvido os alunos.

O coordenador dos cursos, Ra-fael Paes afirma que não faz sentido a suspensão do vestibular para os cursos, pois ficou demonstrado que têm plenas condições de funciona-mento. Outro fato que comprova as boas condições dos cursos foi a aprovação do funcionamento do mestrado de Comunicação no mes-mo mês em que a graduação perdia a sua autonomia.

De acordo com o coordenador, os mais prejudicados nisso tudo fo-ram os vestibulandos. “Para quem acredita na educação pública de qualidade, foi bem difícil lidar com essa situação, na qual os alunos do Espírito Santo precisaram desistir desses cursos ou procurar outra ins-tituição”, lamentou.

O boicote ao Enade realizado

pelos estudantes foi a principal ra-

zão dos conceitos baixos obtidos

pelos cursos de Jornalismo e de Pu-

blicidade. O boicote é decidido em

Assembleia Geral, convocada pelos

representantes do Centro Acadêmi-

co de Comunicação Social (Cacos).

A última assembleia, dedicada a de-

cidir sobre o boicote, foi realizada

em 2012. Recém formado em Jorna-

lismo pela Ufes, Ricardo Aiolfi, 25,

atuou como conselheiro da gestão

de 2012 do Cacos, e conta que boico-

tou a prova por não concordar com o

método de avaliação do exame, que,

para ele, desconsidera as característi-

cas regionais do curso.

“Uma avaliação de verdade,

deve ser a visita constante do MEC

às universidades, avaliando corpo

docente, em número e formação,

estrutura da universidade, estrutu-

ra de curso (câmeras, laboratórios,

equipamentos, etc), além de assis-

tência estudantil, livros na biblio-

teca, projetos de pesquisa e exten-

são”, disse.

Em 2015 o curso de Comunica-

ção Social realiza a prova do Ena-

de novamente. Questionada se o

Centro Acadêmico de Comunicação

(Cacos) irá optar pelo boicote, a

estudante Jéfica Teixeira, 21, atual

diretora de Comunicação da ges-

tão do Cacos, diz que o tema será

debatido com os alunos, mas que a

atitude deve ser evitada. “O Cacos

promoverá espaços de discussão

sobre a prova do Enade, explicando

melhor o que é o exame, com pon-

tos de vista diferentes para que os

estudantes possam formar sua opi-

nião sobre o assunto”, frisou ela.

Estudantes avaliarão boicote ao Enade

Isabella se preparou três anos e ficou chocada com a suspensão do curso de Jornalismo

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Enfim, fériasApós as adaptações no calendário acadêmico ocorridas devida a uma greve de professores em 2012, alunos da Ufes, finalmente, voltarão a ter o tempo de férias regular, com quase três meses

de recesso, o que levou muitos estudantes ao questionamento: o que fazer com tanto tempo fora da rotina universitária?

Texto e imagens: Tasso Gasparini

A greve nas universidades federais, que se deu em 2012, foi uma das mais longas paralisações já realizadas, estendendo-se por quase quatro meses e obtendo adesão de dezenas de instituições brasileiras. Após o término da greve, os calendários acadêmicos das instituições participantes precisaram passar por reformulações, a fim de compensar os dias letivos suspensos. Somente no segundo semestre de 2014 essas instituições conseguiram retornar à periodização regular, dando aos estudantes a oportunidade de vivenciarem os tão esperados três meses de férias, período longo para quem se acostumou com os recessos de um mês durante a adaptação do calendário.

O período letivo de 2014 terminou no dia 15 de dezembro, e o retorno às aulas em 2015 ocorre apenas no dia 02 de março, totalizando 76 dias de recesso. Essa é uma quantidade de dias maior do que a média em instituições de ensino fundamental e médio no Brasil. Além de descansar, muitos alunos optam por procurar atividades para serem desenvolvidas nesse intervalo de tempo.

Para os aventureiros

Para muitos, a primeira opção para o recesso são as viagens. O período livre de compromissos parece ideal para sair e conhecer novos lugares e entrar

em contato com novas culturas. Mas quem não se programou para uma grande viagem, pode aproveitar para curtir os vários encantos do Espírito Santo.

O Trem das Montanhas capixabas é uma opção para aqueles que buscam o charme das montanhas: o passeio tem início na cidade de Viana, passando por Domingos Martins, Marechal Floriano e o distrito de Araguaia. O trajeto de 46 quilômetros pela estrada de ferro que as duas duas cidades é interrompido por paradas em estacões de lugarejos agradáveis, onde é possível comprar doces e artesanatos típicos.

Quem deseja aproveitar o tempo livre para curtir o verão, tem nas praias capixabas uma boa pedida. A Praia da Costa e a Praia de Itapoã oferecem os prazeres do mar sem que seja preciso se afastar do centro urbano. Mas, para quem está disposto a pegar a estrada, a Praia de Setiba, em Guarapari oferece, em diferentes pontos, piscinas naturais e fortes ondas que atraem surfistas de todo o Brasil. Para quem busca agito, a Praia da Bacutia, também em Guarapari, conta com uma programação de festas e eventos que vai de janeiro a fevereiro.

Para quem quer relaxar

Se o seu objetivo é utilizar o tempo livre para buscar paz interior e autoconhecimento, uma visita ao Mosteiro Zen Morro da Vargem Zenkoji

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Separamos a localização dos lugares que citamos, para você não ter desculpa para não visitá-los.

Mosteiro Zen Morro da VargemRodovia BR-101, km 217 - Ibiraçu/ES.

Parque da ValeAvenida dos Expedicionários - Jardim Camburi, Carapina, Vitória - ES.

Praia de Setiba12km ao norte do centro de Guarapari, com acesso pela Rodovia do Sol.

Praia da BacutiaRodovia do Sol, em Nova Guarapari, a 7km ao sul do cen-tro de Guarapari.

Praia da SereiaRua Gastão Roubach, 360 - Praia da Costa, Vila Velha/ES.

Serviço

é imprescindível. Fundado em 1974, foi o primeiro mosteiro budista da América Latina, misturando a vivencia zen-budista com projetos de conservação da Mata Atlântica. Atualmente, ele abre para visitações aos domingos, das 8h às 13h, além de oferecer retiros para quem deseja experimentar por completo a rotina dos monges. Contudo, vale avisar que o Mosteiro fica fechado para visitação de 15 de dezembro a 17 de janeiro.

Os parques da Grande Vitória são a alternativa para os que desejam entrar em contato com a natureza sem precisar ir muito longe da capital. O Parque Botânico da Vale tem uma área de 33 hectares, com mais de 140 espécies de árvores preservadas. Ainda é possível aproveitar a visita ao parque e fazer um tour pela Vale. O parque também é palco dos mais diversos eventos culturais nos finais de semana.

Outra opção é dar um passeio pelo centro histórico de Vitória, que abriga alguns dos mais conhecidos pontos turísticos de Vitória, como a Catedral Metropolitana e o Palácio Anchieta. Apesar de fazerem parte da rotina do povo capixaba, nem sempre esses lugares são devidamente apreciados, graças à correria do dia-a-dia. Revisitar os locais do ES que passam despercebidos durante o ano pode ser uma boa opção para aqueles que procuram novas vivências sem precisar ir longe.

Para quem curte ficar em casa

Muita gente vai aproveitar o período sem aulas para tocar projetos pessoais ou acertar todas aquelas coisas que ficaram acumuladas durante os últimos anos. Desde redecorar a casa a ficar em dia com suas séries favoritas, o recesso é uma ótima oportunidade para colocar em primeiro plano tudo aquilo que foi preciso abrir mão devido à correria do ano letivo. Dar uma boa faxina na casa é uma ótima opção para descobrir os gargalos que ficaram do último semestre e resolvê-los antes que eles passem a influenciar o próximo. As famosas “to-do lists” ajudam a não se perder na organização durante as férias, o que é essencial para quem decidiu usar o tempo livre para colocar projetos antigos em prática.

Outra opção é utilizar o tempo livre para aprender coisas novas, ou aprimorar o que já sabe. Sites como o Coursera (www.coursera.org) oferecem diversas opções de cursos a distância gratuitos. Os cursos são elaborados por diversas instituições de ensino pelo mundo e as aulas podem ser visualizadas de acordo com as preferências do aluno. Ao final das atividades é ofertado um certificado de participação. Para os que preferem aulas presenciais, o Centro de Referência da Juventude oferece cursos e oficinas culturais em diversos bairros.

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“Eu pretendo tirar o atraso na leitura e trabalhar nuns jogos de tabuleiro que estou desenvolvendo, fazer umas fases de testes e complemen-tar o que for preciso”

(Willian Lopes, estudante de Ciência da Computação)

“Aproveitei uma promoção e vou fazer uma viagem de alguns dias para o Rio. Espe-ro também assistir a alguns filmes e colocar as séries que acompanho em dia”(Nelson Aloysio, estudante de

Jornalismo)

“Eu vou ler feito um doido todas as pilhas de livros que tenho me esperando Tam-bém quero me dedicar mais à academia para melhorar os resultados da musculação e assistir a vários filmes. Se eu conseguir, também ficarei muito feliz em não aparecer no Facebook nesses dias”

(Raphael Almeida, estudante de Psicologia)

“Dormir. Mas também preciso arrumar o meu quarto, e queria ir ao Yahoo antes de ele ser fechado. Além disso, eu pretendo saber o que é uma timpanoescamosa, limpar meu notebook, ir à praia e dormir mais um pouco”

(João Vitor Conceição, estudante de Odontologia)

“Eu quero aproveitar para andar mais de bicicleta no calçadão de Camburi, ler livros de entretenimento e colocar os seriados e filmes em dia”

(Cristiane Freitas, estudante de Biblioteconomia)

O que você planeja fazer nesses 76 dias de férias?

organizar a mente para tirar o melhor proveito das férias?Criar um calendário estipulando metas e prazos bem definidos para o período pode ser um instrumento eficaz para a otimização do tempo durante o recesso. É importante manter a disciplina durante as férias e não ir postergando as atividades planejadas.

A vontade de tocar novas atividades nas férias se mistura com o cansaço decorrente do ano. Como você acha que as pessoas podem equilibrar essas questões?Administrando o tempo de forma a dividi-lo entre o descanso e a iniciativa para novas atividades pode dar à pessoa, no fim de seu recesso, a sensação de um bom proveito das férias e contribuir para que ele retorne para as atividades com mais energia e entusiasmo.

É importante reservar um tempo para desenvolver planos e atividades pessoais?Sem dúvida as férias são um período importante para rea-lizações de planos e desejos que não podem ser efetivados por falta de oportunidade e tempo.

Nossa equipe procurou a Psicóloga Thais Medella, que deu dicas de como fazer com que as férias sejam o mais proveitosas possível para a mente e o bem-estar dos estudantes.

Qual a importância do período de recesso para o estudante?A rotina é fundamental na vida do sujeito, mas se ela ocorre de forma longa e ininterrupta pode gerar um desgaste e levar à pessoa ao estresse. O recesso é importante para reequilibrar as energias despendidas durante o período/processo de produção.

Qual seria uma boa forma de

ENTREVISTA:

Como aproveitar o melhor das fÈrias?

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Elice Sena As histórias que marcaram a infância de muitos estão

tomando novos rumos, mas sem perderem sua essência

Histórias Clássicas

ganham ação e aventura

em uma nova versão

Elas foram preservadas durante tantos anos que

chegaram até nós. As histórias clássicas sobrevivem até hoje e são perpetuadas nos filmes. Só que de uma maneira não tão convencional. Histórias como a de “João e Maria”, “Branca de Neve” e “Cinderela”, dos Irmãos Grimm, ganharam uma adaptação: deixam de lado suas características de conto de fa-das e adicionam mais ação e aventura, onde os humanos dão vida às personagens das fábulas infantis (live action).

A história original da mo-cinha que morde a maçã en-venenada por sua madrasta, é desmanchada no filme “Branca de Neve e O caçador”. O filme de 2012 revelou uma Branca de Neve que luta e usa armaduras, distinta da delicada mulher que busca refúgios entre os anões para depois ser beijada por um jovem salvador. O filme contém cenas de batalhas e persegui-ções, deixando para trás o lado encantador de Branca de Neve.

Em “Alice no país das maravi-lhas”, o diretor Tim Burton trou-xe uma estética comum em seus filmes, que apresentam elemen-tos macabros repaginados com feições simpáticas para o univer-so lúdico e complexo da obra de Lewis Carroll. Burton construiu um filme de sucesso, que ultrapas-sou a casa de US$ 1 bilhão de dó-lares em bilheteria e venceu dois Oscar: direção de arte e figurino.

E quem diria que a persona-gem principal de um conto de fadas seria a vilã? “Malévola” é uma obra de 1812 dos Irmãos Grimm, originalmente “Bela Adormecida”. A história é nar-rada a partir do ponto de vista de Malévola, a bruxa que enfei-tiça a princesa por meio de uma roca envenenada. “Malévola” também mostra o outro lado de uma bruxa, e mostra que os maus também têm sentimentos.

Nem mesmo uma das mais conhecidas histórias da Bíblia es-capou das super produções ame-ricanas. A história da arca de Noé também ganhou uma repaginada.

O QUE VEM POR AÍ - A re-leitura da vez é Cinderella. A gata borralheira que se transforma da noite pro dia ganha mais uma histó-ria diferente, já que a jo-vem foge um pouco dos padrões de princesas da Disney, andando de cavalo pela floresta; lugar que, até então, apenas os príncipes ocupavam. O filme estreia em março do ano que vem.

Fotos: Reprodução

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BIKEBOYS NO ESUm sonho se tornando real. É assim que o

sócio-proprietário da Pedivela, Rafael Darrouy, define o surgimento de sua empresa. “A ideia surgiu do meu sonho de colocar mais bicicletas nas ruas das cidades brasileiras, por meio da oferta de um serviço barato, ágil e não poluen-te.”, explica Rafael.

A Pedivela é uma empresa que realiza entre-gas de produtos de diversos segmentos utilizan-do apenas bicicletas como meio de locomoção. Há três meses, ela é pioneira no ramo no Espí-rito Santo, atendendo alguns bairros da Grande Vitória.

De acordo com Rafael, que além de sócio--proprietário também realiza entregas, as maio-res dificuldades encontradas são a falta de padronização na numeração dos imóveis e a agressividade dos motoristas, que reclamam da ocupação do espaço deles pelos ciclistas. Os motociclistas, ao contrário, têm sido gentis. Ou-tro fator positivo para os ciclistas é a melhoria de parte das ciclovias da região, mas boa parte é precária ou inexistentes em alguns trechos.

A empresa conta com oito pessoas, entre sócios, funcionários, gestores, colaboradores e entregadores, que atendem aproximadamente 10 pontos por dia, com bicicletas próprias e de funcionários e colaboradores.

Seguindo a ideologia de Muhammad Yunus, prêmio Nobel da Paz de 2006, conhecido como “o banqueiro dos pobres” e considerado o gran-

de mentor do microcrédito destinado aos des-favorecidos de Bangladesh, a Pedivela tem o objetivo social, ou seja, a empresa é projetada para contribuir com a qualidade do ar das cida-des e sua humanização. Ainda assim, Rafael diz que o retorno financeiro é satisfatório.

O nome Pedivela é inspirado em uma peça da bicicleta. “Achamos que o nome era forte e impactante, por isso a escolha.” conta Rafael, que também já projeta o crescimento da em-presa: “o próximo passo é expandir para toda a Grande Vitória e, posteriormente, para outros estados da federação.”.

A empresa tem cinco clientes fixos em seu cadastro e divulgou recentemente a oportunida-de de franquia, na qual 37 pessoas pelo Brasil afora sinalizaram interesse.

Um dos cinco clientes que utilizam de forma contínua os serviços da Pedivela é a Real Café, empresa presente no estado há mais de 40 anos. “Ficamos sabendo da Pedivela através de uma matéria exibida na televisão e também por meio de um amigo que me falou sobre ela”, conta Bruno Giestas, diretor comercial e de marketing da empresa.

Bruno explica que a Real Café leva uma determi-nada quantidade de produtos até a sede da Pedive-la e a distribuição é feita a partir de lá. Ele também fala sobre o custo-benefício do serviço: “fica mais caro, só que o efeito não é o mesmo. A ideia é ter um retorno sustentável”.

Rafael Darrouy

VIL RANGEL

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“Selfie” da turma do 6º período de Jornalismo

da Ufes

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40Criação do anúncio: Jéfica Teixeira . Fotografia: Gustavo Ferreira . Modelo: Elice Sena