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PRIMEIRA TURMA
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N~ 104.503 - PR
(Registro n~ 96.0016314-6)
Relator: O Sr. Ministro José de Jesus Filho
Agravante: Caixa Econômica Federal - CEF
Advogados: Drs. Manoel Moreira Filho e outros
Agravado: Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo de Ponta Grossa e Região
Advogados: Drs. Olindo de Oliveira e outro
EMENTA: Agravo regimental. Sindicato. Abertura de conta corrente. Negativa da Caixa Econômica Federal. A Caix.a Econômica Federal é parte legítima para integrar a relação processual por delegação de competência nos termos dos arts. 586 e 588 da C.L.T. e, em conseqüência disso, não pode recusar7se a abrir conta corrente de Sindicato, que já tem o código liberado pelo Ministério do Trabalho para o recebimento das contribuições sindicais. Agravo regimental a que se nega provimento.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:
Decide a Primeira 'furma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte inte-
grante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro José Delgado.
Custas, como de lei.
Brasília, 27 de agosto de 1996 (data do julgamento)..
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 55
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DE JESUS FILHO, Relator.
Publicado no DJ de 16-09-96.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ DE JESUS FILHO: Trata-se de agravo regimental manifestado pela Caixa Econômica Federal - CEF, contra decisão proferida por mim nestes termos:
"Trata-se de agravo de instrumento manifestado pela Caixa Econômica Federal - CEF, contra decisão que in admitiu recurso especial, no qual se discute a sua legitimidade para fornecer o código para recolhimento da contribuição sindical.
Correta a decisão agravada, razão pela qual a mantenho.
Pelo exposto, nego seguimento ao agravo com [mcas no artigo 38 da Lei 8.038/90 c/c o artigo 34, inciso XVIII do RI/STJ." (fls. 36)
Alega a Caixa Econômica Federal que a negativa de vigência ao art. 3~, do CPC, é patente, evidenciando os motivos que levaram a ora agravante a rebelar-se contra a decisão agravada.
É este o relatório que submeto à consideração de meus ilustres colegas.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ DE JESUS FILHO (Relator): A decisão
presidencial que in admitiu o recurso especial, e, que mantive, é do seguinte teor:
"Trata-se de recurso especial interposto com fulcro no artigo 105, III, a, da Constituição Federal contra acórdão de Turma desta Corte, o qual decidiu que tendo a Caixa Econômica Federal se negado a abrir a conta corrente, após liberado o número-código pelo Ministério do Trabalho, praticou ato ilegal e, por isso, deve ocupar o pólo passivo da relação processual.
Sustenta a CEF que o aresto atacado negou vigência ao artigo 3~ do Código de Processo Civil.
Diz que não tem legitimidade para figurar no pólo passivo do writ, pois sendo empresa pública, de direito privado, seus empregados não praticam ato administrativo, na acepção jurídica do termo.
O recurso não merece prosseguir.
A recorrente não conseguiu demonstrar a alegada negativa de vigência ao artigo 3~, do CPC.
Ao contrário, na verdade, o julgado aplicou corretamente tal dispositivo.
O Sindicato ora recorrido, estando devidamente constituído, registrado no Cartório de Títulos e Documentos competente e reconhecido pelo Ministério do Trabalho, requereu perante a CEF o fornecimento de código para recolhimento da contribuição sindical, em conta corrente denominada "Depósito da Arrecadação da Con-
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tribuição Sindical". A recorrente recusou-se a fornecer-lhe tal código. O ato impugnado deveria ter sido praticado em delegação do Poder Público, por força do que dispõem os artigos 586, 588 e 590 da CLT, os quais determinam que cabe à Caixa Econômica Federal administrar o produto da arrecadação da contribuição sindical. Tal função, sem dúvida, é de natureza pública, haja vista que cabe à União administrar tais valores, cuja índole é tributária e têm destinação constitucionalmente prevista.
Portanto, havendo recusa em executar a atividade pública, delegada por lei à CEF, deve ela figurar no pólo passivo da ação mandamental.
Dessarte, o recurso não atendeu ao requisito constitucional, pois,
como visto, não houve a alegada negativa de vigência ao referido dispo~itivo legal.
Em face do exposto, não admito o recurso especial." (fls. 22/23)
A recusa da Caixa Econômica Federal em proceder a abertura da conta corrente no caso em exame, não encontra ressonância nas disposições dos arts. 586 e 588 do diploma consolidado. Daí, a sua legitimidade para integrar a relação processual, por delegação de competência. Sendo assim, não pode recusar-se a abrir conta corrente do Sindicato, que já tem o código liberado pelo Ministério do Trabalho para o recebimento das contribuições sindicais.
Pelo exposto, nego provimento ao agravo.
É o meu voto.
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N2 105.332 - SP
(Registro n2 96.0017543-8)
Relator: O Sr. Ministro José de Jesus Filho Agravante: Nitratos Naturais do Chile Ltda.
Advogados: Drs. André Kesselring Dias Gonçalves e outros Agravada: Fazenda do Estado de São Paulo Advogados: Drs. Oscar Vilhena Vieira e outros
EMENTA: Agravo regimental.
É inadmissível na ação de repetição de indébito o julgamento antecipado da lide. Agravo regimental a que se nega provimento.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 57
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:
Decide a Primeira 'furma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e José Delgado.
Custas, como de lei.
Brasília, 22 de agosto de 1996 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DE JESUS FILHO, Relator.
Publicado no DJ de 16-09-96.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ DE JESUS FILHO: Trata-se de agravo regimental manifestado por Nitratos Naturais do Chile Ltda. contra decisão proferida por mim, na forma a saber:
"Trata-se de agravo de instrumento manifestado por Nitratos N aturais do Chile Ltda., contra decisão que inadmitiu recurso especial, no qual se discute negativa de vigência dos artigos 330, inciso I, 603, 608 e 609 todos do CPC.
Das normas indicadas como negadas pelo agravante, delas não cuidou o acórdão recorrido. Ausente, assim, o indispensável prequestionamento. Súmulas 282 e 356 do STF.
Pelo exposto, nego seguimento ao agravo com suporte no art. 38 da Lei 8.038/90 c/c o artigo 34, inciso XVIII do RI/STJ." (fls. 58)
Em suas razões afirma a agravante que as questões controvertidas a saber - julgamento antecipado da lide e processo de liquidação de sentença, foram devidamente ventiladas nas contra-razões de apelação, conforme se verifica da respectiva peça. Ouvida, manifestou-se a Fazenda estadual pelo não provimento do agravo.
É este o relatório que apresento à consideração de meus ilustres colegas.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ DE JESUS FILHO (Relator): Ao contrário do que assevera a agravante, o acórdão hostilizado se ateve a exata aplicação da lei ao reformar a sentença monocrática que decidiu a lide ao arrepio das normas processuais apontadas nás contra-razões, as quais não poderiam prevalecer, sob pena, aí sim, de se tornarem letras mortas. Daí o acerto do acórdão, verbis:
"É cediço que na ação de repetição de indébito é necessária a compro-
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vação dos recolhimentos indevidos para apreciação do pedido.
Assim, não poderia o MM. Juiz, ter proferido sentença, sem antes determinar a produção desta prova, pois tal conduta constitui verdadeiro cerceamento de defesa.
De acordo com o disposto no artigo 130 do Código de Processo Civil, cabe ao Juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo." (fls. 15/16)
Com relação ao processo de liquidação da sentença, sem razão, igualmente, a agravante, como bem demonstra o acórdão impugnado:
"Não há que se falar, também, em deixar o quantum devido para ser apurado posteriormente, através de liquidação de sentença.
A sentença deve conter todos os elementos necessários à sua execução, de modo que o vencedor possa obter a efetivação do direito que lhe foi reconhecido. Só cabe liquidação de sentença quando for impossível se apurar o quantum devido.
Assim, a nulidade da r. sentença é medida que se impõe, devendo o MM. Juiz determinar a expedição de ofícios, oportunamente requeridos, a fim de possibilitar, à autora, comprovar o direito que alega ter.
Face ao exposto, dá-se provimento ao recurso oficial para anular a r. sentença de fls. 70/72, prejudicado o apelo da Fazenda do Estado." (fls. 17)
Pelo exposto, nego provimento ao agravo.
É o meu voto.
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N~ 107.746 - SP
(Registro n~ 96.0023557-0)
Relator: O Sr. Ministro José de Jesus Filho Agravante: Fazenda do Estado de São Paulo Procuradores: Drs. Paris Piedade Junior e outros Agravada: Doralice Nascimento Scisci Advogados: Drs. Luis Antonio de Camargo e outro
EMENTA: Agravo regimental. Não serve para comprovar o dissídio jurisprudencial, com fundamento na alínea c, da permissão constitucional, julgados de Turma ou Seção que não tem mais competência para a matéria neles versada. Agravo regimental a que se nega provimento.
R. Sup. 'lTib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 59
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:
Decide a Primeira 'furma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e José Delgado.
Custas, como de lei.
Brasília, 22 de agosto de 1996 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DE JESUS FILHO, Relator.
Publicado no DJ de 16-09-96.
RELATÓRIO
o SR. MINISTRO JOSÉ DE JESUS FILHO: Trata-se de agravo regimental manifestado pela Fazenda do Estado de São Paulo, contra decisão proferida por mim à base das seguintes considerações:
"Trata-se de agravo de instrunlento manifestado pela Fazenda do Estado de São Paulo, contra decisão que inadmitiu recurso especial, no qual se discute a meação de mulher casada, por dívida contraída em benefício da família, cabendo à mulher o ônus da prova contrária.
Em princípio, o dissídio jurisprudencial estaria comprovado, se o julgado trazido a confronto não fosse da 3!! 'furma que perdeu a competência sobre a questão.
Pelo exposto, nego seguimento ao agravo com supedâneo no artigo 38 da Lei 8.038/90 c/c o artigo 34, inciso XVIII do RIISTJ." (fls. 39)
Alega' a Fazenda estadual que mesmo que se pretendesse dar uma maior amplitude à Súmula 158 do STJ, ainda assim, a decisão comportaria reforma, pois, como é induvidoso, a mesma refere-se exclusivamente à proposição de recurso de embargos de divergência, do que não se trata. A divergência no caso de recurso especial, pode ser com a interpretação dada por qualquer Tribunal. Assim, o fato de a 3!! 'furma ter perdido a competência não altera em nada a caracterização da divergência para fins da letra c em caso de recurso especial.
É este o relatório que apresento à consideração de meus ilustres colegas.
VOTO
O SR.' MINISTRO JOSÉ DE JESUS FILHO (Relator): Engana-se a Fazenda estadual em suas deduções. Com efeito, o dissídio jurisprudencial é um só. Tanto aquele previsto na hipótese da alínea c, inciso IIl, da Constituição Federal, como o outro inserido na Súmula 158. O princípio jurídico é o mesmo, uniformizar a jurisprudência. Sendo assim, não teria
60 R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997,
sentido inadmitir-se a divergência com acórdão de 'fu.rma ou Seção que perdeu a competência e admitir-se o recurso pelo fundamento da letra c em testilha com a orientação da Corte Especial. A toda evidência não serve para comprovar o dissídio pretoriano, com supedâneo na alínea c,
da permissão constitucional, julgados de 'fu.rma ou Seção que não tem mais competência para a matéria neles versada.
Pelo exposto, nego provimento ao agravo.
É o meu voto.
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N~ 116.808 - CE
(Registro n~ 96.0042011-4)
Relator: O Sr. Ministro José Delgado
Agravante: Banco Central do Brasil
Embargada: Maria Zuila Camurca Sampaio
Advogados: Drs. Roberto H. Yamashiro e outros, e lranildo Fernandes Sampaio e outro
EMENTA: Processual Civil. Banco Central. Liberação de cruzados. Agravo regimental.
1 - É de não se conhecer de agravo regimental fundado em aspectos jurídicos e de fato que não foram discutidos no âmbito da decisão recorrida.
2 - Pretensão do Banco Central em discutir, em sede de recurso especial, honorários advocatícios em causa relativa à liberação de cruzados, cujo recurso foi considerado prejudicado, face ter havido a liberação dos valores bloqueados em 15 de setembro de 1992, quando, no Tribunal a quo, essa matéria não foi objeto de decisão, sem embargos de declaração a respeito terem sido interpostos.
3 - Recurso manifestamente protelatório que atenta ao princípio da celeridade processual.
4 - Agravo regimental não conhecido.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 61
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira 'furma do Superior 'lhbunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do agravo regimental. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus Filho, Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Milton Luiz Pereira.
Brasília, 13 de dezembro 1996 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DELGADO, Relator.
Publicado no DJ de 10-03-97.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO: O Banco Central do Brasil interpõe o presente agravo regimental (fls. 57/67) contra despacho que negou provimento a agravo de instrumento, onde consta a pretensão de fazer subir recurso especial inadmitido na origem, contra acórdão assim ementado:
"Processual Civil. Liberação de cruzados novos. Legitimidade passiva do Banco Central e do banco depositário.
Sendo o Banco Central do Brasil a instituição que deve corrigir a ilegalidade impugnada, é parte le-
gitima para ocupar o pólo passivo da relação processual.
Agravo improvido."
O recurso especial interposto e não acolhido pelo Presidente do Tribunal a quo visa, unicamente, que seja recophecida a ilegitimidade passiva do Banco Central para figurar no pólo passivo da demanda.
A autarquia-embargante, conforme consta na petição respectiva, busca, tão-somente, discutir tema referente à condenação de honorários advocatícios. Afirma que, no particular, a jurisprudência não é tranqüila, invocando os precedentes seguintes:
"Processo Civil. Liberação de cruzados novos. Esvaziamento do objeto da causa. Sucumbência inexistente.
Se a demora da prestação jurisdicional e a ocorrência de fatos novos esvaziam o objeto da ação, não havendo parte perdedora nem desistente, não há como se cogitar de condenação nas verbas de sucumbência.
Recurso provido." (REsp n. 77.195, ReI. Min. Cesar Asfor Rocha, DJU de 4.3.96). Idem REsp ns. 70.736 e 59.204.
É o suficiente como relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator): O exame dos autos re-
62 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
vela que, em nenhum momento, houve discussão a respeito se eram devidos ou não honorários advocatícios, em razão de ter sido julgado prejudicado o recurso de apelação.
Examino, apenas para conferir, as decisões de segundo grau. A primeira está às fls. 10 e é do teor que descrevo:
"'frata-se de recurso contra sentença que concedeu a liberação de cruzados novos, bloqueados ao abrigo da Medida Provisória n. 168/90, convertida na Lei n. 8.024/ 90.
Verifica-se, porém, que a totalidade do valor bloqueado se teve liberada em 15 de setembro de 1992, voltando à disponibilidade de seu titular. Em razão de tanto, manifestamente, a controvérsia perdeu o objeto.
Assim, ao teor do art. 30, parágrafo 1~, inciso I, do Regimento Interno deste 'fribunal, julgo prejudicado o recurso.
Publique-se. Registre-se. Intimemse".
A mencionada decisão foi agravada, resultando acórdão sustentado no voto do teor que cito (fi. 24):
"'frata-se de agravo contra despacho em ação cuj a sentença concedeu a liberação de cruzados novos, bloqueados ao abrigo da Medida Provisória n. 168/90, convertida na Lei n. 8.024/90.
Verificando que a controvérsia perdeu o objeto, pois a totalidade
do valor bloqueado se teve liberada em 15 de setembro de 1992, voltando à disponibilidade de seu titular, a teor do art. 30, parágrafo 1~, inciso I, do Regimento Interno deste 'fribunal, julguei prejudicado o recurso.
Alega o agravante que não foi apreciada a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam, o que ora passamos a fazer.
Legitimidade passiva do Bacen.
No tocante à legitimidade passiva da autarquia federal, tem-se que o art. 9~ da Lei n~ 8.024/90 determinou a transferência dos cruzados bloqueados para o Banco Central. Essa instituição, portanto, é que deve corrigir a ilegalidade impugnada, havendo, sem sombra de dúvida, de figurar no pólo passivo da relação processual.
Os cruzados novos, detém-nos o Bacen; há hipótese de merecer acolhida a pretensão dos impetrantes a conversão dos ativos para a moeda em curso, há de ser feita pelo Bacen; é também este último que haverá de fazer retornar ao banco depositário as cifras já convertidas com o que permitirse-á aos impetrantes a livre movimentação dos valores ora indisponíveis.
Não há o que se- reformar em agravo que julgou prejudicado o recurso, em vista da manifesta perda do objeto, pois a totalidade do valor bloqueado se teve liberada em 15 de setembro de 1992, voltando à disponibilidade de seu titular.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 63
Rejeitando, pois, a preliminar, nego provimento ao agravo".
Embargos de declaração não foram interpostos em relação ao decisório supra. Seguiu-se-Ihe o recurso especial que, na origem, foi inadmitido. Este pronunciamento, ao ser atacado por agravo de instrumento, foi mantido, conforme termos do despacho de fl. 54.
Como demonstrado, não há nenhum questionamento, em sede de
segundo grau, a respeito de verba honorária advocatícia. Impossível, portanto, ser objeto de viabilidade de recurso especial.
É evidente que o recurso tem cunho protelatório. Atenta, assim, contra o princípio da celeridade processual.
Face ao exposto, inexiste razão jurídica para conhecimento do presente agravo, pelo que lhe nego conhecimento.
É como voto.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 5.614 - PI
(Registro n~ 95.0017898-2)
Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros Embargante: Ministério Público Federal Impetrados: Francisco de Sales e Silva Palha Dias e outros Embargados: Aldo Rodrigues de Sousa e outros (v. Acórdão de fls.
159/169)
Advogados: Drs. José Antônio Leal Chaves e outros
ElVIENTA: Processual - Recurso ordinário em mandado de segurança - Preparo - Porte de retorno - Necessidade de conhecimento do valor - Fundamento do direito a mandado de segurança.
- A teor do art. 511 do CPC, o recorrente só pode depositar o porte de retorno, quando tal valor lhe é indicado com exatidão. - A legitimidade para requerer Mandado de Segurança contra ato que usurpa o direito de voto advém do art. 1~ da Lei 1.533/51.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira 'furma do Superior Tribu-
nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, receber os embargos, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Sr.
64 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
Ministro-Relator os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira, José Delgado e Demócrito Reinaldo. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro José de Jesus Filho.
Brasília, 26 de setembro de 1996 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 29-10-96.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: Esta Thrma provendo recurso ordinário em Mandado de Segurança, declarou:
"O eleitor que votou em plebiscito com o escopo de criar município está legitimado para requerer Mandado de Segurança, visando a manutenção do topônimo proposto na ocasião da consulta."
O Ministério Público Federal opõe embargos declaratórios, pede que a Thrma se pronuncie sobre:
a) deserção do recurso, por falta de recolhimento do porte de retorno;
b) os preceitos contidos nos artigos 5~, LXIX, 14 e 18, § 4~ da Constituição Federal.
Este o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): Recebo os embargos para dizer:
a) a teor do art. 511 do CPC, a comprovação de pagamento do porte de retorno é obrigatória, "quando exigido pela legislação pertinente". O Embargante não demonstrou qual o dispositivo que determina e fixa o valor de tal depósito. Sem conhecer o montante a ser depositado, o recorrente não pode adimplir a obrigação de adiantar a despesa. O Ministério Público, ao levantar a questão preliminar não se animou em indicar o valor, nem a "legislação pertinente";
b) no que respeita à explicitação do dispositivo que legitima o indivíduo para requerer Mandado de Segurança, quando o Estado agride seus direitos, digo que o permissivo encontra-se no art. 1~ da Lei 1.533/51.
Recebo os embargos.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 65
RECURSO ESPECIAL N~ 62.553-0 - BA
(Registro n~ 95.0013617-1)
Relator: O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira
Recorrentes: Arminda Úrsula Pereira Baqueiro e outro
Recorrida: Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Advogados: Drs. Lauro Chaves de Azevedo e outro, e Pedro Sancho da Silva e outros
EMENTA: Processual Civil. Defensor Público. Intimação pessoal obrigatória. Nulidade dos atos praticados sem o cumprimento de expressa exigência legal. Lei n!? LOGO/50 (art. 5!?, § 5!?). Lei n!? 7.871/89.
1. Organizada a Assistência Judiciária, o Defensor Público ou quem exerça cargo equivalente, sob pena de nulidade, nas instâncias ordinárias, necessariamente, deve ser intimado de todos os atos do processo, quando formalmente exercer a representação judicial do assistido.
2. Precedentes da jurisprudência.
3. Recurso provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:
Decide a egrégia Primeira 'furma do Superior 'fribunal de Justiça, por unanimidade, dar provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Senhores Ministros José Delgado, José de Jesus Filho, Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros. Presidiu o julgamento o Senhor Ministro Humberto Gomes de Barros.
Custas, como de lei.
Brasília, 2 de setembro de 1996 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Relator.
Publicado no DJ de 07-10-96.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: 'frata-se de Recurso Especial, fulcrado na alínea a, do autorizativo constitucional, impugnando o v. aresto do colendo 'fribunal de Justiça do Estado da Bahia, assim ementado:
66 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
"Feita a publicação dos prazos pelos jornais, notadamente no Diário Oficial, não poderia o reitor autorizar matrícula requerida intempestivamente, sob pena de violação do artigo 96, do Regimento Geral da UNEB, acarretando a nulidade da matrícula, e mais ainda, ferindo o princípio constitucional de igualdade de todos perante a lei" (fl. 16).
Os Embargos de Declaração opostos foram rejeitados.
A Recorrente alega negativa de vigência ao artigo 5~, § 5~, da Lei de n~ 1.060/50.
Aduz:
"Assim é que, na presente questão, percebe-se nitidamente que nenhum membro da Defensoria Pública foi intimado pessoalmente a fim de contra-arrazoar o recurso interposto pela aqui Recorrida às fls. 84/90. De seu lado, a intimação da Defensora Pública que funcionou a favor dos Apelantes, Dra. Hélia Maria Amorim S. Barbosa, foi irregularmente intimada para rechaçar aquele apelo, eis que através de publicação no Diário Oficial do Estado da Bahia, quando deveria sê-lo, repita-se pessoalmente, até porque, e em sendo Defensora Pública, jamais poderia supor que seria comunicada à prática de ato processual da maneira que foi, visto que não se deu ao trabalho, e nem poderia fazê-lo, de averiguar a improvável figuração do seu nome em local onde só os advogados sem o mu-
nus da Defensoria Pública aparecem" (fl. 25).
omissis
"N o caso em apreço, em nada resultou a edição da Lei 7.871/89, na medida em que a Decisão indigitada olvidou, imperdoavelmente, de determinar a intimação pessoal da Ilustre Defensora Pública mencionada, circunstância que fez acarretar prejuízo inestimável aos Recorrentes, de ordem processual, desde quando tiveram que arrostar as conseqüências oriundas da ausência involuntária das suas contra-razões ao recurso de apelação intentado pela parte perdedora.
Certo é que, enfim, a contrariedade à lei federal foi irrecusavelmente perpetrada pelo Julgador primeiro, cuja sensibilidade jurídica escapou-se-Ihe de modo infeliz e lamentável quando deixou de cumprir determinação legal à qual estava vinculado de forma compulsória e inescusável, dada a inderrogabilidade da lei já referida, cuja vigência e pujança achamse inquestionavelmente plenas, invergáveis diante do talante e rebeldia que revestiram a sentença que se quer nula, porque nula está de modo insanável e irreversível, circunstância que enseja, de conseguinte, a nulidade de todos os atos que lhe foram posteriores" (fl. 26).
Decorreu o prazo legal sem que fossem apresentadas contra-razões.
O ínclito Presidente, em exercício, do Tribunal de origem não admitiu o Especial.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 67
Irresignada agravou de instrumento, o qual foi provido.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA (Relator): Pela guia do relatório, resumo das peças informativas do processo, sobreconcentra-se que, proferido o v. acórdão de fls. 16 a 18, foram interpostos Embargos Declaratórios, aduzindo que o julgado descumpriu com as disposições do art. 5~, da Lei n~ 1.060/50, sem a solução pedida, provocando o presente recurso.
Avia-se, pois, que a contrariedade malsinada surgiu do próprio v. aresto, nessa hipótese, cônsono a jurisprudência assentada, reunindo a manifestação recursal condições para a admissibilidade (art. 105, lU, a, C.F.).
Viabilizado o exame, restrito à questão jurídico-litigiosa de natureza processual, favoreço a compreensão transcrevendo razões lineadas pela parte recorrente, a dizer:
" ... na presente questão, percebe-se nitidamente que nenhum membro da Defensora Pública foi intimado pessoalmente a fim de contra-arrazoar o recurso interposto pela aqui Recorrida às fls. 84/90. De seu lado, a intimação da Defensoria Pública que funcionou a favor dos Apelantes, Dra. Hélia Maria Amorim S. Barbosa, foi irregularmente intimada para rechaçar aquele apelo, eis que através de publicação no Diário
Oficial do Estado da Bahia, quando deveria sê-lo, repita-se pessoalmente., até porque, e em sendo Defensora Pública, jamais poderia supor que seria comunicada a prática de ato processual da maneira que foi, visto que não se deu ao trabalho, e nem poderia fazêlo, de averiguar a improvável figuração do seu nome em local onde só os advogados sem o munus da Defensoria Pública aparecem.
Neste passo, a intimação de fls. 91 dos autos reveste-se de nulidade em face de ter atentado contra dispositivo legal que outorga prerrogativa ao Defensor Público, escudado que ficou a partir do seu advento, cujo bojo evidencia o espírito do legislador em beneficiar uma instituição que prima pelos interesses dos desfavorecidos economicamente, tarefa que, conquanto nobilíssima, possui árduos e indisfarçáveis encargos diante do quadro social em que ora acha-se desenhado o povo brasileiro na sua dolorosa maioria, motivo pelo qual o Constituinte de 1988 fez introduzir na respectiva Carta Política a criação da Defensoria Pública, instrumento democrático imbatível e incansável na defesa dos interesses jurídicos e judiciais da população pobre deste país.
E é dentro deste panorama que o Defensor Público exerce o seu digno mister, cuja característica mais marcante consiste na quantidade exorbitante de processos judiciais nos quais patrocina e resguarda os interesses da sua vastíssima clientela, vem daí, repita-se, a preocupação do legislador em conceder-lhe privilégios
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processuais sem os quais suas dificuldades, já significativas, recrudesceriam enormemente, haja vista que o forçaria a ficar ainda mais atento do que é, com o escopo de não perder os prazos que lhe fossem assinados pela autoridade juridiciária, para o que teria que, diariamente, ler o Diário Oficial a fim de evitar que situação dessa natureza se configurasse.
No caso em apreço, em nada resultou a edição da Lei 7.871/89, na medida em que a Decisão indigitada olvidou, imperdoavelmente, de determinar a intimação pessoal da Ilustre Defensora Pública mencionada, circunstância que fez acarretar prejuízo inestimável aos Recorrentes, de ordem processual, desde quando tiveram que arrostar as conseqüências oriundas da ausência involuntária das suas contra-razões ao recurso de apelação intentado pela parte perdedora." (fls. 25 e 26).
Incontroverso está que a Defensoria Pública, desde o início, representa judicialmente os recorrentes, verazes são as prédicas recursais, sob as alvíssaras do art. 5~, § 5~, da Lei n~ 1.060/50, verbis:
"Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida, o Defensor PÚblico, ou quem exerça cargo equivalente, será intimado pessoalmente de todos os atos do processo, em ambas as instâncias, contando-se-Ihes em dobro todos os prazos".
À força aberta, as disposições copiadas impõem a garantia da intimação pessoal, "nos Estados" e em "ambas as instâncias'" ordinárias, obviando-se a exclusão desta instância superior, tal como acentuado nos EDcl, no REsp n~ 1l.973-0-RJ, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros (in DJU de 30.5.94). Sinala-se, outrossim, que a redação dada pela Lei 7.871/89 não desfaz a obrigatoriedade da referida intimação pessoal.
Nesse toar, inescondível que faltou o ato da intimação reclamada pela parte interessada, a pretensão recursal merece guarida, inclusive, com a demão de precedente desta Corte.
"Assistência Judiciária. Intimação pessoal do Defensor Público, ou de quem exerça cargo equivalente. Lei n~ 1.060, de 1950, art. 5~, § 5~.
I - Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja por eles organizada e mantida, o Defensor Público, ou quem exerça cargo equivalente, há de ser intimado pessoalmente de todos os atos do processo, em ambas as instâncias, nos termos do preceito legal antes referido.
II - Recurso especial conhecido e provido." (REsp n~ 27.677-2-SPReI. Min. Antônio de Pádua Ribeiro - in DJU de 8.5.95).
No amanho da motivação, ficando anulados os atos praticados a partir do primeiro momento processual em que deveria ter sido intimado o Defensor Público, voto provendo o re-curso.
É o voto.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 69
RECURSO ESPECIAL N~ 62.850-4 - MG
(Registro n~ 95.0014601-0)
Relator: O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira
Recorrentes: Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil- Seção de Minas Gerais e outro
Recorrido: José Gonçalves Froes
Advogados: Drs. José Jorge Neder e outro, e Caio Luiz de Almeida Vieira de Melo e outros
EMENTA: Administrativo. Inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil. Incompatibilidade (art. 84, VII, Lei 4.215/63). Servidor público voluntariamente afastado de cargo executivo para exercer as funções de Defensor Público.
L A incompatibilidade decorre do exercício das funções públicas e não da ocupação do cargo, uma vez que aquelas, e não este, podem favorecer o aproveitamento para a concorrência desleal servindo de força atrativa para a captação de clientela e afetação da independência profissional. Satisfeitas as condições gerais, o interessado tem direito à inscrição, enquanto perdurar a situação de afastamento.
2. Recurso improvido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:
Decide a Primeira Thrma do Superior 'fribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Senhores Ministros José Delgado, José de Jesus Filho, Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros. Presidiu o julgamen-
to o Senhor Ministro Humberto Gomes de Barros.
Custas, como de lei.
Brasília, 27 de agosto de 1996 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Relator.
Publicado no DJ de 30-09-96.
RELATÓRIO
o SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: Trata-se de Recurso Es-
70 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
pecial, fulcrado na alínea a, do autorizativo constitucional, impugnando o v. aresto do colendo Tribunal Regional Federal da 1~ Região, assim ementado:
"Servidor Público - Incompatibilidade prevista no art. 84, VII, da Lei 4.215/63, decorrente do exercício de atividade, cargo ou função, não da titularidade - Segurança concedida.
1 - A incompatibilidade prevista no art. 84, VII, da Lei 4.215/63, não decorre da titularidade de atividade, cargo ou função, mas do exercício, já que o servidor afastado deste perde a competência incompatibilizadora.
2 - Apelação denegada.
3 - Sentença confirmada" (fi. 77).
Contra o v. aresto foi proposto Recurso Especial, fundado no artigo 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal, sob o argumento de afronta ao art. 84, da Lei de n~ 4.215/63.
Aduz:
"A incompatibilidade prevista no art. 84, VII, da Lei 4.215/63, decorrente de cargo ou função, acompanha o pretendente à inscrição, mesmo durante o afastamento da atividade inicial obstativa.
A incompatibilidade para o exercício da advocacia permanece com o servidor afastado, pouco importando o desempenho even-
tual de funções diversas. Ela provém da natureza do cargo como das funções exercidas pelo servidor. O desvio funcional não extingue a incompatibilidade, em razão da titularidade do cargo.
O recorrido é incompatível para o exercício da advocacia, desde que está vinculado jurídica e funcionalmente ao cargo de origem. A situação permanece a mesma, seja direta ou indiretamente, eventual ou permanente. Não é relevante a perda de competência temporária e precária. Essa circunstância não afasta a incidência da situação originária e definitivamente, incompatibilizadora.
O simples afastamento do cargo ou função não gera desaparecimento da incompatibilidade. O recorrido não pode beneficiar-se de literal disposição da fei. O recorrido conserva as prerrogativas essenciais do cargo, não apenas quando perde determinada competência.
O exercício temporário de outra atividade, que não é ao menos configurada suficientemente, não retira a incompatibilidade que acompanha a situação funcional originária. A vinculação do cargo está mantida, desde que não houve afastamento do mesmo.
A relação jurídica com a Administração Pública não foi rompida, nem ao menos interrompida ou suspensa. Não houve quebra da relação jurídica originária entre as partes. Não houve nenhuma
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 71
das causas da extinção do vínculo (exoneração, demissão, aposentadoria facultativa, exoneração, a pedido ou perda do cargo)" - fls. 79/80 - grifos originais.
omissis
"A OAB não indeferiu, como entendeu a sentença, pura e simplesmente a inscrição do Impetrante. Com base no inciso VII, do art. 84, da Lei 4.215/63, cumpriu o seu dever legal. Caso contrário, seria melhor também revogar toda a lei da corporação e todas as outras referentes ao exercício profissional, por lhes faltar significado e eficácia.
A própria decisão de primeira instância chega a reconhecer que 'a fmalidade óbvia de conferir ao exercício da nobre atividade advocatícia a seriedade e exação de que deve revestir-se, obstando qualquer possibilidade de o profissional do Direito se servir do cargo, função ou atividade públicas que lhe reduzissem a independência ou lhe proporcionassem captação de clientela' (arts. 83 e 84)" -fls. 82/83.
Decorreu o prazo legal sem que fossem apresentadas contra-razões.
Porque ausentes vetos sumulares ou regimentais o egrégio Tribunal a quo admitiu a via especial, observando "conquanto fundada também na alínea c do permissivo constitucional, a petição recursal não suscita divergência jurisprudencial."
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA (Relator): Aconsoantado às informações colhidas no relatório, pessoa que, em mandamus, ao derredor do indeferimento de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil - Seção de Minas Gerais - cônsono resumido na ementa, o vergastado v. acórdão estadeou:
"Servidor Público. Incompatibilidade prevista no art. 84, VII, da Lei 4.215/63, decorrente do exercício de atividade, cargo ou função, não da titularidade. Segurança concedida.
1. A incompatibilidade prevista no art. 84, VII, da Lei 4.215/63, não decorre da titularidade de atividade, cargo ou função, mas no exercício, já que o servidor afastado deste perde a competência incompatibilizadora.
2. Aplicação denegada.
3. Sentença confirmada" (fi. 177).
Presentes os requisitos de admissibilidade, o recurso merece ser conhecido (art. 105, IIl, a, C.F.).
Viabilizado o exame, para a solução, registra-se que o Impetrante, ora recorrido, funcionário público Assistente de Tributação e Arrecadação da Secretaria da Fazenda do Estado de Minas Gerais, foi colocado à disposição da Secretaria do Interior e Justiça, para exercer as funções de Defensor Público. Requereu, então,
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inscrição como Advogado, na vigência do anterior Estatuto da O.A.B., pedido indeferido, sob a afirmação de ser titular de cargo público incompatível com o exercício da advocacia (art. 84, VII, Lei 4.215/63).
Sucedeu que a r. sentença, parcialmente, concedeu a segurança, delineando:
" ... Com efeito, quando a Lei 4.215/63 criou as proibições totais e parciais dos artigos 83 usque 86, fê-lo com a finalidade óbvia de conferir ao exercício da nobre atividade advocatícia a seriedade e exação de que deve revestir-se, obstando qualquer possibilidade de o profissional do Direito se servir do cargo, função ou atividade pública que lhe reduzissem a independência ou lhe proporcionassem captação de clientela (arts. 83 e 84). 'leve, ainda, o escopo de impedir que os advogados se municiassem das informações e facilidades de seus cargos para pleitearem contra as entidades a que estivessem vinculados ou junto aos tribunais e juízos a que servissem (art. 85).
Assim, é patente que o legislador, ao criar as incompatibilidades e impedimentos, visou atingir não os simples titulares de cargos mas sim, os que estivessem no exercício efetivo das funções inerentes a tais cargos.
Em outras palavras, os óbices à inscrição devem atingir também os desviados de função e os "colocados à disposição" de repartições, em que viessem, efetivamente, a
exercer funções incompatíveis (art. 84), mesmo que seu cargo principal fosse outro, não alcançado pela restrição absoluta, mas somente pela relativa (impedimentos do art. 85).
A intenção da lei é garantir a independência profissional e obstaculizar a captação de clientela (art. 83) e isso seria possível também àqueles que ocupassem as funções elencadas no art. 84, do Estatuto, ainda que temporariamente, a título precário, por desvio de função ou por efeito de empréstimo de outra repartição.
No presente caso, o Impetrante será designado Defensor Público da Secretaria do Interior e Justiça, afastando-se de seus misteres tributários, ou seja, tornandose infenso à possibilidade de captação de clientela" (fls. 40/41 -grifos originais).
À sua vez, reforçando, o v. aresto prestigiou o entendimento sentencial, ve:r:bis:
"Escreve art. 84, VII, da Lei 4.215/63:
'Art. 84 - A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as seguintes atividades, funções é cargos:
VII - servidores públicos, inclusive de autarquias e entidades paraestatais e empregados de sociedades de economia mista e empresas concessionárias de serviço público, que tiverem competência ou interesse
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direta ou indireta, eventual ou pennanentemente, no lançamento, arrecadação e fiscalização de impostos, taxas e contribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais, ou para aplicar multas relacionadas com essas atividades;'
Verifica-se, pelo exame do dispositivo legal transcrito no item anterior, não ser suficiente o exercício por servidor público de atividade, função ou cargo dessa natureza para que seu desempenho seja incompatível com a advocacia. Além disso, é necessário que o servidor tenha competência, ou interesse, direta ou indireta, eventual ou permanentemente, no lançamento, arrecadação e fiscalização de impostos, taxas e contribuições de caráter obrigatório ou para aplicar multas relacionadas com essas atividades, já que os servidores públicos que não a tenham são apenas impedidos (art. 85, VI, Lei 4.215/63) de exercer a profissão, pormenor que demonstra não resultar a incompatibilidade discutida da titularidade de atividade, cargo ou função, mas do exercício, já que o servidor afastado deste perde a competência incompatibilizadora.
Ora, na espécie, o Apelado, titular de cargo cuj o exercício gera a incompatibilidade em comento, foi dele desligado para exercer a função Defensor Público, privativa de advogado, perdendo, em conseqüência, a competência incompatibilizadora, pois, como muito bem assevera o ilustre prolator da decisão recorrida, 'afastando-se de seus misteres tributá-
rios', tornou-se 'infenso à possibilidade de captação de clientela' (fls. 72 e 73 - grifos originais).
Deveras, embora algumas atribui-ções gerem incompatibilidades e impedimentos para a advocacia, no caso, deve ser reconhecida a circunstância do afastamento do funcionário das funções executivas do seu cargo de origem. Conseqüentemente, nos campos dos lançamentos, arrecadação e fiscalização, enquanto afastado, obvia-se que desapareceu a motivação inspiradora da lei para incompatibilizar para o exercício da advocacia, certo que esmaeceu a competência, força atrativa, para a captação de clientela, móvel inspirador da lei em comento. Anota-se que, em passando à Defensoria Pública, seja direta ou indiretamente, perdeu as condições estatuídas pela lei (inc. VII, art. 84, Lei referida). Outrossim, inexiste controvérsia quanto ao desligamento das funções vertentes da incompatibilidade. Mastando-se, por vontade própria, das funções executivas que permitiam acesso facilitado para as fiscalizações a seu cargo, via para a concorrência profissional desleal e independência profissional ou para influenciar clientes, configuram-se razões que sombreiam os resguardos da lei para evitar censurável advocacia.
Pela viseira da exposição, voto improvendo o recurso, . satisfeitas as condições gerais para a inscrição, continuando intangido o deferimento parcial da segurança, enquanto o beneficiário da ordem permanecer afastado do seu cargo originário, desempenhando as funções de Defensor Público.
É o voto.
74 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
RECURSO ESPECIAL N~ 65.793-8 - RS (Registro n~ 95.0023182-4)
Relator: O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira
Recorrentes: João Vasco Bandeira Dutra e cônjuge
Recorrido: Estado do Rio Grande do Sul Advogados: Drs. Roque Joaquim Volkweiss, e Alexandre Mariotti e outros
EMENTA: Execução fiscal. Fiança por prazo indeterminado. Embargos dos fiadores. Exoneração. CTN, artigos 131, 132, 134 e 135 -Código Civil, artigos 1.006, 1.481, 1.483 e 1.500.
L Fiança em favor de devedor certo, sendo contrato benéfico, não admite interpretação extensiva, nem aguilhoeta o fiador indefinida ou perpetuamente à responsabilidade por obrigações futuras ou aleatórias, máxime garantindo pessoa diferente daquela destinatária da sua vontade (arts. 1.481 e 1.483, Código Civil).
2. O fiador não tem só deveres, mas também direitos, na fiança por prazo indeterminado, podendo alforriar-se quando lhe convier. Igualmente, extinto o negócio garantido, em face da acessoriedade da fiança, surge o direito à exoneração (arts. 1.006 e 1.500, Cód. Civil).
3. Não se configura no caso prender-se o fiador às hipóteses de responsabilidade previstas na lei tributária (arts. 131, I e n, 132, 134 e 135, CTN). .
4. Recurso provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:
Decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Senhores Ministros José Delgado, José de Jesus Filho,
Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros. Presidiu o julgamento o Senhor Ministro Humberto Gomes de Barros.
Custas, como de lei.
Brasília, 2 de setembro de 1996 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Relator.
Publicado no DJ de 07-10-96.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 75
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: O Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul constituiu, em sede de embargos infringentes, acórdão representado pela ementa, in verbis:
"Fiança fiscal, até certo montante da obrigação tributária.
Alteração da sociedade comercial afiançada, quanto à razão social e à sua composição.
Irrelevância no tocante à obrigação fiscal, eis que distingue-se a pessoa jurídica das pessoas naturais dos sócios, não podendo prevalecer que houve a quebra da confiança determinante do contrato de fiança.
Ademais, para a exoneração deve o fiador valer-se do procedimento delineado nos arts. 1.500 do CC e 262 do Código Comercial.
Embargos infringentes procedentes." (fl. 102).
Impugnando o v. aresto, a parte interessada interpôs Recurso Especial, fulcrado no artigo 105, inciso III, alíneas a e c, da Carta Magna, alegando violação aos arts. 1.481, 1.483 e 1.487, do Código Civil, além de dissenso com julgados de outros Tribunais.
Sustenta:
" ... a definição clara a respeito do assunto, é proporcionada pelo colendo Tribunal de Alçada Civil,
3~ C., de São Pauló, retromencionado, cuja íntegra acompanha o presente recurso. A ementa consegue retratar a interpretação:
'Fiança - Garantia prestada a empresa comercial- Alteração da razão social e saída do sócio pelo qual fora aquela concedida que caracteriza a extinção da obrigação fidejussória - Garantia de natureza personalíssima, fundada na confiança, no grau de parentesco, ou credibilidade que possa merecer o afiançado - Impossibilidade de interpretação extensiva conforme art. 1.483 do CC.'
Entre outros conceitos expressados no referido acórdão, destaque-se parte da manifestação assim colocada:
'E, convém transcrever-se partes de acórdão que compilou julgados vários aplicáveis ao caso sub judice'."
Assim, 'na fiança prestada à sociedade por cotas de responsabilidade limitada, o fiador tem em consideração a pessoa dos sócios, pois através deles é que a firma lhe inspirará a necessária confiança'. (RT 499/143). ' ... Essa garantia, contrato benéfico, não admite interpretação extensiva como sempre se entendeu (CC, art. 1.483), não passando, por isso, de pessoa a pessoa como já afirmado ... '. (fls. 115/116).
Por seu turno, a Recorrida alega, em suas contra-razões, a ausência
76 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
dos pressupostos de admissibilidade. Aduz, ainda, quanto ao julgado colacionado como paradigma a ausência de identidade entre as situações enfrentadas, nestes termos:
"O julgado colacionado retira o caráter personalíssimo da fiança prestada à empresa comercial do parentesco entre os fiadores e pessoa que transitoriamente integrou o quadro societário (fl. 118).
Não é a mesma situação enfrentada pelo aresto paradigma, onde esta circunstância está ausente -mesmo que, agora, já em grau de recurso excepcional, os fiadores resolvam, muito a propósito, alegar a qualidade de parente e amigo do sócio retirante (fl. 113) ...
Ademais, já por ocasião do oferecimento dos embargos infringentes se ressaltou que o conjunto probatório não respalda, no caso concreto, conjecturas sobre o caráter intuito personae da obrigação fidejussória, que sequer foi alegado por ocasião da propositura da ação incidental (fls. 02-4).
De outra banda, ainda outro dado de fato diferencia decisivamente as situações enfrentadas nos autos e no precedente paulista; lá, o contrato de fiança tinha prazo determinado (era de somente 12 meses); aqui, não existia a limitação de tempo, pelo que, intuito personae ou não, cumpria aos fiadores exonerarem-se, nos termos do art. 1.500 do CC.
Conforme já se sustentou anteriormente, à luz da disciplina do
Código Civil cumpre aos fiadores, diante· da alteração na composição social, tomarem as devidas providências para se exonerarem.
Não o fizeram, entretanto, e se afigura claramente lesivo ao direito do credor o entendimento de que isso não seria necessário: se assim fosse, não teria ele possibilidade de tomar conhecimento da perda da garantia fidejussória, com o que restaria impedido de exigir do devedor sua reposição. A própria finalidade do instituto se perderia." (fl. 125). - grifos originais.
O recurso foi admitido pelo nobre 1~ Vice-Presidente do e. llibunal, em decisão circunstanciada nestes termos:
"Em que pese a ausência do indispensável prequestionamento dos dispositivos legais inquinados pelo aresto hostilizado, bem como a deficiência da fundamentação recursal quanto à .demonstração da alegada negativa de vigência à legislação federal, permitindo a incidência das Súmulas nl& 282 e 284 do STF, os recorrentes lograram demonstrar, quantum satis, o dissenso pretoriano com o acórdão paulista publicado na RT, 663/136, que endossa os argumentos dos doutos votos vencidos.
lU - Em face do exposto admito o recurso interposto pela letra c do inciso UI do art. 105 da CF." (fl. 135).
É o relatório.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 77
VOTO
O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA (Relator): Pela guia do relatório colhe-se que, em embargos à execução fiscal, os fiadores argumentaram que não poderiam ser responsabilizados na cobrança forçada, uma vez que prestaram fiança em favor de pessoa jurídica distinta daquela referida no lançamento e que haveria excesso de execução.
Presentes os requisitos de admissibilidade, nos limites objetivos definidos na r. decisão a quo (fls. 134 e 135), o recurso merece ser conhecido (art. 105, III, c, C.F.).
Aviada a possibilidade do exame, para a compreensão da questão jurídico-litigiosa, coloca-se o vergastado v. acórdão, resumido na seguinte ementa:
"Fiança fiscal, até certo montante da obrigação tributária.
Alteração da sociedade comercial afiançada, quanto à razão social e à sua composição. Irrelevância no tocante à obrigação fiscal, eis que distingue-se a pessoa jurídica das pessoas naturais dos sócios, não podendo prevalecer que houve a quebra da confiança determinante do contrato de fiança. Ademais, para a exoneração deve o fiador valer-se do procedimento delineado nos arts. 1.500 do CC e 262 do Código Comercial.
Embargos infringentes procedentes." (fi. 102).
Nesse contexto, pela significância, registra-se que a execução fiscal foi aparelhada judicialmente contra Comercial Armarinhos Boca Ltda., contribuinte da obrigação tributária constituída em seu nome, conforme a Certidão de Dívida Ativa inscrita em 21.10.1987 (fi. 4 - autos apensados). Já o Termo de Fiança foi articulado em favor de Bijouterias Paissandú Ltda., em data muito anterior - 9.2.1982 -, tendo por objeto garantir os "créditos tributários do imposto de circulação de mercadorias relativo a operações efetuadas a partir desta data ... " (fi. 7 - antes referidos), obviando-se que, no limite e condições explicitados, em favor da pessoa jurídica nominada.
A questão maior, pois, algema-se na possibilidade, ou não, da garantia abranger as obrigações de contribuinte diverso. Ora, na espécie, sem dificuldades, apruma-se que a fiança foi oferecida para garantia de créditos tributários, relativos a obrigações de contribuinte certo e nominado. Nada constou sobre a extensão ou continuidade em prol de sucessores. Outrossim, por dedução, não se compatibiliza com a razão, dizer que a contribuinte executada sub-rogouse nas dívidas da pessoa favorecida pela fiança, seja como adquirente, sucessora ou por fusão, transformação ou incorporação (arts. 131, I e II, e 132, CTN). Resta cogitar-se que, extinta a pessoa jurídica contribuinte, se os fiadores, como sócios, continuaram com as atividades da devedora, sob a mesma ou outra razão social (Parágrafo único, art. 132,
78 R. Sup. 'lhb. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
CTN). No caso, porém, como adiantado, não se demonstrou a continuidade, nem manteve-se a mesma razão social, nem se tem outra como integrada pelos sócios originários para idênticas atividades sociais. De qualquer modo, a contribuinte foi executada e teve bens penhorados (autos apensos) e a fiança tinha destinatário distinto. Enfim, seja por responsabilidade como contribuinte ou por substituição não se configuram as hipóteses dos arts. 134, 135, CTN.
Daí os objetivos comentários feitos no voto do ilustre Relator depois vencido, a dizer:
" ... Houve mudança de sócio. Modificou-se a estrutura subjetiva interna da pessoa jurídica.
O Parquet, na origem, disse que a permanência de um só sócio seria bastante para manter íntegra a caução fidejussória outorgada pelos ora apelantes, citando jurisprudência neste sentido.
Pensa-se, todavia, que não é assim.
A fiança, garantindo possíveis débitos fiscais de uma sociedade, indubitavelmente, é passada em consideração às pessoas que integram a sua organização. As pessoas dos sócios, o seu conceito, o grau de relacionamento existente com os futuros garantidores de dívidas, é que alicerçam a outorga da caução fidejussória, é que motivam estes últimos, que tem aqueles como merecedores de confiança. Ora bem, se assim o é, a alteração
no quadro social atinge fundamentalmente a fiança prestada.
N a espécie, o sócio Hamilton Silvério Lima retirou-se da sociedade, passando a integrá-la Carlos Alberto Braz Paula, que ficou com a função de gerência, juntamente com o sócio remanescente, João Dantas Lima (fls. 30/31) e isso após ter sido outorgada a caução fidejussória.
Nesta perspectiva, releva notar, houve manifesta e sensível modificação na sociedade, possível alteração no empreendimento comercial por ela desenvolvido, na sua administração, o que feriu aqueles fatores que ensejaram a assunção de dívida pelos ora recorrentes.
Destarte, por não se ver mantida íntegra a causa da confiança, motivo da outorga da fiança, é que se proclama a exoneração dos fiadores." (fl. 75).
Imana oportunidade ainda para o aproveitamento de anotações feitas pela parte recorrente, recordando afirmações pretorianas (fls. 116), verbis:
"Fiança - Garantia prestada a empresa comercial - Alteração da razão social e saída do sócio pelo qual fora concedida extinção da obrigação fidejussória - Garantias de natureza personalíssima, fundada na confiança, no grau de parentesco, ou credibili-
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dade que possa merecer o afiançado - Impossibilidade de interpretação extensiva conforme art. 1.483 do CC." (Ap. Civ. 278.566-5 - 22 'llib. Alçada Civil SP - Rev. Tribs. 663/136 - fi. 118).
No corpo do v. aresto ficou assentado:
" ... na fiança prestada à sociedade por cotas de responsabilidade limitada, o fiador tem em consideração a pessoa dos sócios, pois através deles é que a firma lhe inspirará a necessária confiança (RT 499/143) ... ". "Essa garantia, contrato benéfico, não admite interpretação extensiva como sempre se entendeu (CC art. 1.483), não passando, por isso, de pessoa a pessoa, como já afirmado ... " (Rev. cito - fi. 118).
o tema comporta também breves comemorativos atinentes à exoneração do fiador (arts. 1.006 e 1.500, CC).
Por essa lida, sobreconcentra-se que a fiança fincou a garantia para devedor certo, não albergando dívidas de outra pessoa devedora de créditos tributários (confrontem-se as datas da fiança e da dívida executada). Justaponha-se que não houve avença ou concordância tácita ou expressa para a extensão ou prorrogação. A lei não admite interpretação extensiva (art. 1.483, Cod. Civil).
Assinala-se, noutro lanço, extinta a favorecida pela fia:o.ça - Bijouterias Paissandú Ltda. -, a trato de que não foi fixado prazo certo (fi. 7 - autos apensados), na verdade, os fiadores desvencilharam-se das obrigações (arts. 1.500 - primeira parte e 1.006, Cód. Civil). Com efeito, não pode o fiador ser responsabilizado indefinida ou perpetuamente por obrigações futuras ou aleatórias, máxime garantindo pessoa diferente daquela destinatária do contrato, com afronta à sua previsão e manifestação de vontade. Afinal, "o fiador não tem só deveres, mas também direitos. Um destes é exatamente o de alforriar-se quando lhe convier, na fiança por prazo indeterminado, e ao ensejo da chegada do termo, em se tratando de garantia dada por prazo determinado. Na fiança sem limitação temporal, mas que garante negócio com prazo determinado, ela se extingue com a extinção do negócio principal, em face de sua acessoriedade, surgindo então o direito à exoneração do prestador". (Arnaldo Marmitt - in Fiança Civil e Comercial Aide Editora - 1989 - pág. 225).
Pela espia da motivação, voto provendo o recurso, reanimando a procedência dos embargos à execução, invertidos os ônus da sucumbência.
É o voto.
80 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
RECURSO ESPECIAL N2 67.345-3 - SC
(Registro n 2 95.0027478-7)
Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo
Recorrente: Estado de Santa Catarina
Recorrido: Marcatto Indústria de Chapéus Ltda.
Advogados: Regina Helena de Abreu Brasil e outros, e Thmara Ramos Bornhausen Pereira e outros
Sustentação Oral: Dra. Edith Gondin, pelo recorrente
EMENTA: Processual Civil. Estado-membro. Foro privativo. Inexistência.
A Fazenda do Estado (e a do Município), em face do sistema jurídico-constitucional vigente, não tem foro privativo, mas, tão-só, Varas especializadas. A competência das Varas especializadas só se torna absoluta quando a causa em que intervenha a Fazenda Estadual tenha a Capital do Estado como o foro respectivo.
É defeso à Lei de Organização Judiciári~, em se sobrepondo à legislação federal, instituir um foro especial para a Fazenda Estadual, ou estabelecer a competência de foro de forma diversa da previsão na Lei do Processo Civil.
Recurso improvido. Decisão unânime.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira 'furma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira, José Delgado e José de Jesus Filho. Custas, como de lei.
Brasília, 13 de junho de 1996 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, Relator.
Publicado no DJ de 02-09-96.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: No curso de uma ação declaratória de reconhecimento de débito tributário, a empresa Marcatto
R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 81
Indústria de Chapéus Ltda. ajuizou Medida Cautelar Incidental contra a Fazenda do Estado de Santa Catarina, perante o Juízo de J araguá, naquela Unidade da Federação.
Como defesa dilatória, a Fazenda Estadual manifestou exceção de incompetência, pugnando para que, a ação cautelar, tivesse curso na Comarca da Capital. O juiz indeferiu a pretensão, decisão confirmada, em grau de recurso de agravo, pelo 'lhbunal de Justiça.
Irresignada, a Fazenda Estadual interpôs recurso especial, sob o pálio das letras a e c, do admissivo constitucional, acoimando, o decisório de malferir as regras constantes dos arts. 14 e 35 do C. Civil e 94, 99 e 578 do C. de Processo Civil, conquanto, o foro da Comarca da Capital é o competente para o julgamento das ações em que o Estado for interveniente, a qualquer título.
Admitido por decisão, em agravo de instrumento e devidamente processado o recurso, subiram os autos a esta instância.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Senhores Ministros:
Marcatto Indústria de Chapéus Ltda. promoveu contra a Fazenda do Estado de Santa Catarina Medida Cautelar Inominada Incidental, no processo de Ação de Declaração de
Inexistência de Relação Jurídica Tributária, perante o juízo da Comarca de Jaraguá, daquele Estado.
A Fazenda Estadual excetuou o juízo, sob fundamento de que, tendo em vista o disposto em regras da organização judiciária e o preceito do art. 100, ,IV, a, do C. de Processo Civil, o foro competente para conhecer e julgar a lide era o da Capital, onde o Estado, como pessoa jurídica de Direito Público, tem a sua sede.
O juiz, no primeiro grau, julgou improcedente a Exceção, decisão confirmada pelo 'fribunal de Justiça no julgamento do agravo instrumentado.
Vem, agora, a Fazenda, pela via do especial, postular a alteração do julgado, sobre entender que este malferiu os arts. 100,IV, letra a, 94, 99 e 578 do C. de Processo Civil e arts. 14, II e 35, II do C. Civil, além de dissentir da jurisprudência assente em outros Tribunais, desde que, o foro da Capital é o competente para julgar as ações em que o Estado for demandado.
Não me parece, com a razão, a recorrente.' É lição correntia de que, os Estados não têm foro privativo, mas, tão-só, varas especializadas. Nestas serão aforadas as ações contra o Estado, quando escolhido, pela parte, a Comarca da Capital. É o que prelecionam os processualistas. Arruda Alvim, escrevendo sobre a matéria, dissenta:
"O elemento fundamental para determinar a competência de juí-
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zo das varas da Fazenda do Estado é o interesse da Fazenda Estadual, como um dos sujeitos do processo, mesmo como assistente simples, como chamado ao processo, ou quando lhe tenha sido denunciada a lide ainda, e nas mesmas condições, de entidades autárquicas estaduais ou entidades paraestatais, bem como de sociedade de economia mista. A competência dessas varas, porém, só se efetiva e é absoluta, quando a causa em que seja interessada a Fazenda Estadual tenha a Capital como o seu foro. Assim, se a causa não tiver o seu foro na Capital do Estado, pela circunstância de ser o réu domiciliado ao interior, exemplificativamente competente será o juízo desse foro, o qual, a seu termo, poderá ser juízo especializado, de vara de Fazenda ou não. Não poderia a lei estadual, disciplinando a matéria de organização judiciária, criar um foro especial para a Fazenda Estadual, ou, então, determinar a competência de foro diversamente do que consta da lei processual" (Manual de Direito Processual Civil, voI. I, pág. 187).
E ratificando o seu entendimento, esclarece, adiante, o ilustre processualista:
"Há uma questão que atualmente já se encontra bastante clarificada e precisa ser acentuada: as Fazendas do Estado e Municipal não têm, como já se pensou, foro
privilegiado, mas, tão-somente juízo privativo. Isso significa que o Estado e o Município, ao contrário do que acontece com a União, submetem-se às regras gerais de competência" (ob. cit., pág. 172).
Este é o escólío que prevalece na jurisprudência:
"A Fazenda do Estado não tem o privilégio de foro privilegiado ou especial, com força atrativa das ações regularmente ajuizadas perante outros juízes. 18m, apenas, juízo privativo. Com efeitos conhecidos, postos em realce em lapidar síntese pelo Des. Affonso Andrés em acórdão inserto na RJTJESP, 55/162: Assim, todas as causas que devam correr na Comarca da Capital, onde está o domicílio do Governo do Estado, hão de ser distribuídas às varas especializadas, quando a Fazenda do Estado for autora, ré ou interveniente. Mas, as causas que pertencem à competência territorial de outra qualquer Comarca do Estado, não podem, por norma estadual de Organização Judiciária, ser transferidas para a Comarca da Capital, ainda que nelas figure a Fazenda Estadual como autora, ré ou interveniente. No mesmo sentido as decisões constantes da mesma Revista, 93/244; RT, 595/68" (RJTJESP, 103/269).
De resto, é esta a jurisprudência que já se pacificou nesta Corte, em inúmeros precedentes e vários deles de minha lavra.
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Ocorre, ainda, que, in casu, existe uma peculiaridade. É que, a Medida Cautelar foi instaurada no curso de ação declaratória de inexistência de débito. E, assim, como acentuou o nobre juiz de primeiro grau, "a ação anulatória de débito fiscal guarda relação de acessoriedade com a execução fiscal (art. 108 do CPC) e competente para julgá-la é o juízo do domicílio do devedor (CPC, art. 578), tanto mais que a propositura da ação anulatória de débito fiscal não inibe a Fazenda Pública de promover-lhe a cobrança (§ 12 do art. 585), o que aconselha a unicidade de foro por economia processual e para evitar decisões contraditórias" (folha 33). É esta a diretriz traçada pela jurisprudência: "a ação declaratória de reconhecimento de crédito tributário movida contra a Fazenda do Estado, com acessória do processo de execução fiscal e conexa com esta deve, a exemplo da execucional (art. 578 do CPC) ser aforada também no domicílio do devedor" (TJSP, Ag. de Inst. 8.080, folhas 44 e 45).
Mastada, pois, qualquer apreciação quanto à alegada ofensa aos arts. 14 e 35 do C. Civil, arts. 94 e 99 do C. de Processo Civil, por ausência de prequestionamento e por desinfluente no desate da lide, não vislumbro ofensa aos dispositivos de lei invocados, a que se deu escorreita interpretação, ao invés de tateálos.
Conheço do recurso, por ambas as alíneas, mas, lhe nego provimento.
É como voto.
VOTO - VISTA
O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: O Estado de Santa Catarina defende a tese de que a competência para conhecer de processos em que ele é demandado reserva-se às Varas da Fazenda PÚblica da CapitaL
Pedi vista, impressionado com a sustentação oral efetuada na assentada de julgamento.
Observo, porém, que esta turma já apreciou o tema, decidindo no mesmo sentido em que se dirigiu o voto do eminente Relator.
Isto ocorreu no julgamento do REsp 57.688-1/SC, de que fui relator e se encontra resumido, nestes termos:
Processual - Competência - Estado federado - Foro da capital - Foro em que ocorreram os fatos da lide (CPC, art. 100)
- Os Estados federados podem ser demandados, tanto no Foro da Capital, quanto no local em que ocorreu o fato em torno do qual se desenvolve a lide (CPC, art. 100).
Naquele processo,votou assim:
"Já conhecemos o tema.
Reporto-me ao voto que emiti, no julgamento do REsp 33.695-1/ MG, nestas palavras:
"O Estado recorrente finca sua pretensão no Argumento de
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que, em sendo pessoa jurídica, o foro para conhecer das causas em que figure como réu, se define pelo art. 100, IV, a do Código de Processo Civil."
Ao examinar questão semelhante, também à luz do art. 100 do CPC, o Superior Tribunal de Justiça, pela Primeira Sessão, declarou, in verbis:
"As autarquias federais podem ser demandadas no foro de sua sede ou naquele em que se acha
a agência ou sucursal em cujo funQito de competência ocorreram os fatos que geraram, a lide." (C. Competência 2.493-0IDF)
A tese prestigiada naquele acórdão é válida, na solução da lide ora em apreciação."
Também neste processo, a tese é pertinente.
Acompanho o eminente MinistroRelator.
Nego provimento ao recurso.
RECURSO ESPECIAL N!'. 85.971 - SP
(Registro n!'. 96.0002607-6)
Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo
Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo
Recorrido: Stocolmo Ferramentas e Correias Ltda.
Advogados: José Ramos Nogueira Neto e outros, e Valdemir José Henrique e outro
EMENTA: Processual Civil. Processo de execução. Honorários advocatícios. Impossibilidade de duas condenações - na execução e nos embargos.
Em face das regras inscritas no Código de Processo Civil, é defeso ao juiz, no limiar da Execução (por ocasião do recebimento da Inicial), condenar, o devedor, ao pagamento de verba honorária. Os honorários arbitrados no despacho inicial no processo executório, têm caráter de provisoriedade e visam à possibilidade de pagamento imediato, pelo devedor, da quantia executada, não podendo ser acrescidos à verba de sucumbência imposta na sentença, ao julgar improcedentes os embargos.
De acordo com a lei (art. 20 do CPC), a condenação na verba de patrocínio só é viável quando se finda o processo, com a sentença.
Recurso improvido. Decisão por maioria de votos.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 85
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma do Superior 'lhbunal de Justiça, por maioria, vencidos os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros e José Delgado, negar provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira, José Delgado e José de Jesus Filho. Custas, como de lei.
Brasília, 11 de junho de 1996 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, Relator.
Publicado no DJ de 02·09·96.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Stocolmo Ferramentas e Correias Ltda. opôs embargos à execução que lhe move a Fazenda do Estado de São Paulo, relativamente à cobrança de ICM declarado e não pago e seus acréscimos legais.
Julgados improcedentes os embargos, o magistrado de primeiro grau condenou a embargante ao pagamento de honorários advocatícios arbitrados em 10% (dez por cento) do total atualizado do débito, somados à verba honorária já fixada no despa-
cho inicial de processamento de execução.
Sobrevindo apelação, o acórdão recorrido oriundo do Tribunal de Justiça de São Paulo, no tocante aos honorários, assim concluiu, verbis:
" ... Os honorários advocatícios comportam redução por efeito de exclusão daqueles arbitrados na inicial da execução, ante o entendimento prevalente de que os embargos não constituem ação, mas meio de defesa."
Inconformada, a Fazenda do Estado de São Paulo manifestou recurso especial sob o pálio da letra c, lII, art. 105 da franquia constitucional, trazendo à colação paradigma desta Egrégia Corte.
Admitido na origem, vieram-me os autos conclusos para julgamento.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Discute-se na espécie, o cabimento da cumulatividade de honorários da execução com aqueles dos embargos. tidos como improcedentes.
Os embargos, tal como indica o léxico, são óbices que o devedor procura contrapor à execução proposta. Sua natureza jurídica, entretanto, é de uma ação de cognição incidental; vez que seu escopo cinge-se à desconstituição da relação jurídica líqui-
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da e certa retratada no título executivo. Há uma nova relação processual em que o executado é autor e o exeqüente atua no pólo passivo da relação jurídica.
Desta forma, não constituem os embargos do devedor um mecanismo de defesa similar à resposta do réu (ou, em termos específicos, à contestação) no processo de conhecimento.
Têm os embargos, conforme o estabelecido em alguns julgados, a natureza de ação, distinta da que se está exercitando no processo executivo, embora intuitivamente conexa (em sentido lato) com ela, e tendente a destruir o aludido processo, ou a cortar-lhe os excessos. A sentença, ao permitir a cumulação da verba honorária, amoldou-se a entendimento anterior deste Tribunal, como a exemplo dos recursos especiais de ni!B.: 20.641/SP - DJ de 5/2/96 - reI. Min. Peçanha Martins; 20.806-7 -DJ de 23/11/92 - reI. Min. Cláudio Santos e REsp n2 40.986-1 - DJ de 28/2/94, reI. Min. Humberto Gomes de Barros.
Não vejo, entretanto, como prosperar, o recurso. No processo de Execução inexiste a possibilidade de duas (2) condenações em honorários advocatícios, como se de duas (2) ações distintas se cuidasse, a principal (Execução) e a subseqüente (os Embargos). O entendimento prevalecente é o de que "os embargos não constituem ação, todavia, meio de defesa. Seria rematada injustiça se, em um só processo de Execução o devedor viesse a ser condenado em, até, 40%
(quarenta por cento da verba de sucumbência).
Demais disso, só pode haver condenação ao pagamento da verba advocatícia, na sentença (que extinga o processo). A execução não embargada só se extingue nas hipóteses previstas no art. 794 do C. de Processo CiviL E, aí, só haverá uma condenação.
O juiz não pode, em despacho liminar (por ocasião do recebimento da Inicial), condenar o devedor a pagar honorários. A condenação só é possível quando se finda o processo com a sentença (art. 20 do CPC). Existe, todavia, a praxe, em que o juiz, ao determinar a expedição do mandado de citação e penhora, fixar, desde logo, em percentualização, a verba honorária. Mera fixação, arbitramento, para efeito de pagamento, pelo devedor. 'Ibdavia, o executado pode se insurgir contra o percentual estabelecido. Mas, a verba honorária fixada na Inicial sobre a condenação não pode ser adicionada à fixada, na sentença sobre o débito. A fixação provisória é substituída pela sentença, posto' haver uma só condenação e uma só sucumbência (RSTJ, 65/ 425). "Os honorários no despacho inicial da execução, para a eventualidade de pagamento imediato, salvante ressalva, não devem ser acrescidos aos honorários impostos em embargos julgados improcedentes" (STJ, 4~ 'furma, REsp n2 9.077, ReI. Min. Sálvio de Figueiredo).
Por último, a controvérsia que grassava na jurisprudência, acerca
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da possibilidade de dupla condenação em verba honorária (na execução) perdeu a razão de ser, com a nova redação dada ao § 4~ do art. 20 do CPC, pela Lei n~ 8.952/94, ao dispor que, "nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c, do parágrafo anterior. É curial que, com a nova ordem, o juiz não tem como impor duas condenações, mesmo porque, em não havendo embargos, o feito só será sentenciado nas hipóteses do art. 794 do CPC, inexistindo oportunidade de, antes, haver sentença condenatória.
Com estas considerações, conheço do recurso, mas, lhe nego provimento.
É como voto.
ESCLARECIMENTOS
O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Sr. Ministro Milton Luiz Pereira, na atualidade, o argumento de peso é a nova redação dada ao § 4!!, que dispõe que, na execução, havendo ou não embargos, o Juiz fixa a verba honorária, de acordo com o seu prudente arbítrio.
Não se pode fixar duas condenações. A Lei estabelece: havendo ou não embargos, com ou sem embargos, na execução, o Juiz só pode fazer uma condenação e usando do seu poder de arbítrio, com base nas letras a, b e c do § 3~ do art. 20.
Quanto à questão de poder haver arbitramento de honorários advocatícios em despacho, isso nem discuto. Primeiro porque isso já é uma velharia, uma coisa do passado; depois, porque isso é algo que fere frontalmente o art. 20 do Código de Processo, já que a sentença condenará o vencido em honorários - só a sentença pode condenar. Aquele meramente provisório. É na sentença, quando se declara extinta a execução pelo pagamento, ou nos embargos, quando há, que se fixam os honorários, na execução. Despacho não pode fixar honorários.
O que houve naquela reunião de juristas, como V. Exa. admite, é que se realizou em 1975, enquanto o Código é de 1974.
Mas a jurisprudência e a doutrina foram se sedimentando e está se vendo hoje, que é impossível se fixar honorários advocatícios em decisão interlocutória ou em despacho.
Agradeço os subsídios de V. Exa.
É como voto.
VOTO - VENCIDO
O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES' DE BARROS: Srs. Ministros, discordo do voto do Eminente Ministro Demócrito Reinaldo, pedindo vênia para tanto, porque, em primeiro lugar, o dispositivo do § 4~, ao dizer que nas execuções embargadas ou não os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa, permite que haja condenação de hono-
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rários nessas execuções. Consentindo essa imposição de pena de sucumbência, não proíbe - e nem o poderia fazer - que haja condenação nas sentenças que julguem os embargos à execução.
Parece-me, data venia dos Srs. Ministros Milton Luiz Pereira e Demócrito Reinaldo, que com a nova redação do § 4~ reforça-se o entendimento no sentido da cumulação de verbas honorárias.
Por outro lado, não me preocupa a observação de que no processo de execução é inviável a imposição do encargo do pagamento de honorários,
porque isto não pode ser feito em simples despacho.
Na verdade, a decisão, que determina a citação no processo de execução, tem uma carga bem superior à de despacho. Ela leva uma carga de sentença, porque o juiz, ao determinar a citação, emite um juízo a propósito daquele título e o declara título executivo. Por isso, abre-se o processo de execução.
Com esses argumentos, pedindo vênia aos dois votos que discordam do meu entendimento, dou provimento ao recurso.
RECURSO ESPECIAL N~ 89.120 - SP
(Registro n~ 96.0011727-6)
Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros
Recorrente: Guarda Noturna de Santos
Recorrido: Estado de São Paulo (Fazenda Estadual)
Advogados: Drs. Luiz Lopes e outros, e Clécio Braschi e outros
EMENTA: Processual - Recurso especial - Alínea b - Hipótese em que cabe o recurso por descompasso entre lei local e federal -I - Cabe recurso especial, para resolver conflito entre lei local e lei federal (alínea b), quando a solução se possa obter sem declaração de inconstitucionalidade. Isto somente ocorre, quando os diplomas em confronto foram gerados em áreas onde concorrem a competência local e a federal (CF art. 24).
TI - Não maltrata o art. 18 do Código Civil, o acórdão que, examinando legislação estadual, nega o status de autarquia a determinada entidade prestadora de serviço.
TIl - Não há ofensa aos arts. 165 e 458 do CPC, se o dispositivo do Acórdão finca-se em motivação sintética, mas perfeitamente compreensível.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997 .. 89
IV - Embargos declaratórios destinados a explicitar o questionamento de dispositivos não são protelatórios.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira 'furma do Superior 'fribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso, nos temos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Mílton Luiz Pereira, José Delgado, José de Jesus Filho e Demócrito Reinaldo.
Brasília, 12 de setembro de 1996 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 21-10-96.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: O Acórdão decidiu o mérito, fincado em argumentação que resumo, assim:
a) a Autora (ora recorrente) pede que se lhe reconheça o status de autarquia, criada por decretolei estadual, cujo artigo 1~ diz: "é criada como associação particular sem ônus para o estado, a Guarda Noturna de Santos, nos moldes da Guarda Noturna de São Paulo";
b) pelo regulamento que complementou o DL, a Guarda Notur-
na seria mantida mediante contribuições de pessoas interessadas em seus serviços, não existindo qualquer ônus para o Estado. Este limitava-se em nomear os dirigentes da corporação e fiscalizar suas atividades;
c) não há dúvida, quanto à natureza pública das funções desempenhadas pela GNS;
d) a doutrina concorda em que a caracterização de um ente estatal como autarquia pressupõe a conjunção de três elementos: criação por lei; personalidade de direito público, patrimônio próprio e auto-administração, sob controle estatal;
e) a associação apelante não se integra no conceito de autarquia. Sua natureza é de "serviço social autônomo", investido de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos e mantida através de contribuições parafiscais.
Houve um voto vencido, montado nesta linha de argumentação:
a) a GNS não é pessoa jurídica de direito privado, porque, nem é uma entidade corporativa, formada pela associação de pessoas, nem constitui um ente fundacional, gerado pela afetação de um patrimônio;
b) a circunstância de o DL 11.724/40 ter afirmado que a GNS
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seria criada como "associação particular", é irrelevante. É irrelevante, porque o Estado federado não tem competência para infundir personalidade de direito privado a entidade a quem a lei federal considera de direito público;
c) à míngua de um terceiro gênero, é fatal a conclusão de que a entidade insere-se na categoria de direito público;
d) no ensinamento de Celso Antônio Bandeira de Mello, a localização de uma pessoa jurídica no rol daquelas de direito público depende menos do qualificativo que lhe atribui a lei, do que das funções que ela desenvolve;
e) na hipótese, a lei cometeu à GNS o exercício de funções características da polícia de segurança pública e de auxiliar do policiamento (art. 12 do Regulamento);
f) o Regulamento proíbe o exercício da vigilância noturna, a qualquer corporação particular;
g) a Guarda continua a exercer tais funções, de polícia, reservada pelo sistema constitucional aos órgãos estatais;
h) o Regulamento impôs à GNS a estrutura orgânica e as condições operacionais, garantindo a tutela administrativa estatal;
i) se a Guarda é de direito privado, não pode exercer função exclusiva da Administração. Em contrapartida, a Administração não pode interferir no funcionamento da Guarda.
o Acórdão da Apelação foi confirmado, em grau de embargos infringentes. O Aresto confirmatório fomentou-se em:
a) a teor do DL 200/67, autarquia é entidade fundacional, destinada ao exercício de serviço público destacado da ação direta do Estado;
b) a Guarda Noturna de Santos não configura autarquia, pois foi concebida como "associação particular";
c) por outro lado, não faz sentido o Estado criar associação privada, cuja existência depende de registro;
d) em tal circunstância, a GNS é "um serviço público, de contorno jurídico indefinido, quer do ponto de vista do direito público, quer do direito privado."
Houve embargos de declaração, em que se procurou trazer à discussão, o art. 52, II da Constituição Federal.
Os embargos foram rejeitados, em Acórdão que, ao fundamento de ser manifesto o intuito protelatório, aplicou multa.
O Recurso Especial procura fundamento nos permissivos a, b e c.
A Recorrente queixa-se de ofensa aos artigos:
a) 18 e 19 do Código Civil;
b) 125, III, 126, 165 e 458 do CPC ..
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 91
o Acórdão teria, ainda, prestigiado lei local (o DL 11.724/40), contestada em face de Lei Federal e divergido de nossa Súmula 98.
Esta, a lide que o recurso traz à nossa decisão.
VOTO
O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): Examino, inicialmente, a admissibilidade do recurso, pela alínea b.
Já discutimos o tema.
Isto ocorreu no julgamento do REsp 40.992/SC, de que fui relator.
N aquela assentada, eu disse:
"Este recurso põe em confronto uma lei estadual e outra federal.
À primeira vista, parece que conflito semelhante resolve-se à luz da Constituição Federal.
Como sabemos, o sistema federativo aglutina três subordinamentos jurídicos, que se desenvolvem em planos autônomos, tendo, como ponto de convergência, a Constituição Federal.
Normalmente, na composição de conflito entre norma estadual e federal, apura-se a quem pertence a competência para legislar sobre a matéria em disputa.
Constatado que determinada norma jurídica ultrapassou o âmbito de competência normativa do Estado que a editou, ela é tida co-
mo inconstitucional. É inconstitucional, não por divergir da lei federal, mas por emanar de fonte inidônea. Operação semelhante ocorre em relação às leis federais e municipais.
Esta pesquisa é feita no texto constitucional. No sistema jurídico brasileiro, compete ao Supremo Tribunal desenvolvê-la.
Existem, contudo, hipóteses em que o confronto é resolvido sem necessidade de que se discuta constitucionalidade.
Tais hipóteses surgem quando a competência é outorgada, concomitantemente, aos três graus de descentralização normativa da federação (CF arts. 23 e 24).
Quando o conflito envolve questão sediada no terreno da competência concorrente, o encargo de o dirimir, em jurisdição especial, reserva-se ao Superior Tribunal de Justiça (CF art. 105, IIl, b).
O tema já foi examinado nesta Corte.
Com a segurança que o caracteriza, o E. Ministro Eduardo Ribeiro conduziu a 'Ierceira Turma à constatação de que:
"O cabimento do especial, pela letra b, supõe que a impugnação à lei local não envolva sua inconstitucionalidade ou a da lei federal. No sistema federativo consagrado pela Constituição, havendo possibilidade de legislação concorrente e caben-
92 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
do à União estabelecer normas gerais, as leis estaduais, editadas no exercício da competência suplementar, haverão de se conformar àquelas diretrizes gerais. Assim, ainda agindo União e Estado nas respectivas esferas de competência, poderá ser inválida a lei estadual, em virtude de descompasso com a lei federal, verificada a hipótese do artigo 24 da Constituição." (REsp 31.391)
Na hipótese que ora examinamos, não se cuida de competência concorrente: a tese de que o Decreto estadual não prevalece, frente ao Código Civil teria como premissa a afirmação de que o regulamento foi emitido por entidade incompetente, nos termos da Constituição Federal.
Ora, tal assertiva envolve questão constitucional.
Não conheço do recurso, sob a égide da alínea b.
Não enxergo, por outro lado, ofensa do Acórdão, aos artigos 18 e 19 do Código Civil.
Com efeito, a recorrente limitouse em pedir declaração de que ela seria uma autarquia estadual.
O Acórdão, interpretando o Decreto estadual, negou a declaração: disse, simplesmente, que a GNS não se insere no conceito de autarquia. Sua natureza é de entidade cujo contorno é indefinido.
Em assim fazendo, não maltratou qualquer dispositivo elo Código Civil.
Não ofendeu, até porque o art. 18 - como está claro em seu texto -cuida, somente, das pessoas jurídicas de direito privado.
Não atinei a razão pela qual a Recorrente assevera que o Acórdão contrariou o art. 125, In do CPC.
No que respeita ao art. 126, digo que o aresto não deixou de exarar decisão. Nele se contém dispositivo claro.
No que respeita aos arts. 165 e 458 do CPC, diga-se que o dispositivo do acórdão :fmca-se em motivação sintética, mas perfeitamente compreensível.
Dir-se-á que, na resposta aos Embargos declaratórios, o Tribunal ofendeu o art. 458. Semelhante imputação é improcedente: o acórdão formou-se no plano da inconstitucionalidade e do Direito Público. Qualquer incursão aos domínios do Direito Constitucional e do Direito Privado somente faria sentido, caso estivesse a Corte, discutindo algo além da natureza ju~ídica da GNS.
O recurso merece conhecimento pela divergência com a Súmula 98.
Com efeito o acórdão que respondeu aos embargos declaratórios, após reconhecer que "os embargos são para prequestionar", aplicou a multa, dizendo ser manifesto "o intuito protelatório do- expediente".
Conheço parcialmente o recurso, para ca:q.celar a multa.
R. sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 93
RECURSO ESPECIAL N2 92.841 - PE
(Registro n2 96.0022185-5)
Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros
Recorrente: União Federal (Fazenda Nacional)
Recorrida: Organização Nacional de Serviços Ltda.
Advogados: Drs. Adonias dos Santos Costa e outros, e Mário Carlos Saver Araújo
EMENTA: Processual - Cumulação de pedidos - Repetição de indébito - Compensação tributária - Possibilidade (Lei n~ 8.383/91 - art. 66).
- É lícito ao autor pedir, em uma só ação, que se lhe declarem o direito à repetição de indébito tributário e à faculdade de compensar o montante da exação indevida com dívidas geradas pela incidência de outros tributos (L. 8.383/91, art. 66).
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira, José Delgado, José de Jesus Filho e Demócrito Reinaldo.
Brasília, 10 de setembro de 1996 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 21-10-96.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: A Recorrida,
em ação ordinária, pediu lhe seja reconhecido o direito à restituição de valor recolhido indevidamente, a título de Finsocial.
Pleiteou, ainda - com arrimo no art. 66 da Lei 8.383/91 - o reconhecimento da faculdade que lhe assiste, de optar pela compensação entre seu crédito e outros débitos tributários.
Em primeiro grau, declarou-se a autora carente de ação, ao fundamento de que é inviável a cumulação destes dois pedidos.
O V. Acórdão recorrido reformou a Sentença, por:
"Inexistência de incompatibilidade entre a restituição do indébito e a compensação com parcelas vincendas de outros tributos.
94 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
"Não há vedação legal a que a restituição se dê sob a forma de compensação."
A União Federal interpôs Recurso Especial, afirmando violação ao art. 66, § 2~ da Lei 8.383/91.
VOTO
O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): A Recorrida, ao propor a ação ordinária, pediu a declaração de que ela tem direito à restituição de valores recolhidos indevidamente. Requereu, ainda a declaração de que lhe assiste a faculdade de compensar o valor a ser restituído com dívidas relacionadas com a contribuição social ins-
tituída pela Lei Complementar 70/91 (COFINS).
Não há incompatibilidade entre os dois pedidos.
Pelo contrário, o art. 66 da Lei 8.383/91, tratando de repetição do indébito tributário, é claro na afirmação de que "o contribuinte poderá efetuar a compensação desse valor no recolhimento de importância correspondente a períodos correspondentes."
Incompatibilidade haveria, se a demandante houvesse pleiteado a entrega do numerário correspondente ao recolhimento indevido. Na hipótese, contudo, ela se limitou em pleitear declaração de que é credora do indébito.
Nego provimento ao recurso.
RECURSO ESPECIAL N~ 95.863 - SP
(Registro n~ 96.0031317-2)
Relator: O Sr. Ministro José Delgado
Recorrente: Município de São Paulo
Recorridos: João Washington Inks e outros
Advogados: Drs. Irene Veraszto e outros, e Gilson Ferreira e outros
EMENTA: Tributário. Taxas de conservação de vias públicas e de coleta de lixo. Serviço divisível e específico.
1 - Os serviços de conservação e limpeza de vias públicas podem ser destacados como beneficiando unidades imobiliárias autônomas, por serem suscetíveis de utilização, de modo separado por parte de cada usuário.
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 95
2 - Não afronta os arts. 77 e 79, do CTN, a imposição de taxas sobre conservação de vias públicas e coleta de lixo, tendo como base de cálculo o custo da atividade estatal, repartido entre os proprietários dos imóveis, tendo como critério a utilização do imóvel, se comercial ou residencial, em função de sua localização, área edificada, tendo-se em conta, ainda, a subdivisão da zona urbana, com aplicação anual, por metro quadrado, de um percentual da unidade fiscal criada pelo município, obedecendo-se a um escalonamento previsto em lei.
3 - Recurso provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira 'Th.rma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus Filho, Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.
Brasília, 07 de novembro de 1996 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DELGADO, Relator.
Publicado no DJ de 09-12-96.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO: O Município de São Paulo contrapõe o presente recurso especial (fls. 254/265), com fulcro no artigo 105, inciso lII, alíneas a e c, da Constituição Federal, contra acórdão
(fls. 250/252) proferido pelo Eg. Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo que concedeu, parcialmente, a segurança, apenas para invalidar a cobrança tributária concernente às taxas de serviços, preservando íntegro o IPTU lançado.
Assevera o recorrente que a referida decisão violou os arts. 77 e 79 do Código Tributário Nacional, ao outorgar a proteção mandamental em relação às taxas, visto não se confundir a base de cálculo delas com a eleita para o imposto, sendo motivadas, outrossim, pela prestação de atividades específicas e divisíveis. Aduz, ainda, dissídio jurisprudencial.
Sem contra-razões.
Parecer do Ministério Público Estadual de 2:'! instância (fls. 278/281) no sentido de que o recurso adequado seria o extraordinário, porque a controvérsia depende de interpretação do texto constitucional. Disse que no concernente ao dissídio pretoriano, o apelo não conseguiu realizar a demonstração analítica da divergência. Opinou pelo não seguimento do recurso.
96 R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
No juízo de prelibação do especial (fls. 284/286), o Juiz Presidente do Eg. 1~ 'fribunal de Alçada Civil indeferiu o seguimento do especial. Esta decisão foi objeto de agravo de instrumento (fls. 02/06 do Ag 84.982), o qual restou provido (despacho de fls. 120 no Ag 84.982), determinando-se a subida dos autos.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator): A questão jurídica motivadora do presente recurso especial está posta no acórdão impugnado, nos termos seguintes (fl. 252):
"A conservação e a limpeza presumem-se de vias públicas. Não podendo os serviços serem destacados em unidades autônomas de intervenção, de utilidade ou de necessidade públicas, nem sendo suscetíveis de utilização separada por parte de cada um de seus usuários, não pode ser exigida taxa alguma.
O Colendo Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou a respeito do tema:
"'Iàxas - Limpeza e conservação de vias públicas: Não são taxas porque se destinam ao benefício geral e indistinto dos integrantes da coletividade, porque constituem-se por serviços públicos indivisíveis e específicos prestados ao contribuin-
te ou postos à sua disposição -A taxa de combate a sinistros fixada com base no valor venal é vedada constitucionalmente, além do caráter inespecífico" (AI 16.234-0, ReI. Humberto Gomes de Barros - DJU 32:1782 de 16.2.93).
Em suma: foi injurídico o lançamento das taxas, mas permanece hígido o do imposto".
O recorrente, em primeiro lugar, aponta como violados, pelo aresto supra, os arts. 77 e 79 do CTN, que, respectivamente, afirmam (fl. 258):
"Art. 77 - As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a atualização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição" .
"Art. 79 - os serviços públicos a que se refere o art. 77 consideramse:
I - utilizados pelo contribuinte:
a) efetivamente, quando por ele usufruídas a qualquer título;
b) potencialmente, quando sendo de atualização compulsória, sejam postos à sua disposição mediante atividade administrativa em efetivo funcionamento;
II - específicos, quando possam ser destacados em unidades autô-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 97
nomas de intervenção, de utilidade ou de necessidade pública;
lU - divisíveis, quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de cada um dos seus usuários".
o exame dos fundamentos da decisão recorrida demonstra que os dispositivos supramencionados não foram prequestionados.
Observa-se que o acórdão atacado está centrado no entendimento de que a taxa de conservação e limpeza de vias públicas não tem amparo legal porque os serviços a que ela se refere não podem ser "destacados em unidades autônomas de intervenção, de atividade ou de necessidade pública", bem como, tais serviços não são "Suscetíveis de utilização separada por parte de cada um de seus usuários".
Em suma: afirmou a decisão em exame que a taxa em questão tem caráter inespecífico e, por ser fixada sobre valor venal, tem proibição constitucional.
Ora, em nenhum momento do referido decisório foi discutida a aplicação dos arts. 77 e 79 do CTN, especialmente aspectos relativos ao exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição, nem, também, se o serviço foi utilizado pelo contribuinte de modo efetivo, isto é, usufruído a qualquer título ou potencialmente, sendo de utilização
compulsória, sejam postos à disposição mediante atividade administrativa em efetivo funcionamento.
Não se questionou, também, se havia se~viços públicos específicos, destacados em unidades autônomas de intervenção, de utilidade ou de necessidade pública, nem se o serviço era divisível, por haver utilização de modo separado, por parte de cada um dos usuários.
Tais termos, todos nos componentes da mensagem impulsionada pelos arts. 77 e 79, do CTN, deviam ter sido abordados, via embargos declaratórios, para que sobre eles se pronunciasse o egrégio Tribunal a quo.
Face tais considerações, por ausência de prequestionamento explícito dos arts. 77 e 79, do CTN, não conheço do recurso pela letra a.
No tocante à divergência jurisprudencial apontada, a tenho como bem demonstrada, haja vista a inegável posição contrária assumida pelo acórdão recorrido com o decidido por esta egrégia 1~ Turma, ao julgar o REsp n~ 32.870-0/SP, relatado pelo eminente Ministro Demócrito Reinaldo.
Conheço, assim, do recurso, pela letra c, dando-lhe provimento, por acompanhar precedentes desta Turma e as razões do voto condutor do REsp n~ 32.870-0/SP, relatado pelo eminente Ministro Demócrito Reinaldo, conforme acima anotado. 'Iranscrevo, por adotá-lo como razão de decidir, o inteiro teor do voto acima apontado (fls. 267/271):
98 R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
"De fato, depreende-se da simples leitura dos mencionados dispositivos legais: I!:!) - que as taxas "têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição" (caput do artigo 77 do CTN); 2!:!) - os serviços públicos são considerados utilizados pelo contribuinte, efetivamente, "quando pode ele usufruílos a qualquer título", e, potencialmente, "quando, sendo de utilização compulsória, sejam postos à sua disposição mediante atividade administrativa em efetivo funcionamento" (artigo 79, inciso I, a e b); 3!:!) - para os fins do artigo 77 do CTN, são específicos os serviços públicos "quando possam ser destacados em unidades autônomas de intervenção, de utilidade ou de necessidade pública" e divisíveis "quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de cada um de seus usuários" (artigo 79, n e In, do CTN).
Ora, à luz dos princípios estatuídos nestas disposições legais invocadas, não me parece tenha decidido com acerto o aresto objurgado, ao considerar que as taxas de conservação de vias e logradouros e de limpeza públicas, como também de combate a sinistros, não apresentam a divisibilidade e especificidade de que tratam os incisos II e III, do artigo 79 do CTN.
Ao contrário, entendo que, na espécie, não se trata de serviços
prestados uti universi, mas na utilização dos quais se encontram presentes os requisitos da especificidade e da divisibilidade, quer porque atendem determinada necessidade pública, implicando na limpeza do imóvel com a coleta do lixo, quer porque, de outra parte, são utilizados separadamente, por cada usuário, uti singuli.
16m razão a recorrente, portanto, ao invocar abalizadas lições de consagrados especialistas no estudo da matéria, além de expressivos precedentes da jurisprudência, que merecem reproduzidos pela correta exegese que representam. Nesse sentido, assevera com propriedade:
"O Prof. Bernardo Ribeiro de Moraes, in "Doutrina e Prática das Taxas", RT, 1976, pág. 140, ensina:
" ... São serviços públicos específicos, também denominados individuais ou particulares, aqueles que proporcionam vantagem ao indivíduo ou a grupos de indivíduos, embora haja sempre um interesse público em jogo ... São exemplos de serviços específicos: serviços de limpeza pública que atinja a frente dos imóveis ou lhes remova lixo; serviço de conservação de vias ou de conservação de estradas que, apesar de ter por objeto um fim público, não deixa de dar vantagem àquelas que utilizam
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 99
100
necessariamente a via pública ou a estrada ... ".
o mesmo autor diz às págs. 147/148:
" ... o serviço de limpeza pública tem por finalidade manter limpa a área do município, protegendo higienicamente a cidade, abrangendo diversas atividades, exercidas em conjunto ou isoladamente, das quais destacamos: coleta de lixo domiciliar (resíduos domiciliares, materiais de varredura domiciliar, etc.) ou de estabelecimentos comerciais; industriais ou de prestação de serviços, sua remoção e destinação final ... Os serviços acima indicados constituem serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ou postos à disposição do contribuinte, pessoa proprietária do bem imóvel que recebe o serviço, isto é, pessoa que tem a utilização efetiva ou potencial do mesmo ... ".
N a mesma diretriz, a lição do saudoso prof. Hely Lopes Meirelles ("Direito Municipal Brasileiro", 5~ edição, também à pág. 140) a seguir transcrita:
" ... A especificidade e divisibilidade ocorrem, em regra, nos serviços de caráter domiciliar, como os de energia
elétrica, água, esgotos, telefone, e coleta de lixo, que beneficiam individualmente o usuário e lhe são prestados na medida de suas necessidades, ensejando proporcionalmente a remuneração ... Será remunerado por taxa todo serviço que for compulsório para o usuário, como a utilização da rede domiciliar, de água e esgoto sanitário, o de coleta de lixo e qualquer outro considerado essenciaL.".
2. De outra parte, o C. Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE 89.876-RJ, in RTJ 98/230-281, em que examinou a possibilidade da remoção de lixo poder ser cobrada por decreto ou dever sê-lo por lei, por se constituir numa taxa de serviço público, assentou em sua ementa que:
"Sendo compulsória a utilização do serviço público de remoção de lixo - o que resulta, inclusive, de sua disciplina como essencial à saúde pública, '" é, em verdade, taxa ... ".
Em seu voto, o eminente Relator afirmou:
" ... a contribuição que se exige, tradicionalmente, em matéria de remoção de lixo é uma taxa, que não apenas o abarca, mas também abran-
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
ge as outras espécies de limpeza urbana, como o varrer das ruas, que se integram ao controle sanitário, que é atribuição impostergável do Poder Público ... ".
E, examinado também os requisitos de especificidade e divisibilidade desses serviços, rematou:
" ... Remoção de lixo é, portanto, como integrante dos serviços de limpeza urbana, serviço público essencial, cuja contrapartida a ser exigida do particular, já que é específico e divisível, somente pode configurar-se taxa ... ". (folhas 94/97).
Na mesma direção, mais recentemente, esta egrégia Turma, ao apreciar o REsp 10.142-0/ SP, relator o eminente Ministro Garcia Vieira, decidiu, por unanimidade, conforme acórdão assim ementado:
"Execução fiscal - 'Iàxas de limpeza - Fato gerador.
As taxas têm de fato gerador "o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição".
A recorrente está sujeita às taxas de conservação de ruas e logradouros públicos e de
limpeza - coleta de lixo, porque ela usufrui dos serviços de conservação e limpeza, inclusive coleta de lixo.
Recurso provido" (DJ 08.03.93)".
Na verdade, o exame da controvérsia revela que a Taxa em discussão é cobrada para compensar o custo da atividade estatal com os serviços prestados, o dispêndio efetivado pela administração para a consumação destas atividades de limpeza das vias públicas e coleta de lixo. O custo com tais serviços é estimado e repartido entre os destinatários diretos e beneficiários das normas utilizando-se critério de repartição razoável e aceito pelo ordenamento jurídico.
É de se registrar, também, que o Prof. Aires Fernandino Barreto, em sua monografia "Base de Cálculo, Alíquota e Princípios Constitucionais", Ed. RT, 1987, págs. 67 e 97, conforme assinalado à fi. 102 dos presentes autos, pronunciou-se a respeito do terna do modo seguinte (fi. 102):
" ... Nas taxas, o exame há de ser idêntico. Ao consignar-se em lei urna dada importância (por exemplo, Cz$ 100,00) nada teremos dito, se a essa expressão (valor) não aditarmos: por metro quadrado, por testada, alqueire, litro, perímetro, quilo, metro cúbico ou outra unidade qualquer.
'Thmbém não se diga que esse segundo elemento quantificador é
R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 101
base de cálculo. É mero registro de qual alíquota se deverá aplicar sobre os Cz$ 100,00 ... ".
E mais às fls. 97, que:
" ... Parece-nos haver afronta ao princípio se, verbi gratia, Taxa de Limpeza Pública fosse exigida igualmente diante de situações absolutamente desiguais, como seriam as de dado contribuinte, titular de imóvel de 100,00m2 com mais de 2.000m de testada para a via pública, e de outro, proprietário de 30m2 e 3m de frente ... ".
Por fim, adoto os fundamentos contidos à fl. 257, pelo que os transcrevo:
"No caso sub judice as taxas são cobradas pela prestação de serviços públicos, ou seja, aqueles que se contiverem no âmbito de atribuições da pessol:j. política que institui o gravame, segundo as regras constitucionais. Os serviços poderão ser efetiva ou potencialmente prestados ao contribuinte, ou postos à sua disposição, conforme anuncia o art. 77 do Código Tributário Nacional.
Não existe qualquer inconstitucionalidade ou ilegalidade quanto à base de cálculo utilizada para o lançamento das taxas, que respeita o disposto no artigo 145, parágrafo 22, da Constituição Federal e o artigo 77 parágrafo único do Código Tributário Nacional.
A base de cálculo das taxas, que é o custo da atividade estatal, deve ser repartido entre os destinários através de um critério.
Esse critério, em se tratando de prédio comercial ou residencial, em função de sua localização, área edificada e utilização, leva em conta a subdivisão da zona urbana, com aplicação anualmente, por metro quadrado, de um percentual da UFM, de acordo com o escalonamento em lei previsto (art. 87 da Lei 6.989/66 na redação atual).
O mesmo sucede quanto à taxa de conservação, de que trata o art. 94 da referida lei, que utiliza como critério de repartição do custo da respectiva atividade estatal, o metro linear em toda a extensão do imóvel.
Verifica-se, pois, que as bases de cálculo de ambas as taxas não incidem na proibição constitucional pois que não se confundem com a do IPTU. O critério para repartição do custo das taxas não é vedado por lei porque se presume com a extensão da área servida.
Claro está que a Administração deve possuir formas de viabilizar o lançamento e a cobrança de tais taxas, desde que dentro de parâmetros e critérios jurídicos razoáveis".
Por tais considerações, dou provimento ao recurso.
É como voto.
102 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.
RECURSO ESPECIAL N~ 101.163 - AL
(Registro n~ 96.0044307-6)
Relator: O Sr. Ministro José Delgado
Recorrente: Fazenda Nacional
Recorrida: Agência Brasileira de Navegação Ltda.
Advogados: Drs. Marucia Miranda Correa e outros, e Edson Valter T. de Menezes
EMENTA: Tributário. Adicional de tarifa portuária. Lei n. 8.029, de 12.04.90.
1. Com a extinção da Portobrás não ocorreu a retirada 'do mundo jurídico da exigibilidade tributária representada pelo Adicional da Tarifa Portuária.
2. De acordo com o art. 21, XIII, letra f, da CF, compete à União explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os portos marítimos, fluviais e lacustres.
3. Extinta a Portobrás, a União assumiu, diretamente, a exploração dos portos marítimos, fluviais e lacustres, até que tais serviços sejam autorizados, concedidos ou permitidos.
4. O Adicional de Tarifa Portuária é receita com destinação vinculada: deve ser aplicada em investimentos para melhoramento, reaparelhamento, reforma e expansão de instalações portuárias.
5. A sua arrecadação será depositada, semanalmente, pelos órgãos encarregados da administração dos portos e, portanto, de sua cobrança, no Banco do Brasil S/A e depois colocada à disposição da pessoa jurídica que, direta ou indiretamente, explora o serviço, no caso, após a Lei 8.029/90, a União Federal. A Constituição Federal não concedeu exclusividade à Portobrás para tal função administrativa, nem para a receita de tal Adicional.
6. O art. 20 da Lei 8.029, de 12.04.90, explicitou, de modo muito claro, que "A União sucederá a sociedade que venha a ser extinta ou dissolvida, nos seus direitos e obrigações decorrentes de norma legal, ato administrativo ou contrato, bem assim nas demais obrigações pecuniárias." Em conseqüência, mesmo que o Adicional de Tarifa Portuária fosse Adicional exclusivo que só podia ser arrecadado pela Portobrás e a ela vinculado, mesmo assim, não teria sido o mesmo extinto, em decorrência da extinção da empresa, pela sucessão operada em relação à União.
7. Recurso provido.
R. Sup. Trib. Just" Brasília, a, 9, (92): 53-106, abril 1997. 103
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira 'furma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus Filho, Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.
Brasília, 07 de novembro de 1996 (data do julgamento).
Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DELGADO, Relator.
Publicado no DJ de 09-12-96.
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO: A Fazenda Nacional interpõe o presente Recurso Especial contra acórdão sintetizado na ementa seguinte:
"Tributário. Adicional da tarifa portuária. Extinção da Portobrás.
- Sem qualquer alteração da norma do parágrafo único, do art. 22, da Lei n. 7.700/88, que definiu o Adicional de Thrifa Portuária como receita da Portobrás, a extinção desta implicou extinção daquela exação.
- Apelação improvida.
- Segurança concedida."
Afirma a entidade recorrente que a decisão atacada contrariou o disposto nos artigos 12, § 12 da Lei n. 7.700/88 e 20 da Lei n. 8.029, de 12.04.90.
Funda-se a recorrente na afirmação de que, com a extinção da Portobrás, não ocorreu a extinção, só por esse fato, do Adicional da Thrifa Portuária, por ter a Lei n. 8.029/90, expressamente, conferido à União a sucessão da sociedade dissolvida, em seus direitos e obrigações decorrentes de norma legal, ato administrativo ou contrato, bem assim nas demais obrigações pecuniárias.
Os recorridos não apresentaram contra-razões.
É o relatório.
VOTO
O SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator): O presente recurso especial m·erece ser conhecido. A matéria nele discutida foi prequestionada no acórdão recorrido.
Destaco do aresto atacado o trecho seguinte do voto condutor que o compõe (fls. 83/84):
"A Lei n. 7.700/88 definiu o ATP como receita da Portobrás.
A Lei n. 8.029, .de 12 de abril de 1990, que autorizou a dissolução da Portobrás, nenhuma referência fez à exação em tela. Assim, se algum ato infralegal tenha determinado a integração do ATP na receita da União Federal,
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fê-lo sem validade jurídica, porque a definição daquela exação, como receita da Portobrás, está definida em lei, que evidentemente não pode ser alterada por ato inferior.
É certo que atos menores podem cuidar da destinação de bens pertencentes à Portobrás, em face de sua extinção. Não, porém, modificar lei que instituíra receita em favor daquela estatal.
Em conseqüência, a extinção da Portobrás implicou a extinção do ATP, que era receita sua."
N a verdade, o art. 22, da Lei n. 7.700, de 21 de dezembro de 1988, estabeleceu que:
"Art. 22• O produto da arrecadação do Adicional de Tarifa Portuária destinar-se-á à aplicação em investimentos para melhoramento, reaparelhamento, reforma e expansão de instalações portuánas.
Parágrafo único. O produto da arrecadação do Adicional de Tarifa Portuária será depositado, semanalmente, pelas administrações portuárias no Banco do Brasil S/A, constituindo recurso da Empresa dos Portos do Brasil S/APortobrás, a quem caberá a sua gestão."
Verifique-se, primeiramente, que o referido Adicional tem uma destinação específica, que está disposta no caput do art. 22 acima referido: "O produto da arrecadação do Adi-
cional de Tarifa Portuária destinarse-á à aplicação em investimentos para melhoramento, reaparelhamento, reforma e expansão de instalações portuárias." Em conseqüência, há uma vinculação posta na lei, de caráter permanente no tocante à aplicação do referido Adicional. Este é o destino do adicional em questão. A execução desse desiderato querido pelo legislador, na época em que a lei foi instituída, passou a ser a Portobrás, empresa criada para, entre outras, atender aquelas finalidades previstas no artigo 22 da norma já referida.
Extinta, por lei, a Portobrás, sem se extinguir expressamente o Adicional de Tarifa Portuária - ATP, não há reflexo, ao meu pensar, quanto a essa exação tributária. Ela continua a existir, por força da própria lei que a criou e com os recursos arrecadados vinculados na forma por ela disposta. A sua arrecadação não sofre solução de continuidade, com o produto dela será depositado, semanalmente, pelas administrações portuárias, no Banco do Brasil, constituindo recurso a ser aplicado em investimentos para melhoramento, reaparelhamento, reforma e expansão de instalações portuárias pelo órgão que passou a exercer as atribuições administrativas até então da competência da Portobrás.
Thnha~se em consideração que, de acordo com o art. 21, da Constituição Federal, compete à União explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão os portos marítimos, fluviais e lacustres.
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Ora, com a extinção da Portobrás e outras empresas, pela Lei n. 8.029, de 12.04.90, ficou bem claro no art. 20 do referido dispositivo legal que "A União sucederá a sociedade, que venha a ser extinta ou dissolvida, nos seus direitos e obrigações decorrentes de norma legal, ato administrativo ou contrato, bem assim nas demais obrigações pecuniárias."
O que ocorreu, conseqüentemente, foi o fato de que a União passou a explorar, diretamente, os portos marítimos, fluviais e lacustres, conforme lhe permite a Constituição Federal, com a dissolução da Portobrás. Nenhum reflexo, portanto, quanto às tarifas cobradas pelo uso de tais portos, pois de tanto, a lei de extinção da Portobrás não cuidou.
Diante do exposto, não há de prevalecer o entendimento posto no acórdão recorrido, no que merece provimento o recurso.
Segundo se depreende do voto condutor do acórdão, a egrégia 'furma posicionou-se, apenas, quanto à extinção do Adicional da 'larifa Portuária. 'lal evidencia-se com a conclusão do voto do eminente relator (fl. 85):
"Entendo que o ATP está extinto, e por tal razão nego provimento ao apelo mantendo a sentença. Se ficar vencido, nesta parte, então voto no sentido de que a questão da inconstitucionalidade da Lei n. 7.700/88 seja submetida ao Plenário."
Na hipótese, se vencedor o voto aqui proferido, há impossibilidade de se penetrar no mérito do acórdão recorrido, face não ter se ultimado o julgamento da apelação. Pende, ainda, a questão da inconstitucionalidade da Lei n. 7.700/88 a ser apreciada pelo Pleno do Tribunal de origem e, após o término desse julgamento, a volta do processo à 'furma do Tribunal a quo para ultimar o seu pronunciamento sobre a: apelação.
Em tais circunstâncias, dou provimento ao recurso para reconhecer não ter sido extinto o Adicional de 'larifa Portuária. Devem, contudo, os autos voitar ao Tribunal remetente, a fim de que a sua Primeira 'furma continue no julgamento dos outros aspectos jurídicos suscitados, conforme já se anotou, após resolvido, pelo Pleno, a argüição de inconstitucionalidade já referida.
É como voto.
106 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.