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PRIMEIRA TURMA

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PRIMEIRA TURMA

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N~ 104.503 - PR

(Registro n~ 96.0016314-6)

Relator: O Sr. Ministro José de Jesus Filho

Agravante: Caixa Econômica Federal - CEF

Advogados: Drs. Manoel Moreira Filho e outros

Agravado: Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e De­rivados de Petróleo de Ponta Grossa e Região

Advogados: Drs. Olindo de Oliveira e outro

EMENTA: Agravo regimental. Sindicato. Abertura de conta cor­rente. Negativa da Caixa Econômica Federal. A Caix.a Econômica Federal é parte legítima para integrar a relação processual por de­legação de competência nos termos dos arts. 586 e 588 da C.L.T. e, em conseqüência disso, não pode recusar7se a abrir conta corren­te de Sindicato, que já tem o código liberado pelo Ministério do Tra­balho para o recebimento das contribuições sindicais. Agravo re­gimental a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Primeira 'furma do Supe­rior Tribunal de Justiça, por unani­midade, negar provimento ao agravo regimental, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte inte-

grante do presente julgado. Partici­param do julgamento os Srs. Minis­tros Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pe­reira. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro José Delgado.

Custas, como de lei.

Brasília, 27 de agosto de 1996 (data do julgamento)..

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 55

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Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DE JESUS FILHO, Relator.

Publicado no DJ de 16-09-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO: Trata-se de agravo re­gimental manifestado pela Caixa Econômica Federal - CEF, contra decisão proferida por mim nestes termos:

"Trata-se de agravo de instrumen­to manifestado pela Caixa Econô­mica Federal - CEF, contra de­cisão que in admitiu recurso espe­cial, no qual se discute a sua legi­timidade para fornecer o código para recolhimento da contribuição sindical.

Correta a decisão agravada, razão pela qual a mantenho.

Pelo exposto, nego seguimento ao agravo com [mcas no artigo 38 da Lei 8.038/90 c/c o artigo 34, inci­so XVIII do RI/STJ." (fls. 36)

Alega a Caixa Econômica Federal que a negativa de vigência ao art. 3~, do CPC, é patente, evidenciando os motivos que levaram a ora agravan­te a rebelar-se contra a decisão agra­vada.

É este o relatório que submeto à consideração de meus ilustres cole­gas.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO (Relator): A decisão

presidencial que in admitiu o recur­so especial, e, que mantive, é do se­guinte teor:

"Trata-se de recurso especial in­terposto com fulcro no artigo 105, III, a, da Constituição Federal contra acórdão de Turma desta Corte, o qual decidiu que tendo a Caixa Econômica Federal se nega­do a abrir a conta corrente, após liberado o número-código pelo Mi­nistério do Trabalho, praticou ato ilegal e, por isso, deve ocupar o pó­lo passivo da relação processual.

Sustenta a CEF que o aresto ata­cado negou vigência ao artigo 3~ do Código de Processo Civil.

Diz que não tem legitimidade pa­ra figurar no pólo passivo do writ, pois sendo empresa pública, de di­reito privado, seus empregados não praticam ato administrativo, na acepção jurídica do termo.

O recurso não merece prosseguir.

A recorrente não conseguiu de­monstrar a alegada negativa de vigência ao artigo 3~, do CPC.

Ao contrário, na verdade, o julga­do aplicou corretamente tal dispo­sitivo.

O Sindicato ora recorrido, estan­do devidamente constituído, regis­trado no Cartório de Títulos e Do­cumentos competente e reconhe­cido pelo Ministério do Trabalho, requereu perante a CEF o forne­cimento de código para recolhi­mento da contribuição sindical, em conta corrente denominada "Depósito da Arrecadação da Con-

56 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.

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tribuição Sindical". A recorrente recusou-se a fornecer-lhe tal códi­go. O ato impugnado deveria ter sido praticado em delegação do Poder Público, por força do que dispõem os artigos 586, 588 e 590 da CLT, os quais determinam que cabe à Caixa Econômica Federal admi­nistrar o produto da arrecadação da contribuição sindical. Tal fun­ção, sem dúvida, é de natureza pública, haja vista que cabe à União administrar tais valores, cuja índole é tributária e têm des­tinação constitucionalmente pre­vista.

Portanto, havendo recusa em exe­cutar a atividade pública, delega­da por lei à CEF, deve ela figurar no pólo passivo da ação manda­mental.

Dessarte, o recurso não atendeu ao requisito constitucional, pois,

como visto, não houve a alegada negativa de vigência ao referido dispo~itivo legal.

Em face do exposto, não admito o recurso especial." (fls. 22/23)

A recusa da Caixa Econômica Fe­deral em proceder a abertura da conta corrente no caso em exame, não encontra ressonância nas dispo­sições dos arts. 586 e 588 do diploma consolidado. Daí, a sua legitimidade para integrar a relação processual, por delegação de competência. Sen­do assim, não pode recusar-se a abrir conta corrente do Sindicato, que já tem o código liberado pelo Mi­nistério do Trabalho para o recebi­mento das contribuições sindicais.

Pelo exposto, nego provimento ao agravo.

É o meu voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N2 105.332 - SP

(Registro n2 96.0017543-8)

Relator: O Sr. Ministro José de Jesus Filho Agravante: Nitratos Naturais do Chile Ltda.

Advogados: Drs. André Kesselring Dias Gonçalves e outros Agravada: Fazenda do Estado de São Paulo Advogados: Drs. Oscar Vilhena Vieira e outros

EMENTA: Agravo regimental.

É inadmissível na ação de repetição de indébito o julgamento an­tecipado da lide. Agravo regimental a que se nega provimento.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 57

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ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Primeira 'furma do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, negar provimento ao agravo regimental, na forma do re­latório e notas taquigráficas constan­tes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julga­do. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e José Delgado.

Custas, como de lei.

Brasília, 22 de agosto de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DE JESUS FILHO, Relator.

Publicado no DJ de 16-09-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO: Trata-se de agravo re­gimental manifestado por Nitratos Naturais do Chile Ltda. contra deci­são proferida por mim, na forma a saber:

"Trata-se de agravo de instrumen­to manifestado por Nitratos N atu­rais do Chile Ltda., contra decisão que inadmitiu recurso especial, no qual se discute negativa de vigên­cia dos artigos 330, inciso I, 603, 608 e 609 todos do CPC.

Das normas indicadas como nega­das pelo agravante, delas não cui­dou o acórdão recorrido. Ausente, assim, o indispensável prequestio­namento. Súmulas 282 e 356 do STF.

Pelo exposto, nego seguimento ao agravo com suporte no art. 38 da Lei 8.038/90 c/c o artigo 34, inci­so XVIII do RI/STJ." (fls. 58)

Em suas razões afirma a agravan­te que as questões controvertidas a saber - julgamento antecipado da lide e processo de liquidação de sen­tença, foram devidamente ventiladas nas contra-razões de apelação, con­forme se verifica da respectiva peça. Ouvida, manifestou-se a Fazenda es­tadual pelo não provimento do agra­vo.

É este o relatório que apresento à consideração de meus ilustres cole­gas.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO (Relator): Ao contrário do que assevera a agravante, o acór­dão hostilizado se ateve a exata apli­cação da lei ao reformar a sentença monocrática que decidiu a lide ao ar­repio das normas processuais apon­tadas nás contra-razões, as quais não poderiam prevalecer, sob pena, aí sim, de se tornarem letras mor­tas. Daí o acerto do acórdão, verbis:

"É cediço que na ação de repetição de indébito é necessária a compro-

58 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.

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vação dos recolhimentos indevidos para apreciação do pedido.

Assim, não poderia o MM. Juiz, ter proferido sentença, sem antes determinar a produção desta pro­va, pois tal conduta constitui ver­dadeiro cerceamento de defesa.

De acordo com o disposto no arti­go 130 do Código de Processo Ci­vil, cabe ao Juiz, de ofício ou a re­querimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo." (fls. 15/16)

Com relação ao processo de liqui­dação da sentença, sem razão, igual­mente, a agravante, como bem de­monstra o acórdão impugnado:

"Não há que se falar, também, em deixar o quantum devido para ser apurado posteriormente, atra­vés de liquidação de sentença.

A sentença deve conter todos os elementos necessários à sua exe­cução, de modo que o vencedor possa obter a efetivação do direi­to que lhe foi reconhecido. Só ca­be liquidação de sentença quando for impossível se apurar o quan­tum devido.

Assim, a nulidade da r. sentença é medida que se impõe, devendo o MM. Juiz determinar a expedição de ofícios, oportunamente reque­ridos, a fim de possibilitar, à au­tora, comprovar o direito que ale­ga ter.

Face ao exposto, dá-se provimen­to ao recurso oficial para anular a r. sentença de fls. 70/72, prejudi­cado o apelo da Fazenda do Esta­do." (fls. 17)

Pelo exposto, nego provimento ao agravo.

É o meu voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N~ 107.746 - SP

(Registro n~ 96.0023557-0)

Relator: O Sr. Ministro José de Jesus Filho Agravante: Fazenda do Estado de São Paulo Procuradores: Drs. Paris Piedade Junior e outros Agravada: Doralice Nascimento Scisci Advogados: Drs. Luis Antonio de Camargo e outro

EMENTA: Agravo regimental. Não serve para comprovar o dissídio jurisprudencial, com fundamen­to na alínea c, da permissão constitucional, julgados de Turma ou Se­ção que não tem mais competência para a matéria neles versada. Agravo regimental a que se nega provimento.

R. Sup. 'lTib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 59

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ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Primeira 'furma do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, negar provimento ao agravo regimental, na forma do re­latório e notas taquigráficas constan­tes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julga­do. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e José Delgado.

Custas, como de lei.

Brasília, 22 de agosto de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DE JESUS FILHO, Relator.

Publicado no DJ de 16-09-96.

RELATÓRIO

o SR. MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO: Trata-se de agravo re­gimental manifestado pela Fazenda do Estado de São Paulo, contra de­cisão proferida por mim à base das seguintes considerações:

"Trata-se de agravo de instrunlen­to manifestado pela Fazenda do Estado de São Paulo, contra deci­são que inadmitiu recurso espe­cial, no qual se discute a meação de mulher casada, por dívida con­traída em benefício da família, ca­bendo à mulher o ônus da prova contrária.

Em princípio, o dissídio jurispru­dencial estaria comprovado, se o julgado trazido a confronto não fosse da 3!! 'furma que perdeu a competência sobre a questão.

Pelo exposto, nego seguimento ao agravo com supedâneo no artigo 38 da Lei 8.038/90 c/c o artigo 34, inciso XVIII do RIISTJ." (fls. 39)

Alega' a Fazenda estadual que mesmo que se pretendesse dar uma maior amplitude à Súmula 158 do STJ, ainda assim, a decisão compor­taria reforma, pois, como é induvido­so, a mesma refere-se exclusivamen­te à proposição de recurso de embar­gos de divergência, do que não se trata. A divergência no caso de re­curso especial, pode ser com a inter­pretação dada por qualquer Tribu­nal. Assim, o fato de a 3!! 'furma ter perdido a competência não altera em nada a caracterização da divergên­cia para fins da letra c em caso de recurso especial.

É este o relatório que apresento à consideração de meus ilustres cole­gas.

VOTO

O SR.' MINISTRO JOSÉ DE JE­SUS FILHO (Relator): Engana-se a Fazenda estadual em suas deduções. Com efeito, o dissídio jurisprudencial é um só. Tanto aquele previsto na hipótese da alínea c, inciso IIl, da Constituição Federal, como o outro inserido na Súmula 158. O princípio jurídico é o mesmo, uniformizar a ju­risprudência. Sendo assim, não teria

60 R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997,

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sentido inadmitir-se a divergência com acórdão de 'fu.rma ou Seção que perdeu a competência e admitir-se o recurso pelo fundamento da letra c em testilha com a orientação da Cor­te Especial. A toda evidência não serve para comprovar o dissídio pre­toriano, com supedâneo na alínea c,

da permissão constitucional, julga­dos de 'fu.rma ou Seção que não tem mais competência para a matéria neles versada.

Pelo exposto, nego provimento ao agravo.

É o meu voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N~ 116.808 - CE

(Registro n~ 96.0042011-4)

Relator: O Sr. Ministro José Delgado

Agravante: Banco Central do Brasil

Embargada: Maria Zuila Camurca Sampaio

Advogados: Drs. Roberto H. Yamashiro e outros, e lranildo Fernandes Sampaio e outro

EMENTA: Processual Civil. Banco Central. Liberação de cruza­dos. Agravo regimental.

1 - É de não se conhecer de agravo regimental fundado em aspec­tos jurídicos e de fato que não foram discutidos no âmbito da de­cisão recorrida.

2 - Pretensão do Banco Central em discutir, em sede de recurso especial, honorários advocatícios em causa relativa à liberação de cruzados, cujo recurso foi considerado prejudicado, face ter havi­do a liberação dos valores bloqueados em 15 de setembro de 1992, quando, no Tribunal a quo, essa matéria não foi objeto de decisão, sem embargos de declaração a respeito terem sido interpostos.

3 - Recurso manifestamente protelatório que atenta ao princípio da celeridade processual.

4 - Agravo regimental não conhecido.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 61

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira 'furma do Superior 'lh­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhecer do agravo regimental. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Jo­sé de Jesus Filho, Demócrito Reinal­do e Humberto Gomes de Barros.

Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Milton Luiz Pereira.

Brasília, 13 de dezembro 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DELGADO, Relator.

Publicado no DJ de 10-03-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO: O Banco Central do Brasil in­terpõe o presente agravo regimental (fls. 57/67) contra despacho que ne­gou provimento a agravo de instru­mento, onde consta a pretensão de fazer subir recurso especial inadmi­tido na origem, contra acórdão assim ementado:

"Processual Civil. Liberação de cruzados novos. Legitimidade pas­siva do Banco Central e do banco depositário.

Sendo o Banco Central do Brasil a instituição que deve corrigir a ilegalidade impugnada, é parte le-

gitima para ocupar o pólo passivo da relação processual.

Agravo improvido."

O recurso especial interposto e não acolhido pelo Presidente do Tri­bunal a quo visa, unicamente, que seja recophecida a ilegitimidade pas­siva do Banco Central para figurar no pólo passivo da demanda.

A autarquia-embargante, confor­me consta na petição respectiva, busca, tão-somente, discutir tema re­ferente à condenação de honorários advocatícios. Afirma que, no particu­lar, a jurisprudência não é tranqüi­la, invocando os precedentes seguin­tes:

"Processo Civil. Liberação de cru­zados novos. Esvaziamento do ob­jeto da causa. Sucumbência ine­xistente.

Se a demora da prestação jurisdi­cional e a ocorrência de fatos no­vos esvaziam o objeto da ação, não havendo parte perdedora nem desistente, não há como se cogitar de condenação nas verbas de su­cumbência.

Recurso provido." (REsp n. 77.195, ReI. Min. Cesar Asfor Rocha, DJU de 4.3.96). Idem REsp ns. 70.736 e 59.204.

É o suficiente como relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO (Relator): O exame dos autos re-

62 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.

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vela que, em nenhum momento, houve discussão a respeito se eram devidos ou não honorários advocatí­cios, em razão de ter sido julgado prejudicado o recurso de apelação.

Examino, apenas para conferir, as decisões de segundo grau. A primei­ra está às fls. 10 e é do teor que des­crevo:

"'frata-se de recurso contra senten­ça que concedeu a liberação de cruzados novos, bloqueados ao abrigo da Medida Provisória n. 168/90, convertida na Lei n. 8.024/ 90.

Verifica-se, porém, que a totalida­de do valor bloqueado se teve libe­rada em 15 de setembro de 1992, voltando à disponibilidade de seu titular. Em razão de tanto, mani­festamente, a controvérsia perdeu o objeto.

Assim, ao teor do art. 30, parágra­fo 1~, inciso I, do Regimento Inter­no deste 'fribunal, julgo prejudica­do o recurso.

Publique-se. Registre-se. Intimem­se".

A mencionada decisão foi agrava­da, resultando acórdão sustentado no voto do teor que cito (fi. 24):

"'frata-se de agravo contra despa­cho em ação cuj a sentença conce­deu a liberação de cruzados no­vos, bloqueados ao abrigo da Me­dida Provisória n. 168/90, conver­tida na Lei n. 8.024/90.

Verificando que a controvérsia perdeu o objeto, pois a totalidade

do valor bloqueado se teve libera­da em 15 de setembro de 1992, voltando à disponibilidade de seu titular, a teor do art. 30, parágra­fo 1~, inciso I, do Regimento Inter­no deste 'fribunal, julguei prejudi­cado o recurso.

Alega o agravante que não foi apreciada a preliminar de ilegiti­midade passiva ad causam, o que ora passamos a fazer.

Legitimidade passiva do Bacen.

No tocante à legitimidade passiva da autarquia federal, tem-se que o art. 9~ da Lei n~ 8.024/90 deter­minou a transferência dos cruza­dos bloqueados para o Banco Cen­tral. Essa instituição, portanto, é que deve corrigir a ilegalidade im­pugnada, havendo, sem sombra de dúvida, de figurar no pólo pas­sivo da relação processual.

Os cruzados novos, detém-nos o Bacen; há hipótese de merecer acolhida a pretensão dos impe­trantes a conversão dos ativos pa­ra a moeda em curso, há de ser feita pelo Bacen; é também este último que haverá de fazer retor­nar ao banco depositário as cifras já convertidas com o que permitir­se-á aos impetrantes a livre movi­mentação dos valores ora indispo­níveis.

Não há o que se- reformar em agravo que julgou prejudicado o recurso, em vista da manifesta perda do objeto, pois a totalidade do valor bloqueado se teve libera­da em 15 de setembro de 1992, voltando à disponibilidade de seu titular.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 63

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Rejeitando, pois, a preliminar, ne­go provimento ao agravo".

Embargos de declaração não fo­ram interpostos em relação ao deci­sório supra. Seguiu-se-Ihe o recurso especial que, na origem, foi inadmi­tido. Este pronunciamento, ao ser atacado por agravo de instrumento, foi mantido, conforme termos do des­pacho de fl. 54.

Como demonstrado, não há ne­nhum questionamento, em sede de

segundo grau, a respeito de verba honorária advocatícia. Impossível, portanto, ser objeto de viabilidade de recurso especial.

É evidente que o recurso tem cunho protelatório. Atenta, assim, contra o princípio da celeridade pro­cessual.

Face ao exposto, inexiste razão ju­rídica para conhecimento do presen­te agravo, pelo que lhe nego conhe­cimento.

É como voto.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N~ 5.614 - PI

(Registro n~ 95.0017898-2)

Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros Embargante: Ministério Público Federal Impetrados: Francisco de Sales e Silva Palha Dias e outros Embargados: Aldo Rodrigues de Sousa e outros (v. Acórdão de fls.

159/169)

Advogados: Drs. José Antônio Leal Chaves e outros

ElVIENTA: Processual - Recurso ordinário em mandado de segu­rança - Preparo - Porte de retorno - Necessidade de conhecimen­to do valor - Fundamento do direito a mandado de segurança.

- A teor do art. 511 do CPC, o recorrente só pode depositar o por­te de retorno, quando tal valor lhe é indicado com exatidão. - A legitimidade para requerer Mandado de Segurança contra ato que usurpa o direito de voto advém do art. 1~ da Lei 1.533/51.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Primeira 'furma do Superior Tribu-

nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, receber os embargos, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Sr.

64 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.

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Ministro-Relator os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira, José Delgado e Demócrito Reinaldo. Ausente, justi­ficadamente, o Sr. Ministro José de Jesus Filho.

Brasília, 26 de setembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 29-10-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: Esta Thrma provendo recurso ordinário em Man­dado de Segurança, declarou:

"O eleitor que votou em plebis­cito com o escopo de criar municí­pio está legitimado para requerer Mandado de Segurança, visando a manutenção do topônimo pro­posto na ocasião da consulta."

O Ministério Público Federal opõe embargos declaratórios, pede que a Thrma se pronuncie sobre:

a) deserção do recurso, por fal­ta de recolhimento do porte de re­torno;

b) os preceitos contidos nos ar­tigos 5~, LXIX, 14 e 18, § 4~ da Constituição Federal.

Este o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): Re­cebo os embargos para dizer:

a) a teor do art. 511 do CPC, a comprovação de pagamento do porte de retorno é obrigatória, "quando exigido pela legislação pertinente". O Embargante não demonstrou qual o dispositivo que determina e fixa o valor de tal de­pósito. Sem conhecer o montante a ser depositado, o recorrente não pode adimplir a obrigação de adiantar a despesa. O Ministério Público, ao levantar a questão pre­liminar não se animou em indicar o valor, nem a "legislação perti­nente";

b) no que respeita à explicita­ção do dispositivo que legitima o indivíduo para requerer Mandado de Segurança, quando o Estado agride seus direitos, digo que o permissivo encontra-se no art. 1~ da Lei 1.533/51.

Recebo os embargos.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 65

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RECURSO ESPECIAL N~ 62.553-0 - BA

(Registro n~ 95.0013617-1)

Relator: O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira

Recorrentes: Arminda Úrsula Pereira Baqueiro e outro

Recorrida: Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Advogados: Drs. Lauro Chaves de Azevedo e outro, e Pedro Sancho da Silva e outros

EMENTA: Processual Civil. Defensor Público. Intimação pessoal obrigatória. Nulidade dos atos praticados sem o cumprimento de expressa exigência legal. Lei n!? LOGO/50 (art. 5!?, § 5!?). Lei n!? 7.871/89.

1. Organizada a Assistência Judiciária, o Defensor Público ou quem exerça cargo equivalente, sob pena de nulidade, nas instân­cias ordinárias, necessariamente, deve ser intimado de todos os atos do processo, quando formalmente exercer a representação judicial do assistido.

2. Precedentes da jurisprudência.

3. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a egrégia Primeira 'furma do Superior 'fribunal de Justiça, por unanimidade, dar provimento ao re­curso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Senhores Ministros José Delgado, José de Jesus Filho, Demócrito Reinaldo e Humberto Go­mes de Barros. Presidiu o julgamen­to o Senhor Ministro Humberto Go­mes de Barros.

Custas, como de lei.

Brasília, 2 de setembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Relator.

Publicado no DJ de 07-10-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: 'frata-se de Recurso Es­pecial, fulcrado na alínea a, do au­torizativo constitucional, impugnan­do o v. aresto do colendo 'fribunal de Justiça do Estado da Bahia, assim ementado:

66 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.

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"Feita a publicação dos prazos pe­los jornais, notadamente no Diá­rio Oficial, não poderia o reitor autorizar matrícula requerida in­tempestivamente, sob pena de violação do artigo 96, do Regimen­to Geral da UNEB, acarretando a nulidade da matrícula, e mais ainda, ferindo o princípio consti­tucional de igualdade de todos pe­rante a lei" (fl. 16).

Os Embargos de Declaração opos­tos foram rejeitados.

A Recorrente alega negativa de vigência ao artigo 5~, § 5~, da Lei de n~ 1.060/50.

Aduz:

"Assim é que, na presente questão, percebe-se nitidamente que nenhum membro da Defenso­ria Pública foi intimado pessoal­mente a fim de contra-arrazoar o recurso interposto pela aqui Re­corrida às fls. 84/90. De seu lado, a intimação da Defensora Pública que funcionou a favor dos Apelan­tes, Dra. Hélia Maria Amorim S. Barbosa, foi irregularmente inti­mada para rechaçar aquele apelo, eis que através de publicação no Diário Oficial do Estado da Bahia, quando deveria sê-lo, repita-se pessoalmente, até porque, e em sendo Defensora Pública, jamais poderia supor que seria comunica­da à prática de ato processual da maneira que foi, visto que não se deu ao trabalho, e nem poderia fazê-lo, de averiguar a improvável figuração do seu nome em local onde só os advogados sem o mu-

nus da Defensoria Pública apare­cem" (fl. 25).

omissis

"N o caso em apreço, em nada resultou a edição da Lei 7.871/89, na medida em que a Decisão indi­gitada olvidou, imperdoavelmente, de determinar a intimação pessoal da Ilustre Defensora Pública men­cionada, circunstância que fez acar­retar prejuízo inestimável aos Re­correntes, de ordem processual, desde quando tiveram que arros­tar as conseqüências oriundas da ausência involuntária das suas contra-razões ao recurso de apela­ção intentado pela parte perdedo­ra.

Certo é que, enfim, a contrarie­dade à lei federal foi irrecusavel­mente perpetrada pelo Julgador primeiro, cuja sensibilidade jurí­dica escapou-se-Ihe de modo infe­liz e lamentável quando deixou de cumprir determinação legal à qual estava vinculado de forma compulsória e inescusável, dada a inderrogabilidade da lei já referi­da, cuja vigência e pujança acham­se inquestionavelmente plenas, in­vergáveis diante do talante e re­beldia que revestiram a sentença que se quer nula, porque nula es­tá de modo insanável e irreversí­vel, circunstância que enseja, de conseguinte, a nulidade de todos os atos que lhe foram posteriores" (fl. 26).

Decorreu o prazo legal sem que fossem apresentadas contra-razões.

O ínclito Presidente, em exercício, do Tribunal de origem não admitiu o Especial.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 67

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Irresignada agravou de instrumen­to, o qual foi provido.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA (Relator): Pela guia do re­latório, resumo das peças informati­vas do processo, sobreconcentra-se que, proferido o v. acórdão de fls. 16 a 18, foram interpostos Embargos Declaratórios, aduzindo que o julga­do descumpriu com as disposições do art. 5~, da Lei n~ 1.060/50, sem a so­lução pedida, provocando o presen­te recurso.

Avia-se, pois, que a contrariedade malsinada surgiu do próprio v. ares­to, nessa hipótese, cônsono a juris­prudência assentada, reunindo a manifestação recursal condições pa­ra a admissibilidade (art. 105, lU, a, C.F.).

Viabilizado o exame, restrito à questão jurídico-litigiosa de nature­za processual, favoreço a compreen­são transcrevendo razões lineadas pela parte recorrente, a dizer:

" ... na presente questão, perce­be-se nitidamente que nenhum membro da Defensora Pública foi intimado pessoalmente a fim de contra-arrazoar o recurso inter­posto pela aqui Recorrida às fls. 84/90. De seu lado, a intimação da Defensoria Pública que funcio­nou a favor dos Apelantes, Dra. Hélia Maria Amorim S. Barbosa, foi irregularmente intimada para rechaçar aquele apelo, eis que através de publicação no Diário

Oficial do Estado da Bahia, quan­do deveria sê-lo, repita-se pessoal­mente., até porque, e em sendo Defensora Pública, jamais poderia supor que seria comunicada a prática de ato processual da ma­neira que foi, visto que não se deu ao trabalho, e nem poderia fazê­lo, de averiguar a improvável fi­guração do seu nome em local on­de só os advogados sem o munus da Defensoria Pública aparecem.

Neste passo, a intimação de fls. 91 dos autos reveste-se de nulida­de em face de ter atentado contra dispositivo legal que outorga prer­rogativa ao Defensor Público, es­cudado que ficou a partir do seu advento, cujo bojo evidencia o es­pírito do legislador em beneficiar uma instituição que prima pelos interesses dos desfavorecidos eco­nomicamente, tarefa que, conquan­to nobilíssima, possui árduos e in­disfarçáveis encargos diante do quadro social em que ora acha-se desenhado o povo brasileiro na sua dolorosa maioria, motivo pelo qual o Constituinte de 1988 fez intro­duzir na respectiva Carta Políti­ca a criação da Defensoria Públi­ca, instrumento democrático im­batível e incansável na defesa dos interesses jurídicos e judiciais da população pobre deste país.

E é dentro deste panorama que o Defensor Público exerce o seu digno mister, cuja característica mais marcante consiste na quan­tidade exorbitante de processos judiciais nos quais patrocina e resguarda os interesses da sua vastíssima clientela, vem daí, re­pita-se, a preocupação do legisla­dor em conceder-lhe privilégios

68 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.

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processuais sem os quais suas di­ficuldades, já significativas, recru­desceriam enormemente, haja vista que o forçaria a ficar ainda mais atento do que é, com o esco­po de não perder os prazos que lhe fossem assinados pela autori­dade juridiciária, para o que teria que, diariamente, ler o Diário Ofi­cial a fim de evitar que situação dessa natureza se configurasse.

No caso em apreço, em nada resultou a edição da Lei 7.871/89, na medida em que a Decisão indi­gitada olvidou, imperdoavelmen­te, de determinar a intimação pes­soal da Ilustre Defensora Pública mencionada, circunstância que fez acarretar prejuízo inestimável aos Recorrentes, de ordem processual, desde quando tiveram que arros­tar as conseqüências oriundas da ausência involuntária das suas contra-razões ao recurso de apela­ção intentado pela parte perdedo­ra." (fls. 25 e 26).

Incontroverso está que a Defenso­ria Pública, desde o início, represen­ta judicialmente os recorrentes, ve­razes são as prédicas recursais, sob as alvíssaras do art. 5~, § 5~, da Lei n~ 1.060/50, verbis:

"Nos Estados onde a Assistên­cia Judiciária seja organizada e por eles mantida, o Defensor PÚ­blico, ou quem exerça cargo equi­valente, será intimado pessoal­mente de todos os atos do proces­so, em ambas as instâncias, con­tando-se-Ihes em dobro todos os prazos".

À força aberta, as disposições co­piadas impõem a garantia da inti­mação pessoal, "nos Estados" e em "ambas as instâncias'" ordinárias, ob­viando-se a exclusão desta instância superior, tal como acentuado nos EDcl, no REsp n~ 1l.973-0-RJ, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros (in DJU de 30.5.94). Sinala-se, outros­sim, que a redação dada pela Lei 7.871/89 não desfaz a obrigatorieda­de da referida intimação pessoal.

Nesse toar, inescondível que fal­tou o ato da intimação reclamada pela parte interessada, a pretensão recursal merece guarida, inclusive, com a demão de precedente desta Corte.

"Assistência Judiciária. Intima­ção pessoal do Defensor Público, ou de quem exerça cargo equiva­lente. Lei n~ 1.060, de 1950, art. 5~, § 5~.

I - Nos Estados onde a Assis­tência Judiciária seja por eles or­ganizada e mantida, o Defensor Público, ou quem exerça cargo equivalente, há de ser intimado pessoalmente de todos os atos do processo, em ambas as instâncias, nos termos do preceito legal antes referido.

II - Recurso especial conhecido e provido." (REsp n~ 27.677-2-SP­ReI. Min. Antônio de Pádua Ribei­ro - in DJU de 8.5.95).

No amanho da motivação, ficando anulados os atos praticados a partir do primeiro momento processual em que deveria ter sido intimado o De­fensor Público, voto provendo o re-curso.

É o voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 69

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RECURSO ESPECIAL N~ 62.850-4 - MG

(Registro n~ 95.0014601-0)

Relator: O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira

Recorrentes: Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil- Seção de Minas Gerais e outro

Recorrido: José Gonçalves Froes

Advogados: Drs. José Jorge Neder e outro, e Caio Luiz de Almeida Viei­ra de Melo e outros

EMENTA: Administrativo. Inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil. Incompatibilidade (art. 84, VII, Lei 4.215/63). Servidor pú­blico voluntariamente afastado de cargo executivo para exercer as funções de Defensor Público.

L A incompatibilidade decorre do exercício das funções públicas e não da ocupação do cargo, uma vez que aquelas, e não este, po­dem favorecer o aproveitamento para a concorrência desleal ser­vindo de força atrativa para a captação de clientela e afetação da independência profissional. Satisfeitas as condições gerais, o inte­ressado tem direito à inscrição, enquanto perdurar a situação de afastamento.

2. Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Primeira Thrma do Su­perior 'fribunal de Justiça, por una­nimidade, negar provimento ao re­curso, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Senhores Ministros José Delgado, José de Jesus Filho, Demócrito Reinaldo e Humberto Go­mes de Barros. Presidiu o julgamen-

to o Senhor Ministro Humberto Go­mes de Barros.

Custas, como de lei.

Brasília, 27 de agosto de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Relator.

Publicado no DJ de 30-09-96.

RELATÓRIO

o SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: Trata-se de Recurso Es-

70 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.

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pecial, fulcrado na alínea a, do au­torizativo constitucional, impugnan­do o v. aresto do colendo Tribunal Regional Federal da 1~ Região, as­sim ementado:

"Servidor Público - Incompatibi­lidade prevista no art. 84, VII, da Lei 4.215/63, decorrente do exer­cício de atividade, cargo ou fun­ção, não da titularidade - Segu­rança concedida.

1 - A incompatibilidade prevista no art. 84, VII, da Lei 4.215/63, não decorre da titularidade de ati­vidade, cargo ou função, mas do exercício, já que o servidor afasta­do deste perde a competência in­compatibilizadora.

2 - Apelação denegada.

3 - Sentença confirmada" (fi. 77).

Contra o v. aresto foi proposto Re­curso Especial, fundado no artigo 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal, sob o argumen­to de afronta ao art. 84, da Lei de n~ 4.215/63.

Aduz:

"A incompatibilidade prevista no art. 84, VII, da Lei 4.215/63, decorrente de cargo ou função, acompanha o pretendente à ins­crição, mesmo durante o afasta­mento da atividade inicial obsta­tiva.

A incompatibilidade para o exercício da advocacia permanece com o servidor afastado, pouco importando o desempenho even-

tual de funções diversas. Ela pro­vém da natureza do cargo como das funções exercidas pelo servi­dor. O desvio funcional não extin­gue a incompatibilidade, em razão da titularidade do cargo.

O recorrido é incompatível pa­ra o exercício da advocacia, desde que está vinculado jurídica e fun­cionalmente ao cargo de origem. A situação permanece a mesma, se­ja direta ou indiretamente, even­tual ou permanente. Não é rele­vante a perda de competência tem­porária e precária. Essa circuns­tância não afasta a incidência da situação originária e definitiva­mente, incompatibilizadora.

O simples afastamento do cargo ou função não gera desaparecimen­to da incompatibilidade. O recor­rido não pode beneficiar-se de lite­ral disposição da fei. O recorrido conserva as prerrogativas essen­ciais do cargo, não apenas quando perde determinada competência.

O exercício temporário de outra atividade, que não é ao menos configurada suficientemente, não retira a incompatibilidade que acompanha a situação funcional originária. A vinculação do cargo está mantida, desde que não hou­ve afastamento do mesmo.

A relação jurídica com a Admi­nistração Pública não foi rompi­da, nem ao menos interrompida ou suspensa. Não houve quebra da relação jurídica originária en­tre as partes. Não houve nenhuma

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 71

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das causas da extinção do víncu­lo (exoneração, demissão, aposen­tadoria facultativa, exoneração, a pedido ou perda do cargo)" - fls. 79/80 - grifos originais.

omissis

"A OAB não indeferiu, como entendeu a sentença, pura e sim­plesmente a inscrição do Impe­trante. Com base no inciso VII, do art. 84, da Lei 4.215/63, cumpriu o seu dever legal. Caso contrário, seria melhor também revogar to­da a lei da corporação e todas as outras referentes ao exercício pro­fissional, por lhes faltar significa­do e eficácia.

A própria decisão de primeira instância chega a reconhecer que 'a fmalidade óbvia de conferir ao exercício da nobre atividade advo­catícia a seriedade e exação de que deve revestir-se, obstando qualquer possibilidade de o profis­sional do Direito se servir do car­go, função ou atividade públicas que lhe reduzissem a independên­cia ou lhe proporcionassem capta­ção de clientela' (arts. 83 e 84)" -fls. 82/83.

Decorreu o prazo legal sem que fossem apresentadas contra-razões.

Porque ausentes vetos sumulares ou regimentais o egrégio Tribunal a quo admitiu a via especial, obser­vando "conquanto fundada também na alínea c do permissivo constitu­cional, a petição recursal não susci­ta divergência jurisprudencial."

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA (Relator): Aconsoantado às informações colhidas no relatório, pessoa que, em mandamus, ao der­redor do indeferimento de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil - Seção de Minas Gerais - cônso­no resumido na ementa, o vergasta­do v. acórdão estadeou:

"Servidor Público. Incompatibi­lidade prevista no art. 84, VII, da Lei 4.215/63, decorrente do exer­cício de atividade, cargo ou fun­ção, não da titularidade. Seguran­ça concedida.

1. A incompatibilidade previs­ta no art. 84, VII, da Lei 4.215/63, não decorre da titularidade de ati­vidade, cargo ou função, mas no exercício, já que o servidor afasta­do deste perde a competência in­compatibilizadora.

2. Aplicação denegada.

3. Sentença confirmada" (fi. 177).

Presentes os requisitos de admis­sibilidade, o recurso merece ser co­nhecido (art. 105, IIl, a, C.F.).

Viabilizado o exame, para a solu­ção, registra-se que o Impetrante, ora recorrido, funcionário público As­sistente de Tributação e Arrecadação da Secretaria da Fazenda do Estado de Minas Gerais, foi colocado à dis­posição da Secretaria do Interior e Justiça, para exercer as funções de Defensor Público. Requereu, então,

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inscrição como Advogado, na vigên­cia do anterior Estatuto da O.A.B., pedido indeferido, sob a afirmação de ser titular de cargo público incompa­tível com o exercício da advocacia (art. 84, VII, Lei 4.215/63).

Sucedeu que a r. sentença, par­cialmente, concedeu a segurança, de­lineando:

" ... Com efeito, quando a Lei 4.215/63 criou as proibições totais e parciais dos artigos 83 usque 86, fê-lo com a finalidade óbvia de conferir ao exercício da nobre ati­vidade advocatícia a seriedade e exação de que deve revestir-se, obstando qualquer possibilidade de o profissional do Direito se ser­vir do cargo, função ou atividade pública que lhe reduzissem a in­dependência ou lhe proporcionas­sem captação de clientela (arts. 83 e 84). 'leve, ainda, o escopo de im­pedir que os advogados se muni­ciassem das informações e facili­dades de seus cargos para pleitea­rem contra as entidades a que es­tivessem vinculados ou junto aos tribunais e juízos a que servissem (art. 85).

Assim, é patente que o legisla­dor, ao criar as incompatibilida­des e impedimentos, visou atingir não os simples titulares de cargos mas sim, os que estivessem no exercício efetivo das funções ine­rentes a tais cargos.

Em outras palavras, os óbices à inscrição devem atingir também os desviados de função e os "colo­cados à disposição" de repartições, em que viessem, efetivamente, a

exercer funções incompatíveis (art. 84), mesmo que seu cargo princi­pal fosse outro, não alcançado pe­la restrição absoluta, mas somen­te pela relativa (impedimentos do art. 85).

A intenção da lei é garantir a independência profissional e obs­taculizar a captação de clientela (art. 83) e isso seria possível tam­bém àqueles que ocupassem as funções elencadas no art. 84, do Estatuto, ainda que temporaria­mente, a título precário, por des­vio de função ou por efeito de em­préstimo de outra repartição.

No presente caso, o Impetran­te será designado Defensor Públi­co da Secretaria do Interior e Jus­tiça, afastando-se de seus miste­res tributários, ou seja, tornando­se infenso à possibilidade de cap­tação de clientela" (fls. 40/41 -grifos originais).

À sua vez, reforçando, o v. aresto prestigiou o entendimento senten­cial, ve:r:bis:

"Escreve art. 84, VII, da Lei 4.215/63:

'Art. 84 - A advocacia é in­compatível, mesmo em causa própria, com as seguintes ativi­dades, funções é cargos:

VII - servidores públicos, inclusive de autarquias e enti­dades paraestatais e emprega­dos de sociedades de economia mista e empresas concessioná­rias de serviço público, que ti­verem competência ou interesse

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direta ou indireta, eventual ou pennanentemente, no lançamen­to, arrecadação e fiscalização de impostos, taxas e contribuições de caráter obrigatório, inclusi­ve parafiscais, ou para aplicar multas relacionadas com essas atividades;'

Verifica-se, pelo exame do dispo­sitivo legal transcrito no item an­terior, não ser suficiente o exercí­cio por servidor público de ativida­de, função ou cargo dessa nature­za para que seu desempenho seja incompatível com a advocacia. Além disso, é necessário que o servidor tenha competência, ou interesse, di­reta ou indireta, eventual ou per­manentemente, no lançamento, ar­recadação e fiscalização de impos­tos, taxas e contribuições de cará­ter obrigatório ou para aplicar mul­tas relacionadas com essas ativida­des, já que os servidores públicos que não a tenham são apenas im­pedidos (art. 85, VI, Lei 4.215/63) de exercer a profissão, pormenor que demonstra não resultar a incom­patibilidade discutida da titulari­dade de atividade, cargo ou função, mas do exercício, já que o servidor afastado deste perde a competên­cia incompatibilizadora.

Ora, na espécie, o Apelado, ti­tular de cargo cuj o exercício gera a incompatibilidade em comento, foi dele desligado para exercer a função Defensor Público, privati­va de advogado, perdendo, em conseqüência, a competência in­compatibilizadora, pois, como muito bem assevera o ilustre pro­lator da decisão recorrida, 'afas­tando-se de seus misteres tributá-

rios', tornou-se 'infenso à possibi­lidade de captação de clientela' (fls. 72 e 73 - grifos originais).

Deveras, embora algumas atribui-ções gerem incompatibilidades e im­pedimentos para a advocacia, no ca­so, deve ser reconhecida a circuns­tância do afastamento do funcioná­rio das funções executivas do seu cargo de origem. Conseqüentemen­te, nos campos dos lançamentos, ar­recadação e fiscalização, enquanto afastado, obvia-se que desapareceu a motivação inspiradora da lei para incompatibilizar para o exercício da advocacia, certo que esmaeceu a competência, força atrativa, para a captação de clientela, móvel inspira­dor da lei em comento. Anota-se que, em passando à Defensoria Pública, seja direta ou indiretamente, perdeu as condições estatuídas pela lei (inc. VII, art. 84, Lei referida). Outros­sim, inexiste controvérsia quanto ao desligamento das funções vertentes da incompatibilidade. Mastando-se, por vontade própria, das funções executivas que permitiam acesso fa­cilitado para as fiscalizações a seu cargo, via para a concorrência profis­sional desleal e independência pro­fissional ou para influenciar clientes, configuram-se razões que sombreiam os resguardos da lei para evitar cen­surável advocacia.

Pela viseira da exposição, voto im­provendo o recurso, . satisfeitas as condições gerais para a inscrição, continuando intangido o deferimen­to parcial da segurança, enquanto o beneficiário da ordem permanecer afastado do seu cargo originário, de­sempenhando as funções de Defen­sor Público.

É o voto.

74 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.

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RECURSO ESPECIAL N~ 65.793-8 - RS (Registro n~ 95.0023182-4)

Relator: O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira

Recorrentes: João Vasco Bandeira Dutra e cônjuge

Recorrido: Estado do Rio Grande do Sul Advogados: Drs. Roque Joaquim Volkweiss, e Alexandre Mariotti e outros

EMENTA: Execução fiscal. Fiança por prazo indeterminado. Em­bargos dos fiadores. Exoneração. CTN, artigos 131, 132, 134 e 135 -Código Civil, artigos 1.006, 1.481, 1.483 e 1.500.

L Fiança em favor de devedor certo, sendo contrato benéfico, não admite interpretação extensiva, nem aguilhoeta o fiador indefini­da ou perpetuamente à responsabilidade por obrigações futuras ou aleatórias, máxime garantindo pessoa diferente daquela destina­tária da sua vontade (arts. 1.481 e 1.483, Código Civil).

2. O fiador não tem só deveres, mas também direitos, na fiança por prazo indeterminado, podendo alforriar-se quando lhe convier. Igualmente, extinto o negócio garantido, em face da acessorieda­de da fiança, surge o direito à exoneração (arts. 1.006 e 1.500, Cód. Civil).

3. Não se configura no caso prender-se o fiador às hipóteses de responsabilidade previstas na lei tributária (arts. 131, I e n, 132, 134 e 135, CTN). .

4. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas:

Decide a Primeira Turma do Su­perior Tribunal de Justiça, por una­nimidade, dar provimento ao recur­so, na forma do relatório e notas ta­quigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Senhores Ministros José Delgado, José de Jesus Filho,

Demócrito Reinaldo e Humberto Go­mes de Barros. Presidiu o julgamen­to o Senhor Ministro Humberto Go­mes de Barros.

Custas, como de lei.

Brasília, 2 de setembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, Relator.

Publicado no DJ de 07-10-96.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 75

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RELATÓRIO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA: O Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul constituiu, em sede de embargos infringentes, acórdão representado pela ementa, in verbis:

"Fiança fiscal, até certo mon­tante da obrigação tributária.

Alteração da sociedade comer­cial afiançada, quanto à razão so­cial e à sua composição.

Irrelevância no tocante à obri­gação fiscal, eis que distingue-se a pessoa jurídica das pessoas na­turais dos sócios, não podendo prevalecer que houve a quebra da confiança determinante do contra­to de fiança.

Ademais, para a exoneração deve o fiador valer-se do procedi­mento delineado nos arts. 1.500 do CC e 262 do Código Comercial.

Embargos infringentes proce­dentes." (fl. 102).

Impugnando o v. aresto, a parte interessada interpôs Recurso Espe­cial, fulcrado no artigo 105, inciso III, alíneas a e c, da Carta Magna, alegando violação aos arts. 1.481, 1.483 e 1.487, do Código Civil, além de dissenso com julgados de outros Tribunais.

Sustenta:

" ... a definição clara a respeito do assunto, é proporcionada pelo colendo Tribunal de Alçada Civil,

3~ C., de São Pauló, retromencio­nado, cuja íntegra acompanha o presente recurso. A ementa conse­gue retratar a interpretação:

'Fiança - Garantia presta­da a empresa comercial- Al­teração da razão social e saída do sócio pelo qual fora aquela concedida que caracteriza a ex­tinção da obrigação fidejussória - Garantia de natureza perso­nalíssima, fundada na confian­ça, no grau de parentesco, ou credibilidade que possa mere­cer o afiançado - Impossibili­dade de interpretação extensi­va conforme art. 1.483 do CC.'

Entre outros conceitos expres­sados no referido acórdão, desta­que-se parte da manifestação as­sim colocada:

'E, convém transcrever-se partes de acórdão que compilou julgados vários aplicáveis ao caso sub judice'."

Assim, 'na fiança prestada à so­ciedade por cotas de responsabilida­de limitada, o fiador tem em consi­deração a pessoa dos sócios, pois através deles é que a firma lhe ins­pirará a necessária confiança'. (RT 499/143). ' ... Essa garantia, contra­to benéfico, não admite interpretação extensiva como sempre se entendeu (CC, art. 1.483), não passando, por isso, de pessoa a pessoa como já afir­mado ... '. (fls. 115/116).

Por seu turno, a Recorrida alega, em suas contra-razões, a ausência

76 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.

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dos pressupostos de admissibilidade. Aduz, ainda, quanto ao julgado cola­cionado como paradigma a ausência de identidade entre as situações en­frentadas, nestes termos:

"O julgado colacionado retira o caráter personalíssimo da fiança prestada à empresa comercial do parentesco entre os fiadores e pes­soa que transitoriamente integrou o quadro societário (fl. 118).

Não é a mesma situação enfren­tada pelo aresto paradigma, onde esta circunstância está ausente -mesmo que, agora, já em grau de recurso excepcional, os fiadores resolvam, muito a propósito, ale­gar a qualidade de parente e ami­go do sócio retirante (fl. 113) ...

Ademais, já por ocasião do ofe­recimento dos embargos infringen­tes se ressaltou que o conjunto probatório não respalda, no caso concreto, conjecturas sobre o cará­ter intuito personae da obriga­ção fidejussória, que sequer foi alegado por ocasião da propositu­ra da ação incidental (fls. 02-4).

De outra banda, ainda outro dado de fato diferencia decisiva­mente as situações enfrentadas nos autos e no precedente paulis­ta; lá, o contrato de fiança tinha prazo determinado (era de somen­te 12 meses); aqui, não existia a li­mitação de tempo, pelo que, in­tuito personae ou não, cumpria aos fiadores exonerarem-se, nos termos do art. 1.500 do CC.

Conforme já se sustentou ante­riormente, à luz da disciplina do

Código Civil cumpre aos fiadores, diante· da alteração na composição social, tomarem as devidas provi­dências para se exonerarem.

Não o fizeram, entretanto, e se afigura claramente lesivo ao direi­to do credor o entendimento de que isso não seria necessário: se assim fosse, não teria ele possibi­lidade de tomar conhecimento da perda da garantia fidejussória, com o que restaria impedido de exigir do devedor sua reposição. A própria finalidade do instituto se perderia." (fl. 125). - grifos origi­nais.

O recurso foi admitido pelo nobre 1~ Vice-Presidente do e. llibunal, em decisão circunstanciada nestes ter­mos:

"Em que pese a ausência do in­dispensável prequestionamento dos dispositivos legais inquinados pelo aresto hostilizado, bem como a deficiência da fundamentação recursal quanto à .demonstração da alegada negativa de vigência à legislação federal, permitindo a incidência das Súmulas nl& 282 e 284 do STF, os recorrentes logra­ram demonstrar, quantum satis, o dissenso pretoriano com o acór­dão paulista publicado na RT, 663/136, que endossa os argumen­tos dos doutos votos vencidos.

lU - Em face do exposto ad­mito o recurso interposto pela le­tra c do inciso UI do art. 105 da CF." (fl. 135).

É o relatório.

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VOTO

O SR. MINISTRO MILTON LUIZ PEREIRA (Relator): Pela guia do re­latório colhe-se que, em embargos à execução fiscal, os fiadores argumen­taram que não poderiam ser respon­sabilizados na cobrança forçada, uma vez que prestaram fiança em favor de pessoa jurídica distinta da­quela referida no lançamento e que haveria excesso de execução.

Presentes os requisitos de admis­sibilidade, nos limites objetivos de­finidos na r. decisão a quo (fls. 134 e 135), o recurso merece ser conhe­cido (art. 105, III, c, C.F.).

Aviada a possibilidade do exame, para a compreensão da questão jurí­dico-litigiosa, coloca-se o vergastado v. acórdão, resumido na seguinte ementa:

"Fiança fiscal, até certo mon­tante da obrigação tributária.

Alteração da sociedade comer­cial afiançada, quanto à razão so­cial e à sua composição. Irrelevân­cia no tocante à obrigação fiscal, eis que distingue-se a pessoa jurí­dica das pessoas naturais dos só­cios, não podendo prevalecer que houve a quebra da confiança de­terminante do contrato de fiança. Ademais, para a exoneração deve o fiador valer-se do procedimento delineado nos arts. 1.500 do CC e 262 do Código Comercial.

Embargos infringentes proce­dentes." (fi. 102).

Nesse contexto, pela significância, registra-se que a execução fiscal foi aparelhada judicialmente contra Co­mercial Armarinhos Boca Ltda., con­tribuinte da obrigação tributária constituída em seu nome, conforme a Certidão de Dívida Ativa inscrita em 21.10.1987 (fi. 4 - autos apensa­dos). Já o Termo de Fiança foi arti­culado em favor de Bijouterias Pais­sandú Ltda., em data muito anterior - 9.2.1982 -, tendo por objeto ga­rantir os "créditos tributários do im­posto de circulação de mercadorias relativo a operações efetuadas a par­tir desta data ... " (fi. 7 - antes refe­ridos), obviando-se que, no limite e condições explicitados, em favor da pessoa jurídica nominada.

A questão maior, pois, algema-se na possibilidade, ou não, da garan­tia abranger as obrigações de contri­buinte diverso. Ora, na espécie, sem dificuldades, apruma-se que a fian­ça foi oferecida para garantia de cré­ditos tributários, relativos a obriga­ções de contribuinte certo e nomina­do. Nada constou sobre a extensão ou continuidade em prol de sucesso­res. Outrossim, por dedução, não se compatibiliza com a razão, dizer que a contribuinte executada sub-rogou­se nas dívidas da pessoa favorecida pela fiança, seja como adquirente, sucessora ou por fusão, transforma­ção ou incorporação (arts. 131, I e II, e 132, CTN). Resta cogitar-se que, extinta a pessoa jurídica contribuin­te, se os fiadores, como sócios, con­tinuaram com as atividades da deve­dora, sob a mesma ou outra razão social (Parágrafo único, art. 132,

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CTN). No caso, porém, como adian­tado, não se demonstrou a continui­dade, nem manteve-se a mesma ra­zão social, nem se tem outra como integrada pelos sócios originários pa­ra idênticas atividades sociais. De qualquer modo, a contribuinte foi executada e teve bens penhorados (autos apensos) e a fiança tinha des­tinatário distinto. Enfim, seja por responsabilidade como contribuinte ou por substituição não se configu­ram as hipóteses dos arts. 134, 135, CTN.

Daí os objetivos comentários fei­tos no voto do ilustre Relator depois vencido, a dizer:

" ... Houve mudança de sócio. Modificou-se a estrutura subjeti­va interna da pessoa jurídica.

O Parquet, na origem, disse que a permanência de um só sócio seria bastante para manter ínte­gra a caução fidejussória outorga­da pelos ora apelantes, citando ju­risprudência neste sentido.

Pensa-se, todavia, que não é assim.

A fiança, garantindo possíveis débitos fiscais de uma sociedade, indubitavelmente, é passada em consideração às pessoas que inte­gram a sua organização. As pes­soas dos sócios, o seu conceito, o grau de relacionamento existente com os futuros garantidores de dí­vidas, é que alicerçam a outorga da caução fidejussória, é que moti­vam estes últimos, que tem aque­les como merecedores de confiança. Ora bem, se assim o é, a alteração

no quadro social atinge fundamen­talmente a fiança prestada.

N a espécie, o sócio Hamilton Silvério Lima retirou-se da socie­dade, passando a integrá-la Car­los Alberto Braz Paula, que ficou com a função de gerência, junta­mente com o sócio remanescente, João Dantas Lima (fls. 30/31) e is­so após ter sido outorgada a cau­ção fidejussória.

Nesta perspectiva, releva no­tar, houve manifesta e sensível modificação na sociedade, possível alteração no empreendimento co­mercial por ela desenvolvido, na sua administração, o que feriu aqueles fatores que ensejaram a assunção de dívida pelos ora re­correntes.

Destarte, por não se ver man­tida íntegra a causa da confiança, motivo da outorga da fiança, é que se proclama a exoneração dos fiadores." (fl. 75).

Imana oportunidade ainda para o aproveitamento de anotações feitas pela parte recorrente, recordando afirmações pretorianas (fls. 116), verbis:

"Fiança - Garantia prestada a empresa comercial - Alteração da razão social e saída do sócio pelo qual fora concedida extinção da obrigação fidejussória - Ga­rantias de natureza personalíssi­ma, fundada na confiança, no grau de parentesco, ou credibili-

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dade que possa merecer o afiança­do - Impossibilidade de interpre­tação extensiva conforme art. 1.483 do CC." (Ap. Civ. 278.566-5 - 22 'llib. Alçada Civil SP - Rev. Tribs. 663/136 - fi. 118).

No corpo do v. aresto ficou assen­tado:

" ... na fiança prestada à socie­dade por cotas de responsabilida­de limitada, o fiador tem em con­sideração a pessoa dos sócios, pois através deles é que a firma lhe inspirará a necessária confiança (RT 499/143) ... ". "Essa garantia, contrato benéfico, não admite in­terpretação extensiva como sem­pre se entendeu (CC art. 1.483), não passando, por isso, de pessoa a pessoa, como já afirmado ... " (Rev. cito - fi. 118).

o tema comporta também breves comemorativos atinentes à exoneração do fiador (arts. 1.006 e 1.500, CC).

Por essa lida, sobreconcentra-se que a fiança fincou a garantia para devedor certo, não albergando dívi­das de outra pessoa devedora de cré­ditos tributários (confrontem-se as datas da fiança e da dívida executa­da). Justaponha-se que não houve avença ou concordância tácita ou ex­pressa para a extensão ou prorroga­ção. A lei não admite interpretação extensiva (art. 1.483, Cod. Civil).

Assinala-se, noutro lanço, extinta a favorecida pela fia:o.ça - Bijoute­rias Paissandú Ltda. -, a trato de que não foi fixado prazo certo (fi. 7 - autos apensados), na verdade, os fiadores desvencilharam-se das obri­gações (arts. 1.500 - primeira par­te e 1.006, Cód. Civil). Com efeito, não pode o fiador ser responsabiliza­do indefinida ou perpetuamente por obrigações futuras ou aleatórias, má­xime garantindo pessoa diferente daquela destinatária do contrato, com afronta à sua previsão e mani­festação de vontade. Afinal, "o fiador não tem só deveres, mas também di­reitos. Um destes é exatamente o de alforriar-se quando lhe convier, na fiança por prazo indeterminado, e ao ensejo da chegada do termo, em se tratando de garantia dada por pra­zo determinado. Na fiança sem limi­tação temporal, mas que garante ne­gócio com prazo determinado, ela se extingue com a extinção do negócio principal, em face de sua acessorie­dade, surgindo então o direito à exo­neração do prestador". (Arnaldo Marmitt - in Fiança Civil e Comercial Aide Editora - 1989 - pág. 225).

Pela espia da motivação, voto pro­vendo o recurso, reanimando a pro­cedência dos embargos à execução, invertidos os ônus da sucumbência.

É o voto.

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RECURSO ESPECIAL N2 67.345-3 - SC

(Registro n 2 95.0027478-7)

Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrente: Estado de Santa Catarina

Recorrido: Marcatto Indústria de Chapéus Ltda.

Advogados: Regina Helena de Abreu Brasil e outros, e Thmara Ramos Bornhausen Pereira e outros

Sustentação Oral: Dra. Edith Gondin, pelo recorrente

EMENTA: Processual Civil. Estado-membro. Foro privativo. Ine­xistência.

A Fazenda do Estado (e a do Município), em face do sistema ju­rídico-constitucional vigente, não tem foro privativo, mas, tão-só, Varas especializadas. A competência das Varas especializadas só se torna absoluta quando a causa em que intervenha a Fazenda Es­tadual tenha a Capital do Estado como o foro respectivo.

É defeso à Lei de Organização Judiciári~, em se sobrepondo à le­gislação federal, instituir um foro especial para a Fazenda Estadual, ou estabelecer a competência de foro de forma diversa da previsão na Lei do Processo Civil.

Recurso improvido. Decisão unânime.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira 'furma do Supe­rior Tribunal de Justiça, por unani­midade, negar provimento ao recur­so, na forma do relatório e notas ta­quigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hum­berto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira, José Delgado e José de Je­sus Filho. Custas, como de lei.

Brasília, 13 de junho de 1996 (da­ta do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, Relator.

Publicado no DJ de 02-09-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: No curso de uma ação declaratória de reconhecimento de débito tributário, a empresa Marcatto

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Indústria de Chapéus Ltda. ajuizou Medida Cautelar Incidental contra a Fazenda do Estado de Santa Cata­rina, perante o Juízo de J araguá, naquela Unidade da Federação.

Como defesa dilatória, a Fazenda Estadual manifestou exceção de in­competência, pugnando para que, a ação cautelar, tivesse curso na Co­marca da Capital. O juiz indeferiu a pretensão, decisão confirmada, em grau de recurso de agravo, pelo 'lh­bunal de Justiça.

Irresignada, a Fazenda Estadual interpôs recurso especial, sob o pá­lio das letras a e c, do admissivo constitucional, acoimando, o decisó­rio de malferir as regras constantes dos arts. 14 e 35 do C. Civil e 94, 99 e 578 do C. de Processo Civil, con­quanto, o foro da Comarca da Capi­tal é o competente para o julgamen­to das ações em que o Estado for in­terveniente, a qualquer título.

Admitido por decisão, em agravo de instrumento e devidamente pro­cessado o recurso, subiram os autos a esta instância.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Senhores Mi­nistros:

Marcatto Indústria de Chapéus Ltda. promoveu contra a Fazenda do Estado de Santa Catarina Medida Cautelar Inominada Incidental, no processo de Ação de Declaração de

Inexistência de Relação Jurídica Tri­butária, perante o juízo da Comarca de Jaraguá, daquele Estado.

A Fazenda Estadual excetuou o juízo, sob fundamento de que, tendo em vista o disposto em regras da or­ganização judiciária e o preceito do art. 100, ,IV, a, do C. de Processo Ci­vil, o foro competente para conhecer e julgar a lide era o da Capital, on­de o Estado, como pessoa jurídica de Direito Público, tem a sua sede.

O juiz, no primeiro grau, julgou improcedente a Exceção, decisão confirmada pelo 'fribunal de Justiça no julgamento do agravo instrumen­tado.

Vem, agora, a Fazenda, pela via do especial, postular a alteração do julgado, sobre entender que este malferiu os arts. 100,IV, letra a, 94, 99 e 578 do C. de Processo Civil e arts. 14, II e 35, II do C. Civil, além de dissentir da jurisprudência assen­te em outros Tribunais, desde que, o foro da Capital é o competente para julgar as ações em que o Estado for demandado.

Não me parece, com a razão, a re­corrente.' É lição correntia de que, os Estados não têm foro privativo, mas, tão-só, varas especializadas. Nestas serão aforadas as ações contra o Es­tado, quando escolhido, pela parte, a Comarca da Capital. É o que pre­lecionam os processualistas. Arru­da Alvim, escrevendo sobre a maté­ria, dissenta:

"O elemento fundamental para determinar a competência de juí-

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zo das varas da Fazenda do Esta­do é o interesse da Fazenda Esta­dual, como um dos sujeitos do processo, mesmo como assistente simples, como chamado ao proces­so, ou quando lhe tenha sido de­nunciada a lide ainda, e nas mes­mas condições, de entidades au­tárquicas estaduais ou entidades paraestatais, bem como de socie­dade de economia mista. A com­petência dessas varas, porém, só se efetiva e é absoluta, quando a causa em que seja interessada a Fazenda Estadual tenha a Capi­tal como o seu foro. Assim, se a causa não tiver o seu foro na Ca­pital do Estado, pela circunstân­cia de ser o réu domiciliado ao in­terior, exemplificativamente com­petente será o juízo desse foro, o qual, a seu termo, poderá ser juí­zo especializado, de vara de Fa­zenda ou não. Não poderia a lei estadual, disciplinando a matéria de organização judiciária, criar um foro especial para a Fazenda Estadual, ou, então, determinar a competência de foro diversamen­te do que consta da lei processual" (Manual de Direito Processual Ci­vil, voI. I, pág. 187).

E ratificando o seu entendimento, esclarece, adiante, o ilustre proces­sualista:

"Há uma questão que atualmen­te já se encontra bastante clarifi­cada e precisa ser acentuada: as Fazendas do Estado e Municipal não têm, como já se pensou, foro

privilegiado, mas, tão-somente juí­zo privativo. Isso significa que o Estado e o Município, ao contrá­rio do que acontece com a União, submetem-se às regras gerais de competência" (ob. cit., pág. 172).

Este é o escólío que prevalece na jurisprudência:

"A Fazenda do Estado não tem o privilégio de foro privilegiado ou especial, com força atrativa das ações regularmente ajuizadas pe­rante outros juízes. 18m, apenas, juízo privativo. Com efeitos conhe­cidos, postos em realce em lapidar síntese pelo Des. Affonso Andrés em acórdão inserto na RJTJESP, 55/162: Assim, todas as causas que devam correr na Comarca da Capital, onde está o domicílio do Governo do Estado, hão de ser distribuídas às varas especializa­das, quando a Fazenda do Estado for autora, ré ou interveniente. Mas, as causas que pertencem à competência territorial de outra qualquer Comarca do Estado, não podem, por norma estadual de Organização Judiciária, ser trans­feridas para a Comarca da Capi­tal, ainda que nelas figure a Fa­zenda Estadual como autora, ré ou interveniente. No mesmo sen­tido as decisões constantes da mesma Revista, 93/244; RT, 595/68" (RJTJESP, 103/269).

De resto, é esta a jurisprudência que já se pacificou nesta Corte, em inúmeros precedentes e vários deles de minha lavra.

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Ocorre, ainda, que, in casu, exis­te uma peculiaridade. É que, a Me­dida Cautelar foi instaurada no cur­so de ação declaratória de inexistên­cia de débito. E, assim, como acen­tuou o nobre juiz de primeiro grau, "a ação anulatória de débito fiscal guarda relação de acessoriedade com a execução fiscal (art. 108 do CPC) e competente para julgá-la é o juízo do domicílio do devedor (CPC, art. 578), tanto mais que a propositura da ação anulatória de débito fiscal não inibe a Fazenda Pública de promo­ver-lhe a cobrança (§ 12 do art. 585), o que aconselha a unicidade de foro por economia processual e para evi­tar decisões contraditórias" (folha 33). É esta a diretriz traçada pela jurisprudência: "a ação declaratória de reconhecimento de crédito tribu­tário movida contra a Fazenda do Estado, com acessória do processo de execução fiscal e conexa com esta de­ve, a exemplo da execucional (art. 578 do CPC) ser aforada também no domicílio do devedor" (TJSP, Ag. de Inst. 8.080, folhas 44 e 45).

Mastada, pois, qualquer aprecia­ção quanto à alegada ofensa aos arts. 14 e 35 do C. Civil, arts. 94 e 99 do C. de Processo Civil, por au­sência de prequestionamento e por desinfluente no desate da lide, não vislumbro ofensa aos dispositivos de lei invocados, a que se deu escorrei­ta interpretação, ao invés de tateá­los.

Conheço do recurso, por ambas as alíneas, mas, lhe nego provimento.

É como voto.

VOTO - VISTA

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: O Estado de Santa Catarina defende a tese de que a competência para conhecer de processos em que ele é demandado reserva-se às Varas da Fazenda PÚ­blica da CapitaL

Pedi vista, impressionado com a sustentação oral efetuada na assen­tada de julgamento.

Observo, porém, que esta turma já apreciou o tema, decidindo no mesmo sentido em que se dirigiu o voto do eminente Relator.

Isto ocorreu no julgamento do REsp 57.688-1/SC, de que fui relator e se encontra resumido, nestes ter­mos:

Processual - Competência - Es­tado federado - Foro da capital - Foro em que ocorreram os fatos da lide (CPC, art. 100)

- Os Estados federados podem ser demandados, tanto no Foro da Capital, quanto no local em que ocorreu o fato em torno do qual se desenvolve a lide (CPC, art. 100).

Naquele processo,votou assim:

"Já conhecemos o tema.

Reporto-me ao voto que emiti, no julgamento do REsp 33.695-1/ MG, nestas palavras:

"O Estado recorrente finca sua pretensão no Argumento de

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que, em sendo pessoa jurídica, o foro para conhecer das causas em que figure como réu, se de­fine pelo art. 100, IV, a do Có­digo de Processo Civil."

Ao examinar questão semelhan­te, também à luz do art. 100 do CPC, o Superior Tribunal de Jus­tiça, pela Primeira Sessão, decla­rou, in verbis:

"As autarquias federais podem ser demandadas no foro de sua sede ou naquele em que se acha

a agência ou sucursal em cujo funQito de competência ocorreram os fatos que geraram, a lide." (C. Competência 2.493-0IDF)

A tese prestigiada naquele acórdão é válida, na solução da li­de ora em apreciação."

Também neste processo, a tese é pertinente.

Acompanho o eminente Ministro­Relator.

Nego provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N!'. 85.971 - SP

(Registro n!'. 96.0002607-6)

Relator: O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorrido: Stocolmo Ferramentas e Correias Ltda.

Advogados: José Ramos Nogueira Neto e outros, e Valdemir José Hen­rique e outro

EMENTA: Processual Civil. Processo de execução. Honorários ad­vocatícios. Impossibilidade de duas condenações - na execução e nos embargos.

Em face das regras inscritas no Código de Processo Civil, é de­feso ao juiz, no limiar da Execução (por ocasião do recebimento da Inicial), condenar, o devedor, ao pagamento de verba honorária. Os honorários arbitrados no despacho inicial no processo executório, têm caráter de provisoriedade e visam à possibilidade de pagamen­to imediato, pelo devedor, da quantia executada, não podendo ser acrescidos à verba de sucumbência imposta na sentença, ao julgar improcedentes os embargos.

De acordo com a lei (art. 20 do CPC), a condenação na verba de patrocínio só é viável quando se finda o processo, com a sentença.

Recurso improvido. Decisão por maioria de votos.

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ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma do Supe­rior 'lhbunal de Justiça, por maioria, vencidos os Srs. Ministros Humber­to Gomes de Barros e José Delgado, negar provimento ao recurso, na for­ma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fa­zendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamen­to os Srs. Ministros Humberto Go­mes de Barros, Milton Luiz Pereira, José Delgado e José de Jesus Filho. Custas, como de lei.

Brasília, 11 de junho de 1996 (da­ta do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, Relator.

Publicado no DJ de 02·09·96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO: Stocolmo Ferramentas e Correias Ltda. opôs embargos à execução que lhe move a Fazenda do Estado de São Paulo, relativamente à cobrança de ICM declarado e não pago e seus acréscimos legais.

Julgados improcedentes os embar­gos, o magistrado de primeiro grau condenou a embargante ao pagamen­to de honorários advocatícios arbi­trados em 10% (dez por cento) do to­tal atualizado do débito, somados à verba honorária já fixada no despa-

cho inicial de processamento de exe­cução.

Sobrevindo apelação, o acórdão recorrido oriundo do Tribunal de Justiça de São Paulo, no tocante aos honorários, assim concluiu, verbis:

" ... Os honorários advocatícios comportam redução por efeito de exclusão daqueles arbitrados na inicial da execução, ante o enten­dimento prevalente de que os em­bargos não constituem ação, mas meio de defesa."

Inconformada, a Fazenda do Es­tado de São Paulo manifestou recur­so especial sob o pálio da letra c, lII, art. 105 da franquia constitucional, trazendo à colação paradigma desta Egrégia Corte.

Admitido na origem, vieram-me os autos conclusos para julgamento.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Discute-se na espécie, o cabimento da cumulativi­dade de honorários da execução com aqueles dos embargos. tidos como im­procedentes.

Os embargos, tal como indica o lé­xico, são óbices que o devedor procu­ra contrapor à execução proposta. Sua natureza jurídica, entretanto, é de uma ação de cognição incidental; vez que seu escopo cinge-se à des­constituição da relação jurídica líqui-

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da e certa retratada no título execu­tivo. Há uma nova relação proces­sual em que o executado é autor e o exeqüente atua no pólo passivo da relação jurídica.

Desta forma, não constituem os embargos do devedor um mecanismo de defesa similar à resposta do réu (ou, em termos específicos, à contes­tação) no processo de conhecimento.

Têm os embargos, conforme o es­tabelecido em alguns julgados, a na­tureza de ação, distinta da que se está exercitando no processo execu­tivo, embora intuitivamente conexa (em sentido lato) com ela, e tenden­te a destruir o aludido processo, ou a cortar-lhe os excessos. A sentença, ao permitir a cumulação da verba ho­norária, amoldou-se a entendimento anterior deste Tribunal, como a exemplo dos recursos especiais de ni!B.: 20.641/SP - DJ de 5/2/96 - reI. Min. Peçanha Martins; 20.806-7 -DJ de 23/11/92 - reI. Min. Cláudio Santos e REsp n2 40.986-1 - DJ de 28/2/94, reI. Min. Humberto Gomes de Barros.

Não vejo, entretanto, como prospe­rar, o recurso. No processo de Execu­ção inexiste a possibilidade de duas (2) condenações em honorários advo­catícios, como se de duas (2) ações distintas se cuidasse, a principal (E­xecução) e a subseqüente (os Embar­gos). O entendimento prevalecente é o de que "os embargos não consti­tuem ação, todavia, meio de defesa. Seria rematada injustiça se, em um só processo de Execução o devedor viesse a ser condenado em, até, 40%

(quarenta por cento da verba de su­cumbência).

Demais disso, só pode haver con­denação ao pagamento da verba ad­vocatícia, na sentença (que extinga o processo). A execução não embar­gada só se extingue nas hipóteses previstas no art. 794 do C. de Pro­cesso CiviL E, aí, só haverá uma condenação.

O juiz não pode, em despacho li­minar (por ocasião do recebimento da Inicial), condenar o devedor a pa­gar honorários. A condenação só é possível quando se finda o processo com a sentença (art. 20 do CPC). Existe, todavia, a praxe, em que o juiz, ao determinar a expedição do mandado de citação e penhora, fixar, desde logo, em percentualização, a verba honorária. Mera fixação, arbi­tramento, para efeito de pagamento, pelo devedor. 'Ibdavia, o executado pode se insurgir contra o percentual estabelecido. Mas, a verba honorária fixada na Inicial sobre a condenação não pode ser adicionada à fixada, na sentença sobre o débito. A fixação provisória é substituída pela senten­ça, posto' haver uma só condenação e uma só sucumbência (RSTJ, 65/ 425). "Os honorários no despacho inicial da execução, para a eventua­lidade de pagamento imediato, sal­vante ressalva, não devem ser acres­cidos aos honorários impostos em embargos julgados improcedentes" (STJ, 4~ 'furma, REsp n2 9.077, ReI. Min. Sálvio de Figueiredo).

Por último, a controvérsia que grassava na jurisprudência, acerca

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da possibilidade de dupla condena­ção em verba honorária (na execu­ção) perdeu a razão de ser, com a nova redação dada ao § 4~ do art. 20 do CPC, pela Lei n~ 8.952/94, ao dis­por que, "nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as normas das alí­neas a, b e c, do parágrafo anterior. É curial que, com a nova ordem, o juiz não tem como impor duas con­denações, mesmo porque, em não havendo embargos, o feito só será sentenciado nas hipóteses do art. 794 do CPC, inexistindo oportunida­de de, antes, haver sentença conde­natória.

Com estas considerações, conheço do recurso, mas, lhe nego provimen­to.

É como voto.

ESCLARECIMENTOS

O SR. MINISTRO DEMÓCRITO REINALDO (Relator): Sr. Ministro Milton Luiz Pereira, na atualidade, o argumento de peso é a nova reda­ção dada ao § 4!!, que dispõe que, na execução, havendo ou não embargos, o Juiz fixa a verba honorária, de acordo com o seu prudente arbítrio.

Não se pode fixar duas condena­ções. A Lei estabelece: havendo ou não embargos, com ou sem embar­gos, na execução, o Juiz só pode fa­zer uma condenação e usando do seu poder de arbítrio, com base nas le­tras a, b e c do § 3~ do art. 20.

Quanto à questão de poder haver arbitramento de honorários advoca­tícios em despacho, isso nem discu­to. Primeiro porque isso já é uma ve­lharia, uma coisa do passado; depois, porque isso é algo que fere frontal­mente o art. 20 do Código de Proces­so, já que a sentença condenará o vencido em honorários - só a sen­tença pode condenar. Aquele mera­mente provisório. É na sentença, quando se declara extinta a execu­ção pelo pagamento, ou nos embar­gos, quando há, que se fixam os ho­norários, na execução. Despacho não pode fixar honorários.

O que houve naquela reunião de juristas, como V. Exa. admite, é que se realizou em 1975, enquanto o Có­digo é de 1974.

Mas a jurisprudência e a doutri­na foram se sedimentando e está se vendo hoje, que é impossível se fixar honorários advocatícios em decisão interlocutória ou em despacho.

Agradeço os subsídios de V. Exa.

É como voto.

VOTO - VENCIDO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES' DE BARROS: Srs. Minis­tros, discordo do voto do Eminente Ministro Demócrito Reinaldo, pedin­do vênia para tanto, porque, em pri­meiro lugar, o dispositivo do § 4~, ao dizer que nas execuções embargadas ou não os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa, per­mite que haja condenação de hono-

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rários nessas execuções. Consentin­do essa imposição de pena de sucum­bência, não proíbe - e nem o pode­ria fazer - que haja condenação nas sentenças que julguem os embargos à execução.

Parece-me, data venia dos Srs. Ministros Milton Luiz Pereira e De­mócrito Reinaldo, que com a nova redação do § 4~ reforça-se o entendi­mento no sentido da cumulação de verbas honorárias.

Por outro lado, não me preocupa a observação de que no processo de execução é inviável a imposição do encargo do pagamento de honorários,

porque isto não pode ser feito em simples despacho.

Na verdade, a decisão, que deter­mina a citação no processo de execu­ção, tem uma carga bem superior à de despacho. Ela leva uma carga de sentença, porque o juiz, ao determi­nar a citação, emite um juízo a pro­pósito daquele título e o declara tí­tulo executivo. Por isso, abre-se o processo de execução.

Com esses argumentos, pedindo vênia aos dois votos que discordam do meu entendimento, dou provimen­to ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N~ 89.120 - SP

(Registro n~ 96.0011727-6)

Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrente: Guarda Noturna de Santos

Recorrido: Estado de São Paulo (Fazenda Estadual)

Advogados: Drs. Luiz Lopes e outros, e Clécio Braschi e outros

EMENTA: Processual - Recurso especial - Alínea b - Hipótese em que cabe o recurso por descompasso entre lei local e federal -I - Cabe recurso especial, para resolver conflito entre lei local e lei federal (alínea b), quando a solução se possa obter sem declaração de inconstitucionalidade. Isto somente ocorre, quando os diplomas em confronto foram gerados em áreas onde concorrem a competên­cia local e a federal (CF art. 24).

TI - Não maltrata o art. 18 do Código Civil, o acórdão que, exami­nando legislação estadual, nega o status de autarquia a determina­da entidade prestadora de serviço.

TIl - Não há ofensa aos arts. 165 e 458 do CPC, se o dispositivo do Acórdão finca-se em motivação sintética, mas perfeitamente com­preensível.

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IV - Embargos declaratórios destinados a explicitar o questiona­mento de dispositivos não são protelatórios.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Pri­meira 'furma do Superior 'fribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso, nos temos do voto do Sr. Mi­nistro-Relator. Votaram com o Sr. Mi­nistro-Relator os Srs. Ministros Míl­ton Luiz Pereira, José Delgado, José de Jesus Filho e Demócrito Reinaldo.

Brasília, 12 de setembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 21-10-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: O Acórdão decidiu o mérito, fincado em argu­mentação que resumo, assim:

a) a Autora (ora recorrente) pe­de que se lhe reconheça o status de autarquia, criada por decreto­lei estadual, cujo artigo 1~ diz: "é criada como associação particular sem ônus para o estado, a Guarda Noturna de Santos, nos moldes da Guarda Noturna de São Paulo";

b) pelo regulamento que com­plementou o DL, a Guarda Notur-

na seria mantida mediante contri­buições de pessoas interessadas em seus serviços, não existindo qualquer ônus para o Estado. Es­te limitava-se em nomear os diri­gentes da corporação e fiscalizar suas atividades;

c) não há dúvida, quanto à na­tureza pública das funções desem­penhadas pela GNS;

d) a doutrina concorda em que a caracterização de um ente esta­tal como autarquia pressupõe a conjunção de três elementos: cria­ção por lei; personalidade de direi­to público, patrimônio próprio e auto-administração, sob controle estatal;

e) a associação apelante não se integra no conceito de autarquia. Sua natureza é de "serviço social autônomo", investido de personali­dade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos e mantida atra­vés de contribuições parafiscais.

Houve um voto vencido, montado nesta linha de argumentação:

a) a GNS não é pessoa jurídica de direito privado, porque, nem é uma entidade corporativa, forma­da pela associação de pessoas, nem constitui um ente fundacio­nal, gerado pela afetação de um patrimônio;

b) a circunstância de o DL 11.724/40 ter afirmado que a GNS

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seria criada como "associação par­ticular", é irrelevante. É irrele­vante, porque o Estado federado não tem competência para infun­dir personalidade de direito priva­do a entidade a quem a lei federal considera de direito público;

c) à míngua de um terceiro gê­nero, é fatal a conclusão de que a entidade insere-se na categoria de direito público;

d) no ensinamento de Celso Antônio Bandeira de Mello, a localização de uma pessoa jurídi­ca no rol daquelas de direito pú­blico depende menos do qualifica­tivo que lhe atribui a lei, do que das funções que ela desenvolve;

e) na hipótese, a lei cometeu à GNS o exercício de funções carac­terísticas da polícia de segurança pública e de auxiliar do policia­mento (art. 12 do Regulamento);

f) o Regulamento proíbe o exer­cício da vigilância noturna, a qualquer corporação particular;

g) a Guarda continua a exercer tais funções, de polícia, reservada pelo sistema constitucional aos ór­gãos estatais;

h) o Regulamento impôs à GNS a estrutura orgânica e as condi­ções operacionais, garantindo a tutela administrativa estatal;

i) se a Guarda é de direito pri­vado, não pode exercer função ex­clusiva da Administração. Em contrapartida, a Administração não pode interferir no funciona­mento da Guarda.

o Acórdão da Apelação foi confir­mado, em grau de embargos infrin­gentes. O Aresto confirmatório fo­mentou-se em:

a) a teor do DL 200/67, autar­quia é entidade fundacional, des­tinada ao exercício de serviço pú­blico destacado da ação direta do Estado;

b) a Guarda Noturna de Santos não configura autarquia, pois foi concebida como "associação parti­cular";

c) por outro lado, não faz senti­do o Estado criar associação pri­vada, cuja existência depende de registro;

d) em tal circunstância, a GNS é "um serviço público, de contor­no jurídico indefinido, quer do ponto de vista do direito público, quer do direito privado."

Houve embargos de declaração, em que se procurou trazer à discus­são, o art. 52, II da Constituição Fe­deral.

Os embargos foram rejeitados, em Acórdão que, ao fundamento de ser manifesto o intuito protelatório, apli­cou multa.

O Recurso Especial procura fun­damento nos permissivos a, b e c.

A Recorrente queixa-se de ofensa aos artigos:

a) 18 e 19 do Código Civil;

b) 125, III, 126, 165 e 458 do CPC ..

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o Acórdão teria, ainda, prestigia­do lei local (o DL 11.724/40), contes­tada em face de Lei Federal e diver­gido de nossa Súmula 98.

Esta, a lide que o recurso traz à nossa decisão.

VOTO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): Examino, inicialmente, a admissibi­lidade do recurso, pela alínea b.

Já discutimos o tema.

Isto ocorreu no julgamento do REsp 40.992/SC, de que fui relator.

N aquela assentada, eu disse:

"Este recurso põe em confron­to uma lei estadual e outra fede­ral.

À primeira vista, parece que conflito semelhante resolve-se à luz da Constituição Federal.

Como sabemos, o sistema fede­rativo aglutina três subordinamen­tos jurídicos, que se desenvolvem em planos autônomos, tendo, como ponto de convergência, a Consti­tuição Federal.

Normalmente, na composição de conflito entre norma estadual e federal, apura-se a quem per­tence a competência para legislar sobre a matéria em disputa.

Constatado que determinada norma jurídica ultrapassou o âm­bito de competência normativa do Estado que a editou, ela é tida co-

mo inconstitucional. É inconstitu­cional, não por divergir da lei fe­deral, mas por emanar de fonte inidônea. Operação semelhante ocorre em relação às leis federais e municipais.

Esta pesquisa é feita no texto constitucional. No sistema jurídi­co brasileiro, compete ao Supremo Tribunal desenvolvê-la.

Existem, contudo, hipóteses em que o confronto é resolvido sem necessidade de que se discuta constitucionalidade.

Tais hipóteses surgem quando a competência é outorgada, conco­mitantemente, aos três graus de descentralização normativa da fe­deração (CF arts. 23 e 24).

Quando o conflito envolve ques­tão sediada no terreno da compe­tência concorrente, o encargo de o dirimir, em jurisdição especial, re­serva-se ao Superior Tribunal de Justiça (CF art. 105, IIl, b).

O tema já foi examinado nesta Corte.

Com a segurança que o carac­teriza, o E. Ministro Eduardo Ri­beiro conduziu a 'Ierceira Turma à constatação de que:

"O cabimento do especial, pela letra b, supõe que a impugna­ção à lei local não envolva sua inconstitucionalidade ou a da lei federal. No sistema federa­tivo consagrado pela Constitui­ção, havendo possibilidade de legislação concorrente e caben-

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do à União estabelecer normas gerais, as leis estaduais, edita­das no exercício da competên­cia suplementar, haverão de se conformar àquelas diretrizes gerais. Assim, ainda agindo União e Estado nas respectivas esferas de competência, poderá ser inválida a lei estadual, em virtude de descompasso com a lei federal, verificada a hipóte­se do artigo 24 da Constituição." (REsp 31.391)

Na hipótese que ora examinamos, não se cuida de competência concor­rente: a tese de que o Decreto esta­dual não prevalece, frente ao Códi­go Civil teria como premissa a afir­mação de que o regulamento foi emi­tido por entidade incompetente, nos termos da Constituição Federal.

Ora, tal assertiva envolve questão constitucional.

Não conheço do recurso, sob a égi­de da alínea b.

Não enxergo, por outro lado, ofen­sa do Acórdão, aos artigos 18 e 19 do Código Civil.

Com efeito, a recorrente limitou­se em pedir declaração de que ela seria uma autarquia estadual.

O Acórdão, interpretando o Decre­to estadual, negou a declaração: dis­se, simplesmente, que a GNS não se insere no conceito de autarquia. Sua natureza é de entidade cujo contor­no é indefinido.

Em assim fazendo, não maltratou qualquer dispositivo elo Código Civil.

Não ofendeu, até porque o art. 18 - como está claro em seu texto -cuida, somente, das pessoas jurídi­cas de direito privado.

Não atinei a razão pela qual a Recorrente assevera que o Acórdão contrariou o art. 125, In do CPC.

No que respeita ao art. 126, digo que o aresto não deixou de exarar decisão. Nele se contém dispositivo claro.

No que respeita aos arts. 165 e 458 do CPC, diga-se que o dispositi­vo do acórdão :fmca-se em motivação sintética, mas perfeitamente com­preensível.

Dir-se-á que, na resposta aos Em­bargos declaratórios, o Tribunal ofen­deu o art. 458. Semelhante imputa­ção é improcedente: o acórdão for­mou-se no plano da inconstituciona­lidade e do Direito Público. Qual­quer incursão aos domínios do Di­reito Constitucional e do Direito Privado somente faria sentido, caso estivesse a Corte, discutindo algo além da natureza ju~ídica da GNS.

O recurso merece conhecimento pela divergência com a Súmula 98.

Com efeito o acórdão que respon­deu aos embargos declaratórios, após reconhecer que "os embargos são para prequestionar", aplicou a multa, dizendo ser manifesto "o in­tuito protelatório do- expediente".

Conheço parcialmente o recurso, para ca:q.celar a multa.

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RECURSO ESPECIAL N2 92.841 - PE

(Registro n2 96.0022185-5)

Relator: O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrente: União Federal (Fazenda Nacional)

Recorrida: Organização Nacional de Serviços Ltda.

Advogados: Drs. Adonias dos Santos Costa e outros, e Mário Carlos Sa­ver Araújo

EMENTA: Processual - Cumulação de pedidos - Repetição de indébito - Compensação tributária - Possibilidade (Lei n~ 8.383/91 - art. 66).

- É lícito ao autor pedir, em uma só ação, que se lhe declarem o direito à repetição de indébito tributário e à faculdade de compen­sar o montante da exação indevida com dívidas geradas pela in­cidência de outros tributos (L. 8.383/91, art. 66).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribu­nal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar provi­mento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Minis­tros Milton Luiz Pereira, José Del­gado, José de Jesus Filho e Demó­crito Reinaldo.

Brasília, 10 de setembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 21-10-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: A Recorrida,

em ação ordinária, pediu lhe seja reconhecido o direito à restituição de valor recolhido indevidamente, a título de Finsocial.

Pleiteou, ainda - com arrimo no art. 66 da Lei 8.383/91 - o reconhe­cimento da faculdade que lhe assis­te, de optar pela compensação entre seu crédito e outros débitos tributá­rios.

Em primeiro grau, declarou-se a autora carente de ação, ao fundamen­to de que é inviável a cumulação des­tes dois pedidos.

O V. Acórdão recorrido reformou a Sentença, por:

"Inexistência de incompatibili­dade entre a restituição do indé­bito e a compensação com parce­las vincendas de outros tributos.

94 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.

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"Não há vedação legal a que a restituição se dê sob a forma de compensação."

A União Federal interpôs Recur­so Especial, afirmando violação ao art. 66, § 2~ da Lei 8.383/91.

VOTO

O SR. MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator): A Recorrida, ao propor a ação ordiná­ria, pediu a declaração de que ela tem direito à restituição de valores recolhidos indevidamente. Requereu, ainda a declaração de que lhe assis­te a faculdade de compensar o valor a ser restituído com dívidas relacio­nadas com a contribuição social ins-

tituída pela Lei Complementar 70/91 (COFINS).

Não há incompatibilidade entre os dois pedidos.

Pelo contrário, o art. 66 da Lei 8.383/91, tratando de repetição do indébito tributário, é claro na afir­mação de que "o contribuinte pode­rá efetuar a compensação desse va­lor no recolhimento de importância correspondente a períodos correspon­dentes."

Incompatibilidade haveria, se a demandante houvesse pleiteado a entrega do numerário corresponden­te ao recolhimento indevido. Na hi­pótese, contudo, ela se limitou em pleitear declaração de que é credora do indébito.

Nego provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N~ 95.863 - SP

(Registro n~ 96.0031317-2)

Relator: O Sr. Ministro José Delgado

Recorrente: Município de São Paulo

Recorridos: João Washington Inks e outros

Advogados: Drs. Irene Veraszto e outros, e Gilson Ferreira e outros

EMENTA: Tributário. Taxas de conservação de vias públicas e de coleta de lixo. Serviço divisível e específico.

1 - Os serviços de conservação e limpeza de vias públicas podem ser destacados como beneficiando unidades imobiliárias autôno­mas, por serem suscetíveis de utilização, de modo separado por par­te de cada usuário.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997. 95

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2 - Não afronta os arts. 77 e 79, do CTN, a imposição de taxas so­bre conservação de vias públicas e coleta de lixo, tendo como ba­se de cálculo o custo da atividade estatal, repartido entre os pro­prietários dos imóveis, tendo como critério a utilização do imóvel, se comercial ou residencial, em função de sua localização, área edi­ficada, tendo-se em conta, ainda, a subdivisão da zona urbana, com aplicação anual, por metro quadrado, de um percentual da unida­de fiscal criada pelo município, obedecendo-se a um escalonamen­to previsto em lei.

3 - Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira 'Th.rma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus Filho, Demócrito Reinaldo, Humberto Go­mes de Barros e Milton Luiz Perei­ra.

Brasília, 07 de novembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DELGADO, Relator.

Publicado no DJ de 09-12-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO: O Município de São Paulo con­trapõe o presente recurso especial (fls. 254/265), com fulcro no artigo 105, inciso lII, alíneas a e c, da Constituição Federal, contra acórdão

(fls. 250/252) proferido pelo Eg. Pri­meiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo que concedeu, parcialmen­te, a segurança, apenas para invali­dar a cobrança tributária concernen­te às taxas de serviços, preservando íntegro o IPTU lançado.

Assevera o recorrente que a refe­rida decisão violou os arts. 77 e 79 do Código Tributário Nacional, ao outorgar a proteção mandamental em relação às taxas, visto não se confundir a base de cálculo delas com a eleita para o imposto, sendo motivadas, outrossim, pela prestação de atividades específicas e divisíveis. Aduz, ainda, dissídio jurispruden­cial.

Sem contra-razões.

Parecer do Ministério Público Es­tadual de 2:'! instância (fls. 278/281) no sentido de que o recurso adequa­do seria o extraordinário, porque a controvérsia depende de interpreta­ção do texto constitucional. Disse que no concernente ao dissídio pre­toriano, o apelo não conseguiu rea­lizar a demonstração analítica da di­vergência. Opinou pelo não segui­mento do recurso.

96 R. Sup. 'frib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.

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No juízo de prelibação do especial (fls. 284/286), o Juiz Presidente do Eg. 1~ 'fribunal de Alçada Civil inde­feriu o seguimento do especial. Esta decisão foi objeto de agravo de ins­trumento (fls. 02/06 do Ag 84.982), o qual restou provido (despacho de fls. 120 no Ag 84.982), determinan­do-se a subida dos autos.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO (Relator): A questão jurídica mo­tivadora do presente recurso especial está posta no acórdão impugnado, nos termos seguintes (fl. 252):

"A conservação e a limpeza presu­mem-se de vias públicas. Não po­dendo os serviços serem destaca­dos em unidades autônomas de intervenção, de utilidade ou de necessidade públicas, nem sendo suscetíveis de utilização separada por parte de cada um de seus usuários, não pode ser exigida ta­xa alguma.

O Colendo Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou a respeito do tema:

"'Iàxas - Limpeza e conserva­ção de vias públicas: Não são taxas porque se destinam ao benefício geral e indistinto dos integrantes da coletividade, porque constituem-se por servi­ços públicos indivisíveis e espe­cíficos prestados ao contribuin-

te ou postos à sua disposição -A taxa de combate a sinistros fixada com base no valor venal é vedada constitucionalmente, além do caráter inespecífico" (AI 16.234-0, ReI. Humberto Gomes de Barros - DJU 32:1782 de 16.2.93).

Em suma: foi injurídico o lança­mento das taxas, mas permanece hígido o do imposto".

O recorrente, em primeiro lugar, aponta como violados, pelo aresto supra, os arts. 77 e 79 do CTN, que, respectivamente, afirmam (fl. 258):

"Art. 77 - As taxas cobradas pe­la União, pelos Estados, pelo Dis­trito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gera­dor o exercício regular do poder de polícia, ou a atualização, efeti­va ou potencial, de serviço públi­co específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição" .

"Art. 79 - os serviços públicos a que se refere o art. 77 consideram­se:

I - utilizados pelo contribuinte:

a) efetivamente, quando por ele usufruídas a qualquer título;

b) potencialmente, quando sendo de atualização compulsória, sejam postos à sua disposição mediante atividade administrativa em efe­tivo funcionamento;

II - específicos, quando possam ser destacados em unidades autô-

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nomas de intervenção, de utilida­de ou de necessidade pública;

lU - divisíveis, quando suscetí­veis de utilização, separadamen­te, por parte de cada um dos seus usuários".

o exame dos fundamentos da de­cisão recorrida demonstra que os dispositivos supramencionados não foram prequestionados.

Observa-se que o acórdão atacado está centrado no entendimento de que a taxa de conservação e limpe­za de vias públicas não tem amparo legal porque os serviços a que ela se refere não podem ser "destacados em unidades autônomas de intervenção, de atividade ou de necessidade pú­blica", bem como, tais serviços não são "Suscetíveis de utilização sepa­rada por parte de cada um de seus usuários".

Em suma: afirmou a decisão em exame que a taxa em questão tem caráter inespecífico e, por ser fixada sobre valor venal, tem proibição cons­titucional.

Ora, em nenhum momento do re­ferido decisório foi discutida a apli­cação dos arts. 77 e 79 do CTN, es­pecialmente aspectos relativos ao exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e di­visíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição, nem, tam­bém, se o serviço foi utilizado pelo contribuinte de modo efetivo, isto é, usufruído a qualquer título ou po­tencialmente, sendo de utilização

compulsória, sejam postos à disposi­ção mediante atividade administra­tiva em efetivo funcionamento.

Não se questionou, também, se havia se~viços públicos específicos, destacados em unidades autônomas de intervenção, de utilidade ou de necessidade pública, nem se o servi­ço era divisível, por haver utilização de modo separado, por parte de ca­da um dos usuários.

Tais termos, todos nos componen­tes da mensagem impulsionada pe­los arts. 77 e 79, do CTN, deviam ter sido abordados, via embargos de­claratórios, para que sobre eles se pronunciasse o egrégio Tribunal a quo.

Face tais considerações, por au­sência de prequestionamento explí­cito dos arts. 77 e 79, do CTN, não conheço do recurso pela letra a.

No tocante à divergência jurispru­dencial apontada, a tenho como bem demonstrada, haja vista a inegável posição contrária assumida pelo acórdão recorrido com o decidido por esta egrégia 1~ Turma, ao julgar o REsp n~ 32.870-0/SP, relatado pelo eminente Ministro Demócrito Rei­naldo.

Conheço, assim, do recurso, pela letra c, dando-lhe provimento, por acompanhar precedentes desta Tur­ma e as razões do voto condutor do REsp n~ 32.870-0/SP, relatado pelo eminente Ministro Demócrito Rei­naldo, conforme acima anotado. 'Iranscrevo, por adotá-lo como razão de decidir, o inteiro teor do voto aci­ma apontado (fls. 267/271):

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"De fato, depreende-se da simples leitura dos mencionados disposi­tivos legais: I!:!) - que as taxas "têm como fato gerador o exercí­cio regular do poder de polícia, a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisí­vel, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição" (caput do artigo 77 do CTN); 2!:!) - os servi­ços públicos são considerados uti­lizados pelo contribuinte, efetiva­mente, "quando pode ele usufruí­los a qualquer título", e, poten­cialmente, "quando, sendo de uti­lização compulsória, sejam postos à sua disposição mediante ativi­dade administrativa em efetivo funcionamento" (artigo 79, inciso I, a e b); 3!:!) - para os fins do ar­tigo 77 do CTN, são específicos os serviços públicos "quando possam ser destacados em unidades autô­nomas de intervenção, de utilida­de ou de necessidade pública" e divisíveis "quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de cada um de seus usuá­rios" (artigo 79, n e In, do CTN).

Ora, à luz dos princípios estatuí­dos nestas disposições legais invo­cadas, não me parece tenha deci­dido com acerto o aresto objurga­do, ao considerar que as taxas de conservação de vias e logradouros e de limpeza públicas, como tam­bém de combate a sinistros, não apresentam a divisibilidade e es­pecificidade de que tratam os in­cisos II e III, do artigo 79 do CTN.

Ao contrário, entendo que, na es­pécie, não se trata de serviços

prestados uti universi, mas na utilização dos quais se encontram presentes os requisitos da especi­ficidade e da divisibilidade, quer porque atendem determinada ne­cessidade pública, implicando na limpeza do imóvel com a coleta do lixo, quer porque, de outra parte, são utilizados separadamente, por cada usuário, uti singuli.

16m razão a recorrente, portanto, ao invocar abalizadas lições de consagrados especialistas no estu­do da matéria, além de expressi­vos precedentes da jurisprudência, que merecem reproduzidos pela correta exegese que representam. Nesse sentido, assevera com pro­priedade:

"O Prof. Bernardo Ribeiro de Moraes, in "Doutrina e Prática das Taxas", RT, 1976, pág. 140, ensina:

" ... São serviços públicos es­pecíficos, também denomina­dos individuais ou particula­res, aqueles que proporcio­nam vantagem ao indivíduo ou a grupos de indivíduos, embora haja sempre um interesse público em jogo ... São exemplos de serviços es­pecíficos: serviços de limpe­za pública que atinja a fren­te dos imóveis ou lhes remo­va lixo; serviço de conserva­ção de vias ou de conserva­ção de estradas que, apesar de ter por objeto um fim pú­blico, não deixa de dar van­tagem àquelas que utilizam

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necessariamente a via públi­ca ou a estrada ... ".

o mesmo autor diz às págs. 147/148:

" ... o serviço de limpeza pú­blica tem por finalidade man­ter limpa a área do municí­pio, protegendo higienica­mente a cidade, abrangendo diversas atividades, exerci­das em conjunto ou isolada­mente, das quais destaca­mos: coleta de lixo domiciliar (resíduos domiciliares, mate­riais de varredura domici­liar, etc.) ou de estabeleci­mentos comerciais; indus­triais ou de prestação de ser­viços, sua remoção e destina­ção final ... Os serviços acima indicados constituem servi­ços públicos específicos e di­visíveis, prestados ou postos à disposição do contribuinte, pessoa proprietária do bem imóvel que recebe o serviço, isto é, pessoa que tem a uti­lização efetiva ou potencial do mesmo ... ".

N a mesma diretriz, a lição do saudoso prof. Hely Lopes Meirelles ("Direito Municipal Brasileiro", 5~ edição, também à pág. 140) a seguir transcrita:

" ... A especificidade e divisi­bilidade ocorrem, em regra, nos serviços de caráter domi­ciliar, como os de energia

elétrica, água, esgotos, tele­fone, e coleta de lixo, que be­neficiam individualmente o usuário e lhe são prestados na medida de suas necessi­dades, ensejando proporcio­nalmente a remuneração ... Será remunerado por taxa todo serviço que for compul­sório para o usuário, como a utilização da rede domiciliar, de água e esgoto sanitário, o de coleta de lixo e qualquer outro considerado essenciaL.".

2. De outra parte, o C. Supre­mo Tribunal Federal no julga­mento do RE 89.876-RJ, in RTJ 98/230-281, em que exami­nou a possibilidade da remoção de lixo poder ser cobrada por decreto ou dever sê-lo por lei, por se constituir numa taxa de serviço público, assentou em sua ementa que:

"Sendo compulsória a utili­zação do serviço público de remoção de lixo - o que re­sulta, inclusive, de sua disci­plina como essencial à saúde pública, '" é, em verdade, ta­xa ... ".

Em seu voto, o eminente Rela­tor afirmou:

" ... a contribuição que se exi­ge, tradicionalmente, em matéria de remoção de lixo é uma taxa, que não apenas o abarca, mas também abran-

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ge as outras espécies de lim­peza urbana, como o varrer das ruas, que se integram ao controle sanitário, que é atribuição impostergável do Poder Público ... ".

E, examinado também os requi­sitos de especificidade e divisi­bilidade desses serviços, rema­tou:

" ... Remoção de lixo é, por­tanto, como integrante dos serviços de limpeza urbana, serviço público essencial, cuja contrapartida a ser exi­gida do particular, já que é específico e divisível, somen­te pode configurar-se taxa ... ". (folhas 94/97).

Na mesma direção, mais recen­temente, esta egrégia Turma, ao apreciar o REsp 10.142-0/ SP, relator o eminente Ministro Garcia Vieira, decidiu, por una­nimidade, conforme acórdão as­sim ementado:

"Execução fiscal - 'Iàxas de limpeza - Fato gerador.

As taxas têm de fato gerador "o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial de servi­ço público específico e divisí­vel, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição".

A recorrente está sujeita às taxas de conservação de ruas e logradouros públicos e de

limpeza - coleta de lixo, porque ela usufrui dos servi­ços de conservação e limpe­za, inclusive coleta de lixo.

Recurso provido" (DJ 08.03.93)".

Na verdade, o exame da contro­vérsia revela que a Taxa em discus­são é cobrada para compensar o custo da atividade estatal com os serviços prestados, o dispêndio efe­tivado pela administração para a consumação destas atividades de limpeza das vias públicas e coleta de lixo. O custo com tais serviços é es­timado e repartido entre os destina­tários diretos e beneficiários das nor­mas utilizando-se critério de repar­tição razoável e aceito pelo ordena­mento jurídico.

É de se registrar, também, que o Prof. Aires Fernandino Barreto, em sua monografia "Base de Cálcu­lo, Alíquota e Princípios Constitucio­nais", Ed. RT, 1987, págs. 67 e 97, conforme assinalado à fi. 102 dos presentes autos, pronunciou-se a respeito do terna do modo seguinte (fi. 102):

" ... Nas taxas, o exame há de ser idêntico. Ao consignar-se em lei urna dada importância (por exem­plo, Cz$ 100,00) nada teremos di­to, se a essa expressão (valor) não aditarmos: por metro quadrado, por testada, alqueire, litro, perí­metro, quilo, metro cúbico ou ou­tra unidade qualquer.

'Thmbém não se diga que esse se­gundo elemento quantificador é

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base de cálculo. É mero registro de qual alíquota se deverá aplicar sobre os Cz$ 100,00 ... ".

E mais às fls. 97, que:

" ... Parece-nos haver afronta ao princípio se, verbi gratia, Taxa de Limpeza Pública fosse exigida igualmente diante de situações absolutamente desiguais, como se­riam as de dado contribuinte, ti­tular de imóvel de 100,00m2 com mais de 2.000m de testada para a via pública, e de outro, proprietá­rio de 30m2 e 3m de frente ... ".

Por fim, adoto os fundamentos contidos à fl. 257, pelo que os trans­crevo:

"No caso sub judice as taxas são cobradas pela prestação de servi­ços públicos, ou seja, aqueles que se contiverem no âmbito de atri­buições da pessol:j. política que ins­titui o gravame, segundo as re­gras constitucionais. Os serviços poderão ser efetiva ou potencial­mente prestados ao contribuinte, ou postos à sua disposição, confor­me anuncia o art. 77 do Código Tributário Nacional.

Não existe qualquer inconstitucio­nalidade ou ilegalidade quanto à base de cálculo utilizada para o lançamento das taxas, que respei­ta o disposto no artigo 145, pará­grafo 22, da Constituição Federal e o artigo 77 parágrafo único do Código Tributário Nacional.

A base de cálculo das taxas, que é o custo da atividade estatal, deve ser repartido entre os destinários através de um critério.

Esse critério, em se tratando de prédio comercial ou residencial, em função de sua localização, área edificada e utilização, leva em conta a subdivisão da zona ur­bana, com aplicação anualmente, por metro quadrado, de um per­centual da UFM, de acordo com o escalonamento em lei previsto (art. 87 da Lei 6.989/66 na reda­ção atual).

O mesmo sucede quanto à taxa de conservação, de que trata o art. 94 da referida lei, que utiliza como critério de repartição do custo da respectiva atividade estatal, o me­tro linear em toda a extensão do imóvel.

Verifica-se, pois, que as bases de cálculo de ambas as taxas não in­cidem na proibição constitucional pois que não se confundem com a do IPTU. O critério para reparti­ção do custo das taxas não é ve­dado por lei porque se presume com a extensão da área servida.

Claro está que a Administração deve possuir formas de viabilizar o lançamento e a cobrança de tais taxas, desde que dentro de parâ­metros e critérios jurídicos razoá­veis".

Por tais considerações, dou provi­mento ao recurso.

É como voto.

102 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.

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RECURSO ESPECIAL N~ 101.163 - AL

(Registro n~ 96.0044307-6)

Relator: O Sr. Ministro José Delgado

Recorrente: Fazenda Nacional

Recorrida: Agência Brasileira de Navegação Ltda.

Advogados: Drs. Marucia Miranda Correa e outros, e Edson Valter T. de Menezes

EMENTA: Tributário. Adicional de tarifa portuária. Lei n. 8.029, de 12.04.90.

1. Com a extinção da Portobrás não ocorreu a retirada 'do mundo jurídico da exigibilidade tributária representada pelo Adicional da Tarifa Portuária.

2. De acordo com o art. 21, XIII, letra f, da CF, compete à União ex­plorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permis­são, os portos marítimos, fluviais e lacustres.

3. Extinta a Portobrás, a União assumiu, diretamente, a exploração dos portos marítimos, fluviais e lacustres, até que tais serviços se­jam autorizados, concedidos ou permitidos.

4. O Adicional de Tarifa Portuária é receita com destinação vincu­lada: deve ser aplicada em investimentos para melhoramento, rea­parelhamento, reforma e expansão de instalações portuárias.

5. A sua arrecadação será depositada, semanalmente, pelos órgãos encarregados da administração dos portos e, portanto, de sua co­brança, no Banco do Brasil S/A e depois colocada à disposição da pessoa jurídica que, direta ou indiretamente, explora o serviço, no caso, após a Lei 8.029/90, a União Federal. A Constituição Federal não concedeu exclusividade à Portobrás para tal função adminis­trativa, nem para a receita de tal Adicional.

6. O art. 20 da Lei 8.029, de 12.04.90, explicitou, de modo muito cla­ro, que "A União sucederá a sociedade que venha a ser extinta ou dissolvida, nos seus direitos e obrigações decorrentes de norma le­gal, ato administrativo ou contrato, bem assim nas demais obriga­ções pecuniárias." Em conseqüência, mesmo que o Adicional de Ta­rifa Portuária fosse Adicional exclusivo que só podia ser arrecada­do pela Portobrás e a ela vinculado, mesmo assim, não teria sido o mesmo extinto, em decorrência da extinção da empresa, pela su­cessão operada em relação à União.

7. Recurso provido.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira 'furma do Superior Tri­bunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, dar provi­mento ao recurso. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus Filho, Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.

Brasília, 07 de novembro de 1996 (data do julgamento).

Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Presidente. Ministro JOSÉ DELGADO, Relator.

Publicado no DJ de 09-12-96.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO: A Fazenda Nacional interpõe o presente Recurso Especial contra acórdão sintetizado na ementa se­guinte:

"Tributário. Adicional da tarifa portuária. Extinção da Portobrás.

- Sem qualquer alteração da norma do parágrafo único, do art. 22, da Lei n. 7.700/88, que definiu o Adicional de Thrifa Portuária co­mo receita da Portobrás, a extin­ção desta implicou extinção daque­la exação.

- Apelação improvida.

- Segurança concedida."

Afirma a entidade recorrente que a decisão atacada contrariou o dis­posto nos artigos 12, § 12 da Lei n. 7.700/88 e 20 da Lei n. 8.029, de 12.04.90.

Funda-se a recorrente na afirma­ção de que, com a extinção da Porto­brás, não ocorreu a extinção, só por esse fato, do Adicional da Thrifa Por­tuária, por ter a Lei n. 8.029/90, ex­pressamente, conferido à União a sucessão da sociedade dissolvida, em seus direitos e obrigações decorren­tes de norma legal, ato administra­tivo ou contrato, bem assim nas de­mais obrigações pecuniárias.

Os recorridos não apresentaram contra-razões.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO JOSÉ DELGA­DO (Relator): O presente recurso es­pecial m·erece ser conhecido. A ma­téria nele discutida foi prequestiona­da no acórdão recorrido.

Destaco do aresto atacado o tre­cho seguinte do voto condutor que o compõe (fls. 83/84):

"A Lei n. 7.700/88 definiu o ATP como receita da Portobrás.

A Lei n. 8.029, .de 12 de abril de 1990, que autorizou a dissolu­ção da Portobrás, nenhuma refe­rência fez à exação em tela. As­sim, se algum ato infralegal tenha determinado a integração do ATP na receita da União Federal,

104 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.

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fê-lo sem validade jurídica, porque a definição daquela exação, como receita da Portobrás, está defini­da em lei, que evidentemente não pode ser alterada por ato inferior.

É certo que atos menores podem cuidar da destinação de bens per­tencentes à Portobrás, em face de sua extinção. Não, porém, modifi­car lei que instituíra receita em favor daquela estatal.

Em conseqüência, a extinção da Portobrás implicou a extinção do ATP, que era receita sua."

N a verdade, o art. 22, da Lei n. 7.700, de 21 de dezembro de 1988, estabeleceu que:

"Art. 22• O produto da arreca­dação do Adicional de Tarifa Por­tuária destinar-se-á à aplicação em investimentos para melhora­mento, reaparelhamento, reforma e expansão de instalações portuá­nas.

Parágrafo único. O produto da arrecadação do Adicional de Tari­fa Portuária será depositado, se­manalmente, pelas administrações portuárias no Banco do Brasil S/A, constituindo recurso da Em­presa dos Portos do Brasil S/A­Portobrás, a quem caberá a sua gestão."

Verifique-se, primeiramente, que o referido Adicional tem uma desti­nação específica, que está disposta no caput do art. 22 acima referido: "O produto da arrecadação do Adi-

cional de Tarifa Portuária destinar­se-á à aplicação em investimentos para melhoramento, reaparelhamen­to, reforma e expansão de instala­ções portuárias." Em conseqüência, há uma vinculação posta na lei, de caráter permanente no tocante à aplicação do referido Adicional. Es­te é o destino do adicional em ques­tão. A execução desse desiderato querido pelo legislador, na época em que a lei foi instituída, passou a ser a Portobrás, empresa criada para, entre outras, atender aquelas fina­lidades previstas no artigo 22 da nor­ma já referida.

Extinta, por lei, a Portobrás, sem se extinguir expressamente o Adicio­nal de Tarifa Portuária - ATP, não há reflexo, ao meu pensar, quanto a essa exação tributária. Ela continua a existir, por força da própria lei que a criou e com os recursos arrecada­dos vinculados na forma por ela dis­posta. A sua arrecadação não sofre solução de continuidade, com o pro­duto dela será depositado, semanal­mente, pelas administrações portuá­rias, no Banco do Brasil, constituin­do recurso a ser aplicado em inves­timentos para melhoramento, reapa­relhamento, reforma e expansão de instalações portuárias pelo órgão que passou a exercer as atribuições administrativas até então da compe­tência da Portobrás.

Thnha~se em consideração que, de acordo com o art. 21, da Constituição Federal, compete à União explorar, diretamente ou mediante autoriza­ção, concessão ou permissão os por­tos marítimos, fluviais e lacustres.

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Ora, com a extinção da Portobrás e outras empresas, pela Lei n. 8.029, de 12.04.90, ficou bem claro no art. 20 do referido dispositivo legal que "A União sucederá a sociedade, que venha a ser extinta ou dissolvida, nos seus direitos e obrigações decor­rentes de norma legal, ato adminis­trativo ou contrato, bem assim nas demais obrigações pecuniárias."

O que ocorreu, conseqüentemen­te, foi o fato de que a União passou a explorar, diretamente, os portos marítimos, fluviais e lacustres, con­forme lhe permite a Constituição Fe­deral, com a dissolução da Portobrás. Nenhum reflexo, portanto, quanto às tarifas cobradas pelo uso de tais por­tos, pois de tanto, a lei de extinção da Portobrás não cuidou.

Diante do exposto, não há de pre­valecer o entendimento posto no acór­dão recorrido, no que merece provi­mento o recurso.

Segundo se depreende do voto condutor do acórdão, a egrégia 'fur­ma posicionou-se, apenas, quanto à extinção do Adicional da 'larifa Por­tuária. 'lal evidencia-se com a con­clusão do voto do eminente relator (fl. 85):

"Entendo que o ATP está extin­to, e por tal razão nego provimen­to ao apelo mantendo a sentença. Se ficar vencido, nesta parte, en­tão voto no sentido de que a ques­tão da inconstitucionalidade da Lei n. 7.700/88 seja submetida ao Plenário."

Na hipótese, se vencedor o voto aqui proferido, há impossibilidade de se penetrar no mérito do acórdão re­corrido, face não ter se ultimado o julgamento da apelação. Pende, ain­da, a questão da inconstitucionalida­de da Lei n. 7.700/88 a ser aprecia­da pelo Pleno do Tribunal de origem e, após o término desse julgamento, a volta do processo à 'furma do Tri­bunal a quo para ultimar o seu pro­nunciamento sobre a: apelação.

Em tais circunstâncias, dou pro­vimento ao recurso para reconhecer não ter sido extinto o Adicional de 'larifa Portuária. Devem, contudo, os autos voitar ao Tribunal remetente, a fim de que a sua Primeira 'furma continue no julgamento dos outros aspectos jurídicos suscitados, confor­me já se anotou, após resolvido, pe­lo Pleno, a argüição de inconstitucio­nalidade já referida.

É como voto.

106 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 9, (92): 53-106, abril 1997.