primarizaÇÃo x terceirizaÇÃo: um estudo de caso ... · estatística. essa pesquisa buscou...
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PRIMARIZAÇÃO X TERCEIRIZAÇÃO:
UM ESTUDO DE CASO COMPARATIVO
NA ATIVIDADE DE MANUTENÇÃO DO
SISTEMA DE DESPACHO
ELETRÔNICO
Leonardo Oliveira Pereira (FUNCESI )
Priscila Mara Cota (FUNCESI )
Com a crescente concorrência de mercado, as empresas vêm adotando
estratégias organizacionais de modo a manter seus processos
produtivos mais confiáveis e competitivos. O Sistema de Despacho
Eletrônico é uma ferramenta de monitoramento das atividades de
manutenção e operação da Mina, pois o seu perfeito funcionamento
garante informações confiáveis e seguras ao processo. Baseado no
conceito de confiabilidade do sistema o presente artigo tem por
objetivo analisar os impactos causados pela atividade de Manutenção
do Sistema de Despacho Eletrônico na Disponibilidade Física dos
Equipamentos de Mina. Para a realização desse estudo foram
considerados dois cenários, sendo o primeiro compreendido entre
agosto e dezembro de 2011 onde as atividades de Manutenção do
Sistema foram executadas por empregados terceirizados, e o segundo
cenário compreendido entre agosto e dezembro de 2012, neste período
as atividades de Manutenção do Sistema passaram a ser executadas
por empregados próprios. Esse estudo foi realizado em uma
mineradora, no estado de Minas Gerais . Após a analise dos dados
concluiu-se que a primarização da Manutenção do Sistema de
Despacho Eletrônico apresentou maior eficiência em relação à
atividade quando terceirizada, diminuindo gradativamente o número
de horas de Manutenção do Sistema, para a mineradora estudada.
Palavras-chave: Terceirização, primarização, disponibilidade física
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1. Introdução
Nas últimas décadas tem se percebido o mercado altamente competitivo advindo de uma
economia globalizada proporcionando as organizações inúmeros desafios, que necessitam de
estratégias e visão de mercado apurada para que possam se adequar as novas realidades
impostas pelo mercado, desta adequação depende a sobrevivência das empresas.
A terceirização surgiu como uma possibilidade das organizações se manterem competitivas
frente ao mercado globalizado. Tendo em sua proposta, especialização de mão de obra, baixos
custos, permitindo que a contratante possa dar foco ao negócio principal, sua atividade fim.
Assim, muitas empresas optaram em terceirizar seus processos, acreditando na solução dos
problemas, enxergando que deste modo se tornariam competitivas e garantiriam sua
sobrevivência frente à globalização.
No entanto, muitas destas organizações adotaram a terceirização dos seus processos sem o
devido planejamento organizacional ou estrutural, ocasionando em grandes perdas, dentre elas
baixa qualificação da mão de obra, menor comprometimento de funcionários terceirizados
entre outros, tornando estes processos ineficientes e inoperantes. Dessa maneira, muitas
organizações adotaram o caminho inverso a terceirização, retomando o controle e a produção
dos seus processos, a chamada primarização, que consiste na gestão direta dos processos,
assim estas empresas retomam o total controle de suas atividades.
O presente artigo apresenta um comparativo entre dois cenários, a terceirização e a
primarização, na atividade de Manutenção do Sistema de Despacho Eletrônico. Para isso,
realizou-se estudo de caso em uma empresa mineradora no estado de Minas Gerais, mais
especificamente na área de Manutenção de Equipamentos de Mina. Atualmente a atividade é
executada por empregados próprios, no entanto até janeiro de 2012, era executada por
empregados terceirizados.
2. Metodologia
Essa pesquisa caracteriza-se como qualitativa e quantitativa. As abordagens qualitativa e
quantitativa se diferenciam nos métodos de coleta e análise de dados. Na pesquisa qualitativa
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trabalha-se predominantemente com dados qualitativos, isto é, a informação coletada pelo
pesquisador não é expressa em números. Segundo Malhotra (2001), na pesquisa quantitativa,
por outro lado, os dados são quantificáveis, podendo ser aplicada alguma forma de análise
estatística. Essa pesquisa buscou compreender a relação entre a terceirização e a primarização
na atividade de manutenção do sistema de despacho eletrônico, relacionando os efeitos no
processo e na disponibilidade física dos equipamentos de mina, utilizando-se de abordagem
qualitativa e quantitativa de forma complementar.
Classifica-se o método utilizado neste artigo como pesquisa de campo por se tratar de um caso
determinado em um contexto definido – um comparativo entre as atividades terceirizadas e
primarizadas.
O universo de pesquisa é definido por Pereira (2010), como sendo uma determinada
população com as mesmas características para o estudo da pesquisa. A partir disso, foi
definido como universo da pesquisa uma empresa de mineração situada em Minas Gerais.
Sendo a amostra desta pesquisa os equipamentos da operação de mina com sistema de
despacho eletrônico (Caminhões, Carregadeiras, tratores de esteira e motoniveladoras). A
coleta de dados aconteceu através da pesquisa documental. Os dados foram coletados dos
relatórios na base de dados do Sistema de Despacho da empresa estudada, entre os períodos
de agosto e dezembro de dois mil e onze (funcionários terceirizados) e agosto e dezembro de
dois mil e doze (funcionários próprios da empresa).
3. Fundamentação teórica
3.1. Terceirização
Tomé (1998 apud PINTO; XAVIER, 2001) afirma que a terceirização é uma técnica
administrativa utilizada pelas empresas para repassar algumas de suas atividades - acessórias
e de apoio - a terceiros, com as quais procura manter uma relação de parceria, isto para que as
mesmas possam concentrar-se mais fortemente no negócio em que atuam em busca de maior
competitividade, inseridos num processo cuidadosamente gerenciado.
A terceirização ou outsourcing surgiu como meio de flexibilização das relações de trabalho,
objetivando principalmente a otimização e redução de custo dos processos produtivos,
fazendo com que as organizações se mantivessem competitivas. Dentro do estudo da ciência
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administrativa, a terceirização teve seu início no século XIX, com a revolução industrial. No
entanto, sua disseminação e aprofundamento ocorreram após a Segunda Guerra Mundial
(MORAES et al. (2008 apud CUNHA, 2011)).
A técnica da terceirização se fortificou, como uma forma de ampliar a produção, pois as
organizações deixariam de atuar em todo o processo produtivo, repassando a outras empresas
suas atividades secundárias. No Brasil o período que se iniciou a terceirização ainda é
impreciso, vários autores divergem ao tratar do assunto. Para Alvarez (1996) a terceirização
chegou ao Brasil na década de 50 juntamente com as montadoras de automóveis.
Kardec e Nascif (2009) acredita que terceirizar não deveria ser apenas contratar atividades de
menor importância e que possam trazer alguma economia operacional para a empresa
contratante. Para os autores terceirizar é estabelecer uma relação de parceria por uma atuação
semelhante com a contratante e, sobretudo, que seja uma relação de resultados empresariais
para as partes envolvidas, trazendo vantagem competitiva para a empresa contratante, através
de uma economia de escala e para a empresa contratada através de uma maior especialização,
comprometimento com resultados e autonomia gerencial. A tabela 1 apresenta as diferenças
básicas entre terceirização e empreiterização (prestação de serviços tradicional ou meramente
à contratação de mão de obra), onde os autores relatam que a maioria das organizações
encontra-se do lado esquerdo do quadro e incorretamente denominam sua forma de atuação
como terceirização.
Tabela 1 – Diferenças entre empreiterização e terceirização
Empreiterização Terceirização
Não parceria.
Desconfiança.
Levar vantagem em tudo.
Ganhos de curto prazo.
Pluralidade de fornecedores.
O preço decide.
Antagonismo.
Contratada como adversária.
Descompromisso gerencial da contratada.
Contrata mão de obra.
Parceria.
Confiança.
Política do ganha-ganha.
Ganhos estratégicos.
Fornecedor único.
Enfoque no resultado.
Qualidade-preço.
Cooperação.
Contratada como parceira.
Autonomia gerencial da contratada.
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Contrata soluções.
Fonte: KARDEC; NASCIF, 2009, p. 209
A terceirização quando adotada no seu real contexto, pode trazer inúmeros benefícios às
organizações que buscam melhorar a qualidade de seus produtos e serviços e
consequentemente obter lucros, e baixar custos produtivos. Queiroz (1998) cita alguns
benefícios proporcionados pela terceirização, sendo elas as seguintes: menor burocratização;
maior qualidade na prestação de serviços, contribuindo para o produto final; especialização da
mão de obra; eficácia empresarial; maior flexibilidade; agilidade decisória e administrativa;
simplicidade organizacional; aumento de produtividade; tem como uma das suas
consequências a economia de recursos: humanos, materiais, de instrumental, de
equipamentos, econômicos e financeiros.
É perceptível que a terceirização de uma maneira estruturada pode trazer diversas vantagens
aos parceiros, entretanto Leiria (1995) enfatiza alguns itens negativos decorrentes do processo
de terceirização, são eles: aumento do risco a ser administrado; dificuldade no aproveitamento
dos empregados já treinados; demissões na fase inicial; mudanças na estrutura do poder; falta
de parâmetros de preços nas contratações iniciais; custo de demissões; desgaste na relação
com sindicatos; má escolha de parceiros; má administração do processo; aumento da
dependência de terceiros.
As vantagens e desvantagens geradas pela terceirização devem ser avaliadas cuidadosamente.
Uma relação de parceria bem estabelecida irá auxiliar as organizações a se tornarem mais
competitivas e eficientes. Quando esta relação não é bem sucedida acarretará em inúmeros
problemas organizacionais, prejudicando processos e diminuindo a eficiência destas
empresas.
3.2. Primarização
Diversas empresas terceirizam suas atividades e não consideram todos os fatores que
deveriam ser analisados e constatam posteriormente que, o resultado almejado não foi obtido
de forma satisfatória, tendo como resultado o oposto ao almejado.
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Segundo Magalhães et. al (2011), constata-se que a primarização surgiu da necessidade de se
resgatar perdas causadas por uma terceirização implementada sem uma análise precisa e sem
um planejamento adequado. Estes autores observam que, em alguns casos, a qualidade do que
é desenvolvido ficou comprometida, enquanto as preocupações de quem tem a
responsabilidade pela atividade cresceram consideravelmente. Um dos motivos apontados
para a queda da qualidade é a baixa qualificação dos trabalhadores terceirizados e sua falta de
comprometimento com as atividades.
Druck (2001) cita que o processo de terceirização é mal sucedido ocasionado por problemas
diversos, que tem origem na visão de competição mais do que de parceria entre contratada e
contratante, sendo que a parte mais forte impõe condições contratuais desfavoráveis a parte
mais fraca. Que por sua vez, transfere as condições precárias aos seus empregados mediante
jornadas de trabalho extensas, baixa remuneração, e principalmente a incerteza da
permanência no emprego, ocasionando alta rotatividade de funcionários.
Baseado neste contexto, diversas empresas optaram por fazer o processo inverso, investindo
na primarização (re-insourcing), assumindo todas as suas atividades até então terceirizadas,
incorporando a mão-de-obra terceirizada em seu quadro de pessoal, de forma que esses
continuem a executar os serviços, mas sob sua administração direta. Essa aproximação tem
como objetivo principal concentrar maior confiabilidade, competência e comprometimento no
negócio (CAPUTO; PALUMBO, 2005).
Os principais motivos da primarização se dão pela falta de qualidade dos produtos e serviços e
o aumento de custos produtivos, agregados da terceirização. No entanto, a baixa qualidade
dos serviços, levantado por Magalhães e.t al (2011), se dão pela baixa qualificação dos
trabalhadores e a falta de comprometimento dos mesmos para com a contratante. Kardec e
Nascif (2009) afirmam que a capacitação do pessoal é um dos itens mais importantes, para
que estes trabalhadores possam desenvolver suas habilidades e competências da forma
adequada.
No cenário da empresa em estudo, a aplicação da primarização ocorre nos ambientes de
manutenção do sistema de Despacho Eletrônico, onde nos próximos tópicos serão
apresentados conceitos e particularidades.
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3.3. Sistema de despacho eletrônico
Lana (2006) define o Sistema de Despacho Eletrônico como um sistema de comunicação via
rádio duplex (recebe e envia dados), tendo como função principal o controle da operação,
manutenção e produção, onde todos os equipamentos disponibilizados na unidade
(caminhões, carregadeiras, tratores, equipamentos de apoio, etc) possuem um sistema de
comunicação de dados dentro de uma plataforma de comunicação via Global Positioning
System (GPS), onde através de uma Interface Homem Maquina é possível controlar seu fluxo
e enviar informações a uma central de controle.
Dessa maneira, o despacho eletrônico é um supervisório com a capacidade de realizar a
comunicação direta dos equipamentos de mina a uma sala de controle, sendo possível
monitorar parâmetros relevantes ao funcionamento dos ativos, como velocidade, localização,
nível de combustível, tipo e quantidade de material transportado, e os locais de saída e
chegada de material. O esquema segue na Figura 1.
Figura 1 – Esquema Simplificado de Despacho Eletrônico
Fonte: Duarte, 2008
3.4. Manutenção
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2004), a manutenção é
definida como a combinação de todas as ações técnicas e administrativas, incluindo as de
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supervisão, destinadas a manter ou recolocar um item em estado no qual possa desempenhar
uma função requerida.
Kardec e Nascif (2009) define o tipo de manutenção como sendo a maneira pela qual é feita
as intervenções nos equipamentos, sistemas ou instalações. Siqueira (2009) classifica os tipos
de manutenção de acordo com as atitudes dos profissionais em relação às falhas. Deste modo
os métodos de manutenção podem ser categorizados e descritos como apresentados na Figura
2.
Figura 2 – Tipos de Manutenção
Fonte: Kardec; Nascif, 2010, p.38
4. Analise de dados
Nessa seção será verificado o impacto da manutenção do sistema de despacho eletrônico nos
indicadores de manutenção e produção da empresa. Para isso, será considerada a
Disponibilidade Física (DF), que é a capacidade de um determinado item desempenhar certa
função em um dado instante ou durante um intervalo de tempo, utilizada para avaliar os
tempos de operação e manutenção dos equipamentos.
EN
GE
NH
AR
IA D
E M
AN
UT
EN
ÇÃ
O CORRETIVA NÃO
PLANEJADA
CORRETIVA
PLANEJADA
PREVENTIVA
DETECTIVA
PREDITIVA
Ação após a ocorrência, sem
planejamento
Ação planejada
Função de inspeção ou
acompanhamento preditivo
Ação planejada
com intervalos definidos em
planos
Inspeção.
Acompanhamento dos
parâmetros físicos
Inspeção
para detecção de falhas ocultas
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Para a realização da análise da disponibilidade física dos equipamentos de mina, serão
analisadas informações das três principais frotas de equipamentos, identificadas como: Frota
de Transporte (composta por 17 caminhões fora de estrada no primeiro período, e no segundo
período 18 caminhões fora de estrada); Frota de Carregamento (composta por 11
carregadeiras); Frota de Infraestrutura (composta por três tratores de esteira e duas
motoniveladoras).
O objetivo da seção é analisar através do histórico de manutenção da empresa dois cenários, o
primeiro cenário referente ao período entre agosto e dezembro de 2011, onde as atividades
foram executadas por empregados terceirizados, e o segundo, período compreendido entre
agosto e dezembro de 2012, período em que as atividades passaram a ser executadas por
empregados próprios.
Para estabelecer esse comparativo algumas definições se fazem interessantes. Para o estudo da
DF da Frota é necessário obter as horas calendário, que é o total de horas do período,
subtraído o número de horas apropriadas nos códigos de atividade Improdutivas Internas
(refeição, necessidades básicas, falta de operador, atolamento da máquina, abastecimento,
dentre outras). Como segue na equação abaixo:
Horas Calendário = Total de Horas do Período – Horas Improdutivas Internas. (1)
O total de horas do período é o produto entre a quantidade de equipamentos por frota, o
número de horas do dia e o total de dias do período analisado.
Total de horas do Período = QuantidadedeEquipamentosdoPeríodo* 24horaspordia*153dias.
(2)
Uma vez identificado o total de horas calendário do período analisado é possível fazer o
cálculo do impacto da Manutenção na Disponibilidade Física Real.
Indicador Manut. = Manutenção X100 (3)
Horas Calendário
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É importante ressaltar que cada frota possui uma disponibilidade física mínima exigida pela
empresa, que será comparada à real disponibilidade física alcançada pela frota.
4.1. Frota de transporte
Para o estabelecimento de metas da DF dos equipamentos pela empresa são levados em
consideração a vida útil dos equipamentos e as necessidades de produção da mina,
considerando as estimativas de DF recomendadas pelos fabricantes dos equipamentos. O
mínimo de disponibilidade física exigida para a frota de Transporte nos períodos foi 82,7% e
83,5% respectivamente.
Para analise da frota de transporte é importante ressaltar que a mesma era composta por 17
caminhões fora de estrada no primeiro período, e no segundo período 18 caminhões fora de
estrada, o que influencia no total de horas do período, sendo 62.424 horas para o primeiro
período onde a frota era menor e 66.096 horas devido à aquisição de mais um caminhão fora
de estrada. Já as horas improdutivas internas somaram 9469 horas restando assim 52955 horas
calendário no ano de 2011. Já em 2012 as horas improdutivas chegaram à 9833horas restando
56263 horas para trabalho da frota de transporte. Dessa maneira, foi possível calcular a
disponibilidade física real dos equipamentos considerando as horas paradas para manutenção
de equipamento, sendo que as horas para manutenção são divididas em manutenção
preventiva, manutenção corretiva e manutenção do despacho eletrônico. Essa estratificação
em horas disponíveis e horas paradas em manutenção segue na Figura 3 um conjunto de
gráficos para entendimento dos dois períodos tratados.
Figura 3 – Disponibilidade Física Real X Manutenção 2011 e 2012 – Transporte
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Os gráficos apresentam o total de horas que a frota ficou parada para manutenção, bem como,
o total de horas disponível. E assim é possível calcular a real disponibilidade do equipamento,
com a finalidade de comparar o tempo gasto para a manutenção de despacho eletrônico
quando as atividades eram realizadas por empregados terceirizados e primarizados como
segue apresentado na Tabela 1.
Tabela 2 - Comparativo Disponibilidade Física 2011/2012 – Transporte
Frota de Transporte
Ano Número de
Equipamentos
Meta de
Disponibilidade
Disponibilidade
Real
Manutenção
Sistema de
Despacho
2011 17 82,70% 88,34% 1,20%
2012 18 83,50% 89,06% 0,69%
É perceptível que a frota de transporte nos períodos estudados cumpriram suas metas de DF,
no entanto houve um significativo impacto dos serviços de manutenção do sistema estudado,
conforme pode ser visualizado no Gráfico 1.
Gráfico 1 – Disponibilidade Física (2011 X 2012) – Transporte
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Percebe-se que houve uma redução no total de horas de manutenção do sistema de despacho
eletrônico de 638 horas para 390 horas, apresentando uma redução de 248 horas ou 42,5% no
tempo de execução das atividades após a primarização dos serviços.
4.2. Frota de carregamento
A mesma analise foi realizada para a frota de carregamento considerando o mesmo período
agosto a dezembro de 2011 e 2012. A Disponibilidade Física Exigida para a Frota de
Carregamento estipulada pela empresa foi de no mínimo, 81,6% e 83,5%. A frota de
carregamento em ambos os períodos considerou 11carregadeiras, dessa forma, o total de horas
dos períodos foi igual à 40392 horas (11 carregadeira*24horasdia*153diasperiodo). O passo
seguinte é retirar desse valor as horas que a frota parou por improdutividade para então
calcular a real disponibilidade física do equipamento. Foram apropriadas 3172 horas em
códigos de horas improdutivas em 2011 e 3.408 em 2012. Restando assim 37.220 horas e
36.984 horas respectivamente. Desse valor retirou-se o número de horas referentes às
manutenções para o cálculo da disponibilidade física real, o que pode ser visto nos gráficos da
Figura 3 e na Tabela 3.
Figura 3 – Disponibilidade Física Real X Manutenção 2011 e 2012 – Carregamento
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Tabela 3 – Comparativo Disponibilidade Física 2011/2012 – Carregamento
Frota de Carregamento
Ano Número de
Equipamentos
Meta de
Disponibilidade
Disponibilidade
Real
Manutenção Sistema de
Despacho
2011 11 81,5% 88,69% 0,52%
2012 11 83,8% 88,95% 0,26%
A frota de carregamento nos períodos estudados cumpriram suas metas de DF, entretanto
houve um significativo impacto nos serviços de manutenção do sistema de despacho
eletrônico quando as atividades passaram à ser realizadas por empregados próprios, o que
deve ser visualizado no Gráfico 2.
Gráfico 2 – Disponibilidade Física (2011 X 2012) – Carregamento
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Percebe-se que houve uma redução no total de horas de manutenção do sistema de despacho
eletrônico de 195 horas para 90 horas, apresentando uma redução de aproximadamente 50%
no tempo de execução das atividades.
4.3. Frota de infraestrutura
Por fim, os mesmo cálculos foram realizados para a frota de infraestrutura, com o intuito de
tornar a pesquisa mais realística possível, analisando a influência da manutenção de despacho
eletrônico em todos os equipamentos da empresa. A frota de infraestrutura é composta por 2
motoniveladoras e 3 tratores, nos dois períodos analisados, totalizando 18360 horas para cada
período. Dessas é preciso retirar as horas improdutivas internas de cada período, que
totalizaram 3431horas e 3465 respectivamente, a partir daí tonou-se necessário expurgar as
horas de manutenção, como segue na Figura 4.
A Disponibilidade Física mínima exigida em cada um dos períodos é 69,17% e 64,15%. Já a
disponibilidade real alcançada é calculada pelo percentual de horas disponíveis e o total de
horas calendário segue na Tabela 4.
Figura 4 – Disponibilidade Física Real X Manutenção 2011 e 2012 – Infraestrutura
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Tabela 41 – Comparativo Disponibilidade Física 2011/2012 – Infraestrutura
Frota de Infraestrutura
Ano Número de
Equipamentos
Meta de
Disponibilidade
Disponibilidade
Real
Manutenção Sistema de
Despacho
2011 5 69,6% 71,1% 1,05%
2012 5 64,1% 59,56% 0,62%
A frota de infraestrutura no primeiro período estudado cumpriu as metas de DF, no entanto no
segundo período não foram cumpridas as metas de DF da frota, mesmo com a redução
percentual apresentada na Tabela 4 dos indicadores referentes a manutenção do sistema de
despacho eletrônico.
Percebe-se que houve uma redução no total de horas de manutenção do sistema de despacho
eletrônico de 150 horas para 93 horas, apresentando uma redução de aproximadamente 41%
no tempo de execução das atividades.
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Gráfico 3 – Disponibilidade Física (2011 X 2012) – Infraestrutura
4.4. Adequação para primarização
É importante ressaltar que o processo de primarização deve acontecer de uma maneira
estruturada para que a empresa consiga realmente integrar as atividades antes terceirizadas ao
seu processo. O ponto de partida na empresa analisada foi a criação de um plano de ação
(Figura 5) sendo destacadas cinco ações, a fim de atuar no impacto do alto número de horas
em manutenção do sistema de despacho eletrônico.
Figura 5 – Plano de Ação
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Ação O quê? Como? Onde? Por que? Prazo Quem?
1
Realizar levantamento das
principais pendências e
necessidades de melhoria
para o Sistema
Análise do sistema
embarcado nas frotas de
equipamentos
Frotas de Equipamentos
de Transporte,
Carregamento e
Infraestrutura
Para verificar as
carências do sistema29/02/2012
Amarsirley
Silva/Bruno Pereira
2
Realizar levantamento das
horas em Manutenção
Sistema de Despacho
Consulta na base de
dados
Sistema Máximo e
Relatórios do Sistema de
Despacho
Para analisar quais
equipamentos ou
frotas que impactam
negativamente
14/03/2012Amarsirley
Silva/Bruno Pereira
3
Analisar as falhas
prematuras ocorrentes no
Sistema de Despacho
Consulta junto à
supervisão de
manutenção das frotas
Relatório de Análise de
Falhas Detalhado
Para verificar os
dispositivos ou partes
do sistema que mais
necessitam
manutenção
14/03/2012 Glayson Caldeira
4
Inspecionar e adquirir
ferramentas e itens de
backup e reposição
Relacionar materiais e
encaminhar ao setor de
compras
Laboratório e Sala de
Manutenção
Eletroeletrônica
Para realizar a devida
execução dos
serviços de
manutenção
27/04/2012Amarsirley Silva/
Bruno Pereira
5Qualificar a mão de obra
com funcionários próprios
Mapear o perfil
profissional desejado e
treinar equipe no formato
on the job
Laboratório de
Eletroeletrônica e oficina
de equipamentos
Para que os
funcionários estejam
aptos a realizar suas
atividades
15/06/2012André de Miranda
Lana
Ação a ser avaliada: Alto número de horas em manutenção do Sistema de Despacho Eletrônico Data: 25/01/2012
Fonte: Dados da empresa, 2015, s.p.
Esse Plano de Ação foi direcionado aos responsáveis de cada área à providenciar a realização
das ações, bem como, o prazo para o cumprimento destas. Esse trabalho não apresenta cada
uma das atividades realizadas devido ao seu objetivo de analise de cenários.
5. Conclusão
Depois de realizada a análise dos percentuais de todas as frotas de equipamentos, pode-se
concluir que houve uma grande redução nos indicadores referentes à manutenção do sistema
de despacho eletrônico, confirmando que a primarização foi implantada com sucesso, pela
empresa. As reduções foram bastante significativas, sendo:
42,5% na frota de transporte;
50% na frota de carregamento;
41% na frota de infraestrutura.
Percebeu-se que os elevados números dos indicadores de manutenção do sistema de despacho
apresentado no primeiro período agosto a dezembro de 2011, foram em grande parte reflexo
da falta de comprometimento e iniciativa dos empregados terceirizados que apresentavam
dificuldade na realização dos serviços devido a baixa qualificação da mão de obra, sendo
justificada que no segundo período agosto a dezembro de 2012 os empregados próprios
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receberam treinamento específico e aliado ao uso de tecnologia específica foram
desenvolvidas ações que diminuíram consideravelmente os números referentes a este
indicador. A Tabela 5 resume o que foi percebido na empresa analisada nos dois cenários
considerados.
Tabela 52 – Comparativo Terceirização X Primarização
Terceirização Primarização
Falta de comprometimento com os
resultados.
Comprometimento com os resultados
apresentados do sistema.
Falta de autonomia por parte da empresa
Contratante.
Autonomia sobre o todo o processo de
Manutenção.
Falta de qualificação da mão de obra.
Mão de obra qualificada e com conhecimento
do funcionamento de todo o sistema de
despacho e dos equipamentos de mina.
Ferramentas danificadas e ineficientes. Ferramentas em perfeitas condições de uso e
eficientes para a realização da Manutenção.
Baixa utilização tecnológica. Utilização de softwares atualizados e
eficientes.
Resultado: Alto Número de horas de
Manutenção do Sistema de Despacho
Eletrônico.
Resultado: Diminuição no número de horas
de Manutenção do Sistema de Despacho
Eletrônico.
Conclui-se que para a sobrevivência das empresas frente ao mercado é necessário entender
cada caso em especifico, a fim de implementar a melhor estratégia para aumentar a
competividade, seja essa estratégia a de terceirizar ou de primarizar algum processo de
produção. No caso analisado a primarização, de maneira estruturada, se mostrou mais atraente
para empresa em questão.
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6. Agradecimento
À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e a FUNCESI
(Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira).
REFERÊNCIAS
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