pressupostos processuais e condições da ação

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 Pressupostos Processuais e Condições da Ação Não se confundem os pressupostos processuais (lato sensu, lembre- se) com as condições da ação. Os pressupostos processuais são elementos necessários para a existência e validade da relação processual e dizem respeito, portanto, ao processo. Condições da ação nada têm a ver com a constituição e o desenvolvimento do processo, até porque, quando são examinadas, o processo já se instaurou. Condições da ação, não é demais repetir, são os requisitos que legitimam o autor a pleitear a tutela jurisdicional do Estado. O processo instaurado com a simples distribuição da petição inicial. Por isso, num primeiro momento, o juiz verifica a existência dos pressupostos processuais. Dependendo do caso, o processo já é extinto de plano, com o indeferimento da inicial. O autor não tem título executivo e mesmo assim entra com ação de execução. Não havendo possibilidade de adaptação do procedimento (art. 295, V), uma vez que implicaria alteração do próprio pedido, só resta ao juiz indeferir a inicial. Para alguns, o primeiro dos pressupostos processuais a ser analisado é a competência do juízo. Mas não é bem assim. O primeiro pressuposto que se deve perquirir é a imparcialidade. O juiz que é parcial, na modalidade impedimento (art. 134), não pode sequer declarar a sua própria incompetência. A única coisa que poderá fazer é sustentar sua imparcialidade ou, reconhecendo a parcialidade remeter os autos ao seu substituto legal. Depois de verificados os pressupostos processuais, é que o juiz examina os requisitos que legitimam o autor a manejar o direito de ação, ou seja, as condições da ação. O exame dos pressupostos processuais e das condições da ação, por tais razões, é questão prévia e prejudicial. Antes de analisar o mérito, o juiz necessariamente deverá verificar se a relação processual instaurou-se e desenvolveu-se validamente e se foram preenchidos todos os requisitos necessários para o legítimo exercício do direito de ação. Os pressupostos processuais e as condições da ação formam, portanto, o que se denomina “juízo de admissibilidade do processo”.

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Pressupostos Processuais e Condições da Ação

Não se confundem os pressupostos processuais (lato sensu, lembre-se) com as condições da ação.

Os pressupostos processuais são elementos necessários para aexistência e validade da relação processual e dizem respeito, portanto, aoprocesso. Condições da ação nada têm a ver com a constituição e odesenvolvimento do processo, até porque, quando são examinadas, oprocesso já se instaurou. Condições da ação, não é demais repetir, são osrequisitos que legitimam o autor a pleitear a tutela jurisdicional do Estado.

O processo instaurado com a simples distribuição da petição inicial.

Por isso, num primeiro momento, o juiz verifica a existência dospressupostos processuais. Dependendo do caso, o processo já é extinto deplano, com o indeferimento da inicial. O autor não tem título executivo emesmo assim entra com ação de execução. Não havendo possibilidade deadaptação do procedimento (art. 295, V), uma vez que implicaria alteraçãodo próprio pedido, só resta ao juiz indeferir a inicial.

Para alguns, o primeiro dos pressupostos processuais a ser analisadoé a competência do juízo. Mas não é bem assim. O primeiro pressupostoque se deve perquirir é a imparcialidade. O juiz que é parcial, namodalidade impedimento (art. 134), não pode sequer declarar a sua própriaincompetência. A única coisa que poderá fazer é sustentar suaimparcialidade ou, reconhecendo a parcialidade remeter os autos ao seusubstituto legal.

Depois de verificados os pressupostos processuais, é que o juizexamina os requisitos que legitimam o autor a manejar o direito de ação, ou

seja, as condições da ação.

O exame dos pressupostos processuais e das condições da ação, portais razões, é questão prévia e prejudicial. Antes de analisar o mérito, o juiznecessariamente deverá verificar se a relação processual instaurou-se edesenvolveu-se validamente e se foram preenchidos todos os requisitosnecessários para o legítimo exercício do direito de ação. Os pressupostosprocessuais e as condições da ação formam, portanto, o que se denomina“juízo de admissibilidade do processo”.

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É importante consignar, no entanto, que o tratamento prático dospressupostos processuais e das condições da ação é bem semelhante.Ambos são considerados matérias de ordem pública, cognoscíveis de ofícioenquanto não proferida sentença de mérito (art. 267, §3º), não se sujeitado

à preclusão, nem mesmo para o juiz (preclusão  pro iudicato). A execuçãofica por conta da convenção de arbitragem, pressuposto processual devalidade que só pode ser reconhecido se alegado pela parte (art. 301, §4º).

A consequência da ausência de uma das condições da ação ou de umdos pressupostos processuais, no entanto, nem sempre é a mesma. A faltade condições da ação sempre conduz à extinção do processo sem resoluçãode mérito (art. 267,VI). Quanto aos pressupostos, a consequência da

ausência dependerá do pressuposto faltante. A falta de um requisito dapetição inicial produz primeiramente à determinação de emenda (art. 284)e, somente se tal providência não for adotada, pode acarretar oindeferimento. A incompetência do juízo, a seu turno, tem porconsequência a remessa dos autos a outro juízo (exceto nos JuizadosEspeciais, onde a incompetência conduz à extinção sem resolução demérito, conforme art. 51, III da Lei 9.099/95). Já a ocorrência de coisa

 julgada, litispendência ou perempção leva à extinção do processo sem

resolução de mérito (art. 267,V).- Pressupostos e Requisitos Processuais

Pressuposto, portanto, só diz respeito ao plano de existência jurídica,ao passo que “requisito” refere-se ao plano da validade do direito. Dessaforma, não é tecnicamente correto se referir a pressupostos processuais devalidade, mas sim a requisitos de validade. Pressupostos processuais éterminologia que se restringe aos elementos de existência da relação

processual.- O Plano da Existência

Os fatos do mundo, por regra,.; não interessam ao direito. Para quepossa ingressar no mundo jurídico, o fato há que preencher todos oselementos necessários à incidência da norma jurídica, que o tornará um fato

 jurídico. Antes desta incidência, o fato é irrelevante, um nada jurídico.

O primeiro pressuposto de um fato jurídico é sua existência real eefetiva. O plano da existência refere-se basicamente ao ser ou não ser: ou o

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fato é ou não é jurídico. Para elucidar o tema, vale citar a lição de MarcosBernardes de Mello:

“Ao sofrer a incidência de norma jurídica jur idicizante, a parte

relevante do suporte fático é transportada para o mundo jurídico,ingressando no plano da existência. Neste plano, que é o plano do ser,entram todos os fatos jurídicos, lícitos ou ilícitos. No plano da existêncianão se cogita de invalidade ou eficácia do fato jurídico, importa, apenas, arealidade da existência. Tudo, aqui, fica circunscrito a se saber se o suportefático suficiente se compôs, dando ensejo à incidência. Naturalmente, se háfalta, no suporte fático, de elemento nuclear, mesmo completante núcleo, ofato não tem entrada no plano da existência, donde não haver fato jurídico”. 

A existência do fato jurídico é condição imprescindível para que seperquirir sua validade e eficácia. O que é válido ou inválido, eficaz ouineficaz, necessariamente tem que existir.

- Plano de Validade

Validade é a situação jurídica que resulta da conformidade do ato ou

fato com os requisitos que o regulam. As considerações que se levam emconta no plano da validade “são relativas à ocorrência, ou não, de vícios oudeficiências invalidantes dos seus elementos nucleares, ou mesmo à falta deelementos complementares indispensáveis ao suporte fático”. O correto,

portanto, é dizer requisitos de validade, e não pressuposto, porquanto o queé válido ou inválido necessariamente existe, logo não mais necessita dequalquer pressuposto.

A demanda instaurada pelo ajuizamento de petição inicial é opressuposto (fato jurídico) para a existência da demanda. Se essa petiçãoinicial não preencher os requisitos dos arts. 282 e 283, o processo existirá,mas poderá vir a ser invalidado (plano da validade).

- Plano da eficácia

Eficácia é a idoneidade do fato jurídico para produzir os efeitos paraos quais foi criado. A eficácia pressupõe a existência, mas nãonecessariamente a validade. Em regra, o que existe e é válido, também seráeficaz. Mas é possível eficácia sem validade. A petição inicial inepta é

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eficaz para instaurar a relação processual, que se desenvolverá até que sereconheça o defeito invalidante. Pode ocorrer de a inépcia apenas serreconhecida após a citação e oitiva do réu. Nesse caso, conquanto inválida,a petição inicial foi eficaz, na medida em que deu origem a uma relação

processual.

Como os pressupostos e os requisitos referem-se, respectivamente,aos planos de existência e validade do processo, o estudo do plano daeficácia nos é despiciendo neste momento.

- Pressupostos processuais subjetivos

No plano subjetivo, há no processo quem pede e contra quem é

pedida uma tutela jurisdicional, bem com um órgão ao qual é dirigida apretensão (juízo). Os pressupostos processuais subjetivos, portanto, dirãorespeito às pessoas/agentes que deverão estar presentes para que existeprocesso.

- Capacidade de ser parte

Para que o processo exista, é necessária a prévia existência dealguém capaz de pedir o provimento jurisdicional, ou seja, alguém dotado

de capacidade de ser parte .

A capacidade de ser parte nada mais é do que a personalidade judiciária, ou seja, a aptidão conferida por lei para adquirir direitos econtrair obrigações. A capacidade de ser parte é uma noção absoluta: ou seé ou não se é capaz. Não se cogita em incapacidade relativa de ser parte.

De um modo geral, naqueles direitos de primeira geração (de cunhoeminentemente patrimonial) a capacidade de ser parte é conferida às

pessoas (naturais e jurídicas), detentoras de personalidade jurídica. Não seconcebe processo movido por Santo Antonio, por um animal, ou por umdefunto (com o falecimento, o indivíduo perde a aptidão para ser titular dedireitos, e sues bens transmitem-se, de imediato, aos seus herdeiros).

Com o tempo, esse conceito de capacidade de ser parte foi sealargando: alguns entes despersonalizados foram contemplados compersonalidade judiciária: o espólio (massa de direitos e obrigações doacervo hereditário, que se inicia coma a abertura do inventário e se encerracom a homologação da partilha), o condomínio, a massa falida e a herança

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 jacente. Essas entidades não são pessoas (porque não são previstas em leicomo tal), mas, não obstante, por meio de uma ficção legal, lhes foiatribuída a capacidade de ser parte no processo. A jurisprudência tambémreconhece personalidade jurídica às Câmaras Municipais, órgãosdespersonalizados, “cuja capacidade processual é limitada para demandar 

em juízo, com o intuito único de defender direitos institucionais próprios evinculados à sua independência e funcionamento”.

Também ao nascituro se reconhece capacidade de ser parte, oupersonalidade judiciária. Aliás, em novembro de 2008, foi publicada a Lei11.804/2008, que conferiu aos nascituros direito ao que se denominou“alimentos gravídicos”. A expressão compreende “os valores suficientes

para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam deladecorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes à alimentaçãoespecial, assistência médica e psicológica, exames complementares ,internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas eterapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juizconsidere pertinentes” (art.2). após o nascimento com vida, os alimentos

gravídicos serão convertidos em pensão alimentícia em favor do menor(art. 6º, parágrafo único). Como se vê, conquanto não seja pessoa, o

nascituro é reconhecido como sujeito de direito, logo, agente capaz de serparte. Aliás, antes mesmo do advento da Lei já citada, já se reconhecia aonascituro capacidade de ser parte, em face do disposto no art. 2º do CC.

Destarte, qualquer ente ao qual a lei reconheça o menor resquício dedireito substancial terá capacidade de ser parte. Do contrário, a prerrogativaseria esvaziada por completo. Imagine, por exemplo, se os Tribunais nãopudessem agir em juízo para defesa da própria instituição (por exemplo,para exigir do Executivo o repasse dos duodécimos). A própria União ou o

próprio Estado, detentores de personalidade jurídica, teriam que vir a juízopara pleitear, deles mesmos, o recebimento dos vencimentos dos servidoresdo Judiciário, o que é inconcebível. Por isso, também os Tribunais queintegram o Judiciário são capazes de ser parte.