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«INDÚSTRIA»
O impériodas tostas
Assim que descobriu as tostas, já lá vão mais de três décadas,António Lameiro percebeu que era o seu futuro, e não o pão, quefabricava na altura. Hoje, está no top ten dos fabricantes mundiaisTexto Maria Martins. Foto Rafai G. Antunes
O "O mercado de tostas em Portugal foi a
Diatosta que o fez", diz António Lameirocom orgulho. Das suas fábricas saem dia-riamente 40 toneladas deste produto, maisde metade para exportação. Líder de mer-cado em Portugal, onde fornece todas as
grandes cadeias de distribuição, o principalmercado de exportação é Espanha, ondeenfrenta um dos maiores fabricantes mun-diais, o grupo Brioche Pasquier.
A marca Diatosta chega hoje a 25 paí-ses e a família Lameiro não desiste de
conquistar mais mundo. Para isso, nãofalham os mais importantes certames daindústria alimentar, pois é aí que se con-
seguem clientes. "Somos muito cautelo-sos nas despesas que fazemos, mas temos
sempre verba para estar nestes certames.É o nosso futuro que está em jogo", dizAntónio Lameiro, presidente da Diatosta,
que está na indústria da panificação há 60anos, e que continua a gerir a empresa ao
lado da mulher e dos dois filhos.Trabalha desde os 15 anos, quando co-
meçou por fazer limpezas na padaria deum tio, em Setúbal. O espírito empreen-dedor levou-o cedo para Moçambique à
procura de uma vida melhor. Começoupor trabalhar nos caminhos de ferro, masassim que viu um anúncio para uma pada-ria, respondeu. A experiência que já traziada metrópole, fez com que fosse contratadode imediato e pouco tempo depois, com 24
anos, lançava- se por conta própria, con-
tando com a ajuda dos pais no dia a dia da
primeira padaria. Rapidamente se tornouum dos maiores industriais de panificaçãode Lourenço Marques, hoje Maputo.
Tostas descobertas no Brasil
As tostas surgiram na vida de António La-meiro, no final dos anos 60, durante umaviagem ao Brasil, e foi amor à primeiravista. Visitou a fábrica das tostas Bauduco- que foram lançadas em 1967 e se reve-laram um sucesso imediato no Brasil - e
desde então António Lameiro não largou a
ideia de seguir este negócio. O empresáriopercebeu imediatamente o potencial da-quele produto: não só permitia um prazode validade muito maior do que o pão,como também outras associações à mesa.Fez um estágio na Alemanha e passou pelaFábrica de Fermentos Holandeses, na me-trópole, antes de lançar as tostas Bahia- numa homenagem ao Brasil -, e "rapi-damente, os pobres e ricos de LourençoMarques se renderam", recorda. O pro-fundo conhecimento que tinha das suas
máquinas de fabrico de pão permitiu-lheusá-las para fazer as tostas. Nesse tempo,fabricava-as apenas com óleo alimentar,banha de porco e açúcar, mas hoje usa11 ingredientes, que são cuidadosamentemisturados nas suas três fábricas, situadas
próximo de Aveiro.O regresso a Portugal, em 1977, foi
forçado. Ainda hoje, António Lameiro
admite que fez tudo o que podia paraficar em Lourenço Marques. Durante 27
anos, as suas duas padarias - a Rialto e
a Cristal - deram emprego a mais de umcentena de pessoas e a família Lameiro não
enriqueceu, mas tinha uma vida folgada,
apesar do muito trabalho que havia a fazer,
para manter os três fornos a funcionar 24horas. Resistiu aos primeiros impactos da
independência da ex-colónia, mas o racio-namento da farinha - de quase 200 sacos
por dia passou a receber apenas 20 por se-
mana -, os comités de trabalhadores quelhe retiraram o poder sobre o seu negócioe a ameaça de ver confiscados os poucosrendimentos que tinha em Portugal, obri-
garam-no a abandonar o que construíra.Voltou com a família, mas sem dinheiro.Tinha 40 anos e dois filhos, e só viu umaopção: começar tudo de novo.
António Lameiro. 74 anos.descobriuas tostas no Brasil no fim dos anos60 e desde então que sonhavacom um negócio só de tostas,o que consegiu em 1982
Em Portugal, apenas tinha os terrenosda família, na Costa do Valado, em Aveiro,onde podia construir uma nova fábrica.Pediu um empréstimo bancário numaaltura em que os juros eram elevadíssi-
mos e a taxa de inflação subia todos os
dias. "Iniciámos a construção da fábricacom cimento a 33 escudos e terminámos
a pagá-lo a 250!", recorda o empresário.O primeiro pavilhão tinha 500 metros
quadrados e, hoje, 34 anos depois, as três
fábricas e os dois centros de distribuição
ocupam mais de 22 mil metros quadrados.
Líder de mercado desde 1985
Em menos de um ano, tinha a fábrica emfuncionamento e distribuía pão, bolachase pastelaria variada pelos arredores. Era
preciso fazer dinheiro para pagar o em-préstimo bancário. Investiu o mínimonecessário para fabricar os produtos quetinham mais procura e nunca perdeu a
esperança de ganhar a vida com as tostas.
O filho José, que assegura hoje a área co-
mercial, salienta o facto do pai nunca se
ter desviado do seu objetivo. Cinco anos
depois, o sonho cumpriu-se, e as máqui-nas da Diatosta nunca mais produziramnada mais que tostas.
"Quando regressei a Portugal, haviaduas empresas que diziam fazer tostas,mas era apenas pão de forma torrado",conta António Lameiro. Desde 1 985 quea Diatosta é líder de mercado e ?
Tostas aos milhões saemdiariamente das fábricas situadas
Costa do Valado, Aveiro
Fábricas As três unidades de
fabricação e os dois centros de
distribuição ocupam mais de22 mil metros quadrados, ondetrabalham cerca de 250 pessoas.
Produção Das suas dez linhas
de produção - desenhadas
por António Lameiro - saemdiariamente 8 milhões deminitostas e quase 4 milhões de
tostas grandes, que se distribuem
por 300 referências.
? trabalha com todas as cadeias de dis-
tribuição. "Fomos os primeiros a vender
para o primeiro Continente que abriu emMatosinhos", diz António Lameiro. Depoisacompanhou a entrada de todas as outras
grandes cadeias e tem as suas tostas emtodas. As suas linhas de produção tanto
empacotam tostas em embalagens coma marca Minigrill, como Pingo Doce ou
Continente, por exemplo.António Lameiro começou cedo a olhar
para o mundo como o próximo desafio, e
percebeu que era preciso fortalecer a em-
presa para aguentar o embate da quebradas fronteiras, em 1993. Hoje, não temdúvidas de que foi graças a este esforçode automatização que conseguiu chegara novos mercados, suportar a crise que o
mercado interno atravessa e a pressão cada
vez maior das grandes cadeias de distri-
buição. Mas, na realidade, nunca paroude investir. Nos últimos anos, a Diatosta
gastou mais de 25 milhões de euros numanova fábrica (já tem três), num centro de
distribuição, num novo layout produtivoe no desenvolvimento de novos produtos.
A capacidade de produção coloca aDiatosta no top ten dos fabricantes mun-diais de tostas. A empresa quer continuar a
espalhar as suas marcas pelo mundo, massabe que esse é um processo que demora
tempo e exige alguma paciência e persis-tência. A primeira exportação aconteceu
em 1990 para Miami, e desde então An-tónio Lameiro e o filho José, não falham
as principais feiras da sua indústria embusca de novos clientes. Mas sabem queum primeiro contacto numa feira interna-cional não é garantia imediata de camiões
carregados de tostas. Em Espanha, que é
hoje o seu principal mercado de expor-tação e onde fatura 7 milhões de euros,
praticamente não conseguiu encomendasaté que constituiu uma empresa de dis-
tribuição, há dez anos. Só a partir dessa
altura é que o negócio ganhou dimensão.
"Quando hoje pergunto a alguns clientes
porque foi tão difícil, respondem-me queagora sabem que compram e pagam emEspanha, por isso uma parte do dinheirofica lá", desabafa.
A marca que veio de FrançaMas para conseguir vender, é preciso queas pessoas gostem do produto, e isso nem
sempre acontece. Itália e França, por exem-
plo, continuam a ser enigmas para AntónioLameiro - têm um consumo muito elevado
de tosta grande, mas a empresa não con-
segue impor a tosta pequena. Em Itália
explica o fenómeno devido à paixão dos
italianos pelos grissinos, já em França - o
país que "inventou" as tostas - não con-
segue encontrar justificação. Aproveitou o
fecho da fábrica francesa que produzia amítica tosta Grill, para comprar a marca,
que agora usa, mas com tostas fabricadas
segundo a receita portuguesa.Encontrar novos mercados é crucial
para que as suas margens muito pequenas
sejam compensadas com grandes volumesde produção. Daí que a empresa tenha sa-bido aproveitar a ''deixa" do grupo Jeró-
nimo Martins quando, há seis anos, lhes
sugeriu que fornecessem a Biedronka, a
sua cadeia de supermercados na Polónia.António Lameiro faz questão de deixarclaro que apesar de a sugestão ter partidodos portugueses, o processo negociai foitodo feito com polacos e não tiveram avida facilitada. Contudo, o negócio fez-se,e a Diatosta carrega hoje, uma média de 4camiões por semana, para a Biedronka,e este contacto abriu-lhe também outras
portas naquele país.
Agora, ao mesmo tempo que se entu-siasma com o potencial da costa leste dos
Estados Unidos (onde pondera abrir umanova empresa de distribuição), do Canadá
e do México - "os hispânicos são grandesroedores de tostas", diz com humor -,António Lameiro pisca o olho aos consu-midores japoneses. "No início, as pessoastêm curiosidade em experimentar, mas é
preciso que se crie o hábito de consumo eisso só se nota ao fim de quase um ano",
explica o empresário a quem a vida ensi-nou que esperar é uma virtude, que podeacabar por ser bem compensada. O
Dez linhas de produção têmcapacidade para 60 toneladas detostas por dia, tanto para as suasmarcas como para as da distribuição