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04 - Editorial: João Aguiar Campos06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião: D. Manuel Linda22 - Semana de.. Henrique Matos24 - Dossier 3 anos com Francisco26 - Entrevista Adriano Moreira

64 - Multimédia66 - Estante68 - Concílio Vaticano II70 - Agenda72 - Por estes dias74 - Programação Religiosa75 - Minuto Positivo76 - Liturgia78 - Jubileu da Misericórdia82 - Fundação AIS84 - LusoFonias

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Presidência comatenção àsreligiões[ver+]

Horror no Iémen[ver+]

3 anos depontificado[ver+]

D. Manuel Linda | João AguiarCampos Andrea Tornielli |AustenIvereigh Manuel Barbosa | PauloAido | Tony Neves | FernandoCassola Marques

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Encanta-me

João Aguiar Campos Secretariado nacionaldas Comunicações Sociais

Cumpre-se, dentro de dias (no próximo domingo,13 de Março), o terceiro aniversário da eleiçãodo papa Francisco. Não vou fazer um balançodeste tempo de pontificado – mas não me furto aconfessar quanto me encanta este dom doEspírito Santo à Igreja.Encanta-me a simplicidade dos seus gestos epalavras, assim como a insistência, agora e logo,na afirmação do amor de Deus por cada um denós, pois nos tem tatuados na palma da Suamão. A muitos, pode parecer repetitivo. A mimparece-me fundamental o frequente retorno aalgumas ideias-chave; ideias de sempre, tantasvezes esquecidas ou desvalorizadas – mas que oSanto Padre começou a afirmar logo na Missainaugural do seu ministério petrino: a ideia decuidar com ternura, por exemplo.Encanta-me a serenidade fiel com que põe odedo em feridas bem feias, longo tempo cobertaspor pensos que impediram a respiração e a curaatempada; ou abre inesperadas portas dereflexão -- assustando, por vezes, o comodismo aque alguns chamam segurança; ou remexendonos sótãos onde aguardamos tralha como seprotegêssemos antiguidades.Encanta-me a coragem física da proximidadedescontraída, quase indefesa nos seusmovimentos ou paragens imprevistas, qualpomba que chega aos nossos pés num banco dejardim.Encanta-me que os pobres e marginalizadossejam, evangelicamente, o alvo especial da suaatenção e não tema nenhum dos poderes quetem de

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confrontar – dentro ou fora daIgreja. Porque o profeta não se calanem se deixa calar: sabe que lhepediram o empréstimo da voz,quando o retiraram do campo doseu pastoreio!...Não; não é um encantamentosentimental. É algo que gera o gritode uma necessidade de mudançapor dentro e por fora – porque umaplauso que não envolva o coraçãonão passa de ruído de mãos.Confesso, pois: não temo dizer queFrancisco me tornou melhor!...Encanta-me, por isso, que possacontinuar a desassossegar-nos; eque nos desconcentre, nos tire doespelho ou da proteção das janelascom seus vidros duplos, nos dispade penduricalhos e nos desafie àharmonia da fé vivida na caridade.Entusiasmada e entusiasmante.Não partilho a visão de quemsimplesmente lhe acha “piada”,como se nele fosse possível ver umavozinho simpático e brincalhão,sempre capaz de uma graça ou deum mimo. Também não partilho omedo dos que preferiam vê-lo presoa um texto

de Faculdade, sem metáforas e semvida; sem experiência de pastor ouespanto contemplativo. Vejo comoreza e nos exorta. Vejo comotestemunha e como ama.Deus o proteja!

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Marcelo Rebelo de Sousa assiste ao espetáculo musical comemorativo que

encerra, na praça do Município, a sua tomada de posse como XX Presidentede Portugal. Junto ao Presidente da República dezenas de crianças

dançaram, pediram autógrafos e tiraram fotografias.Lisboa, 09 de março de 2016. @ Expresso

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“Não discuto a seriedade de Maria Luís,pois nada me leva a duvidar da suarectidão ou que de algum modo tenhabeneficiado os seus novos patrões – oque condeno é não ter percebido opeso que hoje cai sobre os ombros dospolíticos”, José Manuel Fernandes inObservador, 06.03.2016. “Significa que essas medidas terão deser implementadas”, Pierre Moscovici,comissário europeu dos assuntoseconómicos comentando que asmedidas adicionais (plano B) paracumprir os objetivos orçamentais, aocontrário do que afirma António Costa,terão de ser aplicadas, in Público,07.03.2016 "Eu cometi um erro grande edececionei os meus fãs e o ténis. Nãoquero terminar a carreira assim eespero ter outra oportunidade de jogar.Se eu fosse anunciar a reforma nãoseria num hotel de Los Angeles e comesta carpete feia", tenista MariaSharapova assumindo que durante 10anos tomou uma substância, proibidadesde janeiro de 2016, e que acusoupositivo no teste antidoping,07.03.2016

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Nova presidência começacom atenção às religiões

O presidente da RepúblicaPortuguesa, Marcelo Rebelo deSousa, incluiu uma atençãoparticular às religiões no programade cerimónias da tomada de posse,iniciadas esta quarta-feira. Um gestosaudado por D. Manuel Clemente,cardeal-patriarca de Lisboa epresidente da ConferênciaEpiscopal Portuguesa (CEP).“As religiões, como todas elas sereferem direta ou indiretamente aum criador comum, são e devem serum fator de entendimento e de paz,dentro desta que é a base danossa

humanidade”, declarou D. ManuelClemente à Agência ECCLESIA.O presidente da CEP acolheu opresidente na mesquita central deLisboa, juntamente com o imã destainstituição muçulmana, para umacerimónia que reuniurepresentantes de várias religiões eassociações cívicas.Segundo D. Manuel Clemente, nomomento atual, em que é precisoencontrar “todos os caminhos depaz”, a iniciativa da ComunidadeIslâmica e do presidente daRepública “é muito bem-vinda”.

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Marcelo Rebelo de Sousa discursoudurante o encontro inter-religioso eafirmou que pretende ser um“garante” da liberdade religiosa eelogiou o “espírito ecuménico” dopaís. “Este encontro quer significarque o presidente da República dePortugal, como garante daConstituição que jurou defender,cumprir e fazer cumprir, será sempregarante da liberdade religiosa, emtodas as suas virtualidades”,declarou.O presidente assumiu o “apoio e oempenho” pessoal que colocounesta iniciativa, antes de afirmarque “Portugal deve muita da suagrandeza secular ao seu espíritoecuménico”. Nesse sentido,sustentou que o país “foi grandesempre que soube cultivar esseespírito, dentro e fora das suasfronteiras físicas” e “ficou aquém doseu desígnio sempre que sacrificoua riqueza da convergência deculturas, civilizações e,naturalmente, de religiões”.

Rebelo de Sousa recordou que aConstituição Portuguesa consagra aliberdade religiosa, “que supõe aliberdade de não crer, mas que paraos crentes vai além da meraliberdade de culto”. Essa mesmaliberdade implica o respeito de cadaconfissão, “na sua visão do mundo eda vida, expressa no espaço privadocomo no espaço público”.No interior da mesquita estavam 17representantes das confissõesreligiosas, que procederam a umaoração pela paz; na plateia, entre osconvidados, marcou presença onúncio apostólico (embaixador daSanta Sé), D. Rino Passigato.A primeira viagem oficial dopresidente português MarceloRebelo de Sousa vai ser aoVaticano, anunciou a Renascença,que refere fontes da Santa Sé. Avisita ao Papa Francisco acontece a17 de março, de manhã, seguindo-se um encontro com secretário deEstado, cardeal Pietro Parolin.

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Sem bloqueios para os refugiadosA Igreja Católica em Portugalreforçou a necessidade de uma“aceleração” no processo deacolhimento aos refugiados naEuropa.“É impensável continuar aver e a sentir toda esta gente quepassa mal, morre, passa fome etudo aquilo que é condenável paraa dignidade da pessoa humana”,frisou esta terça-feira o porta-voz daConferência Episcopal Portuguesa(CEP).A posição dos bispos católicossurge numa semana em que o paísrecebe cerca de uma centena derefugiados, na sua maioria da Síriae do Iraque, homens, mulheres eduas dezenas de crianças que vãoser acolhidas em várias cidadesportuguesas.O padre Manuel Barbosa destaca o“esforço” que está a ser feito a nívelnacional e internacional. Mas alertapara a necessidade de uma maior“prontidão” no acolhimento e detodos os países da Europatrabalharem em conjunto por umasolução, em vez de fecharem assuas fronteiras ou confinarem osrefugiados a campos improvisadosna periferia do território.“Diante de uma vida humana, não

pode haver bloqueios, ahumanidade, a dignidade da pessoanão admite qualquer bloqueio nemqualquer muro, seja farpado, sejade cimento, seja o que for”,apontou.Durante a reunião do ConselhoPermanente da CEP, os bisposanalisaram também o último relatórioda Cáritas Portuguesa que alertoupara o agravamento da pobreza eda exclusão social em Portugal,mesmo em pessoas com emprego.“Todas as políticas governativasdeveriam ser para que nãoacontecessem essas situações”,referiu o padre Manuel Barbosa,recordando as “pessoas e famíliasque passam mal” e que merecemtodo “o esforço da sociedade civil,também política e da Igreja para queas coisas mudem”.

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Bispos mobilizam católicoscontra eutanásiaOs bispos portugueses vão lançaruma nota pastoral sobre aeutanásia, onde vão sublinhar aposição da Igreja Católica contra alegalização desta prática. Arevelação foi feita em Fátima peloporta-voz da Conferência EpiscopalPortuguesa, no final da reuniãomensal do Conselho Permanentedo organismo.O padre Manuel Barbosa destacouo empenho da Igreja em “defendera vida no seu todo, naturalmentenão aceitando a legalização daeutanásia”, e realçando “comoúnica alternativa o amor, aproximidade e o cuidado a ter” comquem sofre, nomeadamente com oreforço dos “cuidados paliativos”.O documento, que vai seracompanhado por um textopedagógico para ajudar as pessoasa consolidarem a sua opiniãoacerca deste debate, pretendeapontar que “não há outrasalternativas” à preservação da vida.

Para o padre Manuel Barbosa, seriamuito negativo que a aprovação dadespenalização da eutanásiaseguisse em frente, apenas por umaquestão de “conjuntura política”. Osacerdote recorda que estão emcausa “valores essenciais de vida”que “não podem estar sujeitos aaproveitamento político”.“Se o houver, devemos condenar.São assuntos tão importantes quenão devem ser utilizados porquestões pontuais ou de estratégiapolítica”, concluiu.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosemwww.agencia.ecclesia.pt

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Inauguração do Pavilhão do Rosário no Santuário do Cristo-Rei

3.º Encontro Nacional de Leigos

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Terror no Iémen mata quatroreligiosas e choca o Papa

O Papa recordou no Vaticano asquatro religiosas das Missionáriasda Caridade, congregação fundadapor Madre Teresa de Calcutá, queforam assassinadas no Iémen,lamentando a “indiferença” peranteestes casos. “Elas são vítimas doataque dos que

as mataram e também daindiferença, desta globalização daindiferença, do ‘não importa’”,declarou, após a recitação daoração do ângelus, perante milharesde pessoas reunidas na Praça deSão Pedro.Francisco manifestou a sua

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“proximidade” às Missionárias daCaridade e associou-se ao seu lutopor causa do assassinato de quatroreligiosas em Aden, no Iémen, “ondeprestavam assistência os idosos”.“Rezo por elas, pelas outraspessoas mortas no ataque e pelosfamiliares”, acrescentou.O Papa sustentou que estes são “osmártires de hoje”, os que “dão o seusangue pela Igreja”, e isto não fazas capas dos jornais, não é notícia”.“Que a Madre Teresa acompanheno paraíso estas suas filhas,mártires da caridade, e intercedapela paz e pelo sagrado respeitopela vida humana”, prosseguiu.No dia anterior, Francisco enviouuma mensagem de condolênciaspelas vítimas do atentado terroristano Iémen, 4 religiosas Missionáriasda Caritade e 12 colaboradores dacomunidade, um “ato de violênciasem sentido e diabólica”.“O Papa Francisco ficou chocado eprofundamente triste ao saber damorte de quatro Missionárias daCaridade e outras 12 pessoas numlar de idosos em Aden. Ele asseguraas suas orações pelas vítimas e asua proximidade espiritual para comas

suas famílias e todos os quesofreram com este ato de violênciasem sentido e diabólica”, refere amensagem assinada pelo cardealsecretário de Estado do Vaticano.O padre Francesco Cereda, vigáriodo reitor-mor dos Salesianos,revelou que o instituto religioso vê“muitas possibilidades” para alibertação do padre Tom Uzhunnalil,sequestrado a 4 de março, noIémen.O religioso foi capturado na cidadede Aden durante o atentado queprovocou a morte de quatro irmãsda congregação das Missionárias daCaridade, fundada pela MadreTeresa de Calcutá. Para o padreCereda, citado pela Rádio Vaticano,“é difícil compreender por quêlevaram o padre Tom comoprisioneiro”.“Isto pode ser considerado como umresquício de esperança no meio deuma situação particularmentesombria, pois, se quisessem matá-lo, poderiam tê-lo feito juntamentecom as outras 16 vítimas”,acrescenta.Segundo os Salesianos, o governoda Índia, através do Ministério dosNegócios Estrangeiros, está aacompanhar o caso.

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Papa Francisco regressou aoconfessionárioO Papa deu início no Vaticano àiniciativa ‘24 horas para o Senhor’,confessando-se antes de confessarele próprio alguns fiéis na Basílicade São Pedro, durante o ‘rito para areconciliação dos mais penitentes’.Na homilia da celebração, o Papadisse que é “errado” pensar que “avida depende do que se possui, dosucesso ou do aplauso que serecebe” ou que “a economia é feitaapenas de lucro e consumo”.“Olhando apenas para o nosso eu,tornamo-nos cegos, amortecidos efechados em nós mesmos, semalegria nem verdadeira liberdade”,alertou.Os fiéis presentes na Basílica deSão Pedro foram convidados a ummomento de exame de consciência,para o qual contavam com a ajudade questões disponíveis no livrooficial da cerimónia - abordandotemas como o pagamento deimpostos, aborto, contraceção, vidade oração, compromisso na Igrejaou vivência familiar.O Papa deixou votos de que cadapessoa encontre no confessionário“um pai, encontre um pai que oespera, que encontre o Pai queperdoa”. Francisco alertou para

as consequências do pecado,que fazem “perder de vista o bem” elevam à pobreza e isolamento.“É uma cegueira do espírito que nosimpede de ver o essencial, de fixar oolhar no amor que dá a vida; e, aospoucos, leva-nos a parar no que ésuperficial, até deixar-nosinsensíveis aos outros e ao bem”,acrescentou. Nesse sentido, o Papaconvidou todos a sentir-se como“mendigos do amor de Deus”, comespírito aberto à “salvação”.“Este Jubileu da Misericórdia étempo favorável para acolher apresença de Deus, experimentar oseu amor e voltar a Ele de todo ocoração”, precisou.A celebração penitencial inaugurouas ‘24 horas para o Senhor’, queuniu a Igreja Católica em todo omundo a 4 e 5 de março, comopreparação para a Páscoa desteano santo extraordinário daMisericórdia.

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Consistório conclui processo paracanonização de Madre TeresaO Papa Francisco vai presidir a 15de março ao consistório (reunião decardeais) ordinário para votar cincocausas de canonização, incluindo ade Madre Teresa de Calcutá,anunciou o Vaticano. Após oencontro, será divulgada a data dacerimónia em que a religiosa vai serproclamada como santa.Além de Madre Teresa, serãoassinados os decretos para acanonização de Estanislau de JesusMaria da Polónia (1631-1701),fundador da Congregação dosMarianos da Imaculada Conceiçãoda Beatíssima Virgem Maria; JoséSánchez del Río, mexicano (1913-1928), martirizado aos 14 anosdurante a perseguição religiosa noMéxico; José Gabriel del RosarioBrochero (1840-1914), conhecidocomo o ‘Cura Brochero’, quepercorreu a Argentina numa mulapara levar a mensagem doEvangelho no século XIX; a suecaMaria Elisabeth Hesselblad (1870-1957), fundadora da Ordem doSantíssimo Salvador de SantaBrígida,Em dezembro de 2015 foi anunciadoque o Papa aprovou um milagre

atribuído à intercessão da BeataTeresa de Calcutá, vencedora doPrémio Nobel da Paz em 1979.A Congregação para a Causa dosSantos (santa Sé) concluiu em julhode 2015 as investigações sobre acura miraculosa de um homembrasileiro, de 35 anos, afetado poruma grave doença no cérebro, quese curou de uma forma tida comoinexplicável.Ganxhe Bojaxhiu, a Madre Teresa,nasceu em Skopje (Macedónia),pequena cidade com cerca de vintemil habitantes então sob domíniootomano, a 26 de agosto de 1910,no seio de uma família católica quepertencia à minoria albanesa, no sulda antiga Jugoslávia.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Papa Francisco recebeu primeiro-ministro timorense

Propostas do Papa para dirigentes empresariais

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A verdadeira crise: a incapacidadede uma grande ousadia

D. Manuel Linda Bispos das Forças Armadas e Forças de Segurança

A história das nações faz-se, quase sempre, porum apogeu seguido de longa letargia. Ou dedeclínio absoluto. A arte, que capta e exprime oesplendor, testemunha-o. Daí que, se formos aoEgipto dos faraós, ao Peru dos Incas e até àGrécia dos sábios, como é chocante o fosso quesepara um passado brilhante de um presenteacabrunhado!As causas podem ser várias. Mas creio que vãosempre desaguar a duas, incontornáveis:carência de um grande alento utópico e falta deverdadeiros líderes motivadores.Sem pessimismos doentios, julgo que é isso quese verifica na nossa Europa e até no Ocidente,em irrefreável declínio. Sem excluir Portugal,evidentemente.Nos séculos recentes, retirando a efémeraquimera do «libertarismo» da revolução francesa,prontamente terminada com “la Terreur”,excluindo o sonho do «progresso redentor», hojevisto como “jaula de ferro”, e exceptuando afantasmagoria dos “amanhãs que cantam” docomunismo soviético, imposto à lei da bala porférrea ditadura, que nos ficou deverdadeiramente empolgante, mobilizador ecapaz de arrebatar as sociedades em direcção aum ideal nobre e entusiasmante? Não me digamque é o Big Brother da guerra das audiências, amúsica brejeira das queimas das fitas ou ofutebol, produto consumível «sorvido» no sofápara favorecer a obesidade…

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Mas o pior é que, quando nãoexistem razões entusiasmantes,recorre-se ao subproduto dascausas fracturantes. Quando nãoexistem razões e não existemlíderes… Daí a desconfiança dapolítica. O debate sobre a eutanásiaexprime isso mesmo. Com aagravante da pura contradição:invoca-se o exercício da liberdadepessoal e nega-se a efectivapossibilidade de escolha no ensino,na assistência social, na saúde,etc., em nome dos endeusadoschavões da “escola pública”,“função social do Estado”, “serviçonacional de saúde”… É o«descontrutivismo» feito política. Eimposto à força!Corremos sérios riscos demediocridade. E de «fim de linha»!

Mas o nosso mundo possui umaespécie de «sexto sentido» que opressente. Por isso, quando surgeum líder da categoria do PapaFrancisco, as resistências abatem-se. Pena que quase esteja só…A ele, que agora cumpre três anosde sumo pontificado, o meu «muitoobrigado» por nos conduzir às«grandes causas»: a de Deus e ado homem. Não é seguidomultitudinariamente naquilo queprega? Não me admiro: não é comum simples toque de dedos que seacorda de uma abulia de séculos.Ou da inconsciência que uma certaintelectualidade conseguiutransformar em «cultura de massas».

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Francisco, o Papa que todosentendem…

Henrique Matos Agência ECCLESIA

“Quando o Papa aparecia na televisão os meusamigos mudavam de canal… agora sobem osom.” Foi Pedro Mexia quem o confessou háalgum tempo, a expressão demonstra comclareza a carga afetiva que Francisco conseguetransmitir. O Papa, de repente, deixou de ser olíder espiritual dos católicos para se tornar noamigo de todos, mesmo daqueles que não semovem no ambiente cristão.No domingo, completam-se três anos de PapaFrancisco. Foi no dia 13 de março de 2013 que,já noite na Praça de S. Pedro, o Cardeal Tauranproferia a famosa expressão latina AnnuntioVobis Gaudium Magnum, Habemus Papam…Anuncio-vos uma grande alegria, temos umPapa.Desta vez era Francisco e era diferente…revelou-se um Papa muito humano. Se osucessor de Pedro aponta para o alto, Francisco,sem deixar de o fazer, tem os pés bem assentesna terra. Mais, quer uma Igreja unida àcircunstância de vida de cada homem e mulher.Não é um consolador dos que sofrem, quer éresgatar os sofredores da sua condição. Quando fala traduz a teologia na mais simplesdas linguagens, descomplica Deus e apresenta-O à humanidade como um caminho a considerarpara quem está interessado em ser feliz.. Umcaminho que o Papa apresenta possível,acessível… um desafio que, segundo ele, nãovive de pré condições ou requisitos masunicamente da adesão interior de cada um.Francisco levou a Igreja ao mundo ou trouxe omundo para dentro da Igreja, é uma perspetiva

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de análise que não se me apresentaclara, mas o que todos percebem éque este homem que é Papa, estámuito perto dessa imagem dopastor. E hoje, sabemos que opastor já não deixa as 99 ovelhaspara ir em busca da que se perdeu,mais correto será dizer que deixauma ou duas ovelhas para ir aoencontro das 99 que andamdispersas… Esta é a imagem fieldestes três anos de pontificado deFrancisco. Este pastor foi aLampedusa onde muitos seperderam no mar, voou para Cuba eajudou a reatar relações quebradashá décadas com os Estados Unidos.Entrou nas

cadeias para propor uma liberdadeinterior impossível de aprisionar.Inaugurou o Ano Santo daMisericórdia longe da solenidade deRoma, no coração da RepúblicaCentro Africana onde uma guerrasangrenta tem devastado o país. Foiaí que escancarou de par em par aprimeira porta do Jubileu. Umaimagem forte, mas não tanto como amensagem que transmite ao mundo.Francisco diz que a misericórdia sãoos braços abertos de Deus, e ele,como seu representante no meiodeste mundo não se cansa de osmanter abertos num gesto deacolhimento. São três anos de um Papadeslumbrante mas, a onda depopularidade pode levar a quealguns se fiquem por Francisco equeiram uma Igreja de Francisco.Não é essa a intenção do Papaargentino.

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Três anos com FranciscoCelebra-se no próximo domingo, 13de março, o terceiro aniversário daeleição de Jorge Mario Bergogliocomo Papa. Um percurso que nosúltimos meses conheceu váriosmomentos altamente significativos,do Sínodo sobre a Família àencíclica ‘Laudato si’, das viagensao Jubileu extraordinário daMisericórdia, passando peloencontro histórico com o patriarcaortodoxo de Moscovo e a visita àsede da ONU.Francisco mantém a sua atençãocentrada na necessidade de umamudança do paradigma económicoe financeiro, como tinha deixadobem vincado na exortação ‘EvangeliiGaudium’ ou no seu discurso emEstrasburgo, perante o ParlamentoEuropeu, em defesa da democraciaface ao poder dos mercados.Com a encíclica 'Laudato si',Francisco abriu as fronteiras do seudiscurso e colocou a Igreja Católicana liderança do movimento mundialpara a defesa do ambiente,congregando à sua volta apoios dasmais diversas proveniências.O Papa tem estado próximo dosmais pobres e excluídos, na defesade uma globalização mais plural,que

respeite a identidade de todos e osexcluídos, um discurso marcadopela vivência no Sul do mundo.O primeiro pontífice da AméricaLatina tem mostrado preocupação com a situação do VelhoContinente, desejando uma‘refundação da Europa',particularmente necessária peranteas crises de refugiados edo terrorismo internacional.O Papa tem repetido mensagens emfavor da paz nas várias regiões domundo afetadas por conflitos,assumindo a defesa dos cristãos noMédio Oriente, perseguidos peloautoproclamado ‘Estado Islâmico’, ecriticando quem justifica ataquesterroristas com as suas convicçõesreligiosas.Do ponto de vista global, ganharamdestaque as afirmações sobrea reforma da ONU, odesarmamento nucleare o combate à pobreza.O cardeal Jorge MarioBergoglio foi eleito comosucessor de Bento XVI a 13de março de 2013, após arenúncia do agora Papa emérito;assumiu o inédito nome deFrancisco e é o primeiro pontíficejesuíta na história da Igreja.

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Em 36 meses, o Papa argentinovisitou o Brasil, Jordânia, Israel,Palestina, Coreia do Sul, Turquia,Sri Lanka, Filipinas, Equador,Bolívia, Paraguai, Cuba e EstadosUnidos da América, Quénia,Uganda, República Centro-Africana,e o México, bem como as cidadesde Estrasburgo (França), ondepassou pelo Parlamento Europeu eo Conselho da Europa, Tirana(Albânia)

e Sarajevo (Bósnia-Herzegovina).Realizou também dez viagens emItália, incluindo passagens por Assise pela ilha de Lampedusa, bemcomo uma homenagem nocentenário no início da I GuerraMundial, para além de outras visitasa paróquias na Diocese de Roma.

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Entre os principais documentos doatual pontificado estão as encíclicas'Laudato si', dedicada a questõesecológicas, a 'Lumen Fidei' (A luz daFé), que recolhe reflexões de BentoXVI, e a exortação apostólica'Evangelii Gaudium' (A alegria doEvangelho).O Papa promoveu um Sínodo sobrea Família, em duas sessões, comconsultas alargadas àscomunidades católicas, e deu inícioao Jubileu da Misericórdia, terceiroano santo extraordinário na históriada Igreja Católica, 50 anos depoisdo encerramento do ConcílioVaticano II.Francisco tem sublinhado a suapreocupação com as “periferias”geográficas e existenciais dahumanidade, que exigem respostasda Igreja e da sociedade. Nessesentido, apela a uma Igreja “emsaída” e atenta aos mais frágeis,centrando o seu discurso,teologicamente, na “misericórdia”que renova as atitudes doscatólicos.Internamente, tem promovido umareforma dos organismos centrais daIgreja Católica, em particular a

estrutura de coordenação para asatividades económicas eadministrativas. Várias comissões deinquéritos e empresas internacionaisde auditoria estão a analisar aatividade financeira da Santa Sé e oInstituto para as Obras de Religião(o chamado ‘Banco do Vaticano),tendo decidido criar uma novaSecretaria para a Economia,liderada pelo cardeal australiano D.Georg Pell.O Papa criou um Conselho deCardeais, para o aconselhar nogoverno da Igreja e na revisão daConstituição Apostólica ‘PastorBonus’, sobre a Cúria Romana; ogrupo com cardeais dos cincocontinentes propôs a criação deuma comissão específica para oscasos de abusos sexuais, à qualFrancisco deu luz verde.A legislação sobre prevenção ecombate à lavagem de dinheiro esobre a jurisdição dos órgãosjudiciários do Estado da Cidade doVaticano em matéria penal foiatualizada, tomando emconsideração o que é definido naConvenção sobre os Direitos daCriança da ONU (1989).

Os primeiros anos de pontificado são analisados em entrevista porAdriano Moreira, num dossier que inclui ainda textos de vaticanistasinternacionais e testemunhos de vários bispos e outros portugueses quetiveram oportunidade de contactar com Francisco.

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Eu acho que o Papa leu o discursode LuteroAdriano Moreira diz que Francisco assume “sem silêncio” os erros, propõeemendas com “clareza” e valoriza a “força da palavra” do cardeal Bergoglionuma “época de incertezas” e de “desordem mundial”. Nesta entrevista, quevai ser emitida no programa 70x7 do próximo domingo, o professoruniversitário faz uma análise do pontificado de iniciou há 3 anos,precisamente nesse dia 13, mas de 2013. Agência Ecclesia (AE) – Nospronunciamentos do Papa, vemosmais palavras relacionadas compolítica, economia, refugiados…Que indicadores são esses?Adriano Moreira (AM) –Eu acho queninguém – nem um Papa! – éindependente da sua circunstância.Se repararmos o que foi acircunstância do Papa João Paulo II,verificamos que as diferenças sãofundamentais que não podem deixarde condicionar as suasintervenções.O que marca o combate espiritualdo Papa João Paulo II é o muro. Oque este está a enfrentar é adesordem mundial.O discurso nas Nações Unidas éfundamental. Sem o enunciar,andou à volta de dois paradigmasque são fundamentais nopensamento que orientou aformação das Nações Unidas, emrelação aos quais tomou atitude epregou.O primeiro, que diz respeito à

organização prevista na carta: omundo único. E o mundo não estáúnico, mas dividido, cheio deconflitos que até os estrategas têmdificuldade em diferenciar porcategorias.O segundo é “terra, casa comum detodos os homens”. O que não está aacontecer…Por outro lado, Francisco tem umaexperiência que nenhum dos papasque visitou as Nações Unidas tem,por ter vivido em regimes onde orespeito pelos Direitos Humanos erabastante limitado, ter enfrentado aTeologia da Libertação efetivamenteem exercício e homens como CheGuevara… Isso deu-lhe uma atitudede interesse pelo próximo deidentificação com essas exigências,da desordem mundial que eleenfrenta não apenas com grandefirmeza, do ponto de vista dadoutrina, mas com uma humildadeextraordinária de quem sabe que sópode fazer aquilo que Deusconsentir.

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A Força da Palavra contraa desordem mundialAE – Nas Nações Unidas, o PapaFrancisco denunciou a sujeiçãosufocante de muitos países asistemas de crédito que impedem odesenvolvimento e progressodesses países. A acentuação dadimensão económica como fatordecisivo do entendimento entre ospovos tem sido permanente e temtido repercussão positiva, tanto nospaíses que decidem como os quesão vítimas?AM – A palavra já está implantada.A passagem à ação, jungo que vai

demorar. Começando pela Europa.A Europa está dividida em pobre erica, pela linha do Império Romano:Chipre, Grácia, Itália, Portugal, e vaicomeçar a ser França… Na própriaEuropa, uns têm troika outros não,uns têm ministros a discutir comministros outros com empregados.Esta situação é inquietante! AE – Nesse jogo de poderes, comose enquadra a Igreja Católica?AM – A Norte do Mediterrâneo estáenfraquecida. E acho que um dosgrandes atos deste Papa é amodéstia, sentindo que não hácarisma de

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“Papa”, e por isso ele é “padre”, quepede que “rezem por ele”. Estaintervenção que Francisco tem écapaz de ter mais influênciaimediata no que muitos analistaschamam os desamparados domundo, mas vai ter de enfrentar oprogresso do credo do mercadodesregulado com o credo dosvalores. AE – E aí estará a principal forçada palavra do Papa Francisco?AM – É a principal palavra que eletraz, com um grande desafio! Porisso ele faz um serviço quandosublinha os traços mais evidentesda desordem mundial, porque elapõe em causa a igual dignidade dosdesamparados do mundo, que elevem sublinhar. AE – Em que horizonte do tempodevemos colocar as consequênciasdas palavras do Papa?AM – Isso não sei! E creio que eletambém não sabe!Diante da renúncia a todas asmedidas de segurança e aperguntas sobre o perigo deatentado, ele, responde: “com aminha idade, o que é que eu perco”?

AE – Que sinal é esse?AM – Primeiro um sinal de fé! Emsegundo lugar, do ponto de vista dasituação do mundo, é uma adesãoàquilo que eu penso e quecorresponde à conclusão dosacadémicos quando procuramcaraterizar a situação em quevivemos: entramos na época daincerteza! É assim que estamos aviver, a época da incerteza. Na própria Europa, unstêm troika outros não,uns têm ministros adiscutir com ministrosoutros com empregados.Esta situação éinquietante!

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Da tolerância ao respeitoentre as religiõesAE – Qual o papel das religiões?AM - Eu sempre defendi que énecessário substituir a tolerânciapelo respeito, o que aprendi nasNações Unidas. E que é necessáriosubstituir o exercício da força pelodiálogo, obedecendo a um princípio:que cada um seja o necessário paraque possa subsistir o principal, oque é comum.Recordo que o primeiro secretáriodas Nações Unidas tinha organizadouma sala de meditação para todasas religiões. Creio que as reuniõesinformais que se estão a manifestar,por iniciativas de vários pontífices,devem levar à constituição nãoapenas a uma sala de meditação,mas ao Conselho das Igrejas dasNações Unidas. Acho que era uminstrumento de entendimento entreas diferenças religiosas, étnicas,culturais e talvez as circunstânciaspudessem melhorar.

AE – O Papa Francisco encontrou-se com o patriarca ortodoxo deMoscovo Cirilo. Que repercussãopode ter este gesto?AM – Eu acho que atender aoessencial facilita muito o serrespeitoso para com as diferenças.O que não é tolerar. E é isso que oPapa está a praticar: substituircompletamente a tolerância pelorespeito, pela diferença. AE – Foi um gesto que pôs fim aséculos de afastamento…AM – É preciso aperfeiçoar isso… Edepois, todos juntos, devemsubstituir a tolerância pelo respeito.O mundo é multicultural, é umasoma de diferenças. Mas é só um. Aunidade do mundo exige que atolerância seja substituída pelorespeito.

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Economia que mataAE – O Papa Francisco repete comfrequência a expressão “estaeconomia mata”? Quando a ouviu aprimeira vez, o que pensou?AM – Passei a citá-la,constantemente…Nós estamos a esquecer que aEuropa foi chamada a “luz domundo”, mas as velas foram-seapagando. E uma das coisas que seapagou foi o estado social, que éuma convergência da DoutrinaSocial da Igreja com o socialismodemocrático. O Estado social vemtornar efetiva a tal igualdade, quetem diferentes pontos de partida deacordo com cada pessoa. AE – O Papa equipara estaeconomia que mata ao mandamento“não matar”…AM – Sim… No sentido formal, comoimagem.Uma das questões que os analistashoje colocam em evidência é que oprograma das Nações Unidas, queacabou em 2005, não impede quemilhares de pessoas morram defome, que os pobres morram maiscedo, que mais de metade dospaíses inscritos

Nós estamos a esquecerque a Europa foi chamadaa “luz do mundo”, mas asvelas foram-se apagando.E uma das coisas que seapagou foi o estadosocial na ONU não sejam capazes de sedefender sequer dos ataques danatureza.O problema da igualdade exige queo Estado Social seja tratado commais respeito. AE – No Parlamento Europeu, oPapa falou de igualdade, deeconomia e disse: “manter viva arealidade das democracias é umdesafio deste momento histórico”.AM – E é! Tomemos por exemplo asmigrações. As migrações nestemomento desafiam a capacidade dereceção. E por isso vamos ter emconflito a segurança com os devereshumanitários. E quando istoacontece, o ponto de explosão nãoestá longe. E creio que é isso que oPapa quer explicar.

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AE – Apelou também à inclusão, àcoesão, ao combate àsdesigualdades. O ContinenteEuropeu está a ser minado poressas ameaças?AM – Sim… Na Europa sãoevidentes sinais que ameaçam aunidade: a dimensão dasabstenções, os partidosseparatistas contra a unidade doEstado como por exemplo aEspanha que, se for por diante, éextremamente prejudicial paraPortugal que isso aconteça. AFrança tem problemas dessestambém; a

Inglaterra, que motiva a negociaçãocom a União Europeia e lhe dá umestatuto especializado…A unidade precisa de maior atençãoporque os movimentos cívicos viveme crescem à parte dos partidosorganizados e os mais reacionárioscomeçam a encontrar adesões…Sinais não faltam! AE – O Papa vai reagindo a muitossinais de desordem…AM – Reage a todos!

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Papa que cuida da casacomumAE – Reage também aosdesequilíbrios da natureza, ànecessária proteção do ambiente…AM – É o problema da casa comumdos homens!O ambiente é sobretudo ferido pelospaíses mais adiantados na ciência ena técnica. É em relação a eles queo Papa exige que prestem atençãoà palavra! É a exploração excessivados recursos da ordem da naturezaque fere o princípio da casa comumdos homens. AE – Em todo o caso, quandosurgiu a encíclica “Laudato sí”ouviram-se vozes a questionar,mesmo no interior da IgrejaCatólica, a pertinência de ser oPapa a pronunciar-se sobre estestemas. Eles devem preocupar aIgreja Católica?AM – Absolutamente! Porque todo oser humano, todo o agrupamentohumano, todo o país, todo o globotem uma circunstância. (A Europa,por vezes, dá a impressão de viversem circunstância, porque tem umasquestões internas e faz unsdecretos que limitam os princípiosdo tratado de Lisboa etc… )Não há nenhuma ação que nãotenha de ver com valores. E é issoque está na base das intervençõesdo Papa.

Relevo da ÁsiaAE – Neste pontificado do PapaFrancisco que relevo está a serdado ao continente asiático?AM – O Papa enfrenta na Ásiacivilizações antiquíssimas! Não podeignorar a antiguidade e força dacivilização chinesa. O que é maisuma razão para que o respeitosubstitua a tolerância.Como pessoa, tem as qualidadesnecessárias para transmitirautenticidade no que está a dizer.Ele tem esse condão, o tal de SãoPaulo: “Quem tiver o carisma deensinar que ensine”. AE – Percebendo também que ofuturo da Igreja Católica está aOriente?AM – Não podemos dizer, nãoadivinhar… AE – Populacionalmente pelo menos…AM – Populacionamente, sim! Mastemos de recordar que SãoFrancisco Xavier morreu noa Ilha deSanchoão sem ter entrado na Chinae as últimas palavras que dizia era“Ai Jesus, ai Jesus!”. O que é umaadvertência para o esforço que épreciso desenvolver!

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Reformas na Igreja “àsclaras”AE – O Papa está a proceder areformas na estrutura da IgrejaCatólica, como por exemploconstituindo secretarias paraassuntos económicos ou dos media,agilizando procedimentos nadeclaração de nulidade domatrimónio, nos casos de abusossexuais por parte dos membros doclero. Que reforma está em curso?AM – É a coragem de assumir oserros. Respondendo a um convitepara fazer uns comentários sobre oPapa, há dias, senti necessidade decomeçar por ler o discurso deLutero. E acho que o PapaFrancisco o leu. Se isto for verdade,aí está uma explicação para umaintervenção imediata dele, nestemomento. É o mais claro que lheposso dizer… AE – Dando prioridade àexperiência de fé da pessoa erejeitando o ambiente, a estrutura?AM – Com certeza. Mas assumindoe corrigindo os erros defuncionamento. Porque uma coisa éintervir em silêncio, que leva a umaespécie de

cumplicidade de quem governa;outra é assumir, sem silêncio,fracamente. Dizer: “erraram,erramos, vamos emendar”! É o queo Papa está a fazer. Com clareza! AE – E aí está a diferença destepontificado?AM – Eu acho que sim. Por isso,nessa intervenção, que me honroumuito que me tivessem convidado,eu antes de ir para lá fui ler odiscurso de Lutero… É uma boaadvertência… Uuma coisa é intervir emsilêncio, que leva a umaespécie de cumplicidadede quem governa; outra éassumir, sem silêncio,fracamente. Dizer:“erraram, erramos, vamosemendar”! É o que o Papaestá a fazer. Com clareza!

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PAPA EM PORTUGALAE – Em 2017, o Papa deverá estar em Portugal. Que repercussãopoderá ter a presença de Francisco em Fátima, no centenário dasAparições?AM – Faz parte de uma intervenção global dele. Vai encontrar um paísque tradicionalmente era católico, onde a crise também o atravessa. Asdificuldades são as mesmas da Europa e é isso que ele vai encontrar,como é missão dele.Vir a Fátima, dá uma grande importância ao sinal que Fátima representa,o que não é sem importância para o combate geral que ele está aenfrentar. Por isso, acho muito importante que ele venha a Fátima.

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Três anos, uma era

Passaram-se apenas três anos, masparece que toda uma era se passoudesde a eleição do Papa Francisco,em março de 2013. E passou: aIgreja Católica sob o pontificado deFrancisco entrou numa nova fasehistórica - não uma rutura com opassado, mas uma nova direção,em definitivo.Na minha biografia do Papa

Francisco, ‘O Grande Reformador’,contei como Jorge Mario Bergoglio eoutros da sua geração tinhamconsciência de que a América Latinase estava a tornar a “fonte” da Igrejauniversal, de que o dinamismo e avisão desse continente estavamdestinados a evangelizar a Igreja doVelho Mundo.

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Foi isso que aconteceu nos últimostrês anos.Francisco abriu essa porta parauma nova era e não esta não podeser facilmente fechada. A Igreja doSul tomou conta dos reinos deRoma. Isso é visível de modosincontáveis e em muitos outrosmenos visíveis.Aqui deixo três exemplos: - Para usar uma frase de queFrancisco gosta muito, o centroabriu-se à periferia. Roma recebeua energia de novos canais entre aIgreja local e universal - no Sínodoreformado, na reestruturação daCúria com a designação do‘Conselho dos 9’, com cardeais devários pontos do mundo, e aescolha deliberada por parte deFrancisco de novos cardeais deáreas pobres e remotas. No caso doSínodo, a doutrina foi colocada emtensão com as realidades pastoraise Francisco convidou a Igreja aviver nessa tensão e incerteza,enquanto novos caminhos sãodiscernidos. Este novo dinamismo,profundamente desconfortável paraalguns, revigorou a Igreja. - Em segundo lugar, a Igreja doPapa Francisco está menospreocupada em preservar acomunidade dos fiéis das “ameaças”do relativismo e da modernidade doque com uma transformaçãointerna, uma reforma

que é fruto dos que os bisposlatino-americanos chamamconversão pastoral. Isso significafocar-se na vida das pessoas, osseus sofrimentos, as suasrealidades, mais do que refugiar-seem abstrações ou esquemasidealizados. Implica uma novaênfase na misericórdia - a respostade amor de Deus ao sofrimentohumano - que significa que amisericórdia e a evangelização sãoessencialmente o mesmo. E significapurificar a Igreja do seu apego àriqueza, estatuto e poder.O que mais impressiona no papadode Francisco é a sua proximidade, asua vizinhança. O Papa é acessível,direto, humano. As suaspreocupações são as preocupaçõesdas pessoas comuns e mais do quetratar o mundo fora da Igreja comoalguém que precisa de ser ensinadosobre as verdades que a Igrejapossui, Francisco procura descobriro que Deus fez e está a fazer navida das pessoas e das suassociedades, entrando em diálogocom o mundo contemporâneo. - Em terceiro lugar, o Papaintroduziu o discernimento espiritualcomo um meio de governo ereforma. Embora algumas estruturastenham sido reformadas - emespecial, as finanças e ascomunicações no Vaticano - areforma mais profunda, de cultura

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e atitudes, está a demorar muitotempo. Isso porque Francisco nãotem qualquer desejo de forçar amudança, criando conflitos quedesperdiçam energia e tempo; pelocontrário, está a abrir um processoque permita uma renovaçãogradual, mas permanente.Isto implica viver com contradições etensões, mais do que arrancar otrigo com o joio, numa aberturaradical à orientação do Espíritoatravés da consulta, diálogo eoração. A sua tarefa, comoreformador, é abrir e guiar osprocessos, removendo obstáculos àação livre do Espírito Santo edelicadamente - ou às vezes nãotão delicadamente - empurrar aIgreja numa direção específica.Tem sido fascinante acompanhareste turbilhão, com todas astensões que por vezes provoca. Porvezes, parece que Francisco é maispopular e melhor compreendido forada Igreja do que dentro dela - o queé muito cristológico e, claro, éexplicado pela parábola do FilhoPródigo.

Austen Ivereigh, jornalista

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Um pontificado ao encontro daspessoas

Um ano antes de tornar-se Papa,numa entrevista, o então cardealBergoglio recordava, citando aquinta conferência dos bispos daAmérica Latina que decorreu emAparecida, no ano de 2007,recordava que “toda a atividadeordinária da Igreja foi estabelecidatendo em vista a missão”. “Issoimplica - acrescentava - uma tensãomuito forte entre o centro e aperiferia, entre a paróquia e obairro. É preciso sair de nósmesmos, ir para a periferia. Épreciso evitar a doença espiritual daIgreja

autorreferencial: quando ela setorna autorreferencial, a Igrejaadoece. É verdade que saindo pelasruas, como acontece com todohomem e toda mulher, podemacontecer acidentes. Mas se a Igrejapermanece fechada em si mesma,autorreferencial, ela envelhece. E,entre uma Igreja acidentada que saipelas ruas e uma Igreja doente deautorreferencialidade, eu não tenhodúvidas de preferir a primeira”.Procuremos - explicava aindaBergoglio - o “contacto com as

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famílias que não frequentam aparóquia. Em vez de ser apenasuma Igreja que acolhe e querecebe, procuremos ser uma Igrejaque sai de si mesma e vai aoencontro dos homens e dasmulheres que não a frequentam,que não a conhecem, que foramembora, que são indiferentes.Organizemos missões nas praças,aquelas em que se reúnem muitaspessoas: rezemos, celebremos aMissa, proponhamos o Batismo, queadministramos depois de uma brevepreparação. É o estilo dasparóquias e da própria diocese”.São palavras que o cardeal teriarepetido aos irmãos purpuradosantes do conclave e que fizeramdepois parte da exortação ‘Evangeliigaudium’, o «road map» dopontificado. A “conversão pastoral”,o testemunho de uma Igreja quetendo a peito a «salus animarum»mostra o rosto misericordioso deDeus e acolhedor, são o coração domagistério de Francisco.“Pastoral - explicava o Papa aosbispos do Brasil em julho de 2013 -nada mais é que o exercício damaternidade da Igreja. Ela gera,amamenta, faz crescer, corrige,alimenta, conduz pela mão... Porisso, faz falta uma Igreja capaz deredescobrir as entranhas maternas

da misericórdia. Sem a misericórdia,poucas possibilidades temos hoje deinserir-nos em um mundo de«feridos», que têm necessidade decompreensão, de perdão, de amor”.Um magistério que se encontrambem sintetizado nesta passagem domais significativo dos discursospronunciados pelo Papa durante asua viagem ao México, no últimomês de fevereiro, o que dirigiu aosbispos reunidos na catedral dacapital federal: “Antes de mais nada,a «Virgem Morenita» [NossaSenhora de Guadalupe, ndr] ensina-nos que a única força capaz deconquistar o coração dos homens éa ternura de Deus. Aquilo queencanta e atrai, aquilo que abrandae vence, aquilo que abre e libertadas cadeias não é a força dos meiosnem a dureza da lei, mas afragilidade omnipotente do amordivino, que é a força irresistível dasua doçura e a promessairreversível da sua misericórdia”.Quem faz informação sobre estepontificado dá de caras,continuamente, com pessoas ehistórias que documentam estarealidade.

Andrea TornielliCoordenador do Vatican Insider,

http://vaticaninsider.lastampa.it/

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Liderança moral cada vez maisglobalO porta-voz do Vaticano, padreFederico Lombardi, afirmou que oPapa Francisco se tem afirmadocomo um líder “moral” de dimensãoglobal, nos seus quase três anos depontificado. “Tenho a impressão deque tem crescido a autoridade doPapa como mestre de humanidade,da Igreja e da humanidade, numaperspetiva global, porque no últimoano, o Papa chegou a praticamentetodos os continentes”, declarou oresponsável pela sala de imprensada Santa Sé, em entrevista à RádioVaticano.O cardeal Jorge Mario Bergoglio foieleito como sucessor de Bento XVI a13 de março de 2013, após arenúncia do agora Papa emérito;assumiu o inédito nome deFrancisco, tornando-se o primeiroPapa jesuíta na história da Igreja etambém o primeiro pontífice sul-americano.Para o porta-voz do Vaticano, em 36meses, Francisco tem tratado com“autoridade” os problemas dahumanidade e da Igreja. “Fala dostemas da paz e da guerra, quedizem respeito a todos, fala dosgrandes temas da sociedade atualno contexto da globalização, da‘cultura do descarte’, da justiça e daparticipação”, enunciou o padreLombardi.

O sacerdote jesuíta sublinha oimpacto da encíclica ‘Laudato si’,que “conseguiu dar uma visãoglobal das perguntas urgentes ecruciais da humanidade de hoje eda humanidade de amanhã”. “Ahumanidade olha para o PapaFrancisco como uma pessoa queajuda a encontrar a orientação, aencontrar mensagens de referêncianuma situação de grande incerteza.Um líder e mestre credível”,acrescentou.O diretor da sala de imprensa daSanta Sé elogiou depois a forma“nova e original” de apresentar amensagem da Misericórdia com aconvocação de um Jubileu que seespalha por todo o mundo.A entrevista aborda depois apolémica da fuga e publicação dedocumentos reservados da SantaSé, o ‘Vatileaks 2’, de que Franciscofalou publicamente a 8 de novembrode 2015, para assegurar que a“reforma” em curso iria continuar.Segundo o padre Lombardi, “oPapa, vindo de longe, dá umaperspetiva nova e tem uma grandecapacidade de ver todas asexpectativas de renovação da Igrejae suas estruturas de governo”.“Os Sínodos são caraterísticosdeste comportamento: terenfrentado um tema central como oda família mostra

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o desejo de ir com confiança ecoragem ao coração das grandesquestões pastorais da vida cristã”,acrescentou.Em relação às críticas que têm sidofeitas ao atual pontificado, inclusivepor partes de católicos, o porta-vozdo Vaticano entende que se devemao facto de se “caminhar emterrenos novos, procurandoresponder a questões que sãocolocadas com urgência por ummundo que está a mudar. “É algoque naturalmente provocapreocupação, temor, incerteza”,precisou.Falando de um pontificado “rico degestos concretos” e de imagens,

o padre Lombardi escolhe comosímbolo particular os momentos de“atenção aos doentes, abraçarquem sofre”. “São gestos que falamrealmente a toda a humanidade eque nos tocam profundamente”,conclui.

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A Economia de FranciscoO economista português João Césardas Neves acaba de lançar umaobra dedicada à “Economia deFrancisco” na qual apresenta asposições do Papa neste campo equestiona o “equívoco” de váriasinterpretações sobre o atualpontificado.“O Papa Francisco não éeconomista. Ele não tem uma visãoeconómica das coisas, nem costumaconsiderar os problemas dessaforma”, escreve o professor daUniversidade Católica Portuguesa.“Interpretar economicamente assuas palavras é mesmo o equívococentral que este livro pretendedesfazer”, acrescenta.O livro ‘A Economia de Francisco -diagnóstico de um equívoco’ épublicado pela Principia Editora porocasião do terceiro aniversário daeleição do Papa Francisco, que secelebra este domingo. Segundo oautor, a análise económica do Papa“nunca é estritamente económica,mas sempre “teológica”, o que inclui“aspetos religioso, antropológico eético, entre outros”.“As questões dos pobres, dosexcluídos e do ambiente gozam deuma preferência aberta edeclarada,

quase exclusiva, enquanto ostópicos financeiros, das trocascomerciais, da ética do consumo,entre muitas outras, ficam nasombra”, precisa.Nesse sentido, João César dasNeves entende ser um “erro grave”considerar as intervenções papaiscomo “tomadas de posição entre

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escolas de política e sistemassociais ou mesmo críticas gerais àvida económica”. “Não é legítimoconsiderar as declarações deFrancisco como se fossem relatóriosespecializados, pronunciamentoscientífico-técnicos ou discursoseleitorais”, insiste.A obra apresenta “dois conceitosessenciais” à doutrina económicacatólica como fontes inspiradorasdas sentenças do Papa Francisco: oprincípio do “destino universal dobens” e “opção preferencial pelospobres”. “Quase nunca se ouveFrancisco falar de temasimportantes da doutrina comopreços, juro, lucro, investimento oubalança de pagamentos, e quandoo faz é quase sempre para tratardos impactos sobre os pobres, osexcluídos ou o ambiente. Isto não éuma crítica, mas uma constatação.

Francisco não gosta de pormenorese complicações, dirigindo sempre asua atenção ao essencial”, analisa oprofessor da UCP. No livro sãopassadas em revista váriasintervenções do início do pontificadosobre temas como a relação entretrabalho e capital, propriedadeprivada, salários, modelos dedesenvolvimento, cooperativismo,pobreza, fome ou ecologia.Para João César das Neves, o Papanão é contra a “globalização”, mas“é contra a fome, a miséria, odesemprego, o desespero destaépoca de intensa mudança a que omundo assiste”. “O que o incomodasumamente é ver o rolo compressorda economia a espremer e aesmagar as várias culturas locais. E,por arrastamento, a economia demercado aparece condenada,sobretudo como instrumento cegodesse imperialismo”, explica.

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A «transparência» do pastorO bispo coadjutor de Beja recordaque teve a “felicidade” de participarna visita ad Limina, em setembro de2015, onde para além de “estar”com o Papa e ouvi-lo também faloucom o Francisco.“Sentia-me muito bem ao pé dele,não me sentia esmagado. Nãopensava, espere, estou a falar como Papa”, D. João Marcos.O prelado destacou ainda as duascoisas que “mais” lhe impressionoudeste contacto com o pontíficeargentino.“Uma primeira é a transparênciadeste homem, nada ali é postiço,artificial, aquilo que ele faz, que elediz brota da verdade que vive, doque ele é e isso a

mim impressiona-me muito”, explicouo bispo coadjutor de Beja.A segunda, acrescenta, decorre daprimeira e é o ser “pastor” do Papacom os pastores, que ajudou D.João Marcos na missão assumida a01 de dezembro, depois danomeação a 10 de outubro paraBeja.“Isso fez-me sentir muito bem, deu-me muita coragem para o ministérioque o Senhor me pede que exerçanesta diocese”, concluiu.

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A humanização do serviçoO bispo do Algarve recorda àAgência ECCLESIA que poucotempo depois da eleição do cardealJorge Mario Bergoglio como Papa,observando os seus “gestos e a suamensagem” saiu-lhe,“espontaneamente”, que “eraverdadeiramente um dom de Deus”.A “lufada e esperança”, que veio daAmérica do Sul, era um dom “nãoapenas” para a Igreja Católica maspara o mundo, pelo seu “estilopróprio”.“Cada um de nós tem um estilo deviver também a dimensão da fé e dea exprimir. O do Papa eraprofundamente enriquecedor ecorrespondia até às necessidades,anseios, que muitos de nóssentimos no que diz respeito àvivência, ao testemunho ecelebração também da fé”, explicouD. Manuel Quintas.Segundo o prelado, por tudo o queFrancisco refere a cada um, “pelapalavra e sobretudo pelos gestos esinais que apresenta”, continua a“ser um dom para todos” e não foiapenas na eleição.“Penso que ele está a humanizar oserviço, o seu ministério petrino.

Ou seja, o modo como se relacionacom as pessoas, simples, afetuoso,a dimensão que acentua, desde oprimeiro dia, da misericórdia, doperdão”, exemplifica.Neste contexto, D. Manuel Quintasdestaca que “tudo” em Franciscotem constituído uma “lufada de arfresco, de esperança”, que é a açãodo espírito que “através dele está aarejar e a rejuvenescer a todos”.“Sobretudo, a que procuremos oque é verdadeiramente essencial nanossa vida cristã, na nossa vida dediscípulos de Cristo, na nossa vidade membros da Igreja e também deanunciadores e testemunhas deCristo e do Evangelho”, conclui obispo do Algarve.

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Uma nova maneira de estarD. Virgílio Antunes, bispo deCoimbra, mostra-se “muito feliz” como rumo tomado pelo pontificado doPapa Francisco. “Parece-me queintroduziu um novo estilo, uma novamaneira de ser e uma nova maneirade estar, não só enquanto Papamas na Igreja e como Igreja, quetem conseguido despertar em todosnós o desejo de ensaiarmos novosmodos de ser e de estar em Igreja”,refere à Agência ECCLESIA.“Tanto os acontecimentos, como aspalavras, as viagens, estão aoserviço desta dinâmica, deste novomodo de ser e de estar, que acabapor ter um efeito muito positivo,estimulante, na vida da IgrejaCatólica”, acrescenta.A titulo pessoal, o bispo de Coimbradiz que o momento mais marcantedos últimos meses foi o encontro navisita ad Limina, em setembro de2015, concretamente no “grupo dediálogo” com o Papa. “Sentamo-nostodos num círculo junto do Papa,como irmãos, e pudemos falar àvontade, dialogar. Sentiu-se que eraum homem que queria ouvir,disponível para escutar e que

também tinha a sua palavra a dizer,naturalmente, numa atitude dediálogo”“Foi um momento absolutamenteúnico, que eu não esperaria poderter na relação com o Papa da IgrejaCatólica”, confessa D. VirgílioAntunes.Para o responsável, o futuroimediato traz vários desafios para aIgreja Católica, no mundo e emPortugal, como a “questão do sercomunidade cristã, que ainda é umacoisa muito vaga, o sentido depertença à Igreja”.“Há caminhos que é precisopercorrer e há muitos temas degrande importância para os quais oPapa nos vai dando algumasaberturas, exigindo inclusivamente anossa reflexão”, conclui.

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Papa Francisco centralizou asperiferias

O cardeal-patriarca de Lisboaconsidera que a atitude do PapaFrancisco “em centralizar asperiferias” é uma das marcas dostrês anos de pontificado.Os gestos e presenças do Papaargentino verificam-se, sobretudo,nas periferias, mas mesmo nasaudiências de quarta-feira, na Praçade São Pedro (Vaticano), o PapaFrancisco tem “um centro físico, oestrado onde preside, no entantopassa a maior parte delas andandode carro nas periferias”, disse D.Manuel Clemente à AgênciaECCLESIA.Com “um carisma tão próprio”, oPapa argentino tem desempenhado“aquilo que todos esperam que aIgreja seja: uma atenção a Deus euma atenção ao mundo”, frisou.Na proximidade com todas asfronteiras, Francisco tem“efectivado” os valores através “doreencontro,

da solidariedade e da justiça comocontribuições indispensáveis paraa paz”, referiu D. Manuel Clemente.Os gestos concretos “dele e doscolaboradores da Santa Sé” têmpermitido “ultrapassar algunsimpasses”, basta ver o queaconteceu “em relação a Cuba” etambém ao “mundo ortodoxo russo”,sublinhou o patriarca de Lisboa.Quando se apresentou à Igreja e aomundo depois da eleição, o PapaFrancisco disse que “vinha do fim domundo” e “não do centro habitual,das atividades da Igreja que é aEuropa”.O facto de ter vindo da Argentina,que é “antes de mais umageografia”, para a sua maneira de,no dia-a-dia, “estar atento àrealidade da Igreja e da sociedade”.Olhar a realidade a partir daperiferia dá “outra pertinência” aodiscurso do Papa Francisco.

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Francisco, o Papa da «linguagemconcreta» e dos gestos «simbólicos einterpelativos»

O arcebispo de Braga, que gosta dever o “papel dos Papa à luz dahistória”, destaca a interpelação deFrancisco para a Igreja “ir além dassuas fronteiras, a sair do seu âmbitopara contactar com a realidadehumana”, com uma linguagem“concreta”.“Penso que a grande novidade

deste Papa está aqui, numa atitudede falar com uma linguageminteligível, uma linguagem feita depalavra, uma linguagem feitatambém de vida nos seus gestos enas suas atitudes”, assinala D.Jorge Ortiga.À Agência ECCLESIA, o preladocomenta que os gestos deFrancisco são “ainda maissimbólicos e

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interpelativos” e ninguém fica“indiferente às coisas pequeninasda sua vida diária” que mostramcomo a vida de cada um também“pode e deve ser”.“Não viver distraídos, não viverconcentrados nas nossas coisasmas estar sempre fora,particularmente nos maiscarenciados, debilitados, naquelesque a sociedade não pretaatenção”, exemplifica o tambémpresidente da Comissão Episcopalda Pastoral Social e MobilidadeHumana.Ainda sobre a linguagem, oarcebispo de Braga considera aindaque é “extremamente concreta” edistingue a de Francisco doutrosPapas porque todos a “entendem”uma vez que usa, “normalmente”,comparações do dia-a-dia.D. Jorge Ortiga revela também quegosta de ver o papel dos Papa à“luz da história” e, neste contexto,verifica que a Igreja tem tido osPapas para os “momentosconcretos” com as “exigências decada hora e cada situação”.“Depois daqueles grandes quetivemos, o Papa Francisco é paraeste momento e para esta hora daIgreja e também do mundo”,observou.

“Se os outros insistiram numarenovação interna da Igreja, numespírito de grande abertura, como oPapa São João Paulo II, este semdúvida nenhuma tem interpelado aIgreja a ir para além das suaspróprias fronteiras, a sair do seuâmbito para contactar com arealidade humana”, analisa opresidente da Comissão Episcopalda Pastoral Social e MobilidadeHumana.Neste contexto, o prelado recordaque o Papa argentino insiste que avida cristã “não seja anestesiaespiritual, um analgésico, refúgio”,mas torne-se compromisso numa“atenção permanente” às realidadesterrestres “discernindo as respostasmais adequadas e oportunas”.D. Jorge Ortiga, que destaca aindaa “preocupação” do Papa com afamília e a juventude, revela queespera com expectativa a exortaçãopós-sinodal de Francisco.“É de esperar que uma maneiranova na fidelidade à doutrinatradicional mas de fazer pastoral econsequentemente da Igreja estarcom uma sensibilidade muito maiorperante os grandes desafios da vidafamiliar e da juventude”, concluiu oarcebispo de Braga.

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O Papa renovador da «metodologia»atenta às realidades do mundoO bispo do Porto considera que nostrês primeiros anos do pontificadodo Papa existiram momentos queforam “proféticos, sinais do caminhorenovado e renovador da Igreja”, deevangelização que propõe aomundo através da exortaçãoapostólica, das encíclicas, dasmensagens e audiências.“O Papa Francisco surpreende-nos

sempre neste caminho darenovação da Igreja, como novalinguagem, uma metodologia muitoatenta às realidades presentes domundo”, explica D. AntónioFrancisco dos Santos.À Agência ECCLESIA, o preladodestaca a capacidade do Papa emestar “próximo da realidade” que seconstrói no dia-a-dia, que se

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manifesta “nos momentos maisfelizes da humanidade”, nos lugaresonde a mensagem da Igreja “nemsempre é ouvida” e na “proximidadecom as pessoas concretas”.Neste contexto, o bispo do Portosublinha que Francisco ensina a ser“pastor ao jeito de Cristo, o bompastor”, a estar próximo daspessoas e a “ter tempo para todos ecada um”, algo que é “muitoimportante que a Igreja tem defazer” no encontro com quem estáperto e longe.“A ter capacidade de profecia esonho, compreender o sonho deDeus para a humanidade e abrircaminhos novos, quer nareconciliação, quer na misericórdia”,acrescentou.Por isso, frisa que o Jubileu não éapenas “uma aposta belíssima eencantadora” mas a capacidade de“renovar a Igreja e transformar omundo”.D. António Francisco dos Santos,que já esteve com o Papa duasvezes, revela também que quem seaproxima de Francisco sente que“está junto do bispo de Roma, dosucessor de Pedro e do grandeprofeta dos tempos novos”.O bispo diocesano recordou que oúltimo ano ficou marcado pela visitaAd Limina, do episcopadoportuguês

ao Vaticano, onde encontraram oPapa como “um pai” ou um irmãomais velho que reúne os irmãos, “nomesmo espaço da família”, e partilha“as alegrias da vida e da missão daigreja” mas também “sonhos eprojetos de futuro”.“Estes momentos próximos do Papadizem-nos e revelam-nos a verdadee encanto da sua missão no dia-a-dia, no contacto com o mundo, noseu ensinamento, magistério,proximidade, gestos proféticos e nasua capacidade de novos desafios”,desenvolveu D. António Franciscodos Santos.Segundo o bispo do Porto, o Papa,apesar dos seus 79 anos, “nunca secansa” com o trabalho, nem se deixa“vencer” pelas preocupações nempelo sofrimento e “diz que a Igrejatem de ser assim”: “Uma propostade bem-aventurança nasimplicidade, proximidade ecapacidade de revelar a alegria deJesus Cristo e a alegria doEvangelho.”“Vencendo as fronteiras,dificuldades e as barreiras naquiloque a sociedade tem de mais difícila transformar, a mudar, quer nocampo da verdade, da justiça, darelação com os outros, dafraternidade, penso que é por ai quea Igreja continua a caminhar”,comentou D. António Francisco dosSantos.

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Três anos, três acontecimentos e umjubileu que aponta «as prioridades»

O bispo da Diocese de Leiria-Fátimadistingue dos três anos dopontificado do Papa Francisco trêsacontecimentos e destaca também oatual Ano Santo da Misericórdia“aberto no coração de África” paramostrar onde estão “as prioridades”.“O Ano da Misericórdia [até 20 denovembro] corresponde a umanecessidade muito profunda domundo de hoje cheio de feridas,

dividido, lacerado, que precisa dequem cuide dele e quem ajude acuidar das suas feridas”, disse D.António Marto.À Agência ECCLESIA, o preladoobservou que o Jubileu “não foiaberto em Roma” mas na Áfricapobre, marginalizada, sendo umsinal para “a Europa que não estáno centro do mundo e que a Igrejanão é a Europa” mas “é universal emultipolar”,

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comentou sobre o início simbólicodo Jubileu em Bangui, a capital daRepública Democrática do Congo.O bispo de Leiria-Fátima, peloterceiro ano do pontificado deFrancisco, destaca trêsacontecimentos e começa porrecordar a forma de Franciscoapresentar-se ao povo de “maneiramuito simples, muito sóbria,despojado de tudo” o que eram“sinais de pompo ou poder”.“Pedindo a oração e a bênção dopovo, um Papa que dentro do seupovo disse mesmo vamos caminharjuntos. Imprime logo à partida ritmoe sinal evangélico”, exemplificou.Depois, para D. António Marto aprimeira encíclica papal, ‘A Alegriado Evangelho’, trouxe “frescura,alegria, entusiasmo”, sobretudo, àIgreja no Ocidente que estava com“ar de cansada, desanimada,desencanto” que transformou-se em“encanto, alegria, frescura” eentusiasmo para viver a fé.Em terceiro, o bispo da Diocese deLeiria-Fátima, assinala adescentralização da Igreja quecoloca no “centro Cristo e sente-seenviada ao mundo, às periferias,não só

geográficas mas sobretudohumanas”.Para o vice-presidente daConferência Episcopal Portuguesa,uma Igreja que “não vive” voltadapara si mesma, “na contemplaçãodo seu umbigo” mas que vai aoencontro de Cristo “presente nospobres e nos sofredores”.Segundo D. António Marto asinodalidade também é um aspetodeste pontificado, com o Sínodo dosBispo sobre a Família – “como umaprioridade fundamental para curar omundo de hoje, célula base de tudo”– e como caminho para a Igreja epara o diálogo ecuménico com a“inauguração de uma nova etapa”no encontro com o patriarcaortodoxo russo.O bispo de Leiria-Fátima que jáesteve duas vezes com o PapaFrancisco recorda a sua “devoçãomariana” e a “graça de ouvir o seusim, a dizer que tem vontadeenorme de vir a Fátima”.“Espero que ele traga esta alegria,encanto que fala e que é a imagempor excelência Nossa Senhora.Imagem de ternura de Deus e damisericórdia, uma graça não só paraFátima, para os peregrinos, masPortugal”, sublinhou D. AntónioMarto.

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Um Papa que diz o que lhe vai nocoração

O pontificado do Papa Franciscotem sido “uma lufada de ar fresco”na Igreja, considera D. JoséOrnelas, bispo de Setúbal. Quandose celebra os três anos dopontificado do Papa Francisco, obispo de Setúbal realça que “oEspírito de Deus não está morto,mas está vivo” e aquilo que se lê deoutros tempos e de outras eras“passa-se hoje”.Em declarações à AgênciaECCLESIA, D. José Ornelas querecebeu a ordenação episcopal em2015 disse que o Papa Francisco,através dos gestos, “recorda comclareza e limpidez, oscompromissos

fundamentais da Igreja”.O Papa argentino coloca em ação “avocação primordial da Igreja, o estarpróximo daqueles que sofrem”,afirmou o bispo sadino. D. JoséOrnelas já esteve a falar com oPapa Francisco e realça que ele“quando fala, espontaneamente, dizo que lhe vai no coração”.Ao recordar o momento, o bispo deSetúbal sublinha que aquele tempolhe marcou a vida: “Eu não temando, mas peço-te”. Esta é “formadelicada como Deus trata oshomens”, concluiu D. José Ornelas.

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Uma carta do Papa

O pequeno Salvador, de sete anos,tem o sonho de encontrar-se com oPapa. De Francisco chegou já umacarta a Arraiolos, onde vive, paralhe agradecer por um desenho emque o pequeno pintou o cálice, ahóstia, o pão e as uvas e escreveumensagens de amizade para oPapa. “A minha tia levou para lá edepois, numa segunda-feira, recebi-a”, recorda, falando à ECCLESIA.A criança fala do Papa como alguém“meigo, simpático, dócil” e confessaque gostava “muito” de se encontrarpessoalmente com ele.

Um entusiasmo partilhado pelospais, Carlos e Cláudia Pimpão, epela irmã Madalena.“Foi inesperado, nós nuncapensamos que o Salvador algumavez teria uma resposta do SantoPadre”, refere Cláudia.Carlos, o pai, refere que muitaspessoas “gostam do discurso” e dãoatenção ao Papa,independentemente de serem ounão católicas.A família prepara-se para, a 20 abril,ir a Roma, com o sonho de verFrancisco. Um dia de audiênciapública, para o qual Salvador levaum sonho: “Sentar ao colo do Papa”.

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Um amor sem fronteirasA vaticanista portuguesa AuraMiguel tem acompanhado o Papaem várias viagens e já teve aoportunidade de o entrevistar,destacando a “riqueza interior” deFrancisco, que “não faz cerimónia”em mostrar o seu amor, ao mesmotempo que procura ser criativo parao expressar.“Ele está mesmo a absorver daspessoas o mistério do amor. Temuma espécie de preferência pelosque sofrem”, relata.Para a jornalista da Renascença, aação do Papa é “melhor do quequalquer encíclica”. “Franciscopassou para o terreno e desarmaquaisquer testes, teorias, desinstalamuita gente. É um exemplo paramuitos

cristãos, é uma grande provocação”.Aura Miguel entende que opontificado “está a apontar muitomais para fora do que para a CúriaRomana”. As periferias são umconceito “muito amplo” e aplica-se atodos os locais “onde não é supostover um Papa”.A jornalista realça a forma como sevivem as viagens pontifícias:conversas, fotos e troca depresentes com um Francisco “àsolta no avião”. “Nunca passaapressado”, com uma “proximidadepessoa a pessoa”.Para a especialista da Renascença,a mais do que previsível visita doPapa a Fátima, em 2017, vai deixá-lo “surpreendido”.

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Qual o valor teológico dos meios de comunicação social?Na continuação do artigo dapassada semana, iremos observarum pouco mais aquilo que omagistério da Igreja tem escritosobre as novas tecnologias.“A comunicação entre Deus e ahumanidade alcançou a suaperfeição no Deus que se fezhomem”. Esse acto de amor darevelação de Deus, juntamente coma adesão e resposta de fé dahumanidade gerou um diálogoprofundo. Conforme os discípulospediram “ensina-nos a rezar” (Lc11, 1), podemos hoje “pedir aoSenhor ensina-nos a comunicar comDeus e com os homens através dosmaravilhosos meios de comunicaçãosocial”. Os meios de comunicaçãosão uma das melhores maneiras de“alcançar os homens em todas assuas latitudes, superando asbarreiras do tempo, do espaço e dalíngua, possibilitando a formulaçãonas diversas modalidades existentesna actualidade os conteúdos da fé eos mistérios de Deus reveladosplenamente por Jesus Cristo”. Seolharmos para o exemplo de Jesus,verificamos que o legado por Ele

deixado é riquíssimo do ponto devista da comunicação, dado que“Ele explica as Escrituras, exprime-se em parábolas, dialoga naintimidade das casas, fala naspraças, ao longo dos caminhos, nasmargens do lago, nos cimos dosmontes” e estimula-nos a imitá-lo: “Oque vos digo às escuras, dizei-o àluz do dia; e o que escutais aoouvido, proclamai-o sobre ostelhados" (Mt 10, 27). Existe, porfim, um momento em que acomunicação se faz comunhãoplena: é o encontro eucarístico.Reconhecendo Jesus Cristo ao“partir do pão” os discípulos sentem-se interpelados e estimulados aanunciar a Sua Páscoa e atornarem-se testemunhas corajosase alegres do seu Reino (cf. Lc 24,30-35). Podemos afirmar que“graças à redenção, a capacidadecomunicativa é revitalizada e é-lhesdado um novo alento, porque oencontro com o Ressuscitadoconstitui-os novas criaturas,introduzindo-os agora na nova vidaíntima da Trindade Santa, que é umato de comunicação contínua econstante do amor perfeito e infinitoentre Pai, Filho e Espírito

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Santo”. A Igreja deve assumir “asoportunidades oferecidas pelosinstrumentos da comunicação socialdados providencialmente por Deusnos dias de hoje para aumentar acomunicação e tornar o anúncio daBoa Nova da salvação mais claro eincisivo”.Concluindo, se os meios decomunicação social forem usadospelos crentes com a força da fé àluz

do Espírito Santo, podem contribuirpara facilitar a difusão do Evangelhoe aumentar os vínculos decomunhão entre as diferentescomunidades, dando assim respostaao mandamento do Senhor “Ide pelomundo inteiro, proclamai oEvangelho a toda a criatura" (Mc 16,15).

Fernando Cassola [email protected]

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Livro de bispo pintor convida «aentrar no mistério de Deus»

A Paulus Editora lançou estedomingo o livro “Imagens de Fé”,preenchido com pinturas de D. JoãoMarcos, bispo coadjutor de Beja, eque se encontram presentes emespaços de culto das Dioceses deLisboa e de Setúbal. Em entrevistaà Agência ECCLESIA, o preladosalientou que a

obra e as pinturas “são um convite aentrar no mistério de Deus”através de uma forma de exprimir afé que está hoje cada vez maisesquecida.“O percurso que o Ocidente fezlevou-nos tão longe da verdadeiraiconografia cristã que penso queneste momento é útil um livro comoeste,

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ou seja, é um livro que pode ajudaras pessoas a aprofundarem aquiloque veem” referiu.D. João Marcos assume-se como “mediador” desta “revelação deDeus aos outros”, mas um mediador“à imagem de São João Batista”que, acerca de Cristo, dizia “épreciso que ele cresça e que eudiminua”. “Um dos problemas sériosque a nossa Arte Sacra tem noOcidente é exatamente que omediador cresceu demasiado etornou opacas as imagens”,complementou.Ao abrirem este livro, as pessoasencontram quadros como “A Páscoado Senhor”, uma obra que vai aoencontro do tempo que a IgrejaCatólica se prepara para viver. “Háum primeiro olhar, gosto, não gosto,e depois começam a surgirinterrogações (…) e portanto istovai educando as pessoas paracompreenderem que há um discursocatequético e teológico em cadauma destas imagens”, aponta D.João Marcos.O bispo pintor reconhece que osseus quadros encerram apenas“uma abordagem entre muitasoutras que se podem fazer”, noentanto destaca a importância daarte enquanto

forma de “evangelização”.“Aquilo que evangelizaverdadeiramente, antes de maisnada, ao nível de uma pré-evangelização, é o testemunho.Estas imagens evangelizam porquesão testemunho, de uma vivência,testemunho da fé da comunidadecristã”, apontou. Ao mesmo tempo,“podem predispor as pessoas paraescutar o anúncio, porque a fé vemde escutar”, frisa D. João Marcos.O responsável católico enumeratambém “um outro nível, o daimagem como mediação para aoração”. “Nós precisamos muitasvezes de uma imagem para nosajudar a entrar no mistério deDeus”, conclui o bispo coadjutor deBeja.

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II Concílio do Vaticano: A obra dopadre Américo vista pelo presidenteda República

O maior acontecimento eclesial do século XX, o IIConcílio do Vaticano deixou marcas indeléveis nasociedade contemporânea. Nas quatro sessões(1962-1965) desta assembleia magna foramdiscutidos assuntos essenciais para as relaçõesinternas da Igreja e para o diálogo com o mundo.Apesar do concílio se ter realizado na segundametade do século anterior, a assembleia magna teveprecursores e um deles foi o padre Américo Aguiar,nascido em Galegos, concelho de Penafiel, a 23 deOutubro de 1887, e falecido a 16 de julho de 1956. Onovo presidente da República Portuguesa, MarceloRebelo de Sousa, escreveu um testemunhoemblemático sobre o fundador das casas do gaiato.“Como cidadão atento aos dramas da infânciaexcluída ou em exclusão num Portugal a converter-sede rural em urbano e metropolitano. Como educadorempenhado na primazia da afirmação da criança.Como cristão e sacerdote devotado na concretizaçãodas bem-aventuranças, na vivência de uma igrejaserva e pobre, na antecipação do que viria a ser oespírito do Concílio Vaticano II”. (Sousa, MarceloRebelo de; IN: «O Padre Américo e a Obra da Rua»;coordenação de José da Cruz Santos; AletheiaEditores).Quando estamos a celebrar os 30 anos (22 março de1986) da abertura do processo canonização do padreAmérico, convém ler os sinais dos tempos deste“homem bom, visceralmente bom”, como o definiuMarcelo Rebelo de Sousa. Para o novo presidente daRepública

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Portuguesa, o padre Américo foi umservidor dos outros e um “sacerdotecumpridor das exigências depobreza, desprendimento,dedicação aos mais sofredores eindefesos, e, dentro deles, àscrianças de rua”.Depois de Miranda do Corvo (1940)e Paço de Sousa (1943) fundaráainda a Casa do Gaiato do Tojal(1948) e a 1 de Julho de 1955 aCasa do Gaiato de Setúbal (um anoantes da sua morte). Mas o«edifício» ainda não estavacompleto: faltavam os Lares e oCalvário. O primeiro destina-se auma melhor acomodação dosrapazes que trabalham ou estudame o segundo

servirá para abrigar doentesincuráveis. O Calvário foi aderradeira Obra. “O canto do cisne.Dizem que o cisne, ao adivinhar amorte, entoa as mais belas melodiasda sua vida. Não é, pois de admirarque o Calvário seja a mais belamelodia do Pe. Américo” (In: Ramos,José da Rocha).Marcelo Rebelo de Sousa conheceueste apóstolo social quando tinhasete anos. Passados 50 do IIConcílio do Vaticano, talvez seja ahora de ver, com outros olhos, opapel que este homemdesempenhou e que já foicanonizado no coração do povo eno coração do novo presidente daRepública Portuguesa.

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Março 2016 12 de março. Fátima - Encontro de pais efamiliares dos missionários do VerboDivino (termina a 13 de março) . Porto - Conselho diocesano daPastoral Juvenil . Coimbra -Encontro dos amigos doInstituto das Servas do Apostolado . Setúbal – Barreiro - Troço doCaminho de Santiago entre Covasde Coina e Barreiro integrado naSemana da Juventude . Évora - Sardoal (Espaço Cá daTerra) -Exposição «Projeto Capela2016» com os trabalhos realizadospelos alunos do Agrupamento deEscolas do concelho do Sardoalalusivos aos tapetes de flores daSemana Santa e integrada naprogramação da Semana Santa doSardoal (até 10 de abril) . Fátima - Reunião da Faculdade deTeologia da UCP . Fátima - Hotel Cinquentenário,09h45 - Assembleia geral da CNIS

. Lisboa - UCP - Sala de Exposições(Piso 2 do edifício da Biblioteca),10h00 - Colóquio sobre «A HistóriaReligiosa no Século XXI. À conversacom André Vauchez» promovidoCentro de Estudos de HistóriaReligiosa (UCP) e Instituto deEstudos Medievais (FCSH/NOVA) . Porto - Centro de Congressos dasecção regional do Norte da Ordemdos Médicos, 10h00 - Reunião nacional da Associação dosMédicos Católicos Portugueses(AMCP) com o tema «O Erro Médico» . Coimbra - Casa de FormaçãoCristã, 14h30 - Encontro sobre«Amor e Verdade» promovido pelaComunidade Emanuel . Lisboa - Bombarral (TeatroEduardo Brazão), 15h00 - Encontrode agricultores do Oeste convocadopela Ação Católica Rural (ACR) coma presença de D. Manuel Clemente. . Lisboa - Mosteiro de Santa Maria(Lumiar), 15h30 - Conferência sobre«Misericórdia e homoafectividade naIgreja» por José António Almeida eSofia Madureira e integrada no ciclo«A Misericórdia: um evangelho porhabitar»

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. Lisboa - Convento de SãoDomingos, 15h30 - Sessão do curso«Da denúncia do pecado aoanúncio da salvação» orientado porfrei Francolino Gonçalves . Porto - Paróquia da Senhora doPorto, 15h30 - Conferênciaquaresmal sobre «A misericórdia navida familiar» por Jacinto Jardim epromovida pela Paróquia daSenhora do Porto . Bragança, 21h00 - Encenação da«Paixão de Cristo» pela Paróquia deSão Bartolomeu de Tadim (Braga) . Beja - Sines (Centro das Artes deSines), 21h30 - Concerto «Sempre/Ainda: Óperasem vozes» integrado no FestivalTerras Sem Sombra 13 de março. Fátima - Peregrinação da Diocesede Leiria-Fátima ao Santuáriomariano . Braga – Guimarães - Festival deMúsica Religiosa integrada nascelebrações da Quaresma (terminaa 26 de março) . Porto - Casa diocesana de Vilar -Encontro nacional de catequesecom o tema «Rico em Misericórdia»(termina a 16 de março)

. Faro – Sé - Homenagem amonsenhor Joaquim Alves Brás nos50 anos da sua morte comcelebração na Sé de Faro e seguidode colóquio . Celebrações dos 50 anos da mortede monsenhor Alves Brás . Évora - Coruche (Pavilhãomultiusos) - O grupo Pastorinhos deFátima da Capelania da Santa Casada Misericórdia de Coruche organizaum concurso gastronómico paratodo o concelho intitulado «Umacompota para o Papa Francisco» . Bragança - Igreja de SantoCondestável, 10h30 - Celebraçãodos 150 anos das Irmãs Doroteiasem Portugal presidida por D. JoséCordeiro . Lisboa - Paróquia de Arroios,14h30 - Encontro sobre «Amor eVerdade» promovido pelaComunidade Emanuel . Portalegre – Sardoal, 15h00 - Procissão dos Passos do Senhor . Lisboa - Igreja de Nossa Senhorado Amparo, 15h00 - Apresentaçãoda revista «Semana Missionária» econversa com o jornalista JoaquimFranco

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Associação dos Médicos Católicos Portugueses vairealizar a reunião nacional no dia 12 de março paraanalisar o tema ‘O Erro Médico’. Os trabalhosdecorrem no Centro de Congressos da secçãoregional do Norte da Ordem dos Médicos. Agricultores do Oeste encontram-se com o patriarcade Lisboa no dia 12 de março, no teatro EduardoBrazão, do Bombarral. A iniciativa é da Ação CatólicaRural e da Fundação João XXIII-Casa do Oeste. «Rico em Misericórdia» é o tema do Encontro Nacionalde Catequese, que vai decorrer no Porto, entre osdias 13 a 16 de março, promovido pelo Departamentoda catequese do Secretariado Nacional de EducaçãoCristã (SNEC) O Instituto Secular das Cooperadoras da Família vaiassinalar no dia 13 de março os 50 anos da morte demonsenhor Alves Brás, fundador de um projeto de“promoção e dignificação da mulher e da família”, quenasceu em Casegas, Diocese de Guarda, em 1899. Joseph Weiler, judeu praticante e um dos académicosde direito mais prestigiados do mundo, vai realizar umaconferência a convite da Universidade CatólicaPortuguesa sobre “O Julgamento de Jesus”. A “grandeconferência” vai decorrer na Fundação CalousteGulbenkian, dia 14 de março, às 18h00.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

10h30 - Oitavo Dia 11h00 -Transmissão missa

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 20h30Domingo, 13 de março -Terceiro aniversário doPontificado de Francisco.Análise de Adriano Moreira RTP2, 15h00Segunda-feira, dia 14 -Entrevista de apresentaçãoda recriações da SemanaSanta pelo Grupo Gólgota Terça-feira, dia 15 -Informação e entrevista aPedro Duarte Silva sobre o IIIEncontro Nacional de Leigos Quarta-feira, dia 16- Informação e entrevistaConceição Vieira sobre monsenhor Alves Brás. Quinta-feira, dia 17 - Informação e entrevista aopadre Eduardo Novo sobre a Pastoral Juvenil Sexta-feira, dia 18 - Entrevista de análise àliturgia de domingo pelo padre João Lourenço e JuanAmbrosio. Antena 1Domingo, dia 13 de março - 06h00 - Três anos dePontificado do Papa Francisco Segunda a sexta-feira, 14 a 18 março - 22h45 -Quaresma: o puzzle da Misericórdia; acampanha ZAP;livro "Aprender a Perdoar"; Conferência o "perdão e opecado"; Perdão com o padre Francisco Pereira

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Ano C – 5.º Domingo da Quaresma Convertidosao amor deDeus noacolhimentodo próximo

Estamos no quinto domingo da Quaresma, quase aterminar este precioso tempo de intensa renovaçãodas nossas vidas em Cristo. No seguimento do apelo àmisericórdia, no domingo passado, somos hojeconvidados a pormo-nos de pé e a viver de maneiradiferente: “vai e não tornes a pecar”. Convitepermanente à conversão!No Evangelho, Jesus é posto face à Lei e diante deuma mulher a qual, segundo a Lei, deveria serdelapidada por ter sido apanhada em flagrante delitode adultério. Jesus não rejeita a Lei, pede apenas aosescribas e fariseus para a colocar em prática, com acondição de começarem a ter um olhar sobre a própriavida antes de olhar a mulher e de a condenar. Acabampor se retirar, reconhecendo-se pecadores, a começarpelos mais velhos.Jesus, que não tem pecado, até podia lançar a pedra,mas não o faz. Ele veio para salvar, não paracondenar. Pedindo à mulher para não voltar a pecar,dá-lhe nova oportunidade. Para Jesus, ela não éapenas uma mulher adúltera, é alguém capaz de outrosentido na vida. Oferecendo-lhe a sua graça, agracioutambém os escribas e os fariseus, colocando-os nocaminho da conversão, eles que tinham aberto osolhos não somente sobre a mulher, mas sobre sipróprios.Este episódio do Evangelho sinaliza toda a liturgia daPalavra de hoje que nos fala, de modo sempre novo,de um Deus que ama e cujo amor nos desafia aultrapassar as nossas escravidões para chegar à vidanova, à ressurreição.A primeira leitura de Isaías diz-nos que Ele acompanhacom solicitude e amor a caminhada do seu Povo paraa liberdade, o mesmo caminho que somos chamados apercorrer hoje.

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Na segunda leitura, Paulo desafia-nos a libertarmo-nos do lixo queimpede a descoberta dofundamental: a comunhão e aidentificação com Cristo, princípioda nossa ressurreição.Mais uns dias em Quaresma, até aopróximo domingo de Ramos. Aolongo desta semana, a convite deJesus, olhemos a nossa situação depecado e abramos o coração aoamor de Deus e ao acolhimento dopróximo.Como Igreja que somos,procuremos fazer das nossascomunidades cristãs espaçosabertos e acolhedores

daqueles que habitualmente sãoexcluídos e considerados lixo. Aosolhos de Deus, todos valem,ninguém fica de fora. Como nospede o Papa Francisco, de quemcelebramos três fecundos anos deministério apostólico, procuremosser, como pessoas e comunidadescristãs, autênticos oásis demisericórdia, procuremos ser Igrejacada vez mais unida no amor e namisericórdia, no diálogo e nareconciliação.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Dar bom conselho, ensinar osignorantese corrigir os que erram

O cardeal-patriarca de Lisboaapresentou uma reflexão sobre astrês primeiras Obras de MisericórdiaEspirituais e pediu que se “ofereçamaos irmãos, aos outros” para quenão fique tudo “muito informe edesconforme” na sociedade ecomunidades cristãs. “Nós estamostodos num caminho comum comosociedade, como Igreja para os quesomos cristãos, por isso, devemoseste aconselhamento uns aosoutros”,

assinalou D. Manuel Clemente, numvídeo partilhado pelo Patriarcado deLisboa.O prelado, sobre a primeira Obra deMisericórdia Espiritual, frisa que nãose desista de “partilhar com osoutros” o que cada um sabe que “ébom e, certamente fará bem atodos”, para que as pessoas,“devidamente, aconselhadas nãocorram demasiados riscos e acertemno caminho da sua vida”. “O que éque seria de nós se

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não tivesse havido na nossa vidatanta gente a dar-nos conselhosque são bons, que sãocomprovadamente bons, porqueforam para essas pessoas e nóstambém verificamos que são bonspara a nossa vida”, sublinhou.“Muitas pessoas não fazem melhorporque ninguém lhes ensinou”,comentou o cardeal-patriarca sobre‘ensinar os ignorantes’.“Às vezes, temos na nossasociedade e na nossa cultura umdescaso muito grande em relação aestes pontos, isto é, cada umaprenda por si, cada um faça comoentender, cada um siga, ou não, asua vida conforme calhar”, alertou oprelado, apelando a que casa umseja para os outros “uma pedagogiacompleta”.Segundo D. Manuel Clemente, asociedade, a começar pelascomunidades cristãs, deve ser vistacomo “ocasião de crescer em

conjunto”, com o melhor que ahumanidade conseguiu para si”.“Para nós cristãos com o melhor quea revelação divina não deixa deoferecer na vida e nosensinamentos de Jesus, corrigindo,apoiando, estimulando, só assimiremos em frente numa sociedade ecultura realmente solidárias”, referiuno apontamento catequéticoquaresmal.O cardeal-patriarca de Lisboa,sobre ‘corrigir os que erram’ revelouque, com a primeira obra demisericórdia espiritual, é a“aplicação concreta da caridadecristã”, tendo usado como exemplo oEvangelho. “Quando Jesus fala nacorreção fraterna: Se o teu irmãoestiver mal, proceder mal, vai tercom ele a sós, não murmures, nãofales com terceiros, vai ter com ele asós a chama a atenção para queultrapasse o que fez mal, essepasso que fez mal”, desenvolveu noquarto vídeo sobre as Obras deMisericórdia.

A 15.ª Romaria Feminina de Santa Clara sai este sábado na Ilha de SãoMiguel, iniciando com a celebração de uma eucaristia na igreja de NossaSenhora de Fátima, no Lajedo, com a passagem pela "Porta Santa". “Éintenção desta Romaria, levar estas mulheres a redescobrirem comoDeus é rico de misericórdia para connosco mas, sobretudo, fazer-sesentir que a misericórdia de Deus leva-nos à prática da misericórdia comos outros”, explica numa nota a organização, que tem como assistenteespiritual o padre Norberto Brum.

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Confissão: Um momento para doisamigos fazerem as pazes

Fátima, o designado altar doMundo, é lugar de eleição paramuitos crentes se confessarem. É láque se encontram com disposição,com tempo, com ambiente ousimplesmente têm o serviço desacerdotes disponíveis paraconfessar. Um deles é o capelão dosantuário, o padre FranciscoPereira, com quem a ECCLESIAfalou a propósito do sacramento dareconciliação.“De há uns seculos para cá criou-seuma imagem de um tribunal, dizia-se

que era o tribunal da consciência,insistiu-se muito no carácter jurídicoda reconciliação.E quando hoje abordamos osacramento da reconciliação comoum encontro entre dois amigos quequerem fazer as pazes, as pessoastransformam-se,” explica aomicrofone da ECCLESIA.Já antes da ordenação sacerdotalFrancisco Pereira pensava que aspessoas precisam de ter alguém emquem confiam. Em conversa cita

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o exemplo do “barman, que servede confidente e quase confessoràs pessoas que, com a libertaçãoda bebida, contam as suasdesgraças e tristezas” ou o “papeldos psicólogos que vai crescendocada vê mais nesta sociedade”.Na sua opinião “a confissão é esteacolher o outro, não castigar ou serum tribunal mas ser sinal deMisericórdia, de carinho com queDeus nos acolhe”.No santuário de Fátima esta é aprincipal preocupação, ser lugar deacolhimento, “ser rosto do Amor eda Misericórdia de Deus”. O padreFrancisco Pereira entende quedepois de uma confissão, aexperiência “passa de pessoa parapessoa, dão testemunho de comoencontram Deus aqui em Fátima, decomo se reconciliam”.O sacerdote capelão do Santuáriode Fátima entende que é na famíliaque se deve começar a praticar operdão.“Eu penso que, em primeiro lugar, éna Família que tem de acontecer aprópria reconciliação,compreendermo-nos como falíveis,mas que queremos crescer emconjunto e que somos capazes deperdoar. Pedir desculpa ou perdão a alguémé muito difícil, mas ainda é maisdifícil com quem conhecemos bem,como com o marido, a esposa, osfilhos ou os pais. É aqui que temosde aprender

a cuidar uns dos outros, a perdoarpara crescer como pessoas”, refere.O padre Francisco Pereira passamuitas horas do seu dia no serviçode confissões existente nosantuário, antes de começar existeuma preparação.“Quando chego ao confessionário aprimeira coisa que faço é rezar aDeus para conseguir acolheraquelas pessoas, para que meajude a dar lhes a força necessáriapara que possam renovar a suavida.Esta experiência de vida ajuda-me aser um verdadeiro ministro daMisericórdia, porque as pessoasvêm com o peso dos seus pecados,muitas vezes afastadas de Deusvários anos e nem sempreconseguem explicar porque estãoali.O sacerdote confessor explica que a“única resposta que tem é aMisericórdia de Deus, dizer queDeus ama, seja em que situação apessoa esteja” e que o maisimportante é que as “pessoaspercam o medo de se reconciliarcom Deus, da fé e de arriscar tudopor Deus”.Consciente de que as pessoas quese confessam no Santuário não têmmuitas das vezes umacompanhamento posterior, o padreFrancisco Pereira entende queaquele momento de reconciliaçãoseja um “tempo forte” e um encontrosem medos, um bom convite paraeste Ano da Misericórdia.

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Histórias de sobreviventes de um bairro cristão emAlepo

As lágrimas de RoseUma chuva de morteiros iluminou océu e fez estremecer o chão. Ascasas – o que resta delas –desfizeram-se em pó. O estrondodos rebentamentos sufocou gritosde dor, de desespero. De morte. Oataque, na quarta-feira, dia 17 deFevereiro, ao cair da tarde,apanhou quase toda a gente desurpresa pela violência com que obairro foi atingido.A casa de Faoud Banna colapsouesmagando este jovem de apenas13 anos e deixando os seus paisgravemente feridos. Na sexta-feiraseguinte, numa pequena cerimónia,o bairro despediu-se de Faoud. OArcebispo Jean-Clément Jeanbartfez questão de participar no funeral.Da família mais chegada, apenas airmã de Faoud esteve presente.Todos os outros já morreram ouabandonaram a cidade. Rose, de 17anos, chorava a morte de FaoudBanna e só pedia ao Arcebispo quenão deixasse morrer os seus pais.Eles são tudo o que lhe resta.“Padre, por favor, peça a Deus quesalve, que cure, os meus pais!”Este ataque contra o bairro cristãode Alepo foi apenas a mais recentetragédia que se abateu sobre a

cidade. Por ali, todos estão de luto,todos têm, como Rose, os olhosmarejados de lágrimas. Há mais dequatro anos que é assim todos osdias. As bombas rompem os céusnum silvo que anuncia a morte eestatelam-se em sangue no chãoem ruínas. Os bairros cristãos têmsido particularmente visados. Acidade desapareceu. Estatelou-seno chão, em camadas de destroçosque não permitem imaginar a urbede outrora, cheia de sons, de gente,de cores, de alegria. Cheia de vida.Hoje, cheira a morte. Noutra pontada cidade, o Bispo Abou Khazen,vigário apostólico de Alepo, dá-nosconta de como a tragédia já fazparte do quotidiano. “Um destes dias– conta o prelado à Fundação AIS –um rapaz perguntou-me porquetinha de estudar.” Abou Khazenestranhou a pergunta mas o rapaz,também de 13 anos como FaoudBanna, atalhou a conversa com umaobservação seca que calou logo alios argumentos do Bispo: “eu voumorrer”.

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Devastação totalMaria Guadalupe tem 41 anos, éargentina e pertence ao Instituto doVerbo Encarnado. Foi para Alepoquando tudo começou. Nunca tinhaescutado o som de um tiro e foi logoparar no meio de uma guerra.Desde então, já viu a morte muitoperto, mas insiste em ficar. Não éuma questão de coragem, mas simde dever, de estar onde maisprecisam da sua ajuda. Alepo estádesfigurada. As lâmpadas estãoapagadas, as torneiras não têmágua,

as populações têm fome e precisamde ajuda, de cuidados médicosimediatos. Rose, a irmã de FaoudBanna, parece que carrega já todoo sofrimento do mundo nos seusombros. Neste momento, para ela,só uma coisa conta: que Deuspossa salvar os seus pais. As suaslágrimas são também sinal dedesespero. Como pode umarapariga de apenas 17 anossobreviver sozinha numa cidadedestruída como Alepo?

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Angola, Espiritanos há 150 anos

Tony Neves Espiritano

Os Espiritanos chegaram a Angola há 150 anos.A história da Missão deste país lusófonoescreve-se muito com os pés, as mãos, a boca ecoração destes Missionários que foramanunciando o Evangelho nestas paragens daÁfrica austral.A história não engana e as estatísticas ocomprovam: largas centenas de Espiritanosforam dando à costa angolana, chegando debarco, após longos dias de luta contra marés eventos no Atlântico. Nos últimos tempos, pararamos barcos paquetes de passageiros e osMissionários aterraram em Luanda, idos demuitos aeroportos.Os Espiritanos portugueses escreveram páginassignificativas na história da Igreja em Angola.Muitos lançaram as bases de comunidadescristãs vivas. Construíram Missões, Hospitais,Escolas, Oficinas. Lavraram, cultivaram eensinaram a trabalhar campos e florestas.Dedicaram-se de alma e coração á formação dePadres para que as Dioceses nascessem etivessem o seu Clero local. Trabalharam lado alado com Espiritanos idos de outras paragens domundo, bem como membros de outrasCongregações, masculinas e femininas.Leigos competentes são decisivos para opresente e futuro de qualquer nação. Tambémem Angola, os Espiritanos investiram muito naformação de quadros locais que podemassegurar o presente e o futuro deste novo paísafricano.O desenvolvimento é sempre vital. Apostar naeducação, na saúde, nas artes e ofícios, naagricultura… é garantir a sustentabilidade de

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uma terra e de um povo. Nestasdimensões são visíveis aspreocupações dos Espiritanos aolongo de uma presença efectiva einterveniente de 150 anos.São novos os tempos que aCongregação do Espírito Santo viveem Angola. Foi conquistando ocoração do povo e fazendo surgirvocações locais. Tem hoje um grupomuito significativo de membros, bem

como de candidatos a fazer caminhonesta família missionária.13 de Março é dia grande emAngola. Aqui em Luanda encerra-seo Jubileu destes 150 anos depresença de Missionários doEspírito Santo por terras angolanas.Dou graças a Deus por tantas vidasdedicadas à Missão.

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