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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ FABÍOLA GUIMARÃES PRESCRIÇÃO DAS AÇÕES INDENIZATÓRIAS DE ACIDENTE DO TRABALHO APÓS O ADVENTO DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº. 45/2004 São José 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

FABÍOLA GUIMARÃES

PRESCRIÇÃO DAS AÇÕES INDENIZATÓRIAS DE ACIDENTE DO TRABALHO

APÓS O ADVENTO DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº. 45/2004

São José 2007

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FABÍOLA GUIMARÃES

PRESCRIÇÃO DAS AÇÕES INDENIZATÓRIAS DE ACIDENTE DO TRABALHO

APÓS O ADVENTO DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº. 45/2004

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação São José. Orientadora: Prof.ª Msc. Luciana de Araújo Grillo Schaefer

São José 2007

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Especialmente, ao Heitor, pelo amor, estímulo e apoio para a

concretização desta monografia.

E, à minha família, por todo amor e dedicação.

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AGRADECIMENTOS

Inicialmente, agradeço a minha mãe, Gessy, que, com muita ternura, me

ensinou os princípios fundamentais para viver com honra e dignidade.

Ao Heitor, pelo seu amor e pela compreensão nos meus momentos de

ausência.

Aos meus irmãos, cunhados, e sobrinhos, pelo afeto e apoio

incondicionais que sempre me concederam, ao longo da vida.

Ao Beto, pelas palavras amigas e reconfortantes nos momentos de

angústia.

Às amigas Andréa Oliveira, Fernanda Lehmkuhl e Larissa Farias, pelos

momentos de alegria que me proporcionaram, ao longo do curso.

Agradeço a minha orientadora, Luciana de Araújo Grillo Schaefer, pelo

profissionalismo e zelosa atenção a mim dispensada, durante a realização deste

trabalho.

Agradeço, ainda, aos muitos professores da Univali, com os quais tive a

honra de aprender o que sei hoje, pelos ensinamentos e dedicação.

Por fim, agradeço a todos os que de alguma maneira contribuíram para a

conclusão deste trabalho.

E, sobretudo, agradeço a Deus, pela vida.

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RESUMO

Este trabalho refere-se à nova competência da Justiça do Trabalho, ante o advento

da emenda constitucional nº 45/2004, no que tange ao prazo prescricional a ser

aplicado nas ações de indenização por acidentes do trabalho, as quais eram de

competência da Justiça Comum, antes da emenda. Para tanto, primeiramente, foi

abordado o instituto da prescrição, no âmbito civil e trabalhista. Em seguida, fez-se

um estudo sistemático da emenda constitucional nº 45/2004, a chamada Reforma do

Judiciário, apontando as várias mudanças introduzidas no Direito brasileiro. Por

último, abordou-se a responsabilidade civil dos empregadores, face aos acidentes

do trabalho, as modalidades de acidente do trabalho e seus conceitos e, finalmente,

o prazo prescricional das ações de indenização por acidente do trabalho.

Palavras-chave: JUSTIÇA DO TRABALHO - EMENDA CONSTITUCIONAL Nº

45/2004 - PRESCRIÇÃO - ACIDENTE DO TRABALHO.

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SUMÁRIO

RESUMO....................................................................................................................05

INTRODUÇÃO...........................................................................................................07

1 ASPECTOS DESTACADOS SOBRE A PRESCRIÇÃO E A PRESCRIÇÃO TRABALHISTA..........................................................................................................09 1.1 HISTÓRICO E CONCEITO..................................................................................09 1.2 IMPEDIMENTO E SUSPENSÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL.......................12 1.3 INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL.................................................14 1.4 PRESCRIÇÃO EXTINTIVA E AQUISITIVA..........................................................16 1.5 PRAZOS PRESCRICIONAIS...............................................................................17 1.6 IMPRESCRITIBILIDADE......................................................................................19 1.7 PRESCRIÇÃO E INSTITUTOS AFINS................................................................20 1.8 PRESCRIÇÃO TRABALHISTA............................................................................21 1.8.1 PRESCRIÇÃO DOS DIREITOS DO TRABALHADOR RURAL........................25 1.8.2 PRESCRIÇÃO DOS DIREITOS DOS DOMÉSTICOS......................................26 1.8.3 PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO – FGTS..........................................................................................................................27 1.8.4 A PRESCRIÇÃO E AS ANOTAÇÕES NA CARTEIRA DE TRABALHO E PREVIDÊNCIA SOCIAL - CTPS...............................................................................28

2 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004.............................................................30 2.1 ASPECTOS GERAIS DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004.................30 2.2 A EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004 E A JUSTIÇA DO TRABALHO......35 2.3 A NOVA REDAÇÃO DO ARTIGO 114 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988............................................................................................................................37 3 A PRESCRIÇÃO DAS AÇÕES INDENIZATÓRIAS DE ACIDENTE DO TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº. 45/2004...........................48 3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL POR ACIDENTE DO TRABALHO........................48 3.2 AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ACIDENTE DO TRABALHO A PARTIR DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº. 45/2004...............................................................50 3.3 ACIDENTE DO TRABALHO.................................................................................52 3.3.1 CONCEITOS.....................................................................................................52 3.3.2 ACIDENTES TÍPICOS.......................................................................................55 3.3.3 ACIDENTES DE TRAJETO...............................................................................56 3.3.4 DOENÇAS OCUPACIONAIS............................................................................57 3.4 PRESCRIÇÃO DAS AÇÕES INDENIZATÓRIAS DE ACIDENTE DO TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004..................................................58 3.4.1 PRESCRIÇÃO DAS AÇÕES DE INDENIZAÇÃO POR ACIDENTE DO TRABALHO REMETIDAS À JUSTIÇA DO TRABALHO............................................64 3.4.2 TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL DAS AÇÕES DE INDENIZAÇÃO DE DOENÇAS OCUPACIONAIS......................................................66 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................68 REFERÊNCIAS..........................................................................................................70

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INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como objeto pesquisar o prazo prescricional

que deve ser empregado nas ações indenizatórias de acidente de trabalho,

considerando que, após o advento da Emenda Constitucional nº 45/2004, a

competência para o julgamento dessas ações foi deslocada da Justiça Comum para

a Justiça do Trabalho.

Institucionalmente, este trabalho tem como objetivo o alcance do grau de

Bacharel em Direito junto à Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI.

Esta pesquisa é de grande importância, pois o tema tem sido muito

discutido entre juristas, suscitando divergentes opiniões e, como não poderia deixar

de ser, acarretando interpretações destoantes nos Tribunais, disseminando, com

isso, diferentes teorias em torno de qual a prescrição que deve ser utilizada nas

ações indenizatórias de acidentes de trabalho: se a fixada no Código Civil, que é a

que vinha sendo aplicada, ou a prevista na Constituição da República Federativa do

Brasil e na legislação trabalhista, já que, atualmente, a competência é da Justiça do

Trabalho. Além disso, há que se estabelecer uma regra a ser utilizada nos processos

que foram propostos ante a Justiça Estadual e, com a promulgação da Emenda

Constitucional nº 45/2004, que acrescentou o inciso VI no artigo 114 da Carta da

República, migraram para a Justiça do trabalho. Não obstante a fixação de qual o

prazo prescricional mais adequado a tais ações, tem-se, ainda, o problema de

estabelecer qual o termo a quo do prazo prescricional das pretensões decorrentes

das doenças ocupacionais, que são genuinamente igualadas aos acidentes de

trabalho.

Para alcançar as respostas para tantas indagações, dividiu-se o trabalho

em três capítulos. No capítulo inaugural, aborda-se o instituto da prescrição como

um todo, incluindo histórico, conceitos, tipos, diferenças entre prescrição e

decadência e prescrição trabalhista.

No Capítulo seguinte, discursar-se-á sobre a Emenda Constitucional nº

45/2004, a qual trouxe a reforma do Poder Judiciário, com enfoque nas mudanças

trazidas à Justiça do Trabalho.

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O terceiro, e último capítulo, apontará os conceitos dos acidentes do

trabalho e suas espécies, e, finalmente, a prescrição a ser utilizada nas ações de

indenização por acidente do trabalho.

Consigna-se, quanto à metodologia empregada, que será utilizado o

método indutivo, com pesquisas em bibliografias e na jurisprudência dos tribunais.

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CAPÍTULO 1

1. ASPECTOS DESTACADOS SOBRE A PRESCRIÇÃO E A PRESCRIÇÃO

TRABALHISTA

1.1 HISTÓRICO E CONCEITO

O tempo é um elemento essencial nas relações humanas. Convive-se,

diariamente, com diversas situações em que o tempo aparece como um meio

organizador. Seja em casa, no trabalho, na escola, existe sempre um horário a

cumprir. No meio forense, não é diferente, há uma infinidade de prazos processuais

a serem cumpridos, que refletem a imagem do tempo no universo jurídico. Já dizia

Caio Mário da Silva Pereira: "O tempo domina o homem, na vida biológica, na vida

privada, na vida social e nas relações civis".1

O Direito, como um fator regulador da coletividade, do mesmo modo é

extremamente influenciado pelo tempo, ou, melhor dizendo, pelo decurso do tempo.

É o que ensina o doutrinador Orlando Gomes:

Dentre os acontecimentos naturais ordinários, o decurso do tempo é dos que maior influência exerce nas relações jurídicas. A lei atribui-lhe efeitos, seja isoladamente, seja em concurso com outros fatores. 2

A Prescrição é fundada exatamente no juízo de que o lapso temporal

exerce influência sobre os direitos. Pode influenciar na aquisição de direitos ou como

um determinante para a extinção de direitos.3

O termo “Prescrição” tem origem no latim praescriptio de praescribere, que

quer dizer “prescrever, escrever antes, donde determinar ou prefixar”4. Conceituada

por De Plácido e Silva, é “a norma que se escrevem antes, para que, por elas, se

conduzam as coisas”.5

1 PEREIRA, Caio Mario. Instituições de direito civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. 2 GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 14. ed. Rio de janeiro: Forense, 1999. 3 LEAL, Antônio Luiz da Câmara. Da Prescrição e decadência. São Paulo: Saraiva, 1939. 4 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico: edição universitária. 3. ed. v. 8-9. Rio de Janeiro:

Forense, 1992. 5 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico: edição universitária. 3. ed. v. 8-9. Rio de Janeiro:

Forense, 1992.

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Foi no Direito Romano, ao tempo do processo formulário, que surgiu a

prescrição. Nesse sistema jurídico e no anterior, das legis actiones, a ação era

exercida pelo magistratum, autoridade pública da época, e o julgamento do litígio

cabia ao árbitro, chamado de iudex privatus ou arbiter, escolhido inicialmente pelas

partes e, mais tarde, pelo próprio magistrado entre os cidadãos romanos. Com o

crescimento da sociedade romana, as ações previstas nas Leis das XII Tábuas, que

eram apenas cinco, tornaram-se insuficientes. Com isso, foram sendo introduzidas

novas ações e os pretores foram ganhando autonomia para instituir outras fórmulas,

além das contidas no direito quiritário6. As ações pretorianas, diferentemente das

ações quiritárias, que eram perpétuas, somente poderiam ser exercitadas dentro do

annus utilis. Ao redigir a fórmula, o pretor fazia uma introdução, determinando ao juiz

a absolvição do réu se o prazo de duração da ação já estivesse extinto. E era a esta

parte introdutória da ação que se dava o nome de praescriptio. 7

Ainda, sobre a evolução do conceito de prescrição em Roma, explica

Câmara Leal:

(...) ao período das legis actiones que dominou desde os primeiros tempos de Roma até Cícero, seguiu-se o sistema formulário do direito pretoriano, que vigorou desde o sexto século até Deocleciano. Nesse regime do processo ordinário – ordinária juditia, ao pretor incumbia, em cada litígio, a nomeação do juiz, a quem predeterminava a orientação do julgamento por meio da fórmula. Essa fórmula, em cujo frontispício era feita a instituição do juiz, compunha-se de quatro partes principais: a demonstratio, ou enunciação da parte não contestada dos fatos da causa; a intentio, ou indicação da pretensão do autor e contestação do réu; a condemnatio, ou atribuição conferida ao juiz para condenar ou absolver, segundo resultado de sua verificação; e a adjudicatio, ou autorização concedida ao juiz para atribuir às partes a propriedade do objeto litigioso. Investido, pela Lei Aebutia, no ano 520 de Roma, do poder de criar as ações não previstas pelo direito honorário, o pretor introduziu o uso de fixar um prazo para sua duração, dando origem às ações chamadas temporárias, em contraposição às do direito quiritário, que eram perpétuas. Ao estatuir a fórmula, se a ação era temporária, ele a fazia preceder de uma parte introdutória, em que determinava ao juiz a absolvição do réu, se estivesse extinto o prazo de duração da ação. E a essa parte preliminar da fórmula, por anteceder a esta, se dava a denominação de praescriptio. Como se vê, esse termo – Praescriptio – nenhuma relação direta tinha com o conteúdo da determinação do pretor, mas derivava do caráter introdutório dessa determinação, porque era escrita antes, ou no começo da fórmula. Mas, por uma evolução conceitual, passou o termo a significar, extensivamente, a matéria contida nessa parte preliminar da fórmula, e daí

6 Quiritário vem de quiris (lança), que era o símbolo primitivo da força e do direito usado pelos

primeiros romanos. Servia, o nome quírite, para designar o romano, puro, verdadeiro. Domínio por direito dos quírites queria exprimir que estava sancionado pelo direito civil romano, oposição a outras formas menos perfeitas de propriedade. In: HENRIQUE, João. Direito romano. Porto Alegre: Globo, 1938.

7 LORENZETTI, Ari Pedro. A Prescrição no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 17.

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sua nova acepção de extinção da ação pela expiração do prazo de sua duração.8

A partir da presente pesquisa, observou-se que o instituto da prescrição

equivale à perda de uma ação alusiva a um direito subjetivo por decorrência do

decurso do prazo, determinado em lei, por inércia ou negligência do titular daquele

direito 9 . O titular de um direito tido como lesado, geralmente o defende até

determinado tempo. Após um certo lapso temporal, o desprendimento e a inércia

demonstram sua falta de interesse em face do seu direito, o que faz extinguir a

faculdade de defendê-lo10.

Por conseguinte, e segundo a lição de Clóvis Bevilácqua, apud

Washington de Barros Monteiro:

Prescrição é a perda da ação atribuída a um direito, e de toda a sua capacidade defensiva, em conseqüência do não-uso delas, durante um determinado espaço de tempo.11

Consoante o jurista Orlando Gomes, prescrição é “o modo pelo qual um

direito se extingue pela inércia, durante certo lapso de tempo, de seu titular, que fica

sem ação própria para assegurá-lo”.12

Câmara Leal, por sua vez, conceitua prescrição como sendo:

A extinção de uma ação ajuizável, em virtude da inércia de seu titular durante um certo lapso de tempo, na ausência de causas preclusivas de seu curso.13

Já, Caio Mário da Silva Pereira defende que prescrição é “o modo pelo

qual se extingue um direito (não apenas a ação) pela inércia do titular durante certo

lapso de tempo”.14

O entendimento mais moderno, segundo Carlos Roberto Gonçalves, é de

que a prescrição extingue a pretensão, consoante o atual Código Civil, que, “adotou

o vocábulo “pretensão”, para indicar que a prescrição se inicia no momento em que

há violação do direito”.15 O Código Civil Brasileiro16, assim dispõe sobre prescrição:

8 LEAL, Antônio Luiz da Câmara. Da Prescrição e decadência. São Paulo: Saraiva, 1939. 9 GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 14. ed. Rio de janeiro: Forense, 1999. 10 COSTA, Williams Coelho. A Prescrição à luz do novo código civil brasileiro e sua aplicação

intertemporal. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, ano 4, n. 186. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1409> Acesso em: 28 out. 2006.

11 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: parte geral. 28. ed. v. 1. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 306.

12 GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 14. ed. Rio de janeiro: Forense, 1999. 13 LEAL, Antônio Luiz da Câmara. Da Prescrição e decadência. São Paulo: Saraiva, 1939. 14 PEREIRA, Caio Mario. Instituições de direito civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. 15 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. 3. ed. São Paulo: Saraiva,

2006, p. 469.

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Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.

Ainda, segundo Carlos Roberto Gonçalves, “o direito material, violado, dá

origem à pretensão (CC, art. 189), que é deduzida em juízo por meio da ação.

Extinta a pretensão não há ação. Portanto, a prescrição extingue a pretensão,

atingindo também a ação.”17

Verifica-se, pelos conceitos acima mencionados, que para que haja a

prescrição, são necessárias duas condições, quais sejam: a inércia do titular do

direito subjetivo e o decurso do prazo previsto na lei para que o titular inicie a ação

na justiça. Esse é o entendimento de Silvio Rodrigues: “Dois são os requisitos

elementares para que se processe a prescrição. Em primeiro lugar, a inação do

titular do direito; em segundo, o transcurso do tempo”.18

1.2 IMPEDIMENTO E SUSPENSÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL

É a finalidade da prescrição, de acordo com San Tiago Dantas, apud Luís

Roberto Barroso:

A prescrição assegura que, daqui a diante, o inseguro é seguro; quem podia reclamar não mais pode. De modo que, o instituto da prescrição tem suas raízes numa das razões de ser da ordem jurídica: estabelecer a segurança nas relações sociais – fazer com que o homem possa saber com o que conta e com o que não conta.19

Existem causas que levam ao impedimento e à suspensão do prazo

prescricional, sobre as quais Silvio Rodrigues afirma que faz bem a lei em cuidar

conjuntamente de ambas, pois não há mister de distinguir coisas de idêntica

natureza 20 . Contudo, J. M. de Carvalho Santos diferencia as duas causas da

seguinte forma:

Tratando-se de impedimento, a causa impeditiva é precedente ao nascimento do direito de ação, e caso o direito manifeste-se, o lapso temporal não tem início; enquanto que na hipótese de suspensão, as

16 BRASIL. Código Civil Brasileiro. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:

<https://www.planalto.gov.br/>. Acesso em: 14 fev. 2007. 17 GONÇALVES, op. cit., p. 473. 18 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 328. 19 BARROSO, Luís Roberto. A Prescrição administrativa no direito brasileiro antes e depois da Lei n.

9.873/99. Revista Diálogo Jurídico, ano 1, v. 1, Salvador, 2001. 20 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 339.

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causas são supervenientes ao nascimento do direito. Assim, após o início do lapso temporal e advindo as causas, o prazo fica suspenso.21

Assim, se no impedimento não há início do lapso temporal, diferente será

na suspensão, na qual o prazo é paralisado. Conclui-se que, sobrestadas, extintas

ou afastadas as causas suspensivas, o lapso temporal volta ao curso normal como

se não tivesse parado, sem desprezar o tempo já passado.

O legislador conferiu imunidade a algumas pessoas pelo motivo de que,

por sua condição ou situação de fato, estão impedidas de agir, não correndo para

elas o prazo prescricional.

Dessa forma, o artigo 197 do Código Civil Brasileiro dispõe que não ocorre

a prescrição entre cônjuges, na constância do matrimônio; entre ascendentes e

descendentes, durante o pátrio poder; entre tutelados ou curatelados e seus tutores

ou curadores, durante a tutela ou curatela. Os incapazes também foram

resguardados pelo legislador e ainda, os ausentes do país, quando servidores do

Estado, e os serventes das Forças armadas, em tempo de guerra, conforme consta

do artigo 198 do mesmo instituto.

Do mesmo modo, a prescrição também não ocorre nas hipóteses

elencadas nos artigos 199, 200 e 201, todos do Código Civil Brasileiro, ipsis verbis:

Art. 199. Não corre igualmente a prescrição: I - pendendo condição suspensiva; II - não estando vencido o prazo; III - pendendo ação de evicção.

Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.

Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.

Tanto as causas de impedimento quanto de suspensão detém o

andamento da prescrição até que se resolva o motivo que impediu ou suspendeu o

seu curso, e quando isto ocorre, a prescrição retoma seu curso normal, computado o

tempo anteriormente decorrido. Ou seja, um funcionário da União, por exemplo, que

estiver morando em outro país, a serviço desta, desde janeiro de 2006, não perderá

o direito de cobrar judicialmente os aluguéis que não lhe foram pagos no ano de

2005, caso não retorne ao Brasil, e, conseqüentemente, não ajuíze junto ao Poder

Judiciário uma ação de cobrança, no prazo previsto no artigo 206, § 3º, inciso I do

21 SANTOS, J. M. de Carvalho. Código civil brasileiro interpretado: parte geral. 6. ed. v. 8. Rio de

Janeiro: Freitas Bastos, 1958.

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Código Civil Brasileiro, que é de três anos. Quer dizer, ele fica temporariamente

impedido de agir e, por conseguinte, seu prazo fica suspenso, iniciando ou

reiniciando a fluir a partir do momento de seu retorno definitivo ao Brasil, que é

quando termina a causa impeditiva. Contudo, o tempo de inércia, anterior a sua

viagem, será computado, e, o tempo de um ano (2005) será descontado do seu

prazo de ação, restando apenas mais dois anos para que o faça, sob pena de

prescrever seu direito de ação.

É o que explica a doutrinadora Maria Helena Diniz:

As causas impeditivas da prescrição são as circunstâncias que impedem que seu curso inicie e, as suspensivas, as que paralisam temporariamente o seu curso; superado o fato suspensivo, a prescrição continua a correr, computado o tempo decorrido antes dele.22

Sustenta, ainda, Washington de Barros Monteiro:

No tocante às causas que suspendem ou impedem o curso da prescrição, vale o lapso de tempo decorrido antes do fato impediente. Prescrita estará destarte a ação se adicionados os dois períodos, antes e depois do impedimento, se obtém espaço de tempo bastante para completar-se o prazo prescritivo.23

Por fim, Silvio Rodrigues afirma que “a suspensão da prescrição

independe de um comportamento ativo das partes, pois é a lei que determina, de

maneira que opera automaticamente”.24

1.3 INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL

Em relação à interrupção da prescrição, o legislador, no caput do artigo

202 do Código Civil Brasileiro, determinou que ocorrerá apenas uma vez,

diferenciando da suspensão pelo fato de que, conforme o artigo 203, “pode ser

interrompida por qualquer interessado”.

Sobre a interrupção da prescrição, Caio Mário afirma que “(...) a prescrição

fica interrompida quando ocorre um fato hábil a destruir o efeito do tempo já

decorrido, e em conseqüência anular a prescrição iniciada”.25

22 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2001. 23 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: parte geral. 28. ed. v. 1. São Paulo:

Saraiva, 1989, p. 318. 24 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 336. 25 PEREIRA, Caio Mario. Instituições de direito civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.

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O conceito de interrupção da prescrição por De Plácido e Silva é: “Diz-se

do fato que vem provocar a descontinuidade da prescrição, já iniciada, eliminando

do cálculo à sua efetividade o tempo decorrido anteriormente para que comece de

novo a sua contagem”.26

Os incisos do já mencionado artigo 202 trazem os casos em que a

prescrição deverá ser interrompida. Inicialmente, interrompe o prazo prescricional o

despacho de juiz, mesmo que incompetente, que ordenar a citação, caso o

interessado a promover no prazo e na forma da lei processual (CC, art. 202, I). Este

primeiro inciso é o mais polêmico, pois surge a dúvida de o que interromperia a

prescrição, se seria o mero despacho do juiz ou a citação válida do devedor, no

entanto, o artigo 219 do Código de Processo Civil27 consolida que é a citação válida

que interrompe a prescrição, retroagindo à data do despacho do juiz. O inciso II do

art. 202 traz a hipótese de interrupção por protesto judicial, já que houve ação por

parte do credor. O protesto cambial também é aceito como causa de interrupção da

prescrição. Da mesma forma, interrompe o prazo prescricional a “apresentação do

título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores” (art. 202, IV,

CCB), pois, como ensina Silvio Rodrigues, “aqui também se revela a solércia do

credor, interessado em defender sua prerrogativa”28 e consta do inciso III daquele

artigo. Assim como também interrompe a prescrição qualquer ato judicial que

constitua em mora o devedor, e por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial,

que importe o reconhecimento do direito pelo devedor, conforme incisos V e VI deste

artigo, respectivamente.

Conclui-se que, a principal diferença entre interrupção, suspensão e

impedimento dos prazos prescricionais é o fato de a primeira não computar o tempo

anterior à causa interruptiva, devendo ser contado, integralmente, após cessar a

26 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico: edição universitária. 3. ed. v. 1-2. Rio de Janeiro:

Forense, 1992. 27 Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda

quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição. § 1o A interrupção da prescrição retroagirá à data da propositura da ação. § 2o Incumbe à parte promover a citação do réu nos 10 (dez) dias subseqüentes ao despacho que a ordenar, não ficando prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário. § 3o Não sendo citado o réu, o juiz prorrogará o prazo até o máximo de 90 (noventa) dias. § 4o Não se efetuando a citação nos prazos mencionados nos parágrafos antecedentes, haver-se-á por não interrompida a prescrição. Lex: BRASIL. Código de Processo Civil. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/>. Acesso em: 14 fev. 2007.

28 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 328.

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causa interruptiva, como se o lapso anterior de tempo não tivesse iniciado, enquanto

que no impedimento e na suspensão, este tempo deve ser computado.

1.4 PRESCRIÇÃO EXTINTIVA E AQUISITIVA

Pode-se afirmar, consoante Sílvio Rodrigues e Washington de Barros

Monteiro, que a prescrição intervém nas relações jurídicas através de duas formas

diferentes: a primeira é a Prescrição Extintiva, na qual o indivíduo deixa de praticar a

ação que protegia o seu direito subjetivo, a qual foi, por vezes, mencionada nos

conceitos acima, e a segunda é a Prescrição Aquisitiva, ou, como também é

conhecida, Usucapião, “que consiste num modo de aquisição do domínio, através da

posse mansa e pacífica, por determinado espaço de tempo” 29 , ou seja, é a

incorporação ao patrimônio de um indivíduo, de um bem, móvel ou imóvel, por tê-lo

desfrutado por um largo período de tempo sem que o proprietário o impedisse.

Segundo Sílvio de Salvo Venosa, “a prescrição extintiva, prescrição

propriamente dita, conduz à perda do direito de ação por seu titular negligente, ao

fim de certo lapso de tempo, e pode ser encarada como força destrutiva”.30

Sobre a diferença entre prescrição extintiva e aquisitiva, Caio Mário afirma:

“Enquanto a prescrição extintiva concede ao devedor a faculdade de não ser

molestado, a aquisitiva retira a coisa ou o direito do patrimônio do titular em favor do

prescribente.”31

E, ainda, por Sílvio de Salvo Venosa:

A prescrição aquisitiva consiste na aquisição do direito real pelo decurso de tempo. Tal direito é conferido em favor daquele que possuir, com ânimo de dono, o exercício de fato das faculdades inerentes ao domínio ou a outro direito real, no tocante a coisas móveis e imóveis, pelo período de tempo que é fixado pelo legislador. São dois os fatores essenciais para a aquisição de direito real pelo usucapião: o tempo e a posse. O decurso de tempo é essencial, porque cria uma situação jurídica. A posse cria estado de fato em relação a um direito.32 (grifos do autor)

O usucapião está previsto no Código Civil Brasileiro, em seu Livro III - Do

Direito das Coisas, onde trata da aquisição da propriedade imóvel e móvel. Consta

29 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 329. 30 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 3. ed. v. 1. São Paulo: Atlas, 2003. 31 PEREIRA, Caio Mario. Instituições de direito civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. 32 VENOSA, op. cit.

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do seu art. 1238, que o prazo para usucapir imóvel é de quinze anos,

independentemente de título e boa-fé, o qual é reduzido para dez anos se o

possuidor nele residir ou houver realizado no imóvel obras ou serviços de caráter

produtivo. E, ainda, segundo o art. 1239, aquele que, não sendo proprietário de

imóvel rural ou urbano, possuir, por cinco anos ininterruptos, e sem oposição, área

em zona rural (não superior a cinqüenta hectares), tornando-a produtiva por seu

trabalho (ou o de sua família), adquire sua propriedade.

De igual modo, adquire o domínio quem possui imóvel urbano de até 250

metros quadrados se nele residir, por cinco anos ininterruptos e sem oposição (art.

1240, CCB). Já o usucapião de coisa móvel ocorre quando alguém possuir a coisa

como sua, contínua e incontestavelmente, durante três anos, com justo título e boa-

fé (art. 1260, CCB). Se a posse, contudo, prolongar-se por cinco anos, produz-se o

usucapião, independentemente do título e da boa-fé (art. 1261, CCB).

1.5 PRAZOS PRESCRICIONAIS

A prescrição é muito ampla e abrange todo o Direito. Quer nas suas

diversas bifurcações - Penal, Comercial, Civil, Trabalho, Tributário, Previdenciário,

Direito do Consumidor - quer nas legislações especiais, cada área específica possui

normas que estabelecem a ocorrência de prescrição do direito aferido àquele

campo. Lato sensu, o Código Civil Brasileiro, em seus artigos 205 e 206 trazem uma

larga relação das situações nas quais ocorrem a prescrição, com os devidos prazos,

quais sejam:

Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Art. 206. Prescreve: § 1o Em um ano: I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos; II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo: a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador;

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b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão; III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários; IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembléia que aprovar o laudo; V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade. § 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem. § 3o Em três anos: I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos; II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias; III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela; IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; V - a pretensão de reparação civil; VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição; VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo: a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima; b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar conhecimento; c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação; VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial; IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório. § 4o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas. § 5o Em cinco anos: I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular; II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato; III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.

Para Pontes de Miranda, os prazos prescricionais disfarçam a eficácia da

pretensão, acolhem a conveniência de que não persista por tempo excessivo a

exigibilidade ou a acionabilidade. Não extinguem o direito, não invalidam, não

apagam as pretensões. Servem à paz social e à segurança jurídica. 33

33 MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado. Atualizado por Vilson Rodrigues Alves. São

Paulo: Bookseller, 2000.

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1.6 IMPRESCRITIBILIDADE

Segundo Sílvio Venosa, a regra geral é ser toda ação prescritível 34 .

Contudo, tal regra não é absoluta. Não é outra a lição de Pontes de Miranda, se não

que “a prescrição, em princípio, atinge todas as pretensões e ações, quer se trate de

direitos pessoais, quer de direitos reais, privados ou públicos. A imprescritibilidade é

excepcional”.35

Caio Mário da Silva Pereira assim posicionou-se:

Cabe agora indagar quais os direitos sujeitos a prescrição, ou, inversamente; que direitos escapam a ela. E à pergunta é jurídico responder que a prescritibilidade é a regra, a imprescritibilidade, a exceção. Escapam-lhe aos efeitos aqueles direitos que se prendem imediatamente à personalidade ou ao estado das pessoas. Os direitos à vida, à honra, à liberdade, à integridade física ou a moral não se sujeitam a qualquer prescrição, em razão de sua própria natureza. Imprescritíveis são, igualmente, os modos de ser peculiares do indivíduo, como o estado de filiação, a qualidade de cidadania, a condição conjugal. Por maior que seja o tempo decorrido de inatividade do titular, nunca perecerão os direitos respectivos que sempre se poderão reclamar pelas ações próprias, uma vez que não é lícita a constituição de um estado que lhes seja contrário.36

No Direito brasileiro, são imprescritíveis os denominados direitos

facultativos ou potestativos37, como é o caso de o condômino exigir a divisão da

coisa comum (art.1.320, CCB) ou pedir sua venda (art. 1.323, CCB); e a faculdade

de pedir a meação do muro divisório entre vizinhos (art. 1.327, CCB). Silvio Venosa

diz que “trata-se de ações de exercício facultativo, que persiste enquanto persistir a

situação jurídica”. 38

Além disso, por força do parágrafo único do artigo 191, e do § 3º do

artigo 183 da Constituição da República Federativa do Brasil de 198839, os bens

públicos não podem ser adquiridos por usucapião, sendo, destarte, imprescritíveis.

Como exemplos de ações imprescritíveis, podem-se citar as que

abordam os direitos da personalidade, como nome e nacionalidade; os bens

públicos; e os direitos de família, como divórcio e investigação de paternidade.

34 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 3. ed. v. 1. São Paulo: Atlas, 2003. 35 MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado. Atualizado por Vilson Rodrigues Alves. São

Paulo: Bookseller, 2000. 36 PEREIRA, Caio Mario. Instituições de direito civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. 37 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 3. ed. v. 1. São Paulo: Atlas, 2003. 38 Idem. 39 A Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada em 05 de outubro de 1988; Para

referir-se a ela, nesta monografia, será utilizada a abreviação CRFB/88.

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Orlando Gomes assim classificou as ações imprescritíveis: “1) os direitos

que pertencem ao sujeito independentemente de sua vontade; 2) os direitos cuja

falta de exercício não possa ser atribuída à inércia do titular; 3) os direitos sem

pretensão”.40

1.7 PRESCRIÇÃO E INSTITUTOS AFINS

Outro efeito do tempo nas relações jurídicas é a “Decadência”, que muito

se assemelha à prescrição, pois ambos os institutos se fundam na inércia do titular

do direito, durante certo lapso de tempo.41

Já foi visto, nesta monografia que, na prescrição o sujeito de um direito

subjetivo, após um lapso temporal, previsto em lei, perde o direito de propor a ação

que protege àquele direito, por sua falta de atuação. Já a decadência “é o

perecimento do direito, em razão do seu não-exercício em um prazo

predeterminado”42, ou seja, a decadência extingue diretamente o direito subjetivo, e

por conseqüência a ação que o resguarda.

É o conceito de decadência para Câmara Leal:

A decadência é a extinção do direito pela inação de seu titular que deixa de escoar o prazo legal ou voluntariamente fixado para seu exercício. O objeto da decadência é o direito que, por determinação legal ou por vontade humana unilateral ou bilateral, está subordinado à condição de exercício em certo espaço de tempo, sob pena de caducidade.43

Afirma Washington de Barros Monteiro, sobre a diferenciação que existe

entre prescrição e decadência:

A prescrição atinge diretamente a ação e por via oblíqua faz desaparecer o direito por ela tutelado; a decadência, ao inverso, atinge diretamente o direito e por via oblíqua, ou reflexa, extingue a ação.44

Santoro Passarelli, apud Orlando Gomes, assim caracteriza os dois

institutos:

O fundamento e a razão da decadência diferem daqueles da prescrição porque a decadência não depende, como a prescrição, do fato subjetivo da

40 GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 14. ed. Rio de janeiro: Forense, 1999. 41 VENOSA, op.cit. 42 PEREIRA, Caio Mario. Instituições de direito civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. 43 LEAL, Antônio Luiz da Câmara. Da Prescrição e decadência. Rio de Janeiro: Forense, 1978. 44 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: parte geral. 28. ed. v. 1. São Paulo:

Saraiva, 1989, p. 306.

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inércia do titular durante um certo lapso de tampo, mas unicamente do fato objetivo da falta de exercício do direito no tempo estabelecido, e é inspirada não na exigência de ajustar a situação do direito à situação de fato que durou tempo considerado suficiente; mas na de limitar no tempo o exercício de um direito quando a limitação seja conveniente a um interesse superior ou individual. Opera em situações incertas que se querem definir de qualquer modo em prazo peremptório.45 (grifos do autor)

Distinguindo prescrição de decadência, pode-se afirmar que a prescrição

atinge a ação e por via oblíqua faz desaparecer o direito, enquanto que decadência

ao contrário, faz desaparecer o direito e por via oblíqua extingue a ação. O prazo

prescricional é estabelecido apenas por lei, já o decadencial pode ser estabelecido

também por vontade unilateral ou bilateral. A prescrição nasce somente quando o

direito é violado, já a decadência nasce juntamente com o direito. A decadência não

suspende nem interrompe e não pode ser renunciada, se o prazo for estabelecido

por lei.46

Ainda, ao falar de prescrição, é necessário conceituar os institutos

processuais da preclusão e da perempção, eis que estes, como aquela, também

sofrem a influência do decurso do tempo.

Preclusão, segundo Carlos Roberto Gonçalves é “a perda de uma

faculdade processual, por não ter sido exercida no momento próprio. Só produz

efeitos dentro do próprio processo em que advém.”47

Perempção é a perda do direito de ação pelo autor que deu causa a três

arquivamentos sucessivos ao processo, não extinguindo nem o direito material e

nem a pretensão, que passam a ser oponíveis apenas como defesa.48

1.8 PRESCRIÇÃO TRABALHISTA

A redação original da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, ao dispor sobre os direitos sociais, em seu artigo sétimo, estabeleceu que os

créditos resultantes das relações de trabalho prescrevem em cinco anos para os

45 GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 14. ed. Rio de janeiro: Forense, 1999. 46 GRASSI NETO, Roberto. Curso de direito civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. 47 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. 3. ed. São Paulo: Saraiva,

2006, p. 472. 48 Idem, p. 472.

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trabalhadores urbanos, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de

trabalho. No entanto, com a Emenda Constitucional n. 28, de 25.05.2000, o

trabalhador rural foi equiparado ao urbano, e, com isto, lhe foi estendida à

prescrição, nos mesmos termos do trabalhador urbano.

Ari Pedro Lorenzetti acredita que quando se fala em prescrição qüinqüenal

ou bienal não se está tratando de espécies diferentes de prescrição, já que o meio

de exigir judicialmente os direitos trabalhistas é um só”.49 Afirma o autor que:

[...] basta que o demandado invoque a prescrição, devendo o juiz aplicá-la conforme está na lei. Não é preciso que a parte cite a regra jurídica em que se funda. E, mesmo que a parte indique texto legal inaplicável à espécie, deve o juiz acolher a alegação e fazer incidir a norma cabível.50

O que advém com o prazo prescricional trabalhista, previsto tanto na

Constituição Federal quanto na Consolidação das Leis Trabalhistas (art. 11)51, é que

o legislador disciplinou que o empregado pode apenas demandar seus direitos

referentes aos últimos cinco anos, é o que se chama prescrição qüinqüenal, a partir

do ajuizamento da ação trabalhista, conforme súmula 308 do TST52, pois os direitos

que lhe foram suprimidos ou violados no tempo antecedente a este período,

presumem-se aceitos pelo mesmo, já que prosseguiu com a relação de trabalho. O

legislador, ainda, impôs outro limite ao empregado, o qual só pode ajuizar a ação

trabalhista até o limite de dois anos, é o que se chama de prescrição bienal, após a

rescisão do seu contrato de trabalho, pois se ele não fazê-lo dentro deste lapso

temporal, entende-se que houve perda do interesse de reaver os seus créditos.

O contrato de trabalho caracteriza-se como de trato sucessivo, podendo

ocorrer situações em que as violações aos direitos do empregado repetem-se e

atingem prestações periódicas. Isto quer dizer que, créditos trabalhistas não pagos

ou pagos em desacordo com o pactuado, ofendem o empregado todas as vezes que

este recebe o seu salário, pois, mesmo quando receber um aumento salarial, o valor

que não lhe foi incorporado faz diferença. É o que explica Isis de Almeida, ipsis

litteris: 49 LORENZETTI, Ari Pedro. A Prescrição no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 146. 50 Idem, p. 147. 51 BRASIL. Consolidação das Leis Trabalhistas: Decreto-lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943.

Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/>. Acesso em: 14 fev. 2007. 52 Súmula nº 308 do Tribunal Superior do Trabalho: A norma constitucional que ampliou a prescrição

da ação trabalhista para 5 (cinco) anos é de aplicação imediata, não atingindo pretensões já alcançadas pela prescrição bienal, quando da promulgação da Constituição de 1988. Lex: BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 308. Disponível em: <www.tst.gov.br>. Acesso em: 20 mar. 2007.

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Acontece, porém, que no contrato de trabalho, a supressão de uma vantagem ou o descumprimento de uma condição resultam quase sempre em uma infração continuada, uma vez que os efeitos se repetem ao longo da prestação laboral, tendo em vista o trato sucessivo do ajuste, que não se revela em uma única operação de débito e crédito. Se o empregado recebe todos os meses um abono, ou, cada seis meses, uma gratificação, a supressão de um ou de outra é “sentida”, é constatada, todos os meses ou em cada seis meses, respectivamente, e, portanto, em cada mês ou em cada seis meses, nasce o direito da ação que vai pleitear os pagamentos suprimidos. Daí se entender que, quando o ato violador do direito produz efeitos repetidos, constitui, enfim, uma infração continuada, a prescrição opera sobre a ação que estaria pleiteando cada parcela sonegada.53

É a isso que se chama prescrição parcial. E, para tanto, a Súmula n. 168

do TST, afirmava que: “Na lesão de direito que atinja prestações periódicas, de

qualquer natureza, devidas ao empregado, a prescrição é sempre parcial e se conta

do vencimento de cada uma delas, e não do direito do qual se origina”.54 Contudo,

em 1985, esta súmula foi revogada e deu lugar à de número 198, que foi aprovada

nos seguintes termos: “Na lesão de direito individual que atinja prestações periódicas

devidas ao empregado, à exceção da que decorre de ato único do empregador, a

prescrição é sempre parcial e se conta do vencimento de cada uma dessas

prestações, e não da lesão do direito”.55

Contudo, em 1989, foi criada por aquele Tribunal Superior, a Súmula nº

294, a qual derrogou todas as outras (súmulas nº 168 e nº 198) sobre o assunto, e

assim dispôs56: “Tratando-se de ação que envolva pedido de prestações sucessivas

decorrente de alteração do pactuado, a prescrição é total, exceto quando o direito à

parcela esteja também assegurado por preceito de lei”.57 (grifado).

A prescrição total, no direito do trabalho, incidiria essencialmente naquelas

obrigações que se concentram em um único ato, não se desdobrando no tempo,

como por exemplo, o dano moral resultante de uma única ofensa cometida.58

Como visto anteriormente quando citados os conceitos de prescrição, não

é o direito violado que sofre ação da prescrição, mas sim a ação de reparação deste

direito, e, como a pretensão de agir se renova a cada momento em que o titular é 53 ALMEIDA, Isis de. Manual da prescrição trabalhista. São Paulo: LTr, 1990, p. 73. 54 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 168. Disponível em: <www.tst.gov.br>. Acesso

em: 20 mar. 2007. 55 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 198. Disponível em: <www.tst.gov.br>. Acesso

em: 20 mar. 2007. 56 ALMEIDA, Isis de. Manual da prescrição trabalhista. São Paulo: LTr, 1990, p. 88. 57 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 294. Disponível em: <www.tst.gov.br>. Acesso

em: 20 mar. 2007. 58 LETÍCIA. Curso de direito do trabalho. Disponível em:

<http://www.diex.com.br/material/int_trabalho/comentarios_2fase_06_01.pdf>. Acesso em 31 out. 2006.

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prejudicado, a prescrição só alcança a parcela reparadora devida durante prazo

qüinqüenal, tornando-se então, parcial. Porém, se passados cinco anos da lesão

originária do direito, opera-se a prescrição total.59

Assim entende Maurício Godinho Delgado:

Assim, irá se firmar no instante da lesão – e de surgimento conseqüente da pretensão – caso não assegurada a parcela especificamente por preceito de lei (derivando, por exemplo, de regulamento empresarial ou contrato). Dá-se, aqui, a prescrição total, que corre desde a lesão e se consuma no prazo qüinqüenal subseqüente (se o contrato estiver em andamento, é claro). Consistindo, entretanto, o título jurídico da parcela em preceito de lei, a actio nata incidiria em cada parcela especificamente lesionada. Torna-se, desse modo, parcial a prescrição, contando-se do vencimento de cada prestação periódica resultante do direito protegido por lei.60 (grifado)

Está claro que a Súmula nº 294 do Tribunal Superior do Trabalho abriu

brechas para interpretações, dividindo em dois o modo de aplicar a prescrição, e,

portanto, não há um ponto de equilíbrio nos julgados, mas sim, dois entendimentos

admissíveis, quais sejam, a prescrição total e a parcial, como se verifica nas

ementas dos seguintes acórdãos:

PRESCRIÇÃO TOTAL. INCIDÊNCIA. A concretização da prescrição ocorre no momento em que o ato acoimado de lesivo passou a produzir os seus efeitos e a partir do qual, segundo o princípio da actio nata, surgiu o interesse jurídico dos autores de buscar a reparação pertinente na esfera judicial. (RO-04796-2005-037-12-00-3, 3ª Turma, TRT/12, rel. Juíza Teresa Regina Cotosky, j. 9-8-2006, v.u., in DJ/SC, 46.)

PRESCRIÇÃO TOTAL. AÇÃO AJUIZADA APÓS O LIMITE DE DOIS ANOS DA EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO. Está prescrita a ação ajuizada após o limite de dois anos da extinção do contrato de trabalho para haver do ex-empregador o pagamento das diferenças da indenização compensatória do FGTS decorrentes de expurgos inflacionários. (RO-04681-2004-016-12-00-7, 2º Turma, TRT/12, rel. Juiz Geraldo José Balbinot, j. 27-7-2006, v.u., in DJ/SC, 36.)

BESC. AUMENTO COMPENSATÓRIO ESPECIAL. PRESCRIÇÃO PARCIAL CONTADA DA RENOVAÇÃO DA LESÃO. Perpetrando-se a incidência de ato lesivo mês a mês pela não-incorporação de percentual de aumento compensatório, a prescrição é sempre parcial em consonância com o disposto na Súmula n° 294 do TST. (RO–06825-2004-001-12-00-0, 3ª Turma, TRT/12, rel. Juíza Ligia M. Teixeira Gouvêa, j. 2-12-2005, v.u., in DJ/SC, 249.) PRESCRIÇÃO. HORAS EXTRAS PRÉ-CONTRATADAS. AFRONTA À NORMA LEGAL. RENOVAÇÃO DO DIREITO DE AÇÃO A CADA MOMENTO EM QUE O TITULAR É PREJUDICADO. A inobservância das disposições legais referentes à duração normal do trabalho dos

59 ALMEIDA, Isis de. Manual da prescrição trabalhista. São Paulo: LTr, 1990, p. 78. 60 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2006.

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empregados bancários, como a pré-contratação de horas extras, consubstancia lesão a direito que se renova a cada mês, sendo aplicável tão-somente a prescrição parcial, que atinge apenas as parcelas devidas há mais de cinco anos. (RO 00664-2003-008-12-85-8, 3ª Turma, TRT/12, rel. Juíza Gisele P. Alexandrino, j. 6-6-2005, v.u., in DJ/SC, 224.)

Como se extrai dos citados acórdãos, a prescrição total é aquela aplicada,

a partir da consumação do ato, no prazo de cinco anos. Enquanto que a parcial é

aplicada ao ato que se renova periodicamente, incidindo apenas para os atos

cometidos há mais de cinco anos, sem desrespeitar o limite de dois anos após o fim

do contrato de trabalho.

1.8.1 Prescrição dos direitos do trabalhador rural

Como já mencionado, a Emenda Constitucional nº 28/2000, equiparou o

trabalhador rural ao urbano, sanando a desigualdade entre aquelas duas classes de

trabalhadores, respeitando o princípio da isonomia. Com a promulgação desta

Emenda, e possuindo ela valor constitucional, houve a derrogação automática do

artigo 11 da Consolidação das Leis do Trabalho (na redação dada pela Lei nº

9.658/98), bem como do artigo 10 da Lei nº 5.889, de 08/06/73, que trata das regras

do trabalho rural.61

Anteriormente à Emenda nº 28, determinava a CRFB/88 que “a cada cinco

anos o empregador rural deveria provar, perante a Vara do Trabalho, o cumprimento

de suas obrigações trabalhistas para com o trabalhador rural”. 62 Contudo, a

inexistência do prazo prescricional para a extinção dos direitos trabalhistas na

vigência do contrato de trabalho rural trouxe insegurança jurídica nas relações

contratuais entre empregador e empregado dessa categoria porque o vínculo laboral

dessa classe perdura, no mais das vezes, por décadas de prestação de trabalho

para o mesmo empregador, e a este último restava a obrigação de guardar todos os

61 LORENZETTI, Ari Pedro. A Prescrição no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 179. 62 SUSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, Segadas; et al. Instituições de direito do

trabalho. 19. ed. v. 2. São Paulo: LTr, 2002.

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recibos de quitação das obrigações trabalhistas pelo longo período da relação

contratual até dois anos contados da rescisão do pacto.63

Em um primeiro momento, sugere Glauce de Oliveira Barros, a

imprescritibilidade dos direitos do trabalhador rural parece benéfica a ele, mas é

antagônico, pois a realidade do rural difere muito do urbano, eis que é notório o fato

de existir entre empregador e empregado do meio rural, laços de amizade,

imperando entre as partes uma confiança idêntica a do sistema familiar. O que

ocorria, era que o empregador via-se na possibilidade de abalar a harmonia

existente no ambiente de trabalho, ao compelir o seu empregado a lhe passar recibo

de quitação das obrigações que lhe houvera pagado, pois fazia com que o

empregado acreditasse não ser digno da confiança do empregador que não

acreditava em sua "palavra", motivo pelo qual estava a lhe exigir os recibos.64

Conclui-se que a Emenda Constitucional nº 28/2000 que atribuiu nova

redação à CRFB/88, cessou o inconformismo dos empregadores rurais,

proporcionando a aclamada segurança jurídica e restabelecendo a igualdade laboral

entre trabalhadores urbanos e rurais.

1.8.2 Prescrição dos direitos dos domésticos

A categoria dos empregados domésticos é, historicamente, apartada das

regras aplicáveis aos demais empregados.

No parágrafo único do art. 7º da Constituição da República Federativa do

Brasil, estão elencados todos os direitos assegurados aos domésticos, que são:

salário mínimo, capaz de atender suas necessidades vitais básicas e as de sua

família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,

transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder

aquisitivo; irredutibilidade do salário; décimo terceiro salário com base na

remuneração integral; repouso semanal remunerado, preferencialmente aos 63 BARROS, Glauce de Oliveira. Emenda 28 e o marco inicial da prescrição dos direitos do

trabalhador rural. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 44, ago. 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1174>. Acesso em: 08 out. 2006.

64 BARROS, Glauce de Oliveira. Emenda 28 e o marco inicial da prescrição dos direitos do trabalhador rural. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 44, ago. 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1174>. Acesso em: 08 out. 2006.

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domingos; gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do

que o salário normal; licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com

a duração de cento e vinte dias; licença-paternidade, nos termos fixados em lei;

aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias;

aposentadoria; integração à previdência social.

Assim, o empregado doméstico, constitucionalmente, continuou excluído

de direitos importantes como proteção contra despedida arbitrária sem justa causa,

seguro desemprego, que foi suprido mais tarde, com o advento da lei nº 7.998/90,

fundo de garantia por tempo de serviço, que se tornou facultativo com a

promulgação da lei nº 10.208/01, proteção do salário, ação quanto aos créditos

resultantes das relações de trabalho e prazo prescricional, e principalmente, seguro

contra acidente de trabalho e sua respectiva indenização.

Quanto à prescrição, houve grande discussão acerca deste tema, e hoje

há uma corrente, amplamente dominante, a qual dispõe que o prazo prescricional

aplicável ao contrato doméstico é aquele próprio aos trabalhadores urbanos e rurais

consubstanciado pelo art. 7º, XXIX, da CRFB/88.65

1.8.3 Prescrição do fundo de garantia por tempo de serviço – FGTS

O FGTS, criado pela lei nº 5.107/66, e atualmente disciplinado pela lei nº

8.036/90, consiste em depósitos obrigatórios, realizados mensalmente pelo

empregador em conta vinculada do empregado, com base na remuneração deste.66

Em razão de sua natureza complexa, já que a doutrina discute se o FGTS

é crédito trabalhista ou mera contribuição social, há uma imprecisão sobre seu prazo

prescricional.67

Alguns doutrinadores, como Délio Maranhão e Arnaldo Süssekind

consideram o FGTS crédito trabalhista, devendo ser-lhe aplicado o prazo trabalhista.

Já Carlos Henrique da Silva Zangrando, entende ter o FGTS natureza

jurídica meramente indenizatória, in verbis:

65 LORENZETTI, Ari Pedro. A Prescrição no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 185. 66 Idem, p. 194. 67 Idem, p. 195.

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É um meio sagazmente concebido de permitir a indenização do empregado pela despedida injustificada, proporcionalmente ao seu tempo de serviço e ao salário. Assim, apesar das ilustres posições em contrário, não temos dúvida em afirmar que a natureza jurídica do FGTS é puramente indenizatória.68

Sérgio Pinto Martins entende que o FGTS possui natureza jurídica híbrida,

uma vez que deve ser distinguida sob dois ângulos: o ponto de vista do empregado e

o do empregador.69 Para o empregado, é "um crédito feito na conta vinculada do

trabalhador, uma espécie de poupança forçada feita em seu proveito". 70

Porém, para o empregador, o FGTS tem natureza de tributo, especialmente de

contribuição social.71

Segundo Lorenzetti72 após grandes divergências quanto a qual dispositivo

prescricional deveria ser aplicado às ações de FGTS, através da redação

determinada pela Resolução nº 121, de 28 de outubro de 2003, o entendimento do

Tribunal Superior do Trabalho restou sedimentado na súmula nº 362, a qual dispõe:

362. FGTS. Prescrição - É trintenária a prescrição do direito de reclamar contra o não-recebimento da contribuição para o FGTS, observado o prazo de 2(dois) anos após o término do contrato de trabalho.73

Oportuno ressaltar que o prazo para pleitear judicialmente os depósitos do

FGTS é trintenário, desde que observado, o biênio legal para ajuizamento da ação

reclamatória.

1.8.4 Prescrição e as anotações na carteira de trabalho e previdência – CTPS

A CTPS é um documento expedido pelo Ministério do Trabalho, com todos

os sinais de identificação do trabalhador, destinada a registrar as suas atividades

profissionais nos estabelecimentos em que trabalha.74 Este instrumento é obrigatório

para o exercício de qualquer emprego ou atividade profissional remunerada. Bem

68 ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Resumo de direito do trabalho. 5. ed. Rio de Janeiro:

Edições Trabalhistas, 2000. 69 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 70 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 71 Idem, 2002. 72 LORENZETTI, Ari Pedro. A Prescrição no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 201 73 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 362. Disponível em: <www.tst.gov.br>. Acesso

em: 20 mar. 2007. 74 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico: edição universitária. 3. ed. v. 1-2. Rio de Janeiro:

Forense, 1992.

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como, é obrigatória a anotação na mesma, pelo empregador, de “todos os dados

relativos à admissão no emprego, duração e efetividade do trabalho, férias,

acidentes e tudo mais que interesse à proteção do trabalhador”.75

De fato, a CTPS é de fundamental importância para o empregado, eis que

lhe possibilita o reconhecimento de seus direitos trabalhistas e previdenciários. Tanto

que não existe prazo prescricional para anotação na CTPS, de acordo com o §1º do

art. 11 da Consolidação das Leis do Trabalho, in verbis:

Art.11. O direito de ação quanto a créditos resultantes das relações de trabalho prescreve: [...] §1º o disposto neste artigo não se aplica às ações que tenham por objeto anotações para fins de prova junto à Previdência Social.

E ainda, de acordo com o ensinamento de Alice de Barros Monteiro:

Não flui a prescrição da pretensão cujo objeto seja anotação na CTPS ou de outro documento para fins de prova junto à Previdência Social (art.11, § 1º, CLT, com nova redação dada pela Lei 9.658, de junho de 1998). Isso porque, nesses casos, a ação é declaratória e visa apenas ao reconhecimento do liame empregatício. Jurisprudência em contrário está hoje superada.76

Ao término deste capítulo, anota-se que a decadência no direito do

trabalho é apenas admitida em caso de inquérito para apuração de falta grave

imputada ao empregado estável, prazo este de trinta dias a contar da suspensão do

contrato de trabalho do acusado.77

75 SUSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, Segadas; et al. Instituições de direito do

trabalho. 19. ed. v. 2. São Paulo: LTr, 2002, p. 769. 76 MONTEIRO, Alice de Barros. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2005. 77 ALMEIDA, Isis de. Manual da prescrição trabalhista. São Paulo: LTr, 1990, p. 209.

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Capítulo 2

2. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004

2.1 ASPECTOS GERAIS DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004

A 45ª emenda à Constituição da República Federativa do Brasil, foi

promulgada em 08 de dezembro de 2004, recebendo o “nome” de Reforma do Poder

Judiciário e era esperada por muito tempo, conforme Soares Filho, in verbis:

É fruto de um projeto que tramitou no Congresso Nacional por quase treze anos e que foi aprovado em parte – em relação aos temas de certo modo consensuais - restando para apreciação e votação, pois, alguns mais polêmicos e que encontram resistência, especialmente, no âmbito do Poder Judiciário, tais como o pertinente à escolha direta dos dirigentes dos Tribunais por todos os juízes sob sua jurisdição (e não apenas os integrantes daquelas Cortes), bem assim o que proíbe a nomeação, para os cargos em comissão, ou de confiança, de parentes de juízes até o terceiro grau na ordem civil (fim do nepotismo).78

Pode-se afirmar que a Emenda foi um progresso no sistema jurídico

brasileiro, pois trouxe grandes avanços, verificando-se entre os mais importantes a

ampliação da competência da Justiça do Trabalho. A reforma do Poder Judiciário, na

opinião de José Eduardo Cardozo, não é uma simples reforma, mas traduz-se em

grandes aprimoramentos, abordando temas importantes e profundos..79

Sobre o histórico da proposta àquela Emenda, assim narrou Carolina

Tupinambá, em sua obra, ipsis verbis:

O ano é 1992. O Brasil era apenas Tricampeão da Copa do Mundo. No Rio de Janeiro, realizava-se a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Do outro lado do mundo, croatas bósnios e muçulmanos da Bósnia Herzegovina instituem plebiscito pela emancipação do território. A recusa da minoria sérvia em desacatar a decisão desencadeia violento conflito na região. Voltando ao Brasil, para defender os interesses da classe e reivindicar melhorias no sistema educativo, nasce o SINAPROF, considerado o primeiro sindicato livre e independente do âmbito. No cenário político, a Câmara instaura uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as denúncias contra PC Farias. O Congresso vota

78 SOARES FILHO, José. Alguns aspectos da reforma do judiciário. Jus Navigandi, Teresina, ano 9,

n. 575, 2 fev. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6269>. Acesso em: 03 out. 2006.

79 CARDOZO, José Eduardo. Carta aberta sobre a reforma do poder judiciário. Disponível em: <http://www.joseeduardocardozo.com.br/reformaDoJudiciario_carta_1.asp> . Acesso em: 02 out .2006.

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e aprova impeachment do Presidente Collor que, posteriormente, assina sua renúncia. Itamar Cutiero Franco assume a presidência em caráter efetivo. Mil novecentos e noventa e dois foi tormentoso para todos. Em março deste fatídico ano, dia 26, pela primeira vez, o Deputado Hélio Bicudo apresenta proposta de Emenda Constitucional que modificaria a estrutura de o Poder Judiciário nacional. As discussões resistiram apenas até setembro, quando, após parecer do relator pela admissibilidade da proposta, o assunto foi deixado de lado. Em abril de 1995 o senador Antônio Carlos Magalhães vai à tribuna do Senado federal e discursa por cerca de uma hora, o que o faz finalizando com duas críticas ao Poder Judiciário. Esbravejou que a referida Instituição seria morosa, corporativista e nepotista. Acusou o Terceiro poder de interferir indevidamente no Legislativo. Disse, ainda, que, dos Poderes da República, era o que mais precisaria ser reformado. A imprensa e a opinião pública não davam descanso. Em gosto do mesmo ano foi constituída comissão destinada a proferir parecer sobre a proposta da reforma, outrora jogada a escanteio. Ao longo dos anos, com freqüência quase regular, várias propostas foram apensadas e muitas emendas apresentadas à idéia original. Em março de 1999, novo discurso incisivo em plenário. O presidente do Senador, Antônio Carlos Magalhães, encaminha formalmente à Mesa requerimento para a instalação da CPI do Judiciário. Em junho do mesmo ano, em mais um dos encontros das Jornadas Brasileiras de Direito Processual Civil, em Salvador, Bahia, foi aprovada moção após debate entre mais de 60 processualistas expositores de idéias. A comunidade científica apresentaria propostas ao substitutivo do deputado Aloysio Nunes Ferreira ditadas por posição, em tese, eqüidistante e desvinculada de interesses corporativos. Os estudiosos justificaram a relevância de preocupação com a Reforma a porvir estando a matéria afeta ao acesso à Justiça, traduzindo por um processo rápido, simples e democrático. A partir de então, o Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP) inserir-se-ia na reforma do Judiciário como interlocutor qualificado, representando a comunidade científica brasileira junto aos membros do Poder Legislativo. Sua atuação consistiria: a) no encaminhamento da moção aos parlamentares; b) na apresentação de sugestões ao substitutivo; c) no acompanhamento da tramitação legislativa. A Comissão do IBDP, para este fim, fora integrada por Ada Pellegrini Grinover, Kazuo Watanabe, Sidnei Agostinho Beneti e Petrônio Calmon Filho.[...] 80

A proposta tornou-se PEC 96-C/92, publicada em maio de 2000. Neste

mesmo ano foi aprovada a redação final oferecida pela deputada Zulaiê Cobra. E,

finalmente, no ano de 2005, o Senado Federal aprovou a proposta, que se tornou

PEC 358/05, para mais tarde se transformar na tão aguardada Emenda

Constitucional nº 45/2004.81

O primeiro dispositivo acrescentado pela Emenda Constitucional nº

45/2004, foi o inciso LXXVIII do artigo 5º da Constituição Federal, concernente ao

princípio da celeridade processual. Acrescentou o § 3º àquele artigo, concedendo

80 TUPINAMBÁ, Carolina. Competência da justiça do trabalho à luz da reforma constitucional.

Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 81. 81 Idem, p. 87.

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status de Emenda Constitucional às normas de tratados internacionais de direitos

humanos, se aprovadas, em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por

três quintos dos votos dos respectivos membros. Acrescentou que o Brasil deve se

submeter expressamente à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação

tenha manifestado adesão (artigo 5º, § 4º da CF).

A Emenda deslocou a competência para apreciação do pedido de

intervenção federal fundado em recusa à execução de lei federal para o Supremo

Tribunal Federal (artigo 36, III e IV da CF). Muniu de autoridade o Senado Federal

para julgar, nos crimes de responsabilidade, os membros do Conselho Nacional de

Justiça e Conselho Nacional do Ministério Público (artigo 52, II da CF). Determinou

que a sede do Conselho Nacional de Justiça deve ser na Capital Federal (artigo 92,

§ 1º da CF).

A Emenda Constitucional nº 45/2004, também fez modificações - ou

atualizações – no Estatuto Constitucional da Magistratura, dentre as quais estão: a)

a exigência de o bacharel em Direito ter no mínimo três anos de atividade jurídica

para ingressar na Magistratura e no Ministério Público (artigo 93, I da CF); b) a

extinção do recesso forense, declarando que a atividade jurisdicional deve ser

ininterrupta, sendo vedada as férias coletivas nos tribunais de 2º grau e obrigando o

plantão permanente de juízes nos dias em que não houver expediente forense

normal (artigo 93, XII da CF); c) a instituição de quarentena de saída para membros

da magistratura, vedando ao magistrado que se aposenta ou é exonerado, o

exercício da advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou antes de decorridos

três anos de seu afastamento do cargo (artigo 95, § 1º, V da CF).

Quanto à destinação das custas judiciais, o novo texto do § 2º do artigo 98

da Constituição Federal, diz que as custas e emolumentos deverão ser destinados

exclusivamente ao custeio dos serviços afetos às atividades específicas da Justiça.

Houve alterações, quanto ao orçamento dos tribunais e do Ministério

Público. Os artigos 99, § 3º, e 127, § 4º, da CRFB/88, dispõem que, se não houver

encaminhamento da proposta orçamentária no prazo legal, prevalecerão os valores

aprovados para o orçamento vigente. Ainda, nos artigos 99, § 4º, e 127, § 5º, da

CRFB/88, consta que se a proposta encaminhada desatender os limites

estabelecidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias, o Poder Executivo efetuará os

ajustes necessários, não podendo as despesas e obrigações assumidas na

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execução orçamentária extrapolar os limites daquela lei, salvo mediante prévia

abertura de crédito suplementar ou especial (artigo 99 § 5º e 127, § 6º).

Outra grande inovação da Emenda foi quanto às competências do

Supremo Tribunal Federal. O artigo 102, I, h, da CRFB/88, deslocou para o Superior

Tribunal de Justiça a competência para homologação de sentença estrangeira e

concessão do exequatur às cartas rogatórias, o que anteriormente era daquele

Supremo Tribunal. Em contrapartida, o STF passou a ser competente para julgar

ações contra o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério

Público (artigo 102, I, r da CF). E, ainda, assimilou a competência para julgar

mediante recurso extraordinário as ações que julguem válida a lei local em face da

lei federal (arts.102, III, d, e 105, III, b, da CRFB/88). Esta competência foi suprimida

do STJ.

A nova letra do § 2º do artigo 102 da CRFB/88 atribuiu efeito vinculante às

Ações Diretas de Inconstitucionalidade. Este dispositivo vem explicitar o efeito e

endereçá-lo à administração pública, direta ou indireta em todas as esferas, e

merece ser colacionado, ipsis litteris:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: [...] § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

Ainda no mesmo dispositivo, o § 3º acrescentou um requisito de

admissibilidade ao Recurso Extraordinário, que consiste na demonstração da

repercussão geral das questões constitucionais aventadas no caso. O recurso

apenas pode ser recusado se o fizerem dois terços dos membros da corte.

Foi ampliada a legitimação para propositura da Ação Declaratória de

Constitucionalidade, estendendo-se aos mesmos legitimados para propor Ação

Direta de Inconstitucionalidade (artigo 103 e incisos da CRFB/88). Houve, inclusive,

expansão da legitimação para propor aquelas Ações, para as Mesas da Câmara

Legislativa Distrital e para o Governador do Distrito Federal.

Outro tema de grande repercussão foi o aditamento pela Emenda

Constitucional nº 45/2004 à CRFB/88 do artigo 103-A, que institui a Súmula

Vinculante, dispondo que o Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por

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provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, depois de

reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua

publicação, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário

e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal,

bem como proceder a sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.82

Da decisão que aplicar indevidamente a súmula caberá reclamação ao próprio

Supremo (artigo 103-A, § 3º da CF).

Acrescentou-se, ainda, o artigo 103-B à CRFB/88, o qual criou o Conselho

Nacional de Justiça, com as atribuições de fiscalizar e disciplinar as gestões

administrativas, financeiras e correicional dos Tribunais, ressalvada a possibilidade

de decretação da perda do cargo. Quanto à capacidade sancionadora, o Conselho é

hábil para aplicar sanções diversas aos magistrados descumpridores dos preceitos

normativos que regem a carreira.

Anteriormente à Emenda 45, para nomeação dos ministros do Superior

Tribunal de Justiça, não havia a obrigatoriedade de submissão à aprovação pela

maioria absoluta do Senado Federal, diferentemente dos ministros do Supremo

Tribunal Federal, para os quais sempre existiu esta obrigatoriedade. Após a

promulgação da Emenda, a nomeação dos ministros do STJ deve ser precedida de

aprovação da maioria absoluta do Senado Federal (artigo 104, § único, da

CRFB/88), podendo-se concluir com isto, que restou enfraquecido o poder

discricionário do Presidente da República, o qual tinha maiores poderes antes da

emenda, já que sua escolha não passava ao crivo do Senado Federal.

Além das já citadas modificações advindas com a Emenda Constitucional

nº 45/2004, existem ainda os seguintes: com a nova redação do caput do artigo 107

da CRFB/88, os juízes federais dos Tribunais Regionais Federais passam a ser

denominados desembargadores; implantação da justiça itinerante nos Tribunais

Regionais Federais, Tribunais Regionais do Trabalho e nos Tribunais de Justiça,

com a função de realizar audiências e demais funções da atividade jurisdicional,

servindo-se de equipamentos públicos e comunitário (art. 107, § 2º, art. 113, § 1º, e

art. 125, § 7º, da CRFB/88), possibilitando, assim que tais tribunais funcionem de

forma descentralizada, a fim de assegurar ao indivíduo o pleno acesso ao processo

82 SOIBELMAN, Félix. Súmula vinculante na emenda constitucional n. 45/2004. Jus Navigandi,

Teresina, ano 9, n. 618, 18 mar. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6392>. Acesso em: 06 out. 2006

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em todas suas fases; Por fim, e não menos importante, houve a federalização dos

crimes contra os direitos humanos, outorgando à Justiça Federal a competência para

processar e julgar estes crimes, nos casos de grave violação de direitos humanos

(art. 109 § 5º, da CRFB/88).

2.2 A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004 E A JUSTIÇA DO TRABALHO

Foram várias as inovações trazidas pela Emenda Constitucional nº 45 ao

Direito do Trabalho. Antes da publicação desta emenda, na data de 31 de dezembro

de 2004, a Justiça do Trabalho tinha competência para julgar apenas os conflitos

decorrentes do trabalho subordinado sob a tutela da legislação trabalhista, conforme

dispunha o caput do art. 114 da CRFB/88.

Grijalbo Coutinho83 entendia ser necessário que a Justiça do Trabalho

alargue a sua atuação para todas as causas dos trabalhadores, eis que existem

setores que a aceitam com restrições, primando por sua extinção, já que “é

taticamente mais sutil eliminar o Direito do Trabalho a partir da extinção da Justiça

especializada”. 84

Ainda, a favor da ampliação de competência, Guilherme Guimarães

Feliciano considera a ampliação da competência da Justiça do Trabalho uma

conquista histórica:

Do ponto de vista político, os ganhos são incontestáveis – e, não por outra razão, começamos por dizer que a EC n. 45/04 expressou uma vitória política. Resultado derradeiro dos insistentes pleitos das organizações de classe e da justiça como um todo, o aumento da competência material traduziu a confiança dos Poderes Legislativo e Executivo na aptidão dos juízes do Trabalho para administrar e pacificar todos os litígios em torno do valor-trabalho, ainda quando não se trate de trabalho subordinado. A dimensão social dessa alteração não tem precedentes, pois estende a capacidade cognitiva da justiça do trabalho para muito além das suas fronteiras originais [...].85

Na mesma direção, defende Gustavo Tadeu Alkmim, ipsis verbis:

83 COUTINHO, Grijalbo Fernandes. Ampliação da competência da justiça do trabalho: mudança que

contraria o perfil conservador da reforma do judiciário. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do Trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 92.

84 Idem, p. 92. 85 FELICIANO Guilherme Guimarães. Justiça do trabalho: nada mais, nada menos. In: COUTINHO,

Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 116.

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Assim como nenhuma lei é feita sem alguma finalidade, não se modifica a competência jurisdicional sem algum motivo relevante. E este motivo só pode ser um: melhoria da entrega da prestação para o cidadão. Parece fora de dúvida que a ampliação da competência da justiça do Trabalho tem como meta primordial possibilitar uma melhor administração do Poder Judiciário como um todo.86

Consoante Ives Gandra da Silva Martins, desde a Emenda Constitucional

nº 24/1998, a qual extinguiu os juízes classistas da Justiça do Trabalho, reduzindo a

composição do Tribunal Superior do Trabalho de vinte e sete para dezessete

ministros, melindrava-se aquele Tribunal da perda de sua capacidade de julgamento,

eis que os ministros que permaneceram, denominados togados, passaram a receber

toda a massa processual antes destinada aos classistas que, embora não tivessem

a obrigação de apresentar conhecimentos jurídicos, contavam com uma estrutura

funcional que permitia, de certo modo, submeter em prazos plausíveis o julgamento

dos feitos e recursos submetidos ao exame daquele Tribunal Superior. 87 A Emenda

Constitucional nº 45/2004, com a inclusão do art. 111-A na CRFB/88, restabeleceu o

número originário de vinte e sete ministros do Tribunal Superior do Trabalho e incluiu

ainda, neste dispositivo, a exigência de aprovação por maioria absoluta do Senado

Federal, para que, só assim, sejam nomeados pelo Presidente da República.

No artigo 112 da CRFB/88, a partir da nova redação dada pela Emenda

45, foi incluída a competência recursal para as causas trabalhistas julgadas por

juízes de direito. Ou seja, em caso de não haver vara do trabalho em determinada

comarca, quem julga é o juiz de direito daquela comarca, cabendo recurso para o

Tribunal Regional do Trabalho da respectiva região. Anota-se que já havia súmula

do STJ neste sentido, a qual dizia:

Súmula nº 180. Na lide trabalhista, compete ao Tribunal Regional do Trabalho dirimir conflito de competência verificado, na respectiva região, entre Juiz Estadual e Junta de Conciliação e Julgamento.

No que tange à composição dos Tribunais Regionais do Trabalho, o artigo

115 da CRFB/88 deixou claro que serão compostos de, no mínimo, sete juízes.

Anteriormente, este dispositivo apenas remetia a quantidade de juízes a compor

86 ALKMIM, Gustavo Tadeu. Nova competência da justiça do trabalho: perspectivas de um juiz

especial para uma justiça especial. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do Trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 148.

87 MARTINS, Ives Gandra da Silva. A Justiça do trabalho do ano 2000: as leis 9756/98, 9957 e 9958/00 e a EC 24/99. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 39, fev. 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1223>. Acesso em: 06 nov. 2006.

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àqueles Tribunais, à proporcionalidade estabelecida no § 2º, do art. 111, da

CRFB/88, sem mencionar o número exato da composição da corte.88

2.3 A NOVA REDAÇÃO DO ARTIGO 114 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Assim dispunha o texto original do artigo 114 da Constituição Federal, que

foi completamente modificado, in verbis:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas. § 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros. § 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação ou à arbitragem, é facultado aos respectivos sindicatos ajuizar dissídio coletivo, podendo a Justiça do Trabalho estabelecer normas e condições, respeitadas as disposições convencionais e legais mínimas de proteção ao trabalho. § 3° Compete ainda à Justiça do Trabalho executar, de ofício, as contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir.

As modificações ao texto original foram evidentes, conservado apenas o §

1º, como se apreende a seguir, ipsis litteris:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II as ações que envolvam exercício do direito de greve; III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; V os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o ; VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; VII as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. § 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.

88 Redação antiga do caput do art. 115 da CRFB/88: “Os Tribunais Regionais do Trabalho serão

compostos de juízes nomeados pelo Presidente da República, observada a proporcionalidade estabelecida no § 2º do art. 11”. Lex: BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/>. Acesso em: 14 fev. 2007.

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§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. § 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.

Como se percebe, a competência da Justiça do Trabalho antes estava

prevista no caput do artigo 114, da CF, ao passo que, agora, restou desmembrada

em nove incisos. Neste sentido, ensina Estêvão Mallet:

Segundo a redação anterior do art. 114, da Constituição Federal, havia, em linhas gerais, três diferentes hipóteses de competência da justiça do trabalho. A primeira, mais importante de todas, referida na parte inicial do preceito e relacionada com os dissídios entre “trabalhadores e empregadores”, envolvia apenas litígios emergentes, direta ou indiretamente, de contratos de trabalho. A segunda, mais ampla, abrangia “outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho”, mas dependia de previsão legal complementar, existente em poucas situações, como o art. 643, caput, da CLT, no tocante aos avulsos, e o art. 652, alínea “a”, inciso III, também da CLT. Finalmente, a terceira hipótese açambarcava os dissídios relacionados com o cumprimento das próprias decisões da Justiça do trabalho, inclusive a execução das contribuições sociais decorrentes de seus pronunciamentos. A nova redação do art. 114, porém, não somente criou novas hipóteses de competência da Justiça do Trabalho como, ainda mais, alterou os pressupostos de incidência das antigas.89

Iniciando pelo caput, antes da promulgação da Emenda 45, o artigo 114,

DA CRFB/88 previa que "compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os

dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores" sendo que

agora está previsto que "compete à Justiça do Trabalho processar e julgar as ações

oriundas da relação de trabalho" (inciso I). Os termos conciliar e julgar foram

substituídos pelos termos processar e julgar. Antônio Umberto de Souza Júnior

assevera: “É preciso lembrar que o binômio agora desfeito (conciliar e julgar) esteve

presente em todas as versões dos textos constitucionais referentes à competência

da Justiça do trabalho brasileira”.90 Lembrando ainda, “que a supressão do verbo

conciliar rompe com uma tradição constitucional de mais de meio século”.91

Para Souza júnior, esta alteração priorizou a padronização de termos,

tendo em vista que, em regra, a expressão processar e julgar já se faz presente nos 89 MALLET, Estevão. Apontamentos sobre a competência da justiça do trabalho após a emenda

constitucional n. 45. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 70.

90 SOUZA JÚNIOR, Antônio Umberto de. O Reveillon constitucional e seus silêncios eloqüentes: A possível intangibilidade das competências pretéritas da justiça do trabalho omitidas pela emenda constitucional n. 45/2004. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do Trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 32.

91 Idem, p. 32.

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artigos da Constituição da República referentes às competências de outros tribunais

e juízes. “Ou seja, o texto dedicado à Justiça do Trabalho, antes do reveillon de

2005, em verdade destoava do padrão redacional do conjunto dos demais ramos do

judiciário”.92

Contudo, a conciliação integra o Processo Judiciário do Trabalho (título X,

da CLT), conforme versa o caput do art 764 da CLT: “Os dissídios individuais ou

coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à

conciliação”. E, ainda, o art. 846 da CLT, em seu caput, dispõe que, aberta a

audiência, a conciliação deve ser proposta pelo juiz ou presidente. Assim sendo, o

desaparecimento do termo “conciliar” do caput do art. 114, da CRFB/88, não

ocasionou modificação alguma à competência que a Justiça do Trabalho possui de

tentar a conciliação no curso de suas ações.

Ponto do art. 114 que acarretou mudanças significativas na competência

da Justiça do Trabalho é o que está disposto no inciso I, o qual prevê que compete à

esta justiça “processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho", e não

mais “conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e

empregadores”, ampliando de forma extraordinária sua competência, eis que a

interpretação do termo, agora utilizado, poderá seguir várias direções. (sublinhado

ausente no texto original)

Com o advento da Emenda 45, a Justiça Trabalhista deixa de ter como

competência fundamental o exame das lides relacionadas com o contrato de

trabalho, para julgar os processos envolvendo o trabalho de pessoa natural em

geral. 93 “Daí que agora lhe compete apreciar também as ações envolvendo a

atividade de prestadores autônomos de serviços[...], desde que desenvolvida a

atividade diretamente por pessoa natural.”94

Em termos práticos, a alteração traz à tona o fato de que qualquer pessoa,

mesmo que trabalhe como autônomo, ou que não tenha registro em carteira, poderá

pleitear direitos previstos em lei, batendo às portas da Justiça do Trabalho.95

92 Idem, p. 32. 93 MALLET, Estevão. Apontamentos sobre a competência da justiça do trabalho após a emenda

constitucional n. 45. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do Trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 70.

94 Idem, p. 70. 95 SÜSSEKIND, Arnaldo. As Relações Individuais e coletivas de trabalho na reforma do poder

judiciário. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do Trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 15.

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Como exemplo, um arquiteto, sendo profissional liberal, contratado por

pessoa física ou por empresa, deve reclamar suas ações correspondentes a esse

contrato, na Justiça do Trabalho. Contudo, se o que foi contratado foi o escritório de

arquitetura, a competência é da Justiça Comum.96

A expressão relação de trabalho abrange, ainda, os chamados contratos

de atividade, que são todos aqueles que apresentam um ponto em comum, ou seja,

o objeto de todos eles consiste na utilização da energia humana e pessoal de um

dos contratantes em proveito do outro.97

Nas palavras de Arnaldo Süssekind:

A relação de trabalho é gênero do qual a relação de emprego é uma das espécies, pois abrange também outros contratos, como os de prestação de serviços por trabalhadores autônomos, empreiteiras de lavor, mandato para empreender determinada atividade em nome do mandante, representação comercial atribuída a pessoa física, contratos de agenciamento e de corretagem.98

Conclui Husek que o legislador constituinte teve a intenção de ampliar a

competência da Justiça do Trabalho para os casos advindos da relação de trabalho

prestado por pessoas físicas, ainda que não corroboradas pelos requisitos da

habitualidade, subordinação, pessoalidade e salário.99

Contudo, entende Hugo Cavalcanti Melo Filho, ipsis verbis:

Para que se configure a relação jurídica de trabalho a atrair a competência da Justiça Especializada, haverá de estar presente o requisito da pessoalidade, entendida como elemento atributivo do caráter de infungibilidade da prestação do serviço, que não poderá ser realizado por outro que não o trabalhador com quem ela foi ajustada. A relação jurídica deve ser concluída intuito personae, no que concerne ao prestador dos serviços. Se o suposto prestador de serviços tem a faculdade de realizar a atividade pactuada por intermédio de outrem, desaparece, quanto a ele, a relação de trabalho, que dará lugar, isto sim, a ajuste de intermediação de mão-de-obra, relação jurídica que não autoriza a solução de conflitos dela oriundos pela Justiça do Trabalho.100 (Grifado)

96 MALLET, op cit., p. 70. 97 SILVA, Edson Braz da. Direito do trabalho resumido. Disponível em

<http://www.ucg.br/site_docente/jur/edson/pdf/11.pdf>. Acesso em: 31 out. 2006. 98 SÜSSEKIND, op.cit, p. 15 99 HUSEK, Carlos Roberto . Idéias para uma interpretação do Artigo 114 da Constituição Federal. In:

COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 46.

100 MELO FILHO, Hugo Cavalcanti. Nova competência da justiça do trabalho: contra a interpretação reacionária da emenda n. 45/2004. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 170.

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Nas palavras de Guilherme Guimarães Feliciano101, para que a Justiça do

Trabalho seja competente para dirimir conflito de relação de trabalho, é necessário

que haja os seguintes pressupostos:

(a) prestação de trabalho humano (elemento objetivo ou fenomênico – há de ser, portanto, um contrato de atividade, ou um contrato de fim com obrigações de meios); (b) fundo consensual (elemento volitivo – que pode se consubstanciar, e.g., num contrato, numa aceitação tácita ou num ato jurídico unilateral de adesão); (c) pessoalidade mínima (elemento tendencial – o advérbio “tendencialmente”, alhures empregado, absorve e adapta o vocábulo “prevalentemente”, constante do códice italiano, e serve para demonstrar que não se trata da pessoalidade do artigo 3º, caput , da CLT, que repudia por princípio, a substituição pessoal do obreiro no pólo passivo do contrato: aqui, exige-se que o objeto do contrato seja uma obrigação pessoal de fazer, mas nada obsta, em tese, que essa obrigação seja fungível); (d) caráter continuativo ou coordenado (elemento funcional ou operacional – desdobra-se em duas características alternativas, inspiradas na hipótese do artigo 409, 3, in fine, do CPC italiano).102 (Grifo original)

Com a ampliação da competência da Justiça do Trabalho, os litígios

oriundos das relações de trabalho voluntário, reguladas pela Lei nº 9.608/98,

também se sujeitam à apreciação desta justiça especializada, desde que apresente

as características exigidas, entre elas, a pessoalidade mínima.103

E, ainda, conforme entendimento de Guilherme Guimarães Feliciano: Da mesma forma, os litígios em torno do trabalho eventual, definido como “o trabalho que se presta ocasional e transitoriamente” ou “que é exigido em via absolutamente transitória e acidental, em caso de ser necessário um serviço imposto por exigência momentânea da empresa”, podem agora ser apreciados pela Justiça do Trabalho.104

Uma vez que o inciso I do art. 114, da CF não está mais cingido aos

dissídios entre trabalhador e empregador (ou tomador), compete agora à Justiça do

Trabalho conhecer de todas as ações oriundas das relações de trabalho, inclusive

processar e julgar os litígios interobreiros e interpatronais.105 Os litígios interobreiros

“são comuns nos contratos de equipe, haja ou não vínculo empregatício ligando a

equipe ao contratante (e.g., orquestras e conjuntos musicais)”. 106 As demandas

interpatronais, “ocorrem, e.g., nas lides entre o empregador sucessor e o

101 FELICIANO, Guilherme Guimarães. Justiça do trabalho: nada mais, nada menos. In: COUTINHO,

Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 116.

102 FELICIANO Guilherme Guimarães. Justiça do trabalho: nada mais, nada menos. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 116.

103 Idem, p. 116 104 Idem, p. 116. 105 Idem, p. 116. 106 Idem, p. 116.

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empregador sucedido, ou entre o empregador subempreiteiro e o empreiteiro

principal (artigo 455 da CLT).”107

Por fim, esclarece Carolina Tupinambá, que, a fim de delimitar o conceito

da relação de trabalho, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 6.671 de

2002, o qual pretende alterar a redação da CLT, revestindo, para tanto, o artigo 652

da CLT com a seguinte redação:

Artigo 652. Compete ao juiz do trabalho: (...) § 1º Compete ainda ao juiz do trabalho processar e julgar os litígios decorrentes de relações de trabalho que, não configurando vínculo de emprego, envolvam: I – representante comercial autônomo e tomador de serviços; II – corretor e tomador de serviços; III – transportador autônomo e empresa de transporte ou usuário de serviços; IV – empreiteiro e subempreiteiro, ou qualquer destes e o dono da obra, nos contratos de pequena empreitada, sempre que os primeiros concorrerem pessoalmente com seu trabalho para execução dos serviços, ainda que mediante o concurso de terceiros; V – parceiro ou arrendatário rural e proprietário; VI – cooperativas de trabalho ou seus associados e os respectivos tomadores de serviços; § 2º O juiz decidirá os litígios a que se refere o § 1º deste artigo com base no direito comum, observadas as normas processuais constantes desta Consolidação das Leis do Trabalho; § 3º Quando for controvertida a natureza da relação jurídica e o juiz não reconhecer a existência de contrato de emprego alegado pela parte, poderá ele decidir a lide com fulcro nas normas de direito comum, desde que observados os princípios do contraditório e da ampla defesa, seja o provimento jurisdicional compatível com o pedido. (Projeto de Lei nº 6.671 de 2002)108

Contudo, enquanto o Projeto de Lei não é aprovado, a jurisprudência tem

papel importante na consolidação do significado da nova redação do artigo 114 da

CRFB/88. 109

Sobre a discussão acerca da abrangência do termo relação de trabalho,

opina Manoel Antônio Teixeira Filho:

Não há, neste momento, gênio humano, por mais experiente, arguto e presciente que possa ser, capaz de indicar, um por um, todos os conflitos de interesses que se acomodarão, de modo irretocável, no conceito de relação de trabalho, para os efeitos do inciso I, do art. 114, da Constituição, e quais os que dela ficarão à margem dessa norma - sem descurar-se, por

107 FELICIANO Guilherme Guimarães. Justiça do trabalho: nada mais, nada menos. In: COUTINHO,

Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 116.

108 TUPINAMBÁ, Carolina. Competência da justiça do trabalho à luz da reforma constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 117.

109 Idem, p. 118.

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certo, do dever de mencionar as razões jurídicas de seu convencimento.110 (Grifos do autor)

Em meio a ampliação de competência da Justiça do Trabalho com o

advento da Emenda Constitucional nº 45/2004, está a de dirimir os conflitos entre o

servidor público estatutário e a Administração Pública. Anteriormente à referida

Emenda, o entendimento era que somente os servidores públicos regidos pela CLT

é que teriam seus conflitos dirimidos pela Justiça do Trabalho.111 Da mesma forma,

os servidores públicos estatutários deveriam solucionar seus conflitos com a

Administração Pública na Justiça Comum, vez que não estavam regidos por uma

relação de emprego no modelo em que dispõe a CLT.112

Neste norte, esclarece Ilse Marcelina Bernardi Lora:

A EC 45/2004 determinou expressamente a competência da Justiça do Trabalho para instruir e julgar “as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos estados, do Distrito Federal e dos Municípios;” (inciso I – grifou-se). A exclusão dos servidores estatutários e titulares de cargo em comissão, prevista na redação aprovada pelo Senado Federal, retornou à apreciação pela Câmara Federal[...]. Não havendo modificação do texto em vigor, inarredável a conclusão de que a Justiça do Trabalho também deverá apreciar demandas relativas aos servidores estatutários ou titulares de cargo em comissão, tanto da união, como dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, na medida em que a relação que os une ao tomador do serviço prestado por pessoa física, com o atributo da pessoalidade, a uma pessoa jurídica.113

Porém, a AJUFE (Associação dos Juízes Federais) ajuizou Ação Direta de

Inconstitucionalidade contra o inciso I do art. 114 da CF, como explica Melo Filho,

ipsis verbis:

[...]Em 26 de janeiro de 2005, a Associação dos Juízes Federais propôs ADI (n. 3.395-6), apontando a inconstitucionalidade formal do Inciso I do artigo 114 da Constituição, porque promulgado sem que o texto tivesse sido aprovado, em iguais termos, nas duas Casas do Congresso Nacional. O Ministro Nelson Jobim, ao decidir, não vislumbrou inconstitucionalidade no dispositivo. Manifestou-se, entretanto, no sentido de que “não há que se entender que justiça trabalhista, a partir do texto promulgado, possa analisar questões relativas aos servidores públicos”. Assim, entendendo haver risco de estabelecimento de conflitos entre a Justiça Federal e a Justiça do Trabalho, concedeu a liminar requerida pela AJUFE, com efeito ex tunc, para dar “interpretação conforme ao inciso I do art. 114 da CF, na redação da EC n. 45/2004, que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a ‘... apreciação ... de causas que ... sejam instauradas entre o Poder Público e

110 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Breves comentários à reforma do poder judiciário. São

Paulo: LTr, 2005. 111 LORA, Ilse Marcelina Bernardi. A Nova competência da justiça do trabalho. In: COUTINHO,

Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 187.

112 Idem, p. 187. 113 Idem, p. 187.

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seus servidores, a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo”.114

Assim, se for mantido pelo pleno do Supremo Tribunal Federal o

entendimento defendido na decisão monocrática do Ministro Nelson Jobim, os

processos envolvendo os funcionários públicos submetidos ao regime estatutário ou

exercentes de cargo em comissão, continuarão a ser julgados pela Justiça Federal,

quando se tratar de servidores públicos da União, suas autarquias ou fundações

públicas e, pela Justiça Estadual, quando se tratar de servidores públicos dos

Estados e Municípios, incluídas as autarquias e fundações públicas.115

O legislador, com a nova redação do artigo 114, da CRFB/88, preocupou-

se em dois momentos com as ações que possam versar sobre o exercício do direito

de greve, quais sejam, no inciso II, e nos §§ 2º e 3º, do art. 114 da CRFB/88.116

Sobre o inciso II, José Afonso Dallegrave Neto apud Carolina Tupinambá, leciona:

A novidade efetivamente vislumbrada no artigo 114, II, da CF, está na inclusão da competência da Justiça do Trabalho para julgar eventuais litígios que decorram de atos ilícitos praticados em razão da greve, tendo como agente o sindicato dos trabalhadores ou mesmo os trabalhadores que não tenham vínculo de emprego com a empresa que sofreu danos patrimoniais ou morais. Nesses casos a competência que antes era da Justiça Comum – porque fora dos limites da relação de emprego – passa a ser da Justiça do Trabalho, conforme dicção mais ampla do novo artigo 114, II, da CF, em complemento com os incisos I, III, IV e VI do mesmo dispositivo.117

No que tange ao § 2º daquele dispositivo, José Luciano de Castilho

Pereira diz que “agora, o Dissídio Coletivo somente terá curso normal se ambas as

partes estiverem de acordo com tal caminho judicial”.118 Castilho Pereira, traz ainda

um exemplo, no qual os empregados reivindicam salários melhores, entre outros

pedidos, e os empregadores não concordam com os pedidos, e vedam o dissídio

coletivo. “Se o Sindicato obreiro tiver força, estará aberta para ele a única via

114 Nova Competência da Justiça do Trabalho: Contra a Interpretação Reacionária da emenda

n.45/2004. texto de Hugo Cavalcanti Melo Filho... In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 170.

115 LORA, Ilse Marcelina Bernardi. A Nova competência da justiça do trabalho. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 187.

116 TUPINAMBÁ, Carolina. Competência da justiça do trabalho à luz da reforma constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

117 TUPINAMBÁ, Carolina. Competência da justiça do trabalho à luz da reforma constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

118 PEREIRA, José Luciano de Castilho A Reforma do poder judiciário: o dissídio coletivo e o direito de greve. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 247.

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possível para a conquista de suas reivindicações: a greve”.119 Sobre o § 3º do art

114, da CRFB/88, conclui o ministro que “dá legitimidade ao Ministério Público do

Trabalho para ajuizar Dissídio coletivo, quanto à greve em serviço essencial e se

tiver possibilidade de lesão do interesse público”.120 Salientando, que a competência

ficou restrita à greve ocorrida em serviço essencial.121

O novel inciso III do artigo 114, da CRFB/88, traz outra ampliação

significativa à Justiça do Trabalho, dispondo que “compete à Justiça do trabalho

processar e julgar as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre

sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; (...)”. Explica Carolina

Tupinambá, in verbis:

É cediço que os sindicatos podem estar em juízo, ostentando três diferentes qualidades jurídicas: 1 – Como substituto processual, tal como ocorre nas seguintes possibilidades, a saber: (a) Mandado de Segurança Coletivo; artigo 5º, inciso LXXX, alínea b, da Constituição Federal. (b) Ação de cumprimento de sentença normativa; parágrafo único do artigo 872 da CLT. (c) Argüição de insalubridade; § 2º do artigo 195 da CLT. (d) Ajuizamento em abstrato pela Lei de Substituição Processual e política Salarial; Lei nº 8.073/90, artigo 3º. (e) Cobrança de depósito em Fundo de Garantia por tempo de serviço; Lei nº 8.036/90. 2 – Como representante de um associado, tal como preceituam os artigos 513, alínea a, e 791, § 1º, ambos da CLT. 3 – Em nome próprio, como suposto titular de direito pessoal ou em defesa de seus direitos como pessoa jurídica. 122 (Grifado no original)

Como substituto processual e representante de um associado, os

sindicatos já litigam há tempos perante a Justiça Trabalhista, não apresentando

inovação.123 Todavia, ao pleitear em nome próprio, os sindicatos o faziam vezes

perante a Justiça Comum, vezes perante a Justiça Federal, o que agora restou

apenas à Justiça do Trabalho dirimir tais conflitos.124

Sobre a previsão do art. 114, inciso IV, da CRFB/88, que atribui

competência à Justiça do Trabalho para julgar mandados de segurança, habeas

corpus e habeas data em matéria trabalhista, afirma Estevão Mallet que “em verdade

pouco tem de novidade e destina-se muito mais a afastar a dúvida interpretativa 119 PEREIRA, José Luciano de Castilho A Reforma do poder judiciário: o dissídio coletivo e o direito

de greve. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 247.

120 Idem, p. 247. 121 Idem, p. 247. 122 TUPINAMBÁ, Carolina. Competência da justiça do trabalho à luz da reforma constitucional.

Rio de Janeiro: Forense, 2006 p. 220. 123 Idem, p. 221. 124 Idem, p. 221.

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surgida – injustificadamente, convém notar – após a edição da Constituição de

1988”125. Neste norte:

A competência da Justiça do Trabalho para julgar mandados de segurança impetrado contra ato praticado por juiz do trabalho já estava bem sedimentada em lei e em jurisprudência, há muito tempo. Agora, com o novo texto constitucional, passa a compreender também – o que não ocorria antes – impetração dirigida contra atos praticados pelo Ministério Público do Trabalho em investigações, procedimentos preparatórios ou inquéritos civis.126

Leciona Estêvão Mallet, quanto ao habeas corpus, que anteriormente à

Emenda 45, era julgado perante a Justiça Federal, por ser considerada ação de

natureza penal.127 Porém, afirma Mallet que “a conclusão não se justificava e o

Tribunal Superior do Trabalho, com toda razão não a aceitou. O habeas corpus não

é ação penal. Defini-lo assim é inaceitável. Diminui sua relevância, teórica e

prática”.128 Restando correta, portanto, sua submissão à apreciação dos juízes do

trabalho.

Quanto à ação de habeas data, Otavio Brito Lopes explica, in verbis:

A questão foi explicitada no texto constitucional, pois a nosso ver, já era possível o seu manejo pelo empregado contra o empregador. Vale observar que, hoje em dia, com a competência da Justiça do Trabalho não se limita aos empregados, todos os trabalhadores sujeitos à jurisdição trabalhista poderão impetrar habeas data perante a Justiça do Trabalho, desde que contra o respectivo tomador de serviços.129

Sobre “as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos

empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho” (inciso VII do

art. 114, da CF), ensina Brito Lopes que o auditor fiscal do trabalho (servidor público

que compõe o Ministério Público do Trabalho) tem a função de interpretar e fazer

com que seja aplicada a legislação trabalhista, mas antes do advento da Emenda

45, seus atos eram examinados pela Justiça Federal. 130 Acredita o supracitado

autor, que a questão foi resolvida pela Emenda 45 e elucida:

Existiam dois órgãos jurisdicionais diferentes interpretando a legislação trabalhista e, em alguns casos, até de maneira diversa; a Justiça Federal,

125 MALLET, Estevão. Apontamentos sobre a competência da justiça do trabalho após a emenda

constitucional n. 45. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 70.

126 Idem, p. 70. 127 Idem, p. 70. 128 MALLET, Estevão. Apontamentos sobre a competência da justiça do trabalho após a emenda

constitucional n. 45. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 70.

129 LOPES, Otávio Brito, A Emenda constitucional n. 45 e o ministério público do trabalho. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 362.

130 LOPES, op.cit., p. 362.

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ao analisar a legalidade das multas impostas aos empregadores pelos órgãos da fiscalização do trabalho e a Justiça do Trabalho, a julgar as reivindicações dos trabalhadores contra esses mesmos empregadores, o que causava um tumulto e um clima de insegurança jurídica totalmente contrários à estabilidade das relações sociais.131

Sobre a execução de ofício das contribuições sociais (inciso VIII, art. 114,

da CRFB/88), a Emenda Constitucional nº 45/2004, apenas manteve tal

competência na esfera trabalhista, eis que foi acrescentada pela Emenda

Constitucional nº 20/1998. Contudo é de grande importância para a Justiça

Trabalhista.132

Finalmente, o inciso IX, do art. 114, da CRFB/88, dispõe que são

competência da Justiça do Trabalho “outras controvérsias decorrentes da relação de

trabalho, na forma da lei”, tornando arriscada sua interpretação, eis que o inciso I do

mesmo dispositivo, já abrange todas as causas oriundas da relação de trabalho.

Conquanto, o constituinte derivado pode ter deixado uma lacuna ao legislador

infraconstitucional para explorá-lo.133

As ações de indenização por dano moral ou patrimonial decorrentes da

relação de trabalho, previstas no inciso VI, do art. 114, da CRFB/88 serão objeto de

estudo do próximo capítulo desta monografia.

131 LOPES, op.cit., p. 362. 132 LOPES, Otávio Brito, A Emenda constitucional n. 45 e o ministério público do trabalho. In:

COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 362.

133 Idem, p. 362.

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Capítulo 3

3. A PRESCRIÇÃO DAS AÇÕES INDENIZATÓRIAS DE ACIDENTE DO

TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004

3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL POR ACIDENTE DO TRABALHO

O artigo 7º, inciso XXVIII, da Constituição da República Federativa do

Brasil, prevê que é direito do trabalhador:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. [...]

Desta forma, quando fica caracterizado um acidente do trabalho, existem

para o trabalhador duas possibilidades, que são: indenização previdenciária, paga

pela Previdência Social (INSS), e uma indenização a título de reparação civil pelos

danos morais ou materiais sofridos, em face do empregador.134

Quanto à responsabilidade do empregador há duas correntes dominantes:

teoria da responsabilidade subjetiva e teoria da responsabilidade objetiva em

atividades de risco, onde basta provar que ocorreu o dano e o nexo de causalidade

com o trabalho, sendo majoritária a primeira, que entende ser responsabilidade

subjetiva, ou seja, há necessidade de provar o dolo ou a culpa, que se baseia no art.

7º, inciso XXVIII, in fine, CRFB/88.135

Sobre a teoria da responsabilidade objetiva do empregador pela reparação

dos danos causados ao empregado no acidente do trabalho, explica Mauro Schiavi:

O empregador responde objetivamente pelos danos causados à saúde do empregado, como regra geral, já que, com sua atividade econômica, gerou

134 ALBUQUERQUE JUNIOR, Gilson de. A Emenda Constitucional n. 45 e a competência para

apreciar lides em face do empregador decorrentes de acidentes de trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 688, 24 maio 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6777>. Acesso em: 04 dez. 2006.

135 SCHIAVI, Mauro. Aspectos polêmicos do acidente de trabalho: responsabilidade objetiva do empregador pela reparação dos danos causados ao empregado: prescrição. Revista LTr, n. 705/2006. Disponível em: <http://www.trt02.gov.br/html/tribunal/revistas/artigos/artigo65.pdf>. Acesso em: 08 maio 2007.

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uma situação de risco para o empregado, aplicando-se a teoria do risco criado, somente podendo ser excluída a responsabilidade em hipótese de caso fortuito ou força maior, ou ainda em casos de culpa exclusiva da vítima.136

Afirma Sebastião Geraldo de Oliveira, que a responsabilidade civil objetiva

é aquela que não questiona a culpa do empregador, partindo do pressuposto de que

causado o dano nasce a obrigação de indenizar, independente de haver ou não

culpa por parte do empregador, mas pelo fato de ter ele criado o risco.137

Fabio Goulart Villela138 explica que a partir de uma interpretação literal do

texto constitucional (art. 7º, XXVIII), a conclusão é de que a natureza da

responsabilidade civil do empregador é indubitavelmente subjetiva, eis que existe

expressamente o condicionante de culpabilidade no referido dispositivo. E, ainda:

E, de fato, a responsabilidade civil do empregador, nestes casos, deve ser, em regra, subjetiva, ou seja, a obrigação de reparar os danos morais e patrimoniais sofridos pelo empregado em razão de acidente de trabalho está condicionada, além da configuração do nexo de causalidade, à comprovação do dolo ou da culpa do empregador.139

Diante do exposto, tem-se que a responsabilidade do empregador, de

acordo com as correntes doutrinárias acima citadas, pode ser objetiva ou subjetiva.

Para esta pesquisa, adota-se a teoria da responsabilidade subjetiva, pois se

acredita que para responsabilizar o empregador deve existir o requisito da

culpabilidade.

A título de complementação, é apropriado expor que a discussão sobre os

direitos previdenciários decorrentes dos acidentes do trabalho (auxílio-doença,

auxílio-acidente e aposentadoria por invalidez) em face da autarquia previdenciária é

de competência da Justiça Comum. Tal competência é residual, decorrente do

disposto no artigo 109, I, da CRFB/88 e pelo artigo 129, II, da Lei nº 8.213/91, não

sendo objeto deste trabalho.

136 SCHIAVI, Mauro. Aspectos polêmicos do acidente de trabalho: responsabilidade objetiva do

empregador pela reparação dos danos causados ao empregado: prescrição. Revista LTr, n. 705/2006. Disponível em: <http://www.trt02.gov.br/html/tribunal/revistas/artigos/artigo65.pdf>. Acesso em: 08 maio 2007.

137 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006.

138 VILLELA, Fabio Goulart. Artigo do Procurador do Trabalho Fabio Goulart Villela. <http://www.pgt.mpt.gov.br/pgtgc/publicacao/engine.wsp?tmp.area=238&tmp.texto=2172>. Acesso em: 09 maio 2007.

139 Idem.

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3.2 AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ACIDENTE DO TRABALHO COMO

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO A PARTIR DA EMENDA

CONSTITUCIONAL N. 45/2004

Antes da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/2004, de 08 de

dezembro de 2004, o Tribunal Superior do Trabalho já havia firmado a competência

da Justiça do Trabalho para julgar ações de indenização por dano moral ou

patrimonial decorrente de atos praticados no curso da relação de emprego140. Na

mesma ocasião, relata Süssekind141, o Superior Tribunal de Justiça afirmava que tal

competência era da Justiça Estadual. A questão foi resolvida pelo Supremo Tribunal

Federal, que sanou o conflito de competência através de acórdão em RE nº

238.737-4, da lavra do Ministro Sepúlveda Pertence, citado por Arnaldo Süssekind:

Cuida-se, pois, de dissídio entre trabalhador e o empregador, decorrente de relação de trabalho, o que basta, conforme o art. 114 da Constituição, a afirmar a competência da Justiça do Trabalho, nada importando que deva ser resolvido à luz de normas de Direito Civil. (Ac. de 17.11.98, no RE-238.737-4) 142

Há de se compreender o entendimento do STJ, no sentido de declarar a

competência da Justiça Estadual para dirimir tais conflitos, pois as ações de acidente

do trabalho, historicamente, eram de competência da Justiça Estadual, e constava

expressamente dos textos das Constituições Brasileiras de 1934, 1937 e 1946143.

Além disso, em 1969 o Supremo Tribunal Federal editou a súmula de nº 501, in

verbis:

Súmula nº 501 - Compete à justiça ordinária estadual o processo e o julgamento, em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a união, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista. 144

Porém, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 não

reproduziu a literalidade dos textos constitucionais anteriores, sobre a competência

da Justiça Estadual para resolver conflitos de acidente do trabalho, ocasionando,

140 SÜSSEKIND, Arnaldo. As Relações Individuais e Coletivas de Trabalho na Reforma do Poder

Judiciário. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes, FAVA, Marcos Neves. Justiça do Trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p.15.

141 Idem, p.15. 142 Idem, p.15. 143 TUPINAMBÁ, Carolina. Competência da justiça do trabalho à luz da reforma constitucional.

Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 166. 144 BRASIL. Superior Tribunal Federal. Súmula n. 501. Disponível em: <www.stf.gov.br>. Acesso em:

20 mar. 2007.

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dessa forma, dúvidas entre os juristas.145 Com isto, houve a necessidade, em 1991,

de o Superior Tribunal de Justiça editar a súmula de nº 15 neste teor 146, a qual diz

que:

Súmula nº 15 - Compete à Justiça Estadual processar e julgar os litígios decorrentes de acidente de trabalho. 147

Em 09 de dezembro de 2003, o Supremo Tribunal Federal, reafirmou sua

posição (registrada no já citado RE nº 238.737-4), no sentido de atribuir à Justiça do

Trabalho o julgamento de todos os litígios fundados na relação de emprego, ao

editar a súmula nº 736, in verbis:

Súmula nº 736 - Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores.148

Com a entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 45, em 31 de

dezembro de 2004, o constituinte derivado trouxe definitivamente para a Justiça do

Trabalho a competência para julgar as ações de dano moral e patrimonial decorrente

da relação de emprego, incluídas neste rol, as ações envolvendo acidente do

trabalho. Contudo, o Supremo Tribunal Federal, após a entrada em vigor desta

Emenda, contradisse o texto constitucional e deu interpretação divergente ao artigo

114, da CRFB/88, no que tange às ações de acidente do trabalho, conforme leciona

Ilse Marcelina Bernardi Lora, in verbis:

Novamente em 9.3.2005, na vigência, portanto, da EC 45/2004, o Supremo Tribunal Federal, em acórdão proferido nos autos do Recurso Extraordinário (RE) 438.639, entendeu que compete à Justiça dos Estados e do Distrito Federal, e não à Justiça do Trabalho, o julgamento das ações de indenização resultantes de acidente de trabalho.149

Meses mais tarde, no entanto, o Supremo Tribunal Federal voltou atrás em

sua decisão ao julgar o Conflito de Competência nº 7204-1, suscitado pelo Tribunal

Superior do Trabalho contra o Tribunal de Alçada de Minas Gerais, declarando, por

votação unânime, em 29.6.2005, que a competência para julgar ações por dano

145 TUPINAMBÁ, op. cit., p. 167. 146 TUPINAMBÁ, op. cit., p. 169. 147 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n. 15. Disponível em: <www.stj.gov.br>. Acesso

em: 20 mar. 2007. 148 BRASIL. Superior Tribunal Federal. Súmula n. 736. Disponível em: <www.stf.gov.br>. Acesso em:

20 mar. 2007. 149 LORA, Ilse Marcelina Bernardi. A Nova competência da justiça do trabalho. In: COUTINHO,

Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos Neves. Justiça do Trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005, p. 187.

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moral e material decorrente de acidente de trabalho é, finalmente, da Justiça

Trabalhista.150

Verifica-se portanto, que com esta última decisão do STF, todas as ações

de indenização por dano moral e material decorrentes de acidente do trabalho que

estejam em trâmite na Justiça Comum deverão ser remetidas à Justiça do

Trabalho.151

3.3 ACIDENTE DO TRABALHO

3.3.1 Conceitos

Explica Sebastião Geraldo de Oliveira que, desde 1919, quando surgiu a

primeira lei acidentária brasileira (Decreto legislativo nº 3.724, de 15 de janeiro de

1919), houve sete conceitos diferentes de acidente do trabalho 152 (da espécie

“típico”). Para que se possa comparar estes conceitos, é válido colacionar a

evolução dos mesmos, através do seguinte quadro extraído da obra daquele autor:

NORMA LEGAL CONCEITO DE ACIDENTE DO TRABALHO

1ª Lei acidentária: Decreto Legislativo n. 3724, de 15 de janeiro de 1919.

Art. 1º Consideram-se acidentes no trabalho, para os fins da presente lei: a) o produzido por causa súbita, violenta, externa e involuntária no exercício do trabalho, determinando lesões corporais ou perturbações funcionais, que constituam a causa única da morte ou perda total ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

2ª Lei acidentária: Decreto n. 24.637, de 10 de julho de 1934.

Art. 1º Considera-se acidente do trabalho, para os fins da presente lei, toda lesão corporal, perturbação funcional, ou doença produzida pelo exercício do trabalho ou em conseqüência dele, que determine a morte, ou a suspensão ou limitação, permanente ou temporária, total ou parcial, da capacidade para o trabalho.

3ª Lei acidentária: Decreto-lei n. 7.036, de

Art. 1º Considera-se acidente do trabalho, para os fins da presente lei,todo aquele que

150 BRASIL. Superior Tribunal Federal. CC-7.204-1. Relator Ministro Carlos Ayres Britto, j. 29.6.2005.

Disponível em: <http://www.stf.gov.br>. Acesso em: 20 fev. 2007. 151 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. STF: JT julga dano moral decorrente de acidente de

trabalho.Disponível em: < http://www.tst.gov.br>. Acesso em: 30 jun. 2005. 152 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença

ocupacional. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 37.

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10 de novembro de 1944. se verifique pelo exercício do trabalho, provocando, direta ou indiretamente, lesão corporal, perturbação funcional, ou doença, que determine a morte, a perda total ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

4ª Lei acidentária: Decreto-lei n. 293, de 28 de fevereiro de 1967.

Art. 1º Para os fins do presente decreto-lei, considera-se acidente de trabalho todo aquele que provocar lesão corporal ou perturbação funcional no exercício do trabalho, a serviço do empregador, resultante de causa externa súbita, imprevista, ou fortuita, determinando a morte do empregado ou sua incapacidade para o trabalho, total ou parcial, permanente ou temporária.

5ª lei acidentária: Lei n. 5.316, de 14 de setembro de 1967.

Art. 2º Acidente do trabalho será aquele que ocorrer pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa, provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doença que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

6ª Lei acidentária: Lei n. 6.367, de 19 de outubro de 1976.

Art. 2º Acidente do trabalho é aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou perda, ou redução permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

7ª lei acidentária: Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. É a norma que se encontra em vigor.

Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que causa a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.153

Ao analisar o quadro acima, percebe-se que as doenças do trabalho

somente foram incluídas no rol de acidentes do trabalho a partir da segunda lei

acidentária brasileira, Decreto n. 24.637/1934. E, ainda, que a quarta lei acidentária

estipula que o empregado deve sofrer acidente do trabalho “a serviço do

empregador”. E, por fim, verifica-se que a partir da sexta lei acidentária, não consta

mais dos conceitos de acidente do trabalho as doenças do trabalho, eis que já

equiparadas àqueles.

Arnaldo Süssekind, ao definir acidente do trabalho, refere-se ao conceito

previsto no art. 19 da Lei nº 8.213, de 1991, explicando que, quando a Lei faz

menção aos segurados referidos no inciso VII do art. 11 “alude ao produtor, parceiro,

meeiro e arrendatário rural, garimpeiro e pescador artesanal, desde que exerçam

suas atividades individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com

153 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença

ocupacional. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 38.

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auxílio eventual de terceiros”.154 Ainda, a Lei nº 8.213/91 em seus artigos 20 e 21

equipara as doenças profissionais e os acidentes in itinere ao acidente do trabalho,

conforme segue:

Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. (grifado) [...] Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação; II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em conseqüência de: a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior; III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. § 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho. § 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às conseqüências do anterior. (grifado)

154 SUSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, Segadas; et al. Instituições de direito do

trabalho. 19. ed. v. 2. São Paulo: LTr, 2002, p. 918.

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Retira-se do sítio da Previdência Social, na Internet, o seguinte conceito

para acidente do trabalho:

Define-se como acidente do trabalho aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional, permanente ou temporária, que cause a morte, a perda ou a redução da capacidade para o trabalho. Consideram-se acidente do trabalho a doença profissional e a doença do trabalho. Equiparam-se também ao acidente do trabalho: o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a ocorrência da lesão; certos acidentes sofridos pelo segurado no local e no horário de trabalho; a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; e, o acidente sofrido a serviço da empresa ou no trajeto entre a residência e o local de trabalho do segurado e vice-versa. 155

Para um melhor entendimento sobre acidente do trabalho, serão

conceituados, nos próximos subtítulos, os tipos ou espécies de acidente do trabalho,

quais sejam, os acidentes típicos, os acidentes de trajeto e as doenças

ocupacionais.

3.3.2 Acidentes Típicos

Acidente típico é o acidente do trabalho propriamente dito, cujo conceito,

anteriormente descrito, está expresso no art. 19 da Lei nº 8.213/91. Lazzari e Pereira

de Castro, citando Russomano, conceituam acidente do trabalho como “um

acontecimento em geral súbito, violento e fortuito, vinculado ao serviço prestado a

outrem pela vítima que lhe determina a lesão corporal.” 156

Do texto explicativo do “Anuário Estatístico da Previdência Social”, consta

o seguinte conceito para acidente típico: “são os acidentes decorrentes da

característica da atividade profissional desempenhada pelo acidentado”.157

Ainda, se extrai do parágrafo único do art. 30 do Decreto nº 3.048/99:

Art. 30 [...]

155 ANUÁRIO estatístico da previdência social 2004. Estatística. Disponível em:

<http://www.previdenciasocial.gov.br/AEPS2004/13_01_03_01.asp>. Acesso em: 04 dez. 2006. 156 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 7.

ed. São Paulo: LTr, 2006. 157 ANUÁRIO estatístico da previdência social 2004. Estatística. Disponível em:

<http://www.previdenciasocial.gov.br/AEPS2004/13_01_03_01.asp>. Acesso em: 04 dez. 2006.

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Parágrafo único. Entende-se como acidente de qualquer natureza ou causa aquele de origem traumática e por exposição a agentes exógenos (físicos, químicos e biológicos), que acarrete lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda, ou a redução permanente ou temporária da capacidade laborativa.

Para Hertz Costa, citado por Sebastião Geraldo de Oliveira, acidente típico

é um “acontecimento brusco, repentino, inesperado, externo e traumático, ocorrido

durante o trabalho ou em razão dele, que agride a integridade física ou psíquica do

trabalhador”.158

Por fim, é válido salientar que o conceito de acidente abrange qualquer

dano ao empregado advindo em função do trabalho, incluída neste rol, a morte.159

3.3.3 Acidentes de Trajeto

Os acidentes de trajeto, também chamados de acidentes in itinere,

representam em média 13% do total dos acidentes do trabalho no Brasil.160 São

aqueles ocorridos no trajeto entre a residência e o local de trabalho do trabalhador e

vice-versa.161

O acidente de trajeto está tipificado no art. 21, III, d, da Lei nº 8.213/91, já

citado, e abrange os ocorridos “no percurso da residência para o local de trabalho ou

deste para aquela”.

Ainda, vislumbra-se do art. 21, que não é necessário, para caracterizar

acidente de trajeto, estar o empregado em horário de trabalho, bastando que o

mesmo esteja dirigindo-se ao local do trabalho.

Segundo Sebastião Geraldo de Oliveira, para que se caracterize o

acidente do trabalho de trajeto, é necessária a presença dos nexos topográfico, ou

seja, que não haja desvio do percurso habitual, e cronológico, que é o tempo

razoável para o deslocamento.162

158 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença

ocupacional. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 51. 159 CASTRO, op. cit. 160 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença

ocupacional. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 53. 161 ANUÁRIO estatístico da previdência social 2004. Estatística. Disponível em:

<http://www.previdenciasocial.gov.br/AEPS2004/13_01_03_01.asp>. Acesso em: 04 dez. 2006. 162 OLIVEIRA, op. cit., p. 53.

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3.3.4 Doenças Ocupacionais

Doença ocupacional é gênero, que possui como espécies as doenças

profissionais e as doenças do trabalho. 163 Doenças profissionais são “aquelas

peculiares a determinada atividade ou profissão”.164 Verbi gratia, empregado de uma

mineradora que trabalha exposto ao pó de sílica e contrai a silicose.165 Doenças do

trabalho, do mesmo modo, têm origem na atividade do trabalhador, porém não está

atrelada a profissões ou atividades, mas sim “a forma em que o trabalho é prestado

ou as condições específicas do ambiente de trabalho.”166 Verbi gratia, LER/DORT.167

Russomano apud Sebastião Geraldo de Oliveira, adverte que:

O acidente e a enfermidade têm conceitos próprios. A equiparação entre eles se faz apenas no plano jurídico, com efeitos nas reparações e nos direitos que resultam para o trabalhador nos dois casos. Enquanto o acidente é um fato que provoca lesão, a enfermidade profissional é um estado patológico ou mórbido, ou seja, perturbação da saúde do trabalhador.168

Stephanes, citado por Castro e Lazzari, define doenças ocupacionais,

como “as que resultam de constante exposição a agentes físicos, químicos e

biológicos, ou mesmo do uso inadequado dos novos recursos tecnológicos, como os

da informática.”169

As doenças ocupacionais foram equiparadas ao acidente do trabalho a

partir da Lei nº 8.213/91, em seu, anteriormente citado, art. 20.

Enfim, embora sejam equiparados, existe uma importante diferença entre

acidente do trabalho típico e doença ocupacional, qual seja a de que esta não

provém de um acontecimento repentino e sim do desempenho do trabalho,

propriamente dito, ao longo do tempo, estabelecendo o nexo de causalidade entre o

trabalho desempenhado e a doença ocasionada.

163 OLIVEIRA, op. cit., p. 44. 164 OLIVEIRA, op. cit., p. 45. 165 OLIVEIRA, op. cit., p. 45. 166 OLIVEIRA, op. cit., p. 46. 167 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença

ocupacional. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 45. 168 Idem, p. 44. 169 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 7.

ed. São Paulo: LTr, 2006.

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3.4 PRESCRIÇÃO DAS AÇÕES INDENIZATÓRIAS POR ACIDENTE DO

TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004

Como foi visto no segundo subtítulo deste capítulo, após controvérsias do

STF, é, por fim, da Justiça do Trabalho a competência para julgar as ações

indenizatórias decorrentes de acidentes do trabalho. Com isto, surgiu a discussão

entre doutrinadores e juristas sobre qual prazo prescricional a ser aplicado nestas

demandas, se o previsto no Código Civil Brasileiro (art. 206, § 3º, inc. V do CC) ou o

previsto na Constituição da República Federativa do Brasil (art. 7º, XXIX, da

CRFB/88). Assim, surgiram duas correntes doutrinárias sobre o assunto: a primeira

defende a prescrição civil por considerar as ações indenizatórias de acidentes do

trabalho de natureza civil, e a segunda defende a prescrição trabalhista, pois

entende que tais ações constituem créditos trabalhistas.

De um lado estão os seguintes doutrinadores e juristas que fazem parte da

primeira corrente, defensores da prescrição prevista no Código Civil Brasileiro:

Helder Martinez Dal Col citado por Sebastião Geraldo de Oliveira, assim

defende, in verbis:

Os prazos prescricionais a serem observados serão os do Código Civil, visto que os danos oriundos do acidente do trabalho não se inserem no conceito de créditos resultantes das relações de trabalho. Pelo contrário. Trata-se de gravames pessoais sofridos em decorrência de fatores que desequilibram o desempenho normal do trabalho e constituem anomalia em face das relações de trabalho.170

É o entendimento de Rodrigo Dias da Fonseca, ipsis verbis:

Há, ainda, outro argumento contra a classificação da reparação por danos morais e materiais como simples direito trabalhista. É que esse direito encontra-se assegurado a todo cidadão, nos termos do art. 5º, X, da mesma Carta Magna (“são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”). Ou seja: trata-se de direito que transcende a relação de emprego, de forma que nos parece inexato qualificar tal direito como trabalhista.171

Na mesma corrente doutrinária, leciona Lucilde D’Ajuda Lyra de Almeida:

170 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Prescrição nas ações indenizatórias decorrentes de acidente do

trabalho ou doença ocupacional. Revista LTr, v. 70, n. 05, Maio 2006. 171 FONSECA, Rodrigo Dias da. Danos morais e materiais na justiça do trabalho: prazo prescricional.

Revista LTr, v. 70, n. 04, Abr. 2006.

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Sendo o direito de natureza civil a prescrição a ser aplicada é a do Código Civil. Todavia, tal questão mostra-se controvertida entre os juristas e os operadores do Direito, entendendo-se também em outro sentido, que a prescrição a ser aplicada seja a trabalhista. Essa discussão travou-se, principalmente, em face da celeuma existente em torno da competência, porém, é a natureza do direito que faz definir a prescrição, portanto, o entendimento mais abalizado é o que define que a prescrição para as ações em que se discute pedido de indenização por dano moral, oriundo de acidente de trabalho seja a do Código Civil.172

Por outro lado, há argumentos de diversos estudiosos, defensores da

segunda corrente doutrinária, que elegem a prescrição trabalhista como a correta a

ser aplicada nas ações de indenização por acidente do trabalho, quais sejam:

Dallegrave Neto, que assim se posicionou:

As ações de indenização de danos materiais e morais decorrentes de acidentes ocorridos na execução de um contrato de trabalho subordinado não são aquilianas, mas se enquadram na responsabilidade civil do tipo contratual, atraindo-se a prescrição qüinqüenal própria do crédito trabalhista previsto na Constituição Federal (art. 7º, XXIX).173

Ilse Marcelina acredita que o nexo de causalidade entre o dano ao

empregado e o contrato de trabalho, é a lesão ter ocorrido na ocasião da relação de

emprego, pois, sem isto, não haverá acidente do trabalho e, como conseqüência,

inexistirá direito à reparação de natureza civil; contudo, em havendo o crédito

diretamente relacionado ao contrato de trabalho, deve sujeitar-se aos prazos

prescricionais próprios dos direitos trabalhistas.174

Eduardo Fornazari, assim concluiu, in verbis:

O Constituinte, ao colocar tanto a indenização de acidente do trabalho devida pelo empregador (inciso XXVIII) quanto a prescrição das pretensões relativas aos créditos resultantes das relações de trabalho (inciso XXIX) dentro do mesmo rol – de direitos do trabalhador – e, ainda, de forma subseqüente o segundo ao primeiro, evidencia, de um lado, ser um direito do trabalhador, ou seja, trabalhista, a indenização de reparação civil devida pelo empregador, prevista no inciso XXVIII do art. 7º; e, de outro, que a prescrição, disposta no inciso XXIX do mesmo artigo, é abrangente à pretensão da reparação de dano moral defluente de acidente do trabalho a que alude o inciso XXVIII, do art. 7º, da Constituição, consiste em um direito (crédito - no sentido lato) do trabalhador resultante da relação de trabalho, de modo que a prescrição aplicável é a prevista no inciso XXIX do mesmo preceito constitucional. Não há razão para aplicação supletiva ou subsidiária do prazo prescricional estabelecido pelo Código Civil (velho e novo), mormente porque a norma constitucional que prevê a prescrição trabalhista,

172 ALMEIDA, Lucilde D’Ajuda Lyra de. Indenização por dano moral decorrente de acidente de

trabalho – a questão da regra de transição a que se refere o artigo 2.028 do novo código civil. Revista LTr, v. 70, n. 02, Fev. 2006.

173 DALLEGRAVE NETO, José Affonso. A Prescrição em ação trabalhista reparatória e acidentária. Trabalho em Revista, encarte de Doutrina: O Trabalho. Fascículo n. 113, jul./2006, p. 3369.

174 LORA, Ilse Marcelina Bernardi. A Prescrição nas ações de indenização por acidente de trabalho: o problema da competência. Disponível em: http://www.amatra5.org.br/artigos. Acesso em: 19 dez. 2006.

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ao encerrar um único prazo prescricional para as pretensões deduzidas perante a Justiça do Trabalho, não permite invocação de outros prazos fixados pelo diploma civil.175

Sebastião Geraldo de Oliveira, por sua vez, entende que as duas

correntes oferecem argumentos ponderáveis, porém, acredita que deve prevalecer o

prazo prescricional aplicável aos créditos trabalhistas, conforme defendido na

segunda corrente no que tange às ações novas, que já estão sendo ajuizadas na

Justiça do trabalho. 176

Dada a divergência doutrinária, os tribunais regionais ainda não

consolidaram uma das correntes, havendo julgados com as duas teorias

prescricionais: civilista e trabalhista. É o que se vislumbra nas seguintes ementas do

Tribunal Regional do Trabalho da 12ª região, de Santa Catarina, o qual aplica os

dois prazos prescricionais:

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL E PATRIMONIAL DECORRENTE DE ACIDENTE DE TRABALHO. PRESCRIÇÃO. Sendo da Justiça do Trabalho a competência para apreciar o pedido de indenização por danos sofridos pelo empregado em razão de acidente de trabalho ocorrido no curso da relação de emprego havida entre as partes, decorrentes de alegado ato ilícito praticado pelo empregador, é inegável que essa indenização, caso venha a ser deferida, constituirá crédito resultante dessa relação de trabalho, atraindo a aplicação do art. 7º, XXIX, da CF, que assegura aos trabalhadores o direito de “ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato”. (RO-00682-2005-008-12-00-9, 1ª Turma, TRT/12, rel. Juiz Garibaldi T. Pereira Ferreira, j. 9-2-2006) INDENIZAÇÃO DECORRENTE DE ACIDENTE DE TRABALHO. PRESCRIÇÃO. A indenização por acidente de trabalho também constitui um direito de natureza trabalhista, consoante expressa disposição contida no art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal, pelo que aplicável a prescrição nos moldes estabelecidos no art. 7º, XXIX, do mesmo Diploma. (RO-V 01189-2005-008-12-00-6, 3ª Turma, TRT/12, rel. Juiz Gerson Paulo Taboada Conrado, j. 5-6-2006) AÇÃO POR DANO MATERIAL E MO-RAL. ACIDENTE DE TRABALHO. PRESCRIÇÃO. FONTE DO DIREITO MATERIAL. CÓDIGO CIVIL. Estando o pedido de indenização por dano material e moral decorrente de acidente de trabalho apoiado em norma prevista no Código Civil, e não na Constituição Federal, aplica-se-lhe a prescrição civil, e não a trabalhista. (RO-00572-2005-012-12-00, 3ª Turma, TRT/12, rel. Juiz Gilmar Cavalheri, j. 1-6-2006) INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DECORRENTE DE ACIDENTE DE TRABALHO. PRESCRIÇÃO APLICÁVEL. Diante das divergências acerca da competência para julgamento das ações indenizatórias decorrentes de

175 ALENCAR, Eduardo Fornazari. A Prescrição do dano moral decorrente de acidente do

trabalho. São Paulo: LTr, 2004. 176 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença

ocupacional. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 320.

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acidente de trabalho existentes até a promulgação da Emenda Constitucional nº 45, não há como aplicar a prescrição prevista no art. 7º, XXIX, da CF às ações em andamento, quer ajuizadas na Justiça Comum ou nesta Justiça Especializada, já que isso prejudicaria o trabalhador, exigindo dele que observasse o prazo prescricional estabelecido aos créditos trabalhistas em geral, quando não estava obrigado a tanto. Portanto, o prazo prescricional aplicável às ações que versem sobre indenização decorrente de acidente de trabalho ocorrido anteriormente à promulgação da Emenda Constitucional nº 45 é aquele fixado como regra geral no CC. (RO-01147-2003-017-12-00-4, 3ª Turma, TRT/12, rel. Juíza Gisele Pereira Alexandrino, j. 5-12-2006)

Confirmando a contradição entre os tribunais, no TRT do Estado do Rio

Grande do Sul, 4ª região, os julgados vão ao encontro da prescrição civil, conforme

se colaciona dos seguintes acórdãos:

EMENTA: PRESCRIÇÃO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO (DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS). A redefinição da competência não pode alterar o prazo prescricional, como no caso em análise, porque não alterada a qualificação do direito material. Portanto, a prescrição relativa ao pleito de indenização decorrente de acidente de trabalho é aquela prevista no inciso V do § 3º do artigo 206 do Código Civil e não aquela do inciso XXIX do artigo 7º da CF/88. Ajuizada a presente ação em 16.12.2005, não há falar em prescrição do direito de ação. Retorno dos autos à instância de origem que se impõe, para exame do restante do mérito. Recurso provido. (RO-01761-2005-401-04-00-9, TRT/4, rel. Juiz Juraci Galvão Júnior, j. 24-11-2006) EMENTA: ACIDENTE DO TRABALHO. DANOS MORAL, ESTÉTICO E MATERIAL. PRESCRIÇÃO DO DIREITO DE AÇÃO. Trata-se de obrigação decorrente da responsabilidade civil do empregador, com pilares sólidos emanados do Direito Comum, o que justifica a aplicação da regra de prescrição adotada naquele ramo do direito. O novo Código Civil entrou em vigor em 12-01-2003, data em que, considerando-se a ocorrência do acidente em 19-01-94, ainda não havia transcorrido a metade do prazo prescricional de 20 anos estipulado no artigo 177 do Código Civil de 1916. Assim, inaplicável ao caso dos autos a regra antiga. O prazo prescricional a ser observado é aquele da lei nova, ou seja, 3 (três) anos, nos termos do art. 206, § 3º, V, do Código Civil de 2002. Recurso provido. (RO-01603-2005-811-04-00-9, TRT/4, rel. Juíza Eurídice Josefina Bazo Tôrres, j. 9-10-2006)

Já o Tribunal Regional do Trabalho da 10º região – Distrito Federal e

Tocantins, aplica em seus julgados a prescrição trabalhista, conforme se verifica:

PRESCRIÇÃO. ACIDENTE DO TRABALHO. DANO MORAL E MATERIAL. A indenização dos danos materiais e morais sofridos pelo trabalhador em razão da colocação de sua força de trabalho em prol do empregador, ocorridos no curso da relação empregatícia, ostenta natureza de crédito trabalhista. Por conseqüência, a pretensão indenizatória deduzida em face do empregador, assim como os demais créditos trabalhistas, prescreve no prazo fixado no art. 7º, XXIX, da CF, excepcionando-se da regra apenas o FGTS, ao qual é conferido tratamento legal diferenciado. (RO-00440-2006-003-10-00-5, 3ª Turma, TRT/10, rel. Juiz José Ribamar O. Lima Junior, j. 17-11-2006) AÇÃO INDENIZATÓRIA FUNDADA EM ACIDENTE DO TRABALHO - PRESCRIÇÃO APLICÁVEL. "(...) A modificação superveniente da

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competência do órgão julgador não guarda vinculação com a norma jurídica aplicável no que se refere ao prazo prescricional. A indenização por danos materiais e moral cobrada do empregador emanada de acidente do trabalho envolve crédito resultante da relação de trabalho(CF, art.7.º,XXVIII). Afirma-se, em razão disso, que houve a constitucionalização da responsabilidade civil ante a inclusão de tal indenização no rol dos direitos sociais assegurados ao trabalhador. Insere-se, assim, dentro da amplitude da norma capitulada no inciso XXIX do art. 7.º da Carta Republicana, que prevê a incidência da prescrição bienal após extinto o contrato de trabalho, sobretudo quando já ciente o empregado do dano sofrido, daí a impertinência da evocação dos prazos previstos na Lei Civil, até porque com aquela verticalmente incompatíveis. (RO-00918-2005-002-10-00-0, 3ª Turma, TRT/10, rel. Juíza Márcia Mazoni Cúrcio Ribeiro, j. 10-11-2006)

Esse entendimento vem se consolidando no próprio Tribunal Superior do

Trabalho:

AÇÃO RESCISÓRIA. DANO MORAL. ACIDENTE DE TRABALHO. PRESCRIÇÃO. Tratando-se de pretensão de indenização por danos morais e materiais deduzida perante a Justiça do Trabalho, sob o fundamento de que a lesão decorreu da relação de trabalho, não há como se entender aplicável o prazo prescricional de 20 anos previsto no Código Civil, porquanto o ordenamento jurídico trabalhista possui previsão específica para a prescrição, cujo prazo, que é unificado, é de cinco anos do dano decorrente do acidente de trabalho, conforme estabelece o artigo 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal e o artigo 11 da Consolidação das Leis do Trabalho. Recurso ordinário a que se nega provimento. (ROAG 1426/2002-000-15-00, TST, rel. Min. Gelson de Azevedo, DJ 26-8-2005)

Neste trabalho de conclusão de curso, acompanha-se o entendimento de

que deve prosperar a prescrição trabalhista, pois parece inadmissível a tese de que

o acidente do trabalho tenha natureza diversa da trabalhista, e, com isto, prazo

prescricional diverso do utilizado nestas ações.

Ainda, consoante José Augusto Rodrigues Pinto:

A natureza da responsabilidade do empregador é obviamente trabalhista porque o acidente no trabalho e o dano sofrido pelo empregado são “oriundos”, para usar a expressão da Magna Carta, da relação de emprego.177

Jorge Luiz Souto Maior rejeitou a prescrição civil nas ações indenizatórias

de acidente do trabalho, afirmando que o alicerce para reparação do dano

decorrente do acidente do trabalho não é civil, pois se assim fosse, o legislador teria

incluído expressamente o acidente do trabalho em uma das suas exceções do art.

206 do Código Civil Brasileiro.178

O juiz Gerson Paulo Taboada Conrado, do TRT da 12ª região, afirma, em

um dos julgados em que foi relator, que apesar das decisões em sentido contrário, o 177 PINTO, José Augusto Rodrigues. Prescrição, indenização acidentária e doença ocupacional.

Revista LTr, v. 70, n. 01, Jan. 2006. 178 MAIOR, Jorge Luiz Souto. A Prescrição do direito de ação para pleitear indenização por dano

moral e material decorrente de acidente do trabalho. Revista LTr, v. 70, n. 05, Maio 2006.

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deslocamento da competência para julgamento das ações de indenização por

acidente do trabalho, não modifica os prazos prescricionais, que devem guardar

relação com a matéria em análise.179 “Portanto, se a matéria é eminentemente

trabalhista, a prescrição aplicável é de cinco anos, até o limite de dois anos após a

extinção do contrato de trabalho.”180

Fica clara a divergência que há entre as duas normas – Constituição

Federal (na qual está previsto o prazo prescricional das ações trabalhistas) e Código

Civil Brasileiro (onde constam os prazos prescricionais das ações indenizatórias) –

porém, vale lembrar, que sob o prisma do Princípio da Norma Mais Favorável, há de

ser aplicada a norma mais vantajosa ao trabalhador. E, sobre este princípio, Luiz de

Pinho Pedreira da Silva assim explicou:

Constitui objeto de árdua controvérsia saber qual das fontes formais de Direito pertinentes ao caso concreto é a mais favorável. A respeito do tema formaram-se diversas teorias, cada qual pretendendo oferecer o método correto de determinação da norma mais favorável. [...] De acordo com a teoria do conglobamento deve-se, ao comparar as fontes, verificar qual delas, em conjunto, é mais benéfica ao trabalhador, e preferi-la, excluindo totalmente de aplicação as outras, consideradas menos favoráveis em bloco.181

Esclarece Amauri Mascaro Nascimento, que:

Ao contrário do direito comum, em nosso direito entre várias normas sobre a mesma matéria, a pirâmide que entre elas se constitui terá no vértice, não a Constituição Federal, ou a lei federal, ou as convenções coletivas, ou o regulamento de empresa, de modo invariável e fixo. O vértice da pirâmide da hierarquia das normas trabalhistas será ocupado pela norma mais favorável ao trabalhador dentre as diferentes em vigor.182

Como se verifica, o emprego da norma mais favorável ocorre caso haja

uma pluralidade de normas aplicáveis a um caso concreto, devendo-se optar por

aquela que seja mais favorável ao trabalhador, independentemente da hierarquia

das normas jurídicas.

Acredita-se neste trabalho, que a norma mais favorável ao trabalhador-

acidentado é aquela que aplica a prescrição qüinqüenal, ou seja, a Constituição da

República Federativa do Brasil. Cita-se como exemplo, um trabalhador que sofreu

acidente do trabalho no ano de 2006; em caso de adoção da regra do Código Civil,

179 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. 12 Ac. 3. Turma. N. 03724/2007 RO 00059-2004-009-

12-00-1. Relator Gerson Paulo Taboada Conrado. Florianópolis, 12 mar. 2007. Disponível em: <http://www.trt12.gov.br/>. Acesso em: 20 mar. 2007.

180 Idem. 181 SILVA, Luiz de Pinho Pedreira da. Principiologia do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1999. 182 NASCIMENTO, Amauri mascaro. Compêndio de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1977, p.

235.

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este trabalhador somente teria três anos, ou seja, até o ano de 2009 para demandar

indenização na Justiça, sendo que, se continuasse trabalhando na mesma empresa,

seria pouco provável que arriscasse seu emprego demandando contra a

empregadora, deixando-a impune. Prosseguindo no mesmo exemplo, se fosse

aplicada a regra de prescrição prevista na CRFB/88, de cinco anos, o empregado

poderia agir da seguinte forma: trabalhar na mesma empresa até o ano de

2011(garantindo, desta forma, sua sobrevivência), e ao se desligar da mesma,

demandar contra a empregadora pelo acidente ocorrido há cinco anos, possuindo,

ainda, conforme previsto na CRFB/88, dois anos após a rescisão do contrato de

trabalho para demandar contra o empregador. Fica claro, neste exemplo, que se

aplicada a norma da prescrição trabalhista, o trabalhador teria uma vantagem de

dois anos, sendo-lhe, portanto, mais favorável.

3.4.1 Prescrição das ações de indenização por acidente do trabalho remetidas

à justiça do trabalho

Em razão da mudança da competência, a partir da vigência da Emenda

45, os processos ajuizados perante o Juízo Estadual estão sendo remetidos para a

Justiça do Trabalho. E este é um ponto delicado a ser tratado, pois o empregado,

vítima de acidente do trabalho, não pode ser prejudicado em virtude da mudança da

lei.

Ilse Marcelina apud Sebastião Geraldo de Oliveira demonstra a

importância com que a questão deve ser tratada, in verbis:

Questão que vem causando perplexidade no julgamento de tais ações pela Justiça do Trabalho diz respeito à prescrição aplicável, (...) pois, não raro, após anos de tramitação na Justiça Estadual, o processo chegando à Vara do Trabalho, é extinto, com exame do mérito, em razão da pronúncia da prescrição disciplinada no art. 7º, XXIX, da Constituição Federal, muitas vezes apenas argüida pelo interessado após o encaminhamento dos autos pela Justiça Estadual.183

Da introdução da Revista LTr de dezembro de 2005, colaciona-se que as

ações que tramitam perante a Justiça Estadual, já com sentença de mérito anterior à

183 LORA, Ilse Marcelina Bernardi. A Prescrição nas ações de indenização por acidente de

trabalho: o problema da competência. Disponível em: http://www.amatra5.org.br/artigos. Acesso em: 19 dez. 2006.

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promulgação da EC 45/04, devem continuar naquela Justiça até o trânsito em

julgado, inclusive sua correspondente execução. Quanto àquelas ações, cujo mérito

ainda não foi apreciado, hão de ser remetidas à Justiça do Trabalho, no estado em

que se encontram, com total aproveitamento dos atos praticados até então.184

A partir desta explicação, vislumbram-se dois momentos diferentes no

processo trabalhista, quais sejam: 1º. As ações que estão em trâmite avançado na

Justiça Comum (já com sentença de mérito) não devem ser remetidas à Justiça do

Trabalho, pois poderia causar insegurança para as partes. Caso fossem

encaminhadas todas as ações indenizatórias por acidente do trabalho, de imediato,

à Justiça Trabalhista, esta poderia extinguir o processo sem julgamento de mérito,

em virtude da prescrição extintiva aplicada no Direito do Trabalho, que é de até dois

anos após a rescisão contratual do empregado. Neste caso, seria necessário que o

processo fosse completamente julgado pela Justiça Comum e, dessa forma,

aplicada a prescrição civil, ou, até mesmo, que fossem encaminhadas à Justiça do

Trabalho, mas aplicado o prazo prescricional do Direito Civil; 2º. As ações que foram

ajuizadas na Justiça Comum, mas que ainda não possuem sentença de mérito,

devem ser remetidas prontamente à Justiça do Trabalho, visto que é de sua

competência. Contudo, todos os atos processuais praticados naquele juízo devem

ser aproveitados na Justiça Trabalhista, por economia e celeridade processual.

Ainda, conforme já mencionado, a prescrição a ser aplicada a tais ações deve ser a

trabalhista.

Em Instrução Normativa de nº 27, baixada com a resolução nº 126/05, o

Tribunal Superior do Trabalho explicou a sistemática a ser utilizada nas ações

ajuizadas na Justiça do Trabalho da seguinte forma185:

Art. 2º A sistemática processual a ser observada é a prevista na Consolidação das Leis do Trabalho, inclusive no que tange à nomenclatura, à alçada, aos prazos e às competências.

Contudo, esta sistemática deve ser utilizada apenas nas ações novas,

originariamente ajuizadas na Justiça Trabalhista, pois nas ajuizadas perante a

Justiça Estadual, anteriormente à Emenda 45, segundo Sebastião Geraldo de

184 AÇÃO de Indenização decorrente de Acidente do Trabalho: Definida a Competência da Justiça do

Trabalho. Introdução. Revista LTr, v. 69, n. 12, Dez. 2005. 185 PINTO, José Augusto Rodrigues. Prescrição, indenização acidentária e doença ocupacional.

Revista LTr, v. 70, n. 01, Jan. 2006.

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Oliveira, em nome da segurança jurídica, deve-se aplicar a prescrição do Código

Civil Brasileiro.186

3.4.2 Termo inicial do prazo prescricional das ações de indenização de

doenças ocupacionais

Como já visto nesta monografia, o Supremo Tribunal Federal, através do

julgamento do conflito de competência nº 7.204/MG, de 29-06-2005, trouxe para a

Justiça do Trabalho todas as ações indenizatórias sobre acidentes do trabalho,

incluídas neste rol as doenças ocupacionais, consoante art. 18, h, da lei nº 8.213/91.

Após abordar a prescrição trabalhista, nas ações de indenização por

acidente do trabalho, o problema suscitado neste momento é qual o termo inicial

deste prazo, nos casos de doenças ocupacionais, eis que, diferentemente do

acidente do trabalho típico, no qual o acontecimento tem data certa, a doença

ocupacional, no mais das vezes, é um acontecimento continuado, causando enorme

dificuldade na percepção de quando iniciou.187

Assim explica José Augusto Rodrigues Pinto:

O caráter do fato gerador passa a ter grande relevo, então, porque define o modo de fixação do termo inicial que estamos procurando. Realmente a doença ocupacional é totalmente distinta do acidente no trabalho, quanto ao modo de manifestar-se: enquanto uma é enfermidade adquirida por conseqüência do exercício da profissão, o outro é eventualidade que atinge o trabalhador, incapacitando-o para trabalhar.188 (grifos do autor)

Sebastião Geraldo de Oliveira afirma que o adoecimento é um processo

cumulativo que pode levar anos até atingir o grau irreversível de incapacitação total

ou parcial para o trabalho. Normalmente, no início da enfermidade, o trabalho

começa com simples acompanhamento médico, sem interrupção do trabalho;

depois, com o agravamento dos sintomas, surgem afastamentos temporários, às

vezes intercalados com altas e retornos ao trabalho; em seguida, ocorre afastamento

mais prolongado, como pagamento de auxílio-doença pela Previdência Social;

186 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença

ocupacional. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 319. 187 PINTO, op. cit.. 188 PINTO, José Augusto Rodrigues. Prescrição, indenização acidentária e doença ocupacional.

Revista LTr, v. 70, n. 01, Jan. 2006.

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finalmente, após a consolidação dos efeitos da doença ou do acidente, constata-se a

invalidez total ou parcial para o trabalho. 189

O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é de que a data do

conhecimento inequívoco do trabalhador sobre sua doença, é a admitida como

termo inicial para contagem do prazo prescricional. É o que reza a súmula nº 278, in

verbis:

Súmula n. 278 – Prescrição – Prazo prescricional – Ação de Indenização – Incapacidade laboral. O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral.

Assim leciona o artigo 104 da lei nº 8.213/91, in verbis:

Art.104. As ações referentes à prestação por acidente do trabalho prescrevem em 5 (cinco) anos, observado o disposto no art. 103 desta Lei, contados da data: I - do acidente, quando dele resultar a morte ou a incapacidade temporária, verificada esta em perícia médica a cargo da Previdência Social; ou II - em que for reconhecida pela Previdência Social, a incapacidade permanente ou o agravamento das seqüelas do acidente. (grifado)

Ressalte-se que o prazo prescricional previsto no dispositivo acima é

utilizado apenas para efeitos de obtenção de prestações vencidas na concessão de

auxílio-acidente pela Previdência Social, não devendo ser aplicado às ações de

indenização por acidente do trabalho em face do empregador. Citou-se este artigo

para fazer uma analogia entre as normas, no que tange ao termo inicial das doenças

ocupacionais.

Portanto, o marco inicial do prazo prescricional nas ações acidentárias,

seguindo o entendimento do STJ, não é a data precisa da lesão, eis que não se

conhece de fato, mas, aquela em que esta foi diagnosticada, através de laudo

pericial.

189 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Prescrição nas ações indenizatórias decorrentes de acidente do

trabalho ou doença ocupacional. Revista LTr, v. 70, n. 05, Maio 2006.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo geral analisar a prescrição das

ações de indenização por acidente do trabalho, considerando o advento da Emenda

Constitucional nº 45/2004 e o deslocamento para a Justiça do Trabalho da

competência para o julgamento dessas ações.

A emenda à Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, de nº

45, do ano de 2004, conhecida como a Reforma do Poder Judiciário, foi importante

para a causa dos trabalhadores no que tange aos acidentes do trabalho, pois

transferiu a competência de processar e julgar as ações indenizatórias da justiça

Ordinária para a Justiça do Trabalho, que é uma justiça especializada em direitos

trabalhistas, sendo mais célere, protecionista e de procedimento mais simplificado,

tornando o acesso à justiça mais eficaz para os trabalhadores.

Ao ser deslocada a competência das ações indenizatórias de acidentes do

trabalho para a Justiça do Trabalho, os trabalhadores brasileiros podem auferir a

vantagem de ajuizar suas ações em um lapso temporal maior, pois o Direito do

Trabalho tem prazo prescricional próprio, previsto na Constituição da República

Federativa do Brasil, de cinco anos, enquanto que o Direito Civil utiliza o prazo do

Código Civil Brasileiro, de três anos.

A partir da promulgação da EC nº 45/2004, duas correntes doutrinárias e

jurisprudenciais se formaram, no que tange ao prazo prescricional aplicável às ações

de indenização por acidente de trabalho: Uma primeira que defende a aplicação do

prazo prescricional previsto no Código Civil Brasileiro, de três anos, e a segunda que

defende os prazos prescricionais trabalhistas, previstos na Constituição da

República Federativa do Brasil.

Analisando as duas correntes, considera-se que é mais vantajosa para o

trabalhador esta última corrente, defensora da prescrição trabalhista de cinco anos

até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho, por ser mais

vantajosa ao trabalhador, com fundamento no princípio da norma mais benéfica ao

trabalhador, o qual diz que em havendo duas normas aplicáveis ao caso concreto,

deve-se aplicar a que for mais favorável ao trabalhador.

Verifica-se, no entanto, que têm sido aplicadas as duas correntes.

Encontra-se julgados utilizando o prazo da prescrição civil nas ações que foram

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ajuizadas antes da EC nº 45/2004, com o fundamento de não gerar instabilidade nas

relações jurídicas, e outros que optam pela prescrição de três anos nas ações

ajuizadas após a emenda. No entanto, existem muitos julgadores que optam pela

prescrição trabalhista.

Acredita-se que os tribunais trabalhistas devem seguir a corrente do prazo

prescricional trabalhista, eis que é matéria de sua competência e por ser mais

vantajoso ao trabalhador.

A matéria é relevante, tendo em vista o número expressivo de acidentes

de trabalho que ocorrem no Brasil. A título de ilustração, estimativas da

Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelam a ocorrência, entre os anos

2000 e 2006, de mais de 2,3 milhões de acidentes do trabalho típico, 250 mil

acidentes de trajeto, 145 mil doenças profissionais e quase 17 mil óbitos. Fica

evidente, a partir das estatísticas, que a problemática do acidente e da doença do

trabalho no Brasil acarreta ao trabalhador inúmeros prejuízos, sendo primordial para

que se preserve sua dignidade que a justiça que lhe assegure alguns direitos, e

entre eles, a indenização pelos danos sofridos.

Anota-se que ao abordar o assunto neste trabalho de conclusão de curso,

não se pretendeu esgotar o tema, mas dar uma contribuição para o seu estudo.

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