prefeitura municipal de sÃo josÉ fundaÇÃo educacional de ... · a menos que modifiquemos a...

94
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ CURSO DE PEDAGOGIA CRISTIANE DA SILVA O ASSISTENCIAL E O EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: Um estudo sobre as relações entre o cuidar e o educar em uma instituição pública do município de São José. São José 2013

Upload: lynhu

Post on 10-Nov-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ

CURSO DE PEDAGOGIA

CRISTIANE DA SILVA

O ASSISTENCIAL E O EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

Um estudo sobre as relações entre o cuidar e o educar em uma instituição

pública do município de São José.

São José

2013

Page 2: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ

CURSO DE PEDAGOGIA

CRISTIANE DA SILVA

O ASSISTENCIAL E O EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

Um estudo sobre as relações entre o cuidar e o educar em uma instituição

pública do município de São José.

Trabalho elaborado para a disciplina de Conclusão de Curso (TCCII), do Curso de Pedagogia, como requisito parcial para o curso de graduação em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ.

Orientadora: Profa. Ma. Alexsandra de Souza Münich.

São José

2013

Page 3: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

CRISTIANE DA SILVA

O ASSISTENCIAL E O EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

Um estudo sobre as relações entre o cuidar e o educar em uma instituição

pública do município de São José.

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para obtenção do grau de licenciada em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ – avaliado pela seguinte banca examinadora:

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________ Profª. Ma. Alexsandra de Souza Münich.

Orientadora - USJ

_________________________________________________________ Profª. Drª Maria Francisca Rodrigues Giron

Examinadora - USJ

_________________________________________________________ Profª. Ma Ana Elisa Cassal

Examinadora - USJ

São José, 24 de junho de 2013.

Page 4: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

À Giovanna da Silva Bernardo, minha filha amada, que me compreendeu nos momentos em

que meu tempo não poderia ser somente dela.

Page 5: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que me deu força, saúde e me acompanhou

em todos os momentos.

Aos meus pais, Roberto José da Silva e Maria Aparecida Luiz da Silva, que,

mais do que me proporcionar uma boa infância, deram-me uma vida regada de bons

momentos, formaram os fundamentos do meu caráter e são o meu porto seguro,

incentivando-me e acreditando no meu potencial.

A meu irmão e amigo Rafael da Silva que fez parte de minha infância e que

sempre me proporciona bons momentos.

A meu esposo, Jean Claudio Bernardo, que me compreendeu quando eu

estava ausente e me deu forças para continuar; meu companheiro e amigo amoroso,

o qual ouvia sempre com paciência minhas angustias.

A minha filha, Giovanna da Silva Bernardo, que me proporcionou muitos

momentos de alegria e, nos meus momentos difíceis, trouxe-me o riso para aliviar

minha agonia.

Ao meu avô, José Emidio da Silva (in memoriam), e a minha avó, Vilma

Filomena da Silva, ambos exemplos de honestidade, de amor e de perseverança ,

que sempre sonharam com este momento, incentivando-me e apoiando-me em

minhas escolhas; compreendendo minha ausência com a difícil jornada de estudos e

de trabalho.

Aos meus demais familiares que compreenderam minha ausência nos

encontros de família.

A minha orientadora, Alexsandra de Souza Münich, exemplo admirável de

comprometimento com a educação, que caminhou comigo, incentivando-me e

guiando-me.

À instituição que me recebeu de braço abertos, disponibilizando o espaço

para a realização desta pesquisa.

E a todos que acreditaram em mim e me deram forças para continuar.

Page 6: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos

capazes de resolver os problemas causados pela forma como nos

acostumamos a ver o mundo.

Albert Einstein

Page 7: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar um estudo sobre o desenvolvimento da educação infantil no Brasil, ou seja, mostrar a transição do assistencialismo para o educativo bem como analisar as relações e interfaces do cuidar e do educar, por meio de questionários e de observações em uma instituição de educação infantil pública do município de São José. Inicio com um levantamento histórico da educação infantil e das leis que impulsionaram as mudanças nas concepções de educação da instituição. A partir das informações obtidas, foi realizada uma reflexão sobre o cuidar e o educar, mostrando que devem ser indissociáveis na educação de crianças de zero a seis anos.

Palavras-chave: Educação Infantil. Assistencialismo. Educativo. Cuidar.

Educar.

Page 8: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

LISTA DE FOTOS

Foto 1. Centro de Educação Infantil "R. T.". ...................................................................45

Foto 2. Grupo I – Momento da acolhida. ........................................................................47

Foto 3. Grupo I – O espaço. ..........................................................................................49

Foto 4. Grupo I – O espaço 2.........................................................................................50

Foto 5. Grupo I – Obstáculos.........................................................................................51

Foto 6. Grupo IV – Brincadeira no Solário......................................................................55

Foto 7. Grupo IV – O dentinho feliz...............................................................................56

Foto 8. Grupo IV – Pintando o dentinho. ........................................................................58

Foto 9. Grupo V – Brincadeiras livres. ...........................................................................59

Foto 10. Grupo V – Contação de história. .......................................................................60

Foto 11. Grupo V – Construindo um gatinho ..................................................................62

Foto 12. Grupo VII – Acolhida/Brincadeira livre. ............................................................64

Foto 13. Grupo VII – Roda de músicas...........................................................................66

Page 9: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................09

2. O LUGAR DA CRIANÇA AO LONGO DA HISTÓRIA.........................................12

2.1 UM BREVE RETROSPECTO SOBRE A CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA.............12

2.2 A INFÂNCIA NA ATUALIDADE..........................................................................14

2.3 O HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL.........................................................16

2.4 A EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA LEGISLAÇÃO ................................................23

2.4.1 A política federal para a Educação Infantil nas décadas de 1990 e 2000 ........23

2.4.2 A política estadual para a Educação Infantil nas décadas de 1990 e 2000 .....30

2.5 CUIDAR E EDUCAR ...........................................................................................35

2.6 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES (AS) DA EDUCAÇÃO INFANTIL..............39

3 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA...................................................42

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS DA PESQUISA...............45

4.1 A INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL PESQUISADA..............................45

4.2 OBSERVANDO O CUIDAR E O EDUCAR NO COTIDIANO DA INSTITUIÇÃO.47

4.3 O OLHAR DAS PROFESSORAS PESQUISADAS SOBRE O CUIDAR E O EDUCAR ...................................................................................................................67

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................73

REFERÊNCIAS.........................................................................................................76

ANEXOS ...................................................................................................................81

APÊNDICE A ............................................................................................................82

APÊNDICE B ............................................................................................................83

QUESRIONÁRIOS....................................................................................................84

Page 10: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

9

INTRODUÇÃO

No Brasil, até o século XX, instituições de ensino voltadas a educação de

crianças de zero a seis anos1 não possuíam movimentos progressivos que

assumissem responsabilidades em busca dos direitos das crianças. Apesar de surgir

uma série de iniciativas nesse sentido, estas não obtiveram êxitos consideráveis que

transformassem de maneira geral as políticas públicas direcionadas às crianças

menores. Essas instituições iniciaram suas atividades com um caráter

assistencialista2, voltado para o atendimento da saúde, para as questões higienistas,

e com poucas preocupações para as iniciativas educacionais.

Perceber a criança como parte do contexto social, dotada de capacidade de

desenvolvimento, foi o primeiro passo para a transformação do caráter das

instituições infantis. A Constituição de 1988 foi um marco para a instituição, a qual

determina que a Educação Infantil é um dever do Estado brasileiro. A partir desse

momento, a instituição de educação infantil passou a ser vista como parte dos

direitos da criança, e não apenas como obrigação para com as mães trabalhadoras.

Em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente veio reforçar esse direito,

tornando a instituição mais preparada para atender os pequenos.

Atualmente as leis buscam se aproximar de uma concepção de infância que

se desenvolveu e estruturou alicerces na história e na cultura, reconhecendo as

especificidades e identificando as singularidades dessa faixa etária. As instituições

de educação infantil foram sendo remodeladas a partir do momento em que o

Estado passou a assumir o seu papel em relação à criança, garantindo e

preservando a sua integridade e o seu desenvolvimento tanto no âmbito físico,

quanto no emocional e no intelectual.

Nesse sentido, o objetivo geral dessa pesquisa é investigar, por meio de

observação, o cotidiano de uma instituição de educação infantil pública do município 1 O termo “de zero a seis anos” vem sendo utilizado em vários documentos relacionados à educação infantil no Brasil. Conforme o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), de 2010, o ingresso na educação infantil é limitado a crianças de zero a seis anos, sendo que as crianças que completam seis anos após 31 de março do ano da inscrição são matriculadas no 1º ano do ensino fundamental. 2 “Assistencialista” é um termo utilizado quando ocorre uma prática politica que visa assistir os mais carentes, social e economicamente. Para Kuhlmann, a educação infantil oferecida nas instituições possuía objetivos bem delimitados de cuidados básicos e guarda. “As instituições pré-escolares foram difundidas internacionalmente... como parte de um conjunto de medidas que conformam uma nova concepção assistencial...” (1998).

Page 11: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

10

de São José, a fim de refletir sobre as relações de cuidar e educar que permeiam a

mesma. Sendo assim, definiram-se os seguintes objetivos específicos:

- Realizar um levantamento bibliográfico sobre o processo histórico em que a

instituição de educação infantil se desenvolveu no Brasil, tendo em vista a

conotação assistencial em que se iniciou;

- Descrever e relacionar as leis que ampliaram os direitos das crianças no

âmbito da educação infantil;

- Refletir acerca das interações entre o/a educador/a3 e as crianças nas

relações de cuidado e de educação que permeiam na instituição;

- Analisar as situações de aprendizagem propostas pelas professoras

observando as intenções pedagógicas que permeiam as mesmas;

- Analisar o ponto de vista das professoras em relação ao cuidar e ao educar

no ensino infantil;

- Observar como tem sido organizado o cotidiano das crianças na instituição

de educação infantil a fim de compreender as relações de cuidar e educar.

Será levantado, neste estudo, o processo histórico em que a educação infantil

no Brasil se desenvolveu, elementos trazidos por Moisés Kuhlmann Jr.4 que

possibilitam a reflexão sobre a concepção de infância e o desenvolvimento da

instituição. Além disso, serão trabalhadas e questionadas algumas leis e diretrizes

que envolvem a constituição das instituições de ensino infantil no formato que

conhecemos atualmente. Levando em consideração que a educação infantil é um

direito da criança que implica um compromisso dos órgãos públicos e buscando

respostas pautadas nesse processo histórico em que se formou a educação infantil,

definiu-se o seguinte questionamento: Como se desenvolvem as relações entre

cuidar e educar em uma instituição de educação infantil pública do município de São

José, levando em consideração o processo histórico em que a mesma se

desenvolveu?

3 O termo “educador(a)” é utilizado neste trabalho com o mesmo sentido do termo

“professor(a)”, sem distinção de formação e funções pedagógicas, pois há vários questionamentos quanto a palavra educador(a) no sentido de que qualquer pessoa sem formação poderia educar uma criança. Há também, os que mencionam o educador(a) como um profissional que possui vocação trabalhando com amor e dedicação, deferentemente do professor que é apenas um profissional, com diz Rubens Alves 2004. 4 Kulmann Jr., formou-se em pedagogia pela faculdade de educação da USP, Mestre em

Educação pela PUC-SP e Doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O autor aborda a importância da história da educação infantil para refletir sobre os aspectos atuais da instituição e as contribuições dessas reflexões para a formação pedagogia.

Page 12: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

11

É sabido que a educação infantil tem papel fundamental no desenvolvimento

humano e social dos pequenos. Sendo assim, este estudo almeja analisar o cuidar e

o educar, observando as questões existentes no cotidiano da instituição. O cuidado

foi o foco da educação infantil durante os séculos em que os objetivos cotidianos

estavam ligados à assistência. A mudança na concepção de infância e toda a

trajetória histórica de lutas alavancaram leis que permitem um novo olhar para a

criança. As instituições possuem amparo legal para cuidar e educar de forma

indissociável, com um cotidiano de trabalhos intencionados, a fim de possibilitar a

construção do conhecimento.

As instituições de educação infantil mudaram legalmente suas concepções,

porém o envolvimento de toda estrutura de um centro de educação infantil, desde a

formação dos professores até os espaços e materiais disponibilizados, é que

realmente fazem da instituição um espaço pedagógico. Assim como a formação dos

educadores que trabalham com as crianças de zero a seis anos, o espaço, os

materiais, a disponibilidade de auxiliares de ensino, a participação de todos na

construção do projeto político pedagógico, uma concepção de educação atenta ao

tempo das crianças, o desenvolvimento de projetos pensados para os pequenos e o

respeito aos direitos das crianças também são características fundamentais para

uma instituição infantil com concepções pedagógicas.

Page 13: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

12

2. O LUGAR DA CRIANÇA AO LONGO DA HISTÓRIA

2.1 UM BREVE RETROSPECTO SOBRE A CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA

Alguns autores resumem o entendimento de criança apenas como indivíduo

oposto ao adulto, porque possui menos idade e/ou maturidade. Porém, não se trata

de algo tão simples. Existem determinados papéis com diferentes desempenhos

atribuídos à criança que devem ser levados em consideração. Sendo que há uma

série de variáveis ligadas a questões sociais, econômicas e culturais que influenciam

nesta definição de infância, não podemos afirmar que existe uma homogeneidade da

população infantil, pois estaríamos desvinculando-as de suas realidades.

[...] considerar a infância como uma condição da criança. O conjunto de experiências vividas por elas em diferentes lugares históricos, geográficos e sociais é muito mais do que uma representação dos adultos sobre esta fase da vida. É preciso conhecer as representações da infância e considerar as crianças concretas, localizá-las nas relações sociais, etc., reconhecê-las como produtoras da história. (Kuhlmann Jr., 1998: 31).

Até então, a trajetória histórica da infância na humanidade veio nos

mostrando sentimentos a seu respeito que não consideravam a importância desta

fase da vida. Não havia uma preocupação com a criança, em estudar seu

desenvolvimento, sequer se reconhecia diferenças comportamentais, afetivas,

psicológicas ou físicas entre elas e os adultos. A partir do século XVIII, um novo

sentimento de infância, preocupado com o desenvolvimento das crianças,

disseminou-se pela sociedade, trazendo como foco o cuidado com a saúde física e

com a higiene, a chamada puericultura5. É a partir deste momento que a criança

passa a ser considerada diferente dos adultos, carente de cuidados e proteção e

toma lugar central na família. O sentimento de infância começou a surgir, havendo,

assim, a distinção entre a criança e o adulto, a consideração de todas as suas

5 Puericultura é o acompanhamento do desenvolvimento infantil. As ações de puericultura, no

Brasil, são percebidas no século XVIII com a criação das Casas de Expostos e o atendimento assistencial voltado para as crianças. As questões higienistas da época também praticavam a puericultura, como o objetivo de acompanhar o crescimento da criança orientando sobre vacinação, alimentação e prevenção de doenças. Para saber mais, ver: < http://www.fmabc.br/disciplinas/images/pdf/manual_pediatria_puericultura.pdf.>

Page 14: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

13

particularidades e capacidade de desenvolvimento, a análise do contexto social em

que estaria inserida.

Foi com o aparecimento das primeiras escolas que passou a se considerar a

infância como mais longa, que não findava quando se aprendia a andar e a falar

como os adultos. Nessa época, as crianças eram tratadas como pequenos adultos.

A fase escolar contribuiu para esta visão, uma vez que foram sendo percebidas

diferenças cognitivas entre adultos e crianças. Nesse tempo, o sentimento de

infância era voltado para o lado assistencialista.

O sentimento moderno de infância corresponde a duas atitudes contraditórias que caracterizam o comportamento dos adultos até os dias de hoje: uma considera a criança ingênua, inocente e graciosa e é traduzida pela paparicação dos adultos; e outra surge simultaneamente à primeira, mas se contrapõem a ela, tomando a criança como um ser imperfeito e incompleto, que necessita de moralização e da educação feita pelo adulto. (Kramer, 1984: 18)

A concepção de infância que temos nos dias atuais é uma visão construída

historicamente, em que é possível perceber o contraste existente entre a atualidade

e algumas décadas atrás. A criança passou a ocupar um local de destaque na

sociedade muito diferente da época em que sua presença era praticamente

imperceptível. Nesta época, as crianças eram inibidas de participar socialmente da

vida comunitária e eram tratadas como um pequeno adulto, passando

despercebidas suas características e peculiaridades. Esse duplo sentimento que

Kramer aborda vem com essa construção histórica do espaço da criança no lar,

surgindo uma nova concepção de família.

Até o final do século XVIII e inicio do século XIX, a infância não possuía uma

definição muito concreta, jovens de dezoito anos ou até mais eram chamados de

crianças. Além disso, diluir as diferenças entre adultos e crianças, ocultava ainda

mais a essência e a importância de especificidade destas.

No século XVIII, ocorreram muitas transformações sociais que contribuíram

para a percepção da criança como um ser particular. As reformas religiosas católicas

e protestantes, as transformações tecnológicas e as mudanças sociais alavancaram

as grandes mudanças na história da concepção de infância. As crianças passaram

Page 15: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

14

a ser vistas como sujeitos de direitos, legítimas como figura social, possuidoras de

respeito em todas as suas dimensões.

Essa etapa da história em que a concepção de infância se construiu

transformou a visão que se tinha das crianças. Os pequenos passaram a ocupar um

lugar de destaque na sociedade, que passou a valorizar a infância. Essa valorização

contribuiu para o desenvolvimento do olhar pedagógico dentro da educação,

preocupada com as novas adaptações de métodos educacionais que satisfizessem

as novas demandas desencadeadas por estas transformações.

2.2 A INFÂNCIA NA ATUALIDADE

Atualmente a concepção de que a criança é um ser com características bem

diferentes das dos adultos, um ser particular e de direitos, tem gerado as maiores

mudanças na Educação Infantil. Essa nova concepção tem tornado o atendimento

às crianças de 0 a 6 anos ainda mais específico, exigindo do educador uma postura

consciente de como deve ser realizado o trabalho com as crianças pequenas,

mostrando-lhe as suas especificidades e as suas necessidades enquanto criança e

enquanto cidadão.

Outro ponto fundamental é o processo de socialização que a criança vivencia

no ambito familiar nos seus primeiros anos de vida, onde aprende boa parte da

cultura materna. E, posteriormente, no ambiente escolar, onde conhece outras

realidades distintas das vivenciadas em família, como aponta Ferreira (2000):

[...] a Sociologia da família, ao privilegiar a socialização das crianças pequenas, sobrevalorizando as questões que se prendem com as aprendizagens básicas centradas em torno da relação mãe-filho, tem-nas construído como uma idade associal, de espera e dependência, circunscrita a um período de vida que se entende desde o nascimento até à entrada para a escola primária (0-6 anos). Mas se deduz, a partir dos contributos da Sociologia da família que a infância começa com o nascimento, ela não acaba aos 6 anos, ficando, ausentes as idades que se seguem [...]. (FERREIRA, 2000)

Page 16: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

15

Para Ferreira (2000), a família promove os primeiros ensinamentos às

crianças enquanto são dependentes, e esse período de dependência, por vezes, se

perpassa até a entrada da criança à escola.

[...] a escola enquanto instituição social representa o tempo que organiza, molda e orienta todos os outros tempos da infância, o local onde se realiza a socialização secundária das crianças e se assiste ao processo da sua escolarização, ou seja, onde se processa a aprendizagem da trilogia: leitura, escrita e cálculo, bases fundamentais para aceder à cultura letrada. (FERREIRA, 2000).

A criança passa por várias transformações durante a infância. Em seus

primeiros anos de vida, os pequenos se deparam com diversas situações de

confronto, sentimentos diferentes, situações de disputa, entre outras descobertas

que fazem a criança começar a perceber que no ambiente onde vivemos há infinitas

regras de convivência e leis preestabelecidas pela sociedade. Tais situações fazem

com que os pequenos comecem a entender a realidade do mundo em que vivem,

aprendendo a lidar com os acontecimentos do cotidiano e a conviver com as outras

pessoas. Os pequenos participam das relações sociais, desenvolvem-se através da

interação com o outro e com o meio em que vivem. As crianças buscam participar

dessas relações se aproximando e se apropriando de comportamentos e valores

que permeiam a realidade em que vivem.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil6 (RCNEI) traz a

concepção de infância como construída historicamente e a ideia de que atualmente

não há apenas uma maneira de se considerar a criança, pois há múltiplas

diversidades de realidades sociais, culturais, étnicas e etc. que podem interferir

nessa noção de infância. Sabemos que existem crianças que trabalham, que são

exploradas, que sofrem maus tratos e abusos, que não possuem seus direitos

garantidos.

6 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) foi aprovado em 1998 e possui três volumes. O objetivo deste documento é servir de guia reflexivo sobre a prática educativa de qualidade. Os três volumes abordam diversos aspectos da educação infantil, desde a concepção de criança até a experiência profissional e eixos de trabalho. Sua função, como diz o próprio RCNEI é “contribuir com as políticas e programas de educação infantil, socializando informações, discussões e pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de técnicos, professores e demais profissionais da educação infantil....”.

Page 17: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

16

A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que estabelece com outras instituições sociais. (RCNEI – Vol. 1, 1998: 21)

As atuais pesquisas relativas à infância apontam que ao propormos algo às

crianças devemos aproximar nosso ponto de vista ao delas. Não existe um método

ideal de relações entre adulto e criança, porém devemos levar em consideração as

diferentes condições de vida de um grupo escolar e perceber a criança como sujeito

de direitos e capaz de criar seu próprio espaço.

2.3 O HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

A educação infantil se constituiu historicamente como instituição educacional.

Podemos perceber as características das instituições por meio de estudos da

história e das vivências do cotidiano. Há muitos elementos importantes que

permeiam o dia a dia na educação infantil. As ações e as vivências se

transformaram ao longo dos anos e a instituição foi formando características

diferentes.

Desde o século passado tornou-se recorrente atribuir às instituições de educação infantil a iminência de atingir a condição de educacionais — como se não houvesse sido até então. Muitas vezes, como forma de justificar novas propostas que, por sua vez, não chegavam a alterar significativamente as características próprias da concepção educacional assistencialista. (KUHLMANN JR., 2003: 53)

Kuhlmann Jr. nos remete a reflexão quanto à dicotomia entre assistência e

educação. Algumas instituições foram criadas com o propósito de atender os mais

carentes, outras não. São nessas diversas origens sociais da educação infantil que

se criaram objetivos educacionais variados que constituíram as características desse

processo histórico nas instituições.

Page 18: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

17

As relações que se constituem nas instituições infantis possuem dimensões

afetivas e biológicas que foram se transformando ao longo da história, constituindo

um binômio de atendimento com uma grande complexidade. A ação pedagógica se

entrelaça entre o educar e o cuidar em que, com o passar dos anos, um foi

ganhando mais espaço que o outro, porém ainda é complexo perceber onde ambos

começam e onde terminam no cotidiano escolar.

Do ponto de vista histórico, a educação infantil no Brasil esteve durante

séculos sob a responsabilidade da família, pois era no convívio familiar que a

criança aprendia as tradições e regras da sociedade. As primeiras instituições

começaram a surgir no século XIX possuindo caráter assistencialista assim como os

asilos e os orfanatos. Essas creches eram destinadas a auxiliar as mães que

precisavam trabalhar por serem viúvas ou mães solteiras. Alguns fatores

contribuíram para que a instituição passasse a atender as demais crianças, como a

desnutrição, a mortalidade infantil e os acidentes domésticos. É importante ressaltar

que em décadas passadas a mortalidade infantil possuía índices altíssimos e, por

isso, era considerada comum a criança não ultrapassar os três primeiros anos.

Alguns educadores, religiosos e empresários começaram a pensar em um espaço

que tirasse o cuidado com a criança do âmbito familiar.

O surgimento das instituições de educação infantil, como afirma Kuhlmann Jr.,

não foi apenas uma sequência de fatos somados, e sim a interação de tempos,

influências e temas. Em 1899, foi fundado o Instituto de Proteção e Assistência à

Infância do Rio de Janeiro e, no mesmo ano, também foi inaugurada a creche da

Companhia de Fiação e Tecidos Cordovado7, sendo a primeira creche brasileira,

porém apenas destinada a filhos de operários.

Os movimentos operários foram ganhando força com a industrialização e a

inserção da mão de obra feminina no mercado de trabalho. Esses movimentos

começaram a reivindicar a criação de instituições para os filhos das mulheres

trabalhadoras. Essas organizações feministas começaram a defender a ideia de que

todas as mulheres deveriam ser atendidas, independente da necessidade ou classe

social. Os movimentos operários influenciados por movimentos de outros países e

7 A Creche Companhia de Viação e Tecido Corcovado, conforme Kuhlmann Jr., foi “a primeira creche brasileira para filhos de operários de que se tem registro”, no ano de 1899. Sua criação foi impulsionada pela entrada das mulheres no mercado de trabalho.

Page 19: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

18

permeados por muitos conflitos conseguiram algumas conquistas, como o aumento

no número de instituições que seriam mantidas pelo governo.

Por meio de instituições assistenciais, outras creches foram surgindo. A

Associação das Damas da Assistência à Infância fundou, em 1908, a primeira

creche destinada a filhos de empregadas domésticas diferente das outras criadas

para filhos de operarias. Nesta mesma época, surgiram várias organizações

voltadas ao auxílio e ao amparo das necessidades das mães e crianças e dotadas

de vários serviços de proteção à mulher grávida pobre, de higiene durante e após a

gravidez, de assistência ao recém-nascido, de consultas e exames médicos e de

vacinação.

A ideia de infância, como se pode concluir, não existiu sempre, e da mesma maneira. Ao contrario, ela aparece com a sociedade capitalista, urbano-industrial, na medida em que muda a inserção e o papel social desempenhado pela criança na comunidade. (KRAMER, 1984: 19)

Com o surgimento da sociedade capitalista e urbano-industrial, a ideia de

infância começa a ser construída e seu papel social passa a se transformar na

comunidade. Anteriormente, a criança desempenhava papeis na produção rural,

principalmente na sociedade feudal. Com a industrialização, a criança foi, aos

poucos, ganhando outro enfoque, passando a ser alguém que precisa de cuidados,

ser escolarizada e até se preparar para o futuro.

Em 1930, o setor público brasileiro passou a participar diretamente do

atendimento na pré-escola. Atualmente, esse serviço se faz através de uma

superposição de órgãos públicos. Inicialmente, a criança passou a ser atendida fora

da família com um olhar filantrópico e assistencial. No final do século XIX, período

da abolição da escravatura no Brasil, ocorreu algumas iniciativas isoladas de

proteção à criança, a fim de resolver a questão da mortalidade infantil. Algumas

creches começaram a surgir nesta época, porém por iniciativa de instituições

assistencialistas sem o auxílio do poder público. Esses programas eram de baixo

custo e voltados para o atendimento de crianças pobres e de mães que precisavam

trabalhar. Nessa época, existiam casas que recebiam as crianças abandonadas,

chamadas de Casas de Expostos8. As creches vieram em oposição àquelas casas

8 Casas de expostos surgiram no Brasil no ano de 1726 em Salvador. Mais conhecida como

Roda dos Expostos pelo mecanismo giratório utilizado para abandonar os recém-nascidos.

Page 20: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

19

para que as mães pudessem trabalhar e não abandonassem seus filhos. Como diz

Kuhlmann Jr.:

[...] um conjunto de medidas que conformam uma nova concepção assistencial, a assistência cientifica, abarcando aspectos como a alimentação e habitação dos trabalhadores e dos pobres... A creche, para as crianças de zero a três anos, foi vista como muito mais do que um aperfeiçoamento das Casas de Exposto, que recebiam as crianças abandonadas; pelo contrario, foi apresentada em substituição ou oposição a estas, para que as mães não abandonassem as suas crianças. (KUHLMANN JR., 1998)

Ainda no início do século XX, começaram a surgir os jardins de infância,

voltados para as classes mais altas. Essas instituições passaram a ser defendidas

por alguns setores da sociedade, pois se acreditava que elas trariam benefícios para

o desenvolvimento infantil. Nesse mesmo período, algumas entidades tiveram

destaque, como: Instituto de Proteção à Infância do Rio de Janeiro, que objetivava

atender as mães grávidas pobres e aos recém-nascidos; e também o Instituto de

Proteção e Assistência à Infância, que, em seguida, precedeu a criação do

Departamento da Infância, que tinha como objetivo fiscalizar as instituições. Ligava-

se o termo pedagógico aos jardins de infância com o intuito de fazer propaganda da

instituição a fim de atrair os filhos das famílias mais ricas, sendo que os jardins de

infância eram ditos diferentes das creches.

Em maio de 1943, com a consolidação das leis trabalhistas, ocorreu uma

normatização e regulação das relações de trabalho. As mães trabalhadoras

passaram a ter amparo legal quanto às questões de maternidade e de assistência à

infância. A seção V da lei abrange a proteção à maternidade, e, conforme os artigos

397, 399 e 400, após o período de licença maternidades os pequenos também

ganharam o amparo da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)9, como podemos

verificar a seguir:

Art. 397 - O SESI, o SESC, a LBA e outras entidades públicas destinadas à assistência à infância manterão ou subvencionarão, de acordo com suas possibilidades financeiras, escolas maternais e jardins de infância, distribuídos nas zonas de maior densidade de trabalhadores, destinados

9 A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é a principal norma legislativa brasileira referente ao Direito do trabalho, criada através do Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943.

Page 21: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

20

especialmente aos filhos das mulheres empregadas. Art. 399 - O Ministro do Trabalho e da Administração conferirá diploma de benemerência aos empregadores que se distinguirem pela organização e manutenção de creches e de instituições de proteção aos menores em idade pré-escolar, desde que tais serviços se recomendem por sua generosidade e pela eficiência das respectivas instalações. Art. 400 - Os locais destinados à guarda dos filhos das operárias durante o período da amamentação deverão possuir, no mínimo, um berçário, uma saleta de amamentação, uma cozinha dietética e uma instalação sanitária. (CLT, 1943)

Na década de 70, as creches ou jardins de infância eram vinculados aos

órgãos de assistência social, e não aos de educação como os demais níveis de

ensino. Nessa época, começaram a surgir algumas mudanças progressistas nas

instituições voltadas aos pequenos, o que, mesmo de forma lenta, motivou críticas à

educação compensatória, enfatizando o caráter assistencialista e discriminatório, já

que existiam creches especificas para o atendimento dos mais pobres e outras

voltadas para o atendimento das crianças de classes mais favorecidas.

[...] as crianças das classes sociais dominadas (economicamente desfavorecidas, exploradas, marginalizadas, de baixa renda) são consideradas como “carentes”, “deficientes” “inferiores” na medida em que não correspondem ao padrão estabelecido. Faltariam a estas crianças, “privadas culturalmente”, determinados atributos, atitudes ou conteúdos que deveriam ser nelas incutidos. A fim de suprir as deficiências de saúde e nutrição, as escolares, ou as do meio sociocultural em que vivem as crianças, são propostos diversos programas de educação pré-escolar de cunho compensatório. (KRAMER, 1984: 25)

Kramer afirma que a política brasileira expressava em sua reforma

pedagógica uma instituição pré-escolar que romperia as barreiras entre as classes

sociais. Porém, na realidade, as mudanças ocorridas não alterariam a situação da

estrutura social. A educação pode, sim, ocasionar mudanças na realidade social,

mas, como afirma Kramer (1984): “não o de ser o responsável pela transformação

dessa conjuntura”.

Para Oliveira, as instituições de educação infantil, na década de 70, viriam

com outra perspectiva: a de superar as condições sociais dos mais pobres, que

eram o público maior a ser atendido.

Page 22: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

21

[...] sob o nome de “educação compensatória”, foram sendo elaboradas propostas de trabalho para as creches e pré-escolas que atendiam a população de baixa renda. Tais propostas visavam à estimulação precoce e ao preparo para a alfabetização, mantendo, no entanto, as práticas educativas geradas por uma visão assistencialista da educação e do ensino. (Oliveira, 2002).

Para Kuhlmann, as instituições infantis pré-escolares destinadas às crianças

pobres tinham objetivos assistenciais marcados por uma pedagogia da submissão,

partindo de uma concepção preconceituosa da pobreza que objetivava o preparo

dos indivíduos para permanecer em seu lugar social. Havia uma grande defesa da

educação assistencialista por se pensar que os pequenos de classe baixa que

ficassem na rua, estariam vulneráveis a contaminações de influências externas, ou

seja, seria uma prevenção à criminalização, uma guarda para que essas crianças

não se tornassem possíveis marginais.

O que diferencia as instituições não são as origens nem a ausência de propósitos educativos, mais o público e a faixa etária atendida. É a origem social e não a institucional que inspirou objetivos educacionais diversos. Mas a creche, para os bebês, embora vista como apenas para as classes populares, também era apresentada em textos educacionais do século XIX, como o primeiro degrau da educação. Kuhlmann, 2003: 54)

Outra característica que Kuhlmann Jr. aborda sobre a educação

assistencialista seria, a de propor, um atendimento de baixa qualidade para que as

crianças de baixa renda já se preparassem para um futuro na mesma condição. O

péssimo atendimento seria uma maneira de garantir um acomodamento futuro para

que permanecesse na mesma condição social, sem buscar melhorias. Afirmava-se

que o atendimento deveria ser compatível com a classe social, ou seja, quanto mais

pobre pior seria o atendimento.

As concepções educacionais vigentes nessas instituições se mostravam explicitamente preconceituosas, o que acabou por cristalizar a ideia de que, em sua origem, no passado, aquelas instituições teriam sido pensadas como lugar de guarda, de assistência, e não de educação. Essa polarização, presente nos estudos sobre a educação pré-escolar, chega a atribuir à história da educação infantil uma evolução linear, por etapas: primeiro se passaria por uma fase médica, depois por uma assistencial, etc., culminando, nos dias de hoje, no atingir da etapa educacional, entendida

Page 23: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

22

como superior, neutra ou positiva, em si, em contraposição aos outros aspectos. (Kuhlmann Jr., 2010: 166)

O atendimento à criança tem se constituído ao longo dos anos, assim como

sua valorização. Muitas modificações ocorreram até o século XX, porém, entre o

discurso e a realidade, existe uma grande distância. Os objetivos das instituições

passaram por muitas modificações: de médico-sanitarista para o assistencialista; do

assistencialista para o âmbito social; e, deste, para o educacional.

Até a década de setenta, não houve modificações consideráveis na lei

brasileira que garantisse a oferta deste nível de ensino. Neste sentido, várias

organizações uniram forças com diferentes setores da sociedade a fim de buscar

garantir direitos às crianças e uma educação de qualidade. Esse direito foi

reconhecido somente em 1988, com a Carta Constitucional. A pressão dos

movimentos e o esforço coletivo de vários segmentos impulsionaram a inclusão da

creche e da pré-escola no sistema educativo. Como diz na Constituição Federal de

1988, Artigo 208, o inciso IV: [...] O dever do Estado para com a educação será

efetivado mediante a garantia de oferta de creches e pré-escolas às crianças de

zero a seis anos de idade. (BRASIL, 1988).

Com o reconhecimento da criança de zero a seis anos como sujeito de

direitos à educação, um novo pensamento de pedagogia começa a ser

implementado no cotidiano das instituições e novas leis surgem, com o objetivo de

realizar um novo conceito nas instituições com práticas diferenciadas das

tradicionais.

A pedagogia nova ou moderna concebe a natureza da criança como inocência original; a educação deve proteger o natural infantil, preservando a criança da corrupção da sociedade e salvaguardando sua pureza. A educação não se baseia na autoridade do adulto, mas na liberdade da criança e na expressão de sua espontaneidade (KRAMER 1884).

De acordo com a pedagogia tradicional10, o adulto intervém diretamente na

natureza da criança, pois tal pedagogia prescreve que o dever do educador é

10

Pedagogia tradicional é um termo utilizado na atualidade para caracterizar métodos de ensino antigos que tem como característica principal o aluno como mero ouvinte que precisa apenas decorar o conteúdo. A pedagogia tradicional é criticada nos dias atuais em função do ensino padronizado, o qual não possibilita uma maior interação entre professor e aluno.

Page 24: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

23

disciplinar e ensinar regras às crianças. Em contraposto, a nova pedagogia traz um

pensamento diferente para a natureza da criança, em que a ideia é buscar a

interação entres as crianças, a busca por conhecimento e instigar um “espírito

investigador” nos pequenos.

A Constituição de 1988 foi um marco para a educação infantil e alavancou a

discussão sobre a definição de um novo caráter para as instituições de ensino

infantil. Até se chegar ao novo caráter dessas instituições, percorreu-se um grande

caminho no qual surgiram muitos documentos que modificaram significativamente o

olhar para a criança, principalmente no âmbito educacional. O cuidar e o educar se

entrelaçam no cotidiano das instituições, e a intencionalidade das atividades

planejadas possibilita o desenvolvimento da criança e a observação da

individualidade e da singularidade de cada uma.

2.4 A EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA LEGISLAÇÃO

2.4.1 A política federal para a Educação Infantil nas décadas de 1990 e 2000

A partir da década de 90, começaram a surgir leis mais direcionadas à

infância e alguns documentos de política educacional de âmbito federal e estadual.

Alguns destes documentos se destacaram por ter influenciado e promovido à

educação de zero a seis anos, o que melhorou a qualidade11 do atendimento das

creches e deu maior destaque às questões relativas à infância.

Os documentos de política educacional que impulsionaram uma educação

infantil de qualidade e que serviram de base para muitas discussões no âmbito do

atendimento e do direcionamento das instituições são: Estatuto da Criança e do

Adolescente (Lei nº 8.069/90); Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei

nº 9.394/96); Plano Nacional de Educação (1998); Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Infantil (Parecer CNE/CEB nº 022/98). E os documentos do estado

11 O termo “Qualidade” é utilizado aqui baseado no documento do Ministério da Educação (MEC), Indicadores de Qualidade na Educação Infantil (2009). Este documento se refere às definições de qualidade e aos fatores que os influenciam, como: o contexto social e econômico em que está inserida a instituição, os valores e as tradições culturais e os conhecimentos científicos sobre as crianças.

Page 25: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

24

de Santa Catarina que complementam os documentos federais são: Lei do Sistema

Estadual de Ensino de Santa Catarina (1998); Plano Estadual de Educação de

Santa Catarina (2004); Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina (2005).

Inicialmente, procurando contextualizar a razão pela qual, nas últimas

décadas, ou seja, desde os anos de 1990, a infância tem recebido uma atenção

diferenciada na política educacional em nível mundial, podemos perceber grande

influência de outros países que impulsionaram a criação de documentos

direcionados à infância. Tal contexto tem sido determinante na formulação da

política educacional brasileira.

No ano de 1990, ocorreu na Tailândia a Conferência Mundial de Educação

para Todos12 – Education for All. Nessa Conferência, o Brasil, entre outros países,

assumiu um compromisso com a formulação e a implantação de uma política

educacional que garantisse o acesso de todos à educação fundamental. Nesta

política, a educação infantil ganha espaço como primeiro nível da educação básica,

propondo-se para esta educação a responsabilidade pela formação voltada para o

seu amadurecimento e a preparação para o trabalho cada vez mais cedo.

O Brasil possuía um grande número de analfabetos e, por isso, o Banco

Mundial13, um dos órgãos financiadores da Conferência Mundial sobre Educação

para Todos, em 1990, e das políticas públicas dos países mais pobres, decidiu pelo

investimento na educação infantil, de modo a garantir desde cedo a inclusão das

crianças na sala de aula.

O Banco Mundial não fez isso apenas pensando em melhorar a educação, ou

seja,fez com interesses econômicos, preocupado com “quantos reais” o governo

federal economizaria ao descentralizar a educação, na medida em que transferiria

para os Municípios a responsabilidade pela manutenção da educação infantil e

fundamental (CERISARA, 2002).

A educação básica foi colocada como prioridade, mas afastou-se a ideia de

que os países membros da Conferência Mundial ofereceriam uma educação de

qualidade para todos. Apesar de ser um direito adquirido na LDB/96, isso não 12 Também conhecida por “Conferencia Jomtien”, cujo “objetivo era estabelecer compromissos mundiais para garantir a todas as pessoas os conhecimentos básicos necessários a uma vida digna, condição insubstituível para o advento de uma sociedade mais humana e mais justa”, conforme consta no site: http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=11013 Banco Mundial é uma organização internacional que possui autonomia para intervir nas regras e propostas de países economicamente mais pobres. No Brasil, o Banco Mundial participa de programas dirigidos à saúde, à educação e a melhorias dos serviços públicos. Para saber mais: Altmann, 2002. http://www.scielo.br/pdf/ep/v28n1/11656.pdf

Page 26: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

25

ocorre, pois os recursos destinados pelo FUNDEF14 (Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério) foram

voltados exclusivamente para o ensino fundamental, e a educação infantil ficou "à

mercê da sorte”, esperando que os municípios assumam o compromisso com o seu

financiamento.

No ano de 2006, sob orientação do Banco Mundial, o governo brasileiro

amplia este fundo com a criação, através de lei aprovada pelo Congresso Nacional,

do FUNDEB15 (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação), que passou a contemplar todos os

níveis educacionais, desde a educação infantil até o ensino médio.

Outra medida sugerida pelo Banco Mundial, no ano de 1996, foi de uma

escolarização precoce das crianças pequeninas, o que implica no fato de que as

crianças devem ir (e estão indo) cada vez mais cedo para a escola, por

consequência das mudanças que ocorrem no setor produtivo e nas relações de

trabalho, que exigem um novo perfil de trabalhador. Para o Banco Mundial, este

novo perfil deve começar a ser desenvolvido desde a mais tenra idade. Por isso,

este organismo internacional defende e exige dos países de economia capitalista a

implantação de uma política de inserção cada vez mais precoce das crianças na

rede escolar, uma vez que as instituições de ensino desta rede serão

primordialmente responsáveis por tal formação.

Essa política de escolarização precoce encontrou resistência dos educadores

brasileiros, pois consideram que é fundamental que a criança possa viver sua

infância, sem preocupações, permitindo seu crescimento e amadurecimento natural

e intelectual como ser humano.

O Banco Mundial exigiu que os governos padronizassem o atendimento nas

escolas. Para que essa medida fosse implantada, o Ministério da Educação do Brasil

14 O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) foi instituído pela Emenda Constitucional n.º 14, de setembro de 1996, e regulamentado pela Lei n.º 9.424, de 24 de dezembro do mesmo ano, e pelo Decreto nº 2.264, de junho de 1997. O FUNDEF foi implantado, nacionalmente, em 1º de janeiro de 1998, quando passou a vigorar a nova sistemática de redistribuição dos recursos destinados ao Ensino Fundamental. Conforme consta no site do MEC: <www.mec.gov.br/>15 O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) atende toda a educação básica, da creche ao ensino médio. Substituto do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), que vigorou de 1997 a 2006, o FUNDEB está em vigor desde janeiro de 2007 e se estenderá até 2020. Conforme consta no site do MEC: <www.mec.gov.br/>

Page 27: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

26

(MEC)16 elaborou os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.

Trata-se de uma reforma curricular com o objetivo de modificar a forma e o conteúdo

da educação infantil, de modo a atender as demandas do mercado de trabalho. Para

o MEC e o Banco Mundial atender as demandas desse mercado, o governo precisa

fazer com que a educação infantil tenha um mínimo de qualidade. Por sua vez, para

que aconteça esse investimento do Banco Mundial, as escolas devem prestar contas

anualmente ao MEC.

Quando se pensa em direito da criança à educação, devemos nos reportar a

um importante documento - o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)17,

aprovado pela Lei nº 80.069/90, de 13 de julho de 1990. O Estatuto é destinado

única e exclusivamente para crianças e adolescentes de zero a dezoito anos de

idade, sendo que antes não havia nada em termos legais que garantisse os direitos

dessa faixa etária.

O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe, conforme o artigo 1º, sobre a

proteção integral à criança e ao adolescente, a qual deve ser assegurada pelos

municípios. Estes também são responsáveis em garantir às crianças e aos

adolescentes, por meio de Conselhos Tutelares e Fundações, o direito à educação.

Como diz no artigo 53: “A criança e o adolescente têm direito à educação, visando

ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho [...]”. Além disso, o próprio Estatuto define que a idade

da criança é de zero a doze anos e a do adolescente é de doze a dezoito anos.

O ECA tem como objetivo mediar compromissos e possibilitar o engajamento

social, estimulando a criança e o adolescente a ter liberdade com responsabilidade,

conhecendo seus direitos e deveres como cidadãos. Segundo o Estatuto, com

relação à educação escolar, os principais direitos da criança e do adolescente são:

� Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; � Atendimento em creches e pré-escolas as crianças de zero a seis anos de

idade;

16 O Ministério da Educação (MEC) é um órgão do governo federal do Brasil fundado no decreto n.º 19.402, em 14 de novembro de 1930 e sua atual estrutura ficou estabelecida pelo decreto n° 4.791, de 22 de julho de 2003. Possui competênci as com a política nacional de educação, abrangendo a educação infantil e a educação geral, com algumas exceções, como: o ensino militar; pesquisa e extensão universitária; e magistério.17 O ECA foi instituído pela Lei 8.069 no dia 13 de julho de 1990, regulamentando o direito das crianças e dos adolescente, principalmente no que tange a proteção integral dos mesmos. Para saber mais: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>

Page 28: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

27

� Ser preparado para o exercício da cidadania, e a preparação para o trabalho. (BRASIL, 1990: 9)

Assim, como a criança e o adolescente têm direitos, os Estados tem deveres

a cumprir. De acordo com as diretrizes da política de atendimento do ECA (BRASIL,

1990), o Estado deve criar órgãos públicos, no âmbito municipal, estadual e nacional

que assegurem a participação popular e partidária das crianças e dos adolescentes,

assim como a manutenção de fundos e o estímulo de recursos destinados à cultura,

ao esporte e ao lazer. Os direitos e deveres presentes no ECA proporcionam uma

política de atendimento para todo o território nacional.

No Estatuto da Criança e do Adolescente, percebe-se que não basta ter uma

boa teoria, pois muito do que está escrito no Estatuto está longe de ser colocado em

prática. Falta uma atuação compatível com a realidade das crianças e uma política

com foco educativo, direcionada às instituições de ensino.

Esses fatos preparam o ambiente para a aprovação da nova LDB, Lei 9394/96, que estabelece a educação infantil como etapa inicial da educação básica, conquista histórica que tira as crianças pequenas pobres de seu confinamento em instituições vinculadas a órgãos de assistência social. (OLIVEIRA, 2002)

Conforme Oliveira, com o ECA e toda a atenção que se voltou em torno da

criança no início da década de 90, foi aprovada a terceira versão da Lei de Diretrizes

e Bases da Educação (LDB)18 no ano de 1996. Criou-se, dessa forma, mais uma

estratégia governamental para a implantação da política educacional, seguindo os

ditames do Banco Mundial.

A LDB ficou sete anos em debate, porque havia muitos embates e conflitos de

interesses em jogo entre as forças que integravam o Congresso Nacional naquela

época, até que foi aprovada em 20 de dezembro 1996. A LDB está em sintonia com

as reformas neoliberais implantadas pelo governo brasileiro nos anos 1990.

A LDB/96 foi construída com base na Constituição Federal de 1988, que

reconheceu como direito da criança o acesso à educação infantil, em creches e pré-

escolas. Assim, pela primeira vez na história do Brasil, uma lei federal deu direito de 18 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB, aprovada em sua ultima versão em 20 de dezembro de 1996, foi criada em 1961 e teve sua segunda versão em 1971.

Page 29: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

28

acesso das crianças de zero a seis anos à educação infantil, passando a ser dever

de o Estado manter instituições educativas que atendam sua faixa etária.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n° 9.394/1996) dispõe

que a educação infantil passa a ser definida como a primeira etapa da Educação

Básica, conforme diz Oliveira. A atual Constituição reconheceu a educação infantil

como um direito da criança, dever do Estado e opção da família, sem vincular as

instituições de ensino infantil à Política de Assistência Social, e sim à Política

Nacional de Educação.

A LDB, no artigo 29º, “afirma que a educação infantil tem como finalidade o

desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico,

psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da

comunidade.” Também é uma determinação da LDB que essa assistência

educacional seja oferecida em creches para crianças de zero a três anos e em pré-

escolas para crianças de quatro a seis anos.

A lei afirma que toda criança de zero a seis anos de idade tem direito à escola

básica, mas, na prática, o que se percebe são creches e pré-escolas lotadas,

faltando vagas e a necessidade de construção de novas creches e instituições de

educação infantil. Não existe, de fato, oportunidade para que todas as crianças

nessa faixa etária tenham acesso.

Em 2001, foi promulgado o Plano Nacional de Educação - PNE19 (Lei n°

10.172/2001), o qual estabelece metas qualitativas que prevê prazos em relação à

qualidade do atendimento da rede de ensino infantil, desde a infraestrutura até a

formação dos educadores. Em relação às creches e pré-escolas, o Plano define que

o município deve acompanhar, controlar e supervisionar as instituições, primando a

qualidade no atendimento.

O Plano foi instituído não apenas com base nos argumentos econômicos do

governo, mas também calcado em uma preocupação com o cuidado e com a

educação da criança, a partir do seu nascimento até o ensino médio. Podemos

entender que esta preocupação está ligada, também, a uma política de

“higienização”.

19

O projeto de lei que cria o Plano Nacional de Educação (PNE) para vigorar de 2011 a 2020, foi enviado pelo governo federal ao Congresso em 15 de dezembro de 2010. O novo PNE apresenta dez diretrizes objetivas e 20 metas, seguidas das estratégias específicas de concretização. O texto prevê formas de a sociedade monitorar e cobrar cada uma das conquistas previstas. Conforme: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=16478&Itemid=1107>

Page 30: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

29

Desde a época da Corte Imperial no Brasil, havia um problema que

incomodava diversos agentes sociais nos anos 1870: a existência de crianças e

jovens que circulavam livres pelas ruas da cidade, supostamente privados de uma

disciplina doméstica e de um lar que os abrigasse. Ocorrendo a relação entre

educação, instrução e a ideia de prevenir a criminalidade e as desordens.

Era importante que o Estado e a sociedade atuassem no sentido de retirar as

crianças e jovens das ruas da cidade. Para tanto, propunha-se não o afastamento

desses pequenos, mas a sua integração na sociedade, por meio de uma formação

moral e religiosa (educação) e de uma preparação profissional (instrução elementar,

ensino de artes e ofícios indústrias).

A ideia seria educar, no sentido de difundir valores morais e comportamentais,

instruindo por meio da alfabetização. As instituições educativas voltadas para a

infância devem primar por uma educação de qualidade, e as necessidades da vida

para o desenvolvimento das crianças, como saúde, educação, nutrição, moradia,

cultura, lazer, etc., devem ser assistidas pelo governo para possibilitar o

desenvolvimento pleno na infância.

Conforme Batista (1998, p.1): “O que se percebe, no cotidiano da educação

infantil, é que existe, ainda, uma grande distância entre o que se pretende e o que

se realiza, o que se “quer fazer” e o que se “pode fazer”, ou seja, apesar dos

grandes avanços nas leis brasileiras, muitas instituições não possuem estrutura para

o atendimento previsto, e as intenções propostas pelos educadores nem sempre são

possíveis de se concretizar, por falta de apoio ou conhecimento."

No horizonte de dez anos para a implantação do Plano Nacional de

Educação, este visa a uma demanda para a educação infantil com atendimento de

qualidade, beneficiando todas as crianças e famílias. Cada vez mais a família

procura uma vaga nas creches para seus filhos, e, com o PNE, o governo propõe

mudar essa realidade. Segundo esse documento, o mais importante nesse processo

é o cuidado na qualidade do atendimento, pois só assim a família pode esperar

resultados positivos na educação.

O PNE apresenta vários objetivos e metas. Dentre eles, alguns com especial

importância por estarem diretamente relacionados com o presente objeto de estudo.

Segundo o PNE (BRASIL, 1998: 15-18), são seus objetivos:

Page 31: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

30

� Ampliar a oferta de educação infantil num prazo de cinco anos; � Elaborar em um ano os padrões mínimos de infra-estrutura para o

funcionamento adequado; � Adaptar os prédios de educação infantil em 5 anos, para que todos estejam

conformes aos padrões mínimos; � Assegurar que, em dois anos, todos os municípios tenham definido sua

política para a educação infantil, com base nas Diretrizes Nacionais, Normas Complementares Estaduais e nas sugestões do Referencial Curricular Nacional; � Incluir as creches ou entidades equivalentes no Sistema Nacional de

Estatísticas Educacionais num prazo de três anos. � Implantar Conselhos Escolares e outras formas de participação da

comunidade escolar, com propostas para a melhoria das instituições educacionais; � Adotar progressivamente o atendimento em tempo integral para crianças de

zero a seis anos de idade.

Como citado anteriormente, as Diretrizes Curriculares Nacionais Para a

Educação Infantil foram aprovadas através da Resolução CNE nº 1/99 e são normas

complementares à LDB/96. Vale lembrar que a LDB/96 substituiu a idéia de currículo

mínimo nacional para todos os graus e modalidades de ensino, por diretrizes

curriculares nacionais, com o objetivo de criar uma homogeneidade em todo

território nacional no que se relaciona a propostas curriculares.

As Diretrizes Curriculares Nacionais se constituem numa doutrina sobre os

princípios éticos, políticos, estéticos e pedagógicos para a educação infantil. Eis a

seguir os campos de abrangência de tais princípios:

� Princípios Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum; � Princípios Políticos: direitos e deveres da cidadania, do exercício da

criticidade e do respeito à ordem democrática; � Princípios Estéticos da Sensibilidade, Criatividade, Ludicidade e da

Diversidade de Manifestações Artísticas e Culturais. � Propostas pedagógicas: de acordo com a necessidade dos alunos, da

família e dos professores, levando em conta a identidade de cada um deles. (BRASIL, 1999: 18).

2.4.2 A política estadual para a Educação Infantil nas décadas de 1990 e 2000

A política do estado de Santa Catarina apresenta vários documentos que

ampliam o atendimento às crianças de zero a seis anos. Com o objetivo de adequar

o sistema educacional catarinense à LDB/96, o estado de Santa Catarina aprovou a

Page 32: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

31

Lei do Sistema Estadual de Ensino de Santa Catarina (LSE)20, a Lei nº 170, de 07 de

agosto de 1998.

Com relação à educação infantil, a LSE/98 propõe uma educação para todos,

com a participação da comunidade, gratuita, capaz de proporcionar à criança o seu

desenvolvimento, além de escolas e creches com condições e suporte do estado

Segundo a lei estadual, os objetivos dessa educação para todos devem ser:

� Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; � Promoção da interação escolar, da comunidade e dos movimentos sociais; � Educação escolar em Santa Catarina, direito de todos e dever da família,

promovida com a colaboração da sociedade inspirada nos princípios da democracia, da liberdade e da igualdade, nos ideais de solidariedade humana e bem-estar social e no respeito à natureza;� O dever do estado com a educação escolar pública será efetivado mediante

a garantia do atendimento em creches e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; � A instituição de educação, respeitadas a normas legais e regulamentares,

compete elaborar e executar seu projeto político pedagógico; � Assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas de trabalho escolar

estabelecidos; � Articular-se com as famílias e com a comunidade, criando processos de

integração da sociedade com a escola; � Informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos

educandos, bem como sobre a execução se seu projeto político pedagógico; � A educação infantil, nas instituições mantidas ou subsidiadas pelo estado,

em complementação às ações municipais na área, tem por objetivos: desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, proporcionando à criança o desenvolvimento de sua auto-imagem e o convívio no seu processo de socialização, com a percepção das diferenças e contradições sociais; � A educação infantil será oferecida para as crianças de zero a três anos de

idade, em creches ou instituições equivalentes e as crianças de quatro a seis anos de idade pré-escola (SANTA CATARINA, 1998: 54 -70).

Comparando a LDB/96 e a LSE/98, é possível perceber muitas semelhanças

entre elas. A principal diferença é o fato de que a LSE/98 enfatiza a questão da

participação da comunidade e da família e a integração da sociedade com a escola.

Na Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina, que foi elaborada no

decorrer de 2005 com base na Proposta anterior de 1998, também encontramos

proposições sobre a educação infantil. A Proposta Curricular é composta de vários

volumes, e entre eles há um documento voltado para a área da educação infantil.

20 A Lei do Sistema Estadual de Ensino de Santa Catarina segue os princípios e normas da Constituição Federal, da Constituição do Estado e das leis federais sobre diretrizes e bases da educação nacional.

Page 33: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

32

A Proposta Curricular apresenta como seu objetivo maior a educação na

infância, pois a educação infantil é vista como um lugar para brincar. Já o ensino

fundamental é um lugar para estudar. No entanto, entendemos que a educação

infantil não pode ser apenas o local do brincar. Deve também proporcionar

aprendizagens às crianças, ou seja, ela pode se constituir num espaço de estudos.

De acordo com a Proposta, a criança precisa ter vez e voz, oportunidade para

trocar experiências, vivências, curiosidades e ampliar sempre o seu repertório de

conhecimentos. Nesse documento, defende-se que a instituição de educação infantil

precisa refletir sobre o lugar da infância no currículo e, a partir daí, traçar metas e

reflexões que contemplem: ludicidade, interações sociais, educação, cuidado,

complexidade do brincar, emoção, corpo, cognição cultural, sociabilidade,

conhecimentos científicos e diferentes linguagens, como a musical, a corporal e a

simbólica. É importante envolver a criança através da fantasia, utilizando a

linguagem literária. A criança deve se sentir estimulada a ouvir ou a ler uma história.

A organização espacial é um princípio norteador da prática pedagógica que pode,

dependendo da sua estruturação, facilitar ou complicar a vivencia da infância.

A Proposta Curricular de Santa Catarina preconiza, como um dos pressupostos

da prática pedagógica na educação infantil, a interação social, indicando que os

educadores devem organizar o ambiente e facilitar o convívio social das crianças e

dos funcionários (SANTA CATARINA, 2005, p.45- 65). Desta maneira, o(a)

professor(a) precisa ter uma rotina dentro da sala de aula para dar valor e ênfase na

manifestação, na diversidade e na espontaneidade das crianças.

Toda instituição precisa ter um Projeto Político Pedagógico21, e nele deve estar

salientado a “voz das crianças” e de todos que contribuem para o seu

funcionamento, de forma a configurar, assim, uma proposta flexível. A família é parte

fundamental na instituição de ensino e esta parceria ajuda no desenvolvimento

intelectual, afetivo das crianças (SANTA CATARINA, 2005, p.45-65).

Além da Lei do Sistema Estadual de Ensino, em Santa Catarina, foi elaborado

em 2004 o Plano Estadual de Educação, também com base na LDB/96.

21 O Projeto Político Pedagógico (PPP) é um documento elaborado pela instituição de ensino, juntamente com o corpo docente e a comunidade, que cria objetivos e metas para o ano letivo. O PPP ganhou progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira, por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9.394/96), no artigo 15º.

Page 34: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

33

De acordo com Censo Escolar de 2003 (SANTA CATARINA, 2003), há um total

de 186.640 crianças matriculadas nas creches e pré–escolas, mantidas pelas

prefeituras de 293 municípios.

As creches e pré-escola mantidas pelo Estado de Santa Catarina têm um total

de 22.632 crianças matriculadas com idade de zero a seis anos. Já os municípios

têm um número muito mais elevado, de 163.730 crianças matriculadas, com a faixa

etária de zero a seis anos. Pressupõe-se que esta diferença é consequência da

LDB/96, pela qual a educação infantil deve ser mantida pelos municípios.

Há um grande crescimento da rede municipal de ensino infantil e uma procura

de vagas nessas instituições. Mas, com relação à criança de zero a três anos, a

procura é menor, pois são poucas as creches que estão preparadas para receber

essa demanda, faltando recursos e verbas para oferecer espaço, berço, banheira,

profissionais qualificados e materiais pedagógicos para essa faixa etária.

O PEE estabelece algumas metas e objetivos para a educação catarinense. O

prazo para as metas serem alcançadas é até 2010. São objetivos e metas do Plano:

� Priorizar o currículo construído com a participação da comunidade e voltado à realidade e à necessidade das crianças; � Mudar a nomenclatura de creches e pré-escolas para Centro Educação

Infantil (CEI); � Garantir 100% das vagas em creches e pré-escolas; � Ampliar progressivamente o horário de período integral nas escolas; � Garantir um percentual da Receita Federal, Estadual e Municipal para

investir na ampliação da educação infantil; � Construir novos CEI’s para dar conta da demanda; � Garantir acesso e permanência na educação infantil a partir de cinco anos

de idade, mas opcional para as demais idades; � Garantir atendimento a todas as crianças de zero a seis anos de idade,

respeitando a diversidade regional, cultural [...] � Os Municípios devem definir políticas para educação infantil assim como

formulações dos Projetos Políticos Pedagógicos com base nas normas citadas anteriormente. (SANTA CATARINA, 2004: 17-27)

Analisando o histórico da educação infantil no que se refere à legislação, pode

se perceber que todos os documentos de política educacional da esfera federal ou

estadual de governo, apresentam objetivos comuns, principalmente quando se trata

da educação infantil. Um desses objetivos é a garantia de acesso e permanência de

crianças de zero a seis anos nas instituições escolares mantidas pelo município.

Page 35: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

34

A legislação estadual é complementar a legislação federal, por isso as duas são

tão parecidas. Portanto, a legislação estadual deve incorporar as determinações da

legislação federal e, no máximo, aperfeiçoar ou ampliar tais determinações no

sentido de atender as peculiaridades do estado.

Pouco mais de dez anos após a instituição da educação infantil na educação

básica em 1996, a educação infantil brasileira foi incluída no Fundo de Manutenção

e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB). O fundo respalda o

financiamento da educação infantil, o que é uma grande conquista, já que o ensino

fundamental é a prioridade da educação nacional. Este financiamento possibilita a

ampliação e a melhoria do atendimento em creches e pré-escolas.

Outra lei que vale salientar é a Lei nº 11.27422, de 06 de fevereiro de 2006, que

influencia diretamente na educação das crianças de seis anos. Com esta lei, as

crianças passam a ser incluídas no ensino fundamental de nove anos de duração.

Em toda história da educação infantil brasileira é possível perceber que o

direito da criança de zero a seis anos à educação foi amparado através das Leis

apenas nas últimas décadas. Porém a sociedade precisa se mobilizar a fim de

efetivar esta estrutura jurídica e permitir que as crianças tenham um atendimento

eficaz, incluindo socialmente e com qualidade todas as crianças, sem distinções.

Em 2009, foi elaborado um documento pelo Ministério da Educação, por meio

da Coordenação Geral de Educação Infantil, chamado de Critérios para um

atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças. Já

havia sido elaborada uma versão mais antiga em 1995. Esse documento estabelece

critérios para um atendimento de qualidade que visa atender necessidades

fundamentais das crianças e tem como objetivo colaborar para que o atendimento

atinja um patamar mínimo de qualidade com respeito aos direitos básicos das

crianças.

Os educadores podem utilizar esse documento para refletir sobre o cotidiano

das creches, pois o texto faz uma abordagem pontuando os direitos que devem ser

garantidos para que a creche respeite a criança. Segue alguns critérios que, no

documento, transformam-se em tópicos mais detalhados: “Nossas crianças têm

direito à: brincadeira; atenção individual; ambiente aconchegante, seguro e

22

A Lei nº 11.274 sancionada em 06 de fevereiro de 2006 regulamenta o ensino fundamental de nove anos. A lei tem como objetivo assegurar às crianças um maior tempo de convívio escolar, oportunizando a aprendizagem com mais qualidade.

Page 36: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

35

estimulante; contato com a natureza; higiene e saúde; alimentação sadia;

desenvolver sua curiosidade, imaginação e capacidade de expressão; movimento

em espaços amplos; proteção, ao afeto e à amizade; expressar seus sentimentos;

especial atenção durante seu período de adaptação à creche; desenvolver sua

identidade cultural, racial e religiosa”.

2.5 CUIDAR E EDUCAR

A creche e a pré-escola sofreram durante anos com a falta de leis que

pudessem nortear seu papel e seus objetivos. Inicialmente, as creches tinham como

objetivo principal o cuidar. Com a criação das leis e o grande debate que se seguiu

sobre a infância, o educar foi ganhando espaço nas instituições. Atualmente, o

cuidar e o educar são fundamentais no atendimento aos pequenos e devem fazer

parte do cotidiano dos centros de educação infantil.

Cunha (2002: 6-7), destaca no seu artigo a diferença entre educar e cuidar:

Educar: [...] significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis.

Cuidar [...] valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos específicos [...] Para cuidar é preciso antes de tudo estar comprometido com o outro, com sua singularidade, ser solidário com suas necessidades, confiando em suas capacidades. Disso depende a construção de um vínculo entre quem cuida e quem é cuidado.

Entretanto, há autores como Wiggers (2002: 3) que falam justamente da

necessidade das “múltiplas dimensões, que tratam o cuidado e a educação das

novas gerações de forma dicotômica”. A autora supõe que isto é provocado pela

“ausência de clareza quanto ao caráter educativo e/ou à especificidade da educação

infantil”. Este “caráter educativo” é compreendido como “espelho” do modelo escolar

Page 37: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

36

(id.ibid, p. 9). Wiggers ressalta a ausência de clareza no que tange à dimensão

educativa da creche e da pré-escola e considera que:

[...] a educação infantil, como área específica, precisa ainda refletir, discutir, debater e produzir conhecimentos e práticas sobre como devem ser cuidadas e educadas crianças menores de 7 anos em creches e pré-escolas, compromisso de todos os que, direta ou indiretamente, se vinculam a esta modalidade educativa. (WIGGERS, 2002: 12 apud AZEVEDO, sd: 9)

Para o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil é fundamental

que: “as instituições de educação infantil incorporem de maneira integrada as

funções de educar e cuidar”, ou seja, o cuidar e o educar demanda uma integração

das intenções do educador, que devem desenvolver ambas as funções levando em

consideração a qualidade do atendimento.

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis (RCNEI-Vol 1, 1998: 23).

A educação infantil ocupa um espaço importante no atual cenário educacional

brasileiro. As práticas pedagógicas que visam o desenvolvimento integral das

crianças oportunizam interações com novas experiências, articulam e mediam

situações de aprendizagem e focam na apropriação interdisciplinar de

conhecimento, tornando-se, assim, um ambiente propício ao desenvolvimento da

criança.

Atualmente, são comuns os estudos que afirmam a importância dos primeiros

anos de vida para o desenvolvimento biológico, emocional, cognitivo e social da

criança, tornando-se uma fase importante para a construção do aprendizado. Os

resultados apresentados em pesquisas demonstram que crianças que frequentam

Page 38: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

37

uma instituição de educação infantil de qualidade conseguem se desempenhar

melhor nos anos iniciais do ensino fundamental.

Na educação infantil, a criança tem a oportunidade de vivenciar novas

experiências através das interações, socializações, convivências e trocas afetivas.

Também pode partilhar situações, culturas, regras e vivenciar um contexto coletivo

em que existem igualdades e diferenças. Um ambiente favorável ao aprendizado é

um ambiente que possui uma estrutura de qualidade, aconchegante, seguro,

estimulante, que possibilite desafios e estimule a criatividade. Às crianças deve ser

oportunizado ambientes alegres que despertem a curiosidade.

Existem várias estratégias que podem ser utilizadas no cotidiano da educação

infantil. O projeto pedagógico construído pelo professor e pela instituição contribui

para nortear a prática de ensino e devem ter flexibilidade em aproveitar os

questionamentos e curiosidades despertadas pelas crianças. Os projetos, além de

valorizarem o trabalho do educador, que pesquisa e cria seu próprio trabalho através

da pesquisa, ampliam o diálogo entre as crianças e se tornam uma excelente

ferramenta de mediação dos conhecimentos.

Os projetos de trabalho devem partir de questões do grupo e por isso estão diretamente ligados aos interesses das crianças. Os projetos exigem cooperação, interesse, curiosidade, desenvolvimento de estratégias para sua execução e diferentes tipos de registros. Ao professor cabe a mediação de cada etapa por meio da organização de propostas, questionamento, pesquisa em diferentes fontes, observação, reflexão, flexibilidade e conhecimento dos conteúdos e habilidades que devem ser trabalhados. (CORSINO, 2009: 113).

O docente deve estar atento e observar os questionamentos das crianças no

dia a dia e, a partir de suas curiosidades, elaborar um projeto de trabalho com a

contribuição dos próprios educandos, mediando cada etapa de construção do

projeto e de prática do mesmo. O professor deve se ater à organização, à pesquisa,

à flexibilidade e à levantamento de possíveis conteúdos surgidos em sala de aula.

Ao elaborar e construir um projeto, o planejamento se torna fundamental para a

organização e prática dos objetivos ali contidos. O planejamento intencionaliza o

processo educativo, traduzindo-se em traçar, programar e documentar a proposta

que tem o objetivo de orientar o processo de mediação. O planejamento deve

estabelecer os objetivos específicos com base nos objetivos educacionais e nos

Page 39: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

38

conhecimentos a serem adquiridos pelas crianças, além de prever os recursos e

procedimentos que estimulem as atividades de aprendizagem. O plano deve ser um

guia de orientação para o educador, pois nele estarão previstas as diretrizes e os

meios de realização do trabalho docente. Uma das características do processo de

ensino é que ele está sempre em movimento, e o plano de aula deve ser flexível a

fim de acompanhar essas modificações.

Planejamento é estudo. Planejar é a atitude de programar, projetar, tomar

uma atitude diante de um problema (Paulo freire), tornando-se um instrumento

orientador do trabalho docente, conforme aborda Freire. Para que a abordagem da

temática seja enriquecedora para a turma, o educador deve planejar com

responsabilidade, diversificando as aulas, disponibilizando materiais e criando os

espaços de interação. Em uma sala de educação infantil, o educador pode

desenvolver projetos que discutam temas transversais, como ética, meio ambiente,

saúde, pluralidade cultural, justiça, respeito mútuo, entre outros que, planejados,

trazem significados importantes para a vida em cidadania.

Com as novas concepções que se formaram em torno da educação infantil

após o surgimento de leis federais e estaduais, as propostas pedagógicas, no

cotidiano das instituições de ensino, exigem algo além de concepções e leis. A

formação do professor com uma trajetória orientada ao seu aperfeiçoamento

representaria uma transformação das práticas didáticas, como nos afirma Oliveira

(2002).

Durante todas as atividades desenvolvidas na instituição de educação infantil,

até mesmo nos momentos de brincadeiras, higiene e alimentação, o professor deve

se ater em observar a reação e a participação das crianças, pois, dessa forma,

poderá avaliar o desenvolvimento dos pequenos e sua própria prática. Possibilitar

um ambiente em que as crianças possam interagir com o meio e com as outras

crianças viabiliza a observação dessas interações. Propor atividades significativas

que proporcionem as interações e estimule a criatividade disponibiliza um ambiente

rico, que deve ser refletido, e as produções podem ser expostas para compartilhar

as criações e valores aprendidos.

Page 40: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

39

2.6 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES (AS) DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Há algum tempo, a formação do professor que atua em cursos de formação

vem sendo colocada em discussão e apontada como uma das responsáveis pela

falta de qualidade do ensino. São enumerados vários aspectos dessa formação,

desde a falta de relação entre o que é estudado e a realidade profissional, até a

desvalorização da profissão. Hoje se tem muitas modalidades de formação e de

tempos diferentes, o que torna ainda mais difícil fazer uma avaliação adequada

sobre a formação oferecida nestes espaços.

As experiências vividas, as relações teóricas-práticas, a pluralidade de

saberes, a leitura e a reflexão sobre os clássicos do pensamento pedagógico são

alguns dos pontos que se espera que possa experimentar quem passa por um

processo de formação, mas a realidade mostra que é isso bem diferente. Há lacunas

enormes entre o que esperamos da formação do professor e a forma como ela

acontece, e isto fica evidenciado pelas práticas pedagógicas desenvolvidas nas

escolas. De acordo com Saviani, (2008: 323-324):

Não se trata de colocar a educação em competição com outras áreas necessitadas, como saúde, segurança, estradas, desemprego, pobreza etc. Ao contrário, sendo eleita eixo do projeto de desenvolvimento nacional, a educação será a via escolhida para atacar de frente todos esses problemas.

As representações à respeito da profissão são construídas num

entrelaçamento entre: como quem escolhe a profissão e a vê, como os outros falam

a respeito da mesma (seus familiares, amigos, meios de comunicação) e como as

experiências são vividas enquanto aluno. Elas são permanentemente reelaboradas e

reconstruídas. Em síntese, pode-se afirmar que a imagem que temos de nós

mesmos e de nossa profissão vem muito daquilo que seus membros são, do que

fazem e da exteriorização de seus valores.

Entretanto, é necessário alertar o profissional para que este não caia no erro

de achar que a educação continuada é a salvação, porém, deve-se visualizar por

meio dela, novas possibilidades de se pensar e de agir em prol da construção de

Page 41: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

40

uma educação mais digna, promovendo o redimensionamento de posturas

educativas, e de um trabalho que dê aparato para instigar nos sujeitos o desejo de

transformação que tanto se almeja.

Há alguns fatores que contribuem para o processo de conhecimento

significativo dentro da perspectiva da formação profissional, colaborando e

concebendo novas maneiras de trabalhar a autonomia. Tais fatores são

responsáveis por promover a formação de sujeitos críticos e atuantes, alguns dos

quais podemos citar resumidamente: afetividade, intencionalidade pedagógica,

ressignificação curricular com base na interdisciplinaridade, práxis embasada nos

pilares do conhecimento, pesquisas de cunho científico, parcerias e formação

continuada do professor envolta no comprometimento, na ousadia, na humildade e

na coerência em busca de novas possibilidades no processo de ensino e

aprendizagem.

Outro fator de fundamental importância é a formação dos professores, a qual

precisa ser repensada, para que venha a atender as necessidades encontradas nas

escolas, e para que os profissionais possam se sentir capazes de atuarem

satisfatoriamente diante do contexto existente. Mas, além disso, os professores

devem ir em busca de novos conhecimentos e habilidades a fim de se apropriarem

teoricamente de novos conceitos e criarem suas próprias concepções para trabalhar

com as crianças.

Até meados da década de 90, os profissionais responsáveis pelo cuidado das

crianças na pré-escola não necessitavam de cursos especializados na área. Com a

LDB de 1996, os profissionais que iriam cuidar e educar as crianças entre zero e

seis anos de idade precisariam de curso profissional de magistério23. A Lei, também

determina que, no prazo de dez anos, esse curso seja superior, ou seja, a

graduação em pedagogia.

Diante do teor desse decreto houve ampla mobilização, tendo ocorrido várias manifestações realizadas pelo movimento em defesa da formação das professoras. Diante da pressão, o governo ditou o Decreto nº 3.554/2000, no qual a palavra “exclusivamente” foi substituída pela palavra “preferencialmente” (CERISARA, 2002: 332)

23

O Magistério é uma habilitação obtida no ensino médio que permite exercer a profissão de professor na educação infantil e séries iniciais. A LDB, prevê que os professores busquem a formação com a graduação em instituição de ensino superior.

Page 42: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

41

Para Cerisara (2002), a LDB de 96 fez uma determinação de que todas as

profissionais de educação infantil tivessem formação superior na área, sem subsidiar

e dispor condições para que isto fosse possível. A demanda de curso aumentou

consideravelmente, porém muitas dessas mulheres não possuíam nem o ensino

fundamental, e o decreto deu o prazo de dez anos para a regularização. E com toda

a pressão, a obrigação se transformou em opção, e o magistério passou a ser

suficiente para trabalhar com as crianças.

Ao longo de muitos anos, vivemos num sistema educacional tradicionalista,

em que os professores mantinham o mesmo comportamento em toda a sua

trajetória na educação. Atualmente, na formação acadêmica de um pedagogo,

coloca-se a permanente necessidade de mudança e busca pela mesma após a

formação. O cotidiano apresenta sempre desafios para que as mudanças nas

atitudes e nos comportamentos ocorram. O professor não deve se prender na rotina,

e, sim, buscar sempre o novo, que significa interrupção, transformação dos hábitos e

de tudo que faz parte da rotina.

Page 43: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

42

3 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA

Inicialmente, esta pesquisa se caracteriza como um estudo bibliográfico do

ponto de vista histórico que o tema propõe e, em seguida, enquanto pesquisa

descritiva e exploratória. A pesquisa bibliográfica se caracteriza pela pesquisa e

consulta em livros nas principais fontes de referências. Segundo Gil (2002) a

pesquisa bibliográfica tem como base o material já elaborado, como os livros e

artigos. Ainda, de acordo com Gil (1999: 71): “A principal vantagem da pesquisa

bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de

fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”.

A fim de observar, analisar e descrever fatos ou fenômenos, a pesquisa

descritiva se faz necessária para que não haja alterações da realidade pesquisada.

Segundo Gil (1999: 42), na pesquisa descritiva, “características mais significativas

está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o

questionário e a observação sistemática”.

A pesquisa exploratória tem por objetivo familiarizar-se com o assunto pouco

conhecido e a descritiva objetiva descrever as características de determinado

assunto, sendo a observação o método escolhido como técnica de coleta dos dados

em uma instituição de educação infantil pública. De acordo com Gil (1999, p. 44):

“os estudos exploratórios pode ser definida como pesquisa bibliográfica”, sendo que

as principais fontes utilizadas serão livros e artigos científicos.

Foram utilizadas como instrumentos de coleta de dados a observação

participante, questionários e o estudo das vivências propostas às crianças de uma

instituição de educação infantil pública do município de São José da Grande

Florianópolis. As observações ocorreram em cinco dias, por um período de quatro

horas cada, como fonte de informações do cotidiano necessária à pesquisa. Os

questionários foram entregues aos docentes e foram recolhidos para que pudesse

realizar as análises.

O intuito maior das observações é tentar perceber os indicativos que ocorrem

diariamente, as relações estabelecidas entre a educadora e as crianças nos

momentos de brincadeiras livres e direcionadas, de alimentação, de higiene e das

demais rotinas da instituição. Este instrumento será de grande importância para o

Page 44: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

43

estudo, uma vez que a criança pequena não se comunica apenas pela linguagem

falada, mas também por gestos, sorrisos, ações e demais formas de comunicação

que possibilitarão a realização do estudo neste contexto.

Serão utilizados, também, recursos fotográficos para registrar os momentos

mais significativos e propiciar à pesquisa subsídios concretos de momentos que

venham contribuir com o trabalho. Gruran (2000) aponta para dois tipos de fotografia

em trabalhos de pesquisa. Uma delas será utilizada para demonstrar e enunciar

conclusões. Para o autor, os registros fotográficos devem ser analisados levando em

consideração todo o contexto que ocasionou determinada situação.

A fotografia “para contar” corresponde ao momento em que o pesquisador compreende e, de certa forma, domina o seu objeto de estudo, podendo, portanto, utilizar a fotografia para destacar com segurança aspectos e situações marcantes da cultura estudada, e desenvolver sua reflexão apoiado nas evidências que a fotografia pode apontar. (GRURAN, 2000: 02)

Além das observações e das fotografias, também serão realizadas entrevistas

com as professoras e com a direção da instituição por meio de questionários,

questões essas que abordam o ponto de vista dos educadores e gestores da

instituição.

O questionário deve se basear nos objetivos da pesquisa. As questões não

devem possibilitar respostar exaustivas nem desviar do assunto. Devem ser

objetivas, diretas e expostas de maneira clara e concreta.

Será utilizado, também, o método qualitativo para que ocorra a subjetividade

no processo de investigação. Conforme afirma Maradinho (2009, p.03):

Na perspectiva qualitativa, os caminhos que norteiam o conhecimento científico visam à apreensão de processos acima do método, isso é, privilegia-se a informação interpretativa sobre a realidade, que está centrada na construção de dados. Se por um lado tem-se um sujeito que traz indagações de pesquisa a partir de suas concepções de mundo, por outro, o objeto é também um objeto-sujeito que fala e se posiciona conforme o seu contexto histórico-social.

Page 45: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

44

À luz dessa concepção teórica de análise de dados, este trabalho buscou

levar em consideração todo o pressuposto histórico em que se envolveu,

considerando também o contexto social e cultural em que se inseriu, procurando

analisar todos os aspectos e descrevendo a realidade cotidiana observada.

Page 46: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

45

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS DA PESQUISA

4.1 A INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL PESQUISADA

Como já afirmado anteriormente, os direitos da criança foram consolidados

com a Constituição de 1988 e, desde então, com o surgimento de vários outros

documentos que transformaram os objetivos das instituições de educação infantil no

Brasil. Os documentos anteriores à Constituição de 1988 limitavam-se a “amparar”

ou “assistir” a família, a maternidade e a infância, sem considerar a educação das

crianças de zero a seis anos. Refletindo sobre as mudanças de características e a

superação do caráter assistencialista no âmbito dos direitos, as observações em

uma instituição de educação infantil pública confere a possibilidade de analisar os

aspectos diários que definem a direção seguida.

A instituição escolhida para a pesquisa de observação e de questionários é

um CEI da rede municipal de São José/SC, localizado em uma região de classe

média baixa. O CEI possui um espaço que acomoda sete grupos de educação

infantil, atendendo a faixa etária de zero a seis anos. Cada grupo possui professora

e auxiliar de sala, com exceção do grupo VII, em que há apenas a professora.

Foto 1 - Centro de Educação Infantil "R. T.".

Fonte: Cristiane – 12 de maio de 2013.

Page 47: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

46

O centro de educação possui um espaço amplo, e cada sala é adequada a

faixa etária que acomoda. As crianças até três anos ficam em salas que possuem

solários com parque e banheiros nas salas. As crianças acima de três anos dividem

o parque que fica no pátio da instituição e os banheiros externos à sala. A rotina das

refeições é com horários fixos, e o atendimento inicia pelos menores até os maiores.

Agostinho nos remete a refletir sobre um espaço adequado para as crianças,

onde sintam que ali é pertencente a elas. As crianças também dão novos

significados aos espaços, alterando a organização, movimentando os objetos.

O espaço da instituição de educação infantil tem de propiciar um ninho seguro, um lugar que a criança possa considerar seu, possa estar consigo mesma, num encontro intimo com seus ritmos, pulsações e sentimentos. Um lugar em que ela tenha segurança e confiança, oportunizando sentido de pertencimento e onde lhe seja assegurada sua identidade pessoal [...] (Agostinho 2005: 72).

A instituição possui um espaço totalmente pensado para os pequenos, com

salas bem arejadas, adaptações nos banheiros, no refeitório e nas salas. A limpeza

de todos os ambientes é diária, e a alimentação é composta de nutrientes básicos

(carboidratos, proteínas, verduras e salada). Todas as salas possuem equipamentos

de vídeo, espelho, tapetes, solário, brinquedos e jogos ao alcance das crianças. A

partir do grupo V, com crianças de três a quatros anos, as salas possuem quadro

negro, e no grupo VII, com crianças de cinco a seis anos, as carteiras são

individuais. Os recursos foram aplicados de forma correta, seguindo a legislação e

se adaptando a faixa etária de cada grupo.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional direciona como devem ser

aplicados os recursos destinados a todos os níveis de educação, até mesmo em

relação à construção, aquisição de equipamentos e organização da estrutura, como

afirma no artigo 70 da LDB/96: “aquisição, manutenção, construção e conservação

de instalações e equipamentos necessários ao ensino”.

A família interage com o centro de educação infantil. São feitas reuniões

periódicas e mantém contato diário via agenda. Os responsáveis também podem

entrar na instituição a qualquer momento para deixarem ou buscarem as crianças

diretamente na sala. A diretora está sempre presente e interage constantemente

com os grupos, observando as necessidades e dialogando com as docentes.

Page 48: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

47

O Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição foi aprovado em 2011 e,

conforme informações da diretora, está sofrendo alterações. Elaborado em uma

perspectiva sócio histórica, o PPP faz referência a Lev Seminovich Vygotsky e Henri

Wallon. E prevê como objetivo:

(...) uma Educação Infantil de qualidade, incluindo propostas pedagógicas de educação e cuidados, que possibilitem a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e sociais da criança. (PPP, 2011: 02)

O projeto aborda a concepção de homem, de sociedade e de mundo e a

necessidade de uma educação para a emancipação humana. Fala, também, sobre

concepção de cultura, educação e aprendizagem.

4.2 OBSERVANDO O CUIDAR E O EDUCAR NO COTIDIANO DA INSTITUIÇÃO

No primeiro dia de observação, fui recebida pela diretora da instituição, que

logo me apresentou à professora do grupo I (GI). O grupo é composto por dez bebês

que possuem entre 04 a 10 meses de idade, e duas educadoras, uma professora e

uma auxiliar de sala. Ao chegar à sala, fui orientada a retirar o calçado e colocar

uma sandália que já havia no hall de entrada da sala, pois as crianças têm muito

contato com o chão e a higiene é fundamental para a saúde e bem-estar dos bebês.

Foto 2. Grupo I – Momento da acolhida.

Fonte: Cristiane – 11 de maio de 2013.

Page 49: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

48

No primeiro horário da manhã, as crianças são acolhidas pelas educadoras e

colocadas em um bebê conforto, onde assistem a um desenho infantil na televisão.

Os bebês permanecem no bebê conforto assistindo desenho por aproximadamente

20 minutos, que é o período em que as crianças ainda estão chegando, e as

educadoras vão acolhendo-as e dando-lhes atenção, principalmente para os que

choram e necessitam de uma dedicação a mais até se acalmarem.

Esse momento de acolher a criança deve ocorrer da melhor forma possível,

atendendo suas necessidades e facilitando o processo de interação com esse novo

ambiente, diferente do familiar no qual estava acostumado. Nunes (2000) pontua

alguns aspectos que devem ser levados em consideração no momento da acolhida,

a fim de diminuir a “tensão emocional dos primeiros dias”.

Ao ingressar na pré-escola a criança se depara com um espaço que possui uma composição própria, com objetos específicos e uma estrutura social diversa da familiar. Isto quer dizer que ela vai ter que aprender a lidar com esse conjunto de novos elementos, assumindo novas condutas de acordo com as exigências desse novo contexto. (NUNES, 2000: 105).

Nunes (2000) afirma que o educador deve saber mais sobre o significado das

experiências vividas no início da escolaridade para contribuir com o processo de

adaptação e acolhimento. Neste processo, a criança passa a se perceber num

conjunto em que sua personalidade é delimitada, tomando consciência de sua

autonomia. Acolher adequadamente a criança requer um trabalho coletivo na

instituição, onde o espaço tem que estar organizado e as crianças possam a

participar ativamente com materiais ao seu alcance e também aprendam a mantê-

los em ordem. Tornar o ambiente mais enfeitado e com brinquedos disponíveis à

exploração também favorece minimizar os transtornos dos primeiros dias. A criança

deve ser vista não apenas como um ser pensante, mais também como um ser

completo que está em transformação e que busca adequar-se a essa nova realidade

social.

Em seguida, cada criança recebe a primeira refeição do dia, que era banana

amassada com farinha de arroz ou bolacha amolecida no leite. O momento da

alimentação pode (e deve) ser um momento de aprendizado, sentindo sabores e

texturas, conhecendo novos alimentos e distinguindo sabores. A criança começa a

criar sua identidade e autonomia, escolhendo sabores e criando preferências.

Page 50: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

49

Nesse dia, compareceram nove crianças no Grupo I, sendo duas meninas e

sete meninos, que, após a refeição, faziam atividades diferentes conforme suas

necessidades. Dois bebês logo dormiram, outros dois, que são gêmeos,

permaneceram no bebê conforto por mais tempo, pois têm refluxo e precisam ficar

descansando até digerirem melhor o alimento. Os demais bebês são colocados nos

tapetes para brincar, sempre com a supervisão de uma das educadoras.

Durante todo o período, a televisão fica ligada, passando vídeos de desenhos

musicais infantis. Ela fica na altura do campo de visão dos pequenos. Assim como

os demais brinquedos que ficam todos expostos nos tapetes, sendo de fácil acesso

a todos.

A maioria das crianças engatinha com facilidade; um dos meninos já arrisca

sozinho, os primeiros passos, e o bebê mais novo da turma está aprendendo a ficar

sentado. A sala possibilita que todas essas etapas aconteçam com tranquilidade e

facilidade, pois possui todas as adaptações necessárias.

Foto 3. Grupo I – O espaço.

Fonte: Cristiane – 11 de maio de 2013.

O espaço da sala do grupo I possui vários elementos pensados

especialmente para os pequenos. O piso possui um revestimento amadeirado,

permitindo que a temperatura do chão fique mais agradável nas engatinhadas. Outra

Page 51: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

50

parte é revestida com tapete emborrachado, evitando impactos, principalmente aos

que estão aprendendo a se equilibrar.

A adaptação do mobiliário, dos equipamentos e do próprio espaço à escala da criança permite uma maior autonomia e independência, favorecendo o processo de desenvolvimento a partir de sua interação com o meio físico. Estantes acessíveis, com diversidade de materiais educativos disponíveis, bem como cadeiras e mesas leves que possibilitem o deslocamento pela própria criança, tornam o ambiente mais interativo e coerente à ideia de construção do conhecimento a partir da ação e da intervenção no meio (BRASIL, 2006:28).

O espaço possui uma sala separada para a higiene e cuidados das crianças,

onde há uma bancada de mármore, com banheira, pia, armários e prateleiras. Além

de limpa a sala é organizada e funcional. Cada criança possui um armário para seus

pertences diários, como mochila, roupa extra, calçado, toalha, sendo que cada

criança também possui um vasilhame organizador, que fica localizado nas

prateleiras acima da bancada, com produtos de higiene pessoal: fralda, lenço

umedecido, pomada, hidratante, sabonete, xampu etc. Esses produtos são trazidos

pelos pais e, à medida que vão terminando, as educadoras avisam-nos via agenda

para que os reponham.

Foto 4. Grupo I – O espaço 2.

Fonte: Cristiane – 11 de maio de 2013.

Page 52: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

51

A sala possui três berços, um colchão de casal no chão, três redes, muitos

brinquedos educativos, duas poltronas de balanço, uma mesa pequena com

cadeiras, uma bancada de mármore, que é utilizada para as refeições, um

chiqueirinho, um móbile, um espelho e um obstáculo acolchoado no centro da sala.

Os obstáculos são interessantes e significativos no desenvolvimento motor e

para o equilíbrio dos bebes. Eles possuem formato de rolo, rampa, degrau, quadrado

etc., e podem servir de instrumento de exploração na fase de engatinhar. Outro

acolchoado interessante utilizado pelas professoras é um em formato de circulo

achatado com um furo ao meio, onde a criança fica sentada dentro para conseguir

se equilibrar até ficar com a coluna mais durinha e sentar-se sozinho.

Foto 5. Grupo I – Obstáculos.

Fonte: Cristiane – 11 de maio de 2013.

Conforme Vygotsky (1994), nessa fase as crianças sentem a necessidade de

satisfazerem seus desejos imediatos, e um espaço que dispõem de brinquedos,

obstáculos, espelhos e muita afetividade possibilita que o imaginário e o ilusório

satisfaçam essas necessidades.

O espaço também dispõe de um solário que é dividido com o grupo II. Nele há

uma casinha, brinquedos de balançar e bastante espaço. Porém, as crianças do

Page 53: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

52

grupo I utilizam esse espaço apenas quando o tempo está bom e quente, na maioria

das vezes no período da tarde.

Uma das meninas chorava bastante durante boa parte do tempo da manhã,

querendo ficar no colo de uma das educadoras. Conversando com a auxiliar de sala,

procurando entender o motivo, ela me explicou que a bebê ainda não se adaptou,

apesar de já terem passado quatro meses. Isso ocorre pela quantidade de faltas que

ela apresenta. Como seu pai não trabalha todos os dias, ela só vai à instituição

quando não tem com quem ficar. Isso prejudica sua adaptação e seu

desenvolvimento no CEI.

As educadoras demonstram se preocupar com o desenvolvimento afetivo dos

bebês, por meio de estímulos e motivações, utilizando músicas, brinquedos,

materiais emborrachados e muito carinho. Essa relação de carinho demonstra a

preocupação com o cuidado e com o educar, pois a afetividade na educação infantil

é imprescindível para a formação da personalidade e desenvolvimento das crianças.

Para Wallon apud Almeida (2008), o bem estar e o mal estar estão ligados à

afetividade vivenciada pelo indivíduo. Quando bebês, os pequenos buscam saciar

suas necessidades e o momento de alimentação e higiene fazem parte de uma troca

afetiva que fazem parte dessa satisfação. Um pouco maiores as crianças passam a

lidar com os sentimentos de medo, angústia, felicidade, alegria, tristeza, passando

pelo estágio emocional, aprendendo a lidar com essas situações. Wallon afirma que

a afetividade está relacionada ao desenvolvimento cognitivo da criança, e que a

afetividade e o cognitivo se desenvolvem dependendo um do outro.

As educadoras conversam bastante com as crianças, sempre de forma clara

e objetiva, com carinho e afetividade. Durante a troca de fralda de um bebê, pude

observar o carinho e respeito que a educadora tratou a criança. Primeiramente ela

perguntou ao menino se poderia trocá-lo: “Vamos trocar sua fralda B, posso tirar sua

roupinha?”. Ele olhou para ela com uma expressão de confiança e carinho. A todo o

momento ela mostrava a ele o que iria utilizar, demonstrando respeitá-lo como

sujeito de direitos, dedicando-lhe uma atenção individual.

Perto das 11 horas da manhã, o almoço chega à sala: pirão de feijão. As

crianças são colocadas em seus bebês conforto e as educadoras vão alimentando

cada criança, uma a uma. Com exceção da menina que não está adaptada, todas as

demais crianças já conhecem a rotina e aguardam sua vez no bebê conforto com

tranquilidade, assistindo televisão. Após almoçarem, descansam por alguns minutos

Page 54: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

53

no bebê conforto e, conforme a vontade de cada criança, as educadoras permitem

que durmam, respeitando o ritmo fisiológico de cada criança. As redes são muito

utilizadas neste momento. Os bebês adoram dormir na rede, embalados pela

professora ao som de uma canção de ninar cantada por ela. Rapidamente eles

dormem, e apenas dois demoram um pouco mais para se entregarem ao sono.

O espaço aconchegante, que respeita o direito das crianças, proporciona um

ambiente agradável, de tranquilidade e aprendizagem. As educadoras, a todo o

momento, buscavam dar atenção individual aos pequenos, chamando-os sempre

pelo nome, dedicando-lhes carinho, atenção e proteção.

Os planejamentos são feitos a partir das necessidades das crianças e, em

grande parte, objetivam desenvolver suas habilidades motoras, sendo que o espaço

adaptado é fundamental. A música também faz parte do cotidiano do grupo. As

educadoras seguem uma rotina com muita habilidade. Os momentos de cuidados

permeiam o cotidiano desta turma tanto quanto os momentos de aprendizagem. As

educadoras estão atentas a tudo que ocorre com o grupo, preocupando-se com

seus cuidados pessoais e com o desenvolvimento de cada criança.

O centro de educação infantil possibilita à criança o desenvolvimento

cognitivo social e emocional, criando situações de interação, exploração e

construção do conhecimento, mesmo às crianças menores, pois ocorre a todo o

momento a integração das funções de cuidar e educar.

O Grupo IV do CEI é composto por 20 crianças, uma professora e uma

auxiliar de ensino, sendo que no dia da observação compareceram 18 crianças de

dois a três anos de idade. No inicio da manhã, a educadora acolhe a chegada dos

pequenos e, em seguida, encaminha os mesmos para o pátio onde ocorre o café da

manhã. O pátio possui um espaço próximo à cozinha com quatro mesas compridas

e bancos em alturas apropriadas para crianças. Estas se sentam nos bancos e

aguardam o café chegar à mesa. Após a refeição, retornam à sala.

O espaço utilizado pelo grupo IV apresenta, além da sala principal, um

banheiro grande e adaptado para os pequenos e outra sala que servia como um

closet para os colchões e roupas de cama. Na sala principal, havia um espaço com

quatro mesas para quatro crianças cada, uma parte com tapete e sofazinhos de

criança, um espelho na parede, uma bancada de mármore, televisão, armários e, na

parte externa, um solário com parque, que era dividido com o grupo III.

Page 55: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

54

No início da manhã, a educadora liberou as crianças para brincarem

livremente no solário. Ela costuma levá-los mais tarde, porém, como o céu estava

nublado, com previsão de chuva, ela fez uma alteração em seu planejamento, para

que as crianças pudessem brincar um pouco ao ar livre e aproveitar os brinquedos

que o parque no solário dispunha.

Com o surgimento da preocupação com o desenvolvimento e aprendizagem

das crianças da educação infantil, o planejamento surgiu como elemento

fundamental para o trabalho intencional e de qualidade com as crianças. Conforme

OSTETTO (2000), “o planejamento deve ser assumido no cotidiano como um

processo de reflexão”. Pois envolve vários aspectos como a escolha do material a

ser utilizado e como e onde utilizá-lo. Essas escolhas dependem da observação das

crianças como ponto de partida.

Planejar é essa atitude de traçar, projetar, programar, elaborar um roteiro para empreender uma viagem de conhecimento, de interação, de experiências múltiplas e significativas para com o grupo de crianças. Planejamento pedagógico é atitude critica do educador diante de seu trabalho docente. Por isso não é uma fôrma! Ao contrário, é flexível e, como tal, permite ao educador repensar, revisando, buscando novos significados para sua prática pedagógica. (OSTETTO, 2000: 177).

Observando este momento em que as crianças se encontravam no parque,

pude perceber as brincadeiras inventadas, construídas, imaginadas e desenvolvidas

pelos pequenos. Além de utilizar os brinquedos já significados, as crianças

ressignificavam os mesmos e inventavam alguns com objetos. Um dos meninos, ao

brincar com a caixa de armazenar brinquedos, virou-a de cabeça para baixo, sentou

em cima e dizia: “Vuuumm.... Vuuummm, bi bi, sai da frente...” como se a caixa

fosse um carrinho dirigido por ele.

Os desejos começam a surgir a partir do início da idade pré-escolar, e, muitas

vezes, esses desejos não podem ser satisfeitos. Surge, então, o imaginário e o

ilusório para satisfazê-los, o que, segundo Vygotsky (1994, p.122) aponta para essa

ideia: “esse mundo é o que chamamos de brinquedo”.

O autor argumenta que a imaginação define o brinquedo. E que sempre há

regras, mesmo que sejam regras de comportamento. E é nas brincadeiras que

essas regras ganham mais intensidades do que fora delas. Vygotsky afirma que todo

Page 56: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

55

brinquedo possui regras que possibilitam a brincadeira de forma imaginativa. A

criança quer realizar seus desejos através do brinquedo, fazendo o que mais gosta

de fazer, porém subordinando-se a regras. Vygotsky (1994, página131) diz que: “No

brinquedo, uma ação substitui outra ação, assim como um objeto substitui outro

objeto.” Para que isso ocorra, há um movimento no campo do significado.

Em outro momento, a professora entrou na brincadeira, aproveitando que as

crianças estavam dentro da casinha, e dizia: “Eu sou o Lobo Mal e vou assoprar

essa casinha”, as crianças ficavam eufóricas com a brincadeira enquanto a

professora fingia assoprar a casinha. Todos entraram na brincadeira e adoraram a

encenação da professora. Foi um momento de muita imaginação das crianças, que

corriam do “Lobo” como se ele realmente estivesse ali. Em seguida, um dos

meninos, com o objetivo de salvar a turma, pegou um carrinho e anunciou: “Eu sou o

carro da polícia” e encostou o carrinho na professora imitando o barulho de uma

sirene e repetiu: “polícia, polícia, polícia...”.

Foto 6. Grupo IV – Brincadeira no Solário.

Fonte: Cristiane – 13 de maio de 2013.

Após quarenta minutos de brincadeira no parque do solário, a educadora

solicitou que os pequenos guardassem os brinquedos e retornassem para a sala. Ao

retornarem, sentaram-se no tapete a pedido da educadora.

Page 57: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

56

A professora trouxe um material sobre os dentes e iniciou a exposição

contando uma história sobre o dentinho que estava feliz por estar limpinho. Em

seguida, explicou para as crianças sobre a higiene bucal, iniciando com questões:

“quem tem dente?”, “Quem escova os dentes em casa?”, “Quem usa fio dental?” etc.

Mostrou a escova e como deve proceder a escovação, a pasta de dente e a sua

importância, falou sobre o enxaguante bucal e, por fim, mostrou a eles o fio dental.

Ela explicou como utilizar o fio dental e entregou um pedaço dele para que cada

criança pudesse manuseá-lo e aprender como utilizá-lo. Uma das meninas, ao ver a

professora tocando o fio dental na boca, disse preocupada: “Vai tirar o teu batom!”

Após explicar as funções de cada produto apresentado e a importância da

higiene bucal, a educadora colocou uma música sobre o sapo que escova os dentes

e todos se levantaram e começaram a cantar e pular.

Foto 7. Grupo IV – O dentinho feliz.

Fonte: Cristiane – 13 de maio de 2013.

Em seguida e professora solicitou que as crianças se sentassem e fizessem a

pintura do livrinho que continha a história do dente feliz, individualmente.

A aprendizagem caracteriza-se como a apropriação e a produção da cultura, dos modos de vida, das crenças, das concepções, dos conhecimentos elaborados e sistematizados, permeados pelas emoções, partilhados significativamente com os diferentes grupos ou sujeitos que

Page 58: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

57

compõem o contexto mais próximo à criança, de modo que, na relação com a realidade social mais ampla, possibilitam a ela elaborar seus sentidos e significados sociais para compreender o mundo, agir sobre ele, transformá-lo e ser transformada. Essa transformação é recíproca, pois tanto a criança quanto os demais sujeitos envolvidos nesse processo (família, amigos, profissionais da instituição de educação infantil etc.), colocam suas emoções e afetividades, aprendendo e se desenvolvendo. (PPP, 2011: 12)

O PPP da instituição aborda a questão da aprendizagem como um dos

fatores primordiais nas relações de interação da instituição. O projeto afirma que a

aprendizagem é mútua, ou seja, tanto as crianças quanto os professores (as) se

envolvem no processo de construção do conhecimento.

Durante a atividade, uma das meninas não deixou que um dos meninos

utilizasse o lápis de cor rosa, argumentando: “rosa é de menina, tu não pode usar!”

Neste momento, a professora aproveitou a situação para explicar que não existem

cores só para meninas e cores só para meninos, que tanto meninas quanto meninos

podem utilizar as cores que quiserem, abordando um pouco das questões de

gênero.

As educadoras foram passando de mesa em mesa, sempre dando atenção

aos pequenos e elogiando a pintura que estavam fazendo, valorizando a construção

individual de cada criança. Os que terminavam a atividade, a qual foi afixada na

parede, retornavam para o tapete, para brincar de lego até que todos terminassem a

pintura.

No que se refere às crianças, a avaliação deve permitir que elas acompanhem suas conquistas, suas dificuldades e suas possibilidades ao longo de seu processo de aprendizagem. Para que isso ocorra, o professor deve compartilhar com elas aquelas observações que sinalizam seus avanços e suas possibilidades de superação das dificuldades (RCNEI – Vol. 1, 1998: 60).

Segundo o Referencial (1998) é importante que o professor expresse aos

pequenos suas conquistas. A importância de valorizar as produções individuais

incentiva as crianças no ensino aprendizagem.

Page 59: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

58

Foto 8. Grupo IV – Pintando o dentinho.

Fonte: Cristiane – 13 de maio de 2013.

Assim que todos terminaram, a professora colocou um desenho na televisão

para que os pequenos assistissem e, aos poucos, as crianças iam ao banheiro (que

ficava dentro da sala) para lavar as mãos e se prepararem para o almoço. Enquanto

foram almoçar, a auxiliar de sala providenciou os colchões no chão para que, no

retorno das crianças, elas pudessem descansar ou dormir após o almoço.

Observando as crianças do grupo V, quando cheguei à instituição, percebi

que, logo esse grupo foi para o pátio tomar o café, onde fui apresentado a ele. O

grupo V possui 24 crianças, sendo que apenas 16 estavam presentes. Ele é formado

por crianças de três a quatro anos e é orientado por uma professora e por uma

auxiliar. Logo após o café da manhã, as crianças foram para a sala, e as educadoras

as deixaram livres para brincar. Algumas optaram por brincar no solário, que não

possuía um parque como no grupo IV, pois este grupo utiliza o parque que fica no

pátio da instituição, destinado aos Grupos V, VI e VII.

Outras crianças optaram por brincar dentro da sala, com bonecas ou jogos de

montar e quebra-cabeças. Uma das meninas trouxe, nesse dia, um jogo de boliche,

e a educadora, com muita atenção, orientou a brincadeira, explicando as regras do

jogo e organizando o grupo.

Page 60: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

59

Foto 9. Grupo V – Brincadeiras livres.

Fonte: Cristiane – 15 de maio de 2013.

Durante este período de brincadeiras livre, pude perceber que as crianças já

têm suas preferências nas brincadeiras. Alguns ficaram, por um bom tempo, jogando

os jogos que estavam na mesa. Outros não se interessavam muito pelos jogos e

preferiam brincar de correr ou com outros brinquedos que havia em um cesto. De

qualquer forma, todos podiam escolher livremente a brincadeira, pois os brinquedos

ficavam todos ao alcance dos pequenos e o solário dispunha de espaço que permitia

que as crianças inventassem diversas brincadeiras.

É sabido que à medida que a criança vai crescendo, e com isso avançando

seu estágio de desenvolvimento, suas necessidades vão se modificando e alguns

brinquedos deixam de interessá-la. Vygotsky diz que é essencial percebemos as

atuais necessidades de uma criança, para entendermos o brinquedo como forma de

atividade.

Após um tempo de brincadeiras, a educadora fez uma roda, sentada, no

tapete. E para que todos se acalmassem, pediu que ficassem em silêncio e

respirassem fundo: “Puxa o ar lá no fundo e solta bem devagar... Puxa de novo e

depois solta...”, disse a professora. As crianças foram se tranquilizando, já que

alguns estavam correndo e/ou eufóricos com as brincadeiras. Após esse momento,

a professora apresentou a proposta aos pequenos e iniciou as atividades.

Page 61: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

60

Iniciou fazendo uma atividade com os nomes das crianças, para verificar

quem estava presente e quem estava ausente. Utilizou uma caixa que continha o

nome de todas as crianças dentro. Os nomes estavam em um papel cartão, e cada

nome continha um desenho diferente ao lado, a fim de criar uma associação por

parte das crianças. Cada uma destas pegava um nome de dentro da caixa e o

identificavam juntas. Normalmente cada criança conseguia identificar seu próprio

nome. A educadora focava bastante na letra inicial do nome e pedia que as crianças

fossem colocando os nomes no trenzinho de alfabeto que havia pendurado na

parede. Além de promover o ensino do alfabeto, a educadora finalizava a atividade

contando em grupo a quantidade de crianças que estavam em sala e a quantidade

que haviam faltado.

Foto 10: Grupo V – Contação de história. Fonte: Cristiane – 15 de maio de 2013.

O projeto que a educadora está desenvolvendo com este grupo é sobre os

animais e, durante esta semana, está propondo uma aprendizagem sobre o gato.

Para iniciar as atividades, a educadora trouxe uma história da dona baratinha que

queria se casar. Através dessa história, contada com a utilização de fantoches, a

educadora falou de outros animais e finalizou com o gato que, na história, casou-se

com a dona baratinha, por ter características de um animal meigo e carinhoso.

Page 62: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

61

A educadora contou a história de forma lúdica e com propriedade, fazendo

com que as crianças interagissem com a história. E utilizava fantoches para cara

personagem, tornado mais interessante a contação. É fundamental que o educador

saiba contar uma história de forma criativa e atrativa, de forma que as crianças

participem da contação.

Uma autora que nos possibilita refletir sobre a contação de história é Gilka

Girardello. A autora faz várias orientações que favorecem a contação. Ela aponta

para duas formas de se contar histórias: a primeira já é bastante conhecida e a mais

comumente utilizada: a leitura dos livros de forma sistematizada, usando as palavras

do autor mecanicamente. A outra possibilidade iria além do ler e escutar: ela se faz

por meio da narrativa, apropriando-se da história e usando a própria linguagem e

expressão corporal para contá-la.

Para Girardello (2003: 02) a vivência com a narrativa na educação infantil

contribui para o pensamento lógico, onde as narrativas podem servir de ponte entre

os valores e as crenças abstratas. Desta forma, a narração, mesmo sendo algo

perpassado culturalmente, deve sim ser tomada como uma ferramenta pedagógica

riquíssima a ser utilizada no cotidiano infantil.

Na educação infantil, o educador deve construir um universo literário por meio

da narrativa de literaturas breves, estimulando a imaginação dos pequenos e

despertando o interesse pela leitura. A utilização de recursos contribui para que a

história se torne mais atrativa e as crianças se interessem pela contação. A

professora buscou a todo o momento utilizar recursos para atrair a atenção e a

participação dos pequenos.

A história citada era da dona baratinha que queria se casar e, ao oferecer sua

mão, apareceram vários candidatos: o boi, o cavalo, o cachorro e o gato. A cada

animal que aparecia, a professora explorava as suas características com a ajuda

das crianças. Por fim, a dona baratinha escolheu o gato, tema da aula, que, por ser

mais sensível e carinhoso, se casou com a dona baratinha. A cada animal que era

rejeitado pela dona baratinha, a professora cantava a musica: “Quem quer casar

com a dona baratinha. Que é bonitinha e tá doidinha pra casar. Também tem

dinheiro na caixinha. E gosta muito de dançar o Tchá Tchá Tchá...”.

Page 63: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

62

Foto 11: Grupo V – Construindo um gatinho. Fonte: Cristiane – 15 de maio de 2013.

As crianças ficaram bem atentas à história, pois foi contada de uma forma

lúdica e atrativa. No momento das músicas, as crianças tentavam acompanhar e

ajudar na cantoria. Neste momento, percebi que a auxiliar de ensino fazia registros

em um caderno, com as falas das crianças e com os momentos mais significativos

da proposta.

Para finalizar, a professora propôs que as crianças pintassem o desenho de

um gato para produzirem um móbile. Havia a disponibilidade de materiais em cima

das mesas, como lápis e giz de cera, e as crianças, além de fazerem a pintura,

desenharam o rosto do gato que estava em branco, para que cada criança pudesse

desenhar da sua maneira.

Neste tipo de planejamento, o “tema” é o desencadeador ou gerador de atividades propostas às crianças. O “tema” busca articular as diversas atividades desenvolvidas no cotidiano educativo, funcionando como uma espécie de eixo condutor do trabalho. (OSTETTO, 2000: 185).

Podemos perceber que a professora do Grupo V escolheu um tema gerador

que seria o gato e, em seguida, fez algumas atividades com a turma, como a

contação de história, utilização de música, pintura de desenho e montagem de

móbiles.

Page 64: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

63

Após finalizarem as atividades, as crianças foram para o parque que fica no

pátio da instituição. Permaneceram por quarenta minutos e, neste período, puderam

interagir com as crianças de outros grupos. Em seguida, lavaram as mãos e foram

almoçar.

No almoço, as crianças se servem sozinhas, escolhem o que preferem comer

e qual talher preferem utilizar. Todas almoçam tranquilamente e, depois, retornam

para sala, para descansarem. Esses pequenos afazeres cotidianos estimulam a

autonomia dos pequenos, que escolhem o que e como comer.

Os momentos de higiene, de escolha da alimentação, de ir ao banheiro, de

guardar os materiais, guardar os brinquedos, são atividades cotidianas fundamentais

para a construção da autonomia e da identidade e para o aprendizado do

autocuidado. Conforme o RCNEI, a autonomia é "a capacidade de se conduzir e de

tomar decisões por si próprio, levando em conta regras, valores, a perspectiva

pessoal, bem como a perspectiva do outro”.

Outro dia de observação se deu com as crianças do Grupo VII, que foram

recebidas na sala e, em seguida, seguiram para o café da manhã. O grupo é

composto por vinte crianças, sendo que neste dia havia treze presentes e uma

professora, sendo que para crianças de cinco a seis anos o município não fornece

auxiliar de ensino. Faz parte deste grupo, também, um professor de educação

especial para uma criança do grupo que é autista.

Durante o café, as crianças ficam sentadas aguardando o lanche chegar.

Neste momento, sou abordada por uma criança, N., de cinco anos, que pede para

ser cheirado: “Hum... você está muito cheiroso!” afirmo com sinceridade. E ele, feliz

com a minha afirmação, explica-me que: “esse perfume é do meu vô e ele nunca

mais sai, pode até lavar que não sai!”. As crianças pequenas têm muita facilidade de

criar relações afetivas e vínculos de confiança. Em seguida, a professora convida as

crianças para irem à sala, e logo “N” me dá a mão para que eu siga com ele.

Page 65: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

64

Foto 12: Grupo Infantil VII – Acolhida/ Brincadeira livre. Fonte: Cristiane – 17 de maio de 2013.

A turma chega à sala e fica com um tempo livre para brincar e interagir.

Alguns optam por desenhar e pintar nas carteiras, outros buscam por algum

brinquedo e os demais preferem assistir a um desenho infantil.

O grupo apresenta vários desafios a um professor apenas, sem a colaboração

de um auxiliar de ensino. São vinte crianças, e algumas precisam de uma atenção

especial. Uma delas é “A”, uma menina de cinco anos que possui dificuldades na

fala e problemas visíveis de crescimento dos ossos. Ela aguarda por cirurgia para

correção na coluna. “A” é uma criança muito amável, carinhosa e querida com todos

os amigos. Porém, percebi que, em muitos momentos, ela se isola do grupo e brinca

sozinha, sem muitas expressões de alegria.

Há também o “L”, um menino de cinco anos que chora muito quando chega à

escola. Conversando com a professora, ela me disse que todos os dias ocorrem a

mesma situação e que já conversou com a família, porém não houve muitos

resultados. Após aproximadamente 30 minutos, ele se acalma e interage

normalmente com as demais crianças.

Como já havia mencionado, uma das crianças, o “Is”, também com cinco anos

de idade, apresenta diagnóstico de autismo. Há um educador especial que

acompanha “Is” em todos os momentos que se encontra na instituição. O educador

especial preocupa-se bastante com a interação da criança com o grupo e com os

cuidados de higiene. A criança permanece por quase toda a manhã interagindo com

Page 66: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

65

o grupo, participando das atividades e brincado. Há alguns momentos que “Is”, sem

motivo aparente, puxa o cabelo ou morde algum amigo do grupo.

A Constituição Brasileira de 1988 deixa claro que todas as crianças têm

direito à educação infantil, sem exceção. Ou seja, toda criança deve ter acesso à

instituição, sem distinção. E a Constituição ainda afirma que devem ser

disponibilizados profissionais especializados à criança com necessidade educacional

especial. Outro documento que reafirma o direito de todos ao acesso à educação em

qualquer nível, inclusive na educação infantil, é a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, de 1996.

Em 1989, foi decretada e sancionada a Lei nº 7.853, que dispõe sobre a

integração social de pessoas com deficiência, garantindo, nos termos do artigo 2º, o

direito à inclusão no sistema educacional. A professora busca a todo o momento a

interação entre todas as crianças, inclusive “Is” que é autista.

A maioria das crianças que convivem com “Is” no grupo VII interage com ele

normalmente. Porém algumas crianças têm receio de que ele as machuque e, por

isso, evitam contato com “Is”. Ele tenta, por várias vezes, aproximar-se das crianças,

principalmente no parque, e algumas se afastam com a presença dele. Essa relação

de exclusão normalmente ocorre nos momentos de brincadeiras livres, pois, nos

momentos de brincadeiras e atividades orientadas, a professora busca a

participação de todos e até chama o “Is” com mais frequência, para estimular a

participação e integração dele com o grupo.

A professora relatou que existem longos períodos de construção em que “Is”

permanece interagindo com o grupo sem problemas de relacionamentos e sem

exclusão dele em momentos de brincadeiras e atividades. Nesses momentos,

ocorre, inclusive, a construção do conhecimento, pois “Is” participa das atividades,

desenhando, pintando, cantando e interagindo de forma natural com os demais.

Porém há algumas oscilações de comportamento que é uma característica do

autismo, em que “Is” fica mais agitado e compromete as relações de aprendizagem

e de socialização com o grupo. A professora afirma que: “apesar de algumas

crianças terem medo dele, elas aprendem muito com a presença dele e com o

desenvolvimento dele”. Ela também relata que “a criança com autismo precisa de

estabilidades na escola e na família”.

Page 67: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

66

[...] a maioria das pessoas com autismo são pensadores visuais, ou seja, processam o pensamento em imagens, como uma fita de vídeo ou um CD-ROM. Por isso, podem vir a apresentar dificuldades na mudança de rotinas, ambientes e informações claras e estruturadas, além de dificuldade em percepção, compreensão e comunicação. (CIRANDA DA INCLUSÃO, 2010: 06)

A sala deste grupo permanece sempre na mesma posição. A professora não

faz muitas modificações nas posições das carteiras que, neste grupo, já são

individuais. “Percebemos que quando mudávamos as carteiras o “Is” ficava agitado e

não reconhecia o ambiente, então resolvemos não modificar mais a sala”, diz a

professora. A educadora tenta fazer outros tipos de diversificações com as crianças,

como nas musicas, nas brincadeiras e nas atividades.

Após as crianças brincarem na sala e assistirem desenho, a educadora levou

os pequenos para o parque, onde já havia outros grupos brincando. Um dos

meninos o “Na”, que o chamei carinhosamente de cheiroso, estava brincado com

areia com outro amigo, o “Ed”. Eles brincaram por um bom tempo de peneirar a areia

e, em alguns momentos, “Na” se aproximava de mim e dizia: “toca na areia

professora, ela esta macia, né?” Depois de brincar por mais um tempo, ele colocou

pedaço de mato com a areia peneirada e veio pedir que eu experimentasse a

“comidinha” que ele havia preparado juntamente com o amigo: “prova professora, é

bolinha de queijo, pode comer!”, eu entrei na brincadeira, fingindo pegar e saborear

o prato feito pelos pequenos.

Foto 13: Grupo VII – Roda de músicas. Fonte: Cristiane – 17 de maio de 2013.

Page 68: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

67

A imaginação e o faz de conta é fundamental para o desenvolvimento das

crianças. Pude perceber que, em todos os grupos observados, a imaginação

acontece a todo o momento e as atividades livres possibilitam que as crianças criem

e inventem outras possibilidades de brincadeiras. Ou seja, é importantíssimo as

atividades mediadas pelo professor e tão importante também são os tempos livres

em um espaço com muitos brinquedos disponíveis e muitas possibilidades de

imaginação.

Quando retornaram para a sala, a professora propôs uma rodada de música

com as crianças, em que cada delas escolhia uma música para cantar e o grupo

acompanhava a cantoria. Todos participaram da brincadeira, inclusive “I”, que

também escolheu uma música para os amigos cantarem com ele.

A professora busca a todo o momento a participação de todos nas atividades

e nas brincadeiras. A inclusão social se faz não apenas por ela, e também por toda a

instituição, que dá uma resposta inclusiva para atender a diversidade humana.

4.3 O OLHAR DAS PROFESSORAS PESQUISADAS SOBRE O CUIDAR E O EDUCAR

Os profissionais que atuam em instituições de educação infantil criam,

durante o ano letivo, relações comportamentais, regras básicas, acordos que são

assumidos no cotidiano, visando o melhor desenvolvimento da criança. Essa

parceria se faz necessário, pois o cuidar e o educar envolvem a participação de

todos, exigindo estudo e dedicação. Para Forest (2009), na educação infantil é

essencial os trabalhos ocorrerem com a participação de todos.

A ação conjunta dos educadores e demais membros da equipe da instituição é essencial para garantir que o cuidar e o educar aconteçam de forma integrada. Essa atitude deve ser contemplada desde o planejamento educacional até a realização das atividades em si. (FOREST, 2009: 02)

A teoria sociocultural de Vygotsky afirma que as interações são a base para a

compreensão das representações mentais, ou seja, a aprendizagem ocorre com a

Page 69: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

68

ajuda de pessoas mais experientes, por meio de processos de relações sociais. De

acordo com Vygotsky (1984): “O caminho do objeto até a criança e desta até o

objeto passa por outra pessoa”.

A mediação do professor é fundamental para gerar a construção do

aprendizado, por meio das interações em que o docente possibilita o acesso a

diferentes saberes. Vygotsky afirma que a organização do aprendizado é

fundamental para o desenvolvimento mental.

Todas as educadoras que participaram da pesquisa contribuíram para a

elaboração do Projeto Político Pedagógico do centro educacional. O Projeto

encontra-se em processo de reelaboração, e as professoras, assim com a diretora,

discutem as mudanças conforme as necessidades levantadas por todas.

[...] as instituições de educação infantil enraízam-se em uma cultura, contribuem para transformar o contexto cultural. Daí a importância de avaliar a qualidade do trabalho por elas realizado. Essa qualidade, sem duvida, depende do que é pretendido para as futuras gerações, ou seja, de um projeto político elaborado pelas comunidades escolares. (OLIVEIRA, 2002: 168).

O projeto político pedagógico de uma instituição de educação infantil deve

levar em consideração as propostas pedagógicas das professoras que ali trabalham,

pois a concretização do projeto só se efetivará se partir da vontade dos docentes, os

quais devem integrar essas perspectivas de processo de construção de uma ação

intencional.

Para Oliveira (2002), os professores da educação infantil se apropriam de

modelos pedagógicos durante sua formação e durante as experiências em sala de

aula que podem concretizar boas propostas pedagógicas, caso os “revejam

criticamente e os integrem adequadamente ao seu cotidiano profissional”. Desta

forma, é fundamental registrar momentos do cotidiano, a fim de refletir a prática

pedagógica e rever situações de observar, pensar e sentir.

Ao questionar sobre a formação de professores, a docente “Al” afirmou:

"capacitou-me teoricamente para desenvolver uma pratica mais consistente. Porém

somente a formação inicial não seria suficiente. Acredito que a pratica cotidiana é

que nos possibilita junto com a teoria esse aprimoramento". Outra professora

Page 70: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

69

também demonstra o mesmo pensamento ao dizer que: “Nem sempre a formação

inicial é suficiente, há uma complexidade de conhecimentos em relação à criança e

à infância que necessita de muita pesquisa e reflexão”. Todas as educadoras

pesquisadas concordam que devem estar em constante aperfeiçoamento para

poderem realizar um trabalho intencional.

Em relação à formação das profissionais que hoje atuam com as crianças pequenas em creches e pré-escolas, vê-se uma avalanche de cursos chamados emergenciais, em sua grande maioria pagos, e que são justificados pelo prazo estabelecido pela LDB, de dez anos desde sua publicação, para que todas tenham formação especifica em nível superior, podendo ser aceito magistério, em nível médio. Mais uma vez o governo delega a essas professoras a responsabilidade por sua formação, sem assumir como sua a tarefa de fornecer as condições objetivas para que elas se profissionalizem. (CERISARA, 2002: 334).

Conforme Cerisara (2002), a formação docente no Brasil cresceu

expressivamente nas ultimas décadas em função das leis que impulsionaram o

crescimento do atendimento em instituições de educação infantil. Porém os cursos

oferecidos nem sempre proporcionam uma boa formação aos educadores.

Para a diretora da instituição, a função da educação infantil é: “Promover o

desenvolvimento integral da criança, isto é, físico, cognitivo e psicológico, sendo a

sua prática pedagógica sustentada em conhecimento cientifico e metodológico”. As

demais educadoras também falam no desenvolvimento integral da criança,

concordando com a diretora.

Quando questionadas sobre o que seria mais importante, o cuidar ou o

educar na educação infantil, as educadoras tiveram repostas iguais. Para “Mi”: “Não

acredito em uma educação infantil que fragmente esses dois elementos necessários

para uma educação de qualidade no desenvolvimento integral da criança”. Para “Ad”

e “La”, o cuidar e o educar são indissociáveis. Ambos se complementam. E para a

diretora do Centro Infantil: “Acredito que o cuidar e o educar são indissociáveis, pois,

na educação infantil, um complementa o outro”.

Outra questão feita às professoras foi sobre a relação dos adultos para com

as crianças de zero a seis anos. A diretora da instituição respondeu que o papel das

professoras e das auxiliares é de: “Mediadores. Promovendo situações onde as

crianças possam se desenvolver em todos os aspectos físicos, afetivos,

Page 71: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

70

psicológicos, cognitivos e motor”. Outra educadora respondeu que: ”Temos o papel

de mediar e estimular as crianças em seus processos interativos”.

As professoras relataram no questionário que, para a criança o ambiente em

que esta inserida, se for acolhedor, torna-se elemento fundamental para explorá-lo,

brincar, criar e desenvolver-se. A relação das crianças com os brinquedos, móveis e

materiais é uma troca constante de experiências, de aprendizagem e interações. As

crianças possuem autonomia na escolha das brincadeiras, mas em vários momentos

precisam de estímulos para organizá-los.

O planejamento e os registros são extremantes importantes na educação

infantil. O planejamento possibilita a professora intencionar suas intervenções. As

mediações passam a ter objetivos e avaliações. Essas avaliações devem ser

individuais, do grupo e a própria alto-avaliação. Para o professor se avaliar, os

registros são muito significativos. Registrar os momentos com as crianças possibilita

avaliar a participação dos pequenos nas atividades e possibilita refletir sobre a

própria pratica docente.

Questionando as professoras sobre a organização do planejamento e registro

do cotidiano das crianças na instituição, as respostas foram: para “La” e “Lu” os

planejamentos e os registros são feitos apenas dos pontos mais significativos. Para

“Mi” e “Ad” os planejamentos “são feitos a partir dos projetos e adaptados conforme

os interesses das crianças e das possibilidades a explorar, tentando contemplar os

espaços que a instituição dispõe”. O planejamento deve desconstruir o tradicional,

conforme afirma OLIVEIRA:

O planejamento curricular para creches e pré-escolas busca, hoje, romper com a histórica tradição de promover o isolamento e o confinamento das perspectivas infantis dentro de um campo controlado pelo adulto e com a descontextualização das atividades que muitas vezes são propostas às crianças. (OLIVEIRA, 2002: 170)

Um dos questionamentos feitos às professoras e à diretora foi se elas

percebiam na instituição alguma característica assistencialista, e todas responderam

negativamente. “Mi” respondeu da seguinte forma: “Não existe lugar nesta instituição

para regredirmos e voltarmos ao assistencialismo. As crianças pedem muito mais

que isso”. Para “Lu” a instituição só tem características educativas, pois “se

preocupa com o desenvolvimento da criança”. Para “La” e “Ad”: “Educativas porque

Page 72: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

71

estamos a todo o momento cuidando e educando, além de priorizamos momentos e

situações em que as crianças exercitem a sua autonomia”.

A polarização entre assistencial e educacional opõe a função de guarda e proteção à função educativa, como se ambas fossem incompatíveis, Lima excluindo a outra. Entretanto, a observação das instituições escolares evidencia que elas têm como elemento intrínseco ao seu funcionamento o desempenho da função de guardar as crianças que as freqüentam (Kuhlmann Jr., 2003: 60).

Kuhlmann afirma que a instituição de educação infantil possui em seu

cotidiano o cuidado e a guarda e que nem por isso seu caráter não possa ser

pedagógico. Como afirmado pelas educadoras do centro educacional, as crianças

exigem mais do que o cuidar e o guardar, porem ambos fazem parte do cotidiano

pedagógico. A proteção destinada à criança e seus cuidados diários com higiene e

alimentação fazem parte do bem estar, da saúde e da satisfação da criança e o

pedagógico é esse conjunto de praticas que proporciona um ambiente propício à

aprendizagem.

Para finalizar o questionário, propus uma última pergunta à diretora do centro

educacional: Qual a concepção de cuidar e educar da instituição? E a resposta foi a

seguinte: “O cuidar e o educar estão presentes em todas as ações educativas e

pedagógicas com a intencionalidade de que ambos atuam de forma integrada. O

cuidar e o educar assumem caráter de unicidade e não de dupla tarefa”. A diretora

“Al” ainda fez uma citação de Rech e Boing: “O cuidado, enquanto uma dimensão

educativa do trabalho pedagógico, precisa ser pensado, planejado e assumido pelo

professor, sem interpretá-lo como algo menos relevante na relação com as

crianças”.

Analisando o questionário, pode se perceber, nas respostas das educadoras,

uma ênfase nas concepções do novo contexto educacional que permeia no Brasil

desde a Constituição de 1988. As professoras demonstraram conhecimento quanto

à legislação para a educação infantil e quanto às questões do cotidiano que tornam

o de processo de ensino e aprendizagem mais significativo e intencionalizado.

Fazendo uma relação entre observação e questionário, pode se perceber que

as concepções educativas apontadas pelas professoras no questionário se

Page 73: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

72

transformam em propostas no cotidiano. Quando as professoras deixam as crianças

brincarem livremente por alguns momentos, estão permitindo que as interações

entre os pequenos aconteçam de forma autônoma, em que as brincadeiras e as

regras são inventadas pelas crianças. Nas atividades dirigidas, cujas estruturas

curriculares são abertas e flexíveis, as professoras demonstraram intenções em

suas propostas.

Quando a diretora aponta que o cuidar e o educar são indissociáveis e que

ambos devem assumir um caráter de unicidade, é possível perceber que essa

relação faz parte do cotidiano do centro de educação infantil pesquisado. As

crianças possuem momentos livres, nos quais podem fazer suas próprias escolhas.

Os brinquedos, jogos e materiais didáticos ficam todos ao alcance das crianças,

oportunizando sua utilização. Os espaços são pensados especialmente para cada

faixa etária, o que possibilita um atendimento de qualidade. Todas as professoras

que fizeram parte desta pesquisa possuem formação em nível superior em

pedagogia e pós-graduação na área da educação.

Tanto o ambiente da instituição infantil quanto as intencionalidades das

propostas das professoras, percebidas durante as observações e questionários, são

subsídios suficientes para que o atendimento às crianças esteja conforme os

parâmetros curriculares e os documentos que asseguram a qualidade do processo

educativo. Um ambiente de qualidade, pensado para o bem estar das crianças e que

possibilita a interação e a construção do conhecimento. Onde a mediação é pensada

de forma integrada e as propostas desenvolvidas no cotidiano do centro de

educação são frutos das reflexões de um trabalho em equipe.

Page 74: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

73

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dicotomização entre assistir e educar alavancou uma superação no âmbito

do atendimento e estimulou a formação e a busca por documentos que

fundamentassem a função de educar e cuidar. A educação infantil permaneceu,

durante décadas, ligada à órgãos de assistência social, mas, através dos diversos

movimentos em torno da criança, alavancaram a criação de leis que buscaram a

superação do cunho assistencial. A instituição se encontra em um novo contexto de

atendimento às especificidades infantis desde a década de 80, após a constituição

de 1988.

Muitos documentos surgiram após a Constituição, e o cotidiano das

instituições de educação sofreu muitas modificações. Os cuidados focados apenas

na higiene e guarda dos pequenos passou a ter um novo olhar. Cuidar virou

sinônimo de ensinar. Ensinar a se conhecer, a se cuidar, a fazer sozinho. O Cuidar

ganhou um novo sentido e um “sobrenome”: educar.

Os profissionais da educação, em geral, passaram a se preparar melhor para

trabalhar com as crianças. Na educação infantil não foi diferente, até porque as leis

exigiram um profissional mais qualificado para a área. A própria concepção de

criança que temos atualmente exige uma instituição diferente. As crianças possuem

um espaço diferenciado na sociedade, e a atenção sobre todas as instituições,

ligadas à infância, ganharam um novo foco.

Analisar uma instituição como sendo assistencialista ou pedagógica é

desconsiderar todo o processo histórico da instituição e da concepção de infância. É

não perceber as mudanças na profissionalização dos professores. Algumas

instituições podem até ter resquícios assistencialistas, porém, com a nova

concepção que se tem de infância e do espaço que a criança tem na sociedade, o

pedagógico flui com facilidade: as crianças perguntam, interagem, brincam, montam

e desmontam, desenham e pintam, inventam e reinventam, e o professor se percebe

nesse mundo de curiosidades e desafios, não podendo se ater apenas na higiene e

guarda dos pequenos.

A teoria da atividade sustentada por Vygotsky afirma que a criança possui seu

próprio nível de desenvolvimento, porém, esse nível pode ser potencializado quando

Page 75: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

74

dirigido e orientado. Ou seja, para o autor, a relação do homem com os objetos da

cultura se dá através de uma mediação de outros sujeitos. Neste caso, Vygotsky

considera fundamental para o desenvolvimento da criança que suas atividades e

relações histórico/sociais sejam dirigidas e/ou mediadas por um sujeito com mais

experiências, utilizando instrumentos como meio facilitador para as atividades

psíquicas.

Uma escola de educação infantil com uma concepção pedagógica é uma

instituição que tem em seu cotidiano o cuidado com a proteção e a higiene das

crianças; que tem objetivos inclusivos ao se adequar para receber crianças com

deficiência; que propõe atividades reflexivas às crianças; que desenvolvem

atividades psicomotoras para os menores; que possuem um espaço pensado

especialmente para crianças de zero a seis anos; que buscam a integração dos

professores na construção do projeto político pedagógico; que possibilitam que as

crianças imaginem, criem e resignifiquem os brinquedos e objetos. Todos esses

aspectos, e outros tão importantes quanto, foram percebidos durante as

observações nesta instituição de educação infantil do município de São José.

O cuidar e o educar são indissociáveis na educação infantil, quanto menores

as crianças, mais atenção elas precisam em seus cuidados diários. Por isso é

importante, além de um professor qualificado, um auxiliar de sala para colaborar

com os cuidados e as necessidades infantis. Desta forma, o professor poderá

promover a educação de uma forma mais tranquila e equilibrada, proporcionando às

crianças momentos de construção do conhecimento por meio de atividades com

intenções pedagógicas.

Estar presente nesta instituição com as professoras e as crianças

proporcionou-me um olhar diferenciado sobre o cotidiano de um centro de educação

infantil. Podemos perceber o entrelaçamento entre o cuidar e o educar e todas as

movimentações pedagógicas de uma prática intencionalizada. Esta prática exige

cuidado, acolhimento, carinho, afetividade, autonomia, mediação, atenção,

responsabilidade, registro, reflexão e muita dedicação para que os resultados sejam

satisfatórios.

Trabalhar com as crianças pequenas é ter a oportunidade de vivenciar um

mundo novo a cada dia. As conquistas e as construções dos pequenos tornam todo

o processo pedagógico válido e emocionante. O sentimento é o integrante principal

desse cotidiano de novidades. O sentimento que vai além das obrigações de um

Page 76: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

75

profissional em que a relação professor aluno é afetuosa e acolhedora. As crianças,

a todo o momento, necessitam de um olhar especial e individual.

O resultado dessa pesquisa não se restringiu a análise do caráter de uma

instituição de educação infantil e sim em uma reflexão de todo o processo histórico

em que se desenvolveu e todas as relações que permeiam o cuidar e o educar nos

dias atuais. Perceber que as instituições possuem um caráter pedagógico, por meio

das leis e da nova concepção de infância, e que o cuidar e educar estão

entrelaçados no cotidiano, foi o resultado de toda a reflexão durante o presente

estudo, tornando assim todo esse processo significativo.

Page 77: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

76

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Ana Rita Silva. A afetividade no desenvolvimento da criança:Contribuições de Henri Wallon. Inter-Ação. América do Norte, 2008 Disponível em: http://www.revistas.ufg.br. Acesso em: 28 mai. 2013.

BATISTA, Rosa. A rotina no dia-a-dia da creche: entre o proposto e o vivido. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1998. Disponível em: www.ced.ufsc.br/~nee0a6/trosaba.PDF-. Acesso em: 01 nov. 2006.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.

______. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1988.

______. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto-Lei nº 5.442, de 01.mai.1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 10.mar.2013.

______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069/90, de 13 de julho de 1990. São Paulo: CBIA-SP, 1991.

______. Ministério da Educação e Cultura. Coordenadoria de Educação Pré-Escolar. Atendimento ao pré-escolar. 4. ed. rev., v. 1 e 2. Brasília, 1982.

______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Especial. Educação Especial no Brasil. Série institucional 2. Brasília: MEC/SEESP, 1994.

______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Livro 1. Brasília: MEC/SEESP, 1994.

______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental. Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

Page 78: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

77

______. Ministério da Educação e Cultura. Critérios para um atendimento em creches que respeitam os direitos fundamentais das crianças. Brasília: MEC, 1995.

______. Ministério da Educação e do Desporto. Plano Nacional de Educação. Brasília, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 2010.

______. Ministério da Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Parecer 02/98 e Resolução 01/99, Brasília, MEC/CNE/CEB, 1999.

______. O referencial curricular nacional para a educação infantil no contexto das reformas. In: Educação & Sociedade, São Paulo, n. 80, vol. 23, 2002, p. 326-345.

CAMPOS, Maria Malta. Educar e cuidar: questões sobre o perfil do Professional de educação infantil. IN: Por uma política de formação do profissional de educação infantil. Brasília: MEC, 1994, p.32-42.

_________________ e ROSEMBERG, Fúlvia. Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças. 6ª ed. Brasília: MEC, SEB, 2009.

CARNEIRO, Maria Ângela Barbato. A Educação Infantil, as Políticas Públicas e o Banco Mundial. In: Revista PUCViva, São Paulo, Associação dos Professores da PUCSP, n. 21, Disponível em: http//www.lepri-consultoria.com.br/download/cefortepe /HE-CEFORTEPE-A_EDUCACAO_INFANTIL.pdf. Acesso em: 18 jun. 2012.

CIRANDA DA INCLUSÃO, a Revista do Educador: Escola Lugar de Inclusão. Ano I – nº 08, Julho, 2010.

CERISARA, Ana. Beatriz. Educar e cuidar: por onde anda a educação infantil? Perspectiva, Florianópolis, v.17, n. especial, p. 11-21, jul./dez. 1999.

CUNHA, Beatriz Belluzzo Brando: O cuidar de crianças na creche. Caxambu, 2002. Disponível em: http://www.anped.org.br/25/beatrizbrandocunhat07.rtf. Acesso em: 2 nov. 2012.

FERREIRA, Maria Manoela. Salvar corpos, forjar a razão: contributo para uma análise crítica da criança e da infância como construção social em Portugal (1880-1940). Instituto de Inovação Educacional, Lisboa, 2000.

Page 79: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

78

FOREST, Nilza Aparecida; WEISS, Silvio Luiz Indrusiak. Cuidar e educar: perspectivas para a prática pedagógica na educação infantil. 2009. Instituto Catarinense de Pós-Graduação (ICPG). Disponível em: http://www.posuniasselvi.com.br/artigos/rev03-07.pdf. Acesso em: 17 mar. 2013.

FREIRE, José Carlos Serrano. Eu sou professor. Rio de Janeiro: Lucena, 2002.

GERMANO, José Willington. Estado militar e educação no Brasil 1964 – 1985. São Paulo: Cortez, 1993.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.

________________. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GIRARDELLO, Gilka. Voz, presença e imaginação: a narração de histórias e as crianças pequenas. Trabalho apresentado na 26ª Reunião Anual da ANPEd (Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), no GT Educação da criança de 0 a 6 anos. Poços de Caldas (MG): 2003. Texto disponível em: http://www.botucatu.sp.gov.br/eventos/2007/conthistorias/artigos/anarracao.pdf Acesso em 15 mai. 2013.

GURAN, Milton. Fotografar para descobrir, fotografar para contar. Rio de Janeiro, 2000.

KRAMER, Sônia. A Política do Pré-Escolar no Brasil: a arte do disfarce. 2ª ed.. Rio de Janeiro: Achiamé, 1984.

KUHLMANN JR., Moisés. Infância e Educação Infantil: uma abordagem histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998.

KUHLMANN Jr., Moysés Educação Infantil e Currículo. IN: FARIA, Ana Lúcia e PALHARES, Marina (orgs). Educação Infantil pós-LDB. 4. ed. Campinas: Autores Associados, 2003. p. 99-112.

MARADINO, Martha et al. A Abordagem Qualitativa nas Pesquisas em Educação em Museus. Texto submetido e apresentado no VII ENPEC, Florianópolis, 2009

Page 80: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

79

NUNES, Nadir Neves. (2000). O ingresso na pré-escola: uma leitura psicogenética. In: OLIVEIRA, Zilma Ramos de (org.). A criança e seu desenvolvimento: perspectivas para se discutir a educação infantil. São Paulo: Cortez, 2002.

OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. (Coleção Docência em Formação). OSTETTO, Luciana Esmeralda (org.) Planejamento na educação infantil: mais que a atividade, a criança em foco. In: OSTETTO, Luciana Esmeralda (org.) Encontros e desencontros na Educação Infantil. São Paulo: Papirus, 2000, p.175-200.

ROSA, João Guimarães. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96, Florianópolis: Copyflo, 1996.

SANTA CATARINA. Assembléia Legislativa. Lei nº170, de 07 de agosto de 1998. Dispõe sobre o Sistema Estadual de Educação. Florianópolis: Copyflo, p.53-70.

_______________. Secretaria de Estado da Educação e Inovação Tecnológica, Gerência de Informações Educacionais. Censo Escolar. Florianópolis, 2003.

_______________. Plano Estadual de Educação. Educação Infantil. Florianópolis, 2004, p. 17-27.

_______________. Proposta Curricular da Educação infantil. Florianópolis, 2005, p. 43-67.

SÃO JOSÉ. Proposta Curricular da Educação Infantil. São José, 2000, p. 175-

190.

_________. Conselho Municipal de Educação. Lei n 3.472, de 16 de dezembro de

1999. Dispõe sobre o Sistema Municipal de Educação. São José, 1999.

_________. Conselho Municipal de Educação. Resolução nº 003, de 9 de

dezembro de 1999. Fixa Normas para a Educação Infantil no âmbito do Sistema

Municipal de Educação. São José, 1999.

SAVIANI, Dermeval. O espaço acadêmico da Pedagogia no Brasil: perspectiva histórica. Paidéia - Cadernos de Psicologia da Educação, São Paulo, v. 14, n. 28, p. 113-124, maio/ago. 2004.

Page 81: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

80

SCHUELLER, Alessandra F. Martinez. Crianças e escolas na passagem do Império para a República. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.19, n.37, set.1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 1881999000100004&lng=es&nrm-iso . Acesso em: 1 nov. 2006.

TRINDADE, Judite Maria Barboza. O abandono de crianças ou a negação do óbvio. In: Revista Brasileira de História. Vol 19, n.37, São Paulo, Set.1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01881999000100003. Acesso em: 28 out. 2006.

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para Infância. Situação da Infância Brasileira 2006: O Direito à Sobrevivência e ao desenvolvimento. Brasília 2005. Disponível em: http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10167.htm

WIGGERS, V. Viéses pedagógicos da educação infantil em um dos municípios brasileiros. Anais da 25ª Reunião Anual da ANPED, Caxambu, 2002; In: AZEVEDO, Heloisa Helena Oliveira de. O binômio cuidar-educar na educação infantil e a formação inicial de seus profissionais. São Paulo: UNIMEP/PPGE. Disponível em: http://www.anped.org.br/28/textos/gt07/gt071011int.doc. Acesso em: 2 nov. 2006.

Page 82: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

81

ANEXO

ANEXO A - APRESENTAÇÃO DO ACADÊMICO NO CAMPO

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ

CURSO DE PEDAGOGIA

APRESENTAÇÃO DO ACADÊMICO NO CAMPO

Pesquisa do TCC

____________________________

Diretor/a do/a Instituição

Prezada Diretor (a),

O Curso de Pedagogia da USJ realiza visitas de campo, intervenções,

observações participantes nas Escolas do Ensino Fundamental, Centros de

Educação Infantil das redes municipal, estadual e particular da Grande

Florianópolis/SC, inclusive nas 6ª, 7ª, e 8ª fases.

Nesse sentido, vimos por meio desta apresentar a acadêmica Cristiane da Silva,

regularmente matriculada no curso de Pedagogia da USJ para que possa realizar a

pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) nessa Instituição, cuja temática

de estudo é: O ASSISTENCIAL E O EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: Um

estudo sobre as relações de cuidar e educar em uma instituição pública do

município de São José.

Como proposta de ação, a acadêmica precisa realizar entrevistas com roteiro

semiestruturado, com os (as) professores (as) de sala e com a direção da instituição,

bem como observar a prática pedagógica das mesmas e suas relações com as

crianças.

A referida pesquisa é requisito obrigatório para a formação profissional,

conforme Art. 65 da lei 9.394/96.

Page 83: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

82

APÊNDICE A

Questionário – Professoras

1. Há quanto tempo você trabalha na área da educação? E da educação infantil?

2. Por que decidiu ser professor (a)?

3. Você acredita que o curso de pedagogia (em que cursa ou que cursou) é de qualidade? Justifique.

4. Você acredita que a formação inicial de pedagogia é suficiente para compreender e atender as especificidades das crianças? Justifique.

5. Você conhece as leis de diretrizes e bases para a educação infantil? E as outras leis referentes a educação infantil? Comente-as.

6. Você conhece o P.P.P. (projeto político pedagógico) da instituição na qual trabalha? Em caso afirmativo, você participou da elaboração do mesmo?

7. Qual a função da educação infantil? Comente-a.

8. Para você, o que é mais importante na educação infantil, o cuidar ou o educar? Justifique.

9. A maneira como você organiza e planeja os espaços, os tempos e as atividades no cotidiano da educação infantil favorece o cuidar e o educar de forma indissociável? Justifique.

10. Qual o papel dos adultos, professora e auxiliar de sala no trabalho com as crianças?

11. Como você vê a relação das crianças com os brinquedos, móveis e materiais dispostos na sala?

12. Como você vê a manifestação das crianças nos momentos de alimentação, higiene e sono?

13. Como você organiza o seu trabalho, ou seja, planeja, registra todos os momentos, como brincadeira, contação de histórias, sono, higiene, alimentação, etc.? Comente.

14. Em sua opinião, a instituição em que você trabalha apresenta mais características assistencialistas ou educativas? Justifique.

15. Qual a concepção de cuidar e educar da instituição em que você trabalha?

Page 84: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

83

APÊNDICE B

Questionário – Diretora

1. Há quanto tempo você trabalha na área da educação? E da educação infantil?

2. Por que decidiu ser professor (a)?

3. Você acredita que o curso de pedagogia (em que cursa ou que cursou) é de qualidade? Justifique.

4. Você acredita que a formação inicial de pedagogia é suficiente para compreender e atender as especificidades das crianças? Justifique.

5. Você conhece as leis de diretrizes e bases para a educação infantil? E as outras leis referentes a educação infantil? Comente-as.

6. Você conhece o ppp (projeto político pedagógico) da instituição na qual trabalha? Em caso afirmativo, você participou da elaboração do mesmo?

7. Qual a função da educação infantil? Comente-a.

8. O que é mais importante na educação infantil, o cuidar ou o educar? Justifique.

9. Qual o papel dos adultos, professora e auxiliar de sala no trabalho com as crianças?

10. Em sua opinião, a instituição em que você trabalha apresenta mais características assistencialistas ou educativas? Justifique.

11. Qual a concepção de cuidar e educar da instituição em que você trabalha?

Page 85: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

84

QUESTIONÁRIOS

1) Questionário Professora

Page 86: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

85

Page 87: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

86

2) Questionário Professora

Page 88: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

87

Page 89: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

88

3) Questionário Professora

Page 90: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

89

Page 91: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

90

4) Questionário Professora

Page 92: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

91

Page 93: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

92

5) Questionário diretora

Page 94: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ... · A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela

93