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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA BRUNA FRAGA BECKER PEDAGOGIA HOSPITALAR SÃO JOSÉ, 2013

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

BRUNA FRAGA BECKER

PEDAGOGIA HOSPITALAR

SÃO JOSÉ, 2013

1

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

BRUNA FRAGA BECKER

A PEDAGOGIA HOSPITALAR SOB O OLHAR DO PROFESSOR

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito para aprovação no Curso de Graduação em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ. Orientadora: Prof. Dra. Izabel Cristina Feijó de Andrade

SÃO JOSÉ, 2013

2

BRUNA FRAGA BECKER

A PEDAGOGIA HOSPITALAR SOB O OLHAR DO PROFESSOR.

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito final para a aprovação no Curso de Graduação em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ avaliado pela seguinte banca examinadora:

____________________________________ Profª. Dra. Izabel Cristina Feijó de Andrade

Orientadora

___________________________________________ Membro Examinador –

______________________________ Membro Examinador -

São José, de junho de 2013

3

RESUMO

Esse trabalho busca compreender a Pedagogia Hospitalar como uma proposta diferenciada, propondo-se a construir conhecimentos e contextos de aprendizagem que contribuam para a formação do professor e o bem estar da criança internada. Para tanto, fez-se um levantamento bibliográfico sobre o tema “Pedagogia Hospitalar”, incluindo pesquisas na área ou relativas à legislação específica da classe hospitalar, enfatizando seu caráter educacional e lúdico e oportunizando a continuidade da aprendizagem das crianças-pacientes. Essa pesquisa evidencia como a Pedagogia Hospitalar torna-se fundamental para as crianças que estão internadas e que a cada atendimento, seja no leito ou na própria sala especializada para o atendimento escolar, as professoras se deparam com situações novas e inusitadas tendo sempre que estar preparadas para interagir com elas.

Palavras-chave: Pedagogia Hospitalar. Crianças. Educação.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 5

1.1 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 7

1.2 PROBLEMATIZAÇÃO ........................................................................................................ 8

1.3 QUESTÃO NORTEADORA .............................................................................................. 9

1.4 OBJETIVO GERAL .............................................................................................................. 9

1.4.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 9

1.5 PRESSUPOSTOS .............................................................................................................. 10

2 METODOLOGIA E COLETA DE DADOS ...................................................................... 12

2.1 PARTICIPANTES .............................................................................................. 13

2.2 ESCOLHA DOS PARTICIPANTES .................................................................... 13

2.3 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL ....................................................................... 14

3 PEDAGOGIA HOSPITALAR .................................................................................................. 15

4 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS ........................................................................ 23

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

5

1. INTRODUÇÃO

Esse trabalho tem o propósito de analisar os fatores determinantes na

formação do pedagogo que trabalha na educação hospitalar. Para tanto, fez-se um

levantamento bibliográfico sobre o tema “Pedagogia Hospitalar”, incluindo pesquisas

da área e aquelas relativas à legislação específica da classe hospitalar, percebendo

seu caráter educacional e lúdico para contribuir com a continuidade da

aprendizagem das crianças-pacientes. A classe hospitalar, geralmente está

subordinada à secretaria da educação e vinculada a alguma escola do município.

Nesse sentido, nosso objetivo é auxiliar na análise da formação e preparo dos

profissionais que atuam com crianças nesse ambiente visivelmente diferente da sala

de aula. Dessa forma, objetiva-se compreender a Pedagogia Hospitalar como uma

proposta diferenciada que procura construir conhecimentos sobre um contexto de

aprendizagem que contribua para o bem estar das crianças internadas.

As experiências de outros pesquisadores, Fonseca (2003), Ceccim (1997),

Oliveira (1993), mostram que o estudo bibliográfico elaborado sobre o tema, se

configura de forma flexível com relação à condução do trabalho pedagógico. Desse

modo, reflete-se sobre condições muito importantes para o atendimento das crianças

e adolescentes, fato que proporciona maior conhecimento e sensibilidade nesta área

de conhecimento pedagógico.

Na legislação educacional em vigor dá-se inevitavelmente ênfase ao trabalho

pedagógico em hospitais, mas ainda é preciso sistematização dos estudos e das

práticas abordadas dando visibilidade de que a educação não é função exclusiva da

escola regular como também a saúde não é elemento exclusivo do hospital. O

hospital é, segundo definição do Ministério da Saúde, um contexto no qual se faz

educação.

Hospital é a parte integrante de uma organização médica e social, cuja função básica consiste em proporcionar à população assistência médica integral, curativa e preventiva, sob quaisquer regimes de atendimento, inclusive o domiciliar, constituindo-se também em centro de educação, capacitação de recursos humanos e de pesquisas, em saúde, bem como de encaminhamento de pacientes, cabendo-lhe supervisionar e orientar os estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente. (BRASIL, 1977, p.9).

6

Essa discussão torna-se relevante na medida em que faz para a academia

uma ampliação de possibilidades de atuação do pedagogo, além de mostrar as

pesquisas e os estudos relativos ao tema.

7

1.1 JUSTIFICATIVA

A pesquisa emergiu das constantes indagações referentes à prática

pedagógica em ambiente hospitalar no qual tenho muito interesse em atuar quando

formada. Nesse sentido, percebo que é fundamental o acompanhamento

sistematizado do processo ensino-aprendizagem dessas crianças e jovens,

escutando-os, valorizando-os e interagindo com eles.

Ceccim (1997) considera que o objeto de uma escuta pedagógica em

ambiente hospitalar é afirmar positivamente a experiência da doença ou

hospitalização e não marcá-la como ruptura com os laços interativos da

aprendizagem de si, do mundo e das relações. Para uma aproximação dos

objetivos propostos, justificamos que esse estudo servirá como possibilidade de

interlocução entre o hospital e a escola; o trabalho conjunto entre a saúde e a

educação.

Em meio a leituras, observei que o trabalho de um pedagogo em um hospital

não se fixa necessariamente em escolarizar, mas faz um papel de compreender o

cotidiano da criança ali hospitalizada, concedendo-lhe certo conforto emocional.

„Além de profissional, outra característica do pedagogo é ser parceiro da criança que

está internada. Desta forma, acredito ser de extrema importância um projeto através

do qual possamos conhecer a forma como esse pedagogo trabalha, pois não

possuímos um contato maior com a Pedagogia Hospitalar durante a formação

acadêmica e muitos pedagogos desconhecem esta modalidade de ensino. Tal

relatório mostrará qual o olhar que os pais ou responsáveis dessa criança, com

tantas limitações, tanto físicas quanto psicológicas, têm do trabalho de um pedagogo

e sua importância na vida dessa criança.

Assim, as atividades pedagógicas proporcionadas para o bem estar da

criança internada contribuem de duas formas: a primeira pelo lúdico que é um canal

transdisciplinar de comunicação que proporciona o esquecimento do momento

vivido, mesmo que por um instante; outra é o momento de construção de

conhecimento deste novo espaço que auxilia a desmistificar ambiente hospitalar,

dando um significado de confiança e carinho.

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1.2. PROBLEMATIZAÇÃO

Quando nos deparamos com uma doença, ou até mesmo quando estamos

com uma simples gripe parece que nos sentimos fragiçizados; tudo que mais

queremos é a nossa casa. Imagine o que dizer quando uma criança adoece e

precisa ficar internada, sem o contato com a escola, com os amigos que na maioria

das vezes são os que mais nos dão força, sem a sua rotina e principalmente sem ela

poder ser criança realmente, sem poder brincar, correr fazer coisas que qualquer

criança faria por conta de uma internação. Porém, qualquer atividade lúdica neste

ambiente é considerada magnífica para uma criança, como diz ORTIZ (2003, p.102):

A permanência hospitalar reporta o paciente à rudeza do lado sombrio da vida. Em contrapartida, as produções teatrais permitem-lhe viver outras vidas. O foco teatral, além de desvelar situações pouco exploradas como a autoestima e autoimagem dos alunos-atores, deixa à mostra oportunidades de desenvolvimento das inteligências múltiplas.

A pedagogia hospitalar vem se expandindo no Brasil, tendo como objetivo

atender crianças que por conta de alguma doença não podem frequentar uma classe

regular. Leis específicas garantem estes direitos a elas. Dentro dessa classe

hospitalar, a criança pode ter um pouco de sua vida, seu cotidiano, porém a classe

hospitalar não atende somente à criança, mas sim às famílias que necessitam de

auxílio psicológico, os que não se sentem preparados para lidar com a doença de

seu filho.

9

1.3. QUESTÃO NORTEADORA

O acompanhamento do processo pedagógico de alunos internados junto a

suas famílias e escolas é o desafio que se põe em discussão nessa pesquisa a partir

seguinte indagação: Quais são os fatores determinantes para que pedagogos

busquem atuar na pedagogia hospitalar?

1.4. OBJETIVO GERAL

Compreender a Pedagogia Hospitalar como uma proposta diferenciada que

construa conhecimentos que contribuam para o bem estar da criança

internada.

1.4.1 Objetivos específicos

Verificar quais as características do pedagogo hospitalar;

Propor determinantes para exercício da função de pedagogo hospitalar.

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1.5. PRESSUPOSTOS

Durante o processo de formação do acadêmico dentro da universidade, não

se tem nenhuma disciplina que fale sobre a Pedagogia Hospitalar, por isso muitos

pedagogos acabam não se dando conta de que além das áreas nas quais podemos

atuar a pedagogia hospitalar é uma opção. A Pedagogia Hospitalar vem “(...)

oferecer à criança hospitalizada, ou em longo tratamento hospitalar, a valorização de

seus direitos à educação e à saúde, como também ao espaço que lhe é devido

enquanto cidadão do amanhã”. (MATOS; MUGGIATI, 2001, p. 16).

Diante disso acredito que o pedagogo inserido no hospital, tem por objetivos

principais desenvolver práticas acerca da vivência de uma criança dentro de um

hospital, buscando e adquirindo conhecimentos sobre a importância de sua atuação

em ambientes não escolares e ainda possibilitando à criança hospitalizada continuar

com os conteúdos dados na escola que frequentava de forma mais lúdica,

recreativa. O fato é que a criança que está internada se sente muito exausta, acha

tudo cansativo ou, muitas vezes, por causa dos medicamentos, ou tratamentos aos

quais é submetida, não sente vontade de fazer nada e até mesmo fica muito irritada.

Ao investigar as práticas pedagógicas vivenciadas dentro de um hospital, é

possível distinguir diferentes processos da Pedagogia Hospitalar. Paula (2002, p. 7),

afirma que:

A partir destes posicionamentos, pode-se verificar o quanto se faz necessária a discussão coletiva no Brasil para a construção de uma pedagogia em hospitais. É possível observar que ainda existem muitas indefinições no Brasil quanto à melhor forma de educação que venha ao encontro dos interesses e das reais necessidades para crianças hospitalizadas, tanto no hospital, como fora dele, tanto para as crianças, como para os professores. Há um processo de construção de um saber específico para esta área.

Dessa forma, percebi que a prática de um pedagogo no hospital é uma

inclusão inovadora. Além do que, as atividades propostas para as crianças tem um

significado importantíssimo como nos diz Fonseca (2003, p.8) “mesmo que por um

tempo mínimo, e que talvez pareça não significar muito para uma criança que atende

a escola regular, tem caráter importantíssimo para a criança hospitalizada.”.

11

Por isso que Taam (2000) enfatiza em seus estudos que os professores que

atuam em hospitais algumas vezes proporcionam formas tradicionais de ação

docente da educação que não correspondem às necessidades atuais das crianças.

Assim, é urgente a consolidação de uma política de atuação desses profissionais

com relação às políticas sociais na pedagogia hospitalar.

Essa pesquisa foi dividida em cinco capítulos sendo o primeiro referente à

introdução da temática em estudos, compondo-se de objetivos, problemática e

pressuposto. O segundo capítulo aborda a metodologia utilizada na pesquisa

apresentando o cunho qualitativo como eixo norteador de toda a discussão e análise

de dados.

No terceiro capítulo apresenta-se a fundamentação teórica que serve como

base para as análises propostas e dar ênfase à Pedagogia Hospitalar como campo

de atuação do pedagogo. No quarto capítulo, têm-se a análise de dados que expõe

os achados da pesquisa. Por fim, no quinto capítulo apresentam-se as

considerações finais em que se evidencia como a Pedagogia Hospitalar se torna

fundamental para as crianças que estão internadas e que a cada atendimento, seja

no leito ou na própria sala especializada para o atendimento escolar, as professoras

se deparam com situações novas e inusitadas tendo sempre que estar preparada

para situações inesperadas.

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2. METODOLOGIA DE COLETA DE DADOS

Este relatório foi desenvolvido por meio de três princípios básicos, a pesquisa

qualitativa, a pesquisa bibliográfica e a análise discursiva textual. Pesquisa

qualitativa nada mais é do que interpretar o que a pesquisa quer dizer, sem ter que

usar a quantificação para chegar a um resultado ou resposta, como diz Liebscher

(1998, p. 668):

Os métodos qualitativos são apropriados quando o fenômeno em estudo é complexo, de natureza social e não tende à quantificação. Normalmente, são usados quando o entendimento do contexto social e cultural é um elemento importante para a pesquisa. Para aprender métodos qualitativos é preciso aprender a observar, registrar e analisar interações reais entre pessoas, e entre pessoas e sistemas.

Para legitimar e embasar o tema discutido nessa pesquisa optei também por

fazê-la bibliográfica. Esse tipo tem como objetivo o levantamento dos dados, do que

será abordado: a seleção desses assuntos, os fichamentos para melhor organização

e arquivamentos das informações ou mesmo buscando fundamento teórico para o

trabalho. Na análise discursiva textual, MORAES (2006, p.118) nos mostra que:

A análise textual discursiva é descrita como um processo que se inicia com uma unitarização em que os textos são separados em unidades de significado. Estas unidades por si mesmas podem gerar outros conjuntos de unidades oriundas da interlocução empírica, da interlocução teórica e das interpretações feitas pelo pesquisador. Neste movimento de interpretação do significado atribuído pelo autor exercita-se a apropriação das palavras de outras vozes para compreender melhor o texto. Depois da realização desta unitarização, que precisa ser feita com intensidade e profundidade, passa-se a fazer a articulação de significados semelhantes em um processo denominado de categorização. Neste processo reúnem-se as unidades de significado semelhantes, podendo gerar vários níveis de categorias de análise. A análise textual discursiva tem no exercício da escrita seu fundamento enquanto ferramenta mediadora na produção de significados e por isso, em processos recursivos, a análise se desloca do empírico para a abstração teórica, que só pode ser alcançada se o pesquisador fizer um movimento intenso de interpretação e produção de argumentos. Este processo todo gera meta-textos analíticos que irão compor os textos interpretativos.

Lüdke (1986) indica que nos estudos qualitativos a preocupação com o

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processo deve ser maior do que com o produto, sem esquecer o significado que as

pessoas estudadas dão às coisas e à sua vida, ou seja, sem esquecer os pontos de

vista dos participantes, ou seja, dos pedagogos que trabalham com as crianças

internadas.

Para essa pesquisa pensei em ter como sujeitos os professores (pedagogos)

que já trabalham na Pedagogia Hospitalar e apliquei um questionário (apêndice A).

2.1 PARTICIPANTES

Participaram da pesquisa duas professoras e duas crianças que estavam

presentes na aula que observei no Hospital Infantil Joana de Gusmão, no período de

25 a 30 de abril de 2013. O hospital fica localizado no bairro Agronômica, município

de Florianópolis.

2.2 ESCOLHAS DOS PARTICIPANTES

Por se tratar de uma pesquisa qualitativa realizada em um hospital onde se

tem uma imensa rotatividade de crianças, foi necessário explicitar a amostra

escolhida: A pesquisa foi realizada com duas professoras do hospital que lecionam

do 6º ano ao 9º ano do ensino fundamental, através de um questionário com

perguntas relacionadas ao seu tempo de serviço, como lidam com a rotatividade de

crianças, se sentem preparadas para ministrar as aulas entre outras. Foram

observadas também duas crianças que estavam durante a aula na sala de aula.

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2.3 CARACTERIZAÇÕES DO LOCAL

Segundo o site do Hospital Infantil Joana de Gusmão, na década de 70 foi

implantando o Programa de Recuperação Neuropsicomotora de Crianças

Severamente Desnutridas no qual uma equipe cuidava das especificidades afetivas,

cognitivas e sociais das crianças. Hoje, essas ações são desenvolvidas por

pedagogos, professores, recreadores e estagiários. São realizados cinco programas

que são:

Ambulatório - triagem - diagnóstico, orientação e acompanhamento escolar

para crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e com

dificuldades na aprendizagem;

Atendimento Pedagógico em Equipe Multidisciplinar - atendimento nas

unidades viabilizando a interação entre equipe multidisciplinar do hospital e o

processo escolar;

Atendimento Escolar Hospitalar (ATEH) - continuidade da escolaridade

formal, mantendo a sistematização da aprendizagem, promovendo o

desenvolvimento e contribuindo para a reintegração à escola após alta

hospitalar;

Recreação - oportuniza o brincar como proposta terapêutica, possibilitando

através do brinquedo e brincadeiras, reelaborar as manifestações de alegria e

do lazer, resgatando a vitalidade e autoconfiança;

Estimulação essencial - para crianças de 0 a 6 anos com atraso no

Desenvolvimento Neuropsicomotor.

15

3. PEDAGOGIA HOSPITALAR

De acordo com leituras feitas a partir de teses e artigos percebi que as

primeiras aparições de classes hospitalares ocorreram por volta de 1935 em Paris.

Tinham como foco principal atender a crianças que possuíam doenças altamente

contagiosas e às várias crianças atingidas na Segunda Guerra Mundial. Foucault

(1979, p. 101), ainda lembra que até o século XVII o hospital não era o lugar de

quem buscava a cura, e sim de alguém que estava à beira da morte procurando por

um último cuidado. Essa perspectiva mudou muito.

Hoje a Pedagogia Hospitalar tem como objetivo fazer a integração do

educador, educando e o hospital. São atendidas crianças que por alguma doença

são impossibilitadas de acompanhar o ensino regular em alguma escola. No Brasil,

AMARAL & SILVA (2009) dizem que o atendimento hospitalar iniciou-se em 14 de

agosto de 1950, na cidade do Rio de Janeiro no Hospital Escola Menino Jesus,

serviço esse que se mantêm até hoje. Segundo o autor, em março de 1998, havia no

Brasil 30 classes hospitalares, em apenas dez estados e no Distrito Federal. De

acordo com VIKTOR (2003) apud MENEZES, em agosto de 1999, esse número

aumentou para 39 classes em 13 estados.

Vale lembrar que para a pedagogia hospitalar ainda não se tem uma real

definição; apenas podemos afirmar que é um processo educativo, porém, não

apenas com o intuito de escolarizar fora da instituição que muitas vezes desafia o

educador a conseguir passar conhecimento à criança ou adolescente ali internado

tendo em vista que algumas práticas ultrapassam os limites esperados pela

pedagogia tradicional, pois se deve aliar a ela uma pedagogia que envolva os alunos

pacientes debilitados física e/ou psicologicamente. A Política Nacional de Educação

(BRASIL, 1994, p. 20) traz uma pequena definição de Pedagogia Hospitalar, porém

ainda é muito parecida com a escolarização “Classe Hospitalar é um ambiente

hospitalar que possibilita o atendimento educacional de crianças e jovens internados

que necessitam de educação especial e que estejam em tratamento hospitalar.”.

No Estado de Santa Catarina, o Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG),

em Florianópolis, foi o primeiro hospital a implantar classes hospitalares. Ali são

desenvolvidos programas destinados a diagnóstico, orientação e acompanhamento

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escolar, em que há interação entre a equipe multidisciplinar do hospital e o contexto

escolar, segundo informações do site da instituição (HIJG, 2009).

A Pedagogia Hospitalar, além de trazer até o hospital os conteúdos perdidos

pela criança ou adolescente que ali está internado pode também trazer um pouco da

sua vida cotidiana antes da internação, bem como esperança, as interações sociais,

diminuir os traumas das internações oportunizando qualquer outro tipo de atividade

ou situações diferenciadas que não sejam de medicamento, injeções, exames.

Essas atividades diferenciadas trazem alegria a essas crianças e a ação de uma

classe hospitalar com propostas lúdicas ocupam suas mentes criança como diz

ORTIZ e outros (2000, p.102):

A permanência hospitalar reporta o paciente à rudeza do lado sombrio da vida. Em contrapartida, as produções teatrais permitem-lhe viver outras vidas. O foco teatral, além de desvelar situações pouco exploradas como a autoestima e autoimagem dos alunos-atores, deixa à mostra oportunidades de desenvolvimento das inteligências múltiplas.

O hospital é visto como um local frio, quartos sem brinquedos, tudo segundo

um mesmo padrão, horários determinados para qualquer coisa bem como Oliveira

(1993, p. 328) afirma que “o hospital é, para a criança, um local de proibições: não

se pode andar pelos corredores, jogar bola, tomar ar fresco, falar alto, conversar

com outras crianças, brincar”, onde só se vê sofrimento e que muitas vezes a

criança se sente sozinha, sem proteção. É nesse momento que o educador entra em

cena no hospital. Nesse sentido, além de receber a orientação e formação

necessária, o educador deve obter a capacidade de lidar com as diferenças e com

os vários relatos e histórias de vida das famílias que estão ali com algum parente

internado e ainda ser o mediador dos sentimentos valorizando a vida desse

paciente. Matos e Muggiati (2001) afirmam que a presença de um pedagogo no

hospital fica cada vez mais necessária. Porém, para este tipo de formação no curso

de Pedagogia ainda existem muitos desafios:

A questão da formação desse profissional constitui-se num desafio aos cursos de Pedagogia, uma vez que as mudanças sociais aceleradas estão a exigir uma premente e avançada abertura de seus parâmetros, com vistas a oferecer os necessários fundamentos teórico-práticos, para o alcance de atendimentos diferenciados emergentes no cenário educacional. (MATOS e MUGGIATI, 2001, p.15).

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O professor que leciona numa sala de aula de uma escola tem de superar

muitos desafios, como os recursos, a estrutura e muitas coisas que são precárias,

além de ter que estimular aqueles alunos que não querem saber de estudar como

afirma Ceccim (1999, p.43):

Não é a de apenas "ocupar criativamente" o tempo da criança para que ela possa "expressar e elaborar" os sentimentos trazidos pelo adoecimento e pela hospitalização, aprendendo novas condutas emocionais, como também não a de apenas abrir espaços lúdicos para que a criança "esqueça por alguns momentos" que está doente ou em um hospital. O professor deve estar no hospital para operar com os processos afetivos de construção da aprendizagem cognitiva e permitir aquisições escolares às crianças.

Quando um professor se depara com um ambiente onde esse mesmo

educador precisa ter a formação voltada para a Educação Especial, mas também

compreende fazer-se passar por psicólogo, ele encontra vários desses desafios,

porém, essa criança ou adolescente estão a sua espera e o aguardam com

ansiedade, pois este é o único momento de satisfação, de prazer que podem ter

durante sua estadia num leito de hospital. Além de estar ali para passar o

conhecimento, ele está ali para ouvir, fazer com que essa criança ou adolescente se

sintam „vivos‟, trazendo sua cultura. Lindquist (1993, p. 24) afirma que “considerar

apenas o tratamento médico, deixando de lado o psiquismo, é retardar a cura”.

O tratamento hospitalar é uma realidade particularmente difícil, e mostra-se

como um momento revelador das adversidades humanas, como diz Foucault (2001).

Para Canguilhem (2000) enxergar saúde e doença como opostos é separar o que

habita num continuum.

A doença é, assim, tomada em um duplo sistema de observação: um olhar que a confunde e a dissolve no conjunto das misérias sociais a suprimir; e um olhar que a isola para melhor circunscrevê-la em sua verdade de natureza. (FOUCAULT, 2001, p. 46).

Nesse sentido, pude observar que o olhar do médico se configura como

dominador e o do pedagogo se revela enquanto parceiro da relação em que

amizade, segredos, brincadeiras, anseio se fazem presentes. Por isso, a importância

dessa atuação no hospital. Com Foucault (2001), o espaço hospitalar configura-se

como um espaço da doença e as relações humanas só acontecem nessa estrutura

de maneira controlada e vigiada e, ao mesmo tempo, em que respeita as

18

necessidades do tratamento, também é fruto de uma construção médica marcada

pelo olhar analítico do doente-doença.

O lugar natural da doença é o lugar natural da vida – a família: doçura dos cuidados espontâneos, testemunho do afeto, desejo comum da cura, tudo entra em cumplicidade para ajudar a natureza que luta contra o mal e deixar o próprio mal se desdobrar em sua verdade; o médico só vê doenças distorcidas, alteradas, toda uma teratologia do patológico (...) (FOUCAULT, 2001, p. 18).

Com a participação de uma equipe multidisciplinar, o hospital torna-se um

espaço de participação de diversos atores e a criança internada, encontra-se numa

rede de múltiplas relações. Sua vida não se restringe às paredes do hospital, nem

seus laços com o exterior são suspensos. As crianças doentes veem o mundo

infantil agredido, sua vida ameaçada e sua rotina desestruturada pelos tratamentos

e internações recorrentes.

A educação é essencial para a vida de qualquer pessoa, logo, não menos

importante para a vida de uma criança/adolescente que está em um hospital, pois

seu processo de aprendizagem regular foi interrompido por causa de uma doença.

Por isso, a Pedagogia Hospitalar vem por meio de uma perspectiva eficaz,

pedagógica, trazer para o enfermo a possibilidade da continuidade dos seus

estudos, se sua condição física e psicológica permitir, mesmo em um ambiente

diferente e inusitado, fazendo com que dessa forma, possa dar certa continuidade

da sua vida fora do hospital. A finalidade da educação no âmbito hospitalar, não são

as mesmas que a de um médico ao alguém do gênero, as ações de um pedagogo

são próprias de um saber específico, porém o pedagogo tem que estar ciente das

condições da criança/adolescente não da mesma maneira que o médico, mas pelo

menos possuir conhecimento básico em relação ao que fazer quando a criança se

mostrar exausta, reclamar de dor, algum aparelho que acompanha a criança

necessitar de ajustes.

Os conteúdos dados por meio da Pedagogia Hospitalar não podem ser vistos

apenas como “o repasse de conhecimento”. Estão muito além do conteúdo exigido,

são mais um meio de manter o hospitalizado em contato com o que está

acontecendo fora dali com sua família, seus amigos, sua escola.

Gonzáles-Simancas e Polaino- Lorente (1990, p. 70) nos mostram em poucas

palavras é o que é a Pedagogia Hospitalar na visão deles:

19

A Pedagogia Hospitalar é uma pedagogia vitalizada, é uma pedagogia da vida para a vida que, por um processo vital constitui uma constante comunicação experiencial entre a vida do educando e do educador, cujo diálogo em torno das questões do viver e do morrer, do sofrimento e do prazer, não termina nunca.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente lei nº 8.069 de

13/07/1990 visam atender direitos básicos como nos artigos 3º e 4º:

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Além dos direitos da criança, que ali está internada, serem assegurados pelo

Estatuto da Criança e do Adolescente, é nosso dever verificar se estão sendo

cumpridos como deveres do Estado para com a criança tais como o lazer, a

alimentação e outras necessidades básicas de qualquer ser humano como mostra o

artigo 4º:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Em 2001, a instituição das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na

Educação Básica (BRASIL, 2001), o Conselho Nacional de Educação, após a

publicação da LDB 9394/96, trouxe o atendimento educacional a crianças em

tratamento de saúde que implique internação hospitalar. No artigo 13 deste

documento, o MEC mostra a ação integrada entre os sistemas de ensino e saúde,

através de classes hospitalares, na tentativa de dar continuidade ao processo de

desenvolvimento das crianças hospitalizadas.

Em dezembro de 2002, o MEC publicou o documento Classe Hospitalar e

atendimento pedagógico domiciliar (BRASIL, 2002), para que se tentasse estruturar

a organização do sistema de atendimento educacional fora do âmbito escolar,

promover a oferta do atendimento pedagógico também em espaços hospitalares.

Nesse mesmo documento, a Secretaria de Educação Especial se propôs a oferecer

estratégias e orientações para o atendimento pedagógico voltado para o

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desenvolvimento e para a construção do conhecimento correspondente à educação

básica como mostra a seguir:

O professor dever· ter a formação pedagógica preferencialmente em Educação Especial ou em cursos de Pedagogia ou licenciaturas, ter noções sobre as doenças e condições psicossociais vivenciadas pelos educandos e as características delas decorrentes, sejam do ponto de vista clínico, sejam do ponto de vista afetivo. (BRASIL, 2002, p. 22).

Segundo a política do MEC, “Classe Hospitalar é um ambiente hospitalar que

possibilita o atendimento educacional de crianças e jovens internados que

necessitam de educação especial e que estejam em tratamento hospitalar”.

(BRASIL, 1994, p. 20).

TAMM (2000) observou que muitos dos professores que atuavam na

educação hospitalar levavam para os hospitais formas tradicionais encontradas nas

escolas, percebendo-se o descaso com a educação, principalmente dentro de

hospitais.

Em alguns hospitais públicos existem as chamadas classes hospitalares. São “anexos” das escolas públicas municipais que, na verdade, utilizam espaços que deviam estar ocupados por mais leitos pediátricos, laboratórios e consultórios e não são utilizados por descaso das autoridades com a saúde pública. Essas “classes” sofrem um problema de identidade: sendo anexos de uma escola da rede municipal, não fazem, de fato, parte de escola alguma; por outro lado, embora funcionem dentro do hospital, não fazem parte dele. (...) O que precisamos mesmo é olhar a enfermaria pediátrica de modo novo, um modo de olhar que talvez possa ser apreendido na pedagogia clínica, quando a pedagogia clínica existir. (TAMM 2000, p. 75)

Segundo Fonseca (2001), os professores que atuam em diversos hospitais no

Brasil, possuem habilitação que os qualificam para o magistério e a maioria tem

formação em nível superior em diferentes áreas, mas todos apresentam uma mesma

característica; iniciam o trabalho em classes hospitalares, porém sem formação

específica na área. As classes hospitalares são modalidades de atendimento

reconhecidas por lei como direito de toda criança e adolescente hospitalizado,

porém o Brasil ainda conta com poucos, cerca de 74, hospitais que desenvolvem

esse tipo de atendimento e quase todos os profissionais não possuem a formação

específica para a atuação.

Essa afirmação parte de que a disciplina de educação especial ainda não

consta em muitos currículos dos cursos de Pedagogia do país, muito menos algo

21

voltado para a Pedagogia Hospitalar. Fonseca (2003, p. 31) relata que:

O ambiente hospitalar é para o professor uma fonte de aprendizagem constante por meio da escuta às informações de vida da criança com o seu conteúdo de representação da doença, do tratamento, da hospitalização e da equipe de saúde. Isto leva o professor a aperfeiçoar a assistência, de maneira a tornar a experiência da hospitalização um aspecto positivo para o crescimento e desenvolvimento da criança.

Quando a criança é internada por um longo período e o hospital não possui o

contato com um educador ali dentro, acaba encontrando dificuldades quando sai dali

e volta a frequentar o ensino regular, porém, até mesmo as crianças que frequentam

acabam encontrando dificuldades, menores, mas encontram pelo fato de que em

alguns momentos elas não estão dispostas a acompanhar, como nos diz PAULA

(2002, p. 13):

Essas crianças, por passarem muito tempo internadas, acabam tendo um contato muito próximo com os professores hospitalares, o que faz com que as atividades escolares nesta instituição com estas crianças tenham uma maior regularidade e se assemelhem muito aos moldes das escolas oficiais, muito embora, em alguns momentos, estas crianças, mesmo que no hospital, sintam-se indispostas e não possam acompanhar as programações escolares.

Logo, percebi que a graduação não nos oferece as condições necessárias

para que possamos seguir adiante em muitos aspectos quando concluímos o ensino

superior; um exemplo é a Pedagogia Hospitalar, mas não podemos achar que

apenas tendo uma disciplina que trate de tal assunto ficaremos cientes de todas as

estratégias e técnicas da pedagogia hospitalar. Por isso, além de uma disciplina

precisamos também ter o olhar sensível para com essas crianças que estão numa

cama de hospital, ou até mesmo em casa e perceber o quanto elas precisam de nós

que muitas vezes não somos valorizados por familiares, alunos dentro de uma

escola, mas podemos ser valorizados ali, dentro de um hospital.

Além de tudo, devemos também desenvolver habilidades que só

conseguimos com o tempo, com a experiência, com os relatos de outros colegas de

profissão. Temos que aprender a trabalhar com os imprevistos de um hospital, saber

o que fazer quando você está dando uma aula e de repente a criança ou o

adolescente começa a ter uma convulsão, que ela precisa ser medicada com

frequência, precisa estar atento aos diversos aspectos que circundam um hospital.

22

Por isso, para um educador que deseja trabalhar em um hospital é necessário que

além de tudo ele saiba escutar, compreender e ter a sensibilidade de entender

quando a criança está apta a corresponder com as atividades ou quando

simplesmente ela deseja ser escutada, que seja feito um carinho ou que ela sinta

que existem pessoas que olham por ela e para que assim consigam seguir em frente

com seu tratamento.

23

4. ANÁLISE E TRATAMENTO DOS DADOS

Nas análises de dados realizadas a partir do material coletado nas entrevistas

percebeu-se que as professoras que trabalham com a pedagogia hospitalar

possuem qualidades que se fazem presentes no atuar. Dentre elas destaco o

dinamismo, a fé e, sobretudo o amor, numa relação holográfica de atuação.

Além dessas qualidades, evidencio que essas profissionais têm uma relação

muito próxima com a criança atendida, conforme fica expresso no depoimento a

seguir: “O quanto é gratificante exercer a função de professora dentro do hospital,

fazer o bem para quem necessita e não possui condições de estar em uma sala de

aula “normal” e diz que a partir do momento em que você não se sensibilizar com o

que vê ali dentro, você não pode mais estar ali fazendo o que faz”. (Professora da

classe hospitalar do HIJG).

Essa ideia de aproximação familiar é posta como algo fundamental por

Fonseca (2003 p. 25-26):

O professor da escola hospitalar é, antes de tudo, um mediador das interações da criança com o ambiente hospitalar. Por isso não lhe deve faltar noções sobre as técnicas e terapêuticas que fazem parte da rotina da enfermaria, sobre as doenças que acometem seus alunos e os problemas (até mesmo emocionais) delas decorrentes para as crianças e também para os familiares e para as perspectivas de vida fora do hospital.

Em escolas ditas como normais é de extrema necessidade que haja esse

comprometimento entre a família e os professores. Entende-se que dentro de uma

classe hospitalar onde a criança ou adolescente se encontra debilitado por diversos

fatores, a família na maioria das vezes está também abalada emocionalmente e não

aceita a ajuda das assistentes sociais ou até mesmo acaba aceitando, porém, é a

partir do contato diário com o professor que muitas vezes surge o conforto, a palavra

necessária que a família precisa escutar e só o professor com esse olhar mais

humanista consegue dar esse apoio aos familiares.

O fundamental é perceber que a criança e seus familiares são pensantes e

que estão convivendo por inteiro o momento de sofrimento e que, quando chegam

ao hospital trazem em suas histórias de vida marcas de como perceber o tratamento

e as ações propostas. A fragilidade e a segurança permeiam esse momento,

24

especialmente os conhecimentos prévios que elas trazem sobre o que é saúde,

doença e sobre sua ação na dinâmica saúde/doença. Assim, a ação docente do

pedagogo precisa pautar-se na articulação significativa e agradável entre o saber do

cotidiano dos pais e crianças e o saber científico do médico, sempre respeitando as

diferenças que existem entre ambos observando que seu conhecimento também

pode interferir nessa relação.

O conhecimento científico pós-moderno só se realiza enquanto tal na medida em que se converte em senso comum. (...) tal como o conhecimento se deve traduzir em autoconhecimento, o desenvolvimento tecnológico deve traduzir-se em sabedoria de vida. É esta que assinala os marcos da prudência à nossa aventura científica. (SANTOS, 1987, p. 57)

Percebi o quanto estar ali com o professor, médico, família e com as outras

crianças que frequentam as classes hospitalares acaba fazendo bem e a força de

vontade de estar na aula. Muitas vezes, numa sala de aula hospitalar, as crianças

não têm o mesmo ambiente que na escola, pois ficou nítido nas observações que as

crianças tentaram interagir, trocar informações relacionadas ao texto, leram a

história em quadrinhos. Essas atividades planejadas intencionalmente ajudam no

autoconhecimento das próprias crianças, mostrando-se mais autônomas e

independentes. É de extrema importância ressaltar que a criança pode ir até a

classe se houver a liberação médica, não havendo essa liberação é levada até o

leito algumas atividades para que a criança faça ali, é claro se a criança aceitar.

O profissional da Pedagogia hospitalar necessita utilizar atividades

diversificadas e significativas em suas ações docentes com o propósito de favorecer

a construção de uma pedagogia que consiga transformar o conhecimento

sistematizado com os saberes que as crianças trazem (zona de desenvolvimento

real) em um somatório de possibilidades de forma que possibilitem o

autoconhecimento, a autonomia, a parceria entre o paciente, a família e a pedagoga

hospitalar. Essa relação aproximativa, conjunta e experienciada, leva a criança a ser

coautora do processo emancipatório de suas escolhas e consequentemente de seu

tratamento.

Quanto mais for levado a refletir sobre a sua situacionalidade sobre o seu enraizamento espaço-temporal, mais emergirá dela conscientemente carregado de compromisso com a sua realidade, da qual, porque é sujeito, não deve ser simples espectador, mas deve intervir cada vez mais. (FREIRE, 1993, p. 61)

25

O relato que segue expressa nitidamente como a atuação da pedagogia

hospitalar interfere na vida da criança hospitalizada. A aluna J sentia-se

incomodada com as dores no início da aula. Com o passar do tempo, com a

distração e com a forma com que a professora conduzia a aula, ela soltou-se,

rendeu-se aos encantos da aula e se permitiu que aquele momento se tornasse algo

prazeroso para ela que acabava se “esquecendo” da dor por alguns instantes e para

a professora que, além de conseguir tal feito, ainda lhe arrancava sorrisos com as

interpretações das alunas ao dramatizarem um texto de Luís Fernando Veríssimo

em voz alta.

O reconhecimento da criança como agente promotora de sua própria saúde,

remete à relação da saúde e doença. O conhecimento da realidade vivida passa

pelo conhecimento experienciado enquanto indivíduo e grupo. Dessa forma, a

educação com crianças hospitalizadas é apenas mais uma possibilidade significativa

no leque das práticas educativas transdisciplinares. No entanto, por meio dela,

pode-se vislumbrar a construção de outros tempos em outros espaços de

aprendizagem que possibilitem a inclusão de crianças em situações de risco.

A função primordial da pedagogia hospitalar é de propiciar à criança o

conhecimento e a compreensão daquele espaço enquanto uma possibilidade

momentânea ou mesmo uma nova situação de vida. Nesse sentido dar voz e vez às

crianças hospitalizadas e escutá-las exige uma atitude pedagógica inovadora,

criativa e transdisciplinar, de modo que possa acolher a ansiedade, os desejos, os

sonhos e as dúvidas das crianças. O desafio está em criar situações coletivas de

reflexão sobre as vivencias e experiências, construindo novos conhecimentos que

contribuam para a existencialidade de todos os envolvidos (médicos, família, criança

e professores), ampliando os procedimentos utilizados na pedagogia hospitalar.

Quanto aos procedimentos dos atendimentos realizados pelas professoras no

contexto do hospital investigado, percebeu-se que quando são realizados mais de

três atendimentos de uma mesma criança, as professoras fazem um relatório com o

conteúdo, a disciplina e o desempenho de cada uma e esse é encaminhado para os

colégios de origem da criança e que é conveniado com o hospital.

A prática da transdisciplinaridade na pedagogia hospitalar transcende a

própria ciência; busca o vislumbre além-corpo, não atuando somente em aspectos

físicos e biológicos, mas outros tantos olhares que vêm revestidos em essência de

26

valores e humanização, com afeto, envolvimento, encantamento, magia, entre outros

atributos essenciais a tantos que permeiam a ação docente.

Desse modo, as professoras que trabalham na pedagogia hospitalar ficam a

disposição do hospital, pois quando solicitado são liberadas pelas escolas estaduais

para o hospital e geralmente quando uma professora sai, ela tem outra para indicar,

pois conhecendo como é o ritmo intenso do hospital conhece pessoas que possuem

perfil para trabalhar ali, porém, não há nada que impeça de outra pessoa que não

seja indicada trabalhar como professora no hospital. Essa ação é frágil e exige uma

política especifica para legitimar a ação pedagógica desse profissional nos hospitais.

Para Arroyo (2008) durante algumas décadas a Pedagogia construiu seu pensar e

fazer educativos por meio de imagens e verdades lineares e abstratas sobre infância

e juventude. Estas categorias eram concebidas como dados naturalizados, tempo

biológicos com etapas universais e pré-fixadas.

As crianças concretas não foram nem são sujeitos da gestação de seus lugares, de suas imagens e de suas verdades. Com esta visão da infância foram construídas verdades históricas e imaginários sociais sobre elas. Foram construídos saberes, instituições, pedagogias, pedagogos e estratégias de gestão da infância. (ARROYO, 2008, p.125).

Desta maneira, dialogar com os estudos sobre a infância com várias ciências

contribui para desnudar a ação docente no contexto hospitalar. Para Arroyo (2008),

não é possível entender o ofício da docência e da educação, suas identidades,

pensamento, descolados das verdades históricas:

Entretanto, os estudos não deixam de mostrar-nos que há infâncias que ao longo da história não couberam, nem na atualidade cabem, nesse estatuto e perfil universais de infância; que há outras infâncias que não foram atingidas pelas estratégias e instituições civilizatórias e pedagógicas. Infâncias que não foram objeto dos mesmos saberes legitimados. Para essas outras infâncias foram pensados outros estatutos e outros saberes pedagógicos. Os estudos mostram que outros coletivos de adultos e crianças nem sequer foram imaginados como civilizáveis nem como educáveis. Se os estudos nos revelam que há outros adultos e outras crianças, como esses "outros" interrogam o pensar e fazer educativos? Como interrogam os estatutos e ideários, as instituições, estratégias e verdades e os saberes tidos como universais? A pedagogia que por oficio convive com esses "outros" adultos e jovens e com essas "outras" crianças sairá enriquecida se prestar atenção à diversidade de estudos que se voltam para a reconstrução histórica, sociológica e antropológica das outras infâncias (ARROYO, 2008, p. 130).

27

Por fim, considerei toda essa experiência muito gratificante, poder sentir, ver e

presenciar um pouco do trabalho significativo que essas professoras exercem de

maneira espetacular, percebendo-se o brilho no olhar de cada uma delas ao falar do

que fazem ali dentro, na maneira como abordam os conteúdos, como chegam ao

aluno que está fragilizado por estar em um hospital de forma com que ele acabe se

“esquecendo” de que está enfermo e acabe agregando algo a mais ao seu

conhecimento e até mesmo levando o conforto, a palavra amiga e alternativas para

que essa criança que ali está possa sorrir.

28

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Acerca de tudo que foi lido, estudado e analisado, percebi o quanto a

pedagogia hospitalar se faz extremamente necessária dentro do hospital. Quando

apenas conhecemos o assunto Pedagogia Hospitalar por meio de leituras, é

totalmente inimaginável como é uma sala de aula dentro do hospital, como as

crianças agem, como os professores se portam. Parece tudo muito metódico, com

seu princípio, meio e fim como numa escola regular, porém quando o indivíduo se

insere no cotidiano de uma classe hospitalar percebe que nada disso se encaixa no

hospital. Bem como nas escolas normais, ali tudo é feito com carinho pelas

professoras e o amor, a eficiência e a competência transparecem por meio dessas

profissionais.

Muitas vezes essa criança que está internada, seja por qualquer motivo,

precisa de uma distração, um carinho, uma palavra que a conforte e o professor

muitas das vezes consegue dar tudo isso à criança e ainda lhe proporcionar o

principal, fornecer conhecimento. O que numa sala de aula regular parece muito

inoportuno, sem sentido e entediante para a criança, num leito de hospital muitas

vezes é o que a distrai e a ajuda a passar o tempo ali dentro de maneira que ainda

agregue saberes aos conhecimentos adquiridos anteriormente.

Quanto às professoras, percebi o quanto amam o que fazem e que estão no

lugar certo na hora certa. Quando contam relatos do que acontece com seus alunos,

seus olhos se enchem de alegria. Quando relatam que uma criança deu entrada no

hospital e mostrou-se muito resistente ao atendimento pedagógico no início e, com

certo tempo de atendimento, a própria criança pediu as atividades, fato que as

deixou muito contentes e satisfeitas com seu trabalho. Essas profissionais tornam-se

as pessoas mais incríveis por fazer uma criança ficar ali assistindo a "aula" por

algumas horas, interagindo, rindo, mesmo que se sinta incomodada com alguma dor,

algum mal estar e insiste em ficar na aula dizendo que está tudo bem.

A Pedagogia Hospitalar torna-se algo prazeroso tanto para os professores,

quanto para as crianças e para os pais. Para os professores, pois ao término de

cada dia sentem a sensação de mais um dia em que realizaram seu trabalho de

forma satisfatória. Prazeroso também para a criança, pois além de a classe

29

hospitalar ser um agregador de conhecimento, é além de tudo uma forma de a

criança se sentir útil, capaz de realizar algo de seu cotidiano. Para os pais também

é fonte de prazer, pois na maioria das vezes é nesse momento que seu filho acaba

deixando de lado um pouco a dor, o desconforto, o leito e faz algo para o seu próprio

bem se sentindo feliz por estar ali.

A partir dessa pesquisa, fica notório que no curso de graduação de Pedagogia

as novas diretrizes curriculares nacionais não contemplam as práticas educativas em

hospital, mesmo a legislação assegurando o direito à continuidade de

desenvolvimento dos conteúdos escolares a crianças e adolescentes hospitalizados.

Assim, é fundamental elaborar algumas premissas que poderiam estar presentes

nas abordagens que orientem as atividades pedagógicas em contextos não

escolares.

Pude considerar que a Pedagogia hospitalar é uma área de atendimento

pedagógico especializado, no qual devem estar imbricadas relações de proximidade

e cooperação entre os pedagogos, a escola e a família e o grupo de enfermagem.

Este estudo também identificou que tal interação é frequente no campo

investigado resultando as questões educativas envolvendo crianças e adolescentes

internados. Por esse viés, afirma-se que a criação de classes hospitalares é uma

necessidade, mas que sempre precisar haver a preocupação com a questão social e

com a humanização do seu atendimento. Além disso, podemos considerar que a

instituição investigada se propõe a estimular essa parceria humanizada, tendo como

ação primordial a intermediação dos pedagogos, pois eles estão diretamente

envolvidos com as crianças hospitalizadas.

Outro aspecto importante a ser considerado neste estudo diz respeito à

carência de espaços físicos adequados, pois o número de crianças internadas é

muito grande, a quantidade de pedagogas e o espaço físico limitado. Cabe ressaltar

que o atendimento pedagógico hospitalar busca a ampliação do atendimento para

atender à demanda de alunos/pacientes, pois inclui o atendimento aos leitos das

crianças, nas salas pedagógicas e na brinquedoteca hospitalar.

Outro ponto a ser destacado, revelado nessa pesquisa é que as pedagogas

constroem e reconstroem seus conhecimentos de acordo com as necessidades

vivenciadas, aliando e modificando saberes construídos no percurso profissional.

Desse modo, temos uma práxis reflexiva que procura reformular constantemente no

dia-a-dia.

30

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34

ANEXOS

35

ROTEIRO DE ENTREVISTA

data:__________instituição:_____________________

*solicitar autorização para gravar a conversa.

Nome da pessoa responsável pelo

trabalho:_________________________________________

Nome da

pedagoga:___________________________________________________________

________

Formação: ______________________________ local da

formação:_____________________

Data da formação:____________ instituição da formação:

_____________________________

Experiências de trabalho, onde você trabalhava antes:______________________

Tempo de trabalho:_______________________________

Como chegou até o

hospital:_____________________________________________________

Quem o contratou?__________________ Há quanto tempo você está no

hospital?__________ Qual é o seu trabalho aqui? ___________________

Você trabalha com todas as séries?________________________ _________

(ed. Infantil? Ensino fundamental? E as crianças de 0 a 6 anos?)____________

Como você lida com a variedade de conteúdos? Você se sente

preparada? ______________________________________________

Quem a ajuda neste trabalho?__ _______________________

Como você organiza as atividades? A secretaria (GERED, SEMED) enviam

planejamentos prontos?

_______________

Como você nomearia seu trabalho aqui? Você pode chamar de classe hospitalar?

__________________

Quais as características pessoais que contribuem para o trabalho aqui?

___________________________

Sua formação contribuiu de que forma para esta atuação? Qual a disciplina que

mais ajudou?

36

________________________

Você está fazendo algum curso para seu aprimoramento?

______________________

Você lê sobre o trabalho do pedagogo nos hospitais?

__________________________

Quais são as suas preferências de Leitura?

_______________________

Você já visitou outras Classes?

________________________

Você mantém contato com outras pedagogas que trabalham em hospitais?

______________________________

Quais são as áreas (psicologia, neurologia, psicopedagogia...) que você procura

para seu aprimoramento?

________________________

O que você considera importante para o currículo de pedagogia para a atuação em

hospital?

__________________________________

O que você pensa sobre a importância de seu trabalho aqui?

_________________________________

Por que é importante uma professora no hospital?

____________________

Como você contribui com a criança hospitalizada com seu trabalho no hospital?

_____________________________

37

ANEXOS: MATERIAL DE ANÁLISE DISCURSIVA TEXTUAL

Perguntas Entrevista 1 Entrevista 2

Você trabalha com todas

as séries?

6º ao 9º ano.

Sou professora do 6º ao 9º ano e algumas vezes

ens. Médio.

Análises

Como você lida com a

variedade de conteúdos,

você se sente preparada?

Não.

Tem sido tranquilo, na mesma escola normal

trabalho de certa forma vários conteúdos

(introdução à física e química no 9º ano).

Ciências e Matemática então não sinto

dificuldades.

A primeira entrevistada diz não se

sentir preparada para lidar com a

variedade de conteúdos; a segunda,

diz que acaba sendo tranquilo, pois na

escola onde trabalha aborda na

maioria das vezes os mesmos

conteúdos.

Quem te ajuda neste

trabalho?

Pesquisa em sites

confiáveis e livros

didáticos.

As próprias colegas da classe Rosangela e

Elizabete com sua experiência na classe

hospitalar.

Como você organiza as

atividades? A secretaria

(GERED, SEMED,)

Não há

planejamento

pronto, ele é

A SED não envia planejamento, nem material.

Nós que planejamos.

Ambas dizem que o planejamento é

feito por elas próprias, que a

secretaria da educação não envia

38

mandam planejamentos

prontos?

construído

mensalmente.

nada a elas.

Como você nomearia o

seu trabalho aqui? Você

pode chamar de classe

hospitalar?

Considero o

trabalho essencial,

pois faz a diferença

na vida do aluno.

Creio que a palavra

atendimento seria

mais adequado.

Apenas a primeira entrevistada

respondeu a essa questão.

Quais as características

pessoais que contribuem

para o trabalho aqui?

Fé, otimismo,

flexibilidade,

dinamismo e,

sobretudo amor.

Dinamicidade, ter conhecimento em várias

áreas e fé.

Ambas citam que as características

que mais contribuem é a fé a

dinamicidade.

De que forma sua

formação contribuiu para

esta atuação? Qual a

disciplina que

mais ajudou?

Sim. A

compreensão de

que nada é isolado,

tudo está

interligado faz toda

a diferença.

Não. Aprendi a dar aula e ensinar na prática. O

que ajudou é que gosto de ler, de pesquisar, sou

curiosa. O mestrado contribuiu muito no

sentido de pesquisa, epistemologia da ciência e

matemática.

Aqui se pode perceber que as

respostas divergem, pois a primeira

entrevistada diz que a formação

contribuiu sim para a atuação dela na

classe hospitalar e a segunda

entrevistada diz que a formação dela

39

não contribuiu, pois tudo que ela

aprendeu foi através da prática.

Você está fazendo algum

curso para seu

aprimoramento?

Neste momento

não.

Como já citei estava no mestrado em Educação

Científica e tecnológica/UFSC conclui ano

passado. Atualmente à distância estou

terminando “As crianças e a Matemática –

Competências no Ensinar, Alegria no Aprender –

pelo IBEDEP”.

Você lê sobre o trabalho

do pedagogo nos

hospitais?

Sim.

Sim, vários artigos. Tenho contato com alguns

antropólogos que estudam na área e

professores da UDESC, que incentivam uma tese

de doutorado no meu caso.

Um exemplo: XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS

SOCIAIS DO NORTE E NORDESTE E PRÉ-ALAS

BRASIL – 04 A 07 de setembro de 2012, UFPI,

Teresina – PI GT 16: Hospitais e instituições de

saúde: Um espaço inspirados para as pesquisas

em Ciências Sociais. Título de La potência: La

“medida humana”1. Autora: Maria Laura

Requena. Lic. Em Sociología de La Universidad

40

de Buenos Aires (UBA). Maestranda em Ciencias

Scoiales dês Instituto de Desarrollo Económico y

Social (IDES) / Universidad de Gral. Sarmiento

(UNGS), Buenos Aires – Argentina. Miembro Del

Proyecto PICT 1356-2010 “Um nuevo lugar

social para La escuela estatal." Entre La

irrupción da La Investigadora responsable: Dra.

Diana Milstein.

Referencia Institucional: IDES/UNSG, Buenos

Aires - Argentina.

Quais são suas

preferências de leitura?

Leituras que

possibilitem

crescimento moral,

entretenimento e

assuntos

relacionados à

prática pedagógica.

Leitura científica. Muitas biografias, neste ano

de 2013: Albert Einstein (meu preferido já é a

terceira biografia), Chaplin, Vicente Van Gogh e

sobre o Bispo da Igreja Universal Edir Macedo

(uma curiosidade sobre tal personalidade que

gera discussões na atualidade). Muitas revistas

de assinaturas e que minha antiga escola nos

fornece como: História Nacional. História

Catarina. Filosofia ciência e vida. Cálculo

matemático para todos. Língua Portuguesa.

A primeira entrevistada é mais sucinta

em sua resposta, não exemplifica suas

leituras por nomes de obras e

autores; a segunda entrevistada nos

mostra quais são seus autores e obras

preferidas e se percebe que as

leituras vão muito além da pedagogia

ou algo que a envolva.

41

Nova Escola. Seleções. Super Interessante.

Globo Rural.

Você já visitou

outras classes?

Não.

Não conheço.

Você mantém contato

com outras pedagogas

que trabalham em

hospitais?

Não.

Não tenho.

Quais são as áreas

(psicologia, neurologia,

psicopedagogia...) que

você procura para seu

aprimoramento?

Psicopedagogia.

Psicopedagogia (que tenho mais convívio no

momento), mas outras áreas são importantes

quanto, pretendo estudá-las.

Ambas optam pela área da

psicopedagogia.

O que você considera

importante para o

currículo de pedagogia

A inter e

multidisciplinarida

de.

No currículo de pedagogo, prefiro não opinar

sobre o que considero importante para atuar na

classe hospitalar, pois ainda estou estudando.

42

para a atuação em

hospital?

O que você pensa sobre a

importância de seu

trabalho aqui? Por que é

importante uma

professora no hospital?

Como você contribui com

a criança hospitalizada

com o teu trabalho no

hospital?

Acredito e procuro

fazer do meu

trabalho uma

oportunidade de

crescimento

cognitivo, pessoal e

moral. Propondo

atividades

diferenciadas, mas

interligadas que

possibilitem um

ambiente

agradável, de

interação entre os

presentes e de

aprendizagem

significativa.

“A profissão é de extrema importância, isso é

indiscutível em qualquer que seja o espaço de

trabalho. Apesar da desvalorização dessa função,

acho que no hospital temos mais respaldo por

parte da família que nos acolhe com respeito,

isto mesmo, coisa que em escolas “normais” não

temos mais. A importância de se ter professores

na classe hospitalar é necessária para as crianças

que passam mais tempo internadas; assim não

perdem aquele vínculo social e de aprendizagem

com sua respectiva idade e de certa forma

sentem-se mais próximas de suas atividades

normais do dia a dia. Nossa contribuição vem

através da motivação, carinho e a ponte com a

escola e professores, passando as atividades e

conhecimentos, lembrando que há uma vida que

os espera fora do quarto.".

43

Busco envolvê-los

de modo que por

um tempo

esqueçam o

desconforto e o

fato de estarem

hospitalizados e

participem das

atividades como

aluno/estudante

que tem direito a

aprender.

DADOS DOS ENTREVISTADOS

Perguntas Entrevista 1 Entrevista 2

Formação/ local da

formação:

Português/ Inglês/ Jandaia do

sul

Ciências e Matemática/ União da Vitória/PR.

Data da formação/

instituição da formação:

1987/ FALIJAN Dez/1996/ FAFI – Faculdade de Filosofia Ciência e Letras.

Experiências de trabalho, Escola. E. E. B. Juscelino Kubitschek – São José/SC.

44

onde você trabalhava

antes:

Tempo de trabalho: 25 anos. 11 anos.

Como chegou até o

hospital:

Voluntariado. Cheguei ao hospital através da professora Rosangela de português que é

afetiva na mesma escola.

Quem te contratou? SED SED – secretaria da Educação SC

Há quanto tempo você

está no hospital?

2 anos.

Estou no hospital há quatro meses iniciei em Nov/12 e reiniciei em Fev/13.

Qual é o teu trabalho

aqui?

Professora.

Meu trabalho é lecionar ciências, matemáticas e se preciso geografia,

história.