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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ CURSO DE PEDAGOGIA JULIANA DAROCESKI GUEDES A LITERATURA INFANTIL NO COTIDIANO EDUCATIVO DAS CRIANÇAS PEQUENAS: A IMPORTÂNCIA DO CONTAR E VIVENCIAR HISTÓRIAS São José 2011

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ

CURSO DE PEDAGOGIA

JULIANA DAROCESKI GUEDES

A LITERATURA INFANTIL NO COTIDIANO EDUCATIVO DAS CR IANÇAS

PEQUENAS:

A IMPORTÂNCIA DO CONTAR E VIVENCIAR HISTÓRIAS

São José

2011

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ

CURSO DE PEDAGOGIA

JULIANA DAROCESKI GUEDES

A LITERATURA INFANTIL NO COTIDIANO EDUCATIVO DAS CR IANÇAS

PEQUENAS:

A IMPORTÂNCIA DO CONTAR E VIVENCIAR HISTÓRIAS

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para a obtenção do grau de licenciatura em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ. Orientadora: Profª MSc. Simone Ballmann de Campos.

São José

2011

JULIANA DAROCESKI GUEDES

A LITERATURA INFANTIL NO COTIDIANO EDUCATIVO DAS CR IANÇAS

PEQUENAS:

A IMPORTÂNCIA DO CONTAR E VIVENCIAR HISTÓRIAS

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para a obtenção do grau de licenciatura em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ, avaliado pela seguinte banca examinadora:

_________________________________

Orientadora: Profª Simone Ballmann de Campos, MSc.

_________________________________

Profª Marluci Guthiá Ferreira, MSc.

_________________________________

Profº Abel da Silveira Viana, MSc.

São José, 17 de junho de 2011.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, pelo dom da vida e por iluminar meus

caminhos; a meus pais, por me trazerem ao mundo e pela boa formação que me

proporcionaram; ao meu sobrinho/afilhado, por me fazer feliz sempre que sorri,

falando “dinda”; à minha família de uma forma em geral e a meus amigos, que foram

compreensivos nos momentos que tive que lhes deixar de lado para poder estudar e

me dedicar.

RESUMO

Esse estudo buscou analisar a vivência da contação de histórias na Educação Infantil, propiciando, a partir da literatura infantil, a expressão da arte, da imaginação e da criatividade infantil em sala de aula, na qual foi possível verificar o incentivo às crianças ao hábito da leitura, identificando os motivos que levaram a professora contadora de histórias a utilizar a literatura infantil em sua rotina de classe. A coleta de dados foi realizada em duas instituições de Educação Infantil, da rede municipal de São José e Palhoça, nas quais observei o comportamento das crianças durante a contação de histórias, através da técnica de observação, durante doze encontros, sendo aplicado um questionário com a professora contadora de histórias. Inicialmente, a pesquisa foi desenvolvida através do estudo bibliográfico, sendo realizada uma pesquisa básica do ponto de vista da sua natureza e qualitativa quanto à abordagem do problema. Realizou-se uma pesquisa de campo, referente a observações e perguntas – questionário – para a professora contadora de histórias, acerca de informações sobre a literatura infantil e sua importância no desenvolvimento das crianças. Referente aos objetivos a pesquisa é explicativa observacional e de acordo com os procedimentos técnicos é participante. Fez-se a análise das observações, juntamente com o questionário, identificando-se o alcance dos objetivos. A realização deste trabalho contribuiu de maneira significativa para evidenciar a importância da literatura infantil na Educação Infantil, além de chamar a atenção dos professores no que se refere a estar atento e perceber que necessitamos de paixão e atualização constante em nosso fazer pedagógico. Palavras-chave: Contação de histórias. Literatura infantil. Criatividade infantil. Hábito da leitura.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 7

1.1 JUSTIFICATIVA................................................................................................. 8

2 DESENVOLVIMENTO..................................................................................... 10

2.1 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................. 10

2.1.1 Infância............................................................................................................ 10

2.1.2 Expressão da arte........................................................................................... 12

2.1.3 Literatura infantil.............................................................................................. 14

2.1.3.1 Muitas formas de contar histórias................................................................ 15

2.1.4 A professora contadora de histórias............................................................... 19

2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................................... 21

2.3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS.................................................... 23

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................. ............................................... 34

REFERÊNCIAS........................................................................................................ 36

APÊNDICE............................................................................................................... 39

APÊNDICE 1 - DATA: 25/03/2010 - 1ª OBSERVAÇÃO.......................................... 40

APÊNDICE 2 - DATA: 08/04/2010 - 2ª OBSERVAÇÃO.......................................... 41

APÊNDICE 3 - DATA: 15/04/2010 - 3ª OBSERVAÇÃO.......................................... 42

APÊNDICE 4 - DATA: 20/04/2010 - 4ª OBSERVAÇÃO.......................................... 44

APÊNDICE 5 - DATA: 22/04/2010 - 5ª OBSERVAÇÃO.......................................... 45

APÊNDICE 6 - DATA: 29/04/2010 - 6ª OBSERVAÇÃO.......................................... 49

APÊNDICE 7 - DATA: 12/04/2011 - 7ª OBSERVAÇÃO.......................................... 51

APÊNDICE 8 - DATA: 13/04/2011 - 8ª OBSERVAÇÃO.......................................... 52

APÊNDICE 9 - DATA: 14/04/2011 - 9ª OBSERVAÇÃO.......................................... 52

APÊNDICE 10 - DATA: 15/04/2011 - 10ª OBSERVAÇÃO...................................... 53

APÊNDICE 11 - DATA: 18/04/2011 - 11ª OBSERVAÇÃO...................................... 53

APÊNDICE 12 - DATA: 19/04/2011 - 12ª OBSERVAÇÃO..................................... 54

APÊNDICE 13 - QUESTIONÁRIO........................................................................... 54

7

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa introduz para o meio acadêmico a importância da Literatura

Infantil no desenvolvimento das crianças da Educação Infantil. Mesmo havendo

programas de incentivo à contação de histórias, é necessário obter informações para

que esta prática seja integrada às escolas e instituições de Educação Infantil,

contribuindo para a formação de futuros leitores.

A contação de histórias partiu do princípio de que a narração de fatos reais ou

de ficção estimula a criatividade, a concentração e o autoconhecimento. O ouvir

histórias pode proporcionar à criança o imaginar, o sonhar, a possibilidade de

conhecer culturas diversas etc. Além disso, a narração de histórias pode incentivar e

despertar o gosto pela leitura, embora isso nem sempre seja alcançado.

Este trabalho foi desenvolvido a partir das observações realizadas num

campo de estágio, na Educação Infantil, onde foi possível identificar que as crianças

ficavam atentas quando a professora contava uma história e a relacionava com

algumas atividades. Diante de tais observações, percebeu-se a importância de

ampliar os momentos da contação de histórias da Literatura Infantil, já que eram

momentos significativos para as crianças.

A contação pode complementar várias disciplinas e também utilizar outras

artes como a música, a dança, a poesia, a declamação, a mímica, as artes plásticas,

entre outras. Não existem regras fixas. Cada um determina a sua maneira de narrar.

Neste estudo, inicialmente será apresentada a justificativa, na qual serão

evidenciados os diálogos e reflexões acerca da importância da contação de histórias

na Educação Infantil, juntamente com os objetivos.

Em seguida está exposto o desenvolvimento, que traz no referencial teórico

discussões e pesquisas realizadas sobre a infância, a expressão da arte, a literatura

infantil, as muitas formas de contar histórias e a professora contadora de histórias

em sala de aula, para demonstrar a importância da temática e dar subsídios à

análise dos dados obtidos por meio deste estudo, que tem como questão

norteadora: “Como ocorre a vivência da contação de histórias na Educação Infantil?”

Na sequência, apresentarei os procedimentos metodológicos, a apresentação

e análise dos dados, finalizando com as considerações finais.

8

1.1 JUSTIFICATIVA

Partindo das observações de estágio na Educação Infantil, percebi que as

crianças permaneciam atentas quando a professora contava uma história e a

relacionava com as atividades. Portanto, este foi o ponto de partida para a escolha

do tema deste trabalho.

A partir das observações vivenciei, juntamente com as crianças, experiências

significativas por meio da contação de histórias infantis, com a finalidade de

proporcionar a ludicidade, respeitando a infância. Contudo, percebi que a contação

de histórias poderia ir além do lúdico, pois possibilita as mais diversas linguagens e

formas de expressão, podendo ser narrada através da música, teatro, dança,

filmes/desenhos animados, entre outros. Por isso, a importância da sua inserção em

sala.

Durante uma das observações ficou perceptível tal importância:

[...] V. com um livro na mão, se aproximou de mim:

V. (entregando-o) – Conta “pá” mim?

– Conto sim (respondi-lhe).

Então, iniciei a contação de história, porém, de forma “diferente” da escrita. E

algumas crianças, observando-me contar, se aproximaram e escutaram com

atenção. Ao terminar, V. segurou o livro e disse que contaria também. De repente,

se aproximou o menino L. que colocou um vestido por cima de sua roupa. Trajado,

ele ficou próximo das outras crianças escutando a história. Terminando a mesma,

elas pegaram vários livros e caminharam pela sala (DIÁRIO DE CAMPO – Estágio

Curricular em Educação Infantil: 22/04/2010).

Segundo Abramovich (1997, p. 17), “é através de uma história que se pode

descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras,

outra ética, outra ótica [...]”. Nessa mesma perspectiva Vigotski (1998) afirma que a

partir de uma história simples com objetos figurativos, as crianças podem lê-la

facilmente, da sua maneira, através da familiaridade que possuem com estes

objetos, que poderiam representar as personagens, por exemplo.

Ao desenvolver a temática “Literatura Infantil: contando e vivenciando

histórias”, pretendo fazer com que os leitores deste trabalho compreendam o papel

da contação de histórias na Educação Infantil, na qual pode-se incentivar as

crianças ao hábito da leitura, propiciando a expressão da arte, da imaginação e da

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criatividade infantil em sala. Além disso, busquei identificar os motivos que levaram a

professora contadora de histórias a utilizar a literatura infantil em sua rotina de

classe.

Pode-se observar que as crianças

[...] vivem intensamente suas experiências, descobertas; que exploram os sentidos, os significados, as cores, a água, a terra, o fogo; que desejam tocar, mexer, desmanchar o que já estava feito; que fazem e refazem muitas e muitas vezes a mesma coisa; que significam e resignificam o mundo à sua moda; que correm, pulam, andam, sobem, descem, escorregam, se escondem embaixo da mesa, das cadeiras, contam e recontam a mesma história [...] vivem diferentes papéis: de mãe, pai, avô, avó, médico, aviador, motorista, professor; que criam e recriam um mundo de fantasia e imaginação, pintam a realidade, desenham o mundo, brincam de faz-de-conta [...] (BATISTA, 2008, p. 61-62).

Na Educação Infantil, a narração de histórias além de proporcionar à criança

a possibilidade de aprender a escutar, pode fazer com que a mesma vivencie e

participe desta, de forma ativa. Portanto, deve-se privilegiar a narrativa, as histórias

e a conversação, apoiadas na diversificação do repertório literário e poético.

Dessa maneira, esse estudo teve os seguintes objetivos:

-Analisar a vivência da contação de histórias na Educação Infantil.

-Investigar como a professora oportuniza, a partir da literatura infantil e

contação de histórias, a expressão da arte, da imaginação e da criatividade infantil

em sala.

-Verificar se há e como ocorre o incentivo às crianças ao hábito da leitura.

-Identificar os motivos que levaram a professora contadora de histórias a

utilizar a literatura infantil em sua rotina pedagógica.

Assim, ao observar o comportamento das crianças durante a contação de

histórias, acredito cumprir o que trago como objetivos, analisando e destacando a

vivência e o incentivo da literatura infantil no que se refere ao hábito da leitura, bem

como os motivos que levam a professora contadora de histórias a utilizá-la em sua

rotina de classe.

Portanto, essa pesquisa torna-se relevante para que se evidencie a

importância da brincadeira e da literatura na Educação Infantil. Além disso, para que

os professores percebam que necessitam de paixão e atualização constante em seu

fazer pedagógico.

10

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1.1 Infância

É importante considerar a criança como um sujeito cultural de direitos e

produtora de cultura, ou seja, que ressignifica a mesma. Sarmento (2004, p. 10)

afirma, que

[...] as crianças são também seres sociais e, como tais, distribuem-se pelos diversos modos de estratificação social: a classe social, a etnia a que pertencem, a raça, o gênero, a região do globo onde vivem. Os diferentes espaços estruturais diferenciam profundamente as crianças.

A cultura em si constitui-se pela diversidade de sentidos e significados de um

povo, de acordo com a classe social, a religiosidade, a etnia, o gênero, entre outros

fatores. Portanto, por haver diferentes culturas, cabe a cada cidadão compreender a

cultura do outro, que por vezes é um desafio. Há também as culturas infantis que

são diferenciadas por terem características muito próprias.

Coutinho (2002) afirma que ao observar as crianças é possível perceber que

criam possibilidades de contatos, expressões e experimentações, nos quais se

diferenciam dos adultos. E, além disso, para os pequenos a realidade e a fantasia –

o mundo imaginário, o faz-de-conta – caminham juntos.

Com isso, identifica-se que as crianças não só imitam os adultos, mas a partir

do contexto de vida em que estão inseridas e seus saberes, criam suas próprias

culturas. Portanto, cabe salientar que não há infância, mas infâncias, pois esta não é

homogênea, mas heterogênea. Sendo assim, observa-se uma diversidade cultural

entre as crianças, transparecendo em suas atitudes, brincadeiras, diálogos, entre

outros.

É importante ressaltar que a concepção de infância muda conforme a

transformação da sociedade. Atualmente a criança é um sujeito de direitos e

participa ativamente da sociedade em que vive, criando sua própria cultura.

11

Outra questão pertinente à infância é a brincadeira. Portanto, torna-se

extremamente necessário considerá-la como importante para o desenvolvimento de

qualquer criança, pois é parte integrante da infância. A partir da brincadeira, tanto o

educador pode criar situações lúdicas na instituição de Educação Infantil, como

também deixar meninas e meninos produzirem suas próprias brincadeiras e regras.

Para Cunha (2001, p. 14), “brincar desenvolve as habilidades da criança de

forma natural, pois brincando aprende a socializar-se com outras crianças,

desenvolve a motricidade, a mente, a criatividade, sem cobrança ou medo, mas sim

com prazer”. Ser criança é poder criar, (re)criar e viver no faz-de-conta. Na

brincadeira, a criança aprende, mas também nos ensina seus modos de ser e de

estar no mundo.

Vigotski (1998, p. 136), por sua vez, ressalta que

[...] para uma criança com menos de três anos de idade o brinquedo é um jogo sério, assim como o é para um adolescente, embora, é claro, num sentido diferente da palavra; para uma criança muito pequena, brinquedo sério significa que ela brinca sem separar a situação imaginária da situação real. Para uma criança em idade escolar, o brinquedo torna-se uma forma de atividade mais limitada, predominantemente do tipo atlético, que preenche um papel específico em seu desenvolvimento, e que não tem o mesmo significado do brinquedo para uma criança em idade pré-escolar. Na idade escolar, o brinquedo não desaparece, mas permeia a atitude em relação à realidade.

Em consonância, Sarmento (1997, p. 12) afirma que

A ludicidade constitui um traço fundamental das culturas infantis. Brincar não é exclusivo das crianças, é próprio do homem e uma das actividades sociais mais significativas. [...] Contrariamente aos adultos, entre brincar e fazer coisas sérias não há distinção, sendo o brincar muito do que as crianças fazem de mais sério.

Além disso, outras características da infância são: o faz-de-conta, a

diversidade cultural e as múltiplas linguagens, que segundo Coutinho (2002)

representam os modos de as crianças se relacionarem. Através das linguagens é

possível que ocorra a troca de experiências, histórias de vida, desejos, sonhos e

sentimentos, possibilitando diversas maneiras de expressão para as crianças.

12

Nesse sentido, conforme Vigotski (1998, p. 146):

[...] um objeto adquire uma função de signo, com uma história própria ao longo do desenvolvimento, tornando-se [...] independente dos gestos das crianças. Isso representa um simbolismo de segunda ordem e, como ele se desenvolve no brinquedo, consideramos a brincadeira do faz-de-conta como um dos grandes contribuidores para o desenvolvimento da linguagem escrita – que é um sistema de simbolismo de segunda ordem.

Não podemos considerar que os adultos não vivenciem a brincadeira, pois

ocorre de forma diferente da criança. Como afirma Fantin (2000, p. 53), “quando

brinca, a criança cria uma situação imaginária que surge a partir do conhecimento

que possui do mundo em que os adultos agem e no qual precisa aprender a viver.”

O brincar e o faz-de-conta podem acontecer em qualquer lugar e em diversas

situações.

2.1.2 Expressão da arte

Inicialmente, cabe salientar a importância de as crianças desenvolverem suas

habilidades e potencialidades, através das atividades artísticas. Pois é uma forma

delas terem o contato com a arte e poderem se expressar. Segundo Read (1986, p.

29):

Sabemos que uma criança absorvida num desenho ou em outra atividade criativa qualquer é uma criança feliz. Sabemos, pela simples experiência diária, que auto-expressão é autodesenvolvimento. Por essa razão é nosso dever reivindicar uma grande parcela do tempo da criança para as atividades artísticas [...].

As atividades artísticas, além de possibilitarem uma aproximação com a arte,

e através desta se expressar, fazem com que a criança utilize sua imaginação e

criatividade, por meio da qual cria, transforma, constrói e desconstrói, uma ou várias

vezes, o quanto for necessário, um desenho, uma pintura, entre outros.

13

Como afirma Simões (2000, p. 24):

Por suas atividades diárias, a criança tem contato com o real, com os outros. Ao mesmo tempo, sua imaginação se desenvolve, pois ela toma consciência de seus limites, vive conflitos, experimenta emoções contraditórias e tem muitas dúvidas que não consegue esclarecer. Para tentar resolvê-las e dominar suas angústias, impulsionada por sua curiosidade, ela procura sonhar, imaginar. E, se conseguir canalizar esse mundo imaginário em ações no mundo real, ela desenvolve a capacidade de criação.

Portanto, não deve ser feito para uma criança aquilo que seja capaz de fazer

sozinha. Por exemplo: se é proposto que se faça um desenho através de uma

história que foi contada e um educando pede para o educador fazer, pois afirma que

não sabe desenhar tal coisa, este último deve incentivá-lo, mas não realizar por ele.

Em momentos como este é fundamental instigar a criança a tentar. E é

exatamente nesse sentido que Camargo (2010) nos chama a atenção, pois a

vivência deste processo é uma das fases mais importantes da arte, em que a

criança expressa através do desenho sua criatividade e imaginação sobre o que lhe

foi proposto. Ao longo do tempo, irá perceber que sua dedicação interfere no

resultado, aprendendo a anteceder gratificações e também a suportar frustrações –

já que nem tudo sai perfeitamente como planejamos.

A expressão da arte pode ser desenvolvida através de diversas formas,

como: música, dança, teatro, literatura, desenhos, pinturas etc. Através do espaço

educativo formal, a escola, a maioria das crianças e adolescentes tem o acesso à

arte. Por isso, como afirma Barbosa (1991, p. 6) “precisamos levar a arte que hoje

está circunscrita a um mundo socialmente limitado a se expandir, tornando-se

patrimônio da maioria e elevando o nível de qualidade de vida da população”.

Todavia, é necessário salientar que não é somente a escola que possibilita o

acesso dos educandos à arte, ou seja, ela é a expressão da cultura popular, na qual

as pessoas estão em constante contato. Porém, a ideia anteriormente desenvolvida

quer mostrar a importância que a arte possui dentro do âmbito educacional. Por isso,

é fundamental desenvolvê-la neste espaço de aprendizagem.

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2.1.3 Literatura infantil

A primeira infância é um excelente momento para inserir a literatura infantil na

vida das crianças, pois além de estarem em contato com as palavras e sons, as

histórias despertam a curiosidade e a imaginação. Nos livros, a beleza dos contos

não está somente no texto, mas também nas ilustrações que dão vida e movimento

às histórias.

Segundo Pires (2009, p. 85-86):

[...] as pessoas sempre manifestaram interesse em narrar. Apreciam filmes, novelas de televisão ou romances porque, fundamentalmente, esses gêneros contam uma história. [...] Várias condições podem propiciar esse interesse particular que possuímos pelas histórias. Em primeiro lugar, o fato de a própria vida poder ser entendida como uma história – sucessão de acontecimentos e emoções. Um outro motivo, que talvez justifique essa paixão, é a identificação com os sentimentos dos personagens.

A literatura infantil, além de interessar às crianças, torna o mundo e a vida

compreensíveis. Revela novos e diferentes mundos e vidas, possibilitando

alternativas de prazer, encantamentos, descobertas e sentimentos variados. Além

disso, possui valores formativos para o desenvolvimento da criança, podendo

contribuir para o amadurecimento emocional, já que as histórias possuem amplos

gêneros textuais.

De acordo com Simões (2000, p. 23-24):

Especialmente os contos de fada que tratam de assuntos existenciais, como morte de progenitores, perigos, o mal e o bem etc. Eles colocam dilemas existenciais de forma simples e categórica, o que possibilita à criança experienciar o problema de forma mais essencial e trabalhar suas angústias com mais nitidez. [...] Lidando com problemas humanos universais, particularmente os que preocupam o pensamento da criança, estas histórias [...] encorajam seu desenvolvimento, enquanto ao mesmo tempo aliviam as pressões.

As histórias literárias possibilitam também o acesso ao riquíssimo conjunto de

diversificados contos que constituem a cultura de nossas sociedades. Desta forma,

contribuem para o desenvolvimento linguístico através da compreensão,

interpretação e construção de sentidos.

As crianças estão em constante contato com a fala, seja somente ouvindo as

pessoas, ou participando das conversas. Por isso, de acordo com Simões (2000), é

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através do meio cultural, social, de interação com o outro, que são despertados

processos internos para o desenvolvimento linguístico. Ainda, é o contato, a

participação da criança com o meio, que contribui para a construção do

conhecimento e o desenvolvimento da linguagem.

As narrativas e dramatizações possibilitam que as crianças entrem no mundo

do faz-de-conta, da fantasia, dos encantos e da criatividade, vivenciando e

experimentando novas histórias e papéis sociais. Abramovich (1997, p. 23) afirma

que “o ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar,

o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a

mesma história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum texto!”

Ler um livro para uma criança é algo simples que pode despertar desde cedo

o gosto pela leitura e pelo conhecimento. Porém, deve ser algo prazeroso que

ensina a sonhar, a pensar, a refletir e até mesmo, um dia quem sabe, a ser capaz de

escrever a sua própria história. Segundo Kramer (1993, p. 196) “[...] o saber abrange

a dimensão científica, mas abrange igualmente a produção cultural, a literatura, a

poesia, a arte em geral e a arte presente no cotidiano. O saber engloba a dimensão

artística”.

Os contos proporcionam às crianças um novo mundo, em que tudo é

possível. A imaginação e o sonho são as principais características, e fazem parte

das vivências de novas histórias. Nesse sentido, Pires (2009) chama a atenção para

as histórias, como essenciais da imaginação humana, pois na vida real os

acontecimentos ocorrem de maneira habitual. Todavia, nas histórias tudo é possível,

ou seja, não existem barreiras entre fantasia e realidade.

2.1.3.1 Muitas formas de contar histórias

As histórias infantis nos permitem explorar outros modos de se contar uma

história: narrada, cantada ou teatral, na qual uma mesma história pode ser

(re)contada de várias maneiras, revivendo-a de outra forma.

16

De acordo com Simões (2000, p. 24):

Os desenhos, as narrativas, enfim, são maneiras de agir para dominar as emoções; as explosões de sonhos e imagens são dirigidas então para a criação. Portanto, a criança deve conseguir alimentar seu imaginário e expressá-lo. Desenvolver a função simbólica por meio de textos, imagens e sons é uma forma de sustentá-lo.

Deste modo, o desenho animado pode ser utilizado não só como uma forma

diferente de se contar uma história, mas também com outras finalidades. Outra

forma de se contar uma história, por exemplo, é através da música, que serve tanto

para um momento de relaxamento, acalmando as crianças, como também para

explorar a musicalidade infantil. Observa-se que,

O caráter lúdico da música lhe é inerente; as crianças, historicamente, sempre se aproximaram da música. Da canção de ninar e do chocalho ao primeiro CD pedido de presente, a vida da criança, em diferentes contextos sociais, é marcada pela convivência com esta linguagem artística, talvez a mais presente delas. [...] Muitas vezes, essa música se materializa em uma brincadeira, isto é, deixa de ser pano de fundo sonoro e passa a ser parte integrante do brincar (NOGUEIRA, 2000, p. 1 apud OLIVEIRA, 2001, p. 69).

Por isso, as cantigas podem ser utilizadas não apenas como uma forma de

explorar as múltiplas linguagens, mas também como algo significativo para as

crianças, que muitas vezes as transformam em brincadeira. Além disso, há a

possibilidade de elas terem um contato maior junto às histórias musicais, com as

personagens da música em dedoche, fantoche, entre outras, ou confeccionando-as.

Vivenciar uma história é algo fantástico para qualquer criança. Portanto, cabe

ao educador diversificar as formas de narrar um conto, possibilitando diferentes

momentos e oportunizando a vivência das histórias infantis. Porém, como afirma

Lucas; Caldin e Silva (2006, p. 401):

O texto escrito permite, entretanto, certa flexibilidade [...]: pode ser lido, contado ou dramatizado. A leitura destaca o estilo do autor, concede primazia a uma linguagem mais elaborada, diferente da linguagem do cotidiano, permite [...] que o leitor sinta-se livre para inferir sentidos de acordo com a interpretação que lhe apraz. O narrar, mesmo baseando-se em um texto escrito, privilegia a memorização, a gestualidade, a performance, a modulação da voz, o ritmo e a autoridade da voz. [...] O dramatizar, isto é, a arte de representar, não prescinde do texto literário. O teatro traduz em palavras o que estava escrito. As personagens falam e agem conforme o texto que o autor montou, pois, para passarem a mensagem do poeta, necessitam do enredo.

17

Sempre que possível, deve-se propiciar às crianças o contato com as

personagens, seja de um livro, música, etc., tornando esses momentos mais

prazerosos e significativos. Afinal, nada melhor do que poder tocá-los e senti-los.

Como afirma Simões (2000), a contação de histórias para os pequenos é

comum, tanto no âmbito familiar como no escolar, ocorrendo de maneira habitual, já

que a criança geralmente se interessa por elas. Além disso, as histórias contribuem

no desempenho dos processos de aquisição e desenvolvimento linguístico, sendo

utilizadas geralmente pelos contadores – pais e professores – como um meio de

lazer e diversão, distração ou até mesmo pedagógico.

Desde muito cedo as crianças estão inseridas no mundo das mais

diversificadas informações, tentando compreendê-las. Conforme Ferreiro (2010, p.

96-97):

a) a informações que recebem dos próprios textos, nos contextos em que aparecem (livros e jornais, [...] roupas, TV etc.);

b) informação específica destinada a elas mesmas, como quando alguém lhes lê uma história [...];

c) informação obtida quando participa de atos sociais que envolvam o ato de ler ou de escrever. [...] Vejamos alguns exemplos:

• alguém consulta o jornal [...] está informando à criança [...] que a escrita serve para transmitir informação;

• alguém consulta uma agenda [...] indiretamente a criança inteira-se de outra das funções essenciais da escrita: [...] serve para expandir a memória, e que a leitura permite recuperar uma informação esquecida;

• recebe-se uma carta de um familiar, lê-se e comenta-se [...] informa-se à criança que a escrita permite a comunicação a distância.

Analisando o papel da contação de histórias na Educação Infantil, constata-se

que a literatura infantil está inserida em duas áreas: arte e pedagogia. A primeira,

porque pode desenvolver o gosto pela leitura através da diversão, fantasia e

imaginação expressas nos livros. E, a outra, porque faz parte da formação de

leitores e futuros leitores.

Portanto, cabe aqui ressaltar que ambas precisam ser levadas em

consideração, ou melhor, devem “andar” juntas. Porém, surge uma questão: o

cuidado que se deve ter com as práticas escolarizantes, pois se trata da Educação

Infantil.

18

De acordo com Soares (2002, p. 1), observa-se que,

O livro usado didaticamente em sala de aula – essa é uma expressão a respeito da qual convém pensar um pouco. Estamos falando do livro que é o livro que não é didático, que não foi feito para a escola. É o livro que é usado fora das paredes da escola, que serve a uma prática social de leitura e que é levado para a sala de aula. Sem dúvida isso tem de ocorrer, deve ocorrer, apenas é necessário que estes livros sejam trabalhados de maneira adequada. [...] Então, esse livro não-didático, trazido para a sala de aula, é um livro que é escolarizado, mas o que se deseja é que seja bem escolarizado. Que essa escolarização não mate as características básicas da prática social de leitura.

Tendo como foco a literatura infantil na Educação Infantil e utilizando livros

como recursos didáticos – conhecimento da leitura e da escrita – cabe planejar a

utilização dos mesmos cautelosamente para não ser confundida ou vista como uma

prática preparatória para o ensino fundamental, uma antecipação da escolarização.

Porém, como afirma Ferreiro (2010, p. 98-99):

A pré-escola deveria permitir a todas as crianças a liberdade de experimentar os sinais escritos, num ambiente rico em escritas diversas, ou seja: escutar alguém lendo em voz alta e ver os adultos escrevendo; tentar escrever (sem estar necessariamente copiando um modelo); tentar ler utilizando dados conceituais, assim como reconhecendo semelhanças e diferenças nas séries de letras; brincar com a linguagem para descobrir semelhanças e diferenças sonoras. [...] Um ato de leitura é um ato mágico. Alguém pode rir ou chorar enquanto lê em silêncio, e não está louco. Alguém vê formas esquisitas na página, e de sua boca “sai linguagem”: uma linguagem que não é a de todos os dias, uma linguagem que tem outras palavras e que se organiza de uma outra forma. [...] Em vez de nos perguntarmos se “devemos ou não devemos ensinar”, temos de nos preocupar em DAR ÀS CRIANÇAS OCASIÕES DE APRENDER.

Um dos objetivos deste trabalho se refere à contribuição da literatura infantil

no incentivo ao hábito da leitura para as crianças, que tem como princípio a

formação de futuros leitores podendo, sim, auxiliá-las quando iniciarem o Ensino

Fundamental. Entretanto, este não é o foco, nem mesmo a questão a ser

privilegiada. Porém, isso pode ocorrer de forma natural – a criança se interessa pelo

livro para conhecer a leitura, mesmo através das imagens, e a escrita – sem ser

forçada. E, neste último caso, não é considerado como antecipação da

escolarização.

19

2.1.4 A professora contadora de histórias

Inicialmente, a criança ao ouvir uma história sente prazer, pois além de

conhecer valores, modos de ser e viver, se encanta com um mundo em que tudo é

possível. De uma cor faz o colorido, da alegria faz uma festa, e tudo aquilo que se

possa imaginar.

Segundo Pires (2009, p. 87):

Ao tomarmos um livro para leitura, por vezes, é de fácil percepção os efeitos de verdade que as representações contidas nele produzem. Tais significados se estabelecem por meio de relações sociais experimentadas no dia-a-dia e registradas na literatura, contribuindo desta forma para um constante ir e vir, reconhecendo que as histórias infantis produzem e são produzidas pela cultura. Nesse sentido, acredito que as narrativas e as histórias são formas de conhecermos pessoas, de nos localizarmos no tempo, de atribuirmos conceitos, de legitimarmos comportamentos; não são interpretáveis por si sós. Elas pertencem a um contexto e “carregam” consigo histórias anteriores.

Rubem Alves (2009, p. 62) consegue nos relatar e nos fazer pensar sobre a

importância do professor contador de histórias, dialogando sobre sua experiência

com a literatura quando era garoto:

Aprendi a ler. Mas isso não bastava. Faltava-me o domínio da técnica que faz da leitura algo suave como o vôo de um urubu ou deslizante como um patim no gelo. Foi D. Iva – não sei se ela ainda vive – quem me ensinou que ler pode ser delicioso como voar ou como patinar. Ela lia para nós. Não era para aprender nada. Não havia provas sobre os livros lidos. Ela lia para que tivéssemos o prazer dos livros. Era pura alegria. [...] Ninguém faltava, ninguém piscava. A voz de D. Iva nos introduzia num mundo encantado. O tempo passava rápido demais. Era com tristeza que víamos a professora fechar o livro.

Cabe então, salientar o papel fundamental que o professor contador de

histórias possui junto às histórias infantis, para que os ouvintes – neste caso, as

crianças – tenham o contato com a leitura e a escrita de um livro. De acordo com

Simões (2000, p. 26):

20

[...] nos momentos de leitura, o educador deve sempre procurar ser literal e dar certo caráter interpretativo à sua leitura, usando variações de entonação [...] de forma clara e agradável. [...] O educador deve procurar agir como elemento incentivador do interesse das crianças pelo enredo, comportando-se não somente como leitor (mediador) das histórias mas, também, demonstrando entusiasmo e curiosidade, como mais um ouvinte – participante no mundo do imaginário. Essa postura deve ser reforçada particularmente quando escutar as posteriores “leituras” que as crianças fazem das histórias lidas.

Portanto, em momentos como esse, o adulto pode dramatizar a voz das

personagens, lendo alguns trechos, contando outros e até mesmo inventando,

chamando a atenção para as imagens. Assim, as crianças podem vivenciar a escuta

das histórias juntamente com o leitor, que proporciona a interação através de jogos

verbais como: “Cadê?”, “Quem é?”, “O quê?”, “Como?” etc., na medida em que a

narrativa acontece.

Por esse e outros motivos, é necessário que cada vez mais os educadores

sejam estimulados, conforme Rojas (2010, p. 3), por:

[...] esse gosto pela descoberta dos livros e do mundo encantado que se esconde entre suas páginas, além de mostrar que ler não tem nada a ver com alfabetização precoce, mas sim com a descoberta de mundos e prazeres essenciais para o desenvolvimento saudável de ser humano. A ideia não é apresentar a leitura como ferramenta para aprender, mas como algo lúdico e capaz de encantar e divertir – a aprendizagem, nesse caso, passa a ser um delicioso efeito colateral!

Mas o trabalho do professor vai muito além do desenvolvimento e contação

de histórias na Educação Infantil. Nesse sentido, ele precisa de formação constante

para aprimorar o seu trabalho pedagógico. De acordo com Perrenoud (2000, p 14), o

movimento da profissão requer as competências que seguem:

1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem. 2. Administrar a progressão das aprendizagens. 3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação. 4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho. 5. Trabalhar em equipe. 6. Participar da administração da escola. 7. Informar e envolver os pais. 8. Utilizar novas tecnologias. 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. 10. Administrar sua própria formação contínua.

Tais competências profissionais desenvolvem-se durante a formação no

cotidiano, de uma experiência a outra. Entretanto, o planejamento das aulas não

21

está entre as competências escolhidas por duas razões, que de acordo com o autor

(Ibid, p. 19) são: “o desejo de desarticular a representação comum do ensino como

“sequência de lições”; a vontade de englobar as aulas em uma categoria mais vasta

(organizar e dirigir situações de aprendizagem)”.

Planejar tornou-se um hábito, uma rotina que requer do educador um olhar

atento à sua prática pedagógica, aos objetivos traçados e, principalmente, às

crianças e/ou alunos.

Na literatura infantil, como afirma Pires (2009), os livros carregam e

possibilitam uma série de significados e diferentes interpretações. Além disso, ao

mesmo tempo em que as obras justificam comportamentos, modos de agir, de vestir

etc., também expõem variadas maneiras de o indivíduo se constituir, propiciando

outras formas de representações.

Deste modo, é possível que as crianças passem do papel de meramente

ouvintes para participantes, ou seja, o de leitores, sendo que aos poucos terão a

capacidade de “ocupar” esse lugar, baseando-se nas ilustrações e no auxílio de uma

pessoa mais experiente. E, com isso, são incentivadas e motivadas ao hábito da

leitura.

O professor, ciente dos benefícios encontrados ao trabalhar com a literatura

infantil, precisa utilizar as competências citadas por Perrenoud (2000), para junto

com políticas públicas destinadas ao ensino, conseguir desenvolver um trabalho

pedagógico que dê subsídios para a formação para cidadania de suas crianças e/ou

alunos.

2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Inicialmente, a pesquisa foi desenvolvida através do estudo bibliográfico, que,

segundo Severino (2007, p. 122), “[...] se realiza a partir do registro disponível,

decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos,

teses etc.”

O trabalho propôs a realização de uma pesquisa básica do ponto de vista da

sua natureza, que “objetiva produzir conhecimentos novos, úteis para o avanço da

ciência sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais”

(GIL, 1999 apud SILVA e KARKOTLI, 2011, p. 10).

22

Quanto à abordagem do problema, a pesquisa é qualitativa, que de acordo

com os autores (Ibid, p. 10):

considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento chave.

Realizou-se uma pesquisa de campo, referente à observações e perguntas –

questionário – para a professora contadora de histórias, acerca de informações

sobre a literatura infantil e sua importância no desenvolvimento das crianças.

Segundo Severino (2007, p. 123), na pesquisa de campo,

[…] o objeto/fonte é abordado em seu meio ambiente próprio. A coleta de dados é feita nas condições naturais em que os fenômenos ocorrem, sendo assim diretamente observados, sem intervenção e manuseio por parte do pesquisador. Abrange desde os levantamentos […] que são mais descritivos, até estudos mais analíticos.

Referente aos objetivos a pesquisa é explicativa observacional, que identifica:

[...] os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos acontecimentos. Caracteriza-se pela utilização do método experimental (nas ciências físicas ou naturais) e observacional (nas ciências sociais). [...] Método adequado para pesquisas que procuram estudar a influência de determinados fatores na determinação de ocorrência de fatos ou situações (GIL, 1996; DENCKER, 2000 apud SILVA e KARKOTLI, 2011, p. 11).

De acordo com os procedimentos técnicos, esta pesquisa é participante, que

segundo Severino (2007, p. 120):

É aquela em que o pesquisador, para realizar a observação dos fenômenos, compartilha a vivência dos sujeitos pesquisados, participando, de forma sistemática e permanente, ao longo do tempo da pesquisa, das suas atividades. O pesquisador coloca-se numa postura de identificação com os pesquisados. Passa a interagir com eles em todas as situações, acompanhando todas as ações praticadas pelos sujeitos. Observando as manifestações dos sujeitos e as situações vividas, vai registrando descritivamente todos os elementos observados bem como as análises e considerações que fizer ao longo dessa participação.

A coleta de dados foi realizada durante os períodos de março e abril de 2010

e abril de 2011, em duas instituições de Educação Infantil, da rede municipal de São

23

José e Palhoça, nas quais observei durante doze encontros, o comportamento das

crianças durante a contação de histórias, através da técnica de observação.

Terminadas as observações foi aplicado um questionário com a professora

contadora de histórias.

O questionário é uma das técnicas de pesquisa, consistindo em um “conjunto

de questões, sistematicamente articuladas, que se destinam a levantar informações

escritas por parte dos sujeitos pesquisados, com vistas a conhecer a opinião dos

mesmos sobre os assuntos em estudo” (Ibid, p. 125).

Fiz a análise das observações, juntamente com o questionário, identificando o

alcance dos objetivos.

2.3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

As observações foram desenvolvidas na sala de aula de uma professora e

uma auxiliar que trabalhavam juntas em duas instituições diferentes de Educação

Infantil, da rede municipal de São José e Palhoça.

A prática da contação de histórias da professora foi acompanhada numa

sequência de doze observações em dois períodos distintos: este ano, as seis

observações foram feitas durante todos os dias da semana; já em 2010, ocorreram

em mesmo número, uma vez por semana. Todas elas foram registradas para retirar

destes documentos informações para o posterior relato da coleta de dados e análise.

Na fase de exploração dos registros das observações e do questionário fiz a

codificação das unidades de registro. Este processo contou com a numeração, com

dois algarismos, dos parágrafos das observações semanais, sendo o primeiro

relativo ao número da observação e o segundo, ao parágrafo da determinada

observação.

Para responder às questões de pesquisa foram encontrados 41 fragmentos

nas unidades de registro.

Na sequência faço o relato dos fragmentos das doze observações e do

questionário, registrados ao longo das semanas com as crianças e professora

contadora de histórias:

24

(1.1) Quando cheguei, sentei no fundo da sala em cima de um colchão e logo

se aproximou um garotinho – que vestia uma capa vermelha – então perguntei o seu

nome e ele falou que se chamava Super-homem [...].

(1.5) [...] Durante o filme, algumas crianças ficaram brincando, mostrando falta

de interesse e outras imitaram os patinhos que voavam durante a história.

(1.6) Após, foi feita uma atividade no caderno de desenho com cola colorida,

sendo que cada criança escolheu três cores diferentes. As professoras auxiliaram-

nas a fazerem os pingos na folha do caderno – que foi dobrada ao meio – e as

crianças passaram a mão em cima para depois abrirem, sendo formada uma figura a

que elas deram o nome [...].

(2.3) Após, foi proposta uma atividade denominada “A Vaca no Telhado” –

história contada no dia anterior – que é um desenho feito pelas professoras no papel

pardo, que as crianças coloriram com tinta guache. Inclusive, a professora perguntou

qual a cor com que queriam pintar a vaca, e todas escolheram rosa [...].

(3.4) Às 8h55min a professora iniciou a história “Bem-te-vi” e perguntou se as

crianças sabiam as cores daquele pássaro. Todas responderam conforme estava na

ilustração do livro. Então, ela começou a cantar uma música, e P. cantou a sua,

sendo aplaudido pelas outras crianças.

(3.5) [...] Três crianças pediram à auxiliar que fizesse pipas com sacolas

plásticas e barbantes, para soltarem pelo parque. A pipa de F. tornou-se um bolo,

pois ele encheu a sacola de areia.

(3.6) [...] Iniciou o clipe musical do Patati & Patatá com o tema árvore – em

que apareceu muita natureza e passarinhos – e C. imitou os pássaros com as mãos;

outra criança dançou o tempo todo. Terminando o clipe, a professora perguntou

novamente: “o que está faltando na árvore?” e P. disse que é a terra. Então, ela

perguntou: “e, além disso?” A mesma criança respondeu: “a graminha”.

(3.7) Ainda na sala de vídeo, começou outro clipe – sobre o banho – e R.

encenou como se estivesse no chuveiro. As crianças continuaram assistindo esse

mesmo DVD, e logo após foi colocado outro, que é da Turma da Mônica [...].

(4.1) Quando cheguei, a professora conversou comigo e disse que as

crianças iriam à escola de Oleiros. Foi perceptível que elas estavam contentes e

ansiosas para o passeio. Para acalmá-las, a auxiliar cantou uma música enquanto

aguardavam o transporte e, logo em seguida, cada criança pegou um livro de

história para se sentar.

25

(4.4) Depois, mostrou-lhes também como trabalhava com a argila e, a pedido

das crianças, fez dois vasos. Elas ficaram encantadas e com certeza a cena ficará

na memória de cada uma. Além disso, conheceram outros ambientes da escola –

mesmo esta sendo reduzida – e ainda tiveram a oportunidade de tocar na argila e

produzir por alguns instantes objetos, animais, etc [...].

(4.5) A visita à escola de Oleiros foi muito significativa: os olhos das crianças

brilharam, as expressões faciais mostraram muita alegria por estarem lá. Foi incrível

tudo o que vivenciaram neste dia, até porque por ser uma experiência nova e

também pelo fato de que tudo o que é novo desperta o imaginário, o pensar, a

criatividade. Enfim, foi um momento de prazer, de descobertas e, exatamente por

isso, deve-se aproveitar ao máximo momentos como esse.

(5.5) Minutos depois, a professora sentou no colchão e pediu para todas se

sentarem, pois havia iniciado a contação de uma história denominada “Silêncio”, que

traz na capa do livro o desenho de um leão. No início da história foi perceptível que

elas estavam atentas, entretanto, logo se dispersaram e começou a bagunça. Nesse

instante, a professora parou e falou seriamente: “hora de brincadeira é hora de

brincadeira e a hora de falar sério é hora de falar sério”. As crianças a escutaram

com atenção, e logo pararam de bagunçar.

(5.6) Terminando a história, a sala foi organizada e a professora conversou

com elas, para explicar a atividade que seria feita com argila, sendo que mostrou

novamente as imagens do livro [...].

(5.7) Inicialmente, todas bateram na argila em cima da mesa. Fizeram bichos,

objetos, entre outros, no palito. Neste instante:

P. (falou alto) – Eu tenho um “lião”.

E, a menina V. aproveitou e falou também:

V. – Fiz uma cobra.

(5.8) Em seguida, a auxiliar colocou o nome de cada criança em suas

respectivas produções. Terminando a atividade, foram lavar as mãos. Acostumadas

a brincar com massinha, ao fazer a atividade com argila foi possível observar que

elas se transformaram, até mesmo pelo fato de terem resgatado o dia em que foram

à escola de Oleiros. Seus olhos brilhavam, sua imaginação e criatividade iam muito

além. Produziram de tudo: tartaruga, tubarão, bonequinhos, vaso de flor, pizza,

churrasquinho no palito, entre tantas outras fantasias. Com isso foi perceptível a

expressão da arte.

26

(5.10) A mesa grande continuou fora da sala, e por isso alguns meninos

brincaram de carrinho em cima de dois bancos. Neste instante L., que estava

“dentro” da casa, pegou um telefone e fez de conta que ligou para alguém,

entretanto ela ligou e desligou o mesmo várias vezes. N. subiu no banco em que eu

estava sentada e imitou o Tarzan (V. também brincou no banco, porém, antes de

N.). Em seguida, V. com um livro na mão, se aproximou de mim:

V. (entregando-o) – Conta “pá” mim?

– Conto sim (respondi-lhe).

(5.11) Então, iniciei a contação de história, porém, de forma “diferente” da

escrita. E algumas crianças, observando-me contar, se aproximaram e escutaram

com atenção. Ao terminar, V. segurou o livro e disse que contaria também. De

repente, se aproximou o menino L., que colocou um vestido por cima de sua roupa.

Trajado, ele ficou próximo das outras crianças escutando a história. Terminando a

mesma, elas pegaram vários livros e caminharam pela sala.

(5.12) Ao contar a história que uma das crianças me pediu, possibilitei que a

mesma fosse (re)contada de forma diferente por uma delas, como ocorreu. A partir

daí, percebi o quão importante é a relação ensino/aprendizagem, mesmo tratando-

se da educação infantil, pois a professora juntamente com as crianças deve

estabelecer uma relação significativa, de cumplicidade, para instigá-las a participar

das propostas oferecidas, tentar, desafiar e acreditar que tudo é possível.

(5.13) A menina L. pegou uma cadeira juntamente com a tampa do lixeiro, e

fez de conta que andou de trem – outras duas crianças pegaram mais duas cadeiras

e colocaram uma atrás da outra, para brincar também.

(5.14) Às 10h20min a professora solicitou que organizassem a sala e, após,

pediu que se sentassem no colchão. Então, ela cantou a música “Tomatinho

Vermelho”, e todas cantaram juntas. Ao terminar, pegou um microfone de brinquedo

e perguntou-lhes quem queria cantar. Quatro crianças cantaram e foram aplaudidas

pelas outras, sendo que três delas relacionaram suas músicas com a cantada

anteriormente. Todavia, E. cantou “Atirei o Pau no Gato”.

(6.9) No momento em que a auxiliar colocou a música e me convidou a

dançar foi incrível a reação das crianças. Penso que, a princípio, elas não

esperavam que eu fosse dançar. Quando a música começou e também comecei a

dançar, elas riram, deram muitas gargalhadas. A partir daí, percebi o quão

importante é para elas que o educador participe das atividades propostas por ele

27

mesmo e das brincadeiras propostas pelas crianças. É uma relação que deve estar

presente em todos os momentos da educação infantil.

(6.10) Além de ser muito divertido para as crianças, torna-se muito mais para

quem participa, até porque sentimos que existe uma criança dentro de nós, que

nunca morre, pois é só (re)vivermos lembranças, brincadeiras, entre outras, que nos

tornamos criança novamente. É uma sensação prazerosa, rica, uma experiência

única que a gente jamais esquece.

(7.1) Inicialmente, a professora e a auxiliar conversaram com as crianças

sobre a minha presença naquela sala e apresentaram-me. Em seguida, foi servido o

lanche da manhã e, após fazerem a higiene bucal, a professora iniciou a contação

da história: “O Cachorro Peludo e a Terrível Coceira”.

(7.2) Algumas crianças sentaram nos pequenos sofás – que são seis – e as

outras no tapete. Como havia me sentado em um cantinho da sala, três delas

ficaram próximas a mim. Todas permaneceram em silêncio, ouvindo atentamente o

enredo e apreciaram as ilustrações.

(7.3) Durante a história, a professora fez algumas perguntas sobre o que

poderia acontecer, instigando a turma a participar e elaborar hipóteses do que

aconteceria. Neste instante, a menina V. comentou sobre o que acha que

acontecerá. Outra menina, L., que estava sentada próxima a mim, me chamou, e

falou que a coceira do cachorro é por causa da pulga.

(8.1) Após o lanche e a higiene bucal, as crianças fizeram a atividade da

pintura das máscaras de cachorro – da história “O Cachorro Peludo e a Terrível

Coceira” – que havia sido proposta no dia anterior. Cada uma pintou

individualmente, com cola colorida, sendo possível observar a criatividade e

imaginação. Todas as máscaras ficaram coloridas e diversificadas.

(8.2) Além disso, foi perceptível o quanto gostam de máscaras e de pintarem

com cola colorida. Algumas crianças dramatizaram o cachorro se queixando da

coceira, como havia ocorrido na história. Terminando a atividade, as professoras

recolhem-nas para secar. Ao final do dia, as crianças as levariam para suas casas.

(9.2) Ao retornarem para a sala e fazerem a higiene bucal, as crianças se

sentaram para aguardar a contação. Durante a espera, elas ficaram encantadas ao

observarem a caixa colorida, na qual foram despertadas a curiosidade e a

imaginação, sobre o que teria dentro dela.

28

(9.3) Iniciando a história “Cachinhos Dourados e os Três Ursos”, que foi

narrada oralmente sem a presença de um livro, algumas crianças contaram o que

poderia acontecer com as personagens. Com isso, a professora fez alguns jogos

verbais como: “quem é?”, “O quê?”, e “Cadê?”, para que elas participassem dando

palpites. Além disso, dramatizou a voz das personagens, propiciando gargalhadas,

emoções, encantamentos e sorrisos.

(9.4) Foi perceptível o brilho nos olhos das crianças e expressões de

felicidade. Após terminar a contação foi proposta uma atividade, na qual pintaram

com tinta guache os desenhos das personagens – mãe ursa, pai urso, filho urso e a

menina dos cachinhos dourados – da história contada.

(10.1) Inicialmente, as professoras organizaram o ambiente para a contação

da história “Os Três Porquinhos”. As crianças sentaram e permaneceram em

silêncio, atentas a tudo o que elas faziam. Então, instantes após iniciou-se a

dramatização.

(10.2) A história foi contada com as personagens em dedoche. Havia uma

caixa de sapato que representava o local – floresta – em que acontecia o enredo.

Durante a contação, todas as crianças participaram e interagiram entre si. Além

disso, opinaram muitas vezes sobre o que poderia acontecer.

(11.1) Neste dia, a auxiliar faltou, sendo que outra professora ficou no “seu

lugar”. Primeiramente, ela contou a história “Na Fazenda”, em que apareceram

vários animais. Com isso, foi possível perceber que as crianças foram despertadas,

e a curiosidade e o conhecimento foram expressos através dos olhares e falas.

(11.2) Em seguida, a professora da sala contou outra história: “Cachinhos

Dourados”. Durante a contação, as crianças ficaram o tempo todo fixadas nas

ilustrações e na professora, que dramatizou a voz das personagens. Dois meninos,

encantados com a história, não pararam de falar. Então, a professora conversou

com eles, pedindo que falassem baixo para a turma poder prestar atenção na

contação. No mesmo momento, silenciaram.

(11.3) Após o término, ela propôs uma atividade, sendo que a turma foi

dividida em três equipes, com quatro integrantes, na qual as crianças desenharam e

pintaram as personagens da história, em cartolinas. Circulando pelos grupos,

percebi o quão estimuladas estavam pela história. Algumas falaram: “Fiz um urso”,

“E eu fiz a família urso todinha”, “Ah! Olha a casinha que eu desenhei”, “Oh, a minha

floresta”.

29

(11.4) Com isso, foi possível identificar a imaginação, a criatividade e a

expressão da arte. E, além disso, foi perceptível o prazer que elas possuem de

poder se expressar através das falas e desenhos.

(12.1) Este foi o último encontro, de despedida, na qual a professora contou a

história de uma galinha que perdeu os seus seis ovos. E, como estávamos na

semana da páscoa, foi feito fondue com as crianças.

(12.3) Com isso, as crianças puderam vivenciar e observar de perto como é

feito fondue. Elas se divertiram, se lambuzaram, se deliciaram e experimentaram as

frutas com chocolate. Foi perceptível a admiração, a curiosidade e o encanto que

ficaram com a nova experiência.

(13.1) Estimular a criatividade, desenvolver o gosto pela leitura e escrita;

proporcionando momentos significativos.

(13.2) A literatura infantil enriquece o mundo imaginário da criança,

estimulando a imaginação, a criatividade, o faz de conta, bem como a possibilidade

de vivenciar situações inesperadas e surpreendentes.

(13.3) É possível que a criança inicie no mundo literário através da literatura

infantil, principalmente quando esta é utilizada como instrumento para a

sensibilização da consciência, para a expansão da capacidade, para transformar e

enriquecer seu potencial.

(13.4) Penso que a literatura infantil é parte fundamental na educação infantil,

através dela a criança vivencia, experimenta situações diversas.

* Reorganização das Unidades de Registro: Nesta etapa busquei dar

sentido às unidades de registro já relacionadas anteriormente, procurando responder

às Questões de Pesquisa, referentes aos objetivos deste trabalho:

QUESTÃO 1:

Como ocorre a vivência da contação de histórias na Educação Infantil?

Ao proporcionar às crianças um mundo em que tudo é possível, as histórias

despertam a imaginação e o sonho que são as principais características das

vivências de novas histórias. Vivenciá-las é algo fascinante para qualquer criança

(1.5, 3.4, 5.6).

30

Neste sentido, Rubem Alves (2009, p. 62), citado anteriormente, consegue

nos relatar e nos fazer pensar sobre a importância do professor contador de

histórias, dialogando sobre sua experiência com a literatura quando era garoto:

Aprendi a ler. Mas isso não bastava. Faltava-me o domínio da técnica que faz da leitura algo suave como o vôo de um urubu ou deslizante como um patim no gelo. Foi D. Iva – não sei se ela ainda vive – quem me ensinou que ler pode ser delicioso como voar ou como patinar. Ela lia para nós. Não era para aprender nada. Não havia provas sobre os livros lidos. Ela lia para que tivéssemos o prazer dos livros. Era pura alegria. [...] Ninguém faltava, ninguém piscava. A voz de D. Iva nos introduzia num mundo encantado. O tempo passava rápido demais. Era com tristeza que víamos a professora fechar o livro.

Cabe ao educador diversificar as formas de ler, possibilitando diferentes

momentos e oportunizando a vivência das histórias infantis, que ocorrem de formas

diversas, como: o contato com o livro, após uma contação de história, permite que a

criança (re)conte a leitura da sua maneira, vivenciando-a, e entre em contato com as

personagens da história, seja através de fantoche, dedoche ou até mesmo teatro.

Portanto, a vivência da contação de histórias acontece de diversificadas

maneiras, dependendo do professor contador de histórias e da sua criatividade (1.1,

8.2).

QUESTÃO 2:

Como propiciar a expressão da arte, da imaginação e da criatividade

infantil em sala de aula a partir da literatura inf antil e contação de histórias?

A partir da contação de histórias da literatura infantil é possível propiciar a

expressão da arte, da imaginação e da criatividade infantil em sala, propondo

atividades relacionadas à história, como: desenhar as personagens do conto, pintá-

las e perguntar às crianças, após o término da contação, se alguma delas quer

(re)contá-la.

Citado anteriormente, de acordo com Read (1986, p.29):

Sabemos que uma criança absorvida num desenho ou em outra atividade criativa qualquer é uma criança feliz. Sabemos, pela simples experiência diária, que auto-expressão é autodesenvolvimento. Por essa razão é nosso dever reivindicar uma grande parcela do tempo da criança para as atividades artísticas [...].

31

Essas atividades propiciam uma aproximação com a arte (5.8), sendo

possível se expressar através desta, fazendo com que a criança utilize sua

imaginação e criatividade, por meio da qual cria, transforma, constrói e desconstrói,

uma ou várias vezes, o quanto for necessário, um desenho, uma pintura, entre

outros (1.6, 2.3, 3.5, 3.6, 3.7).

Como afirma Simões (2000, p. 24), já citada:

Por suas atividades diárias, a criança tem contato com o real, com os outros. Ao mesmo tempo, sua imaginação se desenvolve, pois ela toma consciência de seus limites, vive conflitos, experimenta emoções contraditórias e tem muitas dúvidas que não consegue esclarecer. Para tentar resolvê-las e dominar suas angústias, impulsionada por sua curiosidade, ela procura sonhar, imaginar. E, se conseguir canalizar esse mundo imaginário em ações no mundo real, ela desenvolve a capacidade de criação.

Proporcionar uma conversação sobre o conto para saber se teve um

significado para as crianças, possibilita a interação da turma e, através de jogos

verbais, o professor contador de histórias desperta a imaginação, proporcionando a

participação das crianças, que falam das suas interpretações. Cabe então ao

educador instigá-las a participarem das atividades, sempre as motivando (4.5).

QUESTÃO 3:

Há o incentivo às crianças ao hábito da leitura? E de que maneira

ocorre?

A contação de histórias é sempre um fato muito relevante e significativo para

as crianças, em que é evidenciado o uso da linguagem oral (praticamente todo o

tempo). No momento em que a contadora vira cada página é possível notar que é

despertada nelas a curiosidade, pedindo para ver as próximas imagens.

De acordo com Ferreiro (2010, p. 99), já citada:

Um ato de leitura é um ato mágico. Alguém pode rir ou chorar enquanto lê em silêncio, e não está louco. Alguém vê formas esquisitas na página, e de sua boca “sai linguagem”: uma linguagem que não é a de todos os dias, uma linguagem que tem outras palavras e que se organiza de uma outra forma. [...] Em vez de nos perguntarmos se “devemos ou não devemos ensinar”, temos de nos preocupar em DAR ÀS CRIANÇAS OCASIÕES DE APRENDER.

32

Após a contação de história, geralmente elas pedem para “ler”, usando

criatividade e imaginação para recontá-la, sendo que as crianças que escutam ficam

encantadas quando uma outra conta a história do seu modo. A partir daí, torna-se

evidente o incentivo à leitura (5.11, 5.12, 13.3).

Assim, o gosto pela leitura ocorrerá quando a criança perceber que ler é

fascinante, que é possível viajar para qualquer lugar que se possa imaginar, e que,

além de todos os encantos, ela adquire novos conhecimentos. O aprendizado

ocorrerá de forma natural, sem que ela se dê conta ou se preocupe com isso.

Conforme Rojas (2010, p.3), citada anteriormente, para as crianças:

[...] ler não tem nada a ver com alfabetização precoce, mas sim com a descoberta de mundos e prazeres essenciais para o desenvolvimento saudável de ser humano. A ideia não é apresentar a leitura como ferramenta para aprender, mas como algo lúdico e capaz de encantar e divertir – a aprendizagem, nesse caso, passa a ser um delicioso efeito colateral!

Além disso, a companhia de um adulto, por exemplo, quase sempre as atrai

para pegar um livro, folheá-lo, imaginar o que está escrito no texto. As cenas da

história, através das ilustrações, desempenham encantamentos. As crianças

costumam pedir para o adulto narrá-lo, prestando muita atenção, e/ou lêem para si

mesmas, da sua maneira (5.10).

QUESTÃO 4:

Quais os motivos que levaram a professora contador a de histórias a

utilizar a literatura infantil em sua rotina pedagó gica?

Inicialmente, pelo fato da contação de histórias na Educação Infantil estimular

a criatividade, desenvolver o gosto pela leitura e escrita, proporcionando momentos

significativos. A relação do contar histórias proporciona conhecimentos de largas

abrangências, permitindo que a criança tenha momentos agradáveis e de prazer.

Citada anteriormente, Simões (2000) afirma que a contação de histórias para

os pequenos é comum, tanto no âmbito familiar como no escolar, ocorrendo de

maneira habitual, já que a criança geralmente se interessa por elas. Além disso, as

histórias contribuem no desempenho dos processos de aquisição e desenvolvimento

linguístico, sendo utilizadas geralmente pelos contadores – pais e professores –

como um meio de lazer e diversão, distração ou até mesmo pedagógico.

33

A literatura infantil enriquece o mundo imaginário delas, estimulando a

criatividade, o faz de conta, bem como a possibilidade de vivenciar situações

inesperadas e surpreendentes. Além disso, alimenta a imaginação, ajuda a resolver

conflitos, emoções, levando à resolução deles.

Abramovich (1997, p. 23), já citada anteriormente, afirma que “o ouvir

histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o

imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma

história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum texto!”

Ao ser lido um conto, quando uma criança pede que contem novamente,

repetidas vezes a mesma história, é provável que tenha encontrado nos fatos

narrativos acontecimentos que se assemelham à sua vida, seus medos, angústias,

desejos e sonhos.

É exatamente neste sentido que Simões (2000) chama a atenção para as

histórias infantis, que contribuem para o encorajamento das crianças, de suas

ansiedades e eventuais problemas. Por isso, a importância de ler para os pequenos,

que passado algum tempo conseguirão distinguir o que faz parte do imaginário e da

realidade, “desenvolvendo” a imaginação, o faz-de-conta – já que tudo é possível.

Através da contação de histórias é possível que a criança inicie no mundo

literário da literatura infantil, principalmente quando esta é utilizada como

instrumento para a sensibilização da consciência, para a expansão da capacidade,

para transformar e enriquecer o seu potencial. O gosto de ouvir é como o gosto de

quem lê para alguém, que mais tarde poderá gostar de ler também.

O ouvir histórias não só despertará o gosto pela leitura: é o despertar para a

imaginação. Ela proporcionará ao ouvinte descobrir soluções para os seus

problemas, conflitos etc. E um dos principais motivos que levaram a professora

contadora de histórias a utilizar a literatura infantil em sua rotina pedagógica é o fato

de que ela a vê como parte integrante e fundamental na Educação Infantil, pois

através dela a criança vivencia e experimenta situações diversas (7.3, 9.3, 10.2,

13.1, 13.2).

O que lhe encanta é o brilho nos olhos das crianças, a alegria e a emoção

que sentem, ao escutá-la contando histórias para divertir, estimular a imaginação,

bem como educar e oportunizar momentos significativos e prazerosos aos meninos

e meninas. Momentos como esse estão evidentes (7.2, 9.4, 11.1, 11.2, 13.4).

34

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura infantil explorada com crianças da Educação Infantil é uma

excelente forma de despertar o gosto pela leitura, além de estimular e facilitar a

socialização em grupo. Proporciona momentos de prazer, descobertas, fantasias,

imaginação, aprendizagem e conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento de

suas habilidades e potencialidades.

Há algo mais contagiante que o sorriso de uma criança? Quando ela brinca e

escuta uma história consegue entrar no mundo de fantasias e encantamentos,

sendo que é visível em seu semblante tamanha felicidade. Brincar e ouvir histórias é

sonhar, imaginar, fantasiar, é encantar-se com um mundo em que tudo é possível.

A motivação deste trabalho deu-se, inicialmente, pelo fato da literatura infantil,

na Educação Infantil, contribuir para o desenvolvimento das crianças, tanto no

aspecto linguístico, intelectual, sentimental, entre outros, nos quais é possível

vivenciar as histórias de diferentes maneiras. Neste contexto, cabe ressaltar a

importância da professora contadora de histórias diversificar as formas de se contar

uma história: narrada, cantada ou teatral, podendo ser (re)contada de várias

maneiras, revivendo-a de outra forma.

Os objetivos deste trabalho foram alcançados com êxito, como se pôde

comprovar pela análise dos resultados. A vivência da contação de histórias ocorreu

de forma prazerosa para as crianças, que em todos os momentos tiveram a

oportunidade de se expressar através da imaginação e criatividade infantil,

presentes em sala. Com isso, foi possível identificar os motivos que levaram a

professora contadora de histórias a utilizar a literatura infantil em sua rotina

pedagógica, incentivando as crianças ao hábito da leitura.

Por esse motivo, ressalta-se a importância da formação de profissionais

qualificados nessa área, envolvidos em programas de leitura com finalidades

específicas. Além disso, o próprio professor pode subsidiar esses programas,

atuando significativamente com propostas coerentes de leitura.

No decorrer da presente pesquisa muito aprendi, a começar pelo fato de que

o educador precisa ter humildade e amor pela profissão para entrar numa sala de

aula. Que é necessário falar, mas, principalmente, escutar suas crianças e/ou seus

alunos. Que o saber e o conhecimento não estão somente dentro da sala de aula,

mas, que os sujeitos participantes dela carregam consigo uma bagagem de

35

aprendizagem que o cotidiano lhes fez aprender, lhes fez conhecer. E que este

saber deve ser ouvido e respeitado, havendo a possibilidade de trocas de

conhecimentos.

Para finalizar, a realização deste trabalho contribuiu de maneira significativa

para evidenciar a importância da brincadeira e da literatura infantil na Educação

Infantil. Além de chamar a atenção dos professores, no que se refere a estar atento

e perceber que necessitamos de paixão e atualização constante em nosso fazer

pedagógico.

36

REFERÊNCIAS

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Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-99362006000300008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 08 mar. 2011. OLIVEIRA, Alessandra M. R. de. Do outro lado: a infância sob o olhar de crianças no interior da creche. 164 f. 2001. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul, 2000, p. 11-21. PIRES, Suyan Maria Ferreira. Amor romântico na literatura infantil: uma questão de gênero. Educar em revista , Curitiba, n. 35, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602009000300007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 08 mar. 2011. READ, Herbert. A redenção do robô: meu encontro com a educação através da arte. São Paulo: Editora Summus, 1986. ROJAS, Adriane Kiperman. Uma história com final feliz. Será? Pátio – Educação Infantil. [S.I.]: Artmed, v. 37, n. 24, p. 3, jul./set. 2010. SARMENTO, Manuel Jacinto. As culturas da infância nas encruzilhadas da 2ª modernidade. In: SARMENTO, Manuel Jacinto; CERISARA, Ana Beatriz (coord). Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas sobre a infância e educação. Porto. Asa, 2004. ______. As culturas da infância nas encruzilhadas da 2ª mod ernidade. Braga: Centro de Estudo da Criança da Universidade do Minho, 1997. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23 ed. rev. e atualizada. São Paulo: Cortez, 2007. SILVA, Renata; KARKOTLI, Gilson (Orgs.). Manual de metodologia científica do USJ 2011-1. São José: Centro Universitário Municipal de São José – USJ, mar. 2011. SIMÕES, Vera Lucia Blanc. Histórias infantis e aquisição de escrita. São Paulo em Perspectiva , São Paulo, v. 14, n. 1, mar. 2000. Disponível em:

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APÊNDICE

40

OBSERVAÇÕES EM CAMPO

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

- Turno: Matutino

- Faixa Etária: 3 a 4 anos

APÊNDICE 1- DATA: 25/03/2010 – 1ª OBSERVAÇÃO

(1.1) Quando cheguei, sentei no fundo da sala em cima de um colchão e logo

se aproximou um garotinho – que vestia uma capa vermelha – então perguntei o seu

nome e ele falou que se chamava Super-homem. Nas paredes da sala havia

produções das crianças, porém a decoração de um modo geral foi feita pelas

professoras. A sala é aconchegante, os brinquedos são de fácil acesso, alguns ficam

nas prateleiras de uma estante e outros no chão. Em uma das paredes havia dois

desenhos, sendo um do elefante e o outro do jacaré.

(1.2) No início da manhã chegou uma criança chorando e a professora

conversou com ela. Logo após, foi servido o lanche às 8h10min e durou

aproximadamente dez minutos, sendo que depois fizeram a higiene bucal. As

crianças retornaram a sala e ficaram brincando livremente. Duas meninas e um

menino se aproximaram de mim e entregaram-me uma bonequinha. Então,

perguntei para as crianças se era um menino ou uma menina, e uma delas disse

que é um menininho, pois está de roupa azul. Com isso, perguntei o nome e uma

criança respondeu que é bebezinho, porque é bem pequenininho.

(1.3) Uma das professoras colocou uma música de fundo na sala e algumas

crianças começaram a dançar, enquanto outras brincavam. Depois ela solicitou que

todas organizassem o ambiente, guardando os brinquedos em seus respectivos

lugares para ensaiar a música de uma apresentação. Assim, perguntei às

professoras sobre a apresentação, e consequentemente responderam-me: “Está

sendo desenvolvido um projeto de artes no CEI, onde cada turma com suas

respectivas professoras desenvolvem alguma oficina pedagógica. Nossa sala irá

fazer uma apresentação de música na semana que vem, 4ª feira, dia 31/03. No dia

29/03 será realizada uma visita no Lar de Zulma, onde serão entregues materiais

41

que estão faltando lá. Já na terça dia 30/03 será feito fondue, e as crianças irão

participar diretamente.” Elas afirmaram que a programação não está relacionada à

Páscoa, é somente algo diferente para sair da rotina.

(1.4) Hoje elas levariam as crianças na casa do coelho, mas como estava

chovendo acabaram não indo. Então, fizeram um círculo onde ocorreu a chamada, e

com isso mostraram imagens de rostos com reações diferentes: triste, feliz,

chorando, entre outros. Em seguida, as crianças pegaram os seus crachás e

colocaram-os em uma destas carinhas de acordo com o que estavam sentindo.

Após, todas brincaram livremente, sendo que L.F. fez “comidinha” e a professora

comeu de brincadeira. Esta mesma criança pegou um telefone de brinquedo e

“fingiu” que ligou para o seu pai dizendo que estava na creche.

(1.5) Depois, a turma foi para o parque interno, porém estava sendo usado

por outra turma, então foram assistir o desenho animado “A Casa do Mickey”. A sala

de vídeo tem um espaço bastante reduzido, porém é aconchegante, contendo um

tapete no centro e colchões pelo chão, além de um “puff”. Durante o filme, algumas

crianças ficaram brincando, mostrando falta de interesse e outras imitaram os

patinhos que voavam durante a história.

(1.6) Após, foi feita uma atividade no caderno de desenho com cola colorida,

sendo que cada criança escolheu três cores diferentes. As professoras auxiliaram-

nas a fazerem os pingos na folha do caderno – que foi dobrada ao meio – e as

crianças passaram a mão em cima para depois abrirem, sendo formada uma figura a

que elas deram o nome. Terminando, todas lavaram as mãos para o almoço e as

professoras cantaram músicas relacionadas ao comer.

APÊNDICE 2 - DATA: 08/04/2010 – 2ª OBSERVAÇÃO

(2.1) Inicialmente, a turma estava sentada nas cadeiras junto à mesa, com

uma das professoras jogando bingo de palavras, onde era sorteada uma letra e as

crianças marcavam as cartelas com grãos de feijão. Foi possível notar que em uma

das paredes da sala, havia duas representações do corpo humano (uma menina e

um menino) feitas em papel pardo, sendo que o desenho referia-se a duas crianças

da sala.

42

(2.2) O lanche da manhã foi servido às 8h15min, porém o menino R. só

concordou em fazê-lo, quando me sentei próxima a ele na mesa. Entretanto, R. logo

desiste de lanchar e diz que já tomou “dedera” em casa. Ao terminar, todas fizeram

a higiene bucal e brincaram livremente pela sala. Alguns meninos fizeram de conta

que estavam atirando um no outro – com o próprio dedo – porém a professora

interviu na brincadeira, explicando que não se pode brincar deste modo. Ela disse:

“Armas são só para policiais e eles são bons, pois protegem a gente do bandido”.

Diante disso, uma criança pegou um telefone e “fingiu” que ligou para um policial.

(2.3) Após, foi proposta uma atividade denominada “A Vaca no Telhado” –

história contada no dia anterior – que é um desenho feito pelas professoras no papel

pardo, que as crianças coloriram com tinta guache. Inclusive, a professora perguntou

qual a cor com que queriam pintar a vaca, e todas escolheram rosa. Em seguida, as

crianças foram para o parque externo com outra turma as 09h10min, e eu perguntei

para as professoras se cada turma tinha um horário definido para usá-lo. Elas

responderam que sim, pois é uma regra do CEI. Enquanto isso, todas as crianças

brincaram numa casinha e me chamaram para ir a casa delas.

(2.4) Ao retornarem para a sala, com as mãos já lavadas continuaram

pintando o desenho anterior, porém nem todas participaram da atividade, sendo que

algumas ficaram na mesa menor comigo e as outras, com a outra professora

brincando com jogos de montar. Depois, elas revezaram. Em seguida foi feita uma

atividade livre, na qual algumas crianças desenharam e outras preferiram brincar.

Enquanto isso, as professoras retiraram os desenhos do elefante e do jacaré que

estavam numa das paredes, para colocarem a atividade de hoje.

APÊNDICE 3 - DATA: 15/04/2010 – 3ª OBSERVAÇÃO

(3.1) Hoje, as professoras recortaram desenhos de passarinhos pintados

pelas crianças, em uma mesa, e algumas meninas recortaram livros. Na mesa maior

havia três meninos brincando, e no chão outras crianças brincaram com diversos

brinquedos.

(3.2) No ambiente da sala foi possível notar o desenho “A Vaca No Telhado” –

pintado pelas crianças – que foi feito no segundo dia de observação, conforme a

contação desta história. Havia também uma árvore colada na parede, sendo que

43

perguntei para a auxiliar, se foram às crianças que a pintaram, e ela diz que sim.

Ainda na parede, tem a letra de uma música em um papel A4, sobre o corpo

humano, denominada “Meu Corpo”:

Tenho olhos para ver

Duas mãos para pegar

Dois ouvidos para ouvir

E dois pés para pular

Cada membro é importante

Nem o menor pode faltar

Nem você nem eu e

nem ninguém (BIS)

(3.3) Em seguida, a professora chamou todas as crianças para colarem o

ninho e o passarinho feito por elas, na árvore. Dois meninos mexeram no armário, e

P. falou para eles: “senta lá, por favor,” e apontou para o colchão que a turma estava

sentada. Após a atividade, ela solicitou que todas organizassem a sala e depois,

perguntou se não faltava nada na árvore. Então, nenhuma criança respondeu e ela

disse que estava faltando o chão (grama).

(3.4) Às 8h55min a professora iniciou a história “Bem-te-vi”, e perguntou se as

crianças sabiam as cores daquele pássaro. Todas responderam conforme estava na

ilustração do livro. Então, ela começou a cantar uma música e P., cantou a sua,

sendo aplaudido pelas outras crianças.

(3.5) As 09h05min a professora e a auxiliar colocaram um cd para escutar a

música do Patati & Patatá sobre a árvore, porém, o som não funcionou. E, minutos

depois, a turma foi para o parque externo. Três crianças pediram à auxiliar que

fizesse pipas com sacolas plásticas e barbantes, para soltarem pelo parque. A pipa

de F. tornou-se um bolo, pois ele encheu a sacola de areia.

(3.6) 10h10min o parque foi organizado por todas as crianças que o

utilizaram, depois foram lavadas as mãos e a turma foi para a sala de vídeo. Iniciou

o clipe musical do Patati & Patatá com o tema árvore – em que apareceu muita

natureza e passarinhos – e C. imitou os pássaros com as mãos; outra criança

dançou o tempo todo. Terminando o clipe, a professora perguntou novamente: “o

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que está faltando na árvore?” e P. disse que é a terra. Então, ela perguntou: “e, além

disso?” A mesma criança respondeu: “a graminha”.

(3.7) Ainda na sala de vídeo, começou outro clipe – sobre o banho – e R.

encenou como se estivesse no chuveiro. As crianças continuaram assistindo esse

mesmo DVD, e logo após foi colocado outro, que é da Turma da Mônica. Neste

momento, as meninas me pediram para desenhar a Barbie, sendo que a fiz depois.

As 10h50min as crianças retornaram para a sala, que se encontrava organizada

para a hora do sono, e logo em seguida foi servido o almoço.

APÊNDICE 4 - DATA: 20/04/2010 – 4ª OBSERVAÇÃO

(4.1) Quando cheguei, a professora conversou comigo e disse que as

crianças iriam à escola de Oleiros. Foi perceptível que elas estavam contentes e

ansiosas para o passeio. Para acalmá-las, a auxiliar cantou uma música enquanto

aguardavam o transporte e, logo em seguida, cada criança pegou um livro de

história para se sentar.

(4.2) Foi possível observar que, em uma das paredes da sala havia três

quadros feitos com cartolinas, pintados pelas crianças. Próxima à árvore com os

ninhos – atividade passada – havia também a poesia “Bem-Te-Vi”. Às 09h00min

horas foi feita uma conversação com a turma, para explicar sobre o que poderiam ou

não fazer, na escola de Oleiros. Quando o transporte chegou, foi organizada uma fila

e uma a uma embarcou. No caminho, foi uma festa só, as crianças não pararam de

falar e não viam a hora de chegar.

(4.3) Ao chegarem, foram bem recebidas e a turma se sentou no chão. Um

senhor, muito simpático – as crianças o adoraram – lhes contou o trabalho que é

realizado na escola, como isso acontece, de que forma são produzidos os objetos, o

que é argila, de onde ela vem, entre outros aspectos, respondendo também a todas

as perguntas da turma. Neste momento, mostrou-lhes as personagens do boi de

mamão, confeccionados pelos alunos de lá, e conversou a respeito.

(4.4) Depois, mostrou-lhes também como trabalhava com a argila e, a pedido

das crianças, fez dois vasos. Elas ficaram encantadas e com certeza a cena ficará

na memória de cada uma. Além disso, conheceram outros ambientes da escola –

mesmo esta sendo reduzida – e ainda tiveram a oportunidade de tocar na argila e

45

produzir por alguns instantes objetos, animais, etc. Terminada a visita, a professora

e a auxiliar ganharam alguns objetos já secos, para levarem para a sala, onde as

crianças poderão pintá-los.

(4.5) A visita à escola de Oleiros foi muito significativa: os olhos das crianças

brilharam, as expressões faciais mostraram muita alegria por estarem lá. Foi incrível

tudo o que vivenciaram neste dia, até porque por ser uma experiência nova e

também pelo fato de que tudo o que é novo desperta o imaginário, o pensar, a

criatividade. Enfim, foi um momento de prazer, de descobertas e, exatamente por

isso, deve-se aproveitar ao máximo momentos como esse.

(4.6) Chegaram do passeio às 10h15min, e, logo após, foram para o parque

externo. As crianças brincaram livremente nos brinquedos e, de diversas formas.

Antes de voltarem para a sala, elas foram ao banheiro e lavaram as mãos. As

10h45min, ao retornarem do parque, a sala já estava organizada para a hora do

sono e também para o almoço. Então, elas se sentaram, e a professora conduziu o

momento da oração em agradecimento ao alimento, e cantou uma música

relacionada ao comer.

APÊNDICE 5 - DATA: 22/04/2010 – 5ª OBSERVAÇÃO

(5.1) Inicialmente, algumas crianças estavam sentadas próximas à mesa,

folheando livros, e outras brincando entre elas sentadas no colchão. As que estavam

na mesa, pediram à professora que lhes dessem tesouras para recortar. Nesta,

havia quatro meninas, e enquanto N. recortara, outras meninas se aproximaram e

pediram para recortar também. L. que chegou neste momento, também pediu para

fazer essa atividade, sendo que ganhou um livro e uma tesoura.

(5.2) Foi possível observar que, na porta do armário onde havia dois

desenhos, tem outros dois novos, e, os primeiros foram fixados em uma das

paredes. Quando me sentei, a criança R., que estava com um io-io, se aproximou de

mim e falou:

R. (apontando para o seu dedo) – Faz um nozinho aqui?

Eu – Claro, eu faço sim, mas se apertar me fala.

R. (sorrindo) – “Bigadu”.

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Este saiu para brincar, e, logo em seguida voltou pedindo que eu o ensinasse

a brincar com o io-io:

R. – Sabe “bincá” disso?

Eu – Sei sim.

R. – “Mosta pá” mim?

Eu – Claro, eu mostro sim.

Assim feito, R. foi brincar no colchão.

(5.3) Enquanto a auxiliar ficou com as crianças, a professora foi até a cozinha,

as 08h10min, trazer o lanche da manhã. Terminando, todas as crianças foram

recortar. Porém, não se mantiveram por muito tempo fazendo a atividade. Algumas

continuaram, e as outras se dispersaram. Neste instante, E. se aproximou da mesa

em que eu estava, e mostrou-me duas bonecas:

Eu – Que lindas! Qual o nome delas?

E. (envergonhada) – Essa é a Celinha e essa aqui é a Flor.

Então, a menina E. saiu e foi brincar.

(5.4) Enquanto isso conversei com a auxiliar, que me contou que amanhã a

tarde, as crianças participarão de um baile a fantasia. De 15 em 15 dias é feita a

interação entre todas as turmas do CEI, e, a do período matutino será na quarta-

feira que vem. Aproveitando este momento, perguntei se as crianças têm algum dia

específico para trazer brinquedos de casa, e, ela fala que não, pois elas têm a

liberdade de trazer quando quiserem.

(5.5) Minutos depois, a professora sentou no colchão e pediu para todas se

sentarem, pois havia iniciado a contação de uma história denominada “Silêncio”, que

traz na capa do livro o desenho de um leão. No início da história foi perceptível que

elas estavam atentas, entretanto, logo se dispersaram e começou a bagunça. Nesse

instante, a professora parou e falou seriamente: “hora de brincadeira é hora de

brincadeira e a hora de falar sério é hora de falar sério”. As crianças a escutaram

com atenção, e logo pararam de bagunçar.

(5.6) Terminando a história, a sala foi organizada e a professora conversou

com elas, para explicar a atividade que seria feita com argila, sendo que mostrou

novamente as imagens do livro. Enquanto isso, eu e a auxiliar levamos a mesa

grande da sala para a parte coberta do parque externo, onde as crianças

desenvolveram a atividade com argila. Na sala, a professora organizou a fila e foi ao

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“parque”. As crianças levantaram as mangas da blusa para não sujá-la, e as

09h15min começou a atividade.

(5.7) Inicialmente, todas bateram na argila em cima da mesa. Fizeram bichos,

objetos, entre outros, no palito. Neste instante:

P. (falou alto) – Eu tenho um “lião”.

E, a menina V. aproveitou e falou também:

V. – Fiz uma cobra.

(5.8) Em seguida, a auxiliar colocou o nome de cada criança em suas

respectivas produções. Terminando a atividade, foram lavar as mãos. Acostumadas

a brincar com massinha, ao fazer a atividade com argila foi possível observar que

elas se transformaram, até mesmo pelo fato de terem resgatado o dia em que foram

à escola de Oleiros. Seus olhos brilhavam, sua imaginação e criatividade iam muito

além. Produziram de tudo: tartaruga, tubarão, bonequinhos, vaso de flor, pizza,

churrasquinho no palito, entre tantas outras fantasias. Com isso foi perceptível a

expressão da arte.

(5.9) Retornaram para a sala as 9h55min, e todas começaram a brincar,

porém, algumas gritaram e bagunçaram. Então, a professora chamou a atenção e

conversou com as mesmas. Todas se sentaram, e, uma de cada vez escolheu um

brinquedo. Algumas meninas brincaram de casinha:

E. – Ô de casa (e, juntamente com V. “entrou” na casa).

V. (logo saiu) – Ô de casa.

E, as duas continuaram brincando.

(5.10) A mesa grande continuou fora da sala, e por isso alguns meninos

brincaram de carrinho em cima de dois bancos. Neste instante L., que estava

“dentro” da casa, pegou um telefone e fez de conta que ligou para alguém,

entretanto ela ligou e desligou o mesmo várias vezes. N. subiu no banco em que eu

estava sentada e imitou o Tarzan (V. também brincou no banco, porém, antes de

N.). Em seguida, V. com um livro na mão, se aproximou de mim:

V. (entregando-o) – Conta “pá” mim?

– Conto sim (respondi-lhe).

(5.11) Então, iniciei a contação de história, porém, de forma “diferente” da

escrita. E algumas crianças, observando-me contar, se aproximaram e escutaram

com atenção. Ao terminar, V. segurou o livro e disse que contaria também. De

repente, se aproximou o menino L., que colocou um vestido por cima de sua roupa.

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Trajado, ele ficou próximo das outras crianças escutando a história. Terminando a

mesma, elas pegaram vários livros e caminharam pela sala.

(5.12) Ao contar a história que uma das crianças me pediu, possibilitei que a

mesma fosse (re)contada de forma diferente por uma delas, como ocorreu. A partir

daí, percebi o quão importante é a relação ensino/aprendizagem, mesmo tratando-

se da educação infantil, pois a professora juntamente com as crianças deve

estabelecer uma relação significativa, de cumplicidade, para instigá-las a participar

das propostas oferecidas, tentar, desafiar e acreditar que tudo é possível.

(5.13) A menina L. pegou uma cadeira juntamente com a tampa do lixeiro, e

fez de conta que andou de trem – outras duas crianças pegaram mais duas cadeiras

e colocaram uma atrás da outra, para brincar também.

(5.14) Às 10h20min a professora solicitou que organizassem a sala e, após,

pediu que se sentassem no colchão. Então, ela cantou a música “Tomatinho

Vermelho”, e todas cantaram juntas. Ao terminar, pegou um microfone de brinquedo

e perguntou-lhes quem queria cantar. Quatro crianças cantaram e foram aplaudidas

pelas outras, sendo que três delas relacionaram suas músicas com a cantada

anteriormente. Todavia, E. cantou “Atirei o Pau no Gato”.

(5.15) Logo após, iniciaram uma brincadeira em que todas permaneceram

sentadas, sendo que a professora mudou duas delas de lugar. Nesse meio tempo,

uma criança saiu da sala para não ver a troca de lugares, e depois, quando voltou

tentou descobrir quem havia trocado de lugar. Terminando a brincadeira,

permaneceram sentadas conversando entre elas.

(5.16) Em seguida, a professora perguntou o nome da mãe e também, o

nome do pai de cada uma, sendo que todas responderam. As 10h45min, ela

organizou uma fila para sair da sala e almoçar na área coberta do parque externo –

local em que fizeram a atividade da argila. Enquanto isso, eu e a auxiliar

permanecemos na sala para organizá-la para a hora do sono. Sentadas, esperando

o almoço:

N. (com fome) – Tem comida?

Professora – Tem sim.

Neste instante, as meninas conversaram sobre seus pais. E, uma delas falou

que ganhou de presente do seu pai, a boneca Polly. Então, uma outra falou:

V. – O nome do meu pai é Michel, e “foi” eu que escolhi o nome dele.

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Momentos antes de vir o almoço, algumas crianças falaram nomes de

alimentos.

APÊNDICE 6 - DATA: 29/04/2010 – 6ª OBSERVAÇÃO

(6.1) Esta foi a última observação. Quando cheguei, encontrei cinco crianças

jogando cartas com a auxiliar, enquanto outras brincavam livremente pelo chão.

Durante o jogo, a menina L. se aproximou de F. – que estava jogando – e fez algo

que este não gostou:

F. – “O, o, tu não pode jogá”.

(6.2) Logo após, F. desistiu de jogar e foi brincar com outras crianças, porém,

quando chegou perto de P., tentou pegar as peças que este estava brincando, e

então, começaram a brigar. Entretanto, a auxiliar se aproximou e conversou com os

dois. Enquanto isso, o menino R. pediu para a professora uma caneta:

R. – “Prof” eu quero uma caneta.

Professora – Pra quê?

R. – Pra “cotá”.

Professora – Ah, então você quer uma tesoura.

R. – É.

O menino C. logo se aproximou da professora:

C. – “Prof” eu trouxe massinha.

Professora – Que legal. Então, me mostra.

(6.3) Nisso, ele tirou da sua mochila a massinha juntamente com a caixinha

de lápis de giz e mostrou-lhe. Então, ela disse:

Professora – Essa massinha é para deixar em casa para você brincar, e o

lápis de giz também, para que possa pintar. Porque aqui, nós já temos massinha e

lápis de giz para todas as crianças usarem.

Após o diálogo, C. guardou-os na mochila e foi brincar.

P. que guardou os brinquedos, falou para C. e F.:

P. – Agora é hora de guardar os brinquedos para poder brincar de “leguinho”.

(6.4) Então, a auxiliar pegou a caixa de legos, porém, não havia nenhum.

Com isso, pediu para P. ir à sala ao lado, para pedir emprestado. Assim, P. trouxe a

caixa da outra sala e despejou os legos no chão:

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P. (dialogando com a turma) – Calma aí, tem leguinho pra todos.

(6.5) Minutos após, guardaram todos os brinquedos e organizaram a sala. Às

08h25min a auxiliar pegou uma parte das garrafas pet, para colocar o nome das

crianças em cada uma delas. Enquanto isso, ela explicou o que fariam, na qual cada

uma pintou o seu “pote” – para colocar bolachas dentro, para as mães – e na

semana que vem, quinta-feira, farão as bolachas para que na sexta-feira elas levem

para casa. Então, poderão dar para a mãe, ou então, para o pai ou a avó, enfim,

para quem ela quiser dar.

(6.6) Neste momento, as crianças pegaram alguns jogos para brincar. Porém,

minutos depois, elas guardaram para começar a atividade. Em seguida, a professora

explicou a atividade para elas: pintar os potes.

Professora – Alguém sabe para que serve esses potinhos?

N. – “É pá depois tomer”.

(6.7) A professora então, fala que é para dar para alguém que elas gostam

muito, até porque algumas crianças questionam o fato de que uma delas não tem

mãe.

N. perguntou para mim:

N. – O que vai fazer agora?

– Vou olhar vocês pintarem (respondi-lhe).

(6.8) As 09h00min a auxiliar organizou a sala para as crianças dançarem.

Primeiro ela dançou para mostrar-lhes a coreografia de acordo com a música. Então,

me convidou a dançar juntamente com ela, e em seguida, as crianças dançaram

conosco.

(6.9) No momento em que a auxiliar colocou a música e me convidou a

dançar foi incrível a reação das crianças. Penso que, a princípio, elas não

esperavam que eu fosse dançar. Quando a música começou e também comecei a

dançar, elas riram, deram muitas gargalhadas. A partir daí, percebi o quão

importante é para elas que o educador participe das atividades propostas por ele

mesmo e das brincadeiras propostas pelas crianças. É uma relação que deve estar

presente em todos os momentos da educação infantil.

(6.10) Além de ser muito divertido para as crianças, torna-se muito mais para

quem participa, até porque sentimos que existe uma criança dentro de nós, que

nunca morre, pois é só (re)vivermos lembranças, brincadeiras, entre outras, que nos

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tornamos criança novamente. É uma sensação prazerosa, rica, uma experiência

única que a gente jamais esquece.

(6.11) Terminando a dança, a turma foi para o parque. As 10h10min as

crianças foram lavar as mãos para retornar à sala. Neste instante, a auxiliar foi

“forrar” as duas mesas para continuar a atividade da pintura dos potes, que se

iniciou às 10h30min, e por volta das 10h50min, todas as crianças já haviam

terminado de pintar. Após, a sala foi organizada para o almoço.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

- Turno: Matutino

- Faixa Etária: 2 a 3 anos

APÊNDICE 7 - DATA: 12/04/2011 – 7ª OBSERVAÇÃO

(7.1) Inicialmente, a professora e a auxiliar conversaram com as crianças

sobre a minha presença naquela sala e apresentaram-me. Em seguida, foi servido o

lanche da manhã e, após fazerem a higiene bucal, a professora iniciou a contação

da história: “O Cachorro Peludo e a Terrível Coceira”.

(7.2) Algumas crianças sentaram nos pequenos sofás – que são seis – e as

outras no tapete. Como havia me sentado em um cantinho da sala, três delas

ficaram próximas a mim. Todas permaneceram em silêncio, ouvindo atentamente o

enredo e apreciaram as ilustrações.

(7.3) Durante a história, a professora fez algumas perguntas sobre o que

poderia acontecer, instigando a turma a participar e elaborar hipóteses do que

aconteceria. Neste instante, a menina V. comentou sobre o que acha que

acontecerá. Outra menina, L., que estava sentada próxima a mim, me chamou, e

falou que a coceira do cachorro é por causa da pulga.

(7.4) Após, as professoras propõem uma atividade relacionada a história, na

qual as crianças pintaram a dobradura de cachorro – personagem principal. Todas

participaram e interagiram entre si. Terminando esta, é feita outra atividade – pintura

das máscaras de cachorro – sendo que, somente algumas queriam pintar. Como a

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turma estava eufórica, as professoras as levam para o parque, deixando as

máscaras para outro dia.

APÊNDICE 8 - DATA: 13/04/2011 – 8ª OBSERVAÇÃO

(8.1) Após o lanche e a higiene bucal, as crianças fizeram a atividade da

pintura das máscaras de cachorro – da história “O Cachorro Peludo e a Terrível

Coceira” – que havia sido proposta no dia anterior. Cada uma pintou

individualmente, com cola colorida, sendo possível observar a criatividade e

imaginação. Todas as máscaras ficaram coloridas e diversificadas.

(8.2) Além disso, foi perceptível o quanto gostam de máscaras e de pintarem

com cola colorida. Algumas crianças dramatizaram o cachorro se queixando da

coceira, como havia ocorrido na história. Terminando a atividade, as professoras

recolhem-nas para secar. Ao final do dia, as crianças as levariam para suas casas.

APÊNDICE 9 - DATA: 14/04/2011 – 9ª OBSERVAÇÃO

(9.1) Enquanto a professora acompanhou as crianças no lanche, a auxiliar

organizou o ambiente – sala – para a contação de história. Ela foi contada através

de uma caixa, na qual é composta pelas personagens e o local em que ocorre todo o

enredo.

(9.2) Ao retornarem para a sala e fazerem a higiene bucal, as crianças se

sentaram para aguardar a contação. Durante a espera, elas ficaram encantadas ao

observarem a caixa colorida, na qual foram despertadas a curiosidade e a

imaginação, sobre o que teria dentro dela.

(9.3) Iniciando a história “Cachinhos Dourados e os Três Ursos”, que foi

narrada oralmente sem a presença de um livro, algumas crianças contaram o que

poderia acontecer com as personagens. Com isso, a professora fez alguns jogos

verbais como: “quem é?”, “O quê?”, e “Cadê?”, para que elas participassem dando

palpites. Além disso, dramatizou a voz das personagens, propiciando gargalhadas,

emoções, encantamentos e sorrisos.

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(9.4) Foi perceptível o brilho nos olhos das crianças e expressões de

felicidade. Após terminar a contação foi proposta uma atividade, na qual pintaram

com tinta guache os desenhos das personagens – mãe ursa, pai urso, filho urso e a

menina dos cachinhos dourados – da história contada.

APÊNDICE 10 - DATA: 15/04/2011 – 10ª OBSERVAÇÃO

(10.1) Inicialmente, as professoras organizaram o ambiente para a contação

da história “Os Três Porquinhos”. As crianças sentaram e permaneceram em

silêncio, atentas a tudo o que elas faziam. Então, instantes após iniciou-se a

dramatização.

(10.2) A história foi contada com as personagens em dedoche. Havia uma

caixa de sapato que representava o local – floresta – em que acontecia o enredo.

Durante a contação, todas as crianças participaram e interagiram entre si. Além

disso, opinaram muitas vezes sobre o que poderia acontecer.

(10.3) Terminada a história, a professora fez uma conversação sobre as

personagens e os três tipos de construções de casas que apareceram no enredo.

Após, foi proposta uma atividade coletiva, na qual as crianças desenharam o

caminho percorrido dos três porquinhos e do lobo na floresta, num papel pardo que

foi “colado” no chão.

APÊNDICE 11 - DATA: 18/04/2011 – 11ª OBSERVAÇÃO

(11.1) Neste dia, a auxiliar faltou, sendo que outra professora ficou no “seu

lugar”. Primeiramente, ela contou a história “Na Fazenda”, em que apareceram

vários animais. Com isso, foi possível perceber que as crianças foram despertadas,

e a curiosidade e o conhecimento foram expressos através dos olhares e falas.

(11.2) Em seguida, a professora da sala contou outra história: “Cachinhos

Dourados”. Durante a contação, as crianças ficaram o tempo todo fixadas nas

ilustrações e na professora, que dramatizou a voz das personagens. Dois meninos,

encantados com a história, não pararam de falar. Então, a professora conversou

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com eles, pedindo que falassem baixo para a turma poder prestar atenção na

contação. No mesmo momento, silenciaram.

(11.3) Após o término, ela propôs uma atividade, sendo que a turma foi

dividida em três equipes, com quatro integrantes, na qual as crianças desenharam e

pintaram as personagens da história, em cartolinas. Circulando pelos grupos,

percebi o quão estimuladas estavam pela história. Algumas falaram: “Fiz um urso”,

“E eu fiz a família urso todinha”, “Ah! Olha a casinha que eu desenhei”, “Oh, a minha

floresta”.

(11.4) Com isso, foi possível identificar a imaginação, a criatividade e a

expressão da arte. E, além disso, foi perceptível o prazer que elas possuem de

poder se expressar através das falas e desenhos.

APÊNDICE 12 - DATA: 19/04/2011 – 12ª OBSERVAÇÃO

(12.1) Este foi o último encontro, de despedida, na qual a professora contou a

história de uma galinha que perdeu os seus seis ovos. E, como estávamos na

semana da páscoa, foi feito fondue com as crianças.

(12.2) Quando foi iniciado, elas ficaram ao redor da mesa, curiosas para

observarem como era feito. Então, a professora explicou os procedimentos: –

“Primeiro colocamos o chocolate para derreter, e em seguida, escolhemos a fruta

que mais gostamos para molhar no chocolate”.

(12.3) Com isso, as crianças puderam vivenciar e observar de perto como é

feito fondue. Elas se divertiram, se lambuzaram, se deliciaram e experimentaram as

frutas com chocolate. Foi perceptível a admiração, a curiosidade e o encanto que

ficaram com a nova experiência.

APÊNDICE 13 - QUESTIONÁRIO

1 – De acordo com a sua prática, qual o papel da contação de histórias na Educação

Infantil?

(13.1) Estimular a criatividade, desenvolver o gosto pela leitura e escrita;

proporcionando momentos significativos.

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2 – Na sua opinião, o que a literatura infantil e a contação de histórias acrescentam

à criança?

(13.2) A literatura infantil enriquece o mundo imaginário da criança,

estimulando a imaginação, a criatividade, o faz de conta, bem como a possibilidade

de vivenciar situações inesperadas e surpreendentes.

3 – É possível incentivar as crianças ao hábito da leitura, através da literatura infantil

e contação de histórias?

(13.3) É possível que a criança inicie no mundo literário através da literatura

infantil, principalmente quando esta é utilizada como instrumento para a

sensibilização da consciência, para a expansão da capacidade, para transformar e

enriquecer seu potencial.

4 – Quais os motivos que a levam a utilizar a literatura infantil em sua rotina de

classe?

(13.4) Penso que a literatura infantil é parte fundamental na educação infantil,

através dela a criança vivencia, experimenta situações diversas.

5 – Você conhece outros profissionais da educação que trabalham com a literatura

ou contação de histórias em sala de aula, constantemente?

(13.5) Sim, a professora Janete.