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PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA COMITÊ GESTOR DO PROGRAMA MUNICIPAL DE EXECUÇÃO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO PLANO MUNICIPAL DECENAL SOCIOEDUCATIVO DO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE Porto Alegre, dezembro de 2015 0

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PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE

FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E CIDADANIA

COMITÊ GESTOR DO PROGRAMA MUNICIPAL DE EXECUÇÃO DE MEDIDAS

SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO

PLANO MUNICIPAL DECENAL SOCIOEDUCATIVO DO MUNICÍPIO DE

PORTO ALEGRE

Porto Alegre, dezembro de 2015

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SUMÁRIO

1.Introdução ..........................................................................................

2.Siglário.................................................................................................

3.Marco Conceitual..............................................................................

4.Princípios e Diretrizes.........................................................................

4.1.Princípios................................................................................

4.2.Diretrizes................................................................................

5.Marco Situacional..............................................................................

6.Sistema de Justiça e Segurança Pública........................................

7.Modelo de Gestão............................................................................

8.Eixos Operativos ................................................................................

9.Considerações Finais........................................................................

Figuras

1. Mapa da regionalização da política da Assistência

Social de Porto Alegre.......................................................................

2. Fluxo de Atendimento Intersetorial proposto pelo MDS............

Tabelas

1.Unidades de Execução e vagas no Município de Porto

Alegre..................................................................................................

Gráficos

1. Total de Medidas Socioeducativas em Execução mês

Novembro de 2010,2012 e 2014 em Porto Alegre.........................

2. Total de adolescentes em cumprimento de MSE x Total

de MSE no município de Porto Alegre.............................................

3. Total de adolescentes em cumprimento de medidas no

mês de novembro de 2014 por região da Assistência Social

em 2014...............................................................................................

4. Total de medidas socioeducativas em cumprimento

no mês de novembro por região da Assistência Social

em 2014..............................................................................................

5. Atos infracionais praticados por adolescentes 2013/2014......

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INTRODUÇÃO

O processo de Construção do Plano Municipal Decenal Socioeducativo foi

Coordenado pelo Conselho Gestor do Serviço de Proteção Social aos Adolescentes em

Cumprimento de Medidas Socioeducativas que, em reunião ordinária, deliberou sobre a

organização e metodologia a ser utilizada. Esta construção transcorreu durante o ano

de 2015, constituindo-se de vários momentos. Inicialmente foi realizado um seminário

em duas etapas, dias 10 de abril e 08 de maio, no Centro de Promoção da Criança e do

Adolescente - CPCA. Nestas etapas, estavam presentes representantes dos

adolescentes, familiares, das unidades de execução de PSC, das Secretarias

Municipais da Educação, Saúde, Esporte, representantes do Ministério Público, da

Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado, da Justiça Instantânea, da 3ª VJIJ,

da Fundação de Atendimento Socioeducativo - FASE, das entidades que atuam no

Programa de Oportunidades e Direitos - POD Socioeducativo, do Conselho Municipal

dos Direitos da Criança e do Adolescente - CMDCA, dos técnicos referências,

coordenadores de CREAS, equipes do ação rua e equipes que atuam diretamente no

atendimento aos adolescentes em cumprimento de Medidas Socioeducativas, contando

com aproximadamente 80 pessoas em cada dia.

Para o Seminário foi utilizada a metodologia ZOPP, possibilitando que todos

colocassem suas percepções e entendimentos que balizaram todo o processo de

discussão posterior. Ao final, foram indicadas Comissões para trabalhar por Eixos

Operativos, como indica o Plano Nacional Socioeducativo: Eixo 1- Gestão do SINASE;

Eixo 2 - Qualificação do Atendimento Socioeducativo; Eixo 3 - Participação e Autonomia

dos Adolescentes; Eixo 4 - Fortalecimento dos Sistemas de Justiça e Segurança

Pública.

As várias reuniões das comissões trouxeram elementos, ideias e entendimentos

apontados nos seminários, traduzidos em objetivos e metas a serem perseguidas ao

longo dos próximos dez anos.

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Foram também realizadas reuniões com técnicas da FASC que trouxeram

contribuições importantes para o entendimento do Sistema de Gestão para o Programa

de Atendimento Socioeducativo e com representantes do Sistema de Justiça, que

reafirmaram as propostas que as Comissões vinham construindo. Houve apresentação

das construções preliminares para a direção técnica da Fundação de Assistência Social

e Cidadania - FASC, que deu aval para a continuidade das discussões. As plenárias

finais de aprovação dos Eixos Operativos contaram também com a participação de

representantes da Secretaria Municipal de Planejamento Estratégico e Orçamento -

SMPEO e Secretaria Municipal de Governança Local - SMGL.

Não é objetivo deste documento, traduzir a intensidade com que os atores se

colocaram nesse processo, a começar pelos depoimentos dos adolescentes e

familiares, na primeira etapa do Seminário de Construção do Plano Municipal Decenal

Socioeducativo, mas não há como ignorar o relato das mães dos adolescentes ao

compartilhar seus sentimentos quando colocadas frente ao púlpito solene da justiça,

vendo seus filhos, ainda meninos aos seus olhos, na condição de réus. Réus que vêm

de uma vida num grito silencioso na esperança de serem ouvidos pelo poder publico e

pela sociedade. Não como geralmente o são, como problemas a serem jogados para

debaixo do tapete, mas como cidadãos, sujeitos de direitos. Ouvir uma mãe relatar que

sua família só passou a ser enxergada depois que seu filho cometeu ato infracional e foi

encaminhado para cumprir medida socioeducativa despertou sentimentos

absolutamente ambíguos em todos. No primeiro instante, satisfação de saber que os

serviços estão cumprindo suas tarefas, mas ao parar para refletir, percebe-se a

trajetória perversa que esta mãe teve que percorrer com seu filho. A dor e o sofrimento

que passaram e passam.

Todos os momentos contribuíram para que o Plano Municipal aponte as

necessidades, os movimentos e os caminhos necessários para oferecer aos

adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa o atendimento intersetorial

qualificado, digno e humano, tornando a medida socioeducativa um momento de

reflexão, aprendizagem e crescimento pessoal. Que os adolescentes possam cumprir

suas medidas socioeducativas e concluí-las levando consigo a sensação de cidadãos

com dever cumprido, capazes de trilhar caminhos dignos e cabeças erguidas.

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Participaram do processo de construção do Plano Municipal Decenal

Socioeducativo:

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Adalberto Lima – Polícia CivilAdalberto Porto Alegre – PSE/FASCAirto Pereira – IPDAEAlcyr Santos Júnior – CREAS Sul Centro SulAlessandra Silva – CREAS PartenonAlex Vidal - PIPA/UFRGSAlexandra Porfírio – Ação Rua/CREAS LesteAlexandre Onzi Pacheco – FASEAline Bonesso Kayser – PSE/FASCAndressa Feijó – CREAS Glória Ângela Pertile – POD CalábriaAnilton de Lara – PIPA/UFRGSB.M.L.G. – Adolescente Carlos Simões – SMGLCaroline da Rosa FASE/RSCíntia da ROSA – FASE/RSCláudia Barros – DefensoriaClóvis da Silveira Jr. – Ação Rua/CREASRestingaCristiane da Silva – mãeDaiane Bombardelli – CREAS GlóriaDenise Jacques Barbosa – CREAS EixoDesirré Corrêa – PSE/FASCDivai Lopes Jr. - CREAS GlóriaDivoli Brasil Lopes JR. – CREAS GlóriaE. G. –AdolescenteElaine Schmidt – CREAS GlóriaEliane Mombach – FASE/RSElisabete Glassmann – STDS/DAS-RSEvelyn Souza – CREAS CentroEverton Silveira - CPCAFernanda Dias – Ação Rua/CREAS CentroFernanda Nardi – CREAS Sul/Centro-sul Fernanda Silva – CPR Bom JesusFrei Luciano Bruxel – CPCA/CMDCAG.L.A. – AdolescenteGeórgia de Souza – CREAS PartenonHelena Grassi – CREAS PartenonIara Medina –POD CalábriaJanete Soares – CMA/FASCJaqueline Pereira - CREAS Eixo BaltazarJiniane dos Santos – CREAS LombaJoice Eliane Silva - SMEDJorge Luiz – Ação Rua/CREAS CentroJulia Obst – PSE – FASCJuliana Bragato – CREAS LesteJúlio Almeida – MPJunio Ribeiro - Jurema Alves Ação Rua/CREAS RestingaL.T.M. – Adolescente Leandro Belmont- CREAS LombaLisiane Neves – CREAS PartenonLoiva Dietrich –CMA /FASCLucas Reif da Costa – CREAS PartenonMagalhe Oliveira – CREAS LombaMagda de Oliveira –PPSC/UFRGS

Marcelo Fernandes – CREAS LombaMárcia Carcunchinski – SMPEOMárcia Machado – CREAS RestingaMaria Eugenia Steyer – SMJMaria Fernanda Landim – PSE/FASCMaria Juracema Viegas – CREAS NorteMariana Azambuja –CREAS NorteMarta Nilene Gomes – FASE/RSMeri Monteiro – CREAS CentroNádia Gerhard - SJDH/RSNatasha Guabiraba – CREAS PartenonNemora Rocha – CREAS Sul Centro SulNúbia Cardoso – CREAS EixoOlga Alves – CMDC/ redeMaristaOsvaldo Reis – CREAS CentroOtília Abreu – CMDCAPâmela Trigo – CREAS GlóriaPriscila Dornelles – SMJRafael Barros – CREAS RestingaRafaela Ungaretti – SMGLRodrigo Mainardo – Ação Rua/CREAS GlóriaRosangela Viana – Educ. São LuizRosaura Eilert-Juizado Inf. e JuventudeRotiel Maia - Clube de Mães Novo MundoSandra Dias Fouchard – CREAS RestingaSandro Antunes – CREAS RestingaSilvia Alves – CREAS Eixo BaltazarSilvia Edith Marques – SMSSimone Chaves – DECASuzane Mendonça – Justiça Instantânea Tânia Ehlers Brandão – CREAS GlóriaTataiana AdalLeal –CESMARTatiana Adam Leal – CESMARThais Yang Silva – CREAS NorteThiago França - Ação Rua/CREAS EixoV.R.M. – AdolescenteValquíria Todeschini - CPR Bom JesusVanessa Aquino – CREAS NorteVera Ponzio – CREAS PartenonVládia Paz – SMEDW.R.G.- Adolescente

SIGLÁRIO

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CIACA Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente

CMAS Conselho Municipal da Assistência Social

CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

DECA Departamento Estadual da Criança e do Adolescente

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EESCA Equipe Especializada em Saúde da Criança e do Adolescente

EJA Educação de Jovens e Adultos

FASC Fundação de Assistência Social e Cidadania

FASE Fundação de Atendimento Socioeducativo

FUNABEM Fundação Nacional do Bem Estar do Menor

FEBEM Fundação Estadual do Bem Estar do Menor

ICPAE Internação Com Possibilidade de Atividades Externas

ISPAE Internação Sem Possibilidade de Atividades Externas

JIN Justiça Instantânea

LA Liberdade Assistida

MDS Ministério de Desenvolvimento Social

MP Ministério Público

MSE Medida(s) Socioeducativa(s)

PAEFI Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos

PEMSE Programa Municipal de Execução de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto

PIA Plano Individual de Atendimento

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PNAS Política Nacional da Assistência Social

POD - Socioeducativo Programa de Oportunidades e Direitos Socioeducativo

PRONATEC Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego

PSC Prestação de Serviço Comunitário ou à Comunidade

SINASE Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

SJDH Secretaria de Justiça e Direitos Humanos

SMGL Secretaria Municipal de Governança Local

SMPEO Secretaria Municipal de Planejamento Estratégico e Orçamento

SOE Serviço de Orientação Educacional

SPA Substâncias Psicoativas

SUAS Sistema Único de Assistência Social

SUS Sistema Único de Saúde

TRI Transporte Integrado

U.E Unidade de Execução

VJIJ Vara da Justiça da Infância e Juventude

Marco Conceitual

No ano de comemoração dos 25 anos do Estatuto da Criança e do

Adolescente, Porto Alegre é convocada a construir o Plano Municipal Decenal

Socioeducativo. Nesse processo de construção, reflexões sobre a história que

marcou a relação do poder público com as questões relativas à criança e ao

adolescente se fazem necessárias. Dois momentos importantes na história da

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regulamentação das questões voltadas à criança e ao adolescente no Brasil se

traduzem nos Códigos de Menores de 1927 e de 1979. O Estatuto da Criança e do

Adolescente propõe uma ruptura importante com as concepções inscritas nestes

Códigos.

O Código de Menores de 1927, primeira lei a reconhecer e regulamentar a

questão da infância no país foi gestado num período de transição do poder

monárquico parlamentarista para o poder Republicano que se instalava. A

expectativa dos nossos governantes era tornar o Brasil um país moderno,

civilizado. Um país civilizado não poderia conviver com a situação de “abandono”

em que se encontravam as crianças das famílias pobres que começavam a se

aglomerar nos centros urbanos, excluídos das tão propagadas modernidades. As

possibilidades de riqueza e prosperidade estavam sendo transferidas dos centros

rurais para os centros urbanos, fomentadas pela Revolução Industrial. Ao mesmo

tempo em que o progresso produzia riqueza para alguns, também produzia, em

escala inimaginável, a pobreza. Despreparados e desempregados eram vistos

pela elite da época como “aqueles que já haviam se entregado ao hábito do vício e

permanecia no ócio, recusando-se a observar os ‘termos do bem viver’ na

sociedade.”(RIZZINI, 2011 p.). Para regulamentar a conduta dos filhos que

ameaçavam as possibilidades civilizatórias do país, foi criado o Código de 1927,

trazendo a Doutrina do Menor.

Com o regime ditatorial de 1964, o país passou a adotar a Política do Bem

Estar do Menor, atendida pela Fundação Nacional do Bem Estar do Menor -

FUNABEM, replicadas nos Estados como FEBEM – Fundação Estadual do Bem

Estar do Menor. Para regular a nova política, foi criado, em 1979, um novo código,

substituindo o Código de 1927, trazendo a concepção da criança em situação

irregular. Sob esta categoria, o Código de Menores de 1979 passou a atender

as crianças privadas das condições essenciais de sobrevivência, mesmoque eventuais, as vítimas de maus tratos e castigos imoderados, as quese encontrassem em perigo moral entendidas como as que viviam emambientes contrários aos bons costumes, e as vítimas de exploração porparte de terceiros, as privadas de representação legal pela ausência dospais, mesmo que eventual, as que apresentassem desvios de conduta eas autoras de atos infracionais. (SILVA, acessado em 2015).

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O Código de 1979 passou a considerar em sua normativa também os

adolescentes autores de atos infracionais e atendendo-os nos mesmos espaços e

com o mesmo entendimento, tanto as necessidades protetivas oriundas das

violações dos direitos das crianças e adolescentes, quanto às determinações

judiciais de medidas socioeducativas. A antiga FEBEM se constituía como um

depositário de todo tipo de situação em que se encontravam as crianças e os

adolescentes.

Em 1990, o Brasil, ainda sob o efeito da efervescência política que culminou

na Constituição de 1988 e da Convenção dos Direitos da Criança e do

Adolescente, adotada em Assembléia Geral das Nações Unidas em 1989,

promulgou o Estatuto da Criança e do Adolescente.

O Estatuto da Criança e do Adolescente traz em seus fundamentos o

Princípio da Proteção Integral, também presentes na Convenção dos Direitos da

Criança e na Constituição Federal, que expressa, no art 227

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, aoadolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, àdignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL,1988).

Os fundamentos da Doutrina da Proteção Integral podem ser descritos em

três princípios reitores, conforme Armando Afonso Konsen, (2012) no texto

Fundamentos do Sistema de Proteção da Criança e do Adolescente. O primeiro, o

princípio da criança e do adolescente como sujeitos de direitos, revela o principal

diferencial entre o tratamento dispensado ao menor pela Doutrina da Situação

Irregular e a Doutrina da Proteção Integral.

Pelo paradigma anterior, o menor era objeto de providências, sujeitopassivo e contemplativo das determinações da autoridade judiciáriacompetente. Pela Proteção Integral, crianças e adolescentes passarampara a condição de sujeitos situados no palco ativo dos interesses ounecessidades suscetíveis de reconhecimento e de efetiva proteção.(KONZEN, 2012. p 93)

O segundo princípio diz do respeito à condição peculiar da pessoa em

desenvolvimento e, o terceiro é o Princípio da Prioridade Absoluta, que

compreende a prioridade no atendimento e proteção.

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O Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) se organiza em

sistemas de garantias expressos em três níveis:

o nível primário onde se situam as Políticas Públicas gerais relativas àinfância e à juventude no âmbito da educação, da saúde, da habitação,etc. (art. 4º do ECA e 227 da Constituição Federal); o nível secundárioonde se listam as chamadas medidas de proteção aplicáveis a criançase adolescentes em situação de risco social e pessoal (art. 101, do ECA);o nível terciário, as medidas aplicáveis a adolescentes autores de atosinfracionais e as medidas socioeducativas (art. 112, do ECA).(SARAIVA,2012, p. ).

O primeiro nível expressa uma das mais importantes rupturas com os

Códigos anteriores, porquanto o Estatuto define tratar dos direitos inerentes a

todas as crianças e adolescentes atendendo ao preceito da universalidade do

atendimento da política pública.

O nível secundário é atendido através de medidas de proteção ou

pertinentes aos pais ou responsáveis. Na estrutura da Política da Assistência

Social, as situações de violação de direitos são atendidas nos equipamentos da

Proteção Social Especial tanto de Média Complexidade, representada nos

territórios pelos Centros de Referencias Especializados de Assistência Social –

CREAS, quanto de Alta Complexidade, através do Serviço de Acolhimento

Institucional para Crianças e Adolescentes.

O nível terciário trata das medidas socioeducativas aplicadas ao

adolescente diante da prática de ato infracional, entendido no art. 103 do Estatuto

da Criança e do Adolescente como “a conduta descrita como crime ou

contravenção penal”. O artigo 112 do Estatuto traz as medidas socioeducativas

aplicadas aos adolescentes, no cometimento de ato infracional sendo as

seguintes:

I – advertência; II – obrigação de reparar o dano; III – prestação deserviços à comunidade; IV – liberdade assistida; V – inserção em regimede semi-liberdade; VI – internação em estabelecimento educacional; VII– qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.” Considera-seadolescente “aquela (pessoa) entre doze e dezoito anos de idade,(BRASIL, 1990)

A definição dos sistemas de garantias em níveis diferenciados possibilitou a

ordenação e a constituição de espaços adequados para o atendimento às crianças

e adolescentes em situações de direitos violados, sendo encaminhados para

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espaços protetivos nas situações que sugerem afastamento familiar. Nas

situações em que os adolescentes se constituem como autores de atos

infracionais, em especial às situações que requerem medidas em meio fechado,

são encaminhados para espaços específicos, no caso do Estado do Rio Grande

do Sul, para a Fundação de Atendimento Socioeducativo - doravante denominada

FASE, possibilitando, assim, a definição de procedimentos, equipes e espaços de

escuta e atendimento adequados a cada situação.

O Plano Municipal Decenal Socioeducativo vem para atender às

necessidades de melhor estruturação e qualificação no atendimento

socioeducativo preconizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Lei

do Sistema Nacional Socioeducativo - SINASE no que diz respeito às medidas

socioeducativas de Liberdade Assistida e Prestação de Serviço à Comunidade.

Princípios e Diretrizes

Princípios

Todas as leis e normativas que orientam o atendimento à criança ou

adolescente devem ser referenciadas nos princípios do Estatuto da Criança e do

Adolescente. No que diz respeito às normas reguladoras do atendimento

socioeducativo, destaca-se como princípios importantes:

1. A medida socioeducativa é uma sanção do Estado, aplicada pela Justiça

da Infância e da Juventude ao adolescente autor de ato infracional. Portanto, a

medida a ser aplicada deve levar em julgamento apenas o ato infracional praticado

e a capacidade do adolescente em cumpri-la.

2. O adolescente que comete ato infracional é um sujeito de direitos,

conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente, portanto beneficiário

da Doutrina da Proteção Integral, devendo o atendimento socioeducativo

providenciar o acesso aos mesmos, em especial no que diz respeito ao

atendimento das políticas públicas;

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3. O princípio do respeito à condição peculiar da pessoa em

desenvolvimento deve ser entendido como processo em que

a criança e o adolescente recebem com emoção toda a experiência quelhes chega, que é sempre nova em suas vidas, e porque não conseguemfazer a mediação entre o impulso e o mundo externo, passando logo paraa instância da ação, eles têm diminuída sua capacidade de ser e estar nomundo, o que explica sua inimputabilidade genérica frente à lei. (NUNES,2013, p. 51).

Desta forma, o atendimento socioeducativo deve ser visto como o

momento adequado para que o adolescente reflita sobre o ato infracional

praticado e seja motivado para a construção de novos projetos de vida.

Diretrizes

A Lei Nº 12.594/12 (Brasil, 2012) é um instrumento importante na

regulamentação da execução das medidas socioeducativas, pois institui o Sistema

Nacional de Atendimento Socioeducativo-SINASE, define competências e

responsabilidades de cada esfera de poder e orienta para a construção dos

Planos Nacional, Estadual, Distrital e Municipal do Atendimento Socioeducativo,

apontando diretrizes a serem observadas.

O Plano Municipal Socioeducativo de Porto Alegre lista algumas diretrizes

que devem orientar a política do atendimento socioeducativo em meio aberto:

a) A execução da medida socioeducativa é de responsabilidade da política da

assistência social, conforme orienta a Política Nacional da Assistência Social,

(BRASIL, 2004), no entanto a Política de Atendimento Socioeducativo é

responsabilidade de todas as políticas públicas envolvidas no Sistema de

Garantias de Direitos da criança e do adolescente;

b) A Gestão do Sistema Municipal Socioeducativo é intersetorial, democrática e

contempla a participação dos adolescentes;

c) As ações destinadas ao cumprimento de medidas socioeducativas são

voltadas para o desenvolvimento das potencialidades e capacidades dos

adolescentes;

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d) O atendimento socioeducativo visa à construção de projetos pactuados com

os adolescentes e familiares, com ações que favoreçam o protagonismo dos

mesmos, traduzidas no Plano Individual de Atendimento;

e) As ações do Sistema Socioeducativo, em especial do sistema de Justiça e

Segurança, priorizarão mecanismos que previnam e medeiem situações de

conflitos como o uso de metodologias de práticas restaurativas ou círculos de

construção de paz;

f) São imprescindíveis os compromissos das políticas de educação, saúde,

esporte, cultura e profissionalização na oferta e acesso a serviços de

qualidade aos adolescentes atendidos no Programa Municipal de Atendimento

Socioeducativo;

g) A qualidade do atendimento socioeducativo é estabelecida através da oferta

de capacitação continuada aos operadores do Sistema Municipal

Socioeducativo;

h) O atendimento socioeducativo é pautado no respeito à história e trajetória dos

adolescentes e familiares;

Importante compreender as medidas socioeducativas em

três dimensões distintas:

trata-se de uma responsabilização individual, em razão da prática de umaconduta sancionada pelo Estado; trata-se da possibilidade de vivencia detal processo de responsabilização como apropriação, ou compreensãoacerca do ato praticado, seu significado pessoal e social; e também setrata de um processo de aquisições de direitos sociais, em geral violados,ou não garantidos até então. (BRASIL, 2012)

A compreensão destas três dimensões orienta a execução das medidas

socioeducativas, seja em meio fechado ou aberto.

Marco Situacional

Porto Alegre é uma capital com 1.409.351 habitantes, com Índice de

Desenvolvimento Humano - IDH de 0,865, o que a coloca na condição de 7ª

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melhor capital do Brasil. Possui 36.130 famílias beneficiadas com o programa de

transferência e complementação de renda através do Programa Bolsa Família.

Dados do ano de 2013 indicou que há 171.496 crianças e adolescentes

matriculados no ensino fundamental, 47.168 no ensino médio e 21.741

adolescentes acima de 15 anos e adultos matriculados no Ensino para Jovens e

Adultos – EJA.

Os dados da pirâmide populacional de Porto Alegre apresentam recortes

que agregam faixas de 10 a 14 anos e de 14 a 19 anos, o que não permite uma

análise mais precisa envolvendo a faixa etária de 12 a 18 anos, grupo envolvido

com a aplicação de medidas socioeducativas em razão de cometimento de ato

infracional. Os dados mostram que a faixa entre 10 a 19 anos representa 14,5%

da população, perfazendo um total de 204.274 adolescentes da cidade. (Observa

POA). Considerando que hoje Porto Alegre conta com 1225 adolescentes em

cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto, este índice representa

aproximadamente 0,5% dos adolescentes da cidade. Tais dados têm demonstrado

a urgente necessidade de articulação das políticas públicas no atendimento ao

adolescente em cumprimento de medida socioeducativa e o compromisso da

sociedade com este adolescente, antes de oferecer-lhe maior punição,

segregação e apartamento.

A execução das medidas socioeducativas de meio aberto em Porto Alegre,

após a sanção do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, ficou a cargo do

Sistema de Justiça Juvenil até o ano de 2000. De 2000 a 2002 passou por fase de

transição, quando o Programa de Execução de Medidas Socioeducativas foi

Municipalizado, ficando a Fundação da Assistência Social e Cidadania com a

responsabilidade pela execução das medidas socioeducativas de Liberdade

Assistida e Prestação de Serviço a Comunidade.

Em 2004, a Política Nacional da Assistência Social-PNAS, definiu ser de

competência da política da Assistência Social a execução das medidas em meio

aberto, instituindo o Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento

de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviço

à Comunidade (PSC). O atendimento aos adolescentes em cumprimento de

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medidas socioeducativas passou a ser realizado através Proteção Social Especial

de Média Complexidade nos CREAS – Centro de Referência Especializado de

Assistência Social. As orientações da Política Nacional da Assistência Social

PNAS (BRASIL, 2004) foram concretizadas com a implantação do Sistema Único

da Assistência Social - doravante denominado SUAS, em todo o território nacional.

O processo de implantação do Sistema Único da Assistência Social em

Porto Alegre teve maior concretude no ano de 2010 com a implantação dos CRAS

– Centro de Referência de Assistência Social e dos CREAS – Centros de

Referência Especializado de Assistência Social, constituindo-se nove regiões de

atendimento da Assistência Social na cidade. Acatando as orientações da PNAS

e a resolução 109, de 11 de novembro de 2009 do CONANDA, a qual aprova a

Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, as medidas socioeducativas

passaram a ser atendidas nos nove CREAS.

Figura 1 - Mapa da Regionalização da Assistência Social do Município de

Porto Alegre

A Lei 12.594 de 2012, que institui o Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo e que “objetiva primordialmente o desenvolvimento de uma ação

socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos humanos. Defende, ainda, a

10

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ideia dos alinhamentos conceitual, estratégico e operacional, estruturada,

principalmente, em bases éticas e pedagógicas”. (BRASIL, 2006, p.16) A Lei do

SINASE orienta o atendimento das medidas socioeducativas nos sistemas aberto

e fechado, definindo competências das três esferas do poder público, assim como

as responsabilidades do sistema de justiça juvenil e o envolvimento das políticas

públicas, em especial saúde, educação, assistência social, esporte, cultura,

trabalho e emprego. Indica parâmetros de gestão, avaliação e monitoramento do

Sistema e a necessidade da construção do Plano Decenal Socioeducativo nos

níveis nacional, estadual e municipal e a oferta de programas de atendimento, no

caso dos municípios.

Para discorrer sobre as questões relativas ao atendimento socioeducativo

de meio aberto em Porto Alegre, o parâmetro de análise de dados será o mês de

novembro dos anos de 2010, 2013 e 2014.

Gráfico 1

O gráfico acima apresenta o número de medidas socioeducativas que

estavam em execução no mês de novembro dos anos referidos. Este dado

representa a média mensal de medidas atendidas. Observa-se um número de

11

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Prestação de Serviço Comunitário superior à medida socioeducativa de Liberdade

Asssitida, como também uma leve redução do número de medidas de 2013 para

2014. No entanto, esta leve redução vem acompanhada do agravamento do perfil

de alguns adolescentes. A violência em alguns territórios foi mais agravada pela

disputa do tráfico e muitas situações de roubo associadas a atividade de tráfico

colocam os adolescentes em situação de risco, muitas vezes inviabilizando o

cumprimento da medida socioeducativa em meio aberto. Este tema é de bastante

preocupação das equipes de atendimento, vindo a exigir propostas de intervenção

nesta questão, no eixo Gestão do Plano Municipal.

Gráfico 2

O gráfico apresenta a quantidade de adolescentes em cumprimento de

medidas, versus a quantidade de medidas a serem atendidas. Esta diferença

representa duas situações distintas. Uma diz respeito aos adolescentes que

cumprem mais de uma medida por atos infracionais diferentes. A outra diz respeito

aos adolescentes que recebem mais de uma medida, LA e PSC, pelo mesmo ato

12

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infracional, o que exige maior empenho das equipes no acompanhamento e

encaminhamento às Unidades de Execução.

Unidades de Execução são os locais para onde os adolescentes são

encaminhados para cumprimento de Prestação de Serviço à Comunidade.

Atualmente Porto Alegre conta com 83 locais que recebem adolescentes para

cumprimento de medida socioeducativa de PSC, totalizando 541 vagas. Destes,

40 são espaços governamentais - sendo a maioria de esfera municipal - mas

contamos também com entidades governamentais do executivo federal, estadual

ou poder judiciário. As outras 43 são entidades não governamentais.

Abaixo apresentamos o demonstrativo de vagas por região:

Tabela 1 – Unidades de Execução e vagas para PSC no municipio de Porto Alegre

Região Nº de

Unidades

Governa

mental

Não

Governamental

Vagas

Glória/Cruzeiro /Cristal 13 05 08 86Norte/Nordeste 07 04 03 44Sul/Centro-sul 08 04 04 58Centro/H/N/Ilhas 11 07 04 57Leste 08 03 05 55Lomba do Pinheiro 09 03 06 71Partenon 09 04 05 71Restinga/Extremo sul 14 09 05 61Eixo 04 01 03 38Total 83 40 43 541

Os dados mostram, primeiramente, a urgência em ampliar o número de

Unidades de Execução, consequentemente vagas. Não foram computados neste

universo os adolescentes que estão em cumprimento de PSC nos CREAS em

atividade de oficina pedagógica. Apesar de entendê-las enquanto experiência

inovadora, com resultados surpreendentes na relação dos adolescentes que delas

participam, não suprem as necessidades de vagas, nem substituem a importância

de se ter muitos parceiros nesse processo. Envolver mais as estruturas dos

orgaõs governamentais, assim como as entidades que tem longa trajetória de

militância nos direitos das crianças e adolescentes, constitui-se como uma das

ações importantes apontadas nos eixos operativos do Plano.

Gráfico 3

13

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Dados Vigilancia socioassistencial - FASC

O gráfico apresenta o número de adolescentes em cumprimento de medida

por região de atendimento. Estes dados são relativos ao mês de novembro de

2014 e não houve variação significativa em 2015. A região de abrangência do

CREAS Glória/Cruzeiro/Cristal apresenta o maior número de adolescentes em

cumprimento de medida, seguida pelas regiões Partenon e Restinga/Extremo sul.

Estes índices são importantes, pois trazem elementos que subsidiam análise das

regiões, contribuindo para o planejamento de ações nas mesmas, apontando a

importância de articular as demais proteções da assistência social que atuam nos

respectivos territórios, assim como as demais políticas públicas envolvidas com o

atendimento socioeducativo.

Gráfico 4

14

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Acima está representado em gráfico o número de medidas socioeductivas

por região da Assistência Social. Acompanhando a lógica do número de

adolescentes, seguem as regiões Glória/Cruzeiro/Cristal, seguida do Partenon e

Restinga com o maior índice de medidas aplicadas. Constata-se, também, o

número significativo de medida de Prestação de Serviço Comunitário em relação

à Liberdade Assistida. Atualmente, todos os CREAS estão oferecendo a

possibilidade de execução de PSC através de oficinas pedagógicas desenvolvidas

no próprio CREAS. As oficinas tem o próposito de, através do cumprimento da

medida, estimular o potencial criativo dos adolescentes, trabalhar sua auto-estima,

contribuindo para que os mesmos se percebam nas suas capacidades. Esta

experiência tem se afirmado como uma metodologia potente no fortalecimento do

caráter reflexivo da medida socioeducativa e tem apontado uma redução drástica

no índice de evasão no cumprimento da medida em meio aberto.

15

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Dados Vigilância Socioassistencial FASC

Gráfico 5

O gráfico acima apresenta em números, os atos infracionais praticados por adolescentes, que motivaram a aplicação de medidas socioeducativas no segundo semestre de 2013 e 2014.

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O gráfico traz um demonstrativo dos atos infracionais mais recorrentes

encaminhados para cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto.

Observa-se um número elevado do ato infracional de produção e tráfico ilícito de

drogas, perfazendo 28% do volume de ato infracional praticado no ano de 2013,

seguido de furto/roubo, perfazendo 22% e lesão corporal/violência doméstica, com

12,2%.

Tão importante quanto os dados para o planejamento das ações é o

entendimento dos processos socioculturais em que estão inseridos a grande

maioria dos adolescentes que são encaminhados para cumprimento de medidas

socioeducativas. Esta maioria vem de processos de exclusões e violações de

direitos de várias naturezas. Tanto o Estatuto da Criança e do Adolescente quanto

a Constituição Federal preconizam que é responsabilidade da família, da

comunidade, da sociedade em geral assegurar a efetivação dos direitos das

crianças e dos adolescentes. No entanto, muitos dos adolescentes em

cumprimento de medida socioeducativa sequer usufruem o direito à vida digna e à

convivência familiar e comunitária, direitos básicos para uma existência plena e

saudável.

As constantes experiências de faltas, vazios e negações, imprimem na

subjetividade dos adolescentes um sentimento de não pertencimento, de

incapacidade e inadequação. Muitas vezes, inserir-se em grupos em que o ato

infracional faz parte da construção de identidades é a maneira que o adolescente

encontra para construir seu processo de pertencimento. Aliada a esta questão, a

possibilidade de expressão de “poder” e “autonomia financeira” que estes grupos

oferecem, torna ainda mais atrativo o envolvimento com atividades ilícitas.

Entender a dimensão desses processos ajuda a entender a dificuldade

em revertê-los. Trabalhar essas dimensões através do atendimento de

cumprimento de Medida Socioeducativa é uma tarefa, no mínimo, desafiadora.

Entre as orientações que o SINASE aponta como imperativo para a

qualificação do atendimento aos adolescentes em cumprimento de medida

socioeducativa está a construção do Plano Individual de Atendimento (PIA),

instrumento de previsão, registro e gestão das atividades a serem desenvolvidas

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com o adolescente. O Art. 53 da Lei 12.594 orienta que “o PIA será elaborado sob

a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de atendimento,

com a participação efetiva do adolescente e de sua família, representada por seus

pais ou responsável.”

Orienta ainda, no Art. 54. que

Constarão do plano individual, no mínimo:I – os resultados da avaliação interdisciplinar;II – os objetivos declarados pelo adolescente;III – a previsão de suas atividades de integração social e/ou capacitaçãoprofissional;IV – atividades de integração e apoio à família;V – formas de participação da família para efetivo cumprimento do planoindividual; eVI – as medidas específicas de atenção à saúde;

O documento não aponta o atendimento à educação como uma das

questões relevantes que devam constar no PIA. Mesmo que se tenha como óbvio

esta política, é sempre importante pontuar, porquanto esta se apresenta como

uma das maiores dificuldades de serem trabalhadas com os adolescentes em

cumprimento de medida socioeducativa. O índice de adolescentes que se

encontra evadido da escola no momento que se apresenta para cumprimento de

medida é altíssimo. Aliada à evasão, acompanha a baixa escolaridade.

Levantamento realizado em 2010, pela Proteção Social Especial da FASC, dos

adolescentes que identificaram seu nível de escolaridade, 40% estavam no ensino

Fundamental e apenas 1% tinha o ensino Fundamental Completo. Pela

experiência dos técnicos que atendem as medidas, afiança-se, sem receio de

errar, que, nestes 40%, o índice de evasão dá-se no 5º ano do Ensino

Fundamental. Trabalhar com os adolescentes o retorno a lugares já conhecidos,

que passeiam pela memória como símbolos de exclusão, negação ou fracasso,

não é tarefa fácil. As motivações que fizeram com que os adolescentes

abandonem a escola, em regra, continuam presentes.

Aliada à problemática apontada acima, depara-se com as dificuldades das

escolas em oferecer um olhar acolhedor a este adolescente. A grande maioria

deles, pela defasagem escolar e idade acima dos 15 anos, é público para

modalidade EJA (Ensino para Jovens e Adultos). Apenas a região Centro possui

EJA diurno, os adolescentes das demais regiões têm a situação de risco

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agravada, pois possuem oferta de EJA somente à noite. Para além desta questão,

a regra é a negativa da vaga, e quando a vaga é concedida, segue acompanhada

de uma lista de condicionantes.

As dificuldades descritas sinalizam a necessidade imperiosa de

articulação e envolvimento da política de Educação, seja da rede Estadual ou

Municipal, no atendimento aos adolescentes em cumprimento de medida

socioeducativa. Alguns movimentos estão sendo realizados, mas ainda incipientes

frente à situação. A participação de operadores do Sistema Socioeducativo na

construção do Plano Municipal de Educação possibilitou a aprovação de

ampliação de oferta de EJA diurno no Ensino Fundamental da Rede Municipal de

Ensino e no ensino médio na Rede Estadual de Ensino. Outra proposta aprovada

no Plano Municipal de Educação é o de implementar políticas de inclusão e

permanência na escola para adolescentes e jovens atendidos pelo Programa

Municipal de Execução de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto com

articulação entre a equipe da escola –SOE – e os técnicos de execução da

medida socioeducativa.

A Lei do SINASE dedica todo o capítulo V à atenção integral à saúde dos

adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa. Prevê a inclusão dos

adolescentes na política de saúde, apontando a “garantia de acesso a todos os

níveis de atenção à saúde, por meio de referência e contra-referências, de acordo

com as normas do Sistema Único de Saúde (SUS).” (Brasil, 2012a).

O uso de substâncias psicoativas é uma realidade muito presente no

universo da juventude contemporânea, em especial no público da socioeducação.

Trabalhar esta questão, oferecendo uma abordagem que privilegie o despertar

para uma vida saudável, é um desafio e uma tarefa para equipes qualificadas da

rede de saúde. Estudos indicam que o uso intensivo de substâncias psicoativas

pode desencadear doenças mentais importantes. Tem sido cada vez mais

frequente a necessidade de encaminhamento dos adolescentes para a rede de

saúde mental. Algumas regiões de Porto Alegre conseguiram construir relações

regionais com a política de saúde mental através de fluxos mensais com as

Equipes Especializadas em Saúde da Criança e do Adolescente - EESCA ou de

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matriciamento, no entanto, este diálogo não representa a realidade de Porto

Alegre.

A Secretaria de Saúde do Município elaborou um Plano Operacional Local

– POL, prevendo um fluxo e estrutura para atendimento aos adolescentes em

cumprimento de medidas socioeducativas em meio fechado, na FASE. É

fundamental que se construa um fluxo que atenda as necessidades dos

adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto.

Outro desafio tão importante quanto este é a inclusão dos adolescentes

em cumprimento de Medida Socioeducativa em políticas de esporte, cultura e

inclusão no mundo do trabalho. Este último, com a oferta de cursos de formação

que tenham significado para o público jovem, que apesar da baixa escolaridade,

apresenta um potencial criativo surpreendente. Caberá ao Colegiado Gestor do

Programa Municipal de Atendimento Socioeducativo articular ações apropriadas

que atendam às necessidades dos adolescentes.

Sistema de Justiça e Segurança Pública

Porto Alegre é uma cidade privilegiada no que diz respeito ao Sistema de

Justiça Juvenil. O Juizado da Infância e da Juventude conta com um Centro

Integrado de Atendimento da Criança e do Adolescente (CIACA), o qual constitui-

se num Centro de atendimento especial e exclusivo à criança e ao adolescente,

tanto na condição de vítima, como de autor de ato infracional. O CIACA conta com

a presença da Polícia Civil, através do Departamento Estadual da Criança e do

Adolescente, com a atuação da Defensoria e do Ministério Público na apuração

dos fatos, na escuta dos adolescentes e familiares. No CIACA, atua a Justiça

Instantânea, a JIN, onde acontece a primeira audiência com os adolescentes e a

aplicação de Medidas Socioeducativas em remissão, a indicação de medidas

protetivas ou encaminhamentos para Procedimentos Restaurativos.

Apesar de toda a estrutura e serviços oferecidos, ainda se tem muito que

avançar. Os depoimentos dos familiares e adolescentes no cumprimento da

execução das medidas e, mais intensamente expressos no Seminário de

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Construção do Plano Municipal, apontaram a necessidade de maior compreensão

sobre o contexto destes adolescentes. Tal compreensão irá contribuir para o uso

de uma linguagem mais acessível e postura mais humana na escuta que é

ofertada e a que tem direito estes adolescentes e suas famílias.

O processo educativo que venha a contribuir para que os adolescentes se

sintam inseridos nas relações sociais como sujeitos de direitos deve iniciar desde

a abordagem policial. Nenhuma ação deve ser vista isolada, mas parte de uma

proposta que objetive contribuir para que os adolescentes se sintam resgatados

na sua dignidade e saiam destes processos fortalecidos em suas potencialidades.

Desta maneira, o Plano Municipal propõe capacitações com vistas a humanizar a

abordagem policial aos adolescentes e seus familiares.

Importante destacar o olhar atento e sensível da Vara de Execuções – 3ª

VJIJ, ao Serviço de Atendimento aos adolescentes. A ordem de serviço 001, de

2012, que orienta quanto às formalidades, prazos e competências na execução

das medidas, aliada às reuniões mensais de fluxos entre os serviços, objetiva a

busca constante da qualificação do atendimento socioeducativo, visando sempre o

adolescente e sua família.

Modelo de Gestão

O Seminário de Construção do Plano Municipal Socioeducativo, na sua

primeira etapa, ocorrida em abril de 2015, apontou a necessidade de se constituir

o Sistema de Atendimento aos Adolescentes em Cumprimento de MSE como

Política Pública Municipal. Não significa afirmar que esta responsabilidade se

limite às competências do Município, muito pelo contrário, sinaliza o entendimento

da necessidade de envolver várias políticas, em vários níveis, numa estrutura

sistêmica de atendimento.

As Orientações Técnicas sobre o Serviço de Proteção Social a

Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida

(LA) e Prestação de Serviço à Comunidade (PSC) do Ministério de

Desenvolvimento Social e Combate a Fome (Brasil, 2012b), assim como as

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resoluções 119 do CONANDA, que institui o SINASE, trazem recomendações

muito importantes para o modelo de Gestão, que traduz o entendimento apontado

no Seminário.

A resolução 119 do CONANDA, que institui o SINASE, indica como

competências e atribuições dos municípios no atendimento socioeducativo:

1) coordenar o Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo;2) instituir, regular e manter o seu sistema de atendimentosocioeducativo, respeitadas as diretrizes gerais fixadas pela União epelo respectivo Estado; 3) elaborar o Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo; 4)editar normas complementares para a organização e funcionamentodos programas de seu sistema;5) fornecer, via Poder Executivo, os meios e os instrumentosnecessários ao pleno exercício da função fiscalizadora do ConselhoTutelar; 6) criar e manter os programas de atendimento para a execução dasmedidas de meio aberto;7) estabelecer consórcios intermunicipais, e subsidiariamente emcooperação com o Estado, para o desenvolvimento das medidassocioeducativas de sua competência.

Para viabilizar tais responsabilidades, orienta para a criação do Programa

Municipal de Atendimento Socioeducativo, devendo sua gestão dar-se por meio de

uma organização que contemple “a existência de um dirigente geral ou

responsável legal pela instituição....”(p. 40 resolução 119 CONANDA). Orienta

ainda a instituição de um Colegiado Gestor, que deverá ser normatizado por

instrumento administrativo apropriado, cabendo ao Colegiado Gestor:

1) coordenar, monitorar e avaliar os programas que compõem o SistemaSocioeducativo;2) articular estrategicamente com os Conselhos de Direitos; 3) garantir a discussão coletiva dos problemas, a convivência com apluralidade de ideias e experiências e a obtenção de consensos em prolda qualidade dos serviços e dos valores democráticos;4) assegurar e consolidar a gestão democrática, participativa ecompartilhada do Sistema Socioeducativo em todas as instâncias que ocompõem, dentro dos princípios democráticos, visando romper com ahistórica cultura autoritária e verticalizada;5) assegurar a transparência tornando público à sociedade ofuncionamento e os resultados obtidos pelo atendimento socioeducativo;6) elaborar e pactuar o conjunto de normas e regras a serem instituídas,que devem ter correspondência com o SINASE. (p. 41 resolução 119CONANDA).

Em publicação organizada por Ana Paula Motta Costa (2014) sobre o

Planejamento Estratégico na gestão de uma instituição de cumprimento de medida

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socioeducativa, encontramos o entendimento que a “visão de mundo das pessoas

determina suas práticas, assim também no planejamento a análise de

determinada realidade institucional é realizada deste o ponto de vista dos atores

que a definem”. (Costa et al. 2014, p. 24). Desta maneira, é importante que se

tenha claro o modelo de gestão que se pretende para o atendimento

socioeducativo: como orienta o SINASE, uma gestão intersetorial, democrática,

participativa e que contemple a participação dos adolescentes.

Abaixo, segue graficamente a proposta de Fluxo de Gestão e

Atendimento Intersetorial Socioeducativo do caderno de orientações do MDS

(2012), para os municípios.

Figura 2 – Fluxo de Atendimento Intersetorial proposto pelo MDS

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Uma das grandes dificuldades identificadas durante o processo de

discussão sobre o atendimento socioeducativo é a falta de articulação das

políticas públicas, em especial educação e saúde na viabilização do Plano

Individual de Atendimento do Adolescente. O Eixo Operativo de Gestão do

Sistema Socioeducativo aponta a necessidade desta articulação. Foi constatada

também a escassez de oferta nas políticas de esporte, cultura, lazer e mundo do

trabalho.

Um aspecto importante que incide na qualidade da gestão do atendimento

socioeducativo é a ausência de dados que permitam uma análise mais profunda

do comportamento dos territórios no que diz respeito aos atos infracionais e,

principalmente, que permitam conhecer melhor quem são os adolescentes

atendidos, como questões relativas à escolaridade, situações familiares, relação

com o uso de substâncias psicoativas, etc. É importante e necessária a

construção de instrumentos que forneçam elementos para esta análise.

A estrutura do Plano, que descreve os objetivos e metas a serem

perseguidas nos próximos dez anos, está obedecendo às orientações do Plano

Nacional, que aponta os quatro eixos de ação; Eixo 1. Gestão do SINASE; Eixo 2.

Qualificação do atendimento; Eixo 3: Participação e Autonomia dos Adolescentes

e familiares; Eixo 4. Fortalecimento dos Sistemas de Justiça e Segurança.

Os objetivos e metas apresentadas no quadro a seguir, fruto das

discussões com ampla representação dos vários segmentos que atuam no

atendimento socioeducativo, estão apontando ações genéricas, necessitando de

posterior detalhamento metodológico e operacional de cada item.

Cada ação vem indicando prazos e responsáveis pela sua realização.

Algumas delas, com sentido de continuidade, deverão perpassar todos os

períodos. A cada final de período, o Plano deverá passar por avaliação, para

identificação das dificuldades encontradas para a concretização do mesmo e

formas de superá-las.

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PLANO MUNICIPAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVOEIXOS OPERATIVOS – Metas, prazos e responsáveis.

EIXO 1 – Gestão

Objetivo 1: Implantação do SINASE de acordo com as Diretrizes da Lei 12.594/12 (SINASE)

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METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS

2015-

2017

2018

-2021

2022-

2024

1.1.Instituir o Sistema Municipal Socioeducativo, definindo diretrizes municipais no sentido de que

o atendimento aos adolescentes em cumprimento de MSE em meio aberto se constitua enquanto

política pública, com ações articuladas nas áreas de educação, saúde, assistência social, cultura,

capacitação para o trabalho, geração de renda e esporte, conforme determina o art. 8º do SINASE.

X Prefeito

1.2 Subsidiar o Governo, com vistas a envolver todas as políticas públicas no atendimento aos

adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas.

X X X Colegiado Gestor

1.3.Articular as demais esferas de poder público (estadual e federal) com o objetivo de comprometê-

las no que diz respeito às suas responsabilidades no atendimento aos adolescentes em cumprimento

de Medidas Socioeducativas.

X X X Prefeito/ Colegiado

Gestor

1.4. Elaborar protocolos e fluxos com as demais políticas, de acordo com Caderno de Orientações

Técnicas do MDS e SINASE, com vistas à garantia do atendimento integral aos adolescentes em

cumprimento de medidas socioeducativas.

X Colegiado Gestor

1.5 Construir, com as entidades da sociedade civil que estabelecem relação convenial com a FASC,

compromisso com oferta de vagas para atender os adolescentes em cumprimento de Medidas

Socioeducativas de PSC.

X X X FASC

1.6. Garantir, nos territórios de atendimento da Assistência Social, ações de aproximação e diálogo

permanente do serviço de medidas socioeducativas com as políticas de educação, saúde, esporte,

cultura e segurança, entre outros.

X X X FASC, Colegiado

Gestor

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS

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2015-

2017

2018-

2021

2022 -

2024

2.1. Formalizar o Colegiado Gestor do Programa Municipal de Atendimento Socioeducativo, com

representações das diversas políticas públicas municipais, estaduais, do sistema de justiça e controle

social, designando sua coordenação.

X Prefeito

2.2. Constituir o Programa Municipal de Atendimento Socioeducativo através de projetos, ações e

serviços executados pelas políticas públicas representadas, considerando suas especificidades e

responsabilidades, que devem ser reavaliadas periodicamente.

X Colegiado Gestor

2.3.Definir, no regimento interno do Colegiado Gestor, como atribuições da sua Coordenação, a

administração, a gestão e a prestação de contas dos recursos destinados ao Programa Municipal de

Atendimento Socioeducativo.

X X X Colegiado Gestor

Objetivo 2. Implantação do Programa Municipal de Atendimento Socioeducativo, conforme caderno de Orientações Técnicas do MDS

Objetivo 3: Implantação de Política de Financiamento

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS

2015-

2017

2018-

2021

2022-

20243.1. Garantir fontes de financiamento para a política de atendimento ao adolescente em

cumprimento de MSE nas instâncias do executivo municipal, estadual e federal, assim como do

poder judiciário.

X X X Prefeito/Colegiado

Gestor

3.2. Planejar ações que visem sensibilizar a iniciativa privada a participar do financiamento do

Programa Municipal de Atendimento Socioeducativo.

X X X Prefeito/Colegiado

Gestor3.3. Buscar repasse de recursos destinados à implantação de ações correspondentes ao SINASE,

junto à Secretaria Nacional de Direitos Humanos.

X X Prefeito/Colegiado

Gestor

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3.4. Contemplar no orçamento anual das diversas secretarias e órgãos municipais recursos para o

Programa Municipal de Atendimento Socioeducativo.

X X Prefeito/Colegiado

Gestor3.5. Garantir o uso dos repasses do MDS na política de atendimento ao adolescente em

cumprimento de MSE.

X X X Prefeito/Colegiado

Gestor

Objetivo 4: Sistema de Avaliação e Monitoramento do Atendimento Socioeducativo

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS

2015-

2017

2018-

2021

2022-

2024

4.1. Garantir ações de Vigilância Socioassistencial com relação aos adolescentes em

cumprimento de MSE e potencializar as interfaces entre os sistemas de informação já existentes.

X X X Colegiado

Gestor/FASC4.2. Atualizar os itens referentes às medidas socioeducativas no Formulário do Monitoramento

da FASC, incluindo dados que nos permitam avaliar indicadores como: cumprimento de medida,

reincidência, mortalidade, risco, situação escolar, geração de renda, uso de SPA,etc.

X X Colegiado

Gestor/FASC

4.3. Aderir e Implantar o Sistema de Informações para Infância e Adolescência SIPIA / SINASE,

com estudo de possibilidade de interface de dados com os sistemas de informação já existentes.

X X Colegiado

Gestor/FASC

Objetivo 5: Implantação de ações de proteção e enfrentamento às situações de violência nos territórios

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS

2015-

2017

2018-

2021

2022-

20245.1. Construir mapa situacional da violência nos territórios com vistas a propor políticas públicas

de enfrentamento da violência e proteção aos adolescentes e agentes da socioeducação

X X Colegiado

Gestor/FASC/

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Observa POA5.2. Provocar reflexão e constituição de fluxos junto ao Sistema de Justiça e órgãos afins, acerca

do art. 112 do ECA § 1º que orienta que sejam avaliadas as capacidades sociais e individuais do

Adolescente ao longo da execução para o efetivo cumprimento da Medida Socioeducativa.

X X X Colegiado

Gestor/FASC/JIJ

5.3. Instrumentalizar e equipar os espaços de acolhida aos adolescentes em cumprimento de

medidas socioeducativas, com retaguarda estrutural para intervenção qualificada em casos de

risco.

X X X Colegiado

Gestor/FASC

5.4. Estimular ações articuladas e continuadas de prevenção, segurança e combate à violência

observadas as especificidades dos territórios.

X X X Colegiado

Gestor/FASC5.5. Estimular estratégias de fomento de práticas restaurativas, de mediação e processos

circulares, visando a pacificação das relações humanas, a não judicialização dos conflitos e a

constituição de uma cultura de paz.

X X X Colegiado

Gestor/FASC

5.6. Estimular a manutenção de programas continuados que garantam a proteção de adolescentes

ameaçados de morte e suas famílias, articulados com a rede de atendimento.

X X X Colegiado

Gestor/PPCAM

EIXO 2 – Qualificação do atendimento socioeducativo

Objetivo 1: Sistematização de metodologias que fortaleçam o caráter pedagógico, quanto à responsabilização e garantia de direitos

no acompanhamento da MSE.

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS2015-

2017

2018-

2021

2022-

2024

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1.1. Oferecer acolhimento coletivo e individual aos adolescentes e familiares encaminhados

pela Justiça Juvenil para cumprimento de MSE.

X X X Colegiado

Gestor/FASC

/CREAS1.2. Oferecer escuta qualificada no atendimento dos adolescentes. X X X FASC/CREAS

1.3. Efetivar estratégias de acompanhamento coletivo como uma das ferramentas de

atendimento na Execução da MSE.

X X X FASC/CREAS

1.4. Oferecer acompanhamento às famílias dos adolescentes em cumprimento de medida

socioeducativa nas modalidades individuais ou em grupo.

X X X FASC/CREAS

1.5.Fomentar discussão e experiências de L.A Comunitária como metodologia de atendimento

aos adolescentes, conforme previsto no SINASE.

X X X Colegiado

Gestor/FASC1.6. Elaborar Caderno de Orientações Técnicas Municipal para o acompanhamento dos

adolescentes em cumprimento de MSE e suas famílias.

X Colegiado

Gestor/FASC1.7. Elaborar orientações técnicas e metodológicas para a atividade de supervisão às Unidades

de Execução de PSC.

X Colegiado

Gestor/FASC1.8. Constituir maior espaço de articulação com o meio fechado – FASE e Programa de

Egressos e PPCAM.

X Colegiado Gestor

1.9.Ampliar ofertas de aprendizagem profissional e geração de renda a adolescentes em

distorção série/idade e vulnerabilidade social.

X X X Colegiado Gestor

1.10.Articular com o Conselho Tutelar ações no que tange à aplicação ao cumprimento das

medidas protetivas, conforme art.136 Inciso VI do ECA.

X X X Colegiado Gestor

Objetivo 2: Estruturação dos CREAS conforme preconiza o SUAS/SINASE oferecendo condições e estrutura mínima para

atendimento individual e em grupo

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS2015-

2017

2018-

2021

2022-

2024 2.1.Adequar a estrutura física dos CREAS, conforme parâmetros indicados no SUAS/SINASE X X X /FASC2.2. Garantir a infraestrutura necessária para o desenvolvimento de atividades coletivas, tais X X X Colegiado

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como:oficinas pedagógicas, atividades culturais, passeios através da oferta de lanches,materiais

pedagógicos,equipamentos,etc.

Gestor/FASC

2.3. Garantir recursos para TRI assistencial para os adolescentes em cumprimento de Medidas

Socioeducativas.

X X X Colegiado

Gestor/FASC2.4. Garantir equipamentos de informática e software e rede informatizada para atender as

necessidades apontadas pelo Serviço de Proteção Social ao Adolescente em Cumprimento de

MSE.

X X X Colegiado

Gestor/FASC

2.5. Disponibilizar recursos financeiros para execução das medidas de PSC em instituições não

governamentais que atuam como Unidade de Execução de PSC.

X X X Colegiado

Gestor/FASC

Objetivo 3: Composição das equipes para atendimento socioeducativo conforme orientações do SUAS/SINASE

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS2015-

2017

2018-

2021

2022-

2024 3.1. Constituir equipes especificas e exclusivas nos CREAS para acompanhamento aos

adolescentes em cumprimento de MSE, conforme Caderno de Orientações Técnicas do

MDS(p.71)/SINASE.

X X X FASC

3.2. Cumprir a meta estabelecida no Caderno de Orientações Técnicas do MDS/SINASE para o

Serviço de Proteção Social ao Adolescente em Cumprimento de MSE (para cada 40

adolescentes, disponha-se de dois técnicos com dedicação exclusiva ao serviço de medidas

socioeducativas).

X X Colegiado

Gestor/FASC

Objetivo 4: Política de formação continuada para as equipes que atendem a Socioeducação

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS2015-

2017

2018-

2021

2022-

2024

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4.1. Implantar política de formação continuada em facilitação/moderação de grupos para as

equipes responsáveis pelo acompanhamento das MSE’s.

X X X Colegiado

Gestor/FASC4.2. Implantar política de formação continuada com base nas orientações técnicas do SUAS e

SINASE para o atendimento às MSE .

X X X Colegiado

Gestor/FASC4.3. Implantar política de formação continuada às equipes nos assuntos relativos à juventude e

contemporaneidade.

X X X Colegiado

Gestor/FASC4.4. Capacitar/atualizar técnicos das políticas de saúde, CMAS, CMDCA, educação e

Conselheiros Tutelares sobre as questões relativas ao acompanhamento aos adolescentes em

cumprimento de Medidas Socioeducativas.

X X X Colegiado Gestor

4.5. Elaborar e divulgar material informativo sobre Medidas Socioeducativas com linguagem

acessível aos diferentes públicos.

X X X Colegiado Gestor

4.6. Oferecer formação continuada para Orientadores e Referências das Unidades de Execução

de PSC.

X X X Colegiado

Gestor/FASC4.7. Garantir a participação do Município na instância de formação Estadual do SINASE* X X X Colegiado Gestor4.8. Estabelecer parceria com Universidades para pesquisas e aprimoramento do atendimento

aos adolescentes em cumprimento de MSE em meio aberto.

X X X Colegiado Gestor

Objetivo 5: Enfoque ao princípio restaurativo e cultura de paz

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS2015-

2017

2018-

2021

2022-

2024 5.1. Implantar Centrais de Práticas Restaurativas em todas as regiões de atendimento da

Assistência Social do Município de Porto Alegre.

X X X Colegiado

Gestor/FASC5.2. Ofertar, sistematicamente, cursos de capacitação em Justiça Restaurativa, cultura de paz e

outros para as equipes que atendem adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa.

X X X Colegiado Gestor

5.3. Priorizar a oferta de práticas restaurativas, Mediação de Conflitos, Comunicação Não X X X Colegiado Gestor

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Violenta e Cultura de Paz como parte do processo de acompanhamento de MSE.5.4. Promover ações de sensibilização para temas como cultura de paz, Justiça Restaurativa, etc.

junto às escolas, rede de acolhimento institucional e espaços de convivência dos adolescentes,

visando a não judicialização dos conflitos.

X X X Colegiado

Gestor/FASC/SME

D5.5. Articular com a Proteção Básica da Assistência Social e demais políticas públicas ações

que favoreçam o fortalecimento comunitário e cultura de paz.

X X X Colegiado

Gestor/FASC

EIXO 3 – Participação e autonomia dos adolescentes e famílias

Objetivo 1: Garantia da participação dos adolescentes/jovens em cumprimento de medida socioeducativa e suas famílias nas

instâncias de formulação e controle da política pública da socioeducação

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS2015-

2017

2017-

2019

2020-

2024 1.1. Incentivar a participação dos adolescentes e seus familiares nas instâncias de controle

social das diversas Políticas Públicas, tais como Pré-Conferências, Conferências Municipal ,

Estadual e comissões locais de Educação, Saúde, Assistência Social, Criança e Adolescente,

Juventude entre outras.

X X X Colegiado

Gestor/FASC

1.2. Garantir assento para representantes dos adolescentes em cumprimento de MSE e

familiares no Colegiado Gestor

X X X Colegiado

Gestor/FASC1.3. Incentivar a constituição de espaços comunitários de debate sobre diferentes temas

referentes aos processos de adolescer e protagonismo, assim como assuntos referentes às MSE.

X X X Colegiado

Gestor/FASC1.4. Incentivar a participação dos adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas e

familiares nas reuniões da Rede de Proteção à Criança e Adolescentes nas regiões.

X X X Colegiado

Gestor/FASC

Objetivo 2 : Garantia da participação dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa e seus familiares na formulação e

execução do PIA e acompanhamento da MSE, conforme prevê a Lei 12.594 (SINASE), nos artigos 52 A 59.

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METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS2015-

2017

2018-

2021

2022-

2024 2.1. Oferecer escuta e espaços físicos apropriados que garantam a participação dos

adolescentes/jovens e seus familiares/responsáveis na elaboração do seu Plano Individual de

Atendimento.

X X X Colegiado

Gestor/FASC

2.2. Construir instrumentos de avaliação do processo de execução de MSE com a participação

dos adolescentes e seus familiares.

X X X Colegiado

Gestor/FASC2.3. Garantir a participação de adolescentes e familiares na construção e avaliação do Plano

Municipal Socioeducativo.

X X X Colegiado

Gestor/FASC2.4. Ofertar atendimento familiar individual ou coletivo, em horários compatíveis com as

possibilidades dos pais e dos adolescentes/jovens que trabalham.

X X X Colegiado

Gestor/FASC

EIXO 4 – Fortalecimento do Sistema de Justiça e Segurança Pública

Objetivo 1: Articulação entre os órgãos do Sistema de Justiça e os órgãos responsáveis pela execução da MSE

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS2015-

2017

2017-

2019

2020-

2024 1.1. Promover o diálogo/aproximação/articulação entre os órgãos que atuam no Sistema de

Justiça no CIACA com os órgãos responsáveis pela execução das MSE’s.

X X X Colegiado Gestor

1.2. Construir reuniões de fluxos entre a JIN e 4ª Vara com o Serviço de Execução de Medidas

Socioeducativas, tal como já ocorre com a 3ª Vara.

X X X Colegiado Gestor

1.3. Constituir reuniões de articulação entre JIN, 2ª Vara, 3ª Vara e 4ª Vara, Defensoria Pública,

Ministério Público e FASC.

X X X JIJ/Colegiado

Gestor1.4. Garantir a continuidade dos fluxos estabelecidos entre 3ª Vara e o Serviço de Execução de X X X 3ª VJIJ / Colegiado

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Medidas Socioeducativas, com espaço para reavaliações periódicas. Gestor 1.5. Discutir e fomentar com a JIN e 4ª Vara a aplicação de medida de reparação de danos,

inclusive com sugestão do MP na representação.

X X X JIN / 4ª

VJIJ/Colegiado

Gestor1.6. Notificar o Conselho Tutelar quanto às determinações judiciais de medidas de proteção

( retorno à escola, tratamento psicológico, etc) aplicadas aos adolescentes em cumprimento de

MSE para acompanhamento, conforme art. 136 Inciso VI do ECA.

X X X JIN / 3ªVJIJ, 4ª

VJIJ

Objetivo 2: Formação continuada dos operadores do Sistema de Justiça (juízes, promotores, policiais, defensores, etc) para o

trabalho com os adolescentes ancorado nos princípios dos Direitos Humanos e nas diretrizes do SINASE.

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS2015-

2017

2017-

2019

2020-

2024 2.1. Promover capacitações com vistas a humanizar a abordagem policial aos adolescentes e sua

famílias.

X X X SJDH

2.2. Promover capacitações com vistas a humanizar o atendimento ao adolescente autor de ato

infracional e sua família no DECA, atendendo os princípios do CIACA e do SINASE.

X X X SJDH/JIJ

/MP/Defensoria2.3. Capacitar todos os operadores que atuam no Sistema de Justiça Juvenil em Justiça

Restaurativa e Metodologias de Resolução de Conflitos.

X X X SJDH/ JIJ

/MP/Defensoria2.4. Promover articulação entre os órgãos que atuam no CIACA. X X X JIN/MP/PC2.5. Oferecer maior divulgação de ouvidorias referentes aos serviços prestados no CIACA. X X X CIACA2.6. Atualizar a cartilha explicativa acerca do funcionamento do CIACA com linguagem

acessível, contemplando a realidade do adolescente autor de ato infracional e familiares.

X X X CIACA

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Objetivo 3: Qualificação do atendimento da Defensoria Pública

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS2015-

2017

2017-

2019

2020-

2024 3.1. Problematizar, junto aos defensores públicos, a importância da atuação deste serviço no

apoio aos adolescentes e suas famílias para o entendimento e apropriação dos mesmos enquanto

sujeitos de direitos.

X X X Defensoria

3.2. Problematizar e aprofundar, junto à Defensoria Pública, a importância do uso de linguagem

acessível aos adolescentes e familiares para facilitar a apropriação do conhecimento quanto a

seus direitos e processos.

X X X Defensoria

3.3. Garantir escuta mais aprofundada da situação do adolescente pelo Defensor Público. X X X Defensoria 3.4. Ampliar o quadro de recursos humanos da Defensoria Pública. X X X Defensoria

Objetivo 4: Oferta de Procedimentos Restaurativos nas diversas etapas do atendimento ao adolescente autor de ato infracional no

DECA.

METAS PERÍODO RESPONSÁVEIS2015-

2017

2017-

2019

2020-

20244.1.Possibilitar a oferta de metodologias de resolução de conflitos como mediação, Justiça

Restaurativa, etc, pelo MP, aos adolescentes na fase anterior à representação do MP, buscando a

não judicialização.

X X X Ministério Público

4.2. Possibilitar a oferta de metodologias de resolução de conflitos como mediação, Justiça

Restaurativa, etc aos adolescentes no decorrer das audiências na Justiça Instantânea e 4ª VJIJ..

X X X JIN

4.3. Possibilitar a oferta de metodologias de resolução de conflitos, mediação, Justiça

Restaurativa, etc aos adolescentes junto à 4ª VJIJ.

X X X 4ª VJIJ

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Considerações Finais

As legislações que regulam as políticas voltadas às garantias dos direitos das

crianças e dos adolescentes no Brasil são consideradas bastante avançadas. Estão

articuladas com as orientações da Convenção Internacional da Criança, de 1989, e com as

Regras das Nações Unidas para Proteção de Jovens Privados de Liberdade, de 14 de

dezembro de 1990. A Constituição da República do Brasil, no Art. 227, reconhece as

crianças e adolescentes enquanto sujeitos de direitos e aponta a responsabilidade da família,

da sociedade e do Estado, através das políticas públicas, pelo atendimento dos seus direitos.

No que diz respeito à Justiça Penal Juvenil, o Sistema Nacional Socioeducativo –

SINASE vem para regulamentar o Título III do Estatuto da Criança e do Adolescente, que

trata do ato infracional e das medidas socioeducativas. Medidas estas que devem ser

entendidas como sanções aplicadas aos adolescentes em caso de cometimento de atos

infracionais, ou seja, contravenções penais. (art. 103 ECA).

A medida socioeducativa carrega em si dois aspectos igualmente relevantes que são o

caráter sancionatório, que aponta a responsabilização do adolescente frente ao ato

infracional praticado; e o caráter pedagógico que trabalha a reflexão sobre o ato cometido e a

construção de novos projetos de vida. O não entendimento por parte da sociedade destes

aspectos da medida socioeducativa é um dos fatores que motiva a mobilização por

legislação que trate com maior rigor os adolescentes que cometem atos infracionais.

O Plano Municipal Decenal Socioeducativo do Município de Porto Alegre tem como

objetivo apontar as ações necessárias para a qualificação do atendimento socioeducativo.

Para que Porto Alegre avance nesta política, é imprescindível não só que o poder público

ofereça as condições adequadas para alcançar os objetivos e metas apontadas no Plano

Municipal, mas, também, que a sociedade civil aproprie-se desta discussão. Espera-se que

este documento possibilite maior qualificação no atendimento, com redução dos índices de

reincidência e de violência praticada por e contra os adolescentes.

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-NUNES, Laura M. Nunes. Criminologia: trajetórias transgressivas/Laura M. Nunes, JorgeTrindade – Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2013.

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