precursores teóricos do modelo de internacionalização ... · ... de uppsala citaram suas fontes,...

17
1 Precursores Teóricos do Modelo de Internacionalização de Uppsala: a Contribuição de Penrose, Cyert & March e Aharoni Autoria: Denise Rodrigues da Silva, Henrique de Azevedo Avila, Renata Cesar Torres, Angela Maria Cavalcanti da Rocha Resumo O objetivo deste ensaio teórico é investigar as origens da abordagem comportamental do processo de internacionalização de empresas proposta por representantes da Escola de Uppsala, na segunda metade dos anos 1970, extraídas de teorias que concebem a firma como unidade dinâmica e pró-ativa. As três teorias analisadas neste ensaio, apontadas como precursoras da abordagem comportamental, são: a Teoria do Crescimento da Firma de Penrose, a Teoria Comportamental da Firma de Cyert e March e a Teoria do Processo Decisório de Investimento no Exterior de Aharoni. A identificação das teorias precursoras é trivial, uma vez que os próprios pesquisadores de Uppsala citaram suas fontes, explicitamente, em seus artigos. Contudo, a associação da abordagem comportamental aos elementos básicos que nortearam o pensamento de cada autor, cotejando-se, com maior profundidade, os pontos comuns e dissonantes, é lacuna ainda não preenchida pela literatura. Portanto, acredita-se que o presente trabalho possa proporcionar uma compreensão mais ampla dos pressupostos e idéias que levaram os teóricos de Uppsala a desenvolver uma linha de interpretação dos movimentos de internacionalização de caráter comportamental, evolucionário e gradualista. Os precursores do modelo de Uppsala se inseriram em um contexto específico, entre as décadas de 1950 e 1960, em que se colocavam em dúvida os pressupostos da teoria clássica da firma. Essa teoria tratava a firma como uma caixa preta, cujo processo decisório era basicamente ignorado, assumindo-se acesso a informação perfeita e busca da maximização do lucro. Tais hipóteses foram desafiadas pelos precursores estudados, que mostraram, a partir de enfoques distintos, que as firmas não buscavam maximizar os lucros, mas simplesmente obter lucros “satisfatórios”, e que seu processo de tomada de decisão utilizava informação imperfeita. O ensaio examina a contribuição de cada uma dessas três teorias, revendo seus pontos principais, nos aspectos em que se conectam ao modelo de Uppsala. Em seguida, são tomados cada um dos elementos centrais constituintes do modelo e relacionados os vínculos identificados entre as três teorias e a abordagem concebida pela Escola de Uppsala. Esses aspectos são: (1) visão de risco e de incerteza; (2) natureza e papel da aprendizagem; (3) natureza e papel do comprometimento; (4) funcionamento do mecanismo básico da internacionalização (caracterizado pela influência mútua de aprendizagem e comprometimento); e (5) gradualismo. Assim, o presente ensaio não só torna evidente a contribuição dos trabalhos de Penrose, Cyert e March, e Aharoni para o modelo de Uppsala, mas também clarifica em que extensão e sob que aspectos específicos os aludidos trabalhos contribuíram efetivamente para que Johanson e Vahlne concebessem seu modelo de processo de internacionalização.

Upload: duongphuc

Post on 11-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

Precursores Teóricos do Modelo de Internacionalização de Uppsala: a Contribuição de Penrose, Cyert & March e Aharoni

Autoria: Denise Rodrigues da Silva, Henrique de Azevedo Avila, Renata Cesar Torres,

Angela Maria Cavalcanti da Rocha

Resumo O objetivo deste ensaio teórico é investigar as origens da abordagem comportamental do processo de internacionalização de empresas proposta por representantes da Escola de Uppsala, na segunda metade dos anos 1970, extraídas de teorias que concebem a firma como unidade dinâmica e pró-ativa. As três teorias analisadas neste ensaio, apontadas como precursoras da abordagem comportamental, são: a Teoria do Crescimento da Firma de Penrose, a Teoria Comportamental da Firma de Cyert e March e a Teoria do Processo Decisório de Investimento no Exterior de Aharoni. A identificação das teorias precursoras é trivial, uma vez que os próprios pesquisadores de Uppsala citaram suas fontes, explicitamente, em seus artigos. Contudo, a associação da abordagem comportamental aos elementos básicos que nortearam o pensamento de cada autor, cotejando-se, com maior profundidade, os pontos comuns e dissonantes, é lacuna ainda não preenchida pela literatura. Portanto, acredita-se que o presente trabalho possa proporcionar uma compreensão mais ampla dos pressupostos e idéias que levaram os teóricos de Uppsala a desenvolver uma linha de interpretação dos movimentos de internacionalização de caráter comportamental, evolucionário e gradualista.

Os precursores do modelo de Uppsala se inseriram em um contexto específico, entre as décadas de 1950 e 1960, em que se colocavam em dúvida os pressupostos da teoria clássica da firma. Essa teoria tratava a firma como uma caixa preta, cujo processo decisório era basicamente ignorado, assumindo-se acesso a informação perfeita e busca da maximização do lucro. Tais hipóteses foram desafiadas pelos precursores estudados, que mostraram, a partir de enfoques distintos, que as firmas não buscavam maximizar os lucros, mas simplesmente obter lucros “satisfatórios”, e que seu processo de tomada de decisão utilizava informação imperfeita.

O ensaio examina a contribuição de cada uma dessas três teorias, revendo seus pontos principais, nos aspectos em que se conectam ao modelo de Uppsala. Em seguida, são tomados cada um dos elementos centrais constituintes do modelo e relacionados os vínculos identificados entre as três teorias e a abordagem concebida pela Escola de Uppsala. Esses aspectos são: (1) visão de risco e de incerteza; (2) natureza e papel da aprendizagem; (3) natureza e papel do comprometimento; (4) funcionamento do mecanismo básico da internacionalização (caracterizado pela influência mútua de aprendizagem e comprometimento); e (5) gradualismo. Assim, o presente ensaio não só torna evidente a contribuição dos trabalhos de Penrose, Cyert e March, e Aharoni para o modelo de Uppsala, mas também clarifica em que extensão e sob que aspectos específicos os aludidos trabalhos contribuíram efetivamente para que Johanson e Vahlne concebessem seu modelo de processo de internacionalização.

2

Precursores Teóricos do Modelo de Internacionalização de Uppsala: a Contribuição de Penrose, Cyert & March e Aharoni

Introdução A visão da internacionalização da empresa como processo gradual, resultante da inter-relação entre aprendizagem e comprometimento, foi proposta na década de 1970 por pesquisadores da Universidade de Uppsala, na Suécia. Tal perspectiva comportamental se tornou uma das abordagens dominantes para explicar o processo de internacionalização das empresas.

O modelo de Uppsala propõe que o processo de internacionalização é de natureza incremental, alimentado pela relação entre conhecimento sobre os mercados-alvo e comprometimento de recursos nesses mercados (Johanson & Vahlne, 1977). Diversos estudos foram realizados no sentido de investigar a aplicabilidade do modelo à realidade das empresas. Alguns autores proporcionaram evidências empíricas e argumentos teóricos em apoio ao modelo (Hadjikhani, 1997; Petersen & Pedersen, 1997; Rhee & Cheng, 2002), enquanto outros apresentaram críticas e evidências contrárias (Andersen, 1993; Hagen & Hennart, 2004; Leonidou & Katsikeas, 1996). Em linhas gerais, porém, o modelo resistiu bem aos sucessivos testes a que foi submetido (Johanson e Vahlne, 1990, 2006; Björkman e Forsgren, 2000).

Não obstante, a mudança no ambiente de negócios internacionais oriunda do fenômeno da globalização desafiou a capacidade explanatória do modelo. Novas formas de internacionalização, em particular a internacionalização precoce no início da vida da empresa, reduziram o conjunto de casos amparados pelas abordagens comportamentais. O fato é que o modelo defendido pela Escola de Uppsala não se coaduna com trajetórias de internacionalização mais rápidas (Oviatt & McDougall, 1994), ou com descontinuidades no processo de internacionalização (Benito & Welch, 1997; Rezende, 2002), em que as características específicas das empresas, das indústrias e do ambiente institucional onde estão inseridas se sobrepõem aos pressupostos da distância psíquica entre países e do gradualismo como resposta a incerteza e risco.

Embora sua capacidade de explicar os processos de internacionalização atuais seja menor do que já foi no passado, o modelo continua a ser aplicável a uma parcela substancial de empresas que prosseguem em seus movimentos de internacionalização de forma gradual, mantendo, portanto, sua importância como arcabouço de pesquisas acadêmicas e referência para auxiliar as empresas na definição de suas estratégias de internacionalização. Por esta razão, um entendimento amplo das premissas que orientaram sua concepção permite vislumbrar corretamente seu alcance.

Ao procurar identificar as forças presentes no processo de internacionalização, os pesquisadores de Uppsala se inspiraram em teorias que enxergam a expansão para novos mercados como conseqüência direta do crescimento da firma, seguindo-se procedimentos que minimizem os riscos e incertezas decorrentes da escassez de informações. Desta forma, ampararam-se principalmente nos estudos de Penrose (1959), Cyert e March (1963) e Aharoni (1966), cuja contribuição revela-se crucial para a formação de um entendimento de que as organizações inserem-se gradualmente no mercado internacional com base no princípio de “aprender fazendo” (“learning by doing”). Este ensaio busca, então, rever a contribuição dos precursores do Modelo de Uppsala, de modo a identificar a lógica subjacente às premissas do modelo, dentro do contexto temporal de que se originou.

3

Este ensaio está organizado em sete seções, além de sua introdução. A segunda seção apresenta o modelo de Uppsala, onde se mostram não só as características e particularidades dessa proposta, mas também suas limitações. A terceira seção apresenta o contexto teórico e pressupostos em que se fundamentaram os precursores. As três seções seguintes correspondem às três teorias precursoras examinadas nesse estudo, apresentando-se seus princípios básicos assim como suas relações com o modelo de Uppsala. Na sétima seção, são relacionados os vínculos identificados entre as três teorias e a abordagem concebida pela Escola de Uppsala, relacionando-se as idéias essenciais de Penrose, Cyert e March e Aharoni com os elementos centrais do modelo. Na oitava seção, apresentam-se as considerações finais.

O Modelo de Processo de Internacionalização de Uppsala O desenvolvimento do Modelo de Processo de Internacionalização de Uppsala baseou-se em diversos trabalhos realizados naquela Escola, em particular estudo anterior por Johanson e Wiedersheim-Paul (1975), com base em quatro casos de empresas suecas que já se encontravam avançadas em seu processo de internacionalização, mas que eram relativamente pequenas quando iniciaram esse processo. Dois conceitos básicos emergem desse estudo: os de “distância psíquica” e “cadeia de estabelecimento”. O conceito de distância psíquica, reconhecido pela primeira vez por Beckerman (1956), já vinha sendo objeto de pesquisas anteriores em Uppsala, realizadas por Wiedersheim-Paul (1972) e Vahlne e Wiedersheim-Paul (1973). A idéia da “cadeia de estabelecimento”, por sua vez, foi lançada por Forsgren e Johanson (1975), a partir de evidências que mostravam um comprometimento incremental na alocação dos recursos organizacionais destinados às operações externas. Johanson e Wiedersheim-Paul (1975) propunham que as empresas seguiriam um processo gradual, marcado por decisões incrementais. O estudo de casos permitiu constatar que as principais dificuldades enfrentadas no processo de internacionalização derivavam da falta de conhecimento e de recursos, que, conjugadas à aversão a risco, levariam a empresa a iniciar sua participação no mercado externo de forma conservadora, exportando para países vizinhos ou para regiões com características similares. Esses obstáculos se reduziriam pouco a pouco, por meio de investimentos incrementais de recursos que trouxessem maior aprendizado sobre o mercado internacional.

Valendo-se desses estudos anteriores e de desenvolvimentos teóricos contemporâneos no campo das ciências econômicas, Johanson e Vahlne (1977) propuseram um modelo gradual de internacionalização da firma baseado na interação entre o conhecimento adquirido sobre os mercados externos e o comprometimento da empresa com suas operações internacionais. No intuito de caracterizar como esses elementos interagem entre si, os autores especificaram dois grupos distintos: aspectos de estado e aspectos de mudança. Os aspectos de estado envolvem o comprometimento dos recursos da empresa e o seu conhecimento sobre o mercado. Os aspectos de mudança compreendem as decisões de comprometimento de recursos e as atividades comerciais correntes.

A Figura 1 a seguir apresenta o modelo conceitual proposto por Johanson e Vahlne (1977).

4

Figura 1 - O Mecanismo Básico da Internacionalização Segundo o Modelo de Uppsala

Conhecimentosobre o

Mercado

Comprometimentode

Recursos

Atividades ComerciaisCorrentes

Decisões de Comprometimento

dos Recursos

Apectos de Estado Apectos de Mudança

Fonte: Johanson e Vahlne (1977)

O comprometimento de recursos seria função do próprio volume de recursos investidos em dado país e do nível de especificidade dos recursos alocados, traduzido pela dificuldade de se achar uso alternativo ou de se transferir os recursos para outras regiões. Quanto mais substanciais fossem os recursos destinados a determinado mercado, maiores seriam os ganhos derivados da experiência adquirida e maior a confiança para se comprometerem novos recursos.

A principal característica da abordagem proposta por Johanson e Vahlne (1977) é o seu dinamismo, uma vez que o aumento do nível de conhecimento sobre determinado mercado estimularia novas decisões de comprometimento da empresa e impactaria positivamente as atividades correntes ali desempenhadas, gerando, no momento seguinte, oportunidades para que se acumule um volume de conhecimentos ainda maior e, conseqüentemente, se amplie o nível de comprometimento anterior. Cria-se, portanto, um círculo de retroalimentação do grau de conhecimento e do nível de comprometimento com cada mercado, formando os chamados “ciclos causais”.

O modelo pressupõe que os movimentos iniciais de internacionalização são fundamentais, uma vez que o acúmulo de experiências práticas nos países de menor distância psíquica pode influenciar favoravelmente decisões subseqüentes de internacionalização para mercados mais distantes. Ao considerar o conhecimento do mercado como elemento essencial para a empresa se internacionalizar, os autores referem-se não só ao conhecimento objetivo, transferível com maior facilidade, mas também ao conhecimento fruto da própria experiência no estrangeiro – conhecimento “experiencial”, ou tácito – resultante de um processo prático de aprendizagem. Desta forma, os autores interpretam a internacionalização como um processo de aprendizagem orientado, cujo caráter evolucionário permitiria a redução dos níveis de risco. São apontadas três áreas em que a empresa deve desenvolver conhecimentos a partir da experiência: i) os meandros de seus próprios negócios; ii) o contexto institucional que a cerca; iii) o ambiente internacional.

Diversas críticas foram feitas ao modelo, em particular de que consideraria apenas parte dos fatores que afetariam o processo de internacionalização, excluindo variáveis explanatórias importantes, tais como as características do produto, da indústria e do país receptor, a concorrência e fatores estratégicos (Melin, 1992; Whitelock, 2002); de que adotaria uma perspectiva reativa à aprendizagem (Forsgren, 2002); de que seria determinista (Andersen, 1993), vendo a internacionalização como movida pela exportação (Hagen & Hennart, 2004); de que não explicaria a internacionalização de boa parte das firmas (Jarillo & Martinez, 1991; Millington & Bayliss, 1990), entre outras. Pela importância conferida à aquisição de conhecimento (principal fator limitador) e pela relevância dada ao grau de comprometimento de recursos (catalisador da aprendizagem), o modelo também foi criticado por se aplicar

5

somente a situações em que estes dois fatores sejam efetivamente restritivos da internacionalização, ou seja, no início do processo (Andersen, 1993).

Em defesa do modelo, por outro lado, argumentou-se não se tratar de um modelo completo, mas de uma simplificação da realidade, que não se proporia a explicar todos os casos (Johanson & Vahlne, 1990, 2003, 2006). Além disso, foram apontadas limitações metodológicas nos estudos que encontraram evidências empíricas contrárias ao modelo (Andersen, 1993; Hadjikhani, 1997; Petersen and Pedersen, 1997; Sullivan, 1994). O debate em torno das críticas levou os autores de Uppsala a propor alterações ao modelo, particularmente no que se refere à incorporação do conceito de redes ao entendimento do processo de internacionalização da firma (Johanson e Vahlne, 1993, 2003, 2006, 2009).

Uma vez apresentado o modelo, passamos então à análise dos precursores teóricos, sobre cujas contribuições se assenta o Modelo de Uppsala, como apresentado em 1977. As alterações posteriores ao modelo não são relevantes para a questão de que se ocupa esse ensaio.

Contexto Teórico e Pressupostos Comuns dos Precursores Os precursores teóricos do Modelo de Uppsala foram fundamentalmente Edith Penrose, Richard Cyert e James March, Yair Aharoni, e Sune Carlson. Este ensaio se ocupa dos quatro primeiros, dado que os escritos de Carlson ou se encontram esgotados, ou foram publicados em sueco, ficando, portanto, inacessíveis aos autores deste ensaio. Carlson foi professor da Escola de Uppsala e iniciador do grupo de estudos que deu origem ao modelo de internacionalização de Uppsala. No entanto, faremos menção a ele em pontos cruciais em que seu trabalho teve influência direta sobre o modelo. Para tal, utilizaremos como fonte outros autores daquela universidade, que destacaram algumas contribuições de Carlson.

Antes de discutir cada contribuição individual, é importante salientar que esses precursores se inseriram em um contexto específico, entre as décadas de 1950 e 1960, em que algumas questões teóricas se colocavam àqueles que estudavam a firma, em particular a grande empresa multi-divisional, que emergira ao final do século XIX, nos Estados Unidos e na Europa. Essas questões surgiam do reconhecimento de que a teoria clássica da firma não era capaz de explicar o comportamento dessa nova empresa. Essa teoria tratava a firma como uma caixa preta, cujo processo decisório, interno, era basicamente ignorado. Mais ainda, a teoria clássica assumia racionalidade perfeita dos decisores, a partir de duas suposições básicas: acesso a informação perfeita e busca da maximização do lucro.

Os precursores teóricos do modelo de Uppsala analisados neste ensaio desafiaram tais hipóteses, mostrando, a partir de enfoques distintos, que as firmas não buscavam maximizar os lucros, mas simplesmente obter lucros “satisfatórios”; e que seu processo de tomada de decisão utilizava informação imperfeita. Nesse contexto, Penrose (1995[1959], p.xi) pretendia responder à questão de “se haveria algo inerente à própria natureza de qualquer firma que tanto promoveria o crescimento, quanto limitaria sua taxa de crescimento”; Cyert e March (2001[1963], p.1) buscavam oferecer uma teoria sobre “a empresa privada e como ela toma decisões econômicas”; e Aharoni (1966, p.vii) se preocupava em entender “a forma como as empresas manufatureiras norte-americanas tomavam decisões de investimento no exterior”, em um primeiro momento de sua pesquisa, e, posteriormente, “a natureza do processo decisório em organizações complexas, ilustrada pela decisão de investimento direto”.

Os precursores aqui estudados realizaram este esforço de forma independente, dado que o foco de seu interesse era distinto. No entanto, eles foram contemporâneos, o que significa que estavam sujeitos ao mesmo contexto teórico. Aharoni, por ser mais jovem, tomou conhecimento particularmente dos trabalhos de Cyert e March, a que faz referência explícita

6

em sua obra: “As hipóteses sugeridas por Cyert e March apontam algumas similaridades com nossos achados, e a maior parte de nossos achados cabem em seu modelo. Mesmo assim, parecem existir algumas diferenças importantes entre nosso ponto de vista e o de Cyert e March” (Aharoni, 1966, p.269). Todos eles foram também contemporâneos de outros scholars que contribuíram ao entendimento dos processos de internacionalização da firma, notadamente Oliver Williamson (com seu trabalho seminal sobre custos de transação) e Alfred Chandler (pai da História de Negócios), mas que não tiveram influência direta sobre o Modelo de Uppsala.

Pitelis (2007) acredita que os enfoques de Penrose e de Cyert e March seriam essencialmente complementares e que há muitos aspectos em comum entre as teorias propostas: a visão da firma como organização pró-ativa, sua dinâmica interna, os filtros organizacionais que influenciam a leitura que os membros da organização fazem do ambiente e o fato de que as duas teorias levam em conta a incerteza, a racionalidade limitada e a aprendizagem organizacional.

Nem Penrose, nem Cyert e March tiveram como propósito estudar as multinacionais, embora haja referências ao tema na obra de Penrose. Em ambas as teorias, porém, o caso da multinacional deveria enquadrar-se na teoria geral proposta e não ser visto como caso específico, à parte, que mereceria uma teoria própria. O crescimento além fronteiras, em princípio, não diferia, para Penrose, dos processos de crescimento de que havia tratado, e, portanto, poderia ser abarcado por sua teoria do crescimento da firma. E o propósito de Cyert e March (963, p.2) era “desenvolver uma teoria com generalidade suficiente... que pudesse ser usada para entender o comportamento de uma variedade de organizações em uma variedade de situações”.

Já Aharoni estudou especificamente o processo decisório de investimento direto no exterior. No entanto, a contribuição de Aharoni, em particular por ter sido limitada ao caso do investimento direto, não proporcionou uma teoria geral que pudesse explicar o processo de internacionalização das empresas. Esta tarefa foi conduzida, na década de 1970, por teóricos europeus, notadamente grupos de pesquisadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, e da Universidade de Reading, na Inglaterra. O primeiro grupo desenvolveu o Modelo de Processo de Internacionalização de Uppsala, uma teoria comportamental de como as empresas se expandem para o exterior, de que se ocupa esse ensaio; o segundo grupo desenvolveu duas teorias econômicas paralelas – a teoria de internalização de Buckley, Casson e Rugman, e o Paradigma Eclético da Produção Internacional de Dunning – voltadas a explicar as decisões de produção internacional de empresas multinacionais.

Edith Penrose e a Teoria do Crescimento da Firma

Reconhecendo que a teoria clássica não era capaz de explicar a realidade das empresas, Penrose (1995[1959]) propôs um novo conceito para a firma, vendo-a como conjunto de recursos produtivos capazes de serem combinados de modo a se transformar em bens e serviços lucrativos. Sua obra – The Theory of the Growth of the Firm – tornou-se uma das contribuições mais importantes para o entendimento desse processo, inspirando diversos estudos, teorias e modelos, entre os quais as teorias de internacionalização (Dunning, 2003; Pitelis, 2002; Pitelis & Verbeke, 2007).

As seguintes questões, abordadas na Teoria do Crescimento da Firma de Penrose, influenciaram os teóricos de Uppsala:

- Racionalidade limitada do processo decisório – Penrose via a otimização de custos e a maximização de lucros como abstrações, distantes das reais possibilidades da organização na gestão dos seus recursos. Nesse aspecto, emerge a primeira similaridade entre Penrose e

7

Uppsala: para explicar as decisões e o desempenho das empresas, há algo mais do que preços de fatores e produtos. As decisões de internacionalização no Modelo de Uppsala não são conduzidas de forma puramente racional, mas incorporam aspectos de percepção e experiência que afetam o curso da decisão.

- Dominância do conhecimento baseado na experiência – Um dos pontos em que o Modelo de Uppsala adere fortemente à Teoria de Crescimento da Firma de Penrose refere-se ao tipo de conhecimento que deve ser adquirido, ou seja, aquele que advém da experiência. Nesse aspecto, os autores fazem referência direta a Penrose, ao reconhecer a existência de dois tipos de conhecimento: “um deles, o conhecimento objetivo, pode ser ensinado; o outro, a experiência ou conhecimento ‘experiencial’, só pode ser adquirido por meio da experiência pessoal” (Penrose, 1995[1959], p.53). A importância do conhecimento advindo da experiência, na visão de Penrose, foi integralmente transferida para o modelo de Uppsala.

- Relação entre acumulação de conhecimento e crescimento – Para Penrose, devido à natureza específica do conhecimento adquirido pela experiência, este só se aplicaria a determinados ambientes e circunstâncias. A disponibilidade desse tipo de conhecimento entre membros da firma provocaria “um estímulo interno à expansão” (Penrose, 1995[1959], p.54), permitindo a identificação de novas oportunidades. Crescimento é um processo evolutivo baseado na acumulação de conhecimentos que possam ser mobilizados, dentre os quais aqueles provenientes da experiência seriam os mais importantes: “o crescimento é essencialmente um processo evolucionário e baseado na aquisição cumulativa de aprendizagem coletiva...” (Penrose, 1995[1959], p.xiii). A partir de sua base acumulada de conhecimentos, a firma transformaria seus recursos em pacotes de serviços, combinando-os de diferentes formas, a partir de decisões administrativas. A associação entre conhecimentos e recursos foi reproduzida no modelo de Johanson e Vahlne (1977), contribuindo para a concepção do mecanismo básico que alimenta o processo de internacionalização.

- Ausência de limites ao crescimento – Na Teoria do Crescimento da Firma de Penrose, não há limites insuperáveis ao crescimento. As restrições existentes podem, na pior das hipóteses, reduzir a taxa de crescimento. O desejo de crescimento estaria relacionado positivamente à intenção de se obter lucro, à medida que o alcance de um objetivo ajudasse a cumprir o outro. Nessa questão de fundo, evidencia-se outro vínculo entre a obra de Penrose e a abordagem de Uppsala: a vontade e o efetivo comprometimento dos dirigentes são fatores determinantes para a empresa crescer e, se for o caso, estender esse crescimento ao mercado internacional. O modelo de Uppsala também não estabelece limites ao crescimento da firma no plano internacional, ao assumir que se trata de um processo auto-alimentado.

- Uso de recursos internos e externos à firma – Penrose vê a firma como uma coleção de recursos produtivos (físicos e humanos), mas não são os recursos em si que são relevantes, e sim os serviços que esses recursos podem fornecer. A base de recursos pode ser expandida. Por exemplo, recursos internos podem ser conjugados a recursos adquiridos externamente, mas, em última instância, os resultados dessa mescla dependem dos conhecimentos detidos pela equipe gerencial da empresa. Em um processo de expansão, podem-se contratar novos gerentes, mas sempre haverá necessidade de esforços da administração central para que essas pessoas se integrem à equipe existente, e de tempo para que o pessoal novo adquira experiência de trabalho nas questões específicas da firma. A relação entre recursos gerenciais e limites ao crescimento da firma é um traço tão marcante na obra de Penrose, que se criou a expressão “efeito Penrose” para expressá-la (Marris, 1963). Entretanto, Penrose não valoriza, efetivamente, os casos em que os novos contratados têm experiência prévia em firmas concorrentes, dada sua premissa de que cada firma tem características muito próprias. A Escola de Uppsala utiliza esse elemento obtido de Penrose, consagrando a idéia de que, para

8

que recursos humanos externos possam ser incorporados, é necessário que adquiram, primeiro, experiência com a firma.

Embora o modelo de Uppsala tenha-se inspirado parcialmente na obra de Penrose, há diferenças marcantes entre os dois, como indicado a seguir:

- Diferenças no tratamento de risco e incerteza – Na visão de Penrose, o empresário é capaz de combinar os recursos disponíveis de modo a obter as informações necessárias ao crescimento, contornando, portanto, incertezas e riscos. Para ela, empreendedorismo é definido como “uma pré-disposição psicológica, por parte do indivíduo, para aceitar o risco na esperança de ganhos, e, em particular, comprometer esforço e recursos a atividades especulativas” (Penrose, 1995[1959], p.33). Ainda que tragam custos, a incerteza e o risco podem ser mitigados, desde que a empresa conte com boa gestão e recursos para adquirir e analisar as informações pertinentes. Penrose observa, ainda, que a própria demanda poderia ser moldada pela firma, à medida que o empresário adquirisse a capacidade de identificar novos espaços para a penetração de sua empresa. Essa perspectiva relativamente otimista colide, até certo ponto, com a abordagem conservadora da Escola de Uppsala. Parece, portanto, que o peso das incertezas e riscos assume dimensão maior no processo de internacionalização concebido pela Escola de Uppsala do que na teoria do crescimento da firma de Penrose.

- Ausência de diferenças essenciais entre a empresa multinacional e a empresa doméstica – Ao longo de sua obra principal, Penrose (1995[1959]) não trata das empresas multinacionais, embora em artigo anterior tenha-se dedicado explicitamente ao tema (Penrose, 1956). Na realidade, como observou Dunning (2003), ela não vislumbra grandes diferenças entre um processo de expansão internacional e o crescimento no país de origem: “o estabelecimento de subsidiárias ou escritórios no exterior não é essencialmente diferente, para a empresa, do estabelecimento de subsidiárias ou escritórios em seu próprio país” (Penrose, 1956, p.225). O fato de que as organizações estão “fadadas” ao crescimento coaduna-se com a idéia de expansão internacional, visto que a transposição de fronteiras espelha exatamente o sentimento de que não há limites, se houver competência. Conseqüentemente, ela não se alinha à corrente que trata a empresa multinacional como organização especial. Uma evidência adicional de que Penrose não atribuía natureza diferenciada à empresa multinacional, ou à expansão internacional, é proporcionada pelo tipo de organização que ela estudou para desenvolver sua teoria, baseando-se em ampla pesquisa sobre a história da Hercules Powder Company, uma empresa criada a partir de uma cisão da Dupont ocorrida em 1912 (Penrose, 1960). Penrose (1956) também estudou a indústria automobilística, investigando o caso da General Motors, e a de petróleo, analisando os reflexos da atuação das subsidiárias das companhias petrolíferas nos países em desenvolvimento. Observe-se, porém, que nesse aspecto há similaridades e diferenças com relação ao modelo de Uppsala. Os teóricos de Uppsala acreditavam que a expansão nacional da firma precederia a internacionalização, o que é amplamente explorado no trabalho de Welch e Wiedersheim-Paul (1980), intitulado sugestivamente “Domestic expansion: internationalization at home”. No entanto, para os teóricos de Uppsala, há forte ruptura entre a expansão nacional e a internacional, demarcada pelaincerteza, representada pelo construto da distância psíquica.

Cyert e March e a Teoria Comportamental da Firma Johanson e Vahlne (1977, p.23) explicitam claramente a contribuição desses autores, ao afirmar haver incorporado a seu modelo “alguns resultados de estudos empíricos anteriores sobre o desenvolvimento das operações internacionais, buscando explicação teórica por meio da teoria comportamental da firma (Cyert e March, 1963)”. Björkman e Forsgren (2000)

9

indicam que os contatos entre James March e alguns pesquisadores escandinavos contribuíram para a difusão do pensamento desses autores na comunidade acadêmica nórdica.

Quatro conceitos básicos definidos por Cyert e March (2001[1963]) influenciaram o desenvolvimento do modelo de internacionalização de Uppsala, proporcionando uma explicação comportamental para o processo. São eles: quase-resolução de conflitos, fuga da incerteza, busca orientada por problemas e aprendizagem organizacional.

- Quase-Resolução de Conflitos – Cyert e March viram a firma como formada por conjuntos de atores com interesses diversos, nem sempre compatíveis com os da organização como um todo. Os interesses da coalizão dominante, a alta cúpula empresarial, é que ditariam os rumos do crescimento da firma. Para o estabelecimento dos objetivos de cada período, seria preciso negociá-los com as diversas subunidades organizacionais. Estes grupos utilizariam regras e procedimentos em condições de racionalidade limitada e os objetivos da firma refletiriam no longo prazo as adaptações decorrentes das mudanças na estrutura dessas coalizões, sendo, portanto, graduais. Os autores viram tais adaptações como instrumento para a conciliação de conflitos internos, que nunca estariam plenamente resolvidos. Diante da impossibilidade de conciliar todos os conflitos existentes, a firma determinaria um nível não ótimo, mas aceitável, para o estabelecimento de seus objetivos. Como forma de garantir a consistência de objetivos, a organização utilizaria um processo seqüencial, pelo qual “a organização resolve um problema a cada momento, atendendo a um objetivo naquele momento” (Cyert e March, 2001[1963], p.166). O modelo de Uppsala utiliza esta concepção da firma como coalizão de indivíduos, interligados de forma frouxa (loosely-coupled), embora apenas em 1990 Johanson e Vahlne tenham feito menção explícita a esse aspecto. No entanto, os autores de Uppsala não indicaram um efeito específico desta frouxidão organizacional no processo de internacionalização. Eles também não consideraram em seu modelo o papel dos conflitos internos, que são essenciais na teoria comportamental da firma. Mas a idéia de atendimento seqüencial de objetivos foi incorporada ao modelo, que vê a internacionalização como processo gradual.

- Minimização da Incerteza e Risco – Para Cyert e March, os gestores procuravam fugir da incerteza. A firma estaria à mercê do ambiente, mas seria capaz de negociá-lo, tornando-o mais previsível e reduzindo o risco a que estaria exposta. Para fugir da incerteza, as firmas evitariam “a necessidade de antecipar corretamente os eventos em um futuro distante, usando regras de decisão que enfatizassem reações de curto prazo a feedback de curto prazo”, ou seja, elas resolveriam “problemas imediatos, em lugar de desenvolver estratégias de longo prazo” (Cyert e March, 2001[1963], p.167). De forma similar, Johanson e Vahlne (1977) viram o comprometimento gradual com novos mercados, à medida que se adquirisse experiência, em um processo passo-a-passo, como forma de redução de incerteza, visto que a empresa visaria não comprometer recursos com mercados em que os resultados fossem de difícil estimação. Apenas com o aumento do conhecimento (em relação a comportamento do mercado, fornecedores, futuras ações governamentais e assim por diante), com o aumento de sua experiência internacional, e com a conseqüente possibilidade de avaliação mais precisa do risco do negócio, uma proporção maior de recursos passaria a ser comprometida. Assim, da mesma forma que em Cyert e March (2001[1963]), a tomada de decisão internacional no modelo de Uppsala visaria o curto prazo, fazendo com que a internacionalização progredisse passo a passo, para atender a necessidades imediatas (como pedidos de outros mercados), não se caracterizando como um processo de planejamento de longo prazo.

- Busca Orientada por Problemas - Cyert e March viram as inovações na firma como conseqüência dos problemas surgidos, e não aparecendo antes deles. As soluções seriam buscadas nas proximidades dos sintomas e próximas às alternativas correntes, de modo que não fossem cogitadas soluções radicalmente novas, e sim as mais semelhantes às já

10

conhecidas. Os problemas seriam transformados em subproblemas e as regras de decisão seriam frouxas. Assim, uma ampla gama de decisões seria compatível com as regras vigentes em cada momento. De forma semelhante, para os teóricos de Uppsala, a própria decisão de internacionalização decorreria primeiramente de problemas relacionados ao mercado interno. No caso das quatro empresas analisadas, todas eram suecas, sendo seu mercado interno, portanto, bastante restrito e industrializado (Johanson e Wiedersheim-Paul, 1975; Johanson e Vahlne, 1990). Estas duas características teriam limitado sensivelmente sua demanda (e, em decorrência seu crescimento), caso elas não tivessem se voltado para mercados externos. De acordo com Johanson e Vahlne (1977, 1990, 2006), tanto os problemas como as oportunidades seriam percebidas durante as interações diárias, principalmente por aqueles que trabalham junto ao mercado: o aumento do conhecimento levaria a uma ampliação da percepção da “oportunidade produtiva”, aumentando, portanto, o potencial de expansão da firma para mercados externos. O conhecimento a respeito de riscos e oportunidades seria o que daria início às decisões de comprometimento, um dos aspectos de mudança.

- Aprendizagem Organizacional - Para Cyert e March (2001 [1963], p.171), “as organizações aprendem”, o que explicaria seu comportamento adaptativo ao longo do tempo. De forma semelhante, a aprendizagem organizacional dá ao modelo de internacionalização de Uppsala seu caráter dinâmico. Johanson e Wiedersheim-Paul (1975) perceberam a falta de conhecimento da firma a respeito dos diversos mercados externos existentes como principal fator limitador de sua internacionalização. Na abordagem de Uppsala, o conhecimento (tanto dos mercados externos como das operações internacionais da firma) atuaria como variável preditiva singular da internacionalização (Andersson, 2004). O modelo de internacionalização de Uppsala lida, essencialmente, com duas variáveis centrais: aprendizagem e comprometimento. Há diferenças, no entanto, entre a visão de Cyert e March e a de Johanson e Vahlne (1977). Cyert e March viram as mudanças na organização como decorrentes tanto do mecanismo de aprendizagem, como da própria história da organização, ou seja, os objetivos atuais estariam relacionados aos objetivos passados e aos resultados obtidos na perseguição desses objetivos. Por sua vez, Johanson e Vahlne apresentaram a internacionalização como processo de mudança, mas decorrente fundamentalmente da aprendizagem organizacional, que levaria ao comprometimento de recursos e conseqüente aprofundamento da internacionalização, por meio de um ciclo auto-alimentado.

Aharoni e a Teoria do Processo Decisório de Investimento Direto no Exterior

Em seu estudo sobre o processo decisório de investimento direto no exterior, Aharoni (1966) apresenta como objetivos principais: (1) analisar a forma como as empresas americanas decidem realizar tais investimentos, particularmente em países menos desenvolvidos; (2) determinar o impacto das políticas governamentais no processo decisório; (3) sugerir formas de se alcançar maior harmonia de interesses entre os governos dos países menos desenvolvidos e os investidores americanos. Como objetivo secundário, o autor enfatiza a importância de identificar implicações teóricas acerca do processo decisório de investimento direto no exterior e que possam apresentar caráter explicativo e preditivo do comportamento de investimento em geral. E é este objetivo secundário que é tomado como referência principal no modelo de Uppsala. A importância dos achados de Aharoni (1966) como referencial teórico para a obra dos pesquisadores de Uppsala, se dá, notadamente, na concepção de processo decisório, ainda que ele enfatize a última etapa da cadeia de estabelecimento: a instalação de unidades produtivas nos mercados externos.

- Dinâmica do processo decisório de internacionalização – Ao contrário do preconizado pela teoria econômica clássica, Aharoni sugere que o processo decisório não pode ser visto como uma série de ações lógicas e encadeadas, isoladas do contexto social. A tomada de decisão de realizar ou não um investimento não pode ser identificada em um momento específico. Ao

11

contrário, trata-se de um processo cumulativo, em que diversos indivíduos realizam comprometimentos que levam à decisão de investir ou não no exterior. Durante o processo de investigação em si, outros comprometimentos vão sendo feitos e uma série de forças atua no direcionamento da decisão a ser tomada, quer seja pelo investimento ou pela rejeição do mesmo. Tais forças podem atuar nas mais diversas direções: comprometimentos passados e recentes, e relações de poder, entre outras. Esta concepção representa um dos pontos fundamentais do modelo de processo de internacionalização de Uppsala. Johanson e Vahlne (1977, p.26) afirmam não compartilharem a visão de que a internacionalização seria “o resultado de uma estratégia de ótima alocação de recursos a diferentes países onde as formas alternativas de explorar mercados externos sejam comparadas e avaliadas.” Ao contrário, vêem a internacionalização “como a conseqüência de um processo incremental de ajustes a condições de mudanças na firma e seu ambiente.”

- Risco e Incerteza - Para Aharoni, os homens de negócios tenderiam a evitar a incerteza o máximo possível. Como probabilidades objetivas são conceitos estritamente matemáticos, que não estão presentes na vida real, eles utilizariam probabilidades subjetivas na tomada de decisões. Risco é então definido como “a proporção de casos em uma distribuição de probabilidade que se encontra abaixo de um mínimo definido subjetivamente”, e incerteza como “o grau de confiança na exatidão da distribuição de probabilidades estimada; quanto menor a confiança, maior a incerteza.” (Aharoni, 1966, p. 36). Para Aharoni, a internacionalização (no caso, o investimento direto no exterior) é, de fato, uma ruptura: “A primeira decisão de investimento no exterior é, em grande parte, uma viagem ao desconhecido. É uma inovação e o desenvolvimento de uma nova dimensão, e uma grande ruptura no curso normal dos eventos. Deve haver alguma grande força, alguma experiência drástica que irá funcionar como gatilho (trigger) e levar a organização por este novo caminho” (Aharoni, 1966, p.42). Ao longo do processo de investigação, com mais informações sendo coletadas, o sentimento de ignorância seria reduzido, e por conseqüência também o risco subjetivo estimado. Nesse aspecto, a concepção de Aharoni foi claramente incorporada ao modelo de Uppsala.

- Racionalidade limitada do decisor e busca seletiva de informações – Para Aharoni, a decisão de “olhar” para outro país é bastante específica e não uma decisão de buscar por todo o mundo a melhor oportunidade de investimento. Pela complexidade dos fatores envolvidos na internacionalização, raramente os empresários avaliariam todo o conjunto de alternativas possíveis. Alguns fatores seriam tomados como fixos e apenas algumas variáveis principais seriam investigadas, reduzindo o custo de coleta de informações. As informações coletadas poderiam vir a ser modificadas, caso necessário, no decorrer do processo decisório. As decisões seriam tomadas, portanto, a partir de informações incompletas. Paralelamente, os teóricos de Uppsala também sugerem que a decisão de escolher um país seria pautada não pela seleção racional de alternativas, mas pela escolha de países considerados próximos do ponto de vista de distância psíquica.

- Dimensão temporal da internacionalização – De acordo com Aharoni, não é possível reduzir a tomada de decisão a um momento específico, único. Segundo o autor, trata-se de um processo em que diversas sub-decisões são tomadas, as pessoas envolvidas alteram suas percepções, o ambiente muda, outras atividades dentro da organização sofrem alterações e todos estes fatores se influenciam mutuamente. Aqui, mais uma vez, fica clara a influência de Aharoni (1966) no mecanismo básico de internacionalização, onde a dimensão temporal interfere na interação e modificação mútua entre aspectos de estado e de mudança.

- Comprometimento – Entre os precursores teóricos do modelo de Uppsala examinados neste ensaio, o único a abordar a questão do comprometimento foi Aharoni. Ele via o comprometimento como “uma série de pequenos atos [que] criam comprometimentos

12

individuais ...[e] comprometimentos organizacionais.” Esses atos podiam ser “parte da vida diária na empresa e nem mesmo ser percebidos como comprometimento...”, ou poderiam surgir “durante o próprio processo decisório”, em que “comprometimentos adicionais são criados pelo próprio ato de investigar” (Aharoni, 1966, p.124). Esse conceito de comprometimento em muito se aproxima daquele concebido pelos teóricos de Uppsala, em que é a experiência obtida no dia a dia que leva a empresa a aumentar seu grau de comprometimento, via aumento dos recursos investidos em dado mercado.

- Restrições ao investimento direto – Aharoni observou que uma série de restrições poderia ser investigada pelas empresas ao longo do processo decisório de investimento direto no exterior: ambiente político, concessões possíveis do governo local, taxas de juros, tamanho do mercado, sistema legal, aspectos culturais da população, preço de terrenos, salários e benefícios, sindicatos, mix de produtos a serem fabricados, entre outros. Quanto mais proximidade e conhecimento acerca do ambiente de determinado país, maiores as chances de a firma tomar a decisão de comprometimento de recursos. Isso se deve ao papel que a informação exerce sobre a percepção de incerteza: “quanto mais informação se tem, menor a avaliação subjetiva da incerteza” (Aharoni, 1966, p.282). Essas colocações parecem ter uma ligação com o papel exercido pela distância psíquica no modelo de Uppsala, em que o aumento do conhecimento sobre determinado mercado permite aumentar o comprometimento com o mesmo, por via da redução da distância psíquica (que pode ser interpretada como uma proxy para a “avaliação subjetiva da incerteza”).

Interação entre as Teorias Examinadas e o Modelo do Processo de Internacionalização de Uppsala Uma vez examinados separadamente os precursores teóricos do Modelo de Uppsala, estamos aptos agora a reunir essas contribuições relacionando-as aos temas centrais do modelo. Em uma visão geral, os autores mencionados e o modelo de Uppsala têm como pressupostos comuns a crença na racionalidade limitada e na importância dos fatores comportamentais no processo decisório empresarial. Os textos seminais examinados criticam a visão neoclássica da firma, em que a organização é considerada apenas uma unidade de produção que busca maximizar o lucro e minimizar os custos. As três teorias precursoras do modelo de Uppsala têm em comum o entendimento de como a racionalidade limitada dos gestores impacta o processo decisório da firma. Em função dos limites à racionalidade, incerteza e conflitos internos à firma, as decisões tomadas são apenas satisfatórias (Pitelis, 2007). Para Aharoni, o processo decisório já se inicia com redução no número de alternativas consideradas. Em todos os casos, as decisões de empresários e gerentes são pautadas pela possibilidade de realizar escolhas, mas dentro de limites da racionalidade. Neste sentido, as referidas teorias, se aplicadas à opção de se atuar no exterior, convergem para a tese de que a trajetória de internacionalização caracteriza-se como processo gradual, influenciado por decisões de caráter subjetivo, perceptual.

Há aspectos específicos que foram utilizados no Modelo de Uppsala e que são provenientes desses autores, que merecem ser discutidos separadamente: (1) visão de risco e de incerteza; (2) natureza e papel da aprendizagem; (3) natureza e papel do comprometimento; (4) funcionamento do mecanismo básico da internacionalização (caracterizado pela influência mútua de aprendizagem e comprometimento); e (5) gradualismo. Esses cinco aspectos examinados podem ser vistos como elementos centrais constituintes do modelo de Uppsala.

(1) Visão de risco e incerteza – A visão de risco e incerteza, presente no modelo de Uppsala, assume essencialmente que o empresário é avesso a risco e que a internacionalização é uma decisão envolta em forte incerteza. Isso se deve, em parte, à influência de Sune Carlson, pioneiro nas pesquisas sobre negócios internacionais realizadas na Escola de Uppsala,

13

reconhecido pelos autores como inspirador de algumas idéias formalizadas no modelo. Carlson via o gerente como avesso a risco: “os negócios internacionais são contra a natureza humana...”, e “fazer negócios no exterior é equivalente a dar passos cautelosos em território desconhecido...” (Björkman & Forsgren, 2000, p.7). Embora risco e incerteza também apareçam em Penrose (1959) e Cyert e March (1963), o modelo de Uppsala se aproxima mais da visão de incerteza e risco de Aharoni (1966), que vê o empresário como avesso a risco e a internacionalização (via investimento direto) como “uma viagem ao desconhecido” (Aharoni, 1966, p.42). Não obstante a influência marcante de Carlson e Aharoni nesse elemento central do modelo, Johanson e Vahlne (1977) trouxeram de Cyert e March (1963) a idéia de que a internacionalização não se basearia em planejamento estratégico de longo prazo, mas em passos seqüenciais, resultantes de uma visão de curto prazo, como forma de reduzir o risco e lidar com a incerteza inerente aos negócios internacionais.

(2) Natureza e papel da aprendizagem – O construto de aprendizagem, elemento central do modelo de Uppsala, é obtido tanto de Penrose, quanto de Cyert e March. Os autores do modelo trouxeram diretamente de Penrose a visão de que há dois tipos de conhecimento, o objetivo e o ‘experiencial’ e que esse último é o mecanismo mais valioso para adquirir os conhecimentos necessários à internacionalização. Na opinião de Björkman e Forsgren (2000, p.8), “sua discussão [de Penrose] da aprendizagem dentro da organização teve influência profunda na suposição emergente de que o conhecimento de negócios internacionais só pode ser adquirido a partir da experiência direta”. É também de Penrose o entendimento de que a contratação de recursos externos pode ser uma forma de adquirir experiência internacional já existente no mercado, já que a Escola de Uppsala admite a possibilidade de contratação de pessoal com experiência internacional como caminho para a aquisição de conhecimento, mas, como Penrose, considera que será necessário algum tempo para que adquiram conhecimento sobre a firma: “Até certo ponto, pode ser possível contratar pessoal com experiência de mercado e usá-lo de forma lucrativa após algum tempo nas atividades de marketing. A demora é necessária pela necessidade de o novo pessoal ganhar a experiência necessária na firma.” (Johanson & Vahlne, 1977, p.29). No tocante à teoria comportamental da firma de Cyert e March, a abordagem de Uppsala também importa elementos relativos ao processo de aprendizagem. Mas enquanto Cyert e March vêem o processo de mudança como resultante não só da aprendizagem, mas também da própria história da firma, no modelo de Johanson e Vahlne a aprendizagem é o motor da mudança. O processo de internacionalização de Uppsala prosseguiria de forma cíclica, conforme fossem surgindo problemas e encontradas soluções para estes, como apontado por Cyert e March. A aprendizagem organizacional levaria ao aumento progressivo das operações internacionais (em termos de número de mercados servidos e recursos comprometidos).

(3) Natureza e papel do comprometimento – Este elemento central do modelo recebeu bem menos atenção do que a aprendizagem, como admitem os próprios autores (Johanson e Vahlne, 2006). Ele, na verdade, também é pouco relevante na obra de Penrose e de Cyert e March, embora tenha papel central no entendimento do processo decisório de investimento direto no exterior de Aharoni. Como vimos, Aharoni via o comprometimento como uma série de pequenos atos seqüenciais que levariam ao comprometimento individual dos gestores com determinado mercado, assim como ao comprometimento de toda a organização. No modelo de Uppsala, visualiza-se mais o comprometimento da organização como um todo, que é associado ao conhecimento crescente do mercado, fruto do aprendizado.

(4) Funcionamento do mecanismo básico da internacionalização – O mecanismo básico da internacionalização, no modelo, se refere à forma como aprendizagem e comprometimento se reforçam mutuamente, permitindo aprofundar a internacionalização. A lógica do mecanismo básico de internacionalização também é suportada pelas teorias precursoras, embora aqui as

14

contribuições sejam distintas. De Penrose vem a idéia de que não há limites ao crescimento, e que a própria disponibilidade de de certo tipo de conhecimento específico e oriundo da experiência na firma geraria um estímulo interno para a aplicação desse conhecimento, por meio da exploração de novas oportunidades. O crescimento, em Penrose, é alimentado pela “aquisição cumulativa de aprendizagem coletiva” ((Penrose, 1995[1959], p. xiii), algo que é reproduzido no modelo de Uppsala. Portanto, daí provém a compreensão de que a aprendizagem acumulada ao longo do tempo leva à expansão. Essa visão se aproxima muito do entendimento de Aharoni de que proximidade e conhecimento acerca do ambiente de determinado país aumentariam a probabilidade de se realizar investimento direto naquele país, reduzindo a “avaliação subjetiva da incerteza”. Ao ver o conhecimento como forma de diminuir a ignorância, Aharoni fornece a Johanson e Vahlne o elemento final necessário ao funcionamento do mecanismo básico de internacionalização: redução da incerteza graças ao aumento de conhecimento do mercado. Assim sendo, a idéia de um processo auto-alimentado é particularmente consistente com Penrose e com Aharoni, ao se examinarem as forças que motivam e direcionam o processo de internacionalização. Finalmente, vem de Penrose a idéia de que não há limites ao crescimento e, portanto, à expansão internacional.

(5) Gradualismo – As três teorias estudadas vêem os processos decisórios empresariais caracterizados por gradualismo, ainda que as razões para tal sejam distintas. Para Penrose, o crescimento é gradual porque os recursos humanos internos são um limitador ao crescimento: a firma não pode se expandir mais rápido do que a capacidade da equipe gerencial em conhecer e aprovar os planos, ou a capacidade da firma de trazer recursos externos e fazê-los conhecer a firma e trabalhar junto aos demais de forma eficaz. Já para Cyert e March, o crescimento é gradual porque é necessária a negociação de objetivos conflitantes dos vários grupos dentro da organização, e a forma de realizar esse processo consiste, essencialmente, em proceder de forma seqüencial em termos de objetivos e ações. Finalmente, para Aharoni, a decisão de internacionalização, via investimento direto no exterior, teria um caráter essencialmente incremental, não sendo possível determinar em que momento a decisão foi tomada. Johanson e Vahlne (1977, p.24) salientam ainda o papel dos estudos anteriores realizados em Uppsala, ao proporcionarem a base empírica para o gradualismo: “o modelo se baseia na observação empírica de nossos estudos ... que mostram que as firmas suecas desenvolvem suas operações internacionais em pequenos passos, ao invés de fazerem grandes investimentos em produção no exterior em pontos específicos do tempo”.

Vimos, assim, que os elementos centrais do modelo foram trazidos de teorias já existentes, além de serem examinados à luz das evidências empíricas então disponíveis. A contribuição de Johanson e Vahlne (1977) foi a de unir tais contribuições, integrá-las e reinterpretá-las, à luz do processo de internacionalização da firma.

A Figura 2 apresenta uma síntese das conexões entre as teorias precursoras e os elementos centrais constituintes do modelo de Uppsala. A figura permite perceber que a interação entre as teorias comportamentais e a abordagem do processo de internacionalização resulta em uma “teia conceitual”, dada a comunalidade existente entre os precursores. Trata-se, evidentemente, de uma simplificação, já que o modelo de Uppsala sofreu influência, como vimos, de outros autores, em particular de Sune Carlson, e baseou-se em evidências empíricas e textos emanados da própria escola de Uppsala.

15

Figura 2 – Síntese da inter-relação entre as teorias e os blocos constituintes do modelo

Considerações Finais Neste ensaio, procuramos mostrar as influências exercidas por três teorias precursoras sobre o modelo original desenvolvido por Johanson e Vahlne (1977). Posteriormente, esses autores incorporaram diversas modificações ao modelo, em particular inserindo-o na teoria de redes, mas o modelo original permanece até hoje como explicação teórica plausível para o processo de internacionalização de grande número de empresas em todo o mundo.

O presente ensaio não só torna evidente a contribuição dos trabalhos de Penrose (1995[1959]), Cyert e March (2001[1963]) e Aharoni (1966) para o modelo de Uppsala, mas também clarifica em que extensão e sob que aspectos os aludidos trabalhos contribuíram efetivamente para que Johanson e Vahlne concebessem seu modelo de processo de internacionalização.

Assim como permanecem as contribuições de seus precursores teóricos, o modelo de Processo de Internacionalização de Uppsala, em sua proposta original de 1977, ainda se mantém como uma das explicações possíveis para o processo de internacionalização da firma. É interessante observar que os conceitos inseridos nas três teorias precursoras também permaneceram na teoria de redes, em parte proveniente dos pesquisadores de Uppsala, assim como de outros pesquisadores europeus, evidenciando sua perenidade.

Referências Aharoni, Y. (1966). The foreign investment process. Boston, MA: Division of Research, Graduate School of Business Administration, Harvard University.

Andersen, O. (1993). On the internationalization process of firms: a critical analysis. Journal of International Business Studies, 24(2), 209-233, 1993.

Andersson, S. (2004). Internationalization in different industrial contexts. Journal of Business Venturing, 19, 851-875.

Beckerman, W. (1956). Distance and the pattern of intra-European trade. The Review of Economics and Statistics, 28, 31-40.

Benito, G., & Welch, L. (1997). De-internationalization. Management International Review, 37(2, Special issue), 7-25.

16

Björkman, I., & Forsgren, M. (2000). Nordic international business research. International Studies of Management & Organization, 30(1), 6-25.

Cyert, R.; March, J. (2001[1963]). A behavioral theory of the firm. New York: Prentice Hall.

Dunning, J.H. (2003). The contribution of Edith Penrose to international business scholarship. Management International Review, 43(1), 3-19.

Forsgren, M. (2002). The concept of learning in the Uppsala internationalization process model: a critical review. International Business Review, 11, 257-277.

Forsgren, M., & Johanson, J. (1975). Managing the internationalization process: the Swedish cases. European Management Journal, 8, 261-267.

Hadjikhani, A. (1997). A note on the criticisms against the Internationalization Process Model. Management International Review, 37(2, Special Issue), 43-66.

Hagen, J. M., & Hennart, J.-F. Foreign production: the weak link in tests of the internationalization process model. Working Paper 2003-41. Department of Applied Economics and Management. Cornell University, June 2004.

Jarillo, J.C., & Martínez, J.I. (1991). The international expansion of Spanish firms: towards an integrative framework for international strategy. In: Mattson, L.G.; Stime, B. (Eds.) Corporate and industry strategies for Europe. New York: Elsevier.

Johanson, J., & Vahlne, J.E. (1977). The internationalization process of the firm: a model of knowledge development and increasing foreign market commitment. Journal of International Business Studies, 8(1), 23-32.

Johanson, J., & Vahlne, J.E. (1990). The mechanism of internationalization. International Marketing Review, 7(4), 22-32.

Johanson, J., & Vahlne, J.E. (1993) Management of internationalization. In: Zan L., Zambon, S., & Pettigrew, A.M. Perspectives on strategic change. Dordrecht: Kluwer.

Johanson, J., & Vahlne, J.E. (2003). Building a model of firm internationalisation In: Blomstermo, A., & Deo Sharma, D. Learning in the internationalisation process of firms. London: Edward Elgar.

Johanson, J., & Vahlne, J.E. (2006). Commitment and opportunity development in the internationalization process: a note on the Uppsala internationalization process model. Management International Review, 46(2),165-178.

Johanson, J., & Vahlne, J.E. (2009). The Uppsala internationalization process model revisited: from liability of foreignness to liability of outsidership. Journal of International Business Studies advance online publication.

Johanson, J., & Wiedersheim-Paul, F. (1975). The internationalization of the firm - four Swedish cases. Journal of Management Studies, 12(3), 305-322.

Leonidou, L.C., & Katsikeas, C.S. (1996). The export development process: na integrative review of empirical models. Journal of International Business Studies, 27(3), 517-551.

Marris, R. (1963). A model of the managerial enterprise. Quarterly Journal of Economics, 77, 185-209.

Melin, L. (1992). Internationalization as a strategy process. Strategic Management Journal, 13, 99-118.

17

Millington, A.I., & Bayliss, B.T. (1990). The process of internationalization: UK companies in the EC. Management International Review, 30 (2), 151-161.

Oviatt, B., & McDougall, P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64.

Penrose, E. T. (1956). Foreign investment and the growth of the firm. Economic Journal, 66 (262), 220-235.

Penrose, E. T. (1995[1959]). The theory of the growth of the firm. New York: Oxford University Press.

Penrose, E. T. (1960). The growth of the firm - a case study: the Hercules Powder Company. Business History Review, 34(1), 1-23.

Petersen, B., & Pedersen, T. (1997). Twenty years after – support and critique of the Uppsala Internationalisation Model. In: Björkman, I., & Forsgren, M. (Eds.). The nature of the international firm: Nordic contributions to international business research (pp.117-133). Copenhagen: Handelshöjskolens Forlag.

Pitelis, C. (2002). The growth of the firm: the legacy of Edith Penrose. New York: Oxford University Press.

Pitelis, C. (2007). Behavioral resource-based view of the firm: the synergy of Cyert and March (1963) and Penrose (1959). Organization Science, 18(3), 478-490.

Pitelis, C., & Verbeke, A. (2007). Edith Penrose and the future of the multinational enterprise: new research directions. Management International Review, 47(2), 139-149.

Rezende, S.F.L. (2002). Gradualismo e descontinuidade em processos de internacionalização. Revista de Administração, 37 (1), 39-50.

Rhee, J.H., & Cheng, J.L.C. (2002). Foreign market uncertainty and incremental international expansion: the moderating effect of firm, industry, and host country factors. Management International Review, 42(4), 419-439.

Steen, J. T., & Liesch, P. W.(2007). A note on Penrosean growth, resource bundles and the Uppsala Model of Internationalisation. Management International Review, 47(2), 193-206.

Sulllivan, D. (1994). Measuring the degree of internationalization of a firm. Journal of International Business Studies, 25 (2), 325-342.

Vahlne, J E., & Wiedersheim-Paul, F. (1973). Economic distance: model and empirical investigation. In: Hörnell, E.; Vahlne, J. E.; Wiedersheim-Paul, F. Export and foreign establishments. Stockholm: Almqvist & Wiksel.

Welch, L., & Wiedersheim-Paul, F. (1980). Domestic expansion: internationalization at home. South Carolina Essays in International Business, 2 (December).

Whitelock, J. (2002). Theories of internationalization and their impact on market entry. International Marketing Review, 19 (4), 342-347.

Wiedersheim-Paul, F. (1972). Uncertainty and economic distance – studies in international business. Acta Universitatis Upsaliensis, 7.