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ARTUR ROBERTO ROMAN ELIZABETH DE MACEDO VIERO INGRID BOY RAMOS KATIA MARIA SEQUEIRA DA SILVA PRÁTICAS MUSICAIS NOS PROGRAMAS DE QUALIDADE DE VIDA DESENVOLVIDOS EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS: UMA POSSÍVEL CONTRIBUIÇÃO DA ANTROPOSOFIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Positivo, Setor de Ciências da Saúde, Departamento de Medicina, como parte das exigências de conclusão do curso de especialização em Antroposofia como Base para Práticas de Saúde. Orientador: Prof. Dr. Angelmar Constantino Roman CURITIBA 2012

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    ARTUR ROBERTO ROMAN

    ELIZABETH DE MACEDO VIERO

    INGRID BOY RAMOS

    KATIA MARIA SEQUEIRA DA SILVA

    PRTICAS MUSICAIS NOS PROGRAMAS DE QUALIDADE DE VIDA

    DESENVOLVIDOS EM INSTITUIES FINANCEIRAS: UMA POSSVEL

    CONTRIBUIO DA ANTROPOSOFIA

    Trabalho de Concluso de Cursoapresentado Universidade Positivo,Setor de Cincias da Sade,Departamento de Medicina, comoparte das exigncias de concluso docurso de especializao emAntroposofia como Base paraPrticas de Sade.

    Orientador: Prof. Dr. AngelmarConstantino Roman

    CURITIBA

    2012

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    AGRADECIMENTOS

    Aos professores do Curso de Especializao em Antroposofia como Base

    para Prticas de Sade da UP, pelas aulas enciclopdicas pela beleza das

    prticas artsticas e por compartilhar o trabalho de suas vidas conosco.

    Ao Professor Dr. Angelmar Constantino Roman, pela sua orientao e

    pela sua presena enriquecedora e pela coragem de trazer os conhecimentos da

    Antroposofia para a Academia.

    Aos colegas do curso pelo compartilhamento, pelas timas horas que

    passamos juntos, pelos quitutes do caf e por dividirmos um pouco de nossa

    subjetividade e de nossas interminveis dvidas.

    Aos incrveis autores que pesquisei, especialmente ao Dr. Rudolf Steiner e

    Dr. Wesley Arago de Moraes, que esperamos honrar utilizando bem suas ideias.

    Aos nossos companheiros, que sempre nos apoiaram, e aos nossos filhos,

    que com sua juventude, beleza e amor pela verdade sempre nos inspiram a ser

    melhores.

    A Deus, pela vida e por nos ajudar a perceber que a nossa passagem pelo

    mundo faz diferena.

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    Para ser grande, s inteiro:

    nada teu exagera ou exclui.

    S todo em cada coisa.

    Pe quanto s no mnimo que fazes.

    Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.

    Fernando Pessoa

    O amor, o trabalho e o conhecimento so as fontes da nossa vida.

    Deveriam tambm govern-la.

    Wilhelm Reich

    O futuro preparado

    medida que o presente,

    conservando-se no solo do passado, transformado.

    Rudolf Steiner

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    RESUMO

    Este trabalho tem como objetivo apresentar a Antroposofia como uma leitura de

    mundo capaz de ampliar nossas prticas de sade na direo de aes que

    contemplem aspectos negligenciados do ser humano nos programas de qualidade

    de vida no trabalho Buscamos compreender a evoluo da legislao sobre sade

    e segurana no trabalho em instituies financeiras. Para realizar esse objetivo

    partimos da conceituao de sade e qualidade de vida da Organizao Mundial

    de Sade. Discutimos a legislao que prev a implantao de programas de

    preveno de doenas e promoo sade e analisamos a histria da sade dos

    trabalhadores e sua relao com a legislao sobre trabalho e previdncia vigente

    atualmente no Brasil, observando a nfase dada ao adoecimento fsico e a

    ausncia de referncias subjetividade ou ao sofrimento psquico dos

    trabalhadores. Seguimos com uma viso panormica das doenas mais

    frequentes relacionadas ao trabalho, de acordo com estatsticas nacionais e

    mundiais e como essas doenas apresentam componentes psquicos ou so

    doenas mentais propriamente ditas, como depresses e sndromes associadas

    ao estresse. So apresentados, na sequncia, os programas de qualidade de vidadivulgados por trs empresas do ramo financeiro, publicamente, em seus stios na

    Internet. Introduzimos a viso de homem e de mundo da Antroposofia e

    apresentamos o conceito de salutognese, bem como as prticas complementares

    de sade e sua contribuio para ampliar os programas de qualidade de vida no

    trabalho em instituies financeiras. Conclumos que existe uma lacuna em tais

    programas, que atualmente atendem apenas s necessidades ergonmicas dos

    trabalhadores, e propomos que sejam inseridas atividades artsticas, como aMusicoterapia e Cantoterapia, por seu potencial de trabalhar ao mesmo tempo a

    arte e o social, a respirao e a comunho, podendo trazer um enriquecimento dos

    ambientes organizacionais, numa ao multidisciplinar, reconhecendo que a

    subjetividade e o sofrimento psquico dos trabalhadores, precisam de atividades

    que vo alm das atualmente praticadas, mais centradas no seu fsico.

    Palavras-chave: Qualidade de Vida no Trabalho, Sade do trabalhador.Instituies financeiras. Antroposofia.

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    ABSTRACT

    This paper aims to present Anthroposophy as a reading of the world, able to

    expand our health practices toward actions that address neglected aspects of

    human beings in quality of life programs We seek to understand the evolution of

    legislation on health and safety at work in financial institutions. To accomplish this

    goal we start with the concept of health and quality of life of the World Health

    Organization to discuss legislation that provides for the implementation of

    programs for disease prevention and health promotion, and analyze the history of

    workers' health and its relation to legislation present in Brazil, noting the emphasis

    on physical illness and the absence of references to the subjectivity or the

    psychological distress of workers. We follow with an overview of the most common

    diseases related to work, according to national and international statistics and how

    these diseases have psychological or mental components, like depression and

    stress-associated syndromes. We describe the programs of quality of life reported

    by three companies in the financial sector, as they are presented on their websites.

    We introduce the vision of Man and of the World of Anthroposophy and present theconcept of salutognese as well as complementary health practices and their

    contribution to extend the quality of life programs at work in financial institutions.

    We conclude that there is a gap in such programs, which currently serve only

    ergonomic needs of workers, and we propose that art activities, such as Music

    therapy and Singing therapy, should be included in those programs for their

    potential to deal with art and social skills, breathing and fellowship, bringing an

    enrichment to the organizational environments, a multidisciplinary action,recognizing that subjectivity and psychological distress of workers need activities

    that go beyond currently practiced exercises, more focused on the body..

    Key-words: Worker health. Safety and Occupational Medicine. Specialized

    Services, Financial institutions. Psychology of work, Antroposophy

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    SUMRIO1 INTRODUO 8

    1.1 JUSTIFICATIVA 8

    1.2 OBJETIVO 9

    2 REFERENCIAL TERICO 112.1 O CONCEITO QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E SUAS

    IMPLICAES PARA A VIDA HUMANA 112.2 A HISTRIA DA SADE DOS TRABALHADORES 15

    2.3 CONSIDERAES SOBRE A LEGISLAO TRABALHISTA NOBRASIL 18

    2.3.1 As normas regulamentadoras (NR) 19

    2.4 CONSIDERAES SOBRE A LEGISLAO PREVIDENCIRIA EAS DOENAS DOS TRABALHADORES DO RAMO FINANCEIRO 24

    2.4.1 A sade dos trabalhadores em instituies financeiras no Brasil 282.5 PROGRAMAS DE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO EM

    INSTITUIES FINANCEIRAS 37

    2.5.1 Programa de Qualidade de Vida da Caixa Econmica Federal 37

    2.5.2 Programa de Qualidade de Vida do Banco do Brasil 39

    2.5.3 Programa de Qualidade de Vida do Banco Ita Unibanco 39

    2.5.4 Consideraes sobre os Programas de Qualidade de Vida noTrabalho apresentados 42

    3 O QUE ANTROPOSOFIA 45

    3.1 A VISO DE HOMEM E DE MUNDO DA ANTROPOSOFIA 463.1.1 A Trimembrao 483.1.2 A Quadrimembrao e os processos de adoecimento 50

    3.2 SALUTOGNESE 53

    3.2.1 Prticas complementares de sade 56

    3.2.1.1 Terapias artsticas 58

    3.3 A ATUAO DA MSICA NA SADE DO TRABALHADOR 59

    3.3.1 Musicoterapia 60

    3.3.1.1 A msica e a sade do trabalhador 673.4 A ATUAO DO CANTO NA SADE DO TRABALHADOR 71

    3.4.1 Canto Coral 71

    3.4.2 Canto Werbeck um caminho para sade e auto-conhecimento 73

    3.5 UMA PROPOSTA PARA OS PROGRAMAS DE QUALIDADE DEVIDA NO TRABALHO EM INSTITUIES FINANCEIRAS 78

    4 CONCLUSO 80

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 82

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    1 INTRODUO

    Se compararmos a atividade humana ao longo do tempo, podemos observar

    como a aquisio de novas tecnologias transformaram nosso cotidiano, tornando

    mais complexas e abstratas as operaes mais simples, e afastando o homem das

    transformaes primrias da natureza, como coletar, plantar e colher frutos, folhas,

    razes e cereais. Muito do que consumimos ou dos instrumentos que utilizamos

    passaram por complexo processo industrial.

    O setor de servios cresce, e as instituies financeiras seguem essa mesma

    direo, utilizando-se amplamente da informatizao e da automao de operaesbancrias, que trouxeram profundas mudanas na organizao do trabalho para os

    trabalhadores, com conseqentes agravos a sua sade.

    1.1 JUSTIFICATIVA

    Os programas de qualidade de vida no trabalho (PQVT) em andamento em

    instituies financeiras tem como objetivo manter a sade de seus funcionrios,focando na sua sade fsica e na preveno dos Distrbios Osteomusculares

    relacionados ao trabalho DORT e em prticas anti-estresse atravs de sees de

    alongamentos de aproximadamente 15 minutos, orientadas por fisioterapeutas ou

    professores de educao fsica e por massagens expressas, em torno de 15 minutos

    por seo. A adeso dos funcionrios ao programa voluntria. Os benefcios

    dessas prticas so reconhecidos pelo grupo, segundo a direo da empresa e o

    Programa aceito por uma parte do grupo ao qual oferecido.

    Atravs dos levantamentos de doenas relacionadas ao trabalho extrados do

    Anurio da Previdncia Social contatou-se que o adoecimento dos trabalhadores em

    instituies financeiras tem ocorrido por doenas classificadas como relacionadas

    com o estresse e seus danos psicolgicos, como as depresses, sndrome de

    burnout, alm das DORT.

    Considerando que os danos sade so fsicos, e tambm psicolgicos, nos

    perguntamos se a Antroposofia pode propor outras aes, que ampliem os

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    Programas de Qualidade de Vida e tragam benefcios no ambiente de trabalho para

    seu pblico-alvo, aumentando o bem estar, proporcionando auto-desenvolvimento e

    promoo da sade.

    1.2 OBJETIVO

    A partir da anlise das aes propostas e realizadas pelos programas de

    qualidade de vida em instituies financeiras, o objetivo deste trabalho propor

    novas atividades a partir dos conhecimentos sobre constituio humana e sade,

    ampliados pela Antroposofia.

    Partimos da anlise dos documentos escritos nas empresas sobre Programasde Qualidade de Vida, conceito, objetivo e aes custeadas e resultados esperados.

    Apresentaremos, a seguir, a constituio humana de acordo com a proposta

    da Antroposofia, o conceito de fases da vida e as prticas de sade complementares

    e educao de adultos. A partir desse embasamento, iremos propor atividades de

    msica e canto a serem desenvolvidas pelos trabalhadores que enriqueam os

    programas de QVT, dentro de seus objetivos: que sejam prticas possveis de seremexecutadas no ambiente de trabalho.

    O problema proposto por este estudo se existe alguma contribuio da

    Antroposofia para os programas de qualidade de vida no trabalho e se existem

    prticas especficas, como a Musicoterapia e a Cantoterapia, que possam

    enriquecer tais programas, considerando dimenses do ser humano at ento no

    contempladas em tais programas.

    Para auxiliar na compreenso desse problema,algumas questes tornam-se

    necessrias:

    - Qual a abrangncia do conceito qualidade de vida no trabalho, atualmente,

    e suas implicaes para os trabalhadores?

    - O que propem os programas de qualidade de vida no trabalho como

    atividades de preveno e promoo sade?

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    - Qual a contribuio da viso de Mundo e de Homem da Antroposofia e

    pode esse conhecimento ampliar as prticas de qualidade de vida no trabalho?

    - Como atua a Musicoterapia e a Cantoterapia na constituio humana e

    como podem ser um instrumento de promoo da qualidade de vida no trabalho?

    Iniciamos este estudo com o referencial terico (Captulo 2), apresentando

    uma reviso do conceito de qualidade de vida no trabalho, pela Organizao

    Mundial da Sade e por pesquisadores acadmicos, passando por um panorama da

    histria da sade dos trabalhadores e suas conquistas. Em seguida, descrevemos o

    resultado dessas lutas materializado na legislao trabalhista e previdenciria,

    especialmente nas normas regulamentadoras (NR) que tratam da preveno epromoo a sade. Tratamos dos adoecimentos mais freqentes e das lutas dos

    sindicatos sobre a questo da sade dos empregados em instituies financeiras e

    de alguns trabalhos recentes sobre causas do adoecimento e sofrimento psquico

    desses trabalhadores. Ao final desse Captulo apresentamos os programas de

    qualidade de vida no trabalho de trs instituies financeiras, com informaes

    disponveis nos sites instituies respectivos. No Captulo 3, descrevemos o que

    Antroposofia e sua viso de homem e de mundo, alm da atuao das prticascomplementares de sade e, esboamos uma sugesto de atuao da

    Musicoterapia e Cantoterapia em programas de qualidade de vida nas organizaes.

    No Captulo 4 elaboramos as consideraes finais sobre o tema.

    No existe nenhuma pretenso de esgotar o assunto com este estudo, mas

    iniciar uma discusso que, junto com outros trabalhos, possa levar a concluses

    sobre o lugar da Antroposofia como base para ampliar as prticas de sade emnossa sociedade, de uma maneira geral, e nas instituies financeiras, de uma

    maneira especfica.

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    2REFERENCIAL TERICO

    2.1 O CONCEITO QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E SUAS IMPLICAES

    PARA A SADE DOS TRABALHADORES

    Optamos iniciar pelo referencial da Organizao Mundial da Sade, entidade

    vinculada Organizao das Naes Unidas, sobre os conceitos de Sade e

    Qualidade de Vida, para alcanar a Qualidade de Vida no Trabalho. Na Carta de

    Constituio da Organizao Mundial de Sade, de 22 de julho de 1946, descreve

    seus princpios basilares para a felicidade dos povos, para suas relaes

    harmoniosas e para sua segurana, nos quais conceitua sade como um estado

    completo de bem estar fsico, mental e social, e no consiste apenas na ausncia de

    doena ou de enfermidade. Ainda em seus princpios estabelece que "os Governos

    tm responsabilidade pela sade dos seus povos, a qual s pode ser assumida pelo

    estabelecimento de medidas sanitrias e sociais adequadas.

    A questo da qualidade de vida, por lidar com diversos elementos alm da

    sade, como cultura, subjetividade, sociedade e tempo presente trouxe maisdesafios para ser definida. A OMS props ento a criao de um grupo que pudesse

    criar um instrumento de avaliao de qualidade de vida dentro de uma perspectiva

    multicultural. Desta forma, no lugar de um conceito foi criado um construto a partir de

    um grupo de especialistas de diferentes culturas, que descreveu qualidade de vida

    como a percepo do indivduo sobre sua posio na vida, no contexto da cultura e

    do sistema de valores nos quais ele vive e em relao aos seus objetivos,

    expectativas, padres e preocupaes (WHOQOL GROUP, 1994).

    O instrumento de avaliao da qualidade de vida refletiu sua

    multidimensionalidade, pesquisando seis domnios, divididos em 24 aspectos: fsico

    (dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso), psicolgico (sentimentos

    positivos e negativos, capacidade de aprender, autoestima, imagem corporal), nvel

    de independncia (mobilidade, atividades da vida cotidiana, capacidade de trabalho,

    dependncia de medicamentos), relaes sociais (relaes pessoais, apoio social,

    atividade sexual), meio ambiente (segurana, ambiente do lar, recursos financeiros,

    ateno sade, oportunidade de adquirir novas habilidades, lazer, ambiente fsico

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    e transporte) e espiritualidade/religio/crenas pessoais, atravs de um questionrio

    de 100 perguntas.

    Se o conceito de qualidade de vida carrega a complexidade refletida pelo

    trabalho da OMS em conceitu-la e mensur-la atravs dos indicadores acima

    mencionados, a qualidade de vida no trabalho transporta essa

    multidimensionalidade para dentro dos ambientes organizacionais. Goulart e

    Sampaio (1999) traam um panorama histrico sobre a origem e evoluo do

    movimento de qualidade de vida no trabalho (QVT). Cita que a Escola de Relaes

    Humanas de Elton Mayo foi a que mais se identificou com o movimento QVT,

    descobrindo a interferncia das relaes sociais do trabalhador em suaprodutividade. Cita os relevantes estudos de Maslow e de Herzberg sobre motivao

    humana. O primeiro estabeleceu a hierarquia das motivaes, onde satisfeitos os

    motivos primrios, aparecem os secundrios ou psicossociais. O segundo

    apresentou uma teoria agrupando os motivos em dois blocos: fatores higinicos,

    indispensveis ao equilbrio no trabalho e fatores motivacionais, de interesse pela

    tarefa.

    Destaca a abordagem de Richard Walton, mais freqentemente utilizada

    para orientar anlises sobre o tema, apresenta oito categorias conceituais para

    avaliar a QVT: compensao adequada e justa, condies de trabalho, uso e

    desenvolvimento de capacidades, oportunidade de crescimento e segurana,

    integrao social na organizao, constitucionalismo (ligado aos direitos dos

    trabalhadores e s leis), trabalho e espao total de vida (inclui elementos como

    tempo para lazer e famlia) e relevncia social da vida no trabalho (trata da imagemda empresa e auto-estima do trabalhador).

    Na anlise de GOULART e SAMPAIO, a teoria de WALTON abrange as

    necessidades primrias e secundrias do homem em os aspectos organizacionais,

    com realce para a auto realizao, sendo provavelmente sua abrangncia o motivo

    de ser utilizada pelos pesquisadores brasileiros com maior freqncia. Os autores

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    citam pesquisa realizada na Universidade Federal de Minas Gerais1que teve como

    objetivo a anlise das representaes sociais de implantadores de programas de

    qualidade de vida no trabalho em organizaes de diferentes setores daquele

    estado. Verificou a existncia de relao entre a adoo de programas de qualidade

    total como forma de gerenciamento e os programas de qualidade de vida no

    trabalho. Em sua anlise dos resultados da pesquisa cita a confuso comum entre

    os entrevistados sobre a distino entre benefcios e vantagens trabalhistas e os

    programas de QVT, ou entre qualidade de vida em sentido mais amplo e QVT e a

    incluso de programas de cidadania ou boas relaes com a comunidade e QVT.

    A grande crtica que a autora traz em sua pesquisa que QVT no se reduzao cumprimento de leis ou discusso de direitos dos trabalhadores, sendo mais

    ampla e abrangente. Conclui que a maioria das empresas pesquisadas preferiu

    admitir no ter um programa de qualidade de vida no trabalho, embora possuindo

    atividades que visam contempl-la, talvez por saber que um programa de QVT deve

    ir alm do previsto na legislao.

    Uma das autoras pesquisadas foi Limongi-Frana (2009), que discute aintegrao das aes de QVT com as prticas de promoo sade, considerada

    como um desafio poltico e organizacional. Para a autora, os debates no mbito da

    sade e bem-estar tm produzido mudanas organizacionais, no sentido de uma

    gesto de pessoas mais atenta e responsvel, com integrao dos procedimentos e

    ferramentas tradicionais de RH. Ainda assim, ressalta que as aes so paliativas,

    pouco focadas ou reativas s exigncias legais, mesmo com avanos nos esforos

    gerenciais para entender a moral do grupo, os problemas da desmotivao e obalano entre a vida pessoal e profissional.

    Limongi-Frana (2009) defende a viso da Medicina Psicossomtica, que

    prope que todo homem um complexo scio psicossomtico, pode auxiliar na

    convergncia das prticas promotoras de sade e bem estar, por contemplar os

    domnios biolgico (caractersticas fsicas herdadas ou adquiridas), psicolgico

    (afetos e personalidade) e social (o papel na famlia, valores e meio ambiente). Para

    . . .

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    complementar prope incluir o domnio organizacional, este ligado cultura da

    empresa, segmento econmico de atuao e padres de competitividade. Prope

    que a conscincia administrativa sobre essas questes caracteriza uma nova

    especializao gerencial, a Gesto da Qualidade de Vida no Trabalho, cuja

    prioridade o bem-estar das pessoas na organizao.

    Em seu levantamento histrico do conceito de Qualidade de Vida, valoriza o

    modelo de Walton (1975), que a define como valores ambientais e humanos,

    negligenciados pelas sociedades industriais em favor do avano tecnolgico, da

    produtividade e do crescimento econmico. Remete a discusso da qualidade de

    vida ao contexto mais amplo do modelo de qualidade total, a partir da dcada de 70,com Juran e Deming, que consideram a qualidade pessoal como parte dos

    processos de qualidade organizacional. Valoriza o conceito do psicanalista francs

    Dejours que se refere QVT como condies sociais e psicolgicas do trabalho,

    que podem trazer sofrimento patognico ou sofrimento criador.

    O estudioso brasileiro Roberto Crema (1992) destacado em seus trabalhos

    sobre QVT por incluir dimenses mais amplas como o a necessidade de inteireza doser humano vinculada ao saber e ao amor e a pesquisadora Eda Conte Fernandes

    (1996) por abranger as dimenses da melhoria de condies fsicas, programas de

    lazer, estilo de vida, instalaes, atendimento s reivindicaes dos trabalhadores e

    ampliao do conjunto de benefcios. Fernandes (1996) afirma que QVT est

    intimamente ligada democracia industrial e humanizao do trabalho, cuja

    corrente mais forte a francesa, que utiliza como metodologia cientfica o

    depoimento sistemtico dos empregados sobre suas atividades.

    Limongi-Frana (2009) analisa a legislao brasileira e as Normas

    Regulamentadoras (NR) da Legislao de Sade e Segurana, consolidadas em

    1978, que determinam programas de eliminao de riscos, promoo sade e

    consequente bem estar no ambiente de trabalho. Nas NR constam como

    obrigatrios a constituio de Comisso Interna de Preveno de Acidentes - CIPA,

    a realizao de Semana Interna de Preveno de Acidentes de Trabalho SIPAT, o

    Programa de Preveno de Riscos Ambientais PPRA e o Programa de Controle

    Mdico da Sade Ocupacional - PCMSO, onde so registrados os exames mdicos

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    de admisso, demisso, peridico e de retorno ao trabalho. Cita outros aspetos da

    QVT como a possibilidade de seguir uma carreira profissional proposto por Dutra

    (1996) e outros como atividades culturais, valorizao da gentileza e uso de

    produtos ecologicamente corretos.

    A autora prope a viso biopsicossocial como mais abrangente por

    considerar trs aspectos fundamentais para o trabalhador: sua autoestima, sua

    percepo de equilbrio e seu bem-estar e hbitos saudveis. Finaliza seu artigo

    considerando o trabalho sustentvel como vinculado a QVT, definida como o

    conjunto de escolhas de bem-estar nico e individualizado que proporciona auto-

    estima positiva, percepo de equilbrio, hbitos saudveis e prontido para

    desempenho no trabalho saudvel.

    Neste trabalho optamos pelo conceito de Limongi-Frana (2009) por

    consider-lo mais amplo e mais prximo da viso de sade ampliada pela

    Antroposofia.

    No tpico seguinte trataremos da viso de Dejours (1998) sobre a histriadas conquistas dos trabalhadores de sua integridade, materializada em legislaes

    de proteo e promoo sade.

    2.2 A HISTRIA DA SADE DOS TRABALHADORES

    Buscando compreender a evoluo da legislao sobre sade e segurana

    no trabalho, pesquisamos Christophe Dejours que na introduo de seu livro ALoucura do Trabalho (1998), faz uma abordagem scio-histrica das conquistas dos

    trabalhadores, dividida em etapas. Embora as consideraes da obra sejam

    contextualizadas na Frana, entendemos que so vlidas tambm para nossa

    realidade, uma vez que os mesmos fenmenos de industrializao e urbanizao

    dos trabalhadores aconteceram em nosso pas, com suas especificidades polticas,

    culturais e econmicas. Caberia um estudo para adaptar as datas citadas das

    etapas para nossa realidade. Para o autor a histria dessas conquistas, aps a

    Revoluo Industrial, pode ser dividida em:

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    - Etapa da Luta pela sobrevivncia sculo XIX e incio do sculo XX

    situada no incio da Revoluo Industrial marcada pelo xodo rural, crescimento da

    populao e pela concentrao desta em reas urbanas. Nessa poca a durao

    diria do trabalho atingia 12, 14 e at 16 horas por dia, as crianas eram

    empregadas na produo industrial usualmente a partir dos 7 anos, mas, em alguns

    casos, a partir dos 3 anos, os salrios garantem apenas a subsistncia, deixando os

    trabalhadores e seus dependentes em estado de subalimentao e o desemprego

    pe em risco a sobrevivncia da famlia, falta higiene, o risco de acidentes e

    morbidade no trabalho alto e a expectativa de vida reduzida. Com tal quadro no

    se fala de sade no trabalho, mas de luta pela sobrevivncia. Para Dejours (1998),

    os avanos obtidos neste perodo foram lentos, demandaram muito esforo deorganizao e devem-se s lutas operrias, com o objetivo de garantir o direito

    vida e liberdade de organizao. A grande reivindicao dessa poca a reduo

    da jornada de trabalho, que demandou quase 50 anos para tornar-se lei. Avanos

    com a lei que limitava o tempo de trabalho de mulheres e crianas, leis sobre

    acidentes de trabalho e repouso semanal remunerado, datam do final do sculo XIX

    e incio do sculo XX, na Frana.

    - Etapa da Melhoria das condies de trabalho da Primeira Guerra at

    1968 marcada pela revelao do corpo como ponto de impacto de sua explorao,

    visto como primeira vtima o trabalho industrial, atacado pela periculosidade das

    mquinas, produtos industriais, poeiras e gases txicos, parasitas, vrus e bactrias,

    causadores do sofrimento fsico. A proteo do corpo a preocupao

    predominante. Salvar o corpo dos acidentes, prevenir doenas profissionais e as

    intoxicaes e garantir tratamento adequado eram as reivindicaes da poca.Dejours (1998) adota a Primeira Guerra como referncia porque acontece um

    reforo de produo industrial para atender as necessidades da guerra.

    O taylorismo nascente nesse perodo objeto de anlise porque suas

    repercusses vo muito alm de domesticar os movimentos do corpo. Ao separar o

    trabalho intelectual do manual, o sistema Taylor neutraliza a atividade mental dos

    operrios, privando o corpo de seu protetor natural, que o aparelho mental,

    fragilizando-o e colocando o corpo em risco de adoecer.

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    As conquistas dos trabalhadores so mais eficazes e rpidas onde estes so

    mais numerosos, organizados e pertencentes a setores estratgicos. Dejours (1998)

    cita a empresa de fabricao de veculos automotores Renault como exemplo de

    mobilizao dos operrios na busca de melhores condies de vida de forma bem

    sucedida.

    Os principais progressos dessa etapa so a conquista da jornada de oito

    horas de trabalho dirias na Frana em 1916, que segundo Albert Thomas, citado

    por Dejours (1998), tem o efeito paradoxal de aumentar a produtividade. Outras

    conquistas referem-se medicina do trabalho e a ergonomia, com leis prevendo

    exames mdicos admissionais e inspees mdicas das fbricas, reconhecimentode doenas profissionais, seguros contra acidentes de trabalho e comisso de

    higiene industrial.

    Outras conquistas importantes no sentido da organizao dos trabalhadores

    so a instituio de convenes coletivas, o direito de livre adeso a sindicatos e

    direito de greve.

    - Etapa da Sade mental aps 1968 para Dejours (1998), o movimento

    operrio j iniciou a luta pela sade mental, embora o sofrimento psquico seja

    tratado de forma estereotipada e permanea inadequadamente analisado, devido a

    sua complexidade. No centro dos determinantes do sofrimento mental est a

    organizao do trabalho, aqui entendida como diviso e contedo das tarefas,

    sistema hierrquico, relaes de poder, responsabilidades, ritmos e volume de

    trabalho. Entram em confronto a vontade e o desejo dos trabalhadores com ocomando dos patres ou seus prepostos. As tarefas de escritrio, isentas de

    exigncias fsicas graves e cada vez mais numerosas, trazem a sensibilidade s

    cargas intelectuais e psicossociais, preparando o terreno para as preocupaes com

    a sade mental.

    Uma forma de abordar esse sofrimento mental a proposta da

    psicopatologia do trabalho de Dejours (1998) que considera a singularidade da

    situao de cada trabalhador no lugar de tratamentos de dados quantitativos e

    estatsticos, observando a dominao mental do operrio pela organizao do

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    trabalho, buscando esclarecer como o comportamento livre, orientado pelo prazer,

    se torna empobrecido e estereotipado, causando sofrimento. A anulao do

    comportamento livre muda e invisvel e desconhecida mesmo pelos prprios

    operrios, ocupados em garantir a produo.

    2.3 CONSIDERAES SOBRE A LEGISLAO TRABALHISTA NO BRASIL

    A Legislao trabalhista desempenha um papel importante nas conquistas

    nacionais por melhores condies de vida no trabalho. A Consolidao das Leis do

    Trabalho (CLT), aprovada por decreto de 1 maio de 1943, representou a reunio esistematizao da vasta e dispersa legislao trabalhista produzida no pas aps a

    Revoluo de 1930. As leis que a compuseram eram desconexas e, por vezes, at

    mesmo contraditrias, o que demandou estudo, encomendado por Getlio Vargas, a

    uma comisso encarregada de organizar um anteprojeto que unificasse a legislao

    at ento produzida. Os integrantes da comisso basearam-se tambm nos

    princpios estabelecidos pela Organizao Internacional do Trabalho OIT, criada

    juntamente com a Organizao das Naes Unidas ONU aps a Primeira GuerraMundial pelo Tratado de Versailles e na encclica Rerum Novarum, sobre a condio

    dos operrios, do Papa Leo XIII, publicada em 1891.

    Os dois documentos defendiam condies de trabalho mais humanas, que

    protegessem a integridade fsica e o direito de associao dos operrios, sendo que

    a encclica RN traz a defesa da propriedade privada e se coloca contra o socialismo

    nascente na poca. O resultado final foi o texto enviado ao Ministro do Trabalho, quedaria origem CLT, e seu corpo bsico continua em vigncia at os dias de hoje.

    Constituindo um cdigo abrangente, tratou detalhadamente da relao entre

    patres e empregados e estabeleceu regras referentes a jornadas de trabalho e

    horrios a serem cumpridos pelos trabalhadores, frias, descanso remunerado,

    condies de segurana e higiene dos locais de trabalho e outras. A anotao dos

    contratos de trabalho deveria ser feita na carteira de trabalho, instituda em 1932 e

    reformulada quando da aprovao da CLT.

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    A lei 6.514, de 22 de dezembro de 1977, altera o Captulo V, do Titulo II, da

    Consolidao das Leis do Trabalho, relativo segurana e medicina do trabalho e a

    portaria 3.214, de 8 de junho de 1978, aprova as Normas Regulamentadoras NR

    relativas Segurana e Medicina do Trabalho, detalhando inspees, exames

    mdicos, graus de risco e funo dos profissionais de segurana no Trabalho.

    Devido dinmica de mudana dos ambientes, as alteraes tecnolgicas e

    de organizao do trabalho que ocorrem cada vez mais rapidamente, as NR passam

    por frequentes revises e atualizaes. A Portaria n. 2, de 10 de abril de 1996,

    institui a Comisso Tripartite Paritria Permanente CTPP, composta de

    representantes do Ministrio do Trabalho, das entidades dos empregadores, aexemplo da Confederao Nacional da Indstria CNI, e das entidades dos

    trabalhadores, representados pela Fora Sindical FS, pela Central nica dos

    Trabalhadores CUT e outras, com o objetivo de participar no processo de reviso

    ou elaborao de regulamentao na rea de Segurana e Sade no Trabalho,

    originando estudos que alteram ou acrescem novos dados s NR. A CTPP continua

    em funcionamento e realizou sua 63 reunio em novembro de 2010.

    2.3.1 As normas regulamentadoras (NR)

    Trataremos de descrever e analisar as NR mais amplas e gerais que tratam

    da sade dos trabalhadores e das instncias de preveno, esclarecimento e

    promoo do bem-estar. As NR mais especficas, que regulam atividades que por

    sua natureza, pelas substncias ou pelos equipamentos utilizados representam

    riscos, no sero objeto de anlise deste trabalho.

    A NR-4 estabelece a obrigatoriedade das empresas pblicas e privadas que

    possuam empregados regidos pela CLT, de organizarem e manterem em

    funcionamento Servios Especializados em Engenharia de Segurana e em

    Medicina do Trabalho SESMT, com a finalidade de promover a sade e proteger a

    integridade do trabalhador no local de trabalho. A fundamentao legal, ordinria e

    especfica, que d embasamento jurdico existncia desta NR, o artigo 162 da

    CLT.

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    Esta NR-4 trata, em seu item 4.12, das atribuies dos profissionais

    integrantes do SESMT: tcnico de segurana do trabalho, engenheiro de segurana

    do trabalho, mdico do trabalho, enfermeiro do trabalho e auxiliar de enfermagem do

    trabalho, no exerccio profissional dentro das organizaes descritas como

    atividades de reduo e preveno de acidentes, de educao, orientao e

    esclarecimento aos integrantes das empresas sobre os riscos a que esto expostos,

    anlise e registro de dados sobre acidentes ou doenas ocupacionais, avaliaes

    ergonmicas de postos de trabalho e exames mdicos, tendo uma caracterstica

    prevencionista, no sendo vedado o atendimento de emergncia. Apresenta como

    funes do SESMT a possibilidade de orientao quando da instalao ou mudana

    em estabelecimentos, a prescrio do uso de EPI e o relacionamento com as CIPAs.Em seu Anexo I, Quadro I estabelece o grau de risco para cada atividade e no

    Quadro II dimensiona os SESMT, em funo do grau de risco e da quantidade de

    empregados no estabelecimento.

    Os graus de risco estabelecidos na NR-4 relacionam a Classificao de

    Atividades Econmicas CNAE com o correspondente Grau de Risco GR para

    fins de dimensionamento dos SESMT. Os riscos so definidos numa escala de 1(menor risco) a 4 (maior risco), embora nesse quadro no sejam definidos quais os

    tipos de riscos envolvidos em cada atividade.

    A classificao CNAE fornecida pelo IBGE. A partir do entendimento de

    que as classificaes de atividades econmicas so instrumentos cujo uso excede o

    interesse exclusivo da instituio de estatstica, foi instituda a Comisso Nacional de

    Classificao CONCLA, criada pelo Decreto n. 1.264, de 11 de outubro de 1994, einstalada em 25 de abril de 1995, foi criada como um rgo colegiado do Ministrio

    do Planejamento, Oramento e Gesto, sob coordenao do IBGE, congregando

    representantes de 15 Ministrios. Essa comisso objetiva estabelecer normas e

    padronizar as classificaes e tabelas de cdigos usadas no sistema estatstico e

    nos cadastros e registros da Administrao Pblica.

    Em 2002, a estrutura da CNAE foi atualizada e as notas explicativas

    aperfeioadas, adaptando-se s alteraes da reviso 2002, da Clasificacin

    Industrial Internacional Uniforme de todas as Actividades Econmicas/International

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    Standard Industrial Classification- CIIU/ISIC 3.1 das Naes Unidas e incorporando

    ajustes adicionais pontuais, resultando na verso 1.0 da CNAE (Resoluo CONCLA

    n. 6, de 09/10/2002).Com a verso 2.0, pela primeira vez desde a definio original,

    a CNAE passa por uma reviso ampla, atualmente em vigor.

    A NR-5 Comisso Interna de Preveno de Acidentes CIPA estabelece a

    obrigatoriedade das empresas pblicas e privadas organizarem e manterem em

    funcionamento, por estabelecimento, uma comisso constituda exclusivamente por

    empregados, com o objetivo de prevenir acidentes e doenas do trabalho, tratados

    como infortnios laborais, atravs da apresentao de sugestes e recomendaes

    ao empregador para que melhore as condies de trabalho, eliminando as possveiscausas de acidentes do trabalho e doenas ocupacionais. A fundamentao legal

    que d embasamento jurdico existncia desta NR, so os artigos 163 a 165 da

    CLT. O quadro I da NR-5 detalha o dimensionamento das CIPA de acordo com os

    grupos estabelecidos no quadro II e no quadro III, adequando-os ao CNAE verso

    2.0, utilizado na NR-4. Dentre as diversas atribuies da CIPA esto a elaborao

    do mapa de riscos, valendo-se da assessoria do SESMT, as reunies peridicas, a

    organizao da Semana Interna de Preveno de Acidentes de Trabalho e asverificaes peridicas do ambiente e condies de trabalho, para identificar

    situaes de risco e requisitar as cpias dos Comunicados de Acidente de Trabalho

    CAT.

    A NR-6 trata da utilizao dos EPI Equipamentos de Proteo Individual,

    considerados como todo dispositivo ou produto, de uso individual, utilizado pelo

    trabalhador, destinado proteo de riscos suscetveis de ameaar a segurana e asade no trabalho.

    A NR-7 estabelece a obrigatoriedade de elaborao e implementao, por

    parte de todos os empregadores e instituies que admitam trabalhadores como

    empregados, do Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional - PCMSO,

    com o objetivo de promoo e preservao da sade do conjunto dos seus

    trabalhadores, atravs da realizao obrigatria de exames mdicos admissionais,

    peridicos, de retorno ao trabalho, de mudana de funo e demissionais. O incio

    do item 7.4.1 menciona que esses so exames obrigatrios dentre outros que

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    possam ser realizados. Analisa-se que, a critrio dos SESMT, em conjunto com a

    empresa, possam ser realizados programas de promoo sade com exames de

    acompanhamento para grupos especficos de risco. O item 7.4.2, alnea a, descreve

    que os exames devem incluir avaliao clnica, abrangendo anamnese ocupacional

    e exame fsico e mental e exames complementares. Para cada exame realizado

    deve ser emitido o ASO Atestado de Sade Ocupacional, indicando se o

    trabalhador est apto ou inapto para exercer suas atividades profissionais.

    A NR-9 estabelece a obrigatoriedade da elaborao e implementao, por

    parte de todos os empregadores e instituies que admitam trabalhadores como

    empregados, do Programa de Preveno de Riscos Ambientais PPRA, visando preservao da sade e da integridade dos trabalhadores, atravs da antecipao,

    reconhecimento, avaliao e conseqente controle da ocorrncia de riscos

    ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em

    considerao a proteo do meio ambiente e dos recursos naturais. O PPRA

    articulado com outras iniciativas previstas nas NR, como o PCMSO e a atuao das

    CIPA e SESMT, tem o objetivo de ser um conjunto integrado de aes que tratam

    sade e segurana de uma forma mais ampla e com a participao dostrabalhadores. O item 9.1.5 descreve os principais riscos fsicos, qumicos e

    biolgicos. O documento base deve ter uma avaliao dos principais riscos

    existentes, formas de controle e recomendao do uso de EPI, e devem ser

    informadas ao empregador medidas corretivas dos riscos a serem adotadas. O

    mapa de riscos, institudo pela portaria 25, de 29/12/1994, elaborado pela CIPA

    pode fazer parte do PPRA, e amplia os riscos contendo os ergonmicos e de

    acidentes, propiciando, de forma grfica, a informao sobre os riscos percebidosem cada ambiente da organizao.

    A NR-17 visa estabelecer parmetros que permitam a adaptao das

    condies de trabalho s caractersticas psicofisiolgicas dos trabalhadores, de

    modo a proporcionar um mximo de conforto, segurana e desempenho eficiente.

    Utiliza-se da anlise ergonmica, realizada por profissionais habilitados dos SESMT,

    para avaliar as condies de trabalho individualmente, propondo alteraes ou

    utilizao diferenciada de mobilirio, equipamentos, transporte de cargas, iluminao

    e outras que minimizem o desconforto ou evitem expor os trabalhadores a leses ou

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    doenas ocupacionais. Instituda pela portaria 3.751, de 23/11/1990, abrange

    avaliao dos riscos das alteraes nos ambientes de trabalho, introduzidas pelas

    inovaes tecnolgicas trazidas pelo uso cada vez mais frequente de computadores,

    impressoras e mquinas eletrnicas, utilizando o operador na posio sentada e a

    digitao de dados.

    Esta NR considera como preveno de riscos e doenas, o conforto com o

    ambiente em termos de temperatura, iluminao, nvel de rudo e ritmos de trabalho.

    O Anexo I, com redao dada pela portaria n 8, de 30/03/2007, trata da

    especificidade da atividade dos trabalhadores em check-outs, como caixas de

    supermercado e lojas, e o Anexo II, introduzido pela portaria n 9, de 30/03/2007,trata dos trabalhadores que atuam em telemarketing, nas centrais de atendimento ou

    call-centers. A regulamentao dessas atividades estabelece parmetros mnimos

    para promover um mximo de conforto e segurana, sade e desempenho eficiente.

    As recomendaes incluem desde cadeira regulvel, uso de apoio para ps, teclado

    e mouse, at pausas na jornada e capacitao dos atendentes. O item 5, do Anexo

    II, trata da Organizao do Trabalho e o item 5.4 trata das pausas para prevenir a

    sobrecarga psquica e muscular esttica de pescoo e membros superiores. O item5.4.5 menciona que devem ser garantidas pausas aps episdios de abuso verbal,

    agresses, ameaas ou interaes muito desgastantes no atendimento telefnico,

    que permitam que o atendente se recupere e socialize dificuldades e conflitos com

    seus pares, superiores ou profissionais da sade ocupacional, especialmente

    capacitados para tal acolhimento. O Anexo II, no item 5.10, busca orientar os

    programas preventivos no sentido de compatibilizao de metas com as condies

    de trabalho e os prazos estabelecidos e alertar para as repercusses sobre a sadedos trabalhadores quando os sistemas de avaliao so considerados para efeito de

    remunerao e vantagens. O item 5.13 veda ao empregador a utilizao de mtodos

    que causem assdio moral, medo ou constrangimento, como o estmulo abusivo

    competio, dentre outros. O item 5.14 orienta sobre a necessidade de papis e

    tarefas claramente definidos, evitando ambiguidades que geram estresse nos

    atendentes. O item 6 estabelece a necessidade de adequada capacitao que

    esclarea sobre as formas de adoecimento e sintomas relacionadas sua atividade,

    causas e formas de preveno, e essa capacitao deve contar com a participao

    do SESMT, da CIPA, de mdico do trabalho e responsveis pela elaborao do

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    PPRA, quando houver cada uma dessas instncias e representantes dos

    trabalhadores ou entidades.

    Observa-se que a NR-17 apresenta um detalhamento mais minucioso das

    situaes de sofrimento psquico causado por fatores da organizao do trabalho,

    como o estabelecimento de metas de vendas ou desempenho, sem o fornecimento

    de condies ou prazos compatveis, avaliaes de desempenho atreladas a

    remunerao, situaes de constrangimento e assdio moral. A preveno tratada

    como capacitao, onde os riscos da atividade devem ser claramente explicitados

    aos trabalhadores e onde se considera a necessidade de pausas como elementos

    importantes para a reduo do estresse, especialmente aps situaes de tenso econflito no atendimento.

    2.4 CONSIDERAES SOBRE A LEGISLAO PREVIDENCIRIA E AS

    DOENAS DOS TRABALHADORES DO RAMO FINANCEIRO

    A partir de abril de 2007, a Previdncia Social props ao Conselho Nacionalde Previdncia Social CNPS, rgo de natureza quadripartite com representao

    do Governo, Empresrios, Trabalhadores e Associaes de Aposentados e

    Pensionistas, a adoo de um importante mecanismo auxiliar para a caracterizao

    de um acidente ou doena do trabalho: o Nexo Tcnico Epidemiolgico

    Previdencirio NTEP.

    Essa proposio foi elaborada baseada no estudo de doutorado de PauloRogrio Albuquerque de Oliveira (in CODO, 2010), que tratou os dados obtidos

    pelas estatsticas da Previdncia sobre afastamentos do trabalho, utilizando a

    Classificao Estattica Internacional de Doenas e Problemas Relacionados

    Sade, dcima reviso, de 2008-CID-10, relacionando esses dados com as

    atividades econmicas, classificadas segundo a Classificao de Atividades

    Econmicas-CNAE. A partir desse cotejo, foi possvel estabelecer uma relao entre

    o tipo de ambiente de trabalho proporcionado pela atividade econmica e os riscos

    causados a sade dos trabalhadores.

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    O NTEP elimina o carter individual do adoecimento e passa a trat-lo de

    forma coletiva, criando um banco de dados de informaes sobre a capacidade de

    produzir agravos sade do trabalhador pelo meio ambiente de trabalho, em suas

    dimenses e intervenincias sociais, econmicas, entre outras, representadas

    sinteticamente pela CNAE relacionada com os dados da CID-10.

    O NTEP foi implementado nos sistemas informatizados do INSS, para

    concesso de benefcios, em abril/2007 e de imediato provocou uma mudana

    radical no perfil da concesso de auxlios-doena de natureza acidentria: houve um

    incremento da ordem de 148%. Este valor permite considerar a hiptese que havia

    subnotificao de acidentes e doenas do trabalho. Atravs do Decreto 6.042, de12/02/07, estabelece relao atualizada entre o CNAE e as doenas codificadas no

    CID-10, listadas no Anexo II, lista B.

    O mtodo anterior, baseado na emisso dos Comunicados de Acidente de

    Trabalho CAT, era distorcido. Os motivos da falta de emisso de CAT podem ser o

    desconhecimento do nexo causal entre a patologia apresentada pelo trabalhador e a

    atividade exercida. Outra razo pode estar relacionada com os maiores custos,advindos do enquadramento do afastamento como acidente de trabalho, que levaria

    os empregadores a evitar a notificao, ou a tentar descaracterizar o adoecimento

    como relacionado com o ambiente de trabalho.

    O NTEP traz conquistas para o trabalhador quando traz conscincia os

    riscos envolvidos para cada atividade, possibilitando tanto o tratamento mais justo

    de seu sofrimento, quanto a promoo de aes de preveno, por parte delemesmo, do empregador e especialmente do SESMT e entidades de representao

    dos empregados por categoria, como os sindicatos.

    As objees ao estabelecimento do NTEP se referem a falta de estudos dos

    mecanismos fisiopatolgicos e anatomoclnicos e histria natural de cada doena

    (etiologia) e sua relao com o ambiente de trabalho. Estas objees apontam para

    consideraes mais individualizadas das patologias e consideram que o NTEP faz

    apenas associaes estatsticas.

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    A resposta a essas objees afirma que h causalidade entre a atividade

    econmica do empregador e o adoecimento do seu empregado, pela frequencia com

    que so diagnosticados e afastados por mesmos CID trabalhadores de um mesmo

    ramo de atividade. Dentre os diversos exemplos cita o dos empregados em Bancos

    mltiplos, com carteira e a alta associao com os transtornos dos nervos, bastante

    mais alta se considerada em relao a populao no integrante dessa atividade

    (populao em geral).

    O carter revolucionrio do NTEP est em considerar a sade do ponto de

    vista coletivo, auxiliar e objetivar a poltica de enquadramento dos afastamentos,

    orientar e desburocratizar as percias mdicas previdencirias, apontar para anecessidade de estudos para revelar porque cada atividade traz determinados

    agravos a sade dos trabalhadores, trazer mais conscincia sobre os riscos a que

    esto expostos e permitir o desenvolvimento de aes de preveno e reabilitao

    nos ambientes de trabalho.

    A aplicao do NTEP, para o periodo de abril de 2007 a maro de 2008, em

    comparao com o periodo de abril de 2006 a maro de 2007, a partir da entrada emvigor da lei 11.430/06, trouxe um aumento na concesso de auxlios doena

    acidentrios expressiva, tendo como exemplos, as doenas infecciosas, que

    aumentaram de 62 para 2.405 casos, os transtornos mentais, que aumentaram de

    578 para 9.704 casos, as doenas do sistema nervoso de 1.756 para 9.060 casos, e

    as doenas do sistema osteomuscular (LER/DORT), com aumento de 18.964 para

    117.164 casos. Todos os casos acima foram confirmados pela percia mdica do

    INSS.

    A grande alterao apontada pelo NTEP atingiu o setor econmico dos

    servios, com o aumento das LER/DORT. Observa-se uma diminuio nos auxlios

    doena previdencirios concedidos e um aumento nos auxlios doena acidentrios,

    no perodo de um ano. O estabelecimento do nexo da forma prevista no NTEP no

    obriga o perito mdico ao diagnstico de acidente de trabalho caso este perceba que

    a justificativa para o adoecimento desvinculada do ambiente de trabalho,

    permanecendo este com autonomia para enquadrar ou no o afastamento como

    relacionado com a atividade econmica.

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    Cabe lembrar que tanto o NTEP quanto a Previdncia atendem apenas aos

    trabalhadores formalmente registrados, com preponderncia da populao urbana.

    O papel das entidades de organizao dos trabalhadores em categorias, como

    sindicatos e conselhos, tambm exerce um papel importante, na medida em que

    levanta a discusso sobre os agravos sade dos trabalhadores associados,

    incluindo clusulas de periculosidade e insalubridade em suas convenes coletivas,

    e buscando a jornada de trabalho mais justa para cada tarefa, sugerindo alteraes

    legislao vigente.

    A Organizao Mundial da Sade OMS, divulgou seu Plano de ao

    Global em sade dos trabalhadores objetivando elaborar normativos para a rea desade do trabalhador, promover e proteger a sade no local de trabalho, melhorar o

    acesso e funcionamento dos servios de sade ocupacional, proporcionar dados

    probatrios para embasar prticas de sade e integrar a sade do trabalhador com

    as demais polticas. Articulada com essa direo tomada pela OMS, a Conveno

    187 da Organizao Internacional do Trabalho OIT tem como marco legal

    internacional a promoo da segurana e sade no trabalho, a agenda do trabalho

    decente, o fortalecimento do desenvolvimento econmico e social, oestabelecimento de uma poltica nacional de sade e segurana.

    Seguindo esses princpios foi criado o Departamento de Sade e Segurana

    Ocupacional, do Ministrio da Previdncia, com a tarefa de reunir-se com

    representantes dos Ministrios da Sade e do Trabalho, o que ocorreu a partir de

    maio de 2008, com a criao da Comisso Tripartite de Sade e Segurana do

    Trabalho. O trabalho da comisso tem como objetivo harmonizar as normas dosministrios e estabelecer uma poltica eficaz de preveno.

    A preveno e proteo contra os riscos, derivados das condies

    ambientais do trabalho , portanto, segundo a OMS, a OIT e as polticas pblicas de

    sade nacionais, expressas nas NR e demais legislaes, a ao fundamental para

    reduzir o nmero de afastamentos e agravos sade dos empregados. Protege a

    vida e respeita os direitos dos trabalhadores, reduz o custo dos empregadores, que

    pagam Fundo de Garantia por Tempo de Servio FGTS e estabilidade ao

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    acidentado, diminui a possibilidade de aes trabalhistas e torna a empresa mais

    saudvel financeiramente.

    2.4.1 A sade dos trabalhadores em instituies financeiras no Brasil

    Trataremos neste tpico dos problemas de sade mais frequentes pelos

    critrios das estatsticas do INSS de afastamentos da categoria bancria apontados

    pelas entidades representativas dos funcionrios como queixas mais frequentes de

    sade recebidas em seus departamentos de sade.

    Segundo o Anurio Estatstico do MPAS de 2009, disponvel no stio da

    Previdncia Social, sobre os dados de acidentes de trabalho:

    Foram registrados no INSS cerca de 723,5 mil acidentes dotrabalho. Comparado com 2008, o nmero de acidentes detrabalho teve queda de 4,3%. O total de acidentes registradoscom CAT diminuiu em 4,1% de 2008 para 2009. Do total deacidentes registrados com CAT, os acidentes tpicos

    representaram 79,7%; os de trajeto 16,9% e as doenas dotrabalho 3,3%. (MPAS, 2009)

    No mesmo documento, so disponibilizados os dados sobre categorias mais

    afetadas em 2009: o subgrupo da CBO com maior nmero de acidentes tpicos foi o

    Trabalhadores de funes transversais, com 14,0%. No caso dos acidentes de

    trajeto o maior nmero ocorreu no subgrupo Trabalhadores dos servios, com

    18,6%, e nas doenas do trabalho foi o subgrupo Escriturrios, com 13,4%.

    (MPAS, 2009)

    Quanto s doenas do trabalho, o Anurio Estatstico Previdencirio de 2009

    cita os trabalhadores em atividades financeiras como tendo a maior participao,

    com 11,6%, sendo as partes do corpo mais incidentes o ombro, o dorso (inclusive

    msculos dorsais, coluna e medula espinhal) e os membros superiores, com 19,3%,

    13,1% e 9,5%, respectivamente, e como atividade econmica enquadra os bancos

    comerciais e mltiplos e caixas econmicas no grau de risco de acidente de trabalhode 3%, ndice mais alto de classificao apresentado no relatrio e que corresponde

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    alquota de contribuio da empresa para o financiamento de gastos com

    benefcios decorrentes de acidentes de trabalho.

    Os problemas de sade com mais estudos produzidos tem sido as

    LER/DORT (Leses por Esforos Repetitivos e Distrbios Osteomusculares

    Relacionados ao Trabalho), por serem as doenas ocupacionais de maior incidncia

    entre os trabalhadores em instituies financeiras. As estatsticas do INSS, extradas

    do Anurio de 2009, registraram que o subgrupo CBO com maior nmero de

    doenas ocupacionais foi o dos Escriturrios, com 13,4% e na distribuio por

    cdigo de atividade econmica CNAE, a maior participao foi das Atividades

    Financeiras, com ndice de 11,6% das doenas do trabalho.

    As LER/DORT so um grupo de doenas que afetam os membros

    superiores de trabalhadores com jornadas de trabalho majoritariamente ligadas a

    trabalhos repetitivos e, frequentemente, informatizados entre elas, tendinites,

    tenossinovites (punhos e mo), epicondilites (cotovelos) e bursites (ombros)

    oriundas do uso excessivo ou inadequado dos sistemas de nervos, msculos e

    tendes.O mdico e psiquiatra, pesquisador da Fundacentro, Luiz Henrique Borges,

    em sua tese de doutorado pela UFRJ, em 2001, informa que, na poca de sua

    pesquisa Sociabilidade, sofrimento psquico e leses por esforos repetitivos entre

    caixas bancrios, as LER/DORT j constituam a principal causa de afastamentos

    por doena relacionada ao trabalho, no s no Brasil, e seu reconhecimento foi

    devido a ao de cipeiros e sindicalistas. Cita que o processo de reconhecimento

    das LER/DORT foi desencadeado por representante da CIPA do Centro deProcessamento de Dados do Banco do Brasil, em Porto Alegre, que estranhou o fato

    de nove digitadores estarem com o brao engessado e diagnstico de tenossinovite.

    Em 1987 o MPAS reconheceu a tenossinovite como doena ocupacional,

    atravs da Portaria 4.062, de 06/08/87. Em 1990, as lutas da categoria do

    Processamento de Dados conseguem um avano na legislao e so includas,

    atravs de portarias, normas para o trabalho com entrada de dados na existente NR-

    17. Durante a dcada de 1990 os sindicatos de categorias como processamento de

    dados e bancrios criaram jornais, informativos e cartilhas, para conscientizar os

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    trabalhadores sobre os riscos a que estavam expostos atravs de tarefas repetitivas

    e por produtividade, da necessidade do cumprimento de pausas para descanso e

    das condies ambientais danosas, como temperaturas baixas nos CPD e

    problemas com mobilirio.

    A partir do sculo XXI, so as empresas que trabalham na preveno de

    doenas profissionais, com adoo de mobilirio ergonmico e a edio de cartilhas

    e informativos sobre DORT/LER. Essas aes sugerem ser reaes ao crescente

    reconhecimento dessas doenas, ao aumento da quantidade de afastamentos de

    seus funcionrios e ao enquadramento como doenas ocupacionais, gerando CAT e

    maiores custos, tanto com a perda de dias de trabalho, como pelos maioresencargos e estabilidade no emprego, decorrentes do acidente de trabalho.

    Para Borges (2001), as DORT/LER possuem um componente fsico-

    mecnico e outro relativo aos aspectos psicoemocionais, relacionados produo

    de subjetividade do trabalhador na realizao de sua tarefa. Considera que existe

    sofrimento psquico quando a subjetividade no consegue lidar adequadamente com

    o conflito entre as necessidades existenciais e as exigncias do trabalho,especialmente trabalho repetitivo e despersonalizante. Em seu estudo com caixas

    de banco pblico concluiu que a funo de caixa criava uma dicotomia com os

    outros empregados concursados, por serem escolhidos para a funo pela

    subjetividade das chefias. A funo de caixa poca da pesquisa era melhor

    remunerada, mantendo a jornada de 6 horas dirias de trabalho, e representava

    uma posio de prestgio. A unio de prestgio com a necessidade de agradar as

    chefias, pois a qualquer momento o caixa poderia perder sua funo,proporcionavam condies de trabalho que levavam os caixas a trabalhar mais e

    provar sempre sua excelncia individual. Os sentimentos dos caixas para com as

    chefias eram ambguos, por um lado valorizadas pela organizao e por outro

    desvalorizadas em sua competncia tcnica na coordenao dos caixas. As tarefas

    que no so individuais so pouco valorizadas pelas chefias e so realizadas pela

    auto-organizao do grupo. A marca identitria desses trabalhadores passa a ser a

    funo de caixa e a LER.

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    No resultado de sua pesquisa, Borges (2001) relata que os trabalhadores

    com sintomas de suspeita de LER tiveram maior ndice de sintomas

    psicoemocionais, tambm chamados distrbios mentais menores, do que os no

    suspeitos de LER: As LER tm nos ensinado que, para abord-las, necessrio

    abdicar da fragmentao do conhecimento, articulando no diagnstico: sinais e

    sintomas de sofrimento psquico e fsico e do contexto o seu aparecimento.

    (BORGES, 2001, p.160).

    Borges (2001) cita a psiquiatra e professora de Medicina Preventiva Edith

    Seligmann Silva e seus estudos sobre as condies de sade mental dos

    trabalhadores brasileiros, que se iniciaram na dcada de 1980. A psiquiatra falasobre a relao entre a organizao do trabalho e a sade mental dos trabalhadores

    e relata que no se pode separar os aspectos de sade mental da sade orgnica

    do ser humano. (SELIGMAN SILVA, 2009, p. 8-12). Segundo Seligman Silva (2009),

    existe um paralelismo entre sofrimento mental e o maior risco de acidentes, inclusive

    de acidentes de trajeto: cansao mental intensificado, maior tenso emocional, medo

    de no dar conta, exigncia de produo alm do medo de perder o emprego. No

    caso das DORT/LER, relata que so frequentemente acompanhadas de transtornoscomo depresses e que as associaes de doenas do trabalho com transtornos

    psquicos so compreensveis. Quando limitado fisicamente na sua capacidade de

    realizar sua tarefa, o trabalhador vivencia um sentimento intenso de perda, que pode

    causar danos a sua identidade e a seu projeto de vida, que muitas vezes leva

    depresso. Para a psiquiatra, muito importante que o atendimento das doenas do

    trabalho leve sempre em considerao o aspecto psicolgico, que existam grupos de

    apoio para os lesionados, de amigos, familiares, entidades e associaes detrabalhadores, para troca de experincias de preveno e superao das limitaes,

    vinculando sempre reabilitao e preveno.

    O tema sade mental conceitualmente delicado, por envolver diversas

    nomenclaturas na literatura: Dejours (1988) fala em sofrimento psquico dos

    trabalhadores, Codo (2006) discute a sade mental e o trabalho, Seligman Silva

    (2009) relata seus estudos sobre Sade Mental e como esta no pode ser separada

    da sade orgnica do indivduo, e Lipp (1996) estudou a relao entre estresse e

    trabalho.

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    Neste trabalho utilizaremos o conceito mais amplo de sade e doena

    mental e apresentaremos, de forma breve, alguns sintomas como o estresse e suas

    manifestaes, segundo os autores pesquisados. O tpico anterior, sobre

    DORT/LER, j apresentou a intensa correlao entre o adoecimento fsico e o

    psicolgico. Neste tpico aprofundaremos mais as relaes entre trabalho,

    subjetividade e adoecimento.

    Para Borges e Argolo (2002), as doenas mentaisso caracterizadas pelo

    aparecimento de transtornos: da personalidade, do pensamento, da percepo,

    memria, humor, inteligncia e ateno dentre outros. A presena de alteraes, sua

    intensidade e durao so critrios bsicos na classificao de doenas mentais.

    O problema na identificao das doenas mentais entre os trabalhadores,

    apontado por Borges e Argolo, reside no fato de que seu sofrimento no

    identificado pelo sujeito como algo que precise ou disponha de tratamento mdico

    ou psicolgico e muitas vezes o trabalhador alertado pelos outros de seus prprios

    transtornos. Ponderam que a ausncia de sintomas no serve como constatao de

    sade mental. Relatam a perspectiva epidemiolgica de busca de identificar fatoresambientais e/ ou situacionais que generalizem determinados sofrimentos humanos,

    embora as predisposies individuais para o adoecimento sejam diferentes, e o

    aumento da frequncia de estudos que articulam trabalho e sade mental,

    embasando polticas de sade pblica de carter preventivo.

    Borges e Argolo (2002) falam das publicaes recentes sobre sade mental

    e trabalho, campo ainda em processo de consolidao, mas que j permite concluir,ainda que de forma provisria que:

    1) o emprego pode promover a sade ou ser fonte de alteraespsquicas; 2) as quais podem variar segundo as categoriasocupacionais, modo de organizao do trabalho entre outrosfatores; 3) sendo claro o carter endmico de certas alteraes;4) que por sua vez, suscitam tanto intervenes num planocoletivo, organizacional e preventivo, quanto estudos queexplorem os efeitos dos aspectos da vida organizacional na

    sade mental dos indivduos. (BORGES; ARGOLO, 2002, p.276-7)

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    Sobre o enquadramento da doena mental como doena relacionada ao

    trabalho ou doena profissional (CODO, 2006, p. 54) considera que, dessa forma,

    a discusso deixa o foro privado e remete instncia pblica e poltica. Segundo o

    autor, para o trabalhador uma forma de identificar nas condies objetivas de vida

    seu adoecimento e abrir possibilidade de reivindicar um ambiente de trabalho

    psicologicamente sadio; do ponto e vista da empresa, existiriam razes objetivas

    para investir em alteraes na organizao do trabalho, visando eliminar ou diminuir

    fatores de riso sade mental; do ponto de vista do Estado, o bem-estar psquico

    das organizaes poderia ser fiscalizado e se investiria em pesquisas para deteco

    de fatores de risco ou em modos alternativos de organizao do trabalho e os

    profissionais de sade mental seriam convocados a emitir laudos pelos tribunais oupor representantes de trabalhadores ou patronais de forma objetiva.

    A partir das consideraes acima sobre a necessidade de critrios

    epidemiolgicos e de tratamento coletivo para a doena mental, passaremos a

    relatar os sintomas mais comuns identificados entre os trabalhadores em atividades

    financeiras.

    O estresse, como diagnstico ou sintoma, tem sido largamente utilizado em

    publicaes tcnicas e leigas nos ltimos anos. Optamos pela abordagem de Lipp

    (1996, p. 17-31) tanto para a definio do que estresse como para entender a

    evoluo histrica do conceito na rea da sade. Escolhemos usar o termo em

    portugus, estresse, no lugar de seu correlato ingls stress, embora a literatura

    consultada utilize ambos indistintamente.

    Segundo pesquisa de Lipp (1996), as primeiras referncias no sistemticas

    palavra estresse (de origem latina) significando aflio datam do sculo XIV. No

    sculo XVII, passou a ser utilizado em ingls significando opresso, desconforto e

    adversidade por analogia com estudos de engenharia sobre resistncia dos

    materiais. O ser humano tambm teria diferentes habilidades de suportar cargas,

    tanto fsicas quanto emocionais.

    Lipp (1996) cita o trabalho do endocrinologista Hans Selye, que em 1936

    nomeou como sndrome geral de adaptao ou sndrome do estresse biolgico,

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    situaes que enfraqueciam e adoeciam o organismo. Selye foi influenciado pelos

    estudos sobre equilbrio interno dos organismos ou homeostase, dos fisiologistas

    Bernard e Cannon, e considerou o estresse como a quebra desse equilbrio.

    Os estudos sobre estresse foram impulsionados na Segunda Guerra

    Mundial, onde os psiquiatras foram chamados a tratar a neurose de guerra hoje

    diagnosticado como estresse ps-traumtico. Muitos estudos se seguiram a esse

    perodo, onde se constatou que situaes cotidianas reais ou imaginrias tambm

    causavam estresse. Na dcada de 1950 intensificaram-se os estudos sobre o

    estresse em seus aspectos fisiolgicos, e na dcada de 1970 a nfase foi dada aos

    aspectos psicolgicos e sua interao com os biolgicos na gnese dos distrbiospsicossomticos. Atualmente estuda-se o estresse e seus efeitos na qualidade de

    vida da humanidade, com nfase na preveno dos danos causados subjetividade

    e ao organismo humano, tanto nas organizaes ligadas ao trabalho, como nas

    fases da vida.

    Para Lipp (1996), o estresse uma reao do organismo, com componentes

    fsicos e psicolgicos, causada por alteraes psicofisiolgicas, que ocorrem quandoeste exposto a situaes de irritao, medo, excitao ou confuso, ou mesmo de

    intenso prazer. O evento estressor percebido pelo sistema nervoso perifrico, as

    mensagens so enviadas ao crtex cerebral, e integradas com memrias, e

    interpretadas de forma emocional pelo sistema lmbico, emitindo informao sobre a

    necessidade de alguma reao protetora.

    LIPP (1996, p.8) descreve as fases do estresse identificadas por Selye(1952). Na fase de alerta ocorre a quebra de homeostase e a resposta de luta ou

    fuga, de acordo com Cannon (1939) e constitui-se numa defesa quase automtica,

    e muitas vezes eficaz, do organismo e, se sua durao for curta, no causa danos

    ao organismo. Na fase de resistncia, o estressor tem longa durao e obriga o

    organismo a mobilizar sua energia para restabelecer a homeostase. Se o estressor

    for eliminado o organismo no sofre dano e retorna ao equilbrio interno. Se o

    estressor for mais forte que a energia de resistncia, o organismo tende a

    enfraquecer e a adoecer. Na fase de exausto, as resistncias no foram eficazes

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    ocorrendo a exausto psicolgica sob a forma depresso ou aparecimento de

    doenas.

    O estresse deve ser entendido como um processo, e no uma reao nica,

    que desencadeia um longo processo bioqumico envolvendo trs eixos

    psicossomticos: o neural, o neuroendcrino e o endcrino. O caminho mais direto

    do estresse no organismo o neural, atingindo o hipotlamo e ativando os sistemas

    de resposta simptico, estimulante de um rgo final e parassimptico, inibidor de

    estmulos. Se o estresse perdura, aciona o eixo neuroendcrino, que gera a reao

    de luta ou fuga, pela ativao da medula adrenal, produzindo catecolaminas:

    adrenalina e noradrenalina. No estresse crnico o sistema endcrino, acionado,segundo Everly (1989) pelo hipocampo, atravs de impulsos neurais, desce para o

    hipotlamo, libera corticotropina para a glndula pituitria, que produz vrios

    hormnios que estimulam determinados rgos-alvo, ativando, aumentando ou

    inibindo seu funcionamento normal. O rgo-alvo pode ser o sistema cardiovascular,

    gastrointestinal, a pele, o sistema imunolgico e outros.

    As doenas provenientes dessa reao no so necessariamente causadaspelo estresse, mas sim desencadeadas ou agravadas por ele. As doenas

    relacionadas ao estresse mais estudadas so a hipertenso arterial, as lceras

    gastroduodenais, a obesidade, o cncer, a psorase, a tenso pr-menstrual, e

    outras agravadas por ele como as cefalias, herpes simples, vitiligo, lpus, colite

    ulcerativa, doenas respiratrias e imunolgicas.

    Lipp (1996) analisa o estresse na sociedade como determinado por muitos ediversos fatores, sociais, culturais, econmicos e de segurana pblica. Para Zakir

    (apud LIPP, 2003), nas situaes de estresse existem duas possibilidades de

    enfrentamento, chamado de coping na literatura de lngua inglesa: o primeiro se

    dirige a situaes mutveis, sendo centrado no problema, alterando a realidade, o

    segundo se dirige a situaes avaliadas como imutveis, sendo centrado em

    alteraes das emoes a respeito do fato.

    Filgueiras e Hippert (in LIPP, 1996, p.115) conceituam como estresse bom

    o estresse que melhora o desempenho do indivduo, e como estresse ruim ou

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    distresse o excesso ou insuficincia desse estado, o que paralisa ou leva a

    respostas inadequadas. O adoecimento seria uma resposta de distresse.

    Prosseguindo na discusso do tema, Filgueiras e Hippert (in LIPP, 1996,

    p.120) citam as pesquisas de Castiel (1994) para quem a noo de estresse seria

    pertinente apenas em situaes extremas, de guerra, violncia e catstrofes,

    tratando-se de uma doena grave e invalidante, descrita como Sndrome de

    Estresse Ps-traumtico, caracterizada por quadros agudos de angstia.

    Para Seligman Silva (2009), o estresse ps-traumtico um transtorno

    mental relacionado ao trabalho e que pode levar ao suicdio. O indivduo vivenciauma violncia no ambiente de trabalho, que o traumatiza e passa a reviver a

    situao de violncia, tem pesadelos e no consegue mais estar no ambiente em

    que o trauma aconteceu. Cita como exemplos de profissionais mais expostos a esse

    tipo de estresse os motoristas e cobradores de nibus e metr, os vigilantes, os

    bancrios, os policiais e os bombeiros. Os problemas se agravam quando no h

    reconhecimento do adoecimento e o trabalhador obrigado a continuar vivendo a

    situao de exposio ao perigo. Ocorre tambm com aqueles que presenciamacidentes, como reprteres policiais, jornalistas e controladores de vo.

    Seligman Silva (2009) informa que, de acordo com a Organizao Mundial

    de Sade, o adoecimento mental mais frequente a depresso e que, desde 1999,

    reconhecida como um dos doze tipos de transtorno mental relacionado ao trabalho

    pelos Ministrios da Sade (Portaria 1339) e da Previdncia (Decreto 3048), mas

    que ainda h dificuldade para que esse reconhecimento acontea na prtica.

    Segundo Seligman Silva a medicalizao comum e uma simples tristeza

    tratada com antidepressivos e concorda com Wisner (2003) em sua crtica ao

    excesso de medicalizao do sofrimento psquico quando diz que as pessoas esto

    tomando muitos antidepressivos e tranquilizantes, quando o que elas precisariam

    ter a possibilidade de discutir a maneira como elas so obrigadas a trabalhar".

    (SELIGMAN SILVA, 2009, p. 12).

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    As empresas de um modo geral e as instituies financeiras particularmente

    tm se preocupado, umas mais outras menos, com a questo do adoecimento no

    trabalho. Uma das estratgias tm sido desenvolver programas de qualidade de

    vida, com o objetivo de prevenir e amenizar os efeitos das doenas desenvolvidas

    por conta das atividades laborais dos trabalhadores. Apresentamos a seguir os

    programas de qualidade de vida no trabalho de trs instituies financeiras.

    2.5 PROGRAMAS DE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO EM

    INSTITUIES FINANCEIRAS

    Trataremos neste tpico de descrever os programas de qualidade de vida notrabalho nas Instituies Financeiras escolhidas: um Banco pblico Caixa

    Econmica Federal, um Banco de economia mista Banco do Brasil e um Banco

    privado Banco Ita. Os dados apresentados so os obtidos dos stios das

    instituies na INTERNET, na mesma data, sendo dados pblicos. Aps a

    apresentao os dados sero mostrados em tabela comparativa e analisados a

    partir do referencial terico proposto.

    2.5.1 Programa de Qualidade de Vida da Caixa Econmica Federal

    No stio da Caixa, o Programa de Qualidade de Vida no Trabalho est

    inserido num conjunto de aes de sade, incluindo o plano de sade para os

    funcionrios, o Sade Caixa. O Programa prev as seguintes aes:

    a) Ginstica Laboral, integralmente custeada pela empresa, com sesses de 15minutos, de 3 a 5 vezes por semana, durante a jornada de trabalho;

    b) Convnios de desconto com Instituies promotoras de atividade fsica, onde

    todos os beneficirios do Sade Caixa tm desconto pra fazer academia,

    natao, dana de salo e yoga, (supe-se que fora da jornada de trabalho);

    c) Educao e Orientao Nutricional, a partir de demanda dos empregados,

    sendo realizada por nutricionistas, dentro das prprias unidades e durante o

    horrio de trabalho;

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    d) Ambientes Livres de Fumaa, proporciona aos empregados fumantes que

    desejem parar de fumar, a oportunidade de custeio participativo do tratamento

    e dos medicamentos;

    e) O Programa de Reabilitao Ocupacional - PRO, pretende assegurar as

    condies para reinsero do empregado ao ambiente de trabalho, e sua

    reabilitao ocupacional. So inscritos no PRO empregados que retornam de

    Licena por Acidente de Trabalho, Licena para Tratamento de Sade, estes

    quando afastados por mais de 180 dias, os empregados encaminhados pela

    reabilitao profissional do INSS, os empregados que ficam afastados da

    CAIXA por outros motivos e que necessitam de um acompanhamento. Mesmo

    sem afastamento, os empregados que indiquem necessidade de adequaoda atividade e/ou posto de trabalho. A equipe do PRO, formada por Mdico,

    Psiclogo, Assistente Social e Representante do SESMT, promove triagem,

    entrevista e, posteriormente, a inscrio e acompanhamento dos empregados

    elegveis ao programa;

    f) O PCMSO tem por objetivo promover a preservar a sade dos empregados da

    CAIXA, considerando as questes incidentes sobre o

    empregado e a coletividade de empregados, na abordagem da relao entresua sade e o trabalho;

    g) O Programa de Preveno de Riscos Ambientais - PPRA, tem por objetivo a

    preservao da Sade e a integridade dos empregados da CAIXA, tendo em

    considerao a proteo do meio ambiente e dos recursos naturais.

    desenvolvido no mbito de cada unidade com a participao dos

    empregados, sendo que no ano de 2006 o PPRA foi realizado em 87% das

    unidades.

    Outros temas de sade e preveno so tratados, tais como Dicas de Sade com

    informaes sobre hbitos saudveis alimentares, Primeiros Socorros com

    orientaes sobre o que fazer em caso de acidentes, SIPAT com os temas as

    ltimas Semanas Internas de Preveno de Acidentes de Trabalho, a

    disponibilizao de Cartilha de Qualidade de Vida, da UNIDAS Unio Nacional das

    Instituies de Autogesto em Sade e animaes com instrues sobre exerccios

    de alongamento e automassagem.

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    2.5.2 Programa de Qualidade de Vida do Banco do Brasil

    No stio do Banco do Brasil, na pgina de Sustentabilidade, insere-se o

    Programa de Qualidade de Vida no Trabalho, desvinculado do Plano de Sade

    mantido com a CASSI e das aes especficas do SESMT, tais como PCMSO,

    PPRA e SIPAT. A primeira ao do Programa foi disponibilizar, a partir de agosto de

    2007, verba especfica para cada dependncia do Banco para a realizao de

    prticas de promoo e proteo da sade, como ginstica laboral, relaxamento,

    alongamento, eutonia, ioga no trabalho, liang gong, tai chi chuan e massagem

    expressa. O Programa prev as seguintes aes:

    a) Comunicao: tem por objetivo dar visibilidade s polticas, programas e

    benefcios existentes na Empresa que contribuem para a qualidade de vida

    no trabalho, bem como, s novas aes que integram esse Programa;

    b) Educao: contempla iniciativas que possuem como fio condutor a

    capacitao do funcionrio para os cuidados com a sade e segurana no

    trabalho e elevao de sua qualidade de vida;

    c) Experimentao: refere-se a iniciativas realizadas no ambiente de trabalhoque estimulam a adoo de hbitos saudveis;

    d) Suporte: trata de iniciativas que proporcionem aos funcionrios e

    colaboradores acesso a cuidados com a sade fora do horrio de expediente,

    a preos diferenciados.

    2.5.3 Programa de Qualidade de Vida do Banco Ita Unibanco

    No stio do Banco Ita Unibanco, no espao sobre Gesto de Pessoas,

    Oportunidades de Carreira, insere-se o Programa de Qualidade de Vida no

    Trabalho, com especificidade prpria, separado dos programas previstos em lei,

    incluindo diversas aes como segue:

    a) Momento Sade, um evento mensal que discute de uma forma educativa,

    dinmica e ldica, informaes atualizadas incentivando a sade, preveno

    de doenas e qualidade de vida. So realizados eventos interativos nos

    principais plos administrativos, distribudos folhetos a todos os

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    colaboradores (impressos e em udio, para deficientes visuais), artigos

    semanais na intranet e murais nas agncias. Os eventos contam com o apoio

    de atividades ldicas para a sensibilizao dos colaboradores e com a

    presena de renomados especialistas da rea de sade, como os mdicos

    Jairo Bauer e Drauzio Varella, que j realizaram palestras para os

    colaboradores;

    b) Site Qualidade de Vida, disponibilizao na intranet de matrias e notcias

    sobre sade, qualidade de vida, esporte, lazer, testes on-line e outros;

    c) Academia de Ginstica Ita, nos principais plos administrativos os

    colaboradores contam com academias de ginstica, treinadores

    especializados, com preo acessvel para os colaboradores;d) Programa de Ginstica Laboral, prope a preveno de doenas ligadas ao

    sedentarismo e aos movimentos repetitivos atravs da realizao de

    exerccios de alongamento e relaxamento no local de trabalho;

    e) Espao Corpo e Mente, em alguns plos administrativos, os colaboradores

    tm disposio um ambiente estruturado para oferecer massagens

    orientais. No Espao Corpo e Mente, especialistas proporcionam o alvio de

    tenses e relaxamento muscular atravs das terapias Quick Massage,Shiatsu, Reflexologia e Drenagem Linftica;

    f) Programa de Nutrio, promove aes de educao e orientao alimentar

    visando melhorar o estado nutricional dos colaboradores e seus familiares,

    gerando melhor qualidade de vida, bem-estar e maior produtividade. Para

    isso, disponibilizamos os seguintes servios aos colaboradores: atendimento

    ambulatorial, grupos de auto ajuda, orientao por telefone, espao

    gastronmico, aes educativas: palestras e mini cursos, guias alimentares,textos de atualidades, receitas light e avaliao nutricional on-line;

    g) Programa de Preveno s DSTs/Aids, desde 1987, o Ita Unibanco possui

    um programa de aconselhamento de doenas sexualmente transmissveis

    (DSTs) e apoio aos colaboradores portadores do vrus HIV. Como parte do

    programa, produz e distribui materiais educativos buscando o bem-estar dos

    colaboradores, bem como incentivar comportamentos sexuais seguros;

    h) Quero Parar de Fumar, programa desenvolvido para tratar, apoiar e

    acompanhar o fumante para que ele abandone o tabaco e busque um estilo

    de vida mais saudvel. Por meio de tcnicas ativas, uma equipe composta

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    por mdicos, psiclogos e enfermeiros faz atendimentos individuais e em

    grupo, definindo, caso a caso, a necessidade do uso de medicao e as

    melhores estratgias comportamentais para atingir o objetivo principal: deixar

    de fumar, sendo totalmente subsidiado pela empresa. O programa est

    disponvel para colaboradores da Grande So Paulo e pode ser utilizado por

    colaboradores de outras regies;

    i) Sade da Mulher, programa desenvolvido para abordar os temas mais

    importantes que influenciam a sade e o bem-estar da mulher, considerando

    que as mulheres tm necessidades que se alteram no decorrer da vida e que

    merecem ateno especial. Para abranger essas mudanas, o programa

    Sade da Mulher foi dividido em quatro eixos, com diferentes aes em cadaum:

    Comportamento: As aes de Comportamento visam estimular a

    reflexo sobre temas e situaes que permeiam a vida de homens e

    mulheres, como os relacionamentos afetivos e sexuais e as

    dificuldades para conciliar carreira com outras responsabilidades. A

    qualidade de vida pessoal influencia a sade fsica e mental. Por isso,

    o objetivo propiciar momentos para entender e lidar melhor comessas preocupaes;

    Gestante: aes educativas que orientam as colaboradoras gestantes;

    Mame & Criana: as aes do Mame & Criana daro subsdios

    para a me tanto a colaboradora como as esposas e companheiras

    dos colaboradores cuidar da sade e lidar melhor com as

    necessidades dos filhos;

    Sade Preventiva: estas aes visam orientar as colaboradoras,desenvolvendo iniciativas e proporcionando informaes sobre as

    doenas que mais as afetam e que podem ser evitadas se

    diagnosticadas e tratadas precocemente, tais como, o cncer de mama

    e o cncer de colo do tero.

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    2.5.4 Consideraes sobre os Programas de Qualidade de Vida Trabalho

    apresentados

    Podemos perceber que os Programas de Qualidade de Vida no Trabalho

    apresentados possuem semelhanas e diferenas, que apresentaremos na tabela a

    seguir para melhor compar-los, analisando a partir do referencial terico dos

    autores estudados e correlacionando com as doenas mais frequentes identificadas

    nos trabalhadores de instituies financeiras.

    Programas de Qualidade de Vida no Trabalho de trs instituies financeirasAtividades e periodicidade

    EmpresaAtividade CAIXA

    BANCO DOBRASIL ITAU UNIBANCO

    GINSTICALABORAL

    NA JORNADA NA JORNADA NA JORNADA

    MASSAGEM NA JORNADA NA JORNADA NA JORNADA

    PLANO DESADE

    SADE CAIXA CASSI SADE ITA

    NUTRICIONISTA NA JORNADA NO ESPECIFICA FORA DAJORNADA

    ANTI TABAGISMO FORA DAJORNADANO ESPECIFICA FORA DA

    JORNADA

    CARTILHA DA UNIDAS NO APRESENTA NO APRESENTA

    EVENTOS NO ESPECIFICA NO ESPECIFICA MOMENTOSADE

    PREVENO DEDST NO ESPECIFICA NO ESPECIFICA

    POSSUIPROGRAMA

    SADE DAMULHER NO ESPECIFICA NO ESPECIFICA

    POSSUIPROGRAMA

    ACADEMIACONVNIOSFORA DAJORNADA

    NO ESPECIFICAACADEMIAS NOSPLOSREGIONAIS

    REABILITAO POR DEMANDA NO ESPECIFICA NO ESPECIFICA

    PCMSO DETALHA NO ESPECIFICA NO ESPECIFICA

    PPRA DETALHA NO ESPECIFICA NO ESPECIFICA

    SIPAT DETALHA NO ESPECIFICA NO ESPECIFICA

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    possvel observar que a Caixa inclui na sua pgina de Qualidade de Vida os

    programas previstos nas Normas Regulamentadoras, como o PCMSO, que trata dos

    exames mdicos previstos na CLT e o PPRA, que identifica os riscos ambientais,

    alm da SIPAT, atribuio obrigatria das CIPAS. Trata do Programa de

    Reabilitao Ocupacional, vinculado a orientaes do INSS, com a possibilidade de

    estend-lo a outras situaes de adaptao ao trabalho, o que representa um

    benefcio alm do legalmente previsto. Os outros dois Bancos estudados no

    mencionam essas aes no seu programa de qualidade de vida. De acordo com

    GOULART & SAMPAIO, citando o ponto de vista de WALTON sobre os Programas

    de Qualidade de Vida, estes devem ir alm do cumprimento da legislao, o que

    pode indicar o motivo do Banco do Brasil e do Ita Unibanco no terem mencionadoas aes especficas do SESMT e da CIPA, nem a reabilitao, ligada ao INSS.

    Aes como manter um plano de sade, oferecer orientao nutricional e

    programa anti tabagismo, presentes nos programas da Caixa e do Ita Unibanco,

    tm seu espao nos programas de qualidade de vida quando so oferecidos durante

    a jornada de trabalho. Fora da jornada podem ser compreendidas como benefcios,

    como parte da gesto de pessoas das empresas e no especificamente como aesd