prática na comunidade - leaosampaio.edu.br · emanuel Ângelo da rocha fragoso ... fundação...

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Profa. Dra. Ana Patrícia Pereira Morais Profa. Dra. Annatália Meneses de Amorim Gomes Profa. Dra. Maristela Inês Osawa Vasconcelos (Organizadoras) PRáTICA NA COMUNIDADE: uma integração ensino, serviço e comunidade a partir do Mestrado Profissional em Saúde da Família.

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  • Profa. Dra. Ana Patrcia Pereira MoraisProfa. Dra. Annatlia Meneses de Amorim Gomes

    Profa. Dra. Maristela Ins Osawa Vasconcelos(Organizadoras)

    PrtIcA nAcOMunIDADe:

    uma integrao ensino, servio e comunidade a partir do Mestrado Profissional em Sade da Famlia.

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR

    ReitoRJos Jackson Coelho Sampaio

    Vice-ReitoRHidelbrando dos Santos Soares

    editoRa da UeceErasmo Miessa Ruiz

    conselho editoRialAntnio Luciano Pontes

    Eduardo Diatahy Bezerra de MenezesEmanuel ngelo da Rocha Fragoso

    Francisco Horcio da Silva FrotaFrancisco Josnio Camelo Parente

    Gisafran Nazareno Mota JucJos Ferreira Nunes

    Liduina Farias Almeida da Costa

    Lucili Grangeiro CortezLuiz Cruz LimaManfredo RamosMarcelo Gurgel Carlos da SilvaMarcony Silva CunhaMaria do Socorro Ferreira OsterneMaria Salete Bessa JorgeSilvia Maria Nbrega-Therrien

    conselho consUltiVoAntnio Torres Montenegro | UFPE

    Eliane P. Zamith Brito | FGVHomero Santiago | USPIeda Maria Alves | USP

    Manuel Domingos Neto | UFF

    Maria do Socorro Silva Arago | UFCMaria Lrida Callou de Arajo e Mendona | UNIFORPierre Salama | Universidade de Paris VIIIRomeu Gomes | FIOCRUZTlio Batista Franco | UFF

  • Prtica na Comunidade:uma integrao ensino, servio e

    comunidade a partir do Mestrado

    Profissional em Sade da Famlia.

    Profa. Dra. Ana Patrcia Pereira MoraisProfa. Dra. Annatlia Meneses de Amorim Gomes

    Profa. Dra. Maristela Ins Osawa Vasconcelos(Organizadoras)

    Fortaleza - CE

    2015

  • Prtica na Comunidade: uma integrao ensino, servio e comunidade a partir do Mestrado Profissional em Sada da Famlia.

    2015 Copyright by Profa. Dra. Ana Patrcia Pereira Morais, Profa. Dra. Annatlia Meneses de Amorim Gomes e Profa. Dra. Maristela Ins Osawa Vasconcelos

    Efetuado depsito legal na Biblioteca Nacional

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

    Editora da Universidade Estadual do Cear EdUECEAv. Dr. Silas Munguba, 1700 Campus do Itaperi Reitoria Fortaleza Cear

    CEP: 60714-903 Tel: (085) 3101-9893www.uece.br/eduece E-mail: [email protected]

    Editora filiada

    Coordenao EditorialErasmo Miessa Ruiz

    Diagramao e CapaNarcelio de Sousa Lopes

    Reviso de TextoEdUECE

    Ficha Catalogrfica Vanessa Cavalcante Lima CRB 3/1166

    P912 Prtica na Comunidade: uma integrao ensino, servio e comunidade a partir do Mestrado Profissional em Sade da Famlia / Ana Patrcia Pereira Morais, Annatlia Meneses de Amorim Gomes, Maristela Ins Osawa Vasconcelos (orgs.). Fortaleza: EdUECE, 2015. 288 p. ISBN: 978-85-7826-277-8

    1. Ensino e aprendizagem. 2. Estratgias na sade da famlia. 3. Redes de sade Ateno primria. I. Ttulo.

    CDD: 370

  • Ministrio da SadeAdemar Arthur Chioro do Reis

    Fundao Oswaldo cruzPresidente: Paulo Ernani Gadelha Vieira

    Fundao universidade estadual do cearReitor: Jos Jackson Coelho Sampaio

    universidade estadual Vale do AcaraReitor: Fabianno Cavalcante de Carvalho

    universidade Federal do cearReitor: Jesualdo Pereira Farias

    universidade Federal do MaranhoReitor: Natalino Salgado Filho

    universidade Federal do rio Grande do norteReitora: ngela Maria Paiva Cruz

    Instituies nucleadoras: Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal do Cear (UFC), Universidade Estadual do Cear (UECE), Univer-sidade Federal do Maranho (UFMA), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Universidade Estadual Vale do Acara (UVA).

  • Apresentao

    Este livro surgiu da ideia de sistematizar a experincia adquirida com a realizao das Prticas na Comunidade, uma das estratgias pedaggicas adotadas no Mestrado Pro-fissional em Sade da Famlia ofertado pela Rede Nordeste em Sade da Famlia (RENASF) em parceria com instituies de pesquisa e ensino superior, designadas de instituies Nucleadoras. Idealizamos que um livro poderia expressar a riqueza desta prtica pedaggica que demarca o contexto dos trabalhadores-estudantes inseridos na realidade da Es-tratgia Sade da Famlia.

    O objetivo central desta publicao colocar o leitor em movimento, de modo que este possa explorar conte-dos como se estivesse nos cenrios desbravados por quem est in loco observando e atuando na realidade, tornando-se imprescindvel para a melhor compreenso dos contornos e entornos das comunidades nordestinas. A aposta est na possibilidade de produzir conhecimento a partir das expe-rincias na realizao da ao prtica. Explorar conhecimen-tos e possibilidades a partir de uma prtica pedaggica e das observaes que contextualizam as experincias nos mais variados cenrios municipais, onde diuturnamente se constri a experincia brasileira com a Estratgia Sade da Famlia.

    Esta publicao composta por 13 captulos que retra-tam as experincias de trabalhadores da sade que atuavam enquanto mestrandos. Destacam-se pontos crticos e poten-cialidades desse trabalho. A leitura atenta poder desvendar

  • impresses, tendo como pano de fundo a gesto, o processo de trabalho e a formao em sade como elementos para a discusso.

    Esta publicao resultado de mais uma cooperao entre a Fiocruz e o Ministrio da Sade atravs da SGETS, envolvendo docentes e mestrandos de seis instituies de pesquisa e ensino: Fiocruz, UECE, UVA, UFC, UFRN, UFMA.

    Desejamos que a leitura deste livro instigue os leitores a idealizar novos conhecimentos sobre o modo de produzir sade na ateno bsica no Brasil e vislumbrar a potncia dos processos de formao dos trabalhadores no campo da sade coletiva/sade da famlia.

  • PreFcIO

    Jos Jackson Coelho Sampaio

    Prefaciar um livro sempre me d muita alegria. o lan-amento de mais mundo no mundo, como uma criana que nasce ou um aviozinho de papel que, saltando de um alto prdio, plane sobre a cidade. A criana est plena de possi-bilidades que se efetivaro no crescimento das relaes. O aviozinho dispara o desapego de certa materialidade ima-terial, ldica e voltil.

    Prefaciar este livro agrega mais alegrias. As organizado-ras, Ana Patrcia Pereira Morais, Annatlia Meneses de Amo-rim Gomes e Maristela Ins Osawa Vasconcelos, so profes-soras e pesquisadoras compromissadas e criativas, e com elas tenho desenvolvido tantas cumplicidades intelectuais e polticas. O Curso de Mestrado em Sade da Famlia, te-ro e plataforma de voo desta experincia, abriga-me como professor e orientador, e se integra na Rede Nordeste de For-mao em Sade da Famlia-RENASF, uma ideia que ajudei a conceber, quando da deciso do Ministrio da Sade de instalar um ncleo da FIOCRUZ no Cear.

    Ora, o Cear a ptria da concepo Sade da Fam-lia, como estruturante da Ateno Bsica, e da Equipe de Sade da Famlia, como dispositivo da transformao em ato da preveno, da promoo, da educao e do cuida-do em sade. A Estratgia Sade da Famlia nacionalizou-se, mas em nossa terra est fincada sua histria, seus cones e seus experimentos de mais xito. O livro, editado pala edi-tora da Universidade Estadual do Cear-EdUECE, sob o ttulo

  • de Prtica na comunidade: uma integrao ensino, ser-vio e comunidade, articula a produo de mestrandos e professores/pesquisadores oriundos de duas universidades estaduais cearenses, a UECE e a Universidade Estadual Vale do Acara-UVA, e duas universidades federais, a Universida-de Federal do Rio Grande do Norte-UFRN e a Universidade Federal do Maranho-UFMA, compe-se de 13 artigos que sistematizam e aprofundam nosso conhecimento sobre o tema.

    O primeiro captulo, O cuidado na estratgia Sade da Famlia: uma experincia de gestao de vnculos, foca o desafio de cuidar dos mais intensamente vulnerveis, o que exige maior resilincia dos profissionais, continuida-de dos esforos teraputicos e coordenao dos programas, projetos, servios e equipes.

    O segundo captulo, A Vida em Nove Luas: uma expe-rincia educativa com gestantes na Estratgia Sade da Fa-mlia, relata iniciativa de formao, multiprofissional e inter-disciplinar, para que gestantes possam discutir e compreen-der os cuidados e autocuidados no ciclo gravdico-puerperal e fomentar autonomia para a escolha conscientes de mto-do contraceptivo.

    O terceiro captulo, O uso do Fluxograma Analisador como Ferramenta de Gesto e educao Permanente: relato de experincia em distrito sanitrio de natal/rn, destaca a necessidade de incorporar tcnicas de identifica-o de ns crticos, cada vez mais possveis devido comple-xidade do campo da sade e complexidade da realidade social, a fim de reorganizao das prticas fundadas na l-gica do planejamento e no respeito s singularidades locais.

  • O quarto captulo, Fluxograma de Acolhimento: a ampliao do olhar e de outros sentidos na prtica co-tidiana, busca compreender a conflitualidade instalada no campo da sade e demonstra que as pactuaes coletivas, os mapas de conflitos e os fluxogramas de acolhimento constituem mtodos, tcnicas e instrumentos que possibi-litam incremento da qualidade do cuidado e humanizao das relaes.

    O quinto captulo, Arco de Maguerez: estratgia de ensino-aprendizagem com foco na problematizao, desenvolve o conhecimento de um mtodo centrado na ca-deia dialgica ao-reflexo-ao, que parte e retorna para a realidade social, e testa a riqueza das possibilidades de cooperao para o enfrentamento dos desafios do cotidiano dos servios de sade.

    O sexto captulo, caminhos das Prticas Integrativas na Sade: relatos da articulao entre ocas comunitrias e a estratgia Sade da Famlia, descreve a produo de uma pesquisa e de um vdeo sobre prticas integrativas e complementares, em oca comunitria de Fortaleza/CE, o que permitiu compreender o acesso a estes servios, suas resolutividades e suas legitimidades perante profissionais e usurios, alm da conexo existente entre educao popu-lar e Estratgia Sade da Famlia.

    O stimo captulo, Preveno de Acidentes de trnsi-to: a voz dos mototaxistas em Sobral/ce, prope a redu-o da morbimortalidade por acidentes de trnsito, com n-fase nos mototaxistas, grupo de grande vulnerabilidade, por meio de exposies dialogadas, que resultou em substancial mapa de determinantes: insuficincia ou falta de sinalizao,

  • insuficincia ou falta de educao, infraestrutura deficiente de vias e sinais, excessiva carga horria de trabalho, cultura de competio e no de paz.

    O oitavo captulo, O Sofrimento Familiar Frente a Si-tuao neurolgica Irreversvel de Filho: o mtodo de charles Maguerez aplicado na metodologia da proble-matizao, com o objetivo de desenvolver atividades de preceptoria, identificou-se caso que visibiliza problema gra-ve de sade infantil, sofrimento familiar e precariedade do vnculo com a equipe, por meio da aplicao crtica de uma tcnica de ensino-aprendizagem, resultando em melhor or-ganizao do processo de trabalho, alm do aumento da ca-pacidade de refletir sobre situaes complexas e sensveis.

    O nono captulo, tuberculose e Linhas de cuidado: um estudo de caso com base em tecnologias analisado-ras, desenvolve os cuidados que a Sade da Famlia precisa ter no enfrentamento de doenas infectocontagiosas crni-cas e endmicas como pode ser a tuberculose pulmonar, em cidade como Teresina/PI, visando fortalecer o vnculo fam-lia/equipe de sade, identificar a rede social de superao das vulnerabilidades e elaborar fluxograma do processo de trabalho do cuidado, a partir de genograma e ecomapa, em visitas domiciliares.

    O dcimo captulo, cultura de Paz pelo reencanta-mento do territrio: uma experincia de promoo de sade em Alto da Braslia, Sobral/ce, compara as propos-tas da Poltica Nacional de Promoo da Sade com uma aplicao concreta, identificando indicadores do processo sade/doena e da qualidade de vida, como organizao urbana, trabalho/remunerao, saneamento bsico, habi-

  • tao, alimentao, escolaridade e violncia, o indicador recentemente includo na agenda, destacando o perfil de-gradado do territrio Alto da Braslia - aumento da violncia como determinante de agravos, da estigmatizao do bairro e da baixa autoestima coletiva na sua populao e pres-crevendo atividades de mobilizao comunitria para uma cultura de paz.

    O dcimo primeiro captulo, uso de Fluxograma Ana-lisador no Processo de cuidado ao Idoso Vtima de Vio-lncia: uma prtica na comunidade, apresenta um projeto de organizao da assistncia sade por meio de prticas centradas nos usurios e reorganizao do processo de tra-balho das equipes, a partir do estudo de caso de trs idosos em situao de vulnerabilidade em Cruz/CE idade avana-da, desnutrio, sem famlia, cuidador alcolico - por meio de visita domiciliar, genograma e ecomapa, para avaliar o vnculo com a Equipe de Sade da Famlia, vnculo este con-siderado forte, porm medicalizante, distante do cuidado integral.

    O dcimo segundo captulo, estratgias de Promo-o da Alimentao Saudvel: plano de ao para uma comunidade do litoral do cear, estuda a relao entre alimentao e sade, em Barroquinha/CE, que possibilitou a criao do grupo Comer Bem o Melhor para Poder Crescer e o desencadeamento de mudana de hbitos alimentares consensuados como favorveis sade e qualidade de vida.

    O dcimo terceiro captulo, Abordagem a uma Famlia com criana Menor de um Ano em Situao de Atraso Vacinal, toma um contexto concreto de vivncia da crian-

  • a como objeto para investigao e interveno em sade, analisando a cultura da famlia e do territrio social, visando incluir a vacinao infantil no padro sociocultural de Mara-caum/MA, o que resultou na atualizao vacinal das crian-as, a partir do consentimento dos responsveis, tambm reduzindo a resistncia dos membros em partilhar informa-es, fortalecendo o vnculo de confiana entre a equipe de sade e as famlias e proporcionando cuidado integral e hu-manizado.

    O livro que o Mestrado Profissional em Sade da Fam-lia nos oferece qualifica a discusso necessria sobre preven-o de doenas e transtornos, promoo de sade, educa-o em sade, assistncia e ateno, multiprofissionalidade e interdisciplinaridade, integralidade e humanizao, cui-dado e vida saudvel. Deste modo, faz crescer, nos estados diretamente envolvidos nos estudos - Cear, Rio Grande do Norte e Piau na regio Nordeste e no Brasil, o conhecimen-to sobre este campo to complexo, desafiador e estratgico para a cidadania plena.

  • Sumrio

    Prefcio ...................................................................................8Jos Jackson Coelho Sampaio

    nucLeADOrA ueceAutOreS DA nucLeADOrA uece ............................... 18

    fLUXoGrAMA De AcoLHiMeNTo: A AMPLiAo Do oLHAr e oUTroS SeNTiDoS NA PrTicA coTiDiANA ...22Tereza Alves de Souza, Maria Aglair Braz Mota, Andr Luis Benevides Bom-fim, Jos Maria Ximenes Guimares, Annatlia Meneses de Amorim Gomes, Maria Irismar de Almeida e Maria Rocineide Ferreira da Silva

    ArcoS De MAGUereZ: eSTrATGiA De eNSiNo-APreNDi-ZAGeM coM foco NA ProBLeMATiZAo .....................38Ana Paula Ribeiro de Castro, Mailson Fontes de Carvalho, Mrcia Lcia de Oliveira Gomes, Roberta Alves Sousa, Talyta Alves Chaves Lima, Maria Iris-mar de Almeida, Annatlia Meneses de Amorim Gomes, Ana Mattos Brito de Almeida, Anya Pimentel Gomes Fernandes Vieira Meyer, Ana Valeska Sie-bra e Silva, Marcelo Gurgel Carlos da Silva e Andrea Caprara

    cAMiNHoS DAS PrTicAS iNTeGrATiVAS NA SADe: re-LAToS DA ArTicULAo eNTre ocAS coMUNiTriAS e A eSTrATGiA SADe DA fAMLiA .........................................51Ana Cybele Peixoto de Andrade, Carlos Eduardo de Sousa Praxedes, Eliene de Frana Mascarenhas, Francisco Pereira Jnior Feitosa, Herta Maria Caste-lo Branco Ribeiro, Joyce Bezerra Portela de Deus, Lizaldo Andrade Maia, Ana Patrcia Pereira Morais, Raimundo Augusto Torres Martins, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Maria Irismar de Almeida, Zeni Carvalho Lamy, Annat-lia Meneses de Amorim Gomes e Anya Pimentel Gomes Fernandes Vieira Meyer

  • nucLeADOrA uFMAAutOreS DA nucLeADOrA uFMA ............................. 77

    ABorDAGeM A UMA fAMLiA coM criANA MeNor De UM ANo eM SiTUAo De ATrASo VAciNAL ...................79Luciana Albuquerque de Oliveira, Lia Cardoso de Aguiar, Maria dos Rem-dios da Silva Lira, Maria Glucia Alves Albuquerque, Liberata Campos Coim-bra, Zeni Carvalho Lamy, Ana Cristina Saldanha e Nair Portela Silva Coutinho

    nucLeADOrA uFrnAutOreS DA nucLeADOrA uFrn .............................. 98

    o cUiDADo NA eSTrATGiA SADe DA fAMLiA: UMA eX-PeriNciA De GeSTAo De VNcULoS ......................... 102Adriana Santos Lopes, Francijane Diniz de Oliveira, Jos Adailton da Silva, Robervam de Moura Pedroza, Ligiane Nascimento de Lucena, Ana Carolina de Souza Pieretti, Nayara Santos Martins Neiva de Melo, Ana Karenina Ar-raes Amorim, Masa Paulino Rodrigues e Gergia Sibele Nogueira da Silva

    A ViDA eM NoVe LUAS: UMA eXPeriNciA eDUcATiVA coM GeSTANTeS NA eSTrATGiA SADe DA fAMLiA ...135Ricardo Henrique Vieira de Melo, Magna Celi Pereira Felipe, Mrcia Llis Ro-cha Corra, Rosana Lcia Alves de Vilar, Gergia Sibele Nogueira da Silva, Maisa Paulino Rodrigues e Ana Karenina Arraes Amorim

    o USo Do fLUXoGrAMA ANALiSADor coMo ferrA-MeNTA De GeSTo e eDUcAo PerMANeNTe: reLATo De eXPeriNciA eM DiSTriTo SANiTrio Do MUNicPio De NATAL/rN ........................................................................ 160Andrezza Karine Arajo de Medeiros Pereira, Francisco Glriston Vieira, Mrcia Cunha da Silva Pellense, Marise Soares Almeida, Ricardo Henrique Vieira de Melo, Rosana Maria Ferreira de Moura Lima, Ana Karenina de Melo Arraes Amorim, Antnio Medeiros Junior, Elizabethe Cristina Fagundes de Souza, Masa Paulino Rodrigues e Gergia Sibele Nogueira da Silva

  • nucLeADOrA uVAAutOreS DA nucLeADOrA uVA .............................. 179

    PreVeNo De AciDeNTeS De TrNSiTo: A VoZ DoS Mo-ToTAXiSTAS No MUNicPio De SoBrAL-ce ................... 184Keila Maria Carvalho Martins, Maria do Socorro Teixeira, Joo Srgio Ara-jo Soares, Francisco Meykel Amncio Gomes, Joo Henrique Vasconcelos Cavalcante, Maria Socorro de Arajo Dias, Maria de Ftima Antero Sousa Machado, Maria Adelane Monteiro da Silva, Maria Socorro Carneiro Linha-res, Eliany Nazar Oliveira, Ana Ceclia Lins Sucupira e Israel Rocha Brandao

    o SofriMeNTo fAMiLiAr freNTe SiTUAo NeUroL-GicA irreVerSVeL De UM fiLHo: o MToDo Do Arco De cHArLeS MAGUereZ APLicADo NA MeToDoLoGiA DA ProBLeMATiZAo ..................................................... 198Maria do Socorro Teixeira, Keila Maria Carvalho Martins, Joo Srgio Arajo Soares, Israel Rocha Brando, Jos Reginaldo Feijo Parente, Maria Adela-ne Monteiro da Silva, Maria Socorro Carneiro Linhares e Maria Socorro de Arajo Dias

    TUBercULoSe e LiNHAS De cUiDADo: UM eSTUDo De cASo coM BASe eM TecNoLoGiAS ANALiSADorAS .. 217Elayne Cristina Costa Damasceno, Janice Dvila Rodrigues Mendes, Svetla-na Coelho Martins, Jos Jeov Mouro Netto, Gracyanne Maria Oliveira Ma-chado, Francisco Rosemiro Guimares Neto, Eliany Nazar Oliveira, Mariste-la Ins Osawa Vasconcelos, Cibelly Aliny Siqueira Lima Freitas, Maria Socorro de Arajo Dias e Israel Rocha Brando

    APNDiceS - APreSeNTAo GrficA Do fLUXoGrAMA coNSTrUDo JUNTo A eSf ............................................... 232

    GeNoGrAMA e ecoMAPA - APreSeNTAo GrficA Do fLUXoGrAMA coNSTrUDo JUNTo A eSf .................... 236

  • GeNoGrAMA e ecoMAPA ................................................. 239

    cULTUrA De PAZ PeLo reeNcANTAMeNTo Do TerriT-rio: UMA eXPeriNciA De ProMoo DA SADe No TerriTrio ALTo DA BrASLiA, SoBrAL-ce.................. 240Noraney Alves Lima, Ingrid Freire Silva, Raila Souto Pinto Menezes, Irlanda Pontes Oliveira, Maria de Ftima Antero Sousa Machado, Maria Socorro de Arajo Dias, Maristela Ins Osawa Vasconcelos, Maria Adelane Monteiro da Silva e Ana Ceclia Lins Sucupira

    USo De fLUXoGrAMA ANALiSADor No ProceSSo De cUiDADo Ao iDoSo VTiMA De VioLNciA UMA PrTi-cA NA coMUNiDADe .......................................................... 253Edilia Marcela Dutra,Evaldo Eufrsio Vasconcelos, Joo Kildery Silveira Tefilo, Leandro Jos Sou-sa Tefilo, Vanessa Matos Gomes dos Santos, Eliany Nazar Oliveira, Francis-co Rosemiro Guimares Ximenes Neto, Maristela Ines Osawa Vasconcelos, Maria de Ftima Antero Sousa Machado e Izabelle Montlverne N. Albu-querque

    eSTrATGiAS De ProMoo DA ALiMeNTAo SAUD-VeL: PLANo De Ao PArA UMA coMUNiDADe Do LiTo-rAL NoroeSTe Do ceAr ................................................ 273Joo Henrique Vasconcelos Cavalcante, Gracyane Maria Oliveira Machado, Vanessa Matos Gomes dos Santos, Marlos Ribeiro Arajo, Gervnia Bezerra Gomes, Maria de Ftima Antero Sousa Machado, Maria Socorro de Arajo Dias e Eliany Nazar Oliveira

  • nucLeADOrA uece

    AutOreS DA nucLeADOrA uece

  • Ana cybele Peixoto de AndradeAssistente Social e Psicloga. Discente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Ana Mattos Brito de AlmeidaPsicloga. Doutora em Sade Pblica. Docente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Ana Patrcia Pereira MoraisEnfermeira (UECE). Doutora em Sade Pblica. Coordenadora e docente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Ana Paula ribeiro de castroEnfermeira. Discente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Ana Valeska Siebra e SilvaEnfermeira. Doutora em Sade Pblica. Docente do Curso Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Marcelo Gurgel carlos da SilvaMdico. Ps-doutor em Economia da Sade. Docente do Curso Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Andr Lus Benevides BomfimMdico. Discente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UFC).

    Andrea capraraMdico. Doutor em Antropologia. Docente do Curso Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Annatlia Meneses de Amorim GomesPsicloga e Assistente Social. Doutora em Cincias da Sade. Coordenadora Adjunta e docente do Curso de Mestrado Profissional Sade da Famlia RENASF-UECE.

  • Anya Pimentel Gomes Fernandes Vieira MeyerAnya Pimentel Gomes Fernandes Vieira Meyer. Odontloga. Doutora em Odontologia. Coordenadora e Docente do Curso Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-Fiocruz-CE).

    carlos eduardo de Sousa PraxedesOdontlogo. Discente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    eliene de Frana MascarenhasMdica. Discente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Francisco Pereira Jnior FeitosaFarmacutico. Discente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Herta Maria castelo Branco ribeiroAssistente Social. Discente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Jos Maria Ximenes GuimaresEnfermeiro. Doutor em Sade Coletiva. Docente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Joyce Bezerra Portela de DeusEnfermeira. Discente do Curso Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Lizaldo Andrade MaiaOdontlogo. Discente do Curso Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Mailson Fontes de carvalhoEnfermeiro. Discente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

  • Mrcia Lcia de Oliveira GomesOdontloga. Discente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Maria Aglair Braz MotaEnfermeira. Discente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia no Nordeste (RENASF- UECE).

    Maria Irismar de AlmeidaEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    Maria rocineide Ferreira da Silva Enfermeira. Doutora em Sade Coletiva. Docente do Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    raimundo Augusto torres MartinsEnfermeiro. Doutor em Educao. Docente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    roberta Alves SousaEnfermeira. Discente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    talyta Alves chaves LimaEnfermeira. Discente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UECE).

    tereza Alves de SouzaEnfermeira. Discente do Curso de Mestrado Profissional em Sade da Famlia no Nordeste (RENASF- UECE).

    Zeni carvalho LamyMedica. Doutora em Sade Coletiva. Docente do Curso Mestrado Profissional em Sade da Famlia (RENASF-UFMA).

  • 22

    FLuXOGrAMA De AcOLHIMentO: A AMPLIAO DO OLHAr e OutrOS SentIDOS nA PrtIcA

    cOtIDIAnA

    Tereza Alves de SouzaMaria Aglair Braz Mota

    Andr Luis Benevides BomfimJos Maria Ximenes Guimares

    Annatlia Meneses de Amorim GomesMaria Irismar de Almeida

    Maria Rocineide Ferreira da Silva

    reSuMOA busca pelo atendimento s demandas e necessidades dos usurios nas unidades bsicas de sade , em muitas situaes cotidianas, geradora de conflitos, desgaste fsico, mental e psicolgico, exigindo da gesto, dos trabalhado-res e da comunidade formas de equacionar os problemas. O presente estudo objetiva relatar a experincia da constru-o coletiva do fluxograma de acolhimento dos usurios em uma unidade de sade, como atividade do mdulo de Ges-to do Processo de Trabalho na Ateno Bsica do Mestrado Profissional em Sade da Famlia, UECE/FIOCRUZ. Trata-se de um relato de experincia que contou com a participao de trinta e nove (75%) dos trabalhadores da unidade e trs representantes do Conselho Local de Sade, em roda de co-gesto, com a utilizao da tcnica de oficina, aps o tema ter sido discutido com todas as equipes da Estratgia Sade da Famlia (ESF) do territrio. Como resultado, houve uma ampliao do olhar, possibilitando como produto final o flu-

  • 23

    xograma de acolhimento a ser implementado, que poder possibilitar uma melhoria na qualidade e humanizao da assistncia. Constatamos que a construo conjunta do flu-xograma, baseado em um problema identificado pelos tra-balhadores, despertou a corresponsabilidade e o olhar dos envolvidos para eventualidades estressoras que vo alm das dificuldades sentidas no acolhimento.

    Palavras-chave: Acolhimento. Fluxograma. Sade da Famlia.

    IntrODuONo Brasil, desde a Reforma Sanitria, iniciada no con-

    texto de redemocratizao do pas, ocorreram mudanas na estrutura e organizao do sistema de sade brasileiro. Na perspectiva de assegurar o direito sade, o Sistema ni-co de Sade SUS foi implantado com a misso de garantir acesso s aes e servios de sade de forma universal, equ-nime e integral, com definio de competncias e responsa-bilidades para as trs esferas governamentais. Um sistema organizado em rede regionalizada e hierarquizada, de gesto compartilhada, onde as aes so pactuadas em instncias colegiadas. Outro princpio importante no SUS a participa-o da comunidade no mbito da formulao de polticas e do controle social na execuo da ao governamental.

    Para conferir viabilidade ao novo sistema de sade, com propsito de induzir a reorientao do modelo de aten-o, em 1994 foi implantado o Programa Sade da Famlia - PSF, posteriormente, Estratgia Sade da Famlia- ESF, que se constituiu o modelo de ateno primria a sade adota-do no Brasil, mediante aes preventivas, de promoo da sade, de recuperao, reabilitao e cuidados paliativos da

  • 24

    equipe de sade da famlia, comprometidas com a integra-lidade da assistncia sade, focado na unidade familiar e considerando o contexto socioeconmico, cultural e epide-miolgico da comunidade em que est inserida (ANDRADE; BARRETO; BEZERRA, 2006).

    Assim, o PSF surgiu com o propsito de superao de um modelo de assistncia sade, responsvel pela ine-ficincia do setor; insatisfao da populao; desquali-ficao profissional; iniquidades. A assistncia sade marcada pelo servio de natureza hospitalar, focalizada nos atendimentos mdicos com viso biologicista do proces-so sade-doena, voltando-se prioritariamente para aes curativas (MERHY; FRANCO, 2003).

    No percurso de construo do SUS, observam-se avan-os positivos, mas tambm problemas e desafios que per-sistem exigindo reajustes contnuos com vista resoluo das adversidades que surgem no desenvolvimento dos pro-cessos de trabalho (NEVES; ROLLO, 2006). Dentre outros, ob-servam-se diversas prticas assistenciais pouco acolhedoras, burocrticas, com normas e critrios rgidos, dificultando o acesso dos usurios unidade de sade, as quais contri-buem para a baixa resolubilidade dos servios. Observam-se, tambm, poucos espaos para a escuta, para a interao e o dilogo com os usurios.

    Determinantes como o nvel de cultura, educao, h-bitos de vida, entendimento sobre cidadania, problemas estruturais das unidades bsicas de sade, falta de profissio-nais, despreparo para trabalhar com aes humanizadoras nos servios de sade, condies socioeconmica da popu-lao, precrias condies higinicas e sanitrias, a valoriza-

  • 25

    o pelas aes curativas em detrimentos das de promoo da sade, poucos espaos coletivos para a reflexo, anlise e troca de saberes entre os profissionais, abordagem dos di-versos profissionais restrita aos aspectos biolgicos e a pr-tica profissional centrada em procedimentos contribuem para o agravamento da situao (CARVALHO; BUSS, 2009).

    A situao acima descrita tem contribudo para uma busca excessiva pelos servios de Ateno Primria Sade, o que tem gerado conflitos, desgaste fsico, mental e psicolgi-co, exigindo da gesto dos servios e dos profissionais da sa-de, em comum acordo com a comunidade, encontrar formas de equacionar os problemas, atravs de discusso e organiza-o dos fluxos assistenciais nos servios de sade que aten-dam efetivamente s necessidades de sade da populao.

    Por outro lado, como proposta para superao destas problemticas, o Ministrio da Sade vem implementando a Poltica Nacional de Humanizao PNH, que visa efe-tivao dos princpios do SUS e enfatiza a necessidade de assegurar o acesso e a ateno integral aos usurios.

    Para Gomes et al. (2008), humanizao um conceito polissmico, podendo suas interpretaes variar desde o senso comum de ser bom com o outro que sofre, passan-do por leituras essencialistas at um humanismo revisitado, aberto ao singular de cada experincia humana, suas neces-sidades e ao mesmo tempo ancorado na tica.

    Dentre outras estratgias, a PNH utiliza como diretriz o acolhimento dos usurios como mecanismo de garantir a humanizao, a responsabilizao pelo paciente a universa-lidade, e a equidade, tornando claro que no tem local nem hora certa para acontecer, nem profissional especfico para

  • 26

    concretiz-lo. O acolhimento uma postura tica que implica na escuta das demandas, necessidades e desejos de sade da populao, reconhecimento do seu protagonismo nos pro-cessos de sade e adoecimento, e na responsabilidade pela resoluo dos problemas da sade de acordo com sua capa-cidade resolutiva ou referenciando-os se necessria a outros servios de sade para a continuidade da assistncia e esta-belecendo articulaes com esses servios para garantir a efi-ccia desses encaminhamentos, incorporando e participan-do efetivamente das redes de ateno sade (BRASIL, 2004).

    O acolhimento pressupe a mudana da relao pro-fissional/usurio, a partir de parmetros tcnicos, ticos, humanitrios e solidrios, reconhecendo o usurio como su-jeito e participante ativo no processo de produo de sade (BRASIL, 2004).

    Desse modo, o acolhimento passa a ser considerado, fundamentalmente, como uma estratgia para promover mudanas no processo de trabalho, ampliando o acesso ateno integral, de boa qualidade e resolutiva, com a cria-o de espao privativo e protegido, oferecendo a todos os usurios que procuram os servios de sade uma escuta qualificada por um profissional de sade, para tanto, lana mo de ferramentas que orientem este processo, dentre ou-tras, destacando-se o fluxograma analisador.

    De um modo muito simples, o fluxograma um diagra-ma muito usado por diferentes campos de conhecimentos, com a perspectiva de desenhar certo modo de organizao de um conjunto de processos de trabalhos, que se vinculam entre si em torno de uma cadeia de produo (MERHY E.E, ONOCKO R., 1997). O fluxograma de acolhimento busca co-

  • 27

    nhecer os caminhos percorridos pelos usurios quando pro-cura assistncia e sua insero no servio. Permite um olhar sobre os fluxos existentes no momento da produo da as-sistncia sade, permitindo a deteco de seus problemas (FRANCO, 2003).

    Assim, o objetivo deste trabalho relatar a experin-cia da construo do fluxograma de acolhimento dos usu-rios da Unidade de Ateno Primria Sade Edmar Fujita, com base na reflexo dos trabalhadores e representantes do Conselho Local de Sade sobre os processos autoanalticos, ocorridos na unidade de sade, considerando-o uma tecno-logia de autogesto do trabalho.

    MtODOSTrata-se de um relato de experincia, estudo de nature-

    za qualitativo, descritivo, que consiste na construo coletiva do fluxograma de acolhimento da UAPS Edmar Fujita. O aco-lhimento aos usurios da unidade um tema sempre em dis-cusso dentro das rodas de cogesto e na rotina da unidade. Sua recorrncia se deve ao fato que, por no ter um padro, um protocolo a ser seguido possibilita a implantao de mo-delos diferenciados em cada equipe de sade. Pensando em solucionar esta situao, pois uma dificuldade experimen-tada pelos profissionais de sade, e com base nos contedos tericos do mdulo de gesto do processo de trabalho na ateno bsica do Mestrado Profissional em Sade da Fam-lia, UECE/FIOCRUZ, os mestrandos em parceria com os pro-fissionais e representantes do Conselho Local de Sade da UAPS selecionaram como prioridade no momento, trabalhar com a construo coletiva de um fluxograma de acolhimen-

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    to, considerando que o mesmo contribuir para a organiza-o do processo de trabalho na referida unidade em estudo.

    A idealizao da elaborao deste fluxograma surgiu tambm a partir da percepo dos trabalhadores da UAPS de se organizar o fluxo dos usurios, que vinha acontecendo de maneira desordenada, no resolutiva, gerando conflitos e desgaste fsico, emocional, transformando-se num mo-mento estressante e conflituoso, sendo considerada uma atividade indesejada pelos trabalhadores de sade.

    Frente a essa problemtica e durante as atividades da oficina desenvolvida com as equipes de ESF, surgiram os se-guintes questionamentos: Como poderemos intervir nesta situao para eliminar ou atenuar a problemtica identifi-cada? Como elaborar um fluxograma de acolhimento dos usurios na unidade de maneira a organizar este servio? Quais as percepes dos trabalhadores e representantes do Conselho Local de Sade sobre esta construo?

    O recurso metodolgico para a apreenso do real a ser utilizado foi obtido atravs da anlise dos profissionais de sade e representantes do Conselho Local de Sade sobre o processo de trabalho, identificando os problemas e os pon-tos positivos do mesmo, terminando por elaborar propostas para superao dos problemas e a construo do fluxogra-ma, obtido por meio da dinmica de oficina de grupo.

    Para construo desta atividade, utilizamos a tcnica de oficina. A oficina consiste numa atividade de grupo dominan-temente realizada segundo componentes do saber fazer prti-co ou processual, orientada para delinear ou consolidar proce-dimentos de ao ou produzir materiais de interveno, con-cretos e identificados, definidos pelo conjunto de participan-

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    tes como a resposta mais adequada ao aperfeioamento de suas intervenes. A tcnica permite a participao de todos os presentes numa atmosfera informal, com livre apresenta-o de ideias, promovendo a troca de conhecimento entre os integrantes, onde os mesmos exercitam suas capacidades de comunicao em busca de um objetivo (ARAJO et al., 2011).

    cenrIO DA AtIVIDADeA atividade foi realizada em maro de 2013, na UAPS

    Edmar Fujita, vinculada Secretaria Executiva Regional SER VI, localizada em Fortaleza-CE. Esta unidade de sade responsvel por 17 microreas e conta com trs equipes da ESF, cada uma delas composta por 01 Enfermeiro, 01 Mdi-co, 01 Odontlogo, 01 Tcnico em Sade Bucal TSB, 01 Tc-nicos de Enfermagem e 6 Agentes Comunitrios de Sade ACS. Conta-se ainda com uma ginecologista e com a estra-tgia NASF, composta por uma psicloga, uma fonoaudi-loga, uma fisioterapeuta e um educador fsico. Oferece-se servio de farmcia polo, com presena nos dois turnos de farmacutica. Todo este elenco de servios prestados tam-bm favorece a uma presena maior de usurios na unidade, exigindo uma organizao deste fluxo.

    A unidade em estudo possui uma populao estimada em 12.907 pessoas, segundo o atesto da unidade do ms de setembro de 2012 (FORTALEZA, 2012). Grande parte da populao adscrita de baixa renda, situada em rea da pe-riferia, mora em reas de ocupao, com infraestruturas pre-crias e com risco de inundao em perodo de chuva pelo rio Coc, alm de diversos outros problemas marcantes que afetam os moradores da rea, como o uso e a comercializa-

  • 30

    o das drogas, abandono escolar, baixa escolaridade, falta de oportunidade de trabalho, poucas opes de lazer, den-tre outras, gerando situaes de vulnerabilidades.

    No transcorrer do dia de trabalho, verificamos que a de-ciso sobre o acesso s consultas realizada na maioria das vezes por tcnicos (nvel mdio) que no possuem os co-nhecimentos e habilidades necessrios para uma avaliao e escuta qualificada dos usurios, predominando o critrio de ordem de chegada para a distribuio de fichas, sem uma priorizao por risco e/ou gravidade nem por vulnerabilida-des. As pessoas que buscam a unidade de sade para um atendimento no dia so encaixadas nas vagas existentes at o preenchimento total das vagas, sendo as demais dispensadas ou encaminhadas para outros servios de sade, indepen-dentemente dos motivos que as levaram a buscar assistncia.

    Tambm observada a existncia de poucos espaos coletivos para a reflexo, anlise e partilha de saberes entre os profissionais, levando-os, assim, a uma abordagem restrita aos aspectos biolgicos e focados na realizao de procedimentos.

    Foram sujeitos da pesquisa: todos os participantes da oficina, que consistiu em 39 trabalhadores da sade, corres-pondente a 75% dos trabalhadores de sade e trs repre-sentantes do Conselho Local de Sade.

    DeScrIO DA eXPerIncIAPara a elaborao desta atividade, inicialmente os trs

    primeiros autores, mestrandos em Sade da Famlia, reuni-ram-se para planejar as estratgias a serem executadas e di-vidirem a responsabilidade de cada um durante a atividade.

  • 31

    Foi escolhida, como forma de trabalho em grupo, a realiza-o de uma oficina. Providenciou-se material para dinmica em grupo: cartolinas, canetas, mquina fotogrfica, tesoura, rgua e papel ofcio.

    A oficina aconteceu num perodo de quatro horas, no turno da manh, conduzida pelos mestrandos, sendo dividi-da em trs momentos: No primeiro momento, inicialmente foi explicado ao grupo constitudo de todos os participan-tes o funcionamento da tcnica, sua finalidade, o papel e as atitudes esperadas de cada membro e o tempo disponvel para a discusso, tambm foi compartilhado sobre o proces-so de trabalho, os problemas referentes Unidade de Sade, como a busca desordenada pelos servios, com foco no Aco-lhimento, com definio conceitual de fluxograma e como elabor-lo (Figura 01).

    Figura 1: Roda de Cogesto.

  • 32

    No segundo momento, o grupo foi dividido em trs subgrupos, aproveitando para colocar juntos os membros que tinham menos convivncia e evitar as conversas para-lelas que no se relacionasse temtica trabalhada. Solicita-mos aos membros dos pequenos grupos que se apresentas-sem, escolhessem um coordenador para os debates e um re-lator ou secretrio para fazer as anotaes. Neste momento, entregamos cartolinas e canetas para os participantes, para iniciarem a discusso da elaborao do fluxograma. Cada subgrupo construiu um fluxograma de acordo com suas vi-ses de como deveria acontecer o processo do acolhimento na unidade de sade. Neste momento, os mestrandos eram os facilitadores dos grupos e cada participante pode fazer sugestes de como deveria acontecer o acolhimento na uni-dade de sade.

    Transcorrido o tempo, formou-se novamente o grupo maior e cada subgrupo apresentou suas concluses e consi-deraes sobre a construo do fluxograma.

    Aps exposio dos grupos, os mestrandos recolhe-ram as cartolinas com a sugesto do fluxograma sugerido por cada equipe, para posterior consolidao das opinies e construo do fluxograma coletivo.

    No final da apresentao, entregamos tarjetas para os participantes nelas escrevessem suas impresses sobre a atividade. Acordamos que iramos compilar o que foi produ-zido e em uma prxima roda fecharamos o fluxograma da Unidade de Sade.

    Na semana posterior realizao da oficina, os mes-trandos se reuniram para consolidar as opinies e confeccio-nar o fluxograma coletivo, procurando ser o mais fidedigno

  • 33

    possvel s opinies dos participantes. O fluxograma cons-trudo foi apresentado aos profissionais na roda de cogesto subsequente, o qual contou com aprovao de 100% dos trabalhadores presentes.

    A conduo da roda foi realizada pelos membros da equipe (a coordenadora inclusive estava de frias) e a ativi-dade de construo do fluxograma, com durao de 4 horas, teve participao ativa dos trabalhadores, o que gerou um sentimento coletivo de satisfao, pois obtivemos um pro-duto concreto que auxiliar o processo de trabalho na UAPS.

    reSuLtADOS e DIScuSSO Constatamos que a construo conjunta do fluxograma

    baseado em um problema identificado pelos trabalhadores que vivem e convivem na Unidade de Sade despertou a cor-responsabilidade e o olhar dos envolvidos para situaes ad-versas que vo alm das dificuldades sentidas no acolhimento.

    Impresses dos trabalhadoresPodemos observar em algumas falas dos trabalhadores:

    A construo em conjunto ajuda no andamento para melhoria e soluo dos problemas vivenciados.O fluxograma ser instrumento de educao para os profissionais e usurios.. um ganho de tempo para todos.Seria bom construir o fluxograma com imagens.Fluxograma pode contribuir na agilidade no atendimen-to dos servios.Vai contribuir para a organizao do servio se todos falarem a mesma lngua.

  • 34

    Aumenta o grau de satisfao do usurio que se sentir mais acolhido e menos estressado no acesso aos servios.Otimizar o trabalho das equipes.

    Verificamos que melhorar a organizao do atendi-mento foi o que ficou mais em evidncia nas falas dos par-ticipantes da prtica. Durante as discusses, eles tambm relataram a falta de tica de determinados profissionais, a sobrecarga de atendimento e dos maus hbitos de alguns usurios na busca por atendimento.

    Figura 2: Fluxograma elaborado.

  • 35

    Os relatos dos trabalhadores da UAPS, bem como o flu-xograma construdo, corroboram com o entendimento de que esta ferramenta de anlise tem o potencial de desenca-dear processos de reflexo coletiva sobre a prtica cotidiana nos servios de sade, ampliando a capacidade de anlise e interveno da equipe de sade, com vistas reorganizao dos processos de trabalho em sade. Alm disso, podemos inferir que tal processo teve uma dimenso pedaggica, ao induzir a ampliao do olhar crtico dos trabalhadores sobre os problemas vivenciados e, ao mesmo tempo, a proposio de solues compartilhadas, de modo consensual. Convm assinalar, ainda o desenvolvimento da percepo de que a equipe multiprofissional poder otimizar o trabalho, o que implica em ltima instncia em maior resolutividade e satis-fao dos usurios.

    cOnSIDerAeS FInAISAtravs da atividade realizada, podemos constatar que

    o fluxograma um instrumento que possibilitou aos traba-lhadores, individualmente e em grupo, realizar uma reflexo sobre a sua prtica, discutirem o trabalho que realizam e o trabalho que os outros membros da equipe fazem, identi-ficando as possveis falhas, ou seja, o o qu e o como do processo de trabalho, que precisam ser modificados para melhoria da ateno ao usurio.

    Vale destacar que os processos de gesto e ateno sade necessitam de ferramentas de gesto que permi-tam a construo e/ou ampliao de espaos coletivos nos servios, nos quais sejam possveis a reflexo crtica sobre a prpria atuao da equipe e a construo de alternativas

  • 36

    de enfrentamento dos diversos problemas, respeitando-se a autonomia de sujeitos e coletivos, o que contribui para a corresponsabilizao nos processos de produo de sade. Nesses termos, o fluxograma analisador se constituiu ferra-menta potente para esta finalidade.

    reFerncIASANDRADE, L. O. M. de; BARRETO, I. C. de H.; BEZERRA, R. C. Ateno primria sade e estratgia sade da famlia. In: CAMPOS, G.W. de S. et al. tratado de sade coletiva. So Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2006, p.783-836.

    ARAJO, M. de F. M.; ALMEIDA, M. I. de; SILVA, A. C. do E. S.; ROCHA, G. de A. B.; ARAJO, R. M.; ARAJO, T. S. de; BRILHANTE, A. P. C. R.; SILVA, M. J. Mtodo de oficinas. In: SOUZA, . M. A. (Org.). coorde-nao de grupos: teoria, prtica e pesquisa. Fortaleza: Expresso Grfica, 2011. p. 117-137.

    BRASIL. Acolhimento com avaliao de risco: um paradigma ti-co-esttico no fazer em sade. Ministrio da Sade. Secretaria-Exe-cutiva. Ncleo Tcnico da Poltica Nacional de Humanizao. Bras-lia. Ministrio da Sade, 2004.

    BRASIL. Sade da Famlia: Uma Estratgia de Organizao dos Ser-vios de Sade. M.S, Braslia; maro/1996; p. 2.

    CARVALHO, A.I de; BUSS, P.M. Determinantes Sociais na Sade, na Doena e na Interveno. In. Polticas e Sistemas de Sade no Brasil. Cap. 4. Rio de Janeiro: Fio Cruz, 2009, p. 141.

    FORTALEZA. Secretaria Municipal de Sade de Fortaleza - SMS. Atesto Municipal de funcionamento das equipes de sade da famlia e de sade bucal - Ser VI. Secretaria Executiva Regional VI, em 04 out. 2012.

  • 37

    FRANCO, T. B. O uso do fluxograma descritor e projetos teraputi-cos para anlise de servios de sade, em apoio ao planejamento: O caso de Luz - MG. In: FRANCO, T.B. O trabalho em sade: olhan-do e experienciando o SUS no cotidiano. So Paulo: HUCITEC, 2003.

    GOMES, A. M. de A.; MOURA, E. R. F.; NATIONS, M. K.; ALVES, M. do S. C. F. Etno-avaliao da humanizao hospitalar pelo usurio do Sis-tema nico de Sade (SUS) e seus mediadores. In: rev esc enferm USP 2008; 42(4):635-42.

    MERHY, E.E.; FRANCO, T.B, ET al. O trabalho em sade: olhando e experienciando o SUS no cotidiano. So Paulo: HUCITEC, 2003.

    MERHY E.E, ONOCKO R, ORGANIZADORES. Agir em sade: um de-safio para o pblico. So Paulo: Editora Hucitec, 1997.

    NEVES, C.A.B.; ROLLO. A. Acolhimento nas Prticas de Produo de Sade. Ministrio da Sade. Ncleo Tcnico da Poltica Nacional de Humanizao. 2. ed.. M.S, Braslia, 2006.

    AGrADecIMentOSA todos os funcionrios da UAPS Edmar Fujita, pelo

    entendimento da importncia de realizao da atividade e pelo envolvimento e participao na oficina, e em especial dentista Ivana dos Santos Fonseca, que participou em todas as fases de desenvolvimento da prtica.

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    ArcOS De MAGuereZ: eStrAtGIA De enSInO-APrenDIZAGeM cOM FOcO nA PrOBLeMAtIZAO

    Ana Paula Ribeiro de CastroMailson Fontes de Carvalho

    Mrcia Lcia de Oliveira GomesRoberta Alves Sousa

    Talyta Alves Chaves LimaMaria Irismar de Almeida

    Annatlia Meneses de Amorim GomesAna Mattos Brito de Almeida

    Anya Pimentel Gomes Fernandes Vieira MeyerAna Valeska Siebra e Silva

    Marcelo Gurgel Carlos da SilvaAndrea Caprara

    reSuMOConsiderado um caminho metodolgico que orienta

    a prtica pedaggica de forma crtica e reflexiva, o Arco de Charles Maguerez enfatiza a busca da autonomia intelectual do educando, oportunizando aos participantes o exerccio da cadeia dialgica de ao-reflexo-ao, tendo como pon-to de chegada e de partida a realidade social. Estudo quali-tativo do tipo relato de experincia de uma aplicao prtica do Arco de Maguerez como parte das atividades tericas e prticas do mdulo Educao e Sade II do Mestrado Pro-fissionalizante em Sade da Famlia (UECE/FIOCRUZ). Partici-param do estudo os quatro preceptores da disciplina Estgio Curricular na Rede Bsica e Ambulatorial, a qual acontece nas Unidades de Sade da ESF, de uma IES de Juazeiro do Norte, municpio este situado na Regio do Cariri, ao sul do Cear. Por meio de um convite informal, de forma verbal,

  • 39

    estes aceitaram responder a um questionrio, enviado por meio eletrnico. O conhecimento da metodologia do Arco de Maguerez proporcionou ao grupo (preceptores e alunos do mestrado) a possibilidade de reflexo e utilizao desse caminho para o trabalho de vrios aspectos vivenciados no cotidiano prtico. Apesar do perodo restrito para o aprofun-damento da fase de Teorizao e permitir a participao mais ativa das preceptoras, a atividade pode ser considera-da satisfatria, na medida em que houve a participao das mesmas na fase da Observao da Realidade e Pontos-cha-ve, etapas que foram fundamentais para que o grupo pudes-se realizar o mtodo de modo a sugerir uma Aplicao da Realidade possvel de ser executada. Finalizando a atividade, teve-se como produto a construo do arco, que abriu pos-sibilidades de transformao das metodologias empregadas para a formao dos profissionais que atuam na sade.

    Palavras-chave: Ensino. Educao. Aprendizagem.

    IntrODuOO processo de avaliao de ensino-aprendizagem

    uma das etapas fundamentais na formao de estudantes, sejam eles acadmicos ou profissionais. Avaliar exige com-petncias sem se restringir ao educando, pois o avaliador deve compreender como, por que e o qu est sendo avaliado.

    Com a homologao em 2001, pelo Ministrio da Edu-cao, de Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos da rea de sade, a qual orienta a formao de modo que contemple as necessidades do Sistema nico de Sade (SUS), sendo extremamente necessrio o desenvolvimento

  • 40

    de competncias e habilidades profissionais, trouxe a neces-sidade de uma reflexo sobre a relao teoria-prtica na gra-duao, lanando o desafio para as Instituies de Ensino a transformar seus currculos em processos de ensino-apren-dizagem-avaliao (AGUIAR; RIBEIRO, 2010).

    Neste sentido, PRADO et al. (2012) afirmam que o mo-delo tradicional vem sendo substitudo gradativamente por novas linhas pedaggicas com intuito de formar um profis-sional crtico-reflexivo, capaz de transformar sua realidade social, minimizando injustias e desigualdades.

    Dentre as novas linhas pedaggicas, ressaltamos a me-todologia da Problematizao, que possui como referncia o Arco de Charles Maguerez, apresentada por Bordenave e Pereira, em 1982, representando um caminho metodolgi-co capaz de orientar a prtica pedaggica de um educador preocupado com o desenvolvimento de seus alunos e com sua autonomia intelectual, visando o pensamento crtico e criativo alm da preparao para uma atuao poltica (PRADO et al., 2012).

    A Metodologia da Problematizao diferencia-se de outras metodologias de resoluo de problemas, devido peculiaridade processual que possui, ou seja, seus pontos de partida e de chegada, efetivando-se atravs da aplicao do estudo realidade na qual se observou o problema. Tra-ta-se de uma concepo que acredita na educao como uma prtica social e no individual ou individualizante (BERBEL, 1998, p. 36).

    A riqueza dessa metodologia est em suas caracters-ticas e etapas, despertando nos participantes diferentes habilidades intelectuais dos sujeitos, demandando, porm,

  • 41

    disposio e esforos pelos que a desenvolvem, buscando seguir sistematizadamente a sua orientao bsica, como objetivo de alcanar os resultados pretendidos (COLOMBO; BERBEL, 2007).

    A metodologia da problematizao, representada pelo Arco de Maguerez, pode ser compreendida como um ca-minho metodolgico de ensino, de estudo e de trabalho, que pode ser utilizado sempre que o tema, problema, situa-es estejam relacionados com a vida na sociedade, e estar dividido em cinco etapas: Observao da Realidade Social, Pontos-chave, Teorizao, Hiptese de soluo e Aplicao da Realidade (BERBEL, 1998; COLOMBO; BERBEL, 2007; MO-RAES; BERBEL, 2006; PRADO et al. 2012). Apresentado pela Figura 1:

    Figura 1: Representao do Arco de Maguerez.

  • 42

    O Arco de Maguerez oportuniza aos participantes a exercitarem a cadeia dialgica de ao-reflexo-ao, tendo como ponto de chegada e de partida a realidade social.

    Neste relato, buscaremos discutir as dificuldades do processo de avaliao terico/prtico na sade, e estratgias de resoluo de problemas que associem Academia e Servi-os de Sade, a partir da realidade de preceptores de uma Instituio de Nvel Superior, simulando a construo de um arco a partir dessa realidade pelos mestrandos do Curso Profissionalizante em Sade da Famlia (UECE/FIOCRUZ).

    cAMInHO PercOrrIDOEstudo qualitativo do tipo relato de experincia de uma

    aplicao prtica do Arco de Maguerez como parte das ati-vidades tericas e prticas do mdulo Educao e Sade II do Mestrado Profissionalizante em Sade da Famlia (UECE/FIOCRUZ).

    A implementao da proposta ocorreu na Regio do Cariri do Cear, em especial nas Unidades de Sade da Fam-lia do municpio de Juazeiro do Norte. Participaram da ati-vidade quatro preceptores da disciplina Estgio Curricular na Rede Bsica e Ambulatorial, de uma Instituio de Ensino Superior (IES) de Juazeiro do Norte de Juazeiro do Norte.

    Os participantes foram convidados verbalmente a par-ticiparem da proposta, durante uma reunio na IES, ao qual trabalham. Logo aps o aceite, estes receberam um ques-tionrio semiestruturado, enviado por meio eletrnico, com o objetivo de apreender as dificuldades em relao ao pro-cesso de avaliao terico-prtico durante a permanncia

  • 43

    com discentes na ESF, com a pergunta norteadora: Qual a(s) principal (is) dificuldade (s), como preceptores, em relao ao processo de avaliao terico-prtico na disciplina de Es-tgio Supervisionado na Rede Bsica e Ambulatorial? Esse questionamento foi respondido por todas as participantes nos dias 10 e 11 de dezembro do mesmo ano.

    Aps esta etapa, a proposta apresentada e a metodolo-gia adotadas foram esclarecidas, sendo disponibilizados tex-tos sobre os assuntos, para melhor compreenso, buscando facilitar a participao na discusso e observao da realida-de social, sendo esta a primeira etapa do Arco de Maguerez.

    reSuLtADOS e DIScuSSOA partir dos relatos, foram extrados os Pontos-chave,

    segunda etapa da metodologia, onde se procurou refletir sobre as possveis causas da problemtica, sendo eles apon-tados a seguir: Desnivelamento dos acadmicos em relao ao conhecimento terico-prtico (apontado por todas as participantes); avaliao quantitativa superando a qualita-tiva (sendo valorizada inclusive pelos acadmicos); neces-sidade de discusso sobre o processo de avaliao entre professores supervisores, preceptores e discentes (conside-ram importante a participao do acadmico na discusso da construo dos instrumentos de avaliao da disciplina); Necessidade de adequao do instrumento de avaliao da disciplina (ponto colocado por todas as participantes); e existncia de contedos tericos em sala de aula alternados com as atividades prticas no campo de estgio.

    Em seguida, realizou-se a Teorizao, com o intuito de embasar teoricamente, atravs de textos tcnico-cientficos,

  • 44

    uma construo alicerada para culminar na resoluo satis-fatria do problema apresentado. Prado et al. (2012, p.175) enfatizam que [...] uma teorizao bem desenvolvida leva o sujeito a compreender o problema, no somente em sua manifestao baseada na exposio ou situaes, mas tam-bm em princpios tericos que os explicam.

    Os contedos considerados necessrios compreen-so foram:

    Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduao em Enfermagem (BRASIL, 2001);

    Textos relacionados discusso sobre avaliao por competncia (AGUIAR; RIBEIRO, 2009);

    Literatura abordando o feedback como estratgia para o processo de ensino e avaliao (ZEFERINO; DOMINGOS; AMARAL, 2007);

    Literatura abordando a avaliao, a partir das re-flexes de Cipriano Carlos Luckesi, estudioso na rea de avaliao da aprendizagem (CAVALCANTE NETO; AQUINO, 2009; LUCKESI, 2005).

    O objeto das DCN de Cursos de Graduao de Sade visa permitir que os currculos possibilitem a construo do perfil acadmico e profissional com competncias, habilida-des e contedos para formar profissionais capazes de atuar com qualidade, eficincia e resolutividade no SUS (BRASIL, 2001). Objetiva, ainda, que os estudantes dos cursos de gra-duao em sade possam aprender a aprender, onde nes-te devem estar contido o aprender a ser, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a conhecer, capacitan-do-os com autonomia e discernimento para assegurar uma

  • 45

    atuao profissional aos indivduos, famlia e/ou comunida-de, pautada na integralidade da ateno, qualidade e huma-nizao.

    Em relao formao do profissional enfermeiro, a mesma fonte coloca que este deve ter uma formao gene-ralista, humanstica, crtica e reflexiva, alm de estar pautado nos princpios ticos que regem o exerccio da profisso. Es-pecificando as competncias gerais ao final da sua qualifi-cao, como: Ateno sade, tomada de deciso, comuni-cao, liderana, administrao, gerenciamento e educao permanente, aponta, ainda, as habilidades especficas que devem ser trabalhadas a adquiridas durante o processo for-mativo.

    Esse conjunto de competncias e habilidades permite, ao futuro profissional, a capacidade de desenvolvimento in-telectual e profissional de forma autnoma e permanente.

    A partir dessas pontuaes, a avaliao dos contedos terico-prticos em disciplinas de estgio curricular deve contemplar aspectos relacionados competncia e habili-dade, fazendo uma anlise singular de cada sujeito envol-vido no processo avaliativo, pois, problemas como o des-nivelamento de contedos tericos e prticos, apontados pelas participantes, podem ser considerados pontos desfa-vorveis em avaliaes com instrumentos fechados, sem dar margem a complementaes e observaes individuais de cada acadmico. (Grifo nosso)

    Cavalcante Neto e Aquino (2009) corroboram com os estudos de Cipriano Carlos Luckesi quando colocam que o papel da avaliao diagnosticar a situao da aprendiza-gem, sendo esta processual, dinmica e inclusiva, pois de-

  • 46

    vem procurar meios em que todos possam aprender o que necessrio para o seu prprio desenvolvimento.

    Destacam, ainda, que o ato de avaliar implica na dis-posio pelo docente de acolher a realidade como ela , seja satisfatria ou no, sendo compreendida como um ato amoroso e acolhedor, onde o avaliador (professor) observa atentamente a sua realidade (aprovando ou desaprovando), de forma a enxergar possibilidades de criao de estratgias de superao dos limites e ampliao das possibilidades.

    O ato de avaliar, deste modo, no deve ser um impositi-vo, mas, sobretudo dialgico, amoroso e construtivo. Quan-do se realiza uma avaliao, proporciona-se uma melhor construo da realidade apresentada (LUCKESI, 2005)

    A realizao da aprendizagem realizada por uma sim-ples verificao quantitativa, construda por meio de provas, testes e exames, presentes na grande maioria das escolas de ensino fundamental e mdio, transporta-se s IES, onde ao professor resta a transmitir informaes e corrigi-las. Este tipo de avaliao verifica apenas o resultado final (aprovado ou desaprovado), e no o processo, ocultando outros aspec-tos relevantes, como habilidades e competncias que so tambm necessrios formao profissional (LUCKESI, 2005; CAVALCANTE NETO; AQUINO, 2009; AGUIAR; RIBEIRO, 2010).

    A necessidade de reorientar os instrumentos de avalia-o de modo a proporcionar uma discusso entre o corpo docente e discente intrigante e inovadora (grifo nosso), pois pode possibilitar, como coloca Luckesi (2005), tomar conhecimento do que se aprende ou no e reorientar para serem superadas as dificuldades.

  • 47

    A necessidade de adequao dos instrumentos de ava-liao da disciplina sinaliza um reflexo da construo ver-ticalizada do mesmo, realizada pelas docentes da IES, sem a participao dos atores envolvidos no processo ensino-aprendizagem (preceptoras, e por que no, discentes). Re-metendo a reflexes necessrias para a melhoria desse pro-cesso formativo, onde a responsabilidade de qualificao de profissionais que atendam teoricamente e eticamente s necessidades da populao/comunidade, torna-se um com-promisso de todos os envolvidos (professores, preceptores e demais profissionais da IES).

    A construo da quarta etapa do Arco de Maguerez consiste na elaborao de possveis solues, hipteses de soluo, onde de forma crtica, criativa e embasada os parti-cipantes contribuem com solues viveis para a problem-tica. Pontuam-se as seguintes hipteses de soluo:

    necessidade de discusso sobre avaliao do ensi-no-aprendizagem com a participao de todos os atores envolvidos nesse processo (professores, pre-ceptores e discentes);

    reviso conjunta dos instrumentos de avaliao da disciplina;

    necessidade de rever outras formas de avaliao, de modo continuado, sem se restringir a perodos de avaliaes parciais;

    incluso de metodologias ativas nas revises te-ricas, adequando as competncias e habilidades a serem desenvolvidas no processo formativo pela disciplina.

  • 48

    A partir dessa fase, a aplicao da realidade, ltima etapa da metodologia, consiste em propor Coordenao do Curso da IES o desenvolvimento de uma oficina para a discusso da temtica avaliao, como parte das atividades da Semana Pedaggica, estendendo s demais disciplinas, utilizando a metodologia do Arco de Maguerez, possibili-tando uma interveno a partir da realidade concreta, com o objetivo de uma mudana para a melhoria do processo ensino-aprendizagem.

    cOnSIDerAeS FInAIS Percebemos a importncia da Metodologia da Proble-

    matizao e seu potencial pedaggico, a ser realizada por meio das cinco etapas do Arco de Maguerez. No transcorrer da atividade, na anlise de cada etapa da Metodologia, foi possvel verificar que existem vrios saberes envolvidos nes-se processo e que do suporte aos participantes que dela se utilizam (COLOMBO; BERBEL, 2007).

    O conhecimento da metodologia do Arco de Mague-rez proporcionou ao grupo a possibilidade de reflexo e utilizao desse caminho para o trabalho de vrios aspectos vivenciados no cotidiano prtico. Apesar do perodo restrito para o aprofundamento da fase de Teorizao e permitir a participao mais ativa das preceptoras, a atividade pode ser considerada satisfatria, na medida em que houve a par-ticipao das mesmas na fase da Observao da Realidade e Pontos-chave, etapas que foram fundamentais para que o grupo pudesse realizar o mtodo de modo a sugerir uma Aplicao da Realidade possvel de ser executada.

  • 49

    Figura 2: Construo do Arco de Maguerez.

    verificar que existem vrios saberes envolvidos nesse processo e que do suporte

    aos participantes que dela se utilizam (COLOMBO; BERBEL, 2007).

    O conhecimento da metodologia do Arco de Maguerez proporcionou ao grupo

    a possibilidade de reflexo e utilizao desse caminho para o trabalho de vrios

    aspectos vivenciados no cotidiano prtico. Apesar do perodo restrito para o

    aprofundamento da fase de Teorizao e permitir a participao mais ativa das

    preceptoras, a atividade pode ser considerada satisfatria, na medida em que houve

    a participao das mesmas na fase da Observao da Realidade e Pontos-

    chave, etapas que foram fundamentais para que o grupo pudesse realizar o mtodo

    de modo a sugerir uma Aplicao da Realidade possvel de ser executada.

    Figura 2: Construo do Arco de Maguerez.

    DIFICULDADES NO PROCESSO DE AVALIAO TERICO/ PRTICO

    Dificuldades no processo de avaliao terico-prtico na disciplina de Estgio Curricular na Rede Bsica e Ambulatorial em uma IES.

    Necessidades de rever as formas de avaliao da disciplina.

    BRASIL (2007); (AGUIAR; RIBEIRO, 2009); (ZEFERINO, DOMINGUES, AMARAL, 2007); (CAVALCANTE NETO, AQUINO, 2009); (LUCKESI, 2005).

    Desnivelamento dos acadmicos em relao ao conhecimento terico-prtico; avaliao quantitativa superando a qualitativa, necessidade de discusso sobre o processo de avaliao entre professores supervisores, preceptores e discentes; necessidade de adequao do instrumento de avaliao da disciplina; e existncia de contedos tericos em sala de aula alternados com as atividades prticas no campo de estgio.

    Necessidade de discusso sobre

    avaliao do ensino-aprendizagem

    com a participao de todos os

    atores envolvidos nesse processo

    (professores, preceptores e

    discentes); reviso conjunta dos

    instrumentos de avaliao da

    disciplina; necessidade de rever

    outras formas de avaliao, de

    modo continuado, sem se restringir

    a perodos de avaliaes parciais;

    incluso de metodologias ativas nas

    revises tericas, adequando as

    competncias e habilidades a

    serem desenvolvidas no processo

    formativo pela disciplina.

    Desenvolvimento de uma oficina para a discusso da temtica avaliao, como parte das atividades da Semana Pedaggica, estendendo s demais disciplinas, utilizando a metodologia do Arco de Maguerez.

    reFerncIASAGUIAR, A. C. de; RIBEIRO, E. C. de. O conceito e avaliao de habili-dades e competncias na educao mdica: percepes atuais dos especialistas. rev. Bras. De ed. Mdica. n. 34, v.3, p. 371-378, 2010.

    BERBEL, N. A. A. A problematizao e a aprendizagem baseada em problemas: diferentes termos ou diferentes caminhos? Interface: comunicao, Sade e educao, fev., 1998.

    BRASIL, Ministrio da Educao, Conselho Nacional de Educao. Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduao em En-fermagem, Medicina e Nutrio. Parecer n: cne/ceS 1. 133/2001, 2001.

  • 50

    CAVACANTI NETO, A. L. G.; AQUINO, J. de L. F. A avaliao da apren-dizagem como ato amoroso: o que o professor pratica? educao em revista, Belo Horizonte. V. 25, n. 2, p. 223-240, 2009.

    COLOMBO, A. A.; BERBEL, N. A. N. A metodologia da problemati-zao com o Arco de Maguerez e sua relao com os saberes dos professores. Semina: cincias Sociais e Humanas. Londrina. V. 28, n.2, p. 121-146, jul/dez, 2007.

    LUCKESI, C. C. Avaliao da aprendizagem na escola: Reelabo-rando Conceitos e Criando a Prtica. 2.ed. Salvador: Malabares Co-municaes e Eventos, 2005.

    MARINHO, M. N. A. S. B.; BIONE, D. A.O P. MOTA, S. M. A.; MOTA, D. N.; FEITOSA, M. D. S.; MACHADO, M. F. A. S. Arco de charles Mague-rez: vivenciando a tcnica na formao de estudantes de mestrado.www.convibra.org/upload/paper/2013/59/2013_59_7710.pdf.

    MORAES, K. C. de; BERBEL, N. A. N. O uso da metodologia da proble-matizao para a investigao sobre avaliao da aprendizagem. O que h de especfico para o ensino superior? Semina: cincias Sociais e Humanas. Londrina, v. 27, n. 2, p. 169-186, jul/dez, 2006.

    PRADO, M. L. do et al. Arco de Charles Maguerez: Refletindo Estrat-gias de Metodologia Ativa na Formao de Profissionais de Sade. rev. esc. Anna nery, n. 16, v. 1, jan/mar, p. 172-177, 2012.

  • 51

    cAMInHOS DAS PrtIcAS InteGrAtIVAS nA SADe: reLAtOS DA ArtIcuLAO entre OcAS

    cOMunItrIAS e A eStrAtGIA SADe DA FAMLIA

    Ana Cybele Peixoto de AndradeCarlos Eduardo de Sousa Praxedes

    Eliene de Frana Mascarenhas Francisco Pereira Jnior Feitosa

    Herta Maria Castelo Branco RibeiroJoyce Bezerra Portela de Deus

    Lizaldo Andrade MaiaAna Patrcia Pereira Morais

    Raimundo Augusto Torres MartinsMaria Rocineide Ferreira da Silva

    Maria Irismar de AlmeidaZeni Carvalho Lamy

    Annatlia Meneses de Amorim GomesAnya Pimentel Gomes Fernandes Vieira Meyer

    reSuMOOriginado a partir de atividade prtica desenvolvida no

    Mestrado Profissional em Sade da Famlia da Rede Nordes-te de Formao em Sade da Famlia (RENASF), atravs das nucleadoras FIOCRUZ do Cear e Universidade Estadual do Cear (UECE), o presente artigo traz o relato de experin-cia realizada na Oca Comunitria de Sade do bairro So Cristvo, no municpio de Fortaleza Cear e as reflexes resultantes desta aproximao. Aborda as diretrizes que in-centivam a Poltica Nacional de Prticas Integrativas e Com-

  • 52

    plementares (PNPIC) em todos os nveis de ateno, com nfase na ateno primria, compreendendo estas prticas como importantes instrumentos para a ateno integral e o cuidado em sade. A oca comunitria espao teraputico que tem o papel de ampliare articularas prticas integrati-vas ecomplementares de cuidado s redes de servios de sade. O carter interventivo resultou na produo, alm deste artigo, de um vdeo das prticas integrativas realiza-das no local de interveno. Na sua elaborao foram rea-lizadas entrevistas semiestruturadas, filmadas, com usurio da comunidade assistida e com a profissional responsvel pela oca, durante o ms de junho de 2012, resguardando-se os cuidados ticos necessrios. O estudo permitiu a reflexo dos mestrandos sobre o acesso aos servios que desenvol-vem estas prticas e sua legitimidade perante profissionais e usurios, a conexo existente entre a educao popular e a Estratgia Sade da Famlia e a contribuio destes espaos para a resolutividade dos agravos de sade da populao, atravs de uma prtica de cuidado acolhedora e cidad.

    Palavras-chave: Prticas Integrativas. Estratgia Sade da Famlia. Ocas Comunitrias. Ateno Integral.

    IntrODuOA ideia deste artigo nasceu de uma atividade desenvol-

    vida no mdulo de Ateno Integral do Mestrado Profissio-nal em Sade da Famlia da Rede Nordeste de Formao em Sade da Famlia (RENASF), atravs das nucleadoras Funda-o Osvaldo Cruz (FIOCRUZ) do Cear e Universidade Esta-dual do Cear (UECE). O Mestrado Profissional em Sade da Famlia entende os servios de sade como locais de produ-

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    o de conhecimento e prope o desenvolvimento do po-tencial analtico e a capacidade de reflexo crtica dos profis-sionais da Estratgia de Sade da Famlia (ESF), objetivando a mudana no modelo assistencial vigente para o fortaleci-mento do Sistema nico de Sade (SUS). O trabalho desen-volvido no mdulo do mestrado nos possibilitou entrar em contato com a temtica das Prticas Integrativas e Comple-mentares, e a priori o objetivo foi verificar como se efetiva o cuidado integral a partir desta lgica de atendimento, alm de reconhecer que prticas podem ser encontradas nos di-versos territrios de produo da sade na periferia de uma grande cidade. Neste sentido, este estudo tem ainda o intui-to de compreender a correlao existente entre o processo de trabalho das equipes da ESF e a efetividade da PNPIC.

    O municpio de Fortaleza - CE possui trs ocas de sa-de comunitria, localizadas nos bairros Granja Portugal, So Cristvo e Pirambu. Tais equipamentos de sade foram construdos na perspectiva de garantir a um segmento da populao com dificuldades de acesso aos servios de sa-de, uma ao complementar, capaz de ampliare articularas prticas integrativas e complementares de cuidado s re-des de servios de sade, oferecendo ateno integral. Tal configurao denota das diretrizes que incentivam a inser-o da Poltica Nacional de Prticas Integrativas e Comple-mentares (PNPIC) em todos os nveis de ateno, com nfa-se na ateno primria. A Oca um espao teraputico, que atende aos moradores da comunidade e adjacentes; conta com servios de massoterapia, grupos de resgate de autoes-tima, terapias comunitrias, spa de massagem anti-estresse com argila, banho de ofur e reza. Neste local tambm se potencializam prticas populares de cuidado, assumidas

  • 54

    cotidianamente, por cuidadores, agregando a discusso da necessidade do seu reconhecimento em uma sociedade na qual poder de compra quem dita regras e as redes de so-lidariedade e apoio social esto em sua maioria invisibiliza-das, afinal quem tem o interesse de torn-las visveis? Que modelo de ateno daria conta de assumi-las como impor-tante fonte de cuidado aos cidados?

    Este trabalho resultou na criao de um vdeo das pr-ticas integrativas realizadas na oca do bairro So Cristvo, mas as reflexes originadas a partir desta experincia extra-polaram a esfera desta produo e esto expostas no corpo deste artigo.

    A partir de entrevistas semiestruturadas, filmadas e depois transcritas, com usurios da comunidade assistida e com o profissional responsvel pela oca durante o ms de junho de 2012, o estudo permitiu a reflexo sobre o acesso aos servios e sobre a sua resolutividade nos agravos de sa-de da populao.

    Alguns questionamentos permearam nossa reflexo sobre o processo de articulao dos profissionais da Estra-tgia Sade da Famlia (ESF) com os profissionais da Oca Co-munitria do seu territrio para efetivao da PNPIC. Den-tre estes, destacamos os que encaminharam a construo deste trabalho: As equipes da ESF (EqSF), seja das Unidades Bsicas de Sade (UBS) ou dos Ncleos de Apoio Sade da Famlia (NASF), conhecem as Prticas Integrativas e Com-plementares realizadas na Oca Comunitria? Integram esse conhecimento na compreenso do processo sade-doen-a? Utilizam essas prticas no atendimento dos usurios do seu territrio? Existe parceria entre os Centros de Sade da Famlia e as Ocas Comunitrias?

  • 55

    Estas inquietaes direcionaram buscas tericas que sustentaram nossa aproximao emprica, baseados nas quais a partir do contato com aquele espao de promoo da sade, atribuam importncia e significado na rede de ateno sade.

    A cOnStruO DAS reDeS De AtenO SADe: ALternAtIVA PArA A InteGrALIDADe DO cuIDADO

    Ao longo da histria, encontramos diversos modelos assistenciais de ateno sade. Paim define que os mo-delos de ateno sade no representam algo exemplar e nico, portanto estes modelos no se desenvolvem de for-ma unidirecional e esttica, podendo encontrar uma multi-plicidade de modelos sendo praticados nas vrias instncias SUS (PAIM, 2008, p.549).

    Os modelos so sistemas lgicos que organizam o fun-cionamento das Redes de Ateno Sade (RAS) e o pro-cesso de trabalho. Paim (2008) distingue modelo assisten-cial - relacionado com os processos internos dos servios de sade e o modelo organizacional-gerencial dos servios de sade, relacionado estrutura do sistema.

    O Brasil tem uma situao epidemiolgica singular em que encontramos uma tripla carga de doenas porque envolve, ao mesmo tempo: uma agenda no concluda de infeces [...] o desafio das doenas crnicas e seus fatores de risco [...] e o forte crescimento das causas externas (MEN-DES, 2012, p. 37). Assim, os cuidados das condies de sade perpassam por modelos de ateno s condies crnicas e s condies agudas.

  • 56

    As condies agudas, em geral, apresentam curso curto, inferior a trs meses de durao, e tendem a se autolimitar; ao contrrio as condi-es crnicas tm um perodo mais ou menos longo, superior a trs me-ses, e nos casos de algumas doenas crnicas, tendem a se apresentar de forma definitiva e permanente (MENDES, 2012, p.32).

    O modelo das condies agudas responde pelas de-mandas espontneas da populao, por eventos agudos ou agudizaes das condies crnicas, o trabalho direciona-do de forma reativa e episdica, estrutura-se em classifica-o de risco, com base em uma rede de ateno voltada para as urgncias e as emergncias. O modelo das condies cr-nicas est voltado para responder s necessidades de forma proativa e contnua, compreende que condies de sade vo alm da doena, foca nas pessoas, nas famlias por meio de cuidados, onde o plano teraputico elaborado conjun-tamente pela equipe de sade e pelas pessoas usurias, im-pondo, assim, aos processos internos dos servios de sade e estrutura do sistema uma reformulao profunda, visan-do dar conta de forma eficiente e eficaz desta nova forma de demanda.

    A efetivao deste cuidado implica aes intersetoriais, gesto compartilhada e pactuada, que seja capaz de articu-lar um conjunto de aes, tanto individuais como coletivas, de promoo e proteo da sade, diagnstico precoce, li-mitao do dano e reabilitao, nos diversos nveis de com-plexidade do sistema de sade.

  • 57

    A pessoa passa a ser compreendida em sua totalidade, levando-se em conta aspectos biolgicos, psicolgicos e socioculturais a partir de uma assistncia multiprofissional integral que, mesmo considerando a dimenso individual,

    apresenta um carter completo, va-lorizando as interaes entre os su-jeitos e a construo de vnculos na ateno entre os usurios do cuidado e os cuidadores. A conversao sujei-to-equipe possibilitaria a apreenso das necessidades que orientariam o estabelecimento do projeto terapu-tico-assistencial (PAIM, 2010, p.6).

    A comunicao entre as Redes de Ateno Sade tor-na-se um fator fundamental para articulao do cuidado, na medida em que todos os nveis de ateno sade: prim-rio, secundrio e tercirio, assim como os sistemas de apoio e sistemas logsticos devem comunicar-se entre si, em forma de rede polirquicas de ateno sade. O sistema sai da concepo de hierarquia e passa para uma dimenso hori-zontal onde a Ateno Primaria em Sade (APS) coordena os diversos pontos de ateno de distintas densidades tecno-lgicas com mesmo grau de importncia entre eles (GIOVA-NELLA, 2008; MENDES, 2012).

    AS reDeS De AtenO SADe nA AtenO PrI-MrIA

    As Redes de Ateno Sade denominam um conjunto de servios de sade, baseados no conceito de integrao, unidos por objetivos comuns e aes intersetoriais de traba-

  • 58

    lho, com o propsito de garantir ateno contnua e integral sade de uma populao em determinado territrio, as-sumindo responsabilidades sanitria e econmica por essa populao (MENDES, 2012).

    As Redes de Ateno podem melhorar o acesso, a quali-dade clnica, os resultados sanitrios, a satisfao do usurio e a eficincia, reduzindo os custos dos sistemas de ateno sade, e dentro de um quadro geral de melhoria da equi-dade (MENDES, 2008). O fluxo da rede de cuidado, segundo Franco (2006), estabelecido pelos prprios trabalhadores, no mbito do seu territrio, em busca de atender aos proje-tos teraputicos. Assim o cuidado vai se constituindo na rede que se formou a partir da busca de resolutividade, permite a construo criativa de fluxos de conexo dos trabalhadores entre si e com outras unidades de sade dos diversos nveis de ateno.

    Nesse contexto, a APS deixa de ser apenas um nvel de ateno responsvel por encaminhar indivduos para os de-mais nveis e adquire o importante papel de eixo ordenador do Sistema de Sade integralizado. Sem uma Ateno Pri-mria organizada e preparada para cumprir a sua tarefa de identificar as necessidades de sade e planejar os demais n-veis de ateno, no haver Redes de Ateno Sade com resultados clnicos, sanitrios e econmicos do sistema de ateno satisfatrios.

    Dentre os elementos constitutivos das Redes de Aten-o Sade destacamos:

    Uma populao colocada sob sua responsabilida-de sanitria e econmica num determinado espa-o territorial;

  • 59

    A estrutura operacional ou os servios de sa-de (pontos da rede) devidamente caracterizados quanto s suas funes e objetivos;

    O modelo de ateno sade: sistema lgico que organiza o funcionamento das redes de ateno sade.

    A lgica de atuao em Redes de Ateno Sade exige abranger a articulao das aes alm do mbito da sade, envolvendo educao, previdncia, assistncia social, habitao, saneamento, meio ambiente, emprego e renda, justia, segurana pblica, entre outras, garantindo, assim, a integralidade da ateno sade da populao.

    Segundo o Ministrio da Sade (2008), os eixos nortea-dores para a organizao das Redes de Ateno Sade so:

    Centralidade nas necessidades do usurio-cidado definidas por sua insero socioeconmica e cultu-ral em seu territrio;

    Longitudinalidade e vnculo dando continuidade aos processos e aos fluxos de produo;

    Intersetorialidade;

    Construo de objetivos comuns e racionalidade sistmica;

    Complementaridade e interdependncia;

    Pluralidade, democratizao e transparncia;

    Territorializao;

  • 60

    Modelos de ateno fundamentados na organiza-o do cuidado pela APS com garantia da continui-dade da ateno, formao de vnculo teraputico e a corresponsabilizao clnica durante todo o processo de permanncia do cidado no sistema de sade, em seus diversos espaos de ateno;

    Participao e Controle Social.

    As Redes de Ateno Sade englobam os Territrios Integrados de Ateno Sade (TEIAS) que contemplam arti-culaes da ESF com: vigilncia em sade (ambiental, sanit-ria e epidemiolgica); garantia de acesso aos medicamentos; cobertura de Unidades de Pronto Atendimento (UPA), Servi-o de Atendimento Mvel de urgncia (SAMU) e Hospital (geral e maternidade); sade bucal; sade mental; sade do trabalhador; unidades especializadas com adensamento tec-nolgico; aes intersetoriais com as demais polticas sociais; instncia de gesto regional de acordo o Pacto pela Sade.

    As Ocas Comunitrias do municpio de Fortaleza consti-tuem-se um dos pontos da RAS, na medida em que efetivam as prticas integrativas e complementares, elemento de dis-cusso em seguida.

    PrtIcAS InteGrAtIVAS e cOMPLeMentAreS nA AtenO InteGrAL SADe

    Na busca da garantia da integralidade na ateno sa-de, atuando no campo da preveno de agravos e da pro-moo, manuteno e recuperao da sade, o Ministrio da Sade publicou a Poltica Nacional de Prticas Integrati-vas e Complementares (PNPIC) no SUS, em 2006. Esta polti-

  • 61

    ca atende, sobretudo, necessidade de se conhecer, apoiar, incorporar e implementar experincias que j vinham sendo desenvolvidas na rede pblica de muitos municpios e esta-dos, entre as quais se destacam: Medicina Tradicional Chine-sa - Acupuntura, Homeopatia, Plantas Medicinais e Fitotera-pia, Medicina Antroposfica, Termalismo-Crenoterapia.

    Esta poltica visa promover a racionalizao das aes de sade, estimulando aes inovadoras e socialmente con-tributivas ao desenvolvimento sustentvel de comunidades e estimular atos referentes ao controle/participao social, promovendo o envolvimento responsvel e permanente dos usurios, gestores e trabalhadores nas diferentes instncias de efetivao das polticas de sade. A publicao desta por-taria foi uma conquista para a sade pblica brasileira, pois promoveu a incluso de prticas de cuidado que se sobre-pem ao modelo centrado na doena, possibilitando o foco na pessoa e em suas relaes, envolve a promoo da sade no aspecto de cuidado integral e humanizado do sujeito, en-fim outra racionalidade no processo de produo da sade.

    Esta reorganizao da assistncia permite que seja desconstrudo o modelo do especialismo e dos encaminha-mentos, onde cada profissional realiza individualmente seu atendimento, sem a responsabilizao continuada pelo su-jeito do seu territrio.

    Assim entende-se que sade um fenmeno integral que s pode ser acessado atravs da interao entre as par-tes (cuidador e paciente) e do dilogo. Portanto, cada vez mais crescente a necessidade de despertar a humanidade de cada trabalhador e garantir abordagens humanizadas por parte destes.

  • 62

    MetODOLOGIA

    natureza do estudoA presente pesquisa utilizou a abordagem qualitativa

    que busca compreender a lgica interna dos grupos, insti-tuies e atores sociais, no universo dos significados, dos motivos, das aspiraes, das crenas, dos valores e das atitu-des; assim como das relaes entre indivduos, instituies e movimentos sociais, contextualizando no processo histri-co, social, cultural, poltico em que esto sendo produzidos (MINAYO, 2010).

    referencial terico-metodolgicoA proposta de tratar as percepes dos profissionais

    da Estratgia Sade da Famlia sobre as prticas integrati-vas realizadas nas Ocas Comunitrias implica em adotar um referencial terico-metodolgico que privilegie o enfoque compreensivo. A opo por este enfoque deu-se em virtude necessidade de um referencial capaz de captar o sentido da ao social entre os indivduos.

    Segundo Minayo (2010, p. 100), as pesquisas com-preensivas possuem elementos comuns:

    (a) Seu foco uma experincia vi-vencial e o reconhecimento de que as realidades humanas so comple-xas; (b) o contato com as pessoas se realiza nos seus prprios contextos sociais (c) A relao entre o inves-tigador e os sujeitos investigados enfatiza o encontro intersubjeti-vo[...] (d) Os textos provenientes de

  • 63

    anlises compreensivas apresentam a realidade de forma dinmica e evi-denciam o ponto de vista dos vrios atores ante a um projeto social sem-pre em construo e projeo para o futuro [...].

    Adotar este enfoque terico-metodolgico possibilita a reflexo a partir das interpretaes das prprias experin-cias subjetivas dos participantes. Objetiva-se verificar como se efetiva o cuidado integral a partir desta lgica de aten-dimento, alm de reconhecer que prticas podem ser en-contradas nos diversos territrios de produo da sade na periferia de uma grande cidade e compreender a correlao existente entre o processo de trabalho das equipes da ESF e a efetividade da PNPIC.

    O campo emprico do estudoO estudo foi realizado no municpio de Fortaleza, no

    Estado do Cear. Este municpio encontra-se dividido ad-ministrativamente em seis Secretarias Executivas Regionais (SER); possui trs ocas de sade comunitria, localizadas nos bairros Granja Portugal, So Cristvo e Pirambu; tendo sido delimitado como campo de estudo a Oca Comunitria do So Cristvo localizada na SER VI.

    Esta Regional composta por 29 bairros, possui 42% do territrio do municpio de Fortaleza, sendo uma das mais populosas e tambm mais pobres da capital, apresenta o maior ndice de analfabetismo; sua populao composta por 600 mil habitantes. Deste modo, a escolha por este cam-po deveu-se ao perfil da Regional, pois a maioria desta po-

  • 64

    pulao necessita do SUS como sua nica forma de acesso a servios de sade (RELATRIO DE GESTO, 2007).

    Participantes da PesquisaConstituram-se como participantes da pesquisa: a

    coordenadora da Oca Comunitria do So Cristvo e uma usuria deste servio. Importante destacar que a pesquisa no objetivou buscar dados em quantidade ou por satura-o, mas trata-se de uma abordagem qualitativa, resultante de uma experincia no campo das PNPIC, na qual foram pri-vilegiadas as falas dos sujeitos que vivenciam este espao cotidianamente, especificamente a coordenadora e uma usuria que frequenta assiduamente a oca desde sua im-plantao no bairro.

    tcnicas e Instrumentos de coleta dos Dados A coleta de dados foi realizada atravs de entrevista se-

    miestruturada com os participantes. Segundo Minayo (2010), a entrevista semiestruturada obedece a um roteiro, segue uma sequncia de questes, que possibilita ao entrevistado discorrer sobre o tema proposto, facilitando a abordagem e garantindo ao pesquisador, que os pressupostos sero abor-dados. As entrevistas foram gravadas e transcritas aps a as-sinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    Mtodo de Anlise e Interpretao dos DadosPara a etapa de organizao e anlise dos dados, esco-

    lheu-se a anlise temtica, pois para Minayo (2010, p.309), este tipo de modalidade considerada apropriada para as investigaes qualitativas em sade.

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    Minayo (2010, p. 316) afirma que:

    Fazer uma anlise temtica consiste em descobrir os ncleos de sentido que compem uma comunicao cuja presena ou frequncia signifi-quem alguma coisa com o objetivo analtico visado [...] qualitativamen-te a presena de determinados te-mas denota os valores de referncia e os modelos de comportamentos presentes no discurso.

    A anlise temtica nesta pesquisa buscou transformar os dados brutos coletados nas entrevistas, em informaes elaboradas, visando compreender a realidade.

    Aspectos ticos Esta pesquisa seguiu os cuidados ticos necessrios e

    utilizou termo de consentimento livre e esclarecido.

    reSuLtADOS e DIScuSSeS

    Ocas comunitrias: espao de articulao do cuida-do nas palavras de quem as vivencia

    A PNPIC, nas suas diversas prticas, d nfase escu-ta acolhedora, o desenvolvimento do vnculo teraputico, a integrao do ser humano com o meio ambiente e a socie-dade; compartilha uma viso ampliada do processo sade-doena e da promoo global do cuidado humano, espe-cialmente do autocuidado. Um dos objetivos propostos o aumento da resolutividade; garantindo qualidade, eficcia,

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    eficincia e segurana no uso. Envolve tambm uma relao estreita com diversos saberes e aspectos culturais.

    Embasadas numa interao com mltiplos saberes, as prticas integrativas e complementares desenvolvidas na Oca So Cristvo reforam a compreenso da sua dimen-so de estabelecimento de vnculo, respeito cultura po-pular e instrumento de promoo da sade, destacamos a percepo da coordenadora da oca comunitria acerca da relao que este servio de sade estabeleceu com os pro-fissionais do Centro de Sade da Famlia, que legitimam os trabalhos e ainda tornam-se usurios desta interveno:

    Ento assim, a relao da gente eu considero que boa, de vez em quando vem um mdico tomar uma massagem, de vez em quando vem a enfermeira, de vez em quando vem um atendente da ginecologia, de vez em quando eles vem aqui a procura do atendimento, ento eles mandam e eles mesmos vem. Eles vem aqui v ah tem um chazinho? Ento, essa parceria eu considero boa, n? (Entrevista 2).

    Todavia, segundo a coordenadora entrevistada, h, na mesma equipe, profissionais que ainda no compreendem a diversidade das prticas propostas pela oca comunitria:

    Ento, tem alguns agentes de sade n, que so agentes de sade que talvez por no