prática de recursos no processo civil - gediel claudino de araujo júnior - 2015

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P --TICA DE CURSOS NO PROCESSO CIVIL Gediel Claudino de Araujo júnior

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  • P --TICA DE CURSOS NO PROCESSO

    CIVIL

    Gediel Claudino de Araujo jnior

  • PRTICADE RECURSOS NO PROCESSO

    CIVIL

  • SO PAULO EDITORA ATLAS S.A. - 2015

    P --TICA DE RECURSOS NO PROCESSO

    CIVIL

    Gediel Claudino de Araujo jnior

  • Editora Atlas S.A. Rua Conselheiro Nbias, 1384 Campos Elsios 01203-904 Sao Paulo (SP) Tel.: (011) 3357-9144 atlas.com.br

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - proibida a reproduco total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A viola~o dos

    direitos de autor (Lei n 9.610/98) crime estabelecido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.

    347 .955(81) 1. Brasil : Prtica de recursos : Direito processual civil

    ndice para catlogo sistemtico:

    13-01361 CDU-347.955(81)

    1. Processo civil 2. Processo civil - Brasil 3. Recursos (Direito) 4. Recursos (Direito) - Brasil l. Titulo.

    Bibliografa. ISBN 978-85-224-9349-4

    ISBN 978-85-224-9350-0 (PDF)

    Araujo Jnior, Gediel Claudino de Prtica de recursos no processo civil/ Gediel Claudino de Araujo

    Jnior. - 2. ed. - Sao Paulo: Atlas, 2015.

    Dados lnternacionais de Catalogac;o na Publicac;o (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Capa: talo Frediani Projeto grfico e composico: Set-up Time Artes Grficas

    2012 by Editora Atlas S.A.

    1.ed. 2012; 2.ed. 2015

  • 3 Princpios processuais gerais, 13 3.1 Conceito, 13 3.2 Princpo do devido processo legal, 13 3.3 Princpio do contraditrio e da ampla defesa, 14 3.4 Princpio do duplo grau de jurisdco, 14 3.5 Principio dispositivo e do impulso oficial, 14 3.6 Princpio da oralidade e da identidade fsica do juiz, 15 3.7 Princpo da publicidade, 15 3.8 Princpio da boa-f, 16

    2 Direito processual civil, 9 2.1 Conceito e delimitaco, 9 2.2 Evoluco do direito processual civil brasileiro, 10 2.3 Caractersticas da lei processual, 11

    1 Jurisdico, 3 1.1 Introduco, 3 1.2 Conceito e caratersticas, 5 1.3 Diviso da jursdico, 6 1.4 Organizaco judiciria, 6

    PARTE I - ASPECTOS PROCESSUAIS GERAIS, 1

    Sumrio

  • 7 Partes e procuradores, 43 7 .1 Definico de partes, 43 7.2 Capacidade processual, 44 7.3 Capacidade processual das pessoas casadas, 44 7.4 Capacidade processual das pessoas jurdicas, 45 7.5 Curador especial, 46 7.6 Capacidade postulatria, 46 7. 7 Procuraco ad judicia, 4 7 7 .8 Direitos do advogado, 4 7 7.9 Honorrios advocatcios, 49 7.10 Substtuico das partes (sucesso processual), 50

    6 Formaco e extnco do processo, 34 6.1 Formaco, 34 6.2 Suspenso, 35 6.3 Extinco, 36

    6.3.1 Disposices gerais, 36 6.3.2 Sentenca terminativa, 37 6.3.3 Sentenca definitiva, 40

    5 Processo e procedimento, 23 5.1 Conceito e distinco, 23 5.2 Espcies de processos, 24 5 .3 Procedimentos, 24

    5.3.1 Identificaco do procedimento, 24 5.3.2 Procedimento comum ordinrio, 25 5.3.3 Procedimento comum sumrio, 27

    5.4 Antecipaco de tutela no processo de conhecimento, 30 5.4.1 Noces gerais, 30 5.4.2 Requisitos para a concesso da tutela antecipada, 31

    5.5 Tramitaco prioritria, 32

    4 Ar;io, 17 4.1 Conceito e caractersticas, 17 4.2 Condices da aco, 18

    4.2.1 Interesse processual, 18 4.2.2 Legitimidade das partes (legitimatio ad causam), 19 4.2.3 Possibilidade jurdica do pedido, 19

    4.3 Classfcaco das aces, 19 4.3.1 Classficaco das aces de conhecimento, 20

    4.4 Pressupostos processuais, 21

    vi Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • 10 Agravo, 73 10.1 Conceito e delimtaco, 73 10.2 Outros agravos no CPC, 74 10.3 Formas de interposico, 74

    10.3.1 Exceces do agravo de instrumento, 75 10.3.2 Decso proferida em audiencia de instruco e julgamento, 77

    10.4 Legitimidade, 77 10.5 Prazos para interposico, 78 10.6 Efeitos do agravo, 79 10. 7 Agravo de instrumento, 80

    8 Recursos, 54 8.1 Conceito, 54 8.2 Natureza jurdica do recurso, 55 8.3 Atos sujeitos a recurso, 56 8.4 Princpios geras dos recursos, 57 8.5 Recursos previstos no CPC, 58 8.6 Recurso adesivo, 58 8.7 Requisitos de admissibilidade, 59

    8.7.1 Legitimidade, 59 8.7.2 Inexistencia de fato impeditivo, 60 8.7.3 Recorribilidade da deciso, 60 8.7.4 Adequaco do recurso, 61 8.7.5 Tempestividade, 61 8.7.6 Preparo, 62 8.7.7 Forma e rnotvaco, 63

    8.8 Juzo de admissibilidade, 63 8.9 Efeitos dos recursos, 63 8.10 Extnco anormal do recurso, 64

    9 Apelaeo, 66 9.1 Conceito e delmtaco, 66 9.2 Interposico, 67 9.3 Prazo, 68 9.4 Efeitos, 68 9.5 Questes novas, 71 9.6 Procedimento, 71

    7.11 Substtuico dos procuradores, 51 7.12 Deveres das partes e procuradores, 51 7.13 Despesas processuais, 52

    Sumrio V

  • 11 Embargos infringentes, 86 11.1 Delimitaco, 86 11.2 Interposico, 87 11.3 Prazo, 87 11.4 Efeitos, 88 11.5 Procedimento, 89

    12 Embargos de declaraco, 90 12.1 Delimitaco, 90 12.2 Interposico, 91 12.3 Prazo, 91 12.4 Efeitos, 91 12.5 Procedimento, 92

    13 Recurso ordinrio, 93 13.1 Delimitaco, 93 13.2 Interposico, 94 13.3 Prazo, 94 13.4 Efeitos, 95 13.5 Procedimento, 95

    14 Recurso especial, 97 14.1 Delimitaco, 97 14.2 Interposico, 98 14.3 Prazo, 98 14.4 Efeitos, 99 14.5 Procedimento, 99 14.6 Recursos especiais repetitivos, 100

    15 Recurso extraordinrio, 101 15.1 Delimitaco, 101

    10.7.1 Lugar e forma de interposico, 80 10.7.2 Documentos obrigatrios, 81 10.7.3 Preparo, 82 10.7.4 Procedimento no tribunal, 82 10.7.5 Multa, 83

    10.8 Agravo retido, 84 10.8.1 Cabimento, 84 10.8.2 Interposico, 84

    10.9 Juzo de retrataco, 85

    viii Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • 19 Procuraco 'adjudicia' (mandato judicial), 129 19.1 Contrato de mandato, 129 19.2 Mandato judicial, 130 19.3 Substabelecirnento, 131 19.4 Responsabilidade civil dos advogados, 131 19.5 Base legal, 132 19.6 Primeiro modelo, 133 19.7 Segundo modelo, 134 19.8 Terceiro modelo, 135 19.9 Quarto modelo, 136

    PARTE III - PROCURA

  • 20 Pecas processuais, 141 20.1 Agravo contra deciso do relator que indeferiu pedido de efeito

    suspensivo em agravo de instrumento, 141 20.2 Agravo de instrumento contra deciso que alterou, ex officio, o valor da

    causa em aco de execuco de alimentos, 145 20.3 Agravo de instrumento contra deciso que decretou o bloqueio de conta

    salrio em ac;ao de execuco de ttulo extrajudicial, 150 20.4 Agravo de instrumento contra deciso que decretou prso civil em ac;ao

    de execuco de alimentos, 156 20.5 Agravo de instrumento contra deciso que decretou a prso civil do

    executado, por quebra de acordo, sem nova citaco nos autos, 161 20.6 Agravo de instrumento contra deciso que determinou a emenda da

    petico inicial em ac;ao de regulamentaco de guarda cumulada com visitas e alimentos, 166

    20. 7 Agravo de instrumento contra deciso que determinou a regularzaco prvia do CPF em aco de alvar, 171

    20.8 Agravo de Instrumento contra deciso que indeferiu liminar em aco de obrigaco de fazer (entrega de aparelho auditivo), 176

    20. 9 Agravo de instrumento contra deciso que indeferiu pedido de antecipaco de tutela em aco revisional de alimentos, 182

    20.10 Agravo de instrumento contra deciso que indeferiu pedido de alimentos provisrios em aco de divrcio, 190

    20.11 Agravo de instrumento contra deciso que indeferiu pedido de alimentos provisrios em aco de investgaco de paternidade aps a realzaco do exame de DNA, 195

    20.12 Agravo de instrumento contra deciso que indeferiu pedido de antecpaco de tutela em ac;ao declaratoria de inexistencia de dbito movida em face de concessionria de servco pblico, 200

    20.13 Agravo de instrumento contra deciso que indeferiu pedido de antecipaco de tutela em aco de exoneraco de alimentos, 207

    20.14 Agravo de Instrumento contra deciso que indeferiu pedido de expedico de oficio em aco de reconhecimento e dissoluco de uno estvel, 211

    20.15 Agravo de instrumento contra deciso que indeferiu pedido de expedico de oficios em nventrio, 216

    20.16 Agravo de instrumento contra deciso que indeferiu pedido de fxaco de multa em fase de execuco de sentenca proferida em mandado de seguranca impetrado para se obter medicamentos, 220

    PARTE IV - PEGAS PROCESSUAIS, 139

    X Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • 20.17 Agravo de instrumento contra deciso que indeferiu pedido de justica gratuita em aco reivindicatria, 227

    20.18 Agravo de instrumento contra deciso que indeferiu pedido de remessa dos autos para contador da serventia para elaboraco de novos clculos com arrimo no art. 475-B, 312, CPC, 231

    20.19 Agravo de instrumento contra deciso que indeferiu pedido de purgaco de mora, parcelas vencidas, em aco de busca e apreenso de veculo em alienaco fiducria, 236

    20.20 Agravo de instrumento contra deciso que negou pedido de renovaco da prso civil do devedor de alimentos em aco de execuco de alimentos, 242

    20.21 Agravo de instrumento contra deciso que negou pedido liminar em mandado de seguranca onde se busca obter medicamentos (insumos teraputicos), 249

    20.22 Agravo retido contra decso que indeferiu, no saneador, preliminar de carencia de aco, 255

    20.23 Agravo retido contra decso que indeferiu impugnaco do valor atribudo a causa, 259

    20.24 Apelaco em aco de alimentos movida por filho maior incapaz com o objetivo de aumentar o valor dos alimentos fixados na sentenca, 262

    20.25 Apelaco em aco de despejo por falta de pagamento, arrimada em ilegitimidade passiva da parte e inpcia da petico, requerendo ainda revso dos honorrios (recorrente Curador Especial), 265

    20.26 Apelaco em aco declaratria de inexistncia de dbito contra a Bandeirante Energia (sentenca parcialmente procedente), 270

    20.27 Apelaco em aco de execuco de alimentos em razo da extinco do feto antes da quitaco total do dbito, 279

    20.28 Apelaco em aco de homologaco de acordo (sentenca que indeferiu a petco inicial), 283

    20.29 Apelaco, pelo ru, em aco de investgaco de paternidade onde se requer a revso do valor fixado a ttulo de penso alimenticia, 286

    20.30 Apelaco em aco monitria, pelo Curador Especial, com arrimo em nulidade da citaco por hora certa, 289

    20.31 Apelaco em aco de rescso de contrato cumulada com rentegraco de posse (tendo como objeto compra de um terreno), 292

    20.32 Apelaco em aco de cobranca de despesas condominiais, 304 20.33 Apelaco em aco de nvestgaco de paternidade cumulada com

    alimentos, com pedido liminar de apreciaco de agravo retido, 307 20.34 Apelaco em ar;ao de consignaco em pagamento (indeferimento da

    petico inicial), 312

    Sumrio Xi

  • 20.35 Apelaco em a~ao de rescso contratual cumulada com reintegraco de posse buscando a revso do valor da sucumbncia, 317

    20.36 Apelaco em aco de rescso de contrato cumulada com reparaco de danos, com pedido para que se aprecie, em liminar, agravo retido, 321

    20.37 Apelaco em incidente de mpugnaco da justica gratuita (aco de retfcaco de registro imobilirio), 325

    20.38 Apelaco contra sentenca que extinguiu aco de busca e apreenso de incapaz por falta de interesse de agir, 329

    20.39 Apelaco contra sentenca que indeferiu a petico inicial pelo fato do exequente ter se recusado a curnprir ordem para emendar a petco inicial, 336

    20.40 Apelaco contra sentenca que indeferiu pedido de alvar (levantamento de pequena quantia - Lei n" 6.858/80), 340

    20.41 Apelaco em medida cautelar de separaco de corpos (defendendo a natureza satisfativa da medida), 343

    20.42 Contrarrazes de agravo de instrumento em aco de alvar, 347 20.43 Contrarrazes de agravo de instrumento em aco de execuco de

    alimentos (agravo contra deciso que decretou a priso civil), 350 20.44 Contrarrazes de agravo de instrumento em aco de obrgaco de fazer

    visando a obtenco de medicamentos (agravo contra deciso que deferiu a liminar), 353

    20.45 Contrarrazes de agravo de instrumento em recurso especial (inadrnissibilldade do recurso especial), 361

    20.46 Contrarrazes de apelaco em aco de alimentos, 367 20.47 Contrarrazes de apelaco em aco de alimentos movida por me idosa

    e doente em face dos filhos maiores, 370 20.48 Contrarrazes de apelaco em aco declaratria cumulada com

    reparaco de danos movida em face de plano de sade, 374 20.49 Contrarrazes de apelaco em aco declaratria de inexistencia de

    dbito movida em face da empresa Bandeirantes Energia, 379 20.50 Contrarrazes de apelaco em aco de cobranca cumulada com

    indenizaco (apresentada pelo Curador Especial), 382 20.51 Contrarrazes de apelaco em aco de investgaco de patemidade

    (DNA negativo), 386 20.52 Contrarrazes de apelaco em aco de partilha, 389 20.53 Contrarrazes de apelaco em aco de obrigaco de fazer movida em

    face de plano de sade, 392 20.54 Contrarrazes de apelaco em mandado de seguranca onde se obteve

    medicamentos, 396 20.55 Contrarrazes de apelaco em aco revisional de alimentos, 400

    xii Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • Referencias, 519

    PARTE VI - RECURSOS - CPC ANOTADO, 483 Recursos - CPC anotado, 485

    , PARTE V - SUMULAS, 445

    Smulas do Superior Tribunal de Justca, 44 7 Smulas vinculantes do Supremo Tribunal Federal, 4 79

    20.56 Contrarrazes de recurso inominado em aco de condenaco em dinheiro, 403

    20.57 Embargos de declaraco contra acrdo que deixou de apreciar agravo retido, 407

    20.58 Embargos de declaraco contra deciso interlocutria que recebeu a petco inicial no rito errado e deixou de apreciar pedido de antecipaco de tutela, 41 O

    20.59 Embargos de declaraco contra deciso interlocutria em aco revisional de alimentos, 412

    20.60 Embargos de declaraco contra deciso interlocutria que deixou de apreciar pedido de produco de prova, 413

    20.61 Embargos de declaraco contra sentenca que deixou de apreciar pedido de justica gratuita, 414

    20.62 Embargos de declaraco contra sentenca proferida em aco de investigaco de paternidade que se omitiu quanto ao pedido de alimentos, 415

    20.63 Embargos infringentes contra acrdo proferido no julgamento de apelaco em aco de investigaco de paternidade, 416

    20.64 Embargos infringentes contra acrdo proferido no julgamento de apelaco em mandado de seguranca impetrado para obter medicamentos, 420

    20.65 Recurso Especial contra acrdo que julgou apelaco em aco de despejo por falta de pagamento, 425

    20.66 Recurso Especial contra acrdo que julgou apelaco em aco de execuco de alimentos, 435

    20.67 Recurso Especial contra acrdo proferido em embargos infringentes, 440

    Sumrio xiii

  • ASPECTOS PROCESSUAIS

    GERAIS Parte 1

  • A fim de garantir a existencia e a sobrevivncia do indivduo e do grupo social, a sociedade organizada, ou seja, o Estado, criou normas gerais, abstra- tas e obrigatrias estabelecendo direitos e obrigaces que disciplinarn algu- mas categoras de interesses humanos. Este conjunto positivo de normas que disciplinam a vida ern sociedade chamou-se "Direito". Tradicionalmente, o di- reito classificado em: direito objetivo e direito subjetivo. Enquanto o "direito subjetivo" representa a faculdade, o poder, que a pessoa tem para praticar, ou nao, certos atas da vida civil, buscando, por exemplo, a atuaco jurisdicional e/ou a aplicaco da sanco, o "direito objetivo", que se rnanifesta principal- mente sob a forma de leis, indica o conjunto total das normas que disciplinarn as condutas dos indivduos na sociedade.

    Embora um dos objetivos primordiais do estabelecimento de regras de conduta seja prevenir a ocorrncia de conflitos entre as pessoas que habitarn certo territrio, a histria tem demonstrado que de fato impossvel evitar que esses ocorrarn. No incio da civilizaco, quando urna pessoa se envolva em urn conflito intersubjetiva, deveria resolv-lo por si mesma, de acordo com suas prprias forcas, na chamada fase da autotutela. Lago esta soluco se

    1.1 Introduco

    Jurisdico 1

  • mostrou insatisfatria, visto que na maioria das vezes nao venca aquele que tinha razo, mas aquele que detinha maior forca, Passou-se ento a adotar a arbitragem facultativa, quando se dava as partes em conflito o direito de dele- gar a soluco
  • O litigio coloca em perigo a paz social e a ordem jurdica, o que reclama a atuaco do Estado, que tem como urna de suas funces bsicas, como se disse, a tarefa de solucionar a lide. De fato, o Estado, por meio do Poder Judicirio, tem o "poder-dever de dizer o direito", formulando, a luz do direito objetivo e dos princpios constitucionais, norma jurdica concreta que deva disciplinar determinada stuaco jurdica, resolvendo a lide e promovendo a paz social. Este poder-dever do Estado de dizer o direito, resolvendo o conflito, o que a doutrina chama de iurisdidio.

    Ajursdico ao mesmo tempo poder, funco e atividade. Como funco, expressa o encargo dado pela Constituco precipuamente ao Poder Judc- rio de, no bojo do processo (atividade jurisdicional), promover a pacifcaco social, formulando a norma que ir disciplinar, resolver, a questo submetida (poder jurisdicional). Mas a atividade do Estado-juiz nao se limita a declarar o direito em face do caso concreto, ela tambm busca fazer cumprir concreta- mente a norma fixada na sentenca, submetendo o vencido ao seu comando.

    Segundo a melhor doutrina, a principal caraterstica da jurisdico o seu carter substitutivo; no sentido de que a atividade do Estado-juiz substitui a atividade das partes, com escopo de estabelecer,

  • As regras que disciplinam a organzaco do Poder Judicirio, incluindo- -se a constituico e o funcionamento de seus rgos, encontram-se previstas na Constituico Federal (arts. 92 a 126), nas Constituices Estaduais, que tm competencia apenas residual, nas Leis de Organizaco Judiciria de cada Estado, na Lei Orgnica da Magistratura (Lei Complementar n 35, de 14 de marco de 1979) e nos Regimentes Internos de cada Tribunal.

    1.4 Organizaco judiciria

    Enquanto poder estatal, a iurisdidio una; no entanto, por motivos de ordem prtica, principalmente pela necessidade da dviso do trabalho, cos- tuma-se dividir as atividades jurisdicionais segundo vrios critrios. Numa primeira etapa, a jurisdico se divide em comum e especial.

    A iurisdidio comum, que pode ser federal ou estadual, segundo critrios fixados na Constituico Federal (arts. 106 a 110; arts. 125 e 126), subdivide- -se em civil e penal. J e jurisdidio especial se subdivide em trabalhista, elei- toral e militar (arts. 111a124, CF).

    O mbito de abrangncia de cada urna das espcies de jurisdico de- lineado pela excluso; ou seja, o que nao for jurisdico especial jurisdico comum, o que nao for jurisdco federal ser estadual. A jurisdico civil se apresenta coma caracterstica da generalidade, ou seja, o que nao for da ju- rsdico penal e das jurisdices especiais ser da jurisdco civil.

    No Processo Civil, a jurisdico pode ainda ser contenciosa e voluntria (art. 1 , CPC).

    A jurisdidio contenciosa a jurisdico propriamente dita, onde,

  • Segundo a Consttuico Federal, art. 92, sao rgos do Poder Judicirio: I - o Supremo Tribunal Federal; I - A - o Conselho Nacional de Justica; II - o Superior Tribunal de Justica; III - os Tribunais Regionais Federais e Juzes Federais; IV - os Tribunais e Juzes do Trabalho; V - os Tribunais e Juzes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juzes Militares; VII - os Tribunais e Juzes dos Estados e do Distrito Federal e Territrios.

    O Supremo Tribunal Federal, ou simplesmente STF, com sede em Brasilia, Distrito Federal, Capital da Repblica, foi criado em 1890 e composto por 11 (onze) juzes, chamados de ministros. O Supremo tem jurisdco em todo o territrio nacional, e sua funco principal a de guardo da Constituico Fe- deral (art. 102, CF). J o Superior Tribunal de Justica (ST J), tambm com sede em Brasilia, foi criado em 1988, sendo composto por, no mnimo, 33 (trinta e tres) ministros (art. 104, CF), com jursdico em todo o territrio nacional, tendo como principal funco julgar, em ltima instancia, questes relativas a direito federal infraconstitucional.

    Ajustifa comum dividida, como j se disse, em Justica Estadual e Justica Federal, sendo que esta composta por juzes federais, rgos de primeiro grau, e por 5 (cinco) Tribunais Regionais Federais (TRF), rgos de segundo grau e, em ltima instancia, pelo STJ e STF, conforme seja a questo contro- vertida de ordem federal ou constitucional. A competencia da Justica Federal, cuja estrutura disciplinada pela Lei n2 5.010/66, fixada pelos arts. 108 e 109 da Constituco Federal, incluindo, entre outras, as causas: I - em que a Unio, entidade autrquica ou empresa pblica federal forem interessadas na condco de autoras, rs, assistentes ou oponentes, exceto as de falencia, as de acidentes de trabalho e as sujeitas a Justica Eleitoral e a Justica do Traba- lho; II - entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Municipal ou pessoa domiciliada ou residente no pas; III - as causas fundadas em tratado ou contrato da Uno com Estado estrangeiro ou organismo internacional; IV - os mandados de seguranca e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competencia dos tribunais federais; V - que envolvam a disputa de direitos indgenas; VI - as causas relativas a direitos humanos a que se refere o 52 da Constituco Federal. J a Justca Estadual, e do Distrito Federal, cuja competencia residual, isto , o que nao for da competencia da Justca Federal ser da competencia da Justica Estadual, composta por juzes estaduais, rgos de primeiro grau e pelo Tribunal de

    Jurlsdico 7

  • Justica, rgo de segundo grau; sao ainda rgos da Justica Estadual os Ju- zados Especiais Cveis e Criminais, os juzes de paz e o Tribunal do Jri.

    Por sua vez, a justica especial engloba tres organizaces distintas: Justisa do Trabalho, que tem como seus rgos as Varas do Trabalho, os Tribunais Regionais do Trabalho (TRT) e o Tribunal Superior do Trabalho (TST), sen do sua competencia definida pelo art. 114 da Constituico Federal; Justica Elei toral, que tem corno seus rgos os juzes eleitorais, os Tribunais Regionais Eleitorais (TRE) e o Superior Tribunal Eleitoral (STE), sendo que a Constitu- co, art. 121, delegou a fixaco de sua competencia para Le Complementar; Justita Militar, que tern corno seus rgos juzes auditores substitutos, juzes auditores, Conselhos de Justica, Auditoria de Correico e Superior Tribunal Militar (STM), conforme previsto na Lei n 8.457 /92.

    8 Prtlca de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • O direito objetivo encontra-se dividido em dais grandes grupos: direito material, ou substancial, e direito processual, ou instrumental.

    As normas de direito material definem os direitos e obrigaces de cada indivduo, bem como o que lcito ou ilcito (Direito Civil, Direito Penal, Di- reito do Trabalho, Direito Tributrio, Direito Constitucional, Direito Eleitoral etc.). J as normas de direito processual disciplinam o "exerccio da jurisdico" e, conforme a natureza da lide, pode ser civil, penal, trabalhista, eleitoral etc. Quando se fala em regulamentaco do "exerccio da jurisdico", est-se a re- ferir, entre outras coisas, a disciplina das atividades dos rgos jurisdicionais (juzes), das partes (autor, ru, requerente etc.), dos auxiliares dos rgos ju- risdicionais (escreventes, escrives, oficiais de justica, peritos etc.) e do Minis- trio Pblico. Destarte, o Direito Processual Civil pode ser conceituado como o conjunto de normas que regulam o exerccio da jurisdico quanto as lides de natureza civil.

    Quanto a natureza dos sujeitos das relaces jurdicas, pode-se ainda clas- sificar o direito objetivo em privado e pblico. A norma ser de direito privado quando todos os participantes da relaco jurdica forem particulares, pessoas

    2.1 Conceito e delimitaco

    Direito processual civil 2

  • At a edco do Regularnento n 737 no ano de 1850, que regulou o pro- cessarnento das causas cornerciais, vigoravarn no Brasil as Ordenaces Filipi- nas, que datavarn de 1603. Posteriormente, o Regularnento n 763, de 1890, j na era republicana, estendeu o Regularnento ns 737 aos fetos civis. Pouco depois, ern 1891, a prirneira Constituico Republicana dividiu a Justica ern Federal e Estadual, autorizando os Estados Federados a legislar sobre proces- so. A iniciativa nao deu certo e a Constituico de 1934 atribuiu exclusivamen- te a Unio a competencia para legislar sobre processo.

    Ern 1 de marco de 1940 entrou em vigor o Cdigo Nacional de Processo Civil, Decreto-le nQ 1.608/39, que vigorou at 1973 quando entrou em vigor o atual Cdigo de Processo Civil, Lei ns 5.869, de 11 dejaneiro de 1973, que reforrnou o Cdigo de 1939, baseando-se ern anteprojeto redigido pelo Minis- tro Alfredo Buzaid. Desde ento, o Cdigo j foi alterado dezenas de vezes, mas rnanteve sua estrutura bsica, que se compe de 5 (cinco) livros, assirn intitulados: 1 - Do Processo de Conhecirnento; II - Do Processo de Execuco; III - Do Processo Cautelar; N - Dos Procedirnentos Especiais; V - Das Dispo- sices Gerais e Transitrias.

    2.2 Bvoluco do direito processual civil brasileiro

    fsicas oujurdicas. Ern sntese, no direito privado prevalece o interesse indivi- dual. De outro lado, a norma ser de direito pblico sernpre que o Estado, sob qualquer de suas formas, participar da relaco jurdica, ou ainda se a norma tratar de rnatria de natureza pblica. No direito pblico prevalece, ern snte- se, os interesses da coletividade. Considerando que o exerccio da jurisdico rnonoplio do Estado, pode-se concluir que as normas do Direito Processual Civil sao de natureza pblica e, na sua grande rnaioria, cogentes, isto , obri- gatrias, inderrogveis pela vontade das partes.

    Por ltimo, deve-se destacar a autonoma do direito processual civil, ou direito instrumental, ern face do direito civil, ou direito substancial, e perante outros ramos do direito, ern razo da evidente diversidade de natureza e de objetivos. Contudo, esta autonornia nao significa isolarnento, urna vez que o direito processual civil faz parte do sistema rnaior, que a ciencia do direito, tendo, inclusive, razes ern diversos ramos, tais corno direito constitucional, direito administrativo, direito processual penal etc.

    1 O Prtica de recursos no processo civil Ara u jo Jnior

  • As leis processuais, ou leis do processo, esto sujeitas, como as demais leis, as regras estabelecidas no Decreto n11 4.657, de 4 de setembro de 1942, a Lei de Introduco ao Cdigo Civil Brasileiro (LICC). Com efeito, comecam a vigorar 45 (quarenta e cinco) dias aps a publicaco (vacatio legis), salvo se outro prazo for expressamente estabelecido, e, nao se destinando a vigencia temporria, tero vigor at que outra a modifique ou revogue (princpio da continuidade das leis). Mesmo que a lei revogadora perca a vigencia, a lei re- vogada nao se repristina (art. 212, 312, LICC), isto , nao volta a viger.

    Embora a lei processual respeite o direito adquirido, o ato jurdico perfei- to e a coisajulgada (art. 511, XXXVI, CF), ela, entrando em vigencia, tem efeito imediato, inclusive sobre os feitos que j estejam em andamento, passando a regular os atos processuais pendentes e futuros (princpio da irretroatividade), sendo que quanto aos primeiros, embora sejam atingidos, devero ser respe- tados eventuais efeitos dos atos j praticados.

    Sendo a funco jurisdicional monoplio do Estado, natural concluir que dentro do territrio brasileiro s se aplicam as leis processuais tupiniquins; o princpio da territorialidad e das leis processuais (lex fori), expresso no art. 1 !l do CPC, que declara que "a jurisdico civil, contenciosa e voluntria, exercida pelos juzes, em todo o territrio nacional". Este princpio sujeita a lei processual ptria no s os nacionais, como tambm os estrangeiros do- miciliados no pas, conforme norma expressa no art. 12 da LICC, que declara ser "competente a autoridade judiciria brasileiro; quando for o ru domiciliado no Brasil ou aqui ti ver de ser cumprida a obrigafio". Norma que foi mantida , e ampliada pelo art. 88 do CPC, que declara que: "E competente a autoridade judiciria brasileira quando: I o ru, qualquer que seja a sua nacionalidade,

    2.3 Caractersticas da lei processual

    Hodiernamente, o Congresso Nacional debate o projeto de um novo Cdi- go de Processo Civil (PLS n2 166 de 2010); na verdade, difcil prever quando este projeto ser votado, mas estando o Poder Judicirio passando por srio processo de modernizaco, mormente em razo da acelerada implernentaco do "processo eletrnco", penso que este no o melhor momento para se votar um novo Cdigo de Processo Civil que, em razo das rpidas mudancas, pode nascer j muito velho.

    Direito processual civil 11

  • estiver domiciliado no Brasil; JI no Brasil tiver de ser cumprida a obrigaoio; III a afo se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil. Pargrafo nico. Para o fim do disposto no n I, reputase domiciliada no Brasil a pessoa jurdica estrangeira que aqui tiver agencia, filial ou sucursal."

    Entretanto, abre a lei exceco quanto a prova de fatos ocorridos no ex- terior, declarando o art. 13 da LICC que "a prova dos fatos ocorridos em pas estrangeiro regese pela lei que nele vigorar, quanto ao nus e aos meios de produzirse, niio admitindo os tribunais brasileiros prevas que a le brasileira desconheca",

    12 Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • Tarnbrn conhecido pela expresso inglesa due process of law, encentra-se expressarnente previsto no art. 512, Lrv, da Constituico Federal, que declara que "ningurn ser privado da liberdade ou de seus bens sern o devido proces- so legal", significando que a pessoa s pode ser privada de seus bens por rneio de processo cuja procedirnento e cujas consequncias tenharn sido previstos ern lei, entendida esta como a regra geral que, emanada de autoridade com- petente, imposta coercitivarnente a obediencia de todos.

    3.2 Princpio do devido processo legal

    Princpios processuais gerais, ou fundamentais, sao normas jurdicas, es- critas ou nao, que informarn e guiarn todo o sistema processual (processo e procedirnento), servindo de parmetro para o legislador infraconstitucional, a medida que envolve urn prvio juzo de valor sobre vrios aspectos do pro- cesso. Ernbora nao haja urna lista taxativa sobre quantos e quais seriam esses principios, apontarn-se a seguir aqueles rnais citados na doutrina brasileira.

    3 .1 Conceito

    Princpios processuais gerais 3

  • o princpio dispositivo ou da inrcia aquele que informa que cabe a pes- soa interessada provocar, por meio do ajuizamento de urna aco, o Poder Judi- cirio. Em outras palavras, aquele que pensa ter sido violado em seus direitos deve procurar o Estado-juiz, que at ento permanece inerte (nemo judex sine actore). Este princpio encentra-se previsto expressamente no art. 2 do CPC, que diz que "nenhum juiz prestar a tutela jurisdicional seno quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais". Todavia, embora o processo deva necessariamente comecar por iniciativa da parte (princpio da inrcia), urna vez ajuizada a aco, essa se desenvolve por impulso oficial (princpio do impulso oficial), ou seja, cabe ao juiz cuidar para que essa siga a sua marcha at que seja prolatada a sentenca, resolvendo ou nao a lide. Nesse sentido, a norma do art. 262 do CPC, que declara que "o processo civil comeca por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial". Ligado a esses dois princpios, h ainda o princpio inquisitivo, que confere ao juiz poder para buscar, por todos os meios a seu alcance, a verdade real, podendo, a fim de alcancar esse objetivo, determinar a produco das provas que achar necessrias (art. 130, CPC).

    3.5 Principio dispositivo e do impulso oficial

    Segundo o principio do duplo grau de jurisduii, facultado as partes de pro- cesso judicial o direito de recorrer das decis6es judiciais, provocando seu reexa- me por rgo hierarquicamente superior. Este princpio tem como pressuposto o desejo de se garantir, tanto quanto possvel, o acerto das decis6es judiciais e, ao mesmo tempo, atender a necessidade humana de urna segunda opino,

    3.4 Principio do duplo grau de jursdco

    O art. 5, LV, da Constituico Federal declara que "aos litigantes, em pro- cesso judicial ou administrativo, e aos acusados em geral sao assegurados o contraditrio e ampla defesa, comos meios e recursos a ela inerentes", im- pondo, desta forma, a paridade de tratamento entre as partes, o que garante ao ru nao s o direito de conhecer o pedido do autor, mas tambrn o direito de responde-lo.

    3.3 Principio do contraditrio e da ampla defesa

    14 Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • A fim de garantir a veracidade, correco e transparencia dos atos proces- suais, esses devem ser preferencialmente pblicos, inclusive as audiencias (arts. 155 e 444, CPC), conforme norma esculpida na prpria Constituico Federal, art. 93, inciso IX, que declara que "todos os julgamentos dos rgos do Poder Judicirio sero pblicos, e fundamentadas todas as decis6es, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presenca, em determinados atos, as prprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservaco do direito a intimidade do interessado no sigilo nao prejudique o interesse pblico a inforrnaco".

    O princpio tem algumas exceces previstas no CPC, art. 155, que diz que "os atos processuais siio pblicos. Correm; todava, em segredo de justica os processos: I em que o exigir o interesse pblico; JI que dizem respeito a casa mento, filiaf.o, separadio dos conjuges, conversiio desta em divrcio, alimentos e guarda de menores. Pargrafo nico. O direito de consultar os autos e de pedir certides de seus atos restrito as partes e a seus procuradores. O terceiro, que demonstrar interesse jurdico, pode requerer ao juiz certidiio do dispositivo da senrenco, bem como de inventrio e partilha resultante do desquite".

    3. 7 Principio da publicidade

    Com objetivo de tomar a prestaco da tutela jurisdicional mais clere, os atos processuais devem ser feitos preferencialmente de forma oral. Essa premissa advm do principio da oralidade, que se completa com o principia da identidade fsica do juiz, segundo o qual o juiz que colhe as provas deve julgar a lide, urna vez que seu contato direto com as partes e testemunhas lhe ofere- ce melhores condces de avaliar as provas produzidas e, portanto, de senten- ciar de forma mais satisfatria. O art. 132 do CPC consagra esse princpio de forma expressa: "O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiencia julgar a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, pro movido ou aposentado, casos em que passar os autos ao seu sucessor. Pargrafo nico. Em qualquer hiptese, o juiz que proferir a senrence, se entender necess rio, poder mandar repetir as pravas j produzidas."

    3.6 Principio da oralidade e da identidade fsica do juiz

    Princfpios processuais gerais 15

  • Embora o processo seja um jogo, todo aquele que dele participa deve proceder com probidade e lealdade (art. 14, CPC), isto , sustentar suas ra- zes dentro dos limites da tica, da moralidade e da boa-f, expondo os fatos conforme a verdad e e evitando provocar incidentes inteis e/ ou infundados que visam apenas a procrastinaco do feito. o litigante de m-f fica sujeito a responder por perdas e danos (arts. 16 e 17, CPC), alm de poder ser con- denado, a pedido ou de oficio, nos prprios autos a indenizar os prejuzos da parte contrria (art. 18, CPC).

    3.8 Principio da boa-f

    16 Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • O Estado tomou para si a funco de resolver a lide, isto , os inevitveis conflitos que envolvem interesses tutelados que surgem entre as pessoas que se encontram em seu territrio, tendo, inclusive, vedado a autotutela (justica pelas prprias forcas), salvo em casos excepcionais expressamente autoriza- dos pela lei. Entretanto, o Estado s exerce a jurisdico quando provocado pela parte interessada (princpio da inrcia), a quem fica facultado agir, bus- , cando a tutela jurisdicional junto ao Poder Judicirio. E justamente esse di- reito, essa faculdade, concedido a todas as pessoas, de requerer, demandar, exigir a tutela jurisdicional, suscitando o processo, que se chama de aro.

    Diante desta defnico, pode-se concluir que o direito de aco pblico, autnomo, subjetivo e incondicional. Seno vejamos: pblico, pois a juris- dico funco do Estado (art. 5, XXXV, CF); autonomo, ou abstrato, pois o direito de aco nao est na dependencia do reconhecimento ou nao da existencia do direito material que arrima a pretenso do autor, isto , mesmo que o pedido do autor seja julgado improcedente, esse ter exercido o seu direito de aco, urna vez que lhe foi garantido o direito de invocar e obter a atuaco do Estado-juiz; subjetivo, pois cabe ao indivduo provocar, ou nao, a

    4.1 Conceito e caractersticas

    4

  • O interesse processual se traduz no binomio "necessidade/utilidade" (arts. 3 e 4u, CPC). Corn efeito, a pessoa nao pode usar da aco para fazer , urna consulta ao Poder Judicirio. E necessrio que a atuaco judicial seja irn- prescindvel para a obtenco do direito, seja porque o devedor, ou obrigado, se recusa a curnprir a obrigaco ou reconhecer o direito do autor (negativa do devedor), seja por "imposico legal", isto , s por rneio do ajuizarnento da aco possvel obter a pretenso (v.g., divrcio, adoco, interdico etc.).

    4.2.1 Interesse processual

    O direito de aco autnomo e incondicional, conforme j se viu; todavia para que a parte possa obter urn pronunciarnento judicial quanto ao mrito do seu pedido, no chamado "direito processual de aco", necessria a pre- senca das seguintes condices: interesse processual, legitirnidade das partes, possibilidade jurdica do pedido. Ern outras palavras, essas condices nao irn- pedern que o autor ajuze a aco, que, enquanto direito, incondicional, mas representam requisitos irnpostos ao autor para que esse consiga urn pronun- ciarnento quanto ao mrito do seu pedido.

    Faltando qualquer dessas condices, o autor ser declarado carecedor de aco, extinguindo-se o feito sern julgarnento de mrito (art. 267, VI, CPC). Corno se disse anteriormente, nao se nega ao indivduo acesso ao Poder Judi- cirio, urna vez que o juiz que, por sentenca, declara eventualmente o liti- gante carecedor de aco: o que se nega, repita-se, a possibilidade de que o Estado-juiz venha a conhecer do pedido, porque nao esto presentes aspectos fundarnentais de viabilidade do processo.

    4.2 Condices da aco

    atuaco do Estado, conforme seu interesse, que pode se limitar a declaraco de existencia ou inexistencia de urna relaco jurdica (art. 411, CPC); incondi cional, pois, tendo o Estado interesse ern que o indivduo exerca o direito de aco, a firn de garantir a manutenco da ordern pblica, nao impe qualquer condico para o exerccio desse direito, que tem corno consequnca natural a prolaco de urna sentenca judicial.

    18 Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • Quanto ao tipo de provimento pedido pelo autor, as aces sao ordina- riamente classificadas em aces cautelares, de conhecimento e de execuco. As as:es cautelares sao as que suscitam medidas jurisdicionais preventivas, a firn de acautelar interesses das partes em perigo pela demora da tutela jurisdicional nas aces de conhecimento ou de execuco, J as as:es de co- nhecimento, ou cognco, sao aquelas que invocam urna tutela jurisdicional de conhecirnento, em que o Estado-juiz, aps tornar ciencia plena do conflito,

    4.3 Classfcaco das aces

    Nem todos os conflitos sao tutelados pelo direito (v. g., questes morais, religiosas e de foro ntimo), e outros, ainda, sao expressamente proibidos. Assim, o pedido do autor possvel quando nao for direta ou indiretarnente vedado pelo ordenamento jurdico. Em outros termos, o pedido ser jurdica- mente impossvel quando o juiz, ao receber a exordial, constatar de plano a sua inviabilidade (v.g., autor requer a priso civil do devedor por

  • A aco de conhecimento pode ser classificada, quanto a natureza da tu- tela pleiteada, em aces declaratrias, condenatrias e constitutivas. As ap3es declaratrias, ou meramente declaratrias, sao aquelas em que o autor busca apenas a declaraco judicial sobre a existencia ou inexistencia de urna relaco jurdica ou sobre a autenticidade ou falsidade de documento (art. 4'2, CPC). Este tipo de aco tambm pode ocorrer de forma incidental (afdo declarat ria incidental), sempre que urna das partes requerer que o juiz declare, por sentenca, a existencia ou inexistencia de urna questo prejudicial de mrito (relaco jurdica), assim entendida como a questo que se coloca como ante- cedente lgico do pedido e que tem que ser decidida antes, urna vez que ter influencia sobre a decso de mrito (v.g., em aco de alimentos processada pelo rito ordinrio, cabe ADI para se estabelecer a paternidade; em aco de consgnaco de aluguel, cabe ADI para se estabelecer a existencia ou nao de locaco etc.). Com efeito, o art. 5'2 do CPC declara que "se, no curso do proces so, se tomar litigiosa reuidio jurdica de cuja existncia ou inexistncia depender o julgamento da lide, qualquer das partes poder requerer que o juiz a declare por sentenca", Nao sendo o juiz absolutamente incompetente e sendo cornpa- tvel o procedimento da incidental e da principal, o autor pode ajuizar a ADI at 10 (dez) das, contados da data em que for intimado sobre a contestaco, J o ru, querendo ajuizar ADI, deve faz-lo no prazo para a resposta. Ajuiza- da, a ADI ser processada juntamente coma aco principal, devendo ser jul- gada pela mesma sentenca, Transitada em julgado, a questo assim decidida faz coisajulgada material (art. 470, CPC).

    4.3.1 Classi.ficafi.O das afi5es de conhecimento

    prolata deciso que resolve a lide. A Lei n 11.232/05 transformou a aco de execuco fundada em ttulo judicial em "fase" do processo de conhecimento, que, de regra, nao mais termina com a sentenca, estendendo-se at a efetiva realizaco do direito reconhecido na decso judicial (atos executivos), salvo quando a executada for a Fazenda Pblica (arts. 730 e 731, CPC).

    Por ltimo, as ap3es de execudio sao aquelas que invocara urna tutela de execuco (forfa estatal), que procurara realizar praticamente o direito j re- conhecido em certos ttulos extrajudiciais com eficcia executiva (art. 585, CPC), e em decises proferidas nas aces de conhecimento em desfavor da Fazenda Pblica (arts. 730 e 731, CPC).

    20 Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • Alm das condices da aco, que, como se disse, se apresentam como requisitos para a obtenco de um pronunciamento judicial quanto ao m- rito do pedido (direito material), existem outros requisitos, denominados pela doutrina "pressupostos processuais", que constituem condco para o estabelecimento vlido da relaco jurdica processual. Em sntese, tanto as condices da aco como os pressupostos processuais se apresentam como pressupostos da atividade jurisdicional. As condices referem-se a viabilidade da aco sob o ponto de vista do direito material invocado, j os pressupostos processuais referem-se exclusivamente a possibilidade da formaco vlida da relaco processual.

    Tradicionalmente, a doutrina classifica os pressupostos processuais em: I - "pressupostos de existencia", que demandam seja o processo iniciado por

    4.4 Pressupostos processuais

    Afoes condenatrias, por sua vez, sao aquelas em que o autor nao busca apenas a declaraco do seu direito, mas principalmente a imposico de urna obrigaco ao ru (v. g., pagar, indenizar; entregar, fazer, nao fazer etc.). Por fim, as af6es constitutivas, positivas ou negativas, sao aquelas em que o autor busca a craco, modfcaco ou extinco de urna relaco jurdica (v. g., aco de anulaco de casamento, aco de anulaco de um contrato etc.).

    Ainda quanto as aces de conhecimento, existem alguns doutrinadores que apontam a existencia de urna nova classifcaco, denominada "classfica- c;ao quinria", segundo a qual existiriam, alm das aces declaratrias, conde- natrias e constitutivas, as aces mandamentais e aces executivas lato sensu. As primeiras, aces mandamentais, se caracterizariam pelo fato de o juiz emi- tir urna "ordem", cuja desobediencia acarreta responsabilidade penal, como ocorre nos mandados de seguranca; j as segundas, executivas lato sensu, seriam aces condenatrias que dispensariam o processo executivo, urna vez que a sentenca desta natureza teria forca por si s para provocar a alteraco pretendida pelo autor (v.g., aces de despejo; aces de reintegraco de posse etc.). Saliente-se que estas aces, "executivas lato sensu", nao se confundem com o novo regime estabelecido pela Lei n 11.232/05, vez que essa nao mudou a natureza da sentenca, apenas tomou a aco executiva fundada em ttulo judicial em fase do procedimento da aco de conhecimento.

  • meio de petico inicial, distribuda ou protocolada perante rgo do Poder Judicirio, que quem tem jursdico, e, por fim, a ctaco vlida do ru, que completa a relaco jurdica processual; II - "pressupostos de validade", que se subdividem em: subjetivos, que demandam a presenca de urnjuiz regularmen- te investido (princpio do juiz natural), competente, segundo as normas de organizaco judiciria, e imparcial, e parte que tenha capacidade processual e esteja regularmente representada por advogado ou pelo Ministrio Pblico, que tm capacidade postulatria; objetivos, que envolvem a inexistencia de fatos impeditivos (v. g., litispendencia, perernpco, coisa julgada, convenco de arbitragem etc.), e a subordnaco as normas legais (v. g., petico inicial elaborada nos termos do art. 282 do CPC, apresentaco do instrumento de mandato, escolha correta do procedirnento etc.).

    22 Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • Processo o mtodo por meio do qual se opera a jurisdico. Em outras palavras, processo o instrumento utilizado pelo Estado-juiz para realizar a funco de prestar a tutela jurisdicional aqueles que o procuram por meio do ajuizamento de uma aco, seja qual far a natureza do conflito. Portanto, o processo se constitui numa relaco jurdica de direito pblico, que tem seus atas documentados por escrito (autos do processo). Enquanto o processo se apresenta como o mtodo, o instrumento, pelo qual o Estado exerce a jurisdi- co, procedimento a forma material pela qual o processo se realiza em cada caso concreto.

    Embora o processo seja o nico meio utilizado pelo Estado-juiz para di- zer o direito, nem todos os processos, por razes de ordem prtica, se reali- zam da mesma forma. Forcoso reconhecer que h certos conflitos que causam maior desassossego no meio da sociedade, colocando em risco a paz social e a ordem jurdica, reclamando, portanto, do Estado urna atuaco mais rpida. H, ainda, conflitos que em razo do seu objeto demandam urna abordagem diferente do Poder Judicirio. Seja qual far o caso, mais urgente ou mais complexo, a forma como se realizam os atas processuais dentro do processo,

    5.1 Conceito e distinco

    Processo e procedimento 5

  • No processo de conhecimento, o procedimento, ou rito, subdivide-se em comum ou especial, sendo que o rito comum se subdivide, por sua vez, em ordinrio e sumrio. Segundo o art. 271 do CPC, o procedimento aplicvel a cada processo deve ser apurado por excluso, ou seja, sempre que nao houver previso de um procedimento especial, seja no prprio CPC, arts. 890 a 1.102c, seja em leis extravagantes (v. g., Lei nQ 6.015/73, LRP, Lei n2 6.515/77, LDi,

    5.3 Procedimentos 5.3.1 Identificafiio do procedimento

    O Cdigo de Processo Civil trata tradicionalmente de tres espcies de processos.

    O primeiro o processo cautelar, que tem natureza auxiliar, buscando preservar a situaco de fato, a fim de garantir a efetividade do processo de conhecimento e de execuco; de cognco sumria, envolve urna "tutela de urgencia" e tem como pressuposto o fumus boni juri.s e o periculum in mora.

    O segundo, por sua vez, o processo de conhecimento ou de cognidio, que constitui a atividade tpica da jurisdco, cujo objetivo a forrnulaco da norma jurdica concreta que deve disciplinar determinada situaco e, aps a Lei nQ 11.232/05, a busca, no caso de sentenca positiva, da efetiva realzaco do direito Catos executivos); salvo quando se tratar de sentenca proferida em desfavor da Fazenda Pblica, vez que nesse caso ainda necessrio o ajuiza- mento de a

  • I - Petico inicial (arts. 282 e 283, CPC). Obs.: Formados os autos, estes vo conclusos para o juiz, que poder: (1)

    determinar que o autor ernende a inicial no prazo de dez dias (art. 284, CPC); (2) nao receb-la, extinguindo o feito (arts. 267 e 295, CPC); (3) receb-la, prolatando imediatamente sentenca de improcedncia (art. 285-A, CPC); (4) receb-la, determinando a citaco do ru.

    O procedimento comum ordinrio o rito padro do processo de conhec- mento, senda que todos os outros procedimentos sao variaces dele. Os trata- distas tradicionalmente dividiam o procedimento ordinrio em quatro fases: fase postulatria, fase saneadora, fase instrutria e fase decisria. Entretanto, depois da Lei n 11.232/05, deve-se ainda incluir urna "fase executria", vez que o processo de conhecimento nao termina mais necessariamente com a sentenca, podendo, no caso de urna sentenca positiva, se estender numa lti- ma fase executria, onde se praticaro atas tendentes a realizar efetivamente o direito reconhecido na decso judicial; salvo, como j se registrou anterior- mente, no caso desta decso ser proferida em desfavor da Fazenda Pblica, vez que nesse caso continua senda necessrio o ajuizamento de processo de execuco.

    Embora seja impossvel prever num pequeno esquema todas as possibli- dades do rito cornurn ordinrio, esse pode ser assim resumido:

    5.3.2 Procedimento comum ordinrio

    Lei n- 8.069/90, ECA, Lei n 8.078/90, CDC, Lei n 8.245/91, LI etc.), o rito a ser adotado ser o comum, ordinrio ou sumrio. Nesse caso, a fim de se identificar se o procedimento comurn ordinrio ou comum sumrio, se faz necessria nova operaco de excluso; o que nao for procedimento comum sumrio, cujas hipteses encontram-se taxativamente previstas no art. 275 do CPC, ser ento procedimento comum ordinrio.

    A opco pelo procedirnento errado (nao aplicvel ao pedido submetido a juzo) pode causar o indeferimento da petco inicial (art. 295, V, CPC), caso nao seja possvel adaptar-se ao rito legal (art. 250, CPC); por esta razo o Advogado deve estar atento ao verificar qual o procedimento aplicvel ao caso concreto.

    Processo e procedimento 25

  • Obs.: Nesta audiencia, o juiz, aps tentar novamente a concilaco, de- ver colher o depoimento pessoal das partes, se requerido, e proceder com a oitiva das testemunhas eventualmente arroladas, abrindo, em seguida, opor- tunidade para apresentaco das alegaces finais.

    VII - Audiencia de nstruco e julgamento (arts. 444 a 457, CPC).

    Obs.: Se o caso de julgamento nao for conforme o estado do processo, o juiz verificar se h interesse na desgnaco de audiencia preliminar com escopo de tentar-se a conciliaco das partes, que, nao sendo obtida ou nao havendo interesse na designaco da audiencia, dar lugar ao saneamento do feto. Nesse caso o juiz deve resolver questes processuais pendentes, fixar os pontos contro- vertidos e deferir as provas a serem produzidas, designando, no caso de haver necessidade de produco de prova oral, audiencia de instruco e julgamento.

    VI - Saneamento do feto (art. 331, CPC).

    V -Julgamento conforme o estado do processo (arts. 329 e 330, CPC). Obs.: O juiz deve verificar se ocorre qualquer das hipteses que possb-

    litam a extnco do feto (art. 329, CPC) ou o julgamento antecipado da lide (art. 330, CPC, art. 37, Le n- 6.515/77, LDi).

    IV - Providencias preliminares (art. 323, CPC). Obs.: Nesta etapa, o juiz manda ouvir o autor quanto a eventuais prelimi-

    nares (art. 301, CPC), e documentos juntados pelo ru, ou determina que este indique as provas a serem produzidas, quando o ru for revel.

    111 - Resposta (arts. 297 a 318, CPC). Obs.: A resposta do ru pode envolver a apresentaco de contestaco

    (art. 300, CPC), reconvenco (art. 315, CPC), exceces (art. 304, CPC) e im- pugnaces (art. 261, CPC, e art. 7 da Le n- 1.060/50).

    II - Citaco (arts. 213 a 233, CPC). Obs.: Citado, o ru poder: (1) permanecer inerte, sofrendo os efeitos da

    revela (art. 319, CPC); (2) confessar, reconhecendo o pedido do autor; (3) responder (art. 297, CPC).

    26 Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • Corno j se disse, o procedirnento cornurn pode ser ordinrio ou surnrio, sendo que a distinco deve ser feita por excluso: o que nao for rito surnrio ser ordinrio.

    O que caracteriza e diferencia o procedirnento cornurn sumrio a sua rnaior celeridade ern comparaco corn o rito ordinrio. Nele, os atos

    5.3.3 Procedimento comum sumrio

    Necessrio, adernais, destacar-se importante alteraco trazida pela Lei n- 11.2 77 /06, que, por rneio do novo art. 285-A do CPC, faculta ao juiz, ao receber a petico inicial, dispensar a citaco e imediatarnente proferir sen- tenca de improcedencia do pedido, desde que a rnatria seja unicamente de direito e no juzo j houver sido proferidas sentencas de total improcedencia ern outros casos idnticos. Se o autor apelar, facultado ao juiz, assim corno acontece no caso de indeferirnento da petico inicial (art. 296, CPC), juzo de retrataco no prazo de 5 (cinco) das. Retratando-se o juiz, o feito retomar o seu curso normal, determinando-se a ctaco do ru para responder. Mantida a sentenca, o ru ser citado para apresentar contrarrazes ao recurso.

    IX- Execuco (arts. 461e461-A; arts. 475-I a 475-R, CPC). Obs.: Se o condenado ao pagamento de quantia certa nao efetuar o paga-

    mento no prazo de 15 dias, o montante da condenaco ser acrescido de mul- ta de 10% (dez por cento), expedindo-se contra ele, mediante requerirnento do credor, mandado de penhora e avaliaco. Note-se que a norma legal parte da ideia de que o devedor est ciente do valor exato do dbito, seja porque a sentenca foi precisa, seja porque o devedor foi regularmente intimado do resultado da lquidaco. Nao se caracterizando na prtica qualquer dessas si- tuaces e havendo, no caso concreto, a necessidade de que o credor apresente clculos da

  • II- Ctaco (arts. 213 SS, CPC). Obs.: O ru ser citado (art. 277, CPC), com antecedencia mnima de

    10 (dez) dias, para comparecer a audiencia de conclaco, onde, se quiser, poder oferecer resposta, sob a advertencia de que, deixando de comparecer, reputar-se-o verdadeiros os fatos alegados na exordial.

    I - Petico inicial (art. 276, CPC). Obs.: Alm dos requisitos dos arts. 282 e 283 do CPC, a petico inicial

    deve trazer o rol de testemunhas e, no caso de ser requerida perca tcnica, apresentar os quesitos. Formados os autos, estes vo conclusos para o juiz, que poder: (1) determinar que o autor ernende a inicial no prazo de 10 (dez) das (art. 284, CPC); (2) nao recebe-la, extinguindo o feto (arts. 267 e 295, CPC); (3) recebe-la, prolatando irnediatamente sentenca de improce- dencia (art. 285-A, CPC); ( 4) recebe-la (art. 277, CPC), designando audien- cia de concilaco a se realizar no prazo de 30 (trinta) das, determinando a citaco do ru.

    processuais sao concentrados, havendo supresso ou abreviaco de fases do rito comum ordinrio, com escopo de tomar a prestaco da tutelajurisdicional mais clere. Segundo o art. 275 do CPC, observar-se- o procedimento sumrio: 1 - nas causas cujo valor nao exceda 60 (sessenta) vezes o valor do salrio- -mnimo; II- nas causas, qualquer que seja o valor: (a) de arrendamento rural e de parceria agrcola; (b) de cobranca ao condmino de quaisquer quantias devidas ao condomnio; (c) de ressarcimento por danos em prdio urbano ou rstico; (d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veculos de via terrestre; (e) de cobranca de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veculo, ressalvados os casos de processo de execuco; (f) de cobranca de honorrios dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em le- gislaco especial; (g) que versem sobre revogaco de doaco; (h) nos demais casos previstos em le. O pargrafo nico

  • VI - Execuco (arts. 461 e 461-A; arts. 475-1a475-R). Obs.: Se o condenado ao pagamento de quantia certa nao efetuar o paga-

    mento no prazo de 15 dias, o montante da condenaco ser acrescido de mul- ta de 10% (dez por cento), expedndo-se contra ele, mediante requerimento do credor, mandado de penhora e avalaco. Note-se que a norma legal parte da ideia de que o devedor est ciente do valor exato do dbito, seja porque a sentenca foi precisa, seja porque o devedor foi regularmente intimado do resultado da liquidaco. Nao se caracterizando na prtica qualquer dessas situaces e havendo, no caso concreto, necessidade de que o credor apresente clculos da

  • Antes da Le n 8.952/94, que deu incio a urn ciclo de rninirreformas do CPC, a nica forma de obter urna "tutela de urgencia" era por meio do proces- so cautelar, onde o autor, depois de demonstrar o periculum in mora e o fumus boni iuris, requer urna medida assecuratria, a firn de preservar a efetividade de eventual tutela a ser concedida ern futuro processo de conhecimento. En- tretanto, a mencionada le alterou o mecanismo lgico e natural do processo de cognco, qualquer que seja o procedirnento, estabelecendo urn novo tipo de tutela de urgencia denominada "antecipaco de tutela", que permite ao juiz,
  • O art. 273 do CPC declara que "o juiz poder, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido ini cial, desde que, existindo preva inequvoca, se convenfa da verossimilhanca da alegafio e: I haja fundado receio de dano irreparvei ou de difcil reparadio; ou II fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propsito protelatrio do ru. 1 .o. Na deci.sio que antecipar a tutela, o juiz indicar, de modo claro e preciso, as razes do seu convencimento. 2.0. Niio se conceder a antecipcdio da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado".

    Diante da norma legal, pode-se concluir que a concesso da tutela an- tecipada, que tem como limite o pedido formulado na petico inicial e pode ser pedida ou concedida em qualquer fase do processo, desde que ainda nao tenha se prolatado a sentenca, possui os seguintes requisitos: (a) ser requeri- da pela parte interessada; (b) a existencia do periculum in mora ou abuso do direito de defesa; (c) a existencia de prova inequvoca e o convencimento do juiz quanto a verossmlhanca das alegaces; (d) reversibilidade do provirnen- to a ser antecipado.

    Ao exigir que o pedido de antecpaco seja formulado pela parte, a lei processual est claramente vedando que ela seja concedida de oficio pelo juiz, o que se coaduna coma norma do art. 2.0. do CPC (princpio da inrcia). Quanto aos demais requisitos para a concesso da tutela antecipada, inegvel que a questo que tem atormentado os estudiosos a que envolve a cha- mada prova inequvoca, bem como a que diz respeito ao convencimento do juiz quanto a verossmlhanca das alegaces da parte. De incio, esclareca-se que a "prova inequvoca"

  • O art. 1.211-A, acrescido pela Lei nQ 12.008, de 29 dejulho de 2009, esta- belece que o procedimento judicial em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, ou portadora de doenca grave, ter prioridade de trarnitaco em todas as instancias. O gozo deste beneficio depende de requerimento da pessoa interessado junto ao Ma- gistrado responsvel pelo feito; provada a condico de id oso, a autoridade judiciria determinar o necessrio, inclusive a colocaco de tarja identifica- tria dessa stuaco nos autos.

    Esta concesso arrima-se no princpio da dignidade da pessoa humana, neste sentido a jurisprudencia do Superior Tribunal de Justica: "mostrase im prescindvel que se conceda a pessoas que se encontrem em condidies especiais de sade, o direito a tramitar-do processual prioritria; assegurandolhes a entrega da prestadio jurisdicional em tempo nao apenas hbil, mas sob regime de prio ridade, mxime quando o prognstico denuncia alto grau de morbidez. Negar o direito subjetivo de tramitar-do prioritria do processo em que figura como parte

    5.5 Tramtaco prioritria

    Destarte, prova inequvoca ser aquela que se mostrar bastante para incutir no esprito do juiz que as alegaces do autor sao verdadeiras, ou, em outras palavras, aquela que convenca o juiz de que h muita probabilidade, ou ve- rossimilhanca, de que as alegaces do autor sao verdadeiras, possibilitando a concesso fundamentada, de forma clara e precisa (art. 273, 1 Q' CPC), da tutela antecipada requerida.

    Nao basta que o juiz esteja convencido da verossmilhanca das alegaces , do autor. E necessrio, ainda, que exista risco, ou prejuzo, pela nao concesso imediata da medida (periculum in mora), assim como necessrio que a tute- la a ser concedida seja reversvel. Com efeito, se nao h pressa, urgencia, ou perigo de dano, nao se justifica a concesso da medida, que envolve a quebra da lgica do processo, salvo no caso de a medida ser urna sanco pelo abuso do direito de defesa ou pelo manifesto propsito protelatrio do ru, Nao pode ainda ser a medida irreversvel, sob pena de a concesso da tutela exau- rir, de fato, a jursdico, causando dano irreparvel para outra parte. Com efeito, a irreversibilidade nao se coaduna com o carter, expressamente pre- visto no CPC, art. 273, 4~, provisrio e revogvel da medida antecipatria.

    32 Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • uma pessoa com o virus HN seria, em ltima anli.se, suprimir, em relafiio a um ser humano, o principio da dignidade da pessoa humana, previ.sto constitu cionalmente como um dos fundamentos balizadores do Estado Democrtico de Direito que compiie a Repblica Federativa do Brasil, no art. 1, inc. III, da CE Niio h necessidade de se adentrar a seara da interpretadio extensiva ou da uti lizafiio da analoga de dispositivo legal infraconstitucional de cunho processual ou material, para se ter completamente assegurado o direito subjetivo pleiteado pelo recorrente. Basta buscar nos fundamentos da Repblica Federativa do Brasil o princpio da dignidade da pessoa humana que, por sua prpria signifi.cdncia, impiie a celeridade necessria peculiar a tramitadio prioritria do processo em que figura parte com enfermidade como o portador do virus HN, tudo isso pela particular condifiio do recorrerue, em decorrncia de sua molstia. Recurso espe cial conhecido e prevido:" REsp 1.026.899/DF, Ministra Nancy Andrighi, Ter- ceira Turma, DJe 30-4-2008.

    Deferida a priordade, essa nao cessa pela rnorte do beneficirio, esten- dendo-se ern favor do cnjuge suprstite, cornpanheiro ou companheira, ern uno estvel.

    Processo e procedimento 33

  • Regra geral, o processo civil comeca por iniciativa da parte (princpio dispositivo ou da inrcia), que, segundo seu interesse, distribui ou protocola, conforme haja um ou mais juzes competentes (art. 251, CPC), a petico ini- cial, que deve atender aos requisitos dos arts. 282 e 283 do CPC. Registre-se que h alguns poneos casos em que a lei processual permite que o processo comece por iniciativa do prprio juiz, ex officio (v.g., arts. 989, 1.129, 1.142 e 1.160, CPC).

    O ajuizamento da aco provoca o aparecimento da "relaco jurdica pro- cessual", que pode ser conceituada como a relaco triangular que se esta- belece entre autor, juiz e ru. A relaco jurdica processual comeca com o ajuizamento da aco, porm s se completa com a citaco vlida do ru, conforme declara expressamente o art. 219 do CPC: "A citaco vlida torna prevente o juzo, induz litispendencia e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrco."

    Estabelecida a relaco jurdica processual pela citaco, ocorre a estabiliza- c;ao do processo, sendo que a partir de ento s ser lcito ao autor modificar

    6.1 Formaco

    Formaco e extinco do processo 6

  • Iniciado o processo, esse deve seguir a sua marcha natural at o fim, qual- quer que seja o procedimento aplicvel ao caso, com a prolaco da sentenca, onde o Estado-juiz acaba por dizer o direito aplicvel ao caso que lhe foi sub- metido. Entretanto, durante o tramite do feito podem ocorrer acontecimentos que provoquem a sua paralsaco temporria. Com efeito, o art. 265 do CPC declara que se suspende o processo: I - pela morte ou perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu pro- curador (arts. 1.055 a 1.062); 11 - pela convenco das partes, at o mximo de seis meses ( 3); III - quando for oposta exceco de incompetencia do juzo, da cmara ou do tribunal, bem como de suspeico ou impedimento do juiz; IV - quando a sentenca de mrito: (a) depender do julgamento de outra causa, ou da declaraco da existencia ou inexistencia da relaco jurdica, que constitua o objeto principal de outro processo pendente; (b) nao puder ser proferida seno depois de verificado fato, ou de produzida certa prova, re- quisitada a outro juzo; (c) tiver por pressuposto o julgamento de questo de estado, requerido corno declaraco incidente (art. 325, CPC); V - por motivo

    6.2 Suspenso

    o pedido ou a causa de pedir se o ru concordar com a alteraco e se essa ocorrer antes do sanea.mento do feito, visto que, aps o despacho saneador, nao rnais permitida a modficaco do pedido, mesmo corn a concordancia do ru. Corn a ctaco ocorre ainda a estabilidade subjetiva da aco (perpetua tio legitimationis), ficando, a partir de ento, vedada qualquer alteraco entre as partes do processo (autor e ru), bem corno entre eventuais intervenientes (art. 264, CPC), salvo as substituices permitidas pela lei (v.g., nomeaco a autoria, art. 66, CPC; morte de urna das partes, nao sendo o caso de aces intransmissveis, art. 43 e art. 267, IX, CPC).

    Embora a iniciativa do processo esteja ao encargo da parte interessada, ele, urna vez iniciado, se desenvolve por impulso oficial (art. 262, CPC), isto , por atos do juiz e de seus auxiliares. Entretanto, isto nao dispensa a parte de cumprir com os seus deveres processuais. Com efeito, quando, durante o processo, couber ao autor a prtica de certos atos, ele deve faz-lo nos prazos fixados pela lei ou pelo juiz, sob pena da extinco do processo semjulgamen- to do mrito (art. 267, CPC).

    rormacao e extinco do processo 35

  • Como j se disse, o processo apenas o instrumento de que se vale o Estado-juiz para resolver a lide. Destarte, iniciada a aco pela distribuico ou protocolo da petico inicial (art. 251, CPC), essa, de regra, deve seguir o seu curso normal, conforme o procedimento aplicvel ao caso, at que seja prola- tada a sentenca, decidindo ou nao a lide. Com efeito, embora seja garantido a todos o acesso ao Poder Judicirio, este direito nao implica que o demandante possa exigir urna sentenca de mrito que efetivamente aprecie o seu pedido, urna vez que podem ocorrer situaces que levem o juiz a extinguir o processo sem o julgamento do mrito, isto , sem apreciar o que foi pedido pelo autor.

    Quando o juiz julga o mrito do pedido do autor, solucionando a lide, seja pelo deferimento, seja pelo indeferimento do pedido, diz-se que a "sentenca foi de mrito ou definitiva" (art. 269, CPC), o que provoca, aps o transito em julgado, a ocorrncia da coisa julgada material, o que impede o ajuizamento de novo feito sobre os mesmos fatos (princpio da unicidade da reladio pro cessual). Registre-se, no entanto, que aps a Le n; 11.232/05, que alterou a redaco do 1 - do art. 162 e o caput dos arts. 269 e 463, a sentenca de mrito positiva nao mais extingue o processo de conhecimento, apenas p6e fim a fase decisria (sujeita a recurso). De fato, segundo as alteraces trazidas pela re- ferida lei, o processo de conhecimento passa a incluir urna "fase executria", sendo que s ocorrer a extnco do processo quando houver a realizaco efetiva do direito reconhecido na sentenca.

    J a sentenca que nao chega a apreciar o mrito do pedido do autor, tam- bm conhecida como "sentenca terminativa", extingue efetivamente o proces- so (art. 267, CPC), provocando, aps o transito em julgado, a coisa julgada formal, o que permite ao autor reiterar seu pedido, ajuizando outro processo,

    6.3 Bxtineo 6.3.1 Disposifoes gerais

    de forca maior (v. g., incendio, greve etc.); VI - nos demais casos que este Cdigo regula (arts. 13, 43, 394 e 881, CPC).

    Durante a suspenso, proibida a prtica de qualquer ato processual, salvo daqueles reputados urgentes, que visam evitar dano irreparvel (art. 266, CPC).

    36 Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • IV - quando se verificar a ausncia de pressupostos de constituidio e de desenvol vimento vlido e regular do processo;

    Sendo o processo urna relaco jurdica, natural que reclame para sua validade a existencia de certos requisitos ou pressupostos, seja quanto as

    111 - quando, por niio promover os atos e diligencias que lhe competir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;

    O abandono do processo nesses casos indica que as partes perderam o in- teresse na prestaco da tutela jurisdicional, o que justifica a extnco do feto sem julgamento do mrito. Todava, antes de assim proceder, o juiz deve inti- mar pessoalmente o autor a dar andamento no feto no prazo de 48 e quarenta e oito) horas, fazendo constar expressamente que a inrcia resultar na ex- tinco do processo (art. 267, 1 e 2, CPC). No caso de a inrcia ser apenas do autor e o ru nao ser revel, o juiz deve ainda intim-lo para se manifestar, urna vez que esse pode ter interesse em ver apreciado o mrito do pedido (Smula 240 do STJ: ''A extnco do processo, por abandono da causa pelo autor, depende de requerimento do ru.") Registre-se que a extinco do feto por abandono nao impede que o autor volte a propor a mesma aco, salvo no caso de j se ter caracterizada a perempco (art. 268, X, CPC).

    11 - quando ficar parado durante mais de 1 ( um) ano por negligencia das partes;

    1 - quando o juiz indeferir a petidio inicial; Petico inicial o ato processual escrito por meio do qual a pessoa exerce

    seu direito de aco, provocando a atividade jurisdicional. Ela deve ser elabo- rada de acordo com os requisitos do art. 282 do CPC e pode ser indeferida nas hipteses previstas no art. 295 do CPC. Desta decso cabe o recurso de apelaco, com excepcional possibilidade de retrataco (art. 296, CPC).

    O art. 267 do CPC declara que o processo se extingue sem resoluco de mrito nas seguintes hipteses:

    6.3.2 sentenca terminativa

    salvo quando ele foi extinto em razo de o juiz ter acolhido a alegaco de perempco, litispendencia ou de coisajulgada (art. 268, CPC).

    rormacao e extinco do processo 37

  • VI - quando nao concorrer qualquer das condidies da afao, como a possibilidade jurdica, a legitimidade das partes e o interesse processual;

    Como j se viu, o direito de aco autnomo e incondicional; todava, para que a parte possa obter urn pronunciamento judicial quanto ao mrito do seu pedido, no chamado "direito processual de aco", necessria a pre- senca de algurnas condces: interesse processual, que se traduz no binomio

    V - quando o juiz acolher a alegafao de perempdio, litispendencia ou de coisa julgada;

    Essas matrias, que sao de ordem pblica e nao esto sujeitas a preclu- sao, podem ser conhecidas de oficio pelo prprio juzo. Na falta da iniciativa judicial, deve a parte mencionar sua ocorrnca em preliminar, na contestaco (art. 301, CPC). Senda que: perempdio a perda do direito de aco, repre- sentando urna sanco pelo fato de o autor ter dado causa, por tres vezes, a extinco do processo em razo da sua inrcia; luispendncia a reproduco de aco anteriormente ajuizada que ainda est em curso (art. 301, 1 e 3, CPC); coisa julgada, ou coisa julgada material, a eficcia que toma imutvel e indiscutvel a sentenca, nao mais sujeita a recurso ordinrio ou extraordin- rio (art. 467, CPC).

    A vedaco a coisa julgada e a litispendencia decorre do principio da unid dade da relafao processual, que, com escapo de evitar sentencas contraditrias, probe a repetco de lides fundadas nos mesmos fatos e entre as mesmas partes.

    partes intervenientes (pressupostos subjetivos)' seja quanto a regularidade dos atas que formam ou desenvolvem a relaco jurdica processual (pressupostos objetivos). Exemplo daqueles a capacidade processual das partes, ou seja, a capacidade para estar emjuzo; j quanto aos pressupostos objetivos, pode-se citar a juntada do instrumento de mandato, a inexistencia de litispendencia ou coisa julgada.

    Qualquer que seja o caso, os pressupostos processuais envolvem a regu- laridade formal do processo e sao, portanto, de ordem pblica, nao estando sujeitos a precluso e podem ser discutidos em qualquer fase do processo. Constatada a ausencia de qualquer dos pressupostos de constituico e de de- senvolvimento vlido e regular do processo, esse dever ser extinto semjulga- mento do mrito, desde que nao seja possvel, ou vivel, a sua regularizaco.

    38 Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • X- quando acorrer confusiio entre autor e ru;

    IX - quando a afO for considerada intransmissivei por disposifO legal; Sao intransmissveis as aces de natureza personalssima, por exemplo:

    aco de separaco judicial, aco de divrcio, aco de alimentos etc. Nestes casos, nao possvel a transmisso do direito subjetivo, ou seja, no caso de falecimento do titular do direito, esse se extingue, assim como o processo, que dever ser extinto sem julgamento do mrito.

    VIII - quando o autor desistir da afao; Desistencia o ato processual, escrito ou oral (termo nos autos), pelo

    qual o autor renuncia ao processo. Note-se que a desistencia do processo nao implica a renncia do direito material que eventualmente lhe d amparo, razo pela qual o feto extinto sem julgamento do mrito. Caso a desisten- cia do feto seja manifestada antes que o ru oferte a contestaco (art. 297, CPC), ela ato unilateral e nao depende da concordancia do ru; contudo, se o pedido de desistencia feto aps ter o ru apresentado a sua contestaco, o juiz mandar ntim-lo para que se manifeste sobre o pedido, urna vez que neste caso a extinco do feto em razo do pedido de desistencia formulado pelo autor depende da expressa concordancia do ru (art. 267, 40, CPC).

    VII - pela cottveruiio de arbitragem; Embora o Estado tenha tomado para si a funco de solucionar a lide, per-

    mite que os litigantes optem pela arbitragem quando ela envolver direitos pa- trimoniais disponveis (art. 1, Lei n 9.307/96). Neste caso, tendo as partes optado pela clusula compromissria, fica o rgo judicial impedido de conhe- cer da questo, o que provoca a extinco do feto sem julgamento de mrito.

    "necessidade/utilidade" (arts. 3 e 4, CPC); legitimidade das partes, ou seja, a aco s pode ser ajuizada por quem se declara titular do direito em face do obrigado (legitrnaco ordinria); possibilidadejurdica do pedido, nem todos os conflitos sao tutelados pelo direito (v. g., quest6es morais, religiosas e de foro ntimo), e outros, ainda, sao expressamente proibidos; assim, o pedido do autor possvel quando nao for direta ou indiretamente vedado pelo orde- namento jurdico. Faltando qualquer destas condices, o autor ser declarado carecedor de aco, extinguindo-se o feto sem julgamento de mrito.

    rormacao e extinco do processo 39

  • 1 - quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor; Esta hiptese representa o objetivo natural do processo, que resolver a

    lide, por meio da formulaco da norma jurdica concreta que ir disciplinar a

    Como j observado, a sentenca de mrito, ou definitiva, s extingue o processo no caso de ser julgado improcedente o pedido do autor (sentenca negativa). Julgado procedente o pedido, o devedor deve cumprir a obrigaco fixada na sentenca, sob pena de iniciar-se incontinenti os atos executivos. Segundo as novas dsposices trazidas pela Lei n12 11.232/05, o processo nao se extingue enquanto o direito reconhecido na sentenca nao for efetivamente realizado. Tal fato traz inegveis vantagens para o credor, que fica dispensado de iniciar novo processo, em que seria obrigado a promover nova citaco, que costumeiramente mais difcil de realizar, vez que o executado j se encontra ciente da obrigaco e procura evitar o oficial de justica; isso para nao se men- cionar as despesas e taxas extras que o exequente se via forcado a recolher para iniciar o processo executivo.

    Assim, nao mais se pode mais f alar de forma geral, como se fazia antes da citada Lei n 11.232/05, que a sentenca pee fim ao processo; agora, a sentenca de mrito, ou definitiva, apenas "resolve" a lide. Com efeito, a nova redaco do art. 269 do CPC informa que h resoluco de mrito, ou da lide, nas seguintes hipteses:

    6.3.3 SentenfCI definitiva

    XI - nos demais casos prescritos neste Cdigo; Alm dos casos expressamente indicados no art. 267, h outras hipteses

    previstas no CPC que podem levar a extinco do feito sem o julgamento de mrito, mormente por descumprimento de obrigaco imposta ao autor (v.g., arts. 47, 329, 459 etc.).

    Ocorre o fenmeno da confuso quando se unem num s indivduo as qualidades de credor e devedor, provocando a extnco da obrigaco (art. 381, CC/2002). A mesma regra se aplica ao processo; se, por sucesso, autor e ru se confundirem na mesma pessoa, deixa de existir lide, sem a qual nao se justifica a relaco processual, operando-se a extnco do feito semjulgamento do mrito.

    40 Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • IV - quando o juiz pronunciar a decadencia ou a prescridio; Prescrico a perda da faculdade que a pessoa tem de fazer valer seu di-

    reito por meio da tutela jurisdicional, em razo de nao ter procurado o Poder Judicirio dentro do prazo previsto em lei (art. 206, CC); decadencia, por sua vez, mais profunda e nao envolve apenas a perda da faculdade de procurar

    III - quando as partes transigirem; Transaco o negcio jurdico bilateral por meio do qual as partes po-

    dem prevenir ou terminar litigio mediante concesses recprocas (arts. 840 e 841, CC/2002). Com efeito, a melhor forma de resolver urna lide que envolva direitos patrimoniais de carter privado por meio da conclaco, que pode acontecer por iniciativa das partes ou do juiz (art. 447, CPC). Obtendo-se a transaco, seja por termo nos autos, seja por petico das prprias partes, o juiz dever sentenciar, homologando o acordo e extinguindo o feto com jul- gamento do mrito.

    II - quando o ru reconhecer a procedencia do pedido; Citado, o ru pode permanecer inerte, sofrendo os efeitos da revelia

    (art. 319, CPC), apresentar resposta (v.g., exceces, rnpugnaces, contesta- co, reconvenco, embargos), ou, quando a lide versar sobre direitos dispo- nveis, "reconhecer a procedencia do pedido do autor", confessando o direito material invocado na petico,

    Nao se deve confundir reconhecimento do pedido com confsso. O pri- meiro, como se disse, implica o reconhecimento do direito do autor, provocan- do o julgamento antecipado da lide (art. 329, CPC). J a confisso, que pode ocorrer na prpria contestaco ou quando de eventual depoimento pessoal (art. 302, CPC), refere-se a veracidade dos fatos que estejam em dscusso e nao implica que a parte concorde com a pretenso do autor.

    situaco descrita na petico inicial. Ao finalmente acolher ou rejeitar o pedi- do do autor, o juiz est entregando a tutelajurisdicional. Note-se que o que julgado procedente ou improcedente o pedido do autor, nao a aco, razo pela qual inadequado o uso das expresses procedencia da afdo ou improce dencia da apio.

    rormacao e extinco do processo 41

  • V - quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a afdo; O autor, titular do direito material disponvel, pode a qualquer tempo

    renunci-lo, seja por meio de termo nos autos ou por escrito particular que chegue ao conhecimento do juiz. Caracterizada a renncia do direito sobre que se funda a aco, deixa de existir a prpria razo do processo, isto , a lide, o que justifica a extinco do processo com julgamento de mrito (art. 329, CPC), havendo ou nao concordancia do ru.

    A renncia ao direito material disponvel se distingue da desistencia da aco, vez que no caso da renncia deixa de existir o prprio direito material, o que impede o ajuizamento de novo feto.

    a tutela jurisdicional. Por ela, a pessoa que nao faz uso do seu direito dentro de ceno lapso de tempo perde o prprio direito material.

    Seja qual for o caso, prescrico ou decadencia, existe a perda do direito de estar emjuzo, razo pela qual o processo deve ser extinto comjulgamento de mrito. Aps a Lei n- 11.280, de 16 de fevereiro de 2006, que alterou a redaco do 50. do art. 219 do CPC, tanto a prescrico como a decadencia podem ser pronunciadas de oficio pelo juiz, fato que nao impede, claro, que seja alegada pela parte a que aproveita.

    42 Prtica de recursos no processo civil Araujo Jnior

  • Partes sao as pessoas, fsicas ou jurdicas, que participam da relaco pro- cessual, ou seja, os sujeitos do processo. De forma geral, no processo de co- nhecimento sao chamadas de autor e ru. Diz-se "autor" aquele que formula o pedido ao juzo, enquanto o "ru" aquele em face de quem o autor faz o pedido. Observe-se, no entanto, que esta denorninaco das partes varia con- forme o tipo do processo, a espcie do procedimento ou mesmo de acordo com a fase processual. Destarte, pode-se afirmar que a denominaco correta das partes : I - no processo cautelar, "requerente e requerido"; II - no pro- cesso de execuco, "exequente e executado", ou "credor e devedor"; III - nos embargos, "embargante e embargado"; IV - nas irnpugnaces, "impugnante e impugnado"; V - nas exceces, "excipiente e excepto"; VI - nos recursos de forma geral, "recorrente e recorrido"; VII - na apelaco, "apelante e apelado"; VIII - no agravo, "agravante e agravado"; IX - nas intervences de terceiros: denunciadio da lide, "denunciante e denunciado", oposidio, "opoente e opos- tos", assistncia, "assistente e assistido", notneaciio e autoria, "nomeante e no- meado", chamamento ao processo, "chamado".

    7 .1 Definico de partes

    Partes e procuradores 7

  • Mesmo tendo capacidade processual, as pessoas casadas necessitam do consentimento do seu cnjuge para propor individualmente aces que ver- sem sobre direitos reais imobilirios (arts. 1.225 e 1.227, CC/2002), salvo quando o regime de bens for o da separaco absoluta de bens (art. 1.647, CC/2002). A lei nao impe forma especial para a concesso do consenrmen- to, razo pela qual este pode ser dado por qualquer meio que seja legtimo para demonstrar a vontade do cnjuge; por exemplo: instrumento pblico ou particular; declaraco de prprio punho; outorga de procuraco; subscrico da petco inicial etc. Havendo injusta recusa do cnjuge ou sendo impossvel para este d-la (v.g., cnjuge em estado de coma; cnjuge ausente, desapare- cido), a autorizaco pode ser suprida judicialmente. Nesse sentido, a norma do art. 11 do CPC, que declara que "a autorizaco do marido e a outorga da mulher podem suprir-se judicialmente, quando um cnjuge a recuse ao outro semjusto motivo, ou lhe seja impossvel d-la". Para obter a autorzaco judi- cial, a parte interessada dever ajuizar af.o de suprimento de autorizafio. A

    7 .3 Capacidade processual das pessoas casadas

    Capacidade processual a aptido para ser sujeito, ativo ou passivo, da relaco jurdica processual. Embora toda pessoa possa estar em juzo, nao importando a sua idade ou estado civil, somente tm capacidade processual aquelas que possuem a chamada capacidade de exerccio ou de fato, neste sen- tido a norma do art. 7 do CPC, que declara que "toda pessoa que se acha no exerccio dos seus direitos tem capacidade para estar em juzo". Aqueles que sejarn absolutamente incapazes (art. 3ll, CC/2002) devem ser representados por seus pas, tutores ou curadores. J os relativamente incapazes (art. 4, CC/2002) devem ser assistidos pelas mesmas pessoas.

    Verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representa-

  • , E cedco que a pessoa jurdica legalmente estabelecida possui persona- lidade jurdica (art. 45, CC/2002), e como tal pode acionar ou ser acionada por terceiros, sendo que, segundo o art. 12 do CPC, ser representada em juzo, ativa e passivamente: I - a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Territrios, por seus procuradores; II - o Municpio, por seu Prefeito ou pro- curador; III - a massa falida, pelo sndico; IV - a heranca jacente ou vacante, por seu curador; V- o esplio, pelo inventariante; VI - as pessoas jurdicas, por quem os respectivos estatutos designarem, ou, nao os designando, por seus diretores; VII - as sociedades sem personalidad e jurdica, pela pessoa a quem couber a adminstraco dos seus bens; VIII - a pessoa jurdica estran- geira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agencia ou sucursal aberta ou instalada no Brasil (art. 88, pargrafo nico, CPC); IX - o condomnio, pelo administrador ou pelo sndico.

    Ressalve-se, ademais, que nos incisos 111, IV e V o Cdigo menciona as chamadas "pessoas formais", que, embora nao tenham personalidade jurdi- ca, sao admitidas a figurar, em certas circunstancias, como sujeitos da relaco jurdica processual. J a pessoa jurdica irregular ou sociedade em comum, denorninaco dada pelo Cdigo Civil de 2002, pode ser r, porm nao pode ser autora, urna vez que nao possui personalidade jurdica (arts. 986 e 987, CC/2002). Em qualquer caso, verificando a incapacidade processual, o juiz, suspendendo o processo, marcar prazo razovel para ser sanado o defeito, sobas penas da lei (art. 13, CPC).

    7.4 Capacidade processual das pessoas jurdicas

    falta da autorzaco, nao suprida pelo juiz, invalida o processo em razo da falta de pressuposto processual de validade.

    No lado passivo da aco, ambos os cnjuges sero necessariamente ci- tados (litisconsrcio necessrio), segundo o art. 10 do CPC, para as aces: I - que versem sobre direitos reais imobilirios (v. g., aco reivindicatria, aco de adjudcaco compulsria, aco de usucapo etc.); 11 - resultantes de fatos que digam respeito a ambos os cnjuges ou de atos praticados por eles; llI - fundadas em

  • Capacidade postulatria a aptido para promover aces judiciais, elabo- rar defesas e praticar outros atos processuais. Nao deve ser confundida corn capacidade processual, que, corno j se disse, a aptido para estar ernjuzo. S trn capacidade postulatria, segundo o art. 36 do CPC e o art. 8 da Lei n- 8. 906/94 (EA), o bacharel ern Direito regularmente inscrito no quadro de advogados da Ordern dos Advogados do Brasil (OAB) e o Ministrio Pblico, nos casos expressarnente autorizados pela le (art. 81, CPC). Destarte, ainda que a parte tenha capacidade processual, para ajuizar aco, oferecer contes- taco ou praticar qualquer outro ato dentro do processo,
  • O art. 133 da Constituico Federal afirma que "o advogado indispensvel a administra9do da justica, senda inviolvel por seus atos e manifestadies no exerccio da profissiio, nos limites da lei". Apreciando a abrangncia desta nor- ma, pode-se confirmar que "a jurisprudencia do Supremo Tribunal Federal est alinhada no sentido de que o advogado tem imunidade profissional, nao cons tituindo injria e difamafdo qualquer manifestadu: de sua parte no exercicio

    7 .8 Direitos do advogado

    A procuraco ad judicia, ou procuraco para o foro ou para o juzo, o instrumento que habilita, segundo o art. 37 do CPC, o advogado a praticar, ern norne da parte, todo e qualquer ato processual (v. g., ajuizar aco, contestar, reconvir, opor embargos do devedor, recorrer, opor exceco etc.), salvo rece- ber a citaco, confessar, reconhecer a procedencia do pedido, transigir, desistir; renunciar ao direito sobre que se funda a aco, receber, dar quitaco e firmar cornprornisso, urna vez que a prtica desses atos exige que o advogado tenha poderes especiais, expressos no instrumento de mandato (art. 38, CPC). Excep- cionalmente, permite a lei processual que o advogado ajuze aco ou pratique outros atos, reputados urgentes, a firn de evitar a decadencia ou prescrico, sern apresentar o instrumento do mandato (procura9do), desde que assuma o cornprornisso de exbi-lo ern 15 (quinze) dias, prazo que pode, por despacho do juiz, ser prorrogado por mais 15 (quinze) dias. Caso o instrumento nao seja apresentado no prazo, os atos praticados sero havidos por inexistentes, res- pondendo o advogado pelas despesas e eventuais perdas e danos.

    A Lei ne 11.419, de 19 de dezernbro de 2006, que dispe sobre a infor- matzaco do processo judicial, acrescentou pargrafo nico ao art. 38 do CPC, autorizando que a procuraco seja assinada digitalmente corn base em