araujo paredes

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Paredes de vedação: integração entre projeto e canteiro Margarete Maria de Araújo Silva (1); Denise Morado Nascimento (2) (1) Professora Assistente, Curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC/MG, Belo Horizonte Tel: (31) 3319 4154 - e-mail: [email protected] (2) Professora Adjunta, Escola de Arquitetura da UFMG, Belo Horizonte Tel: (31) 3269.1816 - e-mail: [email protected] RESUMO: Este artigo referencia-se ao projeto “Recomendações para o projeto construtivo das paredes de vedação em alvenaria: procedimentos para elaboração e padrão de apresentação”, que aborda suas funções, principais propriedades e técnicas de execução e, finalmente, diretrizes para a elaboração dos projetos das paredes de vedação, planejamento e controle da produção dessas. Como proposta para a racionalização das atividades produtivas da empresa e, em uma tentativa de adotar-se um sistema de coordenação modular, desenvolveu-se em escala experimental um componente cerâmico especial para a produção das alvenarias, batizado de “Bloco Poli”. Durante essa experiência, enfrentou-se a resistência dos profissionais envolvidos no processo de produção, nas várias instâncias de decisão da empresa. As conclusões voltam-se para a adoção dos projetos construtivos para as paredes de vedação como instrumento de compatibilização e de coordenação entre os projetos arquitetônico e complementares e documentos de obra, mas também como elemento de integração entre a fase de concepção e a de produção, ao buscar incorporar soluções construtivas consoantes com a realidade dos canteiros. Palavras-chave: Paredes de vedação, coordenação modular, projeto de vedação, canteiro de obras. ABSTRACT: The article refers to the project titled “Recommendations to the production design of non- structural walls: elaboration and presentation procedures”, which considers their function, main production properties and techniques and, finally, guidelines to the non-structural walls design, planning and production control. As a proposal to the production activities’ rationalization of a specific building company and, also, an attempt to adopt a modular coordination system, a ceramic component was developed named “Bloco-Poli”. During this experience, resistance was faced from the involved professionals in the production processes. The conclusions are due to the adoption of the production design of the non-structural walls as a compatibility and coordination tool between the design project and its complementary projects, but also, as an integration element between the conception and the production phases in order to search for adequate constructive solutions to the building sites reality. Key words: Non-structural walls, modular coordination, non-structural walls design, building site.

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Page 1: Araujo Paredes

Paredes de vedação: integração entre projeto e canteiro

Margarete Maria de Araújo Silva (1); Denise Morado Nascimento (2) (1) Professora Assistente, Curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC/MG, Belo Horizonte

Tel: (31) 3319 4154 - e-mail: [email protected] (2) Professora Adjunta, Escola de Arquitetura da UFMG, Belo Horizonte

Tel: (31) 3269.1816 - e-mail: [email protected] RESUMO: Este artigo referencia-se ao projeto “Recomendações para o projeto construtivo das paredes de vedação em alvenaria: procedimentos para elaboração e padrão de apresentação”, que aborda suas funções, principais propriedades e técnicas de execução e, finalmente, diretrizes para a elaboração dos projetos das paredes de vedação, planejamento e controle da produção dessas. Como proposta para a racionalização das atividades produtivas da empresa e, em uma tentativa de adotar-se um sistema de coordenação modular, desenvolveu-se em escala experimental um componente cerâmico especial para a produção das alvenarias, batizado de “Bloco Poli”. Durante essa experiência, enfrentou-se a resistência dos profissionais envolvidos no processo de produção, nas várias instâncias de decisão da empresa. As conclusões voltam-se para a adoção dos projetos construtivos para as paredes de vedação como instrumento de compatibilização e de coordenação entre os projetos arquitetônico e complementares e documentos de obra, mas também como elemento de integração entre a fase de concepção e a de produção, ao buscar incorporar soluções construtivas consoantes com a realidade dos canteiros. Palavras-chave: Paredes de vedação, coordenação modular, projeto de vedação, canteiro de obras. ABSTRACT: The article refers to the project titled “Recommendations to the production design of non-structural walls: elaboration and presentation procedures”, which considers their function, main production properties and techniques and, finally, guidelines to the non-structural walls design, planning and production control. As a proposal to the production activities’ rationalization of a specific building company and, also, an attempt to adopt a modular coordination system, a ceramic component was developed named “Bloco-Poli”. During this experience, resistance was faced from the involved professionals in the production processes. The conclusions are due to the adoption of the production design of the non-structural walls as a compatibility and coordination tool between the design project and its complementary projects, but also, as an integration element between the conception and the production phases in order to search for adequate constructive solutions to the building sites reality. Key words: Non-structural walls, modular coordination, non-structural walls design, building site.

Page 2: Araujo Paredes

1. INTRODUÇÃO A racionalização do processo construtivo tradicional foi a diretriz básica para a concretização

de um convênio de desenvolvimento tecnológico universidade-empresa (EPUSP/ENCOL),

objetivando desenvolver metodologias e procedimentos adequados à realidade das obras da

empresa contratante e que permitissem otimizar as atividades construtivas bem como

melhorar o desempenho dos edifícios construídos por ela.

Os objetos dessas pesquisas eram as alvenarias de vedação e os revestimentos argamassados

de paredes, pisos e tetos e que consistiam, à época, prática corrente da empresa que atuava, ao

final dos anos 80, em todo o Brasil. A pesquisa referente às alvenarias de vedação abordou,

sinteticamente, suas funções e principais propriedades, bem como as técnicas de execução.

Buscando-se trabalhar em consonância com a realidade produtiva da empresa propôs-se o

desenvolvimento piloto de três projetos executivos de alvenaria em obras de distintas cidades

para que se pudesse também avaliar a influência de características regionais no processo.

Um produto relevante deste trabalho, a ser apresentado neste artigo, foi o desenvolvimento em

escala experimental de um componente cerâmico especial para a produção das alvenarias,

batizado de “Bloco Poli”. Dotado de seções de fragilidade induzida, podia ser facilmente

seccionado com um golpe de colher de pedreiro gerando submódulos e facilitando o

fechamento de vãos estruturais de quaisquer dimensões, ainda que não modulares, sem a

geração de perdas e entulhos.

A partir da experiência prática, foram também propostos os procedimentos metodológicos

para a elaboração de projetos a serem contratados posteriormente, o padrão de apresentação e

conteúdo destes projetos, além do estabelecimento de critérios para o controle da qualidade

dos mesmos1.

Pretendemos, aqui, resgatar as experiências vivenciadas neste projeto de pesquisa por

acreditarmos que os atuais processos e práticas de projetos ainda apresentam deficiências,

podendo ser consideradas similares àquelas apresentadas à época.

1 Ver também SILVA, M. M. A. Diretrizes para o projeto de alvenarias de vedação. 2003. 167p. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Construção Civil) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

Page 3: Araujo Paredes

2. O PROJETO DAS PAREDES DE VEDAÇÃO EM ALVENARIA

Os métodos empregados no processo construtivo convencional para a execução de alvenarias

de vedação, contrapisos e revestimentos de paredes assentavam-se, àquela época, em bases

bastante artesanais com deficiente fiscalização dos serviços, organização e padronização do

processo de produção. Entretanto, ainda hoje, os procedimentos adotados nos canteiros

limitam-se à reprodução de práticas correntes na construção civil acompanhadas por projetos

com um nível de detalhamento construtivo insuficiente à consecução de um produto de

qualidade assegurada além de conterem incorreções que, não raro, somente são evidenciados

no momento da execução.

Segundo Martins, Hernandes e Amorim (2003), as principais causas de patologia pós-

ocupação das edificações são, em sua maioria, devido às falhas de projetos (49% a 36%,)

seguida pelas falhas de execução (30% a 19%), de materiais (25% a 11%) e de utilização

(11% a 9%). Os autores evidenciam que, na fase de projetos, os erros podem ocorrer por falha

de dimensionamento, falta de especificações, falha de comunicações entre os projetistas, falta

de compatibilização com os diversos subsistemas da edificação e falta de detalhes gerando

dúbias interpretações pelos executores. Nessa perspectiva, a pesquisa dos suecos Hammarlund

e Josephson, apresentada por Tavares Junior (2001, p.34), confirma “a grande participação do

projeto na origem das falhas internas (20%) e externas (51%) da qualidade das edificações”.

A insuficiência de detalhamento construtivo corretamente concebido (especificação de

materiais e técnicas a serem utilizadas) pode ser atribuída ao desconhecimento, por parte dos

projetistas, das inúmeras e variadas influências físicas a que estão expostas as edificações e do

comportamento dos materiais de construção frente a elas, ao longo do tempo. É pouco

freqüente o acompanhamento das obras por seus projetistas, prática que circunscreve os

problemas decorrentes de prescrições técnicas aos canteiros ou, quando não solucionados,

transfere-os aos futuros usuários sem contribuir para a melhoria de qualidade de novos

projetos que voltam a apresentar as mesmas falhas e erros de concepção.

A proposta de elaboração de projetos construtivos para edificações objetiva resgatar para a

fase de concepção a responsabilidade pela correção técnica e exeqüibilidade das propostas

enviadas aos canteiros de obra, dotando-os de instrumentos efetivamente reguladores do

processo de execução de edifícios e definidores da qualidade final do produto. Pressupõe

maior estreitamento entre as atividades de projeto e execução, além de avaliações sistemáticas

pós-ocupação dos edifícios num processo contínuo de revisão e de aperfeiçoamento das

práticas de produção de edifícios convencionais.

Page 4: Araujo Paredes

Para as paredes de alvenaria, a elaboração de projetos executivos visa conceber os detalhes

construtivos capazes de assegurar-lhes melhor desempenho de suas funções como vedação, na

proteção dos ambientes contra a ação de agentes externos indesejáveis (correntes de ar, águas

da chuva, raios visuais, som, calor ou frio, animais, ação do fogo, etc.) e como suporte de

instalações prediais e de equipamentos diversos, atendendo aos padrões de habitabilidade e de

segurança de seus usuários e à normalização pertinente.

3. PROJETOS EXPERIMENTAIS DE PAREDES DE VEDAÇÃO

Durante o desenvolvimento deste projeto de pesquisa, enfrentou-se a resistência dos

profissionais envolvidos no processo de produção, nas várias instâncias de decisão da

empresa. Projetistas contratados, coordenadores de projeto da própria empresa, profissionais

de canteiro e da administração, frente aos questionamentos suscitados pelo projeto de

alvenaria ainda na fase de estudos preliminares, julgavam-nos prematuros, habituados à rotina

de transferir definições essenciais ao desenvolvimento do processo de projeto para a fase de

projetos executivos, quando não para o canteiro de obras.

Segundo avaliação da empresa (ENCOL-DIPRO, s.d.), a prática de projetar era caracterizada

da seguinte maneira:

(1) “os projetistas trabalham num nível de integração abaixo do necessário e suficiente, o que

resulta em projetos com muitos problemas de interação, que vão refletir negativamente no

custo, no prazo, na qualidade e imagem da empresa junto ao cliente”;

(2) “os projetistas arrolam um número insuficiente de variáveis no processo decisório sobre

projetos, o que caracteriza a postura estritamente técnica”;

(3) “os cronogramas de projetos, de execução da obra e de pagamentos dos projetistas não

estão compatibilizados entre si”;

(4) “a falta de padronização dos materiais de acabamento dificulta o processo de especificação

e administração de materiais, onerando o custo final de construção”.

Verifica-se que, nessa empresa, as deficiências ou falhas presentes nos processos de projeto e

de produção de suas edificações são, de maneira geral, as mesmas levantadas pelo setor da

Page 5: Araujo Paredes

construção civil. Nesse sentido, vários pesquisadores2 têm dedicado seus estudos à

investigação das diversas fases dos processos de projeto e de produção revelando que seus

principais problemas estão associados à: (1) falta de integração dos profissionais, pelo mau

uso da informação; (2) falta de qualidade da informação, considerando os diferentes agentes

envolvidos e suas necessidades; (3) inadequação da informação, aliada à forma que esta é

coletada, armazenada e distribuída entre os vários participantes da construção civil.

Tabela 1: Problemas dos processos de projeto e produção da construção civil relacionados à informação

- deficiência na identificação das tendências do mercado

- desconhecimento da efetividade das formas de divulgação do empreendimento

- baixa informatização, uso intenso de papel - falta de integração entre os projetistas - falta de feedback, os resultados de um empreendimento não são utilizados como fonte de informação para as obras futuras

- falta de padronização de detalhes e apresentação

- uso do conhecimento como forma de preservar a autoridade

- erros ou incompatibilidades entre documentos ou num mesmo documento

- precariedade na documentação entregue aos usuários

- inexistência de registro das modificações

- baixa utilização dos clientes como fonte para feedback

- falta de arquivo de plantas

- pouco conhecimento da legislação específica (plano diretor, código de obras, etc.)

- inexistência de projeto como construído

- desconhecimento de critérios de escolha entre tipologias e sistemas construtivos

- duplicidade de informações, nem sempre compatíveis

Fonte: (Fruet e Formoso, Heineck et al apud Oliveira, 1999, p. 22)

Os conflitos existentes entre o projeto e produção, que se revelam altamente interdependentes,

mas que na verdade envolvem pessoas e funções de forma independente, causam uma crônica

incerteza no desenvolvimento de seus processos, somadas à falta de garantia de qualidade em

fases posteriores (entrega, uso, operação e manutenção do edifício).

Diante dessa realidade e não obstante ter tido, inicialmente, a utilidade do projeto construtivo

de vedação em alvenaria ter sido questionada pela quase totalidade dos profissionais

envolvidos na experiência piloto, este demonstrou, posteriormente, seu potencial como

instrumento de compatibilização das informações técnicas oriundas e dispersas nos vários

documentos de obra, tais como projetos arquitetônicos e complementares, caderno de

especificações, planilhas orçamentárias, cronogramas de obras e outros.

2 Ver OLIVEIRA, 1999.

Page 6: Araujo Paredes

Além disso, os pesquisadores responsáveis pelo desenvolvimento dos projetos experimentais

do convênio EPUSP/ENCOL, diante da necessidade de levantar informações adicionais para a

viabilização dos projetos de alvenaria, mantinham um diálogo constante permanente, não só

com o arquiteto projetista, mas também com os projetistas de estrutura e instalações, com os

responsáveis pela produção e até com fabricantes e fornecedores de materiais e componentes,

promovendo – de forma indireta – uma integração maior entre a equipe.

Nas reuniões para desenvolvimento dos projetos experimentais, um número significativo de

questões, não detectadas através da metodologia para coordenação entre os projetos adotada

pela empresa, era apontado pelo projeto de alvenaria.

Na medida em que se buscava caracterizar as paredes de alvenaria para a consecução do seu

projeto construtivo, eram evidenciadas incompatibilidades entre exigências contidas em

projetos distintos, ou insuficiência de informações, incongruências com o produto desejado,

incorreções técnicas que, quase sempre, só seriam percebidas nos canteiros de obras, no

momento da execução, ficando sua solução dependente da experiência e criatividade dos

profissionais de obras e circunscrita ao canteiro de obras, ou seja, não contribuíam para a

retroalimentação do processo e para a melhoria da qualidade de novos projetos, que voltariam

a apresentar as mesmas falhas e erros de concepção.

No relatório final, além de sugerirem-se diretrizes para os projetos de alvenaria, buscou-se

apresentar o conjunto de soluções adotadas nos projetos experimentais e, ainda, algumas

soluções recomendadas pela bibliografia especializada. Com a inclusão dessas, objetivou-se

evidenciar a necessidade de incorporarem-se alternativas que, pela grande interferência na

imagem final do produto, deveriam comparecer, mais apropriadamente, no anteprojeto

arquitetônico, e não no projeto de alvenaria, tais como elementos de proteção de fachada

(descontinuidades nos panos de fachada, dispositivos de descolamento da película d’água,

peitoris, pingadeiras, etc.).

O conjunto de soluções apresentado pretendia, além de refletir o estágio tecnológico – “estado

da arte” – da empresa, evidenciar e propor alternativas para as situações percebidas como

prejudiciais ao processo de execução das alvenarias, além daquelas determinantes de

manifestações patológicas posteriores.

A adoção dos projetos construtivos para as paredes de vedação funcionou, portanto, no

primeiro momento, como instrumento de compatibilização e de coordenação não só entre os

projetos arquitetônico e complementares e demais documentos de obra, mas também como

Page 7: Araujo Paredes

elemento de integração entre a fase de concepção e a de produção, ao buscar incorporar

soluções construtivas consoantes com a realidade dos canteiros.

Figura n. 1: Elevação e planta em projeto de alvenaria

O projeto de alvenaria indicará ao executor as características dimensionais das juntas de assentamento e as interferências dos subsistemas. Fonte: Relatório EP-EN7 Após a conclusão dos projetos-piloto e sua implantação parcial, as diretrizes foram

consolidadas no documento intitulado: Recomendações para o projeto construtivo das paredes

de vedação em alvenaria: procedimentos para elaboração e padrão de apresentação

(SABBATINI, SILVA, 1991) e difundiram-se, posteriormente, no mercado principalmente

através dos projetistas da empresa contratante que, como profissionais autônomos, passaram a

desenvolver “projetos construtivos” – como denominados à época – para a produção de

alvenarias de vedação para outras empresas construtoras.

Page 8: Araujo Paredes

Figura n. 2: Detalhes em projeto de alvenaria

Estudos para definição das espessuras das paredes que abrigam tubulações. Fonte: Relatório EP-EN7

4. CARACTERIZAÇÃO DAS PAREDES DE VEDAÇÃO

A elaboração do projeto construtivo para as paredes de vedação inicia-se a partir dos estudos

preliminares, quando serão identificadas suas características básicas e atribuições expressas

nos projetos arquitetônicos e complementares. Adota-se nesta fase as soluções apresentadas

para o pavimento tipo, que representa, em média, 80% dos serviços de alvenaria nos edifícios

convencionais.

A tabela a seguir reúne os dados de projeto necessários a esta caracterização:

Page 9: Araujo Paredes

Tabela n.2: Levantamento preliminar de dados técnicos para o anteprojeto de produção de alvenarias racionalizadas

Ant

epro

jeto

de

arq

uite

tura

- espessuras e localização das paredes; - layout das áreas molhadas; - tipo e espessuras de revestimentos de paredes e pisos; - pé-direito previsto, altura de peitoris, bancadas e forros; - localização e dimensões de esquadrias; - desníveis entre ambientes;

Ant

epro

jeto

de

estr

utur

a

- disposição e dimensões de pilares e vigas; - espessura das lajes; - características dos vãos estruturais; - localização das juntas estruturais (de dilatação); - características de deformabilidade da estrutura e do vínculo entre as paredes e a estrutura;

Ant

epro

jeto

de

inst

alaç

ões

pred

iais

- posicionamento, diâmetro e concentração das tubulações: prumadas, ramais e sub-ramais; - pontos de alimentação e esgotamento de aparelhos hidráulicos-sanitários; - previsão de “shafts”, paredes hidráulicas, paredes duplas com câmaras centrais ou outras soluções; - localização de quadros de distribuição de luz, equipamento de condicionamento de ar, aquecedores, incêndio, caixas e medidores de gás e outros, especificações e recomendações técnicas de instalação de equipamentos; - localização dos pontos de luz, interruptores, tomadas, interfones, RTV e outros nas paredes e tetos; - sistemas de distribuição previstos para as redes de água fria, água quente, elétrica, telefônica, de circuitos internos, cabos, gás, etc.;

Out

ras

inte

rfer

ênci

as - tipos de esquadrias, com suas características de execução e sistema de fixação

para previsão das folgas necessárias e definição dos vãos na alvenaria; - tipos de revestimento e acabamentos, técnicas de execução e espessuras finais; - tipos e dimensões de rodapés; - áreas a serem impermeabilizadas, tipo e espessura total do sistema de impermeabilização (camadas de regularização, impermeabilização e proteção); - previsão de peças suspensas tais como armários, ganchos para redes, corrimãos, etc.

Fonte: SILVA, 2003, p.90.

5. COORDENAÇÃO MODULAR E O BLOCO POLI

A adoção de um sistema de coordenação modular em um projeto é um instrumento que pode

propiciar grande alcance nos níveis de racionalização da construção, especialmente pela

redução de perdas e aumento da produtividade, obtidos a partir da compatibilização

Page 10: Araujo Paredes

dimensional de componentes construtivos dentro de um mesmo subsistema ou entre

componentes de subsistemas distintos.

No processo construtivo tradicional é usual o seccionamento de tijolos e blocos de alvenaria

com a colher de pedreiro para obtenção do sub-módulo necessário ao preenchimento de vãos

estruturais cujas dimensões não guardam relação de proporcionalidade com as dimensões

modulares dos componentes empregados. Dado à impossibilidade de, através desta prática,

obter-se sub-módulos geometricamente regulares e com a dimensão precisa o resultado é,

além da geração de entulho e do consumo adicional de argamassa e mão-de-obra, a

conformação de um painel de alvenaria heterogêneo quanto às características de seus

componentes o que, em geral, compromete seu desempenho adequado sendo freqüente o

aparecimento de fissuras nesses pontos.

Em Belo Horizonte, cerca de 40% dos resíduos coletados diariamente são entulhos da

construção civil, o que corresponde a, aproximadamente, 1.500 toneladas (REVISTA

CIDADES DO BRASIL, 2003). No Brasil, a geração de resíduos de construção e demolição

foi estimada em 65 milhões de toneladas por ano (SEMINÁRIO, 2005).

No desenvolvimento dos projetos para a produção de alvenarias de vedação, constata-se, logo

nas primeiras atividades, a dificuldade na definição da unidade de alvenaria a ser empregada

devido à baixa qualidade dos produtos geralmente disponíveis no mercado brasileiro, à

variabilidade de suas características físico-geométricas e, como agravante, à ausência de

coordenação dimensional entre os mesmos e os demais componentes da construção.

Indefinições básicas quanto às características dimensionais ou geométricas das unidades de

alvenaria podem invalidar proposições contidas nos projetos, como registrado nos dois

primeiros projetos experimentais desenvolvidos no âmbito do convênio.

Para elaboração do terceiro projeto-piloto, dada a impossibilidade de mudar radical e

prontamente a cultura da empresa construtora quanto à necessidade de adoção de um sistema

de coordenação modular, desenvolveu-se um componente cerâmico para constituição dos

painéis de parede que melhor se adequasse às práticas de projeto e de produção. Buscava-se,

assim, auferir maiores benefícios da adoção dos projetos de alvenaria e dar-lhes maior

credibilidade no meio técnico e produtivo, avaliando seu real potencial como indutor de

medidas de racionalização no processo construtivo tradicional.

Esse componente cerâmico, conhecido como “Bloco Poli”, de dimensões reais iguais a 10 x

21 x 21 (cm) permitia o seccionamento da peça inteira, golpeando-se com a colher de pedreiro

Page 11: Araujo Paredes

em regiões de fragilidade induzida, para a obtenção de sub-módulos correspondente a 1/4, 1/2

e 3/4 de seu comprimento. Suas dimensões (comprimento igual à altura) possibilitavam o

assentamento dos componentes tanto com os furos na posição horizontal, quanto também na

vertical, recurso utilizado para o emprego dos sub-módulos, para o embutimento dos ramais

verticais das tubulações de pequeno diâmetro e para o arremate de paredes (nas extremidades

ou cruzamentos) evitando a exposição dos furos e, assim, a necessidade de seu preenchimento

com argamassa antes do revestimento das paredes.

Figura n. 3: Bloco Poli e suas dimensões

Fonte: Relatório EP-EN7

Com o recurso adicional de variar a espessura das juntas verticais promovendo ajustes,

tornou-se viável o preenchimento de vãos estruturais de quaisquer dimensões, mesmo com a

inexistência de coordenação modular e dimensional entre os subsistemas. Além disso, suas

dimensões guardavam entre si relações de proporcionalidade que possibilitavam variações no

aparelhamento das peças em quaisquer das três dimensões, sendo o comprimento (C), e a

altura (H) igual ao dobro da largura (L) do bloco, acrescido da espessura de uma junta de

assentamento (J), ou seja:

C = 2L + J e H = 2L + J

Page 12: Araujo Paredes

Figura n. 4: Bloco Poli e suas dimensões

Quadro ilustrativo do processo de obtenção de sub-módulos a partir do componente inteiro ou do meio-bloco. Fonte: Relatório EP-EN7

O componente foi produzido, a princípio, em escala experimental e, posteriormente, tendo

suas dimensões alteradas para a modulação de 25 x 25 (cm), passou a ser produzido

comercialmente por vários fabricantes. Durante os trabalhos de campo, verificou-se sua ampla

utilização por empresas construtoras de São Paulo, sempre orientada por projetos de

alvenaria, o que corrobora a hipótese de que os projetos para produção têm desempenhado

papel fundamental na evolução tecnológica e na racionalização do processo construtivo

tradicional.

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Figura n. 5 – Assentamento dos blocos

Assentamento de blocos com furos na vertical e horizontal para incorporação de tubos de diâmetro máximo de 40mm. Fonte: Relatório EP-EN7

No entanto, o emprego de componentes cerâmicos seccionáveis evidencia a dificuldade de

adoção, pelo mercado, da coordenação modular como diretriz para o projeto e produção de

edifícios. Ressalta-se a necessidade da visão sistêmica na escolha das alternativas para que a

proposição do sistema de coordenação modular possa contemplar as peculiaridades do

processo construtivo do edifício.

6. FINALIZANDO...

Ao se estabelecer um sistema de coordenação que conjugue, além das características

dimensionais dos materiais e componentes constituintes do sistema, o processo de produção,

pode-se auferir os seguintes benefícios, segundo Franco (apud SILVA, 2003): (1)

simplificação da atividade de elaboração do projeto; (2) padronização de materiais e

componentes; (3) possibilidade de normalização, tipificação, substituição e composição entre

componentes padronizados; (4) diminuição dos problemas de interface entre componentes,

elementos e subsistemas; (5) facilidade na utilização de técnicas pré-definidas, facilitando

inclusive o controle da produção; (6) redução dos desperdícios com adaptações; (7) maior

Page 14: Araujo Paredes

precisão dimensional; e (8) diminuição de erros da mão-de-obra, com conseqüente aumento

da qualidade e da produtividade.

Nessa perspectiva, a adoção dos projetos para a produção de alvenarias é uma eficiente

estratégia para o desenvolvimento tecnológico do processo construtivo tradicional,

promovendo o aprimoramento de seus profissionais, nas práticas de projetar e de construir e o

incremento na qualidade do produto edificado. Os projetistas são compelidos, durante o

desenvolvimento dos projetos para a produção, a inteirarem-se de todas as etapas que separam

o “objeto concebido” do “objeto produzido” e este aprendizado traduz-se, progressivamente,

em proposições projetuais exeqüíveis dentro da realidade a que se destinam, com mais alto

grau de racionalidade e construtibilidade incorporadas.

A proximidade com os meios de produção evidencia as dificuldades interpostas à consecução

do produto tal como concebido e promove a aliança entre os agentes do projeto e da execução

para o seu equacionamento, envolvendo inclusive fornecedores de materiais e componentes e

de equipamentos.

Os profissionais da execução são chamados a contribuir com sua experiência prática e são

progressivamente incorporados como peças fundamentais para a implementação de mudanças

na estrutura produtiva das empresas construtoras, sem o que não se produz qualidade. A

prática que se instaura pode favorecer a reabilitação dos canteiros de obras como locais de

transmissão de conhecimentos gerados na observação e na experimentação e possibilitar, aos

projetistas, a retomada de sua responsabilidade técnica frente às proposições de seus projetos.

REFERÊNCIAS

BOTA fora. Revista Cidades do Brasil, ed. 41, Mai. 2003. Disponível em <http://www.cidadesdobrasil.com.br>. Acesso em Jun. 2007.

ENCOL-DIPRO. Prática de projetar, s.d. (Documento de circulação interna).

MARTINS, M. S., HERNANDES, A. T., AMORIM, S.V. Ferramentas para melhoria do processo de execução dos sistemas hidráulicos prediais. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GESTÃO E ECONOMIA DA CONSTRUÇÃO, 7, 2003, São Carlos. Anais eletrônicos... São Carlos: UFScar, 2003. Disponível em <http://www.deciv.ufscar.br/sibragec>. Acesso em Jun. 2007.

OLIVEIRA, M. Um método para obtenção de indicadores visando a tomada de decisão na etapa de concepção do processo construtivo: a percepção dos principais intervenientes. 1999. Tese (Doutorado em Administração) - Escola de Administração - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Page 15: Araujo Paredes

SABBATINI, F. H.; SILVA, M. M. A. Recomendações para o projeto construtivo das paredes de vedação em alvenaria: procedimentos para elaboração e padrão de apresentação. São Paulo, EPUSP-PCC, 1991 (Projeto EP-EN7 Documento 20.053, 71p.).

SEMINÁRIO Avanços e Desafios Gestão e Reciclagem de RCD. Departamento de Engenharia de Construção Civil e Urbana/EPUSP, São Paulo, Dez. 2005. Disponível em <http://reciclagem.pcc.usp.br/RCD2005.htm>. Acesso em Jul. 2007.

SILVA, M. M. A. Diretrizes para o projeto de alvenarias de vedação. 2003. 167p. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Construção Civil) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

TAVARES JUNIOR, W. Desenvolvimento de um modelo para compatibilização das interfaces entre especialidades do projeto de edificações em empresas construtoras de pequeno porte. 2001. 145p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.