prática de ensino história 123-297-1-pb

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O artigo apresenta um panorama sobrea organização da prática de ensino naslicenciaturas em História nas universidadespúblicas federais e estaduais brasileiras,a partir da educação comparada.A amostra é composta de 73 PPC(Projetos Pedagógicos de Curso), quecorrespondem a 96 cursos, em todas asregiões do país. Na amostra encontramosuma diversidade de abordagem einterpretação sobre o formato da Práticacomo Componente Curricular(PCC). Alguns cursos organizaram aPrática de Ensino em forma de disciplinasespecíficas, outros alocaram a cargahorária com uma parte em disciplinasespecíficas e outra parte diluída na grade.Outros cursos diluíram as 400 horasnas disciplinas já existentes na grade oufizeram uma mistura entre pesquisa comoPCC, pedagógicas como PCC, cargahorária diluída. Os PPC apresentam variedadetambém nas temáticas e preocupaçõesabordadas.

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  • A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil1

    The Practice of Teaching in teacher education in Brazil History

    Angela Ribeiro Ferreira*

    ResumoO artigo apresenta um panorama sobre a organizao da prtica de ensino nas licenciaturas em Histria nas universi-dades pblicas federais e estaduais bra-sileiras, a partir da educao compara-da. A amostra composta de 73 PPC (Projetos Pedaggicos de Curso), que correspondem a 96 cursos, em todas as regies do pas. Na amostra encontra-mos uma diversidade de abordagem e interpretao sobre o formato da Prti-ca como Componente Curricular (PCC). Alguns cursos organizaram a Prtica de Ensino em forma de discipli-nas especficas, outros alocaram a carga horria com uma parte em disciplinas especficas e outra parte diluda na gra-de. Outros cursos diluram as 400 horas nas disciplinas j existentes na grade ou fizeram uma mistura entre pesquisa co-mo PCC, pedaggicas como PCC, carga horria diluda. Os PPC apresentam va-riedade tambm nas temticas e preo-cupaes abordadas.Palavras-chave: prtica de ensino; forma-o de professores; ensino de histria.

    AbstractThis paper presents a sight about the teaching practice organization used by major in History at Brazilian Federal and State public universities, going through an educational comparison. The sample is made of 73 DPP (Degree Pedagogic Projects), corresponding to 96 courses, all around the country. In the sample we found a variety of ap-proaches and interpretations about the shape of the Teaching Practice as a Cur-riculum Compound. Some Majors have organized the Teaching Practice in a specific subject, others moved an amount of the needed classtime as a part of a specific subject and the left time is diluted in all the subjects. Some others graduations solved the 400 hours of Teaching Practice on the pre-exis-tents subjects, or built a mash up be-tween research as DPP, pedagogical subjects as DPP, diluted classtime. The DPP present aswell variety on ap-proached themes and worries.Keywords: teaching practice; teachers education; History teaching.

    Revista Histria Hoje, v. 3, n 5, p. 301-320 - 2014

    *Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). [email protected]

  • Angela Ribeiro Ferreira

    Revista Histria Hoje, vol. 3, n 5302

    Os currculos de formao de professores no Brasil sofreram algumas al-teraes nos ltimos anos, em especial com a Resoluo2 do CNE/CP 2, de 19 de fevereiro de 2002, que obrigou todos os cursos a inclurem 400 horas de Estgio Supervisionado e 400 horas de Prtica como Componente Curricular em suas grades. Essa obrigatoriedade levou todos os cursos a reformularem seus currculos, entretanto, a interpretao da Resoluo, nas diferentes insti-tuies pblicas brasileiras, bastante diversa. Este artigo uma tentativa de mapear essas interpretaes da Resoluo e conhecer como est organizada e quais as preocupaes expressas na prtica de ensino nos cursos de licenciatura em Histria no Brasil. O mapeamento feito a partir dos Projetos Pedaggicos dos Cursos, na perspectiva da educao comparada.

    Os cursos atribuem denominaes distintas ao campo da prtica de ensino em seus Projetos Pedaggicos: Prtica como Componente Curricular; Prtica de Ensino; Atividades Prticas Curriculares; Prtica Curricular Contnua; Prtica Pedaggica do Componente Curricular. Mas as diferenas no esto apenas nas denominaes, esto tambm no entendimento sobre a melhor forma de orga-nizar a relao teoria/prtica no currculo de formao de professores.

    Alguns cursos tm projetos bastante especficos sobre a organizao das 400 horas obrigatrias da Prtica como Componente Curricular (PCC) e expli-cam o funcionamento da prtica no currculo de forma detalhada, apresentando as concepes de formao que embasam a definio da PCC. So formatos da PCC que preveem articulaes (ensino e pesquisa, teoria e prtica) mais efetivas na formao dos acadmicos. o caso do PPC da UFU com seu Projeto Inte-grado de Prtica Educativa PIPE, caso da UFTM com as Atividades Prticas Curriculares APC, caso da UEPG com a articulao horizontal e vertical do currculo a partir das Oficinas de Histria e Prticas de Ensino, caso da UFRR que tem a funo de coordenao de PCC. Entretanto, na maioria dos Projetos Pedaggicos mal se descreve como sero organizadas as 400 horas.

    Organizao da Prtica de Ensino

    Aqui trabalhamos com 38 universidades federais, 23 universidades esta-duais e 73 Projetos Pedaggicos, que correspondem a 96 cursos.3 Dedicamos ateno organizao da carga horria de Prtica como Componente Curri-cular. Quando a Prtica organizada em formato de disciplinas especficas, analisamos as ementas, os contedos mais frequentes nas disciplinas de PCC

  • A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil

    Junho de 2014 303

    e a perspectiva de organizao da disciplina. So cursos com uma carga horria total que varia de 2.800 a 3.660 horas e com durao de 4 a 5 anos.

    As instituies federais analisadas aqui so:

    Quadro 1 Universidades Federais da amostra

    Universidade Regio do pas Modalidade de Ensino

    UFSM Sul Lic./Bach. integrados

    UFPEL Sul Licenciatura

    UFRGS Sul Licenciatura + Bach.

    Unipampa Sul Licenciatura

    UFSC Sul Lic./Bach. integrados

    UFFS Chapec Sul Licenciatura

    UFFS Erechim Sul Licenciatura

    UFPR Sul Lic./Bach. integrados + Bach.

    UNB Centro-Oeste Licenciatura

    UFG Goinia Centro-Oeste Lic./Bach. integrados

    UFG Catalo Centro-Oeste Lic./Bach. integrados

    UFMT Cuiab Centro-Oeste Licenciatura

    UFMT Rondonpolis Centro-Oeste Licenciatura

    UFMS Trs Lagoas Centro-Oeste Licenciatura

    UFMS Aquidauana Centro-Oeste Licenciatura

    UFMS Pantanal Centro-Oeste Licenciatura

    UFGD Centro-Oeste Licenciatura

    UFMG Sudeste Lic./Bach. integrados + Bach.

    UFU Uberlndia Sudeste Lic./Bach. integrados

    UFU Ituiutaba Sudeste Lic./Bach. integrados

    UFJF Sudeste Licenciatura + Bach.

    Unifal Sudeste Licenciatura

    UFSJ Sudeste Licenciatura

    UFTM Sudeste Licenciatura

    UFVJM Sudeste Licenciatura

    Unifesp Sudeste Lic/Bach. integradosContinua na pg. seguinte

    A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil

  • Angela Ribeiro Ferreira

    Revista Histria Hoje, vol. 3, n 5304

    UniRio Sudeste Licenciatura

    UFRJ Sudeste Licenciatura + Bach.

    UFRRJ Nova Iguau Sudeste Licenciatura

    Ufes Sudeste Licenciatura

    UFS Nordeste Licenciatura

    Ufal Nordeste Licenciatura

    UFPB Nordeste Licenciatura

    UFBA Nordeste Licenciatura + Bach.

    UFRB Nordeste Licenciatura

    UFRN Natal Nordeste Licenciatura + Bach.

    UFRN Caic Nordeste Lic./Bach. integrados

    UFC Nordeste Licenciatura

    UFPI Nordeste Licenciatura

    Unir Norte Licenciatura

    UFT Araguana Norte Licenciatura

    UFT Porto Nacional Norte Licenciatura

    UFRR Norte Lic./Bach. integrados

    Ufac Norte Licenciatura

    Unifap Norte Licenciatura

    UFPA Norte Licenciatura

    Fonte: Projetos Pedaggicos dos Cursos.

    Entre as instituies federais da amostra, 11 so universidades com cursos de licenciatura e bacharelado integrados, ou seja, uma graduao e duas habi-litaes, sendo duas instituies com turmas de licenciatura e bacharelado in-tegrado e mais uma turma de bacharelado; cinco universidades com cursos distintos de licenciatura e de bacharelado, e 27 universidades com cursos de licenciatura.

    As instituies estaduais analisadas so:

    Continuao

  • A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil

    Junho de 2014 305

    Quadro 2 Universidades Estaduais da amostra

    Universidade Regio do pas Modalidade de Ensino

    Udesc Sul Licenciatura

    UEPG Sul Licenciatura + Bach.

    UEL Sul Licenciatura

    UEM Sul Licenciatura

    Uenp Sul Licenciatura

    Unicentro Irati Sul Licenciatura

    Unicentro Guarapuava Sul Licenciatura

    Unioeste Sul Licenciatura

    UEG4 Centro-Oeste Licenciatura

    Unemat Centro-Oeste Licenciatura

    Uems Amambai Centro-Oeste Licenciatura

    Uems Dourados Centro-Oeste Licenciatura

    Unicamp Sudeste Licenciatura + Bach.

    Unesp Assis Sudeste Licenciatura

    Uneal Nordeste Licenciatura

    Uneb Alagoinha Nordeste Licenciatura

    Uneb Eunpolis Nordeste Licenciatura

    Uesb Nordeste Licenciatura

    Uesc Nordeste Licenciatura

    Uefs Nordeste Licenciatura

    Uern Nordeste Licenciatura

    Uespi Nordeste Licenciatura

    Uece Nordeste Licenciatura

    UERR Norte Licenciatura

    UEA Norte Licenciatura

    Fonte: Projetos Pedaggicos dos Cursos.

    Entre as instituies estaduais da amostra, apenas a UEPG e a Unicamp oferecem cursos de bacharelado, todas as demais oferecem curso de licenciatura.

    A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil

  • Angela Ribeiro Ferreira

    Revista Histria Hoje, vol. 3, n 5306

    Nesse universo de cursos possvel encontrar uma diversidade de abor-dagem e interpretao sobre o formato e a organizao da Prtica como Com-ponente Curricular. Nos 73 PPC estudados temos a Prtica de Ensino organi-zada em forma de disciplinas especficas, a carga horria com uma parte em disciplinas especficas e outra parte diluda na grade, todas as 400 horas dilu-das nas disciplinas j existentes na grade, e uma mistura entre pesquisa como PCC, pedaggicas como PCC, carga horria diluda. Assim distribudos:

    Quadro 3 Modelos da PCC adotados em cada universidade

    Modelo da PCC

    Universidades Federais

    Universidades Estaduais

    Disciplinas especficas de ensino de histria

    UFBA, UFC, Ufes, UFMG, UFMS, UFPA, UFRB, UFRR, UFTM, UFU, UNB, Unifap

    Udesc, UEPG, UEL, Uneb, UERR

    Disciplinas pedaggicas em parte ou em toda a carga horria de prtica

    UFPI, UFG, UFRGS, UFSJ, UFSM, Unir

    Unicentro Irati, Unioeste, Uesb, Uesc, Uefs

    Disciplinas especficas + carga horria de prtica diluda entre as disciplinas de contedo da grade

    Ufal, UFG, UFGD, UFPEL, UFPI, UFPR, UFRGS, UFSC, UFSM, UFVJM, Unifal, Unifesp

    Carga horria diluda na grade

    Ufac, UFMT, UFRN, UFS, UFT, Unipampa

    UEG, Unemat, Uems, Unesp, Uern, UEA

    Fonte: Projetos Pedaggicos dos Cursos

    Dentro dessa organizao temos os Departamentos de Histria (ou seu equivalente na instituio) como os responsveis pela prtica de ensino na maioria dos cursos. Em alguns cursos se divide a tarefa entre Departamentos de Histria e Faculdade de Educao (ou afins na instituio) quando as dis-ciplinas pedaggicas (Fundamentos da Educao, Psicologia, Didtica etc.) foram alocadas na carga horria de PCC.

  • A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil

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    Entre os cursos que organizaram a prtica em forma de disciplinas espe-cficas ou aqueles que tm pelo menos uma parte da carga horria em discipli-nas especficas, podemos destacar uma diversidade de propostas, inclusive com denominaes tambm diversas. Nessa lista, temos disciplinas que anunciam serem Introdutrias da rea de ensino, disciplinas que se intitulam Ofici-nas ou Laboratrios que, a princpio, do a ideia de experimentar a prtica docente, de colocar a mo na massa, e disciplinas com Prtica no ttulo que remetem ao fazer, alm de outros ttulos que no se repetem.

    Disciplinas com carter introdutrio, que se propem a iniciar o debate sobre o ensino escolar de histria:

    Introduo pratica profissional

    Introduo Prtica e ao Ensino e Pesquisa em Histria

    Introduo ao Ensino de Histria

    Projeto Integrador

    Projeto Integrado de Prticas Educativas

    Seminrio de Prtica de Ensino

    Ensino de Histria

    Disciplinas com carter de oficina, que propem ser espaos de produ-o didtica para a educao bsica, alm de refletir sobre tal trabalho. Produ-zir e elaborar so verbos recorrentes nas ementas dessas disciplinas, com nfase no fazer:

    Oficina de Histria

    Oficina de ensino de Histria (Antiga, Medieval, Moderna, Contempor-nea, Brasil, Regional)

    Oficina de Prtica de Ensino

    Oficina de Instrumentos Didticos

    Disciplinas com carter de laboratrio, espao de experimentao, tro-cas de experincias didtico-pedaggicas:

    Laboratrio de Ensino de Teoria e Metodologia da Histria

    A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil

  • Angela Ribeiro Ferreira

    Revista Histria Hoje, vol. 3, n 5308

    Laboratrio de Ensino de Histria

    Laboratrio de Ensino de Histria (Antiga, Medieval, Moderna, Contem-pornea, Brasil, Regional)

    Laboratrio de Prtica de Ensino

    Laboratrio de Pesquisa e Ensino em Histria

    Disciplinas com carter de transposio do conhecimento, ateno vol-tada para a didatizao do campo de conhecimento, para pensar sobre a pro-duo e difuso do conhecimento histrico:

    Prtica de Ensino de Histria (Antiga, Medieval, Moderna, Contempor-nea, Brasil, Regional)

    Prtica de Histria

    Prtica de Histria (Antiga, Medieval, Moderna, Contempornea, Brasil)

    Prtica Educativa

    Prtica de Ensino e Pesquisa em Histria

    Anlise da Prtica de Histria

    Pesquisa Histrica e Prtica Pedaggica

    Teoria e Prtica do Ensino de Histria

    Lugares de memria e o ensino de Histria

    Educao Patrimonial

    Tpicos de Ensino de Histria (Antiga, Medieval, Moderna, Contempo-rnea, Brasil)

    Disciplinas com carter mais pragmtico, ensinam metodologias de en-sino, atividades diretamente ligadas atividade prtica de sala de aula da edu-cao bsica:

    Estratgias de Ensino de Histria

    Metodologia do Ensino de Histria

    Didtica da Histria

    Estudos e Desenvolvimento de Projetos

    O saber histrico na sala de aula

    Histria Regional e Local: Metodologias e Ensino

  • A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil

    Junho de 2014 309

    O fato de as disciplinas pedaggicas (Psicologia da Educao, Didtica Geral, Filosofia/Sociologia/Histria/Fundamentos da Educao) serem aloca-das como prtica pode ser considerado um problema, podemos interpret-lo como um no quero discutir isso ou um deixa essa coisa de prtica de en-sino para a pedagogia. Quando inserimos a prtica de ensino ela no pode ser pensada como a Didtica Geral, na qual independentemente do campo do conhecimento a forma de ensinar a mesma. Pelo contrrio, as 400 horas so de prtica especfica da rea, de articulao entre teoria e prtica, no de teoria da educao, mas Teoria da Histria e Prtica Profissional. Sendo assim, en-tendemos que deve ser trabalhada por professores de Histria e no pela Pe-dagogia, conforme argumenta Klaus Bergman (1990, p.34) na defesa de uma Didtica da Histria:

    A Didtica da Histria indispensvel para a Cincia Histrica exatamente por causa do fato de ela indagar sobre e problematizar este significado e, destarte, se opor ao perigo de a Cincia Histrica se isolar das necessidades legtimas de uma orientao histrica daquela sociedade que, em ltima anlise, a sustenta.

    Considerando o argumento da no dicotomia teoria e prtica, os cursos que optam por diluir a carga horria de prtica nas prprias disciplinas da gra-de (especialmente nas disciplinas de contedo Histria Antiga, Medieval, Mo-derna, Contempornea, Brasil, Amrica e Histria Regional) parecem, a prin-cpio, encontrar a melhor alternativa, afinal todos os professores tero de pensar a formao. Entretanto, se considerarmos ainda a realidade dos cursos, poderemos questionar se a prtica de ensino nesse formato no ser relegada a um segundo plano pela maioria dos professores que no tm conhecimento e formao nesta rea e, na dvida sobre o que fazer, no chegam a promover efetivamente a relao entre teoria e prtica.

    Por sua vez, os cursos que optam por alocar disciplinas de pesquisa e TCC como PCC no podem ser considerados absurdos, afinal est claro nos curr-culos que todos querem formar o professor-pesquisador.

    Flvia E. Caimi e Ronaldo P. Canabarro (2009) apresentaram uma anlise da organizao curricular de trinta cursos de Histria no Brasil. Entre os ele-mentos que eles analisam est a prtica de ensino, que se organiza, segundo os autores, da seguinte forma:

    A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil

  • Angela Ribeiro Ferreira

    Revista Histria Hoje, vol. 3, n 5310

    No que diz respeito ao cumprimento das 400 h de prtica como componente curricular verificamos uma interessante variao do nmero de disciplinas nas matrizes curriculares, entre trs e nove disciplinas relacionadas formao pe-daggica. Tomadas em seu conjunto regional, as matrizes apresentam a seguinte configurao: 38 disciplinas na Regio Norte; 33 na Regio Nordeste; 45 na Re-gio Centro-Oeste; 38 na Regio Sudeste; 35 na Regio Sul, o que demonstra a mdia de 6,3 disciplinas por curso. As disciplinas dessa natureza podem ser clas-sificadas em trs grupos: 1) em nmero predominante esto as disciplinas clssi-cas da educao, tais como Didtica Geral, Psicologia da Educao, Psicologia da Aprendizagem, Psicologia do Desenvolvimento, Sociologia da Educao, Filoso-fia da Educao, Polticas, Estrutura e Funcionamento da Educao Bsica, His-tria da Educao; 2) as didticas e metodologias especficas, tais como Didtica da Histria, Prtica de Ensino de Histria, Metodologia do Ensino de Histria, Laboratrio de Ensino de Histria, Oficinas de Ensino de Histria, em diferentes recortes, como Brasil, Regional, Amrica, contempornea, etc.; 3) por fim, iden-tificamos uma tmida presena de disciplinas obrigatrias que poderamos cate-gorizar como no-clssicas, por falta de melhor definio, tais como Tpicos de Educao Especial, Educao Indgena, Tecnologia Aplicada Educao, Profis-so Docente, Livro Didtico, Memria e Ensino de Histria. Trata-se de discipli-nas que parecem querer incorporar discusses mais recentes acerca da histria escolar, dialogando tanto com a histria quanto com a educao. (Caimi; Cana-barro, 2009, p.9)

    So reflexes feitas a partir de um trabalho quantitativo, mas que se apro-ximam muito dos dados levantados no trabalho que se apresenta, ou seja, dis-ciplinas pedaggicas como prtica de ensino, carga horria em disciplinas que os autores chamam de clssicas. Embora todos os cursos estudados (exceto a UFRJ) j estejam cumprindo a obrigatoriedade das 400 horas de Prtica, a interpretao bastante variada.

    As abordagens e os temas na Prtica de Ensino

    Os cursos tm autonomia para elaborar seus currculos, elencar discipli-nas e montar programas de curso, e essa liberdade aparece de forma clara nos temas propostos nas ementas das disciplinas de prtica, que esto na maioria dos currculos de formao de professores de Histria. Temos desde temas

  • A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil

    Junho de 2014 311

    recorrentes, bastante debatidos nas pesquisas da rea de ensino, como livro didtico, patrimnio histrico e memria, e tambm temas recentes, caso da histria ambiental, articulada com discusses de patrimnio.

    As ementas das disciplinas especficas so bastante diversas. So preo-cupaes sobre o que ensinar, como ensinar, em alguns casos preocupaes com o processo de produo do conhecimento histrico, com os veculos de difuso do conhecimento. Entre os temas presentes nas ementas esto:

    O que ensinar um rol de temas que podem compor a aprendizagem docente:

    Memria, lugares de memria, patrimnio, museus, arquivos;

    Histria do Ensino de Histria;

    Constituio da Histria como disciplina;

    Histria Ambiental e Ensino de Histria;

    Temas transversais, multiculturalismo, diversidade, direitos humanos, ci-dadania, democracia;

    Como ensinar abordagens e metodologias disponveis para ensinar histria:

    Documento histrico, pesquisa histrica, fonte, verdade histrica e ensino de histria;

    O ofcio do historiador;

    Acesso ao conhecimento histrico formal e no-formal;

    Conservao, catalogao e arquivamento de documentos;

    Produzir histria abordagens sobre o processo de produo do conhe-cimento histrico:

    Ensino de Histria Antiga, Medieval, Moderna, Contempornea, Brasil, Ensino de Histria Regional, Ensino de Cultura Africana e Afro-Brasileira, de Gnero e Indgena;

    Metodologias de Ensino;

    Ensino e aprendizagem da Histria;

    A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil

  • Angela Ribeiro Ferreira

    Revista Histria Hoje, vol. 3, n 5312

    O uso das mdias no ensino de histria: publicidade, msica, histria em quadrinhos, cinema etc.;

    Mediao didtica dos conhecimentos acadmicos para o escolar, ou trans-posio didtica;

    Documentos oficiais estudo da legislao e produo didtica disponveis:

    Anlise de Livros Didticos, produo de materiais didticos.

    Legislao (LDB, PCN, Diretrizes Estaduais);

    Polticas Educacionais;

    Currculo;

    Profisso docente a escola e o trabalho do professor: tica na profisso;

    Profisso docente, sindicatos, associaes de classe;

    Realidade da escola e o cotidiano do ensino de histria na escola.

    Muitas ementas de disciplinas de prtica de ensino tm caractersticas fun-cionalistas, enfatizam o fazer, instrumentalizar o aluno para a produo de ma-teriais didticos, de oficinas na educao bsica, a utilizao do que vrios PPC chamam de novas linguagens ou linguagens alternativas para o ensino de his-tria (mdias e fontes histricas). A seguir alguns exemplos5 dessa perspectiva,

    Metodologia e Prtica de Ensino de Histria II Elaborao de projetos de ensino, textos didticos para o ensino fundamental. Estudo do processo de ensi-no- aprendizagem. (PPC-UEL)

    Laboratrio de Ensino de Histria VII Fazer uma discusso sobre os novos temas presentes nas aulas de Histria. Elaborao de um projeto de minicurso com as novas propostas de temas. Apresentao dos minicursos em escolas de nvel mdio do municpio de Eunpolis. (PPC-Uneb Eunpolis)

    Oficina de Prtica de Ensino I Projetos de ensino no campo histrico. Elaborao de oficinas. Anlise de material didtico e paradidtico em Histria. (PPC-UFMS Aquidauana)

    Laboratrio de ensino de Histria II Prticas pedaggicas: preparao de ma-teriais didtico-pedaggicos e de estratgias para serem aplicadas junto a alunos e

  • A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil

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    professores do ensino fundamental: cursos, palestras, seminrios, oficinas; pre-parao para o uso de fontes primrias e secundrias, de sons e imagens etc. (PPC-UFMT Rondonpolis)

    Outras disciplinas esto preocupadas com o processo de mediao did-tica, ou seja, o trabalho de didatizao dos contedos histricos.

    Oficina de Ensino de Histria do Brasil Levantamento bibliogrfico e histo-riogrfico sobre o Brasil. Levantamento e anlise de Documentos de Histria do Brasil. Levantamento, anlise e produo de material didtico referente Hist-ria do Brasil. Prticas pedaggicas em instituies de ensino, pesquisa e movi-mentos sociais. (PPC-UFC)

    Laboratrio de Ensino de Histria da Amrica Abordagem de temticas es-pecficas para o ensino do perodo histrico de referncia, de uma perspectiva historiogrfica recente que dinamizem estudos de temas relativos sociedade, cultura, o cotidiano e s instituies poltico-econmicas. (PPC-Ufes)

    Laboratrio de Ensino de Histria Contempornea Estudo de um conjunto de temas relativos transposio e aplicao das reflexes e leituras desenvolvidas na disciplina Histria Contempornea para o debate nas salas de aula dos Ensinos Fundamental e Mdio. nfase especial dada apresentao de possibilidades de interveno, atividades e projetos a serem desenvolvidos. (PPC-UFRB)

    Outro grupo de disciplinas destaca a preocupao em estabelecer as rela-es entre a teoria da histria e a didtica da histria, trabalhando com con-ceitos como conscincia histrica, com o processo de construo do conheci-mento histrico. Essas disciplinas enfatizam a necessidade de o futuro professor conhecer o processo epistemolgico de construo do saber histrico.

    Teoria e Prtica do Ensino de Histria Reflexes sobre a formao do profis-sional do ensino de Histria da Educao Bsica atravs da anlise crtica das relaes entre os fundamentos da produo historiogrfica, teorias de ensino e aprendizagem, e a Histria ensinada. Abordagens sobre a construo do pensa-mento, conhecimento e conscincia histrica e suas articulaes em diferentes contextos e lugares de produo do processo educativo. Reflexes sobre a pes-quisa de ensino e aprendizagem da Histria. Identificao das concepes que orientam as diferentes propostas de ensino de Histria e as formas de ler, com-

    A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil

  • Angela Ribeiro Ferreira

    Revista Histria Hoje, vol. 3, n 5314

    preender, escrever, viver e fazer Histria. Fundamentaes de prticas formais e informais de ensino de Histria junto ao Laboratrio de Ensino de Histria. (PPC-Ufes)

    Oficina de Histria I Histria e necessidades sociais de orientao no tempo. Pensar historicamente. Identidades e conhecimento histrico. Saberes histricos e saber histrico escolar. Produo de saberes histricos na cincia e no senso comum. A pesquisa como princpio do pensamento crtico, criativo e cientfico. Indissociabilidade entre ensino, pesquisa e prxis. Prtica de investigao sobre a relao entre conhecimento histrico e as necessidades sociais de orientao temporal. A constituio da Histria como disciplina escolar. (PPC-UEPG)

    Prtica de Ensino e Pesquisa em Histria: Aspectos Epistemolgicos Enfo-que nas especificidades do saber histrico acadmico em sua relao com o saber histrico escolar a partir da abordagem dos aspectos epistemolgicos do pensa-mento e do conhecimento histrico e aqueles referentes cultura escolar. Abor-dar a histria do ensino de Histria no contexto da afirmao da Histria como rea de conhecimento. O ensino de Histria como rea fundamental da Cincia Histrica. (PPC-UFMS Trs Lagoas)

    Temos ainda ementas que tratam especificamente da aproximao do fu-turo professor com o seu campo de atuao, a escola, e os problemas que esto presentes nesse universo de trabalho, a realidade e o funcionamento da escola, profissionalizao docente e as associaes de classe e sindicatos.

    Prtica Educativa I Profisso Professor: Docncia e trabalho Processos de profissionalizao docente (o educador e o professor de histria): identidade profissional, sindicatos e associaes cientfico-profissionais, tica profissional. Fundamentos tericos metodolgicos para a realizao de atividades de campo em educao (observao, elaborao de dirios, entrevistas, histria oral). (PPC-USFS)

    Prtica Profissional IV Realidade da Escola e do ensino de histria na educa-o formal e na educao no formal. Fundamentaes e princpios terico-me-todolgicos que embasam a estrutura e o funcionamento das escolas e do ensino de histria e do cotidiano pedaggico relacionado ao ensino de Histria nos anos finais do Ensino Fundamental e sries do Ensino Mdio e em espaos onde se desenvolvem prticas educativas no formais. (PPC-UERR)

  • A Prtica de Ensino na formao do professor de Histria no Brasil

    Junho de 2014 315

    Metodologia do Ensino de Histria A formao de professores de Histria. A reflexo sobre a atuao do professor em sala de aula. Os mtodos de ensino e conhecimento dos materiais didticos prprios para o ensino de Histria em todos os nveis do ensino fundamental e mdio. (PPC-UFPI)

    Um elemento presente em vrios PPC analisados a defesa da indissocia-bilidade entre ensino e pesquisa. Essa defesa se faz pertinente nos cursos que optam por manter integrado o bacharelado e a licenciatura ou nas licenciaturas que mantm a carga horria de pesquisa e TCC, e menos pertinente nos cursos em que funcionam bacharelado e licenciatura com entradas independentes. Luis F. Cerri (2006, p.223) trata desse elemento ao apresentar a experincia da Prtica de Ensino na UEPG:

    O desafio posto por essas concepes a formao de um profissional que supe-re a condio de reprodutor de conhecimento para a condio de co-produtor e de produtor. Que, portanto inclui a condio do intelectual, do pesquisador. No se trata, segundo Paulo Freire, de adicionar adjetivos ao professor, mas de compreender que ele somente exerce todos os atributos do substantivo professor ao desenvolver seu trabalho com criao, pesquisa e crtica.

    Os trechos dos Projetos Pedaggicos a seguir exemplificam esses posicionamentos:

    A formao do profissional de Histria se fundamenta no exerccio destas prti-cas. Pesquisar e ensinar so objetivos caros e indissociveis ao seu ofcio. (UFSC, p.4)

    A prtica pedaggica do profissional de histria deve ancorar-se na indissociabi-lidade entre ensino e pesquisa, superando toda e qualquer dicotomia entre o pro-fissional que pesquisa e o profissional que ensina. (UFC, p.9)

    Privilegiando o princpio que norteia as novas diretrizes curriculares, isto , a indissociabilidade entre ensino e pesquisa. (UFG, p.5)

    O Curso pretende dar uma formao ao jovem professor-pesquisador dentro de uma perspectiva multidisciplinar, que lhe permita desenvolver aptides voltadas para a prtica da pesquisa e do ensino. (UFPI, p.3)

    Partindo do pressuposto de que pesquisa e ensino so atividades complementares e indissociveis, os Laboratrios apresentam aos alunos a possibilidade de traba-

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    lhar com as apropriaes crticas, na pesquisa e no ensino dos diferentes tipos de fontes histricas. (Unifesp, p.8)

    Outro elemento defendido a no dicotomia entre teoria e prtica, como mostram os trechos dos projetos pedaggicos:

    Uma frmula saudvel de articular teoria e prtica ser a integrao dos Laborat-rios do Curso de Histria (so 09 Laboratrios) s atividades de formao da pr-tica profissional do Historiador: professor, pesquisador e difusor. (UFSC, p.42)

    Todo processo de formao docente deve integrar a articulao teoria-prtica. As experincias de pesquisas histricas vivenciadas ao longo da formao possibili-tam ao estudante perceber que a prtica atualiza e interroga a teoria. (UFG, p.6)

    O currculo dever trabalhar com as dimenses de ensino e pesquisa, teoria e pr-tica, prevendo uma articulao entre os diferentes aspectos na formao do Licen-ciado em Histria. (UFPI, p.4)

    Consideramos como interligadas e inseparveis estas duas dimenses do aprendi-zado e do exerccio profissional, sendo impossvel neste projeto operar com qual-quer dicotomia entre teoria e prtica. (UFU, p.5)

    O problema desta discusso que ao designar 400 horas para a Prtica como Componente Curricular, j estamos dissociando a formao, ou seja, existe um espao na formao para estudar teoria e contedo, e outro para estudar a prtica profissional e a realidade da escola. O discurso da no dicotomia acaba, na forma como est proposta, em um discurso at certo ponto incoerente, visto que na tentativa de trazer a prtica para os cursos de formao acabamos por separar em disciplinas especficas. Esse debate sobre as incoerncias na organizao curricular baseadas em concepes que entendem teoria e prtica como antagnicas apresentado por Elisa Lucarelli (2009, p.76):

    La divisin horaria entre clases tericas y prcticas; la existencia de docentes res-ponsables de la enseanza de la teora, ls de mayor prestigio y poder institucio-nal, y de docentes para la enseanza de la pctica como aspecto ms instrumental de ls contenidos a aprender; son algunas de las consecuencias de estas posicio-nes frente al conocimiento.

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    Em um currculo ideal todos os professores formadores deveriam ser res-ponsveis pela articulao entre teoria e prtica na formao do futuro professor.

    Esses dois elementos (indissociabilidade entre ensino e pesquisa, relao teoria e prtica) presente nos projetos so, na verdade, parte de um discurso sobre a formao de professores. O fato de aparecerem tais elementos no sig-nifica necessariamente que todos os cursos (entenda-se cursos como docentes) concordam e apoiam a incluso da Prtica de Ensino, at porque no referen-ciam, nos textos dos PPC, de onde, a partir de quais autores, esto falando em relao teoria e prtica, por exemplo. A partir de qual concepo de formao de professores esto defendendo a articulao teoria e prtica? Afinal, sabemos que podemos utilizar expresses iguais/parecidas para concepes tericas distintas.

    Sacristn (2002, p.22-23) chama esses discursos de metforas das pesqui-sas pedaggicas:

    Outra metfora muito bonita, muito agradvel, tem sido a do professor investiga-dor em aula, do pedagogo europeu L. Stenhouse: o professor como algum que indaga, que busca em seu prprio mbito de trabalho. H outras metforas, meio cognitivas, meio polticas, como a do professor intelectual, do professor mediador do currculo, do professor autnomo, independente, poltico-crtico...

    Sacristn afirma ainda que a investigao educativa tem se preocupado com os discursos e no com a realidade que flagra a realidade profissional na qual trabalham os professores e as suas condies de trabalho (p.24). A partir dessa afirmao podemos indagar: ser que os discursos de formao do pro-fessor/pesquisador, no dicotomia teoria/prtica, entre outros, no so fal-cia, no ficam no plano do discurso? Em que medida os cursos conseguem, com a estrutura de que dispem (corpo docente, estrutura fsica e material etc.) dar conta de colocar em prtica a planejada formao integral do profissional da histria, defendida nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Histria?

    Os Projetos utilizam vrios conceitos na redao de seus textos (relao teoria e prtica, indissociabilidade ensino e pesquisa, transmisso e transposi-o do conhecimento, professor/pesquisador), mas a maioria deles no define tais conceitos nem aponta a partir de qual referencial terico est tomando o

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    conceito. Alis, uma grande parte dos PPC no tem referncias bibliogrficas ao final dos textos do documento, alguns apenas tm como referncia a legis-lao utilizada.

    Consideraes finais

    Estas consideraes ainda so iniciais, mas o que podemos afirmar que os cursos estudados j adequaram seus Projetos nova legislao de formao de professores. Mesmo apresentando uma grande variedade de interpretaes da legislao, as comisses de elaborao dos currculos dos cursos tm a preo-cupao de utilizar a linguagem do discurso corrente sobre o tema formao de professores.

    O formato predominante de organizao das 400 horas da prtica como componente curricular o de disciplinas especficas. Embora esse formato pa-rea, ao primeiro olhar, contraditrio com a discusso sobre a relao teoria e prtica na formao dos professores, foi a maneira que os colegiados de curso encontraram de garantir o debate na formao, visto que existe uma ementa com temas especficos ligados ao trabalho docente na educao bsica.

    A distribuio da carga horria entre as disciplinas da grade, ao contrrio da anterior, pode parecer a melhor alternativa para a no dicotomia teoria e prtica, j que todos os professores do curso, ou pelo menos todos os profes-sores das disciplinas de contedo histrico, participariam da formao do fu-turo professor, trabalhando a prtica de ensino em sua rea. Entretanto, pen-sando na realidade dos cursos e na formao acadmica do corpo docente, seria ingenuidade pensar que s porque se destinaram 10 ou 15 horas na dis-ciplina a relao teoria e prtica estaria garantida. mais provvel que a carga horria diluda realmente se dilua, ou seja, todos e ningum sejam respon-sveis ao mesmo tempo.

    Os cursos que optaram por criar algumas disciplinas e diluir parte da car-ga horria em um curso de licenciatura ideal talvez pudessem ser vistos como um formato ideal. Ideal porque estariam garantidos alguns temas caros for-mao docente em ementas especficas, e todos os formadores de professores estariam preocupados com o processo de mediao didtica e com a prtica do futuro professor.

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    J a opo de alocar as disciplinas pedaggicas na carga horria de prtica parece ser a negao da responsabilidade com a Didtica da Histria, que deve estar a cargo de professores de histria. O ensino de histria nas escolas exige dos professores uma competncia que no coincide com sua especializao em histria (Rsen, 2007, p.90) e, por isso, a didtica a disciplina em que essa competncia especfica para a sala de aula, para ensinar, formulada e refleti-da, portanto precisa ser feita por algum que conhece a cincia da histria e os processos de ensino e aprendizagem da histria.

    Para alm do formato adotado em cada curso, preciso destacar que na gran-de maioria dos casos analisados, a carga horria de prtica como componente curricular est sob responsabilidade dos professores dos departamentos de histria ou seu equivalente na instituio. Isso importante porque, na medida em que os cursos assumiram que so responsveis por formar professores, isso pode significar um incio do fim da to problemtica dicotomia teoria e prtica, quando a forma-o especfica (bacharel) era considerada como mais importante.

    Isso tem relao direta com outra preocupao presente nos Projetos Pe-daggicos dos cursos, a indissociabilidade entre ensino e pesquisa. No existe frmula para isso, mas os cursos tm ensaiado alternativas para unir ensino e pesquisa, e o espao da prtica de ensino tem sido utilizado tambm com esta finalidade, pensar a pesquisa em ensino de histria na licenciatura e no ape-nas a pesquisa histrica.

    As ementas refletem essas preocupaes quando propem trabalhar com o fazer docente, a mediao didtica, as relaes entre teoria da histria e a didtica da histria e a aproximao com a realidade da escola.

    REFERNCIAS

    BERGMAN, K. A Histria na reflexo Didtica. Revista Brasileira de Histria, So Paulo, v.9, n.19, p.29-42, 1990.

    CAIMI, F. E.; CANABARRO R. P. Formao de Professores de Histria: breves notas sobre os currculos atuais das licenciaturas. In: ENCONTRO NACIONAL PERS-PECTIVAS DO ENSINO DE HISTRIA, 7. Anais... Uberlndia, MG: Ed. UFU, 2009.

    CERRI, L. F. Oficinas de ensino de histria: pontes de didtica da histria na transio do currculo de formao de professores. Educar, Curitiba: Ed. UFPR, n.27, p.221-238, 2006.

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    Revista Histria Hoje, vol. 3, n 5320

    COSTA, A. L. Formao de profissionais de histria e a prtica como componente curricular. In: ENCONTRO NACIONAL DOS PESQUISADORES DO ENSINO DE HISTRIA, 9. Florianpolis, SC, 18-20 abr. 2011. [Anais eletrnicos].

    _______. A formao de profissionais de Histria: o caso da UFRN (2004-2008). Dis-sertao (Mestrado em Histria) Universidade Federal da Paraba. Joo Pessoa, 2010.

    LUCARELLI, E. Teora y practica en la universidad: la innovacin en las aulas. Buenos Aires: Mio y Dvila, 2009.

    RSEN, J. Histria Viva. Teoria da Histria III: formas e funes do conhecimento histrico. Trad. Estevo de Rezende Martins. Braslia: Ed. UnB, 2007.

    SACRISTAN, J. G. Tendncias investigativas na formao de professores. Revista da Faculdade de Educao da UFG, Goinia, n.27, p.21-28, 2002.

    NOTAS

    1 Este texto parte integrante da pesquisa de doutorado desenvolvida no PPGE-UEPG PR.2 Resoluo CNE/CP 2, de 19 fev. 2002:

    Art. 1 A carga horria dos cursos de Formao de Professores da Educao Bsica, em nvel superior, em curso de licenciatura, de graduao plena, ser efetivada mediante a in-tegralizao de, no mnimo, 2.800 horas, nas quais a articulao teoria-prtica garanta, nos termos dos seus projetos pedaggicos, as seguintes dimenses dos componentes comuns:

    I 400 horas de prtica como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso;

    II 400 horas de estgio curricular supervisionado a partir do incio da segunda metade do curso;

    III 1.800 horas de aulas para os contedos curriculares de natureza cientfico--cultural;

    IV 200 horas para outras formas de atividades acadmico-cientfico-culturais.3 A diferena entre o nmero de Projetos Pedaggicos analisados e o nmero de cursos resulta de algumas universidades utilizarem o mesmo projeto em vrios de seus campi.4 A UEG tem 12 campi com cursos de Histria, e em todos eles o curso utiliza o mesmo projeto pedaggico, portanto, todos os campi oferecem licenciatura.5 Grifos nossos.

    Artigo recebido em 20 de junho de 2014. Aprovado em 27 de junho de 2014.