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Pragas Miguel Michereff Filho Mirian Fernandes Furtado Michereff " deito sob a MANGABEIRA sombra-luz-amena céu de astros-constelação flor-estrela de algodão aroma de restingantes lábios autocolantes delícia do coração" Capítulo 15 Poesia “Mangaba” de Henrique José

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Pragas

Miguel Michereff FilhoMirian Fernandes Furtado Michereff

" deito sob a MANGABEIRA

sombra-luz-amena

céu de astros-constelação

flor-estrela de algodão

aroma de restingantes

lábios autocolantes

delícia do coração"

Cap

ítulo

15

Poesia “Mangaba” de Henrique José

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Introdução

Vários insetos têm a mangabeira como planta hospedeira; entretanto, em virtude desta fruteira ainda seencontrar em processo de domesticação e da reduzida quantidade de cultivos comerciais, poucas pragas têmsido registradas causando prejuízo à cultura (VIEIRA NETO; SANTANA, 1994; VIEIRA NETO, 2002; VIEIRANETO et al., 2002). Algumas pragas são esporádicas e regionais, outras ocorrem com menor freqüência e emníveis populacionais baixos, sem causar danos econômicos, e poucas requerem a adoção de medidas decontrole (VIEIRA NETO et al., 2002).

As fases de plantas em viveiro e de pomar em implantação representam o período mais crítico dessacultura em relação às perdas ocasionadas por pragas, entre as quais destacam-se os pulgões e as formigascortadeiras, por danificarem com freqüência as folhas, ramos e brotações (LEDERMAN et al., 2000; VIEIRANETO et al., 2002).

Para facilitar a identificação das pragas e a operacionalização das medidas de controle, de forma inte-grada, os insetos e outros organismos foram reunidos em três grupos distintos, sendo: pragas primárias,secundárias e potenciais. Como praga primária ou principal, considera-se aquela que, com freqüência, provocadanos econômicos, exigindo medidas de controle. Praga secundária é aquela que, embora cause danos àcultura, raramente provoca prejuízos e quando isso ocorre, verifica-se em áreas localizadas em determinadoperíodo (PEDIGO, 1989). Praga potencial refere-se a organismos menos freqüentes e pouco estudados, masque podem causar algum dano e se tornar pragas relevantes da mangabeira no futuro.

Neste capítulo serão apresentadas as espécies mais comumente encontradas em cultivos de mangabeira,dando-se ênfase a sua descrição, biologia, hospedeiros, danos e métodos de controle. Atualmente não exis-tem inseticidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para controle de pragas damangabeira. Entretanto, serão mencionados alguns produtos listados na literatura sobre a cultura. A eventualmenção de marca comercial e/ou princípio ativo, contida no texto, não significa recomendação ou endosso deseu uso pela Embrapa.

Pragas primárias

PulgõesAphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae)Toxoptera citricida (Kirkaldy, 1907)

Descrição e biologiaSão insetos pequenos (1 a 3 mm de comprimento), com corpo periforme e mole, antenas bem desenvol-

vidas e aparelho bucal tipo sugador. Vivem agrupados em colônias, com formas aladas e ápteras (sem asas) ese alimentam sugando a seiva de tecidos tenros das plantas. No final do abdome possuem dois apêndicestubulares laterais, chamados sifúnculos e um central, a codícula, por onde são expelidas grandes quantidadesde líquido adocicado, do qual se alimentam as formigas que, em contrapartida, os protegem dos inimigosnaturais (GALLO et al., 2002).

No Brasil só ocorrem pulgões fêmeas, que se reproduzem por partenogênese telítoca. No início daformação da colônia (Figura 1), a reprodução é somente de indivíduos ápteros; com o aumento da população,aparecem os indivíduos alados, responsáveis pela dispersão da espécie e pela infestação de novas plantashospedeiras (GALLO et al., 2002; PARRA et al., 2003).

Os pulgões ocorrem em todas as fases de desenvolvimento da mangabeira, sendo encontrados na faceinferior das folhas jovens, nos ramos finos, nas brotações e nas flores (VIEIRA NETO, 2002). O pulgão verde,A. gossypii, é a espécie mais freqüente em pomares comerciais de mangaba (VIEIRA NETO, 2002; SILVA et

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al., 2003). Seus indivíduos têm coloração variando de amarelo-claro ao verde-escuro e também infestamoutras culturas, tais como o cajueiro, as cucurbitáceas (melancia, melão, pepino, abóbora e outras), as malváceas(algodoeiro e quiabeiro), além de ornamentais e plantas silvestres (GALLO et al., 2002). O pulgão preto, T.

citricida, é outra espécie que pode ser encontrada em plantios de mangabeira, particularmente no Estado deGoiás (SILVA et al., 2003). Os adultos são pretos, enquanto as ninfas (forma jovem) são marrons; essaespécie ataca principalmente plantas cítricas (GALLO et al., 2002).

Fig.1. Ciclo de vida das espécies de pulgões que infestam a mangabeira.Ilustração: Erivaldo Fonseca Moraes.

Sintomas e danosOs danos são mais severos em mudas de viveiros e em pomares na fase de implantação (plantas

jovens), exigindo muitas vezes a adoção de medidas de controle. A sucção contínua de seiva e a injeção detoxinas provocam deformações e enrolamento de folhas e de brotos e encurvamento da parte apical do caule,podendo ocasionar atrofiamento e morte de mudas e de plantas jovens (VIEIRA NETO; SANTANA, 1994;VIEIRA NETO et al., 2002). A substância adocicada expelida por grandes colônias de pulgões também favore-ce o desenvolvimento de um fungo (Capnodium spp.) comumente denominado de fumagina, de coloraçãoescura, que pode cobrir totalmente a superfície foliar da planta, prejudicando sua fotossíntese e respiração(GALLO et al., 2002). Em plantas adultas também pode ocorrer infestação nos brotos terminais, porém semmaiores prejuízos, uma vez que as populações da praga são naturalmente reduzidas pelas chuvas (VIEIRANETO, 2002) e pela ação de inimigos naturais (joaninhas, neurópteros, vespas parasitóides e aranhas).

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ControleNão há nível de ação determinado para pulgões em mangabeira. Assim, a tomada de decisão dependerá

da análise subjetiva das infestações no viveiro e no pomar. O monitoramento de pragas na mangaba deve seruma prática constante no viveiro de mudas, enquanto áreas recém-plantadas devem ser inspecionadas nomínimo mensalmente.

Controle culturalAs práticas preventivas, recomendáveis para todas as culturas, nada mais são que regras de boa

agricultura, previamente planejadas, para retardar ou reduzir a infestação das pragas (PEDIGO, 1989; GALLOet al., 2002). As medidas de controle mais recomendadas são:

• Eliminar dos pomares e imediações, as ervas daninhas, plantas silvestres ou cultivadas, que sejamhospedeiras de pulgões;

• Instalar quebra-ventos ao redor do pomar ou entre talhões, com espécies vegetais que dificultem odeslocamento dessas pragas para o pomar, como por exemplo, o sabiá (Mimosa caesalpinaefolia Benth.), aleucena (Leucaena leucocephala (Lam.) de Wilt), a gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq) Walp) e o nim (Azadirachta

indica A. Juss);• Uso de mudas oriundas de viveiros idôneos, bem como levar ao campo plantas sadias e vigorosas;• Optar por plantio de áreas menores, na qual se pode conduzir o pomar cuidadosamente;• Fazer adubação adequada utilizando também o espaçamento e a densidade de plantio recomendados

para a cultura;• Manter sub-bosques com plantas nativas;• Manutenção de vegetação rasteira nas ruas/entrelinhas mediante capina seletiva/roçagem (favorece

a presença de inimigos naturais) e coroamento das plantas ou limpeza das filas de cultivo;• Eliminar restos culturais imediatamente após a poda e/ou colheita, para impedir a formação de focos

de sobrevivência de formas jovens e adultos.

Controle biológicoOs pulgões A. gossypii e T. citricida são controlados naturalmente por diversos agentes biológicos,

citando-se, entre os parasitóides: Aphelinus sp. (Hymenoptera: Aphelinidae), Lysiphlebus testaceipes (Cresson,1880) e Aphidius platensis Brèthes, 1913 (Hymenoptera: Braconidae); e entre os insetos predadores: Cycloneda

sanguinea (L., 1763); Eriopis connexa (Germar, 1824); Ceratomegilla maculata De Geer, 1775; Hyperaspis

festiva Mulsant, 1846; Scymnus sp. (Coleoptera: Coccinellidae); Baccha clavata Fabr., 1794; Ocyptamus

notatus (Loew, 1866); Pseudodorus sp.; Salpingogaster sp. (Diptera: Syrphidae) e Chrysoperla spp. (Neuroptera:Chrysopidae) (SILVA et al., 1968; GALLO et al., 2002; PARRA et al., 2003).

Controle químicoApesar da eficiência comprovada de vários produtos, ainda não existem inseticidas registrados para

pragas em mangabeira (MOREIRA, 2002; VIEIRA NETO, 2002; ANVISA, 2004). O uso continuado de insetici-das organofosforados (monocrotophos, acephate, malathion e parathion-metyl, entre outros) deve ser evitado,em virtude do seu amplo espectro de ação e dos efeitos colaterais que causam ao meio ambiente (CROFT,1990). Inseticidas específicos para pulgões (pirimicarb, imidacloprid), quando aplicados de forma localizada(focos de infestação), podem minimizar o impacto negativo do controle químico sobre os inimigos naturais e ospolinizadores da mangabeira.

Caso necessário, deve-se aplicar inseticida nas mudas, antes do plantio. Como alternativa aos agrotóxicos,os produtores ainda podem recorrer a soluções saponáceas, aplicadas isoladamente ou em mistura com óleosvegetais, ou então, à calda de extrato de pimenta-do-reino, alho e sabão. O preparo e as recomendações deuso desses produtos podem ser consultados em Guerra (1985), Santos e outros (1988) e Andrade e Nunes(2001).

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Formigas cortadeirasAtta spp. (Hymenoptera: Formicidae)

Descrição e biologiaAs formigas cortadeiras estão entre as mais importantes pragas da agricultura brasileira e são conside-

radas pragas-chave em viveiros e pomares em formação. Na cultura da mangaba também são muito nocivas,destacando-se as formigas do gênero Atta, vulgarmente conhecidas por saúvas (VIEIRA NETO, 2002).

As formigas cortadeiras são insetos com organização social, que vivem em ninhos subterrâneos (formi-gueiros), cortam plantas e transportam o material vegetal para o interior da colônia, que é utilizado comosubstrato para cultivo de um fungo, do qual se alimentam e onde permanecem suas formas jovens (ANJOS etal., 1998; GALLO et al., 2002).

O formigueiro é formado internamente por deze-nas ou centenas de câmaras (panelas) subterrâneasligadas entre si e com a superfície por meio de galerias(canais) (Figura 2). Nas diversas panelas, as formigascultivam o jardim de fungo, criam suas larvas e deposi-tam lixo. Externamente, o formigueiro apresenta ummonte de terra solta, formado pelo acúmulo de terraextraída das câmaras, além de pequenos montículos enumerosos orifícios, denominados olheiros, os quaisservem para ventilação, limpeza ou entrada de materi-al vegetal coletado. Dos olheiros de trabalho saem tri-lhas ou carreiros (Figura 3), que são os caminhos ex-ternos percorridos pelas formigas operárias à procurade material vegetal. As trilhas geralmente são superfi-ciais e limpas (facilmente notadas) e muitas vezes bas-tante longas; terminam em olheiros que nem sempreindicam a localização das panelas do formigueiro (DELLALUCIA; MOREIRA, 1993; ANJOS et al., 1998).

A população do formigueiro é constituída por in-divíduos morfologicamente distintos, de acordo comsuas funções na colônia. Estas formigas possuem cas-tas permanentes e temporárias. As castas permanen-tes em Atta são compostas por uma fêmea áptera(rainha) fundadora do sauveiro (casta reprodutiva) epor operárias (fêmeas estéreis) que representam amaior parte da população e executam as mais varia-das tarefas. Nas castas temporárias, estão os ma-chos (bitus) e fêmeas aladas (iças ou tanajuras), queaparecem nos formigueiros adultos anualmente, ga-rantindo a reprodução das espécies (DELLA LUCIAet al., 1993a; GALLO et al., 2002).

As operárias de Atta são facilmenteidentificadas pela presença de três pares de espinhosno dorso do tórax (Figura 4) (ANJOS et al., 1998;GALLO et al., 2002). Essas formigas são mais ativas

Fig. 2. Desenho em corte esquemático de formigueiro desaúva (adaptado de Gallo et al., 2002).

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Fig. 3. Ninho com olheiros e trilha ativa de formigascortadeiras

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à noite e nas horas de temperatura mais amena. Emdias com forte nebulosidade, as trilhas podem se man-ter ativas durante todo o dia (DELLA LUCIA; OLIVEI-RA, 1993).

Sintomas e danosAs formigas cortadeiras cortam a folhagem ten-

ra da mangabeira, principalmente de plantas novas,podendo causar grandes prejuízos em viveiros e po-mares em formação (VIEIRA NETO, 2002). Os danoscausados pelas saúvas são facilmente reconhecidospelo tipo de corte que elas fazem nas folhas, em for-mato de meia-lua ou arco, como pela desfolha com-pleta da copa.

Quando não são combatidas, seu ataque logo após a transferência das mudas para o campo poderetardar o desenvolvimento das plantas e causar a perda de grande quantidade delas. Em pomares já formadose adultos, estas formigas são pragas secundárias e não causam danos significativos (VIEIRA NETO, 2002).

ControleO monitoramento das formigas cortadeiras no viveiro e nos pomares em formação deve ser constante,

sendo a melhor forma de evitar os danos e prejuízos causados por esta praga. Em virtude dos danos severosque as formigas cortadeiras freqüentemente ocasionam às plantas jovens, a simples presença destas noagroecossistema já justifica o controle, devendo-se adotar medidas de caráter preventivo (DELLA LUCIA;VILELA, 1993; ANJOS et al., 1998).

Controle mecânico e cultural

A manipulação do meio ambiente, para impedir, retardar, reduzir ou inibir o ataque ou o aparecimento deformigas cortadeiras, é um dos mais poderosos instrumentos de convivência harmônica com essa praga, porser um controle ecologicamente sustentável.

Como medida paliativa e temporária, pode-se retardar a ação das formigas sobre mudas e plantasjovens, colocando-se obstáculos em seu caminho. Tais obstáculos podem ser: canais de terra ou canaletas decimento, cheios de água, circundando os canteiros de mudas do viveiro; latas de óleo ou garrafas descartáveisde refrigerante, sem fundo e tampa ou gargalo, colocadas circundando os caules, levemente enterradas nosolo e untadas com graxa na parte externa, ou então vestir o caule das plantas com um cone de lata ouplástico duro, com a parte mais larga voltada para baixo (semelhante a um funil invertido), a mais ou menos 30cm do chão (DELLA LUCIA; VILELA, 1993; ANJOS et al., 1998).

A manutenção de sub-bosques de plantas nativas próximas ao viveiro e nos pomares de mangabeiratambém é recomendável. Apesar de dificultar outros métodos de controle e práticas culturais, o sub-bosquediversifica a vegetação da área, com outras espécies que podem ser forrageadas, diminuindo a pressão sobreas plantas cultivadas, além de favorecer o incremento de inimigos naturais que predam as tanajuras durante afase de fundação da colônia (ANJOS et al., 1998).

O combate às tanajuras e aos bitus (formas aladas) e aos formigueiros iniciais é desnecessário, devidoà ação de vários fatores, entre os quais a predação feita pelas aves durante o vôo nupcial e pelos sapos einsetos, durante a escavação da primeira panela do formigueiro. Estima-se que apenas 0,05% dos formiguei-ros iniciais atinja a fase completa (ANJOS et al., 1998; GALLO et al., 2002).

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Fig. 4. Operárias da saúva-cabeça-de-vidro (Atta laevigata).

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Controle químico

É um método extremamente importante e, muitas vezes, imprescindível ao controle de formigascortadeiras. O controle químico deve ser feito usando-se iscas granuladas, formicidas em pó ou líquidostermonebulizáveis. Recomenda-se que todos os formigueiros de cortadeiras sejam destruídos na área do vivei-ro e circunvizinhanças. No plantio definitivo, o controle deve ser feito antes do transplante das mudas, man-tendo-se uma vigilância regular para combater re-infestações. Se isso não for possível, caracteriza-se osfocos de forma a identificar aqueles onde a situação é mais ameaçadora. O pior foco é aquele em que seobserva maior intensidade de desfolhamento e maior quantidade e exuberância de colônias de formigas (DELLALUCIA, VILELA, 1993; ANJOS et al., 1998).

Iscas granuladasConsiste na colocação de iscas à base de bagaço de laranja, óleos essenciais e inseticida (fipronil,

diflubenzuron, sulfluramida ou chlorpyrifos) próximo dos olheiros do formigueiro e junto dos carreiros (trilhas).Devido às substâncias atrativas contidas nas iscas, as formigas levam-nas para dentro do formigueiro junta-mente com as folhas, envenenando desse modo toda colônia. Esta técnica é bastante eficiente, econômica eprática, sendo a mais utilizada pelos produtores rurais (DELLA LUCIA; VILELA, 1993; ANJOS et al., 1998).Entretanto, o seu sucesso depende de cuidados especiais durante a aplicação:

• Para a maioria das espécies de Atta, a dosagem é definida em razão da área de terra solta do formi-gueiro e as recomendações do fabricante do produto. Na prática, esta área é estimada pela multiplicação domaior comprimento pela maior largura do monte de terra solta, medidos por passadas de um metro (ANJOS etal., 1998; GALLO et al., 2002). Em seguida, divide-se a dosagem total entre os olheiros ativos e trilhas commovimento de formigas;

• A isca deve ser distribuída próxima aos olheiros ativos e sempre ao lado da trilha; quando não se têmolheiros de carregamento, as iscas podem ser distribuídas em olheiros de limpeza, mas com eficiência menor;

• A atratividade das iscas granuladas é diminuída quando em contato com a umidade do solo, portantorecomenda-se não utilizá-las em dias chuvosos, nas primeiras horas da manhã e ao entardecer;

• O uso de porta-iscas ou micro-porta-isca é recomendado em grandes áreas com alta taxa de infestaçãoe/ou com acentuada pluviosidade (DELLA LUCIA; VILELA, 1993; ANJOS et al., 1998). Neste caso, utilizam-seiscas embaladas em saquinhos de polietileno permeáveis a odores, com espessura delgada, contendo entre 10a 30 g de produto que, ao serem encontrados pelas formigas, são rasgados e esvaziados. Vantagens ofereci-das pelo porta-isca: promove menor impacto ambiental e ganhos operacionais, além de poder ser utilizado emépocas chuvosas, evitando perda de material e mão-de-obra. Desvantagens: os sacos não são biodegradáveis,podendo ser consumidos por animais domésticos e silvestres; outros insetos podem perfurar os sacos, favo-recendo a perda das iscas ou seu transporte por espécies de formigas benéficas (DELLA LUCIA; VILELA,1993).

Pós secosO inseticida é aplicado dentro dos formigueiros por meio de bomba insufladora (Figura 5a). O formicida

em pó só deve ser aplicado em épocas secas, pois a umidade impede a perfeita penetração do pó nos canais.Tem eficiência garantida apenas para formigueiros iniciais e superficiais, nos quais o produto é lançado/polvi-lhado sobre o jardim de fungo (DELLA LUCIA; VILELA, 1993; GALLO et al., 2002). Uso restrito a pequenospomares.

LíquidosAplicação de inseticidas, diluídos em água, através de um funil próprio para esse fim. Esse tratamento

deve ser feito quando o solo está molhado (GALLO et al., 2002).

TermonebulizaçãoInsuflação, através dos olheiros, de um inseticida que produz fumaça tóxica dentro do formigueiro.

Implica na atomização por intermédio do calor, de um inseticida veiculado em óleo diesel ou mineral, por meio

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de um aplicador apropriado (termonebulizador) (Figura5b). Mata as formigas por contato e ingestão do fungocontaminado, com efeito imediato. Para tal técnica, DellaLucia e Vilela (1993) mencionaram os inseticidasfenitrotion, chlorpyrifos e deltametrina.

É altamente eficiente contra grandes formigueiros(acima de 30 m2 de área de terra solta), mas tem altocusto para aquisição, manutenção, operação,treinamento, exige formulações especiais dos inseticidase oferece riscos de acidente, tornando este métodorestritivo para uso em extensas áreas (DELLA LUCIA;VILELA, 1993; ANJOS et al., 1998).

Controle biológico

Nos pomares de mangaba deve-se garantir a preservação dos predadores naturais das saúvas, taiscomo aves, lagartos e lagartixas, sapos, rãs, tatus, tamanduás, besouros do gênero Canthon (Scarabaeidae)e Taeniolobus (Carabidae), formigas dos gêneros Solenopsis, Paratrechina e Nomamyrmex, além de moscasda família Phoridae (DELLA LUCIA et al., 1993b; ANJOS et al., 1998).

Pragas secundárias

CochonilhasCoccus viridis (Green, 1889) (Hemiptera: Coccidae)Pseudaonidia trilobiformis (Green, 1896) (Hemiptera: Diaspididae)

Descrição e biologiaDuas espécies de cochonilha atacam a mangabeira, embora com menor freqüência que os pulgões

(VIEIRA NETO et al., 2002). A cochonilha-verde, C. viridis, é um inseto de formato oval-alongado, achatado ede consistência mole (sem carapaça), coloração verde-pálida, sem pontuações e mede cerca de 5 mm decomprimento. Vive em colônias, atacando ramos novos e a face inferior das folhas ao longo de sua nervuracentral (VIEIRA NETO, 2002). Apresenta várias gerações por ano. É ovovivíparo e se reproduz por partenogênese.Sua presença é notada pelas formigas, que são atraídas pelo líquido açucarado que expelem. Esta cochonilhaataca diversas fruteiras e o cafeeiro (GALLO et al., 2002).

Outra espécie, P. trilobitiformis, que também ocorre em fruteiras como goiabeira, mangueira e citros(SILVA et al., 1968; NASCIMENTO; CARVALHO, 1998; BARBOSA et al., 2001), tem sido registrada espora-dicamente atacando a mangabeira (AGUIAR FILHO et al., 1998; VIEIRA NETO et al., 2002). As fêmeas destaespécie são protegidas por uma escama (carapaça) oval ou circular, achatada, de coloração acinzentada.Medem de 3 a 4 mm de diâmetro e sua parte central é amarelo-clara. A escama do macho é menor, alongadae mais achatada que a da fêmea (NASCIMENTO; CARVALHO, 1998; BARBOSA et al., 2001).

Sintomas e danosAs cochonilhas sugam a seiva, depauperando a planta. Também podem excretar substâncias açucara-

das, que favorecem o aparecimento de fumagina nas folhas e nos ramos, afetando negativamente a fotossíntesee a respiração da planta e, conseqüentemente, o seu desenvolvimento. A contínua sucção de seiva por umgrande número de cochonilhas pode causar desfolha e a morte de ramos, reduzindo o vigor das mudas eplantas jovens (GALLO et al., 2002).

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Fig. 5. Equipamentos para aplicação de formicidas. a –tipo de bomba para aplicação de formicida em pó; b -termonebulizador.

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ControleAs folhas e os ramos devem ser, periodicamente, observados. Esfregando o dedo sobre as cochonilhas,

é possível observar, pelo escorrimento de líquidos, se as cochonilhas estão vivas. As cochonilhas localizam-se, inicialmente, em pequenas áreas e não em todo o pomar. Quando se tomam providências contra infestaçõesiniciais, poucas plantas são prejudicadas. A disseminação das cochonilhas no pomar é em geral lenta; assim,somente os pontos infestados devem ser tratados (GALLO et al., 2002). Caso estes focos não sejam elimina-dos, todo o pomar fica ameaçado, com aumento do custo de controle e, provavelmente, redução da produtivi-dade.

Controle mecânico e cultural

Além das medidas preventivas recomendadas para pulgões, as cochonilhas também podem ser contro-ladas mediante poda e queima ou enterrio de ramos infestados (DONADIO et al., 2002; GALLO et al., 2002).

Controle biológico

Realizado por diversos inimigos naturais, a exemplo dos parasitóides microhimenópteros: Tetrastichus

spp. (Eulophidae), Coccophagus spp. (Aphelinidae) e Achrysophagus sp. (Encyrtidae); dos insetos predadores:Azya luteipes Mulsant, 1850 (Coleoptera: Coccinellidae), Baccha spp. (Diptera: Syrphidae) e Chrysoperla sp.(Neuroptera: Chrysopidae); e dos fungos entomopatogênicos Acrostalagmus sp. e Verticillium lecanii

(Zimmerman.) Viégas (SILVA et al., 1968; GALLO et al., 2002). Embora as populações de cochonilhas sejamcontroladas naturalmente por estes agentes, o uso inadequado de agrotóxicos pode perturbar o equilíbriobiológico do agroecossistema, resultando em severas infestações. Fungicidas, como a calda bordalesa, quan-do usados continuamente, podem favorecer a proliferação das cochonilhas, pelo fato de eliminar os fungosentomopatogênicos (GUERRA, 1985; NASCIMENTO; CARVALHO, 1998).

Controle químico

É justificável somente em caso de severa infestação. Embora não existam princípios ativos registrados,tem-se utilizado óleo mineral emulsionável (0,5 a 1% de concentração), associado ou não a um inseticidaorganofosforado, com pulverização somente nos focos de infestação e nas horas mais frescas do dia (NASCI-MENTO; CARVALHO, 1998; GALLO et al., 2002). Geralmente são aplicados os mesmos inseticidas destina-dos ao controle dos pulgões (VIEIRA NETO et al., 2002). Entretanto, estes podem causar severa mortalidadede inimigos naturais. Alternativamente, podem ser utilizadas soluções saponáceas, aplicadas isoladamente ouem mistura com óleos vegetais (GUERRA, 1985; ANDRADE; NUNES, 2001).

LagartasCocytius antaeus (Drury, 1773) (Lepidoptera: Sphingidae)Erinnyis ello (L., 1758)

Descrição e biologiaA mangabeira pode ser ocasionalmente atacada por lagartas da família Sphingidae. Existem registros

de, pelo menos, duas espécies causando desfolha em cultivos, C. antaeus e o mandarová-da-mandioca, E. ello

(VIEIRA NETO et al., 2002).

O adulto de C. antaeus é uma mariposa que atinge até 16 cm de envergadura. Possui coloração cinza-escura, com as asas anteriores marrom-acinzentadas e pequenas manchas claras irregulares, enquanto asasposteriores são cinza-escuras nas extremidades, com área semitransparente no centro e mancha amareladana base, tendo ainda três faixas amarelas transversais interrompidas no dorso do abdome. Os machos sãomenores que as fêmeas, e estas colocam ovos isolados nas folhas (ZAGATTI et al., 1995; GALLO et al.,2002; OEHLKE, 2004).

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Inicialmente as lagartas apresentam listras laterais brancas; nos últimos instares elas medem aproxi-madamente 7 cm, possuem coloração verde-acinzentada, com uma linha púrpura-escura na região mediana dodorso, além de faixas laterais brancas e um apêndice em forma de chifre, na parte final do abdome (ZAGATTIet al., 1995; OEHLKE, 2004). As lagartas empupam no solo e os adultos emergem após 30 dias da pupação.Além da mangaba, esta espécie ataca várias anonáceas (BRAGA SOBRINHO et al., 1998; OEHLKE, 2004).

A mariposa de E. ello pode chegar a 10 cm de envergadura, tem coloração cinza, com asas anterioresacinzentadas, alongadas e estreitas, e as posteriores vermelhas com bordos escuros; o abdome é vermelho,com faixas pretas interrompidas no dorso, em cinco segmentos (ZUCCHI et al., 1993). O adulto possui hábitonoturno e pode viver 15 a 19 dias; as fêmeas depositam até 1.800 ovos, isoladamente nas folhas (GALLO etal., 2002).

Os ovos inicialmente são de coloração verde,tornando-se amarelados próximo à eclosão e medemcerca de 1,5 mm. As lagartas passam por cinco insta-res (duração 12 a 15 dias), possuem coloração variá-vel de verde, marrom a preto e podem chegar a 100mm de comprimento; apresentam estrias laterais ama-reladas, mancha preta no mesotórax e desenho bran-co em forma de X, além de um pequeno apêndice nofinal do abdome (Figura 6). A pupa é marrom, com até50 mm de comprimento e fica no solo até 26 dias.Existem várias plantas hospedeiras: mandioca, serin-gueira, mamona, mamoeiro, paineira e euforbiáceas sil-vestres (ZUCCHI et al., 1993; GALLO et al., 2002).

Sintomas e danosEm alta infestação, desfolham totalmente as plantas jovens e podem destruir, também, os ramos mais

finos (VIEIRA NETO et al., 2002).

ControleControle mecânico e cultural

Em ataques isolados (focos), recomenda-se a catação manual e a destruição das lagartas (GALLO etal., 2002; VIEIRA NETO, 2002). Também se deve evitar a instalação do pomar em áreas próximas a cultivosde mandioca, mamoeiro e seringais.

Controle biológicoRealizado naturalmente por insetos predadores e por parasitóides de ovos (Trichogramma sp.) e de

lagartas (vários microhimenópteros e moscas da família Tachinidade) (SILVA et al., 1968; GALLO et al.,2002). Essas pragas também podem ser controladas com inseticidas biológicos comerciais à base de Bacillus

thuringiensis (Berliner), que deve ser aplicado quando as lagartas ainda forem pequenas, pois nessa fase oagente biológico é mais eficiente (ALVES, 1998; MOREIRA, 2002). Outro agente biológico de grande eficiênciano controle de E. ello é o Baculovirus erinnyis, um vírus do tipo granulose (GV) que ataca as lagartas. Esseagente microbiano pode ser obtido pela maceração de lagartas infectadas na lavoura, que se apresentamdescoradas, com perda dos movimentos e da capacidade alimentar, encontrando-se dependuradas nos pecíolosdas folhas (ALVES, 1998; GOMES; LEAL, 2003).

Controle químicoO controle químico justifica-se somente quando houver infestação severa e generalizada no viveiro ou

no pomar em formação. Embora não registrados para a cultura, utilizam-se inseticidas piretróides,organofosforados (trichlorfon) e carbamatos (carbaryl) (AGUIAR FILHO et al., 1998; SEAGRI-BA, 2000).

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Fig. 6. Lagartas do mandarová (Erinnyis ello), no quinto

ínstar.

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Abelha arapuáTrigona spinnipes (Fabr., 1793) (Hymenoptera: Apidae)

Descrição e biologiaA abelha arapuá, irapuá ou abelha-cachorro ocorre de norte a sul do Brasil. O inseto adulto possui

coloração preta, medindo de 5 a 7,5 mm de comprimento e apresenta mandíbulas desenvolvidas, asas mar-rons hialinas e não possui ferrão. Essa espécie, quando perturbada, enrola-se nos cabelos das pessoas. Cons-trói seu ninho nas árvores, entre os ramos, ou em cupinzeiros abandonados. Na construção dos ninhos, aabelha emprega filamentos fibrosos de vegetais com elementos aglutinantes, constituídos principalmente deresinas (ZUCCHI et al., 1993; GALLO et al., 2002).

Sintomas e danosAs abelhas cortam folhas, ramos novos e flores na busca de látex da mangaba para a construção de

seus ninhos. Quando o ataque é severo, prejudica o desenvolvimento das brotações e o crescimento, principal-mente das plantas jovens (VIEIRA NETO, 2002).

ControleQuando realmente necessária, a remoção de ninhos localizados nas proximidades do pomar constitui a

principal medida de controle dessa espécie (VIEIRA NETO, 2002).

PercevejoLeptoglossus stigma (Herbst, 1784) (Hemiptera: Coreidae)

Descrição e biologiaPraga de ocorrência esporádica na mangabeira.

Também conhecido como percevejo-do-melão-de-são-caetano e percevejo-das-frutas. Os adultos medemcerca de 20 mm de comprimento e possuem colora-ção escura. A cabeça é preta, com três listras estrei-tas, de coloração castanha, e o pronoto, pardoavermelhado, sem manchas. Sobre os hemiélitros ob-serva-se uma linha de coloração creme ou amarelada,transversal e em zigue-zague (Figura 7). Na tíbia daperna posterior apresentam uma expansão, que lem-bra uma pequena folha, com uma mancha na parteinterna (ZUCCHI et al., 1993; BARBOSA et al., 2001).Além da mangabeira são seus hospedeiros:aboboreiras, araçazeiro, cajueiro, caramboleira, goia-beira, laranjeira, mangueira, melancieira, meloeiro,romanzeira e tangerineira (BARBOSA et al., 2001).

Sintomas e danosAdultos e ninfas perfuram os frutos verdes em vários locais, provocando o seu apodrecimento e queda

precoce (VIEIRA NETO, 2002).

ControleRealizado somente em caso de infestação severa na época da frutificação, mediante pulverização de

inseticida com ação de contato e curto efeito residual (VIEIRA NETO, 2002); devendo-se colher os frutossomente após 30 dias da pulverização.

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Fig.7. Adulto do percevejo Leptoglossus stigma.

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Pragas potenciais

A mangabeira, além das pragas já mencionadas, está sujeita à ação de outros organismos menosfreqüentes e pouco estudados, mas que podem se tornar pragas relevantes e ocasionar prejuízos futuramentecom a expansão da área cultivada e da sua monocultura. Como exemplos, podem-se citar a ocorrência delarvas de mosca-das-frutas das famílias Tephritidae [Anastrepha spp. e Ceratitis capitata (Wiedemann, 1824)]e Lonchaeidae [Neosilba sp.] danificando frutos de mangaba em pomar no município de Goiânia, GO (SILVA etal., 2003), e o registro de perdas na fase de viveiro ocasionadas pelo consumo de sementes recém-plantadasou em fase de germinação no solo, por ratos, na Região Nordeste (VIEIRA NETO, 2002).

Considerações finais

O manejo de pragas requer treinamento especializado e notável experiência para a identificação corretados organismos nocivos e a seleção da forma efetiva de controle do problema (PEDIGO, 1989). Para a culturada mangaba, este processo é ainda mais complexo, visto que não há informações sobre níveis de controle paraas principais pragas.

O agricultor considera, normalmente, qualquer artrópode avistado sobre as plantas como inimigo oupraga. Na realidade, muitos desses organismos são inimigos naturais das pragas e, portanto, amigos doagricultor – destruí-los é prejudicial aos interesses do próprio empreendimento. Com alguns cuidados e aintrodução de certas práticas, é possível melhorar as condições fitossanitárias da cultura e o rendimento, semalterar custos. Algumas dessas medidas de manejo são trabalhosas, mas o retorno econômico do pomardepende de seu cuidado e do cumprimento das recomendações técnicas, reduzindo assim os prejuízos causa-dos pelas pragas.

Para que os danos das pragas sejam mantidos em níveis toleráveis, recomenda-se a combinação devárias medidas de controle, que devem ser planejadas antes mesmo do plantio. Não se pode esquecer dapreservação do meio ambiente, bem como o favorecimento da atuação dos inimigos naturais, de maneira que,no campo, o controle biológico natural assuma importância cada vez maior. São necessários estudos paraviabilizar a conservação de inimigos naturais na cultura, por meio da identificação das principais espécies nosagroecossistemas e de plantas que forneçam alimentação alternativa para períodos em que a presa/pragaesteja em baixa densidade, como também o desenvolvimento de sistemas agroecológicos de produção.

O uso não criterioso dos inseticidas pode acarretar diversos problemas como o desenvolvimento depopulações resistentes aos produtos, a contaminação do meio ambiente, intoxicações e a eliminação dosinsetos polinizadores, sendo estes fundamentais para a frutificação da mangabeira (DARRAULT; SCHLINDWEIN,2003).

Recomenda-se nunca utilizar calendário fitossanitário fixo, mas monitorar freqüentemente o viveiro e opomar, para verificação da presença de pragas ou sintomas de seu ataque às plantas. Atualmente, o controlequímico na mangabeira é utilizado apenas para surtos severos de pragas, devendo-se consultar um engenheiroagrônomo para acompanhamento de todo o processo, desde a escolha do produto até a avaliação do seuefeito. A aplicação de agrotóxicos, se necessária, deve ser efetuada nas horas mais frescas do dia, paraevitar a rápida degradação do produto (GALLO et al., 2002); além disso, não pulverizar as plantas durante afloração, para não prejudicar os insetos polinizadores.

Ressalta-se ainda que a inexistência de produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento para controle de pragas na mangabeira é um dos maiores entraves para a adoção do controlequímico, pois torna ilegal a recomendação de inseticidas (MOREIRA, 2002; ANVISA, 2004), exigindo muitobom senso quanto a esta questão. Embora alguma pesquisa tenha sido realizada com inseticida em mangaba

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(VIEIRA NETO; SANTANA, 2002), a literatura sugere vários agrotóxicos, com a maioria das recomendaçõesbaseadas em princípios ativos que se mostraram eficientes contra a mesma praga, ou espécies com hábitossemelhantes, em outras fruteiras. Assim, esses produtos químicos merecem ser reavaliados para uso nacultura da mangaba. Os produtos mencionados no texto deverão ser usados apenas como orientação para apesquisa, uma vez que sua prescrição somente deverá ser feita após a homologação dos seus registros.

Como a cultura da mangaba é relativamente recente em exploração comercial, pouca atenção tem sidodada à avaliação quantitativa das perdas na produção, assim como os conhecimentos das pragas e insetosbenéficos associados a ela ainda são incipientes e, em muitos casos, limitam-se tão somente a relatos daocorrência de insetos, com escassas informações sobre sua bioecologia e manejo. Desta forma, ainda faltamelementos essenciais para a elaboração de uma proposta de manejo integrado de pragas, baseada nos princí-pios agroecológicos. Entretanto, espera-se que com a valorização da polpa, mais pesquisas sejam desenvolvi-das nesta área.

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