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Como Bruno GaGliasso fez de coragem, talento – e um par de olhos azuis – armas para conquistar bons papéis, uma cartela de

investimentos em turismo, esporte e gastronomia, e ainda fortalecer um casamento depois de uma traição revelada em rede nacional

POR PEDRO HENRIQUE FRANÇA i FOTOS PEDRO DIMITROW i STYLiNG GUSTAVO JOSÉ

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Assista aos bastidores do ensaio.

m uma quinta-fei-ra de folga da nove-la Babilônia, Bruno Gagliasso aprovei-ta para acompa-nhar as obras de casa, em um con-domínio no Ita-nhangá, no Rio

de Janeiro. Veste all jeans e botas. En-quanto mostra os ambientes do espaço-so lar, ele relata marca, artista ou local de aquisição de peças, quadros, mobi-liários, livros de arte. Exala interesse pelo assunto. “Se não fosse ator, seria arquiteto”, confessa. Uma das funcio-nárias confirma: “Até domingo está tudo normal de novo. Depois ele inven-ta alguma coisa”. E elenca “criações” do arquiteto informal da casa: “Aque-las pedras do quintal ali, esta parede preta aqui... Tudo coisa dele”.

Arquiteto Gagliasso não é, mas se cerca dos melhores para suas obras. Seu novo rancho, próximo a Secretário, re-gião de escape dos globais na serra flu-minense, tem projeto de Miguel Pinto Guimarães. O ator diz gostar de design (e de uma obra) desde sempre. Tem pe-ças de Philippe Starck a Sergio Rodri-gues. Nem suas motos, uma Triumph Bonneville e uma Harley-Davidson 883, escapam de sua intervenção artís-tica. Gagliasso mandou customizar as duas em uma garagem especializada de São Paulo. Arquitetura e design são os tipos de investimento pessoal que ele tem mais prazer em fazer, ao lado de bons hotéis – descolados e com assina-turas – e restaurantes. “Essas são as mi-nhas extravagâncias. Viajo para comer e ficar bem hospedado, não para fazer compras. Não quero o melhor carro, he-licóptero, avião. Sou um cara que vive bem, mas não rasgo dinheiro.”

Tem apreço especial por crânios, presentes pela casa: no criado-mu-do ao lado da cama de dormir, em um quadro adquirido em Nova York, em joias e no próprio corpo, em uma de suas 11 tatuagens. A imagem, sombria para uns, representa para ele “vida, re-alidade, existência”. Algo compreen-sível para alguém que subvertia a nor-malidade desde garoto. Passou por quatro colégios de classe média alta carioca. Foi convidado a se retirar de dois, de ensino religioso. “Fui muito

levado quando moleque. Não podia dar certo em colégio de padre e freira.” Neste ensaio de capa, gostou da ele-gância rock’n’ roll à la Johnny Depp, um dos atores que ele, aliás, tem como referência dentro e fora de cena.

O jovem transviado virou artista, diz, para “transformar e questionar”. “Sou contra qualquer tipo de censu-ra.” O despertar para a arte veio com 8 anos, em meio a um set de novela que acompanhava com a mãe. Fez figura-ção, já no mesmo dia, em Barriga de Aluguel (1990). “Ali meu olho começou a brilhar para esse universo”, conta. Demorou, no entanto, um tempo para entrar para o curso de teatro. E logo veio o convite para Chiquititas (1997), a novela teen do SBT. Tinha 17 anos e se mudou para São Paulo. De lá, não pa-rou. Foi chamado de volta ao Rio para a Globo. Fez aparições em As Filhas da Mãe (2001) e A Casa das Sete Mulhe-res (2003), até que veio a oportunidade de um personagem rejeitado pela mãe, Inácio, de Celebridade (2003).

Gagliasso ganhava ali os primei-ros holofotes. E mostrava sua perse-verança. Naquele caso, como filho de Deborah Evelyn e Marcos Palmeira, havia apenas atores de olhos escuros e cabelos cacheados. Não desistiu. O mesmo aconteceu com Edu, em Du-pla Identidade (2014), para o qual Glo-ria Perez buscava um ator mais velho. “Errei, porque me detive na juventu-de, mas quando ele interpretou o Edu, ela não estava ali. O que eu via era a alma do personagem, a complexida-de”, observa Gloria. Diretor da série, Mauro Mendonça Filho define o ator como uma “bomba-relógio”. “Usan-do inteligência, virilidade, disciplina e sensibilidade, ele sabe como arre-matar. A explosão tem hora marcada. Ele não vai se contentar enquanto não causar a hecatombe”, sublinha. “Te-nho medos, todo mundo tem. Mas te-nho coragem, sou persistente, encaro. É isso o que diferencia você dos co-vardes”, declara Gagliasso.

Uma das diretoras de Celebrida-de, Amora Mautner diz ter tido empa-tia instantânea com o ator. “Bruno e eu compartilhamos a obsessão pelo me-lhor, nos falamos às 3h da manhã sobre uma cena. Ele é o Tony Ramos jovem: tem a genialidade da consistência,

chega muito preparado para o perso-nagem, e junta isso com a liberdade dionisíaca, numa entrega que permite uma criação conjunta. Se tivesse nas-cido americano, seria um desses Brad Pitt, George Clooney, que, além de bo-nitos, são ótimos atores e fazem de tudo. Ele vai de A a Z.”

Se o belo par de olhos azuis lhe abriu portas, Gagliasso diz nunca ter se preocupado com isso. “Marlon Brando era galã e bom ator pra caralho. James Dean, Clint Eastwood, Paul Newman... Quem não gosta de ser elogiado, estar bem-vestido e com a pele boa? Tomara que eu chegue aos 50 anos e as pesso-as ainda me chamem de galã.” Sagaz, fez do olhar ferramenta de atuação po-derosa, sua marca registrada. “Há pala-vras que não precisam ser ditas, preci-sam ser sentidas.” Numa breve análise de sua linha dramatúrgica, é fácil cap-tar o raciocínio. Desde Celebridade, já viveu um herdeiro de fazenda que se descobre homossexual (América, de 2005), um esquizofrênico (Caminho das Índias, de 2009, e atualmente no Vale a Pena Ver de Novo), um caipira estaba-nado (Sinhá Moça, de 2006), um vilão (Cordel Encantado, de 2011) e um psi-copata (Dupla Identidade), que provoca reações nas ruas ainda hoje.

Gagliasso é fascinado por ca-racterização. Lembra das palavras de Chico Any-sio, com quem contrace-

nou em Sinhá Moça. “Ele um dia disse no set para chegar sempre assim. Per-guntei: ‘Assim como?’. E respondeu: ‘Com o personagem, não com o Bru-no’. Nunca me esqueci daquilo.” Au-tora de América, Caminho das Índias e Dupla Identidade, Gloria Perez con-ta que o ator nunca defendeu persona-gem com a beleza. “Sempre senti nele

“tenho medos, todo mundo tem. Mas tenho coragem, persisto, encaro. É isso o que diferencia você dos covardes”

agosto 2015 ii ii 103102 ii ii agosto 2015

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a necessidade de tocar o âmago da alma do personagem, de mergulhar naquele universo desconhecido, dife-rente dele em tudo. Acho que o Bruno simplesmente não pensa na beleza.”

le mesmo se diz um ator de TV, sem o menor demérito. Em sua trajetória constam duas peças de teatro e dois lon-gas, uma comédia e um terror. Entre os clássicos, só tem in-

teresse por Ricardo III, de Shakespeare. Para Gagliasso, os cultuados do cinema estão no mesmo patamar de admiração dos nomes de ponta da emissora. “Eu quero bons papéis. E as grandes oportu-nidades que tive foram na televisão. Já recebi convites de cinema e de fora, não pude fazer por estar em novela e não me senti mal por isso. O papel do ator, além de emocionar, é fazer as pessoas se questionarem. Se posso fazer isso no lugar em que tenho um maior diálogo com a sociedade, por que vou optar por outro caminho? Pra mostrar que sou cool? Quem é (cool) não quer mostrar, faz. E é o que estou fazendo, em uma das maiores emissoras do mundo.”

O ator também tem olhos de lin-ce para os negócios. É hoje um em-presário, com três trabalhos paralelos em atividade e em expansão. No tu-rismo (com Amo Noronha, espécie de guia de Fernando de Noronha, além de três pousadas por lá); na gastrono-mia (o orgânico Le Manjue, do chef Renato Caleffi, na Vila Nova Concei-ção, em São Paulo, tem filial estima-da para novembro no Leblon, no Rio); e no fitness (o CrossFit Posto 9, nas-cido na carioca Barra da Tijuca, tem mais três unidades previstas até o fim deste ano, incluindo São Paulo e Belo Horizonte). Ele joga nas 11, mas não anda só. “Você nunca vai me ver sozi-nho. Sempre escolho muito bem meus sócios”, afirma. E o business segue o lifestyle. “Em vez de ter dinheiro no banco, prefiro aplicar nos negócios. Mas só invisto em coisas em que acre-dito, que me dão prazer e, obviamen-te, lucro”, conta. Para Noronha ele vai desde os 17 anos – só em 2015 foi três vezes, e é destino certo assim que

acabar a novela. Orgânicos e CrossFit são paixões recentes. Ele aprendeu a gostar – e muito – do treinamento fun-cional durante a preparação para Du-pla Identidade e ficou. Atualmente, treina até quatro vezes por semana e reeducou toda a alimentação.

Sim, ele é mais um do time sem glúten, sem lactose, sem açúcar. “Fi-quei mais disposto e durmo melhor”, analisa o ex-insone, que dormia às 4h e hoje se deita entre meia-noi-te e 1h. Está com um shape bem mais fino e rasgado que à época de Passio-ne (2010), quando chegou a pesar 88 quilos, em nome do italiano Berilo, que vivia um triângulo amoroso. “Ele era um galã. Mas por que um gordo não pode ser galã? A novela já tinha Gianecchini, Marcello Antony, Cauã Reymond... O Berilo era um cara que conquistava pela lábia e isso tinha de estar em primeiro plano.”

Apesar das tantas conquistas, o ator é um cara acessível, simpático, buena onda. Sabe que isso conta a seu favor. “Ator que chegar blasé no Pro-jac vai se foder”, afirma, reproduzin-do o gesto com as duas mãos. Atriz e amiga, Fabíula Nascimento diz que apesar de tantas responsabilidades Gagliasso tem espírito meninão. E, mesmo quando está imerso num per-sonagem, não deixa de viver sua vida, atento à família e aos amigos. “O Bru-no não abre mão disso. É o que o faz mais humano e não o deixa no lugar do grande ator, do inalcançável.”

Aos 33 anos e casado há cinco com Giovanna Ewbank, ele hoje se diz mais calmo. A virada veio com a chegada dos 30. “Amadureci muito. Antes a mi-nha hiperatividade gerava uma ansie-dade, eu pensava muito e não cana-lizava, não agia. Hoje tenho foco, eu faço, e, por isso, me sinto mais calmo, menos ansioso.” Isso, conta, vale tam-bém para o sexo, que continua sendo “importantíssimo”, mas tem seu mo-mento. “Com 20 anos você está enfu-recido, quer toda hora o tempo todo.

Hoje em dia a pressa é inimiga da per-feição, o sexo é mais trabalhado, você curte mais o momento e é na hora que os dois querem.”

Ciúmes, afirma não ter. “Quem ama cuida, mas não sou ciumentinho, tenho preguiça.” Uma turbulência há quatro anos colocou o matrimônio em xeque. A confirmação da traição do ator com Carol Francischini deixou o casal separado por dois meses, em meio ao bafafá sobre a identidade do pai da filha da modelo – até hoje des-conhecida. Gagliasso chegou a fazer o teste de paternidade. O resultado deu negativo. Ele só falou sobre o caso no ano passado, numa entrevista para Marília Gabriela. Abrir o jogo, quan-do já estava tudo resolvido, foi, para o ator, uma coerência com sua traje-tória. “Tenho 33 anos, 17 de carreira e muito orgulho do que construí. Tudo isso devo à verdade com que sempre tratei qualquer assunto. A gente já ti-nha passado por essa história e foi a hora em que achei certo falar.”

Em casa, com Giovanna, está tudo “ótimo”. Eles reconhecem que o epi-sódio fortaleceu a vida a dois. “Hoje a gente é 100% sincero um com o ou-tro. Não temos medo de falar das nos-sas vontades. A verdade é o segredo da relação, mesmo que seja alguma coisa ruim”, afirma Giovanna. Se ele perdoaria sua mulher numa situação oposta? O ator desdenha. “Depois de tudo que vivemos, fica pequeno.”

O lar, parece, deve começar a ficar pequeno também. Assim que o “FIM” apa-recer no último capítulo

de Babilônia, Gagliasso inicia um ano de férias total, sem, diz ele, nenhu-ma chance para trabalho. Quer via-jar, descansar e treinar “bastante”. E não estamos falando (só) de CrossFit. O ator quer ser pai. “Estou preparadís-simo!”, empolga-se. Sua obsessão ago-ra é quebrar paradigmas e tentar di-luir preconceitos. O mundo que deseja para seus filhos está longe do ideal. “Não quero que meus filhos cresçam assim (num país conservador), quero que eles amem quem quiserem amar, numa sociedade na qual as pessoas discutam e não sejam pré-determina-das a ser assim ou assado.”

“Quem ama cuida, mas não sou ciumentinho, tenho preguiça”

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