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N [Teoria do Conhecimento, Teoria do Progresso] Fase Inicial [1927-1935] BENJAMIN, Walter. Passagens. Tradução de Irene Aron e Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte/São Paulo: Editora UFMG/IOESP, 2007, 1167 p., p. 499-530.

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Apresentação dos Prólogos Epistemológicos-Críticos de Origem do Drama Trágico Alemão, de Walter Benjamin.

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N [Teoria do Conhecimento, Teoria do Progresso]

N[Teoria do Conhecimento, Teoria do Progresso]Fase Inicial [1927-1935]

BENJAMIN, Walter. Passagens. Traduo de Irene Aron e Cleonice Paes Barreto Mouro. Belo Horizonte/So Paulo: Editora UFMG/IOESP, 2007, 1167 p., p. 499-530.Os tempos so mais interessantes que os homens.Honor de Balzac A reforma da conscincia consiste apenasem despertar o mundo... de si mesmo.Karl Marx

Q: Tempo e histria Tomar conscincia e despertar(1)Nos domnios de que tratamos aqui, o conhecimento existe apenas em lampejos. O texto o trovo que segue ressoando por muito tempo. [N 1,1]

Lampejo, raio, relmpago, onda = T1Eco por longo tempo, rio = T2 O que importa: dialtica T1 x T2 (2)Comparao das tentativas dos outros com empreendimentos de navegao, nos quais os navios so desviados do Polo Norte magntico. Encontrar esse Polo Norte. O que so desvios para os outros, so para mim os dados que determinam a minha rota. Construo meus clculos sobre os diferenciais de tempo que, para outros, perturbam as grandes linhas da pesquisa. [N 1, 2]

Leibniz, Didi-Huberman e desvio: metodologia (3)Dizer algo sobre o prprio mtodo da composio: como tudo em que estamos pensando durante um trabalho no qual estamos imersos deve ser-lhe incorporado a qualquer preo. Seja pelo fato de que sua intensidade a se manifesta, seja porque os pensamentos de antemo carregam consigo um tlos em relao a esse trabalho. o caso tambm deste projeto, que deve caracterizar e preservar os intervalos de reflexo, os espaos entre as partes mais essenciais deste trabalho, voltadas com mxima intensidade para fora. [N 1,3]Metodologia(4)Tornar cultivveis regies onde at agora viceja a loucura. Avanar com o machado afiado da razo, sem olhar nem para a direita nem para a esquerda, para no sucumbir ao horror que acena das profundezas da selva. Todo solo deve alguma vez ter sido revolvido pela razo, carpido do matagal do desvario e do mito. o que deve ser realizado aqui para o solo do sculo XIX. [N 1, 4]

Uso da razo(5) A relao deste texto que trata das passagens parisienses foi iniciada ao ar livre, sob um cu azul sem nuvem, arcado como uma abbada sobre a folhagem e que, no entanto, foi coberto com o p dos sculos por milhes de folhas, nas quais rumorejam a brisa fresca do labor, a respirao ofegante do estudioso, o mpeto do zelo juvenil e o leve e lento sopro da curiosidade. Pois o cu de vero pintado nas arcadas, que se debrua sobre a sala de leitura da Biblioteca Nacional de Paris, estendeu sobre ela seu manto opaco e sonhador. [N 1, 5]

Razo, histria e sonho(6)O pathos deste trabalho: no h pocas de decadncia. Tentativa de ver o sculo XIX de maneira to positiva quanto procurei ver o sculo XVII no trabalho sobre o drama barroco. Nenhuma crena em pocas de decadncia. Assim tambm (fora dos limites) qualquer cidade para mim bela; e, por isso, no acho aceitvel qualquer discurso sobre o valor maior ou menor das lnguas.[N 1, 6]

Passagens ~ Drama barrocox valor da belezaW. Benjamin, Ursprung des deutschen Trauerspiels (1928), in: GS I, 203-430; Origem do Drama Barroco Alemo (ODBA). (R.T.; w.b.)(7)E, depois, o lugar envidraado diante do meu assento na Staatsbibliothek; crculo mgico intocado, terra virgem a ser pisada por figuras que evoco.[N 1, 7]

(8)O lado pedaggico deste projeto: Educar em ns o mdium criador de imagens para um olhar estereoscpico e dimensional para a profundidade das sombras histricas. So palavras de Rudolf Borchardt, Epilegomena zur Dante, vol. I, Berlim, 1923, pp. 56-77.

Imagem, olho e histria(9)Delimitao da tendncia deste trabalho em relao a Aragon: enquanto Aragon persiste no domnio do sonho, deve ser encontrada aqui a constelao do despertar. Enquanto em Aragon permanece um elemento impressionista a mitologia e a esse impressionismo se devem os muito filosofemas vagos do livro - trata-se aqui da dissoluo da mitologia no espao da histria. Isso, de fato, s pode acontecer atravs do despertar de um saber ainda no consciente do ocorrido. [N 1, 9]

Histria x mitoA referncia Louis Aragon, Le Paysan de Paris, Paris, 1926; ed. brasileira: O Campons de Paris, apres., trad. e notas de Flvia Nascimento, Rio de Janeiro, Imago, 1996. (R.T.; w.b.)

(10)Este trabalho deve desenvolver ao mximo a arte de citar sem usar aspas. Sua teoria est intimamente ligada da montagem.[N 1, 10]

Metodologia(11) [...] os drapeados artsticos do sculo passado pegaram mofo. [...] a atrao que exercem sobre ns revela que tambm conservam substncias vitais para [...] nosso conhecimento, ou se preferirmos, para a radioscopia da situao da classe burguesa no momento em que nela surgem os primeiros sinais de decadncia. Em todo caso, matrias de vital importncia no plano poltico explorao das coisas pelo surrealismo e pela moda [...] Giedion nos ensina a extrair da arquitetura da poca, em torno de 1850, os traos fundamentais da arquitetura de hoje, queremos reconhecer, nas formas aparentemente secundrias e perdidas daquela poca, a vida de hoje, as formas de hoje. [N 1, 11](12)[...] experincia esttica fundamental da arquitetura de hoje: atravs da fina rede de ferro estendida no ar, passa o fluxo das coisas [...] Elas perdem sua forma delimitada [...] elas rodopiam umas nas outras, e simultaneamente se misturam. Assim tambm o historiador hoje tem que construir uma estrutura filosfica sutil, porm resistente, para capturar em sua rede os aspectos mais atuais do passado. No entanto, assim como as magnficas vistas das cidades oferecidas pelas novas construes de ferro [...] ficaram durante muito tempo reservadas exclusivamente aos operrios e engenheiros, tambm o filsofo que deseja captar aqui suas primeiras vises deve ser um operrio independente, livre de vertigem e, se necessrio, solitrio. [N 1a, 1](13)Em analogia com o livro sobre o drama barroco, que iluminou o sculo XVII atravs do presente, deve ocorrer aqui o mesmo em relao ao sculo XIX, porm de maneira mais ntida.[N 1a, 2]

O que mudou de l pr c em Benjamin? A adeso ao marxismo. Talvez ntido signifique materialista.(14)Pequena proposta metodolgica para a dialtica da histria cultural. muito fcil estabelecer dicotomias para cada poca, em seus diferentes domnios, segundo determinados pontos de vista: de modo a ter, de um lado, a parte frtil, auspiciosa, viva e positiva, e de outro, a parte intil, atrasada e morta de cada poca. Com efeito, os contornos da parte positiva s se realaro nitidamente se ela for devidamente delimitada em relao parte negativa. Toda negao, por sua vez, tem o seu valor apenas como pano de fundo para os contornos do vivo, do positivo. Por isso, de importncia decisiva aplicar novamente uma diviso a esta parte negativa, inicialmente excluda, de modo que a mudana de ngulo de viso (mas no de critrios!) faa surgir novamente, nela tambm, um elemento positivo e diferente daquele anteriormente especificado. E assim por diante ad infinitum, at que todo o passado seja recolhido no presente em uma apocatstase histrica. [N 1a, 3]Apocatastasis = a admisso de todas as almas no Paraso. (15)O que foi dito anteriormente, em outros termos: a indestrutibilidade da vida suprema em todas as coisas. Contra os profetas da decadncia. E, com efeito: no se trata de uma afronta a Goethe filmar o Fausto, e no existe um mundo entre o Fausto enquanto obra literria e o filme? Sem dvida. Entretanto, no existe tambm um mundo entre uma adaptao boa e uma adaptao ruim do Fausto para o cinema? O que interessa no so os grandes contrastes, e sim os contrastes dialticos, que frequentemente se confundem com nuances. A partir deles, no entanto, recria-se sempre a vida de novo.[N 1a, 4](16)Compreender juntos Breton e Le Corbusier isto significaria estender o esprito da Frana atual como um arco, com o qual o conhecimento atinge o instante bem no corao. [N 1a, 5]

Breton: surrealismo; Le Corbusier: funcionalista(17)Marx expe a relao causal entre economia e cultura. O que conta aqui a relao expressiva. No se trata de apresentar a gnese econmica da cultura, e sim a expresso da economia na cultura. Em outras palavras, trata-se da tentativa de apreender um processo econmico como fenmeno primevo perceptvel, do qual se originam todas as manifestaes de vida das passagens (e, igualmente, do sculo XIX). [N 1a, 6](18)Este estudo, que trata fundamentalmente do carter expressivo dos primeiros produtos industriais, das primeiras construes industriais, das primeiras mquinas, mas tambm das primeiras lojas de departamentos, reclames etc., torna-se com isso duplamente importante para o marxismo. Primeiramente, o estudo apontar de que maneira o contexto no qual surgiu a doutrina de Marx teve influncia sobre ela atravs de seu carter expressivo, portanto, no s atravs das relaes causais. Em segundo lugar, dever mostrar sob que aspectos tambm o marxismo compartilha o carter expressivo dos produtos materiais que lhe so contemporneos.[N 1a, 7](19)Mtodo deste trabalho: montagem literria. No tenho nada a dizer. Somente a mostrar. No surrupiarei coisas valiosas, nem me apropriarei de formulaes espirituosas. Porm, os farrapos, os resduos: no quero inventaria-los, e sim fazer-lhes justia da nica maneira possvel: utilizando-os.[N, 1a, 8](20)Ter sempre em mente que o comentrio de uma realidade (pois trata-se aqui de um comentrio, de uma interpretao de seus pormenores) exige um mtodo totalmente diferente daquele requerido para um texto. No primeiro caso, a cincia fundamental a teologia, no segundo, a filologia. [N 2, 1]

Diferena entre comentar a realidade (histria) e um texto (crtica):teologia x filologia (21)(39)(40)Aragon: [...] contradio na biografia de um escritor [...] seu pensamento no pode negligenciar os fatos que tem uma lgica diferente [...] no h uma s ideia [...] que perdure [...] em face dos fatos [...] h a polcia e os canhes diante dos trabalhadores, que h a ameaa de guerra e o fascismo j reina [...] parte da dignidade [...] submeter suas concepes a esses fatos [...].Porm, possvel que, em contradio com meu passado, eu estabelea uma continuidade com o passado de um outro que ele, por sua vez, como comunista, contesta. Aragon: [...] amava tudo aquilo que falho, que monstruoso, o que no pode viver, o que no pode ter xito [...] o erro [...]. [N 3a, 4]

Surrealismo e comunismo