português sentido literal e sentido figurado sentido de “lar” é “o lugar da cozinha onde se...

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101 Português Sentido literal e sentido figurado Grupo 05 – Riqueza e circulação EF7P-08-21 THEFINALMIRACLE / DREAMSTIME.COM Crianças de rua Que vontade de chorar... Era uma manhã fresca e transparente de primavera. Parei o carro na luz vermelha do semáforo. Olhei para o lado – e lá estava ela, menina, dez anos, não mais. O seu rosto era redondo, corado e sorria para mim. “O senhor compra um pacotinho de balas de goma? Faz tempo que o senhor não compra...” Sorri para ela, dei-lhe uma nota de um real e ela me deu o pacotinho de balas. Ela ficou feliz. Aí a luz ficou verde e eu acelerei o carro, não queria que ela percebesse que meus olhos tinham ficado repentinamente úmidos. Quando eu era menino, lá na roça, havia uma mata fechada. Os grandes, malvados, para me fazer sofrer, diziam que na mata morava um menino como eu.“Quer ver?”, eles pergun- tavam. E gritavam: “Ô menino!” E da mata vi- nha uma voz: “Ô menino!” Eu não sabia que era um eco. E acreditava. Nas noites frias, na cama, eu sofria, pensando no menino, sozinho, na mata escura. Onde estaria dormindo? Teria cobertores? Os seus pais, onde estariam? Será que eles o haviam abandonado? É possível que os pais abandonem os filhos?

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101PortuguêsSentido literal e sentido figuradoGrupo 05 – Riqueza e circulação

EF7P-08-21

ThEFinalm

iRaclE / DREamsTim

E.com

Crianças de rua

Que vontade de chorar...Era uma manhã fresca e transparente de

primavera. Parei o carro na luz vermelha do semáforo. Olhei para o lado – e lá estava ela, menina, dez anos, não mais. O seu rosto era redondo, corado e sorria para mim. “O senhor compra um pacotinho de balas de goma? Faz tempo que o senhor não compra...” Sorri para ela, dei-lhe uma nota de um real e ela me deu o pacotinho de balas. Ela ficou feliz. Aí a luz ficou verde e eu acelerei o carro, não queria que ela percebesse que meus olhos tinham ficado repentinamente úmidos.

Quando eu era menino, lá na roça, havia uma mata fechada. Os grandes, malvados, para me fazer sofrer, diziam que na mata morava um menino como eu.“Quer ver?”, eles pergun-tavam. E gritavam: “Ô menino!” E da mata vi-nha uma voz: “Ô menino!” Eu não sabia que era um eco. E acreditava. Nas noites frias, na cama, eu sofria, pensando no menino, sozinho, na mata escura. Onde estaria dormindo? Teria cobertores? Os seus pais, onde estariam? Será que eles o haviam abandonado? É possível que os pais abandonem os filhos?

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Capítulo 08 – sentido literal e sentido figurado

aFP / PaTRicK BaZ

Crianças de rua nos semáforos das grandes cidades

Sim, é possível. João e Maria, abandona-dos sozinhos na floresta. Os seus pais os dei-xaram lá para serem devorados pelas feras. Diz a estória que eles fizeram isso porque já não tinham mais comida para eles mesmos. Será que os pais, por não terem o que comer, aban-donam os filhos? Será por isso que as crianças são vistas freqüentemente na floresta venden-do balas de goma? Será que havia balas de goma na cesta que Chapeuzinho Vermelho leva-va para a avó? Será que a mãe de Chapeuzinho queria que ela fosse devorada pelo lobo? Essa é a única explicação para o fato de que ela, mãe, enviou a menina sozinha numa floresta onde um lobo estava à espera.

Num dos contos de Andersen, uma menini-nha vendia fósforos de noite na rua (se fosse aqui estaria num semáforo), enquanto a neve caía. Mas ninguém comprava. Ninguém estava preci-sando de fósforos. Por que uma menininha estaria vendendo fósforos numa noite fria? Não deveria

estar em casa, com os pais? Talvez não tivesse pais. Fico a pensar nas razões que teriam leva-do Andersen a escolher caixas de fósforos como a coisa que a menininha estava a vender, sem que ninguém comprasse. Acho que é porque uma caixa de fósforos simboliza calor. Dentro de uma caixa de fósforos estão, sob a forma de sonhos, um fogão aceso, uma panela de sopa, um quar-to aquecido... Ao pedir que lhe comprassem uma caixa de fósforos numa noite fria, a menininha estava pedindo que lhe dessem um lar aquecido. Lar é um lugar quente. Pois, se você não sabe, consulte o Aurélio. E ele vai lhe dizer que o pri-meiro sentido de “lar” é “o lugar da cozinha onde se acende o fogo.” De manhã a menininha estava morta na neve, com a caixa de fósforos na mão. Fria. Não encontrou um lar.

Um supermercado é uma celebração de abundância. No estacionamento as famílias en-chem os porta-malas dos seus carros com coisas boas de se comer. “Graças a Deus!”, eles dizem.

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Do lado de fora, os famintos, que os guardas não deixam entrar. Se entrassem no estaciona-mento, a celebração seria perturbada. “Dona, me dá uns trocados?” O menino estava do lado de fora. Rosto encostado na grade, o braço es-ticado para dentro do espaço proibido, na dire-ção da mulher. A mulher tirou um real da bolsa

e lhe deu. Mas esse gesto não a tranqüilizou. Queria saber um pouco mais sobre o menino. Puxou prosa. “Para que você quer o dinheiro?” perguntou. “Pra voltar pra onde eu durmo.” “E onde é a sua casa?” “Não vou voltar pra casa. Eu não moro em casa. Eu durmo na rua. Fugi da minha casa por causa do meu pai...”

aFP / chh

oy PisEi

Crianças de rua

Em muitas estórias, o pai é pintado como um gigante horrendo que devora as crianças. Na estória do “João e o pé de feijão”, ele é um ogro que mora longe, muito alto, nas nuvens, onde goza sozinho os prazeres da galinha dos ovos de ouro e da harpa encantada. Mãe e filho, lá embaixo, morrem de fome. Por vezes as crianças estão mais abandonadas com os pais que longe deles. Como aconteceu com a Gata Borralheira. Seu lar estava longe da mãe-madrasta e das ir-mãs: como uma gata, o borralho do fogão era o único lugar onde encontrava calor.

E comecei a pensar nas crianças que, para comer, fazem ponto nos semáforos, vendendo balas de goma, chocolate bis, biju. Ou distri-buindo folhetos... Ah! Os inúteis folhetos que ninguém lê e ninguém quer e que serão amas-sados e jogados fora. O impulso é fechar o vidro e olhar para a criança com olhar indiferente – como se ela não existisse. Mas eu não agüento. Imagino o sofrimento da criança. Abro o vidro, recebo o papel, agradeço e ainda pergunto o nome. Depois, discretamente, amasso o papel e ponho no lixinho...

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Capítulo 08 – sentido literal e sentido figurado

E há também os adolescentes que querem limpar o pára-brisa do carro por uma moeda. Já sou amigo da “turma” que trabalha no cru-zamento da avenida Brasil com a avenida Oro-zimbo Maia. Um deles, o Pelé, tem inteligência e humor para ser um “relações públicas”...

Lembro-me de um menino que encontrei no aeroporto de Guarapuava. No seu rosto, mis-tura de timidez e esperança. “O senhor compra um salgadinho para me ajudar?” Ficamos ami-gos e depois descobrimos que a mulher para quem ele vendia os salgadinhos o enganava na hora do pagamento...

Um outro, no aeroporto de Viracopos, era engraxate. O pai sofrera um acidente e não po-dia trabalhar. Tinha de ganhar R$ 20,00. Mas só podia trabalhar enquanto o engraxate adul-to, de cadeira cativa, não chegava. Tinha, por-tanto, de trabalhar rápido. Tivemos uma longa conversa sobre a vida que me deixou encantado com o seu caráter e inteligência – ao ponto de ele delicadamente me repreender por um juízo descuidado que emiti, pelo que me desculpei.

E me lembrei das meninas e dos meninos ainda mais abandonados que nada têm para vender e que, à noitinha, nos semáforos (onde serão suas casas?), pedem uma moedinha...

Houve uma autoridade que determinou que as crianças fossem retiradas da rua e de-volvidas aos seus lares. Ela não sabia que, se as crianças estão nas ruas, é porque as ruas são o seu lar. Nos semáforos, de vez em quan-do, elas encontram olhares amigos.

Os especialistas no assunto já me disseram que não se deve ajudar pessoas nos semáforos, pois isso é incentivar a malandragem e a men-dicância. Mas me diga: o que vou dizer àquela criança que me olha e pede: “Compre, por fa-vor...”? Vou lhe dizer que já contribuo para uma instituição legalmente credenciada? Me diga: o que é que eu faço com o olhar dela?

(...)Correio Popular, Caderno C, 14/10/2001.

Rubem Alves é educador, escritor, psicanalista e professor emérito

da Unicamp.aFP / W

EDa

Crianças de rua: um fenômeno mundial

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Sentido literal e sentido figuradoReleia, na crônica, o trecho destacado no

terceiro parágrafo. Nele, Rubem Alves utiliza a palavra floresta. Mas é claro que não vemos crianças vendendo balas de goma nas florestas, e sim nas cidades. Com isso, ele quis dizer que as cidades do Brasil são muitas vezes semelhan-tes a uma floresta onde há muitos perigos, feras hostis e luta constante pela sobrevivência. Se essa luta já é difícil e perigosa para os adultos, imagine para uma criança. Nas cidades gran-des, como Campinas, que é onde mora Rubem Alves, circulam muitas riquezas, no entanto, essas riquezas não chegam a todos os lugares, a todas as pessoas. Um pequeno grupo de pessoas possui muito mais riqueza do que outro grupo imenso formado por milhões de pessoas. A esse fenômeno de falta de sensibilidade humana dá-se o nome de desigualdade social. E a desigual-

dade social é um dos fatores que levam crianças a “vender balas de goma nas florestas” injustas e perigosas em que vivemos.

Rubem Alves quer chamar a atenção para o fato de uma criança ser apenas uma crian-ça, independentemente do lugar e da condi-ção de miséria em que se encontre. E toda criança é frágil, precisa de atenção, de cari-nho, de cuidados; toda criança é sensível aos estímulos externos, sejam eles bons ou maus. Ele quer dizer que é preciso que se olhe para essas crianças, diante das quais “o impulso é fechar o vidro e olhar para a criança com olhar indiferente – como se ela não existisse”. Ele quer dizer que é preciso destruir, dentro de nós, o ogro que enxerga cada uma dessas crianças como mais um inimigo a combater. Ele sonha com a justiça social.

PiERDElunE / DREam

sTimE.com

Crianças de rua

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Capítulo 08 – sentido literal e sentido figurado

Como você pôde perceber, uma mesma palavra pode apresentar significados diversos, conforme o contexto em que a empregamos. O significado de uma palavra não é somente aquele encontrado no dicionário; ela adquire sentidos diferentes quando inserida em novos contextos. A essa pluralidade de significados dá-se o nome de polissemia.

Veja o exemplo da palavra – corrente:cadeia de metal, grilhão (a corrente); –a água que corre (água corrente); –fácil, fluente (estilo corrente); –sabido de todos (fato corrente); –decurso de tempo (mês corrente); –circulação de ar (corrente de ar); –fluxo de água (corrente de água, cor- –

rente marinha); fluxo de energia elétrica (corrente elé- –

trica);grupo de indivíduos que representam –

idéias, tendências, opiniões (corrente literá-ria) etc.

Quando escrevemos, utilizamos o signifi-cado da palavra para expressar nossas idéias. Um vocabulário bem escolhido transmite ade-quadamente a mensagem que codificamos. Se queremos ser objetivos no que redigimos, precisamos utilizar uma linguagem denota-tiva, literal. É a palavra empregada na sua

significação usual, literal, referindo-se a uma realidade concreta ou imaginária.

Ao evocarmos idéias por meio da nossa emoção, da nossa subjetividade, temos a co-notação, que corresponde à transferência do significado usual para o sentido figurado.

Observe:O artista gravou a imagem na madeira.1) ...e quem sabe se tua imagem ímpia e feia 2)

não se gravou no seu coração indefeso!No exemplo 1, a palavra gravou foi usada

denotativamente. Já no exemplo 2, podemos ob-servar que gravou tem outro sentido, que não é o usual. Gravar, nesse caso, significa provocar uma impressão e um sentimento que não serão esquecidos. Além disso, indefesa é a criança, não seu coração, que é apenas um órgão. No en-tanto, entendemos que o coração representa o “lugar” dos sentimentos da criança.

Nossa linguagem está cheia de expres-sões de sentido figurado, que usamos sem perceber, isto é, sem consciência de que es-tamos transformando o sentido das palavras, segundo nossas emoções e visões de mundo. Isso acontece o tempo todo, com todas as pes-soas e em todas as línguas do mundo.

Muitas palavras e expressões utilizadas hoje, em sentido literal, eram, há muito tem-po, expressões conotativas, isto é, de sentido

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figurado. Isso significa que o sentido figurado se desgasta pelo uso e, com o tempo, transfor-ma-se em sentido literal, real, denotativo.

O verbo explanar, por exemplo, vem do verbo latino ‘explano, -as, -are, -avi, -atum’, que tem, aproximadamente, o mesmo sentido do verbo português, e é composto pelo prefi-xo ex-, que significa para fora, e pelo adjetivo

Veja: Fui a aà

artigopreposição

crase

feira e assisti

a aà

artigopreposição

crase

triste cena de miséria.

os pronomes demonstrativos aquele(s), 2) aquela(s), aquilo:

Mas me diga: o que vou dizer àquela crian-ça que me olha e pede: “Compre, por favor...”?

o pronome demonstrativo a(s):3) As condições de vida das crianças dos

países da América Latina são semelhantes às das nossas.

Com exceção dos casos dos demonstrati-vos, a crase ocorre apenas antes de palavras femininas.

CraseA palavra crase vem do grego e significa

“fusão”, “mistura”. Assim, crase não é o nome do acento, que se chama acento grave e é uti-lizado na escrita para marcar a ocorrência do fenômeno da crase. Dizemos que ocorre crase quando há a contração de dois sons vocálicos, isto é, pronunciamos dois sons como se fos-sem apenas um som. Veja o exemplo do verbo ler, citado pelo dicionário Aurélio: ler vem do latim legere; após passar por transformações, chegou-se à forma leer. Como havia duas vo-gais de som idêntico, elas se fundiram num único som: ler. Esse fato é chamado de crase.

No português atual, dizemos que ocorre crase quando se juntam, na escrita e na pro-núncia, a preposição a e:

o artigo definido 1) a(s):Vontade de chorar ele teria vendo essa

multidão de crianças abandonadas, entregues ou à indiferença ou à maldade dos adultos.

planus, que apresenta sentido semelhante ao da forma portuguesa plano.

O verbo tem, hoje, aproximadamente o mesmo sentido que tinha no latim, mas é utilizado apenas em sentido figurado – para tornar plano, usamos aplanar – e está asso-ciado ao ato comunicativo, com significado de expor, esclarecer, explicar.

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Capítulo 08 – sentido literal e sentido figurado

Nunca ocorre crase: Exemplos

antes de substantivos masculinos. Esta feira vende cereais a granel.

antes de verbo. comecei a ler um livro sobre crianças de rua.

antes do artigo indefinido uma, antes de numerais, antes de pronomes que não admitem o artigo a (indefinidos, relativos, demonstrativos, pessoais)

ainda não cheguei a uma conclusão sobre esse assunto.Estudamos nesta escola de 1998 a 2002.

entre substantivos repetidos. Ficamos cara a cara com as crianças.

entes de palavras no plural com sentido genérico.

não me refiro a meninas, mas a qualquer criança.

nas expressões adverbiais femininas que indicam instrumento.

Escrevi a tinta a versão final.

nas locuções adverbiais com palavras masculinas, como: a pé, a caminho, a cavalo, a frio, a gás, a gosto, a lápis, a meio pau, a nado, a óleo, a postos, a prazo, a sangue-frio, a sério, a tiracolo, a vapor etc. *

compre um ferro a vapor.atravessaram o rio a nado.

* nas locuções femininas, embora esse a possa ser só preposição – e sabe-se que crase é a fusão da preposição a com o artigo a –, costuma-se, no Brasil, acentuar o a por motivo de clareza. compare, nos exemplos mostrados, o significado da frase sem a crase e com ela:Foi caçada a bala (a bala foi caçada). – Foi caçada à bala. Bateu a máquina (deu um choque ou pancada...). – Bateu à máquina. Cortou a faca (cortou-a / cortou a própria faca). – Cortou à faca. Vendeu a vista (vendeu os olhos). – Vendeu à vista.Coloquei a venda (faixa nos olhos). – Sim, coloquei à venda. Tranquei a chave (a chave foi trancada). – Tranquei à chave. Pagou a prestação (pagou-a). – Pagou à prestação (em prestações).outras frases com diferenças bastante óbvias:lavar a mão. Lavar à mão. lavar a máquina. Lavar à máquina. Fazer a mão. Fazer à mão. Veio a tarde. Veio à tarde. combateremos a sombra. Combateremos à sombra. É por essa questão de clareza que se recomenda e, geralmente, acentua-se o a nas locuções adverbiais de circunstância, mesmo não sendo ele rigorosamente a fusão de a + a. Veja outros exemplos: à disposição, às avessas, à beira-mar, às centenas, às escondidas, à frente, à mão armada, às mil maravilhas, à noite, às ordens, à paisana, à parte, à perfeição, à primeira vista, à revelia, à risca, à solta, à toa, à vela, às vezes, à vontade.

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Casos facultativos Exemplos

antes de pronomes possessivos femininosDirigia-se a sua (ou à sua) companheira com palavras de apoio.

antes de nomes próprios femininos Enviei um presente a (ou à) mariana.

na locução prepositiva até ao discurso chegou até as (ou até às) camadas mais pobres da população.

Ocorre crase: Exemplos

antes de nomes de lugares determinados pelo artigo a*.

Preciso ir à argentina com meus pais.

nas expressões à medida que e à proporção que.

À medida que o tempo passa, a necessidade de ajudar essas crianças fica mais urgente.

nas locuções adverbiais e prepositivas formadas por substantivos femininos (às vezes, à toa, à direita, à esquerda, às quatro horas, às pressas, à noite, às claras, à custa de).

só se consegue ajudar uma criança de rua à custa de muita dedicação e afeto.levaram-no às pressas para casa.

na expressão à moda de, explícita ou subentendida na frase.

Ganhei um quadro à moda de Picasso.Existem muitos quadros à Picasso.

quando estão subentendidas palavras tais como faculdade, empresa, universidade, companhia etc.

Depois que se formou, nunca mais voltou à uFmG.

antes das palavras casa e terra quando elas estiverem determinadas.**

o menino voltou à casa de seus pais depois de passar alguns dias na rua.o navio chegará à Terra do sol nascente durante a noite.

*alguns nomes de lugares normalmente não exigem artigo (Recife, sergipe, Roma, Paris, são Paulo etc.), mas, se forem seguidos de um termo especificador, passam a exigir o artigo.Ex.: Fui a São Paulo na semana passada. Fui à São Paulo de todos os povos na semana passada. ** não há crase antes das palavras casa (no sentido de lar, residência) e terra (em oposição a mar, água, bordo). Ex.: Os marinheiros irão a terra amanhã.Cheguei a casa antes do anoitecer.

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Capítulo 08 – sentido literal e sentido figurado

Se tiver dúvida: Exemplos

substitua a palavra feminina por uma •masculina: se antes do substantivo mas-culino ocorrer a combinação ao, haverá crase, pois isso significa que os substan-tivos em questão admitem artigo.

não se refira às crianças dessa forma.não se refira aos meninos dessa forma.

Coloque a palavra depois de um verbo •que não exige a preposição a, para saber se ela exige ou não o artigo a.

Fui à França. → Voltei da França.Fui a Roma. → Voltei de Roma.

111PortuguêsSoneto – Orações subordinadas adjetivasGrupo 05 – Riqueza e circulação

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O soneto é uma composição de grande riqueza formal. É um tipo de poema que exige do poeta habilidades e talentos de artesão, além da inspiração, da emoção e da subjeti-vidade. Ele pode nascer no coração, mas pre-cisa ser trabalhado, manufaturado, estudado e refletido para atender às normas de sua es-trutura e se transformar numa composição de grande valor artístico.

Não basta ler o soneto; é preciso refletir sobre ele.

IncontinenteSoneto é o mundo inteiro em pouco espaço,mas, para os mais lacônicos, prolixo.O gosto é variado, e o metro, fixo,e amante deste oxímoro me faço.

4 versos (quarteto)

A prosa pesa, empilha um calhamaço.Concisas poesias são prefixo.Somente no soneto gravo e mixo começo, meio e fim, no exato laço.

4 versos (quarteto)

Qualquer história, fábula ou idéiacomporta enunciado num soneto,da simples anedota a uma epopéia.

3 versos (terceto)

Apenas dois assuntos, eu prometo,não cabem no soneto: a diarréiae o pé, mas porque sobram, não por veto.

3 versos (terceto)Glauco Mattoso

Um soneto começo em vosso gabo;Contemos esta regra por primeira,Já lá vão duas, e esta é a terceira,Já este quartetinho está no cabo.

Na quinta torce agora a porca o rabo:A sexta vá também desta maneira,na sétima entro já com grã canseira,E saio dos quartetos muito brabo.

coREl sTocK PhoTos

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Capítulo 09 – soneto – orações subordinadas adjetivas

Agora nos tercetos que direi?Direi, que vós, Senhor, a mim me honrais,Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.

Nesta vida um soneto já ditei,Se desta agora escapo, nunca mais;Louvado seja Deus, que o acabei.

Gregório de Mattos

Observe que o soneto de Glauco Mattoso “explica” o que é um soneto, enquanto o de Gregório de Mattos expõe a dificuldade de se compor um soneto, a qual, aliás, é supera-da sem esforço aparente pelo poeta. Obser-ve também que, embora possuam diferentes abordagens, os dois sonetos tratam do mes-mo assunto: soneto. Quando isso acontece, dizemos que ocorre metalinguagem, isto é, uma linguagem utilizada para falar dela mesma. Nesse caso, os poetas utilizaram o soneto para falar sobre o soneto.

História do soneto

coREl sTocK PhoTos

Pintura de um escritor

O soneto (palavra derivada do italiano que significa pequeno som ou canção) surgiu por volta do séc. XIII, na Sicília, Itália. Era cantado na corte de Frederico II.

Acredita-se que o inventor do soneto foi Jacopo (Giacomo) Notaro, um poeta siciliano. Naquela época, o soneto era uma espécie de canção ou de letra escrita para música, com-posto de uma estrofe com oito versos e duas estrofes com três versos.

Francesco Petrarca aperfeiçoou a estrutu-ra poética do soneto, difundindo-a por toda a Europa em suas viagens. Ele escreveu um livro com 317 sonetos, chamado Il canzoniere, o qual influenciou muito a literatura ocidental.

aFP / RoGER-ViollET

113PortuguêsGrupo 05 – Riqueza e circulação

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Mais tarde, Dante Alighieri, um dos maio-res nomes da literatura de todos os tempos, expressou seu amor impossível por Beatriz em sonetos reunidos no livro Vita nuova, um de seus primeiros trabalhos literários, mas foram o inglês William Shakespeare e os portugue-ses Luís de Camões e Antero de Quental que mais se destacaram escrevendo sonetos.

Camões escreveu muitos sonetos, cujo tema principal era o amor entre o homem e a mulher.

O soneto de Shakespeare, conhecido como soneto inglês, compõe-se de três quartetos e um dístico, diferenciando-se da composição original de Petrarca.

Na Europa do século XIX, um dos nomes mais importantes da poesia foi Charles Baudelaire, que, embora mal compreendido em sua época, marcou profundamente as últimas décadas daquele sécu-lo e influenciou a poesia internacional. Conheça um de seus sonetos, do livro As flores do mal:

XLIEstes versos te dou e se a celebridadeO meu nome levar aos mais longínquos anos,Pondo à noite a sonhar os cérebros humanos,Batel favorecido pela tempestade,

Tua memória, enfim em fabulosos planos,Um tímpano será a quanto leitor que há de,Num elo de mistério e de fraternidade,Ficar suspenso aos meus versos tão [soberanos;

Ser condenado, a quem, do abismo que se [esconde,

Ao alto céu, ninguém a não ser eu responde!– Ó tu que como sombra e de efêmero traço,

Pisas, de um pé ligeiro e de uma calma [larga,

Estúpidos mortais que te supõem amarga,Estátua de olhar verde, anjo de fronte de

[aço!Charles Baudelaire

A partir de então, o soneto tornou-se uma forma de poesia reconhecida no mundo todo como a melhor representação da poesia lírica.

O soneto no Brasil

RGBsPacE / DREamsTim

E.com

O soneto é trabalhado, manufaturado pelo poeta.

Gregório de Matos foi um dos primeiros a escrever sonetos no Brasil. Ficou conhecido como “Boca do Inferno” por escrever versos satíricos e de crítica social.

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Capítulo 09 – soneto – orações subordinadas adjetivas

No século XVII, em Vila Rica (Ouro Pre-to), um sonetista destacou-se: Tomás Antô-nio Gonzaga. Ele se tornou famoso com a obra Marília de Dirceu, ainda que este poema não seja em forma de soneto. Gonzaga foi preso, acusado de ter participado da Conjuração Mi-neira.

O período a seguir, conhecido como Ro-mantismo, revelaria diversos nomes que se imortalizariam na poesia e na literatura, de modo geral. Entre outros, citam-se sonetis-tas como Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Augusto dos Anjos e Castro Alves. A época em que eles viveram e o mo-vimento romântico representaram autêntica revolução na cultura brasileira.

Olavo Bilac escrevia sonetos grandiosos pela devoção ao culto da palavra e ao estu-do da língua portuguesa. É o autor do Hino à Bandeira. Como ele, também escreveram sonetos Cruz e Souza e Alphonsus de Gui-maraens; esse último é um dos autores que apresentaram maior misticismo em nossa li-teratura.

Alguns exemplos de outros sonetistas célebres são Machado de Assis, Fernando Pes-soa, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Vinícius de Moraes.

olGalis / DREamsTim

E.com

A leitura, divulgação e circulação dos sonetos – e da poesia de modo geral –, bem como sua valorização, são fatores que contri-buem para o enriquecimento cultural e pesso-al, pois, ao mesmo tempo em que se conhece o modo de pensar e de ver o mundo em dife-rentes épocas e lugares, pode-se contemplar sentimentos e emoções atemporais.

115PortuguêsGrupo 05 – Riqueza e circulação

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coREl sTocK PhoTos

Jean Honoré Fragonard, A jovem leitora, 1776

Métrica e rimaO soneto é obra curta, criada para trans-

mitir alguma mensagem em seus catorze ver-sos, divididos em dois quartetos (grupos de quatro versos) e dois tercetos (três versos), ou, mais raramente, em três quartetos e um dístico (dois versos).

MétricaEm primeiro lugar, os versos devem pos-

suir a mesma métrica, ou seja, o mesmo nú-mero de sílabas poéticas. Uma sílaba poética é bem diferente de uma sílaba comum. É pos-sível unir duas ou mais palavras em apenas uma sílaba poética. Veja o verso a seguir:

Busque amor, novas artes, novo enge-nho...

Luís de Camões

| 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | Bus quea mor, no vas ar tes, no voen ge nho

Repare que a expressão busque amor, ao invés das quatro sílabas comuns (bus-que-a-mor), tem, na poesia, apenas três sílabas, ou seja, corresponde à forma como é pronuncia-da e ouvida. Por isso, a sonoridade é muito importante em um soneto.

Note, também, que é contado, como síla-ba poética, somente até a última sílaba tôni-ca do verso. No caso acima, contou-se até ge

de engenho, que é a sílaba tônica da palavra, no caso paroxítona.

Versos com dez sílabas poéticas são cha-mados decassílabos. Outra forma menos co-mum de se escrever soneto são os versos ale-xandrinos ou dodecassílabos (doze sílabas):

Sinto que há na minha alma um vácuo imenso e fundo...

Machado de Assis

Veja abaixo como o verso é dividido.| 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 | 12 |Sin to quehá na mi nhaal maum vá cuoi men soe fun do

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Capítulo 09 – soneto – orações subordinadas adjetivas

Posicionamento de rimas

coREl sTocK PhoTos

O soneto nos leva à reflexão.

Além do número de sílabas, outra carac-terística importante do soneto é a ordem em que os versos rimam ou o posicionamento das rimas. Para os quartetos, existem três formas principais de posicionamento:

Rimas entrelaçadas ou opostas – abba (o primeiro verso rima com o quarto, o se-gundo rima com o terceiro)

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável AEnterro de tua última quimera. BSomente a ingratidão – esta pantera – BFoi tua companheira inseparável... A

Augusto dos Anjos

Rimas alternadas – abab (o primeiro verso rima com o terceiro, o segundo rima com o quarto)

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada AE triste, e triste e fatigado eu vinha. BTinhas a alma de sonhos povoada, AE a alma de sonhos povoada eu tinha... B

Olavo Bilac

Rimas emparelhadas – aabb (o primeiro verso rima com o segundo, o terceiro rima com o quarto):

No rio caudaloso que a solidão retalha, Ana funda correnteza na límpida toalha, Adeslizam mansamente as garças [alvejantes; Bnos trêmulos cipós de orvalho [gotejantes... B

Fagundes Varela

coREl sTocK PhoTos

Os versos de um soneto transmitem,

em suas rimas, paz e sonoridade.

Os tercetos são mais flexíveis quanto ao posicionamento das rimas. Fernando Pessoa, por exemplo, usou a estrutura cdc ede nos tercetos a seguir:

117PortuguêsGrupo 05 – Riqueza e circulação

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Há saudades nas pernas e nos braços.Há saudades no cérebro por fora.Há grandes raivas feitas de cansaços.

Mas – esta é boa! – era do coraçãoque eu falava... e onde diabo estou eu

[agoracom almirante em vez de sensação?...

Fernando Pessoa

William Shakespeare escrevia, em vez de dois tercetos, um quarteto e um dístico (cdcd ee).

Outros exemplos de posicionamento de rimas nos tercetos são cde cde, um dos mais usados, cdc, ede, além de cce dde.

Sonoridade

coREl sTocK PhoTos

O poeta sonetista é um compositor de melodias.

O último componente importante de um soneto é a sonoridade, isto é, onde estão as sí-labas tônicas (ou fortes) de cada verso. Quando combinadas, essas sílabas fazem com que o so-neto se pareça com uma suave canção. Quanto à sonoridade, os versos decassílabos classifi-cam-se em dois tipos: heróicos e sáficos.

Já Bocage não sou!... À cova escuraMeu estro vai parar desfeito em vento...

Bocage

Esses são versos decassílabos heróicos, por-que as sílabas poéticas tônicas são a sexta e a décima, indicadas em negrito. Todos os 8.816 versos de Os lusíadas são decassílabos heróicos.

Um verso decassílabo sáfico, por sua vez, reforça a quarta, oitava e décima sílabas po-éticas:

Vozes veladas, veludosas vozes...Cruz e Souza

Finalmente, os versos alexandrinos apre-sentam a quarta, oitava e décima segunda sí-labas poéticas como sílabas fortes, ou a sex-ta, décima e décima segunda.

Além disso tudo, para se escrever um soneto, são necessários inspiração, tema, co-nhecimento de palavras e rimas, que serão mais ricas, quanto mais rico for o vocabulário do sonetista. Por isso, a leitura de outros so-netos, poesias e livros é importante.

Pronomes relativosPronome relativo é aquele que retoma um

termo expresso anteriormente e por isso, é cha-mado de antecedente. Veja alguns exemplos:

118

Capítulo 09 – soneto – orações subordinadas adjetivas

Negro jardim onde violas soam.Onde é pronome relativo, pois retoma o

termo jardim.

No rio caudaloso que a solidão retalha.Que é pronome relativo, pois retoma o

termo rio.Os pronomes relativos podem ser invariá-

veis ou variáveis em gênero e número.

Pronomes relativos

Variáveis invariáveis

o qual, os quais, a qual, as quais,quanto, quantos, quantas,cujo, cujos, cuja, cujas

quequemonde

Às vezes, os pronomes relativos onde e quem não possuem antecedente, ou seja, onde refere-se a um lugar não determinado e quem refere-se a alguém indefinido:

Aonde me mandarem, eu vou.O poeta é melhor do que quem o critica.

Período composto por subordinaçãoVeja estes versos de um soneto de

Shakespeare:De meu amor não vinques o semblanteNem nele imprimas o teu traço duroOh! Permite que eu siga avanteComo padrão do belo no futuro.No 3o verso, observe que o verbo da 1a ora-

ção é transitivo direto e que o objeto direto é toda a oração sublinhada (2a oração). Existe, entre as duas orações, uma dependência sin-

tática chamada de subordinação. No período composto por subordinação, as orações fun-cionam como termos dependentes de outras orações e recebem o nome de subordinadas.

As orações subordinadas exercem fun-ções sintáticas, isto é, atuam como termos sintáticos de outras orações. Essas orações em relação às quais as orações subordinadas desempenham função sintática são chamadas de orações principais.

Quanto à função que desempenham em relação à principal, as orações subordinadas podem ser:

adjetivas;•substantivas;•adverbiais.•Quanto à forma, elas podem se apresen-

tar como:desenvolvidas;•reduzidas.• Desenvolvidas são as orações que acom-

panham conectivos, nas quais os verbos apa-recem conjugados. Reduzidas são aquelas em que os verbos aparecem no infinitivo, no par-ticípio ou no gerúndio, e os elementos conec-tores não estão explícitos.Orações subordinadas adjetivas

Restritivas •Explicativas•Orações subordinadas adjetivas são aque-

las que têm valor ou função de adjetivo.O poeta procura palavras que sejam

eternas.

119PortuguêsGrupo 05 – Riqueza e circulação

EF7P-08-21

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A leitora leu versos com palavras

que são inesquecíveis.

Repare que a oração que sejam eternas é uma subordinada adjetiva, pois funciona como adjunto adnominal (função que pode ser desempenhada pelo adjetivo) de palavras. As duas orações são ligadas pelo pronome re-lativo que, que retoma o termo palavras:

O poeta procura palavras. Palavras sejam eternas.

As orações subordinadas adjetivas po-dem ser:

Restritivas1) Exercem a função de adjunto adnominal

da oração principal, restringem o nome ao qual se referem e não são separadas por vírgulas.

Ex.: O trabalho que realizei ontem foi pro-dutivo.

Explicativas2) Exercem a função de aposto da oração

principal, explicam o nome ao qual se refe-rem e são sempre separadas por vírgulas.

Ex.: O computador, que é um meio rápido de comunicação, está conquistando todas as famílias.

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Os livros resistem à tecnologia.

As orações subordinadas adjetivas sempre serão introduzidas por pronomes relativos.

Veja estes exemplos:A empresa contratou os candidatos que a) possuíam curso superior.

120

Capítulo 09 – soneto – orações subordinadas adjetivas

Lendo esse período, chegamos à conclu-são de que a empresa contratou só os candi-datos que possuíam curso superior. Trata-se de uma oração subordinada adjetiva restri-tiva, iniciada, é claro, por pronome relativo, pois restringe, limita, particulariza o termo candidatos.

A empresa contratou os candidatos, que b) possuíam curso superior.Nesse outro período, podemos constatar

que a empresa contratou todos os candidatos, pois todos eles possuíam curso superior. Aqui temos uma oração subordinada adjetiva ex-plicativa, porque ela apenas explica o termo candidatos.

“Há muitos brasileiros c) que precisam de muita energia para as suas vidas e para o seu futuro (...)”A oração em destaque é uma oração su-

bordinada adjetiva restritiva iniciada pelo pronome relativo que.

Nota-se, neste caso, que não são todos os brasileiros que precisam de energia...

solaRsEVEn / DREamsTim

E.com

Há muitos brasileiros que precisamde muita energia para suas vidas

e para o seu futuro.

Há muitos brasileiros que precisamde muita energia para suas vidas

e para o seu futuro.

A palavra que, na frase-chamada do cartaz, é pro-

nome relativo e representa a palavra brasileiros, que

antecede o pronome.