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PORTUGUÊS

Aula 01

Profª Maria Tereza

www.concursovirtual.com.br

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PORTUGUÊS

AULA 01

Olá!

Nas nossas aulas vamos trabalhar compreensão de texto e também a parte relativa a semântica.

Nosso edital:

Conforme só ia acontecer com esta banca, é hábito, o edital é muito amplo. Parece ser peque-no com compreensão de texto e tipologia textual. Se por um lado isso nos deixa tranquilos (poxa, só isso), “e aqui não tem que estudar nada, só uma tipologia e deu...”.

Então assim “ah, compreensão”, é só compreensão..., ocorre que a gente tem que ver: análise de enunciado, análise de alternativa, inferência, compreensão, ideia central... aí vai ampliando.

O mesmo, ainda em compreensão de texto. Tem toda parte de semântica, por exemplo sinoní-mia, antonímia que é claro que ninguém precisa saber de especificidade disso, mas a gente tem de ver a batida da banca. Então qual foi para dar conta disso aqui, o critério ao organizar essa aula e o material, o polígrafo. O meu critério foi permear a banca. O que a banca está fazendo, isso ou aquilo, e provas mais atuais.

Então vamos para o nosso querido CESPE:

CESPE é legal. Sério. É certo ou errado. Não tem essa de eliminação. Porém mais atualmente em 2017/2018 (acho bom vocês acompanharem, cuidado com os gabaritos porque pode ter havido anulação, ou troca de gabarito), vocês devem ter reparado que o CESPE tem produzido provas de múltipla escolha, conforme eu disponibilizei.

Então vamos começar.

O primeiro se trata de uma pergunta: Por que eu gosto do CESPE?

Porque não é um texto grande, pra início de conversa. Os textos costumam ser um pouco me-nores, por exemplo: uma banca que se caracteriza por ter textos intermináveis é a FAURGS. Nunca mais para de ler, texto de 90 linhas.

Segundo lugar, o CESPE alterna questões de compreensão de texto, vem um certo e errado de compreensão, outro com mais gramática, vai alternando e isso ventila a cabeça um pouco, fica menos cansado.

Mas a primeira coisa que eu queria perguntar para vocês: quando vocês começam uma prova, 90 questões que seja, vocês começam pela parte de língua portuguesa? Eu sugiro que come-cem pela parte de língua portuguesa porque é mais cansativa e entra compreensão de texto..

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Por exemplo: uma prova de direito, ou é ou não é. Ou você estudou ou não estudou. Quando se trata de compreensão de texto, não é bem assim. Não tem a ver com o estudo e sim com a nossa capacidade de compreender ou inferir o que está escrito. Portanto eu sugeriria começar pela parte de língua portuguesa.

Isso não significa fazer a prova toda, mas pelo menos se apropriar do estilo que a prova está sugerindo, do tipo de texto (pois o tipo de texto do CESPE é adequado ao cargo ao que se plei-teia). Para se adequar a linguagem, pois é a prova de Língua Portuguesa que dita a linguagem que será encontrada durante a prova.

Se começa pelo certo ou errado, alternativas, como?

A sugestão é iniciar pela fonte bibliográfica. De um modo geral não se dá atenção porque é pe-queno, mas é de suma importância. Ano de publicação, quem publicou, o título, a tipologia, o gênero.

1. Observação da fonte bibliográfica, do autor e do título;

2. Identificação do tipo de texto (artigo, editorial, notícia, crônica, textos literários, científicos, etc.);

3. Leitura do enunciado.

Serve para eliminar alternativas e se for certo ou errado se prender em alguma palavra. Muitas vezes a fonte nos diz se está certo ou errado.

Por exemplo: às vezes os textos são breves ensaios (veremos isso posteriormente). Gilberto Freire aparece na banca com ensaios e, portanto, temos a noção de que ele é um estudioso de Brasil, um sociólogo de renome. Então sei a linha que ele tem que me permite fazer eliminação de alternativas ou me achar melhor no certo e errado.

O título é o menor resumo que um texto pode oferecer. Quando perguntam qual a ideia central do texto ela pode estar no título, muitas vezes na fonte de onde foi extraído, principalmente quando é extraído de internet.

EXEMPLIFICANDOCESPE – 2018

01.   Quando nos referimos à supremacia de um fenômeno sobre outro, temos logo a impressão de que se está falando em superioridade, mas, no caso da relação entre oralidade e escrita, essa é uma visão equivocada, pois não se pode afirmar que a fala seja superior à escrita ou vice-versa. Em primeiro lugar, 05. deve-se ter em mente o aspecto que se está comparando e, em segundo, deve-se considerar que essa relação não é nem homogênea nem constante. A própria escrita tem tido uma avaliação variada ao longo da história e nos diversos povos.   Existem sociedades que valorizam mais a fala, e outras que valorizam 10. mais a escrita. A única afirmação correta é a de que a fala veio antes da escrita. Portanto, do ponto de vista cronológico, a fala tem precedência sobre a escrita, mas, do ponto de vista do prestígio social, a escrita tem supremacia sobre a fala na maioria das sociedades contemporâneas.

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  Não se trata, porém, de algum critério intrínseco nem de parâmetros 15. linguísticos, e sim de postura ideológica. São valores que podem variar entre sociedades e grupos sociais ao longo da história. Não há por que negar que a fala é mais antiga que a escrita e que esta lhe é posterior e, em certo sentido, dependente. Mesmo considerando a enorme e inegável importância que a escrita tem nos povos e nas civilizações ditas “letradas”, continuamos povos orais.

Luiz Antônio Marcuschi e Angela Paiva Dionisio. Princípios gerais para o tratamento das relações entre a fala e a escrita. In: Luiz Antônio Marcuschi e Angela Paiva Dionisio. Fala e escrita. Belo Horizonte:

Autêntica, 2007, p. 26-7 (com adaptações).

Luiz Antônio Marcuschi é um autor específico de linguística, já se tem algo sobre o que vai falar: língua, aquisição de linguagem, enfim, algo nessa área. “Princípios gerais para o tratamento das relações entre a fala e a escrita” aí está o título desse texto. A hipótese central é que versa sobre FALA e ESCRITA. Se a questão fosse da ideia principal, está aqui, no título.

Um outro ponto é quando me deparo com o seguinte questionamento:

“Conforme as ideias dO texto,” aqui minha linha de raciocínio já está direcionada, pois existem basicamente três modos de fazer pergunta na prova.

Primeiro é a que está acima, segundo seria “o que infere o texto” e o terceiro é “qual a ideia do texto”. Podem haver variações, mas o modo geral não extrapola isso.

Então quando aparecer “conforme as ideias dO texto”, isso significa a grosso modo “ao longo do texto” – a resposta está diluída no texto, ou seja, uma questão mais trabalhosa.

Também podem perguntar um enunciado que nos peça a ideia central (ou assunto principal ou intenção do autor), aí não está ao longo do texto, está em local específico para procurar. Se vai direto ao local.

A terceira forma de se perguntar é: “Infere-se a partir da leitura do texto” (impreende-se, deduz-se…).

Ressalva de Banca: A característica do CESPE é usar as palavras infere-se, deduz-se, impreende-se. Isso é compreensão. Mesmo que se leia infere-se, tem de se aplicar uma técnica de compreensão da palavra.

Só tem esses três jeitos de perguntar sobre compreensão. Não existe mais nenhum.

Recapitulando:

Primeiro lê a fonte; depois o enunciado (não adianta ler um texto sem saber o que querem de mim); após isso, leio as afirmativas ou se for questão de múltipla escolha leio as alternativas. Feito isso, aí procuro no texto.

Esse texto tem um gênero específico, que é o mais comum nas provas desta banca. Tipologia é o grande, gênero são as especificidades da tipologia. Portanto, o texto tem um gênero marcadamente um breve ensaio.

ATENÇÃO! Nos textos (mesmo os não verbais), ocorre predominância de tipologias e gêneros.

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Vamos à análise:

1. BREVE ENSAIO: “estudo formal, discursivo e concludente, consistindo em exposição lógica e reflexiva e em argumentação rigorosa com alto nível de interpretação e julgamento pessoal. No ensaio há maior liberdade por parte do autor, no sentido de defender determinada posição sem que tenha que se apoiar no rigoroso e objetivo aparato de documentação empírica e bibliográfica. De fato, o ensaio não dispensa o rigor lógico e a coerência de argumentação e por isso mesmo exige grande informação cultural e muita maturidade intelectual” (Severino, 1976).

Simplificando: é um texto de opinião.

Esse texto difere, por exemplo, de um artigo de jornal. O artigo é uma temática mais universal, é atemporal.

2. O TÍTULO pode constituir o menor resumo possível de um texto. Por meio dele, certas vezes, identifica-se a ideia central do texto, sendo possível, pois, descartar afirmações feitas em determinadas alternativas. No texto em questão, o título – Princípios gerais para o tratamento das relações entre a fala e a escrita. – remete exatamente à ideia central.

3. No ENUNCIADO, observa-se a presença da expressão “Conforme as ideias dO texto” (totalidade), o que norteia a estratégia de apreensão das ideias.

Aqui vai uma técnica para uso quando for desejável em uso de questões mais complexas:

4. Destaque das palavras-chave das alternativas/afirmativas/itens (expressões substantivas e verbais).

Supomos que tenho cinco alternativas.

De modo geral, uma cai por ser muito simples, muito fora da realidade.

Das quatro que sobraram algum

as trazem características gramaticais que nos fazem suspeitar que estejam corretas. Volta-se para o texto para diluir para duas.

Não se pode simplesmente ‘sentir’ a alternativa. Tem que destacar nas afirmativas e alternativas (ou itens) as palavras chave (substantivos, concordância verbal).

Na concordância verbal ocorre justamente isso: o substantivo manda na concordância e manda no que se chama determinantes, que são o artigo, adjetivo, numeral e pronomes.

quando se fala substantivo, se pensa nas determinantes junto.

Por exemplo: uma coisa é eu falar um livro, outra é eu falar o livro.

Tem que se pensar num conjunto todo.

Nas expressões verbais, o que vai se carregar junto é o advérbio.

5. Identificação das palavras-chave no texto.

Após tudo, volto ao texto para buscar nele as expressões destacadas. Mesmo que a questão seja conforme as ideias do texto, eu vou na certa!

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No que isso facilita a vida?

Leio menos; Não corro risco de me atrapalhar;

6. Resposta correta = paráfrase mais completa do texto.

Identificando as palavras, a mais correta então vai ser a paráfrase mais completa.

Paráfrase → Dizer a mesma coisa com palavras diferentes e/ou outra organização.

Na próxima aula veremos sobre vozes verbais e a continuação do tema já tratado.

Até mais!

Continuando então:

Vozes verbais são um tipo de paráfrase. Exemplo:

Eu comprei uma blusa. Uma blusa foi comprada por mim.

Ela conserva a intenção original do sujeito.

Muitas vezes quando se fica entre duas alternativas, a gente não se dá conta da completude da história.

Seguimos com a questão acerca do texto analisado anteriormente:

1. Conforme as ideias dO texto,

a) o desenvolvimento da fala e o surgimento da escrita são eventos que, sob o enfoque histórico, se deram exatamente nessa ordem.

b) há uma ideologia compartilhada pelas sociedades contemporâneas de associar a escrita a uma manifestação superior à fala.

c) do ponto de vista linguístico, fala e escrita são manifestações idênticas, não havendo diferenças entre elas nem superioridade de uma sobre a outra.

d) ao longo da história e nas diversas civilizações, identificam-se momentos de maior e de menor valorização da língua escrita.

e) em sociedades letradas, a comunicação por meio da escrita supera a comunicação por meio da fala.

Destacadas nas alternativas, agora vamos voltar ao texto. As cores estão destacadas de acordo com cada alternativa e sua equivalência no texto:

01.   Quando nos referimos à supremacia de um fenômeno sobre outro, temos logo a impressão de que se está falando em superioridade, mas, no caso da relação entre oralidade e escrita, essa é uma visão equivocada, pois não se pode afirmar que a fala seja superior à escrita ou vice-versa. Em primeiro lugar, 05. deve-se ter em mente o aspecto que se está comparando e, em segundo, deve-se considerar que essa relação não é nem homogênea nem constante. A própria escrita tem tido uma avaliação variada ao longo da história e nos diversos povos.   Existem sociedades que valorizam mais a fala, e outras que valorizam

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10. mais a escrita. A única afirmação correta é a de que a fala veio antes da escrita. Portanto, do ponto de vista cronológico, a fala tem precedência sobre a escrita, mas, do ponto de vista do prestígio social, a escrita tem supremacia sobre a fala na maioria das sociedades contemporâneas.   Não se trata, porém, de algum critério intrínseco nem de parâmetros 15. linguísticos, e sim de postura ideológica. São valores que podem variar entre sociedades e grupos sociais ao longo da história. Não há por que negar que a fala é mais antiga que a escrita e que esta lhe é posterior e, em certo sentido, dependente. Mesmo considerando a enorme e inegável importância que a escrita tem nos povos e nas civilizações ditas “letradas”, continuamos povos orais.

Obs.: cuidado com os artigos definidos, principalmente os que se encontram no plural. ‘Pelas’, ‘pelos’, ‘as’, ‘os’...

Resposta Letra A, pois é a mais completa entre todas.

A letra B é uma extrapolação ao texto, vai além.

A letra C e E são contradições.

A letra D seria extrapolação e contradição.

7. Identificação do “tópico frasal”: intenção textual percebida, geralmente, no 1º e 2º períodos do texto (IDEIA CENTRAL).

Tópico frasal → é onde se encontra a ideia central do texto, o que motivou o sujeito a escrever, o start dele.

Em uma notícia o tópico frasal sempre vem no início do texto. Na literatura, porém, não é comum vir no início.

Em uma crônica (mistura de literatura com jornalismo), não tem compromisso com a informação. Às vezes, quando é uma crônica reflexiva , nem aí tem. o autor só quer refletir sobre o aspecto da realidade.

O que veremos é aplicável em textos de caráter técnico, científico, didático. Para textos de literatura não vale a regra.

Geralmente se encontra no primeiro e segundo período do primeiro parágrafo. Normalmente pedem a ideia central de cada parágrafo: “A intenção do autor no segundo parágrafo do texto”. Se atenha ao que foi pedido.

8. Identificação de termos cujo aparecimento frequente denuncia determinado enfoque do assunto (campo semântico).

Se eu acho que preciso de uma confirmação, aí vou para o que chamamos de formação de um campo semântico, que é um conjunto de palavras e expressões que remetem a uma mesma área do conhecimento.

Palavras ou até a mesma palavra que resgatem, que remetem ao campo semântico daquelas que foram destacadas.

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EXEMPLIFICANDOCESPE – 2014

  Nas formas de vida coletiva, podem assinalar-se dois princípios que se combatem e regulam diversamente as atividades dos homens. Esses dois princípios encarnam-se nos tipos do aventureiro e do trabalhador. Já nas sociedades rudimentares manifestam-se eles, segundo sua predominância, na distinção fundamental entre os povos caçadores ou coletores e os povos lavradores. Para uns, o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto de chegada, assume relevância tão capital, que chega a dispensar, por secundários, quase supérfluos, todos os processos intermediários. Seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore. Esse tipo humano ignora as fronteiras. No mundo, tudo se apresenta a ele em generosa amplitude e, onde quer que se erija um obstáculo a seus propósitos ambiciosos, sabe transformar esse obstáculo em trampolim. Vive dos espaços ilimitados, dos projetos vastos, dos horizontes distantes.  O trabalhador, ao contrário, é aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não o triunfo a alcançar. O esforço lento, pouco compensador e persistente, que, no entanto, mede todas as possibilidades de esperdício e sabe tirar o máximo proveito do insignificante, tem sentido bem nítido para ele. Seu campo visual é naturalmente restrito. A parte maior do que o todo.  Existe uma ética do trabalho, como existe uma ética da aventura. Assim, o indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro — audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem — tudo, enfim, quanto se relacione com a concepção espaçosa do mundo, característica desse tipo.  Por outro lado, as energias e esforços que se dirigem a uma recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as energias que visam à estabilidade, à paz, à segurança pessoal e aos esforços sem perspectiva de rápido proveito material passam-lhes, ao contrário, por viciosos e desprezíveis. Nada lhes parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do trabalhador.

Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

2. O autor do texto apresenta dois tipos básicos de comportamentos humanos equivalentes: o aventureiro e o trabalhador.

( ) Certo   ( ) Errado

O que podemos destacar nesta pergunta são as palavras dois, tipos, equivalentes, aventureiro, trabalhador.

Devemos marcar a(s) mais evidente(s) por serem menos comuns: aventureiro. Devemos também procurar a ideia central, já mencionada.

Resposta: Errado, por aparecer no texto uma contradição → ‘combatem’.

Deve-se prestar atenção nos substantivos e adjetivos para ajudar.

Vamos supor que apareça a insegurança de ser tão simples. Qual o caminho? Há palavras no texto que retomem dois, tipos, equivalentes, aventureiro, trabalhador, que foram as destacadas anteriormente?

Vamos analisar o campo semântico:

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TÓPICO FRASAL = IDEIA CENTRAL: dois princípios + combatem/regulam + atividades dos homens + aventureiro e trabalhador.

CAMPO SEMÂNTICO

dois princípios combatem/ regulam

atividades dos homens aventureiro trabalhador

*eles (3ª linha)

*distinção fundamental*ao contrário

*caçadores / coletores /povos trabalhadores

*caçadores ou coletores*colher o fruto sem plantar a árvore

*povos trabalhadores*enxerga primeiro a dificuldade a vencer

Erros Comuns

EXTRAPOLAÇÃO

Ocorre quando o leitor sai do contexto, acrescentando ideias que não estão no texto, normalmente porque já conhecia o assunto devido à sua bagagem cultural.

REDUÇÃO

É o oposto da extrapolação. Dá-se atenção apenas a um ou outro aspecto, esquecendo-se de que o texto é um conjunto de ideias.

CONTRADIÇÃO

EXEMPLIFICANDOCESPE – 2018

  Após o processo de redemocratização, com o fim da ditadura militar, em meados da década de 80 do século passado, era de se esperar que a democratização das instituições tivesse como resultado direto a consolidação da cidadania — compreendida de modo amplo, abrangendo as três categorias de direitos: civis, políticos e sociais. Sobressaem, porém, problemas que configuram mais desafios para a cidadania brasileira, como a violência urbana — que ameaça os direitos individuais — e o desemprego — que ameaça os direitos sociais.   No Brasil, o crime aumentou significantemente a partir de 1980, impacto do processo de modernização pelo qual o país passou. Isso sugere que o boom do consumo colocou em circulação bens de alto valor e, consequentemente, aumentou as oportunidades para o crime, inclusive porque a maior mobilidade de pessoas torna o espaço social mais anônimo, menos supervisionado.

  Nesse contexto, justiça criminal passa a ser cada vez mais dissociada de justiça social e reconstrução da sociedade. O objetivo em relação à criminalidade torna-se bem menos ambicioso: o controle. A prisão ganha mais importância na modernidade tardia, porque satisfaz

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uma dupla necessidade dessa nova cultura: castigo e controle do risco. Essa postura às vezes proporciona controle, porém não segurança, pois o Estado tem o poder limitado de manter a ordem por meio da polícia, sendo necessário dividir as tarefas de controle com organizações locais e com a comunidade.

Jacqueline Carvalho da Silva. Manutenção da ordem pública e garantia dos direitos individuais: os desafios da polícia em sociedades democráticas. In: Revista Brasileira de Segurança Pública. São Paulo,

ano 5, 8.ª ed., fev. – mar./2011, p. 84-5 (com adaptações)

Analisando o título, já se tem uma ideia do que o texto vai pedir.

Na próxima aula veremos a continuação desse exercício.

Até mais!

Voltando então à questão:

3. De acordo com o texto, a restauração da democracia no Brasil evidenciou

a) a diminuição do controle social decorrente do aumento da mobilidade de pessoas.b) o crescimento da produção de bens de alto valor decorrente do aumento do poder de

consumo.c) a existência de problemas sociais que dificultam a consolidação da cidadania.d) a modernidade do mercado interno e das instituições públicas brasileiras.e) o medo nas metrópoles provocado pelo aumento da violência urbana e do desemprego.

gabarito: letra C

a) Errada. Voltando ao texto, percebemos que o texto não traz as informações dessa alternativa.

b) Errada. Voltando ao texto, percebemos que isso até existe no texto, mas lá no segundo parágrafo. Seria uma extrapolação.

c) Está correta

d) Errada. Isso não tem no texto, extrapolação.

e) Errada. Extrapolação por não conter tudo no texto.

Agora vamos a uma análise de alternativas na pressuposição de que nossa prova pode sim trazer “a, b, c , d, e” ou “a, b, c, d”, como essa questão última. Agora já entramos no campo da gramática e da semântica. Temos que prestar atenção no significado das palavras, sinônimos, etc e também nas questões gramaticais. Muitas vezes a gente tem a sensação que a prova não trouxe nada de gramática e que perdi o tempo decorando verbos. Quando se dominam os aspectos gramaticais, facilita na compreensão de texto.

Uma das perguntas comuns é sobre a significação das palavras. É muito comum pegarem uma expressão e dizerem que ela é equivalente à outra expressão apresentada. Uma expressão inteira, não se trata nem de um sinônimo. Se trata de uma expressão que poderia substituir aquela extraída do texto, ou ainda sinônimo. A palavra substitui “x”. Muitas vezes a gente des-

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conhece a palavra, infelizmente. Existem porém mecanismos para se aproximar do significado. Um deles é buscando a paráfrase.

AnálisedasAlternativas–EstratégiasLinguísticas

PROCEDIMENTOS

1. SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS = PARÁFRASES, CAMPO SEMÂNTICO e ETIMOLOGIA.

Paráfrase = versão de um texto, geralmente mais extensa e explicativa, cujo objetivo é torná-lo mais fácil ao entendimento.

→ Pode aparecer por meio de aposto (sem verbo) e orações explicativas (com verbo).

Campo Semântico = conjunto de palavras que pertencem a uma mesma área de conhecimento.Exemplo: Medicina: estetoscópio, cirurgia, esterilização, medicação, etc.

Etimologia (do grego antigo) é a parte da gramática que trata da história ou da origem das palavras e da explicação do significado de palavras por meio da análise dos elementos que as constituem (morfemas). Por outras palavras, é o estudo da composição dos vocábulos e das regras de sua evolução histórica.

Exemplo: Infidelidade

Quantos morfemas temos nessa palavra acima? 3.

In – negação.

fidel – fiel.

idade – sufixo formador de substantivo.

Essa é a forma mais difícil (etimologia) porque às vezes falta conhecimento na separação.

EXEMPLIFICANDOCESPE – 2016

  Nas sociedades antigas, tanto as leis quanto os códigos eram considerados expressões da vontade divina, revelada mediante a imposição de legisladores que dispunham de privilégios dinásticos e de uma legitimidade garantida pela casa sacerdotal. As leis eram objeto de respeito e veneração, e, por serem asseguradas por sanções sobrenaturais, dificilmente o homem primitivo questionava sua validez e sua aplicabilidade.   Escreve H. Summer Maine que algumas experiências societárias, ao permitirem o declínio do poder real e o enfraquecimento de monarcas hereditários, acabaram por favorecer a emergência de aristocracias, depositárias da produção legislativa, com capacidade de julgar e de resolver conflitos. Aquele momento inicial de um direito sagrado e ritualizado, expressão das divindades, desenvolveu-se na direção de práticas normativas consuetudinárias. À época

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do direito consuetudinário, largo período em que não se conheceu a invenção da escrita, uma casta, ou aristocracia, investida do poder judicial, era o único meio que poderia conservar, com algum rigor, os costumes da raça ou da tribo. O costume aparece como expressão da legalidade, de forma lenta e espontânea, instrumentalizada pela repetição de atos, usos e práticas.  A invenção e a difusão da técnica da escritura, somadas à compilação de costumes tradicionais, proporcionaram os primeiros códigos da Antiguidade, como o de Hamurábi, o de Manu, o de Sólon e a Lei das XII Tábuas. Constata-se, destarte, que os textos legislados e escritos eram melhores depositários do direito e meios mais eficazes para conservá-lo que a memória de certo número de pessoas, por mais força que tivessem em função de seu constante exercício. Esse direito antigo, tanto no Oriente quanto no Ocidente, não diferenciava, na essência, prescrições civis, religiosas e morais. Somente em tempos mais avançados da civilização é que se começou a distinguir o direito da moral e a religião do direito. Certamente, de todos os povos antigos, foi com os romanos que o direito avançou para uma autonomia diante da religião e da moral.

Antônio C. Walker. O direito nas sociedades primitivas. In: Antônio C. Walker (Org.) Fundamentos de história do direito.

Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 19-20 (com adaptações).

Conforme as ideia apresentadas no texto, nas sociedades antigas, houve período em que o direito era consuetudinário, ou seja, baseava-se nas práticas, nos hábitos e nos costumes da sociedade.

( X ) Certo   ( ) Errado

CESPE – 2018

  A história é uma disciplina definida por sua capacidade de lembrar. Poucos se lembram, porém, de como ela é capaz de esquecer. Há também quem caracterize a história como uma ciência da mudança no tempo, e quase ninguém aponta sua genuína capacidade de reiteração.   A história brasileira não escapa dessas ambiguidades fundamentais: ela é feita do encadeamento de eventos que se acumulam e evocam alterações substanciais, mas também anda repleta de lacunas, invisibilidades e esquecimentos. Além disso, se ao longo do tempo se destacam as alterações cumulativas de fatos e ocorrências, não é difícil notar, também, a presença de problemas estruturais que permanecem como que inalterados e assim se repetem, vergonhosamente, na nossa história nacional.   Nessa lista seria possível mencionar os racismos, o feminicídio, a corrupção, a homofobia e o patrimonialismo. Mas destaco aqui um tema que, de alguma maneira, dá conta de todos os demais: a nossa tremenda e contínua desigualdade social. Desigualdade não é uma contingência nem um acidente qualquer, tampouco uma decorrência natural e mutável de um processo que não nos diz respeito. Ela é consequência de nossas escolhas — sociais, educacionais, políticas, culturais e institucionais —, que têm resultado em uma clara e crescente concentração dos benefícios públicos nas mãos de poucos. (...) Quando se trata de enfrentar a desigualdade, não há saída fácil ou receita de bolo. Prefiro apostar nos alertas que nós mesmos somos capazes de identificar.

Lilia Moritz Schwarcz. Desigualdade é teimosia. Internet: (com adaptações).

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O texto é construído sobre uma série de dicotomias conceituais, isto é, de pares de noções opostas entre si, a exemplo do formado pelos termos

a) “mudança” e “reiteração” b) “ao longo do tempo” e “alterações cumulativas” c) “contingência” e “acidente” d) “Desigualdade” e “concentração” e) “disciplina” e “ciência”

a) correta

b) errada, pois se equivalem.

c) errada, pois é uma continuidade, quase sinônimos.

d) errada, são causa e consequência.

e) errada, são quase sinônimos.

2. PALAVRAS DE CUNHO CATEGÓRICO NAS ALTERNATIVAS (possibilidade de a alternativa ser incorreta):

• advérbios;

• artigos;

• expressõesrestritivas;

• expressõestotalizantes;

• temposverbais;

• expressões enfáticas.

Na próxima aula seguiremos analisando os outros tópicos.

Até mais!

Voltando então:

Eu disse pra vocês que estávamos trabalhando e continuaremos a parte de análise das alternativas e que há procedimentos, que são os três citados. Um desses é quando nos deparamos com palavras supostamente desconhecidas – significados desconhecidos – já trabalhado. Outro procedimento é que além de toda a análise que fizemos até agora, nós devemos reparar em palavras de cunho categórico existentes na alternativa no item. e o que são palavras de cunho categórico? São palavras fechadas, que não abrem espaço para discussão. é claro que não existe uma classe gramatical de palavras que seja sempre fechada, ou seja, sempre aberta (se tem uma tem a outra), mas elas podem ser um indício de que a alternativa ou item está incorreto. Por exemplo: Vimos naquela alternativa pela sociedade contemporânea quando no texto havia a maioria das sociedades contemporâneas. O que a gente teve aí? Uma oposição entre fechadas (as sociedades contemporâneas) e abertas (na maioria das

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sociedades contemporâneas). Atentem bastante a esse tipo de palavra. Isso não garante acerto evidentemente. É um caminho na hora que as coisas começam a ficar complicadas na prova, pega-se um atalho.

Quais são as classes gramaticais que podem nos apresentar palavras fechadas? Os advérbios. Exemplo de advérbio de cunho categórico: certamente, sempre, nunca, somente. Atentem para essas palavras nos itens e nas alternativas. a possibilidade desse item estar incorreto é bem grande, ou seja, quando a gente for ao texto a gente já vai com uma hipótese. E isso sempre temos que pensar em relação ao texto: qual é a minha hipótese, e aí confirma ou não.

Vamos falar das restritivas. Exemplo de expressões restritivas: Apenas.

Expressões totalizantes: Tudo, todos, totalmente.

Tempos verbais: Nós temos três modos da nossa língua: O indicativo, o subjuntivo e o modo imperativo.

O modo indicativo é o modo da certeza. Então um texto tapado de modo indicativo é que está sendo categórico.

O modo imperativo é o modo da ordem, do pedido, da solicitação.

Expressões enfáticas: São as que dão destaque.

Exemplo: Temos um problema sério. Esse adjetivo enfatizou.

Temos um problema seríssimo. Esse superlativo enfatizou ainda mais.

Então atenção nos itens, nas alternativas para essas palavras que podem nos apontar o caminho de um erro ali. Podem, não sempre.

Artigo: Por ser muito fácil quase nunca se presta atenção, então vamos lá. Atentem-se para o fato de que sempre e nunca são construções, deve-se prestar atenção nisso. Então quando aparecer ‘sempre o artigo definido para dizer tal coisa’, suspeitem. Artigos definidos: O/A (s)

Indefinidos: Um(a) (s)

Vamos ver a dicotomia primeiramente. O que o artigo definido faz: ele particulariza. Ora, se é particulariza é fechado. O indefinido generaliza. E acabou aqui a dicotomia. Exemplo: Você viu o professor? eu só posso fazer essa pergunta pra vocês se houver um conhecimento prévio de vocês de quem eu tô falando, senão não faz sentido.

Por exemplo: aqui no curso, nesse exato momento, havia um único professor. Cabe portanto eu perguntar pra vocês: “vocês viram professor?” mas vocês sabem que só tem um neste momento único, neste momento aqui no curso, e que eu estou me referindo a exclusivamente um sujeito. Foi aquela diferença que vimos no exercício as sociedades contemporâneas e a maioria das sociedades, viram? fechada e aberta.

Agora aqui: “Perguntei a um passante as horas”. Olha só como fica fácil a gente fazer essa distinção de particularização e generalização. Quando se generaliza, eu posso colocar depois do substantivo (isso é bom para vocês fazerem diferença entre artigo ‘um’ e numeral ‘1’), por que a classe gramatical e morfologia obviamente está no edital. Depois do substantivo eu posso colocar a palavra qualquer e vai fazer sentido. “Perguntei um passante qualquer”. Fez sentido.

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Tenta colocar ali “você viu o professor qualquer?”. Não tem a menor lógica, particularizou e generalizou.

Que é mais que esses artigos podem semanticamente nos informar? Os definidos referem-se à totalidade da espécie. Então deixou de particularizar? sim, deixou. Por isso que não existe o sempre e o nunca na língua. Como eu vou saber? vou saber de acordo com a construção do restante da frase e, pasmem, os indefinidos também se referem à totalidade da espécie. E eu só vou saber por que a frase me permite. Por exemplo: “o homem é mortal”. Aqui eu estou particularizando um sujeito do sexo masculino, estou falando de toda a espécie humana. Mas eu só sei disso por causa do adjetivo mortal, é um conhecimento prévio de qualquer forma que eu tenho.

Agora exemplo da totalidade da espécie semântica atribuída pelo artigo indefinido: “um pai tem o dever de educar seus filhos”. Também de novo não estou me referindo a um único sujeito, um sujeito qualquer do sexo masculino. Estou me referindo à categoria pai, pais (o pai nesse sentido de progenitores, mãe, pai, quando a gente fala um pai ou os pais), tanto faz, ou seja, não é qualquer. É a totalidade que tem esse dever, ficou claro pra vocês?

De onde eu tirei isso? Do restante da frase. Porém, para terminar isso aqui: a ausência de artigos também pode indicar totalidade. Exemplo: “homens são de Marte, mulheres são de Vênus”. A totalidade dos homens, de acordo com essa frase e a totalidade das mulheres. Então, a ausência de artigos e havia uma questão de FAURGS que a gente comentava agora aqui.

Pro pessoal que está em casa: estávamos comentando sobre FAURGS e havia uma questão exatamente assim: ‘nas sociedades primitivas os míopes, os carecas eram excluídos, sofriam bullying’. E aí se perguntava: ‘se a gente tirar os de míopes e os de carecas, isso provocaria alteração de significado?’. Aí alguém pode pensar: ‘sim porque os é todo mundo e a ausência então sabe deus o que é’. NÃO! Ausência, nesse caso manteve a idéia de totalidade. Então vamos ver uma questão de 2015:

EXEMPLIFICANDOCESPE – 2015

  “O preconceito linguístico é um equívoco, e tão nocivo quanto os outros. Segundo Marcos Bagno, especialista no assunto, dizer que o brasileiro não sabe português é um dos mitos que compõem o preconceito mais presente na cultura brasileira: o linguístico”.  A redação acima poderia ter sido extraída do editorial de uma revista, mas é parte do texto O oxente e o ok, primeiro lugar na categoria opinião da 4.ª Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, realizada pelo Ministério da Educação em parceria com a Fundação Itaú Social e o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC).   A autora do artigo é estudante do 2.º ano do ensino médio em uma escola estadual do Ceará, e foi premiada ao lado de outros dezenove alunos de escolas públicas brasileiras, durante um evento em Brasília, no último mês de dezembro. Como nos três anos anteriores, vinte alunos foram vencedores ― cinco em cada gênero trabalhado pelo projeto. Além de opinião (2.º e 3.º anos do ensino médio), a olimpíada destacou produções em crônica (9.º ano do ensino fundamental), poema (5.º e 6.º anos) e memória (7.º e 8.º anos). Tudo regido por um só tema: “O lugar em que vivo”.

Língua Portuguesa, 1/2015. Internet: <www.revistalingua.uol.com.br> (com adaptações)

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6. De acordo com o primeiro parágrafo do texto, para o especialista Marcos Bagno, o preconceito linguístico nasce da ideia de que existe uma única língua portuguesa correta.

( ) Certo   ( ) Errado

Essa é mais velhinha, de 2015. Língua portuguesa, 2015, revista língua só pode falar de língua portuguesa, da revista língua e aí é revista sobre língua, sobre língua portuguesa. “Ah, deve ser uma revista não para leigos, deve ser de alguém da área”. Pronto, já fiz a minha hipótese. De acordo com o primeiro parágrafo do texto quem ler o segundo e o terceiro, come toda a porcaria do mundo, porque de repente acha, mas ele só quer o primeiro.

“Para o especialista Marcos Bagno” – olha, eles adoram o Marcos Bagno. Quero dizer pra vocês: Marcos Bagno na atualidade é um dos caras, aqui no Brasil – São Paulo – que mais vai aparecer. Ele é linguista, então ele fala sobre língua portuguesa. De que ele fala? preconceito lingüístico. Ele não é o primeiro que fala disso não. O professor Luft falava de forma brilhante também, tem um livro chamado ‘Língua e Liberdade’, mas Marcos Bagno é o cara da hora. Lembra tá? Marcos Bagno ‘ah tá, preconceito lingüístico’. Pronto, a gente já sabe que que o homem vai falar.

“Para especialista Marcos Bagno preconceito lingüístico nasce da ideia de que existe uma única língua portuguesa correta”. Para tudo, vamos destacar o que é mais esquisitinho, uma palavra esquisitona pra gente procurar no texto. Marcos Bagno, o nome do cara. Então vou direto nele. Está aí, vamos ver outra: ah pois, achamos uma palavra fechada, restritiva, única. Aí eu já vou para o texto naquelas ‘hum, sei não’. Talvez esteja errado vamos ver o primeiro parágrafo. para entender o que ele falou? Oh “o preconceito lingüístico nasce da ideia de que existe uma única língua portuguesa correta”. Vamos ler? “o preconceito lingüístico é um equívoco” – oba achei preconceito lingüístico – “e tão nocivo quanto os outros. Segundo Marcos Bagno” – oba achei Marcos Bagno, preconceito lingüístico, especialista no assunto – “dizer que brasileiro não sabe português é um dos mitos que compõem o preconceito mais presente na cultura brasileira: o lingüístico” – o que está afirmado aqui, se encontra no primeiro parágrafo? Sim ou não? Vamos ler o primeiro parágrafo de novo – vocês façam o favor de responder que senão vou ficar louca – que tem aqui que ele diz: “o preconceito linguístico nasce da ideia de que existe uma única língua portuguesa correta” – então já to de cantinho com o tal do única. Agora eu vou ver ‘o preconceito lingüístico’ nasce dessa idéia? Vamos ver no primeiro parágrafo: “o preconceito lingüístico é um equívoco, e tão nocivo quanto os outros. Segundo Marcos Bagno, especialista no assunto, dizer que o brasileiro não sabe português é um dos mitos que compõem o preconceito mais presente na cultura brasileira: o linguístico” – Tá errado! Primeiro: na afirmativa está dizendo que o preconceito lingüístico nasce do fato de que existe uma única língua portuguesa. Aqui, ele não fala em uma única língua portuguesa. Ele diz que: ‘afirmar que o brasileiro não sabe português é um dos mitos que compõem o preconceito mais presente na cultura brasileira: o linguístico’. Não é única, mas é um dos. Eu podia extrapolar, sair do texto... não é assim. Todo mundo acha que essa língua padrão que estou usando, na maior parte do tempo na nossa aula, é a única língua que existe. Não é. Há várias. Nós mesmos, no mínimo, sabemos duas línguas portuguesas. A formal e a informal. Ora, e você foi exatamente no aspecto que a gente tem de observar. Afirmativa, o item falava em única e aqui fala em um dos. Pronto acabou a questão. Então está errado, tá?

Vamos pra outra!

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CESPE – 2018

  Nas sociedades antigas, tanto as leis quanto os códigos eram considerados expressões da vontade divina, revelada mediante a imposição de legisladores que dispunham de privilégios dinásticos e de uma legitimidade garantida pela casa sacerdotal. As leis eram objeto de respeito e veneração, e, por serem asseguradas por sanções sobrenaturais, dificilmente o homem primitivo questionava sua validez e sua aplicabilidade.   Escreve H. Summer Maine que algumas experiências societárias, ao permitirem o declínio do poder real e o enfraquecimento de monarcas hereditários, acabaram por favorecer a emergência de aristocracias, depositárias da produção legislativa, com capacidade de julgar e de resolver conflitos. Aquele momento inicial de um direito sagrado e ritualizado, expressão das divindades, desenvolveu-se na direção de práticas normativas consuetudinárias. À época do direito consuetudinário, largo período em que não se conheceu a invenção da escrita, uma casta, ou aristocracia, investida do poder judicial, era o único meio que poderia conservar, com algum rigor, os costumes da raça ou da tribo. O costume aparece como expressão da legalidade, de forma lenta e espontânea, instrumentalizada pela repetição de atos, usos e práticas.  A invenção e a difusão da técnica da escritura, somadas à compilação de costumes tradicionais, proporcionaram os primeiros códigos da Antiguidade, como o de Hamurábi, o de Manu, o de Sólon e a Lei das XII Tábuas. Constata-se, destarte, que os textos legislados e escritos eram melhores depositários do direito e meios mais eficazes para conservá-lo que a memória de certo número de pessoas, por mais força que tivessem em função de seu constante exercício. Esse direito antigo, tanto no Oriente quanto no Ocidente, não diferenciava, na essência, prescrições civis, religiosas e morais. Somente em tempos mais avançados da civilização é que se começou a distinguir o direito da moral e a religião do direito. Certamente, de todos os povos antigos, foi com os romanos que o direito avançou para uma autonomia diante da religião e da moral.

Antônio C. Walker. O direito nas sociedades primitivas. In: Antônio C. Walker (Org.) Fundamentos de história do direito.

Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 19-20 (com adaptações).

7. Conforme as ideia apresentadas no texto, a evolução do direito desde as sociedades antigas passou por apenas dois períodos evolutivos.

( ) Certo   ( ) Errado

8. Conforme as ideia apresentadas no texto, nas sociedades antigas, a origem do direito esteve diretamente relacionada ao declínio do poder real exercido por monarcas hereditários e à emergência de aristocracias.

( ) Certo   ( ) Errado

E aí lindos, tem alguma coisa que me faça pensar? ‘apenas dois períodos’ está aí a palavra: apenas. E aí a gente já vai para o texto desconfiadinho. “Passou por apenas dois períodos” – vou procurar se são apenas dois mesmo, então vamos lá: “a evolução do direito desde as sociedades antigas” – dois períodos evolutivos. É isso que eu tenho de procurar, qual é a mais esquisitinha pra gente ir direto, real? ‘Evolução do direito’. Então vamos lá: “nas sociedades antigas” – achei ‘as sociedades antigas’ – “tanto as leis quanto os códigos eram considerados

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expressões da vontade divina, revelada mediante a imposição das legendas de legisladores, que dispõem de privilégios dinásticos e de uma legitimidade garantida pela casa sacerdotal. As leis eram objeto de respeito e veneração, por serem asseguradas por sanções sobrenaturais, dificilmente o homem primitivo questionava a sua validez e a sua aplicabilidade” – tá falando alguma coisa de ‘evolução do direito’ aqui? não, então adiante. “Escreve H. Summer Maine que algumas experiências societárias, ao permitirem o declínio do poder real e o enfraquecimento de monarcas hereditários, acabaram por favorecer a emergência de aristocracias, depositárias da produção legislativa, com capacidade de julgar e de resolver conflitos.” – então aqui eu tenho um estágio no primeiro parágrafo e já no segundo eu estou indo pra outro estágio do direito, né? Entre enfraquecimento de monarcas hereditários – “Aquele momento inicial de um direito sagrado e ritualizado, expressão das divindades, desenvolveu-se na direção de práticas normativas consuetudinárias.” – agora já tenho duas. Vamos aqui pro terceiro parágrafo: “A invenção e a difusão da técnica da escritura, somadas à compilação de costumes tradicionais, proporcionaram os primeiros códigos da Antiguidade, como o de Hamurábi, o de Manu, o de Sólon e a Lei das XII Tábuas. Constata-se, destarte, que os textos legislados e escritos eram melhores depositários do direito e meios mais eficazes para conservá-lo que a memória de certo número de pessoas,” – só têm dois períodos de evolução? Quantos nós temos aí? Três. Então a palavra ‘único’ é que me fez procurar. Só tem dois mesmos? Não. Ainda assim, “Esse direito antigo, tanto no Oriente quanto no Ocidente, não diferenciava, na essência, prescrições civis, religiosas e morais. Somente em tempos mais avançados da civilização é que se começou a distinguir o direito da moral e a religião do direito.’ – então a gente viu três momentos evolutivos e não unicamente dois. Prendam-se nas palavras de cunho categórico (isso não é macete, é fato). Agora cuidado, pode haver palavra de cunho categórico na alternativa e no texto. Vale o texto. Ou ter palavra de cunho categórico no texto e não ter na afirmativa: Vale o texto. Sempre vale o texto, texto é nosso universo.

Bom, aí eu depois eu vou deixar a 8 pra vocês fazerem sozinhos, porque é do mesmo texto a gente já leu, só me acha a palavra fechada ou aberta que temos aí nessa oito: Diretamente. Está aí a palavra. Então você já vai pro texto. ‘Diretamente é um advérbio, é fechada então uma relação muito estreita, vou pensar isso melhor. Certo? Tudo bem? Bom aí turminha, eu vou apagar agora eu vou precisar do quadro tá? A gente vai para o oposto.

Em língua, qualquer língua tá, existem sempre os pares opositivos. Se eu tenho expressões fechadas que me levam a desconfiar do acerto daquela afirmativa, por outro lado tem expressões abertas, que me levam a desconfiar do acerto. Tudo em língua é assim: se tem uma que é fechada, vai ter uma que é aberta. E aí? Se das fechadas há desconfianças do acerto, desconfio de que há erros ou melhor dizendo, nas abertas eu desconfio de que há acerto. E quais são essas palavras ou expressões abertas? São as possibilidades.

Exemplo: é possível, pode. Eles adoram perguntar se a gente pode mudar no texto pode pelo deve. Adoram perguntar isso. É claro que não. Pode é possibilidade, deve é obrigação. Tem que entender – cuidado – estão ligados na diferença? Tem que é uma possibilidade e Tem de é uma obrigação. Tanto é: ‘tenho de me alimentar para sobreviver’ – eu posso inclusive acrescentar a palavra obrigação e vai dar certo: ‘tem obrigação de me alimentar’. ‘Tem obrigação que me alimentar’ não faz o menor sentido, então cuida isso. Mas eu falo aqui em hipóteses também: provavelmente, é possível, e paramos no futuro do pretérito indicativo. Mas é indicativo e eu falei pra vocês que é o modo da certeza. Pois é, mas o futuro do pretérito (que há muitos muitos muitos – nem eu estudei assim – se chamava condicional) ou seja se é condição, é uma

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possibilidade porque eu preciso da outra perninha para a coisa funcionar, não posso ter um só. Futuro do pretérito do indicativo ele tem a terminação ria, uma desinência.

A desinência verbal ria se repete ao longo da conjugação, mesmo que os verbos sejam esquisitos, mesmo que os verbos sejam irregulares. A gente vai ter esse RIA seja no finalzinho ou não, no meio, por exemplo: se eu sei que é um verbo mega esquisito, ele é anômalo: ‘eu seria, tu serias, ele seria, seríamos, seríeis’. Ninguém usa mais, mas existe. Modernamente as gramáticas nem tem trazido mais ‘vós’, e ‘seriam’. Quando vocês virem futuro do pretérito do indicativo, é uma forma de um examinador tirar da reta o seu. è bem isso. Não tem nada pior do que você fazer uma prova e ter uma questão anulada. Você babou. Então a gente se cerca de tudo que é cuidado, e um dos cuidados é esse aqui Poderia, Seria, ou seja, na realidade o produtor daquela questão não está se comprometendo. É uma hipótese. Então lembra que o futuro do pretérito, a despeito de ser do modo indicativo, é uma hipótese, uma condição. ‘Eu viajaria mais se tivesse grana’, tem uma condição.

Na próxima aula continuaremos com o item 3 e mais alguns exercícios.

Até logo!

Voltando então.

3. BUSCA DE PALAVRAS “ABERTAS” NAS ALTERNATIVAS (possibilidade de a alternativa ser a correta):

• Possibilidades;

• Hipóteses (provavelmente, é possível, uso do futuro do pretérito do indicativo (-ria) , modo subjuntivo...).

Se eu digo pra vocês: ‘ah, ele teria aproximadamente 30 anos na época’. É hipotético, não tenho certeza. Então vamos supor que eu digo para vocês agora “estou muito cansada, quando chegar em casa eu vou dormir”. Por algum motivo, na sexta feira vocês me perguntam: ‘e aí você dormiu cedo?’. Eu não iria falar ‘eu dormiria’. ‘Eu ia dormir cedo, mas aí quando eu cheguei tinha visita lá em casa’, ou seja, é um futuro que não se realiza. Então lembrem-se do futuro do pretérito do indicativo como uma condição, uma hipótese, uma probabilidade ou, grosso modo, um futuro que não rolou, não deu certo. Sabe aquela coisa que a gente planeja, planeja, planeja, planeja, planeja e... não deu? Futuro do pretérito, por isso esse nome esquisito. Como é que pode ser o futuro e passado ao mesmo tempo. No momento da anunciação ‘dormirei ao chegar em casa’, eu tenho certeza absoluta e aí é categórico ‘dormirei’. Mas aí quando eu cheguei num momento de dormir, ou seja, no futuro, algo aconteceu e não rolou, ou seja, a minha certeza ficou no passado, daí o futuro que ficou no passado. Ficou claro? E todo o modo subjuntivo. O modo subjuntivo, anota aí, é o modo da dúvida, é o modo da hipótese. Então olha só: modo subjuntivo. Grosso modo, três tempos. Vamos falar só dos simples:

Presente (só para facilitar o ouvidinho na conjugação, pra dar o start, coloca o Talvez na frente). Eu sei que provavelmente vocês aprenderam com o Que, né? Que eu faça, Que eu parta. É que na minha cabeça não faz sentido uma frase ‘que eu faça a tal coisa, é necessário’. Não faz muito sentido ‘que eu faça’. Agora ‘talvez eu faça’ pra mim é uma uma formação completa, tá? Gosto do talvez, que mais hipóteses do que isso, impossível.

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O pretérito imperfeito do subjuntivo (para facilitar novamente, coloquem o se). Esse aqui é lindão. Por que ele é lindão? Porque ele sempre vai ter a desinência SSE. ‘Se eu fosse, se eu pudesse’.

E o futuro, para facilitar, coloca o quando na frente. Também é lindão. Sempre vai ter o R.

Vamos lá agora tá? também deixarei o exercício de número 9 para vocês fazerem. Aviso: tem uma mega pega ratão, cuidado!!

  Na mídia em geral, nos discursos políticos, em mensagens publicitárias, na fala de diferentes atores sociais, enfim, nos diversos contextos em que a comunicação se faz presente, deparamo-nos repetidas vezes com a palavra cidadania. Esse largo uso, porém, não torna evidente seu significado. Ao contrário, o fato de admitir vários empregos deprecia seu valor conceitual, isto é, sua capacidade de nos fazer compreender certa ordem de eventos. Por que, então, a palavra cidadania é constantemente evocada, se o seu significado é tão pouco esclarecido?   Uma resposta possível a essa indagação começa pelo reconhecimento de que há um considerável avanço da agenda igualitária no mundo e, decorrente disso, uma valorização sem precedentes da ideia de direitos. O fenômeno é mundial, afeta, de modos e em graus distintos, todas as sociedades e aponta para uma democratização progressiva e sustentada das repúblicas. Observam-se também, nesse contexto, passagens contínuas da condição de indivíduo à de cidadão, na medida em que temas do domínio privado que, por sua incidência e relevância, passam a ser amplamente debatidos na esfera pública podem influenciar o sistema político a torná-los matéria de interesse geral e, no limite, direitos positivados.   Em suma, reconhecer a centralidade que assumiu a discussão sobre direitos ajuda a entender a atual onipresença da palavra cidadania. Mas avançar na elucidação desse fenômeno impõe perceber que, ao lado da valorização dos direitos, se desenvolve igualmente a certeza de que o caminho para efetivá-los é a mobilização pública do sentimento de justiça, e não a ativação de métodos personalistas de acesso a eles. Em outras palavras, considera-se cada vez mais importante que os direitos estejam fortemente conectados com a plena autonomia política dos indivíduos, de modo que não sejam vividos como favores concedidos por governantes, filantropos, patronos ou equivalentes.

Maria Alice Rezende de Carvalho. Cidadania e direitos. In: André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz (Orgs.). Agenda brasileira: temas de uma sociedade em mudança. São Paulo: Companhia das Letras, 2011

(com adaptações).

9. Com relação às ideias do texto, julgue os seguintes itens.

I. A maior parte das pessoas emprega a palavra cidadania de modo incorreto em suas conversas informais sobre política.

II. Para que sejam efetivos, os direitos não devem ser obtidos por meio de favores concedidos, entre outros, por políticos e benfeitores.

III. A condição de cidadão é socialmente adquirida, e não herdada de forma natural.

Assinale a opção correta.

a) Apenas o item I está certo. b) Apenas o item II está certo.

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c) Apenas os itens I e III estão certos. d) Apenas os itens II e III estão certos.

E agora vamos para a inferência, queridos. Inferir, como eu disse para vocês é observar os implícitos, observar os pressupostos, observar o subentendido, ou seja, ler nas entrelinhas. Isso não significa que a gente pode viajar. ‘Ah então tá, o que eu quiser que tenha lá vai ter’, não. Não é bem assim. Tem um cara, eu sempre falo disso, que é excelente e não é brasileiro, é americano cujo sobrenome é Fish. Significa pesca, pescar. Ele fala que inferir é mais ou menos como pescar. Não é porque tem água, e aí eu jogo uma uma vara de pescar, que necessariamente vai dar um peixe. O texto (rio) tem que me possibilitar essa suposição. Seria mais ou menos como aqui em Porto Alegre (quem não é daqui vai entender, porque deve ter desgraçadamente algo semelhante no seu lugar de morada). Aqui em Porto Alegre, na avenida bem grandona que tem, avenida Ipiranga corta o que a gente chama de arroio dilúvio. Tem água, e é um arroio. Vamos pescar? vamos! Compramos uma vara toda traquitana de pescaria, sentamos à margem do arroio dilúvio (só de loucos né, gente, ia ser assaltado no mínimo 25 vezes), sentamos à margem do arroio dilúvio. Quero pescar salmão. Olha, vai conseguir um cocô muito provavelmente, infelizmente. Deve até ter peixes gente, porque tem garça lá. Ou garça come cocô? Não sei. Então não adianta achar que só porque tem água que vai sair peixe dali, do balde, do vaso sanitário da casa da gente ia sair peixe também, ou seja, o texto dá pistas. Supondo que uma criatura invada nossa aula agora, entre por aqui trocando as pernas. Não consegue caminhar em linha reta. O que eu vou supor? a única inferência que esse texto me permite. Ela entra assim (cambaleando), o que eu posso inferir? Que ela está sem coordenação, só. É a única inferência que eu posso fazer, que lhe falta coordenação motora. ‘Ah mas ela tá bêbada’, não sei. Pode ter labirintite. A não ser que eu cheire a criatura, caso contrário não possa inferir outra coisa, tá?

É daí que nascem os mal entendidos, vai dizer né? A gente olha a cara da pessoa e diz: ‘acho que você não gostou’, pessoas só é séria, não tem nada.

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Inferência

INFERÊNCIA = ideias implícitas, sugeridas, que podem ser depreendidas a partir da leitura do texto, de certas palavras ou expressões contidas na frase.Enunciados = “Infere-se”, Deduz-se”, “Depreende-se”, etc.

Observe as seguintes frases:

a.Viajeinasférias,masvolteicansadíssimo.

Nela, o falante transmite duas informações de maneira explícita:

a) que ele viajou nas férias;

b) que ele retornou cansado.

Ao ligar as duas informações por meio de “mas”, comunica também, de modo implícito, a quebra de uma expectativa: durante as férias, descansa-se.

b. Os alunos ainda não chegaram ao local da prova.

Pressuposto: Os alunos já deviam ter chegado ou os alunos chegarão mais tarde.

c. Sua paixão tornou-se pública.

Pressuposto: A paixão não era pública antes.

Bom, de qualquer forma, falei pra vocês que a inferência (essa palavra inferência) pode não ser bem inferência, de acordo com essa nossa banca. Então olha aqui: ‘Viajei nas férias mas voltei cansadíssimo’ o que a gente lê? duas coisas: viajou e voltou cansado, mas o que me permite inferir, qual a palavrinha que me permite inferir? É o mas, portanto, se quiser anota aí, seguinte (tem espaço aqui na página 17): conjunções adversativas e (tá ligada nas adversativas? mas, porém, contudo, todavia, no entanto, entretanto, não obstante. Se acha que vai esquecer coloca entre parentes o mas e o porém, para se ligar tá?).

Conjunções adversativas e concessivas podem nos levar a inferências (esqueci o que é uma conjunção: embora. Então o embora, conquanto, ainda que, apesar de que, tudo isso é con-cessiva). Aqui temos ‘viajei nas férias mas voltei cansadíssimo’, o que eu posso inferir daí? Que férias servem para descansar. Essa inferência que eu faço e por isso a oposição, que não está explícita. O que está implícito? Viajei nas férias, que são necessariamente um período destina-do ao descanso mas voltei cansadíssimo. Então o mas comeu, viu quanta coisa mas comeu?

Outra: Embora você seja um cretino, continuo te amando. O que eu infiro daí? Que a gente não deve amar cretinos, mas a criatura é trouxa. Bom, então são só as conjunções? gente inferência é o texto todo, mas existem algumas classes gramaticais que nos permitem. Tudo isso é assim, é caminho, é dica e vocês só vão usar quando: se, não é quando, se se atrapalharem. Não usem técnica aleatoriamente tá, porque pode provocar dúvida. É melhor ‘tô com certeza, fechou’ ou não, ‘tô com dúvida’, aí uso técnica.

Outro tipo de classe gramatical que pode nos levar a inferência: ‘os alunos ainda não chegaram’. A palavra que provoca a inferência aí é o ainda, porque eu posso pressupor que os alunos já

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deviam ter chegado ou chegarão mais tarde. Logo, uma classe que pode nos levar a inferência, outra, anota aí: indicadores temporais.

Quer um outro exemplo? Antes a vida era mais fácil. O que eu infiro daí? Que hoje é mais difícil. Só o antes já me levou a tudo isso.

Por último, os que podem nos levar a inferência: verbos que exprimem mudança de estado. Repetindo: verbos que exprimem mudança de estado. ‘Sua paixão tornou se pública’, o que que eu infiro daí? Que antes não era. Então, o verbo tornar-se, o verbo ficar. Exemplo: ‘ele ficou furioso’, antes não estava. O verbo virar: ‘ele virou um anjo’. Ainda mesmo o verbo permanecer é uma mudança de estado (mas como, ele continua a mesma coisa; ele continua, aí eu infiro que aquilo já vem ocorrendo). O tempo passa mas aquele estado permanece.

Tem mais palavras que indicam um efeito e que podem nos levar a inferência? Claro que sim, a construção da frase toda. Mas essas classes aí indicam algum caminho tá?

Aí essa questão de número 10:

XEMPLIFICANDOCESPE – 2018

01.   O medo do esquecimento obcecou as sociedades europeias da primeira fase da modernidade. Para dominar sua inquietação, elas fixaram, por meio da escrita, os traços do passado, a lembrança dos mortos ou a glória dos vivos e todos os textos que não deveriam desaparecer. A pedra, a madeira, o tecido, o05. pergaminho e o papel forneceram os suportes nos quais podia ser inscrita a memória dos tempos e dos homens.   No espaço aberto da cidade, no refúgio da biblioteca, na magnitude do livro e na humildade dos objetos mais simples, a escrita teve como missão conjurar contra a fatalidade da perda. Em um mundo no qual as escritas 10. podiam ser apagadas, os manuscritos podiam ser perdidos e os livros estavam sempre ameaçados de destruição, a tarefa não era fácil. Paradoxalmente, seu sucesso poderia criar, talvez, outro perigo: o de uma incontrolável proliferação textual de um discurso sem ordem nem limites.   O excesso de escrita, que multiplica os textos inúteis e abafa o 15. pensamento sob o acúmulo de discursos, foi considerado um perigo tão grande quanto seu contrário. Embora fosse temido, o apagamento era necessário, assim como o esquecimento também o é para a memória. Nem todos os escritos foram destinados a se tornar arquivos cuja proteção os defenderia da imprevisibilidade da história. Alguns foram traçados sobre 20. suportes que permitiam escrever, apagar e depois escrever de novo.

Roger Chartier. Inscrever e apagar: cultura escrita e literatura (séculos XI-XVIII). Trad.: Luzmara Curcino Ferreira. São Paulo: UNESP, 2007, p. 9-10 (com adaptações).

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10. Infere-se do texto que a escrita é uma

a) tecnologia ambígua, pois é capaz de, ao mesmo tempo, preservar informações úteis e contribuir para a disseminação de textos inúteis.

b) atividade que transforma escritos em arquivos, garantindo, assim, a integridade das informações frente às inconstâncias da história.

c) invenção da primeira fase da modernidade, voltada a manter vivas as memórias sociais e culturais.

d) forma de evitar o desaparecimento de informações importantes que não deveriam ser esquecidas ou perdidas.

e) manifestação efêmera, que podia ser registrada, depois apagada e, mais tarde, recuperada pela reescrita.

Agora pra terminar. Quando a gente trabalha com inferência, ou seja, os implícitos, subentendi-dos, a gente trabalha automaticamente, porque é assim, com o que se chama de intertextuali-dade e extra textualidade.

Intertextualidade

Um texto remete a outro, contendo em si – muitas vezes – trechos ou temática desse outro com o qual mantém “diálogo”. Geralmente, os textos fontes são aqueles considerados fundamentais em uma determinada cultura.

O que é intertextualidade a grosso modo: texto dialogam entre si. Há um diálogo entre os textos. O que eu tenho de inferir? O que eles estão falando que é comum. O que que tem em um texto que também tem em outro e por isso um resgata o outro.

Então trouxe o primeiro aqui o texto não verbal, olha só, o texto mais antigo e esse aqui, a Monalisa. E aí, supondo que não houvesse a Monalisa, você reconheceria a Mônica como Monalisa sim ou não? Sim, porque é a mesma postura, aquela mãozinha aqui. Olha aqui de bigodinho a gente reconheceria, e olha aqui, da propaganda da Bombril. Caiu essa questão uma vez que ela só esses dois. Por quê? Tem um diálogo entre esses dois textos aqui e não é um diálogo só de forma, é um diálogo de conteúdo também. Por que será que na propaganda

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de bombril se colocou um sujeito, como se fosse Monalisa? Para fazer graça, não tá, a gente até pode rir, mas o objetivo não foi esse.

Quando se faz a intertextualidade, portanto, a tal da inferência, quais são os objetivos? O primeiro objetivo: comprovar, retificar, reiterar a ideia original do autor. Concordo plenamente com a ideia original do autor. Número 2: parodiar, que é subverter o texto original, a intenção original (seja para fazer uma crítica seja para fazer graça, só uma questão de humor) e pode ser também uma simples citação, como por exemplo fazemos ou fazíamos nas redações escolares. Cito o autor para dar suporte à minha tese, foi o que foi feito aqui, quando na propaganda de bombril se retomou à Monalisa. Pra que ele fez isso? Ele citou a Monalisa com que objetivo? Para dar suporte à sua ideia, para comprovar a Monalisa, a maior obra a obra da humanidade, pelo menos assim se considera, feinha pra caramba, mas enfim, assim se considera. Ora, se a gente tivesse todo o dinheiro do mundo e quisesse comprar Monalisa a gente não ia poder, porque não tem nem preço, ou seja, é o que há de maior valor na história das artes plásticas do mundo ocidental. Quando ele fez isso aqui, ele fez uma paródia, realmente. Ele quebrou o original, ele quebrou tanto é que ele fez a interferência, botou um mon bijou e mon bijou, porém preservou o valor. Os produtos da bombril tem o mesmo valor da Monalisa, ela é para dar suporte à sua ideia tá? Foi essa questão que caiu.

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.     Gonçalves Dias

Trouxe aquilo que a gente chama de paráfrase, ou seja, eu mantenho a ideia original ipsis literis, literalmente. Gonçalves Dias, A Canção do Exílio, estão ligados? É o mais parodiado e mais parafraseado de toda a história da literatura brasileira. Não quero mentir mas são mais de 36 paródias, isso que a gente sabe, imagina que a gente não sabe por aí. Então olha só, a paráfrase gente, a paráfrase portanto é a manutenção da intenção original. Olha só aqui: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá; As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá”, ou seja, qual é a ideia de Gonçalves Dias? Estava no exílio, morto de saudade do brasil, morrendo de saudade, foi pra lá porque quis, mas estava morrendo de saudade. E aí, tudo aqui era melhor do que lá. Trocentas criaturas já falaram sobre isso, me lembro bem de duas, tá? Uma delas, Drumond, que mantém, está fora do brasil e mantém a ideia da saudade e porque aqui é melhor do que a terra estrangeira; e Chico Buarque, mais modernamente com uma canção chamada Sabiá que ele fala: “vou voltar, sei que ainda vou voltar, para o meu lugar, é lá que um dia ainda hei de ouvir cantar uma sabiá”, ou seja, louco de saudade, aqui é melhor do que lá.

Mas já aqui, Jô Soares fez uma paródia, quebrou a intenção original de Gonçalves Dias, ou seja, nada de saudade. Isso aqui gente tem a ver com o governo Collor, tá? Aí eu não quis, porque tem outras mais atuais, mas aí eu não quis mexer em vespeiro (pra quem não lembra, nem vivia

Minha Dinda tem cascatasOnde canta o curióNão permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Minha Dinda tem coqueirosDa Ilha de MarajóAs aves, aqui, gorjeiamNão fazem cocoricó

Jô Soares

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nessa época, na época do governo Collor ele tinha uma casa fantástica, que chamava casa da Dinda, que dizem que tinha até torneiras de ouro). “Minha Dinda tem cascatas onde canta o curió, não permita deus que eu tenha de voltar para Maceió. Minha Dinda tem coqueiros da ilha de marajó, as aves aqui gorjeiam não fazem cocoricó”, ou seja, ele quebrou toda a intenção original, não tem nada de exílio aí, muito pelo contrário, na casa da Dinda é mega mil vezes melhor.

• Paródia: subversão ao texto fonte, recriando-o de maneira satírica ou crítica.

• Citação: um texto reproduz outro texto ou parte dele. Para sinalizar que houve a reprodução de outro texto, são utilizados alguns marcadores, como as aspas.

Então, quem é uma paródia subversão do texto fonte. Eles perguntam se é uma paródia, se é uma paráfrase, inferência.

A citação é um texto que reproduz integralmente um trecho de outro, geralmente pra dizer que é uma reprodução, à aspas, isolando; é o que a gente faz normalmente.

Então olha só aqui a gente tem uma situação, nessa propaganda: “Do pó vieste e ao pó voltarás”. É bíblico. Viram que colocou entre aspas é uma citação.

• Paráfrase: reprodução das ideias de um texto, utilizando-se, contudo, outras palavras, nova organização.

Ex.: resumos, atas e relatórios.

E a paráfrase é reprodução das idéias de um texto, por exemplo, quando a gente faz um resumo, é uma paráfrase. Não subverto nada, muito pelo contrário, você é bastante fiel.

Agora uma charge, a questão 11 tá, dificilmente caem figuras nas provas, até porque encarece, mas há.

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EXEMPLIFICANDOCharge para a questão 11.

11. A charge anterior demonstra uma forma de intertextualidade conhecida como paródia, na qual uma concepção textual

a) propõe a recriação de outra de modo a inserir fielmente traços que exponham a mesma temática por meio de recortes temáticos.

b) apresenta uma recriação próxima formalmente da original, mas diferenciada quanto ao tema a fim de promover humor ou crítica.

c) demonstra uma cópia do tema original, de modo que a forma seja completamente reestruturada em seu porte.

d) copia toda a ideia original de modo a promover críticas sociais, a partir de uma mera mudança na concepção artística.

e) utiliza os mesmos traços de construção estrutural de uma obra preexistente com o único intuito de constituir homenagem crítica.

Então olha só, O Pensador, e aqui olha só o clicador. Vocês acham que é só um deboche ou uma crítica? Também há uma crítica.

O que essa a charge dois propõem a respeito da um?

‘Propõe uma recriação de outra de modo a inserir fielmente os traços que espanhol a mesma temática por meio de recortes temáticos’? Qual é a palavra e nos tira dessa letra a? Fielmente. Não é fiel, ele tem o controle na mão.

Vamos para a letra b: ‘apresenta uma recriação próxima formalmente (a forma) da original, mas diferenciada quanto ao tema a fim de promover o humor ou crítica.’ Pode ser essa? E é essa.

Letra c: ‘demonstra uma cópia do tema original’, não é uma cópia ele insere um elemento novo.

Letra d: ‘Copia toda a ideia…’, olha o toda aí, novamente. É de suspeitar.

Letra e: ‘Utilizam os mesmos traços…’, de novo. Viram que essa essa questão se torna mais fácil pela quantidade de palavras categóricas.

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Extratextualidade

A questão formulada por meio do texto não se restringe ao universo textual, exigindo do aluno conhecimento mais amplo.

Ocorre muitas vezes, no entanto, que nos é proposta uma questão que também trabalha com inferência, cujo nome é extra textualidade. Trata-se de inferir. Ocorre que o texto não está na nossa prova. O texto está fora da prova. Como eu vou saber isso? Vai te lembrar. Hoje mesmo aplicava uma prova pela manhã e eu botei o Louro José, acho que o trouxe para nós aqui, não trouxe. Botei o Louro José. A Globo sofreu um processo, que não vou entrar muito em detalhes, mas a Globo sofreu um processo e aí aparecia o Louro José e falava: ‘e agora José?’ mas tinha ver a questão do mensalão, e aí só tinha o louro e a frase ‘e agora José?’ remetendo a um outro José, um político. Dizia que esse texto fazia referência a um poema de Drummond (sim ou não? Sim) e os alunos diziam assim: “ah, professora, falta o texto” e eu falei “não falta nada”. “Falta, tem que anular”, “não, falta ler com atenção” porque é uma questão de sua textualidade. A gente tinha te lembrar do ‘e agora José?’ do Carlos Drummond de Andrade. Como é que eu vou saber isso? A informação de mundo. Essa é a questão mais difícil que pode ocorrer.

Aí vamos ver essa aqui:

O Estado de São Paulo

Oh, “só os cágados tem noção exata de como é importante acentuar as palavras corretamente”, ou seja, por que vocês riram? Porque vocês fizeram extratextualidade. Não está escrito aqui, mas o que vocês fizeram? Vocês suprimiram o assento de cágados e daí humor. Aí vamos ver:

12. Considere as afirmações acerca do cartum.

I – A fim de compreender o humor da tira, o leitor deve dominar a norma culta formal da língua portuguesa.

II – O efeito de humor é provocado pelo uso do recurso retórico denominado prosopopeia.

III – É possível inferir, por meio da leitura, séria crítica ao desconhecimento – comum entre os brasileiros – dos fatos da língua portuguesa.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.b) Apenas II.

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c) Apenas III.d) Apenas I e III.e) I, II e III.

“A fim de compreender o amor da tira, o leitor deve dominar a norma culta formal da língua portuguesa” Sim ou não? Culta formal é a língua padrão, é o que a gente aprende escola. Pra rir a gente tem que dominar a norma culta? Sim, porque senão você tira o acento e diz ‘ah, não, todas as proparoxítonas são acentuadas, se eu trar o acento fica cagados’, então não era isso que eu queria. Tem que dominar a norma culta e saber que tem cágados e cagados.

Bom, “o efeito de humor é provocado pelo uso do recurso retórico chamado prosopopeia”. O que é uma prosopopeia? Anota aí: personificação. Quando alguns riram vocês riram porque são cágados falando ou riram por causa da questão da acentuação? Da acentuação. Mesmo se eu não tivesse cágados ali, tivesse cavalos, enfim. ‘Ah mas aqui tem uma prosopopeia, uma personificação. O que significa personificar: atribuir atitudes e qualidades humanas a seres inanimados. Uma cadeira, por exemplo, tá? Tem um poema do Quintana que eu gosto muito. Poema não, Quintanares que são as frasesinhas dele e ele fala assim: “A cadeira gemeu ao peso da velha senhora.” Cadeiras não gemem, isto é uma prosopopeia, tá? Isso é uma personificação.

“É possível inferir por meio da leitura séria crítica ao desconhecimento comum entre os brasileiros dos fatos da língua portuguesa”. Para tudo! Existe alguma palavra de cunho categórico nesta afirmação? Possível é aberta, agora quero uma fechada. Comum é fechada e séria é enfática, então há duas fechadas para uma aberta, já vou desconfiar. Podemos inferir uma séria crítica ao desconhecimento dos fatos da língua portuguesa, a partir desta charge aqui? Sim ou não? Não dá pra inferir isso. Eu vejo que há um, olha, é pra fazer humor e não para fazer uma crítica. Aí pra terminar, terminar mesmo, a resposta é América, tá aqui o gabarito.

E para terminar anota aí, se quiser: Recursos que podem provocar humor (muito comum essa pergunta, tá?). Qual o recurso que provocou humor da tira? O diabo é quando a gente não acha graça, um negócio mega sem graça aí pergunta o que provoca o humor. Nada. Não tem essa resposta. Então de novo gente, caminhos para chegar mais fácil até lá, anota aí que pode provocar humor: Ambiguidade. Lembra de piada tá, ambiguidade pode provocar humor. Exagero. Ironia. E por fim, quebra de expectativa. A coisa vai por um lado, desemboca no outro, bom é aí que a gente ri, tá?

Bom, meus lindos, obrigada pela atenção, boa noite pra vocês. Esqueci de dizer sejam muito bem vindos ao curso. Sexta-feira a gente se encontra novamente e a gente dá continuidade ao trabalho com um pouquinho mais de gramática, tá?

Beijo.

Gabarito: 1. A 2. Errado 3. C (a=redução / b=extrapolação / d=extrapolação / e=extrapolação) 4. Certo 5. A 6. Errado 7. Errado 8. Errado 9. D 10. D 11. B 12. A