portugal na hora da verdade _ secções do livro sobre a educaÇÂo (1)
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O DFICE EDUCATIVO
Os problemas de competitividade da economia nacional so agravados por um grave dfice
educativo, ou do capital humano, como se diz em jargo econmico. Porqu? Porque, na sua forma
actual, o nosso sistema educativo condena cerca de 40% dos alunos das novas geraes a uma
educao claramente insuficiente, porque a qualidade da nossa educao , em mdia, manifestamente
inferior registada em outros pases da OCDE, e porque ainda continuamos a patentear atrasos
estruturais significativos em relao aos restantes pases europeus. Ao deixar ficar para trs dezenas de
milhares de alunos todos os anos, ao nivelar por baixo o grau de exigncia escolar, ao no promover a
excelncia e sentido de crtica dos(as) alunos(as), o nosso sistema educativo contribui para a
permanncia de uma produtividade ainda relativamente baixa, para o acentuar e o perpetuar das
desigualdades sociais, bem como para uma baixa competitividade das nossas exportaes. Com efeito,
h poucas dvidas que o nosso sistema educativo , cada vez mais, um verdadeiro factor de
descompetitividade da economia nacional. Este facto muito preocupante, pois vrios estudos
empricos tm demonstrado inequivocamente a importncia do capital humano no s para o
crescimento econmico, como tambm para a atraco do investimento estrangeiro, e at para o prprio
dinamismo do sector exportador. Por tudo isto, e para percebermos a dimenso do dfice do nosso
educativo, vale a pena olharmos para as caractersticas do nosso capital humano. isso que fazemos
em seguida. Comecemos com os dados sobre a escolaridade, para mais tarde debruarmo-nos sobre a
qualidade educativa.
O atraso da escolaridade nacional
Um dos nossos grandes defeitos, como pas e como povo, que damos pouco valor Educao.
Podemos fingir o contrrio, mas esta uma verdade nua e crua, que muito nos pode entristecer, mas
que no deixa de ser insofismvel. Como que se pode ter coragem para afirmar tal heresia? Porque
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assim nos dizem tanto os dados histricos, como as comparaes internacionais. Como veremos, no
mnimo todos estes dados deixam muito a desejar, constituindo uma verdadeira vergonha nacional, que
tambm a maior fonte das nossas elevadas desigualdades sociais. Vejamos ento os dados ao nosso
dispor para podermos perceber a dimenso do nosso atraso educativo e da nossa baixa predisposiopara investir na Educao.
Comecemos por dar uma vista de olhos pelas qualificaes das nossas comunidades emigrantes,
pois estas so um reflexo no s das nossas opes do passado, mas tambm do valor que a cultura
nacional atribui educao. Talvez no seja muito surpreendente afirmar que as qualificaes dos
nossos emigrantes em vrias partes do mundo so bastante sofrveis. Assim, um estudo sobre as
diversas comunidades tnicas em Toronto, Canad, revelou que, nos meados dos anos 1990, a
comunidade portuguesa tinha o menor grau de instruo dos emigrantes de todas as comunidades
residentes no territrio canadiano. Mais concretamente, em 1996, cerca de metade dos imigrantes
portugueses no tinha mais do que a instruo primria e cerca de 70% no tinha concludo o ensino
secundrio. Porm, o que poder ser mais surpreendente que estes dados incluem no s os
imigrantes portugueses, mas tambm as segundas e terceiras geraes de luso-descendentes. Ou seja,
por um motivo qualquer, o valor dado educao pelos nossos emigrantes no Canad , em mdia,
muito reduzido. O mesmo se passa em outras partes do mundo. Assim, no estado de Massachusetts, um
dos mais afluentes dos Estados Unidos e destino de uma aprecivel comunidade portuguesa, mais de
45% dos emigrantes nacionais nunca tinham frequentado o ensino secundrio, somente um tero dos
portugueses emigrados tinham completado o ensino liceal, e apenas 6% tinham acabado um curso
universitrio, percentagens muito abaixo da mdia desse estado americano. Igualmente, no
Luxemburgo, os portugueses so das comunidades de imigrantes com menor grau de educao. O
mesmo se passa na Frana e na Blgica, e o mesmo acontecer em outros pases. Sinceramente, no sei
como explicar adequadamente porque que ns damos um valor to reduzido Educao.
Provavelmente, uma explicao abrangente sobre este fenmeno incluir factores econmicos, sociais e
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Assim, em meados desses sculo Portugal j estava significativamente atrasado na escolarizao das
suas populaes. Para percebermos porqu, atentemos ao Grfico 4.12, que apresenta as taxas de
escolarizao em Portugal e na Europa entre 1870 e 1940. Para interpretarmos estes dados mais
facilmente, dividiu-se a Europa em Europa Avanada, Europa do Sul (excluindo Portugal) e Europa doLeste. Mais uma vez, o grfico bastante elucidativo do atraso que registmos, desde 1870 at 1940,
em termos escolarizao. Assim, em 1870, enquanto na Europa mais avanada cerca de 60% da
populao estava escolarizada, entre ns registava-se uma taxa de escolarizao de apenas 15%, abaixo
do resto da Europa do Sul (que tinha taxas mdias a rondar os 30%), e a prpria Espanha (com taxas
acima dos 40%). Em 1910, na vspera da Primeira Guerra Mundial, e no incio da I Repblica,
Portugal apresentava uma taxa de escolarizao a rondar os 20% da populao, substancialmente
inferior Espanha (35%), Europa de Leste e Europa do Sul (40%).
Quadro 4.3_ Taxas de alfabetizao (% da populao total), 1500-1800
Literacia em
1500
Literacia
em 1800
Literacia
em 1500
Literacia
Em 1800
ustria 6 21 Europa de Leste 1 4
Blgica 10 49 Rssia 1 4Frana 7 37 Estados Unidos - 50
Alemanha 6 35 Inglaterra 10 51.5
Itlia 12 22 China 5-10 16-22
Holanda 10 68 ndia 2 3
Sucia 10 85 Japo 5-10 25-30
Portugal 1 10 Outra sia 3 3
Espanha 1 20 frica 0-1 2
Fontes: Europa: Cipolla (1969), Cressy (1980), e Stone (1954), China Rawski (1979), Japan: Dore (1965),
EUA: extrapoladas de Lockridge (1965), India: Parulekar (1957), Africa: extrapoladas de Maddison (2001).
Na I Repblica, apesar de os ideais republicanos advogarem a escolarizao universal da
populao, a realidade foi bastante distinta. Com efeito, durante quase toda a I Repblica, o
investimento no sector educativo sofreu as consequncias da nossa participao na Primeira Guerra
Mundial e da grave crise das contas pblicas (que se vivia j desde o perodo monrquico mas que se
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deteriorou nesses anos), de modo que a taxa de escolarizao nacional chegou a baixar entre 1910 e
1920. Nos ltimos anos do regime republicano, o fim da guerra e a maior consolidao das contas
pblicas permitiram aumentar o esforo de alfabetizao das populaes, uma tendncia que foi
lentamente prosseguida pela ditadura nos anos seguintes. E foi assim que, em 1940, a taxa deescolarizao ainda s rondava os 28,6%.
Alguns dos atrasos educativos portugueses comearam a ser atacados durante a ditadura
salazarista. Deste modo, no final dos anos 1960, Portugal alcanou finalmente a universalidade do
ensino primrio, um progresso que chegou dcadas atrasado em relao aos pases europeus mais
avanados. Todavia, e apesar de a literacia bsica para todas as crianas ter sido uma conquista (bem
modesta) educativa do regime, o pas ficou ainda mais atrasado em relao Europa tanto no ensino
secundrio como universitrio, que, at finais da dcada de 1960, continuaram a ser dirigidos para as
classes mais abastadas. A ditadura salazarista mostrou sempre enormes reservas quanto ao sector
educativo, pois, como era evidente, um povo esclarecido e educado seria meio caminho andado para o
fim do prprio Estado Novo. No final do regime, um tero dos portugueses permaneciam analfabetos,
somente 3% possuam um ensino secundrio completo, e 0,6% o ensino universitrio. Indicadores de
terceiro mundo, portanto.
Grfico 4.12 _ Taxas de Escolarizao (% da populao total), 1870-1940
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Historicamente, as nossas taxas de escolarizao eram muito baixas em relao aos restantes pases europeus,incluindo a Espanha e a Europa de Leste. O progresso de escolarizao das populaes foi muito lento: entre
1880 e 1940, a taxa de escolarizao aumentou de 21,8% em 1880 para somente 28,6% em 1940.
Fonte: Calculado de Benavot e Riddle (1988)
No h dvida que os grandes avanos em termos de escolaridade mdia aconteceram aps a
implementao da era democrtica. Um pouco como os republicanos no incio do sculo, os governos
democrticos encararam, e bem, o atraso educativo como um dos factores estruturais do nosso
subdesenvolvimento, bem como uma das principais fontes das injustias sociais. Com atrasos desta
dimenso, os governos democrticos investiram recursos sem precedentes no sector educativo, de
modo que os gastos com a Educao cresceram de 1.8% do PIB em 1974, para 3.7% do PIB em 1980, e
cerca de 7% em 1999. A considervel melhoria dos indicadores da Educao durante o perodo
democrtico pode ser observada no grfico 4.13, que apresenta os anos de escolaridade mdia em
Portugal desde 1950. fcil de constatar a subida acentuada dos anos de escolaridade mdia, uma
subida que foi curiosamente interrompida no final dos anos 1990, quando estvamos em plena febre da
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campanha da Paixo pela Educao dos governos Guterres. Afinal, pelo que parece, no estvamos
assim to apaixonados, ou, pelo menos, a paixo foi demasiado efmera.
Grfico 4.13 _ Anos de escolaridade mdia em Portugal, 1950-2010
A escolaridade mdia em Portugal tem vindo a aumentar nas ltimas dcadas. A grande subida da escolaridademdia ocorreu entre 1975 e o ano 2000.
Fonte: Barro e Lee dataset (2010)
Ainda assim, o elevado investimento no sistema educativo dos governos democrticos teve
resultados inegveis, pois 36 anos aps o 25 de Abril de 1974, a taxa de analfabetismo baixou para 8%,
os anos de escolaridade mdia global aumentaram de 4,7 anos em 1974 para cerca de 8,3 anos em2010, e a percentagem de portugueses que frequentaram os ensinos secundrio e universitrio mais do
que triplicaram desde ento. Vrios estudos empricos confirmam a importncia que este aumento do
capital humano teve para o crescimento econmico nacional. Mais concretamente, segundo algumas
estimativas, entre 1975 e o ano 2000, a melhoria do capital humano (i.e., o investimento em Educao)
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foi responsvel por cerca de 30% do crescimento econmico nacional.
Contudo, e apesar dos progressos registados nesta rea em relao ao perodo do Estado Novo,
ser que todo este esforo foi suficiente para eliminar o fosso educativo entre ns e os pases mais
avanados da Europa? Surpreendentemente, ou talvez no, a resposta negativa. De facto, e seconfrontarmos a evoluo da escolaridade mdia em Portugal e em outros pases europeus, facilmente
verificamos que os progressos do nosso atraso educativo so ainda bastante modestos. Neste sentido, o
prximo grfico apresenta os anos de escolaridade mdia em vrios pases da Europa Ocidental e a
Europa de Leste em 2010. O grfico bastante revelador. Apesar de todo o investimento das ltimas
dcadas, ns ainda somos o pas com a pior escolaridade mdia em toda Unio Europeia.
Grfico 4.14 _ Anos de escolaridade mdia na Unio Europeia em 2010
Em 2010, os anos de escolaridade mdia portugueses eram os mais baixos da Unio Europeia.
Fonte: Calculado de Barro e Lee (2010)
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Se s atentarmos para a escolaridade do ensino secundrio, verificamos que Portugal est
ligeiramente melhor em termos relativos, mas no muito, pois pior do que ns, s mesmo a Polnia, a
Bulgria e a Eslovnia. Em contrapartida, os gregos, os blgaros ou os italianos tm, em mdia, bem
mais anos de escolaridade do ensino secundrio do que ns. No ensino universitrio, a histria repete-se. Portugal o pas da Unio Europeia com os piores indicadores de escolaridade mdia no ensino
universitrio. Lamentvel, no mnimo.
Por sua vez, se observarmos as diferenas relativas entre Portugal e a UE, as notcias so
igualmente pouco animadoras. Mais concretamente, se compararmos Portugal com alguns dos pases
mais avanados da Europa, facilmente perceberemos que o nosso atraso educativo tem progredido bem
menos do que s vezes somos levados a crer. Como os nossos governos gostam de desculpar os nossos
maus indicadores educativos com o baixo investimento no passado, o prximo grfico compara os anos
de escolaridade mdia em Portugal com uma amostra de 5 pases europeus mais ricos (a Alemanha, a
Frana, a Holanda, a Itlia e o Reino Unido). Para simplificar, chamemos estes pases Europa
Avanada e comparemos a evoluo da escolaridade mdia em Portugal e a mdia destes pases. Para
facilitar as comparaes, o grfico 4.15 apresenta a escolaridade mdia portuguesa em relao Europa
Avanada. Assim, um valor igual a 100 corresponde mdia de escolaridade nestes pases, enquanto
valores inferiores indicam que a nossa escolaridade mdia menor do que a mdia da Europa
Avanada. Por exemplo, um valor de 50 significa que os anos de escolaridade mdios em Portugal so
50% dos anos de escolaridade mdia na Europa Avanada.
Estamos assim em condies para comparar a distncia relativa entre a mdia de anos de
escolaridade na Europa Avanada com a mdia de anos de escolaridade em Portugal. Comecemos com
a escolaridade mdia global, isto , para todos os nveis de educao. Como podemos ver no grfico
4.15, a convergncia de Portugal com a Europa Avanada em termos de anos de escolaridade mdios
teve lugar principalmente nos primeiros anos da democracia, logo aps o impulso inicial levado a cabo
pelos governos democrticos. Em contrapartida, nos ltimos anos, a convergncia da escolaridade
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mdia nacional com a escolaridade mdia da Europa Avanada tem-se mantido relativamente
constante. O mesmo se passa em relao escolaridade do ensino secundrio, e no ensino universitrio
os nossos atrasos at se acentuaram.
Grfico 4.15 _ Anos mdios de escolaridade em Portugal relativamente Europa Avanada, 1950-
2010 (Europa Avanada=100)
Fonte: Calculado de Barro e Lee (2010), Santos Pereira e Lains (2010)
Assim, parece que ns no fomos os nicos europeus a investir no sector educativo e a
apaixonarmo-nos pela Educao. Isto , se atentarmos somente para os anos de escolaridade mdia, o
investimento sem precedentes no sistema educativo dos ltimos anos simplesmente no surtiu efeito
em termos de convergncia relativa dos nossos indicadores educativos. Ainda assim, e como os
indicadores baseados nos anos de escolaridade pouco dizem sobre a qualidade do sistema educativo,
temos de analisar outros dados para termos uma viso mais abrangente do sector. perfeitamente
possvel que a quantidade do nosso capital humano ainda no seja aprecivel, mas ser que a qualidade
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da nossa educao se equipara dos pases mais avanados? isso que veremos em seguida.
A fraca qualidade da Educao nacional
H boas notcias e ms notcias em relao qualidade da educao (e do capital humano)
nacional. As boas notcias que h indcios de que a qualidade da educao dos nossos alunos tem
melhorado na ltima dcada. Assim, se compararmos os resultados do inqurito de PISA (que o
maior inqurito comparativo dos sistemas educativos que existe no mundo) de 2000 com os de 2009
(os mais recentes), verificamos que os alunos portugueses melhoraram o seu desempenho educativo
quer em termos absolutos (isto , as mdias dos testes subiram), quer em termos relativos (isto , nos
rankings de pases das mdias dos testes). Se a tendncia continuar, podemos ficar um pouco mais
optimistas em relao melhoria da qualidade da nossa educao, bem como em relao eficincia
dos recursos alocados ao sector. Apesar de nos devermos congratular pelo progresso alcanado, no
vale a pena cairmos em euforias desproporcionadas. Infelizmente, a verdade que que ainda h muito
para andar para nos podermos dar por satisfeitos em relao aos indicadores de qualidade educativa
sugeridos pelo PISA. Neste sentido, e apesar da evoluo positiva, a verdade que ainda estamos
abaixo da mdia da OCDE em todos os indicadores de desempenho educativo do PISA, embora j
estejamos perto dessa mesma mdia nalgumas reas. Isto no significa que os resultados do PISA 2009
no sejam de saudar. Todavia, de nada nos servem estes resultados se no prosseguirmos o esforo de
melhoria dos indicadores da qualidade educativa nos prximos anos.
Infelizmente, as boas notcias acabam aqui. Apesar do progresso registado, a verdade que os
nossos atrasos e as nossas insuficincias so ainda muito evidentes e significativas, e revelam umaqualidade educativa (e do capital humano) mdia muito sofrvel, sendo assim um claro factor de
descompetitividade econmica. Um claro sintoma deste factor so as geraes perdidas pelo nosso
sistema educativo.
Geraes e geraes perdidas
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No s a quantidade e a qualidade do nosso sistema educativo que deixa bastante a desejar. O
problema est tambm nas oportunidades (ou a falta delas) que esse mesmo sistema proporciona (ou
no) s novas geraes. E aqui as notcias so manifestamente ms, pssimas mesmo. Todos os anos,
mais de um tero dos nossos jovens entre os 18 e os 24 anos abandona precocemente o sistemaeducativo (Grfico 4.16). A nossa taxa de abandono escolar de tal forma medocre e alarmante que,
em toda a OCDE, Portugal o terceiro pas com a incidncia mais elevada de abandono escolar. Pior
do que ns s o Mxico e a Turquia, pases muitssimo mais pobres do que ns. Na Unio Europeia no
h sequer comparao. S Malta pior do que ns. Enquanto a nossa taxa de abandono escolar precoce
se situa perto dos 35%, na Espanha de 30%, e no pas que vem a seguir (a Itlia) tem uma taxa de
abandono escolar cerca de 20 pontos percentuais mais baixa do que a nossa. Ou seja, os nossos
indicadores so pssimos.
Grfico 4.16 _ Abandono escolar: percentagem de indivduos com idades entre 18-24 anos que
abandonaram o ensino secundrio sem o completarem, 2008
Portugal tem uma das piores taxas de abandono escolar em toda a Unio Europeia. Pior que ns s Malta.Mais de um tero dos nossos jovens entre os 18 e os 24 anos abandonam precocemente os seus estudos.
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Fonte: Eurostat
Uma das consequncias do abandono escolar precoce uma baixssima percentagem da
populao que tem pelo menos o ensino secundrio completo. exactamente isso que mostra o Grfico
4.17, onde podemos ver que Portugal tem a percentagem mais baixa da populao com idades entre os
25 e os 65 anos com o ensino secundrio completo de toda a Unio Europeia, com a excepo de
Malta. igualmente visvel que h uma enorme distncia entre ns e os restantes pases da Unio
Europeia. Em todos os pases da Unio Europeia mais de 70% da populao entre os 25 e os 65 anos
completou o ensino secundrio. As nicas excepes somos ns (como 28,2%), Malta (27,5%), a
Espanha (51%) e a Itlia (53,3%), que, ainda assim, tm populaes com ndices educacionais muito
superiores aos nossos.
Grfico 4.17_ Percentagem da populao com idades entre os 25 e os 65 anos que completou o
ensino secundrio, 2008
Em Portugal, menos de 30% das pessoas com idades entre os 25-65 anos completaram o ensino secundrio. Emquase todos os pases da UE mais de 70% da populao em idade laboral completou o ensino secundrio.
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Fonte: Eurostat
Como solucionar estes problemas? Bem, em primeiro lugar temos de perceber de uma vez por
todas de que a estratgia seguida nos ltimos anos no tem dado resultados. Bem pelo contrrio. O
nosso sistema educativo demasiado ineficiente, demasiado caro e pouco competitivo. Em segundo
lugar, vital levar a cabo uma verdadeira reforma sobre a forma como encaramos o ensino dos nossos
filhos. Como? Encarando a educao como um dos melhores investimentos que podemos fazer para o
futuro dos nossos filhos e percebendo que apostar na educao uma condio essencial para uma
melhoria da competitividade da economia nacional. O abandono escolar epidmico e tem
implicaes verdadeiramente dramticas, quer em relao qualidade mdia do nosso capital humano,
quer em termos das desigualdades sociais. E se somos actualmente um dos pases mais desiguais da
OCDE, um dos factores mais importantes para explicar as nossas invulgares desigualdades
exactamente a nossa inaceitvel e terceiro-mundista taxa de abandono escolar. Se h indicador onde
nos devemos envergonhar este. O que no h dvida que as nossas insuficincias educativas
penalizam em muito a produtividade dos nossos factores produtivos e, por consequncia, a prpria
competitividade da nossa economia.
E o que que podemos fazer para alterar o actual estado de coisas? Dar mais responsabilidade
aos pais e s escolas no ensino dos alunos, descentralizar e, simultaneamente, acabar com a cultura de
facilitismo reinante dos ltimos anos. Voltaremos a estes assuntos no captulo 7.
CAPTULO 7
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Mais e melhor educao
Como todos sabemos, a Educao indispensvel para melhorar o capital humano de um pas,
isto , o nvel de qualificaes mdias dos trabalhadores. Como a qualidade do capital humano est
intimamente relacionada com a produtividade, um sistema educativo sofrvel ou pouco adaptado s
exigncias do mundo actual tem um efeito muito nefasto sobre a economia. A qualidade do capital
humano est igualmente intimamente associada ao grau de empreendedorismo e de inovao de uma
economia, sendo assim fundamental para o dinamismo econmico. Por todos estes motivos, uma
poltica de competitividade e de melhoria da produtividade tem de passar necessariamente pelo sector
educativo.
Ora, se h sector onde j se fizeram dezenas de reformas estruturais o sector da Educao.
Com efeito, as ditas reformas sucedem-se quase to rapidamente quanto os(as) ministros(as) do
pelouro. Ao longo das ltimas dcadas, j lutmos contra os alunos (por causa das propinas), j lutmos
contra os professores (por causa das avaliaes e dos estatutos da carreira docente), e at j lutmos
contra os prprios pais (por causa do encerramento das escolas no interior). J nos apaixonmos pela
Educao, j demos prioridade Educao, e j elegemos a Educao como o principal desgnio
nacional. Porm, assim como vimos no captulo 4, apesar das melhorias significativas registadas na era
democrtica, o nosso atraso estrutural no sector educativo continua e os indicadores de desempenho
nacionais no convergiram decisivamente em relao mdia europeia ou da OCDE.
Como evidente, esta estratgia para o sector no est a resultar ou, pelo menos, est a sair-nos
demasiado cara. Por isso, vale a pena olharmos para os pases mais avanados e ver o que que
podamos aprender para melhorarmos o nosso sistema educativo. Se o fizermos e se formos isentos,
facilmente perceberemos que uma verdadeira reforma educativa deve baseada em trs princpios
basilares: 1) uma luta intransigente por um maior grau de exigncia, 2) um combate sem trguas ao
flagelo do abandono escolar, e 3) uma descentralizao da Educao, retirando poderes ao Ministrio e
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atribuindo-os s escolas e aos professores. Vejamos ento porqu.
fundamental de haver um maior grau de exigncia nas nossas escolas, pois nos ltimos anos
tem havido a tendncia de nivelar por baixo o nvel educacional para podermos melhorar
artificialmente as nossas tristes estatsticas da educao. exactamente isso que nos dizem vriosespecialistas da matria, como Nuno Crato, Paulo Guinote, Ramiro Marques, Santilhana Castilho ou
at David Justino. Esta cultura de facilitismo e de nivelamento por baixo dos conhecimentos dos alunos
altamente reprovvel e decerto que acabar por ter reflexos muito grandes na qualidade do nosso
capital humano. Esta cultura do facilitismo, de melhorar estatsticas artificialmente, de agradar
excessivamente aos alunos sem que haja uma preocupao pelo saber, tem sido denunciada por vrios
autores e professores, que classificam este eduqus como um enorme atentado s qualificaes das
geraes futuras. Como Guilherme Valente, um dos grandes crticos do facilitismo reinante, afirmou
recentemente:
Ensina-se, supostamente, a aprender a aprender. Mas no se ensinam os conhecimentos que os
alunos precisam de aprender. Ensina-se, supostamente, a aprender a aprender matemtica. Mas o
que preciso mesmo aprender matemtica. O aprender a aprender tornou-se moda por soar bem
e prometer o milagre de se poder aprender tudo sem ter de se aprender nada. O eduqus substitui
o que importa ensinar pelas tcnicas e mtodos que supostamente permitiriam aprender tudo sem
esforo.
Por outras palavras, no por facilitarmos e diminuirmos o grau de exigncia do nossos ensino
ou por melhorarmos de forma artificial as nossas estatsticas educativas que iremos ultrapassar os
enormes atrasos histricos que temos nesta rea. Bem pelo contrario. O facilitismo meio caminho
andado para garantirmos que os nossos atrasos educativos se perpetuem e se reproduzam. Por isso,
fundamental acabar com este estado de coisas o mais cedo possvel, antes que os danos causados sejam
irreversveis.
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Em relao ao abandono escolar, e como j vimos no captulo 4, Portugal o pas da Unio
Europeia que tem a maior incidncia de abandono escolar, com a excepo de Malta. Na OCDE, s o
Mxico e a Turquia tm indicadores de abandono piores do que os nossos. O abandono escolar no s
afecta irremediavelmente a qualidade mdia do nosso capital humano (e assim tem um impactonegativo na produtividade e no grau de empreendedorismo nacionais), como provavelmente a maior
fonte das desigualdades sociais do nosso pas. Como sabido, Portugal um dos pases da OCDE onde
as desigualdades sociais mais se fazem sentir, assim podemos verificar no Grfico 9.1, que apresenta o
indicador de desigualdade mais utilizado (os coeficientes de Gini) para os pases da OCDE. visvel
que os nicos pases da OCDE que apresentam ndices de desigualdade maiores do que os nossos so o
Mxico e a Turquia. Todos os restantes pases tm nveis de desigualdade social bastante inferiores ao
nosso.
Grfico 7.1 _ Desigualdade de rendimentos na OCDE, Coeficientes de Gini, 2006
Portugal dos pases mais desiguais da OCDE. Pior que ns s a Turquia e o Mxico.
Fonte: OCDE
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Ora, o combate ao abandono escolar absolutamente crucial para o combate s desigualdades
sociais, pois enquanto tivermos 30% a 40% dos nossos jovens a desistirem dos seus estudos, no h
polticas redistributivas que consigam inverter as nossas elevadas desigualdades sociais. Podemosredistribuir os rendimentos quanto quisermos, podemos at aumentar as prestaes sociais para nveis
sem precedentes, mas as desigualdades sociais no iro diminuir de forma decisiva enquanto as
desigualdades educativas permanecerem to significativas. A prova disso que, nos 15 ltimos anos,
houve um aumento considervel das prestaes sociais (como o Rendimento Social de Insero ou
Rendimento Mnimo), mas, mesmo assim, as desigualdades sociais aumentaram em vez de diminurem.
Com efeito, e de acordo com os dados da OCDE, enquanto em 1995, o coeficiente de Gini portugus
era igual a 0.36, em 2006, j tinha subido para 0.42, o nvel mais elevado dos pases mais avanados da
OCDE. Como j referi, o principal factor explicativo das desigualdades sociais em Portugal o nvel
educacional. As oportunidade ainda no so as mesmas para todos em Portugal. Enquanto no
travarmos o flagelo do abandono escolar no conseguiremos diminuir as nossas graves desigualdades
sociais. Mais do que esmolas do Estado, os jovens portugueses precisam de oportunidades.
Oportunidades para conclurem os seus estudos, oportunidades para poderem singrar na vida,
oportunidades para poderem ambicionar usufruir um nvel de vida elevado e condigno, oportunidades
para que no tenham que procurar uma vida melhor em outros pases. E o primeiro passo para
proporcionarmos estas mesmas oportunidades passa por melhorarmos o nosso sistema educativo e por
levarmos a cabo uma luta sem trguas contas o abandono escolar.
E assim chegmos ao terceiro e ltimo alicerce de uma nova poltica educativa: a
descentralizao do sector educativo. Independentemente da carga ideolgica e poltica das diversas
reformas estruturais, um factor que lhes comum que o Estado (atravs do Ministrio da
Educao) tenta sempre aumentar o seu controlo sobre o sistema. Fala-se muito em descentralizao
mas pouco se faz. O Ministrio da Educao escolhe currculos, organiza calendrios escolares, e at
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decide que escolas devem ser modernizadas. Contudo, o Ministrio da Educao nunca, ou quase
nunca, opta por dar mais poder aos professores. Na sua obsesso centralizadora, o Ministrio da
Educao construiu um imprio de burocracia e de controlo, cujos resultados no so propriamente
muito recomendveis, pelo menos quando nos comparamos aos pases mais avanados. Por isso, oMinistrio da Educao devia cometer a heresia suprema e descentralizar a Educao, dando mais
poder e liberdade s escolas, aos professores, aos alunos e aos pais. Ou seja, devia haver mais liberdade
e muito mais descentralizao na Educao, quer ao nvel curricular, quer em relao contratao dos
professores e gesto escolar. Neste sentido, vale a pena ouvir as sbias palavras de Ramiro Marques,
investigador em Cincias da Educao e editor de um dos blogues educativos mais influentes do pas,
que nos diz:
A opo pelo centralismo e uniformidade cria obstculos qualidade do ensino. Asfixia a
criatividade das escolas, conduz ao desperdcio de tempo na acomodao das constantes alteraes
legislativas ao servio do conceito de revoluo educativa permanente e dificulta a criao de
dispositivos organizacionais adaptados s necessidades locais.
Nem mais. Com efeito, o nosso Estado continua a tratar as nossas escolas e os nossos professores
como crianas. D-lhes uma mesada ou uma quantia para se governarem, mas depois diz-lhes o que
devem fazer, como se devem comportar, e impe-lhes sanes se no seguirem as suas directivas.
Como por demais evidente, esta estratgia no est a resultar. Apesar dos enormes progressos
registados na rea da Educao no perodo democrtico, a verdade que, como vimos, a nossa posio
relativa nos indicadores de Educao no est a melhorar significativamente no contexto europeu. Por
isso, s temos a ganhar se experimentarmos aquilo que de melhor j foi feito em outros pases. Ou seja,
e como defendi noutro contexto:
Por que no promover uma maior concorrncia entre as escolas? ... Por que no dar mais
autonomia s escolas nas escolhas dos currculos, dentro dos limites impostos pelo conhecimento
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mnimo necessrio aos exames nacionais? Por que no recompensar as escolas cujos professores se
distinguem? Por que no subsidiar mais o ensino privado? Por que no introduzir currculos
alternativos? Por que no atribuir mais recompensas financeiras s escolas que se destaquem em
prol da qualidade educativa e do combate ao abandono e ao insucesso escolares? Por que no dar
prmios aos professores e s escolas cujos alunos obtm boas notas nos exames nacionais? Por que
no dar mais recursos s escolas cujos alunos se evidenciam nesses exames? Todas estas medidas
deviam ser debatidas seriamente e at, porque no, experimentadas. Se aspiramos realmente a
instaurar uma cultura de excelncia na Educao, no podemos ter receio de procurar melhores
solues, melhores incentivos e melhores recompensas, tanto para os nossos alunos como para os
nossos professores.
O captulo 9 analisar ainda todo um conjunto de reformas para melhorarmos o ensino superior.
Entretanto, interessa referir que, para alm de uma reduo dos custos unitrios do trabalho e dos
nossos custos de contexto, importante que o prximo governo faa a promoo de uma cultura de
empreendedorismo e aposte em clusters de excelncia. As prximas seces debatem estes temas.
CAPTULO 9
11. UM ENSINO SUPERIOR REVOLUCIONADO
Um dos sectores da Educao que precisa de ser francamente remodelado o Ensino Superior.
As universidades so fundamentais no s porque transmitem e criam conhecimento, mas tambm
porque so importantssimas para a competitividade de um pas, contribuindo para a melhoria da
qualidade do capital humano. Neste sentido, vrios estudos tm demonstrado que o empreendedorismo
e a inovao esto intimamente relacionados com a instruo universitria de um pas. Por isso, investir
no ensino superior faz todo o sentido. No h dvidas que o sector melhorou muito em relao aos
tempos da ditadura, tanto com a democratizao do acesso do ensino superior s diferentes classes
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sociais e econmicas, como na formao de mais alunos. Ainda assim, h ainda todo um conjunto de
problemas estruturais que permanece e que impede um desenvolvimento mais rpido e mais
harmonioso do sector. A triste verdade que a grande maioria das instituies do ensino superior
nacional ainda deixa muito a desejar. No seu formato actual, as universidades portuguesas so, na suagrande maioria, um repositrio de comodismo, de inrcia, e de conformismo, em vez de serem fontes
de dinamismo e de crtica construtiva. Os que esto l dentro (os insiders) fazem tudo o que podem
para manterem os seus pequenos mundos pouco abertos concorrncia exterior, e fecham o mais que
podem as portas concorrncia exterior. Este , de facto, o retrato de grande parte do nosso ensino
universitrio. H honrosas excepes a esta tendncia, verdade. Temos at alguns departamentos e
instituies universitrias que mantm uma qualidade mdia de investigao de nvel internacional.
Porm, infelizmente, estes departamentos e instituies esto em franca minoria.
Ora, se queremos alterar este estado de coisas, um governo que esteja verdadeiramente
interessado em melhorar a qualidade das nossas universidades deve introduzir uma srie de medidas
que fomentem a meritocracia e aumentem a concorrncia entre as instituies do ensino superior,
principalmente no que diz respeito contratao dos docentes. Mais concretamente, um prximo
governo devia implementar as seguintes medidas para o ensino superior:
1) Reduzir o nmero de universidades e politcnicos pblicos
Portugal tem actualmente 15 universidades pblicas e 15 institutos politcnicos, bem como
dezenas de universidades privadas, institutos e escolas superiores privadas. Ser que precisamos de
tantas instituies pblicas do ensino superior? Por que razo existem 4 (sim, quatro!) universidades
pblicas em Lisboa? Isto sem contar com a Universidade Aberta, que tambm est sediada em Lisboa,
mas especializa-se no ensino distncia. Porqu a duplicao de esforos numa rea geogrfica to
limitada? No faz sentido nenhum. Esta situao , mas uma vez, um sintoma do excessivo despesismo
do Estado e da nossa tendncia para no controlarmos a despesa pblica. Por isso, parece-me por
demais evidente que seria proveitoso para todos se duas ou trs universidades pblicas e institutos
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politcnicos se fundissem para poder beneficiar de maiores economias de escala e de economias de
recursos. Outra possibilidade poderia passar por privatizar uma ou duas universidades pblicas,
permitindo a angariao de receitas que poderiam ser ento empregues no resto do ensino superior.
obvio que esse caminho seria bem mais drstico e certamente bem mais controverso. No entanto, seacharmos mesmo que no se justificam tantas universidades pblicas, por que no tentar?
2) Reduzir e consolidar o nmero de cursos superiores
Em Portugal, e apesar dos avanos das ltimas duas dcadas, podemos ter um nmero de
licenciados por habitante bastante modesto (para j no dizer sofrvel) em relao aos restantes pases
da OCDE e da Unio Europeia. Porm, ns devemos ser os recordistas mundiais do nmero de cursos
superiores por habitante e/ou por universidade. H, nada mais nada menos, do que cerca de 4000 cursos
nas universidades portuguesas. Sim, leu bem. Quatro mil. Em Portugal, os cursos superiores
proliferaram nos ltimos anos proporcionalmente fria de criar universidades, institutos politcnicos
e superiores, faculdades e departamentos. Porm, ao faz-lo, no s dilumos a qualidade do ensino,
como estamos a ser pouco eficientes na alocao dos recursos limitados que temos. Neste sentido, o
processo de acreditao de novos cursos superiores recentemente introduzido uma boa notcia, desde
que as coisas sejam feitas com iseno, com correco e integridade. Se, por outro lado, levarmos a
cabo este processo s para avalizar o que foi decidido ou para fingir que estamos a controlar a
qualidade dos novos cursos, bvio que a estratgia no nos levar a lado nenhum. Independentemente
do sucesso ou no deste processo de acreditao, uma reduo do nmero de cursos e de licenciaturas
uma boa ideia e devia ser concretizada.
3) Acabar com a miscigenao nas universidades portuguesas
Nas melhores universidades mundiais, no permitido aos alunos ficarem nas universidades onde
fizeram o doutoramento. A razo simples, se o permitirmos, estamos a abrir as portas para eventuais
compadrios e favorecimentos pessoais, diminuindo assim a qualidade mdia da investigao e do
ensino. Em claro contraste, em Portugal perfeitamente normal, e at habitual, os melhores alunos
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transitarem de estudantes de licenciatura ou de mestrado para assistentes universitrios, tornando-se em
seguida estudantes de doutoramento, at chegarem a professores auxiliares. Esta prtica pouco
salutar, exactamente por causa das razes que foram enunciadas em cima. Por isso, as nossas
universidades deviam acabar de uma vez por todas com este costume, no permitindo que os seusestudantes de mestrado e de doutoramento se possam tornar assistentes ou, mais tarde, professores
auxiliares. Alguns das nossas faculdades e centros de investigao mais expostos s prticas
internacionais j o fazem. preciso estender esta regra ao resto do mundo universitrio.
4) Acabar com os nmeros clausus
Contrariamente ao que s vezes pensamos, os nmeros clausus nas universidades portuguesas no
se restringem aos alunos. Tambm h nmeros clausus para os professores. Assim, todos os
departamentos tm um nmero fixo de lugares disponveis para professores catedrticos, associados ou
auxiliares. Este nmero fixo de lugares d azo a uma extrema rigidez na mobilidade dos professores.
Por exemplo, mesmo se uma professora auxiliar publicar vrios artigos em revistas de topo
internacional e for uma excelente docente, no pode ser promovida a professora associada, a no ser
que um dos professores associados do quadro se reforme ou tenha a infelicidade de falecer. Um
perfeito disparate, como bvio. A promoo devia ser baseada no mrito das publicaes e no estar
dependente da abertura de um lugar numa posio superior. assim em quase todos os pases
avanados, mas no em Portugal. Por isso, de todo o interesse acabar com esta situao, de forma a
fomentar uma maior mobilidade e uma maior produtividade dos nossos docentes universitrios.
5) Acabar com as provas de agregao
Em Portugal, para se passar a professor efectivo (isto , com agregao) preciso que os
docentes provem que tm competncia para terem um vnculo permanente s suas instituies de
ensino. Para tal, os professores tm de passar por provas de agregao, nas quais tm de ser avaliados
pela sua investigao perante um jri de outros docentes. No interessa que o(a) professor(a) em causa
tenha publicado nas melhores revistas da especialidade ou se a sua investigao seja reconhecida
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nacional e internacionalmente. Teoricamente, se no passar nessas provas de agregao, no pode ficar
a efectivo. Um disparate, como evidente. Diga-se que, mais uma vez, Portugal no caso nico, pois
existem outros pases europeus que possuem sistemas semelhantes. Ainda assim, e mesmo que, por
vezes, as provas de agregao sejam uma mera formalidade, a verdade que a sua existncia umresqucio arcaico e medieval do nosso ensino superior, dos tempos em que as universidades estavam
fechadas ao mundo que as rodeava, bem como ao exterior. Tempos em que para se ser professor
catedrtico interessava mais as ligaes polticas e o tempo de docncia (bem como, frequentemente, a
taxa de reprovao dos alunos) do que a publicao da investigao em revistas da especialidade
nacionais ou internacionais. Porm, este um resqucio que perfeitamente desnecessrio no mundo
actual, onde a qualidade da docncia se mede pela publicao em revistas da especialidade e pelas
avaliaes dos professores feitas pelos alunos. Por isso, acabar com as provas de agregao somente
uma prova de bom senso e de mnima razoabilidade.
6) Fomentar a concorrncia entre instituies universitrias
Em Portugal so raros os casos em que os professores transitam de universidades. quase uma
heresia quando tal acontece, e os docentes que o fazem so frequentemente mal vistos pelos seus pares.
Assim, o nosso sistema exactamente o oposto ao que se passa, por exemplo, nos Estados Unidos ou
na Inglaterra, que tm das universidades mais dinmicas e produtivas do mundo. Nestes pases, como
as universidades so classificadas e financiadas de acordo com a qualidade da investigao e do ensino
(avaliada pelos alunos), h um enorme incentivo para tentar atrair os melhores investigadores e
docentes. Por isso, as vrias universidades esto sempre a competir no mercado de trabalho dos
professores, o que contribui para a produtividade e para o prestgio da universidade em questo. Ns
devamos fazer o mesmo, pois a concorrncia e a mobilidade estimulam a produtividade e a qualidade
acadmicas.
7) Descentralizar mais o financiamento
As fontes de financiamento do ensino superior deviam ser mais descentralizadas. preciso
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permitir que as universidades possam tentar atrair financiamento do sector privado para construir
melhores infra-estruturas e at para a contratao de docentes. exactamente isso que se passa nas
melhores universidades pblicas do mundo. comum salas de aulas serem patrocinadas por mecenas,
novos edifcios serem financiados por empresas, e at mesmo a contratao de professores sersubvencionada por grupos econmicos ou por fundaes. E se assim, por que que ns no havamos
de fazer o mesmo? E, como bvio, uma das formas de descentralizar mais a gesto das universidades
passa por dar mais poder dos chefes de departamento e presidentes dos conselhos directivos,
principalmente no que diz respeito negociao salarial.
8) Flexibilizar os salrios dos docentes
Nas melhores universidades estrangeiras os presidentes do conselho de directivo e os directores
dos departamentos tm poder quase absoluto na gesto dos fundos que lhes so alocados. No interessa
se os dinheiros so pblicos ou privados. O presidente do conselho directivo e o corpo docente da
respectiva faculdade tm uma independncia quase total sobre como aplicar estes mesmos fundos. Esta
deciso especialmente importante no que diz respeito contratao, promoo e reteno de
docentes, que tm salrios diferenciados de acordo com a sua experincia, rea de investigao, e,
inclusivamente, oferta de empregos de outras universidades. S assim que possvel competir com
outras universidades nacionais e internacionais pelos melhores docentes e investigadores. Alis, na
Amrica do Norte, a diferenciao salarial feita no s individualmente, mas tambm por rea
cientfica. Neste caso, a procura estudantil de determina o salrio mdio dos professores de cada rea.
Mais uma vez, a flexibilizao e a diferenciao salarial constitui um incentivo importante para a
qualidade docente.
9) Mais poder aos alunos
No ensino superior, as avaliaes dos professores no devem ser feitas por comisses mais ou
menos ad hoc ou at por outros professores, mas sim pelos clientes dos mesmos professores, isto ,
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pelos alunos. Por isso, as avaliaes dos professores no ensino universitrio devia ser feita pelos
alunos, que so maduros o suficiente para saber julgar a qualidade do ensino, independentemente de
quo exigente o(a) docente em causa. Mais uma vez, assim que se passa nas melhores universidades
do mundo. Ns s devamos imitar.10) Diminuir os vnculos precrios
O nosso mundo universidade muito bipolar. Por um lado, temos um grupo de privilegiados (os
insiders), que tm segurana a mais e mobilidade a menos no seu mundo laboral. Por outro lado, temos
um crescente grupo de docentes em situao precria, cujo vnculo s universidades somente
temporrio. Como temos produzido um grande nmero de doutorados, mas o sistema est
completamente entupido com os docentes no quadro, a soluo encontrada para empregar muitos dos
milhares de doutorados produzidos nos ltimos anos tem sido a criao destes laboratrios associados
ou institutos de investigao, que oferecem vnculos de 5 a 10 anos a estes investigadores. No faz
sentido nenhum continuarmos a promover esta precariedade. E das duas uma: ou tornamos estes
lugares permanentes, ou deixamos de financiar este tipo de empregos precrios. A verdade que
ningum ganha com a promoo da precariedade no ensino superior.
12) Atrair recursos do estrangeiro
H centenas, se no mesmo milhares de doutorados portugueses a exercer as suas profisses no
estrangeiro. Muitos destes doutorados nunca voltaro, mas muitos outros poderiam facilmente regressar
se lhes dssemos condies de investigao e oportunidades de emprego. S que, para que tal acontea,
precisamos de fazer exactamente que se acabou de defender, isto , preciso haver uma maior
rotatividade de lugares, introduzir-se a flexibilizao salarial e acabar com os nmeros clausus dos
professores. Acima de tudo, preciso haver oportunidades de emprego e, como evidente
transparncia e honestidade nos concursos pblicos dos professores. que os concursos portugueses
so tudo menos transparentes, pois frequentemente as vagas j se encontram previamente atribudas e o
concurso uma mera formalidade processual. Enquanto no mudarmos este estado de coisas, no
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podemos ambicionar tentar atrair alguns dos nossos melhores investigadores espalhados um pouco por
todo o mundo.
13) Mais transparncia
Mais responsabilidades e uma maior descentralizao de decises devero ser acompanhadas deuma maior transparncia no ensino superior. Os oramentos dos diversos departamentos e faculdades
devem estar disposio de todos, e os salrios diferenciados dos professores devem ser publicados em
sites pblicos na internet. Porqu? Para que os contribuintes, se assim desejarem, possam averiguar
onde que os seus impostos esto a ser aplicados, e para que haja um maior controlo das despesas das
universidades. S com mais transparncia que conseguiremos criar um verdadeiro clima de salutar
concorrncia entre docentes e universidades.
Em suma, o ensino superior necessita de todo um conjunto de reformas para se tornar mais
dinmico, mais competitivo e mais moderno. Mais do que milhes e milhes de euros adicionais, o
nosso ensino superior necessita de melhores incentivos para inovar e para se tornar mais adaptado s
necessidades do mundo actual. Uma reforma desta magnitude poderia inclusivamente ajudar a inverter
a dramtica fuga de crebros nacional.