portugal: meio século de mudança 1960-2010

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Meio século pode ser um tempo relativamente curto em termos históricos, mas é um tempo suficiente para provocar mudanças significativas numa sociedade. Nos últimos cinquenta anos, em Portugal, ocorreram profundas transformações. Para os mais jovens, como nós, estas mudanças não são muito perceptíveis. Mas quando falamos com pessoas mais velhas como os nossos pais ou os nossos avós, muitas vezes nos referem as mudanças que foram ocorrendo no nosso país, no âmbito político, económico, social, cultural, da mentalidades, entre outros. Quantas vezes não os ouvimos dizer que “no meu tempo não era nada assim” ou que “antigamente, as coisas eram diferentes”. Desde os anos 60, Portugal assistiu a um forte surto migratório, teve uma guerra colonial, fez uma revolução que pôs fim a uma ditadura de 48 anos, instaurou a democracia, fez uma descolonização e viu regressar centenas de milhares de portugueses dos territórios ultramarinos, atravessou um período revolucionário, aderiu à Comunidade Económica Europeia (depois União Europeia), pôs fim a uma moeda e adoptou uma moeda europeia Mas, afinal, para além das mudanças óbvias, o que mudou assim tão significativamente em Portugal nos últimos anos? Os dados estatísticos, na sua aparente frieza, são por vezes mais reveladores das mudanças – ou das permanências – do que aquilo que é mais visível e que nos fica como mais óbvio. A PORDATA, enquanto Base de Dados estatísticos sobre Portugal Contemporâneo disponibiliza um conjunto de informações e ferramentas que nos permitem fazer uma abordagem diferenciada, colocar um outro olhar sobre o nosso país e sobre o que fomos e agora somos. Foi o que tentamos fazer com este trabalho: escolher, na PORDATA, um conjunto de dados que nos pareceram pertinentes para demonstrar a evolução de Portugal ao longo dos últimos 50 anos, dando expressão a diversos indicadores da mudança ocorrida no nosso país. Escola Secundária de Amares Imagem de fundo – Fonte:http://visibleearth.nasa.gov/view_rec.php?id=6155 Amares – Anos 60 – Festas de S. António Foto Kim – Amares Amares na actualidade Arquivo BE ESA

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Trabalho elaborado, em formato cartaz, por um grupo de alunos da Escola Secundária de Amares, no âmbito do Concurso PORDATA/ RBE 2011.

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Meio século pode ser um tempo relativamente curto em termos históricos, mas é um tempo suficiente para provocar mudanças significativas numa sociedade. Nos últimos cinquenta anos, em Portugal, ocorreram profundas transformações. Para os mais jovens, como nós, estas mudanças não são muito perceptíveis. Mas quando falamos com pessoas mais velhas como os nossos pais ou os nossos avós, muitas vezes nos referem as mudanças que foram ocorrendo no nosso país, no âmbito político, económico, social, cultural, da mentalidades, entre outros. Quantas vezes não os ouvimos dizer que “no meu tempo não era nada assim” ou que “antigamente, as coisas eram diferentes”.Desde os anos 60, Portugal assistiu a um forte surto migratório, teve uma guerra colonial, fez uma revolução que pôs fim a uma ditadura de 48 anos, instaurou a democracia, fez uma descolonização e viu regressar centenas de milhares de portugueses dos territórios ultramarinos, atravessou um período revolucionário, aderiu à Comunidade Económica Europeia (depois União Europeia), pôs fim a uma moeda e adoptou uma moeda europeiaMas, afinal, para além das mudanças óbvias, o que mudou assim tão significativamente em Portugal nos últimos anos?Os dados estatísticos, na sua aparente frieza, são por vezes mais reveladores das mudanças – ou das permanências – do que aquilo que é mais visível e que nos fica como mais óbvio.A PORDATA, enquanto Base de Dados estatísticos sobre Portugal Contemporâneo disponibiliza um conjunto de informações e ferramentas que nos permitem fazer uma abordagem diferenciada, colocar um outro olhar sobre o nosso país e sobre o que fomos e agora somos.Foi o que tentamos fazer com este trabalho: escolher, na PORDATA, um conjunto de dados que nos pareceram pertinentes para demonstrar a evolução de Portugal ao longo dos últimos 50 anos, dando expressão a diversos indicadores da mudança ocorrida no nosso país.

Escola Secundária de Amares

Imagem de fundo – Fonte:http://visibleearth.nasa.gov/view_rec.php?id=6155

Amares – Anos 60 – Festas de S. António Foto Kim – Amares Amares na actualidade Arquivo BE ESA

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Nos últimos 50 anos a população portuguesa cresceu, embora moderadamente e com ritmos diferentes: na década de 60, marcada por forte emigração, assistiu-se a um decréscimo. Depois dessa década a tendência tem sido de crescimento lento e relativa estabilidade.Neste meio século a esperança de vida aumentou significativamente em quinze anos (nos Homens passou dos 60,7 para os 75,8 e, nas mulheres, 66,4 para os 81,8 anos).Hoje somos mais de 10 milhões numa população que tem, no entanto, conhecido significativo envelhecimento.

Fonte: http://www.cm-lisboa.pt/?idc=6&pos=200

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As transformações vividas pelo país fizeram-se sentir ao nível dos comportamentos e das mentalida-des. Num país caracterizado como sendo tradicionalista e católico, alguns comportamentos, nomea-damente no âmbito da vida familiar, mudaram profundamente nas últimas décadasO número de casamentos católicos tem vindo a diminuir face aos não católicos, nomeadamente civis; o Número de divórcios cresce de ano para ano, alterando-se deste modo os padrões tradicionais da vida familiar.Outros indicadores são, de igual modo, significativos: as mulheres têm o seu primeiro filho cada vez mais tarde, a fecundidade diminuiu significativamente em poucas décadas e o número de crianças nascidas é cada vez menor. Nos últimos anos tem-se vindo a acentuar um marcado enve-lhecimento da população por-tuguesa

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Em 50 anos as condições de vida da população portuguesa alteraram-se profundamente. O rendimento disponível das famílias cresceu de forma notória, sobretudo desde os finais dos anos 80. Como se verifica no gráfico, esse rendimento é superior ao dos salários, havendo cada vez mais pessoas a recorrer ao crédito, sobretudo para a aquisição de habitação própria. Por outro lado as tradicionais práticas de poupança perderam impor-tância: o valor das poupanças das famílias pouco se altera, não acompanhando o crescimento do rendimento disponível .Mas os portugueses foram melhorando o nível de vida do seu quotidiano com a aquisição de bens e equipamentos de diversa natureza: a maior parte das casas portuguesas, para além de terem melhorado as suas condições básicas, ao nível das instalações , passaram a estar equipadas com todo o tipo de objectos e tecnologias: os aparelhos de TV e de áudio, os micro-ondas e as máquinas de lavar e também os computadores. Uma questão que se coloca é se esta melhoria das condições de vida materiais e este rendimento disponível superior ao valor dos salários, não estará na origem de muitas das dificuldades que o país tem vindo a atravessar nos últimos anos.

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A população activa de Portugal cresceu, desde 1974 até aos nossos dias. Uma mudança notória neste âmbito é o maior número de mulheres no mercado de trabalho.O desemprego tem vivido em ciclos estando actualmente em valores recorde, superiores aos sentidos na década de 80.E quando olhamos para o valor do salário mínimo nacional chegamos a uma triste conclusão. Se o seu valor nominal cresceu, quando introduzimos uma variável de correcção monetária, constatamos que o seu valor actual é inferior ao de 1974.Quando verificamos esta realidade, questionamo-nos se o D de Desen-volvimento, uma das propostas da Revolução do 25 de Abril não está, em parte por cumprir.

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Apesar de muitas vezes os portugueses se queixarem dos seus serviços de saúde, a realidade dos números demonstra que nos últimos cinquenta anos se assistiu a uma melhoria notável nestes serviços prestados à população.O Estado tem vindo a investir cada vez mais recursos financeiros no sector da saúde, atingindo os cerca de 6% do PIB. Os portugueses têm cada vez mais profissionais de saúde a prestarem cuidados, os serviços prestados têm vindo a aumentar progressivamente e as estatísticas demonstram uma melhoria desses cuidados e dos indicadores do sector da saúde. Um exemplo paradigmático disso é o que se passou com a taxa de mortalidade infantil que baixou significativamente dos 88 (1961) para os 3,6, em cada mil (2009).

1972 - Inauguração do Centro de Saúde de Amares, pelo Ministro da Saúde e Assistência, Baltazar Rebelo de Sousa

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Foto Kim - Amares

Incipiente nos anos 60,a Segurança Social constitui, ao longo das últimas décadas, um sector de crescente despesa do Estado, que tem vindo a despender cada vez mais nos apoios, subsídios e pensões prestadas às famílias, às crianças, aos idosos e aos incapacitados. Apesar de se saber que, na maior parte dos casos, o valor destas prestações é bastante baixo, a verdade é que a despesa social tem vindo a crescer, falando-se, cada vez mais, na sustentabilidade do Estado Providência português que, mesmo débil, constitui uma garantia para muitos portugueses.

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A educação foi um dos sectores que mais transformações sentiu nos últimos 50 anos. O Estado tem vindo a investir cada vez mais recursos no sector da Educação, ultrapassando-se os 5% do PIB, no investimento realizado: mais Escolas, novas Universidades e outros equipamentos, mais profissionais a trabalhar no sector.Ainda nos tempos da ditadura a escolaridade começou a alargar-se e o número de alunos matriculados em todos os níveis de ensino foi crescendo, integrando no sistema educativo a maior parte dos jovens.Mesmo no sector universitário os números são reveladores: nos últimos anos mais de 400 mil jovens/ano estão matriculados em cursos superiores. Um sinal de valorização dos recursos humanos, apesar de um número significativo de jovens licenciados enfrentarem grandes dificuldades na obtenção de emprego.

1974 – Os alunos da Escola Preparatória de Amares

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Com o desenvolvimento do ensino superior nas últimas décadas, de que a Universidade do Minho é, na nossa região, um caso para-digmático, Portugal tem conhe-cido algum progresso na área científica, de investigação e desenvolvimento (I&D), em que, tradicionalmente, evidenciava in-dicadores pouco auspiciosos.Nos últimos anos tem-se veri-ficado um crescente investimento neste sector, com os consequentes resultados: um maior número de investigadores nos mais diversos campos científicos, a quantidade de publicações científicas tem vindo a crescer e muitos centros de investigação nacionais têm vindo a ganhar uma notoriedade signficativa.

Universidade do MinhoFonte:http://literaciamediatica.pt/congresso/universidade-do-minho

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50 anos de evolução económica muito variável, condicionada por factores internos e externos, com ciclos que acabaram em crescimentos anémicos nos últimos anos.Num país em que o peso do Estado tem vindo a crescer, os efectivos da Função Pública mais que triplicaram nestas décadas, contribuindo para o peso crescente da dívida portuguesa.Hoje, que o país vive alarmado pelas dificuldades, as últimas décadas também nos ajudam a perceber o momento em que estamos: um país que se desenvolveu, que mudou muito, em que uma parte significativa da população melhorou as suas condições de vida, mas em que muitas das opções tomadas tiveram custos, parecendo que o país viveu acima das suas possibilidades.A pergunta que fica é:Como serão as próximas décadas?Bibliografia:

BARRETO, António - Portugal, Retrato Social, 1 a 7. Lisboa: Público Comunicação Social, 2007.FERREIRA, José Medeiros - História de Portugal : Volume VIII: Portugal em transe (1974-1985). Lisboa; Círculo de Leitores, 1993. ISBN 972-42-0972-5.FUNDAÇÃO FRANCISCO MANUEL DOS SANTOS - Pordata: Base de Dados Portugal Contemporâneo [Em linha]. Lisboa: FFMS, 2009. [Consult. 28 Março 2011]. Disponível na Internet: <URL: http://www.pordata.pt/>.ROSAS, Fernando - História de Portugal. Volume VII. O Estado Novo (1926-1974). Lisboa, Círculo de Leitores, 1994. ISBN 972-42-0916-4.Trabalho realizado no âmbito da Disciplina de História A, sob orientação da Professora Maria Cristina Bastos

Carla Silva, Clara Martins, Ricardo Costa, 12º C