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BALANÇO SOCIAL: RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL Por: Lázaro Quintino Alves; Especialista em Contabilidade Gerencial e Controladoria, Do- cente e Pesquisador da UNIVAS – Universidade Vale do Sapucaí; Pouso Alegre - MG Gestão e Conhecimento, v. 3, n. 1, julho/novembro 2006 http://www.pucpcaldas.br/graduacao/administracao/nupepu/online/inicial.htm

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BALANÇO SOCIAL: RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

Por:

Lázaro Quintino Alves; Especialista em Contabilidade Gerencial e Controladoria, Do-

cente e Pesquisador da UNIVAS – Universidade Vale do Sapucaí; Pouso Alegre - MG

Gestão e Conhecimento, v. 3, n. 1, julho/novembro 2006

http://www.pucpcaldas.br/graduacao/administracao/nupepu/online/inicial.htm

BALANÇO SOCIAL: RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL Lázaro Quintino Alves

Gestão e Conhecimento V. 3, n. 1, art. 3, julho,novembro 2006 PUC – Minas campus Poços de Caldas ISSN 1808-6594

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RESUMO

Este trabalho procura mostrar que as novas exigências do mercado, influenciado pela

globalização, por um publico mais consciente e por investidores mais exigentes e prepa-

rados, têm feito com que as organizações publiquem suas demonstrações com maior

transparência e qualidade, evidenciando os aspectos qualitativos do patrimônio e ao

mesmo tempo, a sua preocupação com o bem-estar social e ambiental. Diante deste con-

texto, busca-se esclarecer que o objetivo das políticas administrativas não é somente o

resultado econômico, mas também os resultados sociais e ambientais que amplie a con-

fiança da sociedade e dos stakeholders na entidade. Um desenvolvimento empresarial

sustentável é aquele que visa atender à comunidade, ás empresas e ao meio-ambiente,

obtendo resultados otimizados. Ficou claro que as tendências do consumo e investimen-

to priorizam as empresas cidadãs comprometidas com a responsabilidade social e ambi-

ental. Finalmente, conclui-se que uma gestão responsável inicia-se com a metodologia

de publicação do Balanço Social e o fomento cultural de que o empreendedor ou execu-

tivo deva tratar da responsabilidade social e ambiental com a mesma intensidade com

que se busca o lucro empresarial.

Palavras-chave: Balanço Social, Responsabilidade Social, Empresa Cidadã

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1 INTRODUÇÃO

As inovações tecnológicas relacionadas com a globalização alteraram substanci-

almente a capacidade empresarial de gerar bens e serviços, rompendo os padrões de

produção e possibilitando maior agregação de riqueza com menor intervenção humana.

Historicamente, desde do inicio do século XX até 1960, pouca ênfase havia sido dada a

termos como solidariedade, transparência, balanço social, ética e responsabilidade soci-

al, pela sociedade, como fatores de diminuição da pobreza e das injustiças sociais. Dar

atenção a estes termos era no mínimo buscar a melhoria na qualidade de vida.

A Contabilidade, como ciência social, auxilia as empresas quando gera o balanço

social, informando a sociedade os investimentos em responsabilidade social e ambiental

de determinada empresa, nos ambientes interno e externo em que as empresas se inter-

relacionam. Esses relacionamentos das empresas com a sociedade podem ser represen-

tados por subsistemas, dentre eles, a relação da empresa com seus funcionários, a rela-

ção direta com a sociedade, sob a forma de ações filantrópicas e assistência social, e a

relação dos aspectos econômicos empresa-sociedade, tendo a empresa como elemento

de geração e distribuição de valor ou riqueza.

As primeiras manifestações em prol do compromisso das empresas com o bem-

estar da comunidade onde se encontram, via balanço social, ocorreram no início do

século XX. Porém, somente a partir de 1960, nos Estados Unidos da América, diversas

empresas passaram a prestar contas de suas ações destinadas à sociedade por meio da

divulgação de relatórios anuais com informações de caráter social e ambiental, resultan-

do no que se chama hoje de balanço social.

A elaboração do balanço social é obrigatória na França desde 1977, pelas empre-

sas com mais de 300 funcionários. Diversos países da Europa seguiram os passos pio-

neiros da França e também começaram a pregar a importância da elaboração desse do-

cumento, entre eles Alemanha, Holanda, Suécia, Espanha e Inglaterra. Em Portugal, a

publicação do Balanço Social é obrigatória para todas as empresas desde 1985 e na Bél-

gica, desde 1986.

No Brasil, foi em 1997, com a atuação do sociólogo Herbert de Souza, o Beti-

nho, que a idéia de responsabilidade social das empresas e a proposta da divulgação do

balanço social alcançaram maior projeção nacional.

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Embora não exista uma lei específica que regulamente a elaboração e publicação

de Balanço Social, é cada vez mais crescente o número de empresas que publicam seus

Balanços Sociais de acordo com o modelo sugerido pelo Instituto Brasileiro de Análises

Sociais e Econômicas (IBASE).

A variável da Responsabilidade Social ultrapassa a questão de repasse das obriga-

ções do Estado para a sociedade, assumindo um perfil estratégico no mundo dos negó-

cios.

De acordo com Bernardo (2005, p. 3) grande parte dos consumidores europeus

quando reconhecem uma empresa comprometida com a responsabilidade social, dão

preferência a ela na aquisição de um produto ou serviço, estando predispostos a pagar

mais por seus produtos ou serviços.

Segundo a Comissão das Comunidades Européias, apud Bernardo (2005, p. 3)

as instituições financeiras têm recorrido às informações de caráter sócio-ambiental para

avaliarem os riscos da concessão de empréstimos ou de investimentos nas empresas. O

reconhecimento de uma empresa socialmente responsável - por meio da sua inscrição

num índice bolsista de valores éticos como o Dow Jones Sustainable Index - reforça sua

cotação, acarretando, assim, vantagens financeiras concretas.

No entanto, fica cada vez mais claro que as demandas por responsabilidade so-

cial e ambiental sobre as empresas, não é pressão apenas dos excluídos e dos rebeldes é

também dos setores dominantes da sociedade que juntam vozes e lembram as empresas

de suas obrigações perante os empregados, as comunidades e o meio-ambiente, da

mesma maneira como buscam lucro para os acionistas.

Elaborar e publicar o Balanço Social, significa uma grande contribuição para

consolidação de uma sociedade verdadeiramente democrática ou é fator de competitivi-

dade e sobrevivência das empresas.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Balanço Social

A falta de transparência das ações sociais empresariais vinculadas ao compro-

misso das empresas com o bem-estar social e ambiental da comunidade onde se encon-

tram, fizeram com que no início do século XX ocorressem manifestações para que as

empresas elaborassem e publicassem suas ações de cunho social, através dos demonstra-

tivos contábeis. Contudo, foi a partir dos anos 60, nos Estados Unidos; e no início da

década de 70 na Europa, nos países como França, Alemanha e Inglaterra, que a socieda-

de iniciou uma cobrança por maior responsabilidade social das empresas e consolidou-

se a própria necessidade de divulgação dos chamados balanços ou relatórios sociais.

A idéia de responsabilidade social das empresas popularizou-se, nos anos 70,

na Europa. E foi a partir dessa idéia, que em 1971 a companhia alemã Grupo Steag Ak-

tiengesellschaft produziu uma espécie de relatório social, um balanço de suas atividades

sociais. Porém, o que pode ser classificado como um marco na história dos balanços

sociais, aconteceu na França em 1972, quando a Singer elaborou o primeiro Balanço

Social da história das empresas.

Foi na França, também, segundo Silva e Freire (2001) que várias experiências

consolidaram a necessidade de uma avaliação mais sistemática por parte das empresas

no âmbito social. Em 12 de julho de 1977, foi aprovada na França a Lei n°. 77.769, que

obrigava a elaboração de Balanços Sociais periódicos para todas as empresas com mais

de setecentos funcionários. Posteriormente caiu para trezentos funcionários.

Ainda relata Silva e Freire (2001) que no Brasil, essa mudança de mentalidade

empresarial pôde ser notado na “Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresas”

desde a sua publicação em 1965, pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas

do Brasil (ADCE - Brasil). Na década de 80, a Fundação Instituto de Desenvolvimento

Empresarial e Social (FIDES) chegou a elaborar um modelo de balanço social. Porém,

só a partir do início dos anos 90 é que algumas empresas passaram a levar a sério essa

questão e divulgar sistematicamente em balanços e relatórios sociais e as ações realiza-

das em relação à comunidade, ao meio-ambiente e ao seu próprio corpo de funcionários.

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Dessa forma, na visão de Silva e Freire (2001) o Balanço Social da Nitrofértil,

empresa estatal situada na Bahia, que foi elaborado em 1984, foi considerado o primeiro

documento brasileiro do gênero, o qual recebeu o nome de Balanço Social. No mesmo

período, estava sendo elaborado o Balanço Social do Sistema Telebrás, publicado em

meados da década de 80. O banco Banespa S.A., elaborou o seu em 1992. Estas com-

põem a lista das empresas precursoras em Balanço Social no Brasil.

O Balanço Social evidencia vários tipos de variáveis, como por exemplo, as

decorrentes das despesas com pagamentos a funcionários de maneira direta, na forma

dos salários, e indireta, através de treinamentos, assistência médica entre outras, desta-

cando a função estratégica das empresas em produzir postos de trabalho e distribuir ren-

da na economia.

Assim, desde meados de 1997 o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e o

Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), vem chamando atenção

dos empresários e de toda sociedade para a importância e a necessidade da realização do

balanço social das empresas em um modelo único e simples. E esse modelo foi desen-

volvido no IBASE em parceria com diversos representantes de empresas públicas, pri-

vadas e com setores da própria sociedade.

Foi também em 1997 que o IBASE realizou um amplo seminário no Rio de Ja-

neiro, em parceria com diversas empresas públicas e privadas, onde a discussão em tor-

no da importância da realização do balanço social e da própria responsabilidade social

reacendeu-se e voltou a pautar a agenda de empresas, da imprensa, de organizações não-

governamentais, de institutos de pesquisa e de instâncias de governo.

Corroborando com esse grande desafio lançado pelo sociólogo Herbert de Sou-

za, Betinho, em setembro de 1998 realizou-se outro seminário tendo a Petrobrás e o

Jornal Gazeta Mercantil, como parceiros, ocasião em que foi destacada a importância e

reconhecimento do “Selo Balanço Social” fornecido pelo IBASE às empresas que pu-

blicam seu Balanço Social anualmente.

O objetivo principal de quem atua na área social deve ser, obviamente, a dimi-

nuição da pobreza e das injustiças sociais, através da construção de uma cidadania em-

presarial. Ou pelo menos, desenvolver uma sólida e profunda responsabilidade social

nos empresários e nas empresas, na busca por melhor e mais justo desenvolvimento

humano, social e ambiental.

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Diversas são as definições para balanço social, porém, todas convergem para o

mesmo ponto de que ele é um conjunto de informações e de indicadores econômicos,

sociais e ambientais, que evidenciam as ações junto as três grandes realidades das enti-

dades: a humana, a econômica e a social. Como essas realidades variam de entidade

para entidade, cada uma deve procurar escolher os seus indicadores, evidenciando as

metas atingidas no campo social e ambiental.

Conforme descreve Kroetz (1999, p.36), o Balanço Social representa a de-

monstração dos gastos e das influências (favoráveis e desfavoráveis) recebidas e trans-

mitidas pelas entidades na promoção humana, social e ecológica, sendo que os efeitos

dessa interação se dirigem aos gestores, aos empregados e à comunidade, no espaço

temporal passado/presente/futuro, tornando-se parte integrante da Contabilidade Social,

configurando-se uma demonstração para a sociedade, e não da sociedade.

O Balanço Social tem por finalidade conferir maior transparência e visibilidade

às atividades e ações, que não interessam somente aos sócios e acionistas, mas também

a empregados, fornecedores, parceiros, investidores, clientes, vizinhos, enfim, a comu-

nidade, na qual esteja inserida (Kassai, 2002, p 6) .

Pelo relato de Herbert de Souza, o Balanço Social visa demonstrar, quantitativa

e qualitativamente, o papel desempenhado pelas entidades no plano social, nos aspectos

internos como a qualidade de vida, saúde, educação e de trabalho dos empregados e, nos

aspectos externos como as relações da entidade com a comunidade local, preservação

do meio-ambiente, desenvolvimento de projetos comunitários, erradicação da pobreza,

geração de renda e criação de postos de trabalho.

Pela descrição de Mendes et al (1998, p.77) o balanço social é o instrumento de

gestão e de informação que evidencia plenamente as informações econômicas, financei-

ras e sociais do desempenho das entidades, propiciando uma visão completa da partici-

pação e contribuição social e econômica da empresa em seu ambiente de atuação.

Embora tenha origem na Contabilidade Patrimonial, o Balanço Social não deve

ser encarado como um demonstrativo puramente contábil, mas como uma maneira de

explicar o cumprimento, por parte das entidades de sua responsabilidade social e ambi-

ental.

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2.2 Balanço Social como Instrumento da Sustentabilidade

A busca de alternativas voltadas para o crescimento e sustentabilidade, num

mercado de alta competitividade, permanece na agenda dos gestores organizacio-

nais. A economia globalizada passa por mudanças, incluindo aos objetivos financei-

ros os de caráter social e ecológico, permutando a economia baseada na manufatura

por uma economia que aproveita metas intelectuais corporativas para alcançar van-

tagem competitiva sustentável.

Nesta mesma linha de raciocínio Kroetz (2000) emenda que a união de vá-

rias tendências como a globalização, novas tecnologias, responsabilidade social em-

presarial e ambiental, aliadas ao conhecimento e a criatividade, passam a ser recur-

sos essenciais em qualquer empreendimento, propulsores e base da prosperidade da

entidade, da sociedade e, sobretudo, será completo se preservar o meio-ambiente.

Praticar uma gestão responsável, ter produtos e serviços de ciclo longo, obter

lucros, investir em novas tecnologias, gerenciar em conjunto com o quadro funcio-

nal, disseminar conceitos de responsabilidade social e ambiental, são condições fun-

damentais para atingir a sustentabilidade.

Enfim, Kroetz (2000) afirma que na realidade, o que se pretende em qual-

quer entidade é a construção de um estado harmônico ou a sintonia entre “Organiza-

ção, Comunidade e Meio-Ambiente”.

2.3 Públicos de relacionamento de uma empresa social e ambiental

Os públicos que se relacionam neste ambiente são as empresas inseridas no con-

texto socio-econômico, a comunidade que espera uma responsabilidade social ampla e o

meio-ambiente.

Kroetz (2000) conceituou esse público como sendo os usuários do balanço soci-

al, identificando-os da seguinte forma:

a) Investidores: são agentes que garantem o desenvolvimento, medi-

ante a aplicação de recursos financeiros, almejam a rentabilidade e o retorno do

investimento, contribuem para o Estado;

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b) Fornecedores: parceiros no mercado acreditam na potencialidade

econômica da empresa, à espera de garantia pelo pagamento do fornecimento de

produtos e serviços, contribuem para o Estado;

c) Financiadores: são os que aplicam recursos, mediante uma análise

patrimonial de liquidez, rentabilidade, capacidade competitiva e produto. São

geradores de riqueza e impostos;

d) Clientes externos: consumidores de quem a empresa recebe o pa-

gamento pela venda de seus produtos/serviços, satisfazendo as suas expectativas.

Exigem segurança e qualidade. A relação direta entre empresa e consumidor é

determinante para a sua continuidade. Reflete a riqueza do cidadão e o reflexo

do Estado Social e culturalmente desenvolvido;

e) Clientes internos: os funcionários são fundamentais ao desenvol-

vimento da empresa por sua capacidade de trabalho e criatividade. Quanto mais

motivados os funcionários estão, maior é a produtividade. Para garantir essa mo-

tivação, a empresa deve propiciar salários justos, condições de higiene e segu-

rança no trabalho, uma adequada formação profissional e uma política de recur-

sos humanos que satisfaça as ambições profissionais e pessoais de seus colabo-

radores devidamente qualificados e preparados para enfrentar os desafios da

globalização;

f) Meio-Ambiente: uma das maiores responsabilidades sociais da

empresa moderna é com o meio-ambiente. A empresa recebe os elementos físi-

cos essenciais à sua atividade e de volta deve garantir a manutenção dos elemen-

tos básicos da vida (água, solo, florestas, etc.) do meio-ambiente onde se insere e

onde vivem os homens que compõem esse ambiente;

g) Estado: o Estado deve propiciar condições para o desenvolvimen-

to das atividades da empresa. Em contrapartida a empresa deve cumprir seus

compromissos de pagamento dos impostos como forma de contribuir para a rea-

lização dos serviços e atividades desenvolvidas pelo Estado, destinadas à socie-

dade.

Assim, uma empresa social e ambientalmente responsável é a que considera os

impactos de suas atividades sobre todos os públicos de seu relacionamento por meio do

diálogo.

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2.4 Os Modelos de Balanço Social

A busca pela difusão da informação social, a prestação de contas que as entida-

des publicam, não é nova. Diversos são os países, em que as entidades publicam seus

balanços sociais, como forma de prestação de contas de suas ações empresariais, sociais

e ambientais. Alguns de maneira voluntária, entre os quais podemos citar os Estados

Unidos, Canadá, Alemanha, Bélgica, Inglaterra, Suécia, Holanda e Brasil.

Outra maneira compulsória, entre as quais podemos citar a França (Le Bilan So-

cial), para entidades, a partir de trezentos empregados, instituída pela Lei n° 77.769, de

12 de julho de 1977, tem por finalidade trazer uma conciliação entre entidade e os em-

pregados; e Portugal, onde é obrigatório para as entidades que possuam mais de cem

empregados, instituído através do Decreto Lei n° 9/92, de 22 de janeiro de 1992.

O enfoque adotado para as informações, varia de país para país, ou de continente

para continente, visto que na Europa, os dados que ficam em evidência estão relaciona-

dos quase que exclusivamente aos Indicadores Laborais, evidenciando-se os fatores que

afetam o público interno das entidades, os empregados, enquanto na América do Norte

o enfoque está direcionado para as atividades sociais e ambientais das entidades, a sua

influência na comunidade.

O Balanço Social português pode ser comparado à Relação Anual de Informa-

ções Sociais (RAIS) brasileira, pois restringe-se também ao preenchimento de formulá-

rios anexos ao Decreto Lei, porém, no caso português, as informações são disponibili-

zadas ao público em geral.

No modelo legal do Balanço Social francês, em um único documento, são dis-

ponibilizadas as informações que permitem uma visão do papel social das entidades.

Tibúrcio e Freire (2001) relata sobre o Balanço Social francês dizendo que:

“Ele é dividido em sete capítulos: o emprego, as remunerações e encargos, as condições de higiene e segurança, outras condições de trabalho, a formação profissional, as relações profissionais, e as condições de vida dos assalariados e de suas famílias na me-dida em que estas condições dependem da empresa”.

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Para os norte-americanos o Balanço Social - Social Audit - é um quantificador

das vantagens e desvantagens sociais, com o intuito de ser um complemento do Balanço

Patrimonial tradicional.

Sua principal função é a de apresentar uma imagem favorável da entidade pe-

rante a sociedade.

Segundo Kroetz, (1999, p.35), quando menciona e exemplifica os diversos ti-

pos de Balanço Social, o modelo alemão (Die Sozialbilanz), tenta sintetizar os modelos

americano e francês.

2.5 O Modelo IBASE

Dentre todos os organismos que atuam em prol do Balanço Social, o IBASE

talvez seja o que a mais tempo empenha-se para que esse instrumento seja uma realida-

de. Para tanto, elaborou um modelo para ser apurado anualmente pelas entidades, que

contempla informações econômicas e sócio-ambientais, conforme pode ser demonstra-

da:

• Base de cálculo: apresenta informações sobre a receita líquida, lucro operacional

e folha de pagamento bruta;

• Indicadores laborais: apresenta informações sobre alimentação, encargos sociais,

compulsórios, previdência privada, saúde, educação, creches/auxílio creche, par-

ticipação nos lucros ou resultados, outros benefícios;

• Indicadores sociais: apresenta informações sobre tributos, contribuições para a

sociedade, investimentos na cidadania como educação e cultura, saúde e sanea-

mento, habitação, esporte e lazer, creches, alimentação e investimentos em

meio-ambiente;

• Indicadores do corpo funcional: apresenta informações sobre número de empre-

gados ao final do período, número de admissões durante o período, número de

mulheres que trabalham na empresa, percentual de cargos de chefia ocupados

por mulheres, número de empregados portadores de deficiência.

O modelo de Balanço Social do IBASE é extremamente simples de ser preen-

chido, e deixa claro que a fonte para a sua elaboração são os dados obtidos no Sistema

de Informações Contábeis.

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No intuito de facilitar a publicação do Balanço Social, o IBASE em parceria

com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o jornal Gazeta Mercantil, conseguiu

disponibilizar espaço gratuito para sua publicação naquele órgão diário de informação.

2.6 O modelo legal

Originalmente através do Projeto de Lei n° 3.116, de 14 de maio de 1997, de

autoria das Deputadas Federais Marta Suplicy, Maria da Conceição Tavares e Sandra

Starling, sendo representado através do Projeto Lei n° 32/99, de 29 de junho de 1999,

pelo Deputado Federal Paulo Rocha, existe a proposta de se instituir obrigatoriamente a

elaboração, anualmente, do Balanço Social, assim definido:

Art. 1° Ficam obrigadas a elaborar, anualmente o Balanço Soci-

al:

I – as empresas privadas que tiverem cem empregados ou mais

no ano anterior à sua elaboração;

II – as empresas públicas, sociedades de economia mista, em-

presas permissionárias e concessionárias de serviços públicos

em todos os níveis da administração pública, independentemente

do número de empregados.

Art. 2° Balanço Social é o documento pelo qual a empresa apre-

senta dados que permitam identificar o perfil da atuação social

da empresa durante o ano, a qualidade de suas relações com os

empregados, o cumprimento das cláusulas sociais, a participação

dos empregados nos resultados econômicos da empresa e as

possibilidades de desenvolvimento pessoal, bem como a forma

de sua interação com a comunidade e sua relação com o meio-

ambiente.

Art 3° O Balanço Social deverá conter informações sobre:

I – a empresa: faturamento bruto, lucro operacional, folha de pa-

gamento bruta, detalhando o total das remunerações e valor total

pago a empresas prestadoras de serviço;

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II – os empregados: número de empregados existentes no início

e no final do ano, discriminando a antiguidade na empresa, ad-

missões e demissões durante o ano, escolaridade, sexo, cor, qua-

lificação dos empregados, número de empregados por faixa etá-

ria,número de dependentes menores, número geral de emprega-

dos temporários, valor total da participação dos empregados no

lucro da empresa, total da remuneração paga a qualquer título às

mulheres na empresa, percentagem de mulheres em cargos de

chefia em relação ao total de cargos de chefia da empresa, nú-

mero total de horas-extras trabalhadas, valor total das horas-

extras pagas.

Entre outras informações sobre encargos sociais pagos, tributos pagos, alimen-

tação do trabalhador, educação, saúde, segurança, previdência privada, outros benefí-

cios, devemos destacar, ainda, os itens XI e XII do artigo 3°, que tratam dos aspectos

sociais e ambientais, em relação à comunidade, descriminando as informações que de-

vem ser disponibilizadas:

XI – investimentos na comunidade: valor dos investimentos na

comunidade (não incluir gastos com empregados) nas áreas de

cultura, esportes, habitação, saúde pública, saneamento, assis-

tência social, segurança, urbanização, defesa civil, educação, o-

bras públicas, campanhas públicas e outros, relacionando em ca-

da item, os valores dos respectivos benefícios fiscais eventual-

mente existentes;

XII – investimentos em meio-ambiente: reflorestamento, despo-

luição, gastos com introdução de métodos não-poluentes e ou-

tros gastos que visem à conservação ou melhoria do meio-

ambiente, relacionando, em cada item, os valores dos respecti-

vos benefícios fiscais eventualmente existentes.

Fica claro, na descrição das informações a serem disponibilizadas pelo Balanço

Social, tanto neste, como nos outros modelos anteriormente citados, quais os instrumen-

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tos a serem utilizados na compilação dessas informações, ou seja, o Sistema Contábil e

seus Sistemas Auxiliares, bem como a importância social da contabilidade, na transfor-

mação e processamento desses dados, para que tenham um real significado aos usuários

finais.

2.7 Metodologia para o Balanço Social

A leitura de diversos textos existentes sobre o tema permite perceber uma

grande polêmica quanto à forma de apresentação do Balanço Social. Há os que defen-

dem a estrutura de um balanço calcado em termos puramente monetários, enquanto ou-

tros entendem que essa abordagem deve ser encarada com reservas, uma vez que, em

muitos contextos, a unidade monetária tem pouca representatividade para demonstrar o

resultado de um ato social.

A elaboração de um balanço, relacionando benefícios e custos, em termos estri-

tamente monetários, como o próprio nome de documento enseja, pode não representar

fielmente todas as ações promovidas pela organização na área social, portanto, o balan-

ço social não deve ser entendido como uma réplica do balanço financeiro, adaptado ao

campo social.

Muitas formas de elaborar balanços sociais podem ser consideradas e vários

critérios podem adotados no estabelecimento de uma metodologia de elaboração do

balanço social. O mais comum num balanço social é conter os seguintes itens:

• Simplicidade

Considerando que o documento deve ser acessível aos empregados, dirigentes,

acionistas e ao público em geral, a sua formatação, tanto no aspecto de aplicação, quan-

to no de apresentação, deve ser simples, fácil de interpretar, exigindo, quanto muito,

uma sumária explicação.

• Confiabilidade

O principal patrimônio de uma organização é a sua credibilidade. Desta forma

as informações prestadas devem ser confiáveis e seguras, ainda que se admita certa dose

de subjetividade inerente a alguns itens.

• Comparabilidade

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Conforme já dito anteriormente, um dos objetivos do documento é permitir,

avaliar a evolução do desempenho sócio-ambiental da organização ao longo do tempo,

bem como possibilitar comparações com outras instituições.

• Flexibilidade

Sem deixar de atender ao critério de comparabilidade, é obvio que também não

se pode deixar de levar em consideração as condições específicas de cada empresa e do

ambiente em que atua. Assim, deve ser dado um espaço para que determinados aspectos

sejam informados ou relatados da maneira que melhor expresse os resultados obtidos,

qualitativa ou quantitativamente.

• Quantificação

A regra geral proposta é que, dentro das possibilidades, todos os benefícios e

indicadores de desempenho devam ser quantificados em termos numéricos absolutos

(unidades métricas) e percentuais. Sempre que possível e adequado, esses benefícios

devem também ser convertidos em unidades monetárias.

• Benefícios Líquidos

Considerando que um dos objetivos do Balanço Social é demonstrar se os be-

nefícios proporcionados pela atuação da organização são superiores aos seus custos para

a sociedade, é importante que sejam informados e deduzidos os eventuais benefícios e

incentivos auferidos pela empresa retirados da sociedade.

• Distribuição dos benefícios

Além da quantificação dos benefícios líquidos totais proporcionados pela em-

presa é de todo o interesse a demonstração de como aqueles benefícios são distribuídos

entre os beneficiados (empregados, terceiros, governo, comunidade e outros).

Em resumo, o Balanço Social deve-se constituir em um instrumento adequado

às atividades de planejamento, acompanhamento, avaliação e divulgação do desempe-

nho sócio-ambiental da empresa.

2.8 Obrigatoriedade

Há uma forte discussão em torno da obrigatoriedade ou não do Balanço Social.

Muitos acreditam que a obrigatoriedade seria boa, pois criaria um certo compromisso do

empresário com a comunidade, tornando mais transparente as suas ações. Já outros de-

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fendem que a obrigatoriedade não deva acontecer e que a apresentação deve ser espon-

tânea, não determinado por leis ou decretos, deve vir da consciência cidadã do empresá-

rio. A questão da obrigatoriedade parece secundária quando se pensa em estimular

companhias a se interessarem pela publicação.

Existe muita controvérsia em relação à regulamentação do Balanço Social no

Brasil. A Associação Brasileira das Empresas de Capital Aberto (ABRASCA), manifes-

tou-se contrária ao projeto de lei que tramita no Congresso, classificando-se de retró-

grado em relação à liberdade das empresas de apresentar ou não, explicitamente, sua

contribuição social.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) emitiu dois Pareceres de orienta-

ção, incentivando divulgar informação de natureza social (o Parecer de Orientação n°

15/87 na parte que trata do Relatório da Administração e o Parecer de Orientação n°

24/92, sobre divulgação da Demonstração do Valor Adicionado). Após várias discus-

sões a Comissão de Valores Mobiliários decidiu não emitir qualquer ato normativo

obrigando a elaboração e a divulgação do Balanço Social. No entanto resolveu, devido a

importância do assunto e ao crescente interesse dos investidores, principalmente os ex-

ternos, mudar o foco da discussão, transferindo o assunto para o Congresso Nacional,

onde o assunto terá, evidentemente uma abordagem mais ampla.

O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), também tem

a sua opinião e é totalmente contra a obrigatoriedade do Balanço Social por dois moti-

vos:

a) o Balanço Social deve ser posterior às ações sociais realizadas pelas empre-

sas, deve ser a transferência das práticas sociais em relação aos seus fun-

cionários, à comunidade e ao meio-ambiente;

b) o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas acredita que a elabo-

ração voluntária periódica cria um círculo virtuoso, uma vez que a empresa

passa a divulgar suas ações e a partir desse momento, a sociedade em geral

passa a conhecer essas ações gerando “concorrência”, ou seja, novos adeptos

ao Balanço Social.

O Balanço Social também pode se tornar um instrumento de marketing para a

empresa fazendo com que a sua publicação seja interessante para os empresários. Toda-

via, essa é apenas uma das faces do Balanço Social e não deve ser encarada como a

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principal. Seu objetivo é o de compreender a atuação social da entidade objetivando

uma melhora contínua e não simplesmente transformá-lo em mais um serviço de divul-

gação. Antes de ser uma obrigação, o Balanço Social é um instrumento de apoio à ges-

tão, pela qual se mostra a face interna e externa da organização, o que permite sua avali-

ação, análise e os ajustamentos necessários. Um dos aspectos mais relevantes do Balan-

ço Social deve refletir o grau de engajamento e comprometimento da empresa e de seus

dirigentes, estimulando outras empresas a seguirem o mesmo caminho.

2.9 Legislação

No Brasil, a Contabilidade Social bem como o Balanço Social está em fase de

expansão e crescimento, sendo ainda uma questão muito discutida. Em níveis federal,

estadual e municipal existem, atualmente, vários estudos, projetos, propostas, bem como

leis específicas sobre o assunto.

Na esfera federal encontram-se duas proposições. Uma no Senado Federal,

Projeto de Lei do Senado n° 117, de 1996, que faz menção de tornar obrigatória a publi-

cação do Balanço Social para as entidades que já são obrigadas a apresentar o Balanço

Patrimonial.

Outro projeto de Lei que está na Câmara dos Deputados é o de n° 32/99 do

Deputado Paulo Rocha. Através dela pretende-se estabelecer a obrigatoriedade do Ba-

lanço Social para as entidades públicas de modo geral e às empresas privadas com mais

de cem empregados.

Em nível estadual tem-se a Lei 11.440, aprovada em 18/01/2000, do Estado do

Rio Grande do Sul. A referida Lei busca incentivar a publicação do Balanço Social, bem

como difundir a responsabilidade social entre as entidades estabelecidas no Estado. Ela

também criou o Certificado de Responsabilidade Social e o Troféu Responsabilidade

Social - Destaque RS - para as empresas estabelecidas no âmbito estadual, que apresen-

tarem o seu Balanço Social do exercício anterior. Sendo essa última premiação forneci-

da para as empresas que desenvolvem os projetos sociais destacados na categoria, pe-

quena, média e grande porte.

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Além disso, o site da Assembléia Legislativa, disponibiliza um modelo de Ba-

lanço Social para as empresas, bem como torna pública a relação das empresas que a-

presentarem seu Balanço Social nos termos da lei.

Têm-se várias experiências em diversas cidades brasileiras entre eles os muni-

cípios:

- Porto Alegre/RS: a Lei n° 8.118 sancionada pelo Prefeito Municipal de Porto Alegre

em 5 de janeiro de 1998, criou o Balanço Social das empresas estabelecidas em nível

municipal e deverá ser apresentado por toda e qualquer empresa com sede em Porto

Alegre, que tiver mais de vinte funcionários. Além disso, a empresa que apresentar o

Balanço Social receberá da Câmara Municipal o Selo Cidadania;

- São Paulo/SP: a resolução n° 5/98 criou o Dia e o Selo da Empresa Cidadã àquelas

que apresentarem o seu Balanço Social. A autoria foi da Vereadora Aldaíza Sposati.

Essa resolução está em vigor e já premiou diversas empresas na cidade de São Paulo;

- Santo André/SP: a Lei n° 7.672, de 18/06/98, de autoria do Vereador Carlinhos Au-

gusto, criou o Selo Empresa-Cidadã, destinado às empresas que constituírem e apresen-

tarem o seu Balanço Social;

- João Pessoa/PB: aprovou o Projeto de Resolução n° 4/98, do Vereador Júlio Rafael,

instituindo o Selo Herbert de Souza às empresas que apresentarem o Balanço Social; e

- Uberlândia/MG: a Câmara Municipal de Uberlândia instituiu, em novembro de 1999,

o Decreto Legislativo n° 118 de 11/11/99, criando o “Selo Empresa-Cidadã” para as

entidades que apresentarem o Balanço Social.

Observa-se que existem várias legislações, no que diz respeito à apresentação

do Balanço Social, no entanto a única que apresenta e propõe um modelo a ser apresen-

tado e que facilite o entendimento e a elaboração do mesmo é a Lei Estadual n°

11.400/00. Cabe ressaltar também que a referida lei estadual foi autoria do Deputado

Estadual Cezar Busatto.

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3. RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

Em entrevista (Imolene, 2006) Ricardo Young Presidente do Instituto Ethos,

esclarece que a responsabilidade social empresarial está baseada na convicção de que

existe uma outra maneira de gerir os negócios, a gestão socialmente responsável e que

quando um líder adota os princípios e valores da responsabilidade social empresarial

como estratégia de negócio, ele está contribuindo decisivamente para uma verdadeira

mudança social.

A cada ano que passa, tanto nos países desenvolvidos como também no Brasil,

ganha vigor a discussão sobre o papel das empresas como agentes sociais no processo

de desenvolvimento. Torna-se fundamental que as empresas entendam que o relaciona-

mento empresa comunidade com a qual está inserida representa um fator de garantia de

estratégia econômica e de sustentabilidade.

Ashley (2001, p. 6-7) menciona que "Responsabilidade social pode ser defini-

da como compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso

por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma

comunidade, de modo específico, agindo proativamente e coerentemente no que tange a

seu papel específico na sociedade e sua prestação de contar para com ela. A organiza-

ção, nesse sentido, assume obrigações de caráter moral, além das estabelecidas em lei,

mesmo que não diretamente vinculadas as suas atividades, mas que possam contribuir

para o desenvolvimento sustentável dos povos".

Esse conceito retrata uma visão ampla da responsabilidade social, mostrando

sua importância na melhoria da qualidade de vida da sociedade, destaca a relevância do

caráter moral sobre as leis e a importância da sustentabilidade.

Primeiro, a responsabilidade social, depois, os frutos. Ao estar presente no gru-

po das socialmente responsáveis uma empresa pode e deve avaliar seu estágio de RSE.

Para isso, o Instituto Ethos desenvolveu uma ferramenta para autodiagnóstico, os indi-

cadores Ethos de Responsabilidade Social, cuja principal finalidade é permitir que a

empresa verifique sua atuação perante todos os seus públicos de interesse em sete dife-

rentes áreas. São elas: Valores, Transparência e Governança; Público Interno; Meio-

Ambiente; Fornecedores; Consumidores e Clientes e Governo e Sociedade.

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Para avaliar as empresas como socialmente responsáveis, o Instituto Ethos ela-

borou um questionário contemplando todos esses temas e qualquer empresa pode res-

pondê-lo gratuitamente, todos os anos. Se houver interesse, as repostas podem ser envi-

adas para análise e comparação com empresas do mesmo porte, setor e região. As in-

formações são tratadas confidencialmente e o resultado produzido é colocado em relató-

rio e disponibilizado numa janela restrita do site, através do qual somente a empresa

cadastrada tem acesso. Ao responder, em todos os anos, esse questionário, a empresa

obtém um quadro evolutivo dos sete temas.

Ashley (2001) comenta que dentre as principais áreas beneficiadas pelos pro-

gramas de responsabilidade social no Brasil, merecem destaque a educação, a saúde, o

meio-ambiente, a cultura, a qualificação profissional e assistência social. O relaciona-

mento da empresa com um público variado como: investidores, fornecedores, financia-

dores, clientes, empregados, além de governos e meio-ambiente deixa evidente a grande

dimensão de sua responsabilidade social.

Uma responsabilidade social empresarial sustentável é aquela que atende os in-

teresses dos acionistas, da comunidade onde está presente e na minimização de possí-

veis danos ambientais decorrentes de suas atividades.

Deve ficar claro que os líderes empresariais devem tratar da questão social e

ambiental com o mesmo vigor com que se busca o lucro. Otimizar lucros não pode per-

manecer como um objetivo único das atividades da empresa, ela tem, também, objetivos

sociais geradores de bem-estar social por meio de apoio ao desenvolvimento da comu-

nidade na qual atua.

A responsabilidade social capacita a empresa a crescer e permanecer no mer-

cado globalizado e, cada dia mais, competitivo. Por isso, a organização que assumir o

seu compromisso com o social estará contribuindo, de maneira decisiva, para a sua sus-

tentabilidade e para o seu desempenho.

O reconhecimento da sociedade é obtido à medida que passa a ser mais atuante

em investimentos no social, tornando-se preocupada com os problemas da comunidade,

buscando soluções, mudando a sua imagem e assumindo a posição de empresa-cidadã,

reconhecendo seus dirigentes como líderes empresariais e com grande senso de Respon-

sabilidade Social

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Torna-se claro que a difusão do Balanço Social é útil para as empresas e é por

onde inicia o processo de Responsabilidade Social Empresarial. A publicação desses

relatórios sociais, denominados “Balanço Social”, pelas empresas, tem como objetivo

prestar contas à sociedade e dar transparência aos seus projetos, benefícios e ações soci-

ais dirigidas aos seus funcionários, investidores, acionistas e à comunidade. A finalidade

do balanço social é estreitar os laços que a empresa mantém com a sociedade e meio-

ambiente, mostrando a importância, para o investidor, de aplicar em empresas preocu-

padas com a ética e a transparência, partindo do pressuposto que os riscos são menores.

Bernardo (2005 p. 11) comenta que não há uma legislação específica que regu-

le a elaboração e a publicação do balanço social no Brasil até 2005, como também é

percebido cada vez mais um maior o número de empresas que o publicam anualmente,

de acordo com o modelo sugerido pelo IBASE.

A questão da responsabilidade social vai além das fronteiras empresariais, for-

çando a sociedade a pensar de maneira diferenciada, evidenciando que o consumidor

busca além de um bom produto, o comprometimento da empresa com as ações sociais e

ambientais no meio em que ela esteja inserida.

Na década de 1960, os estudos voltaram-se para a formalização do conceito de

responsabilidade social e ambiental empresarial, predominando a visão de que a respon-

sabilidade social das empresas ultrapassa a própria responsabilidade de gerar e maximi-

zar lucros (Borger, 2001).

A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir

os interesses das diferentes públicos: acionistas, funcionários, fornecedores, consumido-

res, comunidade, governo e meio-ambiente e conseguir incorporá-los no planejamento

de suas atividades, buscando atender às demandas de todos (Ethos 2003).

Deve ficar claro que não podemos confundir filantropia, ação social e respon-

sabilidade social. É preciso um esclarecimento sobre os termos. Em primeiro lugar, fi-

lantropia e ação social dizem respeito exclusivamente a iniciativas voltadas para um

único público: a comunidade. São relevantes, mas não garantem o compromisso da em-

presa com a gestão socialmente responsável.

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Em entrevista (Imolene, 2006) Ricardo Young comenta que os fornecedores de

crédito também já utilizam critérios de responsabilidade social para selecionar investi-

mentos. O Banco Itaú e o ABN AMRO - Real são dois bons exemplos dessa nova atitu-

de de mercado. Os fundos de pensão lançaram em 2004, por meio da Associação Brasi-

leira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar - Abrapp, em parceria com

o Instituto Ethos, os Princípios Básicos de Responsabilidade Social, com intuito de ori-

entá-los na hora de decidir onde alocar seus recursos. A Bolsa de Valores de São Paulo -

Bovespa, também criou critérios de sustentabilidade para avaliar as empresas listadas na

entidade, o Índice de Sustentabilidade Empresarial - ISE, que já apresenta bons resulta-

dos para essas empresas.

Na visão de Kassai (2002, p. 6), uma empresa que pretenda perpetuar-se, além

de cumprir sua missão e buscar o lucro, ou atender a seus objetivos econômicos, ela

precisa responder aos anseios do ambiente no qual está inserida, ou aos objetivos soci-

ais.

A responsabilidade social e ambiental não deverá ser encarada como obriga-

ção legal e nem como um dever fiduciário, recaindo sobre as empresas com ônus maio-

res que os do cidadão. Ações sociais devem ser encaradas como uma prática espontânea

associada a um comportamento ético e socialmente responsável e não como uma contri-

buição caridosa Ashley (2002).

Tinoco (2001, p. 115) completa afirmando que "a responsabilidade social cor-

porativa está relacionada com a gestão de empresas em situações cada vez mais com-

plexas, nas quais questões como as ambientais e sociais assegura o sucesso e a sustenta-

bilidade dos negócios."

Considera-se finalmente que a atuação da empresa junto à sociedade, através

de investimentos no social é fundamental para a sua imagem frente a seus públicos de

relacionamento. Portanto, mostrar-se responsável corporativamente é um dos primeiros

passos para se atingir um grau maior de crescimento e sustentabilidade no mercado.

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