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Coordenador Augusto Mateus 25 ANOS DE PORTUGAL EUR PEU A economia, a sociedade e os fundos estruturais

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Portugal atualmente

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Um estudo da Fundao Francisco Manuel dos Santoswww.ffms.ptEste livro condensa o projeto de investigao que a sociedade de consultores Augusto Mateus & Associados realizou para a Fundao Francisco Manuel dos Santos sobre o desenvolvimento de Portugal aolongo dos primeiros 25 anos de integrao na Unio Europeia. O desafio foi concretizar instrumentos de reflexo que, sobre ummesmo referencial objetivo de observao e medida, permitissem formar leituras diversificadas e plurais sobre as profundas transformaes ocorridas no tempo de uma gerao.O modelo fechado de relatrio tcnico foi assim evitado para abrir, a cada leitor, a possibilidade de observar a evoluo da economia, da sociedade e dos fundos estruturais aplicados no pas e de traar o seu prprio roteiro de interpretao destes 25 anos de Portugal europeu.Esta obra encontra-se dividida em quatro partes. Nos Olhares, observa-se a evoluo da economia e da sociedade desde a adeso Unio Europeia. Nos Retratos, cinquenta indicadores sintetizam odesenvolvimento de Portugal em comparao com a Unio Europeia. Nos Fundos, analisa-se o financiamento estrutural disponibilizado aPortugal. Nos Roteiros, so exemplificados caminhos de interpretao que percorrem a informao estatstica concentrada em olhares, retratos e fundos. ISBN 978-989-8662-07-19789898662071MATEUS, Augusto economista, professor catedrtico convidado do Instituto Superior de Economia e Gesto (ISEG) e presidente da sociedade de consultores Augusto MateusAssociados. investigador e coordenador de mltiplos estudos de macroeconomia e de poltica econmica, de avaliao de programas e polticas pblicas ou de estratgias competitivas de desenvolvimento para empresas, sectores e regies. Foi Secretrio deEstado da Indstria e Ministro da Economia do XIII Governo Constitucional.Fundao Francisco Manuel dos SantosOutros estudos da FundaoDesigualdade Econmica em PortugalCoordenador: Carlos Farinha Rodrigues2012Avaliaes de Impacto Legislativo: Droga e PropinasCoordenador: Ricardo Gonalves2012Publicado em duas verses: estudo completo e verso resumidaJustia Econmica em PortugalCoordenadores: Nuno Garoupa, Pedro Magalhes eMarianaFrana Gouveia2013Segredo de JustiaAutor: Fernando Gascn Inchausti2013Informao e SadeAutor: Rita Espanha2013O Cadastro e a Propriedade Rstica em PortugalCoordenador: Rodrigo Sarmento de Beires2013Escolas para o sc. XXIAutor: Alexandre Homem Cristo2013Processos de Envelhecimento em Portugal: usos do tempo, redes sociais e condies de vidaCoordenador: Manuel Villaverde Cabral2013Director de Publicaes: Antnio ArajoConhea todos os projectos da Fundao emwww.ffms.pt A economia, a sociedade e os fundos estruturais 25 ANOS DE PORTUGAL EUROPEUCoordenador Augusto Mateus25 ANOSDE PORTUGAL EURPEUA economia, a sociedade e os fundos estruturaisLargo Monterroio Mascarenhas, n.11099-081 LisboaTelf: 21 00 15 [email protected] Fundao Francisco Manuel dos Santos e Sociedade de Consultores Augusto Mateus & Associados (AM&A),Maio de 2013Ttulo: 25 anos de Portugal europeu: A economia, a sociedade e os fundos estruturaisCoordenao global: Augusto MateusCoordenao executiva: Joana Mateus e Paulo MadrugaConsultores: Ana Caetano, Catarina Gamboa, Cristina Cabral, Cristina Silva, DalilaFarinha, David Canudo, Filipa Lopes, Gonalo Caetano, Hermano Rodrigues, JosVasconcelos, Mafalda Correia, Mrcio Negreiro, Nuno Ferreira, Rui Guerreiro,Rui Maia, Sandra Primitivo, Susana Gouveia, Vnia Rosa, Vtor Escria e Nuno VitorinoAgradecimentos: s entidades responsveis pela gesto e coordenao nacional dos fundos estruturais e de coeso, nomeadamente ao Instituto Financeiro para oDesenvolvimento Regional, I.P. (no caso do FEDER e Fundo de Coeso), aoInstituto de Gesto do Fundo Social Europeu, I.P. (FSE), ao Gabinete dePlaneamento e Polticas (FEOGA-O/FEADER) e Direo-Geral de Recursos Naturais, Segurana e Servios Martimos (IFOP/FEP), a todos, um especial agradecimento pelo apoio prestado no desenvolvimento do presente estudo.Reviso do texto: Helder GugusDesign: Ins SenaPaginao: GuidesignImpresso e acabamentos: Guide Artes Grficas, Lda.ISBN: 978-989-8662-07-1Dep. Legal: 359 421/13As opinies expressas nesta edio so da exclusiva responsabilidadedo autor e no vinculam a Fundao Francisco Manuel dos Santos.A autorizao para reproduo total ou parcial dos contedos destaobra deve ser solicitada ao autor e editor. 25 ANOS DE PORTUGAL EUROPEUA economia, a sociedade e os fundos estruturaiscoordenadorAugusto Mateus7PrefcioPortugal na Europa 25 anos A Europa em PortugalNas dcadas de 1960 e 1970, a Europa era um atalho para todas as virtudes. Uma espcie de palavra-passe para a liberdade, o desenvolvimento e a cultura. Assim como para o Estado social: o bem-estar, a segurana, a sade e a educao. Dizia-se Europa e era disso tudo que estvamos a falar.Portugal era um pas em guerra e vivia sob ditadura h vrias dcadas. A adeso EFTA, em 1960, trouxera entusiasmo e crescimento, mas sobretudo investimento estrangeiro. A economia portuguesa deixava gradualmente de olhar para frica, e virava-se para a Europa. Mais de um milho e meio de portugueses partiram para outros pases, muitos deles europeus. Milhes de estrangeiros passaram a vir de frias a Portugal. Antes da Unio, antes da Comunidade, houve a EFTA, a emigrao e o turismo. Era uma maneira de ser europeu. Europeu antes de o ser.Mas esses anos, sem democracia, tinham a liberdade como a grande ausente. Por maior que fosse o crescimento econmico, as aspiraes eram sempre maio-res. Ambicionava-se mais. Aos olhos de muitos que aqui viviam, a Europa tinha a fora dos mitos e o valor dos sonhos. Falvamos da Europa como se dela no fizssemos parte. Espervamos pela Europa como se ela tivesse que vir at ns, ou como se nos preparssemos para uma longa caminhada. Europa queria dizer paz e democracia, mas tambm cultura, igualdade e desenvolvimento.Com a fundao da democracia, os sonhos pareciam estar ao nosso alcance. Para muitos, novamente a Europa resumia os desejos e as necessida-des. Queramos fugir s velhas e s novas opresses; queramos as liberdades e a igualdade; queramos educao e sade para todos; queramos bem-estar e conforto. Para tudo isto, a resposta era quase sempre Europa. Sem o rigor dos manuais, mas com a certeza das grandes intuies. Dez anos depois de bater porta, Portugal entrou. Cumpria-se a geografia e eliminava-se uma barreira poltica, social e cultural. H sculos que Portugal preferia outras paragens e outros continentes: o Atlntico, as Amricas e frica. Um novo horizonte poltico, econmico e cultural tomava a dimenso de obra histrica.Os primeiros anos foram de euforia. Por muitas e vrias razes, Portugal e os Portugueses, a sociedade e a economia, a poltica e a cultura viveram tempos 8de mudana e de progresso. Depois dos riscos da revoluo e da contra-revoluo, depois de feridas polticas abertas e mal cicatrizadas, depois de uma sada de frica que causou tormentos, Portugal encontrava nova casa. O acolhimento dava sinais de valer a aventura, os perigos e os esforos. O primeiro perodo de pertena Comunidade, mais tarde Unio, parecia contemplar todas as espe-ranas e satisfazer todas as aspiraes.O segundo perodo de integrao, que completa os 25 anos e agora se ter-mina, deixa uma sensao diferente. Depois de se ter aproximado da Europa, Portugal afasta-se: quase todos os indicadores o afirmam. Depois de um desen-volvimento com vigor e energia, a estagnao ou mesmo o retrocesso so as realidades actuais. A esperana transformou-se em dvida. A economia no cumpre, o Estado social mostra fragilidades. A poltica fraqueja, a dependn-cia do exterior e dos credores de rigor. A emigrao recomeou com fora, a fazer lembrar a dos anos 60. O desemprego agora um espectro omnipresente. Portugal parece perdido, os Portugueses vivem na incerteza.Tinha de se estudar este percurso. Havia que obter dados e informaes que nos permitissem avaliar e conhecer. Era necessrio reflectir e interpretar. A Fundao Francisco Manuel dos Santos, no cumprimento da sua misso de estudar a realidade, decidiu em boa hora encomendar a Augusto Mateus um estudo que ajudasse a responder a perguntas que todos se fazem hoje. Que se passou em Portugal, na sociedade e na economia, durante estes 25 anos? Quais foram os efeitos da integrao europeia do nosso pas? Portugal fez bem em pedir a adeso Unio Europeia? Fizemos o que tnhamos a fazer? Valeu a pena? O extraordinrio trabalho de Augusto Mateus e seus colaboradores da AMA (Augusto Mateus Associados) ajuda a responder e a perceber o que se passou. O que correu bem e o que correu mal. Creio que este um trabalho nico na Europa de que a FFMS se orgulha. H aqui informao e reflexo suficientes para animar exigentes debates acadmicos ou polticos que permitam preparar melhores polticas pblicas, estudar com mais rigor os planos e os programas e prever melhor as consequncias das decises contemporneas.Os autores deste estudo procedem a uma anlise sistemtica das realidades econmicas, sociais e polticas ao longo destas quase trs dcadas, sempre com a suprema preocupao de compreender as situaes na sua complexidade e nas suas interdependncias, sempre com a obsesso de ser o mais claro possvel na expresso. Nem tudo o que se passou ou aconteceu em Portugal se fica a dever integrao europeia. Muito ocorreria de qualquer modo. Muito dependeu da revoluo poltica. Muito ainda derivou da globalizao, esta colossal fora de transformao que marcou profundamente a histria do mundo nestas ltimas dcadas. Alis, para ns, portugueses, a globalizao tambm uma parte da 9histria da integrao europeia. No so a mesma coisa. A Unio Europeia, em certos aspectos, com ou sem razo, parece mesmo tentar lutar contra a globalizao. Mas, para Portugal, vindo de um mundo mais fechado, Europa e globalizao parecem-se como parentes prximos. Em certo sentido, a integrao europeia um captulo ou um patamar na globalizao.As respostas sugeridas por Augusto Mateus s perguntas que lhe fizemos merecem reflexo. Mas elas so sobretudo um valioso contributo para poder-mos fundamentar o nosso prprio juzo. Mais do que isso: so um instrumento indispensvel para fazer as novas e mais difceis perguntas, as que nos iro per-mitir construir um futuro. O que fizemos de errado? Havia outros caminhos? Aproveitmos todas as oportunidades? A Unio Europeia est preparada para enfrentar situaes e crises como esta que se vive nas primeiras dcadas do sculo XXI? A Unio cumpriu as suas promessas? O que necessrio fazer para, de futuro, viver com mais certeza na Europa?A Fundao Francisco Manuel dos Santos deseja assim cumprir o seu dever de estmulo ao debate pblico. Ao colocar disposio de todos, nas livrarias, nas escolas, nas empresas e na Internet, em duas palavras, no espao pblico, esta formidvel soma de informao, pretendemos alimentar o debate informado, instrumento privilegiado de conhecimento e de liberdade. Ao iniciar uma nova fase na vida europeia e certamente na vida nacional, importante que os por-tugueses sejam capazes de aprender com o passado recente, com os xitos e os erros, com vista preparao do seu futuro e sobretudo a fim de serem menos sujeitos e cada vez mais autores conscientes.Sinto que tudo est em causa, por isso tudo deve estar em discusso. Mas esta s tem sentido se for livre e informada. No gostaria que tivesse limites ou condicionantes, mas desejaria que alguns princpios tivessem o valor das cer-tezas, como objectivo e como instrumento de construo do futuro: a Europa e a Liberdade.Antnio Barreto,Presidente da FFMS25 ANOS DE PORTUGAL EUROPEUA economia, a sociedade e os fundos estruturaisI.Olhares Evoluo da economia e da sociedade desde 1986II.Retratos Posicionamento dePortugal na UE em 50 indicadoresIII.Fundos Evoluo do financiamento estrutural da UE a PortugalIV.Roteiros Seis questes para compreender e agirNDICE25 Anos de Portugal Europeu7Prefcio15Nota introdutria38Siglas e abreviaturas40Referenciais geogrficosI. Olhares45Sobre os olhares47Economia491. Nvel de vida e convergncia real572. Produtividade653. Inflao e convergncia nominal714. Procura interna e procura externa795. Consumo e modelos decomrcio876. Investimento937. Atividades econmicas1038. Especializao industrial1119. Produes primrias11910. Energia12511. Comrcio internacional13312. Viagens e turismo14113. Transferncias comunitrias14714. Investimento estrangeiro15515. Balana externa16316. I&D e inovao17117. Posio competitiva17718. Tecido empresarial18519. Empresas de capital estrangeiro19320. Financiamento das empresas20121. Banca e bolsa20922. Sector empresarial do Estado21523. Carga fiscal22324. Despesa pblica22925. Dvida pblica e saldo oramental237Sociedade23926. Coeso territorial24727. Cidades e povoamento25528. Populao26129. Emigrao e imigrao26730. Estrutura etria27331. Estruturas familiares28332. Emprego e desemprego29133. Trabalho e estrutura social29934. Empreendedorismo30735. Rendimento e patrimnio31336. Poupana e endividamento31937. Repartio do rendimento epobreza32538. Desigualdade salarial33139. Classe mdia33940. Governao34741. Proteo social35342. Nvel de educao35943. Servios de educao36744. Sade37545. Habitao38346. Conforto da habitao38947. Ambiente39748. Mobilidade40549. Lazer e cultura41150. Sociedade da informaoII. Retratos421Sobre os retratos422Exemplo de leitura423Economia429SociedadeIII. Fundos437Sobre os fundos439A. A poltica de coeso da Unio Europeia457B. Programao dos fundos estruturaisedecoeso483C. Aplicao dos fundos estruturais edecoesoIV. Roteiros517Sobre os roteiros5191. O nvel de vida melhorou para ageneralidade da populao deformarelevante?5272. O pas progrediu no contexto europeu etornou-se mais atrativo?5333. As empresas tornaram-se mais competitivas e aproveitaram asoportunidades do mercado interno europeu e da globalizao?5394. O pas ganhou sustentabilidade na evoluo da forma como produz, consome e valoriza os recursos naturais?5455. A trajetria de ocupao do territrio favoreceu a coeso territorial e a igualdade de oportunidades?5516. Onde se deram as grandes mudanas equais os principais desequilbrios queseproduziram?ndices561ndice de Grficos577ndice de Mapas579ndice de Tabelas15Nota introdutriaO MomentoA sociedade portuguesa enfrenta uma profunda crise que vai muito alm da crise financeira do Estado portugus e que se articula com uma crise especfica da construo e da governao europeia. Ambas as crises so questionadas pelas dificuldades de compatibilizao entre o aprofundamento e o alargamento da Unio Europeia, no novo contexto gerado pela introduo da moeda nica e pela integrao dos Estados-membros da Europa Central e Oriental.A crise nacional surge tambm como uma crise nos prprios resultados da plena integrao europeia, nomeadamente nos efeitos da utilizao dos fundos estruturais. A maioria das regies portuguesas no conseguiu emancipar-se do referencial da coeso da Unio Europeia e a convergncia real da economia portuguesa desacelerou e depois travou no espao europeu.Para Portugal, a formao de uma Unio Europeia mais vasta e diversa e a constituio da rea do euro vieram representar um desafio bem mais exi-gente do que aquele que tinha sido colocado nos primeiros anos de integrao europeia, antes da unio econmica e monetria e dos alargamentos.A posio da economia portuguesa dentro da Unio Europeia definida pela natureza da sua atratividade, pela sua especializao e pelas funes assumidas no comrcio e no investimento internacional foi duplamente questionada pelos alargamentos.Os novos Estados-membros, em especial os da Europa Central, so por-tadores de mais baixos salrios, de mais elevados nveis de educao e de qua-lificao da populao ativa e posicionam-se geograficamente no centro do territrio da Unio Europeia e no espao polarizado pelo investimento no exterior da economia alem. Comparativamente a Portugal, oferecem vantagens relevantes na localizao de atividades associadas fragmentao das cadeias de produo de muitos bens de consumo, tal como na satisfao de procuras tursticas das classes trabalhadoras das principais economias da UE15.O papel das polticas econmicas de suporte ao crescimento e ao desen-volvimento empresarial foi duplamente questionado pela alterao substancial do quadro de restries macroeconmicas. O quadro europeu, agora dominado 16por uma situao de moeda comum forte e de rigor oramental, substancial-mente diferente do quadro vigente na altura da adeso e do quadro resultante da realizao do mercado interno europeu em 1992.O novo regime macroeconmico da Unio Europeia implicou uma pro-funda transformao do mecanismo central na regulao no mdio prazo do nvel de competitividade-custo da economia portuguesa: em vez da desvalo-rizao da taxa de cmbio, passou a depender de uma maior produtividade e de uma menor inflao.As crescentes exigncias da passagem de pas da coeso a pas da moeda nica no foram completamente entendidas, nem pela generalidade da popu-lao, nem pela maioria dos responsveis polticos e empresariais. No final dos anos 90, a economia portuguesa j mergulhara numa trajetria de menor crescimento da produtividade e de inflao mais alta, numa direo exatamente oposta que tinha de percorrer para poder progredir.A adaptao a este novo regime macroeconmico tambm no correu bem porque a convergncia nominal acabou por ser entendida como uma tarefa pontual para entrar na moeda nica, quando em causa estava um desafio per-manente de melhoria sustentada da competitividade da economia portuguesa.O pas entrou no comboio da Europa (para utilizar uma expresso muito em voga na altura) e cumpriu bem as primeiras tarefas de adaptao e de ambientao. Contudo, veio a ter mais dificuldades em encontrar e valorizar o seu lugar medida que o comboio da Europa foi ganhando mais passageiros e acelerando na globalizao da economia mundial.A crise econmica, social e financeira de Portugal tambm uma crise da sua prpria convergncia europeia, no quadro mais vasto de manifestao de crescentes dificuldades da Europa em equilibrar os custos e as vantagens da globalizao. As crises mais graves e complexas, como aquela que estamos a viver, exigem sempre um esforo mais aprofundado de anlise e compreenso da realidade e uma avaliao mais rigorosa do caminho percorrido, sem os quais no possvel aprender com as lies da experincia, nem encontrar as solues necessrias para enfrentar os problemas e as dificuldades.O trabalho que agora se divulga procura contribuir precisamente para esse aprofundamento da compreenso da realidade e para essa avaliao, configurando-se como uma ferramenta de informao e de conhecimento.Procurou-se produzir no mais um relatrio fechado, que encerra um processo de estudo e portador da sua verdade, mas uma plataforma cuida-dosamente organizada de partilha de conceitos, de dados, de indicadores, de anlises e de roteiros de interpretao, para alimentar e potenciar processos 17de reflexo aberta e diversificada por todos os que se interessam pelo futuro da economia e da sociedade portuguesas.O ProjetoO projeto de investigao dos 25 anos de Portugal europeu, que tive a honra e o prazer de coordenar, foi realizado pela sociedade de consultores Augusto Mateus & Associados para a Fundao Francisco Manuel dos Santos. Este projeto de investigao procura permitir uma compreenso das transformaes ao longo dos primeiros 25 anos de plena integrao na Unio Europeia, luz da economia, da sociedade e dos fundos estruturais.O objetivo mais amplo contribuir para que a sociedade portuguesa dis-ponha de ferramentas de reflexo, de modo a poder convergir numa avaliao construtiva do alcance e do significado das profundas transformaes ocorridas no tempo de uma gerao e num consenso pragmtico sobre as prioridades de ao para fazer face aos desafios da crise atual e do futuro prximo.A reflexo que se procura estimular, com base em informao e conhe-cimento, sobre o que correu bem e sobre o que correu mal, sobre o que foi bem feito e sobre o que foi mal feito, sobre o que foi feito e no poderia deixar de ser feito e sobre o que no foi feito e poderia ter sido feito, sobre o que slido e irreversvel e sobre o que precrio ou insustentvel.Os fundos estruturais surgiram como um dos principais, seno o principal, benefcio da plena integrao de Portugal nas Comunidades Europeias. Esta ideia generalizou-se muito em funo do seu bvio contributo para viabilizar e alavancar muitos investimentos pblicos e privados e, tambm, pela forte visibilidade das aes de formao profissional financiadas pelo Fundo Social Europeu.A dimenso quantitativa e qualitativa dos fundos estruturais de que Portugal disps depois da plena adeso assemelha-se, para a generalidade dos portugueses, a um grande icebergue de que apenas se conhece a pequena parte mais visvel.Mas o repto lanado pela Fundao Francisco Manuel dos Santos obrigava a uma anlise mais abrangente do que a quantificao de fundos estruturais.Num momento em que se prepara o prximo ciclo de fundos estruturais (2014-2020), a investigao desenvolvida preocupou-se em recolher, tratar e organizar informao muito dispersa sobre o financiamento da Unio Europeia para que possa ser a prpria sociedade portuguesa a refletir sobre a utilidade e sustentabilidade do contributo dos fundos estruturais no confronto com o desenvolvimento econmico e social observado em Portugal.18Com efeito, o papel dos fundos estruturais no desenvolvimento econ-mico e social portugus demasiado importante para ser deixado, apenas, nas mos do Governo, das autarquias locais e dos agentes que, ao longo dos ciclos anteriores, se converteram em utilizadores privilegiados dos financiamentos da Unio Europeia.A alimentao de um debate nacional no corporativo sobre onde e como utilizar os novos financiamentos estruturais e sobre como gerir e governar a sua aplicao assume grande relevncia na presente crise.A observao das grandes transformaes da economia e da sociedade desde 1986, seja enquanto evoluo histrica interna, seja enquanto desem-penho relativo no referencial europeu, visa apoiar este debate, com dados e anlises objetivas sobre a experincia destes 25 anos.Este exerccio foi particularmente exigente em termos da seleo dos indicadores estatsticos que apresentamos ao longo de centenas de pginas.As escolhas, alm de garantirem equilbrio e coerncia numa perspetiva de conjunto, tiveram, em muitos casos, de preterir certos indicadores mais bvios por no apresentarem um horizonte temporal suficientemente longo ou por no permitirem uma comparao direta com a Unio Europeia e os restantes Estados-membros. O repto lanado pela Fundao Francisco Manuel dos Santos represen-tou, tambm, um desafio quanto ao estilo, estando em causa um produto que possa ser lido e apropriado pela generalidade da populao. O projeto de investigao sobre os 25 anos de Portugal europeu procurou responder afirmativamente a estes reptos.Em primeiro lugar, visou-se dar poder e autonomia aos leitores atravs da organizao de um volume muito considervel de informao e da explici-tao de mltiplas formas e processos de a poder converter em conhecimento e lies da experincia. A iseno da anlise da evoluo da economia e da sociedade portuguesas foi suportado por um esforo muito exigente de sistematizao, de compati-bilizao e de clarificao de fontes estatsticas e de informao. Em segundo lugar, visou-se chegar a um pblico to vasto quanto poss-vel, combinando textos analticos, notas metodolgicas, definies sintticas, representaes grficas e diagramas para permitir diferentes formas e modos de entrada e de explorao dos resultados da investigao.Este caminho obrigou a fazer concesses, simplificaes, e, desse modo, a correr mais riscos, sem no entanto sacrificar os objetivos de rigor tcnico e cientfico. A primeira concesso corresponde prpria expresso fundos estrutu-rais, que percorre todo o projeto de investigao. Sem procurar tratar questes 19e pormenores demasiado especializados que afastariam a generalidade dos utilizadores, esta designao pretende contemplar a viso mais comum de fundos de suporte ao investimento e ao desenvolvimento. A segunda concesso correspondeu seleo dos instrumentos analticos e forma de explicitao dos conceitos utilizados, tentando atrair o maior nmero de leitores e utilizadores.Deste modo, a anlise suportada num nmero muito considervel de grficos que descrevem tendncias e ritmos de evoluo e procedem a com-paraes de fcil leitura, permitindo sucessivas interaes entre as vrias dimenses tratadas. Os conceitos utilizados foram sempre explicitados de forma clara para que os no especialistas possam entender o essencial do seu significado. Tambm os indicadores utilizados foram escolhidos de entre os menos complexos e traduzidos para uma linguagem mais acessvel.A difuso que os resultados deste projeto vierem a conhecer dir se estes esforos foram ou no bem-sucedidos. O que posso garantir que, no que diz respeito coordenao global e executiva do projeto, existiu uma permanente procura de clareza ao servio de uma divulgao alargada.A MetodologiaImporta tambm explicitar as linhas metodolgicas que nortearam o projeto de investigao 25 anos de Portugal europeu.Os fundos estruturais so elementos de polticas pblicas de desenvolvi-mento ancoradas em instrumentos de poltica regional e em objetivos repor-tados prioritariamente aos resultados em matria de reduo das disparidades na criao de riqueza e no nvel de vida no espao europeu.A metodologia adotada procurou garantir uma boa articulao entre o carter limitado e focalizado do papel dos fundos estruturais e o carter alar-gado e abrangente do desenvolvimento da economia e da sociedade portuguesas.A abordagem metodolgica do projeto apoia-se numa combinao par-ticular entre articulaes de natureza mais econmica configurando deter-minados regimes de crescimento e articulaes de natureza mais social configurando determinados modelos sociais , num contexto mais vasto onde se interpenetram e desenvolvem formas institucionais especficas de estruturao da democracia e do mercado.Os desenvolvimentos analticos procuraram conferir relevncia dimen-so institucional e organizacional das formas de regulao econmica, social e poltica em ao, nomeadamente no que respeita ao papel dos comportamentos diversificados das empresas, das famlias e das administraes pblicas nos encontros entre as questes econmicas e as questes sociais, por um lado, 20e entre o funcionamento dos mercados e o funcionamento das instituies democrticas, por outro.O trabalho desenvolvido apoiou-se numa viso prpria, consolidada pelos autores, ao longo de uma vasta experincia acadmica e profissional, de dimenso nacional e europeia, no domnio da avaliao de programas e polticas pblicas.A coordenao da investigao foi exercida com base num reconhecimento dos limites da experincia vivida na gesto e execuo dos fundos estruturais em Portugal dominada pela vulnerabilidade das realizaes e das vantagens da adoo de um novo modelo de programao estrutural dominado pela sustentabilidade dos resultados.A metodologia adotada visou, finalmente, alcanar, nas suas escolhas e opes, um duplo objetivo de equilbrio, que no deve ser confundido com qualquer atitude de neutralidade cientfica ou de positivismo tecnocrtico: o primeiro nvel de equilbrio corresponde ao prprio enquadramento do papel dos fundos estruturais e procura no lhes pedir, na sua con-tribuio para o desenvolvimento, nem de menos, nem de mais; o segundo nvel de equilbrio corresponde coerncia da combinao dos domnios analticos e procura no tomar partido a priori, nem por dinmicas top-down ou bottom-up, nem por dinmicas de liderana poltica ou econ-mica na configurao dos prprios processos de transformao em anlise. Os leitores e utilizadores dos resultados deste projeto de investigao tero a responsabilidade e o risco de produzirem, ou no, os seus prprios desequilbrios nestas matrias e de privilegiarem, ou no, o seu prprio posi-cionamento na vida social, poltica e econmica do pas.Os ResultadosO resultado final do projeto de investigao sobre os 25 anos de Portugal europeu traduz-se em quatro produtos ou instrumentos de aprendizagem que, sobre um mesmo referencial objetivo de observao e medida, procuram alimentar, estimular e formar leituras diversificadas e plurais sobre os caminhos do pas-sado recente, do presente e do futuro da sociedade portuguesa. no primeiro captulo dos olhares, apresentamos o filme da evoluo da economia e da sociedade portuguesas entre 1986 e 2010, seja no plano da sua dinmica interna, seja na comparao com a mdia da Unio Europeia e com os restantes 26 Estados-membros; no segundo captulo dos retratos, comparamos o posicionamento do pas face ao referencial europeu em trs momentos especficos: tiramos 21o primeiro retrato na situao de partida (1986), definida pelo momento da formalizao da plena adeso de Portugal s Comunidades Europeias; tiramos o ltimo retrato na situao de chegada (2010); e tiramos um retrato intermdio na viragem para o sculo XXI (1999), que tambm configura uma viragem das polticas de coeso escala comunitria e a concretizao do projeto da unio econmica e monetria; no terceiro captulo dos fundos, apresentamos um quadro de sntese da evoluo dos financiamentos estruturais economia portuguesa, seja na sua dimenso financeira, seja nos objetivos prosseguidos no contexto das polticas comunitrias, seja nos principais fundos, programas e postos de despesa envolvidos, ao longo dos quatro grandes ciclos de 1989-1993, 1994-1999, 2000-2006 e 2007-2013; no quarto e ltimo captulo dos roteiros, conclumos com um conjunto de respostas a questes-chave sobre o desenvolvimento de Portugal, procurando explicitar a natureza das grandes transformaes ocorridas neste ciclo de 25 anos. OlharesO primeiro resultado do projeto de investigao consiste em 50 olhares sobre a evoluo da economia e da sociedade ao longo do perodo de 1986 a 20101. Estes olhares visam identificar e caraterizar as dinmicas mais relevantes dos primeiros 25 anos de plena integrao europeia de Portugal, bem como as suas consequncias organizacionais e institucionais, das empresas s admi-nistraes pblicas, das estruturas familiares aos modelos de consumo e s formas de povoamento do territrio, dos mercados s polticas pblicas e aos mecanismos de regulao econmica e social.As dinmicas econmicas so observadas a partir de 25 olhares sobre a produo e os mercados, sobre a competitividade e a internacionalizao da economia portuguesa e sobre a prpria governao, incidindo na evoluo de indicadores sobre o nvel de vida e a convergncia real, a produtividade, a inflao e a convergncia nominal, a procura interna e a procura externa, o consumo e os modelos de comrcio, o investimento, as atividades econmicas, a especializao industrial, as produes primrias, a energia, o comrcio inter-nacional, as viagens e turismo, as transferncias comunitrias, o investimento estrangeiro, a balana externa, a I&D e a inovao, a posio competitiva, o tecido empresarial, as empresas de capital estrangeiro, o financiamento das empresas, a banca e a bolsa, o sector empresarial do Estado, a carga fiscal, a despesa pblica, a dvida pblica e o saldo oramental.1. O projeto de investigao foi iniciado em 2011 e prolongou-se por cerca de dois anos. Sempre que justificado ou necessrio, como no caso dos Censos, a anlise foi alargada ao ano de 2011.22As dinmicas da sociedade so observadas a partir de outros tantos 25 olhares sobre os modos e a qualidade de vida, sobre a coeso social e as grandes questes sociais, incidindo sobre a evoluo de indicadores sobre a coeso territorial, as cidades e o povoamento, a populao, a emigrao e a imigrao, a estrutura etria, as estruturas familiares, o emprego e o desemprego, o traba-lho e a estrutura social, o empreendedorismo, o rendimento e o patrimnio, a poupana e o endividamento, a repartio do rendimento e a pobreza, a desigualdade salarial, a classe mdia, a governao, a proteo social, o nvel e os servios de educao, a sade, a habitao e o conforto da habitao, o ambiente, a mobilidade, o lazer e cultura e a sociedade da informao.A construo de cada um destes 50 olhares obedece a uma mesma estru-tura, pensada para garantir a coerncia final do trabalho2 e, sobretudo, para facilitar uma completa apropriao dos seus ensinamentos pelos diferentes utilizadores. Em funo do interesse e da curiosidade, cada leitor fica com a liberdade de escolher os seus prprios roteiros de consulta. RetratosO segundo resultado do projeto de investigao consistiu na produo de trs retratos sobre a evoluo da posio portuguesa no contexto europeu. Se os olhares tendem a analisar em pormenor cada uma das dimenses mais relevantes da realidade, os retratos procuram ajudar a formao de uma viso de conjunto, capaz de sugerir relaes e de realar ligaes entre fenmenos, realizaes e desequilbrios entre diferentes olhares.Os trs momentos escolhidos para a captao dos retratos so quase bvios: 1986 o ano de partida e 2010 o ano de chegada, enquanto 1999 , simulta-neamente, o ano da passagem de testemunho do II Quadro Comunitrio de Apoio para o III Quadro Comunitrio de Apoio ao nvel dos fundos estruturais, e o ano da fixao das bases da introduo da moeda nica, que viria a gerar um novo regime macroeconmico europeu.O objetivo dos retratos foi sintetizar a informao contida ao longo das extensas pginas de olhares, selecionando um indicador-chave capaz de representar o respetivo grau de convergncia com o referencial mdio da Unio Europeia.A organizao infogrfica dos trs retratos produzidos, que os faz conver-gir num mesmo plano de representao, procura ajudar os leitores a construir uma panormica dos grandes avanos e recuos da posio de Portugal na Unio Europeia, em articulao com os elementos de sustentabilidade alcanados e os fatores de desequilbrio gerados.2. A equipa de investigao que coordenei no podia deixar de ser bastante alargada e diversificada, tendo contado com a participao de mais de duas dezenas de consultores.23Os retratos produzidos procuram, finalmente, ajudar a construir uma viso no linear do tempo, que a fixao prvia de um perodo de anlise com 25 anos podia induzir. O ritmo e o sentido das transformaes positivas e negativas ocorridas no foi, com efeito, nem montono, nem linear.Ao longo destes 25 anos, certos perodos foram decisivos para gerar mudan-as irreversveis, enquanto outros foram frteis em mudanas efmeras e facil-mente reversveis. Certas alturas permitiram uma fcil convergncia entre o quadro europeu e o quadro nacional nos objetivos, nas polticas e nas iniciativas. Outras alturas, pelo contrrio, revelaram fortes clivagens ou, pelo menos, alguma dissociao. Certos momentos foram vividos como tempo de ao e de otimismo, enquanto outros foram vividos como tempo de paralisia e pessimismo.Na sua simplicidade e crueza, os retratos apenas visam sugerir aquilo que os economistas chamam factos estilizados, isto , linhas de evoluo suficien-temente claras em grandes variveis, no dispensando esforos adicionais de aprofundamento e anlise.Ao facilitar o confronto das dinmicas econmicas e sociais, os retratos foram um instrumento operacional em debates promovidos pela Fundao Francisco Manuel dos Santos, de grande utilidade para validar e corrigir os caminhos da investigao.FundosO terceiro resultado do projeto de investigao consistiu na organizao de um quadro de sntese sobre os financiamentos estruturais disponibilizados a Portugal, tendo por base o levantamento dos fundos estruturais negociados e efetivamente executados para promover o desenvolvimento do pas e a sua convergncia no espao da Unio Europeia3. Estou seguro de que um dos resultados teis deste projeto de investiga-o e que no teria sido possvel de concretizar sem a colaborao empenhada das entidades pblicas envolvidas na gesto e coordenao do financiamento estrutural.O projeto de investigao cobre aqui trs dimenses principais.A primeira dimenso corresponde contextualizao da evoluo da poltica de coeso na Unio Europeia, dos seus objetivos e dos seus recursos financeiros, bem como dos diferentes fundos que a desenvolvem, do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional ao Fundo Social Europeu, dos fundos para a agricultura e o desenvolvimento rural aos fundos para as pescas e ao Fundo de Coeso.A segunda dimenso corresponde contextualizao dos vrios ciclos de programao estrutural em Portugal, dos trs Quadros Comunitrios de Apoio 3. A reforma dos fundos estruturais foi pensada para relanar a construo europeia, depois das vicissitudes dos ajustamentos aos choques petrolferos dos anos 70 e do princpio dos anos 80, em articulao com o projeto da realizao do mercado interno europeu no horizonte de 1992. O primeiro ciclo de programao estrutural arrancou em 1989 e foi possvel incluir os dados relativos execuo do Quadro de Referncia Estratgico Nacional at 2011. So estas as razes para que a informao sobre os fundos estruturais se reporte ao perodo 1989-2011 em termos de execuo e ao perodo 1989-2013 em termos de programao. 24ao Quadro de Referncia Estratgico Nacional, nomeadamente em termos das principais alteraes verificadas em cada ciclo, valorizando tambm as mudan-as quanto diversificao das condies de insero das regies portuguesas. A terceira dimenso corresponde caraterizao da aplicao efetiva dos fundos estruturais e de coeso em Portugal, da chamada execuo, iden-tificando a repartio dos recursos por fundo, por rea de interveno e por regio, bem como a posio de Portugal no conjunto dos pases beneficirios dos recursos da poltica de coeso na Unio Europeia.O levantamento efetuado revela que foi disponibilizado a Portugal um volume total de fundos estruturais e de coeso superior a 96 mil milhes de euros4, no perodo entre 1989 e 2013, tendo sido executados 81 mil milhes de euros at ao final de 2011.Este financiamento estrutural apoiou, incentivou e viabilizou, isto , alavancou um conjunto muito diversificado de projetos de investimento desen-volvidos por entidades pblicas e privadas no pas. Somando ento os fundos estruturais e de coeso, a contrapartida pblica nacional e a contrapartida privada nacional, o montante global de investimento estrutural programado para Portugal no perodo 1989-2013 ascendeu a 178 mil milhes de euros, tendo sido executados 156 mil milhes de euros at ao final de 2011.O quadro global das caratersticas da execuo dos fundos estruturais e de coeso e do seu contributo para a trajetria de desenvolvimento econmico e social experimentada pelo nosso pas no permite simplificaes nem relaes diretas no fundamentadas de causa-efeito.As regras comunitrias e as opes nacionais na gesto dos fundos estru-turais e de coeso limitaram, tambm, o seu campo objetivo de aplicao. No se pode pensar que os fundos estruturais e de coeso podiam ter sido aplicados em reas ou atravs de formas que no respeitassem essas restries.O que teria sido a evoluo da sociedade e da economia portuguesa sem os fundos estruturais e de coeso um exerccio analtico demasiado complexo para ser objeto de julgamentos ligeiros e precipitados.O que estimulamos neste trabalho o confronto objetivo sobre a evoluo da sociedade e da economia portuguesas nestes 25 anos, sobre os seus avanos e recuos, sobre as suas realizaes e frustraes, e sobre os contornos e dimenses assumidos pelos fundos estruturais e de coeso em termos nacionais, sectoriais e regionais, para formular hipteses credveis e sustentveis de interpretao.A evoluo da sociedade e da economia portuguesa nos 25 anos de Portugal europeu ilustra um semifalhano na convergncia real escala europeia e na participao na acelerao da globalizao e, portanto, nas prprias condies 4. A preos constantes de 2011.25de sustentabilidade de uma economia mais competitiva e de uma sociedade mais coesa.A informao disponibilizada sobre os fundos estruturais e de coeso ser relevante para situar o respetivo contributo para o desenvolvimento do pas. Em nosso entender, as seguintes escolhas que prevaleceram na utiliza-o e governao dos fundos estruturais limitaram significativamente o seu contributo: a orientao dos fundos foi muito mais virada para as condies poten-ciais do que para os resultados efetivos, no conseguindo o equilbrio desejvel na promoo da coeso e da competitividade; a orientao dos fundos foi muito mais virada para satisfazer as pro-curas j existentes dos destinatrios do que para potenciar a melhoria organizacional e competitiva dos agentes econmicos e institucionais, numa lgica de disputa concorrencial de recursos; a execuo dos fundos fez-se numa lgica muito fragmentria de milha-res de projetos, gerando muitas vezes repetio, desperdcio e insuficiente massa crtica; a operacionalizao dos fundos fez-se, muitas vezes, no como suporte a polticas nacionais e de desenvolvimento regional previamente estabe-lecidas, mas como substituio dessas mesmas polticas que, desse modo, ficaram reduzidas mera execuo dos fundos; a orientao dos fundos, apesar das limitaes impostas pela sua prpria natureza, privilegiou excessivamente a expanso das infraestruturas e do capital fixo e no articulou, to intensivamente quanto necessrio, essas intervenes com as aes de qualificao dos recursos humanos e das capacidades de gesto; a operacionalizao dos fundos privilegiou claramente a lgica do pro-jeto individual em detrimento da lgica da colaborao em atividades partilhadas e em projetos coletivos que envolvessem empresas, adminis-traes pblicas e entidades de suporte eficincia e competitividade. A principal responsabilidade dos fundos estruturais nas insuficincias e desequilbrios do desenvolvimento econmico e social de Portugal nestes 25 anos de Portugal europeu corresponde, assim, a uma insuficiente orientao para a mudana estrutural do pas, capaz de forar a sua sada da situao de pas da coeso.A ideia de querer sempre maximizar os fundos para Portugal exprime este enviesamento. Teria sido bem mais til querer um pas mais capaz, mais competitivo e mais coeso, que pudesse dispensar uma dose to elevada de fundos estruturais.26No houve suficiente capacidade de articular coerentemente as polticas internas de base sectorial e de base regional em modernas agendas temticas de poltica pblica. Verificou-se tambm a utilizao de uma parcela relevante dos fundos estruturais para potenciar o esforo pblico nacional, fazendo-o coincidir excessivamente com o campo especfico e limitado da poltica de coeso. Neste quadro, os fundos estruturais e de coeso foram protagonistas da viragem para dentro do pas e do insuficiente dinamismo da sua participao na construo do mercado interno europeu e na acelerao da globalizao.RoteirosO quarto resultado do projeto de investigao consistiu na elaborao de respostas pela equipa de investigao a um conjunto de questes-chave sobre estes 25 anos de Portugal europeu. Mais do que analisar o passado, estes exemplos de percursos interpreta-tivos por olhares, retratos e fundos procuram contribuir para o esclarecimento dos caminhos do futuro. Os roteiros visaram sistematizar as principais lies da experincia de 25 anos de plena integrao europeia, explicitando restries e dificuldades ou margens de escolha e oportunidades, seja no terreno da articulao entre coeso econmica e social e competitividade, seja no terreno da articulao entre convergncia nominal e convergncia real, seja, sobretudo, no terreno das condies de sustentabilidade e de comutatividade dos processos de trans-formao econmica e social. Na escolha das grandes questes foi respeitada a ideia de aprendizagem coletiva e de apropriao individual de resultados diversificados pelos pr-prios leitores.A escolha das questes visou ento a formulao de concluses operati-vas em aberto capazes de alimentar um debate sem restries. Neste sentido, combinam-se questes analticas que resultam da prpria lgica da inves-tigao e das hipteses explicativas dela surgidas e questes cidads que resultam das reflexes, dvidas e interrogaes que a generalidade da populao foi alimentando ao longo destes 25 anos.As questes-chave escolhidas incidiram sobre o nvel de vida da popula-o, a convergncia de Portugal na Europa, a competitividade das empresas, o desempenho ambiental e a sustentabilidade, a coeso territorial e as mudanas e os desequilbrios produzidos.Questo a questo, produzimos primeiro um roteiro mais retrospetivo e depois um roteiro prospetivo. 27O primeiro centrado na interpretao dos indicadores objetivos que revelam as mudanas ocorridas na economia e na sociedade portuguesas. O segundo centrado na identificao de uma agenda de ao que possa signi-ficar uma aprendizagem com os erros e as insuficincias do passado e uma resposta efetiva aos desafios do desenvolvimento econmico e social, tal como se apresentam 25 anos depois da plena adeso Unio Europeia.Eis a nossa interpretao:O nvel de vida melhorou para a generalidade da populao de forma relevante?O roteiro retrospetivo mostra como os 25 anos de Portugal europeu permitiram uma melhoria global, quer em termos de evoluo interna, quer em termos de comparao no quadro europeu, apesar das dificuldades mais recentes de sustentao do crescimento econmico e da crise econmica e financeira em que vivemos.O roteiro percorrido permite comprovar a modernizao da economia e da sociedade portuguesas, que proporcionou um acesso praticamente gene-ralizado da populao satisfao das necessidades bsicas elementares, um importante aumento do nvel de equipamento das famlias (casa, carro, ele-trnica de consumo e computadores) e um reforo substancial do peso dos servios, do lazer e da cultura no consumo. A desigualdade reduziu-se, embora no tanto quanto a coeso econmica e social exigiria. As transformaes dos 25 anos de Portugal europeu conduziram a popula-o portuguesa a um nvel de vida, material e imaterial, bem superior ao que conhecia antes da plena integrao europeia, ainda que de forma desigual, desequilibrada e no sustentvel. O roteiro prospetivo mostra que o desgnio da melhoria do nvel de vida da populao deve concentrar-se em enfrentar os fatores de desequilbrio e de insustentabilidade que tornaram to vulnerveis os resultados obtidos, at para conseguir limitar e conter a rpida destruio dos progressos alcanados ao longo dos primeiros 25 anos.Em primeiro lugar, o roteiro do futuro s pode ser o de um reequilbrio entre a capacidade de criao de riqueza e o nvel de vida da populao por-tuguesa. Os prximos anos tero de ser anos de progresso mais rpido na produtividade e na competitividade. No futuro, o nvel de consumo mdio no poder superar o nvel de produo mdia de valor da economia portu-guesa, dependendo a sua melhoria dos ganhos de produtividade que possam ser obtidos no conjunto das atividades econmicas.Em segundo lugar, o roteiro do futuro s pode ser o da criao de bases seguras para a poupana das famlias, conciliando um movimento de melhoria 28nas decises e formas de consumir e de poupar com um esforo progressivo e cumulativo de desendividamento. O entusiasmo no acesso a uma experimen-tao muito vulnervel da sociedade de consumo, que marcou as duas ltimas dcadas, deve passar o testemunho ao entusiasmo de uma sustentao credvel dos modelos de consumo e dos nveis de vida, atravs de um exerccio mais exigente de concretizao de escolhas mais enraizadas no rendimento efetivo das famlias e na otimizao do retorno das despesas realizadas e dos impostos pagos em matria de qualidade de vida.Em terceiro lugar, o roteiro do futuro ter de ser o da criao de novas referncias de equidade e de coeso social, numa economia e numa sociedade marcada por novos e mltiplos fatores de diferenciao (econmica, social, educacional, informacional e cultural) que acelerem o ritmo de inovao e a mobilidade, que intensifiquem a diversificao das formas de trabalho sob o impulso do conhecimento e da criatividade, e que favoream a reforma dos sistemas de promoo, produo e difuso dos bens e servios pblicos, bem como dos modelos de governao do mundo urbano e do mundo rural.O roteiro da prxima viagem dos portugueses em direo a uma vida melhor, numa Europa em difcil construo, deve favorecer um maior investi-mento no futuro e um maior dilogo entre geraes, para produzir resultados mais duradouros para toda a populao portuguesa.O pas progrediu no contexto europeu e tornou-se mais atrativo?O roteiro retrospetivo da evoluo da convergncia e da atratividade da econo-mia portuguesa dentro da Unio Europeia representa uma viagem de avanos, interrupes e recuos. Apesar de muitas realizaes positivas, nomeadamente na vida empre-sarial, acadmica e cientfica, cultural e artstica, no pode deixar de ser con-siderada a histria de um semifalhano nacional e europeu: o tempo de uma gerao no foi suficiente para tirar Portugal da condio de pas da coeso.Quando o ambiente externo foi relativamente favorvel, a convergncia da economia portuguesa fez-se sem especiais dificuldades, nos terrenos onde se tratava de promover a recuperao de atrasos evidentes e a adaptao a padres e regras bem estabelecidos. Quando o ambiente externo se tornou mais concorrencial e desfavorvel, o pas conheceu dificuldades e retrocessos crescentes nos terrenos que exigiam alteraes muito substanciais na capaci-dade de criar riqueza e de gerar equidade social e territorial.O choque precipitado pelos novos caminhos de aprofundamento e de alargamento da Unio Europeia revelou-se bem mais difcil, exigindo mudan-as sucessivas nos padres de especializao e nos modelos de negcio e de 29governao, suportadas por novas competncias e por processos cumulativos de inovao e internacionalizao.A economia portuguesa no conseguiu evitar assim nem uma queda abrupta do seu ritmo de crescimento econmico, nem uma mistura compli-cada de desemprego estrutural e conjuntural, que se foram conjugando num quadro de crescentes desequilbrios nas contas pblicas e nas contas externas.Para a economia portuguesa, o sculo XXI tornou-se um tempo de diver-gncia nominal, em especial nas condies de financiamento, e um tempo de divergncia real, com o recuo, parcial, mas recuo, dos nveis de vida e bem--estar da populao.O roteiro retrospetivo desta atribulada viagem parece indicar que a socie-dade portuguesa no percebeu a tempo que o seu caminho de plena integrao europeia seria tanto mais difcil e problemtico quanto no fossem alcana-dos todos os fundamentos da convergncia real a melhoria continuada da produtividade global dos fatores suportada pela inovao e da convergncia estrutural a criao de instituies e de regras coletivas de promoo, efetiva e permanente, da eficincia e da equidade.Os 25 anos do Portugal europeu foram marcados por uma forte acele-rao do tempo histrico das transformaes econmicas e sociais. Estas transformaes ainda no foram devidamente entendidas e incorporadas nos comportamentos coletivos, em especial pelos responsveis polticos e pelas organizaes de representao corporativa de interesses empresariais, sindi-cais e profissionais, e atravs da consensualizao, aprovao e execuo de incontornveis reformas estruturais nas instituies, nas polticas pblicas e nos modelos de governao. Os desafios da convergncia no espao europeu so decisivos para o futuro da economia e da sociedade portuguesas. As lies da experincia recente so muito importantes. O reconhecimento de um semifalhano coletivo nunca fcil de admitir mas nele que comea a construo de uma soluo.O roteiro das dificuldades do processo de convergncia nestes 25 anos de Portugal europeu , sem dvida, um roteiro dos falhanos do Pacto de Estabilidade e Crescimento, da poltica monetria do euro e das polticas comunitrias de convergncia e coeso. Contudo, este roteiro , principalmente e em primeiro lugar, um roteiro dos erros e limitaes da prpria experincia portuguesa, das polticas pblicas e das preferncias sociais e econmicas que acabaram por prevalecer na sociedade, na economia e no Estado.O roteiro prospetivo da convergncia tem de comear a ser construdo na melhoria da qualidade das instituies e no reforo da democracia, em Portugal e na Unio Europeia, para garantir escolhas coletivas mais claras e 30acertadas e permitir polticas pblicas mais bem fundamentadas e mais eficazes na promoo do interesse geral.O roteiro do futuro da convergncia tem de se focar no quadro de rege-nerao dos modelos de governao e de participao e nas dimenses sociais e econmicas de uma unio duradoura e coerente entre a competitividade e a solidariedade. Urgem mudanas que permitam criar mais riqueza e distribu-la de forma bem mais equilibrada entre geraes, isto , articulando muito melhor as escolhas que garantem um presente melhor sem limitar o futuro.As empresas tornaram-se mais competitivas e aproveitaram as oportunidades do mercado interno europeu e da globalizao? O roteiro retrospetivo mostra que o dinamismo econmico revelado na fase inicial deste ciclo, ainda num regime de desvalorizao deslizante do escudo e num contexto de elevada inflao, foi induzido, em grande parte, pelo reforo que os fundos estruturais significaram para o investimento pblico e privado.O impacto da plena integrao europeia criou condies mais favorveis ao investimento e mudou subjetivamente o comportamento dos empresrios num sentido de valorizao da abertura externa e da modernizao das empre-sas. Contudo, o surto de crescimento assim originado foi sobretudo uma simples acelerao quantitativa. No produziu progressos qualitativos relevantes nem na especializao nem na competitividade, tendo mesmo reforado algumas das principais vulnerabilidades da economia portuguesa.Ao longo dos 25 anos de Portugal europeu, as empresas fizeram investi-mentos importantes e melhoraram as suas capacidades no contexto da sua trajetria histrica interna, algumas de forma muito meritria. Tomadas no seu conjunto, as empresas portuguesas no se tornaram, porm, suficiente-mente competitivas para enfrentarem as novas exigncias da concorrncia na globalizao, na Unio Europeia alargada e no novo quadro oramental e cambial da rea do euro.O roteiro desta crise de competitividade da economia portuguesa tambm uma histria de iluses, de facilidades e de incompreenses.Uma histria de iluses dada a ideia do desaparecimento da restrio do dfice externo numa pequena economia sob a proteo do euro. Uma histria de facilidades, dada a utilizao do crdito barato pelo Estado, pelas empresas, pelos bancos e pelas famlias para sustentar o nvel de despesa, como se os credores no se interrogassem sobre a solvabilidade dos devedores.Uma histria de incompreenses, dada a reduzida ateno prestada s consequncias devastadoras da fragmentao das cadeias de valor escala 31mundial nas economias europeias incapazes de mudar a sua especializao, de diversificar os seus mercados e produtos e de mobilizar o conhecimento para gerar valor acrescentado.O roteiro prospetivo da competitividade da economia portuguesa tem de ser substancialmente alterado, em sintonia com as novas exigncias do regime do euro, do alargamento e da acelerao da globalizao. A competitividade exprime a capacidade de as empresas responderem com rapidez e qualidade s necessidades que moldam as procuras das empre-sas e das famlias, gerando o valor acrescentado e a riqueza que permitem os investimentos que mantm e criam empregos e que remuneram os diferentes fatores produtivos, nomeadamente capital, trabalho e propriedade intelectual.Em causa est uma melhoria do perfil de especializao, para atividades mais qualificadas e para mercados mais dinmicos, e uma renovao dos mode-los de negcio empresariais, desenvolvendo fatores competitivos no custo associados inovao e diferenciao em cadeias de valor internacionais.No quadro de uma recuperao lenta da economia portuguesa, o roteiro de um futuro onde seja possvel concretizar os ajustamentos e reformas indis-pensveis ao reequilbrio do querer e do poder da sociedade portuguesa ter de reforar necessariamente a produtividade e a competitividade das empresas portuguesas.O roteiro prospetivo indica que o crescimento sustentado da produtividade pode combinar um caminho de melhoria do perfil de especializao produtiva, favorecendo atividades de forte valor acrescentado em mercados internacionais dinmicos, com um caminho de renovao dos modelos de negcio das empre-sas, favorecendo a progresso nas cadeias de valor, a inovao e a mobilizao do conhecimento para responder s necessidades dos mercados.O pas ganhou sustentabilidade na evoluo da forma como produz, consome e valoriza os recursos naturais?O roteiro retrospetivo dos 25 anos de Portugal europeu foi palco de mltiplas transformaes que mudaram profundamente a relao entre a economia, na sua dimenso de combinao de modos de produo e de consumo, e o ambiente, na sua dimenso de recursos naturais e biodiversidade, exigindo conservao e valorizao. A prpria noo de sustentabilidade foi evoluindo com a adoo do refe-rencial moderno do desenvolvimento econmico e social sustentvel, isto , que porta um futuro com equilbrio ecolgico e respeitador dos valores materiais e imateriais do passado, na sua dimenso de patrimnio, cultura e valores civilizacionais.32O ponto de partida apresentava um dfice de infraestruturas, de servios, de condies materiais, de prioridades sociais e de sensibilidade poltica de grandes propores. Os esforos de adaptao e de recuperao deste atraso dominaram os primeiros anos da plena integrao europeia.Os 25 anos de Portugal europeu retratam assim melhorias em muitos dos principais indicadores de infraestruturas ambientais bsicas que condicionam a qualidade de vida das populaes, tendo permitido reforar a coeso social e territorial do pas, num alargamento importante no que respeita valorizao dos recursos naturais, seja na produo de bens e servios, seja na composio dos produtos tursticos. Em sentido contrrio, a evoluo dos modos de produo, de consumo e de mobilidade registou uma trajetria de forte presso sobre a sustentabilidade.O roteiro prospetivo do desgnio do desenvolvimento sustentvel no pode ser orientado pela ao ao nvel das consequncias mas muito mais ao nvel das causas da insustentabilidade a desordem das cidades, a irracionalidade das solues de mobilidade, a insuficiente explorao da inovao orientada para uma economia de baixo teor de carbono, a desvalorizao dos servios ambientais prestados pelas comunidades rurais e a insuficiente capacidade de valorizao econmica dos recursos endgenos e naturais adequadamente protegidos.O novo roteiro do futuro tem de significar um forte reforo das aes que promovam a eficincia, seja adotando tecnologias menos consumidoras de energia, seja alterando padres e modos de vida. Devero merecer particular ateno aqueles domnios que assumem maior relevncia ao nvel do consumo de energia, nomeadamente a mobilidade, a regenerao urbana e a habitao sustentvel, bem como as atividades industriais de maior intensidade energtica e, obviamente, a prpria produo e distribuio de energia, onde a coexistncia de formas de produo e consumo pode vir a representar avanos relevantes.No domnio crucial dos transportes, o roteiro do futuro no deixar de incluir o urbanismo e o ordenamento do territrio como peas integrantes da estratgia com impacto na forma e na distncia das deslocaes entre casa e trabalho.O roteiro do futuro s poder ser o do desenvolvimento sustentvel, isto , o da sustentabilidade-soluo em vez da sustentabilidade-problema.Este roteiro exigir um novo modelo de governao temtico e no secto-rial onde possam convergir e ganhar coerncia as polticas de competitividade, de ordenamento do territrio, de ambiente e de transportes, comandando uma reestruturao da tributao incentivadora da racionalizao das escolhas das empresas e das famlias.Este roteiro exigir ainda a explorao das redes inteligentes, disponibi-lizando servios de informao sobre infraestruturas ambientais, energticas 33e de transportes que permitam aos consumidores e aos produtores construir sinergias de poupana e de racionalidade.Os riscos associados s alteraes climticas e ao potencial ciclo ascen-dente e oscilatrio dos preos dos principais recursos so demasiado pena-lizadores do ambiente e das condies de crescimento no longo prazo para no exigirem uma profunda alterao do comportamento das famlias, das empresas e dos governos.O roteiro do futuro configura-se bem mais difcil face aos primeiros 25 anos de Portugal europeu. Em causa est uma maior eficincia no acesso, na transformao e na utilizao dos recursos-chave e uma maior coerncia na adoo dos objetivos de desenvolvimento sustentvel, atravs do combate fragmentao das polticas pblicas e da utilizao corajosa dos incentivos dos preos (positivos e negativos), para gerar sociedades bem mais resilientes e equitativas.A trajetria de ocupao do territrio favoreceu a coeso territorial e a igual-dade de oportunidades?O roteiro retrospetivo dos 25 anos de Portugal europeu mostra como mudou o pas nas condies de vida e de trabalho nas suas diferentes regies e territrios.Os investimentos realizados em infraestruturas ambientais, sociais, cul-turais, empresariais, produtivas, comerciais e de transportes, com o apoio determinante dos fundos estruturais, bem como os investimentos realizados em habitao, com o apoio decisivo da queda histrica das taxas de juro, trans-formaram profundamente a configurao territorial do pas, tornando-o muito menos desigual nas condies bsicas de acesso qualidade de vida.Os 25 anos de Portugal europeu conduziram as regies portuguesas a uma aproximao das condies de vida propiciadas s suas populaes, em dom-nios to importantes como a habitao, o acesso energia e ao saneamento, a sade, a educao ou nas distncias rodovirias entre os principais centros urbanos do pas. Na orientao dos investimentos, observou-se o primado da coeso sobre o da competitividade e o primado das condies potenciais sobre o dos resultados efetivos do desenvolvimento econmico e social. Esta escolha no permitiu construir dinmicas regionais de convergncia cumulativa de igualdade de oportunidades, quer para as pessoas, quer para as empresas, seja no acesso aos fatores mais avanados de criao de valor (conhecimento, cultura, cria-tividade), seja no acesso ao rendimento gerado fora do contexto da ao das polticas pblicas. 34O desenvolvimento das regies portuguesas gerou formas suficientemente diferenciadas de litoral e de interior e transformou o pas numa espcie de grande arquiplago: algumas ilhas (o nmero limitado de polos mais dinmicos) destacam-se num mar de dificuldades (as regies que perdem populao, riqueza relativa e dinamismo econmico).O roteiro prospetivo em matria de coeso territorial ter de ser o roteiro da progressiva descoberta de que o acerto de contas necessrio para o pro-gresso no deve ser feito com as prprias assimetrias regionais do passado com base num referencial domstico, mas com um novo referencial assente na capacidade de aproveitar as oportunidades de desenvolvimento no futuro com a Europa e o mundo.O roteiro do futuro , em primeiro lugar, o da valorizao do princpio da diferenciao territorial como fator de sucesso na integrao europeia e na globalizao.O futuro das regies portuguesas depende cada vez mais da respetiva capacidade em alimentar processos cumulativos de povoamento humano, institucional e empresarial na valorizao aberta dos seus recursos endge-nos, materiais e imateriais, naturais e patrimoniais e na realizao de funes econmicas especficas e distintivas na produo para o mercado interno e para o mercado mundial.O roteiro do futuro , em segundo lugar, o de uma colaborao supramu-nicipal para garantir uma descentralizao regional liberta dos limites fsicos dos concelhos mas ancorada na legitimidade democrtica do poder local.O futuro das regies portuguesas depende em larga medida do abandono radical da fragmentao, implcita na reduzida escala concelhia, e da mimtica de caminhos, implcita no confinar dos investimentos e das iniciativas ao estrito referencial das assimetrias internas. O roteiro do futuro , em terceiro lugar, o de uma muito maior valoriza-o do papel das regies na renovao dos paradigmas competitivos em ao em Portugal. O futuro das regies portuguesas depende, em larga medida, da construo de sinergias territoriais especficas, combinando economias de aglomerao e de especializao aliceradas em estratgias regionais no fragmentadas, mas suficientemente diferenciadas e descentralizadas. Estas sinergias podero ser fortemente potenciadas por reformas estruturais na organizao e modelos de governao das administraes pblicas do pas.O roteiro do futuro deve garantir a trajetria de convergncia da produ-tividade atravs da competitividade e do reforo da eficincia econmica. As estratgias de especializao devem valorizar os recursos das prprias regies 35e o seu potencial de incorporao de conhecimento e inovao para melhorar o posicionamento das regies nas cadeias de valor em que se especializam.Simultaneamente, ganha relevncia a necessidade de integrar respostas aos processos de recomposio demogrfica com instrumentos de promoo da mobilidade que permitam uma maior eficincia na organizao do territrio.O roteiro do futuro na coeso territorial s pode ser construdo em torno da prossecuo de resultados centrados na melhoria das capacidades huma-nas, empresariais e institucionais das regies e no seu acesso aos servios, aos conhecimentos e aos talentos que lhes permitam fazer parte de processos de desenvolvimento sustentvel, no escala meramente domstica, mas escala europeia e mundial.Onde se deram as grandes mudanas e quais os principais desequilbrios que se produziram?Os 25 anos de Portugal europeu acederam a volumosos fundos estruturais da Unio Europeia que suportaram o financiamento de investimentos pblicos e privados com impacto nas estruturas econmicas e sociais do pas. As profundas e irreversveis mudanas econmicas e sociais constituem um roteiro de profundos e insustentveis desequilbrios e um roteiro de pro-gressiva descoberta de que uma sociedade no pode sustentar duradouramente progressos na sua coeso social sem garantir melhorias dinmicas substanciais na sua competitividade.As principais transformaes econmicas e sociais conduziram a socie-dade portuguesa para uma situao que claramente marcada pelas realidades urbanas (embora de pequena escala) e pelas atividades de servios (embora mais orientados para as famlias e coletivos do que para as empresas). O acesso generalizado da populao s condies bsicas de vida foi estabelecido, embora permaneam importantes disparidades territoriais. As estruturas e relaes sociais sofreram uma autntica revoluo que mudou os comportamentos e as prprias bases do contrato social, apesar de o pas permanecer na cauda da Europa em matria de educao.As esperanas depositadas na interpenetrao entre consolidao da democracia e participao na construo europeia no devem ser perdidas numa leitura subjugada pelas dificuldades da atual crise do pas.A convergncia econmica real ou no . No longo prazo, so os fatores determinantes da criao de riqueza e de emprego e os fatores determinantes do progresso econmico e social que contam, quando devidamente utilizados na organizao das empresas e do Estado.O roteiro do futuro exige um novo entendimento do progresso econ-mico e social no qual o desenvolvimento interno depende da capacidade de 36participar mais ativa e equilibradamente na construo europeia e na globali-zao, abrindo mais oportunidades para os portugueses, para as suas empresas e para as suas regies.No possvel criar uma economia dinmica capaz de gerar os empregos correspondentes s expetativas de uma populao que se educa e qualifica se continuarmos virados para dentro de uma pequena economia, esperando que a sua limitada procura interna seja suficiente. O roteiro do futuro prximo da sociedade portuguesa, seja para conservar e aprofundar os importantes progressos registados nestes 25 anos de Portugal europeu, seja para poder alcanar novos patamares de qualidade de vida, de coeso social e territorial e de liberdade de escolhas, passa, necessariamente, pela eliminao das razes da crise financeira do Estado.As reformas que no podem mais esperar devem ser baseadas numa estra-tgia abrangente mas concentrada em prioridades bem claras. O balano da experincia destes 25 anos de Portugal europeu, dos seus sucessos e falhanos, mostra que a equidade no pode ser construda sem eficincia e que a eficincia no pode ser cumulativamente dinamizada sem equidade. A competitividade e a coeso no passam das duas faces inseparveis da moeda rara do progresso econmico e social sustentvel. A AmbioSintetizei aqui o essencial do nosso balano sobre os primeiros 25 anos de plena integrao europeia do pas. As concluses que apresentamos visam, sobretudo, exemplificar e estimu-lar a utilizao desta plataforma de informao, de conhecimento e de debate para produzir muitas outras concluses. Os 25 anos de Portugal europeu no so uma obra fechada: tm a ambio de contribuir para um debate alargado e aprofundado, aberto e plural, sobre os caminhos do desenvolvimento econmico e social do pas.37Agradecimentos No podia terminar sem agradecer a todos os que contriburam para concre-tizar os 25 anos de Portugal europeu.Em primeiro lugar, queria reconhecer o empenho demonstrado pelos consultores da Augusto Mateus & Associados no desenvolvimento deste pro-jeto de investigao.s entidades responsveis pela gesto e coordenao nacional dos fun-dos estruturais e de coeso, nomeadamente ao Instituto Financeiro para o Desenvolvimento Regional, I.P., ao Instituto de Gesto do Fundo Social Europeu, I.P., ao Gabinete de Planeamento e Polticas e Direo-Geral de Recursos Naturais, Segurana e Servios Martimos, a todos devo deixar um especial agradecimento pelo apoio prestado no levantamento dos fundos. Este apoio ultrapassou em muito a simples resposta convencional, at porque, entre muitos outros obstculos, o horizonte temporal da anlise foi tambm o da substituio dos registos em papel pelos registos em suporte digital.No posso deixar de agradecer as crticas e as sugestes sempre atentas de Antnio Barreto, presidente do Conselho de Administrao da Fundao Francisco Manuel dos Santos, bem como de Jos Pena do Amaral e de Jos Tavares, do Conselho Cientfico desta fundao, que acompanharam em per-manncia a conceo e o desenvolvimento destes 25 anos de Portugal europeu.As reunies e os debates promovidos pela Fundao Francisco Manuel dos Santos, ao longo da execuo do projeto, foram estimulantes e de grande utilidade para concretizar olhares, retratos e roteiros, permitindo contar com o inestimvel contributo de Alfredo Marques, Antnio Arajo, Carlos Farinha Rodrigues, Diogo Lucena, Francisco Sarsfield Cabral, Maria Joo Valente Rosa, Joo Ferro, Jos Manuel Fernandes, Nuno Vitorino, Pedro Magalhes, Pedro Pitta Barros e Vtor Escria. Em particular, gostaria de agradecer a disponibilidade de Jos Soares dos Santos e de Jos Quinta, do Conselho de Administrao da Fundao Francisco Manuel dos Santos.Este ltimo pargrafo no ser suficiente para agradecer o permanente entusiasmo com que Filipa Dias, Isabel Vasconcelos, Rui Pimentel, Susana Norton, Teresa Mouro-Ferreira e a restante equipa da Fundao Francisco Manuel dos Santos apoiaram a concretizao e a divulgao destes 25 anos de Portugal europeu.Augusto Mateus Presidente da sociedade de consultores Augusto Mateus & Associados38Siglas e abreviaturasAECT Agrupamento europeu decooperao territorialBEI Banco Europeu de InvestimentoCAE Classificao das Atividades Econmicas CCDR Comisso de Coordenao eDesenvolvimento RegionalCECA Comunidade Europeia do Carvo e do AoCEE Comunidade Econmica EuropeiaCnuced Conferncia das Naes Unidas para o Comrcio e DesenvolvimentoCTUP Custo em trabalho por unidade produzida DGRM Direo-Geral de Recursos Naturais, Segurana e Servios MartimosEFTA Associao Europeia de Comrcio LivreECU Unidade de conta europeiaETAR Estao de tratamento de guas residuaisEuratom Comunidade Europeia daEnergia AtmicaFBCF Formao bruta de capital fixoFC Fundo de CoesoFEADER Fundo Europeu Agrcola deDesenvolvimento RuralFEAMP Fundo Europeu dos Assuntos Martimos e das PescasFEDER Fundo Europeu de Desenvolvimento RegionalFEI Fundo Europeu de InvestimentoFEOGA-O Fundo Europeu deOrientao e Garantia Agrcola seco OrientaoFEP Fundo Europeu das PescasFMI Fundo Monetrio InternacionalFSE Fundo Social EuropeuGAL Grupos de ao localGEE Emisses de gases com efeito deestufaGPP Gabinete de Planeamento e PolticasIDE Investimento direto estrangeiro IDPE Investimento direto do pas noexterior IEC Imposto especial sobre o consumoIEFP Instituto de Emprego e Formao Profissional IFDR Instituto Financeiro para oDesenvolvimento Regional39IFOP Instrumento Financeiro deOrientao da PescaIGFSE Instituto de Gesto do Fundo Social EuropeuIMI Imposto municipal sobre imveisIMT Imposto municipal sobre astransmisses onerosas de imveisINE Instituto Nacional de EstatsticaIPSFL Instituies privadas sem fins lucrativosIRC Imposto sobre o rendimento depessoas coletivasIRS Imposto sobre o rendimento depessoas singularesIVA Imposto sobre o valor acrescentadoI&D Investigao e desenvolvimentoI&DT Investigao e desenvolvimento tecnolgicoMAMAOT Ministrio da Agricultura, doMar, do Ambiente e do Ordenamento do TerritrioNUTS Nomenclatura das unidades territoriais para fins estatsticosOCDE Organizao para a Cooperao eDesenvolvimentoPALOP Pases Africanos de Lngua Oficial PortuguesaPIB Produto interno bruto PME Pequenas e mdias empresasPNUD Programa das Naes Unidas parao DesenvolvimentoPO Programa operacionalp.p. Pontos percentuaisQCA Quadro Comunitrio de ApoioQREN Quadro de Referncia Estratgico NacionalRNB Rendimento nacional brutoRUP Regio ultraperifricaTIC Tecnologias de informao ecomunicaoTICE Tecnologias de informao, comunicao e eletrnicaUE Unio EuropeiaUEM Unio Econmica e MonetriaVAB Valor acrescentado bruto40Referenciais geogrficosNUTS IIRegio Autnoma dos AoresRegio Autnoma da MadeiraRegio Autnoma dos AoresRegio Autnoma da MadeiraNUTS IIINorteCentroAlentejoAlgarveLisboaMinho-LimaCvadoAveGrandePortoTmegaAltoTrs-os-MontesDouroBeiraInteriorNorteDo--LafesSerra daEstrelaCova daBeiraBeiraInteriorSulAltoAlentejoAlentejoCentralBaixoAlentejoAlgarveGrandeLisboaOesteLezriado TejoMdioTejoPinhalLitoralBaixoMondegoAlentejoLitoralPennsulade SetbalPinhalInteriorSulPinhalInteriorNorteEntre Douroe VougaBaixoVouga41UNIO EUROPEIAPasSiglaAlemanhaDEustriaATBlgicaBEBulgriaBGChipreCYDinamarcaDKEslovquiaSKEslovniaSIEspanhaESEstniaEEFinlndiaFIFranaFRGrciaELHungriaHUIrlandaIEItliaITLetniaLVLituniaLTLuxemburgoLUMaltaMTPases BaixosNLPolniaPLPortugalPTReino UnidoUKRepblica ChecaCZRomniaROSuciaSE UE12UE15UE25UE27Legenda:PortugalMaltaEspanhaFranaAlemanhaPolniaReino UnidoDinamarcaPases BaixosBlgicaLuxemburgoItliaRepblicaChecaRomniaGrciaChipreBulgriaFinlndiaSuciaEstniaLituniaLetniaustriaEslovniaHungriaEslovquiaIrlandaIOlharesEvoluo da economia e da sociedade desde 198645Sobre os olharesNeste primeiro captulo, observamos grandes transformaes da economia e da sociedade portuguesas ao longo dos primeiros 25 anos de plena integrao na Unio Europeia.A evoluo entre 1986 e 2010 de centenas de indicadores sistematizada ao longo de 50 olhares, disponibilizando trs grandes planos de comparao ter-ritorial: nacional, regional e escala europeia. O objetivo foi concretizar um instrumento de aprendizagem e de reflexo, que sobre um mesmo referencial objetivo de observao e medida permita formar leituras diversificadas e plurais sobre os caminhos do passado recente, do presente e do futuro do pas. Neste contexto, evitaram-se os adjetivos e o modelo fechado de relatrio mais tcnico, para abrir a cada leitor a possibilidade de observar e valorizar a orien-tao, o ritmo e a intensidade de grandes transformaes econmicas e sociais que ocorreram no espao de uma gerao. Numa diviso que no se considera estanque entre economia e sociedade, ordenaram-se os olhares em dois grandes grupos: 25 olhares acompanham transformaes de ndole mais econmica, obser-vando o nvel de vida e a convergncia real, a produtividade, a inflao e a convergncia nominal, a procura interna e a procura externa, o consumo e os modelos de comrcio, o investimento, as atividades econmicas, a espe-cializao industrial, as produes primrias, a energia, o comrcio interna-cional, as viagens e turismo, as transferncias comunitrias, o investimento estrangeiro, a balana externa, a I&D e a inovao, a posio competitiva, o tecido empresarial, as empresas de capital estrangeiro, o financiamento das empresas, a banca e a bolsa, o sector empresarial do Estado, a carga fiscal, a despesa pblica, a dvida pblica e o saldo oramental; 25 olhares acompanham transformaes de ndole tambm social, obser-vando a coeso territorial, as cidades e o povoamento, a populao, a emigrao e a imigrao, a estrutura etria, as estruturas familiares, o emprego e o desemprego, o trabalho e a estrutura social, o empreende-dorismo, o rendimento e o patrimnio, a poupana e o endividamento, a repartio do rendimento e a pobreza, a desigualdade salarial, a classe 46mdia, a governao, a proteo social, o nvel e os servios de educao, a sade, a habitao e o conforto da habitao, o ambiente, a mobilidade, o lazer e cultura e a sociedade da informao. A estrutura dos olhares fixa e composta por quatro partes. Na pri-meira parte do olhar, um texto sintetiza as principais tendncias observadas em Portugal e na comparao com o padro europeu. Na segunda parte do olhar, trs grficos enquadram a evoluo destes 25 anos escala nacional, com a Unio Europeia e com os restantes 26 Estados-membros. Na terceira parte do olhar, uma srie varivel de grficos ou mapas aprofundam diversas caratersticas da anlise. Na quarta parte e ltima parte do olhar, apontam-se metodologias, conceitos e fontes de informao consultadas.OlharesECONOMIADa inflao dvida pblica, da produtividade ao comrcio internacional, 25 olhares observam transformaes na economia portuguesa desde aadeso Unio Europeia491Nvel de vida e convergncia realO ritmo de aproximao do nvel de vida dos portugueses ao padro europeu protagonista na avaliao do desempenho econmico do pas nos ltimos 25 anos. Este tem por medida a percentagem que o PIB per capita portugus representa face mdia da UE27, quando expresso em paridades de poder de compra.Portugal nos ltimos 25 anosEntre 1986 e 1992, o nvel de vida portugus subiu de 65% para 79% do nvel de vida europeu. A manuteno deste ritmo inicial de convergncia teria permitido a Portugal ter igualado a mdia da UE27 logo por volta do ano 2000. Contudo, o pas chegou a 2010 com 81% do nvel de vida europeu, tendo con-seguido convergir em sete dos ltimos 18 anos (Grfico 1.1).O cumprimento dos requisitos para aderir ao euro veio condicionar o processo de convergncia do pas, que teve de abdicar da sua poltica monetria e cambial. Impossibilitada a recorrente desvalorizao do escudo, as limitaes da economia portuguesa ficaram expostas acelerao do processo de globa-lizao e ao alargamento da Unio Europeia a Leste. Portugal foi incapaz de aproveitar as condies econmicas favorveis, que combinaram entradas de fundos comunitrios e baixas taxas de juro e de inflao com maiores opor-tunidades de aprovisionamento internacional a baixo custo para relanar a competitividade.O acumular dos desequilbrios da economia portuguesa nestes 25 anos est nesta diferente capacidade de criar riqueza e de consumir (Grfico 1.2): o PIB per capita em paridades de poder de compra convergiu 16 pontos percentuais, de 65% para 81% da mdia europeia; o consumo per capita em paridades de poder de compra convergiu 23 pontos percentuais, de 69% para 92% da mdia europeia.A convergncia donvel de vida dosportugueses com o padro europeu concentrou -se no perodo entre 1986 e1992, com o choque inicial positivo da adeso Unio Europeia.50Portugal no contexto da Unio EuropeiaO pas no foi capaz de acompanhar o ritmo de convergncia mais acelerado da Espanha, da Grcia e da Irlanda, os designados parceiros iniciais da coeso que, a par de Portugal, receberam ajuda do Fundo de Coeso. A distncia aos parceiros iniciais da coeso revela-se mais na tica de convergncia do PIB do que nas ticas do rendimento disponvel e do consumo (Grfico 1.4).O nvel de vida portugus est hoje mais prximo da mdia das econo-mias dos Alargamentos de 2004 e de 2007 do que da mdia destes parceiros iniciais da coeso. Na ltima dcada, o ritmo de crescimento do conjunto das economias do Alargamento excedeu claramente a mdia europeia. Se, em 1994, o nvel de vida mdio destes pases correspondia a cerca de 43% do nvel de vida europeu, em 2010 j corresponde a 61%. Neste perodo, os Estados-membros do Alargamento a Leste aproximaram-se, no seu conjunto, em 18 pontos percentuais do PIB per capita mdio europeu, enquanto Portugal apenas convergiu em quatro pontos percentuais (Grfico 1.3 e Grfico 1.5).Disparidades regionaisA convergncia econmica em termos do PIB per capita, expresso em paridades de poder de compra, no homognea a nvel nacional e revela assimetrias regionais. Das 30 regies NUTS III, apenas a Grande Lisboa e a Madeira superam a mdia europeia. Mas desde 1995, as 11 regies mais pobres aproximaram-se do nvel de vida europeu (Grfico 1.6).A Grande Lisboa regio portuguesa com nvel de vida mais elevado do pas, comparando com a mdia da Irlanda. A Serra da Estrela est no extremo oposto, com um PIB per capita inferior mdia da Bulgria. No contexto europeu, Alentejo, Centro, Norte e Aores, comparavam em 2009 com regies de Leste, da Grcia, do sul de Itlia e da Estremadura espanhola (Mapa 1.1).51Grco 1.1. PIB per capita em Portugal | 1986 a 2010 -3-2-101234519861987198819891990199119921993199419951996199719981999200020012002200320042005200620072008200920106065707580859095100Moedanica 1993 1986 1995 1999 2002 2007 2004 QCA I (1989-1993)QCA II (1994-1999)QCA III (2000-2006)QREN (2007-2013) UE12Mercado Interno UE15Circulao do EURO UE25 UE27 UE27=100 Variao em pontos percentuais -35% -19% PIB per capita Grco 1.2. Convergncia na tica da produo e do consumo: comparao entre Portugal e UE | 1986 a 2010051015202530354019861987198819891990199119921993199419951996199719981999200020012002200320042005200620072008200920106065707580859095100Moeda nica1993198619951999200220072004QCA I (1989-1993) QCA II (1994-1999) QCA III (2000-2006) QREN (2007-2013)Diferena em pontos percentuais entre o consumo e produo per capitaUE12 Mercado InternoUE15 Circulaodo EUROUE25UE27Consumo per capita-30%-8%UE27=100-35%-19%PIB per capita Desde 1993, Portugal s convergiu com a Unio Europeia em sete dos 18 anos. OPIB per capita subiu de 65% para 79% entre 1986 e 1992 e de 79% para 81% entre 1993 e 2010. Nota: Mdia da UE27=100. Em paridades de poder de compra. Valores estimados para a UE27 entre 1986 e 1992.Fonte: AMECO (acedido em fevereiro de 2012)O processo de convergncia portugus foi menos acentuado na criao de riqueza do que no consumo, acumulando desequilbrios a partir de 1990/93 e em anos mais recentes. Nota: Mdia da UE27=100. Em paridades de poder de compra. Valores estimados para a UE27 entre 1986 e 1992.Fonte: AMECO (acedido em fevereiro de 2012)52Grco 1.3. PIB per capita: a posio de Portugal na UE | 1993 e 2010BG RO LV LT PL EE HU SK CZ PT SI MT EL CY ES IT FR UK FI DE BE SE AT DK IE NL LU02550751001251501993 2010PTMdia UE27 = 100Grco 1.4. ticas de convergncia: comparao entre Portugal e parceiros iniciais dacoeso | 1986 a 201060801001201401986198819901992199419961998200020022004200620082010IrlandaPIB per capita Rendimento disponvel per capita Consumo per capitaEspanhaGrciaPortugalUE=1006080100120140198619881990199219941996199820002002200420062008201060801001201401986198819901992199419961998200020022004200620082010A estagnao econmica baixou Portugal 18. posio na UE27. Em2010, onvel de vida nacional aproximava--se mais dos pases do Alargamento do que dos parceiros iniciais da coeso: Grcia, Espanha e Irlanda.Nota: Mdia da UE27=100. Em paridades de poder de compra. Valores provisrios para a Grcia. Os valores do Luxemburgo mais do que duplicam a mdia europeia.Fonte: AMECO (acedido em fevereiro de 2012)Portugal noacompanhouo ritmo deconvergncia dosparceiros iniciais dacoeso, sobretudoEspanha e Irlanda. Oatraso maior nacriao de riquezado que no rendimentoe consumo.Nota: Mdia da UE27=100. Em paridades de poder de compra. A menor evoluo da Irlanda no rendimento disponvel e no consumo reflete a relevncia do repatriamento de lucros para o estrangeiro.Fonte: AMECO (acedido em fevereiro de 2012)53Grco 1.5. Rotas de convergncia do PIB per capita: comparao entre Portugal, parceiros iniciais da coeso e UE | 1994 a 2010941094109410941094109410-8%-6%-4%-2%0%2%4%6%8%10%40 60 80 100 120 140Crescimento real PIB per capitaPIB per capita (UE27=100)Pases do AlargamentoPortugalGrciaEspanhaIrlandaRestante UEGrco 1.6. Convergncia do PIB per capita por NUTS III em Portugal | 1995 a 2009Grande LisboaMadeiraAlentejo LitoralAlgarveGrande PortoPinhal LitoralBaixo MondegoBaixo AlentejoAoresBaixo VougaLezria do TejoBeira Interior SulAlentejo CentralMdio TejoAlto AlentejoEntre Douro e VougaOesteCvadoDo-LafesPennsula de SetbalAveCova da BeiraBeira Interior NorteMinho-LimaAlto Trs-os-MontesPinhal Interior NortePinhal Interior SulDouroTmegaSerra da Estrela3040506070809010030 40 50 60 70 80 90 100Alentejo LitoralGrande PortoPBaixo VougaLezria MdiAlto AleentejoEntre Douro e VougaOestePennsula de SetbalAveCova da BeirMinPinhal InteriRegies que divergiram face mdia europeiaentre 1995 e 2009PIB per capita 1995 (UE27=100) AlgarvePinhal LitoralBaixo MondegoBaixo AlentejoAoresa do TejoBeira Interior SulAlentejo Centraldio TejoCvadoDo-LafeseiraaaBeira Interior Norteinho-LimaAlt lto Trs-os-Monteserior NortePinhal Interior SulDouroTmegaSerra da EstrelaPia ddioeirMinerioRegies que convergiram face mdia europeia entre 1995 e 2009PIB per capita 2009 (UE27=100) No confronto das trajetrias de convergncia com aUnio Europeia, fica exposto o crculo vicioso da economia portuguesa. Notas: Mdia da UE27=100. Em paridades de poder de compra. O conjunto Restante UE engloba Alemanha, ustria, Blgica, Dinamarca, Finlndia, Frana, Holanda, Itlia, Luxemburgo, Reino Unido e Sucia.Fonte: AMECO (acedido em fevereiro de 2012)As 11 regies mais pobres do pas reduziram a distncia ao padro europeu desde 1995, mas um tero das regies portuguesas divergiu entre 1995 e 2009. Mantm -se grandes assimetrias regionais, sendo o nvel de vida da regio mais pobre, a Serra da Estrela, um tero do da regio mais rica, a Grande Lisboa.Notas: Mdia da UE27=100. Em paridades de poder de compra. A Grande Lisboa e Madeira encontram -se acima da mdia europeia. Fonte: Eurostat (acedido em maro de 2012)54Mapa 1.1 PIB per capita por NUTS II: a posio de Portugal na UE | 2000 a 2009Legenda:PIB per capita< 5051 7576 100> 10020002009Alentejo, Centro, Norte e Aores no acompanharam o processo deconvergncia global, comparando com regies do Alargamento e daEuropa do Sul.Notas: Mdia da UE27=100. Em paridades de poder de compra. Os dados referentes as regies austracas, italianas e hngaras no esto disponveis para 2000.Fonte: Eurostat (acedido em maro de 2012)55Conceitos e metodologiaConvergncia real O indicador mais utilizado para avaliar o ritmo de convergncia o PIB per capita expresso em paridades de poder de compra e em percentagem damdia europeia, concentrando a anlise numa tica de produo de riqueza. Convm referir que este indicador no reflete totalmente as condies devida das populaes, apresentando vrias limitaes. ocaso do empolamento resultante da presena deempresas de capitais estrangeiros que repatriam os seus lucros (como o caso da Irlanda ou da regio da Madeira) ou o caso de uma elevada proporo da populao residente numa regio trabalhar noutra (exemplo dos residentes na Pennsula de Setbal que trabalham em Lisboa). Estas limitaes sugerem que aanlise do processo de convergncia do nvel de vida a partir da tica da produo seja complementada com a anlise a partir da tica do rendimento e do consumo.Pases da coesoConjunto de pases elegveis ao Fundo de Coeso, com um rendimento nacional bruto por habitante inferior a 90% da mdia comunitria: No perodo 1992-2003: Portugal, Espanha, Grcia e Irlanda (doravante designados parceiros iniciais da coeso); No perodo 2004-2006: Portugal, Espanha, Grcia, Repblica Checa, Estnia, Chipre, Letnia, Litunia, Hungria, Malta, Polnia, Eslovnia e Eslovquia; No perodo 2007-2010: Portugal, Grcia, Repblica Checa, Estnia, Chipre, Letnia, Litunia, Hungria, Malta, Polnia, Eslovnia, Eslovquia, Bulgria e Romnia. Espanha , neste perodo, elegvel a ttulo transitrio.Paridades de poder de compraCorresponde a deflacionadores espaciais e conversores monetrios que, eliminando os efeitos das diferenas nos nveis dos preos entre pases, permitem comparaes em volume das componentes do PIB bem como dos nveis dos preos. A unidade monetria resultante, euro em paridades de poder de compra padro, tem o mesmo poder de compra em todo o espao da Unio Europeia a 27, refletindo a mdia ponderada do poder de compra das moedas nacionais e dos nveis de preos de cada Estado-membro. (INE)Para saber maisAugusto Mateus & Associados (2011) | Relatrio CGD sobre o desenvolvimento da economia portuguesa Comisso Europeia (2011) | European economic forecast autumn 2011Mais dados estatsticos disponveis na 572ProdutividadeConsiderada o principal fator explicativo do crescimento econmico a longo prazo, a evoluo da produtividade est na base da melhoria sustentada dos padres de vida das populaes.Para compreender o modelo de crescimento da economia nacional nas lti-mas dcadas, decompe-se a evoluo do PIB per capita em termos de varia-o da produtividade, avaliando o produto por trabalhador, e em termos de intensidade na utilizao dos recursos humanos, avaliando a proporo de trabalhadores empregados. Portugal nos ltimos 25 anosA produtividade por trabalhador teve tendncia a desacelerar na economia portuguesa, sendo manifestamente insuficiente para sustentar o crescimento do padro de vida das famlias: em termos mdios, cresceu 4% ao ano entre 1986 e 1993, acima de 2% entre 1994 e 1999 e menos de 1% ao ano desde ento. A evoluo da utilizao dos recursos humanos reflete um mercado de trabalho cada vez menos dinmico e inclusivo, verificando-se uma vincada diminuio da percentagem de populao residente que trabalha nos perodos de crise (Grfico 2.1).Entre 1986 e 2010, o PIB per capita subiu 83% em termos reais, sendo que metade deste crescimento foi alcanada at 1992. Desde ento, o ritmo de crescimento do PIB per capita portugus desacelerou de uma mdia prxima de 5% ao ano, entre 1986 e 1993, para 3% entre 1994 e 1999, antecedendo a estagnao da ltima dcada.A partir de estimaes economtricas, possvel identificar que fatores faz