portal do servidor aposentado da uel: tempo de recordar

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Nádina Aparecida Moreno

Berenice Quinzani Jordão

ReitoRa

Vice-ReitoRa

Grupo de Estudos com Servidores Aposentados da UEL:novos olhares sobre a Universidade, projeto cadastrado

na Pró-Reitoria de Extensão - PROEX.

Maria Aparecida Vivan de CarvalhoFabiano Ferrari RibeiroRosane da Silva Borges

(Organizadores)

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordar

Londrina2011

Impresso no Brasil / Printed in Brazil Depósito Legal na Biblioteca Nacional

2011

Direitos reservados àEditora da Universidade Estadual de LondrinaCampus UniversitárioCaixa Postal 6001Fone/Fax: (43) 3371-467486051-990 Londrina – PRE-mail: [email protected]/editora

Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina.

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

P842 Portal do servidor aposentado da UEL : tempo de recordar/ Maria Aparecida Vivan de Carvalho, Fabiano Ferrari Ribeiro, Rosane da Silva Borges, organizadores. – Londrina : UEL, 2011.

331 p. : il.

Projeto Portal do Servidor Aposentado. ISBN 978-85-7846-009-9

1. Universidade Estadual de Londrina – Servidores aposentados – Hístória. 2. Comunidades de aposentados – Entrevistas. I. Carvalho, Maria Aparecida Vivan de. II. Ribeiro, Fabiano Ferrari. III. Borges, Rosane da Silva.

CDU 378.4-057.75UEL

Dedicatória

A todos os servidores aposentados da UEL

Agradecimentos

Agradecimento ao Departamento de Comunicação do Centro de Educação, Comunicação e Artes pela parceria e incentivo.

Aos estagiários, estudantes do curso de Comunicação Social - Jornalismo, pela disposição, alegria e entusiasmo com os quais mantiveram acesas as luzes dessas inúmeras histórias de vida.

Agradecimento aos servidores da Divisão Central de Estágios e Intercâmbios da Pró-Reitoria de Graduação pelo apoio.

Aos servidores aposentados e aos seus familiares que abriram as portas de seus corações para contar um pouco de si mesmos e da Universidade.

Sumário

Prefácio ......................................................................................................................xiii

Apresentação ..............................................................................................................xv

Servidores Aposentados

Ademário Ferreira dos Santos e Ana Pereira dos Santos .........................................1

Alcides Vitor de Carvalho ...........................................................................................4

Alice Messias da Silva Oliveira ..................................................................................7

Alípio Rodrigues de Oliveira ......................................................................................9

Almerinda Ferreira Duarte .........................................................................................11

Altino Bispo de Oliveira .............................................................................................13

Amadeu Artur .............................................................................................................15

Ana Carolina Santini Betancurt de Abreo ..................................................................17

Ana da Silva Stuqui ....................................................................................................20

Ana Irma Rodrigues ...................................................................................................21

Ana Maria de Arruda Ribeiro .....................................................................................28

Angelina Silva Gonçalves Baggio ...............................................................................31

Anna Regina Jordão Ciuvalschi Maia ........................................................................33

Antonio Carlos Moraes Neto ......................................................................................36

Antonio José Miceli ....................................................................................................38

Antonio Nerez . ...........................................................................................................45

Arlinda Rodrigues Oliveira Barbosa ..........................................................................47

Ascêncio Garcia Lopes ................................................................................................48

Benedita de Oliveira Bruno ........................................................................................58

Carmen Garcia de Almeida ........................................................................................61

Casemiro Framil Sobrinho .........................................................................................65

Cleusa Maria Lopes de Oliveira ..................................................................................66

David Roberto do Carmo ............................................................................................68

David Valentim da Silva Filho ....................................................................................71

Delícia Marcelino Ferreira .........................................................................................73

Denise Hernandes Tinoco ..........................................................................................75

Djalmira de Sá Almeida ..............................................................................................77

Domingos Dias da Silva ..............................................................................................79

Donato Parisotto .........................................................................................................81

Durval Adolar Weigert ...............................................................................................83

Durvali Emilio Fregonezi ...........................................................................................85

Edina Regina Pugas Panichi .......................................................................................90

Edison Lúcio Ferreira Fava ........................................................................................93

Eliane Cristina Palaoro Pereira ..................................................................................97

Elisabete Abelha Lisboa .............................................................................................103

Erlei Odino Gusso .......................................................................................................105

Ernani Lauriano Rodrigues ........................................................................................108

Estela Okabayashi Fuzii .............................................................................................109

Euclides Francisco Salmento .....................................................................................115

Francisca Soares Felizardo .........................................................................................117

Francisco Alves Pereira ..............................................................................................119

Geir Rodrigues da Silva ..............................................................................................123

Genival Ross ...............................................................................................................126

Georfrávia Montoza Alvarenga ..................................................................................128

Geraldo Carreira Polvora (in memorian) ...................................................................132

Hélio Corrente ............................................................................................................133

Hélio Paula Vieira .......................................................................................................138

Henrique Alves Pereira Júnior ...................................................................................140

Hideo Nakayama ........................................................................................................143

Ines Buranello Vignadelli ...........................................................................................146

Ingracia de Oliveira ....................................................................................................148

Iraci Tutida .................................................................................................................150

Ivan Giacomo Piza ......................................................................................................153

Jacira Pereira da Silva ................................................................................................155

Jayme Nalim Duarte Leal ..........................................................................................157

Joana de Souza Nogueira ...........................................................................................160

Joana Sampar .............................................................................................................163

Joaquim Scarpin .........................................................................................................165

João Antônio Leite Ramos .........................................................................................167

João Luiz Sperandio ...................................................................................................171

João Paulino da Silva Filho ........................................................................................174

José Aloyseo Bzuneck .................................................................................................178

José Aparecido Fidelis . ..............................................................................................181

José Leocádio da Silva ................................................................................................187

Kleber de Cássio Ferreira Arantes ..............................................................................189

Laerte Matias ..............................................................................................................190

Lauro Gomes da Veiga Pessoa Filho ..........................................................................193

Leange Severo Alves e Ubiratan de Oliveira Alves ....................................................196

Ledvina Piccelli ..........................................................................................................200

Leonel Martins Machado............................................................................................204

Leonilda de Souza e Silva ...........................................................................................206

Leslie Voigt Cosentino do Valle Rego .........................................................................208

Licéia Cianca Fortes e Waldyr Gutiérrez Fortes .......................................................209

Linda Bulik .................................................................................................................212

Liogi Suzuk .................................................................................................................214

Lourival da Silva ........................................................................................................215

Luiz Abdon Pereira .....................................................................................................216

Luiz Antonio Felix .....................................................................................................219

Luiz de Melo Santos ...................................................................................................222

Luzia Mitsue Yamashita Deliberador ........................................................................224

Manoel Barros de Azevedo .........................................................................................225

Manoel Palma .............................................................................................................228

Maria Bernardo da Costa ...........................................................................................229

Maria Castro da Silveira .............................................................................................231

Maria Darci Moura Lombardi ....................................................................................234

Maria de Lourdes Mosseli . ........................................................................................236

Maria Elvira Alves Nunes ...........................................................................................237

Maria Helena Kley Vazzi ............................................................................................240

Maria Luiza Baccarin ..................................................................................................242

Maria Pontes de Oliveira ............................................................................................244

Maria Regina Clivati Capelo .......................................................................................246

Marina Zuleika Scalassara ..........................................................................................248

Martha Augusta Correa e Castro Gonçalves ..............................................................251

Mazília Almeida Rocha Zemuner ...............................................................................256

Mirza de Carvalho Ferreira ........................................................................................258

Nelson Dacio Tomazi .................................................................................................260

Nelza Maria de Souza .................................................................................................262

Nilza Aparecida Freres Stipp ......................................................................................263

Olga Ribeiro de Aquino ..............................................................................................266

Oswaldo Rubens Canizares ........................................................................................268

Otávio de Paula Nascimento ......................................................................................272

Paulo Roca ..................................................................................................................276

Pedro Aloísio Kreling ..................................................................................................278

Raimundo Nonato Teixeira ........................................................................................282

Raul Santos de Sá .......................................................................................................286

Reginaldo Batista de Souza ........................................................................................289

Romilda Aparecida Cardioli dos Santos ....................................................................291

Rosa Magalhães de Medeiros .....................................................................................294

Rubens Ferreira Dias Júnior ......................................................................................299

Sadi Chaiben ...............................................................................................................301

Sebastiana Pereira ......................................................................................................303

Silza Maria Pasello Valente ........................................................................................310

Toshihiko Tan .............................................................................................................313

Valmir de França .......................................................................................................314

Vera Lúcia Lemos Basto Echenique ...........................................................................316

Vera Lúcia Resende Faria ...........................................................................................317

Yoshiriro Okano ..........................................................................................................323

Zenshi Heshiki ............................................................................................................327

Zita Kiel Baggio ...........................................................................................................328

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordarxiii

Prefácio

Aos que ajudaram a construir a UEL, o nosso eterno agradecimento

É com satisfação e imensa alegria que escrevo este simples texto, para servir de abertura a um livro tão significativo. Planejar, construir, administrar, colocar e manter em funcionamento uma universidade pública é obra coletiva das mais grandiosas e gratificantes que existem. Os personagens principais deste livro, os servidores aposentados, participaram durante as últimas décadas da construção conjunta da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

A UEL completará, dia 7 de outubro de 2011, quarenta anos de pleno funcionamento reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). Ao longo deste período, ela tornou-se a maior e mais importante escola de ensino superior do interior do Paraná. E isto só foi possível graças ao empenho, trabalho e dedicação de estudantes, funcionários e professores que por aqui passaram nestas quase quatro décadas.

Ensino, pesquisa e extensão de boa qualidade sempre foram, ao longo deste tempo, o objetivo principal de nossa Instituição; em grande parte alcançado com base no esforço, carinho e mérito dos ex-servidores, agora na condição de aposentados da UEL. Aos aposentados devemos ainda participação efetiva na formação de milhares de profissionais – capacitados, competentes e cidadãos – que nossos cursos de graduação e pós-graduação já colocaram no mercado de trabalho. Por isto, os ex-servidores estão de parabéns. Assim sendo, a todos e a cada um a nossa mais sincera e eterna gratidão.

Este agradecimento é extensivo à professora Maria Aparecida Vivan de Carvalho – idealizadora e coordenadora do projeto Portal do Servidor Aposentado, embrião que germinou este livro – e a sua equipe inteira; notadamente ao técnico em informática e internet Fabiano Ferrari Ribeiro, que desenvolveu e viabilizou o portal no site da Universidade, e à professora Rosane da Silva Borges, orientadora dos estudantes de Jornalismo que atuam no projeto.

Nádina Aparecida MorenoReitora da UEL

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordarxv

Apresentação

Este livro apresenta o Portal do Servidor Aposentado da Universidade Estadual de Londrina - UEL, como iniciativa inédita destinada a valorizar os servidores aposentados da Instituição sem perder as perspectivas do resgate de histórias de vida desses personagens centrais cujas práticas catalisaram fluidos bons que alavancaram a Universidade nestes 40 anos de existência.

Trata-se, portanto, de um livro de perfis que pode ser visto sob vários olhares. Esses perfis representam uma realidade vivida e ainda viva na memória de cada servidor aposentado.

Cada vez mais convencidos da necessidade de mostrar às novas e futuras gerações quem foram as pessoas que atuaram na Universidade e dignificá-las por meio de um expediente efetivo e palpável, sentimo-nos motivados a concretizar esta publicação, na intenção de contribuir com a construção da história da Universidade.

Os perfis dos servidores aposentados que constam deste livro foram os primeiros a serem publicados no Portal do Servidor Aposentado da UEL, criado em 22 de junho de 2008 e idealizado pela professora Maria Aparecida Vivan de Carvalho, à época, pró-reitora de graduação da UEL, com a finalidade de homenagear os aposentados durante as comemorações dos 37 anos da Universidade.

Todas as informações são extremamente valiosas quando há a premissa de recuperar a memória de uma caminhada que se revela especial, considerando que cada um de nós guarda retratos de uma vida junto a esta Universidade de concretização de sonhos, conquistas e realização de ideais.

O Portal permite à comunidade acompanhar as informações sobre nossos servidores, bem como fortalece as relações entre os servidores que continuam em atividade na Instituição e os servidores aposentados, com visibilidade oportuna dos professores e funcionários que deram sustentabilidade às diversas ações empreendidas na UEL, o que possibilitou a sua consolidação como uma das melhores instituições de ensino superior do país. O empenho e trabalho de cada servidor justificam o sucesso da Universidade ao longo dos anos.

As ideias para a criação do Portal ganharam vida nas mãos do servidor Fabiano Ferrari Ribeiro e aos poucos se materializaram com robustez a partir

xviPortal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordar

da inserção de estudantes estagiários e docentes do curso de Comunicação Social - Jornalismo do Centro de Educação, Comunicação e Artes da UEL.

As entrevistas começaram a ser agendadas, inicialmente com um professor de cada um dos nove centros de estudos, e servidores de diferentes locais e profissões, como museu e creche, vigilantes, jardineiros, auxiliares de enfermagem e, até mesmo, o primeiro reitor.

No Portal do Servidor Aposentado da UEL os perfis são o carro-chefe, entretanto, inovações foram sendo incorporadas, a exemplo, a apresentação de serviços de direito na Universidade, como o uso de biblioteca, restaurante, e-mail institucional, entre outros, bem como houve a introdução de matérias sobre saúde e direitos dos aposentados.

Algumas matérias foram divulgadas na forma de destaques com título específico; outras trazem as informações postadas pelo servidor aposentado que acessou o site e compôs a sua história, sendo que neste último caso não há registro do nome de estagiários, pois o autor foi o próprio aposentado.

A inserção de hobbies e de uma ficha técnica com dados específicos dos aposentados, como naturalidade, ano de aposentadoria, entre outros, veio a incrementar e enriquecer as publicações do Portal, além de que postamos um item inovador denominado ‘serviço’ que traduz informações e ou mostra a definição de palavras cujo significado foge à rotina de parte dos servidores.

Esperamos que as atividades previstas para o desenvolvimento do Portal possam ser intensificadas, no intuito de aprimorar o exercício de resgatar fatos tão marcantes na vida das pessoas e transformá-los em mensagens que expressem as vivências e as emoções em texto. Será questão de tempo e paciência obter a regularidade na cobertura das aposentadorias pela equipe do Portal.

Cabe destacar os estagiários - protagonistas das entrevistas do Portal: Poliana Lisboa de Almeida, Léia Dias Sabóia, Janaina Assis de Castro Gomes, Luiz Gustavo Ticiane de Oliveira e Rosane Mioto dos Santos, todos sob a orientação cuidadosa e o olhar atento da professora Rosane da Silva Borges.

Durante as entrevistas com os servidores aposentados, as perguntas não obedeceram a um roteiro, mas tinham o objetivo de captar uma história ainda não contada e não registrada. Para nós foi um exercício espetacular de dar ouvido aos servidores aposentados e dar palavra aos estudantes que, na flor de sua juventude, souberam apreender as mensagens, buscar a sensibilidade nas falas e dar voz, com uma precisão inigualável, aos que em gestos manifestavam seus sentimentos.

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordarxvii

Ainda é preciso ressaltar que os estudantes, de forma brilhante, souberam traduzir encantos e desencantos, perdas e ganhos, conquistas e decepções. Segredos foram desvelados e apontaram caminhos percorridos na certeza e na dúvida, com resultados acertados e outros que exigiram repensar a trilha.

Solicitamos aos nossos ex-estagiários do Portal um depoimento sobre o que significou para eles o exercício da profissão ainda enquanto estudantes e recebemos as mensagens que transcrevemos a seguir.

“Estagiar no Portal do Servidor Aposentado foi uma experiência acima de tudo gratificante.

Além da oportunidade de praticar a profissão que eu amo, pude conhecer e ouvir pessoas maravilhosas. As entrevistas com os aposentados foram sem dúvida a melhor parte do trabalho. As histórias de vida que ouvi são lições que vou levar comigo para sempre. Cada conversa foi emocionante e não posso descrever o que sentia ao ver pessoas tão incríveis, que dedicaram suas vidas à UEL, chegarem às lágrimas com as lembranças.

Um aprendizado sem igual e sem preço, que agora pode ser compartilhado com mais pessoas. Recomendo muito a leitura deste livro e tenho certeza de que em suas páginas encontrarão a emoção, o amor, a força daqueles que construíram a UEL quase do nada, e fizeram dela a Instituição sólida e respeitável que é hoje.

Participar dessa produção me enche de orgulho e só tenho a agradecer à professora Cidinha (Maria Aparecida Vivan de Carvalho), que um dia imaginou este projeto, colocou-o em prática e me deu a satisfação de poder integrá-lo.”

Janaína CastroJornalista, estagiária do Portal do Servidor Aposentado

de março a dezembro de 2009

“Que a UEL hoje é reconhecidamente grande, ninguém discute. O que poucos sabem, porém, é o trabalho que muitos - alguns anonimamente - desenvolveram para que ela atingisse tamanha notoriedade.

A vida da instituição não está apenas nos belos gramados e jardins, nem mesmo na fauna que também reconhece naquele lugar algo especial. Não está apenas nos muitos alunos que, munidos do conhecimento, saem da universidade para ganhar o mundo. Ela está essencialmente naqueles

xviiiPortal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordar

servidores, que, desde quando aquela região ainda era um perobal, ajudaram, cada um à sua maneira, tornar a instituição em uma das mais respeitadas no Brasil e no exterior.

Trabalhar no Portal do Aposentado, que agora vira merecidamente livro, foi uma das mais gratificantes experiências que o jornalismo pôde me proporcionar. Algo que vou levar com carinho para a vida toda.

Viver cada história foi descobrir tudo isso. Certamente, é o que você, leitor, vai também descobrir nas próximas páginas.”

Gustavo TicianeJornalista, estagiário do Portal do Servidor Aposentado

de abril a dezembro de 2009

“Ter a chance de aprender um pouco mais sobre a profissão que escolhi e, ao mesmo tempo, conhecer a história de minha cidade por meio dos depoimentos dos aposentados que entrevistei foram as melhores experiências que o estágio no Portal do Aposentado poderiam me proporcionar.

Perceber que a história de Londrina e da Universidade foi escrita com o trabalho destas pessoas, vindas de vários cantos do país, é também reconhecer que as grandes conquistas se fazem nos pequenos gestos cotidianos.

O que levo desta experiência é a satisfação de descobrir que minha cidade natal e a Universidade também são obras desta gente anônima, que meu trabalho no Portal ajudou a revelar.”

Rosane MiotoJornalista, estagiária do Portal do Servidor Aposentado

de março a dezembro de 2009

“Aproximadamente 20 mil pessoas circulam todos os dias pela Universidade Estadual de Londrina. No entanto, pouquíssimas conhecem verdadeiramente a história dos muitos servidores e idealizadores valentes, que juntos edificaram - nos vários sentidos da palavra - a instituição. Não é exagero dizer que muitos desses servidores aposentados amavam e se doavam completamente ao trabalho, à UEL.

Os relatos de um começo difícil, sem muitos recursos, precário às vezes, parece não condizer com a atual grandeza dessa universidade. Mas é

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordarxix

fato. Esses momentos realmente existiram. Assim como pude comprovar na condição de estagiária.

Para uma aspirante a jornalista, jovem e inexperiente com um velho sonho bobo de mudar o mundo, conhecer esses simpáticos senhores significou muito. Pessoas agradáveis, receptivas, prontas para compartilhar momentos tão singulares com uma ‘desconhecida’.

Suas histórias são repletas de conselhos, de otimismo. Elas são marcadas pela perseverança e a esperança em um futuro melhor e maior. A sabedoria que contém nestes textos não se encontra armazenada em bibliotecas. Mas, é resultado de uma vida inteira de lutas, quedas e conquistas. Enfim, grandes lições.”

Léia Dias SabóiaJornalista, estagiária do Portal do Servidor Aposentado

de agosto de 2008 a janeiro de 2009

Algumas entrevistas foram realizadas na UEL, mas a maioria aconteceu na casa dos servidores aposentados, que acolheram nossa equipe com muito carinho e aproveitaram a ocasião para mostrar fotos e recordações da época de trabalho na UEL. Após a transcrição das fitas de gravação da entrevista, organização da redação, correção dos textos e divulgação no Portal, as entrevistas eram impressas, versão colorida, em papel couchê e entregues pessoalmente por membros da equipe do Portal para o servidor aposentado guardar de recordação.

Não foram poucas as vezes que nos pegamos com lágrimas nos olhos ao ler as entrevistas dos servidores aposentados, sentindo a emoção nas linhas e nas entrelinhas, a saudade batendo forte no peito, a lembrança de um tempo que não volta mais. Saudosismo e um imenso orgulho é o que sentimos por ver tantas vidas voltadas a um objetivo comum - o bem da nossa Universidade.

Os servidores aposentados abordaram, em suas falas, dimensões de âmbitos pessoais e profissionais, bem como suas próprias reflexões permitem entender as relações e nos levam a pensar sobre alguns de nossos questionamentos a respeito do mundo universitário. Esteve sempre presente a forma como viveram intensamente a Universidade, a importância do trabalho e das atividades ali desempenhadas, do plantio e cultivo de flores ao exercício da docência.

xxPortal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordar

Acreditamos que o momento da entrevista tenha se caracterizado como uma oportunidade de manifestar o olhar sobre si mesmo e sobre a vida, bem como sobre a Universidade.

Nem todo o esforço dos servidores pôde ser contemplado pela Instituição, por fatores diversos. Houve boa vontade e criatividade, mas nem todas as ideias foram aproveitadas. Afinal, a Universidade passou, ao longo de décadas, por muitas transformações para responder aos desafios peculiares a cada período histórico, com flexibilização de fronteiras do conhecimento, superação de crises, influência de modismos, diversas abordagens da educação, mudanças na forma de pensar e de agir. Considerando-se, por outro lado, as ações e intenções demonstraram comprometimento com o fazer universitário.

Os servidores aposentados mostraram exemplos bons de busca e de encontro de novas atividades para serem desenvolvidas durante a aposentadoria, a despeito de terem que superar, muitas vezes, problemas físicos, psicológicos e emocionais, além dos financeiros. Não mediram esforços para derrubarem barreiras no intuito de atingir um objetivo maior, conquistar um novo sonho.

Sob diferentes visões, a aposentadoria manifestou-se de um período de descanso e tranquilidade a um período de intensa produtividade, um período de viver sonhos e desejos, mas também, de forma divergente, esse período se caracterizou por árduo trabalho para a manutenção do sustento da família.

A leitura deste livro proporcionará reflexões que aproximarão os leitores das histórias de vida e dos amigos servidores aposentados. É fato que, depois das entrevistas, alguns já deixaram este mundo e outros que nem chegaram a ser entrevistados abriram uma lacuna ainda maior em nossos corações.

Desejamos que os servidores aposentados cultivem sempre hábitos saudáveis, retirem energia de coisas boas e acreditem, sobretudo, que a juventude está no coração das pessoas, portanto, a importância de dar sentido à vida está na tríade: estar ativo, cultivar amigos e se sentir útil.

Cá para nós, há necessidade permanente de conhecimento e reconhecimento dos significados do espaço universitário e desenhá-los por meio do resgate das memórias dos servidores aposentados é uma maneira de restituir a eles o sentido da vida.

As lições do passado têm muito a nos ensinar, e reiteramos que sonhar com uma instituição universitária que conhece e reconhece o trabalho e a dedicação de seus servidores, valorizando-os enquanto aposentados,

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordarxxi

demonstra o desejo de ter e ver um mundo mais humano. Desejamos também um futuro brilhante para a UEL, numa busca ininterrupta de relação democrática, possibilitando aos seus servidores serem livres e iguais.

Finalmente, desejamos que o significado da trajetória dos servidores aposentados possa servir de exemplo aos nossos jovens para o alcance e o desenvolvimento de seus projetos de vida.

1

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordar

Um casal de funcionários da Universidade

Ana Pereira dos Santos e Ademário Ferreira dos Santos, zeladora e pedreiro. O casal dedicou ao todo quarenta e cinco anos de trabalho à Universidade

Não foi na UEL que eles se conheceram. Aliás, foi um pouco mais longe. Ademário e Ana dos Santos são baianos de Piritiba, perto de Feira de Santana. Eles eram vizinhos e quando Ademário veio para Londrina, onde o tio já morava, o casal conversava e namorava por meio de cartas.Com o casamento, Ana também

veio para o sul. Aqui eles tiveram a primeira filha e quando tentaram voltar, dois anos e meio depois, não se acostumaram com os salários baixos do nordeste. O segundo filho nasceu na Bahia, mas o casal veio para Londrina em seguida. Agora, Bahia só nos finais de ano, quando eles chegam a ficar até um mês na casa de parentes passeando.

Uma vizinha avisou Ana que a Universidade estava contratando. Ela lembra que foi simples e após uma ficha preenchida ficou combinado. Era 1977, seu primeiro emprego registrado, e no segundo mês ela estava ganhando mais do que o inicial, conta a funcionária com orgulho.

Ana dos Santos trabalhou na zeladoria do CEFE - Centro de Educação Física e Esporte desde o começo até a sua aposentadoria depois de 28 anos de trabalho no fim de 2004. Ela trabalhava com a limpeza e fazia o café.

Quando teve o quarto filho precisou da ajuda da filha mais velha. Ana tinha uma hora para amamentar e fazia questão de voltar na hora de sua janta para amamentar uma segunda vez. Mas, para ela o esforço foi válido.

2Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordar

Os turnos em que trabalhou mudaram conforme os anos. Às vezes, quando Ana entrava de manhã, ela, que mora em Cambé perto da Universidade, aproveitava e ia com uma amiga a pé para o trabalho. “Dá meia hora caminhando sem pressa, e eu fazia exercício”.

Ademário, esposo de Ana, trabalhou muitos anos sem registro em carteira aqui em Londrina. Em 1963 ele começou a trabalhar em uma firma como servente na construção civil. Com os anos foi adquirindo experiência e crescendo na empresa, orientando o trabalho junto com o mestre de obras. Quando quiseram levá-lo para outra cidade ele trocou de emprego.

Ficou pouco mais de um ano em outra empresa, quando surgiu uma vaga de pedreiro na UEL. Ademário conta que conversou com os patrões antes de sair, “sempre gostei de fazer as coisas direito, (...) no outro dia comecei na Universidade.”

Com quatorze meses na UEL o contrato havia acabado e estava acontecendo um corte de funcionários. Ele se lembra da entrevista que enfrentou com psicólogos, em que perguntaram qual era o melhor prego para pedreiro, e ele respondeu que era a água, que ligava o cimento, já que quem prega mesmo é o carpinteiro. O funcionário estava com medo de ser demitido, ainda mais depois da resposta ousada.

Ademário continuou trabalhando na UEL, mas com aproximadamente três anos de pedreiro sua profissão passou para graniteiro. Apesar de mais perigosa, a função nova não constou na carteira e nem no salário do funcionário, que ficou por mais quatorze anos na Universidade.

Ele se lembra de ter participado da construção de parte do Centro de Ciências Biológicas, Departamento de Tecnologia de Alimentos, reitoria, banheiros, isolamento do pavilhão do meio do Hospital Veterinário e Hospital Universitário, onde, de acordo com Ademário, a equipe de graniteiros da Universidade assumiu as obras junto com funcionários de uma empreiteira contratada para concluí-las no prazo.

O funcionário sofreu um acidente no Laboratório de Medicamentos da UEL, durante um trabalho por colocar a máquina em uma tomada com voltagem diferente da que fora avisada a ele. Ele se machucou e a máquina estragou, mas ele conta que depois o problema foi superado.

3

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordar

Ademário aposentou-se em 1997. Ana confirma que o marido não para. Depois de construir quatro casas, duas no terreno antigo e duas no que moram agora, ele continua a trabalhar quando algum dos quatro filhos ou sobrinha precisa. E ele fala que Ana ajudou sempre. “Eu nunca paguei pedreiro, usava o fim de semana para construir”.

Como a UEL foi o primeiro e único emprego registrado de Ana, ela ficou até depois que o marido saiu. Trabalhou por 28 anos e esperaria completar trinta, mas em 2004 ela teve um AVC (acidente vascular cerebral) enquanto trabalhava no CEFE.

A funcionária descreveu a dor que sentiu e contou que por mais de um ano continuou sentindo a cabeça muito pesada e uma sensação estranha ao caminhar. Depois do período de licença, Ana pediu aposentadoria.

Ela brinca, “eu não faço nada agora, só o serviço de casa”, e quando o marido não está trabalhando eles costumam caminhar. “Eu não gosto de caminhar sozinha, gosto de andar junto com ele. É bom para a saúde e rende uma boa conversa.”

Poliana Lisboa de Almeida

4Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordar

Entre uvas, letras e histórias

Academia e política se misturam na vida de Alcides Vitor de Carvalho, professor de letras da Universidade Estadual de Londrina desde sua fundação

Na garagem de Alcides Vitor de Carvalho alguns galões com aproximadamente 35 litros de vinho cada um aguardam o seu “período de gestação”: são nove meses de espera até que ele fique pronto. O cheiro do álcool fica no ar neste canto da casa do professor aposentado da Universidade Estadual de

Londrina. Plantar uva e fazer vinhos é um prazer para o professor, que só o faz para a família e amigos.

Alcides, mineiro de Carvalhópolis, veio para Londrina após passar pelo Rio Grande do Sul, onde estudou por 12 anos; Adamantina, interior de São Paulo, e Arapongas, onde trabalhou. Na cidade começou a fazer o curso de Letras na Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Londrina.

Em 1971 a UEL foi reconhecida pelo governador da época, Paulo Pimentel. Cinco instituições da cidade se uniram para formar a UEL, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras; Faculdade de Direito; Faculdade de Odontologia; Faculdade de Medicina e Faculdade de Ciências Econômicas.

Alcides havia assumido como professor na Faculdade assim que se formou. Com a criação da Universidade ele ajudou a criar o Departamento de Letras no Centro de Letras e Ciências Humanas, o CLCH.

A época era de Ditadura Militar e Alcides participava da política. No ano de 1968 o professor esteve no 30º Congresso Nacional da União Nacional dos Estudantes em Ibiúna, representando Londrina.

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Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordar

O Congresso acabou com a prisão de mais de 800 estudantes. Alcides estava entre eles.

“Fiquei no presídio Tiradentes por muito tempo. Aí numa perseguição política posterior de não poder trabalhar, uma espécie de vigilância muito de cima, (...) eu estava numa situação complicada e em 1973 eu fui para fora (França) e aproveitei para fazer o mestrado”, relembra.

O professor recebeu uma bolsa do governo francês para cursar mestrado e doutorado em literatura popular brasileira, desde que continuasse vinculado à UEL. Após três anos fora, Alcides voltou para o Brasil. Como a sua pesquisa de doutorado era sobre literatura de cordel, ele viajou pelo país recolhendo material.

Alcides não voltou para a França para defender sua tese e doou parte do material para a UEL. Hoje a Universidade tem um acervo com cerca de 3.500 folhetos de literatura de cordel. A coleção, que fica na Biblioteca Central, pode ser consultada por todos e possui o nome do professor.

Em 1979, Alcides foi um dos fundadores do Sindiprol (Sindicato dos Professores de Londrina) e presidiu a entidade de 1982 até 1985. No início, o sindicato reunia professores e servidores de outras instituições superiores da região, não apenas da UEL. Alcides estima que o Sindiprol chegou a ter dois mil filiados na época.

Como ex-presidente do sindicato, o professor relembra da greve de 45 dias que aconteceu em 1984, pedindo aumento de 150% em alguns casos. O governador, José Richa (1982-1986) cortou o salário dos servidores, que organizavam feiras em frente ao Centro de Ciências Biológicas para aguentar a situação. Com isto o governo acabou cedendo às exigências.

Alcides aposentou-se na Universidade Estadual de Londrina em 1993, quando assumiu a Secretaria de Cultura de Londrina na gestão do prefeito Luiz Eduardo Cheida (PT), de 1993 a 1997. Depois da secretaria, Carvalho assumiu por quatro anos a Casa da Cultura da UEL, responsável pelo Festival Internacional de Londrina, pelo Festival de Música, pelo Teatro Ouro Verde e pela Orquestra Sinfônica da UEL.

Depois de um ano sem dar aulas, ele voltou a lecionar na Faculdade Pitágoras nos cursos de comunicação. Alcides conta um

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pouco deste encanto que o levou de volta às salas de aula, “(...) ser professor é bom porque a cada semestre renova a turma, você tem que se preparar de novo, enriquece a gente, quero dar aula até os 80, 90, até 100 (...) enquanto der.”

Poliana Lisboa de Almeida

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Alice Messias da Silva Oliveira

“Tudo o que eu tenho eu agradeço à UEL, porque eu sou aposentada, tenho o meu salário... Eu amo lá de coração, eu gosto muito da UEL”, conclui a aposentada Alice Messias Oliveira, que trabalhou na Universidade durante quase duas décadas. Período de muitas alegrias, foi também nestes 18 anos de serviço que o talento de Alice para a escultura se revelou.Mineira de Guaranésia, veio para o Paraná ainda pequena junto com a família, que arriscou a sorte mudando-

se para este estado sem conhecer ninguém, atraída pela propaganda que promovia o norte-paranaense. Chegaram em Cornélio Procópio e depois foram para Uraí, cidade onde Alice casou-se e teve os cinco filhos. No final da década de 1960, mudou-se para Londrina.

Trabalhando como doméstica, recebeu uma proposta para trabalhar na Universidade, indicada por uma amiga de Uraí. Contratada em 11 de setembro de 1975, Alice sempre esteve a serviço do Centro de Educação, Comunicação e Artes (CECA) e serviu muitos cafezinhos para os professores dos departamentos de Ciência da Informação, Comunicação, Educação... “Ele [o professor Mário Salles, do Departamento de Comunicação] chegava lá na copa, que eu fazia café de manhã [e dizia]: ‘aí colega – porque lá eles me chamam de colega – eu quero o primeiro cafezinho do saco’, que ia caindo do coador e ele colocava a xícara lá, tomava e dava risada! (...) São amigos da gente, a gente brincava muito!”, diverte-se a aposentada.

Nas pausas para o almoço, Alice descobriu seu dom para a escultura em argila. Foi nas instalações do Departamento de Artes, nos prédios de madeira ao lado do Centro de Letras e Ciências Humanas (CLCH). “Na hora do almoço a gente corria para lá. Almoçava às vezes

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até um pouquinho antes para render o serviço, corria para lá, montava as peças e às vezes trazia um bom pedaço de argila e fazia em casa também”. Nesta atividade, Alice e outros funcionários do campus eram orientados pela professora Ruth Moraes Sant’anna Correa. Suas peças eram tão boas que foram expostas em São Paulo (SP).

Mas as pausas para a arte eram apenas momentos de distração de uma rotina não menos divertida. A aposentada relembra com alegria e satisfação os dias que trabalhou na UEL, onde também colecionou muitas amizades. “Pra nós trabalhar era festa! Chegava no terminal [de ônibus], encontrava todas as colegas, ia tudo pr’um lugar só... era muito bom!”, relembra sorridente. No ambiente de trabalho, as relações com os outros funcionários também eram boas. “Não tinha briga, não tinha converseiro, precisava ver! Era muito legal!”.

Não foi à toa que a aposentadoria deixou saudades. Durante 18 anos, Alice trabalhou todos os dias, das 6h30 às 15h, na companhia de vários amigos. Hoje, viúva, mora com uma filha e, apesar de fazer algumas atividades – limitadas pela osteoporose, que ela trata no Hospital de Clínicas da Universidade –, sente falta do trabalho. “Naquela época a gente não ficava doente, (...) a gente andava em cima de geada, de chuva e não ficava doente. (...) Trabalhar é muito bom, a gente não tinha tempo para pensar em doença, em morte, nada não. Para nós era só alegria!”

Para Alice, que precisou criar sozinha os filhos depois que o marido a abandonou, a UEL tem um significado especial e até hoje ocupa um lugarzinho em sua vida. “A UEL para mim foi a minha mãe, meu marido, criei meus filhos tudo lá. Eu só tenho que elogiar a UEL e amo de coração, gosto muito dela (...). Eu fico com o radinho aqui sempre ligado na rádio da UEL”.

Rosane Mioto

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Alípio Rodrigues de Oliveira

Alípio Rodrigues de Oliveira é mineiro, nascido em Teófilo Otoni. Mas, foi criado no Paraná. Chegou aqui muito pequeno, aos três anos, por isso, não tem lembranças de sua cidade natal. Segundo ele, os pais vieram em busca de melhorar a vida. Primeiro a família de Alípio morou em pequenas cidadezinhas no interior da Paraná; Fênix é uma delas. Passados alguns anos, a família veio para Londrina. Em 1970, os pais decidiram voltar para o interior. Alípio tinha 15 anos e resolveu ficar na cidade.

A princípio, morou com os tios. Depois, resolveu que já era independente o suficiente para viver só. E mudou-se para um pensionato. Morou sozinho, trabalhava com uns amigos. Morando no centro, Alípio divertia-se muito nos fins de semana. Ele conta, saudoso, que não havia nem metade dos perigos de hoje. Podia caminhar nas ruas até tarde: “Não tinha violência, a gente andava tranquilo”. Porém, ele conta que, se era bom viver sozinho, sair com os amigos e divertir-se muito, havia o outro lado: Alípio não tinha muito controle sobre o dinheiro que ganhava e muito menos como o gastava. “Era boa a vida de solteiro. Mas, não tinha futuro nenhum. Tudo que você pegava, gastava”. Ele assume que era menos responsável. A maturidade e estabilidade vieram quando, aos 22 anos, Alípio casou-se.

Antes de se casar, Alípio já tinha encontrado sua profissão. Aos 15 anos começou como autônomo. “Eu fazia de tudo um pouco”, conta. Ele fala que naquela época não tinha problema um menino de 15 anos trabalhar ou mesmo morar sozinho: “As coisas eram diferentes”. Trabalhando como autônomo teve a oportunidade de conhecer a profissão de encanador. Assim, começou na atividade que exerceu por muitos anos.

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Antes de trabalhar na UEL, Alípio já tinha trabalhado em outras empresas de Londrina, o que facilitou sua aprovação no concurso para trabalhar na Universidade, em 1990. Prova teórica e prática, foi aprovado e começou a exercer a sua função.

Nos primeiros anos trabalhou sem problemas. Com o tempo vieram as dores, muitas dores. “Eu não aguentava andar. A minha perna (esquerda) ficou mais curta que a outra. E eu não conseguia mais esticar. Os pés inchavam”. Alípio conta que faltavam os equipamentos de proteção e, em decorrência desse fato, adquiriu uma doença chamada artrite crônica. Como as dores eram muitas, Alípio não podia mais trabalhar como encanador. Então, passou a trabalhar na área burocrática: “Eu mexia com orçamento, com as papeladas. Fazia orçamentos, solicitações. Distribuía serviço quando o chefe não estava. E acompanhava a execução de algumas tarefas no campus”. Alípio conta que mesmo esses serviços mais leves lhe causavam muito sofrimento. Ainda assim, trabalhou por oito anos, até se aposentar. “Foi uma vida muito difícil até o médico entender que eu não tinha mais condição de trabalhar. Eu travava tudo, os ombros, as mãos, os pés”.

Alípio está aposentado há três anos, por invalidez. Já passou por cirurgias e internações. Esteve por um tempo impossibilitado de andar e por pouco não entrou em coma. Hoje está melhor. E vive com restrições impostas pela doença. “A vida nunca mais vai ser normal”. Os remédios têm um preço alto, mas são garantidos pelo governo. Um alívio, já que não pode ficar sem eles. Ele fala que nem sempre foi assim, já gastou muito com remédios.

Alípio tem muitas lições para ensinar. Apesar das dificuldades, não perdeu a alegria de viver. E como disse um sábio: “Quem canta os males espanta”. Alípio conta. No tempo em que era moço e se divertia nas noites londrinenses, Alípio cantava nos bares. Hoje, alegra os ambientes que frequenta, mas cantar mesmo só para os amigos. “Só quando morrer eu vou parar”, afirma.

Léia Dias Sabóia

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Almerinda Ferreira Duarte

“Eu estava me arrumando para ir viajar para a praia quando me chamaram. Minha nora falou: ‘A senhora não vai para a praia mais não. A universidade falou para a senhora estar lá amanhã, às nove horas’. Era para eu estar às nove horas do dia nove de março e eu fui, muito feliz.” Assim, em 1994, começava, na UEL, a história de Almerinda Duarte. Os doze últimos anos em um emprego registrado, antes da aposentadoria, encerram um ciclo de muito trabalho e dedicação à família.

Nascida em Sapucaia, no Rio de Janeiro, Almerinda mudou-se para Além Paraíba, em Minas Gerais, com 11 anos. Nove anos mais tarde chegou à Londrina. Aqui ela criou os filhos, trabalhando muito em grandes hotéis e lojas de roupas. Olhando para trás, Almerinda acredita que naquela época era mais fácil encontrar trabalho. “Ganhei meu filho; criei ele trabalhando, mas era difícil financeiramente. A gente trabalhava muito e ganhava pouco”, relembra.

Atraída pela estabilidade do emprego público e incentivada pelos filhos, Almerinda prestou um concurso para trabalhar na UEL como auxiliar de serviços gerais. No dia 23 de março de 1994 começou a trabalhar no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade, inaugurado em 18 de maio do mesmo ano. “Eu entrei lá e o HC não tinha nada, era novinho. Nós que lavamos para inaugurar”, explica.

No hospital, Almerinda trabalhou durante oito anos na clínica de oftalmologia e, posteriormente, no Setor 4, onde passou a contar com um ajudante, por causa de problemas na coluna. Após quase treze anos trabalhando para a Universidade, precisou se aposentar por causa deste problema de saúde. Além disso, Almerinda já havia completado 65 anos de idade e 30 de carteira assinada. O dia 10 de novembro de 2006 marca o seu último dia de trabalho na UEL. “Eu chorei muito

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quando saí, sofri muito, fiquei doente, quase entrei em depressão. Pedi para voltar, mas a minha chefia falou que não, que quem aposentou tem que sair, não pode voltar. Mas agora já acostumei, graças a Deus estou bem”, relembra.

Assim que saiu da Universidade, Almerinda pensou em buscar um novo emprego, mas não levou a ideia adiante. Hoje, após 46 anos de trabalho, dedica-se ao serviço doméstico e principalmente à família, “muito unida e muito bonita”. Almerinda se separou do marido quando os filhos ainda eram bem pequenos e trabalhou muito para criá-los sozinha. Aos 14 anos todos começaram a trabalhar para ajudar nas despesas. A família cresceu e hoje Almerinda tem quatro filhos, cinco netos e dois bisnetos.

Nesta vida marcada por lutas e conquistas, a UEL tem um lugar especial. Almerinda mantém contato com os colegas de trabalho, que, como muitos outros amigos de outros empregos, já fazem parte de sua história. “Com meus colegas de trabalho eu nunca tive problema. Até hoje nós nos damos muito bem, nós nos falamos por telefone, toda vez que nos encontramos a gente se abraça, adoro minhas amigas, gosto de todos lá, não tenho queixa de nada, nunca tive”. Com o mesmo carinho que reserva aos amigos, Almerinda emociona-se ao expressar o que o emprego na UEL representou em sua vida. “Eu sou muito feliz, graças a Deus. Eu passei muita tristeza financeiramente quando eu cheguei em Londrina, com meus filhos pequenos, mas eu tive muitas recompensas. Deus foi maravilhoso para mim e me deu essa benção desse emprego. Então eu sou muito feliz, muito feliz mesmo”.

Rosane Mioto

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Altino Bispo de Oliveira

“Com a mudança das leis, a Universidade se transformou em uma instituição que não pode ficar com funcionários sem estudos. Essa oportunidade que a UEL oferece vem nos tirar do buraco. Acredito que vai chegar um tempo em que para trabalhar aqui se precisará ter pelo menos um grauzinho de estudo”.O depoimento do pedreiro Altino Bispo de Oliveira ficou registrado no livro do Programa de Ação Educativa para Adultos, publicado pela UEL e cujo título, “Um

Grauzinho de Estudo”, nasceu de seu texto. Analfabeto, Altino não se conformava por não poder receber o pagamento com a assinatura do nome, mas carimbando o polegar no papel - situação de outros colegas também. Quando a universidade disponibilizou uma classe de alfabetização para seus funcionários, Altino teve a chance de aprender a ler e escrever. Infelizmente, o glaucoma não permitiu que ele continuasse.

Apesar disso, Altino não perdeu o bom humor e foi entre muitos sorrisos que nos contou sua história. Nascido em Ruy Barbosa, na Bahia, chegou à Londrina em 1951. Sempre exercendo a atividade de pedreiro, Altino trabalhou em duas construtoras até chegar à UEL. Em novembro de 1980 começava uma história que deixou muitas obras – e muitas amizades – espalhadas pelo campus.

Contratado por indicação de colegas dos outros empregos pelos quais havia passado, Altino sempre se empenhou muito - e muito bem. Ajudou a construir vários prédios no campus, como a sede do TAM - o antigo Departamento de Tecnologia de Alimentos e Medicamentos. Certa vez, a equipe de obras da universidade foi convocada para construir um prédio de dois pavimentos - próximo ao TAM -, porque nenhuma construtora aceitava a obra, por causa do apertado prazo de entrega de 55 dias. Junto com a equipe, Altino trabalhou dia e noite

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e, assim, conseguiram entregar o prédio antes do prazo final. “Eles [a equipe da UEL] davam janta para nós e levavam todo mundo em casa para dormir umas duas horas e voltar no outro dia. Às oito, nove horas tinha que estar lá”, recorda.

Em dias normais, quando não havia um curto prazo de entrega, Altino trabalhava das oito da manhã às cinco da tarde, de segunda a sexta. Por causa do capricho, era muito requisitado para os serviços que eram solicitados na prefeitura do campus. “Só dava eu! Às vezes mandavam outro e ‘não, não quero fulano não, quero o seu Altino’”, diverte-se. A esposa Ademália explica: “Ele era muito obediente. Os serviços que os outros que já estavam lá há mais tempo não queriam fazer ele fazia”. Tanta dedicação fez com que Altino deixasse a UEL como um funcionário exemplar. “Dos anos que eu trabalhei na universidade eu não tive nenhuma falha, nem me acidentei. E não teve uma pequena reclamação de mim lá dentro da UEL. Eu tirei nota cem!”, relembra, sempre sorridente. Aposentou-se em 1997.

O relacionamento com todos que frequentavam o campus sempre foi bom. Para Altino, os estudantes e professores são sempre “bacanas”. Além disso, a aposentadoria não o separou dos colegas de trabalho, que até hoje ele visita. Mas Altino explica: “Se eu for com pressa nem preciso ir, porque eles não deixam eu sair. Graças a Deus eu deixei muitas amizades lá”. Então foi bom trabalhar na UEL, seu Altino? “Uma beleza! Dos três empregos que eu tive aqui nenhum tem defeito, mas em primeiro lugar eu fico com a universidade”.

Rosane Mioto

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Amadeu Artur

Em 1971, ano em que a Universidade Estadual de Londrina foi reconhecida, Amadeu Artur começou a trabalhar como servente no antigo Hospital Universitário. Depois, o funcionário passou para a construção civil na UEL. Neste setor ajudou a construir a reitoria e o centro esportivo.Quando veio para a construção do prédio que seria a reitoria, lembra Artur, só havia a clareira, ou melhor, ainda não havia nada. No lugar eles chegaram a cultivar milho, por exemplo.

O funcionário não se esquece do dia em que recebeu o primeiro pagamento. O salário veio em cheque e ele recebeu em uma escada no Centro de Ciências Biológicas (CCB), perto da antiga CAE (Coordenadoria de Assuntos Estudantis).

Do tempo em que trabalhou na Universidade, o funcionário guarda muitas recordações, como de quando, para construir o CEFE (Centro de Educação Física e Esporte), tiveram que puxar uma mangueira como aquelas de quintal desde o CCB.

Para resolver o problema da falta d’água no centro esportivo, os pedreiros da Universidade cavaram um poço artesiano de quatro metros de diâmetro. Cavaram até encontrar água, mas logo depois o abastecimento da UEL deixou de ser dos poços e passou a ser de água do rio Tibagi – que fica armazenada na caixa d’água perto do calçadão na altura do CECA de madeira.

Em 1974 a CAE estava precisando de um auxiliar de serviços gerais. “Então o mestre de obras, o Zezito, me mandou para lá. Era para ser por alguns meses, acabei ficando três anos”, lamenta. Naquela época, tinha que trabalhar também aos sábados.

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Artur conseguiu “com muito custo” que o mandassem fazer o mesmo serviço em uma obra na prefeitura do campus. Mais tarde o funcionário ocupou-se de outra forma: fazendo ferramenta para os pedreiros da UEL.

Naquele tempo a Universidade fornecia as ferramentas para os pedreiros e Amadeu ficou responsável pela confecção, para que eles sempre tivessem os instrumentos de trabalho adequados.

Na oficina ele também tinha a função de fazer telas. As telas, confeccionadas em uma máquina própria, eram utilizadas nas lixeiras, no Hospital Veterinário e até hoje podem ser encontradas nos alambrados do Centro de Educação Física e nas divisas da UEL.

A experiência na construção ajudou-o a trabalhar no mutirão de construção de casas do bairro em que mora e lá conseguiu uma casa. Neste mutirão acabou conhecendo a esposa com quem está há 16 anos e que também trabalha na UEL.

Amadeu se aposentou da UEL em 1998. Agora, ele conta que ajuda em casa. “Eu lavo roupa, faço janta”, diz o funcionário aposentado.

Poliana Lisboa de Almeida

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Ana Carolina Santini

O sotaque denuncia logo no primeiro contato que Ana Carolina Santini não é brasileira. Mais uns minutos de conversa e já é possível identificar o jeitinho brasileiro de falar. No entanto, em alguns momentos, as línguas se misturam. E o português não dá conta de traduzir todas as informações. Aí vem uma série de palavras resultantes da combinação de dois idiomas, aos leigos, parecidos entre si, mas que na realidade,

guardam muitas diferenças. O importante mesmo é saber que o produto final é totalmente compreensível ao interlocutor.

Ana Carolina é natural do Uruguai. Nasceu na cidade de Taquarembó, a 100 km da cidade brasileira Santana do Livramento, na fronteira do país. A menina camponesa, como ela mesma se define, viveu a infância com a família no meio rural. Foi essa fase de sua vida que determinou o seu futuro profissional.

Ana Carolina começou a fazer o curso de Serviço Social na capital de seu país, Montevidéu. Simultaneamente cursava Belas Artes. “Chegou o terceiro ano, e Serviço Social demandava muito, tive que optar por uma das duas profissões. Optei por Serviço Social, achava que eu me devia mais a população, a melhoria e o bem-estar, lutar um pouco pelos direitos que a parte do belo, do artístico”.

Depois de concluir o curso, prestou concurso público, trabalhou no Ministério do Trabalho e na Universidade. Ainda no Uruguai fez mestrado. Ela conta que os anos 1960 foram complicados politicamente: “De fato havia intervenção dos órgãos públicos e o Serviço Social, principalmente, era muito perseguido”, relembra.

Duas décadas se passaram e Ana Carolina veio para o Brasil, em 1979. O primeiro lugar onde esteve foi no interior do estado de

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São Paulo. Não se passou muito tempo até ser convidada para vir a Londrina: “Eu achei a cidade fantástica”.

Em 1981 começou a trabalhar na UEL. “Entrei para o Departamento de Serviço Social. Como eu havia atuado muito no Uruguai com populações rurais, trabalhei com projeto de extensão por seis anos”. O projeto era realizado nos distritos de Paiquerê e Guaravera. O objetivo era criar um canal de comunicação entre os conhecimentos produzidos na Universidade e a população. Sempre respeitando a cultura e os valores da comunidade. Uma grande equipe interdisciplinar promovia ações de desenvolvimento social e trabalhava conceitos de cidadania, com o método de Paulo Freire.

Dentro do projeto existiam outros subprojetos, como o que era realizado com os boias-frias em Guaravera, cujo um dos objetivos era abrir caminho para o agrônomo: “Para que não parecesse ‘o menino da cidade que vem com seus conhecimentos para uma pessoa que não sabe nada’”.

Esse cuidado especial que Ana Carolina tem com a população rural foi herdado dos tempos da infância. “Nasci no meio rural. Eu via as dificuldades. Por isso me dediquei a essa parte do campesinato, o universo rural para mim era muito conhecido. Eu queria compartilhar os conhecimentos”. Ela relembra que aqui no Brasil também foi difícil trabalhar com o método de Paulo Freire, justamente, por questões políticas. O país ainda estava em processo de redemocratização. “Tudo era aos poucos, devagar, tinha que tomar cuidado”.

Depois, Ana Carolina fez doutorado na USP. O tema de sua tese veio da própria experiência no projeto. “Eu havia percebido, nos últimos tempos, que a gente competia muito com a televisão. As pessoas não queriam vir nas reuniões por causa da novela, se falava mais em novela”. Ana Carolina analisou, por meio da Semiótica, a influência que a mídia exercia sobre a população rural. Fez pós-doutorado, escreveu um livro, ganhou bolsa de pesquisa no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Os anos passados na Universidade faz Ana Carolina refletir: “A UEL era uma pequena comunidade. As relações eram diferentes entre os professores. O café era comum. Depois foi crescendo, crescendo (...)

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Hoje é uma grande cidade e não se conhece mais. Tudo é individualizado. É a modernidade, mas, isso cria uma Universidade mais fria”.

Aposentou-se há menos de um ano. “Estou de férias”, brinca. Mas isso não significa não fazer nada. Pelo contrário. Embora tenha deixado o curso de Artes, Ana Carolina nunca abandonou a área. Continuava pintando e esculpindo. E o hobby, por acaso, tornou-se sua nova profissão.

De posse de uma câmera fotográfica digital, em frente a belas flores e com muita sensibilidade, ela descobriu uma nova forma de fazer arte. Com a ajuda de um programa de computador, as flores são transformadas em mandalas. “A mandala é o átomo. O átomo tem essa forma e se você separa (...) é a própria unidade. E tem lei matemática, física”, explica. Posteriormente, essas imagens artísticas são emolduradas e transformam-se em quadros, bolsas e luminárias.

“Eu admiro a flor, porque a flor nasceu de uma semente, que você tem que esperar, passa por tantas situações, nasce do próprio estrume e depois nasce aquela coisa maravilhosa”, fala, orgulhosa da matéria-prima de seu trabalho. E faz com que cada um seja único: “A flor não será a mesma, o ângulo de sol não será igual, a cor também não”.

Léia Dias Sabóia

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Ana da Silva Stuqui

Ana da Silva Stuqui entrou para a zeladoria do CCE dia 14 de setembro de 1982. Antes, ela costurava e trabalhara um ano em uma fábrica. Já tinha pensado em prestar o concurso na UEL, mas contaram para ela que tinha que ficar sem roupa para o exame médico, o que levou Ana a adiar a decisão. Na verdade ela não precisou ficar nua na frente do médico e entre 115 mulheres foi escolhida.Ela conta que seus anos na Universidade foram maravilhosos, que os professores do Departamento de Física, em que trabalhou desde o terceiro ano, sempre gostaram dela.

Mas Ana trabalhou muito. Limpava os banheiros duas vezes ao dia, o corredor, fazia o café duas vezes e fazia pão de leite, bolo e bolacha para os professores. E os alunos passavam e comentavam “hum... mais que cheiro tia”.

Ela é natural de João Ramalho (SP), e veio para Urai com seis anos de idade. Também morou em Rancho Alegre antes de se mudar com o marido para Londrina. Eles sempre moraram no Jardim Tókio e de lá Ana caminhava para a UEL antes do expediente.

Quando ela entrava ao meio-dia, passava a manhã costurando para complementar o orçamento. Depois começou trabalhar de manhã.

Vinte e dois anos na UEL quando ela se aposentou. A coluna doía e assim que parou começou a cuidar do marido, o porteiro aposentado Hermes Stuqui. O casal tem três filhos, um de criação.

Depois da aposentadoria, além de ficar com o marido, Ana cuida da casa, dos netos e do jardim. A funcionária também aproveita para ler, atividade que sempre gostou. “Eu não estudei muito, mas sou sensível e guardo as matérias que gosto”.

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Enfermagem: uma paixão

A enfermeira e professora Ana Irma Rodrigues ainda demonstra, aos 71 anos, a força e o amor que a impulsionaram para estudar, praticar e ensinar sua grande paixão: a enfermagem

No final da década de 1930, nascia em Sertanópolis uma menina que no futuro mudaria os rumos da enfermagem no cenário nacional. Desde a infância, Ana Irma Rodrigues chamava atenção pela inteligência e aplicação nos estudos e, por isso, fez nascer em seu pai o sonho de vê-la formada em medicina. Durante muito tempo, o veemente incentivo não a deixou imaginar outro

ofício. Entretanto, após a mudança para Curitiba em busca de realizar este desejo, um encontro inusitado desviou o caminho da jovem estudante que se tornaria a primeira enfermeira formada do norte do Paraná e uma das responsáveis pela criação do curso de enfermagem da Universidade Estadual de Londrina, pioneiro na região. Sua atuação na área da saúde é extensa, assim como sua batalha pela humanização dos serviços prestados aos pacientes. Se, por um lado, a carreira escolhida não foi a estimulada pelo pai, o orgulho proporcionado, sem dúvidas não foi menor.

A simpática senhora que nos recebe na ampla e aconchegante sala de estar do apartamento onde vive hoje ao lado da mãe marcou para sempre seu nome na história da saúde do Brasil. Sem deixar o sorriso cativante se apagar de seu rosto, nos conta como tudo começou: “Éramos dez irmãos, cinco homens e cinco mulheres. Nosso primeiro lar foi numa casa de palmito e teto de tabuinhas. Iniciamos os estudos na escola rural, mas meu pai fez questão que estudássemos na cidade para ter uma melhor formação. A partir do quarto ano primário, viemos estudar no Colégio Londrinense em regime de internato”.

Ao encerrar o curso científico (ensino médio) no tradicional colégio de Londrina, foi para Curitiba, onde se encontrou, por acaso

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com uma colega da escola. Pensativa, ela explica que esta coincidência mudou seus planos, às vésperas do vestibular: “Esta colega já estava fazendo enfermagem e me convidou para fazer também. Não sei bem por que, mas acabei aceitando o convite. Fiz o vestibular, passei e gostei”. A princípio, a notícia causou nos familiares um espanto do qual jamais irá se esquecer: “Ninguém entendia porque eu tinha escolhido aquela profissão desconhecida, sem status nenhum e carregada de preconceito”.

Felizmente, a jovem aspirante a enfermeira não se deixou influenciar pela desconfiança inicial. Dedicou-se ao máximo à formação e já se destacava em sua turma na Escola de Enfermagem Madre Léonie, da Universidade Católica do Paraná, única a oferecer o curso dentro do estado à época. Neste período encontrou a afinidade com área de cirurgia, que permearia toda sua carreira profissional.

Os primeiros passos Recém-formada, regressou a Londrina já com emprego

assegurado, garantia que o diploma favoreceu. “Comecei a trabalhar no Hospital Modelo, que ainda era pequeno, mas tinha a pretensão de crescer. Fui contratada para organizar o centro cirúrgico deles”.

Em meio à realidade bastante precária comum aos hospitais naquele tempo, a enfermeira não teve descanso nos primeiros anos de profissão: “a assistência de enfermagem era mais de 90% exercida por ‘práticos’ de enfermagem [pessoas sem qualquer formação na área]. Essa situação obrigava as irmãs e a mim a cumprir longas jornadas de trabalho, pois não havia a quem delegar tarefas de maior complexidade”, explana. As irmãs estavam locadas na Santa Casa [Hospital Santa Casa de Londrina] e Ana Irma, no Hospital Modelo, e posteriormente no Hospital Evangélico [de Londrina].

A carência de profissionais qualificados era problema constante nestes tempos. Ana Irma comenta que o panorama só começou a se modificar a partir da fundação da Faculdade de Medicina do Norte do Paraná, que aumentou a demanda por enfermeiras. No mesmo ano em que a instituição começou a funcionar, ela foi contemplada com uma bolsa da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

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Superior) e cursou na USP (Universidade de São Paulo) a especialização em chefia e assistência de enfermagem na unidade de centro cirúrgico. Ao longo do curso, começou a desenvolver despretensiosamente suas habilidades de professora. Por já possuir alguns anos de prática, auxiliava os mestres na orientação das colegas que não possuíam a mesma vivência.

Com o título de especialista, retornou a Londrina e foi contratada pela Santa Casa para chefiar, ao lado da irmã Sílvia Esteves, companheira da especialização, o centro cirúrgico do hospital e ministrar aulas no curso de auxiliares de enfermagem da Instituição, seu primeiro emprego como professora. Ana Irma ainda não sabia que o magistério seria uma das muitas missões de sua vida e fala com carinho do início nas salas de aula: “Foi muito bom, porque, até o curso de especialização, eu nunca tinha pensado em dar aula, achava que não tinha jeito para isso”.

Antes de mergulhar de cabeça na vida acadêmica por meio da UEL, a enfermeira ainda atuou no Hospital Evangélico, onde participou de momentos importantes da medicina de Londrina. Em 1969, integrava a equipe que realizou a primeira cirurgia cardíaca extracorpórea da região. “Vencemos as deficiências de pessoal e material e organizamos a assistência de enfermagem capaz de sustentar o êxito dessa cirurgia. Ainda não existiam as unidades de terapia intensiva (UTI), portanto, eu improvisei num quarto o ambiente próprio para a recuperação do paciente”, gaba-se.

O curso de enfermagem na UEL No início dos anos 1970, com quase dez anos de carreira

profissional, a enfermeira recebeu mais um convite importante. Conhecida por sua ampla e competente atuação nos principais hospitais da cidade, Ana Irma já havia conquistado a confiança da maioria dos médicos com quem trabalhou. Um deles, o doutor Ascêncio Garcia Lopes, primeiro reitor da recém-fundada UEL. Foi ele que fez a “convocação” para ela organizar o curso de enfermagem na Universidade. Com um semblante que certamente lembra a sua surpresa à época, Ana Irma se recorda: “Eu não imaginava dar aula na Universidade, muito menos organizar o curso! Mas aqueles médicos

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que me conheciam, principalmente os cirurgiões, como o doutor Ascêncio, me chamaram. Eu e mais uma colega, a Diva Cristóffoli, fizemos a entrevista com ele e fomos contratadas imediatamente”.

O contrato foi sinônimo de muito trabalho, o que não desanimou a brava enfermeira, acostumada a vencer desafios. A lembrança é certamente agradável: “Foi bárbaro! A gente trabalhava sábado, domingo, de dia e à noite. Éramos só nós duas para fazer tudo, mas era bom”. Para assumir tamanha responsabilidade, ela passou a se dedicar exclusivamente à UEL, tanto como docente quanto como profissional, no Hospital Universitário da instituição (HU), chefiando o centro cirúrgico.

Inicialmente ocupadas com as questões administrativas para implantação do curso, as duas enfermeiras eram também as únicas professoras da Instituição a princípio. De acordo com o avanço da primeira turma de enfermagem para as séries seguintes da graduação, novos professores foram contratados gradativamente. Mas Ana Irma, que também lecionou para o curso de medicina, não deixou mais as salas de aulas até se aposentar. Grande parte dos alunos tornava-se colegas de trabalho posteriormente e, assim, mantinha o vínculo com a maioria deles. “O relacionamento com os alunos era ótimo. Eles eram muito próximos, procuravam a gente, pediam ajuda, sabiam que estávamos ali o tempo todo à disposição. Muitas vezes nós passávamos a tarde inteira estudando juntos, ensinando algum aluno que tinha que instrumentar no dia seguinte, por exemplo. Era um ambiente que eu gostava muito e sinto falta”, recorda-se.

O mestrado – a cirurgia no Brasil antes e depois de uma tese

Sempre preocupada em aprimorar sua formação, depois de

ingressar na UEL, Ana Irma conseguiu outra bolsa de estudo da CAPES, desta vez para realizar seu mestrado na USP. “Graças à oportunidade dada pela UEL e a CAPES, tive o privilégio de ser aluna do primeiro curso de mestrado do Brasil e a primeira mestre em enfermagem no Paraná”, diz com gratidão.

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A pesquisa foi a contribuição mais expressiva da mestra para a área de enfermagem. O objetivo de Ana Irmã era contribuir para melhorar a qualidade de atendimento aos pacientes no período trans-operatório, como ela própria elucida: “A minha tese era sobre a percepção e opiniões dos pacientes durante o transoperatório, ou seja, desde quando entram no centro cirúrgico até o momento em que saem. Como eles se sentiam naquele ambiente? Como ouviam o que era falado? Isso tudo eles me contaram. Entrevistei mais de 400 pacientes”. Para realizar o estudo, ela entrou em contato com anestesistas dos Hospitais Evangélico, Santa Casa e HU e pedia que eles não aplicassem anestesia geral nos pacientes. Acordados, mantinham a percepção durante toda a cirurgia e, assim, tinham condições de relatá-la posteriormente.

Os resultados, surpreendentes para as equipes médicas da época que não se atentavam à percepção do paciente durante a cirurgia, revolucionaram a assistência aos pacientes nos centros cirúrgicos do país. “A minha dissertação, graças a Deus, fez muito sucesso, porque antes não existia nenhum estudo nessa área. Hoje, toda a assistência no centro cirúrgico é mais humanizada: os anestesistas, por exemplo, começaram a fazer as visitas pré-anestésicas, que não faziam antes. Este trabalho foi um marco, muito citado em bibliografia não ficou só aqui no Paraná, foi para todo o Brasil”, orgulha-se.

O maior amor Durante os 35 anos no exercício da profissão, Ana Irma passou

seus melhores momentos. Graças a ela conquistou tudo o que tem e é a pessoa feliz com quem conversamos hoje, que declara satisfeita: “Eu não me realizaria em outra profissão. Trabalhei, ensinei, vivi e respirei enfermagem”.

O casamento e filhos, que nunca vieram, foram os hospitais, uniformes, instrumentos, plantões, cirurgias, pacientes, livros, laboratórios e alunos. E preencheram com toda a propriedade o espaço em seu coração. “Eu trabalhei muito, mas tinha tempo para me divertir, não me faltou nada: fui a bailes, festas, dancei e tive vários amores, que me alegraram, mas ficaram no passado. Não me casar foi uma opção: eu não quis e não me arrependo, escolhi minha carreira profissional”,

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afirma contundente. A alegria radiante e sincera que vem de seu rosto não permite duvidar.

A vida familiar, contudo, nunca deixou de ser importante para Ana Irma. Ela faz questão de destacar a presença constante e fundamental dos pais, irmãos e mais tarde sobrinhos e sobrinhos-netos. É fácil constatar o forte elo que mantém com os familiares ao observar a estante da sala repleta de fotografias destas pessoas especiais em sua vida. “Eu sempre falo dos meus pais com muito respeito. Eles tinham pouco estudo, mas não mediram esforços para que os dez filhos estudassem e escolhessem suas profissões. Serei eternamente grata a eles. Meus irmãos foram companheiros e hoje me alegro com os sobrinhos e sobrinhos-netos”, emociona-se.

A rotina agitada e atarefada foi amenizada em 1995, quando decidiu se aposentar, apesar dos apelos contrários de seus colegas da UEL, como explica: “Resolvi parar porque percebi que havia chegado a hora. Eu não tinha mais o vigor de antes, não conseguia mais trabalhar com a mesma energia. Além disso, sentia que os tempos haviam mudado. As coisas não eram mais como no começo, quando todos se dedicavam mais, com mais amor e entrega pelo trabalho. Muitos colegas pediram para eu ficar, mas sabia que o melhor era me aposentar”. Depois do afastamento ainda retornou ao HU no ano 2000, para organizar o laboratório para o novo currículo do curso de medicina e acabou estendendo a atividade por mais três anos, quando deixou o trabalho novamente. Hoje não perdeu o vínculo com o pessoal da UEL: eventualmente dá palestras sobre a profissão, é convidada frequente das festas realizadas e visita o HU para passear e rever os amigos.

E o que fazer para preencher todo o tempo que passava na UEL? “Isso aqui”, responde, apontando para os diversos quadros nas paredes de sua casa. “Eu sempre tive vontade de pintar, mas não sobrava tempo. Depois que me aposentei, conversei com uma professora de pintura numa exposição em um shopping e comecei a ter aulas com ela. Nunca mais parei, é ótimo, uma terapia para mim”, garante. O talento para as artes é encantador e a enfermeira revela que já é antigo: “Fiz teatro durante muito tempo, desde criança na escola até os primeiros anos de profissão. Às vezes penso em voltar, mas acho que não saberia mais decorar os textos”, diz entre risos.

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Se é possível esperar mais vitórias e realizações na vida, Ana Irma espera. A enfermeira que dedicou a vida a ajudar as pessoas com seu trabalho planeja participar de projetos sociais para prosseguir nesta missão. E esbanjando saúde e vitalidade, desfruta com grande prazer a sua nova rotina entre telas, pincéis, a companhia da mãe e visitas animadas dos sobrinhos-netos. Serena, tranquila e, acima de tudo, feliz, muito feliz!

“O Portal do Servidor Aposentado da UEL é uma oportunidade para que, como enfermeira e professora aposentada desta Instituição, eu possa deixar parte de minha história registrada nas páginas da Universidade. Quando escolhi a enfermagem, não fazia ideia de sua grandeza. Não considerava a profissão um sacerdócio, e sim a busca de um meio legítimo e gratificante de ganhar a vida, e o anseio de ser útil. Exerci a enfermagem com a certeza de que não poderia me realizar na profissão se não buscasse constante aprimoramento. Por isso fiz os cursos de pós-graduação ofertados na época. E me extasiava com as novas metodologias de ensino e assistência de enfermagem. Trago no coração professores como a saudosa enfermeira doutora Wanda de Aguiar Horta, que me ensinou que “enfermagem é gente que cuida de gente”. Faz parte de minha vida, a lembrança de excelentes profissionais, médicos e médicas, que partilharam comigo saber, amizade e respeito profissional. Na profissão conquistei verdadeiras amizades. Vários colegas marcaram indelével minha vida, entre os quais tomo a liberdade de citar: Vanda Jouclas, Vilma Valielo, Diva Aparecida Cristóffoli, Sonia de La Torre Salzano, Circe de Melo Ribeiro, irmã Sílvia Esteves, Zoé Maria Lima, Lucilia Monti Magalhães, Oswaldo Yokota, entre outros e tantos!”

Janaína Castro

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Ana Maria de Arruda Ribeiro

Ana Maria de Arruda Ribeiro é natural de Campinas (SP). O pai era bancário e por conta do trabalho mudou-se várias vezes de cidade. No entanto, a transferência para a cidade de São Paulo foi a que mais deixou recordações para Ana Maria.O ano era 1960, São Paulo era uma cidade tranquila. “Logo que meu pai comprou o primeiro carro, ele dormia na rua. O local onde a gente morava foi um dos primeiros prédios de apartamento. Naquela época nem se pensava em ter garagem. Lembro

que o nosso primeiro carro foi um fusca que, logicamente, ficava lá em baixo, na rua. E não tinha problema. Hoje falar isso é inacreditável. Morei lá até 1970 e nunca aconteceu nada.”

Para Ana Maria esses anos foram inesquecíveis, pois presenciou a história de uma geração. “Vivenciei a época da jovem-guarda, passear na Rua Augusta. Eu tive essa oportunidade. Convivi com Sérgio Reis, estudávamos na mesma escola. Os Vips, a Silvinha, Eduardo Araujo”, relata, saudosa.

Da nostalgia dos tempos idos, a conversa ganha outro enfoque. Ana Maria fala com amor da profissão que escolheu para si. “Sempre quis ser professora. Desde quando terminei o ginásio (hoje ensino fundamental). E eu gostava de exatas, então pensava sempre em me direcionar para essa área, porque eu queria ensinar. Quando estava no científico (hoje ensino médio), já dava aulas de matemática, física. Depois comecei a fazer Agronomia e continuei dando aulas particulares”.

O maior orgulho de Ana Maria é ter colaborado com a formação de milhares de pessoas. Experiência, sensação que descreve como “fascinante e gratificante”. Ela conta que sempre valorizou muito o diálogo em sala de aula e que procurava ensinar não apenas o conteúdo.

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Tentava passar aos seus alunos lições de vida: “Tem que ter humildade para reconhecer os erros; o respeito precisa existir em qualquer relação humana”. Ela relata que sua sala sempre estava cheia: “Procurei ser muito amiga dos meus alunos; aqueles que deixavam, porque têm os que são mais reservados e nós temos que respeitar”. Em consequência dessa atitude, Ana Maria não era mais só professora, passou a ser amiga e conselheira: “Eles vinham falar comigo até sobre assuntos particulares”, revela.

A professora conta que passou por situações difíceis com alguns alunos. “Em alguns momentos você se decepciona. Mas, sempre parti do seguinte princípio: a gente precisa guardar só os bons momentos”.

Os vários anos de profissão permitem que Ana Maria tenha um olhar mais crítico sobre os alunos e jovens de hoje. Segundo ela, a maturidade está chegando cada vez mais tarde. E a razões são as mais diversas: “Talvez a palavra certa esteja com os pedagogos, psicólogos, mas eu leio muito sobre o assunto. Os jovens são pouco cobrados em relação à responsabilidade. Os pais, preocupados em prover, se dedicam excessivamente ao trabalho e se esquecem da orientação. Não é só dar o vestuário, a alimentação e o transporte, tem que conversar”. Seguindo esse raciocínio Ana Maria educou sua única filha, da qual fala com imenso orgulho.

Outra preocupação que ela diz ter é o fato de que o “bichinho da imaturidade” está acompanhando os alunos até mesmo na pós-graduação. Segundo ela, a pressão do sistema, dos pais, e a falta de estrutura pessoal fazem com que alguns tomem rumos diferentes do que pretendia para agradar outrem. E a consequência são profissionais desmotivados: “Ou mesmo que seja um bom profissional, por dentro não vai estar satisfeito. Quem vive no mundo de pesquisas e leituras, imagina que não há nada além disso no mundo”, afirma.

Segundo ela, atualmente muitos veem a universidade como a única entrada para o mercado de trabalho. “Nada impede que alguém que não tenha esse perfil faça um curso técnico e se dê muito bem na vida, ame sua profissão e seja um profissional com destaque”, garante.

Ana Maria foi a primeira mulher a obter o título de mestre em Agro-Meteorologia no Brasil. Ela se formou na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), em 1982. De posse do título foi

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convidada a fundar o curso de Agronomia no estado do Amazonas. Lá a paulista morou por seis anos. Depois de consolidado o curso e por estar muito longe da família, com colegas que já trabalhavam na UEL, veio a Londrina prestar o concurso.

Ana Maria faz questão de enfatizar o orgulho que sente da Universidade. “Na UEL foi muito fascinante o trabalho. Em 1986 o curso era relativamente novo. Os profissionais eram escassos. Foram 21 anos de dedicação”. Quando a UEL implantou o curso de pós-graduação, Ana Maria fez doutorado na Unesp. “Voltei e ainda colaborei com o curso, lecionando, até a aposentadoria”.

Aposentada há apenas um ano, Ana Maria está aproveitando o tempo livre. “Falei para a minha filha que, por um ano, só faço o que me der vontade, ou seja, como quando tenho fome, durmo quando tenho sono, passeio quando tenho vontade”, conta, dizendo que vai prorrogar o prazo que vencerá em alguns dias.

Ana Maria pretende, mais tarde, dedicar suas horas livres aos idosos. “As crianças são merecedoras, pois elas são o futuro. Mas, na condição de aposentada, vejo o quanto o idoso é desrespeitado e esquecido”.

Ela também quer continuar fazendo artesanato. E não para por aí: “Outra paixão é a leitura, agora com todo o tempo do mundo. Quando eu era menina, minha paixão pela leitura era tão grande, que quando não tínhamos condições para comprar livros novos, ou já tinha lido todos os livros da escola, meu livro de cabeceira era o dicionário, ficava horas e horas lendo”.

Léia Dias Sabóia

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Auxiliar do HU

A auxiliar de enfermagem Angelina Silva Gonçalves Baggio veio para Londrina em busca de uma vida melhor, trocou um hospital particular pelo Hospital Universitário e trabalhou lá até a aposentadoria em 2003

Angelina é de Cruzeiro do Oeste, norte novo do Paraná. “Lá não havia opção de trabalho, minha irmã trabalhava no hospital e a gente aprendia fazendo”, lembra. Foi dessa forma que começou a aprender como se trabalhava em hospital, e chegou a ser empregada na cidade vizinha, Umuarama.

Em Londrina, Angelina fez cursos de auxiliar de enfermagem em 1984, no Colégio Londrinense, e de instrumentação cirúrgica no Senac.

Depois de atuar em um consultório de um cirurgião vascular, ela começou a trabalhar no Mater Dei. “Eu era instrumentadora cirúrgica, dava os materiais na mão do médico, conhecia todas as cirurgias”.

Com uma jornada noturna, foi possível prestar concurso para o período matutino no Hospital Universitário em 1991. Depois de dois anos, sobrecarregada com dois empregos, Angelina resolveu abrir mão de um.

No HU, ela trabalhava na UTI 2, em que ficavam os pacientes com mais riscos de contaminação. Angelina gostou da mudança na rotina. Também havia sido implantada a jornada de 36 horas e 40 horas, como ela fazia no outro hospital. Tudo isto levou a funcionária a optar por continuar na UEL.

Ela passou a trabalhar à noite. A cada 12 horas cumpridas, descanso de 36, e as folgas também podiam ser emendadas, dando até para fazer algumas viagens. Em 2003, ela aposentou-se.

Até 2006, ela ajudava o marido a vender lanches. “Era muito cansativo, mas era gostoso”. Angelina também começou a cursar

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história na Unopar Virtual e teve que parar. Agora, terminou um curso de seis meses de costura no Senai. Ela até recusou um emprego porque a jornada era de oito horas diárias, incluindo os sábados. Mas ela pretende aproveitar o que aprendeu no curso.

Poliana Lisboa de Almeida

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O gosto por dar aulas

Anna Regina Jordão Ciuvalschi Maia, professora de Administração da UEL, hoje usa seu conhecimento pedagógico na atividade de evangelização

Na década de 1980 a carioca Anna Regina Maia já pensava em deixar o Rio de Janeiro. Era formada em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, trabalhara nove anos como professora primária e há 15 estava atuando em empresas, a última a Embratel. Na cidade grande em que tudo era longe; ela costumava sair às 7 da manhã e voltar às 7 da noite. Quando chegava estava muito cansada para brincar com suas filhas pequenas,

com seis e três anos. Encostada na cadeira e abrindo os braços Anna simula como fazia com as filhas. “Eu só falava, vem cá ficar quietinha com a mamãe. Eu estava tão cansada que só queria ficar quieta.”

Numa visita à irmã que morava em Londrina, Anna conheceu a cidade, e resolveu morar aqui. Ela decidiu na hora em que chegou. “Tinha gente que falava que eu ia sair do Rio para viver no meio do mato, mas Londrina tinha tudo que eu precisava”.

O marido e o cunhado abriram uma mercearia, perto do Hospital Mater Dei. Anna esperou as férias das filhas para vir. Quando chegou, o cunhado não queria que as mulheres trabalhassem no negócio.

Resolvida a procurar um emprego, ela teve dificuldade por ser mulher. Anna conta que alguns se entusiasmavam por seu currículo, que incluía até um curso de mestrado – sem título, porque ela resolveu não defender a tese: “coisa de jovem” – mas o fato de uma mulher estar à frente de uma empresa mandando em homens era visto com preconceito em Londrina. Com a experiência de magistério, foi dar aulas no Senac. E lá ficou sabendo da Universidade Estadual de

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Londrina. “No Senac me falaram, porque você não vai na UEL, você tem até mestrado, experiência. E eu fiz o concurso”.

Em 1982, Anna Regina Maia começou a lecionar na UEL. O então reitor, lembrava-se dela porque cursaram mestrado na FGV. Como a professora, além de aluna, substituiu professores quando preciso e chegou a trabalhar na Instituição, José Carlos Pinotti ofereceu para ela a Diretoria de Pagamento na Coordenadoria de Recursos Humanos, atual PRORH.

Mantendo uma disciplina no Departamento de Administração, ela assumiu o cargo. Apesar da experiência anterior em administração, Anna afirma que em empresas privadas tudo é muito diferente do que é nos órgãos públicos. “Na primeira folha de pagamento que saiu, veio metade da Universidade na minha sala reclamar”.

A professora conta que os 25 funcionários da Diretoria eram responsáveis por verificar as folhas de horário de cada um dos mais de mil professores da Universidade. Às vezes os professores deixavam de assinar a folha. “Era um trabalho muito primário.”

A solução foi o controle por exceção, do qual Anna Maia fala com orgulho, em que os funcionários do departamento eram responsáveis por marcar, com códigos criados para cada situação, apenas o que estava irregular: faltas, viagens, dispensa, por exemplo. Os departamentos faziam isto e encaminhavam para a Diretoria. Segundo a professora este modelo ficou por aproximadamente 10 anos em vigência na Universidade.

Assim que a administração da UEL mudou, Anna perdeu o cargo de confiança e voltou para o departamento. A professora conta que foi a primeira a ser substituída e atribui isto ao fato de não ter sido afilhada política de ninguém na Universidade. “O Pinotti só tinha me oferecido o cargo porque me conhecia profissionalmente.”

No departamento a professora continuou a dar aulas até 1993, quando completou 25 anos de serviço, o tempo exigido na época para a aposentadoria. O divórcio, três anos antes fez com que Anna ficasse meio desgostosa. “Não é fácil para ninguém” e ela resolveu que precisava de tempo livre para se dedicar às atividades da Igreja Católica, evangelizando.

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Anna Regina com seu sotaque de carioca faz piadas com o magistério, comparando-o à cachaça, “se você tem vocação e começa não quer mais parar”. E assim ela continuou dando palestras na Igreja, usando aquilo o que ela aprendeu na prática ao longo dos anos.

Em 1996 começou a implantar a pastoral dos divorciados e casais de segunda união em sua paróquia, “minha experiência valeu para ajudar muitos outros”. E ela foi a outras cidades implantar a pastoral, até ao interior de São Paulo.

A professora gosta da liberdade de ser aposentada. Com a maioria da família no Rio de Janeiro, ela pode ir e ficar o quanto quiser. Uma vez, lembra, foi em dezembro e voltou apenas em fevereiro.

O departamento da UEL chamava a professora aposentada para fazer concursos ou entrar como substituta. Numa destas vezes ela indicou a sua filha mais velha, que fora sua aluna na graduação e que começou a dar aulas de Administração para o curso de Serviço Social. Anna lembra que a filha foi homenageada pelos alunos, mesmo não sendo do departamento deles e que agora leciona na Faculdade Pitágoras. Sua outra filha, engenheira civil, também se formou na UEL. “Minhas filhas são muito dedicadas, elas sempre me viram trabalhando, acho que eu passei isto para ela”, diz Anna orgulhosa.

Até 2003 a professora assumiu alguns cursos no Sebrae, mas resolveu sair porque seus exemplos “já estavam ficando velhos”. Há dois anos Anna Regina começou a ajudar o irmão que tem uma empresa de fundações em Salvador. Ele envia os dados por computador e ela fica trabalhando. “Esse é o meu joguinho de computador”.

De 2000 a 2002 a professora frequentou o Curso de Assessores Bíblicos em Curitiba e assim preparou-se melhor para a atividade que escolheu após a sua aposentadoria. Desde então continua ministrando cursos de evangelização em várias Paróquias da Diocese de Londrina e na Escola Santo André.

Poliana Lisboa de Almeida

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Antonio Carlos Moraes Neto

“Eu adorava meu trabalho. É uma pena que agora não posso trabalhar mais”. A declaração é de Antonio Carlos Moraes Neto. A profissão: técnico em radiologia. Muitos não sabem nem o que faz um técnico em radiologia. Então vamos explicar e depois entender porque Antonio gostava tanto. Técnico em radiologia faz Raio-X nos hospitais e clínicas. Lembra do moço ou da moça que diz: “Respira fundo e segura; espera um pouco; agora pode soltar”? Essa pessoa certamente é um técnico em radiologia como Antonio.

Aos 19 anos, quando ainda morava na cidade de Cornélio Procópio, ele recebeu um convite de um amigo para trabalhar no Raio-X. Uma ótima oportunidade para quem estava iniciando a vida profissional. Sendo assim, não recusou. Depois de efetivado, foi para Curitiba fazer o curso e aprimorar-se mais: “Peguei o diploma e tudo”. Com o certificado em mãos, voltou para Cornélio e lá trabalhou ainda 11 anos. E então se mudou para Londrina.

Antonio conta que adorava sua atividade. Então nada mais lógico do que lutar por melhorias na profissão, para ele e para a categoria. Outra oportunidade surgiu: “eu fui o primeiro presidente do Sindicato dos Técnicos de Radiologia de Londrina”, conta, orgulhoso. Em função da nova “empreitada” não podia mais exercer a profissão. Durante cinco anos, período em que atuou no sindicato, ficou afastado da prática.

Esses cinco anos foram “barra”. “Mas eu deixei muita coisa boa, muita gente se efetivou na profissão, teve curso, muita gente arrumou emprego através do sindicato”, revela. E conta mais: “Eu lutei pelas 24 horas semanais e 96 horas mensais”, diz, em tom de discurso político vitorioso.

Na UEL, Antonio começou a trabalhar em 1984. Dessa vez ele também recebeu um convite. A diferença é que o trabalho seria

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temporário. Antonio iria trabalhar por alguns meses no lugar de uma terceira pessoa que logo retornaria. Passaram-se os meses e ela não retornou: “Daí foram obrigados a me efetivar”. Trabalhou por alguns meses no Hospital Veterinário e foi transferido para o Hospital de Clínicas. Quando se aposentou estava trabalhando no Hospital Universitário.

Da UEL ele diz que sente saudades, principalmente dos amigos e do setor de Radiologia. Faz três anos que Antonio se aposentou. Agora ele faz caminhada e pesca sempre que pode, para se distrair. “A minha vida foi Raio-X”, afirma Antonio, demonstrando mais uma vez a paixão que tem pela profissão.

Léia Dias Sabóia

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Um músico allegro

Na vida do músico Antônio Miceli há espaço para a música, a bioquímica, a família e até para a saudade dos bons tempos vividos. Só não há espaço para a tristeza

Abertura

“Sem música, a vida seria um erro”, diz a frase atribuída ao filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). E, talvez, sem música, esse perfil nunca existisse. Para contar a história do músico Antônio José Miceli, é necessário fazer uma viagem no tempo e visitar os anos dourados, o que nos fornece um período de mais de 50 anos de (boa) música.

Natural de Nova Europa (SP), foi nesta cidade que Antônio teve o primeiro contato com a música. O pai e os tios tocavam na Banda Municipal, em uma época em que as retretas – apresentações de bandas nos coretos das praças – ainda eram comuns, enquanto a mãe cantava no coro da igreja. Mesmo com tantos parentes no ramo, Antônio teve aulas com o único professor de música de Nova Europa, mas sem deixar de seguir os passos do pai, que era clarinetista. “Eu comecei tocando clarinete porque meu pai tocava e eu já tinha o instrumento em casa. Tinha outro tio que tocava trombone, mas trombone de chave, o irmão dele tocava bombardino, também instrumento de sopro. Os instrumentos que eu mais conhecia eram aqueles ali”, recorda.

Quando o professor deixou a cidade, Antônio ficou sem ter quem lhe ensinasse a tocar. Seu pai era alfaiate e, trabalhando muito, não tinha tempo para ensiná-lo. Mas a situação de Antônio mudou quando sua família deixou Nova Europa e mudou-se para uma jovem e promissora cidade: Londrina.

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1º Movimento - Molto vivace [O Progresso] Quando a família Miceli chegou à Londrina, por volta de

1950, a cidade estava em pleno desenvolvimento, impulsionada, principalmente, pela produção de café, o nosso “ouro verde”. Apesar do progresso, a zona urbana da cidade era pequena. Os limites de Londrina no final da década de 1940, nas lembranças de Antônio, eram a Vila Nova, o Cemitério São Pedro e a avenida Duque de Caxias. A década seguinte, os anos dourados, assistiriam a modernização da cidade, capital mundial do café.

O progresso inseria a todos no mercado de trabalho, e com Antônio não foi diferente. Com cerca de 13 anos, começou a trabalhar como protético, e, mesmo trabalhando e estudando, ainda encontrava tempo para a música, embora as circunstâncias o tenham levado a escolher outro instrumento.

Na fanfarra do Ginásio Estadual – onde hoje funciona o colégio Marcelino Champagnat –, não havia lugar para o clarinete, mas, na primeira oportunidade, Antônio encontrou o seu lugar. “Eu entrei na fanfarra do colégio tocando a corneta de um cara que brigou com o regente lá e saiu; e eu estava do lado do cara quando ele saiu (...) eu passei a mão na corneta, entrei na formação e comecei a tocar; comecei tocando corneta, aí depois eu passei para o trombone”.

E foi com este último instrumento – o mesmo que o levaria à Orquestra Sinfônica da UEL anos mais tarde – que ele participou do desfile de 7 de setembro de 1960, no Calçadão de Londrina. Outra apresentação marcante foi na inauguração da Concha Acústica, em 1957, quando os professores de música da cidade reuniram seus alunos e formaram um conjunto para animar a festa.

Antônio levava uma vida simples, mas bastante agitada: estudava pela manhã, trabalhava à tarde e, nos finais de semana, tocava no conjunto Continental, junto com o irmão e outros amigos. Apresentavam-se nos bailes de sábado – das 22h às 4h – e nas matinês de domingo, das 15h às 18, na sede da União Londrinense dos Estudantes (ULE), onde hoje está localizado o edifício Palácio do Comércio. “O programa da juventude era o baile da ULE e a matinê da tarde”, explica. No repertório, samba, bolero, cha-cha-cha e música

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americana. “Mas não tinha nada dessa zoeira que tem hoje, era música decente”, ressalta. Nessa época, a Orquestra do Gervásio fazia sucesso na cidade. Porém, com a formatura no colegial, era necessário abandonar a cidade e começar uma nova etapa: a universidade.

2º Movimento – Allegro Vivace [A Faculdade] Em 1960, Londrina ainda não contava com o curso superior em

Odontologia, que viria ser instalado na cidade em 1962. Por causa disso, Antônio precisou ir para Curitiba continuar seus estudos. Com grande experiência na área de próteses dentárias, desejava se tornar dentista. Não aprovado no primeiro vestibular, arriscou a bioquímica no segundo e tornou-se aluno da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Na capital do estado, novas oportunidades no campo da música começaram a surgir. Antônio foi convidado a tocar na Orquestra Sinfônica da UFPR (hoje Filarmônica), recentemente criada – embora a Orquestra da Casa do Estudante, que deu origem à Sinfônica, já existisse desde a década de 1940. Paralela a essa atividade, fundou um novo conjunto e continuou animando os bailes e matinês – agora chamadas de “saraus” – em Curitiba, o que o ajudou a se manter longe de casa, já que a profissão de protético ocuparia um tempo precioso dos estudos. E já que era o conjunto que o sustentava, toda a semana precisavam encontrar um lugar para se apresentarem. “Durante a semana a gente ligava pra um, ligava pra outro... Eu morava na Casa do Estudante Universitário, então tinha a possibilidade de ir até o telefone da casa e os contatos eram feitos por telefone ou, quando não podia, a gente tinha que ir nos clubes, que eram um longe do outro. Durante a semana você tinha que se bater, tinha que arranjar serviço. E toda semana tinha que tocar”, relembra.

“Miceli e seu conjunto” fazia sucesso naquela cidade, tocando os mesmos ritmos do antigo conjunto londrinense, mas incorporando a bossa nova, sucesso naquele momento. Para tocar nos bailes, algumas regras precisavam ser seguidas. “Tinha seleções de músicas durante o baile. A gente começava normalmente com músicas mais agitadas para empolgar, que normalmente era uma seleção de sambas. A gente

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tocava quatro, cinco, seis sambas, parava, dava um intervalozinho e aí começava a seleção de boleros. Tocava 3, 4, 5, 6 boleros, parava, aí mudava para cha-cha-cha. Quem gostava de dançar samba já ficava esperando, então você podia escolher o ritmo que você queria”, explica.

E se existiam normas para tocar, também existiam normas para ouvir. Em um dos cartazes que anunciam a apresentação de “Miceli e seu conjunto”, além da hora e local, o traje a ser usado pelos convidados: “passeio completo”. E a regra era seguida à risca. “Não estava vestido decentemente, não entrava, simplesmente voltava para casa”, explica. Ou seja, falar daqueles anos é falar de um tempo muito mais distante culturalmente, do ponto de vista dos costumes, do que temporalmente.

Terminada a faculdade, Antônio ainda cumpriu um ano de residência em Curitiba até voltar para Londrina. “Miceli e seu conjunto” ficava para trás e era hora de iniciar mais uma fase.

3º Movimento - Allegro maestoso [A Orquestra] De volta à Londrina, Antônio começou a trabalhar na área em que

havia se formado, a bioquímica. Junto com alguns sócios, montou dois laboratórios de análises clínicas, mas, com o tempo, a sociedade foi se desgastando e ele preferiu deixar a bioquímica e dedicar-se inteiramente à música. Por essa época, Antônio já havia feito o concurso para entrar na Orquestra Sinfônica da UEL. Aprovado, começava oficialmente no dia 1º de fevereiro de 1986 a trabalhar para a Universidade.

Mas Antônio esteve com a OSUEL desde o início, em 1984. A Orquestra da UEL foi criada a partir do Conjunto Música, de 1978, formado pelo maestro Othônio Benvenuto, que havia chegado à Londrina dois anos antes com a tarefa de reativar o coral da Universidade e criar a orquestra. Foi este mesmo maestro quem convidou Antônio a se juntar à OSUEL, que durante os primeiros anos ainda não era “oficial”.

De acordo com Antônio, que foi contratado em 1986, pouco mais de um ano depois do primeiro concerto da orquestra – realizado no dia 4 de dezembro de 1984 –, no começo os músicos tocavam “só por prazer”. “Antes, no dia que você não podia, você não ia, então para que tivesse essa obrigatoriedade de ensaiar, tivesse compromisso e

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responsabilidade de ensaiar, tinha que fazer alguma coisa que pudesse dar um retorno, então ele [Benvenuto] achou o jeito de formar a orquestra, com o pessoal participando como funcionário”, explica. Portanto, após a contratação dos músicos aprovados em concurso começavam a valer os direitos e deveres de qualquer funcionário contratado pela Instituição.

Além da ausência de uma rotina de trabalho oficial, nos primeiros anos, a Orquestra Sinfônica da UEL contava com jovens músicos, que, com a realização do concurso, não foram aprovados porque, segundo Antônio, não tinham nível técnico suficiente para integrar a orquestra. Para ele, trabalhar na OSUEL representou “quase tudo” em matéria de música. Acostumado a tocar nos conjuntos que formou e também “na noite”, onde tocava outros instrumentos e também cantava, o músico precisou adaptar-se ao rigor das partituras da música clássica. E o esforço para acompanhar a orquestra era ampliado pela complexidade do instrumento. “[O trombone de vara] É um dos instrumentos de técnica mais difíceis que tem, porque todos os outros são com os dedos. (...) Você tem muito mais agilidade nos dedos do que no braço”, esclarece e, orgulhoso, reflete sobre a sua principal profissão: “Não é fácil ser músico não (...). Não cansa como o serviço braçal, mas cansa mentalmente. Estressa. Você pega um trecho de uma música que você não está conseguindo tocar [e] você tem que se rachar para sair, porque na hora do concerto a tua parte tem que sair. (...) Às vezes a gente vai para o ensaio [e] tem uma peça que tem pouca interferência do meu instrumento, por exemplo. Tem lá no terceiro movimento um trechinho que toca três notas, mas as três notas têm que sair. (...) Se tiver uma nota, você tem que tocar aquela nota exatamente como ela é”.

Sempre muito dedicado aos estudos da música, Antônio permaneceu com a OSUEL até o dia que a aposentadoria – por idade e por tempo de serviço – chegou. Com a orquestra, viajou para muitos lugares e nessas viagens, que não ultrapassavam uma semana, a OSUEL deslocava todos seus músicos, instrumentos, partituras... “Tem que chegar, descansar, ensaiar, preparar o local. Nós fomos tocar em Florianópolis, Itajaí, e é uma senhora viagem. Até que descarrega todo aquele material, que monta tudo, que você vai conseguir ensaiar... Então não podia ser menos de cinco, seis dias [de viagem]”, explica.

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O trombonista Antônio José Miceli deixou a Orquestra Sinfônica da UEL oficialmente no dia 1º de julho de 2008, mas ainda sente falta daquela rotina. “Vinte e cinco anos, toda manhã lá [nos ensaios], mesmo que fosse para ir só por ir. De segunda a sexta era sagrado o período da manhã”.

Além da experiência musical, a OSUEL lhe proporcionou boas amizades, que permanecem até hoje. “De vez em quando aparece um [músico da OSUEL] lá em casa.

Quando não aparece, alguém liga perguntando como é que eu estou. Quando eu chego [nos ensaios da orquestra] vem todo mundo me abraçar. Eu nunca briguei com ninguém, sempre me dei bem com todo mundo”, explica.

4º Movimento - Andante com moto [Aposentadoria: a vida continua]

“Eu sou um cara que posso me considerar feliz, porque vivi épocas boas, épocas gostosas, crescimento de cidades, desenvolvimento da música, aparecimento de novas propostas de música, participei bastante... Eu posso me considerar um cara feliz.”

Apesar do otimismo ao olhar o passado, Antônio não esconde a decepção com os rumos tomados pela música e pela sociedade. Para quem viveu uma época em que valores como o trabalho, os estudos, o bem falar e o bem vestir eram respeitados pela juventude, é difícil acompanhar o empobrecimento cultural de nossos dias. “Quantas escolas ensinam música? (...) Para a cultura não tem dinheiro. Acham que é besteira investir, é preferível deixar a molecada na rua, aprendendo coisa que não presta, do que incentivar”, desabafa.

O descaso com a cultura se reflete na falta de investimentos na Orquestra Sinfônica da UEL, que hoje tem um desfalque de cerca de 17 músicos. Depois que Antônio deixou a OSUEL, ninguém assumiu sua vaga.

Apesar de ter enfrentado sérios problemas de saúde, que inclusive o prejudicaram na hora de tocar trombone, Antônio é um cara feliz. Divorciado desde 1987, criou as quatro filhas com a ajuda da mãe e

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hoje uma delas segue os passos do pai na Orquestra Sinfônica da UEL. Distante da rigorosa rotina de ensaios da orquestra, Antônio agora tem mais tempo para se dedicar à família – inclusive à primeira neta, que chegou há pouco tempo – e aos amigos. Antônio continua a ter tempo para a música, companheira de toda a vida, afinal, nas palavras atribuídas ao músico norte-americano Louis Armstrong (1901-1971), “os músicos não se aposentam - param quando não há mais música em seu interior”.

Rosane Mioto

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Trabalho nos campos da UEL

O funcionário Antonio Nerez ajudou a plantar o gramado e a preservar o jardim do campus por quase 30 anos Antonio com a mulher Carmelita Rosa Alves Nerez

Imagine a extensão do gramado da UEL. Agora pense em um grupo de pessoas semeando esta grama. A Universidade era uma fazenda de café. Depois de retirada a plantação foram necessárias muitas mãos para jardinar o campus como conhecemos.Antonio Nerez começou a trabalhar na UEL em 1976, como jardineiro

servente. Na época eram poucos prédios e ele conta que plantavam milho e vassoura no lugar do mato. A vassoura era para uso na Universidade e o milho, colhido, debulhado e ensacado, era vendido para ajudar nos custos da Fundação.

O funcionário, de São Gonçalves do Campo (BA), veio para a região em 1952. A tentação era a proposta de trabalhar em um lugar onde “se dava dinheiro de rastelo”. Depois de trabalhar em Ivaiporã, Paranavaí e Colorado, ele passou 18 anos na Fazenda Santa Helena, onde conheceu a esposa e trabalhou 14 anos como fiscal.

Antonio soube da vaga na Universidade por um compadre. Num sábado – havia expediente aos sábados - ele foi conversar com o chefe que lhe disse para voltar na segunda-feira, com a “boia”, para começar a trabalhar. A jornada era de 48 horas semanais.

O funcionário, que não tinha o curso primário quando entrou na UEL, estudou até a 7ª série enquanto trabalhava. Ele era liberado duas horas mais cedo. “A Universidade dá chances, e eu já tinha idade avançada.”

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As árvores do calçadão já estavam lá quando ele chegou, mas Nerez ajudou a plantar as 480 mudas de peroba-rosa, árvore típica, pelo campus. Ele conta que as perobas nativas sofriam com os raios e às vezes precisavam ser cortadas por segurança. Das mudas de peroba, o funcionário lembra que muitas estavam onde hoje ficam o CECA, o CTU, o CCA, o CESA. E foram tiradas para a construção deles.

Depois de servente de jardineiro e de dez anos como jardineiro, Nerez trabalhou como encarregado especial e como chefe da jardinagem. Ele, que se aposentou em 2005, conta que nos últimos tempos o trabalho se tornou mais fácil de ser executado com a ajuda de máquinas da UEL. Segundo Nerez, o serviço de um dia que antes era feito por quatro ou cinco pessoas passou a ser feito por apenas uma, no mesmo período de tempo.

Um dia, na hora do almoço, o aposentado conta que escorregou o pé da carroceria do caminhão carregado de grama. Ele caiu de ponta-cabeça e ficou desacordado. O médico do Núcleo do Bem-Estar à Comunidade (NUBEC, hoje SEBEC) mandou-o ao Hospital Universitário, onde ficou 24 horas em observação.

O acidente não causou nenhum problema para ele, apenas a lembrança das 24 horas sem comer. “Quando cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi almoçar”.

Casado há mais de 52 anos com Carmelita Rosa Alves Nerez, também baiana, ele aproveita a aposentadoria ficando em casa, já que não gosta de sair muito. O funcionário também avisa que, por ter trabalhado muito com jardinagem, ele se cansou. A casa deles não tem jardim, mas na varanda da casa há alguns vasos de flor. E quem plantou estas flores? Nerez confessa: “Fui eu, de flores eu gosto!”

Poliana Lisboa de Almeida

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Arlinda Rodrigues Oliveira Barbosa

Entrou na UEL em 11/10/75, na Reitoria como servente. Quase todo o tempo em que trabalhou na UEL, fez cafezinho para o pessoal que trabalhava para as coordenadorias da Reitoria, para a turma da jardinagem e do material.Quando começou a trabalhar aqui na UEL vinha do Jardim Tókio até a Reitoria a pé, saia de casa às 5h, enfrentava barro e chuva e até geada: “a UEL mandou fazer até uma pinguela para gente passar”. Trazia bolo e salgadinho para vender para os

funcionários da Reitoria porque aqui não tinha cantina. Não tem queixa nenhuma do pessoal daqui da Universidade,

“para mim são todos bons, inclusive me ajudaram muito”. Trabalhar na UEL foi tudo de bom para mim. “Se não fosse o emprego na UEL, não poderia criar meus filhos”.

Em 1998, como estava passando mal do joelho e das pernas foi transferida para a Central de Salas para fazer cafezinho, pois o serviço lá era menor e não prejudicava tanto a sua saúde.

Em 2002, sua filha não tinha com quem deixar os filhos quando ia para o trabalho, então Arlinda pediu aposentadoria da UEL.

Disse que, se fosse mais nova, voltava a trabalhar na Universidade, pois “o dia passava e a gente nem via, o duro mesmo era só chegar aqui”.

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O homem que começou a UEL

Ascêncio Garcia Lopes, primeiro reitor, fala sobre fatos que antecederam à criação da Universidade e que não deixa de acompanhar o que ocorre dentro dela

A Medicina estava em sua vida desde quando a mãe decidira que Ascêncio Garcia Lopes seria médico. Exercendo a profissão, deparou-se com o desafio de implantar em Londrina a Faculdade de Medicina, e, à sua frente, começou a dedicar-se a atividades que o levariam ao posto de reitor da Universidade Estadual de Londrina.

Hoje, com mais de 80 anos de idade e a “longevidade útil” daqueles que não param de trabalhar, Ascêncio relembra sua trajetória pela Universidade. Com muitas críticas, demonstra que não deixa de acompanhar o que se passa na UEL.

Criação da Faculdade de Medicina Quando eu era presidente da Associação Médica de Londrina,

em 1966, nós falamos em fazer uma faculdade de medicina aqui em Londrina. Porque os jornais, as entidades como o Rotary, o Lions, discutiam: precisa mais faculdades, os alunos daqui vão para São Paulo, Curitiba. Alguma coisa tinha que ser feita. Então nós, da Associação, tínhamos um compromisso. Atitude primeira, o que fazer e como fazer? Por coincidência, estava no Hotel Bourbon, um senhor que era pai de um médico do Rio de Janeiro, que tinha acabado de fazer medicina na Universidade Gama Filho. Eu morava em uma casa

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atrás da Catedral, onde hoje é um restaurante. E este senhor viu no jornal que queríamos criar a Faculdade de Medicina, e ele atravessou a avenida, bateu na minha casa e falou: “Eu sou pai do doutor José Roberto Ferreira que é especialista, médico formado na Gama Filho, e eu tenho certeza absoluta de que se vocês o convidarem, ele viria até Londrina, para trocar idéias com vocês.”

Ele veio para cá, ficou uma semana conosco, discutimos e decidimos que para a Faculdade não íamos fazer nada de governo, mas uma Fundação, autogovernada. E esta Fundação, mantida pelo Estado, seguiria o conselho desta Fundação, e esta Fundação iria criar e manter a Faculdade de Medicina. E iria manter outras faculdades também. Fizemos um decreto, de como o governo do Estado deveria fazer isto – a criação da Fundação – e saímos com o curso de Londrina pronto. Era uma revolução, porque professor não é funcionário público, funcionários não eram funcionários públicos, todos regidos pela CLT. Se for bom fica, se não for bom não fica.

Segundo, a Fundação tinha autonomia. Ela é que escolhia o diretor da medicina, ou de outra faculdade. Não era o governo. O conselho tinha dois representantes do governo estadual, dois representantes da prefeitura, dois representantes da Associação Médica. Seis representantes compunham o conselho. E este conselho é que mandava na Faculdade, é como se fosse um governo autônomo.

Fomos ao governador do Estado, Ney Braga, apresentamos o projeto, ele gostou, chamou o secretário da Educação, que também gostou e falou que iria estudar. Em um mês estava a lei pronta. A Assembléia também aceitou, estava criada a Fundação e a verba do Estado, liberada. E começou assim a Faculdade.

Faculdade de Medicina O conselho me escolheu para diretor da Faculdade de Medicina,

porque eu vivi todo o problema na Associação Médica. Eu falei que não queria, que era médico e tinha que trabalhar, mas eu podia continuar trabalhando como médico, então fazia meio-período e noites de consultório e de cirurgia, e a tarde toda eu ficava na Faculdade de Medicina.

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A odontologia nos emprestou laboratórios, que já estavam prontos, de Anatomia e Histologia. E eu tinha que arrumar professores. Eu não chamei médicos de Londrina. Fiz concurso nacional. E para estes concursos eu ia convidar em São Paulo, quase sempre em São Paulo, professores possíveis para participar. E assim fui à faculdade em que me formei, a Faculdade de Medicina da USP em São Paulo, e falei com os professores de Histologia e Anatomia, que são disciplinas dos primeiros anos: “Doutor, você teria alguém para me indicar, entre os seus auxiliares e estagiários? E me indicou o doutor Lauro Beltrão, que tinha interesse. O professor de Histologia não tinha ninguém disponível, mas ficou responsável por montar todas as lâminas, nos vender, e enviar o auxiliar para montar o curso todinho. Foi maravilhoso. O catedrático veio aqui, as primeiras aulas foi ele quem deu.

Campus No segundo ano tinha as disciplinas de Fisiologia, Patologia e

precisávamos de um local. O conselho reuniu-se, decidimos construir. Neste momento dois londrinenses que estavam no Governo de Paulo Pimentel influenciaram: Dalton Fonseca Paranaguá, que foi secretário da Saúde, e Orlando Mayrink Góes, que foi secretário da Fazenda. Eles andaram toda a cidade e escolheram aquele campus que está lá. Aquela área de 49 alqueires maravilhosos, para o campus da Fesulon.

Delimitamos a área, que era uma fazenda de café, e aqui na fazenda morava um peão administrador da fazenda (Fazenda Santana). Ele me deu o endereço do proprietário, que morava em São Paulo, família Gonzaga. Fui para São Paulo, e disse que gostamos da área para a Universidade, e eles tiveram uma pequena resistência. Aí eu falei que a terra seria desapropriada caso eles não nos vendessem. Eles entenderam, mas na hora de falar em valores ficou sugerido que se colocasse um valor maior por alqueire, que somasse o mesmo valor total, que o resto a família doava. Então para nós do Estado era a mesma coisa. O valor total era o mesmo.

A família concordou, e começamos a fazer o planejamento de implantação da Universidade naquela área. Nós ainda não tínhamos outros cursos, era só medicina, então pensei em ocupar o canto, por isto

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a medicina está naquele cantinho de lá. A Fesulon chamou os arquitetos Sérgio Bopp e Luis César da Silva. Fizemos então a implantação do primeiro pavilhão, de ciências morfológicas, depois fizemos o segundo pavilhão, o da ciências fisiológicas, construímos e no ano seguinte nós transferimos para lá as disciplinas básicas todas, em 1968.

Hospital Universitário A Faculdade de Medicina saiu da (área da) Odontologia e passou

para lá. Quando já havia turmas do terceiro e quarto anos de medicina, surgiu a necessidade de um local para as cadeiras clínicas. Fui à Santa Casa de Londrina e fiz um contrato com eles para os meus médicos ensinarem os meus alunos lá dentro. Ela me cedeu uma sala no porão, e esses professores contratados em clínica médica e cirúrgica, começaram a trabalhar na Santa Casa. E lá foi dado o curso, um ano ou dois.

Depois, veio uma grande solução. O Hospital Evangélico, que era ali onde está a Cohab, na rua Pernambuco, estava mudando. Nós fizemos uma coisa muito simples. Fomos lá e pedimos emprestado. E, sem pagar nada, eles emprestaram o prédio. Nós fizemos uma adaptação, antes tinha 40 leitos, nós passamos para quase 100 leitos, e começamos a parte clínica. Contratamos, ao mesmo tempo, o sanatório de tuberculosos, que hoje é o HU, para trabalhar as disciplinas de moléstias infecciosas.

Fundação Universidade Estadual de Londrina

Estávamos ótimos, com essas entidades todas. Estávamos com tudo implantado, eis que a cidade queria uma Universidade. Todo mundo. Com toda esta solicitação o governador Paulo Pimentel resolveu fazer a Universidade. Fez três ao mesmo tempo: Londrina, Maringá e Ponta Grossa. Mas fez todas como fundação, da mesma maneira como era nossa Fundação, a Fesulon, com conselhos, Estado participando, aluno pagando – porque na nossa Fundação o aluno pagava mais ou menos 20% do que seria o curso normal. O pagamento não afetava

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ninguém, mas para a Fesulon era ótimo, era um dinheiro que entrava, essa é a vantagem da Fundação.

O governo do Estado fez neste decreto em que ele criou a Universidade, que uma das funções dos que tinham participado das faculdades antigas era que cada uma indicasse dois professores para comporem uma comissão – tinha 12 membros – responsável por redigir o estatuto da Universidade e fazer uma lista sêxtupla para encaminhar ao governo do Estado para a escolha do reitor (Os nomes tinham que sair dentre os 12 da comissão).

Fizemos o estatuto, mandamos ao governo, foi aprovado. Então a Universidade estava institucionalizada através desses documentos. Na lista sêxtupla eu entrei em sexto lugar de votos. Porque eram mais representantes das faculdades isoladas e nós éramos menos: medicina e economia. As faculdades isoladas eram odontologia, direito e filosofia. Por acaso eu entrei em sexto e o Paulo Pimentel resolveu me escolher. Por causa do meu relacionamento com Orlando Mayrink Góes e com Dalton Paranaguá.

Reitoria Eu peguei o papel com o decreto (risos)... Eu não imaginava, nem

queria, eu queria continuar com a medicina. E como reitor não podia ser mais médico, porque era uma função de dedicação exclusiva. Peguei o papel e me perguntei: “E agora, Ascêncio?” O decreto mandava juntar todas as faculdades, para isto era preciso extinguir todas e eu as criaria como Centro da Universidade. Centros básicos – humanas, biológicas e exatas – e Centros Aplicados – direito, medicina, todos os outros. Eu aluguei duas salas no Ipolon, e claro que eu já tinha autoridade para pegar a Fesulon – que tinha dinheiro, as outras não tinham, mas a Fesulon tinha autonomia, tinha dinheiro. Aí eu peguei funcionários dela e levei para estas salas. Peguei funcionários que eram da Fesulon e os recursos da Fesulon para eu começar. E, vamos começar.

Eu visitei todas as faculdades, marquei com os reitores para reunir a congregação (o grupo que mandava na faculdade). Fui lá na congregação e disse: “Olha, aqui está o decreto, eu vou extinguir a faculdade de vocês, vou transferir todos para uma outra entidade que

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são os centros básicos, e vocês passarão a contar com todos os direitos, mas temos que dissolver a sua faculdade, o seu diretor, o seu secretário e a sua congregação”. Fui em todas e falei isto. Eu comecei e tinha que arrumar um lugar para a reitoria, porque eu estava no Ipolon.

A Faculdade de Medicina tinha feito, onde é a reitoria hoje, o que seria um hospital psiquiátrico. Transformei ali e mudei para lá. E comecei. Contratei três professores de São Paulo – um de área biológicas, um de exatas, um de humanas –, durante o tempo necessário, para que eles transformassem todos os professores com as titulações que eles tinham para o novo estatuto da Universidade. Professor titular, professor associado, professor assistente, professor auxiliar de estudo. Porque aqui nas faculdades não tinham essas classificações, então tinha que ver a titulação de cada um para ver como enquadrar na nova divisão, no novo estatuto. Tinha gente, por exemplo, que era professor contratado da odontologia.

E esses professores fizeram isto durante um mês. Conversaram com todos, entrevistaram, viam a categoria, titulação. Tudo por escrito, fiz uma resolução transferindo todos os professores com as titulações devidas. Extingui os diretores, os secretários e convoquei todos os professores para eleger os diretores de cada Centro. Foram feitas eleições, eu dei posse. Nesse momento, a Universidade começou a funcionar no novo estatuto.

Mesmo sem espaço físico, já era a Universidade, já era Centro, tudo certo. Então, nós alugamos a custo zero – deram de graça para nós – onde hoje é a Unifil, o teatro que estava vazio. Transferimos para lá o pessoal de direito, ciências econômicas e administração até a construção no campus. Então aqui no centro da cidade ficaram a odontologia e a filosofia. Mas todos funcionando como Centros, com conselhos de cada um. Como é hoje. Com os diretores escolhidos.

Automaticamente estavam criados o Conselho de Administração da Universidade, formado pelos diretores dos Centros; o Conselho de Ensino e Pesquisa, em que haveria eleição para constituí-lo com representantes do colegiado, para que tivessem representantes de todos os cursos; e o Conselho Universitário, constituído por todos os diretores, mais representantes da cidade.

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Instituída a Universidade, progressivamente, nós começamos a construir lá mais coisas. Primeiro fiz um concurso nacional para arquitetos, que fizessem planejamento do campus – nós chamamos implantação da UEL, como ela ia se implantar naquela área retangular que é o campus. Ganhou uma firma de São Paulo, especialista em campus, e nós contratamos. Era responsável pelo sistema viário e onde se localizariam os centros, porque não tínhamos dinheiro para o projeto dos Centros; mas como o campus era retangular, e a medicina estava no canto, o projeto determinou, aqui será a área da biológicas, aqui será o centro de exatas, aqui de humanas, e aqui terá uma rua que vai ligar os três centros. Está lá, não está? E atrás serão os centros de ciências aplicadas, engenharia, direito,...

Então nós tínhamos uma orientação obrigatória de implantação física do campus. E tínhamos que construir pelo menos os centros básicos. Lógico, como vai ter uma Universidade sem centros básicos? Conseguimos todo o dinheiro do Estado, o orçamento estourava. Construímos mais um pouco da biológica, o prédio da exatas, ao lado da rua, e fizemos os dois prédios das humanas. Aí com quatro anos eu tinha feito, a básica da biológicas, a básica da exatas, a básica da humanas, a rua de integração total, o sistema elétrico total, o sistema de água e de esgoto total. A reitoria ficou daquele jeito, fiz também a parte da CAE. Aí vieram os outros reitores, fazendo os pormenores.

Último dia da gestão Não fui professor da Faculdade de Medicina, só fui diretor.

Porque depois nos últimos anos, quando vem a Cirurgia [especialidade] eu já era reitor. E reitor era tempo integral de dedicação exclusiva, então quando chegou a fase de cirurgia eu já não participei de nenhum concurso.

Quanto a meus últimos dias na UEL, eu sou muito ortodoxo. Quando foi para acabar meu mandato, o governo do Estado tinha que indicar o reitor da lista sêxtupla que nós mandaríamos para ele. O conselho se reuniu e, infelizmente, entrou o genro do Ney Braga, Oscar Alves que não tinha nenhuma condição, ele era auxiliar de ensino. Eu não tinha nenhum candidato. A política universitária é que tinha que

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saber quais eram os melhores candidatos. Não participei, estava lá, mas achava que não tinha direito, a instituição tem que saber quais são os melhores. Totalmente fora desta esbórnia que é agora, com votação dos alunos. Então eu achava que cada centro, cada diretor, traria nomes que achavam os melhores possíveis da Universidade, isto é o que eu chamo política universitária, não política partidária, como está agora.

No dia em que venceu o meu mandato, o governo não tinha indicado um reitor ainda, eu convoquei o vice-reitor e dei posse a ele. Falavam-me: “Continua”, mas no dia em que venceu, eu saí. E não voltei mais, eu não tinha mais nada, não era professor.

Eu fui para São Paulo, fiquei oito meses para refazer a minha medicina, porque se você fica fora da medicina, você fica fora mesmo. Fiquei refazendo tudo e quando eu vi que estava bom outra vez, vim para Londrina, abri outro consultório e comecei a trabalhar.

E aí está a história. Uma Universidade bem iniciada, os alunos pagavam, era 20%, mas ajudava a instituição. Aquele centro de educação física, a gente fez com o dinheiro dos alunos, depois da medicina, porque a lei obrigava ter educação física para os alunos de ensino superior. Como reitor, o primeiro prédio foi o de educação física. E assim fomos construindo.

Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior O Álvaro Dias me convidou para ser secretário de Ciência e

Tecnologia, em 1984, quando ele assumiu o governo. Eu falei que só aceitava se ele transformasse em Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, porque todo o ensino superior do Estado não tinha o controle do Estado.

Eu não inventei isto, de leitura eu sabia que São Paulo estava criando uma Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, passando todas as universidades, da Secretaria de Educação, para esta nova secretaria. Eu falei para o Álvaro Dias tirar da Educação todo o ensino superior que, criando esta nova Secretaria, totalmente ligada, eu aceitaria. O problema era que o secretário da Educação já estava convidado. Falei com o secretário da Educação, na hora ele aceitou, e ficou então a pasta da Educação com ensino primário e médio.

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Quando nós fomos para Curitiba, falei: “O que eu vou fazer pelas universidades?” A de Maringá precisava de uma biblioteca, em Londrina eu pensei em comprar uma área para agronomia e veterinária, que eram dois cursos teóricos, não tinha fazenda experimental – um absurdo. Eu queria comprar uma área toda para uma fazenda experimental, porque tínhamos perdido a reserva da área lá atrás do campus como utilidade pública.

Como secretário, levantei uma nova área, por sorte, quando reitor, tinha comprado aquele sítio do lado da educação física, que chegava no córrego, que por ele a gente chegava na água e atrás, onde não estava mais loteado. Levantei documentos, escrituras, falei com Álvaro Dias e com Washington de Novaes, aqui em Londrina, para salvar 100 alqueires para a fazenda experimental. O Álvaro e o prefeito concordaram em desapropriar 100 alqueires para a fazenda.

No terceiro ano de governo, o Estado falava que não tinha dinheiro para comprar aquela área. Fiquei quieto. Acabei saindo do governo por um pormenor no mesmo ano. Saí e chamei o secretário de Washington de Novaes e falei para comprar 50 alqueires pelo menos. E ele comprou a metade que havia prometido e deu para a Universidade, são aqueles 50 alqueires que hoje é a fazenda experimental.

A Universidade hoje A Universidade hoje perdeu o entusiasmo. Nós queríamos fazer

coisas diferentes. Os médicos eram todos de fora, imagina chegar para eles em São Paulo. Dezenas de professores vieram para cá, casaram. Deficiências tinham, mas íamos corrigindo. A Universidade hoje perdeu aquela áurea. A medicina, por exemplo, era a quarta do Brasil, hoje não entra em uma lista. Era uma escola de primeiríssima.

A UEL está mal institucionalizada, algumas mudanças apenas prejudicaram: a escolha do reitor por eleição entre estudantes, servidores e professores, porque a Universidade não é lugar de ideologias e nem de política partidária, mas de política universitária; a transformação dos funcionários em funcionários públicos e a retirada do pagamento da taxa de 20% do aluno.

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Ascêncio: Médico, Fazendeiro, Pai Paralelamente com estas atividades, fui fazendeiro. Quando

comecei a ganhar dinheiro como médico em Londrina, comecei a comprar terras e sempre tomei conta. Quando retornei da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, teria que voltar a estudar medicina. Sou cirurgião gastro e as técnicas estavam mudando naquele período. Eu teria que aprender novamente, então parei com a cirurgia. Mas continuei a tomar conta de terras.

O homem não pode parar de trabalhar, este é o meu segredo de longevidade útil. Também tenho um dos meus quatro filhos que fez medicina. Falei para o meu filho que é necessário fazer algo para se sentir bem também, e ele é professor da UEL. Eu me sinto continuado por ele, porque ele é muito bom, capaz.

Poliana Lisboa de Almeida

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Benedita de Oliveira Bruno

“A senhora é de Londrina?”, pergunto à simpática senhora Benedita, atenta à minha frente. A resposta é imediata: “Sim”. Depois pensa mais um pouco e completa: “Eu nasci em Minas, mas vim para cá com dois anos só. Não voltei mais!”. A mineira virou uma londrinense autêntica que viveu uma das fases áureas da cidade. Seus pais vieram na década de 1940, para trabalhar nas lavouras de café. Ela cresceu em meio ao nosso ouro verde e também chegou a

trabalhar na roça e nas colheitas. Por isso não pôde estudar muito, o que não a impediu de participar da história da Universidade Estadual de Londrina.

Universidade que ela conheceu antes de existir: passou os primeiros anos de casada morando e trabalhando com a lavoura do café na Fazenda Santana, onde hoje fica o campus da UEL.

Depois foi para a cidade, mais especificamente o Jardim Tókio, onde mora até hoje. Trabalhou como diarista, sem registro em carteira, até que soube da vaga de zeladora aberta para trabalhar no CEFE. Veio para preencher a ficha e já foi contratada. “Fiz a entrevista com o Guaraci, que era o diretor na época”, recorda.

Assim começa uma história de 31 anos e meio de muito trabalho, principalmente no começo. “Passava o dia inteiro na UEL. Em casa era só para dormir mesmo. Saia cedo, entrava às dez da manhã e saía dez da noite. Fazia muita hora extra, porque estava faltando funcionário. Era eu e mais duas senhoras só! Chegava em casa onze horas”. Para isso, precisava deixar as duas filhas pequenas em casa. As meninas iam para a escola, voltavam e esperavam. Cresceram testemunhando o esforço incansável da mãe. “Agora já estão casadas. Ficamos só eu e meu marido”, conta.

A simpática zeladora viu a estrutura que hoje existe no CEFE – com várias quadras, pista de atletismo e piscinas – ser erguida do

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zero. Quando ela chegou, havia apenas um prédio no centro e o resto era uma imensidão de terra vermelha. “Nossa, era muita terra! Dava um trabalho danado pra fazer a faxina. Vinha aquele vento forte, daí a poeira subia. Aquela pista mesmo, antes de emborrachar era só terra.

Quando ventava, a gente tinha acabado de limpar as salas e empoeirava tudo de novo”. Com chuva o esforço era maior, para dar conta de limpar o rastro de lama que se formava pelos corredores.

Pouco a pouco o CEFE foi construído sob o olhar atento de Benedita. Ela se lembra de cada obra e do espaço de trabalho que nunca parou de aumentar. “Eu limpava tudo lá: salas, corredores, quadras e até piscinas”.

Mas o local em que passou a maior parte do tempo foi a copa. Os estudantes e funcionários a procuravam sempre por lá para pedir aquele cafezinho incomparável. Sem falar das outras guloseimas que ela preparava: “Estourava pipoca e fazia bolinho de chuva para eles. Até hoje encontro as pessoas e elas pedem para eu voltar para fazer os bolinhos”, comenta sorridente.

E não é só pelos quitutes que Dona Benedita deixa saudades. Ela conta com muita satisfação que sempre foi querida por todos no CEFE. “Eu conheci muita gente lá. Professores, funcionários, alunos... gente que aposentou antes de mim, outros que faleceram... e sempre fui muito bem tratada por todo mundo. Graças a Deus!”

Uma das demonstrações de reconhecimento por seu trabalho veio dois meses depois da aposentadoria. Benedita foi chamada para uma reunião importante no CEFE, mas quando chegou era uma homenagem: recebeu presentes, e agradecimentos por tudo que fez.

Por isso mesmo, que, em julho de 2007, aos 64 anos, a despedida não foi fácil. Benedita conta que ninguém queria que ela se aposentasse. Ouviu muitos pedidos para continuar no trabalho até o limite dos 70 anos. Mas depois de três décadas de completa dedicação – até doente trabalhava para não ter faltas – o corpo sentiu o cansaço e era a hora de descansar. Com problemas de artrose já não possuía o vigor de anos atrás. Mas ao falar do tempo de serviço transparece emoção: “Foi uma vida que passei dentro da UEL, sinto muita saudade da época em que trabalhava”.

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Saudade que nem fica tão grande assim, pois Dona Benedita não deu adeus ao palco do seu trabalho. Depois de anos como zeladora do CEFE, hoje ela usufrui o centro que ajudou a construir. Toda semana - duas vezes -, ela frequenta as aulas de hidroginástica do Programa NAFI. Momento para passear pelos queridos corredores e reencontrar os velhos amigos. “Toda vez que o pessoal me vê por lá fica muito contente e vem me abraçar!”, orgulha-se. E alguns continuam pedindo: “Ê tia, volta aqui para o CEFE!”, comenta.

Ela volta sim: “Ah, enquanto eu for viva eu venho!”, garante. Volte mesmo, Dona Benedita, pois será sempre bem-vinda como foi até hoje.

Janaína Castro

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Qualidade de vida em primeiro lugar

Professora Carmen Garcia de Almeida conta um pouco dos seus mais de 25 anos de atividades na UEL, onde foi muito mais que uma docente

“Melhorar a qualidade de vida das pessoas”. Assim a professora aposentada Carmen Garcia de Almeida define a psicologia. Fala com a autoridade de um pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e mais de 25 anos de serviços prestados à UEL. Somam-se a essa conta nove projetos de pesquisa, oito artigos publicados, dois livros escritos e participação em outros dez.

Tais resultados só vieram depois de muito esforço: noites maldormidas e muitos quilômetros percorridos nas nem sempre aconchegantes poltronas de ônibus foram uma constante na vida da professora. Mas ela também guarda um carinho especial a quem a ajudou muito nessa escalada: a UEL. “A Universidade contribuiu muito não só com o meu desenvolvimento profissional, pois eu tive a oportunidade de fazer todas as minhas pós-graduações, como pessoal também”, reconhece.

Recém-graduada em psicologia pela Fundação Educacional de Bauru em 1974, Carmen veio da cidade do interior paulista para Londrina no ano seguinte. Tomou coragem de sair da casa dos pais e vir morar com o irmão no norte do Paraná depois que soube do concurso para a UEL. “Eu e mais duas colegas soubemos que abriria um concurso para docentes. Era grande o ânimo! Eu era jovem, com toda energia, com o potencial todo. Estava bastante disposta a arregaçar as mangas, a vestir a camisa da instituição. Então fui à luta!”, lembra.

O talento para a psicologia e a vontade de lecionar vieram de berço, já que o avô materno e a mãe tiveram experiência na área. Carmen também percebeu que fez a escolha certa quando, ainda em

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Bauru, teve a oportunidade de trabalhar em uma escola de periferia. Os meninos e meninas assistiam a brigas dos pais em casa. Eles eram filhos de famílias “desestruturadas”, crianças que apresentavam dificuldade de comportamento na escola. “Daí veio o interesse pela psicologia, pela docência e a atuação profissional, no sentido de entender melhor essa dinâmica”, diz.

Na UEL, o começo também foi cheio de desafios, principalmente por uma rotina praticamente nômade que a professora teve de adotar no começo da carreira. “Era difícil, pois eu ia de ônibus para a faculdade. Quando chovia, pegava barro assim que eu descia no ponto de ônibus no campus e precisava caminhar até o departamento, recém-construído. Era aquela terrona vermelha!”, recorda-se com bom humor. Também se lembra da fase em que a Universidade ainda se estruturava com relação aos cursos de especialização.

“Hoje, nós temos bons cursos de pós-graduação na UEL, um mestrado em educação, do qual eu já participei e lecionei. Temos ainda os cursos de especialização e mestrado no departamento de psicologia, mas, naquela época, nós não tínhamos nada disso”, recorda-se. “No meu doutorado [na USP, em São Paulo], por exemplo, estava grávida. Eu me lembro que terminava a aula meio-dia na segunda-feira e esperava para ter uma disciplina na quarta, às duas horas da tarde. Vinha pra Londrina e dava aula na quinta e sexta e voltava pra São Paulo no domingo novamente. Foi bastante sacrifício, mas acho que valeu a pena”, pondera.

Na sala de aula, mais que formar profissionais e disseminar conhecimento, Carmen fez verdadeiros amigos e, por vezes, até o papel de mãe. Ela fala de quando lançava mão do que ela chama de “a terapia do terapeuta”, exercício no qual o estudante de psicologia é que ia para o divã. “É importante. Os alunos têm de ter uma oportunidade de fazer uma terapia”, recomenda. “Como nem todos tinham essa chance, eu é que tinha de trabalhar com as dificuldades, as limitações pessoais deles em sala de aula. Isso facilitava o autoconhecimento, o desenvolvimento pessoal e o aprimoramento da formação profissional deles. Também se transformou numa forma de aproximação maior do professor com o aluno. Eu acabava me tornando amiga e até fazia um pouco o papel de mãe, porque eles estavam longe de casa, distantes da família e, em alguns casos, vivendo dificuldades”, justifica.

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Amiga sim, mas não menos exigente. Carmen ressalta que fazia questão de os seus estudantes capricharem no levantamento bibliográfico e seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) nos relatórios clínicos e de pesquisa. “Se você não fizer um bom levantamento, de literatura, por exemplo, você não vai estar bem fundamentado e não vai saber nem por que usou determinados procedimentos e estratégias em determinadas análises com os seus clientes. Com essa atitude, acho que eu contribuí para muitos deslancharem não só na carreira acadêmica, mas também na parte clínica”, comenta.

O resultado desse trabalho e devoção pela profissão que escolheu é facilmente notado quando ela novamente está em contato com os estudantes egressos, para os quais deu aula. Aliás, ainda que sem deixar de lado o sorriso e a simpatia que lhe são característicos, a lembrança de cada reencontro faz a professora ficar com os olhos marejados. “O que me marcou muito na UEL foi a gratidão de ex-alunos. Há uns três ou quatro anos, recebi um cartão de final de ano de uma ex-aluna e lá ela me dizia: ‘Professora, eu sou uma profissional bem-sucedida hoje e agradeço muito a tudo que você me ensinou’. Uma outra aluna, que hoje está atuando na área clínica, certa vez me disse: ‘Professora, cada atendimento que faço, cada alta que dou para os meus clientes é a sua presença que está ali, constantemente do meu lado. É a maneira como você me ensinou, na teoria e na prática, no modelo que você me deu, tudo isso foi muito importante’. Isso me emociona, porque você percebe o quanto você pode contribuir”, relata com emoção.

A aposentadoria e o depois

O tempo passou e com ele veio a hora da aposentadoria em 2001. Carmen sentia a necessidade de se dedicar mais à família, principalmente à mãe que passou a precisar ainda mais da companhia dela para tratamento médico. Hoje, a professora também faz questão de vivenciar experiências singelas, como os corriqueiros encontros com os amigos e as viagens que faz com a filha que trabalha em um navio cruzeiro. “Faço caminhadas diárias, pratico hidroginástica, gosto de sair, de tomar cerveja com meus amigos, gosto de dançar... Acho que

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tudo isso deve fazer parte do repertório de atividades de um aposentado, porque fisicamente e psicologicamente é muito importante, para você não se estressar, não entrar em depressão”, explica.

Mesmo aposentada, as atividades da professora Carmem não pararam. “Eu ainda continuo dando aulas em pós-graduação, quando eventualmente sou convidada, e atendendo em consultório”, afirma. “Acho que não se deve abandonar tudo. Eu recebi muito em termos de conhecimento e reuni experiência muito grande, então posso e devo continuar a repassar isso.

Quando se tem esse contato com os alunos, é uma coisa que rejuvenesce”, enfatiza. Mas também considera que vive uma fase em que é necessário ter o “equilíbrio” certo entre os compromissos profissionais e o lazer. “Tenho colegas que se aposentaram e continuam trabalhando num ritmo alucinante! Eu acho que isso não é bom. Nessa idade, mais do que nunca, é o momento de equilibrar a balança. O meu lema é: ‘o que se leva da vida é a vida que a gente leva’, então, se hoje a gente tem a oportunidade de ter um pouco mais de lazer, de participação social, a gente deve aproveitar. Não deixar mais para a frente, quando você vai ter menos condições e mais limitações físicas”, aconselha.

Descanso mais que merecido depois de anos de dedicação à instituição, à psicologia e à sociedade. “A sensação que fica hoje depois de todos esses anos é de ter dedicado uma vida em prol do bem comum, da comunidade, da comunidade científica, do ponto de vista do aluno, de formação profissional, ter contribuído para o desenvolvimento e aprimoramento deles. Com os meus clientes, sempre busquei diminuir esse sofrimento, essa dor emocional que muitas vezes eles trazem, no sentido de melhorar a qualidade das pessoas. Esse é o ponto alto da psicologia, melhorar a qualidade de vida”, encerra.

Em nome da UEL, nosso muito obrigado, Professora Carmen.

Gustavo Ticiane

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Casemiro Framil Sobrinho

Fui professor dos Departamentos de Economia, Matemática e Matemática Aplicada, hoje, denominado Departamento de Estatística.O meu ingresso na UEL ocorreu em Março de 1974 através de aprovações em concursos públicos para os Departamentos de Economia e Matemática, tendo, inicialmente, ministrado aulas nos dois departamentos.

Acompanhei passo a passo o crescimento da UEL nos trinta e três anos em que tive a honra de serví-la com a minha humilde e modesta contribuição funcional ao seu desenvolvimento. Procurei sempre ofertar à UEL a minha total dedicação e amor ao meu trabalho, quer seja como docente ou nas funções administrativas que me foram delegadas, tais como, representante do CCE no Conselho Universitário e CEPE, chefia do Departamento de Matemática, como representante dos referidos Departamentos em diversos Colegiados de Cursos, membro de Comissões criadas pela Reitoria para criação e implantação de novos cursos acadêmicos na UEL, diretorias, etc.

Para mim foi uma grande honra e um maravilhoso aprendizado ter servido e participado do crescimento da UEL nestes mais de 30 anos de vida pública.

A UEL é uma grande família e, sinceramente, gostaria de poder voltar a serví-la com a mesma dedicação e amor que lhe dediquei em toda a minha juventude.

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Dedicação e carinho pela UEL

A funcionária e aluna Cleusa Maria Lopes de Oliveira trabalhou por 24 anos na antiga CAEG (Prograd), estudou pedagogia e agora cursa matemática na Universidade

Os 24 anos que Cleusa Maria Lopes de Oliveira trabalhou na Coordenadoria de Assuntos de Ensino de Graduação (CAEG) da UEL, hoje intitulada e conhecida como Prograd (Pró-Reitoria de Graduação) são lembrados pela funcionária com muito carinho. Por muitas vezes ela ainda chama o lugar em que trabalhou de CAE.Cleusa Maria de Oliveira começou a trabalhar na UEL em

1979 com contrato temporário. Durante todos os anos em que esteve na Universidade, a funcionária trabalhou na parte administrativa. “Eu sempre gostei mais de trabalhar na retaguarda, não importava dia, não importava horário, eu fazia horas extras.”

Quando as matrículas eram por créditos, Cleusa conta que a CAE se transferia para o CEFE (Centro de Educação Física e Esporte), os funcionários ficavam em guichês. “A CAE passava janeiro e fevereiro e julho inteirinho lá fazendo as matrículas com aquelas filas quilométricas.”

Os problemas que Cleusa descreve deste tempo de atendimento ao público são de ofensa e desrespeito pela sua função de funcionária. Mesmo assim, ela conta que conseguia dosar as situações.

Ela também foi chefe da divisão do colegiado na época da mudança do sistema de crédito para o regime seriado, na década de 1980. “As reuniões de colegiado eram feitas todas lá na Prograd, então tinha dia com até seis reuniões, e para cada reunião tinha que escrever ata, era cansativo.”

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Em 1993, a funcionária saiu de licença e ficou um ano no Mato Grosso. Quando voltou, começou em algumas tarefas que considerou desafios. Primeiro, trabalhou no reconhecimento de alguns cursos. Depois, na organização dos catálogos dos cursos de graduação.

Nos catálogos, que hoje estão disponíveis na Internet, estão todos os dados do curso – reconhecimento, dados de implantação, atos legais, perfil do aluno, objetivos, carga horária, matriz curricular, ementas. Para editar os catálogos, Cleusa Maria teve que usar o programa de editoração Adobe PageMaker. “Na época eu não sabia nem mexer no Word. E aprendi os recursos do Word e pensei, se tem aqui tem que ter no Adobe PageMaker.”

A funcionária que trabalhou até 2003 na Prograd, também foi aluna de Pedagogia quando esteve na chefia da Divisão de Colegiado. Sobre ser aluna, Cleusa conta que “acho que foi tão bom que eu sou aluna outra vez. Eu fiz minha matrícula no curso de Matemática, mas como eu entrei 30 dias depois do início das aulas eu não dei conta de acompanhar, mas a minha ideia é renovar a matrícula e ano que vem estar lá no primeiro dia de aula.”

Londrinense, Cleusa morou no Mato Grosso durante um ano e após a aposentadoria mudou-se para Rondônia, onde trabalhou em uma faculdade. Ela teve que voltar para Londrina, mas ainda pretende morar no norte do país. “Pelo menos uma viagem de barco de Porto Velho a Manaus eu quero fazer. Tem gente que vai achar estranho, mas eu gosto.”

Poliana Lisboa de Almeida

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Enfermeiro do HU e professor da Universidade pela segunda vez

Mesmo depois de aposentado, David do Carmo voltou para a Universidade como professor

David do Carmo, natural de Cambé, estava na primeira turma de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina. Como a região precisava de profissionais de saúde, Carmo conta que o curso era dado em dez horas diárias, para que os alunos se formassem rápido.Nesta época, o Hospital Universitário (HU) funcionava no centro da cidade, na esquina das ruas Pernambuco e

Alagoas. Os alunos tinham aulas no campus e no centro, onde hoje funciona a Clínica de Odontologia.

Ele lembra do campus da UEL, ainda sem asfalto, “em dias de chuva o ônibus não ia até a Universidade. (...) Quantas vezes nós não colocamos sacos plásticos no pé para chegar até o CCB.”

David do Carmo morava em Arapongas e ia todos os dias para as aulas. Ele também deu aulas em um cursinho de Apucarana e trabalhou um período na Santa Casa de Londrina.

Depois de formado, foi contratado pelo HU, que o mandou fazer um estágio de aperfeiçoamento na área de saúde mental na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Era 1975 e ele se interessara pela área ainda na faculdade.

Após um semestre em Florianópolis, Carmo voltou como professor e funcionário do Hospital. “E eu voltei dando aula para a segunda turma de Enfermagem”, relembra. No HU, foi supervisor dos seis enfermeiros que trabalhavam lá na época.

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Em 1976 o professor prestou o concurso e assumiu como docente na Universidade. Dois anos depois, foi dispensado das aulas para fazer o Mestrado em Enfermagem Psiquiátrica na USP de Ribeirão Preto.

O professor esperou até que a Universidade de São Paulo abrisse um doutorado na área de saúde mental para fazê-lo. E apenas em 2002 ele conclui o curso.

A saúde mental a qual o professor faz referência está ligada a pessoas e fatores de risco de adoecimento mental e a aqueles que já sofrem com ele. David destaca que na área de saúde mental a equipe deve ser interdisciplinar, médico psiquiatra, enfermeiro e assistente social. Todos devem ser qualificados para lidar com estes pacientes.

Assim que descobriu que teria que trabalhar mais alguns anos por não ter a nova idade mínima (65 anos para homem) para a aposentadoria, David resolveu entrar na justiça para conseguir seu direito. O professor ganhou a causa, aposentou-se, mas com 57 anos está de volta à ativa. “Hoje um Doutor custa muito caro para o país, eu não me sentiria bem ficando em casa”.

Em 1994, o professor coordenou o projeto de extensão no Hospital de Clínicas da UEL, o PAARE. O projeto visava o tratamento do alcoolismo, principalmente dentro da Universidade, e começou pressionando a Instituição para que aplicasse a restrição ao consumo de bebidas alcoólicas dentro do campus.

David do Carmo conta que, além dos alunos, que poderiam fazer uso excessivo da bebida, mas que normalmente ainda não eram alcoólatras, havia funcionários e professores que sofriam do problema. Ele também alerta que a maioria das pessoas incentiva o consumo, nas confraternizações de trabalho, por exemplo, mas “ninguém aceita quando a pessoa se torna dependente”.

Na época em que alunos pediam a liberação da venda de bebidas nas cantinas, e faziam festas dentro do campus, Carmo acredita que a proibição foi uma vitória. Ele ficou na coordenadoria do projeto até 2001 e conta que agora o projeto é um serviço à comunidade.

Agora, nos mesmos moldes, ele fala que surgiu o combate ao tabagismo. Desta vez o professor não participa, mas sabe que a metodologia implantada é a do Ministério da Saúde, que fornece material para o tratamento, como chicletes e adesivos de nicotina.

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O professor também é docente do curso de Especialização em Saúde Mental. A especialização está em sua quarta turma e também foi um dos motivos dele voltar a dar aulas. A área precisava de mais gente especializada e ele poderia auxiliar.

David ainda brinca que faltavam alguns anos para a sua mulher, que trabalha na mesma área, aposentar-se, então não quis ficar sozinho em casa. Seja para não ficar sozinho, seja por querer continuar a repassar o conhecimento adquirido, David do Carmo demonstra um carinho muito grande pela Universidade Estadual de Londrina.

Ele, que começou ainda na primeira turma de Enfermagem e que agora observa o Hospital Universitário da janela de sua sala, revela “a UEL é reconhecida como séria, ela te dá condições para exercer a profissão muito bem”. Garante o professor que cresceu pessoal e profissionalmente na Universidade.

Poliana Lisboa de Almeida

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David Valentim da Silva Filho

Por um erro de cartório em Macaúba, na Bahia, Davi virou David Valentim da Silva Filho. Ele se acostumou. Quando David tinha apenas três anos, a família mudou-se para São Paulo. Moraram em várias cidades do interior. A última parada foi Andradina. Depois, vieram para o Paraná. A cidade escolhida pela família de agricultores foi Assaí. “Naquele tempo tinha muitas plantações de algodão”.Em 1969, David já tinha constituído a sua própria família e decidiu morar em Londrina. “Eu estava cansado da lavoura”.

Aqui, David encontrou o primeiro emprego em uma cervejaria. Depois de três anos, foi trabalhar em uma empresa de café solúvel. Lá aprendeu a profissão de jardinagem. “Eu cuidava dos jardins e gostava”. Ficou três anos nesta empresa. “Eu trabalhei em outros lugares, mas, às vezes não pagavam, enrolavam a gente. Sei que o único lugar em que eu trabalhei durante muito tempo foi a UEL”, conta.

Foram 20 anos cuidando dos jardins da UEL. O filho de David, muito jovem, já trabalhava de office boy e incentivou o pai a ingressar na Universidade. “Naquele tempo não tinha muita gente concorrendo. E ainda um deles não entendia nada de jardim, e eu já tinha trabalhado com isso”.

Para cuidar de jardins, segundo David, paciência é imprescindível. E isso ele tem de sobra: fala pouco, pausadamente e só o necessário. Mas, fica chateado quando alguém joga lixo, pisa na grama e não respeita o trabalho artesanal do jardineiro. “Geralmente jardim de firma você faz, deixa tudo bonitinho. Daí um pouco tem gente que joga um papel e outras coisas. E aí tem que limpar de novo. E quando termina, e deixa bonitinho, todo mundo fica de olho”.

No início, David trabalhou no campus. Depois foi transferido para Hospital Universitário. “Eu gostava muito de trabalhar na UEL,

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principalmente no meu setor. Nós temos muita amizade. Até hoje nós nos encontramos para bater papo”, revela. Ele lembra que um dia encontrou cinco cruzados no jardim, mas só uma vez...

David está aposentado há cinco anos. Faz ginástica duas vezes por semanas e se exercita todas as manhãs. “Quando eu levanto a primeira coisa que faço são os exercícios que o médico me ensinou”. Para não ficar parado, planta mandioca em algumas datas próximas a sua residência. David gosta mesmo é de lidar com a terra.

Léia Dias Sabóia

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Câmara escura

Depois seis anos como zeladora do Hospital Universitário, Delicia Marcelino Ferreira trabalhou como operadora no raio-x até se aposentar, em 2005

Depois de dez anos fazendo a limpeza em diversas empresas, como a Caixa Econômica, Banco Mercantil do Estado de São Paulo, Copel, Telepar e Embratel, na década de 1970, para uma firma terceirizada, Delicia Marcelino Ferreira começou a trabalhar na UEL. Era 1981, e o ingresso na Universidade não era feito por concursos. Ela foi contratada indiretamente pela Fundação de Saúde Caetano Munhoz da Rocha.

Delicia continuou com a zeladoria, responsável pelo raio-x, do qual, segundo ela, ninguém gostava. “Quando eu coloquei tudo em dia, aí todo mundo quis. No começo eram dois funcionários, depois fiquei sozinha.” E, sozinha, ela era a responsável pela área. “Só de banheiro, tinha cinco”, conta.

Durante os seis anos na zeladoria, Delicia conta que às vezes auxiliava a funcionária do raio-x, e ia aprendendo. Quando surgiu a vaga na câmara escura, por causa de um acidente de trabalho, a funcionária ajudava quando precisavam de revelações e estava muito apurado.

Quando surgiu concurso interno para preencher a vaga, Delicia não podia participar por ser funcionária da Fundação. Como nenhum candidato foi classificado para a parte prática, ela acabou sendo contratada como operadora de câmara escura. Delicia explica que havia duas processadoras, cinco tipos de filme, muita química e barulho. Era comum, naquele tempo, faltar máscaras, ou ter uma única para todos os operadores. Hoje, ela diz ter dificuldades para sentir cheiro e

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sabores das coisas, e não sabe se está relacionado com o contato com os produtos químicos.

Como operadora, ela conta que sempre gostou muito dos pacientes do Hospital Universitário, principalmente os mais humildes, idosos e crianças. E no raio-x, ajudava como podia.

Em 2005, depois de muitas amizades feitas no trabalho, Delicia aposentou-se. Tinha 23 anos de UEL, mas uma queda alguns anos antes prejudicou a sua coluna e a funcionária sentia muita dor.

Ela e o marido têm uma chácara, onde gostam de ficar. Delicia lembra quando os colegas do trabalho apareceram lá na época de sua aposentadoria. Mas quando não está na chácara, a funcionária tem o seu cantinho de terra no jardim para aproveitar e cuidar, com árvores frutíferas, ervas, temperos e flores.

Poliana Lisboa de Almeida

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Um lado de Denise

Estudante e professora da Universidade Estadual de Londrina, Denise Hernandes Tinoco estava na segunda turma de Psicologia e ficou até 2006

Na praia de Santos (SP), Denise Hernandes Tinoco descobriu a sua vocação. Era anterior a sua vontade de trabalhar com o sofrimento humano, com o emocional, mas, com o pai e a mãe médicos ela pensava em fazer medicina e depois cursar psiquiatria. Foi quando, conversando com uma amiga na praia, aos 13 anos de idade, uma professora de Psicologia da USP ouviu a pretensão da menina e contou a ela sobre este curso novo.

A Psicologia no Brasil surgiu em 1962, na USP e na PUC-SP, com abordagens bastante amplas e várias correntes. Com a ditadura militar, em 1964, Denise lembra que os cursos de ciências humanas sofreram com a conversão para o técnico. O importante era fazer, mas sem muito pensar, sem muito questionar.

Nessa tendência, o curso de Psicologia da UEL, da década de 1970, seguia os moldes impostos pela ditadura, privilegiando o behaviorismo. Denise estava na segunda turma do curso e percebeu que faltava a visão humanista e a psicanálise em sua formação.

Em 1977, Denise se formou e começou a fazer Especialização em Análise Transacional, que conhecera com um professor contratado durante a graduação. Em 1978 o Departamento de Psicologia, querendo mudar a vertente de estudo, chamou alguns ex-alunos e professores que se interessavam por outras abordagens, e Denise começou a dar aulas na UEL.

Com 22 anos de idade, ela já era professora da Universidade. Para compensar os anos de curso em que faltou o aspecto humano,

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Denise fez mais três especializações antes do mestrado. “Eu estava praticamente refazendo a faculdade”, diz.

Em 1979, a professora começou a clinicar, só interrompendo durante quatro anos quando passou a ser vice-chefe e chefe de departamento (na década de 1990) e estar mais envolvida com a UEL. Depois, voltou à clínica.

No ano de 1987, Denise começou o Mestrado em Psicologia Clínica na PUC-SP e teve a sua tese “Afetividade e Aprendizagem” publicada em livro pela Editora da UEL (Eduel). Em 1990, o departamento foi dividido em três. Ela foi para o Departamento de Fundamentos de Psicologia e Psicanálise, onde teve cargos de chefia.

Denise tinha a possibilidade de tirar uma licença para pesquisa (licença sabática) e aproveitou para fazer o seu doutorado, também na PUC (1999-2003).

Em 2005 a professora pediu a aposentadoria e ficou afastada esperando. No ano seguinte, quando a aposentadoria saiu, ela já havia sido chamada para ser coordenadora do curso de Psicologia da Unifil, onde está até hoje.

Denise esteve dos 17 aos 51 anos na UEL. “É uma vida”, destaca. A professora diz que gostou muito de trabalhar na UEL, mas que foi até banca de concurso para preencher a sua vaga e não pretende voltar.

Poliana Lisboa de Almeida

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Djalmira de Sá Almeida

De muito longe, Djalmira de Sá Almeida utiliza o e-mail para contar com carinho a sua passagem de sete anos pela UEL. A pernambucana, de Terra Nova, fez primário e ginásio na cidade próxima, Parnamirim. Com a mudança da família para o Paraná, em 1972, Djalmira concluiu o magistério, atual ensino médio, em Corbélia no ano seguinte.Após cursar Letras em Cascavel, Djalmira teve um primeiro

contato com a Universidade Estadual de Londrina, quando fez aqui uma especialização em 1980. Após o curso, começou a trabalhar em Marechal Cândido Rondon como inspetora auxiliar. “Fui vice-diretora da Escola Eron Domingues - 2º Grau naquela cidade. Fui a primeira professora de linguística e de língua portuguesa do curso de Letras da antiga FACIMAR - Faculdade de Ciências e Letras de Marechal Cândido Rondon, hoje campus da Unioeste”, conta a professora.

Em Londrina, Djalmira trabalhou para o 4º Núcleo Regional de Educação: “trabalhei de 1984 a 1994, primeiro como auxiliar administrativo do setor de processos; depois passei a compor a equipe pedagógica ministrando palestras e cursos para capacitação docente em todos os municípios da região (Jaguapitã, Cambé, Rolândia, Alvorada do Sul, Porecatu, Sertanópolis, Pitangueiras, Astorga, Primeiro de Maio, etc.) jurisdicionados ao 4º NRE.” A professora também passou por algumas escolas estaduais da cidade nestes anos: Nilo Peçanha, Jácomo Violin, Mercedes Madureira, Rui Barbosa e Vicente Rijo.

De 1987 a 1997 a professora lecionou língua portuguesa a todos os cursos do Centro Universitário de Londrina (Cesulon): “quando fui aprovada no concurso da UEL com dedicação exclusiva, aí tive que sair”, conta Djalmira. Na UEL, no Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas, ela deu aulas para diversos cursos: “Letras

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(Língua Portuguesa, Produção Textual, Leitura e Recepção de Textos e Morfossintaxe do Português); História (Leitura e Produção de Textos); Administração (Língua Portuguesa); Ciências Sociais (Produção Textual); Jornalismo (Teoria Literária e Análise Literária) e em Secretariado Executivo (História da Língua Portuguesa e Redação Comercial)”, lembra.

Deste período, a professora Djalmira dá o seguinte depoimento: “muito feliz para mim. Aprendi muito e também ajudei muita gente.” Com os alunos a professora teve um ótimo relacionamento: “Os alunos e alunas eram muito bons e demonstravam gostar muito de mim.” Djalmira declara que esta amizade chegou a ser vista com maus olhos por alguns colegas de profissão, que a criticavam: “segundo eles era ‘um absurdo professora se misturar com alunos’”.

Em 2002, antevendo que a lei aumentasse para 30 anos o tempo de aposentadoria, a professora, que já tinha 25 anos de prestação de serviço, decidiu parar de trabalhar. “Também fui convidada por meus irmãos para morar no Pará e abrir uma faculdade lá”, conta.

Hoje, na Faculdade de Itaituba, Djalmira além de sócia, dirigente, orientadora de TCC, às vezes ainda ministra aulas quando falta professor, “pois isto aqui é comum, em virtude de chuvas, enchentes, dificuldades de transporte e comunicação. Afinal, estamos no oeste do Pará, uma das regiões alagadas da Amazônia Legal.”

Mesmo geograficamente distante, a professora nos escreve com dedicação por estar falando para pessoas da UEL e, principalmente, de Londrina, cidade que Djalmira revela: “adoro”.

Poliana Lisboa de Almeida

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O vigia que gosta de terra

Domingos Dias da Silva trabalhou por 22 anos na Universidade e esteve em vários postos dela

Ele é baiano e foi agente de segurança da Universidade Estadual de Londrina. Por duas vezes. Com sete anos de idade, Domingos Dias da Silva saiu de Morro do Chapéu, na Bahia, com o pai, mãe e dez irmãos. Eles vinham trabalhar como colonos nas fazendas na região de Londrina. Domingos conta que parte da viagem foi feita de caminhão, outra de vapor, mas ele se lembra dela muito pouco. Apenas como um sonho distante.

Aos 17 anos ele deixou o campo para procurar trabalho na cidade. Em 1971, começou a trabalhar na UEL. Durante os próximos cinco anos, Domingos ficaria entre a portaria do Hospital Universitário, na esquina das ruas Pernambuco com a Alagoas, e o Colégio Aplicação, como inspetor de alunos.

Quando Domingos seria transferido para trabalhar no campus da Universidade, resolveu que era a hora de sair. Ficaria muito caro pagar duas passagens de ônibus a mais por dia – não havia integração entre os ônibus e ele precisaria pegar dois para ir e dois para voltar da UEL.

Neste tempo, trabalhou em portarias de prédios, como cobrador de ônibus e na empresa de Café Iguaçu. Em 1989, prestou um concurso para vigias no campus. Em julho, Domingos voltou a trabalhar na Universidade.

Até 2007 o funcionário esteve presente em vários postos de vigia: Reitoria, Setor de Material, Fazenda-Escola, Granja, Laboratório de Medicamentos, nos Centros, Hospital Veterinário... “Eu trabalhei bastante substituindo outros vigias. Alguns não gostavam, mas eu não achava ruim”, conta Domingos.

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O grande problema de segurança no campus da UEL, segundo o funcionário, é a localização: um campo aberto. Mas Domingos, que sempre trabalhou às noites, uma sim, uma não, conta que nunca flagrou nenhuma irregularidade. Ele, que entrou na Universidade quando os vigias passaram a andar desarmados, fala também que o segurança deve estar muito bem preparado para usar uma arma.

Com anos de experiência na segurança, o funcionário responde que acredita que o problema de segurança na UEL vem mais de pessoas externas à Universidade. “Pode até ocorrer alunos fazendo coisa errada lá dentro, mas acredito que a maioria são pessoas de fora.” Por isto ele considera importante a proibição de festas e consumo de bebidas alcoólicas no campus, “na época de festas nos preocupávamos muito”.

Domingos mora com a esposa Iracema Amorim Dias da Silva, que trabalha como cozinheira, e seus dois filhos, André e Anderson. Anderson está no segundo ano de Química na UEL, “eu acho bom, peço a Deus que ele tenha força e inteligência porque o curso não é fácil”, diz o pai.

O aposentado também se dedica há mais de 16 anos a cuidar de um terreno em frente a sua casa. “Eu planto um pouco, môo cana.” Domingos lembra que Deus criou o homem a partir da terra e que muitos a chamam de mãe. “Só o cheiro da terra me faz bem. Eu trabalho, trabalho e saio com o corpo leve.”

Poliana Lisboa de Almeida

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Homem de Letras

Desde a sua vinda a Londrina, Donato Parisotto esteve ligado ao ensino. O professor nos recebeu em sua casa e contou sobre seus anos na UEL

Donato Parisotto trabalhava como jornalista em São Paulo quando veio ao norte do Paraná fazer uma reportagem especial sobre o café, nos anos 1960. Resolveu visitar o Colégio Londrinense, referência de ensino na época. Recém-formado em letras, ele estava no hotel quando Zaqueu de Melo apareceu lá. Queria que Donato ficasse na cidade.Parisotto começou a dar aulas de línguas no colégio de Zaqueu de

Melo. Posteriormente, na Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Londrina, que funcionava nas instalações do Colégio Hugo Simas.

No começo, a Universidade foi dividida em Centros de Estudos. O Centro de Letras e Ciências Humanas (CLCH), o Centro de Ciências Biológicas (CCB), o Centro de Ciências Exatas (CCE), o Centro de Ciências da Saúde (CCS), o Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CESA) e o Centro de Educação (CE). Hoje, além dos seis iniciais a UEL tem mais três centros, o CEFE, de Educação Física, CCA, de Ciências Agrárias e o CTU, de Tecnologia e Urbanismo.

O CLCH foi o primeiro a ser transferido para o campus. O prédio, o mesmo de hoje, ainda estava inacabado. Donato Parisotto lembra a visita do cônsul português ao prédio. O prédio não acabara de ser construído e os alunos já estavam tendo aulas lá. A estrada que ligava a cidade ao campus não era asfaltada. Parisotto gastou um carro novo nela, mas lembra com carinho deste começo, quando também foi

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diretor do Centro de Letras e Ciências Humanas, de 1971 a 1976 e de 1983 a 1984.

Ele conta alguns episódios, como quando permitia a entrada de alunos sujos de terra em sua aula. O prédio do CLCH ficava no gramado e não tinha passarela ou nenhum caminho que o ligasse às ruas do campus por conta da estética. Era comum alunos caírem. O professor pegou um pouco de cimento da Universidade para construir uma passarela e teve que responder por isto. Mas não se arrepende. Donato acredita que a o caminho serviu para o bem-estar dos alunos.

O professor, que se aposentou em 1993, continua a dar aulas particulares. São tardes e noites exercendo o ofício, e é com orgulho que Donato diz que está sempre ocupado. Parisotto é membro da Academia de Ciências e Letras de Londrina. Na estante de seu escritório, além de instrumentos de trabalho de seus antepassados italianos, ele guarda uma coleção de corujas em miniatura. “Elas representam a sabedoria. Sempre que eu encontro uma, eu compro.”

Poliana Lisboa de Almeida

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Sem parar

O professor Durval Adolar Weigert foi um dos fundadores do curso de Educação Física e trabalhou no CEFE até os 70 anos

Com 76 anos de idade, o professor aposentado da UEL Durval Adolar Weigert chega ao Centro de Educação Física e Esporte onde todos o conhecem. Ele nomeia os atuais professores do curso, muitos deles foram seus alunos, lembra Weigert.O professor chegou em Londrina em 1971 para ajudar na criação do curso de Educação Física, naquela que ainda era a

Fundação Universidade Estadual de Londrina, depois de 10 anos de trabalho em Assaí.

O curitibano mudou-se para Assaí, no interior, em busca de mais aulas. Weigert formara-se na UFPR (Universidade Federal do Paraná) em 1960, fora atleta do Clube Atlético Paranaense de basquetebol e, ainda durante o curso, fora professor no Colégio Militar da capital. A aventura no interior rendeu para ele um emprego no Colégio Estadual Conselheiro Carrão, na Escola Normal Duque de Caxias e o casamento com Maria da Conceição dos Santos Weigert.

Em Londrina, ele começou a dar aulas no Colégio Estadual Vicente Rijo, onde ficou até aposentar-se em 1998, enquanto lecionava na UEL. Weigert lembra que chegou a dar aulas até no banheiro do Santa Teresinha. “A parte prática era no campo, mas a projeção eu precisava fazer no banheiro.”

Também houve aulas no atual Colégio de Aplicação. Weigert, que fala que o campus mesmo era só cafezal, deu aulas nas salas da Anatomia, no meio dos cadáveres.

Além do curso de graduação, ele fez cursos de técnica em basquete e vôlei, especialização em basquete e cursos internacionais

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de aperfeiçoamento em educação física e desportos no Brasil e na Argentina.

As disciplinas ministradas por Weigert eram de prática em vôlei, basquete, futebol, ginástica e handebol. No curso de licenciatura, o professor dava Introdução ao Estudo da Educação Física – ele tem um livro não publicado sobre este assunto – , mas hoje o curso não tem mais a disciplina.

O professor conta que sempre foi festeiro e que gostava de fazer algo a mais para os alunos, já que muitos vinham de outras cidades e estavam distantes da família. Ele acredita que seus alunos produziam mais desta forma e que ainda se lembram de sua matéria e do professor como um amigo.

Para ele, é importante a socialização do aluno e a convivência com os demais. Por isto gostava de dar exemplos e brincar com eles, uma vez que no futuro os estudantes estariam na frente de uma turma de crianças e teriam que fazer o mesmo.

Weigert lembra da construção do Centro de Educação Física e Esporte. “O primeiro a ser construído foi o ginásio, mas sem salas de aula.” Depois vieram as piscinas internas, que eram aquecidas à lenha. “E formava aquela pilha de lenha ali.” As quadras externas, os campos, a piscina externa, o outro ginásio, a secretaria. Assim ele viu o CEFE nascer e crescer.

O professor conta que gosta do trabalho e que, em 42 anos de aulas, nunca faltou a nenhuma. Ele também gosta do local de trabalho. Weigert volta à Universidade de vez em quando e chega até a sonhar que está ensinando.

Em 2002, ele se aposentou pela UEL, e já acumulava duas outras aposentadorias da época do Vicente Rijo. Apesar de ter uma das três aposentadorias cortadas e de afirmar que o salário anda defasado, ele não deixa de aproveitar o tempo livre. Além de cuidar dos netos e de pescar, Durval Adolar Weigert gosta de cozinhar e diz que o almoço de domingo é ele quem faz.

Poliana Lisboa de Almeida

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Camarada feliz

Satisfeito com tudo o que fez, Durvali Emilio Fregonezi afirma ter encontrado a felicidade e não tem medo de continuar vivendo e superando desafios

“Eu sou um camarada bastante feliz”. Assim se define o cambeense Durvali Emilio Fregonezi, nascido na época em que a região ainda era o antigo distrito de Nova Dantzig. O largo sorriso em seu rosto e o ritmo pacato de sua fala revelam a alegria tranquila de quem soube aproveitar o melhor da vida e segue confiante em sua jornada. “A vida é um eterno aprendizado, a gente nunca fica pronto, segue sempre aprimorando

e há sempre o que se descobrir. Felizmente: o bom da vida são os problemas que se apresentam como um desafio a ser vencido, é o que nos alavanca”, avalia.

Impulsionado pelos desafios postos pela vida, aos 66 anos, Durvali trabalhou e estudou o máximo que pôde. Lecionou para crianças e adultos, fez mestrado, doutorado, ganhou bolsas para cursos no exterior, publicou livros, participou de seminários e passou 30 anos na UEL. Mas ainda carrega consigo o menino da zona rural que nunca deixou de ser. Não se esquece do tempo em que gostava de viajar de carroça ao lado pai e tomar guaraná com o indefectível “sabor de infância”, como definiu, certa vez, um amigo seu.

Recorda-se, também, de quando aos 12 anos viu aflorar o desejo de ser professor, pela experiência precoce proporcionada por uma prima. “Ela morava na nossa casa e trabalhava como professora. Costumava me levar para a escola para ajudar em suas atividades. Eram muitos alunos, de várias séries, e quando ela precisava se dedicar a um grupo, eu auxiliava dando aula para os demais. Fiz isso várias vezes e gostava bastante”, afirma. A convicção vocacional não demorou

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a se consolidar, e após formar-se em letras na Faculdade de Filosofia e Ciências de Londrina, Durvali, começou a dar aulas em Cambé, no Ginásio Estadual de Cambé (5ª a 8ª séries do ensino fundamental) e na Escola Normal Grau Colegial Gabriela Mistral (formação de professores).

Na sala de aula, conviveu com os mais variados alunos e sabia, astutamente, o que cada um tinha de melhor. “Os alunos de antigamente eram diferentes, iam para a universidade mais velhos e maduros e o relacionamento era mais respeitoso. Hoje possuem uma liberdade que às vezes pode levá-los a exceder os limites, mas por outro lado, são mais espontâneos, o que colabora para o aprendizado. Não há melhor ou pior, é preciso valorizar os aspectos de cada época”, pondera.

O primeiro trabalho no ensino superior veio alguns anos mais tarde na Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Cornélio Procópio. E, tão logo foi fundada a UEL, Durvali passou a compor o corpo docente da instituição. Aprovado no primeiro concurso público para a Universidade, iniciou o ciclo que levaria três décadas para se encerrar no ano de 2000.

O caminho inicial, porém, foi repleto de “ramificações”. Os primeiros professores contratados pela UEL raramente possuíam contratos para 40 horas-aula. Com Durvali não foi diferente. Casado, e já com filhos, o professor complementava a renda da família prestando serviços em outras instituições da região norte do Paraná. “Eu dei aula simultaneamente em faculdades de Cornélio Procópio, Arapongas, Jandaia do Sul, Mandaguari e na UEL. Mas em todos esses lugares tinha uma carga horária muito pequena, uma disciplina só, por exemplo. As viagens eram muito cansativas, mas necessárias”, recorda. Somente depois da efetivação de seu contrato para 40 horas aula na UEL, Durvali pôde deixar os demais estabelecimentos para dedicar-se exclusivamente à Universidade.

Mas a poeira das estradas ainda acompanhou Durvali por mais tempo, durante seus cursos de pós-graduação. Sem licença remunerada para afastar-se da UEL, teve que fazer o mestrado nos meses de férias: janeiro, fevereiro e julho. “Não tinha descanso: trabalhava o ano letivo inteiro e depois viajava para Porto Alegre, onde cursava o mestrado na PUC [Pontifícia Universidade Católica]. E ainda precisava pagar,

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porque a UEL não dava ajuda de custo. Mas valeu a pena”, diz sem arrependimento.

O doutorado igualmente foi realizado distante da UEL, na Universidade Estadual Paulista (Unesp), porém de modo mais tranquilo e confortável: Durvali conseguiu o afastamento e uma bolsa de estudos para dirigir-se a Araraquara, interior de São Paulo, onde fica o campus de letras da instituição. Desta vez pôde até levar a família para acompanhá-lo durante os dois anos de estudo.

Orgulhoso da experiência que adquiriu ao longo do tempo, o professor destaca a sua participação na implantação do curso de mestrado em estudos da linguagem, a primeira pós-graduação “stricto sensu” a funcionar no Centro de Ciências Humanas (CCH). Além de cofundador do curso, Durvali lecionou para o mestrado, teve muitos orientandos e, em seus últimos anos de UEL, dedicou-se quase que exclusivamente a este trabalho. “Muitos destes meus alunos hoje são professores do departamento de letras da UEL. Como resultado das minhas orientações de mestrado, foram publicados alguns livros na área de ensino da língua portuguesa. Isso foi muito importante”, declara.

Sempre atento às oportunidades que pudessem surgir, Durvali conseguiu de maneira imprevista a primeira chance de estudar no exterior: “Eu li num jornal que o governo da Bélgica estava oferecendo bolsas de estudos para estudantes brasileiros e resolvi tentar. Fiz o projeto e fui contemplado. Eu e minha família fomos para a cidade Liége e passamos um ano e meio lá. Foi uma experiência muito rica”.

Anos mais tarde, conseguiu uma nova bolsa, desta vez da Fundação Calouste Gulbenkian de Portugal, que lhe proporcionou um semestre de estudos sobre o ensino da língua portuguesa em seu país de origem, um dos focos de seu trabalho acadêmico. A respeito, o professor explica: “O meu objetivo era verificar como se dá o ensino da língua materna, pois já estudava esta área. Foi uma excelente oportunidade”.

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Um novo caminho Durante o tempo em que esteve na UEL, Durvali ocupou cargos

administrativos dentro do CCH, mas não esconde que sua maior paixão era a sala de aula. “Eu gosto muito de dar aulas e me realizei como professor”, assegura entusiasticamente.

A declaração é sincera e pode ser comprovada nas atuais atividades de Durvali, que mesmo aposentado não deixou de trabalhar: “Quando chegou a época da aposentadoria não foi muito bom, não. Eu já estava acostumado com a rotina, principalmente com o mestrado, que exige bastante da gente. Mas essa sensação ruim foi minimizada porque eu não me afastei por completo da minha profissão. Não houve uma ruptura brusca, logo que deixei a UEL recebi convites de outras universidades do Paraná e não cheguei a ficar parado”.

Hoje, continua lecionando em cursos de especialização e, além disso, trabalha como avaliador do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) do Ministério da Educação (MEC).

Visivelmente satisfeito com mais essa função, Durvali nos relata a sua nova rotina: “É um trabalho muito interessante. Todos os cursos do ensino superior passam por uma avaliação periódica e eu faço parte do grupo de avaliação na área de letras. É mais uma realização profissional, porque posso conhecer outras realidades culturais e educacionais. No ano passado, por exemplo, estive em uma instituição em Macapá (AP), norte do Brasil, no primeiro semestre e três meses depois fui designado para avaliar um curso em Rio Grande (RS) que fica bem no sul. São contextos totalmente diferentes e é gratificante para mim, ter esta oportunidade”.

Dos tempos de UEL, confessa sentir saudades do convívio com colegas de profissão da Universidade e de outras instituições, conhecidos nos congressos e eventos da área. Mas afirma, “é um ciclo que se fecha e outro começa, novos caminhos surgem. Agora eu estou numa fase com mais tempo para me dedicar à família. Meus quatro filhos são casados e tenho seis netos. Então eu posso conviver mais com eles, isso é muito bom”, diz animado. O tempo também é preenchido por leitura e viagens.

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E assim, realizado por completo, Durvali continua em sua trajetória, aceitando o desafio de percorrer as novas estradas desbravadas pela vida. “As viagens e a companhia constante de Nilséia, minha esposa, os encontros com as famílias dos filhos, os passeios com os netos são os responsáveis pela luz especial que ilumina minha vida. Representam o porto seguro no mar agitado da existência. E como diz Guimarães Rosa, ‘o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando’. O homem ainda continua mudando, amadurecendo, agora diante de nova realidade, em novo caminho com outro tipo de relacionamento, enfim vivendo”, conclui.

A citação do grande mestre das letras, Guimarães Rosa, não poderia ser mais acertada. Durvali, afinal, se encaixa perfeitamente na definição do escritor. Que a experiência cotidiana permaneça na sua interminável tarefa de moldar a pessoa que o senhor é e de quem a UEL sente muitas saudades.

Janaína Castro

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Na obra de Pedro Nava

Edina Panichi, professora sênior da UEL, dedicou suas pós-graduações a estudar e escrever sobre o autor, o que lhe rendeu inclusive uma indicação ao Prêmio Jabuti (2004)

Uma carta do médico e romancista Pedro Nava abriu para a professora Edina Panichi uma carreira na Universidade Estadual de Londrina. O mesmo motivo a fez continuar, como professora sênior, mesmo depois da aposentadoria.Edina Panichi graduou-se em letras anglo-portuguesas

em 1974 pela PUC de Curitiba e mudou-se no para Londrina após seu casamento. Em 1982, Edina ingressou na UEL como aluna de Especialização em Língua Portuguesa.

Para a monografia do curso, Edina estava decidida a trabalhar estilística na obra de um autor que estivesse vivo na época. Com indicação de Sebastião Querubim, seu orientador, Edina escolheu a obra do mineiro Pedro Nava, médico e escritor de memórias que já havia ganhado o Prêmio Jabuti e o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

Depois de aprovado, Edina enviou o trabalho - Estilística léxica em Baú de Ossos de Pedro Nava - para o autor, e recebeu a resposta com as observações sobre o trabalho e um pedido para conhecê-la. No final, “Sou como os ingleses, I insist, (eu insisto) desejo que outros livros meus mereçam outros trabalhos seus.”

Edina esteve com o escritor seis vezes, “(...) nestas conversas ele me mostrou o processo criativo dele. Ele anotava em fichas tudo o que tivesse possibilidade de uso e guardava. Na hora de esboçar os capítulos ele pegava todas aquelas fichas e fazia o que ele chamava de

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boneco, que era um sumário, onde ele ia colocando todas aquelas fichas selecionadas para depois fazer os originais (...). Para cada livro de 600 páginas ele tinha mais de três mil fichas, algumas com caricaturas.”

Em 1984, após atender um telefonema e falar para Antonieta, sua mulher, que nunca havia ouvido nada tão obsceno em toda a sua vida, Nava saiu de casa e cometeu suicídio. Edina, que já era professora da Universidade e estava estudando a obra do autor em seu mestrado, acreditou ter perdido o contato com todo o material de Nava, e com ele a sua pesquisa.

Foi quando a professora recebeu uma carta do jornalista Joaquim Inojosa, que escrevia no Jornal do Comércio e frequentava o “sabadoyle” -uma reunião de intelectuais na casa de Plínio Doyle no Rio de Janeiro. Pedro Nava levara a monografia de Edina à reunião em um sábado e o jornalista que ficou com o material convidou a professora para visitá-los.

“E eu fui ao `sabadoyle´ várias vezes. O Plínio Doyle que era o anfitrião, era o presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, onde estavam os arquivos de Pedro Nava. Mas estava muito oneroso ir ao Rio de Janeiro sempre e aí eu quis fazer cópias, conversei com a mulher do Pedro Nava, e ela me lembrou da carta em que ele dizia que eu continuasse trabalhando com a obra dele.”

Com a cópia registrada da carta de Pedro Nava em mãos a professora Edina conseguiu copiar todo o acervo do professor. Desde então ela vem coordenando projetos de pesquisa sobre o autor.

O projeto que resultou no livro “Pedro Nava e a Construção do Texto”, com coautoria do professor Miguel Contani foi o único livro da Universidade Estadual de Londrina indicado ao Prêmio Jabuti – um dos prêmios que Pedro Nava ganhou. A categoria em que o livro concorreu foi teoria/crítica literária. No ano em que a indicação aconteceu, 2004, a professora já era sênior, ou seja, apesar dos vínculos com a Universidade, não recebe para isto.

A professora Edina Panichi, além de chefe do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas, coordenadora da Especialização em Língua Portuguesa, foi uma das idealizadoras e trabalhou no Disque- Gramática da UEL por dez anos.

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A ideia era de fazer um serviço para a comunidade acadêmica. Mas acabou extrapolando. Ela se lembra da época em que uma rede de supermercados da cidade só veiculava suas propagandas depois de passar pelo serviço.

Edina Panichi comenta que sempre teve muita curiosidade pela língua portuguesa, por isto a vontade de trabalhar com livros, estilística e gramática. A professora diz que não descarta a possibilidade de escrever um livro literário. Por enquanto a certeza é de continuar dando aula nos programas de mestrado e doutorado, como ela diz, “Eu me orgulho muito de dizer que sou da UEL, faço questão de registrar que sou da UEL e continuo sendo enquanto me aguentarem.”

Poliana Lisboa de Almeida

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Pioneiro da Odontologia

Edison Lúcio Ferreira Fava foi pioneiro da criação da Faculdade Estadual de Odontologia de Londrina, uma das que formaram a UEL

Paulista da cidade de Lins, Edison Lúcio Ferreira Fava chegou a Londrina aos quatro anos de idade, em 1939. Sua família mudou-se para o Paraná para a fazenda do avô que já morava aqui antes.Aqui, o menino Edison completou os estudos até o antigo ginásio (atual ensino fundamental). Depois,

foi para a capital de São Paulo estudar no Colégio Arquidiocesano, dos Irmãos Marista, onde completou o científico (atual ensino médio). Em seguida retornou a Londrina para fazer um curso de química, relacionado a laboratório. Após encerrar o curso, prestou o vestibular e em 1956 iniciou o curso de Odontologia na Universidade Católica de Campinas.

Já graduado, Edison conseguiu através de contatos com familiares que já trabalhavam na área de Odontologia na USP, entrar em uma especialização na Universidade de São Paulo, em que se aprimorou em periodontia.

Em 1961, voltou para Londrina e abriu seu primeiro consultório no Edifício Júlio Fuganti, que fica na Rua Senador Souza Naves, centro da cidade. Desde então, Edison e os colegas de profissão da cidade, comandados pela Associação Odontológica, iniciaram um movimento em prol da expansão da Odontologia e região. O grupo de dentistas se uniu para forçar politicamente a criação de uma faculdade estadual de Odontologia. “Queríamos uma escola em que ninguém precisasse pagar mensalidade. Nós criamos um espírito de evolução na Odontologia londrinense. Foi uma briga boa, gostosa”, lembra.

E em 1963 foi fundada a Faculdade Estadual de Odontologia de Londrina (FEOL), pioneira no norte do estado. “O nosso pioneirismo

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na odontologia no norte do Paraná foi grande. Tanto é verdade que logo em seguida já nasceram as faculdades em Maringá e Ponta Grossa. E também foi a nossa Faculdade foi quem deu o pontapé inicial para a formação da Universidade”, garante.

Edison conta que não foi fácil e não faltou oposição ao projeto dos dentistas. “Até a Associação Médica era contra. Não queriam que tivesse a Faculdade de Odontologia antes da de Medicina. Mas nós fizemos. A de medicina foi criada depois e usou os prédios que eram da Odontologia,” comenta.

Edison foi efetivado como professor da FEOL em 1965, dois anos depois da inauguração da faculdade. Ele revela que os salários iniciais eram bastante pequenos e que todos trabalhavam mais pelo amor que sentiam. “O ‘status’ que a gente tinha de professor era o suficiente para a gente”, afirma.

Além disso, todo o trabalho na faculdade era realizado simultaneamente às atividades nos consultórios particulares dos dentistas. “Tudo foi feito ao mesmo tempo. A gente tinha que trabalhar nos consultórios, mas muitas vezes até deixávamos nossos pacientes para atender à escola”, recorda. Apesar da sobrecarga de trabalho, o professor garante que não fazia nem ouvia reclamações. “A gente gostava, éramos muito animados. Houve um entrosamento, uma união muito grande naquela época”, lembra com saudosismo.

Em 1971, a FEOL foi uma das faculdades que formaram a Universidade Estadual de Londrina. A partir daí, as turmas de Odontologia começaram a receber mais estudantes. “No início eram 20 ou 30 alunos. Depois que foi para a UEL a turma ficou com 60. Veio uma ‘enchente’ de odontólogos para Londrina”, comenta sorridente.

Edison começou a lecionar desde o começo da Universidade. Foram mais 34 anos de dedicação ao ensino da Odontologia. Além de professor, Edison chegou a ser chefe da disciplina de clínica integrada, a partir de 1985. Deixou o cargo em 1995, após uma determinação do MEC de que os dirigentes de disciplinas deveriam ter mestrado ou doutorado, e ele tinha apenas especialização.

O aprendizado do dia a dia na sala de aula foi constante em toda a sua carreira, principalmente no início: “A gente aprendeu a lidar com o aluno na prática. A didática, o plano de aula... Qual a melhor

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forma para o entendimento do aluno... assim a gente ia aprimorando o método de ensino”, explica.

O dentista e professor acompanhou muitos anos de evolução na Odontologia, dos quais também participou. Sempre atento às novidades, conferências e preocupado em levar tudo isso para a sala de aula. Por este motivo, orgulha-se de ter integrado o curso de Odontologia que durante muito tempo formou alunos mais bem preparados que os de outras universidades tradicionais. “Os nossos alunos eram os mais procurados. Porque aqui a prática era mais intensa até do que a USP. Formamos bons profissionais e tínhamos consciência desta qualidade”, garante.

Ao tocar neste assunto, Edison demonstra uma certa preocupação com a responsabilidade do professor de transmitir os valores da futura profissão aos alunos. “Muitas vezes os alunos saem da escola e prestam o vestibular pensando no dinheiro que vão ganhar e não para usar com amor aquilo que ele vai aprender. Eles vão para a Odontologia porque ganha dinheiro... mas não é assim, tem que ter o carinho, a vontade de aprender! Isso a gente também tem que ensinar”, afirma.

O relacionamento com os alunos também foi sempre agradável. E as amizades extravasaram as paredes das salas de aula. “Uh! Até hoje os alunos vêm me abraçar! E têm muitos que cresceram na profissão, hoje são bem-sucedidos, dão até conferência!”, diz com orgulho.

A aposentadoria entrou gradativamente na vida do professor. Primeiro, em 1992, ele deixou de clinicar e passou a dedicar-se apenas as aulas na UEL. Assim foi possível se acostumar com um ritmo menos intenso de trabalho, até que em 2006 chegou a hora de se despedir também dos alunos. “Aí o ‘baque’ foi maior. Às vezes eu tinha até insônia... sinto muita falta!”, diz emocionado. O professor não consegue nem conter as lágrimas diante das lembranças do seu trabalho na UEL. “Ah, sempre tem a saudade, né? Eu fico aqui em casa, sem consultório, sem dar assistência aos alunos, sem ter os alunos em volta, os colegas também... dá muita saudade!”, comenta.

Mas, para aliviar esta saudade, Edison tem a receita: “Ah de vez em quando eu dou ‘um chego’ lá na escola, dou uma volta, cumprimento todo mundo, converso com o pessoal... e volto! Não acho ruim a aposentadoria... Estou bem!”, garante.

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Com o tempo todo livre em casa a vida passou por grandes mudanças. Além de aproveitar mais a família, especialmente os onze netos, Edison comenta como se reestruturou e ficou mais atento à saúde: “Eu faço ginástica e cuido da alimentação, porque há quatro anos descobri que sou diabético. E agora consigo controlar o peso. Já faz dois anos que estou com 80kg. Antes não tinha essa regularidade”.

E é assim, comentando os benefícios do merecido descanso sem deixar de transparecer a saudade, que o atencioso professor me agradece com entusiasmo pela entrevista que acaba de me conceder: “Muito obrigado por se lembrar de um simples aposentado como eu!”. Surpresa com a demonstração de gratidão do professor, não me resta nada a responder a não ser: “nós é que agradecemos professor Edison, eu e a UEL”.

Janaína Castro

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Uma gaúcha de opinião

Gaúcha, decidida, brava e competente, Eliane Cristina Palaoro Pereira dedicou-se de corpo e alma ao seu trabalho na UEL

“Eu sempre fui muito decidida”. Ao ouvir a história de vida desta gaúcha de Porto Alegre (RS), não há como duvidar da pronta afirmação. Com apenas sete anos de idade, a pequena Eliane já sabia o que queria ser quando crescesse: veterinária. Dez anos depois, precisou superar a oposição do pai, que preferia um curso mais ‘feminino’ para a época. E conseguiu: “Fiz o vestibular para veterinária escondida. Ele pensava que eu estava prestando para pedagogia”, lembra.

Em 1970, Eliane ingressou no curso de medicina veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi lá também que conheceu Nabor Augusto Pereira, seu atual marido. Os dois estudaram na mesma turma, mas só começaram o namoro depois de formados.

Recém-formada, Eliane saiu pela primeira vez do Rio Grande do Sul para fazer estágio na fábrica de leite em pó da Nestlé em Araçatuba, interior de São Paulo. Lá, a médica veterinária trabalhou durante oito meses com inspeção e tecnologia de leite. A experiência foi decisiva para seu posterior ingresso na UEL.

Encerrado o estágio, Eliane, que já estava noiva, voltou para Porto Alegre com a intenção de casar. Mas Nabor, ainda estava fazendo residência na cidade de Botucatu, em São Paulo. Foi quando o destino direcionou suas vidas para o interior do Paraná. A convite de um colega de turma, Nabor fez em Londrina uma prova para o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Aprovado, mudou-se para cá e gostou da cidade. Pouco tempo depois veio o casamento e o casal fixou residência na “Pequena Londres”. “Eu vim para cá com 15 dias

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de casada. Uma semana depois saiu um edital de convocação da UEL para professores de veterinária e fui tentar. Quando o professor Müller viu o estágio da Nestlé no meu currículo, me indicou para dar aula de inspeção e tecnologia de leite, carne, ovos e pescado. O contrato inicial era de apenas 12 horas-aulas, mas eu aceitei e voltei para casa feliz da vida!”, comemora. Assim, no dia 23 de fevereiro de 1976, iniciou-se o trabalho da professora Eliane na Universidade.

Como não tinha experiência em dar aulas, o começo foi um desafio para Eliane. Para enfrentá-lo, ela recorreu a seus antigos professores da UFRGS, que “ajudaram muito”, ressalta a com veemência. Os desafios enfrentados por ela ultrapassaram a busca por formação qualificada. A jovem professora teve que encontrar coragem, como ela bem se recorda: “A primeira vez que entrei numa sala de aula levei um susto. Eu tinha 23 anos e a maioria dos alunos era homem e mais velha do que eu. Eu me senti um passarinho fora da gaiola cheio de gavião para pegar! Eu era magrinha, com estes olhos claros [aponta para o próprio rosto], não era uma ‘Gisele Bündchen’, mas não era feia! Senti uma necessidade muito grande de ser respeitada na sala de aula, para não perder o controle da situação. Por isso, eu era muito brava, não dava nem um sorriso!”. Mas, explica que tanta agressividade era “muito mais defesa do que ataque”.

Hoje, Eliane acha graça da fama que conquistou por este comportamento que manteve durante todos os anos em que esteve na UEL. “Quando chegavam alunos novos, os mais velhos já diziam ‘cuidado com a professora Eliane!’. Eles tremiam quando se aproximavam de mim. Depois viam que não era tudo isso que o pessoal falava. Eu era exigente e brava, mas nunca chamei a atenção sem ter necessidade e jamais ridicularizei um aluno em público. Mas foi a fama que eu tive, eu era a ‘gaúcha de faca na bota, com essa gaúcha não dá pra brincar!’”, comenta com bom-humor.

Em agosto de 1979, Eliane saiu de licença para fazer mestrado na UFRGS. A grande oportunidade de direcionar seu trabalho para a área que sempre quis, como ela mesma conta: “Todo mundo preferia que eu fizesse na área de tecnologia, pois era a minha disciplina, mas eu queria clínica veterinária de pequenos animais. Essa era a chance de eu mudar de área. Por isso assumi o risco e mudei. Fui para Porto Alegre

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com meu marido, onde ele fez mestrado na mesma época, e ficamos lá entre 1979 e 1981”.

Ao retornar a Londrina, no segundo semestre de 1981, Eliane, então mestre em clínica médica veterinária, estava preparada para ter que voltar para a disciplina de tecnologia, que havia deixado. Mas,o destino reservou-lhe a oportunidade de assumir a disciplina que desejava: “A professora titular de clínica médica estava no segundo ano de mestrado, na UFRGS também, e decidiu não voltar para a UEL. Como eu cheguei com o mestrado na área, a disciplina foi atribuída a mim”, conta.

A partir daí, a professora pôde trabalhar com o que realmente gostava e não parou mais. “Eu não saí da Universidade desde então. Todo mundo que passou pela veterinária foi meu aluno. Em um momento comecei a dar aula para duas gerações, porque os filhos dos meus ex-alunos fizeram veterinária também! O atual reitor da Universidade (2008), só não foi meu aluno porque ele fez a minha disciplina na época do mestrado. Só esse pessoal da turma dele não estudou comigo, do resto que se formou na UEL, eu dei aula para todo mundo”, orgulha-se.

A dedicação incondicional ao trabalho não fez com que Eliane deixasse a convivência e as preocupações com a família de lado. Mãe de dois filhos, a veterinária abdicou da chance de fazer doutorado para ficar ao lado deles. “Meus dois filhos eram pequenos e eu não tinha ninguém da família por perto para ajudar, como mãe ou irmã... e não existiam tantas creches com preços acessíveis como hoje: eram poucas e muito caras. Então eu optei pela família. Quando chegava a minha vez de sair para o doutorado eu cedia para um colega. Eu dizia ‘Vai tu e eu fico, vai tu e eu fico’ e foi assim até a aposentadoria”, comenta.

Eliane não se arrependeu de permanecer todos estes anos na Universidade e sempre trabalhou com muito e empenho e satisfação. Especializou-se em dermatologia animal e, além das aulas, atuou como profissional no Hospital Veterinário da UEL (HV), onde deixou sua marca registrada: ajudar aqueles que precisassem. “O HV sempre atendeu uma parcela mais carente da população. Para conseguir consultas sem custos, as pessoas tinham de preencher uma ficha declarando ser pobre. Cada professor do hospital tinha uma cota por

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mês para usar como ‘interesse didático’, que funcionava assim: aquela consulta era usada para dar aula. Então era muito mais demorada, todos os alunos mexiam no animal, faziam perguntas e por isso a gente não cobrava. Eu sempre estourava a cota, porque não tinha coragem de cobrar de pessoas que eu via que não tinham dinheiro”, confessa.

Movida por este espírito altruísta, Eliane fazia mais do que apenas atender aos necessitados. Ao receber os representantes de laboratório que iam ao HV vender seus produtos, ela fazia uma exigência básica: a “cota dos pobres”. “Quando eles chegavam, eu avisava que para ter minha atenção tinha que deixar a ‘sacolinha dos pobres’. Eu tinha um armário grande que era lotado de amostra grátis deixada por eles. Então, quando eu via que a pessoa gostava do seu animal, mas não tinha dinheiro, eu não tinha cara de cobrar. Remédio para cachorro é muito caro! Aí eu dava: a pessoa saía com o remédio, a ração e até o xampu para dar banho”, conta.

Em troca das ‘contribuições’ para os pobres, Eliane ‘vestia a camisa’ dos produtos e fazia propaganda deles tanto em seu dia-a-dia, quanto nas palestras que ministrava: “Os laboratórios sabiam o que eu falava e que tinha repercussão. E eu nunca cobrei nada para mim: era só a ‘cota dos pobres’ mesmo”, garante. A professora considera este trabalho como uma de suas missões na UEL e lamenta que não tenha conseguido deixar nenhum continuador desta obra: “Quando eu me aposentei acabou! Agora tem até uma norma da direção do HV que proibiu os professores de terem amostras grátis em suas salas. Eu não sei porquê! Dizem que foi para controlar o uso de psicotrópicos, mas no meu armário eu só tinha remédios comuns: antibióticos, vermífugos, xampus...”.

O coração foi certamente o ‘guia-mor’ na vida de Eliane. Ela fala com orgulho e saudosismo de um tempo em que “a UEL era diferente. As coisas não eram tão corridas. Quando chegava um colega novo eu literalmente adotava. Viravam meus filhos queridos e assim nós vivíamos como uma grande família no HV. Ficávamos no hospital até 12 horas por dia, porque era prazeroso. E depois eu trazia o pessoal para minha casa, fazia comida para todo mundo. Era a ‘casa da mãe’, alguns me chamam de ‘mãezona’ até hoje. Eles vinham aqui até para enrolar brigadeiro nos aniversários dos meus filhos. Foi a época em que fomos mais felizes, mas infelizmente passou”, lastima.

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Aposentadoria, um novo começo Nesses anos todos dedicados à UEL, a única lamentação de

Eliana é com relação ao que ela chama de “mudanças” que considera ter acontecido na Universidade ao longo dos anos. Sem entrar em detalhes, alega que “algumas pessoas” da UEL com quem trabalhava haviam perdido um pouco o espírito de família, comum à instituição. “Pessoas lá de dentro se comportaram de uma maneira que eu não concordava e por isso preferi me afastar”. Mas tão logo releva: “Eu não tenho nada contra a UEL. A Universidade me deu a oportunidade de ser tudo o que eu sou hoje. Se eu não conseguisse esse emprego assim que cheguei à cidade, não sei o que teria sido de mim”, encerra.

Os conflitos de consciência não foram os únicos reflexos do momento difícil pelo qual Eliane passou. Gradativamente sua saúde também começou a demonstrar sinais de fraqueza. Dois anos antes da aposentadoria a professora foi acometida por uma úlcera no duodeno e uma gastrite aguda difusa. O alerta máximo não demorou muito a chegar: um AVC (acidente vascular cerebral). “O médico que me atendeu avisou a meu marido que este AVC foi apenas um aviso e não deixaria sequelas graves. Mas que o próximo eu não aguentaria”, enfatiza.

Era definitivamente a hora de parar. Em 2005 Eliane solicitou sua aposentadoria por tempo de trabalho. Emendou duas licenças-prêmio e férias vencidas que possuía. Afastada em definitivo, deu sequência ao tratamento.

A recuperação deste quadro é claramente perceptível. Eliane não aparenta nenhuma sequela do episódio do AVC. A professora demonstra ser a mesma pessoa alegre, decidida e “inquieta” de sempre. Ainda com muita disposição, expressa o que é fácil perceber: “Eu sou muito agitada. Quando vi que estava em casa sem fazer nada, não aguentei e fui procurar as clínicas dos meus ex-alunos”. Hoje, trabalha como uma espécie de assessora para os casos mais graves na área de dermatologia que é sua especialidade. Atende em quatro clínicas de ex-alunos no período da tarde e garante: “todo dia tem um caso para mim. Sempre tem o que fazer”.

Apesar de continuar trabalhando, Eliane ressalta a liberdade e tranquilidade das quais pode desfrutar. “Posso viajar quando preciso

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e tenho mais tempo para estudar outras áreas que me interessam como comportamento animal, que já até comecei a aplicar nas minhas consultas”.

Além da atuação nas clínicas, a professora também participou de um projeto de extensão, depois de aposentada: “Conhecer e Respeitar”. Ao lado de colegas das áreas de educação artística e artes cênicas, visitava as creches do Hospital Universitário e do campus para apresentar um animal às crianças de até seis anos. “A gente escolhia um animal, montava a apresentação que podia ser teatro ou fantoches, por exemplo, e mostrava para as crianças as características dele: ‘Quem é? O que come? Para que serve? Como está inserido na natureza? Por que cuidar? Por que respeitar?’. No final, eu levava o animal vivo para elas verem e tocarem. Era muito divertido”, lembra.

A versatilidade de Eliane alcançou até mesmo as frequências do rádio. A convite do amigo José Makiolke (Zezão), que apresenta o “Programa do Zezão” na Rádio Paiquerê AM, Eliane participou do quadro “Mundo Animal”, em que respondia a perguntas de ouvintes sobre seus animais de estimação. “O Zezão é um grande amigo meu. Eu me diverti muito neste programa. E tinha bastante audiência”, afirma entre risos.

Eliane também não deixou de frequentar os congressos de veterinária uma vez por ano, apesar do hábito causar surpresa em seus colegas. “Quando me encontram, as pessoas me perguntam o que estou fazendo em um congresso. Ora, estou aposentada, mas não estou morta! Tem gente que pensa que quando se aposenta a pessoa fica só fazendo tricô e pensando na vida... Não! Foi uma etapa muito importante, mas que passou. Foi um ciclo que se fechou e outro que começou!”, discursa.

E de onde vem energia para fazer tanta coisa, professora? A resposta é tão rápida e objetiva quanto Eliane demonstra ser: “Quando você faz o que gosta, sempre acha tempo!”. Sábias palavras, professora. Por elas e por todos os anos dedicados de “corpo e alma” à instituição, agradecemos em nome da UEL. A torcida é para que essa mestra siga fazendo o que gosta, ainda por muito tempo.

Janaína Castro

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Elisabete Abelha Lisboa

Elisabete Abelha exerceu durante 23 anos a função de secretária. Sua atenção era disputada por alunos, professores e telefones. Uma rotina difícil e cansativa, no entanto, muito apreciada por Elisabete. A cobrança diária, principalmente dos alunos, era saudável: “Eu tinha que me manter informada e sempre atualizada. Porque eles perguntavam mesmo, e queriam respostas”. Elisabete não gostava de deixar pergunta sem resposta. Enquanto buscava

informações para esclarecer os alunos, aprendia muito e de tudo um pouco.

Certa vez a prática de Elisabete causou uma enorme confusão. Transferida recentemente da secretaria do curso de Veterinária para a Engenharia Elétrica, ela recebeu um pedido de compra de mercúrio. “Achei estranho um professor de Engenharia Elétrica pedir mercúrio cromo, mas mandei comprar”. Pronto, estava feita a confusão. O professor não especificou no pedido de qual mercúrio iria precisar. Elisabete, acostumada na veterinária, pediu o medicamento mercúrio. Ela conta que o professor chegou aos gritos na secretaria, indignado com o erro. “Ele era um japonês bravo e eu fiquei muito envergonhada”. A confusão rendeu muitas risadas e uma amizade sincera entre o professor e Elisabete. “Ele dizia que eu era muito boa no vernáculo. E era eu que datilografava todos os trabalhos dele e consertava algumas coisinhas. Ele era japonês e tinha dificuldade com a nossa língua”.

Como secretária, Elisabete acompanhou e participou ativamente da criação de alguns cursos: Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Elétrica. Segundo Elisabete, implantar um curso é um processo lento e trabalhoso. É necessário que a instituição tenha infraestrutura, livros, professores com especialização e atenda a uma série de outros requisitos.

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Elisabete é paulista. Quando ainda morava no interior de São Paulo, cursou o magistério e lecionou por alguns anos. Ela veio para Londrina em 1970, com a família. Assim que chegou se encantou com a cidade. Entretanto, ela revela que estranhou a terra vermelha. “Quando chovia era barro, quando tinha sol era poeira”. E, para piorar, o bairro onde morava não era asfaltado.

Tempos complicados aqueles, afirma Elisabete. “Não tinha acesso para a Universidade. Eu morava no Orion, era mais perto ir a pé. O ônibus demorava uma hora, a pé era rapidinho”. Entretanto, no caminho de casa até a UEL ela só encontrava mato. “Era uma desbravadora”, conta, risonha.

Para Elisabete, o trabalho na Universidade foi o grande responsável por seu crescimento intelectual, estava sempre aprendendo. Além disso, foi pelo trabalho que ela decidiu cursar Educação Artística. “Para assumir o cargo de secretária executiva era preciso ter registro em carteira e ensino superior. Mesmo estando no cargo, não achei justo não ter o ensino superior. Então, decidi fazer”. Elisabete gostava de artes, já tinha experiência no magistério e, por isso, optou por Educação Artística. Mas, nunca exerceu. “Gostei muito de estudar Educação Artística. E sempre é muito bom aprender”.

Léia Dias Sabóia

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Nas Notas do Saxofone

Erlei Odino Gusso começou a lecionar na UEL pouco antes da primeira aposentadoria. Agora o professor aproveita o tempo livre para aprender e se dedicar à música

A música e a religião fazem parte do cotidiano do auditor e professor aposentado. Há dois anos, Erlei Odino Gusso toca saxofone e agora está fazendo curso de flauta doce. Mas sua história de carinho com a música é antiga, desde a época de menino, quando o professor começou os estudos para ser um irmão Marista como seu tio – ordem que valoriza esta arte.

O menino Erlei tinha apenas 10 anos e não sabia bem o que era dedicar-se a vida religiosa. De Colombo – região metropolitana de Curitiba – foi para Mendes (RJ) estudar nesta ordem. O professor conta que “do levantar, até a hora de dormir, tudo era falado em francês” – língua do patrono Marcelino Champagnat. Foi nos Maristas que ele começou a lecionar latim e francês, nos colégios dos irmãos em Franca (SP) e na capital paulista.

O trabalho pedagógico dos irmãos e a ordenação não eram o que Gusso imaginava para o seu futuro, por isto ele saiu. Mas, depois da aposentadoria na UEL, o professor retomou seus estudos religiosos e cursou Teologia no seminário João VI, que na época não tinha um curso voltado para leigos. Com mais este curso superior, pode compreender as razões da fé e outras questões que não estudou na base que teve com os maristas, afinal, lá ainda não era uma faculdade.

O trabalho em favor da religião católica continuou principalmente em torno daquilo que ele mais gosta: a atividade missionária. Gusso é secretário do Comire - Conselho Missionário Regional da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) que tem como missão “despertar o ardor missionário das paróquias”, explica. Para tanto,

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ele lembra que é preciso manter-se atualizado e saber o que está acontecendo ao redor do mundo. Destaca também que além da ajuda em oração e comunicação, é imprescindível “por a mão do bolso” para ajudar povos mais necessitados.

Experiência e opinião caracterizam este professor que começou a dar aulas no ensino superior apenas dois anos antes de sua primeira aposentadoria no serviço público. “Percebi que todo mundo se aposentava e morria, então eu resolvi fazer outra coisa”, revela Gusso. A experiência deu certo para ele e, com certeza, para a Universidade Estadual de Londrina.

Gusso havia trabalhado como tributador na prefeitura de Curitiba e no Tribunal de Contas estadual quando, em 1961, houve um concurso para escrivão de coletorias federais, taxas que, ele explica, hoje são pagas em agências bancárias e antes eram pagas diretamente aos órgãos públicos. Em 1970, por meio de outro concurso que exigia diploma superior, passou a técnico de tributação, até este se tornar auditor federal.

Pela Receita Federal, Gusso trabalhou em Cornélio Procópio, em Paranaguá (no porto), em Curitiba, até vir para Londrina. O primeiro curso superior, inclusive, acompanhou as mudanças: os quatro primeiros anos foram cursados na Universidade Federal do Paraná e o último na Faculdade Estadual de Direito de Londrina. Nesta época, ele morava em Cornélio Procópio e vinha todas as noites para a faculdade, no prédio do Grupo Escolar Hugo Simas.

Mas, acabado o curso de Direito, sentindo que os contadores o enganavam - ou como ele diz, o “logravam” - e que precisava dos conhecimentos de Ciências Contábeis, Gusso partiu para a segunda graduação, esta já na UEL. Ele lembra que nesta época a receita também oferecia muitos cursos a seus funcionários, apesar de ser muito específico: “A gente está sempre aprimorado, mas só para aquilo.”

Apesar do salário bom, Gusso sabia que a visão do auditor para o mundo ficava restrita e via a aposentadoria chegar, por isto comentou com o também contador e professor da UEL, Joaquim Scarpin, que gostaria de assumir algumas aulas. Assim, Gusso conseguiu aulas na Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de Arapongas.

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Em 1986, o professor prestou concurso para a UEL e assumiu novas aulas no Departamento de Ciências Contábeis. No começo, ele lembra, “eu era muito rígido”, mas a Especialização em Metodologia de Ensino Superior ajudou-o tanto que o professor diz que a turma que esteve com ele naqueles dois anos sentiu a diferença. A especialização, apesar de ser na Faculdade de Arapongas, era ministrada por professores da UEL que tinham o mesmo curso em Londrina.

Apesar de ter dado aula no tempo do “giz, saliva e da transparência”, o professor conta que pegou dois ou três anos de implantação da informática. E brinca: “como sofri”.

Como as primeiras aulas eram só à noite e mesmo com algumas de manhã o professor continuou com algum tempo livre, Gusso foi se acostumando com a aposentadoria. Após deixar a UEL em 2003, ele foi o responsável pela implantação do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Inesul e ficou dois anos lá. Depois de um tempo, readaptaram todo o currículo, em outra experiência em que, além de valiosa, ele perdeu “o resto dos cabelos”.

Há três anos se dedicando à música e à religião, Gusso também procura ir à academia de ginástica todos os dias. Tudo porque sabe que “não pode ficar parado, por o pijama”.

Depois de tantos exemplos e histórias, o professor revela em tom de confidência que é transplantado. Por três vezes, desde 1980, ele se submeteu a cirurgias para substituir as córneas doentes. A primeira foi rejeitada e teve que aguardar mais um ano na fila. Em 1995 foi o último transplante, estava com menos de 10% da visão em um olho.

Apesar de nunca ter ficado cego de ambos os olhos ao mesmo tempo, Gusso, que acabou de operar de catarata – o que pode ser perigoso para um transplantado –, sabe valorizar o sentido da visão nas coisas mais simples, como a leitura cotidiana. Para quem já esteve em situação diferente, a saúde é um dom dos mais importantes para se agradecer.

Poliana Lisboa de Almeida

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Ernani Lauriano Rodrigues

Ernani Lauriano Rodrigues nasceu em Sertanópolis. Mas, ainda recém-nascido foi morar em Centenário do Sul. Ele é filho de pequenos agricultores. Contrariando a tendência da época, seus pais o incentivaram a estudar e ter outra profissão. E lá, na cidade interiorana, Ernani começou a dar os primeiros passos

rumo a outro destino, diferente daquele de seus pais. Ernani ingressou cedo na vida profissional, trabalhando em um escritório em Centenário do Sul. Neste momento que percebeu a vocação e o interesse pelos negócios, pela economia.

Em 1967, foi para Curitiba prestar o serviço militar. Lá continuou para cursar Economia. Ernani é filho mais velho e, como fez os pais, incentivou seus irmãos a estudar e ter uma profissão.

Chegou a Londrina, em 1978. Resolveu cursar Direito e em 1983, formou-se. Nunca exerceu a segunda atividade, no entanto, ele acha extremamente importante para sua vida profissional, conhecer a legislação. É que além de professor, Ernani também é empresário.

Em 1985, prestou concurso na UEL. Sempre conciliou o trabalho de professor com o trabalho em empresas particulares. Ele afirma que essa é uma maneira interessante de unir prática a teoria, e, assim, proporcionar experiências mais concretas a seus alunos.

Enquanto lecionava, Ernani foi convidado para ser Secretário Municipal de Planejamento de Londrina, durante a gestão do ex-prefeito Wilson Moreira. A experiência, Ernani classifica como gratificante.

Sempre ofereceu consultoria. Em 1994, passou a ser sócio de uma empresa em Londrina.

Ernani é casado há 32 anos, pai de três filhas, das quais fala com muito orgulho.

Aposentou-se em 1996. Hoje ainda dá aulas, em uma faculdade particular de Londrina.

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Um elo entre Brasil e Japão

A professora Estela Okabayashi Fuzii herdou da mãe a missão de favorecer e consolidar as trocas entre os dois povos e até hoje trabalha incansavelmente para isso

A primeira filha de japoneses nascida em Londrina, antes mesmo da emancipação da cidade. Estela Okabayashi Fuzii, professora de Pedagogia aposentada pela UEL, e sua família assistiram à fundação e crescimento do município: “Meus pais vieram de São Paulo para cá e abriram uma casa de comércio onde hoje é a Rua Professor João Cândido. Acompanharam todo o desenvolvimento de Londrina, e eu

também a partir do momento em que me tornei mais consciente das coisas. Só saí de Londrina para fazer a faculdade em Curitiba, porque aqui ainda não tinha ensino superior”, conta.

Diferente da maioria das famílias da colônia japonesa, os pais de Estela motivaram as filhas para o aprendizado da língua portuguesa. “A minha mãe falava fluente e corretamente o português. Com ela nós falávamos em português e com o meu pai em japonês, e devido a isso, nós ficamos com os dois idiomas. Isso ajudou também a não ter o sotaque, que muita gente da minha época tem, porque só falava japonês em casa”, explica.

Estudiosa e dedicada, ao ingressar no colegial (ensino médio), Estela optou pela escola normal, - que formava professores na época -, pois acreditava que ao concluir os estudos já teria uma profissão. Durante o curso descobriu sua afinidade pela área da educação, como ela mesma recorda: “À medida que fui aprendendo, passava a gostar muito de todo o conteúdo. E quando já estava para me formar, comecei a pensar que não queria parar por ali e sim me aprofundar mais”.

Para atender ao desejo da filha de ingressar em uma universidade, os pais de Estela quebraram um tabu inominável (para a sociedade

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machista era impensável uma moça sair de casa para estudar) e permitiram que ela fosse para Curitiba, onde ingressou no curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A professora lembra que alguns vizinhos foram até sua casa aconselhar seus pais a não permitirem a mudança. “Eles diziam que não podia mandar uma mulher para fora de casa! Mulher era para casar, a escola normal já estava ótimo, não precisava estudar mais!”.

Após se formar, Estela retornou a Londrina e assim que chegou recebeu “por acaso” a primeira proposta de emprego de sua vida. “Eu fui ao Colégio Mãe de Deus levar um recado de Curitiba para a escola e a diretora me convidou para dar aulas na escola normal. Eu fiquei meio na dúvida por causa da vaidade de moça... lá não se usa calça comprida, roupa sem manga, ainda mais naquela época, e eu sempre usei! Mas resolvi aceitar e tive que me adaptar”, comenta. Foram 14 anos de magistério no tradicional colégio de Londrina. A professora só deixou a escola quando se casou para ter mais tempo de dedicação à família.

No Mãe de Deus, além de ministrar as disciplinas de Pedagogia, Estela tornou-se uma importante aliada das alunas para resolver impasses relacionados com as tradições da escola. “Como eu era a única professora leiga lá dentro, elas recorriam muito a mim. E eu tentava ajudar como podia. Elas pediam, por exemplo, permissão para usar calça comprida durante as excursões que faziam. E eu fazia as propostas nas reuniões dos professores”, relembra.

Durante este tempo a professora garante que aprendeu muito com as freiras e cultivou um grande respeito pela instituição. Tanto que fez questão de seus filhos estudarem lá (o filho cursou o ensino infantil, o que era permitido para meninos; as meninas permaneceram nos outros níveis). “Eu acho muito importante a criança ter uma educação religiosa. Por isso meus filhos estudaram lá e se pudesse o menino teria continuado até se formar!”, diz com convicção.

Na década de 1950, Estela participou da fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, primeiro estabelecimento de ensino superior da cidade, e, em 1962, do Curso de Pedagogia na mesma instituição. Anos depois, em 1971, foi cofundadora da Universidade Estadual de Londrina. “Eu acompanhei toda a história inicial. Faço

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parte desta história do ensino superior na cidade e na UEL”, diz com satisfação.

Professora da área de Pedagogia desde o início, o trabalho de Estela na UEL foi além das salas de aula. Ocupou cargos administrativos como chefia do Departamento de Educação, direção do Centro de Comunicação, Educação e Artes (CECA), direção do Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE – atual Labted) e sempre esteve muito próxima de todos os reitores. “Eu tive esta felicidade de conviver com todos os reitores. No começo, os chefes de departamento dialogavam direto com o reitor, não tinha a burocracia de hoje. E todos os reitores que passaram sempre me chamavam para dar um apoio quando vinha visita do Japão ou para alguma coisa relacionada com o país, como o intercâmbio, por exemplo”, explica.

Por causa das constantes “convocações” para assessorar a reitoria nos assuntos relacionados ao país de seus ancestrais, a professora idealizou a criação de um órgão que organizasse e se responsabilizasse por essas atividades. Esta foi a semente para a criação do atual Núcleo de Estudos da Cultura Japonesa (NECJ), do qual Estela é a atual diretora. Ela redigiu pessoalmente o projeto, mas a implantação não foi imediata, pois a gestão do reitor da época estava no fim e não houve tempo hábil para a ideia ganhar materialidade. “O reitor [Jorge Bounassar Filho] me pediu para escrever o projeto, mas logo depois ele saiu. A administração seguinte não assumiu e eu tive que esperar a próxima gestão. Quando o novo reitor [Jackson Proença Testa] tomou posse, eu fui correndo mostrar o projeto. Na hora ele aceitou, achou muito importante e prometeu implantar. E realmente, foi rápido! Em alguns meses foi implantado num evento com mais de 500 pessoas e a presença do cônsul de Curitiba”, comemora.

Inicialmente sem um prédio para funcionar, o NECJ foi instalado numa “salinha” improvisada dentro de uma sala de projeção do NTE. “Era muito pequena! Os intercambistas ficavam muito mal acomodados”, lamenta. A solução veio da terra do sol nascente: em uma viagem ao Japão para conhecer o sistema educacional do país, Estela comentou a situação com o reitor da Universidade Meio, da cidade de Nago (província de Okinawa), conveniada à UEL. O reitor planejou um encontro com o prefeito da cidade, que encaminhou à

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Câmara de Vereadores a proposta de uma verba de 50 mil dólares para a construção de uma sede para o órgão. “Eu nem acreditei!”, comemora sorridente.

Com a verba aprovada, foi construído o prédio temático, com as cores e a bandeira do Japão, localizado no calçadão do campus próximo ao Departamento de Física. Infelizmente a inauguração veio somente depois da aposentadoria da professora, em janeiro de 2006, e ela não esteve presente na cerimônia. “Eu não sabia que ia ser naquele dia e estava viajando. Vim depois para conhecer”, comenta.

Para além do seu reconhecido trabalho na UEL, Estela atuou, ainda, fora dos muros acadêmicos. Quando assumiu a direção do CECA, em 1978, ela coordenou um curso no Ministério da Educação para a capacitação didático-pedagógica de professores dos ensinos fundamental e médio. Seu projeto foi um dos dez escolhidos pelo Ministério entre todas as universidades do Brasil. Ela ministrou o curso também fora da UEL. “O MEC viu que o trabalho meu e da minha equipe estava dando resultado aqui e pediu que nós deslocássemos para outras universidades. Isto me enriqueceu muito”, afirma.

Outra atuação externa de Estela, foi a coordenação de um programa latino-americano em parceria com universidades da América Latina, uma “semente para a educação a distância”, conta. Na vigência do programa viajou para vários países, relata satisfeita.

Mesmo com tantas atividades, Estela nunca deixou de ser uma agente ativa no processo de intercâmbio entre Brasil e Japão. Ainda na UEL realizou uma pesquisa sobre o movimento dekassegui (filhos de japoneses que vão trabalhar no Japão), cujos resultados foram solicitados pelo Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior, com sede em São Paulo. Graças a este trabalho, a londrinense foi convidada a integrar o conselho acadêmico do órgão, onde permanece como membro até hoje.

Encerrado o exercício da função de professora na UEL, em 2004, Estela foi convidada para trabalhar na Aliança Cultural Brasil Japão, onde criou o Departamento do Dekassegui e do qual se tornou a primeira diretora. O Departamento foi um dos principais legados de Estela para o órgão e a cidade: “Eles [dekasseguis] passam por muitas dificuldades e eu sempre fiz tudo o que podia para resolver

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os problemas”, afirma. A passagem para o novo posto de trabalho foi imediata: Estela nem chegou a vivenciar a experiência de aposentada e migrou, com muita satisfação, para a Aliança Cultural. “Não fiquei parada nem um dia sequer”, lembra.

Estela atua até hoje na Aliança Cultural, onde também acumula o cargo de Assessora Internacional. E as tarefas são tantas que ela admite: “Lá eu trabalhava mais que na UEL”. As atividades só foram deixadas em parte – sob os cuidados de uma de suas filhas -, após o convite que a professora recebeu em 2007, para retornar à Universidade, desta vez como diretora do NECJ. Cargo mais do que oportuno, já que o núcleo foi idealizado por ela. Aceito o convite, Estela assumiu mais uma montanha de serviço e compromissos. Hoje é a responsável pelo setor de intercâmbios e recebe pessoalmente todos os intercambistas e demais visitantes da terra de seus pais. “Eu me preocupo muito com a imagem que vamos passar da UEL. Qualquer coisa que é mal feita aqui, ou se eles não são bem tratados, voltam com uma imagem péssima! Então eu tomo um cuidado enorme, faço tudo o que puder... já paguei muitas recepções do meu próprio bolso. E não cobro de volta nem me arrependo: faço pensando não em mim, mas na imagem da Instituição”, ressalta.

Toda uma vida de dedicação rendeu muitas homenagens a esta londrinense. A mais expressiva foi o recebimento da “Comenda do Tesouro Sagrado Raios de Ouro com Roseta”, entregue pelo imperador do Japão. Honra com qual sua mãe já havia sido contemplada anos antes, em reconhecimento ao seu não menor empenho em ajudar as duas nações. Uma raridade: a maioria dos condecorados é composta por homens e dificilmente de gerações seguidas da mesma família. “Essa homenagem me deixou muito honrada e agradecida, mas nem acho que sou merecedora...”, diz humildemente.

E em meio a tantas atividades sobrava tempo para a família? “Claro que sim. Sempre me preocupei em garantir a qualidade do tempo que passava com meu marido e meus filhos. Gostávamos muito de passear, ir para locais com muito espaço e verde...”, responde.

Estela permanece com sua agenda repleta de atividades. Aguarda o fim da atual gestão da Universidade para entregar o cargo, exercido com muita dedicação e empenho. Mas, adverte, não planeja ficar

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parada: “Eu acho que não vou parar não! Enquanto eu ainda estiver bem, com condições de trabalho eu continuo! Só mesmo quando alguém disser ou eu mesma perceber que minha cabeça não está mais funcionando...”, diz entre risos.

Pelo visto, o livro sobre a saga dessa nissei, que já se tornou patrimônio vivo da história de Londrina, ainda tem muitas páginas a serem escritas. Que as próximas páginas sejam tão belas e produtivas quanto as que a professora Estela escreveu e que eu tive, aqui, o prazer de reescrever.

Janaína Castro

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Euclides Francisco Salmento

“Em 17 anos trabalhando na Universidade, só me atrasei cinco minutos. Sabe o que é isso?” Assim se inicia a conversa com Euclides Francisco Salmento. Já é possível perceber o imenso orgulho e dedicação que ele tem pelo trabalho. Na verdade, as palavras não são tão necessárias diante da imagem de seo Euclides; basta um olhar mais atento: curvado pelos anos, as mãos bastante calejadas, a pele sofrida e o carrinho de papelão estacionado na varanda.

Aos 82 anos, com muita disposição, sai todas as manhãs na esperança de um “dinheirinho a mais”. No entanto, não é só a necessidade de complementar a renda. Seo Euclides precisa trabalhar, fazer algo: “Se eu paro eu morro, eu adoeço, duro pouco”. Em função do trabalho viveu e vive ainda. Começa a narrar sua história omitindo a infância e a adolescência. Como se ela realmente começasse com o primeiro emprego. Fala com tanto orgulho dos anos dedicados à Universidade e a outras ocupações que até emociona.

Seo Euclides repete a história de vida de muitos nordestinos: em 1953, quando “era moço”, veio sozinho para o sul em busca de melhores oportunidades. “Lá não era ruim, mas todo mundo dizia que aqui era melhor. E é. Aqui nunca me faltou nada, criei meus oito filhos tudo aqui”, relata.

Começou a trabalhar na UEL porque ouviu falar que na Universidade tinha serviço. Seo Euclides não rejeita serviço e não se incomoda em perguntar para quê. Mostrou-se interessado pela vaga e foi “ajustado”. Quase não conseguiu, não queriam contratar pessoas que não soubessem ler e escrever. Mas, seo Euclides teve sorte, acabou sendo “ajustado” mesmo sem os requisitos e por uma única razão: “Eu trabalho, tudo que manda fazer, faço”. Sendo assim, no dia 27 de janeiro de 1980 começou a trabalhar na UEL. A princípio como jardineiro, depois tomando conta das estufas: “plantei toda

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sementinha, até de carrapicho. Eram seis estufas, e eu nunca deixei morrer um pezinho de árvore de jeito nenhum. Porque se eu deixasse morrer um ou dois pezinhos, a professora perdia quase um mês de estudo”, diz, enfático. Seo Euclides plantava, cuidava e carregava água em lata, nas costas, para preservar as plantas.

Ele conta orgulhoso que insistiu na prefeitura do campus para instalar água perto das estufas: “Tudo foi eu que pedi, tudo que precisava lá eu fazia, nunca teve defeito”.

Histórias é que não faltam... sobre trabalho. Conta que quando foi se aposentar o gerente do “banco do calçadão” perguntou a ele se sabia quantos dias havia “perdido” ou faltado na universidade. Seo Euclides respondeu humildemente que não perdeu nenhum. “Eu trabalhava de dia e de noite. Não tinha guardas (no período diurno), nem nada, eu ficava até oito horas, enquanto não chegavam os guardas (noturnos) eu não saía de lá. Trabalhei dia de domingo e em todo canto”. Até domingo, porque era preciso por “sentido” nos passarinhos, cuidar para que eles não comessem as plantinhas e destruíssem os trabalhos dos professores.

“Eu guardava tudinho. A metade da limpeza da Universidade, quando ela comprou a fazenda, passou tudo por essas mãos, eu fiz tudo aquela curva de nível do lado de lá, eu fazia, com a enxada”.

Hoje, só um motivo faz com que Seo Euclides fique em casa: “Papai não gosta de chuva”, confidenciou o primogênito. Será por quê? Na atividade atual do seo Euclides é difícil trabalhar com chuva. Existe outra possibilidade. Foi ela que causou o atraso, aquele de cinco minutos: “eu saí daqui na carreira, na hora tava chovendo muito e eu parei no ponto de ônibus e me atrasei”.

Mas, deixando as tristezas de lado ele confessa: “Eu tô bem contente, eu quero bem a menina, o menino, o homem, a mulher. Nunca desejei mal a ninguém. E depois de velho tô mais bem do que quando eu era moço”.

Léia Dias Sabóia

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Francisca Soares Felizardo

Os 22 anos de trabalho na Universidade foram cuidadosamente arquivados. Certificados, portarias, cartões de aniversário e outros atestados comprovam uma vida dedicada à UEL. Com 82 anos e muita energia, Francisca Soares Felizardo recorre a essas provas reais para contar a sua história.Francisca nasceu em Taubaté (SP). Morou em Sorocaba, na Penha, em Primeiro de

Maio e Sertanópolis. De Sertanópolis, Francisca, o esposo e as três filhas pequenas mudaram-se para Londrina. O ano era 1952.

Francisca já lecionava. Ela foi nomeada professora do Estado em 1945. “Naquele tempo não precisava ter curso normal para lecionar, um pouquinho que soubesse já era suficiente. Não tinha professor”. Mas, em Londrina, concluiu os estudos. Francisca lecionou no terceiro grupo escolar, hoje Escola Estadual Evaristo da Veiga: “Eu gostava muito de lecionar”, confessa.

Antes de começar a trabalhar na UEL, Francisca foi requisitada para o serviço eleitoral. E, tempos depois, foi novamente requisitada para trabalhar na Faculdade de Direito. “Ainda não era universidade. Funcionava no Hugo Simas. O Dr. Nilo (Nilo Ferraz de Carvalho) era o diretor da Faculdade de Direito, tinha a Leslie. E depois foi criada a Universidade”, relembra. “A Leslie foi transferida para o campus, e eu fiquei como substituta dela. Aí quando me aposentei como professora do Estado, o Dr. Ascêncio Garcia Lopes me nomeou como secretária”.

“Nós fomos para o campus. No CESA só tinha um pavilhão, e ainda era incompleto”. Enquanto a obra era terminada, ela trabalhava na secretaria: “Era uma barulheira; às vezes, era difícil trabalhar”. O cargo de Francisca era de confiança, e sempre que havia novas administrações, ela o colocava à disposição. “Mas, nunca aceitavam e até me aposentar fiquei lá”, conta, orgulhosa.

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O caminho para chegar à Universidade, segundo Francisca, era literalmente tortuoso. “Daqui até o campus era só poeira, não tinha rua. Você tinha que dar uma volta enorme. Tinha uns professores que atravessavam as fazendas para chegar à Universidade. Passavam aperto para chegar lá, nas fazendas tinha gado, imagina”.

Superar todas as dificuldades é motivo de orgulho para Francisca. E se alguém ousa falar mal da Universidade, ela já se põe na defesa: “Eles não conheceram o início da Universidade. Eu acho que o Dr. Ascêncio foi um herói. Quando ele foi para lá a sala dele era de chão batido, um armarinho e uma mesa simples. Ele lutou até conseguir tudo”.

Trabalhar naquela época também era muito diferente. Internet e computadores não existiam, a máquina de escrever é que auxiliava as secretárias. “Os mapas de notas, aquele movimento de secretaria, era tudo feito manualmente. Tudo, tudo. Nós passávamos a nota, passávamos a presença”. As médias dos alunos eram calculadas pelas secretárias, uma por uma, manualmente. “Hoje é uma maravilha a UEL, os computadores e a Internet”.

Outro fato marcante na história de Francisca foi sua participação no projeto Universidade Aberta à Terceira Idade, o Unati. Foi aluna da primeira turma. O projeto tinha como objetivo proporcionar condições favoráveis à comunidade universitária da UEL: docente, discente e população idosa de Londrina e região, para a construção de conhecimentos aprofundados sobre o idoso na sociedade moderna e em nossa realidade brasileira. Ela estudou de 22 de setembro de 1994 a 04 de julho de 1996. “Foi um curso muito bom. Uma turma bem grande. E nós tínhamos muitas matérias, de diferentes cursos”. Francisca está aposentada desde 1992. Atualmente, faz trabalhos voluntários e participa de reuniões com as amigas.

Léia Dias Sabóia

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Direto do Ceará

Francisco Alves Pereira veio do interior do Ceará para ajudar a construir a UEL. Entre idas e vindas, três períodos de dedicação à Universidade e a satisfação de se aposentar aqui

Nascido na cidade de Crato, interior do Ceará, o motorista Francisco Pereira já era casado e tinha três filhos quando resolveu tentar a vida no Paraná, em 1964. “Vim no pau-de-arara: a carroceria de um caminhão com uma lona em cima, cheia de gente... demorou dez dias pra chegar”, lembra. Quem o trouxe para o sul do país foi um antigo patrão que tinha família por aqui. Depois o patrão voltou para o

nordeste, mas Francisco não quis retornar do mesmo jeito que chegou e resolveu ficar.

O primeiro local em que morou foi o distrito de Guaravera. Foi um tempo difícil, pois não havia emprego para motorista. “Tive que trabalhar na roça, mesmo sem saber! Fiquei um tempo na lavoura do café, mas toda semana arranjava um ‘troquinho’ para ir pra Londrina procurar emprego”, explica.

A primeira oportunidade veio graças a uma coincidência. Francisco encontrou em Londrina o médico Dalton Fonseca Paranaguá, secretário do Hospital de Tuberculose e candidato à prefeitura da cidade. “Eu conhecia a família dele lá do Piauí, aí fui conversar com ele e consegui uma vaga de motorista de ambulância no hospital”.

“Foi em 1969, meu primeiro emprego com carteira assinada aqui no estado”. Em 1971, o antigo Hospital da Tuberculose deu lugar ao Hospital Universitário, inaugurado em 1º de agosto. Este foi o primeiro vínculo de Francisco com a UEL.

A chegada ao campus universitário foi em 1975, quando muito da atual estrutura ainda não existia. “Quando cheguei aqui, não tinha

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isso tudo não. Era só o prédio pequeno da Reitoria, o banco do lado (Banestado) e o CCB. O resto era só mato, cafezal e terra”, afirma.

E aqui começa a participação deste cearense na construção de grande parte dos prédios que hoje compõem a UEL. Francisco dirigia o único caminhão que a Universidade possuía na época e trouxe toda a areia para os novos prédios do campus. “Eu também tinha que descarregar a areia com a enxada. Não tinha esses caminhões de hoje que derrubam tudo para o chão. Era no braço, com muito suor. Ajudei a levantar o CCE, CCH, setor de transporte, almoxarifado, Hospital Veterinário, CTU, CEFE... Tudo!”, orgulha-se. O motorista trazia também tambores de água para misturar a massa com a areia e o cimento.

Depois do trabalho nas obras, Francisco iniciou um período de “idas e voltas” da UEL. Primeiro recebeu uma proposta da Empresa Transportes Coletivos Grande Londrina para receber um salário maior e aceitou. Mas logo se arrependeu, pois não gostou do trabalho na empresa. “Pedi para voltar para a UEL e me aceitaram. Naquele tempo, ainda não tinha concurso público, era ‘apadrinhamento’. Então eu consegui a vaga”, conta. Mas, o motorista sairia novamente, desta vez para trabalhar na Viação Garcia. “Na Garcia, foi ruim porque eu tinha que trabalhar à noite e não conseguia dormir de dia. Aí eu ficava muito cansado. Saí de lá e tentei abrir um negócio com minha esposa, uma fábrica de lingerie, mas não deu certo”, conta.

Foi quando surgiu o concurso público para preencher as vagas na UEL. Francisco, já estava com 60 anos, mas conseguiu passar no concurso e voltou a ser motorista da Universidade. Desta vez não quis sair mais. “Trabalhei mais 10 anos. Pegava ônibus, caminhão, viajava. Durante a semana entregava malote dentro da UEL e nos setores fora também (Casa de Cultura, Museu Histórico, Colégio Aplicação)”, comenta. E não fugia do trabalho, como ele mesmo conta: “Tinha motorista que sumia na sexta-feira à noite para não pegar serviço no fim de semana. Eu era diferente: perguntava se alguém ia precisar de mim! E queria que precisasse!”, garante.

Quando fez 65 anos, Francisco foi “convidado” a se aposentar pelo tempo de serviço. Mas o bem-disposto cearense não queria parar de trabalhar e continuou até o limite dos 70 anos, em 2006. Aí, não

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teve jeito, apesar da vontade, Francisco não pôde continuar. “Eu pedi muito pra ficar. Dizia ‘estou tão bem de saúde, deixa eu continuar, não quero ficar em casa à toa!’. Mas não adianta, depois dos 70 não dá!”, lamenta.

Mas não foi a aposentadoria compulsória que deixou o animado Francisco desocupado. Ele ainda tinha uma “carta na manga”: “Fiquei bem porque sou músico e logo consegui um contrato com a Prefeitura de Cambé pra tocar pro pessoal da terceira idade”. E qual instrumento ele toca? A lista é grande: “Lá eu toco cavaco, violão e sou o vocalista. Mas também sei tocar pandeiro, triângulo, sanfona, bumbo... pode trazer que eu toco!”, desafia.

Os companheiros de trabalho dos tempos de UEL também conheceram os dotes musicais de Francisco. Ele sempre trazia um violão ou cavaquinho e fazia a festa na hora do almoço. Era convidado certo para tocar nas festas de fim de ano dos setores da Universidade. Um detalhe que ele faz questão de ressaltar é que nunca teve um professor de música. “Aprendi a tocar ainda menino lá no Ceará. Tinha uns nove anos e olhava os músicos tocando. Ficava observando e quando chegava em casa fazia igual!”. A história rendeu até reportagem de TV. Na época do Festival de Música, Francisco participou de um desafio: foi chamado para tocar junto com um estudante do curso de Música da UEL. E ele não perdeu a oportunidade de mostrar seu talento: “O pessoal da TV foi lá e eu toquei tudo que levaram. Depois quando perguntaram para o rapaz o que ele achava, ele disse: ‘Eu já tô com cinco anos de estudo e não faço o que ele faz!’, aí eu fiquei todo cheio de razão”, comemora.

Hoje, para alegria de Francisco, o antigo hobby virou trabalho: “É uma coisa que eu gosto, acho que se eu não tocar eu fico doente! Eu não paro: no fim de semana toco em aniversário, casamento, festa de criança, onde me chamarem. Eu cobro mais barato porque não sou profissional, então a concorrência perde!”, revela.

Mas a saudade da UEL é grande e Francisco nem tenta esconder: “Fiz muitos amigos aqui. Por isso já deixei minhas contas aqui e venho receber na UEL já para ter um ‘pézinho’... todo mês pelo menos um dia venho aqui! Sempre chego na hora do almoço pra encontrar o pessoal do transporte e jogar ‘snooker’ com eles, igual quando eu trabalhava”, diz empolgado.

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A saudade é digna de quem ajudou a construir muitos prédios, passou tantos anos dirigindo de um lado a outro do campus, e que se pudesse, mesmo aos 72 anos, não pensaria duas vezes antes de voltar: “Aqui é minha casa! É um lugar que a gente não esquece, o melhor emprego que eu já tive. Me arrependo das vezes que eu saí, mas tive a sorte de começar e terminar aqui. Gosto tanto que até hoje se me desse serviço eu trabalhava com todo o prazer!”, diz, ainda com esperança de poder retornar aos dias de trabalho por aqui. Infelizmente não é possível, mas somos todos gratos pelos anos que o senhor já trabalhou e que são parte da história da UEL.

Janaína Castro

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Professor nordestino

Geir Rodrigues, professor do Departamento de Educação do CECA, chegou com a família na cidade no começo de Londrina e lecionou na Universidade até completar 70 anos

Sergipano, Geir Rodrigues é uma pessoa do tipo que gosta de conversar e tem muita história a contar. Da mudança para o sul do Brasil, - quando tinha seis anos de idade - para Ourinhos (SP) e em seguida para Londrina, o professor ainda tem recordações. A família era de Propriá, Sergipe, e teve que sair fugida do bando de Lampião. A viagem, na época de poucas estradas no interior do país, foi de navio, todo equipado, é claro, com redes de dormir.

Como pioneiro desta nova terra, o pai da família teve que começar outro emprego para sustentar os seis filhos, dos quais Geir é o quarto, consertando trens. Geir, apesar da pouca idade, lembra de como era a região de Londrina quando chegou, com muitas árvores e ícones, como o sino da igreja: um triângulo feito de trilhos de trem que está no Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss.

Geir teve a oportunidade de receber o diploma do primário pelo Colégio Mãe de Deus em 1944, apenas um ano antes do colégio passar a aceitar apenas meninas. Da época, ele ainda conserva fotos das turmas reunidas em frente às escadarias da escola. O ginásio também foi em outro tradicional colégio da época, o Vicente Rijo, que se localizava onde hoje é o Colégio Estadual Marcelino Champagnat.

Durante os últimos anos do ensino fundamental, Geir e colegas jogavam pingue-pongue no salão da Igreja Matriz de Londrina. As aulas acabavam e eles iam para lá, onde os laços com a religião católica se estreitaram até que em 1955 ele entrou para o seminário.

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Foram anos de seminário. Geir cursou Filosofia e Teologia em Curitiba e foi ordenado padre. O trabalho o levou da grande São Paulo a Santa Catarina, até que, a vontade de se casar, fez com que ele saísse, embora nunca abandonasse a religião e os trabalhos. Tanto que, quando voltou a Londrina foi responsável pela missa universitária e participou do movimento religioso para construção da capela na UEL.

Quando deixou o sacerdócio, começou o ofício de professor pelo estado do Paraná. Em Marumbi lecionou Língua Portuguesa e Educação Moral e Cívica, enquanto em Arapongas e em Londrina assumiu aulas de Filosofia e de Estudos de Problemas Brasileiros no ensino superior. Para estes alunos, Geir gostava de apresentar instituições de ensino técnico, como o Ipolon, o Senai e a extinta escola técnica da empresa Carambeí. Também foi com alunos 14 vezes à Usina Hidroelétrica de Itaipú.

Na UEL foi lotado no Departamento de Educação - CECA. Ele relembra da participação no projeto Rondon em Limoeiro do Norte (CE): “Era uma boa experiência, os alunos cruzavam o Brasil para ir para os campi avançados.” Assim como o dia do pioneiro promovido no mês de agosto, do qual Geir foi coordenador em parceria com o Museu Histórico.

Para Geir a Universidade não era apenas sala de aula, mas um meio para se conhecer pessoas. “O que eu conheci de pessoas por meio da UEL...”, recorda. E, com certeza, parte destas o professor conheceu graças ao coral da UEL, do qual participou por 25 anos. Com o coral vieram as viagens, entre elas a apresentação - com quase 90 participantes - na sala Cecília Meirelles no Rio de Janeiro, que rendeu ao grupo o segundo lugar na classificação.

E depois de tantas histórias vividas na Universidade e carinho sentido por ela, o professor foi obrigado a se aposentar quando completou 70 anos no ano 2000. Por um tempo Geir ainda continuou lecionando em outras instituições até achar que está “esquecediço” para o ofício. Se fosse antes, ele diz com convicção, “eu continuaria sim, nós temos muitos aposentados, muitos intelectuais à deriva. No apogeu do seu conhecimento você é convidado a se retirar”.

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Hoje, o professor que chegou quando a cidade começava a se formar, relembra a tranquilidade do povo em: “uma cidade pequena, mas com pessoas de coração grande.” Geir acredita que o Hino de Londrina consegue transmitir bem o que ela era. Da UEL, a grande recordação é de uma família, com todos aqueles que lutaram para a implantação da Universidade.

Poliana Lisboa de Almeida

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Genival Ross

O professor Genival Ross começou a lecionar logo após concluir o curso superior de Economia na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Era 1964 e, juntamente com outros três formandos, assumiu turmas no norte do estado. Ele conta que o decreto que o nomeou estava assinado pelo ex-governador Ney Braga. Dois professores foram para a Universidade Estadual de Maringá (UEM); ele e outro colega foram para a

Faculdade de Ciências Econômicas de Apucarana (Fecea). Os novos professores estavam assumindo novas disciplinas criadas com a reformulação do currículo dos cursos.

Ross morava em Apucarana e dava aulas na Fecea quando, em 1971, o diretor da Faculdade de Ciências Econômicas de Londrina, Odésio Franciscon, convidou-o para prestar o concurso para a faculdade. Ele lembra que quando começou a dar aulas em Londrina “a Faculdade de Ciências Econômicas funcionava no teatro da Unifil”.

As faculdades de Londrina se unificaram e formaram a Universidade no final de 1971. Com o tempo, o curso de Ciências Econômicas foi para o Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESA) – já no campus da UEL - e o professor Ross continuava no percurso Apucarana – Londrina.

Na cidade de Apucarana estava grande parte da vida do professor. Além do trabalho na Fecea - como professor e três vezes chefe de departamento -, lá Ross trabalhou em cargos de confiança na política durante três mandatos de diferentes prefeitos, sendo secretário de planejamento e secretário de administração. Foi também na Cidade Alta que o professor se casou no ano de 1968.

Atuando nas duas cidades, Ross acredita que a Universidade Estadual de Londrina se sobressai a de Apucarana em sua área por causa dos professores mais jovens e mais qualificados. Era comum um

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professor daqui dar aulas lá, ele foi um dos poucos que fez a trajetória inversa.

Mas no início da década de 1990 Ross se aposentou na Fecea e, como continuava a dar aulas na UEL, mudou-se para Londrina. A mudança diminuiu os riscos a que o professor estava exposto nas estradas da região, que antes eram estreitas, onde ele já enfrentou tempestades e outros perigos.

Em 1995 o professor aposentou-se na UEL, mas prestou concurso em seguida e voltou a dar aulas na Universidade. Ross lecionou Economia nos cursos de Direito da Unopar e da Uninorte. Porque “toda a vida gostei, me encontrei dando aula e sou disciplinado para a preparação delas”, afirma.

Desde 2007, Genival Ross é “só aposentado”, como ele diz. Faltava um ano para o professor completar 70 anos e então teria que parar. “Já cumpri a minha função, agora tenho que deixar para os mais jovens. Temos que ter um limite, saí satisteito”. A vida de aposentado de Ross é ocupada com os seus cinco netos (dos três filhos que teve) e também com atividades da igreja. “Dá para preencher o tempo”, brinca o professor.

Poliana Lisboa de Almeida

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Georfrávia Montoza Alvarenga

Era de 1949 e eu, segunda de quatro filhos, nascia em Londrina, no tempo da terra vermelha sem asfalto, filha de um pequeno agropecuarista, classe média de postura educacional rígida. Família pequena, a segunda, irmã de duas mulheres e um homem. Até os sete anos criada na zona rural em contato com a natureza, assumindo pequenas tarefas determinadas por meu pai ou minha mãe, o que me fez valorizar desde cedo o trabalho. Aprendi as primeiras letras e números com a minha mãe que

com paciência fazia da sala de jantar um “jardim de infância” composto também por árvores e flores que rodeavam a casa.

A ideia de produtividade veio da força de ambos, meu pai e minha mãe. Ele na “lida” com a terra, ela na “lida” com a casa, filhos, alimentação...

O trabalho era a fonte da produção e mesmo os afazeres domésticos eram valorizados como se cada um de nós fosse um elemento de uma equipe.

Aos sete anos fui para a escola. Escola religiosa, professora brava, seção A. Sim, pois quem entrava em abril como eu, começava na seção A, dos fracos. À medida que tivesse boas notas passava a seção B. Posteriormente à seção C dos “sabidos”.

Durante os quatro primeiros anos de escola fui aluna regular, mas lia maravilhosamente em voz alta quando da solicitação da professora. Acho que isso me valeu ser escolhida como oradora da turma na formatura.

Este evento fez nascer uma nova Geo, que ruborizava e morria de vergonha, mas vestia uma armadura e ia...

Aprendi cedo ser estudiosa ou aparentar ser. Boa parte das vezes havia um gibi no meio do livro que eu “estudava”. Estratégia para escapar da vigilância da minha mãe que determinava tempo para as tarefas escolares. De tanto fingir, acabei gostando dos livros. Não de

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Matemática, não de Ciências. Dos gibis para fotonovelas e daí para literatura. Foi natural a “passagem”.

Isto me diferenciava. Na visão dos outros, não na minha. Continuava achando que a profundidade de conhecimento de alguns colegas era majestosamente maior que a minha.

Passei por todas as experiências escolares: castigo, cola, suspensão, solidariedade dos colegas, premiação...

Na juventude minha opção pela Escola Normal como curso de Ensino Médio ao terminar o ginásio foi natural. O destino da maioria das garotas da época era preparar-se para o magistério. Durante o curso que durou três anos fui adquirindo de verdade o gosto por ensinar, ler ainda mais, pesquisar ou bisbilhotar que era o máximo que conseguia fazer na época.

Prestei meu primeiro vestibular para o curso de Pedagogia. Fui aprovada. Curso diurno. Durante os quatro anos frequentei com empenho e prazer. Neste tempo fui presidente do Centro de Estudos Pedagógico e aluna razoável, embora estudasse muito. Prestei concurso para o magistério de primeiro grau, hoje ensino básico e fui aprovada.

Meu batismo de fogo foi uma sala com quarenta alunos de 1ª série. Devo fazer justiça ao afirmar que ninguém está preparado para o real combate ao sair do Ensino Superior. Eu “era” uma alfabetizadora e nem sabia direito o que tinha que fazer. No entanto, ser professora aos 18 anos ensinou-me a ter autoconfiança e o poder extraordinário de lidar com a diversidade. Além disso, ensinou-me participar efetivamente da construção da cidadania e o respeito ao outro no saber que traz consigo ao ingressar no sistema formal.

No espaço Universidade, enquanto aluna, ampliei minha praia. O Campus parecia ser o modelo de comunidade sonhado pela minha fantasia, onde os grandes heróis eram aqueles que se destacavam intelectualmente. Discutir “2001 – uma odisséia no espaço”, “Laranja mecânica”, guerra do Vietnã, discurso de Martin Luther King, tudo era levado a sério. As discussões, no Diretório Acadêmico eram ardentes e utópicas (aprendi esta palavra, neste período – utopia). Era “in,” ler Herman Hesse, Kristnamurth, Huxley, Orwell, Sartre, Simone de Beauvoir, Virginia Woolf, Thomas Mann, Heminguay. Ouvir Gil, Chico, Caetano, Tom Jobim, Vinícius de Morais, Secos e Molhados (meu pai odiava). Assim foram quatro anos. E ao final eu era Pedagoga.

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Fui então, convidada para assumir algumas aulas como substituta de uma professora que entrara em licença na Universidade Estadual de Londrina em 1972. Este sim era o maior desafio (os outros, eu havia superado e não eram mais tão importantes). “Dar aula” para meninas que “até esses dias atrás” eram minhas colegas. Sim, por que a disciplina era Metodologia do Ensino e a turma era o 3º ano do curso de Pedagogia. Eu tinha 20 anos e muitas das minhas alunas eram mais velhas e experientes que eu.

Logo descobri que o “saber” que eu dominava era ínfimo e eu ainda não dava conta da extraordinária ideia de juntar a experiência de sala de aula, dos quatro anos de formação, com aquele mundo real ao qual estava indelevelmente ligada. O problema era o saber fazer.

Aquele pouco tempo em sala de aula mostrou-me mais do que os quatro anos do curso e aguçou o desejo de ir correndo para o Mestrado. E anos depois ao Doutorado... E Pós-Doutorado. E não parei mais de estudar.

Posso dizer sem medo de errar, que boa parte do meu sucesso profissional deveu-se a uma boa formação acadêmica, tanto na graduação como de pós-graduação. Se com meus pais aprendi os conceitos e valores que me acompanharam por toda a vida: seriedade, austeridade, firmeza e determinação, na escola adquiri uma fé inabalável na formação teórica e técnico-científica, respeito pela importância da educação no desenvolvimento do caráter e da personalidade além da obtenção da minha formação profissional.

Perceber muito cedo que existe um sem número de variáveis, incluindo competência, compromisso social e político, redes de relacionamentos, mudou a minha maneira de ser enquanto aprendiz e enquanto professora.

Empenhei-me arduamente no desempenho da tarefa de ser professora. E para isso desenvolvi atividades de ensino, pesquisa e extensão e trabalhei muito no sentido de produzir textos para publicações, fruto de reflexões deste meu momento de “ensinante” e aprendiz.

Estive durante trinta e cinco anos no Ensino Superior, maior parte do tempo na UEL. Uma vida inteira dedicada à causa de ensinar. E ensinar bem. Tive tempo e condições para consolidar o que aprendi

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sobre educação e me promovi à “fase gerativa”, na qual continuo aprendendo, talvez mais sabiamente. Tenho grande satisfação em escrever, relatar minha experiência além de continuar dando parcela de contribuição à formação de futuros educadores nas mais diversas áreas. Durante este tempo todo, não sei quantas vezes me reinventei para compor novos momentos de vida. Enfrentei grandes desafios.

Os dois últimos anos foram utilizados para repensar, desconstruir, reconstruir a mim mesma e as minhas perspectivas profissionais. Porque continuo trabalhando. Mas fiz uma renovação absoluta! Hoje tenho prioridades diferentes das que tive aos 20, 30, 40 anos. Antigas ansiedades desapareceram e deram lugar a uma espécie de calma mesmo nos momentos mais turbulentos. Hoje como ontem e antes de ontem se afirma em mim cada vez mais a certeza que a minha grande glória foi ter gerado e educado dois filhos maravilhosos, Mariane e Fernando, e adotado outros tantos, emocionalmente e profissionalmente.

O sucesso pessoal e profissional que obtive até agora me bastam. Mas continuo na luta pela Educação.

Minha peleja aguerrida envolve outros desejos. Além de vida produtiva contínua, sem cobranças histéricas, sem ansiedades desnecessárias, me empenho cada vez mais na busca de crescimento interior, especialmente no que tange a ser mais “generosa” e viver em PAZ comigo mesma.

Se no futuro eu for lembrada pelos que me conheceram e fizeram parte da minha vida pessoal e profissional como uma pessoa íntegra e decente, ficarei extremamente sensibilizada e orgulhosa.

Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual de Londrina (1971), mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1979) e doutorado em Doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (1989). Pós-doutorado em Psicologia da Educação pela PUC de São Paulo.

Atualmente é professora associada aposentada da Universidade Estadual de Londrina. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Avaliação de Sistemas, Instituições, Planos e Programas Educacionais, atuando principalmente nos seguintes temas: avaliação, portfólio, avaliação formativa, classes especiais e formação de professores.

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Geraldo Carreira Polvora (in memorian)

Nascido em 26/11/1921 - na cidade de Cambará - PR. Quando adolescente, empregou-se como ajudante de cozinheiro na obra de construção da Ferrovia que vinha do Estado de São Paulo em direção a então promissora região do Norte do Paraná e a também constituída cidade de Londrina.Naquela época era comum preparar refeições com carne de animais silvestres como: paca, cotia, veado, capivara, pois havia muita caça.

Era uma época onde tudo estava por fazer: abrir ruas, formar bairros, enfim, sentia-se o enfervecer de uma cidade que brotava para o Brasil e para o mundo.

O tempo passava, e a cidade crescia e Geraldo chegava aos 18 anos indo prestar serviço militar na cidade de Ponta Grossa.

Foi soldado do exército por um ano, sendo inclusive, sido convocado para ir à guerra, o que não aconteceu. Possivelmente, a pedido de sua mãe, Adriana.

Em Ponta Grossa conheceu Izaura, moça de Quatiguá, no norte do Paraná, com quem retornou para Londrina. Casaram-se, tiveram sete filhos, dezoito netos e vinte e dois bisnetos.

Em fevereiro de 1972, começou a trabalhar na Universidade Estadual de Londrina. Aposentou-se em setembro de 1986, mas continuou a trabalhar pela UEL até completar setenta anos de idade, quando foi aposentado compulsoriamente por idade.

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Hélio Corrente

Quem conhece o campus da Universidade Estadual de Londrina, com uma área de 2.355.731,81 m², sabe da distância entre alguns lugares. Quando se está no CECA e precisa-se ir até a reitoria, por exemplo, muita gente sente falta de um transporte. E para atender às inúmeras necessidades de uma Instituição do porte da UEL, é necessário que as trocas de informações sejam rápidas não só no mundo virtual, mas também no mundo “físico”. Por

isso, o transporte de documentos, livros, móveis, eletrônicos, pessoas, entre outras tantas coisas, dos centros para os setores administrativos ou vice-versa, depende da rapidez dos automóveis e, consequentemente, do bom trabalho dos motoristas da Universidade. Quem nos conta um pouco mais deste trabalho tão fundamental é o aposentado Hélio Corrente, motorista da UEL durante 26 anos.

Natural de Parnaso, distrito de Tupã, no estado de São Paulo, Hélio chegou em Londrina com a família por volta de 1945. Seu pai, que trabalhava nas lavouras de café do interior paulista, ao mudar-se para o norte do Paraná, acabou fazendo o caminho inverso de muitos migrantes que chegavam ao estado atraídos pela riqueza do “ouro verde”. O pai de Hélio, ao chegar em Londrina, foi trabalhar nas olarias da cidade, na fabricação de tijolos. E alguns deles, de acordo com o aposentado, ainda sustentam as paredes do Cine Teatro Ouro Verde, no centro da cidade.

Nestes primeiros anos vivendo em Londrina, a família de Hélio morou nos arredores da cidade, que iniciava a expansão de sua zona urbana. As coisas estavam mudando, a família crescia e, assim, o pai de Hélio deixou as olarias e voltou a trabalhar nas plantações de café, mudando-se para o distrito de Lerroville, onde trabalhou no sistema de porcentagem – quando o empregado cuida da lavoura e recebe parte dela como pagamento. Depois de alguns anos e muito esforço,

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conseguiram comprar um sítio na região. Passado um tempo, foi a vez de Hélio adquirir sua própria chácara ali por perto, no ano de 1961.

Primeiros quilômetros Foi nesta propriedade que o aposentado aprendeu a dirigir. A

partir das instruções dos irmãos, que já possuíam automóveis, Hélio aproveitava o sossego das estradas rurais para praticar a direção. Após obter a habilitação, comprou seu primeiro carro, um “Volks 62” – ou seja, um Fusca, ano 1962 –, muito útil em uma região afastada dos grandes centros. “Minha mulher, mais duas ou três vizinhas queriam aprender corte e costura. E lá em Lerroville tinha corte e costura, aí eu colocava elas dentro do volksinho e levava lá em Lerroville”, relembra. Nesta época, Hélio não imaginava que futuramente iria fazer da condução o seu ofício.

Apesar da mobilidade oferecida pelo automóvel, o aposentado precisou voltar para a cidade quando os seus três filhos concluíram o ensino primário na escola rural. “Naquele tempo não tinha o ônibus que tem hoje, que passa pegando os alunos e leva tudo para Tamarana e depois traz tudo de novo”, explica. Para que as crianças continuassem os estudos, Hélio e a esposa decidiram voltar para a zona urbana e foram morar no Jardim do Sol, onde ainda vivem.

Embora não tenha vendido o sítio, que mantém até hoje, o aposentado precisava de uma fonte de renda extra depois que deixou o campo. Assim, Hélio passou a procurar emprego e logo foi contratado para trabalhar em uma moveleira. Após ser dispensado deste serviço, tentou trabalhar como cobrador de uma empresa de transporte coletivo da cidade, mas ainda durante a fase de testes foi indicado para uma vaga em uma fábrica de móveis de aço. Na proposta, o empregador disse-lhe: “Daqui uns dias vão comprar um caminhãozinho e eu passo ele pro senhor”, relembra o aposentado. E foi exatamente o que aconteceu. Depois de trabalhar um período dentro da fábrica, Hélio passou a dirigir o Mercedes 608 adquirido pela empresa, com a responsabilidade de fazer as entregas. Até que uma nova proposta fez com que a Universidade Estadual de Londrina entrasse em sua vida.

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Vencendo distâncias

Por meio de um vizinho, ele ficou sabendo que a UEL iria contratar motoristas e não deixou a oportunidade passar. Foi até a Instituição, levou os documentos, fez os testes e foi aprovado. “A moça falou pra mim ‘Seu Hélio, o senhor está contratado 99,9%’”, diverte-se o aposentado. Era apenas o início de uma carreira não menos brilhante, em que nunca houve reclamações de ambos os lados – da UEL ou do motorista.

Inicialmente trabalhando para a Prefeitura do Campus, o serviço consistia em atender o almoxarifado pela manhã, distribuindo os materiais pelos centros, e a marcenaria à tarde, que, segundo ele, era “buscar móveis quebrados e levar móveis que eles faziam, reformavam e devolviam de novo”, nos departamentos espalhados pela Universidade. Estas eram suas funções cotidianas, mas muitas vezes surgiam outros serviços, como buscar animais nas localidades vizinhas para serem tratados pelo Hospital Veterinário ou transportar materiais e equipamentos durante os festivais de música e teatro, dos quais a UEL, por meio da Casa de Cultura, participa ativamente. Outra função muito importante dos motoristas da Universidade era buscar as provas dos vestibulares – quando estas eram preparadas por uma instituição de São Paulo – e distribuí-las nos locais de aplicação.

Já nos finais de semana, Hélio e os demais motoristas transportavam professores e alunos para outras regiões. Eram estudantes de Geografia, Agronomia, Medicina Veterinária, Educação Física, que viajavam nos finais de semana, nos ônibus da Universidade, para conhecerem diversas formações geológicas, plantações, doenças, ou para competirem em jogos universitários. Todas estas atividades dependiam dos motoristas da UEL. Realizando estas viagens, o aposentado se impressionou com o trabalho da Instituição. “A UEL é tão grande, ela é tão bonita, que faz pesquisa de tudo! Do que você pensar eles fazem pesquisa lá dentro”, comenta maravilhado.

Mesmo estando satisfeito com o serviço da Prefeitura do Campus – “Era muito bom ali, eu gostava demais, gostava demais...” –, Hélio pediu transferência para trabalhar no Hospital de Clínicas (HC)

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da Universidade, onde dirigiu ambulâncias e furgões, que faziam o transporte de pacientes e roupas e prontuários, respectivamente. “O HC é uma extensão do HU [Hospital Universitário, também da UEL], então a gente tinha que levar roupa suja dali para o HU e eles lavavam e a gente buscava no outro dia. Esses Fiorinos [os furgões usados pela universidade] eram para isso. Os prontuários também, tinha que levar todo dia e buscar todo dia”, explica o aposentado. É importante destacar que a distância entre o Hospital de Clínicas e o Hospital Universitário é de cerca de 10 km.

Hora de estacionar Foram 26 anos vencendo estas distâncias, até que, enfim, chegou

a aposentadoria. Ao completar 70 anos, Hélio precisou deixar mais do que o emprego na Universidade. O aposentado deixou para trás sua segunda casa e sua segunda família. “Vinte e seis anos que eu trabalhei lá eu agradeço a Deus até hoje. Eu deixei uma amizade tão grande lá dentro! Eu nunca tive problema mais sério, nunca tive intriga”, avalia. E como grande parte dos aposentados, Hélio só tem elogios para a UEL. “Ninguém te aborrecia, se trabalhava direitinho não tinha problema nenhum. Era muito bom!”.

Além da grande variedade de pesquisas realizadas pela Instituição, Hélio se encantou com a socialização dentro do Restaurante Universitário, onde todo o campus se encontra na hora do almoço. “Ali no restaurante da UEL era muito gostoso. Uma comida boa... Vinha todo o pessoal ali para almoçar e a gente se encontrava lá, sentava nas mesas e batia aquele papo gostoso. Eu achei muito interessante aquilo ali, pra mim foi muito legal!”.

Atualmente, o aposentado se dedica a família e ao seu sítio em Lerroville, que ele define como “uma área de lazer”. Da Universidade, Hélio preserva boas amizades e lembranças e guarda, carinhosamente, o reconhecimento da UEL por seus 26 anos de trabalho, representado em uma homenagem prestada por colegas de trabalho. Na placa que Hélio exibe orgulhosamente se lê: “A Direção do Hospital Universitário e a Gerência do Ambulatório do Hospital de Clínicas agradecem e reconhecem sua conduta exemplar, destacando seu

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senso de responsabilidade, dedicação e respeito aos colegas. Com votos de felicidade em sua vida profissional e familiar”.

Rosane Mioto

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Hélio Paula Vieira

Religião e educação são assuntos que fascinavam Hélio Paula Vieira. O menino natural de Castro era muito comunicativo e tinha prazer em ouvir e aconselhar. Quem conta é Laudiceia Paula Vieira. Hoje ela é a memória do esposo que está debilitado por uma doença. Os anos de vida conjunta lhe proporcionam este direito. Hélio morou em Castro até os

11 anos. Ele estudava no Instituto Cristão de Castro. Depois morou com a família em Nova Dantzig, atual cidade de Cambé. E estudava em Londrina, no Colégio Vicente Rijo. Concluiu o ginásio e foi para Campinas. “Ele fez o curso de Teologia, por cinco anos. Depois voltou para o Paraná e pegou (para dirigir) uma igreja em Jaguapitã. Essa foi a primeira igreja que ele foi pastor”.

Na volta ao Paraná, Laudiceia e Hélio já estavam casados. “Nos casamos no dia 28 de março de 1959”. Em 1962, vieram para Londrina: “Eu morava na rua Borba Gato, onde hoje é o Zerão. Naquele tempo era do lado do Pito Aceso. Era uma favela, que tinha esse nome”. Alguns anos depois, o casal foi morar próximo à avenida Bandeirantes. “Naquela época só tinha mato, não tinha o hospital. Fomos os primeiros a comprar data lá”, relembra.

Logo que se mudou para Londrina, Hélio resolveu estudar. Fez História na Faculdade de Filosofia. “Ele foi colega de Álvaro Dias”, conta a esposa. Em seguida, Hélio teve a oportunidade de ingressar na ESG - Escola Superior de Guerra. Ele foi aprovado em primeiro lugar e passou a ser pastor representante da Igreja Presbiteriana do Brasil na ESG. “Ele ficou um ano morando no Rio de Janeiro, estudando lá. Eles viajavam o Brasil inteiro conhecendo as capitais e as cidades principais, naqueles aviões da FAB (Força Aérea Brasileira). Era uma turma

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grande e boa. Cada pessoa representava um item, de uma determinada instituição”.

Assim que voltou do Rio de Janeiro, em 1977, Hélio teve outra oportunidade importante: um convite para lecionar na UEL a disciplina de Estudos dos Problemas Brasileiros (EPB). Hélio não recusou: “Ele sempre gostou muito da UEL. Os alunos eram bem comportados e gostavam da matéria. Apesar de ser uma época de ditadura, ele sempre dava a oportunidade para todos os alunos falarem. Ele sempre foi uma pessoa muito aberta”.

A esposa se lembra da UEL e das dificuldades do início. “Era longe, tinha aquele monte de árvore, era bonito, mas tinha muito mato”.

Hélio também foi atuante e dedicado a sua religião. “Ele foi 14 vezes presidente do Presbitério de Londrina. Tomou conta de igrejas, construiu doze templos”. E também foi um dos fundadores do curso de História em Mandaguari. “Ele trabalhou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Medicina de Mandaguari”. Lecionou por 30 anos. “Fazia essa viagem de ida e volta três vezes por semana”.

Hélio está aposentado desde 1996. As muitas atividades que tinha acabaram se encerrando no mesmo período. Hoje, devido a um problema de saúde, ele não se recorda mais delas.

Léia Dias Sabóia

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Henrique Alves Pereira Junior

Os 81 anos de Henrique Alves Pereira são marcados por experiências bem diversificadas. A memória não falha. E ele relata com grande riqueza de detalhes a sua longa jornada. Henrique é mineiro, natural de Mirai. O pai era médico na cidadezinha. E boa parte da família também. “Eu pertenço a uma família de médicos”. Só por essa razão já fica fácil saber qual seria a profissão adotada por ele. Não bastasse toda esta influência, a mãe também contribuía: “Eu ouvia ela dizer que queria que todos

os filhos homens fossem médicos”. E que assim seja, não sem antes duvidar: “Pensei em fazer Odontologia ou Química”.

A dúvida não persistiu e, certo do que queria, Henrique partiu para o Rio de Janeiro para estudar Medicina. “Saí de Juiz de Fora e fui fazer vestibular no Rio, naquela época era a cidade-referência para os mineiros daquela região”. Foi aprovado no ano de 1948 na Faculdade Nacional de Medicina. “Eu costumo dizer que se eu não fosse médico, eu seria o homem mais frustrado do mundo. Não me vejo fazendo outra coisa. Sinto prazer em ser médico”, conta, orgulhoso.

Quando Henrique estudava Medicina as coisas eram bem diferentes: “Não existia residência médica. Antigamente, durante o seu próprio curso você fazia sua prática profissional. Eu saí da faculdade sabendo tudo que eu sei: sabia operar, sabia fazer parto, pediatria. O que necessitava para o atendimento da população eu sabia fazer”.

Henrique é contrário à tendência atual de especializar-se: “O grande erro da Medicina é este. O médico bem-formado tem condições de resolver, pelo menos, 85% das necessidades básicas do atendimento médico da população”. Para ele, no Brasil, acontece errado. “Estamos formando especialistas para não ter o médico geral, por isso temos esses problemas todos”.

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Mas, apesar da critica, Henrique considera fundamental a existência de especialistas. “O problema é que eles têm deixado de ser especialistas para atender os problemas gerais. Vão acumulando, você vê um monte de gente aqui no neurologista, sem precisar de neurologista”.

Enquanto Henrique estudava no Rio de Janeiro, a família veio para o interior do Paraná, em Ibiporã. E, assim que se formou, ele também decidiu viver no estado paranaense. Henrique conta que em Ibiporã já tinha muitos médicos. Então, seguiu para o norte-novíssimo do estado. “Jussara concentrou todo este movimento do norte-novíssimo. E depois começou a aparecer Cianorte, Terra Boa, Umuarama. E eu fiquei naquela região”.

Foi na cidadezinha de Terra Boa, que Henrique tornou-se político. “Sempre fui homem de opinião política, talvez pela minha condição, ou pela minha profissão”. Terra Boa era formada, segundo Henrique, por mais de mil pequenas propriedades rurais. “Eu e o meu irmão trabalhávamos dia e noite para dar conta de atender toda a população”.

Ser prefeito nunca tinha sido cogitado por Henrique. “Fizeram uma pressão muito grande para eu ser político, estávamos passando por um momento de grande politização”. Henrique foi eleito em 1963, e seu mandato foi prorrogado até 1969. Ele brinca dizendo que deve ter feito um bom trabalho, já que foi homenageado pela cidade com os títulos de cidadão honorário e benemérito. “Depois que eu fui prefeito, isso não só me alicerçou na profissão, como também expandiu minha visão de uma maneira extraordinária”, afirma.

Depois que terminou o mandato, recebeu propostas para prosseguir na política. Mas, ele queria era exercer a Medicina. Surge então outra grande oportunidade: lecionar. “Estava no consultório, peguei o jornal e vi que a Universidade estava se instalando em Londrina. Resolvi prestar concurso”. Passou em primeiro lugar, revela, modesto.

Henrique também nunca havia pensado na possibilidade de ser docente. “Nunca imaginei, eu queria ser só médico”. Vida atuante também na Universidade: em 1982, foi coordenador da Comissão de Reforma Curricular do Curso de Medicina (comissão constituída também por docentes da área médica; comissão pedagógica da

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reforma formada pelo Prof. Tomasi, Prof. Dorival Perez e Profa. Vera Echenique); presidente da Comissão de Ética do Hospital Universitário (HU) por várias gestões; idealizador e coautor do código de ética do estudante de Medicina; coordenador e organizador das disciplinas de Semiologia e Clínica Médica, por vários anos; e médico perito do HU. De 1970 até 1994, ano em que se aposentou, todos os médicos foram seus alunos.

Henrique é orgulhoso quanto à profissão e pelo fato de ser médico de formação completa: clínica médica, cirurgia geral, obstetrícia e medicina legal. Relata que o Código de Ética do Estudante de Medicina da UEL é oficial e foi aprovado por uma Resolução de 09 de setembro de 1992. Aposentado há 14 anos, tem a agenda sempre cheia. E continua fazendo o que mais gosta: Medicina.

Léia Dias Sabóia

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Hideo Nakayama

“Meu sonho era ser hippie e conhecer o mundo. Fui covarde o suficiente para não realizar”. O professor Hideo Nakayama, que gosta de discutir a economia do país e questões políticas, surpreende com a declaração. Professor de Ciências Contábeis, aposentado há dez anos, é assim: surpreendente. Ele conta que lecionou por 22 anos, mas que não se sente nada bem ao falar em público, e esse é ainda seu maior medo. É contraditório.

Entretanto, ele tem um motivo: “Era um desafio pra mim, eu me dediquei ao máximo. Na realidade, era para me superar. Por isso, dei aula de 15 matérias diferentes. Apostei de todos os jeitos para tentar ser um bom professor”.

Hideo morou em São Paulo por cinco anos. Todavia, é paranaense, nascido em Rolândia. Com um ano de idade mudou-se com a família para São Paulo. Da experiência ele não guarda nenhuma recordação: “Eu era muito menino”. Já a infância vivida em Londrina está bem presente na memória, lembra-se com exatidão das ruas onde morou, do caminho que percorria para chegar à escola, dos amigos e das brincadeiras. As ruas, na cidade dos fins da década de 1940, não possuíam calçadas: “Era tudo barro. Calçada era só no centro da cidade, e ainda era de paralelepípedo. Não tinha esgoto. A água era meio encanada, só depois fizeram tudo certo. Eu acompanhei a vida de Londrina.”

Com seis anos de idade, Hideo começou a estudar na escola Japonesa, campo da ACEL, a primeira escola nipônica de Londrina. Segundo ele, para chegar até lá era preciso atravessar um pasto. Na escola japonesa, Hideo aprendia a língua e a cultura de seus ancestrais. Em 1951, entrou para o grupo escolar, o primário (1ª a 4ª), do Colégio Hugo Simas. “Meu pai tinha uma quitanda, nós levávamos frutas para a escola. Dividia com os colegas e, às vezes, até tentava comprar a

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amizade deles, acontecia isso”, relata, divertindo-se com os próprios pensamentos infantis. Depois de ser aprovado no exame de admissão, cursou no Vicente Rijo o ginásio (5ª a 8ª). A próxima etapa foi a escola técnica ou colegial (ensino médio), no Colégio Londrinense. Ali Hideo começou a aprender contabilidade. Na verdade, algumas coisas ele já vivenciava no escritório comercial, onde foi contratado, antes de começar o curso técnico. Hideo começou na função de “boyzinho”, e logo aprendeu a fazer escrituração fiscal e escriturações contábeis.

Por dois anos trabalhou no escritório. Depois, na Viação Garcia, onde ele afirma que realmente aprendeu contabilidade. Aos 19 anos foi chefe de escritório do Armarinho Paulista. Em seguida, subgerente em uma cervejaria. Em 1964, quando já estava formado no curso técnico, foi contador de um grande grupo, a segunda maior empresa do Paraná. Ainda trabalhou como auditor externo e interno.

O professor conta com detalhes a função desempenhada enquanto assessor e auditor interno do grupo Paulo Pimentel: “Fui contratado para assumir e receber a TV Coroados, em 1963. A experiência foi boa, eu nunca tinha visto uma televisão por dentro.” Ele lamenta o término dos programas ao vivo. “A TV Coroados tinha, por exemplo, o palhaço Picolino. Para economizar, financeiramente, foram tirados do ar.” O espaço, Hideo conta que foi ocupado com as fitas estrangeiras, os enlatados, no jargão jornalístico. Aliás, o campo do jornalismo é velho conhecido de Hideo. Outra experiência importante foi a inauguração do jornal Panorama, de vida curta, apenas 10 meses, formado por um grupo de excelentes e renomados jornalistas. Segundo Hideo, o jornal não resistiu às contas e por motivos financeiros faliu. “O prédio, onde hoje fica o Banco do Brasil, na Tiradentes, foi construído para abrigar as instalações do jornal”. Ele afirma que foi a primeira pessoa a abrir o jornal, na inauguração, e depois de pouco tempo teve a difícil tarefa de fechar as portas.

A experiência profissional de Hideo é extensa. Atuou como contador em diferentes áreas. E a própria profissão lhe proporcionou ou o incentivou a aprofundar-se em outros meios: hotelaria, arquivos, rádios, televisão, jornal. Todas essas atividades, Hideo conciliava com a carreira de professor na UEL. “Eu comecei a dar aula por acaso. Eu tinha um amigo que me pediu para que eu o substituísse, ele iria viajar.

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Isso foi em 1973. Eu preparei a matéria e fui. Em 1976, entrei por concurso e fiquei até 1998”. Quando começou a lecionar em Contábeis, o curso era recém-inaugurado. Hideo conta que trouxe mais de 20 autores renomados para dar palestras na UEL e em Londrina. Também ajudou a implantar a especialização – conta, reforçando que não gosta de “aparecer”.

Didático como é, Hideo elenca os cursos que fez: técnico, Economia, Ciências Contábeis, especializações, mestrado. E surpreende mais uma vez: “Semestre passado terminei o curso de Direito (ICES)”.

Já deu para perceber que Hideo não vai parar tão cedo. Até hoje ele continua suas pesquisas. Estuda a inflação no país, há cinco anos. E a natureza também lhe desperta interesse. Paralelamente, pesquisa sobre plantas medicinais. Diz que ainda não está se aposentando “de vez”, apenas diminuindo o ritmo. “Eu tenho outras opções: de pesca, de passeio”. Mas, continua trabalhando no escritório particular. Agora, imagina se Hideo Nakayama tivesse mesmo virado hippie?

Léia Dias Sabóia

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Da família Universidade

Os 22 anos de Ines Buranello Vignadelli foram marcados por amizades e aprendizado

Dezoito anos, curso técnico em contabilidade comercial, e o terceiro emprego, concursado. Era 17 de setembro de 1973 quando Ines Buranello Vignadelli começou a trabalhar na UEL no cargo de escriturária-datilógrafa.Ficou ali até 1995. O nome e os cargos é que mudaram. Antes era a Divisão de Pessoal da CAG (Coordenadoria de Administração Geral), depois Diretoria de Pessoal, também da CAG. Ainda na década de

1970 a diretoria passou a ser a Coordenadoria de Recursos Humanos, até poucos anos atrás. Agora é PRORH, Pró-Reitoria de Recursos Humanos.

Ines conta, que no começo, as únicas situações desagradáveis que aconteceram foi quando precisou dar a notícia de demissão a trabalhadores. Mas ela era apenas uma funcionária e sabe que, até quem recebia o aviso, entendia sua função de portadora.

A partir de 1975, ela começou a trabalhar com legislação, época em que a Universidade trabalhava com o INSS e a CLT (Consolidação das Leis de Trabalho). Teve que aprender tudo isto e ainda lidar com a máquina de escrever manual, para o controle do fundo de garantia dos funcionários, por exemplo.

Ela afirma que teve muitas oportunidades de crescer na profissão dentro da UEL. Para passar nos concursos internos, ela lembra que dormia com a CLT no colo. Em 1979 foi chefe da Divisão de Registro e Legislação; em 1980, secretária executiva; e, três anos depois, assessora técnica.

Em 1984 ingressou na Divisão de Concurso de Docentes, outra função de que gostou muito porque, apesar de todo o trabalho para

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preparar os editais, era bom atender as pessoas, os professores de fora ligando, perguntando da cidade. E Ines percebeu o quanto era bom trabalhar em uma empresa pública, porque, como ela exemplifica, “se você diz não a alguém, é porque tem uma regra que não permite, você tem uma base, e uma empresa pública é boa por isto”.

Uma das coisas de que sente falta da Universidade é o ambiente cheio de opinião. Ela diz que trabalhar na UEL abre a mente das pessoas e que todos só têm a ganhar convivendo com pessoas inteligentes.

A funcionária é formada em Administração pela Faccar (Rolândia). Ela já trabalhava na Universidade e cursou a faculdade junto com o marido. Depois da aposentadoria chegou a ajudá-lo em sua empresa e ainda ajuda, mas só quando ele precisa.

Ines se aposentou proporcionalmente na UEL em 1995. Ela lembra que os filhos eram adolescentes e que ela queria passar mais tempo com eles. Ela sente falta dos amigos que fez quando estava na Universidade, pois eles, escolhidos, acabavam sendo mais do que uma família.

Poliana Lisboa de Almeida

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Ingracia de Oliveira

Apesar de aposentada há mais de 10 anos, Ingracia de Oliveira lembra muita coisa de seu primeiro, único e bom trabalho. Um ano depois de o marido falecer, Ingracia começou a trabalhar no Hospital Universitário, que se localizava na rua Alagoas. “O HU inaugurou em agosto e eu entrei em outubro”, conta.Segundo a funcionária, naquela época, por ser um hospital-escola, era um lugar de aprendizado. As profissões relacionadas

com a área eram aprendidas no HU. Assim, Ingracia, que não conhecia a profissão, aprendeu a ser lactária.

O lactário é o local onde se produz leite para bebês e alimentos para os que se alimentam por sonda. Ela aprendeu a fazer todos os tipos de leite: de carne, de soja... “Não tinha pó para fazer e você ficava sozinho ali dentro, porque era tudo esterilizado, então era tudo da sua responsabilidade.”

O HU era muito pequeno e Ingracia diz que a falta de pessoal qualificado levava à contratação de profissionais sem qualificação nenhuma, como ela. Mesmo assim, o companheirismo predominava, os chefes ensinavam os funcionários. “Foi muito bom”.

A funcionária chegou a fazer o curso de Enfermagem na Santa Casa de Londrina, mas não quis abandonar o lactário, de que gostava tanto.

Depois que o Hospital Universitário foi transferido para o antigo sanatório de tuberculosos, ela diz ter aumentado o serviço. Ingracia foi percebendo outras mudanças com o tempo. Antes, lembra, os estudantes internos de Medicina vinham perguntar como era feito o leite para passar orientações para os pacientes, sentavam com ela. “Acho que não tem mais este coleguismo, isto foi mudando conforme eu estava lá”.

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Com o tempo, o serviço também foi se tornando cansativo. “Se eu tivesse estudado, teria ido para outros setores, mudava de serviço. Quando aposentei estava cansada”, lembra. Depois de 25 anos, pediu aposentadoria proporcional.

E a aposentadoria também veio de um desejo novo: o de cuidar do neto, que já havia nascido, e estar livre para cuidar da neta que viria depois. O acordo foi feito com a filha única, que também trabalhava no HU. Ela fez Serviço Social na UEL e estágios no hospital.

Apesar de gostar muito do trabalho que teve, nunca mais voltou, por achar que o HU não é um lugar para passeio. Aposentada, ela diz que a sua vida é ótima, porque faz o que quer e o que gosta.

Poliana Lisboa de Almeida

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Patchwork: é hora de sair da rotina

Iraci Tutida e outras seis aposentadas da UEL se reúnem para trabalhar com os retalhos, relembrar os velhos tempos e firmar os laços de amizade

Duas horas. Diva Mercedes Imperatriz foi a primeira a chegar. Agora ela e Marilena Uratani conversam, esperando pelas demais. Não demora muito e a campainha toca: é a professora e mais duas alunas. Aos poucos o grupo de sete mulheres aposentadas, seis delas docentes da UEL, está completo. Antes de começar, elas exibem orgulhosas o resultado da aula anterior.

“É que não dá tempo de terminar tudo aqui, aí elas levam para casa e dão o acabamento”, explica a professora. Na aula passada, elas aprenderam a confeccionar uma sacola, muito discreta, para trazer as compras do mercado. Quando não está em uso, ela é tão pequena que cabe na palma da mão. Mas, não se engane: quando aberta ela comporta uma quantidade considerável de itens. Tudo para facilitar a vida, confessam.

A professora do grupo é Iraci Tutida. Funcionária aposentada da Universidade Estadual de Londrina. Iraci fez parte da terceira turma de Enfermagem da UEL. Assim que se formou, ela foi trabalhar no ICL (Instituto de Câncer de Londrina) – antigo Hospital Antonio Prudente. “Eu era muito nova ainda. Tinha 23 anos”. Iraci conta que não era nada fácil conviver diariamente com tanto sofrimento, mesmo assim, trabalhou quase dois anos. No entanto, a experiência que adquiriu vivenciando essas situações foi de extrema importância para a sua vida profissional e pessoal. Ela revela que aprendeu a conviver com pessoas de todas as classes sociais e de diferentes personalidades.

Para Iraci, o curso de Enfermagem faz que o estudante reflita muito sobre o valor da vida, pois está sempre em contato com situações

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que o obrigam a isso. “Eu acho que os alunos de Enfermagem entram bem imaturos, mas depois do terceiro ano eles já estão muito mais maduros do que alunos de outros cursos. Quando se formam são pessoas diferentes”, afirma. A segunda e última experiência profissional de Iraci foi trabalhar no Hospital Universitário. Em 1978, ela prestou concurso, em 2004, Iraci se aposentou.

É aí começa outro capítulo importante. Assim que se aposentou, decidiu procurar uma nova ocupação. Conheceu o patchwork e se apaixonou pelo artesanato, no início era só passatempo, hoje o hobby gera lucro – Iraci dá aulas de patchwork. Patchwork significa trabalho com retalhos, é uma técnica muito antiga que une tecidos de diferentes formas e combinações.

A ideia de formar um grupo de aposentadas e ensinar o patchwork surgiu durante um jantar, que reúne professores e funcionários aposentados do Departamento de Enfermagem. No início, eram apenas três: Marilena, Iraci e Nair Miyamoto Mussi. Aos poucos elas foram convidando as amigas, que gostaram da ideia, e terminaram de completar o grupo, que está junto há três anos. Laura Masako Obilcawa Kyosen é a caçula: “Faz um ano que participo”. Antes, se reuniam com mais frequência. Esse ano, as reuniões são quinzenais. No entanto, elas não ficam paradas. A professora Iraci sempre se encarrega de passar uma tarefa. Elas também são criativas e produzem peças para presentear amigos ou para o uso próprio.

“Na aula de hoje, nós vamos aprender a confeccionar maçãs para enfeitar guardanapos”, diz Iraci, mostrando um exemplo do que elas vão produzir. Ela repassa a lista de materiais que vão ser utilizados e: “mãos à obra”! Pouco tempo depois, a mesa fica toda coberta de retalhos, tesouras, moldes (para as maçãs), pano de prato. E entre conversas e risadas começam a aparecer os primeiros resultados.

Para Laura, a reunião é sinônimo de integração entre as antigas colegas. “Não é por obrigação que estamos aqui. É pelo prazer. É sempre uma nova descoberta, um momento de sair da rotina”. Enquanto produzem, conversam sobre absolutamente tudo. Relembram os velhos tempos, falam dos esposos, dos filhos, dos netos, de política, da profissão, da saúde e até de carros.

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Depois de algumas horas produzindo: pausa para o lanche. Marilena, que é a anfitriã da vez, preparou uma mesa farta. Saciada a fome, elas decidem que nos próximos encontros não vão exagerar no lanche, todas estão preocupadas com a saúde. Terminado a merenda, é hora de retomar a atividade.

Logo, elas começam a exibir as produções. Surgem maçãs de todas as cores, ou melhor, de vários tipos de estampas: vermelhas, xadrez, verdes, floridas. Iraci ajuda a finalizar o trabalho, ela é a mais orgulhosa de todas. Iraci confessa que fica muito satisfeita em compartilhar um pouco do seu conhecimento – ela não cobra para ensiná-las –, para ela, o que vale mais é o progresso e o carinho que recebe em troca de ex-colegas de trabalho e agora amigas fiéis.

Léia Dias Sabóia

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Por uma Universidade melhor

Formado em Odontologia na Faculdade Estadual de Odontologia de Londrina Ivan Piza narra uma parte da evolução do Centro de Ciências Biológicas da UEL

No início era tudo poeira e barro... mas era muito bom. Assim Ivan Piza começou a contar sobre os anos que passou na Universidade Estadual de Londrina, como aluno e professor. Ele nasceu no bairro do Bexiga em São Paulo. “Aquele do Adoniran Barbosa”, cantarola. Não passou muito tempo na capital paulista; logo sua família mudou-se para Uraí, norte do Paraná.

Para concluir os estudos, Ivan Piza foi para Curitiba. Voltou para cursar a Faculdade de Odontologia de Londrina, a terceira criada na cidade, em 1962. Newton Expedito de Moraes era o diretor do curso que só começou a funcionar em 1965 nos porões da Catedral e no Colégio Hugo Simas.

Ivan Piza começou a ser monitor: ajudava os professores nos laboratórios e assim foi desenvolvendo laços com os coordenadores da disciplinas. Segundo ele, para seguir como professor das disciplinas básicas você tem que optar entre o consultório ou a Universidade, porque é difícil de conciliar os dois.

Ele ainda tinha seis meses de curso pela frente quando o professor de Histologia deixou a faculdade. Seu orientador achou que Ivan poderia dar as aulas. “Eu era muito orgulhoso e fui. Acho que meu professor quis me testar, parece que deu certo.” Depois de concluir a Odontologia, Ivan Piza, estava envolvido “até a raiz” com a Universidade. Em 1968, o professor foi para São Paulo fazer doutorado na USP.

Ivan lembra com saudade do tempo em que todos os professores do Departamento de Histologia trabalhavam tempo integral e com dedicação exclusiva à Universidade Estadual de Londrina. “Vivíamos a

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Universidade, não tinha horário. Nenhum aluno podia falar que ficou sem aula de Histologia, se faltava professor outro descia dar aula no lugar.”

Histologia é o estudo dos tecidos que compõem o corpo, animal ou vegetal. O Departamento de Histologia da UEL é restrito à Histologia animal, usado nas áreas da saúde e biológica. Na época em que Piza esteve no Centro de Ciências Biológicas o departamento tinha 12 professores.

Do apartamento que divide com a mulher, a também professora de Histologia aposentada da UEL, Ana Maria, Ivan Piza fala do achatamento salarial dos professores e o reflexo na educação: “Nós comprávamos livros do nosso próprio bolso, porque podia. Chegou lá pelas tantas, a gente não podia mais. Tínhamos recursos próprios para produzir, para ensinar bem.”

A Especialização em Histologia, de responsabilidade do departamento chegou a ser convertida em mestrado, mas durou quatro turmas. O professor fala que não foi possível superar tanta dificuldade de uma vez, e que era preferível encerrar o curso a continuá-lo com uma qualidade ruim.

Com a mudança da legislação perto do período em que Piza estaria para se aposentar, o professor teve que trabalhar mais cinco anos. Mas ele ressalta que suas críticas são em favor da Instituição. “A minha vida profissional foi muito boa”.

Poliana Lisboa de Almeida

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Zelando pelo CCE

Jacira da Silva trabalhou no Centro de Ciências Exatas durante todos os anos em que esteve na Universidade

Na hora de procurar um emprego que oferecesse estabilidade de um cargo público para cuidar da filha, Jacira Pereira da Silva prestou concurso na UEL. Após ter trabalhado 15 anos como diarista para os mesmos patrões e até mudar-se para o Rio de Janeiro com eles, ela estava de volta a Londrina e queria um emprego melhor.Jacira começou a trabalhar no Centro de Ciências Exatas, em 1978, como

servente. Quando saiu era zeladora do centro. Ela fazia café, limpava o prédio e os banheiros. Durante estes anos a funcionária esteve em contato com todos os departamentos que compõem o Centro: Matemática, Física, Química e Geociências.

Os cursos no CCE duram cerca de quatro anos. Jacira da Silva, que acompanhou muitas turmas entrando e deixando a Universidade, de vez em quando reconhece alguns ex-alunos na rua.

O posto de funcionária e o fato de ser negra nunca foram motivos para que Jacira sofresse nenhum tipo de preconceito dentro da UEL. Ela conta que preconceito mesmo só de fora da Universidade, e por ser pobre.

Uma das grandes alegrias da funcionária foi ter a filha formada em Agronomia na UEL. Sua filha também fez mestrado em Agronomia e aguarda para entrar no doutorado. Jacira lembra que na sua época não podia estudar tanto, começou a cuidar de sua mãe e a trabalhar cedo. Por isto parou os estudos na 7ª série, mas gostaria de ter sido professora.

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Uma vontade que tem é de fazer comida, salgados ou marmita para vender. Além da cozinha e dos afazeres da casa, a funcionária ainda cuida da mãe, que mora em uma casa nos fundos da sua, e não pode se dedicar a estas atividades.

Dois anos antes da aposentadoria Jacira fez um curso na Universidade sobre a aposentadoria. Ela já fazia musculação na academia do Centro de Educação Física e Esporte e continua para não ficar completamente parada. Já são cinco anos frequentando o CEFE. Em casa, ela pega o jornal e avisa: “eu já tenho 64 anos, então tenho que ler bastante, ativar a mente”.

Poliana Lisboa de Almeida

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Jayme Nalim Duarte Leal

Jayme Nalim Duarte Leal foi um funcionário dedicado: “Dei meu sangue à Universidade”. Não se arrepende. Pelo contrário, as lembranças dos dias difíceis e das conquistas chegam a emocioná-lo. Jayme testemunhou o crescimento da Universidade. “Em cada vestibular o número de alunos aumentava. Assim a UEL foi crescendo, crescendo assustadoramente. Hoje tem

reconhecimento internacional”, afirma Jayme, que sempre acreditou no desenvolvimento da Universidade.

Conforme aumentava o número de inscritos no vestibular, aumentava o trabalho na CAE (Coordenadoria de Assuntos de Educação). Jayme era o chefe da divisão de programação acadêmica: “Era aquele sufoco: vestibular, matrícula, transferência interna, externa. Era trabalhoso. A primeira matrícula era fácil, difícil é quando a pessoa reprovava em alguma matéria. Aí tinha que montar um horário diferente. Tudo era feito no cartão, cada matéria tinha um cartão perfurado com todos os alunos que faziam aquela matéria. Agora, imagine mais de 20 cursos?”.

O aumento no número de candidatos inscritos no vestibular fazia com que o número de provas que Jayme buscava em São Paulo, na Fundação Carlos Chagas, também aumentasse. “Depois que os alunos acabavam as provas, eu e o João Sperandio colocávamos no carro e íamos a São Paulo, na Fundação, levar as provas para a correção”, conta. O relatório com os nomes dos aprovados chegava tempos depois.

Naquela época, segundo Jayme, transportar as provas de carro não causava preocupações. Mas, havia imprevistos: “Uma vez nós fomos de caminhão, e estragou no meio do caminho. E nós não podíamos nem mexer nas caixas de prova. Então, nós contratamos outro caminhão e o nosso veio em cima”, revela, ressaltando que não houve atraso.

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Não foi só na administração da CAE que Jayme atuou. Em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), a UEL passou a realizar o exame psicotécnico, para habilitação de novos motoristas. Jayme participou ativamente deste processo. Do ano ele não se lembra exatamente, mas fica satisfeito porque sabe que a mudança só trouxe facilidades.

Facilidade, naquela época, era uma palavra que os funcionários da Universidade pouco conheciam. Jayme diz que o acesso à UEL era muito complicado. A estrada de chão e as pedras danificavam os veículos. Contudo, não faltava vontade de ajudar. Jayme se recorda de que no primeiro dia de aula no campus o pessoal ficou servindo de guarda de trânsito para orientar os alunos. “Até o reitor, que era o Ascêncio, estava de guarda de trânsito, indicando o lugar certo. Imagine no meio da noite, aquela poeira toda...”.

Durante sua trajetória na Universidade, Jayme desempenhou diversas funções. Ele é formado em Educação Física, mas não exerceu a profissão. “Quando assumi a diretoria de programação acadêmica, um dos requisitos era curso superior”. Jayme foi o primeiro diretor de patrimônio. Foi coordenador de extensão à comunidade. Foi o primeiro diretor administrativo do campus avançado no Ceará, no Projeto Rondon. Jayme também foi o primeiro diretor da APUEL. Foram muitas as ocupações, oficiais e não-oficiais. Segundo Jayme, naquela época as atividades não eram restritas apenas à função.

Outro fato igualmente importante na trajetória de Jayme foi a criação da APUEL. A idéia de uma associação para funcionários surgiu das conversas entre Jayme, João Molinari, João Gilberto Martins e Raul Lazarine. “A UEL já tinha muitos funcionários, por que não fazer uma associação? No começo foi difícil, ninguém queria se associar”. Mas, aos poucos, o número de associados aumentou e a APUEL começou a crescer. “Eu lembro o dia que a gente estava concretando a piscina, tinha que ser feito tudo no mesmo dia. Nossa, quando acabamos nos abraçamos e choramos de felicidade”, conta o emocionado e orgulhoso Jayme. “A APUEL começou com a gente”.

Quando Jayme voltou do Ceará, foi “emprestado” para a Secretaria de Educação em Curitiba. “Eu fui emprestado, mas com o salário que eu já ganhava aqui. A mudança eu paguei com o meu dinheiro. Cheguei

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lá, paguei aluguel. E aqui eu tinha uma casa”. Jayme ficou emprestado para o Estado até se aposentar. Ainda mora em Curitiba e tem um cargo comissionado: é chefe de gabinete do diretor-presidente do Instituto de Previdência do Município.

Léia Dias Sabóia

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Joana de Souza Nogueira

Paulista de Palmital, cidade que faz divisa com o norte do Paraná, Joana veio ainda pequena com a família para o Paraná, para a cidade de Itambaracá, a 419 quilômetros de Curitiba. Em Londrina, chegou aos 15 anos de idade, na década de 1960. Seus pais vieram procurar emprego na lavoura de café e ela mesma chegou a trabalhar na catação do conhecido “ouro verde”, - que trouxe muita riqueza para a região na época – as máquinas que selecionavam os frutos para serem industrializados.

Depois trabalhou como doméstica alguns anos, sem registro. O último emprego foi pela Indústria de Cerâmica Florença. Ela trabalhava na casa do patrão em Curitiba, o dono da empresa, pela qual possuía o registro em carteira. Ficou lá durante seis anos e quando voltou já começou na Universidade. “O Doutor Marco Antônio Fiori era o Reitor da UEL. E por coincidência ele era cunhado da minha patroa. Naquele tempo não tinha concurso, era por indicação. Aí ela conversou com ele e conseguiu a vaga para mim na lavanderia do HU. Comecei no dia 08 de maio de 1985 e fiquei até agosto do ano passado (2008)”, lembra.

Quando chegou, a lavanderia do Hospital Universitário era bem diferente, como ela mesma relembra: “Era muito pequeno. Depois teve a reforma e aumentou o espaço. No começo as roupas ainda secavam lá fora, no sol. Eu cheguei a levar roupa para o varal. A gente estendia depois levava para passar na calandra”. E o que é calandra? “É uma máquina para passar lençol. São quatro rolos enormes, a temperatura chega a 100ºC. Na última em que eu trabalhei a roupa podia ir direto da centrífuga para a calandra, sem secar. Duas pessoas colocam o lençol molhado de um lado e ele sai sequinho do outro”, explica.

No início da atual gestão do governo estadual, a lavanderia ganhou uma calandra nova, mais moderna. Mas Joana não chegou a vê-la em funcionamento. “Chegou a calandra nova, porque a antiga

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quebrou. Mas nunca funcionou. Quando saí, ainda estava lá desativada”, lamenta. Pela falta do equipamento as roupas não são mais passadas, saem direto do secador, que atinge 90ºC de temperatura, para a dobra.

Apesar de trabalhar numa lavanderia, Joana nunca lavou roupas. O setor em que passou mais tempo foi o de pacotes para o centro cirúrgico. Seu serviço começava após as lavagens, nos processos para secar, passar e dobrar. Um trabalho minucioso do qual Joana se recorda perfeitamente: “A gente tem a técnica de dobrar, não é de qualquer jeito não. Tem que ser certinho por causa da hora de abrir o pacote. Tem a dobrada simples, a dobrada dupla. E tem a quantidade certa para colocar em cada pacote. Se for errado eles reclamam e mandam de volta para quem fez o pacote”, afirma.

E não faltou trabalho. Joana atuou em vários horários diferentes. Na época em que se aposentou, exercia uma carga horária de oito horas diárias, que começava às sete da manhã e terminava só às 16 horas, com folga aos sábados e domingos. Os pedidos de pacote chegavam em grande quantidade. Uma lista pela manhã e outra pela tarde. “Era muito corrido. Às vezes faltava material e eles reclamavam com a gente, achavam que a culpa era nossa. Outras vezes tinha que fazer hora extra para dar conta. Ainda mais porque reduziu o pessoal!”, justifica.

Além de trabalhar, Joana também passou a experiência adquirida para os novos companheiros que chegaram. “Eu ensinei... prestava atenção, porque às vezes a pessoa aprende, mas depois fica distraída e erra!”. Caprichosa no seu trabalho, a aposentada que hoje leva uma vida mais tranquila no Jardim das Palmeiras, zona norte de Londrina, era exigente: “Eu falava: ‘ó, não é assim...’ pra ajudar porque não podia deixar errar!”, lembra.

Após tantos anos de trabalho, Joana não achou tão ruim a ideia de se aposentar. “Ah foi bom... eu estava muito cansada! Mas depois que aposentei... eu acho que queria ter ficado mais um pouco. Eu sinto muita falta!”, comenta entre risos. Para matar a saudade, de vez em quando Joana retorna à lavanderia do hospital. Durante os passeios revê os amigos que cultivou: “Dentro da lavanderia é uma família! A gente ‘morava’ mais no trabalho do que em casa... Até hoje tenho contato com elas. Telefono sempre pra elas!”, revela.

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A UEL agradece tamanha dedicação, Joana, mas agora é hora de aproveitar a “boa idade” e o merecido descanso para curtir a vida. Além das amizades e do descanso, Joana também encontrou outra forma de usar o tempo livre: duas vezes por semana frequenta aulas de hidroginástica, no bairro onde mora. A princípio, a atividade foi uma indicação médica, mas hoje ela confessa que gosta: “É um horário que eu tenho para mim, né!”.

Janaína Castro

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Os caminhos de Joana

Joana Sampar passou a juventude nos cafezais que deram lugar ao campus, onde também trabalhou até a aposentadoria

Filha de trabalhadores rurais, Joana Sampar, nascida em Araguaçu (SP), veio ao Paraná ainda criança. No norte do estado, ela conta que, sempre lidando com plantações – café, arroz, milho, feijão -, morou nas cidades de Uraí, Bandeirantes e Sertaneja antes de chegar em Londrina.Aqui, Joana acredita estar na faixa dos 20 anos quando a família começou a trabalhar na Fazenda Santana, onde hoje está localizado

o campus da Universidade Estadual de Londrina. Do lugar, ela tem muitas recordações boas na memória.

Os colonos moravam nas proximidades e as festas – católicas em sua maioria – eram animadas. Aos domingos, além de ir à missa na catedral no centro da cidade, o campo para os jogos de futebol era um espaço de lazer.

Joana trabalhava na fazenda com os pais e mais quatro irmãos. Todos acordavam bem cedo e carpiam café “para deixar a terra limpa”, explica. A vida era difícil, mas ela lembra que tinham tudo o que precisavam com fartura.

Nesta época, o ônibus da cidade só ia até a esquina da avenida Higienópolis com a rua Humaitá, “na farmácia do Seo Toninho”, recorda Joana. Dali até o perobal, só seguindo à pé. Enfrentando muita poeira e barro nos dias de chuva.

Quando a Fazenda Santana foi desapropriada para a criação da UEL, Joana e a família, mais uma vez, mudaram de cidade. Trabalharam em Apucarana, mas acabaram voltando para Londrina, onde moraram no Conjunto Avelino Vieira e mais tarde no Novo Bandeirantes, ainda pouco povoado.

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Depois de trabalhar alguns anos como diarista, um primo de Joana a indicou para uma vaga como zeladora na Universidade. E, em 1977, depois de ter vivido na fazenda de café, como muitos outros, ela retornava para fazer exames físicos no Núcleo de Bem-Estar à Comunidade (antigo Nubec) do campus.

Acabados os exames, avisaram à Joana que ela estava contratada e que poderia começar naquele instante. Mas, sem imaginar que a contratação poderia ser imediata, nem almoço ela tinha levado. Então, outras zeladoras que Joana conhecia da época da Fazenda Santana acabaram repartindo suas refeições com a nova colega.

O começo na UEL foi difícil para a funcionária. No Biotério Central do CCB, ela tinha que lavar as toalhas veterinárias. Joana lembra que a veterana no serviço a ajudou muito, mas acredita que era para ficar livre do afazer. Com o tempo, Joana começou a trabalhar em outros setores do centro, limpando o chão, os corredores inteiros e, eventualmente, substituindo algum funcionário que faltava.

Do Centro de Ciências Biológicas, a funcionária se lembra especialmente das colegas e amigas: Dona Sebastiana, Maria Pontes, Maria Erça, Maria Bernardo, Maria Meire e Maria Campos.

Durante a maioria dos 20 anos em que esteve trabalhando na UEL, a funcionária continuou trabalhando como doméstica. Inclusive depois da aposentadoria em 1997.

Joana, que vive sozinha, não abre mão de algumas atividades de lazer para preencher seu tempo. Ela participa de um grupo de terceira idade que se reúne uma vez na semana para dançar forró e dos diversos tipos de bordado “só não sei o ponto-cruz”, avisa.

Poliana Lisboa de Almeida

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Datas, certificados, empregos

O professor de Ciências Contábeis Joaquim Scarpin trabalhou em faculdades particulares, foi funcionário da prefeitura de Londrina e tem o seu próprio escritório há 41 anos

Entre o barulho da impressora matricial, as folhas ligadas umas às outras, com aqueles furinhos na borda destacável, vão se acumulando embaixo da primeira mesa no escritório de contabilidade. Homens e mulheres trabalhando, Joaquim Scarpin está para chegar.Em 1966, ele conclui o curso técnico em contabilidade no Colégio Comercial e Estadual de Londrina. Na época, lembra

Scarpin, ele optou pelo curso que substituía o ensino médio e abriu o escritório assim que pegou o certificado.

Joaquim Scarpin apesar de poder ter o seu próprio escritório com o diploma técnico, só podia fazer pequenas contabilidades. Deste modo, em 1975 ele resolveu cursar Ciências Contábeis na Universidade Estadual de Londrina, assim como muitos outros contadores.

Ele conta que até o meio do seu curso, o Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESA) funcionava no colégio Londrinense, onde hoje é a Unifil. Algumas aulas também eram dadas no Colégio Hugo Simas. Quando o Centro de Estudos foi para o campus, o asfalto só chegava até a avenida Maringá, depois era estrada de terra.

Mesmo com a falta de asfalto nas ruas externas e internas, as poucas salas de aula para os muitos alunos e outros eventuais defeitos, quando questionado sobre o que lembra de sua época de estudante na Universidade ele revela, “eu lembro de tudo, tudo era bom”.

Quando entrou na UEL, Scarpin já era casado e tinha filhos. Maria Aparecida Scarpin, sua mulher, o ajudava desde o começo no escritório, quando ainda era técnico. Ela formou-se em Psicologia,

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mas resolveu estudar contabilidade também. E foi assim que Scarpin, professor na Universidade a partir de 1980, deu aula a sua esposa.

Dois de seus três filhos também seguiram a carreira. Maria Aparecida tornou-se professora da UEL também e hoje é chefe do Departamento de Ciências Contábeis.

Enquanto Joaquim Scarpin contava sobre a sua carreira profissional, foram algumas as vezes que precisou retirar a pasta de plástico do armário com os certificados e diplomas para conferir as datas. Ele deixou claro que não conseguia recordar todas as datas sem aquele recurso. E que “catatau” de certificados.

Entre eles o da especialização nas Faculdades Integradas de Marília, de 1983-1984. O professor comenta que antes não eram muitos os professores que faziam mestrado ou doutorado. Ele optou pela especialização.

Além de professor na UEL por 17 anos, de 1980 até 1997, quando se aposentou, Scarpin trabalhou em outras faculdades. Na Faccar, de Rolândia, e na Unopar, onde criou e coordenou o curso de Ciências Contábeis de 1994 a 2002. O esforço, ele diz, era para melhorar o salário.

O professor foi funcionário da prefeitura de Londrina por 28 anos e é aposentado também como funcionário municipal. Na gestão do prefeito Wilson Moreira (1983-1988), Joaquim Scarpin foi Secretário de Auditoria.

Entre tantas atividades já executadas, em um edifício comercial no centro da cidade, a sala do contador fica no fundo, em um andar médio. Porta à esquerda, meia parede de vidro. Embaixo do vidro da mesa fotos da família entre fotos de Londrina ainda em preto e branco. Nesta sala Joaquim conta de seu começo na contabilidade e que mesmo depois de duas aposentadorias continua: o escritório, agora com 41 anos.

Poliana Lisboa de Almeida

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Professor por vocação

João Antônio Leite Ramos dá aulas desde o primeiro ano do curso de Letras e não pensa duas vezes antes de afirmar que lecionar é o seu maior prazer

O paulista João Antônio Leite Ramos veio para o norte do Paraná com a família em 1952, com apenas dois anos de idade. Passou os primeiros anos na cidade de Sertaneja – a pouco mais de 80 km de Londrina – onde seus pais ainda moram. Em 1958 foi para Assis, interior de São Paulo, cidade em que estudou até concluir o curso clássico (atual ensino médio).No ano de 1967 ingressou no Curso de

Letras da Faculdade de Filosofia (FAFE) de Cornélio Procópio. “Já no primeiro ano eu comecei a dar aulas numa escola do estado, porque havia necessidade de professores. Quem entrava na faculdade já estava à frente dos outros professores que só o tinham o 2º grau (ensino médio) e cursos de capacitação”, explica. Mas não foi um começo fácil. O calouro de Letras ainda não podia lecionar nas disciplinas de sua área. Começou ministrando aulas de geografia, ciências, educação física e matemática. “Não dava para pegar língua portuguesa e o inglês, porque os outros professores escolhiam primeiro e eu pegava só as sobras, que eram das áreas que não tinham curso superior na cidade”, lembra.

O desafio tornou-se mais simples em virtude da afinidade que João tinha com a área de exatas. “Eu gosto de Matemática. Tanto que dou aulas particulares até hoje... no começo eu queria fazer faculdade de Matemática, só não fiz porque não tinha aqui perto”, esclarece. Apesar disso, o apreço pelas Letras não era menor: “Eu tinha uma base boa de línguas do meu curso clássico (ensino médio), estudei português, francês, inglês, italiano, grego e latim. Eu gostava muito, por isso escolhi Letras”, afirma.

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Após concluir a graduação, o professor assumiu as disciplinas de português e inglês na mesma escola em que já trabalhava e permaneceu lá por mais onze anos. No ano de 1974, fez sua primeira pós-graduação: uma especialização em língua latina na Unesp em Assis.

Em 1983, novamente voltou ao norte pioneiro paranaense quando passou em um concurso público para o Banco do Brasil. Foi para a cidade de Santa Mariana – aproximadamente 80 km de Londrina. Com a nova função, não teve jeito: precisou deixar a escola em que trabalhava. No banco trabalhou como escriturário e fiscal do setor de operações até 1995.

O trabalho no banco tinha remuneração mais atrativa, porém a saudade das salas de aula fez João assumir uma jornada dupla a partir de 1986. “Recebi um convite de um antigo professor meu, para dar aulas de latim na UEL, onde foi lotado no Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas. Foi a primeira oportunidade de trabalhar como professor efetivo em uma universidade. Aceitei, mas não deixei o trabalho no banco. Foram quatro anos de viagens de Santa Mariana para Londrina. Eu trabalhava no banco de dia e a noite eu vinha para cá. Chegava em casa perto da meia-noite, era cansativo, mas eu sempre gostei de dar aula, para mim é algo prazeroso”, garante. O sentido das viagens foi invertido em 1990, quando João veio morar em Londrina com a família.

O cansaço e desgaste das viagens levaram o professor a abandonar o emprego no banco em 1995 e a continuar somente com o trabalho na UEL. “Nos anos que eu fiquei só no banco, senti muita falta da escola, tanto que voltei correndo quando me chamaram. Inclusive no banco eu falava assim, ‘aqui eu faço o meu serviço o melhor que eu posso... mas eu não gosto’”, revela.

Logo no ano seguinte, João retomou sua pós-graduação. Começou o mestrado também na área de língua latina, com o mesmo orientador da sua especialização na Unesp de Assis. E, em seguida, fez o doutorado, dando continuidade aos estudos de latim. O professor conta que esta última etapa foi feita sem bolsa nem licença. “Quando comecei o doutorado eu já tinha tempo para aposentar... logo depois me aposentei. Então eu fiz na raça, dando aula e tudo. Só tinha direito a um dia para viajar”, comenta.

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Em 2004, João aposentou-se. Mas não por muito tempo. O professor não chegou a ficar nem um mês parado. “Eu peguei algumas aulas particulares e recebi uma proposta do coordenador do curso de Letras da Faccar, em Rolândia. Eles estavam precisando de professores e fui dar aulas lá. Viajava duas noites por semana. Fiquei o resto de 2004 e todo o ano de 2005. Aí me dispensaram”, lembra. Mas no dia seguinte, João foi contratado pela Unopar para ministrar aulas no programa de ensino a distância da Universidade. “Eu aceitei porque era uma experiência nova para mim, dar aula para a câmera, era uma coisa diferente, e também era aqui na cidade”, afirma.

João trabalhou na Unopar até 2007, quando foi convidado para retornar à UEL. “A Esther [Gomes de Oliveira] coordenadora de Letras na época, me chamou porque precisavam de um professor de latim e ninguém passava no teste. Como os alunos corriam o risco de perder o ano eu resolvi voltar e continuo até hoje. Vou parar de vez no fim deste ano”, conta.

Dos momentos que passou no seu lugar preferido, à frente dos alunos, João guarda lembranças especiais e verdadeiros amigos. Os alunos o solicitavam inclusive para pedir conselhos pessoais. “Eu tive também esse papel de orientador, amigo... E sempre tive o reconhecimento e carinho dos alunos. Até hoje eles me cumprimentam, conversam, abraçam”. Os reencontros com ex-alunos são sempre carregados de emoção, como ele mesmo explica com os olhos brilhando: “Uma vez encontrei um ex-aluno meu, numa padaria com a mulher e os dois filhos. Hoje ele é dentista. E neste dia o filho dele me disse que se chamava João Antônio. Eu fiquei olhando para ele, e ele me disse: ‘É por causa do senhor mesmo. O senhor para mim foi um exemplo de professor e de vida. Eu quis fazer uma homenagem’. Aquele foi o maior prêmio da minha atividade de professor... ter alguém com o meu nome!”, emociona-se.

E não faltaram prêmios e homenagens para este dedicado profissional. Seus ex-alunos de Sertaneja incentivaram o governo da cidade a homenageá-lo com uma placa de cidadão honorário, em agradecimento ao seu trabalho na escola. “As pessoas me perguntam como é que os alunos gostam tanto de mim. E eu digo que eu sempre procurei tratar o aluno como pessoa. Olhar a pessoa e valorizar. Eu

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nunca briguei com um aluno e nunca alguém foi na diretoria reclamar de mim. Se precisasse chamar a atenção eu chamava, corrigia, mas sempre com o respeito. Isso é importante e esse é o papel do educador”, diz com convicção.

Agora João se prepara para deixar o trabalho em definitivo. Mas sabe que não vai ficar parado. “Vai ficar um vazio, saudade da sala de aula, dos alunos e dos colegas professores. Mas eu tenho outras atividades, como as aulas particulares que eu pretendo continuar. E também faço um trabalho voluntário com minha esposa em um lar de crianças carentes do meu bairro. Nós damos aulas de reforço e isso vai ser importante para o futuro delas. É um trabalho gratificante”.

Os relatos do professor revelam a satisfação de um profissional sempre dedicado ao exercício do magistério. Quando perguntado a respeito, ele responde categoricamente que se sente satisfeito com o ofício escolhido: “A gente olha para os alunos e vê que a maioria deles cresceu na vida e eu sei que eu contribuí para isso. Muito diferente do trabalho no banco. Na escola eu vejo o resultado do meu trabalho. A realização pessoal do professor é fazer a outra pessoa crescer, ajudar a realização do outro. Essa é a maior gratificação que a gente tem! Ser professor é vocação”.

Janaína Castro

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Jardineiro da UEL

Uma breve mirada ao campus e a paisagem encanta. João Luiz Sperandio teve autorização do primeiro reitor para ficar responsável pela jardinagem, onde realizou trabalhos até a aposentadoria em 1995. Depois retornou a UEL para se dedicar a outra função, o vestibular

João Luiz Sperandio faz jus ao título pelo qual é conhecido: jardineiro do campus. Em um dia de frio na Universidade, e sabemos que temperaturas mínimas beiram ao insuportável, ele é capaz de olhar para uma árvore e responder não só qual a espécie, mas também em que época ela foi plantada aqui na UEL. Quem pensa que o campus nasceu assim, com um belo gramado salpicado com algumas árvores esplendorosas, nunca conheceu Sperandio ou sua equipe.

Outra atividade, bem diferente da jardinagem, também confere popularidade a João Luiz Sperandio. Trata-se do trabalho que ele exerce nos vestibulares.

Quando Sperandio começou a trabalhar na UEL, ele já havia tido um pequeno comércio e um caminhão de transportes. Para a Universidade, começou a trabalhar antes mesmo de ela existir oficialmente, seu primeiro registro em carteira da instituição é da fundação que administrava a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Ciências Econômicas, a Fesulon.

Nesta época, o campus estava sendo construído e Sperandio, que viu tudo desde a “estaca zero”, era encarregado de cuidar dos trabalhos no campus: “no começo o campus era pequeno então a gente tomava conta do vigia, da limpeza externa e mais, cuidava do pessoal que trabalhava na zeladoria.”

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Os prédios foram crescendo e as aulas transferidas para o campus. Todo o antigo cafezal deu lugar à poeira: “Era só poeira, não tinha asfalto, né? Aquele calcário,... então eu comentei com o reitor [Ascêncio Garcia] e ele falou: ‘João, se você quiser fazer’. E eu comecei lá no CCB a jardinar e aí foi geral. Aí fui juntando mais gente, mais pessoal, e conseguimos fazer o campus todo. Esse campus todo nós fizemos.”

Sperandio conta que no período de Oscar Alves foi criado um horto atrás do CESA para o cultivo de mudas que mais tarde eram plantadas na Universidade. Eles utilizavam sementes das próprias árvores adultas do campus para as mudas, e procuravam diversificar entre árvores frutíferas – para atrair pássaros e papagaios que eram comuns no campus – e aquelas nativas, como a famosa peroba.

Quanto às árvores que caracterizam a vegetação do campus – as perobas - o funcionário lembra que na década de 1990 houve uma tempestade forte, responsável por quebrar muitas perobas antigas. Sperandio conta que a maioria destas árvores morreu por fatores climáticos e acrescenta que demoram muitos anos para alcançarem a magnitude das que ainda restam no campus. Assim, mesmo plantando novas mudas não dá para esperar que o campus volte a ser como era antigamente.

Foi exercitando a arte de cultivo de plantas e árvores que Sperandio adquiriu experiência em jardinagem. O funcionário também viajava a cada 15 ou 20 dias para São Paulo para buscar doações de animais e ração das universidades paulistas para o biotério do CCB, por exemplo. Com o tempo, as funções foram sendo abrigadas em áreas específicas e ele passou a coordenar as zeladoras da prefeitura e da reitoria, a jardinagem e o vestibular.

No vestibular, Sperandio atua desde que a Fundação Carlos Chagas era responsável pelas provas. Além de ajudar em toda a organização externa, como a distribuição de carteiras e materiais para as salas, ele ia buscar, na véspera, as provas e as trazia com um fiscal da fundação. Passado este tempo, veio a época em que muitos estudantes faziam as provas no ginásio do CEFE. Eram 10 viagens de caminhão para transportar a média de 1.400 carteiras.

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Em 1995, Sperandio se aposentou da UEL, mas não ficou mais de seis meses parado. Com a experiência adquirida no vestibular, acabou voltando para ajudar e está até hoje na Coordenadoria de Processos Seletivos, a COPS. “A gente pega uma prática, conhece tudo qualquer colégio da cidade, inclusive de Ibiporã e Cambé, então você mais ou menos sabe quantos candidatos cabem em cada sala e o tamanho do colégio, tudo se ajuda, não é?“, conta o funcionário.

Poliana Lisboa de Almeida

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Amor e dedicação ao trabalho

João Paulino aprendeu a trabalhar com Enfermagem na prática, antes de existirem os atuais cursos técnicos e de graduação na área. E mesmo aposentado continua praticando a arte de ajudar ao próximo

João Paulino nasceu em Cândido Mota no interior de São Paulo, mas veio ainda pequeno para o Paraná e cresceu na cidade de Primeiro de Maio. Chegou a Londrina com a família em 1969, após a morte do pai. Logo em seguida começou a trabalhar na Irmandade Santa Casa de Londrina - na época, Hospital Escola da Faculdade de Medicina de Londrina - que mais tarde integraria a UEL. Assim começa a história profissional deste

dedicado auxiliar de Enfermagem. “A minha irmã já trabalhava na Santa Casa, e estava muito difícil conseguir emprego. Aí, ela falou com as irmãs lá. Elas que ensinavam tudo, pois não tinha os cursos de enfermagem que têm hoje e eu entrei para aprender lá”, explica.

Foram exatos 17 meses de trabalho e aprendizado com as freiras, que o tornaram apto para buscar seu novo emprego. Em agosto de 1971, João conseguiu uma vaga no setor de Enfermagem do recém-inaugurado Hospital Universitário da UEL, que ainda ficava na rua Pernambuco, no centro da cidade. “Comecei a trabalhar no dia 20 de agosto à uma hora da tarde. Lá era bem pequenininho, tinha muita dificuldade. Eram poucos funcionários, poucas enfermarias, não tinha quase nada”, recorda.

Desde o início a quantidade de pacientes era grande e por isso nunca faltou trabalho. João sempre era escalado para os finais de semana e feriados: “Vinha gente até do Paraguai! De toda a região. A gente trabalhava direto. Às vezes fazia meu horário e depois, quando estava em casa descansando, a ambulância vinha me buscar porque

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faltou um funcionário. E tinha que ir. Quando precisava eu estava ali à disposição!”, garante.

Alguns anos depois, em 1975, a sede do Hospital Universitário foi transferida para o prédio do Sanatório Nutels, localizado na Av. Robert Koch (zona leste da cidade). João assistiu e participou da mudança. Ele lembra que foi um período difícil e de muito trabalho para enfrentar as várias dificuldades técnicas: “Não tinha aparelhos e material de segurança. A gente trabalhava exposto, sem luvas, era contato direto, mexia com as mãos mesmo! As seringas eram de vidro, todo o material era esterilizado, não tinha descartável”, conta. Mas faz questão de ressaltar a qualidade de atendimento que o hospital mantém atualmente: “Hoje é um dos hospitais mais bem preparados da região. O atendimento melhorou muito. Agora é diferente”, afirma.

Durante a maior parte dos 35 anos em que prestou serviços na Diretoria de Enfermagem do HU, João trabalhou no período noturno, das 19h00 às 07h00 da manhã do dia seguinte. Ele confessa que foi difícil se acostumar a princípio, pois “dormir de dia não é igual dormir de noite...”, compara, mas conseguiu se acostumar e pegar o ritmo da madrugada.

Nos primeiros 20 anos, João atuou na Unidade Masculina do Hospital. Depois foi remanejado para a Unidade de Hemodiálise e Diálise Peritoneal, em que conviveu com pacientes em situações bastante complicadas, muitos à espera de um transplante de rim.

Nos anos de 1980, já experiente, fez o curso de auxiliar de Enfermagem com duração de um ano e meio, oferecido pelo próprio HU. E aproveitou para ampliar seus conhecimentos: “Começaram a exigir e eu fiz o curso de auxiliar. É como se começasse do zero. Mesmo já sabendo bastante do trabalho a gente sempre aprende”, diz com convicção. Na época do curso, João cumpria jornada dupla: assistia às aulas durante o dia e trabalhava normalmente à noite.

João também se recorda do contato com os pacientes no Hospital. “Ali a gente convive com gente que vem com todo o tipo de doença. Tem que fazer o possível para ajudar. Tem que trabalhar com amor e vontade, ter um cuidado, um carinho com as pessoas. A gente conversa, com paciência, explica que o procedimento é necessário.

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Mesmo quando é agredido! Tem uns que ficam revoltados, aí tem que usar uma ‘psicologia’... porque o paciente tem sempre razão”, explica.

O amor à profissão é um dos pontos fortes da carreira de João e que fica muito claro em seu depoimento. Ele faz questão de ressaltar como gostava de seu trabalho. Por isso mesmo, durante todo o tempo de serviço João não tinha faltas frequentes e só se afastou duas vezes por razões de saúde, como ele esclarece: “Em 92 sofri um acidente e fiquei nove meses parado. E agora, perto da aposentadoria, tive problemas graves: uma midiocardite – infecção na válvula do coração -, uma encefalite – inflamação aguda no cérebro – e um AVC, que foi o que me atrapalhou mais”.

Após vencer tantas provações, o corpo sentiu o cansaço e o trabalho ficou difícil. Por este motivo, que, mesmo com a vontade de continuar, ao completar o tempo mínimo de contribuição em 2007, João se aposentou. “Foi mais por necessidade mesmo. Eu pensava em ficar mais tempo, mas aí eu vi que não dava mais, eu já não conseguia acompanhar o ritmo. Trabalhei o último ano com dificuldade, até completar o tempo para a aposentadoria e tive que parar”, lamenta.

A saudade é inevitável e por isso até hoje João ainda visita o HU para rever antigos colegas de trabalho e até pacientes que continuam internados. Pacientes que sempre demonstraram reconhecimento e gratidão ao receber alta e se despedir. Alguns vão além do simples agradecimento verbal, como conta sorridente: “Tem um paciente, o senhor Paulo, que ficou muito tempo lá na hemodiálise e ainda lembra da gente (funcionários do HU). Até hoje ele liga e chama para almoço e churrasco! Ele já chamou várias vezes. É como se fosse um parente nosso!”.

Apesar de não trabalhar mais no Hospital, João não deixou de utilizar tudo o que aprendeu para continuar ajudando as pessoas. Conhecido no bairro onde mora, ele é uma referência para os vizinhos: “Eu gosto muito de ajudar as pessoas. Direto aparece alguém lá em casa com a mulher doente ou o filho passando mal. Aí pedem pra eu olhar a pressão, cuidar. Eu ajudo, mas sempre falo ‘melhor ir ao postinho’. Se precisar eu levo, busco. O que puder eu faço”, garante. O tempo livre também é preenchido pela presença do netinho de cinco anos, que frequentemente fica na casa dos avós.

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Quando fala de sua história e tudo o que viveu nos corredores do HU, João demonstra-se bastante satisfeito e guarda as melhores lembranças: “Sabe qual é o melhor momento? É quando você vê uma pessoa recuperada. Quando a pessoa é renal crônico a única coisa que resta é um transplante. E a gente vê, nossa, muitos que foram transplantados, a gente viu como vivia e agora é uma vida nova. E a gente encontra com eles por aí e vê que o que você fez ajudou a pessoa a sobreviver. E se sente um pouco responsável. Não tem coisa melhor do que trabalhar no que você gosta e dedicar tudo da gente. Criei a família com o serviço de Enfermagem. Eu sinto que cumpri minha missão. Foram 35 anos bem trabalhados”, conclui.

Essa dedicação ao trabalho e ao próximo serviu como inspiração para Ângela, uma das filhas de João, que seguiu os passos do pai: fez os cursos de auxiliar e técnico em Enfermagem e hoje trabalha em uma clínica psiquiátrica. Uma das muitas sementes que João plantou durante sua carreira e que, certamente, é motivo de grande orgulho para ele.

Janaína Castro

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Ensinando e administrando

O professor da Educação José Aloyseo Bzuneck alternou sua presença na sala de aula com cargos administrativos na Universidade

José Aloyseo Bzuneck, paranaense de Lapa, estava em Curitiba após formar-se em Filosofia na PUC de Porto Alegre. De lá resolveu vir ao interior do Paraná para fazer o concurso de uma universidade que, enquanto universidade, ainda só existia no papel.O concurso foi em 1971 e, desde então, José Aloyseo Bzuneck passou a ser professor da Faculdade Estadual de Filosofia,

Ciências e Letras de Londrina. A disciplina ministrada pelo professor era de Psicologia Educacional.

Com a constituição da Universidade Estadual de Londrina, as antigas Faculdades tornaram-se seus Centros de ensino. Com o nascimento do curso de Psicologia, Bzuneck assumiu a chefia do departamento, ainda com poucos professores. Mais tarde os professores de Psicologia ligados à educação preferiram mudar-se para o Departamento de Educação.

Em 1973, ele começou a fazer Mestrado em Psicologia na USP. “Naquele tempo quem ia fazer um curso destes não tinha nem bolsa e nem licença. Eu continuava dando as aulas normalmente”, lembra. O doutorado, que veio em seguida na mesma instituição, o professor terminou em 1979.

Como professor, Bzuneck lecionou em diferentes cursos de licenciatura da UEL. Mas sua trajetória de 35 anos de “ativa” na Universidade estão marcados também pela passagem em alguns postos administrativos. Depois de ter sido chefe do Departamento de Psicologia

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no começo, Bzuneck voltou a ser “só professor”, diz ele. A interrupção no trabalho só de professor se deu quando ele foi convidado para ser coordenador da CAE por um ano e meio para completar a gestão. “Foi aí que começou”, lembra Bzuneck. Depois, ele foi diretor do Centro de Educação Comunicação e Artes, chefe de departamento novamente, e vice-reitor na gestão de Marco Antônio Fiori (1982-1986).

Apesar de não ter passado uma gestão inteira na CAE, o professor se lembra de muitas coisas acontecidas lá dentro do órgão que tinha “um pessoal muito competente e bom de se trabalhar”, diz.

A época era ainda a de matrícula por créditos e a UEL só tinha um minicomputador. O professor acredita que a Universidade não tinha estrutura para trabalhar com aquele sistema e que ele ficava mal-feito.

Bzuneck fala da confusão que havia quando ainda era possível passar para o curso de Medicina, mediante transferência interna, bastando para isso ter cursado algumas disciplinas da área. “Era uma luta de foice para fazer matrícula nas disciplinas da Medicina, tanto que uma vez os alunos derrubaram o balcão onde ficavam os funcionários da CAE”, lembra o professor.

Ele ressalta que a UEL sempre foi muito rigorosa no processo seletivo do vestibular. E que, quando ainda estava na CAE, um fazendeiro e seu advogado vieram tentar uma vaga para o filho por meio de uma lei conhecida como “Lei do Boi”, que reservava vagas em cursos de Agronomia e Veterinária para filhos de produtores rurais. Mas como esta lei só valia para instituições federais, Bzuneck teve que falar desta diferença ao advogado, que veio crente do direito de seu cliente.

Falando em pedidos, na época da vice-reitoria, como o professor esteve algumas vezes como reitor, ele chegou a receber uma miss Paraná no gabinete. No meio da conversa, lembra, percebeu que ela estava lá para pedir uma vaga no Cesulon.

Depois da CAE, Bzuneck também foi diretor do CECA (Centro de Educação, Comunicação e Artes). Ele conta que, na verdade, nunca buscou nenhum cargo administrativo, e na eleição para a diretoria do CECA estava de licença. “Não movi uma palha, estava em casa e vieram me contar que eu havia ganhado”, recorda.

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Onze anos depois de chegar ao interior do Paraná, o professor Bzuneck assumiu a vice-reitoria de Marco Antônio Fiori. Durante os quatro anos da administração, parou de lecionar e ficou com todos os bens penhorados para o caso de alguma irregularidade nas contas da UEL.

“Como administradores, assinamos um termo penhorando todos os bens, se o Tribunal de Contas pegasse alguma irregularidade, seríamos solidários e responderíamos com os próprios bens”, explica. Nessa gestão, Bzuneck assumiu a reitoria por até 40 dias consecutivos. “Havia greves, exigências, tinha que administrar, mas passou”, diz.

Sobre toda a sua vida pública e de sala de aula, o professor ressalta que nada disso é feito com pretensão de enriquecer. Em todos os cargos, teve que lidar com conflitos, intrigas, oposição e, o mais difícil, com outras pessoas. “É preciso fôlego”, diz. Ele acredita não ter mais a disposição que tinha antes.

Mesmo assim, desde a aposentadoria em 2005, Bzuneck assumiu como professor sênior, que não tem contrato, horário, nem salário, mas orienta, pesquisa, tem uma carga horária, mesmo que pequena, e publica.

Bzuneck assumiu compromissos com o Mestrado em Educação. Para ele vale o esforço por ser uma ocupação da qual gosta. “Para mim é interessante ter esta vida acadêmica”, diz. No ano de 2008, ele já escreveu um livro e um capítulo de livro, que serão publicados em 2009, além de artigos. Com esta ligação não contratual, o professor consegue trabalhar em casa, lugar em que recebe seus orientandos, os alunos da UEL.

No dia 3 de novembro de 2008, José Aloyseo Bzuneck foi um dos professores homenageados da Pró-Reitoria de Graduação na cerimônia em homenagem aos cursos que tiveram maior reconhecimento neste ano.

Poliana Lisboa de Almeida

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Matemática e o altruísmo Apaixonado pela Matemática e pela sala de aula, José Aparecido Fidelis dedicou-se a ajudar as pessoas dentro e fora da UEL e transformou a vida de todos que cruzaram seu caminho

Barbeiro, cabeleireiro, professor, pai, avô, bisavô, dançarino, brincalhão e sorridente. São várias as faces de José Aparecido Fidelis. Hoje, infelizmente ele não se recorda mais de muitos momentos da sua vida, por causa do mal de Alzheimer, uma doença que o acompanha há quase cinco anos. Mas os que tiveram o prazer de conviver com ele lembram-se de cada fato. O Portal do Aposentado conversou com

a professora doutora Cristina Fidelis, filha do mestre Fidelis, e com a senhora Maria Ignez, esposa, que nos contaram um pouco desta história.

Nascido em Santo Antônio da Alegria, interior de São Paulo, José Fidelis costumava ser de fato uma pessoa muito alegre. “Ele estava sempre contente, brincando, de bom humor, não chegava em casa bravo”, garante Maria Ignez, companheira há 54 anos. Ela afirma que as brincadeiras e o sorriso, principais características do professor, sempre foram marcas registradas de seu jeito de ser. “Tanto é, que até hoje, mesmo com a doença, se você brincar com ele, ele entende. Brincadeira ele entende! Mais do que outras coisas, porque ele sempre foi muito brincalhão...”.

Após perder a mãe com apenas 19 anos, José tornou-se praticamente responsável pelos dois irmãos mais novos e teve que aprender a “ganhar a vida sozinho”. Conheceu Maria Ignez, na década de 1950, logo depois que chegou ao Norte do Paraná. O casamento veio em 1955, quando o rapaz ainda trabalhava como cabeleireiro. “Ele não tinha estudo nenhum! Só até o 4º ano primário” recorda-se Maria Ignez.

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Mas, muito esforçado, o jovem foi buscar conhecimento nas possibilidades oferecidas, como relata Maria Ignez: “Ele e mais alguns amigos já adultos foram estudar no Colégio Vicente Rijo. Entraram na 1ª série do ginásio [5ª série do ensino fundamental], junto com as crianças! Eu sou formada em Letras e quando ele chegou na 4ª série [8ª série do ensino fundamental], eu estava dando aula no colégio! Mas não dei aula para ele, não”.

Após concluir os estudos básicos, Fidelis, que já apreciava os números, fez um curso técnico de contabilidade no Colégio Londrinense. Ao concluí-lo, foi convidado pela diretora do Instituto Estadual de Educação de Londrina, em que a esposa já trabalhava, para dar aulas de Matemática. “Faltavam muitos professores nas escolas porque o curso superior estava começando aqui. A maioria tinha só o 2º grau [ensino médio] e um curso de capacitação chamado Cades. Então, como ele gostava muito de Matemática, e já tinha o técnico, foi dar aulas para o 1º grau [ensino fundamental]. Isso foi em 1964”, explica.

Fidelis também lecionou para o ensino fundamental e médio no Colégio Vicente Rijo e no Mãe de Deus, onde conseguiu conquistar a confiança das freiras. Esta, uma tarefa difícil, como revela Maria Ignez: “Elas quase não aceitavam homens lá, mas dele elas gostavam. E ele também gostava de lá e dizia que era um colégio muito bem organizado”, recorda-se.

A afinidade com as salas de aula não demorou a surgir na vida de Fidelis, que começou a cursar licenciatura na primeira turma de Ciências da UEL. Depois, completou sua formação com a licenciatura em Matemática, assim que o curso foi iniciado na UEL.

O início de suas atividades como professor na Universidade deu-se em 1976, inicialmente como substituto e, em seguida, como efetivo no Departamento de Matemática. Lecionou Estatística, Matemática Básica e Prática de Ensino e Didática da Matemática. Durante muitos anos, foi responsável pelos estágios dos alunos da licenciatura que eram direcionados para as escolas públicas da cidade. Especializou-se em Prática de Ensino de Ciências pela UFPR e em Estatística pela UEL.

Ser professor logo se revelou como a grande paixão de Fidelis e sua incansável dedicação tornou-o muito querido dos estudantes. “O que ele tinha de especial é que sempre foi muito amigo dos alunos. Eles

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gostam demais dele. Foi convidado várias vezes para ser paraninfo, patrono e nome de turma. E foram muitos alunos que detestavam Matemática e aprenderam a gostar por causa dele. Até hoje ele recebe o carinho deles quando o encontram na rua”, afirma Maria Ignez. Mas nunca se deixou ensoberbecer pelo reconhecimento recebido, como Cristina explica: “Ele era muito humilde, não se vangloriava. Ficava contente porque os alunos gostavam dele e para o professor não precisa mais do que isso”.

Cristina teve o privilégio de, além de aluna, ser companheira de trabalho do pai. Graduada em Matemática pela UEL, começou a lecionar na Universidade em 1979. “Eu tinha 20 anos quando comecei a dar aula na UEL. Ele já era professor há bastante tempo e me ajudou muito: fazíamos planos de aula, exercícios... foi muito gostoso, uma experiência muito boa!”, diz sorridente. Mais do que apenas dar aulas junto com Fidelis, Cristina participou de projetos e escreveu um livro em parceria com ele.

Cristina conta que o primeiro projeto do qual participou ao lado do pai chamava-se “Refletindo sobre a Matemática e a educação do 1º grau [ensino fundamental]”. O objetivo era sanar as dúvidas e dificuldades de ensino dos professores do ensino fundamental das escolas públicas de Londrina. “A gente se reunia uma vez por semana com esses professores e refletíamos sobre a metodologia de ensino da Matemática. Eles é que traziam os problemas para as reuniões e nós estudávamos juntos para melhorar o ensino daquele conteúdo. Meu pai sempre foi muito preocupado com isso”.

Em seguida, começou um dos projetos mais expressivos de Fidelis, do qual Cristina também fez parte: “Xadrez, Arte e Ciência”. Na década de 1990, após fazer um curso de capacitação em ensino de xadrez em Brasília, Fidelis iniciou o projeto na UEL ao lado de outros professores de Matemática. Inicialmente o grupo capacitava professores do Colégio de Aplicação da UEL, para ensinar xadrez a seus alunos. Logo, criou-se uma verdadeira “corrente” de interessados e gradativamente mais pessoas tiveram acesso ao milenar jogo de tabuleiro. O trabalho estendeu-se também ao Instituto Londrinense de Educação para Surdos (ILES), Centro de Atendimento Integrado à

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Criança (CAIC), Usina de Conhecimento e o Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos (ILITC).

“Qualquer pessoa pode aprender xadrez e ensinar também. Então nós formamos equipes multiplicadoras do projeto em cada instituição e depois só ficamos na assessoria, dando apoio a eles”, esclarece Cristina. Para os deficientes visuais foram providenciados tabuleiros, que permitem a identificação do espaço por meio do tato e encaixe das peças por meio de pinos.

O sucesso deste projeto rendeu vários campeonatos entre universitários e a comunidade externa, realizados inicialmente na Biblioteca Central da UEL. Depois foi criado em frente ao prédio um espaço apropriado para a prática do jogo, o “Recanto do Xadrez”: são quatro mesinhas com tabuleiros, que a comunidade pode utilizar à vontade. “A Biblioteca ficou pequena e a gente começou a atrapalhar um pouco por causa do movimento e do barulho. Durante o projeto doamos jogos pra a biblioteca e chegamos a ter mais de mil empréstimos por mês. As pessoas gostavam muito. O Recanto foi um dos frutos que nós conseguimos com o projeto. Pena que não tem nem uma placa lá e muita gente não sabe o que é. Ficou faltando isso, eu até gostaria de colocar...”, lamenta Cristina.

O último projeto em que Cristina atuou ao lado do pai foi “Ergonomia e Qualidade da Escola Pública”, voltado exatamente para uma das grandes preocupações do professor Fidelis: a qualidade do ensino. A pesquisa avaliou a qualidade de vida dos professores no local de trabalho e os serviços prestados por eles. “Nós avaliamos cinco escolas de ensino fundamental de Londrina e constatamos que onde os professores estavam mais satisfeitos com a qualidade de vida no trabalho, os alunos estavam mais satisfeitos com o serviço prestado pela escola”, explana Cristina. A pesquisa transformou-se em livro, publicado em parceria pelos dois, pela Editora da Universidade Estadual de Londrina (Eduel), e leva o mesmo nome do projeto.

Mas não foi apenas dentro da UEL que José trabalhou e fez amigos. Apesar da pesada rotina na Universidade e horários quase sempre lotados, o professor dedicou-se durante toda a vida a ajudar as pessoas. Maria Ignez relembra que “ele sempre foi muito desprendido das coisas dele. Um dia chegou em casa só de meia e eu perguntei ‘Cadê

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o tênis’? Ele disse ‘Ah eu vi um velhinho lá com o sapato furado, aí eu dei o meu tênis para ele’. Fazia umas coisas assim como tirar o agasalho e dar para a pessoa se estiver com frio, sempre se preocupava com os outros”.

Na década de 1970, Fidelis fundou a “Comunidade dos Barbeiros do Asilo São Vicente de Paula”. A instituição estava com dificuldades para contratar barbeiros e a generosidade do professor fez nascer a ideia: convidou alguns amigos e fundaram a Comunidade. “Foram 35 anos em que ele ia ao asilo todos os sábados de manhã para fazer barba e cabelo dos velhinhos. Mesmo depois de doente ele ainda foi por uns três anos.

Ele conversava, brincava, levava música e dava um carinho especial para eles. Foi um trabalho muito bonito e uma coisa boa que ele deixou pra Londrina, que continua firme lá até hoje”, diz a esposa com orgulho. Os internos mais antigos ainda se lembram do amigo “Zézinho”, como era carinhosamente chamado e se emocionam nas visitas que ele ainda faz, embora menos frequentes: “Ah eles abraçam, dizem que estão com saudade...”, afirma Maria Ignez.

Fidelis também encontrava tempo para se dedicar e se entreter com a família. “Ele trabalhava com bastante seriedade, mas sempre valorizou muito a família. Este horário era sagrado. Eu lembro quando eu era criança ainda, na horinha do almoço, a gente almoçava rápido e depois batia uma bolinha no quintal”, revela Cristina. E igualmente reservava momentos de diversão com a esposa: “Ele gostava muito de dança de salão. A gente sempre ia a jantares dançantes, bailes. A gente dançava bem, os amigos diziam que parecia que a gente estava voando”, recorda com saudosismo.

A aposentadoria e a luta contra o Alzheimer

Parece inacreditável que uma pessoa que trabalhou a vida inteira com números, cálculos, xadrez e nunca deixou de estudar tenha sido acometida por uma doença como o mal de Alzheimer. Um dos mistérios da vida, como comenta Cristina: “É, aconteceu apesar de tudo! Mesmo trabalhando tanto com a cabeça... Por exemplo, ele resolvia todos os anos a prova específica de Matemática do vestibular da UEL, só para

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exercitar a mente. Ele ficava matutando e não parava enquanto não terminava”.

Maria Ignez conta que os sinais da doença surgiram lentamente. “Ele começou notando que não conseguia mais fazer palavras cruzadas, depois as contas. Eu tenho um sobrinho que era aluno dele e ele percebeu algumas falhas, por exemplo, ele colocava os problemas na lousa e depois ‘dava um branco’. Ele já devia estar doente há uns dois anos sem perceber. Quando detectamos, o médico proibiu ele de dar aulas e ele ficou muito triste, chorou muito! Depois foi aceitando”, lastima a esposa.

Fidelis trabalhou até agosto de 2005. A confirmação da doença fez com que antecipasse o seu afastamento da Universidade. Sempre assíduo em seu trabalho, o professor possuía várias licenças-prêmio que não havia tirado ainda. As licenças foram emendadas com a aposentadoria compulsória, que foi efetivada em fevereiro de 2006.

O maior foco da vida profissional de Fidelis foi, sem dúvida, sua dedicação aos alunos e o carinho que até hoje recebe deles. “Eu acho que o mais importante foi o que ele fez para ajudar os outros a gostarem da Matemática. A maioria dos alunos não gostava e aprendeu a gostar por causa dele. Ele se preocupava com o aluno, penetrava na vida deles, trabalhava para a formação deles. Ele até rezava com eles antes de começar as aulas”, afirma Maria Ignez.

A trajetória de Fidelis mostra que hoje ele é, acima de tudo, uma pessoa que viveu bem. “Ele aproveitou ao máximo o tempo e as coisas boas. Isso é que vale. Se não fizer coisas boas, o que você deixa nessa vida? Ele achava tempo para tudo: trabalho, filhos, pra ajudar, dançar... a gente não pode se queixar!”, emociona-se Maria Ignez. E completa: “Por isso hoje eu faço todo o sacrifício, tudo o que precisa por ele, pra que ele tenha, mesmo com a doença, um envelhecimento com qualidade de vida, que não falte nada, porque ele sempre se doou muito por todos nós”, conclui.

Certamente todo o empenho da dedicada esposa, filhos, netos e bisnetos que o cercam com muito amor e carinho é merecido por este homem que, apesar de tudo, ainda tem muito a ensinar. Uma parte desta lição fica registrada aqui. Em nome da UEL, muito obrigada professor Fidelis.

Janaína Castro

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José Leocádio da Silva

Com muito bom humor, José Leocádio da Silva aproveita o descanso merecido depois dos anos de trabalho. Ele é paranaense, “de muito longe”, Cornélio Procópio. Nesse município casou-se e teve os filhos, “dois casais”. Com a família já formada, José Leocádio resolveu mudar-se para Cambé: “Faz 30 anos que eu moro nessa mesma casa”. Começou a trabalhar na UEL quase por acaso: “Eu tava desempregado e falei ‘vou andar a toa’ e sai lá”. Ao chegar foi informado por

uns amigos que a Universidade estava contratando tratorista. “Eu não tinha experiência com trator grande, eu fiz a ficha e depois eu consegui entrar, em 1982”. Durante os anos em que trabalhou na Universidade exerceu essa função: “Na Fazenda Escola eu arava a terra, gradeava, plantava, colhia. Nos jardins, só roçava a grama”.

A UEL, na lembrança do José Leocádio, era pequena: “Agora já cresceu bem”.

Outra lembrança que ele faz questão de compartilhar é a da tempestade que causou estragos na UEL, logo que começou a trabalhar. “Deu uma tempestade que arrancou toda a estrutura dos equipamentos, nós tiramos tudo nas carretas pra fora. Isso à noite, quando chegamos no dia seguinte... o estrago”.

“Tinha um senhor que nós trabalhávamos juntos, ele era administrador do CCA. Quando foi à tarde, tinha uma peroba bonita, grandona, ai ele falou assim ‘ se o senhor tivesse a vida que essa peroba tem, tava tranquilo’. Quando foi no outro dia, chegamos lá a peroba no chão, depois da tempestade”, conta, divertindo-se com a própria história.

José Leocádio ainda mantém os hábitos do sítio, onde morou por muitos anos em Cornélio. Na Universidade estava em contato com a “lida”, rotinas do campo: arar, plantar e colher. Hábitos que

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parecem seduzi-lo. Atualmente, José Leocádio visita uma vez por mês a propriedade que tem na cidade natal. Cria frango caipira. Nos fundos da casa tem um pequeno viveiro, com alguns franguinhos: “Eu trago os ovos pra cá (Cambé), pra chocar e depois eu levo pra lá (Cornélio)”.

Por falar em ovos: “Na Fazenda Escola, todo dia vinha da granja um ovo para cada funcionário, uns fritavam e outros levavam pra casa. E eu pegava, furava um buraquinho de um lado e de outro, chupava e guardava a casca. Ai eu tinha doze cascas de ovos guardados. Chegou um colega meu e falou ‘Seo Zé, vamos pegar essas cascas de ovos e pôr na bandeja e vamos pôr na mochila de alguém?’. E pegou a bandeja, embrulhou os ovos e escreveu ‘ovos especiais’. Quando foi de tarde o nosso amigo pegou a mochila e foi embora. Chegou em casa, colocou a mochila na mesa e foi comprar leite. E a mulher, fazendo a janta, mexeu na marmita e achou os ovos. Aí ela pegou a frigideira, quando tava quente foi quebrar os ovos... era tudo casca. No outro dia chegou o nosso amigo bravo, ‘Vocês vão ver, eu quase apanhei em casa ontem’”.

José Leocádio gosta de contar histórias. É verdade que precisa de um incentivo da filha e da esposa. É um homem de pouca fala, mas riso fácil e sincero.

Léia Dias Sabóia

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Kleber de Cássio Ferreira Arantes

Nasci em Cafeara-PR em 16/09/1965. Morei em Umuarama-PR até meus 18 anos (1983), quando me mudei para Londrina-PR, pelo fato de ter passado no vestibular na UEL.Graduei-me em Educação Física pela UEL entre 1983 e 1986. Fiz o “Curso de Língua e Civilização Francesa” na Aliança Francesa de Londrina de 1988 a 1993.Trabalhei no Banco Bradesco de Umuarama (1981-1982) e na UEL (1984-1990), sendo aposentado por esta última em 1993. Trabalhei

na Aliança Francesa de Londrina, onde me capacitei como Professor, Tradutor e Intérprete em Língua Francesa. Atualmente sou voluntário da Rádio Universidade FM, onde, com mais dois amigos, é elaborado, executado e transmitido o Programa “Arte e Palavra”.

Fui ator e cantor do “Coro Cênico Chaminé Batom” de 1988 a 1990.

Em 07/09/1990, já trabalhando na UEL, sofri um acidente automobilístico, provocando uma lesão medular que me ocasionou, desde aquela data, paraplegia.

Soube da criação e disposição deste Portal aos servidores através do “Notícia” de 25/6/2008, o que me pareceu interessante, o suficiente, para visitar, conhecer e inscrever-me nele.

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Laerte Matias

Um terço do tempo que o professor Laerte Matias trabalhou na UEL foi longe das salas de aulas, exercendo funções administrativas. Esses 11 anos em cargos que não a docência fizeram o professor de Design ter uma visão crítica da Universidade mesmo após a aposentadoria.A trajetória de Matias, paulista de Mirandópolis – entre Andradina e Araçatuba -, como professor universitário, começou quando, trabalhando para as Centrais Elétricas

de São Paulo (Cesp) mudou-se para Bauru. E foi lá que ele cursou o Bacharelado em Desenho Industrial. Antes, porém, havia trabalhado para a empresa na construção da Usina de Jupiá.

Formado, passou no concurso para professor da Universidade Estadual de Londrina e veio para o norte do Paraná. Era 1979 quando assumiu e o departamento ainda era Departamento de Comunicação e Artes. Apenas mais tarde foi separado um para comunicação, outro para artes e depois o de artes dividiu-se em artes visuais e design.

Na Universidade, o professor fez especialização em ensino superior antes de começar o mestrado em 1981 no Rio de Janeiro. Neste mesmo ano, Matias participou da comissão de elaboração do modelo da bandeira da UEL – sendo dele o desenho - e da regulamentação do uso de seu símbolo. “O símbolo já existia, nós só padronizamos o uso dele”, revela.

O professor também atuou no Sindiprol (Sindicato dos Professores de Londrina) desde o início. Um dos momentos mais marcantes, a primeira greve, durou 42 dias e foi muito “pesada” para os servidores. Matias conta que até houve desconto na folha de pagamento, mas estavam todos juntos pela causa: funcionários, professores e alunos. O Sindicato também foi muito importante para a redemocratização da Universidade no fim da ditadura militar. Para o professor: “Era um trabalho político intenso”.

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Matias lembra também de ter participado da primeira eleição direta para reitor – que elegeu Jorge Bounassar Filho. Durante o mandato do quinto reitor (1986-1990), o professor trabalhou na Coordenadoria de Pós-Graduação (atual Proppg) no Núcleo de Inovação Tecnológica. Outro projeto criado na CPG foi o Centro Integrado de Pesquisa, que visava socializar instrumentos de pesquisa dos centros de estudos.

“Queríamos quebrar as ‘gavetas’ que existem na pesquisa”, conta o professor a respeito desta luta ainda atual.

Na administração seguinte, de João Carlos Thomson (1990-1994), Matias assumiu o cargo de prefeito do campus pela primeira vez. Após o cargo, o professor se afastou da Universidade para ser secretário de obras de Londrina e diretor da Pavilon – Companhia de Pavimentação de Londrina no mandato do prefeito Luiz Eduardo Cheida (1993-1996).

Em 1997, Matias retornou como professor na UEL e voltou à prefeitura do campus durante a administração de Lygia Lumina Pupatto (2002-2006). Com a experiência de ter ocupado duas vezes o cargo, ele brinca que “a prefeitura do campus é a que tem menos verba, menos poder e a maior câmara de vereadores – que inclui os funcionários, alunos e a comunidade”.

Na primeira vez que foi prefeito do campus, conta, a UEL não tinha problemas com segurança, o que agora é visto como um dos grandes desafios. Se parte da causa está na inserção geográfica do campus, o professor acredita que a falta de aproximação da comunidade com a Universidade também é um fator que contribui. “Principalmente a comunidade mais próxima deve ser integrada, é importante até para a preservação do campus”, completa.

O professor, que acompanhou o envelhecimento dos funcionários, muitas aposentadorias e pouca reposição nos quadros, também é a favor da terceirização de alguns serviços, como a jardinagem. Assim, acredita, outras atividades poderiam ser mais valorizadas, por exemplo, a manutenção na área eletrônica.

Mas, há uma outra observação que não envolve somente a questão administrativa. Para o professor Matias a Universidade perdeu a sua identidade: funcionários não vão com orgulho de trabalhar e estão

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descompromissados com a Instituição. “A gente tinha uma relação diferente, eu fico chateado ao perceber isto”, lastima o professor.

Como um último exemplo, ele lembra a forma como a sua aposentadoria foi comunicada: com uma carta assinada pelo pró-reitor de Recursos Humanos. “Quem presta concurso entra com uma portaria do reitor e sai com uma assinatura do pró-reitor, os alunos têm a formatura quando terminam o curso, a gente aposenta...”

Apesar de ter passado anos na Universidade, até a aposentadoria em 2007, e de confessar que não busca na Internet notícias da UEL, o professor tem a comum - nem por isto pequena - queixa de muitos aposentados: da pouca importância que dão para o aposentado nos locais onde eles trabalharam.

Poliana Lisboa de Almeida

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Ligado à UEL

O pai de Lauro Gomes da Veiga Pessoa Filho foi um dos pioneiros da Universidade. Aposentado, o engenheiro sente saudades

O contato de Lauro Gomes da Veiga Pessoa Filho com a Universidade Estadual de Londrina começou muito antes do engenheiro elétrico ser convidado por Oscar Alves a assumir a Diretoria de Equipamento do campus em 1977. O nome de Lauro já era conhecido entre os pioneiros da UEL, embora fosse mais conhecido por ser herdado de seu pai, Lauro Gomes da Veiga Pessoa.

Lauro – o pai - foi um dos fundadores e diretor da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciência e Letras e também da Faculdade Estadual de Direito de Londrina. Ambas criadas em 1956 e autorizadas a funcionar dois anos depois, foram as primeiras instituições de ensino superior da cidade e, com outras três, originariam a Universidade em 1971.

O trabalho do pai, advogado, ajudou Lauro a confirmar o seu desinteresse pela área de humanas, e sim da parte técnica das coisas. Mas ele lembra que não escolheu outro caminho para evitar o relacionamento com as pessoas, afinal, “o relacionamento acaba sendo grande do mesmo jeito”.

Depois de acabar o curso técnico em edificações, no Instituto Politécnico de Londrina (Ipolon), voltado ao desenho técnico, Lauro quis trabalhar com a parte eletrônica dos desenhos, em vez de fazer Engenharia Civil como a maioria dos que saiam deste curso. Como eram poucos cursos de Engenharia de Telecomunicações no país, ele foi para a faculdade em Santa Rita do Sapucaí (MG), onde, lembra, muitos outros engenheiros da mesma área também se formaram.

Na década de 1970 era comum que os formandos saíssem empregados da faculdade. Apesar de ter outra proposta de emprego em

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Londrina, Lauro veio para a UEL, para a Diretoria de Equipamentos. Trabalhou apenas alguns meses com o pai, que faleceu em 1978 quando era diretor do Centro de Estudos Sociais Aplicados.

Ser recém-formado era um desafio que ele superou com o trabalho, “eu cheguei na Universidade e aprendi fazendo. Porque, na escola, aprendíamos a fazer em uma sala e não em uma área tão grande”. Lauro lembra que a central telefônica da Universidade, em 1977, tinha 60 ramais. Em um primeiro edital para central que foi feito, o número subiu para 400. Hoje, o número estimado é de quatro mil ramais em toda a UEL.

“Eu participei ativamente na construção da Universidade”, conta Lauro, responsável pela elaboração de um plano diretor para telecomunicações, que incluía a rede subterrânea - utilizada mais tarde na colocação da Internet no campus.

Poucos prédios, ruas e acessos sem asfaltos, assim era a UEL de que Lauro recorda no final dos anos 1970. Apesar disto, era preciso uma equipe de manutenção eficiente. O engenheiro destaca que todas as conquistas na Diretoria só foram possíveis por causa da boa vontade do pessoal que trabalhava com ele. Estes profissionais eram treinados e a Diretoria chegou a época em que quase 85% dos serviços de manutenção (bebedouros, máquina de escrever – mais tarde o computador —, micro-ondas,...) eram feitos por eles. “Pouco era mandado para fora da Universidade, o que gerava uma economia”, explica.

O funcionário explica que em telecomunicações nem tudo é um monte de fios. As amizades também eram fortalecidas com os novos desafios e era preciso ter vontade de resolver os problemas. Nessa época a UEL chegou a ter uma das maiores centrais telefônicas particulares do Paraná, perdendo para poucos municípios inteiros.

Com 44 anos Lauro se aposentou na UEL para administrar o negócio próprio, sabendo que novas leis poderiam retardar sua aposentadoria. Mesmo com bons frutos no trabalho, Lauro vinha planejando a sua saída da Universidade. “Quem está trabalhando em um órgão público é bom se preparar para a aposentadoria, porque é difícil ficar parado e até financeiramente é interessante”, aconselha.

Sua empresa de pagers atendia a região sul do país. Com o

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surgimento do celular, ele passou a trabalhar com operadoras desta nova tecnologia, que deixava o pager ultrapassado, e ainda pretende ampliar suas ofertas.

O engenheiro parou de trabalhar na Universidade, mas nem por isto deixou de sentir falta dela e do relacionamento que tinha com as pessoas. “Eu conhecia muita gente por trabalhar em prestação de serviço”.

Quanto à aposentadoria na UEL, o funcionário ressalta a importância de projetos como o Portal do Aposentado, para relembrar pessoas conhecidas. “Porque quando o funcionário aposenta, ele não sai avisando, então é bom saber o que aconteceu com aquela pessoa”, finaliza Lauro – que fez a sua parte.

Poliana Lisboa de Almeida

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Ubiratan de Oliveira e Leange Severo

A história dos jornalistas Ubiratan de Oliveira Alves e Leange Severo Alves começa a cerca de mil quilômetros de Londrina. Mais precisamente na cidade de Santa Maria (RS). Ubiratan e a esposa, Leange, foram convidados a trabalhar na UEL pela atividade que já faziam no interior gaúcho.Na época não existiam muitos

cursos de jornalismo. Ubiratan aprendeu Comunicação Social na Escola do Exército do Rio de Janeiro, tendo aulas de televisão na extinta TV Excelsior e de Jornalismo impresso na redação do Correio do Brasil. O restante foi adquirido com a experiência, como aconteceu com outros profissionais.

De volta a Santa Maria, Bira, como o jornalista é conhecido, trabalhou na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) a partir de 1965, logo após o seu início. Foi assessor de imprensa do primeiro reitor, José Mariano da Rocha Filho, um médico de quem recorda como um batalhador do ensino superior no país. Não à toa, a UFSM, lembra o professor, foi a primeira universidade federal brasileira a funcionar em uma cidade de interior.

Ubiratan também assessorou o segundo reitor da Universidade, coordenou o ensino a distância e projetos de extensão, como o Crutac (Centro Rural de Treinamento e Ação Comunitária) e o Projeto Rondon. Tudo isto, diz, não porque ele “fazia tudo”, mas porque no começo a estrutura era diminuta e havia menos pessoas qualificadas.

O Crutac, explica, era realizado na região de acordo com o pedido das prefeituras. A intenção era que os projetos ajudassem a comunidade sem ser assistencialista. Já o Projeto Rondon envolvia algumas etapas. Em 1968 ele foi criado com a chamada Operação Zero, que levou estudantes do ensino superior para conhecer a floresta amazônica.

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A partir do ano seguinte começaram a ser criados os campi avançados. A UFSM foi a primeira a ter o seu campus, em Boa Vista (RO). Os campi funcionavam o ano inteiro para a extensão universitária e os alunos chegavam a passar um mês no local.

Como a Universidade em Santa Maria foi a primeira a enviar alunos para o projeto, Ubiratan foi, desta vez como jornalista, fazendo matérias para O Globo, no Rio, e para Manaus. Ele conta, por exemplo, que em 1969, lá no norte que os alunos – e ele – conheceram as bebidas em lata. Era mais barato trazer latinhas de Miami do que pagar pelo vasilhame – que custava muito e não compensava voltar para o sul – toda a vez que alguém queria beber cerveja ou refrigerante.

No mesmo ano em que entrou para a UFSM, 1965, Ubiratan e Leange se casaram. Na época do Projeto Rondon, formada em Letras e dando aulas na Universidade, a professora passava algum tempo no campus avançado lecionando cursos não regulares. Ela também estava começando o novo curso de Jornalismo.

“Em 1975, o reitor me chamou porque tinha alguém que vinha de Londrina para saber sobre a extensão”, conta Ubiratan. E aquela pessoa era Marco Antônio Fiori, que mais tarde foi reitor da UEL.

Depois da viagem a Santa Maria e de um encontro sobre o Crutac em Vitória, a UEL estava disposta a trazer Leange e Ubiratan para Londrina. Ele também tinha programa em uma rádio e na televisão educativa. Leange estava se formando em Jornalismo e já assumiu aulas no curso de Comunicação que também era novo aqui – de 1974. Ele veio como chefe do Grupo Tarefa Universitária, com diretores de centros e outros nomeados, que mais tarde viria a ser a Coordenadoria de Extensão e, hoje, é a Pró-Reitoria de Extensão.

Leange foi a primeira jornalista formada a trabalhar na Folha de Londrina. Ela entrou lá em 1976, mas como o Departamento de Comunicação (na época ainda Comunicação e Artes) precisava de professores, ela deixou o emprego para assumir as aulas. Ubiratan entrou na sala de aula apenas em 1977, quando os primeiros alunos começaram a ter as disciplinas de rádio e televisão. Mesmo assim o professor lembra das dificuldades que eram, com as aulas no Edifício Comendador Júlio Fuganti com uma câmera amadora. Mais tarde as aulas passaram a ser no CCH.

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Comandando a extensão, Bira lembra que quando chegou aqui o Crutac era um posto de saúde em que alunos atendiam a comunidade de Paiquerê. Ele ressalta que este não é o papel da Universidade, porque a saúde deve ser cobrada como um direito e os estudantes não devem substituir o profissional, caso contrário uma prefeitura deverá parar de contratar os seus profissionais.

O campus de Limoeiro do Norte, no Ceará, era cuidado pela UEL no projeto Rondon e funcionava assim como o de Bela Vista. Ubiratan, diretor, e Leange foram várias vezes e ficaram um tempo a mais para concluir a estrutura que o campus tinha na cidade. Aquela fase do projeto terminou nacionalmente em 1985, mas o professor acredita que na comunidade daquela cidade cearense sempre haverá um pouco de presença da UEL.

Ubiratan, que também foi diretor da Editora e Gráfica da UEL, lembra da falta de estrutura física da Universidade. “Nós estacionávamos o carro no barro lá no estacionamento da Reitoria, tinha até aqueles ferros para limpar os pés antes de entrar nos prédios”. O barro também estava na roupa dos alunos, principalmente nos dias de chuva, quando eles chegavam em sala de aula com as calças sujas até o joelho.

Bira também falou da falta de estrutura física do Centro de Comunicação, Educação e Artes, que era nas “casinhas de madeira”, que estão lá até hoje. “A UEL física era muito mal equipada”, diz.

Mas eles compreendem que agora não há mais verbas como antigamente, como na época em que a Universidade estava sendo montada.

Quanto aos problemas com equipamentos, ou a falta deles, a professora Leange declara que a Universidade consegue contornar estes problemas com a parte teórica. “A prática só é válida quando tem embasamento. E não existe isto que a prática é diferente da teoria. A prática mal feita é que é diferente da teoria.”

Nos anos de UEL, além de estar em sala de aula, Leange foi chefe de departamento, esteve no Conselho Universitário e foi diretora da Rádio Universidade. Ubiratan preferiu não assumir mais cargos. Quanto a dar aulas, ele compara o ofício ao sacerdócio quando se quer fazer bem feito.

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O professor Ubiratan aposentou-se em 1993, mas continua dando palestras. Ainda neste ano ele vai para Santa Maria dar uma palestra sobre a importância da publicidade no jornalismo.

A professora Leange aposentou-se em 1995. Em seguida prestou concurso e voltou a dar aula na UEL, mas acabou pedindo demissão. Desde 2002 ela é professora e coordenadora do curso de Jornalismo na Unopar.

Depois de aposentados, os professores passaram dois anos no Rio Grande do Sul. Ele como diretor, ela como editora de um jornal, mas resolveram voltar para Londrina. O casal tem três filhos: um engenheiro civil e professor da UEL, um arquiteto e uma jornalista, que é formada na Universidade.

Poliana Liboa de Almeida

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Uma escolha, uma história

A auxiliar de enfermagem Ledvina Piccelli tem hoje como segunda família todos aqueles que trabalharam com ela na Clínica Odontológica da UEL. E pensar que tudo começou com uma indecisão...

A simplicidade e a simpatia da auxiliar de enfermagem Ledvina Alvarez Piccelli ficam evidentes assim que ela começa a contar a sua história de mais de 30 anos de serviços prestados à Universidade Estadual de Londrina. História que, em certo ponto, confunde-se com a da cidade de Londrina. A família veio do interior de São Paulo e se estabeleceu no norte do Paraná para trabalhar. Dono de propriedade na zona leste da cidade, o avô materno de Ledvina foi eternizado na região. Hoje, a rua

Arcílio Diassi, no Conjunto Eucaliptos é uma merecida homenagem ao pioneiro.

Nascida na década de 1950, época em que o café estava em pleno apogeu na cidade e região, a londrinense Ledvina passou a fazer parte da UEL em 1976. Antes, estudou o primário (ensino fundamental) ainda quando morava na zona rural e, depois de uma pausa nos estudos que durou até os 21 anos, concluiu o ensino médio.

A partir desse momento, Ledvina enfrentou uma das dúvidas mais comuns de todo aluno que conclui o ensino médio: o que fazer agora? Foi quando, por volta de 1973, optou por um curso profissionalizante de prótese dentária, no Colégio de Aplicação. “Meu irmão que deu palpite nessa época, para que eu fizesse o curso. Ele dizia: ‘Ah! Faz, porque vai ser bom, é uma profissão que você vai aprender’”, lembra. Mal sabia ela que, a partir do momento em que optou em fazer o curso, começava a trilhar o caminho que a levou para uma vida de dedicação à Clínica Odontológica da UEL.

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Caminho que teve certa resistência no começo. “Lá no curso de prótese, eu estava perto da Clínica Odontológica da UEL. Aí teve o curso de auxiliar odontológica. Nos dois, entrei na primeira turma! Foi quando o professor desse curso, que era o doutor Toshihiko [Tan, professor de Odontologia aposentado pela UEL] me convidou para trabalhar na Clínica Odontológica, mas aí não quis”, relembra.

Tempos depois, não teve jeito. Como numa obra do destino, um rapaz que estudava com ela no curso de prótese dentária – Argemiro – deu a dica para Ledvina procurar novamente Toshihiko, pois soube que a Clínica Odontológica precisava de funcionários.

Foi o que ela fez e então passou a ser estagiária na Clínica. Cinco meses depois, em 7 de dezembro de 1976, foi efetivada e virou funcionária do laboratório, como celetista. Dois anos mais tarde, fez o concurso e passou a ser servidora da UEL. Época de crescimento profissional, é verdade, mas também não faltaram dificuldades. “Trabalhei dois anos no laboratório, mas não consegui me acertar. Minha capacidade foi pouca pra ficar ali, talvez me faltasse mais tempo [de experiência]”, admite. “Então, em vez de o doutor Toshihiko me mandar embora [risos], ele me transferiu para as atividades da Clínica”, relembra com bom humor a fase difícil.

A partir daí, a vida começou a mudar: veio o casamento e a chegada do filho mais velho. Na Clínica Odontológica, não foi diferente. “Precisavam de gente para trabalhar no centro cirúrgico. Aí uma professora de lá, a Dra. Yoko [Eide Yoko Uchida Athanazio], pediu para que eu passasse a trabalhar no centro cirúrgico.” Além do convite, foi necessário fazer uma prova e Ledvina não decepcionou: foi aprovada e promovida à instrumentadora cirúrgica. É, mas quanto maior o cargo... “Chegava lá cedo, às seis horas da manhã e daí ia fazer a rotina... por tudo em ordem, não é?”, brinca. Dedicada, ela realmente procurava não falhar quando o assunto era organização: “Conferia o que estava certo, o que era necessário ser feito e começava a atender os professores, alunos e pacientes que ficavam na sala de espera. Tinha professor que às sete horas começava a fazer cirurgia, então eu ia para o centro cirúrgico atender eles, pegar material, instrumentos, medicamentos, chamar aluno... Sempre dava atenção a eles, para tudo que precisassem eu estava lá!”, gaba-se.

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Mais do que apenas ser um “braço direito” dos professores, Ledvina fazia às vezes de orientadora dos estudantes universitários quando necessário. Com um sorriso, ela se recorda: “Sempre fui muito exigente com os alunos. Se é pra fazer certo, tem que fazer certo! Se não pode pegar de luva aqui, então não pode pegar de luva! Hoje, quando me encontro com eles, todos falam que não se esquecem de mim porque eu sempre fui muito brava com eles. ‘Brava para vocês aprenderem!’, respondo. Era obrigação da gente orientar”, analisa. E, ao que parece, deu certo ser exigente. “Recentemente, eu me encontrei com um ex-aluno que falou assim: ‘Nunca mais peguei num foco [de contaminação. Na odontologia, pode ser a cuspideira, o refletor, a estufa, o aparelho compressor, dentre outros] com luva porque você gritou comigo aquele dia!”, conta. Mas, logo em seguida, não deixa de amenizar: “Mas sempre surgia a oportunidade de brincar, bater um papo, também... Não era assim tão rígido.”, esclarece.

A aposentadoria

Os anos se passaram e Ledvina já era mãe de quatro filhos na década de 1990. Para ajudar no orçamento familiar, trabalhava em dois empregos. Na ocasião, o seu cargo já era de auxiliar de Enfermagem na Clínica Odontológica, mas o cansaço e a necessidade de, segundo ela, dedicar-se mais à família pesaram na decisão de se aposentar na UEL anos mais tarde. “Deixei muito de dar atenção aos filhos”, lamenta. “Se eu tivesse trabalhado menos, talvez eu tivesse tido tempo de dar mais atenção a eles... Mas eu tinha que trabalhar, pra ter dinheiro pra eles, pra dar o estudo pra eles”, justifica. “Nunca os coloquei para trabalhar enquanto novos. Eu dizia pra eles: ‘eu vou fazer o que eu posso pra vocês estudarem’. Estou formando o último agora”, fala com orgulho. Até hoje no mesmo “segundo emprego” dos anos 1990, Ledvina sonha em se aposentar nele também. “Aí, é só passear! [risos] A viagem que aparecer eu vou!”, promete.

E se no passado havia dúvida quanto ao que escolher como profissão, hoje ela mostra satisfação pela decisão tomada, primeiramente com o auxílio do irmão e depois com o amigo lá no início dos anos setenta. “Eu sempre gostei muito de trabalhar com

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isso, principalmente quando eu passei a trabalhar mais na parte de Enfermagem. A gente nasce destinada a um caminho na vida. Acho que nasci pra isso”, discursa. Mais que a realização, a “escolha” deu a Ledvina a oportunidade de, como ela mesma afirma, fazer parte de uma outra família. “Eu tive duas famílias na verdade, uma aqui em casa e outra lá na Clínica Odontológica. Ainda ligo pra eles, mantenho contato. Eu me aposentei em 2007, saí de lá, mas, na verdade, ainda estou lá dentro”, enfatiza. “Outro dia mesmo fui lá e tive uma recepção emocionante. Então, faz parte da vida da gente, faz parte da minha história... Um pessoal que nunca vou esquecer... Dá uma saudade muito grande”, confessa.

A UEL também sente saudades, Ledvina.

Gustavo Ticiane

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Leonel e sua Monark

O funcionário Leonel Martins Machado trabalhou na Clínica Odontológica por mais de vinte anos e o seu meio de locomoção para percorrer os 8,5 quilômetros era uma bicicleta

Leonel Martins Machado nasceu no ano de 1935. Começou a trabalhar na Universidade Estadual de Londrina com 46 anos. O emprego na Clínica Odontológica foi para ele o mais estável, depois de tantos anos de trabalho duro. Durou até os 70 anos, quando foi efetivada a aposentadoria compulsória (obrigatória quando a pessoa completa 70 anos de idade).

Este senhor, que mora no Cafezal I, a oito quilômetros e meio do local de trabalho – medidos por uma Kombi – tinha uma companheira durante estes anos e que, confessa, “agora está aposentada também”, uma Monark 82. A bicicleta vermelha, sem marcha, ainda com os adesivos originais carregou Leonel que economizava em passes de ônibus enquanto observava pessoas mais novas descerem para empurrar suas bicicletas nas Avenidas Inglaterra e Duque de Caxias.

O funcionário trabalhou a maior parte dos anos em que esteve na Universidade na Clínica Odontológica, na Rua Pernambuco. Só não esteve lá durante os quatro meses que trabalhou “emprestado” para o Hospital Universitário. Ele entrara para a UEL em um concurso em que outras sessenta e cinco pessoas concorriam.

Nos anos de Universidade, Leonel Machado ficou entre a zeladoria e o almoxarifado da Clínica Odontológica Universitária. A experiência anterior em limpeza fora pequena, quando esteve no exército, mas o funcionário avisa que tinha noção de como era e contou com a ajuda dos funcionários mais antigos.

Quando ele entrou eram dois homens e oito mulheres no serviço de limpeza, mas Leonel acredita que não tem diferença no trabalho. Ele

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se diverte ao contar de quando teve que ajudar duas outras zeladoras a limpar o vidro de uma clínica e da faxina pesada que fez quando trabalhou no Hospital Universitário, “as pessoas de lá queriam que eu ficasse no HU, me amarrar lá”.

Leonel Machado, que cursou até a 3ª série do ensino primário substituiu um funcionário com ensino fundamental completo no almoxarifado. Ele fala que a administração sempre acreditou nele, que acompanhava sozinho as equipes de dedetização aos fins de semana, quando era preciso.

Além do apoio dos superiores, o funcionário não esquece dos outros que trabalharam com ele, “graças a Deus na UEL eu só fiz amigos”. Uma parte deles também se deve ao futebol. Até os 59 anos Leonel jogou na Apuel, “tinha um japonês que eu marcava sempre e que me perguntava quando eu ia parar”, e depois foi para a categoria manter.

Sempre que passa pelo centro da cidade, Leonel vai lá na Clínica fazer uma visita aos amigos. “Ah, se eu fico muito tempo sem aparecer eles perguntam.”

Depois de uma conversa e na hora de registrar o momento, Leonel que já havia sido fotografado com sua companheira de mais de 25 anos em um cômodo vazio da casa a leva para a varanda. E lá, a Monark 82 vermelha com o dono, que não tem nenhuma foto com ela. Ele olha todo orgulhoso no visor da máquina digital sua bicicleta bem conservada, ainda com os adesivos originais.

Poliana Lisboa de Almeida

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Outra vida na UEL

Leonilda de Souza e Silva trabalhou como zeladora em vários setores da Universidade antes de pegar transferência para o Ambulatório do Hospital de Clínicas (AHC), onde ficou 13 anos até a aposentadoria

A vida de Leonilda de Souza e Silva mudou quando ela começou a trabalhar na Universidade Estadual de Londrina. Antes de 1977, a funcionária era dona de casa e empregada doméstica, mas, depois de entrar na UEL, ela conseguiu sustentar a casa com o seu salário sem precisar da ajuda do marido.Leonilda revela que seu pai criou as filhas para se casarem. Ele não deixava

elas estudarem – pois “o homem é que deveria sustentar a casa” - e só registrou as filhas antes de seus casamentos, para que tivessem idade suficiente. Assim, com 15 anos Leonilda foi registrada como tendo 17 para o matrimônio.

Ela lembra que veio do sítio para a cidade sem saber de muita coisa. Como empregada na casa de um patrão de seu marido, acabou descobrindo como se atender ao telefone depois de colocá-lo no gancho enquanto ia chamar o patrão e perder a ligação.

Como seu vizinho era funcionário da UEL, Leonilda pediu para que ele avisasse quando abrissem vagas na Universidade. Seis meses depois de preencher a ficha, ela estava começando o trabalho. Daquela época, diz em poucas palavras: “a UEL era muito linda”.

José Ramos da Silva, marido de Leonilda, trabalhava como servente de pedreiro e começou a levar de bicicleta a mulher ao trabalho. “Ele me levara na garupa até o pé de Santa Bárbara, onde tem aquele letreiro escrito: Universidade Estadual de Londrina”, lembra.

Na UEL a funcionária sempre trabalhou como zeladora. Em 1977, começou na Coordenadoria de Recursos Humanos (CRH, atual

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PRORH). Depois foi para a prefeitura do campus e passou pela CAE (atual Prograd), pela Editora e Reitoria. Mas, quando começou a construção do Ambulatório do Hospital das Clínicas (AHC), Leonilda pensou que poderia trabalhar lá. Afinal, além de ter o salário um pouco maior, ela estaria sempre no mesmo lugar.

Com o AHC pronto, pediu transferência e, em alguns meses, já estava no novo local. O serviço era mais fácil; antes, quando trabalhava na Reitoria, por exemplo, “tinha que pegar os sacos de lixo e levar lá embaixo”, já no Hospital das Clínicas o lixo era recolhido lá mesmo. A funcionária conta também que ficava responsável por limpar as clínicas, mas os corredores eram lavados pelos homens com o “rodão”.

Até o marido de Leonilda veio trabalhar na Universidade, onde foi jardineiro e segurança - depois de uma cirurgia no coração. Mas ela conta que José não gostava de ficar sozinho como guarda e chegava bravo quando levava bronca por chamar a atenção de alguém que estacionava o carro errado. A funcionária lembra que os carros tinham que estar estacionados certinho e o marido zelava por isto.

Leonilda, que achava a UEL um bom lugar para se trabalhar, aposentou-se ano passado por estar muito cansada. O marido tinha falecido alguns anos antes e ela pode começar a viajar – o que sempre gostou, mesmo contrariando o companheiro. “Eu parei de trabalhar e na outra semana estava na praia”, conta a funcionária que já foi para a Bahia, Brasília, Minas Gerais, Foz do Iguaçu e outros destinos, muitas vezes de excursão com amigas feitas na Universidade.

Além das viagens, a funcionária já reformou a casa que o marido construiu, em que mora sozinha. Leonilda, mesmo com pouco estudo, sabe que o dinheiro que ganha tem que servir para aproveitar a sua vida. Sabedoria de quem viu o marido falecer e deixar para outros o dinheiro que - a muito custo - conseguiu em vida.

Poliana Lisboa de Almeida

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Da Faculdade de Direito

Leslie Voigt Cosentino do Valle Rego, advogada e ex-aluna da Faculdade de Direito, é lembrada pelos anos em que esteve na Assessoria de Legislação e Ensino da CAE

Leslie Voigt estudou na Faculdade de Direito de Londrina, onde sua mãe esteve na primeira turma. Leslie era professora da rede estadual, no Colégio Hugo Simas, e foi convidada pelo diretor Nilo Ferraz de Carvalho para ser secretária da Faculdade. Como a Faculdade já estava ligada ao estado do Paraná, ela foi cedida para trabalhar na fundação.Quando o governo cortou as disposições, a funcionária manteve os

dois empregos até a Universidade ser reconhecida como instituição pública.

Na CAEG (Coordenadoria de Assuntos de Ensino de Graduação) Leslie passou pelo Colegiado dos Cursos, Assessoria de Currículos e Programas e Assessoria de Legislação e Ensino, onde ficou por mais tempo. Como assessora de legislação de ensino, ela era responsável por pareceres que embasariam a defesa jurídica.

Em 2000 a advogada, que já trabalhava no período noturno na Unopar, no mesmo cargo, aposentou-se da UEL. Ela conta que o trabalho é muito parecido, embora na faculdade particular são incluídas questões financeiras.

Poliana Lisboa de Almeida

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Conheça o casal Fortes

Licéia Cianca Fortes e Waldyr Gutiérrez Fortes, professores de Biblioteconomia e de Comunicação, participaram da história da Universidade assim como a UEL faz parte da vida deles

A londrinense Licéia começou a trabalhar na UEL em 1973 em um cargo administrativo ainda no Colégio Hugo Simas. Ela trabalhava na assessoria de planejamento, porta com porta com a reitoria de Oscar Alves.Dois anos depois, foi para a secretaria executiva do Centro que mais tarde viria

a ser o CECA (Centro de Educação, Comunicação e Artes), cargo que ocupou até 1985. “Neste meio tempo”, conta Licéia, “apareceu o Waldyr”.

O Waldyr de quem fala é Waldyr Gutiérrez Fortes. Em 1977, o relações públicas paulistano, que trabalhava e dava aulas de Comunicação em São Paulo, veio para Londrina para ajudar na criação do curso da UEL.

No começo, o curso de Comunicação Social da Universidade era polivalente, explica Waldyr. Os alunos tinham aulas juntos nos primeiros anos da graduação e depois optavam pela habilitação de Jornalismo ou de Relações Públicas.

Waldyr e Licéia eram solteiros e lembram que havia uma “campanha” para que eles namorassem. Deu tão certo que no ano de 1979 eles se casaram.

Quando o professor Waldyr começou a cursar a Especialização em Metodologia em Ensino Superior, Licéia animou-se e resolveu voltar a estudar. A funcionária cursou Biblioteconomia. Dez anos depois de ter entrado como funcionária na UEL, em 1983, estava formada e em 1985 foi aprovada em concurso público para professora.

Desta feliz união, que começou graças à Universidade, os professores tiveram os filhos Fellipe e Belliza, cujos nomes também tiveram origem em discussões com amigos feitos na UEL.

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O casal demonstra cumplicidade e atenção à vida do profissional do outro. Waldyr e Licéia participaram de momentos importantes dos cursos para os quais lecionavam. Ela lembra, por exemplo, que o marido esteve presente em quase todas as formulações de currículo do curso de Relações Públicas, com exceção da primeira. Hoje, o curso tem o currículo reconhecido nacionalmente. A professora também esteve presente na comissão de Biblioteconomia responsável pela elaboração do curso de Arquivologia.

Arquivologia, lembra Licéia, surgiu como resposta ao problema de ocupação de vagas, pois com o regime seriado os cursos de História e Biblioteconomia tinham pouca procura no vestibular. Uma comissão com três professores de cada um destes cursos foi montada para a elaboração de Arquivologia. Licéia fez parte desta comissão que teve um trabalho complicado. “Eram poucos cursos no Brasil, cinco ou quatro, o que dificultava até para fazer um currículo diferenciado. E nós queríamos uma característica bem regional”, aponta a professora.

O pioneirismo na comissão de Arquivologia rendeu à professora uma indicação ao colegiado do curso recém-aberto em 1998. Licéia estava requerendo a aposentadoria e não pode assumir o cargo. Em 2008, ano em que se comemorou uma década do curso na UEL, a professora foi lembrada.

Waldyr aposentou-se em 2003 depois de ter dado aulas de diversas disciplinas nas áreas de teoria e técnica a Jornalismo e Relações Públicas. Ele conta que estava muito cansado quando deu esta pausa. Pausa porque o professor diz que demorou a arrumar as suas coisas, mas em 2006, por meio de concurso público, ele voltou a lecionar.

O professor conta que sempre trabalhou muito. “Ontem, por exemplo, só estava eu no escritório (de Relações Públicas)”, diz à esposa. Voltar como professor concursado evita a sobrecarga de disciplinas e ficar com disciplinas que os outros não querem.

Licéia também voltou à UEL três vezes nestes dez anos. Sempre como temporária. Logo após a aposentadoria, chegou a pensar em prestar concurso novamente. No entanto, num dos concursos, o seu diploma de mestrado não estava pronto; e um outro impedia a volta de professor aposentado.

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Ela acabou desistindo. Para os testes seletivos para o cargo temporário, ela voltava a convite do pessoal do curso. Segundo Licéia, nem ela nem o marido sofreram com a aposentadoria. “Até porque a gente ocupou este tempo de outra maneira”, lembra, tranquila.

Waldyr, que já tem cinco livros publicados, não parou de produzir. Assim como Licéia, que além da Biblioteconomia deu aula em outros cursos da graduação e na Unifil.

Mas ambos, que já deram aula para cursos de especialização, têm mais uma paixão em comum, os alunos da graduação. “A gente prefere orientar três TCCs (trabalhos de conclusão de curso) a dar uma disciplina em uma pós-graduação”, revela Licéia, com o que Waldyr concorda.

Poliana Lisboa de Almeida

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Linda Bulik

Linda Bulik é doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de Paris II (Sorbonne), com tese defendida com o título de As Doutrinas da Informação no Mundo de Hoje. Concluiu Pós-Doutorado em Comunicação, na Universidade de Paris VIII, com a pesquisa A Comunicação do Homem em Situação de Representação (Por uma Semiótica do Odin Teatret) realizada na Dinamarca, no Nordisk Theatre Laboratorium. Formou-se em Letras Franco-Portuguesas pela Universidade Estadual de Londrina e

Jornalismo pela Ecole des Hautes Etudes Sociales / section École Supérieure de Journalisme de Paris. Autora dos livros Doutrinas da Informação no Mundo de Hoje (Loyola), Comunicação e Teatro (Arte & Ciência) e Comunicação, Memória & Resistência. (Paulinas). Este último, em parceria com Pedro Gilberto Gomes e Marcia Piva. Conta com inúmeros artigos científicos e técnicos em revistas acadêmicas e jornais de notícias.

Antes de ingressar na carreira docente, Linda Bulik estudou na UEL, no período de 1969 a 1973, tendo participado da efervescência estudantil da época - política e cultural -, fazendo parte do Diretório Acadêmico Rocha Pombo, como diretora cultural, e representando o curso nos Festivais de Teatro da época. Vivenciou o período de implantação da Universidade de Londrina e colou grau na primeira turma de formandos da UEL.

Tanto na vida acadêmica quanto profissional, sempre se interessou e buscou agir na zona de interseção entre a comunicação e a arte, primeiro no jornalismo escrevendo crítica de teatro, nos anos 70 e 80, na Folha de Londrina, e depois, na carreira acadêmica, como Professora Titular concursada da Universidade Estadual de Londrina, nos anos 80 e 90, de Teorias da Comunicação, com ênfase em Semiótica e Estética da Comunicação.

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Ainda no jornal, criou a editoria de arte e foi editora-chefe do Caderno 3 – suplemento hebdomadário cultural da Folha de Londrina, no final dos anos de 1970, que discutiu os grandes temas da época e refletiu as teses do estado de direito e do retorno do País à democracia.

Linda Bulik começou a trabalhar na UEL, em 12 de fevereiro de 1979, e, já no final daquele mesmo ano, foi eleita por seus pares para ocupar o mandato por dois anos de chefe do então Departamento de Comunicação e Artes, que, em 1982, seria desmembrado. Posteriormente, ocupou a chefia do Departamento de Comunicação, no biênio 1987-1989, e Coordenadora do Curso de 1982 a 1984 e de 1995 a l997. Participou ativamente da Comissão Especial encarregada de elaborar o Projeto de Criação e Implantação do Curso de Graduação em Artes Cênicas e quando se aposentou estava coordenando o Projeto de Criação e Implantação do Mestrado em Comunicação.

A professora atuou ativamente na política universitária tendo participado não só da criação como da diretoria de dois biênios consecutivos da ADUEL (1981-1983 e 1983-1985) e se envolvido com afinco no debate da ANDES em defesa da universidade pública.

Embora aposentada da UEL, Linda Bulik continua na ativa e viajando toda semana para Marília. Atualmente leciona na Graduação em Jornalismo e é professora titular do Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em “Comunicação” da Universidade de Marília, atuando na linha de pesquisa Produção e Recepção de Mídias.

Sua obra apresenta duas vertentes: uma pesquisa descritiva e crítica no campo dos estudos midiáticos, que trata da comunicação política e das políticas de comunicação, e outra que explora as conexões entre estética e a cultura das mídias.

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Liogi Suzuki

Com disciplina e dedicação, Liogi Suzuki, tinha menos de cinco anos de idade quando começou a treinar kendo ainda durante as madrugadas. A obrigação era imposta e ministrada pelo pai, “um exímio praticante de kendo”, que aprendera a luta inspirada nos samurais no país que deixara - Japão. Tamanha rigidez, lembra Suzuki, devia-se ao fato de o filho ser um pouco preguiçoso. Agora, ele aproveita para brincar, que não sabe “se a mãe chorava por minha moleza ou se chorava pela rigidez do meu pai”.

Depois de um pouco de kendo, este filho mais velho teve de seu pai algumas lições de judô. Foi assim, dentro de sua própria casa, que Suzuki teve contato com a luta que esteve presente em momentos importantes de sua vida.

Em 1948, a família tinha se mudado da cidade de Lins (SP) para Londrina. Depois dos cursos primário e secundário, Suzuki fez o técnico em contabilidade no Colégio Comercial de Londrina. Em seguida, cursou Ciências Econômicas na Faculdade de Ciências Econômicas de Apucarana.

Muitos alunos de Londrina, assim como ele, iam todos os dias para Apucarana frequentar às aulas. Isto porque na época em que Suzuki começou a faculdade, a Universidade Estadual de Londrina ainda não tinha o curso de Ciências Econômicas.

Poliana Lisboa de Almeida

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Lourival da Silva

Lourival da Silva é natural de Terra Roxa, no interior de São Paulo. Mas, foi em outra terra roxa que a família se estabeleceu: Londrina.Quando deixou Terra Roxa, Lourival era ainda muito pequeno e, portanto, não guarda lembranças da cidade natal. Elas começam surgir após os cinco anos. Ele conta que teve a infância diminuída pela necessidade de trabalhar e ajudar os pais. Com apenas oito anos, Lourival começou na “lida”.Segundo ele, as coincidências parecem marcar sua vida. A primeira foi deixar Terra

Roxa para habitar uma cidade famosa por sua terra roxa. Depois de dois anos em Londrina, a fazenda que o pai empreitou chamava-se Santa Rosa. Posteriormente, ali foi construída a Universidade, onde ele iria trabalhar mais tarde. “Um dia chegou um caminhão com um trator grande em cima. Subiu uma ruinha de terra e descarregou o trator. E o trator começou a arrancar o café, bem na nossa lavoura”.

Como a lavoura cedeu lugar às construções da UEL, Lourival e a família se mudaram para outra propriedade, onde moraram por 16 anos. Em 1969, casou-se. Ele trabalhava na construção. O próximo emprego foi em uma fábrica de móveis. Lá ficou por dois anos e meio. Depois veio o desemprego, num período difícil para Lourival. “Eu era recém-casado, já com uma filha. Fiquei muito preocupado. O que eu faço agora?, eu pensava”.

Léia Dias Sabóia

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Luiz Abdon Pereira

“Diz que vinha juntar dinheiro com rastelo, aí eu vim juntar dinheiro com rastelo aqui”. A riqueza gerada pelo café no norte do Paraná atraiu gente de todo o Brasil, que acreditava na promessa de uma vida melhor nas terras férteis do sul do país. Foi assim que, na década de 60, o operador de equipamento pesado, Luiz Abdon Pereira, chegou em Maravilha, na região rural de Londrina, vindo de Aratuba, no Ceará.Porém, a vida nos cafezais não era fácil. Depois de seis anos vivendo aqui, Luiz decidiu voltar para sua cidade natal, mas chegando lá não conseguiu se readaptar e voltou para o sul um ano e meio depois. Vivendo em Tamarana, começou a trabalhar nas construtoras que abriam as estradas

que ligavam Londrina a outras cidades do estado, como Curitiba, por exemplo. Depois de se mudar para Cambé, Luiz chegou a trabalhar em uma grande viação da cidade como lubrificador de ônibus, mas como o serviço acabava muito tarde, perto de meia-noite, pediu as contas por medo de voltar sozinho para a casa, depois de duas tentativas de assalto.

A partir deste momento a vida de Luiz se cruza com a história da UEL. Depois de trabalhar como servente em uma construtora que prestava serviços à Instituição, foi contratado pela Universidade em 1974 para trabalhar como operador de máquinas e continuou nesta função – apesar das mudanças de cargo no papel – até o dia da aposentadoria.

Assim, a trajetória de Luiz na Instituição começa nos primeiros anos da UEL, época de muito trabalho para construir o campus. Com o trator de esteira, Luiz fazia a terraplenagem para a construção de prédios, inclusive arrancando os tocos das perobas que eram derrubadas

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para que a Universidade pudesse crescer. A partir do momento que a prefeitura do campus adquiriu uma retroescavadeira, esta máquina passou a ser a grande companheira de Luiz, que precisou fazer um curso para aprender a utilizá-la. E o novo equipamento potencializou seu trabalho. “Eu trabalhava por 50 funcionários da UEL na máquina”, explica.

Mas, mesmo com a retroescavadeira, o serviço continuou pesado. Luiz era encarregado de abrir as valetas para a instalação das redes de água e esgoto dos prédios do campus e a cavar covas para enterrar os animais que morriam na clínica veterinária e até mesmo o sangue e os pertences dos cadáveres da morfologia. Nos primeiros dias neste serviço, Luiz nos conta que mal conseguia almoçar.

A procura pelos serviços destas máquinas era grande, mas só havia duas retroescavadeiras para atender todo o campus e as extensões da Universidade, como o Hospital Universitário e até o aeroporto e a EMBRAPA. “Às vezes eu perdia até consulta [médica] para atender a faculdade. (...) Até sábado, domingo, eu estava em casa, às vezes almoçando, e a segurança ia me buscar pra enterrar animal”, afirma Luiz, sem rancores.

E, além da grande quantidade de serviços solicitados, havia a preocupação com os riscos de se operar uma máquina dessas. Nos 33 anos que esteve na Universidade, Luiz sofreu três acidentes sem muita gravidade. “Agora susto eu passei bastante. Muito perigosa a ferramenta com que eu trabalhava. (...) Eu trabalhava com muito cuidado pra não acidentar ninguém”.

Mas a história deste cearense também possui passagens curiosas. O operador de máquinas já teve os seus dias de professor, quando era chamado para explicar o funcionamento da retroescavadeira para alunos dos cursos de agrárias. E até uma ponta em uma peça de teatro ele fez! Foi em 2000, no projeto Città Invisibili (Cidades Invisíveis), do Teatro Potlach da Itália, com participação de atores italianos e brasileiros e direção de Pino Di Buduo.

Hoje, casado e com os três filhos morando por perto, Luiz não sente falta do trabalho que fazia na UEL, mas não se esquece dos amigos e da sua segunda casa durante 33 anos, a Prefeitura do Campus. “Eu sinto falta do pessoal e da terra, daqui do meu lugar. De vez em quando

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eu venho aqui que eu tenho saudade. (...) Graças a Deus quando eu venho aqui eu sou bem recebido por eles, os colegas de serviço”.

E a ordem agora é aproveitar a aposentadoria e a recompensa por todos estes anos de dedicação à Universidade. “Eu não tenho nem vontade de trabalhar mais (...). Se eu ganhasse o salário mínimo que eles pagam aqui eu era obrigado a trabalhar, mas graças a Deus eu ganho um salário bom de viver, por isso que eu não trabalho”, explica satisfeito.

Antes de encerrar a entrevista, Luiz deixa claro o desejo de que as pessoas leiam este texto e vejam o que ele fez durante os anos de trabalho na UEL, nas palavras dele, um dos melhores lugares onde encontrou emprego. Buscamos então registrar da melhor maneira possível este perfil, mostrando que a Universidade Estadual de Londrina foi construída com o esforço de milhares de homens e mulheres, principalmente daqueles que abriram espaço no campus para que esta história começasse.

Rosane Mioto

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Até a compulsória

No Departamento de Administração, o professor já aposentado Luiz Antônio Felix pretende lecionar até ser afastado ao completar 70 anos

O professor de Administração da Universidade Estadual de Londrina Luiz Antônio Felix aposentou-se e ficou “parado” por somente um mês. Então, voltou à UEL como concursado. Agora, ele tem até 2012 para trabalhar antes de fazer 70 anos e ser aposentado compulsoriamente.A vida de Felix foi marcada pelo ensino. Sua mãe, filha de imigrantes italianos, era uma

professora formada na Itália que dava aulas aos filhos, controlava os seus estudos diários, além de impor-lhes trabalhos manuais e estudo de música. “Na época a gente achava que nossa mãe era durona”, lembra o professor que reconhece a importância da educação que teve e a compara com padrões europeus.

Acompanhando o pai – cafeicultor –, Felix, que nasceu em Lavínia (SP), e família vieram para o Paraná em 1946. Depois de três anos em Assaí, mudaram-se para Londrina pela primeira vez, mas em dois anos o pai abriu uma empresa de exportação de café em Curitiba e todos o seguiram. Naquele ano, uma grande geada prejudicou cafeicultores e a família passou o ano seguinte em São Paulo morando com os avós. Depois da estada em São Paulo, voltaram para Londrina.

Na cidade, Felix estudou no Ginásio Diocesano Nossa Senhora de Fátima, atrás do Hospital Evangélico, e fez o colegial no Colégio Estadual de Londrina. Como a vontade dele era ingressar na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em 1962 Felix voltou para o estado de São Paulo para servir o exército.

Felix não entrou para a Aman e trabalhou com seu pai até o falecimento dele. Como sua mãe também morreu quando ele ainda era jovem, começou a pesar sobre o irmão mais velho a obrigação de cuidar

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dos mais novos. Ele então começou a trabalhar como caixa na loja de departamentos Irmãos Fuganti.

Quando a empresa municipal de telefonia - a Sercomtel - começou a funcionar, Felix ingressou na mesma função que exercia na Irmãos Fuganti. Ele lembra que foi o primeiro funcionário a ser contratado pela empresa e saiu em 1976 da Sercomtel, como Diretor Administrativo.

Felix também trabalhou em empresas como Cipare – do grupo Cacique – como divulgador da técnica de inseminação artificial; como gerente comercial na empresa Londrimalhas; e na Companhia Multi-industrial de Cilos Metálicos.

Em 1964, ele ingressou na Faculdade Estadual de Direito de Londrina e se formou quatro anos mais tarde. O envolvimento com o trabalho na Sercomtel o impediu de começar a advogar e, em 1974, Felix sentiu a necessidade de cursar Administração na já existente Universidade Estadual de Londrina. Na pós-graduação em Administração e Gerência, o aluno saiu-se tão bem que foi convidado para substituir um professor na UEL.

A carreira universitária do professor começou com 12 horas semanais e aumentou até setembro de 1981, quando Felix assumiu período integral na Universidade. Mas lecionar não foi uma grande novidade para o professor que já dera cursos internos na Sercomtel e lecionava como suplementarista Educação Moral e Cívica.

A facilidade em comunicar-se ajudou Felix a conquistar a vaga na UEL e a definir o seu perfil como professor. “Eu não tenho perfil de pesquisador, sou mais professor de sala de aula”, destaca. Ele acredita que o aluno precisa, primeiramente, se interessar pela matéria, porque, quando ela é motivadora para o aluno, os estudos avançam. Assim, diz que o saber transformar o conteúdo em algo interessante é o segredo do professor.

Em 1984 o professor começou o mestrado na Universidade de São Paulo (USP), lugar em que fez descobertas em meio a um convívio acadêmico forte. A presença de jovens talentosos e a vivência naquele clima levaram o professor a concluir que, “o Brasil ainda tem esperança”.

Outras oportunidades – como viagens de negócios pelo Brasil e países da América Latina e até um intercâmbio de estudo de 60 dias nos

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Estados Unidos por meio do Rotary – permitiram que ele construísse uma visão mais ampla do Brasil e do mundo.

Depois de voltar do mestrado, Felix assumiu a Coordenadoria de Recursos Humanos (PRORH) a convite do quinto reitor da Universidade, Jorge Bounassar Filho. A administração (1986–1990) vivia um período marcante: a redemocratização da UEL após o longo período de Ditadura Militar. No ano de 1995 passou por outro cargo administrativo, como Chefe de Gabinete do reitor Jackson Proença Testa.

Felix aposentou-se no ano de 1996 e chegou a pensar em começar a advogar ou trabalhar como corretor de imóveis, mas logo prestou concurso e voltou a dar aulas no Departamento de Administração. Assim que retornou, começou o doutorado, também na USP, desta vez mais acostumado com as novidades do ambiente.

O professor, que deu aulas em outras faculdades como Faccar, Unifil e Metropolitana (hoje Pitágoras), coordena a pós-graduação em Marketing da UEL e leciona também para o curso de Mestrado em Administração. A preparação das aulas é o estudo de Felix.

Com toda experiência que tem, Felix acredita que a administração é possível para qualquer pessoa. “A administração é arte e técnica”, afirma, “a técnica pode ser aprendida.” Mas o professor não menospreza a inclinação pessoal (mais conhecida como dom), aquela mesma que o fez começar a lecionar e não conseguir ficar sem as salas de aula.

Poliana Lisboa de Almeida

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Entre os versos e as rimas, a crítica social

Luiz de Melo Santos transformou suas inquietações em versos e suas críticas em literatura de cordel

Luiz de Melo Santos sempre se interessou pelo estudo das relações raciais no Brasil. “Isso desde quando eu me entendo por gente. Sempre fui curioso em procurar as causas da desigualdade e as saídas”. Luiz nasceu em Sergipe, morou em Salvador e no Rio de Janeiro. Era um excelente aluno, mas resolveu não prestar vestibular quando concluiu o científico. Optou por concursos públicos. Foi bancário e telegráfico.

No entanto, quando foi para o Rio, a vontade de estudar foi novamente despertada. Luiz escolheu Ciências Sociais. “Eu queria fazer esse curso para entender os problemas da nossa sociedade e tentar colaborar de alguma maneira para resolvê-los”. E a forma que Luiz encontrou para contribuir foi lecionar. “Eu sempre achei que meu compromisso primeiro era com as minhas origens”.

Assim que se formou, Luiz prestou concurso na Universidade Federal de Sergipe e foi aprovado. “Eu lembro que a minha primeira aula, em 1977, foi exatamente num Estado onde a porcentagem maior da população é negra. Então, comecei discutindo as questões raciais. E muitos ficaram com medo, indignados. Diziam que no Brasil não existia preconceito”. Nas aulas ministradas por Luiz, a questão racial era um assunto constante. É este também o tema que norteia toda a sua produção.

Em 1983, Luiz estava morando no Rio de Janeiro e fazendo mestrado em São Paulo, quando conheceu Romilda Aparecida Cardioli dos Santos. Ela era professora da UEL. Dois anos depois eles se casaram e vieram morar em Londrina: “Fui me encantando com essa cidade”, afirma. No mesmo ano, Luiz começou a dar aulas na UEL.

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Lecionou para diferentes cursos, sempre promovendo discussões sobre as questões raciais.

Além das aulas, Luiz tem outra maneira de expor seus pensamentos e suscitar o debate. “Eu resolvi usar a poesia como instrumento da minha angústia, das minhas reflexões sobre o negro no Brasil”. Luiz é poeta desde a adolescência. Escreveu também sobre outros assuntos e, a partir de 1987, sempre lançou livros. Foram mais de 30 publicados entre cordel e poesia.

Quando lecionava a disciplina de cultura brasileira, Luiz, que conhecia a técnica de cordel, resolveu mostrar aos seus alunos como se fazia. “E aí o cordel saiu espontaneamente”. “Na minha origem nordestina, cresci ouvindo literatura de cordel. Fui praticamente alfabetizado lendo literatura de cordel. Claro que tinha alfabetização na escola, mas a leitura, a convivência e os violeiros me ensinaram muito”.

O cordel de Luiz lhe rendeu certo prestígio no Brasil e até no exterior. “Um antropólogo suíço se interessou e traduziu meu cordel, o tema era Dengue. Também alguns estudiosos americanos e franceses se interessaram”.

Luiz, que tanto discute os problemas sociais, acredita que já ocorreram muitas mudanças. Hoje – acredita –, as pessoas não se assustam quando são convidadas para debater a questão racial. “Os movimentos negros estão mais organizados e mais atuantes. As ações são mais concretas. Claro que não são suficientes, pelo contrário, são medidas paliativas”. Para que haja uma verdadeira transformação, Luiz – professor, escritor e poeta – é enfático: “Fundamental é investir em educação”.

Luiz se aposentou em 1999. Durante alguns anos lecionou em outra instituição de ensino superior. Depois decidiu aposentar-se de vez. Não dos escritos e nem da música, que são suas grandes paixões. Atualmente, ele faz aula de violão.

Léia Dias Sabóia

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Para uma comunicação diferenciada

Desde 1974 a professora Luzia Yamashita Deliberador trabalha pelo curso de comunicação da UEL

Em 14 de agosto de 1974, Luzia Yamashita Deliberador começou a trabalhar na Universidade Estadual de Londrina. A professora fazia mestrado na Escola de Comunicação e Artes (ECA) na Universidade de São Paulo e, juntamente com o professor Rui Fernando Barbosa, foi encarregada de montar o curso de Comunicação Social na UEL.

Luzia, nascida em Urai (PR), formou-se em Economia Doméstica na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) em Piracicaba (SP), mas durante o curso escrevia para um jornal em São Paulo. Para o Mestrado em Comunicação teve que fazer nivelamento. Doze disciplinas em um semestre.

Ela conta que os professores de disciplinas específicas da Comunicação eram ela e Rui Barbosa. O curso começou no porão da Unifil e depois passou pelo atual almoxarifado da UEL, pelos barracões de madeira até chegar ao prédio do CECA.

Poliana Lisboa de Almeida

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Cidadão Honorário de Londrina

Manoel Barros de Azevedo - O professor que trabalhou em várias instituições de ensino por cinquenta anos é aposentado da UEL e tem título de honra da cidade

O sotaque não esconde. Manoel Barros de Azevedo não é paranaense. Ele nasceu em Santa Maria Madalena (RJ) eram doze irmãos e trabalhavam em fazenda. Quando a família converteu-se e passou a frequentar a Igreja Batista, Manoel Azevedo admirou o pastor Samuel Scheidegger.Resolveu estudar para ser pastor também e foi para o Colégio Americano Batista de Vitória,

no Espírito Santo, mantido por norte-americanos. O aluno era considerado um pré-seminarista e trabalhava na própria instituição em troca do estudo e alimentação. Foram oito anos e meio lá e, embora houvesse desistido de ser pastor durante o percurso, deixaram que ele permanecesse.

A família se mudara para Ibiporã e quando ele deixou o Colégio Americano Batista foi para Curitiba concluir o 3º ano do científico e fazer a faculdade. Primeiro pensara em Medicina, mas começou a fazer História Natural enquanto se preparava melhor. Acabou gostando do curso, que incluía Biologia e Geologia.

Em 1953, logo após formar-se, foi convidado pelo professor Zaqueu de Melo para trabalhar no Instituto Filadélfia em Londrina. Também começou a dar aulas no Colégio Vicente Rijo, ainda no prédio antigo. Na época da construção do novo prédio, Manoel de Azevedo assumiu a diretoria do Vicente Rijo e ficou dividido entre os dois prédios. Alguns alunos ainda estudavam no antigo, outros já estavam no novo.

Em 1964, fez uma especialização de seis meses na Universidade Federal do Paraná, a mesma em que se graduara. Era raro quem fazia

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mestrado ou doutorado. Em 1953, Azevedo recorda, quando chegou a Londrina, apenas três ou quatro professores tinham o ensino superior.

O professor foi um dos fundadores da Faculdade Estadual de Filosofia e Letras de Londrina e era professor titular do curso de Geografia, onde deu aulas de Geologia. No Filadélfia lecionava no ensino médio.

Durante o governo de Dalton Paranaguá (1969-1972) foi secretário da Educação de Londrina. Azevedo conta que era uma se época que Londrina só perdia para Goiânia em crescimento no país. O professor lembra que as administrações, em sua maioria, construíam casas, mas não construíam escolas. Os bairros todos cresciam, mas não havia escola para toda a população.

No governo de José Richa (1973-1977), Manoel de Azevedo foi vice-prefeito de Londrina. O professor lecionava na UEL, mas ficava afastado durante mandatos políticos. Durante esta gestão, devido a uma viagem do prefeito, Azevedo assumiu a prefeitura por 30 dias.

O professor voltou para a Universidade, dirigiu o Centro de Ciências Biológicas e integrou a Assessoria de Planejamento e Controle, na administração do reitor Oscar Alves. Em 1983 assumiu como vice-prefeito da gestão Wilson Moreira (1983-1988) e atuou como secretário de Educação novamente.

Em sua casa há muitos porta-retratos com fotos da família. Ele, que conheceu a esposa durante a graduação, quando morava em Curitiba, conta que escreveu para ela quando resolveu se casar. São mais de cinquenta anos de casamento, três filhos e sete netos.

Dos filhos, um seguiu o caminho da política. Azevedo fala que o filho gosta mesmo da área, mas que ele gostava mesmo de trabalhar com a educação e que fazia isto com muito amor.

Em 1987 Manoel Barros de Azevedo aposentou-se da UEL e conta que não ficou muito tempo parado. Após dois meses foi trabalhar como diretor auxiliar da Unopar. Depois de pouco mais de um ano, assumiu a diretoria do Centro de Ensino Superior de Londrina, Cesulon, agora Unifil.

Manoel Azevedo lembra que foi bom trabalhar no Cesulon, pois fôra lá que começara quando era recém-formado. O professor dirigiu a instituição por 10 anos e parou em 2001. Ele, que costumava dar aulas

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de Genética, diz que agora não pensa em dar aulas. “Foram muitos anos longe da Biologia, agora cuido da minha esposa.”

Em 2002, o professor recebeu o título de Cidadão Honorário conferido pela Câmara Municipal. A cidadania normalmente é dada a pessoas que, como Manoel Azevedo, não são naturais da cidade mas que trabalharam para destacar o nome dela. Além de uma placa especial, a honra de servir Londrina.

Poliana Lisboa de Almeida

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Manoel Palma

Possui 72 anos, nasceu em 1936 na cidade de Barra Bonita, estado de São Paulo.Chegou em Londrina aos 29 anos de idade.Ingressou na UEL no ano de 1979, trabalhando durante 20 anos como “Armador” na Prefeitura do Campus. É casado, possui duas filhas e quatro netos.

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Maria Bernardo da Costa

Sem marido e com cinco filhos para criar, Maria Bernardo da Costa começou a trabalhar na UEL antes mesmo do reconhecimento dela como Universidade. Era abril de 1969 quando a dona Maricota - como ficou conhecida entre tantas outras Marias durante os anos de trabalho - entrou no serviço de auxiliar de serviços gerais do Centro de Ciências Biológicas (CCB).Logo nos primeiros dias, Maria, que tinha sido criada para nem entrar em cemitérios – “Diziam que se a gente

afundasse o pé no cemitério naquele ano mesmo a gente morria” –, teve que aprender a conviver com os cadáveres da Anatomia.

Ela era a encarregada de lavar os plásticos de proteção quando eles estavam sujos. Esquentava a água em um fogão de lenha, colocava os plásticos no chão e jogava a água em cima.

O medo foi superado pela necessidade do emprego. Mesmo assim, Maricota lembra quando ficou sozinha em uma sala com uma cabeça e saiu correndo de medo. Também chegou a confundir uma estátua preta de Paulo Pimentel com um cadáver, achando que algum morto tinha se levantado.

Na Universidade, Maria só foi transferida uma vez, dentro do CCB mesmo. Foi trabalhar na Biblioteca, Secretaria e ser a responsável pelo café. Só na Reitoria não chegava o café de dona Maricota. Quando tinha vestibular, conta, era ela quem preparava o café e o lanche de quem trabalhava.

Quando saía para o trabalho, os filhos mais velhos cuidavam dos mais novos. Os filhos foram crescendo e Maria conseguiu ter três filhas empregadas também na UEL, no Colégio de Aplicação, no CEFE e na Biblioteca.

A aposentadoria veio em 1992, depois de 23 anos de serviço e muita caminhada. Isto porque, com uma turma de mulheres, Maria

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vinha a pé para o serviço todos os dias. Ela conta que tomou muita chuva neste caminho e que não foram poucas as vezes em que a roupa molhada teve que secar no corpo.

Apesar da ajuda da Universidade na criação de seus filhos, dos amigos e das coisas boas que viveu, na época da aposentadoria, Maria estava muito cansada e achou que parar era o melhor a fazer. Maricota ainda trabalhou alguns anos na Biblioteca Pública Municipal depois da aposentadoria.

Os seis filhos (os cinco naturais e uma adotiva) de Maria só fizeram a família crescer. Agora são 12 netos e sete bisnetos. “Eu sou muito feliz com a minha família, que é linda”, diz, tranquila, depois de tantas batalhas.

Maria, ou dona Maricota, é uma pessoa que gosta da UEL. E fez questão que este carinho ficasse registrado: “Amei a Universidade, amei as pessoas que viviam comigo e respeitei todos para ser respeitada, e eu fui”.

A única tristeza da funcionária é de não ter o SAS (Sistema de Atendimento à Saúde), de funcionários estaduais. Tudo isto porque ela era uma servidora celetista (regida pelas normas da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho). Até 1992, os funcionários da UEL eram celetistas. Contribuíam para o INSS e tinham fundo de garantia, por exemplo. Em dezembro do mesmo ano, um mês depois da aposentadoria de Maria, os funcionários da Universidade passaram a ser estatutários – funcionários do Estado do Paraná.

Com a mudança, os servidores da UEL, além do atendimento no antigo NUBEC (atual SEBEC), começaram a contar com os sistemas de saúde destinados aos funcionários estaduais, como o SAS (posterior ao IPE).

Atendida pelo SUS (Sistema Único de Saúde), Maria ainda volta para a Universidade de vez em quando. No Hospital das Clínicas tem a oportunidade de reconhecer muitos ex-alunos que passaram pelo CCB enquanto ainda estava “na ativa”. “Eu via aqueles estudantes de Medicina e pensava que eles não me atenderiam porque eu já estava muito velha. E não é que estão me atendendo?”, brinca.

Poliana Liboa de Almeida

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Plantões no HU deixaram boas histórias

Aposentada há cinco anos, Maria Castro Silveira aproveita os filhos e o tempo livre

O registro de nascimento prova que ela é paraibana, mas, na verdade, Maria Castro Silveira é paranaense. A família veio para Londrina com Maria ainda muito menina. “Eu tinha uns dois ou três anos. Minha mãe não lembra direito. Não lembro nada, nada da Paraíba”.Entretanto, se faltam as lembranças da

Paraíba, sobram as de Londrina, cidade que a família escolheu para “se instalar”, como diz Maria. “Eu lembro muito da Catedral, era de madeira. Tinha muito mato”, conta. Aqui a primeira residência da família foi na Vila Brasil. “Era bem diferente. Tinha pouco asfalto. Nós morávamos perto de uma chácara, lá descia os aviões. Tinha caqui, muitas frutas”, conta, relembrando a infância. E continua: “Depois fomos morar num sítio. Agora não é mais sítio, é um lugar para lá do Hospital Universitário, bem para lá. Tinha um matadouro. E quando estávamos indo para a escola, às vezes, os bois ‘estouravam’, nós corríamos para toda banda. Nos escondíamos embaixo dos pés de cafés e até rasgava o uniforme da escola”.

Maria, enquanto relata esses momentos, parece realmente revivê-los. Fala com saudade do tempo de infância. Mostra que aproveitou muito essa fase. “Eu não era arteira. Claro que santinha eu não era, tinha a parte das artes também”, revela, sorrindo. Não estudou muito: “Só até o quarto ano; hoje, seria só o primário”. Passou por uma experiência muito difícil que a obrigou a parar com tudo, conta. “Tem coisas que é melhor nem lembrar”, afirma, com tristeza.

Maria conseguiu o primeiro emprego na casa de uma família. Ela não lembra quantos anos tinha. A memória não ajuda e, às vezes, pede

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auxílio à filha ou às próprias anotações que faz em um caderno. Logo depois trabalhou em uma fábrica de móveis, por três anos. “Naquele tempo foi uma ótima experiência, para quem só tinha trabalhado como doméstica. Pra mim foi realizado um sonho”. E faz questão de ressaltar: “Esse sonho só se realizou por causa da minha vó. Eu morava com ela, que me criou. Ela me ajudou em muita coisa. E esse serviço foi ela que arrumou”.

A fábrica foi fechada e Maria ficou sem emprego. Não por muito tempo. A avó trabalhava como zeladora em uma escola de Londrina, ficou doente e Maria assumiu o trabalho por um ano. “Mas era sem registro. O governo não registrava, não sei porquê”. Depois trabalhou mais um tempo em casa de família.

Nesse intervalo, a casa da avó foi alugada. “Morou uma japonesa que era enfermeira no sanatório. Ela arrumou um trabalho lá para mim”.

Assim começa a história de Maria com a Universidade. No ano de 1975, quatro anos após ser inaugurado, o Hospital Universitário foi transferido para as instalações do Sanatório Noel Nutels, segundo o Portal Web HU. Maria lembra que o HU era no centro, na Rua Pernambuco. “Foi numa época em que deu um surto de meningite. Eles mandavam os pacientes para lá, que era o único lugar que tinha vaga. Acho que eles gostaram do ambiente e ficaram lá”.

Com a transferência houve muitas mudanças. “Antes do HU, lá era um sossego. Eram poucos funcionários e menos pacientes”. Maria continuou exercendo a sua função de copeira, mas passou a ser funcionária da Universidade Estadual de Londrina.

Trabalhou muito, muitos plantões. “Eu não vi meus filhos crescer”, lamenta. Porém, o que ela não pôde aproveitar da infância, ela compensa hoje. Os filhos já são adultos, mas para ela vão ser sempre crianças. O filho se formou pela UEL. Quando ele cursava Educação Física ganhou uma bolsa para estudar em Cuba, conta a mãe, orgulhosa. A filha também trabalha e a auxilia nos afazeres domésticos.

Como copeira Maria trabalhou todo o tempo em contato direto com os pacientes. “Os pacientes, às vezes, acham que a gente é enfermeira. Mas, nosso trabalho é só com a comida mesmo”. Ela se emocionava com as crianças, no setor de Pediatria: “Adulto sabe o que

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está acontecendo. E a criança? Às vezes, quando eles estavam de jejum e escutavam o barulho do carrinho sabiam que era almoço e choravam atrás da gente. Mas, a gente não podia dar”.

Os adultos também aprontavam. “A comida depende da dieta, às vezes, eles pegam a comida do outro e comem, sendo que não podia. Tem a quantidade certa, a comida certa. E algumas vezes, eles faziam isso e nós levávamos broncas. Mas, não é. Às vezes, um paciente vê que o outro ainda está com fome e dá a comida dele”.

Mas, tudo isso ficou na lembrança. Maria está aproveitando a aposentadoria: “Você levanta mais à vontade. Tem mais tempo. Não tem correria”. Satisfeita, diz que não tem o que reclamar da UEL: “Eu fiz minha casa, tenho as minhas coisas, graças ao meu trabalho na UEL”.

Léia Dias Sabóia

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Paixão no Museu

Enquanto aluna, Maria Darci Moura Lombardi já se aventurava no Museu Histórico, que seria seu local de trabalho por 30 anos na UEL

Em 1976, quando Maria Darci Moura Lombardi foi trabalhar no Museu Histórico da UEL, ela já sabia o que queria. Na verdade a sua paixão pelo Museu começou nos primeiros anos do curso de História na Universidade. Enquanto aluna, Darci não saía do Museu; ela gostava de ajudar nas exposições, no arquivo (hoje no CDPH, Centro de Documentação e Pesquisa Histórica) e no que precisasse.O curso de História, assim como o museu, era no Colégio Hugo Simas. Algumas aulas

eram no Colégio Aplicação. Da faculdade, a aluna lembra os professores bons que ajudaram na sua formação. Ela acredita que foi a melhor época do curso de História.

Darci ainda estava no último ano da faculdade quando passou no concurso da UEL e foi trabalhar na APC (Assessoria de Planejamento e Controle), com os funcionários do alto escalão.

Apesar de estar aprendendo muito, a vontade de trabalhar no Museu já tinha levado a funcionária a fazer, por exemplo, um curso em Curitiba. O ano ela não esquece, 1975, nos dias em que nevou na capital paranaense. “Lá nos ensinaram a tratar o objeto como gente”, conta.

A transferência para o museu aconteceu ainda em 1976. E foi com muito amor que ela passou 30 anos em seu trabalho. “Eu estudei para entrar no Museu. Casei, tive filhos, mas nunca saí daqui.”

Darci conta das vezes em que os funcionários pagavam a papelaria com seus cheques pessoais para montarem uma exposição e depois de um mês a Universidade ressarcia.

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Foram muitas exposições nas salas do Museu. Darci lembra de algumas, como de quando colocaram um avião teco-teco na sala; as fantasias do Rei-Momo do carnaval de Londrina, Dinho, que foram doadas ao Museu após sua morte; a do povo que fez e que faz, sobre as pessoas que vieram para a cidade de diversas regiões do Brasil e do mundo.

A funcionária conta que para lidar com o público da cidade é preciso estar preparado. Segundo ela, os londrinenses são muito exigentes. Talvez por isto Darci, que diz ser curiosa desde pequena, goste tanto do museu e de agradar o público de Londrina. Uma funcionária que consegue enxergar a sensibilidade das pessoas na exposição.

Ela diz que os cuidados da instituição com os objetos também refletem em uma maior confiança da população. “Primeiro, esta pessoa queria guardar o objeto, e quando vê que o museu é de confiança, doa”, conta.

O Museu Histórico de Londrina e região é considerado um museu grande. Darci ressalta a importância da população e da Universidade em se preocupar e guardar a memória dos que vieram para cá.

Darci, sempre defensora do Museu, lembra que para trabalhar lá é preciso gostar e ter muita seriedade. Também vai contra aqueles que esperam cheiro de coisas velhas vindo de lá: “Se há cheiro, vai ter bicho. Aí não tem objetos”.

A aposentadoria, em 2006, conta Darci, foi muito triste, mas ela aceitou. Agora a funcionária faz artesanato para passar o tempo. “Minha cabeça não para, não sei ficar parada”, diz.

Na tarde de visita ao Museu, a funcionária relembra: “A maioria destas peças eu limpei”, e ainda elege as suas preferidas, um santuário japonês, uma palmatória (pelo processo da doação) e as fantasias de Dinho, o Rei-Momo.

Poliana Lisboa de Almeida

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Maria de Lurdes Mosseli

Eu morava no Jardim Tókio e uma vizinha disse que precisava de pessoas para trabalhar na UEL. Aí me inscrevi. Deixei o número do telefone da minha cunhada. No dia 01/05/74, recebi um recado que passei no concurso e que era para ir na UEL para trabalhar. Passei em 22º lugar. Fui na UEL no dia 03 de maio e já fiquei trabalhando. Sei que trabalhei 32 anos e sete meses.

Quando comecei, trabalhei no CCH e fiquei lá por 2 anos e meio. O meu marido me levava e me buscava, porque eu saia de casa de madrugada, pois não tinha outra companhia para vir. Depois comecei a fazer amizade e começamos a vir juntos, sempre a pé.

No final de 1976 estavam precisando de pessoas para trabalhar na CAF e eu e mais uma amiga fomos emprestadas e eu fiquei por mais de 30 anos.

Gostava muito de saber da vida de todos. Quando entrava um funcionário novo, os outros colegas que trabalhavam comigo, falavam “Oh Lurdes, vai levantar a ficha dela”. Gostava muito de brincar com todos, dizia “toma preceito de homem velho; ou, você acha bom ou não?”. Sempre mexia com todos. Sempre brincalhona, tratava todos com muito carinho. “Quando estava trabalhando na UEL, o tempo voava”.

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Aposentada, mas não tanto

Para Maria Elvira Alves Nunes Londrina seria muito diferente sem a Universidade, a começar pelo desenvolvimento

A história de Maria Elvira Alves Nunes tem muito em comum com a história da UEL. Seu crescimento profissional, acadêmico e pessoal foi paralelo ao desenvolvimento da Universidade. Elvira, como é chamada, nasceu no interior de São Paulo. Mas, aos sete anos mudou-se com a família para o Paraná. “Era início dos anos 1960, a fase áurea do café. Meu pai decidiu morar aqui”. A família morava em Cambé, mas Elvira

sentia-se londrinense: “Tinha uma forte ligação com Londrina. Estudei no Colégio Vicente Rijo e as minhas atividades eram praticamente todas aqui”.

Assim que Elvira concluiu o 2º grau, prestou vestibular para Ciências Econômicas, na UEL. Foi aprovada. Ela planejava seguir a carreira bancária. “Naquela época quem não tinha vocação para o magistério, pensava logo em trabalhar nos bancos”. Mas, antes de tentar conquistar uma vaga em algum banco, ela prestou o concurso da UEL. É dessa forma que a história de Elvira se encontra com a da Universidade.

Em janeiro de 1975, ela começou a cursar Ciências Econômicas e, em agosto desse mesmo ano, iniciou suas atividades na função de escriturária. Foi seu primeiro emprego e, até o ano de 2000, o único. Essas não são as únicas peculiaridades dessa relação. Elvira também trabalhou sempre no mesmo local. “Quando comecei era CAE (Coordenadoria de Assuntos de Ensino de Graduação). Hoje é a PROGRAD. Convivi com todos os pró-reitores de graduação”. Foram aproximadamente 30 anos no mesmo cargo.

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Ela conta que teve uma ascensão rápida. Entrou como escriturária, dois anos depois participou de um concurso interno e foi promovida para oficial de administração. E, em 1979, passou para chefe de divisão – cargo de confiança – em que esteve até a aposentadoria. As promoções, segundo Elvira, se devem a sua dedicação: “Vesti a camisa. Naquela época existia um caráter de pioneirismo”. A Universidade estava se expandindo, criando novos cursos. “E a parte administrativa também estava se consolidando”, afirma.

Ela faz questão de ressaltar que permaneceu por muitos anos no cargo de confiança, mas que em todas as mudanças de administração ela o colocava à disposição. “O que eu fazia era muito específico. Exigia dinamismo. Não que outra pessoa não pudesse fazer, mas ia demorar até que aprendesse”. Elvira conta que houve uma situação em que um grupo pediu ao pró-reitor para que a tirasse do cargo. “Mas, ele disse em reunião que não podia fazer isso, porque eu era fundamental para o andamento das coisas”, relata, reforçando que era pelo trabalho específico que realizava.

Elvira acompanhou um momento importante na Universidade: as mudanças tecnológicas. Logo que começou a trabalhar na UEL, era o início da informática. O serviço era parte terceirizado e parte realizado por um computador chamado 3090. Antes as notas e a frequência eram lançadas em fichas individuais. “Rede de computadores não existia, era máquina de escrever, umas eram elétricas”, lembra Elvira. Com poucos recursos à disposição, as informações demoravam a chegar. “Nós ficávamos sabendo das mudanças na legislação, por exemplo, com semanas ou meses de atraso”. O ritmo de trabalho era lento. E a demora causava insatisfações nos alunos. “Um histórico escolar levava umas três semanas ou mais para ficar pronto”.

Assim que terminou Ciências Econômicas, Elvira cursou Ciências Sociais também na UEL. Nunca exerceu. Ela revela que gosta de analisar a política e desejava entender mais sobre o assunto. “Fiz mais por conhecimento próprio, queria compreender os mecanismos políticos”. Também fez especialização na UNIFIL. “Hoje na UEL tem o plano de cargo e carreira que é um incentivo para o funcionário. Mas, naquela época, não. Para ter ascensão tinha que sair da carreira administrativa

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e entrar para a docência, senão os cursos de especialização nem valiam a pena”.

Elvira se aposentou há alguns meses. Desde 2000, ela trabalhava na UEL e em outra instituição de ensino superior. Agora só reduziu a carga horária. “Ainda me sinto muito produtiva, a aposentadoria não trouxe grandes mudanças, só estou trabalhando menos“.

Apesar de ter trabalhado muito e afirmar que deu à Universidade toda a sua juventude, quando trabalhava até muito tarde e, às vezes, nos fins de semana, Elvira não reclamava. Pelo contrário, se orgulha: “Tenho a UEL com muito carinho. Devo a ela toda a minha formação. Acompanhei e ajudei a construir a UEL”.

Léia Dias Sabóia

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Maria Helena Kley Vazzi

Filha de pioneiros, Maria Helena Kley só poderia ser uma apaixonada por Londrina. “Meus pais vieram em 1943-1944. Nasci aqui e nunca quis sair”, afirma. Seu pai é uma referência quando o assunto é radio e televisão: “Ele é um exemplo muito bonito”. Aimoré Kley foi precursor de programas de auditórios e de músicas sertanejas. Maria Helena conta que trabalhou com o pai por algum tempo, como secretária, para ajudá-lo. A sua vocação era outra, formou-se em Odontologia.

Um endereço famoso também merece o mesmo carinho dedicado a cidade: “No Counp (Centro Odontológico Universitário do Norte do Paraná) estudei e trabalhei por 32 anos. Na verdade, durante a minha vida eu só saí desse prédio por quatro anos, três para o magistério e um para o cursinho”.

Quando Maria Helena se formou, optou por não seguir a carreira acadêmica. “Eu teria que sair de Londrina. Eu me casei no terceiro ano do curso, e não podia deixar os filhos e o esposo. Preferi ser mãe”. Tempos depois foi implantado um Mestrado em Histologia (estuda a estrutura microscópia, composição e função dos tecidos dos seres vivos). No entanto, não despertou o interesse de Maria Helena: “Naquela época o título não valia muita coisa. Não era um diferencial, a não ser o título”, explica.

O terceiro ano de faculdade foi muito importante para ela. Além de ter se casado, foi durante esse ano que conheceu o professor Waldir Edgard Carnio, que lecionava a disciplina de Periodontia. Nome a que ela se refere com muita ternura: “Ele era meu irmão, eu era irmã dele, meu pai, meu filho”. E Maria Helena era aplicada: “Sempre ia bem na matéria de Periodontia”. Ela conta que o professor Waldir, chefe de colegiado, a colocou como representante discente. Era o início de uma relação que perdurou por 35 anos. “Todos esses anos de trabalho juntos, sem haver nunca uma rusga”.

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Quando estava no quarto ano, ela foi convidada a conhecer o consultório do professor Waldir. “Quando cheguei tinha uma paciente esperando e ele me disse para eu atendê-la, porque era só para fixar uma peça”, relembra. E a visita foi adiada, com a promessa de que no dia seguinte ele mostraria o consultório.

Porém, no dia seguinte a mesma situação: “Tinha uma governanta com dor de dente, e ele pediu para que eu atendesse”.

O professor Waldir também contribuiu para o ingresso e início da vida profissional de Maria Helena na UEL. “Quando me formei, ele me levou para a Universidade, para fazer estágio. Trabalhei como docente – contratação temporária – depois prestei o concurso e continuei lá”. Desde a conclusão do curso, Maria Helena trabalhou com o professor na UEL e no consultório particular. Isso até o ano passado, quando, aos 80 anos, o professor e amigo faleceu.

Maria Helena, mesmo aposentada da Universidade, continuava trabalhando no consultório. Ela conta que aos poucos foi desacelarando o ritmo e já está atendendo os últimos pacientes. Assim, vai sobrar mais tempo para cuidar do neto, recém-nascido: “Ser vovó foi um privilégio que Deus me deu”. E pretende investir em uma nova empreitada. Agora ela é sócia da filha num estúdio infantil. Maria Helena terá a função de cuidar do neto e da organização e burocracias da nova atividade.

O recém-chegado ainda não sabe, mais tem uma vovó moderna: “Eu não sou daquele saudosismo, que fala ‘no meu tempo’... Eu adoro ter microondas, gosto de computador”. Sobre o momento que vive hoje, Maria Helena define: “Estou em lua-de- mel comigo”.

Léia Dias Sabóia

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Na Comissão de Seleção

A funcionária Maria Luiza Baccarin trabalhou desde formada até a aposentadoria na Universidade, a maior parte deles na organização dos vestibulares

Maria Luiza Baccarin formou-se na primeira turma do curso de Educação Física da Universidade Estadual de Londrina. Em 1972 ela entrara na faculdade e após três anos alternando aulas teóricas no Colégio de Aplicação, práticas no campo de futebol da Vila Santa Terezinha – algumas com instruções teóricas nos banheiros do campo – e, apenas no final, no campus, Baccarin se graduara. Mas ainda não tinha o diploma reconhecido.

A solução foi prestar alguns concursos e começar a trabalhar logo. O primeiro que Maria Luiza passou, de um banco, exigia dela mudar-se da cidade. Ela nascera aqui. O segundo, logo em seguida era da UEL. E assim, começou a trabalhar, dia 1° de julho de 1976, na prefeitura do campus como auxiliar de secretaria.

Depois passou a ser uma Diretoria onde Maria Luiza foi chefe de uma divisão. Mas a carreira dela dentro da Universidade ficou marcada quando, em abril de 1979 foi criada a Copese, a Comissão Permanente de Seleção. Maria Luiza foi a primeira funcionária da Comissão, que era vinculada à CAE – atual Pró-Reitoria de Graduação – e responsável pelos processos seletivos, os vestibulares. Naquela época, e até a saída dela, em 2003, quando a Comissão passou a ser a Coordenadoria de Processos Seletivos, COPS, as provas não eram elaboradas pela Universidade.

“Como os alunos eram poucos no começo a CAE mesmo que organizava a seleção. A Fundação Carlos Chagas, que era uma instituição muito respeitável de São Paulo, que elaborava as provas e nós só aplicávamos”, conta a funcionária.

Com a mudança da Copese para COPS o órgão ainda teve alguns vestibulares vindos da Universidade Federal do Paraná para se estruturar.

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A funcionária conta que a Copese funcionava com três a quatro funcionários o ano todo, e que na época dos vestibulares, a maior parte dos anos teve dois vestibulares por ano, eram chamados alunos para colaborarem. “A gente chegou a ter 2.200 pessoas para cuidar de até vinte e cinco mil candidatos.”

Antes de a Internet ajudar no processo da inscrição, Maria Luiza lembra que elas costumavam ser feitas pessoalmente. Não era comum voltar para a casa antes das dez horas da noite naqueles dias, “os funcionários da CAE ajudavam muito a gente, antes era no próprio balcão da CAE, depois começamos a fazer as inscrições no Pinicão, lá no Centro de Ciências Biológicas. Era muita gente, muita inscrição, muito trabalho, mas também muita realização pessoal.”

A funcionária destaca, que como o órgão era responsável apenas pela execução da prova, tratava de fazê-la bem feita. “A estrutura de segurança era muito grande e isto tinha repercussão nacional”. Maria Luiza Baccarin acredita a segurança durante as provas, a exposição da classificação assim que foi permitido, tudo foi responsável por criar uma cultura de “aqui não” é possível fraudar o resultado do vestibular.

Depois de passar tanto tempo cuidando de dois vestibulares por ano, quando “tirar umas férias era quase impossível, nós nem acabávamos um vestibular e começávamos outro”, a funcionária da Universidade conta que teve que se preparar para a aposentadoria, em 2003.

“Eu saí muito cansada da Universidade, e outros precisavam entrar. Eu me preparei para poder sair, e eu aconselho a todos saber o que é ter outras atividades. Eu não parei um minuto, e só tenho alegrias em dizer que saí da UEL”.

Cinco anos longe da UEL e Maria Luiza Baccarin já estudou Teologia na Universidade dos Ministérios da Arquidiocese de Londrina e agora faz um curso de extensão na Pontifícia Universidade Católica de Londrina.

Além das lembranças e de todo o currículo que levou da Universidade, ela falou dos amigos que fez. Os relacionamentos que realmente importam, como Baccarin avisa, foram poucos, mas estes estão enraizados. “Este sábado mesmo estava com eles!”

Poliana Lisboa de Almeida

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Colona e funcionária

Maria Pontes de Oliveira, zeladora do CCB, tinha contato com o campus quando ele ainda era a Fazenda Santana

Maria Pontes de Oliveira era uma das colonas da Fazenda Santana, da família Gonzaga. A fazenda foi transformada em campus universitário e aos poucos o cafezal foi removido. A região do Centro de Educação Física e Esporte foi uma das últimas a perder seus pés de café.Ela morava perto da Universidade, onde hoje é o Portal de Versailles. A casa era dos patrões e, mesmo com o surgimento da UEL, ficou lá até 1996.

A cunhada começou a trabalhar no campus. Maria veio também, preencheu uma ficha e diz que, simples assim, começou a trabalhar como auxiliar de serviços gerais. Mas depois de 20 anos a despedida foi difícil, e fez a funcionária sair chorando. O marido também ficou na Universidade até a aposentadoria como tratorista, depois de 35 anos de serviço.

Quando ela começou a trabalhar no Centro de Ciências Biológicas, não tinha asfalto nas ruas internas e era preciso limpar a terra que invadia as salas. Mas o importante para a funcionária era estar empregada. Nesse início ela passou um ano trabalhando na morfologia. Era preciso limpar as salas onde os cadáveres ficavam. Mesmo eles estando cobertos ela lembra que sua companheira tinha um pouco de receio de ficar na sala.

Durante estes 20 anos de CCB, Maria diz que conhecia o Centro como se ele fosse a sua casa. Chegava lá às 6h10, pois vinha rápido de casa, limpava o “piniquinho” e antes da aposentadoria passou a ficar na cozinha.

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Ela lembra que ria muito com as amigas e que trabalhava com pessoas muito boas, colegas, professores e diretores de Centro. Maria se recorda também de quando uma chuva forte inundou as salas de aula e tiveram que ficar até tarde da noite limpando.

A funcionária tem cinco filhos, dois deles enfermeiros formados na UEL. Durante o curso do filho, ela diz que era bom vê-lo todos os dias no CCB. Maria aposentou-se em 1995 e diz que foi difícil deixar a UEL. Agora ela cuida de uma das seis netas e da casa, onde gosta de cozinhar, bordar e costurar um pouco.

Poliana Lisboa de Almeida

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Era política brasileira

Maria Regina Clivati Capelo, professora do Departamento de Ciências Sociais, teve que ir atrás da habilitação em outras disciplinas para que a política não a deixasse de lado

Estudo de Problemas Brasileiros, EPB. Na década de 1980, a disciplina imposta pelo governo militar a todos os alunos de ensino superior e com discussões orientadas pela Escola Superior de Guerra não era uma das mais populares na UEL. E foi esta disciplina que a professora Maria Regina Clivati Capelo começou a lecionar na Universidade.Maria Regina é filha de pioneiros da cidade e

nasceu em um sítio entre a Warta e o Heimtal. “No sítio as famílias eram grandes e meu pai veio para a cidade para acolher os primos que precisassem estudar”, lembra.

Ela estudou no Colégio Vicente Rijo, o ginásio foi no prédio antigo, e o ensino médio, no novo. Maria Regina conta que as aulas eram de manhã, e de tarde tinha que voltar para a prática de Educação Física. O uniforme era todo branco e todos se sujavam muito. As maiores lembranças são dos professores, muito exigentes no curso clássico. Tanto que, conta a professora, o francês que aprendeu no colégio foi o que a habilitou para cursar o mestrado mais tarde.

Maria Regina cursou Direito na Faculdade de Direito de Londrina, mas, formada em 1976, advogou apenas por um ano. Depois, fez o curso de Esquema Um, com disciplinas de licenciatura, e começou a lecionar em cursos profissionalizantes e OSPB, Organização Social e Político-Brasileira, no ensino médio.

Como monitora, Maria Regina começou a trabalhar no Cesulon, até passar por um teste seletivo e assumir a disciplina de EPB.

Em 1984, houve o concurso para novos professores de EPB na UEL. A professora entrou na Universidade em 1983 para cobrir uma

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licença-gestação e ficou em segundo lugar no concurso, com uma carga horária de 20 horas semanais.

A disciplina não era vista com bons olhos entre os professores também, que preferiam que as contratações para o Departamento de Ciências Sociais fossem para disciplinas básicas.

A professora conta que não concordava com a obrigação da disciplina do jeito que a Escola Superior de Guerra enviava o programa com a política conservadora. “Eu achava que estaríamos seguros se resolvêssemos a fome e a questão da terra”, e neste espírito dava aula a 200 alunos reunidos no “piniquinho”.

Como todos os alunos eram obrigados a cursar a disciplina, uma mesma sala de aula abrigava estudantes de Administração, Engenharia, Medicina, Direito, o que era outro problema para a professora.

Quando a disciplina deixou de existir, a professora já havia feito duas especializações e Mestrado em Fundamentos da Educação na Ufscar e começou a trabalhar com Sociologia da Educação. Maria Regina deu aula no Direito, Psicologia, Economia, Ciências Sociais e Letras. Com tantos alunos que teve, ela brinca: “Houve uma época em que sair comigo na rua era difícil”.

A professora acabou o Doutorado em Educação, Sociedade e Cultura em 2000. Cinco anos depois, quando pediu sua contagem para a aposentadoria, faltavam cinco dias de trabalho. Com a mudança da lei, ou Maria Regina se aposentava ou teria que esperar mais cinco anos.

Para aumentar os ganhos, a professora começou a dar aulas no programa de Mestrado em Educação na Unoeste, em Presidente Prudente (SP). Depois de três anos, há alguns dias Maria Regina pediu demissão. “No programa de mestrado você tem que publicar muito. E acho que tem que deixar espaço para os doutores mais jovens”.

Agora, ela quer aproveitar o tempo com qualidade e descansar da cansativa carreira acadêmica. Em seu escritório, a professora conta que quer ler romances que comprava e não tinha tempo para ler e que não precisa de muito dinheiro para continuar a sua vida.

Poliana Lisboa de Almeida

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Museóloga da UEL

A funcionária Marina Zuleika Scalassara começou a trabalhar no Museu Histórico de Londrina quando ele ainda funcionava nos porões do Colégio Hugo Simas

Em 12 de janeiro de 1970, Marina Zuleika Scalassara começou a trabalhar onde ficaria por 34 anos. Zuleika, como é mais conhecida, já era funcionária da Faculdade Estadual de Filosofia e Letras desde o ano anterior, mas nesta data começou a trabalhar no Museu, mesmo sem experiência nenhuma.Sua família viera do interior de São Paulo. A cidade, Joaquim da Barra, era pequena, mas

como ela já estudava em Ribeirão Preto, no começo dos anos 1960 era difícil de acostumar. Zuleika, então, fez o curso normal em Assis e o superior em São Paulo.

Ela voltou para Londrina e começou a lecionar no Colégio Mãe de Deus. De lá foi trabalhar na Faculdade de Filosofia e Letras como auxiliar de tesouraria. A funcionária acompanhou o surgimento e o crescimento do Museu Histórico de Londrina, que começou como uma atividade de duas disciplinas do curso de História, com os professores Padre Carlos Weiss e Maria Dulce Alho Dotti. Zuleika conta que no começo a arrecadação do acervo era feita pelos próprios alunos que recebiam notas por isto. Também neste início ficou estabelecido que o Museu abrangeria a região e não apenas a cidade de Londrina.

Em setembro de 1970 o Museu foi inaugurado. Ele ficava nos porões do Colégio Hugo Simas e a funcionária trabalhava lá seis horas semanais, tempo em que deixava a tesouraria. “Eu não entendia nada e fazia as fichas copiando o modelo de outras.”

Quando a parte administrativa da Universidade mudou-se para o campus, Zuleika foi junto. Então o professor e vice-reitor Iran Sanches transferiu-a para o Centro de Ciências Humanas para que ela voltasse ao Museu.

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Ele era dividido entre Arquivo (de papel), organizado pela professora Maria Dulce e Museu (tridimensional), organizado pelo Pe. Carlos Weiss. No começo alunos de 1º e 2º grau não visitavam o local, a comunidade não era próxima a ele, conta a funcionária.

Deste começo, Zuleika lembra que a estrutura do Hugo Simas não era apropriada, se os alunos derrubavam alguma bebida lá em cima, escorria para o Museu. O barulho do colégio também era grande.

Como Pe. Carlos Weiss não gostava da idéia de abrir o Museu para exposição antes que estivesse pronto, a funcionária diz que aproveitavam as férias dele para abrir o Museu. E era um sucesso.

Em 1978, Marina Zuleika participou de um encontro em Bagé sobre o tema. O encontro foi uma oportunidade para estabelecer contatos e se integrar no mundo dos museus, pois aqui o Museu estava “sozinho”, assim como a funcionária.

Em 1980 ela foi para São Paulo fazer uma pós-graduação em Museologia. A graduação em Pedagogia fora nos primeiros anos de Faculdade. Até 1982 ela dedicou-se ao curso que a UEL ofereceu, fez seis meses de estágio em São Paulo e voltou.

Marina Zuleika contou o processo de transferência do Museu para o prédio da antiga estação ferroviária. A inauguração foi no dia 10 de dezembro de 1986, mas apenas em 22 de agosto do ano seguinte que se deu a mudança definitiva. Não havia lugar planejado para guardar acervo, o lugar era ponto de convergência de vento, etc.

Mas passados vários obstáculos, a museóloga lembra com orgulho de iniciativas do Museu. Os bailes do lampião que foram promovidos pelo órgão, são exemplos. Ela conta que era comum quando acabavam de cobrir as casas de madeira, que marcaram o início da colonização de Londrina e região, as pessoas darem um baile, pois as divisórias eram colocadas depois da casa pronta e nesta etapa o que se tinha era um salão, próprio para a festa. Para relembrar o costume, alguns bailes foram promovidos, em especial para a terceira idade. A plataforma do Museu e até mesmo o salão interno (quando ele foi reformado na década de 1990) foram palco.

Aproveitando a história recente e a existência de pioneiros que chegaram à cidade em seu início, também houve o projeto Cuco. Alunos

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de escolas da região eram convidados a entrevistar um pioneiro. O projeto durou muitos anos e o material, gravado, está no acervo.

No entanto, uma das maiores iniciativas não foi tomada pelo Museu. Zuleika conta que a última reforma do Museu, em 1996, foi feita com dinheiro da comunidade que colaborou com doações. No túnel de entrada do Museu consta o nome de todos os que ajudaram. Durante esta reforma o Museu contou com a presença da museóloga da Universidade de São Paulo, Maria Cristina de Oliveira Bruno.

Zuleika aposentou-se compulsoriamente em 2003, depois de 33 anos dedicados à Universidade, dos quais a maioria ao Museu Histórico de Londrina Pe. Carlos Weiss. O nome de Pe. Weiss foi incorporado ao nome do Museu como um patrono em uma homenagem póstuma.

Ela diz sentir muito orgulho de ter feito parte e que a Universidade pode sentir orgulho por ter um Museu de vanguarda.

Com o Museu quase na hora de fechar, no saguão de entrada, Zuleika apontava alguns relógios e explicava sobre eles a um grupo de meninos que passavam por lá. Aquele lugar sempre terá e será um pouquinho de Zuleika.

Poliana Lisboa de Almeida

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Carioca da gema

Alegre e animada, a professora Martha Augusta Correa e Castro Gonçalves é só sorrisos ao contar sua longa história de vida e carreira, repletas de livros, trabalho, e dedicação

Bastam poucas palavras da animada professora Martha para identificar seu forte sotaque carioca. Nascida e criada no Rio de Janeiro, capital, ela não nega suas origens: esbanja uma simpatia contagiante, típica do seu povo. “Eu vivi no Rio da melhor época, antes da ditadura, quando o Rio era Estado da Guanabara. Era menos violento e eu desfrutei daquela terra, tirei dela o melhor que pude”. Fissurada por leitura desde menina, como

ela mesma se define, foi na cidade natal que fez a Faculdade de Letras na antiga UEG (Universidade do Estado da Guanabara), atual UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).

Lá também se casou e iniciou uma jornada por vários estados brasileiros e uma passagem pelo exterior, antes de chegar à UEL. “Meu marido foi fazer pós-graduação em São Paulo e eu fui junto. Lá comecei a dar aulas para o ensino médio na escola pública. Ficamos uns dois anos, aí teve concurso para professor no Rio e eu passei”, explica. De volta ao Rio de Janeiro, Martha deu aulas em várias escolas da cidade, sempre públicas. Em seguida, retornou à capital paulista por mais dois anos, até que seu esposo conseguiu ir para a UFV – Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Na primeira passagem pela cidade mineira, Martha não deu aulas.

Após um período na UFV, o marido foi fazer outra pós-graduação, desta vez nos Estados Unidos. “Morei quatro anos em Madison, no norte dos Estados Unidos, onde fiz meu primeiro mestrado, na Universidade de Wisconsin. Era um curso de Língua Portuguesa para alunos americanos, por isso não é reconhecido aqui”. Ao terminar o

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mestrado, Martha recebeu um convite da Universidade para continuar como professora oficial e iniciar o doutorado. Mas, preferiu voltar ao Brasil: “E eu quero morar na terra dos outros? Não gostei de ser estrangeira... eu gosto é dessa terra aqui”, diz sorridente.

Após a experiência de quatro anos no exterior, a professora voltou para Viçosa. Foi um período de mudanças em sua vida. Separou-se do marido e começou a tomar seus próprios rumos. Conseguiu emprego como professora, mas sem vaga efetiva. Por isso procurou todos os concursos possíveis, até que uma amiga avisou da vaga aberta na UEL. “Eu vim para Londrina em 1991. Já tinha mais de 50 anos. Fiz a prova e depois fui para São Paulo encontrar uma amiga. Assim que abri a porta na casa dela, já tinha a notícia que eu tinha passado. Avisaram meu filho em Viçosa e ele ligou para contar!”, lembra. Foi a primeira vez que Martha foi contratada por uma Universidade. “Eu não tinha experiência nenhuma no ensino superior. Cheguei aqui crua. Os alunos até ‘mexiam’ comigo, porque eu não tirava o olho do livro”, revela.

Foi lotada no Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas. Como seu título de mestre não foi reconhecido pela UEL, por ter sido feito no exterior, a professora iniciou um mestrado nacional na primeira oportunidade. Após dois anos lecionando na Universidade, começou seu segundo mestrado na Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), mesmo sem conseguir licença das aulas. “Ah eu dei um jeito! Arranjava carona e o pessoal da diretoria do departamento facilitava na hora de distribuir a carga horária: sobrecarregavam as segundas, terças e quartas e deixavam as quintas e sextas livres”, comenta. O doutorado veio logo em seguida. “Eu emendei praticamente... foi com muito esforço, porque é muito difícil terminar a pós-graduação trabalhando. Quando você faz uma tese, só fica pensando naquilo, não dá para pensar em outra coisa!”, afirma.

Uma das paixões de Martha, durante os anos que passou na UEL foi um projeto de extensão, do qual participou desde o início: “É um trabalho que pega o estudante de Letras dos últimos anos e põe na sala de aula trabalhando com leitura e produção de texto”, explica. A realização era em conjunto com escolas públicas da cidade. Os estagiários do projeto eram apresentados aos alunos das turmas como

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professores de uma disciplina ligada à Língua Portuguesa. Martha destaca que suas alunas eram muito bem orientadas pelos supervisores do projeto antes de começar o trabalho. E o resultado era sempre positivo, para orgulho da professora: “Eu sempre acreditei muito neste projeto. E a gente via o resultado. As meninas chegavam no começo do ano inseguras, sem nunca ter entrado numa sala de aula, mas com o incentivo e as orientações que a gente dava elas cresciam e aí nos relatórios, você via como é que elas se revelavam”.

Para Martha a importância de trabalhar bem com a produção de texto nas escolas é inestimável. Por isso, apesar de ministrar outras disciplinas, sempre priorizou esta área. “Eu acredito que se o aluno sair do ensino médio dominando a leitura e a escrita, como leitor pleno, aquele que lê e entende as entrelinhas, tem as suas opiniões próprias e sabe escrever sobre algum assunto, a escola já cumpriu a sua meta. Ele está preparado. O resto vem por acréscimo. Se você vai estudar qualquer outra disciplina e não domina a leitura, não adianta...”, assegura.

Martha atuou ainda na pós-graduação, como coordenadora da Especialização de Letras. Ela optou por não iniciar no Stricto Sensu, devido à proximidade da aposentadoria.

A contribuição do trabalho da professora foi além dos limites da UEL. Ao mesmo tempo em que se dedicava às aulas, ela participou de atividades e projetos fora da Universidade. Atuou em um programa do Governo do Estado para a capacitação de professores em diversos municípios do Paraná. “Acho que eu conheci o Paraná inteiro!”, comenta. E deu apoio à Prefeitura de Cambé, na orientação dos professores do ensino fundamental.

A carioca também teve tempo de conhecer Londrina e aprender a gostar daqui. Ela valoriza muito o aspecto cultural da cidade. “Gosto muito dos eventos que tem aqui, do Festival de Teatro, Festival de Música. Sempre compareci e fiz meus alunos comparecerem. Eu pedia para eles assistirem às peças e fazer uma resenha. Fazia isso para provocar os meninos a descobrirem o patrimônio que tem na cidade. Faz parte da formação”, garante.

E em meio a tantas atividades simultâneas, Martha avalia o quanto

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aprendeu e cresceu em 17 anos de UEL. “Eu devo a essa Universidade toda a minha formação, toda a minha vida profissional. Porque aqui que eu me realizei como professora. Não que eu não tenha me realizado no ensino médio antes, mas aqui é que consegui aproveitar ao máximo a carreira na academia. Fazendo todo este percurso, até chegar o doutorado e me aposentar confortavelmente”, afirma.

E quanto aos frutos de seu trabalho na sala de aula, demonstra-se satisfeita e orgulhosa: “A melhor coisa do mundo é você saber que você está deixando sementes. Alguma coisa sempre fica na sala de aula. Se você tem uma relação legal com o aluno, você deixa até mais que o conteúdo, até para vida do aluno! Eu não queria ter sido outra coisa, na vida, de jeito nenhum!”, afirma.

Os alunos, alvos principais de todo o trabalho de Martha tornaram-se algo mais em sua vida: “Eu sempre me dei muito bem com os alunos. Muitos ficaram meus amigos... amizade fora da UEL! Sempre chamo esse povo pra feijoada na minha casa, que eu faço no meu aniversário!”, conta. No ano passado – último em que lecionou – a professora foi uma das homenageadas na colação de grau da turma de Letras. “Eu desci com eles lá no Moringão, foi muito legal!”, comenta.

Foi assim, com muito amor, alegria e dedicação que Martha trabalhou os últimos anos de sua carreira no CCH, até completar a idade limite. “Tem gente que reclama quando chega a aposentadoria compulsória, mas eu não! Recebi uma cartinha muito simpática. E com 70 anos de idade, vou te dizer que você não tem a mesma energia. Hoje em dia eu olho para a sala de aula e sinto muita falta dos alunos, mas não achei ruim entrar numa mais ‘light’. Chega um momento em que você tem que dar um descanso, uma refrescada. E tem muitas pessoas boas aí para ocupar os lugares”, conclui.

Mas apesar da despedida das salas de aula, Martha ainda não deu adeus à UEL. Em julho de 2007, ela foi convidada a ocupar um cargo na Eduel – Editora da Universidade – como revisora de texto. Depois da aposentadoria, em outubro de 2008, foi desligada, mas em dezembro do mesmo ano assumiu novamente o cargo, que vai ocupar até o fim da gestão atual. “É bom porque você não para de vez e faz um outro tipo de trabalho, que é ler, e eu adoro. Leio uma diversidade de

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coisas, num ambiente de trabalho muito bom e um pouco mais calmo”, compara.

É na Editora que a professora aposentada passa agora por um momento de transição até chegar a hora de parar de trabalhar em definitivo. E os planos já estão feitos: “Ah... depois que terminar eu vou me embora pra perto do mar de novo... Quero ir para um lugar tranquilo de praia!”. No Rio de Janeiro? “Não sei se na capital, talvez no interior... mas até lá eu decido!”, completa.

Janaína Castro

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Mazília Almeida Rocha Zemuner

Para aqueles que pensam que no setor de Assessoria de Tecnologia de Informação (ATI) a maioria dos trabalhadores é homem, Mazília Almeida comprova o contrário: quando ela entrou, lá havia mais mulheres.Mazília começou a trabalhar como contratada em 1979 na UEL, mas ela já tinha outro vínculo com a Universidade, como estudante do último ano de Estudos Sociais. Em 1980 ela se formou e o curso que englobava disciplinas de História e Geografia foi extinto.

No trabalho, Mazília tinha prestado concurso e decidiu continuar. “Eu gostava do que fazia”, diz.

Ela trabalhava com atendimento ao usuário da ATI, que naquele tempo ainda era o Núcleo de Processamento de Dados (NPD). A funcionária lembra que o setor era responsável por informatizar aquilo que lhes era passado pelas outras áreas, como as pautas de notas, faltas dos alunos e os pagamentos. Tudo estava escrito à mão, então o trabalho era feito de forma cuidadosa e conferido duas vezes. O trabalho exigia treinamento e aprendizado. A funcionária lembra que às vezes quando “pegava o jeito” de uma máquina ou sistema, era hora de mudar. “Nas mudanças a gente sofre (...) Mas era gostoso.”

Mazília lembra também que em época de vestibular, como os nomes dos aprovados eram desconhecidos para eles também, os funcionários da ATI tinham que providenciar o material para a matrícula em um período muito curto. Com o tempo, alguns setores da Universidade passaram a ter seus próprios setores de informática, os professores enviam as pautas já informatizadas e o setor de Mazília na ATI foi desativado. E a funcionária foi para o atendimento à Internet. Ela era responsável por criar contas de e-mail e checar senhas.

Mazília lembra que havia uma união grande entre os funcionários da ATI, como uma família. Tanto que até hoje ela volta lá de vez em quando e é muito bem recebida.

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Depois de ter o marido e filhos estudando na UEL, de 27 anos trabalhando na Universidade, Mazília aposentou-se no final de 2006. Uma aposentadoria muito tranquila. “Eu faço um monte de coisa, vou na academia, na igreja, tenho a agenda cheia”, revela.

Poliana Lisboa de Almeida

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Mirza da Biblioteca

Aposentada há mais de 10 anos, Mirza de Carvalho Ferreira, que trabalhou na antiga Biblioteca Setorial do CCB e na Biblioteca Central, faz visitas semanais à Universidade

A mineira Mirza de Carvalho Ferreira contou em seu cadastro no Portal do Aposentado que foi uma das primeiras funcionárias da Universidade Estadual de Londrina. Quando ela estava chegando ao CCB no seu primeiro dia de trabalho, em 23 de agosto de 1972, depois de esperar a chuva passar, estavam colocando a placa da Universidade.Mirza é só elogio à UEL, onde diz ter

encontrado todas as portas abertas, todo mundo solidário e muita acolhida. Na Universidade, ela fez uma família de amigos e nela criou os seus dois filhos, Carla e Eduardo.

A timidez de menina foi superada trabalhando na Biblioteca Setorial do CCB. Foram nove anos lá. Mirza começou a trabalhar com a irmã na biblioteca, que saiu logo após o casamento, e já era responsável pela setorial quando todas foram extintas para a criação da Biblioteca Central.

Ela se lembra do dia em que estava em seu horário de almoço, ainda na Biblioteca Setorial, e avisou a dois senhores que esperavam do lado de fora que o horário de abertura era somente às 14 horas. Ela só abriu as portas na hora exata. Depois, a diretora da Biblioteca lhe contou que os senhores eram o então reitor Ascêncio e o cônsul do Japão em visita à UEL.

No início, a BC - Biblioteca Central ficava perto da Reitoria, no prédio hoje utilizado pelo Cursinho e Apuel. Ela conta que foi difícil se adaptar, pois tinha mais liberdade antes. Na BC, durante a ditadura militar, sentia-se vigiada e com pouca liberdade.

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Depois de um tempo de trabalho na BC, Mirza foi para o processo técnico. Ela conta que, quando recebia os livros da área biológica, fazia de tudo para que eles voltassem ao acervo o mais rápido possível. Dezessete pessoas trabalhavam nesta etapa.

A funcionária lembra que, em 1997, quando se aposentou, sofreu muito por ficar longe da UEL e acabava voltando todos os dias. Alguns meses depois, a Biblioteca Central recebeu uma doação de livros de Arquitetura, e ela foi chamada a ajudar na catalogação. E esta foi a despedida de Mirza, apesar de revelar que vivia nas festinhas na Universidade e que volta pelo menos uma vez por semana para fazer uma visita.

Poliana Lisboa de Almeida

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Sociologia na Universidade

O professor Nelson Dacio Tomazi trabalhou na implantação de cursos no começo da Universidade e no Departamento de Ciências Sociais até a sua aposentadoria

Nelson Tomazi graduou-se na Universidade Federal do Paraná e veio para Londrina trabalhar na implantação de 22 novos cursos da Universidade Estadual de Londrina. O cargo administrativo assumido na segunda gestão da UEL, de Oscar Alves, permitiu a Tomazi conhecer um pouco da história da Universidade, pois ele precisava saber as condições dos cursos e dos prédios para que se destinavam.

Ele conta que em 1975 existiam apenas os prédios do Centro de Ciências Biológicas, algumas partes do que hoje é a Reitoria, o Centro de Ciências Exatas e o Centro de Ciências Humanas. “O prédio da atual reitoria era o prédio da Faculdade de Medicina,(...) o Hospital Universitário era lá na Pernambuco com a Alagoas, onde funciona a Cohab hoje”, exemplifica Tomazi.

Em 1977, ele assumiu o cargo de professor no Departamento de Ciências Sociais, acumulando com o cargo administrativo. Quando a terceira administração assumiu a reitoria, Tomazi se afastou por dois anos para fazer parte de seu Mestrado em Sociologia. Na volta, o professor foi assessor da Reitoria e, depois, professor em tempo integral. Enquanto conciliava os cargos Tomazi lembra, “era um terror, apesar de que eu dava aulas apenas de noite”.

Tomazi destaca a improvisação nesta fase de construção da Universidade Estadual de Londrina, onde “tudo era necessário”. A maratona era fazer com que os cursos mais novos implantados começassem a funcionar já no campus, que hoje concentra a maioria deles.

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Para concluir o mestrado, os créditos do mestrado em Sociologia pela USP (Universidade de São Paulo) foram convertidos e sua tese em História do Paraná foi feita na UNESP de Assis. Em 1997, o doutorado na Universidade Federal do Paraná aprofundou o mesmo tema.

O professor conta que sempre gostou de dar aula na graduação e que lecionou para vários cursos da Universidade que contavam com disciplinas do departamento. Ele deu aula de Sociologia, “as mais diversas”, e também de Ciências Políticas. Eram até 22 aulas por semana. “Esta foi a vida dos primeiros que chegaram”, lembra. Mas Tomazi conta que se divertia. Ele era mais jovem e tinha mais energia.

Segundo Tomazi a burocracia da Universidade desgasta muito as pessoas e os alunos de hoje já não são mais os mesmos. Segundo o professor, os alunos são muito focados no específico e esquecem a cultura geral, “o conhecimento não tem que servir para alguma coisa, mas deve fazer parte da vida.”

Depois da aposentadoria em 2003, ele passou a trabalhar com a Sociologia no ensino médio. O professor tem um livro didático publicado (versões para aluno e professor), uma série em DVD e publica artigos de apoio a professores e estudantes em um site na Internet que é feito junto com o professor da UEL, Ronaldo Baltar.

Poliana Lisboa de Almeida

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Nelza Maria de Souza

Meu nome é Nelza Maria de Souza. Sou filha de Sebastião Antonio de Souza e Izaira Maria dos Santos. Nasci em Botucatu, mais meus pais são mineiros. Somos em 12 irmãos, 33 sobrinhos, 20 sobrinhos segunda geração, 9 cunhados. A minha família é o maior tesouro da minha vida. Entrei para trabalhar na UEL em 10/09/1981.Trabalhava no comércio em Londrina desde de 1969. Quando entrei na UEL, comecei a trabalhar como auxiliar de bibliotecário.No 13º dia não conseguia aprender o trabalho, pois para mim foi uma mudança radical, de

vendas para informações... Mas quando peguei a bolsa fui falar com a diretora que eu iria embora. Ela sabiamente me falou “de jeito nenhum, uma pessoa não pode falar que não aprendeu o serviço em apenas 13 dias, você vai ficar e tentar aprender, coloca todo seu potencial e sua boa vontade, eu sei que você pode”. E a partir daquele momento eu pensei: vou ficar e fazer tudo que eu puder, para merecer a confiança da diretora e dos meus amigos que também não me deixaram ir embora.

Dediquei tanto que me apaixonei pelo meu trabalho na biblioteca.No ano de 1982, passei no vestibular. Terminei o curso de

Biblioteconomia em 1985.Nunca pedi transferência para outro setor da Universidade,

porque os meus amigos da Biblioteca Central foram, são e sempre serão para sempre a minha segunda família. Amo a minha profissão, fiz o que gosto com muito amor e dedicação.

Trabalhei 27 anos e 8 meses na Universidade Estadual de Londrina, lotada na Biblioteca Central, prestando serviço na Biblioteca Setorial da Clínica Odontológica, onde pude aprender e realizar ainda mais dentro da minha profissão. Só aposentei agora porque acho que ainda tenho mais coisas para serem feitas.

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Nilza Aparecida Freres Stipp

Quando Nilza Aparecida Freres Stipp deu os primeiros passos como professora, ela ainda era aluna. Ela cursava o 4º ano de Geografia na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Botucatu, no interior de São Paulo. Aceitou um convite para substituir um professor no colégio onde havia estudado quando criança. Lecionou para o ensino fundamental e médio por dez anos. Experiência que ela define como necessária, pois foi assim que adquiriu didática

e aprendeu como se portar diante de uma sala de aula. Nilza foi do ensino médio direto para a especialização. Foi no ensino superior que ela se encontrou enquanto professora: “Lá eles questionam, debatem, há mais interesse. Eles querem aprender mesmo. Aí eu percebi o que eu queria”, afirma. Nilza deu aulas na especialização por quatro anos, na Fundação Educacional de Avaré, também em São Paulo.

Mas ela queria lecionar no ensino superior, e decidiu prestar concursos. Foi aprovada em Londrina, Maringá e Curitiba. Optou por Londrina. Segundo Nilza, Curitiba é uma cidade muito fria e a sua saúde estaria comprometida. Londrina, ela já conhecia: “Gosto muito daqui, o clima me faz muito bem”.

Quando foi contratada para lecionar na UEL, Nilza soube da responsabilidade que a aguardava: reativar o curso de Geografia. O Departamento, naquela época, contava com apenas cinco professores e somente dois eram doutores, incluindo Nilza. O curso havia sido extinto para dar lugar ao de Estudos Sociais. Segundo a professora, em grande parte das universidades do país, os cursos de Geografia já tinham sido reincorporados. “Eu e a profa. Dra. Yoshiya Nakagawara fomos para Porto Alegre, São Paulo, pegamos o modelo das melhores faculdades para começar o nosso curso”.

Nilza lembra que havia muitas dificuldades: faltavam salas, laboratórios e professores, mas sobrava determinação. “Fomos fazer propaganda do curso nos cursinhos preparatórios de vestibular e nos

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colégios para aqueles que estavam terminando o colegial”. A atitude inusitada resultou na primeira turma, com 42 alunos.

E as conquistas continuaram. Em 1983, foi criada a primeira publicação do curso. No início, um boletim de Geografia; hoje, uma revista on-line de grande prestígio. “A nossa revista assumiu definitivamente um caráter de divulgação nacional e podemos dizer até internacional, pois vem veiculando trabalhos de autores das mais variadas instituições de pesquisa do Brasil e já tem alguns autores do exterior”, afirma Nilza. Em 1989, nasceu o NEMA (Núcleo de Estudos em Meio Ambiente), que no início era apenas um projeto, mas com o tempo cresceu e se transformou em núcleo.

Outras grandes conquistas são os cursos de especialização, em duas modalidades diferentes. E a criação do Mestrado, em Geografia. A professora também destaca a credibilidade que o curso conquistou junto ao meio acadêmico e ao mercado de trabalho. “Conquistamos projeção nacional e internacional. Atualmente estamos, através do coordenador do Mestrado, iniciando um convênio com a Universidade de Alicante, na Espanha”. Mas, para ela, os melhores frutos são os alunos, que têm se destacado com brilhantismo por onde passam.

A professora, durante muito tempo, esteve envolvida com as questões administrativas. E conta, com orgulho, que foi a primeira mulher a ser diretora do Centro de Ciências Exatas da UEL. “Isso em 1986 e por eleição direta”, enfatiza. Sobre o período, Nilza afirma que a fez amadurecer muito, mas que não foi fácil: “A Universidade era ainda muito machista”. Ela também colaborou na elaboração e construção do ITEDES (Instituto de Tecnologia e Desenvolvimento Econômico e Social), o primeiro instituto da UEL. Foi a segunda diretora-presidente e presidente por dois mandatos (alternados).

Em 1993, Nilza foi contemplada com uma bolsa na Université de Rennes II, França, para divulgar os resultados de uma pesquisa que desenvolvia com outros professores do departamento. “Dei palestras nos cursos de graduação e pós-graduação de Geografia, estagiei junto ao laboratório de Geoprocessamento Costel em 93 e início de 94. Funcionou com um estágio pós-doctor que culminou com a publicação do livro Macrozoneamento Ambiental da Bacia do Rio Tibagi”.

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Quando retornou ao Brasil, Nilza teve uma grande surpresa: estava aposentada. “Foi um choque. Pensei: o que vou fazer agora?”. A professora ficou preocupada quando recebeu a notícia, porque coordenava alguns projetos vinculados ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior), junto ao Departamento. Então, decidiu prestar novo concurso. Voltou para a Universidade como professora adjunta. Ela conta que, depois que se aposentou, produziu muito mais cientificamente, pois não estava mais envolvida com as questões administrativas. E já publicou seis livros.

Para terminar, conta como criou e equipou o Laboratório de Geologia: “Fomos atrás dos ex-alunos de Engenharia Civil, da primeira turma para quem dei aula na UEL, quando lecionava Geologia. Hoje, há uma placa em homenagem a eles no laboratório.

Léia Dias Sabóia

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Trinta anos trabalhando na Educação

A professora do CECA Olga Ribeiro de Aquino estudou e trabalhou no curso de Pedagogia da UEL desde o início

A goiana Olga Ribeiro de Aquino morava em Uberlândia no triângulo mineiro com dezesseis anos, quando resolveu se casar e vir para Londrina. Após concluir os estudos no colégio Londrinense, Olga frequentou uma das primeiras turmas de Pedagogia da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Londrina.

Quando acabou a graduação, Olga de Aquino, que já lecionava no Cesulon (Centro Universitário de Londrina), continuou na recente Universidade Estadual de Londrina, agora para fazer a Especialização em Educação. Mesmo a pós-graduação era dada nas salas de aula do Colégio Hugo Simas, no centro da cidade. “Era muito apertado, a gente estudava naquela parte antiga do colégio. Eram edículas que seriam provisórias.”

Apenas em 1983, depois de prestar concurso para professora, Olga foi dar aulas no Perobal – atual campus da Universidade. Dos primeiros anos de docência em didática, a professora comenta que trabalhava com alunos de áreas diferentes juntos na mesma sala. “A sorte é que eu já tinha um pouco de experiência do Cesulon (...) eu dava conta, mas sofria.”

Cinco anos depois Olga iniciou o mestrado na Universidade de Campinas, Unicamp. Na época a professora voltava para dar as aulas.

Ela acredita que o gosto pelo estudo veio por ser filha única. “Os livros eram minha companhia.” Ser filha única também fez a professora gostar bastante de crianças. Assim que surgiu a oportunidade, a professora começou a trabalhar na área de educação infantil.

Deste trabalho surgiu a Ludoteca da UEL, da qual Olga foi uma das fundadoras. A Ludoteca tem dezessete anos e atende crianças com

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uma única regra: aquilo que a criança tirar do lugar, tem que colocar de volta.

A Universidade chegou a implantar uma Brinquedoteca, Brinque UEL, no Conjunto Violin. O projeto durou dez anos, mas Olga acredita que o fato de não ter uma sede própria para o programa inviabilizou o projeto.

A professora teve quatro filhos. O mais velho morreu ainda criança, mas os outros três passaram pela Universidade. A própria Olga antes do doutorado voltou a ser aluna da UEL cursando Letras. Era uma vontade que ela sempre teve. E serviu para reforçar o quanto a professora gostava da área de Educação.

O Doutorado em Educação na Unimep, Universidade Metodista de Piracicaba, explorou a sensibilidade estética do homem para a arte. Olga deixa bem claro que não é uma artista, mas, como gosta muito da área, resolveu estudar e se aprofundar no tema.

A professora está aposentada desde o início de 2008 e ainda não se acostumou com a nova vida. Ela orienta alguns estudantes e diz que está se sentindo muito sozinha sem frequentar as salas de aulas com seus alunos.

Poliana Lisboa de Almeida

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Com os reitores

O professor de Educação Oswaldo Rubens Canizares deu aulas na Faculdade de Filosofia e trabalhou no Registro de Diplomas por 20 anos. Seu cargo esteve ligado aos reitores que não o “devolviam” à sala de aula

Logo que surgiu, a Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Londrina formava apenas bacharéis. Muitos graduados tiveram que aguardar um ano para poder cursar mais um ano de licenciatura. Era 1962, quando o professor Oswaldo Canizares entrou para lecionar Princípios e Métodos de Administração Escolar para esses futuros licenciados.Canizares passou quase 10 anos na Faculdade, até a criação da Universidade.

Sob a direção de Iran Martin Sanches, o professor participou da comissão que organizou o Estatuto da UEL. “E aí começou a minha história na Universidade, como a de muitos outros professores.”

A gestão era do primeiro reitor nomeado: Ascêncio Garcia Lopes, da Faculdade de Medicina (1970-1974). As cinco faculdades unificadas viraram Centros de Estudos, sendo que a Faculdade de Filosofia se desmembrou em dois, o de Ciências Humanas e Letras, o CCH, e o de Educação, o CE. Canizares foi o primeiro diretor do CE.

Nessa gestão de quatro anos surgiu o curso de Educação Física. O professor lembra que, conversando com o reitor Ascêncio Lopes, ambos decidiram que o curso seria locado no CE por sua ligação com a Educação e como uma forma de aumentar o Centro, que era um dos menores.

Como o primeiro reitor assumiu um ano antes dos diretores de Centro, com a missão de organizar a Universidade, o último ano de administração dos primeiros diretores de Centro se deu sob a segunda gestão na Reitoria.

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O professor lembra o último dia de Ascêncio Lopes na UEL. Canizares acompanhou o reitor após seu último dia de trabalho. “Foi até esquisito, como ele não era professor ele saiu da UEL. Fui até o carro com ele, foi triste.”

Canizares guarda da eleição do segundo reitor a lembrança de ter feito oposição. Oscar Alves era favorito para o cargo e, por ser genro do Ministro da Educação, muitos já contavam com sua vitória, segundo o professor. Canizares chegou a integrar a lista sêxtupla como candidato e a dizer a Alves que não o apoiaria por se tratar de política.

Mesmo com oposição declarada, o segundo reitor convidou-o para a Subsecretaria de Recursos Humanos e Acadêmicos, sob a direção de Pinotti. Naquele ano Canizares avaliou a situação acadêmica dos cursos da UEL e constatou que havia muitos exageros de disciplinas e carga horária, o que encarecia os cursos.

Também foi encarregado pelo reitor Oscar Alves de ver a possibilidade de implantar os cursos de Arquitetura, Agronomia e, atendendo à região, Tecnologia de Laticínios. “Interessado em atendê-lo comecei a trabalhar inclusive indo a Brasília conversar com o Diretor do Setor de Ciências Agrárias para eu ter orientação de vida para montar um projeto da criação do curso de Agronomia.”

Os cursos de Arquitetura e Tecnologia de Laticínios não poderiam ser viabilizados na época, mas o curso de Agronomia foi montado. Canizares lembra que todo o primeiro período foi montado com professores que a UEL já dispunha e que foi feito levantamento de todas as instalações e instrumentos que poderiam ser aproveitados. “Até hoje muita gente não sabe que eu tive a ver com o curso de Agronomia. Tudo isto está na minha história. Eu vivia a UEL.”

Canizares também esteve por dois anos na Diretoria de Controle Acadêmico da CAE. Ali, começou o seu contato com as leis do ensino superior que se aperfeiçoou quando foi transferido para a Divisão Especial de Registro de Diplomas (DERD).

Como trabalhou 20 anos no registro de diplomas, Canizares explica como surgiu a Divisão. Quando ele se graduou, conta, os diplomas eram mandados para o Ministério da Educação fazer o reconhecimento. Com o tempo a Universidade Federal do Paraná começou a reconhecer todos os diplomas das Instituições de Ensino

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Superior do Estado, até que a demanda obrigou a “divisão” do Paraná em dois. O distrito com sede em Curitiba e o distrito 33, com sede em Londrina, na UEL.

O cargo inicialmente era de uma professora de Cornélio Procópio, mas ela acabou deixando a Universidade e Canizares assumiu. Foram 20 anos e contato com todos os reitores que passaram pela Universidade na época.

“Meu maior desejo era entender completamente a legislação do ensino superior no Brasil. Comecei pelo mais difícil. Peguei o número um da documenta e comecei a ler e a anotar tudo o que eu achava que era importante. Este trabalho eu fiz durante 20 anos”, conta. O professor diz que não tinha medo de enfrentar o Conselho de Educação, pois sabia tudo sobre legislação.

Tanto que ele cita um caso histórico, de ter indeferido diplomas provenientes de uma determinada faculdade por dois anos. Ele diz que enfrentou o Conselho Federal de Educação e que só reconheceu os diplomas quando o Diário Oficial publicou um novo currículo. Na nova forma os diplomas daquela faculdade estavam adequados.

Canizares lembra com orgulho quando, em nome da Universidade, foi dar um curso na Universidade Bolivariana. Segundo ele, nos 15 dias em que esteve lá os jornais noticiaram sua presença e foi condecorado pelo consulado por serviços à Educação. “Foi uma página luminosa da minha vida e bom ver como a Universidade tem reconhecimento.”

Contra o excesso de documentos que invadia a DERD - eram dois mil diplomas por ano - Canizares idealizou a instalação da microfilmagem na Universidade, processo no qual os documentos são fotografados e depois arquivados em filmes, o que ocupa menos espaço. Os equipamentos ficaram dois anos parados após a compra, mas agora os documentos da Universidade, de seus alunos e dos alunos da região que precisam reconhecer o diploma, passam pela microfilmagem.

O professor aposentou-se quando Jackson Proença Testa assumiu a Reitoria. Então, foi convidado a trabalhar como assessor do novo Reitor por meio período. “Eu pedi colaboração para as colegas da DERD e continuei por quatro anos”. Canizares deixou definitivamente a UEL quando o reitor, em uma circular, dispensou o serviço de seus assessores.

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Oswaldo Canizares conta que sempre teve o prestígio dos reitores da Universidade. Na saída de Oscar Alves, por exemplo, ele se lembra do reitor dizendo que tinha aprendido muito com o professor.

“Minha disciplina não é uma que eu possa abrir um escritório ou dar consultorias”, diz Canizares. O professor continua então com aulas no Seminário Pequena Missão Para Surdos, e lecionando Psicologia no curso de Teologia quando há seminaristas, como já faz há anos.

Poliana Lisboa de Almeida

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Lições de uma vida dedicada ao futebol

Na década de 1970 pouco se falava sobre responsabilidade social, mas Otávio de Paula Nascimento já estava fazendo a sua parte

Otávio de Paula Nascimento descobriu cedo o prazer pelo futebol. Quando criança, em Campo Largo, preferia a bola aos livros. “Naquela época a gente ficava até 11 horas jogando futebol na rua e não tinha problema nenhum, era espetacular. Eu adorava futebol”. Gostava tanto que fugia da escola para jogar. E, quando retornava, o pai

sempre o esperava para corrigi-lo. “Eu sabia que ia apanhar, mas não me importava, no outro dia eu ia de novo”.Otávio seguiu dando preferência para a bola, até que duas professoras – Helena Dobrzanski e Tereza Menezes – perceberam que poderiam negociar: “Nós vamos formar time aqui e vocês vão jogar, mas têm que estudar”. E assim foi feito. As notas aumentaram, não houve mais fuga e o interesse pela escola dobrou.

No entanto, Otávio continuou preenchendo as horas vagas com as partidas de futebol e sem a permissão de seu pai. Por isso, apanhou muito. “Um dia falei para o diretor que eu não podia participar mais do time. Expliquei que meu pai não gostava e que eu sempre apanhava. Aí ele foi à minha casa e pediu para o meu pai.”

O pai de Otávio disse que ele poderia jogar se aceitasse algumas condições: continuar estudando, não beber e não fumar. “Como eu não ia aceitar? Aceitei. Mas aí meu pai falou que tinha mais uma condição e que iria conversar comigo mais tarde. Depois que todos foram embora, fui conversar com ele, que falou: ‘É a última vez que você vai apanhar por causa de futebol’”, conta Otávio, que apanhou em silêncio, tamanha a vontade de mostrar ao pai o que realmente desejava.

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Naquela época as categorias, no futebol, eram divididas em infantil, juvenil, segundo quadro e primeiro quadro – equivalente ao profissional. Otávio com 14 anos já jogava no segundo quadro e, aos 15, passou para o primeiro quadro. “Minha estréia no Campo Largo foi muito interessante. Entrei em campo com a camisa abaixo do joelho, parecia de manga comprida, muito maior que eu. O árbitro me abraçou e disse que era pra eu sair que o jogo já ia começar. Assustei. E ele continuou dizendo que mascote tinha que ficar do lado de fora”, relembra Otávio. Foi preciso que o técnico do time interferisse e explicasse ao árbitro que Otávio era um dos jogadores: “Eu era o camisa dez”.

Em 1956, Otávio foi para o exército. No entanto, não se distanciou do futebol. “O coronel falava: ‘Tavinho você vai jogar futebol’”. Então, Otávio foi fazer testes em outros times. Ficou no Operário de Ponta Grossa. “Eu cheguei na terça, treinei na quarta e na quinta. Na sexta meus documentos já foram para a Federação”. O primeiro jogo de Otávio era um clássico, contra o Guarani: “A torcida era sensacional. Existia sim rivalidade, mas não era como hoje, não tinha confusão, não tinha briga”.

Otávio treinava todas as tardes e decidiu trabalhar no período da manhã. “Aí eu fui dar aula de futebol para a garotada numa escola do Estado”. Continuou nessa rotina até 1961, quando foi transferido para Arapongas. Mudou de emprego e de time. Enquanto permaneceu na cidade, jogou pelo Arapongas.

De volta a Curitiba, em 1967, para cursar Educação Física, Otávio foi chamado para jogar no Coritiba. “Eu fui bicampeão, em 1968 e 1969”. Além de jogar, ele estudava e trabalhava como técnico de categorias menores do Coritiba. Quando estava prestes a se formar, surgiu a oportunidade para o Coritiba jogar na Europa. Otávio ponderou e optou por concluir o curso: “Eu lembrei que as minhas professoras, quando nos colocaram para jogar na escola, tinham dito que o esporte era importante, mas que nós nunca deveríamos abandonar os estudos por causa dele”. Ele afirma que nunca pensou como teria sido se tivesse feito uma escolha diferente: “Uma das coisas difíceis do futebol é parar, ainda mais quando se está no auge. Mas, eu parei com satisfação. Eu estava decidido, queria estudar”. Nessa época, Otávio preferia os livros à bola.

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Depois de formado, Otávio prestou concurso. “Queria ser professor no Estado. E nós tínhamos que escolher a cidade”. Ele escolheu Arapongas. Permaneceu por dois anos, até que um dia viu um anúncio no jornal: “Falava que na UEL ia ter o curso de Educação Física”. Otávio fez a inscrição e foi aceito.

O ano era 1972. Assim que iniciou suas atividades na UEL, Otávio já reclamou um campo de futebol. “Nós começamos com a metade de um campo, só depois foi feita a outra metade”. Uma de suas primeiras providências foi convidar as crianças da comunidade para entrar na escolinha de futebol. “O nosso objetivo era a parte educacional e social, por isso não era pago. Houve semana que passaram por nós quase 300 crianças”. Entretanto, só um campo, mesmo que inteiro, não era suficiente para atender todo o grupo. “Tudo o que eu pedia nós conseguimos. O pessoal da marcenaria fazia as traves, todos ajudavam como podiam e com o tempo nós conseguimos mais campos. Às vezes usávamos até o de atletismo”.

Dessa forma, Otávio foi ensinando as lições que aprendeu na infância por meio do futebol. “O importante é entrar no campo e não chutar o adversário, não xingar, não brigar, tem que obedecer e respeitar, ser honesto. Não arrumar confusão”. Ele conta que foi um jogador disciplinado. Prova disso é a conquista do Prêmio Belfort Duarte de disciplina. “Ganhei uma medalha de prata do profissional. Também ganhei uma carteirinha que me dá o direito de entrar em qualquer campo do Brasil”. Para receber o prêmio é necessário que o jogador tenha participado de mais de 200 partidas, e não ter sofrido nenhuma punição durante dez anos. “Não tem mais esse prêmio, hoje acho que é até impossível”.

Otávio revela que grandes talentos foram descobertos na escolinha. “Aqui na Universidade nós privilegiávamos a formação educacional. Mas, muitos jogadores foram para times grandes. Um exemplo é o Wagner – jogou no Londrina, Santos, São Paulo, São João de Araras e depois no Roma, Itália. Hoje ele mora em Londrina, teve um problema no joelho e não pôde continuar”.

A lista de craques que começaram nos gramados da UEL, sob a supervisão de Otávio, é bem extensa. No entanto, seu maior orgulho é ter mostrado a todas as crianças, que passaram pela escolinha, outras

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possibilidades. Modesto, ele quase não fala das dificuldades superadas. Mas, de vez em quando deixa escapar que passou muitos finais de semana na Universidade e às vezes que pagava o passe para as crianças com o próprio dinheiro. Tudo isso porque ele realmente acredita que “o esporte é o caminho para transformar, principalmente, o adolescente”.

Otávio está aposentado desde 1993. Não abandonou o futebol, mas aprendeu a gostar de outro esporte: o atletismo. “Em 2002, quando eu estava indo jogar uma partida, vi um grupo de pessoas correndo na rua. E aí eu segui só para ver até onde eles iriam. Acabei encontrando dois amigos que me convidaram para correr também e eu fui”. Ele conta que participa de todas as corridas promovidas pela prefeitura de Curitiba – são seis por ano. Ele conta que até 2006 chegava sempre em segundo lugar. “Em 2007 comecei a treinar para valer, um treino intenso”. Naquele ano Otávio foi campeão. “E, por incrível que pareça, em 2008, dia 19 de outubro foi encerrada a corrida e eu já era bicampeão antecipadamente”.

Para finalizar ele revela que hoje é homem feliz, pois sempre conquistou tudo o que desejou. E se Otávio era um craque? “Eu nunca fui craque, mas era muito dedicado”.

Léia Dias Sabóia

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Paulo Roca

Nasceu em Guaxupé, MG em 17/07/1937. Veio para o Paraná à cidade de Santa Mariana, em 1959. Ficou lá por 9 anos.Casou-se e mudou-se para Ivaiporã, em um sítio chamado Quatro Encruzo. Depois de dois anos mudou-se para Primavera, em São João do Ivaí, permanecendo por mais 10 anos.Mudou-se para Londrina em 1978, trabalhando em uma construção civil chamado TETO, trabalhando com pedras de mármore e fazendo tubos de águas e esgoto. “Daí o Paulo vidraceiro

disse que a UEL estava ajustando trabalhadores para a construção. Vim aqui e já deu certo.”

Começou a trabalhar na UEL em 1981 como servente de pedreiro. Ajudou a construir a APUEL, o TAM, a REITORIA, a BIBLIOTECA, e o CEFE. O lugar que mais gostou de trabalhar foi no CEFE.

Aqui na UEL aprendeu a ler e escrever na alfabetização de adultos, tendo mais ou menos 5 anos de aula, “diz a Bíblia que tudo tem o seu tempo, e eu aprendi a ler e escrever em 1989”.

Trabalhou na UEL por 24 anos, aposentando-se depois por tempo de serviço. “Se fosse contar o tempo de serviço que trabalhei, dava pra ter duas aposentadorias. Não tinha nem sete anos de idade e já trabalhava com o pai no sítio. Mesmo com os mosquitos picando e com dor de estômago, trabalhava”, conta.

“Os pais educavam os filhos de forma mais severa, queria que eles trabalhassem. Hoje é diferente, pois esses “baitas” homens na rua não fazem nada e se a gente vai chamar a atenção quando faz alguma coisa de errado, eles até xingam a gente”.

Teve três filhos, mas o primeiro morreu. “Hoje tenho um casal: uma moça e um rapaz”.

O que ele gosta de lembrar era o trabalho da UEL, pois quando chegava em casa era só dormir e depois voltar para trabalhar.

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Gosta também da cidade de Londrina, embora tenha sido agredido uma vez, mas “Deus me guardou”.

Hoje, se fosse para voltar a trabalhar, não tem mais tempo, pois tem muitas coisas para fazer, dentre elas, visita pessoas doentes que “ficam muito felizes e até melhoram o ânimo quando recebem uma visita”.

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Apaixonado pelo coração

Aposentado recentemente, o médico e professor Pedro Aloysio Kreling conta como surgiu seu interesse pela Medicina e a oportunidade de lecionar

Pedro Aloysio Kreling nasceu gaúcho, em Selbach, cidade próxima de Carasinho. Mas, seu lar mesmo foi o Paraná. Pouco antes de completar seis anos, a família veio para o norte do Estado, em 1944. A cidade de Rolândia, colônia de alemães, abrigou a família de Pedro – também de origem alemã.Pedro cursou o primário e o ginasial em Rolândia. Ele relembra que a cidade contava com uma população

de 20 mil habitantes. Era a década de 1950 e o auge do café: “O norte do Paraná cresceu muito”, afirma. No entanto, ela não oferecia mais opções para quem desejava seguir com os estudos. E este era o caso de Pedro e de um grupo de amigos. “A possibilidade de progredir na vida era muito remota. Tinha muitas máquinas de café, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, não tinha outro futuro”. Eram estas as possibilidades de trabalho que existiam em Rolândia.

Pedro queria fugir deste destino quase certo. Então, com o grupo de amigos, decidiu vir a Londrina para prosseguir nos estudos. Mas, no caminho uma surpresa. “Eu lembro que eles estavam construindo o asfalto. Nós íamos pelo acostamento, beirando o café. Porque era só café que tinha aqui. E todos os cafezais totalmente pretos. Onde é que você olhava, preto. Tudo preto, queimado. A gente achava aquilo interessante”.

Pedro conta que eles achavam interessante porque eram meninos e não podiam avaliar o impacto que a grande geada de 1955 teria na economia do Estado. Pedro cursou dois anos do científico em

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Londrina, no Colégio Londrinense. Mas, no ano escolar que antecede o vestibular, foi para Curitiba estudar no Colégio Estadual do Paraná. “Tinha sido inaugurado recentemente. Era o maior colégio do Estado e uns dos maiores do sul do Brasil. Eram linhas modernas de ensino. As pessoas iam lá ver a construção”.

Em tempo de poucas opções, Pedro tinha outra escolha importante: “Naquela época tinha que escolher entre três coisas: curso Normal para as moças; e Medicina, Engenharia ou Direito para os homens”. Decidiu-se pela Medicina.

O primeiro vestibular foi na Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Na primeira tentativa não passei. Eu não fiz cursinho. Eu estudava o científico à noite, e trabalhava durante o dia para me sustentar”. Depois de reprovar, Pedro conta que ficou sem saber o que fazer. Decidiu voltar para Rolândia.

Mesmo querendo fugir do futuro certo, Pedro não teve alternativa. E, como a maioria dos jovens, começou a trabalhar em uma máquina de café. Período do qual ele se lembra com saudade e ao mesmo tempo com receio. Trabalhando na máquina conheceu uns amigos de vida boêmia: “Era uma turminha meio da pesada. Nós saíamos do trabalho e íamos fazer um aperitivo todos os dias”. Só que a rotina estava seguindo um caminho diferente daquele que ele havia planejado. Ele percebeu que, se quisesse algo mais, deveria tentar novamente o vestibular. E assim o fez. No segundo vestibular da UFPR foi aprovado no curso de Medicina. “Fui ver o resultado na Universidade, e comecei a ver a lista do fim para o começo. Fiquei em segundo lugar. Peguei o lugar 119, e eram 120 vagas”, conta, orgulhoso.

A festa de comemoração foi em Rolândia, com a família e os amigos. “Naquele tempo cortava o cabelo e tinha um boné verde da Medicina. Eu andava de boné verde em Rolândia, todo exibido”, relembra, concluindo que foi uma aventura.

Cursou Medicina de 1959 a 1964 - ano de instabilidade no país. Pedro, apesar de não atuar diretamente, acompanhava o caminhar tumultuoso da política. “Eu era do interior e estava mais preocupado com o meu futuro”. Pedro discursa sobre o período, relembrando fatos históricos e personagens importantes da época. “Lembro-me bem quando Marechal Castelo Branco veio para Curitiba, já empossado

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como presidente, primeiro presidente militar. Ele desfilou nas ruas, e a população toda aclamando. E eu estava na calçada observando”.

“Então eu tinha o título de médico. E me orgulhava disto. A nossa festa de formatura foi dia 19 de dezembro de 1964. Foi uma festa bonita”, recorda. A maior parte dos médicos, recém-formados, tinham como destino o interior - eram os clínicos gerais. Em meados da década de 1960, começou a surgir uma nova tendência: a especialização.

Pedro e mais alguns amigos resolveram segui-la e foram para São Paulo. “Desci na rodoviária e liguei para o Hospital de Clínicas”. Pedro procurava pelo homem que foi referência para a sua conduta como médico e professor, Luiz Venere Décourt. Estagiou por três anos. O estágio equivalia à Especialização em Cardiologia.

A Cardiologia teve uma razão toda especial para ser escolhida. “Meu pai tinha falecido de uma maneira súbita. Eu estava no segundo ano. Houve um erro médico, ele estava com 58 anos, era novo ainda. E aquilo ficou no meu subconsciente. Eu acho que foi por esse motivo que eu escolhi Cardiologia”.

De São Paulo, Pedro veio para Londrina. O ano era 1967. “E estou até hoje aqui”. São 41 anos na cidade exercendo a profissão em tempo integral. “Não faço outra coisa”, afirma.

A história com a Universidade também é duradoura. “Em 1969, eu estava no hall da Santa Casa e encontrei o Dr. Ascêncio Garcia Lopes. Ele me convidou para ser docente da recém-fundada Faculdade de Medicina”. E, no mesmo dia, Pedro assinou contrato para lecionar na UEL. Foram quase 38 anos como docente da UEL, sendo que a possibilidade de ser professor nunca havia sido cogitada. Todos os médicos formados na UEL, desde a primeira turma, foram seus alunos.

Revelando as características de sua personalidade, Pedro diz que se adaptou bem à Medicina. “Eu faço Medicina Clínica, que é mais conversar com o paciente. Você usa muito a entrevista e o raciocínio clínico. Me adaptei pela minha maneira de ser... Mais pacata, mais observador”. A família numerosa e religiosa também contribuiu na formação humana. Característica que preserva como médico e professor: “Os alunos sempre me cercavam, sempre tinha algum aluno por perto”.

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Eu acredito que fui um bom professor e um bom médico”. Pedro sente-se realizado, porém, guarda algumas frustrações. Critica a falta de pesquisa na área da Medicina. “A maior parte das reuniões de que participávamos, eram sempre discutidos problemas de burocracia, política. E nunca alguma pesquisa de grande porte, de nível estadual ou nacional”, reflete.

Aposentado recentemente não teve muitas alterações no seu cotidiano. Agora finaliza uma monografia sobre o coração: “Para sair da Universidade eu achei que tinha que deixar alguma coisa escrita. Resolvi fazer uma história sobre a minha especialidade: o coração. Levantei muitos dados sobre o coração. O significado filosófico, o simbolismo, o símbolo do profano, religioso, do amor. O coração é um símbolo universal”.

No primeiro semestre do ano que vem, Pedro acredita que já estará finalizado seu projeto. O nome: “O coração: seus mitos, sua história, seus males”.

Léia Dias Sabóia

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Para ser um médico

Depois de muito trabalho, Raimundo Nonato Teixeira formou-se na sexta turma de Medicina da UEL. O médico voltou para Londrina como funcionário do hemocentro do HU

“Medicina não é um curso para pobres”, disse um professor de Medicina da UEL para o cearense de Jericoacoara, Raimundo Nonato Teixeira. O estudante da sexta turma do curso trabalhava noite sim, noite não e estudava de dia. Sabia que Medicina não era um curso fácil, principalmente para os pobres que precisavam conciliá-lo com uma

profissão. “Mas eu era teimoso”, lembra hoje o médico.Raimundo veio para o sul do Brasil com 16 anos. Veio sozinho. Viajou em pau-de-arara como outros nordestinos. No caminhão, conheceu uma família que o ajudou, por ele ser “pequeno e magro como uma criança”.

O destino final de Raimundo era Goioerê, mas ele acabou ficando em São Paulo. O primeiro emprego foi em uma casa de família. Ele engraxava sapatos e fazia um pouco de tudo, até ensinava o trabalho aos empregados mais novos. Mas, com dois anos no emprego e sem nenhum aumento de salário, Raimundo saiu. “Até este momento minha vida estava boa, depois eu comecei a fazer um monte de coisas”, conta.

Conseguir entrar no ginásio em São Paulo também foi uma luta. Raimundo não tinha os documentos da escola rural que tinha frequentado no nordeste. Lá, ele lembra que as classes tinham aulas juntas e ele gostava de ser o primeiro a levantar o braço para responder. Ser o primeiro também era uma forma de evitar a temida palmatória. Para provar o passado escolar, em São Paulo foi atrás de um professor que assinou um documento – como se ele tivesse sido o seu aluno até então.

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Com os documentos, Raimundo pode fazer o exame de admissão e entrar no ginásio. Enquanto ainda trabalhava em casa de família foi bem nos estudos. Depois, começou a ir mal e chegou a repetir alguns anos.

Outra época boa que viveu na capital paulista, lembra Raimundo, foi quando após o curso de colocador de piso paviflex começou a trabalhar com isto. E o primeiro salário – um salário mínimo da época – era um dinheirão para o menino que estava acostumado a ganhar metade daquilo. “Foi uma alegria”, diz.

Ele foi pegando prática e ficando rápido no serviço, mas como o pagamento era por metro, conta, eram-lhe dadas mais residências. Em uma casa a colocação dava o mesmo trabalho e ocupava o mesmo tempo e assim não precisavam pagar tanto. Desta maneira Raimundo sentiu-se prejudicado. Também o salário mínimo que antes comprava muito, depois do início da Ditadura Militar de 1964, teve seu poder aquisitivo diminuído.

Raimundo também foi servidor estadual de São Paulo. Foi pintor, eletricista, carregador de caminhão. Quando ele estava trabalhando em um laboratório no Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público de São Paulo, não fazia um ano, um médico residente de lá foi convidado para vir para Londrina, onde Raimundo teria emprego também.

Raimundo tinha prestado vestibular em São Paulo um ano antes e não entrou, então resolveu aceitar a proposta de se mudar para Londrina mesmo recebendo menos. A intenção dele era cursar Medicina aqui. E, em 1971, ele entrou na sexta turma de Medicina da UEL.

Trabalhando no período noturno e estudando no diurno, Raimundo conseguiu provar que é possível conciliar trabalho e o curso de Medicina, embora ele se lembre de que ficava muito cansado com as atividades.

Durante a faculdade, ele conheceu Cândida, na época funcionária da UEL. Mesmo quando Raimundo voltou para São Paulo para fazer residência onde havia começado e só tinha sábados de folga, fazia questão de vir para Londrina de avião para vê-la.

Em 1979, Raimundo e Cândida casaram-se e ela foi para São Paulo. No ano seguinte, o médico serviu como voluntário no exército.

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Nos anos seguintes, ele prestou um concurso federal e passou a ter um vínculo estadual e outro federal.

Mas Raimundo ainda voltaria a Londrina. Jabour, superintendente do Hospital Universitário da UEL, convidou-o para trabalhar no laboratório do mestrado e ele veio. Mas conta que não era possível cuidar de um laboratório sozinho, porque faltava pessoal para ajudá-lo.

Ainda no primeiro ano trabalhando na UEL, o médico - que fumava - teve câncer de pulmão. Cândida lembra que o médico de Raimundo disse que, com a retirada do pulmão direito, ele poderia viver de dois a cinco anos, caso contrário poderia morrer a qualquer hora. E faz quase 20 anos que seu marido passou a viver só com o pulmão esquerdo.

Depois do câncer, conta, ele nunca mais teve a mesma saúde. E o fôlego diminuiu com apenas um pulmão.

Em 1992, Raimundo foi trabalhar no Hemocentro do HU. Lá, o médico fazia a triagem dos doadores de sangue, conferindo se eles tinham peso adequado e avaliando outros critérios, como doenças ou comportamentos de risco que impedem a doação, poderiam levar a uma, os remédios que tomavam. O trabalho de Raimundo no Hemocentro, que ainda era anexo ao pronto-socorro do HU, exigia também que médico e funcionário fizessem horas extras. Além das coletas no Hemocentro, havia as coletas externas da qual ele participava.

Ele trabalhou no Hemocentro até 2003, quando descobriu um problema no coração que o impediu de continuar na atividade. Em 2005, Raimundo aposentou-se da UEL devido a seus problemas de saúde.

O médico conta alguns casos em que teve a oportunidade de exercer clínica em São Paulo. Ele lembra de ter diagnosticado um caso de hanseníase em uma paciente sem vê-la, apenas ouvindo o relato do pai dela. Depois, esta filha foi agradecer ao médico.

O horário de trabalho de Raimundo o impediu de exercer a clínica. Hoje, Raimundo e Cândida têm três filhos e uma neta. A filha mais nova seguiu o caminho trilhado pelo pai e está cursando Medicina na UEL.

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Depois de tanto falar em doenças e em passado, Raimundo revela seu interesse por outras línguas, como o inglês e o francês, e a curiosidade em conhecê-las corretamente. Também reclama do descuido com que a língua portuguesa é tratada nos jornais, que cometem muitos erros.

Uma xícara de café e algumas fotos depois, é hora de se despedir deste cearense batalhador e de fôlego, mesmo com apenas um pulmão.

Poliana Lisboa de Almeida

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Raul Santos de Sá

Nascido em Londrina em 1933, primogênito de família de descendência portuguesa, pioneiros da cidade, com seus nomes gravados, indelevelmente, nos totens instalados na praça da Concha Acústica. Na época em que nasceu, Londrina era um pequeno Distrito de Jataí (atual Jataizinho) e todos os nascimentos eram lavrados no Cartório do Registro Civil, daquela cidade. Seus pais, José Silva Sá e Célia dos Santos

Sá, transferiram residência para Ibiporã, em 1935, onde também foram pioneiros com comércio de secos e molhados, em cuja cidade fez o curso primário, participando da primeira turma do Grupo Escolar Dr. Francisco Gutierrez Beltrão. Lembra-se que nos primórdios da região, principalmente de 1939 a 1945, época da II Grande Guerra, foram anos difíceis, já que o Brasil, no rol dos países aliados, passou por uma fase de racionamento em que tudo era difícil de se obter, como querosene para iluminação, gasolina, açúcar, farinha de trigo, etc. Foram 6 anos de muitas privações. Com a falta de açúcar, muitas vezes, o café era feito com caldo de cana ou adoçado com rapadura. De 1946 a 1949 fez o curso ginasial no Rio de Janeiro, no Colégio Republicano. Retornando a Londrina, em 1950, iniciou o curso científico (hoje ensino médio) no Colégio Estadual Professor Vicente Rijo, à época situado abaixo da linha férrea. Recorda-se que muitas vezes, tinha que transpor, à noite, os vagões estacionados no pátio da Estação Ferroviária (atual Museu Padre Carlos Weiss) para chegar ao Colégio. Casou-se em 1954, na antiga Catedral, com Ignez Parente de Sá, também filha de pioneiros de nossa querida Londrina, de cujo enlace, nasceram duas filhas: Fátima Cristina de Sá e Ana Paula de Sá Pereira, respectivamente, odontóloga e advogada, formadas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), sendo a primeira, docente do Curso de Odontologia desde 1987.

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Vida Acadêmica:Primário – Grupo Escolar Dr. Francisco Gutierrez Beltrão – Ibiporã - primeira turma 1941/1945.Ginasial – Colégio Republicano – Vaz Lobo - Rio de Janeiro 1946/1949.Colegial – Colégio Estadual Prof. Vicente Rijo, 1º ano científico em 1950.Curso Técnico de Contabilidade – Escola Técnica de Comércio Londrinense 1955/1957 - Colégio Londrinense.Colégio Estadual Prof. Vicente Rijo 2º e 3º ano Científico 1961/1962.Superior – Curso de Odontologia – Faculdade Estadual de Odontologia de Londrina – FUEL, de 1964/1967 – 3ª turma, tendo sido agraciado com a Medalha de Honra ao Mérito por ter se classificado em 1º lugar durante o transcorrer do Curso.No período de sua graduação, já era casado, tinha uma filha e

trabalhava como contador e apesar de todas as dificuldades para subsidiar o sustento da família, foi agraciado com a “Láurea Acadêmica”, como melhor aluno durante todo o Curso de Odontologia.

Como penhor de sua gratidão, faz menção especial à pessoa de José Breno Ferraz, que além da ajuda material, sempre o incentivou na consecução de seu ideal de se tornar odontólogo.

Como cirurgião-dentista atuou, ininterruptamente, na cidade de Londrina de 1968 à 1992. A partir desse ano, passou a dedicar-se unicamente à docência em tempo integral e dedicação exclusiva na UEL – Universidade Estadual de Londrina.

Como docente do curso de Odontologia, iniciou suas atividades na antiga Faculdade Estadual de Odontologia de Londrina, como estagiário voluntário no ano de 1970, na Disciplina de Dentística Restauradora. Posteriormente, já com a Faculdade Estadual de Odontologia de Londrina (FEOL) anexada à Fundação Universidade Estadual de Londrina (FUEL), na mesma disciplina atuou como Auxiliar de Ensino (1972/73). Em 1975 retornou à docência, ainda como Auxiliar, passando por todas as classes e níveis até junho de

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2003, quando encerrou a carreira docente, compulsoriamente, na condição de Professor Adjunto 4.

Como tesoureiro geral e secretário da Associação Odontológica do Norte do Paraná (AONP) por várias gestões, lembra-se que no início da construção da sede atual situada à Rua Rolândia, em Londrina, a verba disponível era escassa e vários empréstimos foram obtidos no antigo Banco do Estado do Paraná, com o aval sendo feito pelos membros da Diretoria. Os bens particulares dos mesmos ficavam hipotecados junto ao banco como garantia dos empréstimos. Por esse motivo, durante o tempo da construção, sempre que era necessária nova eleição da diretoria raramente aparecia candidato, sendo os cargos preenchidos pelos mesmos diretores num sistema de rodízio, já que para ser dirigente da AONP era necessário assumir o aval dos empréstimos contraídos. Durante os anos de acadêmico de Odontologia (1964/1967), participou ativamente, como secretário do Centro Acadêmico XXI de Abril, época em que a sede que situava-se na esquina das ruas Pref. Hugo Cabral com Piauí, por concessão do governo estadual, foi cedida ao Centro Acadêmico.

A mensagem que deixa para a família, suas filhas, genro Leonardo e neto Breno é a de luta diária e incansável baseada em princípios de honestidade, responsabilidade e ética com que sempre pautou sua vida. Com muito orgulho deixa aqui registrado neste Portal a sua passagem de 33 anos pela UEL, como um colaborador na sua construção e perpetuação.

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A visita do vigia

Reginaldo Batista de Souza, vigia do Museu, que não gosta de sair na rua, veio contar sua história na UEL para o Portal

Reginaldo Batista de Souza é outro baiano que veio para o sul em busca de oportunidades e emprego. Foi criado em Assis (SP), de onde se mudou para Tarumã (SP), cidade em que começou sua família casando-se com Maria de Lourdes Souza.Para o Paraná, a família veio depois que Reginaldo comprou uma chácara de café em Sertanópolis. Ele conta que a produção de

café já estava decaindo. Plantou soja no lugar, que venderia depois de uns anos.

Reginaldo tinha experiência de três meses em uma empresa de segurança em Londrina, mas não gostou do serviço. “Eu pensava, eu não sou cachorro, e acabei voltando para a chácara”. Então, quando um amigo lhe contou que a UEL estava contratando resolveu tentar a vaga.

A foto para a ficha foi tirada pelo lambe-lambe do bosque, e Reginaldo já estava na chácara quando a filha lhe deu a notícia de sua convocação. No primeiro dia de serviço, com a marmita pronta, e depois do encontro com o chefe da segurança, cada vigia foi deixado em um posto. “Fiquei por último, lá no NUBEC [hoje SEBEC, Serviço de Bem-Estar à Comunidade]”.

Do Nubec, Reginaldo passou pelo CEFE (Centro de Educação Física e Esporte) e foi transferido para o Museu Histórico, quando ele ainda funcionava nos porões do Colégio Hugo Simas. Na estação ferroviária, a nova casa do Museu, o vigia continuou até a aposentadoria.

O trabalho ficava perto de casa e ele fazia, praticamente, o horário comercial. Da época em que o Museu não tinha grades, Reginaldo conta que tinha que tirar pessoas que dormiam na plataforma e também usuários de drogas.

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Em 2000, Reginaldo sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e depois de passar por perícia aposentou-se por invalidez. Ele conta que agora fica a maior parte do tempo em casa, e só sai quando assume um compromisso.

Quando não tem com quem competir, Reginaldo fica treinando sozinho escopa, um jogo de cartas. Também tem a sua preferência no rádio, o sertanejo.

Poliana Lisboa de Almeida

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Olhar para frente

A aposentadoria da professora de Psicologia Romilda Aparecida Cardioli dos Santos serviu para novos planos e horizontes

Londrinense, Romilda Aparecida Cardioli dos Santos estava na segunda turma de psicologia da Universidade Estadual de Londrina. No dia de sua formatura, uma amiga ouviu um comentário de que Romilda seria convidada para dar aula na Universidade.Na segunda-feira seguinte, a recém-

formada levou seu currículo no departamento e na mesma semana fez a entrevista. Veio o convite para trabalhar como professora e no dia 13 de fevereiro de 1978 Romilda assinou seu contrato. ‘Saí pela porta de aluna e entrei pela de professora’, relembra.

Após os cinco anos de graduação, a professora ficou mais 26 anos lecionando até a aposentadoria em 2004. Romilda diz ter passado ‘pelas mãos de todos’ - fundadores do curso, professores mais antigos - e considera que foi ‘filha deles’. Também vê que o curso foi se ampliando e fornecendo uma visão de vida além da Instituição.

Os anos de ensino de Romilda foram em Psicologia Social. A professora explica a área com comparações, nas quais cada pessoa é um conjunto de personagens inseridas em uma perspectiva sócio-histórica dialética. Cabe então a esta Psicologia estudar o comportamento afetando as relações sociais. ‘O elemento na instituição é o objeto de estudo da Sociologia. Os vínculos, como eles se constróem e se desfazem, o conjunto de papéis, são objetos da Psicologia Social’.

Assim, conclui Romilda, o direito de um não pode invadir o direito de outro. E o que é público exige de todos mais responsabilidade por ser de todos, do que permite direitos. Para a professora, a responsabilidade de usufruir com consciência do que é público faz parte do ser cidadão.

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A professora responsabiliza a UEL por tudo o que tem: amigos, conhecimento, perspectiva e vida. A Universidade, diz Romilda, ‘além de um pilar é uma grande amiga minha’.

De Ascêncio Garcia Lopes a Lygia Puppato, Romilda teve acesso a todos os reitores enquanto esteve na UEL. Participou da vida universitária e sindical mesmo sem ter exercido outra função que não a de professora.

Ela conta que durante as greves - ‘gigantescas’ - praticamente toda a Universidade se envolvia. ‘Grande parte das nossas assembleias era no Ouro Verde ou no setor esportivo, e lotava’, lembra. O auditório do CCB, o Pinicão, era pequeno para estes eventos e só era usado para informes.

As discussões, lembra a professora, não giravam apenas em torno da questão salarial, mas também das condições de trabalho, do papel do Hospital Universitário - ‘e os funcionários do HU vinham para a UEL discutir’ - e da Biblioteca Central.

Os alunos apoiavam os professores e funcionários, o que, segundo Romilda, demonstrava o envolvimento entre professores e alunos.

A professora fez questão de lembrar que as mudanças na UEL foram acontecendo gradativamente. As gerações foram se aposentando, alguns até morreram. A abstenção na política também é um fator responsável. Abstenção a que Romilda credita à mesma responsabilidade de uma ação: ‘a abstenção é o voto do covarde, minha filosofia foi não me abster’.

Mas, depois de tantos anos lecionando e vivendo a UEL, Romilda decidiu aposentar-se e apostar no sonho de morar no exterior. Foi então para a Inglaterra, com marido, filha, irmão, sobrinhos e sua mãe.

De 2004 para cá Romilda já esteve lá três vezes. Trabalhou em uma fazenda de flores, em uma fábrica de embalagens e em distribuidora de brinquedos.

No exterior, a professora esteve em contato com pessoas de lugares diferentes, brasileiros com pouca instrução e chegou até a morar com uma ex-aluna, que conseguiu trabalho para Romilda e o marido.

‘Não é só porque minha vida na UEL foi boa que tem que durar para sempre’, diz a professora que encerrou esta fase em sua vida.

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Aos 13 ou 14 anos de idade, Romilda recebeu uma frase de uma amiga: se você ver uma estrela e não seguir pensando que ela pode te levar ao pântano e dele não conseguirá sair, lembre-se de que pode perder a chance de seguir a estrela que seria a luz da sua vida.

E a professora continua aproveitando as suas chances - ou estrelas - sem medo, para não se arrepender depois de perdê-las. “Tudo na minha vida é chance”.

Poliana Lisboa de Almeida

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Funcionária vitoriosa

Entre muitas dificuldades, Rosa Magalhães superou o preconceito e provou que era capaz de chegar à universidade como aluna e funcionária

“Eu venci”. Essas duas palavras, pequenas no tamanho, mas enormes no significado, permeiam toda a nossa conversa com a técnica de biblioteca Rosa Magalhães de Medeiros. A história de sua vida confirma claramente estas palavras e demonstra que o orgulho demonstrado procede e suas conquistas são mais do que merecidas.De origem humilde, desde cedo Rosa precisou trabalhar para ajudar a família e isto em uma

época em que se acreditava que as mulheres não precisavam estudar. Após concluir a quarta série primária e até mesmo passar pelo exame de admissão – uma prova para ingressar no ginásio – Rosa foi impedida pelo pai, que acreditava naquela concepção machista, de continuar os estudos. Assim, o sonho de ser professora teve que ser abandonado, mas a vida ainda levaria Rosa de volta aos bancos escolares.

Trabalhando como costureira em confecções da cidade, Rosa casou-se e teve os quatro filhos, até que surgiu um concurso estadual para trabalhar como auxiliar de serviços gerais em um colégio da cidade. Aprovada, ingressou no Colégio Antônio de Moraes Barros nesta função. “Mas como eu sou bem extrovertida, eu logo passei a trabalhar como inspetora de alunos. Já saí da limpeza – acho que eu trabalhei dois anos na limpeza –, aí eu comecei a sentir preconceito (...), porque eu trabalhava na área de educação e [era] uma pessoa que não tinha estudo”, relembra. Porém, como diz o ditado, “há males que vêm para o bem”. Antes de se calar e aceitar o preconceito, Rosa resolveu dar a volta por cima e decidiu: “Eu vou provar que sou capaz também”.

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De volta à escola Decidida a retomar os estudos, Rosa teria um longo caminho a

percorrer. E ele não seria fácil, mas daria um outro sabor à conquista. Para vencer, Rosa enfrentou vários adversários. Um deles foi a própria família.

Estudando no antigo CES – Centro de Estudos Supletivo e hoje CEEBJA –, o primeiro desafio que Rosa superou foi o ciúme do marido, que a pressionava para que desistisse de estudar. “Quando eu me aprontava para ir lá [no CES] ele brigava e falava que achava que eu não ia estudar (...). Eu chorava lágrimas de sangue, ia chorando pelo caminho, mas [pensava] ‘não vou desistir’, porque o preconceito que eu sentia era muito grande”, explica.

Além do marido, Rosa encontrou resistência da própria filha, que também não concordava com sua retomada dos estudos. “Minha filha mesmo, quando eu me formei, ela falou ‘para quê que você quer diploma? Só se for pra pôr no seu túmulo’”, relembra. Mesmo assim, Rosa não desistiu e terminou o ensino médio em 1993. No mesmo ano prestou vestibular na UEL e foi aprovada. Como estudante de biblioteconomia começava mais uma batalha a ser vencida.

O dia inteiro na UEL Fazer faculdade pela manhã, trabalhar tarde e noite no colégio

como inspetora de alunos, auxiliando na biblioteca e na secretaria, e cuidar da casa, do marido e dos filhos. A rotina de Rosa não era fácil. “O marido sempre exigente - que eles fazem isso para pressionar, para ver se você desiste, só que eu não desisti, fui em frente”.

E logo surgiu a oportunidade de trabalhar na UEL, quando Rosa foi aprovada em dois concursos – para agente administrativo e auxiliar de biblioteca. Mas, quando foi chamada para o segundo cargo, na área de biblioteconomia, já estava trabalhando como agente administrativo, onde o salário era melhor. Nesta função, Rosa trabalhou nos Departamentos de Educação e de Biblioteconomia, cada período em um deles. “Mas aí eles acharam que não era muito legal

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porque eu estava fazendo o curso e de repente tinha acesso a alguma informação, à prova, essas coisas. Aí eu acabei ficando as oito horas no departamento de Educação”, explica.

Assim, a vida de Rosa era passar os dias na Universidade. Trabalhava até às 11 horas da noite e no dia seguinte estava de volta pela manhã, para dar continuidade à faculdade de biblioteconomia. Durante o curso, precisou enfrentar problemas familiares que fizeram com que a filha e o marido saíssem de casa. Todo esse estresse deixou Rosa doente no último ano da faculdade. “Olha, para você ver o tumulto que foi a minha vida! Mas eu não desisti e acabei vencendo”, comenta.

A motivação de Rosa para vencer o preconceito era maior do que as dificuldades que precisou enfrentar durante a faculdade. A arrogância com que era tratada pela chefia quando trabalhava no colégio levou Rosa a se superar e mostrar que era capaz. “Elas falavam ‘Ah, mas quem mandou vocês não estudarem? Vocês têm que obedecer, porque vocês não estudaram. A gente está aqui porque estudou, porque sofreu’. E hoje eu tenho certeza que eu tenho mais estudo que algumas daquelas que estavam lá”.

No trabalho, a vida de Rosa não era diferente. Durante o estágio probatório – período de teste para os servidores contratados como efetivos – precisou exercer funções que não eram suas, como fechar portas e banheiros. Em sala de aula, mais uma vez Rosa foi vítima de preconceito, mas agora por ser a aluna mais velha da turma. Apesar de ter o apoio dos professores, precisou superar a rejeição de algumas colegas. “Pode dizer que não existe, mas existe o preconceito de uma pessoa mais velha em sala de aula junto com os mais jovens. E eu senti isso na pele”, confessa.

E foi superando todas estas dificuldades que Rosa conseguiu o diploma de bacharel em Biblioteconomia em 1997. Com uma nova profissão, Rosa partiu para outro setor – aquele sobre o qual estudou durante quatro anos: a biblioteca.

A recompensa entre livros

Assim que se formou, Rosa pediu transferência para a biblioteca da UEL, mas, segundo ela, a chefia do Departamento de Educação

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só a liberou quatro anos depois. Quando mudou de setor, foi para a Biblioteca Central do campus. Na Biblioteca Setorial de Ciências Humanas, Rosa trabalhou somente durante um mês, logo depois que esta foi inaugurada.

Como técnica de biblioteca era lotada no setor de referência, mas também trabalhava meio período na circulação, atendendo no balcão, realizando empréstimos e recebendo devoluções de livros. No outro meio período, quando estava no setor de referência, o serviço era guardar os livros consultados, atender usuários, encontrar para eles as obras de referência – que são aquelas que não saem da biblioteca, como os dicionários e as enciclopédias, por exemplo – e fazer pesquisas on line, ou seja, busca por artigos, monografias, dissertações, entre outros, em diferentes bibliotecas ou bases de dados.

Mas, afinal, porque a biblioteconomia? Entre tantas outras opções de cursos, o que a teria levado a escolher justamente este? Rosa explica que desde jovem desejava ser professora, mas quando começou a trabalhar no colégio também ajudava na biblioteca e, portanto, na hora de escolher o curso, optou pela biblioteconomia por já estar envolvida com esta área. “E eu gostava de mexer com os livros, trabalhar na biblioteca, por isso eu escolhi [biblioteconomia]. Só não consegui ser bibliotecária mesmo, no papel”, explica.

Durante boa parte do período em que Rosa trabalhou na UEL depois da formatura, não foram realizados concursos para a contratação de bibliotecários e, assim, mesmo realizando os mesmos serviços destes profissionais, Rosa nunca foi registrada como bibliotecária. Porém, no último ano antes da aposentadoria, em 2008, a Universidade abriu concurso interno para a área de biblioteconomia e, apesar de ter feito a inscrição, Rosa não participou da seleção e se aposentou, em 2009, sem ter sido bibliotecária oficialmente. “Se eu tivesse feito [o concurso] eu teria me transformado em bibliotecária, que era o sonho, eu estudei para isso, só que, como se passaram 10 anos sem ter um concurso interno nem nada, quando teve eu não quis fazer (...) porque aí eu teria que trabalhar mais cinco anos para me aposentar como bibliotecária”, explica.

Assim, em 2009, depois de trabalhar 34 anos, registrada, - 13 deles na UEL -, Rosa se aposentou. Além do tempo de serviço, outros

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motivos a levaram a tomar essa decisão, como a falta de tempo para ficar com os pais e os netos. Mesmo assim, Rosa ainda pretende voltar a trabalhar. Junto com o conhecimento adquirido nestes anos de estudo, a faculdade também trouxe recompensas financeiras, provando que todo o esforço valeu a pena. “Graças a Deus eu achei que foi legal, que me aposentei bem até, mas tudo graças a meu esforço, porque se eu tivesse ficado desde quando eu entrei lá no colégio naquele marasmo, não ter voltado a estudar, hoje eu teria me aposentado com muito menos (...), então eu acho que valeu muito a pena eu ter estudado”, analisa.

Aposentadoria só no papel Além da faculdade, Rosa também fez uma pós-graduação em

Comunicação Empresarial, tornando-se um exemplo na família. Entre os irmãos e cunhados, ninguém continuou os estudos. Porém, os filhos de Rosa seguiram o exemplo da mãe e hoje dois deles são formados em Administração, um filho é formado em Ciências Contábeis – este também pela UEL – e cada um deles tem duas pós-graduações. Somente a filha mais nova não quis continuar os estudos.

E como muitos funcionários da instituição, Rosa esteve envolvida com as diversas extensões da universidade. Os netos ficaram na creche e na ludoteca da UEL, uma nora trabalha no Hospital de Clínicas (HC) e a própria Rosa participou de atividades físicas do NAFI (Núcleo de Atividades Físicas), além de cantar até hoje no Coro do Campus. Tudo isso fez com ela criasse laços de amizade em vários setores do campus. Deixar a UEL não foi fácil, mas era preciso parar por um tempo. Porém, essa funcionária vencedora pretende voltar e chegar ainda mais longe. “Eu nunca esperava que eu fosse ter uma experiência tão bacana assim na minha vida (...), mas graças a Deus e ao meu esforço também eu consegui ir mais alto do que eu almejava. Ainda não parei aqui (...), ainda quero, de repente, ser docente no departamento de bibi [apelido carinhoso para “biblioteconomia”], fazer um mestrado ano que vem, até esse final de ano já começar a pensar em alguma coisa, mas não parar por aqui não. (...) Eu só estou de férias!” E a gente aguarda ansiosamente o seu retorno, Rosa!

Rosane Mioto

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Um ano de Aposentadoria

O professor Rubens Ferreira Dias Júnior, do CCA, fala de sua vida na UEL e de como foi deixar as aulas

Em 1971, aos 18 anos de idade, Rubens Ferreira Dias Júnior começou a trabalhar na antiga Faculdade de Medicina como auxiliar de laboratório. Era seu primeiro emprego dele. Com a criação da Universidade e de novos cursos, prestou vestibular para medicina veterinária e em 1973 começou as aulas. “Eu nunca pensei em mexer com animal”, confessa ele. A intenção era, desde o princípio, trabalhar com análises clínicas.

Naquela época o estudo na Universidade era pago e, como ele não tinha dinheiro suficiente, a Universidade ofereceu uma bolsa-trabalho. Rubens fazia plantões de noite no laboratório, que já funcionava no Hospital Universitário da Rua Pernambuco, e frequentava as aulas em período integral.

Rubens entrou na primeira turma de Veterinária da UEL, mas se formou com a turma posterior por causa da grande mudança de currículo que houve durante o curso. Com um mês de formado, em 1977, ele iniciou como professor na Universidade.

Em 1982 o professor começou o mestrado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). O doutorado foi na UEL, na primeira turma de Sanidade Animal, entre 2002 e 2004. A tese de Rubens foi a primeira a ser defendida no programa.

Ele afirma que encarava com tranquilidade a profissão. Foram 30 anos dando aulas, o que nas contas dele significa que cerca de dois mil alunos frequentaram as suas classes. Rubens destaca que, se fosse para classificá-lo com algum nome, seria relacionado à família de veterinários, pois depois dele sete parentes próximos fizeram o curso.

Rubens deu aula a sua irmã, sobrinha, três primos e dois dos três

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filhos. Ele chegou a ser colega de turma do filho, quando cursaram disciplinas juntos, o pai para o doutorado e o filho para o mestrado. A família de veterinários chegou a ser destaque no jornal Notícia da UEL em 2002.

Rubens Dias Junior nasceu em Ibiporã, mas com dois anos de vida seus pais se mudaram para a Vila Nova, de Londrina, onde passou quase toda a vida. “Até agora, eu não estou lá, mas fico lá perto”. O professor fez o primário no Colégio Nilo Peçanha e o ginásio e colegial no Vicente Rijo antigo.

A aposentadoria, depois de 35 anos na Universidade, é considerada um prêmio pelo professor. Ele ressalta que o funcionário público tem vantagem sobre os demais trabalhadores por se aposentar recebendo o mesmo salário de quando estava trabalhando, o que possibilita a dedicação a alguns passatempos.

Rubens não quis voltar a trabalhar. Ele acredita que a aposentadoria exige uma preparação, caso contrário corre mesmo o risco de ficar deprimido. “A pessoa tem que se preparar e realmente tentar fazer aquilo que gosta, ampliando o horizonte. Para o casamento, por exemplo, você se prepara, para a aposentadoria também é preciso.”

Na preparação do professor foi incluída a compra de dois carros antigos. “São carros antigos, e não velhos, tá?” Ele conta que gosta de mexer na mecânica simples, arrumar os carros, participar de desfiles e encontros. E brinca que só não tem mais carros porque a mulher não deixa.

Ele também gosta de músicas da década de 1960, que tocavam nos rádios à válvula de antigamente, filmes de bangue-bangue e românticos de época. Com o auxilio da Internet e do computador Rubens assiste vídeoclipes das músicas e cataloga o arquivo.

Pouco mais de um ano de aposentadoria já fez o professor refletir nas melhoras que a sua vida teve. Além de possibilitar tempo livre para os passatempos e viagens, Rubens afirma que também pode praticar algum esporte, visando melhorar a saúde. Ele começou a deixar mais o carro na garagem e caminhar, assim como dominar o tempo com maior tranquilidade, sem tanto nervosismo. No entanto, o aspecto mais importante foi aproximar-se da família e da religião.

Poliana Lisboa de Almeida

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Sadi Chaiben

Como discente Em 1970 entrei no curso de Economia,

trancando matrícula em junho do mesmo ano por motivos familiares. Em 1983 matriculei-me no curso de Ciências Contábeis formando em dezembro de 1986.

Como docente Em fevereiro de 1987 fui, com muita honra,

convidado para pertencer ao quadro de professores do Departamento de Ciências Contábeis, aposentando em 2000 para cuidar da atividade profissional (Auditoria Independente), continuando ministrando aula de Perícia Contábil e Auditoria em cursos de pós-graduação.

Como assessor Em agosto de 2001 fui novamente, com muita honra, convidado

pelo então reitor Dr. Pedro Gordan, para assessorar, montar e treinar uma equipe para a Auditoria Interna, ocupando o cargo de Assessor. Mesmo prejudicando a atividade profissional aceitei o cargo como uma forma de recompensar à UEL por tudo aquilo que me proporcionou na vida acadêmica, como docente e profissionalmente, independentemente da baixa remuneração.

Em 2002 a magnífica reitora Lygia Lumina Pupatto, solicitou que continuasse o trabalho, ficando até o término da sua gestão. Em seu mandato estendemos a Assessoria de Auditoria Interna ao Hospital Universitário, onde ocupei o cargo de Assessor.

Em junho de 2006, o então reitor solicitou a colaboração onde permaneci até outubro de 2007.

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Entendendo que a missão que me solicitaram estava cumprida, e precisando dedicar um tempo maior a minha atividade profissional solicitei exoneração, deixando, graças a ajuda de outros professores do Departamento de Ciências Contábeis, a Assessoria de Auditoria Interna com uma equipe técnica treinada e atualizada, com uma organização dos papéis de trabalho, uniformização dos relatórios de auditoria, pareceres e orientações.

Mensagem

Sempre que necessário sentirei honrado em poder contribuir com a nossa Universidade Estadual de Londrina.

Levarei para sempre o orgulho de poder ter pertencido ao Departamento de Ciências Contábeis e colaborado com a Assessoria de Auditoria Interna da minha querida UEL.

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Zeladora de coragem

Com muita determinação, a zeladora Sebastiana Pereira venceu todas as dificuldades que a vida lhe apresentou. Hoje, ela curte a aposentadoria com os filhos e netos e conta um pouco da sua história de mais de 17 anos de dedicação à UEL

O sorriso é fácil e o bom-humor é comum a poucos. Nos primeiros minutos de conversa com a ex-zeladora do Centro de Ciências Biológicas da UEL (CCB), Sebastiana Pereira, é pouco provável alguém perceber o quão difícil foi o começo da história dela e da família que veio a Londrina na década de 1970. Para vencer os obstáculos e hoje curtir a aposentadoria ao lado

dos cinco filhos e 11 netos, a servidora aposentada não deu espaço a lamentações. Em vez disso, teve na coragem a sua principal aliada.

Meados de 1976. Aos 39 anos de idade, Sebastiana desembarcava em Londrina com os cinco filhos. O mais novo ainda necessitava de colo. Deixou para trás as lavouras de café e algumas más lembranças em Miraselva (a 70 quilômetros de Londrina) para tentar a sorte numa cidade maior. A viagem esteve longe de ser das mais agradáveis... “Vim na carroceria de um caminhão basculante, com os meus cinco filhos. Não conhecia nada aqui, mas eu precisava muito arrumar um emprego para sustentá-los”, recorda-se.

Mas antes de dar início à sua história, talvez na tentativa de “emoldurar” tudo que estava prestes a contar, ela oferece uma das suas especialidades nos tempos de UEL: uma aconchegante xícara de café. “Tudo que eu fiz, todos aqueles cafezinhos que eu caprichava para os professores, todo o trabalho que eu fazia na UEL era como se fizesse para o meu filho”, adianta.

E é bom não duvidar dessa senhora de 73 anos quando fala em devoção aos filhos e netos. Aficionada por futebol, é corintiana com convicção, daquelas que seguem os desdobramentos de uma partida até tarde da noite. Também não deixa de acompanhar os jogos de futebol

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do time em que joga o neto e o genro nos campeonatos na Associação do Pessoal da Universidade Estadual de Londrina (Apuel). E o “incentivo” por bons resultados deixa muito dirigente de futebol de olho na receita. Para cada gol feito pelo “time da família”, ela paga uma cerveja a ser desfrutada depois do “embate”. Promessa que às vezes pode sair cara, já que ela conta que passou apuros em uma recente partida quando a equipe “dela” aplicou uma implacável goleada de 9 a 1 nos rivais. Um teste inusitado

Assim como o café, a história é boa. Sebastiana conta que, antes de

completar o primeiro mês de estada em Londrina, já estava empregada na UEL. Sorte? Talvez. O fato é que novamente a até então lavradora precisou pôr sua astúcia à prova. Em busca de emprego, chegou até o campus da Universidade, um lugar muito diferente da beleza que exibe hoje. “Ali onde era o Hospital de Clínicas (HC), só tinha mato. Só tinha a morfologia e a reitoria, o CCB [Centro de Ciências Biológicas], o CCH [Centro de Ciências Humanas] e o CESA [Centro de Estudos Sociais Aplicados]. Hoje, a UEL parece uma cidade!”, compara. Em meio ao mato, ela chegou até o CCB, onde avistou algumas zeladoras e um funcionário - a quem depois ela veio a conhecer como “Nelsinho” – conversando e tomando um pouco de sol para se proteger do frio que fazia. Uma oportunidade e tanto para ela. “Cheguei, entrei no meio deles e disse: ‘eu sei que vocês não me conhecem, mas eu estou aqui porque preciso muito de um ‘padrinho’, de batismo ou de crisma”, disse em tom de brincadeira, em referência à sua necessidade de ter um emprego. “Vim de Miraselva sem nada, só com os filhos. Quero trabalhar para dar recursos a eles”, complementou.

O amistoso e sincero apelo da ex-lavradora parecia ter dado certo. O grupo que tomava sol deu a boa notícia de que havia uma vaga para zeladora no Centro. Mas, após vencer a timidez, Sebastiana teve que passar pelo teste que consideraria depois como o mais difícil: a morfologia. Vinda de uma família bastante tradicional e apegada a costumes religiosos, nunca havia sido “apresentada” a um cadáver em uma mesa de laboratório. “Nelsinho” foi o idealizador do “teste”

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para medir até onde ia o ímpeto da candidata à vaga. “‘A senhora tem coragem?’, ele perguntou pra mim em tom desafiador. Eu retruquei: ‘claro que eu tenho!’, recorda-se. Mas logo ela esclarece o que sentiu naquele inusitado teste. “Na verdade, eu tinha um receio imenso de estar naquele lugar. Eu era muito ignorante. Fui criada numa época em que tudo era pecado. Só que a necessidade era maior”, relembra. “Assim que ele levantou o plástico e eu vi aquele corpo nu, sem vida, fiquei com medo e ao mesmo tempo muita vergonha, por ver um corpo naquelas condições e ao lado de uma pessoa que eu nem conhecia. Nunca tinha visto um cadáver nu antes! Tive muita vergonha, mas precisava do trabalho. Fiz de conta que estava corajosa”, confessa.

Vitoriosa no desafio, Sebastiana foi apresentada para o “doutor Ivan” [Ivan Giacomo Piza, diretor do centro à época]. “Aí foi por Deus! Ele gostou de mim e dali 28 dias eu estava empregada. Quando recebi a notícia de que fui contratada, saí pulando de alegria, brincando até com os capins mais altos daquele mato da UEL de tanta felicidade! Eu realmente necessitava de trabalho!”, conta. Tempos depois, fez o concurso e passou de celetista a servidora pública.

Desempenho nota 10

Aqueles que visitam a residência de Sebastiana hoje, além da hospitalidade e de boas histórias a ouvir, também têm privilégio de observar um belo jardim cultivado pela aposentada. Gosto pelas flores que também era percebido no seu ambiente de trabalho. Levava para o CCB mudas de rosas, samambaias e até as mesas das secretárias não ficavam sem o mimo.

Mas nem tudo eram flores. A rotina começava cedo e, às quatro horas da manhã, ela já estava acordada. Não havia ônibus no horário e como iniciava o expediente às seis horas, ia a pé até o campus. Sem perder tempo, começava as atividades do dia. “Chegava, batia o cartão e já saía para trabalhar. Às vezes largava quem quisesse ficar batendo papo lá e me mandava pra fazer o serviço. E caprichava!”, orgulha-se. E não para por aí: “Eu e as demais zeladoras tínhamos avaliações a cada seis meses. Cada departamento dava nota para o funcionário. E em todas eu ganhava nota 10! Todas!”, gaba-se.

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Mesmo no ambiente de trabalho havia espaço para descontração. Conta que quando havia alguma zeladora do CCB fazendo aniversário, gostava de recolher um dinheiro com as demais companheiras de trabalho para comprar uma recordação para a aniversariante. Nas festividades de fim de ano, construía presépio e levava no natal. Seu nome também nunca faltava dentre os participantes do “amigo secreto” entre professores e demais servidores do setor. “Sempre procurei ser animada. Eu chegava cantando no meu trabalho, para me distrair e preencher o meu espírito. Só não cantava nos horários de aula, para não atrapalhar”, brinca.

Quanto ao segredo para tamanha alegria, ela explica: “Nunca cheguei com cara feia para trabalhar. O trabalho com alegria rende, a gente ultrapassa barreiras quando trabalha com alegria. Também sabia da minha necessidade, por que eu precisava do emprego. Eu tinha que cuidar dos filhos, buscar o sustento deles”, encerra.

Derrubando a crítica Um dos pontos que Sebastiana destaca na sua passagem pela UEL

ocorreu em meados da década de 1980, mas que ela ainda guarda na lembrança e conta com riqueza de detalhes. Recém-filiada ao sindicato de sua categoria, ela lia um jornal da entidade que fazia oposição à administração do reitor Marco Antonio Fiori. “No jornal, havia muitas críticas ao reitor. Em uma delas, dizia que as zeladoras não tinham condições de ir nem à porta da reitoria, não era possível sequer falar com o reitor”, lembra. Aquelas palavras entristeceram Sebastiana, mas foram suficientes para instigá-la a “investigar” o caso.

A oportunidade de esclarecer a história surgiu num evento que ocorreu no CEFE (Centro de Educação Física e Esporte). De acordo com Sebastiana, ela foi a esse “congresso” que contou com a presença do reitor e do governador do Estado, José Hosken de Novais. A ex-zeladora ainda guarda na memória o discurso de Fiori no evento. “Ele falou que para ele a Universidade era uma verdadeira família, tinha valor tanto aquele que estava com o seu balde e o seu rodinho quanto o professor doutor”, declama.

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A contradição entre o discurso do reitor e as linhas do jornal foi determinante para ela ir a fundo no seu intento. “O doutor Barros [Manoel Barros de Azevedo, diretor do CCB de 1980 a 1982] estava no evento e veio me cumprimentar. Ele estava próximo ao reitor, então aproveitei a chance e perguntei ao reitor se eu podia ir lá conhecer o gabinete dele”, relembra. Prontamente, Marco Fiori abriu a agenda e marcou o encontro.

Três dias depois, Sebastiana visitava pela primeira vez o gabinete do regente da Universidade. E não faltou ansiedade até o momento. “Cheguei às 10 horas, horário que estava marcada a visita e pensava: ‘o que eu vou falar para ele? Eu não tenho leitura, vou falar tudo errado! Não deveria ter feito isso [solicitado a visita]! Não posso falar bobagem!’, temia. Mas, temores à parte, a conversa não poderia ter sido mais agradável. “Conversamos e fui falando que estava contente e feliz com a instituição. Também contei a história do jornalzinho, disse a ele que pensei naquilo que foi escrito”, revela. Sebastiana também foi enfática quando deu sua visão quanto à crítica que leu e ao papel do reitor em uma instituição: “O senhor aqui é como um pai de toda a universidade, dos docentes, dos funcionários, dos alunos... É um pai para mim. E se a gente não pode chegar perto de um pai, o que a gente pode fazer?”, opinou diante de Fiori.

As palavras da funcionária pareciam ter comovido o administrador máximo da instituição que, segundo Sebastiana, replicou: “Ah, se todas as pessoas que fizessem uma crítica viessem como a senhora: ver se realmente é verdade. A senhora teve coragem, veio aqui conversar comigo. Parabéns! Pode vir aqui quantas vezes quiser”. Em seguida, ela conta que ele se levantou e dirigiu-se a um armário. “Vou lhe dar um presente”, teria dito. Dele, Fiori tirou um disco de Vinil (LP) com interpretações do Coral da UEL e deu de presente à zeladora. “Deu até um autógrafo no envelope que protegia o disco”, brinca Sebastiana. “Cheguei em casa e já coloquei para tocar e colocava outras muitas vezes. Quase que acabei com o disco de tanto ouvir!”, conta aos risos a aposentada. “Foi o momento que fiquei mais feliz na UEL”, reconhece.

O disco que Sebastiana recebeu de presente é o segundo LP do Coral da UEL, já sob a regência do maestro Othonio Benvenuto. Foi nessa época que o Coral passou a se destacar no cenário nacional,

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quando em 1980 foi vencedor do Concurso de Corais do Rio de Janeiro, promovido pelo Jornal do Brasil. Criado em 1972, na administração do reitor Ascêncio Garcia Lopes, em 2003, passou a contar com 12 grupos corais que integram hoje o “Movimento Coral da UEL”. Também foi quando recebeu a “Comenda Ouro Verde”, uma das mais importantes honrarias do município de Londrina. Desde fevereiro de 2008, a regência do Coral é do professor Jailton Paulo Santana.

Eu nunca vou te abandonar Os cuidados com as vistosas flores do jardim e uma coleção de

canários são os principais compromissos de Sebastiana hoje. Também capricha no bordado que é colocado com harmonia em cada canto da casa e de vez em quando viram um rendimento extra no fim do mês. Na estante da sala, os vários retratos mostram a trajetória dela e da família, histórias que se confundem com a da UEL. Uma de suas três filhas, por exemplo, pouco tempo depois de a mãe ter conquistado o emprego, foi aprovada em concurso e igualmente passou a ser funcionária da UEL, auxiliar de enfermagem no HU. Um dos dois filhos, que já foi aprendiz na instituição, hoje enche a mãe de orgulho com um doutorado em química.

Sebastiana também aproveita o tempo livre para viajar e passear com a família e nem espera convite dos filhos para isto. “Se os filhos não ligam pra mãe, eu ligo pra eles. Se eles não me convidam para passear, eu me convido!”, conta aos risos. Mas, em meio às viagens e passeios, não deixa de lado o interesse pela UEL. Sempre acompanha os acontecimentos da Universidade pelo jornal “Notícia” e se mostra bastante atualizada com relação ao dia-a-dia da instituição. Também cuida da saúde e do corpo com as atividades oferecidas pelo Nafi (Núcleo de Atividades Físicas), da UEL.

Tal como na sua torcida pelo time do coração nas quartas-feiras e domingos de futebol, Sebastiana mostra que nunca vai abandonar o seu apreço pela UEL. E a prova disso não poderia ficar mais evidente na explicação dela: “Sou feliz. Essa casa que eu tenho hoje, por exemplo, agradeço a Deus e à UEL pela eternidade, não tem fim. Pra mim, a UEL é um pedacinho do paraíso: aquele verde, aqueles alunos no calçadão,

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os professores... Estar no campus me dá uma sensação muito boa! Tenho saudade”, encerra.

Nós também, Sebastiana.

Construindo a história. “Seus pais são João Fidelis Pereira e Rita Maria de Moraes. (...) Para Sebastiana, o primeiro dia na Morfologia foi difícil, pois achou tudo ‘meio estranho’, afinal, nunca tinha visto um cadáver. ‘Tinha um pouco de receio. Alguns funcionários contavam histórias de assombração, vultos, luzes que acendem e apagam sozinhas... Rezava todos os dias para as almas dos cadáveres’, lembra. (...) Durante todos os anos em que esteve na Universidade, ‘trabalhei com amor (...) é um ótimo lugar para se trabalhar!’”

Texto extraído do livro: “A Anatomia em Londrina - Personagens que Construíram a História”, de Maria Aparecida Vivan de Carvalho. Editora: UEL.

Gustavo Ticiane

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Silza Maria Pasello Valente

Silza Maria Pasello Valente descobriu cedo o prazer e os benefícios proporcionados pela leitura. Ela conta que se escondia nos cantos da casa, em busca de tranquilidade para que pudesse mergulhar numa nova história. Cresceu assim, em Santa Margarida, distrito de Bela Vista do Paraíso, em uma família formada por educadores.O convívio prolongado com os professores despertou o interesse de Silza pela Educação. O primeiro passo foi cursar o normal superior, no Instituto de Educação Estadual

de Londrina (IEEL). Logo em seguida, Silza prestou o vestibular para Pedagogia, a primeira turma da UEL. Foi aprovada. Quatro anos depois estava formada e casada.

De 1971 – ano em que concluiu Pedagogia – até 1982, Silza lecionou em escolas de ensino básico, fundamental e médio. “Durante o curso de pedagogia eu atuei como professora da segunda série (1970) e como diretora (1971) da rede municipal de ensino de Londrina. Em dezembro de 1971 me diplomei, casei e passei a residir em Bela Vista. Durante os primeiros anos, me dediquei somente à família. Em 1978 passei a atuar no então segundo grau, onde ministrei aulas no curso propedêutico e no curso normal”.

Mas, Silza tinha maior interesse pelo ensino superior. Foi em 1982 que a UEL precisou de novos docentes para o Departamento de Educação. “Em março fui convidada a ministrar aulas de didática no Departamento de Educação. Fui contratada por 24 horas para ministrar aulas de Didática para o curso de Enfermagem; no segundo semestre minha carga horária foi ampliada a 44 horas e assumi as aulas de didática na licenciatura em Educação Física. Em 1983 ingressei no curso de Especialização em Metodologia do Ensino Superior. Em 1985 prestei concurso e fui efetivada na UEL”.

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Silza se especializou em Metodologia do Ensino Superior e seu mestrado seguiu a mesma linha: Metodologia do Ensino. Em 1993, Silza assumiu a coordenação de especialização do Departamento de Educação. Ela permaneceu na coordenadoria por duas gestões. “Na oportunidade, impulsionei a reformulação curricular do curso que passou a se denominar Metodologia da Ação Docente, isso porque o foco do ensino e da pesquisa passou a abranger os demais níveis de ensino, não somente o ensino superior, como até então. Essa mudança de foco possibilitou o enriquecimento das situações ligadas ao ensino e da produção monográfica”.

Em 1996, Silza participou da comissão que criou o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional. Também foi coordenadora, por três gestões, do curso de Especialização em Avaliação Educacional.

Em 1998, Silza foi convidada para desempenhar a função de Diretora de Apoio à Ação Pedagógica, na Prograd. Ela conta que nessa época a UEL estava passando por um período de transição: a prova do vestibular, que anteriormente era realizada pela Fundação Carlos Chagas passaria a ser desenvolvida na própria UEL. Silza atravessou este período conturbado trabalhando e escrevendo sua tese de doutorado, simultaneamente. Ela revela que se ausentou só por um ano, para finalizar a tese. Em seguida, retornou ao Departamento e à coordenação de Especialização em Avaliação do Aprendizado. Cargo que ocupou até se aposentar em 2007.

A aposentadoria não trouxe grandes alterações. Silza continua trabalhando: “E muito”, afirma. “Atuo como professora convidada em cursos de especialização, presto consultorias, participo como voluntária, e coordeno, em Bela Vista do Paraíso, o projeto de leitura: Viajando com as palavras”. Para ela, a maior diferença é que agora não tem compromisso com nenhuma instituição. “O que me dá liberdade para gerenciar minha vida. Ainda não consegui ler todos os livros de literatura que me havia proposto, nem assistir aos filmes com a frequência desejada, ou escrever as poesias que desejo. Por outro lado, convivo mais com minha família e curto meus seis netos. O que me faz muito bem”, afirma.

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Desde 2006, Silza coordena, voluntariamente, um projeto social realizado em Bela Vista do Paraíso, em parceria com o Departamento de Educação da UEL e a Secretaria de Educação e Cultura daquele município.

O projeto “Viajando com as palavras” tem o objetivo de incentivar a leitura, desenvolver a criatividade dos alunos e ainda auxilia na formação de novos professores. Segundo Silza, o acervo do projeto foi conquistado por meio de doações. Os livros são guardados em baús e as bibliotecas são itinerantes, percorrendo os colégios da cidade.

Para Silza, o projeto é sinônimo de satisfação. Tem grande visibilidade, receptividade e já ganhou um prêmio nacional. E mais: cria novas possibilidades e oportunidades.

Léia Dias Sabóia

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Toshihiko Tan

Filho de imigrantes japoneses, nikkei (nissei) com muito orgulho, nasci dentro de uma família humilde de lavrador, de uma irmandade de 10 filhos, 7º na ordem de nascimento, sendo dos 4 últimos remanescentes, o mais velho, natural do município de Santo Anastácio, na Alta Sorocabana , do estado de São Paulo, Brasil. Embora de família pobre, os meus progenitores tiveram a luz e a graça de nos dar oportunidades, educação e encaminhar no caminho do bem, nos formando numa profissão universitária, nos tornando alguém na vida.

Em 1963 participei da criação e fundação da Faculdade Estadual de Odontologia de Londrina, na ocasião atuava como presidente da Associação Odontológica Norte do Paraná onde nasceu esta faculdade, por este motivo participei ativamente na sua concretização, junto aos poderes políticos e governo do Estado do Paraná.

Neste ano de 2008 comemoramos o Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil, as nossas saudações efusivas a todos aqueles que deixaram a sua pátria amada e vieram aventurar para concretizar os seus sonhos e ideais para se ter uma vida melhor nesta terra da Santa Cruz que é o Brasil.

Ao mesmo tempo em que agradecemos a todos os brasileiros que receberam os nossos antepassados. Os imigrantes se sacrificaram, batalharam e sofreram enfrentando todas as vicissitudes, doenças tropicais, desconhecimento da língua, hábitos, costumes e alimentação diferentes de sua terra.

Finalmente a nossa gratidão a todos aqueles que propiciaram uma vida melhor e bem-estar fazendo deste país a pátria dos seus filhos e familiares.

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Em busca de novos horizontes

O professor de Geociências Valmir de França já tinha uma carreira em União da Vitória quando começou na UEL. Agora, na Universidade, ele procura contribuir com os seus projetos de pesquisa

Para encontrar o professor de Geociências aposentado Valmir de França hoje em dia é preciso procurá-lo no Departamento de Medicina Veterinária no Centro de Ciências Agrárias. Isto porque, depois da aposentadoria em 2003, Valmir pretendia trabalhar com desenvolvimento regional da bacia hidrográfica na Unemat (Universidade do Estado do Mato Grosso), mas, como a mudança não seria boa para a saúde de sua mulher, continuou em

Londrina atuando como convidado em projetos.Um destes projetos que o professor participa é em parceria com

o Departamento de Medicina Veterinária, no laboratório de inspeção de produtos de origem animal. Com experiência em Geografia Física e Hidrografia, ele explica que há padrões equivalentes nas pesquisas de água e leite e foi convidado como consultor sênior na implantação do Centro Mesorregional de Excelência em Tecnologia do Leite do Norte Central da UEL.

A história de Valmir começa lá no nordeste. O professor brinca que, “como todo nordestino morou em vários estados”. Em Recife (PE), no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, ele começou a estudar Química. Já no sul, a graduação em Geografia foi cursada na Fundação Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória.

Na década de 1970, no município paranaense que faz fronteira com o Estado de Santa Catarina, Valmir começou a lecionar Química, primeiramente, e depois Geografia para alunos de 1° e 2° graus da rede estadual. Foi também em União da Vitória que o professor se casou.

Seus dois cursos de especialização tiveram reconhecimento na cidade. O primeiro – de Ensino de Ciências – montou um “clube de

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ciências” aberto a alunos de todas as classes sociais. “Provei que é possível superar a realidade, tanto que eu ganhei uma bolsa da Unesco pelo trabalho”, relembra. A intenção era despertar a vocação nos alunos que participassem e apoiar a conquista da carreira. Além disto, o clube, lembra Valmir, “era um espaço de estágio para todas as áreas da faculdade”.

Na outra especialização, Valmir e seus estagiários fizeram a recolocação de uma favela que havia à beira do Rio Iguaçu. Eles fizeram inventários dos bens, diagnósticos, reeducação em outro local daqueles que lá viviam. Todo este trabalho aconteceu no ano de 1982, apenas um ano antes da grande enchente do rio, que começou à noite e deixou 35 dos 40 mil moradores da cidade desabrigados. O professor acredita que a mudança daquelas famílias evitou muitas mortes, além dos conflitos e saques – que não aconteceram em União da Vitória. Além de uma bolsa da Organização Mundial da Saúde, ele foi homenageado pela defesa civil do estado por este outro trabalho.

Nesta época o professor estava dando aula na faculdade da cidade e já tinha contatos com a Universidade Estadual de Maringá. Em 1986, Valmir veio dar aulas na UEL lotado no Departamento de Geociências. Dois anos depois começou seu mestrado na Unesp de Presidente Prudente em Hidrogeografia e Análise Ambiental. Logo em seguida, em 1994, iniciou o doutorado na UEM em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais com aplicações de satélite.

Durante o doutorado, Valmir passou dois anos na França, na Universidade de Rennes 2. “Eu fui com a esposa e com os três filhos”, conta o professor. Uma de suas filhas inclusive casou-se e continua lá, agora com a neta de Valmir. Por causa da família e da pesquisa, ele continua em contato com o país que o recebeu. Em 2007 esteve lá para uma visita e foi homenageado pela Universidade.

Valmir, apesar de ter se dedicado muito à pesquisa, sente falta da sala de aula. Por um momento, a emoção deixa o professor sem fala e com lágrimas nos olhos diante da recordação dos alunos. E quando retoma a fala é para declarar o carinho pela profissão: “eu sou professor por vocação e sinto saudade de dar aulas. Minha mulher costuma até dizer que, no dia anterior a algum curso meu, pareço noiva antes do casamento”.

Poliana Lisboa de Almeida

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Vera Lúcia Lemos Basto Echenique

Passei bons 17 anos de minha vida na UEL. Foi um período de crescimento pessoal e profissional e de alargamento dos laços de amizade com colegas, funcionários e alunos, dos Cursos de Graduação e de Pós-Graduação.Sempre lotada no Departamento de Educação do CECA e dando aulas, trabalhei na CRH/Divisão de Docentes, na CPG/Diretoria de Pós-Graduação, fui vice-chefe do Departamento, representante do Depto na CPCD, membro do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão, do

Conselho de Administração, do Conselho Universitário , participando de suas diversas comissões internas. Coordenei o primeiro Curso de Pós-Graduação em nível de Aperfeiçoamento, realizado em convênio com a CAPES e destinado a docentes das Instituições de Ensino Superior do Norte do Paraná, além de ajudar a criar o primeiro Curso de Especialização da UEL, o CEMES, em funcionamento até hoje, embora como nova denominação. Dirigi o CECA por quatro anos e, em agosto de 1993, após 25 anos de trabalho no ensino superior aposentei-me.

A UEL representou muito na minha vida profissional, ao mesmo tempo em que acompanhei seu crescimento, pois quando lá comecei a trabalhar, a Universidade tinha apenas 6 anos.

Tenho um carinho muito grande pela UEL e guardo as recordações dos anos em que lá trabalhei como algo muito especial.

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Ensinando a ensinar

Em mais de três décadas trabalhando na UEL, a pedagoga Vera Lúcia Resende Faria passou por diversas funções, mas nenhuma foi tão gratificante quanto o cargo de técnica de assuntos educacionais

Muitas vezes, quando se pensa em um ambiente de ensino como uma universidade, é difícil imaginar que algumas pessoas têm dificuldades para aprender ou ensinar. Porém, esta situação é frequente e chega a aumentar os níveis de desistência dos cursos de graduação. Algumas pessoas não conseguem aprender e outras não conseguem ensinar. O que talvez essas pessoas não saibam é que a UEL conta com o Labted, o Laboratório de Tecnologia Educacional,

que, entre outras funções, oferece cursos para que estes estudantes com dificuldade de aprendizagem possam continuar seus estudos. Quem conta um pouco mais da história deste trabalho é a técnica em assuntos educacionais Vera Lúcia Resende Faria, que trabalhou quase três décadas no Labted, boa parte deles quando o laboratório era conhecido como NTE, Núcleo de Tecnologia Educacional.

Primeiros passos na universidade A trajetória de Vera na UEL começa em 1974, quando ela

trabalhou na Associação do Pessoal da Universidade Estadual de Londrina (Apuel) durante dez meses. No ano seguinte, foi aprovada em um concurso para trabalhar na Universidade como escriturária, onde atuava junto ao gabinete da reitoria, no setor de comunicação – hoje conhecido como COM, Coordenadoria de Comunicação. No cargo, exercia funções administrativas, como atender as pessoas que

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procuravam os serviços do setor, fazer fotocópias e clipagem – ou seja, reunir em um arquivo as matérias sobre a Instituição publicadas na imprensa –, datilografar o boletim Notícia e até mesmo ajudar a entregá-lo nas TVs e jornais da cidade. Enfim, os serviços eram aqueles comuns à assessoria de imprensa.

Contudo, em 1979, Vera foi transferida para o Labted, agora na função de oficial de administração, cargo conquistado em 1977, mesmo ano em que começou a faculdade de Serviço Social. A função de Vera no novo setor era controlar a entrada e saída de serviços – solicitações de gravações em áudio e vídeo, fotografias e todos os serviços que até hoje o laboratório oferece. Com a implantação do setor pedagógico, muitos professores começaram a procurar este novo serviço do Labted e Vera descobriu sua verdadeira vocação. “Eu fiquei de olho no trabalho [do setor pedagógico] porque eu achava extraordinário, eu me apaixonei pela educação”, confessa.

Para ela, o Labted era “um pronto-socorro”. Lá, os professores encontravam atendimento didático-pedagógico e aprendiam a preparar planos de aula e de cursos, ou mesmo a se preparar para concursos, apresentações de bancas de mestrado, doutorado... “O professor é formado, às vezes, só bacharel, não tem licenciatura, então é difícil ele saber como planejar uma aula. Eles iam buscar aprender o planejamento de aula”, explica. Da mesma forma, muitos alunos começaram a procurar este serviço, buscando aprender a falar em público ou apresentar seminários, por exemplo.

Realizando um sonho À medida que o setor pedagógico crescia, a admiração por

este trabalho se tornava cada vez maior. “De tanto observar o setor pedagógico, decidi estudar pedagogia e todos os cursos na área de educação eu procurava fazer. Ficava cada vez mais encantada com a educação”, nos conta Vera. Quando terminou a faculdade de Pedagogia, por volta de 1986, ficou aguardando o momento de fazer um concurso para passar pro setor pedagógico. A oportunidade tão esperada veio em 1991, quando Vera foi aprovada em um concurso para aquele setor. “Foi um sonho realizado”, explica.

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Um sonho que só trouxe boas recompensas. Com a pedagogia, Vera pôde ajudar várias pessoas a se aperfeiçoarem em suas áreas ou a darem a volta por cima. Como, por exemplo, quando trabalhou com o CODE – Comissão Permanente de Acompanhamento a Alunos com Necessidades Educacionais Especiais, atualmente conhecido como Proene, Programa de Acompanhamento ao Estudante com Necessidades Educacionais Especiais –, atendendo alunos com problemas de aprendizagem, entre eles muitos estrangeiros, que não se adaptavam ao ensino brasileiro. A principal dificuldade desses estudantes, segundo Vera, era com a apresentação de trabalhos.

Em meio a vários casos, Vera destaca um, de uma aluna com problemas emocionais que não conseguia aprender e estava prestes a ser jubilada. “Foi muito demorado o atendimento [desta aluna], creio que mais de dois anos. Um dia ela apareceu dizendo que foi aprovada em concurso e já está trabalhando em uma escola. Para nós é a melhor recompensa, é o nosso trabalho ecoando no mundo”. Porém, mais do que técnica, o que conta neste trabalho é o lado humano do pedagogo. “A gente dá bastante abertura, porque para fazer um trabalho desses a pessoa tem que ter um certo tato para lidar com as emoções, porque é difícil trabalhar com técnica e separar, só apresentar técnica. É ser humano, né? A gente tem que ter um olhar integral: corpo, alma, espírito...”

“Esse tempo foi preciso para mim” Outro momento da trajetória de Vera Lúcia na UEL que merece

destaque é a sua participação no PAE, Programa de Ação Educativa, criado em 1989 com o objetivo de alfabetizar adultos, principalmente os funcionários da universidade. Neste trabalho, era necessário ensiná-los até mesmo a pegar o lápis, pois como trabalhavam com ferramentas pesadas, não tinham habilidades com objetos leves. “A gente ajudava, pegava na mão, fazia bolinhas de papel pra amassar, para poder desenvolver a habilidade motora fina de pegar o lápis, que é um elemento leve diante do trabalho deles que é enxada, vassoura, dirigir trator, carregar massa para construção, tijolos...”, explica. Com os adultos, era trabalhado o método de alfabetização de Paulo Freire,

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a palavração, onde eram ensinadas primeiramente as palavras do universo destes trabalhadores. “E eles levavam tão a sério que mesmo com a greve dos ônibus eles iam de bicicleta para a aula, não perdiam um dia. (...) E uma coisa que eles queriam muito era ter cartilha, porque os filhos e os netos tinham, então a gente tinha que elaborar uma cartilha”, relembra Vera.

Desse projeto nasceu o livro “Um grauzinho de estudo”, com depoimentos escritos pelos próprios alunos. “Eles falavam que eram como cegos, então o depoimento deles [era] ‘aí, eu me sentia cego, porque eu tinha que perguntar para as pessoas o nome do ônibus, o número do ônibus’, tem que estar sempre dependente dos outros, então foi uma certa independência, porque com o acesso à leitura e à escrita você vai ficando mais independente”, reflete. Muitos deles, segundo Vera, chegaram até a faculdade. “Isto não tem preço para quem acredita na educação”.

Um pouco mais sobre o Labted De todos os serviços oferecidos pelo Labted, o mais requisitado,

segundo Vera, é o microensino, onde são os alunos aprendem “habilidades técnicas de ensino”: como dar aula, como planejar uma aula, como fazer com que ela tenha uma sequencia lógica, seja didática, específica para a sala de aula. “[O aluno] leva o tema, apresenta e o microensino é feito em gravação de vídeo (...). Depois o grupo discute aquilo que ele apresentou”, explica Vera. O procedimento é realizado até que o aluno apresente melhoras e tenha um desempenho desejado.

Para Vera, o trabalho feito pelo Labted sempre será necessário, pois os educadores precisam se adaptar à evolução das novas tecnologias. “Hoje, com o desenvolvimento tecnológico, não combina só usar o quadro de giz e a oratória, nosso tempo exige mudanças tecnológicas e o papel do Labted é oferecer este conhecimento para educadores e educandos. É importante ter domínio sobre a tecnologia em sala de aula. Facilita o aprendizado.”

E o microensino também gerou recompensas para a pedagoga, que até hoje colhe os frutos deste trabalho. “É uma coisa muito interessante, que agrada muito a gente, é quando eu vejo na televisão,

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na mídia, pessoas que a gente pôde atender, o pessoal que solicitou o trabalho do Labted (...). É juíza, o pessoal da área da comunicação, os médicos, a área da saúde, arquitetos, contabilistas, todas as áreas procuram o Labted pra ter essa orientação didática. (...) Fico feliz por ter participado um pouco na vida profissional deles”, comemora.

Aposentadoria: hora de colher os frutos Além de deixar um trabalho maravilhoso, Vera Lúcia também

deixou muitas amizades na UEL. “As pessoas do meu trabalho, da universidade, olha, eu encontrei só gente boa, graças a Deus, foi uma trajetória em que eu aprendi muito com os meus colegas”. E a pedagoga faz questão de nomear as pessoas que colaboraram com o Labted e foram exemplos para ela: Estela Okabayashi Fuzii, Maria Nilce Missel, Terezinha Vilela de Magalhães, Darcy Nampo (já falecida, mas que, nas palavras de Vera, “ajudou muito o setor pedagógico”), entre tantos outros companheiros de jornada. “Eu posso dizer que cresci vendo o desenvolvimento da universidade”, reflete Vera, que esteve com a UEL durante quase 33 anos. Aposentou-se em 2007.

Agora, distante do Labted, resta a saudade do trabalho e dos amigos, mas também tempo livre para desfrutar daquilo que foi conquistado em todos estes anos. Vinda de uma família com boas condições financeiras, Vera Lúcia viu a situação mudar quando problemas familiares fizeram com que ela – a mais velha de nove filhos – precisasse ajudar nas despesas de casa, começando, ainda muito jovem, a trabalhar. As dificuldades a afastaram da escola por um tempo, mas, perseverante, Vera, assim como muitos estudantes que pôde ajudar em seu trabalho, deu a volta por cima.

Casada e mãe de três filhos, todos formados, Vera olha com carinho para os anos vividos na Universidade que, mais do que uma situação financeira confortável, lhe proporcionaram algo que não tem preço: “A Universidade para mim foi um campo riquíssimo de aprendizagem e experiências. Tudo o que eu sou hoje, tenho hoje, [foi] porque Deus me encaminhou para lá. Eu aprendi muito. Muito, muito, muito. É muito rico. Esse conhecimento que eu adquiri lá vale mais que o ouro, mais que a prata. Por isso é muito importante a gente buscar

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o conhecimento, buscar crescer, se dedicar naquilo que gosta de fazer. Não tem jeito, você vai melhorando, às vezes demora um pouco, mas a gente chega no objetivo. Eu queria muito trabalhar com educação e consegui”.

E com a dedicação de educadores como Vera, conquistar os objetivos fica ainda mais fácil!

Rosane Mioto

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Música e judô, práticas que fazem bem ao corpo e ao coração

Os títulos de benemérito e cidadão honorário são provas de reconhecimento pela dedicação de Yoshiriro Okano ao judô

Nas paredes, as condecorações; e no currículo, atividades bem diferentes. Yoshiriro Okano tem duas paixões: judô e karaokê. A primeira o acompanha desde os tempos de menino. Já o karaokê é mais recente. Resultado de uma brincadeira que, por fim, virou coisa séria.Yoshiriro se mostra determinado. Revela que gosta de desafios. A personalidade e o espírito competitivo já lhe renderam muitas medalhas e títulos. Para o judô já são 53

anos de dedicação. Para a música, apenas três, que estão longe de serem os últimos.

As origens Cambé já foi distrito de Londrina, e chamava-se Nova Dantzig

Yoshiriro nasceu nesse distrito, o que lhe confere o direito de afirmar que é londrinense. “Conheço Londrina como a palma da minha mão. Desde quando a Avenida Paraná era terra ainda. Não tinha calçada, era uma poeira só. Quando chovia era muito barro”. Orgulhoso, enfatiza que cresceu, estudou, trabalhou e se aposentou “tudo aqui nesta cidade”.

Só por um período esteve longe. Yoshiriro foi aluno da primeira turma de Educação Física (1974), no período noturno, da UEL. Já era professor havia sete anos, quando foi contemplado com uma bolsa de estudo para fazer mestrado no Japão. Para qualquer profissional, uma

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oportunidade como essa é única, mas, para Yoshiriro, a viagem foi ainda mais especial. Além de estudar e ter uma qualificação melhor, ele pôde conhecer o país de seus ancestrais.

Aqui no Brasil a família sempre preservou a cultura japonesa, fez questão que Yoshiriro aprendesse a língua e os costumes. E, lá no Japão, ele vivenciou os ensinamentos: “Cada parte do Japão que ia conhecer, cultura, né, relacionava com alguma coisa que tinha ouvido dos pais. Então, foi muito boa essa experiência”.

Por dois anos, Yoshiriro estudou no Japão. A viagem foi muito proveitosa. “Pode-se dizer que fui o primeiro mestre de Educação Física da Universidade Estadual de Londrina”. Naquela época, ele já ensinava judô. Por isso, a Universidade do Japão preparou um programa especial. “Essa experiência até hoje está me servindo, porque vários Estados do Brasil me convidam para dar cursos na área do judô. E, assim, pude conhecer vários Estados”.

O judô O primeiro contato com o judô foi aos 15 anos, em 1955,

casualmente, como ele define. Curioso, resolveu praticar o esporte, sem nenhuma pretensão de ser professor. Mas, em 1968, no mês de maio, recebeu um convite para ensinar judô no colégio Marista: “Esse foi o primeiro passo e até hoje. Só de ensino de judô está fazendo 40 anos”. No ano 1970, outro convite: “Fui convidado pelo Clube Canadá e até hoje estou lá. Este ano está fazendo 38 anos que dou aula lá”. Todas as atividades praticadas por Yoshiriro têm em comum a longa duração. “Parece que sou meio persistente, quando começo com uma coisa não paro, vou até...”, conta, divertindo-se com a constatação. Como atleta, Yoshiriro fez participações importantes: “Apesar de não ter bons resultados na liga nacional, participei por quatro vezes da Seleção Estadual de Judô”.

O reconhecimento pela dedicação ao esporte veio por meio dos títulos de benemérito e de cidadão honorário. Em 2003, Yoshihiro Okano completou 50 anos de dedicação ao Judô. E foi homenageado com o título de cidadão honorário de Londrina. O título de benemérito foi concedido pela Fundação Paranaense de Judô. Yoshiriro conta que

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quando foi convidado para o evento, sem saber que seria homenageado, solicitaram a presença de sua esposa. “Disseram que era uma comemoração. Ah, quando eu chego lá... Fiquei pensando, será que estou merecido mesmo dessas coisas? Eles disseram pra mim: ‘Você é uma pessoa que colaborou todo esse tempo para o judô. Tem muitos colaboradores, mas você fez algo mais. Além de colaborar, contribuiu para o enriquecimento cultural, cientifico e pedagógico do judô’”.

Desde a volta do Japão, em 1980, Yoshiriro, anualmente, dá de dois a três cursos para os futuros faixas pretas. “Os faixas pretas, já no grau de 1°, 2° e 3°, todo ano têm que fazer cursos de atualizações e adquirir mais conhecimento. E todo esse período sou eu que dou o curso”. Ele acredita que essa atividade lhe rendeu o título de benemérito. “Talvez esse seja o motivo”.

Na placa de cidadão honorário, a justificativa: “Pelos relevantes serviços prestados à comunidade londrinense”. Em 2003, quando estava completando 50 anos de dedicação ao judô e 35 anos de ensino, Yoshiriro recebeu uma ligação: “Num belo dia, recebo o comunicado da Câmara dizendo que eu era o homenageado. Fiquei pensando: por que eu?”, relata, modesto. “Disseram que eu tenho um trabalho mais voltado para a formação do cidadão. Não só de competidores, mas campeões. ‘Você formou cidadãos, e como consequência, campeões também. Por isso, nós valorizamos seu trabalho e estamos concedendo esse título de cidadão honorário pra você’”. A música

“Há três anos eu arrumei um hobby, o karaokê, de música popular

japonesa”. Tudo começou por acaso. Segundo Yoshiriro, em Londrina existem 27 associações nipo-brasileiras. “Normalmente tem concurso de karaokê interbairros, entre associações. E a pessoa responsável por essa parte do canto me inscreveu para o concurso de 2005, sem me falar nada”. Quando soube, Yoshiriro teve uma grande surpresa e a princípio recusou, mas, como gosta de desafios, acabou aceitando. Decidiu se preparar e foi ter aulas de canto. Mas, no grande dia, uma catástrofe: “Cantei a primeira estrofe, a segunda estrofe esqueci. Não lembrei mais nada. Aí eu desci e pensei que isso não podia ficar assim”.

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Ao contrário do que se imaginava, a experiência mal-sucedida o incentivou a continuar e melhorar. “No segundo campeonato já comecei a ganhar troféus. Nos dois anos, em quase todos que eu participei consegui alguma coisa. Neste ano já passei pra turma de veteranos”.

Aposentado desde 1998, Yoshiriro se divide entre suas paixões: família, judô e karaokê. Cultiva sempre hábitos saudáveis, herança da cultura japonesa. E vive em equilíbrio, proporcionado pelo judô. Já o karaokê fez com que o círculo de amizades fosse ampliado. Tudo isso, graças à sua persistência e muita dedicação.

Léia Dias Sabóia

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Zenshi Heshiki

Filho de Zenziro e Nabe Heshiki nasceu na cidade de Promissão no Estado de São Paulo em 1936. Quarto filho masculino de uma prole de 10 pessoas. O ZEN deriva do ZEN Budismo como relatado no texto e quatro em japonês é o mesmo SHI e daí o nome ZENSHI. Na linguagem eletrônica passou para ZENFOUR, introduzindo o quatro em inglês que é FOUR.Graduado em Medicina de Ribeirão Preto-Sp em 1961 e em Administração Hospitalar na Faculdade de Saúde Pública na USP - SP. Fez a

especialização no Hospital de Clínicas em São Paulo, na Universidade de Bordeaux em França e na Universidade de Minnesota em Minneapolis – USA.

Tem os títulos de Doutor em Medicina e Livre Docente pela Faculdade de Medicina da USP - São Paulo e de Professor Adjunto pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP. Em 1977 assumiu o cargo de Professor Titular na UNESP de Botucatu e de Professor Associado em 1996 na UEL de Londrina. Atualmente está aposentado destas instituições universitárias e exerce a função de Médico Otorrinolaringologista na Otolon de Londrina.

Fez viagens a vários paises para conhecer a história, os hábitos e costumes de seus povos e dos familiares. Este é o resumo parcial destes estudos.

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Da Lituânia para a cultura brasileira

Zita Kiel Baggio, além de professora do Departamento de Letras e depois de Ciências Sociais da UEL, deu aula em cursos ginasiais, clássicos e normal na cidade

Quase 20 anos como aposentada da Universidade Estadual de Londrina; 50 vividos nesta cidade; mais de 80 de idade. A lituana Zita Kiel Baggio veio com os pais para o Brasil com um ano de idade. Viveram em Porto Alegre. Quando ficaram apenas ela e a mãe em casa, sua mãe começou a trabalhar como professora.Jovem, Zita entrou para o colégio interno

Instituto Adventista Cruzeiro do Sul de Taquara do Sul (RS), para onde sua mãe foi trabalhar logo depois. Zita mudou-se para São Paulo para cursar o clássico e depois foi para Curitiba: fez Letras Neolatinas na UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Ela sempre gostou da língua francesa, que naquela época se aprendia desde o ginásio. Depois da graduação, cursou especialização na Aliança Francesa.

Ainda em Curitiba, Zita ingressou na faculdade de Jornalismo, na primeira turma do curso na Pontifícia Universidade Católica (PUC). No último ano, o secretário da escola de jornalismo indicou Zita para o diretor do Colégio Londrinense, Zaqueu de Melo, que precisava de uma professora de francês.

Era 24 de fevereiro de 1958 quando ela veio como professora para Londrina. Dava aulas nos cursos ginasial, clássico e científico. E voltava para Curitiba fazer as provas da faculdade de Jornalismo. Formada, nunca exerceu essa profissão. Preferia ser professora.

Zita prestou concurso e lecionou um ano no Colégio Vicente Rijo. Depois optou pelo IEEL (Instituto Estadual de Educação de Londrina), pois o colégio estava ligado ao curso normal.

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Em 1964, a professora Zita Kiel Baggio ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Londrina. Antes, porém, por ser uma das poucas que trabalhavam com a língua francesa na cidade, já havia participado de bancas de seleção para a Faculdade de Direito.

Segundo ela, o ambiente pequeno da Faculdade estimulava a competição para o bem. “Todos os colegas trabalhavam juntos e os alunos eram sedentos de informação”. Ela lembra de alunos de outras cidades, como Sertanópolis, que enfrentavam estradas sem asfalto para chegar à Faculdade e levavam toalhas para limpar o rosto e até sapatos para trocar.

Zita compara as fases vividas pela UEL a um caleidoscópio, em que qualquer mudança gera outras figuras. Da transição da Faculdade para Universidade, a professora destaca que o espírito de colaboração continuou. E ela passou para o Departamento de Letras.

Quando o MEC mudou a disciplina de Cultura Brasileira, Zita transferiu-se para o Departamento de Ciências Sociais. O tempo da disciplina passou de dois anos a seis meses, o que exigiu uma diminuição de conteúdo, lembra a professora, que gostava de dar um mês de aulas sobre pintura, por exemplo.

A aposentadoria veio em 1989. Ela então diz que aproveitou o tempo e foi fazer tudo o que não havia feito antes. Casou-se com mais de 50 anos de idade. Com o marido, também aposentado, viajou por vários países. Tiveram uma chácara em São Jerônimo da Serra, onde ela idealizou a casa e plantou flores e árvores.

Emocionada de contar sobre a sua vida, a perda da mãe e do marido, Zita Kiel Baggio revela porque uma professora tão apaixonada pela profissão não sofreu na hora de se aposentar. “Eu fiz com tanto amor que eu olho para trás e vejo que fiz tudo... Então não senti saudades nenhuma. Você tem que fazer o seu melhor”.

Poliana Lisboa de Almeida

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Impressão e acabamento

Portal do Servidor Aposentado da UEL: tempo de recordarMaria Aparecida Vivan de Carvalho; Fabiano Ferrari Ribeiro; Rosane da Silva BorgesMaria de Lourdes MonteiroKeila Akemi KomoriMaria de Lourdes MonteiroJosé Feres Abdala16 x 23 cmGeorgia(miolo)250g/m2 (capa)75g/m2 (miolo)330500Gráfica da UEL