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Download Portal Anarquista · PDF file7 UM MILITANTE LIBERTÁRIO MOISÉS SILVA RAMOS, PERSONAGEM SABIAMENTE POLÉMICO (Texto da autoria de José Hipólito Santos e lido no passado dia 14 de

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    Este folheto reproduz um conjunto de textos publicados durante o ms de Janeiro de

    2014 no blogue Portal Anarquista (.http://colectivolibertarioevora.wordpress.com/)

    Nem todos os textos ali publicados integram esta resenha, apenas os que tm um carc-

    ter mais perene. esse o nosso objectivo: tentar que os textos que um dia foram publi-

    cados enquanto posts durem mais tempo e, disponibilizados em PDF, possam servir

    para alimentar o debate e a informao em torno das questes libertrias.

    Esta primeira recolha abrange um conjunto diversificado de assuntos, num ms que foi

    tambm muito rico em iniciativas. Outos meses tero menos material, mas tentaremos

    em todos eles, no final, editar uma pequena colectnea de textos publicados no blogue.

    Gostaramos que o Portal Anarquista fosse um espao aberto de debate e informao

    sobre o anarquismo, onde cada um, se o quiser, possa publicar livremente os seus tex-

    tos, anlises e informaes de agenda, independentemente da tendncia ou da sensibili-

    dade particular que decida partilhar.

    O Grupo Editor de Portal Anarquista

    Capa adaptada de obra do pintor

    equatoriano Eduardo Kingman

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    NDICE

    UM MILITANTE LIBERTRIO :MOISS SILVA RAMOS, PERSONAGEM SABIAMENTE POLMICO Pg. 7

    NOVA LEI DO ABORTO EM ESPANHA: RETROCESSO CIVILIZACIONAL Pg. 11

    MIQUELINA SARDINHA (1902-1966), UMA ANARQUISTA DE AVIS Pg. 13

    RALLY DAKAR: INVASO MOTORIZADA E NEOCOLONIALISMO DESPORTIVO Pg. 14

    UM CARTOON DA COLECO DE A BATALHA Pg. 17

    DAVID GRAEBER: SOBRE O FENMENO DOS EMPREGOS DE MERDA Pg. 18

    RELEMBRANDO AS JORNADAS DE LUTA DOS HERIS DE ALJUSTREL Pg. 21

    (FLYER) DEITA O LIXO NO LIXO Pg. 23

    BURGOS (ESPANHA): SEGUNDA NOITE DE CONFRONTOS Pg. 24

    18 DE JANEIRO DE 1934: MUITO MAIS DO QUE A MARINHA GRANDE Pg. 25

    NOTA DA CGT SOBRE O 18 DE JANEIRO DE 1934 Pg. 27

    A propsito de uma efemride que se aproxima O 18 DE JANEIRO EM SILVES. Pg. 29

    DEVEMOS MANTER AS CARACTERSTICAS LIBERTRIAS DA AIT Pg. 31

    DAVID GRAEBER : A MANEIRA MAIS SIMPLES DE DESOBEDECER

    AO MUNDO FINANCEIRO RECUSAR PAGAR AS DVIDAS. Pg.32

    CARLOS TAIBO: AFIRMAR UM PROJECTO ANARCO-SINDICALISTA HOJE UMA TAREFA VITAL Pg. 36

    PARAFRASEANDO O ANTNIO BOTTO: FEDELHOS Pg. 38

    CHILE PATRES ACUSAM ANARQUISTAS DE ESTAREM A IMPULSIONAR A LUTA DOS

    TRABALHADORES PORTURIOS Pg. 39

    2014: BICENTENRIO DO NASCIMENTO DE BAKUNIN Pg. 40

    UCRNIA A CLASSE OPERRIA, COMO CLASSE,

    NO PARTICIPA DE MODO ALGUM NESTES ACONTECIMENTOS Pg.41

    A PROPSITO DAS REFORMAS EM CURSO: PORQUE NO MEIO DESTA CRISE AFLITIVA OS CORTES

    NAS BOLSAS DE DOUTORAMENTO SO ASSUNTO DE INTERESSE PBLICO? P g. 44

    UCRNIA: DECLARAO DA ORGANIZAO AUTNOMA DE TRABALHADORES

    SOBRE A ACTUAL SITUAO POLTICA Pg. 46

    A ACO DIRECTA Pg. 47

    RELATRIO DA OIT: AUMENTA O FOSSO ENTRE TRABALHO E CAPITAL Pg. 48

    CHOMSKY: AS DEMOCRACIAS EUROPEIAS CHEGARAM AO COLAPSO TOTAL Pg..50

    NA MORTE DE JOS LUS FLIX: DOIS TESTEMUNHOS Pg. 51

    (AIT) SOBRE OS ACONTECIMENTOS ACTUAIS NA UCRNIA Pg. 52

    JOS LUS FLIX (F. LISBOA, 25. JAN. 2014): MAIS UM TESTEMUNHO Pg. 53

    SER GOVERNADO Pg. 54

    A HISTRIA DO A ANARQUISTA Pg. 55

    JOS LUS FLIX: UM OUTRO TESTEMUNHO Pg. 58

    ANARQUISTAS BRASILEIROS APOIAM GREVE DOS RODOVIRIOS DE PORTO ALEGRE Pg. 59

    AFEM2014: UMA CONFERNCIA ANARCO-FEMINISTA EM LONDRES Pg. 60

    LEMBRANAS AVULSAS DE GONALVES CORREIA (18861967) E DO SEU FILHO FERRER Pg. 62

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    UM MILITANTE LIBERTRIO

    MOISS SILVA RAMOS, PERSONAGEM SABIAMENTE POLMICO

    (Texto da autoria de Jos Hiplito Santos e lido no passado dia 14 de Dezembro no espao Grandella, em

    Lisboa, aquando da apresentao do nmero duplo 71/72 da revista de expresso libertria A IDEIA)

    Um dever de memria continua a estimular-me a rebuscar

    nas minhas memrias para escrever/falar sobre pessoas, qua-

    se sempre, esquecidas e que tiveram uma vida de dedicao a

    uma causa para alm de si. Esse o caso de Moiss que pro-

    curei abordar escrevendo sobre ele, a partir de ngulos diver-

    sos: a pessoa, o engenheiro, o empresrio, o cooperativista, o

    anarquista, oposicionista a um regime de ditadura. A sua vi-

    vncia libertria bem visvel no seu todo e em cada aspecto

    tratado.

    1 A pessoa

    Moiss Silva Ramos deixou-nos em 21 de Outubro de

    2000, depois de ter passado 80 anos entre ns, viventes ! 80

    ou 82 anos ?[1]

    Ele gostou sempre de esconder a sua idade, fazendo-se

    parecer mais velho ou mais novo conforme as circunstn-

    cias

    Quando o conheci em 1955, ele era para mim o mais novo

    daquela pliade de velhos anarquistas e ex-comunistas do

    Ateneu Cooperativo Emdio Santana, Germinal de Sousa,

    Accio Toms de Aquino, Jos de Sousa, Vasco de Carvalho.

    A diferena de idades entre mim e ele seria apenas de 12 ou

    14 anos, ele teria 35 ou 37, um jovem, mas para mim era um

    velho; falava a linguagem daqueles velhos, contava histrias

    dum passado que me eram completamente estranhas, pare-

    cendo vir de pocas imemoriais.

    Quase sempre bem-disposto, de risada fcil e contagiante,

    gostava de contar histrias engraadas (mas no era homem

    de anedotas) e adorava a ironia e conversas de duplo sentido.

    Educado por um pai anarquista, fez a sua instruo esco-

    lar na Escola Oficina, (no Largo da Graa) muito influencia-

    da por um modelo educativo libertrio com uma pedagogia

    do tipo Escola Moderna uma educao integral, juntando os

    aspectos tcnicos, cientficos, literrios, artsticos.

    Era claramente um homem culto, um leitor compulsivo de

    livros de histria politica e social, de crtica social, de litera-

    tura, de cincias fsicas e da natureza, de livros policiais e de

    fico cientfica, mas tambm tinha uma aprecivel coleco

    de literatura tcnica relativa s reas em que trabalhava.

    O saber implicava conhecer os vrios ngulos duma ques-

    to importante por exemplo, a Revoluo Francesa, a Revo-

    luo Russa, a Guerra de Espanha, o nazismo, o comunismo

    sovitico.

    Era uma leitura/cultura onde entravam autores significati-

    vos e portadores duma reflexo profunda, ainda que ideologi-

    camente se pudessem situar em posies muito diferentes da

    sua Pietro Neni, Ernest Mandel, Isaac Deutcher, Arthur

    Koestler, Herbert George. Welles, Andr Gorz, Ren Du-

    mont, Camus e Jean Paul Sartre, Ferreira de Castro, Mrio

    Dionsio, Jos Saramago, Aquilino Ribeiro, Soeiro Pereira

    Gomes.

    E era um leitor assduo e critico das obras de Antnio

    Srgio.

    Era uma biblioteca riqussima constituda de obras em

    portugus e francs ou ainda em castelhano, desde os anos 30

    do sculo passado livros da editora COSMOS, livros e re-

    vistas sobre cooperativismo e autogesto ou sobre os kibutz

    que se instalavam na Palestina, mas tambm obras posterio-

    res sobre a revoluo cubana ou a autogesto jugoslava.

    Onde foi parar essa biblioteca cheia de preciosidades ? E

    a documentao que to zelosamente guardava ?

    A viva decidiu entregar-me a documentao para eu

    classificar, ver o que era do foro pessoal e a guardar pela fa-

    mlia e o que seria de ordem politica, que, depois doaria

    Biblioteca Nacional. Mas essa entrega nunca se fez e, um dia,

    anunciou-me que tudo fora destrudo por uma ruptura na ca-

    nalizao dos esgotos !

    Entretanto, na pesquisa para esta comunicao, fui surpre-

    endido por uma referncia no site de Pacheco Pereira do se-

    guinte teor :

    Entraram, por aquisio, mais livros do esplio de Moiss

    da Silva Ramos tendo tambm conseguido alguns papis rela-

    tivos ao Ateneu Cooperativo e Associao de Inquilinos

    Lisbonenses (. ) E depois acrescentava: Tm aparecido no

    mercado de livros e velharias um conjunto de papis, docu-

    mentos, revistas, jornais e livros, com origem no esplio do

    anarquista e cooperativista Moiss da Silva Ramos, falecido

    Fotografia de Lgia de Oliveira: Moiss da Silva Ramos ( esquerda) e Manuel Gomes de Matos no Colquio Interna-cional de Estudos Tecnologia e Liberdade, realizado em 1987 em Belm.

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    em 2000. O esplio fragmentou-se e parece estar disperso em

    vrias mos, quer de vendedores, quer de compradores.

    com profunda tristeza que relato aqui este episdio! Ele

    no merecia isso!

    Moiss, foi um frequentador, no final dos anos 30, da

    Universidade Popular Portuguesa, que funcionava na coope-

    rativa A Padaria do Povo, em Campo dOurique. E, mais

    tarde, nos anos 90, fez parte dum grupo, Z Maria Carvalho

    Ferreira, Madeira Lus, Jos Lus Flix e eu prprio, para

    relanar no mesmo local uma nova Universidade Popular, o

    que no conseguimos.

    Era um racionalista, suportava mal discusses que sas-

    sem desse campo. Teve alguma dificuldade em integrar-se na

    cooperativa SEIES, bem mais tarde, porque a se tomava em

    considerao factores no estritamente racionais, mesmo

    quando se estava num campo eminentemente tcnico.

    Psicologisava-se muito, como dizia.