por que o peixe-boi amazÔnico migra? e onde … · a proposta deste projeto da rede geoma foi...

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APOIO: IDSM OIO: IDSM – Rede Rede GEOMA GEOMA – Petrobras Petrobras POR QUE O PEIXE-BOI AMAZÔNICO MIGRA? E ONDE DEVEMOS CONCENTRAR ESFORÇOS PARA SUA CONSERVAÇÃO NA AMAZÔNIA CENTRAL Eduardo Moraes Arraut 1,3 , Miriam Marmontel 2 , Jose Eduardo Mantovani 1 , Evlyn M.L.M. Novo 1 , David W. Macdonald 3 & Robert E. Kenward 4 1 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, e-mail: [email protected] ; 2 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Tefé, AM; 3 Wildlife Conservation Research Unit, Universidade de Oxford, Oxford, UK; 4 Universidade de Bournemouth, Dorset, UK. INTRODU INTRODUÇÃO ÃO A proposta deste projeto da Rede GEOMA foi estudar como e por que o Peixe-boi Amazônico Trichechus inunguis migra sazonalmente, e como esse conhecimento pode subsidiar medidas de conservação da espécie e de seu ecossistema. As hipóteses foram: 1) os animais permanecem nos lagos da planície de inundação na cheia porque ali está a maior quantidade do seu principal alimento e 2) migram para os lagos de terra-firme na vazante, e lá permanecem na seca, devido à drástica redução do habitat aquático (área e profundidade da superfície alagada) na planície de inundação. MATERIAL E M MATERIAL E MÉTODOS TODOS As localizações foram obtidas por meio de radiotelemetria VHF e os movimentos diários separados dos sazonais por uma função vetorial de detecção de dispersão (Kenward et al. 2007). As áreas de vida foram estimadas com a função Kernel a 95%. Os mapas de hábitat feitos a partir da classificação de imagens TM-Landsat e informações obtidas em 3 campanhas de campo. A análise de hábitat foi feita separando as áreas de vida em dois grupos: 1) lagos da planície de inundação e 2) Rio Japurá e Lago Amanã (Figura 1). Por meio de um modelo linear geral (GLM) os dois grupos foram comparados para avaliar se há diferença na: 1) proporção de macrófitas aquáticas (Hipótese 1) e 2) proporção de área coberta por água (Hipótese 2). Os processamentos para geração dos mapas foram feitos no aplicativo SPRING (INPE, 2007) e a estimativa das áreas de vida e a análise de hábitat no Ranges 7.14 (Kenward et al. 2007). RESULTADOS E DISCUSSÃO RESULTADOS E DISCUSSÃO O GLM aplicado sobre a proporção de macrófitas aquáticas, com número de localizações usadas para estimar as áreas de vida como covariável, resultou em um R 2 =98,62% (n=10, p=0,004). O GLM comparando a variação na proporção da área coberta por água resultou em um R 2 =98,76 (n=10, p=0,001). Os resultados indicam que a busca por alimento é o principal motivo para que estejam na planície de inundação durante a cheia. Além disso, indicam que eles migram na vazante, e permanecem fora da planície durante a seca, por causa da (muito) maior redução proporcional na área alagada que aí ocorre. Como todas as áreas de vida no Rio Japurá ocorreram durante a vazante, e tendo em vista que a correnteza constante implicaria em maior gasto energético em uma época na qual não se alimentam (Best, 1984), sugere-se que o Lago Amanã é o refúgio principal na região. A partir da análise do padrão de alagamento da planície usando imagens de radar feito por Hess et al. (2003), sugere-se que, durante a seca, os lagos de terra-firme sejam os principais refúgios para o peixe-boi em toda a Amazônia Central, e que neles ocorram as maiores concentrações anuais de animais. Como são lagos de água aberta, onde portanto não há abrigo, e a espécie, apesar de ser considerada ‘vulnerável’ pelas listas de espécies ameaçadas da IUCN (IUCN, 2007) e do IBAMA (IBAMA, 2007), é todavia alvo de caça, recomenda-se que ações direcionadas à sua conservação na Amazônia Central tenham como foco inicial o entendimento dos prováveis impactos da caça nos lagos de terra-firme durante a seca. A maior abundância de macrófitas aquáticas (alimento) é o principal motivo para os animais estarem na planície de inundação na cheia (ex. Fig. 2a (cheia) e 2b (seca)). Acentuada redução no hábitat disponível na planície, em contraste com a maior estabilidade dos lagos de terra-firme, sugerem que seja este o motivo para a migração na vazante/seca (ex. Fig 2c (cheia) e 2d (seca)). Lake Amanã Lake Urini é Lake 10km N Long: -64o 05’ 0’’ Lat: -2o 17’ 15’’ Long: -65o 05’ 44’’ Lat: -3o35’ 17’’ Lago Amanã Rio Japurá Rio Solimões Lago Mamirauá Lago Urini Lago Tefé Lago Castanho 10km N 10km 10km N Long: -64o 05’ 0’’ Lat: -2o 17’ 15’’ Long: -64o 05’ 0’’ Lat: -2o 17’ 15’’ Long: -65o 05’ 44’’ Lat: -3o35’ 17’’ Long: -65o 05’ 44’’ Lat: -3o35’ 17’’ Lake Amanã Lake Urini é Lake 10km N Long: -64o 05’ 0’’ Lat: -2o 17’ 15’’ Long: -65o 05’ 44’’ Lat: -3o35’ 17’’ Lago Amanã Rio Japurá Rio Solimões Lago Mamirauá Lago Urini Lago Tefé Lago Castanho 10km N 10km 10km N Long: -64o 05’ 0’’ Lat: -2o 17’ 15’’ Long: -64o 05’ 0’’ Lat: -2o 17’ 15’’ Long: -65o 05’ 44’’ Lat: -3o35’ 17’’ Long: -65o 05’ 44’’ Lat: -3o35’ 17’’ Macs in water Macs on land Open water Forest Soil Soil with water Shallow water Macs in water Macs on land Open water Forest Soil Soil with water Shallow water a b c d Figura 2 CONCLUSÕES E IMPLICA CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES ÕES Os lagos da planície (figura 3) são os principais locais de alimentação durante a cheia e os de terra-firme o principal refúgio na seca. Nos lagos de terra-firme, durante a seca, ocorrem as maiores concentrações anuais de peixes-boi. Como ali há apenas água aberta, os animais ficam vulneráveis às pressões de caça, que as evidências indicam ser a principal causa de mortalidade. Compreender o que ocorre nos lagos de terra-firme parece ser, no momento, a melhor estratégia para tentar conservar a espécie na Amazônia Ocidental. Figura 3: Lagos de terra- firme são o único refúgio na seca. Imagem temática da planície de inundação na seca (SAR, 100m res; Hess et al. (2003) AN ANÁLISE LISE 1) Estimativa das áreas de vida. 2) Geração de mapas de hábitat a partir da classificação de imagens Landsat- TM 3) Análise de hábitat - Modelo Linear Geral: lagos da planície vs Rio Japurá e Lago Amanã (terra-firme) - Análise Composicional: habitat usado (dentro da área de vida) vs hábitat disponível (mapa) Figura 1

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Page 1: POR QUE O PEIXE-BOI AMAZÔNICO MIGRA? E ONDE … · A proposta deste projeto da Rede GEOMA foi estudar como e por que o Peixe-boi Amazônico Trichechus inunguis migra sazonalmente,

AAPPOIO: IDSM OIO: IDSM –– RedeRede GEOMA GEOMA –– Petrobras Petrobras

POR QUE O PEIXE-BOI AMAZÔNICO MIGRA? E ONDE DEVEMOS CONCENTRAR ESFORÇOS PARA SUA CONSERVAÇÃO NA AMAZÔNIA CENTRAL

Eduardo Moraes Arraut 1,3, Miriam Marmontel 2, Jose Eduardo Mantovani 1, Evlyn M.L.M. Novo 1, David W. Macdonald 3 & Robert E. Kenward 4

1Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, e-mail: [email protected] ; 2Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Tefé, AM;

3Wildlife Conservation Research Unit, Universidade de Oxford, Ox ford, UK;

4Universidade de Bournemouth, Dorset, UK.

INTRODUINTRODUÇÇÃOÃO

A proposta deste projeto da Rede GEOMA foi estudar como e por que o Peixe-boi Amazônico Trichechus inunguis migra sazonalmente, e como esse conhecimento

pode subsidiar medidas de conservação da espécie e de seu ecossistema. As hipóteses foram: 1) os animais permanecem nos lagos da planície de inundação na

cheia porque ali está a maior quantidade do seu principal alimento e 2) migram para os lagos de terra-firme na vazante, e lá permanecem na seca, devido à drástica redução do habitat aquático (área e profundidade da superfície alagada) na planície

de inundação.

MATERIAL E MMATERIAL E M ÉÉTODOSTODOS

As localizações foram obtidas por meio de radiotelemetria VHF e os movimentos diários separados dos sazonais por uma função vetorial de detecção de dispersão

(Kenward et al. 2007). As áreas de vida foram estimadas com a função Kernel a 95%. Os mapas de hábitat feitos a partir da classificação de imagens TM-Landsat e

informações obtidas em 3 campanhas de campo. A análise de hábitat foi feita separando as áreas de vida em dois grupos: 1) lagos da planície de inundação e 2)

Rio Japurá e Lago Amanã (Figura 1). Por meio de um modelo linear geral (GLM) os dois grupos foram comparados para avaliar se há diferença na: 1) proporção de

macrófitas aquáticas (Hipótese 1) e 2) proporção de área coberta por água (Hipótese 2). Os processamentos para geração dos mapas foram feitos no

aplicativo SPRING (INPE, 2007) e a estimativa das áreas de vida e a análise de hábitat no Ranges 7.14 (Kenward et al. 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃORESULTADOS E DISCUSSÃO

O GLM aplicado sobre a proporção de macrófitas aquáticas, com

número de localizações usadas para estimar as áreas de vida comocovariável, resultou em um R2=98,62% (n=10, p=0,004). O GLM

comparando a variação na proporção da área coberta por água resultou em um R2=98,76 (n=10, p=0,001). Os resultados indicam que a busca

por alimento é o principal motivo para que estejam na planície de inundação durante a cheia. Além disso, indicam que eles migram na

vazante, e permanecem fora da planície durante a seca, por causa da (muito) maior redução proporcional na área alagada que aí ocorre.

Como todas as áreas de vida no Rio Japurá ocorreram durante a vazante, e tendo em vista que a correnteza constante implicaria em

maior gasto energético em uma época na qual não se alimentam (Best, 1984), sugere-se que o Lago Amanã é o refúgio principal na região. A partir da análise do padrão de alagamento da planície usando imagens

de radar feito por Hess et al. (2003), sugere-se que, durante a seca, os lagos de terra-firme sejam os principais refúgios para o peixe-boi em

toda a Amazônia Central, e que neles ocorram as maiores concentrações anuais de animais. Como são lagos de água aberta,

onde portanto não há abrigo, e a espécie, apesar de ser considerada ‘vulnerável’ pelas listas de espécies ameaçadas da IUCN (IUCN, 2007)

e do IBAMA (IBAMA, 2007), é todavia alvo de caça, recomenda-se que ações direcionadas à sua conservação na Amazônia Central tenham

como foco inicial o entendimento dos prováveis impactos da caça nos lagos de terra-firme durante a seca. A maior abundância de macrófitas

aquáticas (alimento) é o principal motivo para os animais estarem na planície de inundação na cheia (ex. Fig. 2a (cheia) e 2b (seca)).Acentuada redução no hábitat disponível na planície, em contraste com

a maior estabilidade dos lagos de terra-firme, sugerem que seja este o motivo para a migração na vazante/seca (ex. Fig 2c (cheia) e 2d (seca)).

LakeAmanã

Lake Urini

é

Lake

10km

N

Long: -64o 05’ 0’’Lat: -2o 17’ 15’’

Long: -65o 05’ 44’’Lat: -3o 35’ 17’’

Lago Amanã

Rio Japurá

Rio Solimões

Lago Mamirauá

Lago Urini

Lago Tefé

Lago Castanho

10km

N

10km10km

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Long: -65o 05’ 44’’Lat: -3o 35’ 17’’Long: -65o 05’ 44’’Lat: -3o 35’ 17’’

LakeAmanã

Lake Urini

é

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10km

N

Long: -64o 05’ 0’’Lat: -2o 17’ 15’’

Long: -65o 05’ 44’’Lat: -3o 35’ 17’’

Lago Amanã

Rio Japurá

Rio Solimões

Lago Mamirauá

Lago Urini

Lago Tefé

Lago Castanho

10km

N

10km10km

N

Long: -64o 05’ 0’’Lat: -2o 17’ 15’’Long: -64o 05’ 0’’Lat: -2o 17’ 15’’

Long: -65o 05’ 44’’Lat: -3o 35’ 17’’Long: -65o 05’ 44’’Lat: -3o 35’ 17’’

Macs in water

Macs on land

Open water

Forest Soil

Soil with water

Shallow waterMacs in water

Macs on land

Open water

Forest Soil

Soil with water

Shallow water

a b

c d

Figura 2

CONCLUSÕES E IMPLICACONCLUSÕES E IMPLICA ÇÇÕESÕES

Os lagos da planície (figura 3) são os principais locais de alimentação durante a cheia e os de terra-firme o principal refúgio na seca. Nos lagos de terra-firme, durante a seca, ocorrem as maiores concentrações anuais de peixes-boi. Como ali há apenas água aberta, os animais ficam vulneráveis às pressões de caça, que as evidências indicam ser a principal causa de mortalidade.Compreender o que ocorre nos lagos de terra-firme parece ser, no momento, a melhor estratégia para tentar conservar a espécie na Amazônia Ocidental.

Figura 3: Lagos de terra-firme são o único refúgiona seca. Imagem temática da planície de inundação na seca (SAR, 100m res; Hess et al. (2003)ANANÁÁLISELISE

1) Estimativa das áreas de vida.2) Geração de mapas de hábitat a partir da classificação de imagens Landsat-TM 3) Análise de hábitat

- Modelo Linear Geral: lagos da planície vs Rio Japurá e Lago Amanã (terra-firme)- Análise Composicional: habitat usado (dentro da área de vida) vshábitat disponível (mapa)

Figura 1