por isabel raia exu – dadinho de · dendê, criadas para exu. “o que mais me marcou foi o fato...

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56/57 jantar Orixás saem dos escondidos terreiros e estrelam pratos pensados por Bel Coelho em homenagem ao candomblé BRASILIDADE NOSSA úsica e dança não podem faltar. Comida tam- bém não. Alegria e cumplicidade são presen- ça mais do que obrigatória. Parece até lista para uma festa, e é bem mais do que isso, é o candomblé. A religião marcada por rituais e comemorações chegou ao Brasil com o tráfico de escravos negros, oriundos de diferentes regiões da África, e trouxe não apenas cultura, mas a miscigenação de povos. Entretanto, quando surgiu em terras brasileiras, o candomblé era marginalizado e perseguido. Vivia clandestino, ilegal. A liberação veio somente em 1939 e talvez esse seja um dos fatores responsáveis pelo preconceito que pais e mães de santo sofrem até hoje. As coisas começaram a mudar para melhor com o Decreto- Lei 1.202, de 8 de abril de 1939, no qual Getúlio Vargas e sua comitiva vedaram ao governo estadual e ao municipal o direito de subvencionar ou embargar o exercício de cultos religiosos. Ou seja, a partir daquela data não poderiam mais interferir na ação dos fiéis. Assina também o documento, o chefe da Casa Civil à m POR ISABEL RAIA FOTOS RICARDO D’ANGELO época, Oswaldo Aranha, avô da paulistana Bel Coelho. Coincidência ou não, tanto a cozinheira – ex-Dui e apresen- tadora do programa Receitas de Viagem (TLC) – quanto sua irmã Beatriz gostam de estudar sobre essa crença, apesar de terem sido criadas sob moldes católicos. “Eu acho que, de alguma forma, está no meu sangue ser uma divulgadora dessa religião”, diz Bel. A curiosidade dela começou quando Beatriz, que é bailarina, contou sobre a dança dos orixás e as características de cada santo, sendo uma delas, o que eles gostam ou não de comer. “Eu não sigo religião, sou meio ateia, acredito na força mental do homem e na força do rito, acho que ele lhe empodera. O ritual é que lhe faz mais forte e dá uma disciplina interessante. A religião me interessa muito do ponto de vista cultural e antropológico”, conta a chef que decidiu ir além dos livros para criar receitas dedicadas aos orixás, nas quais cada prato homenageia um deles e respeita suas características. “Tive certo receio de um santo não gostar da comida que fiz para ele, mas sempre deixei claro que aquilo não era uma oferenda”, afirma. O jantar dedicado aos orixás ganhou participação da iabassê dona Carmem, que explicava a relação dos pratos com os santos, enquanto a cozinheira, Bel Coelho, finalizava os preparos. O evento fez parte do Clandestino, projeto da chef, e ocorreu na Casa Groenlândia, em São Paulo EXU – DADINHO DE CUPIM CURADO COM PADÊ E GELATINA DE MEL E CACHAÇA

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Page 1: Por Isabel raIa eXU – dadInho de · dendê, criadas para Exu. “O que mais me marcou foi o fato de saber que o candomblé tinha influenciado tanto a nossa gastrono-mia e a gente

56/57jantar

Orixás saem dos escondidos terreiros e estrelam pratos pensados por Bel Coelho em homenagem ao candomblé

Brasilidade nossa

úsica e dança não podem faltar. Comida tam-bém não. Alegria e cumplicidade são presen-ça mais do que obrigatória. Parece até lista para uma festa, e é bem mais do que isso, é o candomblé. A religião marcada por rituais e

comemorações chegou ao Brasil com o tráfico de escravos negros, oriundos de diferentes regiões da África, e trouxe não apenas cultura, mas a miscigenação de povos. Entretanto, quando surgiu em terras brasileiras, o candomblé era marginalizado e perseguido. Vivia clandestino, ilegal. A liberação veio somente em 1939 e talvez esse seja um dos fatores responsáveis pelo preconceito que pais e mães de santo sofrem até hoje.

As coisas começaram a mudar para melhor com o Decreto-Lei 1.202, de 8 de abril de 1939, no qual Getúlio Vargas e sua comitiva vedaram ao governo estadual e ao municipal o direito de subvencionar ou embargar o exercício de cultos religiosos. Ou seja, a partir daquela data não poderiam mais interferir na ação dos fiéis. Assina também o documento, o chefe da Casa Civil à

m

Por Isabel raIaFotos rIcardo d’angelo

época, Oswaldo Aranha, avô da paulistana Bel Coelho. Coincidência ou não, tanto a cozinheira – ex-Dui e apresen-

tadora do programa Receitas de Viagem (TLC) – quanto sua irmã Beatriz gostam de estudar sobre essa crença, apesar de terem sido criadas sob moldes católicos. “Eu acho que, de alguma forma, está no meu sangue ser uma divulgadora dessa religião”, diz Bel. A curiosidade dela começou quando Beatriz, que é bailarina, contou sobre a dança dos orixás e as características de cada santo, sendo uma delas, o que eles gostam ou não de comer.

“Eu não sigo religião, sou meio ateia, acredito na força mental do homem e na força do rito, acho que ele lhe empodera. O ritual é que lhe faz mais forte e dá uma disciplina interessante. A religião me interessa muito do ponto de vista cultural e antropológico”, conta a chef que decidiu ir além dos livros para criar receitas dedicadas aos orixás, nas quais cada prato homenageia um deles e respeita suas características. “Tive certo receio de um santo não gostar da comida que fiz para ele, mas sempre deixei claro que aquilo não era uma oferenda”, afirma.

o jantar dedicado aos orixás ganhou participação da iabassê dona carmem, que explicava a relação dos pratos com os santos, enquanto a cozinheira, bel coelho, finalizava os preparos. o evento fez parte do clandestino, projeto da chef, e ocorreu na casa groenlândia, em são Paulo

eXU – dadInho de cUPIm cUrado com Padê e gelatIna de mel e cachaça

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jantar 58/59

A sequência, que foi servida pela primeira vez em 2012, voltou às mesas em 2015. “Quis repetir por causa dos episódios de intole-rância religiosa, racial e até mesmo social. Acho que a gastrono-mia moderna brasileira flerta pouco com a raiz africana. Falamos da indígena e da portuguesa, da espanhola, mas da africana, não. Sempre achei que faltava esse olhar”, diz.

Para ter a máxima proximidade à comida oferecida aos santos, Bel visitou terreiros e, por seis meses, mergulhou em pesquisas. “Há informações contraditórias, de nações e terreiros diferentes, que seguem hábitos distintos.” Apesar disso, muitos costumes estão tão inseridos em nosso cotidiano, que a relação com a religião passa quase que despercebida. É o caso de usar branco no Réveillon, uma homenagem a Iemanjá; ou comer acarajé, quitute que nasceu nas mãos das baianas para sustentar os terreiros e é uma comida de Iansã; ou ainda o modo de preparo das farofas com dendê, criadas para Exu. “O que mais me marcou foi o fato de saber que o candomblé tinha influenciado tanto a nossa gastrono-mia e a gente desconhecer. As pessoas ficam muito impressionadas

em como isso pode ser rico.”Se além dos limites do terreiro, receitas eram vendidas para

gerar verbas, dentro deles, uma figura é essencial para manter orixás e fiéis em sintonia, a iabassê, em tradução livre, a mãe da cozinha. A figura responsável por preparar a oferenda aos santos é escolhida por eles e é quem sabe o que cada um gosta ou não de comer. E Bel deixa claro que ela não é nem pretende ser uma.

“Para criar o menu tive de, primeiro de tudo, despir-me da necessidade de fazer exatamente o que o santo comia porque senão teria muitas repetições, como o coco e o milho. Às vezes pensava nas cores ou nos símbolos dos orixás para criar a receita”, diz a chef que, na elaboração do cardápio, abusa do uso de técnicas culinárias como cozimento longo em baixa temperatura, curas e esferificações. “No terreiro, os pratos são rústicos e aqui fiz algo mais sofisticado para facilitar a degustação.”

Claro que alguns motes foram seguidos, apesar da tecnologia empregada. Iemanjá adora peixe, Xangô gosta de rabada, e Iansã, de acarajé. Exu come de tudo, mas o que mais lhe agrada são mel,

dendê, farofa e fumo. É ele também quem deve abrir os trabalhos. “A dona Carmem e a Ana Célia (iabassês que auxiliaram a chef) me falaram muito sobre as quizilas, que são as comidas que os san-tos não podem comer de jeito nenhum.”

Dona Carmem foi escolhida para ser iabassê aos 7 anos e esteve presente nos jantares promovidos por Bel, em São Paulo. Aqui, ela contou sobre as características de cada orixá simultanea-mente à chegada dos pratos à mesa (confira no quadro). Ela e Bel se conheceram quando a chef apresentava, no Congresso Mesa Tendências de 2012, o trabalho que havia desenvolvido. Uma já sabia da outra, mas nunca haviam conversado até que a iabassê pegou o microfone para elogiar, em frente à plateia, o trabalho da cozinheira.

Assim, a volta do cardápio contou com algumas adequa-ções em relação ao primeiro, mas a essência se manteve a mesma. “Almoçamos juntas algumas vezes e dona Carmen me contou que a quizila de Xangô era cachaça. Eu não sabia e usava a bebida na rabada, que servi na primeira vez desse menu”, afirma Bel.

Com ricos detalhes, a cada execução das receitas, um novo conhecimento é adquirido. “É um trabalho que nunca está fechado.” Tanto que elas pensam em transformar essa experiência em livro. “Vários adeptos do candomblé pro-varam e piraram. Até agora ninguém se sentiu ofendido por saber que não é um ritual, mas uma homenagem à religião e aos costumes impressos em nossa cultura”, diz.

Sobre a elaboração de mais estudos, dedicados a outras culturas, a cozinheira diz que ainda é muito cedo. “A cultura indígena sempre me influencia de alguma forma porque uso ingredientes que os índios usam, mas nunca fiz um menu inteiro com essa raiz. Quem sabe... Minha cozinha é brasileira e criativa e sempre vou me interessar pelo que é nosso, o que está aqui”, diz.

o jantarPara que não ficasse cansativo, alguns orixás foram unidos na mesma etapa do menu. Caso da entrada que contou com cupim, farofa de dendê, mel e cachaça e homenageava Exu. “Ele gosta de bode, mas usei cupim. A carne é curada por dois dias e cozida em baixa temperatura. Depois selo a proteína com a manteiga de garrafa”, diz a chef. Um copo de cachaça pren-dia a fumaça que rodeava a receita para que esta fosse liberada pelo próprio comensal no momento da degustação.

Junto dele, os irmãos Ogum e Oxóssi eram recebidos com acarajé de feijoada e costela de javali. Bastante leve e har-monioso, o preparo une a feijoada, que Ogum adora, com a carne que representa a caça de Oxóssi. Completou o prato, o bombom de sarapatel com gelatina de jabuticaba, de Nanã. De sabor marcante, a receita homenageou a avó do candomblé, que vive nas águas paradas dos pântanos e é conhecida por sua sabedoria. Uma salada de picles de chuchu com vinagrete de beterraba e ervas trazia o frescor da noite. “Ossaim é o orixá das folhas. Então, escolhi esses vegetais com direito a diferen-tes brotos”, afirma a chef.

A rainha dos mares, Iemanjá, foi homenageada com tainha, pérolas de coco e ar de rosas. De sabor equilibrado, o sagu explodia na boca. “Tinha de ser um peixe para ela. Além disso, acrescentei símbolos para retratar sua vaidade como prato espelhado, pérolas de sagu e o ar de rosas”, diz. A mãe dos orixás, que não pode comer dendê, teve a maternidade representada pelo leite de coco.

A guerreira Iansã vem na sequência com a releitura do prato preferido, o acarajé: camarão grelhado com purê de feijão-fradinho, farofa de camarão seco e vatapá líquido, sendo que este último era acrescentado à mesa, aos olhos do comensal. Um preparo de sabores intensos, como a rainha dos raios merece.

oXUm – banana-oUro brûlée com sorvete de gema, baba de moça,

reqUeIjão mIneIro, melaço de cana e

caramelo de coco

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jantar 60/61

eXU – dadinho de cUpim cUrado com padê e gelatina de mel e cachaça 5 0 p o r ç õ e s

Cup im1 peça de cupim (aproximadamente 5 kg)

180 g de sal grosso, moído; 30 g de pimenta-do-reino preta

30 g de semente de erva-doce; 30 g de tomilho desidratado

30 g de louro em pó; manteiga de garrafa a gosto

gelat ina4,5 g de gelificante; 150 ml de água potável

25 ml de cachaça; 25 ml de mel

padê200 g de farinha de mandioca

50 ml de azeite de dendê; sal a gosto

Cup im1 Espalhe o sal por toda a superfície da peça de

cupim; deixe descansar, sob refrigeração por 12

horas; depois, pendure o cupim em um gancho, em

câmara fria e deixe curar por mais 48 horas; colo-

que um recipiente abaixo da carne, pois ela soltará

muito líquido. 2 Retire o excesso de sal da carne com

água corrente. 3 Corte o cupim em cubos de 2 cm,

coloque-os em sacos próprios e feche-os a vácuo. 4

Tempere o cupim com pimenta, erva-doce, tomilho e

louro e cozinhe os cubos por 56 horas a 80 ºC. 5 Resfrie o cupim por pelo menos 10 horas. 6 Retire-o

do refrigerador e sele-o em manteiga de garrafa. 7 Cubra o cupim com a gelatina e sirva com o padê.

gelat ina1 Misture todos os ingredientes e leve ao fogo até

ferver. 2 Mantenha a mistura aquecida, enquanto

estiver usando.

padêLeve todos os ingrediente ao fogo, em uma frigideira;

mexa constantemente até dourar.

XangÔ – ragU de raBada com canjiqUinha e molho de cerveja preta1 2 p o r ç õ e s

Rabada1,5 kg de rabo; 300 g de cebola, picada grosseiramente

100 g de cenoura, cortada em brunoise

100 g de cebola, cortada em brunoise

100 g de salsão, cortado em brunoise

100 g de tomate concassé; 700 ml de vinho tinto

80 ml de azeite; 10 galhos de tomilho

5 dentes de alho amassados; 3 folhas de louro

2 dentes de alho picados

Sal e pimenta-do-reino preta moída, a gosto

molho de CeRveja pReta300 ml de glace de carne; 100 ml de cerveja preta

Sal a gosto

Canj iquinha400 g de canjiquinha

100 g de alho-poró, cortado em brunoise

100 g de bacon cortado em brunoise; 50 g de manteiga

600 ml de caldo de legumes

tomilho picado, salsinha picada, alecrim picado, ciboulette,

sal e pimenta-do-reino a gosto

quiabo36 quiabos pequenos, branqueados

80 ml de azeite extravirgem; sal a gosto

Rabada1 Marine o rabo com a cebola picada, o alho

amassado, folhas de louro, galhos de tomilho, vinho

tinto, sal e pimenta, por 12 horas. 2 Retire a rabada

da marinada e cozinhe em panela de pressão, por

1h30 ou até que fique macia. 3 Deixe a rabada

esfriar e desfie-a, descartando ossos e cartilagem. 4

Esquente o azeite e refogue a cebola, cortada em

brunoise, o alho picado, salsão, cenoura e tomate,

nessa ordem, respeitando o tempo de cozimento de

cada ingrediente. 5 Adicione a rabada e refogue por

mais alguns minutos. 6 Tempere o ragu com tomilho

sal e pimenta.

molho de CeRveja pReta1 Reduza a cerveja em fogo médio até obter metade

do volume inicial. 2 Adicione a glace de carne e

reduza por mais 10 minutos. 3 Tempere com sal.

Canj iquinha1 Aqueça uma panela e doure o bacon, ao fogo bai-

xo, até que solte a gordura. 2 Adicione o alho-poró e

refogue-o por 5 minutos. 3 Acrescente a canjiquinha

e refogue por mais alguns minutos. 4 Adicione o

caldo de legumes quente e mexa sem parar até que

todo o líquido evapore e a canjiquinha fique macia.

5 Finalize a canjiquinha com a manteiga e tempere-

-a com tomilho, salsinha, alecrim, ciboulette, sal e

pimenta; deixe esfriar.

quiabo1 Misture o azeite e os quiabos branqueados inteiros

e tempere-os com sal. 2 Grelhe os quiabos em uma

churrasqueira.

montagem 1 Com o auxílio de um aro de 8 cm de diâmetro e

6 cm de altura, enforme a rabada e a canjiquinha,

fazendo primeiro uma camada de 3 cm do ragu e

por cima uma camada de 3 cm de canjiquinha. 2

Leve ao forno até aquecer. 3 Coloque a rabada e

a canjiquinha, enformadas, no centro do prato. 4 Por

cima da canjiquinha disponha o quiabo e ao redor

coloque o molho de cerveja preta.

oXUm – Banana-oUro Brûlée com sorvete de gema, BaBa de moça, reqUeijão mineiro, melaço de cana e caramelo de coco2 0 p o r ç õ e s

baba de moça350 g de açúcar; 10 g de manteiga

500 ml de leite de coco; 1 xícara (chá) de água

15 gemas; 1 pitada de sal

Reque i jão400 g de requeijão mineiro (mais firme)

100 ml de creme de leite fresco

CaRamelo de CoCo200 g de isomalt; 100 g de coco ralado seco

montagem1 1/2 kg de sorvete de gema; 200 g de açúcar

100 ml de melaço de cana em uma bisnaga

12 bananas-ouro, cortadas em rodelas de 0,5 cm

10 flores de capuchinha, em pétalas

baba de moça1 Coloque o açúcar e a água em uma panela e

leve ao fogo alto, mexendo por 1 minuto. 2 Abaixe

para fogo médio e deixe por mais 5 minutos até obter

uma calda espessa. 3 Peneire as gemas e misture-

-as com o leite de coco. 4 Coloque um pouco da

calda de açúcar no leite de coco com as gemas. 5

acrescente o restante da calda e volte a mistura ao

fogo baixo, mexendo sempre, sem deixar ferver, até

espessar. 6 Retire a baba, deixe-a esfriar ligeiramente,

adicione a manteiga e incorpore bem; coloque uma

pitada de sal.

Reque i jãoMisture os dois ingredientes e coloque em uma bis-

naga.

CaRamelo de CoCo

Amante do poder, Xangô não dispensa rabada com camarão seco e quiabo. “Mas aqui fiz uma alteração porque senão teríamos muitos pratos com o fruto do mar. Então, preparei rabada com molho de cerveja preta, que ele adora, canjica e quiabo”, diz Bel, ressaltando os desafios de adaptar religião a gastronomia.

O coco volta na sobremesa, dedicada a Oxum. Mãe das crian-ças e dos inocentes, ela ganha banana-ouro brûlée, requeijão, melaço de cana, creme de cumaru, sorvete de gema e caramelo de coco. “A banana representa a riqueza e a prosperidade e o ovo é a fertilidade”, diz a chef. “Com exceção dos Ibejis, não há muitos doces, então tive de adaptá-los para a sobremesa. Porque

no candomblé é uma mistura, há ingredientes doces no meio e as comidas não têm muito sal.”

Ao final, cafés da Fazenda Ambiental Fortaleza (FAF), uma fazenda familiar que trabalha com produtores de pequeno e médio porte, no interior de São Paulo, eram acompanhados de docinhos. Caso das balas de coco e de leite, oferecidas aos Ibejis, as divin-dades gêmeas e crianças também conhecidas como São Cosme e Damião. Fechava a noite também Omulu, a orixá que adora pipo-ca e ganhou as telhas feitas com o milho estourado. “Acrescentei sal para representar a areia”, afirma Bel. Por fim, canjica com uva verde e farofa de gergelim foi criada pensando em Oxalá.

Os Orixás, pOr DOna Carmem

Exu – É ele que começa nas estradas, está nas en-cruzilhadas para abrir os caminhos. É ele o nosso consciente e o subconsciente. Não é mau, mas é a figura mais humana, que tem raivas e rancores.Ogum – É o artesão do universo, o santo da guer-ra, que está à frente e trabalha para o progresso.Oxóssi – É o rei da comida.Nanã – É a mais velha e quem tem o domínio na morte, visto que todo ciclo da vida tem um orixá. É a rainha da sabedoria.Ossaim – É o cuidador da natureza, o entende-dor das folhas, o homem da cura. Quando se derruba uma árvore, mexe-se com ele.Iemanjá – É a mãe de todos. É devota de seus filhos e faz de tudo por eles. Mora nas águas submersas e cristalinas. É ali que conseguimos encontrá-la.Iansã – É a figura feminina mais guerreira que se tem na história. Está presente em várias mulheres e foi a segunda esposa de Xangô. É o trovão que antecede o raio. É a mulher que tem a chave do mundo dos mortos.Xangô – É a divindade da justiça. Oxum – É a mãe de todas as crianças. É a fertili-dade, representa a sedução e a fartura.Omulu – Tem o corpo todo coberto de roupa de palha porque adquiriu uma séria doença de pele quando nasceu. A mãe preferiu doá-lo a Iemanjá, mas isso deixou marcas também em seu coração. Ele deu a chave do segredo da vida a Oiá.Ibejis – São os orixás crianças, os meninos que não cresceram e que recebem doces. Juntos de Omulu, representam a felicidade e a união com a família.Oxalá – É o criador do universo, mas não do mundo, porque ele se embebedou e perdeu o dia. Ele criou o homem e a mulher.

XangÔ – ragU de rabada com canjIqUInha e molho de cerveja Preta

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jantar 62/63

1 Leve o isomalt ao fogo até derreter completamente.

Coloque o caramelo sobre uma folha silpat e coloque

outra folha por cima. 2 Passe um rolo de macarrão

sobre a folha de silpat de cima, diversas vezes, afinan-

do o caramelo. 3 Retire o silpat de cima, salpique o

coco sobre o caramelo ainda morno. 4 Espere esfriar

e quebre o caramelo em “cacos” de 4 cm.

montagem1 Coloque uma camada fina de açúcar sobre cada

rodela de banana e doure essa superfície com um

maçarico. 2 Em um prato raso, coloque gotas de

baba de moça, gotas de requeijão e gotas de me-

laço. 3 Coloque uma quenelle do sorvete de gema

sobre as gotas. 4 Finalize com o caramelo de coco

e 3 pétalas de capuchinha, sobre o sorvete.

iansã – camarão grelhado com pUrê de feijão-fradinho, farofa de camarão seco, vinagrete e vatapá líqUido1 2 p o r ç õ e s

vatapá l íquido200 g de tomate, sem pele, cortado em cubos

150 g de pimentão vermelho, sem pele e cortado em cubos

150 g de cebola, picada

100 g de amendoim torrado, sem pele e moído

100 g de castanha-de-caju torrada e moída

80 g de raiz de gengibre, picada

50 g de camarão seco, dessalgado e moído

20 g de alho, picado; 200 ml de creme de leite fresco

50 ml de azeite extravirgem; 50 ml de azeite de dendê

1 litro de caldo da cabeça de camarão, aquecido

2 cocos frescos ralados

Coentro picado, cebolinha picada, sal e pimenta-dedo-de-

-moça picada a gosto

puRê de fe i jão-fRadinho500 g de feijão-fradinho; 100 g de cebola picada

50 g de alho picado; 50 ml de creme de leite fresco

50 ml de óleo de girassol; sal a gosto

faRofa de CamaRão SeCo100 g de camarão seco dessalgado

100 g de farinha d’água; 50 g de manteiga; sal a gosto

v inagRete100 g de tomate, sem pele, sem semente e cortado em

brunoise; 100 g de cebola roxa, cortada em brunoise

50 g de pimentão verde, sem semente, cortado em brunoise

50 ml de azeite extravirgem

Suco de 1 limão-taiti; pimenta-dedo-de-moça, sem semente,

cortada em brunoise; sal a gosto

montagem100 ml de azeite

12 camarões-rosa grandes, limpos, mas com a cabeça

Sal a gosto

brotos de coentro e coco em fitas, dourado, para decorar

vatapá l íquido1 Aqueça os azeites e refogue a cebola, o alho

e o gengibre, por 10 minutos, até dourar bem. 2 Adicione o tomate e o pimentão e refogue por mais

5 minutos. 3 Acrescente o coco e refogue. 4 Adicione

o camarão seco, o amendoim, a castanha e refogue,

por mais 5 minutos. 5 Acrescente o caldo e deixe

cozinhar por 20 minutos. 6 Bata tudo no Thermomix

com a salsinha, a cebolinha, o sal e a pimenta até

obter um creme liso. 7 Leve essa mistura de volta ao

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fogo e deixe reduzir um pouco. 8 Adicione o creme

de leite e corrija os temperos. 9 Deixe a mistura cremo-

sa, porém líquida e lisa; mantenha o vatapá quente.

puRê de fe i jão-fRadinho1 Deixe o feijão-fradinho de molho por 12 horas.

2 Tire o feijão da água e descarte-a. 3 Em uma

panela, aqueça o óleo e refogue a cebola e o alho.

4 Adicione o feijão e cubra com água fervente; deixe

cozinhar até que o feijão comece a desmanchar. 5

Retire o excesso de água, se houver, e bata o feijão

no thermomix até obter um purê liso. 6 Leve esse

purê ao fogo, adicione o creme de leite e tempere

com sal; reserve.

faRofa de CamaRão SeCo1 Seque os camarões ao forno e moa-os. 2 Em uma

frigideira, derreta metade da manteiga, adicione a

farinha e o camarão seco, para formar a farofa; mexa

até dourar. 3 Adicione o restante da manteiga e

acerte o sal; reserve.

v inagReteMisture todos os ingredientes e corrija os temperos;

reserve.

montagem 1 Tempere os camarões com sal. 2 Em uma panela,

aqueça o azeite e salteie os camarões. 3 Em prato

fundo, coloque 1 colher (sopa) do purê de feijão-

-fradinho, em formato de gota. 4 Ao lado do purê,

coloque um camarão salteado; 1 colher (chá) de

vinagrete e 1 de farofa de camarão seco. 5 Decore

com uma fita de coco, sobre o purê de feijão. 6

Disponha 4 brotinhos de coentro sobre o prato. 7

Finalize com vatapá, sobre o camarão.Iansã – camarão grelhado com PUrê de FeIjão-FradInho, FaroFa de camarão seco, vInagrete e vataPá líqUIdo

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jantar 64

iemanjá – tainha com pérolas de coco, acelga e ar de rosas1 2 p o r ç õ e s

péRolaS250 g de sagu; 100 g de gengibre, sem casca

400 ml de leite de coco; 100 ml de água

50 ml de suco de limão-taiti; 2 dentes de alho, sem casca

Sal a gosto

aCelga100 ml de azeite extravirgem

12 miniacelgas chinesas; sal a gosto

aR de RoSaS30 pétalas de rosas brancas

15 g de lecitina de soja; 400 ml de água mineral

montagem12 tainhas filetadas, com pele (100 g cada uma)

150 ml de azeite

Sal a gosto

pétalas de minirrosas, para decorar

péRolaS1 Faça um suco do gengibre com 100 ml de água;

coe e misture-o com o leite de coco e o suco de

limão. 2 Leve ao fogo baixo, por 20 minutos, com os

dentes de alho. 3 Retire os dentes de alho e adicione

o sagu; cozinhe-o até ficar transparente; tempere o

sagu com sal e reserve.

aCelga

1 Branqueie as acelgas chinesas; aqueça o azei-

te em uma frigideira e salteie as acelgas inteiras. 2

Tempere-as com sal.

aR de RoSaS1 Bata as pétalas com a água e coe. 2 Adicione a

lecitina e bata com um mixer até obter um ar.

montagem 1 Tempere a tainha com sal; aqueça o azeite e sele

os peixes, primeiro do lado da pele. 2 Em prato raso

individual, disponha a acelga, as pérolas de coco e

por cima a tainha; coloque 1 colher (chá) do ar de

rosas, e decore com 3 pétalas de minirrosas.

Receita de bel Coelho, chef consultora e apresentadora do

programa Receita de viagem (tlC).

Iemanjá – taInha com Pérolas de coco, acelga e ar de rosas