por detrás das paredes

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História escrita por mim.João Almeida.

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Page 1: Por detrás das paredes

Por detrás das

paredes…

João Almeida

Page 2: Por detrás das paredes

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Todas as noites, pelas várias ruelas da cidade, André tentava arranjar sempre um

canto para se puder aconchegar e puder dormir, mais uma noite. Olhava, com olhos

de medo, para todo o lado. Tinha medo que alguém lhe perseguisse, que alguém

roubasse aquilo que ele mesmo não tem, ou apenas gozasse com a forma de ele

viver.

Para ele, não havia melhor conforto senão, umas caixas de papelão, para se puder

deitar e aconchegar-se à sua forma. Ele, nessa mesma noite, optou por ficar junto a

uma loja, uma daquelas que vende coisas usadas. Apenas escolheu aquele lugar,

devido à luminosidade que passava cá para fora.

Os antepassados de André, não eram de muita alegria. Quando era mais novo, a sua

mãe faleceu. O seu pai, após essa perda, passou a refugiar-se no vício que tinha

posto de lado, como promessa à sua falecida mulher, o álcool. André, não podia viver

com aquilo, era discussão atrás de discussão, agressão atrás de agressão,

resumindo, chatices atrás de chatices. Certo dia, André conheceu uma rapariga, que

era fabulosa. Decidiu conhecê-la aos poucos e poucos, pois tinha receio do que

pudesse vir a acontecer, visto que ele nunca teve uma relação séria com nenhuma

rapariga. Trocaram muitas mensagens, muitos e-mail’s, e conversaram várias vezes

por telemóvel. Certo dia, André convidou a sua amiga Mafalda, para sair, para irem

comer um gelado ao shopping. Mafalda, já o esperava, na entrada principal do

shopping, mesmo de frente para a porta. Ele chegou, num táxi. André entrou, e

deparou-se rapidamente com Mafalda. Foi em direcção a ela.

- Olá. – Disse ele, um pouco envergonhado, por ser a primeira vez que se encontrava

com Mafalda.

- Olá, André. – Respondeu ela, depois de lançar um pequeno sorriso.

- Então, como estás?

- Estou bem, e tu? – Disse ela, depois de reparar na ferida que lhe marcava a cara.

- Está tudo bem, tudo normal. – Disse ele, escondendo um pouco o lado esquerdo da

cara, depois de reparar que ela tinha notado.

- André, o que é isso na tua face? Foi o teu pai? – Perguntou ela, desconfiada de que

tivesse sido o pai dele, tendo em conta o passado todo que André lhe confiara.

- Não, achas? Eu ontem fui andar de bicicleta, e esbarrei-me contra uma parede,

nada de mais. Não te preocupes. – Disse ele, tentando mentir e com medo que ela

puxasse esse assunto.

- André, eu não te quero obrigar a contar-me, mas eu duvido muito que tenha sido

isso, mas pronto, tu é que sabes. – Respondeu ela, muito desconfiada.

Foram conversando, e ele acabou por lhe dizer a verdade, que realmente tinha sido o

pai dele, devido à sua chegada tardia a casa, na noite anterior. Ela, mais uma vez,

revoltou-se com isso, e disse-lhe, nervosa:

- André, vais andar sempre assim? A sofrer, por causa do teu pai?! Já não chegam as

marcas que te ferem o coração?

Ele, ao ouvir aquilo, não conseguiu conter, e a sua cara, lavou-se em lágrimas.

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Mafalda, ao ver a reacção de André, encostou a sua face no seu peito, e disse-lhe

com o objectivo de o acalmar.

- Desculpa se disse algo que não querias, mas é apenas o que eu acho, meu anjo.

Compreendes? Estás sempre a sofrer… Infelizmente, já perdeste a tua mãe, que de

certeza está a lutar por ti lá em cima, agora o teu pai que te maltrata, vais-te deixar

andar assim até quando?

André, levantou a cabeça levemente do peito de Mafalda, e respondeu-lhe:

- Sabes, Mafalda? Não é fácil… Desde a partida da minha mãe, que o meu pai

passou a ser assim. Ele antes, tinha prometido à minha mãe que nunca iria voltar ao

mundo alcoólico, mas depois desta partida inesperada, ele não teve outra opção,

senão essa. Tu, sabes o que eu passo, sabes o quanto eu sofro, sabes tudo da minha

vida, mas ainda não te contei uma coisa.

- O que se passa, André? Passa-se mais alguma coisa? Conta-me, não me escondas

nada, por favor.

- O meu pai, há quatro dias atrás, enquanto estávamos à mesa, a jantar, eu disse-lhe

“Pai, o que é o comer?” e ele, respondeu-me “Não tens memória? O que é que achas

que é? É sandes, claro!”. No momento que ele me disse aquilo, fui verificar o armário

onde púnhamos o pão, e estava lá uma saca, com três pães. Tirei o pão para fora,

apesar de já estarem um pouco duros, era o que tínhamos. Ambos comemos um pão,

e depois, quando eu ia a pegar no outro, para comer com queijo e fiambre, ele disse-

me repentinamente “O que vais fazer com o pão? Ias comê-lo? Nem penses. Quem

manda aqui sou eu, e o pão é para mim!”. Naquele momento, o meu pai levantou-se,

foi ao armário de onde tinha comida dos dias passados, e deu-me arroz que na altura,

ainda se encontrava meio cru, e deu-me uma laranja, para eu comer, em vez do pão

que eu supostamente, ia comer, e ele qui-lo.

Ele ia continuar a falar, e Mafalda interrompeu-o:

- Ele pensa? Ele é racional? Ele tem noção que tem um filho nas mãos dele para

tratar? Que tem de o sustentar? Sinceramente André, eu se estivesse no teu lugar, já

não conseguia aguentar isso, já tinha explodido por completo.

- Pois Mafalda, eu também estou farto desta vida, preferia morrer mesmo… Eu estou

farto de ser a cobaia dele, estou farto das bocas que ele me manda, estou farto das

agressões dele, estou farto de passar fome por causa dele, eu estou farto, farto! Já

pensei em fugir, mas sabes porque não o faço? Porque tenho medo dele, tenho medo

que ele me encontre e faça algo que ponha em causa uma das nossas vidas… Tenho

medo que ele faça algo que possa levar à… à morte.

- Eu entendo-te, não na perfeição porque nunca vivi tal coisa, mas consigo te

entender, esforço-me para tal. Eu acho que devias afastar-te dele, por um tempo,

para ele sentir que sente falta de ti, do seu filho.

- Achas, Mafalda? E vou para onde? Para debaixo da ponte?

Mafalda, afasta-se de André, pega no telemóvel, e faz uma chamada:

- Estou, mãe? É a Mafalda.

- Sim, querida. Diz.

- Olha, eu tenho um amigo, que é a primeira vez que o conheço cara-a-cara, e ele tem

muitos problemas com o pai, e a mãe já faleceu. Dá para ele ir dormir aí, durante uns

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tempos?

- Ó filha, mas tu nem sabes como ele é, nem o conheces…

- Mãe, eu já falo com ele há muito tempo pela Internet, já conheço o coração dele, já

conheço a pessoa que ele é, da cabeça aos pés.

- Pronto filha, se tu o dizes, eu confio em ti. Quando ele quiser vir para cá, as nossas

portas estarão abertas.

- Obrigada mãe, do fundo do coração. Beijo, até logo.

- Até logo, querida. Beijo.

E guardou assim o telemóvel na bolsa, com um belo sorriso marcado nos lábios.

Foi de novo, em direcção a André, que estava com a cabeça pousada sobre o seu

braço, com uma cara triste.

- Estavas ao telemóvel com quem? Se quiseres dizer, claro…

- Era com a minha mãe. – A sua felicidade era tanta que, os seus lábios não

chegaram para a mostrar, que acabou por escorrer pelos olhos.

- Que se passa? Estás com um belo sorriso e a chorar? Então?

- Não é nada de mal, não te preocupes. Estive a falar com a minha mãe, e ela aceitou

que fosses para lá um tempo, para ver se o teu pai realmente sente a tua falta.

- Oh, não era preciso de preocuparem… Eu já estou habituado, é sempre a mesma

coisa… Mas obrigado, obrigado mesmo.

- Não tens de agradecer, os amigos são mesmo para isso, para o bem e para o mal.

Quando quiseres ir para lá, manda-me mensagem ou liga-me.

- Um obrigado do fundo do meu coração, acredita.

André abraçou-a, mais uma forma de lhe agradecer tal hospitalidade.

Continuaram a passear pelo shopping, a conversar, a comer, a brincar, e acima de

tudo, a animarem-se.

Passaram horas, até que o telemóvel de André toca, era o seu pai.

- Estou. – Disse André, depois de atender.

- Onde é que tu andas? – Perguntou o pai, nervoso.

- Estou no shopping, com uma amiga minha. Porquê?

- Porquê?! Ainda me perguntas o porquê? Estás a gozar com a minha cara? Andas a

gastar dinheiro que nem temos? Quero-te já em casa, mas rápido!

Nesse momento, Mafalda, estando ao lado de André, conseguiu ouvir os gritos vindos

do outro lado.

- Vou já pai, já vou. – Disse ele, após ter sido interrompido pelo sinal de chamada

desligada por parte do seu pai.

- André, eu ouvi o teu pai a gritar do outro lado, que se passa?

- Não é nada Mafalda, ele disse que o comer estava quase na mesa, até estava muito

calmo, admirei-me. – Mentiu ele, a Mafalda.

- Hum, ainda bem. Quer dizer que tens que ir, certo?

- Pois, parece que sim. Até à próxima, obrigado por tudo. – Virou costas e foi a correr

para casa.

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- Ade… - Foi interrompida pela partida de André, e acabou por dizer para ela própria.

– Adeus…

Mafalda ficou triste, por assim ter que ser, mas logo ligou à mãe, e pediu para a vir

buscar. Passado alguns minutos, a mãe de Mafalda chegou e foi para casa.

André, chegou a casa. Tinha o seu pai à porta, à sua espera. O comer estava na

mesa, e por coincidência, era o mesmo comer do dia anterior, sandes. André, colocou

um pão ao seu lado, e dois ao lado do lugar do seu pai. O pai, sentou-se, olhou para o

pão, olhou para André e deu um falso sorriso, dando certezas que o lugar do pão

estava certo. Ele, ao ver a reacção do pai, levantou outro falso sorriso… Mais tarde,

quando André se encontrava na cama, estava ao telemóvel com Mafalda, e a ver

televisão ao mesmo tempo. Contou-lhe o que se passou ao jantar, e Mafalda falou-lhe

novamente, do facto de puder ir para casa dela, quando quisesse. De repente,

enquanto estavam ao telemóvel, o pai de André, que se encontrava no quarto ao lado,

disse:

- Estás ao telemóvel e a ver televisão? Fazes as duas coisas ao mesmo tempo?

Quero-te já a dormir, mas é que é já!

Mafalda, ouviu algo que se falou do outro lado, e questionou a André o que se

passava e ele disse-lhe logo, que não se passava nada. Foram continuando a

conversar, até que acabou por esquecimento, ir dormir.

Repentinamente, pai de André entra no quarto.

- Tu ainda não percebeste? És lento? Sais à tua mãe! Desliga a televisão e a porcaria

desse telemóvel, ou precisas de ajuda?!

Mafalda, ao ouvir aquilo decidiu não desligar, pois queria ouvir o que podia acontecer

do outro lado…. Mas André, para o seu próprio bem, desligou.

Começou a chorar, em frente ao seu pai, mas o homem não hesitou.

- Homem que é homem, não chora! Limpa essas lágrimas de crocodilo e dorme mas

é. – Tirando das suas calças o seu cinto de cabedal.

- Tu não me vais mandar com isso, pois não? – Perguntou André, antecedendo a dor.

- Está calado! – Acertando assim, com a parte de ferro, no nariz de André.

- Porra, aleijaste-me. – Queixando-se assim da dor que já antes previa.

- Ainda não te calaste? Dorme! – Obrigou-o assim então, a deitar-se e dormir.

No dia seguinte, André acorda, e decide ir arejar a cabeça logo pela manhã. Passeia

por belos campos verdes, observa famílias felizes em parques de diversão, e decide

ligar a Mafalda.

Procura na sua lista de contactos o contacto de Mafalda, e telefona.

- Estou, Mafalda? Bom Dia.

- Bom Dia, André.

- Acordei-te? Desculpa. – Perguntou, preocupado.

- Não, André, não. O que se passou ontem? Está tudo bem?

- Ainda bem. O meu pai começou a discutir, por ter a televisão ligada e estar ao

mesmo tempo, ao telemóvel… Acabou por me mandar com o cinto, e acertou-me no

nariz. Enfim…

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- Vês, André? É por isso que eu te digo que te deves afastar, é por isso que eu te digo

que não mereces nada disso.

- Eu sei, Mafalda… Mas… - Decidiu desligar a chamada.

Passeou por mais belos campos, passou pelo shopping, recordando belos momentos

que teve com Mafalda, lembrou-se da sua falecida mãe, lembrou-se dos actos cruéis

do seu pai, e…

- Mafalda, a proposta de ir para tua casa, ainda se mantém de pé?

- Sim, claro. Estás disposto a vir para cá?

- Sim, estou. Estive a pensar, e realmente é o melhor a fazer. Quando posso ir para

aí? Ainda tenho de arrumar as minhas coisas, e ele não me pode ver a fazê-lo.

- Quando tu quiseres, André. Quando te dá mais jeito?

- Logo, ao fim da tarde? Que achas?

- Por mim, está bem.

- Pronto, então até logo. Beijo.

- Beijo.

As horas foram passando, e André foi arrumando a sua roupa, e as suas coisas.

Chegou o fim da tarde. André ligou a Mafalda, e ela e a sua mãe, vieram-no buscar,

perto de sua casa. Chegou a casa de Mafalda, e pousou as suas sacas de plástico,

que continham os seus pertences.

- Antes de mais, obrigado pela hospitalidade que me vão oferecer, muito obrigado

mesmo. – Disse André, um pouco envergonhado.

- Não agradeças. Se estás cá, é porque precisas de cá estar, tens as tuas razões. Eu

acredito e confio na minha Mafalda, por isso, que tenhas uma boa estadia. –

Tentando animá-lo um pouco.

- Anda, eu mostro-te onde vais ficar. – Disse Mafalda, ajudando a pegar nas sacas.

Mafalda dirige-se ao quarto, onde André irá dormir confortavelmente todas as noites,

e eis o espanto de André.

- Vai ser aqui? Isto é de mais para mim… Aqui, cabia a minha sala e o meu quarto,

porra. – Sentando-se em cima da cama. – Isto é mesmo fofinho. Bela casa.

O pai de André, dá por falta do filho que, na hora de jantar, não se encontra em casa.

Começa a ficar nervoso, e decide ligar-lhe.

- Onde é que tu andas?! Já não são horas de estar em casa?!

André perdeu o medo de falar directamente ao pai, e respondeu-lhe:

- Sabes que mais? Eu tenho coração. Eu tenho sentimentos. Eu sou um ser. Eu sou

uma pessoa. Sabes que mais? Tu não me mereces. Não mereces a pessoa que sou,

não mereces nem metade das coisas que faço, não mereces, sinceramente. Estou

bem longe de casa. Agora? Come o que tu quiseres, faz o que tu quiseres. Um dia,

quando tiveres a noção que sou teu filho, que me mereces, que te faço falta, aí sim,

podes ligar-me. Vou viver a minha vida, porque não sou nenhum cão para ser

limitado. Adeus, Pai.

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O pai, entalado, não com as palavras, mas com o álcool, respondeu soluçando:

- Tu, é que sabes. Faz, como quiseres. Adeus.

Aquelas palavras caíram mal na cabeça de André. André deitou-se naquela fofa

cama, com a cabeça na almofada, e começou a chorar... Mais uma vez, a lembrar-se

de todo o seu passado. Mafalda agiu da melhor maneira… Decidiu encostar a porta,

para André estar sozinho por um bocado.

Chegou a hora do jantar. Mafalda levou até André, num tabuleiro de madeira, um

prato com batatas fritas e três panados, juntamente com um copo de sumo, um pão,

gelatina e claro, os talheres.

Mafalda esteve perto de André, o jantar todo. Tentou animá-lo, contou-lhe histórias de

lá de casa, partidas que tinha feito à sua mãe, e textos que tinha escrito para o seu

ex-namorado.

Foram passando semanas, e o pai de André, sem dar notícias. André pensava até,

que ele tinha-se esquecido da existência do filho.

O pai de André decidiu, depois de notar a ausência do filho, e decidiu começar a

tratar-se. Demorou um mês e pouco, pois a força de vontade, era muita, por incrível

que pareça. Tinha encontrado um papel que Mafalda tinha escrito, com a sua morada.

Deixou a bebida de lado, e começou a escrever uma carta, como destinatário, o seu

filho.

“Eu não sei se vais ler, se esta mensagem está entregue a ti ou não… Eu não sei se

compreendes, esta minha carta.

A partir do momento que partiste, mesmo estando num estado alcoólico, senti a tua

falta.

Eu sei que errei, sei que te maltratei, sei que te faltei ao respeito, sei que te agredi,

sei… Mas não tinha noção do que fazia.

Só quero que me perdoes, que me dês uma segunda oportunidade, porque eu

pretendo fazer-te feliz.

Desculpa-me, por tudo o que eu fiz, tudo o que eu fiz e que não tinha noção.

Amo-te sempre,

Pai.”

Mal acabou de escrever esta carta, demonstrando o seu arrependimento por

completo, decidiu ir directo a casa de Mafalda, supunha que fosse lá que estivesse.

Entrou no carro, colocou a carta no porta-bagagens, e arrancou.

Num cruzamento, de semáforos, um camião não deu conta que o seu sinal estava

vermelho, logo não poderia passar, mas infelizmente passou, e tirou a vida a pai de

André. O carro do pai de André terá ficado por debaixo do camião.

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No dia seguinte, quando André ia tomar o seu pequeno-almoço, depois de acordar

naquela confortável cama, alguém toca à campainha. Era os agentes da Polícia

Judiciária, a comunicar a André, o falecimento do seu pai.

André, não teve outra reacção senão, ficar com a sua cara lavada em lágrimas. Os

agentes lamentaram esta partida, e explicaram-lhe o acidente fatal. Entregaram-lhe

ainda, a carta que ia no porta-bagagens do carro do falecido pai de André.

André, mal leu aquela carta, disse “Ele vinha aqui… Ele vinha-me pedir desculpas.”.

Mafalda, abraçou-o.

- Tem calma, meu anjo. Estou aqui para ti, tem calma.

- Tenho calma, Mafalda? Por mais que ele me tenha feito mal, ele é meu pai. Tu não

sabes o que é perder uma mãe, e logo depois, um pai… Não sabes. – Limpando as

lágrimas.

Os dias passaram, o funeral foi feito, e a partida dada. A lamentação foi bastante…

Mas assim teve que ser.

André, entrou no mundo do álcool, o que fez com que Mafalda, o expulsasse de sua

casa. Hoje, vive na rua, hoje a sua antiga cama confortável, são uns cartões de

papelão que se encontram em qualquer contentor. Hoje, o seu almoço de luxo tornou-

se um pão sem nada. Hoje, a vida é mesmo assim.

E isto, foram os antepassados de André, que ainda hoje, conforta-se em cima de um

papelão, com a cabeça encosta na beira de um passeio. Hoje, é o presente de

André…

As pessoas mudam, e quando o querer demonstrar, há sempre algo que corre mal, e

que estraga esse querer.

Por isso, nunca hajas mal, tem sempre consciência daquilo que fazes.

A vida, não é um jogo.