popper racionalismo

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OLIVEIRA, Paulo Eduardo de (org.) Ensaios sobre o pensamento de Karl Popper / Paulo Eduardo de Oliveira (org.). Curitiba: Círculo de Estudos Bandeirantes, 2012. Popper é reconhecido pela originalidade de sua posição filosófica acerca da ciência. Desenvolveu uma abordagem crítica em relação à tendência positivista. Para ele, nosso conhecimento, incluindo o conhecimento científico, é sempre falível, conjectural e passível de erro. Desse modo, propõe a falseabilidade como critério de demarcação entre teorias científicas, de um lado, e teorias não científicas ou pseudocientíficas de outro lado. Para tanto, Popper sugere que a construção de teorias científicas se apoie não mais na lógica indutiva, cujo problema ele afirma ter resolvido, mas na lógica dedutiva, em razão da assimetria lógica que descobre entre indução e dedução: enquanto, na indução, muitos casos particulares não conseguem provar a verdade de uma teoria, na dedução um só caso consegue provar sua falsidade. Com efeito, teorias devem ser apresentadas como conjecturas ousadas a serem submetidas a testes rigorosos com o intuito de falseá-las ou, eventualmente, de corroborá-las mas, jamais, de verificá-las ou confirmá-las de modo absoluto. Popper sustenta, então, que o que distingue a racionalidade científica é a atitude crítica, mais preocupada com a busca da verdade do que com a defesa de teorias que possam eventualmente ocultá-la ou dela se afastar: daí sua compreensão de que a ciência se assemelha a um pântano, onde de vez em quando se encontra uma pedra firme. Seu racionalismo crítico, como ficou conhecido o núcleo de seu pensamento, coloca-se frontalmente contra algumas das principais construções teóricas de seu tempo, sobretudo a Psicanálise de Freud, a Psicologia Individual de Adler e o Marxismo (além do Positivismo Lógico, como já dissemos). De outro lado, Popper afirma inspirar-se em Einstein e também em Darwin, cujo pensamento científico denota a estrutura conjectural que ele

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Popper Racionalismo

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Page 1: Popper Racionalismo

OLIVEIRA, Paulo Eduardo de (org.) Ensaios sobre o pensamento de Karl Popper / Paulo Eduardo de Oliveira (org.). Curitiba: Círculo de Estudos Bandeirantes, 2012.

Popper é reconhecido pela originalidade de sua posição filosófica acerca da ciência.

Desenvolveu uma abordagem crítica em relação à tendência positivista. Para ele, nosso conhecimento, incluindo o conhecimento científico, é sempre falível, conjectural e passível de erro.

Desse modo, propõe a falseabilidade como critério de demarcação entre teorias científicas, de um lado, e teorias não científicas ou pseudocientíficas de outro lado.

Para tanto, Popper sugere que a construção de teorias científicas se apoie não mais na lógica indutiva, cujo problema ele afirma ter resolvido, mas na lógica dedutiva, em razão da assimetria lógica que descobre entre indução e dedução: enquanto, na indução, muitos casos particulares não conseguem provar a verdade de uma teoria, na dedução um só caso consegue provar sua falsidade.

Com efeito, teorias devem ser apresentadas como conjecturas ousadas a serem submetidas a testes rigorosos com o intuito de falseá-las ou, eventualmente, de corroborá-las mas, jamais, de verificá-las ou confirmá-las de modo absoluto. Popper sustenta, então, que o que distingue a racionalidade científica é a atitude crítica, mais preocupada com a busca da verdade do que com a defesa de teorias que possam eventualmente ocultá-la ou dela se afastar: daí sua compreensão de que a ciência se assemelha a um pântano, onde de vez em quando se encontra uma pedra firme.

Seu racionalismo crítico, como ficou conhecido o núcleo de seu pensamento, coloca-se frontalmente contra algumas das principais construções teóricas de seu tempo, sobretudo a Psicanálise de Freud, a Psicologia Individual de Adler e o Marxismo (além do Positivismo Lógico, como já dissemos). De outro lado, Popper afirma inspirar-se em Einstein e também em Darwin, cujo pensamento científico denota a estrutura conjectural que ele tanto valoriza. A base ética do pensamento popperiano assenta-se na compreensão dos limites do conhecimento humano, de sua fragilidade, e da absoluta falta de condições de se estabelecer um critério de verdade. Desse modo, cabe-nos desenvolver a atitude da modéstia intelectual que, como Sócrates, admite a pequenez de nosso saber diante do abismo de nossa ignorância. Tal concepção ética terá reflexos em sua epistemologia e também em seu pensamento político. Expressão disso é a crítica popperiana aos regimes totalitários e às filosofias políticas que conduzem ao totalitarismo que, na sua opinião, estão expressas sobretudo no pensamento de Platão, Hegel e Marx. A concepção popperiana de racionalidade crítica vai se opor, de igual modo, a todas as expressões filosóficas obscuras, que fogem da simplicidade e da clareza, virtudes que devem ser a marca do discurso de todo intelectual, segundo Popper. O principal alvo das críticas de Popper, neste sentido, são os pensadores da Escola de Frankfurt, sobretudo Adorno e Habermas. No campo da epistemologia, principalmente, o pensamento de Popper não deixou de produzir reações críticas. Entre as expressões mais vigorosas dessa crítica devemos recordar os trabalhos de Imre Lakatos, Thomas Kuhn e Paul Feyerabend.

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Porém, tais posicionamentos críticos não foram capazes de ofuscar a grandeza da obra de Popper, que teve a oportunidade de discuti-los e replicá-los abertamente.