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A música e as novas tecnologias. O futuro do mercado fonográfico e muito mais.Pop 4.Elaine de Almeida GomesTRANSCRIPT
POPPOPPOP+velhas virgensa geração iPoda febre tecnobregao revival do vinilcérebro eletrônicoos seminovos
João Marcello
Bôscoli tramando o
futuro e os rumos do
mercado musical.
exclusivo!
nº 04 . Novembro 2009 R$ 14,90
A decadência do mercado fonográfico: agonia de uns, alegria de outros.
músicamutante
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Deus criou a música.E o diabo (que é o pai do rock) criou a internet!Certamente esse é o raciocínio daqueles que se be-neficiavam do antigo modelo da indústria fonográ-fica, na era A.D. (antes do digital).Já a imensa maioria dos consumidores de música e alguns de seus produtores, pensam justamente o contrário; já que a internet e seu modelo anár-quico-democrático de distribuição de informações providenciou lugares na primeira fila para quem quiser assistir o grande circo musical mundial.Ouvimos gente que trabalha com produção, ouvi-mos artistas e músicos, ouvimos fãs e consumido-res de música digital, ouvimos gente que trabalha pela regulamentação e quem defende o livre aces-so, ouvimos gente e ouvimos música.Há quem tente regulamentar, há quem viva para achar um meio de burlar essa regulamentação.Há quem ouça, quem produza e quem ganhe di-nheiro com isso. Há música tocando em celulares, iPods e em fones de ouvidos ao redor do mundo.É sempre música. E isso é o mais importante.
editorial
Elaine Gomes
NAPOP04...
CONSELHO EDITORIALJosé Alves TrigoEduardo Rocha
EDITORA-CHEFEElaine Gomes
DIRETOR DE ARTEAlex Oliveira
FOTOSEquipe de reportagemDivulgação
ILUSTRAÇÃO (Capa)Sandra Pio
REPÓRTERESAriane MazzaVinicius Gonçalves
REVISÃOElaine GomesClaudia Urbaniski
DIRETOR COMERCIALCaio Cassinelli
POPUma publicação da JR Comunicações Ltda.Redação: Rua Dom Teodosio, 444 São Paulo - 2996 6694PARA [email protected]
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04 GARIMPOAs últimas novidades sobre as novas tecnologias.
08 A GERAÇÃO iPodEles baixam MP3 e não enxergam nenhum problema nisto.
10 ESPAÇO DEMARCADOO Myspace se consolida como novo celeiro de novidades.
12 FAÇA UMA POSE!O Youtube e as novas celebridades.
14 CAPANa trilha da música digital: vivemos a revolução?
22 VISIONÁRIOJoão Marcello Bôscoli fala sobre a Trama Virtual e suas novas ideias.
28 ADVOGADO DE DEFESA?Nehemias Gueiros Jr. aponta o dedo na cara do mainstream.
32 SINFONIA ROBÓTICAUma nova forma de criar música.
38 FESTA COMPLETACom o Móveis Coloniais de Acaju a ordem é não parar!
40 VELHAS VIRGENSBrincando com o estereótipo de “machos-alfa”, a trupe conquista fãs.
42 OS SEMINOVOSGorillaz tupiniquim? Conheça a mais nova banda-cartoon da internet.
44 TECNOBREGASA mania que veio do Pará.
46 REVOLUÇÕES POR MINUTOComo o Radiohead e o Arctic Monkeys revolucionaram a música.
48 ATÉ PARECEM MODERNOSOs cabeças do Cérebro Eletrônico falam sobre a nova indústria musical.
52 ZÉ RODRIX As últimas notas de um grande músico.
54 SEJA UM BEATLE!Encarne o Fab Four nos games!
56 O LADO BReativaram a única fábrica de vinil do país – e o hype continua!
58 EVOLUÇÃO OU REVOLUÇÃO? Conheça a mídia SMD, criada pelo sertanejo empreendedor Ralph.
60 GUIAConfira os últimos lançamentos musicais comentados.
63 OPINIÃOUma carta para o senador Azeredo.
POPNº 04 . Novembro 2009
JR comunicações
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GARIMPOcurtas
Fróes:O retorno do vinil é coisa de gente cool!
O Líder do grupo Mundo Livre S/A e as gravadoras
Marcelo Fróes é produtor cultural, publisher do tablóide musical International Magazi-ne há 15 anos e dono do selo Discobertas, que já lançou CDs de Zé Ramalho e Renato Russo, dentre outros. Foi responsável pelas reedições de discografias importantes - como Gilberto Gil, Erasmo Carlos, Nara Leão, Vinicius de Moraes, Mutantes, Raimundo Fagner e Roberto Carlos. Ele fa-lou, com exclusividade, para a POP sobre o mercado de vinil: “O vinil nunca foi embora. Simplesmente virou uma coisa cool para os brasileiros – fãs e colecionadores. Hoje é cool o cara ter um toca-discos e alguns vinis na sala, para tirar onda. Lá fora, principalmente na Inglaterra, todos os produtos de Paul McCartney, U2 ou Oasis, por exemplo, sempre saíram e continuam saindo em vinil. Alguns artistas brasileiros fizeram tiragens de seus discos em vinil, mais como uma onda promocional, como Ed Motta, Maria Rita, Los Hermandos e Nando Reis, dentre outros. Mas efetivamente não tem como voltar a ser produto de massa” ELAINE GOMES
Zero quatro, líder do grupo per-nambucano Mundo Livre S/A, está com saudade das gravadoras. Numa entrevista recente para o portal UOL, o vocalista da banda que é a principal expoente do movimento mangue-beat, soltou o verbo.“Percebo que, a despeito de toda a questão do acesso democrático e da maior visibilidade que chegaram com a internet, um fato inegável é que a web tem desestruturado quase todas as cadeias que se envolvem com a digitalização, do jornalismo à música. Hoje é moda celebrar a web, dizendo que final-mente nos livramos dos malas da indústria fonográfica. Tudo bem, a indústria até tinha um aspecto predatório, mas uma coisa é você defender a ausência da indústria, a ausência da cadeia produtiva. Se o mangue beat tivesse surgido num ambiente parecido com o que rola hoje, com gravadoras em crise, talvez o mangue beat tivesse se limitado a uma ou duas comunida-des de Orkut, uma coisa de gueto. (No início dos anos 90) A Sony foi a Recife, contratou o Chico Scien-ce e bancou o primeiro clipe da banda, que rodou direto na MTV. Finalmente a indústria olhava para nós. E teve um efeito multiplica-dor forte. As pessoas esquecem isso. Hoje há uma situação sem indústria, sem cadeia produtiva. Está se instalando uma religião da tecnologia, um fundamenta-lismo tecnológico. Fala-se muito em economia sustentável, mas na cultura não existe consumo sustentável”. AO
curtas e certeiras
Para inglês ouvir: o Spotify é a nova sensação na Europa. Criado por suecos, o serviço é uma espécie de rádio com um enorme acervo de músicas “on demand”, resumindo: clicou e escutou. Por 9,90 euros por mês, os usuários tem acesso a mais de 6 milhões de músicas. O modelo da empresa agradou a indústria fonográfica, que liberou um enorme acervo para o aplicativo.
O Zune, MP3 player da Micro-soft, bolou uma campanha com Chris Plasse, o nerd de Superbad, para viver Densel Washigton em Dia de Treinamento. O curta é divertidíssimo!
Já imaginou o Kurt Cobain bancando o Bon Jovi? Johnny Cash cantando “Ring of Fire” no programa do Gugu? Pois são estes deleites surreais que o Gui-tar Hero 5 proporciona. Os fãs, claro, torceram o nariz. AO
Quem diria... A cantora Lily Allen é contra o download ilegal de arquivos na internet. Eis o passado da moça: em 2005 no auge do myspace, a inglesinha soltou algumas canções no site e, ao lado do Arctic Monkeys, tornou-se um dos primeiros grandes sucessos 2.0. Agora alavancada de musa dos internautas à popstar, ela dispara (contraditória) no seu blog: “A troca de arquivos online é legal porque é uma forma de uma nova geração de fãs nos conhe-cer’. Isso é ótimo se você é um artista estabelecido, no fim de sua carreira, com um monte de discos para atrair um novo público; artistas que estão começando não têm esse luxo.”
Lily, porém, não sai em defesa das grava-doras: “Falando assim, parece que eu estou ficando do lado dos donos das gravadoras. Não estou. Eles foram ingênuos e compla-centes com a nova tecnologia - e gastaram todo o dinheiro que ganharam, em seus gor-dos salários; não com desenvolvimento da indústria. Mas à medida em que eles perdem muito dinheiro para a pirataria, eles não vão cortar os próprios salários - eles param de investir em direção artística. Corte de verba resulta numa direção artística que não pode arriscar e só pode contratar artistas que eles sabem que irão funcionar. (...)”
O texto foi uma resposta a um artigo publicado no jornal britânico Times, em que integrantes de bandas como Radiohe-ad, Pink Floyd e Blur (reunidos sob a sigla Featured Artists Coalition) declararam-se contra o projeto de lei que visa instaurar, no Reino Unido, um projeto parecido ao que Nicolas Sarkozy apresentou na França, onde aquele que baixar música ilegalmente pela internet poderá ser banido da rede caso reincida na prática. Para os fãs, a pala-vra é uma só: ingratidão. ALEX OLIVEIRA
lily allen contra o MP3
“Eu gosto disso porque me sinto próxima dos meus fãs e de pessoas que gostam de música. É uma forma de demo-cratizar a música. E a música é uma dádiva”A cantora Shakira sobre o download ilegal
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Jogos como Guitar Hero e Rock Band proporcionaram aos jogadores a experiên-cia de interação com a música através dos instrumentos. Os fãs pediram mais. Beaterator vai além e proporciona aos jogadores uma experiência completa: você produz sua própria música. Desenvolvido pela RockStar, em parceria com o produtor-estrela Timbaland, o título foi lançado em 29 de setembro nos Estados Unidos para o Sony PSP. Mais barato que os programas profissionais de criação de músicas (nos EUA sai por US$40), Beaterator é uma ferramenta com-pleta de criação e edição, desenvolvida para que os fãs de música componham por meio de uma interface já conhecida: a de games. “Eu queria que as pessoas tivessem a sensação de também criar um beat – saber que todo mundo consegue”-, diz Timbaland, sobre o que motivou para a participação no jogo. O produtor forneceu mais de três mil beats, sons e loops para a brincadeira. As músicas produzidas pelos jogadores podem ser exportadas e disponibilizadas na internet.Beaterator eleva o patamar dos games musicais, ao mesmo tempo que sacode a indústria – afinal produzir música é como jogar videogame? “Duas músicas do meu novo disco foram feitas no Beaterator!” Timbaland dá a resposta. ALEX OLIVEIRA
Imagine um indivíduo em frente ao computador - por horas a fio - pesquisando ritmos e estilos, entre vídeo-aulas de diversos instrumentos e momentos solitários de inúmeros músicos do youtube. Imagine um produtor musical juntando todos esses achados da internet, no youtube, e criando músicas com toda essa galera; como um mashup supre-mo. Depois do Kutiman... o youtube (e consequentemente a música) nunca mais serão os mesmos.Kutiman é um músico e produtor israelense que após lançar um disco em 2007 pelo selo alemão, ‘Melting Pop Music’, descobriu as vídeo-aulas no youtube, do bateris-ta Bernard Purdie. No início ele queria tocar em cima das levadas do Purdie, mas acabou percebendo que poderia encontrar outros músicos, também na internet. Foram meses de pesquisa entre centenas de vídeos, que acabaram reduzidos à apenas 100. Todos os selecionados pelo produtor, estão devidamente identificados pelos perfis no youtube. E como se não bastasse fazer uma única faixa utilizando essa técnica de colagem, o cara lançou o primeiro disco exclusivo do youtube, com sete faixas sensacionais, mesclando diversos vídeos encontrados na rede social. Eis o mais revolucionário lançamento do ano. Numa tacada, e meio sem querer, o cara discute o compartilhamento de arquivos, direito autoral etc... Não deixe de baixar e ver todos os vídeos. http://tiny.cc/QHhJd
do it yourself!
mashup supremo
Beaterator vai além do jogo e mira na produção musical.
vinil rules!
Conheça Kutiman e o primeiro álbum exclusivo do youtube
“Eu vou praticar e depois desafiá-los. Mas eu estava nas gravações originais, não tenho que me qualificar!”Paul McCartney quando questionado se já jogou “Beatles Rock Band.”
“Barrar os arquivos?
Esquece, não há o que fazer,
aliás é uma tremenda estupidez conter o
avanço da internet.”
Romulo Fróes
qMarvin Gaye, David Bowie, Gwen Stefani, Cypress Hill, Billy Squier e Beastie Boys... eis alguns dos nomes que irão figurar na “versão pi-ckup” de Gui-tar Hero. Saem as guitarras quebradas e entram os músicos do fu-turo: DJ Hero é o lançamento da Activision para todos os consoles de úl-tima geração, onde brincar de bancar o DJ é o chamariz. Um apetrecho que simula uma pickup (aquelas mesas cheia de botões onde os DJS fazem suas mixagens) acompanhará o pacote. A expectativa dos jogadores pelo game só aumentou depois que foi anunciado que a dupla francesa Daft Punk faria parte do game. O jogo já está nas lojas.
Nos EUA, o vinil cresceu
37% em 2007
Em 2008, o aumento foi
de 128%
No primeiro semestre de 2009, mais
50%
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iPod
A cada dia aumenta o número de downloads e reprodução de música online entre adolescentes do mundo todo, eles são...
a geração
A forte presença da mú-sica é claramente ob-servada no nosso coti-diano com a constante presença dos fones de
ouvidos em lugares públicos como ônibus, metrô, calçadas e praças. É possível ver grupinhos conver-sando animadamente mas, mesmo assim, cada um com o seu fone, sempre mantendo a distância do mundo real, ou conservando um certo excesso de individualidade.
Esses são os jovens da geração Y. Eles são talentosos,
descompromissados e têm muita vontade de traba-
lhar, mas não querem, de maneira nenhuma, que isso
interfira em suas vidas e vivem conectados, além de
estarem sempre com um fone de ouvido. Pelo excesso
de dinamismo é muito difícil prender sua atenção. Se
aborrecem com facilidade e são cheios de opiniões.
É difícil convencer um jovem da geração Y a fazer algo
que vá contra suas idéias. Eles são os filhos da Gera-
ção X, as pessoas conservadoras, altruístas, que fazem
tudo como manda o figurino e têm medo de arriscar. É
justamente das pessoas que não têm medo do amanhã
que estamos falando, aquelas que consideram que a
tecnologia vem acima de tudo e que um download não
faz mal a ninguém. Muito pelo contrário.
o laNce É MÚsIca PortÁtIl!De uns anos para cá, a garotada tomou gosto pelo MP3.
Muito mais prático e acessível, pode ser ouvido em
qualquer lugar, a qualquer hora e de uma forma muito
discreta nos iPods, MP4 e celulares. Já música em no
formato WMA, comum em CDs, não pode ser repro-
duzida em muitos desses aparelhos portáteis. E quem
consegue se manter discreto com o diskman em mãos?
Em apenas 10 minutos, você pode ter a musica que
quiser, onde quiser e na hora que quiser, apertando
apenas um botão. Com o avanço do MP3 na sociedade
atual, surgiram muitos programas de compartilhamento
de música, como LimeWire, SoulSeek, E-mule, Kaaza
entre outros. Houve também a disseminação de site e
blogs que disponibilizam músicas para download, além
das comunidades em redes sociais, como a já falecida
Discografias, que foi excluída justamente pela questão
dos direitos autorais. Um estudo realizado pelo MPD
Group, em 2008, diz que 52% dos jovens entre 13 e 17
anos preferem ouvir rádios online a fazer downloads.
Muitos desses jovens alegam medo de represália dos
pais pelo download ilegal, outros alegam o medo de
infectar seus computadores com vírus ou baixar por
engano um spyware.
Mesmo com essa mudança na tendência do mercado de
downloads, esse número ainda é alto entre os jovens de
18 a 25 anos. Cerca de 60 % deles fazem download com
frequência e dizem que graças à ferramenta conseguiram
ampliar o horizonte musical, dando chance a bandas
antes pouco conhecidas. Do total, apenas 20% dizem que,
se eles gostam realmente da banda/artista compram o
CD. Mas fazem o download mesmo assim. “O CD é só pra
dizer que tem, é muito difícil ouvir direto dele”, diz Helder
Jacomo (17), apaixonado por música POP.
Hoje em dia o CD é considerado por muitos, como coisa
de gente velha.“Se você for na minha casa vai ver que tem um
monte de CDs na estante. Pode apostar que são todos dos
meus pais”. É muito mais prático e barato procurar aquele
álbum em um site de busca qualquer, do que ir à uma loja.
Dizem por ai que o CD é o novo vinil, vai se tornar
coisa rara e adorado apenas por colecionadores. O fato é
que os jovens de hoje têm pouca tolerância com o antigo,
mesmo que ainda faça parte da sua realidade.
Quanto mais moderno o reprodutor de MP3 de um
jovem, maior é a probabilidade de ele ser aceito no grupo
dos ‘ban ban bans’. E quando o assunto é pagar pela música
começa outra choradeira. Alguém aqui gosta de pagar por
um disco de alumínio que toca exatamente a mesma coisa
que o MP3? O download já faz parte da cultura desses
adolescentes e querer mudar isso agora não vai ser uma
tarefa fácil para ninguém. ARIANE MAZZA
qOs álbuns que têm o maior número de downloads anuais são as trilhas sonoras de novelas globais, seguidos por indie rock, black e rock clássico.
Só no Brasil já foram vendidos mais de 6,9 milhões de ipods. E esse numero só tende a aumentar.
As rádios online mais populares do país: Rádio UOL, Rádio Terra, Rádios Online, Rádio Oi, Rádios, Rá-diosBr, Globo Rádio, Tudo Rádio e Portal Rádios.
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ONDE BAIXARhttp://megastore.uol.com.brhttp://www.apple.com/itunes
“Se você for na minha casa vai ver que tem um monte de CDs na estante. Pode apostar que são todos dos meus pais. Não é prático!”
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______________Quem nunca ouviu
falar do MySpa-ce? A rede so-cial, que é quase
como orkut e afins, dispo-nibiliza uma rede intera-tiva de fotos, blogs e per-fis de usuários. O grande diferencial da ferramenta é capacidade de hospedar conteúdos em MP3.
O site foi criado em 2003 e é a rede
social número um do mundo, com mais
de 110 milhões de usuários. Por ser um
site ativo - novos recursos são adicionados
com freqüência -, o MySpace recebe novos
membros todos os dias.
Os perfis possuem duas seções co-
muns, ‘Sobre mim’ e ‘Quem eu gostaria
de encontrar’. Contém também as seções
‘Interesses’ e ‘Detalhes’, e um espaço com
emoticons engraçadinhos onde você define
seu humor. A página possui, ainda, um
blog e um espaço destinado para o down-
load de fotos, no qual você escolhe uma
delas para ser a padrão - foto mostrada na
página inicial. Vídeos também podem ser
baixados no perfil.
Através de uma customização por
Código HTML, é possivel deixar o perfil
com a cara do usuário. As músicas são
adicionada através do Música MySpace,
serviço que convida as bandas a postarem
seus trabalhos.
toDos quereM seu esPaÇoNo Brasil, o serviço iniciou atividades em
setembro de 2007 e já tem uma versão em
português. Não é tão popular quanto nos
Estados Unidos, mas muitos artistas nacio-
nais, como Ivete Sangalo e Pitty, utilizam a
ferramenta.
Muitas bandas e músicos utilizam o
MySpace como uma forma de divulgação,
muitas vezes transformando seu perfil em
site oficial. Mas a ferramenta não é usada
apenas por aspirantes a músicos. Celebri-
dades como Britney Spears e Madonna
também têm seu perfil por lá.
Por ser muito popular, é povoado por
músicos, muitos atores, diretores de cinema,
apresentadores, modelos e empresas, que
têm o próprio perfil no site. Toda populari-
dade também contribui para o aumento dos
fakes, ou falsos perfis, como é comum em
todas as redes de páginas pessoais. O serviço
está apagando esses perfis aos poucos.
É verdade que o MySpace está desco-
brindo grandes nomes no mundo musical
e não há como falar de todos eles, mas
vamos falar da primeira grande revelação,
a banda Arctic Monkeys.
DescoBrINDo taleNtosCom três álbuns lançados, a banda bri-
tânica Arctic Monkeys, formada por Alex
Turner (guitarra e vocal), Jamie Cook
(guitarra), Nick O’Malley (baixo) e Mat-
thew Helders (bateria e vocal de apoio),
iniciou seus trabalhos em 2002 na cidade
de Sheffield.
Inicialmente, com o nome Big Bang, eles
faziam cover do Led Zepplin. Quando Alex
descobriu que sabia fazer músicas, eles
mudaram o nome da banda para Arctic
Monkeys e gravaram uma fita demo.
Em 2003 começaram a fazer shows pela
Inglaterra e as fitas demo não supriam as
necessidades dos fãs, por isso, sem que os
membros da banda soubessem, foi criado
um perfil no MySpace onde eram dispo-
nibilizadas todas as músicas da demo. O
sucesso foi tão grande que não demorou
muito para que o Arctic Monkeys passasse
a ser conhecido no mundo todo.
Em 2004 a popularidade dos garotos
chamou a atenção da imprensa britânica.
Foi quando Mark Bull, um fotógrafo ama-
dor, filmou toda a apresentação da banda
e fez o videoclipe da música Fake Tales
Of San Francisco e lançou em seu site. A
partir daí, tudo são flores para os meninos
do Arctic Monkeys.
O Brasil também teve a sua revelação
pelo MySpace, trata-se de Mallu Maga-
lhães. Com apenas 15 anos, a adolecente
gravou quatro músicas de sua autoria e
postou no site. Logo depois da publicação,
duas músicas da pequena cantora foram
usadas em comerciais de grandes empre-
sas. Agora, Mallu está na turnê do seu
primeiro álbum. ARIANE MAZZA
BPARA VER E OUVIRhttp://www.myspace.com/arcticmonkeyshttp://www.myspace.com/mallumagalhaes
demarcadoespaço
Cada vez mais popular, o MySpace abre espaço para quem quer ser músico e não sabe por onde começar
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proposta é simples: o You-Tube é um site que permite que seus usuá-
rios carreguem e compar-tilhem vídeos no formato digital. Quando foi desen-volvido por Chad Hurley, Steve Chen e Jared Karim em 2005, ninguém conse-guia imaginar o sucesso que o site alcançaria. Em 2006 o YouTube formou aliança com o Google por US$ 1,65 bi em ações.
celeBrIDaDes INstaNtÂNeasPara disponibilizar conteúdos, o YouTu-
be utiliza o formato Adobe Flash e hoje
é o mais popular site do tipo, com mais
de 50% do mercado. Hospedando uma
imensa quantidade de filmes, videoclipes e
materiais caseiros, o YouTube foi eleito em
novembro de 2006, a invenção do ano pela
revista norte-americana Times.
Toda essa tecnologia ajudou a criar as
celebridades instantaneas. A teoria dos 15
minutos de fama, ditada por Andy Warhol
e cantada pelos Titãs no disco A Melhor
Banda Dos Ultimos Tempos da Última
Semana, nunca esteve tão evidente.
A maior das provas vivas desses minu-
tinhos de fama é a cantora escocesa Susan
Boyle, que conquistou o mundo cantando I
Dreamed a Dream, de Les Miserables, no
famoso programa de caça talentos Britain’s
Got Talent. Ela conseguiu transcender a
fama do YouTube e já estão falando até em
um filme contando sua vida.
Outro grande exemplo é a musa do Piaúi
Stephany, quem fez fama com o videoclipe
Eu sou Stephany. Com apenas 17 anos, a
forrozeira ganhou notoriedade depois de
postar no YouTube o clipe caseiro, onde joga
os cabelos, toma banho de espuma e faz uma
coreografia sexy no maior estilo Beyonce,
tudo para provar que é “linda e absoluta”.
A musa absoluta já tem pelo menos seis
vídeos fazendo sucesso no YouTube e está
preparando o videoclipe de Fumaça, primei-
ro rap que fala sobre o conteúdo do narguile.
Não foram apenas os anônimos que
caíram nas graças do YouTube. Madonna
esteve recentemente envolvida no caso
Warner, que exigiu que o Goggle deletasse
do site todos os clipes da estrela. Até a diva
Pop já está percebendo o poder do site e
dando o ar da graça por lá.
Uma atuação no programa americando
Saturday Night Live marcou o reecontro
de Madonna com o YouTube. Na atração, a
cantora troca puxões de cabelos e ofensas
bobinhas com a também cantora Lady Gaga.
No final, ela fazem as pazes com um beijo.
O vídeo tornou-se um dos principais hits
do YouTube. Assim, parece que Madonna
e a Warner perceberam que não adianta
gastar milhões de dólares na execução de
um vídeoclipe e privar seus espectadores
dele. O que dá lucro mesmo é o popular.
O que vale mais no mundo virtual é a
criatividade e o entusiasmo de quem faz.
Quanto mais cômico e inusitado melhor.
Os efeitos especiais milionários a gente
deixa para a televisão e cinema.
ARIANE MAZZA
“A maior das provas vivas des-ses minutinhos de fama é a can-tora escocesa Susan Boyle, que conquistou o mundo cantan-do I Dreamed a Dream, de Les Miserables, no famoso progra-ma de caça ta-lentos Britain’s Got Talent.
Nascem novas estrelas
Conexão Davis
A principio é um programa de entrevistas feito exclusiva-mente para o YouTube, mas em cada programa Davis Maneghel aparece cantando uma paródia diferente, sem-pre chamando as pessoas a assistirem o Conexão. Quase uma Xuxa. http://tiny.cc/EMMe4
André Arteiro “Antes que eu me queime”
#
Em seu perfil no YouTube, An-dré Arteiro se intitula como O Novo Rei Do Pop. A música é uma versão bizarra de IF U Seek Amy, de Britney Spears e já obteve mais de 20 mil acessos. Vale conferir os comentários dos internautas. Hilário!http://tiny.cc/yHxNC
Eduardo Magnavita “Mulherengo”
A versão divertida da mú-sica Womanizer de Britney Spears. Com mais de 60 mil acessos, a música é do tipo que gruda na cabeça. E para quem quiser se deliciar cantando com Eduardo, na descrição do vídeo tem a letra toda.http://tiny.cc/mN5ea
Todos os dias surgem no Youtube, novos aspirantes a Madonnas e Michael Jacksons. A POP selecionou os mais engraçados!
uma pose!faça
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A evolução do hábito de ouvir, produzir e compartilhar música, enquanto o mercado fonográfico tradicional agoniza - para desespe-ro de poucos e alegria de muitos
música digitalna trilha da
texto: elaine gomes ilustrações: sandra pio
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Há três déca-das levamos a música no bolso. Há uma ela
corre solta pela rede mun-dial de computadores. Pode não parecer, mas é pouco tempo pra tanta mudança. A chegada da internet abalou, minou e implodiu o mercado fo-nográfico mundial que, deitado eternamente em berço esplêndido, achava que a festa jamais acaba-ria. Mas acabou. O berço balança hoje pelas mãos da demanda.
O esquema tradicional das majors era o de
escolher o que vender e empurrar ouvido
abaixo dos consumidores, pelas rádios.
Eles produziam tendências e escolhiam (de
acordo com critérios de uma subjetividade
que jamais entenderemos) quem estaria
nas paradas de sucesso, nas trilhas das no-
velas e de nossas vidas. Era uma música de
qualidade tão baixa, que só quem viveu pra
ver a Discoteca do Chacrinha nas tardes de
sábado, é capaz de mensurar!
O vinil nacional imperava. Na década de
1970 (a ditadura vigente na época, aqui no
Brasil, é só uma desculpa pra essa forma
engessada de trabalhar pouco e ganhar muito,
que a indústria fonográfica cunhou) esperá-
vamos muito pelo lançamento de um LP, que
demorava a vir e quando era lançado, ainda
corria o risco de ser tão mal produzido que
não tinha encarte com letras, nem o invólu-
cro plástico que deveria proteger o disco. Na
década de 1980, o Brasil entrou na rota das
turnês internacionais (que antes era um acon-
tecimento mais que bissexto) e começamos a
encontrar nas lojas, com mais facilidade, dis-
cos de bandas estrangeiras menos populares
que Michael Jackson. Isso foi uma vitória a se
comemorar. E comemoramos!
Nessa época havia opção das fitas cassete,
que eram geralmente de péssima qualidade.
Hoje, olhando pra trás, é fácil perceber
como éramos mal servidos.
a MÚsIca No FoNe De ouvIDo
Oficialmente, o walkman surgiu em 21 de
junho de 1979, no Japão (data e local de lança-
mento do anúncio da Sony apresentando seus
primeiros modelos). Mas a música portátil já
fazia história seis anos antes, e no Brasil.
Andreas Pavel, um alemão morador de
São Paulo, registrou aqui o stereobelt, um
pequeno componente portátil para repro-
dução em alta fidelidade do som gravado.
Com o anúncio da Sony, Pavel, como
dono da idéia original, processou a em-
presa. Ganhou na Alemanha e perdeu nos
EUA. Diz a lenda que, há alguns anos, ele
pensava em procurar a Apple para receber
royalties sobre as vendas do iPod, mas ele
nega essa história.
Uma pessoa com um fone de ouvido é a
protagonista de sua própria trilha sonora,
onde os sons do resto do mundo são mero
pano de fundo. Se o mundo tivesse botão
de volume, certamente estaria no mute.
Ouvir música virou uma experiência indi-
vidual, por princípio dos fones pendurados
nos players. Mas ao mesmo tempo em que
se isola, esse ouvinte está hiperconectado e
em sintonia com o novo mundo digital.
Dessa condição de isolamento, renasce a
vontade de compartilhar uma música que
encantou; e é nessa circunstância que surgi-
ram os sites de compartilhamento de faixas.
o coMeÇo Do FIM
Quando foi criado, o Napster (dorminhoco
- que era o apelido de seu criador Shawn
Fenning) tinha como grande aspiração a
simples possibilidade de intercâmbio de
músicas entre os computadores.
Quando Fenning distribuiu o programa
para os amigos, ele mudou a história da
música e resgatou o aspecto social da rede.
Se no início dos anos 1990, a internet
apareceu como forma de facilitar a troca de
informações, no final da década essa troca se-
ria acelerada graças à popularização do MP3.
O resto dessa história todo mundo
conhece: em 1991 o Napster foi cancelado
(depois de brigar muito, inclusive com a
banda Metallica), mas “a semente do mal
estava plantada”.
Outros programas de compartilhamento
de músicas estão aí, em pleno funciona-
mento. Uns mais visados, outros menos.
Periodicamente alguns caem, outros
aparecem, mudam de nome, mas mantêm
o volume de downloads incrivelmente alto.
Segundo a ABPD, em 2007 a venda de
fonogramas digitais via internet no mundo,
cresceu 40%, movimentando US$2.9
bilhões e alcançando 15% do mercado (isso,
só considerando a venda de downloads,
que é infinitamente menor que o volume
dos baixados gratuitamente). Quem não
tem um programa de download de música
instalado em seu computador que atire o
primeiro cabo USB.
quero ver queM Paga Pra geNte FIcar assIM
O mercado fonográfico amarga suas más
escolhas, sua falta de visão e o abismo que
criou entre os produtores de música. De
um lado, uma minoria de artistas fabricada
pelas majors, reproduzida ad nauseam
em programas de grande audiência na
televisão e nas rádios e ocupando a maioria
Uma pessoa com um fone de ouvido é a protagonista de sua própria trilha sonora, onde os sons do resto do mundo são mero pano de fundo.
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das prateleiras das lojas. De outro, milhões
de músicos cada vez mais conhecidos pelo
público, hoje disperso na internet, que bus-
cam alternativas para viver da produção
artística. Esses artistas também estavam
mal servidos e não encontravam o espaço
que a internet ofereceu.
O resultado do encontro dos consumi-
dores de música, cansados de pagar caro
pelas bandas que não escolheram; com os
artistas que, não conseguiam ser gravados,
era inevitável. A essa mistura, acrescentou-
se uma rede mundial multiplicadora que
acendeu o estopim da bomba que abalou
cada estrutura de um modelo de negócio
que demorou, mas naufragou. Tudo isso
sem mencionar os preços praticados aqui.
O Brasil é o 6º país onde o CD é mais caro.
Se compararmos o preço de um CD
vendido em Amsterdã- US$28,97, com
o praticado aqui US$23,37 veremos que
a diferença nem é assim tão grande. A
grande diferença está no poder de compra
do salário do brasileiro. Numa conta sim-
plista (e triste), considerando que o euro
está cotado em R$2,54 e o salário mínimo
holandês está fixado em 1.264,80 euros,
qualquer trabalhador holandês com mais
de 23 anos (já que o salário é determinado
por faixa etária) recebe R$3.212,60 contra
os nossos irrisórios R$465,00.
Considerando o dólar a R$1,80, o CD
holandês custa R$52,15, e o brasileiro
R$42,06. A diferença é que se um holandês
maluco quiser torrar seu salário em CDs,
comprará 61 e ainda poderá comprar um
par de tamancos com o troco.
O brasileiro esvaziará o bolso e voltará
pra casa com 11 CDs, e a pé, já que o troco
não pagará a passagem de ônibus.
Essa é a receita da pirataria. Seu com-
bustível e a razão de existir.
aBPD: NuveNs Negras, teMPestaDes No cÉu
A Associação Brasileira dos Produtores
de Discos apontou que em 2002 foram
vendidos 75 milhões de unidades de CDs
no Brasil, contra míseros 31,1 milhões em
2007. De lá pra cá esses dados, curiosa-
mente não foram atualizados.
Outro enorme indicador do quão as coi-
sas vão mal para a indústria tradicional é o
fato de eles terem diminuído pela metade
o patamar de vendas necessário para que
determinado artista seja premiado com
discos de ouro, platina e diamante.
Segundo a ABPD, enquanto as vendas e o
faturamento do setor fonográfico brasileiro
caíram 17,2% e 31,2% respectivamente,
em 2007, a música digital cresceu incríveis
185% no mesmo período. A movimentação
do setor (considerando vendas pela internet
e celulares) chegou a R$24,5 milhões, 8%
do mercado de música no Brasil. Esse foi o
primeiro dado referente ao mercado digital
brasileiro divulgado pela associação.
Em abril deste ano, o presidente da
ABPD, Paulo Rosa, falou sobre esse indi-
cador: “Consideramos o crescimento do
mercado digital fundamental para os negó-
cios com música gravada, sendo necessário
neste ano de 2008, o engajamento de nosso
setor em discussões com os provedores de
serviço de acesso à internet, para a busca de
soluções visando a redução dos atuais níveis
de pirataria online. Isto já vem acontecendo
em vários países, com resultados concretos
principalmente na França e Inglaterra”.
Mas não é bem assim. É verdade que
nos quatro cantos do mundo, se ensaiam
medidas reguladoras para a prática de
downloads gratuitos de música. A França
fez alarde com sua lei punitiva, para em
seguida voltar atrás, argumentando que
ela feria a Carta dos Direitos Humanos.
Sabidamente o motivo estava muito mais
ligado à reação terrível que a lei despertou
nos internautas (eleitores) franceses.
Outro enorme in-dicador do quão as coisas vão mal para a indústria tradicio-nal é o fato de eles terem diminuído pela metade o pa-tamar de vendas necessário para que determinado artista seja premiado com discos de ouro, plati-na e diamante.
1999Maio: Nascimento do sistema peer-to-peer (p2p), que permite a troca de arquivos on-line. O principal deles, batizado de Napster, é lançado em maio e, em dezembro, processado pela RIAA (Recording Industry Association of America, entidade que representa os interesses das gravadoras americanas) por infringir direitos autorais.
2000Abril: a banda Metallica entra com ações contra o Napster. No mesmo ano a cantora Madonna, que havia se reunido com os executivos da companhia para uma possível parce-ria, resolve processar a empresa.
2001Outubro: um consórcio de estúdios de cinema e de gravadoras entra com ação contra as três maiores empresas que sucederam o Napster: Kazaa, Morpheus e Grokster.
2002Fevereiro: surge o BitTorrent, tecnologia que divide o arquivo em diversas partes, tornando o download mais rápido.
2003Abril: corte federal dos EUA decide que Kazaa, Morpheus e Grokster não podem ser processados pelas infra-ções de direitos autorais cometidas pelos usuários.
Setembro: a RIAA anuncia a primeira leva de ações contra indivíduos que trocavam arquivos em redes p2p.
2004Fevereiro: Kazaa é processado civilmente por infração dos direitos autorais em uma corte australiana.
Dezembro: a MPAA, associação dos estúdios de cinema norte-america-nos, anuncia ações contra usuários do BitTorrent.
2005Junho: a Suprema Corte dos EUA decide que os serviços de troca de arquivos podem se responsabilizados se eles encorajarem usuários a tro-car arquivos protegidos por direitos autorais.
2006 Fevereiro: Reino Unido abre a discussão sobre legalização de downloads. Governo Britânico relaxa leis de direitos autorais para que usuários domésticos não sejam processados.
2007Julho: Trama lança o sistema de download remunerado
Outubro: Dona de casa norte ameri-cana Jammie Thomas é condenada a pagar US$222 mil por fazer down-load ilegal de músicas protegidas por direitos autorais.
2008Outubro: Comunidade Discografias do Orkut, com 755 mil participantes, é apagada por decisão judicial. Protes-to de internautas reúne 20 mil assinaturas.
2009Abril: Parlamento francês aprova lei antipirataria. Usuários pegos fazendo download ilegal poderão ser multa-dos e proibidos de usar a internet.
Parlamento francês recua e rejeita lei antipirataria por infringir o direito do livre discurso e da presunção de inocência da Declaração dos Direitos Humanos
Agosto: Inglaterra estuda punir download ilegal com restrição de acesso à web.
A década da revolução digital
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A Inglaterra, sempre dirigindo na contra-
mão, lançou há alguns anos, leis que afrou-
xavam a regulamentação dos downloads e
hoje estuda uma forma de punir a prática.
suBstItuINDo o INcerto Pelo DuvIDoso
No Brasil, tivemos o substitutivo do projeto
de lei 89/2003, do senador Eduardo Azere-
do (PSDB/MG) que ficou conhecido como
“projeto de controle do cibercrime”. Os
mecanismos do projeto abriam a possibili-
dade de criminalização de diversas práticas
importantes e usuais na cibercultura, além
de comprometer iniciativas de democrati-
zação do acesso à rede.
A quarta versão desse substitutivo foi
aprovada pelo Senado em julho deste ano;
uma versão mais branda. O texto origi-
nal era tacanho a ponto de punir todo e
qualquer armazenamento de dados sem a
autorização do “legítimo titular”. Como se
os navegadores não armazenassem dados
no computador enquanto navegamos;
deixando claro que nenhum dos juristas e
políticos envolvidos na elaboração dessa
legislação, entende de internet.
Na questão musical, ficamos quase na
mesma. O único avanço real do projeto foi
em relação ao crime de pedofilia.
A grande novidade ficou por conta da
decisão inédita do Tribunal de Justiça do
Paraná em favor das gravadoras contra o
software de compartilhamento de arquivos
K-Lite Nitro, que, divulgado em setembro
passado, pegou artistas e internautas de
surpresa. Pela decisão, a empresa respon-
sável pelo desenvolvimento e manutenção
do K-Lite está proibida de disponibilizar
o site enquanto não instalarem filtros
capazes de evitar a troca ilegal de arquivos
protegidos por direitos autorais. É uma
briga que não parece ter fim
A internet tem como uma de suas princi-
pais características, a “desterritorialização”,
a derrubada de fronteiras. É um território
neutro, descontrolado e anárquico.
As regulamentações nesse sentido
engatinham, enquanto internautas ganham
espaço, conquistam saberes e poderes na
velocidade da luz.
Logicamente a questão da remuneração
pela produção musical, mais cedo ou mais
tarde, terá que ser definida; mas isso não pode
ser feito de forma a penalizar o ouvinte, o fã.
É preciso que se invista em novos
modelos, que se conheça a internet, que
se explore de maneira inteligente a maior
fonte de informação e distribuição que o
mundo já viu. Adaptação e bom senso, em
generosas doses diárias, talvez ajudem.
O mercado fonográfico mundial se
estabeleceu em outra época, sobre outras
plataformas; e terá que entrar na fila para
poder brincar outra vez, aprendendo e
aceitando as novas regras do jogo.
Enquanto isso não acontecer, os músicos
sairão perdendo, os internautas e consu-
midores de música sairão perdendo, mas
muito menos que perde a cada minuto um
mercado que não foi capaz de acompanhar
o ritmo da tecnologia.
B SAIBA MAIShttp://www.abpd.org.br
TorrenTs legaisO que é: Agregadores de torrents com arquivos que não têm direitos autoraisComo funciona: O arquivo deve ser buscado em sites de torrents legais e, depois, baixado utilizando softwares como o BitTorrent ou o uTorrent. Programas como o Vuze ou o Miro já vêm com buscadores de torrents legaisQuanto custa: gratuitoExemplos: Legal Torrents, Legit Torrents
lojas onlineO que é: Lojas que vendem músicas digitais na web ou no celularComo funciona: No Brasil, o DRM (gerenciamento de direitos digitais) impede o usuário de colocar a música direto no iPod. Para fazer isso, o comprador deve baixar o arquivo digital, copiá-lo para um CD, converter para MP3 e só então colocar no iPodLojas de celular permitem copiar a mesma música no computador ou no telefoneQuanto custa: O preço das faixas no Brasil está entre R$0,99 e R$4,00Exemplos: iMúsica e Sonora, além das
lojas de downloads das operadoras de celular
sTreaming legalO que é: Sites que tocam músicas direto da internet, sem baixá-las para o computador.Como funciona: São como rádios online que permitem montar a programação Alguns endereços chegam a cobrar pela execução das faixasQuanto custa: A mensalidade do site Last.fm custa U$3,00Exemplos: Last.fm, Sonora e MySpace Music
rádio onlineO que é: Emissoras de rádio convencionais costumam transmitir a programação pela internet; também há rádios que funcionam somente pela webComo funciona:No site das rádios há um “tocador” para ouvir a transmissão Programas como o Winamp e o iTunes têm repositórios de links para ouvir rádios onlineQuanto custa: GratuitoExemplos: Radios.com.br e Radiosonline.com.br
domínio PúblicoO que é: Músicas que já perderam a validade dos direitos autorais ou cujos artistas liberaram o direito de reproduçãoComo funciona: Canções de artistas antigos são catalogadas em sites específicos ou colocadas para down-load por blogueirosQuanto custa: GratuitoExemplos: MusOpen, Domínio Público e Creative Commons
rePosiTórios de mP3O que é: Páginas com músicas di-gitais disponibilizadas pelas bandas. Pode ser o site oficial da banda ou site da gravadoraComo funciona:É possível ouvir músicas por streaming ou até baixar faixas ou álbuns completosQuanto custa: GratuitoExemplos: Trama Virtual, Palco MP3, FiberOnline e sites das gravadoras
aPlicaTivos Para celularO que é: Programas para ouvir rádios no mundo todo no telefoneComo funciona: O aplicativo deve ser baixado e instalado no celular. O telefone acessa a internet e toca as rádiosQuanto custa: Os aplicativos são gratuitos, mas o consumo de dados do celular é cobrado de acordo com a tarifa da operadora, geralmente um bocado alta.Exemplos: Mundu Radio, Shout-cast radio, Nokia Internet Radio e WebPlayer.
YouTubeO que é: Vídeos com músicas protegidas por direitos autorais são colocados no site pelos usuários.Como funciona: Pela lei brasileira, quem faz o upload do vídeo e quem assiste, está cometendo um crimeQuanto custa: Gratuito
blogO que é: Assim como no Orkut, os usuários criam blogs para compartilhar os links dos sites que armazenam arquivos, como o RapidshareComo funciona: Na busca de blo-gs do Google, é possível procurar pelo nome de bandas e/ou músicas para encontrar esses blogs e, em seguida, baixar os arquivosQuanto custa: Gratuito
TorrenTO que é: Método de download coletivo entre internautasComo funciona: Programas especiais como o uTorrent lêem arquivos “.torrent” que redirecio-nam para uma rede de usuários que compartilham o download de um filme, uma música, um álbum ou mesmo de discografiasQuanto custa: GratuitoExemplos: PirateBay, Mininova
orkuTO que é: Comunidade de usuários que compartilham links de arquivos para downloadComo funciona: Faixas de álbuns completos ou discografias são compactadas em arquivos “.rar” e “.zip” e colocados para downlo-ad em sites como Rapidshare e MegauploadQuanto custa: GratuitoExemplos: Comunidade Discogra-fias, Comunidade Beatles Brasil
Programas de comParTi-lhamenTo de arquivos (P2P)O que é: Programas em que usu-ários compartilham os arquivos do computador com outros internautasComo funciona: Instalado no computador, o programa busca e baixa arquivos direto do computa-dor de usuários do softwareQuanto custa: GratuitoExemplos: eMule, LimeWire
o que pode e o que não podeB
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visionário
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João Marcello Bôscoli é uma metralhadora de idéias, daquelas girató-rias e ininterruptas. Sua percepção do que está por
vir em termos de tecnologia e mer-cado fonográfico lhe garantem a fama de Midas da música mo-derna. Dono da gravadora Tra-ma, Marcello- que é filho de Elis Regina e Ronaldo Bôscoli, não se acomoda e não para de procurar novos caminhos. João Marcello recebeu a POP em seu estúdio paulista, no bairro de Pinheiros.
FOTOS - ALEX OLIVEIRA
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Você é dono de uma gravadora que tem muito pouco ou quase nada das grandes gravadoras tra-dicionais que estão amargando os frutos da tecnologia. Numa ob-servação simplista, dá pra dizer que eles criaram um modelo en-gessado onde as pessoas ficavam ilhadas naqueles quadradinhos e não conseguiram antecipar nem se adequar às novas tecno-logias. De maneira nenhuma isso foi percebido e quando a coisa aconteceu, eles se perderam com-pletamente. Foi uma tremenda comida de bola mesmo?Eles não tinham outra opção que não se
perder. As majors encontraram, num de-
terminado momento, um modelo econômi-
co que fazia todo o sentido do mundo pra
eles, que funcionou bastante, e esse modelo
foi esticado até o limite. Até a chegada da
chamada revolução digital nos anos 1990,
quem fabricava o vinil eram eles. Quem
detinha toda a cadeia de distribuição eram
eles, quem determinava o que tocava no
rádio eram eles. Era uma coisa totalmente
verticalizada. Com a revolução digital, ficou
muito mais barato gravar, ficou possível
publicar na rede, promover e vender, de
forma que grande parte desse poder que
eles detinham simplesmente ruiu. Foi uma
indústria que escolheu esse caminho retró-
grado. Ela teve a chance de apresentar o
MP3 ao mundo. Ela teve a chance de baixar
seus números absurdamente e ganhar mui-
to mais em escala; e ela escolheu errado
e continua escolhendo nos dias de hoje.O
que aconteceu, na verdade, é que eles per-
deram a chance de participar da elaboração
de um novo modelo de música maior do
que a própria música jamais foi.
Vocês não perderam essa chan-ce. A gente não tem aqui no Brasil outro selo de música que tenha tido a visão que vocês tive-ram ou que tenha tido a iniciati-va que vocês tiveram.
A Trama, assim como vários outros pe-
quenos selos, não só acreditou e utilizou a
internet, como a internet viabilizou nosso
negócio em si. Sempre 80% do cast da Tra-
ma são artistas desconhecidos. Assim que
se tornam conhecidos, eles seguem suas
vidas. Ou montam um selo próprio, ou
assinam com uma major, ou vão trabalhar
por conta própria e montam uma produto-
ra. Isso naturalmente é um caminho, e aí a
Trama faz uma turn over e tem uma nova
seleção de artistas novos. É importante que
de tempos em tempos nossos relaciona-
mentos com alguns artistas se desfaçam,
para que haja espaço para renovação.Entre
o grande programa de audiência da TV
aberta e o começo nos ensaios na garagem,
é preciso que haja um caminho, estações,
circuitos de alcances diferentes. A internet
é um instrumento de divulgação e publica-
ção de obras super democrático no qual a
gente se apóia o tempo inteiro.
A Trama acabou se beneficiando dessa
mudança de era com o contraste daquele
jeito engessado das majors onde era tudo
pré estabelecido: o tipo de capa, o tipo de
produto com cara de linha de montagem
ruim e hoje há essa liberdade toda dessa
geração que passou a produzir álbuns
muito autorais.
Falando do ambiente, da cena independente, a primeira rela-ção que se faz é com o trabalho marginal. Só vocês pegaram de cara o trem da tecnologia, isso é uma associação que se faz com a Trama. Em que momento vocês perceberam que a tecnologia era a grande saída?O primeiro grande passo foi dado numa
reunião que fizemos por volta do ano 2000,
quando o André (Szajman seu sócio) su-
geriu que nós fizéssemos uma loja digital,
do tipo que o iTunes veio fazer depois; pra
colocar todas as demos que recebíamos. Eu
sempre dizia que o volume de demos guar-
dadas estava aumentando, aumentando e
era preciso fazer alguma coisa com aquilo,
já que era impossível lançar ou ouvir 10%
daquilo. Então resolvemos fazer um selo
virtual, uma vitrine onde as pessoas pode-
riam publicar suas obras. Pra ser sincero,
eu achei a idéia legal mas não achei que
fosse ter o alcance que acabou tendo. A
loja digital não deu certo, as vendas eram
poucas, muito menores que as de hoje -que
ainda são pequenas- e não se sustentou.
Era o projeto Piromania, onde você grava-
va seu CD e a gente te entregava pronto,
com capa e tudo em três dias e o site da
Trama virtual. A Trama virtual quando co-
meçou, há cinco anos, a gente já tinha um
projeto de tecnologia, quem cuidava disso
era o Gordo Miranda. Nessa época eram
quinhentas bandas, eu já ficava admirado,
depois eram mil e quinhentas, três mil, cin-
co mil bandas. Eu vi que realmente tinha
alguma coisa acontecendo ali...
Você acha que se naquele primeiro selo, naquela época, tivesse tido essa idéia do down-load patrocinado, a coisa tinha ido pra frente?Acho que não, por que a gente não tinha
um fluxo de dentro da internet. Outras coi-
sas não deram certo pela impossibilidade
de fazer essas coisas numa época em que o
ambiente virtual era apertado. Hoje você
baixa um álbum virtual num tempo que era
impensável. Naquela época você precisaria
de dias pra baixar um álbum e não seria
uma experiência legal. Temos um banco
de idéias, por exemplo, a gente já tem o
DVD virtual pronto, só que dependemos da
extensão da banda larga. Hoje o número
de banda larga começa a possibilitar essa
idéia. Não adianta eu colocar um DVD
pra você baixar de graça se a prática dessa
teoria vai ser um desastre, se vai demorar
dias. A Trama virtual tem, hoje em dia, 65
mil bandas e todo mês entram mais de mil
bandas novas.
Vocês têm um esquema de download remunerado, como é isso?Cada vez que você baixa uma música, faz
isso gratuitamente, e um patrocinador
paga pro artista. No final do mês, a gente
fecha o valor dos patrocinadores, divide
pelo número de downloads e paga direto
na conta corrente da banda. São vários
apoiadores pra esse tipo de patrocínio e
essa prática já tem mais de dois anos. É
uma iniciativa inédita no mundo. Até o
presente momento, só a gente está fazendo
isso. É importante que as pessoas saibam
que a gente não olhou pro modelo pronto
do MySpace, por exemplo. A gente fez
antes... A Trama Virtual veio antes do You-
tube, claro que o nosso é só de música, mas
a idéia saiu daqui. Assim como a iniciativa
de download remunerado é nossa, e o
álbum virtual, pelo qual você não paga nem
se quiser! Você pode baixar a parte gráfica
em alta resolução. São coisas inéditas. Você
pode baixar a capa em JPEG pra colocar no
seu player. Depois sai o álbum físico, mas
as coisas não brigam. São formatos dife-
rentes pra vários segmentos de mercado.
Toda essa disponibilização de música gratuita não esvazia os shows?Nós achamos que é justamente o contrário.
Quanto mais as pessoas baixam, mais inte-
resse elas têm. Os shows nunca estiveram
tão cheios. Não há uma ligação que faça
com que o cara que baixou deixe de ir ao
show. A experiência de ouvir uma música
em casa e ver essa música ser executada ao
vivo, são coisas muito diferentes. Essas dis-
cussões, que são discussões vazias, não são
novas, foi assim o rádio e a TV, depois a TV
e o cinema, a mídia impressa e a digital...
Parece que tem alguém ganhando dinheiro
com essas discussões; toda a vez que ocorre
uma mudança de mídia vem uma Cas-
Parece que tem alguém ganhando di-nheiro com es-sas discussões; toda a vez que ocorre uma mudança de mídia vem uma Cassandra e grita; “vai aca-bar o mundo”, eu não entendo isso, as coisas convivem.”
“Está na Bíblia, no Torá, no I Ching: bota muito poder na mão de alguém que ela se intoxica com esse poder”.
“FOTO - ALEX OLIVEIRA
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______________sandra e grita; “vai acabar o mundo”, eu
não entendo isso, as coisas convivem.Por
exemplo, hoje, o vinil que era uma mídia
considerada moribunda, achou seu espaço
e está crescendo, só no ano passado 19% no
mundo. Você liga numa fábrica de vinil e
não consegue nada pros próximos quatro me-
ses, e isso no exterior, nós nunca fabricamos
vinil aqui no Brasil.
Esse esquema de patrocínio é o que viabilizaria o que vocês falam no manifesto Trama que diz que a liberdade de criação está acima dos interesses de mercado?Na verdade, a criação artística sempre tem que
estar. Eu não costumo trabalhar com artistas
que fazem um tipo de pesquisa de mercado
pra saber que música eles vão fazer; buscando
novas tendências com um ouvido comercial.
Isso funciona muito bem pra uma agência
de publicidade, eu acho bem bacana, mas
não é o nosso trabalho. Não existe lógica no
nosso negócio. As majors, por exemplo: pra
cada sucesso que elas conseguem emplacar,
imagine quantos artistas foram lançados até
acertarem um. Não tem uma maquininha de
fazer sucessos, se fosse assim teríamos um
Michael Jackson e uma banda como os Beatles
por ano. Há o imponderável no nosso negócio,
onde você trabalha sem ter garantia de nada.
Você passa a ir atrás da sua essência e dos seus
valores. Qual é o principal valor pra mim? Que
a pessoa acredite na música que ela faz, e que
ela faça aquilo que ela acha que tem que fazer,
ou isso vira outra coisa.
Uma vez você disse que decidiu começar uma gravadora pra po-der ter mais poder de decisão. A impressão que eu tenho, conver-sando com você é que você é um cara que soube usar as tecnolo-gias, mas soube usar suas idéias. Foram as suas idéias que fizeram a Trama acontecer, não é só a Rádio Trama, nem os downloads remunerados, é tudo ao mesmo tempo agora. Você faz tudo acon-tecer, e é o que mantém a coisa toda fresca, viva... são idéias.Na verdade é a participação de todo mundo.
Quando você coloca um site, escreve um
nome lá “Trama Virtual” e tem todos os
meses um milhão e trezentos mil streammin-
gs e downloads de 65 mil bandas diferentes, é
uma energia muito forte, que nem sou eu que
movimento, como não movimenta apenas a
mim! Por exemplo: Móveis Coloniais de Aca-
ju, até agora baixaram dez mil álbuns virtuais.
É uma corrente. Cada cara que baixa, que
ouve, foi atingido por um trabalho nosso, mas
isso não está diretamente relacionado a mim,
ao Marcello. Na verdade tem até uma parte
a ver comigo, mas a fonte, a força é a banda.
A intenção aqui, na medida do possível, e
ainda que numa realidade bem restrita, é
criar um terreno fértil pras pessoas gravarem
suas obras. Agora, se você pergunta se seria
minha área original pensar nisso, aí não seria
mesmo. Imagine um baterista que tem um
selo que iria pensar num álbum virtual ou
num esquema de download remunerado. Isso
é uma mídia, isso não deveria ser problema
meu! O que aconteceu foi uma deturpação. O
modelo original faliu e diante de um modelo
de gravação falido, a necessidade inventou o
novo formato. Meu trabalho não é inventar
formatos de mídia no século XXI, isso é traba-
lho de engenheiro e eu não sou engenheiro. A
necessidade fez com que isso acontecesse.
Mas como as majors não viram essa necessidade? Ficaram só investindo em marketing?Era um modelo falido, o marketing é até bem
legal. O problema foi eles terem escolhido
uma ferramenta como o rádio, ainda que te-
nha tido o respiro que o videoclipe trouxe, e
da cor que ele trouxe ao processo. Era muito
poder nas mãos de pouca gente, é uma coisa
que nunca deu certo. Está na Bíblia, no Torá,
no I Ching: bota muito poder na mão de
alguém que ela se intoxica com esse poder.
Assim que a revolução digital mostrou a que veio, a primeira al-ternativa que se imaginou foi que as majors compensariam suas perdas investindo em shows. É isso? Tem como compensar essas perdas que as majors tiveram?Existe uma receita crescente no mundo di-
gital. Acho que as grandes gravadoras vão
perceber que o papel delas mudou e vão
ser distribuidoras de conteúdo na internet.
Não tem opção. Ou elas se dobram e parti-
cipam dessa receita, ou elas não se dobram
e as pessoas continuam baixando de graça.
Como você vê as tentativas de legalização de download?A maior parte da música ouvida no mundo,
sempre foi de graça; desde que o Marconi
colocou o rádio pra funcionar. É assim
gente, desculpe! Parem pra pensar: estamos
em 1995, no auge das majors com o CD,
mudança de mídia, todo mundo comprando
pra caramba, o Brasil era o sexto ou sétimo
mercado do mundo. Era uma situação super
confortável! Os caras estavam ganhando tan-
to dinheiro naquela fórmula deles, investin-
do só em execução em rádio. Então por que
nunca vendeu tanto quanto a audiência de
rádio? Eu explico: se você pegar a audiência
das dez maiores rádios do Brasil durante
um ano e comparar com o número de discos
vendidos; está na cara que você expõe sua
obra a um número enorme de pessoas e só
uma parte dessas pessoas compra seu disco.
Com a internet é a mesma coisa! Você expõe
sua obra pro maior número de pessoas
possível, e quem se interessar compra, se não
se interessou, um abraço. Tem músicas que
você quer só ouvir, não quer comprar. Isso
não muda!
E esse controle, essas propostas de legalização de download, você acha que são inócuos?Perda de tempo. O patrão é o público, e o
público não está gostando. Acabou aí. Você
pode fazer o business plan que você quiser,
contratar a consultoria que você quiser, ou
a policia digital que você quiser... O público
que é aquele com o qual você deveria ficar
numa boa, está com ódio de você. É outro
tiro no pé! Tem duas coisas que eu nunca
entendi, que esses caras nunca mergulha-
ram que é onde está o dinheiro mesmo:
licenciamentos e show. Hoje você pega as
bandas novas e os caras te falam: eu vendo
mais camisetas e bottons, que discos. É
por isso que eu falo, quando você me diz
que nós somos inovadores: a gente não é
inovador, essa jogada de fazer camiseta,
mochila, botton... isso existe desde sempre.
Dá pra brigar com a pirataria?O que dá pra se fazer pra coibir?Guerra perdida. A pirataria ensinou duas coisas
pra indústria: preço e logística. Isso não é só
falado por mim, o vice-presidente da Microsoft
esteve aqui ano passado, foi até a Santa Ifigênia
e disse que tem que se aprender com essa
molecada da pirataria, tem que se andar perto
deles. O que a meninada mais reclama de CD
é o preço! Os caras estão insistindo num preço
errado e isso só se percebeu com a pirataria
que foi fruto desse preço errado! Depois que
o negócio pegou fogo, você tem que tentar
controlar o incêndio com regras que possam
ser aplicadas, que sejam viáveis, ou vira papo
de boteco “a dialética da pirataria”. Quanto aos
downloads, uma coisa é clássica e precisa ser
dita: a internet é anárquica. Os modelos, as em-
presas, os modelos de negócio, as multinacio-
nais e grandes corporações são antianárquicas.
Cada corporação é um livro de regras. Quando
você pega o mundo dos negócios que é ultra
pragmático e junta com a internet que é anár-
quica é claro que vai dar confusão! Ou se cria
uma regra possível de seguir ou vamos ficar
eternamente nessa choradeira. Um exemplo
é a TV aberta, que é a mídia mais assistida
do Brasil e é de graça! Você compra o apa-
relho, paga a energia elétrica e está tudo lá,
é um modelo que funciona. E tem dinheiro
aí! O caminho que eu vejo é esse que a gente
usa: o patrocínio. Isso funciona em todas as
outras mídias, há de funcionar na música!
Qual é teu sonho tecnológico de produção? Eu tenho um sonho que é a gente poder
baixar DVD. A gente começou isso esse ano
no UOL chama Live Road Cast. Não tenho
tempo de acompanhar o que os outros estão
fazendo, mas outro dia vi uma cantora que
associou sua imagem à uma marca de produ-
tos de beleza. Uma coisa feita com elegância,
com beleza. Não tem nenhuma inovação em
associar o artista à marca. Bach fazia isso
com a Igreja. Dá pra gente fazer associações
honestas, sinceras, elegantes; numa escolha
de visões coesas do artista e da empresa.
Meu dia a dia é tentar aplicar as coisas que
eu gosto, e eu gosto muito de ciência, com-
pro muitas revistas sobre isso, com a arte.
Arte e ciência. ELAINE GOMES
Música é uma atividade emo-cional, precisa envolvimento”.
“
BPARA VER E OUVIRwww.tramavirtual.uol.com.brhttp://albumvirtual.trama.uol.com.br
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Como o senhor vê essas tentativas de regulamentação e cobrança das faixas baixadas na internet?O ECAD está estudando uma possibilidade de
cobrar. Como sempre, o ECAD numa sanha
avassaladora, antes mesmo de entender a
natureza jurídica de uma nova modalidade de
reprodução, quer taxar. Download nada mais
é que uma nova forma de distribuição, e se o
ECAD entende que aquele site que disponibili-
za músicas pra download deve ser taxado, por
que ele não cobrou das gravadoras que dispo-
nibilizam CDs? É a mesma coisa, só mudou a
plataforma que agora é virtual.
A mídia digital desestabilizou to-talmente o esquema tradicional do mercado?Exatamente, mudou o modelo de negócio. Eu
digo sempre, com bom humor, que a internet
foi um castigo divino da indústria fonográ-
fica que durante cem anos se locupletou dos
artistas, fez o que quis, lançou e relançou à
vontade pagando migalhas e agora chegou a
hora de lidar com a realidade. Ou ela abando-
na essa tática agressiva de processar college
raves, universidades e campi, donas de casa
e jovens que baixam música, ou ela deveria
ter investido os bilhões que tem – já que tem
muito mais que a maioria- e se adaptar às
novas tecnologias, como o iTunes fez, como o
Napster preconizou (ainda que inicialmente
de forma ilegal). A tecnologia é inexorável.
Não adianta a gente tentar se livrar dela; o
caminho é adaptação.
A Trama tem um sistema de download remunerado que fun-ciona para quem baixa, para a banda e para os patrocinadores.É um caminho inteligentíssimo de não
deixar de pagar direitos autorais e parecer o
bonzinho aos olhos da mídia, uma vez que
possibilita ao ouvinte baixar se pagar. Não
se pode punir o ouvinte. Veja o Radiohead,
Flying Lizzards e o próprio Gilberto Gil que
estão soltando teasers gratuitos. O Radiohead
teve um ou dois milhões de donwloads e
quando saiu o CD, ele já tinha cerca de seis
milhões de cópias vendidas. Isso prova que
há táticas para fazer o download funcionar,
até que ele pegue efetivamente e as pessoas
aprendam que é muito melhor baixar de
forma segura e com qualidade as faixas,
além da capa e das letras; ou poder baixar
novamente se vier com algum problema de
qualidade. Isso é muito melhor que você
arriscar seu computador baixando uma
música de qualidade ruim que pode estar
repleta de vírus. Fora estar se arriscando, já
que está cometendo um ato ilícito, a enfrentar
algum tipo de processo futuro.
A saída é a qualidade?Por exemplo, a Virgin Records acaba de
fechar sua mega loja na Times Square, que
era um divisor de águas e um termômetro
da venda de discos no Mundo, depois do
fechamento da Tower Records há três
anos. Os caras colocaram no papel e viram
que estavam muito próximos do prejuízo e
que simplesmente não valia mais sus-
tentar aquela estrutura toda pra vender
produtos físicos. Richard Branson dono da
Virgin se retirou e vai abrir um esquema
de download em parceria com as majors.
O caminho é esse, não vão sumir as lojas
de CD assim como não sumiu o vinil. O
vinil, inclusive, está fazendo um come
back muito simpático pra alguns nichos de
mercado, que não só os DJs, que sempre
preferiram as carrapetas. Como o vinil, o
CD físico vai ser uma coisa cult , um fetiche
dentro de dez, quinze anos. As gravadoras
vão ter que cortar custos, e já estão fazendo
isso depois de amargarem um prejuízo da
ordem de 30% ao ano nos últimos cinco
anos; e finalmente despedirem os “gerentes
de jardim” e “diretores de banheiro”
que tinham cargos, salários e benefícios
absurdos, em detrimento da qualidade do
investimento. Hoje a gravadora não investe
em praticamente nada, só em marketing; o
CD chega pronto. Em qualquer armário de
quarto você grava um CD de alta quali-
dade. Grava e regrava digitalmente em
quantas faixas quiser.
A gravadora tem hoje o trabalho de inserir
o artista no mercado, que é o que ela sabe
fazer bem: a distribuição. O que estamos
vendo é um remanejamento das atribui-
ções e responsabilidades das gravadoras,
que não vão morrer, mas certamente terão
de aprender a brincar.
Mas as majors estão mesmo aprendendo a brincar direito?Com muito custo, reclamando e resmungan-
do e a golpes de fórceps, mas estão. Mesmo
tentando jogar toda a culpa na pirataria...
E a pirataria? Ela realmente triunfou?A pirataria triunfou na história da humanida-
de. Nem adianta insistir com isso. Triunfou
no mundo físico, vem triunfando e triunfará
no mundo virtual. Basta você ver o seguin-
te: pra que você precisa de uma instituição
chamada polícia? Desde que as primeiras mi-
lícias foram criadas na Inglaterra no século
XVII, até as polícias organizadas de hoje? Por
que o crime certamente triunfou. Sem querer
ser pessimista, mas o crime precisa ser con-
trolado como um diabetes ou outra doença
que você não cura, mas controla. Se a polícia
é necessária no mundo físico, é sinal de que
o crime sempre esteve presente. O mal, o
ilícito, o ilegal... O mesmo que acontece com
produtos de consumo geral, acontece com
entretenimento. A gente sempre vai conviver
com a pirataria, mas há caminhos e formas.
Que caminho?O binômio qualidade e preço baixo. Hoje em
todos os segmentos da economia o caminho
pra solucionar é o mesmo. O mundo amarga
uma crise econômica e há empresas que apro-
veitaram a crise pra decolar. São empresas
que souberam extrair a gordura daquilo que
praticavam e aprenderam a subir a ladeira
com a própria crise. É parar pra ver que se
está vendendo uma coisa cara com pouca qua-
lidade... De repente há um departamento com
muita gente que pode ser remanejada, ou há
custos que podem ser diminuídos, até o preço
final pode cair. É preciso que haja adaptação.
No setor de audiovisual é preciso seguir
esse modelo, embora seja um modelo de
difícil adaptação pra esses profissionais
que se acostumaram ao luxo, ao caviar e
aos jatinhos particulares... Agora acabou a
brincadeira, acabou a festa.
A internet chegou pra democratizar, pra
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FOTO - VINICIUS GONÇALVES
advogado de
defesa?N
ehemias Gueiros Jr.é advogado especializado em Direito Autoral desde 1985, quando ingressou na antiga gravadora Discos
CBS, atual Sony Music. Exerceu car-gos de gerência e diretoria jurídica na indústria musical, passando também pela BMG Ariola, antiga RCA Victor. Atualmente, lidera o escritório Gueiros & Associados com sede no Rio de Janei-ro, prestando assessoria jurídica e con-sultoria específicas nas áreas do Direito Autoral, Propriedade Intelectual e do Show Business, no Brasil e no Exterior. Articulado, inteligente e conhecedor dos desdobramentos que permeiam cada resolução relativa ao mercado fo-nográfico, Dr. Nehemias recebeu a POP em São Paulo e falou de cultura, ética, música e política.
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______________baixar os preços e delinear de forma vertical
o acesso à cultura, à informação etc. O
mercado do entretenimento está tendo que
se adaptar a duros golpes, principalmente
aqueles que gastavam muito; mas para
alegria daqueles que não tinham esse acesso
viabilizado. É um reequilíbrio em que o
direito autoral precisa ser respeitado, já que a
primeira coisa que as novas formas de repro-
dução alvejam são os direitos autorais.
O que se percebe é que o direito autoral está quase sumindo, está sendo anulado. As novas bandas que disponibilizam faixas grava-das de forma artesanal, não têm quase nenhum controle sobre esse tipo de reprodução.É verdade, mas nesse caso, o artista está
abrindo mercado para poder ser alçado à
fama. E quando isso acontece, como aconte-
ceu com o Radiohead ele percebe que vender
discos é bom e ele passa a querer receber
por isso; e aí começa a briga... O Radiohead
já era uma banda famosa, fez isso como um
paradigma, lançou sua música como teaser
na internet de forma gratuita e com uma es-
tratégia sensacional: cada um paga pela faixa
o quanto acha que deve. Se não pagar nada,
tudo bem, se pagar uma, duas ou cinco libras
também! Só que quem pagava acima de um
determinado valor ganhava um bônus que
era mais ou menos algo assim: na hora em
que você comprar o CD físico, já ganha um
ingresso pro show e passe livre pro camarim
pra tirar fotos com a banda! Você conquista
o público com bônus, como faz uma linha
aérea; cria um programa de fidelidade. São
as boas e velhas estratégias de marketing que
funcionam há muito tempo, não são nenhu-
ma novidade. Apenas estão sendo aplicadas
no novo e maravilhoso mundo da internet.
Eu sou um eterno otimista. Com toda a
turbulência que a tecnologia causa quando
chega, ela é inexorável. Eu vejo um mercado
adaptado pro download e pro CD físico daqui
a cinco, dez anos. Os modelos já estão aí. As
majors, ainda que se fundam, não vão sumir,
mas vai haver um remanejamento de preço,
qualidade e acesso; essa é a realidade.
O mundo mudou sua velocidade, hoje é tudo mais acelerado. E é incrível que o setor que mais tenha resistido, tenha sido justa-mente o do mercado fonográfico, onde supostamente deveriam es-tar os executivos mais antenados, mais abertos ao que é moderno.Modernos, antenados e muito bem posicio-
nados financeiramente. Eu realmente não
entendo o que deteve esses jovens executivos
a patinarem por tanto tempo, e ainda pati-
nam até hoje, e a adotarem e recorrerem à
medidas drásticas e agressivas, policiais e ju-
diciais, quando podiam ter sido líderes nessa
mudança de paradigma. Acabaram deixando
isso pro Steve Jobs, que tinha muito menos
recursos que as majors, mas teve visão e fez
o iTunes e criou um novo sistema a partir do
paradigma desenvolvido pelo Napster.
O que eu costumo dizer é que a indústria
perdeu o trem. Quando chegou à estação o
trem já tinha partido. A cultura do milhão
tem que mudar. Só se apostava no que rendia
um milhão: Sandy & Junior, Roberto Carlos,
Madonna. Tudo que era novo e chegava era
engavetado, os caras só se interessavam pela
venda garantida, pelo fácil.
Também tinha o egocentrismo e a sensação do poder de decidir o que o resto do mundo vai ou não vai ouvir...Certamente, e quanto mais alto, maior o
tombo. Os novos nichos, tudo isso de genial e
novo que está começando como os meninos
dos Móveis Coloniais de Acaju, por exemplo,
afloraram graças à internet e sua capacidade
de fazer circular informações. Veja a riqueza,
a pluralidade, a diversidade de gêneros
musicais que temos aqui. E vamos centra-
lizar nossa conversa só aqui no Brasil: veja
tudo o que estava completamente engave-
tado, impossibilitado de existir pela cultura
analógica que vigorava. Hoje temos bolsões
musicais que anteriormente não tinham a
menor possibilidade de chegar até o sudeste.
Eu vejo esse remanejamento como positivo
é como se as gravadoras tivessem que voltar
pra escola (como acontece com a gente quan-
do estoura o número de pontos na carteira
de motorista). Elas estouraram e foram
obrigadas a voltar pra escola e reaprender
aquilo que elas ensinaram ao mundo. Isso
é incrível, desde Caruso, um dos primeiros
discos gravados, que assinou um contrato
de três linhas: “eu cedo para a RCA Victor
eternamente meus direitos”. Essa arrogância
esses contratos escravocráticos, isso tinha
mesmo que acabar. Essa reeducação é muito
positiva, e necessária. A transição está longe
de ser concluída, mas já mostrou que atrai
investimento, que gera receitas e que veio
pra ficar.
A questão de baixar ou não bai-xar faixas gratuitas pela internet vem sendo bastante discutida e é muito defendida, principalmente pelos jovens; mas vai diretamen-te de encontro à ética. A juventu-de brasileira não tem ética?A questão ética é muito séria e ela só aflora
quando a pessoa é vítima de um comporta-
mento antiético. Essa meninada que hoje
age como se isso não fosse importante vai
crescer, amadurecer e entrar no mercado
de trabalho, onde naturalmente, de uma
forma ou de outra, essa consciência ética e
profissional vai aflorar. Não tenho mui-
ta preocupação com isso. A fase rebelde,
desobediente e irreverente da juventude
esteve presente na vida de todo o adulto, é
só uma questão de tempo.Essa juventude vai
amadurecer e aprender por bem ou por mal
que as questões éticas são necessárias em
qualquer segmento profissional e pessoal. No
entretenimento não será diferente.
Legislação punitiva pra download então é uma bobagem?Eles estão tentando mudar a lei autoral, há
uma comissão empenhada em mudar essa
lei pela terceira vez, a lei 9.610. Querem
acabar com a figura do distribuidor, e é uma
besteira! Estão sendo mal assessorados e
mal conduzidos, achando que farão com que
a internet se ajuste aos seus interesses. O
próprio governo, em suas esferas jurídicas,
tem pouco conhecimento do direito autoral.
A internet nada mais é que uma ferramenta
de comunicação. É verdade que ela é veloz, é
inigualável, a maior biblioteca que se tem no-
tícia na história da humanidade ao toque de
um mouse, mas ela continua sendo apenas
uma ferramenta de armazenamento e trans-
missão de informações. A lei é que precisa se
adaptar à modernidade da internet e não o
contrário. A natureza do ilícito é a mesma no
mundo real e no virtual. É errado esse pensa-
mento de que a internet precisa de novas leis,
as leis é que precisam se adaptar a ela.
Um dos problemas dessa regu-lamentação é que alguém terá a autoridade e não existe mais di-visão geográfica no mundo com a internet.Não há mais territorialidade nem jurisdição,
essa questão é fundamental. Mas ainda assim
há subdivisões no cyber espaço; e há como
trabalhar nisso. Acho que dentro desse futu-
ro próximo uma das adaptações legislativas é
a possibilidade de rastreamento mais eficaz.
De onde partiu e para onde seguiu? Quem é
o provedor? Quem é o beneficiário?
Quem não pagou e quem não recebeu? É
preciso localizar a origem e o fim das mensa-
gens, envio ou reprodução. É uma questão de
identificação das ações. Vai ser mais difícil, é
claro, mas precisa ser feito. Vai exigir que se
criem novas tecnologias? Sim, mas isso tudo
faz parte da adaptação que não foi feita até
então e agora tem que correr pra alcançar as
ações. Ontem o ECAD apresentou na pales-
tra feita na OAB, uma nova marca d’água,
um novo fingerprint que estará funcionando
já no final do ano e que permitirá rastrear
uma música em qualquer mídia onde ela
esteja sendo reproduzida. Vai cair como uma
luva ou como uma bomba, dependendo do
lado em que a pessoa está! O ECAD vem
aumentando sua arrecadação em cerca de
25% ao ano. Arrecadou R$320 milhões só
no ano passado, mas também redistribuiu
uma parcela maior (eles redistribuem 75%
do que arrecadam). Ainda assim é injusta,
pois o ECAD tem 150 mil afiliados e só 75 mil
tocam nas rádios, é uma ditadura que tem
que ser combatida.
A ditadura das rádios? Combater de que maneira?É preciso que se acabe com a concessão
de emissoras de rádio para políticos. Se
você tenta regulamentar a execução, no dia
seguinte, como num passe de mágica, um
projeto de lei isentando esse pagamento
é aprovado! Enquanto o Brasil, a Anatel e
a ANAC continuarem concedendo as con-
cessões de rádio e TV para os políticos isso
não vai acabar. Os mecanismos devem ser
combatidos e envolvem muito mais coisas
que sequer imaginamos. Não entendo o
motivo da imprensa não combater esse
tipo de prática.
É que os jornais também têm donos... Lá na nascente do rio a coisa tem que ser
feita para que o curso da água se mantenha
limpo e claro. ELAINE GOMES
A internet chegou pra de-mocratizar, pra baixar os pre-ços e delinear de forma ver-tical o acesso à cultura, à infor-mação etc.”
“Agora acabou a brincadeira, acabou a festa”
“A tecnologia é inexorável. Não adianta a gente tentar se livrar dela; o caminho é a adaptação.”
“FOTO - VINICIUS GONÇALVES
sinfoniarobótica“Um dia os homens vão criar máquinas e, através de números, vão expressar emoções” Ada Lovelace
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A música é uma arte milenar. Desde sempre o homem procurou expressar-se através de sons melodiosos. Carregada de senti-mentos, a música pode representar o que se passa, ou se passou, na mente e coração
de quem a compôs.Seria possível, então, que seres desprovidos de emoção pudessem compor e executar canções? Jônatas Manzolli, professor e pesquisador da Unicamp, responde: sim. As composições musicais feitas por robôs são objeto de estudo deste paulista nascido em Campinas.
coMBINaÇÃo MateMÁtIcaMúsica e matemática, à primeira vista,
podem parecer coisas bem antagônicas.
Mas basta um olhar mais aprofundado
para descobrir que, na verdade, são com-
plementares.
Os programas de computador são
capazes de inúmeras possibilidades. Para
isso utilizam funções matemáticas que são
chamadas de algoritmos. “Você usa uma
função modelo matemática, esses modelos
geram certas saídas e essas saídas tem
características musicais. Dessa forma você
pode compor em estilo”, explica Jôna-
tas. “Então você faz um estudo do estilo
de composição e tenta desenvolver um
processo algorítmico que crie padrões que,
de uma certa forma, se parecem com os
padrões definidos pelo estilo. Então você
acaba tendo uma representação do proces-
so criativo num programa de computador,
você sintetiza a ideia da composição”.
Para tentar compreender melhor essa
linguagem basta entender que tudo o que
fazemos, todas as nossas ações são algo-
rítmicas. Os algoritmos são como receitas
que explicam passo a passo o que devemos
fazer para executar uma tarefa. São
instruções mandadas pelo nosso cérebro
numa seqüência lógica, finita e definida.
Utilizamos algoritmos o tempo todo, de
forma intuitiva e automática, na execução
de tarefas diárias e corriqueiras.
Mas se o computador pode dispensar
a presença do compositor, se a música
pode ser feita apenas por representações
numéricas, onde entram as emoções? E
o lado humano? Números são tão frios...
Jônatas logo argumenta “Eu tenho plena
convicção de que isto é uma representação.
O computador compõe sozinho, de acordo
com regras que foram criadas. Só que aí,
esses modelos podem ganhar várias possi-
bilidades. Uma possibilidade, por exemplo,
que foi o que eu desenvolvi no meu dou-
torado, é que agora esse sistema pode ser
gestualizado. O que isso quer dizer? É você
colocar uma interface que controla alguns
desses parâmetros do próprio computador
e modifica a música no momento em que
ela está sendo tocada”.
Neste momento, acontece um fenômeno
nunca antes experimentado no universo
musical: o momento da composição e da
execução é um só “Isso é um novo paradig-
ma. A música só existe no tempo. O tempo
de criação, o tempo de execução... todos
esses tempos são diferentes. E a gente
chama isso de tempo diferido. Cria num
momento, executa em outro. Agora, se você
tem um tempo para criar ou você coloca
essa criação, não da forma de um processo
impresso ou de um processo gravado, mas
de forma aberta, você tem coisas que se
encontram como num jogo”, explica Jôna-
tas. “O momento de criação e de execução
é o mesmo. O cara que ouve é o mesmo
cara que toca, ele participa do processo de
criar, executar e ouvir. Coisa que, também,
o compositor faz. Quando o compositor
Compositor e matemático, é o coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS), UNICAMP. É Bacharel em Matemática (1979-84) e Música (1982-87) e Mestre em Matemática Aplicada (1986-88). Graduações e pós-graduação realizados no IMEEC, UNICAMP. Obteve seu PhD em Composição Musical (1988-93) na University of Nottingham, Inglaterra. Especializou-se em Música Com-putacional (1991-92) no Sonology Institute, The Hague, Holanda. Sua pesquisa concentra-se nas aplicações de
modelos matemáticos de sistemas complexos em composi-ção algorítmica, síntese sonora digital, desenvolvimento de sistemas interativos e interfaces gestuais. Suas composições e performances multimídia têm sido apresentadas no Brasil, Europa e EUA. É membro da Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (SBME), da Sociedade Brasileira de Compu-tação (SBC), participa do Núcleo Brasileiro de Computação e Música (NUCOM) e do Grupo de Auto-organização do Centro de Lógica CLE, UNICAMP.
Quem é Jônatas Manzolli?
Se o computador pode dispensar a presença do com-positor, se a música pode ser feita ape-nas por represen-tações numéricas, onde entram as emoções?
Para começar, é necessário um estudo do estilo de composição que se deseja. O computador trabalha com padrões pré-estabelecidos, ele representa o processo criativo num programa, no qual é possível sintetizar a ideia da composição. Isso se dá através de funções matemáticas chamadas de algoritmos. São os algoritmos que definem qual o formato, a partitura musical.
A composição algorítmica passa a ter características humanas quando é possível intervir na criação no momento em que ela está ocorrendo. Gestos feitos por usuários passam a controlar os rumos da composição.
Um pequeno robô foi criado e, medindo a variação da luz e a proximidade de obstáculos, era capaz de gerar seqüências melódicas. Para isso, utilizava sensores infra-vermelhos que se localizavam ao redor de seu corpo circular. De forma simples, o robô procurava a luz e fugia de obstáculos. Esta combinação de estímulo e movimento modificava o padrão sonoro executado ao vivo pelo computador.
O espaço da criação se ampliou e passou a ser uma sala inteligente que intera-gia com os visitantes através de redes neurais artificiais, com sensores capazes de identificar o sentimento das pessoas e, por seus movi-mentos, transformá-los em sons e luzes. Daí para um comportamento semelhan-te ao da genética, um robô ganhou autonomia para que pudesse determinar o que é interessante na trajetória de outros robôs.
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4a sINFoNIa roBótIca eM 4 coMPassos
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_______está compondo uma peça no piano, toda hora
ele ouve e imagina... Só que ele vai e volta. Do
ponto de vista matemático, a gente chama isso
de processo reversivo. Você pode voltar. Por-
que o tempo que você cria não é igual o tempo
que você escuta a peça. Você pode voltar nesse
tempo de criação, refazer e tal. Neste paradig-
ma, não. É irreversível. E cada vez que você
fizer essa peça ou interagir com esse objeto,
terá uma música diferente”, completa.
Além disso, as partituras criadas não
são escritas. São algoritmos perfeitos que
nunca poderão ser reproduzidos.
As experiências com robótica e neuroci-
ência aplicadas à música, podem criar um
novo paradigma na produção e comer-
cialização desta forma de arte. As figuras
passam a mudar, a composição deixa de
ser fechada, individual, e passa a ser coleti-
va e carregada de possibilidades. Ainda não
há uma forma de transformar esse tipo de
produção musical com pouca, ou nenhu-
ma, interferência humana em algo rentável
e atrativo para o mercado. Num mundo
que gira em torno do capital, os robôs vão
ter que esperar para que suas composições
sejam reconhecidas e desejadas.
INterFaces gestuaIsNa interface criada por Jônatas, em 1990,
os gestos são responsáveis por direcionar
a criação musical que está sendo executa-
da pelo computador. Como? Ele explica:
“Todo gesto tem um significado. Você faz
gestos diferentes quando está triste ou
feliz. Esses números, que se eu deixasse
sozinho iam compor alguma coisa, eles
passam a ter variedade que é dada pelo
significado da interação, do gesto, de um
usuário sobre o algoritmo. Assim conse-
guimos humaniza-lo”. Jônatas criou uma
luva. “Qualquer movimento feito pelas
mãos ganhava um significado, e aí, então,
o computador criava uma relação entre o
movimento, o gesto e a saída do som. En-
tão, por exemplo, podia ser um movimento
de expansão e contração e você ouvia um
som que ficava mais forte ou mais fraco.
Ou, um movimento de dedilhado e você
ouviria um som, que tocaria uma escala”.
Ele regia o computador.
roBoserEm 1998, Jônatas foi novamente pioneiro
e, numa iniciativa inédita, colocou um robô
para controlar o som. É uma aplicação de
robótica à composição algorítmica. Nela
um pequeno robô gera sequências melódi-
cas utilizando sensores infravermelhos que
se localizam ao redor do seu corpo circular.
O robô, ao movimentar-se, mede a varia-
ção da luz e a proximidade de obstáculos.
Na presença de intensidade luminosa,
aproxima-se da fonte de luz. Na proximi-
dade de obstáculos, afasta-se deles. Esta
combinação de estímulo e movimento mo-
difica o padrão sonoro executado ao vivo
pelo computador. A sucessão de eventos
musicais gera uma pequena improvisação
que reflete a exploração do meio ambiente
feita pelo Roboser. Com o Roboser, Jôna-
tas criou um conceito chamado de “Objetos
e Afetos”, uma análise sobre a capacidade
que os humanos têm de colocar função
emocional em objetos inanimados.
aDaRealizado em 2002, na cidade suíça de
Neuchatel, a exposição ADA contou com
pesquisadores de seis países. Jônatas era
o representante brasileiro. Custando, em
média, seis milhões de libras suíças, a
ADA era considerada uma sala inteligente.
Projetada com sensores controlados por
computadores que interagiam com os visi-
tantes através de redes neurais artificiais.
Essas redes recebiam estímulos externos
para fazer, em tempo real, a leitura dos
sensores, transformando a expressão do
movimento das pessoas em sons e luzes.
Na ADA todo o espaço era interativo. A
instalação trabalhava com o conceito de
emoções sintéticas. Os níveis de interação
eram diversos, e o sistema variava sua pro-
dução de acordo com diversos fatores que
estão no movimento da face das pessoas,
a posição, a quantidade de movimentos, a
pressão que ela exerce no chão... Isso tudo
é gesto, e o sistema olhava para todos esses
gestos e tirava deles um produto afetivo.
auralComposto por um conjunto de 4 robôs –
um grande e outros três menores – repre-
sentando o gesto, que, neste caso, é uma
trajetória. No Aural, através de traços sim-
ples desenhados numa interface gráfica,
o usuário envia uma trajetória a um robô
que, ao se locomover, dispara um processo
de produção sonora. A interação com
outro robô, movimentando-se livremen-
te no ambiente, modifica a execução da
seqüência, usando um algoritmo chamado
algoritmo genético. Jônatas explica “Aquilo
que controla a música olha para a traje-
tória dos robôs como se fosse informação
genética, assim como na natureza. É uma
evolução do algoritmo, um aprimora-
mento. O computador é programado de
forma a se comportar como se comporta a
genética”. O robô grande era responsável
por selecionar o movimento, o gestual dos
robôs. Era como uma seleção natural, onde
o mais adaptado sobrevive, mas os outros
continuam sobrevivendo. “O som está
dizendo aqui ‘ó, essa cara aqui é o melhor,
neste momento’. As coisas vão acontecendo
e a interface pode perceber que mudou de
preferência”, conclui Jônatas.
CLAUDIA URBANISKI
Num mundo que gira em torno do ca-pital, os robôs vão ter que es-perar para que suas composi-ções sejam re-conhecidas
B SAIBA MAIShttp://www.nics.unicamp.br
A internet melho-rou muito o acesso à música. Agora con-sigo baixar a música que ouvi no rádio hoje de manhã, sem necessariamente precisar comprar o CD, e fico sabendo das novidades do mundo da música muito mais rápido. Isabella Fassina, 21 anos, estu-dante de Fotografia
Nossa, difícil pensar assim.. eu prefiro comprar o cd do que comprar uma música na internet. Mas se eu soubesse que seria uma música inédita da banda X e que não ia conseguir de jeito nenhum, talvez eu comprasse... não sei.Marcelo Seabra, 20 anos, estudante de artes plásticas.
A melhor ferramenta pra música é o Orkut.Nele existem comunidades que fornecem os links para o download da música ou do cd inteiro mesmo.Outro jeito que uso frequentemente é o Youtube,eu assisto algum clipe da música que eu quero e quando quero outra musica eu procuro outro clipe. João Pedro de Lia Catelan Sabino, 16 anos, estudante.
A tecnologia melhorou o acesso à raridades. Para-doxalmente, selos que trabalhavam cm raridades fa-liram... Mas hoje ficou muito mais fácil. Quando era adolescente, ficava anos para descobrir uma banda e levantar sua discografia completa. Hoje, em horas você faz isso com a internet. Eduardo da Rocha Marcos, 38, professor universitário.
elesbaixam! A opinião de quem baixa MP3
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festacompleta
Quando se escuta pela primeira vez não há quem não arrisque um ‘parapapa’.
Não é preciso decorar as letras das músicas para cair no ritmo dos brasi-lienses da banda Móveis Coloniais de Acaju. Assim que sobem no palco, os rapazes, nove para ser mais exata, passam um espírito de jovialidade e é impossível ficar parado. A banda de pop-rock foi formada em 1998 e veio para o cenário musical com a vontade de fazer o novo. Na composição, os jovens brasilienses, André Gonzáles (voz), BC (gui-tarra), Beto Mejía (flauta transversal), Eduardo Borém (gaita cromática e teclados), Esdras Noguei-ra (sax barítono), Fabio Pedroza (baixo), Fabrício Ofuji (produção), Gabriel Coaracy (bateria), Pau-lo Rogério (sax tenor) e Xande Bursztyn (trombo-ne), pode ser confundida com outras bandas, sem-pre misturando estilos, que vão do rock e passam pelo ska até chegar à reverenciada MPB.
asceNsÃo eM FestIvaIsA banda começou fazendo muitos shows em Brasília. Participavam de bailes de formatura, shows de diversos estilos musicais, festivais, tudo que aparecesse: lá estavam eles. Em 2003 surgiu a grande oportunidade: foram escolhidos como a única atração local do palco principal do Brasília Music Festival, onde tocaram com nomes como Live, Ultraje a Rigor e Char-lie Brown Jr. A partir daí, sentiram necessidade de gravar um disco.
Idem, o primeiro álbum dos garotos, foi gravado em outubro de 2004. O disco reunia 12 das melhores composições da banda na época. Com o disco, a banda passou a investir mais em apresentações fora de Brasília, nelas vendiam CDs, cami-setas e botons personalizados. Logo nessa primeira oportunidade se cadastraram no site Trama Virtual, que acompanhou de perto a evolução dos meninos, dando um espaço no site, divulgando o grupo e patrocinando eventos.
Pelo single Sem Palavras, a banda garantiu a 21° posição do ranking das 50 melhores músicas do ano pela revista Rolling Stone. Segundo os integrantes da banda, eles devem essa conquista aos downloads gratuitos, que, consequente-mente aumentaram o numero de vendas do álbum. O nome comprido e muitas vezes confuso, teve origem com o intuito de ser diferente. Por isso, logo de início, adoraram o grandioso Móveis Coloniais de Acaju. Sonoro e diferente, trata-se de uma homenagem a um “obscuro episó-dio da história do Brasil, a Revolta do Acaju”. Segundo eles, em 1813 os índios javaés, que tradicionalmente usavam a madeira de acaju (cedro) para produzir móveis em estilo colonial, se uniram aos portugueses para expulsar da Ilha do Bananal (no atual estado do Tocantins) invasores ingleses que se apoderaram da região – um episódio que lembraria a
Batalha dos Guararapes, no século XVII, em que os holandeses foram derrotados por uma união de portugueses e brasi-leiros. Além da estranheza, o nome já trouxe muita confusão. A revista Época, recentemente, publicou uma matéria dizendo que a Revolta do Acaju nunca aconteceu. E acusou a banda de fazer um trote grosseiro que desrespeita os índios e as pessoas que acreditam na história. Por isso a banda lançou a campanha Eu acredito na Revolta do Acaju, que além dos fãs, já tem muito adeptos do mundo das mídias como o jornalista Marcelo Tas. Atualmente, a banda se dedica a divulgação do novo álbum C_mpl_te (confira a resenha na página X), tam-bém com 12 faixas (página X). Que tem como single as músicas O Tempo e Falso Retrato. ARIANE MAZZA
O nome trata-se de uma homenagem a um episódio da histó-ria do Brasil
A principio um show comum, palco enfei-tado com o tema do álbum mais recen-te, muita gente na plateia e uma gritaria sem fim pelo começo da apresentação. Quando os rapazes entram no palco o clima esquenta e é possível ouvir todas as vozes em um coro cheio de melodia. A energia dos integrantes parece nunca ter fim e eles sempre contam com a participação dos fãs em todas as musicas com uma eterna cantoria. Quando chega a vez da conhecida música Copacabana, banda e plateia se tornam um só. Uma roda no meio do publico é formada e abrigada pelos representantes do Móveis. Eles já têm uma coreografia ensaiada que, misteriosamente, até quem nunca foi a uma apresentação dos meninos con-segue dançar sem errar um passo. Assim é formada uma banda com incontáveis integrantes, todos milagrosamente sincronizados.
BPARA VER E OUVIRwww.myspace.com/moveiswww.moveiscoloniasdeacaju.com.br
FOTO - ARIEL MARTINI
Sincronia eletrizante
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– Bota pra f...., bota pra f...., bota pra...
É assim que a platéia convoca a trupe. Os
músicos no camarim estão prontos, todos
vestidos com roupas de caveira. Um último
gole na bebida e vamos ao Rock n’ Roll.
Em um telão no fundo do palco, aparece
um poema de Baudelaire. “É preciso estar
sempre bêbado. Tudo se reduz a isso...” O
poema invade o ambiente narrado por Pau-
lão (Paulo de Carvalho, 44). Quando acaba,
já estão no palco: Alexandre Dias (Cavalo)
e Roy Carlini nas guitarras, Tuca Paiva no
baixo, e Simon Brown na bateria. Quatro
batidas no chimbal e o show começa.
Todos os instrumentos martelam o riff,
luzes acendem, Paulão aparece, com seus
cabelos compridos, barba descomunal,
vestido como um Pirata, cetro com uma ca-
veira em uma mão e microfone na outra...
– Cu-ba-najarra! Cu-ba-najarra! Cu-ba-
najarra!... – Canta chamando, e a platéia
chega junto – Hoje é segunda a balada é
muito louca, tira a mosca da minha sopa eu
vou tomar cubanajarra...
Daqui pra frente vai ser assim: Paulão
troca de roupa e encarna vários persona-
gens (de travesti a padre) até ficar de cueca
samba-canção, joelheiras e cotoveleiras,
banhado em cerveja – literalmente – e
assim conduz a platéia em uma viagem
louca durante o show. Juliana Kosso (voca-
lista, ex-Patotinhas) sobe no palco e, como
Paulão, troca de roupa várias vezes e faz
diversos papéis, como a Mulher do Diabo.
A forma é o Rock n’ Roll, com grande in-
fluência do Blues. O conteúdo é o universo
da boemia; homens caçando mulheres,
mulheres enrolando homens, as maldades
delas com eles, muita irreverência, macaca-
das no palco e tiradas bem humoradas.
Com 23 anos de estrada, Velhas Virgens
tem oito álbuns lançados, três DVDS,
biografia, documentário, quadrinho, uma
média de 100 shows por ano e o recorde
de público de 45mil pessoas na Virada
Cultural (2009). Foi a primeira banda
independente a lançar um DVD, ter uma
marca própria e a lançar um álbum comer-
cializado em bancas de jornal. Como fazer
isso sem o poder das majors? A receita é
simples: parcerias, bons shows e proximi-
dade do público.
Em 1986, Paulão resolveu aprender bai-
xo. Na escola de música conheceu Cavalo,
estudante de violão clássico e guitarra.
Juntos montaram a banda e a dúvida apa-
receu: como chamá-la?
“Perguntei se ele (Cavalo) já tinha
algum nome”, lembra Paulão. ”Ele disse:
Sim, Convenção de Bruxas. Eu disse: Ba-
cana. Também tenho um, Velhas Virgens...
Na verdade eu não gostava tanto assim de
Velhas Virgens, se ele não gostasse nem
iria insistir, mas ele gostou’” E assim come-
çou a odisséia.
Gravaram uma demo e se envolveram
com a Prise Records. Essa parceria resul-
tou no primeiro golpe do mundo musical.
A gravadora pegou o CD, ficou dois anos
com ele na gaveta, não lançou e ainda fez
‘um acordo’ com a banda pra devolver o
material mediante pagamento... Depois
disso, lançaram mais um disco pela Velas
antes de fundar a Gabajú Records.
INDePeNDÊNcIa ForÇaDa“Nossa independência não foi escolha, foi
falta de... Ninguém absolutamente queria
lançar a gente.
Era sempre assim: ‘Velhas Virgens? Vo-
cês não querem mudar o nome?’ ou: ‘Vocês
não querem mudar o estilo das letras?’”
Bater o pé foi o melhor a fazer; eles entra-
ram no universo da música independente
quando não tinha muita gente.
Eles têm um esquema de marketing
próprio que funciona bem: todo show tem
uma ‘lojinha’ se vende a Pirataria Auto-
rizada da Velhas Virgens. Os itens vão de
álbuns, abridores de garrafa, canecas e
calcinhas além do que é vendido no site.
A distribuição dos álbuns é feita pela
MMF de Curitiba. As tiragens são peque-
nas, uma media de três mil unidades, o
que dificulta a logística. O conteúdo das
letras,além de diferente do que circula no
mercado, e aparentemente machista, é
uma grande brincadeira com a caricatura
de roqueiros popstars. Um dos exemplos é
a música Se Deus não quisesse, que repete
“se Deus não quisesse que a gente bebes-
se/” colocando justificativas como: “não
tinha criado o fígado, o lúpulo e o malte”;
ou “não teria feito a mulher, os chifres e a
solidão”.
ProDutor escorraÇaDoPolêmica: que história é essa da briga
com um produtor? – lei do jornalismo,
perguntas delicadas no fim da entrevista –
resposta:
“A gente teve uma treta com o Pena
Schmidt. Ele tinha uma gravadora que
lançou várias bandas ‘estouradas’ na época.
Vi trezentas bandas estouradas que não
duraram um ano, nós somos a banda podre
que ta viva há 23. Enfim, levamos uma fita
da gente pra ele e foi assim:
– Não quero receber, não conheço sua
banda. Trabalho com isso há não sei quan-
to tempo e não conheço vocês. Se eu não
conheço é porque não existem. Eu conheço
todas as bandas do Brasil.
– Mas no senhor não quer dar uma
olhada?
– Olha, quer ganhar dinheiro, ser
alguém? Vai fazer outra coisa, se não você
vai se foder. Vai gastar o seu dinheiro, ven-
der o carro da sua mãe, a casa, colocar o
dinheiro na banda sem saber se vai voltar.
Agora, quer um conselho? Esquece o disco,
esquece tudo, faça um bom show. Fazendo
um bom show, as pessoas vão te pagar por
isso; você vai ganhar dinheiro, fazer boas
demos e acabar andando.
Falando isso ele mudou nossa vida. Na
hora, ficamos muito putos, mas ajudou. Ele
só pisou na bola quando disse que estava
abrindo um selo chamado Tinitus e que só
ia gravar bandas que eram lendas nas suas
cidades. Nenhuma banda que ele lançou
está viva até hoje. Vai tomar no..., Pena
Schmidt, nós somos as Velhas Virgens!”
VINICIUS GONÇALVES
velhas virgens:A
s pessoas acham que discutir política é engajamen-
to; acho que discutir relacionamento é mais dura-
douro. Falamos de uma coisa que está aí faz anos:
os homens e mulheres não se entendem. Falar de
algo duradouro como relacionamento, amor e sexo
está fora de moda. A grande verdade é que tudo que você faz é
pra ver se come alguém. Você não arruma um emprego legal
pra impressionar seu amigo...” Essa é uma das aspas de Pau-
lão, vocalista das Velhas Virgens, em uma entrevista concedi-
da à POP. Nas linhas que seguem, apresento:
comendo quem a gente puder!
BPARA VER E OUVIRwww.velhasvirgens.com.brwww.myspace.com/velhasvirgens
“
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nãopreçotem
os seminovos Velhos são Chi-co, Edu Lobo, Caetano e Gil... Novos? Mallu Maga-
lhães, Maísa, Jonas Bro-thers e Hanna Montana... Eles são Os Seminovos. Uma banda que saiu de Uberlandia (MG) e, com a internet, caiu no mundo, chegando a ir ao Progra-ma do Jô e Domingão do Faustão. Seus clipes bem humorados viraram spam (Eu sou Emo e Festa de Arromba), propaganda na Alemanha (Ao Mestre com Carinho) e ainda levaram o prêmio de Web Hit do Ano (Escolha já seu Nerd) no VMB 2009. E o melhor, sem cobrar um centavo pelas músicas.
orIgeM uNDergrouNDEram roqueiros oriundos dos anos 80
que tentaram viver o sonho da música na
década perdida. Como não deu muito certo,
resolveram, em pleno século XXI, voltar
pra fazer rock quarentão simples, crítico e
divertido. Nessa lacuna de mais de 20 anos,
cada um seguiu um caminho. Mas nem por
isso desistiram da música. Eles são: Neto
Castanheira e Tchana (Luciano Camargo)
nas guitarras, Neto Fog vocal, Alex Mororó
bateria, e Maurício Ricardo no baixo. Músi-
cos que saíram do mundo geek e chegaram
ao Pistolão no Domingão do Faustão tudo
graças à internet, ao download gratuito e
aos fãs, mas me adianto na história.
Ainda vivendo o sonho de serem mú-
sicos nos anos 1980, dois deles, Tchana
e Castanheira, foram para Londres, onde
gravaram discos em inglês e tocaram em
locais sagrados na história da música como
o Round House. Outros ficaram por aqui
e não foram muito longe, musicalmente
falando. No final, desistiram do sonho e se-
guiram outros caminhos. Maurício Ricardo
virou chargista e jornalista, abriu um site
de humor que foi a porta de entrada para a
banda no mundo virtual.
A idade dos roqueiros varia de 30 a 40
anos. Não dava pra batizar a banda com
outro nome além de Os Seminovos. Como
eles dizem: “roqueiros usados, mas em
ótimo estado de conservação.” E o mais
legal, a banda nasceu, ‘por acidente’ no
Programa do Jô.
Festa De arroMBaMaurício Ricardo costumava fazer pa-
ródias de músicas para suas animações
(www.charges.com.br). Um dia, com Neto
e Alex, fizeram uma paródia de Festa de
Arromba criticando o caso do Mensalão.
Diferente do de costume, Maurício dispo-
nibilizou o download gratuito da música
ao invés de fazer a charge. Não deu outra,
bombou. Foi um sucesso tão grande que
rendeu até um convite para ganhar ‘um
beijo do gordo’ ao vivo. Nascia o embrião
do que seria a banda.
“Vejam só que festa de arromba/ fez a
turma do Mensalão/ pra festejar os saques/
dos cofres da união/ e dividir a grana/ que
roubaram do povão”. O programa passou,
o vídeo virou um spam tão enviado, que até
o Erasmo Carlos recebeu. Porque não apro-
veitar a bagunça do mercado fonográfico
para montar uma banda e seguir disponibi-
lizando o download gratuito? As gravado-
ras estão ruindo com o avanço da internet,
do mp3 e das redes P2P (kazaa, limewire,
Torrents, etc). As pessoas não têm mais o
costume de pagar por música. Porque não?
Cultura não tem preço mesmo. Continua-
ram com o projeto.
Convidaram Fog e Tchana para comple-
tar a banda e foram compondo e disponibi-
lizando as músicas. Todas com uma grande
veia humorística. A primeira música feita
pela banda como um todo foi Do tipo I
Love you, uma paródia de Drive my car,
do quarteto fantástico, Beatles. Depois de
um tempo, fizeram o álbum Não tem preço
primeiro da banda. Tudo gratuito. Até a
arte da capa está no arquivo do download.
É só baixar e montar o CD. Hit atrás de hit,
a banda foi traçando seu caminho na inter-
net. Músicas como Eu sou emo, que satiriza
um tipo de roqueiro sensível – com mais de
80mil downloads e 1,6milhão de exibições
no youtube – e E o bambu? – música que
sacaneia a histórica piada que fizeram com
o Silvio Santos – viraram spam de tão en-
viadas por e-mail. Conseqüência da grande
quantidade de acessos, a banda acabou indo
para o Garagem do Faustão. Detalhe: quem
inscreveu a banda no quadro não foram os
integrantes e sim os fãs.
Hoje com dois álbuns lançados, a banda
tenta dar o terceiro passo, sair em turnê. Com-
por as músicas e disponibilizá-las de graça na
web, coisa que já fazem parte do cotidiano.
Agora sair em turnê pelo Brasil é o desafio,
just do it. “Hey, hey. Que onda, que festa de
arromba”. VINICIUS GONÇALVES
BPARA VER E OUVIRhttp://charges.uol.com.br/seminovoswww.myspace.com/osseminovos
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Um território remoto com uma cultura distante... Assim é Be-
lém do Pará. De lá vem o Tecnobrega, um estilo musical oriundo da peri-feria, marginalizado pela grande indústria. Mais que um estilo, o Tecnobre-ga derrubou paradigmas e instaurou uma nova forma de se produzir e distribuir música.
Apropriando-se das novas tecnologias, os
artistas deste ‘movimento’ utilizam-se do
acesso a equipamentos e computadores para
montarem, no próprio quintal, estúdios
caseiros nos quais gravam suas músicas e as
multiplicam em CD’s e DVD’s que distri-
buem nos mercados populares e camelôs.
Para divulgar as músicas existem as
famosas “festas de aparelhagens” – grandes
estruturas de sonorização e iluminação, nas
quais os DJ’s lançam artistas e ditam as ten-
dências musicais. Se o DJ toca uma música,
ela certamente se tornará um sucesso. Com
isso, os artistas são contratados para se apre-
sentar ao vivo e, no final, vendem diretamen-
te ao público milhares de CD’s e DVD’s.
Esse mercado de venda direta não compete
com a venda por camelôs. Em geral, o produto
é mais caro quando vendido nos shows.
Ronaldo Lemos – um dos autores do livro
Tecnobrega - explica, simplificadamente,
como funciona o mercado: “São, basica-
mente, sete etapas: 1) Os artistas gravam em
estúdios próprios ou de terceiros; 2) As me-
lhores produções são levadas a reprodutores
de larga escala e camelôs; 3) Ambulantes
vendem os CD’s a preços baixos, compatí-
veis com a realidade local, e os divulgam; 4)
DJ’s tocam nas festas; 5) Artistas são con-
tratados para shows; 6) Nos shows, CD’s e
DVD’s são gravados e vendidos; 7) Bandas,
músicas e aparelhagens fazem sucesso e
voltamos ao início do ciclo”.
cavalo MaNco e MIlIoNÁrIoOs precursores desse modelo de comer-
cialização são a dupla Joelma e Chimbinha,
da banda Calypso. Eles criaram o próprio
selo e distribuíram seus CD’s para grandes
supermercados populares, freqüentados por
seus fãs. Vendidos a preços baixos – entre
cinco e dez reais – os CD’s não paravam nas
prateleiras. Demorou muito pouco até que
estourassem entre as classes populares do
Pará e outros estados do Nordeste. Daí para
o palco de um importante programa de tele-
visão e ficaram conhecidos em todo o Brasil,
por todos os públicos, foi um pulo.
A Calypso recebeu inúmeras propostas
de grandes gravadoras, interessadas em
comercializar, de forma profissional, o
sucesso da banda. Alegando já ter o seu
próprio esquema – de grande sucesso, aliás
– Chimbinha e Joelma recusaram todas as
propostas. Essa atitude serviu de exemplo
para outros tantos artistas paraenses. A
indústria fomentada por eles não para de
crescer. As festas de tecnobrega movi-
mentam o comércio, criam empregos e
divertem a população.
Além disso, o tão almejado reconhecimen-
to está vindo rapidamente. Um documentá-
rio cinematográfico, um livro, matérias na
televisão e uma dezena de sites já abordam,
com o respeito merecido, o sucesso da
indústria tecnobrega.
A marginalizada periferia de Belém do
Pará agora está no centro. Pelo menos das
atenções... CLAUDIA URBANISKI
ostecnobregas
!As “apare-lhagens” e as bandas de mú-sica brega rea-lizam cerca de 3.160 festas e 850 shows por mês na região metropolitana de Belém. Isso significa que acontecem mais de 100 festas e quase 30 shows por dia. A população comparece - e agradece! B
PARA VER E OUVIRhttp://www.bregapop.com/www.bandacalypso.com.br/
Eles subverteram a forma de comercializar e produzir música
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revoluçõespor minutoPor que o Arctic Monkeys e o Radiohead são fenômenos da Era Digital
Era uma vez cinco garotos que estudavam numa escola só para rapazes. Cansados
daquele tédio, resolveram for-mar uma banda que tinha ape-nas um dia para ensaiar. A ban-da On a Friday era formada por Thom Yorke, Colin Greenwood, Phil Selway, Ed O’Brien e o caçu-la Jonny Greenwood. Sua pri-meira apresentação aconteceu no final do ano de 1986, alguns meses depois de terem se unido. Eles se formaram no ano seguin-te, mas continuaram se reunindo nos finais de semana e feriados. Ainda bem...
Nasce o raDIoheaDEm 1991 os garotos se formaram na Universidade. Reuni-
ram a On a Friday, começaram a gravar algumas demos e
fazer shows nos arredores de Oxford. A qualidade sonora
chamou a atenção de gravadoras e produtores. Não demo-
rou nada até que, no mesmo ano, assinassem um contrato
de seis álbuns com a EMI, que pediu que eles trocassem seu
nome para Radiohead, inspirado numa canção do Talking
Heads. De lá pra cá, foram lançados sete discos. Sempre
atingindo grande sucesso de crítica e de público, a banda se
destacou ainda mais quando lançou o sétimo disco.
quer Pagar? quaNto?Sem gravadora nem propaganda, o Radiohead acreditou
em sua grande base de fãs para divulgar a novidade: In
Rainbows, seu sétimo álbum, seria disponibilizado para
download, no site da banda. O preço? Quem definia era o
comprador. Não quer pagar? Tudo bem, pode baixar do
mesmo jeito. Em poucos dias o álbum foi baixado mais
de 1 milhão de vezes. A banda garante que a maioria das
pessoas pagou alguma quantia pelo download.
A iniciativa do Radiohead dividiu opiniões – alguns
chamaram de oportunismo, outros de inovação – e gerou
discussões sobre os formatos musicais e o papel das
gravadoras. Algum tempo depois da venda virtual, In
Rainbows foi lançado também no formato físico – um
box com faixas bônus, vinil duplo e encarte especial –
pela gravadora XL Recordings.
Em 2008, ano seguinte ao lançamento, a banda publicou
um balanço no qual declarava ter ganhado mais dinheiro
só com a distribuição digital de In Rainbows, do que com
as vendas do álbum anterior Hail To The Thief. No total,
foram mais de 3 milhões de exemplares vendidos – até a
data da publicação – entre downloads no site oficial, cópias
em CD e vendas através de lojas virtuais, como o iTunes.
Enquanto o Radiohead distribuiu suas músicas espon-
taneamente, os garotos do Arctic Monkeys conquistaram
um sucesso absurdo – e muito veloz – quase sem querer.
coMPartIlhaMeNto De MacacosQuando Alex Turner e seu amigo Jamie Cook, da cidade
de Sheffield, ganharam suas guitarras, no natal de 2001,
não imaginavam do que seriam capazes. Aprenderam a
tocá-las e se uniram aos amigos Andy Nicholson, que to-
cava baixo, e Matt Helders, para quem sobrou a bateria.
Os garotos formaram o Arctic Monkeys, uma banda
que fazia shows e distribuía CD’s demos gratuitamente.
Não demorou até que as pequenas plateias se trans-
formassem em verdadeiras multidões alucinadas, que
sabiam de cor as letras que nem o vocalista, Alex, tinha
tido tempo de aprender...
vocÊ NÃo teM? eu te Passo!Os CD’s distribuídos nos shows não eram suficientes.
Todos queriam aquelas músicas. Fã de verdade é aquele
que se ajuda, não é? Quem conseguia um cobiçado CD
disponibilizava as faixas na internet para que os outros
pudessem baixá-las. Foi a maior história de compartilha-
mento de música que já se viu. Em pouco tempo o Arctic
Monkeys conquistou o topo das paradas. O álbum Wha-
tever People Say I Am, That’s What’s I’m Not, lançado
em 2006, bateu recorde como o álbum de estreia mais
rapidamente vendido na história da música inglesa. Fo-
ram 120 mil cópias no primeiro dia de vendas no Reino
Unido e 360 mil cópias naquela mesma semana.
O fenômeno do compartilhamento de arquivos pode ser
mais claramente sentido pela banda quando num show, em
2006, se surpreenderam com a plateia em coro cantando
When The Sun Goes Down, música que ainda não tinha sido
lançada. O álbum Favourite Worst Nightmare – o segundo
da banda – chegou às lojas rapidamente, em abril de 2008,
também com a expressiva marca de 225 mil exemplares
vendidos apenas na semana de estréia. Os resultados atingi-
dos pelos garotos de Sheffield apresentaram ao mundo uma
alternativa para o lançamento e promoção de novas bandas,
totalmente oposto ao viciado, e já desgastado, método do
mercado fonográfico tradicional. CLAUDIA URBANISKI
qAntes de ser o Radiohead a banda se chamava On a Friday, uma referência ao único dia da semana em que se encon-travam.
Só com a distribuição virtual do álbum In Rain-bown a banda lucrou mais do que com as vendas do disco anterior.
Alex Turner e Jamie Cook não sabiam tocar guitarra, quando ganharam as suas, no natal de 2001. Matt Helder não queria tocar bateria, mas foi o que sobrou.
Durante um show do Arctic Monkeys, o público come-çou a cantar, em coro, uma música que ainda nem havia sido lançada. Isso impressionou os meninos da banda.
Alex Turner tem um pro-jeto paralelo, juntamente com Miles Kane, que se chama The Last Shadow Puppets, rock com fortes influências da década de 60.
BPARA VER E OUVIRwww.myspace.com/radioheadwww.myspace.com/arcticmonkeys
ILUSTRAÇÃO - ALEX OLIVEIRA
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A sonoridade flerta com o tropicalismo. As letras reclamam das malu-quices da modernidade. Da mistura saiu a banda Cérebro Eletrônico, que se em alguns momentos se dá à “ingrata missão de imitar o João Gilberto”, no final acaba por ser a responsável por injetar ânimo criativo na cena do rock independente. Formada inicialmente por
Tatá Aeroplano e Fernando Maranho, a banda paulistana passou por diversas formações até chegar à atual com Isidoro Cobra, Gustavo Souza e Fernando TRZ. O segundo disco, “Pareço Moderno”, é o fruto desta última combinação cerebral. Atentos às novas formas de divulgação que a internet proporciona, os rapazes to-maram atitude pioneira. “Pareço Moderno” foi lançado em três formatos diferen-tes: cd convencional, pen drive e vinil. Um acordo com o selo Trama Virtual (onde o disco pode ser baixado na faixa) marcou este pioneirismo. A POP entrevistou Juliano, o presidente da Phonobase (selo independente), e o guitarrista Fernando Maranho sobre o impacto das novas tecnologias no mercado fonográfico.
até parecem modernos______________
O que vocês acham do download gratuito?Fernando: Essa é uma questão polêmica
dentro da banda. Tem alguns integrantes
que são a favor da liberação total, outros
que não. Então optamos pelo meio termo.
O Juliano da Phonobase, que é nosso selo
de gravação, bolou a idéia de lançarmos
um EP virtual, desse modo liberamos ape-
nas algumas músicas. Acho que resolveu a
questão.
Juliano (Phonobase): Acho que é
inevitável. Mas precisamos todos – artista
e público – encontrar uma maneira de
remunerar o trabalho dos profissionais
envolvidos na produção de um disco. Por
mais que ressaltemos que as tecnologias
baratearam a produção, um disco bem
feito, pagando todo mundo, ainda sai
caro. No caso do Cérebro, da produção à
prensagem e divulgação foram gastos cerca
de R$30 mil. O que precisa ser feito (des-
coberto?!) é uma maneira justa tanto pro
artista quanto pro público de remuneração
de um trabalho que é como qualquer outro.
De certa forma, a postura de “gastança” (e
consequentemente de cobrança exagerada)
das majors fizeram com que artistas que se
auto-produzem pagassem o pato.
Vocês baixam MP3? Vocês paga-riam por um download?Fernando: Da mesma maneira, tem
integrante que faz download adoidado e
tem outros que não. Eu faço download
de muita coisa e continuo comprando cds
do que eu acho realmente bom. Mas com
certeza, antes do mp3, eu comprava mais
cds e vinis. Eu só pagaria por download
se estivesse em algum site extramamente
seguro e se fosse algum arquivo que eu não
achasse fácil. Mas o ponto é que estamos
percebendo que existe público pra tudo.
Tem o cara que paga por download, tem
aquele que não, tem aquele que ainda
compra muitos cds, tem aquele aquele que
gosta da edição especial, enfim, estamos
numa época de segmentação total e temos
que ter todas as opções para todo tipo de
público. Acabou a massificação, o que eu
acho ótimo.
Juliano: Eu baixo e também compro
quando realmente me interesso pelo artista.
Dos artistas que sou relativamente fã, tenho
todos os discos e ainda realizo o “ritual” de
colocar o CD, ler o encarte, etc. Se os CDs
fossem mais baratos compraria mais. Sobre
essa questão dos preços é bom lembrar que
cerca de 40% do preço do CD é imposto.
Na época do finado Napster alguns artistas tentaram barrar judicial-mente o acesso a estes arquivos na rede. Quais soluções vocês acredi-tam que podem ser tomadas para resolver esta questão?Fernando: Eu sou a favor da liberação
total do mp3. Acredito muito que um cara
que faz download gratuito pode mostrar o
som para um amigo que, por sua vez, pode
vir a comprar um cd, ou uma camiseta, ou
ir ao nosso show depois. Então, acre-
dito que o mp3 gratuito funciona como
multiplicador, assim como as estações de
rádio funcionavam antigamente. Parti-
cularmente, acho uma babaquice e uma
séria tentativa de restrição à liberdade
dificultar o intercâmbio cultural. Acho
que cultura tem que ser disseminada e os
direitos autorais, a meu ver, deveriam ser
financiados pelos fãs quem têm prazer ou
obrigação moral de fazê-los e não por todos
incondicionalmente. Mas, como eu disse,
essa é uma opinião minha e na banda cada
um tem uma opinião diferente.
Juliano: Várias soluções foram e estão
sendo testadas. Desde o download patrocina-
do até acordos de venda de celular com passe
livre para baixar músicas, modelos de venda
de cotas de um álbum antes de sua produção
(como o Sellaband, Slicethepie, etc). Eu acho
que cada artista – quando entende seu públi-
co – deve encontrar uma maneira específica
de viabilizar seu trabalho.
“Discografias”, a maior comuni-dade de downloads gratuitos do Orkut, foi fechada recentemente pela APCM. Medidas deste tipo aju-dam a combater o download ilegal?Fernando: Eu, sinceramente acho difícil
que uma pessoa que está acostumada a
fazer downloads pela internet ficar tão
desesperada a ponto de correr para a loja
de cds mais próxima para fazer compras.
Isso já aconteceu com o Napster e depois
disso aconteceu diversas outras vezes em
outros casos. Este é só mais um deles. As
pessoas terão uma dificuldade momentâ-
nea para achar arquivos mas daqui há um,
dois meses, elas se organizam novamente e
acham outros meios para trocar arquivos..
Essa questão é antiga. Lembro de ouvir
dizer que iam acabar com as fitas k7 há
anos atrás, rs.
Juliano: Não ajudam. É truculência, “vio-
lência autoral”. A indústria da música é a
unica indústria que processa seus próprios
clientes. De certa forma, ela está tentan-
do ainda lucrar com um modelo que está
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falindo, mas que ainda dá lucros. Acho que
acreditam que essa truculência irá ajudar a
postergar o inevitável.
Por que optaram por um selo inde-pendente?Fernando: Não foi muito uma questão de
opção. Foi um caminho natural e eu diria
necessário. Veio da necessidade de expressão
artística livre, sem interferência de meios
externos com a junção de um cenário musical
onde as gravadoras quebraram por não
acharem alternativas sobre essa questão da
pirataria. E esse é o ponto, a meu ver, crucial
na questão. Ao invés de buscarem alternati-
vas, como a Phonobase busca, as gravadoras
resolveram partir pra essa questão bruta
anti-pirataria, achando que seria um caminho
mais fácil ou certeiro e se perderam no limbo.
O que nos ajuda muito, também, é que temos
dentro da banda pessoas que são capazer de
fazer trabalhos que não envolvem a música
em si. Fazemos nossos próprios encartes,
vídeos, website, etc. Não temos custo para
produção disso tudo, o que facilita muito pra
quem não tem investidor por trás.
Juliano: Não somos necessariamente um
selo, mas uma empresa que presta serviços
relacionados à música. No caso do Cérebro, a
idéia sempre foi a de tentar montar uma “cé-
lula” autônoma dentro da Phonobase, quase
uma outra empresa. Dessa forma a gente
funciona literalmente como sócios, discutin-
do as idéias, implementando as estratégias
e dividindo os resultados. O objetivo é que
a banda ande com as próprias pernas e nós,
Phonobase, atuando como parceiro naquilo
em que nem todo músico gosta ou quer fazer,
a parte “burocrática” digamos assim.
Como funciona a distribuição de um disco sem o aval de uma major?Juliano: Antes a distribuição era o
calcanhar de Aquiles dos pequenos selos,
mas hoje isso não acontece mais. No nosso
caso, temos uma parceria muito boa e pro-
dutiva com a Tratore que cuida da logística
de botar o disco nas lojas físicas e tb em
alguns sites de venda de download como
eMusic, iTunes, UOL Megastore, Terra So-
nora, etc. Além disso, a internet é um canal
de distribuição direto. Você pode comprar
o disco diretamente do site do artista e, se
esse volume não for extraordinário, dá pra
realizar o trabalho de logística utilizando
serviços dos Correios e outras empresas.
Com a crise fonográfica, como se vive de música sem o esquemão tradicional: ‘Gravadora subdisia o artista”?Fernando: A verdade é que é muito
difícil viver de música sem esse subsídio.
Como eu disse, temos que nos preocupar e
trabalhar em áreas que vão muito além da
música. Do design à produção, venda de
shows, até à venda de camisetas. O músico
passou a ser empresário.
Juliano: Diversificar é a palavra chave.
Discos, shows, merchandising, licencia-
mento, sincronização, patrocínios, leis de
incentivo, etc. A questão é que estabilizar o
fluxo de caixa leva tempo quando se trata
de uma banda em início de carreira. Não
temos mais “advances”. O negócio agora é
trablhar o dobro e talvez receber metade.
Hoje lucra-se mais com shows do que com a venda de discos. Vocês acreditam que lançar um punhado de canções num álbum daqui a alguns anos vai ser viável comer-
cialmente? O conceito “álbum” vai perder a sua importância? Voltare-mos à era dos singles?Fernando: Já estamos na era dos singles.
Grandes artistas já estão fazendo isso, como
o Smashing Pumpkins que começaram a
lançar apenas singles via mp3 pago. Mas
ainda acreditamos no conceito de obra mu-
sical, com uma unidade que marca determi-
nada fase. Acho que vai chegar a um ponto
onde as pessoas vão ficar saturadas de tanta
informação. Porque hoje em dia as pessoas
estão interessadas em escutar grandes no-
vas músicas todos os dias, o que é uma coisa
realmente insana. Música não é chiclete.
Música deveria dizer respeito à personaliza-
de. Portanto, ainda acredito que as pessoas
vão enjoar de tanta informação e voltar a
dar valor para obras mais fechadas e artistas
em que elas realmente se identificam.
Juliano: Primeiro, essa relação
show=dinheiro não é tão direta assim. No
caso específico do Cérebro, e diria de quase
todas as bandas que estão aí começando,
os cachês – quando há cachê – dificilmente
conseguiriam manter uma família. O Brasil
ainda não tem uma estrutura de shows que
possa assegurar uma remuneração mínima
para o artista iniciante. Veja, não estamos
falando dos artistas que já consolidaram
uma agenda de shows, aquele que faz a
turnê de um álbum, toca no em locais para
mais de 2000 pessoas, etc. Nós estamos fa-
lando de cases pequenas e médias que, asim
como a banda, estão brigando para manter
seu negócio funcionando.
Quanto ao álbum, eu acredito que ele sem-
pre existirá. Não sei se por uma demanda do
público, mas certamente por uma neces-
sidade do artista de compilar um período
de sua história musical em um conjunto de
canções. Isso sem falar dos álbuns temá-
ticos, conceituais. Não teremos mais Sgt
Peppers? Nem Araça Azul? Adoro discos...
Qual a opinião de vocês em relação a decisão do Radiohead em per-guntar para os fãs o quanto eles estavam dispostos a pagar por sua música?Fernando: Eu achei ótimo. Mais demo-
crático, impossível. Felizmente eles têm
a vantagem de já terem terem milhões de
seguidores pelo mundo afora. Não acredito
que isso funcione com uma banda inde-
pendente que ainda precisa espalhar o seu
som por aí. E temos que lembrar que eles
formaram um público com o subsídio de
grandes gravadoras anteriormente, então a
situação deles é bem mais favorável.
Juliano: Funcionou para o Radiohead.
E este revival do vinil?Fernando: É mais um caso de segmen-
tação. Como disse, acima, tem gente que
gosta de tudo. Eu adoro o formato do vinil,
mais pelo encarte do que pela bolacha. Acho
que porque em casa nunca tive um parelho
realmente decente e portanto, nunca gostei
muito do lance dos riscos, de ficar pulando,
etc. Mas já tive oportunidade de escutar vi-
nil em pickups que valem milhares de reais
e posso garantir que o som realmente é bem
superior, então acho uma ótima o revival.
Juliano: Mais uma indicação de que o
álbum – como produto artístico – seja em
vinil ou CD, está aí firme e forte.
Myspace, Facebook, Orkut... de que forma a banda utiliza destas redes sociais para divulgação?Fernando: Nós fazemos parte e tentamos
atualizar todas esses canais freqüente-
mente. São canais muito importantes
de comunicação e o Juliano está sempre
bolando estratégias de divulgação além de
promoções através desses canais. Chegou
a um ponto onde nosso website virou um
direcionador para esses sites externos, pois
aí não duplicamos a informação e deixa-
mos elas nos canais mais procurados hoje
em dia que são o myspace e o orkut.
Juliano: De todas as formas que essas
mesmas ferramentas nos possibilitam. O
público do Cérebro é um utilizador da in-
ternet e, portanto, podemos utiliza-la como
uma ferramenta de comunicação.
Como estas novas tecnologias funcionam no processo criativo da banda?Fernando: Através do feedback do
público. Recebemos muitas mensagens via
Myspace, principalmente. Isso não só nos
estimula a criar coisas novas, como nos faz
conhecer melhor que tipo de público é o
nosso e que caminhos poderíamos seguir
em função disso.
Mallu Magalhães já foi parar no Faustão e vocês já tocaram no Altas Horas. A internet ajuda a popularizar a cena alternativa?Fernando: A internet ajuda muito. Hoje
em dia o boca-a-boca foi substituído pelo
mensagem-a-mensagem. A disseminação via
internet é incrível. Mas percebemos que a tele-
visão ainda é agrande força hoje em dia. Por
nossa experiência, canais como a MTV ainda
são a grande força de divulgação. A Mallu,
mesmo, passou pra um nível de popularidade
altíssimo depois que MTV resolveu abraçá-la.
Mas, primeiro, ela bombou na internet. Então
acho que essa é a escada atual.
Juliano : A Internet é uma ferramenta im-
portante, mas que por si só não faz milagres.
É preciso planejar o lançamento, estruturar
as ações, executar tudo o que foi pensado de
forma coerente e contínua. Não é possível
atribuir resultados a uma única coisa como a
Internet. Isso é fruto de um trabalho maior,
que abrange uma série de fatores.
ALEX OLIVEIRA
Diversificar é a palavra chave. Discos, shows, merchandising, licenciamento, sincronização, patrocínios, leis de incentivo, etc.”
“A Internet é uma ferramen-ta importante, mas que por si só não faz mi-lagres. É pre-ciso planejar o lançamento, estruturar as ações, executar tudo o que foi pensado de for-ma coerente e contínua.”
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As últimas notas de um
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grande músicoZ
é Rodrix, também é José Rodrigues Trindade, que também é cantor compositor, escritor e publicitá-rio. Inteligente, articulado e bem humorado, Rodrix, apareceu para
o grande público em 1967, em um festival da Record. Entre as canções mais famosas de Zé Rodrix estão “Casa no Campo”, na voz de Elis Regina, “Mestre Jonas” e “Soy Latino America-no”. Nas décadas de 1980 e 1990, Rodrix aban-donou a carreira musical para se dedicar à pu-blicidade. Da vontade de fazer música, durante esse período, nasceu o grupo Joelho de Porco. Em 2001, voltou a se reunir com os companhei-ros Sá e Guarabyra para uma apresentação no Rock in Rio. Zé Rodrix recebeu a POP no inter-valo de uma palestra sobre novas mídias na Casa do Saber, em São Paulo dia 7 de maio de 2009, para aquela que seria sua última entre-vista; ele faleceu no dia 22 do mesmo mês.
Você se afastou do mercado fonográfico e se exilou no mercado publicitário. Foi algum tipo de pro-testo contra as práticas do mercado fonográfico da época?Em 1980 eu fui para RCA, onde fiz um com-
pacto e um LP. O mercado de música tinha se
profissionalizado a ponto de haver cada vez
menos espaço para a criação e cada vez mais
para as tais “fórmulas de sucesso”. A idéia de
que um artista, pra fazer sucesso, tem que
vender um milhão de cópias começou nessa
época, em 1976. Quando chegamos em 1980,
essa idéia já estava bombando. Eu já estava
desgastado com isso e com uma série de outras
coisas. Até que em 19 de janeiro de 1982 a Elis
morreu. Nesse dia eu disse: “Parei, chega”.
Como você analisa o mercado fonográfico atual?Graças a Deus, ele deixou de existir. Só assim
poderemos reconstruí-lo, em bases sólidas e
cooperativas. Não dá mais pra viver de im-
posição. Essa mania de resolver o que vende
e o que presta acabou com a MPB. Ela não
tem nenhum ponto de contato com a alma
brasileira. Ela fala para uma camada muito
pequena da população que está dogmatizada
e aprendeu a dizer apenas “isso é bom e isso
é ruim”. O camarada liga o rádio, bota na
Nova FM e acha que está cumprindo uma
missão ideológica. Quem gosta de MPB gosta
de artista e não de música. Do Caetano, por
exemplo, eu gosto das músicas boas que ele
fez. Das ruins eu não gosto mesmo e não sou
obrigado a gostar. Aí vão dizer: “Pô, mas é o
Caetano!”. Dane-se.
O mercado fonográfico mudou? As gravadoras antigamente experimen-
tavam e ousavam mais do que hoje em
dia. Funcionava meio assim: você tinha os
artistas populares, que vendiam muito. Algo
parecido com o axé de hoje. O lucro com
esse tipo de artista era repassado para outras
produções, que não iriam vender muito, mas
que encontrariam, em algum momento, seu
público. A partir de 1981 esse modelo acabou
e as gravadoras colocaram para fora quem
não vendesse bastante. Por conta disso, hoje
em dia, as experimentações ficaram todas no
mercado independente.
E como você vê o papel desse mer-cado independente?Ser independente não significa ter qualidade.
O mercado independente tem tanta porcaria
quanto o mercado das majors. Tornou-se
apenas a alternativa possível para quem não
conseguiu aquele contrato ideal. Hoje, com a
tecnologia disponível, todos podem fazer seu
próprio produto; mas ele só terá importância se
interessar a uma determinada fatia de público.
A arte depende, além de grande honestidade
de propósitos, de talento, vocação e sorte. Não
adianta tentar substituir um destes fatores
pelo excesso de qualquer um dos dois outros: é
preciso equilíbrio.
Qual sua opinião sobre a facilidade em se baixar faixas gratuitamente pela internet? Qual o impacto dessa prática no mercado musical?Da minha parte acho que esta é a realidade dos
fatos, contra os quais não há argumentos. Hoje
em dia, inclusive, se baixa mais música pelo
celular que pela internet. Existem inúmeras
formas de comercialização de música pelos
meios digitais, mas elas só acontecem quando
o interesse pelo que existe é suficiente para que
o público deseje comprar, em vez de simples-
mente baixar.
E a pirataria?Pirataria não é exclusividade do mercado
informal. A EMI Odeon lançou em CD meus
três primeiros discos solo, sem me avisar. Nem
pediu permissão pra isso. Minha vingança foi
que eu sabia que existiam cópias piratas sendo
vendidas na Galeria do Rock. Sabe o que eu fiz?
Fui lá e autografei todas. Prefiro ser roubado
pela iniciativa brasileira que por uma major
internacional… A pirataria foi a praga que os
artistas rogaram pras grandes gravadoras!!!
Você acha que os internautas con-cordariam em pagar pelas faixas que baixavam gratuitamente?Se forem boas, se tiverem valor, comprarão
sem dúvida. Arte descartável não costuma ser
vendida, mas arte com permanência a cada dia
tem mais valor, e este valor pode ser converti-
do em riqueza financeira na exata medida do
interesse do publico e das oportunidades que
seus autores lhes dêem. Música com valor vale
dinheiro: música sem valor não vale nem o
esforço de copiar.
Nos últimos dez anos, o que mudou basicamente em termos de produ-ção musical em função da existên-cia das novas tecnologias?As tecnologias de produção são menos inte-
ressantes que as de replicação do fenômeno
musical, que hoje em dia pode ser negociado e
divulgado até mesmo durante a sua criação e
execução, permitindo inclusive obras coletivas
em que todos os que estiverem ligados neste
momento podem dar sua contribuição. O
antigo mercado se extinguiu, mas o novo ainda
não sabemos o que será.
Que setores da indústria musical tradicional estão, em sua opinião, fadados à extinção?Os velhos sistemas de venda de disco em lojas,
colocando o produto à espera do eventual
interesse do cliente. Sobreviverão todos aqueles
segmentos que souberem levar o produto ao
interessado, das mais diversas formas e sob
os mais diversos sistemas. A cada dia se torna
menos viável a existência dos MegaTrends ,e os
MicroTrends nos levarão forçosamente a agir
de forma direcionada sobre cada segmento de
público, cada tribo ou até cada indivíduo que
possa se interessar pelo que temos.
Você acha que os grandes festivais de música fazem falta? Qual a im-portância desses eventos na histó-ria da música popular brasileira?Os únicos festivais que fazem falta são os
universitários, que poderiam novamente
estabelecer a ponte sobre o abismo que se
criou quando os artistas brasileiros, domina-
dos pela indústria, abandonaram o diálogo
natural que tinham com os universitários
e decidiram tornar-se grandes vendedores
de música, trocando qualidade artística por
sucesso financeiro. Um festival universitário
nos mostraria como anda a cabeça deste
público com quem podemos dialogar, e
dentro de algum tempo perceber de novo as
identidades, assuntos e formas artísticas que
eles esperam de nós. Os festivais comerciais
de televisão já estão mortos e enterrados.
ELAINE GOMES
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SEJAum Beatle!
Guitarra, bateria, baixo, microfo-ne e um vasto repertório... Com tudo isso, os fãs
dos Beatles e/ou os amantes de games já podem se divertir num jogo cheio de realismo e muita tecnologia. John Len-non, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison são modelos tridimensionais – caricaturas da computação gráfica-, com bastante seme-lhança real. Todas as fases do Beatles estão representadas no game, desde o “iê-iê-iê” até a fase mais psicodélica dos garotos de Liverpool.
Para contar a história dos Beatles, os
produtores utilizaram, com algumas alte-
rações, a já consagrada plataforma Rock
Band – que herda também características
de sua série concorrente, Guitar Hero. Nas
guitarras de plástico, basta apertar os bo-
tões indicados na tela e tocar na hora certa.
A bateria funciona do mesmo jeito. Quem
canta, além do tempo, precisa manter o
tom correto. E, numa reformulação inédita,
é possível cantar em até três vozes, para
recriar as harmonias vocais características
de algumas fases do Fab Four.
Para atingir um público mais amplo,
foram feitas mudanças para deixar o Rock
Band mais simples. A ideia é atrair os
fãs de Beatles para que se aventurem no
mundo dos games. A jogabilidade ficou
mais fácil: não é necessário, por exemplo,
enfrentar inúmeros desafios para destravar
músicas: o repertório inteiro já está libe-
rado desde o início no modo Quick Play.
Também é possível jogar descompromis-
sadamente, sem correr o risco de falhar em
alguma canção.
rIqueZa De DetalhesJá que não era possível revolucionar
tanto na jogabilidade, a Harmonix in-
vestiu, de forma louvável, na narrativa e
nos gráficos. Utilizando magistralmente
a interatividade para contar a história da
banda, The Beatles: Rock Band constrói a
lendária carreira dos garotos de Liverpool
abusando de gráficos tridimensionais,
fotos e vídeos históricos misturados à
sensação de estar ali, nos palcos e nos
estúdios, junto com eles.
A riqueza de detalhes impressiona: quem
pegar o jogo e comparar com um vídeo gra-
vado de um show original, vai se surpre-
ender ao notar, por exemplo, que até a fita
adesiva utilizada para prender o microfone
de Lennon ao pedestal é exatamente igual.
Além disso, lugares como o Cavern Club,
em Liverpool, ou a emblemática apresen-
tação no alto do prédio da gravadora Apple
– a última apresentação ao vivo da banda,
em 1969 -estão ali reproduzidos de forma
perfeita. The Beatles: Rock Band está dis-
ponível para PlayStation 3, Nintendo Wii e
Xbox 360. CLAUDIA URBANISKI
BPARA VER E JOGARwww.thebeatlesrockband.comwww.thebeatlesrockband.com/videos
The Beatles: Rock Band cons-trói a lendária carreira dos garo-tos de Liverpool. A ideia é atrair os fãs de Beatles para que se aven-turem no mundo dos games.
Combo BeatleOs fãs dos Beatles estão cheios de mo-tivos para comemorar. Além do game, o catálogo completo das músicas da banda foi relançado após ter passado por um longo processo de remasterização digital. Resultado de quatro anos de trabalho, os 12 discos foram produzidos por engenhei-ros que trabalharam nos estúdios da Ab-bey Road, em Londres. Eles se utilizaram do que há de mais novo em tecnologia, mas não abriram mão de trabalhar em conjunto com equipamentos antigos, para manter a maior fidelidade possível à obra. Cada um dos 12 novos CDs inclui a arte original da versão britânica do disco e um extra com notas explicativas. Em algumas edições, os CDs vão trazer um pequeno documentário sobre o álbum. Há, também, a opção The Beatles in Mono, com as versões mono originais de dez álbuns.
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tamente. Essa nova regra ditada pelos
consumidores abala de maneira brutal a
organização empresarial das majors.
Frente a esse novo cenário as gravado-
ras, tardiamente, tiveram que fazer regi-
me; cortar pessoal. Diretores e gerentes
com grandes salários foram para o olho
da rua. O velho hábito de vender apenas
os CDs que eles escolhiam, na hora que
bem entendiam, se foi. Nos últimos cinco
anos, as majors amargaram um prejuízo
em média de 30% ao ano.
As megastores fecharam, estavam
chegando perto do prejuízo. As vendas de
CD caíram numa velocidade tão espantosa
quanto o aumento no volume de downloads.
Diversos pesquisadores brasileiros se
reuniram para discutir os caminhos possí-
veis após o fim da ditadura do CD, o resul-
tado é o livro “O Futuro da música depois
da morte do CD”. Entre as discussões que
vão desde a (i)legalidade dos downloads até
as análises da história da música, uma das
apostas mais charmosas, segundo autores,
é a volta do Vinil.
vINIl: No MíNIMo coolSom quente, analógico, único... são vários
os argumentos dos militantes das carra-
petas. Nasceram em 1948 e até hoje estão
vivas. Seus fãs têm todas as idades, são
xiitas e se multiplicam. A Livraria Cultura
registrou um crescimento de 70% nas ven-
das de janeiro a maio em comparação ao
mesmo período do ano passado. A verdade
é que o vinil está ganhando força no mundo
inteiro. Os bolachões voltam à cena como
um artefato cool nas salas da classe média.
As cifras são chocantes: só nos EUA,
comparando 2006, 2007 e 2008, o vinil
teve um crescimento de respectivamente
37% e 124% de peças comercializadas,
movimentando, só em 2007, US$23mi.
Artistas no mundo inteiro apóiam a volta
do formato. Ultimamente, a maioria dos
artistas que vão ao badalado David Latter-
man Show levam seus álbuns em vinil. No
Brasil, músicos como Ed Motta, Lenine,
Skank e Pitty, debandam para o lado das
carrapetas. O novo disco da roqueira baia-
na foi feito em vinil em LA, Lenine lançou
sua coletânea só em vinil na Rússia.
Aqui no Brasil eles ainda são caros por
causa da carga tributária. Por enquanto as
gravadoras precisam fazer vinis nos EUA,
Europa ou Oceania, isso, somado aos im-
postos e a importação, salga os preços que
variam de 80 a 120 reais. Mesmo assim,
são um excelente exemplo de convergência.
Não se compra apenas o LP, junto com ele
vem a arte gigantesca da capa, encartes,
que mais parecem pôsteres, e ainda o
mesmo álbum em CD. O LP ainda não é a
salvação, mas é um caminho bem legal.
VINICIUS GONÇALVES
Hype? A Livraria Cultura registrou um crescimento de 70% nas vendas de LPS neste ano.
BSAIBA MAISwww.vinylfanatics.comwww.ofuturodamusica.com.br
Back to gates: a volta do vinil brazucaVendo isso, o audiófilo dono da Deckdisc e admirador das bolachas, João Augusto, comprou e está reestruturan-do a Polysom, a única fábrica de vinil da América do Sul. O empresário vê o mercado como algo pequeno e duradouro e pretende fazer discos com qualidade igual aos produzidos no exterior cobrando o menor valor possível. Afinal, como diz o slogan da fábrica Vinil Factory: Ninguém se lembra do primeiro download, já o vinil é pra sempre.
A Polysom vai trabalhar para a Deck ou vai ser algo indepen-dente? A Polysom é totalmen-te independente, sem ligação com nenhuma gravadora e irá atender a todos que se interessarem em fabricar vinil. Ou seja, sua função é fabricar LPs e compactos que serão encomendados.
Com a reativação da fábrica, o vinil vai ficar tão barato no Brasil quanto é lá fora? E como se faz o vinil? As matérias primas são: PVC, combustível, e acetatos importados e tudo é muito caro. Nos EUA não se paga 100% em importação e nem 40% de imposto no produ-to final. Mas estamos fazendo o possível para deixar o vinil o mais barato possível.
Concebido para superar os problemas do vinil e das fitas magnéticas, o
Compact Disc (CD), hoje, contempla atônito sua derrocada. Juntos, CDs e majors, protagonizaram uma história de sucesso e luxúria. Agora enfrentam seu trágico destino: tanto o CD quanto as majors naufragam em um in-fomar de bits repleto de downloads.
O CD foi a antítese do herói. Personagem
dúbio que, se por um lado barateou o
custo de produção levando o lucro das
gravadoras a patamares inimagináveis e
música a todos os cantos do mundo; por
outro, a popularização dos seus meios de
leitura, execução e reprodução criou o
ambiente perfeito para seu possível fim.
Luzes se apagam, o CD sai de cena. Vilão,
mocinho, traidor... O que será o CD e o
que virá depois dele?
gravaNDo e veNDeNDoDesenvolvido pela parceria Philips-Sony,
o CD revolucionou o modo de trabalhar
a música. Tudo começou na década de
1950 quando a Philips deu a um grupo de
cientistas a missão de desenvolver uma
nova mídia que resolvesse os problemas
das já existentes: vinil, rolos magnéticos
e K7. Trinta anos depois, no dia 17 de
agosto de 1982, o primeiro CD destinado
ao público foi lançado no Japão.
Apesar de caro e de qualidade inferior aos
atuais, o CD foi evoluindo e monopolizando
o mercado. A popularização dos leitores a
laser, a possibilidade de se produzir música
digitalmente, oferecer um som mais límpi-
do, além do real aumento na capacidade de
armazenar músicas e de ser compacto foram
motivos de sobra pra transformar a nova
mídia em um Best Seller.
“Nos anos 80 era diferente” Lembra
Marcelo Costa, jornalista e crítico musical.
“O disco era caro. Não era todo mundo
que podia comprar e nem era comum ter
vitrola. Além do mais os discos não chega-
vam. Renato Russo dizia que o movimento
punk chegou a Brasília com uma revista e
não com um álbum do The Clash.”
O CD foi exatamente o que a Indús-
tria Cultural pediu a Deus. Um jeito de
massificar a produção musical, garantin-
do o monopólio dos meios de produção e
distribuição de música por quase 10 anos.
Além de criar um mercado mundial de
consumo regido por seus caprichos.
O consumidor não precisava mais
esperar anos para conseguir um álbum, ou
uma cópia em K7. Como também não tinha
muita liberdade de escolha. Os “escolhidos”
das gravadoras eram os que tocavam nas
rádios, por causa do jabá,(acordos de exe-
cução massiva deste ou daquele artista em
troca de dinheiro) e eram os que estavam
nas prateleiras das lojas.
Ter o poder de ditar o que vai ou não
acontecer; quem não se acomodaria nessa
posição? Nasce a cultura dos milhões de có-
pias. Junto com ela os templos do consumo
de CDs, as megastores. Lojas como a Tower
Records e a Virgin Mega Store de Nova
Iorque, eram os termômetros que diziam
quando um álbum era bom ou não. Quanto
mais cópias vendidas em menos tempo,
melhor. A ditadura do que vende mais.
Pra que Pagar se eu Posso BaIxar?As majors tinham o Graal: o CD e o avanço
tecnológico para baratear a produção e
criar um mercado mundial que obedece
às suas regras. Mas a Arca da Aliança foi
encontrada pelas novas tecnologias...
Aproveitando a evolução tecnológica, a
facilidade de ler e copiar CDs, o avanço da
internet, os arquivos MP3, o novo público
consumidor de música e as redes P2P de
compartilhamento de música, ele tirou o
poder das gravadoras, dando ao consumi-
dor o direito de escolher e aos artistas a
chance de aparecer.
Nasce agora uma nova geração de con-
sumidores. Jovens que não têm o hábito de
pagar por música, que é baixada gratui-
O lado B
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No ano de 2003 uma nova re-volução dentro do mercado fonográfico
foi apresentada. O cantor e empresário Ralf Richardson Silva, da dupla sertaneja Chrystian e Ralf, desenvolveu um conceito novo de repro-dução musical, que tem como objetivo principal acabar com o flagelo da indústria fono-gráfica, a pirataria. O disposi-tivo é chamado de SMD (Semi Metalic Disc). Ralf entrou no negócio depois de amar-gar perdas para a pirataria. Procurou ajuda de amigos e especialistas em informática para desenvolver o sistema.
O SMD propõe uma estratégia diferente
na comercialização de CDs. Trata-se de uma
espécie de reinvenção do que era o vinil,
que pode ser lido dos dois lados. A mídia é
aparentemente igual ao CD comum e pode ser
reproduzida em qualquer CD-player com a
mesma qualidade de som. O que difere os dois
é que o CD tem a capacidade de armazenar
78 minutos de música e é fabricado com alu-
mínio compactado, já o SMD tem capacidade
para 60 minutos de música e utiliza uma liga
semi metálica na fabricação.
No começo, a mídia tinha capacidade para
quatro músicas e vinha numa embalagem
simples de acrílico sem encarte. Encartes e
créditos eram armazenadas na própria mídia.
Hoje, com os avanços tecnológicos, o SMD
suporta cerca de 16 a 18 músicas. As embala-
gens de acrílico foram substituídas por uma
de papel cartão, e créditos e encarte podem
ser impressos nela. Os SMDs também podem
ser produzidos em diversas cores. O valor da
mídia é um atrativo considerável. É possível
fazer 1000 cópias do seu SMD por um preço
unitário de R$1,20. Uma realidade totalmente
viável para os artistas independentes que
sonham com o primeiro trabalho.
A mídia é muito bem vista no mercado
independente, graças ao baixo custo de produ-
ção e à promessa de uma margem de lucro de
até 20% por unidade vendida. No momento
de seu lançamento, a pirataria atingia 50% do
mercado nacional de discos. Hoje, o mercado
ilegal de discos atinge 75% da população
nacional. Com a divulgação devida o SMD
promete ser uma revolução do mercado de
música no Brasil. Quem já adquiriu, também
aprovou o resultado. Já estão disponíveis
também os formatos SMDV (DVD) e SMDG
(games). A lista de produtos e artistas tem
grandes nomes como Arnaldo Antunes e
Orquestra Imperial, entre outros.
ARIANE MAZZA
BSAIBA MAISwww.portalsmd.com.br
evoluçãoourevoluçãoA tecnologia Semi Metalic Disc promete acabar com a pirataria, aumentar o faturamento dos artistas e ajudar o bolso do consumidor
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Móveis Coloniais de Acaju c_mpl_te (2009)
TRACEMOS um paralelo interessante: ambas bandas são de Brasília, cada uma delas a seu modo captou o “espírito” de suas respectivas gerações, nas letras, críticas sociais são diluídas no melhor que o rock nacional pode proporcionar. Onde o Móveis Coloniais se difere da Legião Urbana? Renato Russo não baixava musicas, o Móveis, em contrapartida, lançou um disco inteiro pela internet – e que disco!
Complete é um respiro no insosso rock brazuca. Tem guitarras, naipe de metais, ska, psico-delia, MPB... atitude! O produtor-ídolo, Eduardo Carlos Miranda coordena a ânsia dos rapazes, apara as arestas e o que temos é uma compilação de canções com letras inteligentes, críticas e bem-humoradas. “Cheia de Manha” ironiza o culto das celebridades precoces. “O Tempo” é pop redondo, cheia de jogos de palavras e de instrumentação marcante. As letras, no geral, captam e recortam os “não-problemas” da molecada atual: ansiedade, consumismo e romances fugazes. Um upgrade nos ditos messiânicos de Russo.
Assumindo a postura de banda-empresa, a turma organiza seu próprio festival, pro-duz e vende seus produtos (camisetas, acessórios, discos, etc) e planeja suas turnês. Tudo reflexo da geração da filosofia “do it yourself” que, aprimorada, apontou o dedo na cara do mainstream. Num acordo ousado com o visionário João Marcelo Boscolli, complete foi lançado gratuitamente pela Trama Virtual onde até mesmo o encarte, os internautas levavam no download. Se o titulo do disco sugere que falta alguma coisa à banda, a resposta é fácil: sua audição. alex olIveIra
ILUSTRAÇÃO - ALEX OLIVEIRA
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Mallu MagalhãesMallu Magalhães (2008)
DIFíCIL imaginar esta cena dez anos atrás: uma adolescente esquisitaça, com pinta de nerd e violão desen-gonçado cantando tchubarubas no Domingão do Faustão. Soa um feito surreal em tempos de Wanessas e Sandys, onde meninas querem ser mulheres ou meninas demais. Mallu Magalhães é o oposto. A rapariga de 16 anos, paulista, despontou na inter-net, virou predileta dos blogueiros, da cena alternativa e ganhou todos os aplausos da mídia. O álbum de estréia é todo versado em inglês (com exce-ção de “O Preço da Flor”) e aposta na sonoridade soft como chamariz. A ensolarada “Tchubaruba” é a melhor do álbum e demonstra o faro pop da cantora. A produção do experiente Mário Caldato (no currículo Beastie Boys, Bebel Gilberto, Seu Jorge) aliado à capacidade multifacetada de Mallu - ela compõe, toca violão, gaita, piano e outros instrumentos – confirmam sua posição de nova artista brasileira que vale o clique. alex olIveIra
Romulo FróesNo Chão sem o Chão (2009)
ENQUANTO esquenta a discussão sobre o armageddon na indústria musical, Romulo Fróes vai contra as profecias: No Chão Sem o Chão é (heresia!) disco duplo e disponibi-lizado pelo artista para download gratuito. Fróes despontou em 2004 com “Calado”, uma excursão melancólica ritmada pelo samba de raiz. Agora o clima é outro. Fruto de uma necessidade do cantor em não ficar estigmatizado simplesmente como “sambista”, os quase 120 minutos do disco soam rock denso, abstrato, vagaroso e bem intencionado feito... o samba, presente no álbum mesmo que de forma discreta. Romulo, o tempo todo foge do lugar comum. Em “Pra fazer sucesso” escancara o ró-tulo: ‘Eu sou um resto que eu detesto de um projeto cultural. Imobiliário, financeiro, otário quase oficial’ É assim provocativo, quase birrento que o paulista Romulo Fróes e sua música se fazem notar. A questão de como ter acesso (download, camelô, loja) é o que menos interessa. alex olIveIra
Espaço democrático
Os Seminovos -Várias Faixas
As letras dos Seminovos não negam a origem da banda. “O nerd de hoje é o cara rico de amanhã”. Um bando que surgiu na internet só poderia compor sobre sua realida-de. As canções disponíveis gratuitamente na internet é puro rock tosco – tudo formatado para as caixinhas stereo do seu computador.
Velhas Virgens - Ninguém beija como as lésbicas
# No décimo disco da carreira, o Velhas Virgens ainda investe na fórmula infálivel: palavrões, letras “irreve-rentes” e, claro, muito rock n’roll. O destaque vai para a faixa-título, uma ode a um fetiche machão mais que manjado: a troca de carícia entre duas mulheres. Para iniciados.
Stephany - Pra se Apaixonar”
Pra se apaixonar é o segundo disco da cantora “sensação-youtube”, Stephany. No repertório, dois de seus maiores hits: “Meu Mundo Desabou” e “Eu Sou Ste-phany” - ambas versões de big hits gringos. É forró do Piauí embalado pela voz marcante da musa linda e absoluta.
O que roqueiros e uma estrela de forró piauiense tem em comum?
vale a pena ouvir...
Reinações de Narizinho, Alice no País das Maravi-lhas, Bossa Nova, Sérgio Sampaio... em Pareço Moderno, o Cérebro Eletrônico reprocessa a cultura pop, adiciona a história da MPB no caldeirão e desponta como algarit-mo promissor nos beats da música hum... moderna.
FOTO - TATIANA BLASS
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Excelentíssimo Senador Eduardo Azeredo,
Suas intenções com o Projeto de Lei que “regulamenta” a
ação dos internautas podem estar cheias de bom mocismo
político – o que nos remete ao batido clichê, “o inferno está
cheio de boas intenções.” Ok, eu não quero ter meu cartão
clonado – assim como também não pretendo utilizá-lo para
torrar 40 contos num CD que obtenho através de um clique.
Tá sentindo o drama?
Olha Edu, a internet pode até ser obra da paranóia ianque
de vigiar, vigiar e vigiar. Mas a partir do ponto em que as
aranhas (nós) invadiram esta teia, fiando sua extensão, não
tem como querer controlar: nós produzimos músicas, letras,
vídeos... vídeos... O princípio básico afinal não é compartilhar?
Crio melodias para serem ouvidas. Textos para serem lidos.
Filmes para serem compartilhados. A arte é a mesma, mudam-
se os meios: democracia é baixar – e já são mais de 50 milhões
de eleitores...
Querer proibir o acesso completo deste conteúdo vasto,
Dudu, é assumir uma postura negligente. O quê o Sr. estava fa-
zendo enquanto milhares de blogueiros iniciavam a revolução
na forma de ouvir música? Baixando um disco claro! E agora
vem com este papo careta? Reprimir é repetir a história lá de
trás. Enxergar novas possibilidades é querer evoluir. Pedófilos,
estelionatários, assassinos sempre estiveram aí, atrás de nossas
portas e agora a culpa é da internet? Acesse a pasta raiz, meu
caro! Deu 100% aqui no download e preciso ver o episódio
que encerra a temporada de Lost. Daqui a alguns segundos,
postarei este texto no meu blog para logo em seguida meus
feeds indicarem que você o recebeu. É pedir muito pra Vossa
Excelência deixar um comentário? ALEX OLIVEIRA
baixe este texto!______________
Adriana PeixotoAdriana Peixoto (2008)
O CLã PEIXOTO chegou à rede. Adriana Peixoto, sobrinha do mestre Cauby, depois de 15 anos cantando na noite paulista e carioca, finalmente lança seu disco de estréia com divulgação maciça na internet. Lançado de forma independente (selo Studium Brasil), os sambas de Adriana se fazem conhecer através da sua página no Myspace. O repertório do disco é focado em MPB e excursiona por estilos diver-sos: samba, samba-canção, samba-rock. A admiração da cantora por compositores consagrados, que lhe presentearam com canções inéditas, pode ser conferida nos créditos. Gente como Sueli Costa, Abel Silva, Dalmo Medeiros e Danilo Caymmi são os nomes por trás dos versos. Cada uma das faixas surpreende pela sonoridade, que ganha contornos latino-americanos com os arranjos e a produção musical do pianista Yaniel Matos, um dos expoentes da música cubana. A malandra “Zé Mané” e a atualíssima “De cabeça pra Baixo” (aqui a carioca observa descrente a degradação de uma romântica Rio de Janeiro) são canções que confirmam o talento da moça. De voz potente (Cauby comparou a sobrinha ao mito Elis), com Adriana, o legado dos Peixoto encontrou a geração internet. alex olIveIra
FOTO - BRUNO FERNANDES
ILUSTRAÇÃO - ALEX BORBA
ATÉ PARECE MODERNO uma LESMA DE SOFÁ ser capaz de ANEDOTAS E PERIPÉCIAS e ainda dotar de um certo VENENO COR-DE-ROSA logo DOMINE O PÚBLICO.blogspot.com
fim