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POP POP POP + velhas virgens a geração iPod a febre tecnobrega o revival do vinil cérebro eletrônico os seminovos João Marcello Bôscoli tramando o futuro e os rumos do mercado musical. exclusivo! nº 04 . Novembro 2009 R$ 14,90 A decadência do mercado fonográfico: agonia de uns, alegria de outros. música mutante

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A música e as novas tecnologias. O futuro do mercado fonográfico e muito mais.Pop 4.Elaine de Almeida Gomes

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POPPOPPOP+velhas virgensa geração iPoda febre tecnobregao revival do vinilcérebro eletrônicoos seminovos

João Marcello

Bôscoli tramando o

futuro e os rumos do

mercado musical.

exclusivo!

nº 04 . Novembro 2009 R$ 14,90

A decadência do mercado fonográfico: agonia de uns, alegria de outros.

músicamutante

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Deus criou a música.E o diabo (que é o pai do rock) criou a internet!Certamente esse é o raciocínio daqueles que se be-neficiavam do antigo modelo da indústria fonográ-fica, na era A.D. (antes do digital).Já a imensa maioria dos consumidores de música e alguns de seus produtores, pensam justamente o contrário; já que a internet e seu modelo anár-quico-democrático de distribuição de informações providenciou lugares na primeira fila para quem quiser assistir o grande circo musical mundial.Ouvimos gente que trabalha com produção, ouvi-mos artistas e músicos, ouvimos fãs e consumido-res de música digital, ouvimos gente que trabalha pela regulamentação e quem defende o livre aces-so, ouvimos gente e ouvimos música.Há quem tente regulamentar, há quem viva para achar um meio de burlar essa regulamentação.Há quem ouça, quem produza e quem ganhe di-nheiro com isso. Há música tocando em celulares, iPods e em fones de ouvidos ao redor do mundo.É sempre música. E isso é o mais importante.

editorial

Elaine Gomes

NAPOP04...

CONSELHO EDITORIALJosé Alves TrigoEduardo Rocha

EDITORA-CHEFEElaine Gomes

DIRETOR DE ARTEAlex Oliveira

FOTOSEquipe de reportagemDivulgação

ILUSTRAÇÃO (Capa)Sandra Pio

REPÓRTERESAriane MazzaVinicius Gonçalves

REVISÃOElaine GomesClaudia Urbaniski

DIRETOR COMERCIALCaio Cassinelli

POPUma publicação da JR Comunicações Ltda.Redação: Rua Dom Teodosio, 444 São Paulo - 2996 6694PARA [email protected]

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04 GARIMPOAs últimas novidades sobre as novas tecnologias.

08 A GERAÇÃO iPodEles baixam MP3 e não enxergam nenhum problema nisto.

10 ESPAÇO DEMARCADOO Myspace se consolida como novo celeiro de novidades.

12 FAÇA UMA POSE!O Youtube e as novas celebridades.

14 CAPANa trilha da música digital: vivemos a revolução?

22 VISIONÁRIOJoão Marcello Bôscoli fala sobre a Trama Virtual e suas novas ideias.

28 ADVOGADO DE DEFESA?Nehemias Gueiros Jr. aponta o dedo na cara do mainstream.

32 SINFONIA ROBÓTICAUma nova forma de criar música.

38 FESTA COMPLETACom o Móveis Coloniais de Acaju a ordem é não parar!

40 VELHAS VIRGENSBrincando com o estereótipo de “machos-alfa”, a trupe conquista fãs.

42 OS SEMINOVOSGorillaz tupiniquim? Conheça a mais nova banda-cartoon da internet.

44 TECNOBREGASA mania que veio do Pará.

46 REVOLUÇÕES POR MINUTOComo o Radiohead e o Arctic Monkeys revolucionaram a música.

48 ATÉ PARECEM MODERNOSOs cabeças do Cérebro Eletrônico falam sobre a nova indústria musical.

52 ZÉ RODRIX As últimas notas de um grande músico.

54 SEJA UM BEATLE!Encarne o Fab Four nos games!

56 O LADO BReativaram a única fábrica de vinil do país – e o hype continua!

58 EVOLUÇÃO OU REVOLUÇÃO? Conheça a mídia SMD, criada pelo sertanejo empreendedor Ralph.

60 GUIAConfira os últimos lançamentos musicais comentados.

63 OPINIÃOUma carta para o senador Azeredo.

POPNº 04 . Novembro 2009

JR comunicações

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GARIMPOcurtas

Fróes:O retorno do vinil é coisa de gente cool!

O Líder do grupo Mundo Livre S/A e as gravadoras

Marcelo Fróes é produtor cultural, publisher do tablóide musical International Magazi-ne há 15 anos e dono do selo Discobertas, que já lançou CDs de Zé Ramalho e Renato Russo, dentre outros. Foi responsável pelas reedições de discografias importantes - como Gilberto Gil, Erasmo Carlos, Nara Leão, Vinicius de Moraes, Mutantes, Raimundo Fagner e Roberto Carlos. Ele fa-lou, com exclusividade, para a POP sobre o mercado de vinil: “O vinil nunca foi embora. Simplesmente virou uma coisa cool para os brasileiros – fãs e colecionadores. Hoje é cool o cara ter um toca-discos e alguns vinis na sala, para tirar onda. Lá fora, principalmente na Inglaterra, todos os produtos de Paul McCartney, U2 ou Oasis, por exemplo, sempre saíram e continuam saindo em vinil. Alguns artistas brasileiros fizeram tiragens de seus discos em vinil, mais como uma onda promocional, como Ed Motta, Maria Rita, Los Hermandos e Nando Reis, dentre outros. Mas efetivamente não tem como voltar a ser produto de massa” ELAINE GOMES

Zero quatro, líder do grupo per-nambucano Mundo Livre S/A, está com saudade das gravadoras. Numa entrevista recente para o portal UOL, o vocalista da banda que é a principal expoente do movimento mangue-beat, soltou o verbo.“Percebo que, a despeito de toda a questão do acesso democrático e da maior visibilidade que chegaram com a internet, um fato inegável é que a web tem desestruturado quase todas as cadeias que se envolvem com a digitalização, do jornalismo à música. Hoje é moda celebrar a web, dizendo que final-mente nos livramos dos malas da indústria fonográfica. Tudo bem, a indústria até tinha um aspecto predatório, mas uma coisa é você defender a ausência da indústria, a ausência da cadeia produtiva. Se o mangue beat tivesse surgido num ambiente parecido com o que rola hoje, com gravadoras em crise, talvez o mangue beat tivesse se limitado a uma ou duas comunida-des de Orkut, uma coisa de gueto. (No início dos anos 90) A Sony foi a Recife, contratou o Chico Scien-ce e bancou o primeiro clipe da banda, que rodou direto na MTV. Finalmente a indústria olhava para nós. E teve um efeito multiplica-dor forte. As pessoas esquecem isso. Hoje há uma situação sem indústria, sem cadeia produtiva. Está se instalando uma religião da tecnologia, um fundamenta-lismo tecnológico. Fala-se muito em economia sustentável, mas na cultura não existe consumo sustentável”. AO

curtas e certeiras

Para inglês ouvir: o Spotify é a nova sensação na Europa. Criado por suecos, o serviço é uma espécie de rádio com um enorme acervo de músicas “on demand”, resumindo: clicou e escutou. Por 9,90 euros por mês, os usuários tem acesso a mais de 6 milhões de músicas. O modelo da empresa agradou a indústria fonográfica, que liberou um enorme acervo para o aplicativo.

O Zune, MP3 player da Micro-soft, bolou uma campanha com Chris Plasse, o nerd de Superbad, para viver Densel Washigton em Dia de Treinamento. O curta é divertidíssimo!

Já imaginou o Kurt Cobain bancando o Bon Jovi? Johnny Cash cantando “Ring of Fire” no programa do Gugu? Pois são estes deleites surreais que o Gui-tar Hero 5 proporciona. Os fãs, claro, torceram o nariz. AO

Quem diria... A cantora Lily Allen é contra o download ilegal de arquivos na internet. Eis o passado da moça: em 2005 no auge do myspace, a inglesinha soltou algumas canções no site e, ao lado do Arctic Monkeys, tornou-se um dos primeiros grandes sucessos 2.0. Agora alavancada de musa dos internautas à popstar, ela dispara (contraditória) no seu blog: “A troca de arquivos online é legal porque é uma forma de uma nova geração de fãs nos conhe-cer’. Isso é ótimo se você é um artista estabelecido, no fim de sua carreira, com um monte de discos para atrair um novo público; artistas que estão começando não têm esse luxo.”

Lily, porém, não sai em defesa das grava-doras: “Falando assim, parece que eu estou ficando do lado dos donos das gravadoras. Não estou. Eles foram ingênuos e compla-centes com a nova tecnologia - e gastaram todo o dinheiro que ganharam, em seus gor-dos salários; não com desenvolvimento da indústria. Mas à medida em que eles perdem muito dinheiro para a pirataria, eles não vão cortar os próprios salários - eles param de investir em direção artística. Corte de verba resulta numa direção artística que não pode arriscar e só pode contratar artistas que eles sabem que irão funcionar. (...)”

O texto foi uma resposta a um artigo publicado no jornal britânico Times, em que integrantes de bandas como Radiohe-ad, Pink Floyd e Blur (reunidos sob a sigla Featured Artists Coalition) declararam-se contra o projeto de lei que visa instaurar, no Reino Unido, um projeto parecido ao que Nicolas Sarkozy apresentou na França, onde aquele que baixar música ilegalmente pela internet poderá ser banido da rede caso reincida na prática. Para os fãs, a pala-vra é uma só: ingratidão. ALEX OLIVEIRA

lily allen contra o MP3

“Eu gosto disso porque me sinto próxima dos meus fãs e de pessoas que gostam de música. É uma forma de demo-cratizar a música. E a música é uma dádiva”A cantora Shakira sobre o download ilegal

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Jogos como Guitar Hero e Rock Band proporcionaram aos jogadores a experiên-cia de interação com a música através dos instrumentos. Os fãs pediram mais. Beaterator vai além e proporciona aos jogadores uma experiência completa: você produz sua própria música. Desenvolvido pela RockStar, em parceria com o produtor-estrela Timbaland, o título foi lançado em 29 de setembro nos Estados Unidos para o Sony PSP. Mais barato que os programas profissionais de criação de músicas (nos EUA sai por US$40), Beaterator é uma ferramenta com-pleta de criação e edição, desenvolvida para que os fãs de música componham por meio de uma interface já conhecida: a de games. “Eu queria que as pessoas tivessem a sensação de também criar um beat – saber que todo mundo consegue”-, diz Timbaland, sobre o que motivou para a participação no jogo. O produtor forneceu mais de três mil beats, sons e loops para a brincadeira. As músicas produzidas pelos jogadores podem ser exportadas e disponibilizadas na internet.Beaterator eleva o patamar dos games musicais, ao mesmo tempo que sacode a indústria – afinal produzir música é como jogar videogame? “Duas músicas do meu novo disco foram feitas no Beaterator!” Timbaland dá a resposta. ALEX OLIVEIRA

Imagine um indivíduo em frente ao computador - por horas a fio - pesquisando ritmos e estilos, entre vídeo-aulas de diversos instrumentos e momentos solitários de inúmeros músicos do youtube. Imagine um produtor musical juntando todos esses achados da internet, no youtube, e criando músicas com toda essa galera; como um mashup supre-mo. Depois do Kutiman... o youtube (e consequentemente a música) nunca mais serão os mesmos.Kutiman é um músico e produtor israelense que após lançar um disco em 2007 pelo selo alemão, ‘Melting Pop Music’, descobriu as vídeo-aulas no youtube, do bateris-ta Bernard Purdie. No início ele queria tocar em cima das levadas do Purdie, mas acabou percebendo que poderia encontrar outros músicos, também na internet. Foram meses de pesquisa entre centenas de vídeos, que acabaram reduzidos à apenas 100. Todos os selecionados pelo produtor, estão devidamente identificados pelos perfis no youtube. E como se não bastasse fazer uma única faixa utilizando essa técnica de colagem, o cara lançou o primeiro disco exclusivo do youtube, com sete faixas sensacionais, mesclando diversos vídeos encontrados na rede social. Eis o mais revolucionário lançamento do ano. Numa tacada, e meio sem querer, o cara discute o compartilhamento de arquivos, direito autoral etc... Não deixe de baixar e ver todos os vídeos. http://tiny.cc/QHhJd

do it yourself!

mashup supremo

Beaterator vai além do jogo e mira na produção musical.

vinil rules!

Conheça Kutiman e o primeiro álbum exclusivo do youtube

“Eu vou praticar e depois desafiá-los. Mas eu estava nas gravações originais, não tenho que me qualificar!”Paul McCartney quando questionado se já jogou “Beatles Rock Band.”

“Barrar os arquivos?

Esquece, não há o que fazer,

aliás é uma tremenda estupidez conter o

avanço da internet.”

Romulo Fróes

qMarvin Gaye, David Bowie, Gwen Stefani, Cypress Hill, Billy Squier e Beastie Boys... eis alguns dos nomes que irão figurar na “versão pi-ckup” de Gui-tar Hero. Saem as guitarras quebradas e entram os músicos do fu-turo: DJ Hero é o lançamento da Activision para todos os consoles de úl-tima geração, onde brincar de bancar o DJ é o chamariz. Um apetrecho que simula uma pickup (aquelas mesas cheia de botões onde os DJS fazem suas mixagens) acompanhará o pacote. A expectativa dos jogadores pelo game só aumentou depois que foi anunciado que a dupla francesa Daft Punk faria parte do game. O jogo já está nas lojas.

Nos EUA, o vinil cresceu

37% em 2007

Em 2008, o aumento foi

de 128%

No primeiro semestre de 2009, mais

50%

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iPod

A cada dia aumenta o número de downloads e reprodução de música online entre adolescentes do mundo todo, eles são...

a geração

A forte presença da mú-sica é claramente ob-servada no nosso coti-diano com a constante presença dos fones de

ouvidos em lugares públicos como ônibus, metrô, calçadas e praças. É possível ver grupinhos conver-sando animadamente mas, mesmo assim, cada um com o seu fone, sempre mantendo a distância do mundo real, ou conservando um certo excesso de individualidade.

Esses são os jovens da geração Y. Eles são talentosos,

descompromissados e têm muita vontade de traba-

lhar, mas não querem, de maneira nenhuma, que isso

interfira em suas vidas e vivem conectados, além de

estarem sempre com um fone de ouvido. Pelo excesso

de dinamismo é muito difícil prender sua atenção. Se

aborrecem com facilidade e são cheios de opiniões.

É difícil convencer um jovem da geração Y a fazer algo

que vá contra suas idéias. Eles são os filhos da Gera-

ção X, as pessoas conservadoras, altruístas, que fazem

tudo como manda o figurino e têm medo de arriscar. É

justamente das pessoas que não têm medo do amanhã

que estamos falando, aquelas que consideram que a

tecnologia vem acima de tudo e que um download não

faz mal a ninguém. Muito pelo contrário.

o laNce É MÚsIca PortÁtIl!De uns anos para cá, a garotada tomou gosto pelo MP3.

Muito mais prático e acessível, pode ser ouvido em

qualquer lugar, a qualquer hora e de uma forma muito

discreta nos iPods, MP4 e celulares. Já música em no

formato WMA, comum em CDs, não pode ser repro-

duzida em muitos desses aparelhos portáteis. E quem

consegue se manter discreto com o diskman em mãos?

Em apenas 10 minutos, você pode ter a musica que

quiser, onde quiser e na hora que quiser, apertando

apenas um botão. Com o avanço do MP3 na sociedade

atual, surgiram muitos programas de compartilhamento

de música, como LimeWire, SoulSeek, E-mule, Kaaza

entre outros. Houve também a disseminação de site e

blogs que disponibilizam músicas para download, além

das comunidades em redes sociais, como a já falecida

Discografias, que foi excluída justamente pela questão

dos direitos autorais. Um estudo realizado pelo MPD

Group, em 2008, diz que 52% dos jovens entre 13 e 17

anos preferem ouvir rádios online a fazer downloads.

Muitos desses jovens alegam medo de represália dos

pais pelo download ilegal, outros alegam o medo de

infectar seus computadores com vírus ou baixar por

engano um spyware.

Mesmo com essa mudança na tendência do mercado de

downloads, esse número ainda é alto entre os jovens de

18 a 25 anos. Cerca de 60 % deles fazem download com

frequência e dizem que graças à ferramenta conseguiram

ampliar o horizonte musical, dando chance a bandas

antes pouco conhecidas. Do total, apenas 20% dizem que,

se eles gostam realmente da banda/artista compram o

CD. Mas fazem o download mesmo assim. “O CD é só pra

dizer que tem, é muito difícil ouvir direto dele”, diz Helder

Jacomo (17), apaixonado por música POP.

Hoje em dia o CD é considerado por muitos, como coisa

de gente velha.“Se você for na minha casa vai ver que tem um

monte de CDs na estante. Pode apostar que são todos dos

meus pais”. É muito mais prático e barato procurar aquele

álbum em um site de busca qualquer, do que ir à uma loja.

Dizem por ai que o CD é o novo vinil, vai se tornar

coisa rara e adorado apenas por colecionadores. O fato é

que os jovens de hoje têm pouca tolerância com o antigo,

mesmo que ainda faça parte da sua realidade.

Quanto mais moderno o reprodutor de MP3 de um

jovem, maior é a probabilidade de ele ser aceito no grupo

dos ‘ban ban bans’. E quando o assunto é pagar pela música

começa outra choradeira. Alguém aqui gosta de pagar por

um disco de alumínio que toca exatamente a mesma coisa

que o MP3? O download já faz parte da cultura desses

adolescentes e querer mudar isso agora não vai ser uma

tarefa fácil para ninguém. ARIANE MAZZA

qOs álbuns que têm o maior número de downloads anuais são as trilhas sonoras de novelas globais, seguidos por indie rock, black e rock clássico.

Só no Brasil já foram vendidos mais de 6,9 milhões de ipods. E esse numero só tende a aumentar.

As rádios online mais populares do país: Rádio UOL, Rádio Terra, Rádios Online, Rádio Oi, Rádios, Rá-diosBr, Globo Rádio, Tudo Rádio e Portal Rádios.

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ONDE BAIXARhttp://megastore.uol.com.brhttp://www.apple.com/itunes

“Se você for na minha casa vai ver que tem um monte de CDs na estante. Pode apostar que são todos dos meus pais. Não é prático!”

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______________Quem nunca ouviu

falar do MySpa-ce? A rede so-cial, que é quase

como orkut e afins, dispo-nibiliza uma rede intera-tiva de fotos, blogs e per-fis de usuários. O grande diferencial da ferramenta é capacidade de hospedar conteúdos em MP3.

O site foi criado em 2003 e é a rede

social número um do mundo, com mais

de 110 milhões de usuários. Por ser um

site ativo - novos recursos são adicionados

com freqüência -, o MySpace recebe novos

membros todos os dias.

Os perfis possuem duas seções co-

muns, ‘Sobre mim’ e ‘Quem eu gostaria

de encontrar’. Contém também as seções

‘Interesses’ e ‘Detalhes’, e um espaço com

emoticons engraçadinhos onde você define

seu humor. A página possui, ainda, um

blog e um espaço destinado para o down-

load de fotos, no qual você escolhe uma

delas para ser a padrão - foto mostrada na

página inicial. Vídeos também podem ser

baixados no perfil.

Através de uma customização por

Código HTML, é possivel deixar o perfil

com a cara do usuário. As músicas são

adicionada através do Música MySpace,

serviço que convida as bandas a postarem

seus trabalhos.

toDos quereM seu esPaÇoNo Brasil, o serviço iniciou atividades em

setembro de 2007 e já tem uma versão em

português. Não é tão popular quanto nos

Estados Unidos, mas muitos artistas nacio-

nais, como Ivete Sangalo e Pitty, utilizam a

ferramenta.

Muitas bandas e músicos utilizam o

MySpace como uma forma de divulgação,

muitas vezes transformando seu perfil em

site oficial. Mas a ferramenta não é usada

apenas por aspirantes a músicos. Celebri-

dades como Britney Spears e Madonna

também têm seu perfil por lá.

Por ser muito popular, é povoado por

músicos, muitos atores, diretores de cinema,

apresentadores, modelos e empresas, que

têm o próprio perfil no site. Toda populari-

dade também contribui para o aumento dos

fakes, ou falsos perfis, como é comum em

todas as redes de páginas pessoais. O serviço

está apagando esses perfis aos poucos.

É verdade que o MySpace está desco-

brindo grandes nomes no mundo musical

e não há como falar de todos eles, mas

vamos falar da primeira grande revelação,

a banda Arctic Monkeys.

DescoBrINDo taleNtosCom três álbuns lançados, a banda bri-

tânica Arctic Monkeys, formada por Alex

Turner (guitarra e vocal), Jamie Cook

(guitarra), Nick O’Malley (baixo) e Mat-

thew Helders (bateria e vocal de apoio),

iniciou seus trabalhos em 2002 na cidade

de Sheffield.

Inicialmente, com o nome Big Bang, eles

faziam cover do Led Zepplin. Quando Alex

descobriu que sabia fazer músicas, eles

mudaram o nome da banda para Arctic

Monkeys e gravaram uma fita demo.

Em 2003 começaram a fazer shows pela

Inglaterra e as fitas demo não supriam as

necessidades dos fãs, por isso, sem que os

membros da banda soubessem, foi criado

um perfil no MySpace onde eram dispo-

nibilizadas todas as músicas da demo. O

sucesso foi tão grande que não demorou

muito para que o Arctic Monkeys passasse

a ser conhecido no mundo todo.

Em 2004 a popularidade dos garotos

chamou a atenção da imprensa britânica.

Foi quando Mark Bull, um fotógrafo ama-

dor, filmou toda a apresentação da banda

e fez o videoclipe da música Fake Tales

Of San Francisco e lançou em seu site. A

partir daí, tudo são flores para os meninos

do Arctic Monkeys.

O Brasil também teve a sua revelação

pelo MySpace, trata-se de Mallu Maga-

lhães. Com apenas 15 anos, a adolecente

gravou quatro músicas de sua autoria e

postou no site. Logo depois da publicação,

duas músicas da pequena cantora foram

usadas em comerciais de grandes empre-

sas. Agora, Mallu está na turnê do seu

primeiro álbum. ARIANE MAZZA

BPARA VER E OUVIRhttp://www.myspace.com/arcticmonkeyshttp://www.myspace.com/mallumagalhaes

demarcadoespaço

Cada vez mais popular, o MySpace abre espaço para quem quer ser músico e não sabe por onde começar

______________ILUSTRAÇÃO - DEVIANTART

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proposta é simples: o You-Tube é um site que permite que seus usuá-

rios carreguem e compar-tilhem vídeos no formato digital. Quando foi desen-volvido por Chad Hurley, Steve Chen e Jared Karim em 2005, ninguém conse-guia imaginar o sucesso que o site alcançaria. Em 2006 o YouTube formou aliança com o Google por US$ 1,65 bi em ações.

celeBrIDaDes INstaNtÂNeasPara disponibilizar conteúdos, o YouTu-

be utiliza o formato Adobe Flash e hoje

é o mais popular site do tipo, com mais

de 50% do mercado. Hospedando uma

imensa quantidade de filmes, videoclipes e

materiais caseiros, o YouTube foi eleito em

novembro de 2006, a invenção do ano pela

revista norte-americana Times.

Toda essa tecnologia ajudou a criar as

celebridades instantaneas. A teoria dos 15

minutos de fama, ditada por Andy Warhol

e cantada pelos Titãs no disco A Melhor

Banda Dos Ultimos Tempos da Última

Semana, nunca esteve tão evidente.

A maior das provas vivas desses minu-

tinhos de fama é a cantora escocesa Susan

Boyle, que conquistou o mundo cantando I

Dreamed a Dream, de Les Miserables, no

famoso programa de caça talentos Britain’s

Got Talent. Ela conseguiu transcender a

fama do YouTube e já estão falando até em

um filme contando sua vida.

Outro grande exemplo é a musa do Piaúi

Stephany, quem fez fama com o videoclipe

Eu sou Stephany. Com apenas 17 anos, a

forrozeira ganhou notoriedade depois de

postar no YouTube o clipe caseiro, onde joga

os cabelos, toma banho de espuma e faz uma

coreografia sexy no maior estilo Beyonce,

tudo para provar que é “linda e absoluta”.

A musa absoluta já tem pelo menos seis

vídeos fazendo sucesso no YouTube e está

preparando o videoclipe de Fumaça, primei-

ro rap que fala sobre o conteúdo do narguile.

Não foram apenas os anônimos que

caíram nas graças do YouTube. Madonna

esteve recentemente envolvida no caso

Warner, que exigiu que o Goggle deletasse

do site todos os clipes da estrela. Até a diva

Pop já está percebendo o poder do site e

dando o ar da graça por lá.

Uma atuação no programa americando

Saturday Night Live marcou o reecontro

de Madonna com o YouTube. Na atração, a

cantora troca puxões de cabelos e ofensas

bobinhas com a também cantora Lady Gaga.

No final, ela fazem as pazes com um beijo.

O vídeo tornou-se um dos principais hits

do YouTube. Assim, parece que Madonna

e a Warner perceberam que não adianta

gastar milhões de dólares na execução de

um vídeoclipe e privar seus espectadores

dele. O que dá lucro mesmo é o popular.

O que vale mais no mundo virtual é a

criatividade e o entusiasmo de quem faz.

Quanto mais cômico e inusitado melhor.

Os efeitos especiais milionários a gente

deixa para a televisão e cinema.

ARIANE MAZZA

“A maior das provas vivas des-ses minutinhos de fama é a can-tora escocesa Susan Boyle, que conquistou o mundo cantan-do I Dreamed a Dream, de Les Miserables, no famoso progra-ma de caça ta-lentos Britain’s Got Talent.

Nascem novas estrelas

Conexão Davis

A principio é um programa de entrevistas feito exclusiva-mente para o YouTube, mas em cada programa Davis Maneghel aparece cantando uma paródia diferente, sem-pre chamando as pessoas a assistirem o Conexão. Quase uma Xuxa. http://tiny.cc/EMMe4

André Arteiro “Antes que eu me queime”

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Em seu perfil no YouTube, An-dré Arteiro se intitula como O Novo Rei Do Pop. A música é uma versão bizarra de IF U Seek Amy, de Britney Spears e já obteve mais de 20 mil acessos. Vale conferir os comentários dos internautas. Hilário!http://tiny.cc/yHxNC

Eduardo Magnavita “Mulherengo”

A versão divertida da mú-sica Womanizer de Britney Spears. Com mais de 60 mil acessos, a música é do tipo que gruda na cabeça. E para quem quiser se deliciar cantando com Eduardo, na descrição do vídeo tem a letra toda.http://tiny.cc/mN5ea

Todos os dias surgem no Youtube, novos aspirantes a Madonnas e Michael Jacksons. A POP selecionou os mais engraçados!

uma pose!faça

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A evolução do hábito de ouvir, produzir e compartilhar música, enquanto o mercado fonográfico tradicional agoniza - para desespe-ro de poucos e alegria de muitos

música digitalna trilha da

texto: elaine gomes ilustrações: sandra pio

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Há três déca-das levamos a música no bolso. Há uma ela

corre solta pela rede mun-dial de computadores. Pode não parecer, mas é pouco tempo pra tanta mudança. A chegada da internet abalou, minou e implodiu o mercado fo-nográfico mundial que, deitado eternamente em berço esplêndido, achava que a festa jamais acaba-ria. Mas acabou. O berço balança hoje pelas mãos da demanda.

O esquema tradicional das majors era o de

escolher o que vender e empurrar ouvido

abaixo dos consumidores, pelas rádios.

Eles produziam tendências e escolhiam (de

acordo com critérios de uma subjetividade

que jamais entenderemos) quem estaria

nas paradas de sucesso, nas trilhas das no-

velas e de nossas vidas. Era uma música de

qualidade tão baixa, que só quem viveu pra

ver a Discoteca do Chacrinha nas tardes de

sábado, é capaz de mensurar!

O vinil nacional imperava. Na década de

1970 (a ditadura vigente na época, aqui no

Brasil, é só uma desculpa pra essa forma

engessada de trabalhar pouco e ganhar muito,

que a indústria fonográfica cunhou) esperá-

vamos muito pelo lançamento de um LP, que

demorava a vir e quando era lançado, ainda

corria o risco de ser tão mal produzido que

não tinha encarte com letras, nem o invólu-

cro plástico que deveria proteger o disco. Na

década de 1980, o Brasil entrou na rota das

turnês internacionais (que antes era um acon-

tecimento mais que bissexto) e começamos a

encontrar nas lojas, com mais facilidade, dis-

cos de bandas estrangeiras menos populares

que Michael Jackson. Isso foi uma vitória a se

comemorar. E comemoramos!

Nessa época havia opção das fitas cassete,

que eram geralmente de péssima qualidade.

Hoje, olhando pra trás, é fácil perceber

como éramos mal servidos.

a MÚsIca No FoNe De ouvIDo

Oficialmente, o walkman surgiu em 21 de

junho de 1979, no Japão (data e local de lança-

mento do anúncio da Sony apresentando seus

primeiros modelos). Mas a música portátil já

fazia história seis anos antes, e no Brasil.

Andreas Pavel, um alemão morador de

São Paulo, registrou aqui o stereobelt, um

pequeno componente portátil para repro-

dução em alta fidelidade do som gravado.

Com o anúncio da Sony, Pavel, como

dono da idéia original, processou a em-

presa. Ganhou na Alemanha e perdeu nos

EUA. Diz a lenda que, há alguns anos, ele

pensava em procurar a Apple para receber

royalties sobre as vendas do iPod, mas ele

nega essa história.

Uma pessoa com um fone de ouvido é a

protagonista de sua própria trilha sonora,

onde os sons do resto do mundo são mero

pano de fundo. Se o mundo tivesse botão

de volume, certamente estaria no mute.

Ouvir música virou uma experiência indi-

vidual, por princípio dos fones pendurados

nos players. Mas ao mesmo tempo em que

se isola, esse ouvinte está hiperconectado e

em sintonia com o novo mundo digital.

Dessa condição de isolamento, renasce a

vontade de compartilhar uma música que

encantou; e é nessa circunstância que surgi-

ram os sites de compartilhamento de faixas.

o coMeÇo Do FIM

Quando foi criado, o Napster (dorminhoco

- que era o apelido de seu criador Shawn

Fenning) tinha como grande aspiração a

simples possibilidade de intercâmbio de

músicas entre os computadores.

Quando Fenning distribuiu o programa

para os amigos, ele mudou a história da

música e resgatou o aspecto social da rede.

Se no início dos anos 1990, a internet

apareceu como forma de facilitar a troca de

informações, no final da década essa troca se-

ria acelerada graças à popularização do MP3.

O resto dessa história todo mundo

conhece: em 1991 o Napster foi cancelado

(depois de brigar muito, inclusive com a

banda Metallica), mas “a semente do mal

estava plantada”.

Outros programas de compartilhamento

de músicas estão aí, em pleno funciona-

mento. Uns mais visados, outros menos.

Periodicamente alguns caem, outros

aparecem, mudam de nome, mas mantêm

o volume de downloads incrivelmente alto.

Segundo a ABPD, em 2007 a venda de

fonogramas digitais via internet no mundo,

cresceu 40%, movimentando US$2.9

bilhões e alcançando 15% do mercado (isso,

só considerando a venda de downloads,

que é infinitamente menor que o volume

dos baixados gratuitamente). Quem não

tem um programa de download de música

instalado em seu computador que atire o

primeiro cabo USB.

quero ver queM Paga Pra geNte FIcar assIM

O mercado fonográfico amarga suas más

escolhas, sua falta de visão e o abismo que

criou entre os produtores de música. De

um lado, uma minoria de artistas fabricada

pelas majors, reproduzida ad nauseam

em programas de grande audiência na

televisão e nas rádios e ocupando a maioria

Uma pessoa com um fone de ouvido é a protagonista de sua própria trilha sonora, onde os sons do resto do mundo são mero pano de fundo.

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das prateleiras das lojas. De outro, milhões

de músicos cada vez mais conhecidos pelo

público, hoje disperso na internet, que bus-

cam alternativas para viver da produção

artística. Esses artistas também estavam

mal servidos e não encontravam o espaço

que a internet ofereceu.

O resultado do encontro dos consumi-

dores de música, cansados de pagar caro

pelas bandas que não escolheram; com os

artistas que, não conseguiam ser gravados,

era inevitável. A essa mistura, acrescentou-

se uma rede mundial multiplicadora que

acendeu o estopim da bomba que abalou

cada estrutura de um modelo de negócio

que demorou, mas naufragou. Tudo isso

sem mencionar os preços praticados aqui.

O Brasil é o 6º país onde o CD é mais caro.

Se compararmos o preço de um CD

vendido em Amsterdã- US$28,97, com

o praticado aqui US$23,37 veremos que

a diferença nem é assim tão grande. A

grande diferença está no poder de compra

do salário do brasileiro. Numa conta sim-

plista (e triste), considerando que o euro

está cotado em R$2,54 e o salário mínimo

holandês está fixado em 1.264,80 euros,

qualquer trabalhador holandês com mais

de 23 anos (já que o salário é determinado

por faixa etária) recebe R$3.212,60 contra

os nossos irrisórios R$465,00.

Considerando o dólar a R$1,80, o CD

holandês custa R$52,15, e o brasileiro

R$42,06. A diferença é que se um holandês

maluco quiser torrar seu salário em CDs,

comprará 61 e ainda poderá comprar um

par de tamancos com o troco.

O brasileiro esvaziará o bolso e voltará

pra casa com 11 CDs, e a pé, já que o troco

não pagará a passagem de ônibus.

Essa é a receita da pirataria. Seu com-

bustível e a razão de existir.

aBPD: NuveNs Negras, teMPestaDes No cÉu

A Associação Brasileira dos Produtores

de Discos apontou que em 2002 foram

vendidos 75 milhões de unidades de CDs

no Brasil, contra míseros 31,1 milhões em

2007. De lá pra cá esses dados, curiosa-

mente não foram atualizados.

Outro enorme indicador do quão as coi-

sas vão mal para a indústria tradicional é o

fato de eles terem diminuído pela metade

o patamar de vendas necessário para que

determinado artista seja premiado com

discos de ouro, platina e diamante.

Segundo a ABPD, enquanto as vendas e o

faturamento do setor fonográfico brasileiro

caíram 17,2% e 31,2% respectivamente,

em 2007, a música digital cresceu incríveis

185% no mesmo período. A movimentação

do setor (considerando vendas pela internet

e celulares) chegou a R$24,5 milhões, 8%

do mercado de música no Brasil. Esse foi o

primeiro dado referente ao mercado digital

brasileiro divulgado pela associação.

Em abril deste ano, o presidente da

ABPD, Paulo Rosa, falou sobre esse indi-

cador: “Consideramos o crescimento do

mercado digital fundamental para os negó-

cios com música gravada, sendo necessário

neste ano de 2008, o engajamento de nosso

setor em discussões com os provedores de

serviço de acesso à internet, para a busca de

soluções visando a redução dos atuais níveis

de pirataria online. Isto já vem acontecendo

em vários países, com resultados concretos

principalmente na França e Inglaterra”.

Mas não é bem assim. É verdade que

nos quatro cantos do mundo, se ensaiam

medidas reguladoras para a prática de

downloads gratuitos de música. A França

fez alarde com sua lei punitiva, para em

seguida voltar atrás, argumentando que

ela feria a Carta dos Direitos Humanos.

Sabidamente o motivo estava muito mais

ligado à reação terrível que a lei despertou

nos internautas (eleitores) franceses.

Outro enorme in-dicador do quão as coisas vão mal para a indústria tradicio-nal é o fato de eles terem diminuído pela metade o pa-tamar de vendas necessário para que determinado artista seja premiado com discos de ouro, plati-na e diamante.

1999Maio: Nascimento do sistema peer-to-peer (p2p), que permite a troca de arquivos on-line. O principal deles, batizado de Napster, é lançado em maio e, em dezembro, processado pela RIAA (Recording Industry Association of America, entidade que representa os interesses das gravadoras americanas) por infringir direitos autorais.

2000Abril: a banda Metallica entra com ações contra o Napster. No mesmo ano a cantora Madonna, que havia se reunido com os executivos da companhia para uma possível parce-ria, resolve processar a empresa.

2001Outubro: um consórcio de estúdios de cinema e de gravadoras entra com ação contra as três maiores empresas que sucederam o Napster: Kazaa, Morpheus e Grokster.

2002Fevereiro: surge o BitTorrent, tecnologia que divide o arquivo em diversas partes, tornando o download mais rápido.

2003Abril: corte federal dos EUA decide que Kazaa, Morpheus e Grokster não podem ser processados pelas infra-ções de direitos autorais cometidas pelos usuários.

Setembro: a RIAA anuncia a primeira leva de ações contra indivíduos que trocavam arquivos em redes p2p.

2004Fevereiro: Kazaa é processado civilmente por infração dos direitos autorais em uma corte australiana.

Dezembro: a MPAA, associação dos estúdios de cinema norte-america-nos, anuncia ações contra usuários do BitTorrent.

2005Junho: a Suprema Corte dos EUA decide que os serviços de troca de arquivos podem se responsabilizados se eles encorajarem usuários a tro-car arquivos protegidos por direitos autorais.

2006 Fevereiro: Reino Unido abre a discussão sobre legalização de downloads. Governo Britânico relaxa leis de direitos autorais para que usuários domésticos não sejam processados.

2007Julho: Trama lança o sistema de download remunerado

Outubro: Dona de casa norte ameri-cana Jammie Thomas é condenada a pagar US$222 mil por fazer down-load ilegal de músicas protegidas por direitos autorais.

2008Outubro: Comunidade Discografias do Orkut, com 755 mil participantes, é apagada por decisão judicial. Protes-to de internautas reúne 20 mil assinaturas.

2009Abril: Parlamento francês aprova lei antipirataria. Usuários pegos fazendo download ilegal poderão ser multa-dos e proibidos de usar a internet.

Parlamento francês recua e rejeita lei antipirataria por infringir o direito do livre discurso e da presunção de inocência da Declaração dos Direitos Humanos

Agosto: Inglaterra estuda punir download ilegal com restrição de acesso à web.

A década da revolução digital

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A Inglaterra, sempre dirigindo na contra-

mão, lançou há alguns anos, leis que afrou-

xavam a regulamentação dos downloads e

hoje estuda uma forma de punir a prática.

suBstItuINDo o INcerto Pelo DuvIDoso

No Brasil, tivemos o substitutivo do projeto

de lei 89/2003, do senador Eduardo Azere-

do (PSDB/MG) que ficou conhecido como

“projeto de controle do cibercrime”. Os

mecanismos do projeto abriam a possibili-

dade de criminalização de diversas práticas

importantes e usuais na cibercultura, além

de comprometer iniciativas de democrati-

zação do acesso à rede.

A quarta versão desse substitutivo foi

aprovada pelo Senado em julho deste ano;

uma versão mais branda. O texto origi-

nal era tacanho a ponto de punir todo e

qualquer armazenamento de dados sem a

autorização do “legítimo titular”. Como se

os navegadores não armazenassem dados

no computador enquanto navegamos;

deixando claro que nenhum dos juristas e

políticos envolvidos na elaboração dessa

legislação, entende de internet.

Na questão musical, ficamos quase na

mesma. O único avanço real do projeto foi

em relação ao crime de pedofilia.

A grande novidade ficou por conta da

decisão inédita do Tribunal de Justiça do

Paraná em favor das gravadoras contra o

software de compartilhamento de arquivos

K-Lite Nitro, que, divulgado em setembro

passado, pegou artistas e internautas de

surpresa. Pela decisão, a empresa respon-

sável pelo desenvolvimento e manutenção

do K-Lite está proibida de disponibilizar

o site enquanto não instalarem filtros

capazes de evitar a troca ilegal de arquivos

protegidos por direitos autorais. É uma

briga que não parece ter fim

A internet tem como uma de suas princi-

pais características, a “desterritorialização”,

a derrubada de fronteiras. É um território

neutro, descontrolado e anárquico.

As regulamentações nesse sentido

engatinham, enquanto internautas ganham

espaço, conquistam saberes e poderes na

velocidade da luz.

Logicamente a questão da remuneração

pela produção musical, mais cedo ou mais

tarde, terá que ser definida; mas isso não pode

ser feito de forma a penalizar o ouvinte, o fã.

É preciso que se invista em novos

modelos, que se conheça a internet, que

se explore de maneira inteligente a maior

fonte de informação e distribuição que o

mundo já viu. Adaptação e bom senso, em

generosas doses diárias, talvez ajudem.

O mercado fonográfico mundial se

estabeleceu em outra época, sobre outras

plataformas; e terá que entrar na fila para

poder brincar outra vez, aprendendo e

aceitando as novas regras do jogo.

Enquanto isso não acontecer, os músicos

sairão perdendo, os internautas e consu-

midores de música sairão perdendo, mas

muito menos que perde a cada minuto um

mercado que não foi capaz de acompanhar

o ritmo da tecnologia.

B SAIBA MAIShttp://www.abpd.org.br

TorrenTs legaisO que é: Agregadores de torrents com arquivos que não têm direitos autoraisComo funciona: O arquivo deve ser buscado em sites de torrents legais e, depois, baixado utilizando softwares como o BitTorrent ou o uTorrent. Programas como o Vuze ou o Miro já vêm com buscadores de torrents legaisQuanto custa: gratuitoExemplos: Legal Torrents, Legit Torrents

lojas onlineO que é: Lojas que vendem músicas digitais na web ou no celularComo funciona: No Brasil, o DRM (gerenciamento de direitos digitais) impede o usuário de colocar a música direto no iPod. Para fazer isso, o comprador deve baixar o arquivo digital, copiá-lo para um CD, converter para MP3 e só então colocar no iPodLojas de celular permitem copiar a mesma música no computador ou no telefoneQuanto custa: O preço das faixas no Brasil está entre R$0,99 e R$4,00Exemplos: iMúsica e Sonora, além das

lojas de downloads das operadoras de celular

sTreaming legalO que é: Sites que tocam músicas direto da internet, sem baixá-las para o computador.Como funciona: São como rádios online que permitem montar a programação Alguns endereços chegam a cobrar pela execução das faixasQuanto custa: A mensalidade do site Last.fm custa U$3,00Exemplos: Last.fm, Sonora e MySpace Music

rádio onlineO que é: Emissoras de rádio convencionais costumam transmitir a programação pela internet; também há rádios que funcionam somente pela webComo funciona:No site das rádios há um “tocador” para ouvir a transmissão Programas como o Winamp e o iTunes têm repositórios de links para ouvir rádios onlineQuanto custa: GratuitoExemplos: Radios.com.br e Radiosonline.com.br

domínio PúblicoO que é: Músicas que já perderam a validade dos direitos autorais ou cujos artistas liberaram o direito de reproduçãoComo funciona: Canções de artistas antigos são catalogadas em sites específicos ou colocadas para down-load por blogueirosQuanto custa: GratuitoExemplos: MusOpen, Domínio Público e Creative Commons

rePosiTórios de mP3O que é: Páginas com músicas di-gitais disponibilizadas pelas bandas. Pode ser o site oficial da banda ou site da gravadoraComo funciona:É possível ouvir músicas por streaming ou até baixar faixas ou álbuns completosQuanto custa: GratuitoExemplos: Trama Virtual, Palco MP3, FiberOnline e sites das gravadoras

aPlicaTivos Para celularO que é: Programas para ouvir rádios no mundo todo no telefoneComo funciona: O aplicativo deve ser baixado e instalado no celular. O telefone acessa a internet e toca as rádiosQuanto custa: Os aplicativos são gratuitos, mas o consumo de dados do celular é cobrado de acordo com a tarifa da operadora, geralmente um bocado alta.Exemplos: Mundu Radio, Shout-cast radio, Nokia Internet Radio e WebPlayer.

YouTubeO que é: Vídeos com músicas protegidas por direitos autorais são colocados no site pelos usuários.Como funciona: Pela lei brasileira, quem faz o upload do vídeo e quem assiste, está cometendo um crimeQuanto custa: Gratuito

blogO que é: Assim como no Orkut, os usuários criam blogs para compartilhar os links dos sites que armazenam arquivos, como o RapidshareComo funciona: Na busca de blo-gs do Google, é possível procurar pelo nome de bandas e/ou músicas para encontrar esses blogs e, em seguida, baixar os arquivosQuanto custa: Gratuito

TorrenTO que é: Método de download coletivo entre internautasComo funciona: Programas especiais como o uTorrent lêem arquivos “.torrent” que redirecio-nam para uma rede de usuários que compartilham o download de um filme, uma música, um álbum ou mesmo de discografiasQuanto custa: GratuitoExemplos: PirateBay, Mininova

orkuTO que é: Comunidade de usuários que compartilham links de arquivos para downloadComo funciona: Faixas de álbuns completos ou discografias são compactadas em arquivos “.rar” e “.zip” e colocados para downlo-ad em sites como Rapidshare e MegauploadQuanto custa: GratuitoExemplos: Comunidade Discogra-fias, Comunidade Beatles Brasil

Programas de comParTi-lhamenTo de arquivos (P2P)O que é: Programas em que usu-ários compartilham os arquivos do computador com outros internautasComo funciona: Instalado no computador, o programa busca e baixa arquivos direto do computa-dor de usuários do softwareQuanto custa: GratuitoExemplos: eMule, LimeWire

o que pode e o que não podeB

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visionário

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João Marcello Bôscoli é uma metralhadora de idéias, daquelas girató-rias e ininterruptas. Sua percepção do que está por

vir em termos de tecnologia e mer-cado fonográfico lhe garantem a fama de Midas da música mo-derna. Dono da gravadora Tra-ma, Marcello- que é filho de Elis Regina e Ronaldo Bôscoli, não se acomoda e não para de procurar novos caminhos. João Marcello recebeu a POP em seu estúdio paulista, no bairro de Pinheiros.

FOTOS - ALEX OLIVEIRA

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Você é dono de uma gravadora que tem muito pouco ou quase nada das grandes gravadoras tra-dicionais que estão amargando os frutos da tecnologia. Numa ob-servação simplista, dá pra dizer que eles criaram um modelo en-gessado onde as pessoas ficavam ilhadas naqueles quadradinhos e não conseguiram antecipar nem se adequar às novas tecno-logias. De maneira nenhuma isso foi percebido e quando a coisa aconteceu, eles se perderam com-pletamente. Foi uma tremenda comida de bola mesmo?Eles não tinham outra opção que não se

perder. As majors encontraram, num de-

terminado momento, um modelo econômi-

co que fazia todo o sentido do mundo pra

eles, que funcionou bastante, e esse modelo

foi esticado até o limite. Até a chegada da

chamada revolução digital nos anos 1990,

quem fabricava o vinil eram eles. Quem

detinha toda a cadeia de distribuição eram

eles, quem determinava o que tocava no

rádio eram eles. Era uma coisa totalmente

verticalizada. Com a revolução digital, ficou

muito mais barato gravar, ficou possível

publicar na rede, promover e vender, de

forma que grande parte desse poder que

eles detinham simplesmente ruiu. Foi uma

indústria que escolheu esse caminho retró-

grado. Ela teve a chance de apresentar o

MP3 ao mundo. Ela teve a chance de baixar

seus números absurdamente e ganhar mui-

to mais em escala; e ela escolheu errado

e continua escolhendo nos dias de hoje.O

que aconteceu, na verdade, é que eles per-

deram a chance de participar da elaboração

de um novo modelo de música maior do

que a própria música jamais foi.

Vocês não perderam essa chan-ce. A gente não tem aqui no Brasil outro selo de música que tenha tido a visão que vocês tive-ram ou que tenha tido a iniciati-va que vocês tiveram.

A Trama, assim como vários outros pe-

quenos selos, não só acreditou e utilizou a

internet, como a internet viabilizou nosso

negócio em si. Sempre 80% do cast da Tra-

ma são artistas desconhecidos. Assim que

se tornam conhecidos, eles seguem suas

vidas. Ou montam um selo próprio, ou

assinam com uma major, ou vão trabalhar

por conta própria e montam uma produto-

ra. Isso naturalmente é um caminho, e aí a

Trama faz uma turn over e tem uma nova

seleção de artistas novos. É importante que

de tempos em tempos nossos relaciona-

mentos com alguns artistas se desfaçam,

para que haja espaço para renovação.Entre

o grande programa de audiência da TV

aberta e o começo nos ensaios na garagem,

é preciso que haja um caminho, estações,

circuitos de alcances diferentes. A internet

é um instrumento de divulgação e publica-

ção de obras super democrático no qual a

gente se apóia o tempo inteiro.

A Trama acabou se beneficiando dessa

mudança de era com o contraste daquele

jeito engessado das majors onde era tudo

pré estabelecido: o tipo de capa, o tipo de

produto com cara de linha de montagem

ruim e hoje há essa liberdade toda dessa

geração que passou a produzir álbuns

muito autorais.

Falando do ambiente, da cena independente, a primeira rela-ção que se faz é com o trabalho marginal. Só vocês pegaram de cara o trem da tecnologia, isso é uma associação que se faz com a Trama. Em que momento vocês perceberam que a tecnologia era a grande saída?O primeiro grande passo foi dado numa

reunião que fizemos por volta do ano 2000,

quando o André (Szajman seu sócio) su-

geriu que nós fizéssemos uma loja digital,

do tipo que o iTunes veio fazer depois; pra

colocar todas as demos que recebíamos. Eu

sempre dizia que o volume de demos guar-

dadas estava aumentando, aumentando e

era preciso fazer alguma coisa com aquilo,

já que era impossível lançar ou ouvir 10%

daquilo. Então resolvemos fazer um selo

virtual, uma vitrine onde as pessoas pode-

riam publicar suas obras. Pra ser sincero,

eu achei a idéia legal mas não achei que

fosse ter o alcance que acabou tendo. A

loja digital não deu certo, as vendas eram

poucas, muito menores que as de hoje -que

ainda são pequenas- e não se sustentou.

Era o projeto Piromania, onde você grava-

va seu CD e a gente te entregava pronto,

com capa e tudo em três dias e o site da

Trama virtual. A Trama virtual quando co-

meçou, há cinco anos, a gente já tinha um

projeto de tecnologia, quem cuidava disso

era o Gordo Miranda. Nessa época eram

quinhentas bandas, eu já ficava admirado,

depois eram mil e quinhentas, três mil, cin-

co mil bandas. Eu vi que realmente tinha

alguma coisa acontecendo ali...

Você acha que se naquele primeiro selo, naquela época, tivesse tido essa idéia do down-load patrocinado, a coisa tinha ido pra frente?Acho que não, por que a gente não tinha

um fluxo de dentro da internet. Outras coi-

sas não deram certo pela impossibilidade

de fazer essas coisas numa época em que o

ambiente virtual era apertado. Hoje você

baixa um álbum virtual num tempo que era

impensável. Naquela época você precisaria

de dias pra baixar um álbum e não seria

uma experiência legal. Temos um banco

de idéias, por exemplo, a gente já tem o

DVD virtual pronto, só que dependemos da

extensão da banda larga. Hoje o número

de banda larga começa a possibilitar essa

idéia. Não adianta eu colocar um DVD

pra você baixar de graça se a prática dessa

teoria vai ser um desastre, se vai demorar

dias. A Trama virtual tem, hoje em dia, 65

mil bandas e todo mês entram mais de mil

bandas novas.

Vocês têm um esquema de download remunerado, como é isso?Cada vez que você baixa uma música, faz

isso gratuitamente, e um patrocinador

paga pro artista. No final do mês, a gente

fecha o valor dos patrocinadores, divide

pelo número de downloads e paga direto

na conta corrente da banda. São vários

apoiadores pra esse tipo de patrocínio e

essa prática já tem mais de dois anos. É

uma iniciativa inédita no mundo. Até o

presente momento, só a gente está fazendo

isso. É importante que as pessoas saibam

que a gente não olhou pro modelo pronto

do MySpace, por exemplo. A gente fez

antes... A Trama Virtual veio antes do You-

tube, claro que o nosso é só de música, mas

a idéia saiu daqui. Assim como a iniciativa

de download remunerado é nossa, e o

álbum virtual, pelo qual você não paga nem

se quiser! Você pode baixar a parte gráfica

em alta resolução. São coisas inéditas. Você

pode baixar a capa em JPEG pra colocar no

seu player. Depois sai o álbum físico, mas

as coisas não brigam. São formatos dife-

rentes pra vários segmentos de mercado.

Toda essa disponibilização de música gratuita não esvazia os shows?Nós achamos que é justamente o contrário.

Quanto mais as pessoas baixam, mais inte-

resse elas têm. Os shows nunca estiveram

tão cheios. Não há uma ligação que faça

com que o cara que baixou deixe de ir ao

show. A experiência de ouvir uma música

em casa e ver essa música ser executada ao

vivo, são coisas muito diferentes. Essas dis-

cussões, que são discussões vazias, não são

novas, foi assim o rádio e a TV, depois a TV

e o cinema, a mídia impressa e a digital...

Parece que tem alguém ganhando dinheiro

com essas discussões; toda a vez que ocorre

uma mudança de mídia vem uma Cas-

Parece que tem alguém ganhando di-nheiro com es-sas discussões; toda a vez que ocorre uma mudança de mídia vem uma Cassandra e grita; “vai aca-bar o mundo”, eu não entendo isso, as coisas convivem.”

“Está na Bíblia, no Torá, no I Ching: bota muito poder na mão de alguém que ela se intoxica com esse poder”.

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______________sandra e grita; “vai acabar o mundo”, eu

não entendo isso, as coisas convivem.Por

exemplo, hoje, o vinil que era uma mídia

considerada moribunda, achou seu espaço

e está crescendo, só no ano passado 19% no

mundo. Você liga numa fábrica de vinil e

não consegue nada pros próximos quatro me-

ses, e isso no exterior, nós nunca fabricamos

vinil aqui no Brasil.

Esse esquema de patrocínio é o que viabilizaria o que vocês falam no manifesto Trama que diz que a liberdade de criação está acima dos interesses de mercado?Na verdade, a criação artística sempre tem que

estar. Eu não costumo trabalhar com artistas

que fazem um tipo de pesquisa de mercado

pra saber que música eles vão fazer; buscando

novas tendências com um ouvido comercial.

Isso funciona muito bem pra uma agência

de publicidade, eu acho bem bacana, mas

não é o nosso trabalho. Não existe lógica no

nosso negócio. As majors, por exemplo: pra

cada sucesso que elas conseguem emplacar,

imagine quantos artistas foram lançados até

acertarem um. Não tem uma maquininha de

fazer sucessos, se fosse assim teríamos um

Michael Jackson e uma banda como os Beatles

por ano. Há o imponderável no nosso negócio,

onde você trabalha sem ter garantia de nada.

Você passa a ir atrás da sua essência e dos seus

valores. Qual é o principal valor pra mim? Que

a pessoa acredite na música que ela faz, e que

ela faça aquilo que ela acha que tem que fazer,

ou isso vira outra coisa.

Uma vez você disse que decidiu começar uma gravadora pra po-der ter mais poder de decisão. A impressão que eu tenho, conver-sando com você é que você é um cara que soube usar as tecnolo-gias, mas soube usar suas idéias. Foram as suas idéias que fizeram a Trama acontecer, não é só a Rádio Trama, nem os downloads remunerados, é tudo ao mesmo tempo agora. Você faz tudo acon-tecer, e é o que mantém a coisa toda fresca, viva... são idéias.Na verdade é a participação de todo mundo.

Quando você coloca um site, escreve um

nome lá “Trama Virtual” e tem todos os

meses um milhão e trezentos mil streammin-

gs e downloads de 65 mil bandas diferentes, é

uma energia muito forte, que nem sou eu que

movimento, como não movimenta apenas a

mim! Por exemplo: Móveis Coloniais de Aca-

ju, até agora baixaram dez mil álbuns virtuais.

É uma corrente. Cada cara que baixa, que

ouve, foi atingido por um trabalho nosso, mas

isso não está diretamente relacionado a mim,

ao Marcello. Na verdade tem até uma parte

a ver comigo, mas a fonte, a força é a banda.

A intenção aqui, na medida do possível, e

ainda que numa realidade bem restrita, é

criar um terreno fértil pras pessoas gravarem

suas obras. Agora, se você pergunta se seria

minha área original pensar nisso, aí não seria

mesmo. Imagine um baterista que tem um

selo que iria pensar num álbum virtual ou

num esquema de download remunerado. Isso

é uma mídia, isso não deveria ser problema

meu! O que aconteceu foi uma deturpação. O

modelo original faliu e diante de um modelo

de gravação falido, a necessidade inventou o

novo formato. Meu trabalho não é inventar

formatos de mídia no século XXI, isso é traba-

lho de engenheiro e eu não sou engenheiro. A

necessidade fez com que isso acontecesse.

Mas como as majors não viram essa necessidade? Ficaram só investindo em marketing?Era um modelo falido, o marketing é até bem

legal. O problema foi eles terem escolhido

uma ferramenta como o rádio, ainda que te-

nha tido o respiro que o videoclipe trouxe, e

da cor que ele trouxe ao processo. Era muito

poder nas mãos de pouca gente, é uma coisa

que nunca deu certo. Está na Bíblia, no Torá,

no I Ching: bota muito poder na mão de

alguém que ela se intoxica com esse poder.

Assim que a revolução digital mostrou a que veio, a primeira al-ternativa que se imaginou foi que as majors compensariam suas perdas investindo em shows. É isso? Tem como compensar essas perdas que as majors tiveram?Existe uma receita crescente no mundo di-

gital. Acho que as grandes gravadoras vão

perceber que o papel delas mudou e vão

ser distribuidoras de conteúdo na internet.

Não tem opção. Ou elas se dobram e parti-

cipam dessa receita, ou elas não se dobram

e as pessoas continuam baixando de graça.

Como você vê as tentativas de legalização de download?A maior parte da música ouvida no mundo,

sempre foi de graça; desde que o Marconi

colocou o rádio pra funcionar. É assim

gente, desculpe! Parem pra pensar: estamos

em 1995, no auge das majors com o CD,

mudança de mídia, todo mundo comprando

pra caramba, o Brasil era o sexto ou sétimo

mercado do mundo. Era uma situação super

confortável! Os caras estavam ganhando tan-

to dinheiro naquela fórmula deles, investin-

do só em execução em rádio. Então por que

nunca vendeu tanto quanto a audiência de

rádio? Eu explico: se você pegar a audiência

das dez maiores rádios do Brasil durante

um ano e comparar com o número de discos

vendidos; está na cara que você expõe sua

obra a um número enorme de pessoas e só

uma parte dessas pessoas compra seu disco.

Com a internet é a mesma coisa! Você expõe

sua obra pro maior número de pessoas

possível, e quem se interessar compra, se não

se interessou, um abraço. Tem músicas que

você quer só ouvir, não quer comprar. Isso

não muda!

E esse controle, essas propostas de legalização de download, você acha que são inócuos?Perda de tempo. O patrão é o público, e o

público não está gostando. Acabou aí. Você

pode fazer o business plan que você quiser,

contratar a consultoria que você quiser, ou

a policia digital que você quiser... O público

que é aquele com o qual você deveria ficar

numa boa, está com ódio de você. É outro

tiro no pé! Tem duas coisas que eu nunca

entendi, que esses caras nunca mergulha-

ram que é onde está o dinheiro mesmo:

licenciamentos e show. Hoje você pega as

bandas novas e os caras te falam: eu vendo

mais camisetas e bottons, que discos. É

por isso que eu falo, quando você me diz

que nós somos inovadores: a gente não é

inovador, essa jogada de fazer camiseta,

mochila, botton... isso existe desde sempre.

Dá pra brigar com a pirataria?O que dá pra se fazer pra coibir?Guerra perdida. A pirataria ensinou duas coisas

pra indústria: preço e logística. Isso não é só

falado por mim, o vice-presidente da Microsoft

esteve aqui ano passado, foi até a Santa Ifigênia

e disse que tem que se aprender com essa

molecada da pirataria, tem que se andar perto

deles. O que a meninada mais reclama de CD

é o preço! Os caras estão insistindo num preço

errado e isso só se percebeu com a pirataria

que foi fruto desse preço errado! Depois que

o negócio pegou fogo, você tem que tentar

controlar o incêndio com regras que possam

ser aplicadas, que sejam viáveis, ou vira papo

de boteco “a dialética da pirataria”. Quanto aos

downloads, uma coisa é clássica e precisa ser

dita: a internet é anárquica. Os modelos, as em-

presas, os modelos de negócio, as multinacio-

nais e grandes corporações são antianárquicas.

Cada corporação é um livro de regras. Quando

você pega o mundo dos negócios que é ultra

pragmático e junta com a internet que é anár-

quica é claro que vai dar confusão! Ou se cria

uma regra possível de seguir ou vamos ficar

eternamente nessa choradeira. Um exemplo

é a TV aberta, que é a mídia mais assistida

do Brasil e é de graça! Você compra o apa-

relho, paga a energia elétrica e está tudo lá,

é um modelo que funciona. E tem dinheiro

aí! O caminho que eu vejo é esse que a gente

usa: o patrocínio. Isso funciona em todas as

outras mídias, há de funcionar na música!

Qual é teu sonho tecnológico de produção? Eu tenho um sonho que é a gente poder

baixar DVD. A gente começou isso esse ano

no UOL chama Live Road Cast. Não tenho

tempo de acompanhar o que os outros estão

fazendo, mas outro dia vi uma cantora que

associou sua imagem à uma marca de produ-

tos de beleza. Uma coisa feita com elegância,

com beleza. Não tem nenhuma inovação em

associar o artista à marca. Bach fazia isso

com a Igreja. Dá pra gente fazer associações

honestas, sinceras, elegantes; numa escolha

de visões coesas do artista e da empresa.

Meu dia a dia é tentar aplicar as coisas que

eu gosto, e eu gosto muito de ciência, com-

pro muitas revistas sobre isso, com a arte.

Arte e ciência. ELAINE GOMES

Música é uma atividade emo-cional, precisa envolvimento”.

BPARA VER E OUVIRwww.tramavirtual.uol.com.brhttp://albumvirtual.trama.uol.com.br

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Como o senhor vê essas tentativas de regulamentação e cobrança das faixas baixadas na internet?O ECAD está estudando uma possibilidade de

cobrar. Como sempre, o ECAD numa sanha

avassaladora, antes mesmo de entender a

natureza jurídica de uma nova modalidade de

reprodução, quer taxar. Download nada mais

é que uma nova forma de distribuição, e se o

ECAD entende que aquele site que disponibili-

za músicas pra download deve ser taxado, por

que ele não cobrou das gravadoras que dispo-

nibilizam CDs? É a mesma coisa, só mudou a

plataforma que agora é virtual.

A mídia digital desestabilizou to-talmente o esquema tradicional do mercado?Exatamente, mudou o modelo de negócio. Eu

digo sempre, com bom humor, que a internet

foi um castigo divino da indústria fonográ-

fica que durante cem anos se locupletou dos

artistas, fez o que quis, lançou e relançou à

vontade pagando migalhas e agora chegou a

hora de lidar com a realidade. Ou ela abando-

na essa tática agressiva de processar college

raves, universidades e campi, donas de casa

e jovens que baixam música, ou ela deveria

ter investido os bilhões que tem – já que tem

muito mais que a maioria- e se adaptar às

novas tecnologias, como o iTunes fez, como o

Napster preconizou (ainda que inicialmente

de forma ilegal). A tecnologia é inexorável.

Não adianta a gente tentar se livrar dela; o

caminho é adaptação.

A Trama tem um sistema de download remunerado que fun-ciona para quem baixa, para a banda e para os patrocinadores.É um caminho inteligentíssimo de não

deixar de pagar direitos autorais e parecer o

bonzinho aos olhos da mídia, uma vez que

possibilita ao ouvinte baixar se pagar. Não

se pode punir o ouvinte. Veja o Radiohead,

Flying Lizzards e o próprio Gilberto Gil que

estão soltando teasers gratuitos. O Radiohead

teve um ou dois milhões de donwloads e

quando saiu o CD, ele já tinha cerca de seis

milhões de cópias vendidas. Isso prova que

há táticas para fazer o download funcionar,

até que ele pegue efetivamente e as pessoas

aprendam que é muito melhor baixar de

forma segura e com qualidade as faixas,

além da capa e das letras; ou poder baixar

novamente se vier com algum problema de

qualidade. Isso é muito melhor que você

arriscar seu computador baixando uma

música de qualidade ruim que pode estar

repleta de vírus. Fora estar se arriscando, já

que está cometendo um ato ilícito, a enfrentar

algum tipo de processo futuro.

A saída é a qualidade?Por exemplo, a Virgin Records acaba de

fechar sua mega loja na Times Square, que

era um divisor de águas e um termômetro

da venda de discos no Mundo, depois do

fechamento da Tower Records há três

anos. Os caras colocaram no papel e viram

que estavam muito próximos do prejuízo e

que simplesmente não valia mais sus-

tentar aquela estrutura toda pra vender

produtos físicos. Richard Branson dono da

Virgin se retirou e vai abrir um esquema

de download em parceria com as majors.

O caminho é esse, não vão sumir as lojas

de CD assim como não sumiu o vinil. O

vinil, inclusive, está fazendo um come

back muito simpático pra alguns nichos de

mercado, que não só os DJs, que sempre

preferiram as carrapetas. Como o vinil, o

CD físico vai ser uma coisa cult , um fetiche

dentro de dez, quinze anos. As gravadoras

vão ter que cortar custos, e já estão fazendo

isso depois de amargarem um prejuízo da

ordem de 30% ao ano nos últimos cinco

anos; e finalmente despedirem os “gerentes

de jardim” e “diretores de banheiro”

que tinham cargos, salários e benefícios

absurdos, em detrimento da qualidade do

investimento. Hoje a gravadora não investe

em praticamente nada, só em marketing; o

CD chega pronto. Em qualquer armário de

quarto você grava um CD de alta quali-

dade. Grava e regrava digitalmente em

quantas faixas quiser.

A gravadora tem hoje o trabalho de inserir

o artista no mercado, que é o que ela sabe

fazer bem: a distribuição. O que estamos

vendo é um remanejamento das atribui-

ções e responsabilidades das gravadoras,

que não vão morrer, mas certamente terão

de aprender a brincar.

Mas as majors estão mesmo aprendendo a brincar direito?Com muito custo, reclamando e resmungan-

do e a golpes de fórceps, mas estão. Mesmo

tentando jogar toda a culpa na pirataria...

E a pirataria? Ela realmente triunfou?A pirataria triunfou na história da humanida-

de. Nem adianta insistir com isso. Triunfou

no mundo físico, vem triunfando e triunfará

no mundo virtual. Basta você ver o seguin-

te: pra que você precisa de uma instituição

chamada polícia? Desde que as primeiras mi-

lícias foram criadas na Inglaterra no século

XVII, até as polícias organizadas de hoje? Por

que o crime certamente triunfou. Sem querer

ser pessimista, mas o crime precisa ser con-

trolado como um diabetes ou outra doença

que você não cura, mas controla. Se a polícia

é necessária no mundo físico, é sinal de que

o crime sempre esteve presente. O mal, o

ilícito, o ilegal... O mesmo que acontece com

produtos de consumo geral, acontece com

entretenimento. A gente sempre vai conviver

com a pirataria, mas há caminhos e formas.

Que caminho?O binômio qualidade e preço baixo. Hoje em

todos os segmentos da economia o caminho

pra solucionar é o mesmo. O mundo amarga

uma crise econômica e há empresas que apro-

veitaram a crise pra decolar. São empresas

que souberam extrair a gordura daquilo que

praticavam e aprenderam a subir a ladeira

com a própria crise. É parar pra ver que se

está vendendo uma coisa cara com pouca qua-

lidade... De repente há um departamento com

muita gente que pode ser remanejada, ou há

custos que podem ser diminuídos, até o preço

final pode cair. É preciso que haja adaptação.

No setor de audiovisual é preciso seguir

esse modelo, embora seja um modelo de

difícil adaptação pra esses profissionais

que se acostumaram ao luxo, ao caviar e

aos jatinhos particulares... Agora acabou a

brincadeira, acabou a festa.

A internet chegou pra democratizar, pra

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FOTO - VINICIUS GONÇALVES

advogado de

defesa?N

ehemias Gueiros Jr.é advogado especializado em Direito Autoral desde 1985, quando ingressou na antiga gravadora Discos

CBS, atual Sony Music. Exerceu car-gos de gerência e diretoria jurídica na indústria musical, passando também pela BMG Ariola, antiga RCA Victor. Atualmente, lidera o escritório Gueiros & Associados com sede no Rio de Janei-ro, prestando assessoria jurídica e con-sultoria específicas nas áreas do Direito Autoral, Propriedade Intelectual e do Show Business, no Brasil e no Exterior. Articulado, inteligente e conhecedor dos desdobramentos que permeiam cada resolução relativa ao mercado fo-nográfico, Dr. Nehemias recebeu a POP em São Paulo e falou de cultura, ética, música e política.

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______________baixar os preços e delinear de forma vertical

o acesso à cultura, à informação etc. O

mercado do entretenimento está tendo que

se adaptar a duros golpes, principalmente

aqueles que gastavam muito; mas para

alegria daqueles que não tinham esse acesso

viabilizado. É um reequilíbrio em que o

direito autoral precisa ser respeitado, já que a

primeira coisa que as novas formas de repro-

dução alvejam são os direitos autorais.

O que se percebe é que o direito autoral está quase sumindo, está sendo anulado. As novas bandas que disponibilizam faixas grava-das de forma artesanal, não têm quase nenhum controle sobre esse tipo de reprodução.É verdade, mas nesse caso, o artista está

abrindo mercado para poder ser alçado à

fama. E quando isso acontece, como aconte-

ceu com o Radiohead ele percebe que vender

discos é bom e ele passa a querer receber

por isso; e aí começa a briga... O Radiohead

já era uma banda famosa, fez isso como um

paradigma, lançou sua música como teaser

na internet de forma gratuita e com uma es-

tratégia sensacional: cada um paga pela faixa

o quanto acha que deve. Se não pagar nada,

tudo bem, se pagar uma, duas ou cinco libras

também! Só que quem pagava acima de um

determinado valor ganhava um bônus que

era mais ou menos algo assim: na hora em

que você comprar o CD físico, já ganha um

ingresso pro show e passe livre pro camarim

pra tirar fotos com a banda! Você conquista

o público com bônus, como faz uma linha

aérea; cria um programa de fidelidade. São

as boas e velhas estratégias de marketing que

funcionam há muito tempo, não são nenhu-

ma novidade. Apenas estão sendo aplicadas

no novo e maravilhoso mundo da internet.

Eu sou um eterno otimista. Com toda a

turbulência que a tecnologia causa quando

chega, ela é inexorável. Eu vejo um mercado

adaptado pro download e pro CD físico daqui

a cinco, dez anos. Os modelos já estão aí. As

majors, ainda que se fundam, não vão sumir,

mas vai haver um remanejamento de preço,

qualidade e acesso; essa é a realidade.

O mundo mudou sua velocidade, hoje é tudo mais acelerado. E é incrível que o setor que mais tenha resistido, tenha sido justa-mente o do mercado fonográfico, onde supostamente deveriam es-tar os executivos mais antenados, mais abertos ao que é moderno.Modernos, antenados e muito bem posicio-

nados financeiramente. Eu realmente não

entendo o que deteve esses jovens executivos

a patinarem por tanto tempo, e ainda pati-

nam até hoje, e a adotarem e recorrerem à

medidas drásticas e agressivas, policiais e ju-

diciais, quando podiam ter sido líderes nessa

mudança de paradigma. Acabaram deixando

isso pro Steve Jobs, que tinha muito menos

recursos que as majors, mas teve visão e fez

o iTunes e criou um novo sistema a partir do

paradigma desenvolvido pelo Napster.

O que eu costumo dizer é que a indústria

perdeu o trem. Quando chegou à estação o

trem já tinha partido. A cultura do milhão

tem que mudar. Só se apostava no que rendia

um milhão: Sandy & Junior, Roberto Carlos,

Madonna. Tudo que era novo e chegava era

engavetado, os caras só se interessavam pela

venda garantida, pelo fácil.

Também tinha o egocentrismo e a sensação do poder de decidir o que o resto do mundo vai ou não vai ouvir...Certamente, e quanto mais alto, maior o

tombo. Os novos nichos, tudo isso de genial e

novo que está começando como os meninos

dos Móveis Coloniais de Acaju, por exemplo,

afloraram graças à internet e sua capacidade

de fazer circular informações. Veja a riqueza,

a pluralidade, a diversidade de gêneros

musicais que temos aqui. E vamos centra-

lizar nossa conversa só aqui no Brasil: veja

tudo o que estava completamente engave-

tado, impossibilitado de existir pela cultura

analógica que vigorava. Hoje temos bolsões

musicais que anteriormente não tinham a

menor possibilidade de chegar até o sudeste.

Eu vejo esse remanejamento como positivo

é como se as gravadoras tivessem que voltar

pra escola (como acontece com a gente quan-

do estoura o número de pontos na carteira

de motorista). Elas estouraram e foram

obrigadas a voltar pra escola e reaprender

aquilo que elas ensinaram ao mundo. Isso

é incrível, desde Caruso, um dos primeiros

discos gravados, que assinou um contrato

de três linhas: “eu cedo para a RCA Victor

eternamente meus direitos”. Essa arrogância

esses contratos escravocráticos, isso tinha

mesmo que acabar. Essa reeducação é muito

positiva, e necessária. A transição está longe

de ser concluída, mas já mostrou que atrai

investimento, que gera receitas e que veio

pra ficar.

A questão de baixar ou não bai-xar faixas gratuitas pela internet vem sendo bastante discutida e é muito defendida, principalmente pelos jovens; mas vai diretamen-te de encontro à ética. A juventu-de brasileira não tem ética?A questão ética é muito séria e ela só aflora

quando a pessoa é vítima de um comporta-

mento antiético. Essa meninada que hoje

age como se isso não fosse importante vai

crescer, amadurecer e entrar no mercado

de trabalho, onde naturalmente, de uma

forma ou de outra, essa consciência ética e

profissional vai aflorar. Não tenho mui-

ta preocupação com isso. A fase rebelde,

desobediente e irreverente da juventude

esteve presente na vida de todo o adulto, é

só uma questão de tempo.Essa juventude vai

amadurecer e aprender por bem ou por mal

que as questões éticas são necessárias em

qualquer segmento profissional e pessoal. No

entretenimento não será diferente.

Legislação punitiva pra download então é uma bobagem?Eles estão tentando mudar a lei autoral, há

uma comissão empenhada em mudar essa

lei pela terceira vez, a lei 9.610. Querem

acabar com a figura do distribuidor, e é uma

besteira! Estão sendo mal assessorados e

mal conduzidos, achando que farão com que

a internet se ajuste aos seus interesses. O

próprio governo, em suas esferas jurídicas,

tem pouco conhecimento do direito autoral.

A internet nada mais é que uma ferramenta

de comunicação. É verdade que ela é veloz, é

inigualável, a maior biblioteca que se tem no-

tícia na história da humanidade ao toque de

um mouse, mas ela continua sendo apenas

uma ferramenta de armazenamento e trans-

missão de informações. A lei é que precisa se

adaptar à modernidade da internet e não o

contrário. A natureza do ilícito é a mesma no

mundo real e no virtual. É errado esse pensa-

mento de que a internet precisa de novas leis,

as leis é que precisam se adaptar a ela.

Um dos problemas dessa regu-lamentação é que alguém terá a autoridade e não existe mais di-visão geográfica no mundo com a internet.Não há mais territorialidade nem jurisdição,

essa questão é fundamental. Mas ainda assim

há subdivisões no cyber espaço; e há como

trabalhar nisso. Acho que dentro desse futu-

ro próximo uma das adaptações legislativas é

a possibilidade de rastreamento mais eficaz.

De onde partiu e para onde seguiu? Quem é

o provedor? Quem é o beneficiário?

Quem não pagou e quem não recebeu? É

preciso localizar a origem e o fim das mensa-

gens, envio ou reprodução. É uma questão de

identificação das ações. Vai ser mais difícil, é

claro, mas precisa ser feito. Vai exigir que se

criem novas tecnologias? Sim, mas isso tudo

faz parte da adaptação que não foi feita até

então e agora tem que correr pra alcançar as

ações. Ontem o ECAD apresentou na pales-

tra feita na OAB, uma nova marca d’água,

um novo fingerprint que estará funcionando

já no final do ano e que permitirá rastrear

uma música em qualquer mídia onde ela

esteja sendo reproduzida. Vai cair como uma

luva ou como uma bomba, dependendo do

lado em que a pessoa está! O ECAD vem

aumentando sua arrecadação em cerca de

25% ao ano. Arrecadou R$320 milhões só

no ano passado, mas também redistribuiu

uma parcela maior (eles redistribuem 75%

do que arrecadam). Ainda assim é injusta,

pois o ECAD tem 150 mil afiliados e só 75 mil

tocam nas rádios, é uma ditadura que tem

que ser combatida.

A ditadura das rádios? Combater de que maneira?É preciso que se acabe com a concessão

de emissoras de rádio para políticos. Se

você tenta regulamentar a execução, no dia

seguinte, como num passe de mágica, um

projeto de lei isentando esse pagamento

é aprovado! Enquanto o Brasil, a Anatel e

a ANAC continuarem concedendo as con-

cessões de rádio e TV para os políticos isso

não vai acabar. Os mecanismos devem ser

combatidos e envolvem muito mais coisas

que sequer imaginamos. Não entendo o

motivo da imprensa não combater esse

tipo de prática.

É que os jornais também têm donos... Lá na nascente do rio a coisa tem que ser

feita para que o curso da água se mantenha

limpo e claro. ELAINE GOMES

A internet chegou pra de-mocratizar, pra baixar os pre-ços e delinear de forma ver-tical o acesso à cultura, à infor-mação etc.”

“Agora acabou a brincadeira, acabou a festa”

“A tecnologia é inexorável. Não adianta a gente tentar se livrar dela; o caminho é a adaptação.”

“FOTO - VINICIUS GONÇALVES

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sinfoniarobótica“Um dia os homens vão criar máquinas e, através de números, vão expressar emoções” Ada Lovelace

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A música é uma arte milenar. Desde sempre o homem procurou expressar-se através de sons melodiosos. Carregada de senti-mentos, a música pode representar o que se passa, ou se passou, na mente e coração

de quem a compôs.Seria possível, então, que seres desprovidos de emoção pudessem compor e executar canções? Jônatas Manzolli, professor e pesquisador da Unicamp, responde: sim. As composições musicais feitas por robôs são objeto de estudo deste paulista nascido em Campinas.

coMBINaÇÃo MateMÁtIcaMúsica e matemática, à primeira vista,

podem parecer coisas bem antagônicas.

Mas basta um olhar mais aprofundado

para descobrir que, na verdade, são com-

plementares.

Os programas de computador são

capazes de inúmeras possibilidades. Para

isso utilizam funções matemáticas que são

chamadas de algoritmos. “Você usa uma

função modelo matemática, esses modelos

geram certas saídas e essas saídas tem

características musicais. Dessa forma você

pode compor em estilo”, explica Jôna-

tas. “Então você faz um estudo do estilo

de composição e tenta desenvolver um

processo algorítmico que crie padrões que,

de uma certa forma, se parecem com os

padrões definidos pelo estilo. Então você

acaba tendo uma representação do proces-

so criativo num programa de computador,

você sintetiza a ideia da composição”.

Para tentar compreender melhor essa

linguagem basta entender que tudo o que

fazemos, todas as nossas ações são algo-

rítmicas. Os algoritmos são como receitas

que explicam passo a passo o que devemos

fazer para executar uma tarefa. São

instruções mandadas pelo nosso cérebro

numa seqüência lógica, finita e definida.

Utilizamos algoritmos o tempo todo, de

forma intuitiva e automática, na execução

de tarefas diárias e corriqueiras.

Mas se o computador pode dispensar

a presença do compositor, se a música

pode ser feita apenas por representações

numéricas, onde entram as emoções? E

o lado humano? Números são tão frios...

Jônatas logo argumenta “Eu tenho plena

convicção de que isto é uma representação.

O computador compõe sozinho, de acordo

com regras que foram criadas. Só que aí,

esses modelos podem ganhar várias possi-

bilidades. Uma possibilidade, por exemplo,

que foi o que eu desenvolvi no meu dou-

torado, é que agora esse sistema pode ser

gestualizado. O que isso quer dizer? É você

colocar uma interface que controla alguns

desses parâmetros do próprio computador

e modifica a música no momento em que

ela está sendo tocada”.

Neste momento, acontece um fenômeno

nunca antes experimentado no universo

musical: o momento da composição e da

execução é um só “Isso é um novo paradig-

ma. A música só existe no tempo. O tempo

de criação, o tempo de execução... todos

esses tempos são diferentes. E a gente

chama isso de tempo diferido. Cria num

momento, executa em outro. Agora, se você

tem um tempo para criar ou você coloca

essa criação, não da forma de um processo

impresso ou de um processo gravado, mas

de forma aberta, você tem coisas que se

encontram como num jogo”, explica Jôna-

tas. “O momento de criação e de execução

é o mesmo. O cara que ouve é o mesmo

cara que toca, ele participa do processo de

criar, executar e ouvir. Coisa que, também,

o compositor faz. Quando o compositor

Compositor e matemático, é o coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS), UNICAMP. É Bacharel em Matemática (1979-84) e Música (1982-87) e Mestre em Matemática Aplicada (1986-88). Graduações e pós-graduação realizados no IMEEC, UNICAMP. Obteve seu PhD em Composição Musical (1988-93) na University of Nottingham, Inglaterra. Especializou-se em Música Com-putacional (1991-92) no Sonology Institute, The Hague, Holanda. Sua pesquisa concentra-se nas aplicações de

modelos matemáticos de sistemas complexos em composi-ção algorítmica, síntese sonora digital, desenvolvimento de sistemas interativos e interfaces gestuais. Suas composições e performances multimídia têm sido apresentadas no Brasil, Europa e EUA. É membro da Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (SBME), da Sociedade Brasileira de Compu-tação (SBC), participa do Núcleo Brasileiro de Computação e Música (NUCOM) e do Grupo de Auto-organização do Centro de Lógica CLE, UNICAMP.

Quem é Jônatas Manzolli?

Se o computador pode dispensar a presença do com-positor, se a música pode ser feita ape-nas por represen-tações numéricas, onde entram as emoções?

Para começar, é necessário um estudo do estilo de composição que se deseja. O computador trabalha com padrões pré-estabelecidos, ele representa o processo criativo num programa, no qual é possível sintetizar a ideia da composição. Isso se dá através de funções matemáticas chamadas de algoritmos. São os algoritmos que definem qual o formato, a partitura musical.

A composição algorítmica passa a ter características humanas quando é possível intervir na criação no momento em que ela está ocorrendo. Gestos feitos por usuários passam a controlar os rumos da composição.

Um pequeno robô foi criado e, medindo a variação da luz e a proximidade de obstáculos, era capaz de gerar seqüências melódicas. Para isso, utilizava sensores infra-vermelhos que se localizavam ao redor de seu corpo circular. De forma simples, o robô procurava a luz e fugia de obstáculos. Esta combinação de estímulo e movimento modificava o padrão sonoro executado ao vivo pelo computador.

O espaço da criação se ampliou e passou a ser uma sala inteligente que intera-gia com os visitantes através de redes neurais artificiais, com sensores capazes de identificar o sentimento das pessoas e, por seus movi-mentos, transformá-los em sons e luzes. Daí para um comportamento semelhan-te ao da genética, um robô ganhou autonomia para que pudesse determinar o que é interessante na trajetória de outros robôs.

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4a sINFoNIa roBótIca eM 4 coMPassos

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_______está compondo uma peça no piano, toda hora

ele ouve e imagina... Só que ele vai e volta. Do

ponto de vista matemático, a gente chama isso

de processo reversivo. Você pode voltar. Por-

que o tempo que você cria não é igual o tempo

que você escuta a peça. Você pode voltar nesse

tempo de criação, refazer e tal. Neste paradig-

ma, não. É irreversível. E cada vez que você

fizer essa peça ou interagir com esse objeto,

terá uma música diferente”, completa.

Além disso, as partituras criadas não

são escritas. São algoritmos perfeitos que

nunca poderão ser reproduzidos.

As experiências com robótica e neuroci-

ência aplicadas à música, podem criar um

novo paradigma na produção e comer-

cialização desta forma de arte. As figuras

passam a mudar, a composição deixa de

ser fechada, individual, e passa a ser coleti-

va e carregada de possibilidades. Ainda não

há uma forma de transformar esse tipo de

produção musical com pouca, ou nenhu-

ma, interferência humana em algo rentável

e atrativo para o mercado. Num mundo

que gira em torno do capital, os robôs vão

ter que esperar para que suas composições

sejam reconhecidas e desejadas.

INterFaces gestuaIsNa interface criada por Jônatas, em 1990,

os gestos são responsáveis por direcionar

a criação musical que está sendo executa-

da pelo computador. Como? Ele explica:

“Todo gesto tem um significado. Você faz

gestos diferentes quando está triste ou

feliz. Esses números, que se eu deixasse

sozinho iam compor alguma coisa, eles

passam a ter variedade que é dada pelo

significado da interação, do gesto, de um

usuário sobre o algoritmo. Assim conse-

guimos humaniza-lo”. Jônatas criou uma

luva. “Qualquer movimento feito pelas

mãos ganhava um significado, e aí, então,

o computador criava uma relação entre o

movimento, o gesto e a saída do som. En-

tão, por exemplo, podia ser um movimento

de expansão e contração e você ouvia um

som que ficava mais forte ou mais fraco.

Ou, um movimento de dedilhado e você

ouviria um som, que tocaria uma escala”.

Ele regia o computador.

roBoserEm 1998, Jônatas foi novamente pioneiro

e, numa iniciativa inédita, colocou um robô

para controlar o som. É uma aplicação de

robótica à composição algorítmica. Nela

um pequeno robô gera sequências melódi-

cas utilizando sensores infravermelhos que

se localizam ao redor do seu corpo circular.

O robô, ao movimentar-se, mede a varia-

ção da luz e a proximidade de obstáculos.

Na presença de intensidade luminosa,

aproxima-se da fonte de luz. Na proximi-

dade de obstáculos, afasta-se deles. Esta

combinação de estímulo e movimento mo-

difica o padrão sonoro executado ao vivo

pelo computador. A sucessão de eventos

musicais gera uma pequena improvisação

que reflete a exploração do meio ambiente

feita pelo Roboser. Com o Roboser, Jôna-

tas criou um conceito chamado de “Objetos

e Afetos”, uma análise sobre a capacidade

que os humanos têm de colocar função

emocional em objetos inanimados.

aDaRealizado em 2002, na cidade suíça de

Neuchatel, a exposição ADA contou com

pesquisadores de seis países. Jônatas era

o representante brasileiro. Custando, em

média, seis milhões de libras suíças, a

ADA era considerada uma sala inteligente.

Projetada com sensores controlados por

computadores que interagiam com os visi-

tantes através de redes neurais artificiais.

Essas redes recebiam estímulos externos

para fazer, em tempo real, a leitura dos

sensores, transformando a expressão do

movimento das pessoas em sons e luzes.

Na ADA todo o espaço era interativo. A

instalação trabalhava com o conceito de

emoções sintéticas. Os níveis de interação

eram diversos, e o sistema variava sua pro-

dução de acordo com diversos fatores que

estão no movimento da face das pessoas,

a posição, a quantidade de movimentos, a

pressão que ela exerce no chão... Isso tudo

é gesto, e o sistema olhava para todos esses

gestos e tirava deles um produto afetivo.

auralComposto por um conjunto de 4 robôs –

um grande e outros três menores – repre-

sentando o gesto, que, neste caso, é uma

trajetória. No Aural, através de traços sim-

ples desenhados numa interface gráfica,

o usuário envia uma trajetória a um robô

que, ao se locomover, dispara um processo

de produção sonora. A interação com

outro robô, movimentando-se livremen-

te no ambiente, modifica a execução da

seqüência, usando um algoritmo chamado

algoritmo genético. Jônatas explica “Aquilo

que controla a música olha para a traje-

tória dos robôs como se fosse informação

genética, assim como na natureza. É uma

evolução do algoritmo, um aprimora-

mento. O computador é programado de

forma a se comportar como se comporta a

genética”. O robô grande era responsável

por selecionar o movimento, o gestual dos

robôs. Era como uma seleção natural, onde

o mais adaptado sobrevive, mas os outros

continuam sobrevivendo. “O som está

dizendo aqui ‘ó, essa cara aqui é o melhor,

neste momento’. As coisas vão acontecendo

e a interface pode perceber que mudou de

preferência”, conclui Jônatas.

CLAUDIA URBANISKI

Num mundo que gira em torno do ca-pital, os robôs vão ter que es-perar para que suas composi-ções sejam re-conhecidas

B SAIBA MAIShttp://www.nics.unicamp.br

A internet melho-rou muito o acesso à música. Agora con-sigo baixar a música que ouvi no rádio hoje de manhã, sem necessariamente precisar comprar o CD, e fico sabendo das novidades do mundo da música muito mais rápido. Isabella Fassina, 21 anos, estu-dante de Fotografia

Nossa, difícil pensar assim.. eu prefiro comprar o cd do que comprar uma música na internet. Mas se eu soubesse que seria uma música inédita da banda X e que não ia conseguir de jeito nenhum, talvez eu comprasse... não sei.Marcelo Seabra, 20 anos, estudante de artes plásticas.

A melhor ferramenta pra música é o Orkut.Nele existem comunidades que fornecem os links para o download da música ou do cd inteiro mesmo.Outro jeito que uso frequentemente é o Youtube,eu assisto algum clipe da música que eu quero e quando quero outra musica eu procuro outro clipe. João Pedro de Lia Catelan Sabino, 16 anos, estudante.

A tecnologia melhorou o acesso à raridades. Para-doxalmente, selos que trabalhavam cm raridades fa-liram... Mas hoje ficou muito mais fácil. Quando era adolescente, ficava anos para descobrir uma banda e levantar sua discografia completa. Hoje, em horas você faz isso com a internet. Eduardo da Rocha Marcos, 38, professor universitário.

elesbaixam! A opinião de quem baixa MP3

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festacompleta

Quando se escuta pela primeira vez não há quem não arrisque um ‘parapapa’.

Não é preciso decorar as letras das músicas para cair no ritmo dos brasi-lienses da banda Móveis Coloniais de Acaju. Assim que sobem no palco, os rapazes, nove para ser mais exata, passam um espírito de jovialidade e é impossível ficar parado. A banda de pop-rock foi formada em 1998 e veio para o cenário musical com a vontade de fazer o novo. Na composição, os jovens brasilienses, André Gonzáles (voz), BC (gui-tarra), Beto Mejía (flauta transversal), Eduardo Borém (gaita cromática e teclados), Esdras Noguei-ra (sax barítono), Fabio Pedroza (baixo), Fabrício Ofuji (produção), Gabriel Coaracy (bateria), Pau-lo Rogério (sax tenor) e Xande Bursztyn (trombo-ne), pode ser confundida com outras bandas, sem-pre misturando estilos, que vão do rock e passam pelo ska até chegar à reverenciada MPB.

asceNsÃo eM FestIvaIsA banda começou fazendo muitos shows em Brasília. Participavam de bailes de formatura, shows de diversos estilos musicais, festivais, tudo que aparecesse: lá estavam eles. Em 2003 surgiu a grande oportunidade: foram escolhidos como a única atração local do palco principal do Brasília Music Festival, onde tocaram com nomes como Live, Ultraje a Rigor e Char-lie Brown Jr. A partir daí, sentiram necessidade de gravar um disco.

Idem, o primeiro álbum dos garotos, foi gravado em outubro de 2004. O disco reunia 12 das melhores composições da banda na época. Com o disco, a banda passou a investir mais em apresentações fora de Brasília, nelas vendiam CDs, cami-setas e botons personalizados. Logo nessa primeira oportunidade se cadastraram no site Trama Virtual, que acompanhou de perto a evolução dos meninos, dando um espaço no site, divulgando o grupo e patrocinando eventos.

Pelo single Sem Palavras, a banda garantiu a 21° posição do ranking das 50 melhores músicas do ano pela revista Rolling Stone. Segundo os integrantes da banda, eles devem essa conquista aos downloads gratuitos, que, consequente-mente aumentaram o numero de vendas do álbum. O nome comprido e muitas vezes confuso, teve origem com o intuito de ser diferente. Por isso, logo de início, adoraram o grandioso Móveis Coloniais de Acaju. Sonoro e diferente, trata-se de uma homenagem a um “obscuro episó-dio da história do Brasil, a Revolta do Acaju”. Segundo eles, em 1813 os índios javaés, que tradicionalmente usavam a madeira de acaju (cedro) para produzir móveis em estilo colonial, se uniram aos portugueses para expulsar da Ilha do Bananal (no atual estado do Tocantins) invasores ingleses que se apoderaram da região – um episódio que lembraria a

Batalha dos Guararapes, no século XVII, em que os holandeses foram derrotados por uma união de portugueses e brasi-leiros. Além da estranheza, o nome já trouxe muita confusão. A revista Época, recentemente, publicou uma matéria dizendo que a Revolta do Acaju nunca aconteceu. E acusou a banda de fazer um trote grosseiro que desrespeita os índios e as pessoas que acreditam na história. Por isso a banda lançou a campanha Eu acredito na Revolta do Acaju, que além dos fãs, já tem muito adeptos do mundo das mídias como o jornalista Marcelo Tas. Atualmente, a banda se dedica a divulgação do novo álbum C_mpl_te (confira a resenha na página X), tam-bém com 12 faixas (página X). Que tem como single as músicas O Tempo e Falso Retrato. ARIANE MAZZA

O nome trata-se de uma homenagem a um episódio da histó-ria do Brasil

A principio um show comum, palco enfei-tado com o tema do álbum mais recen-te, muita gente na plateia e uma gritaria sem fim pelo começo da apresentação. Quando os rapazes entram no palco o clima esquenta e é possível ouvir todas as vozes em um coro cheio de melodia. A energia dos integrantes parece nunca ter fim e eles sempre contam com a participação dos fãs em todas as musicas com uma eterna cantoria. Quando chega a vez da conhecida música Copacabana, banda e plateia se tornam um só. Uma roda no meio do publico é formada e abrigada pelos representantes do Móveis. Eles já têm uma coreografia ensaiada que, misteriosamente, até quem nunca foi a uma apresentação dos meninos con-segue dançar sem errar um passo. Assim é formada uma banda com incontáveis integrantes, todos milagrosamente sincronizados.

BPARA VER E OUVIRwww.myspace.com/moveiswww.moveiscoloniasdeacaju.com.br

FOTO - ARIEL MARTINI

Sincronia eletrizante

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– Bota pra f...., bota pra f...., bota pra...

É assim que a platéia convoca a trupe. Os

músicos no camarim estão prontos, todos

vestidos com roupas de caveira. Um último

gole na bebida e vamos ao Rock n’ Roll.

Em um telão no fundo do palco, aparece

um poema de Baudelaire. “É preciso estar

sempre bêbado. Tudo se reduz a isso...” O

poema invade o ambiente narrado por Pau-

lão (Paulo de Carvalho, 44). Quando acaba,

já estão no palco: Alexandre Dias (Cavalo)

e Roy Carlini nas guitarras, Tuca Paiva no

baixo, e Simon Brown na bateria. Quatro

batidas no chimbal e o show começa.

Todos os instrumentos martelam o riff,

luzes acendem, Paulão aparece, com seus

cabelos compridos, barba descomunal,

vestido como um Pirata, cetro com uma ca-

veira em uma mão e microfone na outra...

– Cu-ba-najarra! Cu-ba-najarra! Cu-ba-

najarra!... – Canta chamando, e a platéia

chega junto – Hoje é segunda a balada é

muito louca, tira a mosca da minha sopa eu

vou tomar cubanajarra...

Daqui pra frente vai ser assim: Paulão

troca de roupa e encarna vários persona-

gens (de travesti a padre) até ficar de cueca

samba-canção, joelheiras e cotoveleiras,

banhado em cerveja – literalmente – e

assim conduz a platéia em uma viagem

louca durante o show. Juliana Kosso (voca-

lista, ex-Patotinhas) sobe no palco e, como

Paulão, troca de roupa várias vezes e faz

diversos papéis, como a Mulher do Diabo.

A forma é o Rock n’ Roll, com grande in-

fluência do Blues. O conteúdo é o universo

da boemia; homens caçando mulheres,

mulheres enrolando homens, as maldades

delas com eles, muita irreverência, macaca-

das no palco e tiradas bem humoradas.

Com 23 anos de estrada, Velhas Virgens

tem oito álbuns lançados, três DVDS,

biografia, documentário, quadrinho, uma

média de 100 shows por ano e o recorde

de público de 45mil pessoas na Virada

Cultural (2009). Foi a primeira banda

independente a lançar um DVD, ter uma

marca própria e a lançar um álbum comer-

cializado em bancas de jornal. Como fazer

isso sem o poder das majors? A receita é

simples: parcerias, bons shows e proximi-

dade do público.

Em 1986, Paulão resolveu aprender bai-

xo. Na escola de música conheceu Cavalo,

estudante de violão clássico e guitarra.

Juntos montaram a banda e a dúvida apa-

receu: como chamá-la?

“Perguntei se ele (Cavalo) já tinha

algum nome”, lembra Paulão. ”Ele disse:

Sim, Convenção de Bruxas. Eu disse: Ba-

cana. Também tenho um, Velhas Virgens...

Na verdade eu não gostava tanto assim de

Velhas Virgens, se ele não gostasse nem

iria insistir, mas ele gostou’” E assim come-

çou a odisséia.

Gravaram uma demo e se envolveram

com a Prise Records. Essa parceria resul-

tou no primeiro golpe do mundo musical.

A gravadora pegou o CD, ficou dois anos

com ele na gaveta, não lançou e ainda fez

‘um acordo’ com a banda pra devolver o

material mediante pagamento... Depois

disso, lançaram mais um disco pela Velas

antes de fundar a Gabajú Records.

INDePeNDÊNcIa ForÇaDa“Nossa independência não foi escolha, foi

falta de... Ninguém absolutamente queria

lançar a gente.

Era sempre assim: ‘Velhas Virgens? Vo-

cês não querem mudar o nome?’ ou: ‘Vocês

não querem mudar o estilo das letras?’”

Bater o pé foi o melhor a fazer; eles entra-

ram no universo da música independente

quando não tinha muita gente.

Eles têm um esquema de marketing

próprio que funciona bem: todo show tem

uma ‘lojinha’ se vende a Pirataria Auto-

rizada da Velhas Virgens. Os itens vão de

álbuns, abridores de garrafa, canecas e

calcinhas além do que é vendido no site.

A distribuição dos álbuns é feita pela

MMF de Curitiba. As tiragens são peque-

nas, uma media de três mil unidades, o

que dificulta a logística. O conteúdo das

letras,além de diferente do que circula no

mercado, e aparentemente machista, é

uma grande brincadeira com a caricatura

de roqueiros popstars. Um dos exemplos é

a música Se Deus não quisesse, que repete

“se Deus não quisesse que a gente bebes-

se/” colocando justificativas como: “não

tinha criado o fígado, o lúpulo e o malte”;

ou “não teria feito a mulher, os chifres e a

solidão”.

ProDutor escorraÇaDoPolêmica: que história é essa da briga

com um produtor? – lei do jornalismo,

perguntas delicadas no fim da entrevista –

resposta:

“A gente teve uma treta com o Pena

Schmidt. Ele tinha uma gravadora que

lançou várias bandas ‘estouradas’ na época.

Vi trezentas bandas estouradas que não

duraram um ano, nós somos a banda podre

que ta viva há 23. Enfim, levamos uma fita

da gente pra ele e foi assim:

– Não quero receber, não conheço sua

banda. Trabalho com isso há não sei quan-

to tempo e não conheço vocês. Se eu não

conheço é porque não existem. Eu conheço

todas as bandas do Brasil.

– Mas no senhor não quer dar uma

olhada?

– Olha, quer ganhar dinheiro, ser

alguém? Vai fazer outra coisa, se não você

vai se foder. Vai gastar o seu dinheiro, ven-

der o carro da sua mãe, a casa, colocar o

dinheiro na banda sem saber se vai voltar.

Agora, quer um conselho? Esquece o disco,

esquece tudo, faça um bom show. Fazendo

um bom show, as pessoas vão te pagar por

isso; você vai ganhar dinheiro, fazer boas

demos e acabar andando.

Falando isso ele mudou nossa vida. Na

hora, ficamos muito putos, mas ajudou. Ele

só pisou na bola quando disse que estava

abrindo um selo chamado Tinitus e que só

ia gravar bandas que eram lendas nas suas

cidades. Nenhuma banda que ele lançou

está viva até hoje. Vai tomar no..., Pena

Schmidt, nós somos as Velhas Virgens!”

VINICIUS GONÇALVES

velhas virgens:A

s pessoas acham que discutir política é engajamen-

to; acho que discutir relacionamento é mais dura-

douro. Falamos de uma coisa que está aí faz anos:

os homens e mulheres não se entendem. Falar de

algo duradouro como relacionamento, amor e sexo

está fora de moda. A grande verdade é que tudo que você faz é

pra ver se come alguém. Você não arruma um emprego legal

pra impressionar seu amigo...” Essa é uma das aspas de Pau-

lão, vocalista das Velhas Virgens, em uma entrevista concedi-

da à POP. Nas linhas que seguem, apresento:

comendo quem a gente puder!

BPARA VER E OUVIRwww.velhasvirgens.com.brwww.myspace.com/velhasvirgens

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nãopreçotem

os seminovos Velhos são Chi-co, Edu Lobo, Caetano e Gil... Novos? Mallu Maga-

lhães, Maísa, Jonas Bro-thers e Hanna Montana... Eles são Os Seminovos. Uma banda que saiu de Uberlandia (MG) e, com a internet, caiu no mundo, chegando a ir ao Progra-ma do Jô e Domingão do Faustão. Seus clipes bem humorados viraram spam (Eu sou Emo e Festa de Arromba), propaganda na Alemanha (Ao Mestre com Carinho) e ainda levaram o prêmio de Web Hit do Ano (Escolha já seu Nerd) no VMB 2009. E o melhor, sem cobrar um centavo pelas músicas.

orIgeM uNDergrouNDEram roqueiros oriundos dos anos 80

que tentaram viver o sonho da música na

década perdida. Como não deu muito certo,

resolveram, em pleno século XXI, voltar

pra fazer rock quarentão simples, crítico e

divertido. Nessa lacuna de mais de 20 anos,

cada um seguiu um caminho. Mas nem por

isso desistiram da música. Eles são: Neto

Castanheira e Tchana (Luciano Camargo)

nas guitarras, Neto Fog vocal, Alex Mororó

bateria, e Maurício Ricardo no baixo. Músi-

cos que saíram do mundo geek e chegaram

ao Pistolão no Domingão do Faustão tudo

graças à internet, ao download gratuito e

aos fãs, mas me adianto na história.

Ainda vivendo o sonho de serem mú-

sicos nos anos 1980, dois deles, Tchana

e Castanheira, foram para Londres, onde

gravaram discos em inglês e tocaram em

locais sagrados na história da música como

o Round House. Outros ficaram por aqui

e não foram muito longe, musicalmente

falando. No final, desistiram do sonho e se-

guiram outros caminhos. Maurício Ricardo

virou chargista e jornalista, abriu um site

de humor que foi a porta de entrada para a

banda no mundo virtual.

A idade dos roqueiros varia de 30 a 40

anos. Não dava pra batizar a banda com

outro nome além de Os Seminovos. Como

eles dizem: “roqueiros usados, mas em

ótimo estado de conservação.” E o mais

legal, a banda nasceu, ‘por acidente’ no

Programa do Jô.

Festa De arroMBaMaurício Ricardo costumava fazer pa-

ródias de músicas para suas animações

(www.charges.com.br). Um dia, com Neto

e Alex, fizeram uma paródia de Festa de

Arromba criticando o caso do Mensalão.

Diferente do de costume, Maurício dispo-

nibilizou o download gratuito da música

ao invés de fazer a charge. Não deu outra,

bombou. Foi um sucesso tão grande que

rendeu até um convite para ganhar ‘um

beijo do gordo’ ao vivo. Nascia o embrião

do que seria a banda.

“Vejam só que festa de arromba/ fez a

turma do Mensalão/ pra festejar os saques/

dos cofres da união/ e dividir a grana/ que

roubaram do povão”. O programa passou,

o vídeo virou um spam tão enviado, que até

o Erasmo Carlos recebeu. Porque não apro-

veitar a bagunça do mercado fonográfico

para montar uma banda e seguir disponibi-

lizando o download gratuito? As gravado-

ras estão ruindo com o avanço da internet,

do mp3 e das redes P2P (kazaa, limewire,

Torrents, etc). As pessoas não têm mais o

costume de pagar por música. Porque não?

Cultura não tem preço mesmo. Continua-

ram com o projeto.

Convidaram Fog e Tchana para comple-

tar a banda e foram compondo e disponibi-

lizando as músicas. Todas com uma grande

veia humorística. A primeira música feita

pela banda como um todo foi Do tipo I

Love you, uma paródia de Drive my car,

do quarteto fantástico, Beatles. Depois de

um tempo, fizeram o álbum Não tem preço

primeiro da banda. Tudo gratuito. Até a

arte da capa está no arquivo do download.

É só baixar e montar o CD. Hit atrás de hit,

a banda foi traçando seu caminho na inter-

net. Músicas como Eu sou emo, que satiriza

um tipo de roqueiro sensível – com mais de

80mil downloads e 1,6milhão de exibições

no youtube – e E o bambu? – música que

sacaneia a histórica piada que fizeram com

o Silvio Santos – viraram spam de tão en-

viadas por e-mail. Conseqüência da grande

quantidade de acessos, a banda acabou indo

para o Garagem do Faustão. Detalhe: quem

inscreveu a banda no quadro não foram os

integrantes e sim os fãs.

Hoje com dois álbuns lançados, a banda

tenta dar o terceiro passo, sair em turnê. Com-

por as músicas e disponibilizá-las de graça na

web, coisa que já fazem parte do cotidiano.

Agora sair em turnê pelo Brasil é o desafio,

just do it. “Hey, hey. Que onda, que festa de

arromba”. VINICIUS GONÇALVES

BPARA VER E OUVIRhttp://charges.uol.com.br/seminovoswww.myspace.com/osseminovos

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iPod

Um território remoto com uma cultura distante... Assim é Be-

lém do Pará. De lá vem o Tecnobrega, um estilo musical oriundo da peri-feria, marginalizado pela grande indústria. Mais que um estilo, o Tecnobre-ga derrubou paradigmas e instaurou uma nova forma de se produzir e distribuir música.

Apropriando-se das novas tecnologias, os

artistas deste ‘movimento’ utilizam-se do

acesso a equipamentos e computadores para

montarem, no próprio quintal, estúdios

caseiros nos quais gravam suas músicas e as

multiplicam em CD’s e DVD’s que distri-

buem nos mercados populares e camelôs.

Para divulgar as músicas existem as

famosas “festas de aparelhagens” – grandes

estruturas de sonorização e iluminação, nas

quais os DJ’s lançam artistas e ditam as ten-

dências musicais. Se o DJ toca uma música,

ela certamente se tornará um sucesso. Com

isso, os artistas são contratados para se apre-

sentar ao vivo e, no final, vendem diretamen-

te ao público milhares de CD’s e DVD’s.

Esse mercado de venda direta não compete

com a venda por camelôs. Em geral, o produto

é mais caro quando vendido nos shows.

Ronaldo Lemos – um dos autores do livro

Tecnobrega - explica, simplificadamente,

como funciona o mercado: “São, basica-

mente, sete etapas: 1) Os artistas gravam em

estúdios próprios ou de terceiros; 2) As me-

lhores produções são levadas a reprodutores

de larga escala e camelôs; 3) Ambulantes

vendem os CD’s a preços baixos, compatí-

veis com a realidade local, e os divulgam; 4)

DJ’s tocam nas festas; 5) Artistas são con-

tratados para shows; 6) Nos shows, CD’s e

DVD’s são gravados e vendidos; 7) Bandas,

músicas e aparelhagens fazem sucesso e

voltamos ao início do ciclo”.

cavalo MaNco e MIlIoNÁrIoOs precursores desse modelo de comer-

cialização são a dupla Joelma e Chimbinha,

da banda Calypso. Eles criaram o próprio

selo e distribuíram seus CD’s para grandes

supermercados populares, freqüentados por

seus fãs. Vendidos a preços baixos – entre

cinco e dez reais – os CD’s não paravam nas

prateleiras. Demorou muito pouco até que

estourassem entre as classes populares do

Pará e outros estados do Nordeste. Daí para

o palco de um importante programa de tele-

visão e ficaram conhecidos em todo o Brasil,

por todos os públicos, foi um pulo.

A Calypso recebeu inúmeras propostas

de grandes gravadoras, interessadas em

comercializar, de forma profissional, o

sucesso da banda. Alegando já ter o seu

próprio esquema – de grande sucesso, aliás

– Chimbinha e Joelma recusaram todas as

propostas. Essa atitude serviu de exemplo

para outros tantos artistas paraenses. A

indústria fomentada por eles não para de

crescer. As festas de tecnobrega movi-

mentam o comércio, criam empregos e

divertem a população.

Além disso, o tão almejado reconhecimen-

to está vindo rapidamente. Um documentá-

rio cinematográfico, um livro, matérias na

televisão e uma dezena de sites já abordam,

com o respeito merecido, o sucesso da

indústria tecnobrega.

A marginalizada periferia de Belém do

Pará agora está no centro. Pelo menos das

atenções... CLAUDIA URBANISKI

ostecnobregas

!As “apare-lhagens” e as bandas de mú-sica brega rea-lizam cerca de 3.160 festas e 850 shows por mês na região metropolitana de Belém. Isso significa que acontecem mais de 100 festas e quase 30 shows por dia. A população comparece - e agradece! B

PARA VER E OUVIRhttp://www.bregapop.com/www.bandacalypso.com.br/

Eles subverteram a forma de comercializar e produzir música

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revoluçõespor minutoPor que o Arctic Monkeys e o Radiohead são fenômenos da Era Digital

Era uma vez cinco garotos que estudavam numa escola só para rapazes. Cansados

daquele tédio, resolveram for-mar uma banda que tinha ape-nas um dia para ensaiar. A ban-da On a Friday era formada por Thom Yorke, Colin Greenwood, Phil Selway, Ed O’Brien e o caçu-la Jonny Greenwood. Sua pri-meira apresentação aconteceu no final do ano de 1986, alguns meses depois de terem se unido. Eles se formaram no ano seguin-te, mas continuaram se reunindo nos finais de semana e feriados. Ainda bem...

Nasce o raDIoheaDEm 1991 os garotos se formaram na Universidade. Reuni-

ram a On a Friday, começaram a gravar algumas demos e

fazer shows nos arredores de Oxford. A qualidade sonora

chamou a atenção de gravadoras e produtores. Não demo-

rou nada até que, no mesmo ano, assinassem um contrato

de seis álbuns com a EMI, que pediu que eles trocassem seu

nome para Radiohead, inspirado numa canção do Talking

Heads. De lá pra cá, foram lançados sete discos. Sempre

atingindo grande sucesso de crítica e de público, a banda se

destacou ainda mais quando lançou o sétimo disco.

quer Pagar? quaNto?Sem gravadora nem propaganda, o Radiohead acreditou

em sua grande base de fãs para divulgar a novidade: In

Rainbows, seu sétimo álbum, seria disponibilizado para

download, no site da banda. O preço? Quem definia era o

comprador. Não quer pagar? Tudo bem, pode baixar do

mesmo jeito. Em poucos dias o álbum foi baixado mais

de 1 milhão de vezes. A banda garante que a maioria das

pessoas pagou alguma quantia pelo download.

A iniciativa do Radiohead dividiu opiniões – alguns

chamaram de oportunismo, outros de inovação – e gerou

discussões sobre os formatos musicais e o papel das

gravadoras. Algum tempo depois da venda virtual, In

Rainbows foi lançado também no formato físico – um

box com faixas bônus, vinil duplo e encarte especial –

pela gravadora XL Recordings.

Em 2008, ano seguinte ao lançamento, a banda publicou

um balanço no qual declarava ter ganhado mais dinheiro

só com a distribuição digital de In Rainbows, do que com

as vendas do álbum anterior Hail To The Thief. No total,

foram mais de 3 milhões de exemplares vendidos – até a

data da publicação – entre downloads no site oficial, cópias

em CD e vendas através de lojas virtuais, como o iTunes.

Enquanto o Radiohead distribuiu suas músicas espon-

taneamente, os garotos do Arctic Monkeys conquistaram

um sucesso absurdo – e muito veloz – quase sem querer.

coMPartIlhaMeNto De MacacosQuando Alex Turner e seu amigo Jamie Cook, da cidade

de Sheffield, ganharam suas guitarras, no natal de 2001,

não imaginavam do que seriam capazes. Aprenderam a

tocá-las e se uniram aos amigos Andy Nicholson, que to-

cava baixo, e Matt Helders, para quem sobrou a bateria.

Os garotos formaram o Arctic Monkeys, uma banda

que fazia shows e distribuía CD’s demos gratuitamente.

Não demorou até que as pequenas plateias se trans-

formassem em verdadeiras multidões alucinadas, que

sabiam de cor as letras que nem o vocalista, Alex, tinha

tido tempo de aprender...

vocÊ NÃo teM? eu te Passo!Os CD’s distribuídos nos shows não eram suficientes.

Todos queriam aquelas músicas. Fã de verdade é aquele

que se ajuda, não é? Quem conseguia um cobiçado CD

disponibilizava as faixas na internet para que os outros

pudessem baixá-las. Foi a maior história de compartilha-

mento de música que já se viu. Em pouco tempo o Arctic

Monkeys conquistou o topo das paradas. O álbum Wha-

tever People Say I Am, That’s What’s I’m Not, lançado

em 2006, bateu recorde como o álbum de estreia mais

rapidamente vendido na história da música inglesa. Fo-

ram 120 mil cópias no primeiro dia de vendas no Reino

Unido e 360 mil cópias naquela mesma semana.

O fenômeno do compartilhamento de arquivos pode ser

mais claramente sentido pela banda quando num show, em

2006, se surpreenderam com a plateia em coro cantando

When The Sun Goes Down, música que ainda não tinha sido

lançada. O álbum Favourite Worst Nightmare – o segundo

da banda – chegou às lojas rapidamente, em abril de 2008,

também com a expressiva marca de 225 mil exemplares

vendidos apenas na semana de estréia. Os resultados atingi-

dos pelos garotos de Sheffield apresentaram ao mundo uma

alternativa para o lançamento e promoção de novas bandas,

totalmente oposto ao viciado, e já desgastado, método do

mercado fonográfico tradicional. CLAUDIA URBANISKI

qAntes de ser o Radiohead a banda se chamava On a Friday, uma referência ao único dia da semana em que se encon-travam.

Só com a distribuição virtual do álbum In Rain-bown a banda lucrou mais do que com as vendas do disco anterior.

Alex Turner e Jamie Cook não sabiam tocar guitarra, quando ganharam as suas, no natal de 2001. Matt Helder não queria tocar bateria, mas foi o que sobrou.

Durante um show do Arctic Monkeys, o público come-çou a cantar, em coro, uma música que ainda nem havia sido lançada. Isso impressionou os meninos da banda.

Alex Turner tem um pro-jeto paralelo, juntamente com Miles Kane, que se chama The Last Shadow Puppets, rock com fortes influências da década de 60.

BPARA VER E OUVIRwww.myspace.com/radioheadwww.myspace.com/arcticmonkeys

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A sonoridade flerta com o tropicalismo. As letras reclamam das malu-quices da modernidade. Da mistura saiu a banda Cérebro Eletrônico, que se em alguns momentos se dá à “ingrata missão de imitar o João Gilberto”, no final acaba por ser a responsável por injetar ânimo criativo na cena do rock independente. Formada inicialmente por

Tatá Aeroplano e Fernando Maranho, a banda paulistana passou por diversas formações até chegar à atual com Isidoro Cobra, Gustavo Souza e Fernando TRZ. O segundo disco, “Pareço Moderno”, é o fruto desta última combinação cerebral. Atentos às novas formas de divulgação que a internet proporciona, os rapazes to-maram atitude pioneira. “Pareço Moderno” foi lançado em três formatos diferen-tes: cd convencional, pen drive e vinil. Um acordo com o selo Trama Virtual (onde o disco pode ser baixado na faixa) marcou este pioneirismo. A POP entrevistou Juliano, o presidente da Phonobase (selo independente), e o guitarrista Fernando Maranho sobre o impacto das novas tecnologias no mercado fonográfico.

até parecem modernos______________

O que vocês acham do download gratuito?Fernando: Essa é uma questão polêmica

dentro da banda. Tem alguns integrantes

que são a favor da liberação total, outros

que não. Então optamos pelo meio termo.

O Juliano da Phonobase, que é nosso selo

de gravação, bolou a idéia de lançarmos

um EP virtual, desse modo liberamos ape-

nas algumas músicas. Acho que resolveu a

questão.

Juliano (Phonobase): Acho que é

inevitável. Mas precisamos todos – artista

e público – encontrar uma maneira de

remunerar o trabalho dos profissionais

envolvidos na produção de um disco. Por

mais que ressaltemos que as tecnologias

baratearam a produção, um disco bem

feito, pagando todo mundo, ainda sai

caro. No caso do Cérebro, da produção à

prensagem e divulgação foram gastos cerca

de R$30 mil. O que precisa ser feito (des-

coberto?!) é uma maneira justa tanto pro

artista quanto pro público de remuneração

de um trabalho que é como qualquer outro.

De certa forma, a postura de “gastança” (e

consequentemente de cobrança exagerada)

das majors fizeram com que artistas que se

auto-produzem pagassem o pato.

Vocês baixam MP3? Vocês paga-riam por um download?Fernando: Da mesma maneira, tem

integrante que faz download adoidado e

tem outros que não. Eu faço download

de muita coisa e continuo comprando cds

do que eu acho realmente bom. Mas com

certeza, antes do mp3, eu comprava mais

cds e vinis. Eu só pagaria por download

se estivesse em algum site extramamente

seguro e se fosse algum arquivo que eu não

achasse fácil. Mas o ponto é que estamos

percebendo que existe público pra tudo.

Tem o cara que paga por download, tem

aquele que não, tem aquele que ainda

compra muitos cds, tem aquele aquele que

gosta da edição especial, enfim, estamos

numa época de segmentação total e temos

que ter todas as opções para todo tipo de

público. Acabou a massificação, o que eu

acho ótimo.

Juliano: Eu baixo e também compro

quando realmente me interesso pelo artista.

Dos artistas que sou relativamente fã, tenho

todos os discos e ainda realizo o “ritual” de

colocar o CD, ler o encarte, etc. Se os CDs

fossem mais baratos compraria mais. Sobre

essa questão dos preços é bom lembrar que

cerca de 40% do preço do CD é imposto.

Na época do finado Napster alguns artistas tentaram barrar judicial-mente o acesso a estes arquivos na rede. Quais soluções vocês acredi-tam que podem ser tomadas para resolver esta questão?Fernando: Eu sou a favor da liberação

total do mp3. Acredito muito que um cara

que faz download gratuito pode mostrar o

som para um amigo que, por sua vez, pode

vir a comprar um cd, ou uma camiseta, ou

ir ao nosso show depois. Então, acre-

dito que o mp3 gratuito funciona como

multiplicador, assim como as estações de

rádio funcionavam antigamente. Parti-

cularmente, acho uma babaquice e uma

séria tentativa de restrição à liberdade

dificultar o intercâmbio cultural. Acho

que cultura tem que ser disseminada e os

direitos autorais, a meu ver, deveriam ser

financiados pelos fãs quem têm prazer ou

obrigação moral de fazê-los e não por todos

incondicionalmente. Mas, como eu disse,

essa é uma opinião minha e na banda cada

um tem uma opinião diferente.

Juliano: Várias soluções foram e estão

sendo testadas. Desde o download patrocina-

do até acordos de venda de celular com passe

livre para baixar músicas, modelos de venda

de cotas de um álbum antes de sua produção

(como o Sellaband, Slicethepie, etc). Eu acho

que cada artista – quando entende seu públi-

co – deve encontrar uma maneira específica

de viabilizar seu trabalho.

“Discografias”, a maior comuni-dade de downloads gratuitos do Orkut, foi fechada recentemente pela APCM. Medidas deste tipo aju-dam a combater o download ilegal?Fernando: Eu, sinceramente acho difícil

que uma pessoa que está acostumada a

fazer downloads pela internet ficar tão

desesperada a ponto de correr para a loja

de cds mais próxima para fazer compras.

Isso já aconteceu com o Napster e depois

disso aconteceu diversas outras vezes em

outros casos. Este é só mais um deles. As

pessoas terão uma dificuldade momentâ-

nea para achar arquivos mas daqui há um,

dois meses, elas se organizam novamente e

acham outros meios para trocar arquivos..

Essa questão é antiga. Lembro de ouvir

dizer que iam acabar com as fitas k7 há

anos atrás, rs.

Juliano: Não ajudam. É truculência, “vio-

lência autoral”. A indústria da música é a

unica indústria que processa seus próprios

clientes. De certa forma, ela está tentan-

do ainda lucrar com um modelo que está

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falindo, mas que ainda dá lucros. Acho que

acreditam que essa truculência irá ajudar a

postergar o inevitável.

Por que optaram por um selo inde-pendente?Fernando: Não foi muito uma questão de

opção. Foi um caminho natural e eu diria

necessário. Veio da necessidade de expressão

artística livre, sem interferência de meios

externos com a junção de um cenário musical

onde as gravadoras quebraram por não

acharem alternativas sobre essa questão da

pirataria. E esse é o ponto, a meu ver, crucial

na questão. Ao invés de buscarem alternati-

vas, como a Phonobase busca, as gravadoras

resolveram partir pra essa questão bruta

anti-pirataria, achando que seria um caminho

mais fácil ou certeiro e se perderam no limbo.

O que nos ajuda muito, também, é que temos

dentro da banda pessoas que são capazer de

fazer trabalhos que não envolvem a música

em si. Fazemos nossos próprios encartes,

vídeos, website, etc. Não temos custo para

produção disso tudo, o que facilita muito pra

quem não tem investidor por trás.

Juliano: Não somos necessariamente um

selo, mas uma empresa que presta serviços

relacionados à música. No caso do Cérebro, a

idéia sempre foi a de tentar montar uma “cé-

lula” autônoma dentro da Phonobase, quase

uma outra empresa. Dessa forma a gente

funciona literalmente como sócios, discutin-

do as idéias, implementando as estratégias

e dividindo os resultados. O objetivo é que

a banda ande com as próprias pernas e nós,

Phonobase, atuando como parceiro naquilo

em que nem todo músico gosta ou quer fazer,

a parte “burocrática” digamos assim.

Como funciona a distribuição de um disco sem o aval de uma major?Juliano: Antes a distribuição era o

calcanhar de Aquiles dos pequenos selos,

mas hoje isso não acontece mais. No nosso

caso, temos uma parceria muito boa e pro-

dutiva com a Tratore que cuida da logística

de botar o disco nas lojas físicas e tb em

alguns sites de venda de download como

eMusic, iTunes, UOL Megastore, Terra So-

nora, etc. Além disso, a internet é um canal

de distribuição direto. Você pode comprar

o disco diretamente do site do artista e, se

esse volume não for extraordinário, dá pra

realizar o trabalho de logística utilizando

serviços dos Correios e outras empresas.

Com a crise fonográfica, como se vive de música sem o esquemão tradicional: ‘Gravadora subdisia o artista”?Fernando: A verdade é que é muito

difícil viver de música sem esse subsídio.

Como eu disse, temos que nos preocupar e

trabalhar em áreas que vão muito além da

música. Do design à produção, venda de

shows, até à venda de camisetas. O músico

passou a ser empresário.

Juliano: Diversificar é a palavra chave.

Discos, shows, merchandising, licencia-

mento, sincronização, patrocínios, leis de

incentivo, etc. A questão é que estabilizar o

fluxo de caixa leva tempo quando se trata

de uma banda em início de carreira. Não

temos mais “advances”. O negócio agora é

trablhar o dobro e talvez receber metade.

Hoje lucra-se mais com shows do que com a venda de discos. Vocês acreditam que lançar um punhado de canções num álbum daqui a alguns anos vai ser viável comer-

cialmente? O conceito “álbum” vai perder a sua importância? Voltare-mos à era dos singles?Fernando: Já estamos na era dos singles.

Grandes artistas já estão fazendo isso, como

o Smashing Pumpkins que começaram a

lançar apenas singles via mp3 pago. Mas

ainda acreditamos no conceito de obra mu-

sical, com uma unidade que marca determi-

nada fase. Acho que vai chegar a um ponto

onde as pessoas vão ficar saturadas de tanta

informação. Porque hoje em dia as pessoas

estão interessadas em escutar grandes no-

vas músicas todos os dias, o que é uma coisa

realmente insana. Música não é chiclete.

Música deveria dizer respeito à personaliza-

de. Portanto, ainda acredito que as pessoas

vão enjoar de tanta informação e voltar a

dar valor para obras mais fechadas e artistas

em que elas realmente se identificam.

Juliano: Primeiro, essa relação

show=dinheiro não é tão direta assim. No

caso específico do Cérebro, e diria de quase

todas as bandas que estão aí começando,

os cachês – quando há cachê – dificilmente

conseguiriam manter uma família. O Brasil

ainda não tem uma estrutura de shows que

possa assegurar uma remuneração mínima

para o artista iniciante. Veja, não estamos

falando dos artistas que já consolidaram

uma agenda de shows, aquele que faz a

turnê de um álbum, toca no em locais para

mais de 2000 pessoas, etc. Nós estamos fa-

lando de cases pequenas e médias que, asim

como a banda, estão brigando para manter

seu negócio funcionando.

Quanto ao álbum, eu acredito que ele sem-

pre existirá. Não sei se por uma demanda do

público, mas certamente por uma neces-

sidade do artista de compilar um período

de sua história musical em um conjunto de

canções. Isso sem falar dos álbuns temá-

ticos, conceituais. Não teremos mais Sgt

Peppers? Nem Araça Azul? Adoro discos...

Qual a opinião de vocês em relação a decisão do Radiohead em per-guntar para os fãs o quanto eles estavam dispostos a pagar por sua música?Fernando: Eu achei ótimo. Mais demo-

crático, impossível. Felizmente eles têm

a vantagem de já terem terem milhões de

seguidores pelo mundo afora. Não acredito

que isso funcione com uma banda inde-

pendente que ainda precisa espalhar o seu

som por aí. E temos que lembrar que eles

formaram um público com o subsídio de

grandes gravadoras anteriormente, então a

situação deles é bem mais favorável.

Juliano: Funcionou para o Radiohead.

E este revival do vinil?Fernando: É mais um caso de segmen-

tação. Como disse, acima, tem gente que

gosta de tudo. Eu adoro o formato do vinil,

mais pelo encarte do que pela bolacha. Acho

que porque em casa nunca tive um parelho

realmente decente e portanto, nunca gostei

muito do lance dos riscos, de ficar pulando,

etc. Mas já tive oportunidade de escutar vi-

nil em pickups que valem milhares de reais

e posso garantir que o som realmente é bem

superior, então acho uma ótima o revival.

Juliano: Mais uma indicação de que o

álbum – como produto artístico – seja em

vinil ou CD, está aí firme e forte.

Myspace, Facebook, Orkut... de que forma a banda utiliza destas redes sociais para divulgação?Fernando: Nós fazemos parte e tentamos

atualizar todas esses canais freqüente-

mente. São canais muito importantes

de comunicação e o Juliano está sempre

bolando estratégias de divulgação além de

promoções através desses canais. Chegou

a um ponto onde nosso website virou um

direcionador para esses sites externos, pois

aí não duplicamos a informação e deixa-

mos elas nos canais mais procurados hoje

em dia que são o myspace e o orkut.

Juliano: De todas as formas que essas

mesmas ferramentas nos possibilitam. O

público do Cérebro é um utilizador da in-

ternet e, portanto, podemos utiliza-la como

uma ferramenta de comunicação.

Como estas novas tecnologias funcionam no processo criativo da banda?Fernando: Através do feedback do

público. Recebemos muitas mensagens via

Myspace, principalmente. Isso não só nos

estimula a criar coisas novas, como nos faz

conhecer melhor que tipo de público é o

nosso e que caminhos poderíamos seguir

em função disso.

Mallu Magalhães já foi parar no Faustão e vocês já tocaram no Altas Horas. A internet ajuda a popularizar a cena alternativa?Fernando: A internet ajuda muito. Hoje

em dia o boca-a-boca foi substituído pelo

mensagem-a-mensagem. A disseminação via

internet é incrível. Mas percebemos que a tele-

visão ainda é agrande força hoje em dia. Por

nossa experiência, canais como a MTV ainda

são a grande força de divulgação. A Mallu,

mesmo, passou pra um nível de popularidade

altíssimo depois que MTV resolveu abraçá-la.

Mas, primeiro, ela bombou na internet. Então

acho que essa é a escada atual.

Juliano : A Internet é uma ferramenta im-

portante, mas que por si só não faz milagres.

É preciso planejar o lançamento, estruturar

as ações, executar tudo o que foi pensado de

forma coerente e contínua. Não é possível

atribuir resultados a uma única coisa como a

Internet. Isso é fruto de um trabalho maior,

que abrange uma série de fatores.

ALEX OLIVEIRA

Diversificar é a palavra chave. Discos, shows, merchandising, licenciamento, sincronização, patrocínios, leis de incentivo, etc.”

“A Internet é uma ferramen-ta importante, mas que por si só não faz mi-lagres. É pre-ciso planejar o lançamento, estruturar as ações, executar tudo o que foi pensado de for-ma coerente e contínua.”

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As últimas notas de um

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grande músicoZ

é Rodrix, também é José Rodrigues Trindade, que também é cantor compositor, escritor e publicitá-rio. Inteligente, articulado e bem humorado, Rodrix, apareceu para

o grande público em 1967, em um festival da Record. Entre as canções mais famosas de Zé Rodrix estão “Casa no Campo”, na voz de Elis Regina, “Mestre Jonas” e “Soy Latino America-no”. Nas décadas de 1980 e 1990, Rodrix aban-donou a carreira musical para se dedicar à pu-blicidade. Da vontade de fazer música, durante esse período, nasceu o grupo Joelho de Porco. Em 2001, voltou a se reunir com os companhei-ros Sá e Guarabyra para uma apresentação no Rock in Rio. Zé Rodrix recebeu a POP no inter-valo de uma palestra sobre novas mídias na Casa do Saber, em São Paulo dia 7 de maio de 2009, para aquela que seria sua última entre-vista; ele faleceu no dia 22 do mesmo mês.

Você se afastou do mercado fonográfico e se exilou no mercado publicitário. Foi algum tipo de pro-testo contra as práticas do mercado fonográfico da época?Em 1980 eu fui para RCA, onde fiz um com-

pacto e um LP. O mercado de música tinha se

profissionalizado a ponto de haver cada vez

menos espaço para a criação e cada vez mais

para as tais “fórmulas de sucesso”. A idéia de

que um artista, pra fazer sucesso, tem que

vender um milhão de cópias começou nessa

época, em 1976. Quando chegamos em 1980,

essa idéia já estava bombando. Eu já estava

desgastado com isso e com uma série de outras

coisas. Até que em 19 de janeiro de 1982 a Elis

morreu. Nesse dia eu disse: “Parei, chega”.

Como você analisa o mercado fonográfico atual?Graças a Deus, ele deixou de existir. Só assim

poderemos reconstruí-lo, em bases sólidas e

cooperativas. Não dá mais pra viver de im-

posição. Essa mania de resolver o que vende

e o que presta acabou com a MPB. Ela não

tem nenhum ponto de contato com a alma

brasileira. Ela fala para uma camada muito

pequena da população que está dogmatizada

e aprendeu a dizer apenas “isso é bom e isso

é ruim”. O camarada liga o rádio, bota na

Nova FM e acha que está cumprindo uma

missão ideológica. Quem gosta de MPB gosta

de artista e não de música. Do Caetano, por

exemplo, eu gosto das músicas boas que ele

fez. Das ruins eu não gosto mesmo e não sou

obrigado a gostar. Aí vão dizer: “Pô, mas é o

Caetano!”. Dane-se.

O mercado fonográfico mudou? As gravadoras antigamente experimen-

tavam e ousavam mais do que hoje em

dia. Funcionava meio assim: você tinha os

artistas populares, que vendiam muito. Algo

parecido com o axé de hoje. O lucro com

esse tipo de artista era repassado para outras

produções, que não iriam vender muito, mas

que encontrariam, em algum momento, seu

público. A partir de 1981 esse modelo acabou

e as gravadoras colocaram para fora quem

não vendesse bastante. Por conta disso, hoje

em dia, as experimentações ficaram todas no

mercado independente.

E como você vê o papel desse mer-cado independente?Ser independente não significa ter qualidade.

O mercado independente tem tanta porcaria

quanto o mercado das majors. Tornou-se

apenas a alternativa possível para quem não

conseguiu aquele contrato ideal. Hoje, com a

tecnologia disponível, todos podem fazer seu

próprio produto; mas ele só terá importância se

interessar a uma determinada fatia de público.

A arte depende, além de grande honestidade

de propósitos, de talento, vocação e sorte. Não

adianta tentar substituir um destes fatores

pelo excesso de qualquer um dos dois outros: é

preciso equilíbrio.

Qual sua opinião sobre a facilidade em se baixar faixas gratuitamente pela internet? Qual o impacto dessa prática no mercado musical?Da minha parte acho que esta é a realidade dos

fatos, contra os quais não há argumentos. Hoje

em dia, inclusive, se baixa mais música pelo

celular que pela internet. Existem inúmeras

formas de comercialização de música pelos

meios digitais, mas elas só acontecem quando

o interesse pelo que existe é suficiente para que

o público deseje comprar, em vez de simples-

mente baixar.

E a pirataria?Pirataria não é exclusividade do mercado

informal. A EMI Odeon lançou em CD meus

três primeiros discos solo, sem me avisar. Nem

pediu permissão pra isso. Minha vingança foi

que eu sabia que existiam cópias piratas sendo

vendidas na Galeria do Rock. Sabe o que eu fiz?

Fui lá e autografei todas. Prefiro ser roubado

pela iniciativa brasileira que por uma major

internacional… A pirataria foi a praga que os

artistas rogaram pras grandes gravadoras!!!

Você acha que os internautas con-cordariam em pagar pelas faixas que baixavam gratuitamente?Se forem boas, se tiverem valor, comprarão

sem dúvida. Arte descartável não costuma ser

vendida, mas arte com permanência a cada dia

tem mais valor, e este valor pode ser converti-

do em riqueza financeira na exata medida do

interesse do publico e das oportunidades que

seus autores lhes dêem. Música com valor vale

dinheiro: música sem valor não vale nem o

esforço de copiar.

Nos últimos dez anos, o que mudou basicamente em termos de produ-ção musical em função da existên-cia das novas tecnologias?As tecnologias de produção são menos inte-

ressantes que as de replicação do fenômeno

musical, que hoje em dia pode ser negociado e

divulgado até mesmo durante a sua criação e

execução, permitindo inclusive obras coletivas

em que todos os que estiverem ligados neste

momento podem dar sua contribuição. O

antigo mercado se extinguiu, mas o novo ainda

não sabemos o que será.

Que setores da indústria musical tradicional estão, em sua opinião, fadados à extinção?Os velhos sistemas de venda de disco em lojas,

colocando o produto à espera do eventual

interesse do cliente. Sobreviverão todos aqueles

segmentos que souberem levar o produto ao

interessado, das mais diversas formas e sob

os mais diversos sistemas. A cada dia se torna

menos viável a existência dos MegaTrends ,e os

MicroTrends nos levarão forçosamente a agir

de forma direcionada sobre cada segmento de

público, cada tribo ou até cada indivíduo que

possa se interessar pelo que temos.

Você acha que os grandes festivais de música fazem falta? Qual a im-portância desses eventos na histó-ria da música popular brasileira?Os únicos festivais que fazem falta são os

universitários, que poderiam novamente

estabelecer a ponte sobre o abismo que se

criou quando os artistas brasileiros, domina-

dos pela indústria, abandonaram o diálogo

natural que tinham com os universitários

e decidiram tornar-se grandes vendedores

de música, trocando qualidade artística por

sucesso financeiro. Um festival universitário

nos mostraria como anda a cabeça deste

público com quem podemos dialogar, e

dentro de algum tempo perceber de novo as

identidades, assuntos e formas artísticas que

eles esperam de nós. Os festivais comerciais

de televisão já estão mortos e enterrados.

ELAINE GOMES

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SEJAum Beatle!

Guitarra, bateria, baixo, microfo-ne e um vasto repertório... Com tudo isso, os fãs

dos Beatles e/ou os amantes de games já podem se divertir num jogo cheio de realismo e muita tecnologia. John Len-non, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison são modelos tridimensionais – caricaturas da computação gráfica-, com bastante seme-lhança real. Todas as fases do Beatles estão representadas no game, desde o “iê-iê-iê” até a fase mais psicodélica dos garotos de Liverpool.

Para contar a história dos Beatles, os

produtores utilizaram, com algumas alte-

rações, a já consagrada plataforma Rock

Band – que herda também características

de sua série concorrente, Guitar Hero. Nas

guitarras de plástico, basta apertar os bo-

tões indicados na tela e tocar na hora certa.

A bateria funciona do mesmo jeito. Quem

canta, além do tempo, precisa manter o

tom correto. E, numa reformulação inédita,

é possível cantar em até três vozes, para

recriar as harmonias vocais características

de algumas fases do Fab Four.

Para atingir um público mais amplo,

foram feitas mudanças para deixar o Rock

Band mais simples. A ideia é atrair os

fãs de Beatles para que se aventurem no

mundo dos games. A jogabilidade ficou

mais fácil: não é necessário, por exemplo,

enfrentar inúmeros desafios para destravar

músicas: o repertório inteiro já está libe-

rado desde o início no modo Quick Play.

Também é possível jogar descompromis-

sadamente, sem correr o risco de falhar em

alguma canção.

rIqueZa De DetalhesJá que não era possível revolucionar

tanto na jogabilidade, a Harmonix in-

vestiu, de forma louvável, na narrativa e

nos gráficos. Utilizando magistralmente

a interatividade para contar a história da

banda, The Beatles: Rock Band constrói a

lendária carreira dos garotos de Liverpool

abusando de gráficos tridimensionais,

fotos e vídeos históricos misturados à

sensação de estar ali, nos palcos e nos

estúdios, junto com eles.

A riqueza de detalhes impressiona: quem

pegar o jogo e comparar com um vídeo gra-

vado de um show original, vai se surpre-

ender ao notar, por exemplo, que até a fita

adesiva utilizada para prender o microfone

de Lennon ao pedestal é exatamente igual.

Além disso, lugares como o Cavern Club,

em Liverpool, ou a emblemática apresen-

tação no alto do prédio da gravadora Apple

– a última apresentação ao vivo da banda,

em 1969 -estão ali reproduzidos de forma

perfeita. The Beatles: Rock Band está dis-

ponível para PlayStation 3, Nintendo Wii e

Xbox 360. CLAUDIA URBANISKI

BPARA VER E JOGARwww.thebeatlesrockband.comwww.thebeatlesrockband.com/videos

The Beatles: Rock Band cons-trói a lendária carreira dos garo-tos de Liverpool. A ideia é atrair os fãs de Beatles para que se aven-turem no mundo dos games.

Combo BeatleOs fãs dos Beatles estão cheios de mo-tivos para comemorar. Além do game, o catálogo completo das músicas da banda foi relançado após ter passado por um longo processo de remasterização digital. Resultado de quatro anos de trabalho, os 12 discos foram produzidos por engenhei-ros que trabalharam nos estúdios da Ab-bey Road, em Londres. Eles se utilizaram do que há de mais novo em tecnologia, mas não abriram mão de trabalhar em conjunto com equipamentos antigos, para manter a maior fidelidade possível à obra. Cada um dos 12 novos CDs inclui a arte original da versão britânica do disco e um extra com notas explicativas. Em algumas edições, os CDs vão trazer um pequeno documentário sobre o álbum. Há, também, a opção The Beatles in Mono, com as versões mono originais de dez álbuns.

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tamente. Essa nova regra ditada pelos

consumidores abala de maneira brutal a

organização empresarial das majors.

Frente a esse novo cenário as gravado-

ras, tardiamente, tiveram que fazer regi-

me; cortar pessoal. Diretores e gerentes

com grandes salários foram para o olho

da rua. O velho hábito de vender apenas

os CDs que eles escolhiam, na hora que

bem entendiam, se foi. Nos últimos cinco

anos, as majors amargaram um prejuízo

em média de 30% ao ano.

As megastores fecharam, estavam

chegando perto do prejuízo. As vendas de

CD caíram numa velocidade tão espantosa

quanto o aumento no volume de downloads.

Diversos pesquisadores brasileiros se

reuniram para discutir os caminhos possí-

veis após o fim da ditadura do CD, o resul-

tado é o livro “O Futuro da música depois

da morte do CD”. Entre as discussões que

vão desde a (i)legalidade dos downloads até

as análises da história da música, uma das

apostas mais charmosas, segundo autores,

é a volta do Vinil.

vINIl: No MíNIMo coolSom quente, analógico, único... são vários

os argumentos dos militantes das carra-

petas. Nasceram em 1948 e até hoje estão

vivas. Seus fãs têm todas as idades, são

xiitas e se multiplicam. A Livraria Cultura

registrou um crescimento de 70% nas ven-

das de janeiro a maio em comparação ao

mesmo período do ano passado. A verdade

é que o vinil está ganhando força no mundo

inteiro. Os bolachões voltam à cena como

um artefato cool nas salas da classe média.

As cifras são chocantes: só nos EUA,

comparando 2006, 2007 e 2008, o vinil

teve um crescimento de respectivamente

37% e 124% de peças comercializadas,

movimentando, só em 2007, US$23mi.

Artistas no mundo inteiro apóiam a volta

do formato. Ultimamente, a maioria dos

artistas que vão ao badalado David Latter-

man Show levam seus álbuns em vinil. No

Brasil, músicos como Ed Motta, Lenine,

Skank e Pitty, debandam para o lado das

carrapetas. O novo disco da roqueira baia-

na foi feito em vinil em LA, Lenine lançou

sua coletânea só em vinil na Rússia.

Aqui no Brasil eles ainda são caros por

causa da carga tributária. Por enquanto as

gravadoras precisam fazer vinis nos EUA,

Europa ou Oceania, isso, somado aos im-

postos e a importação, salga os preços que

variam de 80 a 120 reais. Mesmo assim,

são um excelente exemplo de convergência.

Não se compra apenas o LP, junto com ele

vem a arte gigantesca da capa, encartes,

que mais parecem pôsteres, e ainda o

mesmo álbum em CD. O LP ainda não é a

salvação, mas é um caminho bem legal.

VINICIUS GONÇALVES

Hype? A Livraria Cultura registrou um crescimento de 70% nas vendas de LPS neste ano.

BSAIBA MAISwww.vinylfanatics.comwww.ofuturodamusica.com.br

Back to gates: a volta do vinil brazucaVendo isso, o audiófilo dono da Deckdisc e admirador das bolachas, João Augusto, comprou e está reestruturan-do a Polysom, a única fábrica de vinil da América do Sul. O empresário vê o mercado como algo pequeno e duradouro e pretende fazer discos com qualidade igual aos produzidos no exterior cobrando o menor valor possível. Afinal, como diz o slogan da fábrica Vinil Factory: Ninguém se lembra do primeiro download, já o vinil é pra sempre.

A Polysom vai trabalhar para a Deck ou vai ser algo indepen-dente? A Polysom é totalmen-te independente, sem ligação com nenhuma gravadora e irá atender a todos que se interessarem em fabricar vinil. Ou seja, sua função é fabricar LPs e compactos que serão encomendados.

Com a reativação da fábrica, o vinil vai ficar tão barato no Brasil quanto é lá fora? E como se faz o vinil? As matérias primas são: PVC, combustível, e acetatos importados e tudo é muito caro. Nos EUA não se paga 100% em importação e nem 40% de imposto no produ-to final. Mas estamos fazendo o possível para deixar o vinil o mais barato possível.

Concebido para superar os problemas do vinil e das fitas magnéticas, o

Compact Disc (CD), hoje, contempla atônito sua derrocada. Juntos, CDs e majors, protagonizaram uma história de sucesso e luxúria. Agora enfrentam seu trágico destino: tanto o CD quanto as majors naufragam em um in-fomar de bits repleto de downloads.

O CD foi a antítese do herói. Personagem

dúbio que, se por um lado barateou o

custo de produção levando o lucro das

gravadoras a patamares inimagináveis e

música a todos os cantos do mundo; por

outro, a popularização dos seus meios de

leitura, execução e reprodução criou o

ambiente perfeito para seu possível fim.

Luzes se apagam, o CD sai de cena. Vilão,

mocinho, traidor... O que será o CD e o

que virá depois dele?

gravaNDo e veNDeNDoDesenvolvido pela parceria Philips-Sony,

o CD revolucionou o modo de trabalhar

a música. Tudo começou na década de

1950 quando a Philips deu a um grupo de

cientistas a missão de desenvolver uma

nova mídia que resolvesse os problemas

das já existentes: vinil, rolos magnéticos

e K7. Trinta anos depois, no dia 17 de

agosto de 1982, o primeiro CD destinado

ao público foi lançado no Japão.

Apesar de caro e de qualidade inferior aos

atuais, o CD foi evoluindo e monopolizando

o mercado. A popularização dos leitores a

laser, a possibilidade de se produzir música

digitalmente, oferecer um som mais límpi-

do, além do real aumento na capacidade de

armazenar músicas e de ser compacto foram

motivos de sobra pra transformar a nova

mídia em um Best Seller.

“Nos anos 80 era diferente” Lembra

Marcelo Costa, jornalista e crítico musical.

“O disco era caro. Não era todo mundo

que podia comprar e nem era comum ter

vitrola. Além do mais os discos não chega-

vam. Renato Russo dizia que o movimento

punk chegou a Brasília com uma revista e

não com um álbum do The Clash.”

O CD foi exatamente o que a Indús-

tria Cultural pediu a Deus. Um jeito de

massificar a produção musical, garantin-

do o monopólio dos meios de produção e

distribuição de música por quase 10 anos.

Além de criar um mercado mundial de

consumo regido por seus caprichos.

O consumidor não precisava mais

esperar anos para conseguir um álbum, ou

uma cópia em K7. Como também não tinha

muita liberdade de escolha. Os “escolhidos”

das gravadoras eram os que tocavam nas

rádios, por causa do jabá,(acordos de exe-

cução massiva deste ou daquele artista em

troca de dinheiro) e eram os que estavam

nas prateleiras das lojas.

Ter o poder de ditar o que vai ou não

acontecer; quem não se acomodaria nessa

posição? Nasce a cultura dos milhões de có-

pias. Junto com ela os templos do consumo

de CDs, as megastores. Lojas como a Tower

Records e a Virgin Mega Store de Nova

Iorque, eram os termômetros que diziam

quando um álbum era bom ou não. Quanto

mais cópias vendidas em menos tempo,

melhor. A ditadura do que vende mais.

Pra que Pagar se eu Posso BaIxar?As majors tinham o Graal: o CD e o avanço

tecnológico para baratear a produção e

criar um mercado mundial que obedece

às suas regras. Mas a Arca da Aliança foi

encontrada pelas novas tecnologias...

Aproveitando a evolução tecnológica, a

facilidade de ler e copiar CDs, o avanço da

internet, os arquivos MP3, o novo público

consumidor de música e as redes P2P de

compartilhamento de música, ele tirou o

poder das gravadoras, dando ao consumi-

dor o direito de escolher e aos artistas a

chance de aparecer.

Nasce agora uma nova geração de con-

sumidores. Jovens que não têm o hábito de

pagar por música, que é baixada gratui-

O lado B

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GUIA

No ano de 2003 uma nova re-volução dentro do mercado fonográfico

foi apresentada. O cantor e empresário Ralf Richardson Silva, da dupla sertaneja Chrystian e Ralf, desenvolveu um conceito novo de repro-dução musical, que tem como objetivo principal acabar com o flagelo da indústria fono-gráfica, a pirataria. O disposi-tivo é chamado de SMD (Semi Metalic Disc). Ralf entrou no negócio depois de amar-gar perdas para a pirataria. Procurou ajuda de amigos e especialistas em informática para desenvolver o sistema.

O SMD propõe uma estratégia diferente

na comercialização de CDs. Trata-se de uma

espécie de reinvenção do que era o vinil,

que pode ser lido dos dois lados. A mídia é

aparentemente igual ao CD comum e pode ser

reproduzida em qualquer CD-player com a

mesma qualidade de som. O que difere os dois

é que o CD tem a capacidade de armazenar

78 minutos de música e é fabricado com alu-

mínio compactado, já o SMD tem capacidade

para 60 minutos de música e utiliza uma liga

semi metálica na fabricação.

No começo, a mídia tinha capacidade para

quatro músicas e vinha numa embalagem

simples de acrílico sem encarte. Encartes e

créditos eram armazenadas na própria mídia.

Hoje, com os avanços tecnológicos, o SMD

suporta cerca de 16 a 18 músicas. As embala-

gens de acrílico foram substituídas por uma

de papel cartão, e créditos e encarte podem

ser impressos nela. Os SMDs também podem

ser produzidos em diversas cores. O valor da

mídia é um atrativo considerável. É possível

fazer 1000 cópias do seu SMD por um preço

unitário de R$1,20. Uma realidade totalmente

viável para os artistas independentes que

sonham com o primeiro trabalho.

A mídia é muito bem vista no mercado

independente, graças ao baixo custo de produ-

ção e à promessa de uma margem de lucro de

até 20% por unidade vendida. No momento

de seu lançamento, a pirataria atingia 50% do

mercado nacional de discos. Hoje, o mercado

ilegal de discos atinge 75% da população

nacional. Com a divulgação devida o SMD

promete ser uma revolução do mercado de

música no Brasil. Quem já adquiriu, também

aprovou o resultado. Já estão disponíveis

também os formatos SMDV (DVD) e SMDG

(games). A lista de produtos e artistas tem

grandes nomes como Arnaldo Antunes e

Orquestra Imperial, entre outros.

ARIANE MAZZA

BSAIBA MAISwww.portalsmd.com.br

evoluçãoourevoluçãoA tecnologia Semi Metalic Disc promete acabar com a pirataria, aumentar o faturamento dos artistas e ajudar o bolso do consumidor

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Móveis Coloniais de Acaju c_mpl_te (2009)

TRACEMOS um paralelo interessante: ambas bandas são de Brasília, cada uma delas a seu modo captou o “espírito” de suas respectivas gerações, nas letras, críticas sociais são diluídas no melhor que o rock nacional pode proporcionar. Onde o Móveis Coloniais se difere da Legião Urbana? Renato Russo não baixava musicas, o Móveis, em contrapartida, lançou um disco inteiro pela internet – e que disco!

Complete é um respiro no insosso rock brazuca. Tem guitarras, naipe de metais, ska, psico-delia, MPB... atitude! O produtor-ídolo, Eduardo Carlos Miranda coordena a ânsia dos rapazes, apara as arestas e o que temos é uma compilação de canções com letras inteligentes, críticas e bem-humoradas. “Cheia de Manha” ironiza o culto das celebridades precoces. “O Tempo” é pop redondo, cheia de jogos de palavras e de instrumentação marcante. As letras, no geral, captam e recortam os “não-problemas” da molecada atual: ansiedade, consumismo e romances fugazes. Um upgrade nos ditos messiânicos de Russo.

Assumindo a postura de banda-empresa, a turma organiza seu próprio festival, pro-duz e vende seus produtos (camisetas, acessórios, discos, etc) e planeja suas turnês. Tudo reflexo da geração da filosofia “do it yourself” que, aprimorada, apontou o dedo na cara do mainstream. Num acordo ousado com o visionário João Marcelo Boscolli, complete foi lançado gratuitamente pela Trama Virtual onde até mesmo o encarte, os internautas levavam no download. Se o titulo do disco sugere que falta alguma coisa à banda, a resposta é fácil: sua audição. alex olIveIra

ILUSTRAÇÃO - ALEX OLIVEIRA

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Mallu MagalhãesMallu Magalhães (2008)

DIFíCIL imaginar esta cena dez anos atrás: uma adolescente esquisitaça, com pinta de nerd e violão desen-gonçado cantando tchubarubas no Domingão do Faustão. Soa um feito surreal em tempos de Wanessas e Sandys, onde meninas querem ser mulheres ou meninas demais. Mallu Magalhães é o oposto. A rapariga de 16 anos, paulista, despontou na inter-net, virou predileta dos blogueiros, da cena alternativa e ganhou todos os aplausos da mídia. O álbum de estréia é todo versado em inglês (com exce-ção de “O Preço da Flor”) e aposta na sonoridade soft como chamariz. A ensolarada “Tchubaruba” é a melhor do álbum e demonstra o faro pop da cantora. A produção do experiente Mário Caldato (no currículo Beastie Boys, Bebel Gilberto, Seu Jorge) aliado à capacidade multifacetada de Mallu - ela compõe, toca violão, gaita, piano e outros instrumentos – confirmam sua posição de nova artista brasileira que vale o clique. alex olIveIra

Romulo FróesNo Chão sem o Chão (2009)

ENQUANTO esquenta a discussão sobre o armageddon na indústria musical, Romulo Fróes vai contra as profecias: No Chão Sem o Chão é (heresia!) disco duplo e disponibi-lizado pelo artista para download gratuito. Fróes despontou em 2004 com “Calado”, uma excursão melancólica ritmada pelo samba de raiz. Agora o clima é outro. Fruto de uma necessidade do cantor em não ficar estigmatizado simplesmente como “sambista”, os quase 120 minutos do disco soam rock denso, abstrato, vagaroso e bem intencionado feito... o samba, presente no álbum mesmo que de forma discreta. Romulo, o tempo todo foge do lugar comum. Em “Pra fazer sucesso” escancara o ró-tulo: ‘Eu sou um resto que eu detesto de um projeto cultural. Imobiliário, financeiro, otário quase oficial’ É assim provocativo, quase birrento que o paulista Romulo Fróes e sua música se fazem notar. A questão de como ter acesso (download, camelô, loja) é o que menos interessa. alex olIveIra

Espaço democrático

Os Seminovos -Várias Faixas

As letras dos Seminovos não negam a origem da banda. “O nerd de hoje é o cara rico de amanhã”. Um bando que surgiu na internet só poderia compor sobre sua realida-de. As canções disponíveis gratuitamente na internet é puro rock tosco – tudo formatado para as caixinhas stereo do seu computador.

Velhas Virgens - Ninguém beija como as lésbicas

# No décimo disco da carreira, o Velhas Virgens ainda investe na fórmula infálivel: palavrões, letras “irreve-rentes” e, claro, muito rock n’roll. O destaque vai para a faixa-título, uma ode a um fetiche machão mais que manjado: a troca de carícia entre duas mulheres. Para iniciados.

Stephany - Pra se Apaixonar”

Pra se apaixonar é o segundo disco da cantora “sensação-youtube”, Stephany. No repertório, dois de seus maiores hits: “Meu Mundo Desabou” e “Eu Sou Ste-phany” - ambas versões de big hits gringos. É forró do Piauí embalado pela voz marcante da musa linda e absoluta.

O que roqueiros e uma estrela de forró piauiense tem em comum?

vale a pena ouvir...

Reinações de Narizinho, Alice no País das Maravi-lhas, Bossa Nova, Sérgio Sampaio... em Pareço Moderno, o Cérebro Eletrônico reprocessa a cultura pop, adiciona a história da MPB no caldeirão e desponta como algarit-mo promissor nos beats da música hum... moderna.

FOTO - TATIANA BLASS

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Excelentíssimo Senador Eduardo Azeredo,

Suas intenções com o Projeto de Lei que “regulamenta” a

ação dos internautas podem estar cheias de bom mocismo

político – o que nos remete ao batido clichê, “o inferno está

cheio de boas intenções.” Ok, eu não quero ter meu cartão

clonado – assim como também não pretendo utilizá-lo para

torrar 40 contos num CD que obtenho através de um clique.

Tá sentindo o drama?

Olha Edu, a internet pode até ser obra da paranóia ianque

de vigiar, vigiar e vigiar. Mas a partir do ponto em que as

aranhas (nós) invadiram esta teia, fiando sua extensão, não

tem como querer controlar: nós produzimos músicas, letras,

vídeos... vídeos... O princípio básico afinal não é compartilhar?

Crio melodias para serem ouvidas. Textos para serem lidos.

Filmes para serem compartilhados. A arte é a mesma, mudam-

se os meios: democracia é baixar – e já são mais de 50 milhões

de eleitores...

Querer proibir o acesso completo deste conteúdo vasto,

Dudu, é assumir uma postura negligente. O quê o Sr. estava fa-

zendo enquanto milhares de blogueiros iniciavam a revolução

na forma de ouvir música? Baixando um disco claro! E agora

vem com este papo careta? Reprimir é repetir a história lá de

trás. Enxergar novas possibilidades é querer evoluir. Pedófilos,

estelionatários, assassinos sempre estiveram aí, atrás de nossas

portas e agora a culpa é da internet? Acesse a pasta raiz, meu

caro! Deu 100% aqui no download e preciso ver o episódio

que encerra a temporada de Lost. Daqui a alguns segundos,

postarei este texto no meu blog para logo em seguida meus

feeds indicarem que você o recebeu. É pedir muito pra Vossa

Excelência deixar um comentário? ALEX OLIVEIRA

baixe este texto!______________

Adriana PeixotoAdriana Peixoto (2008)

O CLã PEIXOTO chegou à rede. Adriana Peixoto, sobrinha do mestre Cauby, depois de 15 anos cantando na noite paulista e carioca, finalmente lança seu disco de estréia com divulgação maciça na internet. Lançado de forma independente (selo Studium Brasil), os sambas de Adriana se fazem conhecer através da sua página no Myspace. O repertório do disco é focado em MPB e excursiona por estilos diver-sos: samba, samba-canção, samba-rock. A admiração da cantora por compositores consagrados, que lhe presentearam com canções inéditas, pode ser conferida nos créditos. Gente como Sueli Costa, Abel Silva, Dalmo Medeiros e Danilo Caymmi são os nomes por trás dos versos. Cada uma das faixas surpreende pela sonoridade, que ganha contornos latino-americanos com os arranjos e a produção musical do pianista Yaniel Matos, um dos expoentes da música cubana. A malandra “Zé Mané” e a atualíssima “De cabeça pra Baixo” (aqui a carioca observa descrente a degradação de uma romântica Rio de Janeiro) são canções que confirmam o talento da moça. De voz potente (Cauby comparou a sobrinha ao mito Elis), com Adriana, o legado dos Peixoto encontrou a geração internet. alex olIveIra

FOTO - BRUNO FERNANDES

ILUSTRAÇÃO - ALEX BORBA

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ATÉ PARECE MODERNO uma LESMA DE SOFÁ ser capaz de ANEDOTAS E PERIPÉCIAS e ainda dotar de um certo VENENO COR-DE-ROSA logo DOMINE O PÚBLICO.blogspot.com

fim